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seminario_segunda_feira

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o seminário
1'*01G A L V A O
A sessão tem lugar na casa de hóspedes do doutor Erickson,
uma casinha de três cômodos, constando de um quarto, uma
sala de espera (com uma cozinha anexa) e o escritório do dou-
tor Erickson. As sessões ocorrem na sala de espera, que é
maior, devido ao fato de o escritório do doutor Erickson ser
muito pequeno para acomodar os grupos, que, algumas vezes,
consistem em até quinze pessoas. Há três estantes de livros na
sala. A sala de espera está decorada com diplomas, quadros e
lembranças.
Os alunos sentam-se em círculos, em sofás ou poltronas. À
esquerda do lugar onde Erickson senta-se na sua cadeira de
rodas, fica uma cadeira estofada de verde, chamada muitas
vezes de "a cadeira do sujeito".
A senhora Erickson conduz Erickson na sua cadeira de ro-
das até a sala de espera. Erickson permite que alguns alunos
ajustem os microfones na lapela de seu casaco. Depois segura
um lápis com uma ponta ornamentada. A ponta consiste de
uma cabeça com cabelos de fibra roxa. As fibras ficam niti-
damente alinhadas numa forma pontuda no alto do lápis. En-
quanto mostra o lápis, Erickson diz para o grupo: "As pes-
soas vêm aqui assim." Depois rola o lápis vigorosamente en-
tre as palmas, desalinhando as fibras de cabelo, e afirma: "E
Sáem daqui assim."
Erickson então indica às pessoas o que devem preencher nas
folhas de dados. Pede que escrevam a informação numa folha
de papel: a data atual, o nome, endereço, código de zona e o
número do telefone, estado civil e número de filhos, educação
e grau de instrução, idade e data de nascimento, irmãos com
as idades e respectivos sexos, e se foram criados em ambiente
urbano ou rural.
Erickson aguarda, enquanto as pessoas preenchem as infor-
mações solicitadas. Depois lê cuidadosamente cada folha, fa-
zendo comentários para alguns dos participantes. Corrige al-
guns alunos que não preencheram todas as informações soli·
citadas.
Começamos a sessão quando Jan, uma psicóloga de Nova
Iorque, responde a um comentário do doutor Erickson, afir-
mando que tivera vários anos de experiência como filha única.
Erickson então lhe diz:
E: Quanta simpatia sente uma moça de quinze anos por um
irmão de sete?
Jan: As coisas começaram a mudar depois disso.
E: Pobre irmão.
Jan: Ele sobreviveu.
E: Você não tem irmãos? (O doutor Erickson dirige-se a Anna,
uma assistente social da Suíça.)
Anna: Tenho sim. Não ouYi claramente o que deveria preen-
cher. O que deseja que eu preencha?
E: Irmãos: a idade e o sexo deles.
Sande: Alô, doutor Erickson. Eu sou Sande. (Sande é uma tera-
peuta de Nova Iorque que acaba de entrar na sala.)
E: (Cumprimenta Sande com um aceno de cabeça.)
Carol, seu grau de instrução e a data. (Carol é uma aluna
doutorada em psicologia clínica em Massachusets.)
Carol: A data da colação de grau?
E: Não. A data de hoje. Seu nome, endereço, número de tele-
fone, código de zona, seu grau de instrução, onde o obte-
ve, seus irmãos e a idade e sexo deles, estado civil, filhos,
criação rural ou urbana.
Siegfried: Sou Siegfried de Heidelberg, Alemanha. (Siegfried é
psicólogo clínico, Ph.D.)
E: Prazer em conhecê-lo.
Siegfri Es á bem se eu colocar mais um microfone em você?
E: Tudo e m qualquer número desses aparelhos.
Siegfried: Obrigado.
Sande: Será qu agüenta mais um?
E: Tenho uma \' z baixa. Tive pólio duas vezes, minha língua
está d ,,1 ada e meus lábios parcialmente paralisados. Só
tenho metade do diafragma e não posso falar muito alto.
O microfones vão registrar o que eu falo direito, mas
vocês podem ter dificuldades de entender minha fala
Se não entenderem, digam-me. E depois, outra precaução:
todos os que têm dificuldade de audição, sentem-se mais per-
to. Normalmente as pessoas que têm dificuldades de ouvir
são as que sentam mais atrás. (Erickson ri.)
Bem, quando ensino psicoterapia, enfatizo um estado
de percepção consciente e um estado de percepção incons-
ciente. A bem da conveniência, falo de uma mente cons-
ciente e da mente inconsciente.
Ora, a mente consciente é o estado de percepção ime-
diata de vocês: conscientemente vocês percebem a cadeira
de rodas, o tapete no chão, as outras pessoas presentes, as
luzes, as estantes, as flores de cáctus que crescem à noite,
os quadros na parede, o Conde Drácula na parede logo
atrás de vocês (o Conde Drágula é uma espécie de couro
de cavalo seco pendurado numa das paredes.) Em outras
palavras, vocês estão dividindo a atenção entre o que eu
digo e tudo o que está ao redor de vocês.
A mente inconsciente é formada por todos os aprendiza-
dos no decorrer da vida, muitos dos quais vocês já esque-
ceram completamente, mas que lhes servem no funciona-
mento automático. Bem, uma parte considerável do com-
portamento de vocês e"o funcionamento automático destas
lembranças esquecidas.
Por exemplo ... vou pegar você. (Erickson sorri e diri-
ge-se a Christine, uma médica da Califórnia que tem um
forte sotaque alemão.) Você, de que maneira você anda?
De que maneira você fica de pé? Queira me dizer, por
favor, como é que você fica de pé?
Christine: Provavelmente deslocando meu centro de gravidade e
ao mesmo tempo ...
E: Bem, como é que move o seu centro de gravidade?
Christine: Fazendo vários ajustamentos inconscientes, com cer.
teza.
E: Bem, e quais são eles?
Christine: Acho que não tenho consclencia deles.
E: Você acha que poderia caminhar seis quarteirões numa rua
sem nenhum tráfego de qualquer tipo, com passadas firo
mes? E conseguiria andar em linha reta com passos firmes?
Christine: Provavelmente, não exatamente com passadas firmes.
E acho que, quanto mais prestasse atenção, menos eu con·
seguiria.
E: Bem, e como você caminharia pela rua?
Christine: Se eu fizesse um esforço? Bem pior do que se não
fizesse esforço nenhum.
E: O quê?
Christine: Bem pior do que se eu não fizer esforço nenhum.
E: Como é que você caminharia, naturalmente ... depressa?
Christine: Botando um pé na frente do outro e não prestando
atenção nisso.
E: E você andaria em linha reta?
Christine: Não sei. Talvez razoavelmente reta.
E: E em que lugar você pararia e descansaria?
Christine: Onde fosse apropriado às circunstâncias.
E: Bem, isto é o que eu chamo de resposta evasiva. (Erickson
ri.) Onde você descansaria e onde pararia?
Christine: Se tivesse um sinal vermelho eu pararia.
E: Onde?
Christine: Numa esquina.
E: Não antes de chegar à esquina?
Christine: Logo antes da esquina, talvez.
E: A que distância da esquina?
Christine: Alguns passos, talvez um passo.
E: Bem, suponha que, em vez de um sinal luminoso, haja ape-
nas um sinal de parada, e suponha que não haja sinal.
Christine: Se houvesse tráfego eu pararia.
E: Eu disse que não há tráfego de nenhum tipo.
Christine: Então talvez eu continuasse.
E: Bem, digamos que esta é a interseção (Erickson faz o gesto),
e se houvesse um sinal luminoso, com você caminhando
por aqui; você então olha para cima e depois movimenta
a cabeça para ver a que distância está a esquina. E se
houvesse um sinal de parada, você diminuiria o passo para
vê-Io. E quando hegasse na esquina o que você faria em
seguida?
Christine: Depois de parar?
E: Depois de hegar na esquina.
Christine: Eu araria e olharia em volta.
E: Olharia em \'01 a para onde?
Christine: . -as dire, - s em que eu antecipasse que o tráfego
poderia YÍT.
E: Eu disse que não havia n nhum tráfego.
Christine: Então eu continuaria. Depois olharia pela rua e veri·
ficaria o tamanho do passo que eu teria que dar.
E: Você tem de parar e ver o tamanho do passo que você tem
de dar para descer, e você olha para a direita e para a
esquerda e rua acima automaticamente. E quando você
chegasse ao outro lado da esquina, pararia e avaliaria a
altura da calçada ali e não teria de olhar nem para a direita
nem para a esquerda. O que poderia fazer com que você
diminuísse o passo?
Christine: Tráfego?
E: Bem, se você estivesse com fome, você se retardaria ao
pas~ar por um restaurante. Depois de olhar para seu colar,
você se voltaria para uma joalheria. (Christine ri.) Um
homem que goste de caça e pesca se desviaria para uma
vitrinede artigos esportivos.
E, onde vocês todos parariam? Diante de que prédio? ..
Como se vocês estivessem passando por uma barreira in-
visível? Algum de vocês já tentou passar por uma padaria?
A gente sempre diminui o passo quando passa por uma
padaria: seja homem, mulher ou criança. (Dirige-se a Chris-
tine.) Ora, já que você é uma médica, como foi que apren-
deu a ficar de pé? A mesma questão vale para todos vocês.
Sei como vocês aprenderam a ficar de pé. Mas qual foi o
primeiro momento do aprendizado?
Christine: Fazer o esforço e tentar.
E: Você nem sabia o que significava "ficar de pé". Como foi
que você aprendeu a ficar de pé?
Christine: Talvez por acaso.
E: Nem todos têm o mesmo acaso. (Risos)
Rosa: Porque queria alcançar alguma coisa. (Rosa é uma tera-
peuta da Itália.)
E: Bem, o que é que você estava querendo alcançar?
Rosa: O que eu estava querendo alcançar?
E: Não tente responder esta pergunta.
Anna: Provavelmente por querer. Por querer fazer da maneira
que as outras pessoas fazem. Como um bebezinho queren-
do alcançar os adultos que estão de pé.
E: Sim. Mas como você fez isto?
Anna: Fisiologicamente, pressionando meus pés para baixo,
imagino ... e depois me ajudando com as mãos.
E: (Falando para o grupo, mas olhando para um ponto espe-
cífico do chão à sua frente.) Eu tive de aprender a ficar de
pé duas vezes: uma vez quando bebê e outra vez aos de-
zoito anos. Eu estava totalmente paralítico aos dezessete
anos. Tinha uma irmã bebê. Observava-a a engatinhar e
olhava para ver de que maneira ela ficava de pé. Aprendi
com minha irmã, dezessete anos mais nova do que eu,
como é que se fica de pé.
Em primeiro lugar a gente se estica e se empurra para
cima. Depois, acidentalmente, mais cedo ou mais tarde
(todos nós cometemos o mesmo "acaso"), a gente descobre
que colocou algum peso no pé. E descobre que o joelho
dobra e você cai sentado. (Erickson ri.) Depois a gente dá
um puxão para cima e tenta o outro pé, e o joelho dobra
de novo. Leva muito tempo para aprender a distribuir o
peso nos pés e manter os joelhos retos. Você tem de apren-
der a manter seus pés bem separados e nunca cruzá-Ias;
porque, se cruzá-Ios, não conseguirá ficar de pé. Tem de
aprender a manter os pés tão separados quanto possível.
Depois mantém os joelhos retos e seu corpo o trai de novo:
você dobra nos quadris.
Depois de algum tempo, depois de muitos esforços, você
consegue manter os joelhos retos, os pés separados, as ancas
retas, e você se dependura do lado do cercado. A gente tem
quatro bases: duas nos pés e duas nas mãos.
E então, o que acontece quando a gente levanta este
braço? (Erickson levanta a mão esquerda.) A gente cai
sentado. É um trabalho aprender a levantar esta mão, e um
trabalho maior ainda afastar a mão porque seu corpo tom-
ba nesta dite>ã . (Erickson gesticula para a direita e para
a esquerda). E então vai para este lado e para este. E você
tem de aprender a manter o equilíbrio independente da
maneira m que mova esta mão. E depois tem de aprender
a mexer a outra mão. E então tem de aprender a coorde-
ná-Ia com o movimento da cabeça, dos ombros e do corpo.
E finalmente se levanta com ambas as mãos livres. Agora,
como é que yo ê se tran fere de dois pés para um? É um
trabalho danado, porque, da primeira vez que você tenta
fazê-lo, esquece-se de manter os joelhos e os quadris retos,
e cai sentado. Depois de algum tempo, a gente aprende a
juntar todo o peso num dos pés e depois mover um pé
para diante, e isto altera o nosso centro de gravidade; por
isso, caímos sentados. Leva muito tempo para aprender a
maneira de colocar um pé adiante. Assim, finalmente
damos o primeiro passo, e parece bastante bom. Depois
damos o segundo passo com o mesmo pé, e não parece tão
bom. Dá o terceiro e cai. Leva bastante tempo para ir para
a direita, esquerda, direita, esquerda, direita, esquerda.
Todos vocês podem andar, e no entanto não conhecem
os movimentos ou os processos (Erickson dirige-se a
Christine.) Bem, você fala alemão, não é?
Christine: Sim.
E: Foi bem mais fácil aprender inglês do que alemão?
Christine: Nem um pouco, foi mais difícil aprender inglês.
E: Por quê?
Christine: O alemão era natural e veio sem esforço, porque eu
ouvia falar. O inglês eu aprendi ...
E: Você teve de aprender toda uma nova série de movimentos
vocais. Teve de coordená-los com a audição. Poderia dizer:
"O pássaro voa alto?"
Christine: o pássaro voa alto.
E: Agora repita em alemão.
Christine: Der Vogel fliegt hoch.
E: Pode dizê-Io em dialeto baixo-alemão?
Christine: Não.
E: Por quê?
Christine: Porque nunca aprendi. Acho que nem mesmo pode-
ria entendê-Io. É muito diferente.
E: Conhece isto: "É bom ser Preiss (pronuncia-se como 'price'*),
mas é melhor** ser Bayer (pronunciado como 'buyer'***)?"
Christine: Acho que não entendo muito bem.
E: É bom ser Preiss, mas melhor ser Bayer.
Christine: Nunca ouvi isto.
E: Eu não falo alemão. Minha pronúncia pode estar errada. É
bom ser Prussiano mas é melhor ser Bávaro. (Risada.)
Siegfried: Poderia falar mais alto?
E: Agora, vou acusá-Ios de falarem muito baixo. Acho que a
verdade é que não ouço muito bem. (Erickson ri.) (Erick-
son fala enquanto olha para baixo.) Muito bem. Na psico-
terapia você ensina o paciente a usar a maioria das coisas
que eles aprenderam, e aprenderam há muito tempo atrás
e não se lembram de ter aprendido.
Em seguida, o que quero dizer é que todos nós temos
bilhões de células cerebrais. Bilhões e bilhões de células
cerebrais. E estas células são altamente especializadas. A
gente aprende alemão com um conjunto de células e usa
outro conjunto de células cerebrais para aprender inglês
e outro conjunto de células para aprender espanhol.
A ilustração que posso lhes dar é a seguinte: tive dois
pacientes de enfermaria, que eu costumava usar para exem-
plificar questões para um dos meus alunos médicos. Os
dois pacientes tinham uma pequena hemorragia, bem sem
importância. Um dos pacientes conseguia dar nome às coisas.
* Em inglês: Price=preço, pronuncia-se como Preiss. Em dialeto bai-
xo-alemão: Preiss=Preussen, prussiano. (N. do T.)
* * No original inglês: higher. (N. do T.)
*** No original inglês: comprador. Em alemão: Bayer=bávaro. (N.
do T.)
Mas se você lhe perguntasse o que fazer com estas coisas,
ele não sabia. Podia dar nome a uma chave; e à porta, à
maçaneta e à fechadura. Sabia o nome de cada coisa mas
não conhecia nenhum verbo. O outro paciente não sabia dar
nome às coisas, mas conseguia ilustrar o uso delas. Não
sabia o nome chave, não conseguia indicar uma fechadura
ou uma porta ou uma maçaneta. Se você lhe entregasse uma
chave e lhe dissesse: "Abra a porta", ele não sabia do que
você estava falando. Mas se lhe mostrasse como colocar a
chave na fechadura, ele abria a porta. Se você lhe dissesse:
"Gire a maçaneta", ele não sabia do que você estava falan-
do. Mas se lhe mostrasse assim. (Erickson gesticula para
indicar o movimento de girar a maçaneta), ele entendia. Se
você abria a porta, ele entendia.
Em outras palavras, nossas células cerebrais são tão espe-
cializadas que temos literalmente uma célula cerebral para
cada item de conhecimento, e todas estão em conexão.
Bem, outra coisa pata que lhes desejo chamar a atenção,
é para a questão da hipnose. Hipnose é cessar de usar nossa
percepção consciente; na hipnose começamos a usar a
percepão inconsciente. Porque, inconscientemente, sabemos
tanto e muito mais do que conscientemente. (Dirige-se a
Sande, que está sentada na cadeira verde.) Vou lhe pedir
para trocar de lugar com ... (Dirige-se a Christine.) Qual
é o seu primeiro nome?
Christine: Christine.
E: Kristie?
Christine: Christine. (Christine passa para a cadeira verde.)
E: Joe Barber já colocou você em transe?
Christine: Sim.
E: Muitas vezes?
Christine: Algumas vezes.
E: Tudo bem. Recoste-se na cadeira e olhe para aquele cavalo.
(Erickson mostra um cavalo de gesso, que está na estante
em frente, na sala, para que ela olhe. Christine ajeita sua
posição e coloca um bloco de anotações de lado. Suas
pernas estão descruzadas, e coloca asmãos sobre as coxas.)
Está vendo?
Christine: Sim.
E: Olhe apenas nesta direção geral. Quero que você ouça e
registre o que estou dizendo.
Bem, Christine, olhe apenas para aquele cavalo. (Chris-
tine reajusta o bloco de notas e coloca-o de seu lado es-
querdo, entre ela e a cadeira.) Não precisa falar. Vou lem-
brar-lhe algo que você aprendeu há muito tempo atrás.
Quando começou a ir à escola e o professor pediu-lhe para
apren&r a escrever as letras Jc; alfabeto, isto lhe pareceu
uma tarefa terrivelmente difícil. Todas aquelas lêfiás. Todos
aqueles tamanhos e formas diferentes. E, o que era pior,
havia letras maiúsrulas e letras minúscu1ãs.1êhristine pisca
devagar.).]: enquanto eu estive falando com você, sua respi-
ração mudou. O ritmo de seu coração mudou. A pressão
sangüínea mudou. Seu tônus muscular mudou. Seus refle-
xos motores mudaram. E agora (Christine fecha os olhos.),
gostaria que mantivesseãs olhos fechados, .s.sY~~~
bem cômoda. E, quanto mais confortável se sentir, mais
profundamente'--emmã em transe. Gostaria que você en-
trasse num transe tão profundo que lhe pareca que você
não tem mais corpo. Você se sentirá ape~ mente sem
corpo. Uma mente flutuando no êSPâÇõ. Flutuando no
tempo. E lembranças muito antigas lhe virão à mente. Lem-
brança;""que você já esqueceu há muito tempo.
~E minha voz seguirá com você por toda parte, e minha
vO?...E~de se transformar na voz de seus pais, seu"Tprofes-
sores. Pode ser uma voz alemã. Pode ser a voz de seus~ ..............-
colegas, seus companheiros de brincadeiras, seu professor.
E, em seguida, quero que aprenda algo muito impor-4-.
tante. Quero que você mantenha o corpo adormecido pro-
fundamente, completamente, num transe bem profundo,,~
depois de algum tempo, quero que apenas sua cabeça des-
perte. Apenas sua cabeça. Seu corpo, dormindo. Acima do
pescoço estará acordada. Ora, será difícil fazê-Io, mas você
pode conseguir. Pode fazer um esforco maior do que este,~\,;:tr.~ .,~.-. ~
mesmo que você não queira acordar, você vai acordar do
pescoço para cima (Christine abre os olhos.)
Como se sente?
Christine: Ótima (Christine sorri. Inicialmente, enquanto fala
com Erickson, seu corpll está rígido e sua atenção visual
focalizada apenas em Erickson.)
E: E que recordações gostaria de partilhar conosco?
Christine: A únicâ coisa que experimentei foi o que você estava
dizendo.
E: Sim... e quanto à escola?
Christine: Acho que não ti e uma lembrança da escola.
E: Você acha que não se re ordou de nada da sua época escolar?
Christine: Poderia contar alguma coisa conscientemente agora,
mas não iven iei nada.
E: Tem certeza?
Christine: (Levantando o olhar.) Acho que sim.
E: E você sente que está acordada.
Christine: Como você disse, estou acordada do pescoço para
cima. (Sorri.) Acho que, se fizesse um esforço, poderia
mexer minhas mãos, mas não sinto vontade.
E: Uma das coisas importantes que aprendemos ao nascer
(Christine olha para a câmera.) é que não sabemos que
temos um corpo. Você não sabe que: "Esta é a minha
mão (Erickson gesticula com a mão esqu~a.) E este é o~p~~~ .
Você chora quando tem fome (Christine olha para o
grupo.) e sua mãe lhe pega no colo, dá palmadinhas na
barriga e coloca você de novo no berço. Seu pensamento
não está bastante adiantado, mas suas emoções estão. E
quando vem a próxima contração de fome (Christine olha
para o grupo enquanto sua mão direita sobe devagar.),
você diz emocionalmente para si mesma: "Aquele jantar
não encheu muito a minha barriga. Sua mãe pega você de
novo, e dá palmadinhas nas suas costas, isto lhe causa a
impressão de um bom jantar até que uma nova contração
de fome lhe ocorre e você reage ao fato de que o pobre do
jantar não durou muito tempo."
E, algumas vezes, depois que aprendeu a pegar e brincar
com um chocalho ou outro brinquedo qualquer, acaba per-
cebendo esta mão. (A mão de Christine pára de se mexer.
Está num nível pouco abaixo do ombro.) Parece interes-
sante, e por isso você tenta alcançá-Ia e tem um problema
terrível de imaginar por que razão este "brinquedo" se
afasta quando você tenta pegá-Io. Um dia por acaso você
tenta pegar este "brinquedo" e fica intrigada por que lhe
desperta uma sensação de um certo tipo e não uma sensa-
ção ... nos seus dois lados. Aqui então você tem a estimu-
lação palmar e dorsal, e é mais fácil aprender isto.
Por que é que sua mão está levantada?
Christine: Percebi que queria começar a levitar antes de abrir
meus olhos. Sei onde ela está.
E: Isto aí é que é o importante, ou o importante é que sua
mão levitou e você não sabe a razão?
Christine: (Sorrindo.) Está certo. Sempre racionalizo porque já
aconteceu antes.
E: O que quer dizer com isto?
Christine: Eu sempre racionalizo e sempre observo este fato por-
que já aconteceu antes. Normalmente é esta mão que faz
isto.
E: Bem, e o que faz com que ela levite?
Christine: (Balançando a cabeça.) Não sei.
E: Há uma boa parte do seu comportamento que você desco-
nhece. Você sempre usa a direção da mão direita e levita
até o rosto. (A mão de Christine começa a se mover em
direção ao rosto. Logo as costas das mãos tocam o rosto.
A palma da mão espalmada para o grupo e o polegar e
dedo mínimo estão esticados.) E você sabe que não está
fazendo isto, e não pode afastar a mão do seu rosto. E
quanto mais tentar afastá-Ia mais ela se grudara no seu
rosto. Por isso, tente afastá-Ia. Você não consegue. (Chris-
tine sorri.) A única maneira de você conseguir que esta
mão desça... (Erickson está com a mão esquerda levan-
tada.)
Você é muito receptiva. Eu fiz um movimento com a
mão e você começou a copiá-Io.
Christine: Desculpe.
E: Eu fiz um movimento com a mão. Você começou a imitá-Io.
Agora a única maneira de você fazer esta mão descer para
o colo é levantar a outra mão e empurrá-Ia para baixo.
Christine: Neste momento estou em tremendo conflito porque
acho que posso conseguir, mas estou tentando ser delicada.
E não tenho certeza se estou desempenhado um papel, para
ser gentil, ou se realmente não conseguiria fazê-Io.
E: Eu sei. Você está deixando seu intelecto interferir na sua
aprendizagem.
Christine: É sempre assim.
E: Bem, agora chamo a atenção de todos. Vocês já viram alguém
ficar sentado assim, tão parada e quieta? E no início ela não
virou a cabeça para me olhar. Virou primeiro os olhos.
Normalmen e, quando queremos olhar para alguém, vira-
mos o rosto. (Dirige-se para Christine.) E você virou os
olhos. ocê séparou seus olhos da cabeça e do pescoço.
Christine: Meu braço está ficando cansado.
E: O quê' que é isso?
Christine: Meu braço está ficando cansado.
E: Estou feliz de ouvir isto. Quando você quiser realmente que
sua mão direita desça, sua mão esquerda subirá e empur-
rará a outra para baixo. E você acha realmente que está
acordada, não acha?
Christine: (Debilmente) Sim.
E: Realmente acha, não? E você realmente não sabe que está
adormecida. Por quanto tempo acha que conseguirá manter
os olhos abertos?
Christine: Não sei.
E: Será que agora vão se fechar? (Christine pisca os olhos.) E
vão ficar fechados? (Christine fecha os olhos.) E agora você
quer racionalizar isto? (Christine abre os olhos.)
Christine: Bem que eu queria eliminar esta minha tola mente
consciente. Sempre racionaliza tudo.
E: Está percebendo o fato de que não pode se levantar?
Christine: Não.
E: Está começando a duvidar disso?
Christine: Hã-hã.
E: Será que você não se está comportando como quem tem um
bloqueio sacral?
Christine: Como o quê?
E: Um bloqueio sacral. Uma anestesia sacral.
Christine: Ah, entendo o que você quer dizer. Ah, sim.
E: Não se está comportando desta maneira?
Christine: Mais ou menos.
E: Ela não viu que se mexeu (Erickson aponta para outra mu-
lher.), e nem viu os outros se mexerem. Agora vocês todos
entendem o que eu quero dizer quando digo "ver os outros
se mexerem". Você está incrivelmente parada, para quem
está acordada. (Christine mexe levemente o cotovelo direi·
to.) Agora deixe seu braço ficar cada vez mais cansa40 até
que você deseje ... (Christine fecha os olhos.) usar sua mão
esquerdapara abaixá-Io ... (Christine sorri, abre os olhos,
levanta a mão esquerda e abaixa suavemente seu braço
direito.)
Você sente seus braços mais despertos, não?
Christine: Nas mãos? Sim.
E: Você pode mexê-Ios? Seus dedos, não suas mãos.
Christine: É muito esforço. (Sorri.)
E: Você pode racionalizar este esforço? A médica aqui é uma
anestesiologista e está interessada em hipnose. Então, para
produzir um bloqueio sacral numa mulher grávida, eu a
colocaria várias vezes num transe como este e nunca men-
cionaria nada além disso. Diria: "Quando chegar à sala de
parto, pense apenas no sexo do bebê, no seu peso, sua apa-
rência e traços. Se ele terá cabelos ou não. Depois, o
obstetra que estará encarregado da metade inferior do seu
corpo lhe dirá para olhar e ver como é o seu bebê. Ele vai
segurá-Io. E você terá um completo bloqueio sacral, uma
anestesia total."
Quando minha filha, Betty Alice, teve o primeiro filho,
a médica estava muito preocupada. Ela era minha aluna.
Betty disse para a médica: "Não se preocupe, doutora. A
senhora é uma obstetra e conhece o seu trabalho. Na sala
de parto a senhora possui a parte inferior do meu corpo,
eu só possuo a metade superior." E começou a falar com as
enfermeiras e com o pessoal de sala de parto sobre o ensino
escolar na Austrália. Daí a algum tempo a médica disse:
"Betty Alice, você não quer saber o que é?" E estava segu-
rando um menino. Betty disse: "Oh! É um menino! Passe-o
para mim. Sou como qualquer outra mãe e tenho que contar
os dedos dos pés e das mãos dele." Ela devia saber o que
estava se passando, com exceção de que ficara falando sobre
o ensino escolar na Austrália.
Vejo que vocês estão mudando constantemente de posi-
ção. (Christine sorri.)
(Erickson olha para o chão.) Uma vez eu tive uma paciente,
que me procurou para terapia. Ela veio por vários meses.
E um dia disse: "Eu vou entrar em transe, doutor Erick-
son." Enquanto estava em transe disse: "Estou me sentindo
tão bem que vou ficar aqui o dia todo." Eu lhe respondi:
"Infelizmente há outros pacientes. Você não pode ficar o dia
todo." Ao que ela disse: "Não me importo com os outros
pacientes." Eu então lhe disse que ganhava minha vida
atendendo pacientes. Ao que ela respondeu: "Tudo bem,
eu lhe pagarei cada hora. Vou ficar aqui o dia todo."
(Erickson olha para Christine.) Como poderia me livrar
dela? Disse-lhe para aproveitar o sono e: "Espero que
você não tenha de ir ao banheiro." (Dirige-se a Christine.)
Seus ombros estão despertando.
Christine: O senhor quer que o resto de mim acorde?
E: Acho que gostaria de poupar-lhe algum embaraço. (Erickson
ri e Christine sorri.)
Christine: Eu não sabia o que se esperava que eu fizesse.
E: Bem, espero que você não tenha de ir ao banheiro de re-
pente. (Christine ri e mexe a mão.) Agora está mais fami-
liarizada consigo mesma. (Christine ajusta o corpo e as
mãos.)
Christine: Ê.
E: Você não tem que ir ao banheiro. (Risadas.) (Dirigindo-
se ao grupo.) Qual de vocês já entrou em transe? (Dirige-
se a Caro!.) Você não. (Dirige-se a Siegfried.) Nem você.
Bem, doutor, em transe é melhor olhar uma moça bonita
do que um homem. Não é esta sua experiência?
Siegfried: Poderia repetir? Não entendo direito.
E: Uma moça bonita é mais agradável de se olhar.
Siegfried: Agora entendi. (Risadas.)
E: (Dirige-se a Carol). Então, quer trocar de lugar com ...
(Christine e Carol trocam de lugar.) E, se é que vocês per-
ceberam, eu não pedi nada a Christine.
Rosa: O senhor perguntou se alguma vez já estivemos em tran-
se, e ela nunca esteve em transe? Oh, eu nunca estive em
transe antes. Pensei que estivesse perguntando outra coi-
sa, por isso é que eu não ...
E: (Dirige-se a Christine.) Seu nome é Kristie, não é?
/
pChristine: Não, é Christine.
tA. t)t E: Christine. Eu por acaso lhe pedi para sentar-se ali?
Y Christine: Eu pensei que você estava pedindo para trocar de
~ lugar com ela.
ri'!' E: Não. Foi a ela que eu pedi. (Indicando Caro!.)
I, .fJ Christine: Oh! E o que queria que eu fizesse?
\; E: Bem, você já fez. Eu não lhe pedi para acordar. (Risos.)
Deixei sua mente consciente assumir. E só perguntei a
ela se gostaria de sentar-se ali. Você fez o resto. (Dirige-
se a Caro!.) Você nunca esteve em transe? (Carol está
sentada com os braços descansando nos braços da ca-
deira.)
Carol: Não estou bem certa. (Carol balança a cabeça dizendo
'não'.) Talvez uma vez, talvez não. (Carol ajeita as mãos
ligeiramente.)
E: Seu nome?
Carol: Caro!.
E: Caro!. (Erickson levanta a mão esquerda de Carol pelo pul-
so e deixa-a suspensa catalepticamente. Carol olha para a
mão e depois olha para Erickson. Seu pulso está dobrado
e os dedos bastante separados.) É hábito seu deixar um
homem estranho levantar sua mão e deixá-Ia no ar? (Ca-
rol afasta o olhar e depois olha de novo para Erickson.)
Carol: Nunca me aconteceu isto antes. (Carol ri.) Mas vou es-
perar e ver no que vai dar.
E: E você acha que está em transe?
Carol: Não.
E: Tem certeza?
Carol: Depois de ver isto, não estou segura. (Carol ri.)
E: Você não está segura. Acha que seus olhos logo vão se fe-
char? (Neste momento, Carol está olhando para Erick-
sono Erickson continua a olhar diretamente para ela.)
Carol: Não sei.
E: Não sabe.
Carol: Parece que não.
E: Tem certeza que seus olhos não vão fechar e ficar fechados?
Carol: Não estou certa. Parece que estão pestanejando. (Sorri.)
E: Acha que logo eles vão pestanejar, fechar e ficar fechados?
Carol: As chances estão melhorando. (Risos do grupo. CaroI
sorri.)
E: Você não tem absolutamente nenhuma certeza, tem Carol?
Carol: Não.
E: Mas está começanciQ a ter certeza de que seus olhos vão se
fechar. (Os olhos de Carol piscam.) Logo, logo ... e vão fi-
car fechados. (Os olhos de Carol se fecham.)
Em psicoterapia, o terapeuta deve saber que o cliente
sabe mais sobre seus próprios conhecimentos do que a
gente jamais saberá. A gente não sabe como adormece. Não
sabe como perde a consciência, a percepção consciente.
Por isso, quando um paciente me procura, sinto todas as
dúvidas possíveis, duvido na direção certa. O paciente du-
vida na direção errada. (Erickson dirige-se a CaroI enquan-
to movimenta o braço dela devagar, em direção ao colo.)
Está cada vez mais agradável. E você vai entrar num sono
tão profundo que vai parecer-lhe que não tem mais corpo
nenhum. ,Y"ailhe parecer que você só tem a mente, o in-
telecto, flutuando no espaço, no tempo.
~ você seja uma menina brincando em casa, ou
~ uma menina na escola. Gostaria que você deixasse
surgirem várias lembranças que já esqueceu há muito tem-
po. Quero que você ~ sentimentos de uma menininha.
Todos os sentimentos. E pode escolher, depois, qualquer
dos sentimentos que~, para nos contar.
Você.J?QSieestar jogando no pátio da escola. Ou pode
estar comendo seu lanche, ou.l?Q.ie estar interessadãIíã
roupa da sua professora,.! no que vê no quadro negro, ou
em gravuras num livro ilustrado, coisas que você esque-
ceu há muito tempo atrás.
E o ano não é 1979, é outro muito distante. Não é
nem mesmo 1977. Não é nem mesmo 1970. E~ sei
se é 1959 ou 1960. Não sei se você está olhando para uma
árvore de Natal ou uma igreja, ou se está brincando com
um cachorro ou um gato.
Depois de algum tempo vai acordar e vai nos falar da
menininha chamada CaroI. E seja realmente esta linda
menininha, Carol, no ano de 1959 ou 1960. Talvez ima-
gine o que será quando crescer. Gostaria que você tivesse
a experiência de ~ seu corpo adormecer profundamen-
te enguanto desperta só do pescoço para cima. (Erickson
aguarda um momento. Então Carol volta a cabeça para
ele.)
E: Oi. (Erickson olha diretamente para CaroI. Durante a maior
parte do tempo da indução, Erickson ficou olhando para
o chão diante de CaroI.) O que você gostaria de me dizer?
Carol: Você parece um bom homem. (A voz de Carol parece
jovem.)
E: Pareço?
Carol: Rã-hã.
E: Obrigado. Onde estávamos?
Carol: Acho que num parque. (Enquanto fala, a atenção de
Carol está focalizada em Erickson.)
E: Num pequeno parque. O que você vai ser quando crescer?
Carol: Não sei, está muito longe.E: Está muito longe. O que você gostaria de fazer agora?
Carol: Brincar.
E: E que tipo de brincadeira?
Carol: Amarelinha.
E: Amarelinha. Onde você mora? Perto deste parque?
Carol: Não.
E: Onde?
Carol: Moro bem longe. Só estou aqui de visita.
E: E onde é que você mora?
Carol: Em Reading.
E: Onde fica?
Carol: Pensilvânia. (Com voz cadenciada.) Quantos anos você
tem?
Carol: Cinco.
E: Você tem cinco anos.
Carol: Talvez três, acho. Ou quatro.
E: Três ou quatro. E o que é que você mais gosta neste parque?
Carol: Bem, gosto de vir aqui com meu avô e de olhar seus
amigos.
E: Você gostaria que estivessem aqui agora?
Carol: Não.
E: E há muitas árvores?
Carol: Árvores, bancos e uma loja.
E: Tem gente em volta?
Carol: Antes?
E: Agora.
Carol: Agora? Sim. Hã-hã.
E: Quem são?
Carol: Profissionais.
E: Você só tem três ou quatro anos de idade. Onde aprendeu
a dizer uma palavra tão importante como "profissional"?
(Carol sorri.)
Carol: Bem, eu sei a diferença entre antes e agora.
E: Como se sente agora que não pode se levantar?
Carol: Não percebi que não podia me levantar.
E: Agora percebe.
Carol: Muito estranho.
E: É. Você gostaria que eu lhe contasse um segredo?
Carol: Adoraria.
E: Bem, todas as pessoas aqui pararam de ouvir os sons do
tráfego. (Erickson ri.) E nem uma vez eu lhes disse para
ficarem surdas. E de repente começaram a ouvir barulho
de trânsito. E quantos de vocês estão em transe? (Várias
pessoas estão com os olhos fechados.) Se olhar em volta
vai ver um bocado de imobilidade.
(Dirige-se a Carol.) Feche os olhos (Carol fecha os
olhos.) Apenas feche. E goze de um sono bem profundo ...
num tra~ bem agradável, e (Erickson dirige-se aos de-
mais) vocês também, vocês também. Fechem os olhos
agora. Completamente, agora. .. entrem num transe pro-
fundo pois vocês têm bilhões de células cerebrais que
funcionarão e vocês vão aprender tudo o que há para
aprender.
Quando eu ensinava para residentes em psiquiatria, eu
dava a cada um deles um livro para estudarem em casa.
Dizia-Ihes: "Um dia desses, daqui a uns três ou quatro
meses, vou fazer uma reunião com todos vocês. É melhor
que cada um tenha lido o seu livro e esteja pronto para
me dar uma visão geral do mesmo." E eles sabiam que
eu estava falando sério. Ora, alguns dos residentes eram
bons sujeitos hipnóticos, e cerca de uns meses depois, eu
os reuni na sala de reuniões e disse-Ihes: "Lembram-se ...
eu indiquei alguns livros para que vocês fizessem um estu-
do? Agora chegou a hora da análise. Os que não eram
sujeitos hipnóticos estavam satisfeitos pois sabiam que já
tinham lido o livro que eu designara. E um deles apresen-
tou o seu trabalho sobre o livro.
Os residentes que eram bons sujeitos hipnóticos fica-
ram aflitos e infelizes: "Sinto muito, doutor Erickson,
mas esqueci de ler o livro." Então eu lhes disse: "Não
aceito desculpas. Vocês receberam um livro para ler e
eu lhes disse que tivessem uma análise pronta em três ou
quatro meses, e vocês me dizem que não leram. Sabem o
título e o nome do autor?" Diziam-me o título e o autor
e pediam desculpas novamente. E eu prossegui: "Peguem
papel e caneta e cada um resuma o que acha que o au-
tor deveria ter incluído no terceiro capítulo; resumam o
que acham que ele deveria ter colocado no sétimo e no
nono capítulos." Eles olhavam atônitos e diziam: "Mas como
podemos saber isso?" Respondi: "Bem, vocês sabem o
nome e o título do livro. Isto basta. Sentem-se e cada um
vai resumir estes três captíulos." Sentaram-se e começaram
a escrever: "Acho que no capítulo três, o autor deveria
discutir, a, b, c, d, e, f, g, e toda uma série de coisas.
No capítulo sete, acho que o autor discutiu ... " Então
peguei os livros e disse-Ihes para ler o capítulo três e
olharem o próprio relatório escrito: "Como é que eu sabia
disto?", disseram. Eles tinham lido os livros num transe
hipnótico e não se lembravam disso. Mas fizeram uma
análise muito melhor, saída da própria cabeça. Não se lem-
bravam de ter lido o livro. Depois de isto acontecer umas
duas vezes, não tinham mais medo quando entravam na
sala de reuniões para fazer um seminário sobre os livros.
Sabiam que tinham lido. (Erickson ri e olha para Caro!.)
E agora Carol, eu gostaria que você despertasse total-
mente. Suavemente, agradavelmente.
O que você acha do Conde Drácula dependurado ali?
(Erickson aponta.) Durante o dia é ali que ele mora. Mas
de noite ele volta a viver e se alimenta de sangue. (Carol
sorri.) Agora, todos vocês viram o Conde Drácula. Como
vocês vêem, desta forma ele não precisa de caixão e nino
guém suspeita quem seja ele. (Carol mexe os braços.)
(Erickson dirige-se a Carol). "Gostaria que eu lesse sua
mão?"
Carol: Sim.
E: (Erickson olha para a palma da mão de Caro!.) Veja esta
linha: "Você vê as letras 'R, e, a, d, i, n, g?'" É o nome
de um parque.
Carol: Nome do quê?
E: Nome de um parque.
Carol: Parque.
E: Na Pensilvânia. Vê seu avô aqui? Você gosta realmente de
ir neste parque em Reading, na Pensilvânia? Como vou
indo na leitura da mão?
Carol: O quê?
E: Como estou indo na leitura da mão?
Carol: Não vai ma!. (Carol ri e deixa a mão cair.)
E: E agora. o. por que eu falei sobre o Conde Drácula? Por
que eu falei sobre o Conde Drácula com você? O Conde
Drácula tem um certo atrativo para a infância.
Siegfried: Tem o quê?
E: Atrativo, um interesse para as crianças.
Anna: Atrativo para o quê?
Siegfried: Uma influência sobre as crianças?
E: Não. Um interesse.
Siegfried: Um interesse.
E: (Dirigindo-se ao grupo.) Por isso estou dizendo algo em que
as crianças pensam. E a leitura de mão é outra coisa útil.
E o fato do Conde Drácula estar muito longe de Reading
Park permitiu a amnésia e dirigiu a atenção dela desta
cadeira para o Parque Reading, para a infância, o pas-
sado, e eu lhe disse para ter uma amnésia. (Dirige-se a Ca-
rol.) De que estou falando?
Carol: Não consegui acompanhar muito bem. (Ri.)
E: Bem, ela não conseguiu acompanhar muito bem. (Ri.) E
todos vocês tiveram pais e professores que lhes ensina-
ram: "Olhe para mim quando falo com você e olhe para
mim quando falar comigo." E ela vem aqui, me ouve e eu
evoquei um padrão de comportamento característico de
há muito tempo atrás. (Dirige-se a Christine.) Ela não con-
seguiu me acompanhar mesmo quando eu estava falando
dela. (Dirige-se a Carol.) Quando foi que você saiu da-
quele lugar na Pensilvânia onde ficava o Reading Park?
Carol: Depois da escola secundária.
E: Bem, como é que eu sabia que você e seu avô iam ao Rea-
ding Park?
Carol: (Sussurrando.) Eu lhe disse.
E: (Interpondo-se.) Ele ia, não ia? E você gostava de olhar
para seus amigos. Há qualquer outro segredo íntimo que
você não quer que eu saiba? (Risadas.)
Em terapia, o paciente de fato faz a terapia, você só
cria um clima favorável. Depois deixa que eles tragam
as coisas que reprimiram e as coisas que esqueceram por
uma ou outra razão.
Não é engraçado como o barulho do trânsito parou de
novo? (Erickson sorriu.) Agora vocês estão ouvindo de
novo.
Tudo bem. Bem, nós nos movimentamos em três dire-
ções diferentes. Pode ser intelectualmente, pode ser emo-
cionalmente, e podemos mover-nos de forma motora, mo-
vendo-nos de forma motora, movendo-nos ao redor. Al-
guns se mexem mais do que outros. Ora, a capacidade de
movimentar-se de um lugar para outro. .. Um urso polar
pode viver no Ártico. Os animais têm suas limitações.
Vivem acima do nível do mar, ou no deserto, na floresta
tropical. Nós podemos viver em qualquer lugar. Esta é uma
característica do animal humano.
Temos uma vida afetiva, nossa vida emocional, e te-
mos nossa vida cognitiva ou vida intelectual. E, desde o
início, fomos ensinados a enfatizar nossa inteligência,
como se isto fosse o realmente importante. Mas o impor.
tante é a pessoa em todos estes níveis.
Ora, um ano destes eu estava ensinando hipnose para
,dentistas, médicos e psicólogos no Phoênix College. Eu
ensinava à noite, das sete às dez e meia. As pessoas vi-
nham de Yuma, Flagstaff, Mesa e Fênix. Depois da aula
'iam para casa. No primeiro semestre em que dei aulas,
,havia umapsicóloga de Flagstaff chamada Mary. Na pri-
meira aula, logo que comecei a lição, ela entrou imediata-
mente num profundo transe. Eu a despertei e ela disse
que nunca estudara hipnose, nem fora sujeito hipnótico,
e ficou surpresa de ter entrado em transe. Ela estava na
casa dos trinta. Era candidata ao Doutorado com Ph.D.
em Psicologia. Eu a despertei e disse-lhe para ficar acor-
.dada. Iniciei a aula. Ela entrou em transe rapidamente. Um
transe profundo. Despertei-a e disse-lhe para "ficar acor·
,dada". Mas, logo que iniciei a aula, ela entrou num tran-
'se profundo. Por isso desisti de tentar acordá-Ia. Bem, no
meio do semestre, achei que poderia usá-Ia como sujeito
,de demonstração, por isso disse a Mary para sair do tran-
se profundo e trazer com ela algumas recordações da in-
"fância. Mary despertou e disse que a única coisa que con·
'segui lembrar da infância eram pedaços de bambu e man-
gas borboletas.
Repetiu o curso no semestre seguinte e, de novo, en-
trou em um transe; e permaneceu em transe durante todas
as aulas. Repetiu o curso pela terceira vez. Pensei en-
tão: "Bem, como não posso conseguir nada nela, vou criar
uma situação em que Mary possa nos ensinar realmen-
te bastante. Disse-lhe: "Mary, quero que você entre em
transe, num transe muito profundo." Primeiro expliquei-
lhe que vivemos intelectualmente, emocionalmente e por
meio de movimentos. Disse-lhe para "entrar num transe~
num transe muito profundo e encontrar alguma emoção.
Uma emoção cujo significado você não ousa conhecer".
Disse-lhe que seria uma emoção muito forte e que ela a
colocaria para fora. "E nenhum conhecimento, nenhuma
compreensão intelectual, apenas deixe surgir a emoção, e
apenas a emoção."
Mary despertou, sentada muito rígida e agarrada aos,
braços da cadeira. Estava transpirando. O suor escorria-
lhe pelo rosto e pingava do queixo e do nariz. Estava pá-
lida. Perguntei-lhe: "Qual é o problema, Mary?" Ela res-
pondeu: "Estou apavorada." Mas só mexia com o globo,
ocular. Não mexia nenhuma outra parte do corpo, ex-
ceto, é claro, os órgãos da fala. "Estou terrivelmente as-
sustada, terrivelmente assustada!" E estava pálida. Per-
guntei-lhe se podia segurar minha mão e ela respondeu
que "sim". Perguntei-lhe se seguraria minha mão e ela.
disse que "não". Perguntei-lhe qual a razão. Respondeu:
"Estou terrivelmente assustada."
Convidei o resto da sala a olhar e falar com Mary. Al-
guns se sentiram mal vendo-a tão assustada. E Mary es-
tava realmente assustada. A classe podia ver o suor escor-
rendo-lhe pelo rosto, pingando, a palidez e a limitação dos;
movimentos dos olhos. E ela falava pelo canto da boca.
Agarrava-se com muita rigidez aos braços da cadeira. Res-
pirava devagar e com muito cuidado.
E quando toda a classe se satisfez por Mary ter saído
de um transe de emoção tão forte, eu lhe disse: "Mary,
entre de novo em transe, de modo profundo e traga o lado,
intelectual." E Mary despertou, enxugou o rosto e disse:
"Estou tão feliz que isto tenha acontecido há trinta anos
atrás." E, é claro que todos estávamos interessados no que
ocorrera há trinta anos atrás.
Ela então contou: "Nós vivíamos numa encosta da mon-·
tanha e havia um desfiladeiro, uma fenda, no lado da
montanha, e minha mãe sempre me avisava para não che-·
gar perto do precipício. Uma manhã fui brincar, esque-
cendo-me da advertência de minha mãe, perambulei ali
perto do desfiladeiro e vi que havia um cano de ferro atra-
vessando o precipício. O cano tinha uns quarenta centí-
metros de diâmetro. Esqueci tudo que minha mãe me
dissera e achei que seria uma ótima idéia se eu me aga-
chasse sobre as mãos e joelhos, fixasse os olhos no cano
e atravessasse todo o desfiladeiro engatinhando pelo tubo.
Quando pensei que já estava quase lá, tirei meus olhos
do cano e olhei para cima para ver quanto faltava para
chegar ao outro lado. Quando fiz isto, vi a enorme pro-
fundidade do desfiladeiro. Era horrivelmente fundo. E eu
estava apenas no meio do caminho e gelei de terror. Fiquei
paralisada uma meia hora e imaginei como faria para sair
daquela enrascada; finalmente percebi como deveria fa-
zer. Com muito cuidado, mantendo os olhos no cano, en-
gatinhei para trás até que meus pés tocaram o solo firme.
Então me virei, corri e me escondi atrás de um bambuzal,
e fiquei ali muito tempo.
Eu disse então: "Qual é o resto da história, Mary?" E
ela disse: "Essa é toda a história. Não há mais nada."
Prossegui: "Há mais alguma coisa?" Mary respondeu:
"Não posso me lembrar." Eu lhe disse: "Na próxima aula,
traga o capítulo seguinte."
Na aula seguinte, Mary chegou muito ruborizada. Disse:
"É embaraçante dizer isto. Quando voltei para Flagstaff
já passava de uma da madrugada. Atravessei a cidade.
Despertei minha mãe e contei-lhe como tinha subido na-
quele cano de ferro que atravessava o desfiladeiro, e se
ela iria me bater por isso." Ela respondeu: "Não vou lhe
bater por algo que você fez há trinta anos atrás."
E Mary prosseguiu: "Quando tentei dormir, meu tra-
seiro doeu a noite inteira, e ainda está doendo. Eu que-
ria que ela me desse aquela surra e mamãe não me bateu.
Preferia que o fizesse. Meu traseiro está doendo!"
Eu lhe disse: "Algo mais, Mary?" Ao que ela respon-
deu: "Não há mais nada." Respondi: "Tudo bem."
Na aula seguinte, Mary apareceu e disse: "Meu trasei-
ro não dói mais, e esta é a única outra coisa que tenho a
contar." Ao que eu lhe disse: "Não, Mary. Você pode
nos contar a parte seguinte da história." Mary continuou:
"Não me lembro de mais nenhuma parte." Eu lhe disse
então: "Vou lhe fazer uma pergunta e, depois, então, você
poderá nos contar a parte seguinte." Mary disse: "Que
pergunta você pode me fazer?" Respondi: "Muito sim-
ples. Como é que você explicou à sua mãe o atraso para
o almoço?" Mary exclamou: "Ora, isto!? Eu estava atra-
sada para o almoço e contei que um bando de bandidos
tinha me capturado e me trancara numa grande caverna
com uma porta grossa de madeira, e que eu levara horas
e horas para derrubar a porta com minhas mãos. E como
eu sabia que minhas mãos não estavam sangrando, colo-
quei-as debaixo da mesa. E desejava que minha mãe acre-
ditasse na história. Desejava desesperadamente. Ela só pa-
recia levemente divertida com o fato de que um bando
de bandidos tivesse me trancado numa caverna."
Eu disse: "Algo mais?" Mary respondeu: "Não, isto é
tudo." Disse-lhe então: "Tudo bem, traga o próximo ca-
pítulo no encontro seguinte: "Mary disse: "Não há mais
nada a contar." Acrescentei: "Oh, há sim."
Mary veio na aula seguinte e disse: "Pensei e repen-
sei e não há mais nada a contar." Bem, disse eu, vou ter
de fazer-lhe novamente uma outra pergunta. Diga-me ago-
ra, Mary: Quando você entrou em casa, entrou pela porta
da frente ou pela porta de trás?" Mary enrubesceu e res-
pondeu: "Deslizei pela porta dos fundos sentindo-me mui-
to culpada." Ela então se aprumou e disse: "Agora sei
mais alguma coisa sobre isto. Logo depois de minha es-
capada pelo desfiladeiro, minha mãe teve um ataque de
coração e foi levada para o hospital e havia um biombo de
bambu colocado em volta da cama. Fiquei ali sentada,
olhando para minha mãe, na cama, e sabia que minha
tentativa de atravessar aquele desfiladeiro levara-a a ter um
ataque de coração, e que eu era culpada de matar minha
mãe. Senti uma culpa terrível, uma culpa terrível, terrível.
Fico pensando se é por isso que venho elaborando meu
doutorado em Psicologia numa espécie de busca desesperada
desta lembrança profundamente reprimida."
Perguntei: "Há algo mais, Mary?"
Ela respondeu que não. Na aula seguinte Mary disse:
"Doutor Erickson, há outra parte da história. Quando vol-
tei para Flagstaff, senti tanta culpa de ter causado o ata-
que de coração de minha mãe, que tive de contar-lhe sobre
a culpa que eu sentira por tudo: o desfiladeiro e o cano
de ferro, e de quando ela voltara do hospital. Já pas-
sava de uma da madrugada e atravessei a cidade, acordei
minha mãe e contei-lhe tudo." Ela disse: "Sabe, Mary, eu
estava sempre tirando fotos suas quando você era crian-
ça. Vamosao sótão pegar aquela caixa de papelão onde
guardo as fotos, sempre quis colocá-Ias em ordem num
álbum."
Foram ao sótão e aqui está a foto de Mary pequenina
usando mangas bufantes e de pé ao lado de uma moita
de bambu. (Erickson mostrou a foto a Carol, que a olhou e
passou à pessoa à esquerda.)
Bem, quando os pacientes têm lembranças muito repri-
midas isto não quer dizer que não as tenham. Algumas
vezes a melhor maneira de desencavar estas terríveis lem-
branças é fazer com que eles exprimam a emoção ou a
parte intelectual, ou a parte motora. Porque só as emo-
ções não narram a história. E a parte intelectual sozinha é
como ler um livro de contos e as relações da memória
não querem dizer absolutamente nada.
Assim, Mary me deu aquela foto, e disse: "Entrei para
a Psicologia num esforço para desvendar aquela lembran-
ça. Não estou interessada em Psicologia. Sou casada. Te-
nho um marido feliz, um lar feliz e filhos felizes. Não
quero um Ph.D." Até a idade de quase trinta e sete anos
ela fora governada durante trinta anos por aquela emo-
ção profundamente reprimida.
Quando fizeram psicoterapia, tentem desenterrar tudo
ao mesmo tempo. Extraiam a coisa certa quando se trata
de uma repressão profunda. Bem, a mulher de um den-
tista pediu-me para colocá-Ia em transe e fazê-Ia regredír
ao começo da infância. Pedi-lhe: "Sugira-me que ano ou
que evento." Disse-me: "Por que não me fazer regredir
ao meu terceiro aniversário?" Fiz com que ela regredisse
no tempo até ela dizer que estava com três anos. Estava
na sua festa de aniversário e perguntei-lhe tudo sobre a
mesma. Falou do bolo de aniversário, de seus amiguinhos
e contou-me que estava usando um vestido com appliqués
e montando um cavalo no pátio.
Quando despertou do transe e ouviu a gravação que re-
gistrara seu terceiro aniversário, riu e disse: "Não é uma
recordação de fato." Nenhuma criança de três anos conhe-
ce a palavra appliqué e certamente eu não a conhecia
quando tinha três anos. Quanto a montar a cavalo no pá-
tio, nosso pátio era tão pequeno que não caberia um ca-
valo. Isto foi pura fantasia."
Cerca de um mês depois, visitou a mãe e esta lhe disse:
".É claro que você conhecia a palavra appliqué quando ti-
nha três anos. Eu fazia todos os seus vestidos, e cada ves-
tido que eu fazia tinha appliqué. Agora vamos ao sótão.
Tirei fotos suas em cada aniversário, e muitas mais."
Finalmente desenterraram a foto de quando ela fizera
três anos, vestindo um vestido de appliqués, e montando
um cavalo no pátio. Encontraram as fotos e a mulher do
dentista mandou fazer uma cópias dos intantâneos e me
deu (Erickson mostra-as ao grupo.) Aí está o vestido com
appliqué e aí está o cavalo dela.
Mas, sendo adultos, tanto ela quanto eu ouvimos a pa-
lavra horsey achando que queria dizer horse (cavalo).
Ela tinha um triciclo que parecia um cavalo. (Erickson ri.)
E estava montando seu horsey no pátio. (Erickson ri.) E
apesar de sua convicção adulta, uma criança de três anos
de fato conhece a palavra appliqué. Aqui está a prova de
que uma criança de três anos de fato sabe o que é um ves-
tido com appliqué.
Quando um paciente falar com você na linguagem dele,
não transponha para a sua linguagem. A mente desta se-
nhora, aos três anos de idade, lembrava-se de um hor-
sey, e, como adultos, traduzimos a palavra como "cava-
10". Por isso, aconselho-os a que, quando estiverem ouvin-
do um paciente, nunca pensem que o entenderam, porque
estão ouvindo com seus próprios ouvidos e pensando com
seu próprio vocabulário. O vocabulário do paciente é algo
totalmente diferente. Para uma criança de três anos de
idade, um horsey é um horsey, e, para uma pessoa de ses-
senta anos, um horsey é um cavalo (horse).
Que horas são, por favor?
Stu: Duas e cinco. (Stu é um psicanalista do Arizona.)
E: Agora, vou lhes mostrar dois casos. Acho que vou apre-
sentar dois. O primeiro lhes mostrará o quanto o terapeu-
ta é pouco importante.
Um jovem advogado de Wisconsin veio ao meu consul-
tório numa tarde de quarta-feira. Disse-me: "Tenho um
escritório de advocacia em Wisconsin. Minha esposa e eu
não gostamos do clima de Wisconsin. Queremos mudár
para o Arizona e começar uma família aqui. Por isso pres-
tei um exame no foro judicial do Arizona. Fiz o exame
cinco vezes e fracassei nas cinco vezes. Tenho uma boa
prática de direito em Wisconsin, e por cinco vezes fracas-
sei no exame do foro do Arizona. E amanhã de manhã
cedo devo ir a Tucson para tentar o exame de novo."
Assim, ele veio na tarde de quarta, na manhã seguinte
partia para Tucson onde falhara cinco vezes no exame: "E
mesmo assim você e sua esposa querem se mudar para o
Arizona e começar uma família lá? Respondeu: "Isto mes-
mo." Eu lhe disse: "Bem, eu não conheço nada sobre as
leis do Arizona; sou apenas um psiquiatra e não conheço
Direito. Mas, de fato, sei como são efetuados os exames
do foro judicial. Sei que os advogados que procuram uma
licença legal reúnem-se num certo prédio em Tucson. Ê
um exame experimental. As questões são mimeografadas,
e há bastantes questões e publicações oficiais (Livro Azul).
Cada candidato pega uma cópia das questões e alguns
livros azuis, procuram um lugar confortável, sentam-se e
escrevem durante o dia todo, de nove da manhã até as
cinco da tarde. E depois, na sexta-feira, recomeçam da mes-
ma maneira às nove, e acabam às cinco. No sábado rece-
bem nova sene de perguntas e escrevem até às cinco ho-
ras. Então o exame está completo. Cada dia é um teste e
cada dia há uma série diferente de perguntas."
Então, coloquei-o em transe profundo e disse-lhe: "Você
tem de ir a Tucson amanhã de manhã e dirá que você e
sua esposa querem se mudar para o Arizona, que você gos-
ta do Arizona e que não gosta de Wisconsin. Por isso,
quando você estiver dirigindo para Tucson, que está a
bem mais de cento e cinqüenta milhas, partirá bem cedo
de manhã, e vai observar o panorama à direita e à es-
querda da rodovia. Você vai apreciar o panorama do Ari-
zona por todo o caminho até Tucson. (As novas estradas
agora têm cento e vinte milhas.) Você vai apreciar o pa-
norama à luz da manhã."
"Quando chegar a Tucson irá procurar, distraidamen-
te, um parque de estacionamento e estacionará seu carro.
Olhará em volta e verá um prédio. Vai imaginar que pré-
dio é aquele e mesmo assim entrará nele. Verá muitas
pessoas, jovens e velhas, homens e mulheres. Não vão in-
teressá-Io de fato. Verá um monte de folhas mimeografa-
das com perguntas, e vai pegar uma da pilha e também
uma publicação oficial (Livro Azul). Procure uma cadei-
ra ou um lugar confortáve1."
"Vai ler todas as questões e vão lhe parecer sem sen-
tido. Então lerá a primeira questão pela segunda vez, que
começará fazer um pouco de sentido. Assim, um pouco de
informação passará de sua caneta para o livro azu1. E an-
tes que este pouco chegue a secar, você lerá a segunda
questão. E fará um pouco de sentido para você e uma cer-
ta quantidade de informações sairá de sua caneta e pas-
sará para o pape1. Seguindo-se mais um pouquinho e ain-
da mais um pouco. E, finalmente, esta parte secará. Você
passará para a pergunta seguinte, assim como para todas
as perguntas."
"E nesta noite você vai caminhar por Tucson e admi-
rar o panorama, de perto e de longe. Terá bom apetite
e gostará da comida que comer. Vai fazer um passeio a
pé antes de dormir. E apreciar o céu azul do Arizona. Ir!
para a cama e dormirá profundamente. Despertará sentin-
do-se revigorado. Vai tomar um bom café da manhã. De-
pois vai andar pelo prédio dos exames, repetindo-se o dia
anterior, uma repetição da quinta-feira."
"E na tarde de sexta-feira vai caminhar por Tucson,
abrir o apetite, apreciar o panorama de perto e de longe
e terá um magnífico jantar. Irá fazer outra caminhada,.
apreciar o céu azul, as montanhas que circundam Tucson,
irá para a cama e dormirá profundamente."
"A mesma coisa sucederá no sábado."
Cerca de um ano depois, uma senhora em adiantado
estado de gravidez entrou no meu consultório. Disse-me
seu nome e eu reconheci o sobrenome do advogado. Disse-
me: "Estoua caminho do hospital para ter um bebê. De-
pois do que o senhor fez pelo meu marido, eu gostaria
de ter um parto hipnótico." Assim, eu gentilmente mostrei
a vantagem de se ter um pouco mais de tempo.
Disse-lhe para entrar em transe. Entrou num ótimo tran-
se e eu lhe disse: "Vá para o hospital, coopere de todas as
maneiras, com exceção de explicar que não deseja ne-
nhum remédio e de que não tomará nenhuma anestesia.
Explique que só deseja ir para a sala de parto ter o seu bebê.
E enquanto estiver na mesa de parto, pense no bebê. Vai
ser menino ou menina? Quantos quilos terá? Qual será
o seu tamanho? Qual será a cor dos cabelos, ou será ca-
reca? E de que cor serão os seus olhos? E se a senhora
lhe dará realmente o nome que escolheu com seu marido.
E enquanto estiver deitada esperando seu filho, goze de
todos os pensamentos a respeito de ter um filho. E espere
pacientemente e com alegria ouvir seu primeiro choro.
Pense como a senhora e seu marido serão felizes, e como
é bom viver no Arizona."
Ela estava se deliciando com seus pensamentos quando
ouviu, de repente, o obstetra dizer: "Senhora X, aqui está
seu filho." E estava segurando um menino.
Dois anos depois ela veio ao meu c0nsultório e disse:
"Lembrei-me do que o senhor disse quanto a ter mais tem-
po. Não vou para o hospital nos proxlmos três dias. Gos-
taria de ter outro parto hipnótico."
Eu lhe disse: "Muito bem, feche os olhos. Entre em um
transe profundo e repita o que você fez na primeira vez."
Despertei-a e ela saiu.
Na vez anterior ela me falara da maneira como o mari-
do voltara para casa, dirigindo no sábado à tarde de modo
a poder ver o panorama do Arizona do ponto de vista
oposto. Viu-o quando ia para lá e foi possível vê-lo no
caminho de volta. (Erickson ri.)
Siegfried: Por favor, repita a última frase. Não consegui en-
tender.
E: Quando o marido dela terminou o exame de Direito na-
quela tarde, voltou para poder ver o panorama do Ari-
zona de um outro ponto de vista.
Viu-o à luz do entardecer.
E não achou necessário me contar que passara no exa-
me. Porque minha atitude com os pacientes é a seguinte:
Você vai realizar seu objetivo, sua meta. Tenho muita
confiança. Aparento confiança. Ajo com confiança. Falo
com confiança e meus pacientes tendem a acreditar em
mim.
Muitos terapeutas dizem assim: "Espero poder ajudá-
10." Com isto expressam uma dúvida. Eu não tive nenhuma
dúvida quando lhe disse para entrar em transe. Não tive
dúvidas a respeito dela (Erickson aponta para as duas mu-
lheres sentadas no sofá.) Estava extremamente confiante,
um bom terapeuta deve ser extremamente confiante. (Erick-
son olha para o chão.) Bem, depois do primeiro bebê, o
advogado veio me ver e disse: "Foi muito amável o que
o senhor fez por minha esposa. Realmente apreciamos o
parto do menino. Mas algo está me perturbando. Quando
meu avô por parte de pai tinha a minha idade, teve um
problema nas costas que o incomodou e atrapalhou a vida
toda. Sofria de uma dor crônica nas costas. E seu irmão
teve este tipo de dor nas costas a vida toda, começando
mais ou menos na minha idade. Meu pai, quando tinha a
minha idade, teve uma dor crônica nas costas. Isto preju-
dica seu trabalho, e meu irmão mais velho, quando chegou
à minha idade, começou a sentir uma dor crônica nas cos-
tas. E agora eu estou começando a ter uma dor nas costas."
Eu lhe disse na ocasião: "Muito bem. Vou cuidar disso.
Entre em um transe profundo." Quando estava em pro-
fundo transe eu lhe disse: "Se sua dor nas costas é de
origem crônica, ou se há algo de errado na espinha, nada
que eu disser ajudará. Mas se for psicológica ou um pa-
drão psicossomático que você aprendeu de seu avô, de
seu tio-avô, de seu irmão, então você pode saber que
não precisa desta dor nas costas. É apenas um padrão psi-
cossomático de comportamento."
E, nove anos depois, ele voltou· a mim; e disse: "Lem-
bra-se daquela dor nas costas que você tratou? Nunca
mais~ a tive até algumas semanas atrás, quando minhas
costas começaram a ficar: um tanto fracas. Fiquei com
medo de todas, as dores de costas que meu tio-avô, meu
avô, pai e irmão tiveram, e agora minhas costas estão um
tanto enfraquecidas."
Disse-lhe então: "Nove anos é muito tempo. Não estou
apto a fazer um raio-X seu, nem o tipo de exame físico que
gostaria. Vou mandá-Io a um amigo meu e ele me infor-
mará .dos resultados e recomendações."
Meu amigo Frank disse ao advogado: "O senhor exer-
ce Direito, Direito Comercial. Senta-se à escrivaninha o
dia todo. Não faz bastante exercício. Tenho aqui alguns
exercícios que quero que o senhor faça para ter uma boa
saúde gerql, e o senhor não terá mais dor nas costas."
Voltou a mim e repetiu-me o que Frank lhe dissera. Co-
loquei-o em transe e disse: "Agora faça estes exercícios e
leve uma vida bem equilibrada de atividade e inatividade."
Um ano depois, procurou-me e disse: "Sabe, sinto-me
muito mais jovem e não tenho nenhuma dor nas costas."
Mas agora, há algo que vocês devem saber. Uma secre-
tária, que era ótimo sujeito hipnótico, procurou-me por te-
lefone e disse-me: "Algumas vezes, quando fico mens-
truada, tenho cólicas menstruais muito intensas. Estou exa-
tamente começando minha menstruação e estou tendo có-
licas muito forte localizadas um tanto à direita, no bai-
xo abdômen. Bem, o senhor poderia me dar uma anestesia
para minhas cólicas menstruais?"
Coloquei-a em transe por telefone. Disse-lhe: "Você me
falou, em estado de vigília, sobre cólicas menstruais e quer
que eu as alivie. Portanto, entenda isto: sua menstruação
não lhe causará mais nenhuma dor. Você não terá mais
cólicas menstruais." E enfatizei dor menstrual, cólicas
menstruais. "Agora acorde." Ela despertou e disse: "Obri-
gada, a dor passou." Eu disse: "Otimo."
Cerca de vinte minutos mais tarde voltou a chamar e
disse: "A anestesia passou. As cólicas voltaram." Eu lhe
disse então: "Entre em transe e ouça atentamente. Quero
que você crie uma anestesia para cólicas menstruais, para
dores menstruais de todos os tipos. Agora acorde livre da
dor." Ela despertou e disse: "Desta vez você me deu uma
boa dose de anestesia. MUlto obrigada."
Meia hora mais tarde voltou a me telefonar: "Minhas
cólicas voltaram outra vez." Eu disse: "Seu corpo é muito
mais sábio do que você. Você não está com cólicas mens-
truais. Eu lhe dei uma anestesia hipnótica e qualquer mé-
dico sabe que um apendicite agudo pode causar uma dor
parecida com cólicas menstruais. Produzi uma anestesia
para cólicas menstruais e não mencionei apêndice. Ligue
para o seu médico." Foi o que fez. Ele internou-a no hos-
pital e operou-a de uma apendicite aguda na manhã se·
guinte.
Nosso corpo nos conhece mais do que nós mesmos.
Por isso, quando fizerem uma terapia com um paciente,
saibam do que estão falando. Não dê instruções gerais.
Se trato de uma dor de cabeça, posso dar a sugestão "para
uma dor de cabeça inofensiva". Então, se a dor de cabe-
ça tem origem num tumor cerebral, a anestesia hipnótica
não funcionará. Ora, no caso de dor de apendicite, dêem-
lhe uma anestesia hipnótica e a dor desaparecerá, mas o
diagnóstico real é o de cólica menstrual, ou qualquer ou-
tra alternativa diagnóstica. Por isso quando tratarem de uma
doença orgânica, saibam do que estão falando.
Agora, no caso do advogado, tudo o que fiz por ele
foi levá-lo a pensar que o Arizona era um ótimo lugar para
se viver, e que o exame de Direito era totalmente sem im-
portância; por isso ele não sentiu nenhuma ansiedade, ne-
nhum medo. Só teve de pingar um pouco de informação de
cada vez. Qualquer um pode fazer isto. E eu tratei de
bom número de advogados desta maneira - e médicos da
mesma maneira -, dando-lhes um sentimento de confian-
ça, de paz mental e de auto-segurança.
Uma mulher fracassara repetidas vezes nos seus exames
de Ph.D. A banca sabia que ela podia passar, e, no entan-
to, todas as vezes ela entrava em pânico apagava tudo.
Por isso eu a fiz assistir a uma aula onde contei o caso do
advogado e ela entrou em transe ouvindo a história do ad-
vogado. Depois que terminei o relato,ela despertou. Dis-
pensei-a e ela voltou para o seu estado natal. Um mês de-
pois, escreveu dizendo-me: "Passei no meu exame de Ph.D.
com altas distinções. O que fez comigo?" (Erickson ri.) Eu
não fiz nada além de lhe falar do advogado.
Agora, ouçam o que vou lhes dizer. Todos vocês aplica-
rão o que eu digo, de acordo com a própria compreensão.
Quando falo de quanto os advogados admiram o maravi-
lhoso panorama do Arizona, (para Christine) você pensará
no panorama "wunderbar" da Alemanha; e são duas coi-
sas diferentes. .
E como vocês conseguem informação dos pacientes?
Você conversa amigavelmente com ele. Você começa fa-
lando sobre a Faculdade que cursou. Eu estive na Uni-
versidade de Wisconsin. E todos vocês começam a pensar
na própria Universidade. Se eu falo do rio Mississipi, nossa
amiga alemã pensará no Reno.
Sempre traduzimos a linguagem de outra pessoa para
nossa própria linguagem.
E agora, em 1972, uma mulher de trinta e cinco anos,
casada, muito bonita, tocou a campainha de meu consul-
tório.Sua declaração, ao entrar, foi a seguinte: "Doutor
Erickson, tenho fobia de avião." E esta manhã meu che-
fe me disse: "Você deve ir de avião para o Texas na
quinta-feira e voltar no sábado." E disse-me ainda que:
"Ou você vai e volta de avião ou perde seu emprego." Ela
então disse: "Doutor Erickson, sou uma programadora de
computadores e tenho programado computadores por to-
dos os Estados Unidos."
"Em 1962, há dez anos atrás, o avião no qual eu via-
java sofreu um desastre. Não houve nenhum dano com
o avião e ninguém a bordo ficou ferido. E nos cinco anos
seguintes viajei de avião, de Fênix a Boston, Nova 101'-
que, Nova Orleans, Dallas, por tudo que é lugar. Cada
vez que estive num avião, em vôo, passei a sentir cada
vez mais medo. E, finalmente, meu medo se tornou tão
grande, que eu tremia visivelmente por todo o corpo.
(Erickson demonstra.) E ficava de olhos fechados. Não
conseguia ouvir meu marido falando comigo, e nessa épo-
ca minha fobia era tão grande quê, quando eu chegava ao
lugar onde ia fazer meu trabalho, até meu vestido ficava
molhado de suor. Chegou a tal ponto que eu tinha de ir
para a cama por umas oito horas e dormir antes de fazer
meu trabalho. Por isso, passei a viajar para os diversos lo-
cais de trabalho de trem, de ônibus, de carro. Minha fo-
bia de avião é muito peculiar. Consigo ir pela pista de
rolamento até o final da rampa. Mas, na hora em que o
avião se levanta do' chão, começo a tremer, e fico toma-
da de medo. Mas quando o avião aterrissa numa parada
intermediária, no chão, me sinto muito à vontade. Consi-
go ir pela. pista para o aeroporto, e até a rampa.
Por isso, co'mecéi a me servir. do carro, do ônibus e dos
trens. Finalmente, meu chefe se cansou do' fato de eu usar
minh~s férias, minhas licenças e meus horários permitidos
de ausência para viajar de ônibus, carro ou trem. Esta ma-
nhã me disse: 'Ou você faz o vôo para Dallas ou perde o
seu emprego.' Eu não quero perder o meu emprego. Gos·
to dele."
Então eu lhe disse: "Bem, como quer que eu trate sua
fobia?" Respondeu: "Pela hipnose." Respondi: "Não sei
se você é um bom sujeito hipnótico." Prosseguiu: "Na Fa-
culdade eu era." Continuei: "Isto foi há muito tempo atrás.
Como será agora?" Respondeu-me: "Excelente." Disse-lhe
então: "Vou ter de testá-Ia."
Ela era de fato um sujeito bastante hipnotizável. Des-
pertei-a e disse-lhe. "Você é um bom sujeito hipnótico.
Realmente não sei como você se comporta num avião,
por isso quero colocá-Ia num transe hipnótico e fazer com
que você tenha a alucinação de estar num avião a jato
a trinta e cinco mil pés de altura." Assim, ela entrou em
transe e teve a alucinação de estar num jato a trinta e cin-
co mil pés de altura. A forma como bamboleava e tremia
toda, era uma visão muito desagradável. Fiz com que ti-
vesse a alucinação de uma aterrissagem."
Disse-lhe: "Antes de ajudá-Ia, quero que entenda uma
coisa. Você é uma linda mulher nos seus trinta anos. E eu
sou um homem. E embora eu esteja numa cadeira de ro-
das, você não tem conhecimento da extensão de minhas
deficiências. Bem, quero que você me prometa que fará
tudo o que eu lhe pedir, bom ou mau."
Ela pensou uns cinco minutos e depois disse: "Nada que
você pedir pode ser pior do que minha fobia de avião."
Eu lhe disse: "Agora que você fez esta promessa, vou co-
locá-Ia em transe e pedir-lhe para fazer uma promessa se-
melhante." Em estado de transe ela fez a promessa ime-
diatamente. Despertei-a e disse-lhe: "Você deu sua pala-
vra tanto em estado de transe quanto em estado de vigí-
lia, fez uma promessa completa."
Continuei: "Agora posso tratar a sua fobia de avião.
Entre em transe e imagine estar a uma altura de trinta e
cinco mil pés, viajando a seiscentas e cinqüenta milhas
por hora." Ela tremia aterrorizada, curvava-se e sua testa
tocava os joelhos. Disse-lhe então: "Agora, quero que você
faça o avião baixar, e, no momento em que aterrissar, to-
dos os seus medos e fobias, ansiedades e tormentos pas-
sarão do seu corpo para esta cadeira a seu lado." As-
sim, ela imaginou a aterrissagem, despertou do transe e,
saltou da cadeira com um grito e correu para o outro lado
da sala, dizendo: "Eles estão ali! Eles estão ali!" (Erick-
son aponta para a cadeira verde.)
Chamei a senhora Erickson à sala e, disse-lhe: "Betty,
sente-se nesta cadeira." (Erickson aponta.) E a paciente
disse: "Por favor, senhora Erickson, não se sente nesta
cadeira." A senhora Erickson continuou andando em dire-
ção à cadeira, a paciente correu para lá e impediu Betty
de sentar-se. Então, dispensei Betty, voltei-me para a pa-
ciente e disse-lhe: "Sua terapia está terminada. Faça uma
ótima viagem para Dallas e, quando voltar a Fênix, tele-
fone-me do aeroporto e diga-me o quanto apreciou a via-
gem de avião."
Depois que ela saiu, fiz minha filha tirar uma foto su-
perexposta da cadeira (Erickson aponta.), uma outra sub-
exposta, e uma fotografia com a exposição adequada. Co-
loquei-as em envelopes separados. Rotulei a foto super-
exposta de: "Jazigo perpétuo de suas fobias, medos, an-
siedades e tormentos caindo vagarosamente no esquecimen-
to da escuridão eterna." Rotulei a foto subexposta de: "O
jazigo perpétuo de seus medos, totalmente dissipado no es-
paço externo." E a fotografia exposta adequadamente de:
"O jazigo perpétuo de seus medos, fobias e ansiedades."
Enviei os três envelopes pelo correio. Ela os recebeu
na quarta-feira de manhã. No sábado recebi um telefone-
ma excitado do aeroporto: "Foi magnífico! Extraordinaria-
mente magnífico, a experiência mais linda da minha vida!"
Disse-lhe então: "Você se disporia a contar sua história
para quatro alunos meus que estou supervisionando para
os exames de Ph,D.?" Respondeu-me que sim e combinei
para que viesse às oito horas.
Às oito horas, ela e o marido entraram na casa. Ela an-
dou em volta da cadeira, mantendo-se tão longe quanto
possível e sentou-se no lugar mais distante daquela cadei-
ra. Os estudantes chegaram cinco minutos depois e um
deles ia sentar-se na cadeira. Minha paciente disse: "Por
favor, por favor, não sente nesta cadeira."
O aluno disse: "Já me sentei nela antes. É uma ca-
deira confortável e vou sentar-me de novo." A paciente
disse: "Por favor, por favor, não faça isso." O aluno res-
pondeu-lhe: "Bem, eu já me sentei no chão antes e vou
sentar nele· agora, se -isso lhe satisfaz." A paciente agra-
deceu: "Muito obrigada."
Contou aos alunos o caso, incluindo a história sobre as
fotos que lhe enviei. Disse-nos "Levei as fotos comigo, da
mesma maneira que se carrega um talismã, um objeto de
sorte, um pé de coelho, ou uma medalha de S. Cristóvão.
Fizeram parte da viagem na minha valise de mão; A pri-
meira parte da viagem foi para E1 Paso. Eu estava à von-
tade, e pensando quando começaria a turbulência aérea.
Havia uma escala de vinte minutos em E1 Paso. Desem-
barquei, fui para um lugar calmo no aeroporto, entrei em
transe e disse: 'o doutor Erickson quer que você aprovei-
te a viagem. Faça o que o doutor Erickson lhe disse para
fazer.' Retomei ovôo· e a viagem de El Paso para Dallas
foi maravilhosa. Na viagem de volta de Dallas, lá no alto,
tudo o que eu via abaixo era um banco de nuvens com
buracos aqui e ali. Podíamos olhar através destes buracos
e ver a terra lá longe, lá embaixo. Foi uma viagem fan-
tasticamente linda."
Eu lhe disse: "Agora, eu gostaria que você entrasse em
transe, exatamente aqui e agora." Ela o fez. Eu lhe disse
então: "Agora, neste transe, quero que vá até o aeroporto
em Fênix, compre uma passagem para S. Francisco, e
admire o panorama em todo o percurso até lá, especial-
mente a montanha. Quando chegar em S. Francisco, de-
sembarque, alugue um carro e guie até a ponte Golden
Gate. Estacione o carro, ande até a metade da ponte e olhe
para baixo. E vou lhe contar um pouco da história desta
ponte. As colunas que a sustentam têm setecentos e qua-
renta pés de altura. Quando as obras da ponte acabaram,
um dos trabalhadores que pintara a ponte tinha um anzol
na ponta de uma vara comprida, capturou umas gaivotas
marinhas e pintou suas cabeças de vermelho. Um dia, um
repórter atirado, publicou uma história no jornal sobre uma
nova cria de gaivotas com cabeças vermelhas. Seu nome
era Jake. Isto tudo é verdade, de fato."
"Agora então, olhe as ondas lá embaixo, a espuma no
topo das ondas e observe as gaivotas. Então começará um
nevoeiro e você não conseguirá ver nada. Volte para o
carro e retome ao aeroporto, e use sua passagem de volte
para Fênix, e venha do aeroporto diretamente para cá."
Ela logo acordou do transe e disse aos estudantes: "Te-
nho de contar-Ihes sobre minha viagem a S. Francisco e
sobre este detestável Jake." O marido comentou: "Sabia
que ela não gostaria disso. Ela era uma adepta da ecologia."
(Erickson ri.) E, quando ela acabou de contar a história,
disse: "Vim para cá diretamente do aeroporto. Oh! meu
Deus! Eu estava em transe e pensei que tinha ido para lá."
Mas quando lhe fiz uma pergunta importante: "Que
outro problema importante você superou na sua viagem
para Dallas?", ela me respondeu: "Eu não tinha ne-
nhum outro problema, só minha fobia de avião." Eu res-
pondi: "Tinha sim, tinha um outro problema, um proble-
ma que a atormentava muito. Não sei há quanto tempo
você o vinha tendo. Agora você o superou. Mas conte aos
alunos qual era o problema." Ela disse sinceramente: "Eu
não tenho nenhum outro problema." Então eu disse: "Sei
que você não tem mais nenhum problema agora, mas qual
foi o outro problema que você resolveu em Dallas?" Ela
respondeu: "O senhor terá que me dizer." Eu respondi:
"Não. Eu só vou lhe fazer uma pergunta e então você
saberá qual era o problema."
Agora, vou perguntar a vocês, como grupo: quais eram
os problemas dela? (Pausa). E direi previamente que ela
tinha três problemas importantes. Eram problemas que a
prejudicavam bastante. Quais eram? (Pausa)
Vou ajudá-Ios a pensar. Ela não tinha uma fobia de
avião. (Erickson ri.) Ela apenas acreditava que tinha, eu
ouvi cada palavra que ela disse. (Pausa). E repeti para vocês
todas as palavras importantes que ela disse. (Pausa).
Deixei os estudantes refletirem algum tempo. Eles não
conseguiam perceber quais seriam os problemas. Alguns
conseguiram fazer hipóteses bastante boas sobre um dos
problemas. (Pausa).
Vocês não precisam dar respostas imediatamente. Espe-
rem mais algum tempo. (Erickson ri. Pausa.)
Sande: Ela tem medo de homens.
E: Falou por você.
Anna: Ela tinha um problema com o chefe no trabalho?
E: (Faz um "não" com a cabeça.) Eu disse a ela: "Você tinha
outro problema que você solucionou. Agora, qual era este
problema? Vou lhe fazer uma simples pergunta: "Qual a
primeira coisa que você fez em Dallas?" Ela disse: "Oh!
aquilo?! Eu fui até aquele prédio que tem quarenta anda-
res e tomei o elevador desde o térreo até o terraço." Per-
guntei: "Como você costumava tomar o elevador?" Res-
pondeu: "Eu costumava tomar o elevador do primeiro até
o segundo andar, saía, tomava outro elevador, e ia até o
terceiro andar, saía, esperava outro elevador e ia até o
quinto andar. Toda a subida do elevador, um andar de
cada vez. Estou tão acostumada a fazer isto, que não o
encarei como um problema."
Anna: Medo de altura?
E: (Faz que "não" com a cabeça.) Ela disse: "Posso subir a
bordo do avião. Posso ir pela pista à vontade. Posso voltar
até o final da pista. Mas no momento que o avião decola,
entro num tremor fóbico." Ela tinha medo de espaços fe-
chados, onde não havia meios visíveis de apoio. O avião
é um espaço fechado, sem meios visíveis de apoio; a mes-
ma coisa com um elevador.
Eu lhe disse então: "Agora, qual era o outro problema"?
Ela respondeu: "Não sei de nenhum outro problema. Se o
senhor diz que existe, deve ter havido outro problema."
Falei então: "Você tinha de fato outro problema. Já o solu-
cionou. Ora, quando não estava viajando de avião, estava
viajando de carro, de ônibus, de trem. Você não tinha ne-
nhum problema no trem. Mas o que acontecia no carro
e no ônibus? E quando você chegava a uma ponte sus-
pensa, muito grande?" Respondeu: "Oh, aquilo? Eu cos-
tumava abaixar-me, rente ao chão, ficar de olhos fechados,
e tremia toda. Tinha de perguntar a algum estranho: 'O
ônibus já passou a ponte?'" Meus alunos sabiam que eu
sabia disso porque eu induzira-a a fazer a viagem hipnótica
para S. Francisco, e fizera com que ela caminhasse pela
ponte.
E, agora, a paciente vive a bordo de aviões. Ela e o ma-
. rido passaram as férias viajando por toda à Austrália. Ela
vai regularmente a Roma, Londres, Paris. E não gosta de
ficar em hotéis. Prefere dormir à bordo e fazer as refei-
ções no avião. E ainda tem aquelas três fotografias. E ainda
tem medo daquela cadeira. (Erickson aponta para a cadeira
e ri.)
Como vêem, vocês não ouviram. O que ela disse foi:
"Sinto-me à vontade no avião, quando ele decola começo
a tremer." Eu sei que, quando um avião decola, torna-se
um espaço fechado sem nenhum meio visível de apoio. A
mesma coisa com um elevador. A mesma coisa com um
ônibus sobre uma ponte suspensa. Não se pode ver o apoio
nas extremidades, a gente olha para a direita e para a
esquerda. (Erickson gesticula para direita e para a esquer-
da.) A gente está no ar. Em um trem ela tinha uma prova
de apoio, uma prova auditiva - o barulho das rodas nos
trilhos - por isso não tinha nenhuma fobia nos comparti-
mentos de um trem. Podia ouvir o apoio externo.
Fico imaginando como, daqui há um ano, vocês se lem-
brarão desta história. Porque eu já contei várias vezes, e,
um ano depois, algum dos meus alunos vêm me contar este
caso e ouço variações sobre o mesmo. (Erickson ri.) Mary
às vezes é um homem.
Pois quando falo com as pessoas, elas ouvem na sua
própria linguagem.
Posso contar-Ihes que nasci nas Montanhas de Sierra
Nevada, e todos vocês se lembrarão de onde nasceram.
Pensem nisso. Falo de minhas irmãs, vocês pensarão nas
próprias irmãs, caso tenham uma; ou pensam no fato de
não terem irmãs, se não as tiverem. Nós respondemos às
palavras faladas em termos dos nossos próprios conheci-
mentos. Os terapeutas devem ter isto em mente.
Agora, quantos de vocês já estiveram aqui antes? Algum
de vocês já esteve aqui antes? (Uma mulher levanta a
mão.)
E: Você esteve? Há quanto tempo?
Sancle:, Há sete meses.
E: Não me diga. Quantos de vocês acreditam na lâmapda de
Aladim?
Anna: Na lâmpada de Aladim?
E: Quantos de vocês acreditam na lâmpada de Aladim? Eu
tenho uma lâmpada de Aladim. Aladim esfregava a lampa-
rina e aparecia um gênio. Eu tenho uma lâmpada de Ala-
dim modernizada. Coloco o interruptor na tomada da pa-
rede e o gênio aparece. Estou querendo que vocês vejam
a minha gênia. Ela é muito amável. Gosta de sorrir, de
piscar e de beijar. Mas lembrem-se que ela me pertence.
Ora, acabo de me lembrar que a senhora Erickson não
está em casa hoje à tarde. Senão eu os convidaria para ver
minha gênia. (Erickson dirige-se à Anna.) Sei que você
duvida. Também duvida que este seja o Conde Drácula.
Anna: Não duvido.
E: Então não esteja por aqui à meia-noite; você vai perder um
pouco de sangue.
E, este é um outro ponto que eu

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