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APOSTILA-GEOGRAFIA-DA-POPULAÇÃO (1)

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1 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5 
2 A POPULAÇÃO E SUA HISTORICIDADE .................................................................... 6 
2.1 Fases do crescimento populacional ........................................................................... 6 
2.2 Motivações para o aumento populacional na história ................................................. 9 
2.3 Relação entre geografia populacional e geografia econômica ................................. 11 
3 A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO: ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS .................... 15 
3.1 O papel dos estudos populacionais .......................................................................... 15 
3.2 Componentes importantes para o estudo de populações ........................................ 19 
3.2.1 Aspectos sociais .................................................................................................... 19 
3.2.2 Aspectos socioeconômicos ................................................................................... 21 
3.2.3 Aspectos políticos ................................................................................................. 22 
3.3 A importância da diversidade de gênero, de etnia e de cultura ................................ 23 
4 A TEORIA MALTHUSIANA DO CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO ........................... 27 
4.1 Contexto da teoria populacional formulada por Malthus .......................................... 28 
4.2 Aspectos históricos da teoria malthusiana ............................................................... 30 
4.3 A teoria malthusiana no contexto populacional atual ............................................... 33 
5 AS TEORIAS POPULACIONAIS MARXISTA E REFORMISTA .................................. 38 
5.1 Contexto histórico das teorias marxista e reformista ................................................ 38 
5.2 A contribuição de Marx à geografia populacional ..................................................... 42 
5.3 Viabilidade das teorias marxistas e reformistas no contexto atual ........................... 45 
6 O NEOMALTHUSIANISMO E A GEOPOLÍTICA DA FOME ....................................... 48 
6.1 Aspectos sociais da teoria neomalthusiana.............................................................. 49 
6.2 A teoria neomalthusiana e a escassez de alimentos ................................................ 53 
 
3 
 
 
6.3 Decorrências da revolução verde ............................................................................. 55 
7 CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E CRESCIMENTO VEGETATIVO ....................... 59 
7.1 Crescimento vegetativo versus crescimento demográfico ....................................... 60 
7.2 Fatores determinantes do crescimento demográfico ................................................ 63 
7.3 A historicidade do crescimento vegetativo ............................................................... 66 
8 ASPECTOS DA DENSIDADE DEMOGRÁFICA ......................................................... 69 
8.1 Regiões densamente povoadas ............................................................................... 70 
8.2 As motivações para concentração e dispersão da população .................................. 74 
8.3 A influência da economia na densidade demográfica .............................................. 76 
9 DIFERENÇAS POPULACIONAIS NO HEMISFÉRIO NORTE E NO HEMISFÉRIO 
SUL.............. .................................................................................................................. 80 
9.1 Transição demográfica ............................................................................................. 80 
9.1.1 Fases da transição demográfica ........................................................................... 81 
10 TEORIAS MIGRATÓRIAS ......................................................................................... 83 
10.1 Historicidade das migrações .................................................................................. 83 
10.2 Diferentes teorias e suas influências econômicas .................................................. 87 
10.2.1 Teoria microeconômica neoclássica ................................................................... 87 
10.2.2 Teoria do capital humano .................................................................................... 87 
10.2.3 Teoria dos novos economistas da migração do trabalho .................................... 88 
10.2.4 Teoria macroeconômica neoclássica .................................................................. 89 
10.2.5 Teorias histórico-estruturalista ............................................................................ 89 
10.2.6 Teoria do princípio da causalidade ...................................................................... 91 
10.2.7 Teoria das análises institucionais ........................................................................ 92 
10.3 Consequências das migrações .............................................................................. 94 
10.3.1 Consequências econômicas ................................................................................ 94 
 
4 
 
 
10.3.2 Consequências demográficas ............................................................................. 94 
10.3.3 Consequências políticas ...................................................................................... 95 
10.3.4 Consequências socioculturais ............................................................................. 95 
11 MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO ...................... 96 
11.1 Migrações ambientais e suas motivações .............................................................. 97 
11.1.1 Alterações ambientais e migração ...................................................................... 99 
11.2 Migrações por conflitos ......................................................................................... 100 
11.2.1 Migrações na contemporaneidade .................................................................... 101 
11.2.2 Consequências das migrações por conflitos ..................................................... 102 
11.3 Influência econômica e a descapitalização no processo migratório ..................... 103 
12 MIGRAÇÕES INTERNAS NO BRASIL ................................................................... 106 
12.1 Movimentos populacionais no Brasil .................................................................... 107 
12.1.1 Movimentos migratórios do período colonial até o século XIX .......................... 107 
12.1.2 As migrações internas de meados do século XIX ao século XXI ...................... 110 
12.2 Motivações para as migrações ............................................................................. 115 
12.3 Consequências das migrações internas ............................................................... 118 
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 121 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase 
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer 
uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo 
hábil. 
Os cursos à distância exigem do alunotempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida 
e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
2 A POPULAÇÃO E SUA HISTORICIDADE 
Projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) para o crescimento 
populacional indicam um aumento significativo nos próximos 80 anos, com estimativa 
média de 11 bilhões de habitantes em escala mundial. No entanto, sabemos que o 
crescimento demográfico global não é contínuo e apresenta oscilações ao longo do 
tempo, que ocorrem de acordo com os aspectos ambientais socioeconômicos e culturais 
de distintas realidades geográficas. Em uma perspectiva histórico-geográfica, algumas 
dessas variações foram traduzidas, com fins analíticos, como fases do crescimento 
populacional, nas quais são consideradas as condições sociais, produtivas, políticas, 
econômicas e culturais dos distintos momentos históricos da humanidade. 
2.1 Fases do crescimento populacional 
A partir da segunda metade do século XX, a população mundial aumentou 
exponencialmente, alcançando os atuais 7,7 bilhões de pessoas. No entanto, esse 
cenário nem sempre foi assim, considerando que o crescimento populacional passou, ao 
longo do tempo, por diferentes fases marcadas por aspectos produtivos, sociais e 
econômicos ligados a saúde, alimentação, condições sanitárias, entre outros fatores que 
afetam a qualidade e expectativa de vida de uma população. Além disso, é importante 
considerar que as dinâmicas demográficas em escala mundial são bastante 
diversificadas, variando de contexto nacional ou regional. Isso significa, por exemplo, que 
as fases de crescimento demográfico de países economicamente desenvolvidos não são 
idênticas às fases de crescimento dos países de economias emergentes, isto é, latino-
americanos, africanos e alguns asiáticos (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). 
A primeira fase do crescimento populacional é marcada pela Revolução Industrial 
na Europa, durante os séculos XVIII e XIX, o que contribuiu para a intensificação da 
urbanização. O crescimento urbano é definido não apenas pelo aumento de edificações 
nas cidades, mas pelo próprio crescimento demográfico, que pode ocorrer pelo aumento 
da taxa de natalidade e pela migração. O papel desempenhado pela industrialização 
neste sentido foi fundamental, visto que a produção industrial nos séculos XVIII e XIX 
 
7 
 
 
costumava utilizar todo o núcleo familiar como força de trabalho (DANTAS; MORAIS; 
FERNANDES, 2011). Ou seja, mulheres e crianças (a partir de determinada idade) 
também constituíam a mão-de-obra fabril. Esse foi um dos estímulos para o crescimento 
das famílias, considerando que mais crianças significavam mais mão-de-obra, o que, por 
sua vez, significava mais ingresso de renda na unidade familiar (DANTAS; MORAIS; 
FERNANDES, 2011). 
Ainda entre os séculos XVIII e XIX, a industrialização também colaborou com o 
fenômeno de êxodo rural, quando as populações campesinas se deslocaram para as 
cidades em busca de trabalho e melhor qualidade de vida. Esses fatores, somados à 
redução nas taxas de mortalidade em função da melhoria das condições sanitárias, 
provocaram um aumento exponencial dos índices populacionais no contexto europeu. 
Essa primeira fase nos contextos latino-americanos, africanos e asiáticos 
primeiramente não corresponde ao mesmo período que na Europa, América Anglo-
saxônica e Oceania. A motivação para o crescimento demográfico acelerado em países 
como Brasil, Índia, Colômbia e China foi, além da industrialização e urbanização, o 
avanço da medicina a partir da segunda metade do século XX, ampliando a expectativa 
de vida em países que já apresentavam altos índices populacionais e elevada taxa de 
natalidade. Entre as décadas de 1950 e 1990, a população em regiões como América 
Latina e Ásia ultrapassou os índices da Europa quando este continente se encontrava 
em fase de expansão demográfica (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). 
A segunda fase do crescimento populacional na Europa também foi afetada pela 
industrialização e urbanização, ao final do século XIX e início do século XX. Entretanto, 
essa fase é marcada pela redução nas taxas de natalidade e mortalidade, devido às 
transformações socioeconômicas e produtivas envolvidas na produção industrial. Um 
exemplo dessas transformações foram os direitos trabalhistas — como a abolição do 
trabalho infantil e a redução das excessivas horas de trabalho —, juntamente com 
inovações tecnológicas que implicaram no desenvolvimento e adoção de equipamentos 
que substituíram o trabalho humano em atividades exaustivas, elementos que 
contribuíram para redução da mortalidade entre os trabalhadores operários, causando 
um impacto no crescimento populacional da Europa de forma geral. 
 
8 
 
 
A abolição do trabalho infantil também afetou a dinâmica familiar, pois provocou 
uma redução no número de filhos, já que as crianças passaram de produtoras ativas de 
renda para meras consumidoras no seio das famílias (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 
2011). Além disso, a ampliação dos direitos civis às mulheres, que se inseriram no 
mercado de trabalho e passaram a reivindicar direitos do ponto de vista reprodutivo, 
afetou significativamente a taxa de fecundidade e natalidade. De forma complementar, o 
desenvolvimento urbano da época, associado a melhorias nas condições sanitárias, 
contribuiu para uma melhor qualidade de vida da população, aumentando obviamente a 
expectativa de vida. 
A terceira fase do crescimento populacional no contexto europeu foi 
caracterizada por uma estabilização e posterior redução demográfica, em virtude do 
declínio na taxa de fecundidade, redução da taxa de mortalidade e consequente aumento 
na expectativa de vida da população (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). A 
segunda e terceira fases do crescimento populacional em países subdesenvolvidos, 
como Brasil, Índia e México, também foram marcadas pela redução nas taxas de 
natalidade e mortalidade. Essas transformações na dinâmica populacional ocorreram em 
virtude de fatores sociais, como o acesso aos métodos contraceptivos e parciais 
conquistas de direitos reprodutivos pelas mulheres; desenvolvimento urbano e melhoria 
nas condições sanitárias; acesso à educação e saúde; e melhoria nas condições de 
moradia. Aspectos econômicos também devem ser considerados, como o 
desenvolvimento socioeconômico dos países, que resultou em melhoria na qualidade de 
vida das pessoas. 
No entanto, é importante levar em consideração que não estamos nos referindo 
a realidades homogêneas, ainda que distintos países, ricos ou pobres, compartilhem 
situações semelhantes em termos socioeconômicos. Em países como Angola, 
Moçambique e Etiópia, por exemplo, as taxas de crescimento populacional são elevadas, 
alcançando respectivamente 3,3%, 2,9% e 2,4% para o ano de 2017 (THE WORLD 
BANK, 2019). É interessante notar que essas taxas são típicas da primeira fase de 
crescimento populacional de países como Brasil (2,3% em 1960), Colômbia (3% em 
1963) e Chile (2,94% em 1963) (THE WORLD BANK, 2019). O acelerado crescimento 
populacional em países africanos pode estar associado a questões sócio produtivas e 
 
9 
 
 
culturais, como as estruturas agrárias em que a mão-de-obra é essencialmente familiar 
e o casamento é uma forma de ampliar o terreno cultivado; a valorização de famílias com 
muitos filhos; a prática eventual da poligamia; e o escasso uso de métodos contraceptivos 
por parte das mulheres. 
Analisando o caso de Moçambique, Cardoso (2007) entende que existe uma 
relação entre casamento precoce, nupcialidade e taxa de fecundidade que altera toda a 
dinâmica populacional no país. Aelevação da idade de casamento, por exemplo, cada 
vez mais comum nos contextos urbanos, é considerada um dos fatores que contribui para 
a redução das taxas de fecundidade. No entanto, é interessante considerar que o 
continente africano é bastante diverso e sua dinâmica populacional merece ser analisada 
com os devidos cuidados, considerando suas especificidades histórico-geográficas, em 
constante diálogo com as possíveis relações em escala global. 
2.2 Motivações para o aumento populacional na história 
Na seção anterior, conhecemos as fases do crescimento populacional em uma 
perspectiva histórica. Além disso, vimos brevemente que a industrialização, urbanização, 
ampliação na produção de alimentos, melhorias nas condições sanitárias e modernização 
da medicina foram essenciais para o aumento populacional tanto em países 
subdesenvolvidos quanto desenvolvidos. Por essa razão, aprofundaremos esses 
condicionantes sociais que impactaram a dinâmica populacional em sua historicidade. Ao 
mesmo tempo, existem diversos outros fatores que merecem ser estudados, como as 
especificidades socioculturais e econômicas de realidades diversas, para que os 
aspectos demográficos sejam lidos com os devidos cuidados ao estabelecermos relações 
causais. De forma complementar, reiteramos que o crescimento populacional é 
interpretado e analisado por meio de elementos como a natalidade, fecundidade, 
mortalidade e migração (DAMIANI, 1998). 
Já nos familiarizamos com a noção de que a Revolução Industrial, que teve início 
no século XVIII na Europa, transformou, em escala global, a sociedade e sua dinâmica 
econômica, produtiva e até cultural. Em termos demográficos, esse fenômeno social foi 
determinante tanto para o aumento e posterior redução das taxas de natalidade quanto 
 
10 
 
 
para o declínio na mortalidade. O trabalho infantil, comum na produção industrial nos 
séculos XVIII e XIX, afetou a organização demográfica familiar, estimulando o aumento 
no número de filhos nas unidades domésticas e consequentemente elevando a taxa de 
natalidade em diversas regiões da Europa, sobretudo no Reino Unido (DANTAS; 
MORAIS; FERNANDES, 2011). 
Por sua vez, a industrialização levou a um aumento na oferta de alimentos 
impulsionado pela modernização da agricultura, por meio da qual foram introduzidos 
novos insumos agrícolas, assim como tecnologias logísticas e produtivas que permitiram 
uma ampliação na oferta de produtos de primeira necessidade, reduzindo, dessa forma, 
a mortalidade entre a população (DAMIANI, 1998). Nesse contexto, a industrialização, 
em associação com a modernização agrícola, também foi responsável pela intensificação 
da urbanização, como condição e resultado da migração no sentido campo–cidade, que 
caracteriza o fenômeno do êxodo rural. Ou seja, populações campesinas, em algumas 
situações expropriadas de suas terras e com o objetivo de buscar trabalho e melhor 
qualidade de vida, deslocaram-se para as cidades, inflacionando a população urbana. 
Segundo outras considerações teóricas a respeito da dinâmica populacional, a 
industrialização, assim como a urbanização, apesar de em um primeiro momento ter 
estimulado o aumento populacional, de forma geral provocou a redução da fecundidade 
(DAMIANI, 1998). Isso ocorreu devido à ampla difusão e incorporação da lógica da 
racionalidade e individualidade, características do estilo de vida urbano-industrial nas 
sociedades ocidentais modernas, resultando na primazia da família nuclear com poucos 
filhos, em detrimento da família ampla (DAMIANI, 1998). Isso significa que, em virtude 
dos custos envolvidos na criação e formação dos filhos, a taxa de fecundidade despencou 
entre as famílias europeias, que passaram a ser cada vez menores, almejando com isso 
um melhor desenvolvimento econômico familiar. Além das questões socioeconômicas, o 
avanço da medicina no tratamento, controle e prevenção de doenças, assim como 
melhorias nas condições sanitárias, em nível individual e coletivo, foram fatores 
determinantes na redução da mortalidade durante o século XIX e início do século XX, 
resultando em forte aumento populacional. 
 
 
11 
 
 
Os progressos da medicina datam de meados do século XIX em diante, com a 
introdução da noção de assepsia e a descoberta de anestésicos. No final do 
século XIX, destacam-se os bactericidas e a imunologia, citando-se, entre outros, 
os trabalhos de Pasteur. A pesquisa em quimioterapia, iniciada na década de 
1930, avança até nossos dias (DAMIANI, 1998, p. 32). 
No entanto, consideramos importante entender que esses fatores não operam de 
forma isolada na dinâmica populacional. Alguns autores mencionados por Damiani (1998) 
entendem que aspectos sociais, como os direitos trabalhistas durante o período da 
industrialização, foram fundamentais na redução das taxas de mortalidade da população 
europeia: 
[...] a mortalidade teria sofrido um descenso antes da socialização das grandes 
conquistas médicas (vacinas, assepsia hospitalar, anestesia, descoberta de 
grande número de vírus e bacilos, ou dos antibióticos às vésperas da Segunda 
Guerra Mundial). [...] a redução da jornada de trabalho, a instituição das férias e 
do seguro social para os trabalhadores e a revolução tecnológica nas formas de 
produção, com as máquinas e equipamentos substituindo os homens em certas 
atividades exaustivas, seriam as responsáveis iniciais pela redução da 
mortalidade nos países desenvolvidos (DAMIANI, 1998, p. 32). 
Isso também significa que as taxas de mortalidade, natalidade, fecundidade e 
migração, em uma perspectiva histórica e contemporânea, são indicadores sensíveis às 
condições sociais de uma população (DAMIANI, 1998). Ou seja, os elementos da 
dinâmica populacional se relacionam diretamente com o desenvolvimento 
socioeconômico de um país ou região. Por essa razão, devem ser mutuamente 
articulados nos processos de análises, sempre considerando as condições de educação, 
moradia, renda, desenvolvimento social e humano de uma realidade geográfica. 
2.3 Relação entre geografia populacional e geografia econômica 
Considerando que as dinâmicas populacionais estão sempre relacionadas aos 
aspectos econômicos, produtivos e políticos da sociedade, fica explícito que não 
podemos trabalhar o tema da geografia populacional de forma dissociada das questões 
econômicas. O objetivo desta disciplina é analisar a dinâmica populacional em uma 
perspectiva espacial, considerando fatores múltiplos, como a própria sociedade, técnica, 
tecnologia, trabalho, sistema de produção, natureza, entre outros elementos sócio 
 
12 
 
 
espaciais. Nesse sentido, a geografia econômica desempenha um papel importante, na 
medida em que busca compreender de que forma as relações econômicas — entre 
fatores de produção (espaço, trabalho e capital) e agentes econômicos (produtores e 
consumidores) — em diferentes escalas se materializam e se movem pelo espaço, 
produzindo-o e transformando-o (CLAVAL, 2012). 
A geografia, como sabemos, passou por distintas fases em sua base 
epistemológica, incorporando diferentes perspectivas teóricas, como a regional, 
quantitativa, crítica e pós-moderna. Consequentemente, os estudos geográficos focados 
em problemáticas econômicas acompanharam a trajetória da disciplina. Na segunda 
metade do século XIX, geografia econômica clássica utilizava o método descritivo para 
retratar as áreas e fluxos de produção (CLAVAL, 2012) e, do ponto de vista demográfico, 
preocupou-se em realizar esboços quantitativos da distribuição da população sobre o 
espaço: “É comum a utilização da representação cartográfica dessa repartição, dos 
mapas — por pontos e signos volumétricos proporcionais —, e do cálculo das densidades 
de população por quilômetro quadrado, em unidades de superfície de diferentes 
tamanhos” (DAMIANI, 1998, p. 49). 
Nesse sentido, os estudos populacionais em geografia apresentavam pouco 
caráter analítico, da mesma formaque não consideravam a dimensão humana e histórica 
do processo de distribuição populacional. Sendo assim, não explicavam a diversidade 
sócio produtiva do espaço (por exemplo, a diversidade cultural de uma população e o 
potencial econômico de um lugar) e sua relação com as dinâmicas de concentração e 
dispersão populacional. O paradigma clássico da geografia econômica também enfocou 
as potencialidades econômicas dos recursos naturais e, partir disso, suas transformações 
e uso pelas atividades humanas (CARVALHO; FILHO, 2017). Em sua relação com a 
geografia populacional, passou a avaliar em que medida esse potencial econômico 
poderia influenciar o nível de densidade de ocupação populacional em determinada área. 
No entanto, a disciplina não considerava inúmeras variáveis — sobretudo as históricas, 
técnicas, sociais e produtivas — que poderiam afetar as formas de ocupação e uso do 
solo, como as próprias técnicas empregadas pelas pessoas para explorar o potencial 
produtivo e econômico de um lugar (DAMIANI, 1998). 
 
13 
 
 
Posteriormente, orientada pelo paradigma da economia espacial, a geografia 
econômica se debruçou sobre o tema da localização das atividades econômicas, 
especialmente as industriais, considerando o impacto destas sobre o espaço em que 
vivemos (CLAVAL, 2005; 2012; CARVALHO; FILHO, 2017). Segundo Damiani (1998, p. 
50), na antiga União Soviética da primeira e segunda metade do século XX: 
[...] a geografia da população é considerada como um ramo da geografia 
econômica, no estudo da interligação dos processos econômicos e demográficos. 
O estudo da implantação das empresas e das unidades territoriais de produção 
criadas liga-se estreitamente à análise da repartição dos habitantes no território 
nacional, da composição e do dinamismo desses grupos. 
No entanto, foi em sua vertente mais crítica que a geografia econômica passou 
a dialogar com os estudos populacionais em uma perspectiva não apenas quantitativa, 
mas também qualitativa, considerando aspectos históricos, culturais, sociais e políticos. 
Nessa fase, as pesquisas trataram da localização de atividades agrícolas e 
industriais. Surgiu a divisão dos espaços urbanos, para funções produtivas e 
funções residenciais. Essa nova perspectiva originou o desenvolvimento de uma 
teoria das migrações humanas e contribuiu para a compreensão de situações 
onde se buscava rendas mais altas e também atividades de lazer. A geografia 
econômica passou a tratar de escolhas residenciais, de segregações urbanas e 
do turismo (CARVALHO; FILHO, 2017, documento on-line). 
Tal disciplina evidentemente não se isolou das transformações sociais ocorridas 
no mundo na segunda metade do século XX — crise econômica, aumento populacional, 
urbanização, globalização — e tampouco deixou de acompanhar as marés teóricas das 
ciências sociais e humanidades para dar conta das novas problemáticas emergentes. 
Portanto, passou a incorporar abordagens críticas diversas — economicista, marxista, 
alternativas (CLAVAL, 2005) — para interpretar um novo momento marcado pela 
mediação tecnológica e informacional das relações econômicas e espaciais. Com isso, 
as discussões sobre mobilidade — de informação, mercadorias, tecnologias, pessoas — 
ganham força. 
O pensamento geográfico orientado pelo marxismo, por exemplo, parte da 
premissa de que as relações econômicas e de produção incidem profundamente no 
espaço. De acordo com autores como David Harvey (1980) e Neil Smith (1988), o espaço 
geográfico é gerado a partir da produção de mercadorias e das relações sócio produtivas 
 
14 
 
 
dentro do sistema capitalista que produz e reproduz desigualdades sociais, econômicas 
e espaciais. Em uma perspectiva demográfica, sabemos que a população se configura 
também como força de trabalho, produtora e consumidora de bens e serviços, 
contribuindo para a reprodução do sistema de produção capitalista e sua lógica espacial, 
ao mesmo tempo em que é atingida por essa estrutura. Fenômenos como a migração, 
por exemplo, podem ser motivados por questões econômicas, como crise de desemprego 
e declínio de um estado de bem-estar social. A mortalidade, por sua vez, encontra-se 
diretamente relacionada às condições socioeconômicas da população, tanto que autores 
como Damiani (1998) preferem tratá-la de forma diferencial, visto que atinge 
predominantemente a população mais pobre. 
Além disso, a geografia é capaz de explicar — tanto de uma perspectiva 
econômica quanto espacial — fenômenos como o êxodo rural e a urbanização. Esses 
são fenômenos complexos impulsionados pelo processo de modernização da agricultura, 
caracterizada pela transformação fundiária e da base técnica da produção agrícola, e 
também pela industrialização, que, como vimos, contribuiu para o crescimento 
populacional nas cidades, por meio da natalidade e migração. Essa realidade, embora 
tenha afetado diversos países, é a marca das realidades condicionadas pelo que 
entendemos por subdesenvolvimento: 
Se no discurso sobre o subdesenvolvimento a migração era um elemento 
secundário de análise, e era ressaltado o crescimento vegetativo, natural, 
segundo a literatura em ciências sociais, especialmente a partir dos anos 60, 
houve uma inversão: o crescimento natural aparece como subordinado à análise 
da migração. Neste momento, a migração rural-urbana definia-se como 
fundamental (DAMIANI, 1998, p. 41). 
Em suma, entendemos que a relação empírica entre as dinâmicas populacionais 
e econômicas é notória e necessita ser trabalhada interdisciplinarmente e com a devida 
seriedade. De modo similar, a trajetória de construção do conhecimento na geografia 
demonstra que os fenômenos espaciais estão inter-relacionados e que nenhuma 
disciplina geográfica deve ser desenvolvida e abordada de forma isolada. Vimos as 
diferentes fases e motivações para o crescimento populacional ao longo do tempo, 
considerando as diferenciações geográficas entre países e regiões globais. 
Historicamente, todas as fases de aceleração e redução do crescimento populacional 
 
15 
 
 
foram afetadas por questões sociais e econômicas, como a Revolução Industrial nos 
séculos XVIII e XIX, avanços na medicina e melhorias nas condições sanitárias no século 
XX e avanços no desenvolvimento socioeconômico em nível mundial. Nesse sentido, 
percebemos que essa relação direta entre aspectos socioeconômicos e dinâmica 
populacional tem sido abordada pela geografia econômica, a partir de enfoques 
regionais, quantitativos e críticos, desde o século XIX, época da sistematização e 
consolidação da geografia enquanto ciência. Essa trajetória epistemológica também é 
marcada pela fundação da disciplina de geografia populacional na metade do século XX, 
que tem incorporado novos enfoques teóricos (como os estudos críticos e culturais), a 
fim de dar conta do caráter multidimensional das dinâmicas populacionais. 
3 A GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO: ENFOQUES CONTEMPORÂNEOS 
Os estudos populacionais passaram, ao longo do tempo, por diferentes 
transformações em suas bases teóricas e metodológicas. Essas mudanças estão 
relacionadas aos enfoques das diferentes áreas do conhecimento, como ciências sociais, 
geografia, história, demografia, economia, bem como às problemáticas demográficas 
identificadas na sociedade em nível mundial. Com isso, percebemos uma diversidade de 
temas, variáveis, indicadores, análises e interpretações mobilizados para dar conta da 
complexidade que marca a dinâmica populacional contemporânea. 
3.1 O papel dos estudos populacionais 
Os estudos populacionais compreendem diversas áreas do conhecimento que 
possuem a população como objeto de estudo. Mas o que é a população? Para responder 
essa pergunta, precisamos estabelecer uma distinção entre o que entendemos por 
pessoas e por população. De acordo com estudos realizados por Dantas, Morais e 
Fernandes (2011), quando falamos em pessoas, estamos nos referindo ao âmbito 
individual equando falamos em população, estamos nos referindo ao coletivo, ou melhor 
dizendo, à sociedade. Desse modo, o que vincula o indivíduo à população ou à sociedade 
 
16 
 
 
são questões estruturais e institucionais, como as práticas sociais, classes sociais, as 
leis, o trabalho, entre outros fatores (DANTAS; MORAIS; FERNANDES, 2011). 
Historicamente, a população sempre foi tema de discussão política ou intelectual. 
No campo da geografia, ao longo dos séculos XIX e XX, ela foi considerada a primeira 
forma de abordagem a fenômenos humanos complexos (DAMIANI, 1998). Nesse sentido, 
além de uma categoria analítica, a população é compreendida como um conjunto de 
relações sociais e espaciais, mediada por fatores diversos, como as estruturas, as 
instituições, os valores humanos e culturais, a economia, a natureza e o próprio espaço. 
Sua dinâmica complexa e sua permanência nos estudos geográficos possibilitaram a 
consolidação da disciplina de geografia da população na segunda metade do século XX 
(SILVA; FERNANDES, 2016), definida, na época, como: 
[...] a ciência que trata dos modos pelos quais o caráter geográfico dos lugares é 
formado por um conjunto de fenômenos de população que varia no interior deles 
através do tempo e do espaço, na medida em que seguem suas próprias leis de 
comportamento, agindo uns sobre os outros e relacionando-se com numerosos 
fenômenos não demográficos (ZELINSKY, 1974, p. 17) 
No entanto, entendemos que a geografia não possui exclusividade nos estudos 
populacionais. A população, como categoria de análise, é abordada a partir de distintas 
perspectivas que variam de acordo com a área de estudo, assim como as ferramentas 
teóricas e metodológicas em jogo (DAMIANI, 1998). Por essa razão, o papel que os 
estudos populacionais desempenham vai variar segundo o interesse de cada disciplina. 
Na geografia, por exemplo, sabemos que o estudo populacional busca explicar 
espacialmente os fenômenos demográficos; nas ciências sociais, porém, os estudos 
populacionais giram em torno da compreensão das relações sociais em determinados 
contextos históricos, econômicos e políticos e como estas podem afetar a dinâmica 
demográfica. A antropologia, por sua vez, vai se preocupar com o tema da cultura, dos 
hábitos e das relações que as populações estabelecem com o meio em que vivem e 
transformam (MORMUL, 2013). Por fim, a demografia dedica-se às análises tanto 
quantitativas quanto qualitativas da dinâmica populacional, constituindo uma disciplina 
fundamental para o desenvolvimento dos estudos populacionais em outras áreas. Com 
isso, embora existam componentes básicos que são transversais aos estudos 
populacionais em diferentes ciências — número de nascimentos, mortes, migração, 
 
17 
 
 
estrutura etária —, eles são utilizados e interpretados para alcançar o objetivo do campo 
de estudo em questão. 
Além disso, devemos entender que a função dos estudos populacionais varia não 
apenas de acordo com o campo de estudo, mas é afetado e transformado pelas 
circunstâncias históricas e políticas. Para entender essa relação, tomemos a ciência 
geográfica como exemplo. Percebemos que a trajetória da geografia é marcada por 
diferentes paradigmas que se consolidam por razões tanto científicas quanto políticas. 
Um exemplo claro disso é a geografia regional, que se forma em um contexto político e 
ideológico marcado acima de tudo pelos conflitos territoriais protagonizados por 
autoridades francesas e germânicas no século XIX (DOMINGUES, 1985). Assim, os 
estudos populacionais em geografia regional se dedicavam a temas como a relação entre 
a população e recursos, população e produtividade, assim como número de pessoas que 
constituíam uma nação (GEORGE, 1955 apud DAMIANI, 1998). A geografia teorética, 
por sua vez, direcionava seus estudos populacionais à compreensão quantitativa da 
distribuição populacional. 
Após a Segunda Guerra Mundial, os estudos populacionais adquiriram maior 
relevância em virtude do aumento das taxas de natalidade, o que, associado às reduções 
na mortalidade, provocou um crescimento demográfico em escala mundial. “Tanto os 
capitalistas queriam entender a dinâmica populacional para identificar as potencialidades 
e vulnerabilidades para a economia quanto os socialistas queriam fundamentar os seus 
planos econômicos” (SILVA; FERNANDES, 2016, p. 2). Ademais, como as ciências — a 
exemplo da própria geografia e das ciências sociais — eram financiadas principalmente 
pelas autoridades estatais, seus estudos (entre esses os demográficos) objetivavam 
atender aos interesses políticos e territoriais do Estado. 
Durante a década de 1950, geógrafos como Glenn Trewartha, Jacqueline 
Beaujeu-Garnier e Wilbur Zelinsky se dispuseram a argumentar sobre o papel que os 
estudos populacionais deveriam desempenhar na geografia, defendendo, é claro, suas 
afiliações teóricas e metodológicas; Trewartha e Beaujeu-Garnier vinculados à geografia 
regional e Zelinsky à quantitativa, corrente teórica mais apreciada nas décadas de 1950 
e 1960 (SILVA; FERNANDES, 2016). Para Zelinsky (1974), os estudos populacionais na 
geografia deveriam priorizar a compreensão da relação entre a dinâmica populacional e 
 
18 
 
 
o espaço geográfico, em seus aspectos sociais, econômicos, políticos, técnicos, 
tecnológicos. 
Ao final do século XX, com o fortalecimento das correntes críticas da geografia, 
as atribuições associadas aos estudos populacionais passaram a adquirir maior 
complexidade, dando conta de questões históricas, políticas, econômicas e 
socioculturais. Em defesa de um maior comprometimento com os fenômenos sócio 
espaciais, Damiani (1998) argumenta que os estudos demográficos não devem se limitar 
aos aspectos quantitativos, também buscando compreender as relações estabelecidas 
entre os diferentes elementos que compõem o comportamento populacional sobre o 
espaço. Além disso, devem entender quais são os resultados dessas relações na 
produção e transformação do espaço e como a própria dinâmica espacial pode influenciar 
as práticas sociais das populações. 
Mormul (2013), ao estabelecer uma relação entre a geografia da população e a 
geografia humana, defende que os estudos populacionais precisam considerar o contexto 
histórico no qual as relações humanas e sócio espaciais são produtoras e produtos. Os 
estudos populacionais, neste sentido, possuem a responsabilidade não apenas de 
apresentar os dados demográficos vinculados a crescimento vegetativo, mortes, 
nascimentos e estrutura etária, mas também de investigar e problematizar o que está por 
trás desses dados e quais são suas explicações do ponto de vista histórico-geográfico. 
Agora, quando tomamos como exemplo os anais do Encontro Nacional de 
Estudos Populacionais de 2018 (CAMPOS et al., 2018), percebemos que não se trata 
exclusivamente de estudos estatísticos, mas de trabalhos dedicados a estudar realidades 
marcadas por aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais. Sendo assim, as 
informações referentes a natalidade, mortalidade, migração, crescimento vegetativo e 
estrutura etária não são estáticas, mas relacionais, retratando conjunturas complexas. 
Por essa razão, entendemos que no contexto atual o papel dos estudos populacionais 
tem sido de investigar, analisar e interpretar a relação população–espaço em sua 
heterogeneidade e, no limite, de fornecer subsídios para a elaboração de projetos de 
desenvolvimento social em diferentes escalas — local, regional e nacional. 
 
19 
 
 
3.2 Componentes importantes para o estudo de populações 
Compreendemos que a população é um objeto de estudo bastante complexo que 
movimenta questões materiais, simbólicas, objetivas, subjetivas, estruturais, espaciais, 
entre outras, e que para compreendê-la a partir de suas múltiplas dimensões temos de 
percorrer um caminho analítico que parta de categorias de análises mais básicas rumo 
às mais complexas (DAMIANI,1998). Ao afirmarmos, por exemplo, que atualmente a 
população no Brasil diminuiu em virtude de melhorias nas condições socioeconômicas 
das famílias, precisaremos deixar claro em que consistem essas condições 
socioeconômicas e de que forma ocorreram essas melhorias, para, finalmente, entender 
seu impacto na vida das famílias e no baixo crescimento demográfico. 
Isso também significa que os estudos populacionais são multidisciplinares e 
realizam-se a partir de conceitos já desenvolvidos em estudos urbanos, políticos, 
econômicos, sociais, territoriais, entre outros, como os conceitos de “segregação” (qual 
é o nível educacional de uma população residente em um bairro de baixa renda?), 
“desenvolvimento” (quais características socioeconômicas a demografia de um país deve 
apresentar para alcançar um alto nível de desenvolvimento humano?) e “desigualdade” 
(qual é o impacto das desigualdades socioeconômicas na expectativa de vida de uma 
população?). Com base nessas considerações, para que os estudos populacionais, 
independentemente da área de estudo, possam cumprir seu papel, é necessário 
considerar alguns aspectos básicos (analíticos e empíricos). Mas que aspectos são 
esses? Os aspectos sociais, socioeconômicos e políticos. Com isso, vamos especificar 
quais são os impactos desses fatores na dinâmica e estrutura populacional, bem como 
nos estudos demográficos. 
3.2.1 Aspectos sociais 
A estrutura social pode ser compreendida como um sistema de organização 
social, constituído pelas relações sociais, políticas, institucionais e econômicas que 
estabelecemos uns com os outros. Essas relações são mediadas por normas e recursos 
(regras, leis, meios de produção, tecnologias) que são mobilizados e corroborados em 
 
20 
 
 
nossas ações sociais repetitivas. O entrelaçamento dessas relações constitui o que o 
sociólogo Giddens (1984) chama de sistema social. Para o autor, as sociedades, em suas 
relações e práticas recursivas, legitimam as dinâmicas institucionais, reforçando as 
estruturas. As estruturas são simultaneamente potencializadoras e limitadoras da ação 
humana. Em outras palavras, nós, como atores sociais, reforçamos as estruturas, ao 
mesmo tempo em que temos nossas ações determinadas por elas. Mas afinal, qual é a 
relação disso tudo com as dinâmicas e os estudos populacionais? 
A estrutura social é um componente importante para os estudos populacionais, 
pois permite investigar qualitativamente como as relações sociais, as instituições e as 
práticas recursivas da sociedade afetam e são afetadas pela dinâmica e estrutura 
populacional. Podemos avaliar o impacto dos aspectos estruturais (políticos, 
institucionais e econômicos) de um Estado na dinâmica populacional por meio de uma 
diferenciação de gênero entre a população ocupada (que está trabalhando) e a 
população desocupada (que não está trabalhando, mas encontra-se disposta a trabalhar) 
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014). A partir disso, 
poderemos questionar: existe uma discrepância entre homens e mulheres quando 
examinamos o percentual de população ocupada no país? Caso exista, como ela pode 
ser descrita, analisada e explicada? 
Independentemente da área de estudo, os aspectos sociais estão sempre 
presentes nos estudos populacionais, seja de forma explícita nos estudos de natureza 
qualitativa — os quais geralmente realizam uma análise da estrutura social em questão 
—, seja de forma implícita, a exemplo dos estudos quantitativos, em que os dados 
numéricos são priorizados na análise, mas retratam uma realidade social que pode ser 
examinada. Além disso, ainda que existam características transversais entre as 
sociedades, ou seja, elas são organizadas por Estados, instituições, leis e normas, e cada 
sociedade também apresenta suas especificidades históricas, políticas, culturais e 
geográficas que não devem ser desconsideradas nos estudos demográficos. 
 
21 
 
 
3.2.2 Aspectos socioeconômicos 
Os aspectos socioeconômicos também estão vinculados à estrutura social, mas, 
de uma forma mais precisa, correspondem às questões sociais e econômicas que 
influenciam a qualidade de vida da população, além de revelar a dinâmica de 
desenvolvimento de um país. Vamos iniciar com um exemplo: se a média da população 
brasileira tiver amplas possibilidades de reprodução social e econômica, possuindo boa 
renda, trabalho com segurança, acesso à educação e saúde de qualidade, sua qualidade 
de vida aumenta. Em termos demográficos, essa realidade é refletida no aumento da 
expectativa de vida no Brasil e, consequentemente, no seu Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH). 
O IDH foi desenvolvido a partir do conceito de desenvolvimento humano, 
preconizado pelo economista Amartya Sen. Esse conceito se constrói com o objetivo de 
questionar a perspectiva de desenvolvimento voltada apenas para o crescimento 
econômico de um país. Com isso, o desenvolvimento humano corresponde à ampliação 
das capacidades e oportunidades que as pessoas têm e podem adquirir ao longo de sua 
vida para se realizarem de acordo com os seus desejos, considerando outros aspectos 
além do econômico, como culturais, políticos e sociais (PROGRAMA DAS NAÇÕES 
UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2020). Podemos nos perguntar novamente: o 
que isso tem a ver com os estudos populacionais? 
O IDH considera múltiplas variáveis demográficas, como a população total, 
urbana, rural, residente masculina e residente feminina, estrutura etária da população 
(número de jovens, adultos e idosos), taxa de envelhecimento, taxa de longevidade, 
mortalidade, fecundidade, entre outros elementos capazes de explicar a estrutura e a 
dinâmica de uma população. A partir disso, busca analisar a evolução desses dados ao 
longo do tempo — se diminuíram, se aumentaram, assim como as causas e efeitos 
dessas transformações. Em termos quantitativos/qualitativos, o IDH também avalia a 
educação de um país, considerando o fluxo escolar por faixa etária, além das 
expectativas de anos de estudo, bem como renda per capita, concentração de renda, 
taxa de atividade, desocupação, habitação e vulnerabilidade social, além de considerar 
 
22 
 
 
todos esses aspectos a partir dos diferenciais raciais e de gênero (DANTAS; MORAIS; 
FERNANDES, 2011). 
Em suma, trata-se de um índice bastante denso, que contém distintos 
indicadores e dados oriundos de profundas pesquisas demográficas. A partir disso, 
também podemos considerar que o componente socioeconômico é importante para os 
estudos populacionais, pois mobiliza variáveis — como educação, trabalho, renda per 
capita, escolaridade e moradia — que são comumente trabalhadas em áreas de 
economia, economia política, ciências sociais, geografia e saúde coletiva, que, por sua 
vez, permitem avaliar de forma mais circunstanciada a dinâmica demográfica de dada 
realidade social. 
3.2.3 Aspectos políticos 
As questões políticas também estão estreitamente vinculadas aos aspectos 
mencionados anteriormente, pois é por meio das instituições governamentais que são 
pensadas as estratégias de desenvolvimento social para garantir melhor qualidade de 
vida à população. Programas habitacionais, de transferência de renda e de erradicação 
da fome e extrema pobreza, entre outras políticas públicas, podem, futuramente, 
contribuir para o desenvolvimento humano em nível nacional. Agora, como isso pode 
influenciar a dinâmica populacional do país? Para responder essa pergunta, podemos 
considerar o seguinte exemplo: um sistema de saúde de determinado país consegue 
elaborar uma política de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e de 
acessibilidade e uso de métodos contraceptivos. O questionamento que um estudo 
populacional pode realizar a partir disso é: que impacto essa política exercerá sobre as 
taxas de fecundidade, natalidade e mortalidade? O crescimento populacional cairia? 
Entraria em estabilidade? De que forma essa políticaafetaria a qualidade de vida da 
população? 
Também sabemos da existência de autoridades estatais que realizam práticas 
de intervenção direta na dinâmica populacional, no sentido de pensar políticas de 
planejamento familiar, visando o controle de natalidade, como foi o caso da China entre 
o final da década de 1970 e 2015. O país conseguiu exercer, por 36 anos, um rigoroso 
 
23 
 
 
controle do crescimento populacional impondo a política do filho único. O resultado dessa 
política, somado, é claro, a outros aspectos socioeconômicos e sociais — como a 
ascensão do estilo de vida urbano, melhorias nas condições econômicas das famílias, 
acesso à educação de qualidade, autonomia financeira e conquistas de direitos 
reprodutivos pelas mulheres, etc. —, foi o baixo crescimento populacional já a partir da 
década de 1970 (YANG; WANG, 2016). Com isso, as projeções futuras têm indicado 
redução da população jovem, aumento da população idosa e redução da população 
economicamente ativa (YANG; WANG, 2016). Com este cenário, o Estado chinês 
resolveu finalizar a política do filho único. 
Nesse contexto, os questionamentos produzidos pelos estudos populacionais 
podem ser: quais são os fatores envolvidos nos processos de tomada de decisão das 
famílias em relação a ter um ou mais filhos? Em que medida é aceitável política ou 
moralmente intervenções governamentais sobre as escolhas que afetam a dinâmica 
econômica, social e emocional de uma família? Qual será o impacto econômico na China 
caso as projeções demográficas se confirmem? Enfim, são diversas e pertinentes as 
interrogações que podem surgir ao considerarmos os componentes políticos nos estudos 
populacionais. 
3.3 A importância da diversidade de gênero, de etnia e de cultura 
Do ponto de vista antropológico, a cultura pode ser concebida como “[...] uma teia 
de significados tecida pelo homem. Essa teia orienta a existência humana. Trata-se de 
um sistema de símbolos que interage com os sistemas de símbolos de cada indivíduo 
numa interação recíproca” (GEERTZ, 2003, p. 39). Nesse sentido, nossas ações 
individuais e sociais também são práticas culturais, que transformam o espaço que 
produzimos e vivemos. No âmbito geográfico, o giro cultural emergiu a partir da corrente 
crítica da geografia e direcionou sua crítica à modernidade e seu determinismo 
econômico para explicar os processos sociais e espaciais. Com isso, o giro cultural 
defende que os processos sócio espaciais (entre eles os demográficos) estão 
estreitamente relacionados à cultura, que também atravessa as relações de classe, raça 
e gênero (NARVÁEZ MONTOYA, 2014). Os estudos de Campos et al. (2018), por 
 
24 
 
 
exemplo, buscam compreender os padrões de mobilidade (migração) entre os grupos 
indígenas no Brasil, considerando tanto aspectos culturais (práticas sociais e de relação 
com a terra) quanto socioeconômicos (renda, região de domicílio, etc.). 
Além disso, a partir da perspectiva cultural na geografia, a cultura também passa 
a desempenhar um papel relevante na compreensão das formas de reprodução do 
capitalismo na sociedade (ÁLVAREZ GALLEGO, 2014). Nessa linha, busca 
compreender, por exemplo, como nos relacionamos com o trabalho produtivo e com o 
consumo. Considerando os estudos populacionais, a relação entre os aspectos culturais, 
de gênero e etnia é fundamental, pois, por meio de análises de variáveis comuns como 
renda, trabalho, mortalidade e expectativa de vida, é possível compreender que a 
população não é homogênea, apresentando diferenciações socioeconômicas, orientadas 
pelas questões raciais, culturais, de gênero e classe. Nesse sentido, se nos dedicarmos 
a compreender a população em um nível pormenorizado, perceberemos que as pessoas 
estão inseridas em contextos econômicos, sociais e culturais específicos, comportando-
se de distintas formas ou afetadas em diferentes graus pelos mesmos problemas sociais. 
Por essa razão, são necessárias abordagens teóricas e metodológicas sensíveis a essas 
realidades e que forneçam subsídios para pensar, no debate público, projetos de 
desenvolvimento social, a fim de atenuar as desigualdades que podem ser agravadas e 
reforçadas pelas já mencionadas estruturas sociais. 
Retomando nossos exemplos, sabemos que o indicador “renda”, comumente 
utilizado para avaliar o índice de desenvolvimento humano em diversos países, varia 
conforme o grupo social, considerando que a população é compartimentada de acordo 
com as condições socioeconômicas das pessoas (estratificação social). Mas você sabia 
que existe no Brasil uma diferença significativa de renda entre homens e mulheres? 
Considerando o caso do Rio Grande do Sul, a renda per capita para o ano de 2010 entre 
as mulheres foi de R$704,32, enquanto para os homens foi de R$711,98 (PROGRAMA 
DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2020). Também é possível 
notar uma diferença em relação ao rendimento médio por pessoas ocupadas, que para 
as mulheres foi de R$1.055 e para homens, de R$1.555,29 (PROGRAMA DAS NAÇÕES 
UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2020). 
 
25 
 
 
A diferença na taxa de desocupação e grau de formalização das pessoas 
ocupadas também é evidente: mulheres com 6,33% e homens com 3,08% (taxa de 
desocupação para o ano de 2010); e 65,44% para mulheres e 67,13% para homens (grau 
de formalização para o ano de 2010), respectivamente. Outra informação interessante e 
que dialoga com os dados apresentados é o nível educacional das pessoas ocupadas: 
49,57% das mulheres ocupadas têm ensino médio completo (12,9% superior completo) 
e 38,88% dos homens ocupados têm ensino médio completo (9,5% superior completo) 
(PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2020). Mas como 
os dados referentes ao nível educacional dialogam com essa discrepância de renda? É 
exatamente essa pergunta que os estudos populacionais em diversas áreas tentam 
responder. Nas ciências sociais, são discutidos os impactos que as estruturas sociais 
exercem sobre essa dinâmica, com seus valores culturais herdados de uma época 
recente em que, segundo as teorias neoclássicas do trabalho, as mulheres eram pouco 
aptas para as atividades produtivas, em virtude da maternidade e de sua aptidão “natural” 
ao cuidado da família (DEGRAFF; ANKER, 2004). 
De acordo com a teoria neoclássica, a racionalidade dos trabalhadores faz com 
que eles busquem trabalhos de acordo com suas capacidades e interesses. No caso das 
mulheres, essa teoria aponta para a preferência por cargos com salários iniciais altos, 
com baixo retorno de experiência e com flexibilidade nos horários de trabalho, de forma 
que sejam permitidas saídas temporárias, pois as mulheres são consideradas 
responsáveis pelo trabalho de reprodução social na casa (atividades domésticas e de 
cuidado familiar) (DEGRAFF; ANKER, 2004). 
Igualmente, os empregadores esperam que as mulheres gerem maiores custos 
empregatícios (o que muitas vezes é incorreto), devido a uma percepção 
generalizada de que, devido às responsabilidades familiares, as mulheres 
apresentam maior absenteísmo, maior impontualidade e maior rotatividade. 
Desta maneira, cria-se um círculo vicioso inter geracional no qual a participação 
na força de trabalho diferenciada por sexo e a segregação ocupacional por sexo 
são, ao mesmo tempo, os principais determinantes e as principais consequências 
da desigualdade no mercado de trabalho baseada no gênero (DEGRAFF; 
ANKER, 2004, p. 166). 
Esses valores, que são culturais, relacionais, socialmente construídos e 
adquiridos, se perpetuam e se transformam ao longo do tempo, com algumas rupturas — 
 
26 
 
 
hoje em dia, um número cada vez maior de mulheres tem ensino superior e ocupa cargos 
de autoridades — e algumas continuidades — a população feminina ainda recebe 
salários menores em comparação à masculina, e as donas de casa, responsáveis pelo 
trabalho de reprodução social, são categorizadas como “População EconomicamenteInativa”. Como se não bastasse, considerando a dimensão étnico-racial, se tomamos as 
mesmas variáveis que utilizamos para interpretar a desigualdade de gênero, veremos 
que a situação não apenas permanece, como se agrava. 
Ainda considerando o recorte espacial do Rio Grande do Sul, no ano de 2010 a 
renda per capita entre a população negra gaúcha foi de R$558,81 e entre a população 
branca, R$1.038,03; os rendimentos médios entre a população ocupada foram de 
R$875,06 (população negra) e de R$1.414,51 (população branca). A taxa de 
desocupação foi de 6,43% para negros e 4,22% para brancos; e o grau de formalização 
foi de 64,21% (negros) e 66,84% (brancos). As informações mais impressionantes são 
relacionadas à longevidade e à mortalidade: a expectativa de vida ao nascer é de 74,2 
anos para negros e de 75,8 anos para brancos; já a mortalidade infantil é de 14,3% 
(negros) e de 11,8% (brancos) (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O 
DESENVOLVIMENTO, 2020). 
Ademais, o Atlas da Violência dos anos de 2017, 2018 e 2019, elaborado pelo 
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revela que, em escala nacional, a 
população jovem negra é a principal vítima de homicídios no Brasil. Ou seja, a taxa 
mortalidade, componente básico para avaliar a dinâmica populacional, é maior para essa 
categoria social. A realidade das mulheres negras — considerando uma intersecção entre 
os componentes étnico-raciais e de gênero — é bastante semelhante: 
A desigualdade racial pode ser vista também quando verificamos a proporção de 
mulheres negras entre as vítimas da violência letal: 66% de todas as mulheres 
assassinadas no país em 2017. O crescimento muito superior da violência letal 
entre mulheres negras em comparação com as não negras evidencia a enorme 
dificuldade que o Estado brasileiro tem de garantir a universalidade de suas 
políticas públicas (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2019, 
p. 39) 
Outro estudo, realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais 
em 2015, apontou que, entre os anos de 2003 a 2013, o percentual de homicídios de 
mulheres negras aumentou 54% (WAISELFISZ, 2015, p. 30). A partir de uma breve 
 
27 
 
 
interpretação desses dados, podemos retomar a definição de taxas de mortalidade em 
uma perspectiva diferencial, como aponta Damiani (1998). Para a autora, é fundamental 
considerar as taxas de mortalidade estratificadas por condições socioeconômicas. Assim, 
para interpretarmos os referidos dados demográficos, podemos considerar o diferencial 
em termos de gênero e raça — questionando sobre as razões que explicam essa 
significativa discrepância entre as taxas de mortalidade e renda entre a população negra 
e branca no país — e em termos de localização, incluindo outras populações racializadas 
como os indígenas. E a partir daí, podemos vislumbrar quais são as ações possíveis para 
reduzir esse quadro de desigualdade social e qual é o papel dos estudos populacionais 
nesse processo. 
Enfim, consideramos importante evidenciar que a relação étnico-racial e de 
gênero nos estudos populacionais não deve cumprir o papel de “ornamento teórico”, no 
sentido de apenas reconhecer a diversidade social. Como foi possível perceber nas 
considerações apresentadas nesta seção, estamos falando de problemas estruturais e 
concretos da sociedade que devem ser analisados com a devida seriedade e cuidado. 
São problemáticas de natureza demográfica, social, geográfica, histórica, etc., a partir 
das quais o estudo populacional, revisitando suas atribuições nos estudos geográficos 
do século XIX, constitui uma importante forma de aproximação para interpretar esses 
fenômenos complexos (DAMIANI, 1998). 
4 A TEORIA MALTHUSIANA DO CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO 
Quando falamos sobre teorias demográficas, Thomas Malthus ainda permanece 
entre os intelectuais mais mencionados. Apesar de inúmeros questionamentos e críticas 
à sua proposição teórica, ela serviu de inspiração para a construção do pensamento 
econômico clássico, para a retomada das discussões demográficas após a Segunda 
Guerra Mundial, para discussões sobre desenvolvimento e subdesenvolvimento e para 
as críticas ambientalistas da década de 1970. 
 
28 
 
 
4.1 Contexto da teoria populacional formulada por Malthus 
É importante deixar claro que todo conhecimento produzido nas áreas de 
ciências sociais e humanidades é construído a partir da observação de alguma realidade. 
Nesse sentido, as hipóteses e teorias são situadas no tempo e no espaço; são 
desenvolvidas e comunicadas por alguém em determinado lugar, em determinado 
período e de acordo com os valores socioculturais de determinada época. Podemos 
ilustrar essa afirmação com um exemplo. A teoria do capital de Karl Marx (1818–1883) 
foi desenvolvida a partir de sua observação e análise das transformações sociais (como 
a separação do trabalhador dos meios de produção e a agudização das desigualdades 
socioeconômicas) e produtivas (como os processos de acumulação de capital e inovação 
tecnológica que afetaram as dinâmicas de trabalho operário) ocorridas com o 
fortalecimento do modo de produção industrial na Inglaterra do século XIX. Sendo assim, 
entendendo que “o conhecimento não nasce independente do movimento real da vida” 
(DAMIANI, 1998, p. 12), analisaremos, antes de mais nada, o contexto histórico no qual 
foi desenvolvida a teoria populacional formulada por Thomas Robert Malthus (1766–
1834). 
Na segunda metade do século XVIII, dois eventos históricos ganhavam corpo na 
Europa: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. O ambiente de ideias 
características do Iluminismo colocava o problema da pobreza na pauta de 
debates. Assim, vários pensadores sociais de época surgiram com não menos 
numerosas explicações para o fenômeno da pobreza (SOUZA; PREVIDELLI, 
2017, documento on-line). 
Entre o final do século XVIII e início do século XIX, o processo de industrialização 
na Europa levou à substituição do trabalho manufaturado — isto é, realizado por pessoas 
utilizando equipamentos artesanais — por maquinários, destituindo muitos trabalhadores 
de seus postos de trabalho. Além disso, o frequente uso de mão-de-obra considerada 
mais barata, como a infantil e a feminina, em determinadas fases da produção industrial 
agravou a situação de fragilidade socioeconômica do operariado, gerando 
descontentamento entre os trabalhadores (DAMIANI, 1998). 
Esse período também é marcado pela primeira fase do crescimento populacional 
na Europa, em que houve um aumento significativo no contingente demográfico, 
 
29 
 
 
vinculado à referida Revolução Industrial. Esta, associada à Revolução Agrária — 
definida pela transformação na estrutura fundiária e modernização da agricultura, com o 
uso de insumos e novas tecnologias produtivas —, transformou a dinâmica populacional 
europeia a partir da intensificação da migração no sentido campo–cidade, bem como pela 
urbanização e aumento nas taxas de natalidade, visto que muitas famílias escolhiam ter 
mais filhos, pois estes poderiam constituir mão-de-obra fabril. 
É interessante entender que as teorias malthusianas não surgem apenas em um 
contexto sócio produtivo, mas em um momento de efervescência intelectual e política, no 
qual emergem diferentes formas de pensar e interpretar a realidade da época, definida 
pela industrialização, pela acumulação de capital por grupos sociais restritos e pela 
intensificação das desigualdades socioeconômicas. Nesse mesmo contexto, surgem 
críticas sociais por parte de intelectuais dedicados a compreender os processos de 
desigualdade oriundos do sistema de produção capitalista que vinha se fortalecendo 
desde o século XVI na Europa. Entre os intelectuais contemporâneos de Malthus que 
também abordavam a questão da expansão demográfica, podemos destacar os filósofos 
Marquês de Condorcet (1743–1794) e William Godwin (1756–1836). 
Esses teóricos defendiam uma sociedade igualitária, na qualos trabalhadores 
não deveriam ser separados dos meios de produção, possuindo, portanto, autonomia 
produtiva. Godwin e Condorcet indicavam que uma das características primordiais do 
capitalismo consistia nessa separação entre trabalhadores e seus meios de subsistência. 
Esse processo ocorreu na Europa entre os séculos XIV e XVIII, convertendo os 
agricultores em trabalhadores livres, que poderiam vender sua força de trabalho. 
Segundo Damiani (1998), tal processo viria a ser interpretado por Karl Marx no século 
XIX como processo de acumulação originária, considerada a gênese do próprio 
capitalismo (DAMIANI, 1998). 
De acordo com Marx, foi a partir desse processo de separação entre 
trabalhadores e os meios de produção que foram se aprofundando e se agudizando os 
problemas de desigualdades sociais, visto que uma pequena parcela da população 
acabava detentora dos meios de produção para a acumulação de capital, enquanto uma 
significativa maioria tinha de vender sua força de trabalho para sobreviver em condições 
miseráveis. Décadas antes, no entanto, Godwin e Condorcet já denunciavam as mazelas 
 
30 
 
 
vividas pela população inglesa, compreendendo que somente uma sociedade igualitária 
seria capaz de resolver a situação de miséria vivida naquele momento (DAMIANI, 1998). 
Sendo assim, para esses intelectuais, a expansão demográfica não era considerada um 
problema que poderia agravar a situação de miséria e fome. Pelo contrário, seguindo a 
tendência do Iluminismo a respeito da relação população e riqueza, segundo eles, uma 
população maior seria capaz de aumentar a produção e gerar mais riqueza. Em virtude 
dessa postura, o economista Thomas Malthus os considerava “excessivamente otimistas” 
(SOUZA; PREVIDELLI, 2017). Para Malthus: 
[...] uma sociedade igualitária estimularia nascimentos, dessa forma estendendo 
a todos a pobreza. A luta pela sobrevivência, nessas condições, faria triunfar o 
egoísmo. Malthus discorda, inclusive, da assistência do Estado aos pobres, 
considerando-a nefasta, porque, diminuindo a miséria a curto prazo, favorece o 
casamento e a procriação dos indigentes (DAMIANI, 1998, p. 14). 
A miséria, para ele, não era encarada como um problema, mas como um 
obstáculo positivo ao acelerado processo de crescimento populacional, que, segundo 
Malthus, comprometia uma relação equilibrada entre o tamanho da população e a 
produção dos meios de subsistência, ou seja, de alimentos. Para ele, a miséria 
funcionaria como um fator de regulação natural, responsável por reequilibrar duas forças 
desproporcionais: a multiplicação da população e a produção dos meios de subsistência. 
Para explicar sua posição teórica e política, em 1798 ele escreveu o ensaio intitulado 
“Essay on the principle of population” (Ensaio sobre o princípio da população), material 
que posteriormente, em 1803, seria republicado com novas considerações a respeito da 
população: “escrita nos contextos históricos da Revolução Francesa e Revolução 
Industrial, a obra dialoga diretamente com as ideias de transformação social da primeira 
e os problemas de distribuição de riqueza da segunda” (SOUZA e PREVIDELLI, 2017, 
documento on-line). 
4.2 Aspectos históricos da teoria malthusiana 
No início do século XIX, Malthus concentrou-se na produção de alimentos para 
discutir a relação entre a pobreza e as condições de subsistência da população. Sua tese 
central, publicada em seu ensaio a respeito do princípio da população, defendia que o 
 
31 
 
 
problema da fome e da miséria tinha como principal causa o excedente populacional. 
Dessa forma, argumentava que: 
[...] há um fundo de subsistência que só depende do trabalho agrícola e, a partir 
do valor desse fundo, é definida a condição para se ter mais ou menos filhos. 
Para ele, quando a produção agrícola é maior, aumenta o valor monetário do 
fundo, o que acarreta um “estímulo ao crescimento populacional”; assim os 
trabalhadores poderiam oficializar a união mais jovens, quando a taxa de 
fertilidade é maior, consequentemente o número de filhos por casal também 
aumentaria. De maneira análoga, caso o valor do fundo diminua, há um 
desestímulo ao casamento precoce e, assim, uma diminuição na taxa de 
crescimento populacional (BIFFI; DA SILVA; TRIVIZOLI, 2018, documento on-
line). 
Para fundamentar o que ele chamava de princípio da população, Malthus 
recorreu aos modelos matemáticos para afirmar que a população crescia a um ritmo 
geométrico (1, 2, 4, 8, 16...), enquanto a produção de alimentos, a um ritmo aritmético (1, 
2, 3, 4, 5…). Sendo assim, se a população cresce em ritmo mais acelerado que a 
produção de alimentos, o resultado não poderia ser outro: fome e miséria. 
[...] o crescimento natural da população, que é determinado pela paixão entre os 
sexos, excede a capacidade da terra para produzir alimentos para o homem. A 
dificuldade da subsistência exerce uma forte e constante pressão restritiva, 
sentida em um amplo setor da humanidade: os mais pobres ficam com a pior 
parte e a menor parte, convivendo com a fome e a miséria (DAMIANI, 1998, p. 
13). 
Desse modo, ele encarava a situação de miséria pela qual passavam as 
populações mais pobres como uma barreira ao crescimento populacional, que acabaria 
contido com ações positivas: 
[...] que seriam a fome, a miséria, as epidemias, catástrofes naturais, desnutrição 
e guerras, que aumentariam a mortalidade; e os obstáculos preventivos, no que 
pregava as famílias serem formadas mais tarde ou terem seus filhos só após 
poderem se sustentar; esses obstáculos diminuiriam a natalidade, sem a 
necessidade dos obstáculos positivos entrarem em ação (MARTINS; PIMENTEL, 
2014, documento on-line). 
Nesse caso, a miséria — caracterizada pelo desemprego, fome, condições de 
saúde precárias, etc. — apresentava duas funções importantes. Além de reduzir a 
população, fosse pelo adoecimento e morte ou pela redução de matrimônios e número 
 
32 
 
 
de filhos, ela motivava os produtores a aumentarem a produção de alimentos para 
abastecer a população crescente (DAMIANI, 1998; BIFFI; DA SILVA; TRIVIZOLI, 2018). 
Agora, “quanto à produção de alimentos, ela não é ilimitada. Varia segundo a 
existência de espaços cultiváveis, fertilidade do solo, disponibilidade dos 
empreendedores para se voltarem a essa atividade etc.” (DAMIANI, 1998, p. 14). No caso 
europeu, Malthus entendia que a produção de alimentos estaria mais comprometida 
devido à escassez de terras cultiváveis e à primazia dada à produção manufaturada e, 
posteriormente, industrial, as quais, apesar de enriquecer uma nação, como defendia o 
economista Adam Smith, não a abasteceria com alimentos para sustentar uma população 
cujo crescimento se tratava de um impulso natural (DAMIANI, 1998). 
No entanto, estudos como os Souza e Previdelli (2017), dedicados a 
compreender em profundidade a teoria desenvolvida por Malthus em diálogo com seu 
contexto social e histórico, entendem que as referidas teses produzidas a respeito das 
dinâmicas populacionais e sua relação com a capacidade produtiva de um país — a 
exemplo de Godwin, Condorcet e Malthus — apresentavam uma insuficiente base 
empírica, visto que as informações demográficas disponíveis no século XVIII e XIX eram 
bastante escassas e pouco precisas, pois foi exatamente nessa época em que se 
realizaram os primeiros censos (SOUZA; PREVIDELLI, 2017). Ademais, no que concerne 
à teoria de Malthus sobre a relação desigual entre população, produção de alimentos e 
pobreza, os autores afirmam que tinha pouco fundamento matemático: 
Ainda que, nessa primeira edição, Malthus não tivesse realizado sequer um 
cálculo aproximado a partir de dados demográficos, ou mesmo uma 
demonstração algébrica de sua tese central, ela era boa demais para ser 
descartada pelos defensores do capitalismo industrial. Colocados contra a 
parede pelos críticos das consequências da Revolução Industrial — que viam a 
pobreza crescer à margem do progressomaterial de sua época — tais 
apologistas agarraram-se à tábua de salvação malthusiana, atribuindo a causa 
da pobreza ao excesso de pobres, e, em última análise, ao destempero 
demográfico das classes menos favorecidas (SOUZA; PREVIDELLI, 2017, 
documento on-line). 
Segundo o acadêmico canadense Steven Pinker (2018), é verdade que a teoria 
malthusiana não se confirma quando aplicada a qualquer período histórico mais recente. 
Em sua análise, porém, o período da história humana que se estende dos primórdios de 
nossa espécie até o início do século XIX pode, a bem da verdade, ser chamado de: 
 
33 
 
 
Era Malthusiana, quando eventuais avanços na agricultura ou na saúde eram 
logo anulados pelo resultante aumento da população — apesar de “era” ser um 
termo estranho para designar 99,9% do tempo de existência da nossa espécie. 
A partir do século XIX, porém, o mundo encontrou a Grande Saída, termo do 
economista Angus Deaton para designar a libertação da humanidade de seu 
legado de pobreza, doença e mortalidade precoce (PINKER, 2018, p. 78–79). 
De acordo com o autor, a partir da época da “Grande Saída”, percebeu-se que a 
população humana não necessariamente deve crescer a uma taxa geométrica, porque: 
[...] quando as pessoas se tornam mais ricas e mais bebês sobrevivem, elas 
passam a ter menos filhos. [Além disso], descobrimos que o estoque de alimentos 
pode crescer geometricamente quando se aplica conhecimento para aumentar a 
quantidade de gêneros capaz de ser extraída de um pedaço de terra (PINKER, 
2018, p. 101–102). 
No entanto, no contexto europeu, o cenário de desenvolvimento econômico do 
modelo industrial, somado à modernização da agricultura, que expandiu a produção de 
alimentos, foi acompanhado, ao final do século XIX e início do século XX, por um baixo 
crescimento populacional. Ou seja, as melhorias na produção dos meios de subsistência, 
assim como nas situações socioeconômicas da população, evidenciaram uma 
estabilização no número de filhos presentes nas famílias europeias. Apesar desse 
contexto levantar questionamentos sobre a teoria populacional malthusiana, ela foi 
retomada na segunda metade do século XX por abordagens demográficas que buscavam 
problematizar a relação entre recursos disponíveis em nível mundial e a explosão 
demográfica ocorrida especialmente nos países latino-americanos, asiáticos e africanos 
(DAMIANI, 1998). 
4.3 A teoria malthusiana no contexto populacional atual 
A teoria populacional malthusiana foi desenvolvida em um contexto espaço-
temporal específico, ou seja, na Europa do final do século XVIII e início do século XIX, 
período marcado por uma transição na base produtiva (manufatura → indústria) e por um 
alto crescimento populacional. Além disso, de acordo com os intelectuais socialistas da 
época (Fourier, Marx, Godwin), as considerações malthusianas sobre a relação entre 
pobreza e expansão demográfica correspondiam às visões políticas e intelectuais 
 
34 
 
 
estreitamente vinculadas ao sistema econômico capitalista. Malthus seria, para esses 
teóricos socialistas, um defensor da economia burguesa — que vinha se fortalecendo 
desde o século XVII, atingindo sua expressão máxima com o capitalismo industrial do 
século XIX (DAMIANI, 1998). A partir disso, podemos nos perguntar: a teoria malthusiana 
é relevante para o contexto populacional atual? 
Apesar de questionada, a teoria populacional malthusiana inspirou algumas 
conceitualizações no pensamento econômico, como a lei dos rendimentos 
decrescentes, desenvolvida pelo economista David Ricardo. Segundo essa lei, a 
contratação de mais trabalhadores por uma indústria contribuiria para seu rendimento 
produtivo e econômico até certo limite. A partir de então, esse rendimento tenderia ao 
declínio e não seria necessária a incorporação de mais trabalhadores na produção 
(DAMIANI, 1998). A relação dessa lei econômica com a teoria demográfica malthusiana 
é reforçada a partir da interpretação de que tanto a produção agrícola quanto a industrial 
seriam incapazes de dar conta de um contingente populacional excessivo. Por essa 
razão, reforça-se a necessidade de controle do aumento demográfico. 
A teoria malthusiana também foi reelaborada logo após a Primeira Guerra 
Mundial, em virtude da baixa natalidade da população europeia. De acordo com Damiani 
(1998), o entendimento da época era de que o fraco crescimento populacional na Europa, 
com a redução na presença de jovens, estava comprometendo o desenvolvimento 
produtivo e econômico. Com isso, foi valorizada a concepção de crescimento ótimo de 
população, segundo a qual deveria existir um limite para o crescimento demográfico, em 
que tanto a insuficiência quanto o excesso no número de habitantes poderiam 
comprometer a disponibilidade de recursos (econômicos, produtivos, técnicos, etc.) para 
garantir boa qualidade de vida à população (DAMIANI, 1998). Além disso, também após 
a Segunda Guerra Mundial a teoria malthusiana foi retomada com nova roupagem e 
identificada como neomalthusianismo, o qual, direcionando suas análises aos países 
subdesenvolvidos, buscava avaliar a relação entre a quantidade (crescente) de 
habitantes e a capacidade dos meios de subsistência e recursos naturais de um território 
(DAMIANI, 1998), considerando as novas questões sociais e econômicas do momento, 
como o alto crescimento populacional global e o desenvolvimento do meio técnico, 
 
35 
 
 
científico e informacional. Na perspectiva ambientalista, destacam-se os teóricos Paul 
Ehrlich e Garrett Hardin (CORAZZA; ARAÚJO, 2009). 
Em linhas gerais, segundo a perspectiva neomalthusiana, o subdesenvolvimento 
de países latino-americanos, africanos e asiáticos está diretamente vinculado à sua 
população excedente, que compromete seu crescimento econômico. Ou seja, de acordo 
com os neomalthusianos, a condição de subdesenvolvimento desses países é resultado 
de seu excessivo contingente populacional. Por essa razão, seriam necessárias políticas 
de controle de natalidade em tais realidades. A partir dessas considerações, 
perguntamos: qual é o problema dessa abordagem? 
O problema é que, assim como sua ideia original, essa nova perspectiva 
malthusiana desconsiderou a complexidade das dinâmicas sociais, econômicas e 
políticas em escalas nacionais e globais. Segundo Damiani (1998), tais dinâmicas são 
mediadas por históricas relações de poder entre países ricos e pobres; por relações 
coloniais que, em alguns países africanos, ainda se mantinham na década de 1950; pelos 
interesses econômicos das empresas privadas (especialmente as farmacêuticas) — 
maximização de seus lucros — que se beneficiaram com as políticas de planejamento 
familiar (controle de natalidade) e de esterilização em massa da população pobre, 
implementadas em países como Índia e Colômbia. A partir dessas considerações, 
entendemos que, apesar de sua insuficiência argumentativa e empírica, como apontavam 
seus críticos, as teorias malthusianas e neomalthusianas contribuíram em ações políticas 
concretas, a exemplo da Grande Fome da Irlanda (1845–1849) e das referidas políticas 
de controle de natalidade nos países subdesenvolvidos na segunda metade do século 
XX. Por outro lado, fecharam os olhos às novas lógicas de consumo descontrolado 
(especialmente nos Estados Unidos e Europa, após a Segunda Guerra), que se 
ampliaram em escala mundial (DAMIANI, 1998). 
Nesse sentido, partindo das reflexões de Lefebvre (1978 apud DAMIANI, 1998), 
de que as ideologias se originam do real interpretado e representado, Damiani (1998) 
entende que: 
[...] o malthusianismo e o neomalthusianismo têm um fundamento real, mas 
podem ser, de tal forma, mutilantes como interpretação, que acabam 
obscurecendo o entendimento. Mais ainda, eles justificam ações e situações. São 
 
36 
 
 
análises de caráter geral, especulativo, que ao mesmo tempo representam 
interesses definidos, limitados, particulares (DAMIANI,

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