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1080-4-3321-1-10-201707141moniqueemaura2017

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Estudo cognitivo-funcional da formação da construção 
[XQUE]CONECT no Português
Monique Petin K. dos Santos*
Universidade Federal do Rio de Janeiro
moniquepks@gmail.com
Maria Maura Cezario**
Universidade Federal do Rio de Janeiro / Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
mmcezario@gmail.com
Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar e analisar 
as construções já que, uma vez que e assim que por meio 
de uma abordagem diacrônica com base nos pressupos-
tos da Linguística Centrada no Uso. A formação dessas 
construções fundamenta-se nos princípios da Mudança 
Construcional e da Construcionalização, conforme pos-
tulam Traugott e Trousdale (2013). Além disso, a partir 
da análise histórica das construções estudadas, o artigo 
mostra a organização da rede [Xque]CONECT em português. 
Essa explicação segue os pressupostos teóricos do Mode-
lo da Gramática das Construções, a fim de comprovar o 
dinamismo linguístico e a mudança da rede linguística, 
vista como um conjunto de nós, ou seja, um conjunto de 
construções (que são pareamentos entre forma e sentido) 
interligados. Os dados foram coletados a partir do Corpus 
do Português entre os séculos xiii e xvii, disponibilizados 
eletronicamente pela Biblioteca de Lisboa.
Palavras-chave
Linguística Centrada no Uso, construcionalização, mu-
dança construcional, formação de conectivos
Sumário
Introdução. 2. Aporte teórico. 2.1. Linguística centrada 
no uso. 2.2. Mudança construcional e construcionalização. 
2.3. Rede construcional e construção. 2.4. Metodologia e 
análise. 3. Considerações finais.
Abstract
This paper aims to present and to analyze the constructions 
já que, uma vez que and assim que through a diachronic 
approach based on assumptions of Usage-based Linguis-
tic. The formation of these constructions is based on the 
principles of Constructional Changes and Constructiona- 
lization as postulated by Traugott and Trousdale (2013). 
In addiction, from the historical analysis of the construc-
tions studied above, the article shows the organisation of 
[Xque]CONECT network in portuguese. This explanation 
follows the theoretical assumptions of the Construction 
Grammar Model in order to demonstrate the linguistic 
dynamism and change of the languagem network, seen as 
a set of nodes, i.e, a set of interconnected constructions 
(pairings of form and meaning). Data has been collected 
from Corpus do Português: texts written between the thir-
teenth and seventeenth centuries, and avaiable in electronic 
format at the Library of Lisbon.
Keywords
Usage-based Linguistic, constructionalisation, construc-
tional change, formation of the connector
Contents
1. Introduction. 2. Theoretical Contribution. 2.1. Usage
Based-Language Linguistic. 2.2. Constructional Changes 
and Constructionalisation. 2.3. Constructional Network 
and Construction. 2.4. Methodology and Analysis. 3. Final 
Considerations.
Cognitive-functional study construction [XQUE]CONECT 
formation in Portuguese
* Doutoranda em Linguística - UFRJ.
** Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em Linguística da UFRJ. Pesquisadora Nível 2 do CNPq. 
Coordenadora do Projeto Discurso e Gramática- UFRJ e Integrante do Projeto para a História do Português
Brasileiro.
Gallæcia. Estudos de lingüística portuguesa e galega
Universidade de Santiago de Compostela, 2017. ISBN 978-84-16954-41-4, pp. 959-974
DOI http://dx.doi.org/10.15304/cc.2017.1080.55
960 Gallæcia.
Estudos de lingüística portuguesa e galega
1. Introdução
O presente artigo objetiva apresentar uma proposta de análise da formação dos co-
nectivos uma vez que, já que e assim que (conectivos que fazem parte da construção que 
denominamos [Xque]CONECT), com base numa visão construcionista para mudança, 
conforme a Linguística Funcional Centrada no Uso1. Trabalhamos especificamente 
com o modelo apresentado em Traugott (2015) e Traugott / Trousdale (2013), se-
gundo os quais as construções linguísticas são formadas a partir de outras construções 
por meio de vários processos que levam a mudanças construcionais. Quando ocorrem 
mudanças na forma e na função de uma construção, temos uma nova construção, 
fenômeno denominado construcionalização pelos autores. A nova construção é um 
novo signo na língua, um novo nó na rede construcional da gramática. 
Dessa maneira, mostraremos a distribuição dos usos conectivos em questão 
mediante uma rede cognitiva2 e a relação entre o grau de parentesco (ou de fami-
liaridade) e suas relações de vizinha. Procuraremos explicar o modelo teórico, que 
é diferente do modelo da gramaticalização, pois insere conhecimentos das ciências 
cognitivas, e apresentar uma análise ainda preliminar da formação desses conectivos 
no português com base nesses pressupostos, a partir da análise de textos escritos em 
português nos sécs. xv e xvii.
De acordo com a abordagem construcional, construções são unidades simbó-
licas convencionais de forma e sentido (cf. Goldberg 1995). E, por serem partilhadas 
entre falantes de uma comunidade linguística, tornam-se arbitrárias. Com base em 
Traugott e Trousdale (2013), as mudanças construcionais podem ocorrer ou na forma 
ou na função. Quando ocorrem nos dois planos – forma e função – temos uma nova 
construção. Assim, o pesquisador precisa procurar os contextos críticos (cf. Diewald 
2006) que devem ter permitido que novas associações de forma e sentido ocorres-
sem, explicar todas as mudanças construcionais ocorridas até a convencionalização 
da nova construção e verificar a expansão dos contextos de usos e a relação dessa 
construção com outras na rede construcional da língua. Quando ocorre a formação 
de uma construção nova (ou novo nó na rede), há a construcionalização. A gramática, 
segundo Bybee (2010), é entendida como uma organização cognitiva da língua e cer-
tas instâncias particulares de construções afetam as representações cognitivas. Dessa 
maneira, a gramática é moldada e mudada pelo uso da linguagem, pela frequência alta 
ou baixa das construções.
1 Conforme cita Martelotta (2011), em países do exterior, aplica-se o termo usage-based model para 
designar modelos teóricos que privilegiam o uso da língua.
2 Hudson (2007) considera que a linguagem equivalha a um sistema cognitivo, visto que a mesma 
mantém um alto grau de similaridades no que tange ao nível organizacional em relação a outros 
conhecimentos cognitivos. Em outras palavras, concebe a linguagem como uma rede formada por 
nós (ou construções) que se conectam por intermédio de links. 
961Monique P. K. SantoS e Maria Maura Cezario
estudo cognitivo-funcional da formação da construção [Xque]ConeCt no Português
Como o modelo da construcionalização/ mudança construcional (Traugott / 
Trousdale 2013) é novo, embora incorpore os conhecimentos que tínhamos acerca 
de gramaticalização (cf. Heine 1991, 2003; Hopper 1991; Bybee 2003, 2010), lexica-
lização (cf. Brinton / Traugott 2005) e gramática de construção (cf. Goldberg 1995, 
2006), também é parte dos objetivos deste artigo divulgar os pressupostos teóricos 
desse modelo, que é, na verdade, uma teoria de mudança linguística e não de tipos 
particulares de mudanças, como era o caso do que era estudado em gramaticalização 
e lexicalização. Para explicar as mudanças construcionais que aconteceram na forma-
ção de alguns dos conectivos em português na forma [Xque]CONECT (assim que, uma 
vez que etc.), precisamos compreender também os processos cognitivos que estão 
sempre por trás tanto da mudança como da variação linguística. Assim, vamos abor-
dar também conceitos importantes presentes na obra de Bybee (2010).
2. Aporte teórico
2.1. Linguística centrada no uso 
A Linguística Funcional baseia-se no princípio de que a linguagem é um processo de 
interação social, não se limitando apenas aos seus aspectos formais. De acordo com 
essa abordagem, aspectos culturais não deveriam ser considerados menos importan-
tes dentro dos estudos linguísticos, uma vez que o uso da linguagem não se restringe a 
certas habilidadescognitivas. Nos estudos formalistas, a sintaxe, por exemplo, é com-
preendida como um módulo independente dos demais. Em contrapartida, sob a ótica 
cognitivo-funcional, não há como desvincular sintaxe e semântica. Além disso, para 
que a atividade compartilhada ocorra, uma série de processos cognitivos entra em 
cena, tais como inferência, capacidade de se colocar no lugar do outro, analogia, além 
de aspectos ligados à memória, ao conhecimento de mundo e a aspectos psicológicos.
Neste século, a Linguística funcional (cf. Bybee 2010; Heine 2003; Traugott 
2012, 2010; dentre outros) se aproximou muito da linguística cognitiva (cf. Goldberg 
1995, 2006; Croft 2001; Lakoff 2003; Geerats 2007; dentre outros), razão pela qual 
ganha um novo rótulo: Linguística Funcional Centrada no Uso. 
Embora o uso de determinadas expressões dependa de certas motivações co-
municativas e do sentido negociado entre falante e ouvinte, a língua não se modifica 
de forma irregular e aleatória. Segundo Bybee (2010: 1), podemos comparar a mudan-
ça linguística com dunas, já que estas possuem aparente forma na regularidade e na 
estrutura, mas são maleáveis. A linguagem em sua superfície também mantém certa 
estabilidade, porém, ao mesmo tempo, mostra variações em todos os seus níveis, o 
que explica também o fato de haver um contínuo entre as categorias linguísticas. Por 
exemplo, com relação ao nosso fenômeno, sabemos que há um contínuo categorial en-
962 Gallæcia.
Estudos de lingüística portuguesa e galega
tre advérbio/locução adverbial e conectivo tanto na sincronia (é comum usarmos ad-
vérbios para unirmos partes do texto, como unimos orações com conectivo) como na 
diacronia, com conectivos sendo formados a partir de advérbios (cf. Martelotta 1996).
Baseadas nos pressupostos cognitivo-funcionais, assinalamos, em termos ge-
rais, certas habilidades cognitivas (cf. Bybee 2010) importantes para a estruturação e 
modificação da língua, dentre elas: (a) categorização; (b) chunking; (c) memória rica; 
(d) analogia e (e) associação transmodal. A primeira refere-se ao processo de simila-
ridade ou de correspondência na identificação, que ocorre quando palavras, sintagmas 
e outros elementos linguísticos são reconhecidos e combinados em representações 
armazenadas na memória. O segundo relaciona-se ao processo pelo qual sequências 
de unidades são utilizadas em conjunto para formar unidades mais complexas. Assim, 
as sequências repetidas das palavras (ou dos morfemas) são associadas conjuntamente 
na cognição e transformam-se apenas em uma unidade. A memória rica constitui-se 
nos exemplares que são arquivados em formas de representações. Os falantes estocam 
detalhes fonéticos, estruturas, significados e inferências associados aos enunciados. 
Quanto mais uma forma é usada, mais forte ela fica na representação da memória 
(o contrário também é verdadeiro). A analogia designa o processo pelo qual novos 
enunciados são produzidos, baseados em enunciados prévios. A associação transmo-
dal relaciona-se à habilidade de conexão que os usuários executam entre forma e 
significado (Bybee 2010: 7). Além disso, sabemos que a frequência de uso também é 
fundamental tanto para explicar a estrutura linguística sincrônica, como a variação e 
a mudança linguística.
A partir do momento em que duas ou mais palavras são empregadas juntas fre-
quentemente, elas desenvolvem uma relação sequencial, denominada chunking. A for-
ça desencadeadora dessas relações é determinada pela frequência (repetição) com que 
essas unidades ocorrem no texto. Por esta razão, julgamos que o chunking seja uma das 
habilidades cognitivas mais importantes, uma vez que a sequência de certas unidades 
compõe um todo de forma e de sentido, conforme aconteceu com a formação, por 
exemplo, dos advérbios em –mente, em que adjetivos e o substantivo mente foram to-
mados como uma única unidade representacional, formando a construção [Xmente], 
quando não há mais reconhecimento do –mente como substantivo e novos elementos 
puderam ser usados no slot3 X (cf. Campos 2013; Campos, Cezario, Alonso, inédito). 
2.2. Mudança construcional e construcionalização
Embora os modelos de Gramática das Construções contenham uma base ampla-
mente sincrônica, em estudos mais recentes, a dimensão histórica foi adicionada 
3 Tradução livre.
963Monique P. K. SantoS e Maria Maura Cezario
estudo cognitivo-funcional da formação da construção [Xque]ConeCt no Português
como ferramenta para análise diacrônica (Traugott 2012), a fim de um maior enten-
dimento do processo de mudança das construções. 
De acordo com Traugott e Trousdale (2013), como a mudança é o resultado 
da língua em uso, as microinovações, que decorrem por meio dos tokens (construtos)4, 
podem dar origem a novos signos ou não. Conforme o modelo construcional de mu-
dança de Traugott (2010, 2012) e de Traugott e Trousdale (2013), é importante fazer a 
diferenciação entre o desenvolvimento das novas construções (construcionalização) e 
o processo de mudança dos subcomponentes da construção (mudança construcional). 
Segundo os autores, a mudança construcional afeta os subcomponentes da 
construção, ou seja, pode haver mudanças apenas na forma ou apenas no conteúdo. 
Mas, quando as mudanças são na forma e no conteúdo, há um novo pareamento for-
ma-função. Neste caso, temos a construcionalização. 
Ainda de acordo com Traugott (2015), as microinovações ocorrem no nível do 
construto (ou token), mas somente são consideradas mudanças quando se alastram 
entre os falantes. Dessa maneira, a inovação inclui a reinterpretação da construção 
por parte do ouvinte, diferenciando-se da análise feita pelo falante. Ao reutilizar os 
novos sentidos atribuídos ao construto, o falante gera novas relações lógicas e, a partir 
daí, o usuário reutiliza a construção com outro significado. Neste estágio, porém, as 
inovações não são visualizadas como microconstruções, uma vez que a nova associa-
ção entre forma do construto e significado não está convencionalizada.
A convencionalização somente começa quando outros ouvintes passam por 
processos similares. Traugott (2015) afirma que, como resultado da repetição dessas 
associações, os falantes implicitamente aceitam a relação entre a estrutura original 
e o novo significado. Este processo permite a combinação entre a morfossintaxe da 
construção original e a dos novos construtos5.
A construcionalização, assim, decorre da neoanálise da forma morfossintática 
dos construtos. Quando novas propriedades semânticas são partilhadas entre indi-
víduos de uma mesma comunidade, novas microconstruções são adicionadas à rede 
mediante uma nova unidade simbólica convencional. A partir deste ponto, um novo 
tipo surge e a construcionalização se estabelece.
4 Segundo Traugott e Trousdale (2013), os construtos referem-se às construções empiricamente com-
provadas.
5 Tradução livre. Change starts with micro-innovations at the level of the ‘construct’ or token utterance, 
but can be consist to be change only when the innovation has spread to others speakers. [...] The hearer 
who has (re)analysed this construct, and created a tenuous link between the construct and a part of 
the constructional network become a speaker and reuses the construct with the new meaning [...]. At 
this stage, there is no micro-construction because the new form associated with the reanalysis of the 
construct is not conventionally associated with a new meaning. Conventionalization begins when: 
Others hearers go through similar processes. As a result of repeated associations, groups of speakers 
tacitly a on conventional relationship between the original form and a newly analyzed meaning. This 
leads to mismatch between the morphosyntax of the original construction and the new constructs. 
964 Gallæcia.
Estudos de lingüística portuguesa e galega
Consoante Traugott (2010, 2015) e Traugott e Trousdale (2010, 2013), pode-
mos definir a reanálise morfossintática como uma mudança na estrutura da expressão 
ou em uma classe de expressõesque não envolve nenhuma modificação intrínseca na 
estrutura superficial (Langacker 1977: 58)6.
Contudo, embora em textos mais antigos, os autores abordem terminologica-
mente a mudança descrita acima como reanálise, algumas ponderações devem ser co-
locadas. Em obras mais atuais, Traugott (2015) e Traugott e Trousdale (2010, 2013) 
questionam o uso do termo ‘reanálise’ ao invés de ‘neoanálise’. Traugott enfatiza que 
a neoanálise pressupõe não somente a mudança de forma da estrutura, mas também 
uma nova interpretação por parte do leitor/ouvinte, ou seja, a mudança reside tanto 
na alteração das fronteiras sintáticas quanto no aspecto semântico. Diferentemente 
do que ocorre com a reanálise apenas formal, o mecanismo de mudança linguística 
procede de forma gradual, ou melhor, durante o processo de mudança construcional, 
as sucessivas neoanálises dar-se-ão de maneira progressiva, por efeito de micropassos. 
Dessa maneira, a nomenclatura mais adequada a este fenômeno seria ‘neoanálise’. 
De acordo com a perspectiva construcional, a neoanálise transforma-se em um fator 
importante para a mudança linguística, uma vez que, como toda mudança implica a 
neoanálise, ela se torna o principal mecanismo de mudança. 
Ademais, a teoria cognitivo-funcional difere da abordagem instituída pela Lin-
guística Funcional Clássica. Enquanto esta exprime uma visão linear e unidirecional da 
trajetória dos itens, aquela estuda não somente a mudança das construções, mas tam-
bém concebe a gramática como rede com nós conectados de modo hierárquico. Segun-
do a Linguística Centrada no Uso, a língua estabelece-se a partir de construções, desde 
as mais simples até as mais complexas, que são formadas por uma unidade simbólica de 
forma e de significado. Assim, não caberia o estudo da gramaticalização de um elemen-
to, visto que, em tal processo, um elemento passa a assumir, no curso do tempo, um novo 
status gramatical, tendendo a se tornar mais regular e previsível na língua. Desta forma, 
poderíamos assinalar que diante da visão (macro) da teoria da mudança construcional 
e construcionalização, os processos de gramaticalização e de lexicalização também são 
englobados, mas agora temos uma visão ainda mais completa, porque podemos explicar 
a formação de construções mais esquemáticas dentro de uma rede construcional. 
2.3. Rede construcional e construção
De acordo com a Gramática das Construções, a “noção do nosso conhecimento de 
linguagem é capturada por uma rede conceptual de construções” (Croft 2001). Ain-
6 Tradução livre. A definition given by Langacker for reanalysis in morphosyntactic change has 
proved foundational: ‘change in the structure of an expression or a class of expressions that does not 
involve any immediate or intrinsic modification of its surface manifestation’. 
965Monique P. K. SantoS e Maria Maura Cezario
estudo cognitivo-funcional da formação da construção [Xque]ConeCt no Português
da segundo Hudson (2007), a linguagem é uma rede conceptual, dado que o termo 
conceptual refere-se à cognição, enquanto o termo rede remete a um sistema de en-
tidades interconectadas. Dessa maneira, podemos definir a estrutura da linguagem 
como uma rede organizada por meio de nós (também denominados nódulos), cujas 
instanciações são representadas por construções, de variados graus de complexidade, 
partindo das construções menos complexas, desde morfemas, até construções mais 
complexas e abstratas, como as expressões assim que, uma vez que e já que. 
Postulamos que essas construções nasceram de outras construções, no caso 
uma expressão que indica tempo ou modo, mais o item que. Quando surge a constru-
ção formada por [Xque]CONECT já temos uma nova rede no português. O paradigma 
de conectivos é ampliado. Dessa forma, o conectivo assim que passa a concorrer com 
outras formas do paradigma, como com a forma quando e logo que; uma vez que con-
corre na nossa sincronia com já que. Os elementos linguísticos estão conectados em 
rede e qualquer alteração no pareamento forma-sentido leva à alteração de toda a 
rede. Como a língua está mudando o tempo todo, a rede é como uma duna (cf. Bybee 
2010) que está sempre se movendo, mas que nos dá a impressão de que forma uma 
estrutura rígida quando a observamos sem levar em consideração o tempo que passa.
2.4. Metodologia e análise
Realizamos, em textos dos sécs. xiii ao xvii (Corpus do Português) uma pequena aná-
lise da formação dos conectivos assim que, uma vez que e já que com o intuito de veri-
ficar como essas microconstruções se formaram e como foi criada a construção mais 
abstrata [Xque]CONECT. Nosso objetivo é compreender a formação dessa construção, 
aplicando os pressupostos do modelo da construcionalização e mudança constru-
cional, exposto acima. Para isso, analisamos uma amostra formada por vários textos 
escritos em língua portuguesa, disponibilizados pela Biblioteca de Lisboa, a saber:
•	 Cantigas da Idade Média – séc. xiii 
•	 Orto do Esposo – sécs. xiv ou xv
•	 Cartas: informações, fragmentos históricos sermões – séc. xvi
Observamos todos os usos de assim, já e uma vez, buscando verificar as pri-
meiras ocorrências dos conectivos. Não encontramos os conectivos assim que, já que 
e uma vez que formados antes do séc. xvii. Como as gramáticas do latim apontam 
que já havia no latim antequam (antes que) e postquam (depois que), concebemos 
que essas foram as formas que deram origem à construção. Mas, como no latim só 
havia estas formas isoladas7, podemos dizer que a construção abstrata [Xque]CONECT 
7 Havia ainda a forma priusquam, que era muito rara.
966 Gallæcia.
Estudos de lingüística portuguesa e galega
ainda não existia. Encontramos os primeiros usos de uma vez que como conectivo na 
obra intitulada Cartas do Padre Antonio Vieira (elaboradas entre 1646 e 1661), do Pe. 
Antonio Vieira.
 Para entendermos como o conectivo foi formado, demonstrar os processos 
cognitivos envolvidos e apresentar as mudanças construcionais, precisamos procurar 
os contextos críticos, ou seja, aqueles contextos que propiciaram a neonálise por parte 
do ouvinte para a compreensão de um novo uso e posterior propagação. 
Pela análise dos dados, vimos que no Orto do Esposo (fim do séc. xiv ou início 
do xv) não havia ainda o conectivo uma vez que, por exemplo, mas havia contextos 
que podem ter sido os contextos que levaram à formação da construção. Observemos 
o exemplo seguinte, com uma locução temporal (uma vez) na oração principal e um 
pronome relativo que na oração subordinada:
(1) E ento~ decendeo o enperador do cauallo co~ piedade e fez aly justiça da 
morte daquel filho da viuua. E outrossy aco~teceu {hu~a [uez]} {que} o filho 
deste enperador Trayano hya correndo pella uilla e~ hu~u~ cauallo e per aquee-
cime~to, sem seu grado, matou hu~u~ filho de hu~a viuua, e ella queyxou-se ao 
enperador, chorando(O Orto do Esposo, séc. xv).
Com base na investigação da obra Cartas – Informações, fragmentos históricos e 
sermões (Pe. Anchieta, séc. xvi), encontramos a locução temporal uma vez, seguida do 
elemento só e do pronome que. Nesse caso, constatamos ainda que não há a formação 
do conectivo uma vez que, porém podemos dizer que esse é o contexto crítico (cf.
Traugott / Trausdale 2013; Diewald 2006) que deve ter propiciado a formação da 
nova construção, conforme ilustra o trecho (2):
(2) A outra variedade denominam bóicininga, que quer dizer, “cobra que tine”, 
porque tem na cauda uma espécie de chocalho, com o qual sôa quando assalta 
alguém. Vivem nos campos, em buracos subterrâneos; quando estão ocupadas 
na procreação atacam a gente; andam pela grama em saltos de tal modo apres-
sados, que os índios dizem que elas voam; uma só vez que mordam, não ha mais 
remédio: paralizam-se a vista, o ouvido, o andar e todas as ações do corpo, fi-
cando somente a dôr e o sentimento do veneno espalhados pelo corpo todo, até 
que no fim de vinte e quatro horas se expira (Cartas – Informações, fragmentos 
históricos e sermões, séc. xvi).
Nos fragmentos (1) e (2),não existe ainda uma construção conectiva, posto 
que não houve um chunking unindo a locução temporal (uma vez) e o pronome (que). 
Normalmente, as locuções adverbiais ou circunstanciadores residem no final das ora-
ções, enquanto o pronome que encontra-se no começo da segunda oração. A frequên-
cia de uso dessa ordem deve também ter ajudado a formar mais tarde a construção 
[Xque]CONECT. Mas, antes do séc. xvii, pela análise de dados feita, uma vez e que não 
967Monique P. K. SantoS e Maria Maura Cezario
estudo cognitivo-funcional da formação da construção [Xque]ConeCt no Português
constituem um todo de forma e de sentido, são duas construções separadas, estão em 
duas orações diferentes.
 De acordo com Bybee (2010), as mudanças linguísticas sucedem conforme 
os falantes utilizam a língua e todos os mecanismos de mudança, dentre eles, a analo-
gização. O mecanismo analógico corresponde ao uso de novos padrões (virtualidades 
possíveis) no sistema linguístico com base em exemplares previamente estocados. 
Essas novas formas são empregadas com outros itens, gerando novas construções por 
influência de exemplares já experienciados pelos falantes. Assim, novos elementos 
podem mudar de categoria por analogia. Nossa hipótese é que construções como uma 
vez que, tenham formado a construção mais abstrata [Xque]CONECT, inicialmente com 
o X sendo preenchido por palavra que denota tempo, (como vez, logo, já), e que por 
analogia outras palavras foram colocadas no slot X, como assim que, mesmo que, se bem, 
dentre outras.
Diante do aumento da repetição e da frequência, o valor expresso por essas 
expressões podem se alterar, como ilustra o excerto abaixo:
(3) Verdadeiramente, eu não vejo de onde isto possa vir, salvo por milagre. E é 
muito de notar e reparar neste ponto que, uma vez que faltemos a França com 
o prometido, bastará para que ela justifique o rompimento da liga, e para tomar 
pretexto de nos não guardar o capitulado, sem fazer caso de nossa necessidade, 
por extrema que seja, como se viu na do ano passado, em que disse Lanier que 
tinha ordem de se tornar para França se lhe negavam os três navios: resolução 
verdadeiramente cruel, e que é bem nos não saia da memória (Cartas do Padre 
António Vieira, séc. xvii).
 Em (3), a construção uma vez que apresenta um valor conectivo ao contexto. 
De acordo com a nossa análise, o conectivo uma vez que teve sua origem na união de 
duas construções – [uma vez], presente na oração principal e [que], presente na ora-
ção subordinada – e, através de vários processos de mudança, passou a ser um chunk, 
uma só unidade linguística. Podemos dizer que houve construcionalização, pois a 
mesma agora consiste em um todo de forma e sentido.
Com base no modelo de estrutura simbólica da construção (Croft 2001), pro-
pomos aqui a visão elaborada por Oliveira (2013: 5) para um melhor esclarecimento 
dos fatores que são alterados no processo de mudança construcional e na construcio-
nalização. 
968 Gallæcia.
Estudos de lingüística portuguesa e galega
POLO PROPRIEDADE PARÂMETROS*
FO
R
M
A
Sintática
1) Liberdade de posição; 2) (In)dependência de referência temporal; 3) 
Sujeito sintático/falante; 4) Perda de propriedades sintáticas do verbo; 
5) Ordenação/função do temporal; 6) Marcação de pausa por sinal de 
pontuação; 7) Inserção de elemento; 8) Negação; 9) Expansão sintática 
(Himmelmann 2004)
Fonológica 1) Redução de material fônico; 2) Formação de grupo de força
Morfológica 1) Cristalização da estrutura (pessoa do discurso, configuração modo-temporal); 2) Possibilidade de variação do locativo; 3) Contrações
SE
N
T
ID
O
Semântica
1) Abstratização do sentido original: processos de (inter)subjetificação; 
2) Atuação dos princípios de Hopper (1991); 3) Nível de integração 
do locativo com as formas verbais; 4) Relação frame; 5) Renovação de 
categorias já existentes (marcadores discursivos)
Pragmática
1) Atuação dos mecanismos de inferência sugerida, metonimização e 
reanálise, metaforização e analogia (Traugott / Dasher 2005); 2) Ex-
pansão host-class e semântico-pragmática (Himmelmann 2004); 3) 
Mudança funcional vinculada a contextos específicos
Discursivo-funcional
1) Motivação das sequências tipológicas (Bonini 2005; Travaglia 2007) 
e do gênero textual (Marcuschi 2002); 2) Fatores extralinguísticos: tipo 
de autor/falante: papel social, grau de prestígio ou de representatividade 
na comunidade linguística, nível de habilidade ou letramento (Barbosa 
2007), propósito comunicativo, tipo de destinatário, suporte do gênero
 * A palavra parâmetro não tem relação com o termo técnico da linha gerativa. 
QuADRO1. PARâMETRO DE ANáLISE CONTEXTUAL 
PARA A CONSTRUçãO [XquE]CONECT
Com base nas análises teóricas e nos exemplos acima, podemos reafirmar 
que as construções uma vez que, assim que e já que passaram por mudanças constru-
cionais na forma e na função, o que levou a uma construcionalização. Em relação 
à construcionalização, as construções uma vez que, já que e assim que, apesar de 
manterem seu valor tradicionalmente temporal, em determinados contextos, apre-
sentam funções conclusiva, condicional e causal. No que tange às mudanças cons-
trucionais, verificamos que os subcomponentes da construção são afetados, posto 
que as locuções adverbiais formadoras das construções (uma vez, já e assim), junta-
mente com o item que, expressam funções conectivas. Por sua vez, essas mudanças 
semântica, sintática e morfológica levam à formação da construção [Xque]CONECT. 
(construcionalização).
Com base nos estudos propostos por Hudson (2007), Traugott (2010) e por 
Traugott e Trousdale (2013) acerca da relação entre as construções e a rede constru-
cional, postulamos que a distribuição da rede construcional [Xque]CONECT (rede esta 
que será explicada logo abaixo) seja a seguinte no português atual:
969Monique P. K. SantoS e Maria Maura Cezario
estudo cognitivo-funcional da formação da construção [Xque]ConeCt no Português
ESQuEMA 1. ORgANIzAçãO DA REDE CONSTRUCIONAL [XquE]CONECT
Segundo o trabalho desenvolvido por Hudson (2007) sobre rede construcional 
na abordagem denominada Word Grammar, a base do triângulo encontra-se ao lado 
da supercategoria, enquanto o ápice aponta para a subcategoria. As retas representam 
uma forte ligação entre uma instância e uma categoria mais abstrata (ou esquemá-
tica), assinalando as construções mais prototípicas de cada categoria. A justificativa 
da construção já que, por exemplo, estabelecer um link com a categoria mais ampla 
da função causal revela que a construção já que pertence a um dos membros cen-
trais dessa categoria, ao contrário da construção uma vez que, que não denota um 
bom exemplo da categoria expressa pela função causal, embora compartilhe algumas 
propriedades com membros centrais da mesma. Dessa maneira, a construção uma 
vez que apresenta-se na categoria dos causais mediante uma linha pontilhada, por 
ser um membro não-prototípico ou mais marginal da categoria. Contudo, a mesma 
construção, uma vez que, enquadra-se como um membro prototípico da categoria dos 
condicionais, conforme exemplificam os trechos abaixo:
(4) Mas uma vez que os índios estiverem independentes dos governadores, ar-
rancada esta raiz, que é o pecado capital e original deste Estado, cessarão tam-
bém todos os outros que dele se seguem, e Deus terá mais motivo de nos fazer 
mercê (Cartas do Padre António Vieira, séc. xvii).
(5) O equivalente a um grão de ervilha é o suficiente, uma vez que a parte im-
portante da limpeza é o uso adequado da escova8.
8 Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/08/escovar-os-dentes-correta-
mente-pode-prevenir-doencas-cardiacas.html?keepThis=true&TB_iframe=true&heigh-
t=650&width=850 (05/01/2015).
970 Gallæcia.
Estudos de lingüística portuguesa e galega
No quarto caso, detectamos a construção uma vez que com função condicional, 
pois, além de constituir-se em um todo de forma e de significado, verificamos que a 
construção poderia ser substituída pela construção desdeque.
Ainda conforme Neves (2012: 77) enfatiza, “a construção ‘uma vez que’ assume 
valor concessivo, visto que a locução ‘uma vez’ tem como ponto no passado, mas, no 
caso, das construções condicionais, essa ligação com o passado se ‘corrige’ com o sub-
juntivo dos verbos”. No que se refere ao exemplo (5), a construção uma vez que exibe 
função causal, porque a construção já que pode permutar com a construção uma vez 
que sem qualquer modificação importante no sentido. Porém, confrontando os exem-
plos acima, constatamos certas distinções entre o contexto da construção e a função 
apontada pela mesma. 
Nos trechos (1) e (4), subsequente à construção uma vez que, encontram-se 
verbos no modo subjuntivo, entretanto, em (5), o verbo presente na oração pertence 
ao modo indicativo. Esta análise preliminar mostra que existe uma correspondência 
direta entre o valor expresso pela construção e o contexto no qual a construção está 
inserida. Em (1) e (4), a construção funciona como uma conjunção condicional, 
enquanto, em (5), ela se comporta como conector causal. Assim, constatamos que, 
diante de uma perspectiva histórica, a construção acima ocupa novas funções co-
nectivas. 
A partir dos dados observamos ainda que certas construções ocorrem em 
contextos específicos, ou seja, o contexto determina o surgimento de uma ou de 
outra função da construção. Assim, em determinados contextos que sucedem uma 
forma, geralmente a outra não sucede, conforme corroboram os exemplos (6), (7) 
e (8): 
(6) [...] o que peço muito a V- Rev.a nos queira aprovar e confirmar com sua 
autoridade, para que ela nos anime mais a todos a o ter assim por bem, e a o 
observar. Sigamos a Cristo deixadas as redes, já que a nossa vocação é de após-
tolos, que também estas não são as com que se pescam os homens (Cartas do 
Padre António Vieira, séc. xvii).
(7) E, como depois do sucesso de Nápoles V. Ex.a nos escreveu que aquela má-
quina ou seus fundamentos haviam caído, por isso nas cartas seguintes instei a 
V. Ex.a que, deste dinheiro, se podia acudir a Holanda, para que não se perdes-
sem ambas as negociações, já que uma não sucedesse (Cartas do Padre António 
Vieira, séc. xvii).
(8) Agora, dizem, mandam procuradores a esse Reino, e que levam alguns ín-
dios seus confidentes, que, por serem de abominável vida, não querem a dou-
trina e sujeição dos padres: e todos dirão e levarão escrito e jurado contra a 
verdade o que lhes ditar a paixão, o ódio e o interesse injusto e cego. Assim que, 
Senhor, por guardarmos as leis de V. M., e porque damos conta a V. M. dos 
971Monique P. K. SantoS e Maria Maura Cezario
estudo cognitivo-funcional da formação da construção [Xque]ConeCt no Português
excessos com que são desprezadas, e porque defendemos a liberdade- e justiça 
dos miseráveis índios cristãos e que de presente se vão convertendo, e sobretu-
do porque somos estorvo aos infinitos pecados de injustiça que neste Estado 
se cometiam, somos afrontados, presos e lançados fora dele (Cartas do Padre 
António Vieira, séc. xvii).
Nos trechos (6) e (7), a construção já que exerce diferentes funções. Enquanto, 
em (6), a construção mantém um caráter causal; em (7), possui valor condicional. 
Dessa maneira, verificamos que tanto o contexto quanto o tempo verbal presente nas 
orações definem o valor das construções e distinguem suas atribuições no contexto. 
Entretanto, nos corpora estudados até o momento, a construção assim que funciona 
apenas como conectivo conclusivo, conforme exemplificado em (8). Porém, este re-
sultado preliminar não anula a possibilidade de nos depararmos, em outros materiais, 
com a construção assim que assumindo outras funções.
No mais, averiguamos que, pelo mecanismo de mudança da analogização, no-
vas construções são geradas, como demonstra a construção por causa que, não aceita 
nas nossas gramáticas normativas. Essa construção manifesta-se a partir de outras 
construções pré-existentes e, embora não seja aceita ainda pela gramática normativa, 
tem alta frequência na modalidade falada. Por enquanto, a construção por causa que 
torna-se um nó provisório na rede, tendo a possibilidade de se fixar, em virtude do 
crescente uso por parte dos falantes. 
Conforme apontam Goldberg (2006) e Croft (2001), define-se nó como uma 
construção. Entretanto, esse pareamento segue de forma gradiente, devido ao grau 
de complexidade das construções. Ainda segundo Traugott e Trousdale (2013:13), 
existem fatores que são imprescindíveis para a melhor compreensão e categorização 
da gramática, dentre eles a esquematicidade.
A esquematicidade corresponde à propriedade de categorização que envolve 
crucialmente a abstração. Na visão linguística, a abstração relaciona-se diretamente 
com a esquematicidade. Se observarmos atentamente o Esquema (1), comprovaremos 
essa relação a partir dos graus de esquematicidade presentes na rede construcional. 
De acordo com a representação, quanto mais abstrata a construção maior torna-se o 
grau de esquematicidade da construção. Verificamos que, na construção [Xque]CONECT, 
muitos elementos cabem no lugar indicado por X. Portanto, a possibilidade de preen-
chimento deste slot torna-se enorme. Entretanto, se seguirmos os subníveis da rede, 
verificaremos que, nas construções Xque causal e Xque condicional, há um menor grau 
de esquematicidade, devido à restrição de certos elementos em ocuparem o slot de 
causa e condição. Dessa maneira, certificamo-nos de que a hierarquia da rede cons-
trucional se equipara diretamente com o grau de abstratização do slot, ou seja, com o 
nível de esquematicidade da construção. 
972 Gallæcia.
Estudos de lingüística portuguesa e galega
3. Considerações finais
Com este artigo, buscamos um maior esclarecimento acerca da construcionalização, 
dos processos de mudança construcional, bem como um melhor entendimento do 
modelo de rede construcional. Para tanto, analisamos o percurso histórico das cons-
truções uma vez que, já que e assim que e examinamos os contextos deflagradores das 
novas construções [Xque]CONECT. Verificamos que essas novas construções geram no-
vas mudanças na rede, porém essas mudanças ocorrem de maneira gradual, gerando a 
criação de novos nós. Assim, a partir de uma visão diacrônica da língua, constatamos 
a redistribruição de nós e links na rede. Além disso, por meio da investigação da 
rede construcional da construção [Xque]CONECT, traçamos o grau de esquematicidade 
(parentesco) das construções, constatando a presença dos mecanismos de mudança 
(analogização e neoanálise) na etapa da construcionalização. 
Em relação à teoria, a apresentação feita poderá auxiliar os estudos linguísticos, 
principalmente para a Linguística Funcional Centrada no Uso, no que concerne à 
explicação do processo de mudança linguística, tendo em vista os usos das expressões 
atrelados a fatores cognitivos, como analogização, categorização e chunking. Embora 
existam muitos trabalhos sobre os pressupostos do modelo de gramaticalização e de 
lexicalização (Cezario et al. 2004, Martelotta 2008, 2011; Amorim 2013), poucos 
estudos seguem a visão construcional para entender mudança linguística, visto que 
ainda são muitos recentes.
Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq pelo financiamento da pesquisa.
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