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TECNOLOGIAS APLICADAS A SEGURANÇA PUBLICA MODULO 01

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AULA 1 – O QUE É ÉTICA? 
 
 
A ética, desde sua formulação na Grécia Antiga, é uma área do saber que diz respeito ao conceito de boa vida. 
O que é viver uma boa vida? Como viver uma boa vida em sociedade? Como devemos nos tratar e como 
devemos decidir o que é certo e errado a partir de certos valores? 
É importante fazermos uma diferenciação básica entre ética e moralidade. A ética é um ramo da filosofia que 
lida com questões de comportamento humano, valores, moralidade, certo e errado. Ela envolve o estudo e a 
reflexão sobre o que é considerado bom, justo e correto em diferentes contextos e situações. A ética busca 
estabelecer princípios e diretrizes que orientem as ações e decisões das pessoas de maneira a promover o 
bem-estar geral e a justiça na sociedade. 
A moralidade refere-se às normas, valores e princípios que uma sociedade, cultura ou grupo específico 
considera adequados. Ela determina o que é certo ou errado dentro de um contexto social particular. A 
moralidade muitas vezes é influenciada pela ética, mas pode variar significativamente entre diferentes culturas e 
comunidades. 
A ética está intrinsecamente ligada à busca de uma boa vida. A ideia é que a ética fornece um conjunto de 
princípios e valores que podem guiar as pessoas em direção a uma vida que seja considerada valiosa, 
significativa e justa. Para muitos filósofos éticos, a boa vida envolve não apenas a busca da felicidade pessoal, 
mas também a consideração do bem-estar dos outros e a promoção do bem comum. 
Este é um ponto muito importante para as reflexões de ética para profissionais de segurança pública, 
considerando que as atividades policiais e de segurança pública voltam-se à promoção do bem-estar da 
comunidade e das pessoas. A obediência e a hierarquia não são os únicos valores em jogo quando se trata de 
uma ética da segurança pública. 
Essa preocupação com a comunidade, e a promoção de seu bem-estar, é um princípio ético de longa data das 
atividades policiais e de segurança pública. Por exemplo, em 1957, a Associação Internacional dos Chefes de 
Polícia, nos Estados Unidos da América, aprovou o seu primeiro Código de Ética para Agentes de Lei, que diz o 
seguinte no seu primeiro parágrafo: 
Como agente da lei, o meu dever fundamental é servir a comunidade; para 
salvaguardar vidas e propriedades; proteger os inocentes contra o engano, os 
fracos contra a opressão ou intimidação e os pacíficos contra a violência ou 
desordem; e respeitar os direitos constitucionais de todos à liberdade, 
igualdade e justiça. 
Acesse e confira o original: https://www.theiacp.org/resources/law-enforcement-
code-of-ethics 
Possuir ética e estabelecer padrões éticos significa basicamente fazer a coisa certa, na hora certa e da maneira 
certa. Os cidadãos esperam que os responsáveis pela aplicação da lei tenham um conjunto de valores e normas 
pelos quais vivam. Consequentemente, sem um conjunto de âncoras para medir o comportamento, teríamos 
uma situação ética confusa. 
Em 1992, o Instituto Josephson de Ética propôs os “seis pilares” para decisões éticas, que são usados 
pela Indiana Law Enforcement Academy para formação de profissionais de policiamento nos EUA*. 
*Acesse e saiba mais: https://www.in.gov/ilea/files/Police_Ethics_I.pdf 
Os “seis pilares” éticos são: 
 Confiabilidade – integridade, honestidade, cumprimento de promessas, lealdade 
 
 
https://www.theiacp.org/resources/law-enforcement-code-of-ethics
https://www.theiacp.org/resources/law-enforcement-code-of-ethics
https://www.in.gov/ilea/files/Police_Ethics_I.pdf
 Respeito – cortesia, autonomia, diversidade 
 
 
 Responsabilidade – dever, prestação de contas, busca pela excelência 
 
 
 Justiça/equidade – abertura, consistência, imparcialidade 
 
 
 Cuidado – bondade, compaixão, empatia 
 
 
 Virtudes cívicas/cidadania – licitude, bem comum, ambiente 
Em 1995, o “Comitê de Padrões para Vida Pública”, do Reino Unido, formulou um conjunto de princípios para 
um policiamento ético e para profissionais de segurança pública. O Código diz que toda pessoa trabalhando 
para a polícia deve desempenhar um trabalho honesto e ético. O público espera que a polícia faça a coisa certa 
da forma certa. Os princípios auxiliam na tomada de decisão para profissionais de segurança pública. Em 2014, 
em reedição do Código de Ética para Policiamento, esses princípios foram reafirmados e eles dizem o seguinte: 
Princípios de Policiamento Ético (College of Policing, 2014) 
Responsabilidade: Você é responsável por suas decisões, ações e omissões. Justiça: 
você trata as pessoas de maneira justa. 
Honestidade: Você é verdadeiro e confiável. 
Integridade: Você sempre faz a coisa certa. 
Liderança: Você lidera pelo bom exemplo. 
Objetividade: Você faz escolhas com base em evidências e seu melhor julgamento 
profissional. 
Abertura: Você é aberto e transparente em suas ações e decisões. 
Respeito: Você trata a todos com respeito. 
Altruísmo: você age no interesse público. 
No Brasil, também possuímos Códigos de Ética que regulam atividades de profissionais da segurança pública e 
que abordam valores para a conduta ética. A Polícia Federal, por exemplo, aprovou em 2015 um Código de 
Ética que define o seguinte: 
São princípios e valores éticos que devem nortear a conduta profissional do 
agente público do Departamento de Polícia Federal: a dignidade, o decoro, o 
zelo, a probidade, o respeito à hierarquia, a dedicação, a cortesia, a 
assiduidade, a presteza e a disciplina; e a legalidade, a impessoalidade, a 
moralidade, a publicidade, a eficiência e o interesse público*. 
* Resolução n. 004 CSP/DPF, 2015, Código de Ética da Polícia Federal. 
Este Código de Ética também diz que é dever do agente público zelar pela 
utilização adequada dos recursos de tecnologia da informação. Esse 
compromisso ético tem uma profunda conexão com o dever de respeito à 
dignidade da pessoa humana, que é um dos valores do ESTADO 
DEMOCRÁTICO DE DIREITO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 
https://www.college.police.uk/ethics/code-of-ethics
Até o momento, analisamos o que é ética e quais os princípios que ajudam a compreender ações motivadas por 
valores éticos no campo da segurança pública. A seguir, vamos analisar o problema específico da ética no uso 
das tecnologias, considerando as grandes transformações que estamos passando nos últimos anos com a 
sociedade da informação, da expansão dos computadores e tecnologias da informação e a facilidade de uso de 
dispositivos tecnológicos com capacidade de captação, tratamento e armazenamento de dados. 
 
 
A discussão sobre ética e transformação tecnológica é bastante rica, pois 
remonta ao período de início do surgimento da computação e das primeiras 
pesquisas sobre Inteligência Artificial nas décadas de 1950 e 1960. 
As décadas de 1950 e 1960 foram um período crucial para os debates sobre 
ética e tecnologia, especialmente com o surgimento da cibernética e os 
trabalhos de Norbert Wiener e Joseph Weizenbaum, dois importantes filósofos 
da ética no uso de novas tecnologias. 
A cibernética, um campo interdisciplinar que estudava sistemas de controle e 
comunicação, trouxe à tona questões éticas relacionadas ao controle e à 
automação. O matemático Norbert Wiener, professor de cibernética do MIT, 
explorou como as máquinas poderiam ser usadas para controlar processos 
naturais e artificiais, o que levantou preocupações sobre o uso responsável 
dessa tecnologia. 
Figura 6: Professor Norbert Wiener, conhecido como o pai da 
cibernética.
Fonte: Alfred Eisenstaedt, 1949 
Wiener estava preocupado com o aumento da automação e da tecnologia, 
especialmente em contextos industriais e militares. Ele via a automação como 
uma força potencialmente desumanizadora e argumentava que a tecnologia 
poderia ser usada para ampliar o controle sobre as pessoas, levando à 
alienação e à perda de autonomia. Uma das soluções que Wiener propôs para 
suas preocupações foi a ideia de um “controle ético” da tecnologia. Ele 
argumentouque as decisões sobre o desenvolvimento e o uso de tecnologias 
avançadas deveriam ser influenciadas por considerações éticas e morais, e 
que deveria haver uma supervisão adequada para garantir que os avanços 
tecnológicos fossem compatíveis com valores humanos. Wiener também 
promoveu a ideia de uma abordagem interdisciplinar para abordar as questões 
éticas relacionadas à tecnologia. Ele argumentava que a ética cibernética 
deveria ser uma disciplina que reunisse especialistas de diversas áreas para 
abordar os desafios éticos da tecnologia. 
As ideias de Wiener, formuladas na década de 1960, são bastante atuais ao 
pensarmos o uso ético de novas tecnologias na segurança pública. Vou 
fornecer um exemplo concreto de como o "controle ético" de tecnologias, 
conforme defendido por Norbert Wiener há décadas, poderia ser aplicado no 
campo do uso de novas tecnologias na segurança pública. 
Suponha que uma agência de segurança pública esteja considerando a 
implementação de sistemas de reconhecimento facial para auxiliar na 
identificação de suspeitos em áreas públicas. 
Para aplicar o controle ético nesse contexto, a agência pode seguir as 
seguintes diretrizes: 
Transparência e Escrutínio Público: 
Antes de implementar qualquer sistema de reconhecimento facial, a agência 
deve ser transparente sobre sua intenção de usá-lo e envolver o público em 
discussões sobre os riscos e benefícios. Isso inclui consultas públicas, debates 
abertos e avaliações independentes dos sistemas; 
Limitação de Uso: 
A agência deve definir claramente os casos de uso do reconhecimento facial e 
estabelecer limites para sua aplicação. Por exemplo, pode ser usado apenas 
em investigações criminais específicas, e não para monitorar rotineiramente 
cidadãos em espaços públicos; 
Proteção da Privacidade e dos Dados Pessoais: 
É necessário implementar salvaguardas rigorosas para proteger a privacidade 
das pessoas e para proteger o direito fundamental à proteção de dados 
pessoais. Isso inclui a identificação da base legal para tratamento dos dados 
pessoais, a identificação de finalidade específica, o respeito ao princípio da 
minimização, a anonimização de dados, o armazenamento seguro e o acesso 
restrito aos registros de reconhecimento facial; 
Prevenção de Viés e Discriminação: 
A agência deve garantir que os sistemas de reconhecimento facial sejam 
treinados e testados de maneira a minimizar viés e discriminação racial, étnica 
ou de gênero. É importante monitorar e ajustar constantemente os algoritmos 
para evitar resultados injustos; 
Acesso Legalmente Autorizado: 
O acesso aos dados de reconhecimento facial deve ser restrito e requerer 
autorização legal adequada, como mandados judiciais, para evitar o uso 
indevido; 
Supervisão e Responsabilidade Humana: 
Os sistemas de reconhecimento facial devem ser supervisionados por pessoal 
treinado em ética e direitos humanos, que possa intervir em caso de erros ou 
uso inadequado; 
Avaliação Ética Contínua: 
A agência deve realizar avaliações regulares da ética do uso da tecnologia, 
considerando as preocupações levantadas pela comunidade e atualizando 
suas políticas e práticas de acordo com as normas éticas estabelecidas; 
Alternativas e Mitigação de Riscos: 
A agência deve considerar alternativas ao reconhecimento facial, como 
métodos de identificação menos invasivos e implementar medidas de mitigação 
de riscos, como treinamento de pessoal e avaliação de impacto à privacidade e 
à proteção de dados pessoais. 
 
 
Essas diretrizes representam um exemplo de como o controle 
ético pode ser aplicado ao uso de tecnologia, como o 
reconhecimento facial, na segurança pública. A ideia-chave é que 
a tecnologia deve ser usada com responsabilidade, considerando 
os princípios éticos e respeitando os direitos fundamentais dos 
cidadãos, com supervisão e transparência adequadas para 
garantir a confiança do público. Isso também significa que uma 
tecnologia pode não ser utilizada, se for julgado que as violações 
éticas são significativas. 
Abordaremos, a seguir, o que é uma “ética da precaução” no uso 
das novas tecnologias em segurança pública a partir do 
pensamento do filósofo Hans Jonas, um pensador bastante 
conhecido na filosofia da ciência e que nos ajuda a pensar por 
um viés precaucionário, que busca analisar e discutir os efeitos a 
longo prazo no uso de uma nova tecnologia. 
Como veremos, a ética da precaução também tem valores 
democráticos profundos, pois busca exercitar uma reflexão sobre 
incertezas e efeitos a longo prazo que afetam não só uma 
comunidade, mas também as gerações futuras. 
AULA 3 – ÉTICA DA PRECAUÇÃO E 
SUA APLICABILIDADE PARA 
SEGURANÇA PÚBLICA 
Hans Jonas, um filósofo alemão, é conhecido por seu trabalho 
sobre ética e responsabilidade na era da tecnologia. Em seu livro 
"O Princípio Responsabilidade: Ensaio de uma Ética para a 
Civilização Tecnológica", do final da década de 1970, ele 
apresenta argumentos fundamentais sobre como devemos 
abordar a ética em um mundo cada vez mais dominado pela 
tecnologia. 
Figura 7: Retrato do Professor Alemão Hans 
Jonas.
Fonte: Effigie / Bridgeman Images 
Jonas argumenta que o avanço da tecnologia moderna concedeu 
à humanidade um poder sem precedentes sobre a natureza e a 
vida. Esse novo poder traz consigo a responsabilidade de 
considerar cuidadosamente as consequências de nossas ações 
tecnológicas. Existe um processo de “autonomização” das forças 
tecnológicas, que apresenta um novo grau de risco à 
humanidade. Podemos considerar aqui as junções das 
transformações das energias atômicas com as transformações na 
computação e nos sistemas de inteligência artificial. 
O conceito central de Jonas é o "Princípio da Responsabilidade", 
que exige que consideremos as implicações de longo prazo de 
nossas ações tecnológicas. Ele enfatiza que devemos tomar 
decisões que não prejudiquem as gerações futuras, a biosfera ou 
a humanidade como um todo. Por isso, precisamos de uma ética 
intergeracional, que considere também os efeitos para o futuro. 
Há uma necessidade de uma ética orientada para o futuro, em 
contraste com uma ética tradicional que se concentra 
principalmente nas relações humanas presentes. 
Jonas defendeu a adoção do princípio de precaução como parte 
integrante da tomada de decisões tecnológicas no campo da 
ética. Isso significa que, quando enfrentamos incertezas 
significativas sobre os resultados de uma ação, devemos adotar 
uma abordagem mais cautelosa e evitar riscos graves. 
A ética da precaução enfatiza a importância do dever de cuidado 
para com a natureza e a humanidade, o que também se relaciona 
com um valor ético básico de “cuidado”, como vimos 
anteriormente. Isso implica que devemos agir com prudência e 
responsabilidade ao usar tecnologias que possam afetar a vida 
na Terra. A ética da precaução nos coloca em situação 
semelhante a de um pai ou uma mãe que está cuidando de uma 
criança: há um dever de responsabilidade com o futuro de toda a 
humanidade. Por isso, o uso de novas tecnologias não deve estar 
relacionado a um efeito imediato e concreto. É preciso pensar: 
 
Vamos Refletir 
 
Essas tecnologias modificam nosso comportamento? Quais seus efeitos a longo prazo? 
Elas fazem com que sejamos menos autônomos e menos conectados com nossa natureza 
humana? 
 
 
As novas tecnologias não devem ser usadas para fins que ameacem a existência de 
outras espécies ou que prejudiquem o bem-estar humano de maneira irreversível. Na 
ética da precaução, reconhece-se a importância do diálogo ético e da conscientização 
pública sobre as questões tecnológicas. A sociedade como um todo deve estar envolvida 
na discussão e na tomada de decisões relacionadas às novas tecnologias, especialmente 
o uso de drones, sistemas de reconhecimento facial e softwares de análise preditiva de 
crimes com base em Inteligência Artificial. 
A ética da precaução sugere que, quando enfrentamos incertezas 
significativas sobre as consequências de uma tecnologia,devemos adotar uma abordagem mais cautelosa e tomar 
medidas para evitar possíveis danos. 
Vamos tomar como exemplo a decisão sobre uso de drones 
(veículos aéreos não tripulados) na segurança pública: 
Identificação do problema: 
• O problema é o potencial uso de drones (veículos aéreos não 
tripulados) na segurança pública, como para patrulhamento, 
vigilância e resposta a emergências. 
Avaliação das incertezas: 
• Identificar as incertezas significativas relacionadas ao uso de 
drones, como o impacto na privacidade das pessoas, riscos de 
segurança cibernética, possibilidade de uso indevido e riscos 
para a segurança aérea. 
Estabelecimento de cenários negativos: 
• Imaginar cenários negativos possíveis decorrentes do uso de 
drones, como abusos de poder, violações de privacidade em 
massa, acidentes aéreos ou ataques cibernéticos que 
comprometem a segurança dos drones. 
Identificação de medidas de precaução: 
• Com base nas incertezas e nos cenários negativos, 
identificar medidas de precaução que possam ser 
implementadas para mitigar ou evitar esses riscos. 
Isso pode incluir: 
• Limitar estritamente as situações em que os drones 
podem ser usados, garantindo que seja apenas para 
fins legítimos e bem definidos, como busca e 
salvamento em desastres naturais. 
• Estabelecer regulamentos rígidos para a 
privacidade e a coleta de dados, com salvaguardas 
para proteger informações pessoais. 
• Exigir treinamento adequado para operadores de 
drones para evitar acidentes e garantir a segurança. 
• Desenvolver protocolos de segurança cibernética 
para proteger os sistemas de drones contra-ataques. 
• Implementar supervisão e fiscalização rigorosas do 
uso de drones para evitar abusos. 
Responsabilidade e supervisão: 
• Definir claramente quem é responsável pela 
supervisão e fiscalização do uso de drones na 
segurança pública. Garantir que haja 
responsabilidade e prestar contas em caso de uso 
indevido ou acidentes. 
Acompanhamento e avaliação constante: 
• Implementar um sistema de monitoramento e 
avaliação contínua para revisar regularmente o uso 
de drones, avaliar os resultados e ajustar as 
medidas de precaução conforme necessário. 
Envolvimento público e debate ético: 
• Envolver o público, incluindo 
especialistas em ética, defensores da 
privacidade e comunidades afetadas, 
em um debate ético contínuo sobre o 
uso de drones na segurança pública. 
Incorporar comentários e preocupações 
do público nas políticas e 
regulamentações. 
Essa abordagem exemplifica como a 
ética da precaução pode ser aplicada 
para analisar os efeitos ao longo prazo 
do uso de drones na segurança pública, 
destacando a importância de tomar 
medidas cuidadosas e responsáveis 
para evitar possíveis danos antes que 
eles ocorram. 
A ética da precaução pode auxiliar 
profissionais da segurança pública a 
estabelecer rotinas e processos que 
auxiliam nas definições de cenários de 
mitigação de riscos, diante de novas 
decisões que precisam ser tomadas 
diante da possibilidade sociotécnico de 
uso de novos dispositivos. 
Um segundo exemplo que podemos 
mencionar de como aplicar a ética da 
precaução neste setor é o debate sobre 
câmeras corporais usadas em 
segurança pública, explorando cenários 
negativos de usos secundários de 
dados obtidos por essas câmeras. 
https://www.dataprivacybr.org/documentos/cameras-corporais-nota-tecnica-audiencia-publica-e-a-contribuicao-da-data-privacy-brasil/?idProject=2481
Identificação do problema: 
• O problema é o uso de câmeras 
corporais por policiais para documentar 
interações com o público, visando a 
transparência e a prestação de contas. 
No entanto, há preocupações sobre os 
usos secundários dos dados pessoais 
capturados por essas câmeras, que são 
armazenados e podem ser reutilizados 
de forma secundária. 
Avaliação das incertezas: 
• Identificar as incertezas significativas 
relacionadas ao uso de câmeras 
corporais, como quem terá acesso aos 
dados, como eles serão armazenados e 
por quanto tempo e como podem ser 
usados posteriormente. Identificar 
possibilidades de ataques cibernéticos e 
grau de incerteza de invasão de 
sistemas informáticos que podem 
habilitar a reutilização das imagens ou 
corromper os arquivos armazenados. 
Estabelecimento de cenários negativos: 
• Imaginar cenários negativos possíveis 
decorrentes dos usos secundários dos 
dados das câmeras corporais, como: 
• Uso indevido de imagens e áudio 
capturados para chantagem ou assédio. 
• Vazamento de dados sensíveis para 
terceiros, incluindo informações de 
vítimas, testemunhas ou suspeitos. 
• Monitoramento indiscriminado ou 
vigilância em massa de grupos 
específicos. 
• Discriminação racial ou étnica baseada 
na análise dos dados das câmeras. 
• Pressões políticas para uso dos dados 
em processos seletivos ou promoções 
de policiais. 
Identificação de medidas de precaução: 
Com base nas incertezas e nos cenários 
negativos, identificar medidas de 
precaução que possam ser 
implementadas para mitigar ou evitar 
esses riscos. Isso pode incluir: 
• Limitar estritamente o acesso aos 
dados das câmeras corporais a pessoal 
autorizado, para fins legais. 
• Estabelecer políticas claras sobre a 
retenção e a eliminação segura de 
dados (política de ciclo de vida dos 
dados), incluindo prazos específicos. 
• Implementar medidas de segurança 
rigorosas, como criptografia, para 
proteger os dados contra vazamentos e 
criar mecanismos de auditorias para o 
princípio da segurança da informação 
conforme Lei Geral de Proteção de 
Dados Pessoais. 
• Realizar auditorias independentes 
regulares para garantir a conformidade 
com políticas e regulamentações. 
Responsabilidade e supervisão: 
• Definir claramente quem é responsável 
pela supervisão e fiscalização do uso 
secundário de dados das câmeras 
corporais. Garantir que haja 
responsabilidade e prestação de contas 
em caso de violações. 
Acompanhamento e avaliação constante: 
• Implementar um sistema de 
monitoramento e avaliação contínuo 
para revisar regularmente o uso 
secundário de dados das câmeras 
corporais, avaliar os resultados e ajustar 
as medidas de precaução conforme 
necessário. 
Envolvimento público e debate ético: 
• Envolver o público, incluindo 
organizações especializadas em 
proteção de dados pessoais, grupos de 
direitos civis e comunidades afetadas, 
em um debate ético contínuo sobre o 
uso secundário de dados das câmeras 
corporais. Incorporar comentários e 
preocupações do público nas políticas e 
regulamentações. 
Essa abordagem exemplifica como a ética da 
precaução pode ser aplicada para analisar os 
cenários negativos de usos secundários de 
dados obtidos por câmeras corporais na 
segurança pública, destacando a importância 
de tomar medidas cuidadosas e responsáveis 
para evitar possíveis danos decorrentes do 
uso inadequado desses dados. 
Como vimos até aqui, a adoção da ética da 
precaução ajuda a minimizar os riscos 
associados à implementação de novas 
tecnologias na segurança pública. Isso 
significa que as autoridades podem evitar 
tomar medidas que, mesmo que pareçam 
benéficas, possam ter consequências não 
previstas e potencialmente prejudiciais para a 
sociedade. A implementação cuidadosa de 
tecnologias com base na ética da precaução 
ajuda a construir e manter a confiança do 
público. Quando as pessoas veem que as 
autoridades estão tomando medidas para 
evitar danos potenciais, elas estão mais 
propensas a apoiar a adoção dessas 
tecnologias. 
A ética da precaução ajuda a evitar abusos de 
poder que podem ocorrer quando tecnologias 
são usadas de maneira inadequada ou 
excessiva. Ela incentiva a supervisão, a 
prestação de contas e a responsabilidade nas 
operações de segurança pública. Ao 
considerar cuidadosamente os riscos e os 
potenciais impactos negativos das novas 
tecnologias, as agências de segurança pública 
podem melhorar sua eficácia na prevenção e 
resposta a crimes e emergências. Isso ocorre 
porque as tecnologias são implementadas de 
formas maisinformativas e direcionadas. 
A ética da precaução é fundamentada no 
respeito pelos princípios éticos de justiça, 
dignidade humana e respeito pelos direitos 
fundamentais, que estão previstos na 
Constituição Federal da República Federativa 
do Brasil. A adesão a esses princípios ajuda a 
manter a integridade e a legitimidade das 
operações de segurança pública. 
A ética é um ramo do saber que diz respeito a 
sistemas de valores e crenças sobre a 
condução de uma boa vida. A ética abrange 
não apenas valores para uma boa vida 
individual, mas também os valores para boa 
vida em comunidade. 
O surgimento de valores éticos para 
profissionais da segurança pública e o modo 
como eles são estruturados para garantir o 
bem-estar da comunidade, o respeito aos 
direitos fundamentais e uma conduta 
respeitosa, no sentido de fazer a coisa certa 
do jeito certo. 
O modo como a ética da precaução 
desenvolvida por Hans Jonas possui relação 
com a noção de controle ético da tecnologia 
de Norbert Wiener e o modo como ela atribui 
força aos valores humanos dos usos de novas 
tecnologias. 
Como uma ética da precaução leva a uma 
avaliação de longo prazo dos usos das 
tecnologias e como podemos utilizar de 
procedimentos de identificação de riscos e de 
mitigação como parte de nossa conduta ética 
na utilização de novas tecnologias.

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