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Como citar este material: PONTES, Ronaldo Miranda. Orçamento e controle. Rio de Janeiro: FGV, 2021. Todos os direitos reservados. Textos, vídeos, sons, imagens, gráficos e demais componentes deste material são protegidos por direitos autorais e outros direitos de propriedade intelectual, de forma que é proibida a reprodução no todo ou em parte, sem a devida autorização. INTRODUÇÃO Na gestão dos negócios, as técnicas e as ferramentas gerenciais ficam cada vez mais sofisticadas e complexas. Essa complexidade tem origem, em parte, na sofisticação das relações comerciais, na natureza e nas inovações que são incorporadas aos produtos e serviços, nas novas tecnologias, nos novos processos de manufatura e de prestação de serviços, nas exigências dos clientes e nos cenários econômicos e políticos com grande volatilidade. Em um cenário competitivo, destacam-se as empresas que conseguem antecipar-se a alterações do macroambiente, encontrando solução para problemas que possam vir a acontecer. As principais empresas que se dedicam à profissionalização da sua gestão já adotam os três instrumentos do planejamento empresarial, que são: planejamento estratégico, orçamento e controle orçamentário. Entre os três instrumentos, o orçamento empresarial e o controle orçamentário são as ferramentas mais usadas por essas empresas. É a função orçamento que prevê o resultado estimado a partir de cenários, abrangendo um determinado tempo que cobre o período operacional, dividindo-o em fases como: mês, trimestre, semestre, ano, de acordo com a peculiaridade das suas necessidades. Para os grandes desafios empresariais, é fundamental ter um profissional que elabore, analise e controle o orçamento anual. Ele deve ser capaz de planejar e organizar as equipes de propostas, definindo as responsabilidades e metas intermediárias e finais. Além disso, deve elaborar o orçamento e controlar a sua execução, preparando relatórios, destacando os indicadores e as ações de melhoria. Depois da leitura deste material, o aluno deverá ser capaz de: ▪ ter uma visão geral do planejamento empresarial e dos seus três instrumentos; ▪ compreender todo o processo do planejamento orçamentário; ▪ fazer distinção entre orçamento estático e orçamento flexível e aplicar uma fórmula orçamentária para preparar um orçamento flexível; adotar a abordagem do orçamento flexível para calcular variação de comercialização e variação total devido a variações de preço e à ineficiência; calcular a variação de preço e de eficiência para custos variáveis; adotar a abordagem do orçamento flexível para explicar detalhadamente as variações dos custos variáveis operacionais; distinguir valores orçados de valores padrão; distinguir custos fixos comprometidos de discricionários, assim como os custos variáveis estruturados de discricionários e avaliar um sistema de controle. A apostila está estruturada em quatro módulos. O primeiro – Planejamento e controle – apresenta o planejamento empresarial, que é constituído de três elementos fundamentais: o planejamento estratégico, o orçamento empresarial e o controle orçamentário. Discute as vantagens e limitações do planejamento. Destaca também a grande importância do alinhamento estratégico desses três elementos. O segundo módulo – Orçamento empresarial – apresenta a ferramenta do orçamento empresarial como um plano financeiro alinhado estrategicamente para o próximo período. Trata a evolução histórica dos métodos de orçamento bem como as vantagens e limitações de forma a gerar uma análise crítica para aplicação nas empresas de acordo com a necessidade e maturidade. Neste módulo, realiza-se a primeira prática orçamentária, que é o orçamento do comércio. O terceiro módulo – Processo orçamentário – apresenta todas as peças orçamentárias do ponto de vista da indústria, tendo em vista que o orçamento do comércio é a prática no módulo anterior. A prática deste módulo é a construção do orçamento da Indústria de Colchas Pontes, que trata do orçamento operacional e do orçamento financeiro. Finalmente, o quarto módulo – Controle orçamentário – demonstrará que só se gerencia aquilo que se controla. O planejamento financeiro da empresa não é garantia de resultados. Para alcançá-los é preciso aplicar o controle orçamentário, utilizando todas as ferramentas disponibilizadas neste módulo. Além disso, aqui se analisam as variações comerciais e operacionais bem como se detalham as variações de preço e de quantidade dos recursos utilizados. SUMÁRIO MÓDULO I – PLANEJAMENTO E CONTROLE .................................................................................... 9 CONCEITOS GERAIS ......................................................................................................................... 10 Decisões estratégicas .............................................................................................................. 10 Decisões administrativas ........................................................................................................ 10 Decisões operacionais ............................................................................................................. 10 VANTAGENS DO PLANEJAMENTO .................................................................................................. 11 LIMITAÇÕES DO PLANEJAMENTO .................................................................................................. 13 PLANEJAMENTO EMPRESARIAL ...................................................................................................... 14 Planejamento estratégico ....................................................................................................... 17 Análise externa ................................................................................................................... 20 Análise interna .................................................................................................................... 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 23 MÓDULO II – ORÇAMENTO EMPRESARIAL .................................................................................... 25 DEFINIÇÃO DE ORÇAMENTO .......................................................................................................... 26 Forecast ...................................................................................................................................... 27 Rolling forecast ou orçamento contínuo ................................................................................ 28 MÉTODOS DE ORÇAMENTO ........................................................................................................... 29 Orçamento empresarial ou estático ..................................................................................... 30 Orçamento rolling ou contínuo .............................................................................................. 31 Orçamento base zero (OBZ) ................................................................................................... 31 Orçamento flexível ou ajustado ............................................................................................. 31 Orçamento baseado em atividades (OBA) ........................................................................... 32 Orçamento matricial ................................................................................................................ 32 Beyond budgeting ...................................................................................................................... 33 VANTAGENS DO ORÇAMENTO ....................................................................................................... 33 LIMITAÇÕES DO ORÇAMENTO .......................................................................................................34 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 34 MÓDULO III − PROCESSO ORÇAMENTÁRIO .................................................................................. 35 ORÇAMENTO DE VENDAS ............................................................................................................... 37 Métodos estatísticos ................................................................................................................ 38 Métodos discricionários .......................................................................................................... 38 ORÇAMENTO DE PRODUÇÃO ......................................................................................................... 39 ORÇAMENTO DE MATERIAL DIRETO .............................................................................................. 39 ORÇAMENTO DE MÃO DE OBRA DIRETA ...................................................................................... 40 CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO ............................................................................................ 41 Custos variáveis........................................................................................................................ 41 Custos fixos ............................................................................................................................... 42 Custos semivariáveis ............................................................................................................... 42 Processo de elaboração dos custos indiretos...................................................................... 44 ORÇAMENTO DE DESPESAS ADMINISTRATIVAS .......................................................................... 45 Formulação do orçamento administrativo ........................................................................... 47 ORÇAMENTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO .................................................................... 48 Projetos específicos ................................................................................................................. 49 Orçamentos anuais ................................................................................................................. 49 Considerações sobre orçamento de pesquisa e desenvolvimento .................................. 50 ORÇAMENTO DE DESPESAS DE MARKETING................................................................................ 51 Despesas após a venda ........................................................................................................... 51 Despesas tipo administrativas ............................................................................................... 52 Custos de obtenção dos pedidos .......................................................................................... 52 Considerações sobre o orçamento de marketing ............................................................... 52 Orçamento de compras ............................................................................................................ 53 Materiais diretos ....................................................................................................................... 53 Materiais indiretos ................................................................................................................... 54 Materiais para projetos de investimentos ............................................................................ 54 ORÇAMENTO DE INVESTIMENTOS ................................................................................................. 55 FLUXO DE CAIXA PROJETADO ......................................................................................................... 55 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO PROJETADO ........................................................................... 56 BALANÇO PATRIMONIAL PROJETADO ........................................................................................... 57 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 58 MÓDULO IV – CONTROLE ORÇAMENTÁRIO .................................................................................. 59 CONTROLE OPERACIONAL .............................................................................................................. 60 VARIAÇÃO COMERCIAL .................................................................................................................... 64 Estudo da variação da receita ................................................................................................ 64 Variações comerciais no demonstrativo de resultado ....................................................... 67 VARIAÇÕES OPERACIONAIS NO DEMONSTRATIVO DE RESULTADO ......................................... 69 Variação na receita .................................................................................................................. 69 Variações dos custos: eficiência operacional ....................................................................... 70 RELATÓRIO DAS VARIAÇÕES NO DEMONSTRATIVO DE RESULTADO ....................................... 70 CONTROLE PELO CENTRO DE CUSTOS PADRÃO ......................................................................... 71 CONTROLE DOS GASTOS DISCRICIONÁRIOS ............................................................................... 77 Gastos fixos comprometidos ................................................................................................. 79 Gastos fixos discricionários .................................................................................................... 79 Gastos variáveis estruturados................................................................................................ 79 Gastos variáveis discricionários ............................................................................................. 80 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 83 CONCLUSÃO ................................................................................................................................... 85 GLOSSÁRIO ..................................................................................................................................... 86 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 89 PROFESSOR-AUTOR ....................................................................................................................... 90 Neste módulo, será abordada a importância do planejamento empresarial, apresentados os três instrumentos largamente utilizados, que são o planejamento estratégico, o orçamento empresarial e o sistema de controle orçamentário. De uma forma mais sucinta, será apresentada a importância do primeiro instrumento – planejamento estratégico – para o correto planejamento orçamentário. O objetivo é demonstrar, além da importância, a interdependência e a indissociabilidade entre eles para manter o alinhamento estratégico. Os termos “planejamento” e “controle” foram utilizados de maneira enfática, pois o que se pretende no mundo empresarial é garantir que o planejamento e as decisões tomadas sejam realmente implementadas, controladas, garantindo um alinhamento estratégico. Se a fase de planejamento é negligenciada, o controle é inócuo. Agora, se o planejamento é adequado, mas as ferramentas de controle são meramente voltadas para a constatação, ocorre falha importante de retroalimentação estratégica para ações corretivas. Cada empresa interpreta e define o modelo desejado para o planejamento bem como para o controle dos seus negócios.Na estrutura organizacional, quanto mais o profissional sobe, maior é o esforço despendido para o planejamento dos negócios. O contrário também acontece, pois quanto mais descemos na estrutura organizacional, maior o esforço dedicado ao controle. Dessa forma, na questão decisória, quanto mais alto o nível na pirâmide organizacional, maior o tempo dedicado às decisões. Dependendo do enfoque da administração, quando algo decidido não acontece da maneira planejada, o sistema gerencial depura e indica: a ocorrência, a magnitude, a responsabilidade e o espectro temporal. Para tratar melhor de todos os elementos, este módulo tem por objetivo descrever e discutir questões gerais sobre o planejamento e o controle empresarial. MÓDULO I – PLANEJAMENTO E CONTROLE 10 Conceitos gerais Das funções clássicas tratadas pelas escolas de administração, temos: organizar, planejar, formar equipe, dirigir e controlar. Planejar significa antecipar decisões. Decidir implica escolher uma alternativa em detrimento de outras disponíveis. São escolhas em função de preferências, disponibilidades e ponderação do grau de risco, entre outras. Então, estamos controlando o nosso próprio futuro quando se decide antecipadamente. Assim, a organização trabalha proativamente no que se refere ao processo de gestão. Considera que as empresas têm de tomar três tipos de decisões distintas: estratégicas, administrativas e operacionais. Decisões estratégicas Focadas nos problemas externos, mais especificamente relacionadas com a escolha do mix e dos mercados em que tais produtos ou serviços serão ofertados. Para esta apostila, o conceito de “estratégico” diz respeito a tudo o que se refere às relações entre a empresa e o seu ambiente, tendo por objetivo otimizar a função definida, que pode ser o retorno sobre o investimento, distribuição de lucros, etc. As decisões estratégicas devem preceder as demais. Decisões administrativas Representa a estruturação dos recursos da organização a fim de criar possibilidade de execução dos trabalhos com os melhores resultados. Consiste no desafio de estruturar os recursos da empresa para otimizar o desempenho e conseguintemente os resultados. São decisões sobre: organização; estrutura de conversão de recursos; obtenção e desenvolvimento de recursos; conflitos entre estratégias e operações; conflitos entre objetivos pessoais e institucionais e interações entre variáveis econômicas e sociais. Decisões operacionais São as decisões ligadas à obtenção dos indicadores almejados. Podemos citar alguns como: objetivos e metas em nível operacional; níveis de preços e produção; níveis de operação; políticas e estratégias de marketing; políticas e estratégias de pesquisa e desenvolvimento; controle, etc. 11 Essa classificação apresentada não deve ser compreendida como estática ou estanque, pois as decisões denominadas estratégicas são as únicas distintas das demais; as outras duas decisões podem ser mescladas. Destaca-se que toda organização requer os três tipos de decisão para desenvolver as suas atividades. A estratégica exige a eficácia das organizações, enquanto as duas últimas têm grande preocupação com o aumento da eficiência. Nesta apostila, o termo “plano” é utilizado sempre com o objetivo de indicar a formalização do processo de planejamento. Vantagens do planejamento As organizações, pelo seu plano estratégico, decidem o que devem ser e fazer dentro do espaço e do tempo em que estão inseridas. Elas controlam o seu próprio futuro, pois tomam decisões de forma antecipada. No ano 2020, ela planeja e decide o mix dos produtos que deve lançar em 2021, o volume de insumos de que vai precisar em 2021, o reajuste salarial dos funcionários a ser implementado em 2021, os investimentos em ativos imobilizados que deve fazer em 2021 e assim por diante. Ou seja, antes do momento requerido, as mais adequadas alternativas devem ser selecionadas. Então, as organizações têm inúmeras vantagens quando decidem antecipadamente. Qualitativamente, Welsch (2004) cita algumas, sendo as de maior importância: 1. Coordenação de atividades – As atividades de uma organização devem ser coordenadas apropriadamente com base no processo de planejamento. Ou seja, se uma empresa produtora de mantimentos deseja aumentar a produção, precisa de suprimentos adicionais, equipamentos e pessoas. A coordenação entre atividades referentes a buscar e gerenciar recursos para atender a metas de output – vendas ou prestação de serviços – é vital, obtida a partir da elaboração de um instrumento formal como o projeto de planejamento de negócios ou projeto de ampliação dos negócios, evitando que uma atividade seja fator de não atingimento de outra. Impossível coordenar atividades e mesmo torná-las viáveis sem algum nível de planejamento prévio que possa antever os gargalos e mesmo as possibilidades. 2. Decisões antecipadas – Em qualquer situação, o tempo é um bom conselheiro e permite pensar e amadurecer uma decisão. Isso pode revelar novas perspectivas ou permitir novas abordagens. Assim, a elaboração do planejamento faz com que decisões sejam tomadas antecipadamente. Se uma empresa planeja um processo de crescimento, e o seu produto possui componentes escassos, ao elaborar o plano, já se saberá que a rede de fornecedores deverá ser expandida. Essa situação demandará a perseguição de novas alternativas que atendam à necessidade, porém a empresa terá tempo suficiente para preparação, pesquisa, negociação e outros recursos em níveis significativos. Tal decisão é de suma importância para o bom desenvolvimento dos negócios, uma vez que deve ser tomada com antecedência, evitando situação em que a empresa deixe de atingir os seus objetivos maiores em função da falta de planejamento. 12 3. Comprometimento antecipado – O benefício do comprometimento é cumulativo em relação às vantagens apresentadas anteriormente. Como no exemplo anterior, o crescimento do volume de vendas deverá ser proposto e aceito pelo executivo da área comercial, já fica implícito o comprometimento com as metas consideradas. Quando a empresa não tem um sistema de planejamento, traz a dimensão do comprometimento para o instante em que se detecta a necessidade, ou seja, imediatamente antes da decisão e implementação. Decidir antecipadamente faz com que a percepção coletiva de comprometimento seja afetada positivamente. 4. Maior transparência – No sistema de planejamento, os atores trabalham e discutem juntos todas as etapas, trazendo maior transparência entre as várias áreas da empresa. Quando a empresa possui uma postura centralizadora deixando de praticar uma abordagem participativa, o benefício da transparência não é atingido. Entretanto, nem sempre o benefício da transparência é obtido, já que a filosofia de disseminação de informações não necessariamente caminha ligada à filosofia de planejamento da organização. 5. Definição de responsabilidades – Em uma organização, o planejamento e o controle exigem que as responsabilidades sejam definidas por departamento, filiais, unidade de negócio ou por centro de resultados, dependendo do conceito utilizado. Sem tal accountability – responsabilidade final. 6. Destaque para eficiência – Uma vez desenvolvido o planejamento do negócio, não apenas a metodologia de avaliação financeira é implementada, mas todo o negócio. Assim, níveis de desempenho adequados devem ser perseguidos. É importante elaborar não apenas indicadores financeiros, mas também indicadores operacionais devem ser monitorados e identificados com frequência. Desempenho fraco ou inadequado é evitado na fase de planejamento, uma vez que o controle pressupõe zelar para o atingimento do nível planejado de eficiência. No momento de estabelecimento dos indicadores, o nível de desperdício normal e aceitável para o tipo de atividade pode ser aceito e incluso no plano. Dessa forma, os resultadosconsiderados insatisfatórios e anormais devem ser avaliados e não aceitos pela organização no momento do planejamento. 7. Maior entendimento mútuo – Este item é consequência do número 4. Ao ser mais transparente, a organização permite aos seus executivos interação e conhecimento das áreas que não são da sua responsabilidade, sendo um importante benefício para a organização. Em alguns casos, eliminando problemas com a visão de outras pessoas que não estão envolvidas no problema e, em outros, fortalecendo o relacionamento interfuncional. 8. Autoanálise periódica – Quando todas as áreas da empresa vislumbram o planejamento do negócio, podem autoavaliar-se em face dos desafios que precisarão superar no futuro. As deficiências percebidas podem ser relacionadas com perfil profissional, equipamentos, falta de treinamento, instalações inadequadas, softwares, etc. A área comercial, caso pretenda crescer em uma região, vai indicar a necessidade de acréscimo de vendedores para poder 13 cumprir as suas metas, por exemplo. A área de controle da organização pode identificar que precisa desenvolver novos relatórios gerenciais para poder dar respostas adequadas à organização sobre os resultados apurados. 9. Avaliação do progresso – Mesmo se todas as vantagens anteriormente apresentadas não fossem válidas, este o seria. A organização não deve considerar-se melhor ou pior em função da comparação com o período anterior, mas, sim, considerar que o seu desempenho foi adequado ou não comparado com o previsto e comprometido no plano. A comparação com o passado, histórico, permite um entendimento parcial dos fatores, mas não é o mais inadequado em termos de aonde se pretende chegar no ambiente percebido quando se planejou. Quando se comparam os resultados do mês corrente com os do mês anterior ou até com os do mesmo mês do ano anterior, os ambientes de negócios são distintos e podem ser influenciados por eventos como a volatilidade do macroambiente, o que dificulta que a ineficiência possa ser isolada, entendida e eliminada. Quando se compara o desempenho atual com o plano construído com base nas premissas e no nível de eficiência desejados e possíveis para o momento vivido, pode ser avaliado adequadamente. Limitações do planejamento Da mesma forma que Welsch (2004) destaca as vantagens também descreve que existem limitações importantes no desenvolvimento do processo de planejamento de um empreendimento. São elas: 1. Base em estimativas – O plano de negócios considera movimentos do mercado consumidor, taxa de juros, nível de negociações com os sindicatos, todas as volatilidades do macroambiente, etc. Portanto, não se espera que o nível de assertividade seja pontual, mas, sim, razoável em termos de tendências. Assim, os gestores devem estar prontos para rever e ajustar metas ao longo do período de planejamento. 2. Adaptação às circunstâncias – Um planejamento de negócios desenvolvido com base na percepção de um ambiente restritivo deve ser adaptado a um ambiente diferente, caso as expectativas se alterem. Isso mostra a necessidade de revisões periódicas dos planos, de maneira a manter a utilidade deles. Assim, quanto maior for a volatilidade do macroambiente com maior frequência devem ser feitas as revisões do planejamento a fim de adaptar-se às novas circunstâncias. Essas revisões poderão ser até mensais. Também são indicadas às empresas que trabalham com projetos e lançamentos de novos produtos com ciclo de vida muito curto. 14 3. Não autoexecutoriedade – Todo plano de negócios, depois de elaborado, somente pode ter utilidade se for efetivamente entendido e adotado por todos os colaboradores. Portanto, os executivos devem conhecer e compreender o plano, saber como atingir os seus objetivos e as suas metas, estar comprometidos com elas e sempre agir de acordo com o planejado. 4. Não substituição do gestor – Durante a execução do plano de negócios, podem surgir atividades que não estão previstas e devem ser avaliadas pela administração e implementadas, no caso de avaliar que são adequadas aos seus objetivos e às suas metas. Podemos dizer que esta é uma limitação do ponto de vista do plano de negócios, mas demonstra uma grande dependência de um bom gestor, que pode ser comparado a um maestro diante da orquestra. É ele que mostra o andamento da música, marca e destaca a entrada de cada instrumento. Sem o seu comando, não seria a mesma coisa. Portanto, trata- se de um delicado equilíbrio que deve ser perseguido. Deve-se evitar tanto desmoralizar o plano de negócios, inserindo nele qualquer tipo de alteração, como deixar de revisá-lo sempre que algo de importante o exigir. Planejamento empresarial Executivos gostam de falar que a sua administração é baseada em um sistema de planejamento empresarial, mas uma análise mais acurada, mediante alguns questionamentos, permite o entendimento do nível de maturidade da empresa em termos de planejamento. Nestes casos, observa-se que as suas preocupações são reais, mas especificamente ligadas às questões operacionais e táticas; ou é difuso, não tendo muita profundidade e maturidade, tanto no processo de planejamento, como no conteúdo dos planos. Contudo, uma coisa é certa: nenhum empreendimento pode sobreviver por muito tempo sem o mínimo de planejamento com um diagnóstico situacional, objetivos e metas de curto, médio e longo prazo e estratégias para o atingimento. Portanto, planejar é uma necessidade fundamental, como se alimentar para o ser humano. Quando o ser humano não se alimenta, o que ocorre é o enfraquecimento, e o mesmo ocorre com a organização caso o planejamento não afete o seu dia a dia. A figura 1 demonstra o relacionamento entre vários elementos que compõem o processo de planejamento das organizações. 15 Figura 1 – Relacionamento entre os elementos no plano de negócios de uma organização Fonte: Pontes (2018, p. 17). O relacionamento entre os vários elementos que compõem o processo de planejamento é detalhado abaixo: 1. A base de dados existente na organização possibilita visitar e analisar o desempenho passado. Essa base de informações pode ser estruturada e informatizada e estar disponível para ser utilizada quando necessário. Por si só, ela somente demonstra os fatos do passado e demonstra tendências, mas não permite atingir o objetivo do plano de negócios. Porém, baseado nela, é possível o desenvolvimento de análises subsidiando o processo de planejamento. 2. As expectativas e pressões dos interesses externos, ou seja, de todos os stakeholders, pressionam os agentes internos. Entre os stakeholders, os acionistas, os clientes, a comunidade e o governo são os mais costumeiramente encontrados. Do ponto de vista dos acionistas, a expectativa é pela maximização do nível de retorno. Do ponto de vista da comunidade, a preservação do emprego é exteriorizada como reivindicação importante. Do ponto de vista do governo, o interesse é o aumento da arrecadação de impostos e taxas. 3. As expectativas dos executivos que representam os interesses internos interagem sistematicamente com as pressões dos agentes externos. Normalmente, os executivos têm objetivos salariais, de carreiras e mesmo de poder, os quais são afetados pelas pressões externas. Entretanto, na definição do plano de negócios, é preciso que os objetivos e as metas da organização sejam equilibrados com os objetivos dos executivos, nem sempre harmônicos. 16 4. Sabe-se que, para um bom plano de negócios, é necessário fazer um planejamento estratégico demonstrando missão, visão, valores, mapeamento dos riscos, forças, oportunidade e ameaças, determinando os objetivos, e as metas de longo prazo devem preceder as ações de curto prazo. Nesse sentido, as estratégias e políticas devem ser definidas, revisadas e ajustadas à realidade. Tal procedimento permite ao gestor manter a coerência de atitudes e consistência no longo prazo. 5. Baseado navisão estratégica do negócio, é possível elaborar o orçamento anual. Esse planejamento financeiro deve contemplar ações descritas no plano estratégico. Portanto, o orçamento é o instrumento que implementa as decisões do planejamento estratégico dentro do horizonte temporal do próximo exercício. Esse processo orçamentário explicita em números os planos estratégicos da empresa e deve ser negociado com cada unidade de negócio ou departamentos à luz dos objetivos e das metas estabelecidos. 6. Depois da elaboração, da negociação, da análise e da aprovação é realizada a divulgação do orçamento para todos os envolvidos. Assim que o orçamento começa a ser executado, o acompanhamento e o controle devem desenvolver-se. Em analogia ao orçamento, controle e monitoramento orçamentário são a forma de acompanhar a execução do plano estratégico no que se refere à sua parcela de horizonte orçamentário. Controle e monitoramento servem para avaliar, comparar e corrigir desvios e realimentar o seu processo de planejamento. Em algumas empresas, um sistema deficiente de planejamento de curtíssimo prazo é tudo o que a organização orgulhosamente tem, e acha que é mais do que o suficiente para enfrentar os desafios imediatos. Isso acontece principalmente quando a pressão por resultados se torna o foco e a principal preocupação dos seus gestores. Essa é uma visão imediatista que procura resultados no curto prazo, renegando ações e estratégias que representariam resultados perenes de longo prazo. Aqui é importante aprender com o caso da Vale do Rio Doce, que, com o passar do tempo e com a privatização, implementou a lógica rentista e financeira de curto prazo. Ela começou a ser pautada pelas ações de curto prazo dos seus gestores, tentando atender aos interesses dos seus acionistas e do mercado financeiro, relegando para segundo plano gastos imediatos que poderiam evitar as tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Portanto, a área de planejamento tem de ter muita personalidade para não sair receitando ações de curtíssimo prazo que farão a alegria momentânea dos sócios ou acionistas, mas que serão mera cortina de fumaça, postergando ações e soluções que serão mais críticas em médio e longo prazo. Afinal, quais são os instrumentos mínimos de um planejamento empresarial? Pode-se dizer que os três principais instrumentos de planejamento empresarial, que devem estar presentes no planejamento de qualquer empresa, são: planejamento estratégico; orçamento anual e controle orçamentário. 17 Na figura 2, apresentam-se esses três instrumentos e destaca-se a interligação estratégica entre eles. Figura 2 – Os três instrumentos do planejamento empresarial Fonte: Adaptado pelo autor (KAPLAN, 2000, p. 289) O mais importante a respeito da figura 2 é destacado por Kaplan (2000): dessa forma, o orçamento deixa de ser exercido mecanicamente, concentrado em números financeiros de curto prazo, e se transforma em ferramenta gerencial que converge a atenção e os recursos para projetos estratégicos críticos. Como se pode observar, o sistema gerencial estratégico de loop duplo – que inicia pelo planejamento estratégico, desdobra-se no orçamento e é controlado na sua execução retornando com um feedback estratégico em todos os níveis – fornece as bases para a conversão da estratégia em processo contínuo. Nenhuma empresa obtém sucesso sem ter esse alinhamento estratégico nos três níveis do planejamento empresarial, como demonstrado acima. Agora, vamos detalhar de forma prática esses três elementos. Planejamento estratégico O primeiro elemento – planejamento estratégico – será apresentado de forma prática e resumida, por não ser o foco desta disciplina, porém com ligações indissociáveis com os demais. Assim, no planejamento estratégico, deve-se: definir a missão e a visão da organização, bem como os seus objetivos de longo prazo; analisar os ambientes interno e externo; mapear os riscos, as forças, as oportunidades e as ameaças, além das estratégias gerais e específicas. 18 A missão define algumas variáveis importantes a tratar no processo de planejamento. Explicita por que a organização existe e qual a sua contribuição para o ambiente. É a primeira diretriz estratégica a ser tratada e requer como características fundamentais: ser definida à empresa pelos acionistas; ser suficientemente simples e clara para ser entendida tanto pelos clientes como pelos colaboradores, fornecedores, etc. e deve ter vida útil de longo prazo, ou seja, não se altera a missão de uma organização com frequência. Basicamente, deveria responder às seguintes perguntas: Quais produtos ou serviços estaria disponibilizando no mercado? Que atividades a organização se propõe a desenvolver no ambiente? Quem é o seu cliente? Em que mercado atua? Qual é o benefício auferido pelo acionista? Exemplo de missão de uma organização com fins lucrativos: “Desenvolver, produzir e comercializar produtos alimentícios dentro do mercado nacional, perseguindo o adequado retorno para o acionista.” A missão põe foco sobre o que a organização pretende fazer e entregar, delimitando expectativas de longo prazo e orientando as operações. Ela tem utilidade não apenas para as organizações com fins lucrativos, mas também para outros tipos de organizações, como as do terceiro setor. A seguir, é apresentada a missão de uma entidade de caridade que tenha por finalidade o atendimento hospitalar em dado local: “Cuidar do bem-estar da comunidade, melhorando a qualidade de vida.” A declaração de missão da empresa pode ser relativamente específica ou ampla, isso define se a sua longevidade será maior ou menor. Uma organização que declarou na sua missão a exclusividade de produção e comercialização de máquinas de datilografia viu o seu negócio tornar- se obsoleto com o advento dos computadores e das impressoras. Porém a organização que definia a sua missão como a produção e comercialização de produtos para escritório pôde ajustar-se aos novos tempos. O outro extremo também não é aconselhável: uma abrangência demasiada faz com que a organização perca o foco da sua atividade, dispersando energia no seu processo de gestão. 19 Já os objetivos de longo prazo possibilitam o acompanhamento da missão da organização no longo prazo. As características principais dos objetivos de longo prazo são as seguintes: 1. Devem ser analisadas e negociadas entre os acionistas e os executivos, pois se constituem em elementos que devem ser observados pelos executivos. 2. O objetivo pode ser dividido em: a) Atributo – É o indicador escolhido para medir o desempenho. Exemplos: lucro líquido, geração de caixa, retorno sobre o investimento, distribuição de lucro, etc. b) Padrão – É a métrica com que se mede o atributo. c) Meta – É o valor determinado com que se deseja medir o objetivo. Exemplos: lucro líquido de 15% a.a., distribuição semestral do resultado de 20%, etc. O recorte temporal é fundamental para o estabelecimento da meta. Exemplo: lucro líquido de 15% a.a. nos próximos dois anos, distribuição semestral do resultado de 20% para o próximo ano, etc. 3. Por serem voltadas para o longo prazo, algumas metas podem ser ajustadas no período do planejamento. Uma empresa, ao iniciar o seu negócio, poderia estabelecer como objetivo para o primeiro ano atingir o ponto de equilíbrio – equilíbrio entre receita e despesa. Já no segundo, um lucro líquido de 5% a.a., no terceiro, um lucro líquido da ordem de 8%, e assim por diante. 4. Devem conter indicadores financeiros e não financeiros de longo prazo. 5. Não atingimento do objetivo, no longo prazo, pode gerar um desvio da visão almejada. Os objetivos de longo prazo para uma organização com fins lucrativos poderiam ser: Lucro líquido de 17% a.a. para os próximos cinco anos; Market share, ou seja, participação no mercado, do produto “Alfa” não inferior a 20% em três anos e Crescimento da receita de serviços em, pelo menos, 15% a.a., nos próximos quatro anos. Os objetivos de longo prazo de uma organização assistencial poderiam ser: redução da malária da região Nordeste em 30% em dois anos e erradicação da chikungunya no estado em seis meses. Para a elaboração do orçamento anual, é importante que os objetivos definidos pela organização no planejamento estratégico sejam contemplados e perseguidos. Caso isso não ocorra, o planejamento financeiro, ou seja, o orçamento deve ser revisado e ajustado, já que ele é o instrumento gerencial que quantifica valores para a realização das ações com o intuito de atingir os objetivos estratégicos. 20 Análise externa A análise externa é o instrumento pelo qual a empresa mapeia o ambiente externo identificando as oportunidades. Isso é feito com base na avaliação de cenários, levando em conta vários elementos, entre eles: Cenário econômico – O cenário econômico pode trazer grandes volatilidades e consequências favoráveis ou desfavoráveis ao negócio? O setor específico da organização vai entrar em algum ciclo previsto de crescimento ou recessão? Cenário político – Como o cenário político pode afetar os negócios favoravelmente ou não no próximo período? Cenário legal – As normas legais em vigor ou em discussão podem afetar os seus negócios. Como isso vai ocorrer? Quais legislações e órgãos reguladores podem afetar a sua atividade? De que forma? Tecnologia – Inteligência artificial (IA), internet das coisas, tendências tecnológicas disruptivas podem afetar o desenvolvimento dos negócios? Quais tecnologias podem acelerar o desenvolvimento dos negócios ou trazer ameaças? Cenário social – As novas gerações X, Y, Z, possuem comportamento social e imprimem novo olhar para o mundo e as pessoas. Que tipos de tendências e impactos esses movimentos sociais podem trazer aos seus negócios? Esses impactos serão preponderantemente favoráveis ou desfavoráveis? Meio ambiente – Em que os movimentos ecológicos afetam o negócio? Os efeitos do aquecimento do planeta podem afetar a sua atividade? Vão provocar aumentos ou reduções na rentabilidade? Cenário fiscal – Diante da reforma tributária que está em tramitação no Congresso Nacional, que impactos são esperados para o negócio? Fornecedores – Os fornecedores cadastrados são suficientes para dar suporte ao desenvolvimento dos negócios da empresa? Concorrência – Quais são as barreiras de entrada no seu ramo de atividade para impedir a entrada de novos concorrentes? Quais são as expectativas em termos de concorrentes? Em que podem pegar a empresa em situação vulnerável? Cenário demográfico – Qual é a escalabilidade do seu produto tendo em vista o cenário demográfico? A transformação da pirâmide demográfica nos últimos anos é fator importante para o negócio? Que tipo de tendência é esperado? No caso brasileiro, por exemplo, os fabricantes de produtos para bebês, na década de 1980, esperavam alto crescimento da população, que não se confirmou anos depois. Por outro lado, os fabricantes de produtos e serviços para pessoas acima dos 60 anos contam com crescimento de mercado em decorrência do aumento da sua longevidade. 21 Análise interna A análise interna é o processo em que a empresa se volta para dentro dos seus muros e identifica todas as necessidades requeridas para que possa atingir os seus objetivos. Ela deve avaliar recursos humanos, instalações, sistemas de informações, maquinário, tecnologia, metodologia, procedimentos, políticas internas, recursos materiais, etc. Nesse caso, avaliam os seus pontos fracos e os seus pontos fortes. A expectativa aqui é preservar e melhorar os pontos fortes e tentar eliminar os pontos fracos. As estratégias explicitam como os objetivos podem ser atingidos. Especificam e detalham as ações a serem implementadas. Esse processo de análise interna é uma das metodologias mais empregadas para a identificação das melhores ações e estratégias a executar. É um modelo tradicional, mas de grande utilidade prática. Pode ser assim analisado: Ameaças e oportunidades – É o olhar da organização para fora dos muros, identificando as oportunidades que estão à disposição, bem como analisando as ameaças existentes no ambiente. Um exemplo de oportunidade: crescimento do mercado pelo aumento de renda das famílias. Exemplo de ameaça: entrada de novos concorrentes pela queda de algumas barreiras de entrada. Pontos fortes e fracos – É a empresa olhando para dentro dos muros, apresenta o lado interno, quais são suas forças e suas vulnerabilidades. O importante desta ferramenta é o gestor perseguir eliminar ou reduzir os impactos dos pontos fracos e a preservar ou ampliar os pontos fortes. Um exemplo de ponto forte seria: uma imagem institucional sólida da empresa e grande confiabilidade dos clientes. Exemplo de ponto fraco: poucos fornecedores de matérias-primas, os quais formam um oligopólio. A Análise Fofa (forças, oportunidades, fraquezas e ameaças), também conhecida como Swot – sigla oriunda do idioma inglês, acrônimo de forças (strengths), fraquezas (weaknesses), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats) – é uma ferramenta muito utilizada na composição das estratégias. Do cruzamento dos pontos fortes e fracos com os pontos de oportunidades e as ameaças podemos definir ações e planos estratégicos. A intenção agora é definir ações com relação aos pontos fortes: o que a empresa faz bem (ações de preservação); aos pontos fracos: o que a empresa não faz bem (ações de eliminação); às ameaças: ações para reduzir os seus impactos; e às oportunidades: ações para aproveitá-las ao máximo. 22 O formato do relatório de Análise Fofa é o apresentado o quadro a seguir. Quadro 1 – Modelo de análise de estratégias: análise pela Matriz Fofa pontos fortes: imagem institucional sólida Top of Mind cinco anos consecutivos pontos fracos: pessoal de produção causando muitas perdas de matéria-prima maquinário precisando de frequente manutenção oportunidades: crescimento do mercado potencial por causa do aumento da renda do público-alvo estratégias Fo x 0: novos produtos destinados ao segmento em crescimento crescimento do volume de vendas do produto atual estratégias Fr x 0: aumento da produtividade com capacitação do pessoal de produção projeto para troca das máquinas em três anos ameaças: entrada de novos concorrentes fornecimento de matérias-primas com poucos fornecedores estratégias Fo x A: campanha publicitária com base na imagem institucional suportando os novos produtos estratégias Fr x A: desenvolvimento de novos fornecedores projeto de manutenção preventiva Fonte: Elaborado pelo autor. No exemplo acima, os pontos fortes “imagem institucional” e “top of mind” permitem à empresa o lançamento de novos produtos e incentivam o crescimento do produto atual, e assim por diante analisam-se pontos fortes x oportunidades, pontos fortes x ameaças, pontos fracos x oportunidades e pontos fracos x ameaças. Para cada cruzamento é analisado e especificado um plano ou uma ação estratégica, conforme a Quadro 1. Desenvolver tais instrumentos sem todo um aparato técnico que permita monitorar os resultados provoca imensa frustração nos gestores. A análise de todos esses elementos proporcionará a oportunidade de realmente avaliar o negócio e eliminar perda de recursos e energia e focar as ações principais e urgentes. Traz também a percepção dos recursos disponíveis e faltantes, alargando o horizonte temporal e despertando novos interesses. 23 Como foi dito, são três os instrumentos do planejamento empresarial: o plano estratégico apresentado acima, que alimenta de metas, objetivos, ações e projetos estratégicos o orçamento anual. Por fim, para garantir o alinhamento estratégico vem o controle orçamentário. Por suavez, o orçamento surge como sequência à montagem do plano de negócios, permitindo colocar foco e identificar em um horizonte menor – ou seja, um ano – as suas ações mais importantes. Nesse sentido, uma vez tendo feito um trabalho adequado na montagem do plano estratégico, o orçamento tem muita chance de ser elaborado com coerência e consistência. Caso os conceitos estejam claros e entendidos pelos profissionais, o orçamento poderá ser elaborado de maneira adequada. Considerações finais Como visto neste módulo, o planejamento empresarial vai muito além do planejamento estratégico. Para o atingimento dos objetivos e das metas estratégicas de longo prazo é fundamental o alinhamento estratégico das três ferramentas: planejamento estratégico, orçamento empresarial e controle orçamentário. Nenhum desses três elementos sozinho garante um desempenho otimizado. É importante destacar que todas as ações e os projetos estratégicos elencados na Matriz Swot ou Fofa têm impactos financeiros no orçamento da empresa. Neste capítulo, será apresentado o segundo elemento do planejamento empresarial, que é o orçamento empresarial, bem como conceitos, evolução histórica, métodos orçamentários, vantagens e limitações. No passado, os controles financeiros das empresas eram bem simples. Por certo por causa do tamanho dos negócios, os proprietários utilizavam-se principalmente de observações pessoais se valendo da experiência como principal meio de controle financeiro. Normalmente os colaboradores, os processos e os recursos estavam ao alcance das mãos e dos olhos. Com o passar dos tempos e com o crescimento das demandas, o desenvolvimento dos negócios, a complexidade crescente das transações, o aumento dos níveis hierárquicos e a abertura de filiais aquele tipo de controle tornou-se inviável. Agora o gestor se distanciara do local das operações. Precisou passar a medir o desempenho de cada unidade para informar ao proprietário. Agora o gestor dispunha de informações de desempenho atual que eram comparadas com os desempenhos históricos, ou seja, de períodos anteriores, mas esse tipo de controle e acompanhamento tinha um problema. Considerando que tanto o ambiente interno como o externo das empresas, em períodos distintos, não eram iguais, seria possível comparar desempenhos atuais com desempenhos passados? Seria possível avaliar e medir a eficiência e o desempenho dos diversos setores da empresa? Esse tipo de comparação do atual com o passado servia para medir a evolução ou involução devido aos fatores ambientais diferentes. Então, os administradores passaram a utilizar o orçamento como instrumento de comparação de desempenhos ocorridos com desempenhos esperados, segundo cenários estimados e desempenhos estabelecidos para cada unidade de negócios e departamento. MÓDULO II – ORÇAMENTO EMPRESARIAL 26 A partir desse momento, as empresas passaram a usar sistemas orçamentários baseados nos benefícios gerados com a previsão de desempenhos, coordenação de recursos e antecipação de problemas potenciais para o cumprimento dos seus objetivos segundo o planejamento financeiro operacional estimado para o próximo período. Definição de orçamento O orçamento é uma expressão quantitativa dos planos operacionais e estratégicos da empresa. O orçamento global resume os objetivos e as metas de todos os departamentos, centros de responsabilidade e filiais. Como ferramenta básica de estruturação de todo o processo administrativo, o orçamento projeta além de todo o planejamento das atividades operacionais de todos os departamentos e filiais e ainda projeta os resultados econômico e financeiro para o período de planejamento. O orçamento é uma ferramenta do planejamento empresarial e deve contemplar, além das atividades operacionais, todos os planos estratégicos para o atingimento dos objetivos e das metas estratégicas. Uma das vantagens do orçamento é a disponibilização de informações e dados que possibilitam promover constantes confrontos entre os resultados alcançados e os números antecipadamente orçados. Para os administradores, o orçamento é o instrumento de que as empresas lançam mão para definir quantitativamente os objetivos e as metas e, também, promover a especificação dos fatores necessários para alcançá-los. Assim, o orçamento é a expressão quantitativa dos planos de ação operacional e estratégico e como instrumento adequado ao exercício do controle das referidas ações. O orçamento é um plano para o próximo período, mas não substitui a administração. Este plano precisa de um maestro, ou seja, do gestor que vai conduzir todas as ações nele previsto. É definido também como o instrumento que detalha um plano geral de operações operacionais, de investimentos e estratégicos por um período determinado, condicionado pelas metas estabelecidas pela alta administração. Assim, pode-se conceituar o orçamento como um instrumento de planejamento e de controle intimamente relacionado aos planos de produção, de investimento e estratégicos, com o propósito de maximizar o resultado do emprego dos recursos colocados à disposição da empresa. Por outro lado, percebe-se que a gestão orçamentária se apoia em previsões, as quais decorrem de fatores internos e externos à empresa. Baseados nessas previsões e na leitura do ambiente interno e externo, metas e objetivos são conferidos aos responsáveis pela empresa e pelos seus departamentos, que deverão ser atingidos por meio dos planos operacionais, limitados a um período e quantificados em valor. No momento de preparação do orçamento, as empresas levam em consideração todos os fatores que poderão influir no período planejado. Todos os fatores previsíveis são mensurados, porém outras variáveis, tais como os casos fortuitos e riscos não identificados, são passíveis de ocorrência. Na elaboração, o orçamento deve dispor de uma memória de cálculo para cada valor orçado. 27 Finalizada uma parte – mês, bimestre ou trimestre – preestabelecida, é levado a efeito o controle por meio da comparação entre os orçamentos aprovados e as realizações efetivas, com o propósito de se levantarem as discrepâncias ocorridas, cabendo ao controle juntamente com cada departamento a explicação dessas diferenças. O orçamento consiste em um modelo de mensuração dos planos que se propõe a demonstrar e avaliar tanto as projeções dos resultados econômicos e financeiros de uma organização como os relacionados às unidades menores que a compõem, como departamentos ou filiais. Como apresentado até aqui, podemos resumir que o orçamento é a parte do plano financeiro estratégico que contém as previsões de receitas e despesas de um determinado exercício, ou seja, um período. Na prática e no dia a dia, muitas pessoas fazem confusão com o termo “orçamento”. Muitos falam assim: “Você poderia fazer um orçamento deste material?”. O que na realidade se quer dizer é: “Qual é o preço do material?”, “Quanto custa este material?” ou ainda “Qual é a estimativa de custo deste material?”. Nesse caso, o que se quer é um levantamento de preço, estimativa de custo, previsão de gasto. A palavra “orçamento” leva em consideração as estimativas de receitas e custos em um determinado tempo, e não simplesmente uma cotação de preços. No planejamento e no controle empresarial, é comum a citação de palavras específicas como forecast e rolling forecast, e muitos acabam tendo dúvidas quanto ao significado de tais expressões, principalmente aqueles que não atuam diretamente em departamentos contábeis ou financeiros. Para esclarecer o significado de cada expressão, serão apresentados os principais conceitos relacionados, ressaltando os seus usos e benefícios para a gestão orçamentária. Forecast Para viabilizar o adequado uso da técnica orçamentária, é importante a adoção de dois atributos essenciais: a flexibilidade e a agilidade. A agilidade é imprescindível em cenários de grande volatilidade, normalmente,se constatada a variação ou a ocorrência de um fato novo. Desse modo, o orçamento deve ser ágil o suficiente para ajustar-se a estes novos elementos, resultando, assim, uma nova posição orçamentária. Este processo é conhecido como forecast e tem como objetivo revisar as projeções da empresa diante da sua atuação e das condições de volatilidade do mercado, visando estimar o resultado financeiro mais provável e também mais próximo das metas estabelecidas. Assim, podem ser revisados não somente a demonstração do resultado do exercício, mas também o fluxo de caixa, o balanço patrimonial e qualquer outro relatório gerencial da empresa. Ao realizar o processo de forecast, a empresa analisa os períodos já realizados e ajusta a projeção para aqueles períodos que ainda restam para encerrar o ciclo orçamentário. Caso a empresa já esteja com o mês de março encerrado, já possui informações financeiras do primeiro trimestre e uma visão atualizada do cenário para o restante do período orçamentário. 28 Assim, são revisadas as projeções para os três últimos trimestres do mesmo ano, gerando uma previsão atualizada do resultado ao final do período orçamentário. O grande benefício para a gestão orçamentária derivado do processo de forecast é possibilitar que a organização avalie passo a passo a tendência de resultado das suas ações. Isso permite que sejam identificadas necessidades de mudança ou mesmo oportunidades surgidas a serem aproveitadas durante todas as etapas da execução orçamentária. Por isso as empresas já programam forecast ou revisões trimestrais no orçamento. O forecast é utilizado pelos gestores financeiros para fazer a revisão periódica do orçamento anual, por meio do qual realizam os ajustes necessários nos valores e, assim, não alteram o que foi determinado como meta no planejamento financeiro. Realizado a cada três meses ou a cada semestre, já agendado previamente durante o desenvolvimento do planejamento orçamentário. O sistema orçamentário, uma vez preparado, deve ser passível de atualização sempre que surgirem novos dados, cenários ou variáveis, originando uma nova posição do orçamento. Veja na figura 3 o exemplo do forecast ou revisão. Figura 3 – Exemplo de revisão ou forecast Fonte: Elaborado pelo autor. Rolling forecast ou orçamento contínuo O rolling forecast é também conhecido como orçamento contínuo. Esta ferramenta não se limita ao planejamento anual fechado, como é a característica dos processos orçamentários tradicionais. Neste, a tendência futura da atuação da empresa, em consequência da volatilidade do mercado e das decisões tomadas, é continuamente revisada. Isso permite que, a cada etapa do processo, para os problemas identificados são tomadas ações corretivas para minimizar os efeitos ou para que oportunidades sejam aproveitadas. No rolling forecast, a empresa sempre terá a projeção dos próximos 12 meses, independentemente do encerramento do ano. A metodologia define que, em cada revisão do planejamento orçamentário, o período realizado seja analisado e excluído enquanto outro adicional é acrescido ao final. 29 Um dos benefícios na implementação do rolling forecast é a possibilidade de a empresa identificar e responder rapidamente aos desafios e às oportunidades de mercado, indo além de um planejamento fechado para um ano somente. No forecast, havendo alguma situação de risco após o seu limite anual de projeção, possivelmente não será observada. Já no rolling forecast, a visualização contínua para os próximos 12 meses possibilita essa identificação de maneira antecipada. Um exemplo de importância do rolling forecast pode ser citado em empresas que possuem produtos ou atividades com ciclo de vida muito curto e lançamentos de novos produtos a cada trimestre ou semestre. Assim, por meio desta ferramenta, estará sempre com um planejamento atualizado para os próximos 12 meses, independentemente do ciclo orçamentário. Por fim, deve-se observar que os dois conceitos são complementares. Essas ferramentas têm objetivos específicos e podem servir de apoio a diferentes processos de decisão na gestão dos planos financeiros. Métodos de orçamento Ao longo da história dos negócios, as estruturas organizacionais foram evoluindo, fazendo com que os modelos orçamentários também evoluíssem. Em virtude disso, diversos tipos e modelos de orçamentos empresariais ou planos financeiros foram desenvolvidos e utilizados de acordo com as particularidades de cada segmento ou modelo de gestão. Independentemente da elaboração, o orçamento deve sempre ser planejado com base nas previsões – focado no cenário do próximo período – nunca limitado ao histórico, aos resultados e pressupostos passados. Os modelos e métodos de orçamento podem ser apresentados em uma evolução temporal. O primeiro modelo de orçamento que surgiu em 1919 foi o orçamento empresarial. A partir de então, o sistema empresarial e as suas demandas foram criando vários métodos de orçamento até chegar ao Beyond Budgeting. Veja a seguir a figura 4 com a evolução dos métodos de orçamento. 30 Figura 3 – Evolução dos processos orçamentários Fonte: adaptado e ampliado a partir de Lunkes (2010) Orçamento empresarial ou estático A partir de 1919, o orçamento empresarial começou a ser implementado nas grandes empresas com excelentes resultados. As empresas agora conseguiam fazer um planejamento financeiro e determinar os resultados e as metas esperados para todos os departamentos e filiais. O orçamento empresarial era também conhecido como orçamento estático, pois era feita a projeção dos recursos na estrutura organizacional, e depois era acompanhado por todos os departamentos. Elaborado para projetar o próximo período, era a referência para o controle das operações ao longo do ano. Consistia na principal base para avaliação de desempenho dos gestores. Ele pode ser elaborado tanto pelo método bottom-up quanto pelo método top-down, sempre levando em consideração as estratégias do negócio. É considerado estático por ser uma importante referência para a comparação com o planejamento financeiro estabelecido, por isso esse tipo de orçamento não é alterado durante todo o período de execução. Assim, possibilita a identificação dos eventuais desvios das estratégias e a busca por alternativas, ações corretivas que sejam necessárias. Outro motivo é a sua utilização como parâmetro para a definição de remuneração variável dos gestores. 31 Orçamento rolling ou contínuo Com o passar dos anos, as empresas evoluíram na prática do orçamento e começaram da preparar o orçamento rolling ou contínuo. Neste método, a cada mês do orçamento que era concluído, depois da comparação do orçado versus o realizado, era preparado com os devidos ajustes o mesmo mês para o ano seguinte. Dessa forma, a empresa sempre teria 12 meses de orçamento preparado. Acabou por se tornar uma prática que pode ser adotada complementarmente em outros tipos de orçamento. Orçamento base zero (OBZ) Entre 1960 e 1970, apareceu um método de orçamento desenvolvido para fazer a empresa repensar e analisar todos os seus gastos, e a primeira a adotá-lo foi a Texas Instruments. Naquela época, existia uma crítica ao processo orçamentário praticado pelas diversas organizações: a utilização dos valores do período anterior corrigidos pela inflação como base de projeção do próximo período. Este conceito era conhecido como orçamento incremental. O princípio fundamental deste orçamento é elaborar as projeções como se estivesse iniciando a empresa no próximo ano, por isso todos os departamentos têm os gastos rigorosamente avaliados de maneira isenta, independentemente dos gastos passados e com justificativas razoáveis em relação aos objetivos e às metas da organização. No OBZ, as atividades de cada departamento são classificadas em pacotes de decisão, os quais são identificados e avaliados com o objetivo de classificá-lospor ordem de prioridade. Em seguida, cada departamento faz a apresentação dos seus pacotes de decisão para que seja decidido sobre a sua aprovação ou recusa. Assim, possibilita uma revisão de todos os processos da empresa com foco nos objetivos e nas metas, fazendo com que tudo aquilo que seja ineficiente ou desnecessário possa ser excluído. O OBZ não permite a simples continuidade dos gastos do passado, obriga a revisão de tudo, além de exigir que qualquer pacote a ser inserido no orçamento deva ser devidamente justificado. Orçamento flexível ou ajustado Uma das principais críticas ao orçamento estático era que, havendo grandes variações no volume de produtos ou atividades da empresa em relação ao projetado inicialmente, poderiam ser criadas distorções no processo de controle real versus orçado. Assim, em 1970, com o crescimento e o dinamismo das empresas com lançamentos de vários novos produtos no período orçamentário nasce o orçamento flexível ou ajustado. Neste método, é feita a projeção dos recursos para vários níveis de atividade. Assim, um segundo orçamento passaria a vigorar quando o volume de produtos ou atividades aumentasse. Ou seja, aumentando as receitas pelo aumento das atividades, mais recursos são liberados a cada departamento. 32 O orçamento flexível também é utilizado no momento de controle dos planos financeiros, pois, antes de realizar qualquer comparação de orçado versus realizado, atualizam-se as projeções orçamentárias para os volumes reais praticados. Dessa forma, pode-se comparar o orçamento geral inicial com o ajustado ao nível dos produtos ou das atividades, evidenciando a eficiência ou ineficiência operacional. Uma vez que a variação de volume de produtos e atividades não será considerada. Isso será tratado no quarto módulo, sobre controle orçamentário. Orçamento baseado em atividades (OBA) Em 1980, foi desenvolvido o método orçamento por atividade, em que a projeção dos recursos é analisada levando em consideração as atividades dos departamentos. Primeiro cada departamento descreve as atividades que realiza e mensura os recursos necessários. A alocação dos recursos é feita por meio dos direcionadores de custos. Este orçamento é inspirado e desenvolvido na metodologia de custeio baseado por atividade (ABC) criada por Kaplan e Cooper. No momento do planejamento, a administração deve analisar o custo-benefício de todas as atividades que cada departamento pretende realizar, alocando recursos somente nas atividades necessárias para o atingimento das metas. Orçamento matricial Esta é a metodologia que ganha cada vez mais adeptos entre as médias e grandes empresas. É um método que nasce principalmente para o controle das despesas e dos custos de todos os departamentos. Em 1998, a Ambev S/A preparou o orçamento matricial para 1999. Os resultados alcançados geraram uma economia de R$ 152 milhões no orçamento dos gastos fixos em relação ao ano de 1998. O método tem esse nome exatamente por ser derivado de uma matriz, a qual tem dois eixos: no eixo dos “pacotes”, estão os grupos de receitas, despesas, custos ou investimentos da empresa; no eixo das “entidades”, estão representadas as subdivisões da empresa – físicas ou virtuais – como unidades de negócios, centros de custos ou departamentos. Dessa forma, para cada pacote existe um gestor que trabalha na fase de planejamento do orçamento, para reduzir os gastos do seu pacote implementando políticas e procedimentos para todos os departamentos da empresa. Esse colaborador é escolhido dentro da estrutura organizacional e passa a atuar também como gestor ou dono de pacote. Atua também na fase de controle, monitorando os gastos de todos os departamentos. 33 Assim, para cada tipo de gasto podem ser observados dois responsáveis que atuam tanto na fase de planejamento como na de controle, ou seja, o primeiro – gestor de pacote ou dono do pacote – tem a gestão dos gastos relativos ao pacote em toda a organização, enquanto o segundo – gestor do departamento ou filial – tem a visão limitada à sua entidade. A origem do nome matricial vem dessa responsabilidade cruzada formando a matriz de gastos da empresa. Este método tem aplicabilidade principalmente para o controle de todas as despesas e custos e pode ser utilizado por qualquer empresa, de qualquer ramo. Beyond budgeting Por fim, a partir de 2000, aparece no cenário do planejamento financeiro o beyond budgeting, que significa “além do orçamento”. Este método nasce em Londres quando as empresas começaram a questionar o sistema de fixar metas, o custo do processo orçamentário e os efeitos disfuncionais como a prática de cada departamento inflacionar os seus gastos para gerar metas fáceis. Assim, nasceu uma nova metodologia, conhecida como beyond budgeting round table (BBRT), um método descentralizado de gestão, pois abandona o modelo tradicional de hierarquia e liderança centralizada, permitindo a tomada de decisão e o comprometimento de desempenho, desenvolvido pelos gerentes operacionais com base nos valores organizacionais. Dessa forma, torna a empresa mais maleável e adaptável, além de criar um ambiente bem gerenciado de trabalho e uma cultura de responsabilidade pessoal comprometida com os valores. Isso acaba gerando motivação maior, alta produtividade e melhoria nos serviços prestados aos clientes. Depois dessa breve evolução histórica dos métodos de orçamento, uma pergunta recorrente deve estar na sua mente: qual é o melhor método de orçamento? Ou, então: qual é o melhor modelo para a minha empresa? Como vimos, são vários os métodos, e cada um tem vantagens e limitações. O ideal é fazer uma avaliação das necessidades e da maturidade da gestão financeira da empresa, levando em consideração a cultura organizacional. Podem-se adaptar os diversos modelos apresentados e até mesclar modelos para atender às necessidades de cada organização. Cada organização deve adotar o modelo e as etapas que considerar mais adequados à sua realidade e às suas necessidades específicas. Vantagens do orçamento Entre as várias vantagens do orçamento, podemos citar: A formalização do planejamento financeiro obriga os administradores a pensar no futuro. Possibilita que a visão do futuro da empresa seja integrada à ação direcionada em busca dos objetivos no próximo período orçamentário. Estabelece padrões, objetivos e metas de desempenho esperados para os setores da empresa. 34 A avaliação de desempenho possui metas claras a mensurar de forma participativa, o que aumenta o comprometimento de todos. As regras do jogo são conhecidas antecipadamente. Possibilita o controle gerencial eficaz, pois os esforços e a coordenação de recursos são previamente planejados. Estimula a administração da empresa a empreender, de modo econômico, o planejamento do emprego dos seus recursos, contribuindo para a redução dos custos e a maximização dos resultados. Quanto mais arraigado na cultura organizacional das empresas, melhor será o orçamento e maiores serão os benefícios advindos. Apesar de todas essas vantagens, o orçamento possui também algumas limitações. Limitações do orçamento O orçamento é uma ferramenta de apoio à administração. Em nenhuma hipótese pode ser confundido com a própria administração. Nenhum processo orçamentário, por melhor que seja, substitui a gestão. Dependente da qualidade das previsões em que está alicerçado. Por tanto, a grande volatilidade do macroambiente representa mais uma limitação. As empresas devem dedicar especial atenção ao processo de planejamento para que a construção de cenários seja de qualidade. O orçamento depende do apoio da alta administração, tanto na fase de planejamento e execução quanto no processo de controle. Ele também não pode ser implementado como um remédio para todos os males. Apesar de existirem críticas em relação a alguns aspectos do processo orçamentário, os benefíciospara as organizações são inegavelmente superiores. No próximo módulo, será apresentado o processo orçamentário, destacando de forma detalhada cada etapa tanto do orçamento operacional como do financeiro. Considerações finais O orçamento empresarial é o plano financeiro que necessita manter o alinhamento estrategicamente para que possa garantir o atingimento das metas e dos objetivos de longo prazo. Os vários tipos de orçamento apresentam uma evolução do processo orçamentário que veio suprir necessidades e cobrir deficiências nos planejamentos financeiros das empresas. Cada empresa precisa avaliar a sua cultura organizacional e maturidade financeira para adaptar os melhores modelos de orçamento à sua realidade. Dessa forma, este módulo também apresentou as vantagens e limitações do planejamento financeiro. Neste módulo, será apresentado todo o processo orçamentário, demonstrando a estrutura básica do orçamento no comércio e na indústria bem como todos os demonstrativos que precisam ser preparados para o sucesso deste plano financeiro. A elaboração do orçamento da empresa pressupõe a execução sistemática de ações de responsabilidade dos diversos departamentos. Essa fase de planejamento de forma participativa possui duas vantagens: a construção prévia das metas e dos objetivos dos departamentos e o comprometimento gerado de todos os gestores. Existem diversos modelos de processo orçamentário. Eles variam de empresa para empresa, não havendo um modelo padrão. É importante destacar que a elaboração e a estrutura do orçamento devem ser adaptadas ao nível de detalhamento e complexidade necessário, levando em consideração a área de atuação da empresa, o seu porte e principalmente a cultura organizacional. Se uma organização ainda não possui um processo orçamentário organizado, não precisa desesperar-se, pois não há limites para a imaginação. O importante é que o processo cumpra os objetivos de suportar a montagem do orçamento em que as ações de planejamento, organização dos recursos e coordenação das ações estejam sendo executadas em favor da consecução das metas e dos objetivos estabelecidos no planejamento estratégico. O processo da montagem do orçamento tem início nas premissas e nos objetivos estabelecidos no planejamento estratégico aprovado com os seus planos e projetos de ações estratégicas. Assim, ficam definidos os objetivos, as metas e as políticas orçamentárias para a organização para o próximo período. Definidas essas premissas, cada departamento ou filial define os seus planos de ação, os quantifica em planilhas orçamentárias e envia ao setor da controladoria responsável para consolidar e fazer a simulação do orçamento geral da empresa. Se o resultado da simulação não MÓDULO III − PROCESSO ORÇAMENTÁRIO 36 atender às metas de resultados estabelecidos, serão realizadas negociações com cada departamento para redução de gastos ou definição pela diretoria de novas metas. Depois desse processo de negociação, se a nova simulação atender às metas e aos objetivos estabelecidos, o orçamento será apresentado para aprovação pelo conselho administrativo e pela presidência e, em seguida, é divulgado para toda a empresa. A partir da aprovação e depois do início do período de execução do orçamento, o departamento responsável começa a fazer o monitoramento e controle. A estrutura básica desse planejamento financeiro conhecido como orçamento é constituída das planilhas de projeções dos recursos necessários para cada departamento ou filial, consolidando-se em um orçamento geral para determinado período. O plano financeiro global das empresas é composto da parte do orçamento operacional e do orçamento financeiro. Nas figuras a seguir, apresentamos a estrutura básica do orçamento da indústria e do comércio. Figura 6 – Estrutura básica do orçamento na indústria Fonte: Elaborado pelo autor. 37 Figura 4 – Estrutura básica do orçamento no comércio Fonte: Elaborado pelo autor. Como apresentado nas figuras acima, o processo de elaboração do orçamento na indústria é mais complexo do que no comércio. Assim, vamos detalhar cada orçamento da parte operacional e financeira da indústria. Orçamento de vendas O orçamento de vendas, também conhecido como orçamento das receitas, tem como objetivo estimar o mix, a qualidade e as quantidades dos produtos a serem comercializados pela empresa durante o período de planejamento. Este orçamento representa o ponto inicial de todo o processo orçamentário e precisa ser estimado com atenção, pois os demais são dependentes das informações nele contidas. A qualidade do orçamento geral da empresa está intimamente ligada à qualidade das estimativas de vendas efetuadas. Quando as vendas são superestimadas, forçam o orçamento de produção a um volume que não ocorrerá na prática. Com isso, ocorre alocação e aquisição de recursos em um nível acima das reais necessidades. Assim, os custos operacionais ficam acima do necessário, impactando a diminuição dos lucros. Agora, quando subestimadas, a empresa prepara- se para um volume de produção abaixo das reais necessidades, perdendo oportunidades de negócio e de aumento dos lucros. 38 Existem algumas dificuldades na sua elaboração, como: Falta de bases estatísticas – O nosso País possui, ainda, poucas estatísticas confiáveis sobre vendas das indústrias e dos serviços; Diversidade de produtos e serviços – As empresas, normalmente, operam com muitos produtos e serviços o que, na prática dificulta a previsão; Oscilações do mercado – O mercado consumidor nem sempre se comporta como o esperado, nem sempre dados de períodos passados representam base sólida para previsões sobre vendas futuras; Diversidade de fatores – Outros fatores a considerar na previsão de vendas são: padrões de vendas de exercícios anteriores, volatilidade do macroambiente, estimativas de vendedores, condições gerais do mercado e concorrência, sazonalidades de produtos, planos de propaganda e promoção de vendas da empresa e da concorrência, etc. Para melhorar a assertividade na previsão de vendas, cada organização precisa desenvolver ferramentas que auxiliam essa tarefa. Existem dois métodos de estimativa de vendas: métodos estatísticos e métodos discricionários. Métodos estatísticos Os métodos estatísticos são aqueles que utilizam as ferramentas da estatística, como: correlação, análise vetorial, análise de tendências com regressão linear, pesquisa de mercado e market share. Estes são indicados para empresas que vendem para um número considerável de clientes, pois a decisão isolada de um cliente não afeta o resultado da empresa nem altera substancialmente as suas previsões de vendas. Como exemplo de empresas que usam esses métodos, temos: supermercados, transporte público, lojas de shopping, hospitais, etc. Métodos discricionários Estes métodos baseiam-se no julgamento e na expertise das pessoas envolvidas no processo de geração da receita. São apropriados para as empresas que vendem para um número reduzido de clientes, pois a decisão isolada de um cliente de deixar de comprar vai afetar o resultado. Um dos métodos discricionários é a coleta de dados nas fontes de origem das vendas. Essa coleta pode ser por meio de entrevistas com: equipes de vendas, gerentes de filiais, franqueados, concessionárias, etc. ou por meio de coleta dados do usuário final do produto. Assim, busca maior interação com os clientes para saber como serão as suas vendas. É o caso das montadoras que fornecem a previsão de produção para as indústrias de cabos elétricos automotivos. Cada empresa deve desenvolver um método e adaptá-lo às suas necessidades, sabendo que quanto maior a imprevisibilidade da receita maior a necessidade de se adotar uma postura conservadora. 39 Independentemente do método aplicado, a responsabilidade principal das previsões de vendas, normalmente, é do departamentocomercial da empresa, porém o ideal é formar um comitê com participação de outras diretorias, e não somente da comercial para discutir os números finais da previsão de vendas. Não é aconselhável deixar o comercial deliberar sozinho a previsão de vendas que será a sua meta para o próximo ano. Determinada a previsão de vendas, é possível iniciar o orçamento de produção. Orçamento de produção O orçamento de produção vai determinar as quantidades a produzir durante o ano planejamento. A sua elaboração baseia-se no mix e no volume de cada produto levantado no orçamento de vendas, nos níveis de inventário de produtos acabados que se tem e se deseja ao final do ano orçamento, e na capacidade de produção da empresa. A previsão do volume de produção pode ser calculada da seguinte forma: vendas previstas - estoque de produtos acabados previsto para o início do período + estoque de produtos acabados previsto para o fim do período = projeção do volume de produção Agora que se tem o volume a produzir, podemos começar a calcular todos os materiais diretos que serão consumidos na produção. Orçamento de material direto Estabelecida a previsão de produção para o período orçamentário, passa-se ao orçamento do material direto que estabelece o quantitativo destes. Essa previsão baseia-se nas quantidades previstas de utilização de cada material direto a um produto específico. São todos os materiais fisicamente identificados como parte dos produtos acabados e podem ser alocados aos produtos acabados de modo economicamente viável. São exemplos: tecido, madeira, parafusos e submontagens. Normalmente para produtos e serviços, as empresas possuem uma ficha técnica na qual está registrado o quantitativo de materiais e a mão de obra necessários para cada produto ou serviço. Não são considerados materiais diretos os utilizados na produção do produto acabado cujo custo de apropriação seja superior ao seu valor individual. O custo do controle não pode ser maior que o do item controlado. Esses itens são classificados como custos indiretos da fábrica. Assim, as compras de materiais diretos para o período podem ser estimadas com mais precisão. 40 Em empresas que não possuem processo orçamentário estruturado, as previsões de materiais baseiam-se em dados históricos que determinam a política de estocagem. Portanto, enquanto as compras são estimadas e estabelecidas pela política de estocagem que se baseia em dados passados, com a montagem do orçamento de materiais diretos, tanto as compras quanto a necessidade de capital de giro e, consequentemente, o saldo em tesouraria passam a ser estimados com base em projeções de necessidades futuras mais adequadas. Para determinar a quantidade de materiais que serão consumidos na produção, utiliza-se a fórmula a seguir. quantidade prevista de utilização por produto X volume previsto a produzir = quantidade total a utilizar na produção X preço unitário = custo total previsto de materiais diretos Orçamento de mão de obra direta O orçamento de mão de obra direta leva em consideração toda mão de obra que pode ser fisicamente associada a produtos acabados de forma economicamente viável. Como exemplos, temos: a mão de obra de operadores das máquinas, de montagem e de acabamento. Assim como acontece com os materiais diretos, devem-se apropriar nesta categoria apenas os gastos com mão de obra representativos. Os gastos com mão de obra de impossível identificação direta aos produtos devem ser classificados como custos indiretos de fabricação. Este orçamento possibilita uma previsão do total de mão de obra direta necessária ao processo produtivo durante o período de planejamento. Os custos apurados de mão de obra direta servirão de base para as projeções dos custos de cada produto, fluxo de caixa e resultado do exercício. Também auxiliará o departamento de pessoal no planejamento do período de férias bem como as contratações e demissões a serem efetuadas. Para calcular a mão de obra direta, utiliza-se a fórmula a seguir. quantidade prevista de aplicação de MOD por produto x volume previsto a produzir = quantidade total de MOD a utilizar na produção x taxa horária = custo total previsto de MOD Os materiais diretos e a mão de obra direta já estão calculados. Agora, para chegar ao custo dos produtos, é preciso calcular os custos indiretos de fabricação. 41 Custos indiretos de fabricação Os custos indiretos de fabricação são todos os custos da produção não classificados nos dois itens anteriores: mão de obra direta e material direto. Possuem diferentes denominações, e as mais comuns são: gastos gerais de fabricação e custos indiretos de fabricação. Os custos indiretos podem ser itens relacionados com materiais, pessoal e serviços. Os itens relacionados aos materiais podem ser separados, de acordo com a natureza das operações, em materiais necessários à fabricação, às ferramentas, aos materiais de escritório consumidos na produção, etc. Na categoria gastos de pessoal, estão relacionados os itens como salários, encargos sociais de mão de obra indireta, assistência médica, transporte de ida e volta para a fábrica, gastos com atividades culturais e esportivas. Como serviços são classificados os gastos com viagens, hospedagem, aluguel, telefone, frete, etc. Existem itens de gastos não classificados nas categorias anteriormente citadas. São aqueles ligados aos processos de depreciação dos bens materiais, exaustão dos direitos sobre recursos naturais ou amortização dos bens imateriais. Os custos indiretos devem ser classificados em variáveis ou fixos em função de alguma base de alocação que normalmente é o volume de fabricação. Custos variáveis Os custos variáveis são proporcionais ou variam, conforme o volume de produção, mas também esses comportamentos podem ser observados somente em determinada faixa ou nível de atividade. Os custos variáveis costumam ser fixos por unidade de produção, ou seja, os custos variáveis unitários são fixos. Veja no gráfico 1 o que foi descrito acima. Gráfico 1 – Custos variáveis Fonte: Elaborado pelo autor. 42 Custos fixos Os custos fixos são aqueles que, em determinada faixa de atividade, não variam proporcionalmente ao volume de produção. Os custos fixos unitários são variáveis conforme o volume de produção, pois quanto maior a produção, menor será o custo fixo unitário. Durante o processo orçamentário, é de fundamental importância avaliar a ociosidade dos custos fixos instalados, como máquinas, equipamentos e instalações. Definido o volume de produção para o próximo ano orçamento, pode-se avaliar o nível de ociosidade que poderá ser reduzida pela desmobilização ou terceirização. A ociosidade não tratada nesta fase de planejamento orçamentário vai impactar o custo dos produtos do próximo ano. Veja no gráfico 2 os custos fixos. Gráfico 2 – Custos fixos Fonte: Elaborado pelo autor. Custos semivariáveis Além dos custos fixos e dos custos variáveis, existem os custos ditos semivariáveis, aqueles que possuem uma parcela fixa e uma variável em função de uma base de alocação. Para fins de montagem do orçamento de custos indiretos de fabricação, esses custos semivariáveis devem ser desmembrados nas suas parcelas fixas e nas suas parcelas variáveis. 43 Veja no gráfico 3 os custos semivariáveis. Gráfico 3 – Custos semivariáveis Fonte: Elaborado pelo autor. A classificação dos custos segundo a função do volume de produção é importante para a montagem de orçamentos flexíveis, que veremos mais adiante, utilizados no controle orçamentário. Também serve para análises de custo-volume-lucro e decisões sobre políticas de preço. Entende-se por controlabilidade dos gastos a relação de discricionariedade, ou seja, poder do responsável do departamento de tomar decisão que julgar convenientee oportuna diante de determinada situação com relação aos gastos. Para classificar os itens de custo em controláveis e incontroláveis depende do nível de comando do responsável pelo centro de custo em relação ao item específico. Quanto mais alto o nível organizacional do responsável, maior poderá ser o seu grau de controlabilidade. A alta gestão possui controle ou poder de ação sobre todos os itens de custos ou despesas. A separação dos gastos em função da controlabilidade possui utilidade para os relatórios de controle orçamentário e avaliação de desempenho de cada departamento. Quando nos relatórios de controle são computadas todas as despesas incorridas em um centro de custo, procura-se avaliar o setor da empresa. Quando são apresentados somente os itens controláveis, procura-se avaliar o responsável pelo centro de custos ou despesas. 44 Processo de elaboração dos custos indiretos O processo de elaboração do orçamento de custos indiretos de fabricação possui as seguintes etapas básicas: 1. Identificação e classificação dos itens de custos indiretos – em função da natureza das atividades da empresa e relevância dos itens de custos. Como exemplo dessa identificação e classificação, temos: mão de obra ou força de trabalho indireta – custo com supervisão, apontadores, pessoal de limpeza, pessoal de recebimento e almoxarifado, inspeção, etc.; materiais e suprimentos de operação – neste item estão todos os materiais não alocados diretamente em função de difícil identificação com o produto, também os materiais que em virtude de não ser economicamente viável a alocação direta, como combustíveis, lubrificantes e demais; gastos com ferramentas perecíveis – as várias ferramentas utilizadas no processo de fabricação que perdem a sua utilidade com o uso; manutenção preventiva e corretiva – serviços de manutenção ou reparo de imóveis, máquinas e instalações; encargos sociais – INSS, provisão de férias, provisão de 13º salário, seguro, FGTS, PIS, etc.; materiais defeituosos – materiais não aprovados no controle de qualidade que podem ser computados como perdas do período ou geram retrabalho. outros gastos – viagens, hospedagem, impostos, aluguéis, telefones, depreciações, fretes, etc. 2. Classificação dos centros de custos em diretos e indiretos – Os classificados como centro de custos diretos em que os processos de produção são efetuados. Nestes os processos de transformação da matéria-prima ocorrem devido à ação da força de trabalho direta e dos custos indiretos. São exemplos oficinas, estamparia e confecção, ou seja, os setores de produção das fábricas. Os indiretos representam os centros de custos que compõem o processo produtivo por meio de serviços de apoio como manutenção, engenharia, controle de qualidade, logística e administração geral da fábrica. Para efeito de controle, os custos indiretos de fabricação devem ser apropriados aos diversos centros de custo antes de serem apropriados aos produtos finais. 45 3. Definição das bases de alocação dos custos aos diversos setores da fábrica – Pode-se estabelecer o seguinte critério de bases de alocação dos custos aos centros de custos: material indireto – conforme estimativa de requisição de material; mão de obra indireta – classificação da força de trabalho indireta estimando tempo de dedicação a cada atividade; combustíveis – conforme estimativa de consumo; luz – pontos de luz ou por meio de estimativa de demanda de cada centro de custo; telefone – conforme número de linhas e estimativa de gastos; manutenção preventiva e corretiva – previsão de horas de manutenção requeridas pelos equipamentos de cada setor ou centro de custo; seguros – conforme metragem quadrada de cada setor e grau de risco; depreciação – conforme levantamento patrimonial e a estimativa de despesas de depreciação de máquinas, equipamentos e instalações de cada centro de custo. 4. Levantamento das bases de alocação dos gastos dos centros de custos indiretos aos centros de custo diretos – Os centros de custo de serviços de apoio, por não atuarem nos processos de transformação, possuem as suas atividades dirigidas para a prestação de serviços aos centros de custos ou departamentos caracterizados como diretos. A apropriação dos seus custos, portanto, deve ser direcionada de acordo com os serviços prestados a esses centros. Os serviços prestados devem ser apropriados de acordo com uma base lógica de alocação, como citado a seguir. Os custos do centro de manutenção geral da fábrica podem ser apropriados em função da área de cada centro de custo direto. Os serviços do setor de gerência geral da fábrica em função do valor da força de trabalho direta. O processo de apropriação dos custos indiretos deverá ser feito, na medida do possível, utilizando uma relação de causa e efeito entre os gastos e as atividades que os estão consumindo. Dependendo da importância dos valores envolvidos, e a fim de estabelecer processos de apropriação mais precisos possíveis, certas empresas estão investindo em apontamentos detalhados dos processos, das atividades e das tarefas que consomem os custos. Dessa forma, a apropriação é feita utilizando os direcionadores de custos descritos no método de custeio baseado em atividade ou método activity based costing. Orçamento de despesas administrativas O orçamento das despesas administrativas inclui a alta direção da organização e os departamentos de estafe, com exceção dos departamentos de marketing, pesquisa e desenvolvimento. Nas organizações com divisões ou superintendências, o gerente de divisão e o seu estafe são também classificados como centro de despesas administrativas. Grande parte dos elementos da despesa administrativa é também discricionária. 46 A maior parte dos produtos e serviços de um escritório de estafe é assessoramento e serviço. Não existem meios de medir o seu valor ou mesmo a quantidade desse produto ou serviço. Como os produtos dos departamentos de estafe não podem ser medidos, não é possível determinar um custo padrão para comparar com o desempenho financeiro contra estes. As variações no orçamento, portanto, não podem ser interpretadas como um desempenho eficiente ou ineficiente. Mesmo quando o orçamento é estimado em tarefas ou atividades, os resultados não podem ser interpretados em termos de ineficiência ou eficiência. É o caso de o departamento financeiro receber uma dotação orçamentária para desenvolver um sistema de avaliação do custo padrão. Uma simples comparação do custo orçado com o custo real não apontaria de forma alguma quão efetiva e eficientemente o trabalho realizado. Um sistema fraco de desenvolvimento e implementação teria sido realizado por um valor inferior ao orçado. Nos departamentos de estafes administrativos é interessante para o administrador ter um setor o mais excelente possível. Aparentemente, pode ser que quanto maior for a qualidade do departamento, melhor para a organização. Na verdade, grande parte depende de como se define um excelente departamento. Veja os exemplos: Um excelente estafe no jurídico não deve nunca permitir a mínima falha em qualquer contrato ou acordo que ele aprove, porém o prejuízo potencial de falhas pequenas não detectadas pode ser bem menor que os gastos de assegurar a perfeição. O ótimo departamento de controladoria da empresa pode responder, imediatamente, a qualquer questão a respeito de dados financeiros e contábeis, entretanto o custo de um sistema para realizar isso pode exceder muito os benefícios produzidos. É do interesse do gerente de capacitação e treinamento ter equipamentos de ensino completos e atualizados, contudo os benefícios recebidos podem não valer esse custo. Então, como descrito, o estafe pode desejar desenvolver o sistema, o programa ou a função ideais, porém o ideal pode custar mais do que os benefícios adicionais que ele gera. Pode existirtambém um desejo de construir impérios ou para proteger a própria posição sem se observar qual o custo para a companhia. Em empresas de pequeno e médio porte, o gestor operacional usa o seu time de estafe diariamente e pode determinar pela proximidade o que eles estão fazendo e se está compensando o seu gasto. Isso ocorre também em empresas com baixos lucros, e as despesas discricionárias são normalmente mantidas sob rígido controle. Em uma grande empresa, a alta direção não tem a proximidade para conhecer e avaliar todas as atividades do time de estafe. Logo, em uma empresa que tem altos lucros, existe a tentação de acompanhar as solicitações do time de estafe por mais verbas nos seus orçamentos. 47 Formulação do orçamento administrativo Existem vários modelos de orçamento que procuram alocar e controlar melhor esses gastos. São alguns exemplos: orçamento base zero, orçamento matricial, orçamento baseado em atividades. Mas, de uma forma geral, nas empresas bem administradas, a proposta orçamentária dos gastos administrativos de cada departamento de estafe consiste em: uma seção descrevendo e quantificando os custos básicos do órgão de estafe, incluindo os custos de estar no negócio, acrescidos os custos de todas as atividades que tenham obrigatoriedade de serem realizadas e para as quais nenhuma decisão administrativa geral é necessária; uma seção descrevendo todas as outras atividades do órgão de estafe, incluindo o detalhamento das finalidades e dos custos de cada uma. O nível de detalhamento depende do valor envolvido e da habilidade da administração de avaliar e decidir sobre as atividades. No caso do departamento de análise financeira, um nível limitado de detalhe pode ser suficiente, porque a administração não precisa fazer uma revisão das suas funções e atividades a cada ano; uma seção explicando e detalhando todos os aumentos do orçamento; uma seção priorizando as atividades e destacando que atividades poderiam ser reduzidas ou cancelas se o orçamento fosse reduzido em 5% ou 10%; uma seção explicando quais atividades poderiam ser aumentadas ou implementadas se o orçamento pudesse ser aumentado de 5% a 10%. Importante observar que essas seções somente devem ser exigidas dos departamentos nos quais o orçamento é grande e para o qual a administração deseja decidir e avaliar toda a extensão das atividades do departamento. Para os demais departamentos de estafe, a quantidade de detalhamento depende da importância dos gastos e das exigências da administração. Esses detalhamentos são importantes para que a administração possa decidir o nível da atividade administrativa. Portanto, a apresentação deve ter foco em proporcionar as informações necessárias para uma decisão inteligente. Apesar de alguns itens anteriores não serem preparados na maioria das empresas, eles podem ser de importância capital para a decisão da administração. Com efeito, eles indicam os custos das atividades e são utilizados pela administração para avaliação dos custos e benefícios, levando em consideração as verbas disponíveis. A questão para a administração é que, mesmo nos melhores cenários, os sistemas de orçamento e contabilidade são limitados na determinação do nível ótimo dos gastos administrativos. Assim, a decisão de qual valor gastar tem de se basear no discernimento do gestor. 48 As decisões levando em consideração os custos e benefícios se tornam mais difíceis tanto quanto os grupos de estafe são mais numerosos e especializados. Normalmente, as empresas possuem vários grupos de estafe ligados ao presidente, tais como: controladoria, jurídico, tesouraria, tecnologia da informação (TI), relações institucionais e relações com o governo, entre outros. O chief executive officer (CEO) ou diretor executivo, em geral, não tem nem tempo nem mesmo conhecimento especializado nas diversas áreas para exercer mais do que um controle superficial sobre essas atividades. Assim, as grandes empresas nomeiam um vice-presidente executivo ou diretor administrativo com o qual a maior parte das funções de estafe estará ligada. Dessa forma, melhora o controle necessário sobre essas atividades de estafe. A relação dos itens de despesas deve ser coerente com a classificação adotada nos orçamentos de centros de custos da área de produção. Podem-se adotar os itens: força de trabalho ou mão de obra; material de escritório; energia – luz e equipamentos, como os computadores; estimativa de demanda de cada setor caso haja medidores de força para órgão de estafe; seguros – conforme metragem quadrada de cada setor e classificação de riscos dos equipamentos; manutenção e reparos – previsão de horas de manutenção requeridas pelos equipamentos; combustíveis – conforme previsão de consumo de cada departamento de estafe; telefone – conforme número de linhas e previsão de gastos e depreciação – conforme dados levantados pelo setor de patrimônio sobre as despesas de depreciação de bens móveis, equipamentos e imóveis. Orçamento de pesquisa e desenvolvimento Para o orçamento de pesquisa e desenvolvimento, a administração deve tomar três decisões quanto ao custo. Ela deve, para um horizonte de longo prazo, decidir: o nível de comprometimento financeiro para pesquisa e desenvolvimento ao longo dos próximos anos; o direcionamento dos esforços de pesquisa e desenvolvimento e avaliar a eficácia do grupo de pesquisa e desenvolvimento. Essas são decisões que não estão relacionadas com o ano orçamento. São decisões alicerçadas na visão de longo prazo de acordo com os planos estratégicos da empresa. Como normalmente, dependendo da área de atuação, as pesquisas e o desenvolvimento de novos produtos levam vários anos, por isso é necessário o desenvolvimento de planos e políticas de aplicação de recursos em longo prazo. Esse plano deve ser revisto e alterado periodicamente. O plano de longo prazo é o norteador de alocação de verba para o orçamento de pesquisa e desenvolvimento, imprimindo uma visão de longo prazo e continuidade das pesquisas. 49 Se, todavia, o orçamento de pesquisa e desenvolvimento é deliberado anualmente, fica difícil fazer mudanças inteligentes, porque o impacto de qualquer alteração não atinge um único ano. Esse plano de longo prazo com as suas políticas, as suas metas e os seus objetivos pode ser usado como um guia para: aprovação de projetos específicos e aprovação do orçamento anual. Projetos específicos Independentemente do plano de longo prazo, a administração deve decidir a direção dos gastos em pesquisa e desenvolvimento. É importante ressaltar que os recursos não são ilimitados, e todos os órgãos de estafe têm os seus novos projetos. Para uma melhor alocação dos recursos disponíveis para pesquisa e desenvolvimento é importante criar um comitê de pesquisa com o objetivo de rever e aprovar projetos individuais – ou grupos de projetos – antes que eles sejam assumidos pelo departamento de pesquisa. Assim, a administração consegue controlar a direção dos gastos. O comitê de pesquisa deve, com os recursos disponíveis ou propostos no plano de longo prazo, analisar e aprovar os projetos específicos que serão implementados. A sua principal preocupação é se a quantia requerida deveria ser gasta na pesquisa proposta. O controle periódico dos custos aprovados comparados com os custos reais por projeto é um dos instrumentos de controle para os gastos com a pesquisa. É importante destacar que as variações de custos das estimativas originais do projeto não representam necessariamente ineficiência, elas podem ser causadas por muitos outros fatores além da capacidade do pesquisador. Orçamentos anuais Quando a empresa possui um plano de desembolso em longo prazo para os gastos de pesquisa e desenvolvimento e implementou o comitê de pesquisa como um sistema de análise e aprovação de projetos, a preparação do orçamento anual de pesquisa e desenvolvimentofica descomplicada. O orçamento anual vai refletir as despesas esperadas para o período do orçamento. Quando o orçamento anual está em conformidade com o plano em longo prazo de pesquisa e desenvolvimento, a aprovação do orçamento se torna rotina, e a sua principal função será no planejamento de caixa, o momento da preparação do orçamento, a administração, a oportunidade de reavaliar mais uma vez o plano de pesquisa e desenvolvimento. Ou seja, a pergunta a ser respondida é: esta é a melhor maneira de alocar os recursos para o próximo ano? Além do que o orçamento anual assegura que os custos reais não ultrapassarão os valores orçados sem que a administração tome conhecimento disso. Todas as variações significativas do orçamento devem ser previamente aprovadas pela direção antes que sejam incorridas. 50 Considerações sobre orçamento de pesquisa e desenvolvimento Com a vertiginosa evolução das tecnologias e do conhecimento humano aplicado à disponibilização de bens e serviços, toda companhia depende da pesquisa para que os seus produtos atuais e futuros mantenham-se atualizados em face da concorrência, por isso é vital que os valores investidos sejam gastos nas coisas certas e que o esforço de pesquisa seja assessorado por pessoas altamente competentes. A controladoria auxilia de forma limitada as tomadas de decisões corretas neste orçamento de pesquisa e desenvolvimento. As despesas desse orçamento são similares às dos investimentos de capital. Dessa forma, o orçamento anual é um instrumento insatisfatório para a tomada de decisões nesse assunto. Como as despesas de pesquisa e desenvolvimento são controladas em termos de projetos, é vital ter um comitê de pesquisa com sistema de aprovação e revisão de projetos estabelecido. A contabilidade é responsável pelo registro e pela manutenção dos dados referentes aos custos reais dos projetos e pela apresentação dos resultados. O erro de julgamento relativo ao valor ou à direção das despesas pode ser muito maior em pesquisa do que na administração pelo seu caráter de longo prazo, por isso pode levar muito mais tempo para corrigir os efeitos de um erro nos gastos nessa área. Esses problemas descritos acima se aplicam muito mais à pesquisa que ao desenvolvimento. É importante ressaltar também que o CPC-04 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis faz a distinção entre pesquisa e desenvolvimento. No caso da pesquisa, todos os dispêndios com pesquisa devem ser reconhecidos como despesa no período em que forem incorridos. São exemplos de atividades de pesquisa, segundo o CPC-04: atividades destinadas à obtenção de novo conhecimento; busca, avaliação e seleção final das aplicações dos resultados de pesquisa ou outros conhecimentos; busca de alternativas para materiais, dispositivos, produtos, processos, sistemas ou serviços e formulação, projeto, avaliação e seleção final de alternativas possíveis para materiais, dispositivos, produtos, processos, sistemas ou serviços novos ou aperfeiçoados. Todos esses gastos são considerados como despesas do período em que ocorrem, porém o desenvolvimento de novos produtos ou serviços pode ser ativado, pois vai gerar benefícios por muitos períodos. Para o reconhecimento desse ativo intangível fruto do desenvolvimento, a empresa precisa demonstrar todos os aspectos a seguir: viabilidade técnica para concluir o ativo intangível de forma que ele seja disponibilizado para uso ou venda; intenção de concluir o ativo intangível e usá-lo ou vendê-lo; capacidade para usar ou vender o ativo intangível; 51 forma como o ativo intangível deverá gerar benefícios econômicos futuros – entre outros aspectos, a entidade deverá demonstrar a existência de um mercado para os produtos do ativo intangível ou para o próprio ativo intangível ou, caso este se destine ao uso interno, a sua utilidade; disponibilidade de recursos técnicos, financeiros e outros recursos adequados para concluir o seu desenvolvimento e usar ou vender o ativo intangível e capacidade de mensurar com segurança os gastos atribuíveis ao ativo intangível durante o seu desenvolvimento. Essa separação dos gastos em pesquisa e desenvolvimento é fundamental para a confecção dos relatórios financeiros, como a demonstração do resultado do exercício e o balanço patrimonial projetado do período orçamento. Orçamento de despesas de marketing O orçamento das despesas de marketing inclui os gastos com venda, publicidade, promoção de vendas, armazenagem e entrega. O marketing tem uma característica diferente das áreas administrativas e de pesquisa, pois possui atividades totalmente heterogêneas. Consequentemente, para o controle é necessário utilizar várias técnicas. As despesas de marketing podem ser divididas em três tipos para efeito de controle: despesas após a venda; despesas do tipo administrativas e custos de obtenção dos pedidos. Despesas após a venda Gastos em operações industriais, tais como: despesas de embarque e expedição, comissões de vendedores e custos tributários. Estes custos podem ser controlados por meio do orçamento flexível, ajustado para refletir os custos em diferentes níveis de operação. As técnicas de orçamento flexível são aplicáveis principalmente às verbas com uma relação mais direta com o nível de atividade, e nem todas as verbas do departamento possuem essa característica. Contudo, a incapacidade de reconhecer esse fato pode causar confusão. Por exemplo, um orçamento fixo neste caso pode resultar em situações de desigualdade quando o volume de vendas é alto, gerando um alto valor de comissões; pode-se tentar resolver o problema colocando todo o orçamento de vendas em uma base flexível. Em alguns casos, pode-se encontrar uma correlação razoável entre o volume de vendas e o valor empregado em algumas verbas após a venda. 52 Despesas tipo administrativas A maioria dos orçamentos de marketing inclui custos do tipo administrativo, a não ser que a empresa terceirize a atividade de marketing. Existe, normalmente, um estafe básico no departamento além de outras atividades auxiliares, como pesquisa publicitária. O estafe básico é necessário para permanecer no negócio, mas a pesquisa publicitária pode ser alterada por uma decisão administrativa. Estes gastos do orçamento de vendas devem ser tratados como qualquer outro orçamento de estafe administrativo. Custos de obtenção dos pedidos Estes custos têm duas características importantes que afetam diretamente o problema de controle. São elas: O resultado de um departamento de marketing deve ser medido. Existe uma dificuldade para avaliar a eficiência do esforço de marketing, porque o macroambiente no qual atua não pode ser controlado. Esse macroambiente se altera de acordo com as condições econômicas, ações dos concorrentes, preferências dos consumidores, etc. As limitações orçamentárias para a área serão normalmente apenas uma pequena parte que influencia a avaliação do desempenho de marketing. Se a equipe de marketing vender duas vezes mais que a sua meta, ninguém se aborrecerá se para isso ela exceder o seu orçamento em 10%. O impacto no lucro devido às vendas é tão significativo que ele tende a ofuscar completamente o custo de 10% a mais. A maioria das empresas não avalia a equipe de marketing pela sua capacidade de ajustar-se às suas metas de custos. As metas de vendas são o fator crítico na avaliação. Considerações sobre o orçamento de marketing Na alocação da verba para a obtenção de pedidos, o objetivo é gastar um real adicional se o seu retorno em vendas adicionais for mais do que suficiente na geração de lucros. Uma das principais decisões que a administração deve tomar é quando parar a publicidade. Isso é particularmente complicado porque existem muitas decisões inter-relacionadas. Por exemplo: existirão pontos ótimos para o veículo de comunicação, para locações geográficas e para produto.Assim como na pesquisa, só dados contábeis não proporcionam muitas informações relevantes para essas decisões. A administração deve ser ágil para alterar as despesas planejadas de obtenção de pedidos. As condições do macroambiente podem mudar rapidamente, e é necessário que os planos de propaganda e publicidade sejam adaptáveis e flexíveis o bastante para mudar com elas. É de suma importância que o orçamento do departamento de marketing não seja uma camisa de força que impeça as necessárias ações administrativas. 53 Orçamento de compras O orçamento de compras tem o objetivo de fazer a previsão do volume de compras para o ano orçamento. Esta previsão deverá ser detalhada demonstrando os volumes e valores das compras mês a mês. Este orçamento é importante, pois analisa o processo logístico e de estoques mínimos de disponibilização dos materiais necessários ao processo produtivo. É por meio dele que se negociam os prazos de pagamento junto aos fornecedores, sendo a base para a montagem do fluxo de caixa projetado, que faz parte do orçamento financeiro. Para a preparação deste orçamento é necessário responder a algumas perguntas básicas: O que comprar? Quanto comprar? Quando comprar? De quem comprar? Como pagar? Os insumos a comprar são aqueles necessários tanto ao processo produtivo como também à área administrativa e aos projetos de investimentos. Tudo isso feito em função da previsão de demanda estabelecida na preparação dos orçamentos de todos os insumos, no momento da sua utilização para não ter falta de estoque. O departamento de compras ou aquisições deverá possuir uma previsão de aquisições para as seguintes categorias de materiais: materiais diretos; materiais indiretos; materiais diversos e materiais de novos investimentos. Este orçamento leva em consideração todos os parâmetros gerenciais estabelecidos nas políticas de estocagem da empresa. Por ocasião da preparação do processo orçamentário, essas políticas devem ser revisitadas e reavaliadas, estabelecendo-se, quando necessário, novas diretrizes para estas. Assim, ao preparar o planejamento de compras, deve-se considerar o modelo de previsão de compras da empresa. Materiais diretos Como as quantidades que serão consumidas na produção já foram individualizadas no orçamento de materiais diretos, agora se pode calcular, de acordo com a política de estoque mínimo, o volume de cada material a adquirir. Importante lembrar que a previsão de demanda estabelecida na política de estoque mínimo é com base no controle de inventário, que normalmente é calculado por intermédio de algum modelo de lote econômico que possui visão de dados de períodos passados. A administração de materiais é uma ciência que possui várias ferramentas de gestão de estoque que não são o foco desta apostila, mas que devem ser levadas em consideração. 54 O responsável pelo departamento de compras deve empregar todas as ferramentas disponíveis para evitar ruptura de estoque, melhorar o giro e evitar as perdas de estoque. Assim, não entrando em considerações mais aprofundadas na administração de materiais, são previstos os materiais diretos a comprar para cada mês do ano de planejamento conforme cálculo a seguir: quantidade de materiais requisitados para a produção + estoque final - estoque inicial = unidades a adquirir x preço unitário = custo total da compra de material direto Materiais indiretos No orçamento dos materiais indiretos, normalmente, estes não são individualizados. É feita, apenas, uma previsão estatística do volume a demandar em cada centro de atividade produtiva. Considerando as técnicas de administração de materiais e levando em consideração o controle de inventário, tem-se condição de fazer uma previsão de compras dos itens estocáveis, para cada mês do ano planejamento. Materiais para projetos de investimentos Esta previsão está alicerçada nos valores aprovados previamente nos orçamentos de investimentos. Normalmente, dependendo do porte da empresa, estes projetos de investimentos são aprovados levando em consideração o plano de gerenciamento do projeto que foi preparado pelo project management office (PMO) da empresa, ou seja, pelo escritório de gerenciamento de projetos. Este plano possui o detalhamento de todo o projeto, como: escopo, cronograma, custos, aquisições, qualidade, recursos humanos e riscos, entre outros. Dessa forma, na parte do plano de projetos que detalha as aquisições e os custos, tem-se ali um orçamento, uma base line de custos e o fluxo de caixa do projeto. Assim, quando a empresa está estruturada com este departamento, o orçamento de compras fica mais facilitado. Esses dados são fundamentais tanto para o orçamento de compras como para fins de controle posteriormente, porém, quando a empresa não tem um PMO, o departamento de compras deverá detalhar, por meio de avaliadores de custos próprios ou terceirizados, todos os recursos necessários para a realização do projeto de investimento. 55 Orçamento de investimentos Neste item, é importante ressaltar que a empresa possui vários tipos de projetos. Os conhecidos como capital expenditure (Capex), ou investimentos em capital, que significa o montante dos gastos realizados em equipamentos e instalações para manter a produção de um produto ou serviço ou manter em funcionamento um negócio ou até um determinado sistema. Estes tipos de projetos são ativados em função da vida útil e dos benefícios que vão gerar. É importante ressaltar que outros tipos de projetos devem ser lançados como despesas do período, como: a busca de alternativas para materiais, dispositivos, produtos, processos, sistemas ou serviços; ou a formulação, projeto, avaliação e seleção final de alternativas possíveis para materiais, dispositivos, produtos, processos, sistemas ou serviços novos ou aperfeiçoados. Estes tipos de projetos, segundo o CPC-04 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis sobre ativos intangíveis, devem ser lançados como despesas do período. Esse reconhecimento é importante, pois esses gastos vão para a demonstração do resultado do exercício, e não para o balanço patrimonial. Quando tratamos dos projetos de investimentos, que são ativados, a importância deste orçamento está no fato de que decisões sobre investimentos, normalmente, impactam a rentabilidade e a lucratividade de vários exercícios, e representam valores vultosos. Esses gastos em Capex podem ser classificados, pela natureza da atividade exercida, de diversas formas. Podem ser investimentos para: manutenção do nível de atividade – São propostas aquisições de bens, reforma ou construção de imóveis com a finalidade de reposição de bens com baixa, obsoletos ou paralisados por danos ou recuperação de instalações existentes; aumento da capacidade de produção – Representam os mesmos itens de investimento para aumento quantitativo ou qualitativo do nível de atividade e função social da empresa – São exemplos desta modalidade investimentos em programas de adoção de praças e jardins, despoluição, áreas de lazer para os funcionários, etc. Nos casos de troca de equipamentos e instalações, é importante ressaltar que a venda desses imobilizados gera receitas que vão impactar o orçamento do fluxo de caixa. Fluxo de caixa projetado O orçamento do fluxo de caixa projetado para períodos longos como um ano possui um grau de imprecisão, pois se baseia em valores orçados nas demais peças orçamentárias. Assim, a depender da qualidade e do grau de confiabilidade dos valores estimados, principalmente nos orçamentos das receitas e das compras, esse fluxo de caixa representará um importante instrumento para a gestão financeira do próximo período. 56 Este orçamento possui os seguintes objetivos básicos: prever o saldo de caixa no início e no término de cada período; determinar a previsão dos recebimentos e desembolsosde cada período e avaliar a necessidade de financiamentos e possibilidades de investimentos. O orçamento de caixa é preparado depois da elaboração dos demais orçamentos, devido à sua dependência na utilização dos dados elaborados por aqueles. Em função dos valores apurados no fluxo de caixa, em cada período, pode haver a necessidade de revisão no orçamento, devido ao grau de impacto no fluxo de caixa para o período. É importante lembrar que o processo orçamentário é um instrumento de planejamento e coordenação de recursos para a consecução da estratégia da empresa, sendo os recursos financeiros elemento fundamental nesse processo. Para a elaboração do orçamento de fluxo de caixa é necessário o levantamento de dados como: dados básicos: dados financeiros operacionais normais da empresa, como receitas de vendas, despesas com compras, mão de obra, impostos, etc. e dados de investimentos, como receitas e despesas com aquisição e venda de imóveis, equipamentos, instalações, etc. dados complementares: prazos normais de recebimentos e pagamentos realizados pela empresa; recebimentos ou pagamentos de juros e previsão das receitas que não poderão ser recebidas – devedores duvidosos. Uma vez definidos os prazos e as políticas de pagamentos e recebimentos, e aprovados pela diretoria financeira e controladoria, deverão ser feitas as previsões de recebimento das receitas e o pagamento das despesas. Demonstração de resultado projetado Em todas as etapas anteriores, foram geradas as informações necessárias para a montagem da demonstração do resultado do exercício projetado para o ano orçamento. A montagem deste demonstrativo visa possibilitar a projeção do resultado econômico da empresa. Dessa forma, pode- se avaliar o desempenho operacional e o resultado econômico apontado, que deverá ser comparado com as metas e os objetivos de resultados projetados no plano estratégico e aprovado pelo conselho de administração. 57 Este é um momento importante no processo orçamentário, pois, quando o resultado apontado neste demonstrativo não atende às metas estabelecidas, a controladoria terá de reestruturar o orçamento todo. A reestruturação passa por rodadas de negociações para a redução de gastos de todos os departamentos. As metas de redução de gastos dos departamentos devem ser feitas de forma a avaliar o que é realmente necessário para melhorar o desempenho da empresa como um todo. As reduções de gastos jamais devem ser feitas de forma linear, de cima para baixo em todos os departamentos. Devem ser realmente negociadas. Balanço patrimonial projetado Nem todas as empresas, no processo orçamentário, projetam o balanço patrimonial, visto que, com a demonstração do resultado do exercício e o fluxo de caixa, já possuem informações suficientes para a aprovação do plano financeiro do próximo período. Para a montagem deste demonstrativo, parte-se dos saldos do balanço patrimonial do ano anterior e projetam-se, a partir das movimentações dos valores estimados de cada conta no ano orçamento, os saldos finais de todas as contas do ativo, do passivo e do patrimônio líquido. Podem-se destacar pelo menos três razões da importância na preparação deste demonstrativo. O balanço projetado: ajuda na conferência da montagem das demais peças orçamentárias; possibilita uma análise econômico-financeira da empresa e fornece dados para a análise da administração do capital de giro da empresa. Estando todos os demonstrativos do orçamento financeiro prontos, é o momento de levar o orçamento completo para a aprovação do conselho de administração. Assim, fica aprovado o planejamento financeiro para o ano orçamento que certamente estará alinhado estrategicamente, mantendo a empresa nos trilhos a caminho da sua visão de longo prazo. A partir do primeiro dia do ano orçamento, o plano financeiro é colocado em prática, e começa então o momento de se fazer o seu acompanhamento e controle sistemático. No próximo módulo, serão apresentadas as ferramentas do controle orçamentário que realiza a comparação do orçado versus o realizado, com vista à avaliação das variações operacionais e comerciais para a adoção de medidas corretivas. 58 Considerações finais Este módulo apresentou todo o processo orçamentário, que se divide em orçamento operacional e orçamento financeiro. O orçamento operacional inicia-se com a previsão de vendas e se desdobra em vários orçamentos da parte operacional. Depois, são preparados os demonstrativos projetados, como: demonstração do resultado do exercício, fluxo de caixa e balanço patrimonial, que representa a parte financeira do orçamento. É importante destacar que todo esse processo deve ser realizado de forma participativa para ter o engajamento de todos os colaboradores. Este módulo é dedicado ao controle orçamentário, pois somente se gerencia aquilo que se controla. Sem controle o orçamento não serve aos seus objetivos de planejamento financeiro, muito menos pode auxiliar a empresa como um garantidor o alinhamento estratégico. O controle serve para garantir que as decisões tomadas realmente ocorram. Então, será abordado o controle orçamentário das variações comerciais e operacionais demonstrando ferramentas para controle dos centros de custos padrão e dos gastos discricionários. O sistema de controle gerencial orçamentário consiste na sistematização de procedimentos de acompanhamento e análise das atividades propostas no plano financeiro utilizando ferramentas que possibilitam a comparação do orçado versus o realizado mês a mês. Neste processo de controle, depois da comparação do orçado versus o realizado, é necessária uma criteriosa análise das variações encontradas e desenvolver planos de ações corretivas para convergir o resultado do período à meta estabelecida. Para melhorar a eficácia do sistema de controle gerencial, a entidade é dividida em unidades organizacionais como departamentos, filiais e unidades de negócios. O sistema de controle gerencial foca os vários tipos de departamentos ou centros de responsabilidade, que são as unidades organizacionais sob a responsabilidade de um gestor. Cada departamento adquire recursos, processa e produz atividades ou resultados. Esses departamentos são classificados de acordo com o grau que os insumos e resultados são mensurados para alocação de recursos orçamentários e avaliação de performance. MÓDULO IV – CONTROLE ORÇAMENTÁRIO 60 Controle operacional No momento em que comparamos o orçado versus o realizado, podemos utilizar como comparação o orçamento estático e o orçamento flexível. Este processo ocorre a posteriori do planejamento orçamentário, ou seja, quando se realizarão os relatórios de desempenho dos departamentos e da empresa como um todo. Quando se utiliza o orçamento estático, comparam-se os resultados e os gastos efetivamente incorridos com os do orçamento geral, consideram-se os valores projetados e os realizados. Acompanhe o exemplo a seguir. A Lela Dreams Doceria (@dreamslela) produz bolos de aniversário. Para o mês de maio, preparou um orçamento para produzir 9.000 bolos. A ficha técnica dos insumos consumidos para a fabricação do bolo é apresentada a seguir: Ficha técnica de produção da Lela Dreams Doceria quantidade descrição do insumo preço do insumo custo variável por bolo 1 kg farinha especial 3,80/kg R$ 3,80 250 g manteiga sem sal 24,00/kg R$ 6,00 0,5 h mão de obra direta 10,00/h R$ 5,00 total R$ 14,80 Assim, para produzir 9.000 bolos, foi estimado: quantidade descrição do insumo R$ do insumo custo da produção 1 kg x 9.000 = 9.000 kg farinha especial 3,80/kg R$ 34.200 250 g x 9.000 = 2.250 kg manteiga sem sal 24,00/kg R$ 54.000 0,5 h x 9.000 = 4.500 h mão de obra direta 10,00/h R$ 45.000 custos fixos* R$ 70.000 custo total R$ 203.200 * Estes custos da Lela Dreams são fixos por período, independentementedo volume produzido. 61 Porém, durante o mês de maio, a Lela Dreams produziu e vendeu 7.000 bolos. Os gastos reais com os insumos foram: quantidade consumida descrição do insumo custos de fabricação 7.300 kg farinha especial R$ 29.200 1.900 kg manteiga sem sal R$ 47.000 3.300 h mão de obra direta R$ 36.300 custos fixos R$ 70.300 total dos custos R$ 182.800 Utilizando o orçamento estático e comparando o orçado com o realizado, teríamos um relatório de desempenho conforme apresentado a seguir. Este é o relatório que as empresas apresentam normalmente: Relatório de Desempenho – Orçado X Realizado – Lela Dreams Doceria orçado real variação quantidade 9.000 bolos 7.000 bolos 2.000 farinha 34.200 29.200 5.000 F manteiga 54.000 47.000 7.000 F mão de obra direta 45.000 36.300 8.700 F custos fixos 70.000 70.300 300 D total 203.200 182.800 20.400 F Legenda: F = variação favorável, D = Variação desfavorável Um observador mais atento verifica que o volume de bolos produzidos e vendidos é substancialmente diferente. Os custos estavam orçados para uma produção de 9.000 bolos, portanto, compará-los com uma produção de 7.000 bolos significa que existe uma perda de conteúdo informativo nessa análise. Olhando o relatório acima, o supervisor da produção pode achar que foi eficiente, pois ele gastou menos que o orçamento geral indicava. Ou seja, os insumos apresentaram variações favoráveis. 62 É evidente que uma produção menor significaria gastos menores com insumos. Este relatório de desempenho não nos permite avaliar efetivamente o desempenho da produção. Se o supervisor de produção estiver sendo avaliado, e é apresentado somente este relatório, ficaria difícil avaliar a sua performance. Como as variações dos insumos sob a sua responsabilidade foram favoráveis, ele poderia dizer que não extrapolou o orçamento geral. Para melhor avaliar a performance do supervisor de produção, precisamos utilizar o orçamento flexível, que se baseia no padrão de comportamento dos custos, ou seja, na ficha técnica. Assim, quando se avalia a performance da produção, os insumos – farinha, manteiga e mão de obra – têm os seus valores reais consumidos comparados com um orçamento ajustado à quantidade real de produtos produzidos. Isso significa que, no exemplo da Lela Dreams, os gastos dos insumos são comparados com os valores que deveriam ter ocorrido, caso o planejamento tivesse sido para 7.000 bolos. Assim, a ficha técnica apresentada anteriormente será utilizada para preparar o orçamento flexível para o volume de 7.000 bolos. quantidade descrição do insumo custo padrão do insumo custo da produção 1 kg x 7.000 = 7.000 kg farinha especial 3,80/kg R$ 26.600 250 g x 7.000 = 1.750 kg manteiga sem sal 24,00/kg R$ 42.000 0,5 h x 7.000 = 3.500 h mão de obra direta 10,00/h R$ 35.000 custos fixos R$ 70.000 custo total R$ 173.600 63 Utilizando o orçamento flexível, a análise dos gastos com insumos fica justa e permite identificar melhor as variações. Os valores reais são comparados com os valores dos insumos ajustados ao nível de produção efetivamente incorrida, isto é, para 7.000 bolos. Agora, pode-se preparar um novo relatório de desempenho do supervisor de produção que vai mostrar as seguintes variações: Relatório de Desempenho de Produção – Lela Dreams Doceria real Ajustado ao nível de atividade variação quantidade 7.000 7.000 farinha R$ 29.200 R$ 26.600 R$ 2.600 D manteiga R$ 47.000 R$ 42.000 R$ 5.000 D mão de obra direta R$ 36.300 R$ 35.000 R$ 1.300 D custos variáveis: total R$ 112.500 R$ 103.600 R$ 8.900 D custos fixos R$ 70.300 R$ 70.000 R$ 300 D variação total dos custos R$ 182.800 R$ 173.600 R$ 9.200 D Utilizando o orçamento flexível, ou seja, ajustado ao nível real de atividade, os valores são orçados para uma produção igual à efetivamente incorrida, que neste caso foi de somente 7.000 bolos. Dessa forma, a base para comparação fica justa. Assim, podemos avaliar a performance do supervisor avaliando se ele seguiu o padrão de gastos por bolo. Quando o supervisor sabe que será avaliado dessa forma, terá de atuar conforme o padrão. A ficha técnica foi analisada e estabelecida levando em consideração as condições normais de produção para todos os insumos e é a base para a preparação dos orçamentos. Pode-se resumir então que o padrão representa a eficiência operacional desejada, e o supervisor será estimulado a produzir conforme este padrão. Na ficha técnica, fica estabelecido o padrão da quantidade de cada insumo que deve ser consumida por produto, como também o preço padrão por unidade do insumo. Dessa forma, o supervisor será motivado a agir conforme o padrão para todos os custos variáveis sob a sua responsabilidade. Conforme demonstrado, o orçamento estático compara os resultados reais com os planejados inicialmente, independentemente das mudanças de volume. Todo gestor de uma organização gostaria de um relatório de desempenho que demonstrasse melhor os problemas que estão ocorrendo. Dessa forma, o orçamento flexível serve como uma referência dinâmica 64 de comparação. Assim, o padrão representa a meta de eficiência esperada para cada produto ou serviço, e o relatório de desempenho será preparado levando em consideração o nível real de atividade ou a quantidade de produtos ou os serviços que realmente ocorreram. Com o orçamento flexível, fica mais fácil identificar as variações ocorridas na operacionalização das atividades produtivas, avaliando tanto a mão de obra como os materiais consumidos. Variação comercial Para começar o detalhamento das variações ocorridas devido ao volume de produtos ou serviços não ter sido o mesmo que o projetado, será apresentado primeiramente o estudo da variação da receita. Estudo da variação da receita Agora é preciso prosseguir na investigação, pois a diferença entre o lucro planejado inicialmente e o lucro realizado além dos problemas operacionais, já investigados, existe ainda a variação comercial causada pela queda no volume de bolos. Todo gestor gostaria de obter as informações detalhadas que geraram a variação do lucro para poder tomar as decisões com base no entendimento das causas das variações, pois o lucro projetado ficou muito diferente do lucro real. Então, primeiramente, se quer saber: por que o lucro projetado é diferente do real? Para começar a responder a essa pergunta, serão utilizados os dados da Lela Dreams expostos anteriormente. De início, serão apresentadas as variações sob a responsabilidade do setor comercial, conhecido como Centro de Receita. Os resultados do setor comercial de uma organização podem ser mensurados em termos da geração das receitas de vendas. Esses valores são comparados com as despesas para a sua obtenção. O departamento ou setor comercial por ocasião do orçamento estima as receitas com vendas e também as despesas necessárias para obter essas vendas. No momento do controle, as vendas e despesas reais são comparadas com as orçadas, e todas as diferenças devem ser explicadas. O gestor do departamento de vendas é avaliado com base nos valores orçados, o que o motiva a perseguir os valores orçados. Pode-se começar avaliando as variações da receita de venda, a qual é composta de dois elementos: o volume de vendas e o preço do produto ou serviço. Quando se compara a receita real ocorrida com a receita projetada, não é possível avaliar corretamente os efeitos no lucro projetado, pois a variação pode ser em razão de: o preço do produto ou serviço ser diferente do projetado, que seria uma variação de preço, e o volume real de venda ser diferente do projetado, que seria uma variação de comercialização. 65 Controlar o preço do produto ou serviço é importante, pois essa variação afeta diretamente a lucratividade da empresa. O gestor do departamento comercial, quandoresponsável por determinar o preço do produto ou serviço, pode reduzi-lo para maximizar o volume de vendas. Essa ação faz com que a receita orçada seja alcançada, porém reduzindo o lucro ou até gerando prejuízo. No caso da Lela Dreams, a empresa projetou vender 9.000 bolos ao preço de R$ 24,00. Os gastos padrão dos custos variáveis por bolo eram de R$ 14,80 – farinha, manteiga e mão de obra vistos anteriormente na ficha técnica do bolo –, e os custos fixos, R$ 70.000 no mês. Lembre que os R$ 14,80 foram informações do valor dos custos variáveis projetados para produzir um bolo. Assim, a projeção da demonstração do resultado do exercício da Lela Dreams para o mês de maio era: Orçamento Geral – DRE Projetada Lela Dreams Doceria quantidade de bolos 9.000 vendas R$ 216.000 custos variáveis R$ 133.200 margem de contribuição R$ 82.800 custos fixos R$ 70.000 lucro operacional R$ 12.800 Para facilitar as comparações dos orçamentos é importante utilizar na apuração do resultado o custeio por contribuição. 66 Ao término do mês de maio, foram produzidos e vendidos 7.000 bolos; a receita real foi de R$ 164.500; os custos variáveis totais contabilizavam R$ 112.500; e os custos fixos, R$ 70.300. Se a Lela Dreams comparar o orçado com o real, as variações encontradas serão: Relatório de Desempenho – Lela Dreams Doceria mês: maio resultado real variações orçamento geral quantidade de bolos 7.000 2.000 D 9.000 vendas R$ 164.500 R$ 51.500 D R$ 216.000 custos variáveis R$ 112.500 R$ 20.700 F R$ 133.200 margem de contribuição R$ 52.000 R$ 30.800 D R$ 82.800 custos fixos R$ 70.300 R$ 300 D R$ 70.000 lucro operacional R$ (18.300) R$ 31.100 D R$ 12.800 Legenda: D = variação desfavorável, F = variação favorável Esse relatório de desempenho do mês de maio não ajuda a explicar a variação total no lucro de R$ 31.100, pois o lucro projetado era de R$ 12.800, e o prejuízo real de R$ 18.300. Sabe-se que neste caso houve problemas operacionais – não gastou como o padrão da ficha técnica – e também problemas comerciais. Os problemas comerciais podem ser causados pelo volume ou pelo preço do produto. Novamente, para explicar as variações comerciais pode-se empregar o conceito do orçamento flexível. Neste primeiro momento, serão verificados os desvios e os impactos causados pelas variações da receita. Como mencionado anteriormente, a receita é composta de dois elementos: preço e volume. Assim, temos: A receita projetada é obtida pela função: preço projetado x volume projetado. Enquanto, a receita real é uma função do: preço real x volume real. A diferença entre a receita projetada e a real é, portanto, determinada pela função: (preço projetado x volume projetado) – (preço real x volume real) 67 A diferença da receita real para a receita projetada não detalha se a variação foi devido ao volume ou devido ao preço. Assim, para demonstrar essa variação, precisamos remontar a equação com os seguintes elementos: variação de preço: (preço projetado – preço real) x volume real variação de volume: (volume projetado – volume real) x preço projetado Se somar a variação devido ao preço com a variação devido ao volume, tem-se a diferença total da receita apresentada na equação anterior. Somente nesse caso conseguimos separar o impacto da variação do preço do impacto da variação do volume. Agora, pode-se explicar a variação de preço e quantidade ou volume como sendo: A variação de preço só ocorre única e exclusivamente devido à diferença entre o preço projetado e o preço real. A variação de quantidade ou volume só ocorre única e exclusivamente devido à diferença entre o volume projetado e o volume real. O esquema apresentado na figura a seguir descreve a discussão anterior: Figura 5 – Variação de receita Fonte: Elaborado pelo autor. Dessa forma, consegue-se analisar o impacto da variação devido ao preço e a variação devido ao volume não ter sido conforme orçado. Variações comerciais no demonstrativo de resultado Quando se apresenta um relatório em que se utiliza a demonstração do resultado do orçamento geral da Lela Dreams, que era para 9.000 bolos, e o compara ao demonstrativo de resultado ajustado – orçamento flexível –, conforme o padrão para o volume real incorrido de 7.000 bolos, as diferenças ou variações entre esses dois demonstrativos explicam ao gestor que a diferença no lucro é devido à cota projetada de venda ser diferente da real. Ou seja, foca em demonstrar todas as variações comerciais. 68 O único elemento a influenciar nesse resultado deverá ser o volume de vendas, pois, no orçamento flexível ou ajustado ao nível da atividade real, o preço por unidade, os custos variáveis por unidade e os custos fixos deverão ser aqueles empregados no orçamento geral seguindo o padrão estabelecido. Ao utilizar esse conceito no exemplo da Lela Dreams, podemos dizer que a diferença de R$ 31.100 desfavorável entre o lucro orçado inicialmente e o real, R$ 18.400 conforme tabela a seguir, é única e exclusivamente porque o volume negociado é diferente do projetado. orçamento ajustado ao nível real variação devido à comercialização orçamento geral unidades 7.000 2.000 D 9.000 vendas R$ 168.000 R$ 48.000 D R$ 216.000 custos variáveis R$ 103.600 R$ 29.600 F R$ 133.200 margem de contribuição R$ 64.400 R$ 18.400 D R$ 82.800 custos fixos R$ 70.000 - - R$ 70.000 lucro operacional R$ (5.600) R$ 18.400 D R$ 12.800 As duas demonstrações de resultado acima foram calculadas da seguinte forma: as vendas foram computadas multiplicando o preço unitário, R$ 24,00, pelos volumes de vendas, 9.000 e 7.000. Os custos variáveis, também, são calculados multiplicando o seu valor unitário, R$ 14,80 – custo padrão da farinha, manteiga e mão de obra –, pelos volumes de vendas, 9.000 e 7.000. Os custos fixos são iguais ao definido no orçamento, pois esses não devem variar em função do volume. Assim, pode-se afirmar que a variação de R$ 18.400 desfavorável no lucro foi causada única e exclusivamente pelo fato de o volume de bolos ter sido somente de 7.000, e não 9.000 bolos. A pergunta a ser respondida agora é: a diferença no lucro dos R$ 12.700 (R$ 31.100 - R$ 18.400) restantes é devido a que? Parte dela é devido à variação no preço de venda do produto e parte é devido à eficiência operacional da empresa. Então, precisamos continuar investigando para agora explicar a variação de R$ 12.700, que será uma variação operacional. 69 Variações operacionais no demonstrativo de resultado Agora, para prosseguir na investigação, teremos de comparar a demonstração de resultado ajustada – orçamento flexível – para 7.000 bolos com a demonstração do resultado real de 7.000 bolos da Lela Dreams. A diferença entre o prejuízo real de R$ 18.300 e o prejuízo projetado ao nível real de atividade de 7.000 unidades – orçamento flexível –, R$ 5.600, é de R$ 12.700, e é devido única e exclusivamente à operação interna da empresa. Os itens que contribuíram para a variação negativa de R$ 12.700 no lucro podem ser apresentados na tabela a seguir: resultado real variações devido à operação interna operacional orçamento ajustado ao nível real unidades 7.000 0 7.000 vendas R$ 164.500 R$ 3.500 D R$ 168.000 custos variáveis R$ 112.500 R$ 8.900 D R$ 103.600 margem de contribuição R$ 52.000 R$ 12.400 D R$ 64.400 custos fixos R$ 70.300 R$ 300 D R$ 70.000 lucro operacional R$ (18.300) R$ 12.700 D R$ (5.600) As variações encontradas no quadro acima podem ser assim explicadas: Variação na receita A variação devido ao preço é a diferença entre a receita real e a receita orçada ao nível de atividade real. A receita orçada ajustada ao nível de atividade real é determinada multiplicando os volumes reais vendidos pelos preços orçados dos produtos. No nosso exemplo, será R$ 168.000, isto é, o preço deR$ 24 por unidade multiplicado por 7.000 unidades. A receita real, no exemplo, é R$ 164.500, significando que o valor praticado na venda dos 7.000 bolos foi de R$ 23,50. Então, temos uma variação no preço de R$ 0,50. Essa variação de R$ 0,50 multiplicada por 7.000 bolos representou um valor de R$ 3.500,00 desfavorável. 70 Variações dos custos: eficiência operacional Ao confrontar os valores reais dos custos variáveis e custos fixos aos seus respectivos orçados ajustados ao nível de atividade efetivamente incorrido – orçamento flexível –, teremos variações que explicam a eficiência operacional da empresa. As variações encontradas nos custos variáveis – R$ 8.900 D – demonstram que os gastos padrão de farinha, manteiga e mão de obra não seguiram o padrão da ficha técnica, que era de R$ 14,80 por bolo. Aponta que eles ficaram aproximadamente R$ 16,07 por bolo. Com relação aos custos fixos, temos uma variação desfavorável de R$ 300 D. Essas variações de custos fixos podem ocorrer por decisão administrativa de autorizar gastos além do orçado por algum motivo não previsto. Como visto no item 4.1 – controle operacional –, já sabíamos que haviam ocorrido variações nos insumos, isto é, farinha, manteiga e mão de obra. As informações detalhadas tentando explicar as variações dos custos operacionais são funções dos sistemas de controle, conhecido como: centro de custo padrão que será abordado mais à frente no item 4.5. Relatório das variações no demonstrativo de resultado A apresentação de um relatório para a alta administração deve unificar as tabelas acima apresentadas. Isso ajuda a identificar e controlar parcialmente os responsáveis pelo centro de custos e receita. resultado real variações devido à operação interna operacional orçamento ajustado ao nível real Variações devido à comercialização orçamento geral unidades 7.000 0 7.000 2.000 D 9.000 vendas R$ 164.500 R$ 3.500 R$ 168.000 R$ 48.000 D R$ 216.000 custos variáveis R$ 112.500 R$ 8.900 D R$ 103.600 R$ 29.600 F R$ 133.200 margem contribuição R$ 52.000 R$ 12.400 D R$ 64.400 R$ 18.400 D R$ 82.800 custos fixos R$ 70.300 R$ 300 D R$ 70.000 - - R$ 70.000 lucro operacional R$ (18.300) R$ 12.700 D R$ (5.600) R$18.400 D R$ 12.800 71 Na tabela acima, fica fácil observar a diferença de R$ 31.100 do lucro orçado para o lucro real (12.800 – (18.300) = 31.100). Destaca-se que R$ 12.700 D foram causados por problemas operacionais e que R$ 18.400 D foram causados por problemas comerciais. Isso nos leva a inferir que: O não cumprimento da cota de vendas gerou uma variação devido ao volume comercializado de R$ 48.000 desfavorável. Esta variação fez com que o lucro ficasse R$ 18.400 abaixo do inicialmente projetado. A variação devido ao fato de o preço real do produto ser diferente do projetado, R$ 0,50, acarretou uma perda de lucratividade no valor de R$ 3.500 (0,50 x 7.000), mostrando que na média o preço unitário projetado foi R$ 0,50 superior que a média praticada. A variação negativa de R$ 8.900 foi devido ao gasto maior que o padrão estabelecido para os insumos de fabricação do bolo. Era para ser de R$ 14,80 por bolo, e foi aproximadamente R$ 16,07 por bolo. A variação negativa dos custos fixos no valor de R$ 300 pode ter ocorrido por decisão administrativa de autorizar gastos além do orçado por algum motivo não previsto. A soma R$ 18.300 + R$ 18.400 = R$ 31.100 (variação negativa do lucro). Esse tipo de relatório pode ser adotado para empresas comerciais, industriais e de serviços com pequenas adaptações. Controle pelo centro de custos padrão As empresas do setor industrial são típicas por possuir departamentos do tipo que utilizam custo padrão – fichas técnicas de produtos ou serviços. Dessa forma, os seus resultados são quantificados de forma bem objetiva, e os exemplos clássicos são principalmente os setores de produção. No caso da Lela Dreams, já apresentado, é possível demonstrar e compreender mais detalhadamente as variações ocorridas nos insumos, ou seja, farinha, manteiga e mão de obra. Naquele caso, no orçamento geral foi projetado produzir e comercializar 9.000 bolos. Os custos variáveis tinham um padrão de comportamento – ficha técnica – que era o seguinte: Ficha Técnica de Produção da Lela Dreams Doceria quantidade descrição do insumo preço do insumo custo variável por bolo 1 kg farinha especial 3,80/kg R$ 3,80 250 g manteiga sem sal 24,00/kg R$ 6,00 0,5 h mão de obra direta 10,00/h R$ 5,00 total R$ 14,80 72 Como a ficha técnica projetou, os custos variáveis para a produção dos 9.000 bolos ficaram assim: quantidade descrição do insumo R$ do insumo custo da produção 1 kg x 9.000 = 9.000 kg farinha especial 3,80/kg R$ 34.200 250 g x 9.000 = 2.250 kg manteiga sem sal 24,00/kg R$ 54.000 0,5 h x 9.000 = 4.500 h mão de obra direta 10,00/h R$ 45.000 custo total R$ 133.200 Esses valores se basearam no padrão – ficha técnica –, que significa a eficiência operacional esperada pela empresa, como já mencionamos anteriormente. Durante o mês de maio, foram produzidos somente 7.000 bolos, e os gastos reais com esses insumos foram: quantidade consumida descrição do insumo custos de fabricação 7.300 kg farinha especial R$ 29.200 1.900 kg manteiga sem sal R$ 47.000 3.300 h mão de obra direta R$ 36.300 total dos custos R$ 112.500.500 Como já comentado anteriormente, no item 4.1 – controle operacional –, não faz sentido confrontar os gastos orçados para 9.000 bolos com o gasto real de 7.000 bolos, particularmente com relação aos custos variáveis, pois eles variam proporcionalmente com o volume, principalmente porque parte dessas variações é devido à variação comercial – volume de produção e venda –, e não operacional. Observe nas tabelas acima que o total dos custos variáveis para os 9.000 bolos é de R$ 133.200 e que os custos variáveis reais para 7.000 bolos foram de 112.500. Logo, essa comparação mostra que o supervisor de produção gastou R$ 20.700 a menos. Portanto, a apresentação dessas informações reais contra as orçadas, sem o ajuste ao nível de atividade efetivamente incorrida – orçamento flexível para 7.000 unidades – parece que o supervisor de produção não foi ineficiente. Se o supervisor estiver sendo avaliado, fica difícil afirmar que ele foi ineficiente. Ele certamente ficará com o sentimento de que foi injustiçado, já que as variações dos insumos foram favoráveis. 73 Porém, quando se emprega o orçamento flexível para avaliar a performance do supervisor, o comportamento dos custos será comparado com o padrão – ficha técnica. Assim, os insumos têm os seus valores reais do mês de maio comparados com os ajustados ao nível de atividade efetivamente incorrida, que foi de somente 7.000 bolos. Veja no quadro a seguir as variações: Relatório de Desempenho de Produção – Lela Dreams Doceria real ajustado ao nível de atividade variação quantidade 7.000 7.000 farinha R$ 29.200 R$ 26.600 R$ 2.600D manteiga R$ 47.000 R$ 42.000 R$ 5.000D mão de obra direta R$ 36.300 R$ 35.000 R$ 1.300D total dos custos variáveis R$ 112.500 R$ 103.600 R$ 8.900D No exemplo acima, os gastos com farinha, manteiga e mão de obra direta foram comparados com os valores que deveriam ter ocorrido caso o planejamento tivesse sido para 7.000 bolos. Esse relatório possui uma base para comparação justa, não gerando desconforto para o supervisor de produção. Nesse caso, o supervisor não vai sentir-se injustiçado, e esse sistema de informação leva o supervisor a perseguir na produção o padrão estabelecido. Esse relatório ainda pode ser detalhado explicando melhor as variações encontradas nos insumos para identificar as causas e os responsáveis por elas. O valor de R$ 8.900 não é responsabilidade somente do supervisor de produção, como será detalhado a seguir. A variação de R$ 8.900D dos custos variáveis é indubitavelmente uma alteração causada na operação, contudo ela, como está apresentada, não demonstra se foi devido à variação de preço – isto é, o insumo não foi adquirido pelo preço planejado –, ou se foi uma variação de quantidade ou eficiência – isto é, o insumo não foi utilizado na quantidade planejada. Esse controle deve ser realizado para cada item dos custos variáveis, mostrando o efeito na diferença entre o lucro projetado e o lucro real devido ao não cumprimento dos comportamentos dos custos variáveis conforme o padrão estabelecido. Esta análise toma como base o custo total de cada insumo, que é composto de dois fatores: quantidade de insumo e custo unitário do insumo. Nesse tipo de controle, o valor orçado ao nível de atividade efetivamente incorrida é obtido pela multiplicação da quantidade de insumo projetada para a atividade real – isto é, insumo padrão/ficha técnica – pelo custo unitário projetado do insumo. Já o valor real é a multiplicação da quantidade real do insumo pelo custo unitário real do insumo. A diferença dos dois valores 74 representa a variação total do insumo. Essa comparação não permite apresentar as causas das variações: se foi devido a um preço diferente do projetado ou se a quantidade foi diferente da planejada ou orçada nesse nível de atividade. Para determinar os impactos das variações de preço e quantidade basta determinar um valor no meio desses dois valores. Esse valor será obtido pela multiplicação da quantidade real de insumo multiplicado pelo custo unitário projetado do insumo (insumo real x custo padrão). Esse valor comparado com o gasto real e comparado com o gasto projetado para o nível de atividade informa a causa da variação, se foi devido ao preço ou devido à eficiência ou quantidade. Para demonstrar isso, serão apresentados a seguir os dados da farinha para análise: Análise das variações da farinha orçado ao nível da atividade consumo orçado 7.000 kg preço orçado R$ 3,80/kg custo orçado R$ 26.600,00 gasto real de farinha consumo real 7.300 kg preço real R$ 4,00/kg custo real R$ 29.200,00 variações 300 kg R$ 0,20 R$ 2.600,00 D O custo projetado da farinha para 7.000 bolos seria de 7.000 kg ao custo unitário de R$ 3,80/kg, totalizando R$ 26.600. Já o custo real foi de R$ 29.200, sendo consumidos 7.300 kg de farinha a um preço de R$ 4,00/kg. A diferença de R$ 2.600 D – desfavorável – não explicita se foi devido à utilização do insumo ou devido à sua aquisição. No quadro a seguir, quando se utiliza o valor do meio – insumo real x custo padrão – possibilita separar o impacto da variação de R$ 0,20 do preço e o impacto da variação dos 300 kg a mais de farinha. Observe: 75 Quadro 2 – Insumo real x custo padrão Fonte: Elaborado pelo autor. Como verificado, a variação de eficiência ou quantidade se baseia na diferença das quantidades, projetadas e reais; enquanto a de preço, nos custos de aquisição, projetados e reais. Quando o valor encontrado for negativo, a variação será desfavorável, e representada pela letra D; se for positiva, a variação é favorável e representada pela letra F. O orçamento flexível permite em uma análise mais detalhada responder se a diferença entre o custo real e o orçado ajustado ao nível real foi devido à variação de preço ou à variação de eficiência ou quantidade. Como apresentado no quadro acima, as variações de preço e quantidade aparecem devido às seguintes equações: variação de preço = (custo unitário projetado do insumo - custo unitário real do insumo) x quantidade real do insumo = (R$ 3,80/kg - R$ 4,00/kg) x 7.300 kg. = R$ 1.460 D A variação de preço ocorreu pelo aumento do preço da farinha de R$ 3,80 para R$ 4,00. Esse aumento de R$ 0,20 multiplicado por 7.300 kg, que foi o consumo real de farinha, ocasionou o aumento de R$ 1.460 desfavorável. Nesse caso, a responsabilidade pelo aumento de preço é do setor de compras da empresa. variação de eficiência ou quantidade = (quantidade de insumo projetada para a atividade real - quantidade real do insumo) x custo unitário projetado do insumo = (7.000 kg – 7.300 kg) x R$ 3,80/kg. = R$ 1.140 D A variação de eficiência ou quantidade ocorreu pelo consumo além do orçado em 300 kg. Esse aumento de 300 kg multiplicado pelo preço padrão de R$ 3,80 ocasionou o aumento de R$ 1.140 desfavorável. Nesse caso, a responsabilidade do gasto maior de farinha é responsabilidade do setor de produção. 76 A metodologia de investigação utilizada com a farinha pode ser aplicada também na manteiga e mão de obra do caso da Lela Dreams: Quadro 3 – Análise das variações da manteiga Fonte: Elaborado pelo autor. A variação de preço ocorreu pelo aumento do preço da manteiga de R$ 24,00 para R$ 24,74. Esse aumento de R$ 0,74 multiplicado por 1.900 kg, que foi o consumo real de manteiga, ocasionou o aumento de R$ 1.400 desfavorável. Nesse caso, a responsabilidade pelo aumento de preço é do setor de compras da empresa. A variação de eficiência ou quantidade ocorreu pelo consumo além o orçado em 150 kg. Esse aumento de 150 kg multiplicado pelo preço padrão de R$ 24,00 ocasionou o aumento de R$ 3.600 desfavorável. Nesse caso, a responsabilidade do gasto maior de manteiga é responsabilidade do setor de produção. 77 Quadro 4 – Análise das variações da mão de obra Fonte: Elaborado pelo autor. A variação de preço ocorreu pelo aumento do preço da mão de obra de R$ 10,00 para R$ 11,00. Esse aumento de R$ 1,00 multiplicado por 3.300 h, que foi o consumo real de mão de obra, ocasionou o aumento de R$ 3.300 desfavorável. Nesse caso, a investigação da causa deve ocorrer no departamento de pessoal. A variação de eficiência ou quantidade ocorreu pelo consumo menor que o orçado em 200 h. Essa redução de 200 h multiplicada pelo preço padrão de R$ 10,00 ocasionou a redução no custo em R$ 2.000 favorável. Nesse caso, a responsabilidade do gasto menor de horas de mão de obra é do setor de produção. Essa investigação das variações de preço e quantidade é fundamental para investigar o impacto, as causas e os responsáveis das variações. É importante destacar que os cálculos nos levam somente a valores das variações, mas é importante para o efetivo controle que sejam investigadas as causas das variações para que possam ser adotadas ações corretivas pontuais. Controle dos gastos discricionários Quando se controlam os custos variáveis, estes têm o padrão de comportamento relacionado diretamente ao nível de atividade. Por consequência, se o custo varia em função do volume de atividade, esse será variável; caso contrário, fixo. Para desenvolver adequadamente as atividades de planejamento e controle é importante compreender outra característica, que é o comportamento dos gastos discricionários. 78 Os resultados de alguns departamentos da empresa não podem ser mensurados em termos monetários. São normalmente os departamentos de apoio gerencial como: contabilidade, jurídico, relação com investidores, treinamento, etc. Para esses departamentos, a eficácia e a eficiência, ou seja, os seus resultados, não podem ser mensuradas em termos monetários, o controle monetário é expresso somente para os gastos. As despesas projetadas para o período não estão diretamente relacionadas com os resultados que se pretende atingir, como visto nos centros de custo padrão. A decisão do valor a ser gasto em cada conta de despesa do departamento fica à discrição, ou seja, decisão gerencial. O valor pode variar à sua discrição, pois não existe uma forma confiável que decida o valor ótimo ou correto dos gastos. Esses centros de responsabilidade ou departamentos são denominados centros de gasto discricionário. O planejamento de um centro de gasto discricionário é, normalmente, de curto prazo – um ano. Além disso, em momentos de grande dificuldade financeira, é possível reduzir gastos dessesdepartamentos com prejuízo mínimo em longo prazo. O controle de um centro de gasto discricionário tem o seu início no orçamento anual quando a gerência analisa e aprova os gastos. As decisões que podem ser tomadas em relação a um gasto são: se continua, se aumenta, se diminui ou se descontinua para o próximo período. Em sequência, os gastos reais são comparados com os orçados, mensurando a utilização dos insumos empregados pelo departamento. Esses resultados não devem ser mensurados em termos monetários, pois não fornecem uma visão completa de performance do departamento. A mensuração monetária, orçado versus realizado, serve apenas para motivar os gerentes a manterem os seus gastos conforme os valores orçados, sendo um fator motivacional. Entretanto, só porque se gastou o valor projetado não significa que os objetivos e as metas foram alcançados. Em contrapartida, gastar muito aquém do orçado pode ser tão ruim ou pior do que gastar acima desse valor. Os gestores dos departamentos podem, no curto prazo, para atingir os objetivos e as metas de gastos, cortar as verbas diminuindo as suas atividades. Essas ações de cortes, às vezes, não necessariamente serão melhores para a organização em longo prazo, embora melhorem a performance do departamento no período orçamentário. Os gastos discricionários são decorrentes de decisões orçamentárias do período, refletindo as políticas da direção relativa aos valores máximos permissíveis para alguns tipos de gastos. A compreensão desses tipos de gasto permite desenvolver ferramentas mais adequadas no momento de planejar e controlar. Para melhor compreender o padrão de comportamento dos gastos empresariais e, consequentemente, melhorar a qualidade de decisão, estes foram classificados em: 79 fixos variáveis comprometidos ou discricionários estruturados ou discricionários Gastos fixos comprometidos Os gastos fixos comprometidos são aqueles em que a empresa incorre por um longo período e que não podem ser reduzidos durante esse período, tendo em vista a sua continuidade. A sua principal característica é que não podem ser reduzidos sem prejudicar a capacidade da organização de atingir os seus objetivos de longo prazo. Exemplo: pagamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Gastos fixos discricionários Já os gastos fixos discricionários podem não ter qualquer relação particular com o volume de atividade, ou seja, são gastos que podem mudar anualmente com base em decisões da gestão. Exemplo: gastos com treinamentos, ações sociais, etc. Gastos variáveis estruturados Os gastos variáveis estruturados possuem uma relação física explícita e especificada com o volume de atividade. Assim sendo, possuem uma relação de gasto direto entre o insumo e o produto. Podem-se mensurar e produzir as fichas técnicas dos produtos. No exemplo da Lela Dreams, cada bolo tinha a seguinte ficha técnica – padrão de gastos: Ficha Técnica de Produção da Lela Dreams Doceria quantidade descrição do insumo preço do insumo custo variável por bolo 1 kg farinha especial R$ 3,80/kg R$ 3,80 250 g manteiga sem sal R$ 24,00/kg R$ 6,00 0,5 h mão de obra direta R$ 10,00/h R$ 5,00 total R$ 14,80 A ficha técnica apresenta os insumos necessários à produção do bolo. Os seus gastos são diretamente proporcionais ao volume de produção. 80 Gastos variáveis discricionários Os gastos variáveis discricionários, apesar de possuírem um padrão de variabilidade, dependem das decisões e políticas da empresa. O custo variável discricionário é uma decisão política da organização em autorizar um gasto em função de outra atividade. Por exemplo, a despesa de propaganda pode ser definida como 5% das receitas de vendas até esta chegar a R$ 1 bilhão. A partir desta receita, o percentual é de 4%, e assim por diante. O ponto a se destacar é que esses percentuais sobre as vendas não são uma relação estruturada de causa e efeito entre o custo de propaganda e as vendas, mas uma relação oriunda de decisão política. O tipo de controle dos gastos apresentado anteriormente não tem sentido para os gastos discricionários. No controle dos discricionários, os valores reais são confrontados aos orçados para certificar que o gerente não tenha ultrapassado a sua dotação orçamentária. O outro controle a um desses centros de gastos discricionários é certificar-se de que o responsável realizou as tarefas conforme planejado, pois existem elementos subjetivos. O controle ideal para um centro de custos padrão é utilizar o orçamento flexível, que permite avaliar a eficiência do gerente do centro de responsabilidade em manter os gastos conforme o padrão preestabelecido. A definição dos gastos padrão, ou seja, as fichas técnicas devem ser feitas de forma participativa. Assim sendo, todos os colaboradores se sentirão comprometidos, pois os seus pontos de vista e julgamentos são avaliados pelos superiores. Essa participação é fundamental, uma vez que eles estão em contato mais direto com dia a dia operacional. Isso quer dizer que o orçamento preparado com a participação desses colaboradores é mais acurado e confiável. Os centros de gastos discricionários não possuem padrão bem especificado para avaliar o desempenho gerencial. O estabelecimento das metas de gastos, assim como o seu julgamento, é realizado por meio de elementos subjetivos. Nesses casos, dificulta o controle e a cobrança do desempenho gerencial, pois a pessoa pode sentir-se injustiçada ao ser controlada. Durante o planejamento orçamentário, a administração aloca recursos para o setor, criando uma expectativa quanto a resultados, os quais podem ser percebidos de forma diferente pelo responsável do departamento ou setor. Como a administração deve avaliar a performance do departamento jurídico? A avaliação deverá ser por meio de números de causas ganhas ou deve ser em relação à diminuição de processos contra a empresa? Para tanto, a administração deverá determinar, durante a fase do planejamento orçamentário, o valor do recurso a ser comprometido para esse tipo de setor. Qual é o valor razoável para o departamento jurídico? Essa é uma questão a ser respondida pela administração. Como a determinação do valor a ser comprometido a um centro de gastos discricionários não tem como precisar o correto ou o ótimo, muitas empresas definem assim: Como um percentual da receita – exemplo: 5% da receita serão gastos em propaganda, portanto a verba alocada em propaganda será 5% da receita projetada; por tradição histórica ou orçado incrementalmente – exemplo: como neste ano gastaram- se R$ 250.000 em treinamento e capacitação, para o próximo ano será este valor reajustado pela inflação do período. 81 Os gastos discricionários no momento do planejamento orçamentário, normalmente, sofrem pressão para aumentos. Cada gestor de departamento vai tentar garantir os gastos do ano anterior e, se possível, conseguir mais verbas orçamentárias. Quanto maior poder de influenciar o gestor tiver, maior poderão ser os aumentos de verba. Como os gastos discricionários possuem dificuldade em determinar o valor ótimo para o período e principalmente para exercer controle é que metodologias de orçamento têm surgido ao longo dos tempos. Como exemplo, têm-se o orçamento base zero e o orçamento matricial de despesas. O orçamento base zero surgiu como uma resposta aos problemas de planejamento e controle dos gastos dos centros de despesas discricionários. O orçamento base zero é uma metodologia por meio da qual, na fase de planejamento, são analisados os gastos individuais de cada setor ou departamento. O objetivo da elaboração de um orçamento base zero é obter uma análise e redução sistemática de custos dos diversos departamentos, principalmente com relação aos gastos discricionários. A ideia é começar um novo planejamento orçamentário do zero, sem levar em consideração os orçamentos anteriores. Dessa forma,a organização consegue ter uma noção mais realista sobre os gastos que são essenciais e aqueles que devem ser cortados. Assim, na fase de planejamento do ano orçamento, todos os departamentos devem apresentar os seus gastos separados em pacotes de decisão ou atividades, descrevendo os benefícios de se implementar aquele pacote e os seus respectivos custos. Esses pacotes de decisão são apresentados e defendidos por ordem de prioridade para o atingimento das metas da empresa e do departamento. A intenção é descobrir e manter um gasto mínimo para a empresa funcionar. Se o desejo é ter uma organização enxuta, é preciso cortar os gastos supérfluos. Além de fazer os gestores repensarem todos os gastos, com a redução do orçamento a partir da análise dos pacotes, é possível liberar capital de giro da organização para a expansão das atividades. Já o orçamento matricial, também denominado gerenciamento matricial de despesas (GMD), é a metodologia para planejamento e controle orçamentário que vem sendo amplamente divulgada e que ganha mais adeptos. Ela é importante na redução de todos os gastos, mas principalmente dos gastos discricionários, pela criticidade e análises na fase de elaboração e pela eficácia e eficiência na fase de controle. O seu principal objetivo é analisar e gerir todos os gastos e as receitas pela visão cruzada de entidades e pacotes. Ou seja: Pacotes – Grupos de receitas, despesas, custos ou investimentos da empresa. Para cada pacote é nomeado um gestor de pacote que terá a missão de melhorar a análise e o planejamento dos gastos na fase de preparação do orçamento e também a função de controlar todos os gastos de todos os departamentos ou entidade deste pacote. Entidades – Subdivisões da empresa, como unidades de negócio, centros de custo ou departamentos. Normalmente, esses departamentos já possuem um gestor que é responsável pelos gastos. 82 A implementação do GMD – ou, em uma visão mais ampliada, o orçamento matricial – está baseada em três princípios, a saber: Controle cruzado – Todos os gastos orçados devem ser acompanhados por duas pessoas: o gestor da entidade e o gestor do pacote; Desdobramento dos gastos – Para a definição dos objetivos e das metas, todos os gastos devem ser detalhados com a criação dos pacotes a partir do plano de contas e agrupamento das contas em pacotes; Acompanhamento sistemático – Consiste em reuniões de acompanhamento dos resultados, pacote a pacote, entidade a entidade, comparando-os com as metas e definindo ações corretivas para os desvios. Na figura a seguir, segue a ilustração da matriz dos centros de responsabilidades e os seus respectivos pacotes de gastos representando a estrutura do gerenciamento matricial de despesas. Figura 6 – Estrutura do gerenciamento matricial de despesas Fonte: Pontes (2018, p. 162) Levando em conta o que já foi visto nesses dois tipos de orçamento, OBZ e matricial, fica evidente que representam excelentes ferramentas para melhorar a aplicação dos recursos orçamentários, principalmente com relação aos gastos discricionários. 83 Considerações finais É importante destacar que somente se gerencia aquilo que se controla. Dessa forma, este módulo descreveu a importância dos diversos tipos de controle que devem ser implementados para garantir o atingimento das metas e dos objetivos bem como conquistar a atenção dos colaboradores para os objetivos orçamentários. As ferramentas de controle apresentadas possibilitam destacar as variações operacionais das variações comerciais. Isso se faz importante para identificar as responsabilidades de cada departamento e centro de custo da empresa. 84 Nesta apostila, foi tratado um tema de suma importância para todas as organizações que pretendem alcançar sustentabilidade e lucratividade no longo prazo: orçamento empresarial e controle orçamentário. O orçamento não é um documento isolado, mas faz parte do processo orçamentário que consiste em planejar, controlar, coordenar e, por meio da quantificação financeira dos recursos, provocar a motivação dos membros e respectivos setores de uma organização. Então, de forma sucinta, o orçamento é um plano que comunica a estratégia a todos os setores da organização. Estabelece um acordo entre os responsáveis desses setores e a direção da organização, segundo a qual no próximo ano, certas atividades serão realizadas e, para tanto, serão despendidos valores monetários previamente acordados. O orçamento é uma ferramenta gerencial fundamental e não deve ser adotado como um mecanismo de policiamento. É um sistema que direciona o comportamento dos gestores, pois estabelece um padrão de performance de forma que avalia as atividades e os resultados, além de ajudar a antecipar as ações corretivas de forma assertiva. Como descrito, depois da elaboração do orçamento, durante a execução, é preciso trabalhar o controle, o qual é realizado, comparando a performance efetivamente obtida com a planejada, e tem por finalidade a adoção de ações corretivas, de forma que se atinjam as metas que convergem para a estratégia planejada. A elaboração do orçamento e o controle são duas fases distintas, mas importantes, que demandam uma participação coletiva no processo, o que é essencial para o comprometimento de todo o pessoal, motivando-o na busca pelo atingimento das metas planejadas. Se o processo do orçamento direciona recursos humanos e financeiros de forma a atingir metas congruentes, o controle é uma continuidade para garantir a sua realização. Não é possível voltar ao passado da empresa e promover mudanças diante do cenário atual, mas é possível começar agora, em face do que estimamos para o futuro, e realizar um novo final. CONCLUSÃO 86 GLOSSÁRIO Avaliação dos cenários Compreende a análise do futuro, levando em consideração todos os fatores externos à organização que podem influenciar os resultados esperados. Consiste, portanto, em um instrumento crucial na gestão de uma empresa, pois cria previsões e situações futuras, analisando o ambiente e preparando a empresa para todos os possíveis cenários. Centros de custo No contexto de uma empresa, os centros de custo são divisões relacionadas a setores ou departamentos, a fim de apurar e definir o custo gerado por cada um deles. Existem dois tipos de centro de custo: os produtivos e os não produtivos. Os centros de custo produtivo influenciam diretamente a produção e a comercialização dos serviços da empresa. Alguns exemplos são os setores de atendimento ao cliente, como o telemarketing e o departamento comercial. Já os centros de custo improdutivo são aqueles que não influenciam a produção e a comercialização do serviço diretamente, mas não deixam de ser essenciais para o funcionamento da organização. Exemplos claros desse tipo de centro de custos são os setores jurídicos e administrativos. Centros de custo discricionário Centros de custo que não estão relacionados, diretamente, com o volume de produção. Podem ser reduzidos ou eliminados pela administração de forma discricionária. A administração tem liberdade de escolha nos valores a investir, tendo em vista a conveniência e a oportunidade da sua realização, já que não tem uma relação direta com o volume a ser produzido. Isso significa que as saídas – atividades ou resultado – desses centros de custos não são mensuráveis em termos financeiros ou quantitativos, e não estão vinculadas diretamente ao volume de produção. Em outras palavras, não há uma correlação entre entradas e saídas. Normalmente, são aqueles ligados aos departamentos de apoio e ao processo administrativo, como departamento administrativo, marketing, pesquisa e desenvolvimento, jurídico, entre outros. Centros de custo padrão Centros de custo que mantêm um comportamento de gastos padronizados por unidade ou esforço produzido. Possuem entradas – insumos –, que são medidas em termosfísicos e monetários; saídas – atividades ou resultados –, medidas em termos físicos; e há uma relação direta entre entradas e saídas. Normalmente, são aqueles ligados ao processo produtivo. 87 Custo padrão Custo pré-atribuído, tomado como base para o registro da produção antes da determinação do custo efetivo. Na sua concepção gerencial, o custo padrão indica um “custo ideal” que deverá ser perseguido, servindo de base para a administração mediar a eficiência da produção e conhecer as variações de custo. Gastos fixos comprometidos Gastos ligados à estrutura da empresa como um todo, seja ela produtiva, seja administrativa. O valor dos gastos fixos comprometidos tende a permanecer inalterado durante o exercício, a não ser que ocorram eventuais aumentos inesperados. Por exemplo: aluguel dos imóveis, depreciação do imóvel, manutenção predial, entre outros. Os gastos fixos comprometidos são de responsabilidade da alta gerência, e os departamentos apenas usufruem dessas instalações. Gastos fixos discricionários Gastos que não possuem uma correlação do gasto fixo com os resultados obtidos. Normalmente, são referentes aos departamentos administrativos. Por exemplo: despesa com publicidade, treinamento, consultoria, etc. Como não é possível medir a eficiência desses gastos, é importante que o gestor saiba se os objetivos desejados foram alcançados. Desse modo, a estimativa dos gastos depende do julgamento das pessoas envolvidas em cada departamento. Gerenciamento matricial de despesas O gerenciamento matricial de despesas (GMD) é um método de elaboração e, principalmente, de controle orçamentário baseado em três princípios, segundo Carlos Alexandre Sá. São eles: controle cruzado – por meio deste princípio, as principais despesas são orçadas e controladas por duas pessoas: o gerente do centro de custos da entidade e o gerente do pacote de gastos; desdobramento dos gastos – por meio deste princípio, para a definição das metas, todos os gastos devem ser decompostos ao longo da hierarquia orçamentária até os centros de custo; acompanhamento sistemático – por meio deste princípio, os gastos são sistematicamente acompanhados e comparados com as metas, de forma que qualquer desvio observado seja objeto de uma ação corretiva. Métodos orçamentários Os métodos orçamentários são os procedimentos, as técnicas e o meio de preparação do orçamento de acordo com o modelo escolhido. É, portanto, um processo organizado, lógico e sistemático de preparação e apresentação de um orçamento. 88 Método discricionário Método de projeção de vendas que depende do julgamento das pessoas que, na empresa, são responsáveis pela área comercial e atuam com base na experiência, nos dados já existentes nos sistemas da empresa e na expectativa de crescimento. Métodos estatísticos Os métodos estatísticos de previsão são baseados na utilização dos dados históricos a partir de uma série de tempo ou série temporal. Uma série de tempo é uma série de observações de alguma quantidade de interesse – uma variável aleatória, que pode ser a quantidade de vendas, por exemplo – em relação ao tempo. Se os dados passados são indicativos do que se espera no futuro, pode-se então postular um modelo matemático representativo do processo que poderá ser usado para gerar previsões. Orçamento estático Também conhecido como orçamento original, é considerado o orçamento mais comum e mais utilizado no meio empresarial. Consiste na elaboração orçamentária a partir da fixação de determinado volume de vendas para o período orçamentário. Orçamento flexível Orçamento que pode ser ajustado para qualquer nível de atividade. A base para a elaboração do orçamento flexível é a perfeita distinção entre custos fixos e variáveis, sendo que os custos variáveis seguirão o volume de atividade, enquanto os custos fixos terão tratamento tradicional. Muito utilizado para controle. Planejamento empresarial Instrumento que procura garantir o bom funcionamento administrativo e operacional. É imprescindível para que a meta e os objetivos de uma empresa sejam atingidos. Os instrumentos do planejamento empresarial são: planejamento estratégico, orçamento anual e controle orçamentário. Volatilidade Variável que mostra a intensidade e a frequência das oscilações nas cotações de um ativo financeiro ou de indicadores. É um dos parâmetros mais utilizados como forma de mensurar o risco de um ativo considerado ou de um período estimado. 89 REFERÊNCIAS ANTHONY, Robert Newton; GOVINDARAJAN, Vijay. Sistemas de controle gerencial. São Paulo: Atlas, 2002. CALVO, Ivan Pricoli; ALMEIDA, José Mauro Bacellar; BISPO, Pedro Leão; FERREIRA, Washington Luiz. Orçamento empresarial. Rio de Janeiro: FGV, 2013. CARNEIRO, Murilo; MATIAS, Alberto Borges. Orçamento empresarial: teoria, prática e novas técnicas. São Paulo: Atlas, 2011. FREZATTI, Fábio. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. São Paulo: Atlas, 2003. HORNGREN, Charles Thomas. Contabilidade de custos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. Organização orientada para estratégia: como as empresas que adotaram o balanced scorecard prosperam no novo ambiente de negócios. Rio de Janeiro: Campos, 2000. LUNKES, Rogério João. Manual de orçamento. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. PONTES, Ronaldo Miranda; COELHO, Fabiano. Orçamento e controle. Rio de Janeiro: FGV, 2018. SARDINHA, José Carlos; ALMEIDA, José Mauro Bacellar de; DINOÁ, Luis Limeira; FERREIRA, Washington Luiz. Orçamento e controle. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2008. WELSCH, Glenn A. Orçamento empresarial. São Paulo: Atlas, 2004. 90 PROFESSOR-AUTOR RONALDO MIRANDA PONTES FORMAÇÃO ACADÊMICA Doutor em Administração pela Univesidad Nacional de Misiones, na Argentina. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduado em Ciências Contábeis pela Fundação Educacional Machado Sobrinho. EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS Possui experiência profissional na gerência e administração de empresas do setor têxtil e educacional, bem como na consultoria a empresas. Diretor da EduWork Consultoria e Assessoria Educacional e diretor financeiro da Fama Fábrica de Malhas Ltda. Avaliador do Ministério da Educação (MEC/Inep) de instituições de Educação Superior e cursos de graduação. Membro do Conselho Municipal de Assistência Social de Juiz de Fora (Minas Gerais), do Conselho Diretor do Centro Metodista de Assistência aos Toxicômanos (Cemat), do Conselho Consultivo do Hospital Samaritano de Campinas (SP) e do Conselho Fiscal do Sinepe/Sudeste. Já ministrou cursos corporativos em diversas empresas nacionais e internacionais. PRÊMIOS E PUBLICAÇÕES Autor dos livros Gerenciamento de custos em projetos, Orçamento e controle e Finanças para não financeiros, publicados pela Editora FGV. Possui diversos artigos publicados em congressos nacionais e internacionais. INTRODUÇÃO SUMÁRIO MÓDULO I – PLANEJAMENTO E CONTROLE Conceitos gerais Decisões estratégicas Decisões administrativas Decisões operacionais Vantagens do planejamento Limitações do planejamento Planejamento empresarial Planejamento estratégico Análise externa Análise interna Considerações finais MÓDULO II – ORÇAMENTO EMPRESARIAL Definição de orçamento Forecast Rolling forecast ou orçamento contínuo Métodos de orçamento Orçamento empresarial ou estático Orçamento rolling ou contínuo Orçamento base zero (OBZ) Orçamento flexível ou ajustado Orçamento baseado em atividades (OBA) Orçamento matricial Beyond budgeting Vantagens do orçamento Limitações do orçamento Considerações finais MÓDULO III − PROCESSO ORÇAMENTÁRIO Orçamento de vendas Métodos estatísticos Métodos discricionários Orçamento de produção Orçamento de material direto Orçamento de mão de obra direta Custos indiretosde fabricação Custos variáveis Custos fixos Custos semivariáveis Processo de elaboração dos custos indiretos Orçamento de despesas administrativas Formulação do orçamento administrativo Orçamento de pesquisa e desenvolvimento Projetos específicos Orçamentos anuais Considerações sobre orçamento de pesquisa e desenvolvimento Orçamento de despesas de marketing Despesas após a venda Despesas tipo administrativas Custos de obtenção dos pedidos Considerações sobre o orçamento de marketing Orçamento de compras Materiais diretos Materiais indiretos Materiais para projetos de investimentos Orçamento de investimentos Fluxo de caixa projetado Demonstração de resultado projetado Balanço patrimonial projetado Considerações finais MÓDULO IV – CONTROLE ORÇAMENTÁRIO Controle operacional Variação comercial Estudo da variação da receita Variações comerciais no demonstrativo de resultado Variações operacionais no demonstrativo de resultado Variação na receita Variações dos custos: eficiência operacional Relatório das variações no demonstrativo de resultado Controle pelo centro de custos padrão Controle dos gastos discricionários Gastos fixos comprometidos Gastos fixos discricionários Gastos variáveis estruturados Gastos variáveis discricionários Considerações finais CONCLUSÃO GLOSSÁRIO REFERÊNCIAS PROFESSOR-AUTOR RONALDO MIRANDA PONTES FORMAÇÃO ACADÊMICA EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS PRÊMIOS E PUBLICAÇÕES