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SOCI OLOGIA DO 
CONHECIMENTO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao 
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se 
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que 
seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a 
pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é 
a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida 
e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos!
1 CONCEITO DE SOCIEDADE 
Uma das principais características da sociedade humana é a sua profunda 
diversificação. Ao longo da história da civilização, criou-se instituições sociais que 
organizam o trabalho, desenvolvem crenças religiosas, constroem relações familiares, 
formam a sexualidade, estabelecem sistemas de troca de produtos, enfim, garantem 
a vida em sociedade. 
A diversidade apresentada pode ter sido responsável por nossa sobrevivência 
como espécie, pois, diferentemente de outros seres vivos, nossa capacidade de 
adaptação não depende apenas de nossa programação genética, mas da maneira 
como nos constituímos enquanto seres culturais e sociais. Embora não possamos 
desprezar a nossa aparelhagem física, faz parte da nossa humanidade promover 
fortes intervenções na nossa corporalidade e no nosso meio para garantirmos a nossa 
evolução como ser social. Até que ponto podemos escalar essas intervenções ainda 
é uma questão em aberto (CASTRO, 2000). 
Em geral, a sociedade é uma condição universal da vida humana. Essa 
universalidade permite uma interpretação biológica ou instintiva e outra simbólico-
moral ou institucional. Conforme Castro, 2002: 
“(...) a sociedade pode ser vista como um atributo básico, mas não exclusivo, 
da natureza humana: somos geneticamente predispostos à vida social; a 
ontogênese somática e comportamental dos humanos depende da interação 
com seus conspecíficos; a filogênese de nossa espécie é paralela ao 
desenvolvimento da linguagem e do trabalho (da técnica), capacidades 
sociais indispensáveis à satisfação das necessidades do organismo” 
(CASTRO, 2000, p. 182). 
Mas a sociedade também pode ser vista como uma dimensão constitutiva e 
exclusiva da natureza humana, definida por seu caráter normativo: o ser humano 
torna-se um ator social quando não se baseia em regras instintivas escolhidas pela 
evolução, mas em regras de origem extra-somática historicamente estabelecidas 
(CASTRO, 2000). 
Embora as sociedades mais avançadas sejam as sociedades humanas 
(estudadas pelas ciências sociais, como a sociologia e a antropologia), também 
existem sociedades animais (estudadas pela biologia social ou pela etologia social). 
Em sua especficidade, a sociedade humana é constituída por unidades populacionais 
cujos habitantes e seu ambiente estão unidos em um projeto comum, que lhes confere 
um sentimento de pertença. O conceito também indica que o grupo compartilha laços 
ideológicos, econômicos e políticos. Ao analisar uma empresa, são considerados 
fatores como o nível de desenvolvimento, a tecnologia alcançada e a qualidade de 
vida. 
Compreende-se, assim, que uma sociedade é um grupo autônomo de pessoas 
ocupando um território comum com uma cultura grupal e uma identidade 
compartilhada. As sociedades estão conectadas por relações sociais não apenas 
entre as pessoas, mas também por instituições sociais (família, educação, religião, 
política, economia) (DIAS, 2018). 
As instituições sociais criam vínculos entre passado, presente e futuro: dão 
continuidade à vida social. Quer um exemplo? As pessoas que compõem a sociedade 
brasileira, vivem na mesma área e possuem cultura comum, têm um sentimento de 
pertencimento àquela sociedade e identidade comum (DIAS, 2018). 
Outra característica importante das sociedades é sua desigualdade estrutural. 
Todos eles mostram mais ou menos o fenômeno da estratificação social, ou seja, a 
divisão da sociedade em estratos com acesso desigual à riqueza, poder e prestígio 
(DIAS, 2018). 
1.1 A formação da Sociedade 
Para compreendermos a formação da sociedade, Trennepohl (2014) diz que, 
primeiro, devemos entender a sociedade como algo vivo, em movimento, marcada por 
condições de conhecimento e estruturas de conhecimento dinâmicas. A sociedade 
está em constante mudança e o desafio é entendê-la nessa complexidade em rápido 
movimento. É necessário, portanto, oferecer reflexões voltadas para a construção de 
uma compreensão das condições sociais, econômicas, políticas e culturais de nossa 
época histórica, como um contexto em constante modificações, resultado de um 
processo de construção histórica. 
Olhando ao nosso redor, percebemos imediatamente que coisas vivas e não 
vivas podem ser encontradas na natureza. Estes últimos são, por exemplo, pedras, 
terra, água, ar, montanhas, estrelas e minerais. Todos os objetos inanimados formam 
o mundo inorgânico do universo. Esses objetos ou fenômenos são estudados pelas
ciências da natureza. Olhando mais um pouco, percebemos que existem muitos seres 
vivos como plantas e animais. As coisas vivas formam a dimensão orgânica do 
universo. Tanto quanto a ciência pode mostrar, os seres vivos só existem na Terra 
(GONÇALVES; FURTADO; MOURA, 2019). 
O ser humano também é um ser vivo. Mas ele tem uma diferença fundamental 
em relação aos demais seres vivos, ele é um o ser da práxis. Através da prática 
produtiva e a prática social, ele constrói seu mundo e desenvolve experiências sócio-
históricas, criando um conjunto cada vez mais amplo de objetos sociais. A reprodução 
biológica garante a continuidade de animais e plantas. No processo de reprodução, a 
planta produz flores, pólen, frutos, sementes, que se espalham pela terra e fazem 
brotar novas plantas. Na maior parte do reino animal, ocorre o cruzamento de sexos 
diferentes, o que leva ao nascimento de descendentes. É assim que plantas e animais 
garantem sua continuidade na terra por meio do processo de reprodução da vida. 
Como ser vivo, o ser humano também garante a continuidade de sua espécie por meio 
da reprodução biológica, seguindo a mesma fórmula: fecundação, gravidez, 
nascimento e criação da prole. O ciclo de vida, nascimento, crescimento, reprodução 
e morte é um signo imanente para todas as espécies vivas, incluindo os humanos. No 
entanto, o homem não se reproduz apenas como ser vivo; ele constrói um mundo que 
vai muito além da mera reprodução biológica. Com o surgimento do trabalho e de uma 
variedade de outras atividades que constituem práticas sociais, as pessoas passaram 
a produzir e acumular experiência extrapessoal, experiência que não é ditada por um 
modelo biológico, experiência que não surge de um processo de reprodução da 
espécie. É uma experiência sócio-histórica que emerge e se vincula às práticas 
produtivas e sociais das pessoas e às relações e instituições que compõem a 
sociedade ao longo da história (GONÇALVES; FURTADO; MURA, 2019). 
Compreende-se, assim, que a história da sociedade pode ser vista em termos 
de desenvolvimento sociocultural, dominada e fundada pela relação dos seres 
humanos com o desenvolvimento tecnológico e com a cultura por eles produzida. Este 
desenvolvimento pode ser compreendido se examinarmos os tipos básicos de 
sociedade surgidas ao longo da história (ver Figura 3.5), cuja compreensão pode ser 
útil para entendermos a história humana e as dimensões constitutivas domundo 
social. No quadro que se segue é possível ver de forma geral os principais aspectos: 
1.2 Sociologia, o estudo da sociedade 
Como vimos até agora, a sociologia é estudo científico da organização e do 
funcionamento das sociedades humanas e das leis fundamentais que regem as 
relações sociais, as instituições, etc. Nesta perspectiva, pode-se entender a sociologia 
como uma das manifestações do pensamento moderno. Tendo em vista essa 
característica, trataremos nesse tópico de aspectos do surgimento e da formação da 
sociologia na modernidade. Deste modo, para compreensão da prática sociológica e 
sua constituição científica, percorreremos desde a contextualização histórica do seu 
surgimento até a formação dos principais métodos de análise sociológica da realidade 
social. 
O desenvolvimento do pensamento científico, datado da época de Copérnico, 
abrangeu, com a sociologia, um novo campo de conhecimento que ainda não havia 
sido integrado ao conhecimento científico, o do mundo social. Surgindo após a 
constituição das ciências naturais e das diversas ciências sociais (MARTINS, 1988). 
Desta forma, a sua formação constitui um fato complexo, para o qual 
contribuem um conjunto de circunstâncias, história e epistemológicas e uma série de 
intenções práticas. 
A sociologia, a partir das condições do seu surgimento, inscreveu-se num 
contexto histórico específico, coincidindo com os momentos finais da desintegração 
da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. Sua criação não é 
obra de um único filósofo ou cientista, mas é resultado da construção de um grupo de 
pensadores empenhados em compreender novas situações de existência (MARTINS, 
1988). 
A sociologia ergueu-se como resultado de um processo histórico que culminou 
na Revolução Industrial: a segunda revolução científica e tecnológica. Este evento deu 
origem a problemas sociais que os pensadores contemporâneos não conseguiram 
explicar (MARCON, 2014). 
PARA COMPLEMENTAR: Chamamos de revolução industrial o período em 
que um grupo de invenções e inovações criaram um enorme aumento na produção 
de bens. O fenômeno começou na Inglaterra entre 1760 e 1820 e depois se 
espalhou para outros países europeus e os Estados Unidos. 
Durante este período, a economia britânica mudou de uma economia 
predominantemente agrícola para uma industrial, caracterizada pela produção em 
larga escala e uso extensivo de maquinário para reduzir tempo e custos (MARCON, 
2014). 
As mudanças trazidas pela Revolução Industrial moldaram e transformaram 
completamente a organização social, deram origem a novas formas de organização e 
provocaram grandes mudanças culturais. Todo esse processo de transformação levou 
ao surgimento de duas novas classes sociais: dos trabalhadores e burguesia. O 
número de cientistas e engenheiros aumentou. 
Nesse contexto, foi a siderurgia que teve um impacto mais decisivo ao 
revolucionar as técnicas de produção, influeciando ao influenciar o desenvolvimento 
de todas as indústrias subsequentes. Melhorias em fornos e sistemas de fundição 
tornaram o ferro disponível de alta qualidade e tiveram grandes vantagens sobre 
outros materiais. Isso levou ao aprimoramento de muitas tecnologias existentes e à 
construção de novas máquinas. De acordo MARCON (2014) esse processo trouxe 
crescimento e estruturação das ferrovias, pontuado que: 
O ferro permitiu o desenvolvimento das ferrovias, que vieram se somar às 
outras recentes transformações no sistema de transporte, tais como técnicas 
modernas de pavimentação de estradas e abertura de redes de canais. A 
diminuição do tempo de deslocamento e o intercâmbio iniciaram a ruptura das 
relações de dependência (MARCON, p. 22, 2014). 
Toda mudança social poderá afetar de forma negativa ou positiva uma 
sociedade; com o processo da Revolução Industrial, do ponto de vista social, há uma 
grande concentração de pessoas nas cidades britânicas, graças às profundas 
transformações ocorridas no campo. A agricultura de subsistência, típica do 
feudalismo, foi substituída pela mineração em larga escala para atender às 
necessidades industriais. A agricultura foi substituída pela criação de ovelhas para 
fornecer lã para a indústria (MARCON, 2014). 
Um dos fatos mais importantes sobre a revolução industrial é, sem dúvida, o 
surgimento do proletariado e seu papel histórico na sociedade capitalista. Os efeitos 
catastróficos que essa revolução teve sobre a classe trabalhadora fizeram com que 
ela recusasse suas condições de vida. As manifestações da insurreição operária 
passaram por várias fases, como a destruição de máquinas, atos de vandalismo e 
explosão de algumas oficinas, roubo e criminalidade, que evoluíram para a 
constituição de associações e formação sindical, etc. (MARTINS, 1988). 
A Revolução Francesa de 1789 não tinha como objetivo apenas mudar a 
estrutura do Estado e abolir radicalmente a antiga forma de sociedade, mas também 
revogar costumes e hábitos arraigados, de acordo com MARTINS (1988): 
A revolução desferiu também seus golpes contra a Igreja, confiscando suas 
propriedades, suprimindo os votos monásticos e transferindo para o Estado 
as funções da educação, tradicionalmente controladas pela Igreja. Investiu 
contra e destruiu os antigos privilégios de classe, amparou e incentivou o 
empresário (MARTINS, p. 23, 1988). 
Vejamos o Quadro 1 que demostra os aspectos relacionados a revolução 
Industrial e Revolução Francesa revelando suas ideologias: 
Quadro 1 - Aspectos relacionados a Revolução Industrial e Revolução Francesa. 
Fonte: https://shre.ink/1YNo 
Apresentamos anteriormente as condições materiais que possibilitaram o 
nascimento da sociologia. A partir de agora, trataremos das formas de pensamento e 
paradigma epistemológico que susteram o nascimento do estudo da sociedade 
(sociologia) enquanto ciência. 
No século XVII, ocorreu um notável avanço no modo de pensar, significado 
pelo uso sistemático da razão na livre investigação da realidade que caracterizou os 
pensadores conhecidos como racionalistas. Este progresso foi aperfeiçoado pelo 
Iluminismo no século XVIII. O Iluminismo não apenas procurou transformar as velhas 
formas de conhecimento, mas também criticou duramente a sociedade feudal, 
contrapondo os privilégios da nobreza e as restrições que eles impuseram. Conforme 
os interesses econômicos e políticos da burguesia, esta forma de sociedade era 
irracional, injusta e restritiva da liberdade. Com seu pensamento revolucionário 
iluminista, eles desempenharam um papel fundamental na Revolução Francesa de 
1789 (MARCON, 2014). 
Certos pensadores da época estavam imbuídos da convicção de que era 
necessário descobrir uma nova ciência para introduzir a "higiene" na sociedade e 
"reorganizá-la". Esse ponto de vista pode ser encontrado nas ideias de Auguste 
Comte, que propôs a criação de uma física social para estudar a sociedade. A 
sociologia moderna surgiu a partir das ideias desses pensadores que reconheceram 
a necessidade de uma visão sociológica da nova sociedade que surgia com a 
https://shre.ink/1YNo
Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Além de Comte, Karl Marx também foi 
um pensador importante para a configuração da sociologia. 
Em seus trabalhos, Marx analisou as sociedades capitalistas e concluiu que os 
principais conflitos nas sociedades de classe surgiam do fato de que os produtores 
não tinham controle sobre os meios de produção e a influência da lógica do mercado 
ou financeira nas relações humanas. 
Para Marx, o estudo da sociedade deveria começar com seus fundamentos 
materiais, ou seja, a estrutura econômica da sociedade. Essa estrutura representa o 
fundamento da história humana, sobre a qual se baseiam outros níveis de realidade, 
como política, cultura e religião. Segundo a visão marxista, o conhecimento da 
realidade social deve ser uma ferramenta política para orientar grupos e classes 
sociaisna transformação da sociedade (MARCON, 2014). 
Para complementar: 
Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo alemão e revolucionário socialista. 
Criou a base da doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia tem 
influenciado diversas áreas do conhecimento, como a sociologia, a política, o direito 
e a economia. 
Em fevereiro de 1845, Marx e Engels foram obrigados a sair da França e 
seguiram para a Bélgica, era o início de uma longa amizade. Em Bruxelas, Marx 
instalou-se com a família e junto com Engels; dedicou-se a escrever seus trabalhos 
sobre o socialismo e a manter contato com o movimento operário europeu. 
Fonte: www.ebiografia.com 
2 TEORIAS DE ÉMILE DURKHEIM 
O pensamento social de Émile Durkheim foi influenciado por obras de escritores 
e pensadores, como Auguste Comte (1798-1857) e Herbert Spencer (1820-1903), que 
marcaram sua trajetória intelectual através da criação da perspectiva positivista 
(Comte) e valorização das ciências naturais como um caminho para desenvolver uma 
ciência da sociedade (Spencer). 
Nascido na França em 1858, Émile Durkheim afastou-se da tradição familiar 
judaica e optou pela carreira acadêmica. Licenciou-se em filosofia em 1882, mas nos 
anos seguintes o seu interesse voltou-se para os estudos sociais, pelos quais se 
mudou para a Alemanha, onde procurou aprofundar a sua compreensão da realidade 
social. Em 1887, voltou para a França como professor na Universidade de Bordeaux 
e depois na Universidade de Sorbonne, onde permaneceu até o final de sua carreira. 
Durkheim desempenhou um papel decisivo no reconhecimento da sociologia como 
disciplina acadêmica (NAUROSKI, 2018). 
O viés conservador da abordagem de Durkheim pode ser parcialmente 
explicado pelo contexto social e as circunstâncias históricas de sua obra. O sociólogo 
viveu durante o período histórico da Terceira República Francesa, caracterizado por 
muitos conflitos e instabilidade social e política. Diante de uma complexa e 
problemática sociedade industrial, caracterizada por divergências, contradições e 
desigualdades, Durkheim estava ciente dos perigos da desintegração social. É muito 
provável que a instabilidade social de sua época tenha influenciado e contribuído para 
seus estudos. Durkheim constatou que os desdobramentos da Primeira Guerra 
Mundial (1914-1918), as mudanças causadas pela Revolução Industrial, foram 
responsáveis por mudanças sociais que enfraqueceram os laços sociais, promoveram 
o declínio da moralidade religiosa e criaram um cenário de futuro incerto, não só para
a França, mas para toda a Europa. Durkheim morreu em 1917, ano da Revolução 
Russa, tendo alcançado grande fama e credibilidade na nova ciência que ajudou a 
criar (NAUROSKI, 2018). 
Para este autor, a tarefa da sociologia como ciência deveria ser compreender 
o funcionamento da sociedade, seus princípios e regularidades, a fim de encontrar
novas formas de criar vínculos de solidariedade social. Tendo as ciências naturais 
como seu escopo, ele propõe que sociologia deveria aprimorar seus métodos para 
compreensão dos princípios e regularidade da vida social, baseando-se em análises 
factuais, depurando, assim, a nova ciência da influência da filosofia social anterior à 
sua obra, inclusive do próprio August Comte, que, segundo Durkheim, não conseguiu 
se desvincular dessas influências (NAUROSKI, 2018). 
Sobre o modelo social, Durkheim assume uma posição conservadora e defende 
que os indivíduos devem se adaptar à sociedade e não o contrário. A preocupação de 
Durkheim é a futura ordem social que se desenvolveu na era moderna. Não podemos 
esquecer que o modelo epistêmico do qual Durkheim se baseia é a biologia. Deste 
ponto de vista, a sociedade é vista como um organismo social vivo em processo de 
desenvolvimento, como um todo que deve funcionar de forma integrada. A sociedade, 
portanto, precede o indivíduo: os fundamentos objetivos da sociedade forçam os 
indivíduos a se adaptarem às regras sociais, que ele definiu como um fato social, ou 
seja, os modos de ser, agir e pensar atribuídos aos indivíduos. Os fatos sociais 
tornam-se estruturas externas e objetivas, pois estão fora dos indivíduos; eles são 
comuns devido à sua massiva presença humana e territorial; e são coercivas porque 
há sanções para quem não se enquadra nos padrões e normas da vida social 
(NAUROSKI, 2018). 
2.1 A divisão do trabalho social 
A perspectiva analítica de Durkheim, que foi aplicada à sociologia, é definida 
como funcionalismo positivista na história da disciplina. Isso significa que a sociedade 
atual é uma realidade complexa que busca equilibrar a relação entre o indivíduo e a 
sociedade, através de seus processos de integração. Em 1893, em sua obra Divisão 
social do trabalho, Durkheim tenta estudar diferentes tipos de sociedade e os 
mecanismos que operam nelas. Estes mecanismos podem contribuir para a coerência 
e o correto funcionamento destas sociedades, ou de outro modo fragilizar a sua 
integração e funcionalidade, cenário que favorece a criação de situações de anomia, 
ou seja, situações em que os laços de solidariedade se enfraquecem, causando todo 
tipo de problemas que podem ameaçar a integração e reprodução da vida social 
(NAUROSKI, 2018). 
Segundo Durkheim, as sociedades podem ser classificadas em tradicionais e 
complexas. Nas sociedades tradicionais, como as tribos indígenas ou comunidades 
quilombolas brasileiras, existe uma solidariedade mecânica, em que os indivíduos 
compartilham valores e crenças comuns e as tarefas são realizadas de forma coletiva 
e cooperativa. Nesse tipo de sociedade, a divisão do trabalho é simples e há poucas 
diferenças entre os indivíduos. Essa perspectiva de Durkheim se concentra na 
importância da coesão social e da solidariedade como fundamentos das sociedades. 
(NAUROSKI, 2018). 
Nas sociedades industriais complexas, além da moralidade, a manutenção dos 
vínculos interpessoais ocorre através da divisão social do trabalho. Isso equivale a 
dizer que essas sociedades possuem uma ampla gama de tarefas e atividades 
desempenhadas por um amplo corpo social constituído por profissionais, grupos, 
classes, indivíduos e instituições. Essa realidade representa um tipo de solidariedade 
que Durkheim chama de orgânica, ou seja, uma série de interdependências entre as 
pessoas, pois os indivíduos não conseguem prover tudo o que precisam sozinhos, por 
isso dependem uns dos outros. Durkheim acreditava que quanto mais pessoas 
estivessem envolvidas nesse processo, melhor seriam assegurados os processos 
integrativos e reprodutivos da vida social, se esses vínculos fossem fortalecidos 
(NAUROSKI, 2018). 
Nas sociedades simples ou tradicionais, a regulação do comportamento 
depende da consciência coletiva e da força dos padrões morais do grupo. Tanto que 
se algum membro do grupo descumprir essas normas, a punição é severa, às vezes 
fatal. Este é um conceito de punição onde o foco pedagógico da atividade é o reforço 
das normas do grupo (NAUROSKI, 2018). 
Desta forma, os custos da indisciplina são elevados, tornando a desobediência 
um tabu para a comunidade. Em sociedades complexas, no entanto, as normas 
surgem da educação e da divisão do trabalho. A lei é de natureza restaurativa e o 
desvio é punido para garantir o equilíbrio social e o ajustamento do infrator. assim, o 
direito assume um caráter ao mesmo tempo coletivo e individual (NAUROSKI, 2018). 
É importante ressaltar que a preocupação de Durkheim era a preservação da 
ordem social, o que atraiu críticas por ser um escritor tradicionalista e conservador. 
Uma crítica radical à sociedade ou uma proposta de outra sociedade não faz parte do 
horizonte teórico deste pesquisador. A sua preocupação central não era a 
transformação da sociedade, mas a gestão da mudança social no sentido da melhoria 
lenta e gradual da vida social (NAUROSKI, 2018). 
Para Durkheim, considerando a realidade das sociedades complexas,a causa 
comum dos problemas sociais é a expansão dos processos anômalos. Segundo o 
autor, existem três soluções para evitar o estado geral de anomia que pode destruir a 
sociedade. A primeira consiste na educação moral de crianças e jovens de acordo 
com seu grupo social. A segunda está relacionada à função estratégica do Estado, ou 
seja, para Durkheim, o poder legislativo configura o cérebro da sociedade e seria 
responsável por receber, considerar e ponderar as diversas demandas da sociedade 
para preservar o todo social. A divisão do trabalho social forma o terceiro eixo da 
organização da vida coletiva; sua eficácia reside na capacidade de envolver os 
membros da sociedade em cooperação mútua baseada na diversificação e 
especialização de tarefas (SELL, 2009). 
2.2 Karl Marx e a sociedade capitalista 
A educação de Marx foi variada e interdisciplinar, incluindo filosofia, história, 
economia e sociologia. O contexto de sua vida política e intelectual foi marcado pelas 
grandes mudanças sociais ocorridas na Europa no século XIX. 
Karl Marx nasceu em 1818 em Tréveris, parte da Confederação Alemã, e 
morreu em Londres em 1883 com a idade de 65 anos. Em Berlim, estudou filosofia e 
aproximou-se do círculo dos críticos de Hegel, a chamada esquerda hegeliana. Este 
grupo recebeu esse nome porque se opôs à interpretação determinista da filosofia 
política de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, da direita hegeliana. Esse grupo de direita 
era formado por estudantes e professores proeminentes que argumentavam que o 
atual momento social e político da Prússia representava a síntese histórica a que se 
referia Hegel (NAUROSKI, 2018). 
Para os hegelianos de esquerda, o Estado prussiano estava longe de 
representar a esfera final do desenvolvimento social e político da sociedade. Nesse 
contexto, o uso da religião como forma de controle social das massas foi um dos 
pontos centrais da crítica de Marx aos defensores do modelo de Estado de Hegel 
(NAUROSKI, 2018). 
Por causa dessa oposição, Marx teve que fugir para Colônia e desistir da 
carreira de professor universitário, mas descobriu um gosto especial pela escrita 
militante quando se tornou repórter e editor-chefe da Gazeta Renana. Sua análise 
crítica e perspicaz dos problemas sociais da época levou à sua perseguição e ao 
fechamento do jornal (NAUROSKI, 2018). 
Antes de se mudar para Paris em 1843, Marx se casou com a jovem aristocrata 
Jenny von Westphalen. Morando na capital francesa, Marx entrou em contato com o 
movimento socialista e iniciou uma amizade duradoura com seu fiel amigo e 
colaborador Friedrich Engels, como resultado de suas ideias e atividades 
revolucionárias, Marx foi expulso de Paris, transferido para Bruxelas. Nesse período 
esteve intensamente envolvido na luta operária, o que o levou a escrever seu famoso 
texto, “O Manifesto do Partido Comunista”, obra cujo objetivo claro era ajudar a 
conscientizar e organizar a classe trabalhadora da época (NAUROSKI, 2018). 
Apesar de seu extenso trabalho, ele dividia seu tempo entre o escritório e a rua, 
ele contribuiu para os levantes em Paris e participou ativamente da revolução na 
Alemanha em 1849. Após o fracasso dessas iniciativas, Marx refugiou-se na Inglaterra 
e mudou-se para Londres. Convencido de que precisava entender as razões do 
fracasso dos levantes revolucionários, iniciou um estudo aprofundado do capitalismo, 
culminando em seu livro “O Capital”. A análise de Marx do modelo econômico 
capitalista desenvolveu-se em um trabalho complexo e original sobre a própria 
sociedade capitalista. Mais do que um exame dos preconceitos econômicos de sua 
época, “O Capital” se tornaria um tratado sobre o funcionamento de uma sociedade 
baseada na economia de mercado (NAUROSKI, 2018). 
Marx ajudou a construir a Primeira Internacional, uma organização trabalhista 
global, e produziu um grande corpo de trabalhos em assuntos tão diversos quanto 
política, história e economia. Como escritor e ativista, dedicou sua vida à construção 
de um sonho, um projeto que visava mudar a realidade social para que as pessoas 
vivessem em uma sociedade livre: livre da exploração e da opressão, ou seja, para 
viver uma vida digna, plena e de significados (NAUROSKI, 2018). 
Posicionando-se sobre a filosofia da história, Marx reconheceu a contribuição 
de Hegel, mas o criticou, argumentando que sua dialética era idealista e precisava ser 
posta de pé. Com sua doutrina do materialismo histórico, Marx acreditava ter salvado 
a inspiração de Hegel da dialética da ideologia idealista ao mostrar que a realidade 
social e as lutas históricas produzem ideias e promovem a consciência humana 
(NAUROSKI, 2018). 
Para Marx, o modo de vida das pessoas determina seu modo de pensar e sua 
representação da realidade. Isso equivale a dizer que a natureza humana não é inata, 
mas que as pessoas constroem sua humanidade no processo histórico das relações 
sociais mediadas pelo trabalho. O que Marx quer dizer é que quando o trabalho é 
tratado em termos de dominação e exploração, como no capitalismo, a realidade 
social é em parte um reflexo dessa condição (NAUROSKI, 2018). 
Se para Hegel a história é uma projeção do espírito humano, que transforma a 
natureza à sua imagem e semelhança, para Marx a história é movida pela luta de 
classes. Assim, segundo Marx, a mudança social e histórica ocorre por causa dos 
conflitos e confrontos entre dominantes e governados, senhores e escravos, oprimidos 
e opressores, no caso das sociedades modernas, por causa das relações conflituosas 
entre trabalhadores e burgueses. Direitos adquiridos ou injustiças impostas são o 
resultado dessa luta (NAUROSKI, 2018). 
Assim, segundo Marx, a compreensão da realidade social deve estar 
fundamentada na vida concreta e nas condições materiais da existência humana. A 
teoria deve fazer e demostrar a realidade e até mudá-la. É inútil que os filósofos e 
intelectuais interpretem a realidade uma a uma, é preciso modificá-la para construir 
uma sociedade onde a ostentação da minoria compense e não resulte na morte 
precoce de milhares de pessoas marginalizadas, o centro do pensamento social de 
Marx é judaico, ético e profundamente humano, inspirado no Iluminismo (NAUROSKI, 
2018). 
Outras influências vieram de teóricos econômicos clássicos como Adam Smith 
(1723-1790) e David Ricardo (1772-1823), que ajudaram Marx a refletir sobre os 
processos de geração da riqueza. No entanto, ao contrário desses autores, Marx 
percebeu que a riqueza vem do trabalho excedente que não é pago. O lucro, que não 
é questionado pelos economistas clássicos, representa, portanto, aquela parte do 
trabalho não pago, que Marx chamou de mais-valia. O lucro só é possível através da 
usurpação privada dos frutos do trabalho social e coletivo, que Marx via como um 
enfraquecimento do sentido ontológico do trabalho, que deveria ser fator de 
humanização das pessoas, não de sua miséria e degradação (NAUROSKI, 2018). 
Do ponto de vista de Marx, sendo a alienação religiosa consequência da 
alienação econômica, a superação das condições materiais de miséria e opressão 
levaria à vitória da religião como forma infantilizada de cultura e vida social. A 
superação da exclusão econômica por meio da transformação da sociedade 
capitalista levaria à emancipação humana e à superação de diversas formas de 
alienação e mistificação (NAUROSKI, 2018). 
2.3 Max Weber, economia e religião 
Karl Emil Maximilian Weber nasceu em 1864 na cidade de Erfurt, Alemanha. 
Ele estudou em Heidelberg e depois em Berlim. Ele era um homem de muitos 
interesses e estudou filosofia, economia, história e teologia. Em 1891 obteve o 
doutorado em Direito e dois anos depois casou-se com Marianne Schnitger. Trabalhou 
como professor por vários anos em Freiburg, Berlim e Heidelberg. Anos depois, ele 
ajudou a fundar uma das principais publicações de ciências sociais da Alemanha, 
Arquivo para a Ciência Sociale a Ciência Política. 
Viajando para os Estados Unidos, Weber teve contato direto com o país mais 
capitalista do mundo, o que despertou seu interesse pelo estudo da economia e da 
sociedade capitalista. Em 1918 aceita um convite para lecionar na Universidade de 
Viena e, talvez por ter testemunhado o rescaldo da Primeira Guerra Mundial, os seus 
estudos procuram explicar as ligações entre a economia, a política e a organização 
jurídica dos Estados. Esses estudos destacam os aspectos culturais de sua obra: 
[...] existe um ponto decisivo [...] com que somos conduzidos para uma 
peculiaridade decisiva do método nas ciências da cultura; ou seja, nas 
disciplinas que; aspiram a conhecer os fenômenos da vida segundo a sua 
significação cultural. 
A significação da configuração de um fenômeno cultural e a causa dessa 
significação não podem, contudo, deduzir-se de qualquer sistema de 
conceitos de leis [...] dado que pressupõe a relação dos fenômenos culturais 
com ideias de valor (Weber, 1982, p. 92). 
Dessa forma, Weber estabeleceu sua premissa epistemológica central, 
mostrando a importante diferença entre as ciências naturais, que explicam o mundo 
natural em termos de causalidade, e as ciências espirituais ou culturais, como no caso 
da sociologia, que busca compreender as relações entre fatores humanos e 
fenômenos sociais. 
2.3.1 Individualismo metodológico 
Essa abordagem weberiana da realidade social e humana foi chamada de 
individualismo metodológico, perspectiva que permite identificar as diferenças e 
peculiaridades da realidade estudada. Pesquisar é olhar para a realidade caótica e 
descobrir que ela é fonte inesgotável de problemas e objetos a serem pesquisados. A 
tarefa do cientista social é identificar seu tópico e fazer um corte para enquadrar o 
problema sob investigação. Assim, é óbvio que o cientista social deve procurar realizar 
sua pesquisa com rigor e com a consciência de que a pura imparcialidade é 
impossível, percebendo que ao formar o objeto de pesquisa ele está de alguma forma 
inventando (WEBER, 1994). 
A sociologia abrangente de Weber adota uma abordagem metodológica para 
compreender os fenômenos coletivos que começam com o indivíduo, as ações dos 
atores sociais. Conforme declarado em Weber: 
A Sociologia interpretativa considera o indivíduo e seu ato como unidade 
básica, como seu átomo — senos permitirem pelo menos uma vez a 
compreensão discutível. Nessa abordagem, o indivíduo é também o limite 
superior e o único portador de conduta significativa [...] Em geral, para a 
Sociologia conceitos como Estado, associação, feudalismo, e outros 
semelhantes designam certas categorias de interação humana. Daí ser tarefa 
da Sociologia reduzir esses conceitos em ação compreensível, isto é, sem 
exceção, aos atos dos indivíduos participantes (WEBER, p. 70, 1982). 
Weber abre um novo caminho metodológico, rompendo com o positivismo de 
Auguste Comte e oferecendo um contraponto ao funcionalismo de Émile Durkheim. 
Há um forte viés interpretativo em seus pensamentos. 
O método de Weber refere-se à construção de tipos ideais, um conceito macro 
capaz de fornecer parâmetros para pensar o objeto de estudo. Assim, por meio da 
formação de um referencial de nível básico, haveria uma aproximação da realidade 
investigada em relação à correspondência do objeto e seu conceito ou não, o que 
possibilitaria observar as diversas características do fenômeno investigado. 
Essa ideia é mais fácil de entender se observarmos como Weber entende a 
ação social. Ele define quatro tipos de atividades como forma de identificar os 
diferentes motivos que orientam as ações sociais dos indivíduos. A primeira delas é a 
ação racional e intencional. Por exemplo, um profissional que faz um curso de 
atualização para conseguir novos clientes ou aumentar sua renda. Existem também 
atividades baseadas em valores racionais onde o objetivo desejado não é material, 
como no caso da participação no culto religioso. Outro tipo é uma ação motivada por 
sentimentos ou emoções, como oferecer flores a um ente querido. Por fim, há uma 
atividade movida pela tradição, como fazer um curso de direito para ocupar um cargo 
em uma família de advogados. Em outras palavras, qualquer ação em que um ator 
considera a possível reação de outros atores é uma ação social. Dessa forma, a 
sociedade seria o resultado das ações e reações que os atores sociais formam entre 
si. 
2.4 Teorias de Adam Smith 
A teoria histórica e social de Smith incluiu uma análise da origem e 
desenvolvimento da luta de classes na sociedade e uma análise de como o poder é 
exercido na luta de classes. Há sempre um tema nessas teorias, que Smith 
desenvolve com mais detalhes em sua teoria econômica: embora os indivíduos 
possam agir de forma egoísta e rígida em interesse próprio ou no interesse da classe 
a que pertencem, apesar dos conflitos pessoais e de classe, ele considerava haver 
uma regra, uma lei ou princípio que excede o conflito enquanto tal, encaminhando os 
sujeitos humanos para uma experiência de harmonia. . 
Segundo Hunt e Lautzenheiser (2012), vê-se como resultado dessa 
compreensão, que existe uma "mão invisível", como Smith a chamou, nas "leis da 
natureza" ou " divina providência", que conduz essas ações aparentemente 
conflitantes na direção da gentileza e da harmonia. A "mão invisível" não é um produto 
de propósito de qualquer pessoa. É simplesmente um tratamento sistemático das leis 
da natureza. Esta é indiscutivelmente a maior, inconsistência no trabalho de Smith, 
mas também dos pontos a partir dos quais seu texto será fundamental para Marx e 
mesmo para Weber. Por esta razão também, que as duas correntes opostas do 
pensamento econômico dos séculos XIX e XX – uma enfatizando a harmonia social 
capitalista e a outra enfatizando o conflito social capitalista, podem traçar suas raízes 
intelectuais nos escritos de Smith (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). 
A teoria da história de Smith começou com a proposição de que a maneira 
como as pessoas produziam e distribuíam as necessidades materiais da vida era o 
fator mais importante nas instituições sociais de qualquer sociedade e nas relações 
pessoais e de classe entre elas. Os tipos de relações de propriedade foram 
particularmente importantes na determinação da forma de governo em cada 
sociedade. Smith acreditava que o desenvolvimento econômico e social tinha quatro 
estágios distintos: caça, pastoreio, agricultura e comércio. Em cada estágio, entender 
os métodos de produção e distribuição das necessidades econômicas da sociedade 
era fundamental para entender as instituições sociais e os governos da sociedade. No 
entanto, a relação entre a base econômica e a superestrutura social e política não é 
estritamente determinística (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). 
Smith presta-se a diferenças locais e regionais por razões geográficas e 
culturais. Essencialmente todas as sociedades estão em uma dessas fases, embora 
possam passar por uma fase de transição em que existem algumas características de 
ambas as fases. No entanto, não se assume que a sociedade progrida 
necessariamente de um estágio para outro. O desenvolvimento social progressivo só 
pode ocorrer se houver uma combinação adequada de condições geográficas, 
econômicas e culturais. Smith define a fase de caça como "o estado mais baixo e sujo 
da sociedade, como encontramos entre as tribos indígenas da América do Norte". 
Poder ou privilégio, porque esses privilégios e a base econômica necessária para esse 
poder não existem. Portanto, “não há soberania ou interesse comum neste caso”. 
(HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). 
A teoria econômica de Smith era principalmente uma teoria normativa ou 
política. Sua principal preocupação é identificar as forças sociais e econômicas que 
melhoram o contentamento humano e, com base nisso, recomendar políticas que 
melhorem a satisfação humana. A definição de Smith de bem-estar econômico é muito 
simplese direta, depende de quanto "o produto do trabalho" e "quantas pessoas têm 
que consumi-lo" a cada ano. Outro critério de felicidade não claramente definido por 
Smith, mas importante em muitas de suas discussões, é que a felicidade pode 
aumentar porque a composição do produto a ser consumido está mais alinhada com 
as necessidades e desejos de quem compra e usa o produto (HUNT; 
LAUTZENHEISER, 2012). 
Ao analisar as forças que tendem a aumentar o bem-estar econômico, Smith 
desenvolveu um modelo que descreve os principais componentes sociais e 
econômicos do capitalismo e explica os principais fatores que impulsionam o sistema. 
O capitalismo é dividido em dois principais ramos de produção: agricultura e indústria. 
A produção de bens requer três conjuntos diferentes de insumos: terra (incluindo 
recursos naturais), trabalho e capital. 
As três principais classes sociais do capitalismo – proprietários, trabalhadores 
e capitalistas – correspondem a esses três grupos. A base legal e social dessa 
estratificação é a lei relativa à distribuição de bens e imóveis entre as pessoas. Cada 
uma das três classes sociais recebe diferentes formas de compensação monetária: 
aluguéis, salários e dividendos. Como vimos, essas formas de renda correspondem 
aos três componentes dos custos de produção e preços fixos das matérias-primas. 
Smith assumiu que todo comportamento econômico é caracterizado por motivos 
egoístas e possessivos (embora tenha admitido que as pessoas têm outros motivos 
em seu comportamento não econômico, incluindo motivos altruístas). A suposição de 
que todo comportamento econômico é baseado em motivos egoístas e possessivos 
foi a base da economia neoclássica no final do século XIX e início do século XX 
(HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). 
3 METODOLOGIA NA PESQUISA SOCIOLÓGICA 
A sociologia tornou-se ciência no século XVIII e apresentou-se como uma 
resposta científica às mudanças da sociedade durante o período industrial. Ao longo 
desse desenvolvimento, abordagens baseadas em teorias para explicar fenômenos 
sociais emergiram como uma área de especialização. Cada um deles representa uma 
abordagem distinta da sociedade e dos seus problemas (NAUROSKI, 2018). 
Dentre essas abordagens, as teorias da ação social têm como base o 
pensamento de Max Weber (1864-1920), para quem a sociedade é o resultado de um 
conjunto de ações e interações sociais entre os indivíduos. Weber entende que o 
social resulta da atividade articulada do indivíduo, com outros indivíduos e com seu 
meio. Esse ponto de partida o levou a formular uma teoria conhecida como 
individualismo metodológico, segundo a qual, para compreender uma dada realidade 
social, é preciso identificar os sujeitos que a ela pertencem e o sentido que lhes 
atribuem no enfoque de suas diversas atividades e funções. 
O resultado é um estudo compreensivo e interpretativo, no qual o cientista 
social constrói sua análise a partir da perspectiva dos sujeitos e dos significados 
atribuídos às suas ações. Assim, com a sociologia, é possível captar as relações 
causais entre as ações dos sujeitos e a realidade social mais ampla. Foi assim que 
Weber tentou explicar o surgimento do capitalismo moderno como um fenômeno 
decorrente da ética protestante que enfatiza a disciplina, a abnegação e a vocação 
(NAUROSKI, 2018). 
A perspectiva funcional, desenvolvida principalmente por Émile Durkheim 
(1858-1917), toma a sociedade como uma realidade antes do indivíduo. Assim, o 
conjunto de indivíduos deve adaptar-se à sua estrutura e atividades. Na mesma forma 
que o corpo humano é formado por membros, órgãos e partes que possuem funções 
específicas e todos trabalham para o bem do todo, a sociedade é um organismo vivo 
e em evolução, onde grupos, classes e instituições funcionam da mesma forma e cada 
um cumpre suas próprias funções, trabalhando para promover a integração social. Um 
dos problemas centrais do funcionalismo é explicar as causas que influenciam a 
manutenção ou a decadência da ordem social (NAUROSKI, 2018). 
Além das abordagens anteriores, existem as teorias do conflito, cujo principal 
representante é Karl Marx (1818-1883), para quem a sociedade é explicada por 
situações de conflito e tensões entre classes sociais, ou seja, entre classes que 
competem pela riqueza produzida e mesmo entre os que possuem os meios de 
produção (burguesia) e os que possuem apenas seu próprio trabalho (proletários). 
Outros fenômenos sociais, inclusive a desigualdade, surgem da dinâmica dos conflitos 
entre capital e trabalho (NAUROSKI, 2018). 
Dentre essas últimas abordagens, destaca-se o interacionismo simbólico, uma 
consequência do pensamento marxista, ainda que não possa ser reduzido a 
perspectiva marxista. Seu interesse analítico é a vida cotidiana concreta e o que 
acontece com as pessoas na vida cotidiana. Para os interacionistas, as relações 
sociais refletem como os indivíduos interpretam vários símbolos sociais em atividades 
comunicativas. O processo interativo da vida social possibilita ao sujeito compreender 
a realidade em que se insere, proporcionando-lhe representar o mundo e a si mesmo, 
o que o interacionismo define como self. As identidades, papéis sociais, status e
conjuntos de relações sociais, até mesmo instituições e estruturas sociais, são, em 
última instância, o resultado de interações sociais, que ao mesmo tempo funcionam 
como fronteiras sociais que moldam o comportamento e as experiências das pessoas 
(NAUROSKI, 2018). 
Desse ponto de vista, a sociedade é compreendida como um macrocontexto 
no qual os sujeitos interagem entre si considerando suas prioridades e formas de 
representação. Esse contato é mediado pela comunicação e pelo significado dos 
códigos utilizados, que se traduzem em ações e gestos. Os sujeitos capturam 
mentalmente o significado da interação e criam representações dela. O resultado 
desse processo mental ajuda a criar o self, significa uma identidade psicológica e 
existencial que dá às pessoas unidade e individualidade (NAUROSKI, 2018). 
3.1 Descrição da Metodologia de Pesquisa 
Ao se abordar a ciência sociológica em periódicos, é importante considerar a 
produção da informação científica. A ciência resulta de pesquisas teóricas e 
empíricas, que não podem ser feitas por "achismo" ou reprodução pura e simples do 
conhecimento cotidiano. O rigor no conhecimento científico é obtido por meio da 
aquisição de informações confiáveis e do diálogo entre os cientistas e seus pares. 
Cada campo das ciências sociais e cada objeto de pesquisa requer um cuidado teórico 
e metodológico próprio, com a avaliação da coerência epistemológica das teorias 
utilizadas e dos objetos estudados (NAUROSKI, 2018). 
A metodologia de pesquisa social é o conjunto de práticas e técnicas usadas 
para coletar, organizar e interpretar dados. Ao organizar uma base empírica 
relacionada a um ou mais objetos, é necessário identificar as variáveis e testar as 
hipóteses estabelecidas no início do estudo (NAUROSKI, 2018). 
Ao longo da história da sociologia, discutiu-se o status e a possibilidade de uma 
ciência social, perguntando-se se a sociologia poderia ser ou não ser considerada 
uma ciência, tendo em vista que seus métodos e experimentos diferem dos 
observados no modelo das ciências da natureza, em que a relação de causalidade 
tenda a ser mais facilmente demostrada (NAUROSKI, 2018). 
Embora a sociologia tenha sido questionada quanto à sua capacidade de ser 
considerada uma ciência devido às diferenças em seus métodos e experimentos em 
relação ao modelo da ciência natural, o modelo epistêmico da análise social pode 
identificar relações causais plausíveis e demonstráveis. No entanto, o fator humano é 
muito complexo e não pode ser reduzido a uma relação causal definida, como em um 
experimento químico em laboratório. Considerações éticas e culturais também 
impedem a formulação de leis gerais e deterministas para explicaro comportamento 
social (NAUROSKI, 2018). 
O caminho metodológico que envolve a pesquisa social pode ser representado 
no esquema da Figura 6.1. 
Fonte: NAUROSKI, 2018. 
Em geral, o caráter científico da sociologia se deve principalmente a três 
fatores: um conjunto de teorias que sustentam seus conceitos e categorias, uma 
organização rigorosa e sistemática do conhecimento e métodos processados de 
pesquisa e os processos de análise que podem ser descritivos, analíticos, dialéticos, 
funcionalistas ou estruturalistas. Além desses aspectos, deve-se considerar que os 
fatos sociais são objeto de pesquisa básica em sociologia e que está ciência se 
caracteriza por se voltar ao conteúdo da vida social em sua configuração imediata e 
completa (NAUROSKI, 2018). 
3.2 Elementos que formam o conjunto teórico na pesquisa social 
Conforme Nauroski (2018) existem três conjuntos de ferramentas a serem 
consideradas na pesquisa sociológica. As ferramentas são caracterizadas por teorias, 
hipóteses e dados. 
As teorias formam um conjunto de ideias sistematicamente organizadas que, 
respeitando diferentes perspectivas e autores, indicam o que deve ser estudado e 
quais são as conexões possíveis entre diferentes aspectos da realidade social. 
As hipóteses, por outro lado, representam uma possível resposta especulativa 
ao problema sob investigação, enfatizando a relação entre as variáveis do fenômeno, 
por exemplo, uma hipótese vinculando desigualdade social e criminalidade juvenil. 
Hipóteses ajudam a orientar a pesquisa e organizar o material para confirmar ou 
refutar sua formulação. 
Os dados formam um conjunto pré-selecionado de dados consistentemente 
relacionados ao objeto de estudo (NAUROSKI, 2018). 
Com abertura metodológica, a escolha das variáveis é um elemento central na 
preparação da pesquisa. Por exemplo: se o objetivo é compreender as doenças dos 
trabalhadores da educação, é importante identificar o sexo, idade, trajetória, carreira 
e rendimentos dos sujeitos, e assim desenvolver questões e cenários de entrevista 
que permitam conhecer em detalhe o funcionamento, condições e relações de 
trabalho desses profissionais (NAUROSKI, 2018). 
Além disso, criar uma pesquisa requer cuidado. Primeiramente, o pesquisador 
deve ter algum tipo de proximidade ou afinidade com o tema pesquisado. Este tópico 
deve estar relacionado ao referencial teórico escolhido pelo pesquisador; caso 
contrário, explorá-lo e desbloqueá-lo no processamento e análise de dados torna-se 
uma tarefa que dificilmente terá sucesso (NAUROSKI, 2018). 
Para quem está dando os primeiros passos na pesquisa científica, recomenda-
se escolher temas que já tenham algum aporte teórico e pesquisas já realizadas que 
possam ser um suporte preliminar. Em uma revisão de literatura sobre um 
determinado tema, um pesquisador iniciante pode descobrir novos aspectos que ainda 
não foram investigados ou que requerem uma investigação mais aprofundada 
(NAUROSKI, 2018). 
A pesquisa avança ao longo do tempo com resultados futuros e estudos e 
análises que agregam e geram novos conhecimentos. A escolha do objeto de 
pesquisa também deve ter um significado social, para que a pesquisa possa contribuir 
para o aperfeiçoamento da sociedade. Embora nem sempre seja assim, o campo da 
ciência é o conhecimento em benefício de toda a humanidade. Poderíamos considerar 
a importância da pesquisa sociológica sobre as causas do crime ou o impacto da 
mudança tecnológica na vida das pessoas, ou mesmo nos direitos das minorias. 
Esses e muitos outros temas descrevem a ideia de significado social (NAUROSKI, 
2018). 
Considerando os clássicos, podemos destacar alguns conselhos para quem 
pretende estudar a realidade social. Max Weber, em sua “Metodologia das Ciências 
Sociais” (1999), publicada originalmente em 1922, sugere que um cientista social deve 
ser muito claro sobre seus valores e crenças pessoais, pois são uma escolha de 
estudo e podem influenciar sua abordagem e análise. Segundo Weber, não há 
neutralidade na pesquisa, portanto os pesquisadores devem estar atentos às suas 
visões de mundo pessoais, para evitar que esses aspectos interfiram na pesquisa a 
ponto de comprometer os seus resultados. 
Um alerta semelhante foi feito por Émile Durkheim em “As regras do método 
sociológico” (2007), onde ele recomenda o afastamento de opiniões antecipadas do 
processo de análise. Em outras palavras, o escritor deve evitar fazer julgamentos de 
valor; um cientista social deve ser o mais racional, objetivo e imparcial possível. 
Além dessas ressalvas, há precauções quanto ao método utilizado e ao 
referencial teórico utilizado nos estudos. A realidade, objeto de estudo, apresenta as 
orientações metodológicas e as teorias mais adequadas para análise (NAUROSKI, 
2018). 
 Os conselhos de Weber e Durkheim está correto porque é importante lembrar 
que há um lado subjetivo no processo de criação do conhecimento científico. Cada 
etapa da pesquisa envolve escolhas feitas com base no contexto do pesquisador, 
visão de mundo, conexões teóricas e princípios éticos. É importante estar atento a 
esses aspectos, para que o resultado da pesquisa seja o mais fiel possível ao que a 
realidade estudada revela, e não se torne uma projeção subjetiva do próprio 
pesquisador (NAUROSKI, 2018). 
Conforme Nauroski (2018), outros cuidados também podem ser considerados: 
a) Questionar a origem das hipóteses e verificar sua formulação, considerando
se são verossímeis ou baseadas em conhecimento de senso comum, ou preconceito. 
b) Atender ao alcance da realidade pesquisada, se as conclusões da amostra
permitem uma visão ampla do fenômeno ou se trata somente de casos especiais. 
c) Evitar generalizações, principalmente quando a amostra for pequena ou se
tratar de estudos de caso. Nessas situações, os resultados são sempre limitados e 
precisam ser devidamente contextualizados para não universalizar. 
d) Analisar minuciosamente a correlação entre as variáveis para não concluir
precipitadamente que um evento é a causa de outro. É preciso estar atento à 
frequência e regularidade dos fenômenos sociais e aos fatores que podem influenciá-
los. 
e) Atender à perspectiva ética em todas as etapas da pesquisa. Ferramentas
de coleta de dados como questionários, entrevistas, visitas de observação e outras 
técnicas devem ser avaliadas e aprovadas pelo comitê de ética. 
Todas essas recomendações são importantes para que os pesquisadores 
façam bem o seu trabalho e tenham mais confiança nos resultados de suas pesquisas 
quando comunicam seus resultados aos colegas por meio de publicações 
(NAUROSKI, 2018). 
3.3 As etapas da pesquisa 
A fase de pesquisa, que costuma ocupar o silêncio dos pesquisadores é o 
momento de pensar, preparar e escrever o projeto de pesquisa. Mostraremos que a 
criação deste projeto não é uma "besta de sete cabeças" seguindo cuidadosamente 
um procedimento relativamente simples. Com tempo e dedicação, muitos se 
apaixonam, além de ganharem experiência, e descobrem que são verdadeiros 
cientistas em formação e dando os primeiros passos na pesquisa social (NAUROSKI, 
2018). 
Deve-se lembrar que o objetivo principal da pesquisa é produzir informações 
teórico-científicas que permitam compreender algum aspecto ou problema da 
sociedade. Portanto, toda pesquisa deve contribuir para o avanço do conhecimento 
sobre uma determinada realidade. Assim, deve ter um significado social, deve 
apresentar resultados que possam contribuir para a melhoria da sociedade, avançar 
a teoria e enriquecer o debate científico sobre o assunto (NAUROSKI, 2018). 
Os elementos a serem considerados na elaboração de um projeto de pesquisa 
são esquematizados na figura 6.2. 
Fonte: NAUROSKI, 2018. 
O primeiro passo é escolher o tema, definir o objeto a ser pesquisado, tarefa 
em que o pesquisador pode obter ajuda do orientador ou de outros pesquisadores 
participantes do grupo de discussão,ou estudo. Você deve se perguntar: "O que estou 
pesquisando?". A resposta a esta pergunta dá direção ao sujeito, a parte da realidade 
investigada. No entanto, deve-se lembrar que o assunto deve ser limitado, seus limites 
devem ser definidos para que o foco do trabalho de pesquisa seja bem orientado. 
Quando você aborda o assunto, você sempre acompanha a realidade 
problemática, aspectos do cotidiano, discussões recorrentes que aparecem na 
literatura ou surgem, como já foi dito, de uma direção de pesquisa relacionada a um 
determinado grupo de pesquisa associado a um programa de pós-graduação. Esses 
aspectos auxiliam no processo de refinamento metodológico que envolve delimitar o 
objeto de pesquisa e esclarecer o problema sob investigação (NAUROSKI, 2018). 
Outra etapa importante é a revisão de literatura. Trata-se de conhecer o estado 
da arte, entrar em contato com outros autores e pesquisadores relacionados ao 
assunto e conhecer os resultados já alcançados, aspectos que devem ser observados 
ou aprofundados. Esse processo ajuda o pesquisador a mensurar os resultados e a 
produção relacionados ao tema e, assim, identificar os aspectos que ainda merecem 
atenção e que já foram abordados. Isso evita redundância e repetição e ajuda a criar 
originalidade na proposta (NAUROSKI, 2018). 
A justificativa significa identificar as razões que tornam necessária uma 
proposta de pesquisa. Ressalta-se a importância do tema, a inovação, a originalidade 
da abordagem do método, a importância de sua contribuição para a área e os 
resultados almejados (NAUROSKI, 2018). 
Um passo necessário é formular o problema de pesquisa. Isso pode acontecer 
por meio da descrição do assunto e do assunto que está sendo estudado. Muitos 
fazem perguntas relevantes que ajudam a ilustrar a natureza do problema, como ele 
se relaciona com a realidade social mais ampla e como resolvê-lo (NAUROSKI, 2018). 
A pesquisa sem objetivos simplesmente não aconteceria, porque não teria 
sentido. Portanto, é de extrema importância que o pesquisador formule com seriedade 
os objetivos gerais e específicos do trabalho prospectivo (NAUROSKI, 2018). 
Os objetivos medem a intencionalidade da pesquisa com a fundamentação e o 
problema apresentados em uma articulação consistente. O objetivo geral fornece uma 
síntese mais ampla dos resultados desejados e os detalhes são suas consequências. 
A elaboração dos objetivos indica as atividades a serem realizadas, portanto, verbos 
infinitivos como indicar, descrever, discutir, especificar, apresentar, mostrar, classificar 
e avaliar devem ser usados (NAUROSKI, 2018). 
A metodologia é uma parte importante de mostrar como a pesquisa é feita. 
Normalmente, esta etapa descreve o tipo de pesquisa realizada, se qualitativa ou 
quantitativa, o universo amostral, as ferramentas utilizadas para coletar os dados, a 
forma como os dados e vieses analítico são utilizados, seja histórico, dialético, 
comparativo, descritivo, abrangente, etc. Recomendamos uma descrição detalhada 
dos instrumentos utilizados e suas finalidades. Não se pode esquecer que a 
metodologia utilizada precisa ser fundamentada teoricamente, mostrando sua 
compatibilidade com os objetivos propostos (NAUROSKI, 2018). 
Em seguida é a coleta de dados. Deve-se observar quais fontes são usadas, 
por exemplo bancos de dados oficiais, outros estudos já realizados e até fontes 
primárias de amostras, ou seja, se questionários, entrevistas, organização de grupos 
focais, etc. Com os dados coletados em mãos, os próximos passos exigem esforço, 
paciência e determinação do pesquisador (NAUROSKI, 2018). 
A organização e sistematização das informações pode incluir tabelas, gráficos, 
quadros e tabelas. Com base nessas informações, uma análise teórica é realizada. 
Dessa forma, o cientista pode gerar novas informações e testar suas hipóteses. É uma 
etapa fundamental que marca a produção do conhecimento científico e promove um 
diálogo entre realidade e teoria de acordo com as habilidades analíticas do cientista e 
daqueles que o apoiam. 
A etapa final é a elaboração do relatório de pesquisa, que, dependendo do nível 
da pesquisa, pode ser na forma de resumo de curso, monografia ou tese. O 
documento produzido é geralmente divulgado ao público, geralmente por meio da 
biblioteca da instituição à qual o pesquisador está vinculado. Além da biblioteca, é 
aconselhável publicar pesquisas na forma de artigos, livros e/ou capítulos de livros 
(NAUROSKI, 2018). 
Por fim, refira-se que cada projeto inclui a definição de um plano de ação e um 
plano orçamentário, que contempla os recursos e gastos previstos para a execução 
do estudo. 
4 A IMPORTÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
No complexo sistema de interação social que existe em diferentes sociedades, 
certas atividades repetidas, rotineiras e planejadas são necessárias e, se não 
ocorrem, fazem falta para uma determinada comunidade para cumprir algum papel 
naquela coletividade (DIAS, 2010). 
Desde uma simples luta de boxe que ocorre regularmente e satisfaz várias 
necessidades como lazer, vazão de agressividade, geração de empregos, etc., até 
mesmo o complexo sistema de relacionamentos que existe em uma instituição como 
o Estado, todas desempenham necessidades. Muitos deles são perceptíveis, outros
nem tanto. Podemos citar o ilegal jogo do bicho: qual é o seu papel representado em 
quase todos os municípios brasileiros, aceito e reconhecido por diversas classes 
sociais? Servindo a grupo mais amplo de pessoas com práticas menos burocráticas e 
respondendo mais rapidamente às necessidades de pessoas mais modestas, ou 
mesmo criando uma rede complexa de dependentes e assalariados, que não têm 
outro caminho. Se o analisarmos corretamente, encontraremos várias razões para sua 
persistência e aceitação social, que o determinam como instituição social, mesmo que 
seja considerada ilegal (DIAS, 2010). 
As instituições são caracterizadas pelos diferentes "status" e papéis 
construídos durante sua institucionalização, papéis previsivelmente ligados. No caso 
do "jogo do bicho", a previsibilidade de papéis e a padronização de regras e 
regulamentos o caracterizam como uma instituição social. Na maioria das cidades 
brasileiras, os organizadores do jogo são conhecidos e fáceis de encontrar, e se uma 
pessoa ganha, sabe que receberá um prêmio, pois é uma norma informal consolidada, 
um jeito institucionalizado: "ganhou, recebeu" (DIAS, 2010). 
Além do "jogo do bicho", existem outras instituições sociais que não são 
reconhecidas, que estão institucionalizadas e atendem a determinadas necessidades 
sociais e se perpetuam pela aceitação social ainda que não sejam legalmente 
reconhecidas. Certas instituições existem em todas as sociedades. São eles 
instituições familiares, educacionais, religiosas, econômicas e políticas. Cada uma 
dessas instituições tem certas funções e responsabilidades atribuídas a ela pela 
sociedade em que estão inseridas (DIAS, 2010). 
4.1 Conceito de instituição social 
Uma instituição social é um sistema complexo e organizado de relações sociais 
relativamente permanentes, incorporando valores comuns e formas de agir e 
satisfazer certas necessidades básicas da sociedade (DIAS, 2010). 
Em instituições sociais, as atividades são rotineiras e previsíveis; além disso, 
os relacionamentos humanos que as perpassam têm uma forma e um estilo 
reconhecível. Algumas instituições surgem espontaneamente, ao longo do tempo e 
suas normas podem não estar codificadas em leis ou regulamentos. As instituições 
desenvolvem-se gradualmente conforme as necessidades dos membros (DIAS, 
2010). 
Uma instituição também pode ser definida como uma organização de normas 
e práticas que atinge um objetivo ou atividade que as pessoas consideram importante. 
As instituições são os processos estruturais por meio dos quais grupos e indivíduos 
buscam realizar suas atividades. Em outras palavras, pode-sedizer que uma 
instituição é uma forma definida, formal e regular de fazer algo. Instituições são 
crenças e práticas organizadas. A palavra "associação" refere-se a um grupo social 
que incorpora esse conjunto de crenças e práticas (DIAS, 2010). 
Todas as definições de instituições incluem um conjunto de normas de 
comportamento e um sistema de relações sociais por meio do qual essas normas são 
aplicadas que incorporam alguns valores e procedimentos comuns e atendem a 
algumas necessidades básicas da sociedade. Nesta definição, valores compartilhados 
referem-se a ideias e objetivos comuns e procedimentos comuns são padrões de 
conduta estabelecidos, já o sistema de relacionamentos organizados é a rede de 
papéis e status por meio da qual esse comportamento é realizado (DIAS, 2010). 
 As instituições formam uma estrutura permanente na qual a cultura e a 
estrutura social funcionam, por exemplo, a família contém um conjunto de valores 
comuns (sobre amor, filhos e vida familiar), práticas universais, namoro, puericultura, 
rotina familiar e a rede de papéis e status (homem, mulher, bebê, criança, adolescente, 
noiva), que compõem o sistema de relações sociais, através do qual a vida familiar se 
desenvolve (DIAS, 2010). 
Para que haver consistência e previsibilidade nas relações sociais, os 
procedimentos e ferramentas aceitos devem ter uma rotina para resolver problemas 
que surgem. Cada nova geração não precisa inventar seus próprios métodos e 
crenças para resolver tais problemas; as gerações anteriores já haviam criado as 
instituições. Essas, no que lhe concerne, permanecerão por algum tempo. É certo que 
alguns irão sofrer alterações, mas essencialmente continuam a servir as mesmas 
necessidades para as quais foram criados (DIAS, 2010). 
Como já atestamos, as principais instituições sociais consideradas 
fundamentais nas sociedades modernas são: a família, instituições religiosas, 
instituições econômicas, instituições educacionais e instituições políticas. Veja figura 
abaixo: 
Fonte: (DIAS, 2010) 
Entre essas instituições sociais básicas há um objetivo claro de socialização: a 
família, as instituições religiosas e educacionais. Existem muitas instituições 
relacionadas com outras necessidades humanas, como lazer, comunicação, saúde, 
etc. Todas as instituições têm alguns elementos em comum, tais como: pessoal, 
equipamento (bens materiais), organização e certo ritual (costumes, leis, cerimônias). 
Observe a figura abaixo: 
 Fonte: (DIAS, 2010) 
É importante entender a diferença entre grupos sociais e instituições sociais. 
Os grupos sociais referem-se a pessoas que compartilham objetivos comuns e 
interagem socialmente. As instituições sociais, por outro lado, referem-se às regras e 
procedimentos padronizados de diferentes grupos. Por exemplo, se você se referir às 
regras e procedimentos do que regulam a relação entre pai, mãe e filhos, então é uma 
instituição familiar (DIAS, 2010). 
4.2 O processo de institucionalização 
A institucionalização é o processo pelo qual certas funções adquirem normas e 
rotinas. Além disso, estão previstas e aprovadas, cujo objetivo é atingir as metas 
consideradas importantes. Uma função é considerada institucionalizada, se for 
padronizada. A briga de rua sancionada é uma atividade não institucionalizada, 
enquanto o boxe profissional é institucionalizado porque tem regras padrão e uma 
certa rotina, como os campeonatos que definem o vencedor de cada categoria. Por 
mediação da institucionalização, o comportamento espontâneo e imprevisível é 
substituído por comportamento regular e previsível (DIAS, 2010). 
O ensino em sala de aula é institucionalizado porque é formalizado, regular e 
previsível, caracterizado por certas relações recorrentes entre professores, alunos e 
administração escolar. Por outro lado, o ensino repassado de um irmão mais velho 
para um irmão mais novo ou de um adolescente para outro, não é uma atividade 
institucionalizada. A institucionalização desenvolve um sistema ordenado de normas 
sociais, status e papéis aceitos pela sociedade (DIAS, 2010). 
Diante da previsibilidade e organização criada pela institucionalização, pode-se 
observar que todas as organizações que compõem uma instituição econômica têm 
funções igualmente consolidadas, com base nas quais podemos prever o 
comportamento de uma pessoa que executa uma tarefa específica. Por exemplo, 
sabemos como caixas se comportam em um banco, qual o papel do gerente, etc. 
(DIAS, 2010). 
4.3 Os símbolos culturais 
Os símbolos culturais dentro das instituições são sinais que identificam sua 
existência. Exemplos: A bandeira e o hino nacional representam as instituições 
políticas do país. Um crucifixo e uma catedral representam uma instituição religiosa. 
A aliança de casamento simboliza o casamento, o nascimento de uma nova família. 
O sobrenome em uma certidão também são símbolos de família. O Palácio Planalto, 
em Brasília, representa uma instituição política nacional. (DIAS, 2010). 
4.4 Características das instituições 
As instituições apresentam seis importantes características comuns, veja a 
figura abaixo: 
Fonte: (DIAS, 2010) 
4.5 Conceito de estrutura social 
A estrutura social refere-se a modelos relativamente estáveis e sustentáveis 
nos quais as relações sociais são organizadas e que formam a chamada estrutura 
básica da sociedade. Para ilustrar esse conceito, vamos tomar como exemplo a 
estrutura do futebol profissional brasileiro. Os jogadores são apontados para uma 
vaga fixa em campo. Trata-se de posições interdependentes e já se espera o papel 
do jogador: goleiro, zagueiro, ponta-direita, etc., além disso, existem regras do jogo 
que devem ser seguidas e respeitadas. Esses princípios estruturais tornam um grupo 
de pessoas defensivas e ofensivas, e os times de futebol unidades funcionais com 
objetivos específicos. Além disso, a estrutura social faz o agrupamento de pessoas 
em grupos sociais e a população em uma sociedade (DIAS, 2010). 
Interação social é a base da organização e da estrutura social. Quando a 
interação entre indivíduos, grupos e instituições atinge certa estabilidade e dura um 
tempo relativamente longo, temos uma "estrutura social". Os principais elementos de 
qualquer estrutura social são: status, papéis sociais, grupos sociais e instituições 
sociais. A estrutura social afeta o comportamento individual e grupal enquanto 
estabelece regras e limita a ação de todos. Veja a figura: 
Pode-se dizer que a estrutura social representa o elemento estático da 
organização social, que inclui relações padronizadas entre indivíduos e grupos. A 
organização social representaria um elemento dinâmico do processo social, um 
sistema de relações sociais prevalecente na sociedade entre indivíduos, entre eles e 
grupos sociais, e entre grupos. Essas relações envolvem reciprocidade e aderem a 
normas e valores socialmente aceitos. 
Existem dois conceitos básicos - estrutura social e organização social. A 
estrutura diz respeito aos atores sociais no desempenho de seus papéis sociais, e a 
organização social trata do próprio funcionamento do chamado corpo social. Podemos 
também concluir que a estrutura social acaba por nos dar uma ideia, uma visão do 
estático - é o presente. Por outro lado, a organização social dá-nos uma ideia de 
desempenho, na medida em que estão envolvidos os atores sociais e as relações que 
estabelecem (OLIVEIRA, P. S. DE, 2005). Para Nery (2013): 
Pensar na estrutura social é também pensar no modo de produção que 
constitui a estrutura. É importante que retomemos a concepção marxista 
acerca da estrutura social. Temos aí claramente a formação social composta 
da infra e da superestrutura social. É importante que vejamos a relação entre 
essas duas “forças” que formam a sociedade. À infraestrutura, em que se 
encontram as bases econômicas da sociedade, as relações de produção, 
determina a superestrutura, isto é, a formacomo os homens se organizam 
para produzir os bens de que necessitam (modo de produção) é a base infra 
estrutural de toda e qualquer sociedade. A superestrutura, por sua vez, é 
composta das instâncias ideológica, jurídica e política. (NERY, p. 73, 2013). 
Nas ciências sociais, um papel social dá significado a estrutura social, 
essencialmente um conjunto de normas, direitos, obrigações e expectativas que 
determinam o comportamento humano dos indivíduos em um grupo ou organização. 
Os papéis sociais dados ou conquistados visam a interação social e são resultados 
do processo de socialização. Parece haver uma conexão com o seu oposto, porque 
toda organização nasce para resistir a possíveis disrupções (MARTINS, 2010). 
Os papéis sociais conferem um certo status que os destinatários de tais 
classificações e tais definições não são complexificados. O comportamento se adapta, 
se conformam e se misturam. Esses mesmos papéis sociais têm um valor relativo e 
um significado atribuído pela sociedade. O papel social é um dos resultados do 
processo social primário e secundário, que merece ser estudado e analisado como 
uma realidade que determina as normas da sociedade e dos indivíduos que a ela 
pertencem. Eles formam a identidade coletiva e a identidade individual de uma pessoa 
(MARTINS, 2010). 
A posição (status) dado a uma pessoa em termos de prestígio e privilégios é 
conforme as posições determinadas pela sociedade, tanto quanto a sociedade 
necessita para seu desenvolvimento, algumas definidas, outras adquiridas, do 
contexto histórico, social, econômico e organizacional. Na sociedade moderna, uma 
posição melhor é buscada e agariada (OLIVEIRA, pp. 85-86, 2002). 
Os papéis sociais incluem ações, pensamentos e sentimentos. Eles 
determinam a consciência coletiva num cenário social (COSTA, p.54, 1987). 
O que define uma sociedade em sua estrutura está significativamente 
relacionado aos papéis que ela atribui a seus participantes, padronizados desde o 
nascimento. Assim, uma sociedade pode não estar ciente dos papéis de outra. A 
legitimação de papéis entre e dentro das culturas determina suas características, 
diferenças. Finalmente, a minoria parece usar a grande maioria para sua própria 
felicidade (MARTINS, 2010). 
Papéis sociais são performances sociais, como se a sociedade fosse um 
grande teatro onde a maioria dos personagens não consegue distinguir entre quem 
eles são e os papéis que desempenham. Dentro deste contexto é estabelecido uma 
sociedade hierárquica onde se adaptam e justificam a discriminação social. Um dos 
resultados mais importantes do processo social é a definição de papéis sociais. A 
existência de papéis racionalmente definidos é essencial para definir a sociedade 
como uma estrutura ordenada de interação previsível e planejada (MARTINS, 2010). 
Portanto, a estrutura de qualquer ordem social afeta a distribuição do poder 
econômico ou outro, dentro dos limites de cada sociedade. A estrutura social é 
organizada não apenas no nível econômico, mas também no nível do poder. Portanto, 
não apenas o poder resultante de fatores econômicos determina a estratificação social 
que ocorre em diferentes sociedades, mas a luta pelo poder também é impulsionada 
pelas honras e prestígio sociais que a acompanham. Há contextos onde há honra que 
é a base do poder político ou mesmo econômico (LEMOS, 2012). Weber (1974) afirma 
que: 
[...] a forma pela qual as honras sociais são distribuídas numa comunidade, 
entre grupos típicos que participam nessa distribuição, pode ser chamada de 
“ordem social”. Ela e a ordem econômica estão, decerto, relacionadas da 
mesma forma com a “ordem jurídica”. Não são, porém, idênticas. A ordem 
social é, para nós, simplesmente a forma pela qual os bens e serviços 
econômicos são distribuídos e usados. A ordem social é, decerto, 
condicionada em alto grau pela ordem econômica, e por sua vez influi nela 
(WEBER, p. 212, 1974). 
A estrutura de poder e produção econômica permite a classificação das 
sociedades e também avaliar o grau de mobilidade social nelas observado. Assim, 
conclui-se que as castas, “classes, estamentos e partidos são fenômenos da 
distribuição de poder em uma comunidade” (WEBER, p.212, 1974). 
5 O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO E DA HUMANIDADE NA HISTÓRIA 
Um dos intelectuais mais importantes no campo das ciências sociais e da 
política, é o alemão Friedrich Engels, que escreveu um excelente livro em 1876, cuja 
primeira versão foi publicada em 1896, intitulado "O papel do trabalho na 
transformação do macaco em homem". Neste livro, o cientista descreve a importância 
do trabalho no desenvolvimento da humanidade desde os seus primordios. A tese 
central do estudo de Engels é que o trabalho determinou e detemina o 
desenvovlimento do ser humano enquanto ser que se afasta da ‘natureza’ e constrói 
um mundo humano através do trabalho (CARVALHO, 2019). 
O livro de Engels, que utiliza da teoria da evolução de Charles Darwin, 
investiga sobre as relações entre o trabalho humano e a evolução. Embora Engels 
não tenha se concentrado especificamente na teoria da evolução de Darwin em seu 
ensaio, ele usou a ideia da evolução para argumentar que o trabalho humano é a força 
motriz da evolução humana. Engels argumenta que, ao contrário de outras espécies 
animais, os seres humanos são capazes de produzir as próprias ferramentas e 
modificá-las para atender às suas necessidades. Ele afirma que o trabalho é a 
atividade humana que mais influencia a evolução, uma vez que é o que permite aos 
seres humanos modificar e adaptar seu ambiente para atender às suas necessidades. 
Adaptação e transformação das condições de existência, através de atividades e 
cada vez mais complexas possibilitaram, na pespectiva de Engels, mudanças 
biológicas nos seres humanos, resultado de milhares de anos de evolução 
(CARVALHO, 2019). 
Engels (1990) está interessado no progresso da evolução humana na história 
do ponto de vista científico, compreendendo as contradições relacionadas ao 
desenvolvimento histórico e ao processo evolutivo humano. Segundo um pensador 
alemão, por exemplo, o desenvolvimento das mãos é essencial no percurso de 
desenvolvimento da especie humana: 
As mãos são usadas basicamente para apanhar e segurar os alimentos, à 
semelhança do que fazem alguns mamíferos inferiores com suas patas 
dianteiras. Certa variedade de macacos constrói seus ninhos nas árvores 
com as mãos; outros tipos, como o chipanzé, vão mais longe e constroem 
verdadeiros telhados sobre os galhos para e protegerem do mau tempo. É 
com a mão que eles empunham um pedaço de pau para se defenderem dos 
inimigos e lançam frutas e pedras. Quando aprisionados, conseguem realizar 
com as mãos muita coisa que aprendem dos homens. Mas é justamente aqui 
que podemos perceber a enorme diferença entre a mão primitiva do macaco, 
inclusive antropoide mais evoluído, e a mão do homem, desenvolvida através 
de milhares de anos de trabalho. Quanto ao número e à disposição dos ossos 
e músculos, não há diferença entre a mão do homem e do macaco; mas se 
tomarmos o mais primitivo dos selvagens, ele executará com suas mãos 
centenas de operações que nenhum dos macacos consegue realizar. 
Nenhum macaco conseguiu, por exemplo, construir um machado de pedra 
por mais rudimentar que fosse (ENGELS, 1990, p. 20-21). 
Este processo de mudanças físicas passou por transformações através das 
necessidades da sobrevivência; pouco a pouco o corpo humano modificou a estrutura 
da mão possibilitando que polegar opositor desenvolvesse poder e precisão no 
manuseio de ferramentas. O ser humano possuí músculos e um longo flexor no 
polegar, que outros animais não possuem, este músculo nos permite usar a força 
necessária para manipular objetos e nos dá a precisão que necessitamos para cortes 
ou lançamentos em longa distância, os nossos ancestrais há milhares de anos usavam 
essas funções corporais para confecção de pedraspara proteção ou caça 
(CARVALHO, 2019). 
É preciso entender que foram inúmeros os processos evolutivos, mais de mil 
anos de desenvolvimento, alteração da laringe primata à laringe humana, por 
exemplo, que possibilitou desenvolver a comunicação entre aqueles que viviam em 
grandes grupos e exigiam troca e partilha informações sobre sua sobrevivência diária, 
ou seja, uma responsabilidade imposta às pessoas conforme sua realidade. Embora 
alguns animais tivesse alguma forma de comunicação, esta não ocorre através da 
palavra articulada, que é muito mais complexa (CARVALHO, 2019). 
Aqui devemos fazer uma reserva para os processos organizacionais nas 
sociedades humanas. Ao longo dos séculos, esses grupos desenvolveram métodos 
de comunicação que se tornaram cada vez mais complexos e isso deu origem a fala 
articulada, capacidade que trouxe aos humanos vantagens organizacionais e de 
sobrevivência, especialmente no que diz respeito a caçar e lutar contra predadores 
(CARVALHO, 2019). 
Segundo Engels (1990), o trabalho e a palavra articulada são, portanto, 
elementos chaves para a evolução do “macaco” para “homem”. Nas palavras do autor: 
O trabalho, primeiro, depois a palavra articulada, constituíram-se nos dois 
principais fatores que atuaram na transformação gradual do cérebro do 
macaco em cérebro humano que, não obstante sua semelhança, é 
consideravelmente superior a ele quanto ao tamanho e à perfeição. Ao 
desenvolvimento do cérebro correspondeu o desenvolvimento de seus 
instrumentos imediatos: os órgãos sensoriais. Da mesma forma que a 
evolução paulatina da linguagem foi seguida da respectiva evolução do 
ouvido, o desenvolvimento geral do cérebro está intimamente relacionado 
com o aperfeiçoamento de todos os órgãos do sentido (ENGELS, p. 25, 1990) 
Para Engels (1990) entretanto, todo o processo de mudança física humana e 
suas tarefas ainda não podem ser considerado trabalho no sentido estrito da palavra. 
Os animais podem se alimentar de plantas ou por outros animais e esse processo não 
pode ser considerado trabalho. Os vegetais usam luz solar, água e minerais da terra 
para seu desenvolvimento e isso também não é considerado trabalho. 
Ao usar esses exemplos, devemos destacar as diferenças entre as atividades 
humanas e animais que perfazem a distância entre o que é atividade e o que é 
trabalho. Em um processo animal, a ação é puramente instintiva, não é planejada nem 
idealizada. Ao contrário do trabalho humano, ele é criado e idealizado. Entende-se, 
assim, que o trabalho ultrapassa o campo da natureza e se direciona ao campo do 
simbólico e da cultura. 
Enquanto os comportamentos instintivos ajudam os animais a lidar com as 
demandas e pressões de seu ambiente, o trabalho é a maneira pela qual os seres 
humanos transformam a natureza, criando e reproduzindo a forma de ser do mundo 
humano. Diferentemente dos instintos, o trabalho é aprendido e desenvolvido através 
da experiência pessoal, da aprendizagem social e da cultura. Por meio do trabalho, 
os seres humanos são capazes de criar, inovar e transformar o ambiente em que 
vivem, desenvolvendo novas formas de tecnologia e organização social. 
Portanto, enquanto os instintos são comportamentos automáticos e inatos que 
ajudam os animais a sobreviver, o trabalho humano é uma atividade consciente e 
intencional que permite a criação e reprodução da sociedade humana. 
A fabricação de ferramentas e outros instrumentos, a conservação, a caça e a 
pesca contribuíram ainda mais para o desenvolvimento humano, tornando-se o 
emblema das primeiras formas de existência tipicamente humanas. O homem 
analisou a realidade e produziu ferramentas para ela, permitindo aumentar a sua 
intervenção na natureza. À medida que a comunidade cresce, aumentam também as 
necessidades relacionadas com alimentação e segurança, levando ao 
desenvolvimento de equipamentos de caça e pesca mais eficientes. A real 
necessidade de maior produção de alimentos levou, portanto, à elaboração de 
ferramentas que permitiam mais caça e pesca (CARVALHO, 2019). 
Com a caça e a pesca, o “homem” não concentrava sua alimentação apenas 
nos vegetais e passou a consumir carne, que contém substâncias importantes para o 
desenvolvimento e mudança metabolismo. A combinação de carne e legumes permitiu 
um fortalecimento físico importante para o ser humano, distinguindo-o de outros 
animais. Devido ao consumo de carne, se exigia mais domínio de técnicas para uso 
do fogo e adestramento dos animais (CARVALHO, 2019). 
À medida que os humanos evoluem, sua existência se torna mais complexa. 
Novas formas de trabalho são criadas, por exemplo, a produção de roupas que 
resistam às condições climáticas, agricultura que priva dos meios de subsistência, a 
necessidade de peregrinação para outros lugares em busca de comida. O manuseio 
de metais e o surgimento da olaria também são fatos que marcaram a evolução da 
vida humana nos primórdios. Com melhores condições de suportar a diversidade 
climática, foi possível conhecer novas terras, novos ambientes e, naturalmente, entrar 
em contato com novas espécies vegetais e animais. Ao desenvolverem técnicas de 
sobrevivência, seja para suportar o clima, seja para enfrentar outros animais, os seres 
humanos criaram condições para o aumento de sua comunidade (CARVALHO, 2019). 
O surgimento de grupos cada vez mais organizados e complexos deu origem 
às cidades. Paralelamente, formou-se a política e a religião, produto de um cérebro 
consciente e organizado que compreende a realidade, projeta, dirige, controla e 
aprimora as tecnologias. Por consequência, o ser humano desenvolveu cada vez mais 
ferramentas e instrumentos que alteraram a sua ação na natureza e transformaram a 
realidade e a própria vida (CARVALHO, 2019). 
O trabalho que o ser humano executa é pensado e planejado com base em 
uma necessidade real em um primeiro momento por sobrevivência imediata individual 
e de sua prole; posteriormente, de comunidades inteiras. O pensado ou idealizado é 
um importante elemento para a noção de ação consciente do trabalho humano 
(CARVALHO, 2019). 
5.1 Instituições sociológicas e mundo do trabalho 
Quando falamos de uma instituição, nos referimos à família, escola, faculdade, 
universidade, igreja, estado (com toda a sua maquinaria administrativa, incluindo 
judiciário, legislativo, os bancos etc.), democracia, propriedade privada, mídia, 
movimentos sociais, instituições econômicas, etc. A sociologia argumenta que as 
instituições são centrais para o funcionamento da sociedade porque formam seus 
"novos membros". Como estudado na unidade anterior, as instituições como a família, 
a religião ou o Estado não são apenas uma ideia, conceito ou interesse, mas também 
uma estrutura porque assumem uma forma concreta sendo implementadas para 
atender às necessidades da sociedade (KOENIG, 1970). 
Segundo Koenig (1970), as instituições são meios de controlar e utilizar a 
energia social, ou mesmo agrupamentos aceitos e reconhecidos pela sociedade, ou 
simplesmente costumes sociais sistematizados. Contudo Mészáros (2011) adverte 
que as ciências sociais não podem tomar as instituições e ver suas estruturas como 
"simplesmente dadas", como a economia liberal tende a fazer com as instituições 
capitalistas, o que seria "apenas um discurso aparente", não ciência. 
Feita esta reserva em sua análise, reafirmamos que as instituições sociais 
funcionam na estrutura e regulação da sociedade. Elas são de natureza normativa, ou 
seja, estabelecem regras e práticas que devem ser seguidas porque os mores 
(costumes) da sociedade estão voltados para eles. Para participar dessas instituições, 
é preciso aceitar sua padronização. Segundo Durkheim (1983), as instituições são 
objetivas e externas aos indivíduos, o que significa que as instituições não são criadas 
pelo indivíduo, elas estão presentes desde o nascimento, sendo usadas para forçar o 
individuo a funcionarconforme as normas estabelecidas. Por exemplo, se um 
funcionário não se comportar conforme as regras da empresa, ele pode ser punido ou 
até demitido. 
5.2 O trabalho como categoria sociológica 
O trabalho é um importante mecanismo de análise social porque ajuda a 
compreender o funcionamento da sociedade, incluindo as relações sociais e de 
produção. Portanto, a categoria trabalho tornou-se a posição central do pensamento 
social, porque ocupou um lugar importante após o surgimento da sociologia e até 
mesmo antes dela, dando a ciência oportunidade de compreender e classificar as 
complexas manifestações da sociologia na esfera social (CARDOSO, 2008). 
Através da revolução industrial e do capitalismo o trabalho se tornou “a principal 
mercadoria e o mecanismo de geração de valor e de alavanca para o processo de 
acumulação capitalista, pois se impôs como categoria central e fundamental para o 
entendimento da sociedade” (CARDOSO, 2008, p. 12). É por isso que o trabalho cria 
ordem social, porque é uma atividade central em termos de vida e desenvolvimento 
humano. Desta forma, o trabalho não poderia deixar de refletir sobre as diversas 
dimensões interdependentes da vida em sociedade, que, por sua vez, tornam-se 
interdependentes à vida privada, social e profissional, pois embora o trabalho seja 
importante na esfera pessoal, sua importância ultrapassa a vida cotidiana e pessoal. 
O trabalho está ligado a outras instituições sociais, processos sociais e, 
principalmente, à desigualdade social. O trabalho é talvez a maneira mais importante 
pela qual a sociedade afeta nossas experiências sociais e oportunidades na vida. 
Entende-se, assim, que o trabalho é uma atividade fundamental na vida de 
cada indivíduo, ocupando grande parte do tempo e influenciando as relações sociais 
e a organização da produção. Por essa razão, tornou-se uma categoria central para a 
análise sociológica e foi objeto de estudo de autores clássicos da sociologia. 
Marx, por exemplo, concentrou-se na análise das relações de trabalho e do 
impacto do modo de produção capitalista na sociedade. Segundo Marx (2013), o 
trabalho é responsável pela divisão social do trabalho, que é uma das principais 
características do sistema capitalista. Essa divisão é marcada pela separação das 
atividades produtivas em tarefas específicas, cada vez mais fragmentadas e 
especializadas, que são executadas por diferentes grupos sociais, gerando 
desigualdades econômicas e sociais. 
Ao discutir o trabalho, Marx discute, entre outras coisas, a exploração 
capitalista, as classes sociais, o Estado como instrumento da classe dominante, a luta 
de classes, a ideologia, a alienação, a formação de valores, o capital. Ele explicou 
como “o trabalho, além de pano de fundo de todas essas questões, constitui-se como 
uma eterna necessidade natural da vida social, isto é, o meio pelo qual permitiu ao ser 
social se impor sobre a natureza que o cerca, exercer seu reconhecimento sobre ela, 
e transformá-la, transformando-se a si próprio” (CARDOSO, 2008, p. 14). 
Por outro lado, Durkheim (1995) enfatizou a importância da divisão do trabalho 
como um mecanismo que organiza a sociedade e permite que ela funcione 
adequadamente. Para ele, a divisão do trabalho social é uma forma de cooperação 
social, que garante a interdependência e a solidariedade entre os membros da 
sociedade. 
Em ambos os casos, o trabalho é uma atividade social que está intrinsecamente 
ligada às relações sociais e à organização da sociedade. A análise sociológica do 
trabalho permite compreender as formas de organização da produção, as 
desigualdades sociais e as relações de poder que emergem nesse contexto 
Portanto, o trabalho deve ser entendido como a capacidade do homem de 
modificar a natureza para promover seu próprio sustento e conforto. É uma atividade 
social e racional porque é humana e transformadora de matérias-primas. Assim, 
homem, trabalho e natureza estão indissociavelmente ligados. 
O trabalho também tem dois significados na vida dos seres humanos: ele pode 
degradar ou elevar o ser humano. Etimologicamente, o termo trabalho vem da palavra 
latina tripalium, que significa objeto de tortura. Na antiguidade greco-romana, o 
trabalho era considerado degradante, indigno de um cidadão livre. Os gregos 
reservavam o trabalho manual e as atividades repetitivas para os escravos. Os 
homens livres guardavam para si tanto a organização do trabalho quanto as atividades 
gerenciais, bem como discutiam o destino do povo, ou seja, planejamento e atividades 
estratégicas. A defesa da cidade/país e as atividades bélicas eram consideradas mais 
nobres do que as atividades dos escravos (MARTINS, 2017). 
Na época clássica, os gregos não tinham apenas uma palavra para trabalho, 
como os romanos, mas três palavras: significavam trabalho como atividade laboral, 
apenas física (trabalho braçal); a poiesis típica dos artesãos para fazer ou criar; as 
práxis destinadas aos políticos e professores para se engajar em atividades típicas de 
conversação baseadas no raciocínio e na inteligência (MARTINS, 2017). 
Na Idade Média, os servos (que não eram escravos, mas também homens 
livres) trabalhavam para seus senhores, enquanto os livres trabalhavam como 
artesãos. Embora os artesãos trabalhassem manualmente, eles estavam envolvidos 
em todo o processo de trabalho, planejamento, organização e execução e assim 
podiam usar a criatividade em sua produção (MARTINS, 2017). 
A tradição cristã medieval não incentivava o trabalho, exceto para subsistência 
ou no contexto de arrependimento, porque é um dos castigos de Adão e Eva segundo 
a história bíblica, bem como a expulsão do paraíso do pecado original (MARTINS, 
2017). 
No capitalismo, o trabalho passou a ter uma visão positiva quando amparado 
pela ética protestante (explorada na obra-prima de Max Weber: A Ética Protestante e 
o Espírito do Capitalismo), que combina as necessidades do capitalismo com o dever
cristão, como veremos mais adiante. Além disso, os ideais da Revolução Francesa, 
especialmente os ideais de igualdade, trabalharam juntos para "corroborar" o trabalho 
e torná-lo necessário e normal na vida de alguém. 
Com a revolução industrial, o trabalhador teve que vender sua força de trabalho 
por salário, sem outra opção de sobrevivência. Assim, o trabalho, como visto antes, 
tornou-se uma mercadoria como tudo que pode ser comprado e vendido no mercado 
de trabalho, o que ainda sua forma de existência nas sociedades contemporâneas. 
Apesar de o mercado de trabalho estar em crise por não poder mais aceitar toda a 
força de trabalho, esse trabalho não perde sua centralidade como categoria 
sociológica (MARTINS, 2017). 
5.3 Ciências sociais e relações empresariais. 
Até a década de 1980, as ciências sociais não estavam muito próximas dos 
negócios, seja tomá-los como objeto de estudo ou tentar intervir no mundo social de 
empresas. Em meados da década de 1980, a situação se inverteu. A sociedade 
começa a visualizar o conjunto empresarial, de forma mais acessível e favorável e não 
é mais mencionada apenas como um local de exploração do trabalho para obtenção 
de capital. Na década de 1990, associações comerciais e fóruns, bem como 
empresários individuais, discutiam a empresa e sua missão social e responsabilidade 
social (KIRSCHNER, 2006). 
A função social da empresa pode ser analisada a partir de dois eixos: o 
primeiro, privilegia a relação empresa/sociedade, estudando o tipo de interação 
estabelecido com a dinâmica da sociedade; o segundo enfatiza o que a empresa faz 
de fato para assegurar a coesão e mobilização de seus funcionários (KIRSCHNER, 
2006). 
O olhar sociológico sobre a empresa desvela dos fenômenos consideráveis 
para a compreensão de seu futuro. De um lado, a empresa é uma entidade 
em si que hoje em dia encontra sua força e sua eficiência não mais nas 
virtudes e nas possibilidades de seus dirigentes, mas no valorcriador de seu 
próprio sistema de funcionamento. De outro lado, autônoma porque se tornou 
social em seu âmago, a empresa não pode mais limitar sua eficiência 
unicamente ao lucro econômico, ela 'fabrica’ também emprego, tecnologia, 
solidariedades, modos de vida, cultura (SAINSAULIEU, p. 421-422, 1997). 
A empresa tem uma função identificadora na sociedade, por isso, revela uma 
verdadeira instituição social capaz de criar conjunto de relações sociais e culturais, 
assim, produzir novas identidades. Nela se desenvolvem relações e alianças de 
opostos, e o ator vivencia isso relações de trabalho de forma interativa e estratégica 
(KIRSCHNER, 2006). 
6 CONTROLE ORGANIZACIONAL 
No início da vida da organização, temos apenas os procedimentos 
operacionais, os recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos e uma linha 
de autoridade estabelecida entre os proprietários da empresa e os ocupantes dos 
cargos, denominados funcionários, parceiros ou colaboradores. Os relacionamentos 
formais são diretos entre eles e também são chamados de relacionamentos 
funcionais, conforme mostrado na figura: 
Fonte: (CARREIRA, 2009). 
Planos, objetivos e metas são estabelecidos. Processos são desenhados, 
cargos são criados, recursos são organizados e controles são estabelecidos. Matéria-
prima é comprada, ordens de produção são transmitidas, vendas são realizadas e 
produtos são distribuídos aos clientes. Receitas e despesas são realizadas. O 
processo é organizado para que cada colaborador o conclua de acordo com seu perfil 
profissional e psicológico (CARREIRA, 2009). 
Enquanto os negócios vão prosperando, novos processos operacionais vão 
sendo criados. À medida que o volume e a complexidade do trabalho aumentam, a 
pressão competitiva e a tecnologia se desenvolvem, os processos se tornam mais 
uniformes. O tempo de processamento e o tempo de ciclo vão baixando, os perfis dos 
cargos vão sendo redesenhados e suas vagas recalculadas, novos níveis de alçada 
estabelecidos e a amplitude de comando redimensionada. As adequações nas 
instalações, nas especificações técnicas do mobiliário, das máquinas e dos 
equipamentos, bem como na sua quantificação, são inevitáveis. Mudanças como 
essas produzem reflexos na estrutura organizacional da empresa e o organograma 
precisa ser redesenhado (CARREIRA, 2009). 
Alguns autores consideraram a definição de controle e conseguiram incluir sua 
dimensão política. Assim, Chiapelo (1994) e Dermer (1988) definem controle em 
relação à organização. Chiapelo (1994, p. 157) define-o como um "efeito criador de 
ordem". Sua definição é baseada no trabalho de Lebas (1980), onde o resultado do 
controle é entendido como a redução do grau de liberdade das pessoas, o controle é 
definido como um processo que visa reduzir a incerteza (SILVA, 1999). O grau de 
liberdade de que fala Lebas se aproxima do conceito de Crozier e Friedberg (1977) 
sobre o limite da liberdade. Esses autores teorizaram que uma organização é uma 
"estrutura humana" ou um "grupo estruturado de pessoas" (BERNOUX, p. 138, 1985). 
Essa unidade é construída pela interação de atores que gozam da liberdade, 
que é seu recurso, e quando utilizada, cria zonas de incerteza nas organizações. A 
gestão visa reduzir essas zonas de incerteza atuando não apenas no comportamento, 
como entendido por autores clássicos, mas também em todos os aspectos que podem 
afetar a incerteza existente, que, segundo diversos autores, é crescente nas 
organizações de hoje. 
Assim, Solé (1996) mostra a vontade de dominar o mundo (maîtriser) como 
uma característica do desejo moderno, porém querer dominar o mundo significa estar 
convencido de que se pode e deve controlar isso. A busca de Solén pelo domínio se 
dá sobre a natureza, o espaço, a tecnologia e o próprio indivíduo sobre o outro e sobre 
o tempo. O autor enfatiza que essa vontade de dominar o mundo não é exclusiva dos
líderes empresariais, mas caracteriza o "estar no mundo" de hoje. Solé aplica esse 
entendimento aos especialistas em decisão e questiona sua compreensão de seus 
papéis, que decorre da crença: mais informação, mais conhecimento é equivalente a 
menor incerteza e assim menos risco e melhor decisão gerando controle da situação 
e estratégia. Essa busca pela redução da incerteza pode ser realizada nas 
organizações de várias formas através dos métodos de controle. Observe no quadro 
abaixo as tipologias e metodologias de controle das organizações: 
Fonte: Hatch, 1997 
6.1 Perspectivas do Ciclo de Vida Organizacional 
A abordagem da teoria do ciclo de vida das organizações é utilizada por 
pesquisadores para definir mudanças e transições ao longo do tempo e resultantes 
interações com o ambiente para provocar o desenvolvimento organizacional. Greiner 
(1972, 1998) afirmou que a dinâmica de desenvolvimento das organizações passa por 
várias etapas desde a criação até o amadurecimento. O autor constatou que os 
estágios de crescimento organizacional evoluem em ciclos de desenvolvimento e 
revolução. Os ciclos de desenvolvimento são períodos de crescimento com 
estabilidade, sem surpresas; os ciclos revolucionários são períodos de crises de 
liderança (CORREIA, 2015). 
Quinn e Cameron (1983) introduziram que o propósito da pesquisa empírica 
monitora o desenvolvimento da organização, faz uma proposta para descobrir o ciclo 
de vida e a eficiência organizacional. Da mesma forma, Miles e Friesen (1984) usaram 
a teoria de ciclo de vida organizacional para pesquisas das organizações, 
investigando se realmente existiu incidente nos padrões naturais e essenciais de 
desenvolvimento de negócios, usando como medida as estruturas, situações, táticas 
e estilos de tomada de decisão. Moores e Yuen (2001) também adotou a teoria do 
ciclo de vida organizacional em um estudo sobre: Os sistemas de contabilidade 
gerencial (SCG) para investigar se os estágios de desenvolvimento diferem. 
Portanto, há evidências de que o desenvolvimento organizacional pode ser 
estudado das diferentes etapas ou fases que ocorrem usando a metáfora de toda a 
existência da organização de ciclos de vida que consistem em mudanças e variações 
exigidas pela política de gerenciamento adequado às exigências de cada etapa. 
Uma abordagem baseada na teoria do ciclo de vida organizacional para 
explicar o desenvolvimento das organizações assume que as instituições se 
comportam da mesma forma que o ciclo biológico dos seres vivos: nascem, 
desenvolvem-se e podem terminar em desaparecimento, ou seja, "morte" (ADIZES, 
1990). 
Partindo da premissa de que o desenvolvimento organizacional pode ser 
explicado por meio de uma metáfora do ciclo de vida, acredita que a organização é 
criada no início desta atividade, ou seja, "start-up", o começo que inicia o nascimento 
da vida de uma organização (GREINER, 1972, 1998; QUINN; CAMERON, 1983). 
Seguindo essa linha de raciocínio, argumentam Moores e Yuen (2001), que as 
características internas das organizações responsáveis e os contextos externos em 
que operam as organizações promovem mudanças nas fases do ciclo vital e nos 
fenômenos de crescimento organizacional que é descrita e identificada por meio de 
modelos que possuem características próprias através das seguintes variáveis: 
estrutura, estratégia, estilo de gestão e condições ambientais. 
Nesse caso, as características organizacionais mudam entre os estágios do 
ciclo de vida para responder às constantes sublevações da mudança ambiental. 
Moores e Yuen (2001) enfatizaram que embora haja concordância entre os modelos 
e as mudanças na organização seguem um padrão em diferentes estágios previsíveis 
de desenvolvimento ao longo do tempo. No entanto, Miller e Friesen (1984) 
encontraram exceções notáveis onde descobriram que o curso do ciclo de vida 
organizacional não é determinístico. 
Quinn e Cameron (1983) analisaram nove diferentes modelos de ciclo de vida 
organizacional. Os modelos analisadosdestacam diferentes fatores para explicar as 
mudanças nas características das organizações ao longo do tempo. Todos esses 
modelos identificam certas características que classificam as organizações em 
diferentes estágios de desenvolvimento. Os modelos verificados pelos autores variam 
de três a dez estágios, indicando semelhanças nas diferentes fases do ciclo de vida, 
conforme mostra a Tabela 1. 
Fonte: Adaptada de Quinn e Cameron, (1983) 
Quinn e Cameron (1983) conduziram suas pesquisas no antigo Centro de 
Desenvolvimento do Departamento de Higiene Mental do Estado de Nova York. Os 
eventos analisados pelos autores foram baseados nas observações de três anos, 
1974 -1976. Os indicadores que os autores encontraram mostraram ocorrência em 
vários estágios do ciclo de vida. 
Moores e Yuen (2001) confirmaram a existência de uma mudança na estrutura 
formal do sistema de contabilidade gerencial desde o nascimento até o crescimento. 
Por outro lado, outros pesquisadores constataram que a contabilidade gerencial, 
principalmente sua formalização, é afetada pelas fases do ciclo de vida, mas ainda 
não conseguiram determinar o grau de formalização em cada fase do ciclo de vida de 
uma organização. (SOUZA; NECYK; FREZATTI, 2009). 
6.2 As tecnologias da informação e as mudanças no controle técnico 
A gestão em uma empresa é, e sempre será, um dos pilares fundamentais da 
decisão empresarial. No entanto, sua pontualidade geralmente depende dos sistemas 
que suportam sua preparação e distribuição. Torna-se cada vez mais relevante a 
implementação de adequados sistemas de informação de gestão que, de forma 
integrada e tempestiva, permitam divulgar a informação, no tempo e no espaço, de 
forma eficiente e eficaz. É neste contexto que, nas últimas décadas, se assistiu ao 
desenvolvimento de diversos sistemas de informação de gestão, dos quais 
destacamos pela sua amplitude e projeção, os programas de Balanced Scorecard 
(BSC), desenvolvidos por Kaplan e Norton (1996). Constitui, comparativamente aos 
sistemas mais tradicionais (relatórios de desempenho, incluindo Tableaux de Bord 
(TB), entre outros), que são um sistema complementar para monitorar o desempenho 
organizacional, não uma medida ou modelo substituto. A visão integrada por eles 
proporcionada, permite agir sobre um conjunto de variáveis críticas, representando no 
processo de criação de valor para o acionista, um importante contributo. Atualmente, 
constituem a mais importante e inovadora metodologia de gestão da performance das 
organizações (LOPES, 2019). 
A sofisticação e integração dos sistemas de controlo de gestão tem sido o 
resultado de múltiplos fatores, entre os quais se destacam a evolução verificada nas 
tecnologias de informação e comunicação, o aparecimento de novos modelos de 
negócio, a sua crescente complexidade, as alterações de exigências e 
comportamentos dos consumidores, para além da volatilidade e instabilidade dos 
mercados (LOPES, 2019). 
Entretanto, segundo diferentes abordagens, há discussões sobre tecnologia e 
controle nos estudos organizacionais de alguns autores (BURRIS, 1989; CLEGG; 
DUNKERLEY, 1980; EDWARDS, 1981). A maioria dessas abordagens adota uma 
atitude neomarxista e olha para a tecnologia sob a perspectiva da instrumentalidade 
negativa, ou seja, devido aos fenômenos recentes de trabalho mais coletivo e maior 
especialização, vistos como novas tecnologias de controle (CLEGG, 1992). 
Braverman (1974) e sua teoria do processo de trabalho é considerado o maior 
representante desta corrente. Sua pesquisa mostra o controle como uma prática 
necessária nas relações sociais do modo de produção capitalista, pois a relação entre 
a capacidade de trabalho ideal e real dos indivíduos é indeterminada. Nesse sentido, 
os gerentes utilizam ferramentas de controle para garantir que os esforços da força 
de trabalho se aproximem de seu valor total ("full potencial"), definam as tarefas a 
serem executadas e se esforcem para concluí-las (SEWELL, 1998). A tecnologia entra 
nesse papel para separar os elementos de controle do processo de produção e 
repassá-los dos trabalhadores para a máquina. Informação, revisão e conhecimento 
é usurpada pelo empregado e ele é submetido à rotinização e programação 
(RODRIGUES, 1986). De acordo com Braverman (1974, p. 195): 
A maquinaria oferece à administração a oportunidade de fazer por meios 
totalmente mecânicos o que se tentou fazer previamente por meios 
organizacionais e disciplinares. O fato de muitas máquinas poderem ser 
ritmadas e controladas de acordo com decisões centralizadas, e que esses 
controles podem assim estar nas mãos da administração, retirados do local 
da produção para o escritório – essas possibilidades técnicas são de grande 
interesse da administração, assim como o fato de a máquina multiplicar a 
produtividade do trabalho. 
Essa introspecção para o uso de máquinas é adicionada às práticas 
administrativa proposta pelo taylorismo, um projeto ideológico de dominação, que visa 
transformar a subordinação formal do trabalho ao capital, onde a unidade intelectual 
e manual das tarefas é preservada em uma subordinação real (SEWELL, 1998), que 
dissolve essa unidade, os fragmentos saem do trabalhador, tornando-o um apêndice 
da máquina. A organização do trabalho não consistiria mais em tornar o próprio 
trabalho mais eficiente, mas em otimizar a máquina, pois o ritmo foi introduzido nos 
sistemas automáticos de trabalho (CORIAT, 1988). Assim, o objetivo de buscar novas 
tecnologias e novas formas de organizar o processo de trabalho seria aprimorar ou 
encontrar novas formas de controle social necessárias para a superação da crise 
capitalista (LEITE, 1994). 
São os recentes desenvolvimentos tecnológicos relacionados às práticas de 
envolvimento dos empregados nos processos organizacionais que levam Sewell 
(1998) a propor a revisão e construção de um modelo inédito de teoria do processo 
de trabalho. Segundo ele, o discurso normativo do discurso gerencial ainda almeja a 
eficiência, mas ela é alcançada por meios menos coercitivos que o taylorismo. Novas 
práticas de trabalho em equipe reconectam as qualidades manuais e mentais das 
tarefas e assumem a responsabilidade de racionalizar e tornar suas tarefas mais 
eficientes. Essa tecnologia tornou-se uma opção viável para as organizações 
modernas devido à vigilância, monitoramento próximo dos indivíduos, aumento da 
comunicação, coordenação e integração por meio do uso de tecnologias produtivas 
como robôs e bancadas flexíveis, além de novas aplicações de TI. Essas novas 
formas de organização desempenhariam um papel dominante na prática da livre 
fiscalização. 
7 A SOCIEDADE E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA EMPRESA 
As empresas, assim como outros tantos segmentos existentes na sociedade, não 
estão deslocadas da dinâmica social. Isso significa que elas estão em permanente 
relação com a sociedade, seja pela produção de bens e serviços e pela divisão social 
do trabalho, seja pelo desenvolvimento dos sujeitos que trabalham nessas empresas, 
entre outros aspectos (KIELING; ZORZI; FACHINETTO; BIGOSSI; MULLER, 2012). 
Renaud Sainsaulieu é um dos autores preocupados com a questão da relação 
do desenvolvimento das empresas com as dinâmicas sociais produzidas e 
reproduzidas ao longo do tempo. O autor afirma que, ao mesmo tempo em que houve 
crescimento na produção, ocorreu também uma transformação física e intelectual dos 
trabalhadores, como uma menor alienação e um aumento das capacidades individuais 
sintetizadas na forma de agir e de aprender dos sujeitos. 
Sainsaulieu (1997) destaca como questão primordial na análise sociológica das 
empresas o entendimento de sua relação com o exterior da organização, por meio de 
sua produção e com base em seu conjunto humano. Nas palavras desse autor: 
Trata-se, com efeito, de compreender como é que a empresa constitui uma 
espécie de fato social específico, uma forma decomunidade humana mais 
ou menos aberta ou constrangedora, na medida em que associa homens para 
realizar uma produção econômica, fundamentando na sua capacidade de 
comunicação e de colaboração uma parte, tantas vezes essencial, da 
qualidade dos resultados e da intensidade das performances. Ora, só pelo 
fato de ela ser social, isto é, constitutiva de laços de solidariedades duráveis, 
a realidade humana da empresa não pode deixar de ser histórica, confrontada 
tanto com os ciclos da vida interna como com a eventualidade de pressões 
externas. Pensar as vias e os meios do seu desenvolvimento torna-se por 
isso, uma urgente necessidade para as empresas que admitam a importância 
dos seus recursos humanos (SAINSAULIEU, p. 16, 1997). 
Tomando como base a posição do autor, percebemos a importância de 
contextualizarmos as organizações empresariais nas dinâmicas sociais do seu 
entorno, agindo sobre elas, bem como partir delas para o seu próprio 
desenvolvimento, não só no sentido econômico, como também no seu aspecto social. 
Sendo assim, o autor Sainsaulieu (1997) sustenta: 
Assim, toda a abordagem sociológica da empresa permite uma leitura 
renovada da realidade contemporânea dos seus fatores de produção, 
explicitando o confronto perpétuo das forças sociais, frutos da sua 
experiência, com as capacidades de reação exigidas pela antecipação dos 
imperativos do desenvolvimento futuro. Em termos de gestão, falar-se-á aqui 
inevitavelmente de modos de organização racional das forças produtivas. Em 
termos sociológicos, deve-se falar mais de construção de sociedade, de 
dinâmica de coesão social necessária à pertinência dos esforços de 
colaboração entre atores da produção (SAINSAULIEU, 1997, p. 16). 
A reflexão de Sainsaulieu (1997, p. 17) evidencia a importância de situarmos a 
discussão no campo da "ética de cidadania". Conforme ele, "todos os produtores se 
sentem mais ou menos responsáveis em função das culturas e das histórias globais 
das sociedades". Logo, essas organizações devem ser pensadas para além de sua 
contribuição para a produção econômica da sociedade, situando-se como um 
importante aspecto social da realidade humana. Como já destacado, elas se 
constituem em laços de solidariedade. 
7.1 Aprendizado coletivo e processos de socialização nas organizações 
Quando pensamos em processos de inovação e de mudança nas 
organizações, necessariamente entra em questão a reflexão sobre os processos de 
aprendizado, tanto individual quanto coletivo, e de socialização nas organizações. Isso 
porque entendemos que os sujeitos são parte fundamental no desenvolvimento das 
organizações (KIELING; ZORZI; FACHINETTO; BIGOSSI; MULLER, 2012). 
Aqui entra também a questão do papel do pensamento criativo dos sujeitos na 
definição de novos rumos da organização, pois à medida que vão surgindo novos 
problemas, novos dilemas e novos desafios, cabe aos sujeitos, por meio do seu 
aprendizado, que não é somente individual, mas também e principalmente coletivo, 
colaborar para a transformação e constituição de novas ações (KIELING; ZORZI; 
FACHINETTO; BIGOSSI; MULLER, 2012). 
De acordo com Silva (2002): 
A mudança organizacional vai implicar o rompimento com o estabelecido para 
a criação de novos modelos de ação. Esse rompimento acontece por meio 
dos indivíduos e grupos que trabalham e aprendem na empresa, executando 
tarefas em qualquer contexto (SILVA, 2002, p. 164). 
A perspectiva de transformação das organizações tem como base as ações 
inovadoras dos sujeitos engajados nesse processo. Com base nisso, não só o 
conhecimento do indivíduo e do grupo, ou seja, coletivo, se renova, como também a 
própria cultura relacionada à organização. Para os autores (SILVA, 2002, p. 165), 
portanto, “o aprendizado é tanto o impulso quanto o motor que leva à mudança, à 
transformação [..] e o indivíduo é o ponto de partida que desencadeia o processo de 
aprendizagem”. 
Os sujeitos, quando passam a participar de um contexto organizacional pelo 
trabalho ou por outra forma de interação, já encontram um sistema de regras, de 
normas, de linguagem, de símbolos, entre outros elementos, que representam a 
identidade dessa organização, por isso, um dos primeiros processos estabelecidos no 
seu interior é o de socialização dos sujeitos que passam a pertencer a esse universo 
(KIELING; ZORZI; FACHINETTO; BIGOSSI; MULLER, 2012). 
Esse movimento de socialização e de aprendizagem individual e coletiva 
contribui para o permanente reconstruir das organizações, inclusive nos seus 
aspectos culturais. Pois esse processo não é estático, e sim dinâmico. Assim, é no dia 
a dia, por meio das interações entre os sujeitos e entre os sujeitos e a cultura 
organizacional, que se criam novas práticas e novos conhecimentos no interior da 
organização (KIELING; ZORZI; FACHINETTO; BIGOSSI; MULLER, 2012). 
7.2 Relações humanas e questões culturais. 
As dimensões culturais da dinâmica organizacional ficaram virtualmente 
ausentes, durante muito tempo, do horizonte de reflexões sobre gestão empresarial. 
Entretanto, desde meados dos anos 1980 o fator cultural ganhou maior visibilidade, 
tanto na produção acadêmica de administração quanto na atenção de empresários e 
executivos. Isso se deveu a duas razões principais. De um lado, o sucesso econômico 
das empresas japonesas no mercado estadunidense e mundial, sobre tudo nos 
segmentos automotivo e de eletroeletrônicos. De outro, os processos de 
reestruturação empresarial resultantes da globalização, que significaram, muitas 
vezes, choques culturais (BARBOSA, 2002; CUCHE, 1999; FREITAS, 2007). 
Quanto à primeira razão, a recuperação econômica de um país que havia sido 
arrasado na Segunda Guerra Mundial foi atribuída, entre os estudiosos de 
Administração e das empresas de consultoria empresarial, a certas características 
culturais (a harmonia, a coesão e o valor atribuído à empresa). A cultura pode ter sido 
um motivo para o sucesso de companhias como Sony e Toyota, que desbancaram 
suas concorrentes no mercado estadunidense. É evidente que essa recuperação 
japonesa não pode ser atribuída unicamente à dimensão cultural. Sabemos que outros 
elementos tiveram peso muito forte nesse processo. Os programas de apoio 
desenvolvidos pelos Estados Unidos para ajudar países como a Alemanha e o Japão, 
a fim de evitar que o comunismo se alastrasse pela Europa e pela Ásia, não devem 
ser esquecidos. 
Nesse sentido, cabe lembrar que toda a "febre" da qualidade, que colocou o 
Japão no centro da atenção mundial no campo dos negócios nos anos 1980, por conta 
das tecnologias de gestão, como Qualidade Total, Círculos de Controle da Qualidade, 
Just-in-Time, Kaizen, etc. Iniciaram-se alguns anos antes com a ida do professor 
estadunidense William Deming para o país, levando o controle estatístico da qualidade 
para as indústrias japonesas (CUCHE, 1999). De toda forma, foi nesse período que o 
livro homônimo de Akio Morita fez sucesso como best-seller do mundo corporativo. O 
mundo queria entender o modelo de gestão japonês. 
A segunda razão que despertou os olhos do universo empresarial para a 
questão cultural foi a aceleração dos processos de reestruturação dos negócios 
resultantes da globalização. Para se posicionarem no mercado internacional e 
concorrer em um cenário econômico cada vez mais competitivo, as empresas se 
reinventaram. Nesse movimento, houve uma grande concentração do capital em 
corporações transnacionais, criadas por meio de fusões, aquisições ou 
estabelecimento de joint ventures. Esses processos de reestruturação significaram, 
muitas vezes, choques de culturas organizacionais e/ou de culturas nacionais nos 
casos de empresas provenientes de distintos países (JAIME; LUCIO, 2017). 
Nos anos seguintes, profissionais com diversas formações disciplinares se 
lançaram na realização de consultorias para diagnosticar a cultura organizacional e 
propor, quando necessário, mudanças culturais que levassemà criação de “culturas 
fortes”, capazes de resultar em uma elevação da performance empresarial. Esses 
consultores possuíam uma visão normativa e prescritiva da cultura organizacional. 
Segundo eles, era preciso inicialmente mapear a “verdadeira” cultura organizacional. 
Para tanto, recomendavam a realização de pesquisas quantitativas, com muita pouca 
observação sistemática do comportamento dos indivíduos em situações concretas de 
trabalho. Com base nesse levantamento, seria possível em seguida operar 
transformações culturais visando ao incremento da produtividade (JAIME; LUCIO, 
2017). 
Essa abordagem surpreendeu os profissionais das Ciências Sociais, uma vez 
que a maneira como a cultura estava sendo pensada pelo mundo empresarial não 
correspondia aos avanços científicos desta área. Eles perceberam que se tratava de 
um debate com o qual poderiam contribuir. Vejamos, então, como abordam o conceito 
de cultura para entendermos melhor esse estranhamento. A partir daí, a seguir, serão 
discutidas as diferentes formas de pensar a questão cultural nas organizações, as 
perspectivas dominantes na Administração e na Sociologia (JAIME; LUCIO, 2017). 
7.3 O conceito de cultura na Sociologia 
Pode-se dizer que o primeiro desafio da Sociologia para estabelecer as bases 
científicas do conceito de cultura foi romper com a associação entre cultura e posse 
de um saber formal (DAMATTA, 2011). Para ilustrar essa questão, podemos recorrer 
ao dicionário, onde encontramos inicialmente significados relacionados à agricultura, 
como a cultura de determinados vegetais, devido à origem etimológica da palavra. 
Em seguida, a cultura aparece relacionada com a microbiologia, quando se fala 
em fazer uma cultura de “garganta” em laboratório. Entretanto, esses significados não 
refletem a definição sociológica de cultura, que é entendida como uma complexa 
estrutura de significados construída historicamente pelos indivíduos em suas 
interações cotidianas, dando sentido à vida coletiva e funcionando como um código 
que informa o comportamento e orienta a ação (CUCHE, 1999; EAGLETON, 2005; 
GEERTZ, 2015). 
A definição sociológica de cultura difere da noção de culto ou erudição 
associada à posse de um saber formal, utilizada popularmente para avaliar o 
conhecimento de um indivíduo. É importante esclarecer que a cultura é um atributo 
inerente ao ser humano, como um animal cultural, e não algo que pode ser possuído 
ou adquirido de forma individual. 
Da perspectiva da Sociologia dizemos que o homem é um animal simbólico. O 
que isso significa? Como bem nos lembrou o cientista social Marshall Sahlins (1997), 
o homem é o único animal que distingue água de água benta. Por quê? Porque no
plano químico não há diferença nenhuma entre ambas. Para fazer um trocadilho, 
podemos dizer que a água benta é aquela que está embebida em certo significado 
para quem acredita na religião católica. Tal significado está ligado à crença de que o 
padre pôs as bênçãos de Deus nessa água. Vejamos outro exemplo. 
No caso dos seres humanos, diferentemente do que se passa com os demais 
animais, uma simples ação pode assumir distintos significados. Como apontou o 
também cientista social Clifford Geertz (2015), um piscar de olhos pode significar um 
tique nervoso, ou conspiração secreta, ou ainda uma ironia, uma imitação que alguém 
faz do outro que realiza esse gesto de maneira não espontânea, que pisca por tique 
nervoso. O que é importante reter desses exemplos é que os humanos ordenam 
simbolicamente o mundo, atribuem significados para objetos, cores, comportamentos, 
pessoas, organizações. Como vimos no primeiro capítulo, para o sociólogo Max 
Weber, o papel da Sociologia é entender os sentidos da ação social. 
7.4 A questão cultural e a dinâmica organizacional 
O que isso tem a ver com a Administração, com o mundo empresarial, algo 
supostamente tão prático, marcado pela racionalidade econômica? Dois exemplos 
nos ajudam a evidenciar a importância da questão cultural na dinâmica organizacional. 
Nos anos 1990, uma empresa de cosméticos do Rio de Janeiro, a Embelleze, lançou 
uma linha de produtos voltada para o público evangélico, a Beleza Cristã. O que há 
nessa linha de produtos que a diferencia daquelas voltadas para não evangélicos? No 
plano químico nada, mas há toda uma construção simbólica que vai desde os nomes 
dos produtos pertencentes a ela (Condicionador Promessa, Colônia Cordeirinho), 
passando pela sua embalagem, com rótulos que possuem versículos bíblicos 
impressos. 
Esses exemplos revelam que a ordenação simbólica do mundo, a construção 
de significados, orienta nossas escolhas de consumo portanto, devem ser 
consideradas pelas empresas nos processos de produção. Mas voltemos por um 
instante à questão conceitual. A cultura é como um software que agregamos ao nosso 
hardware biológico. É um mapa simbólico que informa nosso comportamento, tal 
como a carta geográfica orienta nosso deslocamento no espaço. É como um texto que 
lemos para interpretar e dar sentido às nossas vidas. Em síntese: a cultura define 
padrões de comportamento próprios de uma sociedade ou de um grupo social em seu 
interior, oferecendo um modelo de referência para a ação dos seus membros (JAIME; 
LUCIO, 2017). 
7.5 Cultura e organizações: a visão dominante em Administração e o olhar 
sociológico. 
A complexidade envolvida no conceito de cultura está no centro do 
estranhamento que os sociólogos sentiram ao perceberem o tratamento que vinha 
recebendo o fenômeno cultural nas organizações no âmbito da Administração. 
Transmutada apressadamente em cultura organizacional, a ideia de cultura parecia 
empobrecida (JAIME; LUCIO, 2017). 
Do que falavam os administradores quando pensavam sobre cultura 
organizacional? Comecemos pelo conceito clássico formulado por Edgar Schein 
(2009). Segundo ele, a cultura organizacional representa o modelo de pressupostos 
básicos que um dado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu aprendendo a lidar 
com problemas de adaptação externa e integração interna, que, suficientemente bem 
trabalhado para ser considerado válido, pode em seguida ser apresentado para os 
novos membros como um modo correto de perceber, pensar e sentir em relação a 
esses problemas. Para Schein, os fundadores e líderes têm um papel crucial na 
construção desse modelo de pressupostos. Eles determinam, conforme seu passado 
cultural, sua personalidade, como o grupo define e resolve seus problemas de 
adaptação externa e integração interna. Isso porque possuem uma visão sobre o 
mundo e o papel das empresas, sobre o gênero humano e as relações humanas, bem 
como sobre o modo de controlar o tempo e organizar o espaço. Assim, de acordo com 
Schein a cultura organizacional é formada por esses pressupostos que fundadores e 
líderes transmitem para os demais membros da empresa. Seguindo um ponto de 
partida semelhante, Deal e Kennedy (2000) advogaram pela criação de uma cultura 
forte, isto é, aquela capaz de integrar os membros da organização, de modo que 
saibam como se relacionar, como se comunicar, quais são os comportamentos 
aceitáveis ou não, etc. Para eles, uma cultura forte possui impactos positivos sobre a 
produtividade da organização. Ressaltam que definições claras sobre o que fazer e 
como fazer orientam os trabalhadores, fazendo com que não percam instantes 
preciosos do dia tentando desvendar essas definições, o que acarretaria uma queda 
de produtividade. 
A partir dessas definições iniciais, o campo da Administração incorporou o 
vocabulário sociológico para pensar sobre a cultura organizacional. Sendo assim, a 
cultura da empresa seria formada por alguns componentes (FREITAS, 2007). Os 
valores representariam conceitos básicos que estabelecem padrões de realização 
dentro da organização. Em algumas empresas a disciplina e a pontualidade são 
centrais; em outras a lealdade possui destaque; em uma terceira os resultadossão 
enfatizados. A linguagem diria respeito a uma forma especial de falar própria da 
organização, que inclui expressões, slogans, denominações dos cargos, etc. É 
comum que empresas diferentes atribuam nomes distintos para cargos muito 
semelhantes. Cada empresa desenvolve uma linguagem, um vocabulário próprio, que 
reflete a área de negócios na qual está inserida, mas também seu país/região de 
origem, dentre outros aspectos. 
As histórias e os mitos seriam narrativas baseadas em eventos reais ou 
ficcionais, frequentemente compartilhadas pelos funcionários e contadas aos novatos 
para informá-los sobre a organização. Trata-se dos relatos comumente ouvidos sobre 
o surgimento da empresa (mito de origem) ou sobre os momentos críticos que ela
atravessou. Os heróis fariam referência a pessoas do presente ou do passado que 
personificam a cultura, servindo como modelos de conduta para o cumprimento de 
normas e valores. São cultuados de maneira especial, como em bustos, placas, 
fotografias históricas, ou mesmo nos retratos efêmeros dos funcionários considerados 
“destaques do mês” (JAIME; LUCIO, 2017). 
Fonte: JAIME; LUCIO, 2017 
Finalmente mereceriam atenção os rituais, as atividades cerimoniais 
elaboradas e planejadas que compõem um evento especial. Os rituais reforçariam os 
valores da empresa, celebrariam os heróis e, portanto, criariam laços entre os 
indivíduos e a organização. São normalmente divididos em três categorias. Os ritos 
de passagem: aqueles que facilitam a transição de pessoas para status sociais novos, 
a exemplo dos Programas de Trainee e das palestras para recém-contratados. Os 
ritos de reforço: voltados para solidificar a identidade do funcionário com a 
organização, como a noite de premiação anual. Nesse caso, não basta pagar bônus 
aos melhores vendedores do ano, por exemplo; é preciso afirmar isso simbolicamente 
em uma cerimônia na qual os premiados são celebrados e ganham visibilidade, 
despertando nos demais a vontade de estar naquela posição, e, portanto, mobilizando 
seu engajamento e esforço. E os ritos de integração, que incentivam e revigoram os 
sentimentos comuns que unem as pessoas e as envolvem com a organização. As 
festas de Natal do escritório e a comemoração do aniversário da empresa ou da 
inauguração de um novo prédio são bons exemplos nesse sentido (JAIME; LUCIO, 
2017). 
Essa abordagem tradicional na Administração possui seu mérito e explica parte 
da dinâmica cultural nas organizações. Um exemplo interessante é o relato de uma 
profissional de RH que ilustra essa dinâmica. No seu primeiro dia de trabalho em uma 
empresa, às 18 horas, quando começava a arrumar seus pertences para ir para casa, 
foi advertida por um colega. Ele perguntou se ela era funcionária pública e disse que 
na empresa as pessoas trabalham até mais tarde. Essa advertência reflete um traço 
da cultura da empresa, o comprometimento sem reservas como um valor central. 
Cinco anos depois, ela mudou de empresa e procurava sempre ficar até mais tarde 
nas suas primeiras semanas de trabalho. No entanto, foi surpreendida pelo seu 
gerente, que um dia lhe perguntou se não iria embora, já que passava das 18 horas. 
Ele afirmou que se ela precisava ficar até mais tarde para concluir as atividades, é 
porque não planejou seu trabalho adequadamente, e que as horas extras dos 
funcionários que teriam de permanecer na empresa apenas para que ela pudesse 
concluir suas atividades deveriam ser debitadas do centro de custos do seu 
departamento. Esse exemplo mostra que o comportamento esperado em uma 
organização pode ser sancionado de maneira diferente em outra, e evidencia a 
importância de considerar a complexidade da dinâmica cultural nas organizações. No 
entanto, é importante ressaltar que esse repertório de conceitos utilizados pela 
Administração foi retirado da Sociologia sem que fosse tomado o devido cuidado na 
sua transposição, 
Conforme apontamos, os debates sociológicos em torno do conceito de cultura 
apontam seu caráter dinâmico em um contexto de globalização, bem como os jogos 
de poder que atravessam a construção dos significados culturais. Essas questões não 
foram consideradas pela abordagem dominante da cultura no campo da 
Administração. Sendo assim, tal abordagem causou uma reação dos cientistas 
sociais. Eles questionaram a visão da cultura como mais uma variável da gestão 
empresarial, sobre a qual o administrador deve intervir da mesma forma que intervém 
em elementos como tecnologia, estrutura ou estratégia. Para esses estudiosos, as 
coisas se passam de uma forma bem mais complexa. Ainda que reconheçam a grande 
importância que a dimensão cultural exerce na dinâmica organizacional, uma vez que 
orienta o funcionamento cotidiano da empresa, define o ritmo de trabalho, organiza as 
relações interpessoais, etc. Os cientistas sociais consideram frágil o postulado de que 
a cultura pode ser facilmente manipulada, modificada em função da decisão dos 
dirigentes. Cultura organizacional não diz respeito simplesmente ao que se passa na 
cabeça desses atores. Ela não pode ser entendida apenas como o resultado do 
seminário de planejamento estratégico, quando os líderes empresariais definem os 
valores da organização e em seguida mandam confeccionar quadros emoldurados 
para divulgá-los por toda a companhia (JAIME; LUCIO, 2017). 
A cultura organizacional não pode ser pensada como um universo autônomo e 
internamente coerente. Devemos lembrar que os trabalhadores também são 
portadores de cultura. Eles não são recipientes vazios nos quais a cultura 
organizacional deve ser depositada, ou folhas de papel em branco nas quais deve ser 
escrita. Não chegam à organização desprovidos desses significados que ordenam a 
vida coletiva, não deixam na portaria da empresa suas culturas de classe, gênero, 
religião, região, grupo étnico, profissão, etc. Ao contrário, eles ressignificam, 
reinterpretam os discursos dos dirigentes e líderes, a “cultura oficial” da organização, 
em função dos seus próprios repertórios culturais. Portanto, a dinâmica cultural da 
organização revela um universo heterogêneo, relacionado com diversas categorias de 
atores. A cultura organizacional é vista, então, pelos cientistas sociais como o 
resultado das confrontações entre as microculturas dos diferentes grupos sociais que 
compõem a organização. Finalmente, não existem “verdadeiras” culturas 
organizacionais, mas distintas versões sobre a cultura organizacional. Tampouco 
existem culturas fortes ou fracas (JAIME; LUCIO, 2017). 
Ademais, a cultura da organização não é independente do ambiente que a 
cerca. A empresa não é um universo fechado que produz uma cultura perfeitamente 
autônoma. As culturas nacionais exercem impacto nesse processo. Por conseguinte, 
a cultura organizacional é, simultaneamente, um reflexo da cultura ambiente e uma 
produção nova elaborada e reelaborada constantemente no interior da empresa. Essa 
reação dos cientistas sociais quanto ao tratamento que o conceito de cultura 
organizacional vinha recebendo no campo da Administração não foi o resultado 
apenas de divagações teóricas. Foi fruto também e, sobretudo, de pesquisas (JAIME; 
LUCIO, 2017). 
Estimulados pelos mesmos fatores que aludimos no início deste capítulo e pela 
visibilidade que o tema da cultura organizacional ganhou graças ao movimento dos 
dirigentes e consultores de empresas, os sociólogos, em diferentes países do mundo, 
passaram a empreender investigações sobre a dinâmica cultural das organizações. 
Essas pesquisas evidenciaram a complexidade que envolve essa dinâmica, a 
importância dos diversos atores que compõem a empresa, bem como a presença de 
elementos do ambiente externo na configuração da cultura organizacional. Por sua 
vez, uma corrente crítica no campo da Administração também questionou as visões 
homogêneas e simplificadoras da cultura organizacional. Em um movimento reverso, 
essas reflexõesdos sociólogos e dos pesquisadores críticos da Administração sobre 
a cultura organizacional retornaram às práticas empresariais. Diversas empresas no 
mundo já contrataram cientistas sociais para a realização de mapeamentos das suas 
complexidades culturais (JAIME; LUCIO, 2017). 
São empresas como GM, Nynex, Intel, entre outras. Elas querem conhecer 
melhor seus funcionários, descobrir quais são as normas que as pessoas adotam para 
avaliar se um comportamento é adequado ou não, desvendar como se processam as 
operações da empresa em diferentes contextos nacionais, enfim, conhecer, em maior 
profundidade, sua dinâmica cultural. Um exemplo dessa natureza é o trabalho de 
Patrícia Sachs, contratada pela gigante das telecomunicações, Nynex, para pesquisar 
por que os funcionários não responderam, como se esperava, a um sistema 
especializado criado para administrar as operações de manutenção da empresa. 
Outra referência é Elizabeth Briody, chamada pela GM para conviver cotidianamente 
com os trabalhadores de uma montadora a fim de estudar por que o novo programa 
de qualidade não estava funcionando tão bem quanto se esperava (JAIME; LUCIO, 
2017). 
Além disso, o entendimento de que a cultura é um fator crucial tem levado as 
empresas a buscar o conhecimento sociológico como forma de compreender que, 
embora a cultura possa ser influenciada, não pode ser manipulada de forma 
superficial, uma vez que possui raízes profundas. Compreender a cultura de uma 
organização é fundamental para evitar políticas empresariais definidas apenas no 
gabinete dos dirigentes, que muitas vezes resultam em impactos extremamente 
negativos no ambiente de trabalho e, consequentemente, nos resultados da empresa. 
A compreensão da dinâmica cultural das organizações em toda sua 
complexidade capacita os gestores a intervirem de forma mais qualificada na 
realidade da empresa. Isso implica em compreender os valores, crenças, normas, 
práticas e símbolos que moldam a cultura organizacional, assim como suas interações 
com os indivíduos e grupos presentes na empresa. Essa compreensão profunda 
permite que os gestores implementem estratégias de gestão de pessoas, políticas 
organizacionais e práticas de liderança que estejam alinhadas com a cultura existente, 
promovendo um ambiente de trabalho saudável e produtivo. 
Ao reconhecer a importância da cultura organizacional e compreendê-la de 
forma holística, os gestores podem tomar decisões mais informadas e estratégicas, 
evitando abordagens simplistas e superficiais que podem resultar em consequências 
indesejadas. Portanto, o conhecimento sociológico sobre a cultura organizacional 
pode ser uma ferramenta valiosa para os gestores na busca por uma gestão eficaz e 
sustentável das organizações. 
8 CIÊNCIA POLITICA 
A ciência política lida com instituições, recursos, modelos e formas políticas 
historicamente controlados e ainda válidos, ou seja, cuida dos aspectos práticos do 
exercício do poder (GAMBA, 2022). 
Afinal, na qualidade de ciência, a Ciência Política não pode se furtar da 
realidade e da experiência. Diante disso, temos algo que une Teoria Geral do Estado 
e Ciência Política: o Estado. Ele é, com efeito, o objeto de estudo de ambos os ramos 
do conhecimento, ainda que sob enfoques distintos. Como objeto de estudo da Teoria 
Geral do Estado, o Estado é visto – em abstrato – sobre múltiplos ângulos (histórico, 
filosófico, jurídico, econômico, etc.), já sob o domínio da Ciência Política, importa-nos 
compreender a organização do Estado tal como ela aparece ao cientista: formas de 
governo, sistemas de governo, sistemas eleitorais e, ainda, fatores externos à 
estrutura estatal, mas que com ela se relaciona. Esses fatores externos, podem ser, 
em determinadas circunstâncias, os grupos de pressão e os discursos tecnocráticos, 
por exemplo; afinal, a Ciência Política busca estudar, em síntese, o poder e tudo aquilo 
que com ele se relaciona (GAMBA, 2022). 
Vale destacar, ainda, que a Ciência Política não se confunde com aquelas 
ciências ditas exatas, portanto, não possui nenhuma pretensão de assertividade e 
certeza, tais como as chamadas hard science (matemática, física, química, etc.) 
(GAMBA, 2022). 
8.2 Poder Político 
Eric Hobsbawm (1989), historiador britânico, e Quentin Skinner (1996), 
historiador norte-americano, apontam episódios teóricos e políticos que serviram de 
marco para a construção do pensamento político moderno, bem como do próprio 
sistema político moderno de um ponto de vista histórico e suas respectivas diferenças 
em relação as formas de tratamento do mundo político. 
Se Heródoto na Grécia antiga (século V, a.C.) já havia tratado da questão 
política e governamental, e pensadores como Platão (428-348, a.C.) e Aristóteles 
(384-322, a.C.) estabeleceram a teoria política clássica do debate sobre as (melhores) 
formas de governo, não se pode negar as profundas mudanças nos modelos de 
governo com a Revolução Francesa (1798) e a independência americana (1776). 
Ambos os processos representaram revoluções fundamentais na modernidade, 
embora as ideias políticas que sustentavam o Estado moderno tenham aparecido 
muito antes no norte da Itália (SKINNER, 1996), em Pisa (1085 d.C.) (LUCAS, 2021). 
Falando do poder político como limite principal do poder e forma de organização 
social, entre outras coisas, as modernas teorias políticas contidas em diversas 
correntes de pensamento, como o contratualismo, republicanismo, liberalismo, 
federalismo e o socialismo, foram cruciais para o seu efetivo funcionamento e 
formação dos Estados Nacionais modernos. Não foram apenas teorias, mas vários 
processos sociais concretos materializaram as proposições conceituais para à 
formação de um poder que contivesse os ânimos humanos, e organizasse a vida em 
sociedade. De certa forma, às estruturas políticas saíram dos livros de teoria política 
e ganharam vida, especialmente depois que Maquiavel descreveu as novas formas 
de governo, como Monarquia e República (BOBBIO, 1992) (LUCAS, 2021). 
É claro, os marcos delimitadores dos modelos modernos de Poder Político não 
ficaram reduzidos a episódios meramente políticos, mas também estiveram 
relacionados aos avanços da Revolução Industrial, como afirma Moore Jr. (1983). Por 
isso, a Inglaterra também deve entrar no rol dos países que inovaram social e 
politicamente de forma concreta para a construção do mundo moderno (LUCAS, 
2021). 
De qualquer forma, no plano teórico, desde a Grécia antiga há debates e 
proposições sobre os modelos de Poder Político, seja pelo lado descritivo e analítico, 
como na tipologia de Aristóteles, seja pelo lado prescritivo/normativo, como na 
sugestão da “república” por Platão, modelo ideal de governo para esse pensador 
grego. Então, traçando-se uma linha do tempo desde a Grécia antiga até a 
Independência dos Estados Unidos, e desse episódio até a primeira metade do século 
XX, houve uma profunda transformação nas teorias e nos modelos empíricos de Poder 
Político. De certa forma, a noção de Poder Político foi ficando defasada, enquanto a 
tipologia de regime político indicava, de forma mais precisa, o real funcionamento do 
“Poder Político”. Por isso, é importante uma comparação entre os conceitos de poder 
político e regime político (LUCAS, 2021). 
Ou seja, é preciso o resgate do debate teórico, mas não se pode perder de vista 
que, desde o século XII, no Ocidente, há um permanente movimento político e jurídico 
de implementação de formas de sistema político voltados para a efetivação de 
princípios e objetivos humanos e sociais, como a liberdade, igualdade, o bem-comum 
e todo tipo de elementos pertinentes à emancipação humana (LUCAS, 2021). 
8.3 Formação dos estados 
A ideia de formação dos Estados deve ser analisada em duas perspectivas 
distintas. Uma delas, refere-se ao começo histórico dos Estados, momento em que 
analisamos as diversas formações sociais históricase suas transformações até o 
advento do Estado no contexto sociopolítico da modernidade. A outra perspectiva é a 
da formação de novos Estados no contexto global em que vários deles já se 
relacionam no âmbito de uma comunidade internacional existente (GAMBA, 2022). 
Nesse sentido, a primeira hipótese representa a chamada formação originária, 
também conhecida como fundação, e a segunda abordagem refere-se à chamada 
formação secundária, por vezes chamada de derivada. Afinal, atualmente não existem 
mais territórios não vinculados à ordem jurídica de algum Estado e podem servir de 
base para uma formação do tipo originária; em outras palavras, não existem terrae 
nullius (expressão proveniente do Direito Romano, cujo significado é “terras que não 
pertencem a ninguém” ou simplesmente “terras sem dono”). Posto isso, vejamos as 
particularidades de cada uma das espécies de formação dos Estados (GAMBA, 2022). 
8.3.1 Formação originária (fundação) 
Alguns pensadores compreendem que já na Antiguidade havia formas de 
Estado, que se modificaram ao longo dos séculos, vez que eram dotadas de 
população, território e poder, elementos constitutivos do Estado para diversos autores. 
Dentro desse conceito mais conciso de Estado (composto apenas por população, 
território e poder), autores como Jellinek entendem que a formação originária dos 
mesmo ocorreu em algum momento longínquo da história, mas que somente pode ser 
estudada de forma genérica, pois não houve somente uma forma de transformação 
de grupos quaisquer em Estados, sendo possível apenas estabelecer regras gerais 
que determinaram como alguns grupos se transformaram em Estado e, considerando 
a definição de Estado como formado por território, população e poder, é comum 
compreendê-la como tendo ocorrido na época em que os grupos humanos deixam de 
ser nômades para se fixarem num dado território e passaram a organizar uma forma 
de poder político. Já para aqueles que se apoiam na definição weberiana, o Estado 
passaria a existir enquanto esse poder monopolizasse a violência legítima. Nessas 
hipóteses, o estabelecimento de formas de poder sobre um território e um povo 
específico certamente se deu por diversas maneiras em diferentes locais e momentos 
históricos, portanto, não nos cabe aqui analisar tais particularidades (GAMBA, 2022). 
Já dentro do conceito de Estado, qual seja a instituição politicamente 
organizada de um povo, dotada de uma ordem jurídica própria, cuja aplicação lhe cabe 
com exclusividade dentro de determinado território e que possui reconhecimento 
externo suficiente para exercer sua soberania, temos que a formação de um Estado 
comporta a reunião de todos seus elementos constitutivos, quais sejam: povo, 
território, governo, ordem jurídica, soberania e reconhecimento externo. Diante desse 
conceito de Estado aqui adotado, compreendemos que o Estado consiste num 
fenômeno relativamente recente na história humana, uma vez que a própria ideia de 
soberania fundamental para nosso conceito é algo desconhecido na Antiguidade e 
surge na transição da Idade Média para a Moderna (GAMBA, 2022). 
Assim, adotando nosso conceito de Estado acima mencionado, a ideia de 
formação original refere-se ao momento em que dotado de uma população e sobre 
um determinado território, ele adota uma ordem jurídica própria, aplicada por um 
governo que exerce o poder soberano do Estado, sendo suficientemente reconhecido 
como tal pelos demais Estados que, nesse contexto, já existem. Conforme advertido 
anteriormente, o tema da formação originária dos Estados não pode ser analisado 
com precisão, mas apenas dentro de um contexto de regras gerais que se referem a 
esse momento histórico impreciso de formação dos primeiros Estados. Não é 
possível, portanto, apresentar um momento exato da formação originária dos Estados. 
Perceba que independentemente do conceito de Estado adotado, referida imprecisão 
permanece, já que tal fenômeno se encontra embebido no contexto histórico de 
germinação da própria ideia de Estado e, portanto, faz-se gradativamente; afinal, 
eventos políticos e sociais não acontecem do dia para a noite, havendo sempre um 
processo mais ou menos longo de (des)construção de instituições (GAMBA, 2022). 
Vale destacar que a formação que temos em mente se dá a partir de um 
processo histórico concreto, isto é, de eventos reais que resultaram na aparição do 
Estado faticamente, sendo posterior sua apreensão teórica e portanto, jurídica. Esse 
entendimento contrasta com o de alguns pensadores racionalistas, que pretendem ver 
o Estado como uma criação racional humana ou um produto do direito (GAMBA,
2022). 
Nesse sentido, cabe lembrar da leitura hegeliana acerca do Estado moderno. 
Hegel (1997, p. 23) entendeu que “a razão objetiva se realiza numa sociedade em que 
os indivíduos livres reconhecem nas leis sua própria vontade e em si mesmos uma 
expressão particularizada das leis”. Diante disso, compreende que o Estado é “a 
realidade da liberdade concreta” (HEGEL, 1997, p. 211). Em outros termos, a leitura 
hegeliana importa dizer que o Estado aparece como produto da razão humana, ou 
melhor, o grande produto da razão humana, enquanto ele figura na história como a 
organização alcançada racionalmente para a efetivação e compatibilização da ordem 
e da liberdade. Trata-se, portanto, do produto mais bem-acabado da racionalidade 
humana que permite a coexistência da ordem e da liberdade. Dentro dessa leitura, 
enfatiza-se a natureza teórica, racional da formação do Estado (GAMBA, 2022). 
Voltando à nossa compreensão acerca do momento histórico da formação 
original dos diversos Estados, podemos sintetizar a questão a partir de três 
abordagens distintas: a histórica, a jurídica e a teórica (filosófica) (GAMBA, 2022). 
Do ponto de vista histórico, vale destacar a formação do Estado moderno, 
notadamente naquilo que tange ao desenvolvimento histórico das formas de 
organização social até que, no contexto do início da modernidade, surge o Estado, 
dotado dos elementos constitutivos, afinal, é apenas por volta dos séculos XVI e XVII 
que passamos a verificar diversos fatores que delineavam o Estado moderno, tal como 
a centralização militar e política, uma atuação comercial no contexto do mercantilismo, 
métodos de imposição fiscal e taxação executados por aparatos burocráticos estatais, 
bem como outras questões que delineavam a ideia de Estado e, consequentemente, 
a de soberania (GAMBA, 2022). 
Ingressando na abordagem jurídica, podemos apontar o Tratado de Westfália, 
assinado em 1648, como marco na criação do conceito moderno de soberania e da 
territorialidade dos Estados, bem como da relação entre eles, sendo certo que os 
outros aspectos dessa análise devem ser considerados antes de se incorrer num 
perigoso reducionismo de dizer que o referido tratado cria ou formaliza a soberania 
dos Estados. Trata-se, apenas, de se tentar encontrar um fundamento para a 
soberania do ponto de vista documental, isto é, jurídico, sem prejuízo da análise 
histórica feita anteriormente, bem como da análise teórica feita a seguir. 
Ademais, não se pode atribuir ao Tratado de Westfália a efetiva criação do 
conceito de soberania e da delimitação do território dos Estados, já que se sabe que 
a ideia de soberania permanecia bastante atrelada ao modelo absolutista da época e, 
quanto ao território, sabe-se que as práticas patrimonialistas e colonizadoras 
posteriores ao tratado alteraram significativamente a suposta equivalência entre 
Estado e território. 
 Por fim, a diversidade dos primeiros entes soberanos modernos (monarquias 
hereditárias, monarquias constitucionais, principados, repúblicas, cidades, etc.) não 
possibilitava falar em efetiva igualdade entre os Estados no plano internacional. Por 
fim, como última ressalva, vale destacar que o referido diploma atinge apenas seus 
signatários, sendo restrito a alguns Estados europeus. De toda sorte, oreferido tratado 
consiste em um marco na tentativa de se atribuir soberania e territorialidade aos 
Estados modernos, possibilitando a nós compreendermos, em conjunto com as outras 
abordagens aqui realizadas, o contexto de formação originária dos Estados modernos 
(GAMBA, 2022). 
Em síntese, a partir de uma análise teórica, não podemos ignorar que o 
conceito de Estado em formação e, faticamente, a fundação (formação originária) de 
diversos Estados teve uma base teórica (filosófica) concedida pelos escritos do início 
da modernidade, notadamente aqueles dos Seis Livros da República de Jean Bodin, 
de O Príncipe de Maquiavel (obras do século XVI) e, posteriormente, do Leviatã de 
Thomas Hobbes (século XVII). Nesse sentido, vale destacar que é comum apontar a 
referida obra de Maquiavel como sendo a primeira na história a empregar o termo 
Estado tal como o utilizamos (GAMBA, 2022). 
Assim, a partir da análise de aspectos históricos, jurídicos e filosóficos, 
podemos compreender o tema da formação originária dos Estados como algo 
bastante impreciso e de difícil caracterização, notadamente por ter ocorrido em 
momentos diversos em diferentes Estados, bem como por ser tarefa bastante 
dificultosa a tentativa de se remontar o processo de unificação dos elementos 
constitutivos dos mais diversos Estados pela primeira vez. De toda forma, do ponto 
de vista conceitual, a noção de formação originária (fundação) de um Estado resta 
bastante simples: trata-se da primeira vez em que o Estado reuniu todos seus 
elementos constitutivos (GAMBA, 2022). 
8.3.2 Formação secundária (derivada) 
No caso das formações secundárias (ou derivadas), temos o surgimento de 
Estados no contexto de uma comunidade internacional já existente, ainda que não 
consolidada, de tal modo que as hipóteses de formação que analisaremos neste 
tópico referem-se a formações que acabam por envolver outros Estados, além do que 
está sendo formado. Há, portanto, algum grau de vontade de outro(s) Estado(s) 
envolvido(s) no ato de formação (GAMBA, 2022). 
Nesse sentido, é importante dizer que, após a formação de uma comunidade 
internacional e a consequente inexistência de terraes nullius (terras sem dono), todo 
ato de formação secundária de um Estado importará a observância ou a afronta a 
alguma ordem jurídica que, portanto, já é existente no contexto de sua formação. É 
evidente que, quando a criação de um Estado resultar de ato legal, isto é, conforme o 
direito aplicável ao caso, o seu reconhecimento pelos demais Estados aparece como 
uma consequência lógica do reconhecimento anteriormente existente; já quando a 
criação de um Estado resulta da afronta a algum ordenamento jurídico, o 
reconhecimento pelos Estados prejudicados por essa violação pode se apresentar 
especialmente importante para a formação desse novo Estado (GAMBA, 2022). 
Feitas as análises necessárias das características gerais da formação 
secundária, cabe-nos aqui apresentar as formas como tal fenômeno pode ocorrer 
(GAMBA, 2022). 
8.3.2.1 Fusão ou união 
A fusão ou união consiste na junção de dois, ou mais Estados para a formação 
de um novo Estado, diferente dos Estados existentes antes da fusão. Assim, um novo 
Estado emerge da fusão, diferente dos dois ou mais Estados que se fundiram, os 
quais serão extintos. É o caso da República do Iêmen, que se formou a partir da fusão 
do Iêmen do Norte (República Árabe do Iêmen) com o Iêmen do Sul (República 
Democrática Popular do Iêmen). Também é comum se referir a esse processo pela 
expressão unificação. Ainda, é importante mencionar que existem grupos e partidos 
políticos que defendem a integridade nacional de dois ou mais Estados, sendo essa 
corrente de pensamento chamada de unionismo (GAMBA, 2022). 
8.3.2.1.2 Federalização 
A Federação é a união perpétua e indissolúvel de Estados autônomos, porém 
não soberanos, criada a partir de uma Constituição Federal que regula a relação entre 
os Estados e desses com o poder da chamada União. Nesse caso, referida 
Constituição cria um novo Estado, agora do tipo federativo, com a consequente 
extinção de todos os Estados até então soberanos e que agora passam a ser entes 
federativos meramente autônomos nos termos da Constituição. 
É o caso, por exemplo, do que ocorreu com a Confederação denominada “Os 
Estados Unidos da América”, em que a relação entre os Estados que a compunha era 
regida pelos chamados Artigos da Confederação (Articles of Confederation). Em 1787, 
veio a Constituição americana que deu continuidade ao processo de transformação 
da referida Confederação em uma Federação. Nesse processo de transformação, é 
evidente que os Estados até então soberanos perdem esse atributo para se tornarem 
parte de uma Federação, a qual nasce da referida Constituição como um novo Estado 
(GAMBA, 2022). 
8.3.2.3 Desmembramento (separação ou independência) 
O desmembramento pode ser parcial ou total, conforme iremos expor neste 
item. O desmembramento parcial consiste na separação de uma ou mais partes de 
um Estado para a formação de um ou mais novos Estados. Geralmente, essa espécie 
de desmembramento está ligada ao processo de separação ou independência de 
regiões, estados-membros ou territórios habitados por grupos étnicos distintos do 
restante do Estado (GAMBA, 2022). 
Em termo conceituais, trata-se aqui de hipótese em que um ou mais Estados 
são criados a partir do desmembramento de parte um Estado originário. Assim, o 
desmembramento parcial se refere ao movimento em que o Estado originário 
permanece existindo (não foi integralmente dissolvido) e o desmembramento total, por 
sua vez, é aquele em que o Estado originário é extinto, dando origem a dois ou mais 
Estados. Nesse último caso, temos a criação de novos Estados, mas também a 
extinção do Estado originário, motivo pelo qual o desmembramento total será 
analisado a seguir também como causa de extinção de Estados (GAMBA, 2022). 
De volta ao desmembramento parcial, temos que ele pode ser realizado de 
forma diplomática entre o Estado originário e o grupo, o Estado-membro, a região, 
etc., que pretende se separar ou pode ser resultante de um complicado conflito de 
distintas naturezas, motivando inclusive as chamadas guerras de secessão ou 
independência, a depender do caso. Nesse tocante, é importante destacar que os 
grupos que lutam por independência de sua região ou povo são geralmente chamados 
de independentistas, ou separatistas (GAMBA, 2022). 
Independentistas (ou separatistas) são, em geral, grupos organizados que 
reivindicam a criação de um novo Estado para seu povo ou para sua região em relação 
a um Estado-maior do qual fazem parte. O fundamento desse pleito pode ser diverso, 
podendo estar ancorado em questões político-administrativas, econômicas, étnico-
culturais ou religiosas. No caso do separatismo, ele pode ser relacionado a questões 
político-administrativas, quando a ideia da separação decorre de uma necessidade de 
emancipação política para melhor gestão da coisa pública. Assim, busca-se uma 
maior eficiência administrativa que supostamente adviria do processo de separação 
da região do Estado do qual faz parte. Esse fundamento se assemelha bastante ao 
fundamento econômico, segundo o qual o processo de separação é vantajoso por 
questões de orçamento público e repartição de receitas. 
Por outro lado, ainda, é comum que movimentos separatistas se fundamentem 
também em fatores de ordem étnico-culturais, como a existência de costumes 
distintos, povos de origem distinta e, também, língua distinta. Similar a esse 
fundamento é o motivo de ordem religiosa, quando então o movimento separatista 
funda-se na diferença de crença com relação ao Estado de que fazem parte, o que 
muitas vezes pode impossibilitar o convívio harmônico entre diferentes povos que 
estão sujeitos a um mesmo Estado (GAMBA, 2022). 
Vale destacar, por fim, que a expressiva maioria dos movimentos separatistas 
ressaltauma identidade nacional do grupo ou da região distinta do Estado-maior que 
o engloba. Por vezes, essa identidade aparece ligada à necessidade de
independência de um povo, que se vê submetido a uma cultura que não é a sua e 
possui uma necessidade histórica de se posicionar isoladamente como nação, caso 
em que o direito de autodeterminação dos povos será arguido. Por outro lado, os 
movimentos de separação podem também estar fundados na ideia de uma identidade 
nacional ligada à superioridade ou à manutenção da pureza étnica de um grupo ou 
região, caso em que podem repousar sobre doutrinas nacionalistas e/ou xenofóbicas 
(GAMBA, 2022). 
Feitas essas considerações, cabe destacar que o desmembramento parcial de 
um Estado é, via de regra, vedado pelo ordenamento jurídico do Estado do qual a 
região separatista faz parte. Com efeito, em Estados unitários, temos a ideia da 
unidade nacional como imodificável e, no caso de Estados Federados, temos a 
indissolubilidade da união dos Estados, conforme claramente exposto no artigo 1º da 
Constituição Federal de 1988 no caso do Brasil, apenas para citar um exemplo. Ou 
seja, ainda que fundados em relevantes questões políticas, administrativas, étnicas, 
culturais ou religiosas, os movimentos separatistas ou independentistas têm uma 
difícil tarefa, na medida em que aquilo que pleiteiam é, via de regra, vedado pelo 
ordenamento jurídico do Estado do qual fazem parte, de onde emergem inúmeros 
conflitos ou até mesmo guerras (GAMBA, 2022). 
Historicamente, sabemos que durante os séculos XVIII e XIX, inúmeros 
processos pacíficos e conflituosos de independência foram realizados para que 
houvesse a descolonização de territórios, tal como a independência das treze colônias 
americanas, que durou de 1775 até seu efetivo reconhecimento pelo Reino Unido em 
1783 com o Tratado de Paris; e o caso do Brasil, cujo marco é o grito do Ipiranga no 
7 de setembro de 1822, dando origem posteriormente ao Império do Brasil (novo 
Estado, portanto). Já no século XX, vimos inúmeros processos de descolonização na 
África, tais como da África do Sul (1910), do Marrocos (1956), da Argélia (1962), da 
Angola (1975), de Moçambique (1975) e outros. Nesse sentido é que se aponta a 
descolonização como causa de formação de Estados. Entretanto, repare que a região 
que se tornou independente (criando um novo Estado) era considerada parte do 
território do Estado colonizador e portanto, é possível enquadrarmos a descolonização 
como uma espécie de desmembramento parcial (GAMBA, 2022). 
Assim, em resumo, podemos dizer que o desmembramento pode ser 
operacionalizado de forma pacífica ou violenta e dele resulta a criação de um ou mais 
novos Estados, provenientes de um Estado-maior do qual se desmembraram. Veja 
abaixo o esquema da formação secundário de estados (GAMBA, 2022). 
Fonte: GAMBA, 2022 
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