Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTRATAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DE OBRAS PÚBLICAS MATERIAL TEXTUAL 2 Equipe Executiva Realização Escola de Contas e Gestão do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro – ECG/TCE-RJ Apoio Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae Equipe Técnica Docente Conteudista Rafael do Amaral Guedes Coordenação Pedagógica Dalva Stella Pinheiro da Cruz Marcia Araujo Calçada Maurício Nunes Rodrigues Juliany de Souza Batista (estagiária) Letícia Alves Bomfim (estagiária) Coordenadoria de Gestão e Tecnologia Educacional Rachel Constant Vergara Mann Ronald de Lima Andrade Gabriel Alves dos Santos Carelli Toyo (estagiário) Maria Eduarda Bortoloto de Oliveira (estagiária) Oirã Ferrer Pereira da Silva (estagiário) Coordenação de Gestão e Tecnologia Educacional – CGT/ECG Créditos Novembro 2022 3 Este material didático destina-se, exclusivamente, ao uso interno da ECG/TCE-RJ. O material didático fornecido pela ECG/TCE-RJ tem caráter meramente educativo e não vincula as decisões do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, sendo o respectivo conteúdo de inteira e exclusiva responsabilidade de seu autor. (Deliberação TCE nº 243/07) 4 Sumário LISTA DE SIGLAS ........................................................................................................ 6 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 8 1. PLANEJAMENTO DA CONTRATAÇÃO .......................................................... 11 1.1. Fase Preliminar à Licitação ............................................................................... 13 1.1.1. Programa de Necessidades .............................................................................. 14 1.1.2. Estudos de Viabilidade .................................................................................... 15 1.1.3. Anteprojeto .................................................................................................... 17 1.2. Fase Interna da Licitação ................................................................................. 21 1.2.1. Projeto Básico ................................................................................................. 23 1.2.2. Projeto Executivo ............................................................................................ 41 1.2.3. Licenciamento Ambiental ................................................................................ 42 1.2.4. Previsão de Recursos Orçamentários ............................................................... 42 1.2.5. Edital de Licitação ........................................................................................... 43 1.3. Fase Externa.................................................................................................... 63 1.3.1. Análise das Propostas de Preço ........................................................................ 64 1.4. Dispensa de Licitação ...................................................................................... 65 1.5. Inexigibilidade de Licitação .............................................................................. 66 RECAPITULANDO – MÓDULO 1 ...................................................................................... 68 2. EXECUÇÃO CONTRATUAL E UTILIZAÇÃO DO OBJETO ............................... 72 2.1 Execução Contratual (ou fase contratual) ......................................................... 72 2.1.1. Alterações Contratuais .................................................................................... 74 2.1.1.1. Acréscimos e Supressões (base de cálculo) ....................................................... 75 2.1.1.2. Jogo de Planilha .............................................................................................. 79 2.1.1.3. Reequilíbrio Econômico-Financeiro (Revisão de Preços) ................................... 83 2.1.1.4. Tempestividade dos Aditivos ........................................................................... 84 2.1.2. Obrigações da Contratada ............................................................................... 84 2.1.3. Atrasos, Rescisão e Sanções na Execução do Contrato ...................................... 85 2.1.4. Fiscalização ..................................................................................................... 86 2.1.5. Medições e Pagamentos .................................................................................. 92 2.1.6. Recebimento da obra ...................................................................................... 95 2.2 Utilização do Objeto ........................................................................................ 96 5 2.2.1. Garantia dos Serviços ...................................................................................... 97 2.2.2. Manutenção ................................................................................................... 98 RECAPITULANDO – MÓDULO 02 .................................................................................... 99 3. PRINCIPAIS IRREGULARIDADES E POSSÍVEIS SANÇÕES .......................... 102 3.1. Principais Irregularidades .............................................................................. 102 3.1.1. Superfaturamento ......................................................................................... 112 3.2. Sanções......................................................................................................... 117 3.2.1. Sanções a cargo do TCE-RJ ............................................................................. 117 3.2.2. Demais Sanções ............................................................................................ 119 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 122 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 123 6 LISTA DE SIGLAS SIGLA DESCRIÇÃO ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ART Anotação de Responsabilidade Técnica BDI Benefícios e Despesas Indiretas CAU Conselho de Arquitetura e Urbanismo CGC Cadastro Geral de Contribuintes CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CONFEA Conselho Federal de Engenharia e Agronomia CONFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social CPF Cadastro de Pessoas Físicas CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes EMOP Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro EPI Equipamento de Proteção Individual EVTEA Estudos de Viabilidade Técnico Econômica Ambiental FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBRAOP Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas ICMS Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços INCC Índice Nacional de Custo de Construção INSS Instituto Nacional de Seguro Social IPCA Índice de Preços ao Consumidor Amplo 7 IPI Imposto sobre produtos industrializados IRPJ Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ISS Imposto Sobre Serviços LDI Lucro e Despesas indiretas LOA Lei Orçamentária Anual PIS Programa de Integração Social RDC Regime Diferenciado de Contratação RRT Registro de Responsabilidade Técnica SCO Sistema de Custo de Obras SEAP Secretaria de Estado da Administração e do Patrimônio SICRO Sistema de Custos Referenciais de Obras SINAPISistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil TCE-RJ Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro TCPO Tabela de Composição de Preços para Orçamentos TCU Tribunal de Contas da União 8 INTRODUÇÃO Prezado aluno, Seja bem-vindo ao curso de Contratação e Fiscalização de Obras Públicas! Durante os seus trabalhos de auditoria, é muito comum o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) se deparar com diversas irregularidades na execução de obras e serviços de engenharia realizadas com o dinheiro público, irregularidades essas que são decorrentes, na maioria das vezes, de deficiência no planejamento e na fiscalização desses empreendimentos. Diante desse cenário, o TCE-RJ idealizou este curso, que visa a orientar os mais diversos atores envolvidos na execução de uma obra pública, a fim de que compreendam, efetivamente, os procedimentos e controles relacionados a esse tipo de investimento, desde a fase de sua concepção até o seu recebimento definitivo. Vale destacar que tais orientações, no presente momento, se fazem ainda mais relevantes, considerando-se as recentes alterações nas questões afetas a licitações e contratos, com a promulgação da Lei nº 14.133/2021 (Nova Lei de Licitações e Contratos). Sobre esse aspecto, aliás, cabe salientar que continuam vigorando as Leis nos 8.666/93, 10.520/02 e 12.462/11 (arts. 1º a 47-A), de forma conjunta com a recém-editada Lei nº 14.1333/2021, situação que permanecerá até abril de 2023, momento a partir do qual a licitação e a contratação somente serão possíveis por meio deste último normativo. Ainda assim, é certo que, mesmo após essa data, haverá muitos contratos vigentes originados com base nas leis anteriores (que já estarão, finalmente, revogadas). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10520.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12462.htm#art1 9 Desta forma, procurou-se abordar, neste material, os procedimentos a serem adotados em conformidade com toda a legislação atualmente vigente, fazendo-se, sempre que pertinente, a correlação entre os dispositivos das leis afins, de forma a facilitar um pouco mais a compreensão deste período de transição. Obviamente, dada a complexidade de grande parte das matérias que serão tratadas ao longo deste curso, não há a menor pretensão de esgotá-las, mas sim de incentivar o debate, a reflexão, a busca por novos conhecimentos e a troca de experiências entre o Tribunal e todos aqueles que atuam em uma obra pública, objetivando-se, ao final, um melhor aproveitamento dos recursos envolvidos. E, para tanto, faz-se imprescindível que você leia atentamente esta apostila e realize as atividades propostas. Então, vamos começar? Lembre-se de que você é a pessoa mais importante nesse processo de aprendizagem! 10 MÓDULO 01 11 1. PLANEJAMENTO DA CONTRATAÇÃO A implantação de uma obra pública é um evento complexo em que, para fins didáticos, se faz pertinente a sua divisão em etapas, conforme representado no fluxograma a seguir: 12 As fases de I, II e III indicadas no fluxograma acima e que são tratadas neste Tópico podem ser consideradas como as de planejamento da contratação, momento em que se definem basicamente: “o que” e “com quem” se pretende contratar. PRINCIPAIS NORMAS APLICADAS Lei nº 8.666/1993 Lei nº 14.133/2021 (Nova Lei de Licitações e Contratos) Decreto nº 7.983/2013 Súmulas e decisões do Tribunal de Contas da União Orientações técnicas do IBRAOP Para um melhor entendimento do fluxograma apresentado acima, recomendamos a leitura do documento: Tribunal de Contas da União. Obras públicas: recomendações básicas para a contratação e fiscalização de obras de edificações públicas – 3. ed. Brasília: TCU, SecobEdif, 2013 Disponível no Link: https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F1881 8A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obra s_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF Leitura Recomendada https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/1E/26/8A/06/23DEF610F5680BF6F18818A8/Obras_publicas_recomendacoes_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF 13 1.1. Fase Preliminar à Licitação Fase cuja duração vai desde a decisão política de executar a obra até a abertura do processo administrativo referente à licitação; compreende, principalmente, o programa de necessidades, os estudos de viabilidade e o anteprojeto. A previsão desta fase consta do art. 6º, IX, da Lei nº 8.666/1993: Art. 6° Para os fins desta Lei, considera-se: (...) IX - Projeto Básico - conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução, devendo conter os seguintes elementos: (...) A Resolução nº 361/91 do CONFEA, em seu art. 2°, também deixa clara a necessidade de elaboração dos estudos preliminares: Art. 2º - O Projeto Básico é uma fase perfeitamente definida de um conjunto mais abrangente de estudos e projetos, precedido por estudos preliminares, anteprojeto, estudos de viabilidade técnica, econômica e avaliação de impacto ambiental, e sucedido pela fase de projeto executivo ou detalhamento. No âmbito da Lei nº 14.133/2021, essa fase, juntamente com a fase interna da licitação, é denominada “preparatória” (art. 17, I), estando os seus componentes descritos, basicamente, no art. 18 desse diploma legal. Conhecendo a Legislação 14 1.1.1. Programa de Necessidades Documento em que se definem as características básicas do empreendimento, bem como o seu padrão de acabamento, considerando-se a sua área de influência, a população atingida, a região beneficiada etc. É neste documento, em síntese, que se define basicamente que obra se quer executar, sendo a partir dele que se desenvolvem os estudos de viabilidade do empreendimento, objeto da próxima etapa. Apesar de sua previsão normativa, a fase preliminar é, normalmente, menosprezada, sendo esse um dos principais motivos paras as diversas obras inacabadas em nosso país. Atenção 15 1.1.2. Estudos de Viabilidade Tendo por base o programa de necessidades, os estudos de viabilidade visam avaliar as alternativas possíveis para execução do empreendimento, definindo a melhor solução conceitual sob os aspectos legal, técnico, econômico e ambiental. São constituídos por estudos, desenhos e relatórios, os quais devem conter: a descrição e a avaliação da alternativa selecionada; os critérios, os índices e os parâmetros empregados; o pré-dimensionamento do empreendimento. A avaliação do valor financeiro a ser investido se dá por metodologia expedita, sendo utilizados indicadoresque refletem os custos médios por unidade que melhor caracterize o empreendimento. Para melhor compreensão de sua abrangência e conteúdo, busque na internet exemplos de programas de necessidades para diversos tipos de empreendimento. A título de sugestão inicial, segue o link de uma proposta de programa de necessidades para uma biblioteca pública de Porto Alegre – RS, que dá uma exata dimensão do que deve conter este relevante documento para a implementação de uma obra pública: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/33049/000550150.pdf OBS: Analisar sobretudo o item 9 do estudo, que inicia na página 75. Saiba mais https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/33049/000550150.pdf https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/33049/000550150.pdf 16 Exemplos de indicadores: Custo por metro quadrado de edificação (adota-se, em geral, a metodologia preconizada na NBR 12.721 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com os valores do m2 sendo extraídos dos sindicatos da construção civil); Custo por metro linear de rede de drenagem ou esgoto; Custo por hectare de urbanização; Custo por megawatt de energia instalado (para usinas hidrelétricas); Custo por quilômetro de rodovia. Esses indicadores podem ser obtidos em publicações de entidades/órgãos públicos, em revistas/sites de empresas especializadas, em contratos de obras semelhantes etc. A escolha da melhor alternativa para a implantação da obra pode se dar sob diversos aspectos, tais como metodologia construtiva, traçado (no caso de rodovia e ferrovia), localização (no caso de escolas, hospitais, praças etc.), tipo de terreno, entre outros. Apenas a título de ilustração, seguem as variáveis que podem ser avaliadas quando a seleção das alternativas envolver a escolha do terreno em que será construída determinada obra: Tipo de solo do terreno por sondagem; Nível do lençol freático; Zonas de enchentes; Legislação de uso de solo; Topografia do terreno no entorno; Características da comunidade do entorno; 17 Disponibilidade de redes de serviços públicos; Facilidade de acesso; Disponibilidade de meios de transporte público; Disponibilidade de materiais, jazidas e bota fora; Documentação do terreno – Parecer Jurídico. 1.1.3. Anteprojeto Trata-se da representação técnica da opção aprovada nos estudos de viabilidade, tendo como objetivo subsidiar a elaboração do projeto básico; deve ser apresentado em desenhos, em números, e em escalas e detalhes suficientes para a compreensão da obra planejada, contemplando, em seu conteúdo, especificações técnicas, memorial descritivo e orçamento estimativo. Um bom exemplo desses indicadores são os custos médios gerenciais disponibilizados no site do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT): https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/custos-e-pagamentos/custo-medio- gerencial/ANEXOIXCUSTOMDIOGERENCIALNOVEMBRO2016.pdf É aconselhável a elaboração de um check list padronizado, com elementos mínimos necessários para a verificação, assim como a elaboração de relatório técnico de escolha do terreno, apresentando croquis e posicionamentos via satélite. Destacamos o exemplo de check list abaixo, disponível em: https://pred.secid.pr.gov.br/sites/parana- edificacoes/arquivos_restritos/files/documento/2020-07/caderno08.pdf Exemplo https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/custos-e-pagamentos/custo-medio-gerencial/ANEXOIXCUSTOMDIOGERENCIALNOVEMBRO2016.pdf https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/custos-e-pagamentos/custo-medio-gerencial/ANEXOIXCUSTOMDIOGERENCIALNOVEMBRO2016.pdf https://pred.secid.pr.gov.br/sites/parana-edificacoes/arquivos_restritos/files/documento/2020-07/caderno08.pdf https://pred.secid.pr.gov.br/sites/parana-edificacoes/arquivos_restritos/files/documento/2020-07/caderno08.pdf 18 Para fins de elaboração deste orçamento, o custo global da obra poderá ser aferido mediante orçamento sintético ou metodologia paramétrica. O orçamento sintético é elaborado mediante levantamentos de quantitativos de serviços e insumos calculados com base no anteprojeto de engenharia, com precisão compatível com o seu nível de detalhamento, sendo composto pela descrição, unidade de medida, preço unitário, quantidades e preço dos serviços da obra; e deve ser balizado pelos sistemas referenciais oficiais tais como Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (EMOP), Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI), Sistema de Custos Referenciais de Obras (SICRO), ou outro de reconhecida utilização, devidamente adaptados às condições regionais e peculiares de cada obra. A metodologia paramétrica deve ser utilizada exclusivamente nos casos dos serviços ou itens para os quais não haja detalhamento suficiente no anteprojeto de engenharia, quando os quantitativos ou custos poderão ser estimados por meio de índices médios, utilizando-se como parâmetro outras obras com características similares. 19 Orçamento na fase de anteprojeto, portanto, apresenta maior precisão em relação ao elaborado no momento dos estudos de viabilidade, pois são levantadas as quantidades dos principais insumos e serviços com base nos desenhos e demais elementos do anteprojeto, e pesquisados os seus respectivos preços, preferencialmente, em sistemas de custos oficiais (orçamento sintético), sendo estimados por índices médios com base em obras similares somente os quantitativos ou custos para itens ou serviços que não estejam bem detalhados no anteprojeto (metodologia paramétrica); ao passo que nos estudos de viabilidade é adotada ordinariamente a metodologia expedita, sendo utilizados indicadores que refletem os custos médios por unidade que melhor caracterize o empreendimento, a exemplo do custo por m2, km etc. Exemplos de serviços/itens que podem ser estimados por meio de metodologia paramétrica: 1. Volume de concreto: área dos pavimentos x espessura média Sendo a espessura média: Entre 12 e 16 cm para estruturas abaixo de 10 pavimentos; e Entre 16 e 20 cm para estruturas acima de 10 pavimentos. 2. Armação (aço) Em função do volume de concreto, sendo: Entre 83 e 88 kg por m³ para estrutura abaixo de 10 pavimentos; Entre 88 e 100 kg por m3 para estrutura acima de 10 pavimentos. 3. Área de forma Em função do volume de concreto, sendo entre 12 e 14 por m³. Exemplo 20 Resumindo Fase Preliminar à Licitação: Para uma definição mais detalhada do conceito de anteprojeto de engenharia e dos parâmetros necessários quando de sua utilização na contratação de obras públicas, leia a OT - IBR 006/2016 do IBRAOP, disponível em: http://www.ibraop.org.br/wp-content/uploads/2016/09/OT_-_IBR_006- 2016-Vers%C3%A3o-Definitiva-10-05-2017.pdf Leitura Recomendada PROGRAMA DE NECESSIDADES ANTEPROJETO Definição das características básicas do empreendimento e padrão; É a base para os estudos de viabilidade. Descrição e avaliação da alternativa selecionada; Critérios; Índices e os parâmetros empregados; Pré-dimensionamento do empreendimento. ESTUDO DE VIABILIDADE (constituído por estudos, desenhos e relatórios) Especificações técnicas; Memorial descritivo; Orçamento estimativo (orçamento sintético ou metodologia paramétrica). http://www.ibraop.org.br/wp-content/uploads/2016/09/OT_-_IBR_006-2016-Vers%C3%A3o-Definitiva-10-05-2017.pdf http://www.ibraop.org.br/wp-content/uploads/2016/09/OT_-_IBR_006-2016-Vers%C3%A3o-Definitiva-10-05-2017.pdf 21 1.2. Fase Interna da Licitação Esta etapa inaugura-se com abertura do processo administrativo e termina com a publicação do edital.É de extrema relevância para o alcance dos objetivos de uma obra pública, pois é nela que são definidas as especificações do que será contratado em termos técnicos e de custo (por meio do projeto básico e/ou do projeto executivo), assim como são informados os atributos necessários aos interessados em contratar com a Administração, o que se dá na elaboração das cláusulas do edital, preservando- se, obviamente, os princípios da isonomia, da supremacia do interesse público, da seleção da proposta mais vantajosa, entre outros afetos ao Direito Administrativo. Essas definições, que, conforme destacado, ocorrem na elaboração do projeto básico, do projeto executivo e do edital propriamente dito, embora imprescindíveis, não são suficientes para que a licitação aconteça. Faz-se imperioso, também, que o ente contratante preveja os recursos orçamentários que assegurem o cumprimento das obrigações resultantes das obras ou serviços 22 de engenharia a serem realizados durante o exercício financeiro, em consonância com o cronograma físico-financeiro constante do projeto básico. É necessário, ainda, quando a execução da obra ultrapassa um exercício financeiro, que o produto dela esperado esteja contemplado nas metas estabelecidas no Plano Plurianual, previsto no art. 165 da Constituição Federal. Tal obrigação deriva do art. 167, § 1º, da Constituição Federal. Todos esses elementos/ações pertinentes à fase interna da licitação encontram-se dispostos no art. 7°, § 2º, da Lei nº 8.666/1993 (e no art. 18 da Lei nº 14.133/2021, de forma conjunta com a fase preliminar à licitação). A seguir, serão detalhados esses principais componentes da fase interna da licitação. 1 • PROJETO BÁSICO – Perfeita caracterização do objeto. Constitui- se de: desenho, memorial descritivo, especificação técnica, cronograma físico-financeiro e orçamento. 2 • PROJETO EXECUTIVO – Conjunto de elementos necessários e suficientes à execução completa da obra. 3 • LICENCIAMENTO AMBIENTAL – É necessário verificar se a atividade para a qual a obra está sendo realizada precisa de licenciamento, estando as condicionantes impostas pelo órgão ambiental estarem contempladas no projeto básico ou executivo. 4 • PREVISÃO DE RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS – Garante que as obras somente serão licitadas se houver previsão de recursos. 5 • EDITAL DE LICITAÇÃO – Produto principal a ser materializado na fase interna da licitação, incluindo seus anexos. 23 1.2.1. Projeto Básico A fim de contratar determinada obra, é necessária a perfeita caracterização do objeto, o que é viabilizado pela existência de um projeto básico que atenda aos requisitos insculpidos no inciso IX do art. 6º da Lei nº 8.666/1993 (ou art. 6º, XXV, da Lei nº 14.133/2021, de conteúdo bastante similar ao da Lei anterior). Lei nº 8.666/1993 Art. 6º (...) IX - Projeto Básico - conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução, devendo conter os seguintes elementos: a) desenvolvimento da solução escolhida de forma a fornecer visão global da obra e identificar todos os seus elementos constitutivos com clareza; b) soluções técnicas globais e localizadas, suficientemente detalhadas, de forma a minimizar a necessidade de reformulação ou de variantes durante as fases de elaboração do projeto executivo e de realização das obras e montagem; c) identificação dos tipos de serviços a executar e de materiais e equipamentos a incorporar à obra, bem como suas especificações que assegurem os melhores resultados para o empreendimento, sem frustrar o caráter competitivo para a sua execução; d) informações que possibilitem o estudo e a dedução de métodos construtivos, instalações provisórias e condições organizacionais para a obra, sem frustrar o caráter competitivo para a sua execução; e) subsídios para montagem do plano de licitação e gestão da obra, compreendendo a sua programação, a estratégia de suprimentos, as normas de fiscalização e outros dados necessários em cada caso; f) orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados. Conhecendo a Legislação 24 O projeto básico pode ser elaborado pelos próprios órgãos ou entidades licitantes, quando estes dispuserem de corpo técnico competente para este fim, ou por meio da contratação de empresas especializadas, em certame licitatório específico. No que concerne à sua precisão, tendo em vista que a Lei nº 8.666/1993 refere-se a “nível de precisão adequado”, faz-se relevante observar que a Resolução nº 361/1991 do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), em seu art. 3º, alínea f, estabelece uma margem de precisão de aproximadamente 15%. 1.2.1.1. Elementos do Projeto Básico Os principais elementos que compõem o projeto básico, segundo a Orientação Técnica OT – IBR 001/2006 do Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas, são: desenho, memorial descritivo, especificação técnica, cronograma físico-financeiro e orçamento. Esses elementos estão detalhados nos tópicos seguintes. Desenhos Representação gráfica do objeto a ser executado, elaborada de modo a permitir sua visualização em escala adequada, demonstrando formas, dimensões, Atenção A insuficiência do projeto básico poderá redundar em uma série de problemas, tais como: aditivos ao contrato; não obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração; obras inacabadas, entre outros. Nestes casos, poderá haver responsabilização do autor do projeto, bem como da autoridade competente pela sua aprovação, cujo ato é previsto no art. 7°, § 2º, inc. I, da Lei nº 8.666/1993. 25 funcionamento e especificações, perfeitamente definida em plantas, cortes, elevações, esquemas e detalhes, obedecendo às normas técnicas pertinentes. Memorial Descritivo O memorial descritivo consiste na descrição detalhada do objeto projetado, na forma de texto, onde são apresentadas as soluções técnicas adotadas, bem como suas justificativas, necessárias ao pleno entendimento do projeto, complementando as informações contidas nos desenhos; Especificação Técnica A especificação técnica, por sua vez, é o documento no qual se fixam todas as regras e condições que se devem seguir para a execução da obra ou serviço de engenharia, caracterizando individualmente os materiais, equipamentos, elementos componentes, sistemas construtivos a serem aplicados e o modo como serão executados cada um dos serviços apontando, também, os critérios para a sua medição. Cronograma físico-financeiro Demonstração temporal (geralmente mensal) dos quantitativos dos diversos serviços executados durante todo o período previsto para a execução da obra, bem como o respectivo valor a ser gasto para a remuneração desses serviços. Esse documento permite estimar os recursos orçamentários necessários ao longo de cada exercício financeiro. 26 Orçamento Avaliação do custo total da obra tendo como base preços dos insumos praticados no mercado ou valores de referência e levantamentos de quantidades de materiais e serviços obtidos a partir do conteúdo dos elementos descritos nos itens 1, 2 e 3, sendo inadmissíveis apropriações genéricas ou imprecisas, bem como a inclusão de materiais e serviços sem previsão de quantidades. O orçamento apresenta as seguintes características ou propriedades: Especificidade –Cada orçamento tem uma característica específica, devendo ser levado em conta: Especificações e projetos da obra; Condições da empresa que executará a obra; e Condições locais da obra (clima, vegetação, relevo, condições do solo, qualidade da mão de obra, facilidade de acesso a matérias-primas etc.). Atenção Deve-se ter especial atenção para com os períodos chuvosos, os quais já devem ser considerados na elaboração do cronograma. Outro ponto a se destacar diz respeito à diferença conceitual entre cronograma de desembolso e cronograma físico-financeiro. O primeiro representa a disponibilidade financeira do órgão para o pagamento de suas obrigações contratuais em função do tempo, enquanto que o segundo demonstra o avanço das etapas físicas dos serviços da obra, associado ao seu respectivo pagamento. 27 Temporalidade – um orçamento realizado em tempos atrás não é válido para hoje. Isso se deve a: Flutuação no custo dos insumos ao longo do tempo; Criação ou alteração nos impostos e encargos sociais e trabalhistas, tanto em espécie quanto em alíquota; Evolução dos métodos construtivos – surgimento de técnicas, materiais e equipamentos mais adequados; Diferentes cenários financeiros. Aproximação – Por se basear em previsões, todo orçamento é aproximado. O orçamento não deve ser exato, porém preciso. A margem de erro de um orçamento está atrelada à fase do desenvolvimento do projeto e ao quanto mais for criteriosa e apurada a orçamentação. Além disso, o orçamento de uma obra é elaborado durante as diversas fases de seu planejamento. Conforme o andamento desse planejamento, as informações contidas nos projetos serão mais confiáveis e mais detalhadas, assim como os orçamentos elaborados em cada fase. Veja maiores detalhes a respeito do percentual de precisão do orçamento (esta informação se encontra no item 4 do documento) nas diversas fases do planejamento de uma obra pública na OT- IBR 004/2012 do IBRAOP, disponível em: http://www.ibraop.org.br/wp-content/uploads/2013/04/OT_IBR0042012.pdf Saiba mais http://www.ibraop.org.br/wp-content/uploads/2013/04/OT_IBR0042012.pdf 28 Orçamento sintético (planilha orçamentária) A planilha orçamentária deve compor o projeto básico, sendo parte integrante do edital de licitação, conforme disciplinado na Lei nº 8.666/1993, em seu art. 40, § 2º, inc. II. Recomenda-se que as planilhas orçamentárias apresentem em seu cabeçalho: Descrição da obra a que se refere, apresentando também o número do contrato/concorrência; Data de referência do orçamento; Sistema de Custo Unitário utilizado; No corpo da planilha, as informações necessárias são: Discriminação de cada serviço; Unidade de medida, quantidade, custo unitário e custo parcial; Apresentação dos códigos de cada serviço do sistema de custo unitário. Na planilha, deve constar, também, a identificação do técnico responsável por sua elaboração, contendo o nome completo, seu registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e assinatura. Cabe destacar, todavia, que essa identificação não substitui a emissão de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) ou Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), conforme será abordado no tópico relativo à responsabilidade técnica. 29 Orçamento analítico (estimativa de quantidades, composição de custos unitários e BDI detalhado) Estimativa de Quantidades A planilha orçamentária deve estar respaldada por uma minuciosa estimativa das quantidades, a qual deve prever todos os serviços necessários à execução do objeto a ser contratado, contemplando a infraestrutura de apoio, os serviços complementares e os explicitamente definidos no projeto básico (por meio de desenhos técnicos, memoriais descritivos e especificações técnicas). Devem ser levadas em consideração a boa técnica construtiva e a prática mais econômica, sendo as quantidades compatíveis com a conformação geológica do Lei nº 8.666/1993 Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual, o nome da repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de execução e o tipo da licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o local, dia e hora para recebimento da documentação e proposta, bem como para início da abertura dos envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o seguinte: (...) § 2º Constituem anexos do edital, dele fazendo parte integrante: (...) II - orçamento estimado em planilhas de quantitativos e preços unitários; No âmbito da Lei nº 14.133/2021, menciona-se no art. 18, IV, apenas o orçamento analítico, que será visto no tópico a seguir. Todavia, faz-se menção à planilha em outros dispositivos da Lei, como, por exemplo, no seu art. 56, § 5º). Conhecendo a Legislação 30 local, com a localização dos elementos que irão interferir na obra e com as dimensões projetadas. As diversas atividades previstas para a realização de um determinado elemento devem ser compatíveis entre si, tanto em escopo, quanto em suas quantidades estimadas. Como exemplo, podem-se citar os serviços para a implantação de uma rede de tubulação de drenagem pluvial - escavação, escoramento (quando necessário), embasamento, implantação dos tubos, reaterro e pavimentação da superfície - em que os equipamentos devem estar adequados ao tipo de escavação pretendida; a retirada do material que não será reaproveitado deve estar prevista, com carregamento, transporte e disposição final; e o reaterro deve considerar, além do material a ser utilizado, o equipamento para a compactação adequada. A planilha orçamentária não deve ser composta por itens de insumos (mão-de-obra, materiais e equipamentos), mas sim por serviços de engenharia compostos por esses insumos, de forma a dar maior transparência ao orçamento, facilitando, inclusive, o trabalho da fiscalização na medição dos itens. Os quantitativos e custos dos insumos deverão constar da composição de custo unitário de cada serviço, a qual será abordada a seguir. A fim de facilitar o entendimento da planilha orçamentária, tanto pelas licitantes, quanto pelos órgãos de controle, é recomendável a apresentação da memória de cálculo das quantidades estimadas, acompanhada, conforme o caso, das justificativas técnicas que motivaram a adoção de determinados serviços. Verifica-se, frequentemente, que alguns itens do orçamento suscitam dúvida acerca de sua quantificação, estando sujeitos à superestimativa de serviços/materiais ou, até mesmo, à duplicidade, sendo esta impropriedade, muita das vezes, decorrente da falta de conhecimento, por parte do orçamentista, 31 do Sistema de Custo Unitário utilizado como base. São exemplos comuns destes itens: administração local; serviços com critérios de medição com volumes compactados, mas que são calculados com volumes empolados; uso incorreto de massa específica dos materiais não correspondente aos materiais de projeto; cálculo de funcionamento de equipamentos, considerando custos em funcionamento, parado e produtivo; e outros. Outra constatação comum é a existência de mão de obra excessiva presente em alguns orçamentos, uma vez que o orçamentista, por vezes, desconsidera a mão de obra já incluída pelo sistema de custos. Desta forma, para evitar estes equívocos, faz-se necessário estudar previamente as orientações de cada sistema de custo para a consideração de suas peculiaridades. Estimativa de Custo Unitário O preço unitário de um item de serviço resulta da soma dos seus custos diretos, indiretos e do lucro da empresa fornecedora dos serviços, sendo: Lei nº 8.666/1993 Art. 6º Para os fins desta Lei, considera-se: (...) IX - Projeto Básico – (...), devendo conter os seguintes elementos: f) orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentadoem quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados; O orçamento analítico é previsto no art. 18, IV, da Lei nº 14.133/2021. Conhecendo a Legislação 32 Custo direto – soma dos custos dos insumos (equipamentos, materiais e mão-de-obra, inclusive encargos sociais) necessários à realização direta dos serviços. Despesas como as de “administração local”, “mobilização e desmobilização” e “instalação e manutenção do canteiro”, embora não possam ser alocadas diretamente na execução de um determinado serviço, devem ser consideradas como diretas, constando da planilha orçamentária. Custo indireto – todas as demais despesas que não podem ser alocadas diretamente na execução de um serviço, tais como tributos, administração central, riscos etc. Lucro - parcela destinada a remunerar o custo de oportunidade do capital aplicado, capacidade administrativa, gerencial e tecnológica, responsabilidade pela administração do contrato e condução da obra por estrutura organizacional da empresa e investimentos na formação profissional do seu pessoal, a capacidade de reinvestir no próprio negócio e o risco do negócio. O somatório das parcelas referentes ao custo indireto e ao lucro forma o Benefícios e Despesas Indiretas (BDI) ou Lucro e Despesas Indiretas (LDI), que, por sua importância, será abordado mais adiante, separadamente. Cabe ressaltar que a composição de todos os custos unitários deve constar do edital de licitação, conforme disposto no art. 7º, § 2º, II, da Lei nº 8.666/1993 (art. 18, IV, da Lei nº 14.133/2021). Estas composições demonstram o valor financeiro a ser despendido na execução de uma unidade de serviço (m², m³, t/km etc.), e são elaboradas com base nos preços e nos coeficientes de produtividade e de consumo dos insumos utilizados (materiais, mão-de-obra e equipamentos), devendo conter, no mínimo: a. Discriminação de cada insumo, unidade de medida, sua incidência na realização do serviço, preço unitário e custo parcial; 33 b. Custo unitário total do serviço, representado pela soma dos custos parciais de cada insumo. Em caso de serviços cujos valores tenham sido retirados diretamente de sistemas de custos, tais como EMOP, SCO, SINAPI, SICRO, TCPO etc., ou de tabelas referenciais de órgãos ou entidades da Administração em que seja permitida a consulta pública, é desnecessária a apresentação da composição de custo unitário correspondente, bastando que sejam informados, apenas, o sistema utilizado e os códigos de referência. Caso os serviços ou insumos de determinada obra não constem dos sistemas de custos disponíveis, podem ser utilizadas outras fontes, tais como publicações especializadas (devendo ser feita a sua identificação e informada a sua edição) e cotações de mercado (devendo ser anexadas as respectivas propostas comerciais, com, no mínimo, 3 consultas). Benefícios e Despesas Indiretas (BDI) Geralmente expresso em forma de percentual, o BDI é utilizado como fator multiplicador sobre o custo direto, de forma a se obter o preço de um determinado serviço: Lei nº 8.666/1993 Art. 7o As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços obedecerão ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte sequência: (...) § 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando: (...) II - existir orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição de todos os seus custos unitários; Conhecendo a Legislação 34 Custo direto x (1+BDI) = preço Para fins de cálculo do BDI, são usualmente consideradas, além do lucro, as seguintes despesas indiretas (definições baseadas no Acórdão nº 325/2007 – TCU - Plenário): Despesas financeiras São gastos relacionados ao custo do capital decorrente da necessidade de financiamento exigida pelo fluxo de caixa da obra e ocorrem sempre que os desembolsos acumulados forem superiores às receitas acumuladas. Nas obras públicas, as empresas construtoras normalmente necessitam investir capital, pois, legalmente, as entidades contratantes só podem pagar, em regra, pelos serviços efetivamente realizados (Lei nº 4.320/1964, arts. 62 e 63) e dispõem de 30 (trinta) dias para realizar o pagamento. A Administração deve se resguardar de taxas abusivas, pois o preço da obra não pode ser onerado por ineficiência operacional do executor. Desta forma, conforme estudos feitos pelo TCU, a taxa de juros referencial para o mercado financeiro mais adequada é a taxa SELIC, taxa oficial definida pelo comitê de política monetária do Banco Central e aplicados conforme a fórmula apresentada a seguir: 𝐃𝐅 = ቀ𝟏 + 𝐓𝐀𝐗𝐀 𝐒𝐄𝐋𝐈𝐂 𝟏𝟎𝟎 ቁ 𝐃𝐔 𝟐𝟓𝟐 -1 Onde: DF = taxa representativa das Despesas Financeiras; 35 Assim, considerando uma taxa SELIC de 12%, por exemplo, obter-se-iam os seguintes valores apresentados na tabela a seguir: DESCRIÇÃO DIAS ÚTEIS DESPESAS FINANCEIRAS Mínima 11 0,50% Média 22 1,00% Máxima 33 1,50% No entanto, as empresas podem equilibrar seus fluxos de caixa com os prazos obtidos junto aos seus fornecedores. Por este motivo, alguns órgãos da Administração Pública consideram como nula a despesa financeira. Administração Central As despesas da Administração Central são aquelas incorridas durante um determinado período com salários de todo o pessoal administrativo e técnico lotado ou não na sede central, no almoxarifado central, na oficina de manutenção geral, pró-labore de diretores, viagens de funcionários a serviço, veículos, aluguéis, consumos de energia, água, gás, telefone fixo ou móvel, combustível, refeições, transporte, materiais de escritório e de limpeza, seguros, etc. Diversos fatores podem influenciar a taxa de administração central praticada pelas empresas, dentre eles podem ser citados: estrutura da empresa, número de obras que a empresa esteja executando no período, complexidade e prazo das obras. Daí se depreende que, por exemplo, uma empresa com maior número de obras poderá praticar uma taxa de administração central inferior à da empresa de mesmo porte com apenas um contrato. 36 Seguros e Riscos As despesas com seguros visam a resguardar a empresa contratada de incidentes relacionados ao empreendimento, havendo posterior indenização pela ocorrência de eventuais sinistros. Dessa forma, o seguro deve corresponder a objetos definidos da obra, pelos quais o empreendedor deseja ser ressarcido no caso de perdas e pode abranger casos de roubo, furto, incêndio, perda de máquinas ou equipamentos, dentre outros aspectos das obras civis. A taxa de riscos é determinada em percentual sobre o custo direto da obra e depende de uma análise global do risco do empreendimento em termos orçamentários, sendo justificada por existirem ocorrências não previstas em projetos e que podem repercutir no custo da obra, devendo ser arcadas pelo contratado. Dentre elas podemos citar: perdas excessivas de material (devido a quebra ou retrabalho), perdas de eficiência de mão-de-obra, greves, condições climáticas atípicas, dentre outros. Tributos PIS O Programa de Integração Social (PIS) foi instituído pela Lei Complementar nº 7, de 7 de setembro de 1970 e tem como objetivo o financiamento do programa do Seguro-Desemprego e o abono aos empregados que recebem até dois salários mínimos mensais. COFINS A Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) foi instituída pela Lei Complementar nº 70, de 30 de dezembro de 1991, com a finalidade de financiar as despesas das áreas de Saúde, Previdência e Assistência Social. 37 ISS O Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), de competência dos Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços relacionados na lista anexa à Lei Complementar nº 116/2003,de 01 de agosto de 2003. Conforme o art. 7º da referida Lei, a base de cálculo do imposto é o preço do serviço, podendo ou não se incluir neste valor a parte referente ao material (a depender da legislação de cada município). Cálculo do BDI: O BDI pode ser calculado mediante a seguinte expressão: Os percentuais constantes do numerador incidem sobre os custos diretos, ao passo que o do denominador recai sobre o preço de venda (faturamento). No cálculo do BDI não devem ser consideradas as despesas indiretas que não são proporcionais ao custo total de execução da obra ou ao seu preço final. BDI = {[ ቀ𝟏+ 𝐀𝐂 𝟏𝟎𝟎 ቁቀ𝟏+ 𝐃𝐅 𝟏𝟎𝟎 ቁቀ𝟏+ 𝐑 𝟏𝟎𝟎 ቁቀ𝟏+ 𝐋 𝟏𝟎𝟎 ቁ 𝟏− 𝐈 𝟏𝟎𝟎 ] − 𝟏} 𝐗 𝟏𝟎𝟎 Sendo, AC = percentual de rateio da Administração Central; DF = percentual de despesas financeiras; R = percentual de risco e seguro; L = percentual de lucro; e I = percentual de tributos. 38 Desta forma, os itens “mobilização e desmobilização”; “instalação e manutenção do canteiro de obras”; “administração local”; bem como outros que possam ser estimados sem a utilização de percentuais, devem constar da planilha orçamentária (sendo considerados como custos diretos, embora, a rigor, não o sejam). Tal procedimento visa, precipuamente, a evitar que sejam pagos valores indevidos em uma eventual celebração de termo aditivo. Como exemplo, pode- se citar uma obra em que os custos da administração local fossem incluídos no BDI e que, posteriormente, houvesse necessidade de um aditivo ao valor do contrato que não implicasse em acréscimo do prazo de execução nem na contratação de novos profissionais (engenheiros, mestre-de-obras, encarregados, almoxarifes etc.). Nesse caso, ao incidir o BDI sobre o custo direto dos serviços acrescidos, estar-se-ia pagando, indevidamente, à empresa contratada, uma parcela relativa à administração local que não lhe é devida, haja vista que não houve acréscimo nos componentes deste item. Também não devem ser considerados, no BDI, os tributos Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), por se constituírem em tributos de natureza direta e personalística, os quais devem onerar pessoalmente o contratado, sem o seu repasse à contratante. Outrossim, não devem ser computados os impostos sobre produtos industrializados (IPI) e Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS), visto que são considerados diretamente no preço de aquisição dos insumos. Cabe destacar que a composição detalhada do BDI utilizado pela Administração para a estimativa do preço unitário de todos os itens da planilha orçamentária deve constar do projeto básico, de forma a dar maior transparência 39 ao orçamento estimado e a facilitar o gerenciamento de eventuais termos aditivos ao contrato. Outro fator que deve ser levado em conta é a desoneração fiscal realizada nos encargos sociais que incidem sobre o custo da mão de obra, conforme Lei nº 12.546/2011 (e alterações). Para efeito de orçamentação, poderão ser utilizados os custos de mão de obra desonerados, os quais já se encontram disponíveis nos sistemas de custos, e acrescentado o valor referente ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), no cálculo do BDI. Orientação Técnica OT – IBR 001/2006 do Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas, em que estão listados, de forma não exaustiva, os elementos técnicos necessários para cada tipo de obra (edificações, rodoviárias e pavimentação urbana); disponível em: http://www.ibraop.org.br/media/orientacao_tecnica.pdf; Acórdão 2.622/2013 – Plenário do Tribunal de Contas da União, decisão de referência para BDI, disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/210082/Ac%c3%b3rd%c3 %a3o-2622-2013-BDI.pdf?sequence=1&isAllowed=y Orientações para elaboração de planilhas orçamentárias de obras públicas do Tribunal de Contas da União, disponível em: https://portal.tcu.gov.br/data/files/BF/21/7F/EE/965EC710D79E7EB7F18818A8/Ori entacoes_elaboracao_planilhas_orcamentarias_obras_publicas.PDF Leitura Recomendada Preparamos uma videoaula sobre o tema Orçamento Analítico para facilitar a compreensão deste tema tão importante. Saiba mais http://www.ibraop.org.br/media/orientacao_tecnica.pdf https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/210082/Ac%c3%b3rd%c3%a3o-2622-2013-BDI.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/210082/Ac%c3%b3rd%c3%a3o-2622-2013-BDI.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://portal.tcu.gov.br/data/files/BF/21/7F/EE/965EC710D79E7EB7F18818A8/Orientacoes_elaboracao_planilhas_orcamentarias_obras_publicas.PDF https://portal.tcu.gov.br/data/files/BF/21/7F/EE/965EC710D79E7EB7F18818A8/Orientacoes_elaboracao_planilhas_orcamentarias_obras_publicas.PDF 40 1.2.1.2. Responsabilidade Técnica pelo Projeto Básico A elaboração de projeto de engenharia requer a presença de profissional habilitado, conforme se depreende da Lei nº 5.194/1966. Para que se defina legalmente a responsabilidade técnica pela execução deste projeto, faz-se necessário providenciar a emissão da ART, conforme previsto no art. 2º da Resolução n° 1.025/2009 do CONFEA. A obrigatoriedade da ART para os profissionais responsáveis pela elaboração do projeto básico encontra-se explícita no art. 7º da Resolução nº 361/1991 do CONFEA. A(s) ART(s) referente(s) ao projeto básico e ao orçamento deve(m) constar do processo administrativo do certame licitatório. Esta obrigação também se estende aos certames para contratação de empresas para elaboração de projeto básico, haja vista que um profissional habilitado deverá ser responsável pela definição do objeto (determinando as peças que deverão compô-lo e as respectivas abrangências) e pelo seu orçamento (estimando os custos de cada projeto / etapa e o preço global do certame). Resolução n° 1.025/2009 do CONFEA Art. 2º - A ART é o instrumento que define, para os efeitos legais, os responsáveis técnicos pela execução de obras ou prestação de serviços relativos às profissões abrangidas pelo Sistema CONFEA/CREA. Resolução nº 361/1991 do CONFEA Art. 7º - Os autores do Projeto Básico, sejam eles contratados ou pertencentes ao quadro técnico do órgão contratante, deverão providenciar a ART, instituída pela Lei Federal nº 6.496, de 07 DEZ 1977, e regulamentada através de Resoluções específicas do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA. Conhecendo as Resoluções 41 Tendo em vista a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), por meio da Lei nº 12.378/2010, aplicam-se as mesmas disposições acima para a profissão de arquiteto, com as devidas adaptações. RRT – Resolução nº 17, de 2 de março de 2012. 1.2.2. Projeto Executivo A Lei nº 8.666/1993 define projeto executivo como o conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução completa da obra, de acordo com as normas pertinentes da ABNT. Embora seja desejável que a licitação ocorra somente após a elaboração do projeto executivo, de forma a minimizar alterações no objeto, na prática o que se observa é que o certame ocorre, quase sempre, com base no projeto básico, sendo o projeto executivo elaborado posteriormente, sob a responsabilidade da própria empresa executora das obras. Lei nº 8.666/1993 Art. 7° As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços obedecerão ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte sequência: I - projeto básico; II - projeto executivo; III - execução das obras e serviços. § 1º A execução de cada etapa será obrigatoriamente precedida da conclusão e aprovação, pela autoridade competente, dos trabalhosrelativos às etapas anteriores, à exceção do projeto executivo, o qual poderá ser desenvolvido concomitantemente com a execução das obras e serviços, desde que também autorizado pela Administração. O art. 46, § 3º, da Lei nº 14.133/2021 permite a realização de obras e serviços comuns de engenharia sem projeto executivo, desde que atendidas as condicionantes expressas no seu art. 18, § 3º. Conhecendo a Legislação 42 1.2.3. Licenciamento Ambiental O licenciamento ambiental prévio deve ocorrer em momento anterior à licitação, devendo as situações condicionantes impostas pelo órgão ambiental serem contempladas no projeto básico ou executivo (dependendo de qual desses dois projetos foi utilizado como referência para o certame licitatório). Este procedimento tem por objetivo evitar modificações significativas no objeto após a sua adjudicação, em decorrência de exigências do órgão ambiental licenciador. As atividades sujeitas ao licenciamento encontram-se elencadas no Anexo 1 da Resolução nº 237/1997 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), e, no âmbito estadual, no Decreto nº 42.159/2009. A Resolução nº 001/1986 do CONAMA, por sua vez, define as atividades modificadoras do meio ambiente que dependem da elaboração e aprovação de estudo de impacto ambiental e relatório de impacto ambiental para seu licenciamento prévio. 1.2.4. Previsão de Recursos Orçamentários De forma a garantir a execução Contratual, a Lei nº 8.666/1993, em seu art. 7º, § 2º, inc. III, dispõe que as obras e os serviços de engenharia somente poderão ser licitados quando houver previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento das obrigações no exercício financeiro. Essa previsão deve constar da Lei Orçamentária Anual (LOA), a qual se encontra prevista no art. 165, III, da Constituição Federal de 1988. O art. 7º, § 2º, inc. IV, da Lei nº 8.666/1993, por sua vez, assevera que a licitação só poderá ocorrer quando o produto dela esperado estiver contemplado nas metas estabelecidas no Plano Plurianual de que trata o art. 165 da Constituição Federal, quando for o caso; ou seja, quando a execução ultrapassar http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art165 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art165 43 um exercício financeiro (na Lei nº 14.133/2021, a necessidade de observância às leis orçamentárias encontra-se prevista nos art. 11, parágrafo único, e art. 18). 1.2.5. Edital de Licitação O produto principal a ser materializado na fase interna da licitação é o edital, incluindo os seus anexos (projeto básico; minuta de contrato etc.). A Lei nº 8.666/1993 estabelece, em diversos artigos, um conjunto de informações obrigatórias a constarem no edital, com o objetivo de propiciar aos licitantes a perfeita compreensão de toda a licitação (no âmbito Lei nº 14.133/2021, o conteúdo do edital se encontra previsto, principalmente, no seu art. 25). A seguir, são detalhadas algumas dessas informações obrigatórias em um edital de licitação. 1.2.5.1. Modalidades de Licitação Considerando os diplomas normativos editados antes da promulgação da Lei nº 14.133/2021, as modalidades de licitação são as seguintes: concorrência, tomada de preços, convite, concurso, leilão e pregão, sendo as cinco primeiras definidas pela Lei nº 8.666/1993, em seu art. 22, §§ 1º ao 5º, e esta última pela Lei nº 10.520/2002, em seu art. 1º. Segundo esses normativos: a. Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto; b. Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação; 44 c. Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas; d. Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias; e. Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação. f. Para aquisição de bens e serviços comuns, poderá ser adotada a licitação na modalidade de pregão. Segundo o parágrafo único do art. 1º da Lei nº 10.520/2002, bens e serviços comuns são “aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais do mercado”. No que se refere à contratação de obras, é irregular a utilização da modalidade pregão, sendo possível para a contratação de serviços de engenharia, desde que estes possam ser considerados comuns (Ver Súmula nº 257 e Acórdão nº 1.617/2006, Plenário, do TCU). 45 Considerando esse cenário anterior à Lei nº 14.133/2021, portanto, verifica-se que, não se tratando de concurso, leilão e pregão (opções cuja escolha deriva da natureza do objeto licitado), a definição da modalidade para compras, obras e serviços em geral pode variar conforme o valor do objeto. Quanto a esse critério, os limites de valor para a definição das modalidades de licitação no caso de obras e serviços de engenharia são: MODALIDADES POSSÍVEIS VALOR Convite, Tomada de Preços e Concorrência Até R$ 330.000,00 Tomada de preços e Concorrência Até R$ 3.300.000,00 Concorrência Acima de R$ 3.300.000,00 Parcelamento X Fracionamento da Licitação O gestor deve dividir o objeto a ser contratado em tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da competitividade, sem perda da economia de escala, conforme estabelece o art. 23, § 1º da Lei nº 8.666/1993 (art. 40, V, “b” da Lei nº 14.133/2021). O parcelamento do objeto é, portanto, a regra. Veja maiores detalhes a respeito da distinção entre obras e serviços de engenharia na OT - IBR 002/2009 do IBRAOP, disponível em: http://www.ibraop.org.br/media/OT%20IBR%2002-2009%20- %20Ibraop%2001-07-10.pdf Saiba Mais http://www.ibraop.org.br/media/OT%20IBR%2002-2009%20-%20Ibraop%2001-07-10.pdf http://www.ibraop.org.br/media/OT%20IBR%2002-2009%20-%20Ibraop%2001-07-10.pdf 46 Entretanto, deve ser preservada sempre a modalidade pertinente para a execução do objeto como um todo. O principal objetivo é evitar o fracionamento, ou seja, o desmembramento do objeto com vistas a utilizar modalidade de licitação mais simples do que deveria, caso esse mesmo objeto fosse licitado em sua totalidade. No caso de serviços especializados acessórios em relação à obra, entretanto, a Lei nº 8.666/1993 autoriza, no seu § 5º do art. 23, a utilização de Obra no valor de R$ 4.800.000,00 (considerando a Lei nº 8.666/93) Concorrência 01: R$ 2.400.000,00 Concorrência 02: R$ 2.400.000,00 Procedimento correto, desde que técnica e economicamenteviável, com vistas a aumentar a competitividade, atentando para que não haja perda da economia de escala. Exemplo Obra no valor de R$ 4.800.000,00 Tomada de Preços 01: R$ 2.400.000,00 Tomada de Preços 02: R$ 2.400.000,00 Procedimento irregular!!! Houve o fracionamento da despesa (fuga da modalidade licitatória cabível, sob a égide da Lei nº 8.666/93). Exemplo 47 modalidade específica com base no valor de contratação desses serviços, com vistas a viabilizar o maior número de empresas participantes. Sistema de ar condicionado em uma obra de construção de edifício. Obra s/ sist. ar: R$ 5.000.000,00 Sistema de ar: R$ 400.000,00 Neste caso, deveria ocorrer o parcelamento do objeto, realizando-se dois procedimentos licitatórios: Concorrência 01: Obra de edificação s/ sist. Ar - R$ 5.000.000,00 Tomada de preços 01: Sistema de ar – R$ 400.000,00 Os serviços relativos ao sistema de ar seriam, neste caso, executados por empresa especializada. Caso fosse licitado em conjunto com o objeto principal, seria, em tese, mais oneroso para a Administração, uma vez que a empreiteira acabaria por subcontratá-lo, incidindo BDI duplamente sobre o custo desse serviço. . Exemplo 48 Lei nº 8.666/1993 Art. 23.(…) § 1º As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração serão divididas em tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da competitividade sem perda da economia de escala. § 2º Na execução de obras e serviços e nas compras de bens, parceladas nos termos do parágrafo anterior, a cada etapa ou conjunto de etapas da obra, serviço ou compra, há de corresponder licitação distinta, preservada a modalidade pertinente para a execução do objeto em licitação. § 3º A concorrência é a modalidade de licitação cabível, qualquer que seja o valor de seu objeto, tanto na compra ou alienação de bens imóveis, ressalvado o disposto no art. 19, como nas concessões de direito real de uso e nas licitações internacionais, admitindo-se neste último caso, observados os limites deste artigo, a tomada de preços, quando o órgão ou entidade dispuser de cadastro internacional de fornecedores ou o convite, quando não houver fornecedor do bem ou serviço no País. § 4º Nos casos em que couber convite, a Administração poderá utilizar a tomada de preços e, em qualquer caso, a concorrência. § 5º É vedada a utilização da modalidade "convite" ou "tomada de preços", conforme o caso, para parcelas de uma mesma obra ou serviço, ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente, sempre que o somatório de seus valores caracterizar o caso de "tomada de preços" ou "concorrência", respectivamente, nos termos deste artigo, exceto para as parcelas de natureza específica que possam ser executadas por pessoas ou empresas de especialidade diversa daquela do executor da obra ou serviço. Conhecendo a Legislação 49 A Súmula 247 do Tribunal de Contas da União (TCU) assim dispõe: É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades autônomas, devendo as exigências de habilitação adequar-se a essa divisibilidade. Pela Lei nº 14.133/2021, todavia, deixam de existir no ordenamento jurídico as modalidades “tomada de preços” e “convite”, mudança bastante relevante no que diz respeito ao assunto “fracionamento”, o qual, em breve, não mais ocorrerá. Outra alteração relevante diz respeito à previsão da modalidade “diálogo competitivo”, que é assim definida no art. 6º, XLII, da Nova Lei de Licitações e Contratos: - diálogo competitivo: modalidade de licitação para contratação de obras, serviços e compras em que a Administração Pública realiza diálogos com licitantes previamente selecionados mediante critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma ou mais alternativas capazes de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar proposta final após o encerramento dos diálogos; Sendo assim, as modalidades adotadas pela nova Lei são (art. 28): pregão; concorrência; concurso; leilão e diálogo competitivo. Além disso, estão previstos os seguintes procedimentos auxiliares (art. 78): credenciamento; pré-qualificação; procedimento de manifestação de interesse; sistema de registro de preços; e registro cadastral. 50 Portanto, não há mais definição de modalidade pelo valor do objeto, mas sim pelo seu tipo/característica. 1.2.5.2. Regimes de Licitação De acordo com os arts. 6º e 10 da Lei nº 8.666/1993, são os seguintes os regimes de execução de obras e serviços de engenharia, quando contratados com terceiros: a. empreitada por preço global: quando se contrata a execução da obra ou do serviço por preço certo e total; b. empreitada por preço unitário: quando se contrata a execução da obra ou do serviço por preço certo de unidades determinadas; c. tarefa: quando se ajusta mão-de-obra para pequenos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento de materiais; d. empreitada integral: quando se contrata um empreendimento em sua integralidade, compreendendo todas as etapas das obras, serviços e instalações necessárias, sob inteira responsabilidade da contratada até a sua entrega ao contratante em condições de entrada em operação, atendidos os requisitos técnicos e legais para sua utilização em condições de segurança estrutural e operacional e com as características adequadas às finalidades para que foi contratada; A Lei nº 12.462/2011, que instituiu o Regime Diferenciado de Contratação (RDC), acrescentou outro regime de execução de obras e/ou serviços de engenharia: a contratação integrada, que, conforme definição constante do § 1º do art. 9º daquela Lei, compreende a elaboração e o desenvolvimento dos projetos básico e executivo, a execução de obras e serviços de engenharia, a 51 montagem, a realização de testes, a pré-operação e todas as demais operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto. No caso de utilização da contratação integrada, o instrumento convocatório deverá conter anteprojeto de engenharia que contemple os documentos técnicos destinados a possibilitar a caracterização da obra ou serviço. A Lei nº 13.303/2016 (Lei das Estatais), por sua vez, acresceu o regime de contratação semi-integrada, que envolve a elaboração e o desenvolvimento do projeto executivo, a execução de obras e serviços de engenharia, a montagem, a realização de testes, a pré-operação e as demais operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto. Recentemente, a Lei nº 14.133/2021, além de contemplar os quatro regimes já previstos na Lei nº 8.666/1993, também abarcou os dois inseridos no ordenamento jurídico pelas legislações posteriores, tendo sido acrescido, ainda, o “fornecimento e prestação de serviço associado”, que é assim definido (art. 6º, XXXIV): - fornecimento e prestação de serviço associado: regime de contratação em que, além do fornecimento do objeto, o contratado responsabiliza-se por sua operação, manutenção ou ambas, por tempo determinado; A escolha do regime de execução da obra não é decisão de livre arbítriodo gestor. Ao contrário, deve ser pautada pelo interesse público e estar sempre motivada, visto que impactará as relações entre contratado e contratante, as medições do contrato firmado e os aditivos, entre outros fatores relacionados à gestão do empreendimento contratado. 52 As empreitadas integrais e por preço global, assim como as contratações integrada e semi-integrada, constituem os regimes de preço global fixo. Atualmente, os dois principais regimes utilizados nas obras públicas do país ainda são as empreitadas por preço global e por preço unitário, sendo que a principal diferença entre elas consiste na forma em que os serviços contratados serão medidos e pagos. Nas empreitadas por preço unitário, a regra de medição é a aferição dos serviços na exata dimensão em que foram executados no local da obra. Desde que obedecida esta regra, os riscos dos contratantes em relação a diferenças entre o previsto e o realizado são pequenos. Pressupõe a necessidade de acompanhamento minucioso da execução dos serviços, tendo em vista a possibilidade de variações em relação ao quantitativo de projeto devido à natureza do objeto contratado. Já nas empreitadas por preço global, a licitante vencedora se compromete a realizar o serviço por preço certo e total, assumindo o risco de eventuais distorções de quantitativos a serem executados a maior do que os previstos no contrato. Por outro lado, a Administração também assume o risco em pagar serviços cujas quantidades foram avaliadas em montante superior no momento da licitação. Pressupõe a elaboração de projeto básico preciso em função da natureza do objeto a construir, menos sujeito a variações que aquele próprio das empreitadas por preço unitário - o que não significa que os projetos básicos nas empreitadas por preço unitário possam ser de qualidade inferior. 53 1.2.5.3. Tipos de Licitação (critérios de julgamento) Os tipos de licitação correspondem, em verdade, aos critérios de julgamento que poderão ser utilizados para avaliação das propostas apresentadas pelos licitantes. Segundo o § 1º do art. 45, combinado com o § 3º do art. 46 da Lei nº 8.666/1993, são eles: a. Menor preço - quando o critério de seleção da proposta mais vantajosa para a Administração determinar que será vencedor o licitante que apresentar a proposta de acordo com as especificações do edital ou convite e ofertar o menor preço; b. Melhor técnica – utilizado, no caso de obras e serviços de engenharia, exclusivamente: para serviços de natureza predominantemente intelectual, em especial na contratação da elaboração de estudos técnicos preliminares, projetos, cálculos, fiscalização, supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva em geral; e para execução de obras ou prestação de serviços de engenharia de grande vulto majoritariamente dependentes de tecnologia nitidamente sofisticada e de domínio restrito, atestado por autoridades técnicas de reconhecida qualificação, nos casos em Obra em uma repartição pública cuja quantidade contratada de piso cerâmico seja de 100 m². Caso o regime escolhido seja o de empreitada por preço unitário, mede- se exatamente o que foi feito. Ou seja, se foram medidos 100,5m², então 100,5m² serão pagos (e não 100 m²). No caso de empreitada por preço global, diversamente, remunera-se o que foi previsto em contrato (100 m²). Exemplo 54 que o objeto pretendido admitir soluções alternativas e variações de execução, com repercussões significativas sobre sua qualidade, produtividade, rendimento e durabilidade concretamente mensuráveis, e estas puderem ser adotadas à livre escolha dos licitantes, na conformidade dos critérios objetivamente fixados no ato convocatório; c. Técnica e preço – valem as mesmas considerações acima. d. Maior lance ou oferta - nos casos de alienação de bens ou concessão de direito real de uso. A Lei nº 12.462/2011, do RDC, em seu art. 18, inovou ao trazer a seguinte relação de critérios de julgamento: Menor preço ou maior desconto, os quais poderão considerar os custos indiretos, relacionados com as despesas de manutenção, utilização, reposição, depreciação e impacto ambiental, dentre outros fatores, para a definição do menor dispêndio; Melhor combinação de técnica e preço, sendo permitida a atribuição de fatores de ponderação distintos para valorar as propostas técnicas e de preço, não devendo o percentual de ponderação mais relevante ser superior a 70%; Melhor técnica ou conteúdo artístico, quando, fixado o orçamento por parte da Administração, serão consideradas exclusivamente as propostas técnicas ou artísticas apresentadas pelos licitantes com base em critérios objetivos previamente estabelecidos no instrumento convocatório; Maior oferta, a ser utilizado no caso de contratos que gerem receita para a administração pública; ou 55 Maior retorno econômico, de forma a selecionar a proposta que proporcionará maior economia decorrente da execução do contrato para a administração pública e será utilizado exclusivamente para a celebração de contratos de eficiência. A Lei das Estatais trouxe como novidade o critério de julgamento pela “melhor destinação de bens alienados”, o qual não consta da Nova Lei de Licitações, a qual conjuga, basicamente, os critérios da Lei nº 8.666/1993 com os da Lei do RDC. 1.2.5.4. Habilitação Técnica Por quase 30 anos, a documentação exigível para fins de qualificação técnica das licitantes foi balizada pelo art. 30 da Lei nº 8.666/1993, o qual, todavia, Lei nº 14.133/2021 Art. 33. O julgamento das propostas será realizado de acordo com os seguintes critérios: I - menor preço; II - maior desconto; III - melhor técnica ou conteúdo artístico; IV - técnica e preço; V - maior lance, no caso de leilão; VI - maior retorno econômico. Conhecendo a Legislação 56 ao longo de todo esse período, foi objeto de diversos julgados dos Tribunais de Contas, com destaque para a jurisprudência do TCU. Atualmente, com a edição da Nova Lei de Licitações e Contratos, tal documentação passa a ser regida pelo seu art. 67, dispositivo que incorporou muito dessa jurisprudência das Cortes de Contas. Entre as novidades trazidas pelo novel diploma está a limitação de quantidades mínimas de até 50% das parcelas mais relevantes (§ 2º do art. 67), a declaração de conhecimento do local (inc. VI do art. 67), em detrimento à visita técnica obrigatória (§ 3º do art. 63), assim como considerar um valor acima de 4% em relação ao valor estimado da contratação para fins de definição do seu valor significativo (§ 1º do art. 67). 1.2.5.5. Subcontratação O art. 72 da Lei nº 8.666/1993 estabelece que “o contratado, na execução do contrato, sem prejuízo das responsabilidades contratuais e legais, poderá subcontratar partes da obra, serviço ou fornecimento, até o limite admitido, em cada caso, pela Administração” (na Lei nº 14.133/2021, o assunto se encontra disciplinado no art. 122). Conforme asseverou o TCU, a previsão de transmissão de direitos e obrigações, para que possa ser levada a efeito, precisa estar prevista tanto no edital quanto no contrato, somente podendo-se lançar mão de tais mecanismos para o quantitativo e para as partes do objeto especificados pela Administração. Ademais, por ter sido o licitante aquele que efetivamente demonstrou a capacidade técnica para a execução do objeto (estudada no tópico precedente), não é possível a subcontratação das parcelas tecnicamente mais complexas ou de valor mais significativo do objeto, não se eximindo o contratado principal de 57 suas responsabilidades nas demais situações em que a subcontratação for cabível (ver Acórdãos nº 153/2002 e n° 3.144/2011, ambos do Plenário do TCU). A fim de coibir a possibilidade de que a subcontratação possa acobertar
Compartilhar