Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SISTEMA FINANCEIRO DIGITAL AULA 4 Profª Pollyanna Rodrigues Gondin 2 CONVERSA INICIAL Prezado(a) estudante, após o estudo dos Anos 2000, da Crise Financeira de 2008 e das inovações financeiras que surgiram, veremos nesta aula sobre duas dessas inovações: Fintechs e Blockchain. Deste modo, nesta aula você aprenderá sobre as Fintechs, a Tecnologia Blockchain e a consequente descentralização financeira. Este estudo é importante para que, na aula subsequente, possamos adentrar nas criptomoedas e sua regulação. Assim, em um primeiro momento, você aprenderá sobre a mudança ocorrida nos serviços financeiros diante dos avanços tecnológicos. Em um segundo momento, a atenção será voltada para a forma de financiamento Crowdfunding, forma esta que não utiliza os convencionais bancos para se obter uma linha de financiamento. Na sequência, adentraremos na temática relacionada às Fintechs, sua arbitragem regulatória e a possibilidade e ascensão dos Shadow Banks, conhecidos como “bancos sombras”. Já na quarta temática iremos nos debruçar sobre o estudo do Blockchain, diferenciando-o entre público, privado e híbrido. Por fim, atenção será dada para Blockchain, Smart Contracts e as aplicações no mercado financeiro. Você perceberá que a Crise de 2008 contribuiu para uma nova configuração do sistema financeiro, pois, como dito na aula anterior, houve a emergência de inovações com grande aplicabilidade financeira. Após essas inovações, propiciadas pelos avanços tecnológicos, há uma modificação na relação entre sistema financeiro e clientes, de modo que os bancos comerciais continuam a ter relevância; entretanto, abriu-se espaço para novas instituições com atuação descentralizada. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Ao iniciar os estudos sobre Sistema Financeiro Digital, chegamos em um ponto em que vamos nos aprofundar um pouco mais nas grandes inovações financeiras que se ascenderam pós-Crise de 2008. Você deve estar se questionando, neste momento: qual a importância e o impacto das Fintechs e da tecnologia Blockchain no sistema financeiro? 3 Bem, ao longo dessa aula de estudo, você irá perceber que foi a partir da Crise de 2008 que surgiram, ou ao menos se desenvolveram e ganharam destaque, algumas das grandes inovações financeiras. Ah, mas, e como fica o papel dos bancos comerciais? A tecnologia Blockchain pode contribuir para sua atuação? Assim, convido você, a partir deste momento, a voltar sua atenção para essas inovações que ganharam destaque e seus efeitos em termos de descentralização financeira. Saiba mais Continue a leitura em: COMO o blockchain pode revolucionar os bancos. Época Negócios, 15 fev. 2018. Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/02/como-o- blockchain-pode-revolucionar-os-bancos.html>. Acesso em: 29 ago. 2019. TEMA 1 – SERVIÇOS FINANCEIROS EM MEIO AOS AVANÇOS TECNOLÓGICOS Chegamos à nossa quarta aula. Nas aulas anteriores, estudamos sobre a evolução do mercado financeiro e adentramos nas inovações financeiras que surgiram ou ao menos se ascenderam após a crise de 2008. A partir desse momento, iremos nos dedicar ao estudo mais profundo sobre cada uma dessas. Pois bem! Iniciaremos, então, com uma análise dos serviços financeiros em meio aos avanços tecnológicos. Mas por que estudar a evolução desses serviços é importante? É relevante, pois, ao longo do tempo muitas modificações aconteceram, principalmente com o advento da internet e posterior crise de 2008. Não podemos considerar que o sistema financeiro atual é o mesmo que há 50 anos. Tudo bem, mas, e qual a relação desse estudo com a nossa disciplina? A relação é grande, pois atualmente estamos falando justamente da inserção de novas ferramentas, novos tipos de empresas, novas configurações que são permeadas e permitidas pelo uso da tecnologia, pelo digital. Assim, a união das startups e da tecnologia tem permitido criar um novo cenário para o setor financeiro. 4 Quando falamos em startups do setor financeiro, lembramos logo das Fintechs (falamos sobre essas empresas na aula passada). Mas, vamos relembrar rapidamente seu conceito? As Fintechs ou “Financial Technology”, são, segundo Vidal (2018), as novas startups do ramo financeiro, sendo que sua concepção está ligada a dois conceitos básicos: inovação e disrupção. Entretanto, deve-se ressaltar que apesar de ter se popularizado após a eclosão da Crise de 2008, a literatura afirma que o termo Fintech teve sua primeira aparição no ano de 1972 (Katori, 2017). Ainda de acordo com este autor, as Fintechs, atualmente, possuem como desafio o desenvolvimento de soluções para suprir as necessidades de clientes que se sentem insatisfeitos com as instituições financeiras tradicionais. Quando falamos em Fintechs, o que vem à sua mente? Bancos digitais? Se sim, você não está por completo errado. Mas, as Fintechs são mais do que bancos digitais. Assim, existem, atualmente, Fintechs de empréstimos, de pagamentos, de Crowfunding, de investimentos, de câmbio, de criptomoedas, dentre outras tão relevantes para o setor financeiro e toda a sociedade. As Fintechs utilizam todo arsenal tecnológico para proporcionar aos consumidores uma redução de custos, uma diferenciação dos produtos financeiros oferecidos e uma melhora na retenção e clientes. Em 2018, a Lu.com foi considerada a maior Fintech do mundo. Essa empresa é uma startup chinesa de financiamentos e empréstimos entre pessoas. De acordo com o blog Remessa Online (2018), foi criada em 2011 e já recebeu US$1,7 bilhões em investimentos. Já no Brasil, o maior caso de sucesso, atualmente, é o Nubank que oferece cartão de crédito sem tarifas e um serviço unificado por meio de um aplicativo. De acordo com a Associação Brasileira de Fintechs (2018), em estudo feito para levantar alguns dados relevantes em relação ao setor e à atuação dessas empresas, foi possível constatar que as regiões sul e sudeste reúnem 93% das Fintechs. Além disso, a maioria das Fintechs atuam nos segmentos de meios de pagamento, crédito e gestão financeira. A respeito dos segmentos de atuação das Fintechs, a associação apresenta o Gráfico 1. 5 Gráfico 1 – Segmentos de atuação das Fintechs no Brasil Fonte: Associação Brasileira de Fintechs, 2018, p. 11 Assim, é necessário admitir que as Fintechs vieram para revolucionar os serviços financeiros. Essas empresas se aproveitaram das dificuldades dos grandes bancos em oferecer atendimento qualificado e personalizado a todos os seus clientes, fidelizando clientes por meio da tecnologia, informações mais claras e objetivas, e menor burocracia. TEMA 2 – CROWDFUNDING Até o momento, estudamos sobre os serviços financeiros e sua evolução frente aos avanços tecnológicos. Neste momento, podemos então avançar e analisar um dos tipos de Fintechs: Crowdfunding. Até o momento, você já sabe o que são Fintechs. Mas, e o que é Crowdfunding? De acordo com Machado (2015), Crowdfunding é uma forma de financiamento descentralizado, sem intermediários financeiros. Além disso, tem como característica ser feito com base em contribuições voluntárias e para os mais diversos fins. “Mais especificamente, trata-se de uma campanha aberta, principalmente via internet, a fim de arrecadar recursos, seja por doações ou em 6 troca de recompensas, a partir de indivíduos em vez de investidores profissionais ou instituições financeiras” (Machado, 2015, p. 8). Mollinck (2013), por sua vez, afirma que Crowdfunding diz respeito aos esforços individuais ou de grupos para financiar seus projetos com contribuições pequenas de um grupo de grandes apoiadores por meio da internet, sem intermédio de instituições financeiras tradicionais. Ainda de acordo com o autor, os projetos podem ser de cunho cultural, socialou para fins lucrativos. O Crowdfunding ganhou destaque, pois, a partir da Crise de 2008, houve uma procura por fontes alternativas de financiamento, já que havia escassez de crédito bancário, além da perda de credibilidade do setor bancário como avaliadores de risco. Assim, o [...] crowdfunding serve para preencher a lacuna que surge entre o capital disponível das instituições de financiamento tradicionais e as organizações que não conseguem cumprir os rigorosos requisitos para receber investimento durante os estágios de desenvolvimento do projeto. (Monteiro, 2014, p. 26) Apesar do termo Crowdfunding ser recente, e ter ganhado destaque após a crise de 2008, o conceito de um projeto financiado por milhares de pessoas não é algo essencialmente novo. A esse respeito Pode-se considerar que as campanhas eleitorais nos EUA, que movimentam grandes volumes de doações dos simpatizantes de cada candidato, são uma forma de crowdfunding que precede a internet em séculos. Outro exemplo histórico é a construção da Estátua da Liberdade, feita por doações de simpatizantes americanos e franceses. Até mesmo as igrejas, que financiam suas atividades há séculos através de doações de seus fiéis, podem ser enquadradas nesse mecanismo. (Machado, 2015, p. 9) Mas, esse tipo de financiamento é feito para atender a uma determinada área? Não exatamente! O Crowdfunding pode ser realizado para atender a interesses diversos e financiar projetos de naturezas distintas. Existem, então, diferentes plataformas de Crowdfunding que reúnem lançadores de uma campanha com seus potenciais apoiadores (Machado, 2015). É preciso salientar, ainda, que existem quatro modalidades de Crowdfunding, segundo Mollick (2013): 1. Patrocínio (Donation Based): as pessoas que contribuem não esperam um retorno direto. Geralmente essa modalidade é voltada para projetos de caridade, a causas sociais ou filantrópicas; 7 2. Recompensa (Reward Based): em troca da contribuição, são oferecidas recompensas que variam de acordo com a doação. Mas que tipo de recompensa? As formas de recompensa são inúmeras, podendo ser desde ter seu nome nos créditos de um filme até conseguir opinar na criação de um produto, dentre outras. Esse é o tipo de Crowdfunding mais comum no mundo todo, inclusive no Brasil; 3. Empréstimo (Lending Based): os colaboradores investem em um determinado projeto com o intuito de receberem juros. Assim, os investidores investem em um determinado projeto ou ideia que acreditam que pode dar certo, e, após um período, recebem o retorno financeiro do investimento realizado. 4. Participação (Equity): Caracteriza-se como investimento no capital de uma empresa. Deste modo, as contribuições garantem participação nos lucros e poder de decisão. Essa modalidade, em geral, está relacionada à criação de um negócio. Para essas quatro modalidades citadas, é possível conseguir apoio de pessoas de maneira individual ou por meio de plataformas, sendo as plataformas um intermediário entre o criador de um projeto e o financiador. Essas plataformas são responsáveis por serviços, como: “apoio jurídico e envolvimento na formatação de contratos, análise de prazos de campanha e conteúdo, o uso de contas de depósito e gestão de métodos de pagamento” (Monteiro, 2014, p. 30). Além disso, essas plataformas possuem parcerias com sistemas de pagamento online, como o Paypal e o Pagseguro, por exemplo. Assim, essas plataformas facilitam o Crowdfunding, criando uma infraestrutura para facilitar as interações entre grupos de pessoas que se interessam por uma determinada causa/ projeto. TEMA 3 – AS FINTECHS, A ARBITRAGEM REGULATÓRIA E A ASCENSÃO DOS BANCOS SOMBRAS (SHADOW BANKS) Agora que já falamos sobre a evolução dos serviços financeiros frente aos avanços tecnológicos e a forma de financiamento Crowdfunding, podemos voltar nossas atenções para a atuação das Fintechs, a arbitragem regulatória e a ascensão dos Bancos Sombras. Assim, pode-se afirmar que a atuação das Fintechs contribuiu para promover uma grande mudança na relação entre as instituições financeiras e os 8 seus clientes. A esse respeito, Gontijo (2019) afirma que o mercado brasileiro tem, atualmente, por volta de 690 Fintechs, sendo que há projeção de crescimento exponencial, uma vez que os investimentos nesse setor têm crescido significativamente nos últimos anos. Entretanto, esse crescimento não tem agradado as instituições financeiras tradicionais. De acordo com dados apresentados por Gontijo (2019), em 2018, os cinco maiores bancos – Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander – respondiam por 81,2% dos ativos totais do segmento bancário. Apesar de expressivo, esse percentual já se reduziu se comparado com o ano de 2017, em que o percentual era de 82,6%, o que pode estar relacionado com o avanço das instituições online. Há um crescimento desses tipos de instituições, e, em paralelo com esse crescimento, o número de contas que usam mobile banking saltou de 57 milhões, em 2017, para 70 milhões, em 2018. Nessa mesma linha de raciocínio, Gordon e Metrick (2010) afirmam que as inovações, dentre elas as Fintechs, e as mudanças regulatórias que ocorreram no setor financeiro nos últimos 40 anos, aumentaram a competição entre os bancos comerciais e intensificaram as atividades das instituições não- bancárias. Esse cenário repercutiu no declínio do modelo bancário tradicional e na gradativa saída dos bancos do arcabouço regulatório, tornando a atividade bancária mais arriscada. Além disso, de acordo com Chagas (2016), para reduzir o risco de iliquidez, os bancos começaram a realizar a securitização do crédito (permite a transformação dos ativos ilíquidos em ativos líquidos), transferindo os riscos financeiros. Os títulos vendidos transferem, portanto, os riscos ao retirar os ativos dos balanços, diminuindo o volume necessário de reserva de capital estabelecido pelos Acordos de Basileia e permitem uma maior alavancagem. Esse processo é conhecido como arbitragem regulatória, e iniciou-se, nesse formato, no ambiente macroeconômico desafiador e de desregulamentação financeira dos anos 1980. (Chagas, 2016, p. 12) É no contexto da securitização e da arbitragem regulatória que têm ascensão os Shadow Banks ou Bancos Sombras. Isso ocorreu, pois, os bancos passaram a atuar por meio de um modelo de organização das finanças denominado originate-to-distribute. Nesse modelo, o originador do crédito o repassa a diversas terceiras partes, transferindo os riscos e alavancando-o. 9 Antes desse modelo, o que o originador do empréstimo o detinha até o vencimento. Tendo se consolidado como a forma de atuação dos bancos, o modelo originate-to-distribute sofreu mudanças qualitativas e quantitativas no início do século XXI, com a intensificação do processo de arbitragem regulatória em um ambiente de taxas de juros historicamente baixas e de afrouxamento da regulação sobre as instituições financeiras e o mercado. Este cenário intensificou a busca dos agentes por posições mais arriscadas e que gerassem, portanto, um retorno maior. Proliferaram, ademais, os produtos estruturados e os derivativos de crédito, que ao possibilitarem uma forte expansão do crédito, tornaram os balanços dos bancos e das contrapartes, que adquiriam as securities originadas a partir dos empréstimos ou assumiam a posição de vendedor de proteção nos mercados de derivativos de crédito, interpenetrados quase que inextrincavelmente. (Chagas, 2016, p. 13) É então que, com a ascensão desse novo modelo, o originate-to- distribute, que os bancos sombras ganham destaque. Os Shadow Banks podem ser entendidos como um complemento do sistema bancário tradicional, pois ajudam a expandir o crédito e apoiam o descasamento de prazos, a ampliação da liquidez e o compartilhamento do risco. Se, por um lado, a intermediaçãonão bancária de crédito pode ser algo positivo, ajudando a tornar os serviços financeiros mais eficientes e eficazes, por outro, a atuação dessas instituições torna mais arriscada as atividades bancárias, necessitando de nova regulação. TEMA 4 – BLOCKCHAIN: PÚBLICO, PRIVADO E HÍBRIDO Agora que já falamos sobre a evolução dos serviços financeiros frente aos avanços tecnológicos, Crowdfunding, e a arbitragem regulatória e a ascensão dos Bancos Sombras, podemos voltar nossas atenções para a tecnologia Blockchain e suas diversas formas. Entretanto, antes de falar sobre Blockchain Público, Privado e Híbrido, vamos relembrar a definição de Blockchain? Blockchain é um sistema de “registro cronológico” ou “livro registro”, em que, após a criação da primeira entrada, todas as próximas transações ficam registradas. É preciso salientar também que a Blockchain tem código aberto, não dependendo de um banco de dados central e ao mesmo tempo limita o risco de ataque de hackers. Inicialmente, a tecnologia Blockchain foi a solução encontrada para resolver o problema atribuído às moedas virtuais, que era: “a possibilidade de se gastar o mesmo dinheiro duas vezes” (Logicalis, 2018, p. 4). Assim, com essa 10 tecnologia se tornou possível o registro das transações em blocos encadeados, permitindo rastrear tudo que aconteceu em todo o histórico de um determinado Blockchain. De acordo com Logicalis (2018, p. 5), Para ser registrada nessa cadeia de blocos, uma transação passa por alguns passos. Para realizar a transação, emissor e receptor precisam ter uma chave pública de 21 dígitos alfanuméricos. O emissor precisa “assinar” a transação com sua chave privada e, então, serão necessárias sete confirmações (no caso do Bitcoin) pelos nós da rede, confirmando quem é quem, o montante e a transação. A partir daí a transação é agrupada junta a outras operações realizadas em um determinado espaço de tempo. O bloco de transação é então criptografado e enviado aos participantes da rede para validação. Levando em consideração sua rastreabilidade, a tecnologia Blockchain tem vasta aplicabilidade, sendo uma delas a área financeira, especialmente as criptomoedas, em que há interação entre diversos agentes, sem que haja uma entidade específica para intermediar essa relação. A Figura 1 mostra a vasta gama de aplicabilidade da tecnologia Blockchain. Figura 1 – Blockchain e suas aplicações Fonte: Logicalis, 2018 Bom, dito isto, podemos voltar nossa atenção para os tipos de Blockchain. 11 No blockchain público ou aberto (como o Bitcoin e o Ethereum), qualquer pessoa pode participar. Já no privado ou fechado, só são aceitos e têm acesso às informações os integrantes pré-determinados. Um exemplo de blockchain privado é o Corda, do consórcio R3, que está sendo desenvolvido por mais de 100 organizações – entre elas bancos e empresas de tecnologia – para ser usado pelo mercado financeiro. O híbrido, como o próprio nome diz, tem características de redes privadas e públicas. Nesse caso, o conteúdo das transações pode ser mantido em caráter privado, sendo visível apenas aos integrantes da rede, mas a sua validação é feita pela rede pública (Logicalis, 2018, p. 8). Na mesma linha de raciocínio anterior, mas abarcando apenas a diferença entre pública e privada, Greve et al. (2018) afirmam que a Blockchain pública não precisa de permissão para ser acessada, enquanto a Blockchain privada precisa dessa permissão, tendo acesso controlado. Os autores são mais específicos em relação a essa divisão e dizem que, na Blockchain pública, o conjunto de nós da rede “Peer-to-Peer” é desconhecido e sua composição é dinâmica, permitindo, assim, entradas e saídas aleatórias de nós. Como não há necessidade de identificação, os nós costumam ser anônimos. Já a Blockchain privada possui uma composição conhecida, formada por uma quantidade limitada e conhecida de processos, sendo as entradas e saídas sujeitas a permissões. Assim, os nós são identificados, autenticados e autorizados. É possível então afirmar que na Blockchain pública, a rede tem informações abertas ao público, permitindo a participação de qualquer usuário. Na Blockchain privada a rede pode ser acessada apenas pelos que criaram a rede ou para os que possuam sua autorização. A respeito da Blockchain privada, Alves et al. (2018, p. 7) expõem que Esse tipo de blockchain pode ser útil, por exemplo, em um cenário onde é necessário inserir informações sensíveis ou críticas ao negócio, de forma a não ser interessante ter essas informações expostas a qualquer pessoa. Entretanto, esse tipo de blockchain desvia da ideia de descentralização, pois essa característica, na maioria dos casos, está limitada à quantidade de nós na rede, enquanto uma blockchain pública tende a ter uma maior colaboração da comunidade de desenvolvedores e interessados nessa tecnologia. Alves et al. (2018) discorrem ainda sobre a Blockchain Híbrida e afirmam que ela também é conhecida como consórcio Blockchain, podendo ser acessada apenas por um grupo de organizações ou indivíduos que tenham decidido compartilhar as informações entre si. Assim, apenas as organizações participantes detêm a Blockchain, mas, o direito de leitura e escrita pode ser, ou não, disponibilizado ao público. 12 De modo resumido, podemos considerar a Figura 2 como ilustrativa dessas variáveis de Blockchain. Figura 2 – Tipos de Blockchain Fonte: Alves et al., 2018, p. 7 Atualmente, cada vez mais, as instituições financeiras vêm utilizando a Blockchain privada. Entretanto, a Blockchain pública é muito utilizada também, sendo que, quanto mais pessoas a utilizam, mais se transmite a ideia de descentralização e segurança dessa tecnologia. TEMA 5 – BLOCKCHAIN, SMART CONTRACTS E MERCADO FINANCEIRO Você já se perguntou sobre as diversas aplicações da Blockchain? Como essa tecnologia pode ser utilizada a favor da população e no sistema financeiro? A partir desse momento atenção será dada à tecnologia Blockchain, aos Smart Contracts e à aplicabilidade no mercado financeiro. Já falamos no tema anterior sobre o conceito de Blockchain. Mas, afinal, o que são os Smart Contracts?1 Smart Contracts, também conhecidos como contratos inteligentes, são contratos digitais, firmados entre duas partes. Por ser digital, não pode ser perdido ou adulterado. Assim, é possível afirmar que, por 1 Para saber mais, ver: Disponível em: <https://www.ab2l.org.br/smart-contract-uma-analise- juridica/>. Acesso em: 29 ago. 2019. 13 serem contratos digitais, os Smart Contracts garantem a execução de um acordo, por meio da utilização da tecnologia Blockchain. Em termos financeiros, a tecnologia Blockchain, juntamente com os Smart Contracts, possui diversas aplicações. Dentre essas aplicações, é possível citar: a conservação de registros, a otimização de processos corporativos, empréstimos, fundos de investimentos etc. A esse respeito, Martins (2018) descreve alguns exemplos de aplicações. O primeiro exemplo refere-se à plataforma Linq, desenvolvida pela Nasdaq. Essa plataforma utiliza a tecnologia Blockchain com a finalidade de transacionar instrumentos financeiros. Assim, “esta plataforma, permite que o emitente faça o registo de propriedade, procurando reduzir o tempo do processo de liquidação e eliminando a necessidade de utilização de papel para os certificados de ações” (Martins, 2018, p. 18). A plataforma Linq é então encarregada por estabelecer os termos de troca, a forma do processo de emissão, controle e transferência dos bens, utilizando assinaturas digitais para firmar certo contrato. Essa plataforma tem como intuito, então, permitir o estabelecimento de contratos para o registro de propriedade de modo eficiente, com menor burocracia e menores custos. A respeito da tecnologia Blockchaine dos Smart Contracts na área financeira, Camargo (2017) afirma que existem milhares de possíveis usos. Um dos exemplos dados pela autora se refere a um acordo de financiamento comercial, em que um banco de uma empresa importadora irá fornecer uma carta de crédito em benefício do exportador, de modo que o exportador tenha uma garantia de pagamento. A dependência de evidências documentais pode levar a fraudes e ineficiências, como o financiamento duplicado. Ao utilizar um Smart Contract, o processo de financiamento pode ser simplificado por meio de um código que o executa automaticamente. Por exemplo, os produtos podem ser digitalizados após a chegada ao destino, o que enviará automaticamente um sinal ao Smart Contract para, após o recebimento dessa confirmação, autorizar automaticamente a liberação de fundos para o exportador. (Camargo, 2017) Outro exemplo de aplicação dos Smart Contracts foi sua implementação na Bolsa de Valores de Santiago, no Chile. A Bolsa de Valores de Santiago, juntamente com a Fundação Linux e IBM habilitou o uso de uma aplicação Blockchain para otimizar suas operações de venda a descoberto (Vegas, 2018). As vendas a descoberto têm como finalidade vender valores financeiros que 14 tenham sido produto de empréstimo para adquirir ativos de igual valor no futuro e liquidar a dívida. A aplicação desenvolvida para a Bolsa de Valores de Santiago usará contratos inteligentes para aumentar a confiabilidade entre as partes envolvidas, tanto no empréstimo como na compra dos ativos financeiros. Com isso também se procura aumentar a velocidade dessas operações e reduzir seus custos, para que aumente a quantidade de vendas a descoberto realizadas com essa plataforma. (Vegas, 2018) Além do Chile, Vegas (2018) afirma que a China, Canadá e a Austrália já utilizam a tecnologia Blockchain em suas ações da bolsa de valores. Deve-se levar em consideração que os Smart Contracts são autoexecutáveis e regidos apenas por um código. Assim, permite que bens e valores sejam transacionados e automaticamente executados quando as condições contratuais forem preenchidas. Essas características tornam os Smart Contracts mais eficientes e baratos, demandando menor custo e tempo, permitindo uma nova dinâmica na transação de bens e valores. TROCANDO IDEIAS Nesse momento, podemos avançar e fazer uma reflexão sobre o que estudamos nesta aula e o que iremos tratar na próxima. Assim, convido você a refletir sobre as tendências do mercado financeiro relacionadas à implementação da Tecnologia Blockchain e as Critptomoedas. Como fonte de inspiração, indico a leitura dos seguintes artigos: BASTIANI, A. Quatro Tendências que Prometem dominar o Ecossistema de Bitcoin em 2019. Criptofácil, 2019. Disponível em: <https://www.criptofacil.com/4-tendencias-que-prometem-dominar-o- ecossistema-de-bitcoin-em-2019/>. Acesso em: 25 jun. 2019. BITCOINTRADE. Bitcoin em 2019: Previsão do Crescimento de Mercado. Bitcoin Trade, 2019. Disponível em: <https://blog.bitcointrade.com.br/bitcoin- 2019-previsao-do-crescimento-de-mercado/>. Acesso em: 29 ago. 2019. CIO from IDG. Tendências de blockchain e Criptomoedas para 2019. Assespro RS, 2019. Disponível em: <http://www.assespro-rs.org.br/tendencias-de- blockchain-e-criptomoedas-para-2019/>. Acesso em: 29 ago. 2019. 15 NA PRÁTICA Vamos praticar? Após o estudo realizado neste material, é hora de pôr as “mãos à obra”! Proponho, então, uma reflexão acerca da dificuldade de regulação do sistema financeiro que atualmente é permeado pelas Fintechs, Blockchain e até mesmo os Shadow Banks (Bancos Sombras). Para essa reflexão, proponho algumas leituras complementares como inspiração: MOTA, P. Shadow Banking System: O Lado Negro do Mercado – Parte 1. Terraço Econômico, 28 jan. 2016. Disponível em: <https://terracoeconomico.com.br/shadow-banking-system-o-lado-negro-do- mercado-parte-i/>. Acesso em: 29 ago. 2019. REIS, T. Shadow Banking: Entenda como o Sistema Financeiro Paralelo Atua na Economia. Suno, 30 nov. 2018. Disponível em: <https://www.sunoresearch.com.br/artigos/shadow-banking/>. Acesso em: 29 ago. 2019. FINALIZANDO Após o estudo da evolução do sistema financeiro depois do ano 2000, voltamos nossa atenção para o estudo de algumas das inovações que surgiram posteriormente a crise de 2008 e seus impactos no sistema financeiro. Assim, no decorrer desta aula você teve a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre as Fintechs, a Tecnologia Blockchain e a consequente descentralização financeira. Assim, ao estudar sobre as Fintechs, foi possível perceber algumas de suas aplicações e as dificuldades de regulação, devido à sua forma descentralizada de atuar. Além disso, essas empresas abriram espaço para uma nova configuração do sistema financeiro, fazendo frente às empresas e bancos tradicionais existentes. Aprendemos também, ao longo dessa aula, sobre a tecnologia Blockchain e a sua utilização no setor financeiro. Inicialmente, falamos da importância dessa tecnologia e de suas formas pública, privada e híbrida. Na sequência, a atenção voltou-se para uma das aplicações do blockchain, os Smart Contracts e suas aplicações no mercado financeiro. 16 Em suma, foi possível perceber que a Crise de 2008 suscitou inovações que estão contribuindo significativamente para uma nova configuração do sistema financeiro internacional. Diante desse cenário, os bancos tradicionais e suas relações com os clientes deixaram de ser relevantes? Não necessariamente. Entretanto, abriu-se espaço para o preenchimento de lacunas no setor financeiro que até então não se via. 17 REFERÊNCIAS ALVES, P. H. et al. Desmitificando Blockchain: Conceitos e Aplicações. In: C. Maciel, J. Viterbo (Orgs). Computação e Sociedade. Sociedade Brasileira de Computação, 2018. Disponível em: <http://www-di.inf.puc- rio.br/~kalinowski/publications/AlvesLNRLK19.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2019. ABFINTECHS – Associação Brasileira de Fintechs. Pesquisa Fintech Deep Dive 2018. PWC, 2018. Disponível em: <https://www.pwc.com.br/pt/setores-de- atividade/financeiro/2018/pub-fdd-18.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2019. CAMARGO, R. F. Bitcoins, Blockchain e Smart Contracts: por que a área financeira precisa saber disso? Treasy, 2017. Disponível em: <https://www.treasy.com.br/blog/bitcoins-blockchain-smart-contracts/#Smart- Contracts-ou-Contratos-Inteligentes-na-esfera-financeira>. Acesso em: 29 ago. 2019. CHAGAS, L. S. S. O Sistema Bancário na Sombra no Pós-Crise. Monografia (Bacharel em Ciências Econômicas) – Universidade Estadual de Campinas, SP, 2016. GONTIJO, J. Fintechs Ameaçam Hegemonia de Bancos Físicos Tradicionais. Jornal O Tempo. 2019. Disponível em: <https://www.otempo.com.br/economia/fintechs-amea%C3%A7am-hegemonia- de-bancos-f%C3%ADsicos-tradicionais-1.2202660>. Acesso em: 29 ago. 2019. GREVE, F. et al. Blockchain e a Revolução do Consenso sob Demanda. SBRC, 2018. Disponível em: <http://www.sbrc2018.ufscar.br/wp- content/uploads/2018/04/Capitulo5.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2019. LOGICALIS. Blockchain: A internet da Confiança. Logicalis, 2018. Disponível em: <https://www.la.logicalis.com/globalassets/latin- america/advisors/pt/_advisor_block_chain_web.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2019. MACHADO, T. P. A Economia do Crowdfunding. Unesp, 2015. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/handle/11449/136568>. Acesso em: 29 ago. 2019. MARTINS, G. R. F. G. A Tecnologia Blockchain e a sua Aplicação ao Mercado de Instrumentos Financeiros. Dissertação (Mestrado de Direito Empresarial) – Universidade Católica Portuguesa, Portugal. 2018. Disponível em: 18 <https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/25769/1/Tecnologia%20Blockcha in%20e%20a%20sua%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20ao%20mercado%20fin anceiro.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2019. MOLLICK, E. The dynamics of crowdfunding: An exploratory study.Journal of Business Venturing, n. 29, 2013, pp. 1–16. MONTEIRO, M. de C. P. Crowdfunding no Brasil: uma Análise sobre as Motivações de Quem Participa. Dissertação (Mestrado Executivo em Gestão Empresarial) – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: <https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/13384/Dissertac ao%20-%20Monica%20Penido%20Monteiro%20- %20Versao%20Final_aprovada.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2019. KATORI, F. Y. Impacto das Fintechs e do Blockchain no Sistema Financeiro: uma Análise Crítico-Reflexiva. Universidade de Brasília – UNB. 2017. REMESSA ONLINE. Fintechs – O que são, serviços e maiores do mercado. Remessa Online, 2018. Disponível em: <https://www.remessaonline.com.br/blog/fintechs/>. Acesso em: 29 ago. 2019. VEGAS, A. Bolsa de Valores de Santiago Implementa Contratos Inteligentes e Blockchain em uso dos seus Serviços. Cripto Notícias, 2018. Disponível em: <https://criptonoticias.com.br/mercado-acionario/bolsa-de-valores-de-santiago- implementa-contratos-inteligentes-e-blockchain-em-um-dos-seus-servicos/>. Acesso em: 29 ago. 2019. Conversa inicial Contextualizando Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS
Compartilhar