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16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 1/33 Autoria: Me. Helder Manuel da Silva de Oliveira Revisão Técnica: Dra. Patrícia Sant’Anna FILOSOFIA DA ARTE CONCEITOS INICIAIS 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 2/33 Introdução Sejam bem-vindos, prezados estudantes! Vamos começar essa unidade compreendendo os conceitos iniciais que estão relacionados ao estudo da Filoso�a da arte. Iniciaremos o material apresentando, no primeiro tópico, os conceitos iniciais sobre Filoso�a da arte. Para isso, é necessário entender a disciplina Filoso�a e sua maneira de conhecer o mundo que passa por um rigoroso método investigativo sobre os elementos constitutivos do mundo a partir de uma profunda re�exão crítica. Na Filoso�a da arte, essa abordagem se volta para a arte enquanto objeto da �loso�a. No segundo tópico, trataremos da Filoso�a da arte e suas relações com a Estética. Ambas têm, na arte, seu objeto de investigação �losó�ca, ao mesmo tempo em que possuem especi�cidades de abordagem no tratamento ao objeto estudado. Enquanto a Estética foca-se na experiência com o mundo sensível e daí decorre suas questões sobre o belo, o gosto, o prazer e tem, na arte, um objeto especial para se debruçar-se, ainda que não seja o único). A Filoso�a da arte tem como tema central abordar, especi�camente, as manifestações artísticas e o próprio questionamento sobre o que é o objeto artístico. No terceiro tópico, abordaremos os fundamentos da Filoso�a da arte. Descreveremos os principais conceitos tratados na relação entre arte e �loso�a, desenvolvendo cada um deles, tais como a noção de mimese e do belo, desde a Grécia antiga até o século XX. Trataremos, ainda, de uma questão muito pertinente que é a relação que a Filoso�a da arte estabelece com a teoria da arte. No quarto e último tópico, abordaremos sobre o período inicial da produção �losó�ca grega e sua relação com a Arte, Filoso�a da arte e Estética. Neste período, é necessário tratar das questões �losó�cas que estão no centro dos debates travados pelos pré-socráticos, pelos so�stas e por Sócrates via Platão. Bons estudos! Tempo estimado de leitura: 58 minutos. 1.1 Pensamento filosófico, científico e de senso comum 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 3/33 Neste tópico, abordaremos como o pensamento �losó�co nos ajuda a entender o mundo no qual vivemos e qual a relação que ele estabelece com o pensamento cientí�co e de senso comum. O pensamento cientí�co é baseado no método, ou melhor, o método é o caminho do conhecimento cientí�co. Basicamente, como indicado por Severino (2007, p. 100), “a ciência é sempre o enlace de uma malha teórica com dados empíricos, é sempre uma articulação do lógico com o real, do teórico com o empírico, do ideal com o real.” O método cientí�co é um grupo de procedimentos lógicos e de técnicas que não são aleatórias que se focam em observar fatos e tanto quanti�cá-los quanto quali�cá-los. Essa observação também tem uma malha teórica por detrás, que justi�ca e dá a base na qual o pesquisador cientí�co tanto constrói seu objeto de estudo quanto formula hipóteses. Veri�cando essas hipóteses no campo experimenta, o método cientí�co veri�ca e trabalha em uma dinâmica que vai da teoria para a observação e da observação retorna à teoria. É diferente, portanto, da Filoso�a, da Arte ou da religião, que são formas de processos de conhecimento pelos quais tenta-se compreender, especialmente, as modalidades de expressão subjetiva humana (SEVERINO, 2007, p. 102). O senso comum, por outro lado, é um conhecimento que não passou nem por um método �losó�co, n sentido de questionamento, ou cientí�co, no sentido de que seria testado e veri�cado metodologicamente. O senso comum são as “verdades populares”, isto signi�ca que são pensamentos que estão em nosso cotidiano e que são passados de uma pessoa para outra sem veri�cação. Portanto, é um tipo de conhecimento que não é con�ável, mesmo assim, não signi�ca que está errado, apenas que os meios como ele se conformam não são validados nem pela ciência e nem pela Filoso�a. Portanto, é onde mora o conhecimento popular, mas também as crendices. Nesse sentido, precisamos entender o que é Filoso�a, se ela tem alguma utilidade, porque ela é considerada uma maneira de questionarmos sobre as coisas, ideias e fatos existentes em uma realidade conhecida por nós e como ela nos permite construir argumentações objetivas a partir de um pensamento crítico e organizado. Ao fazermos esta pergunta para nós mesmos, observamos que não é assim tão fácil respondê-la. Se você procurar “�loso�a” em dicionário, descobrirá que há várias de�nições, mas há duas delas que são bastantes conhecidas de todos. A primeira, diz respeito à visão de mundo. Neste caso, o termo pode referir-se a um 1.1.1 O que é Filosofia? 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 4/33 povo ou uma cultura e seu conjunto de ideias, de valores e práticas pelas quais uma sociedade compreende o mundo a sua volta. A segunda, refere-se à sabedoria de vida, cujo sentido remete a uma arte do bem-viver, signi�cando uma espécie de viver o mundo com ética, felicidade e sabedoria, porém, ambas são muito vagas e gerais, uma vez que não respondem de fato, o que é Filoso�a. Para compreendermos a Filoso�a, precisamos pensar nas palavras: análise, re�exão e crítica. Estas três atividades em conjunto estão no cerne dos questionamentos mais profundos sobre o mundo e a realidade presente nele, incluindo nós, os seres humanos. Deste modo, a Filoso�a se de�ne como a busca dos princípios, causas, condições, signi�cados e �ns, da realidade em suas múltiplas formas. A palavra “�loso�a” vem do grego philosophía (Φιλοσοφία) e pode ser entendida como “amor ao saber”. Ela indica um propósito interior de quem tem apreço pelo conhecimento ou o desejo daquele que movido por um estado de espírito prazeroso procura e respeita o saber. A �loso�a, nesta perspectiva grega, é uma atividade que visa levar ao saber. O �lósofo Pitágoras (séc. IV a.C.), foi o primeiro a usar a palavra �loso�a. Ele a�rmava que os homens poderiam amar ou desejar a sabedoria, porém a sabedoria plena e completa, pertenciam aos deuses. Deste modo, o homem tornaria- se �lósofo, isto é, aquele que tem um interesse especial pela sabedoria. 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 5/33 Figura 1 - Filósofo Pitágoras Fonte: Mediapool, 2021. #PraCegoVer Um busto de pedra branca, não policromado, do possível rosto do filósofo grego Pitágoras, ele é retratado como um homem maduro, com cabelos encaracolados, barba farta e ondulada naturalmente. Ele tem um semblante severo. Na Grécia antiga, considerada o berço da Filoso�a ocidental, ela era entendida como aspiração ao conhecimento pela razão humana, pois esta permitiria conhecer o mundo e as coisas da natureza, os seres humanos e suas ações. 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 6/33 Este modo de pensar tornou-se a característica da cultura europeia ocidental e chegou a nós em decorrência dos processos colonizadores. Logo, todas as coisas que estão no mundo, inclusive nós, os seres humanos, e toda nossa produção, como as manifestações artísticas, são motivos de indagação �losó�ca. O que vem a ser algo útil? Para que vou estudar isso, se não usarei em minha vida pro�ssional? Seguindo esta linha de pensamento, a Filoso�a é realmente “inútil”, pois ela não serve como possibilidade de alteração da ordem pragmática. Nossa sociedade vê no útil aquilo que dá fama, riqueza,poder e prestígio, julgando como útil aquilo que vemos nas ações e nas coisas, que possui utilidade prática. Entretanto, não ter utilidade imediata não signi�ca ser dispensável. Ao perguntarmos sobre a necessidade da Filoso�a em nosso mundo, observaremos que ela é imprescindível na medida que precisamos fazer uma re�exão sobre as ações humanas e os �ns vinculados a elas. A Filoso�a permite ao homem questionar as situações que temos como certas em nosso mundo, indagando sobre as nossas crenças e sentimentos nos quais acreditamos e que alimentam o nosso jeito de estar no mundo. Neste sentido, �losofar é dar sentido à nossa experiência no mundo, compreendendo os sentidos das coisas que fazem parte de nossa realidade. Se formos conscientes de nós mesmos e de nossas ações, vivendo de maneira a pensar no bem de todos em nossa sociedade, então, podemos dizer que a Filoso�a é, sim, muito útil e que sua utilidade consiste nos saberes que ela traz para nós. O que é? Como é? Por que é? São essas perguntas que devemos fazer ao mundo que nos rodeia e às relações que mantemos com ele. A re�exão �losó�ca é radical porque vai à raiz do pensamento e é um movimento de volta da re�exão sobre si mesmo, para pensar-se a si mesmo, para conhecer como é possível o próprio pensamento ou o próprio conhecimento. É um saber sobre a realidade exterior ao pensamento. As indagações da atitude �losó�ca e da re�exão �losó�ca se realizam de modo sistemático. Isto signi�ca que a Filoso�a trabalha com enunciados precisos e rigorosos. 1.1.2 Para que serve? 1.1.3 Uma maneira de questionar o mundo 1.1.4 Filosofia como pensamento sistêmico e crítico 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 7/33 Estes enunciados precisam ser desenvolvidos em encadeamentos lógicos com outros enunciados, também precisos e rigorosos. Ou seja, as palavras e as a�rmações precisam ter signi�cados bem delineados, de maneira a operar com conceitos e ideias obtidos por procedimentos de demonstração e prova. Compreendemos um enunciado como uma exposição sumária de um apontamento a ser de�nido, explicado ou demonstrado. O pensamento sistêmico nada mais é do que a capacidade da Filoso�a em analisar os enunciados, relacioná-los entre si e expor em uma linguagem para descrever e compreender as interrelações que formulam os enunciados em um pensamento. Somente assim, a re�exão �losó�ca pode ser uma visão crítica de si mesma. Simpli�cando, o pensamento crítico nada mais é que uma análise dos pensamentos usando os mesmos pressupostos dos enunciados para então formar um julgamento sobre algo, que pode ser, inclusive, a própria re�exão �losó�ca ou um objeto de arte, no caso, da Filoso�a da arte. Concluindo, como salienta Marilena Chauí, “o conhecimento �losó�co é um trabalho intelectual e opera sistematicamente, ordenando e encadeando com coerência e lógica argumentos racionais em relação as coisas e aos fatos de nossa experiência cotidiana” (CHAUÍ, 2008, p. 22). 1.2 Filosofia da arte e Estética: diferenças e similaridades A coleção Filoso�as: o prazer de pensar (da editora WMF Martins Fontes) é um bom começo para quem quiser se aventurar no mundo da �loso�a de maneira mais aprofundada. Pensada como um material introdutório e didático, cada edição traz um tema diferente de maneira clara, fácil e objetiva. Ao �nal de cada livro, o leitor encontra atividades, dicas e leituras recomendadas. VOCÊ QUER VER? 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 8/33 No presente tópico, estudaremos as relações entre a Filoso�a da arte e a Estética, explicitando o que são cada uma destas áreas de estudo e como se relacionam com o campo da Filoso�a. Também abordaremos como a Filoso�a da arte e a Estética ajudam a compreender o objeto artístico e sua relação com o público. Por �m, conheceremos as diferenças e similaridades entre ambas para a construção dos diversos sentidos do fenômeno artístico. Muito se fala sobre a di�culdade se compreender a arte produzida nos últimos 50 anos. O uso de objetos que conhecemos de nossa vida cotidiana são apropriados pelos artistas e transformados em obra de arte. O resultado disso frente ao grande público é de um estranhamento, pois esse modo de fazer arte contrasta com um outro que é já bastante tradicional, no qual o belo e a imitação são referências para a produção artística. A partir do texto acima, avalie as a�rmações a seguir. I. O conceito de imitação e de beleza como elementos artísticos são característicos das obras produzidas até o �nal do século XIX. (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) TESTE SEUS CONHECIMENTOS 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 9/33 A arte, entendida como um fenômeno de nossa sociedade, também interessou à Filoso�a. Isto porque ela, a arte, possibilita uma investigação sobre a sua própria existência. O que permite relacioná-la às questões mais amplas sobre o ser humano, renovando “o seu diálogo expansivo com o mundo, com a existência humana e com o Ser” (NUNES, 1991, p.16). A arte também se insere como um tema, ou um problema, presente nas indagações �losó�cas que, por sua vez, tentam responder o que é arte. II. Uma de�nição de arte comum a todas as obras não existe, pois ela, ao longo do tempo, foi se transformando para incorporar outros sentidos. III. A arte mais recente se caracteriza pela inclusão de objetos do cotidiano, cujo sentido de beleza não é mais o principal. IV. A produção artística das últimas cinco décadas aproximou ainda mais o público, já que utiliza objetos bastante conhecidos do cotidiano dele. V. A arte produzida recentemente utiliza de elementos como o feio e mesmo o grotesco para a expressão artística. Agora, assinale a alternativa que contém as a�rmações corretas. a. I, II e IV. b. II, III, IV e V. c. III, IV e V. d. I, III, IV e V. e. I, II, III e V. VERIFICAR 1.2.1 O que é Filosofia da arte? 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 10/33 Antes, no entanto, convém primeiro compreendermos o que é arte. Deste modo, devemos nos perguntar: quando pensamos em uma obra de arte, pensamos em quê? Em uma pintura de Leonardo da Vinci? Em uma escultura de Rodin? Nos parangolés de Hélio Oiticica? No tubarão em formol do Damien Hirst? 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 11/33 Figura 2 - Mona Lisa, também conhecida como La Gioconda; obra de Leonardo da Vinci, um dos mais conhecidos artistas do Renascimento italiano. Fonte: Mediapool, 2021. #PraCegoVer Reprodução em preto e branco do original Mona Lisa de autoria de Leonardo da Vinci. Em primeiro plano no quadro há uma dama renascentista branca de cabelos escuros, com as mãos cruzadas e apoiadas no braço de uma cadeira, ela está vestida com roupas do renascimento em tons escuros, com mangas e capas cobrindo seus braços e colo, o que dá grande destaque às suas alvas mãos, seu rosto é calmo e olha diretamente para o observador, seu sorriso é sutil, e conhecido como enigmático na história da arte, pois nem todos o notam, no fundo do quadro (o segundo plano) há uma 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 12/33 paisagem toda enevoada, o que dá a sensação de que ela é distante. Esse quadro é organizado e utiliza uma série de regras de pintura do renascimento, destacamos a composição triangular da figura em primeiro plano. É da Enciclopédia Ilustrada “Tesouros da arte”, São Petersburgo, 1906. A arte é um objeto que denominamos como tal e que tem uma importância especial em nossa sociedade. Ao longo do tempo, o que é compreendido comoarte foi se expandindo, ou seja, o conceito de arte foi se ampliando, de maneira a incluir objetos cotidianos que, em um primeiro momento, desa�avam a sua classi�cação como arte. O caso exemplar desse debate sobre o que é ou não arte a partir de uma manifestação artística A Fonte, de Marcel Duchamp (1887-1968), um mictório de porcelana branca apresentado ao júri da Sociedade dos Artistas Independentes, de Nova Iorque, em exposição feita em 1917. A peça provocou inúmeros debates sobre a compreensão da arte do período e acabou por se tornar umas das obras de arte mais emblemáticas do século XX. O documentário Museu em movimento - Arte Contemporânea: decifra-me ou devoro-te, consegue abordar de maneira objetiva as di�culdades de se de�nir arte, principalmente, porque tem como foco uma produção artística mais recente feita entre os anos de 1960 e 1970. Acesse (https://www.youtube.com/watch?v=HC5v4TiiRuM&t=6s) VOCÊ QUER VER? https://www.youtube.com/watch?v=HC5v4TiiRuM&t=6s https://www.youtube.com/watch?v=HC5v4TiiRuM&t=6s 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 13/33 Figura 3 - A fonte, 1917 Fonte: robson.migel, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem de um mictório de louça branco, colocado em posição inversa sobre um suporte/pedestal, assinado “R. Mutt 1917” com tinta preta, do artista Marcel Duchamp. Conforme vemos na �gura “A fonte”, este é o primeiro exemplo de obra “ready- made” do artista Marcel Duchamp. “Ready-made” é uma obra na qual o artista se apropria de um objeto pronto, geralmente industrializado, e o desloca de seu lugar do mundo cotidiano para um espaço no qual ele ganha o estatuto de arte, questionando, assim, o que é arte e o que não é arte, bem como o confere a algo o estatuto de arte. É o primeiro exemplo da arte "Dada" (movimento de vanguarda do início do século XX). Essa obra foi exposta pela primeira vez nos Estados Unidos da América. Nesse sentido, essa obra de Duchamp nos mostra a di�culdade de se ter uma única de�nição para a arte. A primeira coisa que percebemos é: arte signi�ca coisas diferentes em contextos históricos diferentes. O que os gregos entendiam por arte era diferente do que se entendi no Renascimento que, por sua vez, é diferente do sentido de arte de hoje. A re�exão �losó�ca da arte surgiu quando Sócrates (470-339 a. C.) indagou ao pintor Parrásio sobre a essência da pintura. Ao fazer isso, Sócrates estava transportando o questionamento sobre a verdade das coisas e dos valores morais para a pintura, o que signi�ca dizer, para as artes, já que a pintura é uma manifestação artística. Como a arte “suscita problemas de valor, tanto no âmbito 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 14/33 da vida coletiva como individual, seja a do artista que cria a obra de arte, seja a do contemplador que sente os seus efeitos” (NUNES, 1991, p. 15), ela torna-se objeto de investigação �losó�ca, ou seja, objeto central da Filoso�a da arte. Deste modo, a Filoso�a da arte procura as ligações da arte com o mundo que vivemos e com a nossa existência nele, fundamentando o seu conhecimento em uma postura de análise, re�exão e crítica sobre a obra de arte, o papel do artista e a sua recepção junto ao público. A palavra “estética” encontra sua correspondência no grego aisthitikí (αισθητική) e pode ser entendida como conhecimento que se relaciona com a experiência sensível. A Estética diz respeito à experiência sensível do sujeito em relação às produções artísticas ou não que atingem nossa sensibilidade e, deste modo, está relacionada tanto à questão do belo como do gosto. No primeiro, busca respostas para a realização da beleza a partir da sensibilidade das criações artísticas ou não. No segundo, o prazer ou desprazer que sentimos em relação às coisas naturais ou às produções artísticas, que aparecem na forma de juízo de gosto. A estética surge como campo �losó�co no século XVIII, com o �lósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762). Em 1750, ele publica Aesthetik (Estética), livro no qual discorre sobre o conceito de estética e no qual enfatiza a autonomia da disciplina, tornando-a uma área própria de investigação �losó�ca. 1.2.2 O que é Estética? Marcel Duchamp (1887-1968) é tido o como um dos artistas mais importantes do século XX, por ter questionado os valores de compreensão da arte do período, ao criar os ready-mades, que podemos entender como “obra pronta”, isto é, objetos do mundo industrial transformados em obra de arte e que colocavam o pensar artístico à frente do fazer artístico. VOCÊ O CONHECE? 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 15/33 Como já colocado, a Estética não está relacionada unicamente à arte, mas, sim, ao mundo sensível, porém tem na arte um objeto especial para as suas re�exões. A arte, por muito tempo, foi vinculada, essencialmente, à ideia de exprimir a beleza de modo sensível. Mesmo antes do surgimento da Estética como um ramo da Filoso�a, o belo já havia sido motivo de diversos debates �losó�cos. É importante você saber, por exemplo, que Platão (427-347 a.C.), em sua investigação sobre o belo, associa-o diretamente com o bem e que Santo Tomás de Aquino (1225-1274) relaciona a beleza com o divino. Podemos, ainda, acrescentar a união teórica entre o belo e arte ocorrida no Renascimento, que fez da natureza fonte da beleza que o artista deveria revelar por meio de suas obras. Sabendo isso, você já percebe que a noção de beleza é também construída a partir de debates que fazem sentido dentro da Filoso�a e valores de uma época e lugar. A partir da fundação da chamada estética moderna, isto é, quando ela se torna autônoma, temos: uma ciência que fez da apreciação da Beleza, seu tema fundamental [e que] concebeu a Arte como aquele produto da atividade humana que, obedecendo a determinados princípios, tem por fim produzir artificialmente os múltiplos aspectos de uma só beleza universal, apanágio das coisas naturais (NUNES, 1991, p. 10). 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 16/33 Entre o �nal do século XVIII e início do XIX, a estética tem em Immanuel Kant (1724-1804) e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1771-1831), dois importantes �lósofos. Figura 4 - Immanuel Kant Fonte: Mediapool, 2021. #PraCegoVer Uma gravura que reproduz, em preto e branco, o rosto do filósofo Immanuel Kant, ele é retratado em forma de busto, em três quartos, usa peruca empoada (que dá a sensação de ser branca), roupas típicas da Europa do século XVIII. Kant propõe que a “beleza não [se encontra] no objeto, mas na experiência do juízo de gosto que coincide com um prazer era uma ideia inteiramente nova” (ROSENFIELD, 2006, p. 36). Em Hegel, a qualidade de “belo” somente pode ser 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 17/33 aplicável a um objeto que, “além de ser sensível, foi objeto de intervenção humana – o próprio ato de criação –, a qual caracteriza a passagem do espírito pela coisa que pode ser considerada bela” (DUARTE, 2013: 138). Para Hegel, não há belo natural, mas é o olhar que enquadra que vê e reconhece o belo. Estas prerrogativas foram pertinentes ao longo dos séculos XVIII e XIX inteiros, porém, logo no início do século XX, temos manifestações artísticas, especialmente, dos artistas de vanguarda, que provocam a Filoso�a a fazer re�exões sobre arte e a experiência da beleza, desa�am diversos de seus princípios e conceitos estabelecidos até aquele momento. As transformações artísticas eram tantas e em tal velocidade, que os debates também cresciam de maneira nunca vista antes. Este cenário gerou re�exões sobre as diferentes experiências estéticasdo século XX e embora fossem fragmentadas, estas visões acabaram por transformar a estética tradicional que, diante de incontáveis abordagens, viu-se em uma situação de desa�o no que diz respeito à Estética como disciplina uni�cada. (384-322 a.C.). (1724-1804). (1771-1831). Aristót eles Imma nuel Kant Georg Wilhel m Friedri ch Hegel 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 18/33 Como uma última colocação, vale destacar as atuações dos �lósofos Walter Benjamin (1892-1840) e sua re�exão sobre as possibilidades dos meios tecnológicos (fotogra�a e cinema) na arte e sua consequente perda da aura, e Theodor Adorno (1903-1969), que abordou a crise da cultura e a questão da oposição entre obra de arte e a mercadoria da indústria cultural. A Estética, enquanto ramo da Filoso�a, excede o campo da arte, pois embora tenha nela sua manifestação mais adequada, pode analisar os fenômenos estéticos que ocorrem fora dela. A Filoso�a da arte, por sua vez, pode usar os pressupostos estéticos como possibilidade de investigar a arte, mas pode ir além deles, pois possui em seu cerne as qualidades necessárias da dinâmica �losó�ca que permitem incluir a arte, em sua elaboração de problemas gerais sobre o conhecimento do mundo (a realidade e os seres humanos). Resumindo, se a Estética pode viver sem a arte, a Filoso�a depende dela. 1.2.3 Diferenças e similaridades 1.3 Fundamentos da Filosofia da arte (1892-1840). (1903-1969). Walter Benja min Theod or Adorn o 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 19/33 Este tópico aborda os principais elementos vinculados com a Filoso�a da arte, tais como, a mimese e o belo e de que maneira estes, além de outros termos, foram discutidos ao longo do tempo, delineando um conjunto de ideias que tem no fenômeno artístico, seu ponto de partida. Também estudaremos como se relacionam as teorias da arte com a Filoso�a da arte. A mimese, grosso modo, é a recriação da realidade. Como elemento constitutivo da produção artística foi examinada e reavaliada (na prática e na teoria) diversas vezes, ao longo da história, até o início do século XX. Em sua longa história, observamos uma busca por respostas aos problemas levantados nas “relações entre arte e verdade, entre o ato de mostrar e o que é mostrado, entre a aparência e a essência” (RUFINONI, 2013, p. 163). A �loso�a grega já compreendia a poesia, a pintura e a escultura como artes da imitação ou mimese. Platão condenava a imitação da realidade por enxergar nela uma espécie de mentira, que ao recriar artisticamente a realidade fazia o oposto, isto é, criava uma ilusão da própria coisa para o espectador da arte. Deste modo, a pintura, por exemplo, apenas representava a aparência das coisas, se afastando da verdade, sendo assim, uma atividade inútil e perigosa. Aristóteles (384-322 a.C.), ao contrário de Platão, reabilitou o conceito positivo de imitação da realidade por ver nela uma atitude natural do homem. A imitação se apresenta como uma característica pedagógica de aprendizado do mundo, um meio de conhecimento e de prazer. 1.3.1 A mimese, a beleza e a Filosofia da arte 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 20/33 Figura 5 - Parthenon, Atenas, Grécia (face sul) Fonte: Mediapool, 2021. #PraCegoVer Imagem de uma arquitetura grega em ruínas, o Parthenon, projetado por Ictino, em 450 a.C., em Atenas, Grécia. Na imagem, observa-se as ruínas da face sul, uma vista parcial, com pedras soltas no primeiro plano. Quase tudo tem o tom natural bege claro da pedra no qual essa arquitetura é feita e, em contraste, ao fundo um céu azul, com nuvens leves como um véu. Segundo Nunes (1991, p. 41), a posição de Aristóteles sobre a mimese possibilitou aos artistas do Renascimento imitarem o que a “Natureza tem de essencial e perfeito”. A concepção de Natureza desta época está vinculada a “um todo vivo, animado, regido por leis intrínsecas” (NUNES, 1991, p. 42), cuja observação pelos artistas diz respeito a criar em uma pintura, um pedaço da realidade natural. De acordo com esse autor, podemos compreender essa questão, a partir de Leonardo Da Vinci (1452-1519), pois, para ele, a pintura é “um meio de analisar a Natureza, de produzir uma visão especulativa de suas formas regulares e inteligíveis [e, estas, estariam] sujeitas às mesmas leis gerais que as ciências começariam, depois, a identi�car e a traduzir em linguagem matemática” (NUNES, 1991, p. 42). 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 21/33 Figura 6 - Discóbolo Fonte: Mediapool, 2021. #PraCegoVer Imagem de uma escultura romana em mármore branco, cópia de uma escultura grega, feita originalmente em bronze, do escultor Myron, e conhecida hoje como Discóbolo, ela é de c. 450 a. C., e pertence ao Museu Nacional, em Roma, na Itália. Na escultura um homem nu está com corpo todo tenso, seu torso está inclinado para frente e em torção, com um ombro em direção ao chão, e outro apontando para cima, os braços estão em sentidos opostos, seguindo o movimento dos ombros, um para cima, segurando o disco, o outro está relaxado caído 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 22/33 para frente, seu rosto está abaixado e concentrado, suas pernas estão flexionadas, com uma para trás tocando o chão apenas com a ponta dos pés, e a outra firme segurando todo o peso do corpo, é o exato momento de tensão antes da explosão das voltas e lançamento do disco, a maneira do esporte olímpico. A partir do século XVII, a ciência ocupa cada vez mais o papel na relação de imitação da natureza pela arte, papel antes vinculado à visão aristotélica do cosmos ou ao divino do pensamento medieval. Por �m, na virada do século XIX para o século XX, o princípio de imitação é substituído pelo princípio de expressão, mais condizente com os anseios do artista estabelecido em um mundo pós-revoluções burguesas (Revolução Francesa e Revolução Industrializadas). A beleza e as discussões sobre o belo podem parecer, hoje em dia, algo ultrapassado, já que as produções artísticas contemporâneas superaram o conceito tradicional de beleza. Contudo, vamos retomar do início: a ideia do belo tem origem na �loso�a de Platão (LICHTENSTEIN, 2004, p.10). O �lósofo grego, em suas re�exões sobre o belo, considera-o, em um primeiro momento, um “atributo característico de certos objetos sensíveis merecedores dessa quali�cação” (DUARTE, 2013, p. 131) e, em um segundo momento, em direção à “idealidade do belo, ou seja, para uma posição segundo a qual a beleza sensível é, no mínimo, insu�ciente e que o belo verdadeiro seria uma ideia correlativa à do bem, habitando um mundo separado do da nossa percepção imediata. A visão de Platão sobre a superioridade da ideia do belo reaparece em Plotino (204- 270), �lósofo grego, neoplatônico, que demonstra certa continuidade com o pensamento platônico como o modo como o belo inteligível e a beleza das coisas sensíveis se encadeiam e como há em suas ideias um certo destaque da questão ética envolvida na apreciação da arte (DUARTE, 2013). A Idade Média se dedicou a enaltecer a ideia do belo como manifestação divina. Santo Agostinho (354-430) defende que a beleza autêntica vem de Deus, superior à beleza que provém do mundo material e Santo Tomás de Aquino, que o belo sensível que emana de Deus está presente na face visível do bem. A partir do século XVIII, o belo está relacionado à recém-criada disciplina �losó�ca: a Estética. Em Kant, considerado por muitos estudiosos o fundador da estética moderna, o belo como um prazer desinteressado, porque não tem �nalidade prática (o bem ou a verdade), advém deinvestigar unicamente “o estatuto da experiência estética (o prazer subjetivo) no sistema das demais 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 23/33 faculdades do ânimo” (ROSENFIELD, 2006, p. 27). Se em Kant, a beleza natural correspondia mais adequadamente aos seus preceitos, em Hegel, o belo natural foi desvalorizado, considerando as criações artísticas que são produzidas pelo homem como detentoras dessa qualidade, pois é na intervenção humana que há a passagem do espírito, transformando algo em belo. Da época de Hegel aos nossos dias, os pressupostos �losó�cos e os artísticos têm deixado a questão do belo de lado. No século XIX, a posição de Friedrich Nietzsche (1844-1900) “contra o belo fazia parte de um programa de denúncia dos próprios fundamentos da cultura ocidental, nos quais, como se viu, as referências à beleza – principalmente no supramencionado sentido platônico – sempre desempenharam um importante papel” (DUARTE, 2013, p. 139). No século XX, os debates �losó�cos da arte tiveram suas posições incessantemente revistas, “inclusive a tradicional ascendência do belo sobre os outros sentimentos estéticos” (DUARTE, 2013, p. 139). Além disso, os desenvolvimentos na arte “ampliaram o escopo dos sentimentos estéticos considerados dignos das expressões artísticas, integrando o feio, o radicalmente prosaico e até mesmo o asqueroso nas criações contemporâneas” (DUARTE, 2013, p. 139). Ao longo do �nal do século XIX e durante o século XX, os escritos sobre a arte e as questões que poderiam ser levantadas por meio dela, ganharam uma nova dimensão com a adição de novos personagens: o crítico e o artista. As teorias desenvolvidas por eles abordavam diversas questões sobre a arte, que passavam desde o papel do artista até a recepção da obra de arte pelo público. A teoria da arte, enquanto área de conhecimento, busca de�nir o que é arte e seu valor a partir de argumentos �losó�cos. Inicialmente, para a Filoso�a, a arte era mimese. Essa primeira noção se desenvolveu ao longo da história da Filoso�a da arte. Isso, no entanto, não signi�ca que as outras noções e de�nições sobre arte destruíram a inicial, mas elas se sobrepõem e coexistem explicando diferentes manifestações artísticas. 1.3.2 Teorias da Arte e Filosofia da arte 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 24/33 Novas abordagens �losó�cas são construídas ao longo da história, por exemplo, obras de arte que perseguem problemas formais e que buscariam a melhor harmonia, independentemente da ideia de representação. Ou, ainda, a noção de arte como expressão, o que pressupõe uma valorização do artista como produtor de um objeto ou manifestação de autoexpressão ou a obra de arte como a criação subjetiva da humanidade. Segundo Ghiraldelli Jr. (2010, p. 84): Entre a segunda metade do século XIX e início do século XX, os principais críticos de arte, Charles Baudelaire (1821-1867), Émile Zola (1840-1902) e Guillaume Apollinaire (1880-1918), eram, na verdade, escritores que se dedicavam ao ofício da crítica, ajudando a conformar novos signi�cados para a arte. VOCÊ SABIA? filósofos contemporâneos como George Dickie e Arthur Danto dão alguns passos extras e tendem a definir arte a partir do que podemos chamar de ‘teoria institucional da arte’, 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 25/33 Hoje em dia, a abordagem mais corrente desabona qualquer iniciativa em se determinar o que é arte. É uma visão que não procura pela essência da arte, abrindo-se para um conceito de arte mais amplo e dependente do contexto. Ou seja, o que reconhecemos como arte é um artefato cultural que recebe o estatuto de arte a partir do contexto (pessoas, espaço e discursos) que o reconhecem e o validam como tal (COLI, 1981, p. 10). O presente tópico nos apresentará como o pensamento grego mudou para um ponto de vista re�exivo e crítico que caracteriza a Filoso�a saindo de um modo de pensar pautado pelo mito, no qual a explicação é dada, para uma outra forma de re�etir sobre o mundo que é regulada pela razão, na qual a explicação é procurada. Nesse contexto, analisaremos os primeiros indícios da relação entre Filoso�a e Arte. 1.4 Dos pré-socráticos a Sócrates (via Platão) (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) TESTE SEUS CONHECIMENTOS considerando sua dependência quanto a aspectos sociais e históricos (2010, p. 84). 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 26/33 Leia o excerto a seguir: “As duas ideias, a do Belo e a do Bem, foram unidas por Sócrates e Platão, união essencial, teórica e prática, que o pensamento �losó�co transformou num ideal pedagógico. Sócrates ensinou aos seus discípulos que tudo o que se pode chamar de belo é útil, preenchendo uma função. Olhos que não enxergam não podem ser belos. Faltar-lhes-ia a perfeição do �m para o qual a Natureza os criou” (NUNES, 1991, p. 18). NUNES, B. Introdução à Filoso�a da arte. São Paulo: Ed. Ática, 1991. Quanto aos questionamentos que envolvem a relação entre arte e beleza, em Sócrates, analise as a�rmativas a seguir e assinale V para a(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s): I. ( ) O ideal de beleza grego se encontra no conceito kalokagathia. II. ( ) Segundo o conceito de kalokagathia, arte bela é a que não tem utilidade. III. ( ) Sócrates foi um dos primeiros �lósofos a empreender uma investigação �losó�ca sobre a arte. IV. ( ) A arte dita bela é associada ao bem. Agora, assinale a alternativa que possui as a�rmações verdadeiras: a. I, II e III. b. I, III e IV. 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 27/33 No mundo grego, anterior aos �lósofos, os valores eram passados por meio do mito. Os poetas populares eram os responsáveis por narrarem os mitos, transmitindo oralmente as histórias do passado, revelando o divino e o sagrado sobre a origem dos seres e das coisas. A palavra mito vem do vocábulo grego mýthos (μύθος), que signi�ca, de uma maneira geral, como uma narrativa transmitida oralmente por alguém de con�ança e que, por isso, é entendida como verdade sem questionamento. É a palavra falada (oralidade) que permite que se �xe a história por meio da memória pessoal. Ao se desenvolver o gosto pelo questionamento entre os gregos, houve um momento, no qual, as explicações dadas pelos mitos não satisfaziam totalmente e decorrentes dessas novas indagações surgiram outras maneiras de esclarecer os seres e as coisas que estavam no mundo. A esta nova forma de explicar deu- se o nome de �loso�a (amor ao saber). Esse modo de pensar tem na razão seu elemento norteador para explicar e compreender o mundo de um modo ordenado. Temos, assim, a razão como uma maneira de organizar a realidade para que esta se torne compreensível. As preocupações dos primeiros �lósofos estavam relacionadas à uma procura racional de explicar o universo (cosmologia) e não mais uma explicação pelos mitos (cosmogonia). Isso possibilitou uma pluralidade de explicações sobre o princípio de tudo (a origem do mundo e as causas das transformações da natureza). c. II, III e IV. d. I, II e IV. e. Apenas II. VERIFICAR 1.4.1 O jogo entre mito e logos Procura racional de explicar o universo. Cosmo logia 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 28/33 Os primeiros �lósofos se preocuparam em conhecer os elementos constitutivos das coisas, buscavam “um princípio estável, comum a todos os seres, que explicasse a sua origem e as suas transformações” (NUNES, 1991, p. 07). Estes primeiros �lósofos �caram conhecidos como pré-socráticos. Tales de Mileto,Heráclito de Éfeso, Pitágoras, Parmênides de Eléia, Demócrito de Abdera, entre outros foram os primeiros pensadores que atuaram por volta do �nal do século VII a.C. até o �nal do século V a.C. Depois destes primeiros �lósofos, tivemos os so�stas, os quais eram “inspirados mais pelo interesse prático do que por uma intenção teórica pura, debateram, entre outras ideias, o Bem, a Virtude, o Belo, a Lei e a Justiça, formulando teses ousadas e contraditórias” (NUNES, 1991, p. 07). Foram muito criticados pela falta de rigor e intenção de confundir os adversários com seus discursos eloquentes (oratória era algo muito importante para os so�stas), mas, segundo Benedito Nunes, tiveram “o indiscutível mérito de introduzir, no estudo da sociedade e da cultura, o ponto de vista re�exivo-crítico que caracteriza a �loso�a” (NUNES, 1991, p. 07). O autor quer dizer que se forma uma opinião a respeito de um objeto (ou seja, este estimula o pensamento) e que pensar sobre essa opinião, sobre esse pensamento, é um ato re�exivo. Isso mesmo, se pensa e se pensa o pensamento. A seguir temos Sócrates, �lósofo cujos pensamentos nos chegam até hoje por meio de Platão, já que Sócrates não escreveu nem uma linha. Sócrates foi um homem que tinha seguidores fascinados com suas ideias, portanto, ele foi uma mistura de mestre e �lósofo. Buscou de�nir os valores morais, atuações pro�ssionais, a organização do governo e os comportamentos sociais (NUNES, 1991). A arte não escapou à Sócrates e usando a Filoso�a, indagou sobre os elementos constitutivos das artes, debruçando-se sobre ela. Explicação do universo pelos mitos. Cosmo gonia 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 29/33 Figura 7 - A morte de Sócrates,1787, do artista Jacques-Louis David Fonte: Everrret COllection, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Reprodução de um quadro de Jacques-Louis David sobre a morte de Sócrates. Sócrates foi condenado pela cidade a pena de morte, a qual escolher tomar veneno. Na cena da pintura temos Sócrates representado como um homem idoso, com cabelos e barba branca, calmo, que com uma mão aponta para o céu e com outra pega a taça com veneno. Cercado por seus seguidores/estudantes de suas ideias, percebe- se que todos estão consternados, enquanto ele está calmo e firme. Sobre ele banha-se uma luz plena que vai se desfazendo em sombras conforme se distancia da figura central (Sócrates). Há elementos de arquitetura romana e pouca decoração no recinto pintado. A morte de Sócrates alude a alguém que se sacrifica pela sabedoria. Com Sócrates e os so�stas, a �loso�a grega adquire um novo rumo, sendo que a preocupação com os princípios geradores do universo dá lugar a uma indagação sobre a experiência humana, seus valores e o problema do conhecimento. 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 30/33 A arte da Antiguidade grega tem em Sócrates (lembrando que tudo que conhecemos dele é pela escrita de Platão) um dos primeiros �lósofos a problematizá-la. No que diz respeito ao belo, devemos antes considerar um conceito de suma importância para o mundo grego: kalokagathia (καλοσύνη). O termo signi�ca algo como benevolência e tem um caráter “meio moral, meio estético, que consiste numa fusão da beleza e do bem” (BAYER, 1993, p. 34). Este conceito nos ajuda a compreender um pouco mais as ideias de Sócrates sobre arte. De alguma maneira, percebemos que para esse �lósofo, a arte só é bela se estiver associada ao bem, o que, também, quer dizer, ser útil, ou seja, “a Beleza consiste na exata função de cada coisa ou de cada ser, segundo os �ns que a Natureza tende a realizar, e na perfeita utilidade que os objetos alcançam, quando são convenientemente fabricados” (NUNES, 1991, p. 18), por isso dizer que uma ânfora, por exemplo, é bela quanto melhor servir a sua função, que é guardar líquidos. Quanto melhor �zer isso, mais bela é. 1.4.2 A arte e a estética Ao andar pelo centro de sua cidade, você descobre que há uma biblioteca municipal e ao entrar você vê que está acontecendo uma exposição de gravuras de um artista local. Vamos pensar sobre isso? Essa exposição é uma exposição de arte? Gravuras são obras de arte? As pessoas podem gostar ou não gostar, achar feio ou bonito, mesmo que estas gravuras sejam consideradas obras de arte? Ou o fato de serem obras de arte lhes confere uma garantia que todos devem gostar delas e quem não gostou não entendeu ou não está apto a apreciar arte? VAMOS PRATICAR? 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 31/33 Como vimos nesta unidade, a Filoso�a da arte tem, nos fenômenos artísticos, o seu objeto de investigação �losó�ca, permitindo que levantemos questionamentos em relação à importância que a arte ocupa em nossa sociedade. A sua relação com a Estética amplia as possibilidades de compreendermos as relações que a arte estabelece entre a nossa realidade, o artista, a obra de arte e a sua recepção no mundo, desde a Antiguidade, quando os primeiros �lósofos se debruçaram sobre a mimese, o belo, a de�nição da arte, até hoje, quando os problemas levantados incluem as teorias da arte. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: CONCLUSÃO aprender sobre o que é o pensamento �losó�co; compreender o que é a Filoso�a da arte e o que é Estética, bem como suas diferenças; analisar diferentes contextos relacionados a Filoso�a da arte, Estética e teoria da arte; entender os diferentes conceitos vinculados à arte. Clique para baixar conteúdo deste tema. Referências 16/11/2023, 16:46 Filosofia da Arte https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/EDU_FILART_21/unidade_1/ebook/index.html 32/33 ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à Filoso�a. São Paulo: Moderna, 1986. ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Editora 34, 2015. BAUMGART, F. Breve História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1994. BAYER, R. História da estética. Lisboa: Estampa, 1993. BENDALA, M. Saber ver a arte grega. São Paulo: Martins Fontes, 1991. CHAUÍ, M. Convite à Filoso�a. São Paulo: Editora Ática, 2008. COLI, J. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 1981. DUARTE, R. 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