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Sell, Carlos E. "[...] entre as pessoas das quais depende a existência da Sociologia, há cada vez mais pessoas para perguntar para que serve a Sociologia. De fato, a Sociologia tem mais probabilidade de decepcionar ou contrariar os poderes do que cumprir sua função propriamente científica. Essa função não é a de servir a algo, ou seja, a alguém. Pedir à Sociologia para servir a algo é sempre um modo de lhe pedir para servir ao poder. Enquanto sua função científica é compreender o mundo social, a começar pelos poderes; operação que não é neutra socialmente e que preenche sem nenhuma dúvida uma função social. Entre outras razões, porque não existe poder que não deva uma parte - e não a menor delas - de sua eficácia ao desenvolvimento dos mecanismos que o fundam." (Bourdieu) Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber A Sociologia é uma ciência intimamente envolvida com a sociedade contemporânea e o capitalismo. 1. Gênese: fatores sociais e epistemológicos Então, quais são as origens da sociologia. Fatores Históricos: transformações na estrutura da sociedade. Fatores Epistemológicos: transformações na maneira de pensar e abordar a realidade. 1.1. Fatores histórico-sociais Revolução Industrial Revolução Francesa Revolução Científica Emergência de uma nova ordem econômica e suas consequências sociais: revolução industrial, urbanização e proletarização da força-de-trabalho. Surgimento da família nuclear – transformações na dinâmica tempo-espaço. Elemento fundamental na esfera política: Revolução Francesa. Elemento importante de ordem epistemológica: o iluminismo. Surgem pensadores que se debruçam com as questões que emergem com a nova ordem como Voltaire e Rousseau (França) e Hobbes e Looke (Grã Bretanha). O iluminismo (século XVIII) como a expressão de um movimento intelectual e artístico que emergiu ainda no século XV, o renascimento, que se caracterizava pela primazia do homem (antropocentrismo) em lugar de Deus (teocentrismo). O iluminismo incorporou o ingrediente do racionalismo ao renascimento. Nas palavras de Kant tal movimento representou: "O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do iluminismo".[12] Kant: a razão como elemento potencialmente (apriorístico) capaz de emancipar o homem, Racionalismo: triunfo pela razão. O renascimento representou um elemento de ordem cultural que ensejou a nova ordem. Ver quadro página 17 início. Importância dos clássicos para pensar a sociedade contemporânea a partir das transformações estruturais pelas quais passaram a humanidade desde a Antiguidade. Ver quadro página 17 meio. Os clássicos e a estruturação da reflexão sobre a modernidade abrangendo diversos campos, tais como: economia, política e cultura. Pergunta-chave (pedra fundamental) do incipiente pensamento sociológico: como ocorreu a transição do feudalismo para o capitalismo tradicional? Cada clássico da sociologia deu sua versão em resposta ao presente desafio. As interpretações de cada pensador trilharam três desafios: 1) As características da sociedade tradicional. 2) Os fatores da mudança da sociedade. 3) As características do mundo moderno (modernidade). “O conjunto de transformações geradas pelas revoluções Industrial, Francesa e pelo Iluminismo precisava ser explicado e compreendido pela razão humana. Elas geravam uma sensação de que o mundo estava em ‘crise’ e de que algo precisava ser feito. Quais as causas destas transformações? Para onde elas apontam? De que modo elas alteram as formas de sociabilidade humana? O que fazer diante destes novos fatos? De que as forças sociais em luta podem se posicionar diante destes fenômenos?” (página 18) A sociologia nasce destas incertezas que inquietavam corações e mentes no final do século XIX e início do século XX, na interminável busca de novas soluções para os novos problemas que emergiam-na contemporaneidade. Ainda inquietam no século XXI? Para Robert Nisbet (Tradição Sociológica) a sociologia é, então, a “ciência da crise”. Ler página 18 – Terceiro Parágrafo. Já para Anthony Giddens a ideia segundo a qual a destinação da sociologia é reestabelecer a harmonia social perdida se fundamenta em pressupostos imprecisos. Para Giddens existem os mitos que parte do pensamento sociológico carrega consigo: Mito do problema: como explicar que indivíduos convivam sem conflitos (Hobbes). Mito das origens conservadoras: ideia segunda a qual alertava que a sociologia surge a partir de ideias de autores conservadores (De Bonald e De Maistre) que se opunham à revolução francesa. Mito da grande cisão: ideia que propugnava que os fundadores da sociologia estavam preocupados com uma explicação geral (visão geral) da sociedade (filosofia social). Já seus continuadores se debruçaram em questões mais específicas. Mito da divisão entre integração X coerção: refuta-se a ideia que a sociologia basicamente está vinculada aos fenômenos da integração e da harmonia social versus a noção de conflito social, representadas pelas proposições de Durkheim e Marx. 1.2 Fatores epistemológicos a) O método científico O modelo de interpretação lógico-racional dos fenômenos tem sua origem ainda na Grécia antiga com Tales de Mileto (640 a 548 a. C.) que imaginara uma nova forma de explicar a realidade baseando-se em argumentos e na lógica. A filosofia foi a forma predominante de explicar o mundo até a modernidade, oportunidade em que surge a Ciência Moderna. Ainda no século XVI surge o método experimental que se configurou como um dos pilares da ciência moderna. Francis Bacon, Galilleu Galilei, Nicolau Copérnico e Isaac Newton foram os primeiros pensadores a lançar mão deste método de investigação. O método experimental se fundamenta em 4 procedimentos: 1. Observação sistemática dos fenômenos; 2. Construção de hipóteses; 3. Experimentação; 4. Generalização dos resultados (Teses, leis ou teorias). Há as distinções entre os métodos de investigação das ciências naturais e das ciências sociais, mas, em todo caso, os procedimentos seguem os fundamentos do método experimental. Princípio da Investigação X Princípio da Falsificação: ler citação de Popper (página 20). b) Da filosofia à sociologia Antes, os fenômenos sociais eram explicados à luz da filosofia da “sociedade” (interpretação geral). Com a modernidade, a sociologia emerge como um reflexo do esforço empírico para compreender a sociedade a partir dos recursos do método experimental. Dois momentos do pensamento filosóficos: o da idade antiga e o do início do capitalismo. Ver quadro da página 22. A sociologia emerge como um deslocamento do foco antes privilegiado pela filosofia política. Trata-se de compreender a sociedade, sua estrutura, por meio de métodos que incluem a dimensão empírica. Ler terceiro parágrafo da página 22. Foucalt, em As Palavras e as Coisas, faz uma “arqueologia” do saber e demonstra que a estruturação das ciências humanas representa uma nova fase da ciência cujo objetivo é o homem ser sujeito de sua própria reflexão. Nesta genealogia, Foucalt aponta a emergência da filologia, da economia política e da biologia, como áreas deste novo campo científico. As Ciências Humanas surgem, então, da necessidade de conferir à reflexão da sociedade moderna e aos seus fenômenos um “status” científico, descartando um viés “evolucionista” para o seu engendramento. Para Foucalt, é impreciso inferir que as C.H. surgiram de uma sofisticação ou evolução do pensamento filosófico. 2. Definição: a sociologia como teoria da modernidade Vários ramos da ciência surgem como resposta aos esforços de compreender a sociedade moderna no desideratode descortinar os seus mais variados aspectos, lançando mão das bases do método científico. Dentre tais segmentos, o autor destaca: a História, a Ciência Política, a Antropologia Cultural e a Economia (Smith, Ricardo, Marx e os demais economistas ao longo dos séculos XVIII e XIX). Mas, em que a sociologia se difere das demais ciências que também têm como objeto a reflexão da sociedade? Pelo fato do objeto da sociologia ser a “sociedade em geral”. Habermas, desta forma esquematiza as primeiras ciências humanas e seus respectivos objetos de estudo: Ciência econômica: Economia Ciência Política: Política Antropologia: Cultura Sociologia: sociedade em geral Ler citação de Habermans – página 24. Para Sell, a sociologia se notabiliza por não ter se especializado em apenas um aspecto da vida social. Seu objetivo é investigar a vida social de uma forma global com o fito de compreender a sociedade como um todo, em suas estruturas, processos e interpretações. A sociologia como uma teoria da sociedade e das relações sociais. Neste sentido, para Giddens, o que marca fundamentalmente as sociedades modernas são as descontinuidades, impulsionadas pelas radicais transformações. Assim, Giddens afirma que as sociedades modernas são caracterizadas pelo ritmo das mudanças (temo-espaço) e a própria natureza destas mudanças (instituições modernas, tais como o estado-nação, o trabalho assalariado e os avanços tecnológicos). Com efeito, a sociologia pode ser definida como a ciência social cujo objeto de estudo é a sociedade moderna. Então, a sociologia é uma teoria da modernidade. Por que então os pensadores Weber, Marx e Durkheim são considerados os maiores expoentes clássicos da sociologia? Nestas três tradições no âmbito da teoria sociológica encontramos versões distintas de três problemas fundantes da sociologia: 1) A teoria sociológica (dimensão teórico-analítica); 2) A teoria da modernidade (dimensão teórico-empírica); 3) A teoria política (dimensão teórico-política). Conferir quadro página 27. Teoria sociológica: qual o método que cada tradição lança mão? Teoria empírica: qual o núcleo da reflexão sociológica? Teoria política: como diagnosticar os problemas e como apontar ações e alternativas? 3. Fundação: Augusto Comte (I798-I857) Desafios do pensamento sociológico a partir das transformações da modernidade: 1. Identificar quais as causas destas transformações; 2. Apontar as características da sociedade moderna; 3. Discutir o que fazer diante dos problemas sociais. Foi com o desiderato de responder a estes desafios que August Comte lançou em 1830 o seu livro Curso de Filosofia Prática. Surge o conceito de Física Social: ciência objetiva para “prever e prover” acerca dos problemas do mundo moderno. Em 1839, Comte elabora o primeiro conceito de sociologia, por isso é comumente aceito como pai da sociologia, sendo o ponto de partida para se estudar o princípio da disciplina. Comte foi um fervoroso apoiador da religião positivista em que a razão toma o lugar de um Deus espectral. A ideia de aplicar os mesmos métodos das ciências naturais às ciências sociais recebe o primeiro impulso em Saint Simon de quem Comte foi colaborador. Saint Simon já havia resgatado a ideia da aplicação do método científico das C.N. aos fenômenos sociais de outro pensador Condorcet para quem “não há duas ordens de coisas, há apenas uma: a da física”. Saint Simon propugnava sobre a necessidade da aliança entre a ciência positiva (novo poder espiritual) e o empresariado (novo poder temporal) como condição para o reordenamento e o equilíbrio da nova sociedade que emergia. Desta forma os conflitos dariam lugar à união pacífica. Positivismo: o conhecimento necessita de comprovação. Positivismo aplicado à sociologia: lançar mão dos mesmos métodos de investigação atinentes às ciências naturais para a explicação dos fenômenos sociais. 3.1 Filosofia Positivista Comte e suas leis dos Estados: Teológico, Metafísico e Positivista. Teológico: característicos das sociedades rudimentares. Etapas: crença em fenômenos da natureza (fetichismo); crença em vários deuses (politeísmo); e a crença em uma única divindade (monoteísmo). Metafísico: dominado pelo pensamento filosófico metafísico, como princípio de explicação do mundo e da essência dos entes. Estado positivo: descoberta das leis causais dos fenômenos pela observação e experimentação (positivismo, ciência). O único conhecimento válido é aquele passível de comprovação científica. O positivismo, para além de uma visão afirmativa da supremacia da ciência, representa uma prescrição de como deve ser dotada a investigação científica. A sociologia (física social) como a última ciência a ser estruturada na modernidade para enfim encerrar o sistema completo de explicação do comportamento dos homens em sociedade. Matemática – Astronomia –Física-Química-Biologia-Sociologia As ciências procederam num mesmo formato, assim a sociologia seria a ciência natural do social. Divisão da sociologia em dois campos sugerida por Comte: estática social (estudo da ordem) e dinâmica social (leis do desenvolvimento histórico das sociedades, progresso). Com o advento das Revoluções Industrial e Francesa o progresso emergiu violentamente, mas, segundo os positivistas, necessitava de um princípio harmônico (ordem). Era necessário harmonizar os princípios de ordem e progresso por meio de uma “revolução espiritual” da razão. Convergência entre a Filosofia e a Sociologia positivistas: Razão Científica.