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Livro Texto - ECONOMIA E MERCADO

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Prévia do material em texto

Autores: Prof. Maurício Felippe Manzalli
 Prof. Claudio Ditticio 
Colaborador: Prof. Adalberto Oliveira da Silva
Economia e Mercado
Professores conteudistas: Maurício Felippe Manzalli / Claudio Ditticio
Maurício Felippe Manzalli
Possui graduação em Economia pela UNIP (1995) e é mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo (2000). Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração 
e também é coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma universidade, tanto na modalidade presencial 
quanto na Educação a Distância. Tem experiência em administração e finanças, notadamente nas áreas ligadas ao 
setor de transporte de passageiros, atuando há 29 anos no ramo.
Claudio Ditticio
Graduado em Economia (1973) pela Universidade de São Paulo. Possui mestrado em Economia Política pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007). Participou de cursos de Especialização em Métodos Quantitativos, 
Banking, Marketing, Processos Administrativos e Operacionais, Derivativos, Avaliação de Empresas e Tecnologia da 
Informação. Possui uma larga experiência profissional como administrador e diretor de instituições financeiras 
de varejo e atacado e em empresas comerciais. Também atuou em consultoria de economia e de análise política. 
Foi professor e pesquisador da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município (TCM) de São Paulo. Atua na 
Educação a Distância na UNIP como professor conteudista e coordenador do curso de Tecnologia em Gestão Pública 
e ministra aulas nessa modalidade. É professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação, lecionando em 
vários campi da UNIP nas disciplinas relacionadas, principalmente Economia, Finanças, Administração, Contabilidade, 
Tecnologia da Informação, Matemática e Estatística.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M296e Manzalli, Maurício Felippe.
Economia e mercado. / Maurício Felippe Manzalli, Claudio 
Ditticio. - São Paulo: Editora Sol, 2020.
248 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Economia e mercado. 2. Sistemas econômicos. 3. Metas para 
inflação. I. Ditticio, Claudio. II. Título.
CDU 336.7
U507.20 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Profa. Sandra Miessa
Reitora em Exercício
Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini
Vice-Reitora de Administração
Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia
Vice-Reitor de Extensão
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades do Interior
Unip Interativa
Profa. Elisabete Brihy
Prof. Marcelo Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático
 Comissão editorial: 
 Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
 Profa. Dra. Angélica L. Carlini
 Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista
 Profa. Deise Alcantara Carreiro
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Vitor Andrade
 Elaine Pires
Sumário
Economia e Mercado
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 11
Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA ....................................................................................... 15
1.1 Muito mais necessidades do que recursos para atendê-las ............................................... 15
1.2 Bens para a satisfação das necessidades .................................................................................... 17
1.3 Os variados fatores de produção ................................................................................................... 18
1.4 Os agentes que atuam na economia ............................................................................................ 19
1.5 A convivência com a escassez ......................................................................................................... 21
1.6 Os rendimentos decrescentes .......................................................................................................... 25
1.7 Pensamento na margem ................................................................................................................... 26
1.8 O custo de oportunidade .................................................................................................................. 27
2 SISTEMAS ECONÔMICOS .............................................................................................................................. 29
2.1 O que são sistemas econômicos? .................................................................................................. 29
2.2 Questões que devem ser resolvidas em cada tipo de sistema econômico ................... 29
2.3 Os sistemas econômicos na atualidade....................................................................................... 30
2.4 Externalidades que afetam o livre funcionamento das economias baseadas 
nos livres mercados de bens e serviços e de fatores de produção .......................................... 34
2.5 Diferentes sistemas econômicos ao longo da história.......................................................... 36
2.6 Sistemas baseados na tradição ....................................................................................................... 36
2.7 Sistemas baseados no comando .................................................................................................... 37
2.8 Sistemas baseados no mercado ...................................................................................................... 38
Unidade II
3 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO .............................................................................. 43
3.1 A demanda por bens e serviços ...................................................................................................... 43
3.2 A oferta de bens e serviços .............................................................................................................. 48
3.3 O equilíbrio de mercado .................................................................................................................... 50
3.4 As elasticidades da demanda e da oferta de bens e serviços ............................................. 53
3.5 Elasticidade-preço da demanda ..................................................................................................... 54
3.6 Elasticidade-preço cruzada da demanda ................................................................................... 59
3.7 Elasticidade-renda da demanda ..................................................................................................... 59
3.8 Elasticidades da oferta ....................................................................................................................... 60
3.9 Outras aplicações do conceito de elasticidade ........................................................................ 61
3.10 Medidas de elasticidade de alguns produtos ......................................................................... 62
4 AS ESTRUTURAS DE MERCADOS .............................................................................................................. 63
4.1 Que papel os mercados desempenham na economia? .........................................................63
4.2 Os grandes mercados da economia .............................................................................................. 64
4.3 Mercados em concorrência perfeita ............................................................................................. 65
4.4 Mercados monopolistas ..................................................................................................................... 66
4.5 O oligopólio ............................................................................................................................................ 70
4.6 Concorrência monopolística ............................................................................................................ 72
4.7 Mercados com forte concorrência pelo lado do consumidor ............................................ 72
4.8 A matriz de Stackelberg ..................................................................................................................... 73
Unidade III
5 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA ........................................................................................................ 79
5.1 Medição do produto nacional ......................................................................................................... 82
5.2 Identidade entre produto, despesa e renda nacional ............................................................ 83
5.3 Valor bruto da produção e valor agregado ................................................................................ 86
5.4 Demais medidas agregadas .............................................................................................................. 88
5.5 Indicadores de crescimento e de desenvolvimento econômico ........................................ 90
5.5.1 Medidas de crescimento: o PNB e o PIB ....................................................................................... 90
5.5.2 Medidas de desenvolvimento: IDH, Curva de Lorenz e Índice de Gini .............................. 92
5.6 O papel do Estado na atividade econômica .............................................................................. 97
5.6.1 Falhas de mercado .................................................................................................................................. 97
5.6.2 Funções do governo ............................................................................................................................108
5.6.3 Políticas macroeconômicas e seus instrumentos .................................................................... 112
6 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ECONOMIA MONETÁRIA ...............................................................119
6.1 Funções e histórico da moeda ......................................................................................................119
6.2 Da moeda aos meios de pagamento ..........................................................................................123
6.3 Oferta de moeda .................................................................................................................................124
6.4 Demanda por moeda ........................................................................................................................131
6.5 As teorias de demanda por moeda .............................................................................................132
6.5.1 Teoria Quantitativa da Moeda (Fisher e Escola de Cambridge) ........................................ 132
6.5.2 A teoria monetária de Keynes ........................................................................................................ 137
6.5.3 Os modelos neoclássicos keynesianos ..........................................................................................141
Unidade IV
7 REGIME DE METAS PARA INFLAÇÃO .....................................................................................................150
7.1 Políticas de estabilização .................................................................................................................155
8 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .......................................................................157
8.1 Características de uma economia subdesenvolvida.............................................................157
8.1.1 Fundamentos teóricos da economia subdesenvolvida ..........................................................161
8.1.2 Considerações acerca do modelo de substituição de importações ................................. 166
8.2 Características do desenvolvimento ...........................................................................................170
8.3 Características do desenvolvimentismo enquanto prática e política ...........................172
8.3.1 Desenvolvimentismo no pensamento econômico brasileiro ............................................. 175
8.4 Breve história da economia brasileira contemporânea ......................................................177
8.4.1 De Collor a Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso .................................................. 178
8.4.2 Fernando Henrique Cardoso – primeiro mandato (1995-1998) ...................................... 185
8.4.3 Fernando Henrique Cardoso – segundo mandato (1999-2002) ...................................... 194
8.4.4 Proximidades das eleições de 2002 ............................................................................................... 211
8.4.5 Luiz Inácio Lula da Silva – primeiro mandado (2003-2006): a experiência 
do PT na presidência .......................................................................................................................................212
8.4.6 Luiz Inácio Lula da Silva – segundo mandato (2007-2010) ............................................... 220
8.4.7 Dilma Vana Rousseff – primeiro mandato (2011-2014) ...................................................... 225
8.4.8 Dilma Vana Rousseff – segundo mandato (2015-2016) ......................................................231
9
APRESENTAÇÃO
Este livro-texto traz, fundamentalmente, a discussão sobre a importância da economia para o 
desenvolvimento da vida na sociedade.
Na obra A Riqueza das Nações, Adam Smith destacava que o homem nasceu para viver de forma 
coletiva, fazendo as relações de trocas com outros seres humanos para atender às suas necessidades.
Como é caracterizado na obra O Livro da Economia (2013, p. 66):
No início do seu influente livro A Riqueza das Nações, Smith explica as 
diferenças entre a produção de uma coisa realizada por uma pessoa em 
todas as etapas e aquela realizada por diversas pessoas com uma tarefa 
para cada uma. Em 1776, Smith notou que se um homem faz um alfinete 
passando por todas as etapas necessárias ele “talvez não faça um alfinete 
em um dia”. Mas, ao dividir o processo entre diversos homens, cada qual se 
dedicando a uma só etapa, muitos alfinetes seriam feitos em um dia.
É o contexto da divisão do trabalho, que é utilizado como importante referência para que se entenda 
o aumento da produtividade na sociedade.
Na primeira parte do livro-texto, trataremos das questões relativas aos conceitos básicos e à 
microeconomia, que é o estudo do comportamento dos agentes econômicos e das funções básicas 
relacionadas com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços.
Assim, serão apresentados assuntos como:
• conceitos básicos de Economia;
• o problema econômico, concretizado no conflito entre as necessidades ilimitadas dos agentes 
econômicos e os recursos disponíveis para o seu atendimento;
• as leis da demanda e da oferta e as condições de obtenção do equilíbrio de mercado, entre preços 
e quantidades;
• os diferentes tipos de bens e serviços;
• as variadas estruturas de mercados.
 Observação
Incluiremos modelos que, apesar de simplificados, têm forte conteúdo 
explicativo dos diferentes fenômenos econômicos.
10
Subsequentemente, serão estudados os assuntos e variáveis que afetam de forma global a economia 
de uma regiãoou país, a chamada macroeconomia, para que assimilemos temas como:
• crescimento e desenvolvimento econômico;
• moeda e inflação;
• consumo e investimento agregados;
• desemprego;
• câmbio e balanças comerciais, de transações correntes e de pagamentos.
O texto provoca a reflexão sobre os tópicos relacionados com economia, em confronto com a atual 
realidade vivida pelas diferentes sociedades.
Você perceberá a relevância do conhecimento e da utilização dos conceitos trazidos pela economia, 
não só para o seu dia a dia como para os planos de crescimento.
Definitivamente já se foi o tempo em que a economia era considerada um assunto de interesse 
basicamente de pessoas ligadas ao mundo dos negócios, finanças ou que tenham atuação em unidades 
de governo.
Basta ver a profusão de notícias e informações nos diferentes tipos de mídias (escrita, falada etc.) 
abordando fatos e repercussões econômicas.
É vital sabermos os tipos de mercados nos quais nós e nossas empresas estamos atuando.
O que podemos esperar em termos de tópicos fundamentais para o nosso próprio desenvolvimento, 
como desemprego, inflação, crescimento da renda etc.?
Os assuntos rivalizam em interesse com os de outras esferas do conhecimento humano.
À medida que você conhecer melhor a Economia, perceberá que ela se relaciona com um grande 
conjunto de conceitos e informações de outras ciências, como Política, Ciências Sociais, Filosofia, 
Matemática, Estatística, Administração, Psicologia, Direito etc.
Esperamos que esta disciplina e, particularmente, este livro-texto possam ser de muita valia na 
discussão dos tópicos de economia.
11
INTRODUÇÃO
Desde a Antiguidade, não passavam despercebidos os estudos de economia. Vejamos o excerto da 
matéria do Diário de Notícias:
Discípulo de Platão, Aristóteles distinguiu as finanças da gestão doméstica e 
do comercial, tomando o dinheiro como unidade de troca. De acordo com a 
teoria aristotélica, as finanças eram naturais porque implicavam a aquisição 
de bens para garantir a autossuficiência, tendo em conta as necessidades 
práticas; ao passo que a gestão doméstica e o comércio permitiam alcançar 
a riqueza como um fim, sem limites (DN, 2011).
Assim como ocorreu com outras ciências, as mudanças trazidas pelas revoluções sociais e técnicas, 
entre as quais podemos destacar a Comercial e a Industrial, a partir do século XVI até a segunda metade 
do século XVIII, trouxeram uma nova dimensão aos estudos de economia.
 Saiba mais
A publicação do livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith (1983) é 
considerada como um marco do surgimento da economia moderna.
Afinal, o que é economia?
Wessels (2010, p. 9) indica:
Economia é o estudo de como as pessoas tomam decisões em face da 
escassez e, por sua vez, coordenam suas decisões por meio dos preços. 
Procura explicar o mistério de como indivíduos que nunca se comunicam 
diretamente entre si, que podem estar vivendo em lados opostos do mundo 
e que podem nem mesmo gostar uns dos outros se vierem a se conhecer, 
ainda são capazes de produzir e trocar os bens que cada um deseja. Ela 
procura examinar como bilhões e bilhões de decisões são tomadas de forma 
independente e, no entanto, são reunidas no mercado em uma forma 
harmoniosa e coordenada.
É imediata a associação com o uso mais comum do termo, que identifica procurar gastar menos do 
que o que fazemos ou fazíamos no passado. A associação, aqui, é com a palavra economizar.
Contudo, a necessidade de menor utilização de recursos, sobretudo financeiros, cobre apenas uma 
faceta do estudo dessa ciência.
12
A palavra-chave para entender o que é objeto do estudo em economia é escassez, quando não 
temos à nossa disposição tudo o que desejamos.
Essa escassez, portanto, faz com que tenhamos de fazer escolhas, entre outras, a respeito do que 
produzir e consumir.
Tais escolhas (e suas correspondentes restrições) configuram o que obtemos em termos de economia 
e que tipo de atendimento é prestado aos agentes sociais.
Entre as restrições que direcionam as escolhas dos agentes econômicos, podem ser entendidas as 
limitações financeiras, legais, de informação etc.
Guimarães e Gonçalves (2010, p. 184) indicam:
Economia é a ciência que estuda como os recursos escassos das sociedades 
são alocados tendo por base as decisões individuais de consumidores, 
trabalhadores, firmas etc. [...] é a ciência que analisa as escolhas individuais 
e suas interações.
No decorrer do texto, veremos explicações mais detalhadas sobre essas escolhas.
É preciso ressaltar a grande interação da Economia com os conhecimentos trazidos por outras 
ciências, como Administração, Filosofia e História. Temos um ótimo exemplo com a Política, que reflete 
momentos de crises, e assim uma ciência influencia a outra.
No período da pré-economia, anterior ao desenvolvimento da Revolução Industrial (desde o século 
XVIII), a atividade econômica era vista como parte integrante da Filosofia, Moral e Ética. Tal característica 
predominou durante toda a Idade Média.
Iniciou-se o estudo sistemático de economia a partir dos grandes avanços nas áreas de Física e 
Biologia (séculos XVIII e XIX):
• concepções organicistas: considerando funções, circulação, fluxos.
• concepções mecanicistas: relacionadas com as leis da Física, por exemplo, estática, dinâmica, 
aceleração, velocidade, forças etc.
Desenvolveu-se, posteriormente, a concepção humanística, admitindo maior impacto dos 
motivadores psicológicos da atividade humana e reforçando a característica da economia como uma 
ciência social.
A pesquisa histórica facilita a compreensão do presente e auxilia nas expectativas para o futuro.
13
A Economia tem muita influência no desenrolar dos fatos históricos. Mantém forte conexão com a 
Geografia, no trato das condições geoeconômicas dos diferentes mercados, concentração espacial dos 
fatores de produção, localização de empresas etc. Além da Política, interage com o Direito, haja vista as 
normas jurídicas estarem ligadas ou pautadas em razões de cunho econômico. A Economia se vale da 
Matemática e da Estatística, notadamente para a elaboração de previsões e para constatar adequação 
dos fatos às hipóteses formuladas pelas teorias econômicas.
15
ECONOMIA E MERCADO
Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA
1.1 Muito mais necessidades do que recursos para atendê-las
O confronto entre as necessidades infinitas reveladas pelos desejos dos agentes econômicos e a 
disponibilidade de recursos que se dispõem para atendê-las constitui o chamado problema econômico.
Surge, pois, o fenômeno da escassez, que é, nos dias atuais, cada vez mais presente nas preocupações 
dos seres humanos.
Quando se analisa, por exemplo, a questão do meio ambiente, irrompe a discussão dos meios que 
precisamos adotar para mantê-lo à disposição das faturas gerações – estamos destruindo as matas, 
reduzindo a diversidade etc.?
Sandroni (1999, p. 419) define necessidade como:
Exigência individual ou social que deve ser satisfeita por meio do consumo 
de bens e serviços. Para viver e reproduzir-se, o homem tem necessidades 
ligadas à alimentação, vestuário, moradia, educação e lazer. Algumas dessas 
necessidades (como a de alimentar-se) são de origem natural e biológica, 
enquanto outras são determinadas pela sociedade (como a educação). O 
meio social atua sobre as necessidades biológicas: a forma de atender à 
necessidade de comer, por exemplo, é dada socialmente pela tradição de 
hábitos alimentares. Há, ainda, necessidades individuais impostas pela 
ocupação e pela camada social à que pertence o indivíduo. De um modo 
geral, para sobreviver biológica e socialmente, o homem precisa de coisas 
tão diversas como pão, carne, casa, roupa, escolas, hospitais, ônibus, navios 
e trens. Essas coisas em economia são chamadas bens e são produzidas 
socialmente pelo conjunto dos homens, por meio do seu trabalho, em 
relação com a natureza. A satisfação das necessidades sociais não é algo 
natural e imediato, como ocorre em relação ao ar que se respira...São vários os estudos a respeito das necessidades, considerando-as fundamentalmente como 
individuais e coletivas.
Estudando os fatores que interferem na motivação dos indivíduos, o psicólogo norte-americano 
Abraham Maslow hierarquizou as necessidades, da base ao topo de uma pirâmide, representando-as do 
seguinte modo:
16
Unidade I
Status - Estima
Sociais
Segurança
Fisiológicas
Autorrealização
Figura 1 – Hierarquia das necessidades de Maslow
Entre as necessidades fisiológicas (da base da pirâmide), temos alimentação, sono, abrigo etc. 
Uma vez que estas são atendidas de forma geral, passa-se para as de segurança, como a proteção 
contra violências, preservação da saúde, manutenção de emprego como garantia de obtenção de 
recursos financeiros etc. Temos, a seguir, as sociais, como é o caso de formação e manutenção de 
amizades, aceitação em novos grupos, intimidade sexual e outros. Como necessidades de status e 
estima, podemos destacar: autoconfiança, reconhecimento, conquista e respeito dos outros. No topo 
da pirâmide, estão as necessidades de autorrealização, envolvendo o atendimento de aspectos como 
moralidade, criatividade, espontaneidade, autodesenvolvimento e prestígio.
É vital ressaltar que não há uma relação de transição direta de uma categoria para outra nesta 
pirâmide, com a cobertura total das necessidades das faixas inferiores.
De fato, são perenes as necessidades dessas várias subdivisões. A transição para a categoria superior 
significa que as necessidades anteriores foram (ou estão sendo) atendidas, ainda que não em sua 
plenitude, mas em ritmo suficiente para justificar uma menor preocupação dos indivíduos, propiciando 
as preocupações com as das categorias superiores.
 Saiba mais
Mais detalhes a respeito da hierarquia de necessidades de 
Abraham Maslow podem ser obtidos na seguinte publicação: 
LA PIRÁMIDE de Maslow: conozca las necesidades humanas para 
triunfar (Gestion & Marketing). Espanha: 50Minutos, 2016.
17
ECONOMIA E MERCADO
Referências a esse modelo são disponíveis em vários escritos sobre 
ciências humanas, não somente os que se referem ao estudo de Economia, 
mas também Psicologia, Sociologia etc.
O atendimento às necessidades descritas dá-se com o acesso a bens e serviços.
1.2 Bens para a satisfação das necessidades
As necessidades não precisam ser atendidas exclusivamente pelos bens econômicos, isto é, os que 
possuem preço e são negociados nos diferentes mercados.
Há, também, os bens livres, disponíveis aos agentes econômicos, como o ar, mencionado anteriormente 
por Sandroni (1999).
De forma geral, os bens livres existem na natureza em quantidade superior à necessária para a 
satisfação de todas as carências dos indivíduos.
Os bens econômicos, diferentemente dos livres, são escassos, na maioria dos casos.
É ainda Sandroni (1999, p. 419) que explicita: “[...] O que determina isso [condição de escassez] é o 
nível de desenvolvimento de uma sociedade e a forma como é distribuída a riqueza social produzida 
pelo conjunto da população”.
Os bens – e serviços – econômicos são classificados em diferentes tipos e categorias em razão de 
algumas variáveis, por exemplo:
• sua natureza (tangível ou intangível);
• sua função (condições de utilização):
• sua duração.
Temos, então, os bens:
• de consumo, que procuram atender a necessidades como alimentação, vestuário etc.;
• de capital, voltados à produção de outros bens, finais, incluídos os diferentes tipos de insumos e 
matérias-primas, suprimento de energia etc.
Utilizamos fatores (ou recursos) para a obtenção dos bens econômicos.
18
Unidade I
1.3 Os variados fatores de produção
Na economia, recurso pode ser entendido como algo que pode ser utilizado na produção de 
determinado bem ou serviço.
Tais recursos são classificados como:
• Terra:
— Compreende os recursos naturais.
• Trabalho:
— Refere-se ao conjunto de atributos humanos produtivos, incluídos os de natureza intelectual.
• Capital:
— Tratam-se dos equipamentos, máquinas ou instalações que permitem a produção de bens e 
serviços. Vemos este tipo de recurso subdividido em suas diferentes concepções, como capital 
físico, financeiro, humano etc.
• Capacidade empresarial:
— Esta categoria foi adicionada recentemente às três anteriores, oriundas dos estudos clássicos, 
significa os esforços de coordenação dos recursos e os esforços relacionados com as diferentes 
formas de empreendedorismo na sociedade.
A tecnologia, de modo geral, é responsável pelo desenvolvimento dos recursos produtivos e mede a 
eficiência de sua utilização. Ela é, muitas vezes, admitida como outro recurso de produção, embora seja 
melhor entendê-la como sintetizadora dos demais, tal como ocorre com a capacidade empresarial.
Os recursos de produção são também denominados fatores de produção.
Sandroni define os fatores de produção como:
Elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. 
Tradicionalmente, desde Say [economista clássico], são considerados fatores 
de produção a terra (terras cultiváveis, florestas, minas), o homem (trabalho) 
e o capital (máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas). 
Atualmente, costuma-se incluir mais dois fatores: organização empresarial 
e o conjunto ciência-técnica [...]. De modo geral, os fatores de produção são 
limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente conforme o local 
e a situação histórica (SANDRONI, 1999, p. 235, grifo do autor).
19
ECONOMIA E MERCADO
A propósito da diversidade indicada, o autor indica que na moderna agricultura o emprego de 
máquinas diminui o peso relativo específico dos fatores terra e trabalho. No período que define como 
manufatureiro, sobressaía-se o fator trabalho, visto que a produção era mais artesanal, sendo substituído 
pelo capital na nova configuração produtiva.
A maneira como são distribuídos os fatores de produção é determinante para a fixação e o 
desenvolvimento das teorias de custos de produção, afetando a produtividade e, consequentemente, a 
rentabilidade das empresas.
 Lembrete
Em qualquer situação, é importante sempre lembrar o problema 
econômico, representado pelo confronto entre as necessidades e os 
recursos disponíveis para o seu atendimento.
Nesse contexto, é essencial apresentar a diferença entre os conceitos de valor-trabalho e 
valor-utilidade. No primeiro caso, o valor de um bem ou serviço é formado a partir dos custos da mão 
de obra incorporada ao bem, e o valor do bem é constituído pelo lado da oferta. Já o segundo é aquele 
em que o valor de um bem ou serviço é formado com base na satisfação que proporciona ao consumidor 
e é, pois, determinado pela demanda.
Antes de prosseguirmos, vamos apreender quem são os agentes econômicos.
1.4 Os agentes que atuam na economia
Para assimilarmos as funções e transações desempenhadas por esses diferentes e variados atores, 
vamos subdividi-los em:
• Famílias.
• Empresas.
• Governo.
• Setor externo.
Admitamos, genericamente, o seguinte: enquanto as empresas são responsáveis pela geração de 
bens e serviços, em qualquer segmento de atividade (indústria, comércio etc.), as famílias englobam 
os agentes consumidores, isto é, são elas que detêm a posse dos fatores de produção, necessários às 
empresas para a criação de bens e serviços.
20
Unidade I
 Observação
O termo famílias pode incluir qualquer número de agentes, sendo até 
mesmo um.
O governo, representado por todos os seus integrantes, pela sua importância e interferência nas atividades 
dos agentes empresas e famílias, é tratado em um item separado. O mesmo ocorre com o conjunto de atores 
que se associam com o setor externo da economia, isto é, nas suas relações com o resto do mundo.
O fluxo circular da renda/riqueza (figura a seguir), em sua versão simplificada, procura 
demonstrar a interação dos agentes empresa e família ao participar dos mercados de bens e 
serviços e de fatores de produção.
Mercado de bens e serviços
Mercado de fatores de produção
Famílias Empresas
Despesas 
(R$)Demandam 
bens e serviços
Recebimento 
pelos fatores 
de produção 
(R$)
Ofertam 
fatores de 
produção
Receitas (R$)Ofertam bens 
e serviços
Pagamento 
pelos fatores 
de produção 
(R$)
Demandam 
fatores de 
produção
Fluxo monetário
Fluxo real (bens e serviços)
Figura 2 – Fluxo circular da renda/riqueza em uma economia
Esse diagrama revela a interação de dois tipos de fluxos fundamentais: reais e monetários.
No primeiro caso, ocorre a troca física entre bens e produtos versus fatores de produção. No outro, 
dá-se a transferência de valores monetários (dinheiro) entre os agentes.
No fluxo real, determinada família requer diversos itens para sua sobrevivência (como 
alimentos, vestiário e serviços em geral – água, gás, energia etc.). Para isso, deve ir ao mercado de 
bens e serviços, negócio no qual as empresas oferecem seus produtos necessários à cobertura das 
necessidades das famílias.
Todavia, para que possam produzir esses bens e serviços, as empresas precisam obter fatores de 
produção (terra, trabalho e capital), dirigindo-se a esse específico mercado.
21
ECONOMIA E MERCADO
A troca de determinado bem ou serviço ou de fator de produção requer o emprego de dinheiro, que 
explica as respectivas interações reveladas pelos fluxos monetários.
1.5 A convivência com a escassez
Os economistas desenvolveram modelos simplificados, que procuram, muitas vezes, com o auxílio de 
gráficos, demonstrar os fenômenos fundamentais da Economia.
Uma dessas referências é a chamada Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP), também conhecida 
como Curva de Possibilidades de Produção (CPP).
Nesse modelo, procura-se acentuar as variações na realização de dois produtos (ou ainda de dois 
conjuntos de produtos), concebendo que os fatores de produção são alocados de forma diferenciada.
O modelo admite, pois, o que varia, considerando-se o melhor uso – mais eficiente – com base na 
tecnologia vigente – dos recursos de produção.
Vamos evidenciar a lógica do modelo indicando alternativas de produção de dois tipos fundamentais 
de bens: vestuários e armamentos.
Iniciamos com a produção totalmente voltada para vestuários. Neste caso, a Economia, em seu atual 
patamar de tecnologia, poderia executar cem toneladas de vestuários, concebendo-se que todos os 
recursos estivessem voltados para a geração desses bens.
A decisão de também passar a produzir armamentos faria com que houvesse o deslocamento do 
emprego dos recursos (fatores) de produção existentes na Economia.
Então, cada vez mais os recursos precisariam ser transferidos da produção de vestuários para a 
de armamentos. Com isso, aumentaríamos a produção deste último tipo de bem e, em contrapartida, 
abdicaríamos da execução do primeiro (vestuário).
Essa remoção oferece diferentes impactos, dependendo do estágio de produção e da tecnologia 
predominante na Economia.
Se considerarmos, por exemplo, o fator trabalho, é certo que cada aumento de produção de 
armamentos ocorrerá às custas de um deslocamento cada vez maior de pessoal, antes empregado no 
setor de vestuário.
Uma explicação vital para isso é a seguinte: à medida que o processo avança, cada vez mais são 
transferidos recursos de menor produtividade – primeiro, são selecionados os trabalhadores mais hábeis.
Para ilustrar esse fenômeno, vamos admitir, por hipótese, seis alternativas de produção (de A a F) dos 
diferentes tipos de bens, em certa economia, à luz da tecnologia vigente:
22
Unidade I
Tabela 1 – FPP (Fronteira de Possibilidades de Produção)
Alternativa de produção Produção de vestuários (em toneladas) Produção de armamentos (em toneladas)
A 100 0
B 80 40
C 60 50
D 40 60
E 20 70
F 0 75
Avaliando a tabela, deve-se considerar que nessas comparações podem ser diferentes as unidades 
de produção dos bens ou conjuntos de bens, que, no exemplo, foram admitidas (igualmente) como 
toneladas.
Exibimos a seguir um gráfico cartesiano que permite melhor visualização dessas combinações de produção:
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0
0
40
Produção de vestuários (em toneladas)
Pr
od
uç
ão
 d
e 
ar
m
am
en
to
s 
 
(e
m
 to
ne
la
da
s) 50
60
70
75
20 40 60 80 100 120
Figura 3 – Curva de possibilidades de produção (CPP) em uma hipotética economia
 Observação
Percebe-se uma relação inversa (sobe um, desce outro) entre 
as quantidades possíveis de serem produzidas nessas alternativas. 
Constata-se, também, que o declínio não ocorre à mesma taxa de 
substituição entre eles, revelando a situação de cada particular estágio 
de produção.
As alternativas (A a F) mostram desde os extremos – produção de apenas em um bem e nada de 
outro – até as variações entre elas. Essas alternativas estão refletidas em cima da curva, na qual ocorrem 
as possibilidades de uso eficiente dos recursos produtivos.
23
ECONOMIA E MERCADO
Este modelo de gráfico, denominado cartesiano, homenageia seu criador, René Descartes. Mostra 
o relacionamento entre duas variáveis: uma medida no eixo vertical, no nosso caso, a quantidade 
(toneladas) de vestuários, e outra no horizontal, ou seja, a quantidade (toneladas) de armamentos.
Usualmente, tais eixos refletem os efeitos de uma variável explicativa (normalmente demonstrada 
no eixo x – horizontal) em outra, explicada pelo eixo y – vertical.
René Descartes foi o maior expoente do chamado racionalismo clássico – movimento de reação ao 
período do Feudalismo (quando era muito forte e dominante a lógica religiosa) do qual participaram, 
entre outros, filósofos como Francis Bacon, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, Baruch Spinoza, John Locke 
e Isaac Newton.
 Saiba mais
Descartes lançou as bases do pensamento que viria modificar toda a 
história da Filosofia com a seguinte obra:
DESCARTES, R. Discurso do método. São Paulo: Saraiva, 2005.
Como foi indicado, as opções/alternativas de produção refletidas “em cima da curva” são as que 
admitem, em todos os casos, o uso mais eficiente dos recursos e da tecnologia vigente na economia.
Seguindo na análise, vamos admitir, porém, uma alternativa que denominaremos H e que consiste 
na combinação de 40 toneladas de armamentos e de 40 de vestuários.
O gráfico a seguir demonstra o posicionamento desse ponto, no espaço entre a curva e os eixos, 
horizontal e vertical.
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0
0
40
Produção de vestuários (em toneladas)
Pr
od
uç
ão
 d
e 
ar
m
am
en
to
s 
 
(e
m
 to
ne
la
da
s) 50
60
70
75
20 40 60 80 100 120
HH
Figura 4 – Ponto interno à CPP (Curva de Possibilidades de Produção)
24
Unidade I
Neste caso, será uma alternativa situada abaixo da curva e, portanto, ineficiente, em termos de 
utilização de recursos, visto que poderíamos aumentar a quantidade de um ou de outro conjunto de 
bens, mantido, por exemplo, o outro constante, isto é, podemos obter:
• 40 toneladas de armamentos e 80 de vestuários, empregando-se de forma eficiente os recursos 
disponíveis para a produção dos dois bens;
• 60 toneladas de vestuários e 40 de armamentos.
No ponto H (do gráfico), a Economia estará trabalhando com menor eficiência do que lhe é permitido 
pela tecnologia vigente.
Essa situação pode ser constada em conflitos, guerras, cataclismas – naturais, orientações inadequadas 
de condução da economia etc., que, por sua vez, refletem menor crescimento econômico.
A análise prossegue com o estudo do ponto J (gráfico a seguir), que consiste na combinação de 70 
toneladas, tanto de armamentos quanto de vestuários.
Esse ponto situa-se acima da curva prevista pelo gráfico, por isso é inatingível no atual estágio de 
tecnologia dessa economia. O ponto somente poderá ser alcançado com o deslocamento de toda a 
curva, por exemplo, em razão de maior absorção de tecnologia pela sociedade. Tal deslocamento faria 
com que o ponto J fosse incluído em cima da nova CPP.
O gráfico a seguir destaca o posicionamento desse ponto – acima da CPP.
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0
0
40
Produção de vestuários (em toneladas)
Pr
od
uç
ão
 d
e 
ar
m
am
en
to
s 
 
(e
m
 to
nela
da
s) 50
60
70
75
20 40 60 80 100 120
JJ
Figura 5 – Ponto externo à CPP (Curva de Possibilidades de Produção)
25
ECONOMIA E MERCADO
 Observação
Os efeitos das mudanças em variáveis dentro de um gráfico cartesiano 
serão mais bem explicadas neste livro-texto quando abordarmos os gráficos 
de demanda e de oferta de bens e serviços.
Concluindo, a CPP (ou FPP) revela os efeitos de nossas decisões de uso de recursos de produção.
1.6 Os rendimentos decrescentes
Outro modelo usual em Economia é a Lei dos Rendimentos Decrescentes. Trata, como no caso da 
CPP, dos efeitos das escolhas entre diferentes alternativas, por exemplo, de produção de bens e serviços 
em determinada economia.
Costuma-se demonstrar os efeitos dessa lei natural admitindo-se, em diferentes alternativas de 
produção, o emprego de quantidades adicionais de um fator necessário à produção de determinado 
bem ou serviço.
O uso de alternativas de produção agrícola oferece uma boa visualização desses efeitos.
A tabela hipotética apresentada a seguir indica diferentes quantidades que podem ser produzidas de 
determinado bem ou serviço – vamos usar como exemplo a produção de milho – sempre que se altera 
o número de trabalhadores.
Tabela 2 – Lei dos Rendimentos Decrescentes
Número de trabalhadores Toneladas produzidas de milho
10 100
11 110
12 118
13 100
14 90
Inicialmente, com dez trabalhadores, conseguimos obter uma produção de cem toneladas de milho. 
Se acrescermos mais um trabalhador (ou seja, 11), chegaremos à produção de 110 toneladas do cereal. 
Nesses dois casos, verifica-se que é mantido o mesmo rendimento por trabalhador (cada um, em média, 
produz 10 toneladas).
Empregando-se, por exemplo, mais um trabalhador (o 12º), a produção total de milho em toneladas 
salta para 118. Contudo, verificamos que esse rendimento médio diminui com o acréscimo desse novo 
trabalhador, passando a ser de aproximadamente 9,83 toneladas, isto é, 118/12.
26
Unidade I
E o experimento assim prossegue. Com mais um trabalhador (o 13º), retornamos à produção inicial 
de 100, reduzindo, dessa vez de forma mais drástica, o rendimento médio por trabalhador para cerca de 
7,69 toneladas.
Note que já tínhamos esse total (100 toneladas de milho) quando dispúnhamos, no início do exemplo, 
de dez trabalhadores.
O administrador da fazenda perceberá que não adiantou ter acrescido seus custos com salários e 
encargos sociais para remunerar esses três trabalhadores contratados depois do início da empreitada. 
Pelo contrário, agora seu lucro será inferior àquele que obteria se tivesse mantido o número anterior de 
empregados.
Se prosseguirmos com o exemplo, a situação fica ainda pior com a seleção do 14º trabalhador 
nessa produção. Tal equipe consegue produzir um total de 90 toneladas – o que é menos até do que 
inicialmente se obtinha com o emprego de apenas dez pessoas.
Passamos, a partir desse ponto, mantidas as condições de produção, por exemplo, área ocupada, 
tecnologia etc., a contar com rendimentos médios cada vez mais negativos. Ora, isso não justifica o 
aumento do número de empregados, pois os lucros do fazendeiro seriam severamente afetados, até 
transformando-se em prejuízo.
Afinal, será cada vez menor a receita pela venda do milho e maior o custo com o emprego dos 
trabalhadores. Esse contexto nos conduz ao fenômeno dos valores marginais, que estudaremos a seguir.
1.7 Pensamento na margem
A preferência por uma alternativa, como no exemplo descrito anteriormente, associa-se à variação 
dos valores marginais.
Entendemos valores marginais como as receitas ou os custos, conforme o caso, fixados pela mudança 
à variação adicional de um recurso produtivo.
Nesse exemplo anterior, que procura mostrar o efeito da Lei dos Rendimentos Decrescentes, somente 
até certo ponto vale a pena contratar mais trabalhadores com o objetivo de aumentar os rendimentos 
(receitas) auferidos na produção de milho.
A tabela daquele exemplo pode ser visualizada também no gráfico a seguir, que acentua a produção 
obtida com um número diferenciado de trabalhadores.
27
ECONOMIA E MERCADO
140
120
100
80
60
40
20
0
10 11 12 13 14
Número de trabalhadores
To
ne
la
da
s 
pr
od
uz
id
as
 d
e 
m
ilh
o
Figura 6 – Rendimentos decrescentes na produção de milho
O gráfico revela um crescimento cada vez menor das receitas à medida que aumenta o número de 
trabalhadores atuando na produção de milho. Desse modo, vimos que nem sempre vale a pena contratar 
mais trabalhadores. Esse ponto será aquele no qual a receita marginal (adicional) por unidade cresce 
mais do que o custo marginal decorrente da contratação de trabalhadores.
Afinal, não há razão para diminuirmos nosso lucro com o acréscimo de uma unidade adicional em 
nossos custos que supere o que podemos receber como rendimento.
Os economistas pensam de forma marginal sempre que estão à procura de selecionar as melhores 
alternativas de empregos de recursos, que são escassos em relação às necessidades dos agentes econômicos.
1.8 O custo de oportunidade
Refere-se ao que deve ser sacrificado para que se obtenha algo diferente.
Para ilustrar esse conceito, vamos considerar o custo de oportunidade para melhorar a educação de 
um indivíduo.
Quando se decide aumentar o número de horas dedicado ao estudo, com o fito de obter um melhor 
resultado nas avaliações, um ou mais objetivos são sacrificados, por exemplo, a disponibilidade em 
termos de horas de lazer, praticar esportes, assistir a vídeos, filmes etc.
O custo de oportunidade, porém, difere de um para outro indivíduo (ou agente econômico).
Pensando em termos macroeconômicos (do país como um todo, por exemplo), se uma nação decide 
produzir mais unidades de certos bens, deve estar atenta ao sacrifício representado pela impossibilidade 
de criar outros bens alternativos.
Esse conceito é diretamente vinculado à Lei dos Rendimentos Decrescentes, já exposta neste 
livro-texto. Trata-se de uma relação básica entre escassez e escolha.
28
Unidade I
Pode ser visto como a diferença entre o retorno (benefício) auferido com a alternativa escolhida em 
comparação com o que se conseguiria com outra abandonada – é o custo da renúncia.
Esse custo é usualmente calculado em confronto com o da melhor alternativa que foi preterida pela 
opção realizada.
 Lembrete
Novamente, lembre-se, o conflito entre os recursos e sua possibilidade de 
atendimento às necessidades é o cerne do chamado problema econômico.
Analisando financeiramente, destacamos o seguinte exemplo: se decidirmos ser sócios de uma 
nova empresa, é importante avaliar o custo de oportunidade do emprego do capital na melhor opção 
conhecida entre as que foram abandonadas, refletidas, por exemplo, na lista de opções de obtenção 
de rendimentos em diferentes aplicações financeiras ou atividades. Caso a rentabilidade esperada pela 
participação na nova empresa seja, digamos, de 10% ao ano, e entre as alternativas à disposição haja 
uma que ofereça, digamos, 9% no mesmo período, este será o custo de oportunidade de nossa escolha.
É certo que a escolha, não necessariamente como foi relatada neste exemplo, é feita exclusivamente 
para a alternativa que apresente perspectivas de melhor rendimento financeiro. Afinal, há um grande 
número de outras variáveis, econômicas ou não, que podem ter justificado a nossa escolha, por exemplo, 
a expectativa de menores riscos, menor tempo dispendido etc.
O analista Ramiro Gomes Ferreira, ao tratar de alternativas de aplicações de recursos 
financeiros, menciona:
Algumas decisões [...] são mais fáceis de serem tomadas.
Outras, porém, exigem cuidado e planejamento, em especial quando estamos 
falando de dinheiro e tempo.
Ao decidir por uma das alternativas, você automaticamente deixa de 
escolher a outra.
Isso significa que você renunciou aos benefícios de uma decisão em 
detrimento de outra.
É exatamente aí que entra o conceito de custo de oportunidade 
(FERREIRA, 2017).
29
ECONOMIA E MERCADO
2 SISTEMAS ECONÔMICOS
2.1 O que são sistemaseconômicos?
Os sistemas econômicos são estudados por uma divisão da economia que analisa os métodos e 
instituições pelas quais as sociedades determinam a propriedade, a direção e a alocação dos recursos 
econômicos e suas respectivas trajetórias de desenvolvimento econômico. 
Em linhas gerais, o sistema econômico representa a forma organizada de uma sociedade para o 
desenvolvimento de suas atividades econômicas.
Entre os elementos que caracterizam um sistema econômico, podem ser considerados:
• tipo de propriedade;
• forma de gestão da economia;
• processos de produção e circulação e consumo de mercadorias;
• divisão do trabalho e status tecnológico da economia.
No conjunto dos elementos básicos de um sistema econômico, identificamos:
• disponibilidade de recursos produtivos: humanos (trabalho braçal, intelectual e capacidade 
empresarial), capital, reservas naturais e a tecnologia;
• unidades de produção;
• instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais.
2.2 Questões que devem ser resolvidas em cada tipo de sistema econômico
De forma geral, todo e qualquer sistema econômico procura respostas às seguintes indagações básicas:
• O que e quanto produzir?
Esta questão relaciona-se com o problema fundamental da escassez de recursos, já exemplificado 
neste livro-texto.
É importante que se consiga produzir em obediência à Curva de Possibilidades de Produção (CPP) da 
economia, cujo modelo abordamos aqui.
Assim, deve-se produzir de modo eficiente consoante o nível da tecnologia e as escolhas propostas 
pela sociedade.
30
Unidade I
• Como produzir?
Retratamos nesta obra um tópico diretamente relacionado com o estágio da tecnologia na respectiva 
sociedade, podendo escolher alternativas mais ou menos intensas em trabalho ou em capital.
De qualquer forma, devem ser constantemente procurados métodos e alternativas que tornem 
máxima a eficiência produtiva.
• Para quem produzir?
Este assunto é vinculado à distribuição da renda propiciada pela atuação dos agentes na 
respectiva economia.
Discutem-se, aqui, quais são as alternativas para a distribuição do produto gerado na economia. A 
eficiência distributiva deve ser maximizada para que se alcance o bem-estar material e social da coletividade.
As respostas a essas questões serão mais ou menos positivas, em cada caso, conforme o tipo de 
sistema econômico adotado pela sociedade.
A tabela a seguir sintetiza os focos relacionados com cada uma dessas questões:
Quadro 1 – Focos relacionados com as respostas às questões básicas da economia
Tipo de questão Foco
O que e quanto produzir? Econômico
Como produzir? Tecnológico
Para quem produzir? Social
2.3 Os sistemas econômicos na atualidade
Na atualidade, podemos distinguir a existência de três grandes opções de sistemas econômicos:
Primeiramente, há aqueles baseados em comandos centralizados, que estabelecem, por exemplo, 
o que deve ser (ou não) produzido.
Cabe também ao governo, neste caso, definir o quanto deve ser produzido. O que se pretende é o 
planejamento de cotas para determinados tipos de produção.
Cuba e Coreia do Norte são exemplos de nações que se valem desse tipo de sistema econômico. 
Comunismo ou Socialismo são termos usualmente associados com esse tipo de sistema.
Socialismo é a denominação genérica para um conjunto de teorias socioeconômicas, ideologias e 
políticas que objetivam eliminar as desigualdades entre as diferentes classes sociais.
31
ECONOMIA E MERCADO
Em Utopia, Thomas More mostra um modelo de sociedade mais justa.
As grandes dificuldades sociais, trazidas pela Revolução Industrial, incentivaram a difusão de ideias 
de reforma da sociedade a partir dos pensamentos de socialistas, como: Saint-Simon, Charles Fourier, 
Pierre Proudhon, Karl Marx e Friedrich Engels.
Tais concepções conduziram a Revolução Russa (1917) e, depois, à ex-União Soviética, que foi extinta 
em 26 de dezembro de 1991.
A teoria socialista propõe, fundamentalmente, a inexistência de propriedade privada dos meios de 
produção e o controle da economia pelo Estado, visando promover uma distribuição justa da riqueza 
entre os agentes sociais.
Esse tipo de sistema contempla um número não desprezível de dificuldades, dadas as imensas variações 
de tipos e, consequentemente, de preços, que precisam ser definidos pelos planejadores centrais.
Quando se fala de preços, abordam-se todos os valores que identificam as remunerações dos fatores 
de produção, como ocorre com o trabalho.
Regulando essas remunerações, há interferência e comando do governo também no que se refere à 
distribuição dos rendimentos e dos produtos da economia.
Observa-se a necessidade de uma extensa burocracia capaz de atender às funções de controle desse 
tipo de sistema.
 Observação
No período denominado Guerra Fria (pós-Segunda Guerra Mundial), 
houve uma exacerbação da disputa ideológica entre dois tipos de 
organização econômica, política e social (Capitalismo e Socialismo), sob o 
comando dos Estados Unidos da América e da ex-União Soviética.
Também há os sistemas pautados na liberdade de atuação dos agentes que participam da economia, 
sem a intervenção do Estado ou um comando central no estabelecimento de quantidades, preços etc. 
dos vários produtos componentes da economia. Capitalismo é o termo usualmente associado com esse 
tipo de sistema.
Vejamos suas principais características:
• propriedade privada de fatores de produção e de bens e serviços;
• liberdade de iniciativa dos agentes econômicos;
32
Unidade I
• formação de preços fixada pela própria atuação das forças e agentes de mercado;
• pequena interferência do Estado nos negócios.
Na próxima unidade, apresentaremos os conceitos relacionados com as leis da oferta e da 
demanda de bens e serviços, responsáveis pela formação e manutenção de preços em um sistema 
dito capitalista.
Neste tipo de sistema, cabe ao governo não a operação direta, uma vez que deve garantir a ação dos 
agentes econômicos atuando em livres mercados.
A justificativa para a atuação do governo é dada pelas chamadas externalidades, que 
descreveremos a seguir.
Enfim, nessa economia, o mecanismo de preços constitui a força predominante e direciona o 
comportamento para a definição das escolhas de produção e consumo dos diferentes agentes econômicos.
Para assimilarmos melhor suas características, o capitalismo pode ser subdividido em:
• financeiro: o grande comércio e a grande indústria são controlados com base no poderio econômico 
dos bancos comerciais e outras instituições financeiras;
• industrial: surgiu quando as empresas evoluíram – de manufatureiras para mecanizadas;
• internacional: a tecnologia de informação estabelece o padrão das mudanças sociais que ao longo 
do tempo reestruturaram o modo de produção capitalista.
Um dos fenômenos diretamente relacionados com o capitalismo é a globalização, que é descrita 
como a adoção de processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política; é 
impulsionada pelo barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no fim 
do século XX.
São várias as formas de globalização.
 Observação
A globalização propicia a criação e a manutenção das empresas e 
instituições supranacionais. Contudo, é essencial considerar aspectos 
como a própria universalização dos padrões culturais, com base na 
homogeneização das atitudes e comportamentos que influenciam o 
processo de diversificação cultural entre os países e regiões.
33
ECONOMIA E MERCADO
Consoante A. Giddens, “globalização significa a intensificação das relações sociais à escala mundial 
que ligam localidades distantes de tal maneira[,] que acontecimentos locais são modelados por eventos 
que ocorrem a muitos milhares de quilômetros de distância e vice-versa”.
Vasconcellos (2007, p. 424) define globalização produtiva como:
[...] produção e distribuição de valores dentro de redes em escala mundial, com 
o acirramento da concorrência entre grupos multinacionais. O crescimento 
tecnológico acelerado geroumaior eficiência produtiva e maiores condições 
de produtividade.
Sobre globalização financeira, Vasconcellos (2007, p. 424) indica:
É o processo iniciado principalmente a partir dos anos [19]80, com o 
crescimento do fluxo financeiro internacional baseado no mercado de 
capitais e dos desenvolvimento[s] dos mecanismos de diminuição de risco 
(derivativos, hedge, opções etc.). Representou uma queda do poder do 
sistema bancário internacional e crescimento dos chamados investidores 
institucionais, como os fundos de pensões.
O Capitalismo é dominante no mundo ocidental desde o fim do Feudalismo. É baseado no 
reconhecimento dos direitos individuais, em que toda propriedade é predominantemente privada e o 
governo existe para banir a ação de violência humana. Nesse sistema, o Estado depende principalmente 
de três órgãos: a polícia, o exército e as cortes encarregadas da aplicação de leis.
Por fim, temos os modelos mistos, que combinam elementos da economia de mercado e economia 
planejada.
Esses modelos mesclam características do Capitalismo e do Socialismo, ressalvadas importantes 
diferenças de regulação econômica.
 Lembrete
Quaisquer modelos se defrontam com as necessidades de respostas às 
questões fundamentais: o que, quanto, como e para quem produzir.
A atuação do Estado é justificada notadamente no controle das externalidades da economia, cujo 
conceito discutiremos a seguir.
34
Unidade I
2.4 Externalidades que afetam o livre funcionamento das economias 
baseadas nos livres mercados de bens e serviços e de fatores de produção
Nem sempre – aliás, várias vezes – o que é bom para um agente econômico ou social não o é para outro(s).
Quando comparamos os custos e benefícios de alternativas de escolhas, computamos os que 
controlamos, denominados privados.
Há, porém, os chamados custos sociais, que afetam as nossas decisões econômico-financeiras e que 
são alheias ao nosso controle direto. São as chamadas externalidades – positivas ou negativas.
Como indicado em Gonçalves (2010, p. 325):
Quando uma empresa lança dejetos tóxicos oriundos do processo de produção 
em um rio, matando seus peixes e contaminando sua água, a ação gera prejuízos 
para a população ribeirinha que nele costuma pescar, recolher água doce ou 
banhar-se, e até mesmo para o cidadão que fica desagradado ao presenciar 
a triste cena de dejetos ou espuma química navegando rio abaixo. Há vários 
outros exemplos de externalidades negativas: jogar bituca de cigarro pela janela; 
não desligar o celular no cinema; andar no ônibus lotado sem usar desodorante; 
dirigir perigosamente; sair de carro em um horário de trânsito intenso 
(aumentando o tráfego para os que já estão tentando chegar ao trabalho); 
entrar no elevador e apertar o sétimo quando alguém no elevador se dirige 
ao décimo andar (e, portanto, é atrasado pela sua parada no sétimo); roubar, 
conversar alto na biblioteca; buzinar no trânsito; fumar em lugar fechado.
Em se tratando de externalidades negativas, claramente os custos sociais 
superam os privados e devem ser considerados no planejamento e atuação 
dos variados agentes econômicos.
Há, porém, as externalidades positivas[,] que, ao contrário das negativas, 
fazem com que os benefícios sociais superem os privados também no 
planejamento e atuação dos agentes econômicos.
São variados os tipos de externalidades positivas que podem ser obtidas em ações, como Gonçalves 
(2010, p. 331) exemplifica:
• informar-se para descobrir qual é o melhor candidato em uma eleição;
• descobrir a cura para uma doença, que ajudaria diversos indivíduos;
• doar dinheiro para instituições de caridade;
• organizar a comunidade na realização de tarefas coletivas.
35
ECONOMIA E MERCADO
Deve, pois, ser procurada a correta atribuição desses custos e benefícios sociais aos projetos e 
processos dos agentes privados.
É certo que a distribuição pode ser corrigida a partir de acordos ou de mecanismos previstos nos livres 
mercados. Todavia, muitas vezes demandam a intervenção do governo, que age aplicando impostos e 
multas (no caso das externalidades negativas) ou gerando subsídios (para as externalidades positivas).
A respeito das externalidades, Sandroni (1999, p. 581) comenta:
Tecnicamente, pode ser definido de várias formas: a) benefícios a pessoas 
ou empresas pagas pelo governo sem contrapartida em produtos ou 
serviços; 2) despesas correspondentes à transferência de recursos de uma 
esfera do governo em favor de outra; 3) despesas do governo visando à 
cobertura de prejuízos das empresas (públicas ou privadas) ou ainda para o 
financiamento de investimentos; 4) benefícios a consumidores na forma de 
preços inferiores[,] que, na ausência de tal mecanismo, seriam fixados pelo 
mercado; 5) benefícios a produtores e vendedores mediante preços mais 
elevados, como acontece com a tarifa aduaneira protecionista; 6) concessão 
de benefícios pela via do orçamento público ou outros canais [...].
Outro tipo de externalidade é refletido na necessidade de fornecimento de bens públicos.
O que esse conceito revela é o fato de existir determinados bens ou serviços que usualmente os 
agentes privados não se interessam em fornecer em razão de:
• altos custos;
• demora no retorno do investimento;
• outros aspectos – que justificam o que se entendia como monopólios naturais (serão estudados 
depois neste livro-texto).
Dessa forma, as externalidades constituem as chamadas falhas de mercado e justificam a participação 
do governo mesmo nas chamadas economias baseadas no livre funcionamento dos mercados.
A grande questão é: Em quais circunstâncias o Estado deve atuar diretamente na produção de bens 
e serviços para a sociedade?
Entre as características desses bens públicos, podemos citar:
• Não rivalidade: o custo marginal de provimento do bem é nulo para qualquer nível de produção.
• Não excludente: os indivíduos, independentemente de arcarem ou não com seus custos, não 
podem ser privados de seu consumo, como é o caso dos serviços de proteção e segurança. 
36
Unidade I
Ocorre, então, o efeito-carona, no qual os indivíduos não têm incentivo para pagar o custo do 
fornecimento do bem ou serviço.
Em síntese, uma externalidade ocorre quando outro agente econômico (produtor ou consumidor) 
influencia os resultados das atividades de outro(s), o que não é precificado naturalmente pelas forças 
de livre atuação nos diferentes mercados. Há externalidades negativas (como a poluição) e positivas 
(abertura de um colégio na rua em que moro ou tenho um estabelecimento comercial).
As externalidades podem ser corrigidas através da negociação entre os próprios agentes privados ou, 
se isso não for possível, por decisões coletivas, via mecanismo de eleição e/ou de definição de padrões, 
cobrança de impostos, multas etc.
2.5 Diferentes sistemas econômicos ao longo da história
Na plataforma eletrônica da QueConceito, destacamos o seguinte:
A noção de sistema econômico existe desde que apareceram as primeiras 
sociedades e comunidades humanas. Isto ocorre [porque] o ser humano é o 
único ser vivo que conseguiu uma organização ou sistematização produtiva 
com fins de subsistência a curto e longo prazo. A diversificação de trabalho 
(isto é, o fato de que cada indivíduo se dedica a uma atividade produtiva 
específica), somada à noção de intercâmbio dessas produções entre 
diferentes regiões[,] surge com as primeiras formas humanas de sociedade e 
que evoluíram com o tempo.
Ao longo do tempo, várias foram as alternativas adotadas para a estruturação de um 
sistema econômico.
A adoção de um ou outro tipo de sistema econômico é fruto de intensa interação da sociedade, nem 
sempre de forma pacífica, como nos mostram as opções a seguir, extraídas dos comentários de Robert 
L. Heilbroner e William Milberg na obra A Construção da Sociedade Econômica.
Heilbroner e Milberg (2008) elegem três soluções adotadas para o tratamento do problema 
econômico: tradição, comando e mercado.
2.6 Sistemas baseados na tradição
Trata-se da organizaçãoeconômica mais antiga e predominante até pouco tempo.
Nela, os processos de produção e distribuição de bens e serviços estão calcados em procedimentos 
estabelecidos, via tentativa e erro, em passado distante. Tais processos eram mantidos pelas forças dos 
costumes e crenças das populações.
37
ECONOMIA E MERCADO
Heilbroner e Milberg (2008, p. 27) relatam que: “Provavelmente, em suas raízes, o que encontramos 
é a necessidade universal dos jovens de seguirem as pegadas dos mais velhos – uma fonte profunda de 
continuidade social”.
A responsabilidade pelo trabalho é transferida de geração para geração – de avós para pais, destes para 
os filhos e assim por diante. Contudo, os autores fazem o seguinte alerta: “não foi somente a Antiguidade 
que mostrou a tradição como elemento conservador do ordenamento produtivo na sociedade”.
Mesmo hoje, é importante a força da tradição nos países menos industrializados ou desenvolvidos.
[...] independentemente do quanto as consequências da tradição concordem 
com nossas visões morais [no passado, ela prejudicava, por exemplo, as 
mulheres, quando comparadas aos homens], ou delas se afastem, temos que 
ver que se trata de um método eficiente de divisão [à luz da realidade vigente 
durante a sua implantação] daquilo que a sociedade produz (HEILBRONER; 
MILBERG, 2008, p. 28).
Recorrer-se aos costumes, todavia, é uma solução estática para solver os problemas de produção e 
de distribuição de bens e serviços na coletividade. Entre as justificativas para este argumento, pode ser 
citada a pouca mobilidade social entre os integrantes da sociedade e o lento processo de crescimento e 
de ocorrência de mudanças no tecido econômico e social.
Nesse tipo de sistema, as transformações costumam acontecer em situações de choques intensos, 
como guerras, epidemias ou aventuras políticas.
2.7 Sistemas baseados no comando
Neste caso, a economia é estruturada em ordens emanadas de líderes ou de setores autoritários e, 
tal como, no caso da tradição, suas origens se reportam a tempos remotos.
Os autores citam vários exemplos de sociedades que se organizaram a partir dessa alternativa de 
sistema e relatam que até há pouco tempo tal opção foi exercida na ex-União Soviética.
Muitos atribuem a esse tipo de organização, mesmo em sistemas de maior liberdade e democracia, 
a cobrança abusiva de impostos pelo comando econômico.
Os autores ainda destacam:
Sem dúvida, o comando econômico exercido em uma estrutura de processo 
político democrático é bastante diferente daquele encontrado em uma 
ditadura. Existe uma enorme distância social entre um sistema de impostos 
controlado pelo Congresso e a expropriação direta ou a obrigação do trabalho 
expressa por um soberano supremo e absoluto [...] Nos dois casos, o comando 
direciona esforços econômicos na direção de metas escolhidas por uma 
38
Unidade I
autoridade superior. Nos dois casos, o comando interfere no ordenamento 
existente de produção e distribuição para criar um novo ordenamento vindo 
“de cima” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 30).
Novamente, é vital entender que essa é uma alternativa de estruturação da sociedade sob a 
ótica econômica.
Uma sociedade desse tipo é capaz de ao menos por determinado período acelerar a implementação 
de medidas que podem levar ao crescimento e/ou à diversificação da economia. A manipulação de 
recursos pode, também, conduzir a significativas alterações na distribuição dos bens e serviços entre os 
diferentes agentes econômicos e sociais.
Em resumo, acentua-se o seguinte excerto:
A nova ordem imposta pelas autoridades pode ofender ou agradar nosso 
senso de justiça social, da mesma forma que pode melhorar ou reduzir a 
eficiência econômica da sociedade. [...] Se a tradição constitui um grande 
freio de mudanças sociais e econômicas, o comando econômico pode ser 
um grande impulsionar de mudanças (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 28).
2.8 Sistemas baseados no mercado
Comparativamente aos modelos da tradição e do comando, esta é uma solução relativamente nova, 
surgida a partir da expansão do capitalismo, que garante uma mínima interferência no comando da 
economia.
Como já abordamos, é sobre esse modelo que a maioria dos economistas se volta para tentar explicar 
o funcionamento das economias.
 Lembrete
Os sistemas baseados nos livres mercados não prescindem por 
completo da atuação do Estado, principalmente no que tange ao combate 
às externalidades negativas.
Estudaremos na próxima unidade como se formam e interagem as forças representadas pela 
demanda e a oferta de bens e serviços pelos diferentes agentes econômicos.
É através da sua interação que a teoria procura explicar os fenômenos de formação dos preços dos 
variados bens e serviços.
39
ECONOMIA E MERCADO
 Resumo
Nesta unidade acentuamos as questões fundamentais e os sistemas 
econômicos.
O texto relatou a importância do estudo da economia e sua inter-relação 
com o sucesso profissional e pessoal de cada agente econômico.
A Economia foi definida como a ciência que trata do conflito entre os 
recursos escassos das sociedades e das necessidades infinitas dos indivíduos 
antes, agora e no futuro.
Foram abordadas as diferentes necessidades dos indivíduos, destacando a 
teoria formulada pela Pirâmide de Maslow, que estabeleceu uma hierarquia 
entre elas, partindo da base representada pelas necessidades fisiológicas até 
chegar ao topo, em que estão classificadas as necessidades de autorrealização.
Assinalamos o modelo do fluxo circular da renda (simplificado) para 
mostrar um panorama geral da interação dos agentes econômicos com os 
mercados fundamentais de bens e serviços e de fatores de produção.
Vimos que a Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP) é uma 
importante ferramenta utilizada pelos economistas para indicar a 
possibilidade de diferentes alternativas de produção de bens e serviços, 
mantida a eficiência da economia, com base no seu estágio tecnológico.
Também discutimos os rendimentos decrescentes em razão do 
acréscimo de unidades de fatores ao esforço de produção dos bens e 
serviços da economia.
Relacionado com a Lei dos Rendimentos Decrescentes, foi examinado 
outro conceito básico para o entendimento da escassez e escolha de 
alternativas de decisão e de atuação pelos agentes econômicos, o custo 
de oportunidade, que pode ser visto como a diferença entre o retorno 
(benefício) auferido com a alternativa escolhida em comparação com o que 
se conseguiria com outra, abandonada – é o chamado custo da renúncia.
Ilustramos que o sistema econômico representa a forma de organização 
adotada por uma sociedade para o desenvolvimento de suas atividades 
econômicas. Todo e qualquer sistema deve responder, da forma mais 
eficiente possível, as respostas sugeridas pelas questões fundamentais da 
economia: O que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?
40
Unidade I
Estudamos, ainda, os sistemas econômicos atuais, considerando os baseados 
em comandos centralizados, em liberdade de ação e os modelos mistos. 
Compreendemos que esses modelos combinam características do capitalismo 
e do socialismo, ressalvadas importantes diferenças de regulação econômica.
Mesmo os sistemas que desaconselham a intervenção do governo nas 
atividades econômicas fazem referência à necessidade de controle das 
chamadas externalidades.
Evidenciamos as externalidades negativas (como a poluição) e as 
positivas (como a abertura de um colégio na rua em que moro ou tenho 
um estabelecimento comercial). As externalidades podem ser corrigidas 
através da negociação entre os próprios agentes privados ou, se isso não 
for possível, por decisões coletivas, via mecanismo de eleição e/ou definição 
de padrões, cobrança de impostos, multas etc.
Por fim, apresentamos algumas alternativas de sistemas econômicos 
com base nos estudos de Heilbroner e Milberg (2008). Evidenciamos as 
características essenciais de cada alternativa e seus impactos em termos 
de crescimento econômico e mobilidade social dos agentes econômicos.Comparativamente aos modelos de tradição e comando, o sistema pautado 
no livre funcionamento dos mercados é uma solução relativamente nova, 
garantindo uma mínima interferência no comando da economia.
O Estado pode ser um importante aliado nessa busca pela inovação, 
promovendo a integração entre os agentes, à medida que direciona recursos 
utilizados em processos que objetivam o desenvolvimento científico, 
econômico e social.
Embora o comércio internacional tenha sido associado com o 
desenvolvimento do capitalismo por mais de 500 anos, alguns pensadores 
afirmam que uma série de tendências associadas à globalização tem 
agido para aumentar a mobilidade de pessoas e de capitais, reforçando 
o argumento de que o capitalismo deve cada vez mais ser visto como um 
sistema verdadeiramente mundial.
 Exercícios
Questão 1. (METRÔ-SP 2008) Em relação à curva de possibilidades de produção (ou curva de 
transformação) da economia, é correto afirmar:
A) Um ponto à esquerda da curva representa uma combinação da produção de dois bens que não 
pode ser alcançada pela economia no curto prazo.
41
ECONOMIA E MERCADO
B) A produtividade física marginal de cada recurso produtivo decresce com a maior utilização de 
cada um deles pela economia.
C) É possível aumentar simultaneamente a produção de dois bens mesmo que os recursos da 
economia estejam sendo utilizados com a máxima eficiência que a tecnologia disponível permite.
D) O custo de oportunidade da produção de um bem diminui à medida que mais recursos produtivos 
da economia são utilizados na produção do outro.
E) Ela expressa as combinações de produção de dois bens que correspondam à máxima utilidade 
possível para os consumidores. 
Resposta correta: alternativa B.
Análise das alternativas 
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: qualquer ponto à esquerda da curva de possibilidade de produção corresponde a uma 
combinação possível de produção.
B) Alternativa correta.
 Justificativa: a curva de possibilidade de produção trabalha com a ideia de produtividade decrescente 
de cada fator de produção.
C) Alternativa incorreta. 
Justificativa: a curva mostra a limitação de produção numa dada economia, assim, para aumentar a 
produção de um bem, devemos produzir menos de outros.
D) Alternativa incorreta. 
Justificativa: quando abrimos mão da produção de um bem, em relação a outro, seu custo de 
oportunidade aumenta ao longo do tempo.
E) Alternativa incorreta. 
Justificativa: a curva de possibilidade de produção mostra a máxima produção de dois bens dadas as 
quantidades de insumos em uma economia.
Questão 2. Em um sistema econômico centralizado, todas as alternativas a seguir apontam um 
elemento que o constitui, exceto: 
42
Unidade I
A) As questões econômicas são respondidas por um órgão central. 
B) Os bens e serviços são distribuídos obedecendo à contribuição de cada pessoa na produção e 
sua necessidade. 
C) Apresenta um conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais. 
D) Grande papel do Estado na economia. 
E) A propriedade dos meios de produção é privada. 
Resolução desta questão na plataforma.
43
ECONOMIA E MERCADO
Unidade II
3 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO
3.1 A demanda por bens e serviços
Apregoa a teoria econômica que, nos sistemas baseados no livre funcionamento dos mercados, a 
procura por bens e serviços tem o intuito de identificar as alternativas que otimizem a satisfação do 
consumidor.
O consumidor visa maximizar sua satisfação consumindo os bens e serviços que julga serem mais 
úteis, em conformidade com suas próprias preferências e gostos. Vai buscar uma certa quantidade com 
base no preço em vigor do respectivo bem ou serviço e a sua própria renda pessoal.
O consumidor também levará em conta em sua decisão os preços de outros bens – substitutos e 
complementares – em relação àquele em que está particularmente interessado.
Naturalmente, há uma série de fatores, além do próprio preço do bem ou serviço, que definem a 
quantidade que os consumidores pretendem adquirir de cada bem ou serviço, em um determinado 
período, como:
• o nível e a distribuição dos consumidores;
• o preço dos produtos substitutos e complementares;
• os processos de urbanização;
• as mudanças nos gostos e nas preferências dos consumidores;
• o marketing (propaganda);
• a expectativa de variação de preços do produto no futuro;
• o nível de educação e idade dos consumidores;
• a disponibilidade de mercadorias;
• a moda;
• a geografia e o clima;
44
Unidade II
• o sexo;
• a ocupação;
• as estações do ano;
• a religião;
• a origem étnica.
Na maioria dos casos, porém, o preço é, de fato, a variável mais relevante para explicar o 
comportamento da quantidade procurada (demandada) de um bem ou serviço pelos consumidores.
Assim, com todas as demais coisas permanecendo iguais (coeteris paribus), a demanda do consumidor 
por um bem (X) indica as quantidades desse bem, que ele está disposto a adquirir, quando varia o seu 
preço de mercado.
 Observação
Ceteris paribus (todo o mais é constante) é uma expressão introduzida 
em um argumento ou afirmação para comunicar que uma variável ou mais 
variáveis possam mudar, mantendo as demais variáveis constantes, tais 
como o seguinte exemplo: “Se reduzirmos os nossos preços por X por cento, 
ceteris paribus, a nossa receita de vendas deve subir Y por cento”.
A tabela hipotética a seguir relaciona quantidades procuradas considerando os diferentes preços do 
bem X.
Tabela 3 – Alternativas de quantidades procuradas de determinado bem ou serviço 
conforme a variação dos preços no mercado
Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades)
50,00 30
100,00 20
150,00 15
200,00 10
250,00 5
45
ECONOMIA E MERCADO
Os dados dessa tabela podem ser visualizados no gráfico a seguir:
35
30
25
20
15
10
5
0
50,00 100,00 150,00
Diferentes preços do bem
Qu
an
tid
ad
es
 d
em
an
da
da
s 
(u
ni
da
de
s)
15
10
5
30
20
200,00 250,00
Figura 7 – Demanda para o bem X
Este gráfico apresenta a curva de demanda, mostrando a relação inversa entre as quantidades 
procuradas e diferentes alternativas de preços de certo bem ou serviço.
Essa relação explicita que, conforme diminui o preço, aumenta a quantidade demandada do produto.
Se o preço for muito alto, cessará a demanda pelo bem, que pode ser coberta com a procura por 
bens substitutos.
É possível também a constatação de que a demanda é feita até um determinado limite superior de 
quantidades, após atingirmos o que chamamos de nível de saciedade.
 Observação
As publicações sobre demanda costumam demonstrar no eixo horizontal 
as quantidades procuradas e no vertical os valores, o que é, na verdade, a 
demanda inversa, dado que o que se pressupõe é a variação das quantidades 
consoantes com as diversas alternativas de preço. Mesmo assim, é mantida 
a adequada correlação entre essas duas variáveis.
A partir do que foi verificado, chega-se à definição da Lei da Demanda: as quantidades demandadas 
de um bem (X) variam, inversamente, com o seu preço, permanecendo constantes os preços dos demais 
bens, os gostos e a renda disponível do consumidor.
A demanda representa a disposição ou intenção de comprar, enquanto comprar é o ato efetivo de 
aquisição do bem ou serviço.
46
Unidade II
Para alguns bens, não essenciais, é possível que ocorra uma relação direta, não inversa entre as 
quantidades demandadas e os preços dos bens ou serviços. Essa relação inversa é válida tanto para a 
demanda do consumidor individual como para a do conjunto do mercado.
A demanda total para um determinado grupo de consumidores, uma região, cidade, país etc. é 
obtida a partir da soma das quantidades demandadas pelos consumidores individualmente (com os 
mesmos preços).
Na prática, é difícil obtê-la por esse método considerando a grande quantidade de agentes econômicos.
Assim, outra possibilidade é multiplicar as quantidades demandadas individualmente por um 
consumidor considerado típico (médio) pelo númerode consumidores existentes no mercado – aos 
mesmos preços.
 Lembrete
Na maioria dos casos, o preço é, de fato, a variável mais relevante para 
explicar o comportamento da quantidade procurada (demandada) de um 
bem ou serviço pelos consumidores.
No nosso exemplo, admitindo que os dados da tabela revelam um consumidor típico e que são dez, 
no total, teríamos a seguinte tabela para a demanda total para o bem X:
Tabela 4 
Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades) pelos dez consumidores
50,00 300
100,00 200
150,00 150
200,00 100
250,00 50
Diferentemente do que ocorreria se adotássemos o processo da soma de cada uma das demandas, a 
curva da demanda total (isto é, do mercado) terá o mesmo formato e inclinação daquela que identifica 
o consumidor admitido como médio do mercado).
Assim, a cada preço teremos uma quantidade demandada, seja do consumidor individual, seja de 
todo o mercado.
No nosso exemplo, se o preço unitário do bem X aumentar de R$ 50,00 para R$ 100,00, a quantidade 
demandada individualmente diminuirá para 20 unidades.
47
ECONOMIA E MERCADO
E, se, eventualmente, o preço diminuir de R$ 200,00 para R$ 150,00, haverá expansão da quantidade 
demandada de dez para 15 unidades e vice-versa.
Preço do bem Quantidade demandada pelo consumidor
Figura 8 
O gráfico da demanda, seja para o consumidor (individualmente), seja para um conjunto, explicita 
a relação entre duas variáveis (no caso, preço e quantidade demandada para o bem X), mantidas todas 
as demais condições.
Contudo, é possível que ocorram mudanças em outras variáveis, o que afetaria o nosso gráfico.
Um aumento da renda do consumidor individual (ou do consumidor típico/médio, se estamos 
analisando o total do mercado) fará com que toda a curva seja deslocada para cima e à direita.
Assim, eleva-se a quantidade demandada para cada um dos preços do nosso exemplo, denotando 
um maior poder aquisitivo do consumidor, como decorrência do crescimento de sua renda (aumento de 
salário, por exemplo).
Nossa tabela, para o consumidor individual do bem X, agora poderia, por hipótese, ser a seguinte:
Tabela 5 
Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades) 
50,00 40
100,00 30
150,00 25
200,00 20
250,00 15
Naturalmente, poderia ter ocorrido uma situação diversa, com, por exemplo, a queda da renda do 
consumidor individual ou típico/médio, o que deslocaria toda a curva de demanda no sentido contrário, 
para baixo e à esquerda.
Assim, diminui a quantidade demandada para cada um dos preços do nosso exemplo, denotando 
um menor poder aquisitivo do consumidor, como decorrência da queda de sua renda (situação de 
desemprego, por exemplo).
48
Unidade II
Nossa tabela, para o consumidor individual do bem X, poderia ser representada da seguinte maneira:
Tabela 6 
Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades) 
50,00 20
100,00 10
150,00 8
200,00 5
250,00 3
De fato, os deslocamentos da curva ocorrem sempre que outros fatores, que não o preço do bem 
X, se alteram, por exemplo, além da renda mencionada anteriormente, os gostos e as preferências dos 
agentes econômicos e aspectos relacionados com a propaganda para o bem ou serviço.
Nos gráficos cartesianos de duas dimensões, que identificam relacionamentos entre duas variáveis – 
uma explicativa e outra explicada/dependente), – sempre que ocorrerem mudanças em outras variáveis 
– não explicitadas no gráfico, em seus eixos horizontal e vertical, haverá deslocamentos para cima ou 
para baixo (ou para a direita e à esquerda) de toda a curva.
Finalmente, ainda a respeito da demanda, deve ser considerado o seguinte: dependendo do tipo de 
bem que se está analisando, seu comportamento poderá ser muito diferente. Neste caso, costumam ser 
identificados os bens ditos normais, cuja demanda diminui no caso de aumento do preço do bem. Se o 
preço da carne, por exemplo, aumentar, o indivíduo deverá consumir menos esse bem e vice-versa.
Entretanto, se os bens forem considerados inferiores, a sua demanda poderá diminuir mesmo no 
caso de diminuição do preço se, por exemplo, o consumidor contar com um maior poder aquisitivo. É o 
caso do consumo pretendido para a chamada carne de segunda (categoria).
3.2 A oferta de bens e serviços
Nossa análise, agora, é feita para o comportamento do produtor (ou vendedor) de um bem ou serviço.
Todos os que decidem abrir um negócio têm como objetivo otimizar seus lucros e, para tanto, 
precisam obter receitas com as vendas de seus produtos e incorrer em custos em sua fabricação.
Para a grande maioria dos bens, ditos normais, existe uma relação direta entre os seus preços e as 
respectivas quantidades ofertadas, que expandem junto com os acréscimos dos primeiros.
Preço do bem Quantidade ofertada pelo produtor (vendedor)
Figura 9 
49
ECONOMIA E MERCADO
Assim, a oferta representa a disposição ou intenção de produzir e vender, enquanto produzir e 
vender indicam os atos efetivos de produção e venda do respectivo bem ou serviço.
Tal como fizemos no caso da demanda, vamos admitir, na tabela a seguir, as alternativas de oferta 
para um determinado bem ou serviço, consoante seu preço praticado no mercado:
Tabela 7 – Oferta do bem X, conforme diferentes alternativas de preços
Preços do bem X (R$) Quantidade ofertada (unidades) 
50,00 5
100,00 10
150,00 15
200,00 20
250,00 30
O gráfico a seguir mostra a curva de oferta – considerando os dados indicados na tabela anterior.
35
30
25
20
15
10
5
0
50,00 100,00 150,00
Alternativas de preços do bem X
Qu
an
tid
ad
es
 o
fe
rt
ad
as
 d
o 
be
m
 X
15
10
5
30
20
200,00 250,00
Figura 10 – Oferta para o bem X
A Lei da Oferta indica que as quantidades ofertadas de um bem (X) variam, diretamente, com o seu 
preço, permanecendo constantes os custos de produção.
Tal como ocorre no caso da demanda, essa relação é válida tanto para a oferta do produtor individual 
como para a do conjunto do mercado.
Naturalmente, há uma série de aspectos, além do preço do próprio bem ou serviço, que determinam 
a quantidade que os fornecedores pretendem produzir e vender de cada bem ou serviço em um 
determinado período, por exemplo:
• preços/custos dos fatores utilizados na fabricação do produto;
50
Unidade II
• condições climáticas e ocorrências de externalidades;
• custos de comercialização e de vendas do bem ou serviço e de outros que lhe sejam substitutos 
ou complementares;
• tecnologia disponível para a empresa;
• tamanho e nível de concorrência do respectivo mercado.
Na maioria dos casos, contudo, o preço é a variável mais relevante para explicar o comportamento 
da quantidade ofertada (oferecida) de um bem ou serviços pelos vendedores/produtores.
Os deslocamentos da curva ocorrem sempre que outros fatores, que não os explicitados nos eixos 
(horizontal e vertical) dos gráficos cartesianos, influem no objeto (no caso, a oferta) em estudo.
Toda mudança, aumento ou diminuição em outra variável, que não seja a do próprio preço do bem 
ou serviço, desloca toda a curva de oferta para a direita ou para a esquerda, conforme o caso.
3.3 O equilíbrio de mercado
No mercado ocorre a interação entre compradores e vendedores.
Em mercados totalmente competitivos, um único preço geralmente prevalece.
Naqueles que não sejam completamente competitivos, diferentes vendedores podem cobrar 
variados preços.
Ao discutirmos determinado mercado, devemos ser claros a respeito de sua extensão tanto em 
termos de limites geográficos como em relação à gama de produtos que nele são transacionados.
Alguns mercados, por exemplo, o imobiliário, são tipicamente locais, enquanto outros são mundiais, 
como é o caso do ouro.
Outro aspecto relevante diz respeito à questão da prevalência dos preços ao longo do tempo.
Para eliminar os efeitos da inflação, comparamos preços reais (ou preços em moeda constante), em 
vez de preços nominais (ou preços em moeda corrente).
Os preços reais são calculados por meio de um índice agregado de preços, por exemplo, o Índice 
de Preços aoConsumidor (IPC), subtraindo-se os efeitos inflacionários ou, em outras palavras, 
deflacionando-se os preços nominais pelo uso de um deflator de preços.
No Brasil, o índice que mede oficialmente a variação de preços é o Índice de Preços ao Consumidor 
Amplo (IPCA).
51
ECONOMIA E MERCADO
As transações reais de mercado pressupõem certas condições: todos os compradores podem comprar 
o que planejam, ao preço corrente e sob as contingências vigentes do mercado; e todos os vendedores 
podem vender o que planejam ao mesmo preço e sob as mesmas contingências.
Assim, o mercado estará em equilíbrio quando, ao preço estabelecido e sob as condições existentes, 
todos os compradores e vendedores podem realizar seus planos.
Caso alguns compradores não consigam comprar tudo o que queriam, ou se alguns vendedores não 
puderam vender tudo o que desejavam, o mercado está em desequilíbrio.
Nossa análise básica do mercado se baseia no pressuposto de que todas as transações realmente 
executadas constituem transações feitas em condições de equilíbrio, nas quais os planos de ambos os 
lados são realizados.
Indagamos, em especial, a que preço e quantidade os vendedores desejam vender se iguala 
exatamente ao que os compradores desejam comprar.
O equilíbrio de mercado diz respeito à comparação entre os desejos e atitudes de ofertantes e 
demandantes de bens e serviços nesse mercado específico, que conduzem a uma solução que satisfaça 
a ambas as partes no conjunto das negociações envolvidas na transação.
Em uma economia de mercado, a oferta e a demanda de bens e serviços se ajustam, determinando 
preços e quantidades que são, por um lado, vendidas e, ao mesmo tempo, adquiridas.
Então, os recursos escassos são eficientemente alocados para a satisfação das necessidades ilimitadas 
dos inúmeros agentes econômicos que atuam neste mercado.
Nesse particular estado de equilíbrio, os preços e quantidades nem sempre são efetivamente aqueles 
que se desejaria praticar, indicando o bem-estar econômico, ou seja, aquele estado de satisfação geral 
pelas transações efetuadas pelos agentes envolvidos no mercado.
Entretanto, é fato que tanto produtores como compradores se beneficiam ao participar do mercado, 
oferecendo e adquirindo produtos e insumos.
O ato de venda e compra se estende a um sem-número de operações, que, na média, possibilitam a 
realização de lucro ou satisfação para todos os envolvidos.
Em mercados competitivos, o equilíbrio de mercado repousa na quantidade e preços definidos pelas 
forças da oferta e da demanda de bens e serviços.
52
Unidade II
O gráfico a seguir estabelece o equilíbrio de mercado para um determinado bem:
12,00
P
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 Q
D
A
E
B
O
Escassez de D
Esc
ass
ez 
de
 O
Excesso de D
Exc
ess
o d
e O
Figura 11 – Demonstração do equilíbrio de mercado
O equilíbrio neste exemplo ocorre quando o preço praticado no mercado for R$ 6,00 e a quantidade 
transacionada for 6 mil. Isso é evidenciado pelo ponto E (equilíbrio), situado no cruzamento/intersecção 
das curvas de demanda (D) e oferta (O).
No caso do bem X, que usamos anteriormente como exemplo neste livro-texto, há a igualdade 
entre as intenções de compra (demanda) e de venda (oferta) quando o preço do mercado é igual a 
R$ 150,00.
Apenas nesse preço ocorrerá uma transação de compra e venda no mercado, e a quantidade 
negociada (entendida como quantidade de equilíbrio) será de 15 unidades.
Em qualquer outra hipótese, não haverá coincidência de desejos e intenções entre compradores e 
vendedores, não se configurando uma real transação de compra e venda para o bem.
Se o preço praticado no mercado for superior ao de equilíbrio (R$ 150,00), haverá um excesso de 
oferta (ou escassez de demanda) em relação à demanda.
Quando o preço for inferior ao de equilíbrio, teremos um excesso de demanda (e escassez de oferta) 
em relação à oferta para o bem ou serviço.
Tentativas de fixação (congelamento) de preços irão distorcer as condições determinadas livremente 
pelo mercado.
53
ECONOMIA E MERCADO
 Lembrete
A Lei da Oferta indica que as quantidades ofertadas de um bem (X) variam, 
diretamente, com o seu preço, permanecendo constantes os custos de produção.
3.4 As elasticidades da demanda e da oferta de bens e serviços
Vimos a importância de se conhecer aspectos associados com a demanda e a oferta para bens e 
serviços comercializados na economia.
As decisões dos agentes (das próprias empresas ou de uma região ou país) serão melhoradas quando 
se conseguir determinar as respectivas demandas e ofertas para os diferentes bens ou serviços.
Em adendo ao próprio conceito de demanda (ou de oferta), o de elasticidade permite a mensuração 
do impacto sobre as quantidades (demandadas e ofertadas) em relação a outros fatores que as afetam, 
destacando-se os preços dos bens e serviços.
É essencial analisar qual é a sensibilidade da quantidade demandada (ou da ofertada).
 Saiba mais
Em Economia para Administradores, Oliveira (2006) traz um bom 
detalhamento dos conceitos relacionados com as elasticidades de demanda 
e de oferta de bens e serviços.
Sandroni (1999, p. 206) conceitua elasticidade como a “relação entre as diferentes quantidades de oferta 
e procura de certas mercadorias, em função [razão] das alterações verificadas em seus respectivos preços”.
Comecemos examinando duas curvas de demanda – A e B:
Preço Preço
Quantidade Quantidade
Demanda
Demanda
A) B)
Figura 12 – Demandas elástica e inelástica
54
Unidade II
É fácil distinguir dois diferentes formatos nesses dois exemplos, independentemente de constatar, 
em ambos os casos, uma relação inversa entre preço e quantidade demandada. A diferença concentra-se 
na inclinação das curvas.
No caso da demanda, essa inclinação é afetada por outros fatores, além do preço do bem ou serviço, 
como as preferências do consumidor e a disponibilidade de outros bens – substitutos ou complementares.
As mudanças de preço no caso da curva A deste exemplo provocam variações em menor intensidade 
da quantidade demandada, conforme o preço do mercado. No caso da B, elas provocariam variações de 
outra intensidade, isto é, mais do que proporcionais na quantidade demandada.
Pretende-se, então, medir a intensidade da variação da quantidade (demandada ou ofertada) para 
estimar os reais efeitos de uma decisão econômica, seja aquela que é feita pelo próprio agente, seja feita 
pelo governante.
A economia oferece alternativas de medição da elasticidade com relação aos fatores que afetam a 
demanda ou a oferta de bens e serviços.
3.5 Elasticidade-preço da demanda
Entre os vários tipos de elasticidade, a associada com o preço do bem ou serviço é uma das mais 
importantes.
A maior (ou menor) magnitude da elasticidade-preço da demanda está vinculada, entre outros 
fatores, com:
• existência (disponibilidade) de bens substitutos próximos;
• caracterização do bem como sendo necessário (essencial) ou supérfluo;
• definição dos limites (tamanho) do mercado;
• horizonte de tempo para que se materialize a alteração de consumo.
A elasticidade-preço da demanda mede a sensibilidade da quantidade demandada em relação às 
variações do preço do bem ou serviço.
Estamos considerando o quanto, percentualmente, varia a quantidade demandada de um bem com 
relação à variação também percentual do seu preço, praticado no mercado.
Para calcular o índice que corresponde à elasticidade-preço da demanda, é preciso conhecer os 
preços e as quantidades iniciais e finais.
55
ECONOMIA E MERCADO
Em termos matemáticos, isso pode ser demonstrado pela expressão:
E
Q
Pd
d= ∆
∆
%
%
Sendo:
Ed: elasticidade_preço_demanda
∆%Qd: variação_percentual_quantidade_demandada
∆%P: variação_percentual_preço
No nosso exemplo, se o preço unitário do bem X aumentar de R$ 50,00 para R$ 100,00, a quantidade 
demandada diminuirá para 20 unidades. E se, eventualmente, o preço diminuir de R$ 200,00 para R$ 
150,00, haverá expansão da quantidadedemandada de dez para 15 unidades.
Agora voltemos ao exercício discutido anteriormente, em que consideramos os efeitos na quantidade 
demandada em relação ao preço do bem ou serviço de R$ 50,00 para R$ 100,00.
Neste caso, o preço teria dobrado (aumentou em 100%), enquanto a quantidade demandada 
diminuiu de 30 para 20 unidades (ou 33%), o valor da elasticidade (Ed) será:
Ep =
−33
100
%
%
Ep = - 0,33
O cálculo da variação percentual do preço (vale também para o da quantidade demandada) é obtido 
pela divisão entre o que mudou de um ponto para outro – aumento ou diminuição – e o valor anterior.
O resultado obtido dessa divisão é multiplicado por 100 para que o resultado seja expresso em 
notação percentual.
Assim, a variação percentual do preço, subindo de R$ 50,00 para R$ 100,00, será:
Variação percentual: (R$ 100,00 – R$ 50,00)/R$ 50,00 x(100) = 100%
Já a variação percentual da quantidade demandada, diminuindo de 30 para 20 unidades, será:
Variação_percentual: (20 –30)/30 = 0,33(100):33%
56
Unidade II
Há diferentes elasticidades em cada um dos pontos da curva de demanda.
A análise desse índice deve ser feita admitindo que:
• altas elasticidades significam alto grau de resposta à alteração do preço;
• baixas elasticidades indicam relativa insensibilidade às alterações de preços.
O resultado de Ed será sempre negativo, dado que há uma relação inversa entre preço e quantidade 
demandada.
Contudo, a análise deve considerar o resultado absoluto da divisão – módulo. Em Matemática, 
módulo é o valor do número sem sinal. Nesse contexto, 0,5 (o que é o mesmo que +0,5) é o mesmo 
que -0,5.
A representação do módulo de um número é feita precedida e seguida de barras verticais. Assim, o 
módulo de (-0,5) será representado por |-0,5|, que resulta em 0,5.
Agora analisemos outro exemplo.
Se a curva de demanda para um bem Y indicar um aumento do preço de R$ 1,00 para R$ 1,10 
(10% em relação ao preço original), ocorrerá uma diminuição da quantidade demandada, 100 para 80 
unidades (20% em relação à quantidade anterior). Então, a elasticidade-preço da demanda, nesse ponto 
da curva, será:
Ed =
−
+
20
10
%
%
Ed = - 2
Portanto, o cálculo do índice da elasticidade-preço da demanda de determinado bem, como foi 
mostrado nos exemplos anteriores, fará com que:
• Ed seja igual a |1| ou
• Ed seja menor do que |1| ou
• Ed seja maior do que |1|.
Nos casos extremos, Ed será zero ou infinito.
A elasticidade costuma ser diferente conforme o ponto escolhido para o cálculo.
57
ECONOMIA E MERCADO
Há, também, a possibilidade de calcular a elasticidade para um intervalo entre dois pontos da curva 
de demanda.
A demanda será considerada elástica em relação a preço quando o aumento percentual da quantidade 
demandada for mais do que proporcional à queda percentual dos preços.
Ed será maior do que |1|.
A demanda será inelástica em relação a preço quando a expansão percentual da quantidade demandada 
for menor do que a queda percentual dos preços. Visto de outra forma, ela será inelástica quando a 
diminuição percentual da quantidade demandada for menor do que a elevação percentual dos preços.
Ed será menor do que |1|.
A demanda terá elasticidade unitária em relação a preço quando o aumento percentual da quantidade 
demandada se der na mesma proporção da variação dos preços.
Ed será igual a |1|.
Não haverá elasticidade sempre que Ed for igual a 0 (zero).
E, finalmente, a demanda será considerada como completamente ou perfeitamente elástica 
quando a quantidade demandada mudar infinitamente com relação às mudanças de preços: Ed será 
igual a ∞ (infinito).
Neste último caso, se a resposta da quantidade demandada for extremamente maior do que a queda 
percentual dos preços: Ed tende para o infinito.
Vejamos os gráficos que apresentam situações em que a demanda será elástica ou inelástica em 
relação do preço do respectivo bem:
P1 P1
Q1 Q1Q0
Preço Preço
Quantidade Quantidade
Demanda
Demanda
Ed < |1|Ed > |1|
Q0
P0 P0
A) B)
∆p
Figura 13 – Representações de demanda elástica (A) e inelástica (B) em relação ao preço do bem
58
Unidade II
Elástica
ED > 1
Unitária
ED = 1Inelástica
ED < 1
Quantidade Q
Pr
eç
o 
P
Figura 14 – Representações de elasticidades da demanda em relação ao preço do bem
Para verificar melhor os efeitos dos índices de elasticidades de bens ou serviços, destacamos o 
exemplo a seguir. Nele, procuramos mostrar o efeito na receita total (RT) de uma empresa, dependendo 
da sensibilidade (elasticidade) da demanda de seu produto (s).
A RT da firma é dada pela multiplicação do preço unitário (P) pela quantidade vendida (Q do produto):
RT = P x Q
A situação inicial (instante 0) será:
RTo = Po x Qo
Posteriormente (instante 1), teremos:
RT1 = P1 x Q1
Se a demanda é elástica, uma diminuição no preço do produto ocasiona um aumento mais do que 
proporcional da quantidade vendida e, portanto, uma elevação da receita total da firma. Desse modo, 
aumentos no preço de venda do produto poderão provocar uma contração da receita da firma.
Se, porém, a demanda for inelástica em relação a preço e ocorrer uma diminuição do preço do 
produto, o aumento da quantidade demandada será proporcionalmente inferior à redução percentual 
praticada no preço, consequentemente, diminuindo a receita total da firma.
A demanda tende a ser mais elástica se:
• o bem for supérfluo;
• maior for o horizonte de tempo para a adequação da demanda;
59
ECONOMIA E MERCADO
• maior for a quantidade de bens substitutos próximos;
• mais restritos forem os limites do mercado em questão.
E, ao contrário, ela tende a ser menos elástica se:
• o bem for necessário;
• menor for o tempo para a adequação e para a adaptação da demanda;
• menor for a quantidade de bens substitutos próximos;
• menos restritos forem os limites do mercado em questão.
3.6 Elasticidade-preço cruzada da demanda
Há outras medições de elasticidade da demanda, por exemplo, a que mede a variação da quantidade 
demandada em relação ao preço não do próprio, mas de outro bem que lhe é complementar ou substituto.
Assim, a elasticidade cruzada da demanda, que denominaremos Ex, mede as variações percentuais 
de quantidade procurada de um bem n em relação às variações percentuais no preço de outro bem k:
Para bens complementares – automóvel e combustível –, Ex será negativo. Para bens substitutos – 
manteiga e margarina –, Ex será positivo.
Assim como no caso da medição da elasticidade-preço, se Ex for igual a zero, não haverá qualquer 
relação entre os bens, nem de substituição, nem de complementaridade.
A medição desse tipo de elasticidade nos permite determinar a intensidade e os efeitos da concorrência 
por meio dos produtos substitutos ou complementares, e, com isso, podermos elaborar estratégias de 
mercado mais refinadas para o crescimento da empresa ou do setor ou região.
3.7 Elasticidade-renda da demanda
Neste caso, procura-se conhecer as repercussões sobre a quantidade demandada em razão de uma 
variação na renda do consumidor.
Quando a quantidade demandada diminui por causa de um aumento na renda do consumidor, o 
indicador dessa elasticidade que denominaremos Er será negativo.
Os bens normais ou bens superiores apresentam reação positiva a incrementos de renda do consumidor.
O valor de Er pode, ainda, ser um indicador de um subtipo de bem normal. Se Ex for maior do que 
zero, porém menor do que 1, trata-se de um bem essencial.
60
Unidade II
Se Er for maior do que um, é considerado bem de luxo.
Os bens inferiores têm sua quantidade demandada diminuída quando aumenta a renda do consumidor.
Se Er for zero, o consumo do bem n não dependerá do nível de rendimento do consumidor.
Vasconcellos (2007, p. 419) comenta a respeito dos chamados bens de Giffen, acentuando tratar-se 
da única exceção à regra da relação direta da demanda, em relação à renda do consumidor, coeteris 
paribus. Neste caso, a relação é inversa, pois se refere a um bem de tipo inferior. O autor ainda menciona 
como exemplo desse tipode bem o comportamento de uma sociedade inglesa no século XVIII, muito 
pobre e grande consumidora de batatas. Com uma expressiva queda de preços da batata, aumentou 
o poder aquisitivo dos consumidores, que, saciados pelo consumo, passaram a gastar com outros 
alimentos, e a curva de demanda de batatas passou a ser inclinada positivamente, e não negativamente.
Oliveira (2006, p. 216) comenta:
De forma geral, a elasticidade-renda da demanda é maior para os produtos 
manufaturados do que para os básicos, pois, em função [razão] da elevação 
da renda, é mais frequente a elevação da demanda por bens manufaturados 
– como eletrônicos, refrigerador, máquina de lavar, vídeo, computador – do 
que por alimentos, como arroz, feijão, açúcar etc., que já vinham, ao menos 
em parte, tendo suas necessidades atendidas.
Heilbroner (2008), ao analisar as causas que provocaram a Grande Depressão americana – uma 
grande paralisação decorrente da longa tendência de crescimento, que durou quase uma década, 
com início em 1929 – cita, dentre outros motivos, uma deterioração inexorável do poder aquisitivo na 
agricultura, agravada pela demanda inelástica de produtos agrícolas.
Esse comportamento da demanda também levou a Comissão Econômica para a América Latina 
(Cepal) a incentivar os países da região a se industrializarem, dado que haveria deterioração dos termos 
de troca dos que mantivessem a produção concentrada em bens primários, como as commodities.
O termo significa literalmente “mercadoria” em inglês. Nas relações 
comerciais internacionais, o termo designa um tipo particular de mercadoria 
em estado bruto ou produto primário de importância comercial, como é o 
caso do café, do chá, da lã, do algodão, da juta, do estanho, do cobre etc. 
(SANDRONI, 1999, p. 112).
3.8 Elasticidades da oferta
Tal como a demanda, a oferta pode apresentar diferentes possibilidades de elasticidade (maior, 
menor, unitária etc.) em relação aos fatores que a impactam, como os preços do respectivo bem ou 
serviço, os custos das matérias-primas etc.
61
ECONOMIA E MERCADO
Assim, a elasticidade-preço da oferta mede o aumento ou a diminuição percentual da quantidade 
ofertada devido a uma alteração do preço do respectivo bem ou serviço.
De forma semelhante à demanda, a elasticidade da oferta tem como fatores determinantes:
• limites (tamanho) do mercado de comercialização do bem ou serviço;
• intervalo de tempo para a adequação da produção;
• capacidade dos produtores de mudar a quantidade produzida de um determinado bem ou serviço.
A elasticidade-preço da oferta é calculada pela divisão da variação percentual da quantidade 
ofertada pela variação percentual do preço em determinado ponto (ou intervalo) da curva de oferta do 
respectivo bem ou serviço:
E
quantidade ofertada
%(preco)o
= ∆
∆
%( )
ç
De forma análoga à demanda, podemos constatar casos de curvas de oferta com:
• perfeita elasticidade;
• elástica;
• inelástica;
• elasticidade unitária.
O exemplo a seguir aponta para uma oferta elástica.
Se o preço de um bem for alterado de R$ 4,00 para R$ 5,00 (aumento de 25%), enquanto a 
quantidade ofertada se alterar de 100 para 200 unidades (100%), estaremos diante de uma situação de 
oferta elástica.
Contudo, se houver essa mesma mudança de preço (de R$ 4,00 para R$ 5,00), mas que ocasione um 
aumento da quantidade ofertada, por exemplo, de 100 para 110 unidades (10%), haverá a oferta inelástica.
3.9 Outras aplicações do conceito de elasticidade
Além do que foi visto no que tange ao dimensionamento das mudanças da demanda e da oferta em 
relação a fatores que as impactam, esse conceito pode ser adotado em outros tipos de estudos, por exemplo:
• efeitos das mudanças da taxa de câmbio sobre as exportações e importações do país;
62
Unidade II
• efeitos das mudanças da taxa de juros sobre os níveis de poupança e de investimento 
da sociedade.
3.10 Medidas de elasticidade de alguns produtos
A tabela a seguir apresenta dados de elasticidades-preços da demanda de alguns produtos (alimentos) 
nas negociações no varejo, comparando Brasil e Estados Unidos da América:
Tabela 8 – Comparações de graus de elasticidade de produtos agropecuários
Produto
Magnitude da elasticidade-preço da demanda (em módulo)
No Brasil Nos Estados Unidos da América
Açúcar 0,13 0,24
Arroz 0,10 (*)
Banana 0,49 (*)
Batata inglesa 0,15 0,25
Café em pó 0,12 0,21
Café solúvel 0,85 1,10
Carne bovina 0,94 0,77
Carne de frango 0,96 0,80
Carne suína 0,70 0,60
Farinha de trigo 0,35 0,15
Feijão 0,16 (*)
Frutas 0,50 0,45
Laranja (*) 0,66
Leite 0,14 0,34
Manteiga (*) 0,66
Margarina (*) 0,84
Ovos 1,20 0,30
Pão (*) 0,15
Queijo (*) 0,55
Tomate 1,20 (*)
Produtos agrícolas em geral (*) 0,42
Carnes em geral (*) 0,60
Alimentos em geral 0,50 0,12
Não alimentos (*) 1,02
Adaptado de: Mendes; Padilha Junior (2007, p. 73).
63
ECONOMIA E MERCADO
4 AS ESTRUTURAS DE MERCADOS
4.1 Que papel os mercados desempenham na economia?
A interação dos agentes econômicos dá-se nos mercados da economia, seja pelos compradores, seja 
pelos vendedores de bens e serviços. É por isso que a adequada participação no sistema econômico 
demanda o conhecimento das estruturas de mercado vigentes.
O objetivo é utilizar os conhecimentos, por exemplo, nas decisões do agentes econômicos – nos 
processos de formação de preços dos bens e serviços.
Encontramos várias estruturas de mercados, inclusive aquela em que um grande número de empresas 
oferece produtos idênticos (e a concorrência entre os ofertantes é considerada perfeita).
Entretanto, há situações em que um produto único, sem substitutos, domina o mercado, o que 
caracteriza um monopólio.
São diversos os fatores que dimensionam essas estruturas de mercado destacando-se os 
seguintes aspectos:
• Quantidade de empresas vendedoras.
• Dimensão dessas organizações – seu poder de compra e de negociação.
• Grau de interdependência entre elas.
• Similaridades ou diferenças entre os produtos das instituições que participam do mercado.
• Natureza e a quantidade de consumidores (empresas e famílias).
• Informações dos consumidores e dos vendedores sobre os demais produtos transacionados nesse 
mercado, em termos, por exemplo, de preços e condições comerciais.
• Grau de habilidade que as organizações individuais dispõem para influenciar a procura no mercado 
como um todo, pelas mais diversas formas, como a promoção do produto, aspectos qualificativos, 
facilidades de comercialização etc.
• Facilidade com que as firmas entram e saem da indústria (setor – ou ramo de produção).
Comumente, as estruturas dos mercados mesclam elementos de monopólio, concorrência perfeita e 
concorrência monopolística, dependendo de suas forças relativas.
64
Unidade II
4.2 Os grandes mercados da economia
Quando falamos em mercado, estamos tratando do local onde se dá a interação entre os agentes 
para a realização de transações como as de compra e venda de produtos.
O local, aqui indicado, não se refere sempre a um espaço, lugar físico, pois grandes mercados se 
situam de modo virtual.
O primeiro caso identifica os mercados nos quais ocorrem as transações diretas com produtos.
Neste caso, podemos considerar os mercados:
• De bens e serviços: as famílias demandam e as empresas oferecem os bens e serviços necessários 
à satisfação das necessidades humanas.
• De fatores de produção: as famílias oferecem e as empresas demandam os recursos (fatores de 
produção, como capital, terra e trabalho) necessários à produção dos bens e serviços que serão 
transacionados na economia.
Figura 15 – Central de distribuição de alimentos
Podemos classificar os mercados financeiros em:
• Mercados monetários: trocas de curto e curtíssimo prazo, visando oferecer liquidez aos agentes 
econômicos. O grande indicador para esses mercados é a taxa de juros.
 Observação
Liquidez é um termo muito usado em finanças e contabilidade. Reflete a 
capacidade de determinado ativo, bem ou direito de uma entidade, pública 
ou privada, de ser convertidoem dinheiro.
65
ECONOMIA E MERCADO
• Mercados de crédito: fornecem recursos para o consumo ou o investimento dos agentes 
econômicos.
• Mercados de capitais: permitem as trocas entre dinheiro e títulos financeiros.
• Mercados de câmbio: possibilitam, através das variações da taxa de câmbio, as trocas entre a 
moeda nacional e externas (como o dólar norte-americano).
É possível, também, classificar os mercados em locais, regionais ou mundiais.
No primeiro caso, pode ser destacado o mercado imobiliário, de transações de bens imóveis. As 
negociações envolvendo as trocas de moedas de diferentes países, entre os agentes econômicos, são 
exemplo de mercado mundial, havendo grande influência de bolsas internacionais. As transações entre 
a moedas são determinadas pelas variações na taxa de câmbio entre elas, que vigora em cada mercado.
No Brasil, compra-se moeda estrangeira com base no seu custo em reais.
4.3 Mercados em concorrência perfeita
Considera a teoria que estuda os livres mercados (capitalistas) que a economia será mais eficiente 
quanto maior for o nível de concorrência entre os agentes econômicos, sejam eles consumidores, sejam 
produtores.
O modelo denominado concorrência perfeita é caracterizado por uma grande quantidade de 
participantes – tanto ofertantes quanto demandantes de bens e serviços.
Nessa estrutura, que é considerada a ideal para o funcionamento de uma economia, nenhum 
dos agentes é capaz, isoladamente, de influenciar o preço e a quantidade de produtos que serão 
transacionados no mercado.
A concorrência perfeita supõe o pleno funcionamento do mecanismo de preço como orientador da 
quantidade a ser oferecida e, igualmente, que será adquirida pelos consumidores.
Os mercados em concorrência perfeita são caracterizados por:
• Existência de uma grande quantidade de agentes vendedores e compradores interagindo nos 
movimentos de venda e compra de bens e serviços.
• Homogeneidade dos produtos. Supõe que não existem significativas diferenças entre os produtos 
oferecidos. Os compradores podem, assim, adquirir o produto de qualquer ofertante.
• Transparência das informações de mercado. Tanto os vendedores como os compradores têm 
amplo acesso a todas as informações do mercado, tanto no que se refere a preços como 
à quantidade e qualidade. Também os aspectos referentes a custos e lucros dos concorrentes 
66
Unidade II
são conhecidos, o que faz com que não haja interesse por venda a preço abaixo daquele 
vigente no mercado.
• Os agentes econômicos são tomadores de preço. Vendedores e compradores se sujeitarão ao 
preço de mercado, não usufruindo de incentivos para reduzi-lo – posição compradora – ou 
aumentá-lo – posição vendedora.
• Inexistem direitos de propriedade ou patentes, por exemplo, que, muitas vezes, impedem a entrada 
de novos ofertantes.
• Não existem barreiras legais resultantes da ação governamental, como a exigência de determinadas 
condições para o estabelecimento de empresas em diversos mercados.
• Os empresários sempre procuram maximizar seus lucros e os consumidores a sua satisfação ou 
utilidade, agindo racionalmente.
Todas as hipóteses aqui apresentadas são válidas também para o mercado de fatores de produção 
sob a forma de concorrência perfeita.
Sandroni (1999, p. 118) define concorrência como:
Também chamada livre-concorrência. Situação do regime de iniciativa 
privada em que as empresas competem entre si, sem que nenhuma delas 
goze da supremacia em virtude de privilégios jurídicos, força econômica ou 
posse exclusiva de certos recursos. Nessas condições, os preços de mercado 
formam-se perfeitamente segundo a correção entre oferta e procura, sem 
interferência predominante de compradores ou vendedores isolados. Os 
capitais podem, então, circular livremente entre os vários ramos e setores, 
transferindo-se dos menos rentáveis para os mais rentáveis em cada 
conjuntura econômica. Nesse caso, o mercado é concorrencial em alto 
grau. De acordo com a doutrina liberal, propugnada por Adam Smith e 
pelos economistas neoclássicos, a livre-concorrência entre capitalistas 
constitui a situação ideal para a distribuição mais eficaz dos bens entre 
as empresas e os consumidores. Com o surgimento de monopólios e 
oligopólios, a livre-concorrência desaparece, substituída pela concorrência 
controlada e imperfeita.
4.4 Mercados monopolistas
Nesse tipo de estrutura, há uma única grande empresa atuando como fornecedora do bem.
Usualmente, o mercado consumidor é constituído por agentes de menor porte. Constitui o extremo 
oposto da concorrência perfeita.
67
ECONOMIA E MERCADO
O bem ou serviço oferecido não conta com um substituto próximo, ou seja, inexiste concorrente no 
mercado em questão.
A inexistência de produtos substitutos próximos ocorre porque o produto comercializado é complexo 
ou muito caro para ser produzido ou, ainda, pela existência de barreiras à livre entrada de novos 
participantes no mercado.
Assim, o monopolista exerce grande influência na determinação do preço a ser cobrado do comprador.
Há barreiras legais ou estratégicas que impedem a participação de outras empresas, concorrentes, 
no mercado.
Entre outros aspectos, é importante considerar que o monopolista:
• tem condições privilegiadas de acesso a determinada matéria-prima;
• detém patente industrial sobre o produto e/ou processo de fabricação;
• possui direitos autorais, sem possibilidade de acesso imediato por um competidor.
As condições de atuação do monopolista impedem a entrada de novos players em razão dos 
seguintes aspectos:
• Existência de economias de escala, possibilitando a obtenção de maior quantidade produzida por 
recurso de produção utilizado. 
— A obtenção de economias (rendimentos positivos) de escala se efetiva porque o ofertante pode 
aumentar a produção e, ainda assim, reduzir seus custos.
— Geralmente, as empresas que atuam em condições monopolistas apresentam elevados 
custos fixos de produção – que não aumentam em virtude do crescimento da quantidade 
oferecida, como ocorre com os aluguéis, cujos valores normalmente são independentes da 
quantidade produzida.
— Os custos variáveis, por outro lado, aumentam com base na quantidade produzida e/ou 
comercializada, como é o caso da matéria-prima que compõe o produto oferecido. Os custos 
variáveis são relativamente baixos.
— Os custos fixos, portanto, são distribuídos por uma quantidade cada vez maior de unidades 
oferecidas na medida em que a produção aumenta.
• Controle sobre a matéria-prima.
• Direitos autorais e patentes de produção, muitas vezes pelo privilégio de obtenção de uma 
carta-patente, que impede o acesso de outros fabricantes à tecnologia de produto ou de processo.
68
Unidade II
• Desenvolvimento de barreiras estratégicas: decorrem da ação das empresas já instaladas com o 
intuito de evitar a entrada de concorrentes no mercado, destacando-se:
— Fixação de um preço limite: a organização existente pode adotar políticas de preços, 
baixando-o e obrigando as potenciais entrantes a enfrentar prejuízos se decidirem entrar 
no mercado.
— Capacidade de diferenciação (proliferação de marcas).
— Controle de inputs e outlets: a empresa presente no mercado controla o acesso aos fatores 
produtivos e aos postos de vendas, dificultando a entrada de outras entidades no canal de 
distribuição.
— Publicidade: o monopolista procura conquistar a fidelização dos consumidores.
Finalmente, cabem algumas considerações sobre o que se entende por monopólios naturais.
Isso acontece, como já vimos, pelo alto custo inicial necessário para o fornecimento dos 
produtos ou serviços, como ocorre, por exemplo, com as companhias ferroviárias, de energia 
elétrica ou telefonia.
Consumado o investimento, os custos para oferecimento dos serviços serão decrescentes para o 
atendimento a uma extensa quantidade de consumidores e usuários.
O fato de serem monopolistas, porém, não propicia a esses agentes condições de requerer o preço que 
desejarem para a comercialização desses produtospelas seguintes razões: controle e regulamentações 
governamentais e limitações impostas pela demanda dos consumidores.
O governo procura controlar os agentes monopolistas de forma a aumentar a competição no 
mercado, como acontece com a atuação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), 
no Brasil.
São estabelecidos limites para a liberdade de atuação nos mercados, com a intervenção do Estado 
nos casos de concentração que determinem excesso de poder econômico.
As empresas são vigiadas com o intuito de incentivar a concorrência e não podem, por exemplo, 
firmar acordos ilícitos para aumento dos preços dos produtos.
O Cade preocupa-se com o bom funcionamento do sistema competitivo dos mercados 
para garantir não somente preços mais baixos, mas também produtos de maior qualidade, 
diversificação e inovação. É uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça, com sede 
e foro no Distrito Federal, que exerce, em todo o território nacional, as atribuições conferidas 
pela Lei nº 12.529/2011.
69
ECONOMIA E MERCADO
Podem ser distinguidas as seguintes funções do Cade:
• Preventiva: analisar e posteriormente decidir sobre as fusões, aquisições de controle, incorporações 
e outros atos de concentração econômica entre grandes empresas que possam colocar em risco a 
livre concorrência.
• Repressiva: investigar, em todo o território nacional, e posteriormente julgar cartéis e outras 
condutas nocivas à livre concorrência.
• Atribuição educacional ou de advocacia da concorrência: instruir o público em geral sobre 
as diversas condutas que possam prejudicar a livre concorrência; incentivar e estimular estudos e 
pesquisas acadêmicas sobre o tema, firmando parcerias com universidades, institutos de pesquisa, 
associações e órgãos do governo.
Ainda é preciso considerar a atuação das agências reguladoras, a quem cabe o controle dos mercados, 
de forma a evitar práticas inadequadas de preços ou de quaisquer ações que prejudiquem a sociedade.
As agências reguladoras são órgãos governamentais que exercem o papel de fiscalização, 
regulamentação e controle de produtos e serviços de interesse público, tais como telecomunicações, 
energia elétrica, serviços de planos de saúde, entre outros.
Elas são criadas por leis. Entre suas principais obrigações, destacam-se:
• o levantamento de dados sobre o mercado de atuação;
• a elaboração de normas disciplinadoras para o setor regulado;
• a fiscalização dessas normas.
Giambiagi (2015, p. 400) menciona:
Com a privatização, o Estado não desaparece; ele apenas muda de figura, 
deixando de cumprir o papel de produtor do serviço e passando a assumir as 
responsabilidades de regulador, ou seja, de fiscal do serviço, através da ação 
das agências reguladoras.
A atuação das agências reguladoras deve ser fortalecida, tendo em vista o atendimento dos 
seguintes objetivos:
• defesa de direitos do consumidor;
70
Unidade II
• adequada gestão de contratos de concessão de serviços públicos delegados; e
• incentivo à concorrência, minimizando os efeitos dos monopólios naturais e desenvolvendo 
mecanismos de suporte à concorrência.
No Brasil acentuam-se as seguintes agências reguladoras e suas atribuições: Aneel (energia elétrica), 
ANP (petróleo), ANA (água), Anatel (telecomunicações).
4.5 O oligopólio
A característica fundamental que se observa nos atuais mercados é a prática da concorrência 
imperfeita, isto é, com as estruturas de concorrência monopolística, que veremos a seguir, e o oligopólio.
Os oligopólios são representados por um pequeno número de empresas vendedoras em um mercado 
que conta com um grande número de compradores, oferecendo produtos diferentes (oligopólio 
diferenciado) ou idênticos (oligopólio puro).
Muitos consideram que o que se produz no mercado oligopolista é utilizado para o controle do setor 
com base em um pequeno número de instituições, podendo gerar abusos em termos de práticas de 
preços, por exemplo.
Há um tipo de concorrência nos oligopólios, mas com preços mais altos.
Existe, pois, colaboração mútua, mas voltada à manutenção do poder e eliminação da livre concorrência.
A concorrência entre os oligopolistas dá-se por meio da qualidade, design do produto ou, ainda, 
propaganda e prestação de serviços ao cliente.
 Observação
A Teoria dos Jogos ajuda a explicar e/ou orientar o funcionamento do 
oligopólio.
Objetiva analisar problemas em que há interação entre os agentes. Assim, 
as decisões individuais, de firma ou de governo afetam e são afetadas pelas 
decisões dos demais agentes.
Vasconcellos (2007, p. 171) comenta:
Uma série de situações estudadas em economia pode ser analisada ou 
“modelada” como um verdadeiro jogo, tal como o xadrex, o futebol, o 
pôquer etc. São situações em que os agentes econômicos, interagindo uns 
com os outros, têm que escolher entre diferentes estratégias, dentro de 
71
ECONOMIA E MERCADO
regras estabelecidas (sistema jurídico, contratos, regulação pública etc.)[,] 
visando a um resultado desejado. Como exemplo podemos citar o caso de 
uma empresa que deseja lançar um novo produto no mercado. Na decisão 
de qual estratégia adotar – lançar ou não o novo produto –[,] a empresa 
deve levar em conta também as estratégias dos concorrentes. Isso porque 
o lucro com o lançamento do novo produto, ou os resultados do jogo, 
pode ser alterado de acordo com a resposta dos concorrentes, que também 
podem lançar um novo produto similar. Outro exemplo pode ser encontrado 
nas denominadas guerras comerciais entre os países. Determinado país, 
digamos o país A, pode decidir pela estratégia de elevar as alíquotas 
de importação de determinado produto proveniente do [...] B com vista 
em, por exemplo, melhorar seu desempenho na balança comercial. Essa 
estratégia pode ser seguida pelo país B. Este pode retaliar a estratégia do 
país A, também elevando as alíquotas de importação provenientes deste 
país, impedindo a esperada melhoria na balança comercial. Essas e outras 
situações que envolvem problemas econômicos ou mesmo de outras áreas 
das ciência[s] sociais podem ser adequadamente analisadas pela Teoria 
dos Jogos.
 Observação
São vários os modelos estudados pela Teoria dos Jogos. Um dos 
conceitos fundamentais da Teoria é o de Equilíbrio de Nash, que caracteriza 
uma situação estratégica em que a decisão tomada por um jogador é a 
melhor resposta frente à decisão tomada pelos demais, e isto é válido para 
todos os agentes.
O combate aos processos oligopolistas iniciou-se no fim do século XIX e início do XX, a partir da 
constituição de grandes conglomerados industriais e financeiros.
Os oligopólios podem constituir:
• Cartéis: composto de empresas que se organizam (formal ou informalmente) e exploram um 
produto (como é o caso do petróleo), diminuindo e/ou eliminando a concorrência no mercado, 
fixando uma política para todo o setor em termos de cotas e quantidades.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), criada na década de 1960, é uma 
organização intergovernamental de cunho permanente para administrar – de modo centralizado 
– a política de produção e exportação dos países-membros (Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, 
Venezuela etc.). Controla os volumes de produção dos países-membros visando obter melhores 
preços da commodity nos mercados mundiais. Desenvolve estratégias geopolíticas na produção e 
exportação do petróleo.
72
Unidade II
• Truste horizontal: formado por empresas do mesmo segmento econômico (como as 
produtoras de leite).
• Truste vertical: controle de uma cadeia de produção, por exemplo, da plantação de cana-de-açúcar 
até a produção industrial do açúcar e do álcool.
• Conglomerados: instituição que atua em vários ramos de produção, como a fabricação de 
automóveis, televisores etc.
• Holdings: é o caso de empresas que controlam outras, com base na posse da maioria das ações.
Essa estrutura está relacionada com a interdependência econômica, afetando as decisões sobre 
preços e quantidades. A decisão de um vendedor influi nocomportamento econômico de outros.
4.6 Concorrência monopolística
Nesse tipo de estrutura de mercado, verifica-se a presença de muitas empresas (em grande 
número, porém ainda assim menor do que na concorrência perfeita) oferecendo produtos 
diferenciados, mas substitutos próximos entre si, definindo especificidades nos produtos, como 
roupas, restaurantes, pastas de dentes e refrigerantes com marcas específicas que as identificam 
perante os consumidores.
O produtor de determinada marca usufrui vantagens características de um monopolista, oferecendo 
seu produto a um preço que lhe convém e maximizando seus lucros.
Nesses mercados, diferentemente do que ocorre com os monopólios e os oligopólios, há livre entrada 
de agentes (participantes) no mercado.
A concorrência monopolística é, na verdade, uma estrutura intermediária entre a concorrência 
perfeita e o monopólio.
Os participantes dessa estrutura usam amplamente a propaganda e a publicidade para controlar a 
preferência e a fidelidade dos consumidores através do apoio às suas marcas. Cada empresa procura 
controlar pequenas parcelas do mercado.
4.7 Mercados com forte concorrência pelo lado do consumidor
Há situações monopolistas e oligopolistas entre o conjunto de consumidores (compradores) dos vários 
produtos disponíveis na economia. Respectivamente, são as estruturas conhecidas como monopsônio 
e oligopsônio.
Assim, com muitos vendedores e uma só empresa compradora, teremos o monopsônio.
No oligopsônio há uma situação parecida (mas inversa) à do oligopólio. Neste caso, poucos 
compradores interagem no mercado com um grande número de vendedores.
73
ECONOMIA E MERCADO
O poder de monopsônio está estreitamente relacionado com o tipo de elasticidade da oferta do 
mercado. Quanto maior for a elasticidade da oferta, maior será o poder do comprador.
4.8 A matriz de Stackelberg
Trata-se de um modelo simplificado que classifica as estruturas de mercado com base no número de 
agentes envolvidos em cada um dos dois lados – o da procura e o da oferta.
Prevê, tanto do lado da oferta como da procura, três situações possíveis:
• apenas um agente econômico;
• uma pequena quantidade de agentes; e
• uma grande quantidade de agentes econômicos.
A combinação dessas três situações conduz à construção de uma matriz de nove diferentes estruturas 
possíveis, conforme demonstrado na figura a seguir:
Monopólio Oligopólio Concorrência perfeita
Quase-monopólio Oligopólio bilateral Oligopsônio
Monopólio bilateral Quase-monopsônio Monopsônio
Um único vendedor Pequena quantidade de vendedores
Grande quantidade de 
vendedores
Grande quantidade de 
consumidores
Pequena quantidade de 
consumidores
Um único consumidor
Consumidores
Vendedores
Figura 16 – Estruturas de mercado, segundo Stackelberg
O gráfico cartesiano foi adotado com três faixas verticais e três horizontais, identificando os portes, 
respectivamente, de vendedores e consumidores, sempre considerando:
• apenas um participante;
• pequena quantidade de participantes;
• grande quantidade de participantes.
74
Unidade II
Na parte superior esquerda da matriz, está situada a estrutura de monopólio, caracterizada pela 
interação entre um grande número de consumidores e um único vendedor.
Ela é oposta à concorrência perfeita, marcada por um grande número, tanto de vendedores quanto 
de compradores.
A matriz também ressalta o monopsônio e o oligopsônio, que focam a preocupação com a 
concorrência entre os consumidores de bens e serviços.
Notam-se, ainda, outras estruturas que combinam diferentes condições de participação entre os 
agentes vendedores e compradores, como:
• quase-monopólio;
• monopólio bilateral;
• quase-monopsônio;
• oligopólio bilateral.
Vasconcellos (2007, p. 427) define esse tipo de estrutura de mercado como:
é a forma de mercado em que um monopsonista, na compra de um insumo, 
defronta-se com um monopolista na venda desse insumo. Por exemplo, uma 
única fábrica, em uma cidade do interior (monopsonista)[,] que se defronta 
com um único sindicato de trabalhadores (monopolista na venda).
 Observação
Stackelberg foi um dos grandes estudiosos das estruturas de 
concorrência imperfeita dos mercados capitalistas, notadamente 
dos oligopólios.
75
ECONOMIA E MERCADO
O quadro a seguir sintetiza e exemplifica casos das estruturas de mercado.
Quadro 2
Estrutura Objetivo da empresa
Número de 
firmas
Tipo de 
produto
Acesso 
de novas 
empresas ao 
mercado
Lucros a longo 
prazo
Exemplos 
(aproximados)
Concorrência 
perfeita
Maximização 
de lucros(1) Infinitas Homogêno
Não existem 
barreiras Lucros normais
Hortifrúti- 
-granjeiros
Monopólio Maximização de lucros(1) Uma Único Barreiras
Lucros 
extraordinários
Palhas de aço 
(Bom-bril)
Concorrência 
monopolística
Maximização 
de lucros(1) Muitas Diferenciado
(3) Não existem 
barreiras Lucros normais
Médicos 
dentistas
Oligopólio
Modelo clássico
Modelo de 
mark-up
Maximização 
de lucros(1)
Maximização 
mark-up(2)
Oligopólio 
concentrado: 
poucas empresas
Oligopólio 
competitivo: 
poucas dominam 
o setor
Homogêno ou 
diferenciado(3) Barreiras 
(4) Lucros 
extraordinários
Homogêneo: 
alumínio (CBA, 
Alcan, Alcoa)
Diferenciado: 
automóveis
1. Maximixação de lucro: RMg = CMg
2. Mark-up = receita de vendas - custos diretos
3. Diferenciação devido a:
— características físicas (potência, composição química);
— promoção de vendas (propagandas, atendimentos, brindes);
— embalagem;
— manutenção.
4. Barreiras à entrada:
— monopólio/oligopólio puro ou natural, devido à grande escala de produção;
— reserva de patentes;
— controle de matérias-primas básicas;
— tradição.
Fonte: Vasconcellos (2007. p. 79).
 Resumo
Nesta unidade abordamos as questões relacionadas com a formação 
de preços e a atuação nos mercados pelos agentes econômicos, sejam 
consumidores, sejam produtores de bens e serviços.
Estudamos as leis da demanda e da oferta de bens e serviços.
A demanda representa a intenção de compra pelos consumidores, 
variando em razão dos preços das mercadorias e serviços, da renda disponível 
pelos compradores, dos preços cobrados por bens complementares e 
substitutos etc.
76
Unidade II
Vimos que uma variável que exerce importância fundamental na 
formação da demanda é o próprio preço do respectivo bem ou serviço.
Foi possível observar que há uma relação contrária (inversa) entre as 
quantidades demandadas e os preços vigentes para os bens e serviços.
Também tratamos da oferta, que revela os interesses dos produtores 
pela transação com seus produtos e serviços. Novamente, foi possível 
aquilatar que há um grande número de fatores que influenciam a oferta.
No caso da oferta, acentuou-se que a relação é direta entre as 
quantidades que os produtores desejam oferecer e os preços praticados 
para os respectivos bens ou serviços.
Destacamos que demanda constitui intenção de compra, e não a aquisição 
do bem ou produto, do mesmo modo que oferta é o desejo de venda.
As transações efetivas no mercado dependem da satisfação tanto da 
demanda quanto da oferta de bens e serviços. Contudo, o conhecimento 
das condições de demanda e de oferta dos bens e serviços propicia a 
formação de expectativas e a tomada de decisões para a atuação dos 
agentes econômicos no respectivo mercado.
Tão vital como esse conhecimento, nossas decisões serão mais 
elaboradas se conseguirmos identificar a intensidade/sensibilidade (que os 
economistas consideram elasticidade) tanto da demanda quanto da oferta 
de determinado bem ou serviço.
Relatamos a intensidade das forças de oferta e de demanda sobre os preços 
e as quantidades dos diferentes bens e serviços. Discutimos, ainda, a importância, 
a variação e os tipos de estruturas de mercados para diferentes bens ou serviços.
É notório que a concorrência é um fator essencial para o adequado 
funcionamento dos mercados.
As próprias definições e estudos dos economistas levam a leis, que 
funcionam de forma mais ou menos abrangentes, considerando mercados 
estruturadoscom maior ou menor nível de concorrência entre os agentes 
econômicos, sejam eles consumidores, sejam produtores.
Estudamos, por fim, mercados constituídos sob diferentes tipos de 
estruturas, tanto pelo lado dos consumidores quanto dos vendedores, como: 
concorrência perfeita, monopólio, oligopólio, concorrência monopolística, 
monopsônio e oligopsônio.
77
ECONOMIA E MERCADO
 Exercícios
Questão 1. (ANALISTA PGE-ECONOMISTA 2016) De acordo com a lei da demanda,
A) Existe uma relação positiva entre quantidade, demanda e preço.
B) Quando o preço sobe, a demanda irá se deslocar para a esquerda.
C) Existe uma relação negativa entre quantidade demandada e preço.
D) Quando o preço sobe a demanda irá se deslocar para a direita.
E) Quando o preço sobe, os consumidores irão deslocar suas compras para bens complementares.
Resposta correta: alternativa C.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: existe uma relação positiva entre a quantidade ofertada e o preço.
B) Alternativa incorreta. 
Justificativa: quando ocorre uma mudança no preço, temos uma mudança na quantidade demandada 
por um bem, não de sua demanda. 
C) Alternativa correta.
Justificativa: sempre quando temos uma mudança no preço do bem sua quantidade 
demandada responde num sentido inverso: sobe o preço, logo a quantidade demandada cai, 
sendo o inverso verdadeiro.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: as mudanças no preço de um bem têm impactos na sua quantidade demandada, logo, 
sem mudanças na demanda.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: no caso de bens complementares, uma elevação no preço de um dos bens levará à 
diminuição das compras dos dois bens complementares.
78
Unidade II
Questão 2. (ANALISTA PGE-ECONOMISTA 2016) Firmas em um mercado competitivo não 
podem influenciar
A) A quantidade do bem que é produzida.
B) O quanto de trabalho é empregado na produção.
C) O quanto de capital é usado na produção.
D) O volume de marketing usado.
E) O preço do produto vendido. 
Resolução desta questão na plataforma.
79
ECONOMIA E MERCADO
Unidade III
Apresentamos alguns assuntos relacionados à Teoria Macroeconômica, seus questionamentos 
centrais e sua importância. Vamos estudar a contabilidade social, notadamente as medidas de atividade 
econômica, a identidade entre renda e produto, bem como os conceitos de valor bruto da produção e 
valor agregado até chegar à medida maior, que é o PIB e suas variantes. Também assinalaremos como o 
governo interfere na atividade econômica, via políticas econômicas, e nas questões monetárias.
5 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
A Teoria Macroeconômica tem por objetivo fundamental analisar como são determinadas as 
variáveis econômicas em sua forma agregada. Essa teoria, conhecida como abordagem de equilíbrio 
geral, procura avaliar se o nível de atividade econômica tem crescido ou diminuído e se os preços das 
mercadorias, conjuntamente, indicam elevação ou diminuição.
Diferentemente da Teoria Microeconômica, a Teoria Macroeconômica observa grandes mercados, 
como os de bens e serviços, o de trabalho, o mercado monetário – em decorrência da participação da 
moeda como meio de troca por mercadorias –, o mercado de títulos e, por fim, examina o mercado de 
divisas internacionais, pois os países mantêm relações entre si, de modo que as moedas, as chamadas 
divisas, que são reguladas pelo mercado cambial ou pelo governo, também são objeto de investigação 
dessa teoria.
Essa teoria preocupa-se, portanto, em estudar o grupo dos consumidores de uma sociedade, assim 
como o seu conjunto de empresas. O interesse é designar os fatores que influenciam o nível total de 
renda e do produto do sistema econômico.
Os fatos macroeconômicos afetam a vida de todos nós. Muitos empresários planejam a elevação 
ou diminuição das quantidades produzidas de seus bens levando em conta qual será, por exemplo, o 
comportamento da renda da sociedade durante um determinado período de tempo.
 Observação
A preocupação macroeconômica reside em conhecer o nível de renda de 
todos os indivíduos de uma sociedade, diferentemente da microeconomia, 
que está focada na renda do consumidor individual.
Apresentamos alguns dos elementos levantados pela Teoria Macroeconômica:
• comportamento do nível geral de preços;
80
Unidade III
• comportamento do nível geral de produção de mercadorias;
• taxa de salários dos trabalhadores;
• nível de emprego e de desemprego;
• comportamento da taxa de juros da economia;
• quantidade de moeda que circula em um sistema econômico;
• quantidade de divisas internacionais que um país mantém como reservas;
• variação da taxa de câmbio entre a moeda nacional e a internacional;
• tamanho do endividamento do governo;
• taxa de investimento das empresas.
Segundo Gregory Mankiw (1995, p. 2),
[...] os macroeconomistas são cientistas que procuram explicar o funcionamento 
da economia como um todo. Reúnem dados sobre rendas, preços, desemprego 
e outras variáveis em diferentes épocas e diferentes países. Procuram, então, 
elaborar teorias gerais que ajudem a explicar esses dados.
A Teoria Macroeconômica compreende, então, a análise de todos os mercados, envolvendo os preços 
e quantidades das mercadorias, admitindo que modificações em algum mercado específico ou alterações 
em qualquer de suas variáveis afetam o comportamento de outros mercados.
Pense que, em um determinado momento, uma empresa de grande porte do ramo farmacêutico 
esteja com problemas em suas finanças. Possui aproximadamente 250 funcionários diretos e, para ajustar 
sua estrutura de custos, anuncia uma política de demissão de 80 colaboradores. Como essas pessoas 
perderam seus empregos, não têm mais renda. Assim, como conseguirão atender às suas necessidades 
de consumo? Suponhamos que essas 80 pessoas sejam chefes de família e que essas famílias sejam 
compostas de quatro membros: pai, mãe e dois filhos. Esse indivíduo não tem condições de pagar o 
estudo particular dos filhos, que ainda são menores de idade. Dessa forma, eles passarão a estudar no 
ensino público. A família possuía convênio médico (seguro-saúde), que também será cancelado, e a 
família dependerá do serviço público. Menos roupas serão adquiridas, as idas ao cinema serão cortadas, 
assim como os refrigerantes e o sorvete no fim de semana. Quem foi afetado com a demissão efetuada 
pela indústria farmacêutica? Vejamos:
• os funcionários, com a perda do emprego;
• os membros de suas famílias;
81
ECONOMIA E MERCADO
• a escola dos filhos, que deixará de receber as mensalidades e poderá ter dificuldades para manter 
sua estrutura de custos;
• a empresa que administrava o convênio médico desta família, que terá menos recursos para 
remunerar os médicos conveniados;
• o governo, e duplamente: primeiro, pela perda de arrecadação com impostos em razão da queda 
de consumo; segundo, pelo aumento das despesas da rede pública de ensino e do Sistema Único 
de Saúde, pois elevarão os atendimentos;
• a instituição que exibe filmes nos cinemas, já que algumas famílias não terão esse tipo de lazer;
• a entidade que produz refrigerantes e o mercado da esquina que os vende;
• o sorveteiro e a indústria que produz sorvetes.
Vamos adiante em nossa análise.
As escolas que deixarão de receber mensalidades também têm funcionários, e se o número de alunos 
diminuir, o mesmo ocorrerá com o quadro de professores, de assistentes e demais trabalhadores, e já 
destacamos o que acontecerá. A empresa que administra convênio médico terá o mesmo problema: mais 
pessoas sem renda. Nesse ponto, você já é capaz de pensar no cenário dos demais setores da economia.
Em uma situação como a descrita, algo deve ser feito para que a atividade econômica volte a 
ser operante, bem como os empregos retomados. É nesse contexto que a atuação do governo se faz 
presente na análise macroeconômica. É a partir do exame de equilíbrio geral que são formuladas as 
diretrizes da política econômica. Portanto, o conhecimento da macroeconomia ajuda as autoridadespúblicas a avaliarem políticas alternativas, por meio dos instrumentos de intervenção, por exemplo, 
através de parte fiscal, monetária, cambial, de rendas ou demais mecanismos de política.
Conforme Moraes (1996, p. 196):
A macroeconomia estuda o comportamento de variáveis que representam 
a soma (ou a média) de quantidades e preços em mercados em uma escala 
nacional. O tipo de modelo que se associa à macroeconomia é, por essa 
razão, chamado de agregativo. Os principais problemas estudados pelo 
enfoque macroeconômico são o desemprego, a inflação, os efeitos das 
políticas econômicas sobre essas variáveis, o crescimento econômico e a 
distribuição de renda.
82
Unidade III
Podemos esquematizar a divisão do estudo da economia:
Microeconomia
Dividide-se em:
Economia
Empresas Famílias PaísGoverno
Estudo de comportamento econômico de: Estudo de comportamento econômico do:
Macroeconomia
Figura 17 – Divisão do estudo da economia: micro e macro
Em um sistema econômico moderno, produz-se grande variedade de bens e serviços, desde 
automóveis até parafusos e alfinetes, como aparelhos eletroeletrônicos, produtos hortifrutigranjeiros e 
serviços médicos e bancários. Sem contar laranjas, sapatos, ventiladores etc. Como medir tudo isso? Uma 
das maneiras de avaliar o desempenho da economia é por meio da avaliação da produção agregada de 
bens e serviços. Contudo, algumas questões vêm à tona: como é possível somar a produção de pares de 
sapatos com quilos de maçãs e litros de leite? Como medir tudo isso em uma única unidade de medida 
para verificar qual o produto agregado de uma nação?
 Saiba mais
SILVA, C. R. L. da; LUIZ, S. Economia e mercados: introdução à economia. 
19. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
5.1 Medição do produto nacional
Nesse momento, é pertinente perguntar como medir a produção realizada pelo sistema econômico, 
tendo em mente que ela é contínua no tempo: os bens e serviços são produzidos e consumidos, sendo 
necessário produzi-los novamente, pois grande parte das necessidades humanas exige um consumo 
ininterrupto, como é o caso da alimentação, que precisa ser feita diariamente (SILVA; LUIZ, 2010).
É neste contexto que surge a contabilidade nacional: “[...] método de mensuração e interpretação da 
atividade econômica que tem como objetivo medir a produção que se realiza em um sistema econômico 
em um determinado período” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 44). Para medir o produto de uma nação, temos que 
83
ECONOMIA E MERCADO
examinar as quantidades de mercadorias que são vendidas em determinado período de tempo e seus 
respectivos preços. Quando são usados os preços de mercado, pares de sapatos, quilos de maçãs e litros 
de leite podem ser somados e comparados:
Quadro 3 – Utilização dos preços de mercado para somar diferentes produtos
Produto Quantidade Preço Valor de mercado
Pares de sapatos 1.000 pares R$ 40,00 o par R$ 40.000,00
Maçãs 3.000 quilos R$ 3,00 o quilo R$ 9.000,00
Leite 5.000 litros R$ 1,30 o litro R$ 6.500,00
Total R$ 55.500,00
Com o exemplo apresentado, podemos chegar à medida de produto nacional, que será dada pelo 
valor monetário dos bens e serviços finais produzidos durante um determinado período de tempo, em 
geral um ano. Nesse exemplo, o produto nacional dessa nação hipotética seria de R$ 55.500,00.
 Observação
Não é possível somar unidades com quilos mais litros, mas é possível 
somar o valor monetário que representam.
5.2 Identidade entre produto, despesa e renda nacional
Já sabemos que o fluxo circular da renda mostra os fluxos reais e monetários. No fluxo real, temos de 
um lado bens e serviços sendo destinados das empresas para as famílias. Quanto ao fluxo monetário, as 
famílias geram receitas às organizações como pagamento da aquisição de bens e serviços, e estas geram 
rendas às famílias como remuneração à utilização dos fatores de produção.
Mercado de produtos
Mercado de fatores de produção
Famílias Empresas
Gasto (R$) (= PIB)
Renda (R$) (= PIB)
Bens e serviços 
comprados
Terra, capital, 
trabalho e 
empreendedorismo
Receitas (R$) (= PIB)
Fluxo de bens e serviços
Fluxo de dinheiro
Salários, aluguéis, juros e 
lucros (R$) (= PIB)
Bens e serviços 
vendidos
Insumos 
para a 
produção
Figura 18 – Modelo de fluxo circular da renda e do produto
84
Unidade III
O fluxo circular da renda mostra o desenvolvimento de outros dois mercados: o de bens e o de 
fatores, que fazem parte do mercado real. No mercado de bens, aquele em que as empresas vendem às 
famílias sua produção, são estabelecidos os preços das mercadorias e suas respectivas quantidades. Já 
no mercado de fatores, aquele em que as famílias vendem às empresas fatores de produção, são fixadas 
as remunerações de cada um desses fatores e em quais quantidades serão utilizadas. Por exemplo, é no 
mercado de fatores que serão determinados os valores dos salários da mão de obra que será aplicada.
Na Teoria Microeconômica, os mercados também são considerados, tanto em termos de demanda 
como de oferta e, portanto, de definição de preços e quantidades. Lá, a discussão é individual; aqui, 
no agregado.
Assim, o fluxo circular da renda, na forma apresentada, é uma versão bem simplificada da realidade 
ou do funcionamento de uma economia. No entanto, apesar de simples, podemos retirar a partir dele 
vários conceitos, como os de produto nacional e de renda nacional.
O produto nacional (PN) é o valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos na 
economia em determinado período de tempo. Portanto, a renda nacional (RN) será o total de pagamentos 
efetuados aos fatores de produção que foram usados para a obtenção desse produto.
Então, sabemos que há uma identidade entre produtos e renda: PN = RN.
Vejamos um exemplo.
Tabela 9 – Produção e renda
Produção Renda
Sapatos R$ 40.000,00 Salários R$ 25.900,00
Maçãs R$ 9.000,00 Juros R$ 10.480,00
Leite R$ 6.500,00 Aluguel R$ 8.430,00
Total R$ 55.500,00
Lucros R$ 10.690,00
Total R$ 55.500,00
Conforme o exemplo, sabemos que o produto total da economia, o produto nacional, foi de R$ 
55.500,00 e, para que fossem produzidos sapatos, maçãs e leite nesse país, foi necessário utilizar 
trabalhadores, capital, terra e capacidade empresarial. Se esses fatores de produção foram aplicados, 
então eles foram remunerados.
 Lembrete
O uso de fatores gera remuneração, e a soma de todas as remunerações 
resulta na renda da sociedade.
85
ECONOMIA E MERCADO
O total de produção de sapatos, maçãs e leite gerou R$ 25.900,00 em salários, R$ 10.480,00 de juros, 
R$ 8.430,00 de pagamentos pelo aluguel e, por fim, R$ 10.690,00 de lucros, que foram reinvestidos 
na própria produção. No entanto, essa renda que foi gerada na produção deve retornar à produção na 
forma de consumo.
 Observação
Estamos, por simplificação, supondo que essa economia hipotética 
produza apenas três bens, mas sabemos que além destes há uma enorme 
variedade. Os valores são meramente ilustrativos.
Portanto, chegamos à outra identidade:
Produto = renda = consumo
De outra forma:
Produto nacional = renda nacional = dispêndio nacional
PN = RN = DN
Vejamos:
Tabela 10 – Produção, renda e consumo (em R$)
Produção Renda Dispêndio
Sapatos 40.000,00 Salários 25.900,00 Despesas de consumo
Maçãs 9.000,00 Juros 10.480,00 Alimentação 17.400,00
Leite 6.500,00 Aluguel 8.430,00 Vestuário 3.420,00
Lucros 10.690,00 Habitação 7.330,00
Higiene 1.480,00
Saúde 5.330,00
Transporte 2.900,00
Educação 10.280,00
Lazer 730,00
Outras despesas
Impostos 1.080,00
Despesas com acumulação
Poupança 5.550,00
Total 55.500,00 Total 55.500,00 Total 55.500,00
86
Unidade III
 Observação
Ao analisar a tabela anterior, você consegue visualizar o fluxo circular 
da renda? A produção está representando as empresas, a renda expressa os 
consumidores e o dispêndio, a renda que retorna às empresas.
Além dos conceitos de produto nacional, renda nacional e de dispêndio nacional, devemos proceder 
ao conhecimento de outros conceitos, que também surgem por meio do fluxo circularda renda.
5.3 Valor bruto da produção e valor agregado
Vamos supor que essa economia hipotética da qual estamos tratando também produza pães, já que 
existem gastos com alimentação, conforme demonstrado pelas categorias de dispêndio.
Sabemos que o pão que consumimos em nosso café pela manhã não surge do nada, é fabricado 
por meio da combinação de fatores de produção, e um deles bastante importante à produção de pães 
é a farinha, derivada do trigo. O trigo, por sua vez, é proveniente da atividade agrícola, setor primário 
da economia, e será transformado em farinha por meio do processo de industrialização, categorizando, 
então, o setor secundário da economia. Depois, a farinha será utilizada para fazer o pão e será 
comercializada pelo setor terciário da economia.
Vamos admitir que quem transforma o trigo em farinha não produz esse cereal, mas sim o adquire, 
e que o mesmo acontece com o produtor de pães. Ele não produz farinha, mas a compra para usá-la. 
Então, estão inclusos no preço do pão os custos de fabricação; da mesma forma, o gasto com a aquisição 
de trigo está inserido no preço da venda final da farinha.
Acentuamos um exemplo que destaca as relações entre diferentes setores de atividade econômica:
• Setor primário: atividades de extração, agricultura e pecuária.
• Setor secundário: atividades da indústria.
• Setor terciário: atividades do comércio e dos serviços.
Vamos ao exemplo:
Tabela 11 – Estágios de produção de pão (em R$)
Estágios da produção Vendas do período Custos do período Valor adicionado
Trigo 30,00 – 30,00
Farinha 50,00 30,00 20,00
Pão 90,00 50,00 40,00
Total 170,00 80,00 90,00
87
ECONOMIA E MERCADO
Vimos que o trigo foi vendido ao mercado pelo valor de R$ 30,00. Portanto, quem o comprou 
teve um dispêndio total de R$ 30,00. Provavelmente, quem o adquiriu é a indústria que o 
transformará em farinha. Após esse processo, a farinha é vendida ao mercado por R$ 50,00. Como 
nesse preço de venda está embutido o custo de produção, ou seja, o custo com a aquisição de 
fatores de produção, o que o setor secundário agregou ao produto dessa economia foi somente 
R$ 20,00, isto é, a diferença entre o preço de venda de sua mercadoria e os valores gastos com 
bens intermediários.
Seguindo esse raciocínio, a farinha foi vendida no mercado por R$ 50,00, e quem a adquiriu incorreu 
em um dispêndio total de mesmo valor. Contudo, quem comprou a farinha vai transformá-la em pão, 
que será o produto da venda do setor terciário da economia. O pão, de acordo com o exemplo, será 
vendido por R$ 90,00, mas como foram gastos R$ 50,00 em custos de fatores de produção, foram 
agora agregados ao produto nacional dessa economia somente R$ 40,00. Portanto, chegamos a novos 
conceitos: valor bruto e valor agregado.
Entende-se por valor bruto da produção o cálculo do que cada ramo de atividade recebeu com 
as vendas de bens, que no exemplo anterior representaria R$ 170,00. Já o valor agregado ou valor 
adicionado é o cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada 
etapa do processo produtivo, que nesse exemplo é de R$ 90,00.
Assim, o valor do produto agregado dessa economia é R$ 90,00, que corresponde à produção 
do último bem final dessa economia. Esse valor pode também ser obtido somando-se o valor 
adicionado em cada etapa do processo produtivo. Já o valor bruto da produção é a soma do 
valor de cada um dos bens na economia, que, em nosso exemplo, é igual a R$ 170,00. Esse 
valor apresenta o problema da dupla contagem, pois no valor de cada produto também foram 
incluídos os valores dos insumos necessários à sua produção, ou seja, o chamado consumo 
intermediário. Então,
VBP – VBI = VA
Onde:
VBP = valor bruto da produção.
VBI = valores de bens intermediários.
VA = valor agregado ou valor adicionado.
A tabela a seguir sumariza os valores encontrados em cada setor de atividade econômica.
88
Unidade III
Tabela 12 – Valor bruto da produção, valor de bens intermediários e valor agregado
Setor de atividade econômica Atividade VBP VBI VA
Setor primário Trigo (agricultura) 30,00 – 30,00
Setor secundário Farinha (indústria alimentícia) 50,00 30,00 20,00
Setor terciário Pão (comércio) 90,00 50,00 40,00
Total 170,00 80,00 90,00
5.4 Demais medidas agregadas
A partir da identidade macroeconômica básica em que o produto é igual à renda, que é igual ao 
dispêndio, podemos verificar como são demonstradas as demais medidas agregativas de um sistema 
econômico. Iniciaremos pelo Produto Interno Bruto (PIB).
O PIB refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território 
econômico do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras 
desses bens e serviços, excluindo as transações intermediárias. É obtido por meio da seguinte fórmula:
PIB = C + I + G + X + M
Onde:
PIB = Produto Interno Bruto.
C = consumo das famílias.
I = investimento das empresas.
G = gastos do governo.
X = exportações.
M = importações.
Outra medida agregada é o Produto Nacional Bruto (PNB), que é obtido pelo valor de mercado de 
todos os bens e serviços finais produzidos na economia em um dado período de tempo. Sua fórmula é:
PNB = C + I + G + (X – M)
Onde:
PNB = Produto Nacional Bruto.
89
ECONOMIA E MERCADO
C = consumo das famílias.
I = investimento das empresas.
G = gastos do governo.
(X – M) = exportações líquidas.
Exemplo de aplicação
Faça uma pesquisa nos mais diversos meios de informação para verificar por que motivo o Brasil 
anuncia PIB e os Estados Unidos anunciam PNB. Você verá que há um motivo forte.
 Saiba mais
Acesse o site do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e 
veja como esse órgão divulga os dados da produção dos três setores da 
economia, bem como a estimação do Produto Interno Bruto.
<www.ibge.gov.br>.
Definido o PNB como o valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos na economia, em um 
determinado período de tempo, e que, portanto, é avaliado em termos monetários, precisamos observar 
um aspecto bastante importante.
Se, por exemplo, anunciamos que de um ano para outro houve aumento da ordem de 25% no PNB 
de um país, resta descobrir sua causa: as quantidades de mercadorias aumentaram? Ou os preços das 
mercadorias que sofreram elevação? Para tanto, precisamos diferenciar PNB nominal de PNB real. O PNB 
nominal mede o valor da produção associado aos preços prevalecentes no período durante o qual o bem 
é produzido. Já o PNB real mede o valor da produção em qualquer período com relação aos preços de 
um ano-base. Ele nos mostra uma estimativa real ou física na produção entre anos específicos.
Outra medida de atividade econômica pode ser verificada por meio do Produto Nacional Líquido 
(PNL), que é o agregado econômico que define o valor dos bens e serviços finais realmente acrescentados 
à riqueza nacional. Consiste na produção líquida total gerada pela economia de um país no período 
de um ano. Ele se diferencia do PNB por conceber apenas os investimentos líquidos, ou seja, exclui 
dos investimentos brutos da depreciação e desconsidera o desgaste de fatores de produção fixos da 
economia. Dessa forma,
PNL = C + Il + G + (X – M)
90
Unidade III
Onde: 
PNL = Produto Nacional Líquido.
C = despesas com consumo.
Il = despesas com investimentos líquidos.
G = despesas do governo.
(X – M) = exportações líquidas.
5.5 Indicadores de crescimento e de desenvolvimento econômico
Uma das preocupações da análise macroeconômica refere-se ao potencial de crescimento da renda 
que determinada economia consegue gerar ao longo do tempo e de que forma a sociedade pode ter sua 
vida melhorada a partir do crescimento de tal renda. É o que passamos a tratar.
5.5.1 Medidas de crescimento: o PNB e o PIB
O Produto Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno Bruto (PIB) são medidas que possibilitam mensurar 
o tamanho do bolo, ou seja, o que foi produzido de renda em determinado país. O PNB per capita e o PIB 
per capita dão a noção de média deapropriação do produto por habitante: o PNB per capita dá o valor 
de cada parcela de PNB apropriada por habitante; da mesma forma, o PIB per capita dá o valor de cada 
parcela do PIB apropriada por habitante. Vejamos, então, a diferença entre os dois conceitos.
O PIB representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos no 
país (ou na região considerada) em determinado período de tempo. Para o seu cálculo, ele descarta a 
renda do exterior, tanto a recebida quanto a enviada. Sendo N o número de habitantes, o PIB per capita 
será dado por:
PIB per capita = PIB/N
O PNB difere do PIB porque ele abrange tanto as rendas enviadas para o exterior quanto as recebidas 
pelo exterior. Assim:
PNB = PIB – REE (Receita Enviada para o Exterior) + RRE (Receita Recebida do Exterior).
O PNB per capita será dado por:
PNB per capita = PNB/N
Nos países em desenvolvimento, o PNB é menor do que o PIB. Isso ocorre porque, nesses países, há 
considerável remessa de lucros para o exterior.
91
ECONOMIA E MERCADO
No que diz respeito ao desenvolvimento, há controvérsias quanto ao seu real significado. Para 
Souza (2009), há uma corrente de economistas que explicam o desenvolvimento como subproduto do 
crescimento. Aqui residem modelos que enfatizam a acumulação de capital e sua igual repartição como 
forma de desenvolvimento e melhoria das condições de uma nação. A ideia é a de que o crescimento 
econômico, distribuindo diretamente a renda entre os proprietários dos fatores de produção, quaisquer 
deles, leva à melhoria dos padrões de vida e ao desenvolvimento econômico.
No mundo contemporâneo, vê-se que a coisa não é tão simples assim: o desenvolvimento econômico 
não pode ser confundido com crescimento, porque os frutos dessa expansão nem sempre beneficiam a 
economia como um todo e com o conjunto da população. Por mais que haja crescimento exacerbado 
da produção industrial, isso pode ser reflexo tanto da elevação da produtividade da mão de obra quanto 
da expansão da demanda de mercados internos ou internacionais. Ainda, a expansão do produto pode 
atender também à elevação da produtividade industrial como derivado da mecanização da produção, 
experiência vivida por diversas economias que conseguiram superar os entraves do subdesenvolvimentismo 
e conheceram a tecnologia como forma de produção poupadora de mão de obra.
Associado ao crescimento econômico, outros efeitos perversos podem estar ocorrendo, tais como:
• Transferência de renda para outros países: reduz a capacidade de importar por parte da 
economia doméstica e mesmo de realizar investimentos tecnológicos.
• Apropriação de excedente, produtivo ou financeiro, por poucas pessoas: eleva a concentração 
da renda e da riqueza, causando precarização das condições de uma parcela da sociedade.
• Baixos salários aos empregados de setores industriais: limita o crescimento da demanda e 
dos investimentos nos setores que produzem alimentos e outros bens de consumo popular.
• Dificuldades para implantação de atividades interligadas às empresas que mais crescem, 
exportadoras ou de mercado interno: impacta negativamente na produtividade do país.
Alguns pesquisadores encaram crescimento e desenvolvimento como coisas distintas: enquanto 
o primeiro trata-se de um mero indicador quantitativo do produto de uma nação, o outro envolve 
mudanças qualitativas em diversas frentes, a exemplo da estrutura econômica e produtiva de um país, 
melhoria no relacionamento com o meio ambiente e diminuição da pobreza e da miséria.
Para Bresser-Pereira e Gala (2008, p. 79),
O desenvolvimento econômico depende, do lado da oferta, dos recursos 
naturais existentes, do estoque de capital físico disponível e da capacidade 
humana de produção, e, do lado da demanda, da acumulação de capital, 
do consumo e das exportações. Oferta e demanda devem crescer de forma 
equilibrada, mas uma característica universal das economias capitalistas, e 
principalmente daquelas em desenvolvimento, é que a oferta geralmente 
excede a demanda, ocorre generalizado desemprego de recursos humanos, 
92
Unidade III
a emigração de pessoal educado para os países ricos é alta e as taxas de 
crescimento são baixas.
Por essa visão, entende-se desenvolvimento econômico como um processo de longo prazo em que 
ocorre a acumulação de capital, e o progresso técnico é incorporado tanto para elevar a produtividade 
do capital quanto da força de trabalho em termos de produtividade.
No processo de desenvolvimento, assim definido, já se acham implícitos 
os fenômenos socioeconômicos que necessariamente o acompanham: 
transferência de grandes massas da população do campo para as cidades, 
constituição de um parque industrial mais ou menos amplo, aumento da 
produtividade do trabalho, melhoria do padrão de vida tanto da população urbana 
como da rural e elevação de seu nível cultural (BERLINCK; COHEN, 1970, p. 47).
5.5.2 Medidas de desenvolvimento: IDH, Curva de Lorenz e Índice de Gini
Alguns indicadores permitem avaliar o grau de desenvolvimento econômico de uma nação. Agora 
vamos estudá-los.
5.5.2.1 O IDH
A mensuração do desenvolvimento humano, feita por meio do Índice de Desenvolvimento Humano 
(IDH), contrapõe-se ao conceito de crescimento econômico. Parte-se do princípio de que, para verificar 
o avanço de uma população em termos de desenvolvimento, é necessário analisar as demais condições 
da sociedade, a exemplo da expectativa de vida e questões relacionadas aos níveis educacionais, que vão 
além da questão puramente econômica, financeira.
O índice, desenvolvido pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen, é construído levando-se 
em conta:
• a Renda Nacional Bruta per capita (corrigida pela paridade do poder de compra, tendo como base 
o ano de 2005);
• a longevidade (medida pela expectativa de vida ao nascer);
• a educação (avaliada por dois indicadores: média de anos de educação de adultos e expectativa 
de anos de escolaridade para crianças em idade de iniciar a vida escolar).
 Observação
Há que se considerar que o índice não abrange todos os aspectos de 
desenvolvimento e não é uma representação da “felicidade” das pessoas 
nem indica “o melhor lugar no mundo para se viver” (PNUD, [s.d.]).
93
ECONOMIA E MERCADO
As mudanças na metodologia do IDH em 2010
Não é a primeira vez que o IDH passa por mudanças. A disponibilidade de novos dados e 
as sugestões de alguns críticos fizeram com que o índice se adaptasse ao longo das últimas 
décadas. A fim de possibilitar que sejam verificadas tendências no desenvolvimento humano, 
a equipe responsável pelo relatório usou uma nova metodologia para calcular o IDH de 2010 
e dos anos subsequentes.
Os pilares do IDH não foram alterados: o índice varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, 
maior) e engloba três dimensões fundamentais do desenvolvimento humano: conhecimento 
(mensurado por indicadores de educação), saúde (medida pela longevidade) e padrão de 
vida digno (medido pela renda). Mas houve modificações em alguns indicadores e no cálculo 
final do índice.
Subíndice de longevidade
Não mudou: continua sendo medido pela expectativa de vida ao nascer.
Subíndice de educação
É o único que engloba dois indicadores, e ambos foram alterados. Sai a taxa de 
alfabetização, entra a média de anos de estudo da população adulta (25 anos ou mais). 
Para averiguar as condições da população em idade escolar, em vez de taxa bruta de matrícula 
passa a ser usado o número esperado de anos de estudos (expectativa de vida escolar, ou 
tempo durante o qual uma criança ficará matriculada se os padrões atuais se mantiverem 
ao longo de sua vida escolar). Essas alterações foram feitas porque alguns países, sobretudo 
os do topo do IDH, haviam atingido níveis elevados de matrícula bruta e alfabetização – 
assim, esses indicadores vinham perdendo a capacidade de diferenciar o desempenho dessas 
nações. Na avaliação do Relatório de Desenvolvimento Humano, as novas variáveis captam 
melhor o conceito de educação e permitem distinguircom mais precisão a situação dos países. 
No entanto, assim como os indicadores anteriores, os novos não consideram a qualidade da 
educação. No método antigo, a taxa de analfabetismo tinha peso 2 nesse subíndice e a taxa 
de matrícula, peso 1. Agora, os dois novos indicadores têm pesos semelhantes.
Subíndice de renda
O PIB (Produto Interno Bruto) per capita foi substituído pela RNB (Renda Nacional Bruta) 
per capita, que abrange os mesmos fatores que o PIB, mas também leva em conta recursos 
enviados ou recebidos do exterior – a RNB acaba por ser uma maneira de captar melhor as 
remessas vindas de imigrantes (seu cálculo não inclui o lucro enviado por empresas para 
o exterior) e de computar a verba de ajuda humanitária recebida pelo país, por exemplo. 
Antes se usava o logaritmo natural do PIB per capita, agora se usa o logaritmo natural da 
renda. Também foi mantido o modo como os valores são expressos: em dólar corrigido pela 
paridade do poder de compra (PPC), considerada a variação do custo de vida entre os países.
94
Unidade III
Normalização dos subíndices
Para poder comparar indicadores diferentes (a renda é expressa em dólares; a 
expectativa, em anos, por exemplo), cada subíndice é transformado em uma escala de 0 a 
1. Por isso, estabelece-se um valor máximo e mínimo para cada indicador. Até o relatório 
anterior, produzido de acordo com o novo método, os níveis máximos eram fixados pelo 
próprio Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH); no mais recente, foram usados os 
valores máximos verificados na série de dados (desde 1980), com o objetivo de eliminar a 
arbitrariedade na escolha desses níveis máximos e mínimos.
Cálculo
Até a edição de 2009, o IDH era calculado como a média simples dos três subíndices 
(somavam-se os três e dividia-se o resultado por três). A partir do relatório de 2010, 
recorre-se à média geométrica: multiplicam-se os três subíndices e calcula-se a raiz cúbica 
do resultado. Antes, um desempenho baixo em uma dimensão poderia ser diretamente 
compensado por um desempenho melhor em outra. Com o novo cálculo, essa compensação 
perde força – um valor ruim em um dos subíndices tem impacto maior em todo o índice. 
Além disso, a metodologia permite que 1% de queda na expectativa de vida, por exemplo, 
tenha o mesmo impacto que 1% de queda na renda ou na educação.
Nível de desenvolvimento humano
O Relatório de Desenvolvimento Humano deixa de classificar o nível de desenvolvimento 
de acordo com valores fixos e passa a utilizar uma classificação relativa. A lista de países é 
dividida em quatro partes semelhantes. Os 25% com maior IDH são os de desenvolvimento 
humano muito alto; o quartil seguinte representa os de alto desenvolvimento; o terceiro 
grupo apresenta desenvolvimento médio e os 25% que registram menor IDH revelam baixo 
desenvolvimento humano.
Adaptado de: Inesc (2010).
A tabela a seguir apresenta indicadores selecionados pelo Programa das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento (PNUD) para a economia brasileira para o período 2000-2013 no que diz respeito à 
expectativa de vida ao nascer, expectativa de anos de estudo e média de anos de estudo.
Tabela 13 
Indicadores do Brasil
Ano Expectativa de vida ao nascer (anos) Expectativa de anos de estudo Média de anos de estudo
2000 70,3 14,3 5,6
2005 71,7 14,2 6,6
2010 73,1 15,2 7,2
95
ECONOMIA E MERCADO
2011 73,4 15,2 7,2
2012 73,7 15,2 7,2
2013 73,9 15,2 7,2
2014 74,5 15,2 7,7
Fonte: PNUD (2017).
A próxima tabela assinala dados, referentes ao ano de 2011, sobre a expectativa de vida ao nascer, 
expectativa de anos de estudo, bem como a média de anos de estudo e renda per capita, de acordo com 
as estatísticas do PNUD.
Tabela 14 
Números do governo brasileiro
Expectativa de vida ao nascer (anos) 74,7
Expectativa de anos de estudo 15,2
Média de anos de estudo 7,8
Renda per capita (2011 PPP$) US$ 14.145
IDH 0,754
Adaptado de: PNUD (2017).
O Brasil entra, na década de 2010, em forte queda no índice de IDH, o que faz interromper a evolução 
conquistada no período anterior.
Os gráficos a seguir relacionam renda per capita e IDH, no Brasil, para período selecionado. É possível 
perceber forte correlação entre crescimento de renda e elevação do IDH.
15.000
14.000
13.000
12.000
11.000
10.000
0,5450,545
0,7390,739 0,7440,744
9.000
8.000
1980 1990 2000 2010 20121985 1995 2005 2011 2013
Figura 19 – Renda bruta per capita (2011), em R$
96
Unidade III
1980 1990 2000 2010 20121985 1995 2005 2011 2013
0,800
0,800
0,800
0,800
0,800
0,800
0,800
0,5450,545
0,7390,739 0,7440,744
Figura 20 – IDH
5.5.2.2 Curva de Lorenz
A Curva de Lorenz, representada a seguir, forma-se pela união dos pontos bidimensionais obtidos 
pelos eixos X e Y: no eixo X temos a proporção acumulada da população; no eixo Y, a proporção 
acumulada da renda apropriada (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2015).
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
100%90%80%70%60%50%40%30%
α
β
20%10%0%
y
A
x
C
B
Figura 21 – Curva de Lorenz
Se a distribuição for perfeita, teremos a curva na forma de uma reta de 45º: por exemplo, 20% da 
população se apropriarão de 20% da renda. Assim, quanto maior for a “barriga” (a área representada 
por α), mais desigual será a distribuição de renda. No gráfico, por exemplo, aproximadamente 50% da 
população se apropriam de 20% da renda.
5.5.2.3 Índice de Gini
De acordo com o PNUD, o Índice de Gini:
Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos 
segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não 
97
ECONOMIA E MERCADO
há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, 
quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda 
da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula) (O ATLAS, 2013).
Assim, o índice é uma medida que objetiva “corrigir” os valores médios obtidos por meio do quociente 
entre produto e população. Ele não representa o “tamanho médio da fatia do bolo”, mas o quão justa é 
a divisão do bolo.
Agora voltemos ao gráfico da Curva de Lorenz. Geometricamente, o Índice de Gini é obtido pelo 
quociente entre α e a soma entre α e ß, da seguinte forma:
G = α / (α + ß)
Se a desigualdade é zero, quer dizer, se a distribuição de renda é perfeita, α é igual a zero; portanto, 
G = 0. Se, hipoteticamente, um único indivíduo se apropriar de toda a renda, ß tenderá a zero e G 
tenderá a 1. Quanto maior a “barriga” representada por α, maior será o valor de G.
5.6 O papel do Estado na atividade econômica
É fato que os governos existem na vida das pessoas, gostemos ou não. Independentemente da posição 
política adotada por um governante, ele poderá alegrar a sociedade de um país ou desagradá-la por 
completo. Tal fato deve-se claramente ao tipo de atitude política escolhida, que, para efeito deste estudo, 
devemos considerar as opções pela política econômica adotada em determinado tempo. Uma política 
econômica mais desenvolvimentista tende a agradar boa parte da população, sobretudo empresários, 
para quem novas oportunidade de investimentos são avistadas, inclusive favorecendo camadas das 
classes mais baixas da população com novas oportunidade de emprego. Por outro lado, uma política 
econômica mais austera, aquela em que a opção governamental é por uma política contracionista, não 
é de todo agradável quando se espera crescimento de renda no curto prazo e elevação dos empregos 
e gastos públicos. O fato é que a opção pela política econômica dá-se de acordo com as circunstâncias 
que se apresentam ao governante ou simplesmente permeia sua formação e opção política.
5.6.1 Falhas de mercado
Deixando de lado questões normativas das políticas públicas, bem como da presença do Estado 
nas economias modernas, o fato é que devemos considerar elementos racionais que fundamentam 
a presença dos governos nas sociedades e sua intervenção por planejamento ou não. Nesse sentido, 
Giambiagi e Além (2008) chamam a atenção para a existência de falhas de mercado que impedem asituação de Ótimo de Pareto.
98
Unidade III
 Saiba mais
O Ótimo de Pareto, proposição devida ao engenheiro e economista 
franco-italiano Vilfredo Federico Damaso Pareto, versa que, em 
determinada situação em que se encontrem dois agentes, para que um 
ganhe, necessariamente, outro deve perder. Leia mais em:
A LEI da Eficiência de Pareto. Econometrix, Fortaleza, 20 jan. 2011. 
Disponível em: <http://www.econometrix.om.br/pdf/ed1644f6016bdf71a1e 
7509acaead9bad8ec6670.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2018.
Giambiagi e Além (2008) acentuam que as falhas de mercado são: existência de bens públicos, de 
monopólios naturais, externalidades, mercados incompletos, falhas de informação e, por último, mas 
não menos importante, a ocorrência de desemprego e inflação.
Riani (2012, p. 12-13) sumariza a questão da seguinte forma:
No mundo real existem quatro características principais que dificultariam, 
ou até mesmo impossibilitariam a obtenção ótima através do setor privado. 
Assim, o governo emerge como um elemento capaz de intervir na alocação 
de recursos, que atua paralelamente ao setor privado, procurando estabelecer 
a produção ótima dos bens e serviços que satisfaçam às necessidades da 
sociedade. As quatro características que podem ser consideradas como falhas 
de mecanismos de mercado em atender às necessidades da sociedade são: 
indivisibilidade do produto; externalidades; custo de produção decrescente 
e mercados imperfeitos; riscos e incertezas na oferta dos bens.
Com base nas pesquisas de Giambiagi e Além (2008), e de Riani (2012), estudaremos 
pormenorizadamente a importância de cada uma das falhas de mercado que exigem a interferência do 
governo nos mercados.
5.6.1.1 Existência de bens públicos
Os bens públicos são aqueles cujo consumo e uso são indivisíveis, ou, ainda, não rivais. Significa que 
o consumo do bem por parte de um indivíduo não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais 
integrantes da sociedade. Parte-se do seguinte princípio: existindo o bem público, todos se beneficiam 
de sua existência, independentemente se uns mais e outros menos. Outra característica importante do 
bem público é a da não exclusão no consumo. Para poder exemplificar, pense no caso de uma cidade 
onde as ruas ainda não estejam todas pavimentadas, algumas são de terra e outras de asfalto. O governo 
dessa cidade decide asfaltar todas as ruas ainda sem asfalto. Assim, todas as pessoas (moradoras ou não) 
que utilizam a rua serão beneficiadas.
99
ECONOMIA E MERCADO
Pois bem, as ruas estão asfaltadas e a população usufruirá desse investimento público, mas como 
custear esse investimento entre a população? Quem deverá pagar mais ou menos pelo uso das ruas 
asfaltadas? Somente as pessoas que residem naquela rua? Contando a quantidade de vezes que um 
indivíduo e seu automóvel utilizam a rua em um determinado período? A nós parece difícil poder ratear 
o custo desse bem entre os beneficiados.
Os bens indivisíveis são aqueles cujos benefícios não podem ser 
individualizados, tornando ineficaz o estabelecimento dos preços via sistema 
de mercado [...]. A não exclusividade deve-se ao fato de que, como esses 
bens não seriam vendidos através do sistema de mercado, via preços, a eles 
não se aplica o direito de propriedade (RIANI, 2012, p. 13).
Em uma oferta pública como essa, Riani (2012) destaca que, se levarmos em conta a viabilidade 
econômica do projeto, a pavimentação de uma cidade não faz sentido em termos de investimentos privados, 
mas apenas nos públicos. É notório que todo investimento, seja público ou privado, almeja algum tipo de 
retorno. Se pensarmos na iniciativa privada, o retorno do investimento se dá na forma de lucros, que serão 
acumulados incialmente para depois serem reinvestidos ou alocados para alguma outra atividade, também 
na forma de investimentos. Quanto aos investimentos públicos, estes também são efetuados visando 
retorno no futuro, só que não necessariamente na forma de lucros monetários que serão acumulados. O 
retorno desejado é o social: a melhoria das condições sociais – de diferentes fontes e formas.
Giambiagi e Além (2008) reforçam ser
[...] justamente o princípio da não exclusão no consumo dos bens públicos que 
torna a solução de mercado, em geral, ineficiente para garantir a produção 
da quantidade adequada de bens públicos requerida pela sociedade. É por 
esta razão que a responsabilidade pela provisão de bens públicos recai 
sobre o governo, que financia a produção desses bens através da cobrança 
compulsória de impostos.
 Observação
Imagina-se que a pavimentação de nosso exemplo seja efetuada por 
uma empresa privada especializada nesse tipo de serviço. Na maior parte 
das vezes, é assim mesmo que ocorre. Contudo, quem contrata tal empresa 
privada é o próprio governo e, portanto, é ele quem financia a obra. Ou seja, 
o gasto é público.
5.6.1.2 Existência de monopólios naturais
O mercado de monopólio apresenta condições diametralmente opostas às da concorrência perfeita. 
Nele, existe, de um lado, um único empresário dominando inteiramente a oferta e, de outro, todos 
os consumidores. Não há concorrência nem produto substituto. Nesse caso, ou os consumidores se 
100
Unidade III
submetem às condições impostas pelo vendedor, ou simplesmente deixarão de consumir o bem ou o 
serviço. O fornecimento de energia elétrica nas cidades é um exemplo de empresa em monopólio.
Figura 22 – O setor de energia elétrica representa monopólio
Para existir monopólio, deve haver barreiras que impeçam a entrada de novas firmas no mercado. 
Essas barreiras podem advir de diversas formas, sendo uma delas o monopólio puro ou natural. Este 
caso ocorre quando o mercado, por suas próprias características, exige a instalação de grandes plantas 
industriais, que em geral operam com economias de escala e ínfimos custos unitários, possibilitando à 
empresa cobrar preços baixos por bem ou serviço, o que acaba praticamente inviabilizando a entrada de 
novos concorrentes.
Podemos elencar ainda como barreiras:
• elevado volume de capital requerido para montar uma indústria monopolista;
• marcas e patentes;
101
ECONOMIA E MERCADO
• controle de matéria-prima específica;
• instituições.
A legislação brasileira proíbe a existência de monopólio, permitido-o apenas para os segmentos 
de mercado que, para ter perfeito funcionamento, devem ser únicos. São os chamados monopólios 
institucionais ou estatais, considerados estratégicos ou de segurança nacional, como a energia elétrica 
e o petróleo.
No Brasil, com a privatização dos serviços de utilidade pública – 
Telecomunicações e Energia Elétrica –, o governo criou a Agência Nacional de 
Energia Elétrica (Aneel) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) 
com o intuito de regular as atividades desses setores, por natureza pouco 
competitivos e que prestam um serviço essencial à população. Também com 
a função de regular o mercado, há diversos órgãos do governo, como o Cade 
e a Secretaria de Direito Econômico (REZENDE, 2012, p. 29).
5.6.1.3 Externalidades
As externalidades implicam custos e benefícios sociais diferentes dos privados. Enquanto os custos e 
benefícios privados são medidos em termos de preço – quanto custou para fabricar; quanto custou para 
adquirir –, os custos e benefícios sociais são diferentes. Por qual motivo? Porque estamos tratando de um 
assunto que analisa os impactos causados em um agente alheio àquele tomador da decisão individual. 
Exemplifiquemos: pense em um empreendedor que abra uma casa noturna na rua onde você reside. A 
legislação permite casas comerciais no local, mas o empreendedor montou uma em que o som ao vivo seja o 
chamariz da freguesia. O volume e a qualidade do som – da música – pode agradar quem frequenta o local 
por uma questão de diversão. Todavia, pode aborrecê-lo por diversos motivos: você não aprecia a música que 
é tocada ali, o volume do som incomoda, há maior quantidade de carros estacionados na rua, impedindo que 
algum parente que venha visitá-lo deixe seu automóvelem frente ao portão de sua casa etc.
Pois bem, elencamos aqui efeitos negativos causados pela nova casa noturna. A isso chamamos de 
externalidade negativa. Ela ocorre quando algum agente toma determinada decisão que lhe favorece – 
no caso o empreendedor – e que retire bem-estar de outro agente – no caso, você.
Por outro lado, há as externalidades positivas. Pense que seu vizinho de frente contrate um segurança 
particular e instale uma guarita à frente da casa dele. Esse agente particular cuidará da vigilância da casa 
de quem o contratou, o que, por consequência, trará mais segurança aos demais moradores daquela 
rua. Caso esse agente perceba algo de diferente na rua, tratará de avisar aos demais moradores do local. 
Vemos aqui a ocorrência de externalidade positiva. Para Giambiagi e Além (2008, p. 7),
[...] a existência de externalidade justifica a intervenção do Estado, que 
pode ser através: a) da produção direta ou da concessão de subsídios, para 
gerar externalidades positivas; b) de multas ou impostos, para desestimular 
externalidades negativas; e c) da regulamentação.
102
Unidade III
 Saiba mais
Flávio Riani expande a discussão das externalidades, explicando os 
efeitos da produção sobre o consumo, efeitos da produção sobre a produção, 
bem como os efeitos externos do consumo. As análises com gráficos que o 
autor efetua são bem ilustrativas.
RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. 5. 
ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.
5.6.1.4 Mercados incompletos
Uma das principais características dos mercados incompletos é aquela em que o setor privado não 
esteja totalmente à vontade quanto à oferta de um bem ou serviço. O que o faz não estar totalmente à 
vontade? Segurança quanto ao futuro e quanto ao retorno do investimento que foi efetuado. É o que 
Riani (2012) chama de riscos e incertezas na oferta dos bens.
A falta de conhecimento perfeito – por parte dos vendedores e dos 
compradores – relacionado com os riscos de mercado, a falta de perfeita 
mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros 
por parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos, 
particularmente os recursos naturais, são características do mundo real 
que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos 
requeridos para se atingir a produção ótima de todos os bens econômicos 
necessários e desejados pela sociedade (RIANI, 2012, p. 19).
Existem determinadas atividades que são indispensáveis ao desenvolvimento do país ou ao 
bem-estar da sociedade, mas que, pelas razões apresentadas, não seriam oferecidas no mercado se 
não houvesse a intervenção do governo.
Nesse aspecto, Giambiagi e Além (2008) citam o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 
e Social (BNDES) como principal órgão brasileiro de financiamento de longo prazo para investimentos 
em todos os segmentos da economia. Vários investimentos produtivos, seja na agricultura, seja na 
indústria ou no comércio, para todo tamanho de empresa, podem requerer elevado volume de recursos 
nos investimentos iniciais, e muitas vezes a iniciativa privada – os bancos privados – ficam receosos em 
efetuar os empréstimos, pois não sabem se o tomador terá condições ou não de honrar com a devolução 
dos recursos tomados. Dessa forma, procurando mitigar o risco de uma possível inadimplência, os 
bancos privados elevam as taxas de juros de empréstimos, dificultando os investimentos privados. É 
nesse âmbito que o BNDES entra como empresa pública federal: oferecendo empréstimos por vezes 
subsidiados pelo governo, fomentando os investimentos produtivos e ativando a economia.
103
ECONOMIA E MERCADO
 Saiba mais
Conheça mais sobre o BNDES em:
<http://www.bndes.gov.br>.
A falta de conhecimento perfeito por parte dos vendedores e dos compradores sobre os riscos do 
mercado, a falta da perfeita mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros por 
parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos, particularmente os naturais, são 
características do mundo real que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos 
requeridos para atingir a produção ótima de todos os bens econômicos necessários e desejados pela 
sociedade. Nisso reside outra falha de mercado, a falha de informação.
5.6.1.5 Falhas de informação
Nos casos de falhas de informação, a intervenção do Estado justifica-se em razão de o mercado por 
si só não fornecer dados suficientes para que os consumidores tomem suas decisões racionalmente. 
Como exemplo, considere o mercado de automóveis usados. Pense na seguinte situação: você está 
interessado em adquirir um carro usado e encontra no jornal um anúncio exatamente do veículo 
que procura. Liga para o anunciante para verificar preços, condições do automóvel, quilometragem 
percorrida e coisas do tipo. Quem dos dois agentes tem mais informações sobre o carro? Você ou a 
pessoa que pretende vendê-lo? Será que o vendedor lhe oferecerá todos os dados necessários, e reais, 
para que você tome a decisão pela compra ou não? Caso o automóvel tenha ficado imerso em alguma 
enchente, o vendedor vai contar ou omitir a questão? Estamos chamando a atenção para o fato de 
que em determinados mercados alguns têm mais informações do que outros. Fernando Rezende (2012) 
chama isso de assimetria de informações.
Para esses casos, o modo de atuação do Estado pode ser mediante a introdução de uma legislação 
que induza a uma maior transparência, com maior proteção tanto para vendedores quanto para 
consumidores, e o Código de Defesa do Consumidor (CDC) é um bom exemplo.
5.6.1.6 Desemprego e inflação
O desemprego e a inflação, apesar de serem fenômenos completamente diferentes, sendo o primeiro 
considerado pela economia uma variável do mercado real e o segundo uma variável nominal proveniente 
do mercado monetário, caminham em conjunto. Comecemos, então, pela inflação.
O que vem a ser inflação? Caracteriza-se pelo generalizado e persistente crescimento nos níveis 
de preços, ou seja, ocorre inflação em um período em que um elevado volume de mercadorias têm 
seus preços majorados sequencialmente, de forma que dia a dia, mês a mês, os preços sobem sem 
que, necessariamente, seus custos de produção tenham sofrido elevação. Assim, quando há inflação, 
é preciso haver maior quantidade de moeda para adquirir os mesmos produtos. Resultado: perda do 
104
Unidade III
poder aquisitivo da moeda, o que pode causar sérios distúrbios à economia e à sociedade de modo geral 
(SILVA; LUIZ, 2010).
Em períodos de inflação elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas principais funções, 
que é a de preservar valor ao longo do tempo. Em períodos de inflação elevada, como viveu a sociedade 
brasileira em boa parte dos anos 1970 e 1980, a moeda perde seu valor assim que é recebida!
Suponha o seguinte: uma pessoa recebe hoje seu salário (R$ 1.500,00) e o índice de inflação no mês 
corrente, medido pelos mais diversos índices disponíveis, esteja em torno de 40% ao mês. Se essa pessoa 
deixar guardado esse dinheiro, digamos, no bolso de algum paletó no armário e for usar tal recurso 
daqui a 30 dias, os R$ 1.500,00 representarão poder de compra de R$ 900,00. Receber um valor, dentro 
de um período inflacionário e não utilizá-lo o mais rápido possível faz com que haja a perda de seu valor. 
Em nosso exemplo hipotético, perda de R$ 600,00. Significa que os preços das mercadorias ficaram 40% 
mais elevados e a quantidade de moeda disponível não será mais capaz de adquirir a mesma quantidade 
de mercadoria que era obtida antes. Quem sofre? Na maior parte das vezes, e como salienta Mankiw 
(2010), a população de baixa renda.
Precisamos, então, entender como é produzida a inflação, ou seja, por que existe e quais suas causas. 
Basicamente, são três os tipos de inflação, sendo um deles o de demanda. Vejamos o que diz Mankiw 
(2010, p. 636):
Vamos supor que observamos, ao longo de um determinado período de 
tempo, o preço de um sorvete de casquinha aumentar de 5 centspara um 
dólar. Que conclusão poderíamos tirar do fato de que as pessoas estão 
dispostas a dar muito mais dinheiro em troca de um sorvete? É possível que 
as pessoas estejam gostando mais de sorvete (talvez porque algum químico 
tenha desenvolvido um novo e maravilhoso sabor). Mas, provavelmente, não 
é esse o caso. O mais provável é que as pessoas continuem apreciando o 
sorvete da mesma forma e que, com o passar do tempo, a moeda usada para 
comprá-lo tenha se tornado menos valiosa. De fato, o primeiro entendimento 
sobre a inflação é de que ela tem mais a ver com o valor da moeda do que 
com o valor dos bens.
Portanto, o que determina o valor da moeda é a relação entre sua demanda e sua oferta, assim como 
é definido o preço do tomate nos mais variados mercados. Se há mais tomate sendo ofertado, o preço 
do tomate será relativamente baixo; caso exista pequena quantidade de tomate sendo ofertada, ou seja, 
disponível à sociedade, seu preço tende a ser relativamente mais elevado.
105
ECONOMIA E MERCADO
Figura 23 – Moeda e inflação
Voltando à inflação, conforme Samuelson (1979), a inflação de demanda, ou de consumo, é causada 
pelo crescimento do volume de moeda disponível ao público, não necessariamente acompanhado pelo 
crescimento da produção. Como para a demanda poder se concretizar é necessária a existência de moeda, 
a inflação de demanda pode ser entendida como o excesso de moeda em circulação, ou seja, quando há 
expansão de liquidez. Nesse caso, os preços tendem a aumentar devido à grande quantidade de dinheiro 
em circulação, influenciando o consumo por parte da população. Por seu turno, os empresários, diante a 
um elevado consumo e percebendo que há grande quantidade de moeda em poder do público, elevam 
os preços no afã de que a venda será certa.
Ribeiro (1990) explica que uma das características da inflação de demanda é que ela ocorre em 
períodos de expansão da economia, a exemplo do experimentado pelo milagre econômico brasileiro, 
no qual o governo investiu fortemente na industrialização do País, elevando os níveis de produção e 
superando tempos anteriores. Tais medidas diminuíram o desemprego, expandindo renda e consumo.
Outro tipo de inflação é o de oferta, ou seja, explicado ou pelas condições de oferta de produtos, ou 
pelo comportamento de seus custos de produção, ou mesmo pela disponibilidade de fatores de produção 
que são utilizados como bens intermediários. A inflação de oferta ocorre quando os custos de produção 
aumentam, isto é, quando se paga mais para produzir determinados bens ou ofertar determinados 
serviços. Assim, pode ocorrer inflação de oferta diante de:
• diminuição da oferta de um fator de produção;
• aumento nos preços dos fatores de produção;
• acréscimo nos custos da produção, derivado de elevação de tributação;
• alta dos salários pagos pelas empresas, caso sejam reajustados acima da correção monetária do 
período ou por convenção coletiva e sindical;
106
Unidade III
• monopolização de determinado setor, diminuindo as possibilidades de concorrência;
• demais ocorrências que representem estreita relação entre custos de produção de um bem e 
seu preço.
Resumindo, para Silva e Luiz (2010, 116),
[...] a inflação de custos tem origem na oferta de bens e serviços. É causada 
pela elevação dos custos de produção, repassados para o consumidor pelo 
aumento do preço do produto. Um fator agravante é o controle do mercado 
(monopólio ou oligopólio), que permite aos empresários obterem lucros 
extraordinários pelo aumento dos preços dos seus produtos, pois não há 
perigo de concorrência.
O outro tipo de inflação, a inercial, difere das outras, pois nesta há tendência à perpetuidade. Significa 
que a inflação de um período é automaticamente repassada para o tempo que se segue. De que forma? 
Pela indexação, que consiste em reajustar pagamentos, ou valores futuros, pela inflação do presente. 
Observe o exemplo a seguir, muito bem desenvolvido por Silva e Luiz (2010, p. 116-117):
Imaginemos que o Sr. Alberto tome emprestado R$ 100.000,00 de seu amigo, 
Sr. Carlos, e prometa pagar-lhe em dois meses. Nesse período, supondo 
uma economia inflacionária com taxas mensais de 10%, teremos uma 
inflação acumulada de 21% nos dois meses que correspondem ao prazo 
do empréstimo. Pontualmente, no fim do período, o Sr. Alberto entrega ao 
amigo os R$ 100.000,00 que havia tomado emprestado. Resultado, o Sr. 
Carlos foi prejudicado, pois os R$ 100.000,00 que recebeu do amigo valem 
menos do que os R$ 100.000,00 que ele havia emprestado dois meses antes. 
Por sua vez, o Sr. Alberto saiu ganhando, pois pagou apenas R$ 100.000,00, 
quando deveria ter pago, pelo menos, R$ 121.000,00. [...] Se o Sr. Alberto e o 
Sr. Carlos tivessem combinado, na ocasião do empréstimo, que o montante 
emprestado seria corrigido pela inflação, o Sr. Carlos receberia R$ 121.000,00 
e não se sentiria lesado pelo favor que prestou ao amigo.
Por conta desses fatores, para não haver distorções entre ganhadores e perdedores, é que são 
feitos contratos de trabalho e de aluguel com a proteção de preços de mercadorias e valores de outras 
transações. Com o uso da indexação, evita-se a corrosão monetária.
Uma observação a ser feita acerca da inflação inercial é que ela tende a se manter em determinado 
patamar por um determinado período, depois volta a crescer e, finalmente, estabiliza-se em um novo 
patamar por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correções dos preços satisfazem os agentes 
por um tempo específico, ou seja, essas correções elevam a participação dos agentes na renda.
107
ECONOMIA E MERCADO
 Saiba mais
Para compreender melhor o processo inflacionário no Brasil, sugerimos 
a leitura de alguns textos:
BRESSER-PEREIRA, L. C. Inflação inercial e Plano Cruzado. Revista de 
Economia Política, São Paulo, v. 6, n. 3, jul./set. 1986. Disponível em: <http://
www.rep.org.br/pdf/23-2.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2017.
BRESSER-PEREIRA, L. C.; NAKANO, Y. Hiperinflação e estabilização no 
Brasil: o primeiro Plano Collor. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 
11, n. 4 (44), out./dez. 1991. Disponível em: <http://www.rep.org.br/pdf/44-
6.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2017.
Para Giambiagi e Além (2008, p. 8),
[...] o livre funcionamento do sistema de mercado não soluciona problemas 
como a existência de altos níveis de desemprego e inflação. Neste caso, há 
espaço para a ação do Estado no sentido de implementar políticas que visem 
à manutenção do funcionamento do sistema econômico o mais próximo 
possível do pleno emprego e da estabilidade de preços.
Destacamos as razões pelas quais o governo, através dos diversos instrumentos de políticas à 
sua disposição, surge como alternativa para a intervenção na alocação de recursos da economia a 
fim de contribuir para que a sociedade alcance o maior nível de bem-estar possível. Acentuaremos 
a seguir as funções que poderão ser desenvolvidas pelo governo para corrigir ou minimizar as 
falhas ocorridas no sistema de mercado, buscando atender às demandas que compõem o conjunto 
de bens e serviços da sociedade. É aqui, portanto, que trataremos das finanças públicas. Conforme 
Nascimento (2014, p. 79),
[...] a expressão “finanças públicas” designa os métodos, princípios e 
processos financeiros por meio dos quais os governos Federal, Estadual 
e Municipal desempenham suas funções. Por intermédio do orçamento 
público, os governos perseguem os objetivos de satisfazer às necessidades 
sociais, de induzir a uma eficiente utilização dos recursos e de corrigir 
a distribuição de renda em uma sociedade. [...] As receitas e as despesas 
do Estado podem ser utilizadas como instrumento para influenciar o 
nível da produção nacional e do emprego, de forma a controlar o padrão 
dos preços (controle da inflação), buscar o equilíbrio da balança de 
pagamentos e para redirecionar as decisões de consumo e investimento 
dos agentes privados.
108
Unidade III
5.6.2 Funções do governo
É consenso entre Nascimento (2014), Giacomoni (2012), Giambiagie Além (2008), Riani (2012) e 
Matias-Pereira (2012) que se deve a Richard Musgrave a definição do que sejam as funções do governo. 
Segundo Giacomoni (2012, p. 22),
Richard Musgrave propôs uma classificação das funções econômicas do 
Estado que se tornaram clássicas no gênero. Denominadas as “funções fiscais”, 
o autor as considera também como as próprias “funções do orçamento”’, 
principal instrumento de ação estatal na economia. São três as funções: 
a) promover ajustamentos na alocação de recursos (função alocativa); b) 
promover ajustamentos na distribuição de renda (função distributiva); e c) 
manter a estabilidade econômica (função estabilizadora).
5.6.2.1 Função alocativa
Designa a alocação de recursos pela atividade estatal quando não houver eficiência da iniciativa 
privada ou quando a natureza da atividade indicar a necessidade da presença do Estado. A 
intervenção estatal na alocação de recursos justifica-se quando o setor privado não tiver interesse 
neles. É o processo pelo qual o governo divide os recursos para utilização no setor público e privado, 
oferecendo bens públicos, semipúblicos e meritórios, como rodovias, segurança, educação e saúde 
aos cidadãos. Dessa forma, está associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos 
adequadamente pelo sistema de mercado (NASCIMENTO, 2014). Nesse sentido, cabe ao governo 
decidir pelo tipo e pela quantidade de bens públicos que ofertará, ou seja, a qual(is) tipo(s) de 
necessidade(s) atenderá.
Conforme Riani (2012), para assegurar uma alocação mais eficiente dos recursos, o governo não 
precisa produzir ou gerar diretamente o bem ou o serviço. Ele poderá fazê-lo ou induzir a oferta pelo 
setor privado. Nesse aspecto, existem quatro possibilidades de atuação do governo:
• Alocação por parte do governo de recursos diretos para a produção: a oferta dos bens. Por 
exemplo: a Defesa Nacional e seus serviços de segurança pública.
• Compras governamentais: o governo adquire a produção efetuada por outras empresas e repassa 
os bens à sociedade. Por exemplo: medicamentos, merenda escolar e campanhas de vacinação.
• Indução do setor privado ao aumento da produção via subsídios ou incentivos 
fiscais: tal medida favorece a produção e provoca queda de preços de venda, beneficiando 
determinada população.
• Empresas estatais: o governo se incumbe da responsabilidade da produção de algum bem ou 
serviço que não seja oferecido pela iniciativa privada.
109
ECONOMIA E MERCADO
5.6.2.2 Função distributiva
Nem sempre toda a riqueza que é gerada em um país é distribuída de forma igualitária entre seus 
pertencentes, o que, por vezes, cria a desigualdade social. Riani (2012, p. 22) esclarece que:
Fatores tais como oportunidade educacional, mobilidade social, 
habilidade individual, mercado de trabalho, propriedades dos fatores 
de produção etc. levam, dentro de uma economia de livre mercado, a 
desigualdades na apropriação da renda e da riqueza gerada pelo sistema 
econômico. [...] O mercado funcionando livremente, sem a interferência 
do governo, não se preocupará com a concentração de renda e da 
riqueza uma vez que as atividades econômicas alcancem seus objetivos, 
atingindo frações segmentadas da sociedade detentoras de recursos para 
suas compras. Assim, a possibilidade espontânea da desconcentração da 
renda torna-se ilusória.
Diante do exposto, vê-se que cabe ao Estado promover a melhoria na distribuição da renda por 
intermédio do gasto público como principal instrumento de política pública. Tal afirmação apoia-se em 
Nascimento (2014, p. 80), e o autor diz que a “função distributiva refere-se à distribuição, por parte do 
governo, de rendas e riquezas”. Por outro lado, Rezende (2012), bem como Giambiagi e Além (2008), 
acentuam que, além dos gastos governamentais, a exemplo de transferências, a tributação progressiva, 
aliada aos subsídios, auxilia no processo de distribuição do produto. Enquanto os programas de 
transferência apresentam-se de forma direta quanto à redistribuição, a tributação progressiva oferece 
condições de o governo arrecadar recursos das camadas mais abastadas da sociedade e utilizá-los como 
forma de financiamento de programas voltados para a parcela da população de mais baixa renda. Aqui, a 
forma de redistribuição seria por melhoria dos atendimentos públicos nos sistemas de saúde ou mesmo 
aplicados para financiamento da construção de moradias populares.
Giacomoni (2012, p. 25) complementa que, por mais que as políticas distributivas estejam inseridas 
no ambiente de correção de falhas de mercado, acabam por vezes sendo encaradas como “problemas 
de política e de filosofia social”, pois cabe à sociedade avaliar o que vem a ser justiça distributiva. 
Concordando que a distribuição de renda também seja uma questão de orçamento público, educação 
gratuita, capacitação profissional e programas de desenvolvimento comunitário são também exemplos 
de política pública com efeito distributivo.
5.6.2.3 Função estabilizadora
A função estabilizadora está estreitamente ligada ao desemprego e à inflação enquanto falhas de 
mercado, pois, de forma abrangente, visa assegurar um desejável nível de emprego e estabilidade nos 
preços que não são totalmente controlados pelo sistema de livre mercado. Conforme Riani (2012, p. 22),
Quando o desemprego prevalece, o governo aumenta o nível de demanda 
no mercado, elevando seus gastos ou diminuindo seus tributos, recolocando 
a produção no pleno emprego. Por outro lado, se há inflação, o governo 
110
Unidade III
pode reduzir a demanda de mercado, ajustando seus gastos e/ou a carga 
tributária, o que contribui para a diminuição e controle de preços.
Do ponto de vista da política fiscal, o governo pode corrigir o desemprego – enquanto falha de 
mercado pela elevação dos gastos públicos – ampliando a quantidade de dinheiro no sistema econômico, 
o que incentiva a sociedade a elevar o consumo bem como as empresas a aumentarem seus níveis de 
produção. Desse modo, com maior produção, as empresas passam a contratar mais pessoas, o que 
expande a renda. O mesmo efeito será gerado se a opção for pelo uso da diminuição de tributação. 
Todavia, com a expansão da demanda, os preços sobem, gerando inflação. Assim, paralelamente, o 
governo pode utilizar demais instrumentos, a exemplo da política monetária, para manter a estabilidade 
de preços.
Para Giacomoni (2012, p. 26),
[...] o orçamento público é um importante instrumento da política de 
estabilização. No plano da despesa, o impacto das compras do governo 
sobre a demanda agregada é expressivo, assim como o poder de gastos dos 
funcionários públicos. No lado da receita, não só chama a atenção o volume, 
em termos absolutos, dos ingressos públicos, como também a variação na 
razão existente entre a receita orçamentária e a renda nacional, como 
consequência das mudanças existentes nos componentes da renda.
Do que foi apresentado até o momento, caro aluno, é possível perceber certa relação entre as falhas 
de mercado e as funções do governo. As falhas de mercado são decorrência, em parte, da liberdade que 
os agentes econômicos detêm na sociedade e, em parte, pela própria existência de recursos disponíveis 
nessa sociedade. Então, quando há falhas do sistema, o governo é chamado para estabelecer ordem. Pois 
bem: como se dá esta ordem? Parte dela por leis, regulamentos e decretos que cerceiam a liberdade de 
alguns. Por outro lado, há que se preocupar com o desenvolvimento dessa mesma sociedade no sentido 
de conduzi-la para a modernidade, ao progresso e, nesse aspecto, a política pública se faz presente.
Contudo, somente é possível fazer política pública diante de alguns objetivos a serem alcançados. 
De forma genérica, a literatura até aqui utilizada salienta que todos os governos, em maior ou menor 
grau, têm os mesmos objetivos: crescimento e desenvolvimento econômico, manutenção do emprego 
e da renda, estabilidade monetário-financeira e distribuição equitativa da renda, para citar alguns. No 
entanto, para que ogoverno consiga atingir seus objetivos, torna-se necessário planejamento como 
visão de futuro. Trata-se, portanto, de imaginar hoje como seria o amanhã, caso algumas medidas 
fossem adotadas.
Nesse sentido, o planejamento governamental que se faz por política pública requer, de um lado, 
recursos monetários para pôr em prática determinada ação e, de outro, as fontes de tais recursos. 
Podemos claramente efetuar analogia como um indivíduo comum. Suponha que você tem um amigo 
que está prestes a casar e deseja adquirir sua casa própria. Para obter o patrimônio, algumas ações 
podem ser tomadas. Entre elas, a do planejamento financeiro. Vejamos o que deve ser estudado:
111
ECONOMIA E MERCADO
• enquanto tempo se deseja adquirir tal patrimônio;
• valor e localidade;
• quantidade de recursos monetários disponível;
• tipo de aplicação financeira na qual esse recurso disponível está alocado e quanto ainda 
falta acumular;
• se a compra será à vista ou com financiamento;
• melhor forma de financiamento – em quanto tempo e qual o valor de cada prestação.
 Observação
O exemplo do financiamento de imóvel é corriqueiro, um daqueles que 
permeia nossa vida em algum momento.
Agora destacaremos um exemplo de uma empresa e as tomadas de decisão que precisa efetuar. 
Pense em uma empresa do setor de bebidas com queda de vendas de um de seus principais produtos: 
refrigerante “Sabor gostoso”. Ao pesquisar o motivo da queda, verificou-se que uma nova marca 
concorrente estava atraindo consumidores que antes eram fiéis àquela marca. Trata-se de um problema 
de vendas, ou seja, falta de entrada de recursos na entidade. Se há diminuição de vendas, haverá, por 
consequência, menos receita.
Diante dessa situação, a organização decide fazer uma campanha de marketing para atrair novamente 
esses consumidores que perderam. Os clientes passaram a comprar o refrigerante “Sabor quase gostoso”. 
Para tal, precisará efetuar investimentos, dispor de algum recurso monetário que está na empresa ou 
fazer um empréstimo. Deverá saber a quantidade exata de recursos que poderá aplicar na campanha 
de marketing, pois tem a obrigação de manter o departamento financeiro, o RH, manter os gastos fixos 
de produção etc. Estamos chamando atenção para o fato de que uma nova fonte de gasto deverá fazer 
parte do orçamento da empresa. Por qual motivo? A organização gastará certa quantia monetária com 
a campanha de marketing esperando retorno de tal investimento. Independentemente de o retorno ser 
o esperado, o fato é que o dinheiro saiu de algum lugar, e é vital saber que fonte financiará essa saída 
monetária. Portanto, planejamento financeiro e orçamento são extremamente necessários.
 Lembrete
Objetivos do governo: crescimento e desenvolvimento econômico, 
manutenção do emprego e da renda, estabilidade monetário-financeira e 
distribuição equitativa da renda.
112
Unidade III
5.6.3 Políticas macroeconômicas e seus instrumentos
A lista de objetivos governamentais parece pequena. Contudo, se avaliada com mais cuidado, vê-se 
grande infinidade de ações a serem tomadas para cada um dos objetivos serem alcançados. Vamos 
tomar como exemplo o caso do Brasil, sua extensão territorial, as necessidades prementes e específicas 
de cada região. Cada governo, com sua política, sua ideologia, suas crenças e, por vezes, interesses, pode 
privilegiar determinada sociedade instalada em uma região que receberá recursos de política pública em 
detrimento de outra. Todavia, não se pode generalizar para o caso brasileiro. O fato é que os governos 
devem adotar critérios racionais no desenho de suas políticas públicas, privilegiando a técnica como 
decisão estratégica no estabelecimento das prioridades sociais.
5.6.3.1 Política monetária
Com o conteúdo abordado até então, temos condições de tratar das questões associadas à política 
monetária. Entende-se por política monetária toda ação tomada pelo Banco Central com relação 
ao padrão monetário de um país. O Banco Central, autoridade monetária em qualquer país, além de 
atividades rotineiras, tem a função de preservar o valor da moeda ao longo do tempo. É responsável pelo 
controle direto da liquidez no sistema econômico de determinado país. Para o Banco Central exercer 
suas funções, pode adotar alguns instrumentos de política monetária. São eles:
• emissão de moeda;
• administração da taxa de juros;
• coeficiente de recolhimento compulsório;
• operação de redesconto;
• operação de open market;
• seleção do crédito.
Entre as principais atribuições de competência do Banco Central do Brasil no Sistema Monetário e 
Financeiro Nacional, podemos destacar:
• Fiscalizar as instituições financeiras, aplicando, quando necessário, as penalidades previstas 
em lei. Essas penalidades podem ser desde uma simples advertência aos administradores até a 
intervenção para saneamento ou liquidação extrajudicial da instituição.
• Conceder autorização às instituições financeiras, no que se refere ao funcionamento, instalação 
ou transferências de suas sedes, e aos pedidos de fusão e incorporação.
• Executar a emissão de moeda e controlar a liquidez do mercado, bem como efetuar as operações 
de compra e venda de títulos públicos e federais.
113
ECONOMIA E MERCADO
Vamos explicar as características de cada um dos instrumentos de política monetária.
A emissão monetária é a forma primária de controle monetário por parte do governo, pois expande 
e contrai o volume de moeda disponível na economia de acordo com seus objetivos. Assim, é possível 
controlar a liquidez da economia e, por consequência, o multiplicador bancário – capacidade dos bancos 
comerciais expandirem meios de pagamento – também é controlado.
Entende-se por recolhimento compulsório a reserva legal determinada pelo Banco Central. Trata-se 
da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos devem manter em caixa ou junto ao Banco 
Central. Para que você entenda melhor: os bancos comerciais são obrigados por lei a repassar ao Banco 
Central certa quantidade dos depósitos à vista que a coletividade efetua. Então, o Banco Central regula 
a liberdade de os bancos comerciais negociarem todo o volume de dinheiro que têm à sua disposição e 
exercita a sua função de banqueiro dos bancos e salvaguarda os direitos dos correntistas (JUDENSNAIDER; 
MANZALLI, 2011).
Da mesma forma que os bancos comerciais estão obrigados a repassar parte de seus saldos monetários 
captados por meio dos depósitos à vista, podem, quando necessário e atendendo a certas exigências, 
solicitar auxílio ao Banco Central. Para tanto, utilizam-se da operação de redesconto.
Com esse instrumento de política monetária, o Banco Central tem o objetivo de auxiliar 
instituições financeiras em dificuldades monetárias. Ele é acionado por bancos comerciais que já 
recorreram ao mercado interbancário na tentativa de cobrir seus saldos deficitários e não obtiveram 
sucesso por motivo justificado. Portanto, a última opção seria pedir ajuda, ou cobertura monetária, 
junto ao Banco Central.
Nesse aspecto, o Banco Central desempenha outro papel, que é o de ser emprestador de última 
instância. Motivo: quando um banco comercial recorre a ele para cobrir possível déficit de caixa, faz 
com que o Banco Central intensifique sua fiscalização naquele banco. O Banco Central emprestará os 
recursos necessários, mas a taxas de juros punitivas.
Outro instrumento de política monetária é a operação de open market, ou, se preferir, operação de 
mercado aberto. É com ele que o Banco Central efetua leilões de venda e compra de títulos públicos para 
arrecadar recursos com a sociedade, para efetuar gastos ou simplesmente diminuir liquidez, ou para 
recomprar os títulos vendidos anteriormente.
Se admitirmos um open market de venda, significa que o Banco Central está vendendo títulos 
públicos, colocando-os à disposição para a aplicação por parte da sociedade e, dessa forma, retirando 
moeda de circulação. Esse é um exemplo de política monetária contracionista. De outra maneira, será 
expansionistaquando for utilizado um open market de compra. Assim, o Banco Central devolve os 
recursos tomados emprestados.
No Brasil atual, o principal instrumento de política monetária utilizado é a administração da taxa 
de juros. Podemos entender por juros o custo da moeda, do dinheiro. Agentes superavitários de moeda, 
que têm poupança ou qualquer outra aplicação financeira, recebem juros por deixar seu dinheiro à 
114
Unidade III
disposição para uso de outrem. De forma contrária, agentes deficitários de moeda pagam juros quando 
necessitam de recursos que são de outra pessoa.
O juro é uma variável vital na economia e, por essa razão, um dos mais importantes instrumentos de 
política monetária. São trabalhados como taxa, taxa de juros, e toda vez que essa taxa sobe, investimentos 
industriais produtivos são freados, desencorajados. Por que isso ocorre? Um empresário que toma junto 
a um banco certa quantia de dinheiro para investir na produção deve levar em consideração o quanto 
pagará pela tomada de empréstimo e o quanto receberá de lucro pelo investimento produtivo efetuado. 
Assim, dada uma taxa de juros mais elevada em um tempo qualquer, o custo do dinheiro também fica 
mais elevado. O mesmo ocorrerá com o custo do crédito. Diante de uma taxa de juros mais elevada, 
o crédito ao consumidor sobe, pois as sociedades de crédito cobrarão um preço mais elevado pelo 
montante de dinheiro que emprestarão. Resultado: subtração dos investimentos na produção, conforme 
o caso do nosso empresário, e também diminuição do consumo por parte de nosso cidadão tomador de 
crédito. Quando os empresários não investem na produção e os consumidores não adquirem produtos, 
temos a queda da produção de mercadorias, do emprego e da geração de renda. A economia entra, 
então, em um processo recessivo, contracionista (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
 Saiba mais
Você pode obter mais informações acerca do uso da política monetária 
no site do Banco Central do Brasil:
<www.bcb.gov.br>.
 Observação
Nas atas de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), você 
poderá perceber de que forma a política monetária está sendo conduzida 
no Brasil.
5.6.3.2 Política fiscal
A política fiscal compreende ações do governo relacionadas ao seu orçamento, o orçamento do setor 
público. Ela definirá quanto o governo irá arrecadar e quanto poderá gastar. O Estado adquire receita via 
impostos, tributos e taxas, pagas pelo contribuinte, no intuito de manter a ordem e os serviços providos 
pelo governo.
A arrecadação governamental, chamada de receita do governo, é feita via produção, circulação e 
consumo de mercadoria, além de movimentações financeiras, renda, entre outros. Para Judensnaider e 
Manzalli (2011), entre os principais geradores de renda do governo, temos:
115
ECONOMIA E MERCADO
• Receitas provenientes da produção e circulação de mercadorias:
— Circulação de mercadorias: ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços).
— Produção industrial: IPI (imposto sobre produtos industrializados).
• Receitas provenientes da geração e apropriação da renda:
— Geração de renda: IR (imposto de renda).
• Receitas provenientes da propriedade, da acumulação de capital e das relações internacionais:
— Sobre a propriedade: IPTU (imposto predial e territorial urbano).
— Sobre herança: IH (imposto sobre herança).
— Sobre operações financeiras: IOF (imposto sobre operações financeiras).
— Sobre relações internacionais: II (imposto sobre importações).
O governo realiza gastos no intuito de suprir as necessidades da população não preenchidas pela 
iniciativa privada. Entre esses gastos, estão:
• máquina do governo: manutenção dos serviços básicos e administrativos;
• investimentos: construção de escolas, hospitais, rodovias etc.;
• transferência de renda: programas que visam auxiliar a população de baixa renda.
Uma política fiscal será expansionista quando o governo aumenta seus gastos ou mesmo quando 
diminui a carga tributária sobre a sociedade. Ou seja, quando repassa maior volume de recursos 
monetários para a sociedade por meio de seus gastos ou quando deixa a sociedade com maior volume 
de dinheiro, diminuindo sua arrecadação.
Quando o governo adota uma política fiscal expansionista, alguns efeitos na economia são gerados:
• descontrole das contas públicas, pois os gastos podem ser, em algum momento, superiores às 
receitas e, dessa forma, o governo não consegue formar poupança;
• aumento da inflação, uma vez que haverá maior volume de dinheiro em circulação, elevando o 
consumo e os preços dos produtos;
• redução na credibilidade externa, por conta do descontrole orçamentário;
116
Unidade III
• retração dos investimentos empresariais, pois o governo assume a liderança de aumentar a 
demanda agregada via gastos governamentais e produção;
• redução do desemprego, por ativar a atividade econômica (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
E no caso de uma política fiscal contracionista? As consequências, dentre outras, serão:
• equilíbrio nas contas do governo – superávit orçamentário;
• aumento da credibilidade no exterior, devido à austeridade;
• elevação dos níveis de investimento estrangeiros, pois o país transmite maior segurança 
administrativa;
• diminuição das transferências governamentais com relação à sociedade.
O governo necessita da política fiscal para prover a sociedade de bens públicos. Os bens públicos 
são aqueles cujo uso é indivisível. Em outras palavras, o seu consumo por parte de um indivíduo ou de 
um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. Ou 
seja, todos se beneficiam da produção de bens públicos, mesmo que, eventualmente, alguns mais do 
que outros. As ruas e a iluminação pública são exemplos de bens públicos – bens tangíveis; como bens 
intangíveis, temos a Justiça, a Segurança Pública e a Defesa Nacional.
Ademais, para poder arcar com as funções alocativa, distributiva e estabilizadora, o governo precisa 
gerar recursos. Como vimos, entre as diversas fontes de receita, a principal é a arrecadação tributária. A 
fim de aproximar um sistema tributário do “ideal”, é importante que alguns aspectos sejam observados.
Um dos princípios da tributação, chamado princípio dos benefícios, diz que as pessoas deveriam 
pagar os impostos com base nos benefícios que recebem dos serviços do governo. Esse princípio tenta 
tornar os bens públicos semelhantes aos bens privados, para chegar, por aproximação, ao valor dos bens 
para o agente que o adquire.
Por sua vez, o princípio da capacidade de pagamento versa que os impostos deveriam ser cobrados 
de acordo com a possibilidade que o agente tem de suportar o imposto. Tal princípio leva a duas noções 
de equidade: a equidade horizontal, preceituando que contribuintes com capacidades de pagamento 
similares devem pagar a mesma quantia; e a equidade vertical, afirmando que contribuintes com maior 
capacidade de pagar impostos devem pagar mais impostos. Certamente, a equidade vertical atenderia 
ao princípio da progressividade.
Outro princípio, o da neutralidade, requer que o sistema tributário não provoque uma distorção da 
alocação de recursos, e que, dessa forma, não prejudique a eficiência do sistema.
117
ECONOMIA E MERCADO
O sistema tributário brasileiro está longe de representar um Ótimo de Pareto, ou seja, está longe 
da eficiência administrativa e da justiça social. Devido à multiplicidade de impostos e alíquotas e à 
incidência sobre insumos, o efeito final do sistema brasileiro de impostos indiretos sobre os preços 
também não é muito transparente. No tocante à tributação direta e indireta, algumas considerações 
devem ser feitas:
• Impostos indiretos: são aqueles cobrados de produtores com relação à produção, venda, compra 
ou uso de bens e serviços. Frequentemente, impostos indiretos são arrecadados em vários estágios 
do processo de produção e venda, e seus efeitos sobre os preços pagos pelo consumidor final na 
cadeia de transações não são claros. O efeito final sobre os preços,diante da tributação indireta, 
depende não apenas da medida em que os impostos são transferidos em cada estágio de produção, 
mas também da estrutura precisa das transações interindustriais.
• Impostos diretos: a exemplo do imposto sobre o patrimônio, podem ser cobrados regularmente 
em razão do simples ato de posse dos ativos durante um determinado período. É o caso do IPTU 
(imposto predial territorial urbano) e do IPVA (imposto sobre propriedade de veículos automotores), 
que atendem ao princípio da equidade e da progressividade.
Os impostos diretos incidem sobre o indivíduo, mas nem sempre estão associados à capacidade de 
pagamento de cada contribuinte. O imposto de renda pessoa física é o imposto pessoal por excelência 
e, assim, é aquele que se adapta aos princípios da equidade e progressividade, à medida que permite, 
de fato, uma discriminação entre os contribuintes no que diz respeito à sua capacidade de pagamento 
(JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Do lado das empresas, o imposto de renda pessoa jurídica incide sobre o lucro e apresenta um 
problema: ele pode contrariar os princípios da equidade e da progressividade, tendo em vista que não 
se pode ter certeza de que o ônus do imposto sobre o lucro recaia integralmente sobre o produtor. Em 
outras palavras, a empresa pode reagir à cobrança do imposto sobre os lucros repassando-o, pelo menos 
em parte, para os preços finais de seus produtos, onerando, assim, os consumidores.
5.6.3.3 Política cambial
É a política responsável pelo fluxo de moeda internacional no país. O controle da quantidade de 
moeda estrangeira é feito pela taxa de câmbio. A taxa de câmbio é a relação existente entre duas 
moedas de diferentes países, e ela pode ser valorizada ou desvalorizada. Quando a moeda nacional está 
mais cara que a estrangeira, dizemos que a taxa de câmbio está valorizada. Por exemplo, com R$ 1,00 se 
adquire US$ 1,20. Veja: com uma unidade da moeda nacional, é possível obter mais que uma unidade 
da moeda estrangeira. No caso de a moeda nacional ser mais barata que a estrangeira, percebe-se um 
câmbio desvalorizado. Assim, para adquirir US$ 1,00, é necessária uma quantidade maior de reais; no 
caso, R$ 1,20. A política cambial tem sido vital para a manutenção do nível de emprego no país, em 
especial para os setores exportadores, que, com uma taxa de câmbio desvalorizada, têm maior incentivo 
para vender produtos ao exterior.
118
Unidade III
Figura 24 – Dólar como moeda estrangeira e divisa internacional
Portanto, a taxa de câmbio reflete as necessidades de unidades monetárias nacionais para adquirir 
uma unidade monetária de uma moeda estrangeira. É no mercado cambial que são fixadas as taxas de 
câmbio, variável nominal, sob diferentes regimes cambiais: câmbio fixo, câmbio flutuante, dirty floating 
ou ainda o currency board. Em um regime cambial fixo, a taxa de câmbio é administrada pelo Banco 
Central, que define o valor do câmbio para um período específico. Já no câmbio flutuante, ou flexível, a 
taxa de câmbio é determinada pelo mercado, ou seja, pelas interações entre demanda e oferta de divisas 
internacionais (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Admite-se por dirty floating câmbio com flutuação suja. O que isso quer dizer? Significa que o Banco 
Central de um país pode, mesmo em um câmbio flutuante, exercer pressão sobre a taxa de câmbio, ou 
seja, pode fazê-la flutuar até que seja fixada em uma meta estabelecida. Exemplo: suponha um país 
onde o regime cambial seja flutuante, e que as interações entre demandantes e ofertantes de divisas 
internacionais tenha conduzido a taxa de câmbio para um nível que somente favorece o importador 
de mercadorias. Assim, se o volume de importações de mercadorias de um país aumenta, menor será a 
produção interna dele e, portanto, pode ter elevada sua taxa de desemprego. Diante de tal preocupação, 
o Banco Central pode interferir no mercado cambial e, por meio de compra e/ou venda de divisas 
internacionais, fazer flutuar a taxa de câmbio até um ponto em que sejam favorecidas as exportações.
Por sua vez, o currency board é um regime cambial em que um país adota como moeda corrente 
a moeda estrangeira, na qual está ancorada, quando atravessa ou adota políticas de estabilização 
monetária para controlar a inflação. Há ainda que acrescentar outra diferença: a disparidade entre a 
taxa de câmbio real e a taxa de câmbio nominal, que reside na divergência de inflação entre os países e 
entre uma e outra.
5.6.3.4 Política de rendas
A política de rendas é um tipo de política utilizada pelo governo que procura melhorar a distribuição 
da renda e a justiça social. Ela atua diretamente sobre os fatores de produção e tenta reduzir os conflitos 
entre o capital e o trabalho. Melhorias nas condições de salários e trabalho, encargos trabalhistas 
mais justos, distribuição de resultados por parte das empresas aos seus funcionários são alguns de 
seus objetivos, assim como a proposta de um sistema de preços mínimos garantidores de consumo à 
população de baixa renda.
119
ECONOMIA E MERCADO
No caso da economia brasileira, podemos citar como exemplo de política de rendas os 
seguintes programas:
• política de preços mínimos;
• política salarial;
• programas de renda mínima;
• Bolsa Família.
 Saiba mais
Saiba mais sobre o programa Bolsa Família:
BRASIL. Bolsa Família, Caixa Econômica Federal, [s.d.]. Disponível em: 
<http://www.caixa.gov.br/voce/Social/Transferencia/bolsa_familia/index.
asp>. Acesso em: 8 jan. 2018.
6 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ECONOMIA MONETÁRIA
Inicialmente, vamos refletir sobre o que vem a ser moeda. A moeda é um artigo utilizado para efetuar 
trocas. Dá-se moeda em troca de algo. Trabalhamos em troca de moeda. O termo designa moedas 
metálicas e papel-moeda as cédulas que usamos no dia a dia.
Vamos pensar um pouco. A moeda tem valor? Você, por acaso, já encontrou alguém nas ruas de sua 
cidade vendendo moedas, vendendo dinheiro? Possivelmente não. Por qual motivo? Antes da resposta, 
reflita mais um pouco. Qual o valor de uma cédula, nota, de R$ 20,00? Quanto vale uma nota de R$ 100,00? 
Qual o valor de uma moeda metálica de R$ 1,00? Parece estranho dizer, mas, nas economias modernas, as 
notas e as moedas não têm nenhum valor, elas representam valor! Representar valor significa ter poder 
aquisitivo. Uma cédula de R$ 50,00 possui um poder de compra de cinquenta unidades monetárias. Uma 
cédula de R$ 10,00 tem um poder de compra de dez unidades monetárias e assim por diante. Esse deve ser 
o motivo pelo qual não encontramos pessoas nas ruas vendendo moedas, pois ninguém aceitaria vender 
uma nota de R$ 100,00 por um valor mais baixo do que ela vale e ninguém aceitaria pagar mais do que 
esse valor pela nota.
6.1 Funções e histórico da moeda
Podemos pensar que a moeda é uma mercadoria, mas não qualquer uma. Uma mercadoria específica, 
que reúne a propriedade de ser trocada por qualquer outra. Basta ter em mãos cédulas ou moedas 
metálicas para poder trocá-las por qualquer artigo que represente exatamente as unidades monetárias 
incorporadas na moeda. Se tivermos R$ 80,00, podemos adquirir qualquer mercadoria que tenha um 
preço idêntico ou menor do que esse valor e que esteja disponível para venda, obviamente.
120
Unidade III
A especial característica que a moeda reúne é a de ser aceita em qualquer situação. Veja um 
exemplo: seria muito difícil, em uma economia moderna, adquirir mercadorias pagando, ou trocando, 
por outras mercadorias como à época do escambo. Se quiser um sapato novo, você não conseguirá 
obtê-lo fazendo a troca no mercado pelo seu trabalho direto. Haveria a necessidade de dupla 
coincidência de desejos: o seu desejo em ter os sapatos e o do vendedor em utilizar sua força de 
trabalho. Agora, de posse da moeda, tudo fica mais fácil. Se o vendedor coloca à venda os sapatos que 
você quer, basta que você tenha poder de compra, representado pela moeda, e os compre, pagando 
em moeda. Pronto. Efetuamos uma troca indireta. Moeda por mercadoria, no caso do comprador,e 
mercadoria por moeda, no caso do vendedor.
 Observação
Se a moeda, então, pode ser pensada como uma mercadoria, mas uma 
mercadoria especial, ela deve também desempenhar algumas funções.
Devido ao desenvolvimento da divisão do trabalho que especializou pessoas e empresas como 
produtores de mercadorias, nas economias modernas há um volume absurdamente grande de 
mercadorias à disposição da sociedade. Com a divisão do trabalho, os agentes econômicos tornaram-se 
cada vez mais interdependentes uns dos outros, cada um depende do trabalho do outro ou depende, 
para seu bem-estar, da produção do outro (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011). Dessa forma, um volume 
expressivo de trocas indiretas é realizado e, nesse aspecto, a moeda desempenha uma de suas principais 
funções: ser intermediária de trocas (meio de trocas).
A função de intermediária de trocas, ou, se preferir, meio de troca, ou ainda meio de pagamento, 
permite que mercadorias sejam compradas e vendidas em diferentes períodos de tempo sem depender 
da coincidência de desejos. Além de servir como intermediário de trocas, a moeda exerce ainda outras 
duas funções básicas: servir como unidade de conta e como reserva de valor.
A função unidade de conta da moeda está representada nos diversos contratos existentes na 
economia. Em um contrato de trabalho, por exemplo, ela aparece no valor do salário ali grafado: x 
unidades monetárias. Em um contrato de prestação de serviços, também desempenha sua função 
unidade de conta no valor que será pago pelo contratante ao contratado mediante o serviço prestado. 
Está ainda representada nos preços dos produtos. Por exemplo: quando vemos uma camisa à disposição 
na vitrine de uma loja qualquer, possivelmente há uma etiqueta com a indicação do valor daquele 
produto. Ali está, portanto, a moeda exercendo sua função de unidade de conta. Outro nome que pode 
ser atribuído a essa função da moeda é moeda de conta. Esta, que aparece ou nos contratos ou nos 
preços dos produtos, determina qual o montante de moeda corrente necessário para aquela troca.
Uma última função desempenhada pela moeda é servir de reserva de valor. De posse de unidades 
monetárias, e dada a existência de mercados à vista e a prazo, seu possuidor tem o direito de reservar 
tal moeda para consumo ou para pagamento futuro. Em economias com estabilidade monetária (sem 
inflação), a moeda consegue exercer tal função, de poder reservar ou preservar seu valor ao longo do 
tempo. Em períodos de inflação elevada, a erosão dos ativos monetários será uma consequência.
121
ECONOMIA E MERCADO
Para que a moeda desempenhe suas funções, alguns aspectos particulares devem ser reunidos. 
Como exemplo, temos as características econômicas, entendidas como custo de estocagem e custo de 
transação negligenciáveis ou próximos de zero. O que isso significa? Significa que para manter moeda 
seu custo é zero e que transportar moeda também tenha um custo zero. As outras características da 
moeda, as físicas, dizem que a moeda deve ser divisível, durável, que haja dificuldade em falsificação, 
que exista manuseabilidade e que também seja favorecida sua transportabilidade. Somente reunindo 
características físicas e econômicas a moeda consegue exercer suas funções de intermediária de trocas, 
unidade de conta e reserva de valor (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
É necessário viajar pela História para conhecer as diversas formas que a moeda assumiu ao longo dos 
tempos. Desde a Antiguidade, os povos utilizam moeda para efetuar trocas de mercadorias. Inicialmente 
as trocas eram feitas de forma direta, pois o homem vivia em pequenas comunidades, nas mais primitivas 
culturas – a economia funcionava à base de escambo. Esse sistema exigia a coincidência de desejos, pois 
apenas produtos encontravam-se disponíveis para trocas. Conforme Passos e Nogami (2003, p 446):
[...] imaginem um indivíduo que tenha maçãs e queira castanhas. Seria uma 
coincidência fora do comum encontrar um outro indivíduo que tivesse 
gostos exatamente opostos, ansioso por vender castanhas e comprar maçãs. 
Ainda que aconteça o fora do comum, não há garantia de que os desejos das 
duas partes, no que se refere às quantidades e aos termos de troca exatos, 
coincidam. Da mesma forma, a menos que um alfaiate faminto encontre 
um fazendeiro nu que tenha alimentos e o desejo de ter um par de calças, 
nenhum dos dois pode realizar o negócio.
 Observação
Com o desenvolvimento da divisão do trabalho e a maior especialização 
na produção de mercadorias, nota-se a dificuldade em usar a prática 
rudimentar de escambo.
Nos primórdios, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família, e se utilizava 
da vegetação e da caça disponíveis na região que habitava. Esses recursos eram os únicos com os 
quais contava para a sua subsistência. Imagine um agricultor de cenouras, por exemplo. Se ele produz 
cenouras, o produto de seu trabalho são cenouras. Contudo, tal agricultor e sua família não vivem só 
de cenouras, eles dependem da produção alheia para sobreviver. Dependem, portanto, da troca de seu 
excedente pelo excedente de produção de outra pessoa. Suponha que esse agricultor precise adquirir 
carne para sua alimentação. Ele só tem cenouras para trocar e precisará encontrar no mercado algum 
produtor que venda carnes e que deseje cenouras em troca. Fácil, não? Não, não é fácil! E o manuseio? 
Como será o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? De fato 
uma operação complexa.
Assim, as sociedades se empenharam para desenvolver um sistema em que um equivalente 
geral fosse aceito como meio de trocas, iniciando, desse modo, um sistema de trocas indiretas, que 
122
Unidade III
passa a ser intermediado por algum bem que represente aceitação e curso geral. Estamos tratando 
da mercadoria‑moeda ou, simplesmente, moedas-mercadorias. Foram utilizadas como moedas-
mercadorias o gado, o fumo, o azeite de oliva, os escravos, o sal, entre outros.
Para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, deve apresentar as características 
de durabilidade, divisibilidade, homogeneidade, bem como facilidade no manuseio e transporte, 
aspectos que não eram reunidos em alguns dos exemplos citados neste livro-texto, apesar de as 
moedas-mercadorias terem facilitado um pouco a vida dos agentes.
Outra forma de moeda utilizada pelas sociedades antigas foram as moedas preciosas, representando 
a moeda metálica ou o metalismo, notadamente pelo uso do ouro e da prata. Também fizeram parte 
desse período o cobre, o bronze e o ferro. O ouro em barra tem um valor incorporado. O mesmo ocorre 
com as unidades de prata. São mercadorias que, por não apresentarem depreciação, carregam seu valor 
ao longo dos tempos, permitindo às pessoas guardá-las para serem utilizadas em trocas de mercadorias 
no melhor momento. Apesar de mais se assemelharem com as funções e características da moeda, são 
mercadorias que, para serem trocadas por outras, dependem da dupla coincidência de desejos. Novamente: 
e o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? Parece 
que o ouro e a prata também não foram as melhores alternativas para a moeda, por isso a sociedade 
caminhou para outra alternativa: a moeda‑papel (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Conforme Passos e Nogami (2003, p. 451),
[...] a moeda representativa ou moeda-papel veio eliminar, portanto, as 
dificuldades que os comerciantes enfrentavam em seus deslocamentos pelas 
regiões europeias, facilitando a efetivação de suas operações comerciais e 
de crédito, especialmente entre as cidades italianas e a região de Flandres. A 
sua origem está na solução encontrada para que os comerciantes pudessem 
realizar os seus empreendimentos comerciais. Em vez de partirem carregando 
a moeda metálica, levavam apenas um pedaço de papel denominado 
certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como 
“Casas de Custódia”, e onde os comerciantes depositavam as suas moedas 
metálicas,ou quaisquer outros valores, sob garantia.
Tal modalidade de moeda, um papel, um certificado de depósito, desempenhava boa função. 
Tinha nela incorporado um valor representativo, inicialmente com lastro de 100% e garantia de 
aceitação, vez que representava ali uma determinada quantidade de valor. Então, a sociedade 
avança para outro tipo de moeda: a moeda fiduciária ou papel‑moeda. Moeda fiduciária significa 
garantia. Para Lopes e Rossetti (2005, p. 33),
[...] a experiência de custódia e da conversibilidade mostrou que o lastro 
metálico integral (de 100%) em relação aos certificados em circulação não 
era necessário para a operacionalização desse novo sistema monetário. Essa 
constatação decorreu da percepção de que a reconversão da moeda-papel 
em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao 
123
ECONOMIA E MERCADO
mesmo tempo. Além disso, enquanto uns solicitavam a reconversão, outros 
ensejavam novas emissões, levando às casas de custódia novas quantidades 
de ouro e prata para depósito.
Vamos entender melhor isso. As casas de custódia funcionavam como uma espécie de banco, onde 
alguns agentes depositavam barras de ouro, bem como suas peças de prata e, em troca, recebiam um 
papel representando aquele valor. Vejamos:
• Quilos de ouro x preço do ouro = valor do ouro.
• Valor do ouro depositado = um papel escrito o quanto vale.
De posse de tal documento (papel-moeda), as pessoas exerciam suas trocas comerciais. O 
recebedor desse registro possuiria o direito de ir até a casa de custódia e resgatar o valor ali 
identificado. Tal reconversão nem sempre era necessária, e uma grande quantidade de ouro 
permanecia depositada em tais casas. Assim, os “guardiões” dos metais preciosos podiam começar 
a emitir papéis não mais lastreados (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 33). Inaugura-se, então, um período 
em que a emissão de papel-moeda é exercida por particulares até que o governo chame para si 
tal responsabilidade.
Da modalidade de moeda fiduciária (papel-moeda) até a modalidade da moeda bancária, manual ou 
escritural como conhecemos na atualidade, foi questão de tempo.
6.2 Da moeda aos meios de pagamento
Consideradas todas as formas que a moeda assumiu durante os tempos, podemos verificar como ela 
se comporta em uma economia moderna como a de hoje. Assim, podemos dizer que, sobre o montante 
de moeda que temos à nossa disposição, os meios de pagamento (MP) dividem-se em papel-moeda em 
poder do público (PMPP) e os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVbc). Portanto,
MP = PMPP + DVbc
Ademais, podemos considerar ser PMPP a moeda manual (cédulas e moedas metálicas) e DVbc a 
moeda escritural (depósitos ou representação de saldos positivos e/ou negativos em contas-correntes). 
Para que o PMPP seja efetivamente utilizado pela coletividade, o Banco Central, na qualidade de 
autoridade monetária, precisa emitir moeda, PME, ou seja, papel-moeda emitido. No entanto, nem todo 
PME converte-se em PMPP, pois o próprio Banco Central retém parte desses recursos. Desse modo,
Papel-moeda em circulação = papel-moeda emitido – caixa do Banco Central (retenção)
Por sua vez, os bancos comerciais também não colocam à disposição da sociedade todo o volume 
monetário de que o Banco Central injetou. Parte desses recursos os bancos comerciais retêm em encaixe 
técnico. Assim,
124
Unidade III
Papel-moeda em circulação = papel-moeda emitido – caixa do Banco Central – encaixe técnico 
bancário
Vimos que a moeda manual é criada pela autoridade monetária e chega às mãos da coletividade 
via bancos comerciais. Esses últimos são responsáveis pela expansividade dos meios de pagamento 
por meio da criação de moeda escritural. A moeda escritural é criada pelos bancos comerciais a partir 
do recebimento de depósitos à vista. Através de uma operação contábil, dá-se a criação de meios 
de pagamento, e tal atividade aparece no balancete do banco comercial. Nesse arquivo, a título de 
exemplo, são registrados valores de depósitos recebidos no lado do passivo; no lado do ativo, todos os 
empréstimos concedidos a partir dos recursos recebidos pelos depósitos à vista.
6.3 Oferta de moeda
Para tratar da oferta de moeda, torna-se necessário compreender o papel que o Banco Central 
exerce na economia. Um de seus principais papéis é ser o órgão responsável pelo controle da oferta 
monetária na economia, bem como o de zelar pela qualidade da moeda nacional, ou seja, pelo seu 
poder de compra, por sua estabilidade. É por esse motivo que dizemos ser o Banco Central o emissor 
da moeda nacional. Entre outros papéis, que também podemos considerar como funções, estão o de 
ser o banco dos bancos, regulando e supervisionando as operações que por estes são efetuadas, ser o 
banco do governo, no caso representado pelo Tesouro Nacional, além de ser depositário de reservas 
internacionais, ou seja, guardião do volume de moeda estrangeira à disposição no País.
Considerando os papéis desempenhados pelo Banco Central, bem como sua existência na economia 
moderna e suas relações com os bancos comerciais, estes dois agentes compreendem o sistema monetário 
nacional. Por seu turno, os bancos comerciais – como vimos anteriormente – têm a tarefa de efetuar 
a intermediação financeira entre diferentes agentes econômicos com a principal característica de criar 
moeda, ou seja, meios de pagamento. Para tanto, devem ser legalmente autorizados pelo Banco Central 
a exercer tal função. Assim, obtêm permissão para receber depósitos à vista, que se transformam em 
reservas dos bancos, ou, como alguns preferem, de encaixes, que serão de alguma forma emprestados. 
Nessas operações, uma das obrigações impostas ao Banco Central aos bancos comerciais é: ao realizar 
uma operação de empréstimo, o banco deve certificar-se de que terá como garantir os recursos de seus 
depositários se estes desejarem exercer o direito de saque.
Nesse sentido, tanto o banco comercial como o Banco Central dispõe de estimativas de 
movimentações diárias que são efetuadas pelos agentes econômicos. Cada agente econômico tem um 
comportamento diferente em relação aos saldos mantidos em suas contas, assim os bancos podem 
efetuar uma estimativa do comportamento de seus agentes de quando e quanto exercem seu direito 
de utilizar os saldos que estão ali depositados. Mesmo que ocorram operações de empréstimos, aos 
depositários não há diminuição de seus saldos, pois os recursos emprestados continuam sendo daqueles 
que o depositaram, e é um dever do banco comercial efetuar tal garantia ao depositário.
125
ECONOMIA E MERCADO
 Lembrete
Como os bancos comerciais sabem que seus depositantes não sacam 
todos os seus depósitos em um mesmo momento, podem trabalhar 
com tal volume monetário colocando esses depósitos em circulação via 
empréstimos. É com essa operação que os bancos efetuam a multiplicação 
dos meios de pagamento na economia.
É importante perceber que o Banco Central e os bancos comerciais, aqueles autorizados a receber 
depósitos à vista, exercitam a oferta de moeda na economia e são instituições representantes do sistema 
monetário nacional, já o sistema financeiro é formado pelo sistema monetário mais o não monetário.
O Sistema Financeiro Nacional é constituído por um sistema normativo e um de intermediação. No 
primeiro, estruturado por instituições que estabelecem diretrizes de atuação dos demais atores, estão:
• Conselho Monetário Nacional (CMN).
• Banco Central do Brasil (Bacen).
• Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
• Demais instituições especiais, a exemplo do Banco do Brasil (BB), do Banco de Desenvolvimento 
Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF).
Por outro lado, no sistema de intermediação, que também pode ser chamado de operativo, é formado 
por instituições que atuam em operações de intermediação financeira, ou seja, os atores. Vejamos:
• Instituições financeiras bancárias, a exemplo dos bancos comerciais, múltiplos e caixas econômicas.
• Instituições financeiras não bancárias representadaspor bancos de investimento, de 
desenvolvimento, sociedades de crédito, financiamento e investimentos, sociedades de 
arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, sociedade de crédito imobiliário e associações 
de poupança de empréstimo.
• Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (Sepe), representado pela Caixa Econômica Federal, 
Sociedade de Crédito Imobiliário, Associações de Poupança e Empréstimos e Bancos Múltiplos.
• Instituições auxiliares, a exemplo das Bolsa de Valores, Sociedades Corretoras de Valores Mobiliários, 
Sociedades Distribuidoras de Valores Mobiliários e Agentes Autônomos de Investimento.
• Instituições não financeiras, que são as Sociedades de Fomento Comercial – factoring – e Seguradoras.
126
Unidade III
Assaf Neto (2012, p. 52) destaca que o Banco Central propõe ao Sistema Financeiro Nacional a 
seguinte composição:
Quadro 4 
Órgãos normativos Entidades supervisoras Operadores
Conselho Monetário 
Nacional (CMN)
Banco Central do 
Brasil (Bacen)
Instituições 
financeiras 
captadoras de 
depósitos à vista
Demais instituições 
financeiras
Outros intermediários 
financeiros e administradores de 
recursos de terceiros
Bancos de câmbio
Comissão de Valores 
Mobiliários (CVM)
Bolsas de 
mercadorias e futuros Bolsas de valores
Conselho Nacional 
de Seguros Privados 
(CNSP)
Superintendência 
de Seguros Privados 
(Susep)
Resseguradores Sociedades seguradoras
Sociedades de 
capitalização
Entidades 
abertas de 
previdência 
complementar
Conselho Nacional 
da Previdência 
Complementar 
(CNPC)
Superintendência 
Nacional de 
Previdência 
Complementar (Previc)
Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão)
Fonte: Assaf Neto (2012, p. 52).
No âmbito dos objetivos e alcance desta disciplina, não cabe tratamento pormenorizado de cada um 
dos agentes indicados anteriormente.
 Saiba mais
Caso o assunto seja de seu interesse, ou seja, a ampliação dos 
conhecimentos acerca de todos os participantes do Sistema Financeiro 
Nacional, leia:
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Composição e segmentos do 
Sistema Financeiro Nacional. Brasília, [s.d.]. Disponível em: <https://www.
bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp>. Acesso em: 11 jan. 2018.
O quadro a seguir sumariza as entidades supervisoras e seus respectivos agentes supervisionados.
127
ECONOMIA E MERCADO
Quadro 5 
Entidades supervisionadas pelo Banco 
Central (Bacen)
Entidades supervisionadas pela 
Comissão de Valores Mobiliários 
(CVM)
Entidades supervisionadas pela 
Superintendência de Seguros Privados 
(Susep)
— Bancos comerciais e múltiplos
— Caixa Econômica Federal
— Cooperativas de crédito
— BNDES
— Bancos de desenvolvimento e de 
investimentos
— Instituições de câmbio
— Sociedades financeiras
— Sociedades de crédito imobiliário
— Corretoras e distribuidoras de títulos e 
valores mobiliários e de câmbio
— Sociedades de arrendamento mercantil
— Outras
— Companhias abertas com ações 
negociadas em bolsa de valores
— Bolsa de valores, mercadorias e 
futuros
— Operações com valores 
mobiliários realizadas por 
sociedades corretoras e 
distribuidoras
— Fundos de investimento
— Outros
— Sociedades seguradoras
— Sociedades que atuam no resseguro
— Entidades abertas de previdência 
complementar
— Outras
Adaptado de: Assaf Neto (2012, p. 54).
 Saiba mais
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. São Paulo: Atlas, 2012.
Vimos que uma das principais funções do Banco Central é a de controlar a oferta monetária, o que 
envolve certamente a preocupação da existência ou não de liquidez necessária para que os agentes 
econômicos continuem suas atividades no sistema, ou seja, para que o fluxo da renda funcione de forma 
tranquila, sem interrupções por parte do fluxo monetário. Acrescenta-se a tal fluidez a capacidade de 
os bancos comerciais na criação e multiplicação dos meios de pagamento, o que também auxilia no 
desenvolvimento do fluxo circular da renda, impulsionando o fluxo monetário. Assim, em termos de 
economia monetária e com o emprego de termos técnicos, tanto a moeda manual quanto a escritural – 
que denominamos meios de pagamentos – são também chamados de agregados monetários, e possuem 
diferentes classificações.
A classificação dos agregados monetários atende aos graus de liquidez, da maior liquidez para a 
menor, e eles podem variar ao longo do tempo, dependendo da intenção da autoridade monetária e 
do relacionamento da coletividade com a moeda. Sobre este último evento, Carvalho et al. (2007, p. 6), 
destacam que
A capacidade de demanda de produtos e serviços de uma sociedade e, a 
princípio, representada pela soma da quantidade de moeda manual com 
a de moeda escritural presente na economia. Entretanto, tem se tornado 
128
Unidade III
difícil precisar com exatidão a capacidade potencial de demanda do público, 
porque existem ativos financeiros que podem ser convertidos em moeda 
com um custo de transação desprezível e em tempo bastante curto. Tais 
ativos são, por exemplo, os depósitos a prazo que possuem formas, regras 
de aplicação e remuneração diversas. Em princípio, um depósito a prazo 
não poderia ser resgatado a qualquer data. Contudo, como estão lastreados 
em ativos financeiros que possuem um mercado secundário (de revenda) 
organizado, tais ativos podem ser revendidos e o detentor do depósito a 
prazo pode transformá-lo em depósito à vista (em tempo bastante curto e 
com algum custo, em geral, inferior à remuneração auferida).
Portanto, em razão da rapidez e velocidade com que ativos se transformam em liquidez, o Banco 
Central necessita trabalhar com classificações de determinados ativos para operar seus instrumentos de 
política monetária e cumprir com seus objetivos e funções.
As estatísticas de diversos agregados monetários e financeiros são, dessa 
forma, necessárias. São úteis, por exemplo, para se avaliar qual a força 
dos agentes econômicos para gerar inflação devido a sua capacidade de 
demanda. Com essas estatísticas, pode-se saber qual é o portfólio (carteira 
de ativos) do público em cada momento. Podem ser definidas inúmeras 
estatísticas dessa natureza. Em geral, define-se como meios de pagamento 
a soma do papel-moeda em poder do público com o total de depósitos à 
vista. Tal estatística é chamada de M1 (CARVALHO et al., 2007, p. 6).
A necessidade de classificação dos meios de pagamento dá-se então, a partir do que foi admitido, 
para que o Banco Central faça, digamos, uma previsão do comportamento dos agentes econômicos com 
relação à moeda enquanto liquidez e seus ativos que rendem juros.
É sabido que uma das principais dificuldades de um economista está em acertar em definitivo qual o 
comportamento dos agentes face a diversas situações. Para tanto, utiliza-se daquilo que se convenciona 
adotar: o comportamento do agente racional, representativo. Em períodos de elevada inflação, o agente 
econômico tende a adquirir rapidamente seus bens para proteger o poder de compra da moeda, e a 
reserva monetária não utilizada será protegida em aplicações financeiras.
O nível de taxa de juros também influencia o comportamento dos agentes em relação aos seus saldos 
monetários. Via de regra, taxa de juros elevada influencia o agente a efetuar aplicações financeiras em 
vez de consumir: afinal, sua recompensa em termos de rendimento pode ser mais atrativa quanto ao 
consumo presente. O contrário também é verdadeiro. Contudo, nada podemos asseverar, e sim estimar 
o comportamento. Quem afirma com total segurança quando os bancos comerciais vão diminuir as 
taxas de juros dos empréstimos? E se os empresários elevarão a demanda por moeda para investimentos 
produtivos? Quem pode alegar que na mesma situação algum agente econômico preferirá não efetuar 
aplicações financeiras, mas sim elevar seu consumo? São apenas previsões, mas elas devem ter alguma 
fundamentação. E é para isso que o Banco Central se utiliza de estatísticas quanto aos meios de 
pagamento, seja no sentido restrito, seja no sentido ampliado.
129
ECONOMIAE MERCADO
Considerar papel-moeda em poder do público bem como os depósitos à vista nos bancos comerciais 
como meios de pagamento (M1) é considerar os meios de pagamento em seu sentido restrito. Em 
seu sentido ampliado, é isso que é importante em termos de economia monetária, é trabalhar com 
indicadores que antecedem possíveis complicações sobre o mercado real que a demanda por moeda 
pode provocar. Para a autoridade monetária, é vital entender que os saldos mantidos como M1 devem 
ser aqueles correspondentes às transações necessárias e corriqueiras que a coletividade efetua ao longo 
do tempo, sem que se comprometa a utilização de saldos de outros ativos que não são concebidos 
como instrumento de troca, função da moeda. Mesmo com o avanço da economia monetária e dos 
instrumentos de intervenção monetária adotados pelo Banco Central, notadamente o controle das 
taxas de juros, têm-se que os agregados monetários devidamente classificados apresentam-se como 
importantes instrumentos para controle da liquidez do sistema.
Tal classificação não atende somente ao uso da autoridade monetária, no caso do Banco Central, 
mas também aos próprios participantes do sistema monetário, digam-se os bancos comerciais. De 
conhecimento de suas estatísticas, e da forma como que seu depositário mantém seus ativos nos 
bancos comerciais, estes podem desenvolver com maior certeza linhas de empréstimos que auxiliam na 
multiplicação dos meios de pagamento. Nos conceitos anteriores, aqueles válidos até o ano de 2000, os 
meios de pagamento estavam assim classificados, por graus de liquidez: no maior grau de liquidez ao 
menor grau de liquidez:
• M1 = papel-moeda em poder do público + depósito à vista
• M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + quotas de fundos de renda fixa de curto prazo + 
títulos públicos de alta liquidez
• M3 = M2 + depósitos de poupança
• M4 = M3 + títulos emitidos por instituições financeiras
 Observação
Quanto mais distante de M1, menor é a liquidez do agregado.
Os novos conceitos, que passaram a vigorar no Brasil a partir do ano de 2001, adotam, em seu 
conceito de meios de pagamento ampliado, a classificação por seus sistemas emissores, e não mais a 
simplificação por grau de liquidez.
O M1 é gerado pelas instituições emissoras de haveres estritamente 
monetários, o M2 corresponde ao M1 e às demais emissões de alta 
liquidez realizadas primariamente no mercado interno por instituições 
depositárias – as que realizam multiplicação de crédito. O M3, por sua 
vez, é formado pelo M2 e captações internas por intermédio dos fundos 
de renda fixa e das carteiras de títulos registrados no Sistema Especial de 
130
Unidade III
Liquidação e Custódia (Selic). O M4 engloba o M3 e os títulos públicos de 
alta liquidez (BACEN, [s.d.]).
Com a adoção dos novos critérios, os meios de pagamento ficam classificados assim:
• Meios de pagamento restritos
— M1 = papel-moeda em poder do público + depósitos à vista
• Meios de pagamento ampliados
— M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por 
instituições depositárias
— M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações registradas no Selic
• Poupança financeira
— M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez
Pela descrição da nova classificação, podemos perceber que o que se 
convencionou adotar como critério para o M1 não sofreu alteração: continua 
exatamente da forma como era anteriormente, tendo seus saldos gerados 
por instituições emissoras de haveres estritamente monetários. Por seu 
turno, o M2 passa a integrar os meios de pagamento em conceito ampliado. 
Continua a englobar o M1 acrescido das demais emissões de alta liquidez 
realizadas primariamente por instituições depositárias no mercado interno. 
Quem são as instituições depositárias? Aquelas que multiplicam o crédito, 
a saber, os bancos comerciais e múltiplos, as caixas econômicas, os bancos 
de desenvolvimento, as agências de fomento, as sociedades de crédito, 
as associações de poupança e empréstimos bem como as companhias 
hipotecárias (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 263).
Avançando em termos de classificação, assim como o M2, os saldos de M3 também sofrem alteração 
ante a nova regra: englobam os saldos de M2 bem como os saldos dos fundos de renda fixa e das 
carteiras de títulos registradas no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Por fim, mas não 
menos importante, o M4 passa a ser denominado poupança financeira: representa os saldos de M3 e os 
títulos públicos de alta liquidez. O quadro a seguir acentua tanto os componentes dos agregados quanto 
seus emissores.
131
ECONOMIA E MERCADO
Tabela 15 – Classificação atual dos agregados monetários
M1 
Sistema emissor: consolidado monetário (passivo monetário restrito do Banco Central e bancos criadores de 
moeda escritural: bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e caixas econômicas).
M1 = papel-moeda em poder do público + depósito à vista
M2
Sistema emissor: consolidado bancário menos fundos de renda fixa (passivo monetário restrito do Banco 
Central e passivo monetário ampliado emitido principalmente pelas instituições depositárias).
M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições 
depositárias 
M3
Sistema emissor: consolidado bancário (passivo monetário restrito do Banco Central e passivo monetário 
ampliado das instituições depositárias e fundos de renda fixa).
M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas registradas no Selic
M4
Sistema emissor: consolidado bancário mais governo (passivo monetário ampliado do Banco Central, 
instituições depositárias, fundos de renda fixa e tesouros nacional, estaduais e municipais)
M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez
Fonte: Paulani; Braga (2012, p. 263).
 Saiba mais
Veja no site do Banco Central do Brasil as estatísticas recentes referentes 
à nova classificação dos meios de pagamento, tanto em sentido restrito 
quanto no ampliado. O acesso ao link
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Série histórica dos meios de 
pagamento ampliados. Brasília, 22 dez. 2017. Disponível em: <https://www.
bcb.gov.br/htms/infecon/seriehistmpamp.asp>. Acesso em: 11 jan. 2018.
6.4 Demanda por moeda
Como estudamos os principais determinantes das condições de oferta de moeda nas economias 
modernas, podemos tratar das condições da demanda também apoiados em teorias, afinal, o que faz 
os agentes econômicos a demandar moeda? Qual o principal motivo que leva parte da coletividade 
em manter seus saldos monetários em ativos que não geram algum rendimento a seu possuidor? 
Outra pergunta que desponta é: qual a quantidade de moeda que os agentes desejam reter em 
determinado momento de tempo? Não são questões para respostas rápidas, faz muito tempo que 
vários economistas se empenham em buscar respostas que por algum momento foram satisfeitas 
à comunidade especializada em teoria econômica e que passaram a ser questionadas por outros 
teóricos. É o que passaremos a fazer.
132
Unidade III
6.5 As teorias de demanda por moeda
Iniciaremos a análise das teorias explicativas da demanda por moeda com base na teoria quantitativa 
da moeda que se encontra também entre as teorias desenvolvidas pelos chamados economistas clássicos. 
Como sabemos, a escola clássica foi uma das mais importantes escolas do pensamento econômico 
por procurar criticar o pensamento mercantilista até então dominante. O principal destaque da escola 
clássica está calcado na questão do liberalismo econômico, que possui expoentes como Adam Smith, 
John Stuart Mill, Alfred Marshall, só para citar alguns. É nesse ambiente que se desenvolve a teoria 
quantitativa da moeda.
6.5.1 Teoria Quantitativa da Moeda (Fisher e Escola de Cambridge)
A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM), em sua versão original, foi concebida em torno do pensamento 
da escola do liberalismo clássico encontrada nas principais contribuições de Pigou, Marshall, Knut 
Wicksell e Irving Fisher, este último é o demaior relevância para o assunto. A princípio, a pergunta é a 
seguinte: quais são as razões que levam os agentes econômicos a demandar moeda?
Para os economistas clássicos que empreendem sua visão acerca da economia monetária, uma das 
razões está na não existência de sincronia entre os fluxos de recebimentos e pagamentos a que os 
agentes econômicos estão expostos. Um trabalhador, por exemplo, recebe seu salário e não o gasta no 
mesmo momento, mas sim em um período determinado, aguardando até que o próximo seja recebido. 
Como o pagamento de suas despesas está dividido ao longo deste tempo, deve manter um encaixe 
monetário para poder efetuar bem suas transações.
Outra razão reside no fato de que os agentes econômicos não têm certeza quanto ao futuro, portanto, 
suas previsões não são as mais corretas possíveis. Eventos inesperados podem ocorrer, e o montante de 
despesas que tais eventos ensejarão não é calculado com assertividade, ou seja, é preciso manter saldos 
monetários para cobrir tais contingências, é uma questão de precaução.
Até aqui, a moeda é entendida apenas como um ativo usado como forma de transação para 
pagamentos das despesas que são previstas, as diárias, previsíveis, bem como utilizada como medida 
de prevenção. As pessoas não tinham a noção de que a moeda poderia gerar a seu possuidor um 
fluxo monetário via rendimentos, preservando seu valor ao longo do tempo. Conforme explica 
Berchielli (2003, p. 109),
Dessa forma, o primeiro motivo para demandar moeda depende do valor e 
do número de transações realizadas em um intervalo de tempo. Podemos 
considerar o nível geral de preços, P, e o produto real da economia, Y, como 
aproximações para o valor médio de cada transação e para o número de 
transações, respectivamente. No curto prazo, um aumento do produto 
real indica que mais bens e serviços estão sendo produzidos e, portanto, 
transacionados. Da mesma forma, quando o preço dos produtos aumenta, a 
negociação de quantidades iguais envolve valores maiores.
133
ECONOMIA E MERCADO
A teoria quantitativa da moeda tem sua origem naquilo que os economistas convencionam chamar 
de equação de trocas, representada por uma identidade que relaciona, de um lado, o fluxo monetário 
disponível a ser conhecido pela multiplicação do estoque de moeda na economia, M, e sua velocidade 
de circulação, V, e, de outro, o uso do mesmo fluxo, só que agora expresso em termos da multiplicação 
do nível geral de preços da economia, P, com a quantidade de transações efetuadas entre os agentes 
econômicos, T. Assim, sua formação será:
MV = PT
onde:
M = representa a quantidade ou estoque ou oferta de moeda.
V = velocidade de circulação da moeda, seu turnover.
P = nível geral de preços em termos nominais.
T = quantidade total de transações físicas de bens e serviços.
O lado esquerdo da equação indica o total das transferências de moeda entre os agentes econômicos, 
o lado direito corresponde ao total das transferências de bens e serviços entre os agentes econômicos. 
A equação de trocas reflete exatamente o fluxo circular da renda: do lado esquerdo, o fluxo monetário; 
do lado direito, o fluxo real.
Da forma como foi apresentada e até então desenvolvida pela Escola de Chicago e popularizada na 
versão de Irving Fisher, demonstra que os preços sofrem variação como razão direta da quantidade de 
moeda em circulação, considerando como constante a velocidade de circulação da moeda, bem como o 
volume de transações que a coletividade exerce. Sobre este aspecto, para que a equação de trocas seja 
efetivamente transformada em teoria,
Torna-se necessário introduzir equações comportamentais. Na teoria 
quantitativa original, são duas essas hipóteses: primeiramente, as 
quantidades transacionadas na economia são determinadas no setor 
real independentemente das forças monetárias. Sendo assim, na análise 
monetária, essas quantidades tornam-se predeterminadas. Segundo, a 
velocidade de circulação da moeda, embora variável no tempo, é considerada 
uma constante, pelo menos no curto prazo. Com essas duas hipóteses 
comportamentais, a equação de trocas se transforma na teoria quantitativa 
da moeda cuja proposição básica estabelece uma proporcionalidade direta 
entre a quantidade da moeda e o nível de preços (TEIXEIRA, 2002, p. 74).
Considerada pelos principais autores de economia monetária mais como uma teoria que procura 
causa e efeito entre variação de preços e volume de moeda em circulação do que efetivamente uma teoria 
que busca compreender os fatores que determinam a demanda por moeda por parte da coletividade, a 
134
Unidade III
Teoria Quantitativa da Moeda assume neutralidade da moeda no longo prazo, e no curto prazo o volume 
de moeda afeta variáveis reais com possibilidade de inflação.
Como a teoria foi desenvolvida antes de Keynes, está claramente apoiada na lei de Say, aquela que 
apregoa que a oferta cria sua própria procura, portanto, é uma teoria que analisa a economia pelo lado 
da oferta, no caso, o lado da oferta monetária com tendências de equilíbrio no longo prazo, assim como 
assumido pelos clássicos.
A primeira versão dessa teoria foi formulada por Simon NewComb, em 1885, 
e difundida por Irving Fischer, em 1911. Parte-se de uma identidade entre 
o total de meios de pagamento em moeda e o total de bens e serviços 
transacionados, ou seja, a cada troca de bens e serviços, o pagamento 
por essa compra e venda em moeda e o preço desses produtos são iguais, 
portanto, a quantidade de moeda paga nas transações é idêntica ao valor 
monetário dos produtos (CARVALHO et al., 2007, p. 31).
Avaliando a equação de trocas, vê-se que o volume de moeda em circulação é uma variável de 
possível mensuração devido ao controle de emissão por parte da autoridade monetária. O nível de 
preços é dado, mesmo que variável ao longo do tempo, bem como uma variável da equação passível de 
controle e mensuração. A velocidade de circulação da moeda também pode ser conhecida através de 
dados e mensurações estatísticas. Assim, a mensuração das quantidades transacionadas era de difícil 
operação à época, o que ensejou a reformulação da própria equação.
Uma dessas alterações seria entendê-la do ponto de vista da renda, e foi chamada versão renda:
MVy = PyY
Assim, M indica o estoque agregado de moeda, Vy a velocidade renda, Py um índice de preços de bens 
e serviços finais e Y um índice de quantidade representativo da produção real final. Esta própria versão 
efetua outra revisão. O que se altera em relação à primeira versão é o seguinte: do lado direito, em vez 
de expressar preços multiplicado pelo volume de transações, PT, passou-se a utilizar a mesma relação 
em termos do PIB real, PY. Então, a nova equação é indicada da seguinte forma:
MV = PY
Vejamos o que sinaliza Carvalho et al. (2007, p. 32) sobre o assunto:
A teoria quantitativa diz que – uma vez que a velocidade de circulação 
e o volume de comércio sejam constantes – um aumento na quantidade 
de moeda em circulação faz com que os preços aumentem na mesma 
proporção. A TQM se apoia, portanto, na ideia fundamental de que a moeda 
não tem nenhum poder de satisfazer os desejos humanos, exceto o poder de 
comprar bens e serviços. A moeda é apenas um meio de troca usado como 
ponte do hiato entre recebimentos e gastos dos agentes.
135
ECONOMIA E MERCADO
Pela versão conhecida até então, o que se assume é que a coletividade utiliza em suas trocas todo 
o montante monetário que tem a sua disposição sem qualquer possibilidade de retenção da moeda, 
afinal, está de acordo com os economistas clássicos, notadamente Say, em que o entesouramento não 
era apreciado. Considerando a possibilidade de os agentes econômicos em efetuar retenção, reservar 
parte da moeda consigo, mesmo que por períodos bastante temporários, curtos, torna-se necessário 
assumir que aquela parte da moeda que não foi colocada em circulação pela coletividade, portanto, 
não transformada em consumo, interfere no bom desenvolvimento do sistema, causando inclusive 
imperfeiçõesna lei, em que a oferta gera a procura correspondente.
Admitindo, também, que os encaixes para fins de segurança representem 
uma proporção da renda nominal, os economistas clássicos chegaram a uma 
equação de demanda agregada por moeda na qual a quantidade nominal 
de moeda que os agentes demandariam seria diretamente proporcional ao 
produto nominal da economia (BERCHIELLI, 2003, p. 109).
Com base nisso, surge uma nova versão da teoria – cash-balance ou versão de Cambridge –, 
incorporando a noção de que os agentes possam usar a moeda como reserva temporária de valor.
 Observação
Com a nova formulação, a teoria passa a considerar mais uma função 
da moeda, além daquela de servir de intermediário de trocas: passa a ser 
reserva de valor.
Com tal reformulação, a nova equação fica assim:
M = kPy
Onde:
M = demanda por moeda.
k = coeficiente de retenção da oferta monetária.
Py = PIB nominal.
Conforme declara Além (2010, p. 119),
Essa versão da TQM segue o mesmo resultado da versão anterior, tendo em 
vista que considera que k e y tendem a ser constantes no longo prazo. A renda 
real é dada a longo prazo pelo funcionamento da lei de Say. Sendo assim, no 
longo prazo há uma proporcionalidade entre expansão na oferta monetária 
e expansão no nível geral de preços. Partindo da equação de saldos de caixa 
136
Unidade III
de Cambridge, onde M = kPy, com k e y constantes, tem-se uma relação 
proporcional constante a longo prazo entre nível geral de preços e estoque 
monetário. A longo prazo, todo aumento na oferta monetária acima do 
crescimento do produto real se refletirá em aumento do nível de preços.
Tomando a TQM em sua versão de Cambridge quanto ao parâmetro k, também chamado de constante 
marshalliana, admitindo-se seu valor como fixo no curto prazo, o questionamento que se fez à época 
era saber quais os fatores que explicavam a decisão do público em reter moeda. Lopes e Rossetti (2005) 
elencam alguns destes motivos:
• a periodicidade entre recebimentos e pagamentos por parte da coletividade;
• nível de acesso da sociedade ao crédito, observando que em períodos de fácil concessão a demanda 
por moeda para gastos não programáveis se retrai;
• grau de eficiência do sistema de compensação, bem como dos processos de comunicação entre os 
débitos e créditos que ampliam ou diminuem a ociosidade da moeda estrutural;
• o grau de integração vertical do sistema econômico;
• existência de substitutos próximos da moeda, as chamadas quase-moeda;
• o nível de taxa de juros de mercado;
• a taxa de inflação.
Independentemente da forma que se observa a teoria quantitativa da moeda, ela não deixa de ser 
uma tautologia: os resultados obtidos em um lado da equação serão iguais ao resultado a ser obtido 
do outro lado. Ela representa uma identidade contábil de causa-efeito. Por qual motivo? Simples: a 
moeda é neutra no curto prazo. Os economistas desenvolvedores de tal teoria partem do princípio de 
que a economia se encontra em pleno emprego, e não é possível elevar o nível de produção por conta 
das condições da economia, sendo certo que a elevação na demanda nominal provoca aumento no 
nível geral de preços, sem que seja alterada a renda real da economia, dado que a oferta de moeda é 
constante no curto prazo. O gráfico a seguir reflete o que afirmamos: M representa o estoque de moeda, 
Md a demanda por moeda, p o nível de preços e y a renda.
137
ECONOMIA E MERCADO
Md = Md1 > Md0
Md = Md0
P
M
Y
Figura 25
Com o passar dos tempos, percebeu-se que era necessário avaliar os efeitos da velocidade das 
transações em razão da velocidade-renda da moeda, e não simplesmente da quantidade de vezes que a 
moeda era trocada de mão em mão. Deve-se levar em consideração que o nível de renda da coletividade 
também impacta no volume de transações que esta mesma coletividade está apta a efetuar. Então, a renda 
dependeria da quantidade de moeda em circulação assim como a quantidade de moeda em circulação 
também dependeria da renda da coletividade. No entanto, conforme bem destaca Berchielli (2003, p. 111),
Quais são os mecanismos que fazem com que aumentos no estoque de moeda 
impliquem elevação da demanda agregada? Por que agentes com mais moeda 
nos bolsos gastarão em bens, e não em títulos ou em ativos? Essas questões 
não foram satisfatoriamente resolvidas pelos economistas clássicos.
6.5.2 A teoria monetária de Keynes
Logo após as reformulações da teoria quantitativa da moeda e o reconhecimento de que as economias 
não mais tendiam ao equilíbrio como se imaginava, Keynes procura oferecer uma teoria monetária 
alternativa àquelas até então prevalecentes. Assumindo que a moeda também desempenha a função de 
reserva de valor, portanto, que pode ser entesourada, ela deixa de ser considerada neutra tanto no curto 
como no longo prazo, considerando agora a endogeneidade da moeda e sua não neutralidade.
Com base nisso, a quantidade de moeda disponível na economia afeta as variáveis reais da economia, 
a exemplo do emprego, da produção, do consumo e do próprio investimento que a gerou. Em Keynes, 
também não deixa de lado outra importância da moeda, qual seja, ser o ativo mais líquido que existe na 
economia. Carvalho et al. (2007, p. 46) destacam muito bem o que afirmamos.
Pelo seu atributo de liquidez por excelência, a moeda acalma as 
inquietações dos agentes diante das incertezas do futuro, que são 
características de uma economia monetária. Assim, quanto maior a 
138
Unidade III
incerteza percebida pelos agentes, maior tenderá a ser a retenção de 
moeda por parte deles, para fazer frente à imprevisibilidade de um futuro 
que depende das decisões e comportamento de todos os outros agentes 
que operam nesta economia. Quando as expectativas dos agentes são 
pessimistas, eles podem demandar segurança e flexibilidade no presente 
para enfrentar o futuro, representadas por um ativo seguro, que é a 
moeda. A posse da moeda permite aos agentes manter opções abertas 
perante a incerteza do futuro. Logo, coeteris paribus, quanto mais incerto 
é o futuro, maior é a preferência pela liquidez dos agentes. Note-se que 
para Keynes incerteza não se confunde com risco probabilístico, pois 
refere-se a determinados fenômenos econômicos para os quais não 
existe qualquer base científica para formar cálculos probabilísticos.
Segundo o excerto, para Keynes o futuro está repleto de incerteza e os agentes decidem seu futuro 
com base naquilo que percebem e agem no presente com base nas informações que detêm. Como a 
moeda está no centro das decisões dos agentes, eles devem decidir como efetuar a melhor alocação 
de seus recursos monetários. Estamos acentuando o que Keynes chamou de motivos que levam a 
coletividade a demandar moeda. Para ele, são três motivos: transação, precaução e especulação.
O motivo transação remete à moeda exercendo sua função meio de troca, intermediária de 
trocas totalmente dependente do nível de renda do agente econômico. Quanto maior o nível de 
renda, maior será a demanda por moeda neste motivo. Em períodos recentes, representaria o 
montante de moeda que um agente econômico necessita para efetuar seus gastos corriqueiros, 
aqueles considerados fixos, que sempre acontecem até que se receba outro volume monetário 
igual àquele preservado para este motivo. A esse respeito, Lopes e Rossetti (2005) esclarecem que 
este motivo foi dividido em duas partes na teoria de Keynes: a primeira – motivo renda, refere-se 
à necessidade de os indivíduos manterem saldos que garantam os pagamentos de suas despesas 
até que os recebem novamente. A segunda – giro de negócios – está no âmbito das empresas e no 
intervalo em que recebem por suas vendas e pagam os insumos utilizados na produção, bem como 
remuneram sua força de trabalho.
Já o motivo precaução versa que, como o agente econômico não sabe com certeza o que acontecerá 
no futuro, deve preservar algum volume monetário para algum infortúnio, algum evento que não estava 
esperando, ou seja, teria que gastar com o que não esperava ouapostar monetariamente em alguma 
aplicação financeira temporária.
Devemos admitir que os motivos transação e precaução já estavam explicitados na teoria quantitativa 
da moeda dos clássicos. Keynes também admite tais motivos, mas o que difere as visões dos teóricos 
é a procura motivada por especulação, isto é, o uso da moeda como forma de produzir rendimentos 
presentes e principalmente futuros. É aqui que surge outro motivo, e assim Keynes consegue avançar 
em seus estudos de uma teoria monetária, onde agirá a política monetária. Estamos nos referindo ao 
motivo especulação: neste, a demanda por moeda por parte de um agente econômico será maior 
ou menor não só por causa de seu nível de renda, mas sobretudo em razão das taxas de juros do 
mercado, não sendo irracional manter ativos monetários para satisfazer oportunidades especulativas. 
139
ECONOMIA E MERCADO
Se os juros estiverem elevados, os agentes econômicos preferirão adquirir títulos a manter a moeda em 
sua forma manual. O contrário também será verdadeiro, assumindo a relação inversa entre demanda 
por moeda pelo motivo transação e taxa de juros – quanto maior (menor) for a renda, maior (menor) 
será a demanda por moeda; quanto maior (menor) for a taxa de juros nominal, menor (maior) será a 
demanda por moeda.
Assim, a função demanda por moeda keynesiana pode ser expressa da seguinte maneira:
L = Lt (Y) + Ls (i)
Na equação, L indica a demanda por moeda, Lt (Y) a demanda por moeda pelo motivo transação 
como dependente do nível de renda, e Ls (i) a Ls (i) demanda por moeda pelo motivo especulação, 
dependente do nível de taxa de juros.
 Observação
Na função demanda por moeda keynesiana, em Lt (Y) estão inseridos 
os motivos demanda por moeda para transação e para precaução. Por 
convenção, lê-se demanda por moeda pelo motivo transação, mas o outro 
também está lá.
A função demanda por moeda pelo motivo transação pode ser assim representada:
RN = Y Lt
Lt
Y0
i
A) B)
Y1 Y2
Figura 26 
Observando o gráfico (a), é possível perceber que a demanda por moeda pelo motivo transação 
depende do nível de renda: elevação no nível de renda aumenta a necessidade de demanda para 
transações e precaução, ao passo que queda da renda provoca queda na demanda pelos mesmos motivos. 
Como tais razões não apresentam, do ponto de vista dessa teoria, nenhuma ligação com as taxas de 
juros, em (b) fica claro que deslocamentos positivos na demanda por moeda pelo motivo transação são 
verificados quando o nível de renda também se desloca.
140
Unidade III
Lopes e Rossetti (2005, p. 71) fazem advertências quanto ao exposto:
— Em época de desemprego, tratando-se de uma economia moderna 
regida por contratos, os preços e os salários não estão livres para 
variar automaticamente e assim promover o reajustamento natural 
do sistema econômico.
[...]
As quantidades produzidas se ajustam aos níveis de demanda efetiva. Isto 
significa que os simples ajustamentos no nível dos preços, resultantes da 
interação da oferta e da demanda monetárias, não são condições suficientes 
para que a economia opere em situação permanentemente próxima do 
pleno emprego.
— Na versão keynesiana a velocidade da moeda é considerada como 
variável, o que a distingue da versão dos economistas clássicos, para 
os quais essa velocidade era admitida como constante a curto prazo.
— No âmbito dos motivos transacionais e precaucionais, Keynes 
insere a possibilidade de retenção de moeda para o atendimento 
de determinadas despesas planejadas, e não apenas para fazer face 
às despesas correntes do período. Isso significa que podem ocorrer 
aumentos na quantidade demandada de moeda para transações, 
precedidos de expansão no montante do rendimento agregado. Neste 
ponto, Keynes levanta o problema do sentido da causalidade entre 
moeda e atividade econômica.
Agora vejamos a função demanda por moeda pelo motivo especulação:
i
Ls
Figura 27
141
ECONOMIA E MERCADO
Desse modo, vê-se a relação inversa entre Ls e i. Há uma explicação para isso.
Embora revele a existência de uma relação inversa entre a taxa de juros e a 
demanda de moeda para especulação, a função Ls apresenta um segmento 
perfeitamente elástico em relação a i. Neste segmento, geralmente 
conhecido por armadilha da liquidez, os que possuem ativos monetários são 
unânimes quanto à expectativa de que a taxa de juros já se encontra tão 
baixa que não seria possível baixar ainda mais – isto equivale a dizer que 
ninguém espera que os preços dos títulos se elevem ainda mais. Estando a 
função nesse segmento, estabelece-se uma verdadeira armadilha para as 
autoridades monetárias, no sentido de que estas não lograrão êxito se, neste 
instante, desejarem baixar ainda mais a taxa de juros via expansão da oferta 
monetária (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 78).
Da mesma forma que Keynes inova ao ampliar a discussão acerca do motivo especulação em sua 
teoria demanda por moeda, outros teóricos também destacam algumas imperfeições nela. Por exemplo: 
se o agente opta por manter moeda para transação, deve abrir mão da especulação. Assim, coloca as 
opções como excludente uma da outra. Outra irregularidade é que o motivo especulação não mais 
existiria no caso de estabilidade por tempo prolongado da taxa de juros e a um nível que os agentes 
econômicos consideram baixos. Keynes acentua outra imperfeição. Para ele, os agentes econômicos não 
têm certeza quanto ao futuro, pois este é incerto: do ponto de vista da realidade, parece que os agentes 
conhecem o futuro porque tomam suas decisões no presente dotados de certeza. Conforme despontam 
imperfeições teóricas, surgem análises alternativas.
6.5.3 Os modelos neoclássicos keynesianos
Como os modelos desenvolvidos a partir dos keynesianos, os modelos neoclássicos desenvolvidos 
durante os anos 1950 consideram que os agentes econômicos inserem cálculos probabilísticos em suas 
decisões. Entre eles, há o modelo de escolha de carteiras – desenvolvido por James Tobin, um dos 
primeiros teóricos a tentar explicar melhor algumas das imperfeições deixadas pela visão keynesiana. 
Tobin procura elucidar por que a demanda por moeda pelo motivo transação não depende exclusivamente 
da renda, mas também é impactada pela taxa de juros. Os pontos-chave são:
• o agente é capaz de calcular as probabilidades de risco de se manter uma carteira diversificada de 
ativos de forma a obter ganhos mais expressivos;
• o retorno total dos títulos que possui é advindo da soma da taxa de juros mais os ganhos de 
capital;
• quanto maior a quantidade de títulos na formação da carteira do agente, maior o risco de seus 
investimentos;
• o agente requer maior retorno de seus ativos, que deverão compensar o risco incorrido;
142
Unidade III
• as preferências dos agentes são indicadas em termos de um conjunto de curvas de indiferença 
entre riscos assumidos e retornos;
• a maximização de sua satisfação estará no ponto em que a combinação do risco e retorno 
tangenciar sua curva de restrição orçamentária.
 Observação
Os pontos-chave do modelo remetem a questões mais microeconômicas 
do que macroeconômicas. Motivo: estão na decisão individual do 
agente econômico maximizador de suas funções, neste caso, função 
demanda por moeda.
O modelo de Tobin descreve as opções que são colocadas a um agente, que deve fazer suas escolhas 
entre manter moeda e títulos sabendo que a moeda, ao mesmo tempo que não gera incerteza, também 
não rende qualquer retorno ao longo do tempo, enquanto o título rende um retorno chamado juros 
(i). Contudo, sua posse implica risco, pois quando da venda deste título, seu preço poderá ser maior ou 
menor que quando adquirido: está aí mais uma variável influenciando a remuneração total a ser obtida, 
ou seja, g, o ganho ou perda do capital. Tendo isso em mente, o que se coloca no modelo de Tobin é saber 
qual proporção tal agente dividirá sua carteira entre moeda e título, ou seja, de que forma montará seu 
portfólio sabendo que a remuneração esperada e gerada por uma carteira de títulose moeda será i + g?
A resposta está na compreensão do seguinte: se a taxa de juros se expandir, induzirá maiores 
retornos totais. Então, mantida a restrição orçamentária e a ideia de maximização de sua satisfação 
entre risco e retorno, o agente destinará maior parcela de recursos para aplicação em títulos. Se 
pensarmos em termos de teoria de demanda por moeda, incorporamos no motivo demanda por 
moeda o motivo especulação de uma variável: a aversão ao risco por parte do agente. Vejamos o que 
diz Além (2010, p. 122):
Supõe-se que os riscos atribuídos a cada composição de carteira sejam 
plenamente calculáveis: dada a distribuição de probabilidade dos 
rendimentos de cada um dos ativos, a tarefa do indivíduo otimizador de 
uma função utilidade consiste em selecionar a combinação de moeda e 
títulos que proporcionem uma posição ótima do ponto de vista do desejo de 
obter os maiores rendimentos aos menores riscos.
[...]
Para Tobin, em equilíbrio, a demanda especulativa por moeda deveria 
desaparecer, a não ser que os agentes sejam irracionais e incapazes 
de aprender com a realidade que testemunham: caso a taxa de juros 
permaneça inalterada por um período mais ou menos logo, acharão que 
essa taxa é a normal.
143
ECONOMIA E MERCADO
Assumindo que expansão de taxa de juros induz à maior colocação de títulos na carteira do agente, 
portanto, em maior risco combinado com maiores retornos esperados, a função de demanda de moeda 
para especulação apresenta-se inversa à taxa de juros, de forma semelhante à da versão keynesiana. 
Vejamos como é representada a função demanda agregada de moeda de Tobin. Em (a) temos a quantidade 
de renda que o agente dedica para a aquisição de títulos e a relação entre a taxa de juros e os riscos 
assumidos. Em (b) vemos a demanda por títulos em função das taxas de juros.
R0 R1
i0i0
i1i1
ii
A) B)
Ls1 Ls0
Figura 28 
Outra abordagem que se insere neste debate é aquela desenvolvida por Tobin-Baumol.
Iniciaremos com a principal motivação de Baumol: a de que manter saldos em moeda corrente faz 
o agente econômico ter a noção de existir em mãos um estoque de instrumento de troca como se este 
estoque fosse de uma mercadoria qualquer.
Semelhantemente ao que ocorre com o processo racional de administração 
de estoques, os agentes econômicos que detêm saldos monetários procuram 
administrá-los de forma a manter lotes mínimos que cubram as solicitações 
correntes, reduzindo a ociosidade tanto quanto seja possível, segundo 
critérios de racionalidade. No caso específico dos estoques monetários 
para transações, Baumol admite que a sua manutenção envolve custos de 
oportunidade não desprezíveis, representados pelo fato de não estarem 
rendendo juros aos seus detentores (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 85).
No modelo desenvolvido por William Baumol, também conhecido como modelo Tobin-Baumol, 
o agente recebe, no início do período, uma determinada renda e a mantém depositada em uma 
conta-corrente de elevada liquidez; nesta podem ser efetuados saques de qualquer valor a qualquer 
momento, mas há um custo fixo para cada um, independentemente do valor.
144
Unidade III
Os diferentes meios de pagamento e da conversão de quase-moeda em moeda geram um custo, e o 
custo tratado aqui neste modelo pode ser interpretado como o custo de se ir ao banco sacar moeda ou 
mesmo o de se fazer uma transação monetária via internet: o tempo gasto na atividade é um custo e 
deve ser levado em consideração.
Aqui, os agentes podem em um determinado período de tempo, preferir aplicar parte de seus recursos em 
títulos na busca de juros como forma de rendimento, preservando outra parte de moeda na forma líquida para 
transações correntes conforme se altera a taxa de juros. A ideia subjacente é a de que o agente econômico 
deve manter o mínimo possível de moeda corrente para procurar melhores rendimentos nas aplicações, 
transformando moeda líquida em quase-moeda ou mesmo manter saldos para suas transações. Daí o nome 
desta abordagem: moeda transacional. Nela, temos o volume monetário que o agente deverá utilizar ao 
longo de algum tempo, e o que não for usar hoje deverá estar aplicado para ser resgatado quando necessário.
Tal aplicação é remunerada conforme os saldos médios mantidos durante o período, e os gastos do 
agente são distribuídos uniformemente ao longo do tempo, de forma que renda e gastos estão em um 
mesmo período. Então, o agente terá que decidir a quantidade de vezes que deverá ir ao banco para 
fazer seus saques da aplicação. Caso vá ao banco no mesmo dia em que acontecer o depósito em sua 
conta e efetuar o saque do saldo total, não precisará retornar, e seu custo será minimizado.
Em outras palavras, o que o modelo Tobin-Baumol quer explicar é: como o agente tem à sua disposição 
a oportunidade de deixar saldos monetários aplicados e que renderão (caso não utilizados), a taxa de juros 
influenciará o montante que deixará aplicado. Assim, a existência dos juros e a oportunidade de deixar 
seus saldos monetários em aplicações retarda a transformação da moeda, exercendo sua função reserva 
de valor no motivo especulação em moeda manual para que exerça sua função intermediária de trocas.
Por complicações do modelo, não se pode afirmar qual será a quantidade ótima de vezes que um 
agente econômico deve ir ao banco efetuar suas conversões e seus saques, pois cada agente representa 
um relacionamento diferente no tocante aos seus saldos, o modelo trabalha em termos de saldos médios. 
Essa hipótese seria expressa do seguinte modo:
y
y
2
1 2
Tempo
Figura 29
145
ECONOMIA E MERCADO
Vejamos o que acentuam Carvalho et al. (2007, p. 70):
No instante inicial, logo após o saque, a quantidade de moeda em poder do 
agente é igual ao valor da renda Y. Este reduz-se linearmente ao longo do 
período, pois é gasto na aquisição de bens e serviços de forma uniforme. No 
final do período, esse estoque é reduzido a zero. O saldo médio de moeda 
mantido durante esse período de tempo é igual a y/2, e se continuar aplicado 
rende juros.
A que juros estaria tal remuneração? O valor nominal dos juros seria:
C
Y
i1
2
� �
�
�
�
�
� .
Assim, i é a taxa de juros nominal, e C1 indica o custo de efetuar a transferência da aplicação para a 
conta-corrente, portanto, de efetuar o saque.
A demanda transacional apresenta-se como uma função direta do nível de renda e inversa em 
relação à taxa de juros.
A principal conclusão da abordagem de Tobin-Baumol para a demanda de moeda para transações é que
As elevações da taxa de juros resultam em uma ampliação do número de 
transações e, consequentemente, aumento do montante de moeda aplicado 
em títulos. Logo, a demanda por moeda para fins transacionais reage às 
mudanças nas taxas de juros, provocando um movimento inverso na 
demanda por moeda para transação (CARVALHO, 2007, p. 72).
Por fim, a função demanda será expressa assim:
Lt = f (y,r)
A demanda por moeda Lt é uma função da renda (y) e da taxa de juros (r).
 Resumo
Estudamos nesta unidade as medidas de atividade econômica 
e a Teoria Macroeconômica. Vimos as diferenças entre os diversos 
agregados macroeconômicos, bem como entre o valor bruto da 
produção e o valor agregado.
146
Unidade III
Aprendemos como se calcula o PIB. Além disso, foram consideradas 
as políticas de que o governo se utiliza para conduzir a sociedade. 
Nesse contexto, foi possível perceber que a macroeconomia estuda a 
coordenação geral das atividades econômicas, isto é, a forma e os meios 
pelos quais uma economia, com milhares de produtos e de agentes, pode 
funcionar em harmonia e, na maioria das vezes, encontrar o equilíbrio ou 
tender a ele. Contudo, como nem sempre esse equilíbrio geral é atingido, 
a macroeconomia também analisa as razões ou causas das falhas dessa 
coordenação, bem como as suas possíveis correções, por meio de políticas 
econômicas apropriadas. Essas falhas se manifestam por desequilíbrios, 
tais como instabilidade do nível de preços, do balanço de pagamentos e 
do crescimento da rendacom repercussões na oferta de emprego. Diante 
dessas falhas, temos a condução da política econômica como norteadora 
dos objetivos que um governo pretende traçar para sua sociedade.
A política monetária enfatiza sua atuação sobre os meios de pagamento, 
títulos públicos e taxas de juros, modificando o custo e o nível de oferta 
do crédito. O Banco Central costuma realizar diversos empréstimos, 
conhecidos por empréstimos de assistência à liquidez, às instituições 
financeiras, visando equilibrar suas necessidades de caixa diante de um 
aumento mais acentuado de demanda por recursos de seus depositantes. A 
esse tipo de instrumento dá-se o nome de operação de redesconto.
Acentuamos que a política fiscal centraliza suas preocupações nos 
gastos do setor público e nos impostos cobrados da sociedade, procurando, 
por meio de maior eficácia no equilíbrio entre a arrecadação tributária e as 
despesas governamentais, atingir determinados objetivos macroeconômicos 
e sociais. Se o governo elevar a cobrança de impostos das empresas, duas 
importantes repercussões estão previstas: redução dos resultados – o que 
torna o capital investido menos atraente –, e também menor capacidade de 
investimento, por acumular menores fluxos de caixa, tornando a empresa 
mais dependente de empréstimos para financiar sua atividade.
Já a política cambial está baseada na administração das taxas de 
câmbio, promovendo alterações das cotações cambiais, e, de forma mais 
abrangente, no controle das transações internacionais executadas por 
um país. É fixada, em geral, para facilitar as necessidades de expansão da 
economia e promover seu desenvolvimento econômico.
Apresentamos, ainda, as falhas de mercado. Estas requerem, de uma 
forma ou outra, a presença do Estado na economia, que atua, ora por 
intervenção legislativa, ora por intervenção por política econômica, no 
exercício de suas funções. Destacamos informações acerca da economia 
monetária, a exemplo de oferta e demanda por moeda, bem como a 
147
ECONOMIA E MERCADO
relevância que a moeda exerce na economia capitalista. Vimos que ao longo 
da História os indivíduos realizavam as trocas para satisfazer às próprias 
necessidades, e a moeda como conhecemos hoje não era importante; 
vários bens desempenharam seu papel, porém com várias restrições. Com 
o avanço das sociedades e a chegada do capitalismo, a multiplicação das 
trocas fez com que nascessem outros meios de pagamento. O ouro e a prata 
transformaram-se em moeda, e depois surgiu a moeda representativa.
Inicialmente, os meios de pagamento utilizados traziam consigo o lastro; 
depois, tal ideia foi abandonada devido à possibilidade da multiplicação dos 
meios de pagamento, ainda que de forma bastante simples e incipiente, 
mas que ofereceu condições de o sistema capitalista desenvolver o sistema 
bancária e, a partir daí, o próprio sistema monetário.
No sistema monetário, a moeda de uma economia é tratada, em termos 
técnicos, como meio de pagamento e, portanto, de maior complexidade. Os 
meios de pagamento convertem-se em moeda manual e moeda escritural, 
e o relacionamento do público com tais instrumentos monetários impacta 
diretamente as condições de produção, distribuição, consumo e acumulação 
em uma economia baseada na moeda.
Como guardião do sistema, temos o Banco Central, autarquia responsável 
pela emissão do papel-moeda e pela garantia da liquidez do sistema. Tal 
instituição tem relacionamento direto com os bancos comerciais, que 
multiplicam os meios de pagamento ao terem a prerrogativa de criarem 
moeda escritural, dadas algumas limitações impostas pelo próprio sistema 
e mesmo por seu principal fiscalizador.
 Exercícios
Questão 1. (ENADE 2012) O Brasil produz e distribui cerca de 44 milhões de metros cúbicos de água 
por dia. Destes, 15 milhões são coletados através de redes gerais, mas apenas 5 milhões de metros cúbicos 
são retornados ao meio ambiente com tratamento adequado. Cerca de 39 milhões de metros cúbicos de 
água não são retornados com tratamento, sendo, em grande parte, despejados in natura no solo ou em 
cursos d’água. O volume de água que, a cada mês, é distribuído para consumo e que não retorna ao ciclo 
natural com o tratamento adequado equivale à metade do volume de água contido na Baía da Guanabara. 
A cada ano, esse volume tem a ordem de grandeza equivalente a seis baías da Guanabara.
As consequências mais conhecidas da falta de redes de água e de esgoto manifestam-se na forma 
de uma proliferação de doenças gastrointestinais que sobrecarregam o serviço de saúde pública. Essas 
doenças e a mortalidade infantil diminuem o capital humano dos indivíduos mais pobres.
TUROLLA, F. A.; OHIRA, T. H. Disponível em <http://www.sober.org.br>. Acesso em 17 jul. 2012 (adaptado).
148
Unidade III
Considerando o texto apresentado, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.
I. As consequências a que se referem os autores no texto acima podem ser denominadas como 
externalidades e constituem falhas de mercado.
PORQUE
II. O uso de mecanismos de regulação é recomendado como forma de eliminar falhas de mercado.
Acerca dessas asserções, assinale a opção correta.
A) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa da I.
B) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II não é uma justificativa da I.
C) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
D) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.
E) As asserções I e II são proposições falsas.
Resposta correta: alternativa B. 
Análise da questão
Justificativa: o fornecimento de água feito de maneira insuficiente e inadequada caracteriza 
uma falha de mercado, já que resulta em externalidade negativa (despejo de água não tratada no 
ambiente e proliferação de doenças gastrointestinais na população) que requer a ação interventora 
do Poder Público. 
A ação reguladora do Estado é requerida quando há externalidades negativas na produção ou no 
consumo de determinado bem ou serviço. Essa intervenção é ainda mais urgente quando há riscos para 
a sociedade em geral.
Assim, nota-se que a asserção II não justifica a asserção I. 
Questão 2. Entendendo a moeda como instrumento para intermediar as transações econômicas e 
tendo em mente suas funções, julgue as afirmativas a seguir:
I. A moeda é usada como reserva de valor, pois é o ativo com maior liquidez na economia. 
II. A moeda é utilizada como unidade de conta, pois é aceita pela coletividade, possibilitando que 
todos os bens, serviços e fatores de produção sejam expressos em unidades monetárias.
149
ECONOMIA E MERCADO
III. A moeda é utilizada somente para intermediar o fluxo de bens, serviços e fatores de produção.
IV. A moeda é utilizada como meio de troca, o que facilita as transações de bens, serviços e fatores 
de produção.
É correto apenas o que se afirma em: 
A) I, II, III e IV.
B) II e III. 
C) I, II e III. 
D) I, II e IV. 
E) III e IV. 
Resolução desta questão na plataforma.
150
Unidade IV
Unidade IV
7 REGIME DE METAS PARA INFLAÇÃO
Entender o regime de metas para inflação implementado em diferentes economias durante a década 
de 1990 é compreender uma mudança de postura dos governos e, principalmente, da autoridade 
monetária quanto à adoção da política monetária, que passa a ser pautada na busca de estabilidade de 
preços e na transparência de todo o processo. Isso foi feito para obter maior credibilidade por parte da 
autoridade monetária junto à sociedade para que os reais objetivos da autoridade sejam conquistados.
Há dois pressupostos principais do regime de inflation targeting. O primeiro é relacionado à inoperância 
do monetarismo de Friedman e à crença de que políticas monetárias ativas são fortes o bastante para 
impactar variáveis reais da economia como aquele teórico acreditava, a saber: nível de produto e de 
emprego. A realidade econômica de agora revela efeitos inócuos quando do uso de políticas monetárias 
expansionistas, pois osagentes formam suas expectativas, não são ingênuos como antes.
O outro pressuposto, que de certa forma não está dissociado do primeiro, é o seguinte: 
independentemente da influência provocada pela política econômica, existe nas economias uma taxa 
natural de desemprego que é determinada tanto por fatores reais como institucionais.
Se o monetarismo até então vigente parece não mais apresentar importância em termos de 
formulação de política econômica, tal regime receberá forte influência dos economistas teóricos da 
escola novo-clássica e suas hipóteses das expectativas racionais. Como os agentes econômicos detêm 
informações, mesmo que assimétricas, é com elas que criam suas expectativas quanto às reais razões da 
adoção da política monetária (por parte do formulados) e, a partir daí, tomam suas decisões com relação 
à moeda e aos investimentos. Como bem explica Carrara e Correa (2012, p. 443),
A escola de pensamento novo-clássica consolidou-se durante a década de 
1970, quando inúmeras críticas abalaram o consenso keynesiano, que havia 
predominado na macroeconomia durante as décadas de 1950 e 1960. Robert 
Lucas, Thomas Sargent e Neil Wallace foram os precursores dessas críticas e 
de algumas novas hipóteses introduzidas pela referida escola, destacando-se 
a aversão às ideias dos keynesianos de intervenção macroeconômica e a 
não concordância com a caracterização dos instrumentos utilizados pelos 
agentes para formarem suas expectativas, postulada por Friedman. Ou seja, 
os novo-clássicos rejeitavam a ideia das expectativas adaptativas, tanto que 
no seu lugar propuseram a hipótese das expectativas racionais. Por outro 
lado, incorporaram dois elementos cruciais do monetarismo: a hipótese da 
existência de uma taxa natural de desemprego e a concepção monetarista 
de que a inflação é um fenômeno essencialmente monetário.
151
ECONOMIA E MERCADO
Para os teóricos da escola novo-clássica, a política monetária é ineficaz para afetar variáveis 
reais da economia pelas seguintes razões: os agentes econômicos formam suas expectativas com 
bases racionais; existe uma inconsistência temporal da política monetária; e o viés é inflacionário. 
O que isso significa? Que a autoridade monetária anuncia uma direção da política monetária, 
se expansionista ou contracionista e, com base em tal nota, os agentes econômicos formulam 
suas posições – reação à política – ancorados no registro. Bastaria então à autoridade monetária 
realmente adotar a postura anunciada, sem criar desconfiança por parte do mercado de como 
agirá. Isso tem uma ligação direta com a questão da credibilidade a ser conquistada pela 
autoridade monetária para que seus objetivos logrem êxito. Do contrário, se não adotar a postura 
que informou aos agentes, o mercado reagirá de forma oposta aos objetivos pretendidos e a 
reputação piora o quadro da economia.
A adoção de tal regime baseia-se no reconhecimento fundamental de que a meta da política 
monetária seja a manutenção de níveis baixos de inflação e que sejam estáveis no tempo: é uma questão 
de clareza em termos de objetivos. Mais do que isso, faz com que a autoridade monetária assuma um 
compromisso, inclusive institucional, na busca de estabilidade.
Nesse contexto, sabemos que esses compromissos relacionam-se à inflação, que deve ser baixa e 
estável, mas quão baixa? Qual estabilidade manter? É aqui que uma meta numérica para inflação vem, 
anunciada, bem como o tempo necessário para alcançá-la. Segundo Carvalho et al. (2007, p. 140),
Tal estrutura de política monetária, segundo defensores do regime 
de metas de inflação, aprimora a comunicação entre o público e o 
setor empresarial e os mercados, por um lado, e os policy-makers, de 
outro. Também proporciona disciplina, prestação de contas ao público, 
transparência e alguma flexibilidade à política monetária. A chamada 
credibilidade é fundamental na condução da política monetária para 
evitar problemas relacionados à inconsistência temporal, ou seja, busca 
resultados imediatos e temporários em termos de nível de produto em 
detrimento de perdas duradouras. Neste sentido, a adoção de um banco 
central independente proporcionaria uma maior credibilidade junto 
aos agentes econômicos e sinalizaram um maior comprometimento da 
autoridade monetária com a baixa inflação.
 Observação
Desse modo, vimos que o compromisso é numérico e temporal.
E qual será o instrumento de política monetária a ser utilizado para conquistar o nível de 
inflação desejado? Trata-se da taxa básica de juros, que atuará de forma a fazer com que a inflação 
tenda a convergir para a meta estabelecida. Contudo, por essa vertente, a administração da taxa 
de juros da economia deve estar conforme as condições de mercado e não deve interferir no bom 
funcionamento do mercado de bens, a não ser que este esteja provocando inflação, algo totalmente 
152
Unidade IV
contrário aos objetivos da política monetária. Para os adeptos desse regime, a política fiscal deverá 
estar subordinada aos objetivos e compromissos da política monetária, e não o inverso. Como 
sabemos, os efeitos expansionistas ou contracionistas provocados em uma economia pela política 
fiscal são mais ágeis do que os da política monetária. Com essa mudança de postura e com a visão 
e alcance de longo prazo, a eficácia da política monetária dependerá da transparência na condução 
da política e de seus mecanismos de ação a serem executados ao longo do tempo. Isto requer 
melhoria na comunicação entre autoridade monetária e coletividade de forma geral para que todos 
estejam alinhados.
Quanto à transparência e comunicação, o uso da mídia, não só impressa, é essencial. Por exemplo: 
a autoridade monetária deve fazer a publicação de relatórios com os dados históricos dos níveis de 
inflação, ressaltando os instrumentos de política monetária que foram usados para obtê-los. Nessas 
comunicações, o foco está na apresentação das razões técnicas e nos reais motivos de a autoridade 
monetária tomar este ou aquele caminho, a fim de que a sociedade siga o mesmo rumo.
Quando o Banco Central vem a público esclarecer sua posição, sempre o faz para avisar a 
sociedade de que manterá a mesma trajetória de taxa de juros (caso a inflação esteja perto da meta) 
ou se deverá mudar de rota – em caso contrário. Se o plano falhar, o Banco Central explica quais 
os motivos que fizeram a inflação fugir da meta estipulada e depois anuncia a rota de correção. 
Muitas vezes, a o erro está na própria política econômica adotada, suas formas e períodos, o que 
fará com que a autoridade monetária reconheça junto ao público que errou em suas previsões e 
tomadas de atitude.
Aplicando tais medidas, a autoridade monetária, ao assumir compromissos com a sociedade, terá 
que deixar de atuar de forma discricionária e apenas a seu intento. Assim, a margem de manobra para 
que a autoridade monetária traia a sociedade parece diminuir. Pelos teóricos da escola novo-clássica 
e adeptos do regime de metas de inflação, vieses inflacionários sempre são criados quando o órgão 
competente não adota a política econômica da forma como foi anunciada, portanto, ferem a 
credibilidade de sua atuação e da política. Então, incrédulos, os agentes econômicos tomam suas 
decisões, independentemente da política econômica. Qual o resultado? Política econômica com um 
objetivo e sociedade com outro.
É na questão da credibilidade e reputação que reside a tese da independência do Banco Central. 
Vejamos o que destacam Carrara e Correa (2012, p. 445)
Tem como base de seu desenvolvimento o trinômio – credibilidade, 
reputação e transparência –, estabelecido por alguns estudiosos da teoria 
novo-clássica, e encontrou grande respaldo em países desenvolvidos. 
A proposta das metas inflacionárias, por sua vez, surgiu como um 
desdobramento da tese da IBC, e sua motivação inicial se encontra na 
formulação do problema da inconsistência temporal, originalmente 
realizada por Kydland e Prescott.
153
ECONOMIA E MERCADO
 Saiba mais
Sobre a tese da independênciado Banco Central, convidamos a efetuar 
a leitura do seguinte artigo:
SICSÚ, J. A tese da independência do Banco Central e a estabilidade de 
preços: uma aplicação do método Cukierman à história do FED. Estudos 
Econômicos, São Paulo, USP, 1996. Disponível em: <http://www.revistas.
usp.br/ee/article/viewFile/116616/114203>. Acesso em: 7 jan. 2018.
Então, o que é necessário para que o regime de metas seja efetivo?
Primeiramente, é preciso escolher uma meta que seja pontual ou mesmo de uma banda. 
Uma meta estabelecida pode ser mais bem compreendida pela população diante do anúncio 
de um número específico, no caso um percentual de inflação aceitável e requerido, e o uso de 
bandas não é tão simples. Nesse expediente, o anúncio não se faz apenas com um número, ou 
um nível, se preferir, mas sim com um intervalo de aceitação, com teto máximo e teto mínimo. 
Enquanto a primeira opção é mais palatável no quesito público, engessa a política monetária em 
termos de compromissos críveis. Já a segunda alternativa permite o inverso: é mais difícil de a 
sociedade compreender e seguir os compromissos institucionais, mas promove maior flexibilidade 
à autoridade monetária quanto ao manejo da política econômica, notadamente a monetária, em 
direção aos objetivos firmados.
Depois, é preciso escolher o período para a meta ser alcançada. A autoridade monetária tem algumas 
opções: a adoção de metas curtas, digamos anuais, representa uma condição maior de compromisso por 
parte da autoridade monetária quanto à estabilidade dos preços. Nesse caso, a autoridade monetária 
busca credibilidade e abre mão de flexibilidade. Se a opção for pela adoção de metas em horizontes 
temporais mais alongados, possíveis choques endógenos ou exógenos contra a inflação podem ser 
amenizados, pois o Banco Central optou pela flexibilidade em vez de reputação, não que esta também 
deixe de ser considerada pelo mercado.
Por fim, mas não menos importante para que o regime de metas de inflação seja efetivo, é vital 
definir um índice de preços a ser adotado como referência para a meta. Então, há algumas opções, 
ou a autoridade monetária optará por um índice do tipo preços ao consumidor, no caso, um índice 
cheio, ou adotará um núcleo de inflação – core inflation: “esta opção exclui do índice de preços 
ao consumidor os itens que causam perturbações transitórias ou autocorrigíveis e que têm pouca 
relação com os movimentos mais permanentes de preços” (CARVALHO et al., 2007, p. 141). Aqui 
também temos um conflito de escolha (trade-off): o core inflation tem a vantagem de expurgar da 
inflação choques temporários e oferece à autoridade monetária condições mais certeiras quanto 
à conquista da meta fixada, abrindo mão de certa credibilidade por causa do entendimento da 
população quanto à composição do índice. Há uma questão de percepção: o Banco Central pode 
154
Unidade IV
estar correto no tocante à meta para inflação, estar na trajetória correta e a sociedade ainda sentir 
seus efeitos, em caso de sua existência. Essa interpretação pode causar confusão e a perda de 
credibilidade da autoridade monetária.
No Brasil, tal regime foi adotado quando o governo de Fernando Henrique Cardoso e sua equipe 
econômica sofreram fortes desvalorizações da moeda, o que ocorreu por causa de ataques especulativos 
contra o Real e seu programa de estabilização em condições de economia aberta.
As metas são propostas pelo ministro da Fazenda, mas decididas e 
anunciadas pelo Conselho Monetário Nacional, que é constituído pelo 
ministro da Fazenda, ministro do Planejamento e o presidente do Banco 
Central. Além do centro da meta, expresso pela variação do Índice de Preços 
ao Consumidor Amplo – IPCA, calculado pelo IBGE, o CMN determina o 
intervalo de tolerância adotado, que tem variado em 2% e 2,5% acima e 
abaixo da meta central, de modo a permitir algum grau de flexibilidade à 
política monetária. Foi delegada a responsabilidade pelo cumprimento das 
metas de inflação ao Banco Central do Brasil (CARVALHO et al, 2007, p. 142).
 Saiba mais
BRASIL. Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999. Estabelece a 
sistemática de “metas para a inflação” como diretriz para fixação do regime 
de política monetária e dá outras providências. Brasília, 1999. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3088.htm>. Acesso 
em: 9 jan. 2018.
No âmbito do Banco Central do Brasil, estão a cargo de seus dirigentes as decisões acerca da política 
monetária, acenando certa independência deste órgão, mas não de forma totalmente declarada. O 
que se vivencia em termos de economia brasileira moderna é que tais decisões não sofrem influência 
política por parte do Governo Federal, sendo certo que as decisões de política monetária são adotadas 
em razão de técnica econômica e racionalidade. Por seu turno, o Banco Central usa o Comitê de Política 
Econômica (Copom), e o Banco Central faz parte de sua diretoria. Desde de que foi instituído, em 
meados de 1996, os objetivos do Copom são:
• implementar a política monetária;
• definir a meta da taxa Selic e seu eventual viés;
• analisar o Relatório de Inflação.
Para cumprir com seus objetivos, os membros do Copom se reúnem a cada 45 dias, efetuam análise 
do comportamento da economia do último período, fazem suas projeções para o período seguinte com 
155
ECONOMIA E MERCADO
base nas informações do passado e do presente e tomam suas decisões. Tais decisões serão veiculadas 
pela mídia, depois são formalmente trazidas às claras à sociedade por meio de suas atas.
 Saiba mais
Para verificar todas as atas das reuniões do Copom, leia: 
<https://www.bcb.gov.br/?ATACOPOM>.
Em contrapartida, o governo delegou as decisões de política monetária, 
ou seja, o poder de determinar a taxa de juros básica da economia, aos 
dirigentes do BCB. O Comitê de Política Monetária – Copom – que é 
formado pela diretoria do Banco Central, se reúne periodicamente (45 dias) 
para estabelecer a taxa de juros, a taxa Selic, que considera adequada ao 
cumprimento da meta de inflação. Além de determinar a taxa de juros, o 
Copom estabelece também o chamado viés – que pode ser de baixa, de 
alta ou neutro. Oito dias após a reunião do Copom, o site do banco central 
disponibiliza a minuta da reunião realizada, que contém o sumário da 
discussão do Copom e as decisões tomadas quanto à definição da taxa 
de juros básica. Ao fim de cada trimestre, o Copom publica o Relatório da 
Inflação, que provê informações detalhadas sobre a conjuntura econômica 
do País, assim como suas projeções para a taxa de inflação, que são levadas 
em conta pelo Copom nas reuniões em que é definida a taxa de juros 
(CARVALHO, 2007, p. 142).
7.1 Políticas de estabilização
Tratar das políticas de estabilização da inflação da economia brasileira requer estudar um vasto 
período, pois a inflação no Brasil sempre foi um problema. Para tal, iniciaremos pela década de 1980, 
mostrando como os governos brasileiros adotaram as mais variadas formas de controle da inflação.
A década de 1980 encerraria o período do regime militar, que persistiu no Brasil por longos anos. 
A passagem de um governo militar para um presidente civil (José Sarney foi empossado em março de 
1985) impulsionaria a Nova República, que se constituiria em um novo ciclo histórico. Sarney inicia seu 
governo com a equipe econômica, composta de Francisco Dornelles como ministro da Fazenda e João 
Sayad no Planejamento, adotando posicionamento de austeridade sob a bandeira “é proibido gastar” 
(BRUM, 2000, p. 403).
Sob seu governo, o primeiro plano de estabilização foi o Plano Cruzado, executado em fevereiro de 
1986. De raiz heterodoxa, a ideia central desse plano era que a inflação brasileira era inercial. As principais 
medidas do Plano Cruzado foram: “congelamento de preços e salários e reforma monetária, com a 
alteração do nome da moeda de Cruzeiro para Cruzado, passando então a representar, respectivamente, 
Cr$ 1.000,00 e Cz$ 1,00” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 120-121).
156
Unidade IV
Adesindexação da economia ensejou a substituição das Obrigações Reajustáveis do Tesouro 
Nacional (ORTN) pelas Obrigações do Tesouro Nacional (OTN). O Pis-Pasep e o FGTS, lançados durante o 
período militar, preservaram reajustes como uma espécie de proteção contra a inflação ainda existente 
(FURTADO, 2000). O resultado imediato foi deflação nos primeiros meses do Plano. A inflação do mês de 
fevereiro foi de 22%, em março, -1%. Contudo, em fins de 1986, a inflação volta a subir por causa da 
elevação do déficit público, “atingindo 7,6% em dezembro” (BAER, 1995, p. 169). Liberando preços de 
alguns produtos, congelando o salário mínimo e revendo formas de cálculo da inflação para o próximo 
período, em novembro de 1986 o governo lança o Plano Cruzado 2, com vida curta, chegando ao 
colapso em fevereiro de 1987, com inflação acelerada e marcando 16,82% ao mês.
Em um quadro de desaquecimento da economia e prolongada estagnação econômica, pressão 
inflacionária e elevação do déficit público, queda nas reservas internacionais e decepção por parte 
da população, a equipe econômica é substituída, com Luis Carlos Bresser-Pereira à frente da pasta 
ministerial. Assim, em junho de 1987, encontrando certa resistência por parte da sociedade, é lançado 
o Plano Bresser, que também contava com o congelamento de preços e salários, mas por um período 
menor, de aproximadamente três meses, diferentemente do anterior, que propunha nove meses.
Outra frente de ataque do plano seria o déficit público: o intuito era diminuí-lo para 2% do PIB até o 
fim de 1987. Na tentativa de frear o consumo, as taxas de juros foram mantidas elevadas, em patamares 
superiores ao da inflação, para incentivar poupança por parte dos agentes econômicos. Assim, com 
medidas tanto ortodoxas como heterodoxas adotadas pelo plano, a inflação, que no primeiro semestre 
de 1987 apresentou índice de 186%, passou para 63% no acumulado do segundo semestre do mesmo 
ano (FURTADO, 2000).
Independentemente dos índices de inflação terem recuado consideravelmente diante das medidas 
aplicadas pelo Plano Bresser, a maior dificuldade encontrada pelo governo foi o controle dos gastos 
públicos, portanto, do déficit público. Tais despesas aumentaram por causa do reajuste salarial de 
funcionários públicos, repasses de verbas do Governo Federal a estados e municípios e elevação de 
subsídios às empresas estatais, diminuindo a arrecadação da Fazenda de modo substancial.
Há que se considerar o que salienta Furtado (2000), de que o fracasso do plano em seu intento deu-se, 
principalmente, à falta de apoio político para adoção de políticas restritivas, pois Sarney procurava 
apoio do Congresso para aumentar para cinco anos seu mandato na Presidência da República. Em 
dezembro de 1987, Bresser-Pereira deixou o governo, e Mailson da Nóbrega o substituiu. Em janeiro de 
1989, foi implementado o Plano Verão, que consistiu novamente em congelamento de preços e salários 
e nova reforma monetária, dessa vez tendo a moeda novo nome – Cruzado Novo –, e novamente foi 
dividida por mil. Assim, Cz$ 1.000,00 passou a ser NCz$ 1,00. A essas medidas soma-se a eliminação de 
indexação, exceto para depósitos de poupança como desestímulo ao consumo e restrição à expansão 
monetária e creditícia (BAER, 1995).
No decorrer de 1988, Mailson da Nóbrega adotou a chamada política “feijão com arroz”, que significa 
a rejeição às políticas heterodoxas de combate à inflação. O objetivo era estabilizar a inflação em torno 
de 15% a.m., além de reduzir o déficit do governo de 8% do PIB para 4%.
157
ECONOMIA E MERCADO
O Plano adotou o congelamento de empréstimos ao setor público, contenção salarial e redução no 
prazo de recolhimento de impostos; além disso, em março de 1988, suspendeu a moratória que fora 
decretada em fevereiro de 1987.
A nova Constituição, promulgada em outubro de 1988, elevava os custos governamentais, aumentando 
a transferência de impostos para Estados e Municípios, desequilibrando o orçamento federal.
O Plano Verão conseguiu manter a inflação abaixo dos 20% no primeiro semestre de 1988, mas a 
partir do segundo semestre a recomposição das tarifas públicas e a promulgação da nova Constituição 
elevou a inflação.
Havia elementos ortodoxos e heterodoxos no Plano Verão: os primeiros visavam conter a demanda 
através da diminuição dos gastos públicos e da elevação da taxa de juros; os heterodoxos tentavam 
acabar com a indexação da economia, por isso novamente fixou o congelamento dos preços.
O câmbio foi desvalorizado em 18% e foi feita uma nova reforma monetária com corte de tres zeros 
do Cruzado, que passou a se chamar Cruzado Novo.
O Plano Verão, assim como seu antecessor (Plano Bresser), durou pouco tempo. O governo não 
realizou nenhum ajuste fiscal e os déficits orçamentários permaneciam muito altos, provocando total 
descontrole monetário. A inflação se acelerou rapidamente, tendo seu pico – de 80% – no último mês 
do governo.
Na sequência, houve troca de presidente e outra política – o Plano Collor, com confisco de liquidez. 
Fernando Collor de Mello foi eleito nas eleições de 1989 por um partido ainda desconhecido por boa 
parte da sociedade. Ele prometia, sobretudo, modernizar o mercado seguindo a tendência mundial 
pós-queda do Muro de Berlim e combater a inflação utilizando a experiência proporcionada pela 
heterodoxia dos planos anteriores.
8 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Os governos não estão somente interessados na estabilidade econômica de preços e de salários. A 
intervenção governamental também deve permitir que a economia cresça e se desenvolva, trazendo 
benefícios para toda a sociedade.
8.1 Características de uma economia subdesenvolvida
O subdesenvolvimento pode ser estudado sob dois prismas. Um deles trata a questão de maneira 
ideológica, como uma mera classificação no tempo das condições sociais e econômicas de um país 
comparado a outros, mesmo que de estruturas diferentes. Por este olhar, a caracterização se daria por 
análises conjunturais, sem que uma raiz econômica fosse, de fato, concreta. Outra perspectiva reside na 
escolha de fatos mais concretos ligados à estrutura econômica e social de uma nação e que permitam 
sua classificação como subdesenvolvido. Aos fatos concretos são atribuídos fatores históricos, territoriais 
e regionalização, acesso aos meios de produção e geração de renda, para citar alguns.
158
Unidade IV
Conforme destaca Souza (2009), a definição de subdesenvolvimento passa pela noção de que o 
crescimento demográfico ocorre de forma mais rápida do que o econômico e, ante tal irregularidade, 
não tarda para que a renda e a riqueza se concentrem nas mãos de poucos, o que gera, por consequência, 
pobreza e miséria para as classes menos favorecidas. Ademais, indicadores sociais e ambientais 
apresentam menor qualidade em relação aos de países considerados desenvolvidos, e as estruturas 
econômicas, no que diz respeito à inovação tecnológica, não se mostram totalmente adequadas para 
que sejam superados tais entraves.
Acentuamos a seguir o que Sandroni (1999, p. 580) diz sobre o subdesenvolvimento:
[...] Situação inferior do sistema econômico-social de um país em relação aos 
padrões econômicos das nações industrializadas. Evidencia-se por indicadores 
como exportação baseada em produtos primários, forte participação de 
produtos industrializados na pauta de importação, importação acentuada 
de tecnologia e capitais estrangeiros, persistência de elevadas taxas de 
desemprego, baixa produtividade, baixa renda per capita, mercado interno 
bastante limitado, baixo nível de poupança e subconsumo acentuado. 
[...] O subdesenvolvimento está ligado ao problema da dependência, que 
atinge desde países extremamente pobres, como Bangladesh, até países de 
considerável nível de industrialização e diversificação do aparelho produtivo, 
como Brasil, México e mesmo os ricos Estados árabes produtores de petróleo.
Outra característica marcante do subdesenvolvimento é que os países com tal classificaçãoexpressam instabilidade política e econômica, além de serem altamente dependentes de acesso à 
tecnologia e capitais de países ditos avançados. Mesmo que exista produção industrial, a maior parte 
do que é produzido tem como destino o consumo interno, ficando a cargo da base exportadora 
produtos de baixo valor agregado, notadamente aqueles provenientes do setor primário. Na medida 
em que uma maior quantidade de países entra no comércio internacional, a questão da produtividade e 
da competitividade impera, desfavorecendo aqueles países cuja pauta exportadora não é diversificada 
ou que não seja tão competitiva com relação aos demais. Nesse aspecto, o que dita a regra da 
competitividade são custos de produção, preços internos e para exportação, bem como os logísticos, 
determinados pela questão territorial.
Junto às questões de produtividade e competitividade, elevadas taxas de inflação, bem como as 
dificuldades orçamentárias de governos de países subdesenvolvidos, colocam-se como entraves quanto à 
capacidade do setor público para financiar projetos em áreas chamadas estratégicas, ou infraestruturais, 
a exemplo de transportes, educação, saúde, comunicações e área social na tentativa de diminuição de 
suas desigualdades.
No mundo contemporâneo, uma questão que vem à tona quanto à classificação de países como 
subdesenvolvidos e desenvolvidos é que, uma vez classificados como tal, seria para todo o sempre. 
O que estamos tentando dizer? É que, uma vez que um país atinja tal índice, isso lhe dá uma marca, 
independentemente se por determinação ideológica ou por condições reais de classificação. Da mesma 
forma que em algumas épocas a classificação dos países atendia à denominação de centro-periferia, a 
159
ECONOMIA E MERCADO
literatura econômica passou a adotar uma nova designação: desenvolvido e emergente, em que aos 
primeiros dá-se uma conotação permanente e, aos segundos, uma condição não permanente, mas de 
possibilidades de conquista ao desenvolvimento.
 Observação
Muitas vezes faz-se referência a um país como emergente com o 
emprego do termo Big Emerging Markets (BEM).
A denominação centro-periferia é um conceito cunhado pela Comissão Econômica para América 
Latina (Cepal) e empregado para descrever um processo de multiplicação do avanço tecnológico na 
economia mundial que seja passível de explicar a distribuição de seus ganhos entre os participantes. 
Ocorre que, com o avanço do capitalismo industrial e a chamada nova divisão internacional do trabalho, 
os ganhos derivados das relações entre diferentes regiões não foram distribuídos uniformemente. Para 
Bielschowsky (2000, p. 16),
[...] A tese parte da ideia de que o progresso técnico se desenvolveu de forma 
desigual nos dois polos. Foi mais rápido no centro, em seus setores industriais, 
e, ainda mais importante, elevou simultaneamente a produtividade de todos 
os setores das economias centrais, provendo um nível técnico mais ou menos 
homogêneo em toda a extensão dos seus sistemas produtivos. Na periferia, 
que teve a função de suprir o centro com alimentos e matérias-primas a 
baixo preço, o progresso técnico só foi introduzido nos setores de exportação, 
que eram verdadeiras ilhas de alta produtividade, em forte contraste com o 
atraso do restante do sistema produtivo.
É, portanto, com base em tal ideia que reside a tese, também desenvolvida pela Cepal, da 
deterioração dos termos de troca, pois, enquanto o progresso técnico ocorre nos países ditos já 
industrializados, aquelas economias em processo de industrialização estão produzindo bens primários 
e seus preços relativos de troca são bastante díspares: a economia da periferia exporta bens de baixo 
valor agregado para importar bens de elevado valor agregado, fazendo com que haja transferência 
de excedente e de ganhos de produtividade para o centro. Assim, a divisão internacional do trabalho 
somente faria acirrar a disparidade entre os polos, visto que o centro apresenta tendência a reduzir 
sua taxa de expansão das importações de bens primários conforme seu progresso técnico avança para 
a forma poupadora de bens primários.
Retomando as denominações de país desenvolvido e país emergente, a figura a seguir mostra a 
posição de alguns países considerando o grupo dos dez que mais pontuaram: será desenvolvido o país 
que estiver mais perto do topo.
160
Unidade IV
Figura 30 – Classificação de países selecionados em desenvolvidos e emergentes (quem evoluiu ou piorou)
De acordo com a reportagem da BBC Brasil, a metodologia para classificação considerou indicadores 
econômicos, financeiros e sociais de 100 países, tanto desenvolvidos quanto emergentes. Após a análise, 
a classificação dos países atendeu ao agrupamento dos estatisticamente próximos em termos de 
condições apresentadas (NOVO...).
No que diz respeito ao indicador econômico, os quesitos analisados foram:
• demografia, no que tange ao tamanho da população;
• renda per capita;
• produtividade e competitividade oferecidas pelos setores infraestruturais e pelo mercado de trabalho.
O que a metodologia levou em consideração quanto aos indicadores financeiros? No intuito de 
avaliar a importância do mercado de ações do país analisado, os quesitos selecionados foram:
• potencial creditício do país avaliado pelo mercado internacional;
• estabilidade monetária;
161
ECONOMIA E MERCADO
• participação do mercado de ações como proporção do PIB.
Por sua vez, o indicador social foi formado por:
• Posição do país no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e suas condições de educação, 
saúde e bem-estar.
• Índice da Economia do Conhecimento (IEC), de acordo com o Banco Mundial.
• indicador híbrido – que relaciona liberdade civil e direitos políticos.
 Saiba mais
Tenha mais contato com o tema economia do conhecimento lendo o 
seguinte livro:
VELLOSO, J. P. dos R. (Org.). O Brasil e a economia do conhecimento. Rio 
de Janeiro: José Olympio, 2002.
8.1.1 Fundamentos teóricos da economia subdesenvolvida
Conforme destaca Souza (2009), na economia subdesenvolvida, considerada em sua forma mais 
simples – chamada primitiva, é possível entender alguns setores, como o de subsistência, de mercado 
interno e de mercado externo, e há relações entre eles.
O setor de subsistência é composto de pequenos latifúndios de baixa produtividade e estes são 
dedicados à produção agrícola. Ali está concentrada a produção das atividades relacionadas à agricultura 
de subsistência, pois a monetização é quase inexistente. O consumo exercido pelo setor é de sua própria 
produção, restando apenas uma pequena parte do que foi produzido para abastecimento do mercado 
de setor externo, que, de acordo com seu desempenho, pode beneficiar ou prejudicar o dinamismo do 
mercado rural, assim como o urbano e o industrial.
 Observação
É recorrente, quanto às características indicadas do setor de 
subsistência, encontrar alusão ao setor terciário da economia, formado 
por desempregados das áreas rurais ou mesmo aqueles que exercem 
trabalho ocasional.
162
Unidade IV
Quanto ao setor de mercado interno, Souza (2009, p. 18-19) diz que,
[...] Em seu estágio inicial de desenvolvimento, é formado por atividades 
ligadas ao atendimento da população residente e ao fornecimento de 
insumos e serviços às empresas e pessoas vinculadas ao comércio externo, 
como alimentos, matérias-primas beneficiadas, embalagens, transportes. No 
processo de desenvolvimento, o setor industrial urbano leva vantagens em 
seu relacionamento com o setor agrícola, através da extração do excedente 
gerado neste último setor. O setor agrícola apresenta superávits em balança 
comercial, porque suas exportações excedem o volume de importações, uma 
vez que suas necessidades de consumo são supridas pelo setor de mercado 
interno. Esse superávit em moeda estrangeira é utilizado no financiamento 
de importações e máquinas, equipamentos e insumos industriais utilizados 
no setor industrial urbano.
Figura 31 – Colheita de café no Estado de São Paulo em 1902, caracterizandoa economia agroexportadora
A figura a seguir mostra a estrutura de uma economia subdesenvolvida. Contudo, para compreendê-la, 
Souza (2009, p. 19) adverte que algumas considerações devem ser efetuadas:
(a) A balança comercial da economia nacional mantém-se equilibrada;
(b) o valor das exportações do meio rural (XR) apresenta-se significativamente 
superior ao valor das exportações do meio urbano industrial (XU), pelo menos 
nas fases iniciais do processo de desenvolvimento;
(c) o meio rural mantém superávit na balança comercial (XR> MR);
(d) o meio urbano e industrial apresenta déficit em sua balança comercial 
com o exterior (XU < MU), pela necessidade de importar bens de capital e 
insumos industriais;
163
ECONOMIA E MERCADO
(e) o meio urbano e industrial possui um superávit com o meio rural, ou seja, 
o valor da produção do meio urbano e industrial destinado ao meio rural 
(MUR) supera o valor da parcela da produção do meio rural endereçada ao 
meio urbano e industrial (YRU).
Meio rural
Setor 
externo
Meio urbano 
e industrial
MR
XU MU
YUU
YUR
YRU
YRR
XR
Figura 32 – Estrutura de uma economia subdesenvolvida
O que é possível depreender da análise da estrutura anteriormente apresentada?
Podemos notar que a produção exercida pelo setor denominado meio rural (YR) tem três vias de 
destino: a primeira é seu próprio consumo, aquele considerado de subsistência devido a atividades 
pouco monetizadas, (YRR); o outro é para exportação (XR); o restante é reservado para ser consumido 
no meio urbano e industrial (YRU), sendo que a produção destinada a esses mercados (YRU + XR) é 
majoritariamente composta de alimentos e matérias-primas com baixo valor agregado. Em termos de 
equilíbrio do meio rural, este será conquistado quando as exportações do setor rural forem maiores do 
que suas importações e a renda do setor urbano for superior à renda do setor rural. A identidade a seguir 
ilustra o que acabamos de afirmar:
(XR> MR) = (YUR> YRU)
Para Souza (2009, p. 20), a equação
[...] diz que, no equilíbrio, o déficit do meio rural com o meio urbano 
e industrial (YUR> YRU) fica financiado por seu superávit com o exterior 
(XR> MR). Por seu turno, a produção do meio urbano e industrial (YU) 
destina-se ao próprio meio urbano (YUU), à exportação (XU) e ao meio 
rural (YUR). A produção destinada ao mercado externo e ao meio urbano 
164
Unidade IV
e industrial (XU + YUR) compõe-se de produtos industrializados e serviços. 
O equilíbrio do meio urbano industrial é dado por (XU <MU) = (YUR> YRU), 
ou seja, o déficit do meio urbano e industrial com o exterior (XU <MU), no 
equilíbrio, fica integralmente financiado por seu superávit com o meio 
rural (YUR> YRU). Como o segundo membro das duas equações anteriores 
é o mesmo, temos que (XR> MR) = (XU <MU).
Da tautologia (XR> MR) = (XU <MU), pode-se concluir que, em condição de equilíbrio da balança 
comercial (X = M), um superávit produzido pelo meio rural com relação ao exterior será igualado ao 
déficit externo provocado pelas importações do meio urbano e industrial. Considerando uma economia 
em que impere o modelo de substituição de importações, vê-se que a produção e a exportação daquilo 
que é exercido pelo meio rural deve financiar as importações exercidas tanto pelos meios urbanos 
quanto pelos industriais. Além disso, deve financiar o desenvolvimento desses meios.
 Observação
Estamos tratando da extração de excedente por um setor do que foi 
produzido por outro: no caso, o excedente é extraído do setor rural em 
favorecimento do desenvolvimento daqueles ditos mais avançados.
Várias são as formas de extração do excedente produzido pelo setor rural em favorecimento dos 
setores urbano e industrial. Entre elas, temos:
• Elevação da tributação sobre produtos que devem ser importados pelo setor rural e que tenham 
como origem de produção os setores urbanos e industriais ou mesmo para aqueles produtos 
oriundos do setor exportador, para o caso de importação pelo setor urbano.
• Confisco cambial representado pela quantidade de dólares que é apropriada pelo governo diante 
daqueles obtidos pelos exportadores de produtos específicos, a exemplo do que fez o Brasil em 
1953 com as exportações de café (SANDRONI, 1999).
• Deterioração dos termos de troca entre setor urbano e industrial, em que o volume de dólares 
necessários para importação de bens pelo setor rural é maior do que o exigido para que o setor 
urbano importe os bens produzidos por aquele setor.
 Saiba mais
Entenda mais sobre a deterioração dos termos de troca lendo a 
seguinte obra:
SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1999.
165
ECONOMIA E MERCADO
Concebendo que a economia consiga se industrializar via modelo de substituição de importações, as 
importações do setor urbano (MU) tendem a apresentar elevação porque esse tipo de indústria depende 
de alguns meios de produção manufaturados, bem como bens de capital, que lhe oferecerão condições 
de produzir bens de consumo na economia doméstica, interna. Caso as exportações exercidas pelo meio 
rural (XR) não indiquem crescimento ao mesmo tempo em que cresce o potencial importador do setor 
urbano e industrial, haverá na economia déficits comerciais (X <M), considerados como entraves ao 
processo de crescimento econômico. “Desse modo, a expansão das exportações agrícolas e mesmo, de 
produtos manufaturados, desde as fases iniciais da industrialização, torna-se indispensável para evitar 
estrangulamentos no processo de desenvolvimento” (SOUZA, 2009, p. 21). Para o autor:
Com a expansão da economia de mercado, cai a participação da produção 
destinada à subsistência na produção rural (YRR/Y). Em muitas regiões 
subdesenvolvidas, isso ocorre principalmente em razão da elevação dos 
preços de exportações. Tal participação aumenta no caso de reduções dos 
preços dos bens agrícolas exportados, quando cresce YRR e diminui XR. Nas 
crises do setor de mercado externo no Brasil, no passado, as populações 
voltavam às atividades de subsistência e esse setor expandia-se. Ele funciona 
como elemento de estabilidade da economia, amortecendo as crises do 
setor de mercado externo e mantendo o nível de emprego do meio rural, 
embora com baixa produtividade. [...] A economia estaciona nas crises e 
evolui nos surtos exportadores, pelos encadeamentos das exportações sobre 
as atividades urbanas e os investimentos que afetam o nível da produção 
do setor de mercado interno. A produção destinada ao consumo próprio do 
meio rural se reduz, enquanto aumenta a demanda urbana por produtos 
agropecuários. O desenvolvimento econômico tende ao setor de mercado 
interno e às exportações. Entretanto, essa transformação de estrutura 
depende do dinamismo das exportações e de suas ligações com o setor de 
mercado interno. Assim, torna-se importante aumentar sua competitividade 
pela redução de custos e melhoria da qualidade dos produtos exportados 
(SOUZA, 2009, p. 21).
É vital destacar que o setor externo representa a agricultura comercial voltada à exportação, bem 
como às atividades comerciais ligadas ao comércio de importação e de exportação da economia urbana.
 Observação
O setor externo é caracterizado por atividades atravessadoras, de 
prestação de serviços de importação e de exportação a outros setores, 
sem que dele haja produção física. É somente um sistema que facilita o 
escoamento da produção e o aprovisionamento de bens que as economias 
não produzem, mas necessitam importar.
166
Unidade IV
Por sua vez, como o setor externo não é produtor, seu dinamismo está completamente dependente 
da demanda do mercado internacional no que diz respeito à necessidade de bens primários, de que é 
majoritariamente exportador. Como o bom desempenho do setor externo depende dos bons ventos da 
economia internacional, os preços de exportação são influenciados por dois fatores: demanda externa 
– que impulsiona para cima em época de aquecimento e para baixo em período de recessão –, e pelo 
potencial produtivo quantoà oferta de bens pelos setores de subsistência nos países subdesenvolvidos 
(excesso de oferta influencia os preços negativamente e os eleva em períodos de escassez).
Para um país com pauta de exportações bastante restrita, ou seja, concentrada em poucos produtos, 
há baixa oportunidade de manipulação dos preços internacionais, o que dificulta o desenvolvimento do 
setor de mercado interno. Contudo, se a economia diversifica sua pauta de exportações, a situação pode 
vir a ser diferente.
8.1.2 Considerações acerca do modelo de substituição de importações
Como bem destaca Sandroni (1999, p. 581), entende-se por substituição de importações o
[...] conceito elaborado por economistas da Cepal para designar um processo 
interno de desenvolvimento, estimulado por desequilíbrio externo e que 
resulta na dinamização, crescimento e diversificação do setor industrial. 
Portanto, é mais que a produção local de bens tradicionalmente importados.
Nesse modelo de crescimento e desenvolvimento econômicos, o elemento essencial da economia 
deixa de ser majoritariamente a produção de bens primários para atender à demanda externa, e passa a 
ser a atividade industrial na qual a produção e a oferta estão voltadas para dentro.
Figura 33 – Operários italianos em uma fábrica de latas em São Paulo: início do século XX
Podemos dizer tratar-se de um modelo de crescimento voltado para dentro. Entendido ser o 
processo de substituição de importações aquele em que a economia doméstica passa a produzir 
167
ECONOMIA E MERCADO
internamente o que antes era adquirido por importações, é interessante acentuar as características 
fundamentais de tal processo:
• Parte significativa de bens de consumo industrializados visa atender ao mercado interno.
• Forte dependência de medidas protecionistas por parte do governo, a exemplo de:
— desvalorização cambial, encarecendo importações e favorecendo atividades exportadoras;
— elevação das tarifas de importações para produtos entendidos pelo governo como os 
merecedores de proteção;
— forte presença do Estado na condução da industrialização, com o uso de legislação pertinente 
e adequação de suas instituições;
— criação, por parte do Estado, de infraestrutura, a exemplo de energia, água, saneamento e 
estradas como forma de escoamento da produção.
 Observação
Podemos inferir que, devido ao excesso de protecionismo, as indústrias 
criadas através desse modelo tendem a ser mais ineficientes, pois além da 
proteção, não contam com uma concorrência expressiva.
Para Souza (2009, p. 153),
Uma das vantagens do modelo de substituição de importações é poder adotar 
processos de produção que já deram certo em outros países, possibilitando a 
aprendizagem e a geração de técnicas endógenas, ao mesmo tempo em que 
a economia passa a produzir para um mercado já existente. A substituição de 
importações tem como primeiro objetivo equilibrar o balanço de pagamentos. 
Reduzem-se as importações por cotas, licenciamentos, elevação de tarifas e 
proibições, assim como através da política cambial.
Adverte, ainda, que:
Uma política racional de substituição de importações extrapola o 
argumento da proteção à indústria nacional. Mesmo em relação a um 
setor antigo pode se justificar a proteção, se ele demonstrar dificuldades 
em enfrentar a concorrência externa, por problemas conjunturais ou 
estruturais. De outra parte, não representa o fechamento da economia por 
princípio: a característica básica do modelo consiste na flexibilidade e na 
capacidade de empregar recursos escassos para importar maior número de 
168
Unidade IV
produtos. O protecionismo ajuda o país a traçar os destinos da economia 
(SOUZA, 2009, p. 153).
Para que o modelo possa levar a economia ao crescimento econômico, exige-se a formação de 
poupança interna ou que sejam abertas linhas de crédito, ou por parte dos bancos governamentais ou 
daqueles comerciais, como forma de impulsionar os investimentos necessários ao desenvolvimento 
tecnológico correspondente ao nível de industrialização. Nesse sentido, o modelo de substituição de 
importações coloca-se como alternativa de promoção do crescimento econômico e desenvolvimento 
tecnológico como forma de antecipação das condições em que a economia se encontraria somente 
no longo prazo.
Via poupança interna ou mesmo financiamentos dos investimentos subsidiados pelo governo, 
a economia conseguirá atingir certo nível de base industrial com possibilidade de diversificação da 
produção, e as condições produzidas pela economia podem gerar especialização em determinados 
setores, que, com sorte, transformam-se em vantagens comparativas para a nação, ampliando sua 
competitividade internacional. Se for possível extrapolar o raciocínio para o longo prazo, cada setor 
da industrialização diversificada terá condições de produzir para exportação. Com o uso dos recursos 
oriundos da base exportadora, de forma gradual poderá haver liberalização de importações devido à 
existência de superávit comercial suficiente para pagamento das importações. Nesse ponto, Souza (2009, 
p. 154) afirma que ocorreu “a maturidade da indústria”. Agora, com a economia aberta ao exterior, não 
mais apenas com vistas às exportações, mas também a importações, temos o aumento da concorrência 
e maior disponibilidade interna de bens. Resultado: crescimento do bem-estar da sociedade. A economia 
está mais madura e moderna.
Entretanto, como nem tudo é perfeito, pode haver distorções do modelo de substituição de 
importações quando adotado de modo irrestrito.
Da mesma forma que pontos positivos são destacados na literatura acerca do assunto, uma das 
maiores críticas que o modelo recebe reside no fato de a renda ser bastante concentrada e que, em seu 
início, a diminuição da disponibilidade de recursos internos do que haveria no caso de livre concorrência 
faz com que os preços aumentem, causando perda de bem-estar para a sociedade devido à elevação dos 
lucros empresariais.
Ainda na linha das críticas, é essencial avaliar as questões relacionadas à produtividade e 
competitividade da nação, que se apresentam basicamente dependentes das condições internas de 
produção. Como a comparação da produção interna com as condições internacionais praticamente 
não é permitida – devido à economia fechada –, o que perdura, na maioria das vezes, são projetos de 
investimentos com elevados custos e taxas de retorno baixas e muito em longo prazo (SOUZA, 2009). 
Como o setor a ser protegido é o industrial, à revelia do primário, a elevação nos custos de produção 
produz uma cadeia de subida de preços que afeta o setor primário, diminuindo seu bom desempenho 
em relação ao setor externo, pois os preços de exportações também sobem. Como consequência, há 
perda de competitividade para este setor e queda nos superávits comerciais, que deveriam ser utilizados 
para pagar importações de bens de capital.
169
ECONOMIA E MERCADO
Outra crítica que se trava acerca do assunto refere-se aos custos da 
proteção: estes aumentam quando o país passa da fase fácil de substituição 
de importações (produção interna de bens não duráveis de consumo e seus 
componentes) para a fase mais difícil (artigos de consumo intermediários 
e de consumo durável); esses custos continuam aumentando nas fases 
superiores, quando a economia passa a produzir bens de capital e outras 
manufaturas de tecnologia mais intensiva, para os quais as condições de 
produção interna não são favoráveis; este último ponto se deve à pequena 
dimensão do mercado interno, inexistência de fornecedores oferecendo 
produtos de qualidade, com preços competitivos, insuficiência de oferta de 
pessoal técnico e de mão de obra mais especializada, o que eleva os salários 
a serem pagos (SOUZA, 2009, p. 156).
Pensando especificamente nas economias da América Latina em seu período de industrialização, 
o modelo de substituição de importações parte do princípio de ser resultado da interação dinâmica 
entre o desequilíbrio externo e as novas demandas de importação resultantes daexpansão industrial 
promovida pelo capitalismo. Para Bielschowsky (2000, p. 25),
[...] a rapidez e a profundidade do processo como um todo depende, primeiro, 
da capacidade de cada economia no sentido de adaptar sua estrutura 
produtiva às novas demandas da expansão industrial (o que, por sua vez, 
depende do nível de diversificação do sistema produtivo prévio ao início 
do processo e do tamanho absoluto dos mercados internos) e, segundo, da 
evolução da capacidade de importação da economia.
Retomando a relação entre os diferentes setores da estrutura de uma economia subdesenvolvida 
(setor de subsistência, mercado interno industrial, setor de exportação), na situação de longo prazo, a 
economia doméstica terá condições de produzir aqueles bens que antes eram importados, a exemplo 
dos bens de capital e tecnologia. Souza (2009) declara que essa fase é posterior ao processo de 
desenvolvimento.
Em fase mais primitiva, é o próprio setor de subsistência que produz as 
manufaturas para seu próprio consumo, através do artesanato e das chamadas 
indústrias rurais ou de “fundo de quintal”. Em uma fase posterior, com a 
expansão das exportações de produtos primários, esses bens manufaturados 
nas próprias fazendas vão sendo gradativamente substituídos por artigos 
industrializados importados. Esses bens importados de tecnologia superior, e 
mais baratos, deslocam a produção do artesão. Em uma fase mais adiantada, 
é a vez de algumas manufaturas importadas cederem seu lugar à produção 
nacional, efetuada em escala industrial. Para que isso ocorra, costuma-se 
estabelecer forte esquema protecionista, sem o qual a indústria nacional 
não teria condições de competir com os produtos importados mais baratos, 
de melhor qualidade e com tradição no mercado (SOUZA, 2009, p. 22).
170
Unidade IV
No modelo, nada funciona sem a existência do elemento-chave, a demanda externa por produtos 
primários. É tal demanda que oxigena o empresário do setor de mercado interno a diminuir gradualmente 
a produção de subsistência no produto nacional. Percebe-se um deslocamento do eixo dinâmico da 
economia em que o setor de mercado interno passa paulatinamente a ter como foco de sua produção 
aqueles bens que antes eram importados e inclusive destinados ao consumo do meio rural.
Surtos ou crises do setor de mercado externo produzem efeitos de 
encadeamento de expansão ou de contração do setor de mercado interno. 
Quanto maiores forem os multiplicadores da base exportadora, tanto 
maiores serão os efeitos de encadeamento do setor de mercado externo no 
conjunto da economia (SOUZA, 2009, p. 22).
Independentemente de seus pontos positivos ou negativos, da questão ideológica ou da crítica, qual 
será o resultado do processo, ou seu fim, se assim podemos considerar?
Conforme o setor de mercado interno indica desenvolvimento em termos de produção, atreladas a 
ele surgem como demanda derivada outras atividades locais, a exemplo daquelas ligadas à prestação 
de serviços ou mesmo atividades comerciais ou outras indústrias dedicadas à produção daquilo que 
antes era importado e, por naturalidade, pode-se substituir por produção interna. Então, verifica-se 
que qualquer investimento que ocorrer no âmbito do setor de mercado interno representa importância 
ímpar ao descobrir novas possibilidades de exportações, assim como para o crescimento econômico da 
nação. Qual o resultado disso? Quando a economia atingir a maturidade, o desempenho da economia 
nacional passa a ser comandado por um conjunto de transformações pelas quais a economia passou e 
que afetam o setor de mercado interno, independentemente da performance da base exportadora. Daí 
em diante, a economia ingressa em outro estágio.
8.2 Características do desenvolvimento
Vimos que o volume de exportações de bens primários por uma economia subdesenvolvida é vital 
para o surgimento ou transformação dessas economias desenvolvidas ou em via de desenvolvimento. 
O que irá, de certa forma, diferenciar uma da outra – subdesenvolvida da desenvolvida – é o grau de 
industrialização desta última, que necessita de elevados níveis de investimentos, portanto, de capital, 
que muitas vezes é produzido no âmbito das exportações de bens primários. Nesse aspecto, conforme 
ressalta Souza (2009), como os investimentos são constituídos, em grande parte, por bens de capital 
importados, são as exportações que representam a contrapartida da poupança para seu financiamento. 
Assim, “[...] há uma mudança no caráter da base exportadora, e foi isso que ocorreu no Brasil após 1950: 
as exportações, de fator determinante do nível de renda, passaram a ser o elemento estratégico no 
processo de formação de capital” (SOUZA, 2009, p. 23).
Para uma economia já industrializada, a importância de base exportadora tem efeitos sobre o 
multiplicador do setor de mercado interno, bem como na necessidade de financiamento de importação 
de bens de capital, se assim necessário. O que é crucial perceber é que somente haverá exportação 
de bens em duas condições: a primeira é a demanda externa e a segunda, a produção interna com 
excedente. O aumento das exportações de bens produzidos internamente injeta recursos na economia 
171
ECONOMIA E MERCADO
doméstica, que tanto podem ser utilizados para ampliar o consumo interno por bens internos, como 
para expandir as condições de aquisição de bens de capital que são importados e, dessa forma, saldos 
comerciais positivos impulsionam o acesso à tecnologia, gerando economias de escala e elevação da 
produtividade da economia doméstica.
Para Souza (2009, p. 23),
[...] a base exportadora aparece como a causa do crescimento econômico 
das regiões subdesenvolvidas, principalmente nos seus primeiros estágios, e 
como elemento dinâmico de aumento de eficiência e competitividade em 
economias industrializadas. A industrialização surge em uma etapa posterior 
e como consequência do desenvolvimento inicial da base exportadora. 
Em outras palavras, uma agricultura em expansão e uma base econômica 
diversificada representam maiores níveis de renda, que se traduzem em 
maior grau de consumo, de poupança e de investimento.
Até que não sejam superados os entraves do subdesenvolvimentismo, a base exportadora estará 
restrita a poucos bens agrícolas e, por consequência, seus efeitos multiplicadores estarão instáveis. 
Assim, o decolar da economia em desenvolvimento estará na dependência:
• Do crescimento de suas exportações, o que é determinado pelo nível de produtividade e 
competitividade da economia doméstica.
• Do grau de integração das cadeias produtivas internas.
• Da estrutura interna de distribuição de renda.
• Da eliminação dos estrangulamentos do desenvolvimento econômico.
Antes de caracterizar o que é desenvolvimento, é essencial saber o que é crescimento econômico: 
há tempos, economistas percebem que são imensas as diferenças entre ambos. Se crescimento significa 
apenas o aumento da renda per capita, desenvolvimento implica conhecer os beneficiários do aumento 
da renda. Em outras palavras, desenvolvimento requer distribuição de renda, para que o crescimento 
não seja concentrador ou excludente. Ainda requer respeito ambiental, já que isso está intrinsecamente 
ligado às condições de sustentabilidade da atividade econômica.
Há muito os economistas discutem as diferenças entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento. 
O debate nasceu da percepção de que, apesar das elevadas taxas de desempenho econômico, vários 
países denotavam baixos níveis de qualidade de vida de seus habitantes. Essa análise fez com que 
os economistas elaborassem outras medidas de mensuração que não as meramente quantitativas 
de produção ou de “crescimento”. Quer dizer, buscou-se entender o que poderia determinar padrão 
de qualidade de vida, e então se estabeleceu que esse padrão seria mensurador do desenvolvimento 
humano (incluído aí o desenvolvimento econômico); a partir daí, foram criados indicadores para que 
o padrão pudesse ser definido. De uma forma bem simplificada, procurou-seassimilar não apenas o 
172
Unidade IV
tamanho do “bolo” (representativo da produção de bens e serviços), mas o quanto ele poderia saciar a 
fome das pessoas.
O raciocínio é simples: o fato de um bolo ser grande ou pequeno não significa que ele tem 
condições de saciar a fome do povo. Se forem poucos indivíduos, é possível que todos fiquem 
satisfeitos. Contudo, se o bolo for pequeno e proporcional aos dependentes, mas um deles ficar com 
metade de um pedaço, a satisfação será menor. O mesmo raciocínio vale para um bolo grande e um 
contingente enorme de pessoas. Se o bolo crescer e o número de pessoas aumentar mais do que o 
crescimento do bolo, é bem provável que a insatisfação persista. Dessa forma, o crescimento seria 
dado pelo tamanho do bolo; em contrapartida, o desenvolvimento seria dado pela saciedade das 
pessoas ao se alimentarem do bolo. Mais: não seria suficiente o tamanho médio de cada fatia do 
bolo para que se pudesse concluir pela saciedade ou não dos indivíduos; seria preciso saber o quanto 
de justiça foi utilizado para a divisão do bolo.
8.3 Características do desenvolvimentismo enquanto prática e política
As discussões acerca do desenvolvimentismo nas economias capitalistas surgiram por volta dos 
anos 1930, por causa da Grande Depressão. As políticas de desenvolvimento passam a enfatizar a 
industrialização via substituição de importações, com incentivos eventuais às exportações. Trata-se, 
além disso, de pensar o desenvolvimento econômico das nações liderado por políticas governamentais 
que impulsionam a demanda agregada, bem como a produção.
Do ponto de vista da teoria econômica, haverá uma mudança de eixo em termos de análise econômica: 
enquanto as economias capitalistas antes da Grande Depressão eram analisadas pelo lado da oferta – 
valendo a máxima de Jean Baptist Say de que a oferta cria sua própria procura, bem como a noção de 
magic hands smithiana –, com a Depressão e seus efeitos, e no luminar das teorias keynesianas, a análise 
econômica volta-se, agora, para o lado da demanda, a demanda efetiva.
 Observação
O princípio da demanda efetiva já havia sido discutido por Malthus 
antes de Keynes colocá-lo em prática. Kalecki também faz uso do 
mesmo conceito.
Pensando no desenvolvimentismo em ambiente de substituição de importações, algumas medidas 
governamentais fazem-se necessárias para o intento (SOUZA, 2009), a exemplo de:
• Adoção de barreiras alfandegárias e intervenções no mercado cambial, com a manipulação da 
taxa de câmbio e confisco de divisas.
• Controle quantitativo de importações, a fim de evitar a fuga de divisas com gastos supérfluos e 
proporcionar mercado para a indústria nacional nascente.
173
ECONOMIA E MERCADO
• Incentivos a indústrias específicas através de créditos subsidiados e renúncias fiscais, com a 
participação de empresas estatais e de empresas estrangeiras.
• Aumento do poder de compra das populações rurais por meio de políticas agrícolas, envolvendo 
crédito, seguro, preços mínimos, estoques reguladores, investimentos em estradas rurais, 
comercialização da produção e reforma agrária.
• Implantação de infraestrutura de transportes, energia e comunicações.
Para que a economia consiga atravessar o estágio do subdesenvolvimento para o desenvolvimento, 
a política em questão deverá estar centrada em alguns pontos, chamados de estrangulamento, em que 
sua solução no curto prazo não é tão simples.
Acentuaremos alguns desses entraves. Um deles está relacionado à dificuldade de a economia 
doméstica conseguir diversificar a produção interna e, por consequência, melhorar sua pauta de 
exportações para que sejam conquistados saldos superavitários em transações correntes no balanço de 
pagamentos. Por que é difícil diversificar a produção interna?
Para que haja diversificação da produção, o empresário deve buscar novas alternativas em produzir 
aquilo que o mercado deseja. Mais do que isso: é necessário o tino empreendedor, criativo, arrojado e 
visionário para verificar e acompanhar o que a demanda está esperando de sua produção. Não apenas 
a demanda interna, mas em especial a internacional. Em um ambiente de economia no qual as relações 
internacionais não são tão fortes, o acesso a novos meios de produção e novas formas de invenção se 
apresenta como obstáculo ao empreendedorismo e à criação.
Outros fatores que prejudicam bastante o dinamismo da indústria, em termos de modernização, 
residem nos baixos índices de escolaridade da população, causando escassez de qualificação profissional, 
o que gera custos empresariais de desenvolvimento profissional. Como a taxa de poupança da economia 
também não é tão elevada, a capacidade creditícia fica reduzida, influenciando para cima as taxas de 
juros, o que inibe o empresariado na tomada de crédito. Resultado: poucos recursos para investimentos 
produtivos, tanto de qualificação técnica quanto de força de trabalho.
Geralmente, é o Estado quem exerce uma ação coordenada do 
desenvolvimento e quem procura vencer esses estrangulamentos. Em 
fases mais avançadas do processo de desenvolvimento, os principais 
estrangulamentos decorrem do esgotamento do modelo de substituição 
de importações, em razão da pequena dimensão do mercado interno para 
algumas substituições, como bens de capital, da insuficiência de capital e da 
concentração da renda (SOUZA, 2009, p. 24).
Souza (2009, p. 24) continua:
A transição de uma economia de subsistência para uma economia 
industrializada, com amplo setor de mercado interno, pressupõe a 
174
Unidade IV
transição de inúmeros obstáculos criados pelo próprio crescimento 
econômico. Nesse processo, o desenvolvimento ocorreria por etapas, 
começando pela economia de subsistência, passando pelas exportações 
e pelas inovações tecnológicas, e terminando pela era do consumo de 
massa com altos níveis de bem-estar para o conjunto da população 
nacional, a exemplo do welfare state.
Deve-se a Rostow (1974) a noção de que o desenvolvimento ocorre por etapas em que a economia 
apresenta a dinâmica como característica. Para ele, o desenvolvimento pode ser visto como um processo 
de evolução de economia de subsistência, primitiva, a uma forma mais avançada, com tecnologia 
avançada e de consumo de massa. O pensamento rostowiano está enraizado em considerações de que 
nações insuficientemente desenvolvidas conseguem superar seus entraves até conseguir alcançar o 
desenvolvimento econômico dito satisfatório (SARMENTO, 2008). O modelo de desenvolvimento estaria 
dividido em cinco etapas:
• Primeira etapa: economia predominantemente agrícola, na qual a maior parcela da população 
está empregada nesse setor. Devido à baixa tecnologia de produção e processos rudimentares, 
a produtividade é baixa e o quantum produzido é suficiente para atender à demanda com 
certa folga. A posse da terra é símbolo de poder e riqueza, e se dá grande importância aos clãs, 
famílias e castas.
• Segunda etapa: etapa chamada de criação das pré-condições para o arranco ou para a decolagem 
rumo ao crescimento. Aqui, já se verifica avanço tecnológico na produção do setor primário e 
alguns insights na indústria ainda modesta e leve expansão da demanda em mercados mundiais. 
Há uma demanda social por melhores níveis educacionais devido à ascensão da classe média 
e aquela classe dominante tradicional passa a sofrer com a concorrência de grupos industriais 
urbanos. O Estado é induzido a efetuar gastos em benefício do bem-estar da população e 
se verificam aumentos nos investimentos em infraestrutura de transporte, comunicações e 
energia, bem como na produção de matérias-primas estratégicas para a indústria, favorecidas 
pelo crédito bancário por causa do surgimento de tal atividade. Pelas palavras de Souza (2009, 
p. 247), “criam-se, desse modo, forças endógenas e autônomas para o crescimento econômico 
autossustentado” em que prevalece a ideia da valorização da expertise individual do ser humano 
quanto ao seu potencial criativo.
• Terceira etapa: fase do arranco ou decolagempropriamente dita, em que foram superados os 
entraves até então vigentes. É um período no qual o desenvolvimento nasce com normalidade 
e tem-se o surgimento de novas indústrias, tecnologicamente interligadas, com seus lucros 
reinvestidos na criação de outras condições de produção. Verifica-se a criação de grupos 
empresariais, o que favorece o crescimento do emprego, inclusive no setor de serviços, apoiando 
o bom desenvolvimento do comércio e da indústria do setor produtor de bens de consumo. Não 
tardam a aparecer as inovações tecnológicas e fabricação de produtos modernos, bem como 
acesso a novas fontes de insumos de produção, inclusive no campo agrícola, que agora também 
consome bens industrializados.
175
ECONOMIA E MERCADO
• Quarta etapa: etapa da marcha para a maturidade, com
[...] um longo intervalo de crescimento econômico continuado, no qual a 
economia assimila a tecnologia moderna. Implanta-se a indústria de bens de 
capital e a economia aumenta suas exportações de produtos manufaturados, 
com tecnologia intensiva. A sociedade passa a gerar internamente grande 
parte da tecnologia que adota em seu processo produtivo. Na fase da 
maturidade econômica, a economia desenvolve indústrias diferentes 
daquelas que geraram a decolagem. É uma etapa em que a economia 
demonstra que possui as aptidões técnicas e organizacionais para produzir 
não tudo, mas qualquer coisa que decida produzir (SOUZA, 2009, p. 247).
• Quinta etapa: é chamada fase do consumo em massa, na qual a economia é liderada pelos setores 
produtores de bens de consumo duráveis e setor de serviços que facilitam a vida da população. Há 
ligeira queda de preços da economia devido a melhores condições de oferta e maior competitividade 
entre as empresas, fazendo com que o salário real se eleve, permitindo, assim, o consumo em massa. 
“Nesta fase, o Estado investe mais na assistência social. É o chamado Estado de Bem-Estar Social, 
característico dos anos 1950-1970 nos países desenvolvidos” (SOUZA, 2009, 247).
8.3.1 Desenvolvimentismo no pensamento econômico brasileiro
O desenvolvimentismo, no Brasil, marca uma ideologia econômica que sustenta um projeto de 
industrialização como forma de superar entraves até então colocados pela economia agroexportadora, ou 
primária, se preferir, bem como aqueles colocados pelo próprio modelo de substituição de importações: 
economia fechada e baixa produtividade, para citar alguns.
Bielschowsky (2000) indica haver, para o Brasil, duas linhas de interpretação acerca do 
desenvolvimentismo: uma ligada ao setor privado e outra ao setor público. No que diz respeito ao 
setor privado, a ideia prevalecente era a da proteção aos interesses da classe empresarial, propondo 
uma visão nacionalista, enquanto economistas que trabalhavam no setor público apresentavam certa 
dualidade: enquanto uns, os não nacionalistas, propunham que as ações desenvolvimentistas deveriam 
ser tomadas pelo mercado, a partir dos interesses empresariais, outros, chamados de nacionalistas, 
preconizavam a estatização de setores estratégicos, a exemplo de energia, mineração e transporte, além 
do favorecimento à indústria de base.
Assim, ilustramos as origens do desenvolvimentismo durante o período 1930-1945, que se consolidaria 
na década de 1950 sob dois pilares distintos, mas interligados. O primeiro, ligado ao setor privado, propunha 
um projeto de industrialização de forma planejada e que atendesse aos interesses do capital industrial à 
época dominante. Aqui forte papel foi desempenhado por dois núcleos de reflexão sobre o tema: CNI 
(Conselho Econômico) e o Departamento Econômico. Bielschowsky (2000, p. 79) destaca que
Essa pequena elite empresarial vivenciava o que se pode denominar, sem 
risco, experiência pioneira em planejamento econômico. No esquema 
corporativo do Estado Novo, os líderes empresariais tiveram participação 
176
Unidade IV
em várias das muitas agências econômicas governamentais que se criaram. 
Estabeleceu-se, dessa forma, um fértil cruzamento ideológico entre sua visão 
de mundo e as ideias e conceitos desenvolvimentistas que se formavam nos 
novos órgãos federais, nos quais se discutia a respeito de comércio exterior, 
energia, transportes, indústria siderúrgica e tantos outros temas de âmbito 
nacional. O ponto culminante desse momento pioneiro de concepção 
desenvolvimentista foi a apresentação, por Roberto Simonsen, em 1944, 
do projeto de criação de uma Junta Nacional de Planificação no Conselho 
Nacional de Política Industrial e Comercial.
O desenvolvimentismo interpretado pelas ideias de Simonsen (BIELSCHOWSKY, 2000), representando 
a classe do setor privado, baseava-se nos seguintes aspectos:
• Uma das formas de dizimar a pobreza seria por meio da industrialização integrada.
• A industrialização brasileira acompanharia um processo de reestruturação que vinha acontecendo 
nas economias da América Latina.
• A industrialização somente avançaria com apoio das correções pelo Estado, das falhas de mercado: 
para tanto, protecionismo e intervenção estatal seriam indispensáveis.
• A intervenção estatal deveria ir além dos instrumentos triviais de políticas públicas: deveria incluir 
investimentos em setores estratégicos.
Pelo lado do setor público, conforme adiantado, havia duas correntes: dos não nacionalistas e dos 
nacionalistas. Como bem afirma Bielschowsky (2000, p. 103),
Desde suas origens, nas décadas de 1930 e 1940, o desenvolvimentismo foi 
uma ideologia econômica com fortes vínculos com o nacionalismo. Havia 
então toda uma inclinação ideológica, por parte da maioria dos adeptos 
do projeto de superação do atraso brasileiro pela via da industrialização, no 
sentido de desconfiar das possibilidades de se obter um concurso positivo do 
capital estrangeiro nesse projeto. Os mais radicais viam o capital estrangeiro 
como um bloco monolítico de interesses imperialistas, antagônicos ao 
projeto. E, mesmo entre os moderados, predominava a visão de que, pelo 
menos nos setores fundamentais para a industrialização (energia, transporte, 
mineração etc.), o Estado deveria garantir o controle decisório, deslocando o 
capital estrangeiro ou impedindo sua entrada.
De visão não nacionalista, destaca-se Roberto Campos, considerado o economista de maior expressão 
no período em que a economia brasileira passava de sua estrutura agroexportadora para a industrial, 
agora internacionalizada. Tal projeto de desenvolvimento deveria incluir a questão do planejamento da 
industrialização. Propunha que
177
ECONOMIA E MERCADO
[...] se deveria procurar contornar a arcaica máquina administrativa 
brasileira, incapaz de executar as tarefas do desenvolvimentismo através 
da formação de equipes de planejamento e administração voltadas 
para a formulação e execução de uma política de investimentos básicos 
(BIELSCHOWSKY, 2000, p. 109).
Quanto à visão nacionalista do desenvolvimentismo, a defesa era da constituição de um capitalismo 
industrial moderno no País. Para estes, o desenvolvimento seria alcançado pela intervenção por 
investimentos estatais em setores estratégicos, admitindo que o governo não deveria esperar boas 
intenções dos empresários do setor privado. Conforme destaca Bielschowsky (2000, p. 129),
O grande encontro dos desenvolvimentistas nacionalistas deu-se em meados 
dos anos 1950, quando Furtado e Barbosa Oliveira fundaram o Clube dos 
Economistas, órgão que reuniu algumas dezenas de técnicos nacionalistas 
do Governo Federal e alguns desenvolvimentistas do setor privado.
Vale ressaltar alguns pontos importantes do pensamento desenvolvimentista nacionalista:
• defesa de intervenção estatal na economia;
• políticas econômicas orientadas ao planejamento;
• subordinação da política monetária à política de desenvolvimento;
• adoção, por parte do Estado, de medidas econômicas de cunho social.
 Saiba mais
Para saber mais sobre o tema, leia:
BIELSCHOWSKY, R. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico 
do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.Concentre-se no capítulo cinco: “O pensamento desenvolvimentista”.
8.4 Breve história da economia brasileira contemporânea
Não menosprezando outros períodos de igual importância no desenvolvimento da economia 
brasileira, vamos assinalar a época recente, de 1990 até hoje. Iniciaremos com a transição entre os 
governos Collor de Mello e seu vice-presidente Itamar Franco e a implantação do Plano Real ainda sob 
o governo Itamar, mas já mostrando Fernando Henrique Cardoso enquanto ministro da Fazenda, futuro 
presidente. Veremos o Plano Real e os dois períodos de mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-
178
Unidade IV
1998 e 1999-2002). Nesse aspecto, a discussão está no Plano Real, sua arquitetura e consequências, no 
entendimento do processo inflacionário no Brasil, no papel exercido pela política cambial e a diplomacia 
do dólar, bem como no novo papel do governo. Os dois mandatos de Lula (2003-2006 e 2007-2010) e o 
governo de Dilma também são abordados no contexto político e econômico.
8.4.1 De Collor a Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso
Quando Fernando Collor de Mello renunciou ao cargo de presidente devido ao processo de 
impeachment, deu-se início ao governo Itamar Franco (1992-1994).
Figura 34 – Fernando Collor de Mello no momento em que assina a renúncia ao cargo de presidente da República
Esse novo governo depara-se com importantes acontecimentos na economia brasileira, um deles, na 
área política, deveria fazer cumprir um dispositivo constitucional quanto ao plebiscito acerca do regime 
instituído no Brasil: a manutenção do regime republicano ou o retorno da monarquia, ainda que sob 
a forma presidencialista ou parlamentarista, na qual as urnas apresentam a república presidencialista 
como vontade popular. Na esfera econômica, havia o enfrentamento do já conhecido problema: a 
hiperinflação. Após algumas tentativas de designar alguém para o cargo de ministro da Economia, o 
novo presidente trata de nomear Fernando Henrique Cardoso, primeiramente para o Ministério das 
Relações Exteriores, para logo depois assumir o Ministério da Economia. Ele teve a chance de enfrentar 
a estabilização econômica com o lançamento de seu bem-sucedido Plano Real, também chamado de 
Programa de Estabilização Econômica.
A taxa de inflação, que tinha atingido 2.851,3% em 1993, foi controlada a partir de julho de 1994. 
O Plano Real pode ser entendido em duas trajetórias distintas: uma vai da implementação executada 
ainda no Governo Itamar e segue até a crise financeira de 1998; a outra iniciando-se em 1999, época em 
que ocorre a mudança no regime fiscal e cambial e surge o regime de metas para inflação (NAKATANI; 
OLIVEIRA, 2010).
179
ECONOMIA E MERCADO
8.4.1.1 O contexto histórico para o Real
Sétima tentativa de estabilização da economia brasileira em mais de dez anos de intenções frustradas, 
o Plano Real é considerado por muitos a primeira empreitada bem-sucedida. Todavia, é vital ilustrar o 
que ocorria não só na economia brasileira, mas também na mundial.
O crescimento econômico, liderado inicialmente pela economia americana, seguido da Europa e 
Japão logo no segundo Pós-Guerra – que vai até os anos 1960 –, começa a apresentar menor força. 
Há estagnação, as taxas de crescimento nesses países despencam para 4% a 5% na década de 1960 
e a trajetória de declínio continua, nos anos 1980 o PIB está entre 2 e 3%. Por outro lado, as taxas de 
inflação, sobretudo na economia americana, cerca de 2% ao ano no início de 1960, passam para mais 
de 12% no início de 1980. A solução para o controle da inflação foi o presidente Ronald Reagan, em 
1981, aumentar as taxas de juros para 20% ao ano, causando grande crise em países endividados em 
dólar, cujos contratos estavam indexados a taxas de juros flutuantes. Resultado: derrocada dos países 
latino-americanos, os mais afetados pela medida americana (PAULINO, 2010).
A elevação das taxas de juros nos Estados Unidos provoca crescimento do custo de capital em todo 
o mundo e a consequência foi a queda dos lucros das empresas endividadas em dólar. Nesse cenário, 
como os custos de produção já haviam subido devido às crises do petróleo da década de 1970, a inflação 
brasileira volta a persistir. Com trajetória de queda entre as décadas de 1960 e 1970, a inflação cresce 
no início de 1980, chegando, em 1981, a mais de 100% ao ano. Mesmo com as tentativas de debelar a 
inflação durante essa década, ela persistia, bem como seu componente inercial, até que às vésperas do 
Plano Real o Brasil está novamente ameaçado pela hiperinflação (PAULINO, 2010).
Enquanto países centrais conduzem sua política macroeconômica em busca do crescimento 
econômico na década de 1990, no Brasil, a orientação tem como foco a estabilidade monetária. Afinal, 
não se poderia perder de vista que o controle da inflação seria mais importante do que qualquer outra 
variável, real ou nominal, da economia, a exemplo de crescimento, emprego e distribuição de renda, 
que foram deixados em segundo plano. Os sucessivos planos de estabilização anteriores ao Plano Real 
apenas frearam temporariamente a marcha ascendente dos preços, que, após curtos intervalos, ressurgia 
mais forte e ameaçadora. Com o Plano Real, a espiral inflacionária foi definitivamente interrompida.
Conforme destaca Paulino (2010, p. 287),
Há muitas teorias sobre a inflação. Para o que aqui nos interessa examinar, 
ou seja, o Plano Real, um aspecto desse debate tem especial relevância. Diz 
respeito à relação entre inflação e taxa de câmbio. Mais precisamente: a 
inflação é essencialmente um fenômeno interno da economia e se revela 
ao mundo por meio das mudanças da taxa de câmbio ou, ao contrário, são 
os desequilíbrios externos da economia, que, ao alterar as taxas de câmbio, 
desencadeiam internamente o processo inflacionário?
Para os formuladores do Plano Real, a inflação era advinda do desequilíbrio nas contas do governo. 
Quanto a isso, vejamos o pronunciamento do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso:
180
Unidade IV
A inflação se alimenta do desequilíbrio das contas do governo. Isso, você 
que é dona de casa, você, cidadão, sabe com clareza. No seu dia a dia, 
você sabe que, quando alguém gasta mais do que ganha e toma dinheiro 
emprestado, entra em uma roda-viva que leva ao desespero. Isso era o que 
estava acontecendo com o país [...]. Todos os anos eram relacionadas obras e 
despesas maiores do que o governo arrecadava. É mais ou menos o seguinte: 
em um ano o governo ganhava 70, mas gastava 100; cobria a diferença 
tomando dinheiro emprestado, pagando juros ou fabricando dinheiro. 
Quando mais deve, mais o governo tem de pedir emprestado e mais juros 
paga, e mais dinheiro acaba fabricando, sob a forma de papel-moeda ou 
de títulos. Com isso, todo o país perde a confiança na moeda e exige mais 
dinheiro pelos produtos ou serviços vendidos (PAULINO, 2010, p. 287).
Diante de tal constatação, é possível notar que o controle dos gastos públicos levaria a economia 
brasileira à estabilidade, pois cessaria a emissão de moeda ou de títulos, e as pessoas voltariam a confiar na 
moeda, deixando de exigir mais dinheiro pelos produtos ou serviços vendidos. Para Paulino (2010, p. 288),
Essa teoria justificou as três frentes de atuação do Plano Real:
(a) equilíbrio orçamentário no biênio 1994-1995;
(b) sugestões à revisão constitucional: reforma da Previdência Social, reforma 
do Estado, privatização dos serviços públicos e de empresas estatais;
(c) reforma monetária. Entre as medidas propostas, a mais importante era a 
criação do chamado Fundo Social de Emergência (a atual Desvinculação de 
Receitas da União – DRU), que permitiu alterar a destinação constitucional 
de 20% das verbas do orçamento para a educação. No Orçamento Geral 
da União de 1994, foram realizados cortes de mais de 50% das verbas do 
Ministério do Bem-Estar Social; mais de 20% da Previdência Social; 15% 
da Ciência e Tecnologia. Nos subprogramas da área social, os cortes foram 
ainda mais profundos: bolsas de estudos,corte de 61 milhões de dólares 
(31%); sistema de esgoto, menos de 26 milhões de dólares (31%); reforma 
agrária, menos 315 milhões de dólares (31%); assistência ao menor, corte de 
116 milhões de dólares (20%); pesquisa fundamental, menos 83 milhões de 
dólares (25%).
Além disso, o processo de privatização das empresas públicas, iniciado no Governo Collor, foi acelerado 
e estendido para novas áreas, como telecomunicações, geração, transmissão e distribuição de energia 
elétrica, mineração estatal, inclusive o petróleo. Quanto ao assunto, Araújo (2005, p. 67) salienta que
O programa de privatização do Governo FHC significa passar para mãos 
estranhas 500 bilhões de dólares em ativos, em quatro anos, incluindo todas 
as ferrovias, os portos, a telefonia, as melhores rodovias, cerca de 90% dos 
181
ECONOMIA E MERCADO
grandes reservatórios de água doce, todas as hidrelétricas, toda a geração e 
distribuição de eletricidade, grande parte do sistema de saneamento, toda 
mineração estatal e, provavelmente, a curto prazo, a indústria petrolífera.
Figura 35 – Itamar Franco, em seu mandato, à época do Plano Real
O Plano Real seria implementado em três etapas: inicialmente, com o equilíbrio nas contas do 
governo, pois entendia-se que essa era a fonte principal da inflação brasileira; na sequência, criou-se 
um padrão monetário estável – Unidade Real de Valor, a conhecida URV; por fim, transformou-se esse 
novo padrão monetário em uma moeda pura e sem inflação, o Real propriamente dito (LACERDA, 1999). 
Agora vamos entender as etapas do Plano.
A primeira etapa foi a do ajuste fiscal, que contou com o Fundo Social de Emergência. Foi 
implementada em 14 de junho de 1993 e foi chamada de Programa de Ação Imediata (PAI). Nessa fase, 
de âncora cambial e juros elevados, o foco era reorganizar as contas do governo. Para tal, previa-se 
drástica redução dos gastos públicos já naquele ano e a revisão das possibilidades de recuperação de 
receitas tributárias, incluídas aqui as dívidas de estados e municípios com o Governo Federal. Houve 
maior controle nos bancos estaduais, e os bancos federais deveriam ser saneados. Era preciso ampliar o 
processo de privatização de estatais, diminuindo a participação do Estado na economia. Para a equipe 
econômica da época, o equilíbrio fiscal era condição necessária para retomar a estabilidade econômica 
e, em decorrência, o processo de desenvolvimento tão almejado. Lacerda (1999, p. 199) destaca as 
medidas iniciais do Programa de Ação Imediata:
a) Um corte orçamentário de US$ 6 bilhões em 1993, com prioridades 
definidas pelo Executivo a serem aprovadas pelo Legislativo.
182
Unidade IV
b) A proposta orçamentária de 1994 deveria ser baseada em uma estimativa 
realista da receita, ao invés de ser baseada no desejo de quanto o governo 
pretendesse gastar.
c) Encaminhamento de Projeto de Lei que limitasse as despesas com os 
servidores civis em 60% da receita corrente da União, assim como dos 
estados e municípios, o que permitia exercer maior controle dos gastos com 
funcionalismo.
d) Elaboração de Projeto de Lei que definisse claramente as normas 
de cooperação da União com estados e municípios. Esta lei também 
estabeleceria a obrigatoriedade de os estados e municípios estarem em dia 
com seus débitos com a União para receberem verbas federais. Esta rigidez 
legal foi imposta por ser um elemento essencial para outras partes do PAI e 
do Plano Real.
Na primeira etapa, além da ineficiência predominante do Estado brasileiro à época, um dos 
principais problemas a ser enfrentado pelo governo era o da escassez de recursos financeiros para 
efetuar a manutenção, ou mesmo investimentos, nas áreas sob sua responsabilidade. Na tentativa de 
atenuar tal problema, e raciocinando em termos de Reforma Tributária, é lançado um programa contra 
a sonegação com empenho fiscalizador quanto à cobrança de impostos devidos por empresas e pessoas 
físicas. Entendia-se que deveria haver melhor gestão administrativa do patrimônio da União. O governo 
pensava o seguinte: se a sociedade estivesse mais consciente de suas obrigações tributárias, arcando 
com o ônus daquilo que se devia efetivamente de imposto, maior quantidade de empresas e pessoas 
físicas recolheriam tributos, dessa forma, a carga tributária poderia ser reduzida ao longo do tempo, o 
que auxiliaria a comunidade empresarial em termos de lucratividade e competição. Contudo, ficamos 
apenas no âmbito das intenções.
Tais iniciativas seriam inócuas se o Governo Federal não alterasse seu relacionamento com estados 
e municípios. Neste aspecto, os repasses de recursos da União foram alterados, e novos critérios de 
endividamento público foram anunciados. Os bancos estaduais também não ficaram de fora do ajuste fiscal, 
e o Banco Central foi o grande fiscalizador quanto ao cumprimento rígido das normas que diziam respeito 
ao capital mínimo que tais instituições deveriam manter como garantia de sua solvência. O processo 
de privatização também integrou as medidas do PAI. Sobre as privatizações, algo necessário para uns e 
controverso para outros, o argumento favorável a seu aprofundamento residia basicamente sobre dois 
pontos de vista: primeiro, o Estado deixaria de gastar com a manutenção das empresas ora privatizadas; 
segundo, transferindo o patrimônio ao setor privado, que teria condições de fazer investimentos arrojados, 
o que contribuiria para o desenvolvimento infraestrutural e econômico do Brasil.
A segunda etapa do Plano consistia na criação de um padrão monetário estável e que traria de 
volta uma das funções da moeda, qual seja, a de reserva de valor, que havia se perdido durante o período 
da inflação inercial. Esse novo padrão monetário foi denominado Unidade Real de Valor (URV), e serviria 
de transição para a introdução de uma nova moeda, o Real.
183
ECONOMIA E MERCADO
Qual o papel da URV na economia brasileira? Ela foi referência para empresários formarem seus 
preços de mercado, firmarem seus contratos e estabelecerem salários dos trabalhadores, tudo em URV, 
sem que as desvalorizações provocadas pela inflação exercessem influência sobre esses novos preços. 
Então, a referência de preços para a sociedade era a URV.
A segunda etapa foi a fase preparatória para a “quebra” dos mecanismos 
de indexação. Para isso, o governo procurou conduzir a economia para 
uma fase inicial de superindexação, e os preços foram definidos em URV 
(que acompanhava a cotação do dólar), o mesmo acontecendo com os 
salários, as aplicações financeiras etc. Com isso, procurava-se “alinhar 
os preços” e, no momento em que todos estivessem definidos em URV 
e a inflação estável, (embora em patamar elevado), seria a ocasião de 
desindexar a economia, com a substituição da moeda e extinção do 
indexador (LANZANA, 2001, p. 119).
Vale destacar o que complementa Lacerda (1999, p. 203):
Patrões e empregados utilizavam este fator de conversibilidade entre URV 
e Cruzeiro Real para determinar preços e salários. Por motivos jurídicos, e 
também devido à preocupação do governo com o desequilíbrio social, os 
salários e os benefícios previdenciários foram os primeiros valores a serem 
convertidos para URV, seguidos pelos contratos e preços. Este, porém, não 
foi um processo imediato, ele se desenvolveu durante um período de três 
meses, de maneira a evitar o surgimento de divergências entre trabalhadores 
e patrões, indústria e comércio.
Acrescenta, ainda que,
O objetivo básico do Plano Real, na fase da URV, foi o da neutralidade 
distributiva. Para evitar as distorções que comprometeram o êxito de outras 
políticas anti-inflacionárias, a equipe econômica considerava essencial que a 
conversão dos contratos para a URV não interferisse no equilíbrio econômico 
das relações reguladas por esses contratos. No caso dos salários e benefícios, 
a aplicação deste critério excluía a conversão “pelo pico”, que traria de volta 
a espiral inflacionária depois de uma efêmera euforia de consumo. Como 
a conversão “pelo piso” imporia prejuízos aostrabalhadores, a alternativa 
encontrada foi a conversão pela média de quatro meses, levando em conta 
a periodicidade da atualização monetária dos salários conforme a política 
vigente da introdução da URV (LACERDA, 1999, p. 203).
A terceira etapa, Fase Três do Plano Real, deu-se em 1º de julho de 1994, com a exposição de 
motivos da Medida Provisória do Real. Acentuavam-se as razões e as regras para a introdução da nova 
moeda, uma vez que boa parte dos valores da economia já havia sido convertida para a URV. Assim, 
durante um curto período, de 27 de fevereiro de 1994 – quando da implantação da URV, até 1º de julho 
184
Unidade IV
de 1994 – época da substituição da URV pela nova moeda, o Real, o Brasil conviveu com duas moedas: 
o Cruzeiro Real, cumprindo a função de meio de trocas, e a URV, funcionando como unidade de valor.
O valor da URV em cruzeiros reais era definido a partir da composição de 
três índices de inflação (o IGP-M da Fundação Getulio Vargas, o IPCA do 
IBGE e o IPC da Fipe/USP). Como a variação desses índices se aproximava 
da variação histórica da taxa de câmbio em relação ao dólar, a ideia era 
promover uma “desvalorização disfarçada” da economia, estabelecendo, 
assim, uma equivalência entre a URV e o dólar. Esse foi o primeiro passo 
para criar a “âncora cambial” da nova moeda, que seria explicitada na fase 
seguinte do plano (PAULINO, 2010, p. 298).
Nesse sentido, a nova moeda seria lastreada nas reservas internacionais, e o regime de câmbio 
fixo deveria prevalecer, desde que permitida sua flexibilidade para baixo como forma de promover a 
valorização do Real. Daqui em diante, a introdução da nova moeda seria a nova fase a ser seguida em 
substituição ao Cruzeiro Real. Assim, com a extinção da URV, deixa de existir um indexador de preços na 
economia, estes passam a ser cotados em reais. Segundo Nakatani e Oliveira (2010, p. 30),
Antes de os efeitos da URV terem se completado, o plano foi lançado em 
1º/7/1994, com a realização de uma reforma do padrão monetário em que 
se converteu a moeda “velha” (Cruzeiro Real) na moeda “nova”, à cotação de 
CR$ 2.750,00/R$ 1,00. A âncora fiscal, que ainda estava em construção, foi 
substituída por uma âncora cambial, à paridade-limite de R$ 1,00/US$ 1,00, 
complementada por uma política de taxas de juros elevadas com o objetivo 
de conter a expansão do crédito e garantir a entrada de recursos externos 
para o financiamento das demandas do balanço de pagamentos.
No entanto, como sustentação do programa de estabilização e tentativa de afastar o medo do 
retorno da inflação, foram proibidos reajustes contratuais com intervalo inferior a um ano (LANZANA, 
2001). Do lado monetário, em complementaridade ao lado cambial, medidas contracionistas também 
foram adotadas, a exemplo da expressiva elevação do coeficiente de recolhimento compulsório. Então, 
determinou-se em 30 de junho que 50% dos depósitos à vista fossem recolhidos aos cofres do Banco 
Central e, a partir desta data, os aumentos dos depósitos à vista, em sua plenitude, deveriam ser 
convertidos em depósitos compulsórios (NAKATANI; OLIVEIRA, 2010).
 Saiba mais
Sobre o Plano Real, sugerimos a seguinte leitura:
BRESSER-PEREIRA, L. C. A economia e a política do Plano Real. Revista 
de Economia Política, São Paulo, v. 14, n. 4 (56), out./dez. 1994. Disponível 
em: <http://www.rep.org.br/pdf/56-10.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2018.
185
ECONOMIA E MERCADO
8.4.2 Fernando Henrique Cardoso – primeiro mandato (1995-1998)
Com a Medida Provisória que integra a terceira fase do Real, vimos que a valorização da nova 
moeda frente ao dólar apresenta o ponto crucial do Plano, qual seja, a âncora cambial como controle 
da inflação. A valorização do câmbio auxilia na queda dos preços internos influenciados pelo aumento 
das importações. Notam-se dois efeitos: a desvalorização causa crescimento das importações, e estas 
ampliam a oferta de bens no mercado interno, impondo, via concorrência, pressão aos empresários 
nacionais para que diminuam seus preços de venda. Mais: aumentam a qualidade e produtividade de 
sua produção. Quem ganha? Consumidores internos.
Entretanto, o aumento das importações provoca elevação de déficit na balança comercial e obriga o 
governo a continuar na trajetória de juros elevados para conter os investimentos e o consumo interno, 
bem como captar recursos do exterior, que, ingressando via conta de capitais em balanço de pagamentos, 
permite a quantidade de dólares para fazer pagamento de importações vindouras. Tal política de permissão de 
ingresso de dólares via juros elevados, portanto, dívida futura, mostra-se insuficiente. Em dezembro de 1994, 
o governo já havia gasto aproximadamente 25% daquelas reservas que foram acumuladas à época pré-Real, 
conquistadas com algumas privatizações e saldos positivos em balança comercial (FILGUEIRAS, 2006).
A crise do México que ocorre no fim de 1994 ascende a luz amarela aos formuladores da política 
econômica brasileira do que poderia acontecer com o país. Para Filgueiras (2006, p. 125-126),
A partir da publicação da crise mexicana, os governantes dos países periféricos, 
a exemplo de Brasil, Argentina e México, perceberam a impossibilidade de 
continuarem com uma política de ampla abertura comercial e financeira, 
pois seria impossível manter o equilíbrio do balanço de pagamentos no 
longo prazo se valendo de elevadas taxas de juros, que só atraíam capital 
especulativo de curto prazo e endividavam ainda mais o país, acabando mais 
rápido com as reservas internacionais.
Anunciada a crise do México, ocorre no Brasil uma fuga de capitais derivada das aplicações dos 
especuladores, causando uma perda das reservas internacionais. O cenário piora. Os saldos negativos da 
balança comercial deterioram o saldo da conta de transações correntes.
Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República, 
em janeiro de 1995, as perspectivas econômicas que se abriam para o país 
pareciam ser as melhores possíveis. Através do Plano Real, que ele próprio 
liderava enquanto ministro da Fazenda, os preços haviam sido estabilizados, 
e muitos pensaram, inclusive eu próprio, que isto significava que o país, 
afinal, depois de quinze anos de alta inflação, alcançara a estabilidade 
macroeconômica e que, portanto, estava pronto para retomar o crescimento 
econômico. O candidato de um partido moderno e social democrático, o 
PSDB, liderado por políticos competentes e honestos, comprometido com 
reformas orientados para o mercado, assumia o poder, e poderia, assim, 
assegurar ao país um equilibrado desenvolvimento econômico e social, sem 
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Unidade IV
cair nas malhas do velho populismo, nem do novo neoliberalismo que vinha 
do Norte. Entre essas duas alternativas polares, o novo governo surgia como 
uma esperança (BRESSER-PEREIRA, 2003, p. 333).
Diante dessa situação, não restou outra alternativa ao governo brasileiro senão agir rapidamente. A 
deterioração das reservas internacionais foi motivo mais que suficiente para nova intervenção. Filgueiras 
(2006, p. 126) esclarece o momento:
[...] o governo, a partir de março de 1995, apesar de negar qualquer 
semelhança do que acontecia no país com o que ocorria no México e na 
Argentina, tomou um conjunto de medidas para responder a esse problema, 
que desacelerou as atividades econômicas e engatou uma certa marcha 
ré na abertura econômica. O elemento central dessa desaceleração foi a 
elevação da taxa de juros – que teve reforçado o seu papel de sustentação 
da âncora cambial, ao aumentar o poder do país em atrair capitais de curto 
prazo – e a criação de uma série de dificuldades para as compras a prazo.
A economia demorou em dar respostas à elevação da taxa de juros, e as reservas internacionais 
foram recuperadas somente a partir do mês de agosto daquele ano. A tabela a seguir ilustra a trajetória 
da taxa de juros no período 1994-1996.
Tabela 16 
Taxa de Juros 1994-1996 (% a.m.)
Referência 1994 1995 1996
Janeiro 42,758 3,375 2,576
Fevereiro 41,992 3,253 2,351

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