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PSICANÁLISE
A teoria psicanalítica é um saber recheado de conceitos, símbolos, siglas e formulações. 
Ela começa a ser construída por Sigmund Freud e a ser consolidada na Sociedade das Quartas-Feiras.
Posteriormente, é conduzida adiante em inúmeras direções, por diferentes autores, como Melanie Klein, Donald Winnicott, Wilfred Bion e Jacques Lacan.
Alguns desses autores criaram correntes, ampliando, transformando e inserindo mais conceitos e formulações, frutos de suas experiências clínicas e reflexões acerca da estrutura e do funcionamento do Inconsciente, assim como da técnica psicanalítica e, portanto, do que trata esse saber, método e ciência chamado psicanálise.
Seminário 11
Vamos tratar das chaves de leitura do Seminário 11 de Jacques Lacan: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise.
 Foi nesse seminário que Lacan abriu seu ensino, até então destinado prioritariamente a clínicos, também para a academia, para os estudantes e para quem mais se visse concernido, para a intelligentsia.
Ele marca um ponto de ruptura de Lacan, não só política, mas conceitual. Nele, Lacan destaca quatro conceitos fundamentais da psicanálise, em Freud: Inconsciente, Repetição, Transferência e Pulsão criticando a leitura dos pós-freudianos e propondo avanços. 
O seminário 11 é apresentado em 1964, mesmo ano em que Lacan escreve o texto de suas intervenções no VI Colóquio de Bonneval, de 1960, “Posição do inconsciente”.
Antes, dava-se mais peso ao “o que se fala”. A  partir daí o destaque passa a ser: “desde onde se fala?”. Isso implica mudanças na orientação clínica, tais como, o lugar ocupado pelo analista na transferência, a interpretação, o tempo da sessão etc.
Os conceitos fundamentais têm estabilidade, mas a forma de utilizá-los, a praxis, varia à medida que a clínica indica mudança de rota e que a sociedade muda. E mudar levanta poeira, questiona, subverte a ordem.
Em Lacan encontramos a formulação de que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. 
Seguindo esta lógica, é possível pensar que a psicanálise também é estruturada pela linguagem, ela é – assim como as ciências – uma ficção tecida para fazer reconhecer um objeto, pelo uso da escrita, de imagens, conceitos e formulações. 
Importante ressaltar, entretanto, que o fato de estes existirem não constitui por si só uma ciência, compreendendo a advertência de Lacan de que “uma falsa ciência, assim como uma verdadeira, pode ser posta em fórmulas”. 
Há de se acrescentar, ainda, que, diferentemente da ciência, o objeto da psicanálise é um objeto perdido, faltoso, causa do desejo – não sendo, portanto, um objeto apreensível objetivamente
Para Lacan a psicanálise opera evidentemente por uma linha retroativa, em que o passado, historiado na narrativa do paciente no presente, pode ser restituído e, mais, reconstruído via suas elaborações em análise. 
Afinal, somente as experiências atuais podem dar sentido às do passado. Ademais, se o passado é falado, ele não é tão passado assim, pois é por seus vestígios que ele se faz presente na realidade psíquica, operando qualitativamente sobre seu estado “atual”.
Ora, é disso que se trata quando Lacan opera o “retorno a Freud”! O psicanalista francês parte de um hiato deixado pelo psicanalista vienense, numa tentativa de reposicioná-lo por meio de seu acesso a outros campos, sobretudo do ponto de vista da linguagem, advertindo do poder das palavras. 
Ele retorna a Freud em uma posição concomitante de leitor e de autor da psicanálise, na tentativa de limpar os exageros e os desvios imaginários, chegando ao ponto de refinar os quatro conceitos freudianos e nomeá-los como conceitos fundamentais da psicanálise.
INCONSCIENTE:
Interessante destacar três definições de Lacan sobre o que é o inconsciente: 
“O inconsciente é o capítulo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado” (Lacan, 1953/1998, p. 260);
(2) “O inconsciente, a partir de Freud, é uma cadeia de significantes que em algum lugar se repete e insiste” (Lacan, 1960/1998, p. 813); 
e (3) “O inconsciente é a soma dos efeitos da fala, sobre um sujeito, nesse nível que o sujeito se constitui pelos efeitos do significante” (Lacan, 2008, p. 122)
A partir destas três definições é possível afirmar que o inconsciente é sobretudo um lugar. 
O que ambos os autores, Freud e Lacan, têm em comum é a perspectiva de um inconsciente não como um lugar físico, mas sim como um lugar de um sistema dinâmico. 
Como todo sistema, ele possui formações, estruturas e conteúdos, embora cada autor tenha um entendimento particular de como funcionam.
Para Freud é, grosseiramente, o lugar onde “estão” os representantes ideativos recalcados, um lugar psíquico. Para Lacan, é um lugar de uma linguagem, um lugar que advém da cadeia de significantes: o que ele chama de grande Outro.
O grande Outro é em suma um lugar de alteridade, simbólico, é o lugar do inconsciente, sendo formado por todos os “outros” que ocuparam um lugar importante na infância, que marcaram o sujeito com suas palavras e seus significantes (Quinet, 2012).
Com a noção de Outro como um ponto de origem, Lacan aponta que a linguagem é determinante na constituição do sujeito, pois o sujeito é falado antes mesmo de seu nascimento, ocupando um lugar simbólico antes mesmo de nascer. 
Cada sujeito é um significante para outros sujeitos.
O sujeito é falado pelo Outro (leis, normas, linguagem)
Somos alienados pela linguagem e somos efeito dela
Dupla Alienação
Imaginário (no desejo do outro – semelhante
Simbólico (no discurso do Outro – lei, linguagem)
Objeto: tudo com o que nos relacionamos psiquicamente (positiva ou negativamente) e tudo com o que nos identificando 
Temos desejos para obter prazer (satisfação)
Subentende-se que precisamos da falta para termos desejo, a falta nos gera angústia 
Tudo o que desejamos nos angustiou antes 
A falta é combustível para continuarmos, mas essa falta gera angústia 
Quando ficamos satisfeitos, logo passamos para o próximo desejo 
Somos seres desejantes
O desejo vem a partir de uma angústia, um vazio 
O vazio jamais some 
Como o sujeito goza: na tentativa de suprir a angústia 
Não conseguimos manter o prazer por muito tempo
Letra A é um valor lógico, é sempre algo a ser desejado, não se trata de algo que perdemos, e sim da sensação constante de que temos que nos mostrar que há algo ausente em nossas vidas
É melhor ter desprazer do que não ter nada 
O desejo é desprovido de valor, quem dá o valor somos nós
Pulsão é desejo 
Objeto a: aquilo que estou desejando 
Objeto a: objeto da pulsão
Fantasma (quilo que desejamos mas que não é completo)
Onde a pulsão busca sua descarga e o êxito da satisfação
Mas o desejo não cessa de se apresentar
Por isso o Objeto a é um fantasma – um buraco/um vazio - incompletude
Definitivamente, desejo desejar
O outro (a) como espelho é lugar do desejo
Objeto perdido é a causa e objeto de desejo
O outro se transforma em Outro
Desejo do Outro – indica o que desejar
O desejo é uma busca da satisfação primária (satisfação primária é só o desejo de satisfação básica)
Nesses termos, entende-se o significado da perspectiva da posterioridade da psicanálise: somente as experiências posteriores podem fazer com que as passadas ganhem sentido, ganhem significado (Coelho Junior, 2001). 
Além disso, é da forma como as experiências e representações se ligam, condensam e se deslocam que a psicanálise se serve.
A escuta clínica abre espaço para que apareçam significantes com novos significados – apontados pelo corte, pela pontuação e pela interpretação, por exemplo –, efetuando o movimento dos sentidos inconscientes que sustentam o sintoma (Ramos, 2003). 
Com Lacan, o fazer analítico passa a se sustentar na aposta, por meio do sintoma, que há uma relação entre sentido e Real. É nesses termos que se entende que as representações e os sentidos variam, mas o sintoma, enquanto Real, permanece.
FORMAÇÃO DO SUJEITO:
Complexo de édipo – três momentos (dos 6 aos 18 meses)
1º Estádio do espelho: identificação com a imagem antecipatória
de si mesma (narcisismo)
- fase narcísica 
- a mãe é o ego auxiliar 
- os traumas são emocionais
- imaginário
2ª relação diádica com a mãe: identificação com o desejo do outro. A criança é resposta ao desejo materno, é o falo da mãe 
- a criança é o desejo da mãe 
- falso self, começar a se identificar com o que a mãe deseja, e não com o que desejamos realmente 
- simbólico 
3º fim do édipo: castração e identificação (lei paterna). A criança não é o falo da mãe, mas passará a querer ter o falo
- o pai castra
- o outro é a figura masculina
- as regras buscam ter controle
- as interpretações que faço são ou imaginários ou simbólicos 
- simbólico é o lugar que me coloquei em resposta a algo que presenciei 
- se o sentimento causa reação é simbólico 
- se a pessoa pensa em algo em referencia a algo é imaginário
TRÊS REGISTROS:
Imaginário Ilusão/representação e imagens/identificação ser o falo materno)
Simbólico tem na linguagem sua expressão mais completa. Submissão à lei do desejo d outro.
- Efeito da cultura – lei da palavra interdita o incesto
Função do pai = o pai real, impor a lei, transforma-se em pai simbólico 
- todas as pessoas que representam a ordem são codificadas como pai
Real carece de sentido. É a percepção da realidade, a partir do que os significantes a segmentam e criam.
- Não pode ser simbolizado nem integrado imaginariamente
- Incontrolável e fora de cogitação
- somos movidos pela falta
- somos seres desejantes
- nem sempre sabemos o que estamos desejando 
NÓ BORROMEANO:
- se um dos cordões desatar, os demais ficam soltos
Falamos dos principais conceitos, agora o aplicaremos à formação do sujeito
- o imaginário não tem castração 
- o simbólico da sentido ao real 
- todo simbólico surge do imaginário
- externar o imaginário a partir da linguagem torna o imaginário simbólico 
- o real é concreto
- a psicanalise quer trazer o indivíduo para a realidade
FORMAÇÃO DO SUJEITO:
Narcisismo: papel do outro na constituição do sujeito 
Estádio do espelho: imaginário 
O bebê fica surpreso com sua imagem refletida no espelho, pois ela antecipa uma integração que ela ainda não tem. Isso o deixa maravilhado 
O olhar da mãe é como um espelho para criança 
Identificação com aquilo que ele não é, que virá a ser (sujeito)
- o ser humano se sujeita sem perceber que estão se sujeitando por medo da perda da relação, se colocando em uma posição inferior ao outro
Nesse momento, há a ilusão da completude, do poder, da perfeição
Aqui a criança se encontra no registo do imaginário, plano das ilusões, fantasias, imagem do eu que difere da realidade
“Você é a criança mais linda do mundo”, “você é a criança mais amada do mundo”
No imaginário da criança fica a ideia de perfeição 
Influência do outro na constituição do sujeito 
- o imaginário sempre vai ser diferente da realidade 
- quando me sujeito imaginariamente me coloco em posição inferior 
Mesmo com a entrada no registro simbólico (após o Édipo), a criança idealizada permanece nesse imaginário, que pode ser modificado, mas nunca destruído 
Ego ideal influência do outro (o que não somos, mas queremos ser)
- choramos e nos sujeitamos pela falta, sofremos por aquilo que não temos 
- ideal do ego é aquilo que tenho que ser por causa das regras morais 
A entrada no simbólico é um grande desafio às ilusões no estágio do espelho (difícil aceitar a castração)
Agressividade é resultado de um questionamento do seu imaginário (o que o sujeito acredita ser, o que o outro disse que era e, portanto acreditou, encarnou)
pulsão de morte expressão do narcisismo 
- a pulsão de morte é necessária, não sempre negativa 
- pulsão de morte é também uma forma de proteção ex.: não fale assim comigo 
O inconsciente estruturado como linguagem 
Primaria do significante e do grande Outro (a)
O homem é o único animal que consegue produzir sentido na comunicação 
O homem nasce inserido na linguagem (quando é nomeado torna-se um significante da cadeia)
O homem está inserido em um universo de linguagem 
Cada sujeito é um significante para outros sujeitos 
Cada um de nós crê ser o que na realidade não é (nível imaginário), ao mesmo tempo que não é mais do que um significante, produto da estrutura que o transcende (nível simbólico)
Primazia do significante 
-troca de slide pelo verde do Lacan-
O outro (a) como espelho é lugar do desejo 
Objeto perdido é a causa e objeto de desejo 
O outro se transforma em Outro
Desejo do Outro – indica o que desejar
O desejo é uma busca da satisfação primária 
- quando há mando o medo toma conta 
- sempre me espelho no outro, o outro sempre tem aquilo que eu não tenho
- objeto perdido é aquilo que não tenho 
- a causa é sempre o objeto do desejo 
- O grande Outro é a dimensão simbólica da linguagem e da cultura que influencia nossa percepção de nós mesmos e do mundo ao nosso redor
- a regra tem que estar dentro de nós para que nós a sigamos 
- Nem todos os desejos podem ser aplacados 
- o fato de existir regras não me impedem de fazer o que deseja
- a ideia do grande outro é de censura/castração 
- Primário na psicanálise é prazer
Nesses termos, entende-se o significado da perspectiva da posteridade da psicanálise: somente as experiências posteriores podem fazer com que as passadas ganhem sentido, ganhem significado 
Além disso, é da forma como as experiencias e representações se ligam, condensam e se deslocam que a psicanálise se serve
A escuta clinica abre espaço para que apareçam significantes com novos significados – apontados pelo corte, pela pontuação e pela interpretação, por exemplo – efetuando o movimento dos sentidos inconscientes que sustentam o sintoma 
Sintoma = é a queixa que a pessoa está trazendo para a terapia, repetimos o sintoma ex.: “sei o que tenho que fazer, mas não consigo”
Com Lacan, o fazer analítico passa a se sustentar na aposta, por meio do sintoma, que há uma relação entre sentido e real. É nesses termos que se entende que as representações e os sentidos variam, mas o sintoma enquanto real, permanece
 - sentido é o imaginário, o significante 
- não se nasce com a estrutura de personalidade, você é produto do meio 
- o sintoma é inconsciente 
- o sintoma nunca é resolvido, somente é aceito, nunca substituído por outro
- continuamos com o sintoma porque temos prazer ou ilusão de prazer 
- se o sintoma não está aparecendo não é mais sintoma 
- representação é simbólico 
- preciso colocar a pulsão para fora 
NEUROSES 
[...]
O RECALCAMENTO 
O mecanismo fundamental que define a neurose é o recalcamento. O recalcamento é responsável pelo fato de que, enquanto o psicótico pode revelar toda a sua “roupa suja” sem dificuldade visível, expondo abertamente todos os sentimentos e atos escabrosos que qualquer outra pessoa teria vergonha de divulgar, o neurótico esconde essas coisas longe dos olhos, tanto dos dele quanto dos de terceiros. Lacan expressa a situação do psicótico dizendo que o seu inconsciente fica abertamente exposto para quem quiser ver.
Em certo sentido, na verdade, não há inconsciente na psicose, visto que o inconsciente é resultado do recalcamento. Como nos diz Freud em seu ensaio “A negação”, não pode haver recalcamento sem que a realidade em questão (a percepção de uma cena, por exemplo) já tenha sido aceita ou afirmada em algum nível pela psique. Na psicose, a realidade em questão nunca é afirmada nem admitida – é foracluida, recusada, rejeitada. Na neurose, a realidade é afirmada num sentido muito básico, porém expelida na consciência 
Seguindo as mais rigorosas formulações DE Freud em seu artigo “Recalcamento” (que são repetidas muitas vezes em outros textos), Lacan sustenta que o que é recalcado não é a percepção nem o afeto, mas os pensamentos referentes às percepções, os pensamentos a que o afeto está ligado 
Em outras palavras, o inconsciente compõe-se de pensamentos, e os pensamentos só podem se expressar ou formular em palavras – ou seja, em significantes. O afeto e o pensamento costumam estar ligados ou vinculados desde o começo, mas quando ocorre o recalcamento, eles costumam se separar, e o pensamento
pode ser excluído da consciência 
Por isso é comum os clínicos receberem pacientes que se dizem abatidos, deprimidos, ansiosos, tristes ou carregados de culpa, mas não sabem por quê. Ou então as razões que eles expõem não parecem minimamente proporcionais à intensidade de afeto de que eles são tomados. É comum o afeto permanecer quando o pensamento ligado a ele é recalcado, e o indivíduo assim perturbado tende espontaneamente a buscar explicações para esse afeto, na tentativa de entendê-lo de algum modo
ARCO REFLEXO:
o esquema neurológico do arco reflexo é muito simples e bastante conhecido. Ele comporta duas extremidades: a da esquerda, extremidade sensível em que o sujeito percebe a excitação, isto pe, a injeção de uma quantidade x de energia
A da direita, extremidade motora, transforma a energia recebida numa resposta imediata do corpo. Entre os dois extremos. Instala-se, pois, uma tensão que aparece [...]
ARCO REFLEXO – NO PSIQUISMO
Apliquemos agora esse mesmo esquema reflexo ao funcionamento do psiquismo. Pois bem, o psiquismo é igualmente regido pelo principio que visa a reabsorver a excitação e reduzir a tensão, exceto pelo fato de que justamente, como veremos, o psiquismo escapa a esse principio 
Na vida psíquica, com efeito, a tensão nunca se esgota. Estamos, enquanto vivemos, em constante tensão psíquica. Esse princípio de redução da tensão, que devemos antes considerar como uma tendência, e nunca como uma realização efetiva, leva, em psicanalise, o nome de principio do desprazer-prazer 
Por que chama-lo dessa maneira, “desprazer-prazer”? e por que afirmar que o psiquismo está sempre sob tensão?
Retornemos as duas extremidades do arco reflexo, mas imaginando, desta vez, que se trata dos dois polos do próprio aparelho psíquico, imerso como esta no meio comporto pela realidade externa. A fronteira do aparelho, portanto, separa um interior de um exterior que o circunda
Para a psicanalise a excitação é sempre interna
A) A excitação de origem interna, e nunca externa, quer se trate de uma excitação proveniente de uma fonte externa, como, por exemplo, o choque provocado pela visão de um violento acidente de automóvel quer se trate de uma excitação proveniente de uma fonte corporal, de uma necessidade como a fome, [...]
B) Segunda característica: esse representante, depois de carregado uma primeira vez, tem a particularidade de continuar tão duradouramente excitado, como se fosse uma pulha, que qualquer tentativa do aparelho psíquico de reabsorver a excitação e eliminar a tensão revela-se uma tentativa fadada ao fracasso 
Pois bem, essa estimulação ininterrupta mantem no aparelho um nível elevado de tensão, dolorosamente vivenciado pelo sujeito como um apelo permanente á descarga. É a essa tensão penosa, que o aparelho psíquico tenta em vão abolir, sem nunca chegar verdadeiramente a faze-lo que Freud chama desprazer.
Temos, assim, um estado de desprazer efetivo e incontornável e, inversamente, um estado hipotético de prazer absoluto, que seria obtido se o aparelho conseguisse escoar imediatamente toda a energia e eliminar a tensão 
Esclarecemos bem o sentido de cada uma dessas duas palavras: desprazer significa manutenção ou aumento da tensão, e prazer, supressão da tensão. Todavia, não nos esqueçamos de que o estado de tensão desprazeroso e penoso não é outra cosia senão a chama vital de nossa atividade mental
Desprazer, tensão e vida são eternamente inseparáveis 
No psiquismo, portanto, a tensão nunca desaparece totalmente, afirmação esta que pode ser traduzida por: no psiquismo, o prazer absoluto nunca é obtido. Mas, porque a tensão é sempre premente e o prazer absoluto é atingido?
Por três razões:
1. A fonte psíquica da excitação é tão inesgotável que a tensão é eternamente reativada
2. esta relacionada ao polo direto do esquema: o psiquismo não pode funcionar como o sistema nervoso e resolver a excitação através de uma ação motora imediata, capaz de evacuar a tensão. Não, o psiquismo só pode reagir à excitação através de uma metáfora da ação, uma imagem, um pensamento ou uma fala que represente a ação, e não a ação concreta, que permitiria a descarga completa da energia. no psiquismo, toda resposta é inevitavelmente mediatizada por uma representação, que só pode efetuar uma descarga parcial 
Do mesmo modo que mostramos no polo esquerdo, o representante psíquico da pulsão (excitação pulsional continua), colocamos no polo direito o representante submetido a uma tensão irredutível: na porta de entrada, o afluxo das excitações é constantemente e excessivo, na saída á apenas um simulacro de resposta, uma resposta virtual, que efetua somente uma descarga parcial 
3. há a terceira razão, a mais importante e mais interessante, que explica por que o psiquismo está sempre sob tensão. Ela consiste na intervenção de um fator decisivo, que Freud denomina de recalcamento. Antes de explicar o que é o recalcamento, convém esclarecer que entre o representante-excitação e o representante-ação estende-se uma rede de muitos outros representantes, que tecem o trama de nosso aparelho. A energia que aflui e circula da esquerda para a direita, da excitação para a descarga, atravessa necessariamente essa rede intermediária. Entretanto, a energia não circula da mesma maneira entre todos os representantes
Se imaginarmos o recalcamento como uma barra que separa nosso esquema em duas partes, a rede intermediária ficará assim dividida: alguns representantes, que reunirmos como um grupo majoritário, situado à esquerda da barra, são muitos carregados de energia e se ligam de tal modo que formam o caminho mais curto e mais rápido para tentar chegar a descarga. As vezes, organizam-se a maneira de um cacho e fazem toda a energia confluir para um único representante (condensação) noutras vezes, ligam-se um atras do outro, em fila indiana, para deixar a energia fluir com mais facilidade (deslocamento)
Alguns outros representantes da rede – que reunirmos como um grupo mais restrito, situado à direita da barra – são igualmente carregados de energia e também procuram livrar-se dela, mas numa descarga lenta e controlada. Estes se opõem a descarga rápida, pretendida pelo primeiro grupo majoritário de representantes. Instaura-se, pois, um conflito entre esses dois grupos: um que quer de imediato o prazer de uma descarga total – o prazer é soberano, nesse caso -, e [...]
O QUE É RECALCAMENTO?
é um espessamento de energia, uma capa de energia que impede a passagem dos conteúdos inconscientes para o pré-consciente. Ora, essa censura não é infalível: alguns elementos recalcados vão adiante, irrompem abruptamente na consciência, sob forma disfarçada, e surpreendem o sujeito, incapaz de identificar sua origem inconsciente. Eles aparecem na consciência, portanto, mas permanecem incompreensíveis e enigmáticas para o sujeito 
Essas exteriorizações deturpadas do inconsciente conseguem assim descarregar uma parte da energia pulsional, descarga esta que proporciona apenas um prazer parcial e substitutivo, comparado ao ideal perseguido de uma satisfação completa e imediata [..]
PSICOSE:
Lacan tenta sistematizar o trabalho de Freud sobre as categorias diagnósticas 
[QUADRO TIPOS DE PERSONALIDADE]
CLIVAGEM 
Clivagem do ego: segundo Freud, em casa psicose há duas atitudes psíquicas, uma que considera a realidade e outra que desliga o ego dela. Porém, esse tipo de clivagem não é exatamente uma defesa do ego, mas um caminho para coexistir de dois processos de defesa. Enquanto um se volta a realidade e a recusa, o outro se direciona a pulsão, sendo redundante na criação dos sintomas neuróticos
Clivagem do objeto: criada por Melanie Klein, a ideia de clivagem do ego a identifica como uma defesa primitiva contra a angustia. Um objeto visado pelas pulsões [...]
[IMGAGEM CATEGORIAS ADOTADAS POR LACAN]
Independente de aceitarmos esses mecanismos como basicamente diferentes e definidores de três categorias em tudo distintas, deve ficar claro que o projeto de Lacan, nesse ponto, é de inspiração essencialmente freudiana e está em direta continuidade com os
esforços de Freud para discernir as diferenças mais fundamentais entre as estruturas psíquicas
Há de ficar claro que a possibilidade de distinguir os pacientes com base nesse mecanismo fundamental constituiria uma contribuição diagnóstica de enormes proporções: permitiria ao profissional ir além de avaliar a importância relativa de certas características clinicas, comparando-as com listas, de características em manuais como o DSM, e se concentrar, em vez disso, num mecanismo definidor – numa única característica determinante

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