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SISTEMÁTICA DAS OPERAÇÕES DE LOGÍSTICA INTERNACIONAL Cícero Fernandes Marques Inovação em logística Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Contextualizar as demandas contemporâneas da logística e sua re- percussão nas organizações. Identificar novos modelos de gestão e de práticas relacionadas à logística. Explicar como a inovação impacta no gerenciamento logístico. Introdução Os mercados estão cada vez mais competitivos, de um lado, os fabri- cantes e distribuidores oferecem uma grande quantidade de produtos e serviços ao mercado, e, de outro, os consumidores estão cada vez mais exigentes, buscando ofertas de qualidade pelo menor custo possível. Para sobreviver e crescer nesse cenário, as indústrias mudaram a forma de manufaturar, deixando de produzir tudo internamente, transferindo parte do trabalho a fornecedores especializados, que garantem insumos, nas quantidades e nos momentos necessários, compreendidos desde a matéria-prima até os componentes. Assim, são formadas redes ou cadeias de suprimento quando esses insumos chegam à montadora dos produtos, e quando estes ficam prontos, são disponibilizados aos consumidores finais por meio de uma rede de distribuidores. Neste capítulo, você conhecerá as demandas contemporâneas da logística. Além disso, conhecerá os novos modelos e práticas de gestão. Por fim, verá o impacto da inovação na gestão logística. 1 As demandas contemporâneas da logística e sua repercussão na organização A logística e seus processos evoluíram ao longo do tempo, acompanhando a evolução das organizações industriais e os mercados. No fi m do século XIX, ocorreu uma grande transformação na sociedade contemporânea, devido aos conceitos do grande pensador da revolução industrial e do capitalismo, Adam Smith, apresentados no livro a Riqueza das nações (1776). Entre diversas ideias, Adam Smith propôs que a divisão do trabalho ampliaria a capacidade de pro- dução, pois, na época, os artesões manufaturavam produtos personalizados, com elevados preços, disponíveis a poucos. Evolução da indústria A urbanização e o surgimento das primeiras indústrias na Inglaterra, asso- ciados ao uso de novas tecnologias, como o vapor, a automação de teares, a eletricidade, a fotografi a, o telefone, o rádio e tantas outras invenções, transformaram o mundo, principalmente nos Estados Unidos, onde Frederick Taylor e outros desenvolveram o modelo da administração científi ca, aplicado por Henry Ford na indústria automotiva. Esse modelo possibilitou a obtenção de processos de produção em massa, permitindo oferecer automóveis de custo baixo em grande escala, no início do século XX. No entanto, para cada produto ofertado no mercado, surgiram concorrentes, assim como novas técnicas de fabricação e de gestão. Há diversos estudos sobre as grandes fases ou eras do processo industrial. Autores como Corrêa e Corrêa (2004), Schuab e Davis (2018), entre outros, descreveram o desenvolvimento da indústria em quatro grandes etapas: in- dústria 1.0 a 4.0, apresentadas na Figura 1. Inovação em logística2 Figura 1. Evolução da indústria 1.0 a 4.0 Fonte: Adaptada de elenabsl/Shutterstock.com. A indústria 1.0 surgiu com a mecanização da indústria têxtil na Inglaterra, em meados do século XVIII, seguida da criação e da utilização de máquinas opera- trizes, como tornos mecânicos, motores a vapor, estradas de ferro e locomotivas. Já a indústria 2.0, proporcionada pela divisão do trabalho, proposta ini- cialmente por Adam Smith e implementada por Frederick Taylor, adicionou o estudo dos tempos e movimentos, a especialização das tarefas, o uso da gravidade e de ferramentas adequadas para as tarefas, a energia elétrica, estudos sobre o desempenho das pessoas, a definição das jornadas de trabalho de oito horas diárias, entre outros. 3Inovação em logística A indústria 3.0, por sua vez, com a disponibilização e o uso das tecnologias da informação e comunicação, iniciou os processos de automação com meios digitais. Essa época coincide com a implementação no ocidente das técnicas de JIT ( just in time), desenvolvidas pela Toyota no Japão nos anos 1940, com a estruturação dos kereitsus (redes de empresas), aplicados no ocidente a partir de estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) referente ao International Motor Vehicle Program, programa que envolveu pesquisadores de diversos países para estudar e adaptar os fundamentos do JIT da Toyota às indústrias ocidentais, denominado lean production (produção enxuta). Essa fase agregou a utilização das técnicas da gestão da qualidade total (TQM, do inglês total quality management), projeto para fabricação (DFM, do inglês design for manufacturability), manufatura integrada por computadores (CIM, do inglês computer integrated manufacturing), entre outras (HAYES et al., 2008). Por fim, a indústria 4.0, ou quarta revolução industrial, trouxe os sistemas físico-cibernéticos, ou seja, o uso intensivo da tecnologia da informação, automação, robótica, integração dos processamentos de dados, computação nas nuvens, utilização de recursos da internet das coisas, entre outros, que possibilitaram manufaturar produtos personalizados com baixo custo. Para Schuwab e Davis (2018), a quarta revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas pela transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital, a indústria inteligente e automatizada. Os autores acreditam que ela transformará a forma como vivemos e nos relacionamos, utilizando as tecnologias disponíveis para criar novos sistemas edificados em uma plataforma da revolução digital. Inovação em logística4 Para Slack et al. (2013), uma das formas de a produção contribuir para ampliar a flexibilidade dos processos é utilizar diversas máquinas de menor capacidade, em vez de uma única grande, pois, dessa forma, é possível realizar manufaturas simultâneas, garantindo maior robustez ao sistema produtivo e oferecendo maior flexibilidade. Classicamente, os processos industriais são classificados, segundo a operação principal, em duas formas de processos: sistema tradicional ou empurrado (push) e sistema puxado de produção (pull) (SLACK et al., 2013). No sistema tradicional ou empurrado, são fabricadas grandes quantidades de produtos, os quais são oferecidos ou “empurrados” aos distribuidores e/ou consumidores finais. Esse método é muito comum para bens de consume básico, como biscoitos, refrigerantes e alimentos em geral. Já no sistema puxado de produção, desenvolvido pela Toyota, sendo também conhecido por JIT ou, na versão ocidental, lean production (ou produção enxuta), o consumidor define o pedido, que manufatura exa- tamente o que é solicitado, de modo que é necessária uma maior interação com os fornecedores e agilidade nas operações. Cada empresa industrial deve desenvolver suas atividades e adotar as tecnologias em função dos produtos que manufatura e dos mercados em que atua, considerando a capacidade de produção, a estrutura financeira e de capital, entre outros fatores. Evolução da logística A logística evoluiu, acompanhando as tendências e evoluções dos processos industriais, como pode ser observado na Quadro 1 (WOOD JUNIOR, 2009; NOVAES, 2007). 5Inovação em logística Fo nt e: A da pt ad o de W oo d Ju ni or (2 00 9) , N ov ae s ( 20 07 ) e B ow er so n et a l. ( 20 14 ). Fa se s Fa se z er o A tu aç ão se gm en ta da In te gr aç ão ríg id a In te gr aç ão d in âm ic a e fle xí ve l In te gr aç ão e st ra - té gi ca Lo gí st ic a 4. 0 Pe rs pe ct iv a do m in an te Ad m in ist ra çã o de m at er ia is Ad m in ist ra çã o de m at er ia is + di st rib ui çã o Lo gí st ic a in te gr ad a G es tã o de c ad ei a su pr im en to s ( SC M , do in gl ês su pp ly ch ai n m an ag em en t) SC M + re sp os ta e fi- ci en te a o co ns um id or (E CR , d o in gl ês e ffi cie nt co ns um er re sp on se ) Re de s l og íst ic as in te rli ga da s In te gr aç ão 4 .0 Fo co s G es tã o de es to qu es G es tã o de co m pr as M ov im en ta çã o de m at er ia is O tim iza çã o do sis te m a de tra ns po rte Vi sã o sis tê m ic a da e m pr es a In te gr aç ão p or m ei o de si st em a de in fo rm aç õe s Vi sã o sis tê m ic a da em pr es a, in cl ui nd o fo rn ec ed or es e c an ai s de d ist rib ui çã o Am pl o us o de a lia nç as es tra té gi ca s, co m ak er - sh ip , s ub co nt ra ta çã o e ca na is al te rn at iv os d e di st rib ui çã o Su st en ta bi lid ad e In te rn et n as n u- ve ns e d as c oi sa s CP FR (r ed es co la bo ra tiv as ) Q ua dr o 1. E vo lu çã o da lo gí st ic a Inovação em logística6 Sempre que havia estoques ou suas sobras, como após uma colheita, e havia a necessidade de transporte e armazenamento, assim como no suporte de armas, munições, alimentos e outros para os exércitos, as bases logísticas estavam presentes e em desenvolvimento. Como nas fases iniciais da industrialização se produzia quase tudo internamente, a logística se preocupava com aquisições de matérias-primas e alguns componentes, o transporte e a gestão dos materiais de forma segmentada ou separada, estoques, transporte, entre outros. À medida que as indústrias foram evoluindo e passaram a utilizar fornecedores, a logística evoluiu para a otimização dos transportes e o suprimento dos canais de distribuição. Segundo Novaes (2007), passou a existir uma atuação segmentada ou por atividades específicas, como transporte e armazenamento, a chamada fase zero. A competição se tornou mais intensa após os anos 1950, tornando as opera- ções mais complexas e aumentando o seu volume, de modo que elas precisavam estar integradas. Com a cadeia de fornecedores e os canais de distribuição, os fundamentos da logística integrada são aplicados. Segundo Novaes (2007, contribuindo para a formação do conceito da SCM, a logística assume um papel estratégico para as organizações por meio de uma integração rígida, integrando movimentação, armazenagem e outros serviços. As novas demandas do mercado necessitam ser prontamente atendidas e rapidamente responder aos canais de distribuição, o que integra o conceito de ECR (cliente, quando for o varejista a ser atendido) de forma dinâmica e flexível. Assim, novos recursos e desafios induzem o processo evolutivo da logística a seguir em mais etapas, como a adesão a programas e ações de sustentabilidade, mais especificamente a logística reversa e o Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment (CPFR, ou Planejamento colabora- tivo, previsão e reabastecimento), uma relação sinérgica entre a montadora e os canais de distribuição. Para Novaes (2007), a integração flexível, composta por agentes dinâmicos e flexíveis, interna e externamente à empresa, utiliza recursos como o EDI (troca eletrônica de dados), uma integração estratégica. Segundo Bowersox et al. (2014), para executar tais atividades, a logística passou a adotar todas as tecnologias mais avançadas para três grandes áreas: suprimento, apoio à produção e distribuição física. Esses processos se tornaram globalizados, de modo que passaram a exigir operações complexas e novas formas de alianças estratégicas com fornecedores, buscando obter vantagens competi- tivas e capacitando-se para o desenvolvimento rápido de produtos e processos (QPD, do inglês quick product, process development), para prontamente atender às novas exigências e necessidades dos consumidores, marketing one-to-one e operações para atender ao e-commerce, com o uso de recursos informacionais 7Inovação em logística e tecnológicos, como internet das coisas, computação nas nuvens, empresas interligadas, personalização, inteligência artificial, áreas da logística 4.0. Certamente, a logística é a área das organizações que mais utiliza recursos computacionais e tecnológicos para realizar suas operações. Assim, todo e qualquer desenvolvimento de recurso tecnológico é observado, estudado e, se possível, adotado para a melhoria da eficiência dos processos. Tendências e exigências da logística Os principais objetivos da logística foram descritos pela Sociedade Interna- cional dos Engenheiros Logísticos (SOLE), mais conhecidos por 8 Rs: right material (materiais corretos), right quantity (quantidade correta), right quality (qualidade correta), right place (lugar correto), right time (tempo correto), right method (método correto), right cost (custo correto ou justo) e right impression (boa impressão ou percepção na prestação dos serviços). Segundo Novaes (2007), a logística moderna procura incorporar: prazos previamente acertados e cumpridos integralmente, ao longo de toda a cadeia de suprimento; integração efetiva e sistêmica entre todos os setores da empresa; integração efetiva e estreita (parcerias) com fornecedores e clientes; busca da otimização global, envolvendo a racionalização dos processos e a redução de custos em toda a cadeia de suprimentos; e satisfação plena do cliente, mantendo o nível de serviço preestabelecido adequado. Segundo Slack et al. (2013), os processos longos causam desperdícios, atrasos e acúmulos de estoques. Os processos fisicamente reconfigurados que reduzem as distâncias percorridas e a cooperação entre a equipe contribuem para enxugar o fluxo, garantindo maior visibilidade para promover melhorias. Para responder de forma completa às demandas, faz-se necessária a flexibili- dade dos processos para tratar com demandas inesperadas e permitir que os processos e as atividades sejam alterados frequentemente, sem gerar atrasos. Em síntese, a base da logística é composta por: tempo, espaço e condições, ou seja, deve-se disponibilizar os materiais necessários no momento, no local e nas condições determinadas ou contratadas. Para assegurar as vantagens competitivas, podem ser adotados diversos recursos, como o postponement (postergação), que, para agilizar a manufatura e assegurar o acabamento ou a finalização do produto na forma desejada pelo cliente, realiza uma integração, ou um processo híbrido, de manufatura entre os dois processos clássicos de produção. Até determinado momento, os produtos são manufaturados como empurrados e disponibilizados próximo aos consumidores, utilizando o processo puxado no momento da compra. Nos Exemplos 1 e 2, é possível identificar esse processo e suas aplicações. Inovação em logística8 Exemplo 1 Um caso clássico de manufatura híbrida entre os sistemas empurrado e puxado de produção é a colorização de tintas nos pontos de venda com equipamentos instalados em lojas de materiais de construção e acabamentos. Em lojas de ma- teriais e peças automotivas, o cliente seleciona as cores e as quantidades de sua preferência por meio de um sistema automatizado, que identifica os corantes e as quantidades necessárias para que a cor das tintas atinja o solicitado pelo cliente. Além disso, esse sistema orienta o operador a adicionar os corantes, adicionados aos recipientes com tintas de cor básica, e a máquina realiza a mistura e os mo- vimentos necessários para que a mistura e a homogeneização sejam atingidos e entregues aos clientes. Exemplo 2 É comum haver máquinas de café com diversas opções instaladas em diversos locais, como restaurantes, lanchonetes, universidades, oficinas, entre outros, onde o cliente escolhe o tipo de café (p. ex., simples, expresso, cappuccino, chocolate, chá, etc.). O usuário se dirige à máquina, que deve estar abastecida com água e diversos compo- nentes (p. ex., tipos de café solúvel, leite em pó, pó de chocolate, chás, etc.). Quando selecionada a opção desejada, a água é fervida e a composição da mistura é realizada, de modo que o produto é preparado no momento do consumo. Conforme Fern et al. (2007), outro processo interessante que está em pleno crescimento e adoção é a customização em massa, que envolve a capacidade de satisfazer determinadas necessidades e desejos de clientes individuais a preços abaixo dos de produtos e serviços produzidos em massa e que somente se aproximam dos desejos de muitos clientes em grandes nichos de mercado, conforme o Exemplo 3. Outro grande desafio é atender satisfatoriamente às demandas do e-commerce, o processo possibilita ao cliente pesquisar, escolher e comprar um produto em pouco tempo, seja por meio de um computador ou por um aplicativo de um smartphone. No entanto, o tempo de entrega será sempre maior que o tempo imaginado pelo consumidor no momento da compra. Dessa forma, a logística, associada ao marketing, desenvolveu diversas alternativas para uma substancial redução de tempo na entrega, a fim de minimizar o efeito da espera. 9Inovação em logística Exemplo 3 A Dell, indústria de computadores pessoais, possibilita que o cliente acesse a página web da empresa e assinale as características do computador que deseja (se é um notebook, all in one, desktop ou um gamer [para jogos]). Ela pede algumas informações ao usuário, como: se o produto é para uso pessoal ou profissional, o tipo de processador, memória RAM, armazenamento, sistema operacional, tamanho da tela, placa de vídeo, cor, peso e tipo de teclado. Após a definição do equipamento, o sistema informa o preço, as formas de pagamento e o prazo de entrega. Dessa forma, é possível que o cliente escolha, verdadeiramente, o seu computador nas especificações que deseja, e o preço será, provavelmente, pouco menor do que se fosse adquirido o mesmo produto em outra loja. O marketing e as operações O marketing interage fortemente com a logística na distribuição, preocupando- -se com a localização de onde ofertar os produtos e/ou serviços, o tipo de ponto de venda e a quantidade de pontos por região. Segundo Grewal e Levy (2017), as estratégias de distribuição, semelhantes às da produção, podem ser defi nidas em: empurradas (push) e puxadas (pull). As estratégias empurradas são efi cientes para mercadorias com demanda constante e provável, como leite, alimentos e outros. Já as estratégias puxadas são efi cientes para demandas não previsíveis, como produtos eletroeletrônicos, veículos, entre outros. Segundo Carvalho e Dias (2000), um novo desafio é o denominado om- nichannel, o qual, além dos canais de distribuição tradicionais que integram as vendas diretas pela indústria (p. ex., restaurantes) e indiretas pelos dis- tribuidores, atacadistas e varejistas, envolve vendas diretas, como porta a porta, marketing direto, como malas-diretas, e-mail direto, catálogos, sites, telemarketing, marketplaces, entre outros. Novas formas de relacionamento e comercialização também estão disponíveis por meio de redes sociais e outras ferramentas, digitais ou não. A essência do omnichannel são as infraestruturas das bases de dados, que permitem interagir e monitorar clientes, evitando, principalmente, conflitos de canal, que podem criar sérios entraves nos processos de distribuição (KO- TLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017). O Quadro 2, a seguir, apresenta a evolução e os papéis contemporâneos do marketing. Inovação em logística10 Fonte: Adaptado de Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010, 2017) e Churchill Jr. e Peter (2013). Marketing 1.0 orientado para produção e produtos Marketing 2.0 orientado para o consumidor Marketing 3.0 orientado para valores Marketing 4.0 orientado para informação Objetivo Vender e desen- volver produtos Satisfazer e fide- lizar o cliente Fazer do mundo um lugar melhor Estimular a colaboração Forças propulsoras Revolução Industrial Tecnologia da informação Nova onda tecnológica Internet e conteúdos Como as em- presas veem o mercado Compradores massivos, com necessida- des físicas Comprador inteligente, com mente e coração Ser humano pleno, com coração, mente e espírito Ser humano social, com coração, mente e espírito Conceito- -chave de marketing Desenvol- vimento de produtos Diferenciação Geração de valores percebidos Interação e personalização Diretrizes de marketing Especificação do produto Posiciona- mento de pro- duto e marca Missão, visão e valores da empresa Engajamento com missão, visão e valores da empresa Proposta de valor Funcional Funcional e emocional Funcional, emocional, espiritual e ser humano Emocional, espiritual, social e inclusão Interação com os con- sumidores Transação um para um Relaciona- mento um para um Colaboração um para muitos Colaboração muitos para muitos Quadro 2. Evolução das orientações de marketing Dessa forma, o marketing e suas atividades relacionadas à localização e às operações promocionais nos pontos de venda devem estar totalmente integradas à logística, para assegurar o abastecimento das lojas, assim como os materiais devem estar diretamente ligados à promoção e à comunicação. 11Inovação em logística Portanto, pode-se definir a logística e seus processos e recursos como um ins- trumento para atender a novas exigências e necessidades organizacionais, a fim de obter vantagem competitiva. Assim, ela integra as operações de suprimento e suporte à produção e à distribuição, estando sempre pronta para superar novos desafios. Este deve ser o estado de normalidade da logística: atender às demandas pre- visíveis e atender missões especiais que serão solicitadas a qualquer momento. Portanto, para os logísticos, é fundamental manter o equilíbrio, interpretar a necessidade e conhecer profundamente os processos e operações, a fim de identificar como atender algo especial com características diferenciadas. Assim, a logística terá novas demandas e desafios a superar, para propor- cionar mais e melhores serviços e opções que seus concorrentes, a preços competitivos, que modo que seus processos devem ser suficientemente flexíveis para atender e se ajustar às novas demandas. É essencial visualizar a logística como um instrumento estratégico para obter vanta- gem competitiva e oferecer maior valor ao cliente, pois, se for pensada como instru- mento tático ou operacional, não possibilitará criar alternativas e melhores resultados corporativos. 2 Novos modelos de gestão e de práticas relacionadas à logística Em função da exigência de maior fl exibilidade e agilidade nas operações, a interação com fornecedores e distribuidores exerce pressão sobre a forma de gerir das organizações como um todo, principalmente quanto à logística. Estruturas organizacionais As estruturas organizacionais passaram a ser estudadas a partir do fi m do século XIX, assumindo visões interessantes, inicialmente pelo autor Henri Fayol, da escola clássica da administração, na busca da máxima efi ciência, com a proposta de 14 princípios básicos, desde a divisão do trabalho até o espírito de equipe. Conforme Chiavenato (2006), a teoria burocrática de Max Weber é voltada principalmente para: gestão pública, caráter legal e formal da gestão, da im- Inovação em logística12 pessoalidade, divisão do trabalho, hierarquização, profissionalização, rotinas e procedimentos, formas e tipos de autoridade, entre outros. A teoria estruturalista surge a partir do pensamento da teoria burocrática, associando fundamentos das teorias das relações humanas. Dessa forma, identifica as organizações formal (definida formalmente) e informal (surge do relacionamento das pessoas), traz conceitos de remuneração e recompensas, bem como diversas formas de clas- sificação dos tipos de organização, como a de Blau e Scott e Amitai Etizioni. O pesquisador Henry Mintzberg (2003) desenvolveu o modelo da organi- zação em cinco partes (Figura 2), adequando à visão tradicional dos níveis estratégico, tático e operacional, incrementando a visão que contém o núcleo operacional, que engloba os operadores que executam o trabalho básico, relacionado diretamente com a produção de bens ou prestação de serviços. A cúpula estratégica é encarregada de assegurar que a organização cumpra a sua missão de maneira eficaz e atenda às exigências dos acionistas. A linha intermediária da cúpula estratégica é ligada ao núcleo operacional pela cadeia de gerentes com autoridade formal, pertencentes à linha intermediária. Na tecnoestrutura, encontram-se os analistas de controle que prestam serviços para a corporação, os quais são incumbidos de efetuar certas formas de padronização da organização. A assessoria de apoio envolve as unidades especializadas, criadas para apoiar a organização, onde situa-se a logística, entre outras áreas. Figura 2. Modelo das cinco partes de Mintzberg. Fonte: Mazzei (2012, documento on-line). 13Inovação em logística O desenho, ou modelagem organizacional (organogramas), também mudou e evoluiu ao longo do tempo. Originalmente, a representação tradicional era pi- ramidal, em que a direção ficava no tipo e crescia para as bases, assemelhando- -se a um triângulo ou a uma pirâmide. Em outros modelos, como o matricial — muito aplicável a redes de unidades e lojas, em que há uma interligação da décima unidade com as áreas especializadas da administração central e as circulares, mais recomendadas para a prestação de serviços —, há total interação entre os diferentes setores e o foco central é o cliente (DAFT, 2017). Na logística, devem ser pensados modelos ou estruturas organizacionais que favoreçam a agilidade e a mudança. Mintzberg (2010), preocupado com os fatores da gestão, ilustra uma questão importante: a atitude dos gerentes não é exatamente o que se espera deles. Ele denomina folclore o que é esperado e fato o que foi identificado em pesquisas de campo. Observe alguns exemplos de folclore e fato: folclore: que o gerente é um planejador reflexivo e sistemático; fato: os fatos obtidos em inúmeros estudos indicam que os gerentes trabalham em um ritmo implacável. Folclore: suas atividades geralmente se caracterizam por brevidade, variedade, fragmen- tação e descontinuidade. Fato: suas atividades são frequentemente orientadas para a ação. Outro folclore importante: o gerente depende de informações agregadas, cuja melhor fonte é um sistema formal. Fato: os gerentes tendem a preferir mídias informais de comunicação, especialmente as orais (telefo- nemas e reuniões) e as eletrônicas (e-mail). Mintzberg apresenta um modelo indicando que a gestão ocorre em três planos, do conceitual ao concreto: o das informações, o das pessoas e diretamente para a ação. As organizações como sistemas Acompanhando a evolução das teorias da administração, originárias da engenharia, pensava-se que todas as atividades seriam exatas, cálculo dos movimentos por período de tempo, reagindo a teorias científi cas. No entanto, fez-se necessária uma perspectiva das relações humanas, retornando para as escolas de pensamento mais voltadas à estrutura e à organização, assumindo componentes de relacionamento entre pessoas e motivação. Essa grande trans- formação ocorreu com a escola ou a teoria sistêmica, preconizada pelo biólogo Ludwig Von Bertalanff y, que, junto a seus seguidores, constatou que certos princípios gerais e alguns específi cos eram válidos e aplicáveis a diversos ramos da ciência e da gestão, dando suporte aos estudos e às aplicações da informática, em fase embrionária na época. Inovação em logística14 Os sistemas são compostos por partes que interagem entre si para atingir um objetivo em comum, tal qual os sistemas do corpo humano, como o respiratório, composto pelo pulmão e por outros órgãos. Os pressupostos da teoria geral dos sistemas estabeleceram uma relação entre os seres vivos e seus sistemas com as organizações, identificando que as empresas são sistemas abertos que interagem com o ambiente externo. Uma das principais premissas é de que o pensamento sistêmico é complexo, visto que cada situação tem inúmeras causas, que produzem inúmeros efeitos. Os sistemas são compostos por três elementos: entrada, processo e saída. A entrada compreende o insumo de materiais, máquinas e equipamentos, os trabalhadores, os procedimentos, as instalações, entre outros. Já o processo é específico para cada tipo de sistema ou organização, é quando os recursos de entrada são transformados nos produtos e/ou serviços que são objeto das empresas. Por fim, a saída é o resultado do objetivo do sistema. Além disso, um sistema pode ser composto por diversos sistemas menores. A percepção da abordagem de associação entre os seres vivos e as orga- nizações foi acrescida por diversos pesquisadores, como Kevin Kelly, que identificaram que as corporações estão se tornando sistemas complexos, como os biológicos, visto que operam como seres vivos, interagindo com o ambiente e estabelecendo redes organizacionais. Assim, as corporações estão se tornando mais distribuídas e descentralizadas, passando a exigir mentes em colmeia, cada qual em seu nicho, bem como uma liderança que aponte ou faça sugestão de uma direção, visualizando ou tentando prever o futuro por meio de corporações virtuais, em uma economia global e em rede, composta por grandes e pequenas organizações participantes. Arie de Geus (1998) observou que as espécies de aves que disseminam entre si o conhecimento têm maior longevidade do que as que não realizam trocas de informações. Assim, entende-se que as empresas que aprendem e disseminam o conhecimento mais rápido que seus concorrentes ampliam as oportunidades de sucesso e tendem a ser mais longevas, pois podem mais facilmente ingressar em novas atividades de negócios. Vários estudiosos pesquisaram sobre as organizações e o ambiente, verificando a existências das organizações mecânicas ou mecanicistas (rígidas e estruturadas) e as orgânicas (capacidade de adaptação, em que as tarefas e linhas de autoridade podem ser rapidamente alteradas), descritas por Garret Morgan. Nesse contexto, surge o pensamento holístico, que visualiza a organização como um todo integrado, cujo objetivo é alcançar os objetivos coletivos. 15Inovação em logística Modelos participativos Os modelos participativos criaram mecanismos para o aprimoramento dos processos por meio das pessoas que os executam. Originados pelo aumento generalizado da urgência e da instantaneidade nos resultados, esses mecanismos aceleraram o processo para a evolução das técnicas de gestão dos processos. principalmente aquelas derivadas do sistema JIT, da Toyota, que se mostraram muito efi cientes para estabelecer um processo de melhoria contínua, obtendo a cada momento resultados mais expressivos e eliminando as ações inúteis. Segundo David Jacquemont (2014), o propósito central da denominada gestão lean é a busca do valor duradouro, que propõe quatro disciplinas da empresa lean adaptável, são eles: a) entregar valor de maneira eficiente ao cliente, entender o que o consu- midor realmente quer e valoriza, quando, como e por quê, ajustando as operações para executar tal atividade; b) capacitar as pessoas para liderar e contribuir com todo o seu potencial; para extrair o potencial máximo dos profissionais é necessário apoiá-los com capacitação e recursos; c) descobrir melhores formas de trabalho, adequando-as às mudanças dos consumidores, concorrentes, ambiente social e econômico; pensar de forma permanente como as formas e os processos de trabalho podem melhorar; d) conectar estratégias, metas e propósito significativo por meio da clara definição dos objetivos organizacionais. Maximiniano (2017) descreve os cinco hábitos do gestor eficaz de Peter Drucker, um dos principais autores da administração contemporânea: saber empregar o tempo; focalizar no desempenho e nos resultados; agir sobre os pontos fortes, e não sobre as fraquezas; estabelecer prioridades; e tomar de- cisões eficazes (as importantes e de alto nível conceitual), ideias simples que desencadeiam resultados. O autor aponta, ainda, que uma estrutura eficiente deveria seguir três regras básicas: ser organizada por desempenho; adotar o mínimo possível de níveis gerenciais; e capacitar os gestores do futuro. Conforme Slack et al. (2013), os modelos de gestão da qualidade de equipes autogeridas, derivados do JIT ou lean production, incorporando outros modelos de gestão, como a reengenharia de Hammer e Champy, sugerem uma revisão Inovação em logística16 geral das empresas, para repensar os processos e fluxos de trabalho, e um redesenho radical dos processos de negócios, para obter melhorias drásticas com medidas críticas de desempenho, como custo, qualidade, serviço e velo- cidade, realizado em quatro etapas: Preparação: listar os processos da empresa, selecionar um ou mais processos a redefinir e mobilizar recursos para o projeto. Planejamento: assegurar os meios, as pessoas e os recursos, estruturar as equipes de trabalho e distribuir tarefas. Implementação: analisar os processos selecionados, seus pontos fracos e pontos fortes, reinventar esses processos (visão do cliente/resultado esperado), avaliar o impacto da mudança e implementá-los. Avaliação: medir e comunicar os resultados, controlar o processo e gerir o impacto das alterações nos demais processos. Em associação aos diversos conceitos e metodologias do JIT ou lean, foram desenvolvidas algumas metodologias gerais e outras pontuais para serem ado- tadas pelas organizações para a identificação e a solução de problemas, como o benchmarking, desenvolvido pela Xerox. Segundo o ex-diretor executivo da Xerox, David Todd Kearns, esse é um processo permanente de medição de produtos, serviços e práticas para confrontar com as empresas as referências ou melhores práticas. Segundo Maximiniano (2017), a utilização dos recursos informacionais e das tecnologias proporcionaram o surgimento de empresas virtuais e diversas outras alternativas. Como observado nas diversas teorias e metodologias apresentadas, o universo da gestão foi profundamente alterado com o uso intensivo das novas tecnologias, necessárias para garantir o atendimento do mercado. Com a disponibilização e o desenvolvimento dos recursos das tecnologias da infor- mação e comunicação (TIC), os processos gerenciais foram e estão sendo alterados e adaptados para obter maior flexibilidade e agilidade nos processos. 17Inovação em logística Uma sugestão interessante é a leitura do livro A hora da verdade, de Jan Carlzon, que apresenta a importância no atendimento dos clientes e os processos de delegação de poder para ampliar o atendimento. Muitos gestores, em momentos críticos, trazem para si a gestão dos problemas. 3 A inovação e o gerenciamento logístico A partir do momento em que a logística é identifi cada como fator que pode ampliar a capacidade competitiva da organização, ser mantida no nível estra- tégico passa a contribuir efetivamente para a obtenção de melhores resultados corporativos. A inovação exige uma grande integração entre as áreas de marketing, manufatura e logística, para que os produtos criados ou reconstruídos pos- sam rapidamente estar disponibilizados no mercado e ofereçam diferenciais competitivos à corporação. A logística e a vantagem competitiva A logística é uma área de interface entre os diversos departamentos de uma organi- zação com muitos agentes externos, como fornecedores e prestadores de serviços. Kobayashi (2000) aponta que a exigência da logística e da organização é ter capacidade para responder às mudanças. Após os anos 1950, com a reconstrução da Europa Ocidental e do Japão, as empresas foram afetadas por profundas transformações, visto que a competição internacional se intensificou. Técnicas japonesas foram adotadas em todo o mundo, alterando a visão e as estratégias empresariais, que passaram a identificar a inovação como um fator que cria vantagens competitivas, de modo que diversas empresas oriundas de países menos prováveis, como a Coreia do Sul, onde gigantes como Samsung, Hyundai, LG e Kia despontam como inovadoras e líderes em alguns setores. A inovação logística provoca uma mudança nas empresas, desde o abas- tecimento até chegar ao consumidor final. Kobayashi (2000) aponta que o triângulo da inovação para satisfazer os clientes parte da visão da empresa e da visão do negócio, projetando três diferentes inovações: dos produtos (mudar os produtos e/ou o negócio), dos processos (mudar as modalidades de trabalho ou do negócio) e da mentalidade (mudar o ânimo e o comportamento das Inovação em logística18 pessoas). Ele cita, ainda, que a logística pode aumentar o grau de satisfação dos clientes, pois a inovação amplia o faturamento, principalmente na redução do lead-time, tempo decorrido entre a recepção do pedido e a entrega dos produtos aos clientes. Segundo Christopher (2018), para ofertar serviços de valor para o cliente, deve-se estabelecer uma interface da logística com o marketing. Inicialmente, é preciso identificar se o mercado dos produtos da empresa está se aproximando ou não de commodities. Em se tratando de mercados disputados, deve-se ob- servar que, em diversos casos, ocorre o declínio do poder das marcas, pelo fato de os clientes estarem mais dispostos a aceitar produtos substitutos, visto que as diferenças tecnológicas entre os produtos são pouco perceptíveis, reduzindo a margem das vantagens competitivas existentes. Nesses casos, o serviço ao cliente será a diferença entre a empresa e seus concorrentes. A equação conceitual mais utilizada para mediar o valor para o cliente é a seguinte: De forma genérica, a visão tradicional da comparação entre custo versus benefício, em diversos casos, é difícil de ser medida e comparada com os concorrentes. Por isso, é interessante ampliar os elementos a serem medidos, visando a obter: Segundo Christopher (2018), a logística é a área que pode causar impacto tanto na qualidade e nos serviços oferecidos quanto no custo e tempo. Qua- lidade é a funcionalidade, o desempenho e a especificação técnica da oferta. Serviço envolve a disponibilidade, o suporte e o compromisso com o cliente. O custo compreende os custos de transação, incluindo preço e custos derivados do ciclo de vida. Por fim, o tempo corresponde ao período de tempo necessário para responder às exigências do cliente, como o tempo de espera após o pedido. Inovação A busca por novas ideias para serem acrescidas aos produtos oferecidos ao mercado pode ter grande auxílio nas técnicas de design thinking. Segundo Vianna et al. (2013), design é associado à qualidade e à aparência estética 19Inovação em logística de um produto e, como disciplina, visa a promover o bem-estar na vida das pessoas. Todavia, foi a maneira como o designer percebe as coisas e age sobre elas que chamou a atenção dos gestores, criando uma nova visão para a inovação nas organizações. O designer enxerga como problema tudo que prejudique ou impeça a experiência e o bem-estar das pessoas. O design thinking, conceituado por Brown (2010), é a disciplina que usa a sensibilidade e os métodos do designer para suprir as necessidades das pessoas com o que é tecnologicamente factível. É uma estratégia de negócios que pode se converter em valor para o cliente e gerar oportunidade de mercado. Segundo Vianna et al. (2013), para obter resultados, a pesquisa de design, ao contrário da pesquisa de mercado, tem como foco o cliente, a fim de entender suas culturas, experiências, emoções, pensamentos e comportamentos, de forma a reunir informações para inspirar o projeto. Os levantamentos de dados são realizados por meio de interações entre o pesquisador e o alvo da pesquisa, com conversas e entrevistas semiestrutu- radas. A amostragem deve representar qualitativamente a busca por perfis de usuários externos, pois o raro pode iniciar uma nova ideia. O processo do design thinking é o seguinte: Empatizar → definir → idealizar → prototipar → testar Segundo a IDEO, uma das empresas pioneiras de design thinking onde Tim Brown é o CEO, empatia é conhecer o público alvo, compreender seus desejos, necessidades, hábitos e outras características, obtidos pelas pesquisas de campo, qualitativas e qualitativas, primárias (realizadas especificamente para o projeto) e secundárias (realizadas por outros agentes; no caso do Brasil, o IBGE é uma grande fonte) e observações (quem?). Definição é a fase onde são realizados os brainstormings, análise da jornada de compra do consumidor e análise dos perfis. Essas duas fases visam a entender o cliente (o quê?). Para idealizar ideias (propor muitas ideias, criar ideias diferentes, analisar e comparar as ideias propostas e aprimorá-las), deve-se considerar a análise das seguintes premissas: É desejado pelo consumidor? É factível tecnicamente? É viável financeiramente? Inovação em logística20 Após atender às premissas das ideias, deve-se prototipá-las, ou seja, construir um protótipo ou uma versão física para ser observada e avaliada (como?). As etapas de idealização e prototipagem permitem explorar e aperfeiçoar a ideia. Concluindo o processo, o protótipo deve ser testado junto aos potenciais clientes, para obter feedbacks e validar a ideia. Dependendo do caso, pode-se reiniciar o processo, para aprimorá-lo desde a empatia. Há diversos outros processos de criação e desenvolvimento de produtos, mas essa modelagem pode ser aplicada por empresas de qualquer porte, apenas necessitando de pessoas com capacidade de realizar entrevistas qualitativas com qualidade, para buscar e identificar alternativas e opções. A cada novo serviço oferecido ou ampliado, muito provavelmente terão custos, que nem sempre poderão ser cobrados dos clientes. Para atender às demandas e proporcionar vantagens competitivas em serviços e custos, aplicar conceitos de customização em massa, processos de postponement (postergação), entre outros, em que a flexibilidade e a agi- lidade são fatores decisivos, é necessário estabelecer novas relações com os fornecedores. Em determinados casos, será necessário ampliar a quantidade de fornecedores parceiros, a fim de atender a variações para atender especi- ficidades dos clientes na manufatura dos produtos. Um fator relevante é a distribuição física, principalmente com o crescimento das vendas, por meio de e-commerce. Para reduzir o lead time (tempo de entrega após o pedido), algumas alternativas estão sendo adotadas, como a entrega em pontos físicos da empresa, lojas ou pontos de entrega (ou conveniados), onde o cliente poderá retirar a compra no mesmo dia ou em 24 horas. Além disso, pode-se estabelecer um conjunto de depósitos distribuídos para estar próximo aos principais centros consumidores e reduzir significativamente os prazos de entrega em domicílio. É importante analisar o tempo de resposta com os custos adicionais e sua repercussão. Kobayashi (2000) aponta que é preciso repensar os processos de manufatura, podendo estabelecer sistemas tradicionais, JIT e híbridos, conforme os produtos, e utilizar linhas paralelas. Além disso, deve-se rever todos os processos, eliminar 21Inovação em logística os desperdícios, análise dos tempos e movimentos, reduzindo os inúteis, focar em ações efetivas de desenvolvimento e criação de produtos e buscar novos insumos e componentes de maior atratividade para os consumidores. Conforme Bowersox et al. (2014), com a virtualização, a transparência orga- nizacional e a integração com fornecedores e distribuidores, o desenvolvimento organizacional na logística deixou de ser apenas agregações funcionais e passou a ser uma integração de processos baseados em informações e inteligência operacio- nal, garantindo pronta resposta e redução de tempo para preparação de máquinas e equipamentos e ampliando a qualidade percebida dos produtos e serviços. Para atender às exigências dos clientes, cada vez mais elevadas, sobre o desempenho dos produtos e manter vantagem competitiva, faz-se necessário criar estruturas operacionais compostas por profissionais direcionados para a criação de valor para o cliente, os quais devem agir em permanente processo de mudanças e ajustes do mercado e dos produtos, vislumbrando, inclusive, a mudança de segmento de mercado de atuação. Assim, o foco no valor para o cliente e na relação custo–benefício serão os indicadores que irão direcionar as empresas para ampliar seus horizontes e manter a sua longevidade. Portanto, para atender a essas demandas, é preciso estar aberto para compreender as novidades e adaptar soluções existentes a uma nova perspectiva. BOWERSOX, D. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: Book- man, 2014. BROWN, T. Design thinking. Rio de Janeiro: Campus, 2010. CARVALHO, J. M. C.; DIAS, E. B. E-logistics e e-business. Lisboa: Sílabo, 2000. CHIAVENATO, I. Princípios da administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos. 5. ed. São Paulo: Cengage, 2018. CHURCHILL JR, G. A.; PETER, J. P. Marketing: criando valor para os clientes. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. CORRÊA, H.; CORRÊA, C. Administração da produção e operações. São Paulo: Atlas, 2004. DAFT, R. Administração. 12. ed. São Paulo: Cengage, 2017. 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