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1. CARACTERÍSTICAS GERAIS E CONCEITOS A rede hidrográfica brasileira apresenta, de uma maneira geral, as seguintes características: • Drenagem exorreica, com rios correndo direta ou indiretamente pa ra o Oceano Atlântico. • Foz ou desembocadura em forma de estuário. • Rios de planalto, com ele va do potencial hidrelétrico (–+ 263.400.000 kW). • Regime pluvial tropical aus tral com cheias de verão e vazantes no inverno. • Rios perenes predominante men te. 2. PRINCIPAIS BACIAS HIDROGRÁFICAS E SEUS MANEJOS Durante muitos anos, os estudiosos do litoral bras i - leiro consideravam a presença de pouquíssimos rios com foz em delta; a maioria deles seriam estuários, com exceção dos deltas dos Rios Parnaíba, Acaraú, Grande e das Piranhas, todos com foz no Nordeste. Entre os últimos, o professor Aziz N. Ab’Sáber, geógrafo brasileiro, passou a considerar também os Rios Araguari, no Amapá, o já conhecido Rio Parnaíba, no Piauí; o São Francisco, entre Sergipe e Alagoas; o Rio Jequitinhonha, no sul da Bahia; o Rio Doce, no Espírito Santo, e o Rio Paraíba do Sul, na região norte do Estado do Rio de Janeiro. O professor Ab’Sáber discute sobre a ocupação dos deltas desses rios, comentando o isolamento geográfico do Rio Araguari, no Amapá; a beleza cênica do delta do Rio Parnaíba, no Piauí, e da área mais intensa mente ocupada do Rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro. Bacias Hidrográficas do Brasil Amazônia Tocantins Principais Parnaíba� São Francisco Paraná Platina � Paraguai Uruguai Costeiras do Norte Costeiras Nordeste Ocidental Secundárias Costeiras Nordeste Oriental Costeiras Sudeste� Costeiras Sul – 129 FRENTE 1 Geografia do Brasil HidrografiaMÓDULO 11 C2_3o_GEO_Teoria_Rose_2012 10/01/12 15:37 Page 129 1. IMPORTÂNCIA ❑ Histórica – até 1940 a agricultura era a principal fonte de renda do Brasil. Durante praticamente três séculos, o Brasil produziu cana-de-açúcar e, por um século, café; só a partir da década de 1940, diversificou sua produção. – atualmente, a agricultura é responsável por cerca de 21,3% do PIB nacional. – emprega cerca de 17% da mão-de-obra ativa do país. – mostra uma relação cada vez mais intensa com a atividade industrial, passando a depender das atividades urbanas. Pode-se mencionar, atualmente, a agroin - dústria, na qual a indústria fornece insumos (máquinas, adubos, irrigação) e o campo fornece matéria-prima. 2. FATORES NATURAIS ❑ Relevo Nosso relevo planáltico e ondulado exige cuidados, mas não chega a ser um empecilho à produção. ❑ Clima O clima tropical do Brasil faz que predominem culturas como o café, a cana, o cacau, o milho ou o algodão. Mas a porção sul de nosso território, com climas subtropicais, permite também culturas temperadas como o trigo, a uva, a soja, entre outros. Além disso, com a tropicalização, alguns produtos, como a soja ou o trigo, passam a ser cultivados em áreas tropicais. Maior problema climático: os altos índices de chuva. ❑ Solo É a camada superficial da rocha que se decompôs por causa da ação do clima e das bactérias. Os solos férteis do Brasil cobrem cerca de 6% do território na - cional. Os principais solos férteis do Brasil são: a) Massapé: surge no litoral oriental do Nordeste, resultado da decomposição do calcário, de cor preta, profundo, lixiviado, onde se cultiva cana desde o século XVI; b) Terra roxa: aparece no interior do Centro-Sul do Brasil, resultado da decomposição do basalto. De cor avermelhada, foi descoberto por plantadores de café. Atualmente, planta-se cana neste solo; c) Solo de várzea: surge em maior ou menor escala junto aos rios, sendo formado por aluviões. De cor cinza ou preta, é utilizado para culturas adaptadas a ambientes úmidos, como o arroz. Problemas: a) Erosão: destruição mecânica dos solos pela ação das enxurradas, desde que estejam desprotegidos. Anualmente, perdem-se toneladas de solos férteis. Pode provocar problemas como a voçoroca; b) Lixiviação: empobrecimento do solo pela ação da água que “lava” os nutrientes, carregando-os para as camadas inferiores; c) Laterização: formação de uma crosta no horizonte superior do solo pelo acúmulo de óxidos de ferro e alumínio, transportados para a superfície pela evaporação. Soluções: a) Proteção: a prevenção é a melhor atitude. Protegendo-se o solo pela manutenção da cobertura vegetal original, evita-se o problema. Pode-se lançar mão do reflorestamento. b) Curvas de nível: técnica de cultivo que segue as curvas das montanhas, permitindo um melhor escoamento da água sem provocar erosão. c) Terraceamento: em terrenos muito inclinados, corta-se a montanha em patamares para evitar a erosão. d) Adubação: recolocação de nutrientes artificial- mente para recuperar um solo lixiviado. 3. A DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS NO BRASIL No Brasil, há um total de 5.219.504 de propriedades. Dessas, 53,1% ocupam um total de 2,8% da área agrícola disponível, em estabelecimentos conhecidos como minifúndios (propriedades com área inferior ao módulo rural, ou seja, incapazes de produzir seu sustento e progresso socioeconômico, geralmente com área inferior a 10 ha). Por outro lado, há os latifúndios (propriedades 600 vezes maiores do que o módulo rural da região, ou seja, com mais de 1.000 ha), que representam apenas 0,9% dos 5,2 milhões de propriedades, mas que abran - gem 42,3% da área disponível. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, estabelecimento agropecuário é todo terreno de área contínua, independente do tamanho ou situação (urbana ou rural), formado de uma ou mais parcelas, 130 – Importância, Fatores e Problemas de Agricultura e PecuáriaMÓDULOS 12 a 14 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 130 subordinado a um único produtor, onde se processa uma exploração agropecuária, ou seja: o cultivo do solo com culturas permanentes e temporárias, inclusive hortaliças e flores; a criação, recriação ou engorda de animais de grande e médio porte; a criação de pequenos animais; a silvicultura ou o reflorestamento e a extração de produtos vegetais. Essa má distribuição de terras é acompanhada por um processo de concentração cada vez mais intenso, devido à mecanização, à expulsão do pequeno agricultor e ao avanço das frentes agrícolas. Isto fez surgir figuras como: a) o sem-Terra, também conhecido como posseiro, que invade propriedades com o objetivo de produzir, mesmo sem o título da terra. Há no Brasil, hoje, movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que realizam invasões para forçar o governo a promover a reforma agrária. b) o grileiro, aquele que falsifica títulos de proprie - dade e vende-os como se fossem autênticos. Propriedades Rurais A modernização da agricultura, nas últimas décadas, implicou na agregação de maior tecnologia e menor necessidade de novos espaços, embora a fronteira agrícola continue a se expandir. Se essa tendência persistir – a do aumento da produtividade – o discurso reformista, que questiona a estrutura agrária, sobretudo a fundiária perderá o sentido. É verdade que o aumento da produtividade ocorre em ritmo acelerado, e também que a agricultura adquire cada vez mais um caráter moderno e competitivo, mas ainda está longe de predominar em todo o País propriedades produtivas, independente da dimensão, geradoras de empregos diretos e indiretos. A estrutura agrária e fundiária do jeito que ainda se apresenta é fonte de problemas, no campo e nas cidades. Distribuição de Terras A questão fundiária no Brasil agravou-se com a evolu ção da economia do país. Nos últimos 50 anos, apesar do País ter se tornado urbano de forte inspiração industrial, o campo ainda guarda resquícios de seu período colonial. A modernização da agricultura, a subordinação do campo à cidade, a implantação e implementação da agroindústria não solucionaram os graves problemas sociais no campo relativos à má distribuição das terras. Não era esse o objetivo da capitalização do campo. O resultado é um número crescente de trabalhadores rurais e desempregados sem acesso a terra. O surgimento de inúmerosmovimentos de sem-terra, com destaque para o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, passaram a se constituir elemento de pressão sobre o governo e os proprietários. A modernização da agricultura produtiva e compe - titiva no plano internacional, não pode depender de políticas demagógicas de distribuição fundiária, nem do redirecionamento da produção visando apenas à improdutiva geração de itens de subsistência. – 131 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 131 As invasões de terras têm- se sucedido nos últimos anos, aumentando os conflitos e as mortes pelo Brasil afora. A solução seria a re for - ma agrária, proces so me - diante o qual o governo de sa propriaria as terras que não estivessem sendo utili - zadas (ou fossem usadas para a especulação), distri - buindo-as aos sem-terra, além de fornecer ajuda para o sucesso da reforma. A reforma agrária já vem sendo discutida desde o fim da Segunda Guerra Mun dial, de acordo com a seguinte cronologia: – décadas de 1940-50: criação de comissões para o estudo do caso, sem resultados palpáveis; – década de 1960: pri - meiras tentativas feitas no governo de João Goulart, abortadas pelo Golpe de 1964; em outubro de 1964, foi criado o Incra, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, órgão responsável pelo cadastra - mento das terras e aplica ção do Estatuto da Terra. Assentou famílias na Amazônia, mas teve atuação incipiente na década de 1970; – década de 1980: em 1985, foi criado o Ministério da Reforma Agrária, com a obrigação de aplicar o PNRA — Plano Nacional de Reforma Agrária; – 1988: a reforma agrária foi inscrita na Constituição, cabendo ao governo federal promovê-la; tal responsa bi - lidade ficou a cargo do Ministério da Agricultura. 4. SISTEMAS AGRÁRIOS No Brasil, utilizam-se, de uma maneira geral, três sistemas de produção, a saber: ❑ Extensivo Também conhecido como roçado, dispõe de gran - des extensões de terra, que são subutilizadas, pequena inversão de capitais, mão-de-obra familiar, às vezes em esquema de mutirão, tecnologia rudimentar e baixos rendimentos, produzindo para a subsistência ou espe - cu lação; geralmente consiste em uma monocultura (milho ou mandioca). Sistema extensivo – desflorestamento – coivara; – esgotamento de solos; – rotação de solos; – pequeno rendimento; – produção por homem; – terra abundante. 132 – C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 132 Dentro do sistema extensivo, surge o termo “roça” ou sistema itinerante, em que as técnicas utilizadas são bastante rudimentares, com pouco ou nenhum adubo, levando a terra ao esgotamento e, posteriormente, ao abandono. No Brasil, o sistema de roça é ainda encontrado, apresentando, como resultado, uma agricultura de baixos rendimentos e produção irregular. ❑ Intensivo Trata-se da propriedade comercial, próxima a grandes centros, onde há disponibilidade de capitais, mas as propriedades são pequenas. Utilizam-se de mão- de-obra especializada e insumos agrícolas; as culturas são diversificadas (policultura) e o rendimento é elevado, voltado para o mercado urbano (consumo direto ou industrial). Sistema intensivo – uso permanente do solo; – rotação de cultivos; – fertilizantes; – seleção de sementes; – seleção de espécies; – mecanização; – grande rendimento; – produção por hectare; – mão-de-obra abundante e qualificada; – terra escassa. ❑ Plantation Introduzido no Brasil durante o período colonial. Atualmente, é um sistema que dispõe de grandes propriedades, nas melhores terras do País. Possui grande inversão de capitais, o que permite a aplicação de tecnologia (insumos e mecanização); pode dispor de mão-de-obra numerosa (desde a mais humilde até a qualificada); apresenta um elevado rendimento e produz uma monocultura tropical (café, cacau, cana-de-açúcar etc.), voltada para o mercado exterior ou industrial. Plantation – domínio geográfico: áreas tropicais; – monocultura; – grandes estabelecimentos; – capitais abundantes; – mão-de-obra numerosa e barata; – alto nível tecnológico; – trabalho assalariado; – aproveitamento agroindustrial da produção; – cultivos destinados à exportação; – grande rendimento. ❑ Semi-intensivo Trata-se da modernização da agropecuária com a introdução de técnicas modernas, adoção de insumos industriais, mas com a disposição de terra abundante, grande impacto sobre o solos etc. 5. UTILIZAÇÃO DAS TERRAS Segundo o IBGE, as áreas dos estabelecimentos, tendo como critério a sua realização, foram divididas nas seguintes categorias: ❑ Lavouras permanentes Compreendem a área plantada ou em preparo para o plantio de culturas de longa duração, que após a colheita não necessitem de novo plantio, produzindo por vários anos sucessivos. ❑ Lavouras temporárias Abrangem as áreas plantadas ou em preparo para o plantio de culturas de curta duração (via de regra, menor que um ano) e que necessitem, geralmente, de novo plantio após a colheita; incluíram-se também nessa categoria as áreas das plantas forrageiras destinadas ao corte. – 133 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 133 ❑ Terras em descanso Terras habitualmente utilizadas para o plantio de lavouras temporárias, que se encontram em descanso, por prazo não superior a 4 anos em relação ao último ano de sua utilização. ❑ Pastagens naturais Constituídas pela áreas destinadas ao pastoreio do gado, sem terem sido formadas mediante o plantio, ainda que tenham recebido algum trato. ❑ Pastagens plantadas Abrangem as áreas destinadas ao pastoreio e formadas mediante plantio. ❑ Matas naturais Formadas pelas áreas de matas e florestas naturais utilizadas para extração de produtos ou conservadas como reservas florestais. ❑ Matas plantadas Compreendem as áreas plantadas ou em preparo para o plantio de essências florestais, incluindo as áreas ocupadas com viveiros de mudas dessas essências. ❑ Terras produtivas não utilizadas Constituídas pelas áreas que se prestam à formação de culturas, pastos ou matas e não estejam sendo usadas para tais finalidades. Foram incluídas as terras não utilizadas por período superior a 4 anos. ❑ Terras inaproveitáveis Formadas por áreas imprestáveis para formação de culturas, pastos e matas, tais como: areais, pântanos, encostas íngremes, pedreiras etc., e as formadas pelas áreas ocupadas com estradas, caminhos, construções, canais de irrigação, açudes etc. 6. EXPLORAÇÃO DA TERRA No Brasil, explora-se a terra de maneira direta e indireta. Na exploração direta da terra, temos o próprio proprietário explorando a sua terra. Cerca de 60% das propriedades do Brasil são exploradas dessa maneira. Na exploração indireta da terra, o proprietário cede a sua terra para outros explorarem. Surge, então, o arrendatário, que paga uma renda ao proprietário pela utilização da terra. Ou então, o parceiro, que paga pelo uso da terra com parte de sua produção. Estabelecem-se, portanto, o meio (meeiro), o terço, o quarto, ou a forma que o parceiro combinar com o produtor. Quanto à utilização de mão-de-obra, nota-se no Brasil o aumento do número de trabalhadores temporários, dentre os quais se destaca o “boia-fria” ou volante, que, vivendo na periferia de pequenas e médias cidades, vai trabalhar no campo mediante empreitadas. É um trabalhador que é atingido pela mecanização do campo e dificilmente é protegido pela lei. 134 – C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 134 7. PESSOAL OCUPADO Segundo o IBGE, distinguem-se cinco categorias: ❑ Responsável e membros não-remunerados da família O produtor ou o administrador responsável pela direção do estabelecimento, recebendo quantia fixa ou cota-parte da produção. ❑ Empregados permanentes Pessoas contratadas para execução de tarefas per - ma nentes ou de longa duração, mediante remuneração em dinheiro ou em quantia fixa de produtos, inclusive os membros das famílias dos empregados permanentes que efetivamente os auxiliam na execução de suas respectivas tarefas. ❑ Empregados temporários Pessoas contratadas para execução de tarefas eventuais ou de curtaduração, mediante remuneração em dinheiro ou sua equivalência em produtos, inclusive os membros das famílias desses empregados que os auxiliam na execução de suas respectivas tarefas. ❑ Parceiros Pessoas diretamente subordinadas ao responsável, que executam tarefas mediante recebimento de uma cota-parte da produção obtida com seu trabalho (meia, terça, quarta etc.), e os seus familiares que os ajudam na execução das suas tarefas. ❑ Outra condição Consideram-se todas as pessoas cujo regime de trabalho difere do regime dos grupos anteriores, tais como: agregados, moradores etc. 8. CONFLITOS FUNDIÁRIOS E INVASÕES DE TERRAS A estrutura fundiária desigual exclui um grande contingente populacional do acesso a terra, com isso intensificaram nos últimos anos os conflitos pela posse da terra. As invasões de terra são instrumentos, questio - nável, de pressão popular sobre as autoridades e sobre os grandes proprietários improdutivos. A Constituição de 1988 estabelece que são passíveis de desapropriação as terras improdutivas, mas define o que é produtividade. Esse impasse traz grande insatisfação entre os sem-terras e intranquilidade entre proprietários, inibindo investimentos, que podem refletir positivamente na área social. Os conflitos fundiários no campo, devido ao recru - descimento da violência, da organização dos sem-terra e da iniciativa de defender a todo o custo a terra, por parte dos grandes proprietários, têm aumentado o número de mortes na zona rural. Por um lado, é verdade, algumas invasões depredam o patrimônio de proprietários de terras, mas o entendimento do problema fundiário como caso de polícia está também longe dos verdadeiros esforços para o entendimento, e ampliam o número de óbitos no campo na luta por terra. 9. AGRONEGÓCIO É a agricultura comercial de grande escala, com modernas propriedades, alta tecnologia e produção em larga escala, geralmente voltada para a exportação. O Brasil está entre os maiores competidores mundiais em agronegócio. É o maior produtor mundial de café, laranja e cana-de-açúcar. E é o maior exportador de carne bovina do mundo. O cultivo de lavouras de grãos aumentou 24% no cerrado entre 2000 e 2008, por con ta do avanço do plantio nas pastagens de gra dadas e áreas novas de cerrado. Esse aumento reflete uma das prin cipais transformações no campo nesse período, que é o aumento da integração entre a criação de gado de corte e o plantio de grãos. Este sistema reduz o custo de manejo das duas atividades, além de aumentar a pro du - tividade. Ele utiliza a mesma área para a lavoura durante três anos e depois a transfere por um ano para a pastagem. Assim, um quarto da propriedade é des tinado à criação de gado e o restante ao plantio de lavouras. No verão planta-se soja e algodão e no inverno, milho e aveia. O sistema tem garantido boa produ tividade. Na agricultura de precisão utilizam-se infor - mações de satélites e computação para aumentar a eficiên cia no controle de pragas e doenças e no uso de máquinas. O resultado é uma elevada produtividade. Agronegócio PIB 23,7% Empregos 31% Exportações 36% Plano Agrícola 2009/2010 R$ 41 bilhões – 135 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 135 136 – (I G B E , C en so A g ro p ec uá rio .) (I G B E , C en so A g ro p ec uá rio .) C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 136 – 137 10.AGRICULTURA FAMILIAR Caracterizada pelas pequenas pro priedades onde trabalham famílias inteiras, com no máximo dois empre ga dos. A agricultura familiar é a que mais cria empregos no campo, 7 de cada 10, e é responsável também pela mai oria dos alimentos que abastecem a mesa do bra si lei ro, produzindo 84% da mandioca, 67% do feijão, 54% do leite, 49% do milho, 40% de aves e ovos e 58% dos suínos. Pronaf – o Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Fa mi liar possui diversos planos de crédito para o pequeno agricultor. Esses créditos têm duas finalidades: custeio e investimento. Os créditos de custeio são aqueles que se destinam à compra de insumos, como adubos, sementes ou serviços. Servem também para o plantio das lavouras ou para a compra de rações para animais. Os créditos para investimento são aqueles dirigidos à compra de bens duráveis (tratores, máquinas e imple - mentos) ou à realização de benfeitorias, como matrizes, cercas, silos e estábulos. 11.PRINCIPAIS PRODUTOS AGRÍCOLAS O Brasil destaca-se pela grande produção agro - pecuária. Apesar de o País não depender apenas da exportação oriunda deste setor, este ainda é responsável pelo emprego de significativo percentual de ativos e corresponde a segmento importante de nossa balança comercial. Dentre os produtos agrícolas brasileiros e seus maiores produtores, merecem destaque: ❑ Lavouras permanentes Algodão arbóreo CE, PB, PI, RN, PE. Banana SP, BA, PA, MG, SC, PE. Cacau BA, PA, RO, ES, MT, AM. Erva-mate PR, RS, SC, MS. Hévea SP, MT, BA, MG, ES, MA. C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 137 138 – Café MG, ES, SP, RO, BA, PR. Pimenta-do-Reino PA, MG, BA, MA, RO, PB. Uva RS, SP, PE, PR, BA, SC. Laranja SP, BA, SE, MG, RS, PR. C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 138 – 139 ❑ Lavouras temporárias Algodão arbustivo ou herbáceo MT, GO, BA, SP, MS, PR. Juta AM, PA. Arroz RS, MT, SC, MA, PA, TO. Cana-de-açúcar SP, AL, PR, MG, PE, MT. C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 139 140 – Sisal BA, PB, RN, CE, PE. Milho PR, RS, SP, GO, MG, SC. Tabaco RS, SC, PR, AL, BA, SE. Feijão PR, MG, SP, BA, GO, SC. Soja MT, PR, RS, GO, MS, BA. C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 140 – 141 Trigo PR, RS, MS, SP, GO, MG. Mandioca PA, PR, BA, RS, SP, MA. IBGE/DPE/COAGRO – Pesquisa de Estoques 1o. semestre de 2009 12.A AGRICULTURA MODERNA DO BRASIL Os investimentos estatal e privados no setor agro pe - cuário mudaram nos últimos anos o perfil da agricultura brasileira, que amargava índices baixos de produti vi - dade, sofria com a falta de recursos e com a preca rie - dade da infraestrutura. No entanto, este panorama mu dou recentemente, sobretudo no que se refere à produção voltada para a exportação. Os agronegócios movimentam bilhões de dólares anualmente. O mercado das commodities impôs a necessidade de uma produção dinâmica, sob o risco de, com o processo de globalização, o País perder espaço no mercado internacional. Os investimentos são múltiplos e múltiplas são as áreas: biotecnologia, mecanização, desenvolvimento de sistemas de escoamento mais eficazes, com destaque para o transporte intermodal, aumento na capacidade de armazenagem, qualificação da mão-de-obra, monito - ramento por satélites da área plantada, correção do solo, tecnologia na antecipação de manifestação climática, usinagem, irrigação, calagem. Enfim, a atividade agro pe - cuária brasileira deixou de ser a agricultura da subsistência ou da plantation; a nova agricultura é moderna, compe - titiva, otimizada por recursos e técnicas, mas não resolveu suas contradições: ainda falta terra para quem quer plantar, praticam-se ainda as queimadas; a erosão, a lixiviação, a laterização, e a voçoroca ainda ameaçam nossas safras. 13.TIPOS DE CRIAÇÃO E REBANHOS Efetivo dos rebanhos em 2004 comparativamente a 2003 – Brasil IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal 2003 e 2004 ❑ Características gerais da atividade pecuária brasileira • Rebanho entre os maiores do mundo: cerca de 230 milhões de cabeças. • Ocupa 25% da superfície do país, com pastagens naturais e artificiais. • Baixa produtividade, de uma maneira geral, devida: – à inadequada estrutura fundiária; – ao baixo nível tecnológico; – a técnicas rudimentares. ❑ Criação extensiva Tem como características marcantes: – grandes áreas; – gado criado à solta; – pastagens naturais; – falta de aplicação de técnicas avançadas de criação; – baixo rendimento; – ser destinada ao corte (carne); Estoque dos produtos investigados em 30/06/2009 – Brasil Produtos Estoque em 30/06/2009 (t) Algodão (em pluma)178 050 Algodão (em caroço) 3 802 Caroço de algodão 162 606 Semente de algodão 886 Arroz (em casca) 4 813 296 Arroz beneficiado 137 069 Semente de arroz 37 301 Café (em coco) 15 805 Café (em grão) 838 219 Feijão preto (em grão) 80 683 Feijão de cor (em grão) 116 505 Milho (em grão) 11 017 491 Semente de milho 266 781 Soja (em grão) 13 822 653 Semente de soja 469 905 Trigo (em grão) 3 601 901 Semente de trigo 38 769 Rebanho Efetivo2003 Efetivo 2004 Variação 2003/2004 Bovino 195.551.576 204.512.737 4,58 Suíno 32.304.905 33.085.299 2,42 Equino 5.828.376 5.787.250 –0,71 Asinino 1.208.660 1.196.324 –1,02 Muar 1.345.389 1.358.419 0,97 Bubalino 1.148.808 1.133.622 –1,32 Caprino 9.581.653 10.046.888 4,86 Coelhos 335.555 324.582 –3,27 Ovino 14.556.484 15.057.838 3,44 Galinhas 183.799.736 184.786.319 0,54 Galos, frangas, frangos e pintos 737.523.096 759.512.029 2,98 Codornas 5.980.474 6.243.202 4,39 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 141 142 – – número reduzido de cabeças por hectare. Ex.: Triângulo Mineiro, Campanha Gaúcha, sul do Pará. ❑ Criação intensiva Tem como características marcantes: – áreas limitadas; – rebanhos pouco numerosos; – alto rendimento; – aplicação de métodos científicos; – ser destinada à produção de leite; – proximidade dos grandes centros urbanos. Ex.: Vale do Paraíba, sul de Minas Gerais etc. ❑ Criação semi-intensiva – maior expansão atualmente. C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 142 – 143– 143 PRODUÇÃO MUNDIAL DE GADO Bovinos Índia Brasil Rússia EUA Bubalinos Índia China Paquistão Brasil (10.°) Caprinos Índia China Paquistão, Nigéria Brasil (9.°) Equinos China EUA México, Rússia Brasil (5.°) Ovinos Austrália Rússia China, N. Zelândia Brasil (18.°) Suínos China Rússia EUA, Alemanha Brasil (5.°) Evolução da Produção de Leite – Brasil IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal Ano Quantidade de leite (1.000 litros) 1990 14.484.413 1991 15.079.186 1992 15.784.011 1993 15.590.882 1994 15.783.557 1995 16.474.365 1996 18.515.390 1997 18.666.010 1998 18.693.914 1999 19.070.048 2000 19.767.206 2001 20.509.953 2002 21.643.740 2003 22.253.863 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 143 144 – 1. PETRÓLEO Principais eventos históricos: 1896 – Primeira perfuração no interior de São Paulo. 1907 – Criação do Serviço Geológico e Mineralógico. 1937 – Descoberta de petróleo na Bahia, na região do Recôncavo. 1938 – Criação do Conselho Nacional do Petróleo; nacionalização das jazidas. 1953 – Criação do monopólio estatal e da Petro- bras para gerir esses monopólios. 1975 – Criação dos contratos de risco, flexibilizando a prospecção. 1997 – Instituída a lei que “quebra” o monopólio da Petrobras que continua sob controle estatal. É criada a ANP (Agência Nacional de Petróleo). 2004 – Conclusão de estudos sobre a formação de petróleo na camada do Pré-Sal. 2006 – Autossuficiência do Brasil em petróleo. 2007 – Descoberta da Bacia de Santos, no Campo de Tupi. 2008 – Novas descobertas no Pré-Sal no ES e Santos. 2009 – Definição do marco regulatório de exploração do petróleo no Pré-Sal. Criação da Petrosal. 2. O “FIM” DO MONOPÓLIO Na década de 1940 e 50, o Brasil assistiu a uma campanha intitulada “O Petróleo é Nosso”, que pregava a estatização e o controle total sobre a produção de petróleo. Vivia-se um período de nacionalismo exacer - bado, e a campanha desembocou na criação da Petrobras, em 3 de outubro de 1953. Essa medida desgos - tou grupos defensores da livre iniciativa, que queriam a atuação das multinacionais do petróleo no Brasil. Esses grupos ganharam grande força a partir de 1973, quando a crise mundial do petróleo mostrou a incapacidade da Petrobras em suprir as necessidades nacionais. Os próprios contratos de risco de 1976 demonstraram a insatisfação do governo com a atuação de sua estatal. Os defensores da livre iniciativa recrudesceram suas críticas à Petrobras, mas os governos militares impe diram qualquer medida que pusesse fim ao monopólio estatal. Essa situação vai mudar com o fim do militarismo. Nos governos pós-1986, surgem no Congresso tímidas tentativas de pôr fim ao monopólio. O incentivo vai partir do próprio governo constituído em 1994, que passa a apoiar o fim da ingerência do Estado na economia, propondo o fim do monopólio. Em 1997, o Congresso aprovou a lei que determina o fim da exclusividade da Petrobras. Mas, atenção: o monopólio do Estado sobre o petróleo não terminou. O Estado continua sendo responsável pela prospecção e lavra, refino, importação e transporte de óleo bruto, mas poderá ceder esses direitos para outras empresas que se habilitarem, além da Petrobras. Cabe, entretanto, à Petrobras alguns direitos como, por exemplo, determinar a prioridade sobre certos campos de exploração, destinando outros que não queira explorar para outras empresas. Para regular essas atividades, o governo criou a ANP (Agência Nacional de Petróleo). Além disso, a Pe - tro bras continua a ser uma estatal, apesar de o governo acenar com a possível venda de parte de suas ações. Não obstante a movimentação legislativa, a Petro - bras vem aumentando sua produção de óleo bruto, chegando a 1,860 milhão de barris por dia em 2008. As prioridades para os próximos anos, definidas pela ANP e pela Petrobras, são: • O investimento pesado nos chamados campos maduros, aqueles cuja baixa produtividade até há bem pouco tempo inviabilizava aportes maiores de capital das operadoras de grande porte, como a Petrobras, que aprovou o Programa de Revitalização de Campos com Alto Grau de Explotação (Recage), que tem por objetivo fazer um levantamento das áreas maduras da companhia e rediscutir estratégias a elas destinadas. Além de tecnologia para a repontecialização, a Petrobras também se beneficia do fato de nessas áreas já haver toda uma infraestrutura amortizada, o que torna necessário apenas investimentos pontuais. • O processo de amadurecimento da Bacia de Campos merece atenção especial da Petrobras, que já começou a traçar não só uma estratégia de rejuvenes ci - mento dos campos hoje maduros, como também iniciou um processo de migração para áreas não só com alto potencial exploratório, como Santos, Espírito Santo e Sergipe-Alagoas, como também as consideradas de fronteira tecnológica. Em especial, temos as Bacias de Cumuraxatiba (BA) e as localizadas na parte equatorial do País, nas Regiões Norte e Nordeste. Petrobras Fontes de EnergiaMÓDULOS 15 e 16 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 144 – 145 Petrobras, 2008 (Ministério de Minas e Energia (MME) – Balanço Energético Nacional (BEN) 2006, Ano base 2005.) Maiores Consumidores Mundiais de Petróleo, 2007-2008 (em milhares barris/dia) (Elaboração própria a partir dos dados do BP Statistical Review 2009. IBGE) PETRÓLEO – PRODUÇÃO MUNDIAL País produtor 2005 106t % País exportador 2004 106t País importador 2004 106t Arábia Saudita 519 13,2 Arábia Saudita 346 EUA 577 Fed. Russa 470 12,0 Fed. Russa 258 Japão 206 EUA 307 7,8 Noruega 132 China 123 Irã 205 5,2 Nigéria 123 Coréia do Sul 114 México 188 4,8 Irã 122 Alemanha 110 China 183 4,7 México 105 Índia 96 Venezuela 162 4,1 E. Árabes 95 Itália 93 Canadá 143 3,6 Venezuela 94 França 85 Noruega 139 3,5 Canadá 87 Fed. Russa 63 Nigéria 133 3,4 Iraque 75 Holanda 60 Demais 1.474 37,6 Demais 716 Demais 708 Países / Continentes (em milhares de b /d) 2008 / 2007 (%) % Consumo Mundial2007 2008 Estados Unidos 20.680 19.419 –6,1% 23,0% China 7.742 7.999 3,3% 9,5% Japão 5.039 4.845 –3,8% 5,7% Índia 2.748 2.882 4,9% 3,4% Rússia 2.706 2.797 3,4% 3,3% Alemanha 2.393 2.505 4,6% 3,0% Brasil 2.274 2.397 5,4% 2,8% Canadá 2.323 2.295 –1,2% 2,7% Coreia do Sul 2.389 2.291 –4,1% 2,7% Arábia Saudita 2.054 2.224 8,3% 2,6% Países-membros OCDE 48.830 47.303 –3,1% 56,0% África 2.776 2.881 3,8% 3,4% América do Norte 25.030 23.753 –5,1% 28,1% América do Sul & Central 5.681 5.901 3,9% 7,0% Ásia-Pacífico 25.277 25.339 0,2%30,0% Europa & Eurásia 20.031 20.158 0,6% 23,9% Oriente Médio 6.084 6.423 5,6% 7,6% Total 84.878 84.455 –0,5% 100,0% PRODUÇÃO DE GÁS NATURAL (mil metros cúbicos/dia) RJ — 23470 ES — 11.480 AM — 9.876 SE — 2049 AL — 1486 PRODUÇÃO DE PETRÓLEO (barris/dia) RJ — 1.597.387 ES — 193.962 RN — 60.861 AM — 52.964 BA — 49.472 SE — 42.072 SP — 16.983 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 145 146 – 1. EVOLUÇÃO INDUSTRIAL q 1a fase (até 1808) Não havia uma indústria brasileira. A atividade industrial resumia-se à produção de tecidos grosseiros e raros artigos de natureza artesanal. q 2a fase (após 1808) Caracterizada pela liberação da atividade industrial, que até então havia sido proibida pela metrópole. Começavam a surgir alguns setores de necessidade imediata e de menor custo de capitais, tais como de produtos alimentícios, têxteis, de artefatos de couro e material de construção. A partir de 1889, o governo passou a tomar medidas protecionistas no intuito de defender a indústria nacional da concorrência externa. q 3a fase (após 1953) Conforme a nova orientação governamental, observamos a grande aplicação de capital estrangeiro, o planejamento da infraestrutura e a instalação de setores básicos, como o da indústria automobilística, construção naval, mecânica e química. A terceira fase, iniciada após 1953, perdurou pelos go vernos de Juscelino Kubitschek, João Goulart e gover - nos militares, quando grandes investimentos estrangeiros foram feitos no Brasil, com a vinda de multinacionais do mundo todo (na última etapa, inclusive do Japão). O processo de industrialização vinha sendo dire cio - na do, desde a ditadura Vargas, para a concentração espacial em São Paulo. No governo de Ernesto Geisel, estabeleceu-se uma política de descentralização espa - cial das indústrias, na tentativa de atraí-las para outros centros. Surgiu assim o Plano Siderúrgico Nacional, criando novos polos em outros pontos do Brasil, como Salvador, na Bahia, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Nos anos 80 houve a um processo de crise no crescimento industrial, causado pela alta da taxa de juros internacional, bem como pela crise da dívida externa, que forçou o País a reduzir salários e desvalorizar a moeda num esforço de exportação. Passou-se por um período conhecido como estagflação, no qual, ao mesmo tempo em que a economia não crescia, a inflação corroía o poder de compra dos consumidores, impedindo a modernização e a retomada do crescimento industrial. O processo de estagflação só findou nos anos 90, quando a dívida foi renegociada. Entramos numa nova fase em que se estabelece a abertura às impor tações. Se, por um lado, isto permite o reapa re lhamento de muitos setores industriais pela importação de maquinário, por outro lado prejudica o desen vol vimento de diversos setores de base, em razão da concorrência às vezes desleal dos produtos importados, podendo gerar desemprego. q 4a fase (após 1990) Caracteriza-se pelas privatizações e por um proces - so de descentralização do parque industrial. O crescimento menor de São Paulo deve-se ao processo de descentralização industrial. Graças à entrada de industrializados importados e à retração do mercado internacional, houve uma redução da produção e do emprego industrial nos últimos anos. 2. OS GRANDES CENTROS INDUSTRIAIS DO BRASIL Em 1930, o governo estabeleceu planos para substituir paulatinamente os produtos manufaturados importados. Durante a Segunda Guerra Mundial, foram criados setores de indústria pesada, empregando-se, em geral, equipa mentos de segunda mão. q São Paulo Já vimos que é na Região Sudeste onde se encontra a maior e mais importante concentração industrial do País, destacando-se o estado de São Paulo. A maior concentração in dus trial do estado de São Paulo encontra-se na Grande São Pau lo, formada pelo município de São Paulo e mais 39 muni cí pios vizinhos. A Grande São Paulo é um centro poli-industrial e constitui o maior parque industrial do Brasil e da América Latina. Além do município de São Paulo, me re cem destaque vários outros mu ni cípios de grande impor tância industrial, tais como: ABCDMR, ou seja, pela ordem: Indústria de TransformaçãoMÓDULOS 17 e 18 (IBGE) C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 146 – 147 Santo An dré, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires. Além desses, destacam-se também: Osasco, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Suzano etc. No estado de São Paulo, além da Grande São Paulo, encontramos importantes centros industriais, normal mente situados ao longo dos principais eixos rodoviários ou rodoferroviários, tais como: – Anhanguera – Campinas, Americana, Limeira, Piracicaba, Ribeirão Preto. – Dutra – Jacareí, São José dos Campos, Taubaté etc. – Washington Luís – Rio Claro, São Carlos, Arara quara, São José do Rio Preto etc. – Marechal Rondon – Bauru, Lins. – Raposo Tavares – Sorocaba, Itapetininga, Presi dente Prudente. – Anchieta – Cubatão, Santos. (Pesquisa Industrial 2008. Empresa, Rio de Janeiro: IBGE) q Rio de Janeiro No estado do Rio de Janeiro, a maior concentração industrial encontra-se na Grande Rio (centro poli- industrial). Além da capital, destacam-se centros monoin - dustriais, como: Petrópolis e Nova Friburgo (têxtil), Volta Redonda, Barra Mansa (siderurgia), Campos (açúcar) etc. q Minas Gerais Em Minas Gerais, graças à abundância de recursos minerais (ferro, manganês, ouro, alumínio etc.), desen - volveu-se um grande centro metalúrgico e siderúrgico localizado não só na Grande Belo Horizonte (Belo Horizonte, Sabará, Nova Lima, Contagem, Betim), mas também em municípios como Mariana, Santa Bárbara, Itabirito (zona metalúrgica), além de Juiz de Fora e outros. q Outros • Rio Grande do Sul Destacam-se a capital, como centro poli-industrial, e centros periféricos, como Esteio, Canoas, Gravataí. São importantes também: Caxias (vinhos), Novo Hamburgo (couros, calçados), Pelotas (alimentos, carnes). • Paraná Destaque para a capital (móveis, alimentos, auto mo - bilística), Ponta Grossa e Guarapuava (madeira). Obs.: No Nordeste, a iniciativa oficial, por meio de incen tivos, principalmente da Sudene, possibilitou a instalação de vários parques industriais, geralmente localizados nas capitais dos principais estados. • Recife Destaque para o distrito industrial do Cabo, além de núcleos industriais como Paulista, Corado, Jaboatão e São Lourenço da Mata. • Salvador Destaque para os distritos industriais de Aratu (side - rur gia – Usiba) e Camaçari (polo petroquímico). 3. AS INDÚSTRIAS TRADICIONAIS As indústrias tradicionais compreendem vários ramos, tais como: alimentício, têxtil, madeireiro, bebidas, couro, calçados, móveis, fumo etc. A maior concentração dessas indústrias encontra-se no estado de São Paulo, o qual participa com 40% do total. No caso do Brasil, os dois setores mais importantes são o alimentício e o têxtil. q Indústria alimentícia A indústria alimentícia abrange diversos produtos, tais como: farinha, massas, laticínios, conservas, carnes, ó leos e gorduras, bebidas, doces, açúcar etc. A indústria C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 147 148 – alimentícia e a indústria têxtil, estão entre as primeiras indústrias criadas no País. Sua instalação efetiva ocorreu na segunda metade do século XIX, apoiada principalmente em capitais gerados pela economia cafeeira e na mão-de-obra imigrante. No início do século XX, esta indústria atingiu a autossuficiência e sofreu grande expansão do mercado consumidor, a partir da década de 30 e principalmente na década de 50, com o grande crescimento urbano. Continua sendo a mais importante indústria do País, ocupando o 1o lugar em número de estabelecimentos, pessoal ocupado e em valor de produção. Embora apareça disseminada por quase todo o território nacional, é na Região Sudeste e, dentro desta região, no estado de São Paulo, que se verifica a sua maior concentração. Além de São Paulo, os agrupa - mentos mais importantes encontram-se nas principais metrópolesdo País, como: Rio de Janeiro, Belo Hori - zonte, Porto Alegre, Recife, Salvador etc. q Alguns destaques – Carnes: (frigoríficos) – Araçatuba, Barretos, Uberlândia, Rio Grande, Pelotas, Campo Grande. – Bebidas: Ribeirão Preto, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Jundiaí, São Roque. – Laticínios: Araras, Guaratinguetá, Três Corações. – Açúcar (usinas): Campos, Piracicaba, Maceió. q Indústria têxtil A indústria têxtil, também instalada na segunda metade do século XIX, teve seu crescimento e expansão baseados no aumento populacional e consequente ampliação do mercado consumidor. Sofreu grande expansão a partir da década de 40, graças ao bloqueio das importações (Segunda Guerra), o que liberou o mercado interno para a produção nacional e, ao mesmo tempo, fez com que conquistasse alguns mercados externos (Europa, América Latina). Na década de 50, este setor passou por uma certa retração, em virtude de a maior atenção governamental estar vol ta da para os setores dinâmicos da indústria. A partir de 1967, ocorreu uma dinamização do setor, com a ex pan são do mercado interno e das exportações. Entre 1972 e 1973, o aumento das exportações de tecidos foi de 100%. A indústria têxtil, a exemplo da alimentícia, apresen - ta-se disseminada por grande parte do País e coloca-se também entre as mais importantes do País em pessoal ocupado (5a, em 1990) e em valor de produção (7a, em 1990). As maiores concentrações aparecem em São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Região Nordeste (Recife, Salvador etc.). 4. AS INDÚSTRIAS DINÂMICAS As indústrias dinâmicas correspondem, de modo geral, àquelas que, produzindo bens de produção, são responsáveis pela dinamização das demais indústrias e, em consequência, da própria atividade industrial. Por indústrias dinâmicas podemos entender diver - sos ramos, como: siderurgia, mecânica, naval, química etc. q Indústria siderúrgica Foi somente a partir de 1917 que se instalou no País, por iniciativa da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, localizada inicialmente em Sabará (MG) e depois em Monlevade (MG). Aproveitando a abundância de minério de ferro em Minas Gerais, outras siderúrgicas foram instalando-se na região e, durante muito tempo, esse estado foi o único centro siderúrgico do País. As cau sas que retardaram a instalação da siderurgia no Brasil foram: a) escassez de carvão mineral; b) falta de mão-de-obra; c) falta de capitais; d) ausência de indústrias capazes de consumir a produção. PRODUÇÃO DE AÇO Brasil 25.076.000 toneladas Minas Gerais 9.603.000 toneladas Rio de Janeiro 5.836.000 toneladas São Paulo 4.670.000 toneladas Espírito Santo 3.739.000 toneladas C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 148 – 149 A partir de 1942, a siderurgia tomou grande impulso com a instalação da Companhia Siderúrgica Nacional (ex-empresa estatal), em Volta Redonda, no Vale do Paraíba fluminense. A sua localização obede ceu: a) à situação intermediária entre as jazidas de carvão (SC) e as áreas produtoras de minério de ferro (MG); b) ao ponto de encontro entre a Central do Brasil e a Rede Mineira de Viação; c) à proximidade dos maiores centros industriais e consumidores do País: São Paulo e Rio de Janeiro; d) à abundância de energia elétrica; e) à maior disponibilidade de mão-de-obra. Tendo iniciado sua instalação em 1942, a CSN entrou em produção a partir de 1946, representando o marco da indústria de base no País e abrindo novas perspectivas para o desenvolvimento industrial. A elevada taxa de crescimento alcançada por este setor deve-se a vários fatores, tais como: a) desenvolvimento das atividades industriais de base, as quais passaram a consumir a produção siderúrgica (naval, automobilística, mecânica etc.); b) rápido desenvolvimento do setor de construção civil; c) grande apoio governamental; d) aumento do consumo de produtos industria liza dos. O principal problema que afeta a indústria side rúr gica é o fornecimento de matérias-primas (carvão mi ne ral), sendo, por isso, muito grande o consumo de carvão vegetal. • Os grupos siderúrgicos Para fins didáticos, podemos reunir as usinas siderúrgicas do Brasil em três grupos principais: • Grupo siderúrgico mineiro – Usiminas, localizada em Ipatinga, no Vale do Rio Doce. – Acesita, em Itabira. – Companhia Belgo-Mineira, com instalações em Sabará e Monlevade. – Companhia Siderúrgica Mannesmann, localizada em Belo Horizonte. • Grupo siderúrgico paulista – Cosipa, localizada em Piaçaguera (município de Cubatão). – Aços Villares, em São Caetano do Sul e Aços Anhanguera–SP. • Grupo siderúrgico do Rio de Janeiro – Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda. – Companhia Siderúrgica Barra Mansa, em Barra Mansa. – Cosigua, na cidade do Rio de Janeiro. Outras siderúrgicas – Companhia Ferro e Aço de Vitória (Cofavi), em Vitória (ES). – Companhia Siderúrgica do Nordeste (Cosinor), em Pernambuco. – Usina Siderúrgica da Bahia (Usiba), em Aratu (BA). – Aços Finos Piratini, em Canoas (RS). – Siderúrgica da Amazônia (Siderama), em Manaus (AM). Observações 1) 94% da produção siderúrgica concentra-se no Sudeste. 2) As maiores produções siderúrgicas são obtidas pela Usiminas, CSN e Cosipa. 3) Em 1973, foi criada a Siderbras (Siderúrgica Brasileira S/A), a fim de funcionar como planejadora e integralizadora e de gerar empreendimentos siderúr - gicos com participação governamental. 4) Na década de 90 houve a privatização das siderúrgicas estatais. C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 149 150 – DISTRIBUIÇÃO INDUSTRIAL Produção de aço bruto (milhões de toneladas) • Consumo per capita de aço no Brasil O consumo aparente per capita de aço é um dos indicadores do desenvolvimento econômico de um país. Na América Latina, o Brasil ocupa o 1o lugar na produção de aço, seguido por México, Argentina e Chile. Entretanto, se levarmos em conta o consumo aparente per capita, o Brasil é superado pela Venezuela, Argentina e Chile. Atualmente, o governo leva adiante um processo de privatização das companhias siderúrgicas, como a Cosipa, a Usiminas, a CSN, visando com isso passar para o setor particular várias empresas que oneravam sua balança de pagamento. Tal processo, levado a cargo pelo BNDES, vem-se intensificando desde 1990. q Indústria automobilística • Histórico Durante a Segunda Guerra Mundial, em razão das dificul dades de importação de peças de reposição, o Brasil passou a produzi-las no próprio País, originando, assim, a indústria de autopeças. Posteriormente, graças à liberação da importação de veículos e peças, a nascente indústria de autopeças do Brasil quase sucumbiu, isso só não ocorrendo porque em 1952 o governo passou a proibir a importação de peças que já possuíssem similares no Brasil. Em 1953, o governo proibiu a importação de veículos a motor completos e montados, porque o Brasil já possuía linhas de montagem instaladas no País. Em 1956, com a criação, pelo governo, do Geia – Grupo Executivo da Indústria Automobilística –, instalou-se definitivamente a indústria automobilística no País. A primeira indústria automobilística introduzida no Brasil foi a Vemag (1956) e, a seguir, a Volkswagen do Brasil (1958). Visando a estimular o desenvolvimento e os investi - mentos do setor, foram adotadas medidas, como: – isenção por 30 meses do pagamento do imposto de consumo e de taxas alfandegárias para importação dos equipamentos de produção; – crédito do BNDE (Banco Nacional de Desen- volvimento Econômico) e outras medidas. Além disso, o investidor estrangeiro contava com outras vantagens ou condições favoráveis, tais como: – mercado interno em expansão; – mão-de-obra numerosa e barata; – disponibilidade de matéria-prima; – siderurgia e química em expansão; – existência de uma indústria de autopeças. Diante das inúmeras vantagens oferecidas, foi naturalmente possível atrair os investidores europeus e norte-americanos. A escolha para a localização da indústria auto mo - bilística no estado de São Paulo, e particularmente na região do ABC, deve-se a váriasrazões, como: – instalações de montagens já pertencentes aos estrangeiros; – maior concentração da indústria de autopeças em São Paulo; – disponibilidade de energia elétrica; – mão-de-obra a baixo custo; – mercado consumidor; – proximidade do porto de Santos e da Via Anchieta; – existência de metalurgia e siderurgia (Cosipa) para fornecer matéria-prima (chapas etc.). Com a instalação da indústria automobilística, verifica-se grande expansão de atividades comple - mentares ou subsidiárias, tais como: – indústria de artefatos de couro e borracha; – indústria de vidros; – metalurgia e siderurgia. • A produção da indústria automobilística A produção automobilística vem passando por um grande crescimento desde 1958, colocando-se, atual - mente, entre as dez maiores do mundo, sendo superada pelos seguintes países: Japão, EUA, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Canadá e Coreia do Sul. As principais empresas automobilísticas são: – Volkswagen do Brasil – SP; – General Motors do Brasil – SP; – Ford Motores do Brasil – SP; – Mercedes-Benz do Brasil – SP; – Fábrica Nacional de Motores – RJ; – Fiat do Brasil – MG; – Volvo do Brasil – PR. Mundial País / região Janeiro / Março 2008 2007 China 124.936 115.089 UE 53.338 54.017 CEI 32.189 30.982 Japão 30.840 29.527 EUA 25.368 23.504 Outros 73.992 69.401 Total 340.663 322.520 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 150 – 151 PRINCIPAIS SETORES INDUSTRIAIS C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 151 152 – FRENTE 2 Geografia do Brasil Região Nordeste – Zona da Mata / Agreste / Sertão / Meio-Norte MÓDULO 11 1. ASPECTOS GERAIS O Nordeste é a terceira região geoeconômica do Brasil em extensão (1.561.177,8 km2), a segunda em efetivos populacionais (53.081.950 habitantes), segundo o IBGE em 2010, e a terceira em termos de população relativa, com 34,0 hab./km2. Sua população é mal distribuída e seu padrão de vida é mais baixo que a média nacional, constituindo-se em tradicional área de emigração. A Região Nordeste do Brasil está compartimentada em quatro sub-regiões, que são: Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio-Norte. A diversidade do quadro natural em cada uma das regiões determinou um processo diferenciado de ocupação humana e de desenvolvimento econômico. C2_3o_GEO_Teoria_Rose_2012 10/01/12 15:49 Page 152 – 153 2. ZONA DA MATA Abrange 7% da área total do Nordeste e reúne aproximadamente 23% da população, tendo como características naturais um clima tropical quente e úmido, solos férteis (domínio dos mares de morros florestados), presença de rios perenes e sua cobertura vegetal, outrora constituída por matas — Mata Atlântica —, é hoje o que se denomina “Zona da Mata”. A Mata Atlântica (mata latifoliada tropical úmida de encosta), que no século XVI se estendia do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, encontra-se bastante destruída, pois suas terras foram cedendo lugar à agricultura e a outras formas de ocupação humana. Nessas áreas, antes ocupadas pela mata, os solos são em geral mais espessos e ricos em húmus, o que contribuiu para a expansão da atividade agrícola. C2_3o_GEO_Teoria_Rose_2012 10/01/12 15:55 Page 153 Hoje, o que resta da Mata Atlântica aparece prin - cipal mente no sul da Bahia, mas a existência de madeiras de lei (jatobá, jacarandá, pau-de-jangada etc.) tem levado à derrubada sistemática de árvores na região. São numerosas as serrarias, beneficiando madeiras que são escoadas pela rodovia Rio-Bahia. As matas tropicais aparecem em outros pontos da região, formando verdadeiras “ilhas” no Agreste, no Cariri e no Vale do São Francisco. A Zona da Mata alonga-se no sentido norte-sul, desde o Rio Grande do Norte até a Bahia. Ela apresenta- se modi fi cada em vários pontos: ora ela é mais extensa, como em Pernambuco, ora é mais restrita e aparece junto aos vales fluviais (Rio Grande do Norte e Paraíba). Podem-se verificar ao longo da Zona da Mata modifi - cações climáticas (tropical com chuvas de inverno e tropical sempre úmido) que terão certa influência no uso do solo para cana-de-açúcar, cacau, coco e seringueira. A plantation é o sistema predominante nesta faixa litorânea e ainda hoje a lavoura canavieira é o elemento dominante na paisagem. Tomando o lugar anteriormente ocupado pela floresta, a cana-de-açúcar não aparece com a mesma intensidade nos diversos Estados nordestinos. No Rio Grande do Norte e Paraíba, a cana ocupou as várzeas fluviais, formando os chamados “rios de açúcar”. Em Pernambuco, dadas as condições naturais mais favo rá - veis, as lavouras expandiram-se e têm um papel impor - tante, particularmente no sul do Estado. De Pernam buco para o sul, sua importância diminui; reaparece no Recôncavo, formando uma nova concentração. Guardando uma feição da lavoura monocultora, a cultura canavieira sofreu algumas transformações: seu principal mercado é o Sudeste, existindo trechos onde foi introduzida a mecanização (Alagoas), e os engenhos (bangues) foram substituídos por modernas usinas açucareiras. O aparecimento das usinas gerou profundas alterações nas relações de trabalho. Os antigos traba - lha dores rurais passaram em sua grande maioria à con - dição de assalariados. A malha fundiária também se modificou, pois, como as usinas têm maior capacidade de produção que os engenhos tradicionais (bangues), ela vai gradativamente incorporando terras, aumen - tando a concentração fundiária e fazendo surgir os chamados “engenhos de fogo morto”, “engenhos de fogo apagado” e “engenhos de fogo de palha”; implica até mesmo a absorção de terras destinadas às lavouras de subsistência, privando, consequentemente, os tra ba - lhadores rurais da possibilidade da própria manutenção e do aumento de suas rendas familiares, por meio da venda de excedentes. Podemos observar, portanto, que dois processos gerais ocorrem na agroindústria açucareira no Nordeste: • a concentração fundiária; • a proletarização da população rural. No processo de utilização de mão-de-obra, as usinas provocaram o surgimento do trabalhador assalariado com nivelamento por baixo, sendo a maior parte deles não residente nas propriedades (“volantes” ou “corum - bas”): moram em favelas, nos centros urbanos, e só têm emprego na época de colheita. Este não é o caso dos trabalhadores dos “engenhos do fogo morto”, que forne - cem cana para as usinas e são na maioria rendeiros ou parceiros. A produção de açúcar na Zona da Mata tem sofrido séria concorrência de São Paulo, que é o primeiro pro du - tor brasileiro. Têm ocorrido diversas crises de superpro - dução de açúcar, e por isso o extinto IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) vem fixando cotas mínimas para consumo do açúcar nordestino, além de tê-lo destinado, na maior parte, à exportação. Mesmo assim, a crise estrutural gerada pelo latifúndio monocultor de cana persiste, o que já fez o IAA intervir em diversas usinas. Quem mais sofre é o homem da Zona da Mata, o trabalhador que chega a ficar muitas vezes durante oito meses sem receber salário, o “corumba” permanen te - mente desempregado ou subem pregado. A população do Nordeste vive em tal situação, que fez os cientistas sociais chamarem aquela região de “Índia Brasileira”, pela miséria que ali se verifica, pela terrível fome e mortalidade, principalmente infantil. Essa área, rica em tensões sociais pela estrutura exploratória existente, já foi palco de grandes agitações políticas depois de alguns lavradores começarem a se alfabetizar e a tomar consciência de seus problemas. Além da Zona da Mata em Pernambuco e Alagoas, de maior produção, existem também alguns “canaviais- brejos”, como o de Cariri, onde a produção se destina mais ao consumo local e ao fabrico de rapadura. Mais ao sul, na Bahia, apareceu outra atividade monocultora: o cacau — obtido em larga escala através do sistema de plantation. Produto originário da Amazônia, o início de seu cultivo, no começo do século XVIII, deu margem a uma onda de povoamento, cujos aspectos humanos mais vivos foram registrados pelos romances do “Ciclo do Cacau” de Jorge Amado.Aí aparecem também os latifúndios que utilizam princi - palmente a mão-de-obra assalariada. O cacaueiro é uma pequena árvore que exige muita sombra, sendo por isso plantado em meio a regiões de mata. De seu fruto, pode-se produzir chocolate, manteiga de cacau e alguns produtos para a indústria farma cêu tica. O Brasil é um grande exportador de cacau, ocupan - do um dos primeiros lugares, ao lado de Gana, Nigéria e Costa do Marfim. A maior produção dá-se no município de Ilhéus e, a seguir, no de Itabuna, fazendo com que a Bahia, na área compreendida entre os rios das Contas e Cachoeiras, detenha 95% da produção brasileira. É também nesta porção sul da Bahia que recen - temente foi introduzida a cultura de hévea (serin gueira), dadas as condições naturais semelhantes às da Ama - zô nia. 3. AGRESTE Abrange 3% da área total do Nordeste, com cerca de 16% de sua população. 154 – C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 154 O Agreste é uma faixa de transição entre a Zona da Mata e o Sertão. Às vezes ele é bem característico em seus aspectos, outras vezes ele pode ser identificado com a Mata, em seus trechos mais úmidos, ou com o Sertão, em seus trechos mais secos. “... o que caracteriza o Agreste é a diversidade de paisagens que ele oferece em curtas distâncias, funcionando quase como uma miniatura do Nordeste, com suas áreas muito secas e muito úmidas...” (M. C. Andrade.) O Agreste é um tipo de vegetação que se associa a solos pedregosos, duros ou arenosos. É constituído de árvores, arbustos e palmeiras e apresenta um tapete de vegetação rasteira. Como vegetação de transição que é, ora aparecem espécies de mata próxima, ora espécies de caatinga. Predominam aqui as pequenas propriedades de caráter minifundiário, voltados à produção de alimentos (nas áreas úmidas dos brejos) ou à pecuária (nas áreas mais secas). O Agreste está intimamente ligado à Borborema e quase sempre ocupa a porção oriental do topo do planalto. Constituído por uma longa faixa que se estende do Rio Grande do Norte aos planaltos baianos, o Agreste tem como uma das principais características a ausência de culturas tropicais valorizadas; é a policultura que as - sume um papel de destaque. A presença de fazendas de gado é outro elemento característico do Agreste, sendo a sua atividade mais importante. A introdução da cultura do algodão, em fins do século XVIII, provocou transformações na estrutura fundiária e nas relações de trabalho. As propriedades foram dividi - das, arrendadas em parcelas e exploradas por rendei - ros e pequenos proprietários, chegando a constituir verdadeiros minifúndios. Em certos trechos, devido à formação de chuvas de relevo, formam-se os brejos, onde se produzem gêneros alimentícios e frutas combinados com culturas comerciais: cana, café, fumo e sisal, principalmente. Apresentando densidades demográficas elevadas e uma estrutura agrária que tende para o minifúndio, o Agreste constitui uma área onde a pressão sobre a terra já se fez sentir com certa intensidade, favorecendo as migrações. 4. SERTÃO E LITORAL SETENTRIONAL O Sertão e o Litoral Setentrional abrangem uma vasta área (60% da superfície regional, com 48% da popula - ção), onde as atividades econômicas são bastante diferenciadas. Quanto aos aspectos naturais, convém ressaltar que se trata de uma área onde ocorre uma fisionomia sui generis no Brasil, pois o clima tropical semiárido (Bsh, segundo Köppen) com caatinga e rios intermitentes a caracterizam predominantemente, ocorrendo ainda solos pedregosos, mas férteis. Esta é a área de domínio das depressões interplanálticas semiáridas. As caatingas ocupam grandes extensões no Nor des - te. Apresentam aspectos bem diversos quanto ao porte e à densidade vegetal, de acordo com as condi ções climáticas e do solo. Como um todo, as caatingas estão adaptadas às condições semiáridas, havendo grande quantidade de bromeliáceas (plantas semelhantes a enormes “co - roas” de abacaxi, cujas espécies mais comuns são o caroá e a macambira) e cactáceas (xiquexique, facheiro, mandacaru, palma) disseminadas no meio das árvores e arbustos (aroeira, juazeiro e umbu). De um modo geral, as caatingas são um tipo de vege - ta ção aberta e baixa, cujas principais características são: perda de quase a totalidade das folhas no período seco, grande ramificação das árvores e arbustos e existência frequente de plantas espinhentas. Entre as formações vegetais das caatingas, várias se destacam pelo seu valor econômico, como a oiticica (óleos), o caroá (fibra), o angico (tanino) e a aroeira (construção). À medida que nos afastamos do Sertão, as caatingas cedem lugar, para oeste, às formações do cerrado, que recobre grandes extensões do Maranhão, Piauí e oeste da Bahia. Desde os tempos coloniais, predominam os latifún - dios para a criação de gado, ainda a principal atividade econômica. Nos trechos chamados de “pés de serra” e “altos de serra”, bem como nos vales dos rios, que são as áreas mais úmidas, aparecem as pequenas proprie - dades agrícolas. O conjunto de diferenciações pode ser explicado pela relação entre o quadro natural e as formas de atividade humana. – 155 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 155 “O Litoral Setentrional, por exemplo, forma uma estreita faixa que acompanha a costa; a praia em toda a sua extensão é coberta por dunas arenosas que, levadas pelo vento, caminham em geral para oeste. Este cami - nhar constante causa sérios problemas aos habitantes da faixa litorânea, pois quando não fixadas, elas aterram as salinas, habitações esparsas e até pequenas aglo - merações urbanas. Dificultam a construção de estradas e assoreiam a foz dos rios, impedindo a utilização dos estuários como portos… Aí, devido à baixa umidade do ar e amplitude das marés (2 a 3 m) e à pouca elevação da costa, os baixos vales dos Rios Açu, Mossoró e Jagua ri be são utilizados pelos produtores de sal, transformando-se as várzeas numa sucessão de ‘cercas’ e ‘cris- talizadores’ em que a água salgada se condensa e onde também pirâmides de sal se empilham.” (M. C. Andrade.) A exploração salineira está hoje em mãos de Northon (EUA), da MZK (holandesa) e de uma empresa italiana, o que alterou profundamente a estrutura da produção da área. Na década de 1970, foi construído o terminal marí - ti mo de Areia Branca, que é o principal porto salineiro da região e do Brasil. Outra área bem característica é a representada pelas várzeas largas e baixas dos rios sertanejos, que têm dezenas de quilômetros de largura, cujas depressões são transformadas em lagoas na época das enchentes e que estão cobertas por verdadeiras matas galerias de carnau beiras, ocupadas por habitações ou por roçados de milho, algodão e culturas de subsistência. Nestas áreas, a estrutura fundiária caracteriza-se por proprie - dades que são estreitas junto aos rios e muito compridas, esten dendo-se até os limites das “serras”. A população (as salariados, arrendatários e parceiros) combina dife - ren tes atividades econômicas (agricultura, pecuária e extração vegetal), para fins de subsistência ou para fins comerciais. A mais importante é a extração da cera de carnaúba. Nos grandes pediplanos sertanejos, onde os rios são em sua grande maioria intermitentes, e os solos são muito rasos, devido à presença de afloramentos rochosos, a atividade agrícola se vê limitada a umas poucas culturas: mandioca, feijão e milho, para fins de subsistência (culturas de “vazantes”), e o algodão, que constitui uma agricultura comercial típica do Sertão. A maior parte do Sertão, entretanto, é ocupada por latifúndios de criação (bovinos e caprinos). O gado é criado à solta, sendo as caatingas as “pastagens” naturais que servem de base a esta atividade econômica. As áreas serranas (Araripe, Apodi, Ibiapaba, Baturité), apesar de exíguas, funcionam como áreas de concentração populacional e como centros de produção agrícola. O Cariri, aos pés da Chapada do Araripe, constitui uma das mais importantes “ilhas úmidas” do Sertão. A maior umidade e a presença de solos maisférteis condicionaram a expansão de culturas como a cana e o café, estabelecendo profundas diferenças com as outras áreas sertanejas. O Vale do São Francisco é uma outra área que se destaca. Apesar de seu regime ser extremamente irre- gular, o São Francisco é um rio perene, com cheias que inundam as várzeas, ilhas e terras marginais, que são assim fertilizadas à medida que as águas baixam, e podendo então ser cultivadas. A matéria orgânica e a umidade deixadas pelo rio permitem uma produção diversificada, incluindo a agricultura de subsistência e a agricultura comercial de arroz e cebola, principalmente, e a cultura de melão e uvas. A estrutura fundiária também se apresenta diversi fi - cada: grandes latifúndios caracterizam as áreas de pecuária; pequenas propriedades, que tendem ao minifún dio, aparecem nas “serras” ou em outras áreas, com predomínio da agricultura. 5. MEIO-NORTE ❑ Aspectos gerais Abrange 30% da área total do Nordeste, concen tran - do aproximadamente 13% da população. É uma zona de transição entre o sertão nordestino, a Amazônia e o Centro-Oeste, e, embora apresente grande variedade de aspectos naturais que se alteram segundo a sua localização, podemos salientar o predomínio de um vegetal, o babaçu (Mata dos Cocais). 156 – C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 156 Do seu lado oeste, o Meio-Norte apresenta uma típica característica amazônica, sendo incluída também na Amazônia Legal a metade ocidental do Maranhão. Caminhando para o sudeste da área, a rarefação das chuvas, o surgimento de elementos climáticos do tipo Bsh e das espécies vegetais características da caatinga evidenciam influência da Região Nordeste. O Brasil Central também se faz sentir no Meio-Norte em sua porção meridional, onde a pecuária exercida no cerrado lembra os campos de criação de Tocantins. Os recursos de integração regional do Maranhão e Piauí foram até o ano 2000 orientados tanto pela Sudam (oeste mara nhen - se) como pela Sudene, que administrava o restante do território desses dois Estados. No que tange às características socioeconômicas, ocorre predomínio dos latifúndios dedicados à criação de gado e à extração vegetal. Os babaçuais aparecem na porção central do Estado do Maranhão e se estendem entre os vales dos Rios Turiaçu e Parnaíba. Seu aproveitamento econômico é considerável, sen - do fonte de matérias-primas para as indústrias de sabão, detergente, margarina, manteiga de cacau e óleos vegetais. À proporção que se caminha para o sudeste do Ma - ranhão, as formações de babaçu vão se tornando menos densas, substituídas pouco a pouco pelos carnaubais. A carnaúba tem um papel bastante importante na economia regional e aparece frequentemente ao longo dos rios, formando verdadeiras matas de galerias. Os carnaubais aparecem em geral nas áreas de clima mais seco, estendendo-se do Piauí ao Rio Grande do Norte. Resta fazer referência às manchas de campos (os campos inundáveis do Maranhão são os mais impor tan - tes) e à vegetação litorânea (manguezais, vege - tação das dunas, restingas e tabuleiros), cuja presen ça e cujas características dependem das condições locais. ❑ O processo de povoamento do Meio-Norte A colonização do Meio-Norte teve basicamente duas direções. No Maranhão, foi a partir do século XVII que a área do Golfão, depois da expulsão dos franceses, começou a ser povoada, por meio de exploração agrícola nos vales dos rios. Ao longo do Itapecuru desenvolveu-se também uma atividade pecuária, os “currais de dentro”. O ciclo da cana-de-açúcar não levou o Maranhão ao esplendor das áreas litorâneas do Nordeste, mas no século XVIII a introdução da plantation de algodão com trabalho escravo povoou e enriqueceu a antiga província, num processo que Celso Furtado chama de “falsa euforia” do fim do Período Colonial. Os negros, antes inexistentes na região, passaram a constituir parte fundamental da sua vida, e nas regiões próximas do Golfão, como ao longo dos Vales dos Rios Itapecuru e Mearim-Pindaré, os trabalhadores africanos propiciaram aos seus senhores uma vida bastante opulenta que até hoje se reflete nos antigos sobradões das cidades tradicionais. Afirmam os historiadores: “O algodão, apesar de branco, tornou preto o Maranhão”. Também o arroz foi introduzido nessa época. O Piauí, de maneira diversa, foi colonizado a partir do fim do século XVII. Vieram da Bahia as primeiras correntes migratórias, sob a bandeira da pecuária sertaneja, sempre com nordestinos à sua frente: eram os “currais de dentro”. Fugitivos da seca, até hoje muitos nordestinos da área avançam pelo Meio-Norte, desbravando a vegetação natural, a qual queimam e derrubam para plantar sua roça de alimentos. Etnicamente, observamos o predomínio do cafuzo no Meio-Norte (mestiço de negro com índio). O elemento negro, o indígena e o branco constituem o restante da população, existindo também no Meio-Norte alguns pequenos núcleos de estrangeiros brancos, principalmente eslavos. As regiões mais povoadas são as de atividades agrícolas associadas ao extrativismo vegetal, predominantemente nos Vales do Itapecuru e Parnaíba. Aliás, a colonização do Meio-Norte desenvolveu-se de forma linear ao longo dos rios. Bastante povoada é a área do Golfão, onde se situa São Luís e Ribamar, dois centros importantes da vida regional. O povoamento das áreas de criação de gado é, ao contrário do que ocorre nos vales, bem disperso e de baixa densidade. Das cidades do interior, apenas se destacam Parnaíba, às margens do rio de mesmo nome, a maior do Piauí, e Caxias, no Maranhão, às margens do Itapecuru. Em Parnaíba predomina a população urbana, ocupada na industrialização de cera de carnaúba e em outras indústrias de beneficiamento. Atualmente, encontram-se em fase de consolidação várias rodovias, ligando Teresina a São Luís e o sertão piauiense a Recife; Parnaíba sofre uma perda de importância, em virtude de não ser atendida por essas rodovias. Quanto a Caxias, coloca-se como um nó de comunicação, ligando o comércio do Piauí e o Nordeste com o Maranhão. Possui pequenas indústrias de tecido, óleo de babaçu, calçados, móveis, bebidas e beneficiamento de produtos agrícolas. ❑ Economia no Meio-Norte A característica mais evidente do Meio-Norte é o subdesenvolvimento. A industrialização é pequena e as atividades agrárias e extrativistas, pelo atraso das suas relações de produção e pelos baixos níveis cultural e técnico da população ativa, não oferecem renda capaz de arrancar o povo de seu baixo nível de vida. – 157 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 157 As potencialidades do meio físico não são as piores, e a região é perfeitamente explorável, mas o predomínio de estruturas coloniais de exploração, com o domínio do latifúndio improdutivo, não permite ao homem do Meio- Norte escapar de péssimas condições de vida. A economia maranhense está baseada no arroz, algodão e babaçu; no Piauí, predominam a pecuária e a carnaúba. O trabalhador rural é muitas vezes seminômade. Não possui terra, nem dispõe de nenhum sistema de crédito, e por isso vive como “agregado” dos grandes latifúndios, dedicando-se alternadamente à agricultura e à coleta, ou ainda à agricultura e às atividades pastoris. Nas áreas de colonização recente, os trabalhadores, na maior parte de origem nordestina, como no Vale do Pindaré, conseguem terras como posseiros, mas logo sofrem pressão dos grileiros, que vêm tirá-los de suas terras. Com todas essas dificuldades, o Meio-Norte se ressente ainda da falta de um mercado consumidor para produtos industriais, o que, junto com a falta de capitais, impede o desenvolvimento manufatureiro. A coleta do coco do babaçu e da cera de carnaúba constitui a atividade fundamental. O Maranhão detém 85% da produção brasileira de babaçu. Os cocais de babaçu se concentram nas áreas que se estendem desde o leste do Rio Turiaçu, prolongando-se paralelamente à Baía de São Marcos e indo ao Vale Médio do Mearim e aos Vales do Itapecuru e Parnaíba. Calcula-se em bilhões os pés de babaçu, permitindo a produção de sabão, glicerina,velas, alcatrão, carvão e até um sucedâneo para o chocolate. Além disso, o óleo de babaçu apresenta alta viscosidade, e não se altera com a temperatura, podendo assim ser adicionado a óleos lubrificantes com grandes vantagens. A palha da palmeira é utilizada como cobertura para casas, na fabricação de esteiras e cestas, e o palmito serve de alimento. Os principais centros de produção e comércio são: Caxias, Codó e Bacabal. São Luís é o maior produtor de óleo, exportado para outros países. Os homens colhem o coco, as mulheres o quebram para extrair a amêndoa; a comercialização é feita de maneira rudimentar, com meios de transporte precários e dominada por intermediários. As bases de produção são primitivas e antieconômicas, sendo a maior parte da produção completamente abandonada. Como diz Orlando Valverde: “O Maranhão proporciona um exemplo de anarquia na produção e no comércio, intimamente associada ao atraso político”. A exploração de carnaúba, que, como o babaçu, é feita em complementação à agricultura de subsistência, realiza-se nas baixadas úmidas do Piauí. A carnaúba é uma bela palmeira que chega a atingir 40 metros de altura e da qual tudo se aproveita. A cera, principal alvo da atividade coletora, é utilizada industrialmente na fa- bricação de velas, discos, películas de fitas cinemato- gráficas, glicerina e explosivos. Os frutos e folhas novas servem para alimentar o gado; o tronco fornece boa madeira para a construção de casas; as folhas, após a extração do pó de cera, são usadas na cobertura de casas, confecção de cordas, sacos, esteiras, chapéus, bolsas, sandálias etc. Os municípios de Oeiras, Castelo do Piauí e Campo Maior são os maiores produtores da cera, cujo escoamento do Piauí é feito por estrada de rodagem. A produção de Oeiras vai para o Ceará, enquanto a dos outros centros vai para o Porto fluvial de Parnaíba, que reexporta a produção para o Sul e para o exterior. Utiliza-se também o Porto de Tutoia. A exportação da cera de carnaúba vem sofrendo uma retração recentemente, devido ao uso de produtos sintéticos. Apesar da enorme concentração de carnaúbas nativas no Piauí, esse Estado não é o maior produtor: no Ceará, essa palmeira é cultivada, assim como no Rio Grande do Norte. Os maiores produtores do Brasil são, pela ordem: Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. ❑ Agricultura do Meio-Norte De subsistência: seminômade, com o cultivo de vegetais de ciclo curto, principalmente o feijão e a mandioca. Esta agricultura tem suas roças nas áreas semiúmidas. Comercial: o arroz é o principal produto agrícola do Maranhão, competindo inclusive com a extração de babaçu. Sua produção se dá nos vales úmidos, princi - palmente nos do Mearim-Pindaré e na baixada sudeste, a baixo custo. O algodão é uma cultura tradicional do Maranhão, que já chegou a ser o maior produtor do Brasil. Atual- mente é secundária, praticada nos vales e várzeas do sertão. Prefere o clima bem seco. A maior parte da produção do Maranhão, que se dá no Vale do Itapecuru, fica para o consumo das rudimentares indústrias têxteis de São Luís e Caxias. Uma pequena parte do algodão de fibra vai para São Paulo. ❑ Pecuária do Meio-Norte Todo o Meio-Norte desenvolve atividade pecuária, mas esta é mais típica no Piauí, principalmente nas áreas do cerrado e caatinga do leste e sudeste do Estado. Destina-se normalmente ao corte, com o uso do gado magro do tipo “pé-duro”. Esta atividade, praticada ainda da mesma maneira que nos tempos coloniais, caracteriza-se pela ausência de cercas e pelas enormes distâncias que as boiadas percorrem a pé até Parnaíba ou até o Ceará. O município de Campo Maior é um dos maiores destaques desse criatório. O sertanejo piauiense é o protótipo do vaqueiro nordestino, com suas roupas feitas totalmente de couro. Nos campos alagadiços da Baixada Maranhense (Perizes), a criação de gado destina-se ao abasteci men - to de São Luís. ❑ Indústria do Meio-Norte A instalação do Porto de Itaqui, em São Luís, a cons- trução da E. F. Carajás-Itaqui e a facilidade na obtenção de minério de ferro (Carajás) e bauxita (Oriximiná) explicam o desenvolvimento industrial de São Luís, na década de 1980. 158 – C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 158 ❑ SUDENE Criada, em 1958, por Juscelino Kubitschek, e posteriormente vinculada ao Minter, teve como área de atuação a Região Nordeste (exceto o oeste do Mara- nhão) mais o norte de Minas (Polígono das Secas). Após 1964, voltou-se para uma política de atração de indústrias do centro-sul do país ou de multinacionais. Em 1975, foi criado o Finor (Fundo de Investimento do Nordeste), que detém parte do Imposto de Renda reco- lhido pelas empresas e compra de ações de outras empresas que queiram operar na região. Sua atuação gerou um razoável desenvolvimento, embora centralizado em áreas já mais desenvolvidas (Pernambuco, Bahia, Ceará). Os problemas, no entanto, continuam: seca, fome, desemprego, repulsão popula- cional, concentração fundiária e má distribuição de renda. A Sudene foi extinta em 2001 e recriada pela lei complentar 125 de 03/01/2007. – 159 Região Sudeste – Aspectos Naturais, Humanos, Econômicos e Sub-Regiões MÓDULO 12 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 159 1. ASPECTOS NATURAIS ❑ Relevo Predomínio de planaltos; base cristalina do arqueo- proterozoico. Destaques: – Planaltos e Serras do Atlântico Leste e Sudeste. – Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná e De - pres são Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná. ❑ Vegetação A variedade de climas, solos e as peculiaridades da topografia proporciona uma grande diversidade de tipos de vegetação. 160 – UNIDADE DA FEDERAÇÃO SUPERFÍCIE (km2) POPULAÇÃO ABSOLUTA (habitantes) POPULAÇÃO RELATIVA (hab./km2) POPULAÇÃO URBANA (%) CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO (% ano) PIB PER CAPTA (US$) ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO São Paulo 248.176,7 41.262.199 149,2 93,43 1,82 9995 0,868 Minas Gerais 586.552,4 19.597.330 30,5 82,35 1,40 5925 0,823 Rio de Janeiro 43.797,4 15.989.929 328,6 96,13 1,31 9571 0,844 Espírito Santo 46.048,3 3.514.952 67,3 79,52 2,00 6931 0,836 Região Sudeste 927.573,8 80.364.410 84,4 90,50 16,3 8774 0,842 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 160 ❑ Hidrografia O predomínio de planaltos torna a região um centro dispersor de bacias. Destaques: – Bacia do Paraná; Bacia de São Francisco;Bacia do Leste. ❑ Clima Predomínio do clima tropical com duas estações definidas: verão chuvoso e inverno seco. Destaca-se o clima tropical de altitude na região dos “Mares de Morros”. 2. ASPECTOS HUMANOS A Região Sudeste é a mais populosa, com 80.364.410 habitantes e a mais povoada: 86,7 hab./km2. Sua população é majoritariamente urbana (90,50%), em que se destacam as metrópoles: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Predominam adultos em sua estrutura etária. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram 40% da população do Brasil. 3. ASPECTOS ECONÔMICOS O Sudeste é a região mais industrializada do país. Por ser a região economicamente mais desenvolvida, sua produção representa 66,2% do PIB industrial do Brasil. Devido à saturação de sua infraestrutura, vem co - nhe cendo nos últimos anos um processo de descen - tralização industrial. 4. SUB-REGIÕES GEOECONÔMICAS DO SUDESTE A seguir temos as ca - rac terísticas de cada sub- região do Sudeste iden ti- fi cadas no mapa: – 161 C2_3o_GEO_Teoria_Rose 07/01/12 10:08 Página 161 q Macroeixo Rio-São Paulo É a área mais importante da economia, compreen - dendo as duas metrópoles nacionais e importante eixo industrial. Seu relevo compreende as planícies litorâ- neas, com destaque para as baixadas santista e fluminense, além de um litoral intensamente recortado com falésias cristalinas. O Planalto do Leste é com pos ta pelos contrafortes das Serras do Mar e da Mantiqueira, entremeadas por fossas e bacias sedimentares (Tietê, Paraíba do Sul). Predomínio de clima tropical de altitude com altos índices pluviométricos nas encostas da Serra do Mar. Resquícios da Mata Tropical Atlântica em reservas
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