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Estudo de caso CLIENTE COM REFLEXO DE TOSSE PREJUDICADO O Sr. Lewis, 57 anos, foi hospitalizado às 20 h por causa de pneumonia no lobo inferior esquerdo. Os sinais vitais são os seguintes: temperatura 38,1°C; FC 90 bpm e regular; PA 142/74 mmHg; FR 28. Ele apresenta tosse fraca, murmúrio vesicular diminuído na base do pulmão esquerdo e roncos grosseiros na área mediotraqueal. Ele consegue expectorar um pouco de secreção espessa e de cor verde-acinzentada. Já sofreu acidente vascular encefálico; por causa disso, tem os re�exos faríngeo e de tosse prejudicados e leve paresia no hemicorpo esquerdo. O médico plantonista prescreveu dieta regular para esse cliente. Agora são 7 h e você pergunta para a enfermeira que o internou ontem à noite e que vai passar o plantão, que foi das 19 h às 7 h, se a dieta regular é apropriada para ele. Ela lhe responde dando de ombros e dizendo raivosamente: “Eu nunca incomodo o Dr. Smith (o médico que internou o cliente) com esse tipo de pergunta, senão ele �ca muito aborrecido. Eu sei que você é uma enfermeira novata aqui, então con�e em mim, não faça a ele esse tipo de pergunta!” Foco de competência QSEN | Trabalho colaborativo em equipe As complexidades inerentes ao atual sistema de saúde desafiam a enfermeira a demonstrar a integração de competências centrais interdisciplinares específicas. Essas competências visam garantir a prestação de cuidados seguros e de qualidade ao cliente (Institute of Medicine, 2003). Os conceitos da Orientação de Qualidade e Segurança para Enfermeiras (QSEN – 2012) são uma referência para o conhecimento, as habilidades e as atitudes (CHAs) necessários à enfermeira, para que demonstre competência nas suas áreas principais: o cuidado centrado no cliente; o trabalho colaborativo em equipe interdisciplinar; a prática baseada em evidência; a melhora da qualidade; a segurança; e a informática. Definição de trabalho colaborativo em equipe: atuação efetiva entre as equipes de enfermagem e entre os seus membros, promovendo a comunicação aberta, o respeito mútuo e a tomada de decisão compartilhada para prestar ao cliente o cuidado de qualidade. COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS APLICAÇÃO E REFLEXÃO Conhecimento Explicar como os graus de autoridade in�uenciam o trabalho em equipe e a segurança do cliente. Identi�que os graus de autoridade neste caso que desencorajam o trabalho colaborativo em equipe, e descreva como eles podem afetar negativamente a segurança do Sr. Lewis. Habilidades Manifestar a própria posição/perspectiva em discussões sobre o atendimento ao cliente. Escolher estilos de comunicação que diminuam os riscos associados a gradientes de autoridade entre os membros da equipe. Identi�que os passos que você pode tomar para determinar o tipo certo de dieta para o Sr. Lewis. A quem você pode consultar além da enfermeira do turno Descreva como você pode responder ou buscar mais informações da enfermeira do turno da noite. Há outros membros da equipe de saúde que você poderia anterior ou do Dr. Smith? trazer para esta conversa? Atitudes Avaliar os riscos de “neutralidade” entre os pro�ssionais de saúde e nas transições no cuidado. Re�ita sobre como você pode agir ou reagir em uma situação como esta. Você é a enfermeira “novata” nesta equipe. Você teria medo de pedir esclarecimentos em relação às necessidades alimentares do Sr. Lewis? Você se sentiria confortável em buscar mais esclarecimentos com a enfermeira mais experiente do turno da noite ou com o Dr. Smith? Como o medo poderia colocar o Sr. Lewis em maior risco? Cronenwett L, Sherwood G, Barnsteiner J. et al. (2007). Quality and safety education for nurses. Nursing Outlook, 55(3), 122131. Institute of Medicine. (2003). Health professions education: A bridge to quality. Washington, DC: National Academies Press. QSEN Institute. (2012). Competencies: Prelicensure KSAs. Disponível em: qsen.org/competencies/prelicensureksas 1 2 3 4 5 6 Objetivos do aprendizado Após ler este capítulo, você será capaz de: Descrever as estruturas e funções das vias respiratórias superiores e inferiores. Descrever ventilação, difusão, perfusão e desequilíbrios na ventilação–perfusão. Explicar as técnicas adequadas utilizadas para uma avaliação respiratória abrangente. Fazer a distinção entre os achados de avaliação normais e anormais identiϿcados pela inspeção, palpação, percussão e ausculta do sistema respiratório. Reconhecer e avaliar os principais sintomas de disfunção respiratória, aplicando os achados da história da saúde e do exame físico do cliente. IdentiϿcar os exames complementares utilizados para avaliar a função respiratória e as implicações para a enfermagem relacionadas. Glossário apneia: suspensão momentânea da respiração apneia obstrutiva do sono: ausência temporária de respiração durante o sono secundária à obstrução transitória das vias respiratórias superiores broncofonia: aumento anormal da clareza dos sons vocais transmitidos, ouvidos durante a ausculta dos pulmões broncoscopia: exame direto da laringe, da traqueia e dos brônquios usando um endoscópio cílios: pelos curtos que realizam um movimento de chicotada constante que serve para impulsionar o muco e substâncias estranhas para longe do pulmão, em direção à laringe complacência: medida da força necessária para expandir ou insuӷar os pulmões crepitações: som suave, agudo e descontínuo de estalido durante a inspiração causado pela reabertura tardia das vias respiratórias difusão pulmonar: troca de moléculas de gás (oxigênio e dióxido de carbono) a partir de áreas de alta concentração para áreas de baixa concentração dispneia: experiência subjetiva que descreve a diϿculdade em respirar; falta de ar egofonia: alteração anormal no tom de voz que é ouvido quando se ausculta os pulmões espaço morto 䊲奆siológico: parte da árvore brônquica que não participa da troca gasosa estridor: som agudo e áspero auscultado na inspiração, geralmente sem a necessidade de um estetoscópio, secundário à obstrução das vias respiratórias superiores frêmito: vibrações da fala sentidas como tremores da parede torácica durante a palpação hemoptise: expectoração de sangue a partir do sistema respiratório hipoxemia: diminuição da tensão arterial de oxigênio no sangue hipoxia: diminuição do suprimento de oxigênio para os tecidos e células ortopneia: incapacidade de respirar com facilidade em outras posições além da ortostática pectoriloquia sussurrada (ou áfona): sons sussurrados percebidos de modo alto e claro à ausculta do tórax perfusão pulmonar: ӷuxo sanguíneo ao longo dos vasos pulmonares respiração: troca gasosa entre o ar atmosférico e o sangue, assim como entre o sangue e as células do organismo roncos: som de baixa frequência associado à obstrução parcial das vias respiratórias, detectado na ausculta pulmonar saturação de oxigênio: porcentagem de hemoglobina que está ligada ao oxigênio sibilos: sons musicais contínuos associados ao estreitamento ou à obstrução parcial das vias respiratórias taquipneia: respiração anormalmente rápida ventilação: movimento de ar para dentro e para fora das vias respiratórias volume corrente: volume de ar inspirado e expirado em cada respiração durante a respiração normal As disfunções do sistema respiratório são comuns e encontradas pelas enfermeiras que atuam em todos os ambientes, da comunidade à unidade de cuidados intensivos. A enfermeira deve desenvolver e aplicar habilidades de avaliação especializadas para prestar o melhor atendimento aos clientes com problemas respiratórios agudos e crônicos. As alterações na condição respiratória têm sido identificadas, cada vez mais, como um dos preditores mais sensíveis da deterioração clínica em clientes hospitalizados (Massey e Meredith, 2010). Para diferenciar os achados normais de anormais da avaliação e reconhecer mudanças sutis que podem afetar negativamente os resultados dos clientes, a enfermeiraprecisa compreender a função respiratória e o significado dos resultados anormais nos exames complementares. Visão geral da anatomia e fisiologia O sistema respiratório é composto pelas vias respiratórias superiores e inferiores. Juntas, essas duas vias são responsáveis pela ventilação (movimento do ar para dentro e para fora das vias respiratórias). A via respiratória superior aquece e filtra o ar inspirado, e a via respiratória inferior (pulmões) é capaz de realizar a troca gasosa ou difusão. A troca gasosa envolve o fornecimento de oxigênio aos tecidos através da corrente sanguínea e a expulsão de gases residuais, como o dióxido de carbono, durante a expiração. O sistema respiratório depende do sistema cardiovascular para a perfusão, ou fluxo sanguíneo ao longo do sistema pulmonar (Porth, 2011). Anatomia do sistema respiratório Vias respiratórias superiores As estruturas das vias respiratórias superiores consistem em nariz; seios paranasais; faringe, tonsilas e adenoides; laringe e traqueia. Nariz O nariz serve como passagem para o deslocamento do ar para os pulmões e a partir deles. Ele filtra as impurezas, e umidifica e aquece o ar que é inspirado. O nariz é composto por uma parte externa e outra interna. A parte externa projetase da face, sendo apoiada por ossos e cartilagens nasais. As narinas são as aberturas externas das cavidades nasais. A parte interna do nariz é uma cavidade separada em cavidades nasais direita e esquerda por uma estrutura vertical estreita, o septo nasal. Cada cavidade nasal é dividida em três trajetos pela projeção de conchas das paredes laterais. As conchas têm esse nome em alusão ao seu aspecto semelhante a uma concha. Por causa de suas curvas, esses ossos aumentam a superfície da mucosa das passagens nasais e obstruem discretamente o fluxo de ar ao longo delas (Figura 20.1). Figura 20.1 Corte transversal da cavidade nasal. O ar que entra nas narinas é desviado para cima até o teto do nariz, seguindo um trajeto tortuoso antes de alcançar a nasofaringe. Entra em contato com uma grande superfície de mucosa ciliada (chamada mucosa nasal) úmida, quente e altamente vascularizada, que aprisiona praticamente toda a poeira e microrganismos do ar inspirado. O ar é umedecido, aquecido à temperatura do corpo e colocado em contato com os nervos sensitivos. Alguns desses nervos detectam odores; outros provocam espirros que visam expulsar poeiras irritantes. O muco, secretado continuamente pelas células caliciformes, recobre toda a superfície da mucosa nasal e é movido de volta para a nasofaringe pela ação dos cílios (pelos finos). Seios paranasais Os seios paranasais ou seios da face incluem quatro pares de cavidades ósseas que são revestidas por mucosa nasal e epitélio colunar pseudoestratificado ciliado. Esses espaços preenchidos por ar são conectados por vários ductos que drenam para a cavidade nasal. Os seios da face são nomeados pela sua localização: frontal, etmoidal, esfenoidal e maxilar (Figura 20.2). Uma função importante dos seios paranasais é servir como uma câmara de ressonância na fala. Os seios paranasais são um local comum de infecção. Faringe, tonsilas e adenoides A faringe é uma estrutura tubular que liga as cavidades nasal e oral à laringe. É dividida em três regiões: nasal, oral e laríngea. A nasofaringe está localizada posteriormente ao nariz e acima do palato mole. A orofaringe abriga as tonsilas palatinas. A laringofaringe estendese do osso hioide à cartilagem cricóidea. A epiglote forma a entrada da laringe. As adenoides (tonsilas palatinas) estão localizadas no teto da nasofaringe. As tonsilas, adenoides e outros tecidos linfoides circundam a garganta. Essas estruturas são importantes elos na cadeia de linfonodos que defendem • • • • • • o corpo da invasão por microrganismos que entram pelo nariz e para garganta. A faringe atua como uma passagem para as vias respiratórias e digestória. Laringe A laringe é um órgão cartilaginoso revestido de epitélio que liga a faringe e a traqueia e consiste no seguinte: Epiglote: um retalho de cartilagem que recobre a abertura da laringe durante a deglutição, funcionando como uma válvula Glote: a abertura entre as pregas vocais na laringe Cartilagem tireóidea: a maior de todas as estruturas cartilaginosas; parte dela forma a proeminência laríngea (pomo de adão nos homens) Cartilagem cricóidea: único anel cartilaginoso completo da laringe (localizado abaixo da cartilagem tireóidea) Cartilagens aritenóideas: usadas no movimento das pregas vocais com a cartilagem tireóidea Pregas vocais: ligamentos controlados por movimentos musculares que produzem sons; localizadas no lúmen da laringe. Figura 20.2 Seios paranasais. Embora a sua principal função seja a vocalização, a laringe também protege as vias respiratórias inferiores de substâncias estranhas e facilita a tosse (Porth, 2011). Traqueia A traqueia é composta por músculo liso com anéis de cartilagem em forma de C em intervalos regulares. Os anéis cartilaginosos são incompletos na superfície posterior e dão firmeza à parede da traqueia, impedindoa de colabar. A traqueia é a estrutura que conecta a laringe com os brônquios principais direito e esquerdo, que entram nos pulmões por meio de uma abertura chamada hilo. Vias respiratórias inferiores As vias respiratórias inferiores são constituídas pelos pulmões, que contêm as estruturas brônquicas e alveolares necessárias para a troca gasosa. Pulmões Os pulmões são estruturas elásticas pareadas envolvidas pela caixa torácica, a qual é uma câmara estanque ao ar com paredes distensíveis (Figura 20.3). Cada pulmão é dividido em lobos. O pulmão direito tem lobos superior, médio e inferior, e o pulmão esquerdo é formado pelos lobos superior e inferior (Figura 20.4). Cada lobo é subdividido em 2 a 5 segmentos separados por fissuras, que são extensões da pleura. Pleura. Os pulmões e a parede da cavidade torácica são revestidos por uma membrana serosa chamada pleura. A pleura visceral reveste os pulmões; a pleura parietal circunda a cavidade torácica, a parede lateral do mediastino, o diafragma e o aspecto interno das costelas. As pleuras visceral e parietal, junto com o pequeno volume de líquido pleural entre essas duas membranas, servem para lubrificar o tórax e os pulmões e possibilitar o movimento suave dos pulmões dentro da cavidade torácica durante a inspiração e a expiração. Mediastino. O mediastino está no meio do tórax, entre os sacos pleurais que contêm os dois pulmões. Ele se estende do esterno até a coluna vertebral e nele estão todos os tecidos do tórax com exceção dos pulmões (coração, timo, aorta e veia cava, e esôfago). Brônquios e bronquíolos. Existem várias divisões dos brônquios dentro de cada lobo pulmonar. Primeiro estão os brônquios lobares (3 no pulmão direito e 2 no pulmão esquerdo). Os brônquios lobares dividemse em brônquios segmentares (10 à direita e 8 à esquerda); essas estruturas facilitam a drenagem postural eficaz no indivíduo. Os brônquios segmentares então se dividem em brônquios subsegmentares. Esses brônquios são circundados por tecido conjuntivo que contém artérias, vasos linfáticos e nervos. Os brônquios subsegmentares então se ramificam em bronquíolos, que não têm cartilagem em suas paredes. Sua permeabilidade depende inteiramente do recolhimento elástico do músculo liso circundante e da pressão alveolar. Os bronquíolos contêm glândulas submucosas, que produzem muco que recobre o revestimento interno das vias respiratórias. Os brônquios e bronquíolos também são revestidos por células que têm superfícies recobertas por cílios. Esses cílios produzem movimentos ondulantes constantes, que empurram o muco e as substânciasestranhas para fora dos pulmões em direção à laringe. Figura 20.3 Sistema respiratório. A. Estruturas das vias respiratórias superiores e estruturas do tórax. B. Alvéolos. C. Corte transverso horizontal dos pulmões. Figura 20.4 Vista anterior dos pulmões. Os pulmões consistem em cinco lobos. O pulmão direito tem três lobos (superior, médio, inferior); o esquerdo tem dois (superior e inferior). Os lobos são subdivididos por fissuras. A árvore brônquica, outra estrutura do pulmão, inflase com ar para preencher os lobos. Os bronquíolos ramificamse em bronquíolos terminais, que não têm glândulas mucosas nem cílios. Os bronquíolos terminais tornamse bronquíolos respiratórios, que são considerados vias de passagem transitórias entre as vias respiratórias de condução e as vias respiratórias de troca gasosa. Até este ponto, as vias respiratórias de condução contêm cerca de 150 mℓ de ar na árvore brônquica que não participa da troca gasosa, conhecido como espaço morto fisiológico. Os bronquíolos respiratórios então se ramificam até os ductos e sacos alveolares e depois para os alvéolos (Figura 20.3). As trocas de oxigênio e dióxido de carbono ocorrem nos alvéolos. Alvéolos. O pulmão é constituído por cerca de 300 milhões de alvéolos, com uma área total entre 50 e 100 m2, o tamanho aproximado de uma quadra de tênis (Porth, 2011). Existem três tipos de células alveolares. As células tipo I e tipo II compõem o epitélio alveolar. As células tipo I respondem por 95% da área de superfície alveolar e servem como uma barreira entre o ar e a superfície alveolar; as células do tipo II são responsáveis por apenas 5% dessa área, mas são responsáveis pela produção de células tipo I e surfactante. O surfactante reduz a tensão superficial, melhorando assim a função pulmonar global. Os macrófagos alveolares, o terceiro tipo de células alveolares, são células fagocíticas que ingerem materiais estranhos e, assim, proporcionam um importante mecanismo de defesa. Função do sistema respiratório As células do corpo derivam a energia necessária da oxidação de carboidratos, gorduras e proteínas. Esse processo requer oxigênio. Tecidos vitais, como o encéfalo e o coração, não são capazes de sobreviver por longo tempo sem um suprimento contínuo de oxigênio. Como resultado da oxidação, o dióxido de carbono é produzido e precisa ser removido das células para evitar o acúmulo de resíduos ácidos. O sistema respiratório realiza essa função, facilitando os processos de sustentação da vida como o transporte de oxigênio, a respiração, a ventilação e a troca gasosa. Transporte de oxigênio O oxigênio é fornecido e o dióxido de carbono é removido das células por meio do sangue circulante, através das finas paredes dos vasos capilares. O oxigênio difundese através da parede do capilar para o líquido intersticial. Neste ponto, difundese através da membrana das células teciduais, onde é utilizado pela mitocôndria para a respiração celular. O movimento do dióxido de carbono por difusão ocorre no sentido oposto, da célula para o sangue. Respiração Depois dessas trocas teciduais nos capilares, o sangue entra na circulação venosa sistêmica e deslocase para a circulação pulmonar. A concentração de oxigênio no sangue nos capilares pulmonares é menor do que nos alvéolos pulmonares. Por causa desse gradiente de concentração, o oxigênio se difunde dos alvéolos para o sangue. O dióxido de carbono, que tem maior concentração no sangue do que nos alvéolos, difundese do sangue para os alvéolos. O movimento de ar para dentro e para fora das vias respiratórias repõe continuamente o oxigênio e remove o dióxido de carbono das vias respiratórias e dos pulmões. Esse processo completo de troca gasosa entre o ar atmosférico e o sangue e entre o sangue e as células do corpo é chamado respiração. Ventilação A ventilação requer o movimento das paredes da caixa torácica e de seu assoalho, o diafragma. O efeito desses movimentos é o aumento e a diminuição alternada da capacidade do tórax. Quando é aumentada, o ar entra através da traqueia (inspiração) e movese para os brônquios, bronquíolos e alvéolos, e insufla os pulmões. Quando a parede torácica e o diafragma retornam às suas posições anteriores (expiração), os pulmões recuam e forçam o ar para fora através dos brônquios e traqueia. A inspiração ocorre durante o primeiro terço do ciclo respiratório; a expiração ocorre durante os dois terços finais. A fase inspiratória da respiração normalmente requer energia; a fase expiratória normalmente é passiva, precisando de muito pouca energia. Os fatores físicos que controlam o fluxo de ar para dentro e fora dos pulmões são chamados coletivamente de mecânica da ventilação e incluem as variações de pressão de ar, a resistência ao fluxo de ar e a complacência pulmonar. Variações da pressão de ar O ar flui de uma região de pressão mais alta para outra de pressão mais baixa. Durante a inspiração, os movimentos do diafragma e dos músculos intercostais ampliam a cavidade torácica e, assim, diminuem a pressão dentro do tórax para um nível inferior ao da pressão atmosférica. Como resultado, o ar é aspirado através da traqueia e dos brônquios até os alvéolos. Durante a expiração, o diafragma relaxa e os pulmões recuam, o que resulta em diminuição no tamanho da cavidade torácica. A pressão alveolar então excede a pressão atmosférica, e o ar flui dos pulmões para a atmosfera. Resistência das vias respiratórias A resistência é determinada pelo raio, ou calibre, das vias respiratórias por meio das quais o ar está fluindo, bem como pelos volumes pulmonares e velocidade do fluxo de ar. Qualquer processo que altera o diâmetro ou a largura dos brônquios afeta a resistência das vias respiratórias e altera a taxa do fluxo de ar para um dado gradiente de pressão durante a respiração (Boxe 20.1). Com o aumento da resistência, é necessário um esforço respiratório maior do que o habitual para alcançar níveis normais de ventilação. Complacência A complacência é a elasticidade e capacidade de expansão dos pulmões e estruturas torácicas. A complacência possibilita que o volume do pulmão aumente quando a diferença de pressão entre a atmosfera e a cavidade torácica (gradiente de pressão) faz com que o ar flua para dentro. Os fatores que determinam a complacência pulmonar são a tensão superficial dos alvéolos, o tecido conjuntivo e o teor de água dos pulmões, bem como a complacência da cavidade torácica. A complacência é determinada pelo exame da relação volume–pressão nos pulmões e no tórax. A complacência é normal (1 ℓ/cmH2O) se os pulmões e o tórax se esticam e distendem facilmente quando é aplicada pressão. O aumento da complacência ocorre quando os pulmões perdem seu recolhimento elástico e se tornam distendidos (p. ex., no enfisema pulmonar). A diminuição ocorre quando os pulmões e o tórax se tornam “rígidos”. Condições associadas à diminuição da complacência incluem a obesidade mórbida, o pneumotórax, o hemotórax, o derrame • • • • pleural, o edema pulmonar, a atelectasia, a fibrose pulmonar e a síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA). Pulmões com diminuição na complacência exigem um gasto energético maior do que o habitual por parte do cliente para alcançar níveis normais de ventilação. Boxe 20.1 Causas do aumento na resistência das vias respiratórias Fenômenos comuns que podem alterar o diâmetro dos brônquios, e afetar a resistência das vias respiratórias, são os seguintes: Contração da musculatura lisa dos brônquios – como ocorre na asma brônquica Espessamento da mucosa brônquica – como ocorre na bronquitecrônica Obstrução das vias respiratórias – por muco, tumor ou corpo estranho Perda da elasticidade do pulmão – como ocorre no enϿsema pulmonar, que é caracterizado por um tecido conjuntivo que circunda as vias respiratórias, mantendo-as, assim, abertas durante a inspiração e a expiração Volumes e capacidades pulmonares A função pulmonar, que reflete a mecânica da ventilação, é vista em termos de volumes e capacidades pulmonares. Os volumes pulmonares são classificados como volume corrente, volume de reserva inspiratório, volume de reserva expiratório e volume residual. A capacidade pulmonar é avaliada em termos de capacidade vital, capacidade inspiratória, capacidade residual funcional e capacidade pulmonar total. Esses termos são explicados na Tabela 20.1. Difusão e perfusão pulmonares A difusão pulmonar é o processo por meio do qual o oxigênio e o dióxido de carbono são trocados a partir de áreas de alta concentração para áreas de baixa concentração na interface ar–sangue. A membrana alveolocapilar é ideal para a difusão, por causa de sua espessura fina e de sua grande área de superfície. No adulto saudável normal, o oxigênio e o dióxido de carbono cruzam a membrana alveolocapilar sem dificuldade, em razão das diferenças de concentração de gases nos alvéolos e capilares. A perfusão pulmonar é o fluxo sanguíneo real por meio da vasculatura pulmonar. O sangue é bombeado para os pulmões a partir do ventrículo direito por meio da artéria pulmonar. A artéria pulmonar dividese em ramos direito e esquerdo para irrigar ambos os pulmões. Normalmente, cerca de 2% do sangue bombeado pelo ventrículo direito não perfunde os capilares alveolares. Esse sangue desviado drena para o lado esquerdo do coração sem participar da troca gasosa alveolar. As artérias brônquicas que se estendem a partir da aorta torácica também apoiam a perfusão, mas não participam na troca gasosa, diluindo ainda mais o sangue oxigenado que sai pela veia pulmonar (Porth, 2011). A circulação pulmonar é considerada um sistema de baixa pressão, porque a pressão arterial sistólica na artéria pulmonar é de 20 a 30 mmHg e a pressão diastólica é de 5 a 15 mmHg. Por causa dessas baixas pressões, a vasculatura pulmonar normalmente pode variar sua capacidade de acomodar o fluxo sanguíneo que recebe. No entanto, quando uma pessoa está em posição ortostática, a pressão arterial pulmonar não é grande o suficiente para fornecer sangue para o ápice do pulmão contra a força da gravidade. Assim, quando a pessoa está na posição ortostática, podese considerar que o pulmão está dividido em três partes: uma parte superior, com irrigação sanguínea ruim; uma parte inferior, com irrigação sanguínea máxima; e uma parte entre ambas, com irrigação sanguínea intermediária. Quando a pessoa que está em decúbito ventral se vira para um dos lados, mais sangue passa para o pulmão do lado pendente (de baixo). A perfusão também é influenciada pela pressão alveolar. Os capilares pulmonares estão imprensados entre alvéolos adjacentes. Se a pressão alveolar for suficientemente alta, os capilares são comprimidos. Dependendo da pressão, alguns dos capilares colapsam completamente, ao passo que outros se estreitam. A pressão na artéria pulmonar, a gravidade e a pressão alveolar determinam os padrões de perfusão. Na doença pulmonar, esses fatores variam, e a perfusão do pulmão pode tornarse anormal. TABELA 20.1 Volumes e capacidades pulmonares. Termo Símbolo Descrição Valor normal* Signi䊲奆cado Volumes pulmonares Volume corrente VC Volume de ar inspirado e expirado em cada respiração 500 mℓ ou 5 a 10 mℓ/kg O volume corrente pode não variar, mesmo na doença grave. Volume de reserva inspiratório VRI Volume máximo de ar que pode ser inspirado depois de uma inspiração normal 3.000 mℓ Volume de reserva expiratório VRE Volume máximo de ar que pode ser liberado em uma expiração forçada depois de uma expiração normal 1.100 mℓ O volume de reserva expiratório está diminuído em doenças restritivas, como a obesidade, a ascite, ou na gestação. Volume residual VR Volume de ar remanescente nos pulmões depois de uma expiração máxima 1.200 mℓ O volume residual pode estar aumentado na doença obstrutiva. Capacidades pulmonares Capacidade vital CV Volume máximo de ar expirado a partir do ponto de inspiração máxima: CV = VC + VRI + VRE 4.600 mℓ Pode-se observar diminuição na capacidade vital em caso de doença neuromuscular, fadiga generalizada, atelectasia, edema pulmonar, DPOC e obesidade. Capacidade inspiratória CI Volume máximo de ar inspirado depois uma expiração normal: CI = VC + VRI 3.500 mℓ A diminuição da capacidade inspiratória pode indicar uma doença restritiva. Também pode estar reduzida na obesidade. Capacidade residual funcional CRF Volume de ar que permanece nos pulmões depois de uma expiração normal: CRF = VRE + VR 2.300 mℓ A capacidade residual funcional pode estar aumentada na DPOC e diminuída na SARA e na obesidade. Capacidade pulmonar total CPT Volume de ar nos pulmões depois de uma inspiração máxima: CPT = VC + VRI + VRE + VR 5.800 mℓ A capacidade pulmonar total pode estar diminuída na doença restritiva, como na atelectasia e na pneumonia, e aumentada na DPOC. * Valores para homens saudáveis; as mulheres têm valores 20 a 25% menores. SARA, síndrome da angústia respiratória do adulto; DPOC, doença pulmonar obstrutiva crônica. Equilíbrio e desequilíbrio na ventilação e perfusão A troca gasosa adequada depende de uma razão ventilação–perfusão ( ) apropriada. Em diferentes áreas do pulmão, a razão varia. Bloqueios nas vias respiratórias, alterações locais na complacência e a gravidade podem alterar a ventilação. Podem ocorrer alterações na perfusão com a mudança na pressão da artéria pulmonar, pressão alveolar ou gravidade. O desequilíbrio na é resultado da ventilação inadequada ou da perfusão inadequada, ou de ambas. Há quatro estados possíveis de no pulmão: razão normal, razão baixa (shunt), razão alta (espaço morto) e ausência de ventilação e perfusão (unidade silenciosa) (Boxe 20.2). O desequilíbrio provoca desvio de sangue, resultando em hipoxia (baixo nível de oxigênio celular). O shunt parece ser a principal causa de hipoxia depois de cirurgia torácica ou abdominal e da maior parte dos tipos de insuficiência respiratória. A hipoxia grave ocorre quando a quantidade de desvio (shunting) é superior a 20%. A suplementação de oxigênio pode eliminar a hipoxia, dependendo do tipo de desequilíbrio . Troca gasosa Pressão parcial de gases O ar que respiramos é uma mistura de gases que consiste principalmente em nitrogênio (78,6%) e oxigênio (20,8%), com traços de dióxido de carbono (0,04%), vapor de água (0,05%), hélio e argônio. A pressão atmosférica ao nível do mar é cerca de 760 mmHg. A pressão parcial é a pressão exercida por cada tipo de gás em uma mistura de gases. A pressão parcial de um gás é proporcional à concentração desse gás na mistura. A pressão total exercida pela mistura gasosa, seja na atmosfera, seja nos pulmões, é igual à soma das pressões parciais. Com base nesses fatos, podese calcular as pressões parciais de nitrogênio e oxigênio. A pressão parcial de nitrogênio na atmosfera ao nível do mar é de 78,6% de 760, ou 597 mmHg; a de oxigênio é de 20,8% de 760, ou 158 mmHg. O Boxe 20.3 identifica e define os termos e abreviaturas relacionados com a pressão parcial de gases. Quando o ar entra na traqueia, tornase completamente saturado com vapor de água, que desloca alguns dos outros gases. O vapor de água exerce uma pressão de 47 mmHg quando satura completamente uma mistura de gases na temperatura do corpo de 37°C. O nitrogênio e o oxigênio são responsáveis porquase toda a pressão restante de 713 mmHg. Quando essa mistura entra nos alvéolos, é ainda mais diluída pelo dióxido de carbono. Nos alvéolos, o vapor de água continua exercendo uma pressão de 47 mmHg. A pressão remanescente de 713 mmHg é então exercida como se segue: nitrogênio, 569 mmHg (74,9%); oxigênio, 104 mmHg (13,6%); e dióxido de carbono, 40 mmHg (5,3%) (Porth, 2011). Quando um gás é exposto a um líquido, ele se dissolve nesse líquido até que seja alcançado o equilíbrio. O gás dissolvido também exerce uma pressão parcial. Em condições de equilíbrio, a pressão parcial do gás no líquido é a mesma que a pressão parcial do gás na mistura gasosa. A oxigenação do sangue venoso no pulmão ilustra esse ponto. No pulmão, o sangue venoso e o oxigênio alveolar estão separados por uma membrana alveolar muito fina. O oxigênio difundese através dessa membrana para se dissolver no sangue até que a pressão parcial de oxigênio no sangue seja a mesma que a dos alvéolos (104 mmHg). No entanto, como o dióxido de carbono é um subproduto da oxidação nas células, o sangue venoso contém dióxido de carbono a uma pressão parcial mais elevada do que a do gás alveolar. No pulmão, o dióxido de carbono difundese para fora do sangue venoso em gás alveolar. Em condições de equilíbrio, a pressão parcial de dióxido de carbono no sangue e no gás alveolar é a mesma (40 mmHg). As alterações na pressão parcial são apresentadas na Figura 20.5. Boxe 20.2 Relações de ventilação–perfusão Razão normal (A) No pulmão saudável, uma determinada quantidade de sangue passa por um alvéolo e está combinada a uma quantidade igual de gás (A). A razão é de 1:1 (a ventilação se equilibra com a perfusão). Razão ventilação–perfusão baixa: shunts (B) Estados de baixa ventilação–perfusão podem ser chamados de distúrbios produtores de shunt. Quando a perfusão excede a ventilação, ocorre um shunt (B). O sangue passa pelos alvéolos sem que ocorra troca gasosa. Isso é observado na obstrução das vias respiratórias distais, como na pneumonia, na atelectasia, no tumor ou no tampão mucoso. Razão ventilação–perfusão alta: espaço morto (C) Quando a ventilação excede a perfusão, resulta em espaço morto (C). Os alvéolos não têm um suprimento sanguíneo adequado para que ocorra troca gasosa. Essa é uma característica de várias disfunções, incluindo a embolia pulmonar, o infarto pulmonar e o choque cardiogênico. Unidade silenciosa (D) Na ausência tanto de ventilação quanto de perfusão, ou em caso de ventilação e perfusão limitada, ocorre uma condição conhecida como unidade silenciosa (D). É encontrada no pneumotórax e na síndrome da angústia respiratória do adulto grave. Boxe 20.3 Abreviaturas das pressões parciais P = pressão PO2 = pressão parcial de oxigênio PCO2 = pressão parcial de dióxido de carbono PAO2 = pressão parcial de oxigênio alveolar PACO2 = pressão parcial de dióxido de carbono alveolar PaO2 = pressão parcial de oxigênio arterial PaCO2 = pressão parcial de dióxido de carbono arterial Pv-O2 = pressão parcial de oxigênio no sangue venoso Pv-CO2 = pressão parcial de dióxido de carbono no sangue venoso P50 = pressão parcial de oxigênio quando a hemoglobina está 50% saturada Figura 20.5 Durante a respiração ocorrem alterações na pressão parcial de gases. Esses valores variam em razão das trocas de oxigênio e dióxido de carbono e das alterações que ocorrem nas suas pressões parciais conforme o sangue venoso flui ao longo dos pulmões. Efeitos da pressão no transporte de oxigênio O oxigênio e o dióxido de carbono são transportados simultaneamente, seja dissolvidos no sangue ou em combinação com a hemoglobina nas hemácias. Cada 100 mℓ de sangue arterial normal carrega 0,3 mℓ de oxigênio fisicamente dissolvido no plasma e 20 mℓ de oxigênio combinado à hemoglobina. Grandes quantidades de oxigênio podem ser transportadas no sangue, porque o oxigênio se combina facilmente com a hemoglobina para formar a oxihemoglobina: O2 + Hb ↔ HbO2 O volume de oxigênio fisicamente dissolvido no plasma é medido pela pressão parcial de oxigênio nas artérias (PaO2). Quanto maior for a PaO2, maior será a quantidade de oxigênio dissolvido. Por exemplo, em uma PaO2 de 10 mmHg, 0,03 mℓ de oxigênio encontrase dissolvido em 100 mℓ de plasma. Em uma PaO2 de 20 mmHg, o dobro dessa quantidade está dissolvida no plasma; na PaO2 de 100 mmHg, 10 vezes esse valor encontramse dissolvidos. Portanto, a quantidade de oxigênio dissolvido é diretamente proporcional à pressão parcial, independentemente de quão alta a pressão de oxigênio se torna. A quantidade de oxigênio que se combina com a hemoglobina depende tanto da quantidade de hemoglobina no sangue quanto da PaO2, embora somente até uma PaO2 de aproximadamente 150 mmHg. Isso é medido como a saturação de O2 (SaO2), a porcentagem de O2 que pode ser carregada se toda a hemoglobina transportar a quantidade máxima possível de O2. Quando a PaO2 é de 150 mmHg, a hemoglobina está 100% saturada e não se combina a qualquer molécula adicional de oxigênio. Quando a hemoglobina está 100% saturada, 1 g de hemoglobina se combina a 1,34 mℓ de oxigênio. Portanto, em uma pessoa com 14 g/dℓ de hemoglobina, cada 100 mℓ de sangue contêm cerca de 19 mℓ de oxigênio associado à hemoglobina. Se a PaO2 for inferior a 150 mmHg, a porcentagem de hemoglobina saturada com oxigênio diminui. Por exemplo, em uma PaO2 de 100 mmHg (o valor normal), a saturação é de 97%; na PaO2 de 40 mmHg, a saturação é de 70%. 1. 2. 1. 2. 3. Curva de dissociação da oxihemoglobina A curva de dissociação da oxihemoglobina (Boxe 20.4) mostra a relação entre a pressão parcial de oxigênio (PaO2) e a porcentagem de saturação de oxigênio (SaO2). A porcentagem de saturação pode ser afetada pelo dióxido de carbono, pela concentração de íons de hidrogênio, pela temperatura e pelo 2,3difosfoglicerato. Um aumento nesses fatores desloca a curva para a direita; portanto, menos oxigênio é captado nos pulmões, porém mais oxigênio é liberado para os tecidos se a PaO2 se mantiver inalterada. A diminuição desses fatores faz com que a curva se desloque para a esquerda, tornando a ligação entre o oxigênio e a hemoglobina mais forte. Se a PaO2 ainda permanecer inalterada, mais oxigênio será captado nos pulmões; contudo, menos oxigênio será entregue aos tecidos. A forma irregular da curva de dissociação da oxihemoglobina é uma vantagem distinta para o cliente, por duas razões: Se o PaO2 diminui de 100 para 80 mmHg como resultado de uma doença pulmonar ou cardíaca, a hemoglobina do sangue arterial permanece quase maximamente saturada (94%), e os tecidos não sofrem hipoxia. Quando o sangue arterial passa para os capilares teciduais e é exposto à tensão de oxigênio do tecido (cerca de 40 mmHg), a hemoglobina libera grandes quantidades de oxigênio para uso pelos tecidos. Boxe 20.4 Curva de dissociação da oxi-hemoglobina A curva de dissociação da oxi-hemoglobina evidencia três níveis de oxigênio: Níveis normais – PaO2 > 70 mmHg Níveis relativamente seguros – PaO2 de 45 a 70 mmHg Níveis perigosos – PaO2 < 40 mmHg A curva normal (média) (N) mostra que a saturação de 75% ocorre em uma PaO2 de 40 mmHg. Se a curva se desloca para a direita (D), a mesma saturação (75%) ocorre na PaO2 acima de 57 mmHg. Se a curva se desloca para a esquerda (E), a saturação de 75% ocorre em uma PaO2 de 25 mmHg. Com um valor normal de PaO2 (80 a 100 mmHg) e SaO2 (95 a 98%), há uma margem de 15% de excesso de oxigênio disponível para os tecidos. Com um nível de hemoglobina normal de 15 mg/dℓ e um nível de PaO2 de 40 mmHg (SaO2 75%), há oxigênio suficiente disponível para os tecidos, mas não há reserva para tensões fisiológicas que aumentam a demanda de oxigênio dos tecidos. Se ocorrer um incidente grave (p. ex., broncospasmo, aspiração, hipotensão ou arritmias cardíacas)que reduz o aporte de oxigênio dos pulmões, isso resultará em hipoxia tecidual. Uma consideração importante no transporte de oxigênio é o débito cardíaco, que determina a quantidade de oxigênio fornecido para o corpo, e afeta a perfusão pulmonar e tissular. Se o débito cardíaco for normal (5 ℓ/min), a quantidade de oxigênio fornecido para o corpo por minuto será normal. Sob condições normais, são utilizados apenas 250 mℓ de oxigênio por minuto, o que é aproximadamente 25% do oxigênio disponível. O restante do oxigênio retorna para o lado direito do coração e a PaO2 do sangue venoso cai de 80 a 100 mmHg para cerca de 40 mmHg. Se o débito cardíaco cai, a quantidade de oxigênio fornecida aos tecidos também cai e pode ser inadequada para atender as necessidades corporais. Transporte de dióxido de carbono Ao mesmo tempo que o oxigênio se difunde do sangue para os tecidos, o dióxido de carbono se difunde das células dos tecidos para o sangue e é transportado para os pulmões para ser excretado. A quantidade de dióxido de carbono durante o transporte é um dos principais fatores determinantes do equilíbrio acidobásico do corpo. Normalmente, apenas 6% do dióxido de carbono venoso é removido dos pulmões, e uma quantidade suficiente permanece no sangue arterial de modo a exercer uma pressão de 40 mmHg. A maior parte do dióxido de carbono (90%) é transportado pelas hemácias; uma pequena porção (5%) que permanece dissolvida no plasma (a pressão parcial do dióxido de carbono [PCO2]) é um fator essencial que determina o movimento do dióxido de carbono para dentro ou para fora do sangue. Embora muitos processos envolvidos no transporte de gases respiratórios pareçam ocorrer em fases intermitentes, as alterações são rápidas, simultâneas e contínuas. Controle neurológico da ventilação A respiração de repouso é o resultado da excitação cíclica dos músculos respiratórios pelo nervo frênico. O ritmo da respiração é controlado pela área respiratória no encéfalo. As áreas inspiratória e expiratória do bulbo e ponte controlam a frequência e profundidade da ventilação para atender às demandas metabólicas do organismo. A área apnêustica na região inferior da ponte estimula o centro bulbar inspiratório a promover inspirações profundas e prolongadas. Acreditase que a área pneumotáxica da ponte superior controle o padrão respiratório. Vários grupos de sítios receptores ajudam no controle encefálico da função respiratória. Os quimiorreceptores centrais, localizados no bulbo, respondem a alterações químicas no líquido cerebrospinal, que resultam de modificações químicas no sangue. Esses receptores respondem a um aumento ou diminuição do pH e transmitem uma mensagem aos pulmões para alterar a profundidade e, em seguida, a frequência da ventilação, a fim de corrigir o desequilíbrio. Os quimiorreceptores periféricos estão localizados no arco da aorta e nas artérias carótidas e respondem inicialmente a alterações na PaO2 e, em seguida, à pressão parcial de dióxido de carbono (PaCO2) e pH. Os mecanorreceptores do pulmão incluem receptores de alongamento, irritantes e justacapilares; estes respondem a mudanças na resistência, alterando os padrões respiratórios de modo a apoiar a função pulmonar ideal. Por exemplo, o reflexo de HeringBreuer é ativado por receptores de estiramento nos alvéolos. Quando os pulmões são distendidos, a inspiração é inibida; como resultado, os pulmões não se tornam hiperdistendidos. A propriocepção nos músculos e na parede torácica responde aos movimentos corporais, causando aumento da ventilação. Assim, exercícios de amplitude de movimento em um cliente imóvel estimulam a respiração. Por fim, os barorreceptores, também localizados na aorta e no corpo carótico, respondem ao aumento ou à diminuição na pressão arterial e causam hipoventilação ou hiperventilação reflexa. Considerações gerontológicas No início da idade adulta, começa a ocorrer um declínio gradual na função respiratória, que afeta a estrutura e função do sistema respiratório. A capacidade vital dos pulmões e a força dos músculos respiratórios alcançam seu pico entre 20 e 25 anos de idade e diminuem depois disso. Com o envelhecimento (40 anos ou mais), ocorrem mudanças nos alvéolos, que reduzem a área de superfície disponível para as trocas de oxigênio e dióxido de carbono. Por volta dos 50 anos de idade, os alvéolos começam a perder a elasticidade. A diminuição da capacidade vital ocorre com a perda da mobilidade da caixa torácica, o que restringe o fluxo corrente de ar. A quantidade de espaço morto respiratório aumenta com a idade. Essas alterações resultam em diminuição da capacidade de difusão de oxigênio com o avançar da idade, o que reduz os níveis de oxigênio na circulação arterial. Os idosos apresentam menor capacidade de mover rapidamente o ar para dentro e para fora dos pulmões. As alterações gerontológicas do sistema respiratório estão resumidas na Tabela 20.2. Apesar dessas mudanças, na ausência de uma doença pulmonar crônica, o idoso é capaz de realizar as atividades de vida diária, mas pode ter menor tolerância a elas e precisar de descanso adicional após uma atividade prolongada ou vigorosa. TABELA 20.2 Mudanças no sistema respiratório relacionadas com a idade. Mudanças estruturais Mudanças funcionais Achados da história e do exame físico Mecanismos de defesa (respiratórios e não respiratórios) ↓ Quantidade de cílios e ↓ muco ↓ Reӷexo de tosse e laríngeo Perda de área de superfície da membrana capilar Falta de ventilação e/ou ӷuxo sanguíneo uniforme ou consistente ↓ Proteção contra partículas estranhas ↓ Proteção contra a aspiração ↓ Resposta dos anticorpos aos antígenos ↓ Resposta à hipoxia e hipercapnia (quimiorreceptores) ↓ Reӷexo de tosse e muco ↑ Taxa de infecção História de infecções respiratórias, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pneumonia Fatores de risco: tabagismo, exposição ambiental, exposição à tuberculose (TB) Pulmão ↓ Calibre das vias respiratórias ↑ Diâmetro dos ductos alveolares ↑ Colágeno das paredes alveolares ↑ Espessura das membranas alveolares ↓ Elasticidade dos sacos alveolares ↑ Resistência das vias respiratórias ↓ Complacência pulmonar ↓ Taxa de ӷuxo expiratório ↓ Capacidade de difusão do oxigênio ↑ Espaço morto Fechamento prematuro das vias respiratórias ↑ Aprisionamento de ar ↓ Taxa de ӷuxo expiratório Incompatibilidade na ventilação– perfusão ↓ Capacidade de exercício ↑ Diâmetro anteroposterior (AP) Capacidade pulmonar total (CPT) inalterada ↑ Volume residual (VR) ↓ Volume de reserva inspiratório (VRI) ↓ Volume de reserva expiratório (VRE) ↓ Capacidade vital forçada (CVF) e capacidade vital (CV) ↑ Capacidade residual funcional (CRF) ↓ PaO2 ↑ CO2 Parede torácica e músculos do tórax CalciϿcação das cartilagens intercostais Osteoartrite das articulações costovertebrais ↓ Continuidade do diafragma Alterações osteoporóticas ↓ Massa muscular AtroϿa muscular ↑ Inӷexibilidade e rigidez da caixa torácica ↓ Força muscular respiratória ↑ Trabalho respiratório ↓ Capacidade de exercício ↓ Quimiossensibilidade periférica ↑ Risco de fadiga muscular inspiratória Hipercifose, tórax em barril Alterações esqueléticas ↑ Diâmetro AP Dispneia ↑ Respiração abdominal e diafragmática ↓ Taxas de ӷuxo expiratório máximo • • • • • • Avaliação História da saúde A história da saúde concentrase inicialmente no problema apresentado pelo cliente e nos sintomas associados, com atenção especial ao modo como todos os aspectos da vida do cliente, incluindo as atividades de vida diária e a qualidade de vida, são afetados. Ao realizar a entrevista, a enfermeira deve explorar o início, a localização, a duração, o caráter, os fatores de alívio ou piora, a radioterapia (se relevante)e a duração do problema apresentado e dos sintomas associados. Sintomas comuns Os principais sinais e sintomas da doença respiratória são dispneia, tosse, produção de escarro, dor torácica, sibilos e hemoptise. A enfermeira também avalia o impacto dos sinais e sintomas na capacidade do cliente de realizar atividades de vida diária e participar nas tarefas habituais e atividades familiares. Dispneia A dispneia (sensação subjetiva de respiração difícil ou trabalhosa, falta de ar, falta de fôlego) é um sintoma multidimensional comum a muitas doenças pulmonares e cardíacas, principalmente quando há diminuição da complacência pulmonar ou aumento da resistência das vias respiratórias. A dispneia também pode estar associada a reações alérgicas, anemia, transtornos neurológicos ou neuromusculares, traumas e doença avançada. É comum no final da vida. A dispneia também pode ocorrer depois do exercício em pessoas sem doenças (Porth, 2011). Como a dispneia pode ocorrer associada a outras condições, esses distúrbios também devem ser considerados quando se realiza a entrevista de saúde do cliente (Bickley, 2009; Porth, 2011). Em geral, as doenças agudas dos pulmões causam um grau mais grave de dispneia do que as doenças crônicas. A dispneia súbita em uma pessoa saudável pode indicar pneumotórax (ar na cavidade pleural), obstrução respiratória aguda, reação alérgica ou infarto agudo do miocárdio. Em clientes acamados, a dispneia súbita pode denotar embolia pulmonar. A dispneia e a taquipneia (frequência respiratória anormalmente elevada), acompanhadas por hipoxemia progressiva (baixo nível de oxigênio no sangue), em uma pessoa que passou recentemente por traumatismo pulmonar, choque, circulação extracorpórea ou múltiplas transfusões de sangue, podem ser um sinal de SARA. A ortopneia (incapacidade de respirar com facilidade exceto quanto em posição ortostática) pode ser encontrada em clientes com cardiopatia e, ocasionalmente, em clientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); a dispneia com sibilos expiratórios ocorre na DPOC. A respiração ruidosa pode resultar de estreitamento das vias respiratórias ou de obstrução localizada de um grande brônquio por um tumor ou um corpo estranho. O som agudo auscultado (geralmente na inspiração) quando alguém está respirando com uma das vias respiratórias superiores parcialmente bloqueada é chamado estridor. As circunstâncias que causam a dispneia devem ser determinadas; portanto, é importante fazer ao cliente as seguintes perguntas: Que quantidade de esforço provoca falta de ar? Ela ocorre ao fazer exercícios? Subir escadas? Em repouso? A falta de ar está relacionada com outros sintomas? Há ocorrência de tosse? O aparecimento da falta de ar foi súbito ou gradual? Em que momento do dia ou da noite a falta de ar ocorre? A falta de ar piora quando se está deitado? Quão grave é a falta de ar? Em uma escala de 1 a 10, se 1 for ausência de falta de ar e 10 for falta de ar máxima, qual será a dificuldade para respirar? É especialmente importante avaliar a classificação da intensidade da falta de ar, o esforço necessário para respirar e o impacto psicológico da dispneia no cliente, porque o cliente que experimenta dispneia frequentemente está com medo e ansioso (Ferrell e Coyle, 2010). Podemse usar escalas visual analógica ou de qualidade de vida relacionada com a saúde que incluem a dispneia como um componente que é avaliado quanto a sua gravidade e seu impacto na vida do cliente (Cox, 2010; Ferrell e Coyle, 2010; WredeSeaman, 2009). Os clientes usam uma variedade de termos e frases para descrever a falta de ar, e a enfermeira precisa esclarecer quais termos são mais familiares para o cliente e o significado desses termos. Tosse A tosse é um reflexo que protege os pulmões do acúmulo de secreções ou da inalação de corpos estranhos. Sua presença ou ausência pode ser uma pista diagnóstica, porque algumas doenças causam tosse e outras a suprimem. O reflexo de tosse pode ser prejudicado pela fraqueza ou paralisia dos músculos respiratórios, inatividade prolongada, uso de tubo nasogástrico ou função deprimida dos centros encefálicos bulbares (p. ex., anestesia, distúrbios encefálicos). A tosse resulta da irritação ou inflamação das mucosas em qualquer parte do sistema respiratório e está associada a várias disfunções pulmonares. Muco, pus, sangue ou um irritante do ar, como a fumaça ou um gás, podem estimular o reflexo de tosse. As causas mais comuns de tosse incluem asma brônquica, doença do refluxo gastrintestinal, infecção, aspiração e efeitos colaterais de medicamentos, como o inibidor da enzima conversora da angiotensina (iECA) (WredeSeaman, 2009). Para ajudar a determinar sua causa, a enfermeira pergunta sobre o início e a hora de ocorrência da tosse. A tosse noturna pode indicar o início de uma insuficiência cardíaca do lado esquerdo ou asma brônquica. A tosse matinal com produção de escarro pode indicar bronquite crônica. A tosse que piora quando o cliente está em decúbito dorsal sugere gotejamento pósnasal (rinossinusite). A tosse depois da ingestão de alimentos pode indicar aspiração de material para o sistema respiratório. A tosse de início recente geralmente é decorrente de uma infecção aguda. A enfermeira avalia o caráter da tosse e dos sintomas associados. A tosse seca e irritativa é característica de uma infecção da via respiratória superior de origem viral, ou pode ser um efeito colateral do tratamento com inibidores da ECA. A tosse irritativa aguda pode ser causada pela laringotraqueíte. A tosse estridente é decorrente de uma lesão da traqueia, e a tosse grave ou cambiante pode indicar um carcinoma broncogênico. A dor pleurítica que acompanha a tosse pode indicar um envolvimento pleural ou da parede torácica (musculoesquelético). A tosse violenta provoca broncospasmo, obstrução e irritação adicional dos brônquios, podendo resultar em síncope (desmaio). A tosse persistente pode afetar a qualidade de vida do cliente, bem como causar constrangimento, cansaço, incapacidade para dormir e dor. Portanto, a enfermeira deve explorar o efeito da tosse crônica e a opinião do cliente a respeito da sua importância e das suas consequências na sua vida. Produção de expectoração A produção de expectoração é uma reação dos pulmões a qualquer irritante constantemente recorrente e, muitas vezes, resulta da tosse persistente. Também pode estar associada a secreção nasal. A natureza da expectoração frequentemente é indicativa de sua causa. A quantidade profusa de secreção purulenta (espessa e amarela, verde ou cor de ferrugem) e a mudança na cor da expectoração são sinais comuns de infecção bacteriana. A expectoração mucoide rala frequentemente resulta de bronquite viral. O aumento gradual na expectoração ao longo do tempo pode ocorrer na bronquite crônica ou bronquiectasia. A expectoração de muco tingido de rosa sugere um tumor de pulmão. O escarro espumante, rosado e profuso que frequentemente surge na garganta pode indicar edema pulmonar. O escarro com mau odor e o mau hálito indicam abscesso pulmonar, bronquiectasia ou uma infecção causada por fusoespiroquetas ou outros microrganismos anaeróbicos. Dor torácica A dor ou desconforto no tórax pode estar associada à doença pulmonar, cardíaca, digestória ou musculoesquelética, ou à ansiedade. A dor torácica associada a condições pulmonares pode ser aguda, cortante e intermitente, ou pode ser difusa, incômoda e persistente. A dor geralmente é sentida no lado em que o processo patológico está localizado, embora possa ser referida a outros locais– por exemplo, para o pescoço, costas ou abdome. A dor torácica pode ocorrer na pneumonia, no infarto pulmonar ou na pleurisia, ou como sintoma tardio do carcinoma broncogênico. No carcinoma, a dor pode ser difusa e persistente, porque o câncer invadiu a parede torácica, o mediastino ou a coluna vertebral. A doença pulmonar nem sempre causa dor torácica, pois os pulmões e a pleura visceral não têm nervos sensitivos e são insensíveis a estímulos dolorosos. No entanto, a pleura parietal tem uma rica fonte de nervos sensitivos, que são estimulados pela inflamação e pelo alongamento da membrana. A dor pleurítica por irritação da • • • • • • • • pleura parietal é aguda e parece “cortar” na inspiração; os clientes muitas vezes a descrevem como uma sensação de “estar sendo esfaqueado”. Eles se sentem mais confortáveis deitandose sobre o lado afetado, porque isso imobiliza a parede torácica, limita a expansão e contração do pulmão, assim como reduz o atrito entre as pleuras feridas ou doentes desse lado. A dor associada à tosse pode ser reduzida manualmente pela imobilização da caixa torácica. A enfermeira avalia a qualidade, intensidade e irradiação da dor e identifica e explora fatores precipitantes e sua relação com a posição do cliente. Além disso, ela deve avaliar a relação da dor com as fases inspiratória e expiratória da respiração. (Ver discussão sobre a avaliação da dor no Capítulo 12). Sibilos O sibilo é um som musical estridente auscultado principalmente na expiração (asma brônquica) ou inspiração (bronquite crônica). Muitas vezes, é o principal achado em um cliente com broncospasmo ou estreitamento das vias respiratórias. Os roncos são sons contínuos de baixa frequência auscultados ao longo dos pulmões na obstrução parcial das vias respiratórias. Dependendo de sua localização e gravidade, esses sons podem ser auscultados com ou sem um estetoscópio. Hemoptise A hemoptise é a expectoração de sangue a partir do sistema respiratório. Pode manifestarse como um escarro tingido com uma quantidade pequena a moderada de sangue, ou como grande hemorragia, e sempre exige uma investigação mais aprofundada. O aparecimento de hemoptise geralmente é repentino, e pode ser intermitente ou contínuo. As causas mais comuns são: Infecção pulmonar Carcinoma pulmonar Anormalidades do coração ou dos vasos sanguíneos Anormalidades da artéria ou veia pulmonar Embolia e infarto pulmonar. A enfermeira deve determinar a fonte do sangramento, já que o termo hemoptise é reservado ao sangue proveniente do sistema respiratório. As fontes de sangramento incluem as bochechas, a nasofaringe, os pulmões ou o estômago. A enfermeira pode ser a única testemunha do episódio e, ao documentar o episódio hemorrágico, deve considerar os seguintes pontos: O escarro sanguinolento proveniente do nariz ou da nasofaringe geralmente é precedido por uma considerável quantidade de secreção drenando pelo nariz, onde também se pode observar sangue O sangue proveniente do pulmão geralmente é vermelho, espumoso e misturado com expectoração. Os sintomas iniciais incluem sensação de prurido na garganta, gosto salgado, sensação de queimação ou borbulhamento no tórax e, talvez, dor torácica, caso em que o cliente tende a imobilizar o lado do sangramento. Esse sangue tem um pH alcalino (acima de 7) O sangue proveniente do estômago é vomitado, em vez de expectorado, pode estar misturado a alimentos e normalmente é muito mais escuro, sendo muitas vezes chamado de “êmese em borra de café”. Esse sangue tem um pH ácido (inferior a 7). Antecedentes de saúde, sociais e familiares Além do problema atual e dos sintomas associados, a história também deve se concentrar nos antecedentes de saúde, pessoais e sociais do cliente, bem como nos antecedentes familiares. Fazemse perguntas específicas sobre doenças da infância, imunizações (incluindo vacinas mais recentes contra gripe e pneumonia), condições clínicas, lesões, cirurgias, internações, alergias e medicamentos atuais (incluindo fármacos de venda livre e fitoterápicos). Os antecedentes pessoais e sociais abordam questões como dieta, exercício, sono, hábitos de lazer e religião. Exploramse também os fatores psicossociais que podem afetar o estado do cliente (Boxe 20.5). A enfermeira avalia os fatores de risco e fatores genéticos que podem contribuir para a doença pulmonar do cliente (Boxes 20.6 e 20.7). Muitas doenças pulmonares estão relacionadas ou são agravadas pelo tabagismo; portanto, coletase também a história de tabagismo (incluindo a exposição ao tabagismo passivo). A história do • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • tabagismo normalmente é expressa em anosmaço, que é a quantidade de maços de cigarros fumados por dia vezes o número de anos que o cliente fumou. É importante saber se o cliente ainda está fumando ou quando parou de fumar. Por fim, as diferenças socioeconômicas enraizadas na raça e etnia podem predispor certos grupos a mais sofrimento relacionado com doenças pulmonares e também devem ser consideradas (Boxe 20.8). Boxe 20.5 AVALIAÇÃO Avaliação de fatores psicossociais relacionados com a função e doença respiratória Que estratégias o cliente usa para lidar com os sinais, sintomas e desaϿos associados à doença pulmonar? Que efeito a doença pulmonar teve na qualidade de vida, nos objetivos, no papel na família e na ocupação do cliente? Que mudanças a doença pulmonar desencadeou na família e nos relacionamentos com os familiares do cliente? O cliente manifesta depressão, ansiedade, raiva, hostilidade, dependência, afastamento, isolamento, evitação, não adesão, aceitação ou negação? Quais sistemas de apoio o cliente usa para lidar com a doença? Existem fontes de apoio (parentes, amigos ou grupos comunitários) disponíveis? O cliente e a família as usam de modo eϿcaz? Boxe 20.6 FATORES DE RISCO Doença respiratória Tabagismo (o contribuinte individual mais importante para a doença pulmonar) Exposição ao tabagismo passivo Antecedentes pessoais ou familiares de doença pulmonar Herança genética Exposição a alergênios e poluentes ambientais Exposição a certos perigos recreativos e ocupacionais DeϿciência de vitamina D Obesidade Exposição excessiva ao paracetamol no pré-natal e nos primeiros 2 anos de vida Adaptado de Rubin BK, Dhand R, Ruppel GL et al. (2011). Respiratory care year in review 2010: Part 1. Asthma, COPD, pulmonary function testing, ventilator-associated pneumonia. Respiratory Care, 56(4), 488–502. Se o cliente está com dispneia intensa, a enfermeira pode precisar modificar as perguntas feitas e o momento da coleta da história da saúde para evitar a piora na dispneia e na ansiedade do cliente. Depois de coletar a história completa, a enfermeira realiza uma avaliação abrangente. Dados obtidos tanto da história quanto da avaliação orientam o desenvolvimento de um plano de cuidados de enfermagem e as orientações ao cliente. Boxe 20.7 GENÉTICA NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM Disfunções respiratórias Várias condições que afetam a troca gasosa e a função respiratória são inӷuenciadas por fatores genéticos, incluindo: Asma brônquica Doença pulmonar obstrutiva crônica Fibrose cística DeϿciência de alfa-1 antitripsina. Avaliações de enfermagem Avaliação da história familiar Avalie a história familiar por três gerações de família com histórias de comprometimento respiratório Avalie a história familiar de pessoas com doença pulmonar crônica de início precoce e de doença hepática em crianças (sintomas clínicos da deϿciência de alfa-1 antitripsina) • • • • • • • • • • • • • Informe-se sobre a história familiar de Ͽbrose cística, uma doença respiratória autossômicarecessiva hereditária. Avaliação do cliente Avalie se há sintomas como alterações no estado respiratório associadas à asma brônquica (p. ex., respiração ofegante, hiper-responsividade, edema de mucosa e produção de muco) Examine em busca de efeitos multissistêmicos característicos da Ͽbrose cística (p. ex., tosse produtiva, sibilos, doença obstrutiva das vias respiratórias, problemas gastrintestinais que incluem insuϿciência pancreática, baqueteamento digital). Manejo de questões especí䊲奆cas à genética Informe-se se foi realizado um teste de mutação de DNA ou outro teste genético em um familiar afetado Encaminhe para avaliação e aconselhamento genético adicionais, de modo que os familiares possam discutir a herança, o risco aos outros membros da família e a disponibilidade de exames complementares/genéticos e intervenções baseadas em genes Ofereça informações e recursos genéticos apropriados Avalie o entendimento do cliente a respeito das informações genéticas Preste apoio aos familiares dos clientes com diagnóstico recente de doenças respiratórias relacionadas com a genética Participe do manejo e da coordenação do cuidado de saúde aos clientes com doenças genéticas e aos indivíduos predispostos a desenvolver ou transmitir uma doença genética. Recursos sobre genética American Lung Association, www.lungusa.org Cystic Fibrosis Foundation, www.cff.org Consulte no Capítulo 8, Boxe 8.6, recursos sobre genética.* *N.R.T.: No Brasil, há recursos como a Associação Brasileira de Assistência à Mucoviscidose (Abram) (http://www.amucors.org.br/site/associacao_abram.asp) e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) (http://sbpt.org.br). Boxe 20.8 Disparidades na saúde pulmonar relacionadas com a condição socioeconômica, raça e etnia: um retrato sucinto Mais afrodescendentes e hispano-americanos vivem em áreas com níveis mais elevados de poluição do ar e do trânsito, e têm maiores taxas de prevalência de asma brônquica em comparação com os brancos Os afrodescendentes e hispano-americanos têm menor probabilidade de receber vacina contra gripe e pneumonia quando comparados aos brancos Os hispano-americanos são mais propensos a trabalhar em ocupações que os expõem a maiores níveis de toxinas respiratórias perigosas Os americanos de origem indígena e nativos do Alasca têm taxas de mortalidade por gripe H1N1 quatro vezes maiores do que a taxa entre todos os outros grupos, provavelmente relacionadas com maiores índices de pobreza, atraso no acesso aos cuidados e doenças crônicas. Adaptado de American Lung Association. (2010). State of lung disease in diverse communities 2010. Disponível em: www.lungusa.org/assets/documents/publications/lung-disease- data/solddc_2010.pdf Exame físico do sistema respiratório Aspecto geral A aparência geral do cliente pode dar pistas sobre a condição respiratória. A enfermeira inspeciona principalmente em busca de baqueteamento digital e observa a coloração da pele. Baqueteamento digital O baqueteamento digital é uma alteração no leito ungueal normal. Manifestase como um leito ungueal esponjoso e perda do ângulo do leito ungueal (Figura 20.6). É um sinal de doença pulmonar encontrado em clientes com condições crônicas hipóxicas, infecções pulmonares crônicas ou doenças malignas do pulmão (Bickley, 2009). Aproximadamente 75% dos clientes que apresentam baqueteamento digital têm doença pulmonar subjacente (Massey e Meredith, 2010). Cianose A cianose, coloração azulada da pele, é um indicador muito tardio da hipoxia. A ocorrência ou não de cianose é determinada pela quantidade de hemoglobina não oxigenada no sangue. A cianose aparece quando há pelo menos 5 g/dℓ de hemoglobina não oxigenada. Um cliente com uma concentração de hemoglobina de 15 g/dℓ não apresenta cianose até que 5 g/dℓ de hemoglobina se torne não oxigenada, reduzindo a hemoglobina circulante eficaz a dois terços do nível normal. Um cliente com anemia raramente manifesta cianose, e um cliente com policitemia pode parecer cianótico mesmo quando adequadamente oxigenado. Portanto, a cianose não é um sinal confiável de hipoxia. A avaliação da cianose é afetada pela iluminação da sala, cor da pele do cliente e distância dos vasos sanguíneos da superfície da pele. Quando o cliente apresenta uma condição pulmonar, avaliase cianose central observandose a cor da língua e dos lábios. Isso indica diminuição da tensão de oxigênio no sangue. A cianose periférica resulta do fluxo sanguíneo diminuído para a periferia (dedos, pés ou lóbulos das orelhas), como na vasoconstrição por exposição ao frio, e não indica necessariamente um problema sistêmico central. Estruturas das vias respiratórias superiores Para um exame de rotina das vias respiratórias superiores, é necessária apenas uma fonte de luz simples, como uma lanterna. Um exame mais minucioso requer o uso de um espéculo nasal. Figura 20.6 No baqueteamento digital, a falange distal de cada dedo é arredondada e bulbosa. A placa ungueal é mais convexa, e o ângulo entre a placa e a unha proximal aumenta para 180° ou mais. A prega ungueal proximal, quando palpada, parece esponjosa ou flutuante. Entre as muitas causas do baqueteamento digital estão a hipoxia crônica e o câncer de pulmão. Nariz e seios paranasais (ou da face) A enfermeira inspeciona a parte externa do nariz em busca de lesões, assimetria ou inflamação e, em seguida, pede ao cliente para inclinar a cabeça para trás. Empurrando delicadamente a ponta do nariz para cima, a enfermeira examina as estruturas internas do nariz, inspecionando a mucosa para avaliar sua cor e a ocorrência de edema, exsudato ou sangramento. A mucosa nasal normalmente é mais vermelha do que a oral. Pode parecer túrgida e hiperemiada se o cliente estiver com um resfriado comum; no entanto, na rinite alérgica, a mucosa parece pálida e túrgida. Em seguida, a enfermeira inspeciona o septo em busca de desvios, perfuração ou sangramento. A maior parte das pessoas tem um leve grau de desvio de septo, mas o deslocamento real da cartilagem para o lado direito ou esquerdo do nariz pode provocar obstrução nasal. Esse desvio geralmente não causa sintomas. Enquanto a cabeça ainda está inclinada para trás, a enfermeira inspeciona as conchas inferior e média. Na rinite crônica, podem se desenvolver pólipos nasais entre as conchas inferior e média; eles se distinguem por sua aparência cinzenta. Ao contrário das conchas, os pólipos são gelatinosos e livremente móveis. Em seguida, a enfermeira pode palpar os seios frontais e maxilares em busca de pontos sensíveis (Figura 20.7). Usando os polegares, a enfermeira aplica uma pressão suave de modo ascendente nas arcadas superciliares (seio frontal) e na área da bochecha ao lado do nariz (seios maxilares). Pontos sensíveis em qualquer área sugerem inflamação. Os seios frontais e maxilares podem ser inspecionados pela transiluminação (com uma luz forte através de uma área óssea, como os seios, para inspecionar a cavidade; Figura 20.8). Se a luz não conseguir penetrar, a cavidade provavelmente contém líquido ou pus. Boca e faringe Depois da inspeção do nariz, a enfermeira avalia a boca e a faringe, orientando o cliente a abrir a boca e respirar fundo. Isso geralmente achata a parte posterior da língua e possibilita uma breve visão completa dos pilares anterior e posterior, tonsilas, úvula e faringe posterior (Figura 46.2). A enfermeira inspeciona a cor, a simetria e as evidências de exsudação, ulceração ou alargamento dessas estruturas. Se for necessário um abaixador de língua para deprimir a língua e examinar a faringe, o abaixador é pressionado firmemente além do ponto médio da língua para evitar uma resposta de engasgo. Figura 20.7 Técnica para palpar os seios maxilares à esquerdae os seios frontais à direita. Figura 20.8 À esquerda, a enfermeira posiciona a fonte de luz para a transiluminação do seio frontal. À direita, protege a testa da cliente e posiciona a luz. Em condições normais (um quarto escuro), a luz brilha através dos tecidos e aparece como um brilho avermelhado (acima da mão da enfermeira) sobre o seio. Traqueia Em seguida, observase a posição e mobilidade da traqueia pela palpação direta. Esta é realizada colocandose o polegar e o dedo indicador de uma das mãos em cada lado da traqueia imediatamente acima da incisura esternal. A traqueia é altamente sensível, e palpála com muita força pode desencadear uma resposta de tosse ou engasgo. A traqueia normalmente se encontra na linha média, à medida que se insere na entrada torácica por trás do esterno; no entanto, pode ser desviada por massas no pescoço ou no mediastino. Disfunções pulmonares, como pneumotórax ou derrame pleural, também podem deslocar a traqueia. Estruturas das vias respiratórias inferiores e respiração A avaliação das estruturas das vias respiratórias inferiores inclui inspeção, palpação, percussão e ausculta do tórax. O cliente deve ser posicionado conforme necessário antes da avaliação. Posicionamento Para avaliar o tórax posterior e os pulmões, o cliente deve estar na posição sentada com os braços cruzados na frente do tórax e as mãos colocadas sobre os ombros opostos (Bickley, 2009). Essa posição separa as escápulas amplamente e expõe uma maior área do pulmão para avaliação. Se o cliente é incapaz de se sentar, coloqueo em decúbito dorsal e roleo de um lado para o outro para completar o exame posterior. Para avaliar a parte anterior do tórax e dos pulmões, o cliente deve estar em decúbito dorsal ou sentado. O decúbito dorsal possibilita o deslocamento mais fácil do tecido mamário do cliente, melhorando a capacidade da enfermeira de realizar o exame de tórax. Inspeção do tórax A inspeção do tórax fornece informações sobre o sistema respiratório, as estruturas musculoesqueléticas e o estado nutricional do cliente. A enfermeira observa a coloração e o turgor da pele sobre o tórax e procura sinais de perda de tecido subcutâneo. Se houver assimetrias, é importante observálas. No registro ou relato dos achados, usamse os marcos anatômicos como pontos de referência (Boxe 20.9). Configuração do tórax. Normalmente, a razão entre o diâmetro anteroposterior e o diâmetro lateral é de 1:2. No entanto, existem quatro deformidades principais do tórax associadas à doença respiratória que alteram essa relação: tórax em barril, tórax em funil (pectus excavatum), tórax de pombo (pectus carinatum) e cifoescoliose. Tórax em barril. O tórax em barril ocorre por hiperinsuflação dos pulmões, que aumenta o diâmetro anteroposterior do tórax. Acontece com o envelhecimento e é um sinal típico do enfisema pulmonar e da DPOC. Em um cliente com enfisema pulmonar, as costelas são mais espaçadas e os espaços intercostais tendem a se abaular para fora na expiração. Assim, a aparência do cliente com enfisema pulmonar avançado é muito característica, possibilitando que a enfermeira o detecte com facilidade, mesmo à distância. Tórax em funil (pectus excavatum). O tórax em funil ocorre quando há uma depressão na parte inferior do esterno. Isso pode comprimir o coração e os grandes vasos, resultando em sopros. O tórax em funil pode ocorrer com o raquitismo ou síndrome de Marfan. Tórax de pombo (pectus carinatum). O tórax de pombo ocorre pelo deslocamento anterior do esterno, que também aumenta o diâmetro anteroposterior. Esse tipo pode ocorrer no raquitismo, na síndrome de Marfan ou na cifoescoliose grave. Cifoescoliose. A cifoescoliose é caracterizada pela elevação da escápula e de uma coluna em forma de S correspondente. Essa deformidade limita a expansão dos pulmões dentro do tórax. Pode ocorrer na osteoporose e em outros distúrbios esqueléticos que afetam o tórax. Padrões e frequências respiratórias. Observar a frequência e profundidade da respiração é um aspecto simples, mas importante, da avaliação. O adulto normal que está confortavelmente em repouso realiza de 14 a 20 respirações por minuto (Bickley, 2009; Massey e Meredith, 2010). Exceto por suspiros ocasionais, as respirações são tranquilas e de profundidade e ritmo regular. Esse padrão normal é descrito como eupneico. Determinados padrões respiratórios são característicos de estados de doença específicos. Os ritmos respiratórios e seu desvio do normal são observações importantes que a enfermeira relata e documenta. A frequência e a profundidade dos vários padrões respiratórios são apresentadas na Tabela 20.3. Alerta de domínio do conceito Há diferenças sutis entre os padrões respiratórios de Cheyne-Stokes e de Biot. Entre os períodos regularmente ciclados de apneia, a respiração de Cheyne-Stokes demonstra um padrão regular com frequência e profundidade respiratórias que aumentam e depois diminuem. Na respiração de Biot, períodos de apneia irregularmente ciclados são intercalados com ciclos de frequência e profundidade normais. Podese observar pausas temporárias na respiração, ou apneias. Quando a apneia ocorre repetidamente durante o sono, secundária à obstrução transitória da via respiratória superior, a condição é chamada de apneia obstrutiva do sono. Em pessoas magras, é normal observar uma ligeira retração dos espaços intercostais durante a respiração tranquila. O abaulamento dos espaços intercostais durante a expiração implica obstrução ao fluxo de ar expiratório, como no enfisema pulmonar. A retração importante na inspiração, principalmente se assimétrica, implica bloqueio de um ramo da árvore respiratória. O abaulamento assimétrico dos espaços intercostais, em ambos os lados do tórax, é provocado pelo aumento da pressão no interior do hemitórax. Isso pode ser decorrente do ar aprisionado sob pressão no interior da cavidade pleural, onde ele não está normalmente presente (pneumotórax), ou pela pressão do líquido no interior da cavidade pleural (derrame ou efusão pleural). Boxe 20.9 Localização dos marcos torácicos No tórax, a localização é deϿnida tanto horizontal quanto verticalmente. Já nos pulmões, a localização é deϿnida pelo lobo. Pontos de referência horizontais Horizontalmente, os locais do tórax são identiϿcados de acordo com sua proximidade com a costela ou espaço intercostal sob os dedos do examinador. No aspecto anterior, a identiϿcação de uma costela especíϿca é facilitada inicialmente localizando-se o ângulo do esterno. Esse é o ponto em que o manúbrio se une ao corpo do esterno na linha média. A segunda costela une-se ao esterno nesse importante marco anatômico. Outras costelas podem ser identiϿcadas pela contagem decrescente a partir da segunda costela. Os espaços intercostais são referidos em termos da costela imediatamente acima do espaço intercostal; por exemplo, o quinto espaço intercostal está diretamente abaixo da quinta costela. Localizar as costelas na superfície posterior do tórax é mais difícil. O primeiro passo é identiϿcar o processo espinhoso. Isso é conseguido localizando-se a sétima vértebra cervical (vértebra proeminente), que é o processo espinhoso mais proeminente. Quando o pescoço é discretamente ӷexionado, o sétimo processo espinhoso cervical se destaca. As outras vértebras são então identiϿcadas por meio da contagem descendente. Pontos de referência verticais Várias linhas imaginárias são usadas como referências ou pontos de referência verticais para identiϿcar a localização dos achados torácicos. A linha medioesternal passa ao longo do centro do esterno. A linha hemiclavicular é uma linha imaginária que desce a partir do meio da clavícula. O ponto de impulso máximo do coração normalmente Ͽca ao longo dessa linha no tórax esquerdo. Quando o braço é abduzido a 90°, pode-se
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