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Ketlyn Ayara da Silva Coelho

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC 
CENTRO DE CIENCIAS DA EDUCAÇÃO - CED 
CURSO DE PEDAGOGIA 
 
 
 
 
KETLYN AYARA DA SILVA COELHO 
 
 
 
BRINCADEIRA TRADICIONAL E NOVAS GERAÇÕES: UMA 
REFLEXÃO A PARTIR DO BOI - DE – MAMÃO 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis 
2015 
 
2 
 
 
KETLYN AYARA DA SILVA COELHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRINCADEIRA TRADICIONAL E NOVAS GERAÇÕES: UMA 
REFLEXÃO A PARTIR DO BOI - DE – MAMÃO 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia Centro de 
Educação, Universidade Federal de Santa Catarina – 
UFSC. Orientado pela Profª. Drª. Ilana Laterman. 
 
 
 
Florianópolis 
2015 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho especialmente ao 
filho que estou esperando, ao meu 
marido e a minha mãe. Que 
acompanharam de perto este processo. 
4 
 
 
COELHO, KETLYN AYARA DA S. BRINCADEIRA TRADICIONAL E 
NOVAS GERAÇÕES: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO BOI - DE – MAMÃO. 
UFSC, 2015. 
 
 
5 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
KETLYN AYARA DA SILVA COELHO 
BRINCADEIRA TRADICIONAL E NOVAS GERAÇÕES: UMA REFLEXÃO A 
PARTIR DO BOI - DE – MAMÃO. 
Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do título de 
Graduação em Pedagogia, e aprovado em sua forma final. 
Florianópolis, 25 de Junho de 2015. 
 
 
________________________________________ 
Profª. Drª Ilana Laterman 
Orientadora 
 
 
 
________________________________________ 
Ma. Márcia Agostinho da Silva 
 Membro da Banca 
 
 
 
________________________________________ 
Profª. Drª. Maristela Fantin 
Membro da Banca 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Por meio das brincadeiras e jogos podemos 
compreender a cultura de um povo, e é 
brincando que a criança começa a ter contato 
com o mundo a sua volta” (KISHIMOTO, 
2006) 
 
7 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Quero agradecer primeiramente a Deus, por quem tenho muita fé, me dando 
forças para escrever e me proporcionar estudar em uma Universidade Pública. 
Agradeço á minha mãe Valéria, que sempre batalhou para me criar, e para que 
eu tivesse uma boa educação, por me incentivar a estudar para que pudesse concluir a 
graduação. Ao meu marido e companheiro Johnny que sempre esteve ao meu lado me 
dando conselhos e por não ter me deixado desistir mesmo nas horas mais difíceis. 
Especialmente neste último semestre, onde cuidou de mim e da casa sempre sendo meu 
ombro amigo. Obrigada aos meus dois amores por terem sido mais paciente comigo, do 
que de costume. 
 Obrigada também ao filho que estou esperando. Por aguentar e sentir junto á 
mim, o estresse, a ansiedade e dores da gestação. Emoções de extrema intensidade 
vivida para a conclusão do curso. 
Agradeço aos meus familiares que sempre me apoiaram. As AMIGAS que 
conquistei aqui e que levarei para toda a vida, pois com elas vivemos momentos 
inesquecíveis os quais servirão para sempre. 
Obrigada meninas por participarem deste momento tão especial e significativo 
de minha vida, por sempre me darem força para continuar e não abandonar os meus 
sonhos. Pelas risadas que me propuseram nas horas boas e ruins. 
Não posso deixar de agradecer, a professora Ilana Laterman que me orientou 
para a elaboração deste trabalho. 
E a todos os professores que contribuíram de forma positiva ou negativa para a 
minha formação. Desde o Ensino Infantil até a minha Graduação. 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
RESUMO 
Durante a minha graduação, foi discutido ao longo do curso a importância da 
brincadeira no desenvolvimento das crianças e jovens. Este desenvolvimento facilita no 
processo de ensino aprendizagem e a relação do educador com o educando, sempre 
respeitando cada sujeito. Através da pesquisa exploratória e de alguns textos 
selecionados que fundamentaram o meu trabalho, trago indagações e reflexões sobre a 
brincadeira tradicional (Boi-de-Mamão), presente em nossa cultura vivenciada por 
crianças, jovens e adultos, sendo problematizado ao longo do texto. 
Palavras-chaves: Boi-de-Mamão, Brincadeira Tradicional, Cultura. 
9 
 
 
SUMÁRIO 
APRESENTAÇÃO........................................................................................................10 
1. A BRINCADEIRA E A CRIANÇA........................................................................11 
1.2 BRINCADEIRAS PASSADAS OU NÃO, DE GERAÇÃO Á GERAÇÃO.........16 
2. ESTUDO EXPLORATÓRIO..................................................................................18 
3. ANÁLISES...............................................................................................................22 
3.1 RELAÇÃO ENTRE BRINCADEIRA TRADICIONAL E A ESCOLA...............30 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................34 
REFERÊNCIAS............................................................................................................37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Este trabalho de conclusão de curso de pedagogia surgiu como tema a partir da 
inserção na educação infantil. Na ocasião, trabalhava com crianças da faixa etária de 5 e 
6 anos, que nas suas curiosidades infantis, fizeram as seguintes perguntas ao ser 
proposto à ela a brincadeira de pata cega: O que é brincar de pata-cega? Como que se 
brinca? Tem que imitar um pato? 
Percebi neste momento, que as brincadeiras que fizeram parte da minha infância, 
não faziam mais parte desta geração, onde a maioria das crianças tem mais interesse nas 
tecnologias eletrônicas, limitando a possibilidade de se relacionar com o outro e com a 
natureza. 
Nesse contexto, citamos o entendimento de geração, a luz do que nos coloca 
Sarmento (2005), ao mencionar que a geração da infância está, por consequência, num 
processo contínuo de mudança, não apenas pela entrada e saída dos seus atores que a 
constituem, as crianças, mas, pelas mudanças contextuais, internos e externos, que a 
constroem. 
Sendo assim, para discutir sobre este tema decidi focar em um tipo de brincadeira 
tradicional e procurar conhecer os elementos intervenientes nas e das relações entre as 
diferentes gerações mediadas por esta tradição. Perguntas como a tradição pode ser 
renovada? Haveria interesse de crianças em brincadeiras antigas? 
Para apresentar estas reflexões este texto está organizado em 4 capítulos. No 
primeiro recorro às teorias que tratam de brincadeira, cultura, criança, partindo da visão 
de Benjamin, Vygotsky, Kishimoto entre outros. No segundo são apresentados questões 
no qual serviram como base para minha pesquisa exploratória. No terceiro faço as 
analises de todas as fontes encontradas, sobre a brincadeira do Boi-de-Mamão. Para 
finalizar trago as considerações finais, apresentando as diferentes questões á serem 
trabalhadas e/ou discutidas sobre o tema pesquisado. 
 
 
 
11 
 
 
1. A BRINCADEIRA E A CRIANÇA 
 
De acordo com o entendimento Psicológico, o brincar é um aspecto considerado 
importante no desenvolvimento infantil. Para afirmar esta questão baseei-me nos 
conceitos ampliados de Vygotsky e Benjamim. 
Vygotsky (1998) acentua a brincadeira dentro de uma perspectiva biológica, 
considerando-a como um elemento constituído sócio-históricamente pelo individuo e 
que se modifica, em função do meio cultural e da época em que o sujeito está inserido. 
Walter Benjamin (1984) analisa os processos o brinquedo e do brincar a partir da 
natureza sociológica, enquanto um fenômeno cultural. 
Ambos o autores evidenciam que a brincadeira é importante, por meio dela que a 
criança se proporciona a novas experiências, novas aprendizagens que serão muitas 
vezes levadas para experiências de sua vida como adulto. 
Seguindo a linha de pensamento de Vygotsky e de Benjamim, sabe-se o quanto é 
importante brincar, e o quanto o brinquedo é essencial para que o desenvolvimento 
infantil,facilitando o processo de aprendizagens por meios sociais e cognitivos. 
Segundo Vygotsky (1998), para que se entenda o desenvolvimento da criança, é 
importante ter um olhar atento aos incentivos que lhe são apresentadas, assim 
analisando suas necessidades conforme cada ação em seu progresso. 
Sendo assim, os brinquedos possibilitam que as crianças expressem suas emoções, 
construindo o seu mundo, tomando como referência o universo dos adultos. Em meio a 
tantas regras e normas, elas adaptam isso ás suas brincadeiras. 
O mesmo autor evidencia ainda que, “ (...) é no brinquedo que a criança aprende 
a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das 
motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos 
externos”. (VYGOTSKY 1998, p. 126). 
 Desse modo, entendemos que o meio cultural em que o sujeito vive, é o que o 
define como sujeito, porém na maioria das vezes sendo modificado pelo mesmo sujeito 
de acordo com a cultura, ou seja, a criança “cria uma cultura” dentro da cultura que está 
12 
 
 
inserida. Essa cultura na qual ela criou, apresenta contexto da cultura que vivencia e 
contextos culturais dos sujeitos que se relaciona fora de sua cultura. 
Se ignorarmos as necessidades da criança e os incentivos que são 
eficazes para colocá-la em ação, nunca seremos capazes de entender 
seu avanço de um estágio de desenvolvimento para outro, porque todo 
avanço está conectado com uma mudança mais acentuada nas 
motivações, tendências e incentivos. (VYGOTSKY,1999, p. 
105). 
 
Para facilitar a interação do adulto com a criança e entre elas mesmas, o caminho 
mais indicado á seguir é o da ludicidade, criando e recriando novas formas de 
conhecimentos juntos. 
Vygotsky e Leontiev (1998, p. 23) "O jogo e a brincadeira permitem ao aluno 
criar, imaginar, fazer de conta, funciona como laboratório de aprendizagem, permitem 
ao aluno experimentar, medir, utilizar, equivocar-se e fundamentalmente aprender". 
Ainda no entendimento destes autores, a brincadeira nada mais é que a 
representação do funcionamento da criança favorecendo o seu desenvolvimento. Por 
isso, nem sempre proporcionará imediatamente a satisfação. Para Vygotsky , afirmar 
que “(...) o brinquedo como atividade que dá prazer a criança é incorreto” (p,105), pelo 
fato de existir outros meios de satisfação, outros prazeres que a criança pode ter sem ser 
necessariamente a da brincadeira. 
A brincadeira quando apresentada com a intenção de atividade, não se torna tão 
agradável e prazerosa como aquela brincadeira que acontece por acontecer, ou seja, sem 
nenhuma intenção de finalidade. É correto afirmar que o prazer está ligado á 
brincadeira, e não é algo que define a brincadeira. E esse prazeres e brincadeiras eles 
mudam de acordo com o desenvolvimento de cada sujeito. Pois uma brincadeira que 
pode está presente no dia a dia do bebe, não necessariamente estará presente quando ele 
for crescendo. A brincadeira acaba sendo uma maturidade de necessidade, sendo então, 
a criança desenvolve seu repertorio de brincadeiras conforme suas necessidades, 
havendo variação entre crianças e não por faixa etária. Sendo importante este 
“amadurecimento” de cada sujeito para o seu futuro. 
Para a maioria dos autores a brincadeira é desenvolvida pela criança para 
satisfazer seu prazer e recriação. Desta maneira vivenciam experiências com o meio 
ambiente, bem antes de se ingressar em uma instituição de ensino. 
13 
 
 
Pois “a brincadeira é uma atividade que a criança começa desde seu nascimento 
no âmbito familiar” (Kishimoto, 2002, p. 139), não tendo a finalidade educativa ou de 
aprendizagem. 
Porém sabemos que qualquer relação com o outro gera novas aprendizagens e 
conhecimentos. Sendo assim, se pode afirmar que por mais que a brincadeira não tenha 
uma intencionalidade educativa, ela acaba gerando aprendizagem. 
De acordo com Vygotsky (1999) a brincadeira na educação é muito importante, 
pois promove um avanço intelectual. Esse avanço acontece de forma gradativamente, 
por isso o papel do educador é proporcionar novas maneiras de aprendizagem, para que 
a crianças possa se desenvolver e assim conseguir se expressar, não só através das 
palavras, mais por meio de gestos, e expressões individuais. 
É de extrema importância à criança se relacionar com o outro, pois é através da 
brincadeira e do contato com seus pares, que irá estabelecer sua relação com o mundo, 
para se desenvolver e se apropriar de novos conhecimentos, ou seja, na brincadeira que 
a criança adquira e vivenciará novas experiências, de forma ativa, construindo regras de 
convivência e de escolha para a sua autonomia. 
É difícil definir o conceito de brincadeira, pois o que em um momento pode ser 
definido como brincadeira, o mesmo pode deixar de ser e passar a ter a classificação de 
atividade. 
Segundo Vygotsky (1998) o sujeito se fundamenta em relação com o outro, 
quebrando a visão tradicional de que a brincadeira é uma atividade natural. O brincar é 
apresentado pelo autor como algo construído, produzido originando significados para 
cada cultura. No entanto o faz-de-conta é considerado como gerador de conhecimento 
de acordo com o contexto vivido das crianças ou nos quais elas queiram está 
contextualizadas. O sujeito interioriza o que não é real, mas faz uma ligação com o que 
presencia na sua cultura. 
A brincadeira cria para as crianças uma “zona de 
desenvolvimento proximal” que não é outra coisa senão a 
distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado 
pela capacidade de resolver independentemente um problema, e 
o nível atual de desenvolvimento potencial, determinado por 
meio da resolução de um problema sob a orientação de um 
adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz 
(VYGOTSKY 1984, p. 97). 
14 
 
 
Segundo Benjamin (2009) a criança demonstra mais interesse pelo que ela mesma 
constrói, e pelo que é mais simples, possibilitando uma transformação do objeto em 
parte da brincadeira no qual irá inserir, conforme cada fantasia infantil. 
Ninguém é mais casto em relação aos materiais do que crianças: 
um simples pedacinho de madeira, uma pinha ou uma pedrinha 
reúnem na solidez, no monolitismo de sua matéria, uma 
exuberância das mais diferentes figuras. (BENJAMIN, 2009, 
p.92). 
 
É por meio da brincadeira que a criança se expressa. Através de linguagens, por 
meio de gestos e muitas vezes atribuindo significados e atitudes que fazem parte da sua 
vida. O brinquedo por ser algo externo ele já vem com algum sentido do universo, já na 
brincadeira são diferentes, as crianças criam normas para que essa brincadeira se 
encaixe no seu contexto, diferente do brinquedo concreto que já vem com normas e 
regras definidos, não que elas não possam modificar, mais acabam sendo diferente das 
brincadeiras. As crianças acabam atribuindo novos sentidos ao brinquedo, como por 
exemplo, uma panela de plástico, ela pode ser transformada como tambor. Assim o 
brinquedo é repleto de significados. 
(...) se as necessidades não realizáveis imediatamente, não se 
desenvolvessem durante os anos escolares, não existiriam os 
brinquedos, uma vez que eles parecem ser inventados 
justamente quando as crianças começam experimentar 
tendências irrealizáveis. (VYGOTSKY, 1998, p. 106) 
 
Com base nisto, a criança busca realizar seus desejos imediatamente, mesmo 
estando no espaço da sala, criando um mundo imaginário, onde seus desejos 
irrealizados passam a ser concretizados através da brincadeira. Vygotsky (1998) 
compreende a imaginação: 
(...) um processo psicológico novo para a criança em 
desenvolvimento; representa uma forma especificamente 
humana de atividade consciente, não está presente na 
consciência de crianças muito pequenas e está totalmente 
ausente em animais. Como todas as funções da consciência, ela 
surge originariamente da ação e na interação com o outro (p. 
106). 
 
Então eledefine que a imaginação é uma característica da brincadeira e não do 
brinquedo, pelo fato de nem tudo e nem todos os desejos da criança será concretizado 
imediatamente saciando seu desejo. 
15 
 
 
Na brincadeira do faz de conta, promove as crianças situações de imaginação, 
onde não se tem uma regra a seguir diferente do brinquedo, que vem acompanhado de 
regras. Podendo ser ocultas ou não. 
No ato de brincar a interação com seus pares, faz um desenvolvimento infantil 
significativo, pois á troca de conhecimentos é importante para que as crianças ou jovens 
elas passem a dar vários sentidos a um mesmo objeto, ampliando a visão de se imaginar. 
A brincadeira, assim como as interações e as linguagens são os aspectos 
fundamentais da apropriação do conhecimento pelas crianças, é brincando, interagindo e 
se expressando pelas mais variadas formas que elas se apropriam do mundo, que elas 
aprendem. Quando brincam as crianças se manifestam e essas manifestações infantis, 
conforme Coutinho (2003, p. 3): “são provenientes de uma cultura própria das crianças. 
Suas expressões, nas variadas linguagens, decorrem da relação com a cultura que as 
cerca, ou seja, com os bens culturais que a sociedade disponibiliza para elas”. 
Compreendemos, a partir de Girardello (2011, p.76), que a imaginação consiste, 
para as crianças: 
(...) um espaço de liberdade e de decolagem em direção ao 
possível, quer realizável ou não. A imaginação da criança 
move-se junto — comove-se — com o novo que ela vê por todo 
o lado no mundo. Sensível ao novo, a imaginação é também 
uma dimensão em que a criança vislumbra coisas novas, 
pressente ou esboça futuros possíveis. Ela tem necessidade da 
emoção imaginativa que vive por meio da brincadeira, das 
histórias que a cultura lhe oferece, do contato com a arte e com 
a natureza, e da mediação adulta: o dedo que aponta a voz que 
conta ou escuta, o cotidiano que aceita. 
 
 
 Nas brincadeiras as crianças encontram caminhos para a criação e produção das 
culturas infantis, processo não só de reprodução e apropriação da cultura adulta, mas de 
ressignificação do universo cultural que a rodeia. Benjamim (2002) faz critica em 
relação à sociedade no qual a criança vive, alegando que os brinquedos e a brincadeira 
vem sendo esquecida, sendo deixada de lado, para ter a ocupação de um divertimento 
passivo através de programas de tvs. Assim prejudicando a infância, deixando de ofertar 
diversão e oportunidade para fantasiar, transformando a brincadeira sem criatividade. 
Na solidão da tela, que sempre está acordada, a criança se 
transforma em seu eco infindável, desprovida de imagem 
própria – como Narciso -, pois seu destino convalida a 
impossibilidade de se reconhecer para continuar vivendo. 
16 
 
 
Portanto, ela não tem corpo. A criança zapping não escolhe 
parar numa imagem: na verdade, tanto faz ficar pulando de uma 
para outra indistintamente. (LEVIN, 2007, p.75). 
 
A brincadeira tem um papel muito fundamental no 
desenvolvimento do próprio pensamento da criança. É por meio 
dela que a criança aprende a operar com o significado das 
coisas e dá um passo importante em direção ao pensamento 
conceitual que se baseia nos significados das coisas e não dos 
objetos. A criança não realiza a transformação de significados 
de uma hora pra outra. (VYGOTSKY 1994, p. 54) 
 
 
E para finalizar este capitulo trago uma citação de Brougére (2008), sendo mais 
um autor que defende a importância da brincadeira para a criança se socializar se 
desenvolver: 
A brincadeira infantil produz deslocamentos, transformações 
por transposições, ou invenções. Adaptando-se o conceito de J. 
Piaget, encontramo-nos diante de um processo de apropriação 
cultural, de assimilação. A criança interioriza as formas 
imaginárias, o próprio processo da produção imaginária, 
apoiando suas próprias invenções em esquemas preexistentes 
que são encontrados na literatura tradicional dos contos de 
fadas. Por meio de tal brincadeira a criança manipula e se 
apropria dos códigos sociais da transposição imaginária, 
manipula valores (o bem e o mal), brinca com o medo e o 
monstruoso, em suma, preenche as pulsões e os 
comportamentos individuais (comportamentos motores, 
fantasias) com conteúdos sociais, socializados e socializadores, 
através da comunicação que estes desenvolvem entre as 
crianças. (BROUGÈRE, 2008, p.70) 
 
Sendo assim, é possível perceber que as crianças que se desenvolvem mais, são 
aquelas que brincam livremente, aprendendo a controlar suas emoções e medos. 
Facilitando também imaginação, proporcionando uma suas fantasias á escritas e leituras. 
Para Benjamin (2002) o brincar faz com que a criança desenvolva respeito á si própria e 
pelo o outro, respeitando regras de jogos. Mais do que a formação da criança o brincar 
tem uma importância como terapia. 
1.2 Brincadeiras: passadas ou não, de geração á geração. 
Segundo Pontes e Magalhães (2003; pg 117), “Quando se faz alusão ao termo 
patrimônio cultural, geralmente se remete a aspectos da cultura adulta como prédios, 
danças, comidas típicas, vestuário e artefatos artesanais.” Ainda segundo os autores 
“Isso se deve, em parte, ao fato de ter perdurado por muito tempo, em algumas 
17 
 
 
abordagens, uma visão adultocêntrica e futurista em relação ao desenvolvimento 
infantil.” Os autores argumentam ainda que este tipo de perspectiva tem dificultado a 
visibilidade das interações entre as crianças, as trocas entre pares, como produções e 
interpretações culturais. Pontes e Magalhães, 2003, p.117: 
O elo entre "cultura" e "criança" é claramente percebido nos 
jogos e brincadeiras tradicionais e populares, especialmente 
aquelas desenvolvidas em rua. A modalidade "jogo tradicional 
infantil" possui características de anonimato, tradicionalidade, 
transmissão oral, conservação, mudança e universalidade 
(Kishimoto, 1993). 
 
 
Na maioria das vezes são cadeiras tradicionais, aquelas que se desenvolve nas 
ruas, caracterizando uma determinada cultura. Porem esses jogos e brincadeiras 
populares e tradicionais pode estar presentes em outras culturas sofrendo variações de 
regras, formas de se brincar e até nome. 
De acordo com Dicionário de Conceitos Históricos (Silva e Silva, 2006), 
O significado mais simples desse termo afirma que cultura abrange 
todas as realizações materiais e os aspectos espirituais de um povo. Ou 
seja, em outras palavras, cultura é tudo aquilo produzido pela 
humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial, desde 
artefatos e objetos até ideais e crenças. Cultura é todo complexo de 
conhecimentos e toda habilidade humana empregada socialmente. 
Além disso, é também todo comportamento aprendido, de modo 
independente da questão biológica. 
 
 
A cultura está em uma mudança constante, sofrendo variação em tudo que se é 
passado de geração em geração, principalmente em jogos e brincadeiras ganhados novas 
formas de se brincar, regras novas e adaptações de acordo com as necessidades de cada 
ciclo de criança ou jovem que eram vivenciar essas brincadeiras. 
Segundo Pontes e Magalhães (2003), existem três tipos diferentes de 
aprendizagem cultural: a imitativa, o sujeito internaliza algo apresentado pelo outro 
sujeito, a instruída, acontece por meio de internalizações das instruções apresentadas ao 
sujeito e a mesma usada para regular á si mesmo em relação ao mundo. E por último é a 
aprendizagem colaborativa, como o próprio nome já diz, ela contribui com o que o 
aprendiz já tem para construir algo novo. 
A transmissão da cultura tem vários fatores importantes e um deles é a 
organização social do grupo, nesses grupos, acontecem trocas de vocabulários, 
18 
 
 
conceitos e habilidades de determinadas brincadeiras. A estrutura da brincadeira é 
definida pela variação de elementos que compõe a brincadeira. Troca de experiência 
entre o mais experiente e o aprendiz, sendo que o mais experiente acaba organizando a 
brincadeira, tendo uma atitudemais ativa perante o grupo. 
Essa transmissão da cultura é muito presente em brincadeiras de ruas, sendo 
sempre um fator novo de conhecimentos, aos indivíduos, que observam de forma 
passiva ou não passiva. 
 
De acordo com Benjamin (2002), a criança dá mais importância ao brinquedo 
quando são feitos por elas mesmas: 
 
Pois quanto mais atraentes, no sentido corrente, são os 
brinquedos, mais se distanciam dos instrumentos de brincar; 
quanto mais ilimitadamente a imitação se manifesta neles, tanto 
mais se desviam da brincadeira viva. (BENJAMIN, 2002, p.93) 
 
De tal modo é possível, perceber que o brinquedo ganha mais sentido, se torna 
mais atraente, quando o mesmo pode receber diferentes significados, proporcionar 
novas experiência. Benjamim (1984) faz uma critica aos fabricantes que criam jogos ou 
brinquedo com suas definições já inclusas, pois os mesmos são produzidos por adultos 
que querem “determinar” o gosto das crianças, e não partindo dos interesses que elas 
demonstram. 
 
2. ESTUDO EXPLORATÓRIO 
 
Este trabalho de conclusão de curso de pedagogia enquadra-se no tema das 
brincadeiras infantis, porém de maneira particular. Ao refletir sobre as mudanças nas 
formas de brincar entre crianças em diferentes gerações, surgiu ao pesquisador dúvidas 
sobre a importância na tradição de brincadeiras, o significado de brincadeiras antigas 
para as novas gerações, os desusos da memória quando se trata destas tradições. 
Neste sentido, compreendendo que as crianças brincam a partir do mundo em que 
elas vivem (Benjamim, Vygostky entre outros), teria sentido o ensino de brincadeiras 
criadas em tempos passados para a vida de crianças hoje? Mas se também o homem se 
19 
 
 
faz em sua humanidade a partir da cultura (Vygostky), a vivência cultural das gerações 
passadas não teriam também importância nesta constituição dos sujeitos crianças que 
estão apreendendo o mundo? E qual o debate cabível sobre este tema para os 
educadores? Seria a escola um lugar de reprodução de brincadeiras tradicionais (entre 
outras)? 
Para levantar alguns elementos que possibilitem problematizar e refletir sobre este 
problema da tradição e da espontaneidade nas brincadeiras das crianças, elegi uma 
brincadeira tradicional para procurar compreender melhor. Neste caso, na cultura 
açoriana, enfoquei a brincadeira de Boi-de-mamão. 
Tendo estabelecido este recorte, passei a procurar as produções acadêmicas 
relacionadas. Ao pesquisar no site de banco de teses da CAPES, encontrei 9 (nove) 
artigos com o descritor de cultura açoriana, sendo que dentre essas noves apenas 
2(duas) eram no campo da educação e relacionada com o meu TCC. Quanto ao descritor 
de Boi de Mamão; e também o descritor Brincadeiras tradicionais, não foi encontrado 
nenhum registro. 
Os dois trabalhos encontrados nesta busca foram incorporados neste TCC: o 
trabalho de Pereira (2006) e o de Pontes e Magalhães (2003) auxiliam nas referências e 
nas análises e trazem importantes elementos para nossas reflexões. Para poder 
efetivamente conhecer mais sobre o meu tema, foi necessário então elaborar uma 
estratégia própria de busca de fontes. 
Para obter elementos sobre a referida brincadeira em um âmbito educativo com 
novas gerações, elaborei uma pesquisa do tipo exploratória, a partir de uma fonte 
primária (educador social) e duas fontes bibliográficas de registro de práticas de 
educadores sociais. Além destes relatos interpretativos de práticas sociais relacionadas à 
brincadeira tradicional, estudei outras referências teóricas que pudessem auxiliar nas 
análises dos dados, tais como Vygotsky, Benjamim, Kishimoto entre outros. 
 Segundo Gil, 2002. p.41 
Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior 
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais 
explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas 
pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de 
idéias ou a descoberta de intuições(...) Seu planejamento é, 
portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a 
consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato 
20 
 
 
estudado. Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) 
levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que 
tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) 
análise de exemplos que "estimulem a compreensão" (Selltiz et 
ai., 1967, p. 63). Apud Gil, 2002 
 
A fonte primária utilizada é o coordenador do Grupo Arreda Boi, Prof. Reonaldo 
Manoel Gonçalves, que gentilmente participou deste estudo exploratório respondendo 
uma entrevista estruturada. 
As fontes bibliográficas são: o artigo Eloi Pereira, que trata do registro de uma 
experiência de Boi-de-Mamão com jovens em privação de liberdade no Paraná, artigo 
do ano 2006; e o livro “Arreda: é Boi-de-Mamão, vamos brincar?” de 2014, que 
apresenta com mais detalhes a experiência. 
Além disso como fonte complementar, de caráter mais ilustrativo, consultei o link 
www.arredaboi.org.br e o vídeo Aniversário Biblica 2014. 
Em todas estas fontes busquei indicadores que pudessem me dar pistas sobre os 
sentidos da brincadeira de Boi- de Mamão para os jovens e crianças envolvidos; os 
sentidos desta prática social para o coordenador (educador) da brincadeira; e os 
elementos que pudessem contribuir para uma reflexão do lugar da brincadeira 
tradicional na escola e no campo educacional de modo mais amplo. 
Assim, para cada uma das questões abaixo, procurei pistas que nutrissem o debate 
nos três textos. A partir deste levantamento, procurei analisar as respostas com base nos 
autores citados neste trabalho, e com minha perspectiva pessoal como futura professora. 
Seguem as questões, que se identificam com o roteiro da entrevista: 
1. Tem sentido para as crianças e jovens uma brincadeira tradicional, hoje? 
Explique 
2. Por que é importante (se for importante), as crianças e os jovens conhecerem 
esta brincadeira, e a vivenciarem? 
3. Quais os recursos, as facilidades e as estratégias deste trabalho? 
4. Quais as dificuldades e limites deste trabalho? 
5. A cultura tradicional pode ser inovada pelas novas gerações? Explique. 
21 
 
 
6. Como avalia o trabalho que vem realizando com o Boi-de-mamão? 
Cabe destacar ainda que tanto o artigo de Pereira quanto o livro de Britto, 
consultados como fontes, trazem em seu texto falas das crianças e jovens participantes, 
além da descrição e interpretação das experiências vividas. 
O Boi de Mamão é uma divulgação cultural, que acontece principalmente em 
Santa Catarina e no Paraná. É formado por músicas, danças na qual contam á história da 
morte de um boi, os personagens são bonecos, Bernúncias entres outros animais. A 
brincadeira teatral que acontece no decorrer da contação da história retrata a questão da 
hierarquia, relação de poder. 
Os principais responsáveis por repassarem essa tradição, são pescadores e as 
rendeiras, e são os mesmos que ajudam a preservar essa cultura em nossas histórias. 
O cantador(narrador) chama o Vaqueirinho(pessoa que cuida do 
Boi) para entrar no salão e se apresentar. Logo em seguida o 
mesmo pede a ele que traga o Boi para o terreiro porque ele 
(cantador) quer vê-lo brincar. O Vaqueirinho, então vai lá fora e 
traz o Boi, que vem acompanhado do Matheus (o dono do Boi). 
Os dois dançam e cantam com o Boi, até a hora em que o Boi 
morre no meio do salão. Nesta hora, há um conflito de patrão e 
empregado, respectivamente Matheus e Vaqueiro, sobre o 
porquê da morte do Boi. É o momento em que há uma 
improvisação espetacular e imprevisível por parte dos atores. 
As causas podem ser diversas. 
Os dois chegam à conclusão de que devem chamar um médico e 
este entra em cena com sua mala cheia de instrumentos 
exagerados de grande. O médico não consegue curar o Boi. 
Então, é solicitada a presença de um curandeiro, que benze o 
Boi com galhos. Neste meio tempo, entram urubus para pinicar 
o Boi. Os urubus são espantados. Em seguida, o cantor começaa tocar uma música para o Boi se levantar. O Boi fica bravo e o 
cantor chama o Cavalinho para laçá-lo. Com o Boi laçado, o 
cavalinho (cavaleiro) tira o Boi de cena. O cantador pergunta, o 
que é que vem agora vaqueiro? E este responde, a Cabra 
cantadora! A cabra entra aos pulos e aos berros com sua música 
própria, assim como todos os personagens deste folguedo. 
O cantador chama novamente o Cavalinho para laçar a Cabra e 
tirá-la do salão. A Cabra sai de cena e o cantador pergunta, 
novamente ao vaqueiro, quem virá agora? E o vaqueiro 
responde, a Bernúncia. É hora do bicho grande, com uma 
enorme boca parecido com um jacaré, entrar em cena. O mesmo 
entra com o som de sua música e começa a comer as crianças da 
plateia, fazendo uma grande interação com o público. Após 
engolir as crianças, a Bernúncia é retirada de cena, sendo levada 
pelo vaqueiro. Então entra a Maricota! Uma moça de três 
metros de altura, para dançar. Ela é toda desengonçada, fica 
22 
 
 
girando o tempo todo, batendo com seus braços em todos que 
estão assistindo ao espetáculo. 
Para encerrar a brincadeira, o cantador pede para que todos os 
personagens entrem novamente na roda, para fazer um desfile, 
ao som de mais uma música. Sendo esquecido o motivo da 
morte do Boi. 
Como vem sendo apresentado o contexto da apresentação do Boi de Mamão pode 
sofrer variação de acordo com o local, plateia, entre outros. Sendo adaptado ao que 
melhor cabe em determinadas situações. 
Perreira (2006), discute em seu texto questões sobre o ator e o espectador, onde 
segundo ele não há essa diferença, para justificar esta pesquisa no qual ele produziu, 
realizado em um espaço com privação de liberdade com aproximadamente 19 jovens 
entre 14 a 18 anos. 
Na pesquisa realizada por ele é apresentado à história do Boi-de-Mamão (do 
grupo Arreda Boi), no qual foi adaptada a história para o grupo que se iria pesquisar. Os 
jovens presos que participavam da pesquisa foram incentivados a reproduzir, recria a 
mesma, partindo do contexto em que eles estavam inseridos. De forma que a 
apresentação fosse realizada para que todos pudessem entender do que se trata. 
São apresentados no livro de Britto (2014), relatos de pessoas que tem ou tiveram 
contato com o Boi-de-Mamão e o que o Boi é para elas. No decorrer do texto a autora 
vem discutindo e apresentando de como o grupo é formado, como surgiu, qual a 
importância deste para os sujeitos que participa dos projetos, confecções, apresentações, 
entre outros. 
No livro “Arreda: é Boi-de-Mamão, vamos brincar?” a autora apresenta como 
surgiu o grupo e da maneira que ele se constitui como um grupo, discutindo questões de 
grupo e não de individualidade. 
 
3. ANÁLISES 
 
Neste capítulo apresento os dados coletados nesta pesquisa exploratória, 
elaborando um diálogo entre as práticas realizadas por dois educadores, um como fonte 
primária e o outro a partir de artigo que registra a prática. Para analisar e discutir os 
23 
 
 
dados, recorro às referências do capítulo teórico, Vygostky, Benjamim, Kishimoto e 
outros. 
Para apresentar estas análises e sua discussão, organizei por itens que 
correspondem às questões do roteiro utilizado na entrevista. Para cada questão busco 
elementos explicativos na entrevista, no texto e na literatura; procurando problematizar 
e discutir a partir do campo da educação e da infância. 
1. Tem sentido para as crianças e para os jovens uma brincadeira tradicional 
hoje? Explique 
Na brincadeira conseguimos demonstrar o que realmente somos, sentimos e 
pesamos. Geralmente por timidez ou inibição escondemos esse nosso lado infantil. 
Como apresentado no livro “Arreda: é Boi-de-Mamão, vamos brincar?”. Ianô de 10 
anos relata: “tô perdendo muito mais a vergonha do que eu tinha antes, e tá sendo uma 
oportunidade pra conhecer mais gente, mais coisa sobre a cultura”. Através da 
brincadeira, ou melhor, dizendo do personagem passamos se desenvolver de uma 
maneira natural. 
Um dos sentidos que podemos explorar na brincadeira do boi de mamão, e que 
aparece apontado pela fala do Ianô refere-se ao espaço de socialização oportunizado por 
esta brincadeira. Segundo Belloni, (2009, p.69): 
A socialização é um conjunto de processos pelos quais o 
indivíduo é construído (segundo a visão de sociedade que se 
tem, pode-se dizer: formado, modelado, condicionado ou 
fabricado) pela sociedade global e local, processos durante os 
quais o indivíduo adquire (incorpora, integra, interioriza, 
apropria-se de) modo de pensar, fazer e de ser. (...), esses 
processos são especialmente importante na infância e na 
adolescência. Esses processos extremamente complexos e 
dinâmico, integra a influência de todos os elementos presentes 
no meio ambiente e exige a participação ativa da criança. 
(BELLONI, 2009, p.69) 
 
Mas o fato de ser um espaço privilegiado de socialização não significa apenas um 
processo de adaptação das crianças e dos jovens a uma ambientação tradicional. 
Segundo Pereira (2006) e Britto (2014), a brincadeira deve acontecer de acordo 
com o público que irá interagir, como o Boi-de-Mamão, que se adapta ao contexto dos 
24 
 
 
sujeitos que irão presenciar e participar, fazendo uma conversa paralela entre quem 
encena/apresenta e quem assiste, de forma passiva ou ativa. 
No relato de Pereira (2006), o boi de mamão realizado em um ambiente de jovens 
com privação de liberdade, ou seja, um presídio, sofreu adaptações de texto que 
incluíram naquela tradição aspectos da realidade vivida no presídio. De tal modo que, 
tanto os que apresentaram o boi, quanto os que assistiram a apresentação, 
compartilharam de dois sentidos simultâneos, paralelos e complementares da estória: 
um, o sentido da tradição e o outro o sentido da realidade atual vivida. Segue um trecho 
do texto tal com foi adaptado pelo grupo do presídio: 
M - Eu acho que o meu boizinho tá muito aprisionado 
ultimamente, pode ter sido isso. 
V - Muito tempo preso. 
M - Muito tempo. 
V - Bem cuidado (examina). Será que ele pegou alguma 
contenção? 
M - Não sei. 
V - Eu acho que não, o relatório dele tá indo bem, então. 
M - E agora? Que é que nós vai fazer? Será que nós paga 
um advogado? (PEREIRA, 2006, p.300) 
 
A Adaptação do contexto da brincadeira do Boi pode variar conforme o grupo que 
a interpreta, inovando essa brincadeira tradicional conforme local em que se insere, e 
oportunizando novos sentidos para o grupo participante, tanto na hora de elaborar este 
novo texto coletivo quanto na hora de apresentar e assistir. 
As brincadeiras tradicionais muitas vezes vivenciadas por nós quando crianças são 
esquecidas quando nos tornamos adultos. Já quando adultos ao brincar dessas 
brincadeiras tradicionais, ao observar alguém brincando é possível notar que esse adulto 
não se prende apenas nas novas maneiras de se brincar esta mesma brincadeira, mas sim 
remete aos sentimentos e as lembranças que foram significativas para o seu 
desenvolvimento enquanto sujeito. 
De acordo com Nado, na entrevista realizada, são as manifestações da cultura 
popular, que registram “uma época, desta época, de um povo, deste povo”, fazendo essa 
conexão entre crianças e jovens com brincadeiras tradicionais. 
25 
 
 
A importância da brincadeira tradicional não se remete apenas a conhecer nossa 
cultura. Mas em trabalhar valores, que significarão para uma vida inteira, valores das 
formas de viver no coletivo, em sociedade, aos quais sentimos e experimentamos 
convivendo em grupo. Nado ressalta, que “num tempo onde a individualidade impera 
isto por si só é de suma importância”. O Boi-de-mamão é a porta para somar os 
diferentes pensamentos, sendo construído em conjunto das gerações. 
 Como já apresentado por Vygotsky a brincadeira é a forma mais interativa para o 
desenvolvimento, seja infantil ou juvenil. 
Será que uma brincadeira tradicional, com suas regras, modos prontos de fazer, 
cantigas estabelecidas, pode ser consideradauma brincadeira? 
Na brincadeira tradicional do Boi temos a oportunidade de vivenciar, experiências 
como a confecção dos bonecos dando mais importância aos brinquedos, que fazem parte 
do teatro. Quando se constrói o próprio brinquedo ou colabora para a construção, o 
mesmo ele passa a ter mais significado, mais importância aos olhos de quem está 
confeccionando. O grupo do Arreda Boi oferece oficinas para a construção de 
instrumentos musicais e os personagens. 
Na confecção dos diversos elementos usados no Boi-de-Mamão, se faz uma troca 
de conhecimento, ou seja, quem sabe mais ensina os que sabem menos, quem não 
conhece passa a conhecer. A experiência de um pode ser o incentivo para outro. Assim 
por diante vão se constituindo como sujeito. Na troca de conhecimentos e experiências, 
que podem ocorrer tanto na comunidade em que vive quanto, principalmente dentro do 
espaço escolar. Basta o educador se mobilizar e apresentar ao aluno a cultura que está 
inserido. Aceitando sugestões e ideias, mobilizando discussões provenientes de 
conhecimento, no qual cada um irá se apropriar do que lhe for mais significativo. 
Apesar de existirem personagens básicos da trama do Boi, confeccionar estes 
bonecos é como confeccionar brinquedo: a autoria com a técnica para produzir algo que 
está na imaginação e para o qual se dará vida na hora da apresentação. Assim, o objeto 
nasce da cultura, mediado pela fantasia do sujeito criador, e é animado pelo coletivo do 
brincantes em diálogo com a plateia. Isto também é brincar. 
26 
 
 
Segundo Benjamim (2002, p.93), como já apresentado no capítulo primeiro, o 
brinquedo construído se torna mais importante aos olhos de quem o constrói. Desta 
perspectiva, o Boi tem também este sentido na brincadeira. 
Portanto os sentidos da participação de novas gerações em uma brincadeira 
tradicional, tal como o boi de mamão, podem ser percebidos tanto a partir de sua forma 
( a dinâmica da brincadeira que possibilita conhecer pessoas, ampliar cultura e encarar a 
vergonha como diz Ianô) quanto a partir de seu conteúdo (como no caso da adaptação 
do texto que conversa com a tradição e a realidade atual). 
2. Por que é importante (se for importante) as crianças e os jovens 
conhecerem esta brincadeira? E a vivenciarem? 
A brincadeira segundo Nado (na entrevista) é “uma das mais importantes 
estratégias de resistência politica do momento presente”. Como apresenta Vygostky 
(1999) em sua obra, ao brincar a criança não apenas apreende o mundo que a cerca 
como produz sua compreensão a respeito deste mundo, utilizando sua imaginação a 
criança foge das determinações do cotidiano, inventando cenários, ampliando 
possibilidades de ação e pensamento. Neste sentido, podemos compreender uma 
perspectiva do brincar também como resistência política de um sujeito que poderia estar 
alienado de si, e que, ao brincar, se coloca no mundo, se constitui como sujeito de 
direito. 
Pereira (p.297) O Boi-de-Mamão é apresentado para que as crianças e os jovens 
possam se expressar através do teatro, mostrando que não tem atores e espectadores, 
todos podem representar, protagonizar. Quebrando as supostas técnicas para representar 
ou dramatizar, mostrando que todos são capazes de atuar. 
Trata-se do princípio de transformação do cidadão em ator/atriz, 
a fim de realizar “a destruição das barreiras criadas pelas classes 
dominantes. Primeiro se destrói a barreira entre atores e 
espectadores: todos devem representar, todos devem 
protagonizar as necessárias transformações da sociedade”. 
(PEREIRA, 2006, p. 297) 
Ao analisar a organização das experiências de Boi aqui estudadas, é possível 
compreender que seu aspecto tradicional, não vem só apresentar uma brincadeira 
tradicional, ele oportuniza a trabalhar questões hierárquicas, politicas, ditaduras de 
tradições, entre outras problematizações que variam de acordo com o grupo que está 
sendo “trabalhado”. 
27 
 
 
Ainda segundo Pereira (2006), a brincadeira tradicional que aqui vem sendo 
apresentada, contextualiza para que os jovens possam sair de uma hierarquia, onde o 
proletário é oprimido. Tendo a possibilidade de se expressar através do teatro, 
manifestando suas necessidades, opiniões, problemas particulares, mas que ao mesmo 
tempo façam parte do grupo no qual presenciam sua atuação. 
Outro fator importante de crianças e jovens vivenciarem o Boi-de-Mamão, são as 
oportunidades de propor um “novo” caminho aos sujeitos, 
(...) se o Arreda Boi não tivesse entrado na minha vida eu ia 
estar sozinha, né? Em casa, daí fazendo nada. E como tem o 
Arreda Boi agora a gente pode conhecer muitas pessoas novas, 
pode trazer muita gente. A gente pode fazer uma turma, um 
grupo, e sermos amigos, né? (Amanda Gonçalves, 13 anos) 
 
Mais que um olhar de educadora sobre o brincar, os depoimentos presentes no 
livro do Arreda Boi, nos remete a refletir sobre a importância que um grupo compostos 
por diversas gerações, desperta desejos e vozes em cada sujeito que conhece a 
brincadeira do Boi, criando uma brincadeira em constante mudança, mudança feita por 
gerações que ali passam. Para Vygotsky (1998), nas interações sociais a criança 
humaniza-se, ou seja, nas mediações, nas trocas simbólicas com o meio social, a criança 
adquire uma compreensão de como é ser nesta sociedade neste tempo, identifica-se com 
a forma de viver dos humanos à sua volta, humaniza-se. Um espaço de pertencimento é, 
antes de tudo, uma oportunidade de humanização. 
“Vivenciar a brincadeira é se construir um sujeito que brinca, 
que ri, que se forma neste universo. A infância que vive estes 
momentos é uma infância feliz. Uma brincadeira que perpassa 
tempos, que constrói personagens, que rememora pessoas 
importante (memória), que vai ganhando adeptos.” 
(GONÇALVES,2015) 
 
3. Quais os recursos, facilidades, estratégias deste trabalho? 
Segundo Pereira (2006), o Boi-de-Mamão possibilita trabalhos que envolvam 
questões sociais, o meio ambiente, diferentes culturas, oportuniza discutir também 
questões sobre ética. Assim abrangendo discussões que questionam as vivências das 
crianças e dos jovens. 
28 
 
 
É possível problematizar, por exemplo, de onde conheceram o Boi-de-mamão? 
Porque o Boi-de-Mamão muda de acordo com o local que se apresenta? Será que 
sempre foi da mesma forma a apresentação? Quem constrói os personagens? Do que é 
feito os personagens? Dentre muitas outras questões que podem ser levadas para a 
escola, ou comunidade. No entanto, este processo de debate e conscientização, só é 
possível, segundo GONÇALVES (2015) “Na medida em que a escola tenha bem claro 
no seu projeto político a arte, a educação e cultura popular”. 
A brincadeira que vem sido discutida pode, além de apresentar uma nova cultura, 
desenvolver o sujeito desde, 
Que o trabalho não seja entendido como entretenimento e sim 
como um ambiente de construção de conhecimento através de 
pesquisas, de sistematização do que foi coletado; das 
possibilidades de trabalhar com artes plásticas, música, 
literatura, dança. Que se faça intersecção entre o erudito e o 
popular. (GONÇALVES, 2015) 
 
FANTIN e GONÇALVES “Falar de brincadeira é falar de criança”, no Boi-de-
Mamão todos têm espaço para brincar, crianças, jovens, idosos. Sempre levando alegria 
a muita gente independentemente, com a contribuição de todos assim gerando o Boi. 
4. Quais as dificuldades e limites deste trabalho? 
Pereira (2006, p.293) faz critica ao Boi-de-Mamão, caso seja “transmitido apenas 
para recontar a narrativa tradicional de morte e ressureição, sem coloca-la em dialogo 
com a nossa história atual”. A brincadeira ajuda a desenvolver por variar em diferentes 
lugares e grupos. 
Há também um aspecto de integração se nos focarmos no adulto. O individuo 
adulto que teve por costume na sua infância brincar do Boi, quando presencia essa 
brincadeira pensa nas semelhanças e nas diferenças entre grupos que apresentam o Boi-
de-Mamão.Este aspecto mnemônico também pode ser compreendido como uma forma 
de inclusão deste sujeito, que dialoga assim com as novas compreensões daquilo que ele 
mesmo um dia viveu. 
Britto (2014), afirma essa questão negativa de o Boi-de-mamão ser apresentado 
apenas para repassar a cultura, ele deve ser problematizado, questionado. Através da 
brincadeira tradicional, tanto crianças, jovens e adultos, todos se desenvolve, pois assim 
29 
 
 
como a cultura sofre modificações a brincadeira na qual faz parte de nossa cultura se 
modifica também. Às vezes essa mudança pode ser o mais discreta, como um 
instrumento, ou um elemento mais significativo como personagem, alguma cantiga. 
É fundamental essa mudança para que assim ela sempre se adequa a geração que á 
vivencia. 
 
5. A cultura tradicional pode ser inovada pelas novas gerações? Explique. 
Segundo Vygotsky a cultura é o que define o sujeito, que, por sua vez, modifica 
essa cultura. Criando outro tipo de cultura e assim mostrando o quanto é importante essa 
troca entre as gerações, onde os mais experientes ensinam os menos experientes e vice-
versa. Edmir Perrotti, discuti esse conflito entre a cultura que é apropriada pela criança, 
mas que não pode modificá-la: 
 A forma de entender a cultura como um produto acabado a ser 
transmitido para a criança apenas reforça um processo onde as 
coisas passam a ter vida e as pessoas a serem vistas como 
coisas. O que não deve ser feito é reduzir a cultura aos produtos 
que realiza, deixando-se de lado o modo e as relações de 
produção como o próprio produtor (PERROTTI, 1990, p. 16). 
 
Segundo Gonçalves, o Boi-de-Mamão vive este dilema. 
 
Sempre do mesmo jeito, sendo que ele nunca foi do mesmo 
jeito. Ele (o boi de mamão) chega na escola e se petrifica num 
espaço que deveria ser o oposto. A criança por principio vem 
sempre oferecendo perguntas para nós. Quando trabalhamos 
com o boi nossas respostas são sempre “não” pode. A tradição 
não permite. Uma espécie de ditadura da tradição. 
 
Até o momento, foi possível perceber o quanto é importante vivenciar e 
apresentar a cultura ás novas gerações, porem a cultura deve ser adaptada de acordo 
com a geração que a vivencia. 
Segundo Pereira (2006, p.298) a re-elaboração da história do Boi-de-Mamão 
apresenta temas que predominam no ambiente dos sujeitos pesquisados (adolescentes 
privados de liberdade), como: a privação, desejo de liberdade, solidão e sonho de 
felicidade. 
30 
 
 
No contexto do texto os adolescentes relacionaram a brincadeira aos seus 
cotidianos, fazendo menções de diálogos no qual são frequentemente usados naquele 
espaço. Um jovem que encena o papel de vaqueiro responde que o motivo da morte do 
boi é por falta de liberdade. Liberdade ao qual eles se referem não ter. 
Fica evidente á todo instante que estão representando a história do Boi-de-Mamão 
e não de outra brincadeira, mas que a mesma sofreu modificações de acordo o contexto 
vivido pelos adolescentes. 
Uma frase que marca esta questão é quando se diz “que a cultura humana está na 
cultura da criança de forma elementar, ou seja, a criança está em constante 
desenvolvimento, constante mudança, de tal modo a cultura na qual vive também está 
em constante mudança, pode não ser no mesmo ritmo, porem a cultura não está 
estagnada. 
Quando Gonçalves questiona que a “tradição não permite”, ele simplesmente se 
alinha ao que Paulo Freire (1996) diz, no livro Pedagogia da autonomia onde, “ensinar 
não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção 
ou a sua construção”. Que nem tudo que ensinamos será compreendido na mesma forma 
por todos, o mesmo acontece com a cultura. Que ao apresentar uma brincadeira 
tradicional as diferentes gerações elas vão “adaptar” de maneira que sejam significativas 
á elas. 
3.1 Relação entre a brincadeira tradicional e a escola 
A criança se relaciona com a brincadeira bem antes de ter o primeiro contato com 
a escola, como afirma (Kishimoto, 2002, p.139) a brincadeira é uma atividade que 
começa desde seu nascimento, ou seja, em contato com a família. A brincadeira na 
instituição ela promove novos conhecimentos, diferentes dos que são presenciados no 
âmbito familiar. 
Assim a criança ou o jovem passa a conhecer novas experiências. E essa troca de 
conhecimento varia nos diferentes contextos culturais, como a música, a dança, o teatro, 
ou qualquer outra formar artística que sofre modificação em sua cultura tradicional. Na 
brincadeira do Boi-de-Mamão e no livro “Arreda: É Boi-de-Mamão, vamos brincar!?” é 
bem claro essa modificação feita pelas novas gerações. Como já mencionado por 
Benjamin e Vygotsky o sujeito se fundamenta em contato com o outro. 
31 
 
 
De acordo com o Britto a importância da brincadeira tradicional, o Boi-de-Mamão 
é: 
“resgatar, preservar e divulgar as manifestações culturais do 
Município de Florianópolis”, sem perder de vista os aspectos 
plural e dinâmico dessas manifestações. Em outras palavras, o 
Arreda atua para reavivar danças e cantigas populares; fazer 
com que elas permaneçam vivas no cotidiano da comunidade da 
Barra da Lagoa e da cidade de Florianópolis; difundir e 
compartilhar estas práticas culturais/artísticas com indivíduos e 
coletivos de outros contextos.(2014, p.14) 
Quando se constrói o próprio brinquedo ou colabora para a construção, o mesmo 
ele passa a ter mais significado, mais importância aos olhos de quem está 
confeccionando. O grupo do Arreda Boi oferece oficinas para a construção de 
instrumentos musicais e os personagens. 
Na confecção dos diversos elementos usados no Boi-de-Mamão, se faz uma troca 
de conhecimento, ou seja, quem sabe mais ensina os que sabem menos, quem não 
conhece passa a conhecer. A experiência de um pode ser o incentivo para outro. Assim 
por diante vão se constituindo como sujeito. Na troca de conhecimentos e experiências, 
que podem ocorrer tanto na comunidade em que vive quanto, principalmente dentro do 
espaço escolar. Basta o educador se mobilizar e apresentar ao aluno a cultura que está 
inserido. Aceitando sugestões e ideias, mobilizando discussões provenientes de 
conhecimento, no qual cada um irá se apropriar do que lhe for mais significativo. 
Por tal modo é importante que se tenhamos a possibilidade de criar o nosso próprio 
brinquedo, de re-significar essa brincadeira tradicional. Para que se brinque por brincar 
e não por ser obrigatório em determinados momentos. 
O Boi-de-mamão é o exemplo mais concreto presente em nossa cultura, pois ele é 
um trabalho coletivo, sendo um (Gonçalves, 2015) “mosaico de coisas”, construído, 
modificado, inovado, pesquisado nas mais diferentes gerações. Ao mesmo tempo se 
torna um trabalho frágil, por não ser considerada algo fundamental na vida do homem 
como a educação. Mas não tem como viver em sociedade sem que façamos parte da 
cultura, seja ela qual for. 
É através da cultura que a educação acontece de forma facilitada, pois estão 
presentes diversos elementos fundamentais para que nós como educadores 
possibilitássemos uma educação mais prazerosa e desenvolvendo a criança ou jovens, 
para um pensamento mais autônomo e questionador, saindo da visão tradicional de se 
32 
 
 
educar, uma educação passiva. A brincadeira proporciona uma ampliação de 
criatividade 
Apesar do Boi de Mamão fazer parte de uma cultura popular 
desta cidade, sua inserção no âmbito escolar público, ou seja, 
onde está a camada da população que mais se identifica com 
esta manifestação cultural, é bastante pequena. Entre tantos 
motivos, destaco a falta de conhecimento que os profissionais 
destas instituições têm sobre o tema Boi de Mamão e, 
consequentemente, as poucas e muitas vezes equivocadas 
possibilidades de inclusão deste na escola. (GONÇALVES, 
2014, p. 67) 
 
Porém uma critica a se fazer, que na maioria das escolas só se trabalham com o 
Boi-de-Mamão em épocas festivas, principalmente nos mesesde junho e julho. 
Conforme apresentado por Paim (2010) é de extrema importância os alunos 
manterem contato com os mais diversos patrimônios, cabendo ao professor/educador 
em fazer essa ligação entre as crianças ou jovens. Utilizando de diversos recursos e 
materiais para facilitar este contato com os diferentes patrimônios que nossa cidade 
pode oferecer. 
Geralmente em nossas cidades, bairros, vilas, comunidades 
rurais, tribos, quilombos, enfim onde tiver grupo de pessoas 
temos alguns marcos da memória coletiva desses, que podem 
ser expressos de forma material em monumentos construções, 
praças, igrejas, terreiros, casas de moradia, fotografias, imagens 
de santos, objetos de cerâmicas, madeira, pedra, tecido ou ferro. 
Ou de forma imaterial em danças, rezas, cantigas, adivinhas, 
benzimentos, histórias orais, receitas, diferentes modo de fazer 
[...] Todas essas e muitas outras formas de expressão da 
memória e patrimônio podem e precisam ser valorizadas 
[...] (PAIM, 2010, p.97). 
 
Quando possibilitamos ao aluno o acesso a patrimônios de nossa cidade juntamente 
com brincadeiras populares, facilitamos a oportunidade de experimentar tornando 
prazeroso esse contato com a cultura no qual vive ou passa a conhecer. “Fui aprendendo 
muita coisa. Fui sabendo mais o que era essa cultura”. Amanda, 13 anos 
É de extrema responsabilidade á nós educadores, propor aos estudantes a 
ampliação de repertórios. Mediando e orientando os sujeitos a novos desafios, 
aumentando sua imaginação, criatividade em relação à cultura e ao seu desenvolvimento 
33 
 
 
em diversos fatores. Levando em consideração aspectos de afetividade, cuidados e 
necessidades de cada sujeito. 
Outro aspecto importante é o de compreender a apropriação dos conhecimentos 
que contribuíram e contribuem para a nossa história cultural, praticas de valores que se 
perpassam em experiência com o outro, aqui apresentado através do brincar. Lima 
(2009) destaca que: 
Podemos perceber que o brincar oferece situações de 
desenvolvimento para a criança que dão suporte para as 
aprendizagens de conhecimentos sistematizados. O brincar 
envolve várias capacidades que podemos considerar como 
suporte ao currículo. As aprendizagens escolares dependem não 
somente das atividades de ensino de conteúdos escolares como 
também das atividades que promovem o desenvolvimento 
infantil. (p,10) 
Sendo assim a brincadeira é uma pratica cultural, onde a criança se desenvolve e á 
modifica de acordo com suas necessidades. A cultura sofre variação constante e o 
mesmo acontecem com as brincadeiras, ambas vão se modificando conforme os 
indivíduos que as vivenciam. 
 “Quando eu sair daqui, vou formar um grupo de Boi na minha 
comunidade.” Essa disposição já indica a emancipação (...) este 
jovem claramente transcendeu o papel de espectador para 
tornar-se um ator social, apropriando-se de uma linguagem não 
para repeti-la, mas para colocá-la em diálogo com o seu 
meio e recriá-la. (Pereira, 2006, p.301) 
 
Assim por diante a brincadeira tradicional vai sendo modificada e conhecida. 
Na brincadeira do Boi cada um tem personagem, e será que é natural para a 
criança lidar com essas “regras” já estabelecidas? É possível se pensar que desde 
pequeno ás crianças estão acostumadas a “encarnar em personagem”, quando se 
referimos á brincadeira de casinha a criança imita o adulto no qual convive. 
Vygotsky (1994, p.54) “a criança não realiza a transformação de significados de 
uma hora para outra”. É através da brincadeira que principalmente a criança aprende a 
dar significados as coisas. Por isto que não a transformação não ocorre imediatamente, e 
sim conforme brinca da mesma brincadeira. 
 
34 
 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Passar ou repassar a cultura de geração á geração não quer dizer que essa cultura 
não pode ser modificada pelas crianças e jovens. Nós como educadores sabemos que 
através da brincadeira a criança é estimulada a vários desenvolvimentos e estimulações, 
tudo de uma forma mais prazerosas. 
Porém como já mencionado no primeiro capítulo, Kishimoto, diz que essas 
brincadeiras podem ou não ser prazerosas, varia da intencionalidade da brincadeira. 
Quando se torna obrigação deixa de ser satisfatória. 
Já na área escolar o Boi-de-Mamão pode ser apresentado para diferenciar do que 
sempre vem sendo trabalhado nas escolas de forma fragmentada, como se as 
disciplinas estivessem em caixas isoladas umas das outras e fechadas. Incentivando as 
crianças a fazerem releituras das historias tradicionais do Boi-de-Mamão, é possível 
integrar conteúdos da vida das crianças, considerando as diversas áreas do 
conhecimento. Proporcionando aos alunos o privilegio de experimentar, criar, vivenciar, 
valores de uma manifestação cultural. Como a confecção dos personagens, as novas 
musicas que podem ser criadas pelos estudantes entre outros tipos que proporcione a 
imaginação e desinibe o aluno. 
Ao trabalhar com o Boi-de-Mamão, se tem a oportunidade de trabalhar com os 
mais variados materiais, do reciclável ao que podem ser produzidos pelo grupo. 
Proporcionando aos estudantes o contato com objetos presentes em nossa cultura dando 
a oportunidade de tocar, criar, conhecer, imaginar essas experiências que lhe são 
apresentadas. Abrangido as dimensões artísticas, lúdicas e criativa, enquanto sujeito. 
Neste sentido, as características desta brincadeira tradicional são também as 
características da brincadeira, do ato de brincar. 
O brinquedo ganha mais importância e sentido quando nós mesmo o criamos 
(vide Benjamim, já citado). No Boi-de-Mamão o gostoso é essa confecção e toda a 
trajetória para que a magia da brincadeira aconteça e não só o processo final. Nada se 
torna mais prazeroso do que aprender brincando. Neste momento criativo a brincadeira 
tradicional ganha a imagem de quem a produz, sendo então recriada e, mesmo sendo 
tradicional, torna-se viva, espontânea e original. 
35 
 
 
Neste sentido é possível levantar a hipótese de que mesmo para as crianças de 
uma nova geração, este ato criador e lúdico ganha sentidos para a criança em seu 
desenvolvimento, em seu prazer de experimentar com liberdade ao brincar, aprendendo 
a lidar com suas emoções e medos. Facilitando também imaginação, proporcionando 
fantasias, lendo e escrevendo o mundo no sentido que nos propõe Paulo Freire. 
Ao ver uma apresentação de Boi-de mamão, quem não sente vontade de brincar, 
tocar, se socializar com os personagens? Saber como eles foram feitos? Todo esse 
contexto pode ser levado para dentro de uma instituição de ensino, e confeccionar com 
os estudantes, problematizar, atuar, brincar e o mais importante deixar que eles sejam 
autônomos de sua brincadeira e mostrar aos mais velhos a mudança que ocorreu na 
brincadeira passada a nova geração. 
O Boi-de-Mamão pode sofrer variações de lugar para lugar e entre grupos, mas ao 
presenciar uma apresentação sabemos que se refere a mesma brincadeira, a história 
retrata a morte e a ressureição do Boi não varia, o que muda são as diferentes formas 
que o boi morre e o que acontece no decorrer da contação. Alguma vez você já parou 
pra pensar o por que sempre é desta forma? Por que a história da morte e ressureição do 
boi não muda? Por que o personagem principal não é um pato ao invés do boi? 
Certamente nunca paramos para pensar, refletir sobre esta modificação. Apenas nos 
acostumamos com o que está imposto á nós. 
Nas análises nos deparamos com importantes elementos para a reflexão sobre as 
brincadeiras tradicionais e novas gerações. A dimensão política, a dimensão da 
resistência, da hierarquia, o coletivo e o indivíduo, competição e solidariedade, aspectos 
da socialiação do jovem e da criança, as formas que permitem sentir-se pertencente; os 
conteúdos que são conversados na elaboração do boi a ser apresentado, a autonomia da 
criança, a criança como sujeito de direito e que se apropria da cultura de forma ativa 
Naescola porém fica claro também que as inúmeras possibilidades para o 
processo de humanização das crianças e dos jovens por meio da brincadeira tradicional 
não se revelam espontaneamente apenas pela presença desta brincadeira. A forma de 
coordenar, os valores que colocam em evidência os aspectos mais coletivos das 
gerações, faz toda a diferença. Ter uma brincadeira tradicional na escola exige uma 
atitude consciente e intencional para que esta prática social de fato possa alcançar todas 
estas dimensões citadas. 
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Quando comecei esta pesquisa meu entendimento e minha dúvidas sobre a 
brincadeira tradicional estavam apenas colocadas na ideia de que a brincadeira refere-se 
ao desenvolvimento da criança, e um certo incômodo com a ideia de que as brincadeiras 
antigas fossem esquecidas. 
Agora, depois de realizar este estudo, meu campo de visão ampliou, de acordo 
com outros aspectos mais relacionados aos fatores políticos, filosóficos, sociais da 
socialização e da vida em sociedade, do diálogo mesmo entre o novo e o velho. Percebo 
a troca de experiências como algo de valor, e a renovação do antigo como um ganho de 
qualidade tanto para os mais velhos quanto para os mais jovens. Talvez hoje estejamos 
percebendo as gerações de forma muito separadas, cada um com sua faixa etária, e a 
realização deste trabalho me faz pensar no que estamos perdendo nesta polarização 
entre novo e velho. Seria a escola um lugar só das crianças? Estaria faltando mais 
presença destas tradições? Talvez não se trate apenas de saírem os antigos e chegarem 
os novos, mas das possibilidades de efetivamente termos situações que oportunizem 
trocas de conhecimentos e de convivência. Se esta já era uma desconfiança minha, 
agora com muito mais argumentos e fundamentos para discutir a educação neste âmbito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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