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Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo – FDSBC 
Curso de Direito Civil - Direito Civil I - Parte Geral – 
Prof. Estevan Lo Ré Pousada 
Aula 01 – Conceitos fundamentais: o fenômeno jurídico 
 § 1º O homem, a adaptação social e o direito. 
• Direito voltado à aquisição de aptidões para a sobrevivência em sociedade (adaptação aos padrões sociais); • Tendência natural do homem à vida em comunidade (homem como ser gregário); 
• Diversidade de círculos sociais nos quais acaba por se desenvolver a adaptação do homem para a convivência social: família, comunidade, cidade, Estado, etc.; 
• Mecanismos sociais de adaptação (dos comportamentos) inatos do homem: religião, moral, política, educação, economia, ciência, arte, moda, etiqueta, direito; 
• Homem como produto de duas forças distintas: a natureza e o convívio social; 
• “Reação” e “rebeldia” do homem diante da necessidade de adaptação aos padrões sociais: a função “coercitiva” do direito, como conjunto de 
“normas de conduta (...) [de] caráter obrigatório em decorrência do qual a sua impositividade ao homem (...) [é] incondicional e independente da adesão das pessoas” (p. 5); 
• Inconformismo social mais exacerbado – “revolução” – antecede períodos de maior centralização do poder (despotismo); 
• Movimentos que postulam a eliminação do direito diante da extirpação do jugo social: anarquismo, marxismo, movimento hippie, etc.; 
• É possível a eliminação completa do direito? Indagação difícil, preponderando a doutrina orientada pelo sentido negativo; 
• Peculiaridade do direito como único dos processos de adaptação social que tem o poder de vincular incondicionalmente as condutas: 
 “os processos de adaptação social, embora se constituam de normas de natureza comportamental, não têm, exceto o direito, o poder de vincular incondicionalmente as condutas, donde ficarem à mercê da adesão das pessoas. O direito, diferentemente, é obrigatório e nisso consiste o elemento que o caracteriza e o distingue dos demais processos de adaptação social” (p. 5); 
• Variabilidade dos pressupostos de validade que fundam a obrigatoriedade da regra jurídica: axiológicos (concepções e valores fundamentais), dogmáticos (vinculação meramente lógica), jusnaturalistas (derivada de padrões de comportamento eternos), sociológicos (acatamento social) ; 
• Distinção entre as regras “jurídicas” e as regras derivadas dos demais processos de adaptação social – conforme critérios do “foro de julgamento” (íntimo e externo) e da “modalidade de reprimenda” (estatal centralizada versus social difusa); 
• Obrigatoriedade jurídica para Pontes de Miranda: 
“a obrigatoriedade das normas jurídicas se resume à sua incidência que, transformando o seu suporte fáctico em fato jurídico, subordina às suas normas as condutas relacionadas àquele fato. Se a norma incide, tem de ser aplicada por quem tenha essa responsabilidade no organismo social. Se da aplicação resulta sanção é irrelevante, porque esta é característica de alguns tipos de normas jurídicas, não de todas” (p. 6). 
§ 2º O caráter necessário do Direito. 
• Direito como processo de adaptação que não pertence à natureza do homem: necessariedade do direito como decorrência da transformação do “homo naturalis” (solidão inicial hipotética) em “homo socialis”; • “Ubi societas ibi ius”: em sociedades primitivas pode-se prescindir do Estado, mas jamais do direito; • Complexidade das regras jurídicas diretamente proporcional à própria complexidade da estrutura social regulada. 
 § 3º Mundo fáctico e mundo jurídico. 
• Valoração dos fatos e eleição daqueles que são relevantes para o relacionamento inter-humano: o fato jurídico; • Alguns fatos são juridicamente irrelevantes; outros são juridicamente relevantes; outros ainda podem ou não sê-lo (v.g. chuva); 
• Distinção fundamental: 
a) evento – fatos que independem de conduta para existirem; 
b) conduta – ato humano; 
• Eleição do fato jurídico pelo direito: 
“a norma jurídica atua sobre os fatos que compõem o mundo, atribuindo-lhes conseqüências específicas (efeitos jurídicos) em relação aos homens, os quais constituem um plus quanto à natureza do fato em si. A norma jurídica (...) adjetiva os fatos do mundo, conferindo-lhes uma característica que os torna espécie distinta dentre os demais fatos: - o ser fato jurídico” (p. 8); 
1 
• Separação entre os mundos fáctico (todo) e jurídico (“relevante para o direito”); 
• Mundo fático e mundo jurídico – exemplos de distinção: o ato de cumprimentar alguém é um ato jurídico? Distinção entre o cumprimento ao vizinho e a continência do militar ao superior hierárquico; O parentesco é irrestrito? Parentesco de fato irrestrito e parentesco colateral até o quarto grau (art. 1.592 do Código Civil); 
• Edificação do mundo jurídico à custa da eleição, pela vontade humana, de elementos originalmente integrantes do mundo dos fatos. 
 § 4º Logicidade do mundo jurídico. 
• Mundo do direito opera a partir de operações lógicas: ausência de alterações na ordem dos fatos; • Exemplos de alterações meramente lógico-jurídicas (faticamente imperceptíveis): maioridade; condição de objeto do direito (e não de sujeito) do escravo; distinção entre filhos legítimos, naturais, incestuosos e adulterinos; equiparação entre a filiação natural e a filiação adotiva; 
• Alterações do mundo jurídico não implicam alterações fáticas; mas alteração fática pode implicar em transformações no mundo jurídico; 
• Momentos do fenômeno jurídico: 
a) definição do suporte fáctico normativo (abstrato); 
b) verificação do suporte fáctico concreto; 
c) incidência e “juridicização” do suporte fáctico; 
d) passagem de alguns fatos jurídicos pelo plano da validade; 
e) chegada ao plano da eficácia (com conseqüente produção de efeitos). 
 § 5º Direito e realidade. 
• A fenomenologia jurídica não repercute diretamente na ordem dos fatos; 
• Existe repercussão indireta da fenomenologia jurídica na ordem factual, na medida em que os destinatários da norma cumprem ou descumprem (sofrendo uma sanção real) o enunciado normativo – o (des)atendimento do comando normativo se dá no plano dos fatos; 
• Porém, o desatendimento da norma não retira a legitimidade do jurídico: 
“é evidente que as normas jurídicas não são feitas para serem descumpridas. Mas, é claro, também, que sendo uma imposição da comunidade ao homem é sempre possível e comum o seu descumprimento. A conduta individual infringente do direito, no entanto, não retira legitimidade às suas normas, desde que o grupo social, considerado no seu todo, as aceite e as imponha pelos meios e instrumentos que cria para assegurar, inclusive pela força, a sua realização, e atendam, elas, aos pressupostos gerais de legitimidade” (p. 13); 
• Direito como fato social na medida em que repercute na realidade da vida concreta – “efetividade” das regras jurídicas (situação em que a comunidade se comporta de acordo com o teor das regras jurídicas); • Terminologia delicada: “efetividade”, “eficácia” (“legal” e “jurídica”). 
 § 6º As dimensões do fenômeno jurídico. 
• Na análise do fenômeno jurídico, podem ser identificadas três dimensões inconfundíveis entre si: a) política; 
b) normativa; 
c) sociológica; 
• Dimensão política – valorativa, em que decide quais os valores que devem reger o processo de adaptação do corpo social; 
• Dimensão normativa – sem preocupações com “o que” é afinal escolhido pela comunidade, voltando-se apenas e tão somente à ordem de validade: 
“somente importa, assim, se existe uma norma regularmente posta e vigente que, só por isso, é obrigatória, independentemente da circunstância de sua efetivação no meio social pela conduta humana coincidente com suas determinações”; 
• Dimensão sociológica – subordinação dos fatos da vida à norma jurídica que os previu e regulou: “desde quando essa subordinação seja defeituosa, por não coincidirem a aplicação e a incidência, ter-se-á evidente imperfeição na organização jurídica da sociedade, porque este o elementoque serve para medir o ‘grau de perfeição do grupo social no tocante ao traçamento jurídico’”; 
• Discordância evidenciada por uma hostilidade comunitária à norma caracteriza sua falta de vigência para parte da doutrina (crítica). 
 § 7º Uma visão integrada do fenômeno jurídico. 
• “Normativismos”, “positivismos” e “relativismos” como percepções parciais do fenômeno jurídico, centradas exclusivamente na dimensão normativa do direito; 
• Deve-se observar ter havido um crescimento dos valores fundamentais de juridicidade (paz social, bem comum, justiça, ordem, segurança) após os excessos do regime nazista; 
2 
• Afastando-se considerações preconceituosas, pode-se dizer que o intuito central do positivismo jurídico foi bastante peculiar: 
“o que, em essência, se pretendeu com o positivismo foi retirar do rei o poder de ditar livremente as normas jurídicas e de fazê-lo submisso ao direito, bem assim tornar certa a ordem jurídica, fazer certo o direito. Positivado em lei, que pode ser conhecida de todos, dá-se maior estabilidade ao direito e protege-se o cidadão contra a tirania, ou, pelo menos, se reduzem os meios de exercê-la” (p. 16); 
• Análise simplesmente sociológica é parcial, não entrevendo a dimensão normativa a inibir condutas indesejáveis (adaptação social) – v. g. cinto de segurança, rodízio veicular, faixas exclusivas, fumo (locais fechados), etc.; • Direito não se confunde com os valores que lhe servem de fundamento; perspectiva exclusivamente axiológica é, da mesma forma, parcial; 
• Perspectiva integrada dos momentos político, normativo e sociológico como mais completa – “valor”, “fato” e “norma”. 
§ 8º Corte epistemológico. 
• Perspectivas “valorativas” (política), perspectivas “dogmáticas” (teoria geral do direito e ciências dogmáticas) e perspectivas “sociológicas” podem ser adotadas como meros “métodos de estudo” – sendo, nesta medida, salutares. 
Aula 02 – Conceito e divisão do Direito. 
 § 1º Conceito de direito. 
• O homem como ser eminentemente social (“homo socialis”) e a finalidade do Direito de adaptar os comportamentos humanos à vida em sociedade (o Direito como um mecanismo de “adaptação social”); • Normas jurídicas diferenciadas das demais normas, à vista de seu caráter preponderantemente “genérico” (pluralidade indistinta de destinatários) e dotado de eficácia reforçada (“garantida” pelo Estado); • Normas jurídicas contidas nas diversas “fontes do Direito” (fontes de cognição), dentre as quais se destacam as “leis”, os “costumes”, a “jurisprudência”, os “princípios gerais de Direito” e a “doutrina”; 
• As normas jurídicas integram o mundo do “dever ser”, dominado por uma causalidade própria (“causalidade jurídica” ou “imputação”), diversa daquela que prepondera no âmbito das – imutáveis – leis “naturais” (mundo do “ser”); 
 § 2º Distinção entre o direito e a moral. 
• As normas “jurídicas” e as normas “morais” não se confundem, conquanto apresentem certos pontos de contato; ambas contribuem como mecanismos de adaptação social, embora o “foro de julgamento” e a “origem da sanção” venham a diferenciar os sistemas normativos; 
• Com base em J. Bentham é usual a menção aos dois elementos como sendo círculos concêntricos (a Moral como o maior e o Direito como o menor); há quem sustente, todavia, que se tratam de círculos “secantes”; • Além das duas diferenças acima assinaladas, deve-se observar que, normalmente, a obediência a uma norma jurídica evita um “mal maior” (e proporciona um bem menor ao agente) – enquanto a norma moral evita um “mal menor” (proporcionando-lhe um bem maior); 
• Note-se que, por vezes, as normas jurídicas progressivamente consagram deveres que até então só ostentavam relevância moral; 
 § 3º Direito positivo e direito natural. 
• “Direito positivo” é o ordenamento jurídico em vigor em um determinado contexto (“ius in civitate positum”) – refletindo a manifestação “concreta” do sentido de ordenação jurídica adotado por um povo; • O “direito natural”, por sua vez, corresponde a uma “noção abstrata” de Direito, potencialmente aplicável em todos e quaisquer quadrantes espaço-temporais – diretrizes aplicáveis, enfim, de uma forma absoluta; • Deve-se observar que, historicamente, várias foram as manifestações do Direito Natural com que o Ocidente conviveu – jusnaturalismos romano, tomista, racionalista, etc. –, muitas vezes se tendo sustentado um “antagonismo” entre as duas noções referidas; 
• Atualmente, todavia, se compreende a noção do Direito natural como um expediente “corretivo” dos excessos do Direito positivo – a respeito, v. g., cf. a noção de “obrigação natural”; 
 § 4º Direito objetivo e direito subjetivo. 
• Por meio do “raciocínio dicotômico”, pode-se classificar o Direito em: 
– “Direito objetivo” – conjunto de normas jurídicas de observância indistinta e garantida pelo Estado (“norma agendi”); 
– “Direito subjetivo” – prerrogativa do sujeito de direito (sujeito ativo) de exigir de outrem (sujeito passivo) um determinado comportamento (“facultas agendi’); 
3 
• A respeito do conceito de “direito subjetivo” existem várias teorias: desde aquelas que o negam peremptoriamente (H. Kelsen, L. Duguit) até aquelas que o afirmam, compreendendo-o como elemento fundamental do Direito Privado; dentre as afirmativas, destacam-se as que o consideram: 
– um “poder da vontade” (Savigny, Windscheid) – com destaque ao elemento subjetivo; 
– um “interesse juridicamente protegido” (Ihering) – destacado o elemento objetivo; e 
– as teorias “mistas” ou “ecléticas” (G. Jellinek) – conciliadoras das vertentes anteriores; 
• Prepondera, hoje, a perspectiva que “concilia” as duas noções de Direito; 
 § 5º Direito público e direito privado. 
• A distinção entre “Direito Público” e “Direito Privado” é bastante antiga e usual na doutrina; compreendida de modo didático – e sem pretensões de observação absoluta – pode ser extremamente útil ao jurista; • Vários são os critérios utilizados para tal distinção: 
– “interesse” (ou “utilidade”) – repercussão ou órbita (“geral” vs. “individual”); 
– “sujeito” – presença/ausência do Estado; 
– “finalidade” – bem “comum” vs. bem “individual”; 
– “ius imperium” – relações de “coordenação” vs. relações de “subordinação”; 
• Sendo o Direito “uno”, tal divisão é meramente didática; 
• Integram, exemplificativamente, o Direito Público: 
– o Direito Constitucional; 
– o Direito Administrativo; 
– o Direito Tributário; 
– o Direito Penal; 
– o Direito Processual (Civil e Penal); 
– o Direito Internacional; 
– o Direito Ambiental; 
• Por sua vez, integram – ainda exemplificativamente – o Direito Privado: 
– o Direito Civil; 
– o Direito Comercial; 
– o Direito Agrário; 
– o Direito marítimo; 
– o Direito Aeronáutico; 
– o Direito do Trabalho; e 
– o Direito do Consumidor; 
• Deve-se destacar que, em virtude do aumento da interferência do Estado no âmbito do Direito Privado, alguns doutrinadores assinalam um processo de progressiva “publicização” do Direito Privado; 
• Por fim, deve-se observar a superação da referida dicotomia por aquela estabelecida entre normas “cogentes” (ou inderrogáveis) e normas “dispositivas” – de feição supletiva (e derrogáveis pela vontade dos interessados); • No âmbito do Código Civil, são preponderantemente “cogentes” as normas que informam o Direito de Família, o Direito das Coisas e o Direito das Sucessões; em contrapartida, prevalece o caráter “dispositivo” nas regras (interpretativas e supletivas) que informam o Direito das Obrigações – admitindo-se exceções em todos os casos (como, v. g., nos “contratos por adesão”); 
 § 6º A unificação do Direito Privado. 
• Propugnada no Brasil, primeiramente, por Augusto Teixeira de Freitas – que tinha o Direito Comercial como uma espécie de direito “privilegiado” – a unificação do direito privado foi defendida inicialmente, na Itália, por Cesare Vivante (tendo sido adotada em países como Suíça, Canadá, Itália e Polônia); 
• No Brasil, voltou a ser defendida por Inglezde Souza – robustecendo-se a tese unificadora com o “Anteprojeto de Código das Obrigações” de Orozimbo Nonato, Philadelpho Azevedo e Hahnemann Guimarães (1941); • Acabou por prevalecer, no âmbito do Código Civil de 2002, apenas a “unificação parcial” do Direito Privado – circunscrita ao Direito das Obrigações (e “derrogando-se”, pois, o Código Comercial vigente); 
Aula 03 – Direito Civil: Evolução. 
 § 1º Conceito de Direito Civil. 
• Direito Civil como complexo ordenador das relações jurídicas mantidas entre particulares (nas quais não adentra o Estado provido de seus “ius imperium”) – desde o momento de sua concepção até a sua morte (havendo a possibilidade de projeção de certos efeitos mesmo para depois da morte do sujeito); 
• O Direito Civil disciplina relações jurídicas de duas ordens fundamentais: 
– pessoais (desprovidas de conteúdo econômico); e 
– patrimoniais (com conteúdo passível de aferição econômica); 
• Ao longo do século XX houve uma significativa mudança quanto ao panorama analisado pelo estudioso do Direito Civil: enquanto a simples contemplação do Código Civil parecia suficiente durante a primeira metade do 
4 
século, na segunda se começou a entrever a necessidade de que certas relações fossem disciplinadas diversamente (microssistemas); 
 § 2º Histórico do Direito Civil. 
• O Direito Civil brasileiro integra a matriz “romano-germano-canônica”; com isso, se ressalta a um só tempo: – a influência desempenhada pelo Direito Romano (“ius civile”, “ius gentium” e “ius naturale”), com seu caráter acentuadamente “individualista”; 
– a importância do elemento germânico – mais precisamente visigótico – segundo o qual considerações de natureza “social” haviam de preponderar, por vezes, sobre os interesses meramente individuais; – o influxo do direito canônico, desenvolvido graças a fontes bastante diversificadas, em cujo bojo se pode surpreender a consagração de preocupações “éticas” relativamente constantes; 
• O advento da modernidade assinalou a necessidade de que o Direito fosse concebido de maneira “clara” e “precisa” – de modo que qualquer cidadão, mesmo desprovido de conhecimentos jurídicos, pudesse aplicar suas regras; 
• No Brasil, após a Proclamação da Independência, vigoravam as Ordenações do Reino de Portugal (Filipinas) – mais precisamente o seu Livro IV em matéria civil – tal como estabelecido pela Lei de 20 de outubro de 1823; • Na própria Constituição Imperial se previa (art. 179, XVIII) a promulgação de um Código Civil e um Criminal, ambos fundados nas “sólidas bases da justiça e da equidade”; 
• Sobrevindo o Código Criminal em 1831, em matéria privada, a primeira codificação se confunde com o Código Comercial (1850), derrogado tão somente pelo Código Civil de 2002; contudo, em matéria civil, um código somente surgiria no Brasil em 1916 (quase cem anos após a promessa de codificação formulada pelo legislador constituinte); 
 § 3º A codificação. 
• A “codificação” corresponde a um modelo, a uma forma de se pensar o Direito; diferentemente dos “códigos” da antiguidade – desprovidos de uma técnica legislativa mais acurada (exceção feita ao de Hamurábi) –, a codificação moderna se lastreia no ideal de concepção de um “sistema” (dotado de coerência e plenitude); 
• Na esteira de tais diretrizes metodológicas, o Código Civil brasileiro de 1916 é resultado de uma série de influências alienígenas de seu tempo, dentre as quais se destacam o Código Napoleônico (1804), o Código Italiano (1865), o Código Português (1867) e o Código Alemão (1896); 
• No esforço para a promulgação de nosso primeiro Código Civil, foram produzidos diversos projetos, que se seguiram à etapa preparatória de “consolidação” do direito civil vigente no Brasil na segunda metade do século XIX (a “Consolidação das Leis Civis”); dentre eles, destacam-se: 
– o “Esboço” de Augusto Teixeira de Freitas; 
– o projeto de Nabuco de Araújo; 
– o projeto de Felício dos Santos; 
– o projeto de Coelho Rodrigues; e 
– o projeto de Clóvis Beviláqua; 
• Submetido a uma profunda revisão em ambas as casas do Parlamento, o projeto de Clóvis Beviláqua acabou sendo vertido em lei após um intenso debate parlamentar; promulgado no ano de 1916, passou por uma “vacatio legis” bastante longa, entrando em vigor apenas no ano seguinte; 
• Não obstante a cientificidade do Código Civil de 1916, durante a sua vigência uma copiosa legislação foi produzida, colocando-se em xeque o seu papel central no Direito Privado; o advento dos “microssistemas” pode ser representado pelo advento da legislação seguinte, v. g.: 
– Lei dos Registros Públicos (Lei Fed. nº 6015/73); 
– Lei do Divórcio (Lei Fed. nº 6515/77); 
– Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Fed. nº 8069/90); 
– Código de Defesa do Consumidor (Lei Fed. nº 8078/90); 
– Lei do Inquilinato (Lei Fed. nº 8245/91); 
– Lei de Propriedade Industrial (Lei Fed. nº 9279/96); 
– Lei de Direitos Autorais (Lei Fed. nº 9610/98); 
• Questiona-se, nos últimos anos, a conveniência da manutenção do modelo codificatório; prepondera a vertente que sustenta a preservação do modelo, ainda que à custa de uma redução quanto ao seu alcance sistemático; 
 § 4º O Código Civil brasileiro. 
• O Código de 1916 retrata o direito de uma sociedade agrária, individualista e patriarcal; por isso, seus diversos Livros – ainda que contivessem um grande número de regras similares às atuais – estavam embebidos neste caldo cultural “peculiar”; estando, pois, assim dividido: 
– Parte Geral; 
• Livro I – Das pessoas; 
• Livro II – Dos bens; 
• Livro III – Dos fatos jurídicos; 
5 
– Parte Especial; 
• Livro I – Do direito de família; 
• Livro II – Do direito das coisas; 
• Livro III – Do direito das obrigações; 
• Livro IV – Do direito das sucessões; 
• Ao longo do século XX diversas leis alteraram, significativamente, o panorama decorrente do Código Civil de 1916: além do Direito de Família – o mais afetado, v. g., pela Lei Fed. nº 4121/62 (Estatuto da Mulher Casada), pela Lei Fed. nº 6515/77 (Lei do Divórcio) e pela Lei Fed. nº 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) – inovações relevantes foram promovidas em matéria de registros públicos (Lei Fed. nº 6515/73) e contratos de consumo (Lei Fed. nº 8078/90); 
• Além disso, uma nova forma de se conceber o Direito Privado acabou exsurgindo; ao mesmo tempo em que se passou a conceber a igualdade entre os cônjuges (e entre os filhos havidos no ambiente familiar), floresceram os conceitos de “contrato por adesão” e de “função social da propriedade” – em certas vezes, inclusive, à luz de previsão constitucional; 
• Neste cenário, o Código Civil de 2002 exsurge; dividido da seguinte forma: 
– Parte Geral; 
• Livro I – Das pessoas; 
• Livro II – Dos bens; 
• Livro III – Dos fatos jurídicos; 
– Parte Especial; 
• Livro I – Do direito das obrigações; 
• Livro II – Do direito de empresa; 
• Livro III – Do direito das coisas; 
• Livro IV – Do direito de família; 
• Livro V – Do direito das sucessões; 
• O Código de 2002 não representa um total rompimento com o modelo de 1916; além da necessária atualização, todavia, despontou uma utilização de “cláusulas gerais” consagradora de três valores fundamentais: – eticidade; 
– socialidade; e 
– operabilidade; 
• Deve-se observar que o Código Civil de 2002 desponta em um cenário no qual o civilista está plenamente consciente de que sua disciplina está decididamente comprometida com o estabelecido na Constituição Federal de 1988 – daí o surgimento de uma tendência designada por “direito civil-constitucional”; 
• Como decorrência da projeção da Constituição Federal sobre as relações privadas, admite-se – atualmente – a chamada “eficácia horizontal dos direitos fundamentais”, com a projeção de valores resguardados constitucionalmente no âmbito do tradicional Direito Civil; 
Aula 04 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. 
 Legislação envolvida: arts. 1º a 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. • art. 1º: promulgaçãoda lei e sua entrada em vigor (“vacatio legis”); 
• art. 2º: vigência da lei (temporariedade e revogação); 
• art. 3º: princípio da obrigatoriedade das leis; 
• art. 4º: colmatação das lacunas do sistema jurídico; 
• art. 5º: interpretação das normas jurídicas; 
• art. 6º: efeito imediato e exceções à retroatividade da lei civil; 
 § 1º Conteúdo e função. 
• A “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro” (Decreto-Lei nº 4657/42) – anteriormente designada “Lei de Introdução ao Código Civil” – é um repositório de normas de abrangência verdadeiramente “universal” (dentro do sistema jurídico brasileiro), uma vez que se dirige não apenas às normas civis (ou mesmo privadas), mas a todas as normas que integram o ordenamento jurídico nacional – respeitadas algumas exceções, v. g., nos âmbitos criminal e tributário; 
• Consideradas regras de “sobredireito” (ou “direito de apoio”), as regras instituídas pela Lei de Introdução não se voltam a condutas específicas dos destinatários naturais das normas jurídicas; ao contrário, preocupam-se com o fenômeno de produção do próprio Direito (“metajuridicidade”); 
• À vista de seu respectivo objeto, as normas que integram a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro podem ser assim escandidas: 
– art. 1º - entrada em vigor da lei e “vacatio legis”; 
– art. 2º - vigência indeterminada e revogação da lei; 
– art. 3º - obrigatoriedade das normas jurídicas; 
– art. 4º - integração das lacunas; 
6 
– art. 5º - interpretação das normas jurídicas; 
– art. 6º - efeito imediato das normas jurídicas e salvaguardas (conflito de leis no tempo); – arts. 7º a 19 – direito internacional privado (conflito de leis no espaço); 
 § 2º Fontes do Direito. 
• O tema das fontes do direito é melhor enfrentado a partir de uma análise de suas principais dicotomias informativas, v. g.: 
– fontes de “produção” (órgãos responsáveis pela produção de normas jurídicas) vs. fontes de “cognição” (veículos introdutores de normas jurídicas); 
– fontes “históricas” (de caráter meramente informativo e voltadas à especulação) vs. fontes “atuais” (de caráter prescritivo e voltadas à aplicação corrente); 
– fontes “formais” – dotadas de autoridade intrínseca (v. g. a lei, a analogia, os costumes e os princípios gerais) – vs. fontes “informais” – desprovidas de autoridade própria, mas acreditadas pela reputação de quem as produz (v. g. doutrina e jurisprudência); 
– fontes “diretas” (geradoras de regra jurídica) vs. fontes “indiretas” (concausas no processo de produção de normas jurídicas); 
• Especial destaque deve ser conferido à jurisprudência, que tem se transformado – na prática – não apenas em uma fonte “formal”, mas também em uma das mais expressivas de nosso sistema jurídico; 
 § 3º A lei. 
• O tema das fontes do Direito é atemporal; contudo, a análise da importância de cada uma delas deve ser contextualizada, sob pena de se praticarem deslizes imperdoáveis; assim, pode-se dizer que atualmente no sistema da família “romano-germano-canônica” a “lei” é a fonte por excelência do Direito – perspectiva moderna; 
• No entanto, não é raro encontrarmos o emprego do termo lei em acepções bastante distintas em nosso sistema jurídico: 
– algumas vezes em sentido amplíssimo, como sinônimo de norma jurídica (art. 5º, II CF); – noutras vezes, como sinônimo de ato estatal (art. 5º, XIII CF); 
– finalmente, em acepção estritíssima, com o significado de preceito editado pelo Poder Legislativo, mediante procedimento legislativo adequado (art. 5º, XXXIX CF); 
• Como “características” da lei são ordinariamente apresentadas as seguintes: 
– “generalidade” (sob o prisma do destinatário): designando ações “universais”, se lhes contrapõem as normas “individuais” (voltadas a um único sujeito); 
– “abstração” (sob o prisma da conduta regrada): designando “ações-tipo”, se lhes contrapõem as normas “concretas” (voltadas a uma única incidência); 
– “imperatividade”: evidenciadora de seu teor “prescritivo”, por oposição aos sentidos “descritivo” e “expressivo” – típicos, pois, dos discursos “científico” e “artísitico”; 
– “autorizamento”: viabilidade do emprego de expedientes sancionatórios, à custa da intervenção de um terceiro estranho à relação (ao que se contrapõem as normas desprovidas de sanção); 
– “permanência”: possibilidade de sua aplicação em inúmeras oportunidades (a que se contrapõe o conceito de norma concreta); 
– emanação da autoridade competente – observado, em todo caso, o procedimento legislativo adequado (estabelecido pela própria Constituição Federal); 
• Sob o prisma taxonômico, as leis podem ser classificadas: 
– Quanto à “imperatividade”, em: 
• “cogentes” ou inderrogáveis (de imperatividade absoluta ou de ordem pública); e 
• “dispositivas” (de imperatividade relativa) – com funções permissivas, supletivas ou interpretativas (podendo ser afastadas pelos interessados); 
– Quanto à “sanção”, em: 
• “mais que perfeitas” – conjugando sanções de nulidade e penalidade (art. 37, parágrafo único c/c art. 43, II da Lei Fed. nº 8245/91); 
• “perfeitas” – admitindo apenas sanções de nulidade (art. 166 CC); 
• “menos que perfeitas” – prevendo só sanções de penalidade (art. 1641, I CC); e 
• “imperfeitas” – as quais não estatuem qualquer sanção (art. 189 CPC); 
– Quanto à sua “natureza”, em: 
• “substantivas” (ou materiais) – que disciplinam a atribuição de direitos e deveres; e • “adjetivas” (ou processuais) – voltadas à implementação dos direitos e deveres; 
– Quanto à sua “hierarquia”, em: 
• “constitucionais” – com o “status” de norma constitucional (art. 60 CF); 
• “leis complementares” – com “quorum” qualificado de aprovação, por maioria absoluta, em casos previstos na própria Constituição (art. 59 CF); 
• “leis ordinárias” – com “quorum” ordinário de aprovação (arts. 64 a 67 CF); 
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• “leis delegadas” – com “status” de lei ordinária, são normas produzidas pelo Executivo mediante delegação expressa do Legislativo (art. 68 CF); e 
• “medidas provisórias” – com requisitos estreitos de aplicação (“urgência” e “relevância”), a serem apreciadas em seguida pelo Congresso Nacional (art. 62 CF); 
– Quanto à “competência territorial”, em: 
• “federais” (art. 22 CF); 
• “estaduais”/”distritais” (arts. 25 e 32 CF); 
• “municipais” (art. 30 CF); e 
– E quanto ao seu “alcance”, em: 
• leis “gerais” (v. g., o Código Civil); e 
• leis “especiais” (v.g., o Código de Defesa do Consumidor); 
 § 4º Vigência da lei. 
• As normas jurídicas têm uma existência própria: em seu aspecto temporal, tal existência se confunde com o conceito de “vigência” – que não se confunde com a força vinculante da norma jurídica (o seu “vigor”); • Dá-se o nome de “vacatio legis” ao período compreendido entre a publicação da norma jurídica e o início de produção de seus respectivos efeitos próprios (a respeito, cf. o art. 1º LINDB); a contagem do período se faz com a inclusão do dia da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia imediatamente posterior (art. 8º da LC 95/98); 
• Note-se que dispositivos de lei vetados – se o veto for derrubado pelo Congresso Nacional – só entram em vigor após o decurso do prazo contado da publicação da deliberação parlamentar; decretos e regulamentos entram em vigor na data de sua publicação – como ocorre, em geral, com os atos do Poder Executivo; 
• Conforme estabelece o art. 2º da LINDB, a lei tem efeito imediato e permanente, desde que não contenha uma “causa intrínseca” de caducidade, como, v. g.: 
– o advento do termo de sua duração (leis temporárias); 
– o implemento de condição resolutiva (leis circunstanciais); ou 
– a concatenção de seus fins (lei de efeitos concretos) – como as leis orçamentárias; 
• Observe-se que a “simples” cessação dos motivos que levaram à promulgação de uma lei não implica em sua necessária caducidade; será necessária revogação para que a norma seja expelida do sistema jurídico; • Revogação é a supressão de uma norma do sistema jurídico; pode ser classificadaem: – “total” (ab-rogação) vs. “parcial” (derrogação) – quanto ao grau de comprometimento do panorama normativo anterior; 
– “expressa” vs. “tácita” – quanto à presença de um pronunciamento expresso do legislador; • A revogação “tácita” pode se dar pela promulgação de um texto em conflito com o anterior; ou pela inteira regulamentação da matéria anteriormente disciplinada pela lei antiga; 
• Breve alusão deve ser feita à subtração do fundamento de validade de uma norma jurídica em virtude do advento de uma nova ordem constitucional incompatível com o preceito anterior (a chamada “não recepção”); • Deve-se notar que é freqüente a incompatibilidade entre normas jurídicas que integram um mesmo sistema (“antinomia”); neste caso, devem ser empregados os seguintes critérios para a solução dos conflitos estabelecidos entre normas jurídicas: 
– hierarquia (critério mais forte) – lei superior prevalece sobre lei inferior; 
– especialidade (critério médio) – lei especial prevalece (nas matérias por ela abrangidas) sobre a lei geral; e, por fim, 
– cronologia (critério mais fraco) – lei posterior prevalece sobre a lei anterior; 
• A comparação entre critérios é importante quando, em um conflito concreto, cada critério favorecer uma norma diferente – a chamada “antinomia de segundo grau” (v. g. Código Civil vs. Lei Fed. nº 4591/64); • Por fim, deve-se observar que o direito brasileiro somente admite a “repristinação” expressa (retomada dos efeitos da norma revogada em decorrência da revogação da norma revogadora); 
 § 5º Obrigatoriedade das leis. 
• O art. 3º da LINDB contempla o “princípio da obrigatoriedade das leis”, segundo o qual “ignorantia legis neminem excusat”; a respeito da natureza da regra a doutrina se divide em três correntes fundamentais, concebendo-a como: 
– uma presunção legal – “teoria da presunção” (tomada de acontecimento provável como ocorrido); – uma ficção jurídica – “teoria da ficção” (tomada de acontecimento inverídico como ocorrido); ou – um expediente meramente operacional – “teoria da necessidade social” (mecanismo de neutralização da ignorância jurídica); 
• Note-se que tal princípio não é absoluto; nas legislações penal (“erro de proibição”) e civil (art. 139) se admite – excepcionalmente – a alegação do falso conhecimento do Direito como um mecanismo exonerativo; 
 § 6º A integração das normas jurídicas. 
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• Nos termos do art. 4º da LINDB, dá-se o fenômeno da “integração” sempre que se constatar alguma “lacuna” do sistema jurídico; para a sua colmatação, devem ser utilizados os seguintes expedientes: 
– a analogia (raciocínio indutivo-dedutivo) – à vista da: a) ausência de norma reguladora do caso concreto; b) da semelhança entre as situações apresentadas; e c) da identidade de fundamentos jurídicos aplicáveis; 
– os costumes – prática imemorial, reiterada, uniforme, constante, pública (elemento objetivo), acompanhada da consciência de sua obrigatoriedade (elemento subjetivo); e 
– os princípios gerais do direito (mandamentos nucleares do sistema); 
• Deve-se observar que em certos casos a analogia se pauta na tomada de uma regra individual em consideração (“analogia legis”); todavia, em outros, é necessário o recurso a um arcabouço jurídico mais amplo (“analogia iuris”); 
• Ademais, deve-se apartar a “analogia” da “interpretação extensiva”: enquanto esta trabalha dentro dos limites do enunciado normativo, aquela se reporta ao espírito da regra, ultrapassando o seu texto; • Ainda quanto à analogia deve ser destacada a sua utilização “cuidadosa” em ramos do Direito que possam repercutir sobre a liberdade e o patrimônio do indivíduo (v. g., direitos penal e tributário); • Por sua vez, o “costume” juridicamente vinculante só é admitido no direito brasileiro quando expressamente autorizado (“secundum” ou “praeter legem”); jamais para justificar, todavia, a desobediência à lei – costume “contra legem” (ou “desuetudo”); 
• Por fim, destaque-se que a eqüidade não é expediente para colmatação de lacunas do ordenamento jurídico – consistindo em simples técnica de aplicação do Direito; 
 § 7º Aplicação e interpretação das normas jurídicas. 
• A aplicação das normas jurídicas depende, fundamentalmente, da interpretação de seus enunciados, a fim de que sejam descortinados os respectivos alcances; sua disciplina está prevista, sucintamente, no art. 5º da LINDB; • Neste passo, duas correntes se desenvolveram a fim de nortear os estudos sobre a interpretação jurídica: – a corrente “subjetivista” (“voluntas legislatoris”) – segundo a qual se deve buscar, sempre que possível, a vontade do legislador; e 
– a corrente “objetivista” (“voluntas legis”) – segundo a qual a “vontade da lei” é relativamente independente daquela afeta ao legislador histórico; 
• Sob o prisma taxonômico, a interpretação pode ser classificada: 
– quanto à sua “origem”, em: 
• autêntica; 
• doutrinária; e 
• jurisprudencial; 
– quanto aos “métodos” utilizados, em: 
• gramatical (ou literal); 
• lógica; 
• sistemática; 
• histórica; e 
• teleológica; 
– por fim, quanto aos “resultados”, em: 
• declarativa; 
• extensiva; ou 
• restritiva; 
 § 8º Conflito das leis no tempo. 
• A lei retroativa disciplina fatos (ou efeitos) submetidos a uma lei anterior; sob o prisma “político”, a retroatividade é freqüentemente malvista pela comunidade – ainda que nem sempre exista impedimento à promulgação de normas “retrooperantes” (cf. art. 5º, XXXVI CF c/c art. 6º LINDB); 
• Algumas regras em matéria de retroatividade são usualmente apresentadas pela doutrina: – os princípios da irretroatividade da lei (e do respeito ao direito adquirido) são de ordem constitucional (art. 5º, XXXVI CF); 
– tais princípios obrigam o legislador e o juiz; 
– no silêncio, presume-se a irretroatividade da regra; 
– a retroatividade é admissível quando não atingir uma das balizas constitucionalmente resguardadas (o “ato jurídico perfeito”, o “direito adquirido” e a “coisa julgada”); 
– a lei nova tem efeito imediato e direto, não se aplicando a fatos anteriores; 
 § 9º Eficácia da lei no espaço. 
• Por envolverem assunto atinente à disciplina de “Direito Internacional Privado” (ou “conflito de leis no espaço”), os arts. 7º a 19 da LINDB somente são referidos na medida em que consagram soluções diferenciadas quanto aos fatos que interessam a plúrimas ordens jurídicas (fatos “plurilocais”); 
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• A seu respeito pode ser destacado que, no regime da Lei de Introdução ao Código de 1916, prevalecia a aplicação da lei de nacionalidade dos envolvidos (“critério da nacionalidade”) – substituindo-se tal modelo em 1942, quando da promulgação da atual Lei de Introdução (oportunidade em que se adotou o “critério do domicílio” dos interessados); 
Aula 05 – Das pessoas naturais: Da personalidade e da capacidade. 
 Legislação envolvida: arts. 1º a 10 e 70 a 78 do Código Civil. 
• art. 1º: personalidade jurídica e capacidade jurídica de gozo; 
• art. 2º: aquisição da personalidade pela pessoa natural (nascituro); 
• art. 3º: incapacidade absoluta (capacidade de exercício); 
• art. 4º: incapacidade relativa (capacidade de exercício); 
• art. 5º: cessação da incapacidade relativa; 
• art. 6º: extinção da personalidade da pessoa natural; 
• art. 7º: morte presumida (com ou sem declaração de ausência); 
• art. 8º: comoriência; 
• art. 9º: atos objeto de registro; 
• art. 10: atos objeto de averbação; 
• art. 70: domicílio; 
• art. 71: pluralidade domiciliar; 
• art. 72: domicílio profissional; 
• art. 73: domicílio da pessoa sem residência habitual; 
• art. 74: alteração de domicílio; 
• art. 75: domicílio das pessoas jurídicas; 
• art. 76: domicílio necessário (legal); 
• art. 77: domicílio do agente diplomático; 
• art. 78: domicílio de eleição; 
 § 1º. Nota introdutória. 
• Inicia-se a análise das relações jurídicas privadas; no Livro I da Parte Geral do CC/02 são disciplinadas as “pessoas”, assim se dividindo a regulação: 
– Título I – Das pessoas naturais (arts. 1ºa 39 CC); 
– Título II – Das pessoas jurídicas (arts. 40 a 69 CC); 
– Título III – Do domicílio (arts. 70 a 78 CC); 
• O Título I (“Das pessoas naturais”) contempla a existência legal dos sujeitos de direito providos de existência perceptível pelos sentidos (por oposição às pessoas jurídicas), subdividindo-se em: 
– Capítulo I – Da personalidade e da capacidade (arts. 1º a 10 CC); 
– Capítulo II – Dos direitos da personalidade (arts. 11 a 21 CC); 
– Capítulo III – Da ausência (arts. 22 a 39 CC); 
• Note-se que no CC/16 a ausência era disciplinada pelo “Direito de Família”; agora é objeto da “Parte Geral” do CC/02; 
 § 2º. Personalidade jurídica. 
• A personalidade é o “pressuposto” para que qualquer espécie de direito (ou dever) seja atribuído a alguém; por isso, pode ser definida como a aptidão genérica para que o ente figure como sujeito – e não como objeto – em uma relação jurídica (qualquer que seja a sua espécie); 
• No Direito Romano, o escravo – a quem se reconhecia o caráter humano – era considerado um “objeto” de Direito (ou bem), sobre o qual se exerciam prerrogativas (não integrando, ordinariamente, as relações jurídicas na qualidade de sujeito); a “universalização” da personalidade jurídica assinala o avanço do processo civilizatório (art. 1º CC); 
• A fim de que não se baralhem os conceitos de “personalidade” e de “capacidade” jurídicas, podemos definir a primeira, pois, como a aptidão genérica do ente para figurar na posição de “sujeito” de uma relação jurídica; 
 § 3º. Capacidade jurídica e legitimação. 
• Se a “personalidade” jurídica (conceito absoluto) pode ser definida como aptidão a figurar como sujeito de uma relação jurídica, a capacidade “jurídica” – de “direito” ou de “gozo” (conceito relativo) – é a aptidão para ter direitos e deveres na órbita civil (capacidade de “aquisição”); 
• Os conceitos de “personalidade” e de “capacidade jurídica” não se confundem: o primeiro determina em que posição o ente ingressa na relação jurídica; já o segundo define as conseqüências (potenciais) de um tal enquadramento; 
• Da mesma forma, a “capacidade jurídica” não se confunde com a “capacidade de fato” (de “agir” ou de “exercício”), que pode ser conceituada como a aptidão à “autogestão” (autodeterminação); e nem com a 
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“legitimação” – aptidão específica para a prática de certos atos da vida civil (v. g. alienação imobiliária na comunhão de bens); 
 § 4º. Os sujeitos da relação jurídica. 
• O conceito de sujeito de direito é de vital importância na teoria geral da relação jurídica: depois de um longo embate intelectual, se tem difundido cada vez mais a tese de que as relações jurídicas somente podem se estabelecer entre sujeitos de direito; tal premissa acaba tendo substanciais consequências práticas, dentre as quais podemos destacar: 
– o Direito é eminentemente social – e, portanto, não havendo pluralidade subjetiva tal instrumento se mostraria, pois, desnecessário; 
– toda relação jurídica (mesmo as de Direito das Coisas) envolve um vínculo entre pessoas (sujeito passivo universal) – e não um liame entre pessoas e coisas; 
– apenas os entes dotados da personalidade podem figurar como sujeitos em relações jurídicas – afastados, assim, os animais e as entidades místicas (v. g., almas e santos); 
– certas entidades de existência puramente intelectual seriam dotadas de personalidade por determinação do legislador (pessoas jurídicas) – relegando-se outras à posição de “entes despersonalizados” (espólio, massa falida, condomínio, sociedade irregular, etc.); 
 § 5º. Conceito de pessoa natural. 
• O art. 1º do CC/02 atribui a toda “pessoa” a titularidade de direitos e deveres na ordem civil; duas retificações foram promovidas em relação ao CC/16: usou-se o termo “pessoa” – em lugar de “homem” – e substituiu-se a expressão “obrigações” por uma outra mais abrangente (“deveres”); 
• A pessoa “natural” (“física”, de “existência visível” ou “individual”) se opõe à pessoa “jurídica” em senso estrito (de “existência ideal” ou “coletiva”); todavia, isso não obscurece o fato de que a pessoa natural não deixa de ser, também, uma pessoa jurídica – na acepção “genérica” do termo; 
• Assim, no quadro das pessoas, temos: 
– as pessoas naturais (físicas, de existência visível ou individuais); 
– as pessoas jurídicas (de existência ideal ou coletivas) – arts. 40 e ss. CC; e 
– os entes despersonalizados (a quem não se confere personalidade jurídica) – embora seja reconhecida aptidão especial para a atuação no mundo do Direito; 
 § 6º. Começo da personalidade natural. 
• O art. 2º do CC/02 estabelece que a personalidade jurídica somente se inicia com o nascimento: não se exigindo viabilidade (direitos francês e holandês), que tenha a forma humana (art. 30 do CC espanhol) ou que perdure durante certo tempo (24 horas conforme o citado art. 30 do CC espanhol), é indispensável, contudo, que tenha nascido – rompendo-se, assim, a unidade biológica mantida com a própria mãe; 
• Deve-se observar que a apuração do fato do nascimento é de suma importância para efeitos patrimoniais – aplicando-se, para a sua constatação, a “docimasia hidrostática de Galeno”; 
• A respeito do “nascituro” (já concebido mas ainda não nascido) – diferente do “concepturo” (ainda não concebido, v. g., art. 1799, I, CC) – três teorias acabaram se desenvolvendo: 
– a teoria “natalista” – a personalidade tem início somente com o nascimento; 
– a teoria “concepcionista” – a personalidade se inicia com a concepção (art. 7º do Código Civil argentino); e 
– a teoria da “personalidade condicional” – a personalidade se inicia com o nascimento, sendo o nascituro uma pessoa sujeita a condição suspensiva (apenas se vier a nascer); 
• A doutrina majoritária, no Brasil, defende a teoria “natalista” (que parece ser, ademais, a adotada pelo art. 2º do Código Civil); contudo, o nascituro é objeto de proteção, na medida em que se lhe resguardam: – o direito à vida (art. 5º CF); 
– o direito a uma adequada assistência pré-natal (art. 8º da Lei Fed.nº 8.069/90); 
– a aptidão a receber doação (art. 542 CC); 
– a aptidão a receber herança (art. 1798 CC); 
– a aptidão a ter sua paternidade reconhecida (art. 1609 CC); 
– o direito à curatela, em caso de morte do pai e incapacidade da gestante (art. 1779 CC); • Os tribunais brasileiros oscilaram entre as duas teorias prevalecentes (“natalista” e “concepcionista”); reconhecendo-se, contudo – antes mesmo do advento da Lei Fed. nº 11.804/08 – o direito do nascituro a alimentos indispensáveis a seu um nascimento digno (“alimentos gravídicos”); 
 § 7º. Das incapacidades: conceito e espécies. 
• Como já tivemos a oportunidade de destacar, os conceitos de “personalidade jurídica”, “capacidade jurídica de gozo” (“de direito”) e “capacidade de fato” (“de agir” ou “de exercício”) não se confundem; esta última está vinculada à disciplina das incapacidades desenvolvida entre os arts. 3º a 5º do Código Civil vigente; • Antes de mais nada, devem ser apartadas as categorias dos: 
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– “absolutamente” incapazes (art. 3º CC) – passíveis de “representação” e cujos atos estão sujeitos à “nulidade” (com efeitos “ex tunc”); 
– “relativamente” incapazes (art. 4º CC) – que podem praticar alguns atos por si próprios, noutros estando sujeitos à “assistência” que, inobservada, leva à “anulabilidade” do ato (com efeitos “ex nunc”); 
• São “absolutamente” incapazes, de conformidade com o art. 3º do CC: 
– os menores de 16 anos – ausente a maturidade necessária à “autogestão” patrimonial; – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem discernimento para a prática dos atos da vida civil – situações de insanidade mental permanente e duradoura, ensejadoras de “interdição” (inabilitação para a prática de atos “válidos” da vida civil); e 
– os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade – afastadas as inaptidões prolongadas; 
• A respeito da interdição, aliás, deve-se observar que a sentença que a promove é simultaneamentedeclaratória (da preexistente insanidade) e constitutiva (do estado jurídico de interdito); por isso, os atos praticados pelo interditado: 
– depois da sentença de interdição – que deverá ser registrada junto ao 1º Ofício de Registro Civil da comarca – serão “nulos” de pleno direito (sem a necessidade de nova análise do assunto); – antes da sentença de interdição, poderão ser declarados nulos, individualmente, mediante prova inequívoca – servindo o laudo produzido naquele processo como simples prova documental (e não pericial); 
• Note-se, ainda, que o direito brasileiro não admite os “intervalos lúcidos” quanto aos atos praticados pelo já interditado; e nem mesmo a senilidade é recebida pelo nosso sistema como uma causa viabilizadora – por si só – do comprometimento das faculdades mentais do sujeito; 
• Por sua vez, são “relativamente” incapazes, de acordo com o art. 4º do CC: 
– os maiores de 16 e menores de 18 anos: os quais não podem maliciosamente se prevalecer de sua incapacidade relativa (art. 180 CC) – podendo ser responsabilizados, subsidiária e limitadamente, pelos atos ilícitos que praticarem (arts. 928 c/c 932 CC); 
– os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido: sendo caso de incapacidade relativa apenas o comprometimento resultante do uso prolongado (por oposição à incapacidade absoluta do usuário eventual) – submetido o caso à apreciação do magistrado para que seja averiguada a intensidade de comprometimento (ensejador de incapacidade absoluta ou relativa); 
– os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo – como alguns casos de “Síndrome de Down”, autismos e certas formas de surdo-mudez; e 
– os pródigos: que poderão, em casos excepcionais, ser reconhecidos absolutamente incapazes – conquanto normalmente lhes seja suficiente a interdição “em seu próprio interesse” (que os priva tão somente da prática dos atos de disposição patrimonial); 
• Deve-se observar que os surdos-mudos serão submetidos a distintos tratamentos jurídicos, conforme a intensidade de seu contato com os demais sujeitos; podendo – de acordo com as circunstâncias – ser considerados “absolutamente” incapazes, “relativamente” incapazes, ou mesmo portadores de capacidade “plena”; 
 § 8º. A situação jurídica dos índios. 
• O Código Civil atual – em lugar do enquadramento dos “silvícolas” como relativamente incapazes – remete à legislação especial a disciplina dos atos civis levados a efeito pelos “índios”; a matéria, na atualidade, é regulada pela Lei Fed. nº 6001/73 (“Estatuto do Índio”) – subordinada, de todo modo, à disciplina constitucional afeta ao tema (arts. 22, XIV c/c 231 e 232 CF); 
• Tomado pelo “Estatuto do Índio”, genericamente, como um absolutamente incapaz, os negócios jurídicos praticados pelo indígena são, prima facie, nulos de pleno direito (se não houver a supervisão da Funai) – exceto se evidenciados consciência, conhecimento e ausência de prejuízo; 
• O indígena pode ser emancipado quando, cumulativamente, presentes: 
– idade mínima de 21 anos; 
– domínio da língua portuguesa; 
– habilitação para atividade que lhe garanta subsistência; 
– conhecimento dos usos e costumes ; e 
– ato administrativo liberatório (Funai) homologado judicialmente – ou liberação propriamente judicial (Justiça Federal); 
• Os índios podem ser classificados, de acordo com o grau de sua integração à comunidade nacional, em: – isolados; 
– em vias de integração; e 
– integrados – não se aplicando a estes as medidas protetivas estabelecidas pela legislação especial (incapacidades); 
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 § 9º. Modos de suprimento da incapacidade. 
• A incapacidade é suprida, no direito civil brasileiro, por meio de dois institutos: 
– a “representação” – quanto aos absolutamente incapazes (art. 3ºCC); e 
– a “assistência” – quanto aos relativamente incapazes (art. 4º CC); 
• Ainda que as funções de representante e de assistente possam ser exercidas, em momentos distintos, por uma mesma pessoa (o representante legal), os regimes jurídicos correspondentes são bastante distintos, pois, v. g.: – o negócio praticado por meio do representante leva “apenas” em conta a sua manifestação de vontade – enquanto que na assistência também o “assistido” acaba manifestando vontade (e participando do ato); 
– a ausência de representante leva à “nulidade” do negócio jurídico – enquanto a falta do assistente acarreta tão somente a “anulabilidade” da declaração de vontade; 
 § 10. Sistema de proteção aos incapazes. 
• Diversos são os mecanismos previstos na legislação civil para a proteção dos incapazes; além dos próprios institutos da “representação” e da “assistência”, podem ser referidos, v. g.: 
– a suspensão/impedimento da prescrição contra o absolutamente incapaz (art. 198, I CC); – a inexigibilidade do mútuo efetuado a menor (art. 588 CC) – ressalvadas as hipóteses previstas em lei (art. 589 CC); 
– a repetibilidade da dívida de jogo paga pelo menor (art. 814 CC); 
– a irrepetibilidade do pagamento efetuado a menor no contexto de uma obrigação anulada – excetuado em caso de proveito demonstrado pela outra parte (art. 181 CC); 
– a compulsoriedade da partilha judicial em caso de interesses de incapaz (art. 2015 CC); – a curatela especial em caso de conflito de interesses entre o menor e o titular do poder familiar (art. 1692 CC); 
– a anulabilidade do ato praticado em estado de conflito de interesses entre representante e representado (art. 119 CC); 
• Note-se que tal sistema protetivo brasileiro, contudo: 
– não comporta a “restitutio in integrum” (desfazimento da operação válida mas prejudicial ao incapaz); – não isenta o incapaz de responsabilidade por ato ilícito (art. 928 CC); e 
– nem resguarda o maior de 16 anos em caso de atuação maliciosa (art. 180 CC); 
 § 11. Cessação da incapacidade. 
• São causas de cessação da incapacidade, nos termos do art. 5º do CC: 
– a “maioridade” – quando atingidos os dezoito anos completos (art. 5º caput CC); e 
– a “emancipação” (art. 5º, parágrafo único CC), que pode ser, por sua vez: 
• voluntária – por concessão dos pais ou de um deles na falta do outro, sempre por meio de escritura pública e sem a necessidade de homologação judicial (art. 5º, parágrafo único, I CC); • legal – pelo casamento (inciso II); pelo emprego público efetivo (inciso III); pela colação de grau superior (inciso IV); pelo estabelecimento ou emprego que proporcionem ao maior de dezesseis anos economia própria (inciso V); 
• judicial – concedida pelo juiz, ouvido o tutor, ao maior de dezesseis anos; 
• Note-se que o critério para a constatação da maioridade é exclusivamente etário, com a presunção da capacidade em caso de dúvida; não se pode esquecer, todavia, que a capacidade civil não se confunde com a estabelecida por outros diplomas (v. g. penal, eleitoral, etc.); 
• A emancipação “voluntária” só pode ser conferida pelos pais que tiverem a titularidade e o exercício do “poder familiar”, não podendo servir de subterfúgio para os eximir da responsabilidade por atos do incapaz (art. 932 CC); ou mesmo do dever de lhe prestar os indispensáveis alimentos; 
• As emancipações voluntária e judicial devem ser “registradas” no 1º Ofício de Registro Civil da comarca; de maneira que – diferentemente das hipóteses de emancipação legal – não produzem efeito “ipso facto”; • O casamento nulo – salvo hipótese de “putatividade” (art. 1561 CC) – não proporciona a emancipação do relativamente incapaz; 
• Por fim, a economia própria do emancipando deve decorrer de suas atividades habituais: descabendo a emancipação legal, pois, do favorecido por sucessão “causa mortis”; e daquele que não está vinculado a uma relação de emprego circundada dos elementos previstos pelo art. 3º CLT; 
 § 12. Extinção da personalidade natural: modos de extinção. 
• De conformidade com o art. 6º CC, a extinção da personalidade natural se dá com a morte; a qual, doutrinariamente, pode ser classificada em: 
– real(art. 6º CC); 
– presumida (art. 7º CC); 
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– simultânea – ou comoriência (art. 8º CC); e 
– civil (art. 1816 CC); 
• A morte “real” há de ser provada, em regra, por meio de “certidão de óbito”; todavia, excepcionalmente, pode ser utilizada a “justificação de óbito” (art. 88 da Lei Fed. nº 6015/73) ou a “ação declaratória de morte presumida sem decretação de ausência” (art. 7º CC); 
• “Comoriência” é o perecimento simultâneo – sem a possibilidade de se determinar quem sobreviveu a quem – de sujeitos que tenham relação “sucessória” entre si (ainda que falecidos em locais distintos); • A morte “civil” é instituto típico de sistemas jurídicos mais antigos; atualmente, sua admissão no direito civil só se dá de maneira indireta e incidental, tal como se verifica com aquele que fora excluído da sucessão, por indignidade (art. 1816 CC); 
• A morte “presumida” é admitida pelo Código Civil com ou sem a decretação de ausência; no primeiro caso, é tida por ocorrida com a abertura da sucessão definitiva (arts. 6º c/c 1571, § 1º CC); no segundo caso, sem a etapa intermediária do reconhecimento da ausência (art. 7º CC); 
 § 13. Individualização da pessoa natural: modos de individualização. 
• A individualização da pessoa se dá por meio: 
– do “nome”; 
– do “estado”; 
– do “domicílio”; 
• O nome é a designação pela qual a pessoa é identificada no seio social; é dotado de dois aspectos distintos: – o aspecto “público”, voltado à individualização da pessoa; donde a proibição genérica de sua alteração – ressalvadas as permissões legais (arts. 55 e 58 da Lei Fed. nº 6015/73); e 
– o aspecto “individual” (ou “privado”), por força do qual se o concebe como um aspecto da personalidade, passível de defesa ante terceiros (v. g., na “ação de contestação”); 
• Quanto à natureza jurídica, diversas teorias foram concebidas – v. g. propriedade, propriedade sui generis, negativista, signo distintivo – prevalecendo a que nele entrevê um aspecto da personalidade do titular; • Note-se que a tutela deferida ao nome (arts. 16 e seguintes CC) estende-se ao pseudônimo (e aos heterônimos); • A respeito dos elementos que integram o nome, devem ser diferenciados: 
– o “prenome” (ou nome de batismo); 
– o “sobrenome” (apelido de família ou patronímico); 
– o “agnome” (elemento diferenciador dentro do seio familiar); 
– o “axiônimo” (formas de tratamento); 
– os “títulos” (de nobreza, acadêmicos ou eclesiásticos) e as “qualificações” de dignidade oficial; – a “alcunha” ou “epíteto” (apelido depreciativo); 
– o “cognome” (designação qualificativa); 
– o “hipocorístico” (designação típica da intimidade familiar); 
• Por força dos arts. 59 e 60 da Lei Fed. nº 6015/73 não pode o nome do pai ser lançado em registro civil sem sua autorização; contudo, o Oficial de Registro Civil remeterá ao juiz os dados sobre o suposto pai (fornecidos pela própria mãe) para que este, convocado pelo magistrado, reconheça a criança voluntariamente – ou seja demandado em “ação investigatória”; 
• O “prenome” é imutável, em regra, à vista de seu aspecto público – salvo exceções expressamente previstas em lei, notadamente quando esdrúxulo (art. 55 da Lei Fed. nº 6015/73); note-se que o art. 58 da Lei de Registros Públicos permite a alteração do nome para a inclusão (ou substituição) dos “apelidos públicos notórios”; 
• A “retificação” do nome em caso de evidente erro gráfico é promovida junto ao próprio Oficial (art. 110 da Lei de Registros Públicos); 
• A jurisprudência tem admitido a alteração do prenome sempre que expuser seu titular a “constrangimento” (ou quando houver intolerável distanciamento em relação ao prenome de uso); em caso de adoção, adotando ou adotado podem buscar também a alteração do prenome (o mesmo se aplicando ao “prenome” de estrangeiros radicados no país); 
• Durante o primeiro ano após o atingimento da maioridade (art. 56 da Lei de Registros Públicos) pode o interessado buscar, administrativamente, a modificação de seu prenome; após o decurso desse prazo (decadencial), a alteração será sempre judicial, motivada e excepcional (art. 57); 
• A mudança no patronímico também é excepcional – só se justificando pelo casamento, pela exclusão motivada do nome paterno ou pela inclusão do apelido de família do padrasto ou da madrasta (art. 57, § 8º); • Além das hipóteses já mencionadas, o nome também pode ser alterado nos casos de: – separação judicial; 
– divórcio – com a manutenção excepcional prevista no art. 1578 CC; 
– reconhecimento – superveniente – de filho; 
– união estável – somente se houver impedimento para o casamento (art. 57, § 2º da Lei de Registros Públicos); 
– transexualismo (Enunciado nº 276 da IV Jornada de Direito Civil); 
• O estado (conjunto de predicados da personalidade) pode ser: 
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– individual (ou físico) – relacionado a idade, sexo, cor, altura, saúde, etc.; 
– familiar – relacionado ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado), à união estável (companheiro) e ao parentesco (pai, filho, irmão, sogro, cunhado, etc.); 
– político – nacional (nato ou naturalizado) ou estrangeiro – sendo de se diferenciar os conceitos de nacional (titular da nacionalidade brasileira) e de cidadão (titular de direitos políticos); 
• Note-se que o estado é dotado de certas características, tais como ser: 
– uno (e indivisível) – ressalvada a cumulação da nacionalidade de origem; 
– indisponível; e 
– imprescritível – sendo tutelado, a qualquer tempo, por meio das “ações de estado”; • Por fim, domicílio é a “sede jurídica” da pessoa, não se confundindo com a “residência” (que é um de seus elementos) e nem com a “morada” ou “habitação” (que é desprovida de permanência); é composto, pois, por dois elementos, nos termos do art. 70 do CC: 
– o “objetivo” – residência (estabelecimento material duradouro); e 
– o “subjetivo” – o ânimo definitivo (a intenção de ali estabelecer o centro de atuação jurídica); • Ao contrário do Código Civil de 1916 (que previa a unidade domiciliar), o Código vigente admite a “pluralidade domiciliar” (art. 71 CC) – e, inclusive, aquele(s) estabelecido(s) apenas para efeitos “profissionais” (art. 72 CC); • É chamado “domicílio ocasional” o centro de atuação daquele que não tenha residência habitual (art. 73 CC) – correspondendo, para efeitos práticos, ao local em que puder ser encontrado; 
• A “perda” do domicílio não decorre, pois, de sua simples mudança física; em consonância com os dois elementos que o informam, somente se evidencia quando houver a “intenção manifesta” de o alterar (art. 74 CC); 
• Quanto às “espécies”, o domicílio pode ser: 
– voluntário: 
• geral (escolhido livremente); 
• especial (de eleição) – para o cumprimento de certo negócio jurídico (art. 78 CC); 
– necessário (ou legal): determinado por lei (por força da condição ou situação de certas pessoas) – tal como o fazem os arts. 76 (incapaz, preso, marítimo, militar e servidor público) e 77 (agente diplomático) do Código Civil; 
• O domicílio da pessoa jurídica é o local de sua “sede” (art. 75 CC); assim: 
– o domicílio da União é o Distrito Federal; 
– o domicílio dos Estados e Territórios são as respectivas capitais; 
– o domicílio dos Municípios é a sede da administração; e 
– o domicílio das demais pessoas jurídicas é o local em que estão concentradas sua direção e administração – salvo disposição estatutária diversa; 
• No que toca à pessoa jurídica com plúrimos domicílios, será domicílio cada um dos locais em que desenvolve as suas atividades, para os efeitos da atuação ali conduzida (art. 75, § 1º CC); o que se observa, inclusive, em caso de atividades de pessoas estrangeiras atuantes em território nacional (§ 2º); 
 § 14. Atos de registro civil. 
• Finalmente, de conformidade com o disposto nos artigos 9º e 10 do Código Civil brasileiro, serão: – registrados: 
• os nascimentos, casamentos e óbitos; 
• a emancipação (voluntária ou judicial); 
• a interdição; 
• as sentenças declaratórias de ausência e morte presumida; e 
– averbados(anotados à margem do registro): 
• a sentença de nulidade ou anulação de casamento, separação, divórcio e restabelecimento da sociedade conjugal; e 
• os atos (judiciais ou extrajudiciais) de declaração ou reconhecimento de filiação; 
• Note-se que a averbação da “adoção” – prevista originalmente como inciso III do art. 10 do CC – foi suprimida pela Lei Fed. nº 12.010/09; 
• Observe-se que tais atos serão registrados/averbados perante o Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais – integrante do sistema de registros públicos instituído pela Lei Fed. nº 6015/73 (ao lado do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, do Registro de Títulos e Documentos e do Registro de Imóveis) – ou por quem lhe faça as vezes (v. g. as autoridades consulares e os comandantes de embarcações ou aeronaves); 
Aula 06 – Das pessoas naturais: Dos direitos da personalidade. 
 Legislação envolvida: arts. 11 a 21 do Código Civil. 
• art. 11: direitos de personalidade e características; 
• art. 12: tutela (efetiva e inibitória) dos direitos de personalidade; 
• art. 13: disposição do próprio corpo (em vida); 
• art. 14: disposição do próprio corpo (para depois da morte); 
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• art. 15: tratamento ou cirurgia com risco de vida; 
• art. 16: direito ao nome; 
• art. 17: emprego do nome alheio em situação vexatória; 
• art. 18: utilização do nome alheio em propaganda comercial; 
• art. 19: pseudônimo; 
• art. 20: direito à própria imagem; 
• art. 21: direito à vida privada; 
 § 1º. Conceito. 
• Os direitos de personalidade correspondem a direitos subjetivos inerentes à própria pessoa humana (sendo a ela vinculados, portanto, de maneira definitiva); podem recair sobre três categoriais fundamentais, vale dizer: – a integridade “física” – v. g. direito à vida, direito a alimentos, direito ao próprio corpo, direito ao cadáver, direito às partes separadas do próprio corpo, etc.; 
– a integridade “intelectual” – v. g. liberdade de pensamento, direito à criação intelectual (artística ou industrial), etc.; e 
– a integridade “moral” – v. g. direito à honra, direito ao segredo, direito ao recato, direito à identidade (pessoal, familiar e social), etc.; 
• Ao contrário do que pode sugerir a análise dos arts. 11 a 21 do Código Civil, não se trata de categoria plenamente desenvolvida; ali apenas estão apontados “alguns” direitos de personalidade, intimamente vinculados ao paulatino processo histórico de afirmação dos direitos fundamentais – que encontra consagração inicial na jurisprudência e na Constituição de 1988; 
• Ainda que usualmente designados por meio de outras expressões (v. g. direitos personalíssimos, direitos fundamentais da pessoa, direitos subjetivos essenciais, direitos sobre a própria pessoa, etc.), prevalece a designação “direitos da personalidade”; 
 § 2º. Fundamentos dos direitos da personalidade. 
• Os direitos da personalidade correspondem a um fértil campo para o embate entre as teorias “normativistas” e “jusracionalistas”: 
– os partidários do Direito Natural defendem, por um lado, a existência de direitos “inatos” (ao lado de outros que decorreriam de uma concessão estatal); 
– já os adeptos do positivismo jurídico afirmam que “todos” e quaisquer direitos subjetivos só encontram sustentáculo em uma previsão levada a efeito pelo legislador (tendo uma consistência meramente jurídico-normativa); 
• Vale dizer que esse esquema de raciocínio é profundamente dependente, pois, da concepção de “contrato social” adotada pelo estudioso: enquanto o modelo “hobbesiano” propende para o paradigma positivista (com a restituição de certas liberdades a critério do Estado), os esquemas “lockeanos” se inclinam pelo reconhecimento de certas prerrogativas que jamais são transferidas ao Estado (sendo retidas pelo particular ao aderir ao contrato social); 
 § 3º. Características dos direitos da personalidade. 
• Podem ser apresentadas como características dos direitos de personalidade as suas: – intransmissibilidade: “inter vivos” ou “causa mortis”, por meio de quaisquer fatos ou negócios jurídicos – ressalvadas as exceções expressamente contempladas em lei (v. g. arts. 12 e 20 do Código Civil e art. 24 da Lei Fed. nº 9.610/98); 
– irrenunciabilidade: não são passíveis de afastamento total – inclusive voluntário – da esfera jurídica de seu legítimo titular; contudo, admitem limitações voluntárias, ao contrário do que diz o art. 11 CC (interpretação restritiva); 
– indisponibilidade: não podem ser objeto de negócio jurídico que implique em restrição quanto ao seu alcance – salvo quando a lei o permitir (arts. 13 e 14 do CC); 
– oponibilidade ‘erga omnes’: os direitos de personalidade podem ser opostos a quem quer que seja; – ilimitação: os arts. 11 a 21 do Código Civil compõem um rol meramente exemplificativo, que pode ser ampliado – principalmente à custa de inovações científicas que ampliem os aspectos da personalidade potencialmente relevantes ao Direito; 
– imprescritibilidade: o não exercício de certo direito de personalidade não implica em sua perda (em virtude da inércia de seu titular) – ainda que tal fenômeno possa atingir o “direito à indenização” (relacionado a uma sua violação); 
– impenhorabilidade: não podem ser objeto de agressão (penhora) no curso de uma execução contra o seu titular – ainda que o possam os aspectos econômicos que lhe são comumente atrelados (v. g. os direitos patrimoniais de autor , “ex vi” do art. 28 da Lei Fed. nº 9.610/98); 
– inexpropriabilidade: por se vincularem à pessoa humana de modo indestacável, não podem ser objeto de desapropriação – conquanto seja admissível a expropriação de seus aspectos econômicos (v. g. direitos patrimoniais de autor); 
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– vitaliciedade: estendem-se, temporalmente, até o momento da morte de seu titular – sendo atribuída a pretensão à sua tutela aos sucessores do defunto (v. g. arts. 12 e 20 do Código Civil e art. 24 da Lei Fed. nº 9.610/98); 
 § 4º. Disciplina no Código Civil. 
• Em lugar de uma minuciosa disciplina, o Código Civil de 2002 preferiu enumerar os diversos direitos de personalidade em um rol meramente “exemplificativo”; daí se pode concluir que a “pauta” produzida pelo legislador, em lugar de um modelo exauriente, propendeu – metodologicamente – à adoção de um sistema aberto, caracterizado por uma “atividade criativa” do Poder Judiciário; 
• À vista da diversidade de seu respectivo objeto, os direitos de personalidade se caracterizam por uma tutela bastante contundente (art. 5º, XXXV da CF), incompatível com o paradigma tradicionalmente adotado pelo Direito Civil (ultrapassando-se, assim, o usual modelo “repressivo”); nesse cenário, ganham corpo a tutela “preventiva” (v. g. a tutela “inibitória”, “ex vi” do art. 12 do Código Civil) e as medidas processuais de natureza antecipatória (arts. 273 e 461 do Código de Processo Civil); 
• O direito à integridade física é tutelado pelos arts. 13 e 14 do Código Civil, resguardadores do direito ao “próprio corpo” (vivo ou morto) – inteiro e em suas diversas partes integrantes (originais e incorporadas); • Note-se que é admitida pelo direito brasileiro a “doação” (disposição gratuita) de órgãos e tecidos, desde que: – não implique em deformação ou mutilação inaceitável; 
– seja a todo tempo revogável e revestida pelo princípio do “consenso afirmativo”; e 
– não envolva qualquer espécie de contrapartida, mesmo que indireta – por não ser admitida a sua “comercialização”; 
• Note-se que a ablação de órgãos genitais – nos processos de “transgenitalização” – é objeto de acesa polêmica: havendo tendência à sua admissão quando implique em adequação física ao “sexo psicológico” do paciente (cf. Enunciado nº 276 da IV Jornada de Direito Civil); 
• Como desdobramento dos deveres de “transparência” e de “informação”, o art. 15 do CC veda a realização de “tratamento médico de risco” sem o prévio e expresso consentimento do paciente; caso esteja inconsciente, deverá ser colhido – quando possível – junto aos seu entes mais próximos (ascendentes,descendentes, cônjuge, companheiro e irmãos); 
• Caso seja impossível obter o consentimento necessário à intervenção (v. g. transfusão de sangue), o procedimento deverá ser adotado – à vista da prevalência constitucional do “direito à vida” (em uma aplicação da técnica da “ponderação” dos bens e valores envolvidos); 
• Por sua vez, o direito ao nome é tutelado pelos arts. 16 a 19 CC; ainda que indisponível enquanto direito da personalidade, pode ser objeto de disposição voluntária – v. g. licenciamento – no que toca ao seu aspecto patrimonial; 
• O art. 20 do Código Civil veda a utilização da imagem, da palavra e de escritos alheios, sempre que tal emprego não se lastreie em autorização, administração da justiça ou manutenção da ordem pública – e acabe redundando em prejuízo à honra, à boa fama ou à respeitabilidade do retratado (ou esteja voltado, ainda, a fins comerciais); 
• Neste caso, a pretensão à abstenção pode ser manejada pelo próprio prejudicado ou por seus entes mais próximos (cônjuge e parentes em linha reta), na forma estabelecida pelo parágrafo único do art. 19 CC; • Observe-se que tal tutela se volta à “imagem-atributo” e à “imagem-retrato” – sendo que esta pode ser objeto de restrição voluntária, com efeitos meramente patrimoniais; 
• A tutela à “vida privada” (art. 21 CC) abrange também a “intimidade” – tudo como uma forma de preservação do “genérico” direito ao “segredo”; 
Aula 07 – Da ausência. 
 Legislação envolvida: arts. 22 a 39 do Código Civil. 
• art. 22: curadoria dos bens do ausente (sem representação); 
• art. 23: curadoria dos bens do ausente (com representação); 
• art. 24: nomeação do curador e fixação de seus poderes; 
• art. 25: curador (ordem de vocação); 
• art. 26: sucessão provisória; 
• art. 27: interessados na abertura da sucessão provisória; 
• art. 28: sentença que determina a abertura da sucessão provisória; 
• art. 29: conversão dos bens (com o fito de os preservar); 
• art. 30: imissão na posse dos bens (garantias); 
• art. 31: alienação dos imóveis do ausente; 
• art. 32: sub-rogação pessoal dos sucessores do ausente; 
• art. 33: frutos (e capitalização) dos bens sucedidos; 
• art. 34: “excluído” da posse dos bens sucedidos (frutos); 
• art. 35: comprovação superveniente da data da morte do ausente; 
• art. 36: retorno do ausente; 
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• art. 37: abertura da sucessão definitiva; 
• art. 38: sucessão definitiva do ausente com mais de 80 anos; 
• art. 39: retorno do ausente após abertura da sucessão definitiva. 
 § 1º. Introdução. 
• A ausência, no âmbito do Código Civil de 1916, foi disciplinada em meio ao “Direito de Família” – sendo considerada, à vista de seu art. 5º, IV, uma hipótese de incapacidade absoluta (ensejadora da “nulidade” dos atos praticados pelo ausente); 
• Na forma do art. 22 do CC (c/c arts. 1159 e 1160 CPC), a ausência será declarada caso se constate: a) desaparecimento de uma pessoa de seu domicílio (sem dela haver qualquer notícia); e b) inexistência de representante apto a gerir os interesses do desaparecido (por não haver incumbência, aceitação, ato de outorga de poderes ou outorga suficiente); 
• Na ausência plúrimos interesses se conjugam (e se contrabalançam ao longo de suas sucessivas fases): de um lado, a tutela ao patrimônio do desaparecido; de outro, a preservação dos interesses de seus respectivos sucessores (ou titulares de direitos dependentes da morte daquele); 
• Três são as fases em que se divide o procedimento relacionado à arrecadação, custódia e distribuição dos bens pertencentes ao desaparecido: 
a) curadoria dos bens do ausente (arts. 22 a 25 do Código Civil); 
b) sucessão provisória (arts. 26 a 36 do Código Civil); e 
c) sucessão definitiva (arts. 37 a 39 do Código Civil); 
• A disciplina da ausência está estabelecida no Código Civil (arts. 22 a 39), conjugada com os arts. 1159 a 1169 do Código de Processo Civil (Lei Fed. nº 5869, de 11 de janeiro de 1973); 
 § 2º. Da curadoria dos bens do ausente. 
• A “curadoria dos bens do ausente” corresponde à primeira etapa do procedimento a que faz alusão o art. 22 do CC: a preocupação principal do legislador, nesta etapa, é a de preservar os bens do desaparecido, a fim de que possam ser retomados – sem prejuízo – em caso de reaparecimento; 
• Diferentemente do que fazia o legislador civil de 1916, o Código Civil atual prevê duas “declarações” de ausência: uma primeira, durante a etapa da “curadoria dos bens do ausente” (art. 22 CC); e outra com a abertura da “sucessão provisória” (art. 26 CC); 
• As “cautelas materiais” são previstas não apenas para o desparecimento “sem” a constituição de representante apto à administração dos interesses do desaparecido – aplicando-se, também, quando aquele não “quiser”, não “puder” ou não “tiver” poderes suficientes para a respectiva gestão (art. 23 CC); 
• Deve-se observar que os poderes atribuídos ao curador serão definidos pelo próprio magistrado, “conforme as circunstâncias” – com a liberdade prevista no art. 24 do Código Civil (ainda que orientada pela disciplina legal afeta à tutela e à curatela); 
• Conforme o art. 25 do CC, o “cônjuge” – “companheiro” (“ex vi” do art. 226, § 3º da CF) – do desaparecido é o seu natural curador; em caso de impossibilidade ou impedimento (“falta”), a curadoria será deferida – na ordem – aos ascendentes e aos descendentes (dentre os quais os mais próximos excluem os mais remotos); 
• Caso não se encontrem vocacionados naturais à curadoria (por inexistência ou impedimento), o magistrado recrutará o curador (judicial) dentre pessoas de sua confiança aptas ao exercício da administração de bens alheios (art. 25, § 3º CC); 
• A “curadoria dos bens do ausente” se encerra (art. 1162 CPC): 
a) pelo “reaparecimento” do titular do patrimônio, que recobra a gestão de seus bens; b) pela certeza da morte do sujeito, com a aplicação das regras atinentes ao “Direito das Sucessões” (Livro V da Parte Especial do Código Civil); ou 
c) pela abertura da “sucessão provisória”, caso ainda penda incerteza quanto à pessoa do desaparecido; • Note-se que durante o período da curadoria dos bens do ausente serão publicados editais, a cada dois meses, convocando o desaparecido a reassumir a gestão de seus bens – na forma estatuída pelo art. 1161 do Código de Processo Civil; 
 § 3º. Da sucessão provisória. 
• A “sucessão provisória” corresponde à segunda etapa do procedimento a que faz alusão o art. 22 do CC; nesta fase – diante do “relativo equilíbrio” entre a as probabilidades de vida e de morte do desaparecido – a preocupação do legislador está em viabilizar a distribuição de seus bens entre seus sucessores – sempre tomada em consideração, contudo, a possibilidade de regresso do titular (com a retomada de seu patrimônio); 
• A abertura da sucessão provisória se dará 1 (um) ano após a arrecadação de seus respectivos bens (e publicação do primeiro edital) – ou 3 (três) anos em caso de eficiente representação (art. 26 CC c/c art. 1163 CPC) – observadas as seguintes prescrições legais: 
– a sucessão provisória somente “poderá” ser requerida (nos termos do disposto junto ao art. 27 do CC c/c art. 1164 do CPC): a) pelo cônjuge não separado do desaparecido; b) pelos sucessores presumidos; 
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c) pelo titular de direito dependente da morte do desaparecido; ou d) pelos credores de dívidas já vencidas (e não pagas); 
– proferida regular sentença, esta habilita os interessados – desde que transitada em julgado – a proceder a abertura de testamento, o inventário e a partilha dos bens deixados pelo desaparecido (efeito processual); sem que isto implique em produção de efeitos “materiais”, os quais ficarão sobrestados durante os 180 (cento e oitenta dias) posteriores à publicação daquela (art. 28 CC c/c art. 1165 CPC); 
– note-se que em caso de inércia dos interessados, a sucessão provisória será requerida pelo Ministério Público (art. 28, § 1º CC) – aplicando-se a disciplina da herança jacente (e da herança vacante) caso não surjam interessados

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