Buscar

VIOLENCIA CONTRA MULHERES E MENINAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 172 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 172 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 172 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Presidência da República 
Luiz Inácio Lula da Silva 
 
Ministério da Justiça e Segurança Pública 
Flávio Dino de Castro e Costa 
 
Secretaria Nacional de Segurança Pública 
Francisco Tadeu Barbosa de Alencar 
 
Diretoria de Ensino e Pesquisa 
Michele Gonçalves dos Ramos 
 
Coordenação-Geral de Ensino 
Ana Claudia Bernardes Vilarinho de Oliveira 
 
Coordenação Pedagógica 
Joyce Cristine da Silva Carvalho 
 
Coordenação de Ensino a Distância 
Renata Guilhões Barros Santos 
 
Gerente de Curso 
Adriana Aparecida Vizzotto 
 
Conteudistas 
Juliana Teixeira de Souza Martins 
Orlinda Cláudia Rosa de Moraes 
Renata Avelar Giannini 
 
Revisão Técnica 
Denice Santiago Santos do Rosário 
 
Revisão Pedagógica 
Evania Santos Assunção Motta 
 
Revisão Textual 
Bruna Carolina da Silva Pereira 
 
Programação e Edição 
Renato Antunes dos Santos 
Fábio Nevis dos Santos 
 
Design Instrucional 
Marcelo Pinto de Assis 
 
 
 
 
Sumário 
1. APRESENTAÇÃO DO CURSO ...................................................................................................... 5 
2. OBJETIVOS DO CURSO .............................................................................................................. 7 
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................. 7 
2.2 Objetivos Específicos: .................................................................................................................. 7 
3. ESTRUTURA DO CURSO ............................................................................................................. 8 
4. MÓDULOS DA FORMAÇÃO ....................................................................................................... 9 
4.1 – Módulo I: Protagonismo de mulheres e enfrentamento da violência ................................ 9 
4.1.1 Apresentação do módulo .................................................................................................... 9 
4.1.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 10 
4.1.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 11 
4.1.3.1 Aula 1 – A evolução dos direitos humanos de mulheres........................................... 12 
Evolução do direito das mulheres e meninas ................................................................... 13 
As conferências internacionais de mulheres .................................................................... 16 
Declarações da Assembleia Geral da ONU ........................................................................ 20 
Interseccionalidade e o marco normativo internacional de proteção dos direitos 
humanos das mulheres ..................................................................................................... 21 
Finalizando ........................................................................................................................ 23 
4.1.3.2 Aula 2 - Principais Conceitos e Definições ................................................................. 23 
Sexo ................................................................................................................................... 25 
Gênero e Papéis Sociais de Gênero .................................................................................. 26 
Identidade De Gênero ....................................................................................................... 31 
Sexualidade ....................................................................................................................... 33 
Orientação Sexual ............................................................................................................. 34 
Atenção para não confundir: ............................................................................................ 35 
Igualdade de Gênero e Feminismo ................................................................................... 38 
Patriarcado e o Conceito de Família ................................................................................. 39 
Interseccionalidade ........................................................................................................... 40 
Finalizando ........................................................................................................................ 42 
4.1.3.3 Aula 3 - Sensibilização à violência baseada em gênero ............................................. 43 
Violência psicológica ou emocional .................................................................................. 44 
Violência física ................................................................................................................... 45 
Violência patrimonial ........................................................................................................ 45 
 Violência sexual ................................................................................................................ 45 
Finalizando ........................................................................................................................ 47 
4.1.3.4 Aula 4 - Participação, liderança e protagonismo de mulheres .................................. 48 
Mulheres contribuem para o protagonismo e a estabilidade .......................................... 48 
A agenda sobre mulheres paz e segurança....................................................................... 49 
Resoluções sobre a agenda mulheres paz e segurança .................................................... 51 
A agenda sobre mulheres, paz e segurança no Mundo, na América Latina e no Brasil ... 51 
Finalizando ........................................................................................................................ 53 
4.2 – Módulo II: Violências, estrutura de governança e políticas baseadas em evidências ....... 53 
4.2.1 Apresentação do módulo .................................................................................................. 54 
4.2.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 54 
4.2.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 55 
4.2.3.1 Aula 1 - O que os dados disponíveis nos dizem sobre violência contra mulheres e 
meninas no Brasil? ................................................................................................................. 56 
A Violência Doméstica ....................................................................................................... 56 
 
 
Violência Sexual................................................................................................................. 61 
Violência Letal ................................................................................................................... 63 
Fique por Dentro ............................................................................................................... 66 
4.2.3.2 Aula 2 - Dados e Evidências na formulação de políticas públicas ............................. 68 
Dados e evidências. Do que estamos falando? ................................................................. 68 
Que fontes de dados existem? .......................................................................................... 72 
Saúde ................................................................................................................................. 73 
Segurança Pública: ............................................................................................................ 74 
Secretarias Estaduais de Segurança Pública: .................................................................... 74 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ........................................................75 
Sociedade Civil................................................................................................................... 75 
A importância dos registros feitos pelos profissionais do Susp ........................................ 77 
4.2.3.3 Aula 3 - Governança e a importância do trabalho em rede ...................................... 79 
Estrutura de Governança da proteção de mulheres no Brasil .......................................... 79 
Disque 100 e Ligue 180 ..................................................................................................... 84 
O que é trabalho em rede? ............................................................................................... 84 
A(s) rede(s) de proteção.................................................................................................... 86 
Como Funciona.................................................................................................................. 87 
Finalizando ........................................................................................................................ 89 
4.3 – Módulo III: Aspectos operacionais e táticos fundamentais para o enfrentamento da 
violência contra mulheres ...................................................................................................... 90 
4.3.1 Apresentação do módulo .................................................................................................. 90 
4.3.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 90 
4.3.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 91 
4.3.3.1 Aula 1 – O papel dos órgãos de segurança pública no enfrentamento da violência 
contra mulheres e meninas. .................................................................................................. 93 
Introdução ......................................................................................................................... 93 
 Violência contra a mulher é um problema de segurança pública ................................... 94 
O enfrentamento da violência contra a mulher como parte da política de segurança 
pública ............................................................................................................................... 97 
Finalizando ...................................................................................................................... 100 
4.3.3.2 Aula 2 - Legislação aplicada na proteção de mulheres e meninas em seus aspectos 
práticos. ............................................................................................................................... 101 
Introdução ....................................................................................................................... 101 
Aspectos Gerais da Legislação e Aplicação Prática ......................................................... 104 
Definindo a Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher ........................................ 105 
As Formas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher ..................................... 106 
Aspectos Do Atendimento Às Mulheres Em Situação De Violência Doméstica ............. 107 
Mas o que é revitimização? ............................................................................................ 108 
Aspectos do Atendimento às Vítimas de Crimes Sexuais ............................................... 110 
Medidas Protetivas de Urgência ..................................................................................... 115 
Finalizando ...................................................................................................................... 117 
4.3.3.3 Aula 3: Identificando a violência contra mulheres e meninas ................................ 118 
 Introdução ...................................................................................................................... 118 
Principais aspectos da violência contra a mulher ........................................................... 118 
Análise de risco ............................................................................................................... 119 
Dimensões da avaliação de risco .................................................................................... 120 
Fatores de Risco .............................................................................................................. 121 
Fatores de proteção ........................................................................................................ 122 
 
 
Classificação e gestão do risco ........................................................................................ 123 
Gestão de Risco ............................................................................................................... 123 
Plano de Segurança ......................................................................................................... 123 
Formulário Nacional de Avaliação do Risco (FONAR) ..................................................... 124 
Finalizando ...................................................................................................................... 127 
4.3.3.4 Aula 4: Identificando o papel dos atores da segurança pública na redução da “rota 
crítica” das vítimas de violência. .......................................................................................... 128 
Introdução ....................................................................................................................... 128 
Atuação da segurança pública com perspectiva de rede ............................................... 128 
Rota crítica ...................................................................................................................... 131 
E o papel dos atores da segurança pública na redução da “rota crítica” das vítimas de 
violência?......................................................................................................................... 131 
Finalizando ...................................................................................................................... 133 
4.3.3.5 Aula 5: A atuação da segurança pública de modo integrado com os diferentes atores 
da rede proteção e enfrentamento. .................................................................................... 134 
Introdução ....................................................................................................................... 134 
Atuação Integrada ........................................................................................................... 134 
 Vantagens de trabalhar de forma integrada .................................................................. 135 
Desafios do trabalho integrado ....................................................................................... 136 
A segurança pública no contexto de integração operacional ......................................... 137 
Finalizando ...................................................................................................................... 140 
4.3.3.6 Aula 6: Serviços especializados no atendimento a mulheres e meninas no âmbito da 
segurança pública. ............................................................................................................... 141 
Introdução ....................................................................................................................... 141 
As Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher ................................................ 142 
Atribuições das DEAMs ................................................................................................... 143 
Patrulhas e Rondas Maria da Penha ............................................................................... 146 
Principais características e modelo de atuação: .............................................................147 
Principais atividades das Patrulhas Maria da Penha: ..................................................... 149 
Principais estratégias das Patrulhas Maria da Penha: .................................................... 151 
Finalizando ...................................................................................................................... 152 
4.3.3.7 Aula 7: Desafios da atuação quando os autores ou vítimas de violência contra a 
mulher são profissionais de segurança pública. .................................................................. 154 
Introdução ....................................................................................................................... 154 
Prevenção e enfrentamento da violência doméstica nas instituições de segurança 
pública ............................................................................................................................. 155 
4.3.3.8 Aula 8 – Boas Práticas: Grupos Reflexivos para profissionais de segurança autores 
de violência doméstica e familiar ........................................................................................ 160 
Finalizando ...................................................................................................................... 161 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 163 
 
 
 
6 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 
 APRESENTAÇÃO DO CURSO 
 
Caras alunas e caros alunos, 
 
As diferentes formas de violência contra mulheres e meninas, em grande parte, estão 
associadas à profunda desigualdade entre homens e mulheres presente em nossa 
sociedade. Essa desigualdade influencia os papéis que homens e mulheres desempenham, 
bem como os riscos a que estão submetidos e as redes de proteção às quais têm acesso. 
Este curso tem como objetivo apresentar os principais conceitos, marcos teóricos e 
normativos das vulnerabilidades que 
mulheres e meninas enfrentam, bem como 
os instrumentos desenvolvidos para a 
ampliação de sua proteção. Também será 
abordada a importância do protagonismo 
de mulheres no enfrentamento de 
diferentes formas de violência e da 
promoção da igualdade de direitos. 
A violência contra mulheres e 
meninas é um grave problema social e 
vem ocupando espaço de relevância e 
visibilidade, com impactos diretos nos 
órgãos de segurança pública. No entanto, 
o enfrentamento desta forma de violência demanda um contínuo conhecimento sobre suas 
dinâmicas e estratégias para sua prevenção e redução por parte dos profissionais que atuam 
nos distintos serviços públicos, destaque feito àqueles que integram os órgãos do sistema 
de segurança pública e justiça criminal. 
A atuação frente aos crimes relacionados à violência contra mulheres e meninas 
corresponde a uma parte significativa do trabalho desempenhado pelos diferentes órgãos de 
segurança pública no Brasil. Por essa razão, independentemente da existência de setores 
especializados no enfrentamento desta forma de violência, como é caso, por exemplo, das 
Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher ou ainda as Patrulhas/Rondas Maria da 
Penha, todos (as) os (as) profissionais de segurança pública devem possuir o conhecimento 
Figura 1: Mulher loira em pé sobre fundo rosa cobrindo 
os olhos com as mãos 
 
Fonte: Imagem de krakenimages.com no Freepik 
 
https://br.freepik.com/fotos-gratis/mulher-loira-em-pe-sobre-fundo-rosa-cobrindo-os-olhos-com-as-maos-e-fazendo-gesto-de-parada-com-expressao-triste-e-de-medo-conceito-envergonhado-e-negativo_42264488.htm#query=violência contra a mulher&position=15&from_view=search&track=ais
 
 
7 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
que os (as) capacite a atuar de modo técnico, profissional e humanizado diante de cada 
ocorrência, evitando, sobretudo, uma atuação revitimizante. 
A ampliação do debate público sobre o tema, as alterações na legislação nacional 
voltada ao enfrentamento da violência contra a mulher, bem como a necessidade de 
padronização dos protocolos de atuação, tornam este um tema de interesse para todos os 
profissionais do Sistema Único de Segurança Pública – Susp. Um dos principais 
pressupostos do atendimento a mulheres e meninas em situação de violência é a 
necessidade da intersetorialidade, ou seja, a perspectiva de um trabalho articulado e em 
rede, entre órgãos e serviços das áreas de saúde, segurança pública, justiça, assistência 
social, educação, dentre outras. 
 
Este curso está dividido em três módulos: 
 
 Primeiro Módulo 
Apresenta uma introdução ao tema, destacando os principais conceitos, marcos 
teóricos e normativos sobre o enfrentamento da violência contra mulheres e meninas, bem 
como sobre a importância do protagonismo das mulheres na prevenção e redução da 
violência. 
 Segundo Módulo 
Aborda a estrutura de governança do enfrentamento desta forma de violência no 
Brasil, bem como a importância do uso de dados e evidências para informar as políticas 
públicas focadas nesta temática. 
 Terceiro módulo 
Trata dos aspectos operacionais, práticos e legais, destacando experiências bem-
sucedidas no enfrentamento da violência contra mulheres e meninas, como as delegacias 
especializadas, as Patrulhas/Rondas Maria da Penha, entre outros. 
 
Público-alvo: Profissionais do Sistema Único de Segurança Pública. 
 
 
 
 
8 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 OBJETIVOS DO CURSO 
 
2.1 Objetivo Geral 
 
A ação educacional tem por objetivo capacitar os profissionais do Susp, a partir de 
uma análise histórica e social de gênero, com a perspectiva de aprimoramento do serviço de 
segurança pública no atendimento às mulheres e meninas vítimas de violência e, também, 
do fortalecimento da participação das mulheres na segurança pública. 
 
2.2 Objetivos Específicos: 
 
Os objetivos específicos do curso visam que os profissionais do sistema de 
segurança pública possam: 
 
⚫ Conhecer os principais conceitos, marcos teóricos e normativos sobre o 
enfrentamento da violência contra mulheres e meninas e a importância do protagonismo de 
mulheres e meninas a partir de uma linguagem fácil e acessível; 
⚫ Conhecer a estrutura de governança e as principais políticas públicas para o 
enfrentamento da violência contra mulheres e meninas no Brasil; 
⚫ Conhecer boas práticas de enfrentamento da violência contra mulheres e 
meninas: experiências desenvolvidas pelos órgãos do Susp; 
⚫ Refletir sobre a violência presente nas sociedades contemporâneas (relações 
de gênero, classe social e etnia); 
⚫ Discutir a importância das mulheres na elaboração e execução das políticas de 
segurança pública; 
⚫ Analisar o papel dos órgãos de segurança pública na rede de proteção às 
mulheres e às meninas, bem como no atendimento aos casos de violência contra as 
mulheres e meninas. 
 
 
 
9 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 3. ESTRUTURA DO CURSO 
 
Este curso possui uma carga horária de 40 horas e compreende os seguintes 
módulos: 
 
• Módulo 1 - Protagonismo de mulheres e enfrentamento da violência 
• Módulo 2 - Violências, Estrutura de governança e políticas baseadas em evidência 
• Módulo 3 - Aspectos operacionais e táticos fundamentais para o enfrentamento da 
violência contra mulheres 
 
 
10 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
4. MÓDULOS DA FORMAÇÃO 
 
 
Figura 2: Protagonismo Feminino 
Fonte: Imagem de Ebanx Community4.1 – Módulo I: Protagonismo de mulheres e 
enfrentamento da violência 
 
4.1.1 Apresentação do módulo 
 
Este módulo é uma introdução ao tema, e destaca os principais conceitos, marcos 
teóricos e normativos sobre o enfrentamento da violência contra mulheres e a importância 
do protagonismo de mulheres a partir de uma linguagem fácil e acessível. 
 
 
https://community.ebanx.com/mulheres-tecnologia-transformacao-times/
 
 
11 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
4.1.2 Objetivos do módulo 
 
Este módulo tem por objetivos: 
 
 
 
 
 
Contribuir para um entendimento sobre a origem e causas da violência contra 
mulheres; 
 
 
 
 
Oferecer ferramentas conceituais para facilitar a identificação e o registro da 
violência contra as mulheres e seus diferentes tipos; 
 
 
Apresentar o ciclo da violência e formas de interrompê-lo; 
 
 
 Apresentar a evolução e a importância dos direitos humanos de mulheres; 
 
 
 Apresentar os principais marcos normativos nacionais e internacionais que 
servem de referência para atuação no enfrentamento da violência contra 
mulheres e meninas no Brasil; 
 Apresentar a importância da participação de mulheres e sua relação com um 
ambiente livre de violências. 
 
 
 
 
1 
2 
3 
4 
5 
6 
 
 
12 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
4.1.3 Estrutura do módulo 
 
Este módulo compreende as seguintes aulas: 
 
Aula 1 
Marco normativo internacional: a evolução dos direitos humanos de mulheres 
Aula 2 
Conceitos e Definições 
Aula 3 
Sensibilização à violência baseada em gênero 
Aula 4 
Participação, liderança e protagonismo de mulheres 
 
 
 
13 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
4.1.3.1 Aula 1 – A evolução dos direitos humanos de mulheres 
 
Na Prática 
Vocês sabem o que são os direitos humanos? Qual a importância deles? Por que eles 
foram pensados? Como eles se relacionam aos direitos humanos de mulheres? 
Gostaria de convidá-los e convidá-las a pensar nessas perguntas. Tire cinco minutos e 
pense um pouco sobre elas. Anote em um papel e ao fim desta aula vamos comparar as 
respostas. 
 
Agora vamos lá. Quando falamos especificamente dos direitos humanos de 
mulheres, estamos falando daqueles que se ocupam principalmente deste público, inclusive 
de meninas. Ao longo dos anos, foi necessário estabelecer regras sobre como os países 
deveriam tratar as suas mulheres. Isso aconteceu porque nem sempre as mulheres eram 
tratadas com dignidade e respeito. A evolução dos direitos das mulheres acompanhou 
também a evolução dos direitos humanos. Em 1948 foi elaborada a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos. Este marco normativo teve como objetivo principal garantir direitos 
básicos e dignidade a todos e a todas, inclusive aquelas pessoas marginalizadas e 
tradicionalmente excluídas da vida pública do Estado. 
Figura 3: Eleanor Roosevelt - Presidente da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas.
 
Fonte: Wikipedia 
https://tinyurl.com/ksfu4p99
 
 
14 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 
 Eleanor Roosevelt foi uma figura importante em São Francisco, nos Estados Unidos, local em que a Declaração foi assinada. 
Na foto ela declara este que foi um dos primeiros documentos internacionais que falam sobre como os países devem tratar seus cidadãos 
e cidadãs com dignidade e respeito. 
 
Neste contexto, a presente aula explora a evolução dos direitos humanos das 
mulheres, desde a sua origem a partir da evolução dos direitos humanos e do 
reconhecimento da igualdade de gênero, até os dias atuais. Entender o progresso dos 
direitos humanos significa entender como a desigualdade impõe barreiras para que mulheres 
possam se desenvolver plenamente e contribuir para o desenvolvimento das sociedades em 
que vivem. 
 
Evolução do direito das mulheres e meninas 
 
Para abordar o tema dos direitos das mulheres e das meninas, recomenda-se um 
entendimento sobre o “regime internacional de igualdade de gênero”, o contexto histórico em 
que surgiu, bem como o que ele propõe. O termo regime se refere aos “princípios, normas, 
regras e procedimentos decisórios de determinada área, sobre os quais as expectativas dos 
atores são convergentes”.1 Tais regras e procedimentos podem ser explícitos, como a 
codificação do Direito Internacional na forma de tratados, ou podem ser implícitos ou menos 
vinculantes do ponto de vista formal, a exemplo das conferências internacionais. Estas 
constituem importantes normas e ações, reunidos de maneira tal que conseguem influenciar 
a ação do Estado. O regime de igualdade de gênero, como outros regimes, inclui uma série 
de conferências, tratados, e diversificada rede de organizações, do nível global ao local, 
incluindo organizações governamentais e não governamentais. 
A Carta da ONU é um documento fundador do regime de igualdade de gênero. O 
Preâmbulo da Carta reafirma, especificamente, a “fé nos direitos fundamentais humanos, na 
dignidade e no valor do ser humano, nos direitos iguais dos homens e mulheres e das 
grandes e pequenas nações, e […] na promoção do progresso social e de padrões de vida 
melhores, em um contexto mais amplo de liberdade”. A Carta também enfatiza 
especialmente a não discriminação contra mulheres e meninas, e a promoção da igualdade, 
do equilíbrio e da equidade de gênero nos Capítulos I, III, IX e XII. Porém, alguns dos 
princípios centrais que emergem na Carta, incluindo a igualdade soberana dos Estados, a 
manutenção da paz e da segurança, e a não intervenção nos assuntos internos dos Estados, 
 
1 STEPHEN K., 1982, p. 186. 
 
 
 
15 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
frequentemente operam em oposição direta aos objetivos relacionados a gênero. Na prática, 
estes princípios podem terminar sobrepondo-se aos objetivos relacionados a gênero. 
 
A brasileira Bertha Lutz foi uma das cinco mulheres que participaram oficialmente como 
representantes de governo na Conferência de São Francisco, a qual originou a Organização das 
Nações Unidas, que é a principal organização internacional no âmbito da defesa de direitos. Bertha 
Lutz foi a responsável pela inclusão da igualdade de gênero na Carta deste importante organismo. 
Uma enorme contribuição de uma brasileira para todas as mulheres do mundo. 
 
A igualdade de gênero trata da possibilidade de acesso a 
oportunidades iguais entre homens e mulheres. Sua interpretação 
como uma questão de direitos humanos recebeu sua reafirmação 
institucional dentro da ONU, pelo que se tornou informalmente 
conhecido como a Carta Internacional de Direitos Humanos. 
 
 
Carta Internacional de Direitos Humanos 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 10/12/1948 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento base não jurídico 
que delineia a proteção universal dos direitos humanos básicos, adotada pela Organização 
das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, elaborado principalmente pelo jurista 
canadense John Peters Humphrey, contando com a ajuda de várias representantes de 
origens jurídicas e culturais de todas as regiões do planeta. 
 
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 16/12/1966 
O acordo diz que seus membros devem trabalhar para a concessão de direitos econômicos, 
sociais e culturais (DESC) para pessoas físicas, incluindo os direitos de trabalho e o direito 
à saúde, além do direito à educação e a um padrão de vida adequado. 
 
Pacto Internacional Sobre DireitosCivis e Políticos 19/12/1966 
Instrumento por meio do qual os Estados Partes das Nações Unidas que aderirem e 
ratificarem o Pacto assumem o compromisso de respeitar e garantir a todos os indivíduos 
que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os direitos 
reconhecidos no Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, 
religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, 
nascimento ou qualquer condição. 
Figura 4: Bertha Lutz 
durante os trabalhos da 
Conferência de São 
Francisco - 1945
. 
Fonte: Câmara dos 
Deputados 
https://www2.camara.leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/imagens/exposicoes-historicas-e-artisticas-2016/bertha-lutz-durante-os-trabalhos-da-conferencia-de-sao-francisco-1945/view
https://www2.camara.leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/imagens/exposicoes-historicas-e-artisticas-2016/bertha-lutz-durante-os-trabalhos-da-conferencia-de-sao-francisco-1945/view
 
 
16 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Protocolo Opcional 22/12/2000 
Protocolo que estabelece mecanismos para notificação e investigação da Convenção sobre 
a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres 
 
Esses documentos fundacionais foram importantes para estabelecer um arcabouço 
legal normativo e componentes substanciais do Direito Internacional. Ainda assim, a sua 
implementação está, com frequência, aquém do ideal. 
Apesar disso, essa declaração e os dois tratados subsequentes adotam uma 
abordagem relativamente estreita sobre o tema. Elas não tratam de questões fundamentais 
para o direito de mulheres e meninas que ocorrem no âmbito privado, local que é, ainda onde 
as principais formas de violência afetam mulheres. Por essa razão, os seus mandatos são 
bastante criticados, e seguiu-se um movimento forte e atuante por parte da sociedade civil 
para que questões no âmbito doméstico também fossem tratadas. Em outras palavras: sim, 
é dever do Estado proteger mulheres e seus direitos no interior de seus lares. 
Era necessário, portanto, um documento de caráter jurídico vinculante e 
especificamente dedicado aos direitos de mulheres e meninas. Então, em 1979 a Assembleia 
Geral da ONU adotou a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres (do termo em inglês CEDAW). Trata-se do primeiro 
instrumento internacional de direitos humanos a definir explicitamente todas as formas de 
discriminação contra mulheres como violações fundamentais de direitos humanos. Boa parte 
do texto dessa convenção foi redigida pela Comissão sobre o Status da Mulher (do termo 
em inglês CSW), criada especificamente para promover os direitos de mulheres e defendê-
los. A Comissão reúne-se até hoje, desde a sua criação em 1946, no mês de março, e traz 
uma série de deliberações desde a sua criação sobre como seguir avançando neste âmbito. 
O Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres, que entrou em vigor em 2000, melhorou ainda mais o 
regime de igualdade de gênero, criando procedimentos e mecanismos para que os Estados 
prestem contas perante a Convenção. Ao ratificar o Protocolo Facultativo, um Estado 
reconhece a competência do Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher - 
a CEDAW –, o órgão que monitora o cumprimento da Convenção pelos Estados para receber 
e examinar queixas de indivíduos ou grupos dentro da sua jurisdição. Mais especificamente, 
o Protocolo prevê os dois procedimentos listados abaixo. 
 
1. Procedimento de comunicação: permite que mulheres, de maneira individual, 
ou grupos de mulheres, submetam violações de direitos protegidos pela Convenção ao 
 
 
17 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Comitê. Para serem aceitas pelo Comitê, as comunicações individuais precisam atender a 
uma série de critérios. Um exemplo é o esgotamento de todas as ações cabíveis em âmbito 
nacional. 
2. Segundo procedimento: permite que o Comitê inicie inquéritos sobre as 
situações de violações graves ou sistemáticas de direitos das mulheres. 
Em ambos os casos, para que sejam aceitos, os Estados devem ser partes 
signatárias da Convenção e do Protocolo.2 
 
As conferências internacionais de mulheres 
 
Vimos na seção anterior que os direitos das mulheres avançaram através de três 
instrumentos principais: a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, a inclusão da 
igualdade de gênero no documento fundados da ONU, e a atuação da Comissão sobre o 
Status da Mulher que gerou a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres, e uma série de protocolos adicionais. Porém, houve ainda 
uma série de conferências internacionais que também contribuíram para avançar os direitos 
das mulheres, em especial nas esferas econômica e política. 
Entre 1975 e 1995, o regime de igualdade de gênero se consolidou em diversas 
áreas através das quatro conferências globais sobre mulheres, realizadas na Cidade do 
México, em Copenhague, na Dinamarca; em Nairóbi, no Quênia; e em Beijing, na China. 
Essas conferências proporcionaram plataformas para negociações intergovernamentais e 
deram às organizações de mulheres um palco internacional para a proposição de suas 
reivindicações e para o seu trabalho em rede. 
A primeira conferência foi convocada na Cidade do México para coincidir com o Ano 
Internacional da Mulher, em 1975, oficializado para relembrar a comunidade internacional de 
que a discriminação contra mulheres e meninas continuava a ser um problema na maior 
parte do mundo. Esta primeira conferência focou no desenvolvimento de planos de ação para 
atender três principais objetivos: 
(1) a plena igualdade de gênero e a eliminação da discriminação de gênero; 
(2) a integração e participação plena das mulheres nas ações relacionadas ao 
desenvolvimento; 
(3) a contribuição ampliada das mulheres para fortalecer a paz mundial.3 
 
2 ONU MULHERES, 2000. 
3 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1976. 
 
 
18 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 
Figura 5: 1ª Conferência Mundial sobre Mulher - México (1975): 
“Igualdade, Desenvolvimento e Paz”. 
 
Fonte: ONU 
 
 
Ainda que exista um reconhecimento, embora tímido, sobre o papel de mulheres 
para a paz, esta conferência, juntamente com a Década das Nações Unidas para as 
Mulheres (1976 - 1985), focou seus esforços em promover um diálogo mais amplo e quase 
inédito sobre igualdade de gênero no mundo. Constituiu, efetivamente, um processo de 
aprendizado que envolveu deliberações, negociações, estabelecimento de objetivos, 
identificação de obstáculos e revisão dos avanços. Este processo continuou com a segunda 
conferência mundial para as mulheres, realizada em 1980, em Copenhague. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/conferencias/
 
 
19 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Figura 6: 2ª Conferência Mundial sobre a Mulher 
Copenhague (1980): “Educação, Emprego e Saúde”. 
 
Fonte: ONU 
 
Especificamente sobre a atuação no âmbito da paz e segurança, o relatório 
determina que no contexto do fortalecimento da paz e da segurança internacional, 
desarmamento e enfraquecimento de tensões, seja prestada a devida atenção ao avanço de 
mulheres e proteção de mães e crianças (parágrafo 33).4 O enquadramento dos direitos das 
mulheres e da igualdade de gênero passam a ser componentes importantes para a paz e a 
segurança. 
A terceira conferência,em 1985, lançou as Estratégias Prospectivas de Nairóbi para 
o Avanço das Mulheres, com um plano de ação que definiu as ações necessárias em prol da 
igualdade, do desenvolvimento e da paz, até o ano 2000. Esse documento conectou 
claramente a promoção e a manutenção da paz à erradicação da violência contra as 
mulheres em todos os níveis da sociedade. O parágrafo 13, por exemplo, afirma que a 
promoção plena e efetiva dos direitos das mulheres terão maiores chances de serem 
implementados em um contexto de paz e segurança internacional.5 Explica, ainda, que a 
paz refere-se não somente à ausência de guerras, violência e hostilidades em níveis nacional 
e internacional, mas também à valorização da justiça econômica e social, à igualdade e a 
todo o rol de direitos humanos e liberdades fundamentais. 
 
 
 
4 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1980. 
5 DECLARAÇÃO DE BEIJING E A PLATAFORMA DE AÇÃO, 1995. 
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/conferencias/
 
 
20 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 
Figura 7: 3ª Conferência Mundial sobre a Mulher - Nairóbi (1985): 
“Estratégias Orientadas ao Futuro, para o Desenvolvimento da Mulher até o Ano 2000”. 
 
Fonte: ONU 
 
O documento também encoraja os Estados-membros a adotar medidas 
constitucionais e jurídicas para eliminar todas as formas de discriminação contra as 
mulheres, bem como moldar as estratégias nacionais para facilitar a participação das 
mulheres em ações dedicadas à paz e ao desenvolvimento. 
A quarta conferência mundial sobre mulheres, realizada em Beijing, em 1995, 
produziu a Declaração de Beijing e a Plataforma de Ação.6 A Declaração cobrou dos 
governos os compromissos de implementar as estratégias acordadas em Nairóbi em 1985 
antes do final do século XX e de mobilizar recursos para a implantação da Plataforma de 
Ação. A Plataforma é o documento mais completo produzido por uma conferência da ONU 
sobre os direitos das mulheres, uma vez que ela incorpora conquistas de conferências e 
tratados anteriores, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a CEDAW e a 
Declaração e Programa de Ação de Viena, que foram preparados na conferência global 
sobre direitos humanos em 1993. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 Idem. 
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/conferencias/
 
 
21 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 
Figura 8: 1995 – IV Conferência Mundial sobre a Mulher com tema central: 
“Ação para a Igualdade, o Desenvolvimento e a Paz”, China. 
 
Fonte: ONU 
 
 
Declarações da Assembleia Geral da ONU 
 
Além dessas conferências globais, dos tratados internacionais e das diversas 
entidades internacionais existentes, cabe destacar também que o regime da igualdade de 
gênero é composto por uma série de Declarações da Assembleia Geral da ONU. Por 
definição, as declarações não são compulsórias, mas têm contribuições importantes no que 
diz respeito ao desenvolvimento da ideia da igualdade de gênero e ao seu impacto na missão 
da ONU de manter a paz e a segurança internacional. 
Em 1966, aprovou-se a Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a 
Mulher da Assembleia Geral, que abriu o caminho para a CEDAW. Em 1974, a Assembleia 
Geral aprovou a Declaração sobre a Proteção de Mulheres e Crianças em Emergências e 
Conflitos Armados, que preparou o terreno para o arcabouço de proteção dentro do regime 
de igualdade de gênero. Com a reafirmação da CEDAW e das declarações anteriores, a 
Assembleia Geral adotou a Resolução 3521 (1975), convidando os Estados-membros da 
ONU a ratificarem convenções internacionais e outros instrumentos ligados à proteção dos 
direitos das mulheres. De acordo com essa resolução, ao se beneficiarem dos direitos 
estipulados nos instrumentos internacionais pertinentes, as mulheres devem desempenhar 
um papel igual ao dos homens em todas as esferas da vida, incluindo a promoção da paz e 
o fortalecimento da segurança internacional. 
Finalmente, em 1993, a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher 
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/conferencias/
 
 
22 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
reconheceu a necessidade urgente da aplicação universal dos direitos das mulheres e dos 
princípios a respeito da igualdade, segurança, liberdade, integridade e dignidade de todos 
os seres humanos, e expressou sua preocupação com o fato de que a violência contra as 
mulheres é um obstáculo à conquista da igualdade, do desenvolvimento e da paz. Ela 
apontou que essa violência pode ser praticada por agressores de ambos os sexos, dentro 
da família e do próprio Estado. Essas declarações e resoluções da Assembleia Geral, entre 
outras, são peças centrais na compreensão do desenvolvimento e da trajetória do trabalho 
da ONU na promoção da igualdade de gênero e do empoderamento de mulheres e meninas. 
Mas além dos esforços com enfoque específico nas questões de gênero, outras 
áreas dentro do Sistema ONU passaram por mudanças, criando espaço para que as 
questões de gênero aparecessem em novos contextos, em particular no contexto da paz e 
da segurança internacional. No final da década de 1990, por exemplo, no âmbito das graves 
situações de violência em Ruanda e na ex-Iugoslávia, o Conselho de Segurança realizou 
uma série de reuniões para tratar a questão da responsabilidade para proteger populações 
civis em tempos de guerra. 
Parte dessa mudança de pensamento estava relacionada à evolução do Direito 
Internacional que, pela primeira vez, codificou o estupro e a violência sexual como crimes de 
guerra, crimes contra a humanidade e atos de genocídio. Essa importante categorização 
começou com os Tribunais Penais Internacionais para a ex-Iugoslávia e para Ruanda, 
tornando-se permanente com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, em 1998.7 
Neste, o estupro e a violência sexual são considerados crimes contra a humanidade. Esses 
instrumentos internacionais históricos estão entre os fatores que pressionaram o Conselho 
de Segurança a ampliar o seu entendimento do que constitui uma ameaça à segurança 
internacional, estabelecendo uma jurisdição que vai além de um conflito armado 
internacional, real ou iminente. 
 
Interseccionalidade e o marco normativo internacional de proteção dos direitos 
humanos das mulheres 
 
Apesar do efeito perverso que a violência contra mulheres gera em mulheres 
pertencentes a grupos que foram historicamente marginalizados de políticas públicas 
brasileiras, não há menções específicas à necessidade de incorporar uma abordagem de 
gênero aos principais instrumentos internacionais de proteção de mulheres. De fato, nenhum 
 
7 BRASIL, 2002. 
 
 
23 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
dos documentos supracitados, particularmente a Carta da ONU, a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, nem a própria CEDAW trata das perspectivas de mulheres pertencentes 
a identidades que podem gerar vulnerabilidades e riscos extras para elas.8 
No entanto, a participação de mulheres negras nas Conferências internacionais foi 
intensa. Em 1975, com a Declaração do Ano 1975 como o Ano Internacional da Mulher, elas 
compareceram na primeira conferência e apresentaram um documento que indicava a 
situação de exploração e opressão da mulher negra em diferentes contextos.9 A presença 
delas nas Conferências, apesar de forte, teve seus primeiros resultados na Conferência de 
Direitos Humanos em Viena, em 1993, quando, foi incluído em seu texto oficial menção a 
necessidade de olhar os direitos de mulheres também pela óticade mulheres não-brancas. 
No Brasil, entre os anos 90 e 2000 houve importantes ações públicas em prol da 
visibilização do racismo estrutural e o papel da ação afirmativa. Neste contexto, mulheres 
negras tiveram um papel fundamental na Constituinte de 1988, inaugurando formulações 
políticas para setores historicamente marginalizados no Brasil. Isto resultou, mais adiante, 
em propostas práticas no âmbito nacional, como a política de cotas em universidades e 
órgãos públicos no Brasil. Assim, em 1994, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em 
Beijing, na China, e em 2001 na III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação 
Racial, a Xenofobia e Formas conexas de Intolerância em Durban, houve uma participação 
e articulação transnacional do movimento feminista negro sem precedentes. Para Beijing, 
mulheres negras enviaram importantes subsídios, como “A mulher negra na década: a busca 
da autonomia.”10 
 
SAIBA MAIS 
A necessidade de estabelecer um regime de proteção das mulheres surgiu em razão da 
marginalização e exclusão das mulheres ao longo dos séculos, o que gerou oportunidades 
desiguais de acesso a direitos, inclusive com relação aos papéis que desempenham na 
sociedade. Por isso, o movimento feminista, muito antes da existência das Nações Unidas, 
luta para o reconhecimento destes direitos, o que só aconteceu após a elaboração de uma 
série de documentos que discutimos aqui brevemente. Para um breve resumo do conteúdo 
desta aula, acesse o vídeo do Politize: "Direito das Mulheres: o que são e como surgiram? - 
Projeto Equidade". Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wQHeL2hHe7g 
 
8 Ferreira, Lobo (2023). 
9 Nascimento, 1978. 
10 (RIBEIRO, 2008, p. 991). 
https://www.youtube.com/watch?v=wQHeL2hHe7g
 
 
24 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 
Finalizando 
 
Bom, agora que nós terminamos esse módulo, gostaria de convidá-los e convidá-las 
a dar uma olhadinha naquele conteúdo que vocês pensaram na nossa atividade de abertura. 
E então, suas respostas estão mais ou menos de acordo com o que aprenderam nessa 
seção? Para facilitar vou fazer um resumindo aqui embaixo sobre o que aprendemos neste 
módulo: 
A) Mulheres foram tradicionalmente excluídas da vida pública do Estado e por 
essa razão, com frequência têm seus direitos mais básicos violados; 
B) Uma série de marcos internacionais, em especial a Convenção para 
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra Mulheres, conformam o regime 
internacional de proteção dos direitos das mulheres. Em outras palavras, eles determinam 
como os Estados devem tratar suas mulheres, garantindo todos os seus direitos e igualdade 
de oportunidades; 
C) Porém, a forma como as mulheres são tratadas no interior de seus lares 
demorou a ser reconhecida como direito. E é neste âmbito o local em que grande parte de 
seus direitos são violados. E é claro que não podemos permitir isso. As conferências 
internacionais, ações do movimento feminista e deliberações da Comissão sobre o status da 
Mulher contribuíram para que se criassem protocolos e plataformas de atuação que corrigem 
esse direito. Agora é nosso dever proteger essas mulheres. 
 
4.1.3.2 Aula 2 - Principais Conceitos e Definições 
 
Profissionais da segurança pública são, em sua maioria, homens. Para mulheres, 
entrar em uma delegacia, ou discar o 190, para registrar uma ocorrência relacionada a 
violência baseada em gênero pode ser um desafio. Isso porque pode ser difícil falar sobre 
este tipo de violência, em especial quando o interlocutor é um homem. 
Por que isso acontece? A violência contra mulheres, seja ela em qualquer uma de 
suas formas, tem origem na profunda desigualdade de gênero em nossa sociedade. As 
relações desiguais entre homens e mulheres geram relações de poder, que podem se 
traduzir, inclusive, na violência sobre o corpo, comportamento e formas de ser de mulheres. 
 
 
25 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
A maioria dos perpetradores da violência contra mulheres são parceiros e ex-parceiros ou 
membros da família. 
Profissões como aquelas relacionadas à segurança pública remetem à categoria 
construída a partir da imputação de papéis sociais a indivíduos de uma dada organização 
que detém o monopólio da força. De certa forma, estes profissionais são, com frequência, 
vistos como separados do restante da sociedade, e vivem em um sistema de relações, regras 
e comportamentos distintos dos demais indivíduos desta mesma sociedade. Apesar das 
particularidades de cada categoria, a estes profissionais são impostos comportamentos que 
deverão desconstruir sua identidade original e colocar em seu lugar uma nova identidade. 
Os adjetivos que tendem a definir estes profissionais nas sociedades ocidentais são, em 
certa medida, os mesmos que definem os homens, o ser masculino: viril, corajoso, 
audacioso, etc. Ambientes assim podem ser considerados amedrontadores e hostis para 
muitas mulheres, por isso, também pode ser difícil para elas reportar este tipo de violência. 
Mas não só a ida a delegacia que pode ser difícil para mulheres, é comum que a fim 
de evitar o assédio, o constrangimento e outros tipos de agressão, muitas mulheres alteram 
a sua rotina para fazer outro caminho ou mudam a forma de se vestir. De acordo com a ONG 
Think Olga, 99,6% das mulheres brasileiras já sofreram com assédios no espaço público.11 
Considerando o risco constante à violência baseada no gênero e a dificuldade 
enfrentada por muitas mulheres para reportar este tipo de violência, esta aula pretende 
informar os profissionais do sistema de segurança pública sobre alguns conceitos e 
definições básicos, como forma de sensibilizá-los sobre a relação entre os papéis que 
mulheres desempenham na sociedade e os riscos e vulnerabilidades a que estão 
submetidas. 
Observem as fotos desses dois bebês: 
Figura 9: Menina em rosa Figura 10: Menino recém-nascido para dormir 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Public Domain Pictures.net Fonte: Public Domain Pictures.net 
 
11 Ver: Pesquisa Chega de Fiu Fiu - Think Olga. 
https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=11151&picture=menina-em-rosa
https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=59885&picture=menino-recem-nascido-para-dormir
https://thinkolga.com/ferramentas/pesquisa-chega-de-fiu-fiu/
 
 
26 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Na Prática 
1. Que presentes você daria para esses bebês? 
2. O que você acha que cada um vai ser quando crescer? 
3. O que vão estudar? 
4. Como vão se vestir? 
5. Aos 15 anos, o que estarão fazendo? 
6. Aos 30 anos, o que estarão fazendo? 
7. E se invertêssemos os presentes desses bebês? 
 
SAIBA MAIS 
Assistir o filme: Inspiring The Future - Redraw The Balance 
Versão em português: Profissão de homem ou de mulher? 
 
Sexo 
 
Na Biologia, sexo é o conjunto de características físicas e orgânicas que permite 
diferenciar o homem e a mulher, conferindo-lhes papéis específicos na reprodução. O sexo 
é, assim, apenas uma classificação do corpo da pessoa: se este apresenta aspectos básicos 
da biologia feminina, trata-se de uma mulher; da mesma forma, se o corpo possui 
características biológicas exclusivas do sexo masculino, trata-se de um homem. 
No momento do nascimento de um bebê, tudo que sabemos a seu respeito é o sexo. 
Traços de sua personalidade, como temperamento, habilidades, gostos e desejos serão 
revelados ao longo de seu amadurecimento. Isso se deve ao fato de que, biologicamente, 
pertencer ao sexo masculino ou feminino não define o comportamento das pessoas. Ou seja, 
um bebê do sexo masculino não tem maior propensãoa gostar de futebol do que um bebê 
do sexo feminino. O que definirá isso é a imersão social da criança. Além de masculino e 
feminino, há uma terceira categoria de sexo chamada intersexo. Refere-se à pessoa cujas 
características físicas/biológicas mesclam aspectos do sexo feminino e do masculino, ou, 
ainda, não apresentam atributos que permitam a classificação em um único sexo. Por 
apresentar variações de cromossomos ou órgãos genitais que estão fora do padrão, são 
designados em uma outra classificação. Englobam hermafroditas, que apresentam tecidos 
https://www.youtube.com/watch?v=qv8VZVP5csA
https://www.youtube.com/watch?v=WQcVenoISA0
 
 
27 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
testiculares e ovulares, e pseudo-hermafroditas, caso de pessoas cujos testículos não 
desceram, pênis demasiado pequeno, clítoris muito grande, vagina ausente ou código 
genético masculino e características físicas femininas e vice-versa. Segundo a Organização 
Mundial da Saúde, estima-se que cerca de 1% da população mundial seja intersexual.12 
 
Gênero e Papéis Sociais de Gênero 
 
O gênero reúne as características físicas, intelectuais e emocionais que se espera 
de homens e mulheres. Refere-se à forma como a pessoa se expressa socialmente. No 
exercício de abertura, apenas com o conhecimento do sexo biológico dos bebês, foram 
expostos projeções e anseios para cada um. Tais projeções são reproduções dos papéis de 
gênero, isto é, do que é esperado deles caso seja uma menina ou um menino. Estas 
projeções também mudam segundo a cultura, a raça, e até mesmo a família de cada um. 
Assim, família, amigos, mídia e sociedade dizem de diversas formas como homens e 
mulheres devem agir, criando padrões de comportamento para cada gênero. 
Essas ideias e expectativas são convenções sociais, padrões geralmente aceitos 
sobre comportamentos e capacidades tipicamente femininas ou masculinas13. Assim, a ideia 
de gênero é um processo social, ligado à cultura, que está menos relacionado à biologia de 
cada um do que às expectativas da sociedade. Os papéis de gênero variam ao longo da 
história e de acordo com a cultura local. Não há uma definição universal do que é ser homem 
ou ser mulher, tampouco há características de masculinidade e feminilidade que abarque a 
todos. 
Logo, ao pensarmos em diferenças "naturais" entre homens e mulheres, devemos 
compreender que não fazem parte da biologia de cada um, mas da forma com que são 
colocados na sociedade. Em outras palavras, é o convívio social que determina as diferenças 
entre os gêneros e não o sexo. Este convívio inicia-se quando somos ainda crianças. 
Meninas não nascem com uma tendência natural a gostar de rosa, tampouco os 
meninos de azul, porém essas cores estão constantemente associadas a seu gênero e, no 
esforço de se encaixar, esses "gostos" são internalizados. Enquanto meninas ganham 
bonecas, lousas, cozinhas de brinquedo, meninos brincam com video-games, carrinhos 
elétricos e legos, esses brinquedos não são apenas entretenimento infantil, mas passam 
uma mensagem e dizem às crianças o que é esperado delas. Mais que isso: os brinquedos 
 
12 "Sou intersexual, não hermafrodita". EL PAÍS. Disponível em: https://tinyurl.com/Sou-intersexual. 
13 "Envolvendo Rapazes e Homens na Transformação das Relações de Género: Manual de Actividades 
Educativas". Projecto Acquire, EngenderHealth e Promundo, 2008. P. 95. Disponível em: 
https://tinyurl.com/58ecpa79. 
https://tinyurl.com/Sou-intersexual
https://tinyurl.com/58ecpa79
 
 
28 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
influenciam diretamente no desenvolvimento cognitivo das crianças, na sua capacidade de 
aprender. Ao brincar de ser professora, a menina pratica habilidades diferentes do menino 
que brinca de lego. Enquanto este desenvolve noção espacial, por exemplo, ela pratica a 
comunicação verbal. 
Brinquedos são apenas um exemplo dentre tantos outros das possíveis influências 
que, por vezes, passam despercebidas na educação das crianças e jovens e são tidas como 
naturais, inerentes àquele gênero.14 
Por exemplo, ao pensarmos no futuro profissional de um menino, pensa-se nas mais 
diversas carreiras. Ao mesmo tempo, meninas são vistas como mais preparadas para 
atividades voltadas à pessoas e à relações interpessoais, como profissões de comunicação, 
de cuidados e de ensino (enfermeiras e professoras, por exemplo). As áreas de exatas são 
automaticamente associadas a homens, que seriam, pelo senso comum, biologicamente 
mais aptos a lidar com coisas, máquinas, tecnologia e raciocínio lógico. 
Os papéis de gênero acabam por criar estereótipos do que é agir como homem e 
como mulher. Aqueles que não atuam de acordo com o conjunto dessa "caixa" sofrem com 
o rechaço, a vergonha ou a exclusão social. Assim, os papéis de gênero limitam as 
possibilidades de expressão e ação das pessoas, que se veem pressionadas a seguir um 
modelo. 
 
 
Na Prática 
 
Observe os pictogramas abaixo. Questione a mensagem que querem expressar. Em 
seguida, tente visualizar as características construídas socialmente e o impacto que elas 
podem gerar na vida de mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 Ver também: "Estereótipo de que 'matemática é para garotos' afasta meninas da tecnologia, diz 
pesquisador", disponível em: https://tinyurl.com/5yeksysj. 
https://tinyurl.com/5yeksysj
 
 
29 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Figura 11: Como homens e mulheres se comunicam 
Fonte: Yang Liu Design/Taschen 
______________________________________________________________________ 
 
Figura 12: Cultura de gênero em ilustrações, 
 o projeto Man Meets Woman de Yang Liu. 
Fonte: Yang Liu Design/Taschen 
 
 
 
 
 
 
 
https://slate.com/human-interest/2014/08/man-meets-woman-by-yang-liu-uses-pictograms-to-explore-the-differences-between-the-sexes.html
https://pitangadigital.wordpress.com/2014/09/14/cultura-de-genero-em-ilustracoes-o-projeto-man-meets-woman-de-yang-liu/
 
 
30 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
1. COMUNICAÇÃO VERBAL 
 
 A comunicação verbal é um exemplo de como os papéis de gênero estabelecidos 
podem prejudicar o desenvolvimento individual tanto de homens quanto de mulheres. 
Homens são vistos como diretos, focados, "curtos e grossos" e decididos, mas também são 
pouco incentivados a compartilhar seus sentimentos, o que gera um fluxo de repressão das 
emoções. Já em relação às mulheres, a generalização é de que falam demais, dão muitas 
voltas para passar uma mensagem simples, são sentimentais, choram em demasia e 
apresentam alterações de humor bruscas. 
 
Figura 13: Projeções a respeito do par perfeito por sexo 
Fonte: Yang Liu Design/Taschen 
 
2. VALORIZAÇÃO SOCIAL 
 
 Para os homens, a mulher dos sonhos é aquela que se encaixa dentro do padrão de 
beleza. Para a mulher, o homem dos sonhos é admirado por outras características que não 
só o seu corpo. A mulher aparece como um objeto: se o seu corpo for jovem e corresponder 
ao desejado, não é necessário que ela tenha outra qualidade. Assim, o único interesse que 
os homens têm nas mulheres reflete que elas são objetos sexuais, não seres pensantes com 
quem compartilham sentimentos ou anseios. 
https://slate.com/human-interest/2014/08/man-meets-woman-by-yang-liu-uses-pictograms-to-explore-the-differences-between-the-sexes.html
 
 
31 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Figura 14: Estereótipo sobre capacidade de focar e desenvolver múltiplastarefas 
Fonte: Yang Liu Design/Taschen 
 
 
3. FOCO 
 
 Muitos argumentam que homens não conseguem lidar com mais de um assunto ao 
mesmo tempo, tendo um único foco por vez. A mulher, por outro lado, teria a habilidade de 
fazer várias coisas ao mesmo tempo ("multitasking"). Mas não se trata de uma habilidade 
natural, mas de necessidade, pois enquanto o homem se dedica com atenção a cada uma 
de suas atividades, a mulher fica pelas outras atividades pendentes, como as tarefas da casa 
e dos filhos, além de seu trabalho, se for o caso. 
 
______________________________________________________________________ 
 
 
Esta atividade utilizou algumas representações15 de estereótipos de gênero, sobre 
aspectos da masculinidade e da feminilidade. Vale notar que as imagens evidenciam que o 
papel de gênero da mulher é, em geral, desvantajoso em relação ao do homem. 
 
 
 
15 "Los estereotipos de género, resumidos en veinte esclarecedores pictogramas" (tradução livre: os 
estereótipos de gênero, resumidos em vinte esclarecedores pictogramas). Disponível em: 
https://tinyurl.com/3y9ys5vv. 
 
https://pitangadigital.wordpress.com/2014/09/14/cultura-de-genero-em-ilustracoes-o-projeto-man-meets-woman-de-yang-liu/
https://tinyurl.com/3y9ys5vv
 
 
32 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
 
Abaixo, segue uma representação: 
 
Figura 15: Estereótipos de gênero 
 
Fonte: ONU Mulheres 
Identidade De Gênero 
 
A identidade de gênero é uma classificação pessoal, realizada através da autoidentificação, 
e revela como a pessoa se sente sobre seu sexo. A autoidentificação pode não ser a mesma do sexo 
biológico: uma pessoa do sexo masculino pode se identificar com o gênero feminino e vice-versa.16 
Nesse sentido, há duas classificações usuais: 
Cisgênero 
Comumente chamadas de "cis", são as pessoas que se identificam com o gênero que lhes 
foi atribuído no nascimento. Por exemplo, uma pessoa é do sexo feminino e se identifica como mulher 
(gênero feminino). 
Transgênero 
Denominadas "trans", são pessoas que não se identificam com o gênero, expressões de 
gênero e/ou papéis de gênero que lhes foram atribuídos pelo sexo biológico. É o caso das travestis 
e transexuais. Para ilustrar: apesar de ter nascido do sexo masculino, a pessoa identifica-se, percebe-
se e se sente como mulher. Assim, mulher transgênero é toda pessoa que reivindica o 
reconhecimento social e legal como mulher, também chamada de transmulher. E homem transgênero 
 
16 "ORIENTAÇÕES SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO: CONCEITOS E TERMOS". JESUS, Jacqueline 
Gomes de. Brasília, 2012. P. 12. Disponível em: https://tinyurl.com/4denysk7. 
https://twitter.com/ONUMujeresMX/status/1092256428100710402
https://tinyurl.com/4denysk7
 
 
33 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como homem, também denominada 
transhomem trans-homem.17 
A diferença entre transexuais e travestis está essencialmente na autoidentificação. 
Se a pessoa deseja realizar a transição de gênero, através de tratamentos hormonais e 
cirurgia de redesignação sexual, ela é transexual. Nesse caso, a pessoa gostaria que seu 
corpo tivesse características do seu gênero (de como ela se identifica e se sente), não do 
seu sexo biológico. Por outro lado, as travestis se identificam com o gênero oposto e adotam 
suas expressões - comportamento, vestimentas etc -, mas não necessariamente desejam 
mudar seu corpo. A questão social também tem papel fundamental nessa diferenciação, pois 
muitas pessoas trans gostariam de realizar a transição de gênero, mas são impedidas por 
dificuldades socioeconômicas. Desse modo, a autoidentificação é a melhor classificação, 
visto que é baseada no desejo e no sentimento da pessoa e não em fatores físicos. 
A transfobia é a discriminação que sofrem em função de sua identidade de gênero. 
Por serem diferentes do padrão, pessoas trans sofrem muito preconceito e têm suas vidas 
prejudicadas pela exclusão social e violência. Em geral, uma série de fatores deteriorantes 
acomete a vida das pessoas trans: devido ao bullying e à perseguição nas escolas, 
comunidades e mesmo em casa, dificilmente conseguem concluir sua educação; sem 
instrução formal, não conseguem disputar espaço no mercado de trabalho formal18 e são 
forçadas a viver na marginalidade. As travestis19, em grande parte dos casos, sobrevivem 
trabalhando como prostitutas. 
A marginalização, porém, não é o pior que ocorre às pessoas trans. Elas sofrem 
cotidianamente risco de vida devido à propagação do ódio e à desumanização de suas 
imagens. O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo - apenas em 
2021, foram 316 mortes violentas, sendo 285 assassinatos, 26 suicídios, e 5 mortes por 
outras causas. 20 
Um fator importante da sociabilização da pessoa trans é o nome social. Marcada ao 
longo de sua vida pela dificuldade de viver em um corpo que não representa seu gênero, as 
travestis e transexuais preferem ser chamadas pelo nome escolhido por elas, diferente de 
seu nome do registro civil, ainda ligado a seu sexo biológico, com o qual não se identificam. 
 
17 Identificar-se com as expressões de um gênero não é o mesmo que aceitar os papéis de gênero socialmente 
impostos. A pessoa pode se identificar com ser mulher, sem reproduzir os estereótipos. 
18 "ORIENTAÇÕES SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO: CONCEITOS E TERMOS". JESUS, Jacqueline 
Gomes de. Brasília, 2012. P. 16. Disponível em: https://tinyurl.com/4denysk7. 
19 Independente de como se identificam, a maioria das travestis preferem o tratamento no feminino. Portanto, 
deve-se chamá-las de AS travestis, não OS travestis. 
20 "Dossiê de mortes e violência contra LGBT+ no Brasil". Disponível em: https://tinyurl.com/yeysa6pr. 
https://tinyurl.com/4denysk7
https://tinyurl.com/yeysa6pr
 
 
34 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
A utilização do nome social representa respeito e um mínimo esforço de inclusão dessa 
população na sociedade. 
Figura 16: Assassinatos de Travestis e Transexuais 
Fonte: G1 – Globo.com 
 
O motivo para tantas agressões às pessoas trans é o fato delas não corresponderem 
à heteronormatividade, ou aos padrões socialmente construídos que consideram, por 
exemplo, atribuições como a virilidade e a força como superiores. Neste contexto, o homem 
é considerado superior às pessoas do gênero feminino, porém isso não se aplica a qualquer 
homem: cabe apenas ao homem heterossexual que expresse categoricamente sua 
masculinidade. Dessa forma, heteronormatividade descreve regras baseadas na vivência 
heterossexual como obrigatórias a todos e pune socialmente aqueles que desviam dessas 
normas. 
 
Sexualidade 
 
O sexo, como qualquer outro ato social, envolve uma série de questões da nossa 
cultura: a beleza, o romance, o controle, a agressividade, a comunicação etc. Assim, 
inevitavelmente a sexualidade é mais um marcador de diferença entre o gênero feminino e 
o masculino, devido ao que é imposto pelos papéis de gênero atribuídos a homens e 
mulheres e como cada um deve explorar sua liberdade sexual. 
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/01/28/sp-e-o-estado-brasileiro-que-mais-registrou-mortes-de-transexuais-em-2021-pelo-3oano-consecutivo-diz-levantamento.ghtml
 
 
35 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Desde muito cedo, somos expostos a diversos tipos de mensagens, muitas vezes 
contraditórias. Na família, em instituições religiosas e até mesmo nas escolas, é comum que 
se apresente uma postura conservadora quanto ao sexo. Jáa mídia e os amigos tendem a 
tratar mais abertamente do assunto. Independente da abordagem, há sempre uma 
mensagem e uma expectativa de comportamento sendo transmitida. Isso ocorre porque os 
seres humanos, em geral, não limitam a sua sexualidade à reprodução e somam valores 
morais e comportamentos sociais à prática sexual.21 
Quem gosta mais de fazer sexo: o homem ou a mulher? Os estereótipos 
(heteronormativos) de gênero afirmam que os homens são naturalmente mais inclinados aos 
prazeres do sexo e precisam fazê-lo com mais frequência. Já o estereótipo feminino atribui 
às mulheres o plano secundário, coadjuvante, como se as mulheres preferissem o romance 
e gostassem menos da prática sexual. 
Além disso, se uma mulher tem vários parceiros, é depreciada por ser vulgar ou 
"prostituta". O homem, ao contrário, reforça sua masculinidade e é visto como "garanhão". 
Por essa razão, a mulher costuma mentir o número de parceiros sexuais para preservar sua 
reputação, ao passo que o homem tende a aumentar esse número, para mostrar potência e 
virilidade. Essas ideias legitimam, isto é, autorizam socialmente, que homens tenham 
relações fora do casamento ou se preocupem menos com o prazer feminino na hora do sexo. 
Trata-se de um comportamento nocivo não apenas para a sexualidade da mulher, tolhida de 
sua liberdade sexual, mas também para o homem, visto que o incentivo para que eles 
tenham múltiplas parceiras aumenta os riscos de contração de DSTs e HIV. 
 
Orientação Sexual 
 
A orientação sexual refere-se à atração afetiva e sexual por alguém de algum(ns) 
gênero(s). Ainda não há evidências científicas sólidas sobre como a orientação sexual é 
determinada. A perspectiva mais consensual é a de que seja uma combinação de múltiplos 
fatores sociais, psicológicos e biológicos. Do ponto de vista psicológico, não há como 
escolher ser homossexual, heterossexual, bissexual ou assexual, portanto, não se trata de 
opção sexual. 
 
 
 
21 "Envolvendo Rapazes e Homens na Transformação das Relações de Género: Manual de Actividades 
Educativas". Projecto Acquire, EngenderHealth e Promundo, 2008. P. 92. Disponível em: 
https://tinyurl.com/y439ztda. 
https://tinyurl.com/y439ztda
 
 
36 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
As categorias correntes são: 
 
Assexual: pessoa que não se sente atraída por nenhum gênero. 
Bissexual: pessoa que se sente atraída afetiva e sexualmente por pessoas de 
qualquer gênero. 
Homossexual: pessoa que se sente atraída afetiva e sexualmente por pessoas do 
mesmo gênero (gays e lésbicas). 
Heterossexual: pessoa que se atrai afetiva e sexualmente por pessoas de outro 
gênero (homem-mulher). 
 
Atenção para não confundir: 
 
i. Orientação sexual e identidade sexual: a primeira indica se a pessoa se sente 
atraída por homens, mulheres ou ambos, em relação a seu próprio gênero. A segunda 
classifica se a pessoa se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Por exemplo, 
uma pessoa bissexual cisgênera é aquela que se identifica com o gênero designado e se 
interessa por ambos os gêneros. Pode ser o caso de uma pessoa do sexo feminino, que se 
identifica como mulher e sente atração por homens e mulheres. Da mesma forma, uma 
pessoa trans, assim como qualquer outra pessoa, pode ser bissexual, heterossexual ou 
homossexual. Por fim, alguém de sexo biológico masculino que se identifica com o gênero 
feminino (transmulher) e sente atração por homens é uma pessoa heterossexual. 
ii. Orientação sexual e papéis ou expressões de gênero: essa confusão é gerada 
pelos conceitos de feminilidade e masculinidade, trabalhados anteriormente. A atribuição de 
comportamentos específicos para pessoas a partir do seu sexo biológico gera problemas de 
generalização e entendimento da orientação sexual de uma pessoa. Um homem que se 
expressa de maneira tida como mais feminina não necessariamente se sente atraído por 
outros homens. Um homossexual, bem como um heterossexual, pode expressar-se de forma 
muito masculina, feminina, ou nenhum dos dois, sem que isso tenha relação com a sua 
orientação sexual. Esta é determinada pelo desejo que a pessoa sente por outras pessoas 
do mesmo gênero ou de gênero distinto. 
Em resumo: o gênero é como a sociedade reconhece a pessoa; a identidade de 
gênero é como ela se identifica e se sente, e a orientação sexual é por quem ela se sente 
atraída. 
 
 
 
37 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Figura 17: Envolvendo Rapazes e Homens na Transformação das Relações de Género: 
Manual de Atividades Educativas. 
 
 
Fonte: PROMUNDO, 2008 
 
 
 
 
 
http://promundo.org.br/recursos/envolvendo-meninos-e-homens-na-transformacao-das-relacoes-de-genero-manual/
 
 
38 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
Igualdade de Gênero e Feminismo 
 
As diferenças expressas nos conceitos de gênero e na construção dos papéis de 
gênero têm reflexos na vida real. 
- Apesar das mulheres serem metade da população mundial, representam 70% 
das pessoas que vivem em situação de pobreza no mundo, segundo dados da Organização 
das Nações Unidas (ONU).22 
- A média salarial das mulheres é 24% inferior à dos homens.23 
- Em todas as regiões do mundo, as mulheres trabalham mais que os homens: 
realizam em média duas vezes e meia a quantidade de trabalho doméstico e cuidados não 
remunerados realizados por eles.24 
Como exposto anteriormente, os estereótipos de gênero são desvantajosos para as 
mulheres, na medida em que exageram e reforçam comportamentos depreciativos relativos 
à feminilidade, e celebram características tidas como masculinas. Estas desigualdades 
refletem-se, inclusive, nos papéis e funções desempenhados por homens e mulheres na 
sociedade. Mulheres cuidam dos filhos e da casa e os homens adquirem uma profissão. 
Como consequência, a falta de responsabilidade paterna na criação dos filhos e nos 
cuidados da casa, combinada à falta de creches e à dificuldade de concluir os estudos, reduz 
as possibilidades de inserção laboral de mulheres. Estas acabam trabalhando em atividades 
informais, sem garantias de proteção social ou de estabilidade no trabalho. Desse modo, 
para dar conta dos cuidados da família e do lar, as mulheres se veem impedidas de investir 
em sua formação ou de trabalhar fora de casa, o que reforça a desigualdade. 
Neste contexto, a pobreza e a violência contra mulheres estão relacionadas e se 
reforçam mutuamente. Enquanto a violência contra a mulher afeta a sua capacidade 
produtiva e social, a pobreza gera dependência econômica e a dificuldade de sair de 
relacionamentos violentos. 
Percebe-se que as diferenças de gênero, entre o que é esperado da mulher e do 
homem, geram discriminação e preconceito em relação às mulheres, sendo tratadas de 
forma diferente, negativa e limitante. Por isso, os movimentos de mulheres lutam pela 
igualdade de gênero, para que ambos desfrutem do mesmo status e compartilhem as 
 
22 "LA TRAMPA DEL GÉNERO. MUJERES ,VIOLENCIA Y POBREZA." (tradução livre: A Armadilha do 
Gênero. Mulheres, Violência e Pobreza). ANISTIA INTERNACIONAL. Disponível em: 
https://tinyurl.com/3revn64r. 
23 "EL PROGRESO DE LAS MUJERES EN EL MUNDO 2015-2016" (tradução livre: O Progresso das Mulheres 
no Mundo 2015-2016). ONU MULHERES, 2015, página 11. Disponível em: https://tinyurl.com/3r7d2j97. 
24 Ibid. 
https://tinyurl.com/3revn64r
https://tinyurl.com/3r7d2j97
 
 
39 
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas: 
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 
mesmas oportunidades, direitos e liberdade de explorar seu potencial individual. A esse 
movimento

Continue navegando