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Sociologia 
 
ENEM 
 
1 
SOCIOLOGIA 
 
 UNIDADE 1 
 
A RELAÇÂO HOMEM, NATUREZA, 
TRABALHO E SOCIEDADE 
 
O homem é um ser natural, isto é, um ser que faz parte 
integrante da natureza; não se poderia conceber o conjunto 
da natureza sem ela inserir a espécie humana. Ao mesmo 
tempo em que se constitui em ser natural, o homem 
diferencia-se da natureza, que é, como diz Marx (1984, p. 
111), “o corpo inorgânico do homem”; para sobreviver, 
ele precisa com ela se relacionar, já que dela provêm as 
condições que lhe permitem se perpetuar enquanto 
espécie. Não se pode, portanto, conceber o homem sem a 
natureza e nem a natureza sem o homem. 
Na busca das condições para a sua sobrevivência, o ser 
humano – assim como outros animais – atua sobre a 
natureza e, por meio desta interação, satisfaz suas 
necessidades. No entanto, diferentemente de outros 
animais, o homem não se limita ao imediatismo das 
situações com que se depara; ele ultrapassa limites, já que 
produz universalmente (para além de sua sobrevivência 
pessoal e de sua prole), não se restringindo às 
necessidades que se revelam no aqui e agora. 
A ação humana não é apenas biologicamente 
determinada, mas se dá principalmente pela incorporação 
de experiências e conhecimentos produzidos e 
transmitidos de geração a geração. A transmissão dessas 
experiências e conhecimentos – por meio da educação e 
da cultura – permite que a nova geração não volte ao 
ponto de partida da que a precedeu. 
A atuação do homem diferencia-se da do animal porque, 
ao alterar a natureza por meio da sua ação, ele a torna 
humanizada. Ao mesmo tempo, o homem altera a si 
próprio por intermédio dessa interação; ele vai se 
construindo, vai se diferenciando cada vez mais das outras 
espécies animais. A interação homem-natureza é um 
processo permanente de mútua transformação: esse é o 
processo de produção da existência humana. 
É o processo de produção da existência humana porque 
o ser humano vai se modificando, alterando aquilo que é 
necessário à sua sobrevivência. Velhas necessidades 
adquirem características diferentes; até mesmo as 
necessidades consideradas básicas – por exemplo, a 
alimentação – refletem as mudanças ocorridas no homem; 
os hábitos e necessidades alimentares são hoje muito 
diferentes do que foram em outros momentos. A alteração, 
no entanto, não se limita à transformação de velhas 
necessidades: o homem cria novas necessidades, que 
passam a ser tão fundamentais quanto as chamadas 
necessidades básicas à sua sobrevivência. 
É o processo de produção da existência humana porque 
o homem não só cria artefatos, instrumentos, como 
também desenvolve ideias (conhecimentos, valores, 
crenças) e mecanismos para a sua elaboração 
(desenvolvimento do raciocínio, planejamento...). A 
criação de instrumentos, a formulação de ideias e formas 
específicas de elaborá-los – características identificadas 
como eminentemente humanas – são fruto da interação 
homem-natureza. Por mais sofisticadas que possam 
parecer as ideias são produtos que exprimem as relações 
que o homem estabelece com a natureza na qual se insere. 
É o processo da produção da existência humana porque 
cada interação reflete uma natureza modificada, pois nela 
se inserem criações antes inexistentes, e reflete, também, 
um homem já modificado, pois suas necessidades, 
condições e caminhos para satisfazê-las são outros que 
foram construídos pelo próprio homem. É nesse processo 
que o homem adquire consciência de que está 
transformando a natureza para adaptá-la a suas 
necessidades, característica que vai diferenciá-lo: a ação 
humana, ao contrário da de outros animais, é intencional e 
planejada; em outras palavras, o homem sabe que sabe. 
O processo de produção da existência humana é um 
processo social. O ser humano não vive isoladamente, ao 
contrário, depende de outros para sobreviver. Há 
interdependência dos seres humanos em todas as formas 
da atividade humana; quaisquer que sejam as suas 
necessidades – da produção de bens à elaboração de 
conhecimentos, costumes, valores –, elas são criadas, 
atendidas e transformadas a partir da organização e do 
estabelecimento de relações entre os homens. 
Na base de todas as relações humanas, determinando e 
condicionando a vida, está o trabalho – uma atividade 
humana intencional, que envolve formas de organização, 
objetivando a produção dos bens necessários à vida 
humana. Essa organização implica uma dada maneira de 
dividir o trabalho necessário à sociedade e é determinada 
pelo nível técnico e pelos meios existentes para o trabalho, 
ao mesmo tempo em que os condiciona. A forma de 
organizar o trabalho determina também a relação entre os 
homens, inclusive quanto à propriedade dos instrumentos 
e matérias utilizados e à apropriação do produto do 
trabalho. 
As relações de trabalho – a forma de dividi-lo, organizá-
lo –, ao lado do nível técnico dos instrumentos de 
trabalho, dos meios disponíveis para a produção de bens 
materiais, compõem a base econômica de uma dada 
sociedade. 
É essa base econômica que determina as formas 
políticas, jurídicas e o conjunto das ideias que existem em 
cada sociedade. É a transformação dessa base econômica, 
a partir dessas contradições que ela mesma engendra, que 
leva à transformação de toda a sociedade, implicando um 
novo modo de produção e uma nova forma de organização 
política e social. Por exemplo, nas sociedades tribais 
(comuns), o grupo social organizava-se por sexo e idade 
para produzir os bens necessários à sua sobrevivência. Às 
mulheres e crianças cabiam determinadas tarefas, e aos 
homens, outras. Essa primeira divisão do trabalho, além 
de garantir a sobrevivência do grupo, gerou um conjunto 
de instrumentos, técnicas, valores, costumes, crenças, 
conhecimentos, organização familiar etc. A propriedade 
dos instrumentos de trabalho, bem como a propriedade do 
produto do trabalho (a caça, o peixe etc.), era de toda a 
comunidade. A transmissão das técnicas, valores, 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
2 
conhecimentos etc. era feita, basicamente, por meio da 
comunicação oral e do contato pessoal, diferentemente do 
que ocorre atualmente. Já na Grécia Antiga, por volta de 
800 a.C., o comércio, fundado na exportação e importação 
agrícola e artesanal, é a base da atividade econômica, e há 
um nível técnico de produção desenvolvido ao lado de 
uma organização política na forma de cidades-Estado. 
Nessa sociedade, além da divisão do trabalho cidade-
campo, ocorre uma divisão entre os produtores de bens e 
os donos da produção: os produtores não detêm a 
propriedade da terra, nem os instrumentos de trabalho, 
nem o próprio produto do seu trabalho; são, em sua 
maioria, eles mesmos, propriedade de outros homens. 
Nessa sociedade, as relações estabelecidas entre os 
homens são desiguais: alguns vivem do produto do 
trabalho de outros, e a produção de conhecimento é 
desenvolvida por aqueles que não executam o trabalho 
manual. 
As ideias, como um dos produtos da existência humana, 
sofrem as mesmas determinações históricas. As ideias são 
a expressão das relações e atividades reais do homem, 
estabelecidas no processo de produção da sua existência. 
Elas são a representação daquilo que o homem faz, da sua 
maneira de viver, da forma como se relaciona com outros 
homens, do mundo que o circunda e das suas próprias 
necessidades. Marx e Engels afirmam: 
 
A produção de ideias, de representações e da consciência 
está em primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade 
material e ao comércio material dos homens; é a linguagem 
da vida real (...). Não é a consciência que determina a vida, 
mas sim a vida que determina a consciência. (1980, p. 25-26) 
 
Isso não significa que o homem crie suas representações 
mecanicamente: aquilo que o homem faz, acredita, 
conhece e pensa sobre interferênciatambém das ideias 
(representações) anteriormente elaboradas; ao mesmo 
tempo, as novas representações geram transformações na 
produção da sua existência. 
O desenvolvimento do homem e da sua história não 
depende de um único fator. Ele ocorre a partir das 
necessidades materiais; estas, bem como a forma de 
satisfazê-las, a forma de se relacionar para tal, as próprias 
ideias, o próprio homem e a natureza que o circunda, são 
interdependentes, formando uma rede de referências 
recíprocas. Daí decorre ser esse um processo de 
transformação infinito, em que o próprio homem se 
produz. Nesse processo do desenvolvimento humano 
multideterminado, que envolve inter-relações e 
interferências recíprocas entre ideias e condições 
materiais, a base econômica será o determinante 
fundamental. Tais condições econômicas, em sociedades 
baseadas na propriedade privada, resultam em grupos com 
interesses conflitantes, com possibilidades diferentes no 
interior da sociedade, ou seja, resultam num conflito entre 
classes. Em qualquer sociedade onde existam relações que 
envolvam interesses antagônicos, as ideias refletem essas 
diferenças. E, embora acabem por predominar aquelas que 
representam os interesses do grupo dominante, a 
possibilidade mesma de se produzir ideias que 
representam a realidade do ponto de vista de outro grupo 
reflete a possibilidade de transformação que está presente 
na própria sociedade. Portanto, é de se esperar que, num 
dado momento, existam representações diferentes e 
antagônicas do mundo. Por exemplo, hoje, tanto as ideias 
políticas que pretendem conservar as condições existentes 
quanto as que pretendem transformá-las correspondem a 
interesses específicos às várias classes sociais. 
Dentre as ideias que o homem produz, parte delas 
constitui o conhecimento referente ao mundo. O 
conhecimento humano, em suas diferentes formas (senso 
comum, científico, teológico, filosófico, estético etc.), 
exprime as condições materiais de um dado momento 
histórico. 
(ANDERY, Maria Amalia...et al. Para compreender a ciência: uma 
perspectiva histórica. 
Rio de Janeiro: Garamond, 2014. pp. 9-15) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Há interdependência dos seres humanos em todas as formas 
da atividade humana; quaisquer que sejam as suas 
necessidades – da produção de bens à elaboração de 
conhecimentos, costumes, valores -, elas são criadas, atendidas 
e transformadas a partir da organização e do estabelecimento 
de relações entre os homens. 
• As relações de trabalho – a forma de dividi-lo, organizá-lo –, 
ao lado do nível técnico dos instrumentos de trabalho, dos 
meios disponíveis para a produção de bens materiais, compõem 
a base econômica de uma dada sociedade. É essa base 
econômica que determina as formas políticas, jurídicas e o 
conjunto das ideias que existem em cada sociedade. 
• As ideias, como um dos produtos da existência humana, 
sofrem as mesmas determinações históricas. As ideias são a 
expressão das relações e atividades reais do homem, 
estabelecidas no processo de produção da sua existência. Elas 
são a representação daquilo que o homem faz, da sua maneira 
de viver, da forma como se relaciona com outros homens, do 
mundo que o circunda e das suas próprias necessidades. 
• O desenvolvimento do homem e da sua história não depende 
de um único fator. Ele ocorre a partir das necessidades 
materiais; estas, bem como a forma de satisfazê-las, a forma de 
se relacionar para tal, as próprias ideias, o próprio homem e a 
natureza que o circunda, são interdependentes, formando uma 
rede de referências recíprocas. Daí decorre ser esse um 
processo de transformação infinito, em que o próprio homem se 
produz. 
 
 UNIDADE 2 
 
O CAPITALISMO E O NASCIMENTO 
DA SOCIOLOGIA 
 
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
 
Entre os séculos XVIII e XIX, teremos a Revolução 
Industrial, momento em que a indústria têxtil inova-se 
com o tear a vapor; este possibilita uma série de outros 
inventos, que facilitam a mecanização das máquinas, 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
3 
influindo decisivamente no surgimento, juntamente com a 
burguesia, de uma nova classe social: os trabalhadores, 
classe composta pelos camponeses sem terra e artesãos 
sem suas antigas máquinas manuais. 
Esta nova classe (os trabalhadores) não terá outro 
recurso para sobreviver senão vender sua capacidade de 
trabalho à burguesia, em troca de um salário. Assim, a 
numerosa classe trabalhadora passa a constituir a classe 
dos despossuídos. 
A relação de classes que passa a existir, entre a 
burguesia e os trabalhadores, é orientada por um contrato, 
o que permite, por sua vez, a idéia de que o capitalismo é 
uma sociedade com “liberdade econômica” e “democracia 
política”, isto é, com a idéia de contrato podemos afirmar 
que o trabalhador é “livre” para escolher um emprego 
qualquer e o empresário é “livre” para empregar quem 
desejar. 
Esta aparente sociedade democrática torna-se, ao 
contrário do Feudalismo, uma organização social 
extremamente dinâmica e movimentada; a própria noção 
de tempo é alterada: “tempo é dinheiro”. A visão de 
mundo torna-se individualizada e competitiva: “cada um 
por si e Deus por todos”. Nasce a idéia moderna de 
progresso; aparecem novos inventos: a locomotiva, a 
energia elétrica, o telégrafo, o microscópio, etc. Surgem 
também novas ciências como a Física e a Química 
modernas, que orientam o aumento da produção industrial. 
Nas cidades, a cada dia, surgem novas escolas, 
bibliotecas, teatros, jornais e revistas. Tudo isso faz nascer 
um espírito de otimismo, pelo qual as pessoas começam a 
achar que, finalmente, o Homem encontrou o caminho da 
civilização, do progresso permanente, da fartura e da 
riqueza. 
Na realidade, o capitalismo trouxe progresso e riqueza 
apenas para algumas pessoas, pois as indústrias 
desenvolviam-se de tal modo que seus proprietários 
(burgueses ou empresários) ficavam riquíssimos e 
poderosos, no entanto, a classe trabalhadora (que 
fabricava todos os bens) recebia um salário miserável. 
A cidade e a indústria trouxeram a esperança de uma 
vida melhor; os trabalhadores, contudo, perceberam 
rapidamente que a cidade e a indústria eram, na realidade, 
as correntes da mais nova forma de exploração: A 
Sociedade Capitalista. 
 
PROBLEMAS E CONFLITOS GERADOS PELO 
CAPITALISMO 
 
Ao entrarmos no século XX, o mundo torna-se, em 
grande parte de sua extensão, uma empresa capitalista. E, 
como já vimos, o capitalismo nasceu da decadência do 
feudalismo, na Europa, e em apenas cem anos espalhou-se 
por outras regiões do globo terrestre. 
Será com esse novo modo de viver que irão surgir 
milhares de novos problemas sociais, isto é, nunca vividos 
por alguém antes. E quais eram esses novos problemas 
sociais que o capitalismo trouxe? Podemos enumerar 
alguns: favelas, poluição, migração desordenada, doenças 
por excesso de trabalho, neuroses, suicídio, cortiços, 
prostituição, violência, criminalidade... 
Tais problemas não existiam no feudalismo, quer dizer, 
os problemas sociais no feudalismo (que existiam em 
grande quantidade) eram diferentes. 
Os problemas enumerados acima são característicos do 
capitalismo, isto é, aparecem quando a vida torna-se 
urbanizada e industrializada. 
Os trabalhadores, que sofriam as maiores conseqüências 
desses problemas, não eram uma massa inerte; ao 
contrário, sempre reagiram, lutando contra esses 
problemas sociais e contra a exploração a que estavam 
submetidos. 
Aos poucos, grupos de trabalhadores começaram a 
organizar-se em sindicatos, passando a exigir a criação de 
novas leis que os protegessem e, enfim, começaram a lutar 
com todas as armas de que dispunham. 
Todos esses conflitos e problemas sociais fizeram com 
que várias pessoas começassem a preocupar-se com a 
sociedade. Pensadores começaram a estudar o capitalismo, 
tentando entendê-lo ou buscando alternativas para 
solucionar os problemas e conflitos dessa novasociedade. 
 
NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA 
 
O homem e a sociedade passam a ser preocupação 
científica: surgem novos discursos e um novo saber sobre 
o social. Nascem, assim, a Antropologia, a Economia 
Política, e a Sociologia, fazendo com que as Ciências 
Humanas ganhassem uma nova dimensão. 
Agora podemos perceber que a ciência sociológica não 
foi fundada por uma só pessoa, mas é fruto de 
determinada situação histórica em que vários pensadores 
se destacam. 
Com a sociedade se industrializando e tornando suas 
relações mais complexas, o social passa a ser objeto de 
estudo para pessoas como Montesquieu (1689-1755) e 
Rousseau (1712-1778); o primeiro tenta explicar a origem 
das instituições políticas e escreve sobre a divisão de 
poderes no Estado. O segundo, sendo um dos precursores 
da Enciclopédia (textos que reuniam todo o conhecimento 
científico da época), reelabora aspectos da organização 
social que serviriam de bases ideológicas para a 
Revolução Francesa (1789). 
Será, porém, com Herbert Spencer (1820-1903), 
Augusto Comte (1798-1857) e Émile Durkheim (1858-
1917) que a Sociologia encontrará seus principais 
teóricos, sendo que os dois últimos são os principais 
responsáveis pelo desenvolvimento da corrente 
sociológica conhecida pelo nome de Positivismo. 
Os teóricos da Sociologia viveram numa época de 
grandes conflitos sociais, e isso, de certa forma, influiu 
para que a Sociologia tivesse, inicialmente, uma nítida 
preocupação com o restabelecimento da ordem social. 
Para Augusto Comte, por exemplo, a tarefa da Sociologia 
era muito clara: deveria ensinar as pessoas a aceitarem a 
ordem social existente. Porém, a Sociologia nem sempre 
seguiu um caminho conservador: com o passar dos anos, 
sociólogos passam a incorporar em suas análises as 
concepções de um historiador, filósofo e economista 
alemão chamado Karl Marx (1818-1883). 
Marx, assim como seu colaborador direto, Engels 
(1820-1903), não teve a preocupação de declarar-se 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
4 
sociólogo ou especialista em qualquer outra área. Ao 
desenvolver sua teoria, o materialismo histórico, a 
preocupação de Marx e Engels era a de entender a 
sociedade capitalista de forma crítica, utilizando-se dos 
recursos de outras ciências, como a Filosofia, a Economia 
e a História. 
 
DA FILOSOFIA À SOCIOLOGIA 
 
A Sociologia é uma ciência que surge apenas no século 
XIX. Seu surgimento recente poderia nos dar a ingênua 
impressão de que até aquela época os intelectuais não 
estavam preocupados com a reflexão sobre a vida social e 
coletiva. No entanto, naquele momento histórico, as 
questões que diziam respeito ao que hoje chamamos de 
“sociedade” eram pensadas sob a ótica da filosofia, 
particularmente da filosofia política. Ao aplicar os 
princípios da ciência aos estudos dos fenômenos sociais, 
os intelectuais mudaram a maneira de explicar a própria 
vida social. Na visão dos fundadores da Sociologia, os 
fenômenos que caracterizavam a modernidade, seja no 
aspecto econômico, político ou cultural, não podiam mais 
ser explicados a partir de uma visão filosófica do mundo. 
Sustentavam que era preciso partir do método 
experimental e da observação da realidade empírica. É a 
partir deste esforço que surgiu a sociologia. 
Diante do quadro de transformações da modernidade, a 
sociologia retoma os temas da filosofia política, mas busca 
substituir as questões tradicionais desta forma de 
pensamento por um novo olhar sobre o mundo humano. 
Com o surgimento da sociologia, as questões da filosofia 
política são retomadas e ampliadas, pois ela opera um 
deslocamento tanto no objeto quanto no método da 
reflexão política. Não se trata mais de se referir apenas aos 
fenômenos do poder político, como se fazia até então. O 
pensamento deveria deslocar-se para além da “pólis” ou 
mesmo do “Estado”, como fizeram os autores da filosofia 
até aquele momento. O que os estudiosos da sociologia 
desejavam é que esta nova ciência abarcasse todos os 
fenômenos sociais, incluindo a ordem econômica, política 
e cultural em um único conjunto que pudesse ser estudado 
com o auxílio do método experimental. É desta forma que 
nasce a “ciência” do “social”. 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Os conflitos e problemas sociais resultantes das novas 
relações de produção fizeram com que várias pessoas 
começassem a preocupar-se com a sociedade. Pensadores 
começaram a estudar o capitalismo, tentando entendê-lo ou 
buscando alternativas para solucionar os problemas e conflitos 
dessa nova sociedade. 
• Como os primeiros teóricos da Sociologia viveram numa época 
de grandes conflitos sociais, isso, de certa forma, influiu para 
que a Sociologia tivesse, inicialmente, uma nítida preocupação 
com o restabelecimento da ordem social. 
• Na visão dos fundadores da Sociologia, os fenômenos que 
caracterizavam a modernidade, seja no aspecto econômico, 
político ou cultural, não podiam mais ser explicados a partir de 
uma visão filosófica do mundo. Sustentavam que era preciso 
partir do método experimental e da observação da realidade 
empírica. É a partir deste esforço que surgiu a sociologia. 
• O que os estudiosos da sociologia desejavam é que esta nova 
ciência abarcasse todos os fenômenos sociais, incluindo a 
ordem econômica, política e cultural em um único conjunto que 
pudesse ser estudado com o auxílio do método experimental. 
 
 UNIDADE 3 
 
AUGUSTO COMTE 
 
Com o surgimento do método científico, os intelectuais 
do século XIX dispunham de um instrumento 
radicalmente novo para entender a sociedade e enfrentar 
os dilemas que o mundo trazia. A ciência da sociedade 
tinha pela frente três questões essenciais para a 
compreensão das transformações sociais que apontamos 
anteriormente: 1) identificar quais as causas destas 
transformações; 2) apontar as características da sociedade 
moderna; 3) discutir o que fazer diante dos problemas 
sociais. 
Foi para responder a este conjunto de questões que, em 
1830, Augusto Comte apresentou, em seu livro Curso de 
Filosofia Positiva, a ideia de fundar uma “Física Social” 
que seria um saber encarregado de aplicar o método 
científico para o estudo da sociedade. Com uma ciência 
que nos mostrasse as leis de funcionamento da sociedade, 
haveria como enfrentar os problemas do mundo moderno, 
pois a tarefa da ciência era, justamente, “prever para 
prover”. 
 
Augusto Comte (1798-1857) 
 
Em 1839, Augusto Comte alterou o nome desta ciência 
para “sociologia” (do latim “socius” e do grego “logos” 
que significa estudo do social), nome que perdura até hoje. 
Augusto Comte é considerado, comumente, como o 
fundador da sociologia, razão pela qual o estudo de seu 
pensamento é o ponto de partida para o entendimento 
histórico desta disciplina. 
Comte também é conhecido por ter dedicado os anos 
finais da sua vida à organização da “religião da 
humanidade” para a qual escreveu até um catecismo: o 
“Catecismo Positivista”. Em sua igreja ou religião, a 
deusa razão ocupava o lugar da crença em divindades; 
grandes pensadores, o lugar dos santos; bem como havia 
festas religiosas e determinações sobre a organização dos 
templos. Esta doutrina filosófica exerceu enorme 
influência no Brasil que adotou o lema deste pensador em 
sua bandeira nacional: “ordem e progresso”. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
5 
Apesar da característica religiosa da fase final de sua 
vida, Augusto Comte pode ser considerado um dos mais 
destacados representantes do movimento iluminista, ou 
seja, daquela concepção de que a razão (ou a ciência) deve 
ocupar o lugar da religião na organização da sociedade. 
Entre as influências diretas que Comte recebeu do 
Iluminismo é importante lembrar a importância de 
Condorcet (1743-1794). Em sua principal obra, “Esboço 
de um quadro histórico dos progressos do espírito 
humano”, este pensador sustenta que assim como Galileuaplicou o método matemático ao estudo da realidade 
física, a precisão do cálculo deveria também ser estendida 
ao estudo dos fenômenos sociais. 
A ideia de aplicar os métodos das ciências da natureza 
para o estudo da sociedade receberia um impulso ainda 
maior com Saint Simon (1760-1825), de quem Augusto 
Comte foi colaborador entre os anos 1817 e 1824. Um dos 
primeiros escritores a pensar a realidade da sociedade 
industrial, Saint Simon, retomou a ideia básica de 
Condorcet, no sentido de aplicar as descobertas do método 
científico ao estudo dos fatos morais (sociais), com a 
intenção de torná-la uma ciência positiva”: “Não há duas 
ordens de coisas, há apenas uma: é a ordem física”, dizia 
este pensador. Para Saint Simon, a sociedade moderna 
modificou o mundo feudal, baseado na aliança entre o 
poder espiritual (igreja) e o poder temporal (militar). A 
reorganização da sociedade moderna exigia a união entre 
a ciência positiva (novo poder espiritual) e os empresários 
(novo poder temporal), visando o pleno desenvolvimento 
e equilíbrio do mundo industrial nascente. Desta maneira, 
o mundo dos conflitos militares da sociedade medieval 
seria substituído pela união pacífica de todos na sociedade 
industrial. 
Foi retomando e desenvolvendo estas ideias que 
Augusto Comte é considerado fundador do positivismo. 
Em seu sentido amplo (filosófico), o positivismo está 
relacionado a um forte sentimento antimetafísico que 
postula que as formas de conhecimento não científicas (ou 
que não são passíveis de demonstração empírica) são 
destituídas de significado. Em um sentido restrito 
(sociológico), o positivismo significa uma determinada 
maneira de entender o uso do método científico na 
sociologia: trata-se da noção de que a sociologia deve 
adotar os métodos das ciências da natureza. A dimensão 
filosófica diz respeito à ciência em geral, enquanto a 
dimensão sociológica diz respeito à ciência sociológica 
em particular. 
 
FILOSOFIA POSITIVISTA 
 
Em sua acepção filosófica, o positivismo traduz-se pela 
famosa “Lei dos três estados” (ou estágios), pela qual 
Comte enuncia sua concepção de ciência. No “Curso de 
Filosofia Positiva” é o próprio autor que afirma ter 
descoberto uma “lei fundamental” que explica o 
desenvolvimento da inteligência humana em suas diversas 
esferas de atividades. De acordo com ele: “essa lei 
consiste em que cada uma de nossas concepções 
principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa 
sucessivamente por três estados históricos diferentes: 
estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, 
estado científico ou positivo” (COMTE, 1978, p.4). Em 
cada uma destas fases, o homem tem diferentes formas de 
explicar os fenômenos da realidade. Vejamos como isto 
ocorre. 
 
1) Estado teológico: “No estado teológico, o espírito 
humano [...] apresenta os fenômenos como produzidos 
pela ação direta e continua de agentes sobrenaturais mais 
ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica 
todas as anomalias existentes no universo” (p. 4). Nesta 
etapa já se percebe que os fenômenos são explicados 
através de “causas”, mas elas são atribuídas à divindade. 
Em obra posterior, Comte vai dividir o estágio teológico 
nas seguintes subfases. 
a) Fetichismo: o homem confere vida, ação e poderes 
sobrenaturais aos seres inanimados e aos animais. 
b) Politeísmo: o homem atribui às diversas potências 
sobrenaturais, ou deuses, certos traços da natureza humana 
(motivações, vícios e virtudes, etc.); 
c) Monoteísmo: quando se desenvolve a crença em um deus 
único. 
 
2) Estado metafísico: Nesta etapa predomina o conhecimento 
filosófico e, especialmente a metafísica, com a sua busca pelas 
causas primeiras e pela essência dos entes: 
 
No estado metafísico, que no fundo nada mais é do 
que uma simples modificação geral do primeiro, os 
agentes sobrenaturais são substituídos por forças 
abstratas, verdadeiras entidades (abstrações 
personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, 
e concebidos como capazes de engendrar por elas 
próprias todos os fenômenos observados, cuja 
explicação consiste, então, em determinar para cada um 
uma entidade correspondente (p.4). 
 
3) Estado positivo ou científico: Nesta fase, o 
conhecimento científico substituiu a filosofia e sua busca 
pela origem e destino do universo. O papel da ciência é 
determinar as leis que explicam a ocorrência e existência 
de todos os fenômenos observáveis: 
 
Enfim, no estado positivo, o espírito humano, 
reconhecendo a impossibilidade de obter noções 
absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do 
universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, 
para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao 
uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas 
leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de 
sucessão e de similitude (p.4). 
 
O que este esquema deixa claro é que, do ponto de vista 
filosófico, o positivismo sustenta que a ciência é a única 
explicação razoável e legítima para a realidade. A religião 
e a filosofia são etapas transitórias na evolução do saber 
humano e serão substituídas pelo avanço do conhecimento 
científico. Para a visão positivista, formas de 
conhecimento que não estejam fundamentadas no método 
experimental da ciência são destituídas de significado, 
pois não são passíveis de confirmação ou refutação. Daí 
advém o caráter cientificista e radicalmente antimetafísico 
do positivismo. 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
6 
 
SOCIOLOGIA POSITIVISTA 
 
Positivismo significa muito mais do que a afirmação da 
superioridade da ciência sobre os outros saberes. Ele 
representa também um modelo de ciência, quer dizer, uma 
concepção específica de como o saber científico deve 
proceder para explicar a realidade. Para entendermos 
como este modelo influenciou a dimensão sociológica do 
pensamento de Augusto Comte, vejamos como ele 
concebia o histórico da ciência. 
As ciências não evoluíram todas ao mesmo tempo. 
Quando a humanidade chegou ao estado positivo, foi 
necessário que elas de desenvolvessem de acordo com a 
complexidade de seus objetos, começando pelos mais 
simples até chegar aos mais complexos. A história das 
ciências também comporta fases. Segundo Comte (1978, 
p.9): “já que agora o espírito humano fundou a física 
celeste; a física terrestre [...]; a física orgânica, seja 
vegetal, seja animal; resta-lhe, para terminar o sistema das 
ciências da observação, funda a física social”. Em outros 
termos, o caminhar da ciência envolve os seguintes 
passos: 
 
Matemática → Astronomia → Física → Química → Biologia → Sociologia 
 
Neste esquema, a sociologia é a última das ciências, 
aquela que completaria o quadro geral do conhecimento 
positivo. A sociologia é entendida por Comte de modo 
amplo, incluindo-se nela todo o conjunto das chamadas 
ciências humanas, como a filosofia, a história, a moral, a 
psicologia, a política, a economia, etc. Como a sociologia 
representa uma continuidade quase natural em relação aos 
outros tipos de ciência (física, química, biologia, etc.), 
Comte achava que ela teria que proceder da mesma forma 
que estas ciências, ou seja, sua função seria estabelecer 
um sistema completo de leis que explicassem o 
comportamento dos homens na sociedade: 
 
Entendo por Física Social a ciência que tem por 
objeto próprio ou estudo dos fenômenos sociais, 
considerados com o mesmo espírito que os fenômenos 
astronômicos, químicos e fisiológicos, isto é, como 
submetidos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é 
o objetivo especial de suas pesquisas [...]. O espírito 
dessa ciência consiste, sobretudo, em ver, no estudo 
aprofundado do passado, a verdadeira explicação do 
presente e a manifestação geral do futuro (COMTE, 
1989, p.53). 
 
As ciências possuíam a mesma forma de proceder e, 
cabia à sociologia, ciência aindaem desenvolvimento, 
adotar o método das ciências já maduras e desenvolvidas. 
O que Comte propunha era uma “ciência natural da 
sociedade”. Mais tarde, ao trocar o nome de “Física 
Social” por “Sociologia”, ele retoma esta ideia: 
Acredito que devo arriscar, desde agora, este termo 
novo, sociologia, exatamente equivalente à minha 
expressão, já introduzida, de física social, a fim de 
poder designar por um nome único esta parte 
complementar da filosofia natural que se relaciona com 
o estudo positivo do conjunto das leis fundamentais 
apropriadas aos fenômenos sociais (COMTE, 1989, 
p.61). 
 
Do ponto de vista metodológico, a sociologia deveria 
ser dividida em dois campos essenciais: a estática e a 
dinâmica. 
a) Estática social: estudo das condições constantes da 
sociedade ou da ordem; 
b) Dinâmica social: estudo das leis de desenvolvimento 
histórico de qualquer sociedade, ou seja, do progresso. 
Com base nestes dois elementos, Comte fez uma análise 
da sociedade de seu tempo e concluiu que o problema 
central das sociedades modernas era a falta de harmonia 
entre a dimensão da ordem e do progresso. Na sociedade 
medieval, o poder espiritual da igreja garantia a ordem e a 
harmonia social, mas faltava o desenvolvimento 
tecnológico, pois a sociedade era dominada por um 
espírito guerreiro. Neste tipo de sociedade existia um 
poder teológico-militar. Com o advento da sociedade 
moderna, a partir da Revolução Francesa e da Revolução 
Industrial, a sociedade impulsionou o progresso, mas a 
ordem social foi abalada por intensas transformações. Era 
necessário harmonizar estes princípios através de uma 
revolução espiritual. Na nascente sociedade industrial, a 
organização social deveria ser dirigida por um novo poder 
espiritual – os cientistas – e um novo poder temporal: os 
empresários industriais. Criar as ideias capazes de fundir a 
ordem com o progresso era a meta do pensamento 
comtiano. 
A filosofia positivista e a sociologia positivista estão 
intimamente ligadas, pois a primeira serve como base 
epistemológica para a segunda. De acordo com a versão 
filosófica do positivismo, a única explicação coerente da 
realidade e dada pela ciência que consiste em explicar a 
realidade a partir de relações necessárias entre os 
fenômenos (como fazem as ciências da natureza). É desta 
premissa que deriva a concepção positivista de sociologia 
que advoga que cabe à sociologia adotar o método das 
ciências naturais e verificar quais são as leis que operam 
na realidade social. 
Nos anos 20 e 30, os pressupostos do positivismo 
filosófico foram retomados e ampliados por um grupo de 
pensadores aglutinados sob a denominação de “Círculo de 
Viena”, “positivismo lógico” ou “empirismo lógico”. 
Essencialmente antimetafísicos e defensores de uma 
ciência radicalmente empirista faziam parte deste grupo 
autores como Moritz Schlick (1882-1936), Rudolf Carnap 
(1891-1970), Otto Neurath (1882-1945) e Ernest Nagel 
(1901-1985), entre outros. Atualmente os pressupostos do 
positivismo, enquanto postura filosófica, são fortemente 
questionados pelos autores do chamado “pós-positivismo” 
como Karl Popper (1902-1994), Thomas Kuhn (1922-
1996), Paul Feyerabend (1924-1994) e Imre Lakatos 
(1922-1974). No campo da sociologia, a ideia de unidade 
do método científico (entre ciências naturais e humanas) e 
a postura de radical neutralidade política da sociologia 
foram defendidas no decorrer dos anos 60 e 70 do século 
XX por teóricos como Talcott Parsons (1902-1979) e pelo 
próprio Karl Popper. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
7 
Ainda que as ideias de Augusto Comte estejam 
amplamente superadas, elas lançaram as bases da 
sociologia. Reunindo as contribuições dos principais 
pensadores do seu tempo, este autor teve o mérito de 
propor uma definição e um método para o estudo dos 
fenômenos sociais que até então ainda não havia sido 
formulada. É por essa razão que Augusto Comte é 
considerado como o pai fundador da sociologia. 
(SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. Marx, Durkheim e Weber. 
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2013. pp. 21-22; 27-33) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Em seu sentido amplo (filosófico), o positivismo está 
relacionado a um forte sentimento antimetafísico que postula 
que as formas de conhecimento não científicas (ou que não são 
passíveis de demonstração empírica) são destituídas de 
significado. Em um sentido restrito (sociológico), o positivismo 
significa uma determinada maneira de entender o uso do 
método científico na sociologia: trata-se da noção de que a 
sociologia deve adotar os métodos das ciências da natureza. A 
dimensão filosófica diz respeito à ciência em geral, enquanto a 
dimensão sociológica diz respeito à ciência sociológica em 
particular. 
• O que este esquema deixa claro é que, do ponto de vista 
filosófico, o positivismo sustenta que a ciência é a única 
explicação razoável e legítima para a realidade. A religião e a 
filosofia são etapas transitórias na evolução do saber humano e 
serão substituídas pelo avanço do conhecimento científico. 
• Comte fez uma análise da sociedade de seu tempo e concluiu 
que o problema central das sociedades modernas era a falta de 
harmonia entre a dimensão da ordem e do progresso. Com o 
advento da sociedade moderna, a partir da Revolução Francesa 
e da Revolução Industrial, a sociedade impulsionou o progresso, 
mas a ordem social foi abalada por intensas transformações. 
Era necessário harmonizar estes princípios através de uma 
revolução espiritual. Na nascente sociedade industrial, a 
organização social deveria ser dirigida por um novo poder 
espiritual – os cientistas – e um novo poder temporal: os 
empresários industriais. Criar as ideias capazes de fundir a 
ordem com o progresso era a meta do pensamento comtiano. 
• De acordo com a versão filosófica do positivismo, a única 
explicação coerente da realidade e dada pela ciência que 
consiste em explicar a realidade a partir de relações 
necessárias entre os fenômenos (como fazem as ciências da 
natureza). É desta premissa que deriva a concepção positivista 
de sociologia que advoga que cabe à sociologia adotar o 
método das ciências naturais e verificar quais são as leis que 
operam na realidade social. 
 
 
 
 
 
 UNIDADE 4 
 
KARL MARX 
 
A CRÍTICA DE MARX AO IDEALISMO HEGELIANO 
 
Marx fez uma crítica radical do idealismo hegeliano, na 
qual afirma que Hegel inverte a relação entre o que é 
determinante – a realidade material – e o que é 
determinado – as representações e conceitos acerca dessa 
realidade. A filosofia idealista seria, assim, uma grande 
mistificação que pretende entender o mundo real, 
concreto, como manifestação de uma Razão absoluta. 
Contrapondo sua filosofia ao idealismo de Hegel, Marx 
afirma: 
 
Os pressupostos com os quais começamos não são 
arbitrários, nem dogmas, são pressupostos reais dos 
quais só é possível abstrair na imaginação. Os nossos 
pressupostos são os indivíduos reais, a sua ação e as 
suas condições materiais de vida. 
Marx, Karl. Ideologia Alemã. 
 
Marx procurou, portanto, compreender a história real 
dos homens em sociedade a partir das condições materiais 
nas quais eles vivem. Essa visão da história foi chamada 
posteriormente, por seu companheiro de estudos Friedrich 
Engels, materialismo histórico. 
 
VISÃO MATERIALISTA DA HISTÓRIA 
 
De acordo com o pensamento de Marx, os homens não 
podem ser pensados de forma abstrata, como na filosofia 
de Hegel, nem de forma isolada, como nas filosofias de 
Feuerbach, de Proudhon e de tantos outros que Marx 
criticou, como Schopenhauer e Kierkegaard. 
Para Marx, não existe o indivíduo formado fora das 
relações sociais. Ele enfatiza esse ponto ao afirmar: “A 
essência humana (...) é o conjunto das relações sociais”. 
Isso significa que a forma como os indivíduos se 
comportam, agem, sentem e pensam se vincula com a 
forma como se dão as relações sociais. Essas relaçõessociais, por seu lado, são determinadas pela forma de 
produção da vida material, ou seja, pela maneira como os 
homens trabalham e produzem os meios necessários para 
a sustentação material das sociedades. Em seu livro 
Ideologia Alemã, Marx desenvolve essa reflexão dizendo: 
 
O modo pelo qual os homens produzem os seus meios 
de vida depende inicialmente da constituição mesma dos 
meios de vida encontrados aí e a ser produzidos. Este 
modo da produção não deve ser considerado só o 
segundo aspecto de ser a reprodução da existência 
física dos indivíduos. Ele já é uma maneira determinada 
de atividade desses indivíduos, uma maneira 
determinada de manifestar em sua vida, um modo de 
vida determinado. Os indivíduos são assim como 
manifestam a sua vida. O que eles são coincide, 
portanto, com a sua produção, tanto com o que 
produzem quanto também com o como produzem. 
Portanto, o que os indivíduos são depende das 
condições materiais da sua produção. 
 
Esse é um ponto fundamental da filosofia de Marx. Ao 
falar da produção material da vida, ele não se refere 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
8 
apenas à produção das inúmeras coisas necessárias á 
manutenção física dos indivíduos. Ele está considerando 
também o fato de que, ao produzirem todas essas coisas, 
os homens constroem a si mesmos como indivíduos. Isso 
ocorre porque, segundo Marx, “o modo de produção da 
vida material condiciona o processo geral de vida social, 
política e espiritual”. 
 
 
Karl Marx (1818-1883) 
 
Compreende-se aí a importância que Marx deu a análise 
do trabalho. Ele reconhece o trabalho como atividade 
fundamental do ser humano, e analisa os fatores que o 
tornaram uma atividade massacrante e alienada no 
capitalismo. Essa demonstração se desenvolve em vários 
textos, mas de forma mais rigorosa em O Capital, livro 
em que expõe a lógica do modo de produção capitalista, 
no qual a força de trabalho e transformada em uma 
mercadoria como outra qualquer, paga pelo salário; por 
outro lado, é a única mercadoria que produz valor, ou seja 
que reproduz o capital. 
Marx também estende o desenvolvimento histórico-
social como decorrente das transformações ocorridas no 
modo de produção. Nessa análise, ele se vale dos 
princípios da dialética, mas como afirma o posfácio da 
segunda edição de O Capital, “meu método dialético não 
só difere do hegeliano, mas é também a sua antítese 
direta”. Marx reconhece o mérito de Hegel por ter sido o 
primeiro a expor as formas gerais da dialética, mas alega 
que é preciso desmitificá-la, expondo o seu núcleo 
racional. 
Na concepção hegeliana, a dialética se torna 
instrumento de legitimação da realidade existente. Já no 
pensamento de Marx a dialética leva ao entendimento da 
possibilidade de negação dessa realidade “porque 
apreende cada forma existente no fluxo do movimento, 
portanto também com seu lado transitório”. Ou seja, a 
dialética em Marx permite compreender a história em seu 
movimento, em que cada etapa é vista não como algo 
estático e definitivo, mas como algo transitório, que pode 
ser transformado pela ação humana. 
De acordo com Marx, as grandes transformações 
históricas se deram primeiramente no campo da economia, 
causadas por contradições geradas no interior do próprio 
modo de produção. Diferentemente de Hegel, no entanto 
Marx não concebe uma história que anda sozinha, guiada 
por uma Razão ou um Espírito, mas sim uma história feita 
pelos homens, que interferem no processo histórico e 
podem, dessa forma, transformar a realidade social, 
sobretudo se alterarem seu modo de produção. 
Modo de produção é a maneira como se organiza a 
produção material em um dado estágio de 
desenvolvimento social. Essa maneira depende do 
desenvolvimento das forças produtivas (a força de 
trabalho humano e os meios de produção, tais como 
máquinas, ferramentas etc.) e da forma das relações de 
produção. 
Embora a definição dos modos e produção seja um 
aspecto complexo na obra de Marx e entre os seus 
comentadores, temos no livro Ideologia Alemã a 
exposição dos seguintes modos de produção dominantes 
em cada época: o comunismo primitivo, o escravismo na 
Antiguidade, o feudalismo na Idade Média e o capitalismo 
na Idade Moderna. 
Ele afirma que a passagem de um modo de produção a 
outro se dá no momento em que o nível de 
desenvolvimento das forças produtivas entra em 
contradição com as relações sociais de produção. Quando 
isso ocorre, há um sufocamento da produção em virtude 
da inadequação das relações nas quais ela se dá. Nesse 
momento, surgem as possibilidades objetivas de 
transformação desse modo de produção. Cabe à classe 
social que possui um caráter revolucionário naquele 
momento intervir através de ações concretas, práticas, 
para que essas transformações ocorram. 
Foi o que aconteceu, por exemplo, na passagem do 
feudalismo ao capitalismo, através das revoluções burguesas. 
Marx sintetiza essa análise na afirmação de que a luta de 
classes é o motor da história, isto é, a luta de classes faz a 
história se mover. Por isso, no Manifesto Comunista (1848), 
escrito em parceria com Engels, Marx afirma: 
 
A história de todas as sociedades que existiram até 
nossos dias tem sido a história das lutas de classes. 
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e 
servo, mestre de corporação e aprendiz; numa palavra, 
opressores e oprimidos, em constante oposição, tem 
vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora 
disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por 
uma transformação revolucionária da sociedade inteira, 
ou pela destruição das duas classes em luta. 
 
De acordo com Marx, o capitalismo também criou uma 
classe revolucionária que, em virtude de suas condições de 
existência, deve se organizar para, no momento oportuno, 
fazer a revolução social rumo ao socialismo. Essa classe 
revolucionária é o proletariado. 
A filosofia de Marx influenciou o mundo contemporâneo, 
em termos teóricos e práticos, inspirando correntes 
filosóficas, movimentos operários e revoluções. No entanto, 
quase 150 anos após a publicação de suas obras, grande 
parte de seu pensamento ainda não foi plenamente 
compreendida, sendo objeto de muitos estudos e discussões. 
(COTRIM, Gilberto: Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 
São Paulo: Editora Saraiva. 2002. pp.200-202) 
 
MARX E OS MODOS DE PRODUÇÃO 
 
O conceito de modo de produção ocupa um lugar 
central na teoria da História e nas concepções econômicas 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
9 
de Karl Marx. [...] Marx identifica o modo de produção 
com a estrutura (ou infraestrutura) da sociedade, que seria 
o conjunto das relações de produção. Em outros escritos, 
porém, o modo de produção é definido como as relações 
de produção mais as forças produtivas. De qualquer modo, 
as primeiras estão intimamente relacionadas com as 
segundas, formando um todo orgânico que está na base da 
sociedade. É sobre essa base, diz Marx, que se ergue a 
cultura, a organização política e as ideologias (inclusive as 
religiões) dessa sociedade. Existem, assim, dois níveis na 
concepção marxista da sociedade: o da infraestrutura 
(relações de produção e forças produtivas) e o da 
superestrutura (Estado, Igreja, cultura, etc.) 
Na produção social da própria vida, os homens 
estabelecem relações determinadas, necessárias e 
independentes da sua vontade. Essas relações de produção 
correspondem a uma determinada etapa do 
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. 
A totalidade dessas relações de produção forma a 
estrutura econômica da sociedade. Essa estrutura é a base 
real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e 
política e à qual correspondem formas sociais 
determinadas de consciência. 
O modo de produção da vida material condiciona o 
processo de vida social, política e espiritual. Ou seja, não é 
a consciênciados homens que determina o seu ser, mas, ao 
contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. 
Em determinada etapa de seu desenvolvimento, as 
forças produtivas entram em contradição com as relações 
de produção existentes. Essas relações – o regime de 
propriedade, por exemplo –, que antes eram formas de 
desenvolvimento das forças produtivas, transformam-se 
em seu maior obstáculo. 
Sobrevém, então, uma época de revolução social. 
Mas uma formação social nunca desaparece antes que 
estejam desenvolvidas todas as suas forças produtivas. E 
novas relações de produção mais adiantadas não substituem 
as antigas antes que suas condições materiais de existência 
tenham sido geradas no próprio seio da velha sociedade. 
(Adaptado de: Marx, Karl: Para a crítica da economia política. 
In: Marx. São Paulo: Abril Cultural. 1978. pp.129-130) 
 
UM NOVO MODO DE PRODUÇÃO? 
 
Marx tinha em alta conta os feitos econômicos e 
culturais da burguesia e acreditava que o capitalismo tinha 
ainda muito fôlego para estimular o desenvolvimento das 
forças produtivas. Mas considerava que, em algum 
momento, esse avanço da tecnologia e das formas de 
organização do trabalho entraria em choque com as 
relações de produção capitalista, tal como ocorrera sob o 
feudalismo. Nesse momento, pensava ele, ocorreria uma 
revolução nos países capitalistas mais desenvolvidos que 
colocaria o proletariado, ou classe operária, no poder. A 
partir de então, o capitalismo seria substituído pelo 
socialismo, um novo modo de produção. 
 
MARX E A CRÍTICA AO CAPITALISMO 
 
Em seu livro O Capital, Marx procurou mostrar as 
contradições internas do capitalismo e a inevitabilidade de 
sua substituição pelo socialismo. Segundo ele, o valor de 
um bem é determinado pela quantidade de trabalho 
socialmente necessário para a sua produção. Assim o lucro 
não se realiza no momento da troca de mercadorias, mas 
sim na produção dessas mercadorias. Isso acontece porque 
os trabalhadores não recebem o valor correspondente a 
seu trabalho, mas só o necessário para sua sobrevivência. 
O valor da força de trabalho de um assalariado, como de 
toda mercadoria, é estabelecido pelo tempo de trabalho 
necessário para produzir os bens destinados a garantir a 
sobrevivência do trabalhador. Isso se expressa em 
alimentos, moradia, tempo para descansar, etc. O valor de 
todos esses bens consumidos pelo operário diariamente é 
o valor de sua força de trabalho. 
Suponhamos que um operário trabalhe oito horas por 
dia na produção de sapatos, Para repor sua força de 
trabalho, ele precisa alimentar-se e descansar. 
Suponhamos ainda que o valor dos bens consumidos por 
ele para repor suas energias em um dia seja igual ao valor 
produzido por ele em seis horas de trabalho na produção 
de sapatos. Para garantir sua sobrevivência, portanto, 
bastaria a ele trabalhar seis horas por dia, mas ele trabalha 
mais duas horas na fábrica do patrão. Essas duas horas a 
mais representam o que Marx chamava de sobretrabalho 
(ou trabalho excedente), e é delas que sai o lucro do patrão 
na forma inicial de mais-valia. 
Desse modo, na análise de Marx, a mais-valia consiste 
na diferença entre o valor (expresso em horas de trabalho) 
incorporado a um bem e o pagamento do trabalho 
necessário para sua reposição (o salário). A essência do 
capitalismo seria a apropriação privada (isto é, pelo 
capitalista) dessa mais-valia, que dá origem ao lucro. 
No escravismo e no feudalismo, a classe dominante se 
apropriava do fruto do trabalho, consumindo-o. No 
capitalismo, a classe dominante apropria-se de mais-valia 
(ou lucro), mas não a consome totalmente. Boa parte dela 
é investida e reinvestida na produção. A esse investimento 
permanente se dá o nome de acumulação de capital. 
Por capital, entende-se o dinheiro, a mercadoria ou os 
meios de produção – ou uma combinação dos três – 
aplicados de tal forma que levem aos trabalhadores 
assalariados a produzir mercadorias e mais-valia. Ou seja, 
não é todo tipo de dinheiro que funciona como capital. Só 
é capital aquele dinheiro (ou meios de produção) 
empregado de tal modo que produza mais-valia por meio 
do trabalho assalariado. 
Ainda segundo Marx, o capitalismo, diferentemente dos 
modos de produção anteriores, não funciona para que as 
coisas fiquem sempre do mesmo jeito. Por sua própria 
natureza, ele precisa crescer, acumular e reinvestir parte 
da mais-valia na produção, aumentando sempre o lucro e a 
produtividade. Ou seja, as forças produtivas devem estar 
em permanente desenvolvimento. 
(OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 
São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 157-158) 
 
 
AS CLASSES SOCIAIS 
 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
10 
Para Marx, o capitalismo organiza-se de modo a dar 
origem a duas classes sociais: os empresários (ou 
burgueses) e os trabalhadores (ou proletários). 
Uma pessoa é considerada como pertencente à classe 
dos empresários quando possui capital, isto é, quando é 
proprietária dos meios de produção e compradora de força 
de trabalho. Nesse sentido, os empresários seriam os 
donos das indústrias, das grandes fazendas, dos bancos ou 
do grande comércio. Por outro lado, uma pessoa é 
considerada como pertencente à classe trabalhadora 
quando não tem nada, a não ser sua capacidade de 
trabalhar (forca de trabalho), que vende ao empresário em 
troca de um salário. Nesse sentido, os trabalhadores 
seriam os operários, os camponeses, bancários, 
balconistas, auxiliares de escritório, empregadas 
domésticas, professores, secretárias etc. 
Estas duas classes, segundo Marx, relacionam-se de 
modo a criar um conflito. Como? 
Estudando a lei da mais-valia, percebemos que os 
empresários exploram os trabalhadores, não lhes pagando 
tudo aquilo que produziram. Assim, ao receberem um 
salário baixo, os trabalhadores são condenados a se 
alimentarem mal, a se vestirem mal, a morar em péssimas 
condições e ter uma saúde deficiente. E para tentar mudar 
tal modo de vida é preciso que os trabalhadores 
organizem-se no bairro, nas escolas e fábricas, exigindo 
dos empresários, ou do Estado, o direito a uma vida digna. 
No entanto, aumentar o salário ou dar condições de vida 
digna ao trabalhador implica diminuir o lucro. Como o 
empresário não quer perder seus privilégios surge daí um 
conflito social: Empresários lutando por mais lucro contra 
trabalhadores lutando por uma vida melhor, é o que Marx 
define por luta de classes. 
Marx realizou uma pesquisa numa fábrica de cerâmica 
da Inglaterra, em 1860, e colheu alguns dados que 
demonstram que vários operários começaram a trabalhar 
aos 7 e 8 anos de idade, num horário que se estendia das 6 
da manhã às 9 horas da noite, isto é, 15 horas de trabalho 
diário para uma criança. Outra pesquisa realizada em 1862 
demonstra que, de 19 operários, 6 contraíram doenças 
devido ao excesso de trabalho. 
Marx atribuiu aos trabalhadores a condição de classe 
revolucionária, quer dizer, aquela classe que pode 
contribuir para a construção de uma nova sociedade sem 
exploradores nem explorados, por sua capacidade de se 
organizar e de lutar por seus direitos. 
Entretanto, esta classe revolucionária não é homogênea; 
sociólogos contemporâneos afirmam que no interior da 
classe trabalhadora existem diversas divisões que podem 
dificultar a união dos trabalhadores em função de uma luta 
em comum. Estas diferenças culturais na classe 
trabalhadora são originadas por profissões diferentes, pela 
cor ou pelo sexo. Por exemplo, os valores e problemas da 
mulher que é, ao mesmo tempo, mãe, dona de casa e 
trabalhadora são diferentes dos do homem. Um operário 
qualificado e possuidor de casa própria pode ter um 
comportamento social e político diferente de um operário 
não qualificado, residente numa favela. 
Um trabalhador negro, por sua vez, além de ser 
explorado emseu emprego, sofre o problema de 
discriminação racial. Uma adolescente, por outro lado, é 
obrigada a obedecer a seu chefe no escritório, a seu pai em 
casa e, muitas vezes, até o seu namorado. 
Todas essas situações de vida são muito diferentes entre 
si, e, por isso, quando tentamos fazer uma referência à 
classe trabalhadora em seu comportamento cultural e 
político, temos que levar em consideração algumas dessas 
diferenças. Um outro exemplo: enquanto que para os 
trabalhadores da cidade é importante lutar por saneamento 
básico (rede de água, esgoto, limpeza pública), para os 
trabalhadores do campo o mais importante pode ser a 
reforma agrária (divisão de terras, acesso aos implementos 
agrícolas etc.). 
Assim, ao afirmarmos que a classe trabalhadora é 
revolucionária, temos que admitir que essa classe só pode 
mudar a sociedade na multiplicidade de sua prática social. 
 
A ORIGEM DOS PROBLEMAS SOCIAIS 
 
Para o Materialismo Histórico, no capitalismo, a origem 
dos problemas sociais não é o resultado de uma crise 
moral (caso patológico ou anomia) como afirmava 
Durkheim. Ao contrário, Marx demonstra que se existe 
desemprego, favelas ou criminalidade, é porque a forma 
pela qual as pessoas trabalham no capitalismo gera formas 
de exploração da classe empresarial sobre a classe 
trabalhadora. 
A partir daí, percebemos que será analisando as formas 
distintas de organização do trabalho (economia) que 
descobriremos o real funcionamento de uma sociedade. 
Assim, se o compromisso do Positivismo é a 
manutenção e preservação da sociedade capitalista, o 
compromisso do Materialismo Histórico será realizar uma 
crítica radical dessa sociedade, ressaltando suas 
contradições e concluindo que a sociedade é um fenômeno 
transitório, isto é, possível de ser transformado. 
Para Marx, a mudança social, ou seja, a Revolução 
poderá surgir no momento em que a classe trabalhadora 
possa organizar-se e lutar para a criação de uma nova 
sociedade: o Socialismo. Portanto, segundo o marxismo, a 
superação dos problemas sociais no capitalismo não se dá, 
como pensava Durkheim, através da ciência, mas sim, 
através da luta política. 
Essa superação dos problemas sociais não é, no entanto, 
uma tarefa fácil. A classe dos empresários utiliza-se de 
formas específicas de dominação para impedir a 
organização e luta dos trabalhadores por seus direitos. 
Essas formas de dominação nós resumiremos em: o papel 
do Estado e da ideologia. 
 
O ESTADO 
 
Marx não desenvolveu aquilo que poderíamos chamar 
de uma Teoria do Estado. Sobre o que vem a ser Estado 
em nossa sociedade, Marx fez apenas algumas referências. 
Dentre essas, entende que o Estado é a instituição que tem 
mais poder sobre os indivíduos, isto é, a partir do 
monopólio que o Estado tem dos meios de violência ele 
pode controlar a vida das pessoas. Mas o que significa o 
monopólio dos meios de violência? 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
11 
Significa ter o controle quase que absoluto dos 
armamentos e do corpo repressivo (polícia). Esses meios 
de violência, segundo os positivistas, visam assegurar o 
bom desenvolvimento social. Ao contrário, para Marx, 
isso é apenas um pretexto, pois, na realidade, o Estado 
seria um instrumento político dos empresários para 
controlarem os trabalhadores. 
Em outras palavras, a classe dos empresários, para 
subjugar os trabalhadores, precisa, às vezes, utilizar-se da 
violência, mas, para que a classe trabalhadora aceite a 
violência sem se revoltar, é preciso que ela apareça como 
algo natural, isto é, como uma lei da sociedade, dando a 
impressão de que sofre os efeitos da violência somente a 
pessoa que romper com a ordem das leis sociais. 
Isso legitima uma violência organizada pelo Estado que 
diz existir para manter a ordem social, sendo, na verdade, 
instrumento de dominação da classe trabalhadora. 
Esta visão sobre o Estado, no entanto, foi alterada nos 
dias de hoje a partir dos estudos de alguns sociólogos 
contemporâneos. Dentre estes sociólogos que 
continuariam a obra de Marx, no que diz respeito ao 
estudo do Estado, podemos citar dois: Antonio Gramsci e 
Nicos Poulantzas. 
 
 
Antonio Gramsci (1891-1937) 
 
 
Nicos Poulantzas (1936-1979) 
 
Para esses sociólogos, o Estado está a serviço dos 
interesses da classe empresarial; no entanto, estudando 
vários movimentos sociais, é possível perceber que nem 
sempre o Estado é um órgão de violência organizada 
contra a classe trabalhadora. Existem momentos históricos 
em que o Estado pode aparecer como o representante da 
classe trabalhadora. Como isso é possível? 
Devemos levar em consideração que o atual aparelho de 
Estado da sociedade capitalista é um órgão extremamente 
complexo e nem sempre é possível defender os interesses 
da classe empresarial, pois, no momento em que a classe 
trabalhadora se organiza dentro dos movimentos 
populares (na luta política), passa a ser forte e, através da 
pressão, acaba abrindo espaços de participação dentro do 
Estado, obrigando este a levar em consideração os 
interesses das classes exploradas contra os exploradores. 
Uma coisa, porém, é certa: se a classe trabalhadora não 
se organiza e não pressiona os órgãos estatais, estes nunca 
estarão a serviço do povo. 
 
A IDEOLOGIA 
 
Também é uma forma de dominação e controle sobre os 
trabalhadores, só que se apresenta de forma mais eficiente 
que a ação do Estado. Para entender o que seja ideologia, 
é importante, em primeiro lugar, saber que as pessoas, 
quando travam relações entre si através do trabalho, 
pensam e refletem, criando representações simbólicas 
(pensamentos, idéias). 
Aquilo que as pessoas pensam sobre a forma de como 
elas trabalham influi para que entendam sua própria vida 
social. 
Antonio Gramsci afirmava que a forma mais elaborada 
de pensar recebe o nome de Filosofia. A filosofia 
capitalista, no entanto, desenvolve-se através de poucas 
pessoas (os intelectuais), pois requer conhecimentos 
adquiridos numa educação especializada a que poucos têm 
acesso. 
Ao lado da filosofia temos o senso comum, que nada 
mais é do que o conjunto de pensamentos e conclusões 
sobre a vida feitos pelas pessoas comuns, feitos por nós. 
Só que na forma mais simplificada. Tais pensamentos e 
conclusões são a forma de pensar presente no povo. 
No seu conjunto, a filosofia capitalista (como 
elaboração de pensamento) e o senso comum (como a 
difusão do pensamento na sua forma mais simples) 
formam a estrutura ideológica da nossa sociedade. Em 
resumo: podemos definir a ideologia como sendo a 
elaboração do pensamento através da filosofia e sua 
difusão através do senso comum, a partir da forma de 
como os homens se relacionam no trabalho. 
Assim, quando afirmamos que existe uma dominação 
através da ideologia, queremos dizer que as pessoas que 
elaboram direta ou indiretamente a filosofia capitalista 
preocupam-se em transmitir uma visão de mundo acrítica 
e passiva, para que seja aceita a exploração como sendo 
algo natural, que sempre existiu e sempre existirá. 
Em nossa sociedade atual podemos afirmar que as 
fontes, isto é, os instrumentos para impor a ideologia são: 
a escola, os meios de comunicação de massa, clubes, 
entidades assistenciais, seitas e alguns setores da religião. 
Assim, para Marx, os empresários utilizam-se tanto do 
Estado quanto da ideologia para controlar os 
trabalhadores, isto é, para explorá-los sem que eles 
percebam. 
(MEKSENAS, Paulo. Aprendendo Sociologia. A paixão de conhecer a 
vida. 
São Paulo: Edições Loyola, 1985. pp. 84-90) 
 
 
 
 
O ESTADO COMO PRODUTO E INSTRUMENTO DE 
CONTROLE DA CLASSE DOMINANTE 
 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
12 
Para os filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels, 
a sociedade humana primitiva era uma sociedade sem 
classes e sem estado. Nessa sociedade pré-civilizada, as 
funções administrativaseram exercidas pelo conjunto dos 
membros da comunidade (clã, tribo etc.). 
Num determinado estágio do desenvolvimento histórico 
das sociedades humanas, certas funções administrativas, 
antes exercidas pelo conjunto da comunidade, tornaram-se 
privativas de um grupo separado de pessoas que detinha 
força para impor normas e organização à vida coletiva. 
Teria sido através desse núcleo de pessoas que se 
desenvolveu o Estado. 
 
 
Friedrich Engels (1820-895) 
 
Assim, para Marx e Engels, o Estado nem sempre 
existiu. Durante milênios, inúmeras sociedades teriam 
vivido sem ele. O Estado surgiu quando, num certo 
estágio de desenvolvimento econômico, também surgiram 
as desigualdades de classes e os conflitos entre explorados 
e exploradores. O papel do Estado é amortecer o choque 
desses conflitos, evitando uma luta direta entre as classes 
antagônicas. Mas conforme escreveu Engels: 
 
Como o Estado nasceu da necessidade de conter o 
antagonismo das classes, e como, ao mesmo tempo, 
nasceu em meio ao conflito delas, é, por regra geral, o 
Estado da classe mais poderosa, da classe dominante, 
classe que, por intermédio dele, se converte em classe 
politicamente dominante e adquire novos meios para a 
repressão e exploração da classe oprimida. Assim, o 
Estado antigo foi, sobretudo, o Estado dos senhores de 
escravos para manter os escravos subjugados; o Estado 
feudal foi o órgão de que se valeu a nobreza para 
manter a sujeição dos servos e camponeses 
dependentes; e o moderno Estado representativo é o 
instrumento de que se serve o capital para explorar o 
trabalho assalariado. Entretanto, por exceção, há 
períodos em que as lutas de classes se equilibram de tal 
modo que o poder do Estado, como mediador aparente, 
adquire certa independência momentânea em face das 
classes. 
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado, 
p. 193-94 
 
Em resumo, podemos dizer que Marx e Engels rejeitam, 
de modo geral, a teoria do Estado como simples mediador 
da luta de classes. Em vez disso, concebem o Estado 
atuando geralmente como um instrumento do domínio de 
classe. Na sociedade capitalista, por exemplo, o domínio 
de classe identifica-se diretamente com a “proteção da 
propriedade privada” dos que possuem, contrariando os 
interesses daqueles que nada têm. Proteger a propriedade 
privada capitalista implica preservar as relações sociais, as 
normas jurídicas, enfim, a segurança dos proprietários 
burgueses. 
Essa concepção do Estado como instrumento de 
dominação de uma classe sobre a outra estabelece, 
portanto, uma relação entre as condições materiais de 
existência de determinada sociedade e a forma de Estado 
que ela adota. Ou seja, o Estado é determinado pela 
estrutura social de modo a atender às demandas 
específicas de uma dada forma de sociabilidade, 
garantindo que essa forma se mantenha. Isso significa que 
o Estado só é necessário devido ao “caráter anti-social 
desta vida civil”. Ou seja, o Estado existe para administrar 
os problemas causados pela forma anti-social (desigual, 
excludente) da sociedade civil. E ele só poderia deixar de 
existir quando a sociedade não fosse mais dividida em 
classes antagônicas. 
Assim, Marx diferenciou-se de todos os outros autores 
anteriores porque sua crítica ao Estado não visava atingir 
uma ou outra forma de Estado, mas a essência mesma do 
Estado, de qualquer Estado: o Estado se origina 
exatamente das insuficiências de uma sociedade em 
realizar em si mesma, de forma concreta, os ideais 
universalistas, ou seja, em garantir em sua dinâmica a 
igualdade de condições sociais. Ele nasce da desigualdade 
para manter a desigualdade. 
(COTRIM, Gilberto: “Fundamentos da filosofia: história e grandes 
temas”. São Paulo: Editora Saraiva. 2002. pp. 307-308) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Marx afirma que a passagem de um modo de produção a outro 
se dá no momento em que o nível de desenvolvimento das 
forças produtivas entra em contradição com as relações sociais 
de produção. Essas relações – o regime de propriedade, por 
exemplo –, que antes eram formas de desenvolvimento das 
forças produtivas, transformam-se em seu maior obstáculo. 
Sobrevém, então, uma época de revolução social. 
• O modo de produção da vida material condiciona o processo 
de vida social, política e espiritual. Ou seja, não é a consciência 
dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu 
ser social que determina sua consciência. 
• O modo de produção é composto pelas relações de produção 
mais as forças produtivas. É sobre essa base, diz Marx, que se 
ergue a cultura, a organização política e as ideologias (inclusive 
as religiões) dessa sociedade. Existem, assim, dois níveis na 
concepção marxista da sociedade: o da infraestrutura (relações 
de produção e forças produtivas) e o da superestrutura (Estado, 
Igreja, cultura, etc.) 
• Segundo ele, o valor de um bem é determinado pela 
quantidade de trabalho socialmente necessário para a sua 
produção. Assim o lucro não se realiza no momento da troca de 
mercadorias, mas sim na produção dessas mercadorias. Isso 
acontece porque os trabalhadores não recebem o valor 
correspondente a seu trabalho, mas só o necessário para sua 
sobrevivência. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
13 
• Na análise de Marx, a mais-valia consiste na diferença entre o 
valor (expresso em horas de trabalho) incorporado a um bem e 
o pagamento do trabalho necessário para sua reposição (o 
salário). A essência do capitalismo seria a apropriação privada 
(isto é, pelo capitalista) dessa mais-valia, que dá origem ao 
lucro. 
• Marx e Engels rejeitam, de modo geral, a teoria do Estado 
como simples mediador da luta de classes. Em vez disso, 
concebem o Estado atuando geralmente como um instrumento 
do domínio de classe. Na sociedade capitalista, por exemplo, o 
domínio de classe identifica-se diretamente com a “proteção da 
propriedade privada” dos que possuem, contrariando os 
interesses daqueles que nada têm. 
 
 
 UNIDADE 5 
 
ÉMILE DURKHEIM 
 
Caberia à sociologia, segundo Durkheim, a apreensão e 
o estudo sistemático das realidades sociais dos indivíduos. 
Para tanto, o sociólogo deveria utilizar das mesmas 
ferramentas utilizadas pelas ciências anteriores: o método 
científico e a observação empírica. Essa era uma das 
principais preocupações de Durkheim: estabelecer as 
fundações e as formas de estudo da sociologia. 
 
 
Émile Durkheim (1858-1917) 
 
No entanto, Durkheim acreditava que a principal função 
da sociologia era o estudo dos fatos sociais. A sociologia 
deveria se abster de estudar as individualidades dos 
sujeitos e se debruçar sobre estudos generalistas acerca 
dos fatos sociais, que são definidos por Durkheim como 
os aspectos de nossa sociedade que moldam as nossas 
ações em sociedade, tais como nossa língua, o Estado e a 
moral. 
Segundo Durkheim, os fatos sociais possuem três 
características principais: 
 São externos ao indivíduo, ou seja, os fatos sociais 
existem independentemente de nossas vontades 
individuais, 
 São de natureza coercitiva, o que quer dizer que eles 
possuem força para nos “obrigar” a agir de 
determinada maneira sob a ameaça de punições como 
o isolamento social, por exemplo, no caso de um 
comportamento socialmente inaceitável, 
 São também generalistas, ou seja, atingem a todos sem 
exceções. 
Para que possamos compreender melhor, peguemos 
como exemplo a língua que falamos. Ela se constitui um 
fato social na medida em que nos é externa, existindo 
independentemente de nossa vontade; é coercitiva, uma 
vez que a não utilização de uma língua compreensível em 
um meio social pode acarretar no isolamento social; e é 
generalista, uma vez que todos os que nascem em um 
determinado local, acabam por aprender a se comunicar 
com uma mesma língua ou linguagem. 
(http://www.mundoeducacao.com/sociologia/emile-durkheim.htm) 
 
A OBJETIVIDADE DO FATO SOCIAL 
 
Após a identificaçãoe caracterização dos fatos sociais, 
Durkheim tentou definir o método de conhecimento da 
Sociologia. Para o pensador e para os positivistas, o 
cientista social precisa manter certa distância e 
neutralidade em relação aos fatos sociais, para resguardar 
a objetividade da sua análise, ou seja, “a primeira regra e a 
mais fundamental é considerar os fatos sociais como 
coisas” (DURKHEIM, p. 15, grifos do autor). O sociólogo 
precisa deixar de lado suas pré-noções, que são valores e 
sentimentos pessoais em relação aos acontecimentos a ser 
estudados, porque podem distorcer a realidade dos fatos. 
Não pode haver envolvimento afetivo entre o cientista e 
seu objeto, e a neutralidade exige a não interferência do 
pesquisador no fato observado. Por isso, o trabalho 
científico exigia a eliminação de quaisquer riscos de 
subjetividade e uma atitude de distanciamento. Os fatos 
sociais deveriam ser encarados como coisas, como objetos 
que, sendo-lhe exteriores, deveriam ser medidos, 
observados e comparados, independentemente do que os 
indivíduos envolvidos pensassem ou declarassem a seu 
respeito. Todo esse rigor com o método era para garantir o 
sucesso da Sociologia como ciência, assim como eram as 
pesquisas das ciências exatas. 
“É preciso, portanto, considerar os fenômenos sociais em si 
mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os 
concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas 
exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a 
nós. Se essa exterioridade for apenas aparente, a ilusão se 
dissipará à medida que a ciência avançar e veremos, por 
assim dizer, o de fora entrar no de dentro. Mas a solução não 
pode ser preconcebida e, mesmo que eles não tivessem afinal 
todos os caracteres intrínsecos da coisa, deve-se primeiro 
tratá-los como se os tivessem. Essa regra aplica-se portanto à 
realidade social inteira, sem que haja motivos para qualquer 
exceção. Mesmo os fenômenos que mais parecem consistir 
em arranjos artificiais devem ser considerados desse ponto de 
vista. O caráter convencional de uma prática ou de uma 
instituição jamais deve ser presumido. Aliás, se nos for 
permitido invocar nossa experiência pessoal, acreditamos 
poder assegurar que, procedendo dessa maneira, com 
frequência se terá a satisfação de ver os fatos aparentemente 
mais arbitrários apresentarem após uma observação mais 
atenta dos caracteres de constância e de regularidade, 
sintomas de sua objetividade (DURKHEIM, 2007, p. 28-29, 
grifos do autor). 
Para tanto, Durkheim estabelece três regras para o 
sociólogo estudar os fatos sociais: 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
14 
1ª regra: [...] devemos afastar sistematicamente todas as 
pré-noções [...]”(DURKHEIM, 2007, p. 54); 
2ª regra: [...] Nunca tomar como objeto de investigação 
senão um grupo de fenômenos previamente definidos por 
certas características exteriores que lhe sejam comuns, e 
incluir na mesma investigação todos os que correspondem 
a esta definição [...] (DURKHEIM, 2007, p.57); 
3ª regra: “Quando o sociólogo empreende a exploração 
de uma ordem qualquer de fatos sociais, deve esforçar-se 
por considerá-los sob um ângulo em que eles se 
apresentem isolados das suas manifestações individuais 
[...] (DURKHEIM, 2007, p.65). 
 
A SOCIEDADE COMO UM ORGANISMO VIVO: 
ENTRE A NORMALIDADE E A PATOLOGIA 
 
A finalidade dos fatos sociais é estudar e entender a 
própria sociedade. Como Durkheim tem por base o 
positivismo e considera a sociedade um organismo vivo, 
consequentemente, esse “organismo vivo” chamado 
sociedade possui estados “normais” (saudáveis) e/ou 
“patológicos” (doentios). “[...] tal como para os 
indivíduos, a saúde é boa e desejável também às 
sociedades, ao contrário da doença, que é coisa má e de se 
evitar. Se encontrarmos um critério, objetivo, inerente aos 
próprios fatos, que nos permita distinguir cientificamente 
a saúde da doença nas diferentes ordens de fenômenos 
sociais, a ciência estará em condições de esclarecer a 
prática permanecendo fiel ao seu próprio método” 
(DURKHEIM, 2007, p.69). 
E complementa: “Chamaremos normais aos fatos que 
apresentam as formas mais gerais e daremos aos outros o 
nome de mórbidos ou de patológicos. Se 
convencionarmos chamar tipo médio ao ser esquemático 
que resultaria da reunião num todo, numa espécie de 
individualidade abstrata, das características mais 
frequentes na espécie com as suas formas mais frequentes, 
poder-se-á dizer que o tipo normal se confunde com o tipo 
médio, e que qualquer desvio em relação a este padrão da 
saúde é um fenômeno mórbido” (DURKHEIM, 2007, 
p.74). Durkheim considera patológico aquilo que põe em 
risco a harmonia de uma sociedade, aquilo que se encontra 
fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral 
vigente. Os fatos patológicos, como as doenças, são 
considerados transitórios e excepcionais (COSTA, 1997). 
 (KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia 
para vestibular e Enem.Introdução e Conceitos Básicos. 
São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 30-31) 
 
A SOCIOLOGIA E O ESTADO 
 
“(...) O Estado é um órgão especial, encarregado de 
elaborar certas representações que valem para a 
coletividade. Estas representações se distinguem das 
outras representações coletivas por grau mais alto de 
consciência e de reflexão (...) O Estado é, para falar 
com rigor, o órgão mesmo do pensamento social. Nas 
condições presentes, esse pensamento está voltado para 
um fim prático (...) O Estado, ao menos em geral, não 
pensa por pensar, para construir sistemas de doutrinas, 
e, sim, para dirigir a conduta coletiva” 
 
Como interpretar esta definição de Estado? Partindo do 
princípio de que a sociedade capitalista foi concebida por 
Durkheim como um corpo que, às vezes, fica doente, esse 
corpo, para funcionar bem, depende de que todas as suas 
partes estejam funcionando harmonicamente. A 
responsabilidade de desenvolver o funcionamento 
harmônico de todas as partes da sociedade cabe ao Estado. 
Em outras palavras, se a sociedade é o corpo, o estado é o 
seu cérebro e por isso tem a função de organizar essa 
sociedade, reelaborando aspectos da consciência coletiva. 
Durkheim admitia que o Estado é uma instituição que 
tem o poder de elaborar leis que corrijam os casos 
patológicos da sociedade. Em resumo: se cabe à 
sociologia observar, entender e classificar os casos 
patológicos, procurando criar uma nova moral social, cabe 
ao Estado colocar em prática os princípios dessa nova 
moral. 
Neste contexto, a Sociologia e o Estado complementam-
se na organização da sociedade para, na prática, evitarem 
os problemas sociais. Isso levou Durkheim a acreditar que 
os sociólogos devessem ter uma participação direta dentro 
do Estado. 
 
CONSCIÊNCIA COLETIVA 
 
Por esse termo, Durkheim traduz a idéia do que seja o 
Psíquico Social. Cada indivíduo tem uma “psiqué”, isto é, 
um jeito de pensar e agir, de entender a vida. Assim, cada 
um de nós possui uma consciência individual que faz parte 
de nossa personalidade. Esta, porém, não é a única forma 
de consciência: existe também aquela formada pelas idéias 
comuns que estão presentes em todas as consciências 
individuais de uma sociedade. 
Essas idéias comuns formam a base para uma 
consciência de sociedade: uma primeira consciência que 
determina a nossa conduta e que não é individual, mas 
social e geral, denominada por Durkheim de Consciência 
Coletiva. 
A consciência coletiva é objetiva, isto é, ela não vem de 
uma só pessoa ou grupo, mas está difusa (espalhada) em 
toda a sociedade, e, por isso ela é exterior ao indivíduo, 
quer dizer, a consciência coletiva não é o que um 
indivíduo pensa, mas é o que a sociedade pensa. Por isso a 
consciência coletiva age sobre o indivíduo de forma 
coercitiva, isto é, exerce uma autoridade sobre o modo de 
como o indivíduo deve agir no seu meio social.

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