Buscar

Livro - Ética e sustentabilidade

Prévia do material em texto

1 
 
Disciplina: Ética e sustentabilidade 
Autores: M.e Willyans Maciel 
Revisão de Conteúdos: Esp. Murillo Hochuli Castex 
Designer Instrucional: Esp. Murillo Hochuli Castex 
Revisão Ortográfica: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Ano: 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança 
de direitos autorais. 
 
 
2 
 
Willyans Maciel 
 
 
 
 
 
Ética e sustentabilidade 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2020 
Curitiba, PR 
Faculdade UNINA 
 
3 
 
Faculdade UNINA 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Conselho Editorial 
D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / 
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / 
D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / 
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / 
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia 
 
Revisão de Conteúdos 
Cibéli Moreira Duarte 
 
Designer Instrucional 
Murillo Hochuli Castex 
 
Revisão Ortográfica 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
MACIEL, Willyans. 
Ética e sustentabilidade / Willyans Maciel. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2020. 
109 p. 
ISBN: 978-65-86092-28-8 
1.Ética. 2. Sociedade. 3. Sustentabilidade. 
Material didático da disciplina de Ética e sustentabilidade – Faculdade UNINA, 
2020. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade UNINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio ................................................................................................................. 08 
Aula 1 – Conceito de Ética ..................................................................................... 09 
Apresentação da aula 1 ......................................................................................... 09 
 1.1 Uma definição operacional de ética .......................................................... 09 
 1.2 O papel do comportamento e os ramos da ética ....................................... 10 
 1.3 Moral, Ética e Direito ................................................................................. 12 
 1.4 Teorias éticas ........................................................................................... 15 
 1.4.1 A ética finalista ....................................................................................... 16 
 1.4.2 Deontologia e a ética da convicção ........................................................ 17 
 1.4.3 Imperativo ou como escolher a ação ...................................................... 18 
 1.4.4 No comportamento cotidiano ................................................................. 19 
Conclusão da aula 1 .............................................................................................. 20 
Aula 2 – Tipos de Éticas ......................................................................................... 21 
Apresentação da aula 2 ......................................................................................... 21 
 2.1 A cidadania e suas várias faces ................................................................ 21 
 2.1.1 Conceitos de base: padrões, imperativo e Direitos Naturais .................. 22 
 2.1.2 Consequencialismo (finalista) ................................................................ 23 
 2.1.3 Deontológicas ........................................................................................ 25 
 2.1.4 Jusnaturalismo ...................................................................................... 27 
 2.1.5 Direitos e deveres de cidadão ................................................................ 28 
 2.2 Direitos Humanos e a dignidade do ser humano ....................................... 28 
 2.3 Os direitos humanos como fenômeno histórico-cultural ............................ 30 
 2.3.1 Relativismo e seus problemas ............................................................... 31 
Conclusão da aula 2 .............................................................................................. 34 
Aula 3 – A responsabilidade social e sustentabilidade empresarial ....................... 35 
Apresentação da aula 3 ......................................................................................... 35 
 3.1 Ética Social e Ética Empresarial ................................................................ 36 
 3.2 Desenvolvimento e sustentabilidade ........................................................ 36 
 3.3 O que é preciso fazer para alcançar o desenvolvimento sustentável ........ 42 
 3.4 O consumidor consciente como novo ator social ...................................... 44 
Conclusão da aula 3 .............................................................................................. 46 
Aula 4 – Educação ambiental como caminho para a sustentabilidade ................... 46 
Apresentação da aula 4 ......................................................................................... 46 
 4.1 Produção (tecnologias limpas) e consumo sustentáveis ........................... 47 
 4.1.1 Conceitos de base e legislação .............................................................. 47 
 4.1.2 Importância e aplicação dos conceitos de base ..................................... 50 
 4.1.3 Educação ambiental pela convicção ...................................................... 54 
 
6 
 
 4.2 Sustentabilidade, consumo e publicidade ................................................. 54 
Conclusão da aula 4 .............................................................................................. 57 
Aula 5 – Conferências internacionais ..................................................................... 58 
Apresentação da aula 5 ......................................................................................... 58 
 5.1 Gestão ambiental ...................................................................................... 58 
 5.1.1 Gestão ambiental e eficiência ................................................................ 59 
 5.2 Aspecto legal e estatal .............................................................................. 63 
 5.3 Gestor ambiental ...................................................................................... 67 
Conclusão da aula 5 ..............................................................................................68 
Aula 6 – Trajetória legal e das políticas públicas brasileiras ....................................... 69 
Apresentação da aula 6 ......................................................................................... 69 
 6.1 Instrumentos para fins de gestão .............................................................. 69 
 6.1.1 Legislação no Direito Constitucional ...................................................... 70 
 6.1.2 Aspecto deontológico ............................................................................ 71 
 6.2 Principais instrumentos normativos .......................................................... 71 
 6.2.1 Lei 9.605/1998 ....................................................................................... 72 
 6.2.2 Lei 12.305/2010 ..................................................................................... 72 
 6.2.3 Outros instrumentos relevantes ............................................................. 74 
 6.3 Sistema Nacional de Meio Ambiente ......................................................... 74 
 6.3.1 Instrumentos de Gestão Ambiental nos diferentes níveis ....................... 76 
Conclusão da aula 6 .............................................................................................. 78 
Aula 7 – Balanços sociais e DVA (Demonstração do Valor Adicional) .................... 78 
Apresentação da aula 7 ......................................................................................... 78 
 7.1 Balanços sociais ...................................................................................... 79 
 7.1.1 Balanço ambiental ................................................................................ 80 
 7.1.2 Balanço de Recursos Humanos ............................................................ 83 
 7.1.3 Demonstração de valor adicionado ....................................................... 84 
 7.1.4 Benefícios e contribuições à sociedade em geral .................................. 86 
 7.2 Integração de sistemas de gestão ........................................................... 87 
 7.2.1 Contexto do mercado ............................................................................ 89 
 7.2.2 Sistema de gestão integrada: auditoria e desafios ................................ 89 
 7.2.3 Integração de gestão: SGA, SGQ e SGI ............................................... 90 
Conclusão da aula 7 .............................................................................................. 92 
Aula 8 – Gaia (Gerenciamento de Aspectos e Impactos Ambientais) .................... 93 
Apresentação da aula 8 ......................................................................................... 93 
 8.1 O que é o método Gaia ........................................................................... 94 
 8.2 Sicogea - Sistema Contábil Gerencial Ambiental: aplicação do 
SICOGEA .............................................................................................................. 
 
97 
 8.3 Benchmarking, normas e políticas ambientais ........................................ 100 
 8.4 Saúde e Segurança Ocupacional ........................................................... 102 
 
7 
 
Conclusão da aula 8 .............................................................................................. 103 
Índice Remissivo ................................................................................................... 105 
Referências ........................................................................................................... 109 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Prefácio 
 
Seja bem-vindo à disciplina de Ética e Sustentabilidade. Espera-se que 
esta disciplina seja interessante para seu aprendizado, porém, não é possível 
afirmar que ela seja simples. Ética é um processo complexo de estabelecimento 
de deveres em uma sociedade que se torna mais complexa aceleradamente e 
exige uma postura firme daqueles que pretendem ter impacto positivo, 
especialmente na gestão, que é uma das áreas mais relevantes no mercado 
atual. 
Por esta razão, diversos conceitos irão aparecer mais de uma vez e 
frequentemente serão relacionados a outros conceitos e ferramentas, isso 
porque os conceitos de ética e sustentabilidade são por si mesmos 
interdisciplinares e multiprofissionais, não podendo se restringir e dificilmente 
sendo explicados em sua totalidade com poucas palavras. 
Assim, conceitos como a responsabilidade ambiental e financeira irão 
aparecer tanto na parte conceitual, que ocupa as primeiras aulas, quanto na 
aplicação de relatórios e ferramentas, a partir da metade da disciplina. As ideias 
de educação ambiental e de consumo consciente irão aparecer não apenas nas 
aulas direcionadas especificamente para esses conceitos, mas em quase todas 
as aulas, por serem ferramentas úteis à indústria e aos consumidores. 
Com determinação e paciência, todos os conceitos e ferramentas se 
tornaram aos poucos evidentes e você será capaz de aplicá-los todos em seu 
trabalho como gestor para uma carreira produtiva e bem-sucedida. 
Bons estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Aula 1 – Conceito de Ética 
 
Apresentação da aula 1 
 
Olá, estudante! Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina de Ética e 
sustentabilidade, em que será realizado um esforço para formar uma base 
teórica sólida a partir da qual se possa melhor compreender os desafios da 
sustentabilidade de um ponto de vista ético. 
Para isso, será abordada a definição operacional de ética, as implicações 
do conceito, a diferença e as inter-relações entre o conceito de ética e o conceito 
de moral. A partir desta distinção, será abordado também o conceito de Direito 
como sistema de leis, na medida em que os resultados da moral e da ética 
afetam a forma como se formulam as leis. 
Por fim, serão apresentadas as abordagens éticas mais influentes e que 
moldam a forma como a sociedade atual funciona, no sentido do comportamento 
esperado (conduta), tanto individual quanto de grupos e da formulação das leis. 
 
1.1 Uma definição operacional de ética 
 
Oferecer uma definição para uma área de aplicação tão ampla e de 
riqueza conceitual sofisticada como a ética não é tarefa fácil. De fato, uma 
definição precisa e consensual nunca foi atingida, de modo que se utiliza uma 
definição operacional que pretende conter os elementos relevantes, mesmo que 
não seja completa. 
 
Curiosidade 
O termo “definição operacional” foi utilizado pela primeira vez pelo físico Percy 
Bridgman, para se referir a fenômenos que poderiam ser definidos pelos 
processos que permitiam a sua detecção ou medição, mesmo que não 
pudessem ser descritos diretamente. O termo entrou para o conjunto de 
ferramentas teóricas da ética, ciência cognitiva e filosofia da ciência referindo-se 
a uma descrição, não necessariamente consenso entre todos os especialistas, 
mas que é capaz de oferecer uma orientação adequada sobre o papel do 
conceito, na aplicação ou na análise teórica. Pode-se, por exemplo, definir 
 
10 
 
operacionalmente o papel da seleção de comportamentos adequados para a 
moral saudável, mesmo antes de se saber que o lóbulo frontal era responsável 
por parte desta seleção. 
 
Uma tentativa de oferecer uma definição padrão de ética normalmente 
procura incluir afirmações do tipo “é a ciência do ideal de caráter para indivíduos 
humanos” ou “ciência da moral e do dever”, ou ainda “dever moral”. Estas 
descrições seguem uma forma intuitiva, mas não definem de forma precisa a 
ética, o trabalho do eticista ou aquilo que os indivíduos devem fazer de acordo 
com a ética. 
Assim, definições operacionais de ética têm seguido a linha de informarqual o propósito e como chega-se até este propósito, pelo estudo e análise dos 
comportamentos mais ou menos adequados em nosso meio. 
Nesse sentido, uma definição operacional adequada do campo de estudo 
da ética como um todo é como segue: ética é o estudo do comportamento 
relativo ao que pode ser classificado como bom ou mal e a ciência do 
estabelecimento de normas a partir deste estudo. 
 
1.2 O papel do comportamento e os ramos da ética 
 
A ética afeta todas as áreas da vida humana, por ser um esforço para 
compreender o comportamento moral dos seres humanos, ou seja, como os 
seres humanos decidem por uma ou outra ação, por um ou outro comportamento 
e se seria possível estabelecer um padrão de conduta para situações 
particulares, que fosse sempre adequado. 
 Importante 
O comportamento moral (conduta humana) é o objeto de estudo da ética. 
 
Ao consultar a literatura de ética, o estudante deve ter em mente que há 
ramos diferentes da investigação que são próprios de áreas de pesquisa com 
aplicação prática. 
 
11 
 
Estes ramos podem ser mais ou menos relevantes, dependendo do 
interesse que o estudante tem e do que pretende aperfeiçoar ao realizar seus 
estudos em ética. 
Em ética é preciso distinguir três ramos; são eles: 
 
➢ Metaética; 
➢ Ética normativa; 
➢ Ética aplicada. 
 
A metaética é especificamente teórica e voltada para o aperfeiçoamento 
das estruturas conceituais que permitem ao pesquisador compreender os 
padrões de funcionamento da ética. 
Em outras palavras, as obras na literatura especializada que tratam de 
questões metaéticas têm pouca relevância para o profissional prático dedicado 
a, por exemplo, uma atuação na gestão. 
Não significa que o profissional de gestão não possa se interessar e 
pesquisar este tema, mas é preciso ter a consciência de que se trata de um ramo 
especulativo, ou seja, um ramo da pesquisa em filosofia que procura oferecer 
interpretações ou realizar descobertas em um campo teórico, não 
necessariamente com aplicação prática imediata. 
Por exemplo, a tentativa filosófica de definir a liberdade de pensamento é 
uma importante questão metaética, mas não tem aplicação prática direta na 
atividade do profissional, diferente da questão de ética normativa do Direito 
Natural à Liberdade, que é a base das leis que protegem a livre associação, a 
liberdade religiosa, a liberdade de ir e vir, entre outras. 
A ética normativa e a ética aplicada são ramos mais focados na conduta 
cotidiana, são, portanto, ramos mais práticos da ética, no sentido de que suas 
formulações permitem melhor compreensão dos comportamentos presenciados 
no cotidiano e respostas mais específicas. 
A ética normativa, como o nome sugere, procura estabelecer os padrões 
segundo os quais as decisões são tomadas e as normas postas em vigor. Já a 
ética aplicada procura regular situações ou ambientes específicos, como 
exemplos de ética aplicada, pode-se destacar: 
 
 
12 
 
➢ Ética profissional; 
➢ Ética empresarial; 
➢ Bioética; 
➢ Ética médica; 
➢ Ética da administração pública. 
 
1.3 Moral, Ética e Direito 
 
No estudo do comportamento humano em sociedade, especialmente 
focando na ética normativa e na ética aplicada, o esforço para compreensão e 
estabelecimento de regras se divide em três âmbitos, inter-relacionados, mas 
diferentes entre si. São chamados na pesquisa de três âmbitos da filosofia moral, 
sendo “filosofia moral” uma outra forma de se chamar a disciplina de ética em 
seu aspecto teórico e acadêmico. 
Estes três âmbitos precisam ser compreendidos em suas particularidades, 
a fim de melhor organizar a tomada de decisão individual e o comportamento em 
relação aos diferentes grupos da sociedade. 
São eles: 
 
➢ Moral; 
➢ Ética; 
➢ Direito. 
 
A moral (latim "mos“, "mores“) é um conceito da ética que trata do conjunto 
de normas e princípios que afetam a forma como os indivíduos julgam e como 
decidem agir. Os seres humanos julgam as suas próprias ações e as ações dos 
outros como boas ou más e, a partir deste julgamento, decidem como deverão 
agir no futuro. 
Trata-se de um esforço, nem sempre consciente, de tentar compreender 
qual o comportamento adequado e qual o comportamento inadequado em cada 
situação. 
Este processo de juízos morais acontece a cada instante em cada 
indivíduo, mas existem certos padrões entre os seres humano, especialmente, 
algumas condições que são universais devido a terem evoluído com a espécie. 
 
13 
 
Isso significa que existem algumas ações que, como espécie ou como 
comunidade, já se descobriu serem boas ou más em absoluto, mas ainda assim, 
cada indivíduo julga estas ações para decidir se irá agir de acordo com o bem 
ou de acordo com o mal, baseado em seus interesses ou em sua adesão a 
princípios de comportamento. 
A formação moral é em parte evolutiva (relacionada à nossa sobrevivência 
e prosperidade), mas influenciada pela criação (educação familiar nos primeiros 
anos de vida), genética humana (aquilo que é semelhante em todos os seres 
humanos) e as experiências de um indivíduo ao longo da vida. 
Então, um indivíduo pode, por exemplo, saber que a mentira é má, mas, 
ainda assim, estar mais interessado nos resultados aparentemente benéficos da 
mentira e por isto decidir mentir. 
Outro indivíduo, sabendo a mesma coisa, que a mentira é má, pode 
considerar que sua adesão à virtude da honestidade como princípio é um 
comportamento mais adequado a longo prazo e assim decidirá não mentir. 
No exemplo acima, vê-se que existe um padrão, a mentira é má, mas os 
indivíduos podem decidir de modo diferente. Como julgá-los em sociedade? 
A resposta para esta pergunta é o trabalho da ética. 
 
 Importante 
A ética procura estabelecer padrões para julgar o comportamento individual 
como certo ou errado. 
 
A ética só existe em sociedade, enquanto a moral existe em qualquer 
situação, mesmo que um ser humano esteja isolado, isso acontece porque a 
moral é a análise de cada indivíduo a partir dos padrões humanos, mas ainda 
assim uma análise individual. 
Quando é preciso analisar os comportamentos dos indivíduos em relação 
uns aos outros e estabelecer padrões de comportamento e conduta (normas) 
para vários seres humanos é que a ética se torna relevante. 
Por isso, na definição operacional, a ética é tratada como um estudo. Não 
é necessariamente um estudo acadêmico, mas uma análise constante dos 
 
14 
 
padrões, buscando encontrar os consensos que podem ser estabelecidos na 
sociedade a partir dos conceitos de bem e mal. 
Voltando ao exemplo da mentira, diferentes teorias éticas irão tentar 
explicar a razão pela qual a mentira é má, mas todas elas concordam, por 
princípio, que a mentira fere a honestidade que, por sua vez, impede as pessoas 
de agirem livremente, porque estão sendo enganadas pela mentira. 
Assim, a ética definirá que mentir é errado e que o certo é não mentir. 
Enquanto a moral descreve os comportamentos adequados e inadequados 
como bons ou maus, a ética os descreve como certos ou errados, para que exista 
uma distinção. 
Um indivíduo pode, por exemplo, saber que a mentira é má, mas 
considerar que mentir naquele momento é bom. Mesmo assim, a ética descreve 
a mentira como errada, pois ela faz referência ao princípio e não ao julgamento 
particular de cada indivíduo. 
Em outras palavras, a ética procura eliminar a análise subjetiva e oferecer 
padrões objetivos pelos quais os seres humanos possam guiar seus 
comportamentos. 
Por fim, é preciso ter e mente que, mesmo que a maioria dos indivíduos 
conheça as normas éticas e pratique-as, é possível que um grupo de indivíduos 
não respeite tais normas. 
Assim, para organizar a sociedade e garantir o cumprimento das normas 
é que surge o Direito, ou sistema de leis. As leis nem sempre estão de acordo 
com a ética, mas teoricamente é isso que deveria acontecer. 
O Direito define as ações como legais ou ilegais, deacordo com padrões 
estudados e estabelecidos anteriormente. Uma vez que há indivíduos que irão 
se comportar de modo contrário à ética, o Direito apresenta a figura da punição 
como motivador para que estes indivíduos cooperem com os outros e estejam 
dispostos a seguir os padrões universais estabelecidos. 
 
 
15 
 
 
Ética, moral e direito 
Fonte: elaborado pelo autor (2020). 
 
A ética analisa a moral e ajuda a definir as bases para o sistema de leis. 
Dessa forma, quando uma lei for contrária à ética, os indivíduos deveriam ser 
capazes de analisá-la e compreender a razão pela qual ela contraria a ética, 
podendo assim exigir a sua alteração. 
 
1.4 Teorias éticas 
 
Como dito anteriormente, a explicação sobre as razões para algo ser bom 
ou mau e a forma como se define qual o comportamento ético adequado varia 
entre as diferentes teorias éticas. 
Estas teorias éticas dividem-se em dois ramos consagrados ao longo dos 
séculos por serem os mais eficientes em descrever o comportamento humano e 
oferecer soluções para a organização das sociedades. As duas categorias são: 
 
➢ Consequencialismo; 
➢ Deontologia. 
 
Na próxima aula será dada a descrição detalhada de cada um dos tipos 
de teoria ética presentes nas duas categorias e como eles afetam as questões 
 
16 
 
de sustentabilidade, cidadania e direitos humanos, mas antes é preciso ter uma 
visão geral das categorias nas quais estas teorias colocam-se para compreender 
os fundamentos de decisão. 
 
1.4.1 A ética finalista 
 
Nas áreas de administração e gestão, se tem usado o termo "ética 
finalista" para se referir ao conjunto de proposições do consequencialismo, pois 
estas teorias éticas preocupam-se com a finalidade última das ações dos 
indivíduos e grupos. 
Em termos práticos, se o indivíduo X agir do modo Y, deve-se analisar as 
consequências da ação para saber se Y é um comportamento adequado e se X 
é um indivíduo bom. 
É importante saber que a finalidade não é apenas um objetivo de curto 
prazo. Uma das formas de se pensar a finalidade é supor que a ação boa é 
aquela que gera mais prazer e menos dor para os indivíduos envolvidos. 
Nesse caso, por exemplo, conseguir uma promoção traria prazer, mas 
nem sempre se trata de um objetivo de curto prazo como este, trata-se dos 
objetivos maiores, objetivos finais e com propósito. 
Na situação acima, um indivíduo poderia ser condizente com a proposta 
de mais prazer e menos dor ao recursar a promoção conquistada em detrimento 
de outras pessoas ou pela trapaça, pois nem todo tipo de prazer é desejável. 
Isto acontece pois no longo prazo ou do ponto de vista de uma abordagem 
mais geral, a conquista do prazer imediato (promoção conseguida sem mérito) 
pode levar a problemas maiores no futuro que trarão “dor” ao indivíduo que age, 
seja diretamente ou pela “dor” causada aos outros. 
Pode-se utilizar ainda a abordagem de Stuart Mill, afirmando que a 
mentira ou a corrupção, mesmo que pareça benéfica no curto prazo, diminui a 
confiabilidade e consequentemente diminui a felicidade no longo prazo, o que 
não é uma finalidade desejável para qualquer ser humano. 
A questão da confiabilidade voltará a ser relevante na aula sobre Ética 
Empresarial, por ora, ela é importante para definir que a mentira e a corrupção 
são ambas classificadas como inadequadas, em qualquer situação, mesmo por 
uma ética finalista. 
 
17 
 
Reflita 
No longo prazo, como gestor, qual o papel da confiabilidade nas relações 
profissionais? 
 
O problema da ética finalista, ou consequencialismo, segundo o filósofo 
do direito e eticista Immanuel Kant, é que esta abordagem só funciona para os 
indivíduos que se importam com os outros. 
Uma sociedade que tentasse basear suas leis em um sistema ético 
consequencialista teria muita dificuldade em convencer os indivíduos a aderirem 
a uma lei quando ela exigir um sacrifício dos desejos momentâneos em nome da 
melhor organização da sociedade. 
Por que não subornar, trapacear ou mentir? A resposta é óbvia para a 
maioria das pessoas, mas para alguns grupos ela não é óbvia ou não é um 
impedimento para agir de forma má. 
Por isto existe a lei, mas a lei baseada no consequencialismo teria mais 
dificuldade de se impor para os indivíduos que não se importam com os outros 
do que uma lei baseada em deveres universais. Assim, surge a proposta da ética 
deontológica. 
 
1.4.2 Deontologia e a ética da convicção 
 
“Deonto”, do grego, significa “dever” e “logia” vem de “logos”, o estudo ou 
ciência. Destarte, a deontologia é a ciência do dever, um ramo da ética 
preocupado em descobrir quais são os deveres universais pelos quais os 
indivíduos deveriam pautar seu comportamento para que não precisassem a 
todo momento calcular as consequências. 
O termo “ética da convicção” tem sido usado nas recentes décadas e trata 
de uma forma de se referir à deontologia que tem ganho espaço nos meios da 
administração e da psicologia. 
Na gestão pública, esta abordagem da ética tem papel fundamental na 
compreensão das convicções do indivíduo (a quais deveres e princípios o 
indivíduo adere), ajudando a lidar com as situações nas quais ele presencia 
 
18 
 
infrações ou corrupção, preservando sua força moral para resistir à aparente 
finalidade benéfica de tais situações. 
Neste modelo de ética, considera-se que o indivíduo que age tem 
convicção de que ao outro indivíduo cabe o direito à vida, por exemplo, e que a 
ele cabe o dever de não intervir neste direito. 
Assim, o indivíduo age de acordo com tal convicção, do direito do outro e 
do seu próprio dever, preservando e protegendo tanto quanto possível a vida dos 
outros indivíduos. 
O mesmo acontecerá com os outros direitos naturais e com as regras de 
conduta estabelecidas no ambiente específico, por exemplo, o país, a instituição, 
a empresa, a esfera política etc. 
O indivíduo que dá sua adesão ao dever tem a convicção de que esta é a 
ação mais adequada e, com isto, mantém-se fiel a seus deveres, não incorrendo 
em infrações ou em situações de corrupção. 
 
1.4.3 Imperativo ou como escolher a ação 
 
Todas as ações humanas começam na mente, com juízos, seja de modo 
consciente ou inconsciente, por isso, foi um importante avanço para a ética 
descrever quais são os processos de pensamento que levam o indivíduo até a 
decisão consequencialista (ou finalista) ou à decisão deontológica (da 
convicção). 
A estes processos convencionou-se chamar “imperativos”, sendo que há 
dois tipos de imperativos: 
 
➢ Imperativo hipotético; 
➢ Imperativo categórico. 
 
O imperativo hipotético trata de estabelecer o comportamento 
adequado com base em uma hipótese sobre as consequências da ação. Assim, 
se as consequências da ação A são mais desejáveis do que as consequências 
da ação B, o comportamento adequado deveria ser A. 
 
19 
 
Já no imperativo categórico, as consequências são secundárias e o 
comportamento adequado é estabelecido a partir de deveres que fazem 
referência a princípios fundamentais. 
Vejamos como isto funciona por meio de um exemplo: 
Construir um túnel sem ventilação para passagem de um trem é mais 
barato e talvez mais rápido do que construir um túnel com ventilação, porém, os 
construtores da estrada de ferro ficarão em risco. Ainda, o túnel é necessário 
para abastecer uma população faminta, nesse sentido, quanto mais rápido 
melhor. 
O imperativo hipotético vai analisar as consequências dos dois casos 
(com e sem ventilação) e julgar qual a melhor opção. 
O imperativo categórico, por seu turno, irá analisar que colocar seres 
humanos em risco é mau e por isso deve ser considerado errado em todas as 
situações, mesmo quando se pretenda beneficiar outros seres humanos. 
 
1.4.4 No comportamento cotidiano 
 
Os seres humanos têm potencial para utilizar os dois tipos de teorias, 
consequencialista e deontológica, baseando seu comportamento em uma ou 
outra, a depender dasituação. 
Porém, de forma geral, para que a ética influencie a legislação, para se 
ter leis éticas, é preciso utilizar a deontologia, pois o consequencialismo exigiria 
um cálculo de consequências impraticável para qualquer ser humano em todas 
as situações que ele enfrentasse. 
A deontologia, por outro lado, procura estabelecer padrões mínimos mais 
simples, que podem ser generalizados para diferentes situações, estabelecendo 
os deveres do indivíduo quanto àquele caso. 
Este modelo é mais eficiente para a criação de leis, permitindo que os 
indivíduos gozem de estabilidade na aplicação das regras e possam prever o 
resultado de seus comportamentos, bem como o comportamento das 
instituições. 
Vejamos abaixo como isto funciona em um exemplo prático: 
Na implantação de uma empresa em área que conta com vegetação 
nativa, a falta de licença para remover árvores já é uma infração, por descumprir 
 
20 
 
um dever (o dever de solicitar a licença), mesmo que a consequência (arvore ser 
derrubada) não tenha se realizado. 
Este exemplo, em um modelo consequencialista, tornaria a fiscalização 
impraticável, pois não se poderia intervir antecipadamente evitando a derrubada 
das árvores, servindo para punir o infrator e não para prevenir o dano. 
Ainda, o infrator sempre poderia alegar que, em um futuro longínquo, 
aquela ação (derrubar as árvores) traria mais benefício do que mantê-la, criando 
assim empecilhos para o julgamento dos infratores. 
No comportamento cotidiano, quando a ação não está prevista em lei ou 
não é uma questão que afete a lei, os indivíduos podem utilizar ambas as teorias 
(consequencialismo e deontologia), mas sempre aceitando as vantagens e 
desvantagens de cada uma. 
 
 Saiba mais 
A definição de “Imperativo Categórico” no site educacional InfoEscola oferece 
explicações detalhadas e importantes pontos de reflexão sobre este conceito da 
ética e seu oposto, o imperativo hipotético. 
Disponível em: https://www.infoescola.com/filosofia/imperativo-categorico/ 
 
Conclusão da aula 1 
 
Com isto, chegamos ao final da primeira aula, na qual você deve ter 
compreendido que uma base teórica sólida em ética permitirá ao gestor 
compreender melhor o comportamento humano e as implicações deste 
comportamento quando em sociedade, seja no setor, na empresa ou mesmo no 
país como um todo. Nesta base, se encontra a distinção entre moral, ética e 
direito, ou sistema de leis, bem como os tipos de abordagem ética mais 
relevantes, a deontologia e o consequencialismo, com suas implicações para o 
comportamento humano. A falta desta base, por seu turno, pode criar conflitos, 
tanto no diálogo quanto no estabelecimento de regras, pela discordância quanto 
ao significado dos termos e os padrões de comportamento. 
 
 
https://www.infoescola.com/filosofia/imperativo-categorico/
 
21 
 
Atividade de aprendizagem 
 
Com base nas distinções apresentadas nesta primeira aula, apresente as 
diferenças entre imperativo hipotético e imperativo categórico. Como fonte de 
pesquisa, pode-se começar pelo artigo “Imperativo Categórico” que consta no 
item “saiba mais”, ao final da aula. 
 
 
 
Aula 2 – Tipos de Éticas 
 
Apresentação da aula 2 
 
Olá estudante, nesta segunda aula serão exploradas as variações nas 
teorias éticas, dentro das duas categorias principais, a deontologia e o 
consequencialismo. 
A partir da compreensão das diferentes teorias e de como os seres 
humanos se relacionam à elas será possível explorar a questão de como a ética 
influencia aspectos da vida em sociedade, a cidadania e a questão dos direitos 
humanos. 
Na questão da cidadania serão exploradas as suas diferentes facetas, no 
aspecto legal, social e de inter-relação das instituições. 
Na questão dos direitos humanos será apresentado o conceito de 
dignidade da vida humana, por vezes referido como dignidade do ser humano, 
que permite compreender a base universal dos direitos humanos, cuja 
formulação mais recente aparece na Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, mas que tem base nos direitos individuais e de natureza e como esses 
direitos devem ser interpretados e aplicados. 
 
2.1 A cidadania e suas várias faces 
 
A cidadania é a expressão dos deveres descobertos por meio da análise 
dos direitos naturais aplicados ao convívio em sociedade do ponto de vista dos 
cidadãos, ou seja, dos membros de uma sociedade específica dentro de uma 
civilização que respeita os princípios de vida, liberdade e propriedade de si. 
 
22 
 
Para que se possa compreender como a cidadania é possível e quais as 
questões que ela envolve, será necessário explorar alguns padrões dentro da 
ética e a forma como as diferentes abordagens da ética, também chamadas de 
teorias éticas, lidam com estes padrões, seja para reforçá-los, criticá-los, 
endossá-los ou reformulá-los, a depender de cada questão analisada. 
Fato é que falar em cidadania sem conhecer suas bases éticas é perigoso, 
pois a cidadania envolve diversos aspectos legais que são, por sua vez, 
baseados em posicionamentos éticos que refletem avanços da sociedade no 
sentido de atender aos cidadãos. 
 
2.1.1 Conceitos de base: padrões, imperativo e Direitos Naturais 
 
Uma vez compreendido que devem haver padrões, como discutido na 
aula anterior, para que os seres humanos possam relacionar-se adequadamente 
em sociedade, e que identificar estes padrões é um dos principais objetivos da 
ética, pode-se passar para a compreensão de quais são estes padrões e como 
a ética se reflete em questões como a cidadania e os direitos humanos. 
A partir da discussão entre deontologia e consequencialismo, explorada 
na aula anterior, se estabelece a contribuição sobre o processo de seleção dos 
deveres. A ideia de imperativo categórico foi seminal neste ponto. 
A partir do imperativo categórico, é possível analisar os direitos naturais e 
deles derivar deveres para a sociedade. 
Os Direitos Naturais são aqueles direitos que funcionam como princípios 
fundamentais para todos os indivíduos, independentemente de qualquer 
característica adicional. 
Estes direitos servem como base para os deveres e direitos que serão 
estabelecidos para os cidadãos de um país, nunca podendo ser infringidos, em 
outras palavras, são critérios para que os indivíduos sejam capazes de saber se 
uma lei é adequada ou inadequada do ponto de vista da ética. 
São eles: 
 
➢ Direito à vida; 
➢ Direito à liberdade; 
➢ Direito à propriedade de si. 
 
23 
 
Como cada teoria ética vai utilizar estes direitos e os quais serão 
considerados princípios para cada teoria ética, é uma questão que deve ser 
avaliada observando as principais teorias éticas em particular, mas estes três 
Direitos Naturais estão na base de qualquer estudo relevante de ética e mesmo 
de direito. 
Assim, para se compreender as consequências da ética para a cidadania, 
é preciso conhecer os tipos de ética mais influentes. 
 
2.1.2 Consequencialismo (finalista) 
 
Como discutido na aula anterior, o consequencialismo é uma categoria de 
teorias éticas de modelo finalista, ou seja, se ocupa de buscar a compreensão 
das finalidades ou das consequências, para definir se uma ação é adequada ou 
inadequada. 
Dentro desta categoria, as teorias éticas que mais se destacam são três: 
 
➢ Utilitarismo; 
➢ Hedonismo; 
➢ Egoísmo racional. 
 
O utilitarismo, como proposto por John Stuart Mill, é uma das mais bem-
sucedidas teorias éticas consequencialistas, contando com diversos defensores 
acadêmicos ainda hoje. Segundo esta teoria ética, para decidir se uma ação é 
adequada ou inadequada, deve-se observar o princípio da utilidade. 
Segundo o princípio da utilidade, uma ação é adequada eticamente se 
gera mais bem-estar para mais pessoas em relação a outra opção que se 
apresente, ou como John Stuart Mill afirmou, um dos principais teóricos do 
utilitarismo, a ação moral, a ação que maximiza a felicidade humana. 
O hedonismo(do grego hedone, significando “prazer” ou “vontade”) é 
uma das teorias éticas mais antigas, remontando à Grécia da tradição clássica. 
Proposto originalmente por Aristipo de Cirene e reformulado pelo iluminista 
Julien Offray de La Mettrie, esta teoria é baseada na ideia de maximizar o prazer 
e minimizar a dor como base para a definição de ações adequadas. 
 
24 
 
A princípio, pode parecer uma posição que tende ao desinteresse pelos 
altos padrões morais, diferente de outras teorias éticas, por focar no prazer. É 
importante notar, no entanto, que a ideia de prazer colocada no hedonismo é a 
de um prazer pela vida serena e não o prazer da euforia. 
Uma situação de prazer que tenha como consequência a preocupação ou 
que prejudique os outros indivíduos não é uma situação desejável do ponto de 
vista hedonista, apenas o prazer da verdadeira vontade, ou seja, o prazer de 
longo prazo que leva à felicidade é que pode ser considerado adequado para 
definir as ações de um indivíduo. 
Segundo Moore (1903), uma visão inadequada e de curto prazo do prazer 
está na base da agressão ao bem-estar dos outros e no limite do próprio 
indivíduo que age, por sacrificar o longo prazo em favor de um benefício pontual 
e passageiro. Assim, pode-se extrapolar as afirmações de Moore e pensar que 
uma compreensão adequada da serenidade é importante para que a cidadania 
seja exercida. 
Já o egoísmo ético, também chamado de egoísmo racional, tem como 
base o princípio do autointeresse e como método a colaboração com os outros 
indivíduos da nossa sociedade, sempre que os interesses forem coincidentes, 
ou seja, se o interesse dos outros auxilia nos interesses do indivíduo que age de 
qualquer maneira, então é adequado que ele auxilie os outros. 
Diferentemente das outras duas teorias, o egoísmo ético não depende do 
altruísmo para evitar um egoísmo radical, mas conta com a racionalidade para 
fazer um equilíbrio adequado entre egoísmo e colaboração. 
Note-se que, do ponto de vista do indivíduo que age motivado pelo 
egoísmo ético, os Direitos Naturais fazem parte dos interesses de qualquer 
indivíduo, então, toda vez que um indivíduo estiver defendendo estes interesses, 
colaborar com ele será adequado. 
Por outro lado, toda vez que uma ação parece violar estes direitos para 
qualquer indivíduo, o egoísta ético irá considerar que a ação é inadequada. 
Assim, o egoísmo ético não é de fato uma forma de egoísmo, mas uma tentativa 
de racionalizar o autointeresse garantindo a colaboração e evitando que pessoas 
más se aproveitem do altruísmo dos outros. 
Por defender que existem direitos fundamentais como princípios, mesmo 
sendo baseado em uma ideia finalista, diversos autores consideram que o 
 
25 
 
egoísmo ético é, na verdade, uma combinação de deontologia e 
consequencialismo, pois o indivíduo julga pela finalidade, mas age por 
convicção. 
Segundo o filósofo e teórico da justiça John Rawls, um dos mais 
importantes pensadores da ética contemporânea, a ideia que permeia todas 
estas teorias é a de que o bem-estar dos outros deve ser considerado antes de 
um indivíduo decidir por suas ações, pois ao colaborar para o bem-estar geral 
da humanidade, ou de sua comunidade local, o próprio indivíduo irá viver em 
uma condição melhor. Embora Rawls defenda esta ideia, argumenta que a 
deontologia é mais eficiente em evidenciar e colocá-la em prática do que as 
diferentes formas de consequencialismo. 
 
2.1.3 Deontológicas 
 
Tipos de teorias deontológicas: 
 
➢ Orientada ao agente; 
➢ Orientada ao paciente; 
➢ Orientada aos contratos. 
 
A deontologia orientada ao agente trata das discussões sobre o que o 
indivíduo que age deve ou não deve fazer por ser seu dever diretamente, ou por 
ser o dever de qualquer ser humano. 
Nesta categoria, encontra-se, por exemplo, o chamado “Princípio da Não 
Agressão”, que determina que é um dever de todo ser humano nunca iniciar uma 
agressão injustificada contra inocente. 
É orientada ao agente pois não importa quem seja o paciente (pessoa 
afetada pela ação), é uma regra válida para todos e é a base para uma ética das 
virtudes, baseada na coragem, na honestidade e em outras virtudes básicas que 
orientam a conduta. 
A ética cristã, por exemplo, é um caso de ética das virtudes, uma forma 
de deontologia orientada ao agente, pois exige que os indivíduos que aderem a 
este modelo de ética comprometam-se com certas virtudes e vivam suas vidas 
 
26 
 
de acordo com elas, independente de quem são as pessoas com as quais se 
relacionam ou do que é devido a elas. 
Ao pensar-se na influência da deontologia orientada ao agente nas leis, 
pode-se considerar as regras profissionais, nas quais um indivíduo tem deveres 
universais, independentemente de quem seja o cliente. 
A deontologia orientada ao paciente, por seu turno, trata das normas 
de conduta que são estabelecidas em razão dos direitos que outro indivíduo 
possui ou lhe são garantidos pelo simples fato de ser um ser humano. 
É orientada ao paciente por se basear naquele que é afetado pela ação, 
então, por exemplo, as leis que proíbem o roubo e o furto são baseadas neste 
tipo de deontologia, uma vez que o roubo é proibido não por ser uma infração de 
certas virtudes, embora também o seja, mas porque a pessoa que é roubada é 
proprietária do item roubado e, por isso, o indivíduo que efetuou o roubo tem o 
dever de não violar esta propriedade. 
Em um nível mais amplo, esta orientação se aplica às questões de doação 
de órgãos, relações sexuais, adoção, casos de corrupção que afetam a saúde 
das pessoas, atuação de professores e profissionais da saúde, entre diversas 
outras situações, pois a primeira propriedade, a propriedade mais fundamental, 
é a propriedade de si mesmo (corpo e mente). 
Os Direitos Naturais, que são base da deontologia orientada ao paciente, 
são também chamados de direitos negativos, pois informam principalmente 
sobre o que não pode ser violado, aquilo que um indivíduo possui por natureza, 
pelo simples fato de ser um ser humano. Estes direitos entrarão na esfera da 
cidadania a partir do jusnaturalismo, que será estudado no próximo item desta 
mesma aula. 
Porém, além dos direitos negativos, há também os direitos positivos, que 
são uma forma de se referir às garantias legais, ou seja, aqueles direitos e 
deveres que as sociedades estabelecem de comum acordo ou por meio de suas 
tradições e que serão diferentes em cada país. Estes direitos positivos são objeto 
da deontologia orientada aos contratos ou deontologia contratualista. 
Por exemplo, é porque o contrato estabelece o valor do aluguel que um 
indivíduo tem o dever de pagar e o outro o direito de receber. É porque o código 
de trânsito estabelece as regras para semáforo que um indivíduo tem o direito 
de passar e o outro o dever de esperar, de acordo com a indicação do semáforo. 
 
27 
 
É porque a sociedade brasileira estabeleceu o voto como um direito que 
os indivíduos que possuem cidadania brasileira têm o direito de votar, mesmo 
quando estão no exterior, e as autoridades estatais têm a obrigação de oferecer 
os serviços para que este direito seja exercido. 
Uma proposição fundamental da deontologia orientada aos contratos e 
que está de acordo com as bases da cidadania é a de que ninguém tem direito 
ao que depende de outra pessoa, por isso, se um indivíduo precisa de algo que 
depende de outra pessoa, ele deve estabelecer um contrato. 
Este contrato pode tomar a forma de um contrato simples entre duas 
pessoas ou de uma lei, que na interpretação de Rawls (1971) pode ser descrita 
como um contrato entre todos os indivíduos de uma mesma sociedade 
intermediado pelo Estado. 
 
2.1.4 Jusnaturalismo 
 
É a ideia de que as leis devem estar de acordo com o Direito Natural. A 
partir do jusnaturalismo, pode-se fazer a conexão entre a ética e o direito de 
forma mais rigorosa. 
 
 
Ética e direito conectados pelo jusnaturalismoFonte: elaborado pelo autor (2020). 
 
 
28 
 
Nem todas as teorias éticas e teorias do direito supõem que o 
jusnaturalismo deva ser seguido em todos os casos, mas todas elas levam este 
conceito em consideração para justificar suas recomendações de normas como 
uma forma de os indivíduos compreenderem as implicações de seu papel como 
cidadãos. 
Por esta razão, é relevante conhecer o conceito de jusnaturalismo e suas 
implicações ao adentrar à questão da cidadania e à questão dos direitos 
humanos. 
Deste ponto de vista, a grande questão da cidadania não é conhecer um 
conjunto de regras específicas que tornam o indivíduo um cidadão melhor, mas 
ser capaz de interpretar as regras e conhecer a forma pela qual elas são 
estabelecidas, a fim de melhor navegar por elas e participar das decisões que 
serão tomadas. 
 
2.1.5 Direitos e deveres de cidadão 
 
É importante manter em mente que a cidadania se refere a algo restritivo, 
trata-se de um compromisso entre o cidadão e o Estado que gerencia a nação 
na qual este cidadão vive, estabelecendo direitos e deveres de cidadão. Os 
direitos humanos que tratam de todos os indivíduos serão discutidos na próxima 
sessão. 
Não obstante, isto não significa que o que for estabelecido pela cidadania 
deve ser diferente do que é estabelecido pelos direitos humanos, de fato, ambos 
os conceitos trabalham em conjunto, pois mesmo um indivíduo que não é 
cidadão de um país deve ter sua individualidade e direitos fundamentais 
protegidos. 
A cidadania apenas adiciona uma camada de organização dentro da 
estrutura de uma sociedade específica, para que os indivíduos saibam quais são 
seus direitos e deveres enquanto cidadãos daquela região específica e possam 
assim colaborar mais adequadamente. 
 
 
 
 
 
29 
 
2.2 Direitos Humanos e a dignidade do ser humano 
 
A dignidade humana ou dignidade da vida humana é um conceito derivado 
dos direitos naturais que permite estabelecer a forma como deve-se relacionar 
com outros seres humanos, independentemente de sua posição, condição ou 
dos benefícios que se espera atingir. De um ponto de vista consequencialista, 
especialmente no utilitarismo, a dignidade humana só pode ser estabelecida 
quando se conhecem as consequências de cada ação. 
Esta seria uma abordagem muito eficiente, se os seres humanos fossem 
oniscientes, capazes de antecipar todas as consequências de suas ações, 
porém, como os seres humanos são naturalmente falhos em antecipar o futuro 
de longo prazo em todos os seus detalhes, a dignidade humana, para fins de 
estabelecimento dos direitos humanos, é definida a partir de padrões mais 
rigorosos. De um ponto de vista deontológico, diferente do consequencialista, a 
dignidade humana é fundamental e devida a todos os indivíduos humanos, 
estabelecendo, assim, a base para o artigo primeiro da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos. 
 
 
Chefe da Comissão para os Direitos Humanos, Eleanor Roosevelt 
(direita), com Hansa Mehta, representante da Índia, em 1º de junho de 
1949 
Fonte: https://c1.staticflickr.com/1/673/31145727960_513e335155_b.jpg 
 
 
30 
 
Enquanto a cidadania é restritiva aos cidadãos de determinada nação, a 
dignidade humana é parte integrante do que significa ser humano, dessa forma, 
um indivíduo que viaja a outro país pode não ter direitos de cidadão, como votar 
ou usar o sistema de saúde local, mas mantém seus direitos humanos e, se cair 
em uma situação que fere a sua dignidade, deverá ser resgatado ou auxiliado. 
É por esta razão que, por exemplo, tráfico de pessoas e tortura são 
considerados infrações aos direitos humanos, pois mesmo uma pessoa presa ou 
fora de seu país deve ter sua dignidade respeitada. 
Cidadania e Dignidade Humana são dois níveis diferentes dentro do 
sistema de normas da civilização humana (o sistema composto por moral, ética 
e direito), cada um com funções diferentes, mas a dignidade é mais fundamental, 
a cidadania pode ser negada a um indivíduo, mas a dignidade é inerente ao ser 
humano e jamais pode ser negada. 
 
2.3 Os direitos humanos como fenômeno histórico-cultural 
 
Embora tenha raízes muito antigas, a questão dos direitos humanos na 
forma como é conhecida atualmente, começa a ser formulada já no período do 
Renascimento e ganha força no Iluminismo e empirismo britânico. Isso porque a 
ideia de que os indivíduos deveriam ser respeitados, independentemente de sua 
posição hierárquica, se mostrava como uma forma mais eficiente de gerir as 
sociedades. 
John Locke, Immanuel Kant, David Hume e outros autores clássicos 
defenderam que a partir da ideia de dignidade humana e da compreensão de 
que há Direitos Naturais, era preciso reconhecer que todos os seres humanos 
possuem alguns direitos, independentemente de qualquer distinção que possa 
haver entre eles; foi o começo da era da igualdade de direitos. 
 
 Saiba mais 
Para saber um pouco mais sobre as origens desta discussão e sobre os autores 
do empirismo britânico e iluminismo, veja a entrada enciclopédica sobre John 
Locke. Disponível em: https://www.infoescola.com/filosofos/john-locke/ 
 
https://www.infoescola.com/filosofos/john-locke/
 
31 
 
No começo do século XX, diversas atrocidades mostraram a importância 
de se retomar o diálogo sobre direitos humanos e dar atenção aos autores aqui 
citados que argumentaram em favor desta causa. 
A título de memória histórica, é preciso recordar que estas atrocidades 
incluíram o genocídio de judeus sob o comando do Partido Nacional Socialista 
dos Trabalhadores Alemães, a fome generalizada causada pelo confisco da 
produção dos ucranianos por Joseph Stalin, líder da União das Repúblicas 
Socialistas Soviéticas, as experiências cruéis promovidas pelo doutor Joseph 
Mengele e suas equipes nos campos de concentração durante a Segunda 
Guerra Mundial, o genocídio promovido pelas tropas japonesas em regiões 
agrárias da China e ilhas próximas, entre diversos outros casos. 
Estes casos levaram a discussões que culminaram em documentos 
importantes, como o Documento de Nuremberg e a própria Declaração Universal 
dos Direitos Humanos, mas também a criação de instituições de defesa e 
fiscalização em diversos países, bem como a reformulação da legislação dos 
países membros das Nações Unidas, a fim de evitar atrocidades sem sacrificar 
a soberania nacional. 
Em 1948, foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos a 
partir de uma reunião em 1945, ocorrida na Rússia durante a Conferência de 
Yalta, da qual participaram líderes dos Estados Unidos da América, União 
Soviética e Reino Unido. 
Embora nenhum dos países que emergiram como potências após a 
Segunda Guerra Mundial fosse isento de responsabilidade por infrações durante 
a guerra, havia um compromisso de se estabelecer bases que possibilitassem a 
paz entre as nações e o respeito aos indivíduos dentro destas nações, mesmo 
que as formas de governo, organização do estado e ideologia dominante fossem 
diferentes. 
A declaração resultante procurou ser universal o bastante para 
estabelecer um critério mínimo que pudesse ser respeitado por todos os países 
e todas as culturas do mundo, caso contrário, não teria força suficiente para se 
impor e os outros países não poderiam criticar aqueles que a violassem. 
 
 
 
 
32 
 
2.3.1 Relativismo e seus problemas 
 
Na questão de se investigar os direitos humanos como um fenômeno 
histórico-cultural, sempre surge a discussão acerca do que é aceitável como uma 
mera diferença cultural e o que pode constituir um abuso aos indivíduos 
humanos que vivem em determinada sociedade ou região. 
No limite, trata-se de distinguir as questões de diversidade cultural e de 
diversidade moral, investigando se ambas existem e se são adequadas do ponto 
de vista de uma civilização comprometida com a ideia de que existem certos 
direitos fundamentais, sejam os Direitos Naturais ou os direitos humanos. 
Uma das principaisconclusões da ética contemporânea, 
independentemente da linha, é a de que, embora o relativismo cultural seja bem 
aceito e relevante, o relativismo moral é falso. 
Com esta distinção, antes de qualquer coisa, é preciso esclarecer os 
conceitos e, para isso, perguntar-se: 
Qual a diferença entre o relativismo cultural e o relativismo moral? 
 
➢ O relativismo cultural estabelece apenas que existem diferentes 
culturas, com diferentes gostos e que estas variações da cultura 
humana devem ser respeitadas. Bem, para respeitá-las, é preciso 
compreendê-las e entrar em um consenso sobre o que é mais 
adequado fazer. 
 
Quando se fala em "consenso", entra-se no âmbito da ética. Se o 
consenso é possível, então existem padrões de compreensão que permitirão o 
diálogo, existe algo que é comum entre as diferentes culturas, de modo que uma 
cultura não pode classificar a outra como má imediatamente. 
 
➢ O relativismo moral, por seu turno, leva esta ideia às últimas 
consequências, ao afirmar que nenhuma ação realizada por um 
indivíduo de outra cultura pode ser considerada má. 
 
Relativismo moral é a recusa de um aspecto quase óbvio da sociedade 
atual, a recusa da ideia de que há uma distância muito grande entre comer uma 
 
33 
 
comida diferente e cometer uma atrocidade, uma diferença entre cultura e 
moralidade. 
De fato, o relativismo cultural mostra que o relativismo moral é falso, pois, 
se existem padrões de racionalidade que permitem que duas culturas dialoguem 
a ponto de definir o que é aceitável em cada uma delas, é por existirem certos 
padrões mínimos que podem ser compreendidos por ambas as culturas. 
Tomemos como exemplo a seguinte proposição: 
 
Não agredirás um inocente sem causa justificável. 
 
Esta é uma proposição que funciona nesta forma genérica para qualquer 
cultura humana conhecida, pois os seres humanos, por natureza, abominam a 
agressão contra inocentes. Agredir um inocente seria uma infração grave aos 
direitos humanos e uma ofensa a qualquer cultura. 
Diferentes culturas podem discordar quanto aos critérios para estabelecer 
a inocência de uma pessoa específica ou de uma ação específica, mas 
concordarão que agredir um inocente é inadequado, portanto, imoral. 
Se uma sociedade permite a agressão de inocentes, esta sociedade será 
considerada uma aberração moral do ponto de vista das outras sociedades, não 
por serem elas parecidas neste aspecto, mas por serem compostas de seres 
humanos capazes de empatia e compaixão, portanto, trata-se de um caso de 
uma ação universalmente aceita como má. 
 
 Saiba mais 
Adam Smith é conhecido por seus trabalhos em política e economia, mas o 
pensador britânico também escreveu importantes artigos sobre as relações 
humanas para além destes temas. O artigo “Da Empatia” é uma análise curta, 
mas profunda, da forma como nos relacionamos e como podemos sentir a dor 
dos outros, mesmo quando ela não nos afeta diretamente. Disponível em: 
https://criticanarede.com/filos_etica.html 
 
 
34 
 
Estas culturas estabelecerão padrões baseados na conclusão de que tal 
ação é imoral, padrões agora éticos, para garantir que exista um consenso sobre 
o que se deve ou não fazer (consenso sobre o dever). 
Por fim, se tudo correr bem, estas culturas estabelecerão leis, para evitar 
que aqueles indivíduos que não se importam com os outros realizem o ato imoral 
e antiético de agredir um inocente. 
Dessa forma, o relativismo moral tem o efeito contrário ao que se 
esperaria dele, ao invés de ser uma abordagem que vai permitir respeitar as 
diferenças, ele atrapalha os processos que permitem à sociedade se organizar 
para que todos saibam como respeitar as diferenças. 
 
 Importante 
O relativismo moral tem efeito contrário ao esperado, ele impede o diálogo e o 
respeito às diferenças. 
 
Portanto, do ponto de vista do conceito de ética e das abordagens 
contemporâneas do tema, a única maneira de se pôr em harmonia a ética, a 
moral e o direito, estabelecendo um diálogo em sociedade, respeitando as 
diferenças culturais e individuais é negar o relativismo moral. 
 
 Saiba mais 
Em seu artigo clássico "Relativismo: Algumas questões filosóficas" Anthony 
Weston esclarece as implicações do relativismo moral para a teoria da ética e, 
principalmente, para o comportamento humano cotidiano, incluindo discussões 
sobre cidadania e direitos humanos. Com tradução para o português de Luís 
Filipe Bettencourt, este é um artigo seminal para o estudo da ética. Disponível 
em: https://criticanarede.com/relativismo.html 
 
Conclusão da aula 2 
 
Chegamos ao final da segunda aula, na qual foram exploradas as 
diferentes teorias éticas, dentro das duas categorias mais importantes, a 
https://criticanarede.com/relativismo.html
 
35 
 
deontologia e o consequencialismo. A partir da compreensão das diferentes 
teorias e de como os seres humanos se relacionam a elas, explorou-se a questão 
de como a ética influencia aspectos da vida humana em sociedade, em particular 
a cidadania e a questão dos direitos humanos. 
Na questão da cidadania, explorou-se as suas diferentes facetas, no 
aspecto legal, social e de inter-relação das instituições. Na questão dos direitos 
humanos, foi apresentado o conceito de dignidade da vida humana, por vezes 
referido como dignidade do ser humano, que permite compreender a base 
universal desses direitos, cuja formulação mais recente aparece na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, mas que tem base nos direitos individuais e de 
natureza, assim como estes direitos devem ser interpretados e aplicados. 
 
Atividade de aprendizagem 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos pretende se estabelecer como 
um compromisso solene de todas as nações civilizadas, mesmo que não 
tenha força de lei foi adotada pela maioria desses países. Descreva em no 
máximo 15 linhas como a existência de uma declaração deste porte auxilia a 
dar uma base estável para a cidadania. Para responder, você pode se basear 
na ideia de jusnaturalismo e na deontologia. 
 
 
 
Aula 3 – A responsabilidade social e sustentabilidade empresarial 
 
Apresentação da aula 3 
 
Olá estudante, seja bem-vindo à terceira aula, nesta aula inicia-se uma 
fase de abordagem mais prática, será explorada uma questão de ética aplicada 
que avança sobre diversos campos das atividades humanas, mas que afeta em 
particular as atividades produtivas voltadas ao consumo, como a indústria e o 
comercio. 
Discutir-se-á a relação entre a responsabilidade e a sustentabilidade no 
âmbito empresarial a partir do conceito de ética empresarial, um ramo aplicado 
na ética, cujo principal conceito nas décadas recentes é o compliance. 
 
36 
 
Nestas discussões será dado tratamento ao papel do consumidor nas 
questões da sustentabilidade e as ferramentas que permitem conciliar 
desenvolvimento com sustentabilidade, tanto nas empresas públicas quanto 
privadas, do ponto de vista da gestão. 
 
3.1 Ética Social e Ética Empresarial 
 
Ética empresarial é um ramo aplicado da ética que procura organizar as 
relações profissionais em uma empresa ou outro tipo de organização 
semelhante. 
Em geral, a literatura especializada analisa e apresenta a ética 
empresarial em conjunto com a ética profissional, pois, como ficará mais claro 
adiante, ambas são dois lados da mesma situação corporativa, uma organizando 
a relação do ponto de vista do conjunto de indivíduos que atuam em direção a 
um propósito, conjunto que chama-se "empresa" (ética empresarial), e a outra 
atuando do ponto de vista do profissional qualificado que irá exercer suas 
atividades nesta empresa (ética profissional), portanto, influenciar o andamento 
do todo. 
Não obstante, para que seja possível compreender o papel de cada uma 
delas e, especialmente, o papel dos agentes em relação às normas 
estabelecidas em cada uma delas, é preciso considerá-las individualmente. 
 
3.2 Desenvolvimento e sustentabilidadeA ética empresarial é o ramo aplicado da ética que estuda as relações 
dentro de uma empresa e entre empresas, mas também a relação da empresa 
com a sociedade, incluindo o Estado. É neste ramo da ética que se insere a 
questão da relação entre o desenvolvimento e a sustentabilidade. 
Entre os principais conceitos que permitem compreender o fluxo de 
funcionamento e as obrigações da ética empresarial, bem como compreender a 
técnica necessária para conciliar desenvolvimento e sustentabilidade, é possível 
destacar cinco conceitos: 
 
➢ Saber ético; 
 
37 
 
➢ Ética das virtudes; 
➢ Responsabilidades empresariais; 
➢ Confiabilidade; 
➢ Sustentabilidade. 
 
O saber ético é um conceito que se refere a certo conjunto de habilidades 
de um grupo, não é uma característica individual, mas coletiva. Os indivíduos 
possuem moral e os grupos possuem saber ético. 
Da mesma forma que há o saber técnico de um setor ou grupo de 
profissionais, que é o conjunto de conhecimentos e habilidades que os 
profissionais juntos possuem para resolver os problemas técnicos, também 
existe o saber ético, que pode ser descrito como o conjunto de conhecimentos 
ou habilidades que um grupo de profissionais de uma empresa ou setor possuem 
para lidar com as questões éticas e resolver conflitos morais. 
 
 Importante 
O saber ético é a versão normativa do saber técnico, a soma das habilidades 
dos membros de um setor ou empresa para resolver problemas. 
 
E quando as pessoas não agem em direção à solução do problema? 
Neste caso, podem estar ocorrendo duas coisas. A primeira e menos grave é 
que os indivíduos podem desconhecer as normas ou a forma pela qual se pode 
resolver o problema, neste primeiro caso, falta saber ético. 
O segundo caso é mais grave; se os indivíduos possuem o conhecimento 
para resolver o problema, para dialogar adequadamente e entrar em consenso, 
mas decidem não fazê-lo, dando vazão excessiva às emoções e ignorando as 
soluções racionais, pode ser o caso de que há saber ético, mas há também uma 
decisão moral de não utilizá-lo. 
Em algumas situações, este tipo de comportamento tem origem em um 
ou mais indivíduos que perderam a confiança na empresa, em seus colegas ou 
no próprio trabalho, levando a uma indisposição geral do setor de se organizar 
para dialogar adequadamente. 
 
38 
 
Há ainda um terceiro caso, no qual os gestores tendem a não pensar, mas 
que pode acontecer. Eventualmente, pode-se ter um indivíduo que age de forma 
má, mesmo com conhecimento e mesmo com um ambiente empresarial 
saudável. 
Para os dois primeiros casos há solução e ela se dá pelo uso dos 
conceitos seguintes, para o terceiro caso, a solução é mais simples, embora mais 
dolorosa, a eliminação do membro problemático. Se depois de treinamentos e 
orientações o indivíduo não consegue se adequar, ele, por uma falha moral ou 
por falta de interesse, decidiu não contribuir para o saber ético e para sua 
concretização. 
Assim, passa-se para o âmbito do direito, pode-se afirmar que o indivíduo 
optou por aceitar tacitamente a punição, a demissão. 
O indivíduo é livre para não se adequar, mas deve aceitar as 
consequências desta inadequação. 
 
 Importante 
O fato de que o saber ético está presente no setor não significa que todas as 
atitudes estarão de acordo com ele. 
 
A ética das virtudes, quando aplicada no âmbito empresarial, é uma 
ferramenta de análise e filtro das sugestões e atitudes dos colaboradores e 
gestores. 
Tradicionalmente, a ética das virtudes inclui várias virtudes relevantes 
para o indivíduo, mas, do ponto de vista da empresa, as virtudes fundamentais 
são apenas duas: 
 
➢ Coragem; 
➢ Honestidade. 
 
Porém, diferente do que acontece com os indivíduos, para a empresa não 
basta agir de modo corajoso e honesto, é preciso preocupar-se com a reputação, 
ou seja, é importante que os clientes, fornecedores, colaboradores e a sociedade 
 
39 
 
em geral percebam que a empresa, principalmente na figura de seus gestores, 
está agindo de modo honesto. 
Caso isso não aconteça, haverá uma perda de confiabilidade, ou seja, a 
empresa deixará de cumprir os critérios que permitem ao cliente confiar 
tranquilamente em seu trabalho e passa a perder reputação na sociedade, 
especialmente com seus clientes diretos. 
Pautar-se pela ética das virtudes significa treinar todos os colaboradores 
para que filtrem as sugestões oriundas do saber ético por meio destas duas 
virtudes fundamentais, a coragem e a honestidade. 
Na prática, significa que se uma sugestão que veio do setor X e caso 
aplicada irá dar a impressão de desonestidade para o cliente, então esta 
sugestão não é adequada e deve ser recusada. 
Mais que isto, o colaborador que deu a sugestão deve ser informado dos 
motivos pelos quais ela foi recusada, para que possa compreender o processo 
e ajudar a aperfeiçoar o saber ético do setor no qual atua. 
Vejamos um exemplo muito simples, mas prático e usual. Em uma 
empresa que fornece materiais para a montagem de máquinas pesadas, 
percebe-se que uma solda não foi realizada de modo limpo, ela está firme, mas 
a aparência não está de acordo com o padrão. 
Uma sugestão que pode surgir é a de que se mantenham as soldas que 
já foram feitas e que se tome mais cuidado com as próximas, afinal, não há risco 
para a integridade do maquinário e, por isto, não há risco para as pessoas, sendo 
que enviar as peças daquela forma não seria uma infração ética. 
Porém, é preciso considerar que o cliente pode não saber que a peça está 
em perfeito estado de uso e julgar a qualidade com base na aparência da peça, 
que foge ao padrão normalmente entregue pela empresa. 
A confiança humana é dependente de muitos fatores e nem sempre todos 
estes fatores estão sob o controle de quem age, por isso, a cautela é necessária 
ao se trabalhar com pessoas. 
A fim de evitar problemas, o gestor filtra a sugestão pelo critério da 
honestidade e percebe que enviar as peças daquela forma pode fazer com que 
o cliente desconfie de uma situação de desonestidade, assim, decide agir pela 
coragem, assumir o custo mais alto de produção e corrigir as peças antes de 
enviar ao cliente. 
 
40 
 
É dessa forma que a ética das virtudes funciona como um filtro das 
sugestões e ações que surgem dentro de uma empresa ou setor e este exemplo 
pode ser generalizado para qualquer empresa, seja pública ou privada. 
Éticas, virtudes e saber ético dão conta da parte mais focada na relação 
humana dentro e fora da empresa, mas é preciso considerar ainda aspectos 
legais que afetam a atividade da empresa e a sua reputação, estes aspectos são 
incorporados ao conceito de responsabilidades empresariais. 
As responsabilidades empresariais são três: 
 
➢ Social; 
➢ Ambiental; 
➢ Financeira. 
 
A responsabilidade social trata de todos os aspectos da atividade da 
empresa que envolvem pessoas. Isso engloba prevenção de acidentes de 
trabalho, garantia de ambiente saudável, redução do estresse sempre que 
possível, evitar horas extras ou cobranças desnecessárias, entre diversas outras 
condições que irão variar de acordo com o setor no qual se atua. 
Por exemplo, na administração de empresas, as cobranças excessivas, 
as horas extras desnecessárias, que ocorrem geralmente por desorganização 
do setor, o estresse e os problemas ergonômicos são os principais alvos da 
responsabilidade social. 
Eventualmente se vê o uso do termo “responsabilidade social” para se 
referir às atividades filantrópicas de uma empresa, sendo que estas atividades 
são muitas vezes utilizadas para disfarçar problemas internos que demandam 
solução. 
Embora estas atividades filantrópicas sejam louváveis, em ética 
empresarial entende-se que tudo começa dentro da empresa e que o foco da 
responsabilidade social deve ser os indivíduos que atuam diretamente em 
contato com a atividade produtiva e apenas em segundo lugar o restante da 
sociedade. 
Da mesma formaque se diz que um indivíduo não pode querer mudar o 
mundo sem organizar a própria vida, uma empresa não deve gastar recursos 
 
41 
 
com atividades externas de filantropia se seus colaboradores estão em risco de 
acidentes ou trabalhando em condições inadequadas. 
 
 Saiba mais 
É importante compreender como são classificadas legalmente as infrações, 
como dolo e culpa, pois na legislação brasileira estas categorias se aplicam tanto 
aos indivíduos quanto às empresas. Este é um conhecimento na interpretação 
dos deveres e infrações, por isso é recomendada a leitura do editorial "Dolo e 
culpa" do caderno "Para entender Direito", da Folha de São Paulo. Disponível 
em: https://goo.gl/0Y1kj9 
 
A responsabilidade ambiental, como o nome indica, trata das normas que 
obrigam a empresa a prevenir impactos no ambiente natural de sua atividade ou 
daquelas normas que a empresa escolheu seguir voluntariamente para mostrar 
que se importa com esta questão ambiental. 
Por exemplo, uma empresa pode decidir buscar uma certificação 
ambiental, mesmo que não seja obrigada legalmente, para mostrar que está 
preocupada com essa questão e assim angariar a confiança dos clientes, 
colaboradores e da sociedade em geral. 
Para diversos autores, a responsabilidade financeira é a responsabilidade 
crucial de qualquer empresa, pois sem recursos nada pode ser melhorado em 
termos sociais e ambientais. 
De forma geral, a responsabilidade financeira inclui tudo o que se refere 
aos recursos financeiros da empresa, incluindo seus gastos com impostos e a 
responsabilidade de cumprir com as obrigações, pagando os fornecedores, 
colaboradores e outros credores da maneira mais eficaz possível, gerando lucros 
e evitando prejuízos. 
Uma empresa, seja pública ou privada, que não dê a devida atenção a 
este aspecto da responsabilidade irá acabar sem recursos para executar suas 
atividades e consequentemente terá de fechar. Se a sustentabilidade é o 
objetivo, é preciso lembrar que sem recursos não há sustento no longo prazo, 
que é a base da sustentabilidade. 
A confiabilidade, por seu turno, é o resultado de uma empresa que 
cumpre com todos os elementos até aqui abordados, uma empresa que oferece 
https://goo.gl/0Y1kj9
 
42 
 
aos seus clientes, fornecedores e colaboradores motivos pelos quais eles devem 
confiar que ela executará sua atividade adequadamente, sem colocar pessoas 
em risco, sem afetar negativamente o meio ambiente natural e sem se expor a 
riscos financeiros que possam levá-la a fechar as portas. 
Por fim, a sustentabilidade é o resultado completo de todo este processo. 
 
 Importante 
Sustentabilidade é a capacidade de uma empresa de se manter ativa e lucrativa 
a longo prazo. 
 
Para que isso ocorra, é preciso ter a confiança dos clientes, não esgotar 
os recursos, sejam naturais ou financeiros, e não colocar em risco as pessoas, 
mas também é preciso tomar decisões estratégicas com base no conhecimento 
técnico e ético e filtrar este conhecimento por meio de uma atitude corajosa e 
honesta. 
Assim, a sustentabilidade é o resultado de um processo de construção da 
imagem e da estrutura da empresa e não apenas um objetivo de curto ou médio 
prazo relativo às questões ambientais, como muitas vezes é abordado. 
 
3.3 O que é preciso fazer para alcançar o desenvolvimento sustentável 
 
Para atingir o desenvolvimento sustentável, é preciso combinar as 
ferramentas éticas e de gestão e organizar empresas, profissionais e sociedade 
para que se possa utilizar as tecnologias em prol deste objetivo. 
Não é tarefa fácil e, por isso, nesta aula será estudada a ética empresarial, 
para que profissionais (indivíduos que fazem parte da sociedade) e empresas 
(grupos organizados em torno de um objetivo) possam colaborar entre si para o 
desenvolvimento de novas estratégias. 
Uma das estratégias mais populares na atualidade é o compliance, que 
permite compreender um plano básico de aplicação dos conceitos da ética e 
combiná-los às regras locais, sem restringir-se excessivamente quanto às 
possíveis mudanças futuras, tanto culturais quanto legislativas. 
 
43 
 
O compliance, também chamado de “conformidade normativa”, pode 
ser considerado como uma ferramenta que une a ética empresarial e as 
ferramentas de gestão, embora seja normalmente abordado dentro do contexto 
da ética empresarial. 
 
 
Desenvolvimento sustentável 
Fonte: https://www.playgrama.com.br/wp-content/uploads/2016/07/desenvolvimento-
sustentavel.jpg 
 
Em sua forma mais simples, o compliance trata de seguir as regras 
adequadamente, ajustando os processos para que estas regras sejam 
cumpridas. 
Não obstante, apenas seguir as regras não é o bastante, especialmente 
em um país com regras tão complexas e com tantas possibilidades de atuação 
quanto o Brasil. É preciso pensar as regras estrategicamente. 
 
 Importante 
Compliance não é apenas seguir as regras, mas conformar-se voluntariamente 
às regras adequadas para os objetivos propostos. 
 
Assim, existem duas formas de apresentar o compliance: 
 
44 
 
➢ Modo formal; 
➢ Modo prático. 
 
No modo formal, o compliance é apresentado como: cumprir e fazer com 
que se cumpram as normas de maneira que se produza um aperfeiçoamento 
dos processos levando ao desenvolvimento sustentável da empresa pelo 
envolvimento de todos. 
Já no modo prático, o enfoque é na maneira como se visualizará as 
regras no dia a dia da empresa, por isso, há um retorno aos conceitos da ética 
empresarial. 
O compliance, no modo prático de apresentação, pode ser descrito como 
uma busca em equilibrar as responsabilidades empresariais (social, ambiental e 
financeira) de maneira que o saber ético e a ética das virtudes possam juntos 
oferecer sugestões de aperfeiçoamento que não afetem negativamente as 
responsabilidades, angariando, com isso, a participação e a confiança de todos 
os stakeholders, colaboradores, clientes, fornecedores etc., que com isso irão 
contribuir para a sustentabilidade empresarial. 
Existem diversos treinamentos e programas de compliance diferentes, 
todos úteis, a depender do setor no qual a empresa atua, porém, os conceitos 
da ética empresarial são o fundamento de todos os treinamentos e programas 
de compliance e compreendê-los adequadamente permitirá ao gestor adaptar-
se a qualquer treinamento ou programa que venha a ser implantado em sua 
empresa e, inclusive, propor a implantação de um programa que tenha avaliado 
como adequado para o setor. 
 
3.4 O consumidor consciente como novo ator social 
 
Os conceitos da ética empresarial e o compliance como ferramenta não 
se limitam a empresas de maior ou menor porte, nem se limitam ao âmbito 
público ou ao âmbito privado. 
Se os indivíduos agirem conforme os padrões estabelecidos na ética 
empresarial, os resultados de confiabilidade serão percebidos em qualquer setor 
em que atuem. 
 
45 
 
De fato, só há desenvolvimento empresarial e progressão, tanto financeira 
quanto de organização corporativa, quando as condutas estão alinhadas com a 
ética empresarial. 
Isso leva à questão do desenvolvimento, mais precisamente do conceito 
de desenvolvimento sustentável, que é uma aplicação da questão geral da 
sustentabilidade, presente na ética empresarial. 
Quando se tratou da ética empresarial, um dos itens que mais se 
destacam é a confiabilidade. A empresa que perde a capacidade de despertar a 
confiança de seus clientes perde a capacidade de ser sustentável. 
Este é, em grande medida, o papel do consumidor consciente na 
sustentabilidade tanto empresarial quanto em seu sentido ambiental ou mesmo 
social. 
Sam Walton, fundador do Wal Mart, fazendo uma referência a um conceito 
clássico da Teoria Geral da Administração em sua vertente comportamental, 
costumava dizer que o cliente, ao levar seu dinheiro para gastar em outro lugar, 
na verdade está conceitualmente demitindo todos os membros de uma empresa. 
Esta ideia

Continue navegando