Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SOCI OLOGIA DO CONHECIMENTO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 1 CONCEITO DE SOCIEDADE Uma das principais características da sociedade humana é a sua profunda diversificação. Ao longo da história da civilização, criou-se instituições sociais que organizam o trabalho, desenvolvem crenças religiosas, constroem relações familiares, formam a sexualidade, estabelecem sistemas de troca de produtos, enfim, garantem a vida em sociedade. A diversidade apresentada pode ter sido responsável por nossa sobrevivência como espécie, pois, diferentemente de outros seres vivos, nossa capacidade de adaptação não depende apenas de nossa programação genética, mas da maneira como nos constituímos enquanto seres culturais e sociais. Embora não possamos desprezar a nossa aparelhagem física, faz parte da nossa humanidade promover fortes intervenções na nossa corporalidade e no nosso meio para garantirmos a nossa evolução como ser social. Até que ponto podemos escalar essas intervenções ainda é uma questão em aberto (CASTRO, 2000). Em geral, a sociedade é uma condição universal da vida humana. Essa universalidade permite uma interpretação biológica ou instintiva e outra simbólico- moral ou institucional. Conforme Castro, 2002: “(...) a sociedade pode ser vista como um atributo básico, mas não exclusivo, da natureza humana: somos geneticamente predispostos à vida social; a ontogênese somática e comportamental dos humanos depende da interação com seus conspecíficos; a filogênese de nossa espécie é paralela ao desenvolvimento da linguagem e do trabalho (da técnica), capacidades sociais indispensáveis à satisfação das necessidades do organismo” (CASTRO, 2000, p. 182). Mas a sociedade também pode ser vista como uma dimensão constitutiva e exclusiva da natureza humana, definida por seu caráter normativo: o ser humano torna-se um ator social quando não se baseia em regras instintivas escolhidas pela evolução, mas em regras de origem extra-somática historicamente estabelecidas (CASTRO, 2000). Embora as sociedades mais avançadas sejam as sociedades humanas (estudadas pelas ciências sociais, como a sociologia e a antropologia), também existem sociedades animais (estudadas pela biologia social ou pela etologia social). Em sua especficidade, a sociedade humana é constituída por unidades populacionais cujos habitantes e seu ambiente estão unidos em um projeto comum, que lhes confere um sentimento de pertença. O conceito também indica que o grupo compartilha laços ideológicos, econômicos e políticos. Ao analisar uma empresa, são considerados fatores como o nível de desenvolvimento, a tecnologia alcançada e a qualidade de vida. Compreende-se, assim, que uma sociedade é um grupo autônomo de pessoas ocupando um território comum com uma cultura grupal e uma identidade compartilhada. As sociedades estão conectadas por relações sociais não apenas entre as pessoas, mas também por instituições sociais (família, educação, religião, política, economia) (DIAS, 2018). As instituições sociais criam vínculos entre passado, presente e futuro: dão continuidade à vida social. Quer um exemplo? As pessoas que compõem a sociedade brasileira, vivem na mesma área e possuem cultura comum, têm um sentimento de pertencimento àquela sociedade e identidade comum (DIAS, 2018). Outra característica importante das sociedades é sua desigualdade estrutural. Todos eles mostram mais ou menos o fenômeno da estratificação social, ou seja, a divisão da sociedade em estratos com acesso desigual à riqueza, poder e prestígio (DIAS, 2018). 1.1 A formação da Sociedade Para compreendermos a formação da sociedade, Trennepohl (2014) diz que, primeiro, devemos entender a sociedade como algo vivo, em movimento, marcada por condições de conhecimento e estruturas de conhecimento dinâmicas. A sociedade está em constante mudança e o desafio é entendê-la nessa complexidade em rápido movimento. É necessário, portanto, oferecer reflexões voltadas para a construção de uma compreensão das condições sociais, econômicas, políticas e culturais de nossa época histórica, como um contexto em constante modificações, resultado de um processo de construção histórica. Olhando ao nosso redor, percebemos imediatamente que coisas vivas e não vivas podem ser encontradas na natureza. Estes últimos são, por exemplo, pedras, terra, água, ar, montanhas, estrelas e minerais. Todos os objetos inanimados formam o mundo inorgânico do universo. Esses objetos ou fenômenos são estudados pelas ciências da natureza. Olhando mais um pouco, percebemos que existem muitos seres vivos como plantas e animais. As coisas vivas formam a dimensão orgânica do universo. Tanto quanto a ciência pode mostrar, os seres vivos só existem na Terra (GONÇALVES; FURTADO; MOURA, 2019). O ser humano também é um ser vivo. Mas ele tem uma diferença fundamental em relação aos demais seres vivos, ele é um o ser da práxis. Através da prática produtiva e a prática social, ele constrói seu mundo e desenvolve experiências sócio- históricas, criando um conjunto cada vez mais amplo de objetos sociais. A reprodução biológica garante a continuidade de animais e plantas. No processo de reprodução, a planta produz flores, pólen, frutos, sementes, que se espalham pela terra e fazem brotar novas plantas. Na maior parte do reino animal, ocorre o cruzamento de sexos diferentes, o que leva ao nascimento de descendentes. É assim que plantas e animais garantem sua continuidade na terra por meio do processo de reprodução da vida. Como ser vivo, o ser humano também garante a continuidade de sua espécie por meio da reprodução biológica, seguindo a mesma fórmula: fecundação, gravidez, nascimento e criação da prole. O ciclo de vida, nascimento, crescimento, reprodução e morte é um signo imanente para todas as espécies vivas, incluindo os humanos. No entanto, o homem não se reproduz apenas como ser vivo; ele constrói um mundo que vai muito além da mera reprodução biológica. Com o surgimento do trabalho e de uma variedade de outras atividades que constituem práticas sociais, as pessoas passaram a produzir e acumular experiência extrapessoal, experiência que não é ditada por um modelo biológico, experiência que não surge de um processo de reprodução da espécie. É uma experiência sócio-histórica que emerge e se vincula às práticas produtivas e sociais das pessoas e às relações e instituições que compõem a sociedade ao longo da história (GONÇALVES; FURTADO; MURA, 2019). Compreende-se, assim, que a história da sociedade pode ser vista em termos de desenvolvimento sociocultural, dominada e fundada pela relação dos seres humanos com o desenvolvimento tecnológico e com a cultura por eles produzida. Este desenvolvimento pode ser compreendido se examinarmos os tipos básicos de sociedade surgidas ao longo da história (ver Figura 3.5), cuja compreensão pode ser útil para entendermos a história humana e as dimensões constitutivas domundo social. No quadro que se segue é possível ver de forma geral os principais aspectos: 1.2 Sociologia, o estudo da sociedade Como vimos até agora, a sociologia é estudo científico da organização e do funcionamento das sociedades humanas e das leis fundamentais que regem as relações sociais, as instituições, etc. Nesta perspectiva, pode-se entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. Tendo em vista essa característica, trataremos nesse tópico de aspectos do surgimento e da formação da sociologia na modernidade. Deste modo, para compreensão da prática sociológica e sua constituição científica, percorreremos desde a contextualização histórica do seu surgimento até a formação dos principais métodos de análise sociológica da realidade social. O desenvolvimento do pensamento científico, datado da época de Copérnico, abrangeu, com a sociologia, um novo campo de conhecimento que ainda não havia sido integrado ao conhecimento científico, o do mundo social. Surgindo após a constituição das ciências naturais e das diversas ciências sociais (MARTINS, 1988). Desta forma, a sua formação constitui um fato complexo, para o qual contribuem um conjunto de circunstâncias, história e epistemológicas e uma série de intenções práticas. A sociologia, a partir das condições do seu surgimento, inscreveu-se num contexto histórico específico, coincidindo com os momentos finais da desintegração da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. Sua criação não é obra de um único filósofo ou cientista, mas é resultado da construção de um grupo de pensadores empenhados em compreender novas situações de existência (MARTINS, 1988). A sociologia ergueu-se como resultado de um processo histórico que culminou na Revolução Industrial: a segunda revolução científica e tecnológica. Este evento deu origem a problemas sociais que os pensadores contemporâneos não conseguiram explicar (MARCON, 2014). PARA COMPLEMENTAR: Chamamos de revolução industrial o período em que um grupo de invenções e inovações criaram um enorme aumento na produção de bens. O fenômeno começou na Inglaterra entre 1760 e 1820 e depois se espalhou para outros países europeus e os Estados Unidos. Durante este período, a economia britânica mudou de uma economia predominantemente agrícola para uma industrial, caracterizada pela produção em larga escala e uso extensivo de maquinário para reduzir tempo e custos (MARCON, 2014). As mudanças trazidas pela Revolução Industrial moldaram e transformaram completamente a organização social, deram origem a novas formas de organização e provocaram grandes mudanças culturais. Todo esse processo de transformação levou ao surgimento de duas novas classes sociais: dos trabalhadores e burguesia. O número de cientistas e engenheiros aumentou. Nesse contexto, foi a siderurgia que teve um impacto mais decisivo ao revolucionar as técnicas de produção, influeciando ao influenciar o desenvolvimento de todas as indústrias subsequentes. Melhorias em fornos e sistemas de fundição tornaram o ferro disponível de alta qualidade e tiveram grandes vantagens sobre outros materiais. Isso levou ao aprimoramento de muitas tecnologias existentes e à construção de novas máquinas. De acordo MARCON (2014) esse processo trouxe crescimento e estruturação das ferrovias, pontuado que: O ferro permitiu o desenvolvimento das ferrovias, que vieram se somar às outras recentes transformações no sistema de transporte, tais como técnicas modernas de pavimentação de estradas e abertura de redes de canais. A diminuição do tempo de deslocamento e o intercâmbio iniciaram a ruptura das relações de dependência (MARCON, p. 22, 2014). Toda mudança social poderá afetar de forma negativa ou positiva uma sociedade; com o processo da Revolução Industrial, do ponto de vista social, há uma grande concentração de pessoas nas cidades britânicas, graças às profundas transformações ocorridas no campo. A agricultura de subsistência, típica do feudalismo, foi substituída pela mineração em larga escala para atender às necessidades industriais. A agricultura foi substituída pela criação de ovelhas para fornecer lã para a indústria (MARCON, 2014). Um dos fatos mais importantes sobre a revolução industrial é, sem dúvida, o surgimento do proletariado e seu papel histórico na sociedade capitalista. Os efeitos catastróficos que essa revolução teve sobre a classe trabalhadora fizeram com que ela recusasse suas condições de vida. As manifestações da insurreição operária passaram por várias fases, como a destruição de máquinas, atos de vandalismo e explosão de algumas oficinas, roubo e criminalidade, que evoluíram para a constituição de associações e formação sindical, etc. (MARTINS, 1988). A Revolução Francesa de 1789 não tinha como objetivo apenas mudar a estrutura do Estado e abolir radicalmente a antiga forma de sociedade, mas também revogar costumes e hábitos arraigados, de acordo com MARTINS (1988): A revolução desferiu também seus golpes contra a Igreja, confiscando suas propriedades, suprimindo os votos monásticos e transferindo para o Estado as funções da educação, tradicionalmente controladas pela Igreja. Investiu contra e destruiu os antigos privilégios de classe, amparou e incentivou o empresário (MARTINS, p. 23, 1988). Vejamos o Quadro 1 que demostra os aspectos relacionados a revolução Industrial e Revolução Francesa revelando suas ideologias: Quadro 1 - Aspectos relacionados a Revolução Industrial e Revolução Francesa. Fonte: https://shre.ink/1YNo Apresentamos anteriormente as condições materiais que possibilitaram o nascimento da sociologia. A partir de agora, trataremos das formas de pensamento e paradigma epistemológico que susteram o nascimento do estudo da sociedade (sociologia) enquanto ciência. No século XVII, ocorreu um notável avanço no modo de pensar, significado pelo uso sistemático da razão na livre investigação da realidade que caracterizou os pensadores conhecidos como racionalistas. Este progresso foi aperfeiçoado pelo Iluminismo no século XVIII. O Iluminismo não apenas procurou transformar as velhas formas de conhecimento, mas também criticou duramente a sociedade feudal, contrapondo os privilégios da nobreza e as restrições que eles impuseram. Conforme os interesses econômicos e políticos da burguesia, esta forma de sociedade era irracional, injusta e restritiva da liberdade. Com seu pensamento revolucionário iluminista, eles desempenharam um papel fundamental na Revolução Francesa de 1789 (MARCON, 2014). Certos pensadores da época estavam imbuídos da convicção de que era necessário descobrir uma nova ciência para introduzir a "higiene" na sociedade e "reorganizá-la". Esse ponto de vista pode ser encontrado nas ideias de Auguste Comte, que propôs a criação de uma física social para estudar a sociedade. A sociologia moderna surgiu a partir das ideias desses pensadores que reconheceram a necessidade de uma visão sociológica da nova sociedade que surgia com a https://shre.ink/1YNo Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Além de Comte, Karl Marx também foi um pensador importante para a configuração da sociologia. Em seus trabalhos, Marx analisou as sociedades capitalistas e concluiu que os principais conflitos nas sociedades de classe surgiam do fato de que os produtores não tinham controle sobre os meios de produção e a influência da lógica do mercado ou financeira nas relações humanas. Para Marx, o estudo da sociedade deveria começar com seus fundamentos materiais, ou seja, a estrutura econômica da sociedade. Essa estrutura representa o fundamento da história humana, sobre a qual se baseiam outros níveis de realidade, como política, cultura e religião. Segundo a visão marxista, o conhecimento da realidade social deve ser uma ferramenta política para orientar grupos e classes sociaisna transformação da sociedade (MARCON, 2014). Para complementar: Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo alemão e revolucionário socialista. Criou a base da doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia tem influenciado diversas áreas do conhecimento, como a sociologia, a política, o direito e a economia. Em fevereiro de 1845, Marx e Engels foram obrigados a sair da França e seguiram para a Bélgica, era o início de uma longa amizade. Em Bruxelas, Marx instalou-se com a família e junto com Engels; dedicou-se a escrever seus trabalhos sobre o socialismo e a manter contato com o movimento operário europeu. Fonte: www.ebiografia.com 2 TEORIAS DE ÉMILE DURKHEIM O pensamento social de Émile Durkheim foi influenciado por obras de escritores e pensadores, como Auguste Comte (1798-1857) e Herbert Spencer (1820-1903), que marcaram sua trajetória intelectual através da criação da perspectiva positivista (Comte) e valorização das ciências naturais como um caminho para desenvolver uma ciência da sociedade (Spencer). Nascido na França em 1858, Émile Durkheim afastou-se da tradição familiar judaica e optou pela carreira acadêmica. Licenciou-se em filosofia em 1882, mas nos anos seguintes o seu interesse voltou-se para os estudos sociais, pelos quais se mudou para a Alemanha, onde procurou aprofundar a sua compreensão da realidade social. Em 1887, voltou para a França como professor na Universidade de Bordeaux e depois na Universidade de Sorbonne, onde permaneceu até o final de sua carreira. Durkheim desempenhou um papel decisivo no reconhecimento da sociologia como disciplina acadêmica (NAUROSKI, 2018). O viés conservador da abordagem de Durkheim pode ser parcialmente explicado pelo contexto social e as circunstâncias históricas de sua obra. O sociólogo viveu durante o período histórico da Terceira República Francesa, caracterizado por muitos conflitos e instabilidade social e política. Diante de uma complexa e problemática sociedade industrial, caracterizada por divergências, contradições e desigualdades, Durkheim estava ciente dos perigos da desintegração social. É muito provável que a instabilidade social de sua época tenha influenciado e contribuído para seus estudos. Durkheim constatou que os desdobramentos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as mudanças causadas pela Revolução Industrial, foram responsáveis por mudanças sociais que enfraqueceram os laços sociais, promoveram o declínio da moralidade religiosa e criaram um cenário de futuro incerto, não só para a França, mas para toda a Europa. Durkheim morreu em 1917, ano da Revolução Russa, tendo alcançado grande fama e credibilidade na nova ciência que ajudou a criar (NAUROSKI, 2018). Para este autor, a tarefa da sociologia como ciência deveria ser compreender o funcionamento da sociedade, seus princípios e regularidades, a fim de encontrar novas formas de criar vínculos de solidariedade social. Tendo as ciências naturais como seu escopo, ele propõe que sociologia deveria aprimorar seus métodos para compreensão dos princípios e regularidade da vida social, baseando-se em análises factuais, depurando, assim, a nova ciência da influência da filosofia social anterior à sua obra, inclusive do próprio August Comte, que, segundo Durkheim, não conseguiu se desvincular dessas influências (NAUROSKI, 2018). Sobre o modelo social, Durkheim assume uma posição conservadora e defende que os indivíduos devem se adaptar à sociedade e não o contrário. A preocupação de Durkheim é a futura ordem social que se desenvolveu na era moderna. Não podemos esquecer que o modelo epistêmico do qual Durkheim se baseia é a biologia. Deste ponto de vista, a sociedade é vista como um organismo social vivo em processo de desenvolvimento, como um todo que deve funcionar de forma integrada. A sociedade, portanto, precede o indivíduo: os fundamentos objetivos da sociedade forçam os indivíduos a se adaptarem às regras sociais, que ele definiu como um fato social, ou seja, os modos de ser, agir e pensar atribuídos aos indivíduos. Os fatos sociais tornam-se estruturas externas e objetivas, pois estão fora dos indivíduos; eles são comuns devido à sua massiva presença humana e territorial; e são coercivas porque há sanções para quem não se enquadra nos padrões e normas da vida social (NAUROSKI, 2018). 2.1 A divisão do trabalho social A perspectiva analítica de Durkheim, que foi aplicada à sociologia, é definida como funcionalismo positivista na história da disciplina. Isso significa que a sociedade atual é uma realidade complexa que busca equilibrar a relação entre o indivíduo e a sociedade, através de seus processos de integração. Em 1893, em sua obra Divisão social do trabalho, Durkheim tenta estudar diferentes tipos de sociedade e os mecanismos que operam nelas. Estes mecanismos podem contribuir para a coerência e o correto funcionamento destas sociedades, ou de outro modo fragilizar a sua integração e funcionalidade, cenário que favorece a criação de situações de anomia, ou seja, situações em que os laços de solidariedade se enfraquecem, causando todo tipo de problemas que podem ameaçar a integração e reprodução da vida social (NAUROSKI, 2018). Segundo Durkheim, as sociedades podem ser classificadas em tradicionais e complexas. Nas sociedades tradicionais, como as tribos indígenas ou comunidades quilombolas brasileiras, existe uma solidariedade mecânica, em que os indivíduos compartilham valores e crenças comuns e as tarefas são realizadas de forma coletiva e cooperativa. Nesse tipo de sociedade, a divisão do trabalho é simples e há poucas diferenças entre os indivíduos. Essa perspectiva de Durkheim se concentra na importância da coesão social e da solidariedade como fundamentos das sociedades. (NAUROSKI, 2018). Nas sociedades industriais complexas, além da moralidade, a manutenção dos vínculos interpessoais ocorre através da divisão social do trabalho. Isso equivale a dizer que essas sociedades possuem uma ampla gama de tarefas e atividades desempenhadas por um amplo corpo social constituído por profissionais, grupos, classes, indivíduos e instituições. Essa realidade representa um tipo de solidariedade que Durkheim chama de orgânica, ou seja, uma série de interdependências entre as pessoas, pois os indivíduos não conseguem prover tudo o que precisam sozinhos, por isso dependem uns dos outros. Durkheim acreditava que quanto mais pessoas estivessem envolvidas nesse processo, melhor seriam assegurados os processos integrativos e reprodutivos da vida social, se esses vínculos fossem fortalecidos (NAUROSKI, 2018). Nas sociedades simples ou tradicionais, a regulação do comportamento depende da consciência coletiva e da força dos padrões morais do grupo. Tanto que se algum membro do grupo descumprir essas normas, a punição é severa, às vezes fatal. Este é um conceito de punição onde o foco pedagógico da atividade é o reforço das normas do grupo (NAUROSKI, 2018). Desta forma, os custos da indisciplina são elevados, tornando a desobediência um tabu para a comunidade. Em sociedades complexas, no entanto, as normas surgem da educação e da divisão do trabalho. A lei é de natureza restaurativa e o desvio é punido para garantir o equilíbrio social e o ajustamento do infrator. assim, o direito assume um caráter ao mesmo tempo coletivo e individual (NAUROSKI, 2018). É importante ressaltar que a preocupação de Durkheim era a preservação da ordem social, o que atraiu críticas por ser um escritor tradicionalista e conservador. Uma crítica radical à sociedade ou uma proposta de outra sociedade não faz parte do horizonte teórico deste pesquisador. A sua preocupação central não era a transformação da sociedade, mas a gestão da mudança social no sentido da melhoria lenta e gradual da vida social (NAUROSKI, 2018). Para Durkheim, considerando a realidade das sociedades complexas,a causa comum dos problemas sociais é a expansão dos processos anômalos. Segundo o autor, existem três soluções para evitar o estado geral de anomia que pode destruir a sociedade. A primeira consiste na educação moral de crianças e jovens de acordo com seu grupo social. A segunda está relacionada à função estratégica do Estado, ou seja, para Durkheim, o poder legislativo configura o cérebro da sociedade e seria responsável por receber, considerar e ponderar as diversas demandas da sociedade para preservar o todo social. A divisão do trabalho social forma o terceiro eixo da organização da vida coletiva; sua eficácia reside na capacidade de envolver os membros da sociedade em cooperação mútua baseada na diversificação e especialização de tarefas (SELL, 2009). 2.2 Karl Marx e a sociedade capitalista A educação de Marx foi variada e interdisciplinar, incluindo filosofia, história, economia e sociologia. O contexto de sua vida política e intelectual foi marcado pelas grandes mudanças sociais ocorridas na Europa no século XIX. Karl Marx nasceu em 1818 em Tréveris, parte da Confederação Alemã, e morreu em Londres em 1883 com a idade de 65 anos. Em Berlim, estudou filosofia e aproximou-se do círculo dos críticos de Hegel, a chamada esquerda hegeliana. Este grupo recebeu esse nome porque se opôs à interpretação determinista da filosofia política de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, da direita hegeliana. Esse grupo de direita era formado por estudantes e professores proeminentes que argumentavam que o atual momento social e político da Prússia representava a síntese histórica a que se referia Hegel (NAUROSKI, 2018). Para os hegelianos de esquerda, o Estado prussiano estava longe de representar a esfera final do desenvolvimento social e político da sociedade. Nesse contexto, o uso da religião como forma de controle social das massas foi um dos pontos centrais da crítica de Marx aos defensores do modelo de Estado de Hegel (NAUROSKI, 2018). Por causa dessa oposição, Marx teve que fugir para Colônia e desistir da carreira de professor universitário, mas descobriu um gosto especial pela escrita militante quando se tornou repórter e editor-chefe da Gazeta Renana. Sua análise crítica e perspicaz dos problemas sociais da época levou à sua perseguição e ao fechamento do jornal (NAUROSKI, 2018). Antes de se mudar para Paris em 1843, Marx se casou com a jovem aristocrata Jenny von Westphalen. Morando na capital francesa, Marx entrou em contato com o movimento socialista e iniciou uma amizade duradoura com seu fiel amigo e colaborador Friedrich Engels, como resultado de suas ideias e atividades revolucionárias, Marx foi expulso de Paris, transferido para Bruxelas. Nesse período esteve intensamente envolvido na luta operária, o que o levou a escrever seu famoso texto, “O Manifesto do Partido Comunista”, obra cujo objetivo claro era ajudar a conscientizar e organizar a classe trabalhadora da época (NAUROSKI, 2018). Apesar de seu extenso trabalho, ele dividia seu tempo entre o escritório e a rua, ele contribuiu para os levantes em Paris e participou ativamente da revolução na Alemanha em 1849. Após o fracasso dessas iniciativas, Marx refugiou-se na Inglaterra e mudou-se para Londres. Convencido de que precisava entender as razões do fracasso dos levantes revolucionários, iniciou um estudo aprofundado do capitalismo, culminando em seu livro “O Capital”. A análise de Marx do modelo econômico capitalista desenvolveu-se em um trabalho complexo e original sobre a própria sociedade capitalista. Mais do que um exame dos preconceitos econômicos de sua época, “O Capital” se tornaria um tratado sobre o funcionamento de uma sociedade baseada na economia de mercado (NAUROSKI, 2018). Marx ajudou a construir a Primeira Internacional, uma organização trabalhista global, e produziu um grande corpo de trabalhos em assuntos tão diversos quanto política, história e economia. Como escritor e ativista, dedicou sua vida à construção de um sonho, um projeto que visava mudar a realidade social para que as pessoas vivessem em uma sociedade livre: livre da exploração e da opressão, ou seja, para viver uma vida digna, plena e de significados (NAUROSKI, 2018). Posicionando-se sobre a filosofia da história, Marx reconheceu a contribuição de Hegel, mas o criticou, argumentando que sua dialética era idealista e precisava ser posta de pé. Com sua doutrina do materialismo histórico, Marx acreditava ter salvado a inspiração de Hegel da dialética da ideologia idealista ao mostrar que a realidade social e as lutas históricas produzem ideias e promovem a consciência humana (NAUROSKI, 2018). Para Marx, o modo de vida das pessoas determina seu modo de pensar e sua representação da realidade. Isso equivale a dizer que a natureza humana não é inata, mas que as pessoas constroem sua humanidade no processo histórico das relações sociais mediadas pelo trabalho. O que Marx quer dizer é que quando o trabalho é tratado em termos de dominação e exploração, como no capitalismo, a realidade social é em parte um reflexo dessa condição (NAUROSKI, 2018). Se para Hegel a história é uma projeção do espírito humano, que transforma a natureza à sua imagem e semelhança, para Marx a história é movida pela luta de classes. Assim, segundo Marx, a mudança social e histórica ocorre por causa dos conflitos e confrontos entre dominantes e governados, senhores e escravos, oprimidos e opressores, no caso das sociedades modernas, por causa das relações conflituosas entre trabalhadores e burgueses. Direitos adquiridos ou injustiças impostas são o resultado dessa luta (NAUROSKI, 2018). Assim, segundo Marx, a compreensão da realidade social deve estar fundamentada na vida concreta e nas condições materiais da existência humana. A teoria deve fazer e demostrar a realidade e até mudá-la. É inútil que os filósofos e intelectuais interpretem a realidade uma a uma, é preciso modificá-la para construir uma sociedade onde a ostentação da minoria compense e não resulte na morte precoce de milhares de pessoas marginalizadas, o centro do pensamento social de Marx é judaico, ético e profundamente humano, inspirado no Iluminismo (NAUROSKI, 2018). Outras influências vieram de teóricos econômicos clássicos como Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823), que ajudaram Marx a refletir sobre os processos de geração da riqueza. No entanto, ao contrário desses autores, Marx percebeu que a riqueza vem do trabalho excedente que não é pago. O lucro, que não é questionado pelos economistas clássicos, representa, portanto, aquela parte do trabalho não pago, que Marx chamou de mais-valia. O lucro só é possível através da usurpação privada dos frutos do trabalho social e coletivo, que Marx via como um enfraquecimento do sentido ontológico do trabalho, que deveria ser fator de humanização das pessoas, não de sua miséria e degradação (NAUROSKI, 2018). Do ponto de vista de Marx, sendo a alienação religiosa consequência da alienação econômica, a superação das condições materiais de miséria e opressão levaria à vitória da religião como forma infantilizada de cultura e vida social. A superação da exclusão econômica por meio da transformação da sociedade capitalista levaria à emancipação humana e à superação de diversas formas de alienação e mistificação (NAUROSKI, 2018). 2.3 Max Weber, economia e religião Karl Emil Maximilian Weber nasceu em 1864 na cidade de Erfurt, Alemanha. Ele estudou em Heidelberg e depois em Berlim. Ele era um homem de muitos interesses e estudou filosofia, economia, história e teologia. Em 1891 obteve o doutorado em Direito e dois anos depois casou-se com Marianne Schnitger. Trabalhou como professor por vários anos em Freiburg, Berlim e Heidelberg. Anos depois, ele ajudou a fundar uma das principais publicações de ciências sociais da Alemanha, Arquivo para a Ciência Sociale a Ciência Política. Viajando para os Estados Unidos, Weber teve contato direto com o país mais capitalista do mundo, o que despertou seu interesse pelo estudo da economia e da sociedade capitalista. Em 1918 aceita um convite para lecionar na Universidade de Viena e, talvez por ter testemunhado o rescaldo da Primeira Guerra Mundial, os seus estudos procuram explicar as ligações entre a economia, a política e a organização jurídica dos Estados. Esses estudos destacam os aspectos culturais de sua obra: [...] existe um ponto decisivo [...] com que somos conduzidos para uma peculiaridade decisiva do método nas ciências da cultura; ou seja, nas disciplinas que; aspiram a conhecer os fenômenos da vida segundo a sua significação cultural. A significação da configuração de um fenômeno cultural e a causa dessa significação não podem, contudo, deduzir-se de qualquer sistema de conceitos de leis [...] dado que pressupõe a relação dos fenômenos culturais com ideias de valor (Weber, 1982, p. 92). Dessa forma, Weber estabeleceu sua premissa epistemológica central, mostrando a importante diferença entre as ciências naturais, que explicam o mundo natural em termos de causalidade, e as ciências espirituais ou culturais, como no caso da sociologia, que busca compreender as relações entre fatores humanos e fenômenos sociais. 2.3.1 Individualismo metodológico Essa abordagem weberiana da realidade social e humana foi chamada de individualismo metodológico, perspectiva que permite identificar as diferenças e peculiaridades da realidade estudada. Pesquisar é olhar para a realidade caótica e descobrir que ela é fonte inesgotável de problemas e objetos a serem pesquisados. A tarefa do cientista social é identificar seu tópico e fazer um corte para enquadrar o problema sob investigação. Assim, é óbvio que o cientista social deve procurar realizar sua pesquisa com rigor e com a consciência de que a pura imparcialidade é impossível, percebendo que ao formar o objeto de pesquisa ele está de alguma forma inventando (WEBER, 1994). A sociologia abrangente de Weber adota uma abordagem metodológica para compreender os fenômenos coletivos que começam com o indivíduo, as ações dos atores sociais. Conforme declarado em Weber: A Sociologia interpretativa considera o indivíduo e seu ato como unidade básica, como seu átomo — senos permitirem pelo menos uma vez a compreensão discutível. Nessa abordagem, o indivíduo é também o limite superior e o único portador de conduta significativa [...] Em geral, para a Sociologia conceitos como Estado, associação, feudalismo, e outros semelhantes designam certas categorias de interação humana. Daí ser tarefa da Sociologia reduzir esses conceitos em ação compreensível, isto é, sem exceção, aos atos dos indivíduos participantes (WEBER, p. 70, 1982). Weber abre um novo caminho metodológico, rompendo com o positivismo de Auguste Comte e oferecendo um contraponto ao funcionalismo de Émile Durkheim. Há um forte viés interpretativo em seus pensamentos. O método de Weber refere-se à construção de tipos ideais, um conceito macro capaz de fornecer parâmetros para pensar o objeto de estudo. Assim, por meio da formação de um referencial de nível básico, haveria uma aproximação da realidade investigada em relação à correspondência do objeto e seu conceito ou não, o que possibilitaria observar as diversas características do fenômeno investigado. Essa ideia é mais fácil de entender se observarmos como Weber entende a ação social. Ele define quatro tipos de atividades como forma de identificar os diferentes motivos que orientam as ações sociais dos indivíduos. A primeira delas é a ação racional e intencional. Por exemplo, um profissional que faz um curso de atualização para conseguir novos clientes ou aumentar sua renda. Existem também atividades baseadas em valores racionais onde o objetivo desejado não é material, como no caso da participação no culto religioso. Outro tipo é uma ação motivada por sentimentos ou emoções, como oferecer flores a um ente querido. Por fim, há uma atividade movida pela tradição, como fazer um curso de direito para ocupar um cargo em uma família de advogados. Em outras palavras, qualquer ação em que um ator considera a possível reação de outros atores é uma ação social. Dessa forma, a sociedade seria o resultado das ações e reações que os atores sociais formam entre si. 2.4 Teorias de Adam Smith A teoria histórica e social de Smith incluiu uma análise da origem e desenvolvimento da luta de classes na sociedade e uma análise de como o poder é exercido na luta de classes. Há sempre um tema nessas teorias, que Smith desenvolve com mais detalhes em sua teoria econômica: embora os indivíduos possam agir de forma egoísta e rígida em interesse próprio ou no interesse da classe a que pertencem, apesar dos conflitos pessoais e de classe, ele considerava haver uma regra, uma lei ou princípio que excede o conflito enquanto tal, encaminhando os sujeitos humanos para uma experiência de harmonia. . Segundo Hunt e Lautzenheiser (2012), vê-se como resultado dessa compreensão, que existe uma "mão invisível", como Smith a chamou, nas "leis da natureza" ou " divina providência", que conduz essas ações aparentemente conflitantes na direção da gentileza e da harmonia. A "mão invisível" não é um produto de propósito de qualquer pessoa. É simplesmente um tratamento sistemático das leis da natureza. Esta é indiscutivelmente a maior, inconsistência no trabalho de Smith, mas também dos pontos a partir dos quais seu texto será fundamental para Marx e mesmo para Weber. Por esta razão também, que as duas correntes opostas do pensamento econômico dos séculos XIX e XX – uma enfatizando a harmonia social capitalista e a outra enfatizando o conflito social capitalista, podem traçar suas raízes intelectuais nos escritos de Smith (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). A teoria da história de Smith começou com a proposição de que a maneira como as pessoas produziam e distribuíam as necessidades materiais da vida era o fator mais importante nas instituições sociais de qualquer sociedade e nas relações pessoais e de classe entre elas. Os tipos de relações de propriedade foram particularmente importantes na determinação da forma de governo em cada sociedade. Smith acreditava que o desenvolvimento econômico e social tinha quatro estágios distintos: caça, pastoreio, agricultura e comércio. Em cada estágio, entender os métodos de produção e distribuição das necessidades econômicas da sociedade era fundamental para entender as instituições sociais e os governos da sociedade. No entanto, a relação entre a base econômica e a superestrutura social e política não é estritamente determinística (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). Smith presta-se a diferenças locais e regionais por razões geográficas e culturais. Essencialmente todas as sociedades estão em uma dessas fases, embora possam passar por uma fase de transição em que existem algumas características de ambas as fases. No entanto, não se assume que a sociedade progrida necessariamente de um estágio para outro. O desenvolvimento social progressivo só pode ocorrer se houver uma combinação adequada de condições geográficas, econômicas e culturais. Smith define a fase de caça como "o estado mais baixo e sujo da sociedade, como encontramos entre as tribos indígenas da América do Norte". Poder ou privilégio, porque esses privilégios e a base econômica necessária para esse poder não existem. Portanto, “não há soberania ou interesse comum neste caso”. (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). A teoria econômica de Smith era principalmente uma teoria normativa ou política. Sua principal preocupação é identificar as forças sociais e econômicas que melhoram o contentamento humano e, com base nisso, recomendar políticas que melhorem a satisfação humana. A definição de Smith de bem-estar econômico é muito simplese direta, depende de quanto "o produto do trabalho" e "quantas pessoas têm que consumi-lo" a cada ano. Outro critério de felicidade não claramente definido por Smith, mas importante em muitas de suas discussões, é que a felicidade pode aumentar porque a composição do produto a ser consumido está mais alinhada com as necessidades e desejos de quem compra e usa o produto (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). Ao analisar as forças que tendem a aumentar o bem-estar econômico, Smith desenvolveu um modelo que descreve os principais componentes sociais e econômicos do capitalismo e explica os principais fatores que impulsionam o sistema. O capitalismo é dividido em dois principais ramos de produção: agricultura e indústria. A produção de bens requer três conjuntos diferentes de insumos: terra (incluindo recursos naturais), trabalho e capital. As três principais classes sociais do capitalismo – proprietários, trabalhadores e capitalistas – correspondem a esses três grupos. A base legal e social dessa estratificação é a lei relativa à distribuição de bens e imóveis entre as pessoas. Cada uma das três classes sociais recebe diferentes formas de compensação monetária: aluguéis, salários e dividendos. Como vimos, essas formas de renda correspondem aos três componentes dos custos de produção e preços fixos das matérias-primas. Smith assumiu que todo comportamento econômico é caracterizado por motivos egoístas e possessivos (embora tenha admitido que as pessoas têm outros motivos em seu comportamento não econômico, incluindo motivos altruístas). A suposição de que todo comportamento econômico é baseado em motivos egoístas e possessivos foi a base da economia neoclássica no final do século XIX e início do século XX (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). 3 METODOLOGIA NA PESQUISA SOCIOLÓGICA A sociologia tornou-se ciência no século XVIII e apresentou-se como uma resposta científica às mudanças da sociedade durante o período industrial. Ao longo desse desenvolvimento, abordagens baseadas em teorias para explicar fenômenos sociais emergiram como uma área de especialização. Cada um deles representa uma abordagem distinta da sociedade e dos seus problemas (NAUROSKI, 2018). Dentre essas abordagens, as teorias da ação social têm como base o pensamento de Max Weber (1864-1920), para quem a sociedade é o resultado de um conjunto de ações e interações sociais entre os indivíduos. Weber entende que o social resulta da atividade articulada do indivíduo, com outros indivíduos e com seu meio. Esse ponto de partida o levou a formular uma teoria conhecida como individualismo metodológico, segundo a qual, para compreender uma dada realidade social, é preciso identificar os sujeitos que a ela pertencem e o sentido que lhes atribuem no enfoque de suas diversas atividades e funções. O resultado é um estudo compreensivo e interpretativo, no qual o cientista social constrói sua análise a partir da perspectiva dos sujeitos e dos significados atribuídos às suas ações. Assim, com a sociologia, é possível captar as relações causais entre as ações dos sujeitos e a realidade social mais ampla. Foi assim que Weber tentou explicar o surgimento do capitalismo moderno como um fenômeno decorrente da ética protestante que enfatiza a disciplina, a abnegação e a vocação (NAUROSKI, 2018). A perspectiva funcional, desenvolvida principalmente por Émile Durkheim (1858-1917), toma a sociedade como uma realidade antes do indivíduo. Assim, o conjunto de indivíduos deve adaptar-se à sua estrutura e atividades. Na mesma forma que o corpo humano é formado por membros, órgãos e partes que possuem funções específicas e todos trabalham para o bem do todo, a sociedade é um organismo vivo e em evolução, onde grupos, classes e instituições funcionam da mesma forma e cada um cumpre suas próprias funções, trabalhando para promover a integração social. Um dos problemas centrais do funcionalismo é explicar as causas que influenciam a manutenção ou a decadência da ordem social (NAUROSKI, 2018). Além das abordagens anteriores, existem as teorias do conflito, cujo principal representante é Karl Marx (1818-1883), para quem a sociedade é explicada por situações de conflito e tensões entre classes sociais, ou seja, entre classes que competem pela riqueza produzida e mesmo entre os que possuem os meios de produção (burguesia) e os que possuem apenas seu próprio trabalho (proletários). Outros fenômenos sociais, inclusive a desigualdade, surgem da dinâmica dos conflitos entre capital e trabalho (NAUROSKI, 2018). Dentre essas últimas abordagens, destaca-se o interacionismo simbólico, uma consequência do pensamento marxista, ainda que não possa ser reduzido a perspectiva marxista. Seu interesse analítico é a vida cotidiana concreta e o que acontece com as pessoas na vida cotidiana. Para os interacionistas, as relações sociais refletem como os indivíduos interpretam vários símbolos sociais em atividades comunicativas. O processo interativo da vida social possibilita ao sujeito compreender a realidade em que se insere, proporcionando-lhe representar o mundo e a si mesmo, o que o interacionismo define como self. As identidades, papéis sociais, status e conjuntos de relações sociais, até mesmo instituições e estruturas sociais, são, em última instância, o resultado de interações sociais, que ao mesmo tempo funcionam como fronteiras sociais que moldam o comportamento e as experiências das pessoas (NAUROSKI, 2018). Desse ponto de vista, a sociedade é compreendida como um macrocontexto no qual os sujeitos interagem entre si considerando suas prioridades e formas de representação. Esse contato é mediado pela comunicação e pelo significado dos códigos utilizados, que se traduzem em ações e gestos. Os sujeitos capturam mentalmente o significado da interação e criam representações dela. O resultado desse processo mental ajuda a criar o self, significa uma identidade psicológica e existencial que dá às pessoas unidade e individualidade (NAUROSKI, 2018). 3.1 Descrição da Metodologia de Pesquisa Ao se abordar a ciência sociológica em periódicos, é importante considerar a produção da informação científica. A ciência resulta de pesquisas teóricas e empíricas, que não podem ser feitas por "achismo" ou reprodução pura e simples do conhecimento cotidiano. O rigor no conhecimento científico é obtido por meio da aquisição de informações confiáveis e do diálogo entre os cientistas e seus pares. Cada campo das ciências sociais e cada objeto de pesquisa requer um cuidado teórico e metodológico próprio, com a avaliação da coerência epistemológica das teorias utilizadas e dos objetos estudados (NAUROSKI, 2018). A metodologia de pesquisa social é o conjunto de práticas e técnicas usadas para coletar, organizar e interpretar dados. Ao organizar uma base empírica relacionada a um ou mais objetos, é necessário identificar as variáveis e testar as hipóteses estabelecidas no início do estudo (NAUROSKI, 2018). Ao longo da história da sociologia, discutiu-se o status e a possibilidade de uma ciência social, perguntando-se se a sociologia poderia ser ou não ser considerada uma ciência, tendo em vista que seus métodos e experimentos diferem dos observados no modelo das ciências da natureza, em que a relação de causalidade tenda a ser mais facilmente demostrada (NAUROSKI, 2018). Embora a sociologia tenha sido questionada quanto à sua capacidade de ser considerada uma ciência devido às diferenças em seus métodos e experimentos em relação ao modelo da ciência natural, o modelo epistêmico da análise social pode identificar relações causais plausíveis e demonstráveis. No entanto, o fator humano é muito complexo e não pode ser reduzido a uma relação causal definida, como em um experimento químico em laboratório. Considerações éticas e culturais também impedem a formulação de leis gerais e deterministas para explicaro comportamento social (NAUROSKI, 2018). O caminho metodológico que envolve a pesquisa social pode ser representado no esquema da Figura 6.1. Fonte: NAUROSKI, 2018. Em geral, o caráter científico da sociologia se deve principalmente a três fatores: um conjunto de teorias que sustentam seus conceitos e categorias, uma organização rigorosa e sistemática do conhecimento e métodos processados de pesquisa e os processos de análise que podem ser descritivos, analíticos, dialéticos, funcionalistas ou estruturalistas. Além desses aspectos, deve-se considerar que os fatos sociais são objeto de pesquisa básica em sociologia e que está ciência se caracteriza por se voltar ao conteúdo da vida social em sua configuração imediata e completa (NAUROSKI, 2018). 3.2 Elementos que formam o conjunto teórico na pesquisa social Conforme Nauroski (2018) existem três conjuntos de ferramentas a serem consideradas na pesquisa sociológica. As ferramentas são caracterizadas por teorias, hipóteses e dados. As teorias formam um conjunto de ideias sistematicamente organizadas que, respeitando diferentes perspectivas e autores, indicam o que deve ser estudado e quais são as conexões possíveis entre diferentes aspectos da realidade social. As hipóteses, por outro lado, representam uma possível resposta especulativa ao problema sob investigação, enfatizando a relação entre as variáveis do fenômeno, por exemplo, uma hipótese vinculando desigualdade social e criminalidade juvenil. Hipóteses ajudam a orientar a pesquisa e organizar o material para confirmar ou refutar sua formulação. Os dados formam um conjunto pré-selecionado de dados consistentemente relacionados ao objeto de estudo (NAUROSKI, 2018). Com abertura metodológica, a escolha das variáveis é um elemento central na preparação da pesquisa. Por exemplo: se o objetivo é compreender as doenças dos trabalhadores da educação, é importante identificar o sexo, idade, trajetória, carreira e rendimentos dos sujeitos, e assim desenvolver questões e cenários de entrevista que permitam conhecer em detalhe o funcionamento, condições e relações de trabalho desses profissionais (NAUROSKI, 2018). Além disso, criar uma pesquisa requer cuidado. Primeiramente, o pesquisador deve ter algum tipo de proximidade ou afinidade com o tema pesquisado. Este tópico deve estar relacionado ao referencial teórico escolhido pelo pesquisador; caso contrário, explorá-lo e desbloqueá-lo no processamento e análise de dados torna-se uma tarefa que dificilmente terá sucesso (NAUROSKI, 2018). Para quem está dando os primeiros passos na pesquisa científica, recomenda- se escolher temas que já tenham algum aporte teórico e pesquisas já realizadas que possam ser um suporte preliminar. Em uma revisão de literatura sobre um determinado tema, um pesquisador iniciante pode descobrir novos aspectos que ainda não foram investigados ou que requerem uma investigação mais aprofundada (NAUROSKI, 2018). A pesquisa avança ao longo do tempo com resultados futuros e estudos e análises que agregam e geram novos conhecimentos. A escolha do objeto de pesquisa também deve ter um significado social, para que a pesquisa possa contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade. Embora nem sempre seja assim, o campo da ciência é o conhecimento em benefício de toda a humanidade. Poderíamos considerar a importância da pesquisa sociológica sobre as causas do crime ou o impacto da mudança tecnológica na vida das pessoas, ou mesmo nos direitos das minorias. Esses e muitos outros temas descrevem a ideia de significado social (NAUROSKI, 2018). Considerando os clássicos, podemos destacar alguns conselhos para quem pretende estudar a realidade social. Max Weber, em sua “Metodologia das Ciências Sociais” (1999), publicada originalmente em 1922, sugere que um cientista social deve ser muito claro sobre seus valores e crenças pessoais, pois são uma escolha de estudo e podem influenciar sua abordagem e análise. Segundo Weber, não há neutralidade na pesquisa, portanto os pesquisadores devem estar atentos às suas visões de mundo pessoais, para evitar que esses aspectos interfiram na pesquisa a ponto de comprometer os seus resultados. Um alerta semelhante foi feito por Émile Durkheim em “As regras do método sociológico” (2007), onde ele recomenda o afastamento de opiniões antecipadas do processo de análise. Em outras palavras, o escritor deve evitar fazer julgamentos de valor; um cientista social deve ser o mais racional, objetivo e imparcial possível. Além dessas ressalvas, há precauções quanto ao método utilizado e ao referencial teórico utilizado nos estudos. A realidade, objeto de estudo, apresenta as orientações metodológicas e as teorias mais adequadas para análise (NAUROSKI, 2018). Os conselhos de Weber e Durkheim está correto porque é importante lembrar que há um lado subjetivo no processo de criação do conhecimento científico. Cada etapa da pesquisa envolve escolhas feitas com base no contexto do pesquisador, visão de mundo, conexões teóricas e princípios éticos. É importante estar atento a esses aspectos, para que o resultado da pesquisa seja o mais fiel possível ao que a realidade estudada revela, e não se torne uma projeção subjetiva do próprio pesquisador (NAUROSKI, 2018). Conforme Nauroski (2018), outros cuidados também podem ser considerados: a) Questionar a origem das hipóteses e verificar sua formulação, considerando se são verossímeis ou baseadas em conhecimento de senso comum, ou preconceito. b) Atender ao alcance da realidade pesquisada, se as conclusões da amostra permitem uma visão ampla do fenômeno ou se trata somente de casos especiais. c) Evitar generalizações, principalmente quando a amostra for pequena ou se tratar de estudos de caso. Nessas situações, os resultados são sempre limitados e precisam ser devidamente contextualizados para não universalizar. d) Analisar minuciosamente a correlação entre as variáveis para não concluir precipitadamente que um evento é a causa de outro. É preciso estar atento à frequência e regularidade dos fenômenos sociais e aos fatores que podem influenciá- los. e) Atender à perspectiva ética em todas as etapas da pesquisa. Ferramentas de coleta de dados como questionários, entrevistas, visitas de observação e outras técnicas devem ser avaliadas e aprovadas pelo comitê de ética. Todas essas recomendações são importantes para que os pesquisadores façam bem o seu trabalho e tenham mais confiança nos resultados de suas pesquisas quando comunicam seus resultados aos colegas por meio de publicações (NAUROSKI, 2018). 3.3 As etapas da pesquisa A fase de pesquisa, que costuma ocupar o silêncio dos pesquisadores é o momento de pensar, preparar e escrever o projeto de pesquisa. Mostraremos que a criação deste projeto não é uma "besta de sete cabeças" seguindo cuidadosamente um procedimento relativamente simples. Com tempo e dedicação, muitos se apaixonam, além de ganharem experiência, e descobrem que são verdadeiros cientistas em formação e dando os primeiros passos na pesquisa social (NAUROSKI, 2018). Deve-se lembrar que o objetivo principal da pesquisa é produzir informações teórico-científicas que permitam compreender algum aspecto ou problema da sociedade. Portanto, toda pesquisa deve contribuir para o avanço do conhecimento sobre uma determinada realidade. Assim, deve ter um significado social, deve apresentar resultados que possam contribuir para a melhoria da sociedade, avançar a teoria e enriquecer o debate científico sobre o assunto (NAUROSKI, 2018). Os elementos a serem considerados na elaboração de um projeto de pesquisa são esquematizados na figura 6.2. Fonte: NAUROSKI, 2018. O primeiro passo é escolher o tema, definir o objeto a ser pesquisado, tarefa em que o pesquisador pode obter ajuda do orientador ou de outros pesquisadores participantes do grupo de discussão,ou estudo. Você deve se perguntar: "O que estou pesquisando?". A resposta a esta pergunta dá direção ao sujeito, a parte da realidade investigada. No entanto, deve-se lembrar que o assunto deve ser limitado, seus limites devem ser definidos para que o foco do trabalho de pesquisa seja bem orientado. Quando você aborda o assunto, você sempre acompanha a realidade problemática, aspectos do cotidiano, discussões recorrentes que aparecem na literatura ou surgem, como já foi dito, de uma direção de pesquisa relacionada a um determinado grupo de pesquisa associado a um programa de pós-graduação. Esses aspectos auxiliam no processo de refinamento metodológico que envolve delimitar o objeto de pesquisa e esclarecer o problema sob investigação (NAUROSKI, 2018). Outra etapa importante é a revisão de literatura. Trata-se de conhecer o estado da arte, entrar em contato com outros autores e pesquisadores relacionados ao assunto e conhecer os resultados já alcançados, aspectos que devem ser observados ou aprofundados. Esse processo ajuda o pesquisador a mensurar os resultados e a produção relacionados ao tema e, assim, identificar os aspectos que ainda merecem atenção e que já foram abordados. Isso evita redundância e repetição e ajuda a criar originalidade na proposta (NAUROSKI, 2018). A justificativa significa identificar as razões que tornam necessária uma proposta de pesquisa. Ressalta-se a importância do tema, a inovação, a originalidade da abordagem do método, a importância de sua contribuição para a área e os resultados almejados (NAUROSKI, 2018). Um passo necessário é formular o problema de pesquisa. Isso pode acontecer por meio da descrição do assunto e do assunto que está sendo estudado. Muitos fazem perguntas relevantes que ajudam a ilustrar a natureza do problema, como ele se relaciona com a realidade social mais ampla e como resolvê-lo (NAUROSKI, 2018). A pesquisa sem objetivos simplesmente não aconteceria, porque não teria sentido. Portanto, é de extrema importância que o pesquisador formule com seriedade os objetivos gerais e específicos do trabalho prospectivo (NAUROSKI, 2018). Os objetivos medem a intencionalidade da pesquisa com a fundamentação e o problema apresentados em uma articulação consistente. O objetivo geral fornece uma síntese mais ampla dos resultados desejados e os detalhes são suas consequências. A elaboração dos objetivos indica as atividades a serem realizadas, portanto, verbos infinitivos como indicar, descrever, discutir, especificar, apresentar, mostrar, classificar e avaliar devem ser usados (NAUROSKI, 2018). A metodologia é uma parte importante de mostrar como a pesquisa é feita. Normalmente, esta etapa descreve o tipo de pesquisa realizada, se qualitativa ou quantitativa, o universo amostral, as ferramentas utilizadas para coletar os dados, a forma como os dados e vieses analítico são utilizados, seja histórico, dialético, comparativo, descritivo, abrangente, etc. Recomendamos uma descrição detalhada dos instrumentos utilizados e suas finalidades. Não se pode esquecer que a metodologia utilizada precisa ser fundamentada teoricamente, mostrando sua compatibilidade com os objetivos propostos (NAUROSKI, 2018). Em seguida é a coleta de dados. Deve-se observar quais fontes são usadas, por exemplo bancos de dados oficiais, outros estudos já realizados e até fontes primárias de amostras, ou seja, se questionários, entrevistas, organização de grupos focais, etc. Com os dados coletados em mãos, os próximos passos exigem esforço, paciência e determinação do pesquisador (NAUROSKI, 2018). A organização e sistematização das informações pode incluir tabelas, gráficos, quadros e tabelas. Com base nessas informações, uma análise teórica é realizada. Dessa forma, o cientista pode gerar novas informações e testar suas hipóteses. É uma etapa fundamental que marca a produção do conhecimento científico e promove um diálogo entre realidade e teoria de acordo com as habilidades analíticas do cientista e daqueles que o apoiam. A etapa final é a elaboração do relatório de pesquisa, que, dependendo do nível da pesquisa, pode ser na forma de resumo de curso, monografia ou tese. O documento produzido é geralmente divulgado ao público, geralmente por meio da biblioteca da instituição à qual o pesquisador está vinculado. Além da biblioteca, é aconselhável publicar pesquisas na forma de artigos, livros e/ou capítulos de livros (NAUROSKI, 2018). Por fim, refira-se que cada projeto inclui a definição de um plano de ação e um plano orçamentário, que contempla os recursos e gastos previstos para a execução do estudo. 4 A IMPORTÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS No complexo sistema de interação social que existe em diferentes sociedades, certas atividades repetidas, rotineiras e planejadas são necessárias e, se não ocorrem, fazem falta para uma determinada comunidade para cumprir algum papel naquela coletividade (DIAS, 2010). Desde uma simples luta de boxe que ocorre regularmente e satisfaz várias necessidades como lazer, vazão de agressividade, geração de empregos, etc., até mesmo o complexo sistema de relacionamentos que existe em uma instituição como o Estado, todas desempenham necessidades. Muitos deles são perceptíveis, outros nem tanto. Podemos citar o ilegal jogo do bicho: qual é o seu papel representado em quase todos os municípios brasileiros, aceito e reconhecido por diversas classes sociais? Servindo a grupo mais amplo de pessoas com práticas menos burocráticas e respondendo mais rapidamente às necessidades de pessoas mais modestas, ou mesmo criando uma rede complexa de dependentes e assalariados, que não têm outro caminho. Se o analisarmos corretamente, encontraremos várias razões para sua persistência e aceitação social, que o determinam como instituição social, mesmo que seja considerada ilegal (DIAS, 2010). As instituições são caracterizadas pelos diferentes "status" e papéis construídos durante sua institucionalização, papéis previsivelmente ligados. No caso do "jogo do bicho", a previsibilidade de papéis e a padronização de regras e regulamentos o caracterizam como uma instituição social. Na maioria das cidades brasileiras, os organizadores do jogo são conhecidos e fáceis de encontrar, e se uma pessoa ganha, sabe que receberá um prêmio, pois é uma norma informal consolidada, um jeito institucionalizado: "ganhou, recebeu" (DIAS, 2010). Além do "jogo do bicho", existem outras instituições sociais que não são reconhecidas, que estão institucionalizadas e atendem a determinadas necessidades sociais e se perpetuam pela aceitação social ainda que não sejam legalmente reconhecidas. Certas instituições existem em todas as sociedades. São eles instituições familiares, educacionais, religiosas, econômicas e políticas. Cada uma dessas instituições tem certas funções e responsabilidades atribuídas a ela pela sociedade em que estão inseridas (DIAS, 2010). 4.1 Conceito de instituição social Uma instituição social é um sistema complexo e organizado de relações sociais relativamente permanentes, incorporando valores comuns e formas de agir e satisfazer certas necessidades básicas da sociedade (DIAS, 2010). Em instituições sociais, as atividades são rotineiras e previsíveis; além disso, os relacionamentos humanos que as perpassam têm uma forma e um estilo reconhecível. Algumas instituições surgem espontaneamente, ao longo do tempo e suas normas podem não estar codificadas em leis ou regulamentos. As instituições desenvolvem-se gradualmente conforme as necessidades dos membros (DIAS, 2010). Uma instituição também pode ser definida como uma organização de normas e práticas que atinge um objetivo ou atividade que as pessoas consideram importante. As instituições são os processos estruturais por meio dos quais grupos e indivíduos buscam realizar suas atividades. Em outras palavras, pode-sedizer que uma instituição é uma forma definida, formal e regular de fazer algo. Instituições são crenças e práticas organizadas. A palavra "associação" refere-se a um grupo social que incorpora esse conjunto de crenças e práticas (DIAS, 2010). Todas as definições de instituições incluem um conjunto de normas de comportamento e um sistema de relações sociais por meio do qual essas normas são aplicadas que incorporam alguns valores e procedimentos comuns e atendem a algumas necessidades básicas da sociedade. Nesta definição, valores compartilhados referem-se a ideias e objetivos comuns e procedimentos comuns são padrões de conduta estabelecidos, já o sistema de relacionamentos organizados é a rede de papéis e status por meio da qual esse comportamento é realizado (DIAS, 2010). As instituições formam uma estrutura permanente na qual a cultura e a estrutura social funcionam, por exemplo, a família contém um conjunto de valores comuns (sobre amor, filhos e vida familiar), práticas universais, namoro, puericultura, rotina familiar e a rede de papéis e status (homem, mulher, bebê, criança, adolescente, noiva), que compõem o sistema de relações sociais, através do qual a vida familiar se desenvolve (DIAS, 2010). Para que haver consistência e previsibilidade nas relações sociais, os procedimentos e ferramentas aceitos devem ter uma rotina para resolver problemas que surgem. Cada nova geração não precisa inventar seus próprios métodos e crenças para resolver tais problemas; as gerações anteriores já haviam criado as instituições. Essas, no que lhe concerne, permanecerão por algum tempo. É certo que alguns irão sofrer alterações, mas essencialmente continuam a servir as mesmas necessidades para as quais foram criados (DIAS, 2010). Como já atestamos, as principais instituições sociais consideradas fundamentais nas sociedades modernas são: a família, instituições religiosas, instituições econômicas, instituições educacionais e instituições políticas. Veja figura abaixo: Fonte: (DIAS, 2010) Entre essas instituições sociais básicas há um objetivo claro de socialização: a família, as instituições religiosas e educacionais. Existem muitas instituições relacionadas com outras necessidades humanas, como lazer, comunicação, saúde, etc. Todas as instituições têm alguns elementos em comum, tais como: pessoal, equipamento (bens materiais), organização e certo ritual (costumes, leis, cerimônias). Observe a figura abaixo: Fonte: (DIAS, 2010) É importante entender a diferença entre grupos sociais e instituições sociais. Os grupos sociais referem-se a pessoas que compartilham objetivos comuns e interagem socialmente. As instituições sociais, por outro lado, referem-se às regras e procedimentos padronizados de diferentes grupos. Por exemplo, se você se referir às regras e procedimentos do que regulam a relação entre pai, mãe e filhos, então é uma instituição familiar (DIAS, 2010). 4.2 O processo de institucionalização A institucionalização é o processo pelo qual certas funções adquirem normas e rotinas. Além disso, estão previstas e aprovadas, cujo objetivo é atingir as metas consideradas importantes. Uma função é considerada institucionalizada, se for padronizada. A briga de rua sancionada é uma atividade não institucionalizada, enquanto o boxe profissional é institucionalizado porque tem regras padrão e uma certa rotina, como os campeonatos que definem o vencedor de cada categoria. Por mediação da institucionalização, o comportamento espontâneo e imprevisível é substituído por comportamento regular e previsível (DIAS, 2010). O ensino em sala de aula é institucionalizado porque é formalizado, regular e previsível, caracterizado por certas relações recorrentes entre professores, alunos e administração escolar. Por outro lado, o ensino repassado de um irmão mais velho para um irmão mais novo ou de um adolescente para outro, não é uma atividade institucionalizada. A institucionalização desenvolve um sistema ordenado de normas sociais, status e papéis aceitos pela sociedade (DIAS, 2010). Diante da previsibilidade e organização criada pela institucionalização, pode-se observar que todas as organizações que compõem uma instituição econômica têm funções igualmente consolidadas, com base nas quais podemos prever o comportamento de uma pessoa que executa uma tarefa específica. Por exemplo, sabemos como caixas se comportam em um banco, qual o papel do gerente, etc. (DIAS, 2010). 4.3 Os símbolos culturais Os símbolos culturais dentro das instituições são sinais que identificam sua existência. Exemplos: A bandeira e o hino nacional representam as instituições políticas do país. Um crucifixo e uma catedral representam uma instituição religiosa. A aliança de casamento simboliza o casamento, o nascimento de uma nova família. O sobrenome em uma certidão também são símbolos de família. O Palácio Planalto, em Brasília, representa uma instituição política nacional. (DIAS, 2010). 4.4 Características das instituições As instituições apresentam seis importantes características comuns, veja a figura abaixo: Fonte: (DIAS, 2010) 4.5 Conceito de estrutura social A estrutura social refere-se a modelos relativamente estáveis e sustentáveis nos quais as relações sociais são organizadas e que formam a chamada estrutura básica da sociedade. Para ilustrar esse conceito, vamos tomar como exemplo a estrutura do futebol profissional brasileiro. Os jogadores são apontados para uma vaga fixa em campo. Trata-se de posições interdependentes e já se espera o papel do jogador: goleiro, zagueiro, ponta-direita, etc., além disso, existem regras do jogo que devem ser seguidas e respeitadas. Esses princípios estruturais tornam um grupo de pessoas defensivas e ofensivas, e os times de futebol unidades funcionais com objetivos específicos. Além disso, a estrutura social faz o agrupamento de pessoas em grupos sociais e a população em uma sociedade (DIAS, 2010). Interação social é a base da organização e da estrutura social. Quando a interação entre indivíduos, grupos e instituições atinge certa estabilidade e dura um tempo relativamente longo, temos uma "estrutura social". Os principais elementos de qualquer estrutura social são: status, papéis sociais, grupos sociais e instituições sociais. A estrutura social afeta o comportamento individual e grupal enquanto estabelece regras e limita a ação de todos. Veja a figura: Pode-se dizer que a estrutura social representa o elemento estático da organização social, que inclui relações padronizadas entre indivíduos e grupos. A organização social representaria um elemento dinâmico do processo social, um sistema de relações sociais prevalecente na sociedade entre indivíduos, entre eles e grupos sociais, e entre grupos. Essas relações envolvem reciprocidade e aderem a normas e valores socialmente aceitos. Existem dois conceitos básicos - estrutura social e organização social. A estrutura diz respeito aos atores sociais no desempenho de seus papéis sociais, e a organização social trata do próprio funcionamento do chamado corpo social. Podemos também concluir que a estrutura social acaba por nos dar uma ideia, uma visão do estático - é o presente. Por outro lado, a organização social dá-nos uma ideia de desempenho, na medida em que estão envolvidos os atores sociais e as relações que estabelecem (OLIVEIRA, P. S. DE, 2005). Para Nery (2013): Pensar na estrutura social é também pensar no modo de produção que constitui a estrutura. É importante que retomemos a concepção marxista acerca da estrutura social. Temos aí claramente a formação social composta da infra e da superestrutura social. É importante que vejamos a relação entre essas duas “forças” que formam a sociedade. À infraestrutura, em que se encontram as bases econômicas da sociedade, as relações de produção, determina a superestrutura, isto é, a formacomo os homens se organizam para produzir os bens de que necessitam (modo de produção) é a base infra estrutural de toda e qualquer sociedade. A superestrutura, por sua vez, é composta das instâncias ideológica, jurídica e política. (NERY, p. 73, 2013). Nas ciências sociais, um papel social dá significado a estrutura social, essencialmente um conjunto de normas, direitos, obrigações e expectativas que determinam o comportamento humano dos indivíduos em um grupo ou organização. Os papéis sociais dados ou conquistados visam a interação social e são resultados do processo de socialização. Parece haver uma conexão com o seu oposto, porque toda organização nasce para resistir a possíveis disrupções (MARTINS, 2010). Os papéis sociais conferem um certo status que os destinatários de tais classificações e tais definições não são complexificados. O comportamento se adapta, se conformam e se misturam. Esses mesmos papéis sociais têm um valor relativo e um significado atribuído pela sociedade. O papel social é um dos resultados do processo social primário e secundário, que merece ser estudado e analisado como uma realidade que determina as normas da sociedade e dos indivíduos que a ela pertencem. Eles formam a identidade coletiva e a identidade individual de uma pessoa (MARTINS, 2010). A posição (status) dado a uma pessoa em termos de prestígio e privilégios é conforme as posições determinadas pela sociedade, tanto quanto a sociedade necessita para seu desenvolvimento, algumas definidas, outras adquiridas, do contexto histórico, social, econômico e organizacional. Na sociedade moderna, uma posição melhor é buscada e agariada (OLIVEIRA, pp. 85-86, 2002). Os papéis sociais incluem ações, pensamentos e sentimentos. Eles determinam a consciência coletiva num cenário social (COSTA, p.54, 1987). O que define uma sociedade em sua estrutura está significativamente relacionado aos papéis que ela atribui a seus participantes, padronizados desde o nascimento. Assim, uma sociedade pode não estar ciente dos papéis de outra. A legitimação de papéis entre e dentro das culturas determina suas características, diferenças. Finalmente, a minoria parece usar a grande maioria para sua própria felicidade (MARTINS, 2010). Papéis sociais são performances sociais, como se a sociedade fosse um grande teatro onde a maioria dos personagens não consegue distinguir entre quem eles são e os papéis que desempenham. Dentro deste contexto é estabelecido uma sociedade hierárquica onde se adaptam e justificam a discriminação social. Um dos resultados mais importantes do processo social é a definição de papéis sociais. A existência de papéis racionalmente definidos é essencial para definir a sociedade como uma estrutura ordenada de interação previsível e planejada (MARTINS, 2010). Portanto, a estrutura de qualquer ordem social afeta a distribuição do poder econômico ou outro, dentro dos limites de cada sociedade. A estrutura social é organizada não apenas no nível econômico, mas também no nível do poder. Portanto, não apenas o poder resultante de fatores econômicos determina a estratificação social que ocorre em diferentes sociedades, mas a luta pelo poder também é impulsionada pelas honras e prestígio sociais que a acompanham. Há contextos onde há honra que é a base do poder político ou mesmo econômico (LEMOS, 2012). Weber (1974) afirma que: [...] a forma pela qual as honras sociais são distribuídas numa comunidade, entre grupos típicos que participam nessa distribuição, pode ser chamada de “ordem social”. Ela e a ordem econômica estão, decerto, relacionadas da mesma forma com a “ordem jurídica”. Não são, porém, idênticas. A ordem social é, para nós, simplesmente a forma pela qual os bens e serviços econômicos são distribuídos e usados. A ordem social é, decerto, condicionada em alto grau pela ordem econômica, e por sua vez influi nela (WEBER, p. 212, 1974). A estrutura de poder e produção econômica permite a classificação das sociedades e também avaliar o grau de mobilidade social nelas observado. Assim, conclui-se que as castas, “classes, estamentos e partidos são fenômenos da distribuição de poder em uma comunidade” (WEBER, p.212, 1974). 5 O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO E DA HUMANIDADE NA HISTÓRIA Um dos intelectuais mais importantes no campo das ciências sociais e da política, é o alemão Friedrich Engels, que escreveu um excelente livro em 1876, cuja primeira versão foi publicada em 1896, intitulado "O papel do trabalho na transformação do macaco em homem". Neste livro, o cientista descreve a importância do trabalho no desenvolvimento da humanidade desde os seus primordios. A tese central do estudo de Engels é que o trabalho determinou e detemina o desenvovlimento do ser humano enquanto ser que se afasta da ‘natureza’ e constrói um mundo humano através do trabalho (CARVALHO, 2019). O livro de Engels, que utiliza da teoria da evolução de Charles Darwin, investiga sobre as relações entre o trabalho humano e a evolução. Embora Engels não tenha se concentrado especificamente na teoria da evolução de Darwin em seu ensaio, ele usou a ideia da evolução para argumentar que o trabalho humano é a força motriz da evolução humana. Engels argumenta que, ao contrário de outras espécies animais, os seres humanos são capazes de produzir as próprias ferramentas e modificá-las para atender às suas necessidades. Ele afirma que o trabalho é a atividade humana que mais influencia a evolução, uma vez que é o que permite aos seres humanos modificar e adaptar seu ambiente para atender às suas necessidades. Adaptação e transformação das condições de existência, através de atividades e cada vez mais complexas possibilitaram, na pespectiva de Engels, mudanças biológicas nos seres humanos, resultado de milhares de anos de evolução (CARVALHO, 2019). Engels (1990) está interessado no progresso da evolução humana na história do ponto de vista científico, compreendendo as contradições relacionadas ao desenvolvimento histórico e ao processo evolutivo humano. Segundo um pensador alemão, por exemplo, o desenvolvimento das mãos é essencial no percurso de desenvolvimento da especie humana: As mãos são usadas basicamente para apanhar e segurar os alimentos, à semelhança do que fazem alguns mamíferos inferiores com suas patas dianteiras. Certa variedade de macacos constrói seus ninhos nas árvores com as mãos; outros tipos, como o chipanzé, vão mais longe e constroem verdadeiros telhados sobre os galhos para e protegerem do mau tempo. É com a mão que eles empunham um pedaço de pau para se defenderem dos inimigos e lançam frutas e pedras. Quando aprisionados, conseguem realizar com as mãos muita coisa que aprendem dos homens. Mas é justamente aqui que podemos perceber a enorme diferença entre a mão primitiva do macaco, inclusive antropoide mais evoluído, e a mão do homem, desenvolvida através de milhares de anos de trabalho. Quanto ao número e à disposição dos ossos e músculos, não há diferença entre a mão do homem e do macaco; mas se tomarmos o mais primitivo dos selvagens, ele executará com suas mãos centenas de operações que nenhum dos macacos consegue realizar. Nenhum macaco conseguiu, por exemplo, construir um machado de pedra por mais rudimentar que fosse (ENGELS, 1990, p. 20-21). Este processo de mudanças físicas passou por transformações através das necessidades da sobrevivência; pouco a pouco o corpo humano modificou a estrutura da mão possibilitando que polegar opositor desenvolvesse poder e precisão no manuseio de ferramentas. O ser humano possuí músculos e um longo flexor no polegar, que outros animais não possuem, este músculo nos permite usar a força necessária para manipular objetos e nos dá a precisão que necessitamos para cortes ou lançamentos em longa distância, os nossos ancestrais há milhares de anos usavam essas funções corporais para confecção de pedras
Compartilhar