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8-Imutabilidade e mutabilidade do signo Curso de Linguistica Geral- SAUSSURE

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CAPITULO n 
IMUTABILIDADE E MUTABILIDADE DO SIGNO 
§ 1 . IMUTABJLJDADE. 
Se, corn relaçio à idéia que representa, o significante apa-
rece como escolhido livremente, em compensaçio, corn relaçio 
à comunidade lingülstica que o emprega, nio é livre: é im- . 
pasto. Nunca se consulta a massa social nem o sigriificante 
escolhido pela lingua poderia ser substituido por outro. Este 
fato, que parece encerrar uma contradiçao, poderia ser c~ma­
do familiarmente de "a carta forçada". Diz-se à lingua: "Es-
colhe!"; mas acrescenta-se: "0 signo seri este, ni.o outro." 
Um individuo nio somente seria incapaz, se quisesse, de modifi-
car em qualquer ponto a escolha feita, como também a pr6pria 
massa nio pode exercer sua soberania sobre uma (mica palavra: 
esta atada à lingua tai quai é. 
A llngua nao pode, pois, equiparar-se a um contrato puro 
e simples, e é justamente por esse lado que o estudo do signo 
Iingüistico se faz interessante; pois, se se quiser demonstrar que 
a lei admitida numa coletividade é algo que se suporta e nio 
uma regra livremente consentida, a lingua é a que oferece a 
prova mais concludente disso. 
Vejamos entio como o signo li.ngüistico escapa à nossa von-
tade, e tiremos em seguida as conseqüências importantes que 
decorram desse fen6meno. 
A qualquer época que remontemos, por mais antiga qùe 
seja, a lingua aparece sempre como uma heranÇa da época 
precedente. 0 ato pelo quai, em dado momento, 01 nomes te-
85 
riam sido distribuidos às coisas, pelo quai um contrato teria sido 
estabelecido e&tre os conceitos e as imagens acûsticas - esse 
ato podemos imaginâwlo, mas jamais foi ele comprovado. A 
idéia de que as coisas poderiam ter ocorrido ass.im nos é sugeri-
da por nosso sentimento bastante vivo do arbitrârio do signo. 
De fato, nenhuma sociedade conhece nem conheceu ja-
mais a lingua de outro modo que nio fosse como um produto 
herdado de geraçOes anteriores e que cumpre receber como tai. 
Eis porque a questâo da origem da linguagem nao tem a im-
portância que geralmente se lhe atribui. Tampouco se trata 
de uma questiio a ser propos ta; o (mi co objeto real da Lingüis-
tica é a vida normal e regular de um idioma jâ constituido. 
Um dado estado de lingua é sempre o produto de fatores his-
t6ricos e sio esses fatores que explicam porque o signo é imu-
tâvel, vale dizer, porque resiste a toda substituiçio. 
Mas dizer que a lingua é uma herança nio explica nada, 
se nlio se for mais longe. Nao se padern modificar, de um mo-
mento para outro, leis existentes e herdadas? 
Esta objeçao nos leva a situar a lingua em seu quadro so-
cial e formular a questio coma a formulariamos para as outras 
- instituiçOes sociais. Como se transmitem as instituiçOes? Eis 
a questiio mais gerai, que engloba a da imutabilidade. Oum-
pre, prnneiramente, avaliar a maior ou menor liberdade de que 
desfrutam as outras instituiçOes; ver-sewâ que para cada uma 
delas existe um equilibrio diferente entre a tradiçio imposta 
e a açio livre da sociedade. A seguir, investigar-se-â por que, 
em uma categoria dada, os fatores de primeira ordem sio mais 
ou menos poderosos do que os de outra. Por fim, voltando à 
lingua, perguntar-se-a por que o fator hist6rico da transmis-
sic a domina totalmente e exclui toda transformaçio lingüisti-
ca gerai e repentina. 
Para responder a tai pergunta, pode-se atribuir validade a 
\•ârios argumentas e dizer, por exemplo, que as modificaçOes da 
lingua nao estao Iigadas à sncessao de geraç5es que, ,longe de 
se sobrepor umas às outras, como as gavetas de um m6vel, se 
mesclam e interpenetram e contém cada uma individuos de todas 
as idades. Sera mister lembrar também a soma de esforços que 
exige o aprendizado da lingua materna para concluir pela im· 
possibilidade de uma transformaçao . gerai. Cumprira acrescen· 
86 
tar, ainda, que a reflexio nio intervém na pratica de um 
idioma; que os individuos em larga medida, nlio têm consciencia 
das leiJ da lingua; e se nao as percebem, como poderiam modi-
difica-las? Ainda que delas tiveooem consciência, é preciJo lem-
brar que os fatos lingüistieos nio provocam a critica, no sentido 
dP. que cada povo geralmente esta satisfeito corn a lingua que 
recebeu. 
Estas consideraçOes sao importantes, mas nao sao especi-
ficas; preferimos as seguin tes, mais essenciais, mais diretas, das 
quaiJ dependem todas as outras: 
1. - 0 cartiter arbitrtiri<> du signo. Vimoo acima que 
o carater .arbitrârio do signo nos fazia admitir a possibilidade 
te6rica da mudança; aprofundando a questao, vemoo que, de 
fato, a pr6pria arbitrariedade do signo plie a lingua ao abrigo 
de toda tentativa que vise a modifica-la. A massa, ainda que 
fdsse maiJ consciente do que é, nao poderia discuti-la. Pou, 
para que uma coisa seja posta eni questi.o, é necessârio que 
se baseie numa norma razoavel. Pode-se, por exemplo, dis-
cutir se a forma monogâmica do casamento é mais · razoâ-
vel do que a forma poligâmica e fazer valer raz<ies para uma 
e outra. Poder-se-ia, também, discutir um sistema de simbolos, 
pou que o simbolo tem uma relaçao racional com o significado 
(ver p. 82) ; mas para a lingua, sistema de signos arbitra· 
rios, falta essa base, e com ela desaparece todo terreno s61ido 
de diacussio; nio existe motivo algum para preferir soeur a 
siste'!r, ou a innâ, ochs a boeuf ou boi. 
2. -- Â multidtio de signos necessdrios para constituir 
qualquer lingua. A impo~ncia deste fato é consideravel. Um 
sistema de esCrita composto de vinte a quarenta letras pode, a 
rigor, ser substituido por outro. 0 mesmo poderia suceder à 
lingua se ela encerrasse um nUmero limitado de elementos; mas 
os signos lingüisticos sio inumerâveis. 
3. - 0 cartiter demasiado complexa d<> .iistema. Uma 
Ungua constitui um sistema. Se, como veremos adiante, esse 
é 0 lado pelo quai a lingua nao é completamente arbitraria e 
onde impera uma razio relativa, é também o ponto onde avul. 
ta a incompetência da massa para transform3..Ia. Pois tai sis. 
tt'ma é um mecanismo complexo; s6 se pode compreendê~lo 
pela reflexao; mesmo aqueles que dele fazem uso cotidiano, 
87 
ignoràm-no profundamente. Nio se poderia conceber uma trans-
formaçio que tai sem a intervençio de especialistas, gramati-
cos, 16gicos etc,; a experiência, porém, mostra que a té agora 
as intervençi5es nesse sentido nio tiveram êxito algum. 
4. - A resistincia da inlrcia coletiva 'lz toda renovafio 
lingülstica. A lingua - e esta consideraçao sobreleva todas 
as demais - é, a cada momento, tarefa de toda a gente; difun-
dida por u'a massa e manejada por ela, é algo de que todos os 
individuos se servem o dia inteiro. Nesse particular, nio se 
pode estabelecer comparaçio alguma entre ela e as outras ins-
tituiçi5es. As prescriçi5es de um c6digo, os ritos de uma reli-
giio, os sinais marîtimos etc., nio ocupam mais que certo nUme-
ro de individuos por vez e durante tempo limitado; da 
lingua, ao contrario, cada quai participa a todo instante e é 
por isso que ela sofre sem cessar a influência de todos. Esse 
falo capital basta para demonstrar a impossibilidade de uma 
revoluçio. A lingua, de Iodas as instituiçi5es sociais, é a que 
oferece menos oportunidades às iniciativas. A lingua forma 
um todo corn a vida da massa social e esta, sendo naturalmen-
te inerte, apar_ece antes de tudo como um fator de conservaçao. 
Nio basta, todavia, dizer que a lingua é um produto de 
forças sociais para que se veja claramente que nio é livre; a 
par de lembrar que constitui sempre herança de uma época pre-
cedente, .deve-se acrescentar que essas forças sociais atuam em 
funçio do tempo. Se a lingua tem um carater de fixidez, nlio 
é somente porque esta ligada ao peso da coletividade, mas tam-
bém porque esta situada no tempo. Ambos os fatos sio inse-
parâveis. A todo instante, a solidariedade corn o passado p5e 
em xeque a liberdade de escolher. Dizemos homem e cachorro 
porque antes de n6s se disse homem e cachorro. Isso nlio impede 
que exista no fenameno total' um vinculo entre esses dois fato-
res antinSmicos:a convençio arbitrâria, em virtude da quai 
a escolha se faz livre, e o tempo, graças ao quai a escolha se 
acha focada. Justamente porque o signo é arbitrârio, nio co-
nhece outra lei senao a da tradiçio, e é por basear·se na tra-
diçlio que pode ser arbitrario. · 
88 
§ 2 . M UTABILIDADE. 
0 tempo, que assegura a continuidade da lingua, tem um 
outro efeito, em aparência contradit6rio corn o primeiro: o de 
alterar mais ou menas rapidamente os signas lingüisticos e, em 
certo sentido, pode-se falar, ao mesmo tempo, da imutabilidade 
e mutabilidade do signo 1• 
Em ultima anâlise, os dois fatos sio solidârios: o signo estâ 
cm condiçôes de alterar-se porque se continua. 0 que domina, 
em toda alteraçao, é a persis~ncia da matéria velha; a infi-
delidade ao passado é apenas relativa. Eis porque o principio 
de alteraçao se baseia no princîpio de continuidade. 
A alteraçio no tempo assume diversas formas, cada uma 
das quais fomeceria matéria para urn importante capitulo de 
Lingüistica. Sem entrar em ponnenores, eis o que é inais im-
portante destacar. 
Em primeiro lugar, nio nos equivoquemos sobre o senti-
do dado aqui ao termo alteraçiio. Poder-se-ia fazer acreditar 
que se tratasse especialmente de transformaçOes fonéticas sofri-
das pelo significante ou entiio transformaçëes do sentido que 
afetam o conceito significado. Semelhante perspectiva seria 
insuficiente. Sejam quais forem os fatores de alteraçiio, quer 
funcionem isoladamente ou combinados, levam ~mpre a um 
des/ocamento da relaçiio entre o significado e o significante. 
Eis alguns exemplos: o latim necare, "matar", deu em 
francês nO)'eT, "afogar". Tanto a imagem acûstica como o 
conceito mudaram; é inûtil, porém, distinguir as duas partes 
do fenômeno; bas ta verificar in globo que o vinculo entre idéia 
e signa se afrouxou e que houve um deslocamento em sua re-
Jaçio. Se, em vez de comparar necire do latim clâssico corn 
o francês noyer, o contrapusermos ao necare do latim vulgar do 
século IV ou do V, jâ corn o significado de "afogar", o casa é 
um pouco diferente; mas aqui também, embora n3o tenha ocor-
( 1) Seria injuato c:ensunr a F. de Sauuure o ser il.s,ïco ou para-
don! por atribuir l lfnaua duas qualidades contradit6rias. Pela oposiçio 
de dois termos marantes, ele quis somente destacar uma verdade: que 
a Hnaua se transforma sem que os indivlduos possam transformi.la. Poele-se 
dlzer tam~ que ela ~ intanslvel, mu nio inaltedvel ( Org.). 
89 
rido alteraçio apreciâvel do significante, houve um desloca-
mento da relaçào entre a idéia e o signo. 
0 antigo alemio dritteil, "o terceira", tomou-se, no alemio 
modemo, Drittel. Neste caso, conquanto o conceito tenha per-
manecido o mesmo, a relaçâo se akrrou de dois. modos :. o sig-
nificante foi modificado nio s6 no aspecto. material como tam-
bém na forma gramatical; nio implica mais a idéia de Teil, 
"parte"; é uma palavra simples. De um modo ou de outra, 
trata-se sempre de um deslocamento de relaçao. 
Em anglo-saxio, a forma pré-literâria fôt, "o pé", perma-
neceu fôt (inglês modemo foot), enquanto que seu plural 
* foti, "os pés", se transformou em fët (inglês modemo feet). 
Sejam quais forem as altt~raçOes su postas, uma ~oisa t certa: 
ocorreu deslocamento da relaçio; outras correspondências sur-
giram entre a matéria fônica e a idéia. 
Uma lingua é radicalmente incapaz de se defender dos fa-
tores que deslocam, de minuto a minuto, a relaçio entre o sig-
nificado e o significante. t uma das conseqüências da arbitra-
riedade do signo. 
As outras instituiçëes - os costumes, as leis etc. - estio 
tbdas baseadas, em graus diferentes, na relaçiio natural entre 
a' coisas; nelas hâ uma acomodaçio necessâria entre os meios 
empregados e os fins visados. Mesmo a moda, que fixa nosso 
modo de vestir, nio é inteiramente arbitrâria: nio se pode ir 
além de certos limites das condiçëes ditadas pelo corpo huma-
no. A lingua, ao contrârio, nio estâ limitada por nada na · 
escolha de seus meios, pois nio se concebe o que nos impediria 
de associar uma idéia qualquer corn uma seqüência qualquer 
de sons. 
Para mostrar bem que a lingua é uma instituiçio pura, 
\\Oitney insistiu, corn razâo, no carâter arbitrârio dos signos; 
corn isso, colocou a Lingüistica em seu verdadeiro eixo. Mas 
ele nâo foi até o fim e nio viu que tai carâter arbitrârio se-
para radicalmente a lingua de ttKlas as outras instituiçOes. Is-
so se v@ hem pela maneira por que a lingua evolui; nada mais 
complexo: situada, simultâneamente, na massa social e no 
tempo, ninguém lhe pode alterar nada e, de outro lado, a arbi-
trariedade de seus signos implica, teoricamente, a liberdade 
de estabelecer nao importa que relaçâo entre a matéria f8nica 
90 
e as idéias. Disso resulta que esses dois elementos unidos nos 
signos guardam sua pr6pria vida, numa proporçiio desconhe-
cida em qualquer outra parte, e que a 11ngua se altera ou, me-
lhor, evolui, sob a influência de todos os agentes que possam 
atingir quer os sons, quer os significados. Essa evoluçiio é fatal; 
r.ao ha exemplo de uma llngua que lhe resista. Ao fim de certo 
tempo, podem-se sempre comprovar deslocamentos sensiveis. 
Isso é tao verdadeiro que até nas linguas artificiais tai 
principio tem de vigorar. Quem cria uma lingua, a tem sob 
dominio enquanto ela nio entra em circulaçio; mas desde omo-
mento em que ela cumpre sua missio e se toma posse de todos, 
foge-lhe ao controle. 0 esperanto é um ensaio desse gênero; 
se triunfar, escaparâ à lei fatal? Passado o primeiro momento, 
a llngua entrarâ muito provavelmente em sua vida semiol6gica; 
transmitir-se-â segundo Ieis que nada têm de comum corn as 
de sua criaçiio reflexiva, e nao se podera mais retroceder. 0 
bornem que pretendesse criar uma lingua imutâvel, que a pos· 
teridade deveria aceitar tai quai a recebesse, se assemelharia à ga-
linha que chocou um ovo de pata: a lingua criada por ele 
seria arrastada, quer ele quisesse ou nio, pela corrente que 
abarca todas as linguas. 
A continuidade do signo no tempo, ligada à alteraçiio no 
tempo, é um prindpio de Semiologia gerai; sua confirmaçio 
se encontra nos sistemas de escrita, na linguagem dos surdos-
.. mudos etc. 
Mas em que se baseia a necessidade de mudança? Talvez 
nos reprovem .por ni.o termos sido tio explicitas nesse ponto quan-
to no principio da imutabilidade: é que nio distinguimos os 
diferentes fatores de alteraçio; seria -precisa encarâ-los. em sua 
variedade para saber até que ponto siio necessârios. 
As causas da continuidade estiio a priori ao alcance do 
observador; nio ocorre o mesmo corn as causas de alteraçio 
através do tempo. Melhor renunciar, provisoriamente, a dar 
conta exata delas, e limitar-se a falar, em gerai, do desloca-
mento das relaçôes; o tempo altera tOdas as coisas; nio existe 
razio para que a lingua escape a essa lei universal. 
Recapitulemos as etapas de nossa demonstraçao, reportan-
do-nos aos prindpios estabelecidos na introduçlo. 
91 
1. • Evitando estéreis definiçiies de termoa, distinguimos 
p;·imeiramente, no seio do fen&meno total que representa a lin-
guagem, dois fatores: a Ungua e a fala. A lingua é P"'a n6s 
a linguagem menos a fala. t o conjunto dos hâbitos lingüisû-
cos que permitem a uma pessoa compreender e fazer·se com-
preender. 
2.• Mas essa defmiçiio deixa ainda a lingua fora de sua 
realidade social; faz dela uma coisa irreal, pois niio abrange 
mais que um dos aspectos da realidade: o individual; é mister 
uma massa fa/ante para que exista uma lingua. Em nenhum 
momento, e contrariamente à aparência, a lingua existe fora 
do fato social, visto ser um fen&meno semioiOgico. Sua na-
tureza social é um dos seus caracteres internos; sua definiçio 
completa nos coloca diante de duas coisas inseparaveis, como 
o demonstra o esquema: 
Massa 
falante 
Mas, nessas condiçëes, a lingua é 
viâvel, nio viven te; levamos em conta 
apenas a realidade social, niio o fato his-
t6rico. 
3.• Como o signo lingüistico é ar-
bitrârio, pareceria que a lingua, assim 
. definida,é um sistema livre, organizâ-
vel à vontade, dependendo Unicamente 
de um principio racional. Seu cari.ter 
social, considerado em si mesmo, nio se 
opiie precisamente a esse ponto de vista. 
Sem duvida, a psicologia coletiva niio 
opera sobre .uma matéria puramente 16-
'!ica; cumpriria levar em conta tudo quanto faz ceder a raziio 
nas relaçëes prâticas de indivlduo para indivlduo. E, todavia, 
nio é isso que nos impede de ver a lingua como uma simples 
convençâo modificâvel confonne o arbitrio dos interessados, é a 
açiio do tempo que se combina corn a da força social; fora do 
tempo, a realidade lingüfstica nio é completa e nenhuma con-
clusiio se faz possivel. 
Se se tomasse a lingua no tempo, sem a massa falante -
suponha-se o individuo isolado que vivesse durante vârios 
séculos - niio se registraria talvez nenhuma alteraçiio; o tem-
po niio agiria sobre ela. Inversamente, se se considerasse a 
92. 
massa falante sem o tempo, nio se veria o efeito das f6rças 
sociais agindo sobre a lingua. Para estar na rt>alidade, é ne-
cessârio, entio, acrescentar ao nos--
so primeiro esquema um signo que 
indique a marcha do tempo: 
A lingua jâ nio é agora livre, 
porque o tempo permitira às for-
ças sociais que atuam sobre ela de-
senvolver seus efeitos, e chega-se 
assim ao principio de continuη 
dade, que anula a liberdade. A 
continuidade, porém, implica ne· 
cessariamente a alteraçio, o deslo.. 
camento mais ou menos considerâ-
vel das relaçOes. 
Massa 
falante 
93

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