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APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período MORFOLOGIA DO RETO E ÂNUS RETO • Última parte do intestino grosso, conectando o cólon sigmoide ao canal anal. • Possui cerca de 12-16cm de extensão. • Pode ser dividido de acordo com sua posição no peritônio: intraperitoneal, retroperitoneal e extraperitoneal. • Possui duas flexuras: sacral (dobra dorsal) e perineal (dobra ventral). • Morfologicamente é similar ao intestino grosso. • Possu i t rês constantes dobras transversas (válvulas de Houston). A dobra retal m é d i a ( v á l v u l a d e Kohlrausch) é a mais forte, localizada a cerca de 7cm do ânus. - obs: tumores abaixo dessa prega podem ser palpáveis durante o toque retal digital. • A ampola retal é consideravelmente elástica e serve como reservatório durante a defecação. • Apresenta estrutura histológica similar ao restante do intestino grosso, com mucosa, submucosa, muscular e serosa/adventícia. Função • O reto é a ultima parada antes das fezes serem eliminadas pelo canal anal. • De forma similar ao cólon, absorve eletrólitos (sódio, potássio, cloreto) e ingredientes alimentares não digeríveis são decompostos por bactérias anaeróbicas. As fezes são espessadas por meio da absorção de água e misturadas com muco. • Ademais, o reto é parte dos órgãos de continência, sendo importante para o mecanismo de defecação. Quando as fezes entram na ampola retal, os receptores de elasticidade são estimulados, logo, a informação é transferida ao sistema nervoso central, que vai estimular a defecação. Com isso, é possível relaxar ou contrair o músculo levantador do ânus e o músculo esfíncter anal externo. • O aumento da pressão da ampola ocasiona relaxamento crescente involuntário dos músculos lisos da pele do ânus e esfíncter anal interno (reflexo inibitório retoanal), dificultando o processo de reter fezes por um longo período de tempo. ÂNUS • O ânus é a abertura na extremidade do tubo digestivo, através da qual as fezes saem do corpo. • É formado, em parte, pelas camadas superficiais do corpo, incluindo a pele e, em parte, pelo intestino. • Um anel muscular (esfíncter anal) mantém o ânus fechado até que a pessoa defeque. SISTEMA NERVOSO ENTÉRICO • A musculatura lisa gastrointestinal é excitada a partir de atividade elétrica intrínseca à esse sistema na membrana das fibras musculares; ou seja, o TGI possui um sistema nervoso próprio, o SN entérico. - Possui +/-100mi de neurônios em atividade. - O SN entérico participa da movimentação, contração e secreção gastrointestinal. - Considerado um “segundo cérebro”, é independente dos outros sistemas. - Componentes básicos: Plexo Mioentérico (Auerbch) e Plexo Submucoso (Meissner). • O trato gastrointestinal depende da integridade dos compostos do SNE para realizar seus movimentos de forma coordenada. • O Plexo Mioentérico se localiza entre as camadas ma is ex te r nas do múscu lo (longitudinal e circular). - presente em toda extensão do sistema digestivo. - realiza contração muscular, ocasionando o aumento do tônus, da velocidade e da intensidade das contrações. - não é totalmente excitatório, mas tem capacidade de liberar neurotransmissores inibitórios. ex: ocasionando o relaxamento dos esfíncteres e passagem do bolo fecal. • O Plexo Submucoso se localiza na camada submucosa. - são mais evidentes nos intestinos. - inerva as células da camada epitelial e músculo liso da muscular da mucosa. - controla as secreções intestinais (as células epiteliais “informam” para o intestino sobre a qualidade do produto digerido, ditando o que precisa ser secretado para que a digestão seja efetiva). - controla o músculo da mucosa, que forma “rugas” na parede interna do intestino, possibilitando uma maior absorção de nutrientes. APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período Os Plexos fazem três tipos de contrações: I. E s p o n t â n e a : o c o r re m n a s j u n ç õ e s comunicantes. II. Tônicas: ocorrem em alguns esfíncteres do músculo l iso e porção proximal do estômago; duram minutos/ horas. III. Fásicas: ocorre contração - relaxamento // despolarização - repolarização = potenciais de ondas lentas. Os neurônios entéricos liberam acetilcolina (responsável por incentivar a movimentação do sistema digestório) e noradrenalina ou noraepinefrina (paralisa a movimentação do sistema digestório). O SNA simpático atrapalha a movimentação do SN entérico, uma vez que, seu neurotransmissor principal é a noraepinefrina, que diminui o fluxo digestivo. Já o SNA parassimpático auxilia o SN entérico, já que seu neurotransmissor principal é a acetilcolina, que estimula o processo de digestão. Ex: ao passar por um susto ou situação de risco após alimentação, o SNA simpático modifica o processo de digestão, paralisando o sistema. CONSTIPAÇÃO INTESTINAL Dificuldade evacuatória persistente ou sensação de evacuação incompleta e/ou evacuações infrequentes. Pode estar associada à doenças orgânicas ou a distúrbios funcionais. Define-se constipação por uma frequência evacuatória menor do que 3x na semana, esforço evacuatório ou fezes endurecidas (Bristol 1 e 2), sensação de evacuação incompleta e/ou uso de manobras manuais para evacuar. • Estima-se que 15-20% da população apresente constipação. É mais comum em mulheres, crianças e idosos. • A história familiar favorece a constipação nos demais membros da família. • Maior incidência em indivíduos com baixo nível socioeconômico. Fisiopatologia Sua causa pode não ser identificada, mas alguns fatores contribuintes são: ingesta inadequada de fibras e água; distúrbios neurológicos ou endócrinos; problemas psicossociais, doenças do cólon ou disfunções do assoalho pélvico, A constipação pode ser classificada como primária ou secundária de acordo com sua etiologia: I. Constipação Primária: envolvem fatores intrínsecos; apresenta trânsito normal/ funcional (mais comum) ou lento. No trânsito funcional: • Critérios de Roma IV. • Há presença de sintomas, porém, em testes, o trânsito e a frequência fecal estão dentro do intervalo normal. No trânsito lento (inércia colônica): • Evacuações infrequentes, podendo chegar a menos de 1x/semana. • O tempo de trânsito intestinal é maior e a frequência e amplitude das ondas peristálticas se encontram prejudicadas. • Se configura como uma doença neuromuscular do intestino grosso, já que há um descrês imo na quantidade de células intersticiais de Cajal, alterações no número de neurônios do plexo M i o e n t é r i c o e a n o r m a l i d a d e d e neurotransmissores entéricos. II. Constipação Secundária • Relacionada a doenças orgânicas e sistêmicas, d e s o rd e n s n e u ro l ó g i c a s o u u s o d e medicamentos. • G e r a l m e n t e r e l a c i o n a d a a o u s o d e medicamentos. • A diabete mellitus pode causar constipação. Sua causa é mal definida, mas um mecanismo importante parece ser a perda funcional das células intersticiais da Cajal e a miopatia do músculo liso, prejudicando a motilidade. Tanto a hiperglicemia quando a hipoglicemia prejudicam o funcionamento neuronal entérico, logo, o controle glicêmico deve ser prioridade de tratamento. • Roma IV. A constipação primária pode ser classificada em três categorias: 1. Constipação de trânsito normal (funcional) tempo de trânsito colônico é normal. 2. Constipação de trânsito lento: tempo de trânsito colônico é mais lento. 3. Disfunções pélvicas: defecação obstruída, podendo advir de disfunções do assoalho pélvico, ocasionando incapacidade de esvaziar completamente o reto. APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período Manifestações Clínicas • Na anamnese, deve-se avaliar todas as características das evacuaçõese do bolo fecal (frequência, esforço, volume, sensação de evacuação completa ou não, cal ibre, consistência e formato das fezes - escala de Bristol, necessidade de manobras manuais). • Outros fatores que devem ser avaliados são a dieta (especialmente ingesta de fibras), ingesta hídrica, atividade física, medicamentos de uso contínuo e história de abusos físicos e sexuais. Deve-se atentar para mudanças no estilo de vida e comportamento do paciente. • Considerada crônica se a duração dos sintomas for superior a 3 meses. • Deve-se investigar cuidadosamente sinais de alarme, história medicamentosa e de doenças neuromusculares, epidemiologia para doença d e C h a g a s , a b u s o d e l a x a t i v o s o u medicamentos constipantes. Escala de Bristol Escala que apresenta as diferentes consistências das fezes e o andamento da microbiota intestinal. • Os tipos 1 e 2 indicam constipação intestinal, ou seja, trânsito intestinal lento. Uma das causas mais prováveis é falta de ingestão de fibras e pouca hidratação. • Os tipos 3 e 4 são consideradas muito boas, uma vez que estas são mais fáceis de passar durante a defecação. • Já os tipos 5, 6 e 7 estão associados com tendência de aumento de diarreia ou de urgência. • Especificamente, os tipos 6 e 7 caracterizam um quadro por diarreia, podendo ser relacionado com estresse, quadros funcionais como a síndrome do intestino irritável e doenças intestinais específicas, como infecciosas e até autoimunes como nas doenças inflamatórias intestinais. Nessa condição acontecem alterações na absorção de água e nutr ientes, podendo estar relacionados a deficiência de vitaminas e minerais Sinais de alarme: - Sangramento retal; - História familiar de DII ou neoplasia colorretal; - Presença de sangue oculto nas fezes; - Anemia ferroaria; - Constipação em pacientes idosos; - Constipação de início recente, sem fator causal; - Perda ponderal. Diagnóstico A avaliação laboratorial, endoscópica e os estudos radiológicos devem ser realizados apenas em indivíduos selecionados. O tratamento empírico (educação do paciente, mudanças na dieta e estilo de vida, uso de fibras) pode ser considerado quando os sinais de alerta estiverem ausentes. • Exames laboratoriais: - Hemograma completo; - Cálcio; - Potássio; - Glicemia em jejum; - TSH; - Creatinina; - Se epidemiologia positiva para doença de Chagas, solicitar sorologia por dois métodos ( e n s a i o i m u n o e n z i m á t i c o [ E L I S A ] , imunofluorescênc ia i nd i re ta [ I F I ] ou hemaglutinação indireta [HAI]); - Doença celíaca também pode manifestar-se com constipação intestinal, sendo a sorologia com antitransglutaminase IgA recomendada para screening na presença de suspeita clínica. Lembrar-se de dosar IgA total para excluir deficiência de IgA (que causaria um f a l s o n e g a t i v o n o a n t i c o r p o antitransglutaminase IgA). • Radiografia simples de abdome; • Enema opaco: pesquisar megacólon, alongamento ou estreitamento de segmentos colorretais, dolicocólon, megarreto. • Colonoscopia. Exames específicos: devem ser reservados a pacientes com constipação refratária. • Manometria anorretal: na suspeita de distúrbios do assoalho pélvico e defecação obstruída. • Teste de expulsão de balão: paciente é solicitado a expulsar um balão de látex, inserido no reto e preenchido com 50mL de água ou ar. A incapacidade de expulsar o balão dentro de 2min sugere distúrbio de defecação. • Tempo de trânsito colônico: avalia a motilidade e é indicado para pacientes que apresentam baixo número de evacuações por semana, sem resposta a agentes laxativos, com manometria anorrtal normal. https://pt.wikipedia.org/wiki/Diarreia APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período • D e f e c o g r a fi a : d e t e r m i n a a l t e r a ç õ e s anatômicas e funcionais da região anorretal, associadas a distúrbios defecando-vos como dissinergia do assoalho pélvico, retocele e intussuscepção. Indicada para pacientes sem resposta a laxantes, com estudo manométrico e teste de expulsão do balão inconclusivos. Tratamento • Dieta: aumento da ingestão de fibras para 20-30g e de líquidos, no mínimo 1,5-2L/dia. • Medidas comportamentais: atividade física (5x/semana, por 50min); postura sentada (apoio dos membros inferiores no chão, funcionando como alavanca e a flexão do tronco sobre o abdome); disciplinar o aparecimento do reflexo. Terapia Medicamentosa A 1ª linha de tratamento deve ser a não medicamentosa. Na persistência dos sintomas, deve-se dar início tratamento medicamentoso, optando-se inicialmente por secretagogos ( a t i vado res de cana l de c lo ro , como Lubiprostona) ou laxantes osmóticos. • Fibras: promovem o aumento de peso, volume e fluidez das fezes. Aproximam-se ao máximo dos mecanismos fisiológicos: fibras dietéticas, Psyllium, Metilcelulose e Policarbofila. - sugere-se iniciar com 5g ao dia, divididos em duas tomadas e aumentar, de forma gradual, a cada 1-2 semanas até 10-15g/ dia; - A resposta pode demorar várias semanas; - Somente beneficiam-se pacientes cuja constipação não seja decorrente de trânsito lento ou obstrução de saída; - Devem ser evitados em pacientes com constipação induzida por opioide; - efeitos colaterais: flatulência e distensão abdominal. • Laxantes osmóticos: atraem água para a luz intestinal. Ao aumentar a concentração de água no cólon, os osmóticos lubrificam e amolecem as fezes, facilitando a evacuação. - Opções: Polietilenoglicol (1ª escolha), Lactulose, Macrogol, Sorbitol e Lactitol; • Laxantes amac iantes : a tuam como surfactantes, facilitando a interface entre os componentes hidrofóbicos e hidrofílicos da massa fecal, como óleos minerais e o Docusato de sódio, cálcio e potássio; - Deve-se evitar óleo mineral em pacientes disfágicos e idosos, em razão do risco de broncoaspiração e pneumonia lipoídica. Tratamento Farmacológico • Podem ser t ra tados com E lob ix ibat , Naldemedina (constipação induzida por o p i o i d e ) , L u b i p ro s t o n a , L i n a c l o t i d a , Plecanatida ou Prucaloprida. Somente Prucaloprida e Lubiprostona estão disponíveis no Brasil: Abordagem Cirúrgica Indicado em casos de constipação intestinal de trânsito lento refratária a medidas laxativas sem distúrbio defecatório ou em mulheres com retocele gerando evacuação obstruída e refratárias a medidas clínicas. Fecaloma: Deve ser realizada quebra manual, seguida de clister de Glicerina 12% ou água morna. HEMORROIDA • Hemorroidas são coxins vasculares normais do canal anal. São formados por espaços vasculares (sinusoides), tecido elástico e conjuntivo, e músculo liso. • Sua função é proteger os esfíncteres anais subjacentes e contribuir para a continência fecal. • As hemorroidas estão presentes em todos os seres humanos, já a doença hemorroidária surge quando os mamilos hemorroidários prolapsam, inflamam e produzem sintomas. • É uma dilatação de veias da região anal, podendo causar aparecimento de “caroços” e sangramento no local. • Mais prevalente em pessoas com idade entre 45-65 anos. • O plexo hemorroidário interno é formado pela artéria retal superior e suas veias drenam para o sistema porta, via veia mesentérica inferior. • O plexo hemorroidário externo é formado pela artéria retal inferior (ramo da artéria pudenda interna) e suas veias drenam para as veias ilíacas internas e, conseqüentemente, para o sistema cava inferior. • A maioria dos pacientes possui três mamilos hemorroidários internos (localizados nas áreas anterior direita, posterior direita e lateral esquerda), em conseqüência das ramificações da artéria retal superior. Causas - Esforço evacuatório repetitivo, quedetermina o estiramento do tecido de sustentação dos plexos. - Hábitos alimentares e intestinais (dietas pobres em fibras e pouco consumo de água); Algumas outras causas são estudadas: a) Com o passar do tempo ou situações agravantes, o tecido conjuntivo que âncora o plexo hemorroidário ao esfíncter se deteriora, APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período fazendo com que o plexo deslize pelo canal, ocasionado os sintomas. b) Sugere que os sintomas da DH surgem pela hipertrofia ou aumento do tônus do esfíncter anal interno, fazendo com que, durante as evacuações, o bolo fecal force o plexo contra o esfíncter interno, causando seu aumento e sintomas. c) Atribui os sintomas ao edema dos coxins. Fatores de Risco: - Constipação crônica; - Esforço evacuatório prolongado; - Sedentarismo; - Gestação; - Diarreia; - Levantamento muito vigoroso de peso; - Fatores relacionados a alimentação e hábitos intestinais. Manifestações Clínicas Classificação das Hemorroidas São classificadas de acordo com sua localização anatômica: I. Externa: localizadas na extremidade inferior do canal anal, abaixo da linha pectínea; - formadas pelo plexo hemorroidário inferior, que é subsidiário das artérias e veias retais inferiores. - apresentam sensibil idade ao toque, temperatura, distensão e dor. - na maioria das vezes, torna-se sintomática quando há quadros agudos como trombose hemorroidária e crise hemorroidária. - tratamento SEMPRE cirúrgico. II. Interna: acima da linha pectínea, porém podem se exteriorizar; - não costumam ser dolorosas. - principal sintoma é o sangramento “vivo”, indolor, ao final da evacuação. - pode ocorrer prurido anal e prolapso durante evacuação ou aos esforços. III. Mista: são externas e internas. As Hemorroidas internas são classificadas conforme seu grau de prolapso: Sinais e sintomas - Sangramentos no papel higiênico ou no vaso, em pequena ou moderada quantidade; - Sensação de “bolinha” ou “caroço” no ânus (prolapso); - Prurido anal; - Irritação da pele na região; - Sensação de não ter evacuado tudo após uma evacuacao; - Dor na região anal (suspeitar de complicação ou outras patologias (fissura, abscesso perianal, tumor de canal anal). Complicações Trombose Hemorroidária - Presença de nódulo perianal bem delimitado, usualmente azulado e doloroso. - Normalmente tem início a b r u p t o d e d o r, q u e aumenta nas primeiras 48h e apresenta regressão após o 4º dia. - A pele sobre a hemorroida t rombosada por necrosar e u lcera r, ocasionando sangramento ou sairia de secreção. - Quando não há drenagem espontânea, o trombo pode demorar algumas semanas para d e s a p a r e c e r. P o d e m h a v e r c a s o s assintomáticos. Crise Hemorroidária - Quadro doloroso causado p e l o p r o l a p s o d e Hemorroidária internas grau III e IV que se tornam encarceradas devido edema prolongado. - Pode estar associada à trombos Hemorroidários. APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período Diagnóstico • Diagnóstico clínico (inspeção e toque retal). - a manobra de Valsalva é útil para verificar o prolapso de mamilos internos. - O toque retal deve ser feito com lidocaína gel ou lubrificante. • Além dos sintomas, é importante questionar ao paciente sobre o funcionamento intestinal (presença de diarreia ou constipação), ingesta de fibras na dieta e hábitos de higiene anal. • Na maioria das vezes não é necessária a solicitação de exames complementares. • A anuscopia (endoscopia anal), embora pouco disponível na APS, auxilia para observar a presença de mamilos hemorroidários internos. • A retossigmoidoscopia é mandatória para o diagnóst ico di ferencia l de patologias coloretais. Tratamento • O grau da hemorroida, classificado pelo médico, direcionará o tratamento; • A doença assintomática não necessita de tratamento. • Mudanças na dieta e estilo de vida (esforço evacuatór io prolongado para defecar, secundário à constipação ou diarreia). Aumento da ingestão de fibras (20-35g/dia) e líquido (1,5/2L/dia). • Medidas comportamentais, prescrição de medicamentos, redução da hemorroida pelo médico na consulta, ligadura elástica, ou procedimentos cirúrgicos (em casos mais avançados); • Evitar uso de papel higiênico. • Banhos de assento (imersão, ânus submerso na água, utilizando banheira ou bacia - 10-15min). • Agentes formadores de bolo fecal. Tratamento Medicamentoso • Sintomáticos típicos (anestésicos, AINES e adstringentes): usados para alívio da dor. - Cinchocaína + policresuleno: Proctyl (preferível por ser o único que não contém corticoide). - Lidocaína + associações: Proctosan, Hemovirtus. - Lidocaína + fluocortolona: Ultraproct. - Lidocaína + hidrocortisona: Xyloproct. • Agentes venoativos: Diosmina, hisperidina, flavonoides. Podem melhorar tônus venoso e diminuir sintomas agudos e sua recorrência. Manejo Quadros Agudos Trombose Hemorroidária - No caso de trombos grandes e muito dolorosos, pode ser indicada a incisão da pele sobre a lesão e a retirada completa do trombo s o b a n e s t e s i a l o c a l c o m o u s e m vasoconstritor. - Tal procedimento pode ser realizado na atenção primária se o médico se sentir confortável e apto para realiza-lo. - Casos de trombose hemorroidária com necrose são muito raros, porém devem ser avaliados pelo especialista em caráter de urgência. Quando os sintomas são refratários ao manejo conservador, o especialista pode optar por procedimento ambulatorial inicial (ligadura elástica ou escleroterapia) ou intervenção cirúrgica (hemorroidectomia). I. Ligadura elástica: técnica invasiva simples, rápida e efetiva de tratar hemorroidas de tipos B e C. Consiste na aplicação de anéis de borracha que causam necrose isquêmica e cicatrização do tecido hemorroidário, gerando fixação do tecido conjuntivo à parede do canal anal. A colocação do anel de borracha muito perto da linha pectínea pode levar a dor intensa pela presença de inervação somática aferente que requer remoção rápida. É uma técnica segura podendo ser realizada em uma ou várias sessões. As complicações são sangramento leve pela ulceração mucosa, retenção urinária, trombose hemorroidária externa e, raramente, sepse pélvica. Esse método é bastante eficaz e sua taxa de sucesso varia entre 79% a 97%. II. Esc leroterap ia : i n j eção de agente esclerosante diretamente no mamilo hemorroidário, criando cicatrização, fibrose, redução e fixação das hemorroidas por obliterar sua vascularização. Utilizada especialmente em hemorroidas internas grau I e naqueles pacientes com grau II que fazem uso de anticoagulante ou AAS (ligadura elástica tem maior risco de sangramento). III. Hemorroidectomia: indicada nos casos de DH externa, mista ou interna grau III e IV APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período refratários ao tratamento conservador e aos tratamentos de consultór io (quando indicados). É indicada de urgência nos casos de crise hemorroidária ou trombose extensa se associados à necrose ou infecção. IV. F o t o c o a g u l a ç ã o d e R a d i a ç ã o Infravermelha: Consiste em uma unidade elétrica e um aplicador manual tipo pistola. A ponta da pistola é encostada sob leve pressão na mucosa normal, adjacente e cranial ao mamilo. A energia infravermelha penetra nos tecidos e é convertida em calor, que coagula os vasos irrigadores do mamilo. A profundidade da lesão tecidual é determinada pela duração do pulso. Realizam-se 3 a 5 disparos de 1 a 1,5 segundos em cada mami lo, para a coagulação de 1mm de tecido. Até 3 mamilos são coagulados por sessão. Formam-se, no local da aplicação, pequenas úlceras que cicatrizam e, por meio de fibrose, aumentam a aderência da mucosa redundante à muscular adjacente. Possui taxa de sucesso terapêutico entre 85% e 92%. Uma diferença importante da ligadura elástica é o preço, pois o infravermelho é um aparelho de alta tecnologia e, portanto, com alto custo de manutenção. Por suas características, a ligadura elástica deve ser indicada para mamilos de tipo B e C e o infravermelho para mamilos de tipo A e B. Pacientes com hemorro idas, mas que apresentam sintomas sugestivos de malignidade (sangramento de características atípicas para hemorroidas, emagrecimento, anemia ferropriva sem outra etiologia identificada, mudança de hábito intestinal recente), devem realizar colonoscopia para investigação precoce. Indica-se encaminhar ao Proctologista pacientes com: - Hemorroidas internas, externas ou mistas que persistem sintomáticas após tratamento conservador por 2 meses (suplementação alimentar de fibras e aumento de ingesta hídrica, banho de assento, evitar uso de papel higiênico); - Hemorroidas com indicação de colonoscopia (na indisponibilidade de realizar o exame na APS). Prevenção: - Aumento do consumo de alimentos ricos em fibras; - Redução do consumo de a l imentos gordurosos; - Aumento do consumo de água e de outros líquidos; - Diminuição do esforço excessivo ao defecar; - Realização de atividades físicas de forma regular. Enquanto houver hemorroida, evitar o uso de papel higiênico, dando preferência à limpeza durante o banho ou com ducha higiênica; REFERÊNCIAS: • Hemorroida: Diagnóstico. Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Projeto Diretrizes, Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. • Artigo Doença Hemorroidária. • Ar t igo : ca rac te r i zação da expressão dê neuropeptídios do sistema nervoso entérico de pacientes portadores e não portadores de constipação intestinal.