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Fabiana Baggio - Relatório sobre cuidados com filhotes de Didelphis sp (Gambás) - 2021 (1)

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UNIVERSIDADE POSITIVO 
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO 
Cuidados com filhotes de Didelphis sp (Gambás) 
 
 
 
FABIANA BAGGIO 
ORIENTADOR: Prof. Andre Saldanha 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
DEZEMBRO 2021
 
 
UNIVERSIDADE POSITIVO 
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO 
Cuidados com filhotes de Didelphis sp (Gambás) 
 
FABIANA BAGGIO 
 
Relatório apresentado à Coordenação do 
Curso de Medicina Veterinária como requisito 
parcial de Avaliação do Estágio Obrigatório do 
Curso de Medicina Veterinária da 
Universidade Positivo. 
Orientador: Prof. Andre Saldanha 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
DEZEMBRO 2021
 
 
 
FABIANA BAGGIO 
 
 
 
CUIDADOS COM FILHOTES DE DIDELPHIS SP (GAMBÁS) 
 
 
 
Relatório de Estágio apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Universidade 
Positivo, como requisito parcial à obtenção do título de Médico Veterinário, sob 
orientação do Prof. Andre Saldanha. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
___________________________________________________ 
Prof. Orientador Andre Saldanha 
 Universidade Positivo 
 
___________________________________________________ 
Prof. Nina da Cunha Medeiros 
 Universidade Positivo 
 
___________________________________________________ 
Prof. Sabrina Rodigheri 
 Universidade Positivo 
 
 Curitiba, 01 de dezembro de 2021 
1 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Gostaria de começar agradecendo a Deus, por ter colocado a medicina 
veterinária na minha vida e ter me guiado durante esses 5 anos. Sou grata ao Universo 
por ter deixado que eu realizasse grandes sonhos e alcançar lugares incríveis, por ter 
colocado pessoas maravilhosas na minha vida que me ajudaram a trilhar meu 
caminho. 
Agradeço aos meus pais por terem me apoiado em todas as minhas decisões, 
mesmo que fossem malucas. Sempre estiveram do meu lado quando eu precisava 
chorar, quando sorria, quando me frustrava… independente da ocasião, sempre tive 
o colo deles para correr. Obrigada pelo apoio incondicional de vocês, sem isso eu não 
teria conseguido chegar onde cheguei. 
Agradeço às minhas tias por terem acreditado em mim, mais do que eu mesma 
acreditei. Por torcerem pelo meu sucesso e minha felicidade, por cuidarem de mim e 
estarem sempre ao meu lado. Vocês são muito especiais e me inspiram! 
Agradeço aos meus amigos pelos momentos vividos durante esses anos de 
graduação, pelas conversas, desabafos, choros e risadas… Com certeza o que mais 
me fará falta será a convivência diária com cada um. A caminhada foi mais leve pela 
presença de vocês. 
Não posso deixar de agradecer aos meus professores, que me conduziram a 
ser a minha melhor versão dentro da profissão e também como pessoa. O amor e 
gratidão que sinto por todos é imensa, é uma honra compartilhar a profissão com 
vocês! Em especial agradeço ao meu orientador e amigo, André Saldanha, por 
acreditar em mim, me ajudar sempre que preciso e topar minhas ideias! 
À equipe do Centro de Apoio à Fauna Silvestre, em especial M.V. Lu Popp e 
M.V. Hélia Puglielli, agradeço todo o carinho e parceria que tiveram comigo durante 
os dois meses que estive estagiando na casa. Em pouco tempo me conectei com cada 
um e sei o quanto são incríveis. Apesar das dificuldades, sempre desempenharam 
suas funções dignas de orgulho. Me faltam palavras para dizer o quanto admiro vocês. 
Agradeço também à equipe veterinária, aos tratadores e às estagiárias que 
estiveram comigo no Zoológico e Cavalaria do Beto Carrero. Foi uma honra aprender 
com cada um, poder conhecer os bastidores do mundo animal do maior parque da 
América do Sul foi surreal. Obrigada pelas conversas, risadas e ensinamentos! 
2 
 
 
Aos profissionais que passaram pela minha vida durante a graduação em 
estágios passados deixo meu muito obrigada. Carrego cada um de vocês em meu 
coração, já que tive sorte em conhecer só pessoas incríveis que me ensinaram muito 
além da veterinária. Vocês fazem parte de quem eu sou hoje e de quem eu serei 
depois de formada. 
 
11 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 O estágio curricular obrigatório foi realizado em duas unidades: o Centro de 
Apoio a Fauna Silvestre (CAFS), durante o período de 02/08/21 a 29/09/21, sob 
supervisão da M.V. Hélia Puglielli; e o Zoológico e Cavalaria do Beto Carrero World, 
no período de 01/10/21 a 31/10/21, sob supervisão do M.V. João Vitor Campos 
Roeder. Ambos os estágios sob orientação do M.V. Prof. Andre Saldanha. 
 O estágio no CAFS teve foco em animais silvestres nativos e exóticos de vida 
livre e apreendidos. A unidade é responsável pelo recebimento e cuidados veterinários 
para que, posteriormente, o Instituto Água e Terra (IAT) destine os animais. Não há 
centro cirúrgico no local, portanto apenas tratamentos clínicos e ambulatoriais 
permanecem no CAFS. Os animais que necessitam de terapias mais avançadas são 
encaminhados à Clínica Vida Livre pelo IAT. 
 O estágio no Zoológico e Cavalaria do Beto Carrero World teve foco em animais 
silvestres e domésticos de vida livre e mantidos em cativeiro. A instituição possui um 
plantel de 17 espécies de mamíferos, 10 de répteis e 24 de aves, totalizando 
aproximadamente 800 animais. A medicina veterinária preventiva desempenha um 
papel importante na unidade. 
 A escolha pelas unidades se deu pelo grande prestígio de ambas e pela 
experiência profissional que abordaria várias espécies voltadas à medicina zoológica. 
Os objetivos no CAFS foram: aprender sobre atendimento primário a animais 
silvestres em situações críticas; colocar em prática os conhecimentos teóricos sobre 
terapias medicamentosas em animais silvestres; aprender sobre cuidados neonatais 
e de filhotes. Os objetivos no Zoológico e Cavalaria do Beto Carrero World foram: 
aprofundar os conhecimentos em medicina preventiva; executar atividades de 
enriquecimento ambiental; aprimorar os conhecimentos práticos na medicina equina; 
ampliar os conhecimentos em animais considerados mega vertebrados. 
 A escolha pelo tema do relatório com foco nos filhotes e neonatos de Didelphis 
sp. (Gambás) ocorreu devido a vontade de reduzir a taxa de mortalidade, auxiliar a 
equipe técnica do CAFS e melhorar a qualidade da criação artificial. 
27 
 
 
4 DESCRIÇÃO DE PROBLEMA 
Durante o estágio curricular obrigatório no CAFS foram recebidos vários 
neonatos e filhotes órfãos de Gambás (Didelphis sp). A elevada taxa de mortalidade 
(67,6%), a dificuldade na criação artificial e dificuldade na avaliação para soltura foram 
problemas constantes que a equipe possuía. Apesar da equipe veterinária (total de 
duas pessoas) ser capacitada, a alta demanda associada com a falta de recursos e 
falta de uma equipe maior dificultou o correto manejo e, pode ter contribuído para uma 
maior mortalidade. Por outro lado, um protocolo mais sólido e objetivo poderia ser uma 
abordagem prática para otimizar a rotina, facilitar a tomada de decisões e 
potencialmente reduzir a mortalidade desses animais. Sendo assim, o presente 
relatório buscou construir um manual prático baseado na literatura científica disponível 
para discutir essa problemática e corrigi-la conforme a literatura e experiências 
vivenciadas na prática. 
28 
 
 
5 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO 
5.1 BIOLOGIA GERAL 
 Os gambás pertencem à família Didelphidae, da ordem Didelphimorphia, 
infraclasse Methateria, subclasse Theria e classe Mammalia. Na América Central e do 
Sul há 4 espécies (Tabela 3), sendo elas a Didelphis albiventris, Didelphis aurita, 
Didelphis imperfecta e Didelphis marsupialis (NASCIMENTO, HORTA; CUBAS, 2014). 
São animais marsupiais com hábitos crepusculares-noturnos que pesam, em média, 
10g a 3kg (ROSSI, BIANCONI; REIS et al., 2006). 
 
TABELA 4 - Espécies, nome popular, distribuição e hábito alimentar de Gambás latino-americanos 
Espécie Nomes populares Distribuição geográfica Hábito alimentar 
Didelphisalbiventris 
Gambá-de-orelha-
branca, raposa, 
raposinha, timbuí, 
timbu, saruê, 
seringuê, sarigueia, 
micurê 
Porção leste e centro-
oeste do Brasil, 
Paraguai, Uruguai, 
regiões norte e central 
da Argentina e Sul da 
Bolívia, Colômbia, 
Equador e Peru. 
Frugívoro-onívoro 
Didelphis 
aurita 
Gambá-de-orelha-
preta, raposa, timbu, 
saruê, seringuê 
Estado de Alagoas a 
Santa Catarina, Mato 
Grosso do Sul, 
Paraguai e a província 
de Missiones na 
Argentina 
Onívoro 
Didelphis 
imperfecta 
Gambá, saruê, 
mucura 
Venezuela ao sul do rio 
Orinoco, sudoeste do 
Suriname, Guiana 
Francesa, Extremo 
norte do Brasil 
Sem informações 
29 
 
 
Espécie Nomes populares Distribuição geográfica Hábito alimentar 
Didelphis 
marsupialis 
Gambá-de-orelha-
preta, saruê, mucura 
Nordeste do México até 
as regiões centrais do 
Brasil e da Bolívia 
Frugívoro-onívoro 
Fonte: Tabela modificada a partir de Nascimento e Horta (2014). 
 
5.2 GESTAÇÃO 
 
 Os Didelphis sp são marsupiais, ou seja, são mamíferos que possuem duas 
fases gestacionais. A primeira etapa ocorre no interior do útero e a segunda etapa no 
marsúpio (bolsa localizada na região abdominal caudal) (Figura 12). No interior da 
bolsa há 11 papilas mamárias, revestida por epitélio estratificado pavimentoso 
queratinizado (SAMOTO, MIGLINO e AMBROSIO, 2006). A gestação dura em média 
12 a 13 dias, resultando em 5 a 13 filhotes (MALTA e LUPPI; CUBAS, 2007). 
 Os marsupiais possuem uma estratégia reprodutiva que prioriza a lactação ao 
invés da gestação prolongada. Sendo assim, são gerados mais filhotes em menor 
tempo com menor gasto de energia. Em casos de abortamento ou morte dos 
neonatos, a fêmea inicia nova gestação com rapidez (NASCIMENTO, HORTA; 
CUBAS, 2014). 
 
 
FIGURA 12 - Filhotes no interior do marsúpio. A – Filhotes com idade de 4 a 8 semanas. Foto: 
Adriana Joppert B – Filhote com idade de até 3 semanas. Foto: Iasmin Macedo 
 
 Os gambás são classificados como espécies poliéstricas sazonais, com 
duração do ciclo estral de 28 dias, portanto a época fértil depende diretamente da 
estação climática e variação de luminosidade, ocorrendo no inverno e primavera 
(TYNDALE-BISCOE e RENFREE, 1987; MALTA e LUPPI; CUBAS, 2007). O 
acasalamento tende a ser poliândrico, ou seja, copulando com mais de um parceiro 
(BERNARDO, LORETTO e VIEIRA, 2007). 
12A 12B 
30 
 
 
 Ao chegar o momento do parto, a fêmea apresenta contrações uterinas com 
sinais clínicos de dor se curvando. Em seguida, ela se curva com a cauda para frente 
para que diminua a distância entre a vulva e o marsúpio, ocorrendo então a expulsão 
dos filhotes pelo canal vaginal, que irão migrar até o interior do marsúpio. O parto leva 
em torno de 2,5 a 12 minutos e o deslocamento do filhote até o marsúpio em torno de 
6,5 segundos (TYNDALE-BISCOE e RENFREE, 1987). 
O processo reprodutivo dos gambás é bem descrito na literatura, porém não foi 
acompanhado durante o estágio. No CAFS eram recebidas muitas fêmeas 
atropeladas com filhotes que necessitavam de cuidados, ou até fêmeas mortas e 
filhotes órfãos. Os gambas são animais sinantrópicos, ou seja, se adaptam muito bem 
em ambientes modificados pelo homem, como Curitiba e região metropolitana, se 
aproveitando de realidades criadas pela sociedade para sobreviver e reproduzir, como 
abrigos em construções, alimentos em lixos, outras oportunidades e, portanto, o 
conflito natureza-seres humano se torna praticamente inevitável. Esses eventos vão 
de acordo com a literatura, considerando a realização do estágio em tal época. 
Recentemente, em uma visita ao CAFS, ainda mais filhotes estavam presentes, 
ratificando a relevância do assunto. 
 
5.3 CUIDADOS POR IDADE 
 Os neonatos e filhotes de Didelphis sp são divididos em seis fases diferentes, 
conforme a idade, alterando assim o manejo alimentar e ambiental (Figura 13). 
Os neonatos da fase um quase não possuem pelos, os olhos estão fechados 
em desenvolvimento e boca em formação com uma pequena abertura rostral. A 
alimentação nesse período pode ser com fórmulas prontas como Leite NAN sem 
Lactose e Petmilk® ou preparada, conforme o Bosque e Zoológico Fábio Barreto 
recomenda: 500 ml de leite integral de vaca, uma caixa de creme de leite, uma colher 
(sobremesa) de mel e uma colher (sopa) de ração comercial para gatos umedecida 
(MACEDO, ARAUJO E MUSIELLO, 2020; RAMOS, 2019). A dieta deve ser fornecida 
por meio de uma seringa de 1 ml, acoplada em cateter de tamanho 24 ou 20 (sem 
agulha) ou escalpe, na quantidade de 0,5 a 1,0 ml por refeição, com intervalo de 2 
horas (em média 13 refeições em 24hrs). Vale ressaltar a importância de antes da 
alimentação, estimular a excreção de urina e fezes do neonato por meio de algodão 
31 
 
 
umedecido com água (35°C a 37°C) em movimentos circulares na região genitoanal 
(MACEDO, ARAUJO E MUSIELLO, 2020). 
 
 
FIGURA 13 – Esquema representando idades e fases dos Gambás. A – Fase 1 (0 a 3 semanas). 
Foto: acervo pessoal (2021). B – Fase 2 (4 a 8 semanas). Foto: Iasmin Macedo. C – Fase 3 (9 a 10 
semanas). Foto: acervo pessoal (2021). D – Fase 4 (11 a 12 semanas). Foto: acervo pessoal (2021). 
E – Fase 5 (13 a 14 semanas). Foto: Iasmin Macedo. F – Fase 6 (15 semanas em diante). Foto: 
Leonardo Merçon 
 
Neonatos da fase dois já possuem pele mais escurecida, com mais pelos e 
início da abertura dos olhos. A alimentação segue a mesma da fase um, na quantidade 
de 2 a 3 ml, no intervalo de 3 horas (em média 8 a 9 refeições em 24 horas). Continua 
necessário a estimulação da região genitoanal para excreção de urina e fezes 
(MACEDO, ARAUJO E MUSIELLO, 2020). 
Neonatos (fase um e dois) são os mais difíceis de alimentar e cuidar, já que 
são prematuros. Durante o estágio no CAFS, a maior parte dos gambás que morriam 
eram dessas fases, principalmente pela dificuldade de condiciona-los a mamar pela 
seringa com cateter/escalpe e manter à risca os intervalos de alimentação. Outra 
dificuldade é manter a alimentação durante à madrugada, sendo necessário leva-los 
para casa, manter em algum local quente (de preferência com aquecedor) e acordar 
dentro do intervalo necessário. A situação agrava quando a equipe não tem tamanho 
13A 13B 13C 
13D 13E 13F 
32 
 
 
condizente com a demanda, tornando os estagiários essenciais para esse suporte ao 
CAFS. 
Filhotes na fase três já apresentam pelos em todo o corpo e já exploram mais 
o ambiente, já se limpam e podem medir até 8 cm. Os dentes começam a se 
desenvolver nessa etapa, portanto é interessante iniciar a introdução de papas de 
frutas na dieta. Deve-se seguir fornecendo leite (fórmula ou receita) com ração de 
cachorro triturado e papa de frutas. O volume das refeições deve ser de 3 ml com 
intervalo de 3 a 4 horas. Mantendo a estimulação para defecar e urinar (MACEDO, 
ARAUJO E MUSIELLO, 2020). 
Filhotes maiores, da fase quatro, medem em torno de 10 cm, já possuem maior 
cobertura do corpo com pelos. A alimentação segue com leite (fórmula ou receita), 
adicionando 20 g de papa de frutas com pequenos pedaços de ração disponíveis em 
recipientes no recinto para estimular a procura pela alimentação sozinhos. Não há 
mais necessidade de estimular eliminação de excretas (MACEDO, ARAUJO E 
MUSIELLO, 2020). 
Diferentemente do CAFS, a equipe veterinária do Zoológico e Cavalaria do 
Beto Carrero World não fornece leite a partir dessa fase, apenas papa de tamanduá 
(ovo cozido, batata doce cozida, banana prata, couve manteiga, ração de gato, 
beterraba crua, cenoura crua e mamão papaia) intercalando com pedaços de frutas, 
ovos cozidos, carne moída e tenébrios, com a justificativa de que a papa de tamanduá 
é mais calórica, fazendo com que o filhote ganhe peso mais rápido. 
A experiência com a papa de tamanduá, apesar de ter sido pouca, se 
demonstrou mais eficaz do que fornecer apenas leite com frutas. O filhote cuidado no 
Beto Carrero World deuentrada com 60 g e em duas semanas já estava com 113 g, 
quase o dobro do peso. Já os filhotes alimentados no CAFS com leite e frutas 
ganhavam, em média, 10 g no mesmo intervalo de tempo. Existem diversos fatores, 
tanto endógenos quanto exógenos, que podem resultar nessa diferença de ganho de 
peso entre os animais. Além disso, a baixa repetição torna qualquer inferência muito 
subjetiva, por outro lado, protocolos mais consistentes e com maior número de animais 
podem ser desenvolvidos no intuito de confirmar essa hipótese. Caso se confirme, 
poderia ser um grande suporte na criação artificial de gambás, otimizando o ganho de 
peso, acelerando o crescimento e saindo das fases críticas mais rapidamente, 
possivelmente até acelerando o processo de soltura/destinação desses indivíduos. 
33 
 
 
Filhotes em transição para jovem, fase cinco, pesam em média 400g e medem 
18 cm. A dieta deve ser composta por 50 g de frutas, verduras e legumes cozidos em 
pequenos pedaços diariamente, 20 g de ração para cães filhotes duas vezes na 
semana e três tenébrios ou besouros pequenos duas vezes na semana (MACEDO, 
ARAUJO E MUSIELLO, 2020). 
Jovens a adultos, na fase seis, medem 20 a 98 cm. Já se alimentam 
voluntariamente de frutas, verduras e legumes cozidos duas a três vezes na semana, 
peito de frango e ovo com casca cozidos uma a duas vezes na semana e 20 g ração 
de cão três a quatro vezes na semana (MACEDO, ARAUJO E MUSIELLO, 2020). 
As fêmeas já nascem com a bolsa marsupial em desenvolvimento, sendo assim 
é possível diferenciar de machos pela sua presença. É possível visualizar também o 
escroto em machos e o pênis duplo (Figura 14). 
 
FIGURA 14 - Machos de Didelphis sp. A - Macho de 0 a 3 semanas, evidenciação do escroto (seta 
preta). Foto: acervo pessoal (2021). B - Macho adulto de gambá evidenciando o pênis duplo 
característico nos marsupiais (seta branca) e o escroto (seta preta). Foto: Claudia C. do Nascimento 
 
5.4 RECINTOS PARA CRIAÇÃO ARTIFICIAL 
 Conforme a idade do filhote avança suas necessidades térmicas e físicas se 
alteram. Animais da fase um até a fase três necessitam de aquecimento artificial 
constante por meio de UTA, mantida com temperatura interna de 30-35°C e umidade 
relativa do ar de 70% (Figura 15); ou aquecedores, já que não possuem cobertura 
adequada e suficiente de pelos. Já animais da fase quatro podem ser mantidos 
apenas com aquecedores durante a noite, principalmente em locais frios. Jovens da 
fase cinco e fase seis não necessitam mais de aquecimento artificial. Esse protocolo 
é seguido pelo CAFS. 
14A
a 
14B
a 
34 
 
 
 
FIGURA 15 – Filhote de gambá acondicionado em Unidade de tratamento animal (UTA). Foto: 
Claudia C. do Nascimento 
Filhotes entre a fase um e dois podem ser mantidos em UTA no interior de 
potes de plásticos com algodão e meias ou tecidos para simular o interior do marsúpio, 
mantendo calor e conforto (Figura 16A). Já a partir da fase três, é interessante 
adicionar tocas com caixas de papelão pequenas e tecidos ou meias para que os 
animais se entoquem e se aqueçam (Figura 16B). 
 
FIGURA 16 – Acondicionamento para diferentes fases. A - Ideia de acondicionamento para 
gambás neonatos de 0 a 3 semanas. B – Ideia de acondicionamento para gambás de 10 semanas 
adiante. Fotos: acervo pessoal (2021) 
 
Para filhotes da fase quatro, cinco e seis é interessante iniciar o contato com 
troncos, folhas e terra, pensando na possibilidade de reabilitação e soltura. Caixas de 
madeira, plástico ou recintos menores podem ser enriquecidos com troncos e galhos, 
folhagens diversas e feno (Figura 17). Vale ressaltar também a importância de separar 
16A
a 
16B 
35 
 
 
os filhotes em ambientes diferentes nesse período, já que ocorrerá disputa e brigas, 
até mesmo canibalismo. 
 
FIGURA 17 – Modelo de acondicionamento enriquecido para gambá 
Foto: acervo pessoal (2021) 
 
 Para Didelphis sp. adultos mantidos em cativeiro, a recomendação segundo as 
Instruções Normativas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos 
Naturais e Renováveis (IBAMA), n° 03/2002 e n° 169/2008, é de que haja no mínimo 
4 m2 com altura de 2 m e piso de terra. 
 Como citado anteriormente, é importante adicionar itens para estimular e 
reabilitar os animais. Esses instrumentos servirão também para enriquecimento 
ambiental promovendo bem-estar animal, possibilitando a escalada, esconderijo, 
abrigo e curiosidade. Alguns exemplos são troncos verticais e horizontais, redes feitas 
de mangueira de bombeiro e cordas de sisal (MALTA e LUPPI, 2007). 
 
5.5 PROBLEMAS NA CRIAÇÃO ARTIFICIAL 
 No atendimento inicial ao filhote ou neonato é necessário identificar se o 
mesmo se encontra na tríade neonatal, que consiste em hipotermia, hipoglicemia e 
desidratação. Devido à imaturidade do sistema hipotalâmico regulador e à falta de 
folículos pilosos, o animal não consegue realizar sua auto modulação da temperatura 
corporal e também perde calor com mais facilidade. A imaturidade hepática e baixa 
reserva de gordura corporal favorecem a hipoglicemia, portanto deve ser respeitado o 
intervalo de alimentação para que o animal não fique em jejum por mais horas do que 
36 
 
 
o recomendado. Já a desidratação ocorre devido a imaturidade renal (incapacidade 
de concentrar urina corretamente) e pode ocorrer também devido ao erro no manejo 
– temperaturas elevadas e amamentação/hidratação inadequada (SANCHES et al., 
2017; VANNUCCHI et al., 2017). A tríade deve ser corrigida iniciando pelo 
aquecimento do animal por meio de UTA, mantas, cobertas, tapetes aquecedores, 
bolsas aquecidas e/ou garrafas de plástico ou luvas com água aquecida. Em seguida, 
deve-se corrigir a desidratação por fluidoterapia subcutânea ou intraóssea e, por fim, 
corrigir a hipoglicemia fornecendo alimentação adequada para a idade (MACEDO, 
ARAUJO E MUSIELLO, 2020; NASCIMENTO, HORTA; CUBAS, 2014). 
 Além da tríade neonatal, deve-se atentar a presença de gases abdominais, 
diarreia e a doença óssea metabólica (Tabela 4). Apesar de não ser tão comum, pode 
ocorrer canibalismo entre os filhotes. Durante o estágio no CAFS, uma das caixas não 
foi fechada adequadamente e filhotes entre a fase quatro e cinco escaparam durante 
a noite, entrando em caixas que possuíam filhotes da fase três e se alimentando de 
um dos animais (Figura 18). Sendo assim, é de extrema importância separar os 
filhotes quando estão pertos da fase adulta e assegurar que as caixas/recintos estão 
devidamente fechadas. 
37 
 
 
TABELA 5 – Principais problemas em filhotes órfãos de didelfídeos e suas possíveis causas e soluções 
Alteração Clínica Sinais Clínicos Causas Soluções 
Gases 
abdominais 
Abdome distendido, 
desconforto, letargia animal, 
não urina ou defeca 
Superalimentação, alimentações 
muito frequentes, alimentação à 
base de leite de vaca, sucedâneo 
estragado ou frio, não 
estimulação genitoanal, 
dificuldade em urinar e defecar 
sozinho 
Alimentação em poucas quantidades, aquecer o 
sucedâneo, aquecer o filhote e massagear 
delicadamente seu abdome, não oferecer o 
sucedâneo se este foi deixado em temperatura 
ambiente e não refrigerado, não reutilizar o 
sucedâneo da seringa ou mamadeira, suspender a 
fórmula do sucedâneo e hidratar por via oral ou 
subcutânea nas próximas 24 a 48h, e iniciar a nova 
fórmula gradualmente; realizar o estímulo genitoanal 
Diarreia Fezes líquidas ou muito 
macias 
Alimentação com leite de vaca; 
sucedâneo estragado; fórmula do 
sucedâneo muito concentrada; 
seringas, mamadeiras e 
utensílios sujos; parasitas 
O mesmo para gases; higiene rigorosa das seringas, 
mamadeiras e utensílios; lavar as mãos ou utilizar 
luvas de procedimentos para manusear os filhotes no 
momento da alimentação; vermifugação 
Doença Óssea 
Metabólica 
Dificuldade em andar 
(posição X e sapo); 
inabilidade de escalar; ossos 
frágeis, fraturas múltiplas; 
deformidadesósseas 
Dieta inadequada; deficiência de 
cálcio na dieta; Relação Ca:P 
inadequada 
Alimentação balanceada, com qualidade e relação 
Ca:P apropriada; tratamento suporte; após a 
realização de raios X definir prognóstico e condutas 
nos casos graves com fraturas múltiplas 
Fonte: Adaptada de Nascimento e Horta (2014) e Opossum Society of the United States of America. 
38 
 
 
 
 
FIGURA 18 – Exemplo de caso de canibalismo entre filhotes de Didelphis sp 
Foto: acervo pessoal (2021) 
 
 Durante o estágio no CAFS foram recebidos ao todo 71 Didelphis sp, neonatos 
e filhotes, sendo que 48 vieram à óbito. A taxa de mortalidade foi de 67,6%, calculada 
pela fórmula: N° de animais mortos X 100 / n° total de animais. Comparando com a 
taxa de mortalidade neonatal em cães, 20 a 30%, a taxa calculada é significativa e 
preocupante, sendo mais de três vezes mais alta (SOUZA et al., 2017). Dos 23 
animais sobrevivente, seis estavam em processo de reabilitação para soltura e 14 já 
foram soltos na natureza. 
 Um dos maiores problemas enfrentados durante o estágio no CAFS foi 
encontrar uma equipe capacitada e disposta a levar os filhotes (com idades que 
necessitam de maior suporte) para casa durante a noite para alimentação. Essa tarefa 
geralmente era designada aos estagiários, porém quando não era possível os animais 
permaneciam no CAFS e poucos sobreviviam à noite toda, uma vez que não há 
profissionais de plantão noturno na instituição. 
 
5.6 REABILITAÇÃO E SOLTURA 
 O processo de reabilitação deve seguir cuidados como evitar o contato 
excessivo dos seres humanos com o filhote, reduzindo o risco de imprinting (quando 
o animal se torna dócil e acostumado com a presença de pessoas) e respeitar seu 
ciclo circadiano noturno (MACEDO, ARAUJO e MUSIELLO, 2020). 
 O ambiente artificial deve ser o mais próximo ao que o animal encontrará na 
natureza, com árvores, galhos e troncos para estimular a habilidade de subir, escalar 
39 
 
 
e se equilibrar. Tocas e esconderijos também devem ser fornecidos, assim o animal 
aprenderá a se esconder e se proteger. A alimentação pode ser fornecida em locais 
diferentes e de difíceis acesso, assim o animal aprenderá a procurar e caçar. Para 
alternar o método de fornecimento da comida pode-se utilizar tubos de cloreto de 
polivinila (PVC) perfurados, caixas de papelão com frutas e/ou pedaços de carne no 
seu interior, embrulhar a carne em pedaços de papel, ou ainda dependurar frutas pelo 
recinto. Itens que estimulem sensações olfativas e gustativas, como flores ou plantas, 
promovem bem-estar por meio do enriquecimento ambiental e simulam ambientes 
naturais (MACEDO, ARAUJO e MUSIELLO, 2020). 
 Para identificar se o animal está apto ou não à soltura, é necessário medir seu 
peso e avaliar seus instintos, habilidades diversas e capacidade de procurar e 
encontrar alimentos. O esquema listado na figura abaixo possui sistema de 
pontuação, auxiliando a decisão da equipe técnica na soltura ou não dos jovens de 
Didelphis sp na natureza, confeccionado a partir de informações fornecidas no 
Relatório Técnico ABRAVAS pelo Projeto Marsupiais (Figura 19). 
 
FIGURA 19 – Esquema de Avaliação para Soltura 
Foto: autoria própria adaptado do Relatório Técnico ABRAVAS pelo Projeto Marsupiais (2020) 
 
 No CAFS a soltura dos animais ocorria de forma aleatória, já que não havia um 
protocolo estabelecido para avaliar os gambás. Sendo assim, ao atingirem 70g a 80g 
já eram soltos, para evitar a superlotação e dificultar ainda mais a criação dos 
indivíduos. 
41 
 
 
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CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO­DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens – 
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2014. p. 762 - 788. 
 
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p. 27-66. Disponível em < http://www.uel.br/pos/biologicas/pages/arquivos/pdf/Livro-
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SOUZA, T. D.; MOL, J. P. S.; PAIXÃO, T. A.; SANTOS, R. L. Mortalidade fetal e 
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