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HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN AULA 1 Profª Débora Jordão Cezimbra 2 CONVERSA INICIAL Iniciar os estudos sobre a história da arte requer, antes de tudo, compreender os princípios que acompanham a fruição artística, bem como o próprio entendimento desse conceito. O termo fruir envolve “desfrutar o gozo, tirar proveito” (Larousse, 2004). Na estética artística, fruição diz respeito “àquilo que tem o fim em si mesmo e sem finalidade imediata, envolvendo a ação de um sujeito a partir de um desejo consciente, ou inconsciente, de experimentar certo tipo de relação com algo” (Oberg, 2007, p. 22). Interessa-nos aqui saber que alguns princípios nem sempre serão convergentes quanto à natureza da arte, mas fundamentam os conteúdos e suas relações históricas que serão apresentadas a você em caráter cronológico. Os movimentos se iniciam a partir dos primórdios da expressão artística pelo homem — cerca de 30 mil anos a.C. — até a arte contemporânea do século XX e XXI, encerrando com as rotas específicas sobre a história do design a partir do fim do século XVIII até os anos 2000. Contudo, isso não define que o estudo da história da arte e do design deva sempre se dar da origem à atualidade. Outra questão importante é que você deve construir, sempre que possível, as relações entre os eventos históricos ocorridos (econômicos, políticos e sociais, por exemplo) com as características da expressão artística da época. Dessa forma, evita-se posicionamentos críticos e preferências pessoais quanto a uma obra, artista ou design, permitindo assim a aprendizagem da linguagem visual pelo “olhar da história”. Além dos textos sugeridos e que contextualizam as teorias, esquemas gráficos e linha do tempo organizarão visualmente o período e os conteúdos discutidos durante as aulas. Os links para acesso a diferentes materiais permitem visualizar obras, imagens, galerias, museus e teorias complementares fundamentais para que, de forma autônoma, seja possível construir seu conhecimento no vasto campo da história da arte e do design. Nesta aula, você será convidado a questionar o que é e o que pode não ser arte a partir do tema introdutório, seguindo o estudo das descobertas arqueológicas na pré-história e a arte nas civilizações egípcia, mesopotâmica e asiática. 3 CONTEXTUALIZANDO O designer é um profissional que atua em um campo sensorial. Isso quer dizer que o que ele cria será posteriormente aceito, ou não, por mercados e clientes e em caráter perceptivo. As informações visuais contidas na capa de um livro, por exemplo, serão apreendidas pelas pessoas passando a ter um significado dentro de suas preferências e conhecimento. Temos, então, num primeiro momento, essa capacidade humana inventiva presente na solução dos simples problemas do cotidiano, como também na composição de uma música por um artista ou em um projeto editorial – a chamada criatividade. A criatividade não é o tema de nosso estudo, porém envolve um entendimento primordial e complexo, que nos faz refletir sobre o que, afinal, leva as pessoas a expressarem materialmente suas ideias e a criarem coisas? A simples vontade, o talento ou angústia, a necessidade profissional ou artística. Podemos ir além e refletir que independentemente dos motivos, o objeto criado se constituirá de informações e valores pertencentes a esse sujeito que o criou, sendo então uma criação de natureza pessoal e individual, portanto subjetiva. Podemos também pensar nas pessoas que irão ouvir uma música. Será que concordarão totalmente com o artista quanto aos melhores acordes, a melodia e letra, ou provavelmente irão expor neste “desfrute musical” seus gostos e opiniões? Podemos inferir que a criatividade diz respeito a processos de pensamento, a modelos mentais que estão normalmente associados à inovação e à originalidade e que interagem de forma muito dinâmica com as pessoas, normas culturais e técnicas de expressão (Soriano, 2005, p. 01). Dessa forma, propomos novos questionamentos: quais seriam as técnicas de expressão disponíveis aos homens das cavernas? Como era possível conceber um quadro na Idade Média e a quem se destinava? E hoje, em pleno século XXI, quais ferramentas digitais existem para valorizar uma imagem postada na rede social de uma organização? Precisamos ter em mente que o ato de criar coisas – artísticas ou não, e que irão servir à contemplação e aceitação de outras pessoas –, engloba primeiramente o sujeito criador, mas também a técnica, os costumes, os valores culturais e sociais e, até mesmo, os estilos, modismos e tradições. 4 TEMA 1 – O QUE É ARTE: INDAGAÇÕES [...] posso despreocupar-me, pois nossa cultura prevê instrumentos que determinarão, por mim, o que é ou não arte. Para evitar ilusões, devo prevenir que, como veremos adiante, a situação não é assim tão rósea. Mas, por hora, o importante é termos em mente que o estatuto da arte não parte de uma definição abstrata, lógica ou teórica, do conceito, mas de atribuições feitas por instrumentos de nossa cultura, dignificando os objetos sobre os quais ela recai. (Coli, 1995) De acordo com o dicionário Larousse da Língua Portuguesa (2004), a arte pode ser entendida como “habilidade, talento, perícia para uma atividade, seja ela intelectual (do pensar) ou do fazer (da práxis humana); caráter, produção, expressão ou concepção do que é belo; objeto criado dentro desta concepção”. Todo homem é dotado da capacidade da práxis, da ação sobre a natureza, do fazer em oposição ao pensar utilizando de meios – técnica, techné e tecnologia (Oliveira, 2008) – na produção de objetos que terão uma finalidade e que poderão ser belos ou não. Podemos até mesmo dizer que tal capacidade é a que realmente nos distingue das outras espécies. Todavia, o naturalista e biólogo Charles Darwin (1809-1888) argumenta que a ação em prol da beleza pode ser tida como uma sensação natural de alguns organismos vivos, já que pássaros fazem uso da beleza de suas penas para atrair a atenção de fêmeas da sua espécie. Retomando a questão da práxis, consideremos o homem primitivo, que necessita caçar e encontra na natureza uma pedra que pode auxiliá-lo no corte da carne. Obtendo êxito com esta ferramenta, ele começa a aperfeiçoá-la, poli- la, e esse conhecimento prático começa a se disseminar. Imaginemos agora o artesão da Idade Média e sua exímia qualidade em produzir assentos de madeira em entalhe fino, conhecimento que transmite aos seus aprendizes em ateliês. Nesses dois exemplos, da pedra lascada à polida e do mobiliário, temos realidades que não são naturais. São produtos artificiais, pois suas configurações originais (da pedra e da madeira) foram moldadas. Da mesma forma que a pintura de uma paisagem marinha. Tem-se na pintura a paisagem real ou uma realidade produzida, uma ideia de como se parece tal paisagem? Ou o artista torna visível o pensamento pela imitação (mímese) de algo que é natural: o mar, o céu e o horizonte – dentro da noção tradicional aristotélica – e reproduz o real, contudo idealizado por ele, uma ilusão. 5 Tendo a arte como “prazer”, recorremos aos seus sinônimos: “estado de satisfação dos sentidos ou da mente; alegria, contentamento, júbilo” (Michaelis, 2020). Percebe-se um caráter de resultado, uma resposta de nosso sistema cognitivo na construção de um “juízo de valor”. No entanto, poderia ser precipitado afirmar que o fim da pintura de uma paisagem marinha, seu vir a ser, seja somente a alegria ou satisfação que ela nos proporciona. Afinal, “buscar o objetivo e o fim da arte no prazer que ela nos produz seria um conceito tão elementar quanto pensar que o fim da alimentação está no prazer em comer. O prazer em ambos os casos é um elemento acessório” (Tolstói, 2020, p. 18). Aparte de todas as significações que uma obra de arte possua, tomemoso proposto pelo historiador da arte Ernst Hans Josef Gombrich (1909-2001): “[...] não existe arte, e sim artistas, e estes, em momentos passados, desenhavam com terra em paredes de cavernas, e hoje compram suas próprias tintas e criam cartazes para expor em tapumes”. Dessa forma, poderíamos então desqualificar o trabalho de um artista que não nos seja familiar? Ou preterir um quadro abstrato por outro que nos represente melhor a realidade da natureza? Mesmo na afirmativa de tais questões, é preciso ter em mente que teríamos um julgamento individual, próprio, e não universal. É nesse ponto que o estudo da história da arte se faz essencial, no entendimento que devemos explorar a arte (no sentido de descobrir) também pelo seu contexto espaço-temporal, refletindo que “a arte pode significar coisas muito diferentes e em tempos e lugares diferentes” (Gombrich, 1981, p. 5). TEMA 2 – ARTE NA PRÉ-HISTÓRIA O termo pré-história refere-se ao período em que a espécie humana não fazia uso da linguagem escrita. Portanto, não existem documentos escritos que registrem seus feitos e estilo de vida. Contudo, existem ainda hoje diversos povos nas América e África que não utilizam dessa linguagem e que não estão, desse modo, no que definimos como pré-história. A distinção não tão clara de termos ocorre também no âmbito da história da arte, pois esse período já foi tratado como arte primitiva, arte tribal ou arte não ocidental. Em partes, por não se igualarem às tradições técnica e formal da arte europeia, que também se rompeu inúmeras vezes no transcurso da arte. 6 Como colocado por Myers (2005), no pós-modernismo, a “crítica do que é ou não arte, ou o que é ou não boa arte, se expõe como uma resposta defensiva de ‘ameaça à arte’, no caso do kitsch e da cultura de massa”. Todavia, tanto pela abrangência geográfica (Américas, Ásia, Oceania e África) quanto pela diversidade cultural e material produzida por esses povos, não podemos diminuir sua relevância na história da linguagem visual. Aconselhamos, assim, a leitura do texto A Arte dos Povos sem História, da antropóloga Sally Price, disponível online no livro Arte Primitiva, de Franz Boas, assim como visitas a museus locais e virtuais com acervos destinados a estas culturas. 2.1 A arte no paleolítico superior e no neolítico No que diz respeito à história da arte, recortamos aqui as evidências arqueológicas descobertas a partir do XVIII e definidas por seus aspectos civilizatórios e geológicos em eras denominadas de da pedra (paleolítico e neolítico) e dos metais (bronze e do ferro). Contudo, é no último estágio do paleolítico que estão as descobertas mais significativas até hoje, como as pinturas rupestres em paredes de cavernas, como no exemplo de Lascaux no sudoeste da França, Chauvet ao sul e de Altamira no norte da Espanha. Nesse período, os “artistas” utilizavam do naturalismo, em que se representava somente aquilo que se via (animais de caça como bisões, cavalos, renas e veados) e em determinada perspectiva (Proença, 1995). Figura 1 – Pinturas na caverna de Lascaux Fonte: thipjang/Shutterstock. 7 Notamos o uso de contornos escuros na definição das formas e de preenchimentos coloridos, sombreamentos e contrastes vivos na composição dos volumes. Quanto aos motivos para tais representações, os historiadores (Gombrich, 1981; Proença, 1995; Monterado, 1978) referem-se normalmente a rituais mágicos em que o homem exerceria certo tipo de poder sobre o animal, questão essa que atravessa a história da arte na pré-história e antiguidade, a pouca diferenciação entre o que é real – neste caso, o animal – e sua imagem – o poder das imagens. Outra técnica encontrada nessas cavernas é a pintura das silhuetas das mãos ou “mãos em negativo”. Atribui-se à técnica a utilização de canudos, por onde eram soprados pigmentos produzidos a partir de óxidos minerais, carvão, vegetais e sangue de animais. Já as pequenas esculturas do paleolítico aparecem em ossos, chifres ou calcário e retratam figuras femininas corpulentas, como a Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria. Figura 2 – Vênus de Willendorf Fonte: frantic00/Shutterstock. No período neolítico, as diferenças no modo de vida ocorridas aparecem representadas em pinturas e escavações em pedra que abordam as tarefas coletivas do dia a dia. Mesmo que de forma rudimentar, traços geometrizados traduzem movimentos em cenas que sugeriam a compreensão do espaço geométrico. Tal característica prenunciava umas das primeiras formas de escrita, a da linguagem pictórica (Proença, 1995). 8 Figura 3 – Pinturas na caverna de Malgura, Bulgária Fonte: Eduard Valentinov/Shutterstock. Supõe-se que com a domesticação dos animais o homem do neolítico poderia ter sua atenção voltada a outras atividades além da caça, levando à representação de figuras pelo pensamento (do autor), e não somente pelo que era observado, como ocorria no paleolítico. Com o advento do fogo, foi possível a manipulação dos metais e suas ligas (o ferro e o bronze) e a produção de novas ferramentas e armas. O fogo também viabilizou a queima da argila, permitindo a produção dos primeiros artefatos cerâmicos, por vezes ornamentados com grafismos e esquemas simbólicos (arte esquemática) como visto na arte levantina na Península Ibérica (Mateo, 2008). Desenvolveu-se também a fiação e a tecelagem. Por passarem a se fixar em territórios, nossos ancestrais elaboraram as primeiras construções arquitetônicas com pedras sobrepostas e sem uso de aglutinantes, os nuragues (Proença, 1995. pag. 16). Já os dólmens, como o grande círculo de Stonehenge no Reino Unido, eram construções atribuídas a objetivos sagrados – neste caso, um monumento ao sol –, tendo sido edificada para o ponto exato da nascente desse astro no dia mais longo do ano (Janson, 1996). 9 Figura 4 – Círculo de pedras de Stonehenge Fonte: Drone Explorer/Shutterstock. Quanto à arte rupestre no Brasil, Justamand et al. (2017) traçam a ampla trajetória histórica dessa expressão em locais como Paraíba, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Norte, e suas relações com a cultura dos povos originários do território brasileiro. TEMA 3 – A ARTE NO ANTIGO EGITO A produção artística no Egito Antigo, assim como a do fim da pré-história, era orientada pelos aspectos sociais. Contudo, o que definiu essa sociedade foi seu caráter religioso, sendo o seu governante uma divindade suprema designada por faraó. Por esta razão e por considerarem que a vida após a morte seria tão ou mais importante que a terrena é que se pôde ter acesso à cultura material e histórica dessa civilização, já que as tumbas dos faraós eram adornadas com pinturas e artefatos que lhes serviram durante a vida terrena e a vida após a morte. 10 Figura 5 – Afrescos no templo de Hatshepsut Fonte: Kokhanchikov/Shutterstock. Para Monterado (1968), as tumbas e pirâmides (destinadas aos faraós), com suas capelas funerárias, puderam manter o acervo doméstico e artístico da civilização egípcia. O acervo inclui mobiliários, esculturas detalhadas e idealizadas, pinturas e baixos-relevos, peças de ourivesaria e os manuscritos em papiro – os registros mais conhecidos dessa civilização. Importante observar, na arte pictórica egípcia, que os faraós eram representados ao centro da imagem e em tamanho maior que sua esposa, filhos e serviçais, enaltecendo seus feitos e qualidades. Esta tradição na representação pouco mudou durante a história da civilização egípcia. Apenas no reinado de Amenófis IV (aproximadamente 1.400 anos a.C.) são percebidas imagens de faraós em posturas menos rígidas que as sentadas com as mãos sobre as coxas. Contudo, há a retomada do poder pelos sacerdotes no reinado de Tutancâmon, sendo que grande parte do acervo que hoje conhecemos datam desse período e da descobertade sua tumba no ano de 1922 (Proença, 1995). 11 Figura 6 – Estátua da deusa Serket: exposição Tutankhamun, em Genebra Fonte: mountainpix/Shutterstock. Interessa-nos evidenciar que na arte pictórica egípcia há regras rigidamente seguidas – pouco se interessava inovar – “onde todos os elementos considerados importantes precisavam ser representados assegurando clareza, organização e regularidade geométrica (simetria), parecendo estarem posicionados no local exato, evidenciando o equilíbrio e a harmonia nas composições” (Gombrich, 1981). O mesmo se dava para a figura humana que, independentemente da real perspectiva, tinha o dorso e braços representados de frente, permitindo a melhor visualização dos movimentos, enquanto pés, pernas e cabeças eram desenhados de perfil e com olhos também em vista frontal; tal padrão recebia o nome de lei da frontalidade (Proença, 1995). 12 Figura 7 – Hieróglifos em baixo-relevo: paredes do templo de Dendera Fonte: Renato Murolo 68/Shutterstock. Porém, na história da antiga da civilização egípcia, com aproximadamente 30 séculos, Monterado (1968) relata a dificuldade em delimitar como a arte ali se originou e de que forma evolui. As constantes invasões que levaram ao enfraquecimento e fim do império também contribuíram para que a arte no Egito “passasse a receber influência grega e com tentativas falhas em fundir os dois ‘estilos’, a expressão artística deste povo acabou por esgotar-se”. TEMA 4 – A MESOPOTÂMIA Assim como os egípcios que se desenvolveram à margem do rio Nilo, a civilização mesopotâmica (aproximadamente entre 3.500 e 500 anos a.C.) concentrou-se entre os rios Tigre e Eufrates. Porém, não delimitados por cultura e povos únicos como seus contemporâneos egípcios, mas por uma profusão de sociedades políticas que envolviam sumérios, babilônicos e assírios. Desenvolveram habilmente o trabalho em metais e a glíptica (gravação em pedras preciosas) com representações em desenho simétrico de animais e algumas vezes com uma árvore ao centro (Monterado, 1968). 13 Figura 8 – Metalurgia em bracelete: Dario I (aproximadamente 518 a.C.) Fonte: DroneHero29/Shutterstock. Por geograficamente estarem em uma região sem pedreiras, as habitações eram produzidas em paredes argilosas, com tijolos cozidos ao sol no interior e os queimados nas paredes externas (também empregavam a esmaltação). A característica desses materiais, juntamente ao hábito de reerguerem novas estruturas sobre as originais, fez com que pouco se preservasse. Suas construções arquitetônicas tinham por destaque os zigurates, templos dedicados às divindades com escadarias e rampas de acesso, construídos ao centro de grandes estruturas edificadas com andares planos, sendo um dos mais famosos o Uruk, no Templo Branco, antiga Suméria (Janson, 1996). Acredita-se que foi construído para o deus do céu, Anu (Führ, 2018). Os zigurates são tidos como as primeiras cidades da antiguidade. As cenas dos baixos relevos gravados em paredes seguiam em partes a tradição egípcia da lei da frontalidade. Porém, mesmo sendo precisos nos detalhes, não tendiam ao rigor e exatidão dos elementos. Os temas dos baixo- relevos expressavam suas lutas e batalhas, exaltando a força dos monarcas em relação aos vencidos (Gombrich, 1981). Também faziam uso de imagens de animais como touro, leões e aves, e a tradição de combinar suas cabeças com corpos humanos na representação de divindades. 14 Figura 9 – Relevos esculpidos da caçada a um leão Fonte: Viacheslav Lopatin/Shutterstock. Essa importante civilização também é responsável pelo desenvolvimento de uma das primeiras formas de linguagem escrita: os caracteres cuneiformes. Sua estrutura e configuração são atribuídas a pequenos objetos (tokens e bullaes) encontrados em diferentes sítios arqueológicos da região da mesopotâmia (Rede, 1999). TEMA 5 – A CIVILIZAÇÃO DO MAR EGEU Diferentemente da rigidez dos povos orientais dos climas desérticos, os cretenses, ou “civilização do mar” (aproximadamente entre 3.400 a 1.200 anos a.C.) produziram artefatos – cerâmicos e ourivesaria – esculturas e pinturas que seguiram em partes a tradição egípcia, prenunciando o avanço dos artistas da época nos estudos anatômicos e dos movimentos, com uso de cores vibrantes e contrastes cromáticos em tons de terra (vermelhos), azuis, amarelos e brancos em temas alegres e contextos decorativos (Monterado, 1968; Proença, 1996). 15 Figura 10 – Afresco em Creta: civilização minóica Fonte: Andreas Wolochow/Shutterstock. Mas é na cerâmica que a cultura cretense apresenta um grande valor tanto pelas repetições e motivos geométricos como pela influência, que depois deixa nessa arte no avançar da cultura grega (arcaica e clássica). Segundo Souza (2015), os temas figurativos são interpretados pelo gênero das pessoas, pelas situações cotidianas, elementos e funções sociais, porém nos temas da pintura geométrica as representações “possuem o valor narrativo de um indivíduo, um evento pessoal, um tempo e local específico, um fato da realidade”. Figura 11 – Vaso no sítio arqueológico de Malia Palace: Grécia/Creta Fonte: the_pictures_of_life/Shutterstock. 16 No período Minóico Médio, a cultura micênica retrata na arquitetura as tradições dos povos da mesopotâmia em construções comuns para as pessoas, e não para grandes deuses, sem a presença de estátuas e raros relevos, e com cúpulas que não utilizavam de arcos de sustentação, mas pedras dispostas de forma horizontal criando níveis entre a linha inferior e superior, como na Tumba dos Atrídas (Monterado, 1968; Proença, 1996). Novamente, as invasões típicas da época com mudanças no controle apagaram parte dos registros dessa civilização, trazendo novamente fortificações e temas bélicos e rudes. É possível encontrar parte do acervo da cultura do mar Egeu, assim como outras coleções envolvendo as escavações arqueológicas da cultura grega antiga, no site do National Archaeological Museum. TROCANDO IDEIAS Agora que já estamos familiarizados com alguns dos pressupostos do pensamento artístico e conhecemos um pouco melhor sobre a capacidade humana inventiva e que nos acompanha desde os primórdios de nossa civilização, propomos a discussão quanto à arte (pintura, escultura, baixo relevos, por exemplo) e os artefatos (cerâmicos, adornos, móveis, ferramentas, etc.) nos períodos paleolítico e neolítico ou nas civilizações orientais do Egito e da Mesopotâmia. Argumente sobre as questões sociais e culturais, o motivo que levou o “artista” a tal criação e quais foram os meios de execução (técnicas e materiais) empregados e, portanto, disponíveis na época e local. NA PRÁTICA Neste primeiro exercício, será solicitado a você o posicionamento crítico quanto à questão da arte e do belo. Contudo, esse posicionamento deve se dar pelos argumentos históricos desta aula complementados pelos seguintes vídeos: Uma teoria Darwiniana da beleza1, TED com Denis Dutton; Qual a função da arte?2, Fronteiras do Pensamento com Simon Schama; O belo e a arte3, de Alex Frechette. 1 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PktUzdnBqWI>. Acesso em: 1 mar. 2020. 2 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7mrj6wcOrVY>. Acesso em: 1 mar. 2020. 3 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ctkgr2QjC7w>. Acesso em: 1 mar. 2020. 17 Em seguida, você deverá responder: a) O que é belo (ou não belo) na arte para você? b) Por que considera tal obra bela (ou não bela)? FINALIZANDO Nesta aula, você aprendeu: o conceito de práxis e a capacidade humana de modelar o seu entorno; que a história da arte lhe permite contemplar as diferentes obras sempre pelo seu aspecto temporal, social e espacial e pelas técnicas e materiais disponíveis; que a arte pré-histórica compreende cerca de 30 mil anos a.C. e que as primeiras manifestações de expressão pelo homem ancestral envolviam tanto a sua vida cotidiana como aquilo que considerava “divino”; a importância das tradições artísticas egípcias na arquitetura, pintura, escultura e demais artefatos e como essas tradições se reproduziram nas civilizações contemporâneas e posteriores; que os povos da Mesopotâmia e do Mediterrâneo foram, em partes, modificando a forma de expressão artística, mas normalmente vinculadas às características do ambiente, contextos políticos e estilo de vida. 18 REFERÊNCIAS COLI, J. O que é arte. 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. FÜHR, M. Conheça os principais zigurates da Antiga Mesopotâmia. 2018. Disponível em: <https://www.apaixonadosporhistoria.com.br/artigo/44/conheca- os-principais-zigurates-da-antiga-mesopotamia>. Acesso em: 12 jan. 2019. GOMBRICH, E. H. A história da arte. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. JANSON, H. W. Introdução à história da arte. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. JUSTAMAND, M. et al. A arte rupestre em perspectiva histórica: uma história escrita nas rochas. Revista Arqueologia Pública, Campinas, v. 11, n. 1, p. 130- 172, 2017. LAROUSSE. Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa. São Paulo: Larousse do Brasil, 2004. MATEO, M. A. S. La cronología neolítica del arte levantino: ¿realidad o deseo? Quaderns de prehistòria i arqueologia de Castelló, Espanha, 26, p. 7-28, 2008. MONTERADO, L. de. História da arte. São Paulo: São Paulo, 1968. MYERS, F. Primitivism, anthropology, and the category of primitive art. In Handbook of Material Culture, p. 267-284, 2006. OBERG, M. S. P. Informação e significação: a fruição literária em questão. 221 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. OLIVEIRA, E. A. A técnica, a techné e a tecnologia. Itinerarius Reflectiones: Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do Campus Jataí, Jataí, v. 2, n. 5, jul/dez. 2008. PROENÇA. G. História da arte. São Paulo: Ática, 1996. REDE, M. Complexidade social, sistemas comunicativos e gênese da escrita cuneiforme. Classica, Sao Paulo, v. 11/12, n. 11/12, p. 37-59, 1999. SORIANO. E. A. A gerência da criatividade. São Paulo: Makron Books, 1996. 19 SOUZA, C. D. A arte geométrica grega: considerações sobre a análise dos motivos figurados do repertório iconográfico geométrico argivo (c. 900 a 700 a.C.). Calíope: Presença Clássica, Rio de Janeiro, n. 29, p. 61-95, 2015.
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