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Laboratório Clínico e Controle de Qualidade AULA 2 MOD 3 - Biossegurança COLETA DE MATERIAIS BIOLÓGICOS Os exames clínicos laboratoriais iniciam com a coleta do material biológico. Para que todo o restante do processo ocorra de maneira satisfatória é necessário que a coleta seja realizada de forma correta e que a amostra chegue viável até os laboratórios, atendendo a determinados padrões específicos. Estão incluídas nesse processo de coleta ações que influenciam diretamente no resultado dos exames, como: higienização de mãos e materiais, antissepsia da região, descarte correto de materiais perfurocortantes, preenchimento correto da solicitação, identificação da amostra e seu armazenamento temporário. Ainda no contexto da coleta, é de extrema importância que o paciente esteja informado e tenha compreendido as recomendações para a aquisição da amostra biológica, quando a coleta depender dele. Algumas informações passadas pelos pacientes influenciam de forma significativa todo o processo, como uso de determinados medicamentos, hábitos e atividades físicas antes da coleta. Durante o exame existe a possibilidade de interferência de algumas variáveis. É o que veremos a seguir, mas antes conheceremos no esquema abaixo as fases que compreendem esse processo, mais na frente conheceremos detalhadamente cada fase. VARIÁVEIS INTERFERENTES DOS PROCESSOS DE ANÁLISES CLÍNICAS Variáveis pré-analíticas A fase pré-analítica é constituída da etapa de solicitação do exame pelo médico, coleta de dados do paciente, procedimentos de coleta da amostra biológica, armazenamento e transporte desta, até o momento de realização da análise. Essa é a fase com maior número de erros em todo processo, podendo chegar até 80% de todos os erros em um laboratório clínico, pois contém muitas variáveis que interferem diretamente no resultado, sendo a falta de orientação ao paciente uma das principais causas de alterações. O conhecimento dessas variáveis pode ser essencial na interpretação dos resultados obtidos. As variáveis pré-analíticas mais comuns e que mais interferem nos processos laboratoriais são: - Variação cronobiológica, que corresponde a alteração corpórea de algumas substâncias a serem analisadas, em função do horário da coleta. - Jejum, obrigatório para determinados exames, torna-se um problema quando não é respeitado o número de horas requerido. - Dieta, já que a ingestão de certos alimentos nas horas anteriores ao exame pode interferir na concentração de algumas substâncias e moléculas. - Idade, que pode não parecer tão importante para a análise, porém o padrão de alguns analitos é alterado conforme a faixa etária. - Sexo biológico, visto que diferenças hormonais e alguns outros analitos apresentam divergências importantes entre homens e mulheres. - Atividade física, principalmente de grande intensidade, alteram a concentração sérica de enzimas. - Uso de drogas e fármacos, que interferem diretamente no resultado pelo efeito fisiológico. - Posição, mudança brusca causa variação na concentração sérica de analitos. Como aprendemos, a fase analítica é aquela que compreende a etapa de realização da análise propriamente dita e, apesar de ser uma etapa com apresentação de poucos erros, alguns podem ser apontados como mais comuns: Variáveis pós analíticas A fase pós-analítica é marcada pela validação e liberação dos resultados das análises, encerrando-se com a interpretação destes pelo médico que solicitou os exames, fazendo a correlação com a situação clínica do paciente. Os resultados liberados têm um impacto importante e decisivo na conduta médica, no que diz respeito a linhas de tratamento, para que sejam assertivas e específicas. Desta forma, os laudos devem ser montados seguindo recomendações normativas, após serem analisados pelo médico assistente do laboratório, antes de chegarem ao paciente e ao médico solicitante. Apesar de ser uma fase que apresenta poucos erros, cerca de 20 a 30% dos ocorridos em todo processo, alguns equívocos podem acontecer, como: PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA MINIMIZAR OCORRÊNCIA DE ERROS Após estudarmos os tipos de erros que acontecem durante todo o processo desenvolvido nos laboratórios clínicos, precisamos debater como evitá-los para que os resultados representem de fato o que acontece no organismo do paciente. As atividades desenvolvidas nos laboratórios são atestadas, normatizadas e acreditadas por organismos nacionais, para que os erros sejam mitigados. Tais organismos disponibilizam planilhas, ferramentas de interface dos equipamentos e sistemas de informações. Porém, para que tudo ocorra de maneira satisfatória é de extrema importância que seja realizado o treinamento dos funcionários e que a equipe não apresente grande rotatividade, para que os níveis de qualidade do atendimento e procedimento sejam mantidos. Vejamos a seguir os passos que minimizam a ocorrência de erros: FASE PRÉ-ANALÍTICA: Os primeiros passos para minimizar a ocorrência de erros relacionados durante a fase pré-analítica incluem padronização do registro para a identificação do paciente e da amostra. Tal padronização deve destacar a busca por informações que podem influenciar de forma direta ou indireta o resultado dos exames. Desta forma, podemos garantir que todas as requisições e orientações para realização dos exames foram seguidas pelos pacientes e que as amostras se encontram viáveis e possíveis de serem analisadas. Vale lembrar que a coleta das amostras também é parte do processo que merece uma atenção maior, uma vez que é um processo rotineiro, podendo ser negligenciado pelos funcionários. Toda documentação de orientação no processo de coleta deve estar disponível em todas as áreas e setores laboratoriais. FASE ANALÍTICA: Essa fase apresenta o menor percentual de erros cometidos, no entanto também deve passar pelo processo de normatização, treinamento dos funcionários e monitoramento de indicadores da qualidade. Aqui podemos ainda incluir a calibração e a manutenção de equipamentos, que são utilizados na rotina laboratorial, e acondicionamento correto de insumos e reagentes como parte essencial na minimização de erros. Para os laboratórios que ainda não possuem seus processos analíticos de forma automatizada e informatizada, é interessante a adoção de equipamentos e sistemas como forma de melhoria de qualidade do serviço prestado. FASE PÓS-ANALÍTICA: A automatização dos processos laboratoriais auxilia também na diminuição de erros nessa fase, porém necessita da atenção da equipe do laboratório aos resultados obtidos, para identificar possíveis sinais de baixo desempenho dos processos. A liberação dos resultados pode seguir regras e utilizar algoritmos para identificação de erros. Uma regra bastante utilizada é “delta check”, que consiste na verificação de diferenças entre resultados de exames passados e o atual do paciente. Desta maneira, pode-se observar a consistência dos valores obtidos e garantir a segurança do paciente, bloqueando a liberação dos resultados de baixa qualidade e revelando a necessidade de ajustes durante o processo. Sendo assim, uma análise mais acurada da etapa pós-analítica, juntamente com o “feedback” emitido por membros da equipe e até mesmo pelo médico solicitante, pode regular todo o processo desenvolvido nos laboratórios. PROCEDIMENTO PARA COLETA DE MATERIAIS BIOLÓGICOS Coleta de sangue venoso A coleta de sangue venoso é um dos procedimentos que mais acontecem num laboratório clínico. Ela tem valor inestimável no diagnóstico e direcionamento do tratamento de doenças. Vejamos a seguir o passo a passo deste procedimento. PASSO 1: Todo o processo começa com a orientação do paciente, pois alguns tipos de análises requerem preparação e condições específicas para que não haja interferência nos resultados, como, por exemplo, a preconização de períodos de jejum e dietas adequadas nas horas anteriores à realização do procedimento.PASSO 2: Antes da coleta, todo material utilizado deve ser identificado e o paciente deve ser informado do processo que será realizado, incluindo a apresentação do material. Para isso, temos processos informatizados e seguros que usam sistemas que identificam, com uma sequência numérica, as amostras de cada paciente, facilitando a localização delas durante qualquer fase. Ainda como uma maneira de reduzir erros, pode-se empregar um sistema de coleta a vácuo, que utiliza tubos com cores diferentes, contendo aditivos diferentes, para cada uma das análises. Assim o processo de coleta é facilitado, sendo mais seguro com relação a contaminações e mais confortável para o paciente. PASSO 3: Esse passo trata da seleção do local da coleta pode ser realizada em qualquer veia do membro superior, porém existe uma região mais utilizada, a fossa cubital. Essa região, que se localiza na parte anterior do braço em frente ao cotovelo, possui veias de grande calibre, como a veia cefálica e a basílica, que estão próximas à superfície da pele. Além disso, existem áreas em que devemos evitar fazer a coleta, como por exemplo: áreas com queimaduras, qualquer tipo de cicatriz, hematomas, com fístulas, que possuem veias pouco elásticas e as que estão sendo utilizadas para terapia intravenosa.Esse passo se concentra na evidenciação dessas veias que serão perfuradas. Para isso é necessário deixar o braço do paciente em uma posição confortável e segura para punção. Pode-se pedir ao paciente que abra e feche a mão de forma lenta, massagear o braço no sentido do punho para o cotovelo, fixar a veia com os dedos, caso haja flacidez, e utilizar equipamentos que evidenciem as veias. PASSO 5: O passo 5 consiste na utilização do torniquete ou garrote será usado para aumentar a pressão no interior das veias, ajudando na palpação e coleta propriamente dita. No entanto, é preciso saber utilizar o torniquete, colocando-o a mais ou menos oito centímetros da dobra do cotovelo, por no máximo um minuto; caso contrário, pode haver erros de diagnóstico. PASSO 6: Realizar a antissepsia no local da punção, que pode ser feita com álcool 70%. Apesar da utilização de luvas, a higienização das mãos garante que, caso essas venham a se romper, a segurança do paciente ainda estará garantida. A partir de agora, seleciona-se a veia e faz-se a punção com agulha numa angulação oblíqua de 30º e o primeiro tubo é inserido. Assim que o sangue começa a fluir, o torniquete pode ser retirado. ATENÇÃO: A higienização das mãos do profissional que fará a coleta, antes e depois do procedimento, é tão importante quanto a antissepsia realizada no local da punção. PASSO 7: Após a retirada do último tubo, a agulha é removida e uma compressão com algodão é realizada no local por um a dois minutos, com orientação para o paciente continuar pressionando por mais cinco minutos, quando sair do laboratório. Imediatamente após a coleta, as amostras devem ser acondicionadas de maneira correta para posterior realização dos exames. Coleta de fezes e de urina A coleta de amostras de fezes e de urina também necessita de cuidados para que as amostras não sofram interferência de variáveis. Elas poderão ser realizadas de maneiras diferentes, dependendo do exame solicitado pelo médico, da idade do paciente e do estado de saúde deste. Para exames parasitológicos simples (EPS), as fezes podem ser coletadas em frasco simples, cedidos pelo laboratório ou comprados em farmácia. Caso seja solicitado o parasitológico MIF (mercúrio-iodo-formol), é necessário que a coleta seja realizada em potes contendo tais conservantes, para manter as formas parasitárias íntegras por vários dias, uma vez que são feitas 3 coletas em dias alternados. Já para exames de cultura de bactérias das fezes (coprocultura), sangue oculto, pH fecal, leucócitos, gordura fecal e outros exames, a coleta pode ser realizada em potes apropriados, cedidos ou comprados em farmácias, estéreis, com boca larga e tampa de rosca. De maneira geral, o volume de amostra a ser coletado não precisa ser grande, porém precisa ser suficiente para análise. Para amostras com forma bem definida, pode ser colhida uma quantidade relativa a uma colher de café. Não há necessidade de dieta específica para exame parasitológico de fezes e coprocultura, a menos, que seja sugerida pelo médico, a fim de evitar alguma alteração nos resultados. Para mulheres, não se deve colher amostra de fezes no período menstrual, pois pode interferir na análise da presença de sangue oculto, assim como pacientes com sangramentos visíveis. A amostra pode ser mantida durante determinado período na geladeira, porém, para melhor qualidade dos exames, deve ser levada no mesmo dia para o laboratório. Para o exame de gordura fecal e de sangue oculto faz- se necessário uma dieta 03 dias antes do exame. O exame de urina é um dos mais solicitados pelos médicos e um dos mais realizados nos laboratórios clínicos, fazendo com que as recomendações para a coleta sejam mais conhecidas pela população. É de conhecimento geral que, se possível, a urina coletada seja a primeira da manhã, desprezando o primeiro jato e coletando o jato intermediário. Mas você sabe para que servem essas recomendações? Alguns protocolos solicitam a lavagem da região genital com água e sabão antes da coleta, mas esse é um procedimento que deve ser feito com muito cuidado. O sabão utilizado para a higiene pode contaminar o pote coletor e destruir microrganismos ali presentes, alterando assim o resultado de uma urinocultura para diagnóstico de infecção urinária. Essa é uma etapa que deve ser muito bem explicada, sendo enfatizada a necessidade da retirada total do sabão da região e pode ser substituída pelo afastamento dos lábios genitais, nas mulheres, e do prepúcio, nos homens. Assim que coletada, a urina deve ser levada para o laboratório imediatamente sob acondicionamento em gelo, para que se evite multiplicação de microrganismos e degradação de analitos. Crianças que utilizam fraldas devem ser levadas até o laboratório para a coleta, que é realizada com o coletor infantil, uma espécie de saco colocado ao redor da região genital do bebê. O coletor infantil, no entanto, pode ser facilmente contaminado em sua manipulação durante toda coleta. Uma alternativa para a utilização do coletor em bebês é a punção suprapúbica, um procedimento invasivo, que utiliza uma agulha de calibre variável com a idade do paciente e que é introduzida no interior da bexiga pela parede abdominal. Esse procedimento também pode ser utilizado para pacientes imunocomprometidos, visto que o cateter pode ser fonte de infecções. Ainda há possibilidade de coletar amostras de pacientes que utilizam sondas vesicais, fazendo a desinfecção do dispositivo e coletando entre 30 e 60 mL, com auxílio de seringas. A urina contida na bolsa que coleta não deve ser utilizada para análises. Coleta de amostras do trato respiratório Sinusite, pneumonia e tuberculose são processos infecciosos que podem acometer nosso sistema respiratório. Nesses casos e em outros mais, pode haver a necessidade de se coletar amostra para realizar um exame de diagnóstico laboratorial. A coleta utilizando “swab” é indicada tanto para infecções virais quanto para infecções bacterianas que acometem a nasofaringe e a orofaringe. No caso de coletas de nasofaringe, posiciona-se o paciente sentado, com o rosto levemente virado para cima, fazendo um ângulo de 30 a 45°, para que o “swab” chegue até a parede do nariz ou da garganta e possa ser coletado um esfregaço de células. É importante lembrar que não está se fazendo coleta de secreção, sim de células infectadas. Por isso, pedir ao paciente de esvazie o nariz é fundamental. No caso de infecções que acometem a orofaringe, a coleta é feita também com auxílio do “swab”, para recuperar secreção contendo células infectadas ou microrganismos. De forma geral, o aspiradotraqueal é mais utilizado para pacientes que fazem utilização de ventilação mecânica, ou seja, estão intubados e admitidos em unidade de tratamento intensivo, e para obtenção do material são utilizados um cateter ou sonda de sucção. Após as coletas, as amostras devem ser processadas em até duas horas. Lavado broncoalveolar é considerado um dos métodos de melhor desempenho para análise microbiológica do trato respiratório inferior, sendo muito utilizado para diagnóstico em pacientes imunocomprometidos ou que se encontram com uso de ventilação mecânica. Como é um material que contém uma alta carga microbiana, o ideal é que seja processado em até 30 minutos depois de coletado para que não haja modificações no número de microrganismos. A coleta de escarro é talvez um dos processos mais difundidos, pois é bastante utilizado no diagnóstico de pneumonias e, principalmente, tuberculose. O processo exige que o paciente atue ativamente, porém uma supervisão de profissionais da saúde é essencial para a boa qualidade da amostra. Após a coleta, o pote deve ser bem fechado e levado imediatamente para análise, podendo ser processada em até duas horas. Caso o paciente tenha dificuldade de produzir a secreção, pode-se fazer uma nebulização com soro fisiológico. Variáveis pré-analíticas Variáveis pós analíticas FASE PRÉ-ANALÍTICA: Os primeiros passos para minimizar a ocorrência de erros relacionados durante a fase pré-analítica incluem padronização do registro para a identificação do paciente e da amostra. Tal padronização deve destacar a busca por informações que podem influenciar de forma direta ou indireta o resultado dos exames. FASE ANALÍTICA: Essa fase apresenta o menor percentual de erros cometidos, no entanto também deve passar pelo processo de normatização, treinamento dos funcionários e monitoramento de indicadores da qualidade. FASE PÓS-ANALÍTICA: A automatização dos processos laboratoriais auxilia também na diminuição de erros nessa fase, porém necessita da atenção da equipe do laboratório aos resultados obtidos, para identificar possíveis sinais de baixo desempenho dos processos. A liberação dos resultados pode seguir regras e utilizar algoritmos para identificação de erros. Coleta de sangue venoso Coleta de fezes e de urina Mas você sabe para que servem essas recomendações? Coleta de amostras do trato respiratório