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0 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (UERN) CAMPUS AVANÇADO DE PAU DOS FERROS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS (PPGL) DOUTORADO EM LETRAS TELMA PATRICIA NUNES CHAGAS ALMEIDA TRANSITIVIDADE VERBAL: UMA ANÁLISE FUNCIONAL DO VERBO ACHAR NO PORTUGUÊS BRASILEIRO PAU DOS FERROS 2022 1 TELMA PATRICIA NUNES CHAGAS ALMEIDA TRANSITIVIDADE VERBAL: UMA ANÁLISE FUNCIONAL DO VERBO ACHAR NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Tese apresentada ao curso de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Doutora em Letras. Área de concentração: Estudos do Discurso e do Texto. Linha de pesquisa: Texto e construção de sentidos Orientadora: Profa. Dra. Rosângela Maria Bessa Vidal. PAU DOS FERROS 2022 2 3 A tese “Transitividade verbal: uma análise funcional do verbo achar no português brasileiro”, autoria de Telma Patricia Nunes Chagas Almeida, foi submetida à Banca Examinadora, constituída pelo PPGL/UERN, como requisito final necessário à obtenção do grau de Doutora em Letras, outorgado pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Tese defendida e aprovada em ___/____/____. BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Profa. Dra. Rosângela Maria Bessa Vidal (UERN) (Presidente/ Orientadora) ________________________________________________________ Profa. Dra. Maria do Socorro Maia Fernandes Barbosa (UERN) (Examinadora) _________________________________________________________ Prof. Dr. Valdecy de Oliveira Pontes (UFC) (Examinador) _________________________________________________________ Profa. Dra. Clécida Maria Bezerra Bessa (UFERSA) (Examinadora) _________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Edileuza da Costa - UERN (Examinadora) _________________________________________________________ Prof. Dr. Edvaldo Balduino Bispo (UFRN) (Suplente) _________________________________________________________ Profa. Dr. Antônio Luciano Pontes (UERN) (Suplente) PAU DOS FERROS 2022 4 Certa vez, fiz a leitura do seguinte texto: [...] “não sou formada em matemática, mas sei de uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre o 0 e o 1. Tem o 0,1, o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros[...]. Alguns infinitos são maiores que outros. Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto limitado. Queria mais números [...]. Queria mais números com você”. Em dias como esse queria ouvir sua voz e vê-lo. Mas, como bem escreveu Green: “você não imagina o tamanho da minha gratidão pelo nosso pequeno infinito. Eu não o trocaria por nada nesse mundo. Você me deu uma eternidade dentro de nossos dias numerados e, eu sou muito grata por isso”. Grata pelos 26 anos ao seu lado! A você, João Ferreira Nunes (in memorian), dedico essa tese. 5 AGRADECIMENTOS Gratidão. Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre os ombros de gigantes. (Isaac Newton) Diversas foram as situações em que os “achismos” acabaram por destruir sonhos, planos, laços e relacionamentos. A mente humana sempre esteve associada a esse gatilho que é perpassado pelo verbo achar. O verbo que centraliza os estudos desse trabalho de pesquisação, o mesmo verbo (ação) utilizado nas mais diversas falas de nosso cotidiano e, como não é possível o viver isolado, nas linhas que se seguem ficam os registros dos “achismos” positivos que me trouxeram até aqui: família, amigos, mestres, colegas, alunos e instituições. Pessoas que nas perspectivas dos seus achares me fizeram acreditar que era possível se propor, hoje, a escrever essas linhas, as minhas impressões de pesquisa, que vão além desse achar que me impulsionou na vida. Fica, então, meus sinceros agradecimentos: A Deus, por ser minha fortaleza, refúgio e força. Por nos permitir traçar rotas que nos possibilitam cair e levantar; errar e aprender continuamente; À minha mãe, Maria Inês Nunes, e irmã, Taciana Fabricia Nunes, por durante toda essa jornada atuarem como expectadoras dos sonhos que se tornaram realidade e, sempre se manterem ao meu lado, não importando quais eram os desafios e dificuldades; Aos meus filhos: Dara Hayanne Nunes de Almeida, Dyelle Hêmylle Nunes de Almeida, Davi Hyude Nunes de Almeida e Daryston Henrique Almeida Silva e a meu marido, José Elson Almeida Filho, por compreenderam que os estudos e a ansiedade pelas buscas de respostas é parte fundamental de quem sou (foram muitos os feriados em casa, as noites acordadas e os dias que precisei estar distante); Aos meus avós maternos: João Ferreira Nunes e Francisca Maria da Conceição Nunes (Francina); e, a todos da família Nunes, por serem exemplo e inspiração, certamente, nada seria se não tivesse a vocês como base enquanto ser humano; A minha sogra, Francisca Maria do Rêgo Almeida (Tica de Helói) e ao meu sogro, José Elson Almeida (Zé Reinaldo), vocês não imaginam o quão fizeram a diferença nesse processo de formação. Quantos alunos de pós-graduação podem 6 contar com sogros que estimulam e, se preciso, até se dispõem a deixar a sua vida (casa e atividades) para virem cuidar dos netos? Tenho certeza que é muito raro ouvir isso e, ainda mais, ter a segurança do apoio e incentivo. Afinal, quando se é mãe e pesquisadora, vez ou outra, nos cobramos ao pensar que não estamos fazendo o suficiente; Às minhas cunhadas, Eloina Almeida Rêgo e Hellyda Amanda Rêgo, por trazerem a alegria e o sopro de alívio nos momentos de angústias e desconforto; À minha avó do coração, Suerda Bessa Santos Vidal, por cada palavra e gesto de incentivo. De professora na graduação à ente querido. A senhora me disse, no primeiro semestre do curso de Letras, para acreditar que eu poderia transformar minha realidade e, quem diria que aquela menina grávida e com vontade de desistir de tudo, estaria, hoje, escrevendo esse texto; À Maria das Graças Fernandes dos Santos e Pedro Rafael Sousa Dantas, pelo incentivo para submeter a seleção do doutorado e, por toda a confiança na manutenção das atividades/tarefas a serem executadas no meu fazer docente. Quando se tem pessoas que acreditam e confiam em nossa competência, o cotidiano se torna mais prazeroso. Ser guiado por pessoas que acreditam, confiam e cooperam para o nosso desempenho e torna todo o processo possível. Não poderia deixar de agradecer a vocês, afinal, na escrita dessa tese constam-se referências e concepções que aprendi na minha docência na Universidade Paulista (UNIP), Unidade Mossoró e no Colégio Menino Deus (CMD), a pesquisa alinhada a teoria e prática: a gramática, texto e escrita - a língua portuguesa em evidência, como processo contínuo de aperfeiçoamento; Aos meus amigos e amigas: Francimeire Cesário (Meire), Norma Lúcia Diógenes Alvarenga, Edenio Alves de Oliveira, Priscilla Daianny da Silva, Leila Andrade, Jesiane Maria de Sena Araújo, Carolina Barbosa, Lazáro Araújo, Francisco Fabiano de Brito, Izabel Azevedo, Letícia Mariane (Madrinha), Andrey Fernandes, Aparecida Sousa, Djair Eduardo de Azevedo, Francisca Valentim, José Valter Rebouças, Sabrina de Oliveira Andrade, Jânio Torquato, Jorge Torquato, Pedro Adrião da Silva Júnior, Marília Cavalcante de Freitas, pelas conversas animadoras e apoio constante; Ao mestre, Carlos Magno Fonseca (in memorian), pela acolhida na Universidadee incentivo para adentrar no mundo da pesquisa; 7 Aos mestres do Departamento de Letras do Campus Avançado de Pau dos Ferros /Universidade do Estado do Rio Grande do Norte por todo entusiasmo, responsabilidade e compromisso dedicado aos alunos para adquirirem conhecimentos e romper os entraves na vida; em especial, aos mestres: Jailson José dos Santos, Maria do Socorro Maia Fernandes Barbosa, Maria Edileuza da Costa, Tatiana Lourenço de Carvalho , Maria de Fátima de Cravalho Dantas, Lucineudo Machado Irineu, Valdecy Pontes, por dentre tantos obstáculos, possibilitar o exemplo e a confiança de que seria possivel a conclusão da graduação em Letras; Ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL), pela competência acadêmica com que fazem a produção científica; Aos secretários Zailton Pinheiro Guerra e Cyron Rodrigo Dias da Silva, extensão e continuidade do PPGL, primando sempre para a qualidade dos atendimentos aos pós-graduandos; Aos colegas do doutorado, em especial, a Francisco Clébio de Figueiredo, pelo carinho, pelas parcerias e trocas de conhecimentos; À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio e financiamento durante o estudo; À banca examinadora, pela análise criteriosa e por suas contribuições para o enrequecimento da pesquisa; E, por último, à Profa. Dra. Rosângela Maria Bessa Vidal, minha orientadora, exemplo profissional e humano, constituindo-se em guia seguro e competente para a elaboração de todo processo de pesquisa científica, do PIBIC/CNPq à tese de doutorado. Pela inspiração, apoio, solicitude, carinho. Agradeço pelo encontro humano, durante todas as etapas de minha vida acadêmica, inclusive, durante a minha formação e graduação em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ao seu lado vivenciei aprendizagens além da gramática, por toda convivência multidiversificada, geradora de aprendizagens infinitas, sobretudo, pela minha saúde acadêmica e afetiva, gratidão. 8 “Como um Alquimista Moderno faço experimentos com as palavras, as desconstruo para achar a essência do verbo.” Andrius Vallantine 9 RESUMO A transitividade enquanto fenômeno linguístico vem sendo pesquisada desde os gramáticos alexandrinos e, apesar de se tratar de um estudo antigo, o tempo não tem sido o suficiente para sanar todas as inquietações suscitadas pelos gramáticos e suas distintas abordagens, uma vez que para ser compreendida e analisada são necessários considerar os aspectos semânticos, pragmáticos e sintáticos em torno da comunicação. Deste modo, buscamos, nesta pesquisa, analisar o uso do verbo achar e seu grau de transitividade nas modalidades orais e escritas, isto é, os tipos textuais (narrativas, descrições e relatos) dos informantes do Ensino Superior e da Alfabetização contidas no corpora Discurso & Gramática: a língua falada e escrita no português brasileiro (D&G), assim como do Banco Conversacional de Natal: uma amostra da fala espontânea dos natalenses (BCN). Para isso, nossa investigação teve como aporte teórico os estudos da Linguística Centrada no Uso (Linguística Funcional) e suas respectivas vertentes conforme os estudos de Dubois (1985); Furtado da Cunha e Oliveira (2003); Hopper (1987); Nichols (1984); Vidal (2009); Martelotta, Votre e Cezário (1996); Martelotta (2013); Rios de Oliveira (1998); Furtado da Cunha (2000); Furtado da Cunha, Rios de Oliveira e Martelotta (2003); Neves (1999); Wilson, Martelotta e Cezário (2006). Associando-se ainda aos estudos sobre a transitividade conforme as leituras a partir de Hopper e Thompson (1980); Furtado da Cunha, Costa & Cezário (2003), dentre outros. Do ponto de vista metodológico, inspiramo-nos em uma investigação de caráter qualitativo e quantitativo, uma vez que as análises de seus dados voltaram-se para a discussão dos fatos pesquisados dentro de variáveis qualitativas e bibliográficas, bem como, dados quantificáveis relacionados à frequência do uso do verbo achar. Como resultado, indicamos que quando consideramos o contexto, conforme a visão funcional, outros verbos aparecem no entorno comunicativo para completar o sentido semântico, assim como evidenciar os aspectos pragmáticos que direcionam a compreensão do propósito e evento da comunicação, resultando em um maior índice de aplicação da transitividade, conforme os parâmetros de Hopper e Thompson (1980). Palavras-chave: Verbo Achar. Transitividade verbal. Gramática. Linguística Funcional. 10 ABSTRACT The transitivity as a linguistic phenomenon has been searched since the Alexandrinos’ grammatic despite of being an old study, the time hasn’t been enough to remedy all concerns raised by grammarians and their different approaches once to be comprehended and analyzed are necessary consider the semantic aspects pragmatic and syntactic related to communication. In this way, we seek in this searching analyze using of verb think and its degree of transitivity in oral and written modalities this is the text types (narratives, description and reports) of Higher Education informants and Literacy inside corpora Speech & Grammar: the language spoken and written in Brazilian Portuguese (S&G) as in Conversation Bank of Natal: A sample of spontaneous Natalenses’ speaking (CBN). To this our investigation had like theoretical contribution the studies of Linguistic Based in Use( Functional Linguistic) and its respective strands according to the studies of Dubois (1985); Furtado da Cunha e Oliveira (2003); Hopper (1987); Nichols (1984); Vidal (2009); Martelotta, Votre e Cezário (1996); Martelotta (2013); Rios de Oliveira (1998); Furtado da Cunha (2000); Furtado da Cunha, Rios de Oliveira e Martelotta (2003); Neves (1999); Wilson, Martelotta e Cezário (2006). Still associating to transitivity studies according to readings of de Hopper e Thompson (1980); Furtado da Cunha, Costa & Cezário (2003) among others. As a methodologic point we have inspired in an investigation as a qualitative and quantity, once the analyzes of your data has turned to a discussion of searched facts into variables qualitative and bibliographical as in quantifiable data related to frequency of using to verb think. As a result we indicate that when consider the context, conform the functional view other verbs appear into communicative way to complete the semantic sense as in evidence the pragmatic aspects that direct the comprehension of purpose and communication event, it has resulting in a higher rate of transitivity application according to parameters’ Hopper e Thompson (1980). Keywords: Verb Achar. Verbal Transitivity. Grammar. Functional Linguistic. 11 RESUMEN La transitividad mientras fenómeno lingüístico viene siendo investigada desde los gramáticos alexandrinos y, a pesar de tratarse de un estudio antiguo, el tiempo no tiene sido el suficiente para sanar todas las intranquilidades suscitadas por los gramáticos y sus distintos abordajes, una vez que para ser comprendida y analizada son necesarios considerar los aspectos semánticos, pragmáticos y sintácticos en torno de la comunicación. De ese modo, buscamos analizar, en esta investigación el uso del verbo achar y el grado de transitividad en las modalidades orales y escritas, esto es, los tipos textuales (narrativas, descripciones y relatos) de los informantes de la Educación Superior y de la Alfabetización contenidas en el corpora Discurso & Gramática: la lengua hablada y escrita en el portugués brasileño (D&G), así como del Banco Conversacional de Natal: una amuestra de habla espontánea de los natalenses (BNC). Para eso, nuestra investigación tuvo como aporte teórico los estudios de la LingüísticaCentrada en el Uso (Lingüística Funcional) y sus respectivas vertientes según los estudios de Dubois (1985); Furtado da Cunha y Oliveira (2003); Hopper (1987); Nichols (1984); Vidal (2009); Martelotta, Votre e Cezário (1996); Martelotta (2013); Rios de Oliveira (1998); Furtado da Cunha (2000); Furtado da Cunha, Rios de Oliveira y Martelotta (2003); Neves (1999); Wilson, Martelotta y Cezário (2006). Associando aun los estúdios sobre la transitividad según las lecturas, a partir de Hopper y Thompson (1980); Furtado da Cunha, Costa & Cezário (2003), dentre otros. Del punto de vista metodológico, en los inspiramos en una investigación de carácter cualitativo, una vez que los análisis de sus datos se volvieron para la discusión de factos investigados dentro de las variables cualitativas y bibliográficas, así como, datos cuantificables relacionados a la frecuencia del uso del verbo achar. Como resultado, indicamos que cuando consideramos el contexto, conforme la visión funcional, otros verbos aparecen en el entorno comunicativo para completar el sentido semántico, así como evidenciar los aspectos pragmáticos que direccionan la comprensión del propósito y evento de la comunicación, resultando en un mayor índice de aplicación de la transitividad según los parámetros de Hopper y Thompson (1980). Palabras clave: Verbo Achar. Transitividad verbal. Gramática. Lingüística Funcional. 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS PIBIC/CNPq Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica FAPERN DS IES UERN UFMA USP PROCAD CAPES CAMEAM BTD –CAPES HC LCF LFCU D&G BCN GDF GF LC PEUL UFF UFRJ CNPq UFRN GGT FL GU CR Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte Demanda Social Instituições de Ensino Superior Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Universidade Federal do Maranhão Universidade de São Paulo Programa de Cooperação Acadêmica Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Campus Avançado Professora Elisa de Albuquerque Maia Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Habeas Corpus Linguística Cognitivo- Funcional Linguística Funcional Centrada no Uso Discurso & Gramática: a língua falada e escrita no português brasileiro Banco Conversacional de Natal: uma amostra da fala espontânea dos natalenses Gramática discursivo-funcional Gramática Funcional Linguística Cognitiva Programa de Estudos sobre o Uso da Língua Universidade Federal Fluminense Universidade Federal do Rio de Janeiro Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Universidade Federal do Rio Grande do Norte Gramática Gerativa Transformacional Faculdade da Linguagem Gramática Universal Corpus Referência 13 CE PPgEL GC NURC UFMG UFJF UNESP Corpora de Estudo Programa de Pós-graduação nos Estudos da Linguagem Gramática de Construções Projeto Norma Urbana Oral Culta Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Juiz de Fora Universidade Estadual Paulista 14 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Frequência da conjugação acho no D&G.................................................105 Tabela 2 - Frequência de uso do verbo achar no BCN (2011) .................................108 Tabela 3 - Usos e funções do verbo achar no corpora de estudo..............................124 Tabela 4 - Informante 01: Carlos – D&G de Natal – Ensino Superior.......................127 Tabela 5 - Informante 01: Carlos – D&G de Natal – Ensino Superior......................129 Tabela 6 - Informante 02: Diva – D&G de Natal – Ensino Superior.........................129 Tabela 7 – Informante 03: Talita – D&G de Natal – Alfabetização............................................................................................................132 Tabela 8 - Informante 04: Wesley – D&G de Natal – Alfabetização............................................................................................................133 Tabela 9 – Conversa 01: BCN (2011) .......................................................................135 Tabela 10 – Conversa 08: BCN (2011) .....................................................................137 Tabela 11 – Conversa 11: BCN (2011) .....................................................................138 Tabela 12 – Informante 01: André – D&G do Rio de Janeiro (UFRJ) – Ensino Superior....................................................................................................................141 Tabela 13 – Informante 02: Daniel – D&G do Rio de Janeiro (UFRJ) – Ensino Superior ..................................................................................................................................141 Tabela 14 – Informante 03: Érica – D&G do Rio de Janeiro (UFRJ) – Ensino Superior ..................................................................................................................................141 Tabela 15 – Informante 02: Bruna – D&G do Rio de Janeiro (UFRJ) – CA INFANTIL ..................................................................................................................................144 Tabela 16 – Informante 02: Bruna – D&G do Rio de Janeiro (UFRJ) – CA INFANTIL ..................................................................................................................................144 Tabela 17 – Informante 01: Aydano – D&G de Niterói (UFF) – Ensino Superior....................................................................................................................147 Tabela 18 – Informante 02: Margarete – D&G de Niterói (UFF) – Ensino Superior ..................................................................................................................................147 Tabela 19 – Informante 03: Eliane – D&G de Niterói (UFF) – Ensino Superior ..................................................................................................................................147 Tabela 20- Escala de Transitividade – D&G de Natal (UFRN).................................149 15 Tabela 21– Escala de Transitividade – D&G do Rio de Janeiro (UFRJ)..................150 Tabela 22 – Escala de Transitividade – D&G de Niterói (UFF) .................................150 16 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Modelo de interação verbal (Gramática Funcional) ....................................36 Figura 2 - Organização Top Down do Discurso ..........................................................37 Figura 3 - Linguagem como sistema de estratos ........................................................40 Figura 4 - Interface entre os componentes do modelo T .............................................61 Figura 5 - Composição do BCN (UFRN)......................................................................80 Figura 6 - Símbolos Gráficos do BCN UFRN) .............................................................82 Figura 7 - O Programa WordSmith Tools 7.0 ..............................................................91 Figura 8 - Interfaces de ferramentas do WordSmith....................................................91 Figura 9 - Sentidos do verbo achar no português brasileiro.....................................101 17 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Parâmetros de transitividade propostos por Hopper e Thompson (1980) ....................................................................................................................................65Quadro 2 - Informantes Natal – Ensino Superior ........................................................74 Quadro 3 - Informantes Natal – Alfabetização ............................................................75 Quadro 4 - informantes Rio de Janeiro – Ensino Superior...........................................85 Quadro 5 - Informantes Rio de Janeiro – Alfabetização ..............................................85 Quadro 6 - Informantes Niterói – Ensino Superior ......................................................87 Quadro 7 - Informantes Niterói – Alfabetização ..........................................................87 Quadro 8 - Síntese do Percurso Metodológico da pesquisa .....................................99 Quadro 9 - Verbo achar na gramática normativa ......................................................110 Quadro 10 - Formas nominais do verbo achar na gramática normativa ....................110 Quadro 11 - Amostras textuais D&G Natal ...............................................................115 Quadro 12 - Amostras textuais D&G Natal ...............................................................116 Quadro 13 - Amostras textuais BCN (2011) .............................................................117 Quadro 14 - Amostras textuais D&G (UFRJ) ............................................................119 Quadro 15 - Amostras textuais D&G (UFRJ) ............................................................120 Quadro 16 - Amostras textuais D&G (UFF)...............................................................122 Quadro 17 - Amostras textuais D&G (UFF)...............................................................122 18 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - O Uso do verbo Achar no Português Brasileiro .......................................103 Gráfico 2 - Maior frequência de uso no corpora ........................................................104 Gráfico 3 - Frequência de uso no corpus D&G de Natal............................................106 Gráfico 4 - Frequência de uso no corpus D&G do Rio de Janeiro – Ensino Superior....................................................................................................................106 Gráfico 5 - Frequência de uso no corpus D&G do Rio de Janeiro – CA Infantil..........107 Gráfico 6 - Frequência de uso no corpus D&G de Niterói – Ensino Superior..............107 Gráfico 7 - Frequência de uso do verbo achar no BCN (2011) ..................................109 Gráfico 8 - Frequência de uso do acho no BCN (2011) .............................................109 19 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO........................................................................................................21 2. A LINGUÍSTICA FUNCIONAL ...............................................................................32 2.1 A LINGUÍSTICA CENTRADA NO USO E SUA GÊNESE .....................................32 2.1.1 O funcionalismo holandês de Van Dik e a Gramática Funcional..................34 2.1.2 O funcionalismo de Halliday e a Gramática Sistêmica-Funcional................38 2.1.3 A vertente norte-americana e a Gramática Cognitivo-Funcional.................41 2.1.4 Estudos funcionais no Brasil ......................................................................45 3. ESTUDOS SOBRE GRAMÁTICA, O VERBO E A TRANSITIVIDADE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO..................................................................................... 51 3.1 VERBOS: DEFINIÇÕES.......................................................................................51 3.2 A TRANSITIVIDADE NA PERSPECTIVA DA GRAMÁTICA TRADICIONAL CLÁSSICA..................................................................................................................54 3.3 A TRANSITIVIDADE NA PERSPECTIVA ESTRUTURALISTA............................57 3.4 A TRANSITIVIDADE NA PERSPECTIVA GERATIVISTA.....................................59 3.5 A TRANSITIVIDADE VERBAL SEGUNDO ESTUDOS FUNCIONAIS .................64 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..............................................................69 4.1 HIPÓTESE ...........................................................................................................69 4.2 NATUREZA DO CORPORA.................................................................................70 4.2.1 Coleta de dados...............................................................................................71 4.2.2 O Discurso & Gramática: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).............................................................................................................73 4.2.2.1 O Banco Conversacional de Natal (BCN): apontamentos...............................79 4.2.3 O Discurso & Gramática: sede Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)..........................................................................................................83 4.2.4 O Discurso & Gramática: sede Universidade Federal Fluminense (UFF).....................................................................................................86 4.2.5 Instrumento de Pesquisa................................................................................90 4.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS: OS GÊNEROS TEXTUAIS NO CORPORA - MODALIDADES ORAIS E ESCRITAS...................................................93 4.3.1.1 Dos gêneros....................................................................................................93 4.3.1.2 Das modalidades orais e escritas..................................................................96 20 4.4 SÍNTESE DO PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA...........................98 5. O VERBO ACHAR NO PORTUGUÊS BRASILEIRO..........................................100 5.1 O USO DO VERBO ACHAR NO CORPORA .....................................................100 5.1.1 O verbo achar no corpora: resultados preliminares...................................102 5.1.2 Usos e funções do verbo achar no Corpora de Estudo...............................114 5.1.3 A Aplicabilidade dos Parâmetros de transitividade Hopper e Thompson (1980) ......................................................................................................................125 5.1.3.1 D&G de Natal (UFRN) .................................................................................125 5.1.3.2 D&G do Rio de Janeiro (UFRJ) ...................................................................139 5.1.3.3 D&G de Niterói (UFF) ..................................................................................145 5.2 DOS RESULTADOS FINAIS ..............................................................................148 6. (IN)CONCLUSÕES: PONDERAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO PROPOSTA DO USO DO VERBO ACHAR NO PORTUGUÊS BRASILEIRO ...................................153 REFERÊNCIAS .......................................................................................................157 APÊNDICE ..............................................................................................................168 21 1. INTRODUÇÃO Do latim transitivus, a transitividade tem como significado literal ir além, passar adiante. Um fenômeno linguístico que vem sendo pesquisado desde os gramáticos alexandrinos e, apesar de se tratar de um estudo antigo, o tempo não tem sido o suficiente para sanar todas as inquietações suscitadas pelos gramáticos e suas distintas abordagens, uma vez que para ser compreendido e analisado é necessários considerar os aspectos semânticos, pragmáticos e sintáticos desse fenômeno em uma estrutura e/ou contexto comunicativo. Não diferentemente, dessa colocação inicial do ir além e passar adiante, ressaltamoso compromisso ético em estudar esse fenômeno gramatical sob o viés da língua em uso que por ora se inicia e não se conclui nesta tese, todavia se constitui como mais um elo na cadeia de estudos inconclusivos, não finalizados, sobre os estudos funcionalistas iniciados, ainda, na graduação através da iniciação científica. De fato, provocamos esta reflexão sobre o processo de amadurecimento na pesquisa, por compreendermos que a presente investigação se funde ao olhar das diferentes pesquisas funcionais exercida ao longo da formação acadêmica, como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) nos anos 2010-2011 e 2012-2013, como pesquisadora bolsista da Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (FAPERN) no mestrado e, no doutorado como bolsista de Demanda Social (DS). Nos projetos de Pesquisas: O Ensino de Gramática em cursos de letras de IES brasileiras (2010-2011); O Ensino de Gramática na Universidade: Análise da proposta pedagógica em Cursos de Letra de IES Brasileiras (2012-2013), foi possível mapear a proposta de ensino gramatical nas Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras: Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Universidade de São Paulo (USP), a partir do Programa de Cooperação Acadêmica (PROCAD/CAPES)¹. _____________________ ¹ Lançado em 2000, o PROCAD possibilita a utilização de recursos humanos e da infraestrutura das instituições de ensino superior para a abordagem de novos tópicos de pesquisa e a criação de condições estimulantes à associação de projetos para o fortalecimento da produção de conhecimentos entres IES brasileiras. 22 Com relação à UFMA, os dados mapeados sobre o ensino de gramática foram obtidos via coleta in lócus (durante uma viajem de campo para coleta de dados em 2010); já em relação à UERN, as coletas no Campus Avançado Professora Elisa de Albuquerque Maia (CAMEAM), bem como nos núcleos de Assú e Umarizal, respectivamente nos cursos de Letras, assim como no material fornecido pelos membros do PROCAD/CAPES. Por último, em relação à USP, os dados foram coletados via consultas online através do sistemausp@br. Pesquisas desenvolvidas no período correspondente a graduação, cuja participação constituem a singularidade em torna-se pesquisadora. No Mestrado, o estudo sobre o uso do tempo presente foi base para a dissertação: O Uso do tempo presente no Português Brasileiro: análise funcionalista, o recorte em analisar o verbo em um contexto real de uso. E, assim passar a pesquisar os verbos sob uma gramática funcional, o ir além que reverberou nos estudos da transitividade. Desta maneira, é na conjunção entre educação e pesquisa que a presente tese demarca seu lugar. Uma vez que o acesso a iniciação científica via aluna de graduação, por ter acesso à uma educação de qualidade ressignificou toda uma história de vida e mudanças por meio da educação. Diante do exposto, ao refletir sobre a nossa responsividade de passar a diante, como bem pontuado no significado da palavra transitividade, somos impelidos, a promover um estudo da linguagem, em que a gramática seja discutida e analisada a partir de seu uso. Refletindo os seus efeitos e as relações de poder implicadas durante o ato comunicativo, problematizando a crença de que a gramática se trata apenas de “um conjunto de regras” meramente decorativo, o que nos faz imprescindível um olhar mais acurado para um uso mais dinâmico e flexível da língua. Aliados a essas inquietações acerca dos estudos da língua e do fenômeno da transitividade com o passar dos anos, observamos ainda lacunas nos estudos da área, pois ao investigarmos a temática, encontramos poucas pesquisas realizadas sobre o verbo achar em uma dinâmica funcional. A partir dessa perspectiva, enfatizamos a busca realizada no site do Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (BTD –CAPES) ², tendo como recorte ___________________ ² A consulta no Banco de Teses e Dissertações (BTD) da CAPES foi realizada em 26/01/2019. Utilizamos os termos-chaves, pois o site possui apenas um sistema de busca simples, não tendo a possibilidade de rastreamento com a opção da pesquisa avançada. 23 nossas revisões com as consequentes expressões: “transitividade e gramática funcional”, “verbo achar no português brasileiro”. Inserimos as expressões de forma intercalada no site, encontramos³, respectivamente, três referente a primeira expressão (duas teses e uma dissertação), e quatro textos referentes a segunda expressão (quatro dissertações – destas três são trabalhos antigos, anteriores a Plataforma Sucupira). Na pesquisa de Lima (2017), temos os estudos funcionais associado a gramática sistêmico-funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), cujo objetivo era investigar, categorizar e nomear um Participante específico de orações materiais, o qual ainda não foi identificado no sistema de transitividade da metafunção ideacional. Lima (2017), em sua tese analisou exemplos associados ao conceito de sujeito⁴ segundo gramáticos da língua portuguesa e a partir desta análise selecionou 25 processos com ocorrência de análise instigante, que permitem diferentes interpretações, de modo a consentir a separação dos verbos em grupos semânticos de ocorrência. Rodrigues (2017), em sua tese, propôs investigar a transitividade em narrativas de processos de habeas corpus (HC) que solicitam a liberdade provisória de pessoas em situação de rua. O autor direcionou a construção teoria a Linguística Cognitivo- Funcional ( LCF), em especial as seguintes categorias dessa vertente: transitividade escalar, figura e fundo (HOPPER & THOMPSON, 1980); frames (FILLMORE, 1982; FERRARI, 2012; DANCYGIER, 2012); estrutura argumental (FURTADO DA CUNHA, 2006; PAYNE, 1997); valência e operações de ajuste de valência (DIXON & AIKHENVALD, 2010); informatividade (FURTADO DA CUNHA, BISPO e SILVA, 2013); iconicidade e marcação (FURTADO DA CUNHA, COSTA e CEZÁRIO, 2015). Ao conjugar estratégias de abordagem quantitativa e qualitativa para análise de 298 enunciados narrativos de legados, juízes, defensores e ministros, que apresentaram os fatos nos três processos de HC (corpus de sua pesquisa), o pesquisador conclui a necessidade de: “[...]um ensino interdisciplinar que contribua para a busca de soluções para problemas complexos enfrentados na sociedade brasileira, em especial a situação de rua’’ (RODRIGUES, 2017, p. 07). ______________________ ³ Ver no apêndice os títulos dos trabalhos com seus respetivos autores. ⁴ Em sua tese, Lima (2017, p. 34) destaca três definições sumarizadas: (i) o núcleo da mensagem (para quem a mensagem se volta); (ii) aquilo sobre o que algo está sendo predicado; (iii) o agente da ação (quem pratica a ação desempenhada pelo verbo). 24 Na busca realizada no BTD –CAPES, encontrados nos estudos de Sampaio (2015)⁵; Frascaroli (2008)⁶; Galvão (1999)⁷; Parreira (2014)⁸; Santos (2010)⁹ discussões acerca do processo de gramaticalização, transitividade, predicações não- verbais reduzidas avaliativas encaixadas no verbo achar. Os resultados iniciais demonstram assim, a atualidade e a necessidade de pesquisa deste campo, sobretudo, por se tratar de uma tese, posto que os estudos de uma gramática funcional consideram todo o entorno comunicativo, além da capacidade linguística dos falantes de uma dada língua estruturar seus enunciados conforme o propósito do evento da fala. Uma proposta gramatical, cuja base tem-se o texto e o discurso, como unidades do processo de análises e discussão dos recursos da língua. Nesse sentido, considera-se “a língua como instrumento de uma prática social, sendo as expressões linguísticas analisadas em circunstâncias efetivas de interação verbal”. (PEZATTI, 2007, p. 179). Assim sendo, ao ampliarmos nossa pesquisasobre o tema em outros espaços além do BTD da Capes, entendemos que investigações que tomam a situação comunicativa como motivadora da estrutura gramatical como pano de fundo é rico e vasto, especialmente no campo dos estudos linguísticos gramaticais. Entre estes trabalhos, destacamos os estudos funcionalistas realizados na Escola de Praga (o funcionalismo europeu), a quem se deve o uso dos termos função/funcional. Para Halliday (1973), a linguagem desempenha múltiplos sentidos na vida dos indivíduos e, não meramente está relacionada aos papéis que as classes de palavras desempenham dentro da estrutura das unidades maiores. ______________________ ⁵ Sampaio (2015) discuti o ensino de gramática na escola, especificamente propondo abordagens para o ensino-aprendizagem da transitividade nas aulas de língua portuguesa no Ensino Fundamental. ⁶ Frascaroli (2008) averigua o processo de gramaticalização pelo qual os verbos achar e parecer passam no português falado, na comunidade de Conceição de Ibitipoca, Minas Gerais. ⁷ Galvão (1999) investiga um processo de gramaticalização no português falado no Brasil – a escala de mudança desenvolvida pelo item achar, verbo pleno, que em determinadas situações de uso assume a função gramatical de um elemento modalizador epistêmico. ⁸ Parreira (2014) aborda as predicações não-verbais reduzidas avaliativas encaixadas no verbo achar, com o objetivo de discutir o estatuto da predicação encaixada, do ponto de vista da gramaticalização (HOPPER; TRAUGOTT, 2003; LEHMANN, 1988). ⁹ Santos (2010) analisa a multifuncionalidade do verbo achar, sob uma perspectiva sincrônica e para tanto testa essa hipótese no corpus do Português Falado na cidade de Vitória (PORTVIX). Toma como ponto de partida os estudos funcionalistas que discutem, dentre outras coisas, a mudança semântica de itens lexicais como sendo um processo de gramaticalização. 25 Nessas investigações funcionalistas, foram enfatizados a “multifuncionalidade da linguagem”, temos os estudos da linguagem associados a distinção entre análises fonéticas e fonológicas dos sons, análise dos fonemas em traços distintivos e as noções correlatas de binário e marcação da morfologia, diferenciando as categorias marcadas das não-marcadas, levando em consideração os contrastes: interna/externa, intelectual/emocional, prática/teórica, dentre outros. Para a Linguística Funcional Centrada no Uso (doravante LFCU) são considerados o propósito do evento da fala, seus participantes e o contexto discursivo inserido, em que a língua é vista como um instrumento de interação social com funções comunicativas. Sob essa visão, a língua é apreendida como um sistema funcional, em que se passa a considerar o uso da língua voltado para uma determinada finalidade. Ou seja, a intenção do locutor ao fazer uso da língua passa a ser fundamental para compreensão da sua natureza, bem como a determinação dos fundamentos teóricos básicos da corrente e as análises, as quais consideram aspectos pragmáticos e discursivos. Preocupa-se, então, com o estudo da utilização da língua em situação comunicativa, priorizando o componente pragmático, ao qual estariam ligados os componentes sintáticos e semânticos. Fato que é endossado por Furtado da Cunha e Oliveira (2003, p. 47), quando afirmam que “todas as orações de um texto têm uma dupla função: semântica e pragmática. O que se comunica em cada porção não é só o conteúdo semântico da língua, mas também a natureza e o propósito do ato de fala visto como fenômeno cultural e cognitivo”. Desse modo, para os estudiosos funcionais, a língua não pode ser vista totalmente independente de seus fatores externos, tais como: contexto, propósito comunicativo. A gramática de uma língua, assim, é dinâmica e flexível e, sob esse contexto, a gramática é como propõe Du bois (1985), “um sistema adaptativo”, ou seja, em parte autônomo por se tratar de um sistema e ao mesmo tempo suscetível a pressões externas, tornando-a adaptativa. Tais conjecturas em torno de um ensino linguístico funcional é importante, principalmente, quando situamos em nosso desígnio maior: analisar o uso do verbo achar nas narrativas de experiência pessoal (nas modalidades orais e escritas, relatos e descrições) contidas no português brasileiro. 26 Posto que para a LFCU, a transitividade é “uma propriedade contínua, escalar (ou gradiente), da oração como um todo. É na oração que se podem observar as relações entre o verbo e seu(s) argumento(s) – a gramática oração” (FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2011, p. 37). Passando a ser determinado pelo reflexo de sua função discursiva, de modo a distinguir a informação como toda no processo de interação. Contudo, observamos a necessidade de estudar e discutir sobre a origem dos estudos transitivos e, para isso abordamos na tese as demais perspectivas acerca da transitividade, no entendimento de que é preciso ensinar o porquê/que/como a língua muda. Não temos a pretensão de construir uma análise linguística sobre o funcionalismo e suas vertentes e/ou sobre os estudos transitivos, mas sim de conferir uma reflexão sobre os discursos presentes nos estudos linguísticos gramaticais que subjazem a nossa comunicação e seu processo de mudança. Em outras palavras, esta tese busca a reflexão sobre as múltiplas manifestações voltadas para o funcionamento da língua que tem sido um desafio para os usuários e estudiosos da área. A língua, antes concebida como algo restrito e limitado (de aspecto tradicional), analisada somente por seus aspectos linguísticos estruturais e sistemáticos passou a receber um novo foco e direcionamento, isto é, passou a considerar a relação de linguagem e contexto social (aspecto funcional). Consequentemente, nosso questionamento central é: a transitividade é um traço recorrente em textos narrativos, de modo a considerar todo o entorno da comunicação, os seus aspectos semânticos e, não apenas os dados gramaticais (o verbo em si)? Ademais, outros questionamentos encaminham a presente pesquisa, tais como: 1. Como ocorre o grau de transitividade do verbo achar nas modalidades orais e escritas dos informantes do Ensino Superior e da Alfabetização contidas no D&G e no BCN (2011) em relação ao estatuto discursivo/pragmático e multifuncional no evento comunicativo? 2. Quais relações discursivas são verificadas no nível semântico que pode privilegiar o agente; focalizar o paciente (construção passiva do sujeito), dentre outros, a depender do ponto de vista adotado pelos participantes no momento da comunicação? 27 Isto posto, associamos a teia de estudo e disposição desta tese as pesquisas sobre os fatos narrados pelos informantes do corpora D&G, em que são encontradas narrativas de experiência pessoal e descrições e relatos. Estas, que se trata de uma modalidade textual no qual se narra um fato, real ou fictício, ocorrido em um dado tempo e/ou lugar em que se envolvem personagens, assumindo características próprias que as diferencia dos demais gêneros textuais. Segundo Reis e Lopes (1988, p. 66), “a narrativa desencadeia-se com mais frequência e encontra-se em diversas situações funcionais e contextos comunicacionais”. Labov (1972, p. 359) por sua vez, postula que uma narrativa pode ser determinada como sendo “um método de recapitular experiências passadas, combinando uma sequência verbal de orações com uma sequência de fatos que (infere-se) ocorreram de fato”. Em geral, o tempo verbal predominante é o passado, uma vez que, o narrar surge da busca em transmitir e comunicar acontecimentos e/ou situações passadas. Contudo, é possível identificar a utilização do tempo presente, uma vez que, é perceptível uma alternância entre o passado que caracteriza o momento da história e o uso do tempo presente que revela as contribuições e/ou interferências do narrador/informante. Portanto, a atenção dada ao nosso objetode análise parte da ideia de concebermos inicialmente as condições concretas de realização do processo de transitividade do respectivo verbo a partir do um contexto comunicativo, aos quais devem ser consideradas as noções de evento referencial e evento de fala no momento da interação, de modo a configurar os mecanismos e parâmetros da transitividade do verbo. Assim sendo, o objetivo principal deste trabalho é analisar o uso do verbo achar, a multifuncionalidade e seu grau de transitividade nas modalidades orais e escritas, isto é, os tipos e gêneros textuais (narrativas, descrições, relatos e conversas) dos informantes do Ensino Superior e da Alfabetização contidas no corpora Discurso & Gramática: a língua falada e escrita no português brasileiro (D&G). Além disso, delineamos como objetivos específicos: • Refletir sobre as múltiplas manifestações voltadas para o funcionamento da língua que tem sido um desafio para os usuários e estudiosos da área. A língua, antes concebida como algo restrito e limitado, analisada somente por seus aspectos 28 linguísticos estruturais e sistemáticos passou a considerar a relação de linguagem e contexto social. • Analisar o processo de transitividade do verbo achar a partir do contexto comunicativo, as noções de evento referencial e evento de fala no momento da interação, de modo a configurar os mecanismos e parâmetros da transitividade do verbo. Os membros do grupo D&G organizaram amostras de língua falada e escrita com informantes em cinco cidades brasileiras: Rio de Janeiro, Natal, Rio Grande, Juiz de Fora e Niterói. Os Corpus D&G compõem-se de textos orais e escritos produzidos, em situação de entrevista, por informantes de diversas faixas etárias e níveis de escolaridade, na década de 1990 (período da coleta). Quanto ao nível, foram entrevistados informantes, sendo eles da Alfabetização, das séries do Ensino Fundamental, da terceira série do Ensino Médio e do último período do Ensino Superior, em nível de graduação. Nesta tese, tomamos como base para a análise e discussão dos dados, os eventos de fala produzidos pelos os informantes do Ensino Superior e da Alfabetização contidas no banco de dados do D&G. A preferência por esses níveis de escolaridade (Ensino Superior e Alfabetização) ocorreu a partir da análise comparativa, isto é, conforme os enunciados produzidos por seus sujeitos em que se considera a formação inicial e seu processo de aquisição da língua (alfabetização), e, a formação em nível avançado (Ensino Superior), ao qual o sujeito tende a ter um domínio da linguagem. A partir desse comparativo, a finalidade é estudar o aspecto discursivo e interacional manifestados em textos orais e escritos, com identificação das noções de evento referencial e evento de fala. A primeira noção, que nos termos de Tomasello (1998) abrange a vinculação à estrutura semântica do que se é comunicado, isto é, a informação em si (evento referencial); e, a segunda, evento de fala, é a associação de como o conteúdo é codificado. Ambas dependentes dos fatores discursivos-pragmáticos envolvidos no processo de comunicação/interação que tornam um evento transitivo perspectivado sob os diferentes pontos de vistas, no momento do uso da língua entre seus participantes. 29 Foram atribuídos, também, para análise e discussão trechos/amostras textuais presentes no Banco Conversacional de Natal: uma amostra da fala espontânea dos natalenses (BCN), desenvolvido pela profa. Dra. Maria Angélica Furtado da Cunha (2011). Constituído de 20 conversações entre falantes natalenses, com um total de aproximadamente 6 horas de gravação, de modo a constituir uma amostragem diversificada que fotografa usos da língua em situações de fala espontânea. Diante disto, apresentamos como se construiu nosso percurso investigativo sobre o que nos propomos a pesquisar: primeiramente, serão feitas algumas considerações sobre a Linguística Centrada no Uso (Linguística Funcional) e suas respectivas vertentes conforme os estudos de Halliday (1973); Dubois (1985); Furtado da Cunha e Oliveira (2003); Neves (1997); em seguida, tecemos considerações sobre a vertente norte-americana, linha dessa pesquisa em andamento, conforme os pressupostos de Hopper (1987); Nichols (1984); Vidal (2009), e, por último, sobre os estudos no Brasil e suas implicações ao ensino de línguas, com base nos trabalhos de Martelotta, Votre e Cezário (1996); Martelotta (2013); Rios de Oliveira (1998); Furtado da Cunha (2000); Furtado da Cunha, Rios de Oliveira e Martelotta (2003); Neves (1999); Wilson, Martelotta e Cezário (2006). Em seguida, tratamos, especificamente, sobre transitividade conforme as leituras a partir de Hopper e Thompson (1980); Furtado da Cunha, Costa & Cezário (2003), dentre outros, bem como sobre a gramática de construção. Seguindo os estudos, são tecidas algumas considerações sobre os gêneros textuais conforme Bakhtin (1997); Marcuschi (2003); Koch (1987), com foco nas narrativas, nesse aspecto, segundo Labov e Waletzy (1967); Labov (1972), objetivando caracterizar os corpora da pesquisa. E, por último, discutem-se questões referentes ao verbo achar no português brasileiro. Com relação aos procedimentos metodológicos, a pesquisa se institui como uma investigação de caráter qualitativo e quantitativo, uma vez que as análises de seus dados se voltaram para a discussão dos fatos pesquisados dentro de variáveis qualitativas e bibliográficas, bem como, dados quantificáveis relacionados à frequência do uso do verbo achar. Do mesmo modo, utilizamos o método comparativo ao confrontar as modalidades orais e escritas dos informantes do Ensino Superior e da Alfabetização presentes no D&G, conforme o nível de escolaridade, idade e gênero. Para isso, 30 elegemos como um dos critérios verificar, no evento comunicativo e seu estatuto pragmático/semântico, a organização dos enunciados e o grau de transitividade, conforme o nível de aprendizagem dos sujeitos pertencentes ao corpora. Por outro lado, trata-se de uma pesquisa com aspecto descritivo, já que observa, descreve e registra dados. No caso desta pesquisa, observamos e descrevemos fragmentos textuais produzidos pelos informantes, na medida em que estes desenvolveram em suas narrativas elementos que apresentam as noções de evento referencial e evento de fala no evento transitivo. Com a finalidade de melhor organizar o texto desta pesquisa, estruturamos esta tese em cinco capítulos, sendo o primeiro feito a partir das considerações introdutórias. Neste, apresentamos o tema da pesquisa, delimitamos o objeto de estudo investigado, justificamos a pesquisa conforme a ótica pessoal e acadêmica, com exposição dos objetivos e as questões de pesquisa. Afora da introdução, a tese contém duas seções de natureza teórica, cujas discussões postulam embasamentos para a proposta estudada, sendo uma seção destinada aos procedimentos metodológicos e outra, à apresentação e discussão das análises de dados. Nesses termos, com relação a seção1, apresentamos elementos iniciais, justificamos a relevância da pesquisa, seguida das questões de pesquisa, objetivos, aspectos metodológicos e procedimentos de coleta de dados. Na seção 2, fazemos a exposição de aspectos históricos pertinentes à Linguística Funcional Centrada no Uso, suas vertentes e contribuições nos estudos brasileiros. Nesta, apresentamos os estudos referentes à Teoria Funcionalista, cujo referencial teórico embasa esta pesquisa. A seção 3, por sua vez, direcionamos para a transitividade e ensino de gramática, com interesse maior, nas práticas linguísticas, semânticas e discursivas decorrentes do entendimento funcionalista para o entendimento das diferentes ocorrências do verbo pesquisado no estudo. Nas seções seguintes 4 e 5, propomo-nos a discutir o percurso metodológico, a natureza do corpora, hipótesee particularidades morfossintáticas das amostras presentes no D&G. Face as suas características no contexto, com foco nas amostras, em reconhecimento à diversidade de posições ocupadas nas modalidades orais e escritas do português brasileiro. 31 Elencando os estudos sobre o verbo achar nas amostras dos diferentes informantes brasileiros, somados à comprobação dos resultados obtidos a partir de situações da gramática em uso, cujas ilustrações e posicionamentos proporcionam conceitos operacionais basilares para a gramática em uso. E, por último, na seção 6, discutimos as (in)conclusões da pesquisa. 32 2. A LÍNGUISTICA FUNCIONAL Na primeira seção desta parte, serão feitas algumas considerações sobre a Linguística Centrada no Uso e suas respectivas vertentes; em seguida, tecemos considerações sobre a vertente norte-americana, linha da pesquisa e, por último, sobre os estudos no Brasil. 2.1 A LINGUÍSTICA CENTRADA NO USO E SUA GÊNESE As primeiras análises na linguística centrada no uso são atribuídas aos membros da Escola de Praga (o funcionalismo europeu), a quem se deve o uso dos termos função/funcional (segundo Halliday (1973), o termo se refere ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos e não meramente aos papéis que as classes de palavras desempenham dentro da estrutura das unidades maiores). A língua é entendida como um sistema funcional, em que se passa a valorizar o uso linguístico voltado para uma determinada finalidade, ou seja, a intenção do locutor ao fazer uso da língua passa a ser fundamental para compreensão de sua natureza, bem como, a determinação dos fundamentos teóricos básicos da corrente e as análises que consideram parâmetros pragmáticos e discursivos. Os funcionalistas da Escola de Praga enfatizaram a “multifuncionalidade da linguagem” e os estudos da distinção entre análises fonéticas e fonológicas dos sons, análise dos fonemas em traços distintivos e as noções correlatas de binário e marcação da morfologia, diferenciando as categorias marcadas das não-marcadas, levando em consideração os contrastes binários (interna/externa, intelectual/emocional, prática/teórica, etc.). A teoria funcional passou a ganhar força a partir de 1970, tendo como percussor Bolinger. No entanto, é em torno do ano 1975 que se iniciaram as análises linguísticas propriamente ditas funcionalistas. A linguística centrada no uso admite que a gramática seja constituída a partir do discurso, concebida como um conjunto de regularidades que são convencionalizadas pelo uso concreto da língua nas diferentes situações discursivas. 33 Du Bois (1985) afirma que “o discurso molda a gramática e a gramática molda o discurso”. Surgem, a partir daí, na língua, novas funções/valores/usos para as formas já existentes. Assim, a linguística funcional centrada no uso se preocupa com o estudo da utilização da língua em situação comunicativa, priorizando o componente pragmático, ao qual estariam ligados os componentes sintáticos e semânticos, segundo afirmam Furtado da Cunha e Oliveira (2003, p. 47): Para o funcionalismo, todas as orações de um texto têm uma dupla função: semântica e pragmática. O que se comunica em cada porção não é só o conteúdo semântico da língua, mas também a natureza e o propósito do ato de fala visto como fenômeno cultural e cognitivo. O conteúdo semântico proposicional de uma oração pode permanecer estável, ao passo que sua função discursivo pragmática pode se modificar. Dessa forma, para os funcionalistas, a língua não pode ser considerada totalmente independente de seus fatores externos, tais como contexto, propósito comunicativo. A gramática de uma língua, assim, é dinâmica e flexível e, sob esse contexto, a gramática é como propõe Du bois (1985), “um sistema adaptativo”, ou seja, em parte autônomo por se tratar de um sistema e ao mesmo tempo suscetível a pressões externas, tornando-a adaptativa. A gramática como um conjunto de estratégias a serviço de uma comunicação destituída de regras sintáticas e fixas, assumindo assim, uma dinamicidade que estão alinhadas a regularidades resultantes de pressões de uso. Com relação a esse pressuposto, Rost (2002, p. 117) sinaliza: A gramática não é pré-estabelecida, pois se molda a partir da situação comunicativa, ou seja, ajusta-se ao uso. Em decorrência disso, a gramática e discurso estão associados mutuamente, visto que, se é no discurso e sob a influência de seu contexto que a gramática emerge e nele (no discurso) se altera devido aos ajustes das formas para as novas funções ou às expansões semânticas, é também a própria gramática que fornece padrões para a construção do discurso, padrões esses decorrentes de pressões cognitivas e, sobretudo, de pressões de uso. Pressões de uso que evidenciam uma multiplicidade de funções linguística, ao assumir o caráter maleável e emergente, a língua sempre se encontrará em mutação, de modo a incorporar a gramaticalização e a discursivização como dois processos contínuos. 34 É preciso pontuar que até 1970, os estudos gramaticais eram compreendidos, apenas, como um estudo diacrônico linear, ou seja, estudavam a evolução linguística, sua reconstrução histórica, seja por meio de grupos falantes e/ou de uma dada língua. A partir dos anos 90, pesquisadores passaram a analisar a trajetória de mudança sincrônica, isto é, a mudanças de uma dada língua no tempo. Nessa perspectiva, Hopper e Traugott (1993, p. 15) postulam que “a gramaticalização é um processo unidirecional, segundo o qual há um movimento de itens lexicais e construções sintáticas que, em determinados contextos, passam a assumir mudanças gramaticais.” Posteriormente, em seus estudos, Hopper e Traugott (2003, p. 4) mostram as duas perspectivas através das quais a gramática foi estudada: i) “histórica”, que observa as fontes das formas gramaticais e os processos de mudança que sofrem; e ii) “mais sincrônica”, que analisa os fenômenos da gramática a partir dos padrões fluidos do uso da linguagem. Assim, têm-se a síntese que itens lexicais dão origem a itens gramaticais. Para Heine e Reh (1894, p.64), “quanto mais gramaticalizada uma unidade linguística dada, mais perde complexidade semântica, significado funcional e/ou valor expressivo”, na perspectiva dos estudiosos, as formas referentes ao processo de gramaticalização se tornam fixas e, em relação à situação de uso tornam-se em dados contextos obrigatórios, o que perderia substância fonética. Por outro lado, os estudos da discursivização (pós-gramaticalização), ao migrar para um nível não gramatical, a forma deixa de obedecer às restrições gramaticais fixas, de modo a cumprir restrições interativas e pragmáticas. A gramática vinculada a cada instância de produção de linguagem, a organização da fala acionada a fatores linguísticos no processo de interação e comunicação. Assim, dentro da perspectiva funcionalista tem-se os estudos, a priori, da Gramática discursivo-funcional (GDF); Gramática Funcional (GF). Para o entendimento desses pressupostos, todavia, é necessário discutir a trajetória dos estudos funcionalistas e suas respectivas correntes. 2.1.1 O funcionalismo holandês de Van Dik e a Gramática Funcional No funcionalismo tradicional, constata-se um outro modelo marcante pertencente ao grupo holandês de Simon Van Dik, cuja preocupação volta-se para o 35 papel das expressões linguísticas na comunicação, em outras palavras, de que forma os usuários da língua natural se sucedem no processo comunicativo. O funcionalismo holandês, desenvolvido por Dik, no final dos anos 70, considera três princípios na análise linguística: a concepção da língua como instrumento de interação social, o reconhecimento da pragmática na análise da língua e, por fim o estudoda sintaxe fundado na semântica. Nesse contexto, conforme Neves (1997, p. 36) “a descrição linguística inclui referência ao falante, ao ouvinte e a seus papéis e estatuto dentro da situação de interação determinada socioculturalmente”. Nos estudos de Simon Van Dik (1988) encontramos os estudos referentes a Gramática Funcional (GF), posteriormente nomeada como Teoria da Gramática Funcional (DIK, 1997), um estudo que focaliza as unidades linguísticas superiores que a oração. Para Dik (1989, p.48), “quando se adota um ponto de vista funcionalista para o estudo de uma língua natural, tenta-se verificar como “opera” o usuário desta língua”. O linguista considera que durante o processo de comunicação e interação, os usuários de uma dada língua envolvem múltiplas funções humanas, e não apenas, uma função linguística. Sobre essa multiplicidade de funções, Modesto (2006, p,04), em seu artigo sobre Abordagens Funcionalistas, publicado na Revista Letra Magna, sinaliza: A capacidade linguística seria apenas uma das muitas capacidades que o ser humano utiliza em diferentes situações comunicativas. Assim, ele cita a capacidade epistêmica, em que o usuário é capaz de construir, manter e explorar uma base de conhecimento organizado; a capacidade lógica, em que o usuário, com o conhecimento acumulado, pode compor outras parcelas de conhecimento por meio de regras de raciocínio lógico (dedutivo e probabilístico); a capacidade perceptual em que o usuário pode perceber seu ambiente e usar essa percepção para compor e interpretar expressões linguísticas e a capacidade social, em que o usuário determina “como” deve dizer, adequando socialmente seu discurso para atingir seus objetivos comunicativos. Essas capacidades interagem, continuamente, uma com as outras. Assim, em seus estudos sobre a Gramática Funcional, Dik considerou dois tipos de sistemas de regras: o primeiro, relacionado às regras que conduzem as expressões linguísticas sejam estas semânticas, morfológicas, fonológicas e/ou sintáticas; e, o segundo refere-se as regras e/ou padrões que subjazem a interação verbal, isto é, as expressões linguísticas utilizadas a partir da pragmática. 36 Dik (1989), em seus estudos, propôs um modelo de interação verbal que ilustra a ação da expressão linguística nos moldes do processo de interação verbal de um dado usuário linguístico. Nesse modelo, são considerados a intenção do falante que almeja alcançar uma mudança na informação pragmática de seu interlocutor (do outro) no momento da comunicação, enquanto este reconstrói a informação e antecipa seu propósito interativo, o que reativa todo o modelo. Observa-se essa dinâmica, a partir da figura ilustrativa de Modesto (2006, p. 05), em seu estudo: Figura 1 - Modelo de interação verbal (Gramática Funcional) Fonte: MODESTO (2006, p.06) Seguindo, a perspectiva postulada por Dik, em seus estudos relacionados a Gramática Funcional, nas situações de interação verbal, o usuário da língua e o seu ouvinte possuem informações pragmáticas, isto é, são dotados de um conjunto de conhecimentos, estes condicionados as suas crenças, suposições, sentimentos e opiniões que podem ser acionados no momento da interação/comunicação. Nesses termos, para Dik, os falantes não se apropriam de falas isoladas e, sim as combinam em séries mais longas e complexas, o que o denomina de discurso, de modo, a direcionar a uma Gramática Discursivo-Funcional (GDF), aos quais incorpora- se o texto e a interação. Para a GDF, o Ato Discursivo é o constituinte essencial em todo evento comunicativo iniciado pelo Falante. Em outras palavras, a GDF considera que a geração de uma expressão linguística começa a partir de uma intenção comunicativa que, em última 37 análise, conduz à codificação gramatical de uma parte da informação e a sua articulação ou execução final. Levelt (1989, p. 28), aponta: O processo de produção da fala é feito de acordo com um esquema top-down, indo da intenção para a articulação. Segundo o autor, as etapas de produção da fala são: 1) o falante decide qual vai ser seu propósito comunicativo (informações pragmáticas e contextuais), 2) seleciona a informação mais adequada para atingir seu objetivo, 3) codifica a informação em termos gramaticais e fonológicos e, por fim, 4) realiza o processo de articulação. Um esquema organizado na respectiva sequência: Figura 2 - Organização Top Down do Discurso Fonte: MODESTO (2006, p.06) A GDF se distingue de outras teorias linguísticas de orientação estrutural e funcional por vários fatores, entre os quais, o reconhecimento da organização linguística em progressão top-down, ou seja, do discurso para as unidades menores; a noção de ato discursivo como unidade básica de análise; a inclusão de representações morfossintáticas e fonológicas como parte da estrutura subjacente dos Atos Discursivos, ao lado das representações de suas propriedades pragmáticas e semânticas; e a vinculação dos Componentes não-gramaticais _ Conceptual, Contextual e Output (de Saída) _ com o Componente gramatical. Nesse processo de articulação conceitual e contextual, os paradigmas (conjunto de crenças e hipóteses interativas segundo Dik) formal e funcional são considerados. A esse termo, Dik (1987, p.81-82), postula: 38 No paradigma formal, uma linguagem natural é vista como um sistema abstrato autônomo em relação aos modos de uso, enquanto, no paradigma funcional, considera-se que as expressões linguísticas não são objetos funcionais arbitrários, mas têm propriedades sensíveis a, e codeterminadas por determinantes pragmáticos da interação verbal humana. O que enfatiza a importância da pragmática durante o processo de análise das estruturas linguísticas no momento da interação verbal. Admitindo a noção de estrutura formal, ao mesmo modo o funcional, isto é, uma gramática que considera todo o viés comunicativo (a língua a partir do uso). 2.1.2 O funcionalismo de Halliday e a Gramática Sistêmica-Funcional Uma outra vertente funcionalista baseia-se na concepção de Michael Halliday, fixada na noção de função. Seus estudos estão associados à década de 1960, quando Halliday, então aluno do linguista Firth iniciou o estudo de uma abordagem de análise gramatical nomeada “Gramática de Escala e Categorias”, de modo a executar as ideias de seu mestre naquela época. A obra An Introduction to Functional Grammar revisada em 1994, aborda, em linhas gerais, o estudo da língua a partir das práticas sociais, isto é, o uso concreto da linguagem e suas manifestações culturais. O funcionalismo de Halliday visa contribuir uma gramática de base sistêmica e funcional, a língua se condiciona em uma rede sistêmica através dos eixos paradigmáticos e sintagmáticos. Desse modo, conforme Cesário de Oliveira (2012, p. 31) “a produção do sentido do enunciado se relaciona com as escolhas que o falante elege para determinados fins”. Halliday, idealizador da teoria sistêmico-funcional, filiou-se aos estudos funcionais da linguagem, ao propor em seus estudos uma abordagem sociofuncional da linguagem. Para Halliday (1994, p. 76), “uma gramática funcional é essencialmente uma gramática ‘natural’, no sentido de que tudo nela pode ser explicado, em última instância, com referência a como a língua é usada.” Sob essa conjectura, estudar a gramática implica considerar o discurso como elemento primário, o que a tornaria parte indissociável das estruturas discursivas. A gramática se complementando na interação social, posto que esse processo de interação social ocorre a partir da aquisição, mudança e manutenção linguística, 39 isto é, a linguagem compreendida em sua relação social, no qual a forma passa a ser subordinada pela função, nas palavras de Steele & Threadgold: A linguagem não é somente uma parte do processo social – ela é também uma expressão;e isto porque ela está organizada de uma maneira que a faz ao mesmo tempo uma metáfora do processo social. (STEELE & THREADGOLD, 1987, p.68). Assim, há a preocupação em estudar organização interna da linguagem e sua natureza frente as funções desempenhadas no contexto social e suas respectivas culturas. Sobre essas funções, Halliday (1976) destaca quatro: a primeira, diz respeito a interpretação das experiências dos falantes de uma dada língua; a segunda, correlaciona a expressão de dadas relações lógicas elementares; a terceira, está condicionada a participação e expressão dos falantes frente aos seus ouvintes na situação discursiva; e, por último, a quarta que se vincula a capacidade do falante executar todas essas funções de forma simultânea, organizando-as como discurso relevante. Originando assim, no que Halliday (1999) nomeia como metafunções linguísticas (metafunção ideacional, metafunção interpessoal e metafunção textual), o conceito basilar da teoria sistêmicofuncional nos estudos funcionalistas. Cujo fundamento geral é promover a compreensão e o entendimento do ambiente ideacional influindo sobre o interpessoal. Com relação ao textual, o linguista atribui como uma função habilitadora, já que permite as outras metafunções se realizem no formato de textos. Nesses termos, essas três metafunções formam, a base da organização da gramática sistêmica- funcional, haja posto que a tarefa essencial da gramática é a codificação das estruturas articuladas a partir dos sentidos e significados oriundos dessas funções. Cada frase concebe uma codificação simultânea de conteúdos semânticos e, com isso, na perspectiva hallidayana a oração assume a metafunção ideacional (representação), a metafunção interpessoal seria a oração como permuta e, a metafunção textual atua como a oração como mensagem. Os significados dos textos conduzem os falantes a determinados sentidos, que em linhas gerais seria considerar o lugar onde o falante se encontra, com quem esse falante fala e o papel social exercido no momento da comunicação/interação verbal. 40 Escolhas e intenções linguísticas que ocorrem na linguagem por ser um sistema que se baseia na gramática, organizada por estratos (organização da linguagem). A seguir apresentamos uma figura, evidenciada por Halliday e Matthiessen (2014) sobre o sistema linguístico estratificado é "acionado" ao contexto: Figura 3 - Linguagem como sistema de estratos Fonte: Halliday e Matthiessen (2014, p. 26, adaptado). Semântica, lexicogramática, fonologia e fonética formam quatro estratos subdividido em conteúdo e expressão. Sistemas interdependentes que envolvem o contexto como responsável pela construção de sentidos. A linguagem como um sistema convencional e semiótico organizado por escolhas, uma vez que, é por meio destas que se organiza a própria experiência enquanto participante de uma prática social. O linguista inglês, Halliday, tonou-se um dos principais representantes da teoria sistêmico-funcional e sua visão sobre a gramática se uniu ao sistema de significados. Segundo Eggins (2004, p. 01): Nós somos solicitados a negociar textos”. Na teoria sistêmica, o termo texto significa uma instância da linguagem que faça sentido. Embora exista uma tendência de ver o texto como um produto, Halliday considera que é importante vê-lo como um processo. O texto é compreendido como a maior unidade de funcionamento, porque concentra simultaneamente a organização da informação, a organização da interação e a organização semântica, e os itens linguísticos que o compõem são vistos como multifuncionais. As funções desses itens devem ser consideradas concomitantemente nos níveis de análise, pois o princípio da multifuncionalidade é considerado fundamental para “uma interpretação funcional da linguagem. 41 Em síntese, nos estudos de Halliday, a multifuncionalidade é crucial para a interpretação da linguagem, esta que se incorpora ao contexto situacional e cultural para a compreensão e a produção de significados. A linguagem sendo apresentada como uma tarefa que se estrutura de acordo com a finalidade social. Um modo de reflexão e imposição sobre os mais diversos intermináveis usos linguísticos. 2.1.3 A vertente norte-americana e a Gramática Cognitivo-Funcional A linguística centrada no uso e/ ou funcionalismo tem como ocupação as funções dos meios linguísticos de expressão, sua trajetória é tão antiga quanto o modelo formal. Os estudos modernos funcionalistas remontam a concepções linguísticas precedentes a Saussure, dentre os quais Whitney, Von der Gabelentz e Herman Paul, entusiastas e núncios da escola neogramática no final do século XIX, já cogitavam em seus trabalhos fenômenos sincrônicos e diacrônicos, replicados a parâmetros psicológicos, cognitivos e funcionais em suas descrições linguísticas. O funcionalismo linguístico norte-americano impulsionou um novo olhar as Ciências da Linguagem, ao deslocar o centro das atenções que era direcionada à ideia da língua como um produto acabado, isto é, não mutável. Por meio da escola cientifica norte-americana, a língua passou a ser considerada conforme seu uso e necessidades de seus usuários. Bolinger precursor funcionalista norte-americano atentou aos fatores pragmáticos operados em dados fenômenos linguísticos estudados por estruturalistas e gerativistas. Ainda que não tenha adiantado um esboço completo de uma gramática funcionalista, Bolinger impulsionou as análises de fenômenos particulares, sendo pioneiro sobre os estudos voltados para a pragmática da ordenação de palavras. Contudo, só em torno dos 1975 foram iniciadas as análises linguísticas propriamente unificadas ao funcionalismo norte-americano. A esse conceito foi associado o conceito de “gramática emergente” (HOPPER 1987) surgindo na língua novos valores (funções) e usos para as versões já existentes. The origins of syntax in discourse: a case study of Tok Pisin relatives, publicado por Gillian Sankoff e Penelope Brown em 1976 é considerado como texto pioneiro na articulação das ideias da escola funcionalista norte-americana. Em seu 42 desenvolvimento, são fornecidas evidências das motivações discursivas geradoras das estruturas sintáticas de relativização do Tok Pisin, língua de origem pidgin de Papua- Nova Guiné, ilha ao Norte da Austrália. O funcionalismo americano apresenta-se como uma abordagem contemporânea, manifestando-se em uma maior produção teórica atual, ao assimilar aportes teóricos de outras áreas, tais como da cognição, da sociolinguística, da teoria da interação verbal e da etnografia da comunicação, dentre outras áreas que estudam a língua em uso (falada e/ou escrita). Seus principais representantes são Bolinger, Givón, Hopper, Thompson, Chafe, entre outros, que exploram a linguística com vistas ao uso, observando a língua no âmbito do contexto linguístico e da situação extralinguística. A exemplo, no Funcionalismo norte-americano, destaca-se a consideração de Givón sobre a não autonomia do sistema linguístico. Esse autor considera que nem a língua nem a gramática podem ser descritas de forma autônoma, já que para o entendimento da gramática é necessário recorrer a parâmetros naturais que a moldam, tais como: “cognição e comunicação, processamento do cérebro e da linguagem, interação social e cultura, mudança e variação, aquisição e evolução” (GIVÓN, 1995, p. xv, tradução nossa) . Givón destaca-se por propor uma abordagem tipológico-funcional da gramática, ou seja, por entender que os aspectos funcionais, tipológicos e diacrônicos da gramática se entrecruzam. Desse modo, a abordagem cognitivo-funcional tem como base central as condições de produção a que se submergem os usos linguísticos; o que resulta em uma variedade de práticas linguísticas pluralizadas assim como os ambientes que subsidiam esse processo, isto
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