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FUNDAMENTOS E PRÁTICA DO ENSINO 
DA LÍNGUA PORTUGUESA 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. ORTOGRAFIA ........................................................................................................ 4 
1.1 Período Fonético ................................................................................................... 4 
1.2 Período Pseudoetimológico: .................................................................................. 5 
1.3 Período Reformista (ou Histórico-Científico): ........................................................ 6 
1.4 Vocabulário ortográfico comum — VOC (2016) .................................................. 12 
2 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA: POR QUÊ E 
PARA QUÊ? ............................................................................................................. 16 
3 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO: O QUE MUDOU, AFINAL? ....................... 21 
3.1 Eixo I – Alfabeto .................................................................................................. 23 
3.2 Acentuação gráfica .............................................................................................. 24 
3.3 O hífen................................................................................................................. 26 
4. UNIDADES MORFOLÓGICAS E ESTRUTURA INTERNA DAS PALAVRAS ..... 31 
4.1 Morfemas da língua portuguesa ......................................................................... 33 
4.2 Os tipos de morfema: radical e afixos ................................................................ 34 
4.3 Vogal temática: o tema ........................................................................................ 34 
4.4 Morfemas livres e presos .................................................................................. 36 
5. SISTEMA DE GRAFIA .......................................................................................... 39 
6 COMPONENTES DA ESTRUTURA INTERNA DA SÍLABA E SEUS MODELOS DE 
COMPOSIÇÃO ........................................................................................................... 0 
6.1 Tonicidade ............................................................................................................. 5 
7 CONSTRUÇÃO DOS PADRÕES ENTOACIONAIS E PARALINGUÍSTICOS A 
PARTIR DO CONTORNO MELÓDICO E DAS CARACTERÍSTICAS 
SUPRASSEGMENTAIS .............................................................................................. 9 
8. ENCONTROS CONSONANTAIS ......................................................................... 15 
8.1 Encontros vocálicos ............................................................................................ 17 
 
 
 
8.2 Hiato .................................................................................................................... 19 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. ORTOGRAFIA 
Nos estudos linguísticos da língua portuguesa, especialmente nos seus 
primeiros estágios (durante o século XVI), a ortografia foi um tópico de grande 
destaque. Nos séculos subsequentes, desenvolveu-se uma longa tradição filológica e 
gramatical na qual a ortografia sempre desempenhou um papel significativo. No 
entanto, na virada do século XIX para o século XX, o foco passou a ser principalmente 
o desejo de estabelecer alguma convenção que pudesse padronizar o uso da língua 
escrita. A partir desse momento, uma série de capítulos se sucedeu, alguns deles 
tumultuados, na busca por uma ortografia unificada. 
De acordo com Tavali (1987), costuma-se dividir a história da ortografia 
portuguesa em três períodos: 
1.1 Período Fonético 
Segundo o auto, este período coincide com a fase arcaica da língua. Estende-
se desde aproximadamente 1196 (data provável da primeira cantiga de maldizer 
escrita por João Soares de Paiva contra o rei de Navarra, que é o primeiro texto datado 
e escrito em língua portuguesa) até o final do século XV. 
O período fonético da ortografia da língua portuguesa se caracteriza pela falta 
de preocupação em escrever palavras de acordo com sua origem etimológica, 
priorizando exclusivamente a representação da maneira como eram pronunciadas. No 
entanto, devido à ausência de sistematização e coerência, o mesmo símbolo gráfico 
poderia ser utilizado com diferentes e por vezes contraditórios valores, às vezes até 
dentro do mesmo texto. 
Melo (1945), cita o exemplo da letra "h" podia indicar a tonicidade da vogal 
(como em "he" para "é"), marcar a existência de um hiato (como em "trahedor" para 
"traidor"), representar o fonema /i/ (como em "sabha" para "sabia") ou ainda ser usada 
sem uma função clara (como em "hua" para "uma" ou "hidade" para "idade"). Além 
disso, a grafia de uma palavra poderia variar dependendo dos hábitos do escriba, 
resultando em diferentes formas como "havia" e "avia", "hoje" e "oje", "homem", 
"omem" ou "ome". 
 
 
 
Apesar dessas variações e indecisões, o que caracterizava a escrita do 
português arcaico era a simplicidade e, acima de tudo, a ênfase na representação 
fonética das palavras. 
1.2 Período Pseudoetimológico: 
Conforme Monteiro (2009), este período teve início no Renascimento. Começa 
em 1489 (data do primeiro documento impresso em língua portuguesa, o Tratado de 
Confissom), que já mostra as características que predominariam a partir do século 
XVI) e perdurou até os primeiros anos do século XX. 
O período pseudoetimológico da ortografia da língua portuguesa foi marcado 
pela influência dos estudos humanísticos, que trouxeram consigo o eruditismo e a 
aspiração de imitar os clássicos latinos e gregos. Como consequência natural desse 
movimento, houve uma tentativa de aproximar a ortografia portuguesa da ortografia 
latina. 
Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, uma quantidade significativa de estudos 
foi dedicada a esse tema. No entanto, os conhecimentos linguísticos dos autores da 
época, como aponta Coutinho (2004), Duarte Nunes de Leão, Álvaro Ferreira de Vera, 
João Franco Barreto, Madureira Feijó, Luís do Monte Carmelo, entre outros, não eram 
particularmente sólidos. Eles propuseram uma ortografia pretensiosa e repleta de 
complicações desnecessárias, que ia contra os princípios de evolução da língua. 
Um exemplo notável desse período foi a transcrição de palavras de origem 
grega, que se tornou um campo fértil para demonstrações eruditas. Foram 
introduzidas letras como PH (em "philosophia", "nympha", "typho"), TH (em "theatro", 
"Athenas", "estheta"), RH (em "rhombo", "rheumatismo"), CH com som de [k] (em 
"chimica", "cherubim", "technico"), e Y (em "martyr", "pyramide", "hydrophobia") na 
escrita portuguesa. Além disso, houve uma tendência à duplicação de consoantes 
intervocálicas(como em "approximar", "abbade", "gatto", "bocca", etc.), que já haviam 
sido reduzidas na evolução da língua (COUTINHO, 2004). 
Apesar de ser justificada como etimológica, essa ortografia estava repleta de 
formas equivocadas, que contradiziam tanto a etimologia quanto a evolução natural 
da língua. 
 
 
 
1.3 Período Reformista (ou Histórico-Científico): 
De a cordo com Aguiar (2007), este período começou com a adoção da 
chamada "nova ortografia". Inicia-se em 1904, ano da publicação de "Ortografia 
Nacional" de Gonçalves Viana e representa uma fase em que foram realizadas 
reformas ortográficas com base em critérios históricos e científicos para padronizar a 
língua portuguesa. 
Na história da ortografia portuguesa, Adolfo Coelho (1872), é considerado o 
pioneiro dos estudos baseados em princípios científicos. A partir de 1868, graças aos 
seus trabalhos, foi possível desenvolver uma nova perspectiva sobre o assunto. No 
entanto, o grande impulsionador da reforma ortográfica foi Aniceto do Reis Gonçalves 
Viana, que em 1904 publicou a "Ortografia Nacional", um marco fundamental para 
todos os passos subsequentes. 
Os princípios de Viana (1904), originalmente propostos em 1885, incluíam: 
 
➢ A proibição absoluta e incondicional do uso de todos os símbolos de origem 
grega, como th, ph, ch (com som de [k]), rh e y. 
➢ A redução das consoantes dobradas para a forma simples, com exceção 
de rr e ss em posição medial, que mantiveram valores específicos. 
➢ A eliminação de consoantes mudas que não afetassem a pronúncia da 
vogal anterior. 
➢ A regularização da acentuação gráfica. 
 
De acordo com Aguiar (2007), a repercussão dessas propostas levou o governo 
português a nomear uma Comissão em 1911 para estudar as bases de uma reforma 
ortográfica. Essa comissão contou com a participação de renomados filólogos 
portugueses, como José Leite de Vasconcelos, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, 
Adolfo Coelho, Epifânio Dias, Júlio Moreira, José Joaquim Nunes e outros. Eles 
recomendaram a adoção do sistema de Gonçalves Viana, com pequenas 
modificações. 
 De acordo com Henriques (2009), em 1911, o governo português oficializou a 
"nova ortografia", que foi estendida ao Brasil em 1931 por meio de um Acordo firmado 
 
 
 
entre a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, com a 
aprovação de ambos os governos. Na comissão de unificação e contribuindo para 
essa padronização estavam renomados filólogos brasileiros, incluindo Antenor 
Nascentes, Jacques Raimundo, Mário Barreto, Silva Ramos e Sousa da Silveira. 
No entanto, o contexto político brasileiro da época não permitiu que o Acordo 
permanecesse em vigor por muito tempo. A década de 1930 foi marcada pela primeira 
presidência de Getúlio Vargas, que assumiu o poder em 1930 após liderar a 
Revolução que depôs o presidente Washington Luís. Seus quinze anos de governo 
foram caracterizados pelo nacionalismo e populismo, e durante seu regime foi 
promulgada a Constituição de 1934, que determinou o retorno ao sistema ortográfico 
anterior. 
Em 1943, um novo entendimento entre os dois países resultou na Convenção 
Luso-Brasileira, que revigorou o Acordo de 1931. Dois anos depois, para esclarecer 
pequenas divergências na interpretação de algumas regras, os delegados das duas 
Academias reuniram-se em Lisboa, de julho a outubro de 1945. Desse terceiro 
encontro surgiram as "Conclusões Complementares do Acordo de 1931", que 
introduziram tantas modificações que quase equivaliam a uma nova reforma. Essas 
"Conclusões" geraram protestos veementes de respeitados professores brasileiros, 
como Clóvis Monteiro e Júlio Nogueira, e provocaram uma divisão na questão 
ortográfica do português. 
A "ortografia de 1945" entrou em vigor em Portugal em 1º de janeiro de 1946, 
mas nunca foi adotada no Brasil, onde continuou em uso a "ortografia de 1943", 
estabelecida no PVOLP (Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 
Imprensa Nacional, 1943) pela Academia Brasileira de Letras. 
No final de 1971, o Congresso Nacional brasileiro aprovou pequenas alterações 
nas regras de acentuação gráfica, seguindo o parecer conjunto da Academia 
Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, de acordo com o artigo III 
da Convenção Ortográfica celebrada em 29 de dezembro de 1943 entre Brasil e 
Portugal. 
A Lei 5.765, sancionada em 18 de dezembro de 1971 pelo Presidente da 
República, introduziu simplificações nas regras ortográficas, que foram as seguintes: 
 
 
 
 
➢ Abolir os acentos diferenciais nas vogais Ê e Ô dos homógrafos, com exceção 
de "pôde" e "pode" (exemplos: dôce, côrte, êsse, pilôto). 
➢ Abolir as indicações de acento secundário nas palavras derivadas com o 
sufixo -mente ou sufixo iniciado por -z (exemplos: sòmente, cômodamente, 
cafèzal, pèzinho). 
➢ Abolir o trema, que era usado facultativamente para indicar hiatos verdadeiros 
(exemplos: moïnho, gaüchismo) ou criados por razões poéticas (exemplos: 
maïsena, loüvação). 
De acordo com essa Lei, os membros da Academia Brasileira de Letras (ABL) 
ficariam responsáveis por preparar a atualização do Vocabulário Comum, a 
organização do Vocabulário Onomástico e a republicação do Pequeno Vocabulário 
Ortográfico da Língua Portuguesa. Em 1981, a ABL cumpriu a primeira tarefa ao 
publicar o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Em 1999, a 
Academia concluiu as tarefas restantes e reeditou o VOLP. 
Entre 1986 e 1990, representantes de sete nações de língua portuguesa, 
incluindo Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São 
Tomé e Príncipe, se reuniram em Salvador e firmaram um acordo inicial que abordava 
diversos aspectos da ortografia, além da simples acentuação gráfica. No entanto, esse 
acordo permaneceu em estado de hibernação por um longo período. 
No período compreendido entre 1990 e os dias atuais, vários acontecimentos 
de relevância marcaram o contexto da Reforma Ortográfica, incluindo a adesão de 
dois novos membros à comunidade dos países de língua portuguesa: Timor-Leste, 
que obteve sua independência em 1999, e a Guiné Equatorial, uma antiga colônia 
portuguesa nos séculos XV e XVIII, que foi admitida em 2014. Além disso, em 2004, 
foi estabelecido que as alterações ortográficas seriam implementadas assim que três 
países ratificassem o Acordo. Em 2008, já eram quatro os países que haviam assinado 
o acordo. 
Portanto, no cenário atual, a iniciativa de alcançar uma unificação completa da 
ortografia da língua portuguesa, que é a sétima mais falada entre os diversos idiomas 
existentes no mundo, adentra um novo capítulo de extrema importância. 
Cronograma do período reformista: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: pt.scribd.com 
O Acordo Ortográfico introduziu alterações em menos de 3% das 110 mil 
palavras mais comuns na língua portuguesa. Aproximadamente 600 palavras 
perderam as consoantes "mudas" c e p, que eram escritas apenas em Portugal em 
palavras como "acção," "afectivo," "direcção," "adopção," e "exacto." O mesmo 
aconteceu com palavras como "actor," "correcção," "factura," "optimo," e palavras com 
grafias duplas, como "terno" em Portugal e "fato" no Brasil, no sentido de 
"acontecimento", que permaneceram inalteradas. 
 
 
 
As diferenças nos acentos graves e circunflexos que distinguem o português 
de Portugal do português do Brasil também não foram modificadas. Da mesma forma, 
"bebé" em Portugal e "bebê" no Brasil mantiveram suas grafias distintas. O uso do 
hífen permaneceu quando o segundo elemento da palavra começa com h (como "anti-
higiênico") ou pela mesma vogal ou consoante que termina o prefixo (como "contra-
almirante" e "super-requintado"). O trema foi eliminado, uma vez que era utilizado 
apenas no Brasil. As letras k, w e y foram reintegradas ao alfabeto. Todas essas 
mudanças, juntamente com as diretrizes para o uso de h, vogais, ditongos, letras 
maiúsculas e minúsculas,estão detalhadas nas 25 páginas do Acordo Ortográfico. 
É possível que os brasileiros sentissem menos impacto das reformas 
ortográficas em comparação com os portugueses. Esse fato tem levado muitas vozes 
a se manifestarem contra o que consideram uma "usurpação de direitos" e uma 
"apropriação ilegítima" da língua. 
No entanto, existem aqueles que acreditam que essa unificação ortográfica 
pode contribuir para o fortalecimento do português, embora ainda haja oposição. As 
razões dos opositores nem sempre são puramente técnicas e muitas vezes refletem 
a resistência natural a qualquer tipo de mudança ou um apego emocional a grafias 
que podem ser percebidas como parte intrínseca do significado das palavras. 
Além das mudanças ortográficas, o Acordo prevê a criação de um dicionário 
técnico-científico, o estabelecimento de uma política linguística comum e sugere que, 
após sua implementação, a comunicação entre os falantes da língua portuguesa será 
mais eficaz. Inicialmente, a data oficial para a entrada em vigor do Acordo Ortográfico 
era 1º de janeiro de 1994. No entanto, a lei caducou devido à falta de ratificação por 
muitos países da Comunidade Lusófona. 
Em um artigo escrito em 1991, Evanildo Bechara (2009) abordou parte da 
história dos acordos ortográficos da língua portuguesa e mencionou que, em 4 de julho 
daquele ano, a Assembleia da República Portuguesa aprovou as Bases do Acordo 
Ortográfico. 
Esse esclarecimento sobre a iniciativa do Governo de Portugal de aprovar o 
Acordo Ortográfico demonstra claramente o interesse em promover a crescente 
integração dos países lusófonos. Isso ocorre mesmo que os portugueses tenham que 
abrir mão de mais convenções ortográficas do que as que já eram praticadas pelos 
 
 
 
brasileiros. É importante reiterar que essa mudança não se deve a uma submissão de 
Portugal ao Brasil, como alguns têm afirmado do outro lado do Atlântico. Pelo 
contrário, isso ocorre porque, após o fracasso das tentativas de unificação ortográfica 
em 1943 e do Acordo de 1945, as instituições oficiais de Portugal (a Academia das 
Ciências de Lisboa 1943, 1945) e do Brasil (a Academia Brasileira de Letras, 1943), 
nunca conseguiram chegar a um consenso sobre a reforma ortográfica. 
Os acentos graves e circunflexos que diferenciam, por exemplo, o português 
do Brasil e o português de Portugal, não foram alterados. Assim, "incómodo" em 
Portugal e "incômodo" no Brasil continuam iguais. 
1.4 Vocabulário ortográfico comum — VOC (2016) 
O Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) é a plataforma que reúne os recursos 
que estabelecem oficialmente a ortografia da língua portuguesa. Ele recebeu 
reconhecimento oficial dos estados-membros da Comunidade dos Países de Língua 
Portuguesa (CPLP) durante a Conferência de Díli, realizada em 2014. Nas 
"Conclusões Finais da X Conferência," está previsto o desenvolvimento de um 
"Vocabulário Comum da Língua Portuguesa" em formato eletrônico, que terá o 
objetivo de consolidar tanto o léxico compartilhado entre os países lusófonos quanto 
as particularidades de cada um deles. 
 
Fonte: VOC (2016) 
 
 
 
O Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) é desenvolvido sob a coordenação 
do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), que é uma instituição da 
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) voltada para questões 
relacionadas à política linguística. Essa responsabilidade foi atribuída ao IILP em 
2010, quando a instituição recebeu orientações específicas para uma política 
multilateral da língua. Essas diretrizes foram estabelecidas no Plano de Ação de 
Brasília para a promoção, difusão e projeção da língua portuguesa. Esse plano foi 
elaborado durante a I Conferência Internacional sobre o Futuro do Português no 
Sistema Mundial, realizada em Brasília em março de 2010. 
O Corpo Internacional de Consultores do VOC é composto por representantes 
de seis países, com exceção da Guiné Bissau, devido a problemas políticos e sociais 
enfrentados pelo país, e de Angola, que ainda não ratificou o acordo. Embora Angola 
tenha uma equipe trabalhando no desenvolvimento do Vocabulário Ortográfico 
Nacional (VON) angolano, a Academia Angolana de Letras se manifestou contra a 
ratificação do Acordo Ortográfico em 10 de outubro de 2018. A Guiné Equatorial, o 
nono país-membro da CPLP, tem o português como terceira língua oficial, mas não é 
amplamente falado pela população. No entanto, na Ilha de Ano Bom, existe a prática 
de uma língua crioula de base portuguesa, chamada de fá d'ambô. 
O VOC está gradualmente integrando o Vocabulário Ortográfico Nacional 
(VON) de cada país da CPLP, após validação política e conformidade com uma 
metodologia comum. Até meados de 2018, já haviam sido transferidos para o IILP, 
para integração no VOC, os VON do Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e 
Timor-Leste. O VON de São Tomé e Príncipe também está em processo de 
incorporação à plataforma, tendo sido concluído no final de 2017. 
Dois desses VON foram lançados sob a forma impressa: 
 
 
 
 
Fonte: VON (2017) 
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP 2009), preparado pela 
Comissão de Lexicografia e Lexicologia da Academia Brasileira de Letras, sob a 
coordenação de Evanildo Bechara, com 976 páginas e 390 mil palavras; 
 E o Vocabulário Ortográfico Atualizado de Língua Portuguesa (VOALP 2012), 
organizado pelo Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia das Ciências de 
Lisboa, sob a coordenação de Maria Helena da Rocha Pereira, Aníbal Pinto de Castro 
e Telmo Verdelho. A obra dá sequência às edições anteriores de 1940, 1947 e 1970, 
mas foi elaborada inteiramente de novo, tendo 1.100 p. e um corpus de 70 mil 
entradas. O VOALP integra o Vocabulário Ortográfico Português (VOP), que tomou 
como base o Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, e é composto 
por cerca de 210 mil entradas. 
O VOP serviu de ponto de partida para a criação da base de dados do 
Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, obra que integra formalmente 
desde fevereiro de 2015. 
A plataforma do Vocabulário Ortográfico Comum esteve aberta para consulta 
pública de abril a julho de 2014. Em prosseguimento à aprovação política, começou 
em julho de 2014 o processo de integração no VOC dos dados entregues e aprovados 
pelos países-membros da CPLP. A equipe técnica do VOC está elaborando a 
integração desses dados a partir dos instrumentos existentes em âmbito nacional nos 
países participantes. Em breve, todos os falantes e estudantes da língua portuguesa 
 
 
 
terão acesso livre às informações oficiais comuns para a aplicação das regras 
ortográficas. 
A criação do portal com o Vocabulário Comum é um marco importante na 
consolidação do Acordo Ortográfico, pois representa a construção de uma base lexical 
para a língua portuguesa. O grupo de trabalho encarregado dessa tarefa, composto 
por lexicógrafos como Gladis Maria de Barcellos Almeida, José Pedro Ferreira, 
Margarita Correia e Gilvan Müller de Oliveira, desempenhou um papel fundamental na 
elaboração da metodologia a ser adotada. 
No documento produzido por essa comissão, são destacados três principais 
problemas enfrentados pelas obras lexicográficas de referência do português em 
comparação com outras línguas de importância global: 
(a) A falta de recursos lexicais normalizadores que estejam disponíveis para 
permitir o processamento computacional da língua portuguesa. 
(b) A ausência de recursos baseados em ou que levem em consideração 
informações obtidas a partir de corpora linguísticos, que são coleções de textos reais 
que servem como base para análises linguísticas. 
(c) A carência de recursos que representem de forma abrangente a diversidade 
do português, de modo a atuar como elementos normalizadores em âmbito nacional, 
especialmente em países que não têm recursos próprios disponíveis para essa 
finalidade. 
A abordagem desses problemas é essencial para promovero desenvolvimento, 
a padronização e a utilização eficaz da língua portuguesa, tornando-a mais acessível 
e compatível com as tecnologias e recursos linguísticos disponíveis em outras línguas 
globalmente relevantes. Em síntese, a comissão do IILP (2011), decidiu adotar o 
seguinte planejamento: 
O VOC constituir-se-á numa grande base lexical online, que contemplará as 
variedades dos oito países lusófonos (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-
Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste). Esse 
projeto está dividido em duas fases: 1) a junção de vocabulários já existentes 
em Portugal e Brasil, evidenciando a tradição lexicográfica portuguesa; 2) a 
elaboração de corpora para a constituição dos vocabulários nacionais dos 
demais países. Assim, nesta oportunidade, pretende-se detalhar os aspectos 
metodológicos que subjazem às tarefas envolvidas no referido projeto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA: POR QUÊ 
E PARA QUÊ? 
Certamente, você já ouviu falar, ou até mesmo mencionou, que a ortografia da 
língua portuguesa é notoriamente complexa, repleta de regras e exceções. Essas 
reclamações, muito provavelmente, aumentaram após as controversas mudanças nas 
regras ortográficas que entraram em vigor no Brasil em 2016. Essas mudanças foram 
estabelecidas em 1990 em acordo entre os países de língua portuguesa. 
No entanto, antes de discutir esse acordo ortográfico, é fundamental 
compreender o conceito de "lusofonia," composto por duas partes: "luso" e "fonia." o 
prefixo "luso" está relacionado ao "português" e, como adjetivo, faz referência àquele 
originário da antiga província romana chamada Lusitânia, correspondente ao território 
atual de Portugal. Já a palavra "fonia," de acordo com o dicionário Houaiss (2001, p. 
914), refere-se ao timbre de voz e ao conjunto de falantes, escritores e leitores que 
utilizam uma língua (seja vernácula, franca ou de cultura) em uma determinada região, 
país ou comunidade linguística. 
Portanto, com base nas definições de Houaiss (2001), podemos entender que 
"lusofonia" se refere à comunidade linguística composta por todas as pessoas que 
falam, escrevem e leem em língua portuguesa, seja como idioma nativo, língua franca 
ou como parte de sua cultura linguística, independentemente do país ou região em 
que vivem. 
 
 
 
1.1 conjunto de países que têm o português como língua oficial ou dominante 
[A lusofonia abrange, além de Portugal, os países de colonização portuguesa, 
a saber: Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé 
e Príncipe; abrange ainda as variedades faladas por parte da população de 
Goa, Damão e Macau na Ásia, e ainda a variedade do Timor na Oceania.] 
(HOUAISS, 2001, p. 914). 
Apesar das divergências e debates que cercam o uso do termo "lusofonia", é 
relevante observar que o novo acordo ortográfico representa a consciência de oito 
países, com diferentes origens políticas, situações econômicas, religiões e culturas, 
de que ao unificarem a língua comum, estão promovendo sua valorização interna. 
Esse compromisso foi compartilhado pela República Popular de Angola, a República 
Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné-Bissau, a 
República de Moçambique, a República Portuguesa e a República Democrática de 
São Tomé e Príncipe. Eles entenderam que a adoção de uma ortografia unificada 
representaria "[...] um passo significativo para preservar a unidade fundamental da 
língua portuguesa e aumentar seu prestígio internacional" (ACORDO..., 1990). 
Além de considerar os países de língua portuguesa e o acordo ortográfico, é 
importante compreender que a ortografia não é a própria língua, mas sim um código 
superficial que a representa. A língua é muito mais abrangente, englobando aspectos 
como sintaxe, morfologia, vocabulário, contexto e muito mais. 
No contexto linguístico, Henriques (2011), salienta que a dificuldade ou 
facilidade de entender um falante de português de Portugal pode ser comparável 
àquela entre um residente do sul e do norte do Brasil, e isso não implica que as regiões 
falem línguas diferentes. O acordo ortográfico não foi projetado para alterar essa 
realidade, pois a ortografia tem mais a ver com a transcrição da língua falada para sua 
forma escrita padrão do que com sua representação. Portanto, é fundamental 
entender que o novo acordo não busca unificar a língua, mas sim padronizar sua forma 
escrita. Além disso, o acordo ortográfico é, acima de tudo, uma decisão política, mais 
do que linguística. 
Essa perspectiva revela que a ortografia é, em essência, uma convenção 
cultural e está mais relacionada a práticas estabelecidas e a uma aprendizagem "de 
fora para dentro" (ou "de cima para baixo"), ao invés de refletir a natureza intrínseca 
e profunda de uma língua. Conforme Abbade (2015), todo sistema ortográfico é 
 
 
 
sempre uma convenção, um acordo político e cultural. A necessidade de uma 
ortografia regular para o português surgiu com o desenvolvimento da escrita." 
Assim, as questões mais profundas da língua permanecem inalteradas. Por 
exemplo, mesmo que em diversos países de língua portuguesa a obrigatoriedade das 
letras duplas tenha sido abandonada quando não são pronunciadas, em Portugal, 
essas letras continuam a ser usadas tanto na escrita quanto na fala. 
No que diz respeito à necessidade política que fundamentou o novo acordo 
ortográfico, Henriques (2011) argumenta que se Angola se afastasse ainda mais do 
padrão ortográfico utilizado no Brasil, isso poderia dificultar a aquisição de livros 
angolanos, especialmente os técnicos. Se Portugal adotasse um registro ortográfico 
significativamente diferente, poderia levar à preferência pela compra de livros em 
inglês, que é a língua global dominante. Nesse contexto, a unificação da ortografia do 
português abre o mercado editorial dos países lusófonos para uma audiência global, 
fortalecendo a posição da língua portuguesa. Isso também justifica argumentos contra 
a diversificação ortográfica, dada a dificuldade de produzir documentos oficiais, 
dicionários, livros didáticos, científicos e literários em registros ortográficos distintos. 
Assim, o novo acordo ortográfico tinha como objetivo principal facilitar a 
comunicação diplomática entre os países lusófonos, promover a difusão da cultura 
entre eles, consolidar a língua portuguesa como uma língua de cultura com maior 
prestígio, possibilitar a venda de obras escritas em todos os países lusófonos e 
fomentar o intercâmbio de materiais didáticos. 
Conforme Abbade (2015), o novo texto do acordo ortográfico, considerado 
menos problemático do que o de 1986, tinha dois principais objetivos: estabelecer e 
delimitar as diferenças entre os falantes da língua portuguesa e criar uma comunidade 
com uma unidade linguística expressiva para ampliar o prestígio internacional da 
língua. 
O documento oficial (BRASIL, 2009) também aborda esses objetivos, 
afirmando que o novo texto de unificação ortográfica foi elaborado com a intenção de 
unificar ortograficamente cerca de 98% do vocabulário geral da língua, embora seja 
menos abrangente do que as versões anteriores de 1945 e 1986. 
Entretanto, como evidenciado ao longo da história, "estabelecer e delimitar as 
diferenças" não é uma tarefa fácil, pois as discussões em torno do acordo ortográfico 
 
 
 
foram numerosas, tanto internamente, envolvendo aqueles que eram a favor e contra 
ele, quanto externamente, envolvendo a comunidade de linguistas que também se 
posicionaram contra essa reforma. 
Diversas críticas surgiram, não apenas de cidadãos comuns, mas também de 
especialistas renomados. Por exemplo, o linguista Sírio Possenti (2008), argumenta 
que a reforma ortográfica não melhora de forma significativa a capacidade de leitura 
de textos, e acredita que é desnecessária. Ele destaca que qualquer pessoa que saiba 
ler pode compreender textoscom as grafias de Portugal e do Brasil, assim como textos 
mais antigos e textos escritos por alunos, mesmo que apresentem problemas de 
grafia. 
Outra linguista, Coudry (2008), critica a reforma, considerando-a uma política 
linguística inadequada. Para ela, não é necessário escrever exatamente da mesma 
maneira para que haja entendimento mútuo, e o estabelecimento de uma regra 
comum não garante que a língua será falada de forma idêntica em todos os países 
lusófonos. 
Embora haja muitas críticas ao acordo ortográfico, os defensores desse 
processo também apresentam argumentos a favor. Bechara (2015) refuta algumas 
das críticas, argumentando que muitas delas carecem de fundamentação real. Ele 
menciona que uma das alegações feitas por aqueles que se opõem ao acordo é a 
ideia de que ele encobria um propósito de neocolonização por parte do Brasil. No 
entanto, Bechara ressalta que o acordo foi assinado sem restrição por representantes 
de sete nações soberanas, e que, ao analisar as bases do acordo, percebe-se que ele 
se aproxima mais das normas estabelecidas pelo sistema de 1945, em vigor entre 
portugueses e africanos, do que pelo sistema de 1943, oficial apenas no Brasil. 
Henriques (2011), também argumenta que o acordo ortográfico não se 
concentra em questões orais, fonéticas ou de uso, e não tem a intenção de abordar 
esses aspectos. Em vez disso, concentra-se no registro formal da língua, 
especialmente em documentos, textos oficiais, técnicos, científicos e jornalísticos. O 
acordo visa principalmente à linguagem formal e à escrita de prestígio. 
Esses argumentos visam destacar que o acordo ortográfico não foi criado com 
a intenção de enfraquecer ou alterar drasticamente a língua portuguesa, mas sim de 
 
 
 
unificar o registro escrito, facilitando a comunicação entre os países lusófonos e 
ampliando o prestígio internacional da língua. 
Não apenas a população não especializada, mas muitos linguistas resistiram e 
resistem ao acordo homologado pelos países de língua portuguesa. A principal das 
críticas, parece, relaciona-se às demasiadas regras quanto ao uso do hífen — apesar 
de algumas terem sido abolidas, outras foram criadas. Outra norma, dessa vez 
relacionada ao trema, foi — e é — tema de muita discussão, especialmente, quando 
se pensa em leitores que não conhecem de antemão palavras como “quinquênio”, por 
exemplo, e a leem pela primeira vez — lerão, provavelmente, como um dígrafo. 
Contudo, os defensores consideram que, como a mudança proposta pelo acordo está 
em nível da escrita (grafia), e não em nível da fala (fonética/fonologia), os novos 
falantes terão recursos para tirar esse tipo de dúvidas, por exemplo, com professores 
e outros falantes e serão corrigidos/informados sobre a pronúncia. Isso se dá porque, 
antes de escrever, aprende-se a falar a língua; portanto, continuar-se-á a aprender 
que se trata de quinquênio/pinguim/linguiça com a pronúncia do som “u” por meio da 
escuta dessas palavras. 
Na charge da Figura 1, a seguir, você confere essa resistência, característica 
de muitos, em relação à queda do trema. 
Figura 1 - Resistência a novas regras ortográficas 
 
Fonte: Solda (2009) 
 
 
 
Não podemos deixar de falar que Evanildo Bechara é um dos maiores 
gramáticos do Brasil, além de professor, Evanildo Bechara, é um renomado linguista 
e especialista em língua portuguesa. Ele é membro correspondente da Academia das 
Ciências de Lisboa e doutor honoris pela Universidade de Coimbra. Bechara ocupou 
cargos de professor titular e emérito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
(UERJ) e na Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é titular da cadeira 
nº 16 da Academia Brasileira de Filologia e da cadeira 33 da Academia Brasileira de 
Letras. 
Ele é autor de várias das principais gramáticas da língua portuguesa, que são 
destinadas tanto ao público em geral quanto a profissionais da área. Alguns de seus 
trabalhos notáveis incluem "Moderna Gramática Portuguesa" (37.ª edição, Editora 
Lucerna, 1999), "Gramática Escolar da Língua Portuguesa" (1.ª edição, Editora 
Lucerna, 2001) e "Lições de Português pela Análise Sintática" (18.ª edição, Editora 
Lucerna, 2004). Além disso, Bechara é editor da revista Confluência, que se dedica a 
temas linguísticos e é publicada pelo Liceu Literário Português. 
3 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO: O QUE MUDOU, AFINAL? 
Conforme Abbad (2015), embora no Brasil os falantes tenham expressado 
queixas em relação às mudanças em algumas regras ortográficas, Portugal foi o país 
que teve que se adaptar mais às alterações. Estima-se que 1,6% do vocabulário de 
Portugal tenha sofrido mudanças na escrita, enquanto no Brasil apenas 0,5% das 
palavras sofrerão alterações. 
Mas afinal, quais foram essas mudanças? O acordo ortográfico foi dividido em 
vinte seções, cada uma delas fundamentada em uma base. A estrutura do acordo 
segue a seguinte organização (BRASIL, 2014):" 
Base I — do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus derivados. 
Base II — do h inicial e final. 
Base III — da homofonia de certos grafemas consonânticos. 
Base IV — das sequências consonânticas. 
Base V — das vogais átonas. 
Base VI — das vogais nasais. 
 
 
 
Base VII — dos ditongos. 
Base VIII — da acentuação gráfica das palavras oxítonas. 
Base IX — da acentuação gráfica das palavras paroxítonas. 
Base X — da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras 
oxítonas e paroxítonas. 
Base XI — da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas. 
Base XII — do emprego do acento grave. 
Base XIII — da supressão dos acentos em palavras derivadas. 
Base XIV — do trema. 
Base XV — do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares. 
Base XVI — do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação. 
Base XVII — do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver. 
Base XVIII — do apóstrofo. 
Base XIX — das minúsculas e maiúsculas. 
Base XX — da divisão silábica. 
Embora tenha sido estabelecido em 1990, apenas em 2016 a nova ortografia 
começou a ser aplicada no Brasil. A relativa novidade dessa mudança na forma de 
registrar a ortografia no nosso país levanta questões sobre as suas regras. Nesse 
sentido, não há alternativa: é necessário estudar e revisitar o conteúdo, comparando 
as regras antigas e novas - bem como é essencial dissipar certos 'mitos' que têm 
circulado, como 'agora não existe mais hífen' ou 'os acentos não são mais utilizados'. 
Para os estudantes mais jovens, essa transição será mais simples, pois eles 
aprenderão as regras diretamente na nova ortografia - não terão, portanto, que fazer 
comparações com o que era feito anteriormente. No entanto, para acadêmicos e 
especialistas, a comparação se torna inevitável. 
Uma das críticas frequentemente feitas ao acordo ortográfico refere-se à 
eliminação do acento utilizado para distinguir certos tempos verbais, como no caso do 
presente do indicativo na terceira pessoa, "para", que pode ser confundido com a 
preposição "para". No entanto, é importante notar que essa eliminação do acento 
diferencial não se aplica uniformemente. Por exemplo, o verbo "pôr" manteve o 
acento, a fim de evitar confusão com a preposição "por". Da mesma forma, a terceira 
pessoa do singular do pretérito perfeito de "poder" (pôde) ainda conserva o acento 
 
 
 
circunflexo para não ser confundida com a forma verbal no tempo presente. Na Figura 
1 abaixo, apresentamos uma tirinha com um exemplo do verbo "poder" conjugado e 
da preposição "por". 
Figura 1 - Exemplo do verbo “poder” conjugado no presente do indicativo e da 
preposição “por”. 
 
Fonte: Montanaro (2010). 
Nesta seção, as regras destacadas no novo acordo ortográfico, focando nas 
suas alterações. 
3.1 Eixo I – Alfabeto 
De acordo com Tufano (2008), o Eixo I do novo acordo ortográfico diz respeito 
ao alfabeto da língua portuguesa. Antes, o alfabeto era composto por 23 letras, mas 
com as mudançasintroduzidas pelo acordo, agora ele comporta as letras K, W e Y, 
totalizando 26 letras ao todo. A justificativa para essa inclusão foi o fato de que no 
Brasil, essas letras já eram utilizadas em nomes próprios e em algumas abreviaturas, 
como no caso de "km" para quilômetro. Essa alteração teve como objetivo harmonizar 
a escrita de palavras estrangeiras e facilitar a comunicação entre os países de língua 
portuguesa. 
Uma importante mudança introduzida pelo novo acordo ortográfico diz respeito 
ao uso de maiúsculas e minúsculas. Agora, meses, dias da semana e estações do 
ano devem ser grafados em minúsculas, por exemplo, "segunda-feira" em vez de 
"Segunda-feira" e "janeiro" em vez de "Janeiro". 
 
 
 
Da mesma forma, os pontos cardeais também devem ser escritos com letras 
minúsculas, a menos que sejam usados em termos absolutos, como em "Vou para o 
Norte" ou "Conheço algumas línguas do Ocidente". Além disso, conforme o Acordo 
(2015), é opcional o uso de maiúsculas em nomes que designam domínios do saber, 
cursos, disciplinas, como "inglês" ou "Inglês" e nomes de logradouros públicos, como 
"rua da palma" ou "Rua da Palma." Nomes de templos, edifícios ou monumentos 
(exceto nos nomes próprios neles contidos): igreja dos anjos ou Igreja dos Anjos; 
convento de Mafra ou Convento de Mafra. 
Conforme Bechara (2015), essas mudanças visam simplificar a escrita e 
harmonizar o uso das maiúsculas e minúsculas na língua portuguesa. É verdade que 
as mudanças no uso de maiúsculas e minúsculas são importantes, pois podem afetar 
a escrita de nomes próprios, sobrenomes e outros aspectos da língua. É fundamental 
que os estudantes estejam atentos a essas alterações para evitar erros na escrita e 
garantir que estejam seguindo as novas regras do acordo ortográfico. A prática 
constante e a atenção aos detalhes ajudarão a internalizar essas mudanças e 
aprimorar a habilidade de escrita de forma correta e adequada. 
3.2 Acentuação gráfica 
Tufano (2008), aborda a questão dos acentos diferenciais que é, de fato, uma 
das áreas mais polêmicas do novo acordo ortográfico. A supressão desses acentos 
pode, em alguns casos, gerar ambiguidade na leitura, como no exemplo citado de 
"pára" e "para". Os defensores argumentam que o contexto deve ser suficiente para 
esclarecer o sentido da palavra, mas críticos argumentam que a manutenção desses 
acentos facilitava a compreensão imediata, especialmente em textos mais técnicos ou 
formais. 
É importante que os estudantes e escritores estejam cientes dessas mudanças 
e saibam quando os acentos diferenciais são ou não necessários, para evitar 
possíveis mal-entendidos na leitura. É uma área da ortografia que requer atenção e 
cuidado, especialmente ao revisar textos escritos de acordo com o novo acordo 
ortográfico. 
Veja, a baixo, as novas regras relacionadas à acentuação gráfica: 
 
 
 
Trema 
Utiliza-se somente nas palavras estrangeiras às lusófonas, como em alemão. 
Exemplo antes: Lingüica Bündchen. 
Exemplo depois: Linguiça Bündchen. 
Acento diferencial 
Suprime-se em palavras homógrafas 
Exemplo antes: Para (preposição), Pára (3ª pessoa do singular, presente do 
indicativo). 
Exemplo depois: Para (preposição), Para (3ª pessoa do singular, presente do 
indicativo). 
Mantém-se em palavras homógrafas que distinguem o plural e o singular dos 
verbos. 
Exemplo antes: (ele) Tem/(eles) têm (ele) Mantém/(eles) mantêm. 
Exemplo depois: (ele) Tem/(eles) têm (ele) Mantém/(eles) mantêm. 
Acento circunflexo 
Suprime-se em palavras terminadas em “êem” (3ª pessoa do plural do presente 
do indicativo ou do subjuntivo) Em palavras com hiato “oo” 
Exemplo antes: Eles vêem. Eu enjôo. 
Exemplo depois: Eles veem. Eu enjoo. 
Paroxítonas com ditondo aberto “ei” e “oi” 
Suprime-se o acento. 
Exemplo antes: Idéia, assembléia, tablóide, jóia. 
Exemplo depois: Ideia, assembleia, tabloide, joia. 
Oxítonas terminadas em ditongo aberto “ei” e “oi” 
Permanece o acento 
Exemplo antes: Céu Dói. 
Exemplo depois: Céu Dói. 
Vogais tônicas “i” e “u” na posição paroxítona se precedidas de ditongo 
Suprime-se o acento 
 
 
 
Exemplo antes: Feiúra Baiúca. 
Exemplo depois: Feiura Baiuca. 
“U” tônico dos verbos que pertencem aos grupos “gue/gui” e “que/qui” 
Suprime-se o acento 
Exemplo antes: Apazigúe Delingúo. 
Exemplo depois: Apazigue Delinguo. 
3.3 O hífen 
A reforma ortográfica trouxe mudanças significativas relacionadas ao uso do 
hífen no português brasileiro. Algumas palavras passaram a ser hifenizadas, outras 
perderam o hífen e algumas se aglutinaram. Essas alterações impactaram 
diretamente a escrita e a grafia de diversas palavras da língua portuguesa. Abaixo 
você verá exemplos dessas mudanças, que podem incluir palavras compostas, 
locuções, prefixos e sufixos. A compreensão das regras relacionadas ao hífen é 
essencial para evitar erros de escrita e garantir a conformidade com o novo acordo 
ortográfico. 
A hifenização de palavras formadas por prefixação é regida por algumas regras 
específicas no novo acordo ortográfico. O hífen é empregado nos seguintes casos, 
conforme a tabela 1. 
Tabela 1. O emprego do hífen após no novo acordo ortográfico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: adaptada Tufano (2008) 
 
 
 
O acordo ortográfico assinado pelos países de língua oficial portuguesa é um 
tema complexo que envolve diversas questões, desde a história da tentativa de 
unificação até as polêmicas e desacordos que o cercam. É importante destacar que 
essa unificação se concentra na modalidade escrita da língua e não abrange as 
questões relacionadas ao uso oral e informal. 
O acordo foi assinado com base em desacordos, não sendo totalmente 
pacífico, e continua envolto em polêmicas. No entanto, uma vez que está em vigor, é 
fundamental conhecer algumas das regras que geram maior dificuldade e 
controvérsia, além de ler o acordo na íntegra. 
Entender que os objetivos desse acordo são a unificação e simplificação da 
ortografia é crucial. Devemos apropriar-nos dessas regras com proficiência, adquirir 
conhecimento sobre os aspectos relacionados à política linguística e compreender as 
diferentes visões sobre a reforma. O trabalho de compreensão do acordo é contínuo, 
uma vez que a língua é uma entidade viva e em constante evolução. 
Portanto, é essencial que os interessados no tema leiam o acordo completo e 
permaneçam envolvidos em pesquisas sobre o assunto, pois a ortografia é dinâmica 
e está em constante transformação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. UNIDADES MORFOLÓGICAS E ESTRUTURA INTERNA DAS PALAVRAS 
 De acordo com Rocha (1998), o surgimento de novas palavras na língua 
portuguesa é um fenômeno dinâmico e constante, que ocorre em resposta às 
necessidades e contextos específicos dos falantes. Essas palavras podem surgir em 
várias modalidades, como a coloquial, culta, literária, técnica, científica, de 
propaganda, entre outras. A formação de novas palavras pode ser esporádica, 
ocorrendo em situações pontuais e não se tornando parte permanente do vocabulário, 
ou institucionalizada, quando a nova palavra é adotada e reconhecida pela 
comunidade linguística. 
As formações esporádicas geralmente surgem de maneira informal e 
momentânea. Um exemplo disso é quando uma criança inventa uma palavra para 
descrever algo que está vivenciando naquele momento, como a palavra "desmorrer" 
para descrever a ação de uma formiga que morreu. Essas palavras podem ser criadas 
por associação com outras palavras existentes na língua e são específicas para a 
situação em questão. 
No entanto, nem todas as palavras criadas de forma esporádica são 
incorporadas ao vocabulário da língua. Muitas delas permanecem como expressões 
isoladas e não são adotadas pela comunidade linguística em larga escala. Para que 
uma palavra se torne parte do registro lexical da língua, geralmente é necessárioum 
processo de consolidação e reconhecimento por um grupo significativo de falantes ao 
longo do tempo. 
Portanto, o surgimento de novas palavras na língua portuguesa é um processo 
complexo e multifacetado, influenciado por fatores linguísticos, culturais e sociais, e 
reflete a evolução contínua da língua em resposta às mudanças na sociedade e na 
comunicação. 
A formação institucionalizada de novas palavras é um processo diferente e 
geralmente envolve a ampla adoção de uma palavra por um grupo significativo de 
falantes. Isso ocorre quando uma palavra é proferida em um contexto específico, como 
publicidade ou mídia, e várias pessoas a ouvem e começam a repeti-la. Esse contexto 
 
 
 
especial torna a palavra familiar para os indivíduos, e ela passa a ser reconhecida e 
utilizada por um grupo mais amplo de falantes, o que a torna institucionalizada. 
 
É importante notar que uma palavra pode ser institucionalizada dentro de um 
grupo de falantes específico, mesmo que não seja conhecida por outros grupos. Por 
exemplo, a palavra "indesmentível" pode ser reconhecida e utilizada em uma família 
ou em uma residência específica, mesmo que não seja conhecida por outros grupos 
de falantes. O processo de institucionalização de uma palavra está relacionado à sua 
visibilidade, ou seja, quem a cria, e ao poder da mídia em disseminá-la. 
A visibilidade do "criador" da palavra desempenha um papel importante, assim 
como a capacidade da mídia em promover a palavra. Uma palavra criada em um 
contexto restrito e esporádico pode se tornar institucionalizada se alcançar uma 
audiência mais ampla. As redes sociais, por exemplo, desempenham um papel 
fundamental na disseminação de novos vocábulos. Quando uma palavra é 
compartilhada por muitas pessoas nas redes sociais, ela se torna conhecida e começa 
a ser usada em conversas fora dessas plataformas. 
O poder da mídia também é evidente na propagação de novas palavras. 
Palavras como "sextou" e "trolar" saíram das redes sociais e passaram a fazer parte 
dos diálogos cotidianos entre os falantes, demonstrando como a mídia desempenha 
um papel importante na institucionalização de novas palavras na língua portuguesa. 
A formação de novas palavras está frequentemente relacionada a processos 
que são mais apelativos e enfáticos do que outros. Por exemplo, substituir "sala de 
fumantes" por "fumódromo" torna a expressão mais concisa e enfatiza o local 
designado para fumar. Portanto, é importante entender que a existência de uma 
palavra muitas vezes depende da necessidade de expressar uma ideia de forma mais 
eficaz e impactante. 
No nível morfológico, estudamos as unidades de significado que compõem as 
palavras. Na análise linguística, examinamos diferentes níveis, desde os mais amplos, 
que se concentram nas unidades maiores do discurso, até as unidades menores, 
como sílabas e sons. Em um nível intermediário, estudamos as unidades da língua 
que têm certa autonomia formal e podem ser encontradas como entradas lexicais em 
 
 
 
dicionários. Estamos falando das palavras e do estudo morfológico, que se concentra 
nas unidades de significado que compõem as palavras. 
A palavra "morfologia" tem origem grega e é composta por dois elementos: 
"morfo" e "logia", que significam, respectivamente, "forma" e "estudo". Portanto, na 
gramática, a morfologia é definida como o estudo que descreve as formas das 
palavras e investiga a estrutura interna das palavras em uma língua. Ela se concentra 
em entender como as palavras são formadas, quais são suas partes constituintes e 
como essas partes contribuem para o significado das palavras. 
4.1 Morfemas da língua portuguesa 
Para compreender a morfologia, é essencial entender o conceito de forma no 
sentido de estrutura, que é composta por partes chamadas de morfemas. Toda 
estrutura, incluindo as palavras, é composta por elementos inter-relacionados. Isso 
significa que todas as palavras são formadas por unidades menores, que, quando 
combinadas de maneira específica, produzem significado. 
Essa combinação não é aleatória; na verdade, as estruturas internas, quando 
organizadas de determinada maneira, estabelecem relações e produzem significado. 
Portanto, podemos afirmar que palavras específicas, quando combinadas com outras, 
desempenham funções específicas em enunciados. Isso demonstra que a forma, a 
função e o sentido das palavras estão interligados e, muitas vezes, são 
interdependentes. 
Quando dizemos, por exemplo, que "lindos" é um adjetivo masculino plural ou 
que "trabalhássemos" é um verbo da 1ª conjugação no pretérito imperfeito do 
subjuntivo e na 1ª pessoa do plural, estamos identificando marcas formais e 
gramaticais que delimitam esses contextos linguísticos. Essas marcas formais são 
denominadas morfemas, e seu estudo é fundamental para entender como as palavras 
são formadas e como a gramática de uma língua opera. 
 
 
 
4.2 Os tipos de morfema: radical e afixos 
No exemplo anterior, como mencionado, a marca do gênero masculino em 
"lindos" está no sufixo -o, enquanto a marca do plural está no sufixo -s. No verbo 
"trabalhássemos," a marca do pretérito imperfeito do subjuntivo está em -ss, e a marca 
da 3ª pessoa do singular está em -mos. 
É importante notar que, embora palavras como "lindos," "ricos," "pequenos" e 
"lisos" tenham significados diferentes, elas compartilham os morfemas -o e -s, o que 
indica que são todas palavras masculinas no plural. O significado específico de cada 
uma dessas palavras reside nos radicais "lin-," "ric-," "pequen-," e "lis-," 
respectivamente. Da mesma forma, no caso do verbo, a diferenciação está no radical 
"trabalh-," enquanto outros verbos, como "escrev-" (em "escrevêssemos") e "part-" 
(em "partíssemos"), têm seus próprios radicais que conferem significados específicos. 
Portanto, esses elementos que compõem as palavras e que são responsáveis 
pelos significados lexicais são chamados de radicais. O estudo dos morfemas e dos 
radicais é essencial para compreender como as palavras são formadas e como seus 
significados são construídos na língua portuguesa, conforme aponta Bechara (2010). 
Com base nesta reflexão, podemos chegar à conclusão de que a palavra é 
composta por dois tipos de morfemas: 
➢ O morfema que carrega os significados relacionados à nossa compreensão 
do mundo, conhecido como morfema lexical ou externo, representado pelo 
radical. 
➢ O morfema que expressa os significados gramaticais ou internos, 
compreendendo os morfemas de flexão e derivação, conhecidos como 
afixos. 
4.3 Vogal temática: o tema 
Além disso, é importante destacar que entre o radical e os afixos é permitida a 
inserção de uma vogal temática, conforme Bechara, (2010). Essa vogal temática 
desempenha um papel de classificação, uma vez que distingue os substantivos dos 
verbos em diferentes grupos ou classes. Esses grupos são conhecidos como grupos 
 
 
 
nominais (por exemplo, casa, livro, ponte, etc.) e grupos verbais, que são chamados 
de conjugações. 
Por essa razão, podemos determinar que o verbo "trabalhássemos" pertence à 
primeira conjugação, com sua estrutura sendo "trabalh-á-sse-mos." O verbo 
"escrevêssemos" pertence à segunda conjugação, com a estrutura "escrev-ê-sse-
mos," enquanto "partíssemos" pertence à terceira conjugação, com a estrutura "part-
í-sse-mos." A combinação do radical com a vogal temática forma o tema da palavra 
conforme Bechara (2010), que é a parte da palavra pronta para ser usada no discurso 
e que está pronta para receber os afixos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em algumas situações, ao receber determinados afixos, a vogal temática pode 
se tornar imperceptível, como acontece em "casinha," em que a vogal temática "-a" 
se torna parte do ditongo "-ai," formando "cas(a)inha." 
No caso dos substantivos, as vogais temáticas são representadas por "-a" e "-
o." Essas vogais não apenas demarcam o grupo nominal, mas também indicamo 
gênero dos substantivos: "a casa" (feminino) e "o livro" (masculino). Além disso, nos 
nomes, as vogais temáticas "-o" e "-e" podem ser substituídas por uma semivogal em 
um ditongo, como em "pão/pães." A vogal "-o" também pode se transformar na 
variante "-u," como em "afeto/afetuoso" (afeto + oso = afetuoso). 
No caso de substantivos que terminam em consoante, a vogal temática "-e," 
que é evidente no singular, reaparece quando a palavra está no plural: 
 
casa + s = casas 
linda + s = lindas 
livro + s = livros 
mar/mares (mar-e-s) 
paz/ pazes (paz-e-s) 
mal/ males (mal-e-s) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É fundamental destacar que a vogal temática está presente tanto nos temas 
simples (como "livr-o") quanto nos temas derivados (como "livr-eir-o"). 
4.4 Morfemas livres e presos 
Os morfemas podem ser classificados como "livres" quando têm uma forma 
que pode aparecer de forma independente no discurso, ou "presos" quando precisam 
combinar com outros morfemas para ter sentido no discurso. Por exemplo, em 
"agricultura," "agri-" é um morfema preso, pois sozinho não tem significado, enquanto 
em "cultura," o morfema "cult-" é livre, pois pode ser usado independentemente no 
discurso (como em "a cultura do campo"). 
Também é importante notar que o radical de uma palavra pode ter uma variante 
que só aparece como forma presa, como no caso de "caber," que tem a variante presa 
"-ceber" em palavras como "receber," "perceber" e "conceber." Essa variante do 
morfema é chamada de alomorfe. 
Os elementos morfêmicos em uma palavra podem ser todos livres (como em 
"compor" e "apor"), todos presos (como em "agrícola" e "perceber"), ou uma 
combinação de ambos (como em "agricultura" e "gasoduto"). Além disso, uma mesma 
forma pode representar mais de um morfema, como o "-s," que marca o plural em 
"casa/casas" e a 2ª pessoa do singular nos verbos ("tu amas," "escreves," "partes"). 
É importante esclarecer que, além dos processos de formação e flexão das 
palavras, a morfologia também envolve a classificação das palavras com base não 
apenas em critérios formais, mas também em critérios sintáticos e semânticos. Isso 
 
 
 
ocorre porque uma mesma forma pode desempenhar diferentes funções e ter 
diferentes significados no discurso. 
Por exemplo, a palavra "canto" pode funcionar como substantivo ou como 
verbo, dependendo do contexto e do sentido em que é utilizada. Considere o seguinte: 
Substantivo: "O canto dos pássaros é muito bonito." Nesse caso, "canto" 
refere-se à ação de cantar dos pássaros e atua como um substantivo. 
Verbo: "Eu canto todas as manhãs." Aqui, "canto" denota a ação de cantar 
realizada por alguém e age como um verbo. 
Portanto, a morfologia também leva em consideração a função e o significado 
das palavras em diferentes contextos para sua classificação adequada. 
No primeiro exemplo, a palavra "canto" funciona como um substantivo, 
enquanto na segunda ocorrência, ela desempenha o papel de verbo. A distinção entre 
esses usos depende da relação sintagmática, ou seja, da maneira como a palavra se 
combina com outros termos na frase ou no sintagma. É importante lembrar que 
qualquer forma linguística pode assumir uma função substantiva, dependendo do 
contexto. Por exemplo: "Não gosto do cantar acelerado que ela força." Neste caso, 
"cantar" atua como um substantivo, e isso pode ser deduzido pela relação 
sintagmática que a expressão mantém com os outros elementos da frase. 
De acordo com Saussure (2006), o sintagma sempre é composto por duas ou 
mais unidades consecutivas, como em "re-ler," "contra todos," "a vida humana." Isso 
significa que as relações sintagmáticas são baseadas na natureza linear do signo 
linguístico, onde os termos se sucedem um após o outro. Na cadeia sintagmática, o 
valor de um termo é determinado pelo contraste com os termos que o precedem ou o 
sucedem, e, em alguns casos, com ambos, devido à linearidade dos sintagmas. 
Observe: 
“Hoje faz calor” 
De acordo com Rocha (1998), a inversão linear dos termos em "jeho faz lorca" 
não produz sentido, demonstrando que as relações sintagmáticas entre os 
elementos da cadeia fônica são essenciais para a compreensão. Dessa análise, 
podemos concluir que os morfemas são as menores unidades formais que possuem 
significado. Por outro lado, os sintagmas são sequências hierarquizadas de 
elementos linguísticos que formam uma unidade na sentença, seguindo uma ordem 
 
 
 
linear na fala. A noção de sintagma não se limita apenas às palavras, mas também 
se aplica a grupos de palavras e a unidades complexas, como palavras compostas, 
derivadas e frases completas, em todos os níveis da língua, incluindo o fônico, o 
morfológico e o sintático. 
Portanto, é importante destacar que os morfemas são caracterizados por um 
ou mais fonemas, mas, ao contrário destes últimos, possuem significado. Os fonemas, 
quando isolados, não possuem significado. 
Em resumo, os morfemas podem ser caracterizados da seguinte forma: 
 
➢ São elementos mínimos das emissões linguísticas com significado 
individual. 
➢ Representam a unidade mínima em um sistema de expressões que pode 
ser correlacionada com alguma parte do conteúdo. 
➢ São as menores unidades significativas que podem construir vocábulos 
ou parte deles. 
➢ Consistem na menor parte indivisível da palavra que possui uma relação 
direta ou indireta com a estrutura de significação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. SISTEMA DE GRAFIA 
Conforme Bagno (2017), toda língua que possui um sistema de escrita que 
tende a estabelecer um conjunto de regras ortográficas, conhecido como sua 
ortografia. Esse sistema é baseado em convenções e é regulado por diversos critérios, 
incluindo critérios fonéticos (onde letras como B, F, P e V sempre representam o 
mesmo som no português brasileiro), critérios etimológicos (que envolvem palavras 
escritas com H no português), critérios sociolinguísticos (onde a ortografia oficial está 
ligada a uma variedade linguística específica; por exemplo, não há uma grafia para o 
"R retroflexo" ou "R caipira," entre outros). 
Idealmente, em um sistema perfeito, cada unidade gráfica deveria corresponder 
a um valor fonético único, mas essa simplicidade não é o que ocorre na prática. Por 
exemplo, na língua portuguesa, a letra X pode representar o som de CH (como em 
"xarope"), S (como em "texto"), SS (como em "próximo"), Z (como em "exílio"), KS 
(como em "oxigênio"), ou KZ (como em "hexâmetro"). A complexidade da ortografia 
reflete a riqueza e a história da língua portuguesa, com suas influências linguísticas 
variadas ao longo do tempo. 
O desafio ortográfico é ainda mais evidente quando se considera o fonema /s/, 
que pode ser representado de diversas formas, incluindo s, ss, c, sc, ç, sç, z, xc e xs, 
em palavras como "sábado," "assoa," "céu," "descer," "caça," "desça," "traz," 
 
 
 
"excelência" e "exsudar." A história da ortografia no Brasil é longa e repleta de 
reformas e acordos, incluindo: 
➢ Reforma ortográfica em 1911. 
➢ Acordo Ortográfico de 1931, que se tornou obrigatório em 1933. 
➢ Publicação do Formulário Ortográfico e do Pequeno Vocabulário 
Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) pela Academia Brasileira de 
Letras em 1943. 
➢ Acordo Ortográfico de 1945. 
➢ Lei n. 2.623 de 1955, que oficializou a ortografia do VOLP de 1943. 
➢ Reforma ortográfica de 1971. 
➢ Acordo Ortográfico de 1990, que entrou em vigor em 2009. 
➢ Devido à grande importância atribuída à ortografia, quando se fala de "erros 
de português," geralmente estamos nos referindo a "desvios das 
convenções ortográficas oficializadas," como destaca Bagno (2017, p. 
327). 
Isso ressalta a relevância da ortografia como parte fundamental do uso correto 
da língua portuguesa. Bechara (2016) e Faraco (2017), traz algumas técnicas que 
podem ajudar a memorizar determinadas grafias. 
Quadro 1- S (E NÃO C E Ç) 
Fonte: adaptada de Faraco (2017) 
Quadro 2 - S (E NÃO Z) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: adaptada de Faraco (2017) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quadro 3 - SS (E NÃO C E Ç) 
 
Fonte: adaptada de Faraco (2017) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quadro 4 - C OU Ç (E NÃO S E SS) 
 
Fonte: adaptada de Faraco (2017) 
 
 
 
Quadro 5 - Z (E NÃO S) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: adaptada de Faraco (2017) 
Quadro 6 - J (E NÃO G) 
 
Fonte: Bechara (2016) 
 
 
 
 
 
 
Quadro 7 - G (E NÃO J) 
 
Fonte: Bechara (2016) 
Quadro 8 - CH (E NÃO X) 
 
Fonte: Bechara (2016) 
 
 
 
Quadro 9 - X (E NÃO CH) 
 
Fonte: Bechara (2016) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Veja no quadro 10 algumas palavras que causam dúvidas quanto à grafia 
Quadro 10 - Palavras que causam dúvidas quanto à grafia 
 
 
 
 
 
 
Fonte: adaptada Bechara (2016). 
Vimos que os estudos sobre o sistema de grafia são essenciais para 
compreendermos a complexa relação entre a linguagem falada e sua representação 
escrita. A ortografia e as regras de grafia podem parecer, por vezes, desafiadoras e 
sujeitas a mudanças, como demonstrado pelo exemplo do novo acordo ortográfico. 
No entanto, é importante reconhecer que a escrita desempenha um papel crucial na 
preservação e na comunicação da linguagem, permitindo que as palavras sejam 
registradas, compartilhadas e compreendidas por pessoas em todo o mundo. 
 
 
 
Além disso, os estudos sobre o sistema de grafia nos lembram da riqueza e da 
diversidade das línguas, bem como das complexidades envolvidas na transposição 
da linguagem falada para o meio escrito. Por meio desses estudos, ganhamos uma 
apreciação mais profunda da linguagem e de como ela evolui continuamente para 
atender às necessidades da sociedade. 
Portanto, ao explorarmos o sistema de grafia, estamos desvendando uma parte 
fundamental do nosso patrimônio linguístico e cultural. É uma busca constante pelo 
equilíbrio entre a tradição e a adaptação, garantindo que a linguagem escrita continue 
a ser uma ferramenta eficaz e poderosa para a comunicação e a expressão humanas 
em um mundo em constante evolução. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BECHARA, E. Novo dicionário de dúvidas da língua portuguesa. Colaboração de 
Shahira Mahmud. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Lucerna, 2016. 
FARACO, C. A; ZILLES, A. M. Para conhecer norma linguística. São Paulo: 
Contexto, 2017. 
BAGNO, M. Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro. 2. ed. São 
Paulo: Parábola, 2017. 
 
6 COMPONENTES DA ESTRUTURA INTERNA DA SÍLABA E SEUS 
MODELOS DE COMPOSIÇÃO 
É comum que os próprios falantes de uma língua analisem sua maneira de falar 
e a comparem com o sotaque de outros membros da mesma comunidade linguística. 
A interação social é inerente à nossa natureza comunicativa e desempenha um papel 
fundamental na definição de nossa linguagem. Nesse processo de análise, é essencial 
examinar todos os aspectos que caracterizam a língua em questão. A sílaba, 
compreendida como um fonema ou um conjunto de fonemas pronunciados em uma 
única expiração, pode ser construída de maneiras diversas por diferentes grupos de 
falantes em uma mesma comunidade linguística. Portanto, a sílaba desempenha um 
papel crucial nos estudos de fonologia e fonética de uma língua. 
Ao realizar um estudo sobre a capacidade dos falantes de português de 
identificar e separar as sílabas, a maioria demonstrará habilidade nesse aspecto, uma 
vez que a leitura em voz alta contribui para a percepção de cada grupo de fonemas 
pronunciados separadamente. No entanto, as variações na pronúncia podem levar a 
diferentes padrões de sílaba. 
Cristófaro (2003) explica que o ar dos pulmões não é expelido de maneira 
uniforme e constante, e cada contração e expiração de ar contribuem para a formação 
de uma sílaba. Portanto, a sílaba é vista como um processo muscular que aumenta 
em intensidade até atingir um limite máximo, a partir do qual a força muscular diminui 
progressivamente. 
Esse movimento muscular passa por diferentes estágios que compõem os 
elementos de uma sílaba: o início do movimento representa a parte externa de 
intensificação da força, em seguida, ocorre o pico, conhecido como núcleo, e, por 
último, há a parte externa de redução da força. A parte essencial de uma sílaba, ou 
seja, o seu núcleo, é formada por um segmento vocálico. As outras duas partes são 
opcionais e consistem em segmentos consonantais. 
Embora a presença de segmentos consonantais não seja obrigatória, existem 
sílabas na língua portuguesa que contêm duas ou mais consoantes. De toda forma, o 
 
 
 
 
 
ápice da sílaba é sempre uma vogal. Abaixo, você encontrará alguns exemplos no 
Quadro 1. 
Quadro 1 - As vogais nas palavras da língua portuguesa 
Fonte: adaptada Cristófaro (2003) 
A percepção da divisão silábica está conforme o que soa adequado em uma 
língua. Portanto, as sílabas que compõem as palavras dessa língua seguem padrões 
silábicos aceitáveis para os falantes. Em contrapartida, também existem padrões que 
são considerados inaceitáveis. 
Conforme demonstram os exemplos anteriores, no idioma português, segue-se 
a norma de incluir uma vogal em todas as sílabas. Portanto, no português, não existem 
sílabas sem vogais. Quando uma palavra possui apenas um fonema, este será, 
obrigatoriamente, uma vogal. Veja a frase a seguir como exemplo: 
Viviane fixou o olhar e em torno dela tinha um garoto faminto. 
Observe que as palavras destacadas consistem em apenas um fonema, 
composto por uma vogal. No caso das palavras "em" e "um", essa vogal é nasal. A 
estrutura da sílaba é influenciada pela tonicidade, padrões entoacionais e elementos 
paralinguísticos. 
 
 
 
Alguns arranjos de sílabas são rejeitados pelos falantes, ou seja, quando os 
segmentos vocálicos e consonantais são organizados de uma maneira não aceita 
pelos falantes, as palavras são consideradas malformadas, e ocorrem adaptações. 
Um exemplo desse processo é a palavra "psicologia". Os falantes brasileiros não 
consideram a pronúncia com o "p" mudo e inserem um fonema vocálico entre as 
consoantes "p" e "s". 
Essa organização da cadeia sonora da fala também se aplica a palavras 
estrangeiras. Por exemplo, observe palavras em inglês que começam com "s": 
"smack," "stuart," "slim". É comum os falantes brasileiros terem a tendência de inserir 
um fonema vocálico antes do fonema consonantal "/s/". Essa prática demonstra que 
a rejeição de certos padrões silábicos leva os falantes a adaptarem palavras 
estrangeiras ao seu sistema fonético. Um exemplo desse processo é a adaptação da 
palavra inglesa "beef" para o português como "bife." Visto que o português não 
costuma aceitar palavras que terminam em certos fonemas consonantais, houve a 
rejeição do padrão "beef". 
De acordo com Cristófaro (2003), a organização da cadeia sonora da fala segue 
princípios que agrupam segmentos consonantais e vocálicos em sequências sonoras 
específicas, determinando a organização das sequências possíveis em uma língua. 
Os falantes têm uma intuição sobre quais sequências sonoras são permitidas e quais 
são excluídas em sua língua. No português, as sílabas podem ser formadas apenas 
por uma vogal, uma ou duas consoantes pré-vocálicas e uma ou duas consoantes 
pós-vocálicas, como exemplificado no Quadro 2. 
Quadro 2 - Papel das vogais orais nas palavras da língua portuguesa 
 
 
 
 
Fonte: adaptada Cristófaro (2003) 
As vogais orais podem assumir a posição de vogal em sílabas compostas 
apenas por vogais, podendo ocupar tanto a posição inicial quanto a intermediária de 
uma palavra, bem como podem ser tônicas ou átonas. 
As vogais átonas postônicas são geralmente encontradas no final das palavras, 
como exemplificado no Quadro 3. 
 Quadro 3 - Vogais átonas postônicas 
 
 
 
 
Fonte: adaptada Cristófaro (2003) 
Já as vogais nasaisnormalmente ocorrem no início de palavra, em posição 
tônica ou átona. 
Vogais nasais em sílabas apenas constituídas de vogais 
Exemplo: Entender 
O processo de rejeição e aceitação de padrões silábicos pode criar a falsa 
impressão de que as palavras só podem ser divididas de uma única maneira em 
sílabas. Na língua falada, a pronúncia das palavras pode variar de falante para falante, 
resultando em divergências. Isso é especialmente evidente quando se trata de 
ditongos, como exemplificado em palavras como "história" (pronunciada como "his-tó-
ria" ou "his-tó-ri-a") e "família" (pronunciada como "fa-mí-lia" ou "fa-mí-li-a"). Além 
disso, a pronúncia pode variar para o mesmo falante dependendo do contexto ou de 
fatores emocionais envolvidos. 
Nos estudos de fonêmica, conforme mencionados por Cristófaro (2003), é 
observado que os sons da fala tendem a se adaptar ao ambiente linguístico em que 
estão inseridos. Os sistemas sonoros têm uma tendência à simetria fonética, os sons 
podem variar e sequências características de sons podem influenciar na interpretação 
 
 
 
fonêmica de segmentos ou sequências suspeitas. Portanto, a variação na pronúncia 
padrão é uma característica natural da língua. 
Certamente, a gramática tradicional estabelece normas específicas que 
determinam certos usos, incluindo a separação silábica. Nos exemplos mencionados 
anteriormente, todos eles são considerados ditongos e não hiatos, e, portanto, existem 
regras específicas que regulam a divisão silábica. No entanto, na prática, o mais 
importante é garantir que nenhuma dessas pronúncias afete a compreensão do 
significado da palavra. Um exemplo disso é a dupla "secretária" e "secretaria", em que 
a diferença de pronúncia poderia causar problemas na compreensão do sentido 
pretendido. Nesse caso, a diferença principal está na sílaba tônica. 
6.1 Tonicidade 
Na separação silábica, é importante notar de acordo com Bechara (2016), que 
uma das sílabas é pronunciada com mais força, um fenômeno conhecido como 
tonicidade. Ao produzir uma sílaba tônica, há um jato de ar mais forte envolvido na 
sua articulação em comparação com as sílabas átonas. 
A intensidade sonora da sílaba tônica é percebida auditivamente, e essa sílaba 
geralmente tem uma duração mais longa e é pronunciada em um tom mais alto, 
resultando em um aumento do volume. O Quadro 4 a seguir oferece alguns exemplos 
de tonicidade. 
 
 
 
 
 
Quadro 4. Tonicidade 
 
 
 
 
Fonte: adaptada Cristófaro (2003) 
É importante notar que na língua portuguesa, cada palavra possui apenas uma 
sílaba tônica. Essa característica é uma marca distintiva da nossa língua, já que o 
ritmo da fala organiza a cadeia sonora de acordo com a distribuição do acento tônico 
nas sílabas. Isso se relaciona com a interação entre o acento primário (acentuação 
tônica), o acento secundário (sílabas átonas) e a ausência de acentuação. Esse ritmo 
dita a organização dos segmentos na estrutura de tonicidade. 
É importante ressaltar que o acento tônico (ou tonicidade) não é o mesmo que 
o acento gráfico. Nem todas as palavras recebem acento gráfico (como "louca", 
"loucura" e "ano"), embora todas tenham acento tônico. 
Na estrutura da sílaba, a que vem antes da sílaba tônica é chamada de 
pretônica, enquanto a que ocorre depois da sílaba tônica é chamada de postônica. 
Essas categorias auxiliam na análise e compreensão do padrão de acentuação nas 
palavras e na organização das sílabas, como pode ser observado no Quadro 5. 
 
 
 
 
Quadro 5 - Sílabas pretônicas e postônicas 
 
 
 
 
Fonte: adaptada Cristófaro (2003) 
A Academia Brasileira de Letras (2019), explica que a presença de sílabas 
pretônicas ou postônicas pode variar dependendo da palavra e de seu padrão de 
acentuação. No entanto, é importante observar que sempre haverá sílabas átonas, ou 
seja, sílabas que não carregam o acento tônico principal da palavra. Além disso, em 
algumas análises gramaticais, também é considerada a sílaba subtônica, a sílaba 
onde ocorre o acento secundário, embora essa categoria seja menos comum e não, 
seja amplamente reconhecida em todas as abordagens linguísticas. 
Exemplo: 
Sofá – sofazinho 
Rápida – rapidamente 
A relação entre a sílaba tônica de uma palavra primitiva e a sílaba subtônica de 
uma palavra derivada pode de fato causar confusões ortográficas em alguns casos. É 
importante notar que o acento gráfico em palavras como "café" (oxítona) e "cafezinho" 
(paroxítona) é determinado pelas regras de acentuação da língua portuguesa. 
Tradicionalmente, as palavras são classificadas em proparoxítonas (com a sílaba 
tônica na antepenúltima posição), paroxítonas (com a sílaba tônica na penúltima 
posição) e oxítonas (com a sílaba tônica na última posição). O acento tônico 
desempenha um papel crucial na língua portuguesa, pois ajuda a diferenciar palavras 
e pode influenciar a sua forma escrita. Veja no exemplo algumas palavras 
diferenciadas pelo acento tônico: 
➢ Cara / cará 
➢ cáqui / caqui 
 
 
 
➢ cera / será 
O acento tônico desempenha um papel fundamental na distinção da língua 
portuguesa, pois ajuda a distinguir palavras que possuem a mesma sequência de 
letras, mas têm significados diferentes. A oposição fonêmica mais comum na língua 
portuguesa ocorre entre palavras paroxítonas e proparoxítonas, geralmente ocorre 
entre vocábulos de categorias morfológicas diferentes, isto é, geralmente um 
substantivo e um verbo. Observe: 
➢ Fábrica – fabrica 
➢ Máquina – maquina 
➢ Ânimo – anima 
➢ Lástima – lastima 
Conforme Melo (2019), a distinção de acento tônico é uma das ocorrências 
mais comuns na língua portuguesa, e geralmente ocorre entre palavras de diferentes 
categorias gramaticais, como substantivos e verbos. No entanto, existem exceções 
em que o contraste de acento tônico ocorre entre pares de palavras da mesma classe 
gramatical. Alguns exemplos dessas exceções são: "secretária" e "secretaria", "Paris" 
e "pares", "Tonico" e "tônico". É importante notar que, nesses exemplos, alguns são 
nomes próprios, e nomes próprios têm uma tendência a seguir padrões linguísticos 
diferentes da língua comum, o que pode não refletir com precisão a oposição fonêmica 
da fala. 
Em resumo, a tonicidade é um elemento essencial da oralidade que contribui 
para a estrutura da sílaba e é característica distintiva de uma língua. Analisar esse 
elemento é fundamental para compreender a prosódia do português. No entanto, na 
oralidade da língua, também existem outros elementos importantes a serem 
considerados, como os padrões entoacionais e paralinguísticos, que discutiremos na 
próxima unidade de ensino. 
 
 
 
7 CONSTRUÇÃO DOS PADRÕES ENTOACIONAIS E PARALINGUÍSTICOS A 
PARTIR DO CONTORNO MELÓDICO E DAS CARACTERÍSTICAS 
SUPRASSEGMENTAIS 
A prosódia é um dos elementos essenciais do sistema fonológico de uma língua 
e é estudada por aqueles que se dedicam à análise da fala, examinando seus 
aspectos rítmicos e entoacionais. 
A prosódia é composta por três parâmetros de produção: a duração, a 
frequência fundamental e a intensidade. Além disso, está relacionada a um fator 
perceptual, como o ritmo. Os primeiros parâmetros podem ser mensurados e a 
entoação (a altura da voz) é o principal elemento que serve como base para essa 
medição, contribuindo significativamente para os estudos sobre proeminência 
acentual. 
O contorno entonacional é um aspecto não lexical que funciona como um 
indicador de proeminência silábica e deve estar associado a sílabas fortes ou 
proeminentes. Portanto, a prosódia também se preocupa com a pronúncia das 
palavras de acordo com a sílaba tônica, desempenhando um papel fundamental na 
compreensão da entonação e da ênfase nas palavras durante a fala. 
A Academia Brasileira de Letras (2019), adverte que é importante evitar 
qualquer duplicidade gráfica ou prosódica nas palavras, garantindo que cada vocábulo 
tenha apenas uma forma, a menos

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