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97 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Unidade III 7 RESPONSABILIDADE SOCIAL: CONCEITOS, VISÕES E DIMENSÕES 7.1 Responsabilidade social empresarial A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) refere-se à responsabilidade geral das empresas por uma gestão sustentável em termos econômicos, ecológicos e sociais. A grande variedade de empresas e mercados confere diferentes interpretações a esse termo. Assim, podemos entender a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) como um conceito fundamental, criado para ajudar as empresas a integrar voluntariamente preocupações sociais e ecológicas nas suas atividades de negócio e nas relações com stakeholders, ou seja, a responsabilidade social ocorre quando as empresas decidem, voluntariamente, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. O conceito de responsabilidade social pode ser compreendido em dois níveis: • O nível interno relaciona-se com os trabalhadores e, a todas as partes afetadas pela empresa e que, podem influenciar no alcance de seus resultados. • O nível externo são as consequências das ações de uma organização sobre o meio ambiente, os seus parceiros de negócio e o meio em que estão inseridos. A responsabilidade social implica a noção de que uma empresa não tem apenas o objetivo de buscar o lucro e trazer benefício financeiro às pessoas que trabalham na empresa, também deve contribuir socialmente para o seu meio envolvente. Dessa forma, a responsabilidade social muitas vezes envolve medidas que trazem cultura e boas condições para a sociedade. Existem diversos fatores que determinaram a adoção de práticas de responsabilidade social, pois em um contexto da globalização e das mudanças nas indústrias, surgiram novas preocupações e expectativas dos cidadãos, dos consumidores, das autoridades públicas e dos investidores em relação às organizações. Nesse sentido, os indivíduos e as instituições, como consumidores e investidores, começaram a condenar os danos causados ao ambiente pelas atividades econômicas e também a pressionar as empresas para a observância de requisitos ambientais, exigindo à entidades reguladoras, legislativas e governamentais a produção de quadros legais apropriados e a vigilância da sua aplicação. Os primeiros estudos que tratam da responsabilidade social tiveram início nos Estados Unidos, na década de 1950, e na Europa, nos anos 1960. Porém, as primeiras manifestações sobre este tema surgiram em 1906, contudo, essas não receberam apoio, pois foram consideradas de cunho socialista, e foi somente em 1953, nos Estados Unidos, que o tema recebeu atenção e ganhou espaço. 98 Unidade III Na década de 1970, começaram a surgir associações de profissionais interessados em estudar o tema, e somente a partir daí a responsabilidade social deixou de ser uma simples curiosidade e se transformou em um novo campo de estudo. Observação Negócios sustentáveis fazem parte de um novo modelo empresarial, em que produtos e serviços baseiam-se na incorporação de forma integrada dos aspectos sociais, econômicos e ambientais e suas estratégias devem ir para além da mera tecnologia, abrangendo todo o ciclo de vida do produto – da matéria-prima à eliminação. Na prática empresarial, como nos discursos científico e sociopolíticos, a responsabilidade empresarial e o compromisso voluntário são referidos sob diferentes designações. Os termos mais usados são a Responsabilidade Social Empresarial (RSE), a Responsabilidade Empresarial (RE) e a Cidadania Empresarial (CE). Responsabilidade Social Empresarial (RSE): refere-se a empresas e outras organizações e instituições que integrem de forma voluntária a responsabilidade social – para além das suas obrigações legais. É um sistema criado para ajudar as empresas a integrar de forma voluntária preocupações sociais e ambientais nas suas atividades de negócio e na sua interação com os seus stakeholders numa base voluntária. A RSE não substitui medidas políticas e legislação. Não obstante, a RSE garante as condições para prosseguir objetivos sociais alargados e definir padrões. Responsabilidade Empresarial (RE): a Responsabilidade Empresarial (RE) descreve o sentido de responsabilidade de uma empresa sobre os efeitos, num dado momento, da sua atividade de negócio na sociedade, nos trabalhadores, no seu meio ambiente econômico. Neste processo, a responsabilidade empresarial representa uma filosofia de negócio que incide na transparência, numa conduta de ética e no respeito pelos stakeholders. O termo abrange os conceitos de Responsabilidade Social Empresarial (RSE), Governança Corporativa e Cidadania Empresarial. Embora os termos de RE e RSE sejam frequentemente usados como sinônimos, o conceito de RE é mais amplo que o de RSE. O conceito de RSE recai sobretudo nos desafios ecológicos e sociais para as empresas, assumindo apenas duas das três dimensões da sustentabilidade. Embora a RSE considere unicamente o lucro de uma empresa como condição estrutural para ações empresariais responsáveis, o conceito de RE integra explicitamente a dimensão econômica da sustentabilidade. O diálogo aberto com os stakeholders é um dos pilares da RE. Isto inclui, por exemplo, clientes, colaboradores, investidores, fornecedores, Estado e organizações não governamentais. Compromisso Social Empresarial (Cidadania Empresarial/CE): o Compromisso Social Empresarial refere-se ao investimento voluntário e sem fins lucrativos na comunidade feito por uma dada empresa. Para este efeito, a empresa disponibiliza dinheiro, produtos ou simplesmente o know-how ou a mão de obra dos seus empregados. O compromisso pode ser realizado recorrendo a diversos meios, como donativos e patrocínios, voluntariado empresarial e parcerias público-privadas. 99 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Para ser credível, este compromisso deve estar integrado na estratégia de sustentabilidade das empresas e ter uma ligação estreita com a sua principal área de negócio ou know-how. O compromisso permite gerar vantagens, tanto para a sociedade como para a empresa, resultando assim numa situação de vantagem mútua. Saiba mais SILVA, D. L. A. Responsabilidade social empresarial: a Constituição Federal Brasileira e o Terceiro Setor. 2009. Disponível em: https://administradores. com.br/artigos/responsabilidade-social-empresarial-a-constituicao- federal-brasileira-e-o-terceiro-setor. Acesso em: 31 jan. 2020. 7.2 Responsabilidade social na atualidade A responsabilidade social está cada vez mais integrada à vida das empresas e da comunidade, o consumidor está atento e passou a avaliar a origem de produtos e serviços. Somando-se a isso, as tecnologias da informação, em especial as redes sociais, permitem acompanhamento e a divulgação de informações e práticas em tempo real, evidenciando a coerência (ou incoerência) entre os discursos e as ações das empresas. O não fazer (omissões), ou seja, não causar danos ou prejuízos, já não é suficiente. Fornecedores, clientes, consumidores, comunidades e a opinião pública, de uma forma geral, têm acesso a informações, comparam, avaliam e fazem suas opções. Por esses motivos, a responsabilidade social está deixando de ser diferencial competitivo, tornando-se pré-requisito para as empresas que buscam se desenvolver, atrair/fidelizar colaboradores e clientes, e se manter no mercado. Essa mudança de comportamento e as novas exigências são percebidas pelas empresas em tempos e proporções distintas, de acordo com a característica dos negócios. Há alguns anos, as empresas poderiam ter a percepção ou crença que ‘o mundo’ girava ao seu redor e seus interlocutores eram os governos, colaboradores, clientes e fornecedores e, muitas vezes, sendo esses, seus dependentes, pois se entendia como geradora de oportunidade e desenvolvimento. Com o tempo, as relações na sociedade tornaram-se mais complexas e foram agravadas pelas crises econômicas, sociais e as mudanças climáticas, repercutindo nas relações das empresas com o meio onde estão inseridas,passando a prevalecer a interdependência e a necessidade de considerar as múltiplas possibilidades de afetar e ser afetada pelo contexto onde atuam, sendo as partes interessadas as mais próximas, devido às relações diretas com o negócio. Lembrete A Responsabilidade Social Empresarial geralmente envolve a busca de novas oportunidades como uma maneira de responder às demandas ambientais, sociais e econômicas do mercado. 100 Unidade III 7.3 Fases (eras) de gestão de responsabilidade social Seguem algumas fases (eras) de gestão de responsabilidade social que o mercado percorreu desde a adoção até o momento: • 1ª Era da Imagem, de 1990-2000: na década de 1990, as empresas se valiam do crescente interesse de clientes e consumidores pelas causas ambientais. Fazendo uso desse interesse, algumas empresas criaram estratégias que objetivavam estabelecer ou modificar a imagem do negócio na mente do consumidor, maquiando o desempenho ambiental e os compromissos éticos. • 2ª Era da Vantagem, de 2000-2010: as empresas passaram a reconhecer as vantagens adquiridas e propiciadas pela Responsabilidade Social, ou seja, os líderes empresariais passaram a reconhecer as vantagens resultantes da responsabilidade social. • 3ª Era dos Danos, de 2010 em diante: reflexo do consumidor consciente, com maior conhecimento sobre as empresas e seus produtos. São exigentes, observadores e críticos, apoiando-se nas redes de informação e mídias sociais para exercer seu poder, recebendo e compartilhando sua opinião e posicionamento. Essas motivações refletem a percepção e participação do cliente/consumidor, ou melhor, têm foco no relacionamento com uma das partes interessadas da empresa, responsável pela validação ou não o negócio, produtos e serviços. 7.4 As motivações que levam à responsabilidade social • Valores pessoais (interna e proativa): a iniciativa da adoção da responsabilidade social está vinculada aos valores pessoais e crenças do empresário e/ou dos sócios da empresa, que os emprestam à organização. • Mercado (externa e reativa): para manter e/ou adquirir competitividade, a empresa reconhece o exemplo, normas e/ou pré-requisitos estabelecidos por clientes, fornecedores, consumidores, governo etc., adotando, a partir de então, a responsabilidade social em sua gestão. • Mudanças climáticas (interna ou externa; proativa ou reativa): as alterações climáticas são representativas das questões ambientais que, por sua vez, se sobrepõem às divisões geopolíticas. Atualmente, estratégias e planos das empresas são influenciados pela sustentabilidade, nas quais a dimensão ambiental, juntamente com as dimensões sociais e econômicas, inspiram, subsidiam e norteiam a gestão de responsabilidade social. 7.5 Normas, certificações e compromissos relacionados com a responsabilidade social Como resultado da evolução da responsabilidade social e da adesão das empresas e dos resultados e impactos possíveis, nas últimas décadas surgiram uma série de normas e certificações de instituições nacionais e internacionais tratando de temas relacionados, direta e indiretamente. 101 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Contudo, um aspecto importante de se considerar são as cartas e/ou compromissos propostos por grupos de empresas, abrigados, ou não, por instituições representativas, demonstrando o amadurecimento, reconhecimento, valorização e adesão às causas de cunho social. Assim, as organizações precisam estar atentas, pois algumas dessas normas e certificações, como no caso daquelas normas ambientais, que integram um sistema legal, têm características de lei e podem ser confundidas com aquelas que são facultativas, com o objetivo de qualificar as atividades do negócio. Quadro 3 – Normativas e compromissos Normas Descrição Comentário SA 8000 -1997/2001 Norma Internacional da Responsabilidade Social – Certificada Voltada para o público interno da empresa. Trata-se de estratégias, processos e procedimentos das relações de trabalho, amparadas nos princípios da OIT e ONU. ISO 14000 – década de 1990 Série de normas que tratam das questões ambientais – Certificada É um conjunto de normas relacionadas a sistemas de gestão ambiental. Algumas têm caráter legal. NBR 16001 – 20047 Norma brasileira (ABNT) que regulamenta responsabilidade social – dirigida para governos, empresas e Terceiro Setor – Certificada Orienta o estabelecimento de um sistema de Gestão da Responsabilidade Social, permitindo à organização formular e implementar políticas e objetivos integrados à gestão do negócio, considerando os requisitos legais e compromissos éticos, a partir dos princípios e temas centrais, propostos pela norma. AA1000 – 2006 Norma internacional – dirigida para governos, empresas e Terceiro Setor – Certificada Padrão internacional de gestão ética, de responsabilização e transparência, tendo por base o processo de engajamento das partes interessadas. ISO 26000 – dez 2010 ISO 26000 é uma norma internacional, integra o sistema ISSO (Internatinal Organization for Standardization) – Guia de orientação para responsabilidade social ISO 26000 destina-se às organizações governamentais, sociais e empresas, tendo como objetivo contribuir para adoção e gestão da responsabilidade social, com vistas ao desenvolvimento sustentável. No Brasil, a instituição responsável é a ABNT. Pacto Global – 1998 Pacto firmado na ONU, por empresas, sobre o papel e compromisso social das empresas Objetivos comuns, como desenvolver mercados sustentáveis, combater a corrupção, defender os direitos humanos e proteger o meio ambiente, estão resultando em novos níveis de parceria e de abertura entre empresas, sociedade civil, trabalhadores, governos, as Nações Unidas e outras partes interessadas. Compromissos e demandas para a construção do futuro que queremos – 2012 Compromisso de Empresas (I Ethos) – julho 2012 Compromisso resultante da RIO+20, proposto pela iniciativa do Instituto Ethos, com adesão de várias empresas nacionais ou que possuem representação no Brasil. Declaração do Capital Natural – 2012 Declaração do setor financeiro – julho de 2012 Compromisso internacional do setor financeiro, resultante da RIO+20, com adesão de bancos nacionais e internacionais, visando à proteção do capital natural do planeta. 102 Unidade III 7.6 Sistemas de avaliação da responsabilidade social Como outros aspectos da gestão, a responsabilidade social deve ser acompanhada e avaliada sistematicamente. As organizações podem adotar ou elaborar um sistema de avaliação (indicadores, periodicidade, envolvidos, registro, retroalimentação), de acordo com suas especificidades e necessidades, especialmente se optou por um processo gradual e contínuo de implantação. Assim, a cada etapa pode revisar e ajustar o sistema, adequando-o ao momento, utilizando metodologias. Existem algumas ferramentas reconhecidas que podem contribuir como parâmetros para realização de avaliações. Esses sistemas se complementam às normas e permitem acompanhar e avaliar a gestão da responsabilidade social, por meio de indicadores, abrangendo aspectos distintos. Indicadores de responsabilidade social empresarial – Instituto Ethos É uma ferramenta de uso, essencialmente, interno, que permite avaliar a gestão no aspecto das práticas de responsabilidade social, além do planejamento de estratégias e do monitoramento do desempenho geral da empresa. Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia: INSTITUTO ETHOS. Indicadores Ethos. [s.d.]. Disponível em: https://www. ethos.org.br/conteudo/indicadores/. Acesso em: 3 fev. 2019. 7.7 Responsabilidade social: refletindo sobre possibilidades e limites De acordo com Duarte et al.(1986 apud PASSOS, 2012), os primeiros estudos sobre responsabilidade social no Brasil afirmavam que o termo era “controvertido e de difícil precisão”. Segundo os autores, havia quem a entendesse como obrigação legal, comportamento ético, ou filantropia e caridade.Schommer et al. (1999 apud PASSOS, 2012, p. 165) “[...] asseguram que o termo continua sendo de difícil precisão, agora já envolvido com outros conceitos, tais como: filantropia empresarial, filantropia estratégica, cidadania empresarial e ética nos negócios”. Diferentes autores defendem que algumas empresas confundem responsabilidade social com filantropia, sendo esses conceitos distintos. 103 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Toldo (2002) registra a diferença entre os dois conceitos: Filantropia significa “amizade do homem para com outro homem” (ABBAGNANO, 1998 apud TOLDO, 2002, p. 1) [...]. Na linguagem moderna, filantropia restringe-se à ajuda. Passando para a esfera empresarial, temos o seguinte entendimento: filantropia é o ato de a empresa distribuir uma parte de seu lucro a ocasionais pedintes. Acontece de maneira eventual. É uma ajuda (PASSOS, 2012, p. 84). Já o conceito de Responsabilidade Social: [...] são estratégias pensadas para orientar as ações das empresas em consonância com as necessidades sociais, de modo que a empresa garanta, além do lucro a da satisfação de seus clientes, o bem estar da sociedade. A empresa está inserida nela e seus negócios dependerão de seu desenvolvimento, e, portanto, esse envolvimento deverá ser duradouro. É um compromisso (TOLDO, 2002, p. 84). Para Passos (2012), no Brasil há uma rejeição ao termo filantropia, “[...] porque o mesmo está impregnado de significados que o conduzem à ideia religiosa de caridade e doação”. Alguns preferem denominar de “cidadania empresarial”, por achar que este termo é mais amplo e pode incluir práticas filantrópicas e de responsabilidade social; entretanto, “[...] ele é mais apropriado a ações voltadas para a comunidade, realizadas por empresas a partir da criação de fundações e institutos” (p. 165). No entanto, o autor defende que em nosso país é mais comum o uso da expressão responsabilidade social para as ações praticadas por empresas, estando relacionada à ação empresarial, lucrativa, podendo incluir ou não ações filantrópicas ou com a comunidade. 7.7.1 Responsabilidade social corporativa: algumas contribuições Segundo Cavalcante (2009), as recentes transformações globais tecnológicas, econômicas e políticas que afetaram a vida social em todo o mundo geraram questionamentos novos acerca dos valores e da ética social. Nesse contexto, Fischer (2003 apud CAVALCANTE, 2009) afirma que ocorre o resgate do conceito e da prática da responsabilidade social, perdidos ao longo de décadas. No Brasil, a concepção de responsabilidade social “[...] aparece com muita evidência sob a forma de responsabilidade social corporativa, associada a iniciativas empresarias de intervenção social, ou de apoio a projetos, programas e entidades voltados à ação social” (CAVALCANTE, 2009, p. 29). De acordo com Kraemer (2005) o conceito responsabilidade social corporativa acompanha a noção de sustentabilidade, que busca “[...] conciliar as esferas econômica, ambiental e social na geração de um cenário compatível à continuidade e à expansão das atividades das empresas no presente e no futuro”. Ou seja, para ser considerada uma empresa socialmente responsável, torna-se necessário que esta apresente ações que respeitem o ser humano e a natureza. 104 Unidade III Nessa perspectiva, a responsabilidade social corporativa tem crescido nos últimos anos, em companhias de diferentes tamanhos e setores, o que influencia no desenvolvimento de estratégias nos seus programas, em áreas como ética de negócio, ambiente de trabalho, meio ambiente, marketing responsável e envolvimento comunitário. Cavalcante (2009) afirma que foi na década de 1970 que a concepção de responsabilidade social coorporativa passou a ser utilizada para a elaboração do termo desempenho corporativo, sendo este, na época, pouco operacional. Nessa década, Sethi (1975 apud PASSOS, 2012) definiu três estágios de desempenho baseado no comportamento das empresas: “[...] obrigação social, responsabilidade social e responsividade social” (p. 24). Entretanto, apesar da sua contribuição ser importante, o autor não definiu clara e operacionalmente o termo desempenho social corporativo. No final da década de 1970, Carroll (1979, p. 499 apud CAVALCANTE, 2009), definiu responsabilidade social corporativa como: [...] desempenho corporativo em quatro diferentes categorias de responsabilidade: econômica, legal, ética e discricionária. [...] Sendo que estas quatro categorias não são mutuamente exclusivas, e nem pretendem retratar um contínuo com as preocupações econômicas de um lado e as preocupações sociais do outro. Além disso, elas não são nem cumulativas, nem aditivas (p. 25). Carroll (1979, p. 500 apud CAVALCANTE, 2009) define essas quatro categorias: — As responsabilidades econômicas como fundamentais e a base para todas as outras, já que antes de qualquer coisa, a instituição negócio é a unidade econômica básica da sociedade. — As responsabilidades legais são definidas como parte integrante do contrato social entre empresa e sociedade, uma vez que a sociedade espera que os negócios cumpram sua missão econômica dentro da estrutura de requisitos legais. — As éticas, em que, apesar de não serem necessariamente codificadas em leis e regulamentações, são esperadas pelos membros da sociedade em relação às empresas, já que a sociedade possui expectativas acima dos requisitos legais em relação aos negócios. — As responsabilidades discricionárias, ou seja, aquela em que os negócios têm a liberdade de assumir ou não, uma vez que não há imposição legal ou ética, além de não haver uma mensagem clara da sociedade neste sentido. Dessa forma, esta categoria seria de natureza voluntária por parte das empresas (CARROLL, 1979, p. 500 apud CAVALCANTE, 2009, p. 25). 105 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR A partir dessas colocações, a autora define que a responsabilidade social corporativa dos negócios “[...] abrange as expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade possui em relação às organizações em determinado período de tempo” (CARROLL,1979, p. 500 apud CAVALCANTE, 2009, p. 25). Ou seja, a responsabilidade social corporativa constitui-se das expectativas que a sociedade possui em relação às organizações em determinado momento histórico. Porém, inúmeros autores, dentre eles Cavalcante (2009), defendem que esse conceito merece uma análise mais aprofundada, já que existe “[...] inconsistências conceituais e práticas mal elaboradas que geram um ambiente bastante confuso e teoricamente frágil” (p. 29). Para Kraemer (2005), a concepção de responsabilidade social vem sendo amplamente difundida por parte das empresas, pois elas têm enfrentado novos e crescentes desafios impostos pelas [...] exigências dos consumidores, pela pressão de grupos da sociedade organizada e por legislações e regras comerciais que demandam, por exemplo, proteção ambiental, produtos mais seguros e menos nocivos à natureza e o cumprimento de normas éticas e trabalhistas em todos os locais de produção e em toda a cadeia produtiva. Na contramão desse argumento, Belisário e Ramos (2011) defendem que a responsabilidade social corporativa tem sido usada como mercadoria para responder “[...] às constantes pressões de consumidores informados, atualizados e conscientes. Responsabilidade social e sustentabilidade passam então a ser palavras de ordem para conquistar um mercado extremamente competitivo” (p. 1). Segundo Cavalcante (2009, p. 31), o tema responsabilidade social corporativa torna-se cada vez mais comum nos espaço da mídia, na organização e no campo de atuação de diversas entidades da sociedade civil, tais como: • O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), criado em 1981 e responsável pelo Balanço Social no Brasil entre as empresas, como instrumento de gerenciamento da atividade social das organizações. • O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, criado em 1998 e responsável pelaelaboração de manuais e indicadores para a autoavaliação das empresas em relação ao desempenho empresarial responsável. • A Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES), que estimula iniciativas de responsabilidade social corporativa e empreendedorismo social. • O Grupo de Instituto, Fundações e Empresas (Gife), que apoia as empresas a desenvolverem ações sociais com racionalidade econômica e eficiência administrativa, entre outros. 106 Unidade III Lembrete A responsabilidade social corporativa pressupõe o desenvolvimento sustentável pautado na harmonia entre as esferas econômica, ambiental e social que possibilite a expansão das atividades das empresas no presente e no futuro. Feitas essas distinções, avancemos em nossa reflexão. Rasquinha (2010) afirma que o Instituto Ethos é uma das instituições que mais se destacam na divulgação do conceito de responsabilidade social na sociedade brasileira. Oded Grajew assim define este conceito: [...] a atitude ética da empresa em todas as suas atividades. Diz respeito às interações da empresa com funcionários, fornecedores, clientes, acionistas, governo, concorrentes, meio ambiente e comunidade. Os preceitos da responsabilidade social podem balizar, inclusive, todas as atividades políticas empresariais (GRAJEW; INSTITUTO ETHOS, 2001 apud RASQUINHA, 2010). A lógica da responsabilidade social exige uma nova postura dos atores envolvidos, pautada em valores éticos – os quais estudaremos a seguir – que visem ao desenvolvimento sustentado da sociedade em sua totalidade. Vai [...] muito além da postura legal da empresa, da prática filantrópica ou do apoio à comunidade. Significa mudança de atitude, numa perspectiva de gestão empresarial com foco na qualidade das relações e na geração de valor para todos (RASQUINHA, 2010). É importante destacar que as empresas socialmente responsáveis são vistas pelo consumidor com “bons olhos”, tornando-se, como a própria autora defende, “[...] um diferencial competitivo e um indicador de rentabilidade e sustentabilidade no longo prazo” (RASQUINHA, 2010), o que explicita um contexto contraditório, permeados pela lógica neoliberal, em que o objetivo principal é criar condições para o acúmulo de capital. No entanto, a responsabilidade social é uma realidade que está em crescimento no Brasil, sendo impossível negá-la ou agir como se ela não existisse. Para Passos (2012), de fato, existe aceitação maior por parte dos clientes de serviços e produtos oferecidos por empresas consideradas socialmente responsáveis. Tendo como alvo esses clientes, o número de empresas que iniciam experiência nesse campo crescem a cada dia. 107 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Porém, nem toda a ação praticada por essas empresas pode ser considerada responsabilidade social. Não é socialmente responsável a empresa que age agora de uma forma correta e em outro momento de maneira inversa [...] a responsabilidade social pressupõe consciência e compromisso das empresas com as mudanças sociais (PASSOS, 2012, p. 166). De acordo com Moysés (2001 apud PASSOS, 2012), esses compromissos são condições para que uma empresa possa ser considerada socialmente responsável, ou como defende, uma “empresa cidadã”: [...] no estágio de empresa cidadã, a empresa passa na transformação do ambiente social, sem se ater apenas aos resultados financeiros do balanço econômico; busca avaliar a sua contribuição à sociedade e se posiciona de forma pró-ativa nas suas contribuições com os problemas sociais (MOYSÉS, 2001 apud PASSOS, 2012, p. 90). O fato é que o envolvimento das empresas no Terceiro Setor – mesmo que dentro dessa lógica perversa do capital – tem encontrado ambiente propício para seu fortalecimento, resultando inclusive em algumas experiências expressivas no enfrentamento da questão social. 8 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS 8.1 A implantação de um processo de responsabilidade social nas empresas A seguir apresentaremos alguns conceitos fundamentais para implantação de um processo de responsabilidade social nas empresas: • Responsabilidade social empresarial (SER): é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. • Stakeholder: termo em inglês amplamente utilizado para designar as partes interessadas, ou seja, qualquer indivíduo ou grupo que possa afetar a empresa por meio de suas opiniões ou ações, ou ser por ela afetado. Há uma tendência cada vez maior em se considerar stakeholder quem se julgue como tal. • Parceiros: organizações com as quais se estabelece um relacionamento especial e estreito em função de fatores e razões diversas. • Colaboradores: todos aqueles que estão envolvidos na execução das atividades de uma organização como empregados, prestadores de serviços e funcionários terceirizados. 108 Unidade III • Balanço social: é um meio de dar transparência às atividades corporativas através de um levantamento dos principais indicadores de desempenho econômico, social e ambiental da empresa. Além disso, é um instrumento que amplia o diálogo com todos os públicos com os quais a empresa relaciona-se: acionistas, consumidores e clientes, comunidade vizinha, funcionários, fornecedores, governo, organizações não governamentais, mercado financeiro e a sociedade em geral. Durante sua realização, o balanço social funciona também como uma ferramenta de autoavaliação, já que dá à empresa uma visão geral sobre sua gestão e o alinhamento dos valores e objetivos presentes e futuros da empresa com seus resultados atuais. • Ação social: é qualquer atividade realizada pelas empresas para atender às comunidades em suas diversas formas (conselhos comunitários, organizações não governamentais, associações comunitárias etc.), em áreas como assistência social, alimentação, saúde, educação, cultura, meio ambiente e desenvolvimento comunitário. Abrange desde pequenas doações a pessoas ou instituições até ações estruturadas, com uso planejado e monitorado de recursos, seja pela própria empresa, por fundações e institutos de origem empresarial ou por indivíduos especialmente contratados para a atividade. • Diversidade: princípio básico de cidadania que visa assegurar a cada um condições de pleno desenvolvimento de seus talentos e de suas potencialidades, considerando a busca por oportunidades iguais e respeito à dignidade de todas as pessoas. A prática da diversidade representa a efetivação do direito à diferença, criando condições e ambientes em que as pessoas possam agir em conformidade com seus valores individuais. Lembrete A área de responsabilidade social pode estar em diferentes segmentos dentro de uma organização, mas necessariamente tem interface com vários deles. 8.1.1 Processos fundamentais para que a responsabilidade social passe a fazer parte do planejamento estratégico de uma organização Implantação A implantação de um programa de responsabilidade social empresarial não acontece por decreto, portaria e/ou comunicado interno, como também pela realização de grandes eventos e/ou campanhas publicitárias. A implantação destes programas de maneira efetiva significa uma mudança de mentalidade e/ou cultura, fazendo com que acionistas, gestores, colaboradores, fornecedores e todos demais envolvidos na rede de relacionamentos da empresa acreditem e internalizem a ética como a única maneira de realizar negócios e atingir seus resultados, de forma sustentável. 109 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Este processo só irá ocorrer a médio prazo em algumas empresas, em outras a longo prazo e em algumas nunca. Mas, todo processo deve começar por uma ação ou conjunto de ações que irão abrir as portas para esta mudança. A essaação ou conjunto de ações denominamos sensibilização. Sensibilização Por sensibilização entendemos como o ato ou efeito de sensibilizar a si mesmo e/ou a outros, envolvidos direta e/ou indiretamente em um processo e/ou situação definida previamente. Por sensibilizar, a exposição de uma pessoa, grupo de pessoas e/ou instituição a um propósito específico, do que resulta uma resposta, atitude e/ou reação. Pelo próprio conceito fica claro que precisamos conhecer e definir a situação envolvida, respondendo algumas questões: • Qual o cenário da sensibilização? • Quem iremos sensibilizar? • Como iremos realizar esta sensibilização? • Utilizaremos instrumentos, metodologias e/ou linguagens específicas para cada público-alvo? • Quanto tempo necessitaremos para realizar este processo? • As ações e/ou conjunto de ações serão realizadas simultaneamente ou não? • Quem irá realizar estas ações? • O presidente da empresa, diretores, gestores e/ou consultores? • Que indicadores utilizaremos para avaliar o sucesso ou não do processo de sensibilização? O processo de sensibilização deve ser realizado antes da concepção do programa de responsabilidade social empresarial, como também da sua divulgação para o público interno e/ou externo. Deve-se utilizar além da intranet e de informativos, palestras, grupos de estudo, fóruns de discussão e workshops. Estas atividades ajudam a empresa no estabelecimento de uma linguagem comum ou seja que a empresa tenha clareza dos conceitos de responsabilidade social empresarial corretos, independentemente do nível hierárquico, da escolaridade ou da área que pertencem. A linguagem, os exemplos, os atrativos e as situações também devem ser desenhadas de acordo com a característica de cada público-alvo. Por exemplo, quando pensamos no público interno podemos estabelecer grandes especificidades entre acionistas, diretores, gestores e colaboradores em geral. O mais importante é que percebamos a importância dessa atividade, como também que a sensibilização não deve ser realizada apenas no momento inicial do programa de responsabilidade social 110 Unidade III empresarial, mas, sempre que necessário. Desta forma, o processo de implantação como a formação de multiplicadores da causa e/ou do programa de responsabilidade social acontecerão de maneira menos sacrificada, minimizando a possibilidade de insucesso. 8.1.2 Exemplos de projetos de responsabilidade social Comunidade e educação Visa encontrar meios pelos quais a empresa poderá dar suporte e melhorar a educação oferecida pelas escolas públicas locais. Estratégias: • Encorajar os funcionários a se tornarem mentores ou voluntários e a participarem de eventos organizados pelas escolas, ou até mesmo a darem palestras a alunos e professores sobre habilidades profissionais necessárias para atuar em suas áreas de trabalho. • Viabilizar doações de equipamento usado ou excedente, restos de matéria-prima ou produtos ultrapassados e que podem ser utilizados para projetos escolares. • Doar de tempo de trabalho dos funcionários para ajudar em consertos ou faxinas. • Visitar a escola para dar pequenas palestras sobre diferentes assuntos, por exemplo, aconselhamento sobre carreiras, ou aconselhamento sobre as matérias que estão sendo estudadas. • Ajudar na gestão da escola. • Promover de programas de melhoria da qualidade de ensino, como preparação de material didático ou treinamento de professores. • Convidar os alunos da escola para visitarem a empresa. Se possível, permitir que os alunos operem equipamentos. • Organizar de um intervalo para lanche do qual funcionários e alunos possam participar. • Criar um intercâmbio com a escola, muitas escolas procuram por empresas locais que possam oferecer estágio, remunerado ou não, para os seus alunos. Comunidade/global O envolvimento com a comunidade deve ser uma prioridade da administração. É importante usar todas as oportunidades para comunicar aos funcionários que o suporte à comunidade e o envolvimento com ela é importante para a empresa. 111 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Estratégias: • Sempre que possível, recompensar aqueles que participam de projetos comunitários. • Incentivar gerentes e supervisores a encorajar os funcionários na participação de projetos comunitários que não interfiram na execução de suas tarefas. • Considerar a possibilidade de incluir na avaliação de desempenho de gerentes e supervisores a capacidade que possuem de encorajar seus subordinados a se envolverem com a comunidade. Invista na comunidade. • Considerar a possibilidade de utilização de serviços providos por organizações comunitárias. Dessa forma, a empresa poderá ajudar na revitalização de uma comunidade carente. • Considerar, também, a destinação de recursos do imposto de renda para fundos municipais da criança e do adolescente, ou outros similares. • Considerar o recrutamento em comunidades carentes. Há também várias organizações sem fins lucrativos que poderão identificar nestas comunidades indivíduos que estejam treinados e capacitados a exercer as funções pretendidas. • Procurar locais comunitários que possuam boas instalações para o estabelecimento de escritórios, produção e venda, com acesso fácil para as demais áreas da cidade. Verificar se há incentivos para a instalação de empresas nessas áreas e onde estão localizadas. Comunidade/trabalho voluntário: estratégias • Considerar a possibilidade da criação de uma lista de oportunidades de trabalhos voluntários. • Listar várias organizações que procuram por voluntários, especificando qual o tipo de trabalho a ser realizado e o tipo de habilidade necessária. • Solicitar aos funcionários sugestões sobre outras organizações e encorajar o envolvimento com o trabalho delas. • Disponibilizar tempo para voluntários. Considerar uma política de autorizar a dispensa de funcionários para a realização de trabalho voluntário em comunidades carentes, ou para organizações beneficentes. Algumas empresas autorizam a dispensa remunerada, enquanto outras realizam a dispensa sem pagamento, mas sem ônus para o período de férias. A dispensa autorizada pelas empresas geralmente vai de uma hora por mês até uma semana por ano. • Oferecer apoio financeiro para estimular o trabalho voluntário Considerar a possibilidade de fazer contribuições para organizações das quais os funcionários fazem parte da diretoria, ou para as quais eles façam trabalho voluntário. Algumas empresas costumam fazer contribuições em nome 112 Unidade III da própria empresa, outras, em nome dos funcionários. Nos dois casos, elas não só estimulam o funcionário a continuar seu trabalho voluntário, como também melhoram a imagem de sua empresa, por abraçar causas nobres. • Recompensar os funcionários pelo trabalho voluntário. Uma ideia seria organizar uma festa especial para os voluntários (e convidar seus parceiros de trabalho). Organize um sorteio, autorize dias extras para o período de férias ou providencie quaisquer outros incentivos para encorajar o trabalho voluntário. Não se esquecer de que recompensas simples podem também ter um valor significativo para o funcionário. Um certificado ou carta de reconhecimento assinada por um dos diretores da empresa é uma opção. • Adotar um projeto específico. Considerar a possibilidade de envolver a empresa em um projeto ou causa que envolva vários voluntários, talvez um cujo objetivo se aproxime da declaração de missão de sua empresa. Por exemplo, um restaurante ou uma empresa do ramo de alimentos poderá se engajar em campanhas para o extermínio da fome ou para o encorajamento de práticas agrárias sustentáveis, ou ainda organizar uma horta comunitária ou a distribuição de sopa para pessoas carentes. • Mobilizar fornecedores e clientes. Unir os esforços de sua empresa em empreender projetos de trabalho voluntário aos de seus fornecedores e clientes. Considerar a possibilidade de fazer parcerias com outras empresas da comunidade, sejam elas de grande ou pequeno porte,de forma a desenvolver projetos que a empresa não poderia empreender individualmente. Comunidade/filantropia: estratégias • Verificar a possibilidade da contribuição de produtos ou serviços diretamente para organizações da comunidade que possam fazer uso deles. • Encorajar a contribuição por parte dos funcionários. Considerar a possibilidade da empresa contribuir nas mesmas bases em que contribui cada um dos funcionários, ou uma contribuição da empresa ainda maior, baseada naquela efetuada por eles. Para facilitar as contribuições, considerar a possibilidade de deduzi-las automaticamente na folha de pagamento dos funcionários. • Apoiar eventos locais. Considerar a possibilidade de comprar um bloco de ingressos para eventos comunitários de cunho cultural ou esportivo, de forma a vendê-los com desconto para funcionários e clientes da empresa, ou para doação a usuários de serviços de organizações sem fins lucrativos, os quais não teriam recursos financeiros para realizar essa aquisição. • Encorajar outros tipos de doações. Encorajar os funcionários a doarem comida, roupas usadas, móveis e outros itens. Da mesma forma, organizar para que a empresa faça doações de máquinas usadas, mobílias e outros materiais e equipamentos para escolas e organizações sem fins lucrativos da localidade. 113 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Comunidade/outros projetos comunitários: estratégias • Apoiar o comércio local. Considerar a possibilidade de conseguir descontos juntos aos comerciantes locais para os funcionários da empresa. • Considerar a possibilidade de ceder espaço interno da empresa para encontros de organizações e grupos sem fins lucrativos, de maneira tal que a segurança e as operações da empresa não fiquem comprometidas. • Cessão de espaço para alfabetização, aulas particulares, encontros, ou outros programas. Procurar por oportunidades de fazer o uso do espaço e instalações da empresa em benefício de programas comunitários. Informar-se sobre os riscos que tal empréstimo pode acarretar: consultar sempre sua companhia de seguros sobre essa questão. Direitos humanos Na escolha dos fornecedores de produtos e/ou serviços, procurar trabalhar com parceiros que compartilham com a empresa a preocupação de dar um tratamento justo aos trabalhadores. Até mesmo empresas que contratam mão de obra em outras localidades para a produção de seus produtos (geralmente em países em desenvolvimento) devem considerar o contexto econômico, cultural e social do trabalhador. Estratégias: • Verificar quais são os fornecedores; quais as fábricas utilizadas para a manufatura dos produtos; onde estão localizadas e suas capacidades de produção. • Adotar um código de conduta. Muitas empresas criaram seus próprios códigos de conduta, os quais podem ser utilizados como modelo. A maioria destes códigos incorpora as leis trabalhistas locais e padrões internacionais aceitáveis de conduta. Um código de conduta pode ser um guia para o pessoal de sua empresa aferir até que ponto os itens ali relacionados estão sendo cumpridos de forma justa. • Comunicar suas expectativas aos fornecedores. A empresa tem maiores possibilidades de alcançar os objetivos propostos se estes forem comunicados claramente aos fornecedores. • Solicitar aos fornecedores um comprometimento formal. • Utilizar todas as oportunidades para monitorar o cumprimento das regras estabelecidas. • Oferecer sugestões sobre possíveis ajustes para a melhoria da prática. Tentar criar um clima de confiança, tentando discutir, inicialmente, itens menos sensíveis, tais como saúde e segurança. Meio ambiente/minimização de resíduos: estratégias • Criar um código de reciclagem. Promover a ideia, do ponto de vista de sua empresa, que “resíduo” representa tudo aquilo que não se pode utilizar ou vender, mas que se deverá pagar para poder se livrar dele. 114 Unidade III • Encorajar os funcionários a apresentar sugestões para a redução do resíduo através da reutilização de materiais e reciclagem daqueles que não poderão mais ser utilizados. • Reduzir o consumo de papel. Em muitas empresas, o papel é a maior fonte de lixo. • Doar o excedente de móveis e equipamentos. Criar uma relação informal de organizações beneficentes que aceitam essas doações. • Evitar produtos que geram resíduos. Ao fazer as compras da empresa, procurar por produtos que sejam mais duráveis, de melhor qualidade, recicláveis ou que possam ser reutilizados. • Evitar produtos descartáveis. • Considerar o aluguel de máquinas ou equipamentos usados, ou compartilhados com outros empresários da área. Mercado e outras ideias Fazer os investimentos de sua empresa com instituições socialmente responsáveis. Considerar a possibilidade de aplicar os fundos da empresa em instituições financeiras que suportem uma causa social. Existe uma grande variedade delas trabalhando no desenvolvimento de programas comunitários. Utilizar cartões de afinidade e serviços de instituições socialmente responsáveis. Local de trabalho/Combate ao Assédio Sexual Estabelecer uma diretriz contra o assédio. Esta não é só uma atitude social responsável, mas uma exigência legal. Desenvolver e implementar um política firme contra o assédio sexual. Estratégias: • Explicar a matéria de forma clara e concisa, dando exemplos concretos para definir o comportamento proibido. • Explicar os meios disponíveis na empresa para formalizar reclamações. • Comunicar frequentemente aos funcionários, fornecedores, clientes e outros parceiros de trabalho, as diretrizes da empresa com relação ao assunto, sempre de forma consistente. • Comunicar a todos que qualquer reclamação recebida, implicará em uma investigação objetiva, salientando as penalidades aplicadas por violação da regra, inclusive a possível demissão. • Proibir, estritamente, qualquer vingança contra aqueles que apresentarem reclamações e monitorar pessoalmente tais situações, especialmente quando a reclamação envolver o supervisor direto do funcionário molestado. • Proporcionar programas de treinamento. Treinar supervisores e gerentes para criar um ambiente de trabalho positivo e livre de assédios, para que reconheçam e confrontem o assunto de forma rápida e eficaz. 115 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR • Estabelecer uma regra justa para encaminhamento das reclamações. Propiciar um ambiente correto para a apresentação e discussão de reclamações recebidas, bem como um processo justo para investigar as alegadas acusações. • Criar um processo investigatório que respeite a privacidade, discutindo a matéria somente com as partes envolvidas. Estar atento que, ao tratar desses assuntos, os atos poderão ter implicações legais. • Considerar a possibilidade de criar uma comissão composta de um corpo de funcionários de áreas diversas e da diretoria, como uma última instância, para se propor uma medida concreta a respeito do ocorrido. • Criar um ambiente propício para a discussão do assunto. Considerar a criação de um mecanismo que possa ser utilizado pelo funcionário para aconselhamento, de forma anônima. Disponibilizar pessoal treinado para aconselhamento e discussão de possíveis casos de assédio e promover discussões e palestras sobre o assunto. 8.1.3 Cheklist e autoavaliação e aprendizagem Trata-se de uma ferramenta de uso essencialmente interno, que permite a avaliação da gestão no que diz respeito à incorporação de práticas de responsabilidade social, além do planejamento de estratégias e do monitoramento do desempenho geral da empresa. Auditorias e prestação de contas Ao obter os primeiros resultados sobre a avaliação da empresa, é recomendado compartilhar com outras pessoas de confiança que possam dar um parecer honesto sobre os resultados obtidos e depois, incorporar os pareceres e comentários recebidos ao texto final do relatório de avaliação. Também é importante compartilhar a avaliação. Começando o compartilhamento com grupos selecionados e, em um segundo momento, tornando-a pública. Considerar a possibilidadede torná- la pública anualmente. Incluir os sucessos, dificuldades e as metas para futuras melhorias. Distribuir o relatório para os funcionários, fornecedores, clientes chaves e outros que sejam considerados como interessados pela avaliação. 8.2 Ética empresarial: apontamentos para o debate Para muitos autores, pensar responsabilidade social das empresas está diretamente ligado a uma questão ética, dado que implica mudança de valores e atitudes. Para Moysés (2001 apud PASSOS, 2012) refletir a responsabilidade social como uma questão ética [...] pressupõe uma atuação eficaz da empresa com todos aqueles que são afetados por sua atividade, sejam diretas sejam indiretas, possuindo um alto grau de comprometimento com seus colaboradores internos e externos (MOYSÉS, 2001 apud PASSOS, 2012, p. 164). 116 Unidade III Logo, refletir sobre ética empresarial significa pensar sobre os valores que imperam em nossa sociedade e que permeiam as relações sociais dentro e fora das empresas em um contexto no qual a chamada responsabilidade social vem ganhando força nas últimas décadas. 8.2.1 Ética e moral: existe diferença? Segundo Passos (2012), etimologicamente ética e moral são palavras que possuem origens distintas, mas significados iguais. Moral vem do latim mores, que quer dizer costume, conduta, modo de agir; ética vem do grego ethos e, do mesmo modo, quer dizer costume, modo de agir. Contudo, alguns autores, entre eles Vázquez (apud PASSOS, 2012), defendem que, apesar da proximidade são termos distintos, como veremos a seguir: • Moral: “[...] enquanto norma de conduta, refere-se a situações particulares e quotidianas, não chegando à superação desse nível” (PASSOS, 2012, p. 22). • Ética: “[...] destituída do papel normatizador, ao menos no que diz respeito aos atos isolados, torna-se examinadora da moral. Exame que consiste em reflexão, em investigação, em teorização” (PASSOS, 2012, p. 22-23). Pode-se assim dizer que “[...] a moral normatiza e direciona a prática das pessoas, e a ética teoriza sobre as condutas, estudando as concepções que dão suporte à moral” (PASSOS, 2012, p. 23). Sánchez (1975, p. 12 apud PASSOS, 2012, p. 23) define que a Ética “[...] é a ciência que estuda o comportamento moral dos homens na sociedade”. Saiba mais O livro a seguir poderá contribuir para uma reflexão mais aprofundada, porém sucinta sobre ética: VALLS, A. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasilense, 2008. (Coleção Primeiros Passos, 177). Nasch (1993, p. 6 apud PASSOS, 2012, p. 66) define ética nas organização como “[...] o estudo da forma pela qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos de uma empresa comercial”. O que nos permite pensar que a ética nas organizações apresenta-se como uma reflexão aprofundada da forma como os valores morais historicamente construídos são experimentados no ambiente empresarial. 117 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR De acordo com Passos (2012): [...] a ética nas organizações não se caracteriza como valores abstratos nem alheios aos que vigoram na sociedade; ao contrário, as pessoas que as constituem, sendo sujeitos históricos e sociais, levam para elas as mesmas crenças e princípios que aprenderam enquanto membros da sociedade [...]. Visa tornar inteligível a moral vigente nas empresas, através de estudos que contemplem também as questões de tempo e o espaço [...], pois os valores organizacionais mudam com as mudanças histórico-sociais e as relações humanas seguem a mesma tendência (p. 66). Apesar do crescimento do número de empresas que demonstram interesse pela ética, ainda é forte a tensão entre a busca do lucro e a possibilidade de agir com ética (PASSOS, 2012). Como essa tensão não se resolveu, os problemas morais continuaram crescendo dentro das organizações, vividos desde situações corriqueiras, “[...] como prática do favoritismo, a obediência inquestionável às leis [...] até subornos, sonegação fiscal entre outros” (PASSOS, 2012, p. 67). Sendo que esses comportamentos antiéticos ferem não só os outros, como também o próprio indivíduo, pois são desumanos com todos. Os valores vigorantes na sociedade transformam as pessoas em seres apenas produtivos, desprezando a consciência de sua dimensão humana, que implica tempo para a vida, para o lazer e para a família (PASSOS, 2012). É importante destacar que os valores considerados como antiéticos, que colocam o lucro na frente do ser humano, são aqueles que fundamentam a sociedade capitalista, cujo objetivo é acumular capital. Sendo que – como vimos anteriormente – o capitalismo, na realidade brasileira, tem características próprias devido à forma como esse modo de reprodução foi implantado. Passos (2012) defende que a ética “[...] nos ajuda a entender que um bom profissional não é aquele que age como uma máquina, cumprindo ordens inconscientes e deixando de impor limites entre os mundos profissional e pessoal” (p. 67). Logo, a ética nas organizações implica não somente mudanças, mas também uma revolução que transforme a relação capital x trabalho, o que não nos parece tarefa fácil. A autora concorda que na prática, em uma organização, as ações humanas são orientadas por princípios morais que, na maioria das situações, não satisfazem, dado que objetivam apenas garantir a sobrevivência de alguns de seus membros e, no máximo, da empresa, visando manter o posto de trabalho. Outro exemplo de ação moral dentro de uma organização, destacado pela autora, é a que se constitui pela imposição de leis e pela cobrança do seu cumprimento, seguida por processos punitivos, entre outros. Porém, defende “[...] uma ética em que as empresas procurem e alcancem o lucro, que é imprescindível para sua continuidade, dede que seja o ‘lucro virtuoso’, aquele capaz de gerar valor e que é posto a serviço do desenvolvimento social” (PASSOS, 2012, p. 69). 118 Unidade III Exemplo de aplicação Você acredita que o “lucro” pode ser “virtuoso” e priorizar qualidade de vida? Pesquise sobre esse tema e tire suas próprias conclusões. Afinal, a ética nos aponta esse caminho. Na perspectiva de Passos (2012), a discussão sobre responsabilidade social como uma questão ética pressupõe: a) [...] atuação eficaz da empresa com todos aqueles que são afetados por sua atividade, sejam diretas, sejam indiretas, possuindo um alto grau de comprometimento com seus colaboradores internos e externos (MOYSÉS, 2001, p. 85 apud PASSOS, 2012); b) [...] reconhecer obrigação não só com acionista e clientes, mas também com os seres humanos, com a construção de uma sociedade mais justa, honesta e solidária, uma sociedade melhor para todos, assim, ela é uma prática moral. É uma prática orientada pela ética, que vai além das obrigações legais e econômicas, rumo às sociais, respeitando-se a cultura e as necessidades e desejos das pessoas; c) [...] que as empresas precisam comportar-se de forma justa com todas as pessoas com quem elas se relacionam direta ou indiretamente: colaboradores, clientes, fornecedores, consumidores, acionistas e comunidade. Precisam ficar atentas às necessidades das pessoas que são afetadas por elas, não como uma postura legal ou filantrópica, mas como compromisso e responsabilidade (PASSOS, 2012, p. 166-167). Ou seja, pensar em responsabilidade social nos obriga a pensar em ética. O que nos leva a colocar o ser humano em primeiro lugar, “[...] respeitando os direitos humanos, justiça, dignidade; e com o planeta, comportando-se de forma responsável e comprometida com a sustentabilidade de toda a rede da vida” (PASSOS, 2012, p. 167). Para ilustrar a nossa reflexão sobre ética nas organizações, apresentaremos a seguir o Código de Ética elaborado pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), a primeira Associação da América do Sul a agrupar organizações de origem privada que financiam ou executam projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público. Código de ética Gife: um exemplo para ilustrar I) Compromissos dos associadosdo Gife • Servir ao ideal do Gife, zelando pela aplicação profissional e ética dos conceitos e práticas de investimento social, conforme aqui descritas. • Procurar disseminar esses conceitos e práticas, inspirando outros, principalmente por meio de seu próprio exemplo. 119 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR • Adotar sempre uma atitude transparente quanto aos procedimentos e reais motivações de suas práticas de investimento social. II. A relação dos associados com seus mantenedores/doadores • Zelar para que, na definição e implementação dos programas de desenvolvimento social patrocinados por terceiros, os ideais do Gife sejam observados, sem distorções. • Gerenciar eticamente, com competência e eficácia, os recursos a si confiados, cumprindo fielmente as intenções dos doadores, mantendo-os informados quanto aos resultados. III. A relação dos associados com seus beneficiários/parceiros • Proceder sempre de modo a privilegiar o benefício do parceiro sobre vantagens do próprio associado. • Colaborar para manter uma relação produtiva entre as partes, tendo por base respeito, compromisso e confiança, privilegiando o processo de negociação em caso de conflitos. • Não alimentar expectativas infundadas, nem avançar promessas que não possam ser cumpridas. IV. A relação dos associados com outras entidades similares • Proceder de modo cooperativo, buscando colaborar dentro das possibilidades, interesses e princípios éticos. • Assumir na crítica, quando esta se fizer necessária, uma atitude construtiva. • Assumir, em situação de conflitos, uma posição aberta à negociação e ao entendimento. V. A relação dos associados com o Poder Público • Ater-se estritamente à legislação geral e específica. • Não buscar relações que privilegiem interesses corporativos, em detrimento do bem comum. • Agir de maneira clara, com transparência quanto aos objetivos e interesses envolvidos. VI. A conduta dos profissionais pertencentes aos quadros das entidades associadas do Gife • Trabalhar pela efetiva realização da missão do Gife, observando os valores éticos que o embasam. 120 Unidade III • Conduzir todas as atividades pessoais e profissionais com honestidade e integridade de modo a refletir favoravelmente no setor de investimento social. • Esforçar-se por agir sempre com competência, definindo objetivos de autodesenvolvimento permanente. • Afirmar com atitudes pessoais o compromisso com o desenvolvimento social e seu papel na sociedade. • Respeitar o sigilo profissional, quando necessário. Fonte: Gife (s.d.). 8.3 Responsabilidade social de empresas: um desafio para o serviço social Como estudamos, as organizações filantrópicas há muito tempo estão presentes na realidade brasileira, porém, é a partir da década de 1990 que o Terceiro Setor tem encontrado terreno propício para sua proliferação. Isso porque, no contexto neoliberal, a sociedade civil, assim como a então “filantropia empresarial”, tem sido chamada a “contribuir” no enfrentamento da questão social, concretizando uma “[...] transferência de responsabilidade para a iniciativa privada no campo do investimento social, que, na verdade, seria uma atribuição constitucional do Estado brasileiro em todos os níveis do governo” (MENEZES, 2010, p. 505). Desse modo, a atuação das empresas na área social tem se expandido por meio de financiamento de OSCs, parcerias com associações de moradores, criação e a manutenção de fundações sociais, em uma estratégia de gestão empresarial, conhecida atualmente como “responsabilidade social empresarial” (RSE), podendo, inclusive, contar com o auxilio governamental, via parcerias, tendo as OSCs como “pontes” e/ou via deduções de impostos devidos ao Estado, respaldadas por leis federais (MENEZES, 2010). Nesse cenário, as organizações que compõem o Terceiro Setor “[...] têm se aprimorado para buscar financiamentos junto a essas empresas, firmando parcerias e até se adequando aos seus interesses para atraí-las” (MENEZES, 2010, p. 505) e, com a ampliação das ações sociais empresariais, ascende um campo potencial para a atuação do assistente social na chamada responsabilidade social das empresas (MENEZES, 2010). Ou seja, o Terceiro Setor – como estudamos – é composto por diferentes instituições e compreende a soma de esforços envolvendo a empresa privada, o governo, as ONGs e a sociedade civil. Tem se tornado em sua totalidade um campo de trabalho emergente para os profissionais do Serviço Social. A atuação do assistente social na responsabilidade social das empresas pode ser considerada nova (ou renovada), dado que se diferencia das tradicionais demandas impostas à profissão no âmbito da 121 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR empresa – onde a atuação profissional se voltava basicamente para o público interno – funcionários e suas famílias (MENEZES, 2010, p. 505). No contexto da responsabilidade social, a empresa visa superar a postura assistencialista em que mantinham ações sociais caracterizadas como “[...] ajudas, doações esporádicas feitas diretamente às comunidades ou pessoas pobres que se localizavam no entorno das empresas” (BEHRING apud MENEZES, 2010, p. 508-509). Institui-se então a chamada por alguns autores de “neofilantropia empresarial”, ou seja, retorno da filantropia, porém com características distintas, já que a empresa busca ações [...] mais preventivas dos “problemas sociais”. É calçada por um discurso baseado em conceitos como ética e cidadania, participação e parceria, mas ainda representa uma modalidade de intervenção reguladora da “pobreza”. Estado e sociedade devem trabalhar em parceria para amenizar a “exclusão social” [...]. Tem como características/objetivos principais: o incentivo à educação como meio de aumentar “a competitividade econômica nacional” e facilitar as “condições de inserção do país na nova ordem mundial” (idem, p. 56) seguindo uma lógica de eficiência. Esse ativismo é divulgado pelo marketing social, onde ganha centralidade a figura do “cidadão consumidor” e suas preocupações com as desigualdades sociais e um desenvolvimento sustentável; o discurso da “parceria” e o comprometimento com uma causa (BEHRING apud MENEZES, 2010, p. 509). Para Menezes (2010), a chamada responsabilidade social das empresas pauta-se em um discurso de defesa da cidadania, da democracia, da participação social etc. para o enfrentamento da “questão social” como uma estratégia ideológica, objetivando facilitar o aumento de seus níveis de acumulação. No entanto, a referida autora afirma que isso não significa que o profissional deva recusar-se a atuar nesse espaço, já que, como trabalhador, necessita vender sua força de trabalho. Porém, defende que ele não deve alimentar ilusões quanto à possibilidade de as práticas sociais das empresas tornarem-se a solução para as expressões da questão social, muito menos enganar-se, confiando que o mercado está de fato totalmente comprometido com a superação da desigualdade social. Saiba mais O livro a seguir poderá contribuir para uma reflexão mais ampla sobre os desafios impostos ao assistente social na sociedade atual. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 122 Unidade III Como nos alerta Sarachu (1999 apud Santos, 2007), é responsabilidade do profissional do serviço social refletir sobre essas transformações, compreendendo a ampliação do conceito de Estado e de sociedade civil, e a própria condição de uma profissão que atua nessa mediação. Menezes (2010) defende que este é um contexto contraditório, em que as fundações sociais das empresas e seus projetos de cidadania empresarial não têm condições de substituir os postos de trabalho fechados no âmbito estatal e que o vínculo empregatício com esses projetos é precário, flexível e, muitas vezes, temporário. Pontua ainda que a prática do assistente social nesse campo de atuação [...] embora tenha um discurso de construção de cidadania, se restringea uma prática assistencialista, que busca o consenso entre classes antagônicas, ou mesmo de enquadramento ou cooptação do usuário já que nesse campo não existe espaço para “sujeito de direito” – existem usuários de serviços privados. Nessas ações não existe nenhuma garantia de atendimento; o público alvo é escolhido de acordo com a imagem que a empresa pretende passar aos consumidores; suas ações são paliativas e superficiais, já que as empresas precisam mostrar resultados rápidos para ganhar visibilidade e garantir seus lucros. Seus atendimentos não se constituem em direitos sociais, ao contrário do que ocorre no Estado. Estão inscritas no campo “não direito”, contribuem para o paternalismo nos atendimentos e para a refilantropização da assistência social (MENEZES, 2010, p. 526). O que só reforça o fato de que a inserção do assistente social nesse espaço deve ser crítica no sentido de identificar as forças presentes nessa arena de conflitos, visualizando limites, mas buscando possibilidades que potencialize a prática profissional. Como afirma Santos (2007), o Serviço Social brasileiro tem elementos para que se realizem uma análise dessa realidade e se elaborarem respostas para as novas demandas impostas à profissão. Para superar ações pautadas no senso comum, enfatiza a autora, faz-se necessário que a atuação profissional no Terceiro Setor se fundamente em reflexões sobre a relação entre a dimensão do público e do privado, assim como sobre os conflitos na sociedade capitalista e sobre o compromisso histórico da profissão no Brasil. O fato é que temos experimentado tempos difíceis, onde o capital mostra-se cada vez mais valioso em relação ao homem. Nessa lógica, as expressões da questão social têm se aprofundado, tornando a vida da classe trabalhadora cada vez mais difícil. Nesse cenário, o Estado apresenta-se cada vez mais distante de concretizar a proteção social pautada nos princípios constitucionais que garantem a atendimento do ser humano em suas múltiplas necessidades. Na contramão, ele convoca a sociedade civil e o setor privado para exercer ações no enfrentamento da questão social que deveriam ser de sua responsabilidade. 123 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Essa realidade implica que o profissional que tem como objeto de trabalho as expressões da questão social busque uma compreensão profunda dos elementos que se manifestam nas diferentes áreas de atuação profissional, seja ela pública ou privada, não sendo diferente no Terceiro Setor. Apenas sabendo interpretar essa realidade é que o assistente social será capaz de pensar em ações profissionais comprometidas com seu projeto ético-político e, para esse fim, é preciso instrumentalizar-se, entender a lógica instituída no seu local de trabalho, preparando-se para enfrentar os desafios impostos cotidianamente, superando o imediatismo e traçando uma trajetória norteada pelo projeto ético-político da profissão. “O conformismo imperante em alguns profissionais determina, muitas vezes, a falta de análise e de resposta às novas questões que se colocam na atualidade” (SARACHU, 1999, p. 150 apud SANTOS, 2007, p. 130, tradução nossa). Observação O assistente social que atua Terceiro Setor deve ser crítico, no sentido de identificar as forças presentes nessa arena de conflitos, visualizando limites, mas buscando possibilidades que potencializem a prática profissional. 8.3.1 A interface entre a responsabilidade social e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) Quando se trata da elaboração e implantação de processos de responsabilidade social nas organizações é fundamental estabelecer uma relação das ações com os ODMs e ODSs. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que são as oito metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, com o apoio de 191 nações, inclusive do Brasil, e ficaram conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). São elas: 1. Acabar com a fome e a miséria. 2. Oferecer educação básica de qualidade para todos. 3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres. 4. Reduzir a mortalidade infantil. 5. Melhorar a saúde das gestantes. 6. Combater a aids, a malária e outras doenças. 7. Garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente. 8. Estabelecer parcerias para o desenvolvimento. 124 Unidade III Saiba mais Os ODMs foram aprovados na Organização das Nações Unidas (ONU) pelos seus 191 países integrantes, incluindo o Brasil, no ano 2000, que se comprometeram através de governo e sociedade a colaborar para a sustentabilidade do planeta, por meio de ações concretas até o ano 2015. INSTITUTO ETHOS. Objetivos do desenvolvimento do milênio. São Paulo: Instituto Ethos, 2006. Disponível em: https://www.ethos.org.br/wp-content/ uploads/2014/05/pubPOR_Objet_de_Desenv_do_Milenio_1edi.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020. Já os ODS surgiram com o propósito de serem criadas metas internacionais para o desenvolvimento dos países. Nesse sentido, em setembro de 2015, líderes mundiais reuniram-se na sede da ONU, em Nova York, e decidiram mais um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. Nesse encontro ficou estabelecida a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a qual contém o conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos. 125 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos. Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade. Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. Adaptado de: Nações Unidas Brasil (s.d.). A Agenda 2030 e os ODS afirmam que para pôr o mundo em um caminho sustentável é urgentemente necessário tomar medidas ousadas e transformadoras. Assim, os ODS constituem uma ambiciosa lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes, a serem cumpridas até 2030. Se cumprirmos suas metas, seremos a primeira geração a erradicar a pobreza extrema e iremos poupar as gerações futuras dos piores efeitosadversos da mudança do clima. Por esses motivos, todos os profissionais que estiverem relacionados com a Responsabilidade Social devem, necessariamente, estudar e conhecer profundamente esses objetivos. Pois somente, dessa forma conseguiram obter um reconhecimento da seriedade do projeto. Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, acesse: NAÇÕES UNIDAS BRASIL. 17 objetivos para transformar o mundo. [s.d.]. Disponível em: https://nacoesunidas.org/pos2015/. Acesso em: 3 fev. 2020. 126 Unidade III Resumo As organizações filantrópicas há muito tempo estão presentes na realidade brasileira, mas é a partir da década de 1990 que o Terceiro Setor tem encontrado terreno propício para sua proliferação, cuja composição tem se tornado cada vez mais complexa, contemplando diferentes atores e revelando a emergência de um novo modelo de atuação na área social, sendo ela a atuação envolvendo a chamada parceira entre empresa, governo, OSCs. A proliferação e a diversificação das organizações se mantiveram por meio do movimento da responsabilidade social, onde para ser considerada uma empresa socialmente responsável a organização necessita desenvolver ações que conciliem as esferas econômica, ambiental e social na geração de um ambiente compatível com a expansão das atividades das empresas, no presente e no futuro. A introdução do setor empresarial no Terceiro Setor se deu de maneira organizada, por meio da intensificação de doações de recursos e da firmação de parcerias com as OSCs, além da criação de suas próprias fundações e institutos empresarias, que passaram a implementar diretamente os programas e projetos. No debate acerca da responsabilidade social das empresas, alguns autores defendem que, embora paute-se em um discurso de defesa da cidadania, da democracia, da participação social etc., para o enfrentamento da questão social, na prática, essa é mais uma estratégia ideológica do que objetiva para facilitar o aumento de seus níveis de acumulação. Contra esse argumento, outros autores defendem que os objetivos e práticas sociais não podem ser confundidos com interesses comerciais e econômicos e que, embora na prática essa seja uma tendência, a verdadeira responsabilidade social deve efetivar-se na promoção da cidadania e do bem-estar para o público interno e externo, contemplado desde seus colaboradores até os membros da sociedade e o meio ambiente. O fato é que a responsabilidade social é uma realidade que está em crescimento no Brasil. Esse modo de atuação empresarial e a introdução da visão de mercado no Terceiro Setor têm reforçado a tendência de modernização e multiplicação das organizações sem fins lucrativos como um todo. 127 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR As organizações que compõem o Terceiro Setor têm se aprimorado para buscar financiamentos junto a essas empresas, firmando parcerias e até se adequando aos seus interesses para atraí-las. Elas têm buscado instrumentos para atuar com melhor qualificação técnica, visando à qualidade e resultados para atrair credibilidade e identificar novas estratégias de sustentabilidade e financiamento. A lógica da responsabilidade social exige uma nova postura dos atores envolvidos, pautada em valores éticos que visem o desenvolvimento sustentado da sociedade em sua totalidade. Logo, pensar responsabilidade social das empresas está diretamente ligado à uma questão ética, já que implica mudança de valores e atitudes. O que não nos parece tarefa fácil! Com a ampliação das ações sociais empresariais, ascende um campo potencial para a atuação do assistente social na chamada responsabilidade social, que coloca demandas diferenciadas das tradicionais impostas à profissão no âmbito da empresa – onde a atuação profissional voltava-se basicamente para o público interno – funcionários e suas famílias. Esse é um campo de atuação contraditório, em que se expressam valores opostos aos defendidos pelo projeto ético-político-profissional. Isso só reforça o fato de que a inserção do assistente social nesse espaço deve ser crítica, no sentido de identificar as forças presentes nesse campo de conflitos, visualizando limites, mas buscando possibilidades que potencializem práticas norteadas pelo projeto em questão. Faz-se necessária uma atuação profissional fundamentada na reflexão sobre a relação entre a dimensão do público e do privado, assim como sobre os conflitos na sociedade capitalista e sobre o compromisso histórico da profissão no Brasil. Apenas sabendo interpretar essa realidade é que o assistente social será capaz de pensar ações profissionais comprometidas com seu projeto ético-político e para esse fim é preciso instrumentalizar-se, entender a lógica instituída no seu local de trabalho, preparando-se para enfrentar os desafios impostos cotidianamente, superando o senso comum e o imediatismo, e traçando uma trajetória à luz desse projeto. Nesse mesmo sentido, é fundamental que qualquer projeto de responsabilidade social esteja alinhado com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. Pois tais objetivos buscam concretizar os direitos humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. Por esses motivos, eles são integrados e indivisíveis e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. 128 Unidade III Exercícios Questão 1. (IADES 2018, adaptada) Leia o trecho a seguir: Enquanto o setor empresarial, em sua grande maioria, apoiava as reformas liberais do Estado, o significado dominante atribuído à responsabilidade social e empresarial e às práticas de ação social empresarial foi incorporado como uma forma de compensar os efeitos negativos dessas reformas [...]. Um dos problemas dessas ações é que elas retiram da arena política e pública os conflitos distributivos e as demandas coletivas por cidadania e igualdade. Distanciada de uma cidadania fundada na garantia de direitos, a noção de cidadania sugerida pela significação atribuída à responsabilidade social, uma vez reduzida à prática da ação social empresarial, está sujeita a decisões particulares e à intervenção pulverizada, ao arbítrio das preferências privadas de financiamento [...]. ASHLEY, P. A. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 138-155 (com adaptações). Considerando o fragmento do texto apresentado, assinale a alternativa correta. A) A maior parte do setor empresarial era contrária às reformas liberais do Estado. B) As práticas de ação social eram uma forma que as empresas encontraram de compensar os efeitos adversos do não apoio às reformas liberais do Estado. C) As ações de responsabilidade social promovidas pelas empresas estão sujeitas a decisões individuais. D) Na visão da autora, é positivo que as demandas por cidadania e igualdade estejam afastadas das discussões políticas. E) As empresas provocam o fortalecimento da cidadania fundada na garantia de direitos. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o texto afirma que a maioria das empresas apoiava as reformas neoliberais. B) Alternativa incorreta. Justificativa: segundo a autora, as ações de responsabilidade social foram uma compensação das empresas às reformas neoliberais. Essa compensação é parcial, pois não favorece a construção de uma cidadania fundamentada em direitos. 129 PROJETOS SOCIAIS NO TERCEIRO SETOR C) Alternativa correta. Justificativa: um problema da delegação de funções públicas a entidades do setor privado e do Terceiro Setor é o fato de que não há um controle democrático sobre os projetos sociais por eles desenvolvidos, de maneira que as decisões sobre a provisão dos serviços sociais ficam à mercê das preferências, dos preconceitos e dos interesses por lucro e por construção de marca de particulares. D) Alternativa incorreta. Justificativa: para a autora, a arena pública democrática seria o espaço ideal para a
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