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Maria das Graças, possui 55 anos e é agricultora. Aliás, foi agricultora durante toda a sua vida (filha de agricultores, casada com agricultor), nunca tendo se afastado da atividade rural. No entanto, desde março de 2012, possui uma microempresa de comercialização de mudas de árvores frutíferas. As mudas são desenvolvidas na sua área rural e posteriormente comercializadas. A sede da empresa fica localizada na sua propriedade rural e o seu esposo, também agricultor, é seu sócio. A cliente possui farta documentação comprovando ser segurada especial (documento de registro da área de terra onde trabalha, notas de comercialização dos produtos que produz, declaração de aptidão ao PRONAF, certidão do INCRA, etc). No entanto, ao solicitar ao INSS aposentadoria por idade rural, o benefício foi indeferido sob o seguinte argumento: “A requerente não atingiu a carência exigida para a concessão de tal benefício, uma vez que não foi reconhecido os períodos de atividade rural, pois estariam intercalado com “Atividade Remunerada/Urbana”, sem a apresentação de retorno à atividade rural.” Maria das Graças, ainda dentro do prazo de recurso administrativo, lhe procurou a fim de esclarecer se o indeferimento da sua aposentadoria foi correto. Emita um parecer avaliando a situação. Nas suas conclusões esclareça se entende ser mais vantajoso investir em um recurso administrativo ou ajuizar uma ação judicial(?). Indique os fundamentos jurídicos da sua decisão. Parecer Maria das Graças, possui 55 anos e é agricultora. Aliás, foi agricultora durante toda a sua vida (filha de agricultores, casada com agricultor), nunca tendo se afastado da atividade rural. “Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) § 1o Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinqüenta e cinco anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do art. 11.” (...) (...)” Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: I - como empregado:” (...) Sabemos, também, que o critério da lei previdenciária diferencia a natureza das atividades rurais das urbanas. Ainda, se elencam como elementos que não descaracterizam a atividade rural o seguinte: •Contratação de empregados/trabalhadores temporários (120 dias no ano civil) •Cedência de até 50% da terra em parceria, meação ou comodato •Atividade turística – inclusive hospedagem – por até 120 dias no ano civil •Previdência Complementar de entidade classista •Ser beneficiário ou fazer parte de grupo familiar de programa assistencial oficial do governo •LOAS só descaracteriza o que recebe (IN77/15 – art. 42 §4o) •Utilização de processo de beneficiamento industrial ou artesanal •Associação em cooperativa agropecuária •Incidência de IPI no produto agrícola •Participação em sociedade empresária ou titular de empresa individual de responsabilidade limitada de âmbito agrícola, agroturístico ou agroindustrial – nos limites da microempresa - Desde que continuem exercendo a atividade rural, a empresa seja só de segurados especiais e esteja sediada no mesmo município ou vizinho. No entanto, desde março de 2012, possui uma microempresa de comercialização de mudas de árvores frutíferas. As mudas são desenvolvidas na sua área rural e posteriormente comercializadas. A sede da empresa fica localizada na sua propriedade rural e o seu esposo, também agricultor, é seu sócio. Maria possui farta documentação comprovando ser segurada especial (documento de registro da área de terra onde trabalha, notas de comercialização dos produtos que produz, declaração de aptidão ao PRONAF, certidão do INCRA etc.). No entanto, ao solicitar ao INSS aposentadoria por idade rural, o benefício foi indeferido sob o seguinte argumento: “A requerente não atingiu a carência exigida para a concessão de tal benefício, uma vez que não foi reconhecido os períodos de atividade rural, pois estariam intercalado com “Atividade Remunerada/Urbana”, sem a apresentação de retorno à atividade rural.” O período de carência deve ser de, no mínimo 15 anos. Se hoje Maria tem 55 anos, em 2013, quando abriu sua microempresa, tinha 45. Se Maria começou a desenvolver suas atividades rurais, por exemplo, com 18 anos, e essa atividade foi efetivamente comprovada, em 2023 já teria atingido 27 (vinte e sete) anos de contribuição rural, atingindo e superando a carência necessária. Primeiramente, é importante ressaltar que Maria das Graças possui uma vida preponderantemente rural, demonstrada pela sua história e documentação extensa como segurada especial. A criação da microempresa de comercialização de mudas de árvores frutíferas não anula o caráter rural de suas atividades, já que a sede da empresa fica em sua propriedade rural e está intrinsecamente ligada à produção agrícola. Da Continuidade da Atividade Rural: De acordo com o entendimento jurídico, a Lei 8.213/91, em seu artigo 11, inciso VII, alínea 'a', define o trabalhador rural como segurado especial. A definição abrange aqueles que exercem atividades no meio rural, inclusive em regime de economia familiar, ainda que de forma descontínua. Ou seja, não é necessário um exercício contínuo da atividade rural para garantir o reconhecimento como segurado especial. Dessa forma, mesmo que Maria das Graças tenha empreendido uma microempresa de comercialização de mudas de árvores frutíferas, o fato de essa atividade estar ligada à propriedade rural e à continuidade da produção agrícola pode ser considerado como um período de atividade rural para fins previdenciários. Da Interpretação Ampliativa das Normas Previdenciárias: Essa prática é respaldada pela jurisprudência consolidada nos tribunais superiores. O entendimento jurisprudencial reconhece a atividade rural não apenas no trabalho direto na lavoura, mas também em atividades complementares e de comercialização ligadas à produção rural. Essa interpretação ampliativa busca abranger as peculiaridades do trabalho no meio rural, considerando que muitas vezes as atividades de comercialização, beneficiamento ou preparo de produtos estão intrinsecamente ligadas à atividade rural, mesmo que não sejam executadas diretamente na lavoura. Assim, as cortes têm reconhecido essas atividades como parte integrante do trabalho rural para fins previdenciários. Esses são princípios e interpretações que respaldam a continuidade da atividade rural, mesmo diante de empreendimentos ou atividades acessórias, desde que estas estejam conectadas à produção rural, como parece ser o caso da microempresa de comercialização de mudas de árvores frutíferas de Maria das Graças. A jurisprudência é pacífica no sentido de que o exercício de atividade remunerada urbana pelo segurado especial não afasta o direito à aposentadoria por idade rural, desde que seja compatível com o trabalho no campo e não implique em abandono da atividade rural. Nesse sentido, são os seguintes julgados: EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. TEMPO DE SERVIÇO RURAL. REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL. PERÍODO DE LABOR ANTERIOR AOS 12 ANOS DE IDADE. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA INDISPENSABILIDADE DO TRABALHO AGRÍCOLA. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. EMPREGADO RURAL ANTERIOR À LEI 8.213/91. EMPRESA AGROINDUSTRIAL OU AGROCOMERCIAL. POSSIBILIDADE. CATEGORIA PROFISSIONAL. TRABALHADOR NA AGRICULTURA. 1. É devido o reconhecimento do tempo de serviço rural, em regime de economia familiar, quando comprovado mediante apresentação de início de prova materialcorroborado por prova testemunhal ou por autodeclaração rural. 2. A comprovação do exercício da atividade rural não se dá apenas por meio dos documentos elencados no art. 106 da Lei de Benefícios, em face do princípio da proteção social adequada, decorrente do art. 194 da Constituição da República de 1988. 3. Não é necessária a apresentação de documentos que façam prova do labor rural em relação a todo o período postulado, mas, sim, apenas um início de prova material que viabilize, em cotejo com a prova testemunhal ou com a autodeclaração rural, um juízo de valor seguro acerca da situação fática. 4. Nos termos da Súmula 577, do STJ "É possível reconhecer o tempo de serviço rural anterior ao documento mais antigo apresentado, desde que amparado em convincente prova testemunhal colhida sob o contraditório". 5. A existência de assalariados nos comprovantes de pagamento de ITR não tem o condão, por si só, de descaracterizar a atividade agrícola em regime individual ou mesmo em regime de economia familiar. 6. É excepcional o cômputo de atividade rural para menores de doze anos de idade, pois não se pode equiparar as condições físicas de labor de uma criança às de um adolescente ou adulto. A prova exigida nesses casos é a da imprescindibilidade do labor do infante à manutenção do núcleo familiar. 7. O reconhecimento da especialidade obedece à disciplina legal vigente à época em que a atividade foi exercida, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador, de modo que, uma vez prestado o serviço sob a vigência de certa legislação, o segurado adquire o direito à contagem na forma estabelecida, bem como à comprovação das condições de trabalho como então exigido, não se aplicando retroativamente lei nova que venha a estabelecer restrições à admissão do tempo de serviço especial. 8. Até a vigência da Lei de Benefícios, somente o trabalhador rural vinculado à empresa agroindustrial ou agrocomercial possui direito ao eventual reconhecimento do tempo de serviço especial previsto no Decreto 3.831/1964 (trabalhador na agropecuária) para fins de concessão de aposentadoria especial. 9. A atividade de trabalhador rural está prevista dentre aquelas que possuem enquadramento pelo simples exercício da atividade profissional, com base no item 2.2.1 (trabalhadores na agropecuária) do Decreto 53.831/64, até 28/04/1995, sendo desnecessário o desempenho concomitante de atividades típicas da agricultura e da pecuária, mas apenas a comprovação do exercício de uma destas atribuições. 10. Comprovado o exercício de atividade enquadrada como especial por categoria profissional, na forma exigida pela legislação previdenciária aplicável à espécie, possível reconhecer-se a especialidade da atividade laboral exercida. (TRF4 5010894- 10.2019.4.04.9999, DÉCIMA PRIMEIRA TURMA, Relator ANA CRISTINA FERRO BLASI, juntado aos autos em 13/10/2023) EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. CONCESSÃO. TEMPO RURAL. REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. COMPROVAÇÃO. INSCRIÇÃO DE CNPJ EM NOME DO CÔNJUGE. CONSECTÁRIOS LEGAIS. CORREÇÃO MONETÁRIA. TEMAS 810 DO STF E 905 DO STJ. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SÚMULA 76 TRF4. ARTIGO 85 CPC. CUSTAS PROCESSUAIS. ISENÇÃO. 1. É devido o reconhecimento do tempo de serviço rural, em regime de economia familiar, quando comprovado mediante início de prova material corroborado por testemunhas. 2. Tem direito à aposentadoria por idade rural a contar da data de entrada do requerimento administrativo, no valor de um salário mínimo, a trabalhador qualificado como segurado especial, nos termos do art. 11, VII, da Lei nº 8.213/91, que implementa os requisitos: (a) idade mínima (60 anos para homens e 55 para mulheres) e (b) exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, por tempo igual ao da carência de 180 meses (arts. 39, I, 48, §§1º e 2º, e 25, II da Lei nº 8.213/91), independentemente do recolhimento de contribuições previdenciárias. 3. Hipótese em que a inscrição de microempresa em nome do cônjuge da autora, por si só, não descaracteriza a condição de segurada da requerente, se não comprovada a dispensabilidade da atividade rural pela percepção de renda diversa. 4. A correção monetária das parcelas vencidas dos benefícios previdenciários será calculada conforme a variação do IGP-DI de 05/96 a 03/2006, e do INPC, a partir de 04/2006. 5. Os juros de mora devem incidir a contar da citação (Súmula 204 do STJ), na taxa de 1% (um por cento) ao mês, até 29 de junho de 2009. A partir de 30 de junho de 2009, os juros moratórios serão computados, uma única vez (sem capitalização), segundo percentual aplicável à caderneta de poupança. 6. Sucumbente deverá o INSS ser condenado ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios fixados em conformidade com o disposto na Súmula 76 deste Tribunal e de acordo com a sistemática prevista no artigo 85 do Código de Processo Civil de 2015. 7. O INSS é isento do pagamento das custas processuais quando demandado na Justiça Federal e na Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. (TRF4, AC 5011021-40.2022.4.04.9999, SEXTA TURMA, Relator PAULO PAIM DA SILVA, juntado aos autos em 22/05/2023) O entendimento do INSS de que houve intercalação com atividade urbana pode ser questionado, uma vez que a comercialização das mudas, desenvolvidas na área rural, não necessariamente caracteriza uma atividade urbana. Além disso, o fato de a empresa estar sediada na propriedade rural fortalece o argumento de continuidade da atividade rural. Ao analisar as opções disponíveis para Maria das Graças, é viável considerar um recurso administrativo e uma ação judicial. No entanto, a decisão dependerá da robustez das provas documentais que comprovem a continuidade da atividade rural, bem como da disposição para enfrentar possíveis prazos e trâmites judiciais. No caso de um recurso administrativo, seria crucial reunir documentação adicional que reforce a natureza rural das atividades desenvolvidas, destacando a relação da empresa com a propriedade rural e evidenciando a continuidade do trabalho no campo. Por outro lado, uma ação judicial poderia ser uma alternativa caso o recurso administrativo não obtenha sucesso ou não se mostre viável. Aqui, seria fundamental apresentar todos os documentos e evidências que respaldem a condição de segurada especial e a continuidade da atividade rural, buscando a intervenção do judiciário para reverter o indeferimento do benefício. Fundamentalmente, a estratégia a ser adotada dependerá da robustez das provas disponíveis, do apoio jurídico e da disposição de Maria das Graças em seguir adiante com um processo judicial, que poderia demandar mais tempo e recursos. O objetivo principal será demonstrar a natureza rural predominante de suas atividades e, assim, garantir o reconhecimento do direito à aposentadoria por idade rural. FONTE: https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/citacao.php?doc=TRF431272 467 APOSENTADORIA POR IDADE – ROTEIRO - PREVIDENCIÁRIO - IJUÍ - 2023/2 – DISPONÍVEL NO PORTAL GOOGLE CLASSROOM https://classroom.google.com/u/1/c/NjE2ODM2Mzk4NTIz https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8213compilado.htm Todos os acessos em 27/11/2023. Ricardo De Luca Rossetto Parecer Técnico Ijuí/RS, 27/11/2023 https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/citacao.php?doc=TRF431272467 https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/citacao.php?doc=TRF431272467 https://classroom.google.com/u/1/c/NjE2ODM2Mzk4NTIz
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