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TEORIAS-SOBRE-AS-RELAÇÕES-OBJETAIS

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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 AS TEORIAS DAS RELAÇÕES OBJETAIS ............................................... 4 
3 AS RELAÇÕES OBJETAIS NA PSICANÁLISE TRADICIONAL ................. 6 
4 A NOÇÃO DE SUJEITO EM PSICANÁLISE ............................................. 10 
4.1 Sujeito dividido: sujeito assujeitado pelo outro; sujeito do significante
 18 
5 POSSÍVEIS ORDENAÇÕES PARA A NOÇÃO DE OBJETO ................... 21 
6 O CONTATO FÍSICO NA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ .................................... 24 
6.1 Início do contato com a realidade: apresentação de objetos .............. 28 
7 AS RELAÇÕES OBJETAIS NA TEORIA DE RONALD FAIRBAIRN ........ 29 
7.1 As primeiras relações objetais ............................................................ 30 
7.2 Fairbairn e a teoria da libido de Freud ................................................ 31 
7.3 As relações com objetos parciais ....................................................... 32 
7.4 As relações objetais da personalidade ............................................... 33 
8 A PSICOLOGIA DO SELF ........................................................................ 36 
9 LACAN E A RELAÇÃO DE OBJETO ........................................................ 39 
10 KARL ABRAHAM E O OBJETO PARCIAL ............................................ 43 
10.1 A TEORIA DO OBJETO COMBINADO DE MELANIE KLEIN ......... 45 
10.2 O OBJETO TRANSICIONAL DE DONALD WOODS WINNICOTT . 50 
10.3 O ambiente e as relações objetais na teoria de winnicott ............... 56 
10.4 A teoria do amadurecimento ........................................................... 57 
11 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 58 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 AS TEORIAS DAS RELAÇÕES OBJETAIS 
 
Fonte: alexandremattosaulas.com.br 
A compreensão da psicologia do self tem sua fundamentação nas teorias das 
relações objetais que consistiram em revisões teóricas da teoria de Freud sobre o 
“objeto”. “Este aplicava o termo ‘objeto’ em relação a qualquer pessoa, objeto ou 
atividade com capacidade para satisfazer ao instinto” (SCHULTZ, 2011, p. 393 apud 
FONSÊCA A; et al., 2013). 
Na teoria psicanalítica ortodoxa, Freud relaciona o objeto a algo que só tem 
sentido enquanto relacionado à pulsão e ao inconsciente e não na esfera da 
consciência (GARCIA-ROZA apud FONSÊCA A; et al., 2013). Assim, o objeto torna-
se um meio para o foco da satisfação, podendo esse objeto ser uma pessoa, objeto 
ou atividade, real ou imaginário. Greenberg e Mitchell (1994, p. 5 apud FONSÊCA A; 
et al., 2013) salientam que “todo conhecimento psicanalítico deve começar com as 
relações do indivíduo com os outros”. 
 Esse entendimento tem base na teoria da pulsão de Freud, onde não existe 
uma pulsão sem um objeto implícito ou explícito. Assim, o objeto da pulsão seria a 
pessoa, objeto ou atividade, a qual a pulsão tem como objetivo, foco ou alvo. Essa 
sistemática segue o modelo estrutural/pulsional. Para Freud o primeiro objeto na vida 
do bebê, capaz de satisfazer ao instinto, era o seio materno. Mais tarde, a própria mãe 
como pessoa torna-se um objeto de satisfação do instinto. E, à medida que a criança 
 
5 
 
cresce, outras pessoas tornam-se objetos de satisfação do instinto (SCHULTZ apud 
FONSÊCA A; et al., 2013). 
Greenberg e Mitchell (1994, p. 7 e 8 apud FONSÊCA A; et al., 2013) ainda 
afirmam que o termo “teoria das relações objetais”, em seu sentido amplo, refere-se a 
tentativas de responder a situação onde as pessoas interagem e reagem com objetos 
externos e internos, e em que medida suas relações influenciam o funcionamento 
psíquico. Importante relatar que os objetos internos são entendidos como 
representações psíquicas de outras pessoas que influenciam as reações, percepções, 
os estados afetivos do indivíduo (aspectos internos), bem como suas reações 
comportamentais externas, conforme FONSÊCA A; et al., (2013). 
Conforme FONSÊCA A; et al., (2013), os teóricos das relações objetais trazem 
concepções diferenciadas, o que torna o entendimento dos termos “objeto” e “relações 
objetais” bastante complexo. Para a primeira “objeto” refere-se a uma “entidade que 
existe no tempo e no espaço”, para a segunda está relacionada à pulsão. Na 
psicanálise de Freud, é o objeto libidinal (foco da pulsão sexual), havendo também o 
objetivo de autopreservação e, mais tarde surgindo o objetivo da pulsão agressiva. 
Freud afirma que, 
Os objetos e as relações objetais são importantes primariamente como meios 
e veículos de descartes de pulsões libidinais e agressivas. A esse respeito, 
os primeiros na verdade têm um status secundário e derivado [...] nós não 
desenvolveríamos nenhum interesse por objetos ou relações objetais e 
nenhuma das funções de ego de teste de realidade se os objetos não fossem 
necessários para gratificação das pulsões e se a gratificação imediata fosse 
possível [...] somos forçados a nos relacionar com objetos. Mas [...] o nosso 
interesse pelos objetos e o nosso relacionamento com eles continuam direta 
ou indiretamente ligados ao seu uso e à relevância na gratificação pulsional. 
(EAGLE apud HALL, LINDZEY E CAMPBELL, 2000, p. 158 apud FONSÊCA 
A; et al., 2013). 
Assim, Freud propôs que a “escolha objetal” ocorre quando as pessoas 
“catexizam” ou investem energia instintual em objetos que podem ser usados para 
gratificar impulsos instituais (HALL, LINDZEY E CAMPBELL, 2000, pág. 158 apud 
FONSÊCA A; et al., 2013). Diferentemente da concepção de Freud que considerou a 
relação do objeto principalmente com a pulsão sexual, os teóricos das relações 
objetais consideram as relações interpessoais entre esses objetos. Há, portanto, 
ênfase no contexto social e ambiental na formação da personalidade, destacando 
como principal influência a interação entre mãe e filho. A existência das relações 
 
6 
 
interpessoais indica que a construção da personalidade na infância se estabelece de 
forma mais precoce do que Freud idealizava. 
As teorias das relações objetais se caracterizam pela sua forma de integrar 
questões que dizem respeito à formação da personalidade buscando seus princípios 
na infância, desta forma, apresentam seu enfoque crucial na compreensão de que no 
desenvolvimento e formação da personalidade pode-se incluir a capacidade e a 
necessidade da criança perder o vínculo com a mãe, ou seja, o seu objeto primário, 
objetivando desta forma, obter uma compreensão de si própria e articular vínculos 
com outros objetos, que são as outras pessoas (SCHULTZ, 2009, p. 390 apud 
FONSÊCA A; et al., 2013). 
3 AS RELAÇÕES OBJETAIS NA PSICANÁLISE TRADICIONAL 
 
Fonte: percursoempsicanalise.com 
Para compreender melhor a concepção freudiana sobre os objetos sexuais, 
torna-se necessáriofazer um breve retrospecto de sua trajetória até a criação da 
psicanálise (termo que criou em 1896 apud BICHUETTI L; 2011). Serão abordadas 
algumas formulações iniciais, enfatizando-se o momento em que ele, a partir de suas 
primeiras experiências no tratamento das neuroses, chega ao tema da sexualidade, 
ao conceito de pulsão e posteriormente às concepções de objeto e objetivo sexual. 
 
7 
 
No inverno de 1885, Freud consegue uma bolsa e faz um curso com Charcot, 
um psiquiatra que pesquisava as causas da histeria. Freud fica entusiasmado com 
esses estudos, o grande desafio que ambos enfrentavam era o de estabelecer uma 
sintomatologia regular para a histeria, a fim de que ela pudesse ser incluída no campo 
das doenças neurológicas porque, caso contrário, os histéricos seriam diagnosticados 
como loucos (Garcia-Roza, 2001 apud BICHUETTI L; 2011). 
Nesse momento, Freud elabora sua teoria inicial do trauma psíquico e seu 
conteúdo sexual. Ele acreditava que o neurótico teria sido vítima de uma sedução 
sexual real na infância, exercida por um adulto e que esse trauma teria sido recalcado 
e se transformado em núcleo patogênico. A sua remoção somente poderia se dar pela 
ab-reação e elaboração psíquica da experiência traumática (idem), conforme 
BICHUETTI L; (2011). 
Como o trauma nessas doenças não era de ordem física, surgiu a necessidade 
de o paciente narrar sua história pregressa para que o médico pudesse localizar o 
momento traumático responsável pelos sintomas histéricos. Foi a partir dessas 
experiências que Charcot e Freud puderam perceber que o componente sexual 
desempenhava um papel preponderante nas histórias narradas. Surgia uma 
correlação sistemática entre a histeria e a sexualidade, que foi desprezada por 
Charcot, mas que se tornou o ponto de partida e o núcleo central das investigações 
de Freud, conforme BICHUETTI L; (2011). 
Nessa época, Freud ainda não havia descoberto a sexualidade infantil e 
acreditava que a criança sofria a sedução sem perceber seu caráter sexual e que esse 
acontecimento não lhe produzia nenhuma excitação de natureza sexual. Suas 
investigações posteriores o levariam a abandonar esses pressupostos e culminariam 
na descoberta da sexualidade infantil, no papel da fantasia e posteriormente no 
complexo de Édipo, conforme BICHUETTI L; (2011). 
Seus trabalhos caminham em direção à constatação de que as causas da 
histeria poderiam ter uma origem psicológica. Então ele começa a pensar na 
possibilidade de processos inconscientes de memória e na ideia da repressão. Algum 
tempo depois, ele abandona a hipnose e desenvolve uma nova técnica, a da 
associação livre, que lhe permitirá chegar à noção de defesa, à teoria do recalque e 
construir o arcabouço teórico da psicanálise, conforme BICHUETTI L; (2011). 
 
8 
 
Os resultados do seu trabalho que foram publicados, desde o “Projeto para uma 
psicologia científica” (1895 apud BICHUETTI L; 2011) até o “Esboço de psicanálise” 
(1938 apud BICHUETTI L; 2011), expressam uma concepção da vida mental que 
Freud “não parou de formalizar num esquema lógico, um certo automatismo do 
pensamento, um mesmo esquema básico, expresso segundo diversas variantes” 
(Nasio, 1995, p. 15 apud BICHUETTI L; 2011). Os temas fundamentais desse 
esquema elementar são o inconsciente, o recalcamento, a sexualidade, o complexo 
de Édipo e a transferência no tratamento analítico. Para Freud, 
A aceitação de processos psíquicos inconscientes, o reconhecimento da 
doutrina da resistência e do recalcamento e a consideração da sexualidade e 
do complexo de Édipo são os conteúdos principais da psicanálise e os 
fundamentos de sua teoria, e quem não estiver em condições de subscrever 
todos eles não devem figurar entre os psicanalistas. (Freud apud Nasio, 1995, 
p. 15 apud BICHUETTI L; 2011) 
Loparic, em seu texto “Elementos da teoria winnicottiana da sexualidade”, 
mostra que, em Freud, “o modelo ontológico do ser humano, explicitado na parte 
metapsicológica da teoria, comporta um aparelho psíquico individual, movido por 
pulsões libidinais, forças psíquicas determinadas por leis causais” (Loparic, 2006, p. 
313 apud BICHUETTI L; 2011). 
 No sistema teórico freudiano, o funcionamento do aparelho psíquico é regido 
por um princípio que visa reabsorver a excitação e reduzir a tensão. Para Freud, esse 
princípio de redução da tensão podia ser encarado como uma tendência da vida 
psíquica, já que essa tensão nunca se esgota completamente, porque a estimulação 
constante mantém o aparelho psíquico carregado de tensão, conforme BICHUETTI L; 
(2011). 
Esse estado de tensão é vivenciado de forma penosa pelo sujeito pois provoca 
um desprazer que o leva a almejar uma descarga permanente. Por outro lado, o 
estado hipotético de prazer absoluto (no qual o aparelho conseguisse escoar 
imediatamente toda a energia e eliminar a tensão) não tem como ser obtido. Dessa 
forma, o desprazer seria a manutenção ou aumento da tensão e o prazer, a supressão 
da tensão e a esse princípio Freud chamou de Princípio desprazer- prazer, e ele rege 
o sistema inconsciente, conforme BICHUETTI L; (2011). 
 
 
 
9 
 
O inconsciente para Freud, é composto exclusivamente de representações 
pulsionais, as quais ele chamou de representações inconscientes ou representações 
de coisa, que seriam imagens acústicas, visuais ou táteis de coisas ou pedaços de 
coisas impressas no inconsciente. Essas representações inconscientes de coisa não 
respeitam os limites da razão, da realidade ou do tempo o inconsciente não tem idade. 
Elas atendem uma única exigência: buscar instantaneamente o prazer absoluto. Para 
esse fim, o sistema inconsciente funciona segundo os mecanismos de condensação 
e deslocamento, destinados a favorecer uma circulação fluente da energia. A energia 
é considerada livre, uma vez que circule com toda a mobilidade e com poucos 
entraves na rede inconsciente, conforme BICHUETTI L; (2011). 
Já em relação à pulsão, Menezes (2001 apud BICHUETTI L; 2011) salienta que 
Freud, mesmo em seus escritos mais tardios, manteve o conceito original da pulsão. 
A libido, enquanto apetite sexual encontra satisfação no corpo, nos genitais, em 
sensações das mucosas e da pele, na excitação do olhar ou da palavra dita ou ouvida; 
sendo esses caracteres sexuais do corpo determinados pela fisiologia hormonal. 
Freud criou o seguinte conceito de pulsão (trieb), por pulsão podemos 
entender, a princípio, apenas o representante psíquico de uma fonte 
endossomática de estimulação que flui continuamente, para diferenciá-la do 
“estímulo”, que é produzido por excitações isoladas vindas de fora. Pulsão, 
portanto, é um dos conceitos de delimitação entre3 o anímico e o físico. A 
hipótese mais simples e mais indicada sobre a natureza da pulsão seria que, 
em si mesma, ela não possui qualidade alguma, devendo apenas ser 
considerada como uma medida da exigência de trabalho feita à vida anímica. 
O que distingue as pulsões entre si e as dota de propriedades específicas é 
sua relação com suas fontes somáticas e seus alvos. A fonte da pulsão é um 
processo excitatório num órgão, e seu alvo imediato consiste na supressão 
desse estímulo orgânico. (Freud, 1996, v. 7, p. 159 apud BICHUETTI L; 
2011). 
A plasticidade das pulsões, ou seja, a sua possibilidade de transformação, de 
voltar-se para objetos e representações substituíveis; a sua possibilidade de sofrer 
deslocamento e condensação, é o que torna possível o recalque, a formação e a 
resolução do sintoma, assim como também a transferência. Freud, ao tentar abarcar 
a complexidade da pulsão, considerou a atividade de sucção da criança como modelo 
do seu caráter autoerótico e a sublimação como modelo de seu caráter elevado, 
dessexualizado, mas ainda sendo pulsão, podendo ressexualizar- se, já que ainda 
permanece ligada ao corpo, conforme BICHUETTI L; (2011). 
 
 
 
10 
 
4 A NOÇÃO DE SUJEITO EM PSICANÁLISE 
 
Fonte: poiesispsicologia.wordpress.comO contexto de surgimento da ciência moderna no século XVII produziu uma 
ruptura com o mundo antigo, tendo como marca a mudança de paradigma acerca da 
queda dos corpos, isto é, o entendimento do conceito da gravidade. Por 
consequência, houve a rejeição do pensamento de que os corpos caem devido ao seu 
peso, como se esse fosse seu lugar natural, uma vez que, de acordo com a 
“formulação apreensível ao sentido da ‘compreensão’ humana”, o lugar daquilo que é 
pesado é no chão (Elia, 2010, p. 11, grifo do autor apud FREITAS I; 2018). Assim, a 
concepção de gravidade produziu uma ruptura com esta verdade estabelecida a priori, 
tendo como reflexo desse abalo a emergência da angústia. 
É no ponto de angústia, como indica Elia (2010 apud FREITAS I; 2018), que 
Descartes criou o método da dúvida, pois supunha que os sentidos humanos seriam 
a razão para nos enganar quanto a tudo o que vemos e sentimos tal como a 
compreensão de que os corpos caem devido ao seu peso. O procedimento deste 
método consistia em discriminar tais sensações por meio da avaliação de suas fontes 
e causas, forma e conteúdo, da falsidade e da veracidade de cada conhecimento do 
ser, de modo a se livrar de tudo o que fosse duvidoso. Ao duvidar de tudo, inclusive 
de que duvidava, pode-se chegar a uma conclusão como consequência desse 
processo: a existência do seu ser, um sujeito pensante; eis a origem da máxima: 
 
11 
 
Cogito, ergo sum – Penso, logo sou. Tal proposição inaugurou o lugar do sujeito 
moderno e com ele a tentativa de subtrair a angústia do desconhecido, uma vez que 
o procedimento se pautava pela busca de tudo saber, conforme FREITAS I; (2018). 
Neste contexto, o discurso do saber pela primeira vez se volta para seu agente, 
colocando-o como próprio objeto reflexivo, pois a compreensão humana mostrou-se 
passível de falhas. Neste ponto, o sujeito cartesiano se conecta ao sujeito da 
psicanálise, pois é no momento que se vê transbordar a angústia, mediante as 
incertezas do mundo que outrora era compreensível de algum modo pelo homem, que 
se pode falar da emergência do sujeito da psicanálise, conforme FREITAS I; (2018). 
Com a dúvida metódica de Descartes, concluiu-se a existência do ser pensante 
e da consciência, o sujeito da verdade, no entanto, sobre ele nada se soube. Pois, o 
discurso do saber busca tamponar tudo aquilo que não pode ser apreendido em sua 
natureza; ou seja, o ósseo deste sujeito da ciência que se apresenta nas falhas do 
discurso e que aparece apesar do Cogito (Meyer, 2008 apud FREITAS I; 2018). 
O sujeito da psicanálise é, portanto, contemporâneo à ciência moderna, mas é 
pensado para dar conta deste sujeito que nasce com ela, mas é excluído da mesma 
(Lacan, 1998 [1966] apud FREITAS I; 2018). Isto, pois, nada se opera sobre ele ou 
com ele, uma vez que o Cogito é pautado pela razão, enquanto a psicanálise opera 
não em uma pessoa humana simplesmente, mas no sujeito que se fundamenta por 
aquilo que não se sabe, com a angústia que o faz presente (Elia, 2010 apud FREITAS 
I; 2018). 
 Deste modo, compreender a noção de sujeito tal como proposta por Lacan 
(1998 [1966] apud FREITAS I; 2018) é ponto chave, uma vez que a 
experiência da escuta analítica se norteia por perseguir os efeitos deste 
sujeito. Para compreendê-lo, faz-se necessário situar esse momento em que 
Lacan introduz a noção do sujeito em psicanálise, já que este se articula 
intimamente à gênese do sujeito cartesiano. Pois, a partir da filosofia de 
Descartes, fundamentada na máxima cogito, ergo sum, pode-se refletir sobre 
uma nova concepção de sujeito subvertida por Lacan. 
Tal concepção de sujeito é radicalmente diferente do que se pode dizer sobre 
o eu, este que é a instância da consciência e do saber. Dito isso, é necessário 
compreender a distinção entre o ‘eu’ e o ‘sujeito’, bem como o modo pelo qual se 
constituem, pois, a psicanálise opera nos efeitos deste último. Este que, como 
veremos, não pode se resumir ao indivíduo, a uma pessoa simplesmente ou a 
dimensão consciente do ser. Sendo assim, o próximo tópico busca esclarecer por 
 
12 
 
quais balizas o eu se constitui para depois diferencia-las daquilo que é constitutivo do 
sujeito da psicanálise, conforme FREITAS I; (2018). 
No que se refere ao início das experiências do bebê, pode-se dizer que este 
momento é marcado pela experiência de um corpo despedaçado, por isso há a 
impossibilidade de distinguir cada elemento de sua totalidade. Deste modo, como 
indica Safatle (2017 apud FREITAS I; 2018), não há a experimentação da unidade do 
eu que confira a ele uma sensação de reconhecimento e totalidade, nem mesmo a 
noção de individualidade e alteridade, limitando a ele a condição de extensão da 
própria mãe. 
Neste momento, como aponta Lacan (1998 apud FREITAS I; 2018), o filho do 
homem é superado em inteligência instrumental pelo chipanzé, uma vez que este já 
reconhece sua imagem no espelho, enquanto o bebê encontra-se ainda situado no 
registro do real e, por isso, tendo uma apreensão de completude (Castro, 2011 apud 
FREITAS I; 2018). Isto resulta que “ele tem apenas necessidades simples, que podem 
ser satisfeitas de forma imediata. ” (Castro, 2011, p. 1419 apud FREITAS I; 2018). 
Mas, esta condição do bebê possui fendas, fissuras próprias do campo da 
linguagem que caracterizam essa experiência de completude como mítica. Isso se 
deve ao fato de que suas necessidades vitais provenientes dos estímulos endógenos, 
tal como a nutrição, “cessam apenas mediante certas condições, que devem ser 
realizadas no mundo externo” (Freud, 1996 [1950], p. 357 apud FREITAS I; 2018). 
Portanto, devido ao estado prematuro biológico e simbólico da criança, ela dependerá 
da ação específica de um adulto próximo, isto é, alguém que lhe garanta sua 
sobrevivência – este adulto, o qual Freud identifica, apresenta-se a princípio no papel 
da mãe e Lacan irá nomeá-lo como Outro. 
Através da manifestação de desconforto da criança, há a correspondência da 
mãe para lhe confortar. Como resultado desta correspondência, na qual a mãe 
interpreta o comportamento da criança, se estabelece a comunicação. (Freud, 1996 
[1950] apud FREITAS I; 2018). 
É mediante esta relação com o outro e o apelo a ele que a criança poderá se 
inscrever no registro Imaginário e estabelecer uma relação com a realidade, 
o que possibilitará a conquista da apreensão global de seu corpo. Lacan 
(1998 [1966] apud FREITAS I; 2018) compreende esse momento como o 
estágio do espelho, no qual a criança ainda não se reconhece como tal e 
relaciona-se imaginariamente com o outro. Mas, assinala que embora os 
papéis de eu-outro ainda não estejam estabelecidos, esse tempo se 
caracteriza como a prefiguração daquilo que será constituído como seu eu. 
 
13 
 
Isto surge como possibilidade quando há a báscula “em que se vê 
equivalerem-se, para a criança, sua ação e a do outro. 
 (Lacan, 1986 [1954], p.196 apud FREITAS I; 2018). Isto é, uma confusão entre 
a imagem da criança e a do outro; por exemplo, quando uma criança diz que algum 
colega bateu nela, quando foi ela que bateu. É nesta indeterminação de quem é o 
agente e quem é o receptor do ato, na báscula expressa pela troca de papel com o 
outro, atribuindo a ele suas próprias ações, que o ser poderá se assumir como um 
corpo. 
Essa báscula é constituinte do eu, uma vez que a princípio ele mesmo não tem 
o domínio de suas ações, mas, pela mediação da imagem do outro, é possível que 
ele a assuma (Lacan, 1986 [1954] apud FREITAS I; 2018). Por isso podemos dizer, 
junto a Safatle (2017 apud FREITAS I; 2018), que o eu é o lugar de alienação, uma 
vez que sua gênese é fundamentalmente formada a partir de identificações, sendo 
através da imagem do outro que o eu orientará sua relação com o mundo para 
aprender a se situar nele. 
É a partir desta relação dual, num estado especular, que o sujeito poderá se 
reconhecer como um eu além de aprender a reconhecer o seu desejo,que a princípio 
só pode ser apreendido no “desejo do desaparecimento do outro como suporte do 
desejo do sujeito. ” (Lacan, 1986 [1954], p. 198 apud FREITAS I; 2018). Para tanto, é 
imprescindível a inscrição no simbólico, este é o momento em que há a resolução do 
estágio do espelho e Lacan assinala como o mais importante, pois nota-se que é neste 
tempo que a criança se reconhece na imagem, pois está investida de um novo valor: 
o Outro, o valor simbólico. É este Outro como referência que irá introduzir a criança 
num sistema sócio simbólico, condição essa necessária para a emersão do sujeito 
(Safatle, 2017 apud FREITAS I; 2018). 
A saída do estágio do espelho é caracterizada, portanto, pela ordem do 
simbólico, pois neste momento há a junção deste com o registro imaginário. Diante 
disso, pode-se compreender a alusão que Freud faz à brincadeira do carretel em Além 
do Princípio de Prazer (1996 [1920] apud FREITAS I; 2018). A brincadeira 
corresponde a um jogo de um menininho de um ano e meio que enquanto 
arremessava um carretel de madeira com um pedaço de cordão em volta dele, emitia 
um longo o-o-o-ó, sua mãe concluíra que o ato não representava somente uma 
expressão de sentimento e emoção, mas, sobretudo, representava a palavra alemã 
 
14 
 
‘fort’ (longe). O segundo momento da brincadeira consistia no reaparecimento do 
brinquedo, que fora puxado de volta pelo garoto enquanto saudava o reaparecimento 
dele, expressando alegremente a palavra ‘da’ (aqui). 
A vocalização dos movimentos que a criança faz proporciona que ela se situe 
a partir de uma dicotomia própria da linguagem que é seu fundamento, a saber, no 
jogo, a oposição entre fort/da (longe/aqui). Essa vocalização é importante, não 
simplesmente pelo seu enunciado, mas, sobretudo, pela possibilidade que a criança 
cria de simbolizar a ausência e a presença do objeto amado – neste caso a ausência 
da mãe (Quinet, 2012 apud FREITAS I; 2018). Ao se tornar mestre deste movimento 
através do fort/da o ser assume sua privação em relação a ela, de modo a se 
reconhecer como um corpo distinto do outro. Assim, inaugura a possibilidade também 
de se fazer sujeito, uma vez que através da imagem do outro e da orientação que este 
possibilita, pode apreender um lugar para si no mundo do símbolo, além de aprender 
a desejar (Safatle, 2017 apud FREITAS I; 2018). 
Vemos, então, como a imagem do outro é substancial na constituição do eu, 
já que inaugura um lugar para o ser se assumir como um corpo consciente. 
Porém, este lugar é também fonte de alienação, uma vez que este se inscreve 
a partir de imagens do outro e por isso nada tem de singular na sua 
composição (Safatle, 2017 apud FREITAS I; 2018). Através da inserção na 
linguagem há garantia da existência e da possibilidade de falar deste ser 
alienado, na medida em que, não sendo por ela, o ser seria um corpo 
entregue ao vazio. Só há ser, pois, estamos imersos em significantes que 
reconfigura algo de nossa experiência. 
Diante disso, não há como restringir essa experiência ao mundo da 
necessidade, nos considerando somente como um corpo biológico. Pois, por sermos 
seres da linguagem, sendo esta condição para a vida humana, nunca a 
experienciamos como tal. Pois mesmo o bebê já está imerso no campo da linguagem, 
o que caracteriza essa vivência como algo de outra ordem. Isso, pois, o apelo das 
necessidades vitais do bebê passará pelo campo do Outro, lugar que a mãe ocupa 
num primeiro momento, caracterizando-o como o tesouro dos significantes (Lacan, 
1973 [1964] apud FREITAS I; 2018) diante disso, não há como restringir essa 
experiência ao mundo da necessidade, nos considerando somente como um corpo 
biológico. Pois, por sermos seres da linguagem, sendo esta condição para a vida 
humana, nunca a experienciamos como tal. Pois mesmo o bebê já está imerso no 
campo da linguagem, o que caracteriza essa vivência como algo de outra ordem. Isso, 
pois, o apelo das necessidades vitais do bebê passará pelo campo do Outro, lugar 
 
15 
 
que a mãe ocupa num primeiro momento, caracterizando-o como o tesouro dos 
significantes (Lacan, 1973 [1964] apud FREITAS I; 2018). 
Deste modo, fala-se da criança previamente dando um lugar a ela: seu nome, 
o sexo, a religião, sua classe social, o time para o qual torcerá, os preconceitos que 
ela sofrerá, dentre outros (Quinet, 2012] apud FREITAS I; 2018). A ‘mãe’, portanto, 
vai se oferecer a partir de um lugar não só de atender as necessidades biológicas da 
criança, mas também de dizê-la, dizer o mundo, o corpo e a cultura na qual estão 
mergulhadas. Esse tempo de ‘enxame’ de significantes sustentará o Outro para ela, a 
constituindo ao mesmo tempo como sujeito. Este, portanto, nascerá sendo falado pelo 
Outro, o qual, por sua vez, encarnará para o sujeito a ordem num mundo já constituído 
social e culturalmente (Elia, 2010] apud FREITAS I; 2018). 
Podemos pensar, então, que o ser só se constitui na relação com o Outro do 
simbólico, através de alguém que se ofereça a partir deste lugar. Assim, as 
necessidades vitais do bebê ao serem atendidas pelo ser da linguagem irá 
separar a criança da condição de mamífero, uma vez que ela não recebe 
simplesmente o leite, mas, sobretudo, é apresentada ao significante da mãe 
(Elia, 2010 apud FREITAS I; 2018). Essa experiência reconfigura a existência 
do ser, uma vez que ao considerar o Outro, campo da linguagem, não há 
como reduzir o sujeito a uma pessoa simplesmente, ao indivíduo com suas 
necessidades, tampouco a uma relação dual estabelecida entre o eu-outro. 
Pois, há o terceiro que é constitutivo da posição do sujeito, o Outro (Lacan, 
1999 [1958] apud FREITAS I; 2018). 
Nesse contexto, é necessário entender a diferenciação entre o sujeito do 
inconsciente, sustentado por uma divisão que o torna desejante, para um ser da 
articulação da demanda, consciente e que desconhece o desejo. Pois a psicanálise 
persegue os efeitos deste primeiro que emerge do campo simbólico e que se 
apresenta a partir da falta do Outro; enquanto o eu, consciente, trata-se de uma função 
do imaginário. Esta busca no Outro uma apreensão de completude ao supor que ele 
é onipotente e pode atender a todas suas demandas, conforme FREITAS I; (2018) 
 No entanto, nossa experiência como seres da linguagem nos atesta que a 
demanda se encerra nela mesma, uma vez que nunca nos satisfazemos por completo, 
pois não há quem possa corresponder a ela, já que o outro também falta. Deste modo, 
“a mentira estrutural da demanda consiste em fazer crer que ela é formulada para ser 
satisfeita. ” (Elia, 2010 apud FREITAS I; 2018). Ou, como diria Lacan (1985 [1973], 
p.152) ao propor uma fórmula para a demanda: “eu lhe peço que você recuse o que 
lhe ofereço porque não é isso". 
 
16 
 
Neste sentido, podemos dizer que o eu, o ser da articulação da demanda, é 
alienado, pois, ao se constituir a partir da imagem do outro, desconhece o seu próprio 
desejo e se restringe ao nível da demanda, supondo a possibilidade de sua satisfação. 
Como aponta Pequeno (2000, p.79 apud FREITAS I; 2018), o eu “desconhece que 
nada é produzido no seu próprio nível”, de modo a ter a ilusão de autonomia, da 
certeza do ser e de sua consciência. Por isso, o ser consciente se limita a dimensão 
do que é enunciado, isto é, do dito, do significado (Schãffer, 1999 apud FREITAS I; 
2018). 
No entanto, é noutro campo que podemos situar a verdade do sujeito e aquilo 
que é próprio dele, que não se inscreve pela imagem do outro. Trata-se do 
inconsciente, sendo através dos significantes que o compõe que o sujeito pode se 
fazer representar. Neste contexto, podemos afirmar junto a Pequeno (2000 apud 
FREITAS I; 2018), que o inconsciente é o discurso do Outro, este por quem nascemos 
sendo falados e que se constitui como possibilidade de nos fazermos sujeito do 
inconsciente, pois é através dos significantes dele que o sujeito pode advir, conforme 
FREITAS I; (2018). 
Dito isso, Pequeno(2000 apud FREITAS I; 2018) o compreende como o 
sujeito do significante, pois ao estar submetido a eles, só pode emergir como 
efeito de sua articulação, se situando nas entrelinhas do discurso. Neste 
sentido, podemos pensar que se o eu é o lugar do enunciado, o sujeito está 
para além dele, sendo a partir da enunciação que ele pode surgir. Como 
aponta Schãffer (1999, p. 21 apud FREITAS I; 2018) “é no processo de 
enunciação que um sujeito se produz e é produzido”, ou seja, através do ato 
de criação do enunciado, o sujeito poderá se inscrever entre as linhas dos 
significantes. Com isso, se o eu tem a ilusão de sua autonomia, logo esta é 
abalada, agitada e bagunçada por produções inconscientes que se fazem 
presentes à revelia do consciente. 
Vemos, então, que se através da filosofia de Descartes, a partir da dúvida 
metódica, o indivíduo pode chegar à máxima do Cogito, ergo $um, isto é, da certeza 
de sua consciência, “infelizmente, mesmo que ele saiba que é, não sabe 
absolutamente nada daquilo que é.” (Lacan, 1985 [1955], p. 281 apud FREITAS I; 
2018). Pois, como diria Lacan (1998 [1966], p. 521 apud FREITAS I; 2018), “sou onde 
não penso! ”. Sua precisão diante do Cogito é tomada a partir da subversão freudiana 
de considerar algo que está para além da consciência, que é marcada pela estrutura 
do desejo e que se chama inconsciente. Neste sentido, a psicanálise opera num 
sujeito clivado, e destitui da consciência seu papel central, colocando como centro de 
gravidade o inconsciente, o qual independe dos processos do pensamento. É por essa 
 
17 
 
dicotomia que subverte o Cogito que Lacan (1998 [1966] apud FREITAS I; 2018) 
formula a divisão própria deste sujeito: o saber e a verdade. 
Pautada por essa divisão do ser, a psicanálise vai à contramão do que se 
pode chamar de alienação, esta que está circunscrita à instância do eu 
(Safatle, 2017 apud FREITAS I; 2018). Ao supor essa alienação, coloca-se o 
problema de que haveria a perda de uma essência que seria interior a si 
mesmo. Logo, neste sujeito do pensamento engendrado pela filosofia de 
Descartes, marcado pela consciência e por processos de identificação, 
encontra-se um ‘si mesmo’ chamado por Lacan de sujeito, sendo nele onde 
se inscreve o desejo. “É por isso que o sujeito em Lacan é irremediavelmente 
‘descentrado’, ou seja, ele nunca se confunde com o Eu. ” (Safatle, 2017, p. 
37, grifo do autor apud FREITAS I; 2018). Pois, trata-se de um sujeito que se 
articula à consciência, mas que se identifica ao desejo, este que nada tem de 
racional. 
Deste modo, se o sujeito é escamoteado pelo eu, o homem nada sabe sobre 
seu desejo. Conforme aponta Lacan (1986 [1954], p. 193 apud FREITAS I; 2018), o 
adulto, com efeito, tem de procurar seus desejos. Sem o que não teria necessidade 
de análise. O que nos indica suficientemente que está separado do que se relaciona 
ao seu eu, a saber, do que se pode reconhecer de si mesmo. 
Assim, parafraseando Lacan (1986 [1954] apud FREITAS I; 2018), a ignorância 
implica uma noção dialética na medida em que ela só se faz presente se houver como 
contraponto a perspectiva de verdade. Deste modo, a ignorância está para a verdade, 
assim como o verdadeiro está para o falso ou, ainda, como a realidade está para a 
aparência. Se o eu nada sabe sobre o desejo; logo, o processo de análise o implicará 
numa busca por este, através de uma noção de que haveria, em algum lugar, a 
perspectiva da verdade. Para tanto, é o analista que engendra essa dialética ao 
constituir sua ignorância, na medida em que ele a contrapõe ao conhecimento da 
verdade ao favorecer o sujeito barrado. 
Neste sentido, este processo se encaminha para um desconhecimento. Como 
indica Lacan (1986 [1954], p. 194 apud FREITAS I; 2018), “o desconhecimento 
representa uma certa organização de afirmações e de negações, a que o sujeito está 
ligado. Não se conceberia, pois, sem um conhecimento correlativo. ” Logo, a 
possibilidade do desconhecer implica, necessariamente, determinado conhecimento 
sobre aquilo o que se desconhece, assim como o verdadeiro está para o falso, o 
desconhecimento também está para o conhecimento. Pode-se dizer, de acordo com 
Quinet (2012, p.15 apud FREITAS I; 2018), que “a consciência é a instância do 
desconhecer”, de modo que o eu, fonte de desconhecimento, sucumbe o lugar do 
 
18 
 
sujeito, sendo este inconsciente e que se chama desejo (Safatle, 2017 apud FREITAS 
I; 2018). 
Este é o ponto em que se situa a verdade do sujeito, a qual a ciência tampona 
pela busca de tudo saber; aqui “separam-se os encaminhamentos da psicanálise e da 
ciência”, uma vez que “a psicanálise fica do lado da verdade e a ciência, do saber. ” 
(Pequeno, 2000, p.14 apud FREITAS I; 2018). Pode-se dizer, então, que a psicanálise 
busca a verdade do sujeito, e não o sujeito da verdade, este que se resguarda na 
razão. 
Para tanto, a psicanálise se serve do dispositivo da associação livre para 
apreender os efeitos deste sujeito. Ao submeter o analisando a experiência analítica, 
desqualifica-se sua fala acompanhada de valores e significações compartilhadas para 
que o inconsciente possa se fazer presente através do discurso concreto do sujeito 
(Elia, 2010 apud FREITAS I; 2018). 
 Portanto, a partir da fala endereçada ao outro, enquanto seu semelhante, a 
escuta analítica possibilita identificar os efeitos desse sujeito barrado e cerne do 
desejo; é no tropeço das falas e nas falhas de seu discurso que se dá luz a ele. Isto 
é, o sujeito escamoteado pelo eu, marcado pela estrutura da linguagem, aparece na 
articulação da cadeia significante fazendo-se escutar em seus efeitos, conforme 
FREITAS I; (2018). 
4.1 Sujeito dividido: sujeito assujeitado pelo outro; sujeito do significante 
Vemos, então, como é necessária a relação com o ser falante para que o sujeito 
advenha. Pois, este, além de garantir a sobrevivência da criança amparando suas 
necessidades biológicas, apresenta o mundo do significante para a mesma. No 
entanto, para, além disso, é necessária uma terceira figura na relação simbiótica entre 
a mãe e a criança para que esta se inscreva como sujeito, colocando-se não mais 
como um corpo entregue ao gozo da mãe e à sua lei arbitrária (Lacan, 1999 [1958] 
apud FREITAS I; 2018). Esta terceira figura é responsável por inscrever no Outro, 
também chamado de tesouro dos significantes, essa barra da qual falamos 
anteriormente, que marca a posição do sujeito e tem como função produzir uma 
diferenciação entre o Outro e o sujeito. 
 
19 
 
Podemos nomear este terceiro como a figura paterna que ao se inscrever no 
Outro, garante que a criança não esteja submetida à lei deste Outro não castrado – a 
‘mãe’. Se no primeiro momento a lei está sob o arbítrio da mãe, submetendo o sujeito 
a ela, o segundo momento é marcado, portanto, pela presença da intervenção 
paterna, esta que se situa para além da mãe (Lacan, 1999 [1958] apud FREITAS I; 
2018). 
É necessário, neste momento, frisar que esta intervenção não se trata de 
aspectos biográficos, pois a mesma não está simplesmente dada a partir de 
um ponto de vista social, a julgar pelas características do pai. Ou seja, a 
questão desta intervenção, tal como sua carência, não deve se delimitar por 
questionamentos tais quais: “O pai estava ou não estava presente? Será que 
viajava, que se ausentava, será que voltava com frequência? ” (Lacan, 1999 
[1958], p. 172 apud FREITAS I; 2018). Pois, ao contrário disso, Lacan insiste 
que a problemática se trata, sobretudo, de uma função simbólica e por isso 
não está circunscrita à relação mamãe e papai. Ou seja, o pai é simbólico e 
qualquer outra interpretação que o situe de algum modo num registro 
biográfico serão de outro nível, que não o da psicanálise. 
Tendo isso em vista, podemos afirmar junto a Lacan (1999 [1958] apud 
FREITAS I; 2018), que a intervenção paterna é consequência da operação da 
linguagem e consiste na substituição do significante do paipor outro significante. 
Trata-se de uma metáfora na qual um significante é substituído por outro; neste caso, 
o Nome-do-Pai (NDP) vem no lugar do significante da mãe/significante fálico, de modo 
a operar produzindo um corte na relação com o Outro invasivo. Por consequência, o 
Outro, como o tesouro dos significantes, torna-se barrado mediante a inscrição do 
NDP, configurando-o como o lugar da Lei. 
É com a possibilidade de simbolização mediante a inclusão do NDP no Outro 
que a criança poderá situar a mãe alhures de forma suportável, por meio da 
simbolização da sua alternância entre ausência-presença. Neste contexto podemos 
retomar o jogo fort/da, pois este indica o tempo em que a criança “consegue doravante 
controlar fundamentalmente o fato de não ser mais o único e exclusivo objeto de 
desejo da mãe, isto é, o objeto que preenche a falta do Outro, ou seja, o falo. ” (Dor, 
1989, p. 89 apud FREITAS I; 2018). 
Por consequência dessa passagem exclusivamente imaginária para 
simbólica, a criança pode apreender que a mãe deseja em outros lugares. 
Como aponta Lacan, para a criança, a pergunta é: qual é o significado? O 
que quer essa mulher aí? Eu bem que gostaria que fosse a mim que ela quer, 
mas está muito claro que não é só a mim que ela quer. Há outra coisa que 
mexe com ela – é o x, o significado. E o significado das idas e vindas da mãe 
é o falo (1999 [1958], p.181, grifo do autor apud FREITAS I; 2018). 
 
20 
 
Deste modo, ao simbolizar, a criança poderá abrir mão do lugar que ocupa de 
ser o falo, para representa-lo em outra dimensão, a de ter o falo. Para tanto, é 
necessário que ela se coloque como sujeito na relação para deixar de ser o objeto de 
gozo do Outro e distinga sua vivência dos objetos simbólicos substitutivos (Dor, 1989 
apud FREITAS I; 2018). 
Dada essa intervenção do NDP, a criança experimenta o evento traumático de 
separar-se da mãe. Ou seja, de acordo com Guimarães (2007, p. 34 apud FREITAS 
I; 2018), este é o momento em que há o “corte na suposta unidade que haveria entre 
o sujeito e o Outro”. Por meio desta operação se inaugura a falta no Outro, tal como 
Freud nomeou de castração, e, simultaneamente, abre-se espaço para que o sujeito 
se constitua como um ser faltante. “Esta falta é falta de ser, propriamente falando. Não 
é falta disto ou aquilo, porém falta de ser através do que o ser existe. ” (Lacan, 1985 
[1955], p. 280 apud FREITAS I; 2018). 
Vemos, então, que é necessário abdicar da relação com o Outro marcado por 
sua suposta completude para a conquista da posição do sujeito como falta-a-ser, o 
que implicará na inscrição do sujeito na ordem significante. Pois, ao se situar no furo 
do Outro, o sujeito pode se apropriar dos significantes que ele dispõe para se fazer 
representar, já que o Outro barrado não se constitui como um “universo completo” 
responsável por dar um sentido a história de determinado sujeito encerrando-a por 
isso mesmo (Quinet, 2012, p. 30 apud FREITAS I; 2018). Este furo implica que falta 
ao Outro um significante por excelência, já que o lugar de ‘tesouro’ se torna incompleto 
dada à intervenção paterna. 
Deste modo, não há uma sentença que diga o que o sujeito ‘é’, pelo contrário, 
o sujeito é marcado por sua indefinição, pois sendo sua morada o furo do Outro, ele 
desliza nas cadeias significantes se fazendo representar pelos significantes que 
compõem o campo do Outro (Quinet, 2012 apud FREITAS I; 2018). Assim, “na 
neurose, o sujeito é o que um significante representa para um outro significante” 
(Pequeno, 2000, p. 66 apud FREITAS I; 2018), situando-se no intervalo entre S1 e S2 
(Quinet, 2012 apud FREITAS I; 2018). Isto implica que ele não é isso ou aquilo, 
podendo ser apreendido somente em seu efeito, e não em sua natureza – tal como 
vimos na seção anterior. 
 
 
21 
 
Trata-se, neste caso, do sujeito da enunciação (Schãffer, 1999 apud FREITAS 
I; 2018), que encontra as vias necessárias para se fazer presente através do que os 
campos do Outro dispõem. Podemos pensar, então, que o sujeito do significante 
(Pequeno 2000 apud FREITAS I; 2018), marcado como falta-a-ser, estabelece uma 
relação dialética com o Outro ao inscrever nele a dimensão da falta, de modo a operar 
na cadeia significante para ‘concretizar’ seu discurso. 
5 POSSÍVEIS ORDENAÇÕES PARA A NOÇÃO DE OBJETO 
 
Fonte: exame.com 
Na psicanálise Freudiana é possível estabelecer diferentes ordenações da 
noção de objeto na obra freudiana a partir do que já foi exposto. Nenhuma delas é 
definitiva, mas escolhas precisam ser feitas se quisermos avançar na compreensão 
de um pensamento tanto no que diz respeito a seus acertos quanto a seus erros, 
conforme JR N; (2001). 
 É inevitável, nas tentativas didáticas de ordenação de um conceito em uma 
obra tão complexa como a de Freud, algum grau de esquematismo e simplificação. A 
partir da ordenação proposta, para além dela em direção a uma re-complexificação 
mais sistemática do conceito de objeto e da relação sujeito/objeto na obra freudiana, 
conforme JR N; (2001). 
 
 
22 
 
Assim, de acordo com JR N; (2001), uma ordenação possível seria a seguinte: 
O objeto é objeto da pulsão - considerando a teoria pulsional, Freud afirma 
que se constitui como objeto da pulsão todo objeto no qual ou através do qual a pulsão 
consegue atingir seu alvo. O objeto não é fixo, nem previamente determinado, é o que 
há de mais contingente no conjunto de elementos e processos presentes nos atos 
pulsionais. O objeto é variável e indeterminado, mas é o que permite satisfação às 
pulsões. Os objetos pulsionais tendem a ser objetos parciais, como por exemplo 
partes do corpo. Não precisam ser objetos reais presentes, podem ser objetos 
fantasiados, o importante é que sejam objetos que garantam a satisfação. Nesse 
sentido, o objeto estará sempre a serviço dos movimentos das pulsões sexuais, tal 
como Freud as define em sua primeira teoria das pulsões, conforme JR N; (2001). 
O objeto é objeto de atração e de amor - os objetos de atração e objetos de 
amor são em geral indivíduos que se articulam não apenas a relações pulsionais, mas 
sobretudo a relações do ego total com os objetos. É através dos objetos de amor que 
Freud (1910/1972 apud JR N; 2001) elabora as passagens de fantasias infantis 
inconscientes para as experiências na assim chamada “vida real”. 
 Parte-se, na infância, de objetos visados pelas pulsões parciais para se atingir, 
posteriormente, objetos totais, visados pelo ego adulto. É possível apreender, a partir 
dessa noção de objeto, uma certa concepção de desenvolvimento psicossexual 
sugerida por Freud, na passagem de objetos da pulsão parciais e pré-genitais, para 
objetos totais objetos de amor e genitais. No entanto, as próprias investigações 
posteriores de Freud (1917/1972 apud JR N; 2001), e principalmente os trabalhos de 
Abraham (1924/1980 apud JR N; 2001) e Klein (1932 apud JR N; 2001), tornarão 
essas relações muito mais complexas, envolvendo a experiência do fetichismo e os 
processos de incorporação, introjeção e projeção, fazendo com que a relação com 
objetos parciais assuma um papel central. 
Objeto e narcisismo: o ego torna-se objeto da pulsão – a introdução do ego 
como objeto da pulsão abre espaço para uma grande transformação na obra 
freudiana, que culminará com uma nova teoria das pulsões. A complexidade das 
relações entre as pulsões e seus objetos recoloca a questão sobre as formas de 
vinculação entre os objetos das pulsões sexuais e os objetos de necessidade, 
vinculados às pulsões de autoconservação. A própria noção de prazer e objetos de 
prazer precisará ser questionada, ao lado da noção de identificação. E ainda mais, o 
 
23 
 
ego, nos processos narcísicos é definido como um objeto de amor. Será o ego um 
objeto de amor como qualquer outro? Conforme JR N; (2001). 
Objeto e identificação: principalmente a partir de Luto e melancolia, Freud 
passa a dar mais ênfase à importânciados objetos de identificação na constituição do 
sujeito. Na experiência melancólica há a introjeção de uma relação ambivalente entre 
o ego e o objeto, objeto que nesse caso é inconsciente. A identificação parcial entre o 
ego e o objeto “perdido” resulta em um processo de grande destrutividade para o ego, 
na medida em que o ego não consegue igualar o objeto introjetado e assim partir em 
busca de novos objetos, conforme JR N; (2001). 
 Freud estabelece também, com clareza, que o objeto pode ter sua existência 
no psiquismo mesmo depois de não estar mais presente como objeto da percepção. 
As múltiplas dimensões psíquicas e empíricas que se desdobram a partir da 
concepção freudiana das identificações têm papel preponderante nas formulações da 
noção de objeto de autores pós-freudianos. Pode-se dizer que o objeto jamais será o 
mesmo para a psicanálise a partir da ênfase nas identificações como elemento central 
na constituição da subjetividade, conforme JR N; (2001). 
Percepção e objeto. O objeto da percepção é objeto real? A formulação 
sobre o vínculo entre percepção e objeto, presente sobretudo nos textos iniciais de 
Freud, apresenta o objeto como sendo por um lado um objeto externo e real, 
oferecendo ao sujeito — ou à consciência — o critério de realidade, e de outro lado 
como sendo um objeto psíquico e então trata-se fundamentalmente de 
representações (Vorstellungen), conforme JR N; (2001). 
Nesse plano, Freud não se distingue de boa parte da tradição psicológica, em 
que objeto é objeto empírico e a representação seria uma representação do objeto 
real externo. A percepção seria uma função da consciência, ou do ego, que por sua 
vez deveria ser definido como sede das funções psicológicas (atenção, cognição, 
etc.). Mas Freud (1915/1972 e 1923/1972 apud JR N; 2001) introduz uma novidade, 
em termos de teorias clássicas da percepção, ao deixar aberta a possibilidade de 
percepções inconscientes. E nesta medida permite que se postule o reconhecimento 
de que nenhuma percepção garante um acesso objetivo à realidade, não cabendo, 
assim, reconhecimentos definitivos sobre a objetividade das percepções. 
 
 
24 
 
Apesar destas diferentes acepções, podemos considerar que na teoria 
freudiana, de uma forma geral, o objeto está sempre ligado ao processo da história de 
vida do sujeito, ou seja, se o objeto é determinado por algo, não o é simplesmente por 
elementos constitucionais de cada sujeito, mas sim pela história de vida 
(fundamentalmente a história de vida infantil). Neste sentido, mesmo a assim 
chamada “escolha de objeto” presente na adolescência e na vida adulta, se não ocorre 
por acaso, também não pode ser concebida como completamente determinada, seja 
constitucionalmente, seja por uma decisão soberana da consciência ou do ego, 
conforme JR N; (2001). 
6 O CONTATO FÍSICO NA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ 
 
Fonte: uol.com.br 
A relação que se instala entre mãe-bebê vem sendo estudada há muitos anos, 
com todas as divergências de teorias e teóricos. Há a unanimidade em reconhecer 
que é a primeira relação humana da criança, a pedra fundamental onde será edificada 
sua personalidade, porém não existe uma natureza ou origem dessa relação, não há 
um momento exato para se dizer onde ela começa, com que rapidez se estabelece, 
por que é mantida, por quanto tempo é mantida e qual a função exata dessa relação. 
 
25 
 
Existe um bebê com necessidades fisiológicas a serem satisfeitas e essa relação com 
a mãe se dá dessa satisfação de necessidades, onde a mãe é a fonte de satisfação 
(BOWLBY, 2002; SPITZ, 2004; WINNICOTT, 2012b apud KONRATZ R; 2017). 
É essencial para a saúde mental do bebê que se viva uma relação calorosa, 
íntima e contínua com a mãe, onde consiga atingir satisfação e prazer, por ambas as 
partes. É através dessa relação com a mãe que muitos julgam estar a base do 
desenvolvimento da personalidade e saúde mental do bebê (BOWLBY, 2006; 
WINNICOTT, 2012b apud KONRATZ R; 2017). 
Em concordância, pode-se afirmar dentro da teoria de Winnicott que essa é a 
primeira relação do bebê com o mundo, a mãe é para ele o seu mundo, parte integral 
dele, responsável pela satisfação, porém não há uma separação do bebê e da mãe, 
na visão dele são um só. Não há nada de místico nisso, mãe e bebê são um só, pois 
ela está voltada inteiramente para ele. Isso dá ao bebê a possibilidade de ser, de 
caminhar na linha do amadurecimento de maneira saudável e se desenvolver 
(LOPARIC, 2001; WINNICOTT, 2012a apud KONRATZ R; 2017). 
O período que é considerado neste trabalho é chamado de dependência 
absoluta (da parte da criança) e preocupação materna primária (da parte da mãe), que 
vai do nascimento aos seis primeiros meses de vida do bebê, onde como já foi dito, a 
mãe está inteiramente voltada a ele para satisfazer suas necessidades (LOPARIC, 
2001; DIAS, 2002; GOELLNER, 2009 apud KONRATZ R; 2017). 
Cabe a essa mãe proporcionar o ambiente para o bebê se desenvolver e ao 
mesmo tempo ser esse ambiente de desenvolvimento. Sendo assim, a mãe 
suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo é criado 
por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, que exerce na 
sua relação com o filho qualidades essenciais de apoio, proteção e aceitação. Como 
dito anteriormente, são três as funções que devem estar presentes na figura materna 
para classificá-la como “suficientemente boa” de acordo com Winnicott, sendo elas 
conceituadas como holding, handling, e a apresentação dos objetos (DIAS, 2002; 
WINNICOTT, 2007; GOELLNER, 2009 apud KONRATZ R; 2017). 
Vários acontecimentos ocorrem nos primeiros seis meses de vida da criança 
e o desenvolvimento emocional tem parte desde o princípio num esboço da 
evolução da personalidade e do estilo e é imprescindível os eventos dos 
primeiros dias e horas de vida e até o nascimento pode ser significativo 
(WINNICOTT, 2011a apud KONRATZ R; 2017). 
 
26 
 
Verificamos, na mãe grávida, cada vez mais uma identificação com o seu filho, 
somente a mãe consegue saber como o bebê pode estar se sentindo. Ocorrendo essa 
identificação, a mãe é capaz e tem anseio de dar ajuda no momento em que for 
necessário (WINNICOTT, 2011a apud KONRATZ R; 2017). 
Vale ressaltar a importância de se examinar o relacionamento entre mãe eu 
bebê, pois é preciso haver distinção do que pertence a um e ao outro, nesse jogo há 
a identificação da mãe com seu bebê e do mesmo para com sua mãe, sendo, nesse 
caso, importantíssimo que a mãe se posicione de maneira madura (WINNICOTT, 
2011a apud KONRATZ R; 2017). 
Conforme Winnicott propõe, é importante observar as transformações que 
acontecem na mulher que está em vésperas de ter um bebê ou que recentemente 
teve um. São mudanças fisiológicas começando com o sustento físico do bebê no 
útero - essas mudanças devem ser acompanhadas, pois podem ser distorcidas por 
não haver saúde mental na mulher (WINNICOTT, 2007 apud KONRATZ R; 2017). 
De diversas maneiras ela é encorajada pelo seu próprio corpo a ficar 
interessada em si. A mãe transmite algo de sua importância para o bebê que está se 
desenvolvendo dentro dela. De um modo ou de outro, há a identificação com o bebê 
que está se formando, o que acarreta em uma percepção muito afetuosa do que 
precisa o bebê, sendo isso uma identificação projetiva, onde permanece por algum 
tempo após o parto, depois gradativamente perde importância (WINNICOTT, 2007 
apud KONRATZ R; 2017). 
Segundo Winnicott, a proteção suficientemente boa do ego, pela mãe (na 
relação à ansiedade inimaginável) permite ao novo ser humano estabelecer 
uma personalidade no modelo da sequência existencial. As falhas que de 
certa forma podem causar a ansiedade inimaginável acabam acarretando 
uma reação que corta a continuidade existencial, findando em um padrão de 
fragmentação do ser, o que gera na criança uma tarefa de desenvolvimento 
sobrecarregada que vem a favorecer no surgimento da inquietação,falta de 
atenção e hipercinesia, que mais tarde acarretam em incapacidade de se 
concentrar (WINNICOTT, 2007 apud KONRATZ R; 2017). 
Torna-se relevante entender os períodos iniciais para a constituição do vínculo 
mãe-bebê, levando em conta o período da gestação ao puerpério como momento 
favorável para este entrosamento. Após o nascimento a mãe depara-se com as 
inúmeras mudanças em sua rotina, abre mão de muitos momentos e cuidados 
próprios, passa a ter mais preocupações, volta toda a atenção ao bebê e são esses 
 
27 
 
fatos que garantem, de certa forma, a qualidade do vínculo. (BORSA, 2007 apud 
KONRATZ R; 2017). 
A ação de amamentar concede o contato físico entre mãe e bebê, estimulando 
pele e sentidos, beneficiando ao bebê, não só o consolo de ter suas necessidades 
atendidas, mas o prazer de ser segurado pelos braços de sua mãe. Tornando-as cada 
vez mais tranquilas e facilitando a socialização durante a infância. (GOELLNER, 2009; 
COSTA e QUEIROZ, 2013 apud KONRATZ R; 2017). 
Para Winnicott (2012a apud KONRATZ R; 2017) juntamente com Rosario, 
Pitombo e Nogueira (2006) esse ato de segurar o bebê, manipulá-lo e prestar cuidados 
durante a amamentação é mais importante em termos vitais do que a experiência 
concreta da amamentação, pois o bebê se sente seguro, protegido e de certa forma 
saciado. 
Norman (2004 apud KONRATZ R; 2017) e Anzieu-Premmereur (2017 apud 
KONRATZ R; 2017) corroboram com Winnicott quando se trata da importância da 
relação inicial mãe-bebê, explanando sobre o respeito que a mãe tem que ter com o 
espaço do filho para não se tornar invasiva ou acabar superprotegendo o bebê de 
coisas necessárias para o seu desenvolvimento. A mãe deve ter consciência das 
consequências dos seus atos, sejam eles bons ou ruins, mas isso não deve ser feito 
de maneira a fazer se sentirem culpadas, e sim esclarecer onde devem mudar, o que 
devem realmente suprir e como suprir isso no bebê sem fazê-lo de forma invasiva ou 
deixando muitas falhas. 
Rappaport, Herzberg e Fiori (2014 apud KONRATZ R; 2017) salientam que 
para que haja um desenvolvimento psicológico sadio, é necessário um seio real. A 
maternagem é um procedimento inteiro que envolve mãe-bebê. Mesmo a mãe não 
possuindo leite, ou no caso de filho adotivo, é a relação amorosa e corporal que nutrirá 
os processos da criança. Pois é tomando o filho no colo que se dá o contato pele a 
pele prazeroso e configurador, o ato de prestar-lhe atenção, embalá-lo, acariciá-lo o 
ajudará a se organizar e passar a amar o objeto primordial de toda sua evolução 
afetiva, que é a mãe. 
 Isso são as “solicitações paralelas” do bebê sendo atendidas, onde ele não 
está incorporando apenas o leite materno, mas sua voz, embalos e carícias. É fato 
que os bebês reconhecem suas mães pelo cheiro e voz, já que o rosto humano só é 
reconhecido por ele do quarto mês de vida em diante, conforme KONRATZ R; (2017). 
 
28 
 
Segurar o bebê no colo favorece a experiência sensorial e tátil do corpo, 
possibilitando uma delimitação corporal e a noção de existência. Tal atitude da mãe 
propicia ao bebê o sentimento de confiança, fator fundamental para a base do ego e 
o sentimento de continuidade do ser (a partir do sentimento de confiança, surge o 
sentimento de amor), além de fortalecer a relação da mãe com o seu bebê 
(WINNICOTT, 1990; DIAS, 2002 apud KONRATZ R; 2017). 
6.1 Início do contato com a realidade: apresentação de objetos 
De acordo com ROCHA M; (2006), o bebê ao conquistar a integração por 
períodos mais longos e ter sua psique inserida no corpo, atinge um momento delicado, 
pois um novo fenômeno se coloca a sua frente a realidade externa. 
Como explica Dias, assim que nasce, o bebê não tem nem o sentido da 
externalidade nem qualquer outro sentido da realidade. Para que algum 
sentido de realidade se inicie, é necessário que lhe seja propiciado o único 
que lhe é possível nesse ponto do amadurecimento: a realidade do mundo 
subjetivo. Sem o estabelecimento da realidade subjetiva não há como 
prosseguir nas conquistas graduais do amadurecimento (Dias 2003:213 apud 
ROCHA M; 2006). 
E também acrescenta que a conquista do sentido de externalidade será 
possível por meio do estabelecimento das relações objetais. Nesse momento, o meio 
ambiente se apresenta ao bebê. A mãe traz um pedacinho do mundo até ele, de forma 
compreensiva e de um modo limitado, proporcionando lhe uma experiência de 
onipotência ao lhe permitir que tenha a ilusão de que o que foi encontrado seja algo 
por ele criado, conforme ROCHA M; (2006). 
Para Winnicott, o início das relações objetais é complexo. Somente ocorre se o 
meio ambiente propiciar a apresentação de um objeto, de maneira que o bebê acredite 
que quem cria objeto é ele. Isto ocorre da seguinte forma, nas palavras do autor, O 
bebê desenvolve a expectativa vaga que se origina em uma necessidade não-
formulada. A mãe, em se adaptando, apresenta um objeto ou uma manipulação que 
satisfaz as necessidades do bebê, de modo que o bebê começa a necessitar 
exatamente o que a mãe apresenta. Deste modo o bebê começa a se sentir confiante 
em ser capaz de criar objetos e criar o mundo real. A mãe proporciona ao bebê um 
breve período em que a onipotência é um fato da experiência (Winnicott 1965n [1962], 
p.56 apud ROCHA M; 2006). 
 
29 
 
O pensamento de Winnicott sobre a questão da apresentação de objetos pode 
também ser verificado no momento da amamentação que é por ele usado para ilustrar 
o processo que pode resultar na primeira experiência de afetividade feita pelo bebê 
com um objeto externo e que acontece em algum momento do início do 
desenvolvimento infantil. Diante dessa questão, em seu artigo “Alimentação do Bebê”, 
ainda escreve mais: “[...] a alimentação da criança é uma questão de relações mãe-
filho, o ato de pôr em prática a relação de amor entre dois seres humanos” (Winnicott 
1945c [1944], p.31 apud ROCHA M; 2006). 
Com base nos autores citados, conforme dito anteriormente, a relação de 
objeto está intimamente vinculada à apresentação que a mãe faz de cada pedacinho 
do mundo ao bebê. Gradativamente, a mãe vai aumentando a porção de realidade 
compartilhada que apresenta ao bebê, aumentando a capacidade de ele usufruir o 
mundo, tendo o cuidado de preservar certa porção de ilusão. Winnicott parte da 
concepção de que o bebê possui a ilusão que aquilo que ele encontra no mundo, no 
período inicial de vida, foi por ele criado, conforme ROCHA M; (2006). 
Para o autor, no entanto, esse estado de coisas só ocorre quando a mãe age 
de maneira suficientemente boa. Na perspectiva desse pensamento, infere-se que, se 
a mãe for bem-sucedida em capacitar o bebê a usar a ilusão, ele estará preparado 
para aceitar, com facilidade, os momentos de desadaptação gradual o desmame. À 
medida que o bebê consegue lidar com a separação, inicia-se seu caminho em direção 
à dependência relativa e à conquista da independência, conforme ROCHA M; (2006). 
7 AS RELAÇÕES OBJETAIS NA TEORIA DE RONALD FAIRBAIRN 
Na apresentação que Ernest Jones faz do livro de Fairbairn (1970 apud 
BICHUETTI L; 2011), “Estudos psicanalíticos da personalidade” ele declara que, se 
pudesse condensar as ideias de Fairbairn em uma frase, ele diria: 
Em vez de partir, como fez Freud, da estimulação do sistema nervoso 
originada pela excitação das zonas erógenas e da tensão interna provocada 
pela atividade gonádica, ele parte do centro da personalidade, o Eu, e 
descreve as suas tensões e dificuldades na sua tentativa para alcançar um 
objeto onde possa encontrar apoio. (1970, p. 9 apud BICHUETTI L; 2011). 
 
 
30 
 
Ronald Fairbairn foi um psicanalista que partiu das formulações freudianas, 
empregando-as no tratamento de seus pacientes. Durante algum tempo, ele manteve-
se fiel aos postulados de Freud. No entanto, quando se deparou com alguns quadros 
psicopatológicos, especialmente com pacientes esquizoides, ele afirmou que não 
conseguia avançarno tratamento destes pacientes utilizando a teoria da libido. Então, 
ele considerou que, a teoria clássica freudiana era insuficiente, não só para explicar o 
funcionamento psíquico de alguns pacientes, como também para tratá-los, conforme 
BICHUETTI L; (2011). 
Foi a partir da análise de pacientes que manifestavam características 
esquizoides que Fairbairn constatou a importância das relações objetais. Isso porque, 
nesses pacientes, as dificuldades relativas ao relacionamento com os objetos se 
apresentavam mais claramente, conforme BICHUETTI L; (2011). 
Fairbairn explica que o significado do termo esquizoide está ligado à concepção 
da clivagem do Eu (1970, p. 22 apud BICHUETTI L; 2011). Para ele, “todos sem 
exceção devem ser considerados esquizoides [...] O fenômeno esquizoide 
fundamental é a presença de clivagens do Eu [...] alguma medida de clivagam do Eu 
está invariavelmente presente ao nível mental mais profundo” (idem, p. 21). 
Desse modo, segundo Fairbairn, qualquer indivíduo pode manifestar alguma 
característica esquizoide sob condições extremas, outros podem manifestar provas 
de uma clivagem do Eu apenas em situações que envolvem reajustamentos, enquanto 
alguns indivíduos podem manifestar essa clivagem em situações comuns da vida, 
conforme BICHUETTI L; (2011). 
A análise terapêutica dos casos esquizoides, atendidos por Fairbairn, deram-
lhe uma oportunidade de estudar e compreender uma grande variedade de processos 
psicopatológicos. Na verdade, ele começou a se interessar pelos processos mentais 
de natureza esquizoide, justamente pela compreensão psicopatológica que esses 
casos lhe proporcionavam, conforme BICHUETTI L; (2011). 
7.1 As primeiras relações objetais 
Fairbairn aponta que a qualidade de dependência do objeto é o fator mais 
importante nas primeiras relações. Os objetos podem ser parciais ou totais e no 
desenvolvimento da primeira infância existe apenas um objeto natural parcial: o seio 
 
31 
 
da mãe; sendo que o objeto total mais significativo é a mãe, estando o pai em plano 
secundário, conforme BICHUETTI L; (2011). 
Para o autor, na primeira infância, o caminho de menor resistência ao objeto 
reside quase exclusivamente através da boca, devido às necessidades do organismo 
humano nessa época, de ser amamentado pela mãe. É por isso que a boca se torna 
o órgão libidinal dominante nessa fase da vida, conforme BICHUETTI L; (2011). 
Nesse estágio inicial “o Eu da criança pode ser descrito, sobretudo, como um 
Eu oral” (1970, p. 24 apud BICHUETTI L; 2011). Isso porque a boca da criança é seu 
principal órgão de desejo, o principal instrumento de atividade, o principal meio de 
satisfação e frustração, o principal canal de amor e de ódio e mais importante do que 
tudo, o primeiro meio de contato social íntimo. 
Fairbairn ressalta que: 
A primeira relação social estabelecida pelo indivíduo, é entre ele mesmo e a 
mãe; e o foco da sua relação é a situação de aleitamento, na qual o seio da 
mãe fornece o ponto focal de seu objeto libidinal, e a sua boca, o ponto focal 
da sua própria atitude libidinal. Consequentemente, a natureza da relação 
assim estabelecida exerce uma profunda influência sobre as relações 
subsequentes do indivíduo, e sobre sua atitude social em geral. (Fairbairn, 
1970, p. 24 apud BICHUETTI L; 2011) 
Percebe-se então que, para Fairbairn, o primeiro objeto libidinal da criança é o 
seio da mãe, mas a forma da mãe como pessoa, gradualmente começa a tomar forma 
em redor do núcleo original desse órgão materno (o seio), conforme BICHUETTI L; 
(2011). 
Essa relação oral da criança com a mãe na situação de aleitamento representa 
a sua primeira experiência de relação de amor, e é por isso, a fundação sobre a qual 
se baseiam todas as suas futuras relações com os objetos de amor. Representa 
também, a sua primeira experiência de uma relação social; e por isso, forma a base 
da sua atitude subsequente para com a sociedade, conforme BICHUETTI L; (2011). 
7.2 Fairbairn e a teoria da libido de Freud 
De acordo com BICHUETTI L; (2011), apesar de Fairbairn reconhecer o valor 
histórico da teoria da libido, ele considera que, com o avanço do conhecimento 
psicanalítico, a teoria da libido tornou-se limitada para o entendimento de algumas 
 
32 
 
definições psicopatológicas. Depois de analisar profundamente a teoria da libido ele 
chega às seguintes conclusões: 
em primeiro lugar, a libido é essencialmente a procura de objeto; as zonas 
erógenas não são elas mesmas determinantes fundamentais de finalidades 
libidinais, mas canais mediadores dos objetivos principais da procura de 
objeto do Eu; qualquer teoria do desenvolvimento do Eu, para ser satisfatória, 
deve ser concebida em termos de relações com objetos, e em particular 
relações com objetos que foram interiorizados durante os primeiros tempos 
de vida sob pressão de privação e frustração [...] (Fairbairn, 1970, pp. 207- 
208 apud BICHUETTI L; 2011). 
A partir dessa constatação, Fairbairn passou a ter como objetivo a construção 
de uma teoria mais abrangente, capaz de abordar e explicar os processos mais 
básicos da constituição do psiquismo. Assim, ele começou a se questionar sobre os 
momentos iniciais da constituição psíquica e do desenvolvimento da personalidade, 
procurando localizar as causas da dimensão psicopatológica da vida mental, conforme 
BICHUETTI L; (2011). 
7.3 As relações com objetos parciais 
Fairbairn constatou que os indivíduos com características esquizoides, nas 
suas relações objetais, possuem uma tendência para tratar os objetos libidinais como 
mero meio de satisfações das suas exigências e não como pessoas possuidoras de 
valor próprio. Esta tendência se origina na orientação oral primitiva do bebê para o 
seio como um objeto parcial, conforme BICHUETTI L; (2011). 
Essa orientação do indivíduo para objetos parciais é vista pelo autor como “um 
fenômeno amplamente regressivo, determinado por relações emocionais 
insatisfatórias com os pais e mais especificamente com as mães, numa fase da 
infância subsequente à primitiva fase oral na qual é originada esta orientação” 
(Fairbairn, 1970, p. 27 apud BICHUETTI L; 2011). 
Fairbairn observou que as mães mais propensas a provocar esta regressão são 
as mães que falham em convencer o filho, através das suas expressões espontâneas 
de afeto, de que elas o amam como uma pessoa. Quando a mãe fracassa em manter 
uma relação emocional com a criança numa base pessoal, a criança tende 
regressivamente a restaurar a relação com a mãe na sua forma mais pura e simples, 
 
33 
 
revivendo sua relação com o seio da mãe como um objeto parcial (idem), conforme 
BICHUETTI L; (2011). 
Esse movimento de regressão visa buscar uma simplificação das relações e 
toma uma forma de substituição de contatos físicos por emocionais e a esse 
movimento Fairbairn denominou de "desemocionalização da relação de objeto" e nele 
observa-se uma predominância do "receber" sobre o "dar", conforme BICHUETTI L; 
(2011). 
7.4 As relações objetais da personalidade 
Diante da ineficácia da teoria clássica da libido para o tratamento dos pacientes 
com características esquizoides, Fairbairn passou a considerar então que, em prol do 
progresso e evolução do campo psicanalítico, a teoria freudiana deveria ser 
substituída por uma teoria de desenvolvimento baseada nas relações de objeto. Ele 
salienta que, somente tendo como base “uma psicologia das relações objetais, na qual 
as relações entre o Eu e os objetos interiorizados assim como os objetos externos 
eram tomados em conta, se poderia conseguir qualquer integração entre os conceitos 
de impulsos e de estrutura do Eu” (Fairbairn, 1970, p. 209 apud BICHUETTI L; 2011). 
 
 
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br 
 
 
34 
 
De acordo com BICHUETTI L; (2011), para defender essa tese, ele explica que 
a teoria da libido confere o estatuto de atitudes libidinais a várias manifestações que 
surgem meramente como técnicaspara a regulação das relações objetais do Eu. Isso 
significa que as relações objetais iniciais são independentes do investimento libidinal, 
pois elas são determinadas pela dependência inicial do bebê em relação aos objetos 
que satisfazem suas necessidades. Desse modo, uma dependência infantil caminha 
para uma capacidade para a mutualidade adulta. Fairbairn afirma que: 
[...] as zonas erógenas são simplesmente canais através dos quais passa a 
libido, e que uma zona erógena só se torna erógena quando a libido passa 
através dela. O fim último da libido é o objeto; e na sua procura do objeto a 
libido é determinada por leis semelhantes ás que determinam a corrente de 
energia elétrica, isto é, procura o caminho de menor resistência. A zona 
erógena deveria, por isso, ser simplesmente considerada como um caminho 
de menor resistência; e a sua real erotogeneidade pode ser comparada ao 
campo magnético estabelecida pela passagem de uma corrente elétrica. 
(Fairbairn, 1970, p. 49 apud BICHUETTI L; 2011) 
A partir de seus estudos, Fairbairn chega à conclusão de que “o 
desenvolvimento das relações de objeto é essencialmente um processo por meio do 
qual a dependência infantil do objeto dá gradualmente lugar à dependência madura 
em relação ao objeto” (idem, p. 53). Para ele, o desenvolvimento emocional se 
caracteriza por uma sequência natural de diferentes modos de se relacionar com os 
outros que vai se modificando durante os estágios psicossociais, conforme 
BICHUETTI L; (2011). 
Fairbairn então, elabora sua teoria das relações objetais e divide-a em três 
estágios que se caracterizam por uma mudança gradual na natureza da relação de 
objeto. O primeiro estágio, denominado de dependência infantil, se baseia numa 
identificação primária6 e é caracterizado predominantemente por uma atitude de 
receber, isto é, esse estágio envolve duas fases orais, em que o objetivo oral original 
é o sugar, que incorpora e predominantemente tira, conforme BICHUETTI L; (2011) 
O segundo estágio, denominado de dependência adulta ou madura, 
caracteriza-se por uma relação objetal baseada numa diferenciação do objeto do self, 
ou seja, uma distinção entre objeto e o eu. Aqui existe uma predominância da atitude 
de dar, mais compatível com a sexualidade genital desenvolvida. Entre esses dois 
estágios de dependência infantil e dependência adulta, existe um estágio de transição, 
que se caracteriza por uma tendência para abandonar a atitude de dependência 
infantil e adotar a atitude de dependência madura. Esse estágio transicional começa 
 
35 
 
a despontar quando a ambivalência começa a ceder perante uma atitude baseada na 
dicotomia do objeto, conforme BICHUETTI L; (2011) 
Fairbairn entende que essa dicotomia do objeto se refere ao “processo por meio 
do qual o objeto original para o qual tanto o amor como o ódio foram dirigidos, é 
substituído por dois objetos: um objeto aceite, para o qual é dirigido o amor e um 
objeto rejeitado, para o qual é dirigido o ódio”. Fairbairn chegou a essa teoria do 
desenvolvimento das relações objetais, baseada na qualidade da dependência do 
objeto, por meio da análise de indivíduos em que se pode observar, um grande conflito 
entre uma extrema relutância para abandonar a dependência infantil e uma enorme 
ânsia de renunciar a ela, conforme BICHUETTI L; (2011) 
De acordo com BICHUETTI L; (2011), Fairbairn pôde observar que a maior 
necessidade de uma criança é conseguir a segurança de que é amada como pessoa 
pelos pais, e a de que os pais aceitam genuinamente o seu amor. Ele diz que: 
É apenas na medida em que esta segurança está prestes a aparecer numa 
forma suficientemente convincente para lhe permitir depender sem perigo dos 
seus objetos reais que é capaz de gradualmente renunciar à dependência 
infantil sem receios. Na ausência desta segurança, a sua relação com os 
objetos está cheia de demasiada ansiedade de separação para lhe permitir 
renunciar à atitude de dependência infantil; porque esta renúncia seria 
equivalente a seu ver a perder toda a esperança de alguma vez obter 
satisfação para as suas necessidades emocionais insatisfeitas. A frustração 
do seu desejo de ser amada como pessoa e de que o seu amor seja aceito é 
o maior traumatismo que uma criança pode experimentar [...] (Fairbairn, 1970, 
p. 59 apud BICHUETTI L; 2011). 
 
36 
 
8 A PSICOLOGIA DO SELF 
 
Fonte: psicologiaunifafibe.com 
A base dos estudos de Freud sobre o “objeto” foram as neuroses. Já Kohut 
partiu dos distúrbios narcisistas, visto que suas primeiras investigações e percepções 
em torno dos fenômenos conhecido como self-objeto, ocorreram após análises 
clínicas desenvolvidas com um grupo específico de pacientes com transtornos 
narcisistas. Kohut trata o narcisismo como a própria energia vital, aquilo que lhe 
impulsiona, nutre a vida psíquica, conforme FONSÊCA A; et al., (2013). 
Voltando sua atenção a estes pacientes, Kohut obteve a oportunidade de 
reformular ideias iniciais, conceitos e apurar técnicas, como também, concluir que o 
narcisismo não é uma condição incompatível com as relações objetais, visto que para 
a psicanálise ortodoxa o narcisismo consistia na escolha do próprio eu como objeto 
de satisfação sexual, excluindo as relações objetais, conforme FONSÊCA A; et al., 
(2013). 
Quando se busca entender o processo da constituição e formação do self, 
Kohut trouxe uma reflexão acerca do posicionamento das famílias na época de Freud, 
e como a mesma se demonstra no contexto atual. As famílias na época de Freud eram 
ameaçadoras por serem excessivamente próximas e íntimas. Hoje em dia, ao 
contrário, as famílias são ameaçadoras por serem excessivamente distantes e não-
envolvidas (HALL, LINDZEY e CAMPBELL, 2000 apud FONSÊCA A; et al., 2013). 
 
37 
 
Ao analisar este contexto das famílias, identificando que as mesmas hoje 
diferentemente da época de Freud são elementos cada vez mais distantes, desta 
forma, os pais voltam-se sua preocupação para suas próprias necessidades 
narcísicas. Esta posição da família traz uma consequência empática, pois, eles 
tornam-se padrões com menor satisfação, e não demonstram uma condição sadia de 
“ser si mesmo”, não estabelecendo relacionamentos interpessoais gratificantes. Na 
análise de Kohut, os nossos medos mais profundos refletem não a ansiedade de 
castração ou os impulsos conflituais do id, mas o potencial de perda dos objetos de 
amor, conforme FONSÊCA A; et al., (2013). 
No livro intitulado a “Restauração do Self”, de autoria de Heinz Kohut, este 
descreve o self da seguinte forma: 
O self é como a realidade, não conhecido em sua essência. Nós só podemos 
descrever as várias formas coesas nas quais ele se apresenta, podemos 
demonstrar os vários constituintes que compõem o self... e explicar suas 
gêneses e funções. “Podemos fazer tudo isso, mas, ainda assim nós não 
conheceremos a essência do self enquanto diferenciado de suas 
manifestações”. Se nos indagarmos empaticamente o que vem a ser o self 
temos algumas suposições: “sentimentos de sermos um centro independente 
de iniciativa e percepção, sentimentos de estarmos integrados com nossas 
ambições e ideais mais centrais e com a experiência de que nosso corpo e 
mente formam uma unidade no espaço e um continuum no tempo”. (KOHUT 
apud GANG, 2008, p. 7 apud FONSÊCA A; et al., 2013). 
Importante ressaltar que na teoria das relações objetais as primeiras relações 
vivenciadas pela criança são internalizadas em seu inconsciente, e acumulam-se no 
plano psicológico, sendo transformadas em imagens que no futuro entrarão em 
conflito. Perturbações as quais darão estrutura aos relacionamentos interpessoais no 
futuro adulto, visto que, estas relações interpessoais vivenciadas pela criança neste 
processo objetal, são pontos determinantes na constituição do self do indivíduo 
maduro (HALL; LINDZEY E CAMPBELL; 2000 apud FONSÊCA A; et al., 2013). 
 Sarkis (ANO) comenta que, o self nascente de um bebê necessita

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