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Profa. Ma. Marilene Ferreira UNIDADE I Estudos Disciplinares A Violência Doméstica Contra a Mulher Vamos estudar: UNIDADE I Patriarcado, gênero, movimento feminista. O que é violência, formas de violência. UNIDADE II Serviço Social e a violência doméstica. Combate à violência doméstica contra a mulher. A violência doméstica contra a mulher Patriarcado: o mais antigo sistema de dominação-exploração. Baseado na dominação, opressão e exploração das mulheres. As mulheres são tratadas como inferiores aos homens. O patriarcado explica a construção e manutenção do sistema social de exploração- dominação presentes na vida de mulheres e homens. As relações de gênero são construídas socialmente e, passíveis de mudança, abrem espaço para as lutas em busca de maior igualdade entre homens e mulheres. O patriarcado possui um conceito fixo contendo, no seu bojo, a dominação masculina. O conceito de gênero remete a relações não fixas entre homens e mulheres. Nesse sentido, as relações sociossimbólicas são construídas e podem ser transformadas. Patriarcado e gênero Gênero é um empreendimento realizado pela sociedade para transformar o ser macho ou fêmea em homem ou mulher. Gênero é uma construção social, já que para transformar um bebê em homem ou mulher é preciso investimento social das instituições sociais como família, escola e igreja. Em quase todas as sociedades humanas, gênero é organizado de forma hierarquizada, ou seja, dando maior poder aos homens. Dessa forma, os sistemas de gênero conhecidos por nós são também sistemas que organizam relações de poder nas sociedades humanas, na estrutura e no funcionamento das instituições. Gênero Analisando como se estabelecem as relações entre homens e mulheres, é possível mostrar como as desigualdades são construídas historicamente numa relação de exploração- dominação e privilégio dos homens em detrimento das mulheres em todos os lugares: na família, nas empresas, nas igrejas, nos sindicatos, nos partidos políticos. Rigorosamente, os seres humanos nascem machos ou fêmeas. É por meio da educação que recebem, que se tornam homens e mulheres. A identidade é, portanto, socialmente construída. Continuação Períodos: 1º período: 1860-1920 Direitos iguais e movimentos reformistas nos EUA e Inglaterra. Sufrágio feminino – 1918. 2º período: década de 1960 Duas correntes: Movimento reformista – obter direitos iguais e eliminar a discriminação contra as mulheres. Libertação das mulheres – programa mais radical de mudança social. Direito sobre o corpo – aborto. Movimento Feminista 1º momento – 1980-1985 Macrossocial – a mulher: participação e representação política. 2º momento – O cotidiano é político – grupos de reflexão feminista – entender o sujeito mulher, a identidade feminina. Resistência social e acadêmica. 3º momento – 1989 até hoje Lutar contra os guetos e resgatar aliadas, politizando os espaços público/privado. O que produzimos do micro no macro e vice-versa. Movimento Feminista Onde a socialização de gênero orienta as relações de poder na sociedade? a) Na estrutura apenas da família. b) Na estrutura apenas do Estado. c) Na estrutura e no funcionamento das instituições como o Estado, a Escola e a Igreja. d) Na estrutura apenas da Igreja. e) Nenhuma das alternativas. Interatividade Onde a socialização de gênero orienta as relações de poder na sociedade? a) Na estrutura apenas da família. b) Na estrutura apenas do Estado. c) Na estrutura e no funcionamento das instituições como o Estado, a Escola e a Igreja. d) Na estrutura apenas da Igreja. e) Nenhuma das alternativas. A resposta C está correta. Resposta Há décadas segmentos da sociedade brasileira têm se mobilizado em torno da discussão e enfrentamento da violência contra as mulheres. As reflexões e intervenções do segmento feminista significaram uma mudança de paradigma sobre o lugar das mulheres na sociedade, na discussão da sexualidade, nas relações afetivas, no mercado de trabalho, entre outros. Unidade I Da reflexão feminista emerge um eixo importante: a inclusão na pauta pública e social do privado como questão pública. Nesta perspectiva, a violência contra as mulheres deixou de ser um problema de “foro íntimo”, diante do qual a sabedoria popular aconselha a observância da máxima que diz que “em briga de marido e mulher não se deve meter a colher”, para se tornar uma discussão de leis e políticas públicas de enfrentamento das cotidianas formas de violência que as mulheres têm sofrido historicamente. Unidade I Nesta trajetória de lutas e conquistas, em 2006, foi aprovada a Lei n. 11.340/06. Conhecida como Lei Maria da Penha, essa lei representa um avanço no enfrentamento da violência contra as mulheres e coloca novas discussões e desafios à sociedade brasileira. A Lei Maria da Penha é resultado da desconstrução e da ressignificação das representações sociais da violência contra as mulheres, a qual deixa de ser um ato infracional e passa a ser tratada como um crime contra a vida e os direitos humanos das mulheres. A agressão contra as mulheres é um fenômeno perversamente democrático. Ele ocorre em todas as classes sociais, nas diversas faixas de idade e sem distinção de cor/raça. A violência contra as mulheres é apresentada, por diversos autores, como uma expressão do modelo patriarcal incorporado nas sociedades. Unidade I Uma das imagens mais associadas à violência doméstica e familiar contra as mulheres é a de um homem – namorado, marido ou ex – que agride a parceira, motivado por um sentimento de posse sobre a vida e as escolhas daquela mulher. De fato, esse roteiro é velho conhecido de quem atua atendendo mulheres em situação de violência: a agressão física e psicológica cometida por parceiros é a mais recorrente no Brasil e em muitos outros países, conforme apontam pesquisas recentes. O que é a violência doméstica? A recorrência, porém, não pode ser confundida com regra geral: a relação íntima de afeto prevista na Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) não se restringe a relações amorosas e pode haver violência doméstica e familiar independentemente de parentesco – o agressor pode ser o padrasto/madrasta, sogro/a, cunhado/a ou agregados – desde que a vítima seja uma mulher, em qualquer idade ou classe social. Violência doméstica Violência doméstica e familiar contra a mulher é qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, conforme definido no artigo 5º da Lei Maria da Penha, a Lei n. 11.340/2006. O nome da lei é uma homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, que foi agredida pelo marido durante seis anos. Por duas vezes ele tentou assassiná-la. Na primeira com arma de fogo, deixando-a paraplégica e, na segunda, por eletrocussão e afogamento. A punição veio depois de 19 anos. Foram dois julgamentos e duas sentenças. No total ele teria que cumprir quase 25 anos de pena, mas o acusado ficou apenas dois anos em regime fechado. O que diz a Lei Maria da Penha Em que ano foi promulgada a Lei Maria da Penha? a) 2006 b) 2010 c) 1993 d) 1998 e) 2005 Interatividade Em que ano foi promulgada a Lei Maria da Penha? a) 2006 b) 2010 c) 1993 d) 1998 e) 2005 Resposta correta: em 2006. Resposta A Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.Lei Maria da Penha A Lei Maria da Penha define cinco formas de violência doméstica e familiar, deixando claro que não existe apenas a violência que deixa marcas físicas evidentes: Violência psicológica: xingar, humilhar, ameaçar, intimidar e amedrontar; criticar continuamente, desvalorizar os atos e desconsiderar a opinião ou decisão da mulher; debochar publicamente, diminuir a autoestima; tentar fazer a mulher ficar confusa ou achar que está louca; controlar tudo o que ela faz, quando sai, com quem e aonde vai; usar os filhos para fazer chantagem – são alguns exemplos de violência psicológica, de acordo com a cartilha Viver sem violência é direito de toda mulher. Violência física: bater e espancar; empurrar, atirar objetos, sacudir, morder ou puxar os cabelos; mutilar e torturar; usar arma branca, como faca ou ferramentas de trabalho, ou de fogo. Formas de violência Violência sexual: forçar relações sexuais quando a mulher não quer ou quando estiver dormindo ou sem condições de consentir; fazer a mulher olhar imagens pornográficas quando ela não quer; obrigar a mulher a fazer sexo com outra(s) pessoa(s); impedir a mulher de prevenir a gravidez, forçá-la a engravidar ou ainda forçar o aborto quando ela não quiser. Violência patrimonial: controlar, reter ou tirar dinheiro dela; causar danos de propósito a objetos de que ela gosta; destruir, reter objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais e outros bens e direitos. Violência moral: fazer comentários ofensivos na frente de estranhos e/ou conhecidos; humilhar a mulher publicamente; expor a vida íntima do casal para outras pessoas, inclusive nas redes sociais; acusar publicamente a mulher de cometer crimes; inventar histórias e/ou falar mal da mulher para os outros com o intuito de diminuí-la perante amigos e parentes. Formas de violência O feminicídio é a expressão fatal das diversas violências que podem atingir as mulheres em sociedades marcadas pela desigualdade de poder entre os gêneros masculino e feminino e por construções históricas, culturais, econômicas, políticas e sociais discriminatórias. Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu na década de 1970 com o fim de reconhecer e dar visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e violência sistemática contra as mulheres, que, em sua forma mais aguda, culmina na morte. Essa forma de assassinato não constitui um evento isolado e nem repentino ou inesperado; ao contrário, faz parte de um processo contínuo de violências, cujas raízes misóginas caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta gama de abusos, desde verbais, físicos e sexuais, como o estupro, e diversas formas de mutilação e de barbárie. Eleonora Menicucci, socióloga e professora titular de saúde coletiva da Universidade Federal de São Paulo, foi ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres entre 2012 e 2015. Feminicídio No Código Penal brasileiro, o feminicídio está definido como um crime hediondo, tipificado nos seguintes termos: é o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino, quando o crime envolve violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Feminicídio 13 mortes violentas de mulheres por dia Em 2016, 4.645 mulheres foram assassinadas no país, o que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras, um aumento de 6,4% no período de dez anos. Fonte: Atlas da Violência 2018 (Ipea/FBSP, 2018) 4.829 sentenças por feminicídio em 2017 Os tribunais de justiça de todo o país movimentaram 13.825 casos de feminicídio em 2017: 3.039 processos foram baixados, restando pendentes ao final do ano 10.786 processos. Foram contabilizadas 4.829 sentenças proferidas em casos de feminicídio. Fonte: O Poder Judiciário na Aplicação da Lei Maria da Penha (CNJ, 2018) Os números do feminicídio no Brasil 66% dos feminicídios acontecem na casa da vítima Levantamento do Ministério Público do Estado de São Paulo revelou que a maioria dos assassinatos de mulheres acontece dentro do ambiente familiar e também durante a semana, de segunda a sexta-feira (68%). Fonte: Raio X do Feminicídio em SP: é possível evitar a morte (MPSP, 2018) Os números do feminicídio no Brasil A cada 24 horas, quatro mulheres são assassinadas no Brasil. Fonte: 15° Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O Feminicídio está previsto em que código brasileiro? a) Código Criminal. b) Código Cível. c) Código Familiar. d) Código Penal. e) Código Jurídico. Interatividade O Feminicídio está previsto em que código brasileiro? a) Código Criminal. b) Código Cível. c) Código Familiar. d) Código Penal. e) Código Jurídico. Resposta correta: Código Penal. Resposta A violência contra a mulher pode ser entendida como qualquer ato que lhe cause dano físico, psicológico, moral, em seus bens e no direito de participação simbólica e cultural. É uma violência de gênero que se dirige à mulher pelo fato de ser mulher. Diz respeito a atitudes e comportamentos que se justificam em normas culturais que regulam e organizam as relações de gênero, hierarquizando as relações entre os sexos e colocando a mulher em uma posição social de inferioridade e submissão. Unidade I A violência é um fenômeno social, presente na cultura, aprendida e reproduzida desde as relações primárias. Os esforços devem se dirigir às novas gerações para que rompam com o ciclo de violência doméstica, contra a mulher e outras formas de violência. Ter leis não é suficiente para prevenir e coibir a violência. Valores culturais, preconceitos, estereótipos (a cultura) estão presentes nas organizações/instituições. Unidade I É uma ______ de _______ que se dirige à mulher pelo fato de ser mulher. a) Violência e casal. b) Violência e gênero. c) Violência e pacto. d) Violência e mulher. e) Violência e abuso. Interatividade É uma ______ de _______ que se dirige à mulher pelo fato de ser mulher. a) Violência e casal. b) Violência e gênero. c) Violência e pacto. d) Violência e mulher. e) Violência e abuso. A resposta correta é a B. Resposta BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm. Acesso em: 24 abr. 2023. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. O poder judiciário na aplicação da Lei Maria da Penha, 2017. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp- content/uploads/conteudo/arquivo/2017/10/ba9a59b474f22bbdbf7cd4f7e3829aa6.pdf. Acesso em: 24 abr. 2023. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Cfess, 2023. Disponível em: www.cfess.org.br. Acesso em: 24 abr. 2023. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA; INSTITUTO DATAFOLHA. Relatório visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. 3. ed. 2021. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp- content/uploads/2021/06/relatorio-visivel-e-invisivel-3ed-2021- v3.pdf. Acesso em: 24 abr. 2023. Referências INSTITUTO PATRICIA GALVÃO. Violência doméstica e familiar. Disponível em: https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/violencias/violencia-domestica-e- familiar-contra-as-mulheres/. Acesso em: 24 abr. 2023. INSTITUTO MARIA DA PENHA. Cartilha de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher. Projeto Contexto: educação, gênero, emancipação. Plataforma Educação Marco Zero. Fortaleza, 2018. MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Raio X do feminicídio em São Paulo: é possível evitar a morte. Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Nucleo_de_Genero/Feminicidio/RaioXFeminicidioC .PDF Acesso em: 24 abr. 2023. REPOSITÓRIO DO CONHECIMENTO DO IPEA. Atlas da violência 2018. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/8398#:~:text=O%2 0Atlas%20da%20Viol%C3%AAncia%202018,de%20acentuad a%20viol%C3%AAncia%20no%20pa%C3%ADs. Acesso em: 24 abr. 2023. Referências SAFFIOTI,H. I.B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. Cadernos Pagu, v. 16, p. 115-136, 2001. SAFFIOTI, H. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Perseu Abramo, 2004. Referências ATÉ A PRÓXIMA!