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o seminário 1'*01G A L V A O A sessão tem lugar na casa de hóspedes do doutor Erickson, uma casinha de três cômodos, constando de um quarto, uma sala de espera (com uma cozinha anexa) e o escritório do dou- tor Erickson. As sessões ocorrem na sala de espera, que é maior, devido ao fato de o escritório do doutor Erickson ser muito pequeno para acomodar os grupos, que, algumas vezes, consistem em até quinze pessoas. Há três estantes de livros na sala. A sala de espera está decorada com diplomas, quadros e lembranças. Os alunos sentam-se em círculos, em sofás ou poltronas. À esquerda do lugar onde Erickson senta-se na sua cadeira de rodas, fica uma cadeira estofada de verde, chamada muitas vezes de "a cadeira do sujeito". A senhora Erickson conduz Erickson na sua cadeira de ro- das até a sala de espera. Erickson permite que alguns alunos ajustem os microfones na lapela de seu casaco. Depois segura um lápis com uma ponta ornamentada. A ponta consiste de uma cabeça com cabelos de fibra roxa. As fibras ficam niti- damente alinhadas numa forma pontuda no alto do lápis. En- quanto mostra o lápis, Erickson diz para o grupo: "As pes- soas vêm aqui assim." Depois rola o lápis vigorosamente en- tre as palmas, desalinhando as fibras de cabelo, e afirma: "E Sáem daqui assim." Erickson então indica às pessoas o que devem preencher nas folhas de dados. Pede que escrevam a informação numa folha de papel: a data atual, o nome, endereço, código de zona e o número do telefone, estado civil e número de filhos, educação e grau de instrução, idade e data de nascimento, irmãos com as idades e respectivos sexos, e se foram criados em ambiente urbano ou rural. Erickson aguarda, enquanto as pessoas preenchem as infor- mações solicitadas. Depois lê cuidadosamente cada folha, fa- zendo comentários para alguns dos participantes. Corrige al- guns alunos que não preencheram todas as informações soli· citadas. Começamos a sessão quando Jan, uma psicóloga de Nova Iorque, responde a um comentário do doutor Erickson, afir- mando que tivera vários anos de experiência como filha única. Erickson então lhe diz: E: Quanta simpatia sente uma moça de quinze anos por um irmão de sete? Jan: As coisas começaram a mudar depois disso. E: Pobre irmão. Jan: Ele sobreviveu. E: Você não tem irmãos? (O doutor Erickson dirige-se a Anna, uma assistente social da Suíça.) Anna: Tenho sim. Não ouYi claramente o que deveria preen- cher. O que deseja que eu preencha? E: Irmãos: a idade e o sexo deles. Sande: Alô, doutor Erickson. Eu sou Sande. (Sande é uma tera- peuta de Nova Iorque que acaba de entrar na sala.) E: (Cumprimenta Sande com um aceno de cabeça.) Carol, seu grau de instrução e a data. (Carol é uma aluna doutorada em psicologia clínica em Massachusets.) Carol: A data da colação de grau? E: Não. A data de hoje. Seu nome, endereço, número de tele- fone, código de zona, seu grau de instrução, onde o obte- ve, seus irmãos e a idade e sexo deles, estado civil, filhos, criação rural ou urbana. Siegfried: Sou Siegfried de Heidelberg, Alemanha. (Siegfried é psicólogo clínico, Ph.D.) E: Prazer em conhecê-lo. Siegfri Es á bem se eu colocar mais um microfone em você? E: Tudo e m qualquer número desses aparelhos. Siegfried: Obrigado. Sande: Será qu agüenta mais um? E: Tenho uma \' z baixa. Tive pólio duas vezes, minha língua está d ,,1 ada e meus lábios parcialmente paralisados. Só tenho metade do diafragma e não posso falar muito alto. O microfones vão registrar o que eu falo direito, mas vocês podem ter dificuldades de entender minha fala Se não entenderem, digam-me. E depois, outra precaução: todos os que têm dificuldade de audição, sentem-se mais per- to. Normalmente as pessoas que têm dificuldades de ouvir são as que sentam mais atrás. (Erickson ri.) Bem, quando ensino psicoterapia, enfatizo um estado de percepção consciente e um estado de percepção incons- ciente. A bem da conveniência, falo de uma mente cons- ciente e da mente inconsciente. Ora, a mente consciente é o estado de percepção ime- diata de vocês: conscientemente vocês percebem a cadeira de rodas, o tapete no chão, as outras pessoas presentes, as luzes, as estantes, as flores de cáctus que crescem à noite, os quadros na parede, o Conde Drácula na parede logo atrás de vocês (o Conde Drágula é uma espécie de couro de cavalo seco pendurado numa das paredes.) Em outras palavras, vocês estão dividindo a atenção entre o que eu digo e tudo o que está ao redor de vocês. A mente inconsciente é formada por todos os aprendiza- dos no decorrer da vida, muitos dos quais vocês já esque- ceram completamente, mas que lhes servem no funciona- mento automático. Bem, uma parte considerável do com- portamento de vocês e"o funcionamento automático destas lembranças esquecidas. Por exemplo ... vou pegar você. (Erickson sorri e diri- ge-se a Christine, uma médica da Califórnia que tem um forte sotaque alemão.) Você, de que maneira você anda? De que maneira você fica de pé? Queira me dizer, por favor, como é que você fica de pé? Christine: Provavelmente deslocando meu centro de gravidade e ao mesmo tempo ... E: Bem, como é que move o seu centro de gravidade? Christine: Fazendo vários ajustamentos inconscientes, com cer. teza. E: Bem, e quais são eles? Christine: Acho que não tenho consclencia deles. E: Você acha que poderia caminhar seis quarteirões numa rua sem nenhum tráfego de qualquer tipo, com passadas firo mes? E conseguiria andar em linha reta com passos firmes? Christine: Provavelmente, não exatamente com passadas firmes. E acho que, quanto mais prestasse atenção, menos eu con· seguiria. E: Bem, e como você caminharia pela rua? Christine: Se eu fizesse um esforço? Bem pior do que se não fizesse esforço nenhum. E: O quê? Christine: Bem pior do que se eu não fizer esforço nenhum. E: Como é que você caminharia, naturalmente ... depressa? Christine: Botando um pé na frente do outro e não prestando atenção nisso. E: E você andaria em linha reta? Christine: Não sei. Talvez razoavelmente reta. E: E em que lugar você pararia e descansaria? Christine: Onde fosse apropriado às circunstâncias. E: Bem, isto é o que eu chamo de resposta evasiva. (Erickson ri.) Onde você descansaria e onde pararia? Christine: Se tivesse um sinal vermelho eu pararia. E: Onde? Christine: Numa esquina. E: Não antes de chegar à esquina? Christine: Logo antes da esquina, talvez. E: A que distância da esquina? Christine: Alguns passos, talvez um passo. E: Bem, suponha que, em vez de um sinal luminoso, haja ape- nas um sinal de parada, e suponha que não haja sinal. Christine: Se houvesse tráfego eu pararia. E: Eu disse que não há tráfego de nenhum tipo. Christine: Então talvez eu continuasse. E: Bem, digamos que esta é a interseção (Erickson faz o gesto), e se houvesse um sinal luminoso, com você caminhando por aqui; você então olha para cima e depois movimenta a cabeça para ver a que distância está a esquina. E se houvesse um sinal de parada, você diminuiria o passo para vê-Io. E quando hegasse na esquina o que você faria em seguida? Christine: Depois de parar? E: Depois de hegar na esquina. Christine: Eu araria e olharia em volta. E: Olharia em \'01 a para onde? Christine: . -as dire, - s em que eu antecipasse que o tráfego poderia YÍT. E: Eu disse que não havia n nhum tráfego. Christine: Então eu continuaria. Depois olharia pela rua e veri· ficaria o tamanho do passo que eu teria que dar. E: Você tem de parar e ver o tamanho do passo que você tem de dar para descer, e você olha para a direita e para a esquerda e rua acima automaticamente. E quando você chegasse ao outro lado da esquina, pararia e avaliaria a altura da calçada ali e não teria de olhar nem para a direita nem para a esquerda. O que poderia fazer com que você diminuísse o passo? Christine: Tráfego? E: Bem, se você estivesse com fome, você se retardaria ao pas~ar por um restaurante. Depois de olhar para seu colar, você se voltaria para uma joalheria. (Christine ri.) Um homem que goste de caça e pesca se desviaria para uma vitrinede artigos esportivos. E, onde vocês todos parariam? Diante de que prédio? .. Como se vocês estivessem passando por uma barreira in- visível? Algum de vocês já tentou passar por uma padaria? A gente sempre diminui o passo quando passa por uma padaria: seja homem, mulher ou criança. (Dirige-se a Chris- tine.) Ora, já que você é uma médica, como foi que apren- deu a ficar de pé? A mesma questão vale para todos vocês. Sei como vocês aprenderam a ficar de pé. Mas qual foi o primeiro momento do aprendizado? Christine: Fazer o esforço e tentar. E: Você nem sabia o que significava "ficar de pé". Como foi que você aprendeu a ficar de pé? Christine: Talvez por acaso. E: Nem todos têm o mesmo acaso. (Risos) Rosa: Porque queria alcançar alguma coisa. (Rosa é uma tera- peuta da Itália.) E: Bem, o que é que você estava querendo alcançar? Rosa: O que eu estava querendo alcançar? E: Não tente responder esta pergunta. Anna: Provavelmente por querer. Por querer fazer da maneira que as outras pessoas fazem. Como um bebezinho queren- do alcançar os adultos que estão de pé. E: Sim. Mas como você fez isto? Anna: Fisiologicamente, pressionando meus pés para baixo, imagino ... e depois me ajudando com as mãos. E: (Falando para o grupo, mas olhando para um ponto espe- cífico do chão à sua frente.) Eu tive de aprender a ficar de pé duas vezes: uma vez quando bebê e outra vez aos de- zoito anos. Eu estava totalmente paralítico aos dezessete anos. Tinha uma irmã bebê. Observava-a a engatinhar e olhava para ver de que maneira ela ficava de pé. Aprendi com minha irmã, dezessete anos mais nova do que eu, como é que se fica de pé. Em primeiro lugar a gente se estica e se empurra para cima. Depois, acidentalmente, mais cedo ou mais tarde (todos nós cometemos o mesmo "acaso"), a gente descobre que colocou algum peso no pé. E descobre que o joelho dobra e você cai sentado. (Erickson ri.) Depois a gente dá um puxão para cima e tenta o outro pé, e o joelho dobra de novo. Leva muito tempo para aprender a distribuir o peso nos pés e manter os joelhos retos. Você tem de apren- der a manter seus pés bem separados e nunca cruzá-Ias; porque, se cruzá-Ios, não conseguirá ficar de pé. Tem de aprender a manter os pés tão separados quanto possível. Depois mantém os joelhos retos e seu corpo o trai de novo: você dobra nos quadris. Depois de algum tempo, depois de muitos esforços, você consegue manter os joelhos retos, os pés separados, as ancas retas, e você se dependura do lado do cercado. A gente tem quatro bases: duas nos pés e duas nas mãos. E então, o que acontece quando a gente levanta este braço? (Erickson levanta a mão esquerda.) A gente cai sentado. É um trabalho aprender a levantar esta mão, e um trabalho maior ainda afastar a mão porque seu corpo tom- ba nesta dite>ã . (Erickson gesticula para a direita e para a esquerda). E então vai para este lado e para este. E você tem de aprender a manter o equilíbrio independente da maneira m que mova esta mão. E depois tem de aprender a mexer a outra mão. E então tem de aprender a coorde- ná-Ia com o movimento da cabeça, dos ombros e do corpo. E finalmente se levanta com ambas as mãos livres. Agora, como é que yo ê se tran fere de dois pés para um? É um trabalho danado, porque, da primeira vez que você tenta fazê-lo, esquece-se de manter os joelhos e os quadris retos, e cai sentado. Depois de algum tempo, a gente aprende a juntar todo o peso num dos pés e depois mover um pé para diante, e isto altera o nosso centro de gravidade; por isso, caímos sentados. Leva muito tempo para aprender a maneira de colocar um pé adiante. Assim, finalmente damos o primeiro passo, e parece bastante bom. Depois damos o segundo passo com o mesmo pé, e não parece tão bom. Dá o terceiro e cai. Leva bastante tempo para ir para a direita, esquerda, direita, esquerda, direita, esquerda. Todos vocês podem andar, e no entanto não conhecem os movimentos ou os processos (Erickson dirige-se a Christine.) Bem, você fala alemão, não é? Christine: Sim. E: Foi bem mais fácil aprender inglês do que alemão? Christine: Nem um pouco, foi mais difícil aprender inglês. E: Por quê? Christine: O alemão era natural e veio sem esforço, porque eu ouvia falar. O inglês eu aprendi ... E: Você teve de aprender toda uma nova série de movimentos vocais. Teve de coordená-los com a audição. Poderia dizer: "O pássaro voa alto?" Christine: o pássaro voa alto. E: Agora repita em alemão. Christine: Der Vogel fliegt hoch. E: Pode dizê-Io em dialeto baixo-alemão? Christine: Não. E: Por quê? Christine: Porque nunca aprendi. Acho que nem mesmo pode- ria entendê-Io. É muito diferente. E: Conhece isto: "É bom ser Preiss (pronuncia-se como 'price'*), mas é melhor** ser Bayer (pronunciado como 'buyer'***)?" Christine: Acho que não entendo muito bem. E: É bom ser Preiss, mas melhor ser Bayer. Christine: Nunca ouvi isto. E: Eu não falo alemão. Minha pronúncia pode estar errada. É bom ser Prussiano mas é melhor ser Bávaro. (Risada.) Siegfried: Poderia falar mais alto? E: Agora, vou acusá-Ios de falarem muito baixo. Acho que a verdade é que não ouço muito bem. (Erickson ri.) (Erick- son fala enquanto olha para baixo.) Muito bem. Na psico- terapia você ensina o paciente a usar a maioria das coisas que eles aprenderam, e aprenderam há muito tempo atrás e não se lembram de ter aprendido. Em seguida, o que quero dizer é que todos nós temos bilhões de células cerebrais. Bilhões e bilhões de células cerebrais. E estas células são altamente especializadas. A gente aprende alemão com um conjunto de células e usa outro conjunto de células cerebrais para aprender inglês e outro conjunto de células para aprender espanhol. A ilustração que posso lhes dar é a seguinte: tive dois pacientes de enfermaria, que eu costumava usar para exem- plificar questões para um dos meus alunos médicos. Os dois pacientes tinham uma pequena hemorragia, bem sem importância. Um dos pacientes conseguia dar nome às coisas. * Em inglês: Price=preço, pronuncia-se como Preiss. Em dialeto bai- xo-alemão: Preiss=Preussen, prussiano. (N. do T.) * * No original inglês: higher. (N. do T.) *** No original inglês: comprador. Em alemão: Bayer=bávaro. (N. do T.) Mas se você lhe perguntasse o que fazer com estas coisas, ele não sabia. Podia dar nome a uma chave; e à porta, à maçaneta e à fechadura. Sabia o nome de cada coisa mas não conhecia nenhum verbo. O outro paciente não sabia dar nome às coisas, mas conseguia ilustrar o uso delas. Não sabia o nome chave, não conseguia indicar uma fechadura ou uma porta ou uma maçaneta. Se você lhe entregasse uma chave e lhe dissesse: "Abra a porta", ele não sabia do que você estava falando. Mas se lhe mostrasse como colocar a chave na fechadura, ele abria a porta. Se você lhe dissesse: "Gire a maçaneta", ele não sabia do que você estava falan- do. Mas se lhe mostrasse assim. (Erickson gesticula para indicar o movimento de girar a maçaneta), ele entendia. Se você abria a porta, ele entendia. Em outras palavras, nossas células cerebrais são tão espe- cializadas que temos literalmente uma célula cerebral para cada item de conhecimento, e todas estão em conexão. Bem, outra coisa pata que lhes desejo chamar a atenção, é para a questão da hipnose. Hipnose é cessar de usar nossa percepção consciente; na hipnose começamos a usar a percepão inconsciente. Porque, inconscientemente, sabemos tanto e muito mais do que conscientemente. (Dirige-se a Sande, que está sentada na cadeira verde.) Vou lhe pedir para trocar de lugar com ... (Dirige-se a Christine.) Qual é o seu primeiro nome? Christine: Christine. E: Kristie? Christine: Christine. (Christine passa para a cadeira verde.) E: Joe Barber já colocou você em transe? Christine: Sim. E: Muitas vezes? Christine: Algumas vezes. E: Tudo bem. Recoste-se na cadeira e olhe para aquele cavalo. (Erickson mostra um cavalo de gesso, que está na estante em frente, na sala, para que ela olhe. Christine ajeita sua posição e coloca um bloco de anotações de lado. Suas pernas estão descruzadas, e coloca asmãos sobre as coxas.) Está vendo? Christine: Sim. E: Olhe apenas nesta direção geral. Quero que você ouça e registre o que estou dizendo. Bem, Christine, olhe apenas para aquele cavalo. (Chris- tine reajusta o bloco de notas e coloca-o de seu lado es- querdo, entre ela e a cadeira.) Não precisa falar. Vou lem- brar-lhe algo que você aprendeu há muito tempo atrás. Quando começou a ir à escola e o professor pediu-lhe para apren&r a escrever as letras Jc; alfabeto, isto lhe pareceu uma tarefa terrivelmente difícil. Todas aquelas lêfiás. Todos aqueles tamanhos e formas diferentes. E, o que era pior, havia letras maiúsrulas e letras minúscu1ãs.1êhristine pisca devagar.).]: enquanto eu estive falando com você, sua respi- ração mudou. O ritmo de seu coração mudou. A pressão sangüínea mudou. Seu tônus muscular mudou. Seus refle- xos motores mudaram. E agora (Christine fecha os olhos.), gostaria que mantivesseãs olhos fechados, .s.sY~~~ bem cômoda. E, quanto mais confortável se sentir, mais profundamente'--emmã em transe. Gostaria que você en- trasse num transe tão profundo que lhe pareca que você não tem mais corpo. Você se sentirá ape~ mente sem corpo. Uma mente flutuando no êSPâÇõ. Flutuando no tempo. E lembranças muito antigas lhe virão à mente. Lem- brança;""que você já esqueceu há muito tempo. ~E minha voz seguirá com você por toda parte, e minha vO?...E~de se transformar na voz de seus pais, seu"Tprofes- sores. Pode ser uma voz alemã. Pode ser a voz de seus~ ..............- colegas, seus companheiros de brincadeiras, seu professor. E, em seguida, quero que aprenda algo muito impor-4-. tante. Quero que você mantenha o corpo adormecido pro- fundamente, completamente, num transe bem profundo,,~ depois de algum tempo, quero que apenas sua cabeça des- perte. Apenas sua cabeça. Seu corpo, dormindo. Acima do pescoço estará acordada. Ora, será difícil fazê-Io, mas você pode conseguir. Pode fazer um esforco maior do que este,~\,;:tr.~ .,~.-. ~ mesmo que você não queira acordar, você vai acordar do pescoço para cima (Christine abre os olhos.) Como se sente? Christine: Ótima (Christine sorri. Inicialmente, enquanto fala com Erickson, seu corpll está rígido e sua atenção visual focalizada apenas em Erickson.) E: E que recordações gostaria de partilhar conosco? Christine: A únicâ coisa que experimentei foi o que você estava dizendo. E: Sim... e quanto à escola? Christine: Acho que não ti e uma lembrança da escola. E: Você acha que não se re ordou de nada da sua época escolar? Christine: Poderia contar alguma coisa conscientemente agora, mas não iven iei nada. E: Tem certeza? Christine: (Levantando o olhar.) Acho que sim. E: E você sente que está acordada. Christine: Como você disse, estou acordada do pescoço para cima. (Sorri.) Acho que, se fizesse um esforço, poderia mexer minhas mãos, mas não sinto vontade. E: Uma das coisas importantes que aprendemos ao nascer (Christine olha para a câmera.) é que não sabemos que temos um corpo. Você não sabe que: "Esta é a minha mão (Erickson gesticula com a mão esqu~a.) E este é o~p~~~ . Você chora quando tem fome (Christine olha para o grupo.) e sua mãe lhe pega no colo, dá palmadinhas na barriga e coloca você de novo no berço. Seu pensamento não está bastante adiantado, mas suas emoções estão. E quando vem a próxima contração de fome (Christine olha para o grupo enquanto sua mão direita sobe devagar.), você diz emocionalmente para si mesma: "Aquele jantar não encheu muito a minha barriga. Sua mãe pega você de novo, e dá palmadinhas nas suas costas, isto lhe causa a impressão de um bom jantar até que uma nova contração de fome lhe ocorre e você reage ao fato de que o pobre do jantar não durou muito tempo." E, algumas vezes, depois que aprendeu a pegar e brincar com um chocalho ou outro brinquedo qualquer, acaba per- cebendo esta mão. (A mão de Christine pára de se mexer. Está num nível pouco abaixo do ombro.) Parece interes- sante, e por isso você tenta alcançá-Ia e tem um problema terrível de imaginar por que razão este "brinquedo" se afasta quando você tenta pegá-Io. Um dia por acaso você tenta pegar este "brinquedo" e fica intrigada por que lhe desperta uma sensação de um certo tipo e não uma sensa- ção ... nos seus dois lados. Aqui então você tem a estimu- lação palmar e dorsal, e é mais fácil aprender isto. Por que é que sua mão está levantada? Christine: Percebi que queria começar a levitar antes de abrir meus olhos. Sei onde ela está. E: Isto aí é que é o importante, ou o importante é que sua mão levitou e você não sabe a razão? Christine: (Sorrindo.) Está certo. Sempre racionalizo porque já aconteceu antes. E: O que quer dizer com isto? Christine: Eu sempre racionalizo e sempre observo este fato por- que já aconteceu antes. Normalmente é esta mão que faz isto. E: Bem, e o que faz com que ela levite? Christine: (Balançando a cabeça.) Não sei. E: Há uma boa parte do seu comportamento que você desco- nhece. Você sempre usa a direção da mão direita e levita até o rosto. (A mão de Christine começa a se mover em direção ao rosto. Logo as costas das mãos tocam o rosto. A palma da mão espalmada para o grupo e o polegar e dedo mínimo estão esticados.) E você sabe que não está fazendo isto, e não pode afastar a mão do seu rosto. E quanto mais tentar afastá-Ia mais ela se grudara no seu rosto. Por isso, tente afastá-Ia. Você não consegue. (Chris- tine sorri.) A única maneira de você conseguir que esta mão desça... (Erickson está com a mão esquerda levan- tada.) Você é muito receptiva. Eu fiz um movimento com a mão e você começou a copiá-Io. Christine: Desculpe. E: Eu fiz um movimento com a mão. Você começou a imitá-Io. Agora a única maneira de você fazer esta mão descer para o colo é levantar a outra mão e empurrá-Ia para baixo. Christine: Neste momento estou em tremendo conflito porque acho que posso conseguir, mas estou tentando ser delicada. E não tenho certeza se estou desempenhado um papel, para ser gentil, ou se realmente não conseguiria fazê-Io. E: Eu sei. Você está deixando seu intelecto interferir na sua aprendizagem. Christine: É sempre assim. E: Bem, agora chamo a atenção de todos. Vocês já viram alguém ficar sentado assim, tão parada e quieta? E no início ela não virou a cabeça para me olhar. Virou primeiro os olhos. Normalmen e, quando queremos olhar para alguém, vira- mos o rosto. (Dirige-se para Christine.) E você virou os olhos. ocê séparou seus olhos da cabeça e do pescoço. Christine: Meu braço está ficando cansado. E: O quê' que é isso? Christine: Meu braço está ficando cansado. E: Estou feliz de ouvir isto. Quando você quiser realmente que sua mão direita desça, sua mão esquerda subirá e empur- rará a outra para baixo. E você acha realmente que está acordada, não acha? Christine: (Debilmente) Sim. E: Realmente acha, não? E você realmente não sabe que está adormecida. Por quanto tempo acha que conseguirá manter os olhos abertos? Christine: Não sei. E: Será que agora vão se fechar? (Christine pisca os olhos.) E vão ficar fechados? (Christine fecha os olhos.) E agora você quer racionalizar isto? (Christine abre os olhos.) Christine: Bem que eu queria eliminar esta minha tola mente consciente. Sempre racionaliza tudo. E: Está percebendo o fato de que não pode se levantar? Christine: Não. E: Está começando a duvidar disso? Christine: Hã-hã. E: Será que você não se está comportando como quem tem um bloqueio sacral? Christine: Como o quê? E: Um bloqueio sacral. Uma anestesia sacral. Christine: Ah, entendo o que você quer dizer. Ah, sim. E: Não se está comportando desta maneira? Christine: Mais ou menos. E: Ela não viu que se mexeu (Erickson aponta para outra mu- lher.), e nem viu os outros se mexerem. Agora vocês todos entendem o que eu quero dizer quando digo "ver os outros se mexerem". Você está incrivelmente parada, para quem está acordada. (Christine mexe levemente o cotovelo direi· to.) Agora deixe seu braço ficar cada vez mais cansa40 até que você deseje ... (Christine fecha os olhos.) usar sua mão esquerdapara abaixá-Io ... (Christine sorri, abre os olhos, levanta a mão esquerda e abaixa suavemente seu braço direito.) Você sente seus braços mais despertos, não? Christine: Nas mãos? Sim. E: Você pode mexê-Ios? Seus dedos, não suas mãos. Christine: É muito esforço. (Sorri.) E: Você pode racionalizar este esforço? A médica aqui é uma anestesiologista e está interessada em hipnose. Então, para produzir um bloqueio sacral numa mulher grávida, eu a colocaria várias vezes num transe como este e nunca men- cionaria nada além disso. Diria: "Quando chegar à sala de parto, pense apenas no sexo do bebê, no seu peso, sua apa- rência e traços. Se ele terá cabelos ou não. Depois, o obstetra que estará encarregado da metade inferior do seu corpo lhe dirá para olhar e ver como é o seu bebê. Ele vai segurá-Io. E você terá um completo bloqueio sacral, uma anestesia total." Quando minha filha, Betty Alice, teve o primeiro filho, a médica estava muito preocupada. Ela era minha aluna. Betty disse para a médica: "Não se preocupe, doutora. A senhora é uma obstetra e conhece o seu trabalho. Na sala de parto a senhora possui a parte inferior do meu corpo, eu só possuo a metade superior." E começou a falar com as enfermeiras e com o pessoal de sala de parto sobre o ensino escolar na Austrália. Daí a algum tempo a médica disse: "Betty Alice, você não quer saber o que é?" E estava segu- rando um menino. Betty disse: "Oh! É um menino! Passe-o para mim. Sou como qualquer outra mãe e tenho que contar os dedos dos pés e das mãos dele." Ela devia saber o que estava se passando, com exceção de que ficara falando sobre o ensino escolar na Austrália. Vejo que vocês estão mudando constantemente de posi- ção. (Christine sorri.) (Erickson olha para o chão.) Uma vez eu tive uma paciente, que me procurou para terapia. Ela veio por vários meses. E um dia disse: "Eu vou entrar em transe, doutor Erick- son." Enquanto estava em transe disse: "Estou me sentindo tão bem que vou ficar aqui o dia todo." Eu lhe respondi: "Infelizmente há outros pacientes. Você não pode ficar o dia todo." Ao que ela disse: "Não me importo com os outros pacientes." Eu então lhe disse que ganhava minha vida atendendo pacientes. Ao que ela respondeu: "Tudo bem, eu lhe pagarei cada hora. Vou ficar aqui o dia todo." (Erickson olha para Christine.) Como poderia me livrar dela? Disse-lhe para aproveitar o sono e: "Espero que você não tenha de ir ao banheiro." (Dirige-se a Christine.) Seus ombros estão despertando. Christine: O senhor quer que o resto de mim acorde? E: Acho que gostaria de poupar-lhe algum embaraço. (Erickson ri e Christine sorri.) Christine: Eu não sabia o que se esperava que eu fizesse. E: Bem, espero que você não tenha de ir ao banheiro de re- pente. (Christine ri e mexe a mão.) Agora está mais fami- liarizada consigo mesma. (Christine ajusta o corpo e as mãos.) Christine: Ê. E: Você não tem que ir ao banheiro. (Risadas.) (Dirigindo- se ao grupo.) Qual de vocês já entrou em transe? (Dirige- se a Caro!.) Você não. (Dirige-se a Siegfried.) Nem você. Bem, doutor, em transe é melhor olhar uma moça bonita do que um homem. Não é esta sua experiência? Siegfried: Poderia repetir? Não entendo direito. E: Uma moça bonita é mais agradável de se olhar. Siegfried: Agora entendi. (Risadas.) E: (Dirige-se a Carol). Então, quer trocar de lugar com ... (Christine e Carol trocam de lugar.) E, se é que vocês per- ceberam, eu não pedi nada a Christine. Rosa: O senhor perguntou se alguma vez já estivemos em tran- se, e ela nunca esteve em transe? Oh, eu nunca estive em transe antes. Pensei que estivesse perguntando outra coi- sa, por isso é que eu não ... E: (Dirige-se a Christine.) Seu nome é Kristie, não é? / pChristine: Não, é Christine. tA. t)t E: Christine. Eu por acaso lhe pedi para sentar-se ali? Y Christine: Eu pensei que você estava pedindo para trocar de ~ lugar com ela. ri'!' E: Não. Foi a ela que eu pedi. (Indicando Caro!.) I, .fJ Christine: Oh! E o que queria que eu fizesse? \; E: Bem, você já fez. Eu não lhe pedi para acordar. (Risos.) Deixei sua mente consciente assumir. E só perguntei a ela se gostaria de sentar-se ali. Você fez o resto. (Dirige- se a Caro!.) Você nunca esteve em transe? (Carol está sentada com os braços descansando nos braços da ca- deira.) Carol: Não estou bem certa. (Carol balança a cabeça dizendo 'não'.) Talvez uma vez, talvez não. (Carol ajeita as mãos ligeiramente.) E: Seu nome? Carol: Caro!. E: Caro!. (Erickson levanta a mão esquerda de Carol pelo pul- so e deixa-a suspensa catalepticamente. Carol olha para a mão e depois olha para Erickson. Seu pulso está dobrado e os dedos bastante separados.) É hábito seu deixar um homem estranho levantar sua mão e deixá-Ia no ar? (Ca- rol afasta o olhar e depois olha de novo para Erickson.) Carol: Nunca me aconteceu isto antes. (Carol ri.) Mas vou es- perar e ver no que vai dar. E: E você acha que está em transe? Carol: Não. E: Tem certeza? Carol: Depois de ver isto, não estou segura. (Carol ri.) E: Você não está segura. Acha que seus olhos logo vão se fe- char? (Neste momento, Carol está olhando para Erick- sono Erickson continua a olhar diretamente para ela.) Carol: Não sei. E: Não sabe. Carol: Parece que não. E: Tem certeza que seus olhos não vão fechar e ficar fechados? Carol: Não estou certa. Parece que estão pestanejando. (Sorri.) E: Acha que logo eles vão pestanejar, fechar e ficar fechados? Carol: As chances estão melhorando. (Risos do grupo. CaroI sorri.) E: Você não tem absolutamente nenhuma certeza, tem Carol? Carol: Não. E: Mas está começanciQ a ter certeza de que seus olhos vão se fechar. (Os olhos de Carol piscam.) Logo, logo ... e vão fi- car fechados. (Os olhos de Carol se fecham.) Em psicoterapia, o terapeuta deve saber que o cliente sabe mais sobre seus próprios conhecimentos do que a gente jamais saberá. A gente não sabe como adormece. Não sabe como perde a consciência, a percepção consciente. Por isso, quando um paciente me procura, sinto todas as dúvidas possíveis, duvido na direção certa. O paciente du- vida na direção errada. (Erickson dirige-se a CaroI enquan- to movimenta o braço dela devagar, em direção ao colo.) Está cada vez mais agradável. E você vai entrar num sono tão profundo que vai parecer-lhe que não tem mais corpo nenhum. ,Y"ailhe parecer que você só tem a mente, o in- telecto, flutuando no espaço, no tempo. ~ você seja uma menina brincando em casa, ou ~ uma menina na escola. Gostaria que você deixasse surgirem várias lembranças que já esqueceu há muito tem- po. Quero que você ~ sentimentos de uma menininha. Todos os sentimentos. E pode escolher, depois, qualquer dos sentimentos que~, para nos contar. Você.J?QSieestar jogando no pátio da escola. Ou pode estar comendo seu lanche, ou.l?Q.ie estar interessadãIíã roupa da sua professora,.! no que vê no quadro negro, ou em gravuras num livro ilustrado, coisas que você esque- ceu há muito tempo atrás. E o ano não é 1979, é outro muito distante. Não é nem mesmo 1977. Não é nem mesmo 1970. E~ sei se é 1959 ou 1960. Não sei se você está olhando para uma árvore de Natal ou uma igreja, ou se está brincando com um cachorro ou um gato. Depois de algum tempo vai acordar e vai nos falar da menininha chamada CaroI. E seja realmente esta linda menininha, Carol, no ano de 1959 ou 1960. Talvez ima- gine o que será quando crescer. Gostaria que você tivesse a experiência de ~ seu corpo adormecer profundamen- te enguanto desperta só do pescoço para cima. (Erickson aguarda um momento. Então Carol volta a cabeça para ele.) E: Oi. (Erickson olha diretamente para CaroI. Durante a maior parte do tempo da indução, Erickson ficou olhando para o chão diante de CaroI.) O que você gostaria de me dizer? Carol: Você parece um bom homem. (A voz de Carol parece jovem.) E: Pareço? Carol: Rã-hã. E: Obrigado. Onde estávamos? Carol: Acho que num parque. (Enquanto fala, a atenção de Carol está focalizada em Erickson.) E: Num pequeno parque. O que você vai ser quando crescer? Carol: Não sei, está muito longe.E: Está muito longe. O que você gostaria de fazer agora? Carol: Brincar. E: E que tipo de brincadeira? Carol: Amarelinha. E: Amarelinha. Onde você mora? Perto deste parque? Carol: Não. E: Onde? Carol: Moro bem longe. Só estou aqui de visita. E: E onde é que você mora? Carol: Em Reading. E: Onde fica? Carol: Pensilvânia. (Com voz cadenciada.) Quantos anos você tem? Carol: Cinco. E: Você tem cinco anos. Carol: Talvez três, acho. Ou quatro. E: Três ou quatro. E o que é que você mais gosta neste parque? Carol: Bem, gosto de vir aqui com meu avô e de olhar seus amigos. E: Você gostaria que estivessem aqui agora? Carol: Não. E: E há muitas árvores? Carol: Árvores, bancos e uma loja. E: Tem gente em volta? Carol: Antes? E: Agora. Carol: Agora? Sim. Hã-hã. E: Quem são? Carol: Profissionais. E: Você só tem três ou quatro anos de idade. Onde aprendeu a dizer uma palavra tão importante como "profissional"? (Carol sorri.) Carol: Bem, eu sei a diferença entre antes e agora. E: Como se sente agora que não pode se levantar? Carol: Não percebi que não podia me levantar. E: Agora percebe. Carol: Muito estranho. E: É. Você gostaria que eu lhe contasse um segredo? Carol: Adoraria. E: Bem, todas as pessoas aqui pararam de ouvir os sons do tráfego. (Erickson ri.) E nem uma vez eu lhes disse para ficarem surdas. E de repente começaram a ouvir barulho de trânsito. E quantos de vocês estão em transe? (Várias pessoas estão com os olhos fechados.) Se olhar em volta vai ver um bocado de imobilidade. (Dirige-se a Carol.) Feche os olhos (Carol fecha os olhos.) Apenas feche. E goze de um sono bem profundo ... num tra~ bem agradável, e (Erickson dirige-se aos de- mais) vocês também, vocês também. Fechem os olhos agora. Completamente, agora. .. entrem num transe pro- fundo pois vocês têm bilhões de células cerebrais que funcionarão e vocês vão aprender tudo o que há para aprender. Quando eu ensinava para residentes em psiquiatria, eu dava a cada um deles um livro para estudarem em casa. Dizia-Ihes: "Um dia desses, daqui a uns três ou quatro meses, vou fazer uma reunião com todos vocês. É melhor que cada um tenha lido o seu livro e esteja pronto para me dar uma visão geral do mesmo." E eles sabiam que eu estava falando sério. Ora, alguns dos residentes eram bons sujeitos hipnóticos, e cerca de uns meses depois, eu os reuni na sala de reuniões e disse-Ihes: "Lembram-se ... eu indiquei alguns livros para que vocês fizessem um estu- do? Agora chegou a hora da análise. Os que não eram sujeitos hipnóticos estavam satisfeitos pois sabiam que já tinham lido o livro que eu designara. E um deles apresen- tou o seu trabalho sobre o livro. Os residentes que eram bons sujeitos hipnóticos fica- ram aflitos e infelizes: "Sinto muito, doutor Erickson, mas esqueci de ler o livro." Então eu lhes disse: "Não aceito desculpas. Vocês receberam um livro para ler e eu lhes disse que tivessem uma análise pronta em três ou quatro meses, e vocês me dizem que não leram. Sabem o título e o nome do autor?" Diziam-me o título e o autor e pediam desculpas novamente. E eu prossegui: "Peguem papel e caneta e cada um resuma o que acha que o au- tor deveria ter incluído no terceiro capítulo; resumam o que acham que ele deveria ter colocado no sétimo e no nono capítulos." Eles olhavam atônitos e diziam: "Mas como podemos saber isso?" Respondi: "Bem, vocês sabem o nome e o título do livro. Isto basta. Sentem-se e cada um vai resumir estes três captíulos." Sentaram-se e começaram a escrever: "Acho que no capítulo três, o autor deveria discutir, a, b, c, d, e, f, g, e toda uma série de coisas. No capítulo sete, acho que o autor discutiu ... " Então peguei os livros e disse-Ihes para ler o capítulo três e olharem o próprio relatório escrito: "Como é que eu sabia disto?", disseram. Eles tinham lido os livros num transe hipnótico e não se lembravam disso. Mas fizeram uma análise muito melhor, saída da própria cabeça. Não se lem- bravam de ter lido o livro. Depois de isto acontecer umas duas vezes, não tinham mais medo quando entravam na sala de reuniões para fazer um seminário sobre os livros. Sabiam que tinham lido. (Erickson ri e olha para Caro!.) E agora Carol, eu gostaria que você despertasse total- mente. Suavemente, agradavelmente. O que você acha do Conde Drácula dependurado ali? (Erickson aponta.) Durante o dia é ali que ele mora. Mas de noite ele volta a viver e se alimenta de sangue. (Carol sorri.) Agora, todos vocês viram o Conde Drácula. Como vocês vêem, desta forma ele não precisa de caixão e nino guém suspeita quem seja ele. (Carol mexe os braços.) (Erickson dirige-se a Carol). "Gostaria que eu lesse sua mão?" Carol: Sim. E: (Erickson olha para a palma da mão de Caro!.) Veja esta linha: "Você vê as letras 'R, e, a, d, i, n, g?'" É o nome de um parque. Carol: Nome do quê? E: Nome de um parque. Carol: Parque. E: Na Pensilvânia. Vê seu avô aqui? Você gosta realmente de ir neste parque em Reading, na Pensilvânia? Como vou indo na leitura da mão? Carol: O quê? E: Como estou indo na leitura da mão? Carol: Não vai ma!. (Carol ri e deixa a mão cair.) E: E agora. o. por que eu falei sobre o Conde Drácula? Por que eu falei sobre o Conde Drácula com você? O Conde Drácula tem um certo atrativo para a infância. Siegfried: Tem o quê? E: Atrativo, um interesse para as crianças. Anna: Atrativo para o quê? Siegfried: Uma influência sobre as crianças? E: Não. Um interesse. Siegfried: Um interesse. E: (Dirigindo-se ao grupo.) Por isso estou dizendo algo em que as crianças pensam. E a leitura de mão é outra coisa útil. E o fato do Conde Drácula estar muito longe de Reading Park permitiu a amnésia e dirigiu a atenção dela desta cadeira para o Parque Reading, para a infância, o pas- sado, e eu lhe disse para ter uma amnésia. (Dirige-se a Ca- rol.) De que estou falando? Carol: Não consegui acompanhar muito bem. (Ri.) E: Bem, ela não conseguiu acompanhar muito bem. (Ri.) E todos vocês tiveram pais e professores que lhes ensina- ram: "Olhe para mim quando falo com você e olhe para mim quando falar comigo." E ela vem aqui, me ouve e eu evoquei um padrão de comportamento característico de há muito tempo atrás. (Dirige-se a Christine.) Ela não con- seguiu me acompanhar mesmo quando eu estava falando dela. (Dirige-se a Carol.) Quando foi que você saiu da- quele lugar na Pensilvânia onde ficava o Reading Park? Carol: Depois da escola secundária. E: Bem, como é que eu sabia que você e seu avô iam ao Rea- ding Park? Carol: (Sussurrando.) Eu lhe disse. E: (Interpondo-se.) Ele ia, não ia? E você gostava de olhar para seus amigos. Há qualquer outro segredo íntimo que você não quer que eu saiba? (Risadas.) Em terapia, o paciente de fato faz a terapia, você só cria um clima favorável. Depois deixa que eles tragam as coisas que reprimiram e as coisas que esqueceram por uma ou outra razão. Não é engraçado como o barulho do trânsito parou de novo? (Erickson sorriu.) Agora vocês estão ouvindo de novo. Tudo bem. Bem, nós nos movimentamos em três dire- ções diferentes. Pode ser intelectualmente, pode ser emo- cionalmente, e podemos mover-nos de forma motora, mo- vendo-nos de forma motora, movendo-nos ao redor. Al- guns se mexem mais do que outros. Ora, a capacidade de movimentar-se de um lugar para outro. .. Um urso polar pode viver no Ártico. Os animais têm suas limitações. Vivem acima do nível do mar, ou no deserto, na floresta tropical. Nós podemos viver em qualquer lugar. Esta é uma característica do animal humano. Temos uma vida afetiva, nossa vida emocional, e te- mos nossa vida cognitiva ou vida intelectual. E, desde o início, fomos ensinados a enfatizar nossa inteligência, como se isto fosse o realmente importante. Mas o impor. tante é a pessoa em todos estes níveis. Ora, um ano destes eu estava ensinando hipnose para ,dentistas, médicos e psicólogos no Phoênix College. Eu ensinava à noite, das sete às dez e meia. As pessoas vi- nham de Yuma, Flagstaff, Mesa e Fênix. Depois da aula 'iam para casa. No primeiro semestre em que dei aulas, ,havia umapsicóloga de Flagstaff chamada Mary. Na pri- meira aula, logo que comecei a lição, ela entrou imediata- mente num profundo transe. Eu a despertei e ela disse que nunca estudara hipnose, nem fora sujeito hipnótico, e ficou surpresa de ter entrado em transe. Ela estava na casa dos trinta. Era candidata ao Doutorado com Ph.D. em Psicologia. Eu a despertei e disse-lhe para ficar acor- .dada. Iniciei a aula. Ela entrou em transe rapidamente. Um transe profundo. Despertei-a e disse-lhe para "ficar acor· ,dada". Mas, logo que iniciei a aula, ela entrou num tran- 'se profundo. Por isso desisti de tentar acordá-Ia. Bem, no meio do semestre, achei que poderia usá-Ia como sujeito ,de demonstração, por isso disse a Mary para sair do tran- se profundo e trazer com ela algumas recordações da in- "fância. Mary despertou e disse que a única coisa que con· 'segui lembrar da infância eram pedaços de bambu e man- gas borboletas. Repetiu o curso no semestre seguinte e, de novo, en- trou em um transe; e permaneceu em transe durante todas as aulas. Repetiu o curso pela terceira vez. Pensei en- tão: "Bem, como não posso conseguir nada nela, vou criar uma situação em que Mary possa nos ensinar realmen- te bastante. Disse-lhe: "Mary, quero que você entre em transe, num transe muito profundo." Primeiro expliquei- lhe que vivemos intelectualmente, emocionalmente e por meio de movimentos. Disse-lhe para "entrar num transe~ num transe muito profundo e encontrar alguma emoção. Uma emoção cujo significado você não ousa conhecer". Disse-lhe que seria uma emoção muito forte e que ela a colocaria para fora. "E nenhum conhecimento, nenhuma compreensão intelectual, apenas deixe surgir a emoção, e apenas a emoção." Mary despertou, sentada muito rígida e agarrada aos, braços da cadeira. Estava transpirando. O suor escorria- lhe pelo rosto e pingava do queixo e do nariz. Estava pá- lida. Perguntei-lhe: "Qual é o problema, Mary?" Ela res- pondeu: "Estou apavorada." Mas só mexia com o globo, ocular. Não mexia nenhuma outra parte do corpo, ex- ceto, é claro, os órgãos da fala. "Estou terrivelmente as- sustada, terrivelmente assustada!" E estava pálida. Per- guntei-lhe se podia segurar minha mão e ela respondeu que "sim". Perguntei-lhe se seguraria minha mão e ela. disse que "não". Perguntei-lhe qual a razão. Respondeu: "Estou terrivelmente assustada." Convidei o resto da sala a olhar e falar com Mary. Al- guns se sentiram mal vendo-a tão assustada. E Mary es- tava realmente assustada. A classe podia ver o suor escor- rendo-lhe pelo rosto, pingando, a palidez e a limitação dos; movimentos dos olhos. E ela falava pelo canto da boca. Agarrava-se com muita rigidez aos braços da cadeira. Res- pirava devagar e com muito cuidado. E quando toda a classe se satisfez por Mary ter saído de um transe de emoção tão forte, eu lhe disse: "Mary, entre de novo em transe, de modo profundo e traga o lado, intelectual." E Mary despertou, enxugou o rosto e disse: "Estou tão feliz que isto tenha acontecido há trinta anos atrás." E, é claro que todos estávamos interessados no que ocorrera há trinta anos atrás. Ela então contou: "Nós vivíamos numa encosta da mon-· tanha e havia um desfiladeiro, uma fenda, no lado da montanha, e minha mãe sempre me avisava para não che-· gar perto do precipício. Uma manhã fui brincar, esque- cendo-me da advertência de minha mãe, perambulei ali perto do desfiladeiro e vi que havia um cano de ferro atra- vessando o precipício. O cano tinha uns quarenta centí- metros de diâmetro. Esqueci tudo que minha mãe me dissera e achei que seria uma ótima idéia se eu me aga- chasse sobre as mãos e joelhos, fixasse os olhos no cano e atravessasse todo o desfiladeiro engatinhando pelo tubo. Quando pensei que já estava quase lá, tirei meus olhos do cano e olhei para cima para ver quanto faltava para chegar ao outro lado. Quando fiz isto, vi a enorme pro- fundidade do desfiladeiro. Era horrivelmente fundo. E eu estava apenas no meio do caminho e gelei de terror. Fiquei paralisada uma meia hora e imaginei como faria para sair daquela enrascada; finalmente percebi como deveria fa- zer. Com muito cuidado, mantendo os olhos no cano, en- gatinhei para trás até que meus pés tocaram o solo firme. Então me virei, corri e me escondi atrás de um bambuzal, e fiquei ali muito tempo. Eu disse então: "Qual é o resto da história, Mary?" E ela disse: "Essa é toda a história. Não há mais nada." Prossegui: "Há mais alguma coisa?" Mary respondeu: "Não posso me lembrar." Eu lhe disse: "Na próxima aula, traga o capítulo seguinte." Na aula seguinte, Mary chegou muito ruborizada. Disse: "É embaraçante dizer isto. Quando voltei para Flagstaff já passava de uma da madrugada. Atravessei a cidade. Despertei minha mãe e contei-lhe como tinha subido na- quele cano de ferro que atravessava o desfiladeiro, e se ela iria me bater por isso." Ela respondeu: "Não vou lhe bater por algo que você fez há trinta anos atrás." E Mary prosseguiu: "Quando tentei dormir, meu tra- seiro doeu a noite inteira, e ainda está doendo. Eu que- ria que ela me desse aquela surra e mamãe não me bateu. Preferia que o fizesse. Meu traseiro está doendo!" Eu lhe disse: "Algo mais, Mary?" Ao que ela respon- deu: "Não há mais nada." Respondi: "Tudo bem." Na aula seguinte, Mary apareceu e disse: "Meu trasei- ro não dói mais, e esta é a única outra coisa que tenho a contar." Ao que eu lhe disse: "Não, Mary. Você pode nos contar a parte seguinte da história." Mary continuou: "Não me lembro de mais nenhuma parte." Eu lhe disse então: "Vou lhe fazer uma pergunta e, depois, então, você poderá nos contar a parte seguinte." Mary disse: "Que pergunta você pode me fazer?" Respondi: "Muito sim- ples. Como é que você explicou à sua mãe o atraso para o almoço?" Mary exclamou: "Ora, isto!? Eu estava atra- sada para o almoço e contei que um bando de bandidos tinha me capturado e me trancara numa grande caverna com uma porta grossa de madeira, e que eu levara horas e horas para derrubar a porta com minhas mãos. E como eu sabia que minhas mãos não estavam sangrando, colo- quei-as debaixo da mesa. E desejava que minha mãe acre- ditasse na história. Desejava desesperadamente. Ela só pa- recia levemente divertida com o fato de que um bando de bandidos tivesse me trancado numa caverna." Eu disse: "Algo mais?" Mary respondeu: "Não, isto é tudo." Disse-lhe então: "Tudo bem, traga o próximo ca- pítulo no encontro seguinte: "Mary disse: "Não há mais nada a contar." Acrescentei: "Oh, há sim." Mary veio na aula seguinte e disse: "Pensei e repen- sei e não há mais nada a contar." Bem, disse eu, vou ter de fazer-lhe novamente uma outra pergunta. Diga-me ago- ra, Mary: Quando você entrou em casa, entrou pela porta da frente ou pela porta de trás?" Mary enrubesceu e res- pondeu: "Deslizei pela porta dos fundos sentindo-me mui- to culpada." Ela então se aprumou e disse: "Agora sei mais alguma coisa sobre isto. Logo depois de minha es- capada pelo desfiladeiro, minha mãe teve um ataque de coração e foi levada para o hospital e havia um biombo de bambu colocado em volta da cama. Fiquei ali sentada, olhando para minha mãe, na cama, e sabia que minha tentativa de atravessar aquele desfiladeiro levara-a a ter um ataque de coração, e que eu era culpada de matar minha mãe. Senti uma culpa terrível, uma culpa terrível, terrível. Fico pensando se é por isso que venho elaborando meu doutorado em Psicologia numa espécie de busca desesperada desta lembrança profundamente reprimida." Perguntei: "Há algo mais, Mary?" Ela respondeu que não. Na aula seguinte Mary disse: "Doutor Erickson, há outra parte da história. Quando vol- tei para Flagstaff, senti tanta culpa de ter causado o ata- que de coração de minha mãe, que tive de contar-lhe sobre a culpa que eu sentira por tudo: o desfiladeiro e o cano de ferro, e de quando ela voltara do hospital. Já pas- sava de uma da madrugada e atravessei a cidade, acordei minha mãe e contei-lhe tudo." Ela disse: "Sabe, Mary, eu estava sempre tirando fotos suas quando você era crian- ça. Vamosao sótão pegar aquela caixa de papelão onde guardo as fotos, sempre quis colocá-Ias em ordem num álbum." Foram ao sótão e aqui está a foto de Mary pequenina usando mangas bufantes e de pé ao lado de uma moita de bambu. (Erickson mostrou a foto a Carol, que a olhou e passou à pessoa à esquerda.) Bem, quando os pacientes têm lembranças muito repri- midas isto não quer dizer que não as tenham. Algumas vezes a melhor maneira de desencavar estas terríveis lem- branças é fazer com que eles exprimam a emoção ou a parte intelectual, ou a parte motora. Porque só as emo- ções não narram a história. E a parte intelectual sozinha é como ler um livro de contos e as relações da memória não querem dizer absolutamente nada. Assim, Mary me deu aquela foto, e disse: "Entrei para a Psicologia num esforço para desvendar aquela lembran- ça. Não estou interessada em Psicologia. Sou casada. Te- nho um marido feliz, um lar feliz e filhos felizes. Não quero um Ph.D." Até a idade de quase trinta e sete anos ela fora governada durante trinta anos por aquela emo- ção profundamente reprimida. Quando fizeram psicoterapia, tentem desenterrar tudo ao mesmo tempo. Extraiam a coisa certa quando se trata de uma repressão profunda. Bem, a mulher de um den- tista pediu-me para colocá-Ia em transe e fazê-Ia regredír ao começo da infância. Pedi-lhe: "Sugira-me que ano ou que evento." Disse-me: "Por que não me fazer regredir ao meu terceiro aniversário?" Fiz com que ela regredisse no tempo até ela dizer que estava com três anos. Estava na sua festa de aniversário e perguntei-lhe tudo sobre a mesma. Falou do bolo de aniversário, de seus amiguinhos e contou-me que estava usando um vestido com appliqués e montando um cavalo no pátio. Quando despertou do transe e ouviu a gravação que re- gistrara seu terceiro aniversário, riu e disse: "Não é uma recordação de fato." Nenhuma criança de três anos conhe- ce a palavra appliqué e certamente eu não a conhecia quando tinha três anos. Quanto a montar a cavalo no pá- tio, nosso pátio era tão pequeno que não caberia um ca- valo. Isto foi pura fantasia." Cerca de um mês depois, visitou a mãe e esta lhe disse: ".É claro que você conhecia a palavra appliqué quando ti- nha três anos. Eu fazia todos os seus vestidos, e cada ves- tido que eu fazia tinha appliqué. Agora vamos ao sótão. Tirei fotos suas em cada aniversário, e muitas mais." Finalmente desenterraram a foto de quando ela fizera três anos, vestindo um vestido de appliqués, e montando um cavalo no pátio. Encontraram as fotos e a mulher do dentista mandou fazer uma cópias dos intantâneos e me deu (Erickson mostra-as ao grupo.) Aí está o vestido com appliqué e aí está o cavalo dela. Mas, sendo adultos, tanto ela quanto eu ouvimos a pa- lavra horsey achando que queria dizer horse (cavalo). Ela tinha um triciclo que parecia um cavalo. (Erickson ri.) E estava montando seu horsey no pátio. (Erickson ri.) E apesar de sua convicção adulta, uma criança de três anos de fato conhece a palavra appliqué. Aqui está a prova de que uma criança de três anos de fato sabe o que é um ves- tido com appliqué. Quando um paciente falar com você na linguagem dele, não transponha para a sua linguagem. A mente desta se- nhora, aos três anos de idade, lembrava-se de um hor- sey, e, como adultos, traduzimos a palavra como "cava- 10". Por isso, aconselho-os a que, quando estiverem ouvin- do um paciente, nunca pensem que o entenderam, porque estão ouvindo com seus próprios ouvidos e pensando com seu próprio vocabulário. O vocabulário do paciente é algo totalmente diferente. Para uma criança de três anos de idade, um horsey é um horsey, e, para uma pessoa de ses- senta anos, um horsey é um cavalo (horse). Que horas são, por favor? Stu: Duas e cinco. (Stu é um psicanalista do Arizona.) E: Agora, vou lhes mostrar dois casos. Acho que vou apre- sentar dois. O primeiro lhes mostrará o quanto o terapeu- ta é pouco importante. Um jovem advogado de Wisconsin veio ao meu consul- tório numa tarde de quarta-feira. Disse-me: "Tenho um escritório de advocacia em Wisconsin. Minha esposa e eu não gostamos do clima de Wisconsin. Queremos mudár para o Arizona e começar uma família aqui. Por isso pres- tei um exame no foro judicial do Arizona. Fiz o exame cinco vezes e fracassei nas cinco vezes. Tenho uma boa prática de direito em Wisconsin, e por cinco vezes fracas- sei no exame do foro do Arizona. E amanhã de manhã cedo devo ir a Tucson para tentar o exame de novo." Assim, ele veio na tarde de quarta, na manhã seguinte partia para Tucson onde falhara cinco vezes no exame: "E mesmo assim você e sua esposa querem se mudar para o Arizona e começar uma família lá? Respondeu: "Isto mes- mo." Eu lhe disse: "Bem, eu não conheço nada sobre as leis do Arizona; sou apenas um psiquiatra e não conheço Direito. Mas, de fato, sei como são efetuados os exames do foro judicial. Sei que os advogados que procuram uma licença legal reúnem-se num certo prédio em Tucson. Ê um exame experimental. As questões são mimeografadas, e há bastantes questões e publicações oficiais (Livro Azul). Cada candidato pega uma cópia das questões e alguns livros azuis, procuram um lugar confortável, sentam-se e escrevem durante o dia todo, de nove da manhã até as cinco da tarde. E depois, na sexta-feira, recomeçam da mes- ma maneira às nove, e acabam às cinco. No sábado rece- bem nova sene de perguntas e escrevem até às cinco ho- ras. Então o exame está completo. Cada dia é um teste e cada dia há uma série diferente de perguntas." Então, coloquei-o em transe profundo e disse-lhe: "Você tem de ir a Tucson amanhã de manhã e dirá que você e sua esposa querem se mudar para o Arizona, que você gos- ta do Arizona e que não gosta de Wisconsin. Por isso, quando você estiver dirigindo para Tucson, que está a bem mais de cento e cinqüenta milhas, partirá bem cedo de manhã, e vai observar o panorama à direita e à es- querda da rodovia. Você vai apreciar o panorama do Ari- zona por todo o caminho até Tucson. (As novas estradas agora têm cento e vinte milhas.) Você vai apreciar o pa- norama à luz da manhã." "Quando chegar a Tucson irá procurar, distraidamen- te, um parque de estacionamento e estacionará seu carro. Olhará em volta e verá um prédio. Vai imaginar que pré- dio é aquele e mesmo assim entrará nele. Verá muitas pessoas, jovens e velhas, homens e mulheres. Não vão in- teressá-Io de fato. Verá um monte de folhas mimeografa- das com perguntas, e vai pegar uma da pilha e também uma publicação oficial (Livro Azul). Procure uma cadei- ra ou um lugar confortáve1." "Vai ler todas as questões e vão lhe parecer sem sen- tido. Então lerá a primeira questão pela segunda vez, que começará fazer um pouco de sentido. Assim, um pouco de informação passará de sua caneta para o livro azu1. E an- tes que este pouco chegue a secar, você lerá a segunda questão. E fará um pouco de sentido para você e uma cer- ta quantidade de informações sairá de sua caneta e pas- sará para o pape1. Seguindo-se mais um pouquinho e ain- da mais um pouco. E, finalmente, esta parte secará. Você passará para a pergunta seguinte, assim como para todas as perguntas." "E nesta noite você vai caminhar por Tucson e admi- rar o panorama, de perto e de longe. Terá bom apetite e gostará da comida que comer. Vai fazer um passeio a pé antes de dormir. E apreciar o céu azul do Arizona. Ir! para a cama e dormirá profundamente. Despertará sentin- do-se revigorado. Vai tomar um bom café da manhã. De- pois vai andar pelo prédio dos exames, repetindo-se o dia anterior, uma repetição da quinta-feira." "E na tarde de sexta-feira vai caminhar por Tucson, abrir o apetite, apreciar o panorama de perto e de longe e terá um magnífico jantar. Irá fazer outra caminhada,. apreciar o céu azul, as montanhas que circundam Tucson, irá para a cama e dormirá profundamente." "A mesma coisa sucederá no sábado." Cerca de um ano depois, uma senhora em adiantado estado de gravidez entrou no meu consultório. Disse-me seu nome e eu reconheci o sobrenome do advogado. Disse- me: "Estoua caminho do hospital para ter um bebê. De- pois do que o senhor fez pelo meu marido, eu gostaria de ter um parto hipnótico." Assim, eu gentilmente mostrei a vantagem de se ter um pouco mais de tempo. Disse-lhe para entrar em transe. Entrou num ótimo tran- se e eu lhe disse: "Vá para o hospital, coopere de todas as maneiras, com exceção de explicar que não deseja ne- nhum remédio e de que não tomará nenhuma anestesia. Explique que só deseja ir para a sala de parto ter o seu bebê. E enquanto estiver na mesa de parto, pense no bebê. Vai ser menino ou menina? Quantos quilos terá? Qual será o seu tamanho? Qual será a cor dos cabelos, ou será ca- reca? E de que cor serão os seus olhos? E se a senhora lhe dará realmente o nome que escolheu com seu marido. E enquanto estiver deitada esperando seu filho, goze de todos os pensamentos a respeito de ter um filho. E espere pacientemente e com alegria ouvir seu primeiro choro. Pense como a senhora e seu marido serão felizes, e como é bom viver no Arizona." Ela estava se deliciando com seus pensamentos quando ouviu, de repente, o obstetra dizer: "Senhora X, aqui está seu filho." E estava segurando um menino. Dois anos depois ela veio ao meu c0nsultório e disse: "Lembrei-me do que o senhor disse quanto a ter mais tem- po. Não vou para o hospital nos proxlmos três dias. Gos- taria de ter outro parto hipnótico." Eu lhe disse: "Muito bem, feche os olhos. Entre em um transe profundo e repita o que você fez na primeira vez." Despertei-a e ela saiu. Na vez anterior ela me falara da maneira como o mari- do voltara para casa, dirigindo no sábado à tarde de modo a poder ver o panorama do Arizona do ponto de vista oposto. Viu-o quando ia para lá e foi possível vê-lo no caminho de volta. (Erickson ri.) Siegfried: Por favor, repita a última frase. Não consegui en- tender. E: Quando o marido dela terminou o exame de Direito na- quela tarde, voltou para poder ver o panorama do Ari- zona de um outro ponto de vista. Viu-o à luz do entardecer. E não achou necessário me contar que passara no exa- me. Porque minha atitude com os pacientes é a seguinte: Você vai realizar seu objetivo, sua meta. Tenho muita confiança. Aparento confiança. Ajo com confiança. Falo com confiança e meus pacientes tendem a acreditar em mim. Muitos terapeutas dizem assim: "Espero poder ajudá- 10." Com isto expressam uma dúvida. Eu não tive nenhuma dúvida quando lhe disse para entrar em transe. Não tive dúvidas a respeito dela (Erickson aponta para as duas mu- lheres sentadas no sofá.) Estava extremamente confiante, um bom terapeuta deve ser extremamente confiante. (Erick- son olha para o chão.) Bem, depois do primeiro bebê, o advogado veio me ver e disse: "Foi muito amável o que o senhor fez por minha esposa. Realmente apreciamos o parto do menino. Mas algo está me perturbando. Quando meu avô por parte de pai tinha a minha idade, teve um problema nas costas que o incomodou e atrapalhou a vida toda. Sofria de uma dor crônica nas costas. E seu irmão teve este tipo de dor nas costas a vida toda, começando mais ou menos na minha idade. Meu pai, quando tinha a minha idade, teve uma dor crônica nas costas. Isto preju- dica seu trabalho, e meu irmão mais velho, quando chegou à minha idade, começou a sentir uma dor crônica nas cos- tas. E agora eu estou começando a ter uma dor nas costas." Eu lhe disse na ocasião: "Muito bem. Vou cuidar disso. Entre em um transe profundo." Quando estava em pro- fundo transe eu lhe disse: "Se sua dor nas costas é de origem crônica, ou se há algo de errado na espinha, nada que eu disser ajudará. Mas se for psicológica ou um pa- drão psicossomático que você aprendeu de seu avô, de seu tio-avô, de seu irmão, então você pode saber que não precisa desta dor nas costas. É apenas um padrão psi- cossomático de comportamento." E, nove anos depois, ele voltou· a mim; e disse: "Lem- bra-se daquela dor nas costas que você tratou? Nunca mais~ a tive até algumas semanas atrás, quando minhas costas começaram a ficar: um tanto fracas. Fiquei com medo de todas, as dores de costas que meu tio-avô, meu avô, pai e irmão tiveram, e agora minhas costas estão um tanto enfraquecidas." Disse-lhe então: "Nove anos é muito tempo. Não estou apto a fazer um raio-X seu, nem o tipo de exame físico que gostaria. Vou mandá-Io a um amigo meu e ele me infor- mará .dos resultados e recomendações." Meu amigo Frank disse ao advogado: "O senhor exer- ce Direito, Direito Comercial. Senta-se à escrivaninha o dia todo. Não faz bastante exercício. Tenho aqui alguns exercícios que quero que o senhor faça para ter uma boa saúde gerql, e o senhor não terá mais dor nas costas." Voltou a mim e repetiu-me o que Frank lhe dissera. Co- loquei-o em transe e disse: "Agora faça estes exercícios e leve uma vida bem equilibrada de atividade e inatividade." Um ano depois, procurou-me e disse: "Sabe, sinto-me muito mais jovem e não tenho nenhuma dor nas costas." Mas agora, há algo que vocês devem saber. Uma secre- tária, que era ótimo sujeito hipnótico, procurou-me por te- lefone e disse-me: "Algumas vezes, quando fico mens- truada, tenho cólicas menstruais muito intensas. Estou exa- tamente começando minha menstruação e estou tendo có- licas muito forte localizadas um tanto à direita, no bai- xo abdômen. Bem, o senhor poderia me dar uma anestesia para minhas cólicas menstruais?" Coloquei-a em transe por telefone. Disse-lhe: "Você me falou, em estado de vigília, sobre cólicas menstruais e quer que eu as alivie. Portanto, entenda isto: sua menstruação não lhe causará mais nenhuma dor. Você não terá mais cólicas menstruais." E enfatizei dor menstrual, cólicas menstruais. "Agora acorde." Ela despertou e disse: "Obri- gada, a dor passou." Eu disse: "Otimo." Cerca de vinte minutos mais tarde voltou a chamar e disse: "A anestesia passou. As cólicas voltaram." Eu lhe disse então: "Entre em transe e ouça atentamente. Quero que você crie uma anestesia para cólicas menstruais, para dores menstruais de todos os tipos. Agora acorde livre da dor." Ela despertou e disse: "Desta vez você me deu uma boa dose de anestesia. MUlto obrigada." Meia hora mais tarde voltou a me telefonar: "Minhas cólicas voltaram outra vez." Eu disse: "Seu corpo é muito mais sábio do que você. Você não está com cólicas mens- truais. Eu lhe dei uma anestesia hipnótica e qualquer mé- dico sabe que um apendicite agudo pode causar uma dor parecida com cólicas menstruais. Produzi uma anestesia para cólicas menstruais e não mencionei apêndice. Ligue para o seu médico." Foi o que fez. Ele internou-a no hos- pital e operou-a de uma apendicite aguda na manhã se· guinte. Nosso corpo nos conhece mais do que nós mesmos. Por isso, quando fizerem uma terapia com um paciente, saibam do que estão falando. Não dê instruções gerais. Se trato de uma dor de cabeça, posso dar a sugestão "para uma dor de cabeça inofensiva". Então, se a dor de cabe- ça tem origem num tumor cerebral, a anestesia hipnótica não funcionará. Ora, no caso de dor de apendicite, dêem- lhe uma anestesia hipnótica e a dor desaparecerá, mas o diagnóstico real é o de cólica menstrual, ou qualquer ou- tra alternativa diagnóstica. Por isso quando tratarem de uma doença orgânica, saibam do que estão falando. Agora, no caso do advogado, tudo o que fiz por ele foi levá-lo a pensar que o Arizona era um ótimo lugar para se viver, e que o exame de Direito era totalmente sem im- portância; por isso ele não sentiu nenhuma ansiedade, ne- nhum medo. Só teve de pingar um pouco de informação de cada vez. Qualquer um pode fazer isto. E eu tratei de bom número de advogados desta maneira - e médicos da mesma maneira -, dando-lhes um sentimento de confian- ça, de paz mental e de auto-segurança. Uma mulher fracassara repetidas vezes nos seus exames de Ph.D. A banca sabia que ela podia passar, e, no entan- to, todas as vezes ela entrava em pânico apagava tudo. Por isso eu a fiz assistir a uma aula onde contei o caso do advogado e ela entrou em transe ouvindo a história do ad- vogado. Depois que terminei o relato,ela despertou. Dis- pensei-a e ela voltou para o seu estado natal. Um mês de- pois, escreveu dizendo-me: "Passei no meu exame de Ph.D. com altas distinções. O que fez comigo?" (Erickson ri.) Eu não fiz nada além de lhe falar do advogado. Agora, ouçam o que vou lhes dizer. Todos vocês aplica- rão o que eu digo, de acordo com a própria compreensão. Quando falo de quanto os advogados admiram o maravi- lhoso panorama do Arizona, (para Christine) você pensará no panorama "wunderbar" da Alemanha; e são duas coi- sas diferentes. . E como vocês conseguem informação dos pacientes? Você conversa amigavelmente com ele. Você começa fa- lando sobre a Faculdade que cursou. Eu estive na Uni- versidade de Wisconsin. E todos vocês começam a pensar na própria Universidade. Se eu falo do rio Mississipi, nossa amiga alemã pensará no Reno. Sempre traduzimos a linguagem de outra pessoa para nossa própria linguagem. E agora, em 1972, uma mulher de trinta e cinco anos, casada, muito bonita, tocou a campainha de meu consul- tório.Sua declaração, ao entrar, foi a seguinte: "Doutor Erickson, tenho fobia de avião." E esta manhã meu che- fe me disse: "Você deve ir de avião para o Texas na quinta-feira e voltar no sábado." E disse-me ainda que: "Ou você vai e volta de avião ou perde seu emprego." Ela então disse: "Doutor Erickson, sou uma programadora de computadores e tenho programado computadores por to- dos os Estados Unidos." "Em 1962, há dez anos atrás, o avião no qual eu via- java sofreu um desastre. Não houve nenhum dano com o avião e ninguém a bordo ficou ferido. E nos cinco anos seguintes viajei de avião, de Fênix a Boston, Nova 101'- que, Nova Orleans, Dallas, por tudo que é lugar. Cada vez que estive num avião, em vôo, passei a sentir cada vez mais medo. E, finalmente, meu medo se tornou tão grande, que eu tremia visivelmente por todo o corpo. (Erickson demonstra.) E ficava de olhos fechados. Não conseguia ouvir meu marido falando comigo, e nessa épo- ca minha fobia era tão grande quê, quando eu chegava ao lugar onde ia fazer meu trabalho, até meu vestido ficava molhado de suor. Chegou a tal ponto que eu tinha de ir para a cama por umas oito horas e dormir antes de fazer meu trabalho. Por isso, passei a viajar para os diversos lo- cais de trabalho de trem, de ônibus, de carro. Minha fo- bia de avião é muito peculiar. Consigo ir pela pista de rolamento até o final da rampa. Mas, na hora em que o avião se levanta do' chão, começo a tremer, e fico toma- da de medo. Mas quando o avião aterrissa numa parada intermediária, no chão, me sinto muito à vontade. Consi- go ir pela. pista para o aeroporto, e até a rampa. Por isso, co'mecéi a me servir. do carro, do ônibus e dos trens. Finalmente, meu chefe se cansou do' fato de eu usar minh~s férias, minhas licenças e meus horários permitidos de ausência para viajar de ônibus, carro ou trem. Esta ma- nhã me disse: 'Ou você faz o vôo para Dallas ou perde o seu emprego.' Eu não quero perder o meu emprego. Gos· to dele." Então eu lhe disse: "Bem, como quer que eu trate sua fobia?" Respondeu: "Pela hipnose." Respondi: "Não sei se você é um bom sujeito hipnótico." Prosseguiu: "Na Fa- culdade eu era." Continuei: "Isto foi há muito tempo atrás. Como será agora?" Respondeu-me: "Excelente." Disse-lhe então: "Vou ter de testá-Ia." Ela era de fato um sujeito bastante hipnotizável. Des- pertei-a e disse-lhe. "Você é um bom sujeito hipnótico. Realmente não sei como você se comporta num avião, por isso quero colocá-Ia num transe hipnótico e fazer com que você tenha a alucinação de estar num avião a jato a trinta e cinco mil pés de altura." Assim, ela entrou em transe e teve a alucinação de estar num jato a trinta e cin- co mil pés de altura. A forma como bamboleava e tremia toda, era uma visão muito desagradável. Fiz com que ti- vesse a alucinação de uma aterrissagem." Disse-lhe: "Antes de ajudá-Ia, quero que entenda uma coisa. Você é uma linda mulher nos seus trinta anos. E eu sou um homem. E embora eu esteja numa cadeira de ro- das, você não tem conhecimento da extensão de minhas deficiências. Bem, quero que você me prometa que fará tudo o que eu lhe pedir, bom ou mau." Ela pensou uns cinco minutos e depois disse: "Nada que você pedir pode ser pior do que minha fobia de avião." Eu lhe disse: "Agora que você fez esta promessa, vou co- locá-Ia em transe e pedir-lhe para fazer uma promessa se- melhante." Em estado de transe ela fez a promessa ime- diatamente. Despertei-a e disse-lhe: "Você deu sua pala- vra tanto em estado de transe quanto em estado de vigí- lia, fez uma promessa completa." Continuei: "Agora posso tratar a sua fobia de avião. Entre em transe e imagine estar a uma altura de trinta e cinco mil pés, viajando a seiscentas e cinqüenta milhas por hora." Ela tremia aterrorizada, curvava-se e sua testa tocava os joelhos. Disse-lhe então: "Agora, quero que você faça o avião baixar, e, no momento em que aterrissar, to- dos os seus medos e fobias, ansiedades e tormentos pas- sarão do seu corpo para esta cadeira a seu lado." As- sim, ela imaginou a aterrissagem, despertou do transe e, saltou da cadeira com um grito e correu para o outro lado da sala, dizendo: "Eles estão ali! Eles estão ali!" (Erick- son aponta para a cadeira verde.) Chamei a senhora Erickson à sala e, disse-lhe: "Betty, sente-se nesta cadeira." (Erickson aponta.) E a paciente disse: "Por favor, senhora Erickson, não se sente nesta cadeira." A senhora Erickson continuou andando em dire- ção à cadeira, a paciente correu para lá e impediu Betty de sentar-se. Então, dispensei Betty, voltei-me para a pa- ciente e disse-lhe: "Sua terapia está terminada. Faça uma ótima viagem para Dallas e, quando voltar a Fênix, tele- fone-me do aeroporto e diga-me o quanto apreciou a via- gem de avião." Depois que ela saiu, fiz minha filha tirar uma foto su- perexposta da cadeira (Erickson aponta.), uma outra sub- exposta, e uma fotografia com a exposição adequada. Co- loquei-as em envelopes separados. Rotulei a foto super- exposta de: "Jazigo perpétuo de suas fobias, medos, an- siedades e tormentos caindo vagarosamente no esquecimen- to da escuridão eterna." Rotulei a foto subexposta de: "O jazigo perpétuo de seus medos, totalmente dissipado no es- paço externo." E a fotografia exposta adequadamente de: "O jazigo perpétuo de seus medos, fobias e ansiedades." Enviei os três envelopes pelo correio. Ela os recebeu na quarta-feira de manhã. No sábado recebi um telefone- ma excitado do aeroporto: "Foi magnífico! Extraordinaria- mente magnífico, a experiência mais linda da minha vida!" Disse-lhe então: "Você se disporia a contar sua história para quatro alunos meus que estou supervisionando para os exames de Ph,D.?" Respondeu-me que sim e combinei para que viesse às oito horas. Às oito horas, ela e o marido entraram na casa. Ela an- dou em volta da cadeira, mantendo-se tão longe quanto possível e sentou-se no lugar mais distante daquela cadei- ra. Os estudantes chegaram cinco minutos depois e um deles ia sentar-se na cadeira. Minha paciente disse: "Por favor, por favor, não sente nesta cadeira." O aluno disse: "Já me sentei nela antes. É uma ca- deira confortável e vou sentar-me de novo." A paciente disse: "Por favor, por favor, não faça isso." O aluno res- pondeu-lhe: "Bem, eu já me sentei no chão antes e vou sentar nele· agora, se -isso lhe satisfaz." A paciente agra- deceu: "Muito obrigada." Contou aos alunos o caso, incluindo a história sobre as fotos que lhe enviei. Disse-nos "Levei as fotos comigo, da mesma maneira que se carrega um talismã, um objeto de sorte, um pé de coelho, ou uma medalha de S. Cristóvão. Fizeram parte da viagem na minha valise de mão; A pri- meira parte da viagem foi para E1 Paso. Eu estava à von- tade, e pensando quando começaria a turbulência aérea. Havia uma escala de vinte minutos em E1 Paso. Desem- barquei, fui para um lugar calmo no aeroporto, entrei em transe e disse: 'o doutor Erickson quer que você aprovei- te a viagem. Faça o que o doutor Erickson lhe disse para fazer.' Retomei ovôo· e a viagem de El Paso para Dallas foi maravilhosa. Na viagem de volta de Dallas, lá no alto, tudo o que eu via abaixo era um banco de nuvens com buracos aqui e ali. Podíamos olhar através destes buracos e ver a terra lá longe, lá embaixo. Foi uma viagem fan- tasticamente linda." Eu lhe disse: "Agora, eu gostaria que você entrasse em transe, exatamente aqui e agora." Ela o fez. Eu lhe disse então: "Agora, neste transe, quero que vá até o aeroporto em Fênix, compre uma passagem para S. Francisco, e admire o panorama em todo o percurso até lá, especial- mente a montanha. Quando chegar em S. Francisco, de- sembarque, alugue um carro e guie até a ponte Golden Gate. Estacione o carro, ande até a metade da ponte e olhe para baixo. E vou lhe contar um pouco da história desta ponte. As colunas que a sustentam têm setecentos e qua- renta pés de altura. Quando as obras da ponte acabaram, um dos trabalhadores que pintara a ponte tinha um anzol na ponta de uma vara comprida, capturou umas gaivotas marinhas e pintou suas cabeças de vermelho. Um dia, um repórter atirado, publicou uma história no jornal sobre uma nova cria de gaivotas com cabeças vermelhas. Seu nome era Jake. Isto tudo é verdade, de fato." "Agora então, olhe as ondas lá embaixo, a espuma no topo das ondas e observe as gaivotas. Então começará um nevoeiro e você não conseguirá ver nada. Volte para o carro e retome ao aeroporto, e use sua passagem de volte para Fênix, e venha do aeroporto diretamente para cá." Ela logo acordou do transe e disse aos estudantes: "Te- nho de contar-Ihes sobre minha viagem a S. Francisco e sobre este detestável Jake." O marido comentou: "Sabia que ela não gostaria disso. Ela era uma adepta da ecologia." (Erickson ri.) E, quando ela acabou de contar a história, disse: "Vim para cá diretamente do aeroporto. Oh! meu Deus! Eu estava em transe e pensei que tinha ido para lá." Mas quando lhe fiz uma pergunta importante: "Que outro problema importante você superou na sua viagem para Dallas?", ela me respondeu: "Eu não tinha ne- nhum outro problema, só minha fobia de avião." Eu res- pondi: "Tinha sim, tinha um outro problema, um proble- ma que a atormentava muito. Não sei há quanto tempo você o vinha tendo. Agora você o superou. Mas conte aos alunos qual era o problema." Ela disse sinceramente: "Eu não tenho nenhum outro problema." Então eu disse: "Sei que você não tem mais nenhum problema agora, mas qual foi o outro problema que você resolveu em Dallas?" Ela respondeu: "O senhor terá que me dizer." Eu respondi: "Não. Eu só vou lhe fazer uma pergunta e então você saberá qual era o problema." Agora, vou perguntar a vocês, como grupo: quais eram os problemas dela? (Pausa). E direi previamente que ela tinha três problemas importantes. Eram problemas que a prejudicavam bastante. Quais eram? (Pausa) Vou ajudá-Ios a pensar. Ela não tinha uma fobia de avião. (Erickson ri.) Ela apenas acreditava que tinha, eu ouvi cada palavra que ela disse. (Pausa). E repeti para vocês todas as palavras importantes que ela disse. (Pausa). Deixei os estudantes refletirem algum tempo. Eles não conseguiam perceber quais seriam os problemas. Alguns conseguiram fazer hipóteses bastante boas sobre um dos problemas. (Pausa). Vocês não precisam dar respostas imediatamente. Espe- rem mais algum tempo. (Erickson ri. Pausa.) Sande: Ela tem medo de homens. E: Falou por você. Anna: Ela tinha um problema com o chefe no trabalho? E: (Faz um "não" com a cabeça.) Eu disse a ela: "Você tinha outro problema que você solucionou. Agora, qual era este problema? Vou lhe fazer uma simples pergunta: "Qual a primeira coisa que você fez em Dallas?" Ela disse: "Oh! aquilo?! Eu fui até aquele prédio que tem quarenta anda- res e tomei o elevador desde o térreo até o terraço." Per- guntei: "Como você costumava tomar o elevador?" Res- pondeu: "Eu costumava tomar o elevador do primeiro até o segundo andar, saía, tomava outro elevador, e ia até o terceiro andar, saía, esperava outro elevador e ia até o quinto andar. Toda a subida do elevador, um andar de cada vez. Estou tão acostumada a fazer isto, que não o encarei como um problema." Anna: Medo de altura? E: (Faz que "não" com a cabeça.) Ela disse: "Posso subir a bordo do avião. Posso ir pela pista à vontade. Posso voltar até o final da pista. Mas no momento que o avião decola, entro num tremor fóbico." Ela tinha medo de espaços fe- chados, onde não havia meios visíveis de apoio. O avião é um espaço fechado, sem meios visíveis de apoio; a mes- ma coisa com um elevador. Eu lhe disse então: "Agora, qual era o outro problema"? Ela respondeu: "Não sei de nenhum outro problema. Se o senhor diz que existe, deve ter havido outro problema." Falei então: "Você tinha de fato outro problema. Já o solu- cionou. Ora, quando não estava viajando de avião, estava viajando de carro, de ônibus, de trem. Você não tinha ne- nhum problema no trem. Mas o que acontecia no carro e no ônibus? E quando você chegava a uma ponte sus- pensa, muito grande?" Respondeu: "Oh, aquilo? Eu cos- tumava abaixar-me, rente ao chão, ficar de olhos fechados, e tremia toda. Tinha de perguntar a algum estranho: 'O ônibus já passou a ponte?'" Meus alunos sabiam que eu sabia disso porque eu induzira-a a fazer a viagem hipnótica para S. Francisco, e fizera com que ela caminhasse pela ponte. E, agora, a paciente vive a bordo de aviões. Ela e o ma- . rido passaram as férias viajando por toda à Austrália. Ela vai regularmente a Roma, Londres, Paris. E não gosta de ficar em hotéis. Prefere dormir à bordo e fazer as refei- ções no avião. E ainda tem aquelas três fotografias. E ainda tem medo daquela cadeira. (Erickson aponta para a cadeira e ri.) Como vêem, vocês não ouviram. O que ela disse foi: "Sinto-me à vontade no avião, quando ele decola começo a tremer." Eu sei que, quando um avião decola, torna-se um espaço fechado sem nenhum meio visível de apoio. A mesma coisa com um elevador. A mesma coisa com um ônibus sobre uma ponte suspensa. Não se pode ver o apoio nas extremidades, a gente olha para a direita e para a esquerda. (Erickson gesticula para direita e para a esquer- da.) A gente está no ar. Em um trem ela tinha uma prova de apoio, uma prova auditiva - o barulho das rodas nos trilhos - por isso não tinha nenhuma fobia nos comparti- mentos de um trem. Podia ouvir o apoio externo. Fico imaginando como, daqui há um ano, vocês se lem- brarão desta história. Porque eu já contei várias vezes, e, um ano depois, algum dos meus alunos vêm me contar este caso e ouço variações sobre o mesmo. (Erickson ri.) Mary às vezes é um homem. Pois quando falo com as pessoas, elas ouvem na sua própria linguagem. Posso contar-Ihes que nasci nas Montanhas de Sierra Nevada, e todos vocês se lembrarão de onde nasceram. Pensem nisso. Falo de minhas irmãs, vocês pensarão nas próprias irmãs, caso tenham uma; ou pensam no fato de não terem irmãs, se não as tiverem. Nós respondemos às palavras faladas em termos dos nossos próprios conheci- mentos. Os terapeutas devem ter isto em mente. Agora, quantos de vocês já estiveram aqui antes? Algum de vocês já esteve aqui antes? (Uma mulher levanta a mão.) E: Você esteve? Há quanto tempo? Sancle:, Há sete meses. E: Não me diga. Quantos de vocês acreditam na lâmapda de Aladim? Anna: Na lâmpada de Aladim? E: Quantos de vocês acreditam na lâmpada de Aladim? Eu tenho uma lâmpada de Aladim. Aladim esfregava a lampa- rina e aparecia um gênio. Eu tenho uma lâmpada de Ala- dim modernizada. Coloco o interruptor na tomada da pa- rede e o gênio aparece. Estou querendo que vocês vejam a minha gênia. Ela é muito amável. Gosta de sorrir, de piscar e de beijar. Mas lembrem-se que ela me pertence. Ora, acabo de me lembrar que a senhora Erickson não está em casa hoje à tarde. Senão eu os convidaria para ver minha gênia. (Erickson dirige-se à Anna.) Sei que você duvida. Também duvida que este seja o Conde Drácula. Anna: Não duvido. E: Então não esteja por aqui à meia-noite; você vai perder um pouco de sangue. E, este é um outro ponto que eu
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