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Sociologia 
 
ENEM 
 
1 
SOCIOLOGIA 
 
 UNIDADE 1 
 
A RELAÇÂO HOMEM, NATUREZA, 
TRABALHO E SOCIEDADE 
 
O homem é um ser natural, isto é, um ser que faz parte 
integrante da natureza; não se poderia conceber o conjunto 
da natureza sem ela inserir a espécie humana. Ao mesmo 
tempo em que se constitui em ser natural, o homem 
diferencia-se da natureza, que é, como diz Marx (1984, p. 
111), “o corpo inorgânico do homem”; para sobreviver, 
ele precisa com ela se relacionar, já que dela provêm as 
condições que lhe permitem se perpetuar enquanto 
espécie. Não se pode, portanto, conceber o homem sem a 
natureza e nem a natureza sem o homem. 
Na busca das condições para a sua sobrevivência, o ser 
humano – assim como outros animais – atua sobre a 
natureza e, por meio desta interação, satisfaz suas 
necessidades. No entanto, diferentemente de outros 
animais, o homem não se limita ao imediatismo das 
situações com que se depara; ele ultrapassa limites, já que 
produz universalmente (para além de sua sobrevivência 
pessoal e de sua prole), não se restringindo às 
necessidades que se revelam no aqui e agora. 
A ação humana não é apenas biologicamente 
determinada, mas se dá principalmente pela incorporação 
de experiências e conhecimentos produzidos e 
transmitidos de geração a geração. A transmissão dessas 
experiências e conhecimentos – por meio da educação e 
da cultura – permite que a nova geração não volte ao 
ponto de partida da que a precedeu. 
A atuação do homem diferencia-se da do animal porque, 
ao alterar a natureza por meio da sua ação, ele a torna 
humanizada. Ao mesmo tempo, o homem altera a si 
próprio por intermédio dessa interação; ele vai se 
construindo, vai se diferenciando cada vez mais das outras 
espécies animais. A interação homem-natureza é um 
processo permanente de mútua transformação: esse é o 
processo de produção da existência humana. 
É o processo de produção da existência humana porque 
o ser humano vai se modificando, alterando aquilo que é 
necessário à sua sobrevivência. Velhas necessidades 
adquirem características diferentes; até mesmo as 
necessidades consideradas básicas – por exemplo, a 
alimentação – refletem as mudanças ocorridas no homem; 
os hábitos e necessidades alimentares são hoje muito 
diferentes do que foram em outros momentos. A alteração, 
no entanto, não se limita à transformação de velhas 
necessidades: o homem cria novas necessidades, que 
passam a ser tão fundamentais quanto as chamadas 
necessidades básicas à sua sobrevivência. 
É o processo de produção da existência humana porque 
o homem não só cria artefatos, instrumentos, como 
também desenvolve ideias (conhecimentos, valores, 
crenças) e mecanismos para a sua elaboração 
(desenvolvimento do raciocínio, planejamento...). A 
criação de instrumentos, a formulação de ideias e formas 
específicas de elaborá-los – características identificadas 
como eminentemente humanas – são fruto da interação 
homem-natureza. Por mais sofisticadas que possam 
parecer as ideias são produtos que exprimem as relações 
que o homem estabelece com a natureza na qual se insere. 
É o processo da produção da existência humana porque 
cada interação reflete uma natureza modificada, pois nela 
se inserem criações antes inexistentes, e reflete, também, 
um homem já modificado, pois suas necessidades, 
condições e caminhos para satisfazê-las são outros que 
foram construídos pelo próprio homem. É nesse processo 
que o homem adquire consciência de que está 
transformando a natureza para adaptá-la a suas 
necessidades, característica que vai diferenciá-lo: a ação 
humana, ao contrário da de outros animais, é intencional e 
planejada; em outras palavras, o homem sabe que sabe. 
O processo de produção da existência humana é um 
processo social. O ser humano não vive isoladamente, ao 
contrário, depende de outros para sobreviver. Há 
interdependência dos seres humanos em todas as formas 
da atividade humana; quaisquer que sejam as suas 
necessidades – da produção de bens à elaboração de 
conhecimentos, costumes, valores –, elas são criadas, 
atendidas e transformadas a partir da organização e do 
estabelecimento de relações entre os homens. 
Na base de todas as relações humanas, determinando e 
condicionando a vida, está o trabalho – uma atividade 
humana intencional, que envolve formas de organização, 
objetivando a produção dos bens necessários à vida 
humana. Essa organização implica uma dada maneira de 
dividir o trabalho necessário à sociedade e é determinada 
pelo nível técnico e pelos meios existentes para o trabalho, 
ao mesmo tempo em que os condiciona. A forma de 
organizar o trabalho determina também a relação entre os 
homens, inclusive quanto à propriedade dos instrumentos 
e matérias utilizados e à apropriação do produto do 
trabalho. 
As relações de trabalho – a forma de dividi-lo, organizá-
lo –, ao lado do nível técnico dos instrumentos de 
trabalho, dos meios disponíveis para a produção de bens 
materiais, compõem a base econômica de uma dada 
sociedade. 
É essa base econômica que determina as formas 
políticas, jurídicas e o conjunto das ideias que existem em 
cada sociedade. É a transformação dessa base econômica, 
a partir dessas contradições que ela mesma engendra, que 
leva à transformação de toda a sociedade, implicando um 
novo modo de produção e uma nova forma de organização 
política e social. Por exemplo, nas sociedades tribais 
(comuns), o grupo social organizava-se por sexo e idade 
para produzir os bens necessários à sua sobrevivência. Às 
mulheres e crianças cabiam determinadas tarefas, e aos 
homens, outras. Essa primeira divisão do trabalho, além 
de garantir a sobrevivência do grupo, gerou um conjunto 
de instrumentos, técnicas, valores, costumes, crenças, 
conhecimentos, organização familiar etc. A propriedade 
dos instrumentos de trabalho, bem como a propriedade do 
produto do trabalho (a caça, o peixe etc.), era de toda a 
comunidade. A transmissão das técnicas, valores, 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
2 
conhecimentos etc. era feita, basicamente, por meio da 
comunicação oral e do contato pessoal, diferentemente do 
que ocorre atualmente. Já na Grécia Antiga, por volta de 
800 a.C., o comércio, fundado na exportação e importação 
agrícola e artesanal, é a base da atividade econômica, e há 
um nível técnico de produção desenvolvido ao lado de 
uma organização política na forma de cidades-Estado. 
Nessa sociedade, além da divisão do trabalho cidade-
campo, ocorre uma divisão entre os produtores de bens e 
os donos da produção: os produtores não detêm a 
propriedade da terra, nem os instrumentos de trabalho, 
nem o próprio produto do seu trabalho; são, em sua 
maioria, eles mesmos, propriedade de outros homens. 
Nessa sociedade, as relações estabelecidas entre os 
homens são desiguais: alguns vivem do produto do 
trabalho de outros, e a produção de conhecimento é 
desenvolvida por aqueles que não executam o trabalho 
manual. 
As ideias, como um dos produtos da existência humana, 
sofrem as mesmas determinações históricas. As ideias são 
a expressão das relações e atividades reais do homem, 
estabelecidas no processo de produção da sua existência. 
Elas são a representação daquilo que o homem faz, da sua 
maneira de viver, da forma como se relaciona com outros 
homens, do mundo que o circunda e das suas próprias 
necessidades. Marx e Engels afirmam: 
 
A produção de ideias, de representações e da consciência 
está em primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade 
material e ao comércio material dos homens; é a linguagem 
da vida real (...). Não é a consciência que determina a vida, 
mas sim a vida que determina a consciência. (1980, p. 25-26) 
 
Isso não significa que o homem crie suas representações 
mecanicamente: aquilo que o homem faz, acredita, 
conhece e pensa sobre interferênciatambém das ideias 
(representações) anteriormente elaboradas; ao mesmo 
tempo, as novas representações geram transformações na 
produção da sua existência. 
O desenvolvimento do homem e da sua história não 
depende de um único fator. Ele ocorre a partir das 
necessidades materiais; estas, bem como a forma de 
satisfazê-las, a forma de se relacionar para tal, as próprias 
ideias, o próprio homem e a natureza que o circunda, são 
interdependentes, formando uma rede de referências 
recíprocas. Daí decorre ser esse um processo de 
transformação infinito, em que o próprio homem se 
produz. Nesse processo do desenvolvimento humano 
multideterminado, que envolve inter-relações e 
interferências recíprocas entre ideias e condições 
materiais, a base econômica será o determinante 
fundamental. Tais condições econômicas, em sociedades 
baseadas na propriedade privada, resultam em grupos com 
interesses conflitantes, com possibilidades diferentes no 
interior da sociedade, ou seja, resultam num conflito entre 
classes. Em qualquer sociedade onde existam relações que 
envolvam interesses antagônicos, as ideias refletem essas 
diferenças. E, embora acabem por predominar aquelas que 
representam os interesses do grupo dominante, a 
possibilidade mesma de se produzir ideias que 
representam a realidade do ponto de vista de outro grupo 
reflete a possibilidade de transformação que está presente 
na própria sociedade. Portanto, é de se esperar que, num 
dado momento, existam representações diferentes e 
antagônicas do mundo. Por exemplo, hoje, tanto as ideias 
políticas que pretendem conservar as condições existentes 
quanto as que pretendem transformá-las correspondem a 
interesses específicos às várias classes sociais. 
Dentre as ideias que o homem produz, parte delas 
constitui o conhecimento referente ao mundo. O 
conhecimento humano, em suas diferentes formas (senso 
comum, científico, teológico, filosófico, estético etc.), 
exprime as condições materiais de um dado momento 
histórico. 
(ANDERY, Maria Amalia...et al. Para compreender a ciência: uma 
perspectiva histórica. 
Rio de Janeiro: Garamond, 2014. pp. 9-15) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Há interdependência dos seres humanos em todas as formas 
da atividade humana; quaisquer que sejam as suas 
necessidades – da produção de bens à elaboração de 
conhecimentos, costumes, valores -, elas são criadas, atendidas 
e transformadas a partir da organização e do estabelecimento 
de relações entre os homens. 
• As relações de trabalho – a forma de dividi-lo, organizá-lo –, 
ao lado do nível técnico dos instrumentos de trabalho, dos 
meios disponíveis para a produção de bens materiais, compõem 
a base econômica de uma dada sociedade. É essa base 
econômica que determina as formas políticas, jurídicas e o 
conjunto das ideias que existem em cada sociedade. 
• As ideias, como um dos produtos da existência humana, 
sofrem as mesmas determinações históricas. As ideias são a 
expressão das relações e atividades reais do homem, 
estabelecidas no processo de produção da sua existência. Elas 
são a representação daquilo que o homem faz, da sua maneira 
de viver, da forma como se relaciona com outros homens, do 
mundo que o circunda e das suas próprias necessidades. 
• O desenvolvimento do homem e da sua história não depende 
de um único fator. Ele ocorre a partir das necessidades 
materiais; estas, bem como a forma de satisfazê-las, a forma de 
se relacionar para tal, as próprias ideias, o próprio homem e a 
natureza que o circunda, são interdependentes, formando uma 
rede de referências recíprocas. Daí decorre ser esse um 
processo de transformação infinito, em que o próprio homem se 
produz. 
 
 UNIDADE 2 
 
O CAPITALISMO E O NASCIMENTO 
DA SOCIOLOGIA 
 
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
 
Entre os séculos XVIII e XIX, teremos a Revolução 
Industrial, momento em que a indústria têxtil inova-se 
com o tear a vapor; este possibilita uma série de outros 
inventos, que facilitam a mecanização das máquinas, 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
3 
influindo decisivamente no surgimento, juntamente com a 
burguesia, de uma nova classe social: os trabalhadores, 
classe composta pelos camponeses sem terra e artesãos 
sem suas antigas máquinas manuais. 
Esta nova classe (os trabalhadores) não terá outro 
recurso para sobreviver senão vender sua capacidade de 
trabalho à burguesia, em troca de um salário. Assim, a 
numerosa classe trabalhadora passa a constituir a classe 
dos despossuídos. 
A relação de classes que passa a existir, entre a 
burguesia e os trabalhadores, é orientada por um contrato, 
o que permite, por sua vez, a idéia de que o capitalismo é 
uma sociedade com “liberdade econômica” e “democracia 
política”, isto é, com a idéia de contrato podemos afirmar 
que o trabalhador é “livre” para escolher um emprego 
qualquer e o empresário é “livre” para empregar quem 
desejar. 
Esta aparente sociedade democrática torna-se, ao 
contrário do Feudalismo, uma organização social 
extremamente dinâmica e movimentada; a própria noção 
de tempo é alterada: “tempo é dinheiro”. A visão de 
mundo torna-se individualizada e competitiva: “cada um 
por si e Deus por todos”. Nasce a idéia moderna de 
progresso; aparecem novos inventos: a locomotiva, a 
energia elétrica, o telégrafo, o microscópio, etc. Surgem 
também novas ciências como a Física e a Química 
modernas, que orientam o aumento da produção industrial. 
Nas cidades, a cada dia, surgem novas escolas, 
bibliotecas, teatros, jornais e revistas. Tudo isso faz nascer 
um espírito de otimismo, pelo qual as pessoas começam a 
achar que, finalmente, o Homem encontrou o caminho da 
civilização, do progresso permanente, da fartura e da 
riqueza. 
Na realidade, o capitalismo trouxe progresso e riqueza 
apenas para algumas pessoas, pois as indústrias 
desenvolviam-se de tal modo que seus proprietários 
(burgueses ou empresários) ficavam riquíssimos e 
poderosos, no entanto, a classe trabalhadora (que 
fabricava todos os bens) recebia um salário miserável. 
A cidade e a indústria trouxeram a esperança de uma 
vida melhor; os trabalhadores, contudo, perceberam 
rapidamente que a cidade e a indústria eram, na realidade, 
as correntes da mais nova forma de exploração: A 
Sociedade Capitalista. 
 
PROBLEMAS E CONFLITOS GERADOS PELO 
CAPITALISMO 
 
Ao entrarmos no século XX, o mundo torna-se, em 
grande parte de sua extensão, uma empresa capitalista. E, 
como já vimos, o capitalismo nasceu da decadência do 
feudalismo, na Europa, e em apenas cem anos espalhou-se 
por outras regiões do globo terrestre. 
Será com esse novo modo de viver que irão surgir 
milhares de novos problemas sociais, isto é, nunca vividos 
por alguém antes. E quais eram esses novos problemas 
sociais que o capitalismo trouxe? Podemos enumerar 
alguns: favelas, poluição, migração desordenada, doenças 
por excesso de trabalho, neuroses, suicídio, cortiços, 
prostituição, violência, criminalidade... 
Tais problemas não existiam no feudalismo, quer dizer, 
os problemas sociais no feudalismo (que existiam em 
grande quantidade) eram diferentes. 
Os problemas enumerados acima são característicos do 
capitalismo, isto é, aparecem quando a vida torna-se 
urbanizada e industrializada. 
Os trabalhadores, que sofriam as maiores conseqüências 
desses problemas, não eram uma massa inerte; ao 
contrário, sempre reagiram, lutando contra esses 
problemas sociais e contra a exploração a que estavam 
submetidos. 
Aos poucos, grupos de trabalhadores começaram a 
organizar-se em sindicatos, passando a exigir a criação de 
novas leis que os protegessem e, enfim, começaram a lutar 
com todas as armas de que dispunham. 
Todos esses conflitos e problemas sociais fizeram com 
que várias pessoas começassem a preocupar-se com a 
sociedade. Pensadores começaram a estudar o capitalismo, 
tentando entendê-lo ou buscando alternativas para 
solucionar os problemas e conflitos dessa novasociedade. 
 
NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA 
 
O homem e a sociedade passam a ser preocupação 
científica: surgem novos discursos e um novo saber sobre 
o social. Nascem, assim, a Antropologia, a Economia 
Política, e a Sociologia, fazendo com que as Ciências 
Humanas ganhassem uma nova dimensão. 
Agora podemos perceber que a ciência sociológica não 
foi fundada por uma só pessoa, mas é fruto de 
determinada situação histórica em que vários pensadores 
se destacam. 
Com a sociedade se industrializando e tornando suas 
relações mais complexas, o social passa a ser objeto de 
estudo para pessoas como Montesquieu (1689-1755) e 
Rousseau (1712-1778); o primeiro tenta explicar a origem 
das instituições políticas e escreve sobre a divisão de 
poderes no Estado. O segundo, sendo um dos precursores 
da Enciclopédia (textos que reuniam todo o conhecimento 
científico da época), reelabora aspectos da organização 
social que serviriam de bases ideológicas para a 
Revolução Francesa (1789). 
Será, porém, com Herbert Spencer (1820-1903), 
Augusto Comte (1798-1857) e Émile Durkheim (1858-
1917) que a Sociologia encontrará seus principais 
teóricos, sendo que os dois últimos são os principais 
responsáveis pelo desenvolvimento da corrente 
sociológica conhecida pelo nome de Positivismo. 
Os teóricos da Sociologia viveram numa época de 
grandes conflitos sociais, e isso, de certa forma, influiu 
para que a Sociologia tivesse, inicialmente, uma nítida 
preocupação com o restabelecimento da ordem social. 
Para Augusto Comte, por exemplo, a tarefa da Sociologia 
era muito clara: deveria ensinar as pessoas a aceitarem a 
ordem social existente. Porém, a Sociologia nem sempre 
seguiu um caminho conservador: com o passar dos anos, 
sociólogos passam a incorporar em suas análises as 
concepções de um historiador, filósofo e economista 
alemão chamado Karl Marx (1818-1883). 
Marx, assim como seu colaborador direto, Engels 
(1820-1903), não teve a preocupação de declarar-se 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
4 
sociólogo ou especialista em qualquer outra área. Ao 
desenvolver sua teoria, o materialismo histórico, a 
preocupação de Marx e Engels era a de entender a 
sociedade capitalista de forma crítica, utilizando-se dos 
recursos de outras ciências, como a Filosofia, a Economia 
e a História. 
 
DA FILOSOFIA À SOCIOLOGIA 
 
A Sociologia é uma ciência que surge apenas no século 
XIX. Seu surgimento recente poderia nos dar a ingênua 
impressão de que até aquela época os intelectuais não 
estavam preocupados com a reflexão sobre a vida social e 
coletiva. No entanto, naquele momento histórico, as 
questões que diziam respeito ao que hoje chamamos de 
“sociedade” eram pensadas sob a ótica da filosofia, 
particularmente da filosofia política. Ao aplicar os 
princípios da ciência aos estudos dos fenômenos sociais, 
os intelectuais mudaram a maneira de explicar a própria 
vida social. Na visão dos fundadores da Sociologia, os 
fenômenos que caracterizavam a modernidade, seja no 
aspecto econômico, político ou cultural, não podiam mais 
ser explicados a partir de uma visão filosófica do mundo. 
Sustentavam que era preciso partir do método 
experimental e da observação da realidade empírica. É a 
partir deste esforço que surgiu a sociologia. 
Diante do quadro de transformações da modernidade, a 
sociologia retoma os temas da filosofia política, mas busca 
substituir as questões tradicionais desta forma de 
pensamento por um novo olhar sobre o mundo humano. 
Com o surgimento da sociologia, as questões da filosofia 
política são retomadas e ampliadas, pois ela opera um 
deslocamento tanto no objeto quanto no método da 
reflexão política. Não se trata mais de se referir apenas aos 
fenômenos do poder político, como se fazia até então. O 
pensamento deveria deslocar-se para além da “pólis” ou 
mesmo do “Estado”, como fizeram os autores da filosofia 
até aquele momento. O que os estudiosos da sociologia 
desejavam é que esta nova ciência abarcasse todos os 
fenômenos sociais, incluindo a ordem econômica, política 
e cultural em um único conjunto que pudesse ser estudado 
com o auxílio do método experimental. É desta forma que 
nasce a “ciência” do “social”. 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Os conflitos e problemas sociais resultantes das novas 
relações de produção fizeram com que várias pessoas 
começassem a preocupar-se com a sociedade. Pensadores 
começaram a estudar o capitalismo, tentando entendê-lo ou 
buscando alternativas para solucionar os problemas e conflitos 
dessa nova sociedade. 
• Como os primeiros teóricos da Sociologia viveram numa época 
de grandes conflitos sociais, isso, de certa forma, influiu para 
que a Sociologia tivesse, inicialmente, uma nítida preocupação 
com o restabelecimento da ordem social. 
• Na visão dos fundadores da Sociologia, os fenômenos que 
caracterizavam a modernidade, seja no aspecto econômico, 
político ou cultural, não podiam mais ser explicados a partir de 
uma visão filosófica do mundo. Sustentavam que era preciso 
partir do método experimental e da observação da realidade 
empírica. É a partir deste esforço que surgiu a sociologia. 
• O que os estudiosos da sociologia desejavam é que esta nova 
ciência abarcasse todos os fenômenos sociais, incluindo a 
ordem econômica, política e cultural em um único conjunto que 
pudesse ser estudado com o auxílio do método experimental. 
 
 UNIDADE 3 
 
AUGUSTO COMTE 
 
Com o surgimento do método científico, os intelectuais 
do século XIX dispunham de um instrumento 
radicalmente novo para entender a sociedade e enfrentar 
os dilemas que o mundo trazia. A ciência da sociedade 
tinha pela frente três questões essenciais para a 
compreensão das transformações sociais que apontamos 
anteriormente: 1) identificar quais as causas destas 
transformações; 2) apontar as características da sociedade 
moderna; 3) discutir o que fazer diante dos problemas 
sociais. 
Foi para responder a este conjunto de questões que, em 
1830, Augusto Comte apresentou, em seu livro Curso de 
Filosofia Positiva, a ideia de fundar uma “Física Social” 
que seria um saber encarregado de aplicar o método 
científico para o estudo da sociedade. Com uma ciência 
que nos mostrasse as leis de funcionamento da sociedade, 
haveria como enfrentar os problemas do mundo moderno, 
pois a tarefa da ciência era, justamente, “prever para 
prover”. 
 
Augusto Comte (1798-1857) 
 
Em 1839, Augusto Comte alterou o nome desta ciência 
para “sociologia” (do latim “socius” e do grego “logos” 
que significa estudo do social), nome que perdura até hoje. 
Augusto Comte é considerado, comumente, como o 
fundador da sociologia, razão pela qual o estudo de seu 
pensamento é o ponto de partida para o entendimento 
histórico desta disciplina. 
Comte também é conhecido por ter dedicado os anos 
finais da sua vida à organização da “religião da 
humanidade” para a qual escreveu até um catecismo: o 
“Catecismo Positivista”. Em sua igreja ou religião, a 
deusa razão ocupava o lugar da crença em divindades; 
grandes pensadores, o lugar dos santos; bem como havia 
festas religiosas e determinações sobre a organização dos 
templos. Esta doutrina filosófica exerceu enorme 
influência no Brasil que adotou o lema deste pensador em 
sua bandeira nacional: “ordem e progresso”. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
5 
Apesar da característica religiosa da fase final de sua 
vida, Augusto Comte pode ser considerado um dos mais 
destacados representantes do movimento iluminista, ou 
seja, daquela concepção de que a razão (ou a ciência) deve 
ocupar o lugar da religião na organização da sociedade. 
Entre as influências diretas que Comte recebeu do 
Iluminismo é importante lembrar a importância de 
Condorcet (1743-1794). Em sua principal obra, “Esboço 
de um quadro histórico dos progressos do espírito 
humano”, este pensador sustenta que assim como Galileuaplicou o método matemático ao estudo da realidade 
física, a precisão do cálculo deveria também ser estendida 
ao estudo dos fenômenos sociais. 
A ideia de aplicar os métodos das ciências da natureza 
para o estudo da sociedade receberia um impulso ainda 
maior com Saint Simon (1760-1825), de quem Augusto 
Comte foi colaborador entre os anos 1817 e 1824. Um dos 
primeiros escritores a pensar a realidade da sociedade 
industrial, Saint Simon, retomou a ideia básica de 
Condorcet, no sentido de aplicar as descobertas do método 
científico ao estudo dos fatos morais (sociais), com a 
intenção de torná-la uma ciência positiva”: “Não há duas 
ordens de coisas, há apenas uma: é a ordem física”, dizia 
este pensador. Para Saint Simon, a sociedade moderna 
modificou o mundo feudal, baseado na aliança entre o 
poder espiritual (igreja) e o poder temporal (militar). A 
reorganização da sociedade moderna exigia a união entre 
a ciência positiva (novo poder espiritual) e os empresários 
(novo poder temporal), visando o pleno desenvolvimento 
e equilíbrio do mundo industrial nascente. Desta maneira, 
o mundo dos conflitos militares da sociedade medieval 
seria substituído pela união pacífica de todos na sociedade 
industrial. 
Foi retomando e desenvolvendo estas ideias que 
Augusto Comte é considerado fundador do positivismo. 
Em seu sentido amplo (filosófico), o positivismo está 
relacionado a um forte sentimento antimetafísico que 
postula que as formas de conhecimento não científicas (ou 
que não são passíveis de demonstração empírica) são 
destituídas de significado. Em um sentido restrito 
(sociológico), o positivismo significa uma determinada 
maneira de entender o uso do método científico na 
sociologia: trata-se da noção de que a sociologia deve 
adotar os métodos das ciências da natureza. A dimensão 
filosófica diz respeito à ciência em geral, enquanto a 
dimensão sociológica diz respeito à ciência sociológica 
em particular. 
 
FILOSOFIA POSITIVISTA 
 
Em sua acepção filosófica, o positivismo traduz-se pela 
famosa “Lei dos três estados” (ou estágios), pela qual 
Comte enuncia sua concepção de ciência. No “Curso de 
Filosofia Positiva” é o próprio autor que afirma ter 
descoberto uma “lei fundamental” que explica o 
desenvolvimento da inteligência humana em suas diversas 
esferas de atividades. De acordo com ele: “essa lei 
consiste em que cada uma de nossas concepções 
principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa 
sucessivamente por três estados históricos diferentes: 
estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, 
estado científico ou positivo” (COMTE, 1978, p.4). Em 
cada uma destas fases, o homem tem diferentes formas de 
explicar os fenômenos da realidade. Vejamos como isto 
ocorre. 
 
1) Estado teológico: “No estado teológico, o espírito 
humano [...] apresenta os fenômenos como produzidos 
pela ação direta e continua de agentes sobrenaturais mais 
ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica 
todas as anomalias existentes no universo” (p. 4). Nesta 
etapa já se percebe que os fenômenos são explicados 
através de “causas”, mas elas são atribuídas à divindade. 
Em obra posterior, Comte vai dividir o estágio teológico 
nas seguintes subfases. 
a) Fetichismo: o homem confere vida, ação e poderes 
sobrenaturais aos seres inanimados e aos animais. 
b) Politeísmo: o homem atribui às diversas potências 
sobrenaturais, ou deuses, certos traços da natureza humana 
(motivações, vícios e virtudes, etc.); 
c) Monoteísmo: quando se desenvolve a crença em um deus 
único. 
 
2) Estado metafísico: Nesta etapa predomina o conhecimento 
filosófico e, especialmente a metafísica, com a sua busca pelas 
causas primeiras e pela essência dos entes: 
 
No estado metafísico, que no fundo nada mais é do 
que uma simples modificação geral do primeiro, os 
agentes sobrenaturais são substituídos por forças 
abstratas, verdadeiras entidades (abstrações 
personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, 
e concebidos como capazes de engendrar por elas 
próprias todos os fenômenos observados, cuja 
explicação consiste, então, em determinar para cada um 
uma entidade correspondente (p.4). 
 
3) Estado positivo ou científico: Nesta fase, o 
conhecimento científico substituiu a filosofia e sua busca 
pela origem e destino do universo. O papel da ciência é 
determinar as leis que explicam a ocorrência e existência 
de todos os fenômenos observáveis: 
 
Enfim, no estado positivo, o espírito humano, 
reconhecendo a impossibilidade de obter noções 
absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do 
universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, 
para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao 
uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas 
leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de 
sucessão e de similitude (p.4). 
 
O que este esquema deixa claro é que, do ponto de vista 
filosófico, o positivismo sustenta que a ciência é a única 
explicação razoável e legítima para a realidade. A religião 
e a filosofia são etapas transitórias na evolução do saber 
humano e serão substituídas pelo avanço do conhecimento 
científico. Para a visão positivista, formas de 
conhecimento que não estejam fundamentadas no método 
experimental da ciência são destituídas de significado, 
pois não são passíveis de confirmação ou refutação. Daí 
advém o caráter cientificista e radicalmente antimetafísico 
do positivismo. 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
6 
 
SOCIOLOGIA POSITIVISTA 
 
Positivismo significa muito mais do que a afirmação da 
superioridade da ciência sobre os outros saberes. Ele 
representa também um modelo de ciência, quer dizer, uma 
concepção específica de como o saber científico deve 
proceder para explicar a realidade. Para entendermos 
como este modelo influenciou a dimensão sociológica do 
pensamento de Augusto Comte, vejamos como ele 
concebia o histórico da ciência. 
As ciências não evoluíram todas ao mesmo tempo. 
Quando a humanidade chegou ao estado positivo, foi 
necessário que elas de desenvolvessem de acordo com a 
complexidade de seus objetos, começando pelos mais 
simples até chegar aos mais complexos. A história das 
ciências também comporta fases. Segundo Comte (1978, 
p.9): “já que agora o espírito humano fundou a física 
celeste; a física terrestre [...]; a física orgânica, seja 
vegetal, seja animal; resta-lhe, para terminar o sistema das 
ciências da observação, funda a física social”. Em outros 
termos, o caminhar da ciência envolve os seguintes 
passos: 
 
Matemática → Astronomia → Física → Química → Biologia → Sociologia 
 
Neste esquema, a sociologia é a última das ciências, 
aquela que completaria o quadro geral do conhecimento 
positivo. A sociologia é entendida por Comte de modo 
amplo, incluindo-se nela todo o conjunto das chamadas 
ciências humanas, como a filosofia, a história, a moral, a 
psicologia, a política, a economia, etc. Como a sociologia 
representa uma continuidade quase natural em relação aos 
outros tipos de ciência (física, química, biologia, etc.), 
Comte achava que ela teria que proceder da mesma forma 
que estas ciências, ou seja, sua função seria estabelecer 
um sistema completo de leis que explicassem o 
comportamento dos homens na sociedade: 
 
Entendo por Física Social a ciência que tem por 
objeto próprio ou estudo dos fenômenos sociais, 
considerados com o mesmo espírito que os fenômenos 
astronômicos, químicos e fisiológicos, isto é, como 
submetidos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é 
o objetivo especial de suas pesquisas [...]. O espírito 
dessa ciência consiste, sobretudo, em ver, no estudo 
aprofundado do passado, a verdadeira explicação do 
presente e a manifestação geral do futuro (COMTE, 
1989, p.53). 
 
As ciências possuíam a mesma forma de proceder e, 
cabia à sociologia, ciência aindaem desenvolvimento, 
adotar o método das ciências já maduras e desenvolvidas. 
O que Comte propunha era uma “ciência natural da 
sociedade”. Mais tarde, ao trocar o nome de “Física 
Social” por “Sociologia”, ele retoma esta ideia: 
Acredito que devo arriscar, desde agora, este termo 
novo, sociologia, exatamente equivalente à minha 
expressão, já introduzida, de física social, a fim de 
poder designar por um nome único esta parte 
complementar da filosofia natural que se relaciona com 
o estudo positivo do conjunto das leis fundamentais 
apropriadas aos fenômenos sociais (COMTE, 1989, 
p.61). 
 
Do ponto de vista metodológico, a sociologia deveria 
ser dividida em dois campos essenciais: a estática e a 
dinâmica. 
a) Estática social: estudo das condições constantes da 
sociedade ou da ordem; 
b) Dinâmica social: estudo das leis de desenvolvimento 
histórico de qualquer sociedade, ou seja, do progresso. 
Com base nestes dois elementos, Comte fez uma análise 
da sociedade de seu tempo e concluiu que o problema 
central das sociedades modernas era a falta de harmonia 
entre a dimensão da ordem e do progresso. Na sociedade 
medieval, o poder espiritual da igreja garantia a ordem e a 
harmonia social, mas faltava o desenvolvimento 
tecnológico, pois a sociedade era dominada por um 
espírito guerreiro. Neste tipo de sociedade existia um 
poder teológico-militar. Com o advento da sociedade 
moderna, a partir da Revolução Francesa e da Revolução 
Industrial, a sociedade impulsionou o progresso, mas a 
ordem social foi abalada por intensas transformações. Era 
necessário harmonizar estes princípios através de uma 
revolução espiritual. Na nascente sociedade industrial, a 
organização social deveria ser dirigida por um novo poder 
espiritual – os cientistas – e um novo poder temporal: os 
empresários industriais. Criar as ideias capazes de fundir a 
ordem com o progresso era a meta do pensamento 
comtiano. 
A filosofia positivista e a sociologia positivista estão 
intimamente ligadas, pois a primeira serve como base 
epistemológica para a segunda. De acordo com a versão 
filosófica do positivismo, a única explicação coerente da 
realidade e dada pela ciência que consiste em explicar a 
realidade a partir de relações necessárias entre os 
fenômenos (como fazem as ciências da natureza). É desta 
premissa que deriva a concepção positivista de sociologia 
que advoga que cabe à sociologia adotar o método das 
ciências naturais e verificar quais são as leis que operam 
na realidade social. 
Nos anos 20 e 30, os pressupostos do positivismo 
filosófico foram retomados e ampliados por um grupo de 
pensadores aglutinados sob a denominação de “Círculo de 
Viena”, “positivismo lógico” ou “empirismo lógico”. 
Essencialmente antimetafísicos e defensores de uma 
ciência radicalmente empirista faziam parte deste grupo 
autores como Moritz Schlick (1882-1936), Rudolf Carnap 
(1891-1970), Otto Neurath (1882-1945) e Ernest Nagel 
(1901-1985), entre outros. Atualmente os pressupostos do 
positivismo, enquanto postura filosófica, são fortemente 
questionados pelos autores do chamado “pós-positivismo” 
como Karl Popper (1902-1994), Thomas Kuhn (1922-
1996), Paul Feyerabend (1924-1994) e Imre Lakatos 
(1922-1974). No campo da sociologia, a ideia de unidade 
do método científico (entre ciências naturais e humanas) e 
a postura de radical neutralidade política da sociologia 
foram defendidas no decorrer dos anos 60 e 70 do século 
XX por teóricos como Talcott Parsons (1902-1979) e pelo 
próprio Karl Popper. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
7 
Ainda que as ideias de Augusto Comte estejam 
amplamente superadas, elas lançaram as bases da 
sociologia. Reunindo as contribuições dos principais 
pensadores do seu tempo, este autor teve o mérito de 
propor uma definição e um método para o estudo dos 
fenômenos sociais que até então ainda não havia sido 
formulada. É por essa razão que Augusto Comte é 
considerado como o pai fundador da sociologia. 
(SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. Marx, Durkheim e Weber. 
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2013. pp. 21-22; 27-33) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Em seu sentido amplo (filosófico), o positivismo está 
relacionado a um forte sentimento antimetafísico que postula 
que as formas de conhecimento não científicas (ou que não são 
passíveis de demonstração empírica) são destituídas de 
significado. Em um sentido restrito (sociológico), o positivismo 
significa uma determinada maneira de entender o uso do 
método científico na sociologia: trata-se da noção de que a 
sociologia deve adotar os métodos das ciências da natureza. A 
dimensão filosófica diz respeito à ciência em geral, enquanto a 
dimensão sociológica diz respeito à ciência sociológica em 
particular. 
• O que este esquema deixa claro é que, do ponto de vista 
filosófico, o positivismo sustenta que a ciência é a única 
explicação razoável e legítima para a realidade. A religião e a 
filosofia são etapas transitórias na evolução do saber humano e 
serão substituídas pelo avanço do conhecimento científico. 
• Comte fez uma análise da sociedade de seu tempo e concluiu 
que o problema central das sociedades modernas era a falta de 
harmonia entre a dimensão da ordem e do progresso. Com o 
advento da sociedade moderna, a partir da Revolução Francesa 
e da Revolução Industrial, a sociedade impulsionou o progresso, 
mas a ordem social foi abalada por intensas transformações. 
Era necessário harmonizar estes princípios através de uma 
revolução espiritual. Na nascente sociedade industrial, a 
organização social deveria ser dirigida por um novo poder 
espiritual – os cientistas – e um novo poder temporal: os 
empresários industriais. Criar as ideias capazes de fundir a 
ordem com o progresso era a meta do pensamento comtiano. 
• De acordo com a versão filosófica do positivismo, a única 
explicação coerente da realidade e dada pela ciência que 
consiste em explicar a realidade a partir de relações 
necessárias entre os fenômenos (como fazem as ciências da 
natureza). É desta premissa que deriva a concepção positivista 
de sociologia que advoga que cabe à sociologia adotar o 
método das ciências naturais e verificar quais são as leis que 
operam na realidade social. 
 
 
 
 
 
 UNIDADE 4 
 
KARL MARX 
 
A CRÍTICA DE MARX AO IDEALISMO HEGELIANO 
 
Marx fez uma crítica radical do idealismo hegeliano, na 
qual afirma que Hegel inverte a relação entre o que é 
determinante – a realidade material – e o que é 
determinado – as representações e conceitos acerca dessa 
realidade. A filosofia idealista seria, assim, uma grande 
mistificação que pretende entender o mundo real, 
concreto, como manifestação de uma Razão absoluta. 
Contrapondo sua filosofia ao idealismo de Hegel, Marx 
afirma: 
 
Os pressupostos com os quais começamos não são 
arbitrários, nem dogmas, são pressupostos reais dos 
quais só é possível abstrair na imaginação. Os nossos 
pressupostos são os indivíduos reais, a sua ação e as 
suas condições materiais de vida. 
Marx, Karl. Ideologia Alemã. 
 
Marx procurou, portanto, compreender a história real 
dos homens em sociedade a partir das condições materiais 
nas quais eles vivem. Essa visão da história foi chamada 
posteriormente, por seu companheiro de estudos Friedrich 
Engels, materialismo histórico. 
 
VISÃO MATERIALISTA DA HISTÓRIA 
 
De acordo com o pensamento de Marx, os homens não 
podem ser pensados de forma abstrata, como na filosofia 
de Hegel, nem de forma isolada, como nas filosofias de 
Feuerbach, de Proudhon e de tantos outros que Marx 
criticou, como Schopenhauer e Kierkegaard. 
Para Marx, não existe o indivíduo formado fora das 
relações sociais. Ele enfatiza esse ponto ao afirmar: “A 
essência humana (...) é o conjunto das relações sociais”. 
Isso significa que a forma como os indivíduos se 
comportam, agem, sentem e pensam se vincula com a 
forma como se dão as relações sociais. Essas relaçõessociais, por seu lado, são determinadas pela forma de 
produção da vida material, ou seja, pela maneira como os 
homens trabalham e produzem os meios necessários para 
a sustentação material das sociedades. Em seu livro 
Ideologia Alemã, Marx desenvolve essa reflexão dizendo: 
 
O modo pelo qual os homens produzem os seus meios 
de vida depende inicialmente da constituição mesma dos 
meios de vida encontrados aí e a ser produzidos. Este 
modo da produção não deve ser considerado só o 
segundo aspecto de ser a reprodução da existência 
física dos indivíduos. Ele já é uma maneira determinada 
de atividade desses indivíduos, uma maneira 
determinada de manifestar em sua vida, um modo de 
vida determinado. Os indivíduos são assim como 
manifestam a sua vida. O que eles são coincide, 
portanto, com a sua produção, tanto com o que 
produzem quanto também com o como produzem. 
Portanto, o que os indivíduos são depende das 
condições materiais da sua produção. 
 
Esse é um ponto fundamental da filosofia de Marx. Ao 
falar da produção material da vida, ele não se refere 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
8 
apenas à produção das inúmeras coisas necessárias á 
manutenção física dos indivíduos. Ele está considerando 
também o fato de que, ao produzirem todas essas coisas, 
os homens constroem a si mesmos como indivíduos. Isso 
ocorre porque, segundo Marx, “o modo de produção da 
vida material condiciona o processo geral de vida social, 
política e espiritual”. 
 
 
Karl Marx (1818-1883) 
 
Compreende-se aí a importância que Marx deu a análise 
do trabalho. Ele reconhece o trabalho como atividade 
fundamental do ser humano, e analisa os fatores que o 
tornaram uma atividade massacrante e alienada no 
capitalismo. Essa demonstração se desenvolve em vários 
textos, mas de forma mais rigorosa em O Capital, livro 
em que expõe a lógica do modo de produção capitalista, 
no qual a força de trabalho e transformada em uma 
mercadoria como outra qualquer, paga pelo salário; por 
outro lado, é a única mercadoria que produz valor, ou seja 
que reproduz o capital. 
Marx também estende o desenvolvimento histórico-
social como decorrente das transformações ocorridas no 
modo de produção. Nessa análise, ele se vale dos 
princípios da dialética, mas como afirma o posfácio da 
segunda edição de O Capital, “meu método dialético não 
só difere do hegeliano, mas é também a sua antítese 
direta”. Marx reconhece o mérito de Hegel por ter sido o 
primeiro a expor as formas gerais da dialética, mas alega 
que é preciso desmitificá-la, expondo o seu núcleo 
racional. 
Na concepção hegeliana, a dialética se torna 
instrumento de legitimação da realidade existente. Já no 
pensamento de Marx a dialética leva ao entendimento da 
possibilidade de negação dessa realidade “porque 
apreende cada forma existente no fluxo do movimento, 
portanto também com seu lado transitório”. Ou seja, a 
dialética em Marx permite compreender a história em seu 
movimento, em que cada etapa é vista não como algo 
estático e definitivo, mas como algo transitório, que pode 
ser transformado pela ação humana. 
De acordo com Marx, as grandes transformações 
históricas se deram primeiramente no campo da economia, 
causadas por contradições geradas no interior do próprio 
modo de produção. Diferentemente de Hegel, no entanto 
Marx não concebe uma história que anda sozinha, guiada 
por uma Razão ou um Espírito, mas sim uma história feita 
pelos homens, que interferem no processo histórico e 
podem, dessa forma, transformar a realidade social, 
sobretudo se alterarem seu modo de produção. 
Modo de produção é a maneira como se organiza a 
produção material em um dado estágio de 
desenvolvimento social. Essa maneira depende do 
desenvolvimento das forças produtivas (a força de 
trabalho humano e os meios de produção, tais como 
máquinas, ferramentas etc.) e da forma das relações de 
produção. 
Embora a definição dos modos e produção seja um 
aspecto complexo na obra de Marx e entre os seus 
comentadores, temos no livro Ideologia Alemã a 
exposição dos seguintes modos de produção dominantes 
em cada época: o comunismo primitivo, o escravismo na 
Antiguidade, o feudalismo na Idade Média e o capitalismo 
na Idade Moderna. 
Ele afirma que a passagem de um modo de produção a 
outro se dá no momento em que o nível de 
desenvolvimento das forças produtivas entra em 
contradição com as relações sociais de produção. Quando 
isso ocorre, há um sufocamento da produção em virtude 
da inadequação das relações nas quais ela se dá. Nesse 
momento, surgem as possibilidades objetivas de 
transformação desse modo de produção. Cabe à classe 
social que possui um caráter revolucionário naquele 
momento intervir através de ações concretas, práticas, 
para que essas transformações ocorram. 
Foi o que aconteceu, por exemplo, na passagem do 
feudalismo ao capitalismo, através das revoluções burguesas. 
Marx sintetiza essa análise na afirmação de que a luta de 
classes é o motor da história, isto é, a luta de classes faz a 
história se mover. Por isso, no Manifesto Comunista (1848), 
escrito em parceria com Engels, Marx afirma: 
 
A história de todas as sociedades que existiram até 
nossos dias tem sido a história das lutas de classes. 
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e 
servo, mestre de corporação e aprendiz; numa palavra, 
opressores e oprimidos, em constante oposição, tem 
vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora 
disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por 
uma transformação revolucionária da sociedade inteira, 
ou pela destruição das duas classes em luta. 
 
De acordo com Marx, o capitalismo também criou uma 
classe revolucionária que, em virtude de suas condições de 
existência, deve se organizar para, no momento oportuno, 
fazer a revolução social rumo ao socialismo. Essa classe 
revolucionária é o proletariado. 
A filosofia de Marx influenciou o mundo contemporâneo, 
em termos teóricos e práticos, inspirando correntes 
filosóficas, movimentos operários e revoluções. No entanto, 
quase 150 anos após a publicação de suas obras, grande 
parte de seu pensamento ainda não foi plenamente 
compreendida, sendo objeto de muitos estudos e discussões. 
(COTRIM, Gilberto: Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 
São Paulo: Editora Saraiva. 2002. pp.200-202) 
 
MARX E OS MODOS DE PRODUÇÃO 
 
O conceito de modo de produção ocupa um lugar 
central na teoria da História e nas concepções econômicas 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
9 
de Karl Marx. [...] Marx identifica o modo de produção 
com a estrutura (ou infraestrutura) da sociedade, que seria 
o conjunto das relações de produção. Em outros escritos, 
porém, o modo de produção é definido como as relações 
de produção mais as forças produtivas. De qualquer modo, 
as primeiras estão intimamente relacionadas com as 
segundas, formando um todo orgânico que está na base da 
sociedade. É sobre essa base, diz Marx, que se ergue a 
cultura, a organização política e as ideologias (inclusive as 
religiões) dessa sociedade. Existem, assim, dois níveis na 
concepção marxista da sociedade: o da infraestrutura 
(relações de produção e forças produtivas) e o da 
superestrutura (Estado, Igreja, cultura, etc.) 
Na produção social da própria vida, os homens 
estabelecem relações determinadas, necessárias e 
independentes da sua vontade. Essas relações de produção 
correspondem a uma determinada etapa do 
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. 
A totalidade dessas relações de produção forma a 
estrutura econômica da sociedade. Essa estrutura é a base 
real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e 
política e à qual correspondem formas sociais 
determinadas de consciência. 
O modo de produção da vida material condiciona o 
processo de vida social, política e espiritual. Ou seja, não é 
a consciênciados homens que determina o seu ser, mas, ao 
contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. 
Em determinada etapa de seu desenvolvimento, as 
forças produtivas entram em contradição com as relações 
de produção existentes. Essas relações – o regime de 
propriedade, por exemplo –, que antes eram formas de 
desenvolvimento das forças produtivas, transformam-se 
em seu maior obstáculo. 
Sobrevém, então, uma época de revolução social. 
Mas uma formação social nunca desaparece antes que 
estejam desenvolvidas todas as suas forças produtivas. E 
novas relações de produção mais adiantadas não substituem 
as antigas antes que suas condições materiais de existência 
tenham sido geradas no próprio seio da velha sociedade. 
(Adaptado de: Marx, Karl: Para a crítica da economia política. 
In: Marx. São Paulo: Abril Cultural. 1978. pp.129-130) 
 
UM NOVO MODO DE PRODUÇÃO? 
 
Marx tinha em alta conta os feitos econômicos e 
culturais da burguesia e acreditava que o capitalismo tinha 
ainda muito fôlego para estimular o desenvolvimento das 
forças produtivas. Mas considerava que, em algum 
momento, esse avanço da tecnologia e das formas de 
organização do trabalho entraria em choque com as 
relações de produção capitalista, tal como ocorrera sob o 
feudalismo. Nesse momento, pensava ele, ocorreria uma 
revolução nos países capitalistas mais desenvolvidos que 
colocaria o proletariado, ou classe operária, no poder. A 
partir de então, o capitalismo seria substituído pelo 
socialismo, um novo modo de produção. 
 
MARX E A CRÍTICA AO CAPITALISMO 
 
Em seu livro O Capital, Marx procurou mostrar as 
contradições internas do capitalismo e a inevitabilidade de 
sua substituição pelo socialismo. Segundo ele, o valor de 
um bem é determinado pela quantidade de trabalho 
socialmente necessário para a sua produção. Assim o lucro 
não se realiza no momento da troca de mercadorias, mas 
sim na produção dessas mercadorias. Isso acontece porque 
os trabalhadores não recebem o valor correspondente a 
seu trabalho, mas só o necessário para sua sobrevivência. 
O valor da força de trabalho de um assalariado, como de 
toda mercadoria, é estabelecido pelo tempo de trabalho 
necessário para produzir os bens destinados a garantir a 
sobrevivência do trabalhador. Isso se expressa em 
alimentos, moradia, tempo para descansar, etc. O valor de 
todos esses bens consumidos pelo operário diariamente é 
o valor de sua força de trabalho. 
Suponhamos que um operário trabalhe oito horas por 
dia na produção de sapatos, Para repor sua força de 
trabalho, ele precisa alimentar-se e descansar. 
Suponhamos ainda que o valor dos bens consumidos por 
ele para repor suas energias em um dia seja igual ao valor 
produzido por ele em seis horas de trabalho na produção 
de sapatos. Para garantir sua sobrevivência, portanto, 
bastaria a ele trabalhar seis horas por dia, mas ele trabalha 
mais duas horas na fábrica do patrão. Essas duas horas a 
mais representam o que Marx chamava de sobretrabalho 
(ou trabalho excedente), e é delas que sai o lucro do patrão 
na forma inicial de mais-valia. 
Desse modo, na análise de Marx, a mais-valia consiste 
na diferença entre o valor (expresso em horas de trabalho) 
incorporado a um bem e o pagamento do trabalho 
necessário para sua reposição (o salário). A essência do 
capitalismo seria a apropriação privada (isto é, pelo 
capitalista) dessa mais-valia, que dá origem ao lucro. 
No escravismo e no feudalismo, a classe dominante se 
apropriava do fruto do trabalho, consumindo-o. No 
capitalismo, a classe dominante apropria-se de mais-valia 
(ou lucro), mas não a consome totalmente. Boa parte dela 
é investida e reinvestida na produção. A esse investimento 
permanente se dá o nome de acumulação de capital. 
Por capital, entende-se o dinheiro, a mercadoria ou os 
meios de produção – ou uma combinação dos três – 
aplicados de tal forma que levem aos trabalhadores 
assalariados a produzir mercadorias e mais-valia. Ou seja, 
não é todo tipo de dinheiro que funciona como capital. Só 
é capital aquele dinheiro (ou meios de produção) 
empregado de tal modo que produza mais-valia por meio 
do trabalho assalariado. 
Ainda segundo Marx, o capitalismo, diferentemente dos 
modos de produção anteriores, não funciona para que as 
coisas fiquem sempre do mesmo jeito. Por sua própria 
natureza, ele precisa crescer, acumular e reinvestir parte 
da mais-valia na produção, aumentando sempre o lucro e a 
produtividade. Ou seja, as forças produtivas devem estar 
em permanente desenvolvimento. 
(OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 
São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 157-158) 
 
 
AS CLASSES SOCIAIS 
 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
10 
Para Marx, o capitalismo organiza-se de modo a dar 
origem a duas classes sociais: os empresários (ou 
burgueses) e os trabalhadores (ou proletários). 
Uma pessoa é considerada como pertencente à classe 
dos empresários quando possui capital, isto é, quando é 
proprietária dos meios de produção e compradora de força 
de trabalho. Nesse sentido, os empresários seriam os 
donos das indústrias, das grandes fazendas, dos bancos ou 
do grande comércio. Por outro lado, uma pessoa é 
considerada como pertencente à classe trabalhadora 
quando não tem nada, a não ser sua capacidade de 
trabalhar (forca de trabalho), que vende ao empresário em 
troca de um salário. Nesse sentido, os trabalhadores 
seriam os operários, os camponeses, bancários, 
balconistas, auxiliares de escritório, empregadas 
domésticas, professores, secretárias etc. 
Estas duas classes, segundo Marx, relacionam-se de 
modo a criar um conflito. Como? 
Estudando a lei da mais-valia, percebemos que os 
empresários exploram os trabalhadores, não lhes pagando 
tudo aquilo que produziram. Assim, ao receberem um 
salário baixo, os trabalhadores são condenados a se 
alimentarem mal, a se vestirem mal, a morar em péssimas 
condições e ter uma saúde deficiente. E para tentar mudar 
tal modo de vida é preciso que os trabalhadores 
organizem-se no bairro, nas escolas e fábricas, exigindo 
dos empresários, ou do Estado, o direito a uma vida digna. 
No entanto, aumentar o salário ou dar condições de vida 
digna ao trabalhador implica diminuir o lucro. Como o 
empresário não quer perder seus privilégios surge daí um 
conflito social: Empresários lutando por mais lucro contra 
trabalhadores lutando por uma vida melhor, é o que Marx 
define por luta de classes. 
Marx realizou uma pesquisa numa fábrica de cerâmica 
da Inglaterra, em 1860, e colheu alguns dados que 
demonstram que vários operários começaram a trabalhar 
aos 7 e 8 anos de idade, num horário que se estendia das 6 
da manhã às 9 horas da noite, isto é, 15 horas de trabalho 
diário para uma criança. Outra pesquisa realizada em 1862 
demonstra que, de 19 operários, 6 contraíram doenças 
devido ao excesso de trabalho. 
Marx atribuiu aos trabalhadores a condição de classe 
revolucionária, quer dizer, aquela classe que pode 
contribuir para a construção de uma nova sociedade sem 
exploradores nem explorados, por sua capacidade de se 
organizar e de lutar por seus direitos. 
Entretanto, esta classe revolucionária não é homogênea; 
sociólogos contemporâneos afirmam que no interior da 
classe trabalhadora existem diversas divisões que podem 
dificultar a união dos trabalhadores em função de uma luta 
em comum. Estas diferenças culturais na classe 
trabalhadora são originadas por profissões diferentes, pela 
cor ou pelo sexo. Por exemplo, os valores e problemas da 
mulher que é, ao mesmo tempo, mãe, dona de casa e 
trabalhadora são diferentes dos do homem. Um operário 
qualificado e possuidor de casa própria pode ter um 
comportamento social e político diferente de um operário 
não qualificado, residente numa favela. 
Um trabalhador negro, por sua vez, além de ser 
explorado emseu emprego, sofre o problema de 
discriminação racial. Uma adolescente, por outro lado, é 
obrigada a obedecer a seu chefe no escritório, a seu pai em 
casa e, muitas vezes, até o seu namorado. 
Todas essas situações de vida são muito diferentes entre 
si, e, por isso, quando tentamos fazer uma referência à 
classe trabalhadora em seu comportamento cultural e 
político, temos que levar em consideração algumas dessas 
diferenças. Um outro exemplo: enquanto que para os 
trabalhadores da cidade é importante lutar por saneamento 
básico (rede de água, esgoto, limpeza pública), para os 
trabalhadores do campo o mais importante pode ser a 
reforma agrária (divisão de terras, acesso aos implementos 
agrícolas etc.). 
Assim, ao afirmarmos que a classe trabalhadora é 
revolucionária, temos que admitir que essa classe só pode 
mudar a sociedade na multiplicidade de sua prática social. 
 
A ORIGEM DOS PROBLEMAS SOCIAIS 
 
Para o Materialismo Histórico, no capitalismo, a origem 
dos problemas sociais não é o resultado de uma crise 
moral (caso patológico ou anomia) como afirmava 
Durkheim. Ao contrário, Marx demonstra que se existe 
desemprego, favelas ou criminalidade, é porque a forma 
pela qual as pessoas trabalham no capitalismo gera formas 
de exploração da classe empresarial sobre a classe 
trabalhadora. 
A partir daí, percebemos que será analisando as formas 
distintas de organização do trabalho (economia) que 
descobriremos o real funcionamento de uma sociedade. 
Assim, se o compromisso do Positivismo é a 
manutenção e preservação da sociedade capitalista, o 
compromisso do Materialismo Histórico será realizar uma 
crítica radical dessa sociedade, ressaltando suas 
contradições e concluindo que a sociedade é um fenômeno 
transitório, isto é, possível de ser transformado. 
Para Marx, a mudança social, ou seja, a Revolução 
poderá surgir no momento em que a classe trabalhadora 
possa organizar-se e lutar para a criação de uma nova 
sociedade: o Socialismo. Portanto, segundo o marxismo, a 
superação dos problemas sociais no capitalismo não se dá, 
como pensava Durkheim, através da ciência, mas sim, 
através da luta política. 
Essa superação dos problemas sociais não é, no entanto, 
uma tarefa fácil. A classe dos empresários utiliza-se de 
formas específicas de dominação para impedir a 
organização e luta dos trabalhadores por seus direitos. 
Essas formas de dominação nós resumiremos em: o papel 
do Estado e da ideologia. 
 
O ESTADO 
 
Marx não desenvolveu aquilo que poderíamos chamar 
de uma Teoria do Estado. Sobre o que vem a ser Estado 
em nossa sociedade, Marx fez apenas algumas referências. 
Dentre essas, entende que o Estado é a instituição que tem 
mais poder sobre os indivíduos, isto é, a partir do 
monopólio que o Estado tem dos meios de violência ele 
pode controlar a vida das pessoas. Mas o que significa o 
monopólio dos meios de violência? 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
11 
Significa ter o controle quase que absoluto dos 
armamentos e do corpo repressivo (polícia). Esses meios 
de violência, segundo os positivistas, visam assegurar o 
bom desenvolvimento social. Ao contrário, para Marx, 
isso é apenas um pretexto, pois, na realidade, o Estado 
seria um instrumento político dos empresários para 
controlarem os trabalhadores. 
Em outras palavras, a classe dos empresários, para 
subjugar os trabalhadores, precisa, às vezes, utilizar-se da 
violência, mas, para que a classe trabalhadora aceite a 
violência sem se revoltar, é preciso que ela apareça como 
algo natural, isto é, como uma lei da sociedade, dando a 
impressão de que sofre os efeitos da violência somente a 
pessoa que romper com a ordem das leis sociais. 
Isso legitima uma violência organizada pelo Estado que 
diz existir para manter a ordem social, sendo, na verdade, 
instrumento de dominação da classe trabalhadora. 
Esta visão sobre o Estado, no entanto, foi alterada nos 
dias de hoje a partir dos estudos de alguns sociólogos 
contemporâneos. Dentre estes sociólogos que 
continuariam a obra de Marx, no que diz respeito ao 
estudo do Estado, podemos citar dois: Antonio Gramsci e 
Nicos Poulantzas. 
 
 
Antonio Gramsci (1891-1937) 
 
 
Nicos Poulantzas (1936-1979) 
 
Para esses sociólogos, o Estado está a serviço dos 
interesses da classe empresarial; no entanto, estudando 
vários movimentos sociais, é possível perceber que nem 
sempre o Estado é um órgão de violência organizada 
contra a classe trabalhadora. Existem momentos históricos 
em que o Estado pode aparecer como o representante da 
classe trabalhadora. Como isso é possível? 
Devemos levar em consideração que o atual aparelho de 
Estado da sociedade capitalista é um órgão extremamente 
complexo e nem sempre é possível defender os interesses 
da classe empresarial, pois, no momento em que a classe 
trabalhadora se organiza dentro dos movimentos 
populares (na luta política), passa a ser forte e, através da 
pressão, acaba abrindo espaços de participação dentro do 
Estado, obrigando este a levar em consideração os 
interesses das classes exploradas contra os exploradores. 
Uma coisa, porém, é certa: se a classe trabalhadora não 
se organiza e não pressiona os órgãos estatais, estes nunca 
estarão a serviço do povo. 
 
A IDEOLOGIA 
 
Também é uma forma de dominação e controle sobre os 
trabalhadores, só que se apresenta de forma mais eficiente 
que a ação do Estado. Para entender o que seja ideologia, 
é importante, em primeiro lugar, saber que as pessoas, 
quando travam relações entre si através do trabalho, 
pensam e refletem, criando representações simbólicas 
(pensamentos, idéias). 
Aquilo que as pessoas pensam sobre a forma de como 
elas trabalham influi para que entendam sua própria vida 
social. 
Antonio Gramsci afirmava que a forma mais elaborada 
de pensar recebe o nome de Filosofia. A filosofia 
capitalista, no entanto, desenvolve-se através de poucas 
pessoas (os intelectuais), pois requer conhecimentos 
adquiridos numa educação especializada a que poucos têm 
acesso. 
Ao lado da filosofia temos o senso comum, que nada 
mais é do que o conjunto de pensamentos e conclusões 
sobre a vida feitos pelas pessoas comuns, feitos por nós. 
Só que na forma mais simplificada. Tais pensamentos e 
conclusões são a forma de pensar presente no povo. 
No seu conjunto, a filosofia capitalista (como 
elaboração de pensamento) e o senso comum (como a 
difusão do pensamento na sua forma mais simples) 
formam a estrutura ideológica da nossa sociedade. Em 
resumo: podemos definir a ideologia como sendo a 
elaboração do pensamento através da filosofia e sua 
difusão através do senso comum, a partir da forma de 
como os homens se relacionam no trabalho. 
Assim, quando afirmamos que existe uma dominação 
através da ideologia, queremos dizer que as pessoas que 
elaboram direta ou indiretamente a filosofia capitalista 
preocupam-se em transmitir uma visão de mundo acrítica 
e passiva, para que seja aceita a exploração como sendo 
algo natural, que sempre existiu e sempre existirá. 
Em nossa sociedade atual podemos afirmar que as 
fontes, isto é, os instrumentos para impor a ideologia são: 
a escola, os meios de comunicação de massa, clubes, 
entidades assistenciais, seitas e alguns setores da religião. 
Assim, para Marx, os empresários utilizam-se tanto do 
Estado quanto da ideologia para controlar os 
trabalhadores, isto é, para explorá-los sem que eles 
percebam. 
(MEKSENAS, Paulo. Aprendendo Sociologia. A paixão de conhecer a 
vida. 
São Paulo: Edições Loyola, 1985. pp. 84-90) 
 
 
 
 
O ESTADO COMO PRODUTO E INSTRUMENTO DE 
CONTROLE DA CLASSE DOMINANTE 
 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
12 
Para os filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels, 
a sociedade humana primitiva era uma sociedade sem 
classes e sem estado. Nessa sociedade pré-civilizada, as 
funções administrativaseram exercidas pelo conjunto dos 
membros da comunidade (clã, tribo etc.). 
Num determinado estágio do desenvolvimento histórico 
das sociedades humanas, certas funções administrativas, 
antes exercidas pelo conjunto da comunidade, tornaram-se 
privativas de um grupo separado de pessoas que detinha 
força para impor normas e organização à vida coletiva. 
Teria sido através desse núcleo de pessoas que se 
desenvolveu o Estado. 
 
 
Friedrich Engels (1820-895) 
 
Assim, para Marx e Engels, o Estado nem sempre 
existiu. Durante milênios, inúmeras sociedades teriam 
vivido sem ele. O Estado surgiu quando, num certo 
estágio de desenvolvimento econômico, também surgiram 
as desigualdades de classes e os conflitos entre explorados 
e exploradores. O papel do Estado é amortecer o choque 
desses conflitos, evitando uma luta direta entre as classes 
antagônicas. Mas conforme escreveu Engels: 
 
Como o Estado nasceu da necessidade de conter o 
antagonismo das classes, e como, ao mesmo tempo, 
nasceu em meio ao conflito delas, é, por regra geral, o 
Estado da classe mais poderosa, da classe dominante, 
classe que, por intermédio dele, se converte em classe 
politicamente dominante e adquire novos meios para a 
repressão e exploração da classe oprimida. Assim, o 
Estado antigo foi, sobretudo, o Estado dos senhores de 
escravos para manter os escravos subjugados; o Estado 
feudal foi o órgão de que se valeu a nobreza para 
manter a sujeição dos servos e camponeses 
dependentes; e o moderno Estado representativo é o 
instrumento de que se serve o capital para explorar o 
trabalho assalariado. Entretanto, por exceção, há 
períodos em que as lutas de classes se equilibram de tal 
modo que o poder do Estado, como mediador aparente, 
adquire certa independência momentânea em face das 
classes. 
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado, 
p. 193-94 
 
Em resumo, podemos dizer que Marx e Engels rejeitam, 
de modo geral, a teoria do Estado como simples mediador 
da luta de classes. Em vez disso, concebem o Estado 
atuando geralmente como um instrumento do domínio de 
classe. Na sociedade capitalista, por exemplo, o domínio 
de classe identifica-se diretamente com a “proteção da 
propriedade privada” dos que possuem, contrariando os 
interesses daqueles que nada têm. Proteger a propriedade 
privada capitalista implica preservar as relações sociais, as 
normas jurídicas, enfim, a segurança dos proprietários 
burgueses. 
Essa concepção do Estado como instrumento de 
dominação de uma classe sobre a outra estabelece, 
portanto, uma relação entre as condições materiais de 
existência de determinada sociedade e a forma de Estado 
que ela adota. Ou seja, o Estado é determinado pela 
estrutura social de modo a atender às demandas 
específicas de uma dada forma de sociabilidade, 
garantindo que essa forma se mantenha. Isso significa que 
o Estado só é necessário devido ao “caráter anti-social 
desta vida civil”. Ou seja, o Estado existe para administrar 
os problemas causados pela forma anti-social (desigual, 
excludente) da sociedade civil. E ele só poderia deixar de 
existir quando a sociedade não fosse mais dividida em 
classes antagônicas. 
Assim, Marx diferenciou-se de todos os outros autores 
anteriores porque sua crítica ao Estado não visava atingir 
uma ou outra forma de Estado, mas a essência mesma do 
Estado, de qualquer Estado: o Estado se origina 
exatamente das insuficiências de uma sociedade em 
realizar em si mesma, de forma concreta, os ideais 
universalistas, ou seja, em garantir em sua dinâmica a 
igualdade de condições sociais. Ele nasce da desigualdade 
para manter a desigualdade. 
(COTRIM, Gilberto: “Fundamentos da filosofia: história e grandes 
temas”. São Paulo: Editora Saraiva. 2002. pp. 307-308) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Marx afirma que a passagem de um modo de produção a outro 
se dá no momento em que o nível de desenvolvimento das 
forças produtivas entra em contradição com as relações sociais 
de produção. Essas relações – o regime de propriedade, por 
exemplo –, que antes eram formas de desenvolvimento das 
forças produtivas, transformam-se em seu maior obstáculo. 
Sobrevém, então, uma época de revolução social. 
• O modo de produção da vida material condiciona o processo 
de vida social, política e espiritual. Ou seja, não é a consciência 
dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu 
ser social que determina sua consciência. 
• O modo de produção é composto pelas relações de produção 
mais as forças produtivas. É sobre essa base, diz Marx, que se 
ergue a cultura, a organização política e as ideologias (inclusive 
as religiões) dessa sociedade. Existem, assim, dois níveis na 
concepção marxista da sociedade: o da infraestrutura (relações 
de produção e forças produtivas) e o da superestrutura (Estado, 
Igreja, cultura, etc.) 
• Segundo ele, o valor de um bem é determinado pela 
quantidade de trabalho socialmente necessário para a sua 
produção. Assim o lucro não se realiza no momento da troca de 
mercadorias, mas sim na produção dessas mercadorias. Isso 
acontece porque os trabalhadores não recebem o valor 
correspondente a seu trabalho, mas só o necessário para sua 
sobrevivência. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
13 
• Na análise de Marx, a mais-valia consiste na diferença entre o 
valor (expresso em horas de trabalho) incorporado a um bem e 
o pagamento do trabalho necessário para sua reposição (o 
salário). A essência do capitalismo seria a apropriação privada 
(isto é, pelo capitalista) dessa mais-valia, que dá origem ao 
lucro. 
• Marx e Engels rejeitam, de modo geral, a teoria do Estado 
como simples mediador da luta de classes. Em vez disso, 
concebem o Estado atuando geralmente como um instrumento 
do domínio de classe. Na sociedade capitalista, por exemplo, o 
domínio de classe identifica-se diretamente com a “proteção da 
propriedade privada” dos que possuem, contrariando os 
interesses daqueles que nada têm. 
 
 
 UNIDADE 5 
 
ÉMILE DURKHEIM 
 
Caberia à sociologia, segundo Durkheim, a apreensão e 
o estudo sistemático das realidades sociais dos indivíduos. 
Para tanto, o sociólogo deveria utilizar das mesmas 
ferramentas utilizadas pelas ciências anteriores: o método 
científico e a observação empírica. Essa era uma das 
principais preocupações de Durkheim: estabelecer as 
fundações e as formas de estudo da sociologia. 
 
 
Émile Durkheim (1858-1917) 
 
No entanto, Durkheim acreditava que a principal função 
da sociologia era o estudo dos fatos sociais. A sociologia 
deveria se abster de estudar as individualidades dos 
sujeitos e se debruçar sobre estudos generalistas acerca 
dos fatos sociais, que são definidos por Durkheim como 
os aspectos de nossa sociedade que moldam as nossas 
ações em sociedade, tais como nossa língua, o Estado e a 
moral. 
Segundo Durkheim, os fatos sociais possuem três 
características principais: 
 São externos ao indivíduo, ou seja, os fatos sociais 
existem independentemente de nossas vontades 
individuais, 
 São de natureza coercitiva, o que quer dizer que eles 
possuem força para nos “obrigar” a agir de 
determinada maneira sob a ameaça de punições como 
o isolamento social, por exemplo, no caso de um 
comportamento socialmente inaceitável, 
 São também generalistas, ou seja, atingem a todos sem 
exceções. 
Para que possamos compreender melhor, peguemos 
como exemplo a língua que falamos. Ela se constitui um 
fato social na medida em que nos é externa, existindo 
independentemente de nossa vontade; é coercitiva, uma 
vez que a não utilização de uma língua compreensível em 
um meio social pode acarretar no isolamento social; e é 
generalista, uma vez que todos os que nascem em um 
determinado local, acabam por aprender a se comunicar 
com uma mesma língua ou linguagem. 
(http://www.mundoeducacao.com/sociologia/emile-durkheim.htm) 
 
A OBJETIVIDADE DO FATO SOCIAL 
 
Após a identificaçãoe caracterização dos fatos sociais, 
Durkheim tentou definir o método de conhecimento da 
Sociologia. Para o pensador e para os positivistas, o 
cientista social precisa manter certa distância e 
neutralidade em relação aos fatos sociais, para resguardar 
a objetividade da sua análise, ou seja, “a primeira regra e a 
mais fundamental é considerar os fatos sociais como 
coisas” (DURKHEIM, p. 15, grifos do autor). O sociólogo 
precisa deixar de lado suas pré-noções, que são valores e 
sentimentos pessoais em relação aos acontecimentos a ser 
estudados, porque podem distorcer a realidade dos fatos. 
Não pode haver envolvimento afetivo entre o cientista e 
seu objeto, e a neutralidade exige a não interferência do 
pesquisador no fato observado. Por isso, o trabalho 
científico exigia a eliminação de quaisquer riscos de 
subjetividade e uma atitude de distanciamento. Os fatos 
sociais deveriam ser encarados como coisas, como objetos 
que, sendo-lhe exteriores, deveriam ser medidos, 
observados e comparados, independentemente do que os 
indivíduos envolvidos pensassem ou declarassem a seu 
respeito. Todo esse rigor com o método era para garantir o 
sucesso da Sociologia como ciência, assim como eram as 
pesquisas das ciências exatas. 
“É preciso, portanto, considerar os fenômenos sociais em si 
mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os 
concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas 
exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a 
nós. Se essa exterioridade for apenas aparente, a ilusão se 
dissipará à medida que a ciência avançar e veremos, por 
assim dizer, o de fora entrar no de dentro. Mas a solução não 
pode ser preconcebida e, mesmo que eles não tivessem afinal 
todos os caracteres intrínsecos da coisa, deve-se primeiro 
tratá-los como se os tivessem. Essa regra aplica-se portanto à 
realidade social inteira, sem que haja motivos para qualquer 
exceção. Mesmo os fenômenos que mais parecem consistir 
em arranjos artificiais devem ser considerados desse ponto de 
vista. O caráter convencional de uma prática ou de uma 
instituição jamais deve ser presumido. Aliás, se nos for 
permitido invocar nossa experiência pessoal, acreditamos 
poder assegurar que, procedendo dessa maneira, com 
frequência se terá a satisfação de ver os fatos aparentemente 
mais arbitrários apresentarem após uma observação mais 
atenta dos caracteres de constância e de regularidade, 
sintomas de sua objetividade (DURKHEIM, 2007, p. 28-29, 
grifos do autor). 
Para tanto, Durkheim estabelece três regras para o 
sociólogo estudar os fatos sociais: 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
14 
1ª regra: [...] devemos afastar sistematicamente todas as 
pré-noções [...]”(DURKHEIM, 2007, p. 54); 
2ª regra: [...] Nunca tomar como objeto de investigação 
senão um grupo de fenômenos previamente definidos por 
certas características exteriores que lhe sejam comuns, e 
incluir na mesma investigação todos os que correspondem 
a esta definição [...] (DURKHEIM, 2007, p.57); 
3ª regra: “Quando o sociólogo empreende a exploração 
de uma ordem qualquer de fatos sociais, deve esforçar-se 
por considerá-los sob um ângulo em que eles se 
apresentem isolados das suas manifestações individuais 
[...] (DURKHEIM, 2007, p.65). 
 
A SOCIEDADE COMO UM ORGANISMO VIVO: 
ENTRE A NORMALIDADE E A PATOLOGIA 
 
A finalidade dos fatos sociais é estudar e entender a 
própria sociedade. Como Durkheim tem por base o 
positivismo e considera a sociedade um organismo vivo, 
consequentemente, esse “organismo vivo” chamado 
sociedade possui estados “normais” (saudáveis) e/ou 
“patológicos” (doentios). “[...] tal como para os 
indivíduos, a saúde é boa e desejável também às 
sociedades, ao contrário da doença, que é coisa má e de se 
evitar. Se encontrarmos um critério, objetivo, inerente aos 
próprios fatos, que nos permita distinguir cientificamente 
a saúde da doença nas diferentes ordens de fenômenos 
sociais, a ciência estará em condições de esclarecer a 
prática permanecendo fiel ao seu próprio método” 
(DURKHEIM, 2007, p.69). 
E complementa: “Chamaremos normais aos fatos que 
apresentam as formas mais gerais e daremos aos outros o 
nome de mórbidos ou de patológicos. Se 
convencionarmos chamar tipo médio ao ser esquemático 
que resultaria da reunião num todo, numa espécie de 
individualidade abstrata, das características mais 
frequentes na espécie com as suas formas mais frequentes, 
poder-se-á dizer que o tipo normal se confunde com o tipo 
médio, e que qualquer desvio em relação a este padrão da 
saúde é um fenômeno mórbido” (DURKHEIM, 2007, 
p.74). Durkheim considera patológico aquilo que põe em 
risco a harmonia de uma sociedade, aquilo que se encontra 
fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral 
vigente. Os fatos patológicos, como as doenças, são 
considerados transitórios e excepcionais (COSTA, 1997). 
 (KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia 
para vestibular e Enem.Introdução e Conceitos Básicos. 
São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 30-31) 
 
A SOCIOLOGIA E O ESTADO 
 
“(...) O Estado é um órgão especial, encarregado de 
elaborar certas representações que valem para a 
coletividade. Estas representações se distinguem das 
outras representações coletivas por grau mais alto de 
consciência e de reflexão (...) O Estado é, para falar 
com rigor, o órgão mesmo do pensamento social. Nas 
condições presentes, esse pensamento está voltado para 
um fim prático (...) O Estado, ao menos em geral, não 
pensa por pensar, para construir sistemas de doutrinas, 
e, sim, para dirigir a conduta coletiva” 
 
Como interpretar esta definição de Estado? Partindo do 
princípio de que a sociedade capitalista foi concebida por 
Durkheim como um corpo que, às vezes, fica doente, esse 
corpo, para funcionar bem, depende de que todas as suas 
partes estejam funcionando harmonicamente. A 
responsabilidade de desenvolver o funcionamento 
harmônico de todas as partes da sociedade cabe ao Estado. 
Em outras palavras, se a sociedade é o corpo, o estado é o 
seu cérebro e por isso tem a função de organizar essa 
sociedade, reelaborando aspectos da consciência coletiva. 
Durkheim admitia que o Estado é uma instituição que 
tem o poder de elaborar leis que corrijam os casos 
patológicos da sociedade. Em resumo: se cabe à 
sociologia observar, entender e classificar os casos 
patológicos, procurando criar uma nova moral social, cabe 
ao Estado colocar em prática os princípios dessa nova 
moral. 
Neste contexto, a Sociologia e o Estado complementam-
se na organização da sociedade para, na prática, evitarem 
os problemas sociais. Isso levou Durkheim a acreditar que 
os sociólogos devessem ter uma participação direta dentro 
do Estado. 
 
CONSCIÊNCIA COLETIVA 
 
Por esse termo, Durkheim traduz a idéia do que seja o 
Psíquico Social. Cada indivíduo tem uma “psiqué”, isto é, 
um jeito de pensar e agir, de entender a vida. Assim, cada 
um de nós possui uma consciência individual que faz parte 
de nossa personalidade. Esta, porém, não é a única forma 
de consciência: existe também aquela formada pelas idéias 
comuns que estão presentes em todas as consciências 
individuais de uma sociedade. 
Essas idéias comuns formam a base para uma 
consciência de sociedade: uma primeira consciência que 
determina a nossa conduta e que não é individual, mas 
social e geral, denominada por Durkheim de Consciência 
Coletiva. 
A consciência coletiva é objetiva, isto é, ela não vem de 
uma só pessoa ou grupo, mas está difusa (espalhada) em 
toda a sociedade, e, por isso ela é exterior ao indivíduo, 
quer dizer, a consciência coletiva não é o que um 
indivíduo pensa, mas é o que a sociedade pensa. Por isso a 
consciência coletiva age sobre o indivíduo de forma 
coercitiva, isto é, exerce uma autoridade sobre o modo de 
como o indivíduo deve agir no seu meio social.Vemos como isso que a consciência individual não 
determina as ações de um pessoa; ao contrário, será a 
consciência coletiva que irá impor as regras sociais de 
uma sociedade; isto, porque, ao nascer, o indivíduo já 
encontra a sociedade pronta e constituída em suas leis. 
Assim, o Direito, os costumes, as crenças religiosas, o 
sistema financeiro não são criados pelo indivíduo, mas 
pelas gerações passadas, sendo transmitidas às novas 
através do processo da educação. Por exemplo: na 
sociedade em que vivemos, se alguém sair à rua sem 
roupas irá provocar imediatamente uma reação da 
sociedade contra si, pois, a partir desse momento, poderá 
ser taxado de maníaco e até ser preso; isso, devido à ação 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
15 
da consciência coletiva que, presente em nossa sociedade, 
proíbe-nos de andar nus. 
Durkheim nos oferece vários outros exemplos neste 
sentido: 
 
“(...) não sou obrigado a falar o mesmo idioma que 
meus companheiros de pátria, nem empregar as moedas 
legais; mas é impossível agir de outra maneira. Minha 
tentativa fracassaria lamentavelmente se procurasse 
escapar desta sociedade. Se sou industrial, nada me 
proíbe de trabalhar utilizando processos técnicos do 
século retrasado; mas, se o fizer, terei a ruína como 
resultado inevitável. Mesmo quando posso realmente 
libertar-me destas regras e violá-las com sucesso, vejo-
me obrigado a lutar contra elas (...)” 
 
Vimos acima vários exemplos de controle que a 
consciência exerce sobre o indivíduo. Tente 
individualmente, descobrir outros exemplos de como a 
consciência coletiva exerce um controle sobre as nossas 
vidas. Pense um pouco e você irá descobrir vários 
exemplos do nosso dia-a-dia. 
 
DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL 
 
Outro conceito importante para entendermos a teoria de 
Durkheim; ele definia este termo como sendo a 
especialização das funções entre os indivíduos de uma 
sociedade. 
O Positivismo tenta entender o funcionamento da 
sociedade capitalista da mesma forma que a Biologia 
entende o funcionamento de um corpo animal, isto é, 
Durkheim achava que, ao desenvolver-se, a sociedade ia 
multiplicando-se em atividades a serem realizadas; a partir 
daí, cada indivíduo teria uma função a cumprir, a qual 
seria importante para o funcionamento de todo o corpo 
social. Em suas palavras: 
 
“(...) as funções políticas, administrativas, judiciárias, 
especializam-se cada vez mais. O mesmo acontece com 
as funções artísticas e científicas”. 
 
De acordo com Durkheim, cada membro da sociedade, 
desenvolvendo uma atividade útil e especializada passa a 
depender cada vez mais dos outros indivíduos, isto é, com 
a sociedade progredindo, surgem novas atividades; estas, 
por sua vez, tornam-se divididas. Por exemplo, o 
marceneiro para fazer uma mesa, depende do lenhador que 
corta a árvore, depende do motorista que transporta a 
madeira, depende do operário que prepara o verniz, 
depende daqueles que fabricam pregos, martelos e serrotes 
etc. Assim, também o músico que depende daquele que 
faz seu instrumento, depende daquele que faz o teatro para 
o público que assiste a ele, e assim por diante. 
Com isso, o feito mais importante da Divisão do 
Trabalho Social não é apenas seu aspecto econômico 
(aumento da produtividade), mas também tornar possível 
a união e a solidariedade entre as pessoas de uma mesma 
sociedade. 
 
DA SOLIDARIEDADE MECÂNICA À SOLIDARIE-
DADE ORGÂNICA 
 
Durkheim acentuava que nas sociedades anteriores ao 
capitalismo, isto é, nas sociedades tribal e feudal, a 
divisão do trabalho social era pouco desenvolvida, não 
havia um grande número de especializações das atividades 
sociais. 
Na sociedade feudal, por exemplo, a produção dos bens 
de consumo era realizada pelo trabalho artesanal e isso 
implicava o fato de que uma só pessoa fizesse aquilo de 
que necessitava, sem depender de outras pessoas. Ao fazer 
uma mesa, o servo só dependia de seu trabalho individual 
e isolado. Ao contrário, na sociedade capitalista, as 
atividades são muito divididas, sendo que para fazer uma 
mesa o marceneiro depende do trabalho de outras pessoas. 
Nas sociedades tribal e feudal, as pessoas não se unem 
porque uma depende do trabalho da outra, e, sim, são 
unidas por uma religião, tradição ou sentimento comum a 
todos. 
Esta união das pessoas a partir da semelhança na 
religião, tradição, ou sentimento é o que Durkheim chama 
de solidariedade mecânica. 
A Solidariedade Orgânica, ao contrário, aparece quando 
a divisão do trabalho social aumenta, e aí o que torna as 
pessoas unidas não é uma crença comum a todos, mas 
uma interdependência das funções sociais. 
A união das pessoas a partir da dependência que uma 
tem da outra para realizar alguma atividade social é o que 
Durkheim chama de solidariedade orgânica. 
Podemos tornar estes conceitos mais fáceis de serem 
entendidos a partir de um exemplo: imaginemos um 
professor que necessite formar grupos para desenvolver o 
tema da aula. O professor pode querer a formação dos 
grupos a partir de dois critérios: ele pode pedir aos alunos 
que formem grupos, livremente, a partir da amizade 
existente entre eles. Uma segunda opção é pedir aos 
alunos para formarem grupos de forma que em cada um 
dos grupos fique uma pessoa que saiba datilografia, uma 
outra que saiba desenhar, outra que tenha experiência de 
redação, e, por fim, uma que domine bem o conteúdo das 
aulas e que seja o coordenador do grupo. 
No primeiro caso, o que uniu os alunos no grupo foi um 
sentimento, a amizade, de onde teríamos a solidariedade 
mecânica. No segundo caso, o que uniu os alunos em 
grupo foi a dependência que cada um tinha da atividade 
do outro: a união foi dada pela especialização das funções, 
de onde teríamos a solidariedade orgânica. 
Durkheim admite que a solidariedade orgânica é 
superior à mecânica, pois ao se especializarem as funções, 
a individualidade, de certo modo, é ressaltada, permitindo 
maior liberdade de ação. 
O que significa afirmar que a solidariedade orgânica dá 
liberdade ao indivíduo? 
Vimos, anteriormente, que nossa conduta na sociedade é 
orientada pela consciência coletiva, isto é, não fazemos o 
que queremos e, sim, o que as normas sociais permitem. 
Desta forma, a consciência coletiva é coercitiva. No 
entanto, a partir do momento em que as atividades sociais 
são muito divididas, as pessoas passam a depender uma 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
16 
das outras e ao mesmo tempo, cada uma, ao especializar-
se na atividade que realiza, passa a desenvolver a sua 
individualidade. 
Voltemos ao exemplo do professor que forma grupos de 
pesquisa em sala de aula: no grupo formado por amigos, 
pode acontecer que um elemento discorde muito das 
opiniões de outro; este fato pode trazer um conflito que 
põe em risco a existência do grupo. Nesse caso, os 
elementos devem agir de acordo com as idéias comuns do 
grupo, e não a partir das suas próprias idéias. Já no grupo 
onde a união dá-se pela atividade especializada, a 
individualidade é ressaltada, pois, dentro da sua atividade, 
cada um age como bem entende, a aí a divergência de 
opiniões não põe em causa a existência do grupo. 
 
A SOCIOLOGIA DIANTE DO CASO PATOLÓGICO E 
DA ANOMIA 
 
Durkheim viveu numa época de grandes conflitos 
sociais entre a classe dos empresários e a classe dos 
trabalhadores. É também uma época em que surgem novos 
problemas sociais como favelas, suicídios, poluição, 
desemprego etc. No entanto, o crescente desenvolvimento 
da indústria e tecnologia fez com que Durkheim tivesse 
uma visão otimista sobre o futuro do capitalismo. Ele 
pensava que todo o progresso desencadeado pelo 
capitalismo traria um aumento generalizado da divisão do 
trabalho social e, por conseqüência, da solidariedade 
orgânica, a ponto de fazer com que a sociedade chegasse a 
um estágio sem conflitose problemas sociais. 
Com isso, Durkheim admitia que o capitalismo é a 
sociedade perfeita; trata-se apenas de conhecer os seus 
problemas e de buscar uma solução científica para eles. 
Em outras palavras, a sociedade é boa, sendo necessário, 
apenas “curar as suas doenças”. 
Tal forma de pensar o progresso de um jeito positivo fez 
com que Durkheim concluísse que os problemas sociais 
entre empresários e trabalhadores não se resolveriam 
dentro de uma luta política, e sim através da ciência, ou 
melhor, da sociologia. Esta seria, então, a tarefa da 
sociologia: compreender o funcionamento da sociedade 
capitalista de modo objetivo para observar, compreender e 
classificar as leis sociais, descobrir as que são falhas e 
corrigi-las por outras mais eficientes. 
Assim, Durkheim acreditava que a sociedade, 
funcionando através de leis e regras já determinadas, faria 
com que os problemas sociais não tivessem sua origem na 
Economia (forma pela qual as pessoas trabalham), mas 
sim numa crise moral, isto é num estado social em que 
várias regras de conduta não estão funcionando. 
Por exemplo: se a criminalidade aumenta a cada dia é 
porque as leis que regulamentam o combate ao crime 
estão falhando, por serem mal formuladas. A este estado 
de crise social, onde as leis não estão funcionando, 
Durkheim denomina caso patológico. 
Por outro lado, os problemas sociais podem ter sua 
origem também na ausência de regras, o que por sua vez 
se caracteriza como anomia. 
Frente ao caso patológico (regras sociais falhas), cabe à 
Sociologia captar suas causas, procurando evitar a anomia 
(crise total), através da criação de uma nova moral social 
que supere a velha moral deficiente. 
Por ter essa confiança de que num futuro breve a 
sociedade capitalista eliminaria, através da ciência, dentro 
da ordem e do progresso, todos os seus problemas, sua 
forma de pensar era conservadora. O que significa uma 
pessoa ser conservadora? É acreditar que a sociedade atual 
não deve ser mudada, que as coisas devem permanecer 
como estão. É ter receio de qualquer transformação social. 
Por fim, é admitir que os problemas sociais criados pelo 
capitalismo serão resolvidos dentro do próprio 
capitalismo. 
E pelo fato de Durkheim ser uma pessoa conservadora é 
que vamos encontrar na sua teoria um certo apoio à 
sociedade capitalista. 
 
O SUICÍDIO 
 
Émile Durkheim é o autor da obra O Suicídio (1897) e 
define-o como: “[...] suicídio é todo caso de morte que 
resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou 
negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima 
sabia dever produzir este resultado” (DURKHEIM, 1978, 
p167). A obra foi escrita por Durkheim logo após a defesa 
de sua tese de doutorado “A Divisão do Trabalho Social”. 
O livro foi construído com todo o rigor metodológico: 
definição de um problema; diferenciação do suicídio como 
um fenômeno da sociologia; estabelecimento de 
categorias; desenvolvimento de uma teoria geral. Em sua 
tese, preocupo-se com o enfraquecimento da moralidade 
social do mundo moderno, porque os indivíduos poderiam 
sentir-se desorientados em relação aos vínculos morais, 
podendo desencadear uma situação patológica ou 
anômica: “[...] os indivíduos enfrentam-se com a anomia 
quando a moral não os constrange ou coage suficiente, ou 
seja, quando não se tem um conceito claro do que é uma 
conduta apropriada, aceitável ou quando uma conduta não 
o é” (RITZER, 1993 apud PLÜMER, 2005, p.71). 
A divisão do trabalho, que deveria ser considerada uma 
fonte de coesão social, tornara-se uma fonte de anomia 
social e, por consequência, uma patologia central das 
sociedades modernas. Durkheim “[...] ressaltava que 
apesar de a divisão estrutural do trabalho na sociedade 
moderna desencadear a solidariedade orgânica, podia 
ocorrer de os indivíduos sentirem-se isolados, 
abandonados na realização de suas atividades altamente 
especializadas, em estado anômico. Durkheim considerava 
essa situação anormal porque só em circunstâncias não 
normais a divisão moderna do trabalho relegava a pessoas 
a tarefas e empregos isolados e carentes de sentido [...]” 
(PLÜMER, 2005, p.71-72). 
Segundo Durkheim (apud PLÜMER, 2005, p.76), “[...] 
o principal efeito da divisão do trabalho social é produzir 
solidariedade; se isso não acontece, é porque os órgãos 
(instituições) que compõem a sociedade dividida em 
funções não se estão autorregulando e, portanto, põem em 
risco o equilíbrio e a coesão social. Assim, basicamente, o 
homem se suicida em decorrência de duas situações: a 
perda de coesão da sociedade moderna e a ausência de 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
17 
normas apropriadas através das quais pode orientar sua 
conduta em sociedade”. 
Embora o suicídio seja um ato individual, trata-se de um 
fato social, por ser externo e coercitivo aos indivíduos. 
Entre os fatores do suicídio, os que interessam aos 
sociólogos são os que se fazem sentir no conjunto da 
sociedade: “Visto que o suicídio é um ato do indivíduo 
que apenas afeta o indivíduo, dir-se-ia que depende de 
fatores pessoais e que o estudo de tal fenômeno se situa no 
campo da psicologia. E, aliás, não é pelo temperamento do 
suicida, pelo seu caráter, pelos seus antecedentes, pelos 
acontecimentos da sua vida privada que normalmente este 
ato se explica?” (DURKHEIM, 1978, p.168) 
Os tipos de suicídios estão relacionados ao grau de 
integração dos sentimentos coletivos ou da coerção 
externa sobre os indivíduos. Os quatro tipos de suicídios 
caracterizados por Durkheim são: 
1) Suicídio egoísta: individualismo excessivo, perda 
total do vínculo do indivíduo com o meio social. Por 
exemplo, a depressão, a melancolia e a sensação de 
desamparo moral ocasionados pela desintegração social, 
pelo egoísmo ou pela baixa coesão ou integração social. 
“Quanto mais enfraquecidos sejam os grupos a que 
pertence, menos depende deles e mais, por consequência, 
depende apenas de si próprio por não reconhecer outras 
regras de conduta que as estabelecidas no seu interesse 
privado. Se está de acordo em chamar de egoísmo a este 
estado onde o ego individual se afirma demasiadamente 
face ao ego social e à custa deste último, nós poderemos 
dar o nome de egoísta para o tipo particular de suicídio 
que resulta de uma individualização desmesurada” 
(DURKHEIM, 1981, p.109). 
2) Suicídio altruísta: indivíduo extremamente ligado à 
sociedade, sem vida própria. Morre porque acredita que 
sua morte pode ser benéfica para a sociedade. Esse tipo de 
suicídio é mais frequente nas sociedades tradicionais 
(solidariedade mecânica). Por exemplo, a morte de 
enfermos ou pessoas muito idosas e de viúvas pela morte 
de seu marido. Apesar de Durkheim considerar que sejam 
raras as ocorrências desse tipo de suicídio nas sociedades 
modernas, eles podem ser encontrados em regimentos 
militares muito tradicionais, como guardas imperiais ou de 
elite. Trazendo para atualidade, são exemplos de suicídio 
altruísta os kamikazes e os “homens bomba”. Esse tipo de 
morte caracteriza-se por ser um dever social; caso não seja 
cumprido, ele será punido por castigos religiosos e por 
perda da estima pública: a sociedade leva o indivíduo ao 
suicídio (PLÜMER, 2005). 
3) Suicídio anômico: ocorre em contextos em que as 
normas sociais estão ausentes. Provém do fato de a 
atividade dos homens estar desregrada e de estes sofrerem 
com isso. As normas sociais estão ausentes por conta de 
transformações ocorridas na sociedade, como grandes 
crises econômicas. Dessa forma, esse tipo de suicídio 
aumenta tanto pela perda como pelo ganho econômico, 
tornando a coletividade incapaz de regular os indivíduos 
naquele momento. Conforme Plümer (2005, p. 78), “a 
sociedade, durante os períodos de desregulamentação da 
vida social, deixa de estar suficientemente presente para 
regular as paixões individuais, permitindo, assim, às 
pessoas se converterem em escravasde suas próprias 
paixões e a realizarem atos destrutivos, entre eles, destruir 
suas vidas, em maior número que em condições normais”. 
4) Suicídio fatalista: Esse tipo de suicídio é meramente 
uma nota de rodapé escrita por Durkheim, mas vale a pena 
ser citado, porque o pensador caracterizou a sua 
ocorrência quando existe uma regulação excessiva. Os 
indivíduos que praticam esse tipo de suicídio são aqueles 
com futuro determinado e que sofrem com as paixões 
comprimidas por uma disciplina opressora. Exemplos 
deste tipo de suicídio são os escravos (PLÜMER, 2005). 
Para finalizar, os suicídios egoísta e anômico são típicos 
das sociedades modernas. Enquanto o primeiro se 
caracteriza pela falta de coesão, o segundo caracteriza-se 
pela falta de significado. Ambos estão relacionados às 
inovações tecnológicas e a atividades industriais nas quais 
há intensa divisão do trabalho. 
 
AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA 
 
Durkheim elaborou a obra Formas Elementares da Vida 
Religiosa (1912) com o objetivo de desenvolver uma 
teoria geral da religião, a partir da análise das instituições 
religiosas consideradas simples e/ou primitivas. Durkheim 
justifica a análise dessas sociedades, porque, para ele, a 
essência de um fenômeno social deve ser observada nas 
suas formas mais elementares. Para o pensador, o 
fenômeno religioso é formador da consciência coletiva. 
Em especial nos aspectos morais e materiais, ou seja, o 
fato moral, a solidariedade entre os indivíduos são frutos 
da estrutura da sociedade, estando a consciência social 
estritamente vinculada a uma série de elementos sociais. 
Nas sociedades primitivas, a religião oferece uma lição 
exemplar de coesão social. Durkheim entende que os ritos 
são tradutores dos aspectos da vida, individuais e sociais. 
“Não há, pois, religiões que sejam falsas. Todas são 
verdadeiras à sua maneira: todas respondem, ainda que de 
maneiras diferentes, a determinadas condições da vida 
humana [...] Portanto, se nos voltamos para as religiões 
primitivas não é com a intenção de depreciar a religião em 
geral; porque essas religiões não são menos respeitáveis 
que as outras. Elas respondem às mesmas necessidades, 
desempenham o mesmo papel, dependem das mesmas 
causas; portanto, podem perfeitamente servir para 
manifestar a natureza da vida religiosa e, por conseguinte, 
para resolver o problema que desejamos tratar [...] Em 
primeiro lugar, não podemos chegar a compreender as 
religiões mais recentes senão seguindo na história a 
maneira pela qual se construíram progressivamente. A 
história, com efeito, é o único método de análise 
explicativa que a elas se pode aplicar” (DURKHEIM, 
1989, p.31). 
Para Durkheim, a religião é eminentemente social, 
porque as representações religiosas são representações 
coletivas, sendo um produto do pensamento coletivo, 
como as idéias de tempo, de espaço, do sobrenatural, da 
divindade, das crenças e dos ritos, do sagrado e do 
profano: “Uma noção que geralmente é considerada como 
característica de tudo aquilo que é religioso é a de 
sobrenatural. Com esse termo entende-se toda ordem de 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
18 
coisas que vai além do alcance do nosso entendimento; o 
sobrenatural é o mundo do mistério, do incognoscível, do 
incompreensível. A religião seria, assim, uma espécie de 
especulação sobre tudo aquilo que escapa à ciência e, mais 
geralmente, ao pensamento distinto [...] é mistério que 
pede explicação; portanto ele as faz consistir 
essencialmente em uma crença na onipotência de alguma 
coisa que supera a inteligência. Da mesma forma, Marx 
Müller via em toda religião um esforço para conceber o 
inconcebível, para exprimir o inexprimível, uma aspiração 
ao infinito [...] de qualquer forma, o que é certo é que ela 
aparece só muito tardiamente na história das religiões. É 
totalmente estranha não apenas aos povos que chamamos 
de primitivos, mas também a todos aqueles que não 
atingiram certo grau de cultura intelectual” (DURKHEIM, 
1989, p.31). 
Durkheim reconhece na religião um fato social de 
primordial importância, porque é nela que se forma a 
consciência coletiva, como as noções de tempo e espaço, 
gênero e funções sociais de homens e mulheres etc. 
(KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia 
para vestibular e Enem. Introdução e Conceitos Básicos. 
São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 33-35) 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Durkheim acreditava que a principal função da sociologia era o 
estudo dos fatos sociais. A sociologia deveria se abster de 
estudar as individualidades dos sujeitos e se debruçar sobre 
estudos generalistas acerca dos fatos sociais, que são definidos 
por Durkheim como os aspectos de nossa sociedade que 
moldam as nossas ações em sociedade. Os fatos sociais 
possuem três características principais são: externos ao 
indivíduo, de natureza coercitiva e também generalistas. 
• Como Durkheim tem por base o positivismo e considera a 
sociedade um organismo vivo, consequentemente, esse 
“organismo vivo” chamado sociedade possui estados “normais” 
(saudáveis) e/ou “patológicos” (doentios). Ele considera 
patológico aquilo que põe em risco a harmonia de uma 
sociedade, aquilo que se encontra fora dos limites permitidos 
pela ordem social e pela moral vigente. Os fatos patológicos, 
como as doenças, são considerados transitórios e excepcionais. 
• De acordo com Durkheim, cada membro da sociedade, 
desenvolvendo uma atividade útil e especializada passa a 
depender cada vez mais dos outros indivíduos, isto é, com a 
sociedade progredindo, surgem novas atividades; estas, por sua 
vez, tornam-se divididas. O feito mais importante da Divisão do 
Trabalho Social não é apenas seu aspecto econômico (aumento 
da produtividade), mas também tornar possível a união e a 
solidariedade entre as pessoas de uma mesma sociedade. 
• Esta união das pessoas a partir da semelhança na religião, 
tradição, ou sentimento é o que Durkheim chama de 
solidariedade mecânica. A união das pessoas a partir da 
dependência que uma tem da outra para realizar alguma 
atividade social é o que Durkheim chama de solidariedade 
orgânica. A solidariedade orgânica aparece quando a divisão do 
trabalho social aumenta, e aí o que torna as pessoas unidas não 
é uma crença comum a todos, mas uma interdependência das 
funções sociais. 
• Com isso, Durkheim admitia que o capitalismo é a sociedade 
perfeita; trata-se apenas de conhecer os seus problemas e de 
buscar uma solução científica para eles. Em outras palavras, a 
sociedade é boa, sendo necessário, apenas “curar as suas 
doenças”. Esta seria, então, a tarefa da sociologia: compreender 
o funcionamento da sociedade capitalista de modo objetivo para 
observar, compreender e classificar as leis sociais, descobrir as 
que são falhas e corrigi-las por outras mais eficientes. 
• Os problemas sociais podem ter sua origem também na 
ausência de regras, o que por sua vez se caracteriza como 
anomia. Frente ao caso patológico (regras sociais falhas), cabe 
à Sociologia captar suas causas, procurando evitar a anomia 
(crise total), através da criação de uma nova moral social que 
supere a velha moral deficiente. 
• Para Durkheim, a religião é eminentemente social, porque as 
representações religiosas são representações coletivas, sendo 
um produto do pensamento coletivo, como as idéias de tempo, 
de espaço, do sobrenatural, da divindade, das crenças e dos 
ritos, do sagrado e do profano. A religião também é um fato 
social de primordial importância, porque é nela que se forma a 
consciência coletiva, como as noções de tempo e espaço, 
gênero e funções sociais de homens e mulheres etc. 
 
 
 UNIDADE 8 
 
MAX WEBER 
 
A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA 
HISTÓRICA 
 
O contraste entre o positivismo e o idealismo alemão se 
expressa nas diferentes maneiras de cada uma das 
correntes encarar a história. 
Para o positivismo, oque o cientista tem diante de si, 
como história, é o processo universal de evolução da 
humanidade, cujos estágios ele pode perceber pelo método 
comparativo, capaz de aproximar sociedades humanas de 
todos os tempos e lugares. A história particular de cada 
sociedade desaparece frente a essa lei geral que os 
pensadores positivistas tentaram reconstruir. Essa forma 
de pensar faz desaparecer as particularidades históricas, 
assim como os indivíduos são dissolvidos em meio às 
forças impositivas. 
Ao definir o que é uma espécie social, Durkheim, em 
uma nota de pé de página em seu livro “As regras do 
método sociológico”, alerta para que não se confunda uma 
espécie social com as fases históricas pelas quais ela 
passa. Diz ele: 
 
Desde suas origens, passou a França por formas de 
civilização muito diferentes: começou por ser agrícola, 
passou em seguida pelo artesanato e pelo pequeno 
comércio, depois pela manufatura e, finalmente, chegou 
à grande indústria. Ora, é impossível admitir que uma 
mesma individualidade coletiva possa mudar de espécie 
três ou quatro vezes. Uma espécie deve definir-se por 
caracteres mais constantes. O estado econômico, 
tecnológico etc. apresenta fenômenos por demais 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
19 
instáveis e complexos para fornecer a base para uma 
classificação.” (p. 82) 
 
Fica claro que essa posição anula a importância dos 
processos históricos particulares, valorizando apenas a lei 
de evolução, a generalização e a comparação entre 
fenômenos sociais. 
Weber, figura dominante na Sociologia alemã, tendo 
forte formação histórica, se oporá a essa concepção. Para 
ele, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão 
das sociedades. Essa pesquisa histórica, baseada na coleta 
de documentos e no esforço interpretativo das fontes, 
permite o entendimento das diferenças sociais, que seriam, 
para Weber, de gênese e formação, e não de estágios de 
evolução. 
Portanto, segundo a perspectiva de Weber, o caráter 
particular e específico de cada formação social e histórica 
contemporânea deve ser respeitado. O conhecimento 
histórico, entendido como a busca de evidências, torna-se 
um poderoso instrumento para o cientista social. 
 
 
Max Weber (1864-1920) 
 
Weber consegue combinar duas perspectivas: a 
historiográfica, que respeita a particularidade de cada 
sociedade, e a sociológica, que ressalta os elementos mais 
gerais de cada fase do processo histórico. Em “As causas 
sociais do declínio da cultura antiga”, ele estabeleceu, 
com base em textos e documentos, as transformações da 
sociedade romana em função da utilização da mão de obra 
escrava e do servo de gleba, mostrando a passagem da 
Antiguidade para a sociedade medieval. 
Weber, entretanto não achava que uma sucessão de 
fatos históricos fizesse sentido por si mesma. Para ele, 
todo historiador trabalha com dados esparsos e 
fragmentários. Por isso, propunha para esse trabalho o 
método compreensivo, isto é, um esforço interpretativo do 
passado e de sua repercussão nas características peculiares 
das sociedades contemporâneas. Essa atitude de 
compreensão é que permite ao cientista atribuir aos fatos 
esparsos um sentido social e histórico. 
 
A AÇÃO SOCIAL: UMA AÇÃO COM SENTIDO 
 
Cada ordem social adquiriu, para Weber, especificidade e 
importância próprias. Mas o ponto de partida da Sociologia 
de Weber não estava nas entidades coletivas, grupos ou 
instituições. Seu objeto de investigação é a ação social, a 
conduta humana dotada de sentido. Assim o homem ganhou, 
na teoria weberiana, significado e especificidade. O homem 
dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão entre o 
motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. 
Segundo Weber, a ordem social não difere nem se opõe 
aos indivíduos como força exterior a eles, tal como pensava 
Durkheim: ao contrário, as normas sociais só se tornam 
concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a 
forma de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo 
que se orienta pela tradição, por interesses racionais ou pela 
emotividade. O motivo, quando se manifesta na ação 
concreta, dá a ela um caráter – “econômico”, “político” etc. 
O objetivo que transparece na ação social permite desvendar 
o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo 
age levando em conta a resposta ou reação de outros 
indivíduos. 
A tarefa do cientista é descobrir as conexões possíveis de 
sentido em relação ao aspecto da realidade social que lhe 
interesse estudar. O sentido, por um lado, é aquele que 
motiva a ação individual, formulado expressamente pelo 
agente ou implícito em sua conduta. Por outro lado, a ação 
social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre, os quais 
escapam ao controle e à previsão do agente. Ao cientista 
compete captar, pois, o sentido produzido pelos agentes em 
todas as suas consequências. As conexões que o cientista 
estabelece revelam as implicações da ação social – políticas, 
econômicas, religiosas etc. O cientista pode, portanto, 
descobrir o nexo entre as várias etapas em que se descompõe 
a ação social. Por exemplo, o simples ato de enviar uma carta 
se descompõe em uma série de ações sociais com sentido – 
escrever, selar, enviar, receber – que terminam por realizar 
um objetivo. 
É o indivíduo que, através dos valores sociais e de sua 
motivação, produz o sentido da ação social. Isso não significa 
que cada sujeito possa prever com certeza todas as 
consequências de determinada ação. Como dissemos, cabe ao 
cientista perceber isso. Não significa também que a análise 
sociológica se confunda com a análise psicológica. Trata-se, 
antes de mais nada, do princípio de que qualquer norma 
social só se manifesta através dos indivíduos, motivando-os 
internamente para a ação. 
Por outro lado, Weber distingue a ação da relação social. 
Para que se estabeleça uma relação social, é preciso que o 
sentido seja compartilhado. Por exemplo, um sujeito que 
pede uma informação a outro estabelece uma ação social; ele 
tem um motivo e age em relação a outro indivíduo, mas tal 
motivo não é compartilhado. Numa sala de aula, onde o 
objetivo da ação dos vários sujeitos é compartilhado, existe 
uma relação social. 
Pela frequência com que determinadas ações sociais se 
manifestam, o cientista pode conceber as tendências gerais 
que levam os indivíduos, em determinada sociedade, a agir 
de determinado modo. 
 
A TAREFA DO CIENTISTA 
 
Weber recusa a maioria das proposições positivistas: o 
evolucionismo, o estudo que se reduz aos aspectos da 
sociedade que se repetem em formações diferentes e a 
exclusão do estudo dos indivíduos particulares. Weber 
tem uma concepção de objetividade distinta da de 
Durkheim. Segundo Weber, o cientista também é guiado 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
20 
por suas preocupações com os problemas sociais, sendo-
lhe impossível descartar-se de suas prenoções. Existe certa 
parcialidade na análise sociológica, intrínseca à pesquisa, 
como a toda forma de conhecimento. As preocupações do 
cientista orientam a seleção e a relação entre os elementos 
da realidade a ser analisada. Os fatos sociais não são 
coisas, mas acontecimentos que o cientista percebe e cujas 
causas procura desvendar. 
Entretanto, uma vez iniciado o estudo, este deve se 
conduzir pela busca neutra da verdade possível dos 
acontecimentos. A realização da tarefa científica não 
deveria ser dificultada pela defesa das crenças e ideias 
pessoais do cientista. 
Portanto, para a Sociologia weberiana, os 
acontecimentos que integram o social têm origem nos 
indivíduos. O cientista parte de uma preocupação com 
significado subjetivo, tanto para ele como para os demais 
indivíduos que compõem a sociedade. Seu objetivo é 
compreender, buscar os nexos causais que deem o sentido 
da ação social. 
Qualquer que seja a perspectiva adotadapelo cientista, 
ela sempre resultará numa explicação parcial. Um mesmo 
acontecimento pode ter causas econômicas, políticas e 
religiosas. Nenhuma dessas causas é superior a outra em 
significância. Todas elas compõem um conjunto de 
aspectos da realidade que se manifesta, necessariamente, 
nos atos individuais. O que garante a cientificidade de 
uma explicação é o método de reflexão, não a objetividade 
pura dos fatos. Weber relembra sempre que, embora os 
acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a 
análise do social envolve sempre uma questão de 
qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão. 
 
O TIPO IDEAL 
 
Para atingir a explicação dos fatos sociais, Weber 
construiu um instrumento de análise que chamou de tipo 
ideal. Trata-se de uma criação abstrata a partir de casos 
particulares observados. 
Ele dá como exemplo a construção do tipo ideal de uma 
sociedade onde a produção é artesanal. O cientista pode, 
através de observações sistemáticas dos casos particulares, 
construir um modelo de como seriam as relações políticas, 
econômicas e sociais das sociedades artesanais, 
acentuando os traços que lhe pareçam mais característicos. 
Nenhum exemplo representa realmente este tipo ideal, 
uma vez que ele é construído a partir dos casos 
particulares de ordens sociais diferentes no tempo e no 
espaço. Mas esse modelo ajuda as comparações e a 
percepção de semelhanças e diferenças. 
Pode-se, através do tipo ideal de sociedade artesanal, 
comparar as sociedades antigas e atuais e estudar suas 
diferenças. 
O tipo ideal não é um modelo a ser alcançado nem um 
acontecimento observável. É uma construção do 
pensamento, uma “lupa” que auxilia o cientista. 
É preciso deixar claro que o tipo ideal nada tem a ver 
com as espécies sociais de Durkheim, que pretendiam ser 
exemplos de sociedades observadas em diferentes graus 
de complexidade num continuum evolutivo. 
 
A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO 
CAPITALISMO 
 
Um dos trabalhos mais conhecidos e importantes de 
Weber é “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, 
no qual ele relaciona o papel do protestantismo na 
formação do comportamento típico do capitalismo 
ocidental moderno. 
Weber parte de dados estatísticos que lhe mostraram a 
proeminência de adeptos da Reforma entre os grandes 
homens de negócios bem-sucedidos e mão de obra 
qualificada. A partir daí, procura estabelecer conexões 
entre a doutrina e a pregação protestante, seus efeitos no 
comportamento dos indivíduos e sobre o desenvolvimento 
capitalista. 
Weber descobre que valores do protestantismo – como a 
disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, 
o dever e a propensão ao trabalho – atuavam de maneira 
decisiva sobre os indivíduos. No seio das famílias 
protestantes, os filhos eram criados para o ensino 
especializado e para o trabalho fabril, optando sempre por 
atividades mais adequadas à obtenção do lucro, preferindo 
o cálculo e os estudos técnicos ao estudo humanístico. 
Weber mostra a formação de uma nova mentalidade, um 
ethos propício ao capitalismo, em flagrante oposição ao 
“alheamento” e à atitude contemplativa do catolicismo. 
A importância desse trabalho, no seu sentido teórico 
está em mostrar as relações entre religião e sociedade e 
desvendar particularidades do capitalismo. Além disso, 
através dessa obra, podemos ver de que maneira Weber 
aplica seus conceitos e posturas metodológicas. 
Vejamos alguns dos principais aspectos da análise: 
 
1. A relação entre a religião e a sociedade não se dá por 
meios institucionais, mas através de valores introjetados 
nos indivíduos e transformados em motivos da ação social. 
A motivação do protestante, segundo Weber, é o trabalho, 
enquanto dever e vocação, como um fim absoluto em si 
mesmo, e não o ganho material obtido através dele. 
2. O motivo que mobiliza internamente os indivíduos é 
consciente. Entretanto, os efeitos dos atos individuais 
ultrapassam a meta inicialmente visada. Buscando sair-se 
bem na profissão, mostrando sua própria virtude e 
vocação e renunciando aos prazeres materiais, o 
protestante puritano se adéqua facilmente ao mercado de 
trabalho, acumula capital e o reinveste produtivamente. 
3. Ao cientista cabe, segundo Weber, estabelecer 
conexões entre a motivação dos indivíduos e os efeitos de 
sua ação no meio social. Procedendo assim, Weber analisa 
os valores do catolicismo e do protestantismo, mostrando 
que os últimos revelam a tendência ao racionalismo 
econômico que predominará no capitalismo. 
4. Para constituir o tipo ideal do capitalismo ocidental 
moderno, Weber estuda as diversas características das 
atividades econômicas em diversas épocas e lugares, antes 
é após o surgimento das atividades mercantis e da 
indústria. E, conforme seus preceitos, constrói um tipo 
gradualmente estruturado a partir de suas manifestações 
particulares tomadas à realidade histórica. Assim, diz ser o 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
21 
capitalismo, na sua forma típica, uma organização 
econômica racional assentada no trabalho livre e orientada 
para um mercado real, não para a mera especulação ou 
rapinagem. O capitalismo promove a separação entre 
empresa e residência, a utilização técnica de 
conhecimentos científicos, o surgimento do direito e da 
administração racionalizados. 
(COSTA, Maria Cristina. Sociologia. Introdução à ciência da 
sociedade. 
São Paulo: Editora Moderna, 1990. pp. 60-67) 
 
MAX WEBER E O CONCEITO DE ESTADO 
 
A definição weberiana de Estado é talvez uma das mais 
famosas na Sociologia. No artigo Política como Vocação, 
o autor afirma que o Estado é "uma relação de homens 
que dominam seus iguais, mantida pela violência legítima 
(isto é, considerada legítima)". Assim, na conceituação de 
Weber, o Estado é um aparato administrativo e político 
que detém o monopólio da violência legítima dentro de 
um determinado território, a partir da crença dos 
indivíduos em sua legitimidade. 
Dois pontos são fundamentais na descrição do autor. 
Primeiramente, o monopólio estatal da violência legítima 
não significa que apenas o Estado fará uso da força, pois 
indivíduos e organizações civis poderão eventualmente 
fazer uso da violência física. Entretanto, apenas o Estado é 
autorizado pela sociedade para usá-la com legitimidade. 
Assim, organizações como a máfia italiana ou o crime 
organizado no Brasil são exemplos de grupos que fazem 
uso da força sem, todavia, terem o apoio do resto da 
sociedade para fazê-lo, de forma que a legitimidade do 
Estado não é questionada. Já, os grupos separatistas que 
fazem uso da violência para organizar revoluções de 
cunho político podem, eventualmente, colocar a 
legitimidade estatal em questão se obtiverem o apoio da 
maior parte da população. 
Em segundo lugar, essa autorização social do uso da 
força ocorre porque os dominados aceitam obedecer a 
seus dominantes. Essa aceitação, por sua vez, tem três 
possíveis justificativas. Pode ocorrer devido a uma 
"autoridade do passado eterno, ou seja, dos costumes 
consagrados por meio de validade imemorial", chamada 
de dominação tradicional. Outra possibilidade é que 
ocorra devido ao carisma de um líder (dominação 
carismática). E, como conhecemos nos Estados modernos, 
ocorre através da legalidade, ou seja, é "fundada na crença 
da validade legal e da competência funcional baseada em 
normas racionalmente definidas" (dominação legal). 
 Apesar das particularidades, nos três casos a dominação 
fundamenta-se exclusivamente na crença da maior parte 
das pessoas que fazem parte de um determinado Estado na 
legitimidade do poder daqueles que a domina. Essa 
definição implica que um Estado não mais se manteria se, 
do dia para a noite, a parcela majoritária das pessoas que 
sustentam a sua existência deixasse de acreditar na 
validade do sistema que a governa, passasse a fazer uso da 
força e a acreditar que pode fazê-lolegitimamente. Sendo 
assim, a instituição estatal somente se sustenta com a 
aceitação e com o apoio dos dominados. Weber, de certa 
maneira, se amparara em um elemento psicológico para 
justificar a dominação estatal. Por causa disso, o Estado 
tem que se apresentar permanentemente aos cidadãos 
como legítimo, para manter a crença em sua validade. 
No caso do Estado burocrático, sustentado pela 
dominação legal, estabeleceu-se uma série de normas e 
limites para a legitimidade do uso estatal da violência. 
Dessa forma, a força física só poderá ser usada dentro de 
determinados preceitos, sob o risco de que o Estado perca 
sua legitimidade se desafiá-los. No Estado 
contemporâneo, a instituição de leis que prescrevem as 
situações em que a violência poderá ser usada estabelece 
uma boa possibilidade de que todas as pessoas sejam 
tratadas da mesma forma e que tenham algum controle 
sobre as determinações que os rege. Esses elementos 
foram fundamentais para que o conjunto da sociedade 
abrisse mão do uso legítimo da violência e se submetesse 
a dominação estatal na sociedade moderna. 
(http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/34/artigo21369
8-2.asp) 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES SOCIAIS 
 
Na visão de Max Weber, a função do sociólogo é 
compreender o sentido das chamadas ações sociais, e fazê-
lo é encontrar os nexos causais que as determinam. 
Entende-se que ações imitativas, nas quais não se confere 
um sentido para o agir, não são ditas ações sociais. Mas o 
objeto da Sociologia é uma realidade infinita e para 
analisá-la é preciso construir tipos ideais, que não existem 
de fato, mas que norteiam a referida análise. 
Os tipos ideais servem como modelos e a partir deles a citada 
infinidade pode ser resumida em quatro ações fundamentais, a saber: 
1. Ação social racional com relação a fins, na qual a ação é 
estritamente racional. Toma-se um fim e este é, então, 
racionalmente buscado. Há a escolha dos melhores meios 
para se realizar um fim; 
2. Ação social racional com relação a valores, na qual não é 
o fim que orienta a ação, mas o valor, seja este ético, 
religioso, político ou estético; 
3. Ação social afetiva, em que a conduta é movida por 
sentimentos, tais como orgulho, vingança, loucura, paixão, 
inveja, medo, etc., e 
4. Ação social tradicional, que tem como fonte motivadora 
os costumes ou hábitos arraigados. (Observe que as duas 
últimas são irracionais). 
Para Weber, a ação social é aquela que é orientada ao 
outro. No entanto, há algumas atitudes coletivas que não 
podem ser consideradas sociais. 
 
DIFERENÇAS ENTRE WEBER E DURKHEIM 
 
No que se refere ao método sociológico, Weber difere 
de Durkheim (que tem como método a observação e a 
experimentação, sendo que esta se dá a partir da análise 
comparativa, isto é, faz-se a análise das diversas 
sociedades as quais devem ser comparadas entre si 
posteriormente). Ao tratar os fatos sociais como coisas, 
Durkheim queria mostrar que o cientista precisa romper 
com qualquer pré-noção, ou seja, é necessário, desde o 
começo da pesquisa sobre a sociedade, o abandono dos 
juízos de valores que são próprios ao sociólogo 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
22 
(neutralidade), uma total separação entre o sujeito que 
estuda e o objeto estudado, que também pretendem as 
ciências naturais. No entanto, para Weber, na medida em 
que a realidade é infinita, e quem a estuda faz nela apenas 
um recorte a fim de explicá-la, o recorte feito é prova de 
uma escolha de alguém por estudar isto ou aquilo neste ou 
naquele momento. Nesse sentido, não há, como queria 
Durkheim, uma completa objetividade. Os juízos de valor 
aparecem no momento da definição do tema de estudo. 
Assim foi o seu conviver com a doutrina protestante que 
influenciou Weber na escrita de “A ética protestante e o 
espírito do capitalismo”. Para esse teórico, é apenas após a 
definição do tema, quando se vai partir rumo à pesquisa 
em si, que se faz possível ser objetivo e imparcial. 
Compare-se Durkheim e Weber, agora do ponto de vista 
do objeto de estudo sociológico. O primeiro dirá que a 
Sociologia deve estudar os fatos sociais, que precisam ser: 
gerais, exteriores e coercitivos, além de objetivos, para esta 
ser chamada corretamente de “ciência”. Enquanto o segundo 
optará pelo estudo da ação social que, como descrita acima, é 
dividida em tipologias. Ademais, diferentemente de 
Durkheim, Weber não se apoia nas ciências naturais a fim de 
construir seus métodos de análises e nem mesmo acredita ser 
possível encontrar leis gerais que expliquem a totalidade do 
mundo social. O seu interesse não é, portanto, descobrir 
regras universais para fenômenos sociais. Mas quando rejeita 
as pesquisas que se resumem a uma mera descrição dos fatos, 
ele, por seu turno, caminha em busca de leis causais, as quais 
são suscetíveis de entendimento a partir da racionalidade 
científica. 
(http://www.brasilescola.com/filosofia/a-definicao-acao-social-max-
weber.htm) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• O ponto de partida da Sociologia de Weber não estava nas 
entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto de 
investigação é a ação social, a conduta humana dotada de 
sentido. Assim o homem ganhou, na teoria weberiana, 
significado e especificidade. O homem dá sentido à sua ação 
social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação 
propriamente dita e seus efeitos. Para a Sociologia weberiana, 
os acontecimentos que integram o social têm origem nos 
indivíduos. 
• O que garante a cientificidade de uma explicação é o método 
de reflexão, não a objetividade pura dos fatos. Weber relembra 
sempre que, embora os acontecimentos sociais possam ser 
quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão 
de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão. 
• Para atingir a explicação dos fatos sociais, Weber construiu 
um instrumento de análise que chamou de tipo ideal. Trata-se 
de uma criação abstrata a partir de casos particulares 
observados. O tipo ideal não é um modelo a ser alcançado nem 
um acontecimento observável. É uma construção do 
pensamento, uma “lupa” que auxilia o cientista. 
• Weber descobre que valores do protestantismo – como a 
disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o 
dever e a propensão ao trabalho – atuavam de maneira decisiva 
sobre os indivíduos e sobre o desenvolvimento capitalista. A 
relação entre a religião e a sociedade não se dá por meios 
institucionais, mas através de valores introjetados nos 
indivíduos e transformados em motivos da ação social. Ao 
cientista cabe, segundo Weber, estabelecer conexões entre a 
motivação dos indivíduos e os efeitos de sua ação no meio 
social. 
• Na conceituação de Weber, o Estado é um aparato 
administrativo e político que detém o monopólio da violência 
legítima dentro de um determinado território, a partir da crença 
dos indivíduos em sua legitimidade. Essa condição afirma-se 
em dois fundamentos principais: apenas o Estado é autorizado 
pela sociedade para usá-la com legitimidade e essa autorização 
social do uso da força ocorre porque os dominados aceitam 
obedecer a seus dominantes. 
• No caso do Estado burocrático, sustentado pela dominação 
legal, estabeleceu-se uma série de normas e limites para a 
legitimidade do uso estatal da violência. Dessa forma, a força 
física só poderá ser usada dentro de determinados preceitos, 
sob o risco de que o Estado perca sua legitimidade se desafiá-
los. 
 
 
Exercícios 
 
1. (ENEM 2010/2) 
 
 
 
Nova Escola, nº 226, out. 2009. 
 
A tirinha mostra que o ser humano, na busca de atender 
suas necessidades e de se apropriar dos espaços: 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
23 
a) adotou a acomodação evolucionária como forma de 
sobrevivência ao se dar conta de suas deficiências 
impostas pelo meio ambiente. 
b) utilizou o conhecimento e a técnica para criar 
equipamentos que lhe permitamcompensar as suas 
limitações físicas. 
c) levou vantagens em relação aos seres de menor 
estatura, por possuir um físico bastante desenvolvido, 
que lhe permitia muita agilidade. 
d) dispensou o uso da tecnologia por ter um organismo 
adaptável aos diferentes tipos de meio ambiente. 
e) sofreu desvantagens em relação a outras espécies, por 
utilizar os recursos naturais como forma de se 
apropriar dos diferentes espaços. 
 
2. (ENEM 2010/2) Se, por um lado, o ser humano, como 
animal, é parte integrante da natureza e necessita dela para 
continuar sobrevivendo, por outro, como ser social, cada 
dia mais sofistica os mecanismos de extrair da natureza 
recursos que, ao serem aproveitados, podem alterar de 
modo profundo a funcionalidade harmônica dos ambientes 
naturais. 
ROSS, J. L. S. (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2005 
(adaptado) 
 
A relação entre a sociedade e a natureza vem sofrendo 
profundas mudanças em razão do conhecimento técnico. 
A partir da leitura do texto, identifique a possível 
consequência do avanço da técnica sobre o meio natural. 
 
a) A sociedade aumentou o uso de insumos químicos – 
agrotóxicos e fertilizantes – e, assim, os riscos de 
contaminação. 
b) O homem, a partir da evolução técnica, conseguiu 
explorar a natureza e difundir harmonia na vida 
social. 
c) As degradações produzidas pela exploração dos 
recursos naturais são reversíveis, o que, de certa 
forma, possibilita a recriação da natureza. 
d) O desenvolvimento técnico, dirigido para a 
recomposição de áreas degradadas, superou os efeitos 
negativos da degradação. 
e) As mudanças provocadas pelas ações humanas sobre 
a natureza foram mínimas, uma vez que os recursos 
utilizados são de caráter renovável. 
 
3. (ENEM 2015) Diante de ameaças surgidas com a 
engenharia genética de alimentos, vários grupos da 
sociedade civil conceberam o chamado “princípio da 
precaução”. O fundamento desse princípio é: quando uma 
tecnologia ou produto comporta alguma ameaça à saúde 
ou ao ambiente, ainda que não se possa avaliar a natureza 
precisa ou a magnitude do dano que venha a ser causado 
por eles, deve-se evitá-los ou deixá-los de quarentena para 
maiores estudos e avaliações antes de sua liberação. 
 SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da 
montanha-russa. 
São Paulo: Cia. das Letras, 2001 (adaptado). 
 
O texto expõe uma tendência representativa do 
pensamento social contemporâneo, na qual o 
desenvolvimento de mecanismos de acautelamento ou 
administração de riscos tem como objetivo 
a) priorizar os interesses econômicos em relação aos 
seres humanos e à natureza. 
b) negar a perspectiva científica e suas conquistas por 
causa de riscos ecológicos. 
c) instituir o diálogo público sobre mudanças 
tecnológicas e suas consequências. 
d) combater a introdução de tecnologias para travar o 
curso das mudanças sociais. 
e) romper o equilíbrio entre benefícios e riscos do 
avanço tecnológico e científico. 
 
4. (ENEM 2015) A questão ambiental, uma das principais 
pautas contemporâneas, possibilitou o surgimento de 
concepções políticas diversas, dentre as quais se destaca a 
preservação ambiental, que sugere uma ideia de 
intocabilidade da natureza e impede o seu aproveitamento 
econômico sob qualquer justificativa. 
PORTO-GONÇALVES, C. W. A globalização da natureza e a 
natureza da globalização. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado). 
 
Considerando as atuais concepções políticas sobre a 
questão ambiental, a dinâmica caracterizada no texto 
quanto à proteção do meio ambiente está baseada na 
a) prática econômica sustentável. 
b) contenção de impactos ambientais. 
c) utilização progressiva dos recursos naturais. 
d) proibição permanente da exploração da natureza. 
e) definição de áreas prioritárias para a exploração 
econômica. 
 
5. (ENEM 2010/1) A evolução do processo de 
transformação de matérias-primas em produtos acabados 
ocorreu em três estágios: artesanato, manufatura e 
maquinofatura. 
Um desses estágios foi o artesanato, em que se: 
a) trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de 
maneira padronizada. 
b) trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de 
modo diferente do modelo de produção em série. 
c) empregavam fontes de energia abundantes para o 
funcionamento das máquinas. 
d) realizava parte da produção por cada operário, com 
uso de máquinas e trabalho assalariado. 
e) faziam interferências do processo produtivo por 
técnicos e gerentes com vistas a determinar o ritmo de 
produção. 
 
6. (ENEM 2010/1) A Inglaterra pedia lucros e recebia 
lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham 
sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça 
lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os 
novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando 
mais a escravização do homem que seu poder. 
DEANE, P. A revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 
(adaptado) 
 
Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços 
tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
24 
Industrial Inglesa e as características das cidades 
industriais no início do século XIX? 
a) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas 
transformava as cidades em espaços privilegiados 
para a livre iniciativa, característica da nova 
sociedade capitalista. 
b) O desenvolvimento de métodos de planejamento 
urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial. 
c) A construção de núcleos urbanos integrados por 
meios de transporte facilitava o deslocamento dos 
trabalhadores das periferias até as fábricas. 
d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as 
fábricas revelava os avanços da engenharia e da 
arquitetura do período, transformando as cidades em 
locais de experimentação estética e artística. 
e) O alto nível de exploração dos trabalhadores 
industriais ocasionava o surgimento de aglomerados 
urbanos marcados por péssimas condições de 
moradia, saúde e higiene. 
 
7. (ENEM 2013) Na produção social que os homens 
realizam, eles entram em determinadas relações 
indispensáveis e independentes da sua vontade; tais 
relações de produção correspondem a um estágio definido 
de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. 
A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica 
da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as 
superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem 
determinadas formas de consciência social. 
MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In. MARX, K. 
ENGELS F. Textos 3. 
São Paulo. Edições Sociais, 1977 (adaptado). 
 
Para o autor, a relação entre economia e política 
estabelecida no sistema capitalista faz com que: 
a) o proletariado seja contemplado pelo processo de 
mais-valia. 
b) o trabalho se constitua como o fundamento real da 
produção material. 
c) a consolidação das forças produtivas seja compatível 
com o progresso humano. 
d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao 
desenvolvimento econômico. 
e) a burguesia revolucione o processo social de 
formação da consciência de classe 
 
8. (ENEM 2015) No início foram as cidades. O intelectual 
da Idade Média — no Ocidente — nasceu com elas. Foi 
com o desenvolvimento urbano ligado às funções 
comercial e industrial — digamos modestamente artesanal 
— que ele apareceu, como um desses homens de ofício 
que se instalavam nas cidades nas quais se impôs a divisão 
do trabalho. Um homem cujo ofício é escrever ou ensinar, 
e de preferência as duas coisas a um só tempo, um homem 
que, profissionalmente, tem uma atividade de professor e 
erudito, em resumo, um intelectual — esse homem só 
aparecerá com as cidades. 
LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 2010. 
 
O surgimento da categoria mencionada no período em 
destaque no texto evidencia o(a) 
a) apoio dado pela Igreja ao trabalhoabstrato. 
b) relação entre desenvolvimento urbano e divisão do 
trabalho. 
c) importância organizacional das corporações de ofício. 
d) progressiva expansão da educação escolar. 
e) acúmulo de trabalho dos professores e eruditos. 
 
9. (ENEM 2012) 
 
 
Disponível em http://primeira-serie.blogspot.com.br. 
Acesso em: 07 de dez. 2011 (adaptado) 
 
Na imagem do início do século XX, identifica-se um 
modelo produtivo cuja forma de organização fabril 
baseava-se na 
a) autonomia do produtor direto. 
b) adoção da divisão sexual do trabalho. 
c) exploração do trabalho repetitivo. 
d) utilização de empregados qualificados. 
e) incentivo à criatividade dos funcionários. 
 
10. (ENEM 2015) Dominar a luz implica tanto um avanço 
tecnológico quanto uma certa liberação dos ritmos cíclicos 
da natureza, com a passagem das estações e as 
alternâncias de dia e noite. Com a iluminação noturna, a 
escuridão vai cedendo lugar à claridade, e a percepção 
temporal começa a se pautar pela marcação do relógio. Se 
a luz invade a noite, perde sentido a separação tradicional 
entre trabalho e descanso — todas as partes do dia podem 
ser aproveitadas produtivamente. 
SILVA FILHO, A. L. M. Fortaleza: imagens da cidade. 
Fortaleza: Museu do Ceará; Secult-CE, 2001 (adaptado). 
 
Em relação ao mundo do trabalho, a transformação 
apontada no texto teve como consequência a 
a) melhoria da qualidade da produção industrial. 
b) redução da oferta de emprego nas zonas rurais. 
c) permissão ao trabalhador para controlar seus próprios 
horários. 
d) diminuição das exigências de esforço no trabalho com 
máquinas. 
e) ampliação do período disponível para a jornada de 
trabalho. 
 
 
 
 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
25 
11. (ENEM 2013) Um trabalhador em tempo flexível 
controla o local do trabalho, mas não adquire maior 
controle sobre o processo em si. A essa altura, vários 
estudos sugerem que a supervisão do trabalho é muitas 
vezes maior para os ausentes do escritório do que para os 
presentes. O trabalho é fisicamente descentralizado e o 
poder sobre o trabalhador, mais direto. 
SENETT, R. A corrosão do caráter. Consequências pessoais do novo 
capitalismo. 
Rio de Janeiro: Record, 1999 (adaptado) 
 
Comparada à organização do trabalho característica do 
taylorismo e do fordismo, a concepção de tempo analisada 
no texto pressupõe que: 
a) As tecnologias de informação sejam usadas para 
democratizar as relações laborais. 
b) As estruturas burocráticas sejam transferidas da 
empresa para o espaço doméstico. 
c) Os procedimentos de terceirização sejam aprimorados 
pela qualificação profissional. 
d) As organizações sindicais sejam fortalecidas com a 
valorização da especialização funcional. 
e) Os mecanismos de controle sejam deslocados dos 
processos para os resultados do trabalho. 
 
12. (ENEM 2011) Estamos testemunhando o reverso da 
tendência histórica da assalariação do trabalho e 
socialização da produção, que foi característica 
predominante na era industrial. A nova organização social 
e econômica baseada nas tecnologias da informação visa à 
administração descentralizadora, ao trabalho 
individualizante e aos mercados personalizados. As novas 
tecnologias da informação possibilitam, ao mesmo tempo, 
a descentralização das tarefas e sua coordenação em uma 
rede interativa de comunicação em tempo real, seja entre 
continentes, seja entre os andares de um mesmo edifício. 
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006 
(adaptado) 
 
No contexto descrito, as sociedades vivenciam mudanças 
constantes nas ferramentas de comunicação que afetam os 
processos produtivos nas empresas. Na esfera do trabalho, 
tais mudanças têm provocado: 
a) o aprofundamento dos vínculos dos operários com as 
linhas de montagem sob a influência dos modelos 
orientais de gestão. 
b) o aumento das formas de teletrabalho como solução 
de larga escala para o problema do desemprego 
crônico. 
c) o avanço do trabalho flexível e da terceirização 
respostas às demandas por inovação e com vistas à 
mobilidade dos investimentos. 
d) a autonomização crescente das máquinas e 
computadores em substituição ao trabalho dos 
especialistas técnicos e gestores. 
e) o fortalecimento do diálogo entre operários, gerentes, 
executivos e clientes com a garantia de harmonização 
das relações de trabalho. 
 
 
 
 
13. (ENEM 2011) A introdução de novas tecnologias 
desencadeou uma série de efeitos sociais que afetaram os 
trabalhadores e sua organização. O uso de novas 
tecnologias trouxe a diminuição do trabalho necessário 
que se traduz na economia líquida do tempo de trabalho, 
uma vez que, com a presença da automação 
microeletrônica, começou a ocorrer a diminuição dos 
coletivos operários e uma mudança na organização dos 
processos de trabalho. 
Revista Eletrônica de Geografia y Ciências Sociales 
Universidad de Barcelona. No 170(9), 1 ago. 2004. 
 
A utilização de novas tecnologias tem causado inúmeras 
alterações no mundo do trabalho. Essas mudanças são 
observadas em um modelo de produção caracterizado: 
a) pelo uso intensivo do trabalho manual para 
desenvolver produtos autênticos e personalizados. 
b) pelo ingresso tardio das mulheres no mercado de 
trabalho no setor industrial. 
c) pela participação ativa das empresas e dos próprios 
trabalhadores no processo de qualificação laboral. 
d) pelo aumento na oferta de vagas para trabalhadores 
especializados em funções repetitivas. 
e) pela manutenção de estoques de larga escala em 
função da alta produtividade. 
 
14. (ENEM 2014) 
 
 
NEVES, E. Engraxate. Disponível em: www.grafar.blogspot.com. 
Acesso em: 15 fev. 2013. 
 
Considerando-se a dinâmica entre tecnologia e 
organização de trabalho, a representação contida no 
cartum é caracterizada pelo pessimismo em relação à 
a) ideia de progresso. 
b) concentração do capital. 
c) noção de sustentabilidade. 
d) organização dos sindicatos. 
e) obsolescência dos equipamentos. 
 
15. (ENEM 2015) No final do século XX e em razão dos 
avanços da ciência, produziu-se um sistema presidido 
pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um 
papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao 
novo sistema uma presença planetária. Um mercado que 
utiliza esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa 
globalização perversa. 
SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 
2008 (adaptado). 
 
 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
26 
Uma consequência para o setor produtivo e outra para o 
mundo do trabalho advindas das transformações citadas 
no texto estão presentes, respectivamente, em: 
a) Eliminação das vantagens locacionais e ampliação da 
legislação laboral. 
b) Limitação dos fluxos logísticos e fortalecimento de 
associações sindicais. 
c) Diminuição dos investimentos industriais e 
desvalorização dos postos qualificados. 
d) Concentração das áreas manufatureiras e redução da 
jornada semanal. 
e) Automatização dos processos fabris e aumento dos 
níveis de desemprego. 
 
16. (ENEM 2015) Tanto potencial poderia ter ficado pelo 
caminho se não fosse o reforço em tecnologia que um 
gaúcho buscou. Há pouco mais de oito anos, ele usava o 
bico da botina para cavoucar a terra e descobrir o nível de 
umidade do solo, na tentativa de saber o momento ideal 
para acionar os pivôs de irrigação. Até que conheceu uma 
estação meteorológica que, instalada na propriedade, 
ajuda a determinar a quantidade de água de que a planta 
necessita. Assim, quando inicia um plantio, o agricultor já 
entra no site do sistema e cadastra a área, o pivô, a cultura, 
o sistema de plantio, o espaçamento entre linhas e o 
número de plantas, para então receber recomendações 
diretamente dos técnicos da universidade. 
CAETANO, M. O valor de cada gota. Globo Rural, n. 312, out. 2011. 
 
A implementação das tecnologias mencionadas no texto 
garante o avanço do processode 
a) monitoramento da produção. 
b) valorização do preço da terra. 
c) correção dos fatores climáticos. 
d) divisão de tarefas na propriedade. 
e) estabilização da fertilidade do solo. 
 
 
GABARITO 
 
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 
B A C D B E B B C E 
 
11 12 13 14 15 16 
E C C A E A 
 
 
 
 UNIDADE 7 
 
A SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA 
 
O Século XX foi marcado por vários acontecimentos e 
intensas transformações: duas guerras mundiais, a Revolução 
Russa, a quebra da bolsa de Nova York, a explosão da bomba 
atômica no Japão, a Guerra do Vietnã, a Revolução Cubana, 
o assassinato do presidente Kennedy nos EUA, a Revolução 
Cultural na China, o primeiro homem na Lua, a criação da 
Internet, a queda do muro de Berlim e o fim da União 
Soviética. Enfim, ocorreram várias modificações nas 
estruturas econômica, política, social e cultural e a indústria 
ganhou força com as novas tecnologias emergentes. Todos 
esses acontecimentos influenciaram nas transformações 
estruturais, mas também, e sobremaneira, nas produções 
intelectuais. 
Nesse século, eclodiram várias escolas e vários pensadores. 
A Sociologia institucionalizou-se e uma pluralidade de 
discursos ideológicos conquistou espaço. Existem vários 
outros pensadores da Sociologia contemporânea, mas os que 
revisaremos a continuação são os que mais se destacaram e 
inspiraram estudos, pesquisas e discussões no Brasil. 
 
NORBERT ELIAS 
 
Sociólogo nascido na Alemanha. Obrigado a exilar-se 
pelo regime nazista em 1933, refugiou-se na França antes 
de se estabelecer definitivamente na Grã-Bretanha. Depois 
de uma sólida formação em filosofia e medicina na 
Universidade de Breslau (Wroclaw), sua cidade natal, em 
1925 foi morar em Heidelberg, onde abandona a filosofia 
para dedicar-se à sociologia. Em 1954 torna-se lecturer em 
sociologia da Universidade de Leicester. Suas principais 
obras são: A Sociedade da Corte (1933), O Processo 
Civilizador (1939) dois volumes; O que é Sociologia 
(1970), Sobre o Tempo (1984), A Sociedade dos 
Indivíduos (1970), Os Alemães (1989) e Os Estabelecidos 
e os Outsiders (escrito em 1950 e publicado em 1994). 
 
 
Norbert Elias (1897-1990) 
 
A sociologia figuracional ou configuracional, mas chamada 
por Elias de Sociologia processual, ganhou reconhecimento 
por meio da teoria dos “processos civilizadores”. Conforme a 
sociologia figuracional “[...] os seres humanos nascem em 
redes de relações de interdependência entre indivíduos, e as 
estruturas sociais que eles formam entre si possuem uma 
dinâmica emergente que não pode ser reduzida a ações ou 
motivações individuais. Tal dinâmica emergente molda o 
crescimento, o desenvolvimento e a trajetória da vida dos 
indivíduos. As figurações estão em constante estado de fluxo e 
transformação e, ainda, as transformações de longo prazo nas 
figurações sociais humanas não são passíveis de planejamento 
prévio e previsão. Assim, Elias entende que, no âmbito de tais 
figurações, ocorre o desenvolvimento do conhecimento” 
(Cesarino, 2012, p.357-358). Elias procurava entender as 
relações entre indivíduo e sociedade e, para isso, mobilizou três 
campos de conhecimento: sociologia, psicologia e história. 
 (KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia para 
vestibular e Enem. Introdução e Conceitos Básicos. 
São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 91-92) 
 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
27 
A obra O Processo Civilizador divide-se em dois volumes. 
Primeiramente, Elias apresenta a história dos costumes e 
analisa o desenvolvimento dos diferentes conceitos de cultura 
e civilização na Alemanha, na Inglaterra e na França. Em um 
segundo momento, o pensador explora a civilidade como 
transformação dos costumes, das “boas maneiras”. Ou seja, 
Elias demonstra como os padrões de violência, de 
comportamento sexual, de funções corporais, de boas 
maneiras à mesa transformaram-se em função da vergonha e 
do nojo, atuando para fora de um núcleo da corte aristocrática 
européia pós-medieval. Essa transformação na educação 
juvenil era condizente com os desejos da classe burguesa que 
tomou o poder no final da Idade Média e precisava ser 
civilizada. O segundo volume aborda as causas desses 
processos e reconhece-os nas cada vez mais centralizadas e 
diferenciadas interconexões na sociedade. Existe uma 
tendência de naturalização dos hábitos e costumes, e o que 
Elias pretende mostrar é que determinados costumes não 
podem ser naturalizados, porque as relações sociais para e 
pelos homens atendem a seus desejos em uma determinada 
época (Oliveira; Oliveira, 2012). 
“O principal critério para definir a direção do processo 
civilizador é a mudança na balança entre coerção externa 
(penalidades, punições, prisões, etc.) e autocoerção 
(educação, civilidade, cortesia), na qual a balança pende para 
a autocoerção, para a educação e a civilidade. Quando a 
sociedade é civilizada e educada (autocoerção), as punições 
são menos necessárias. Quando as pessoas são disciplinadas 
e educadas sistematicamente, quando se conscientizam de 
que determinados hábitos são indesejáveis, sujeitam-se às 
regras difundidas pela sociedade. Desenvolve-se um padrão 
social de comportamento/sentimento que produz um 
autocontrole mais estável e diferenciado, além de um 
aumento na identificação mútua entre as pessoas, ou seja, ou 
seja, um aumento da sensibilidade dos homens gerando uma 
sensação de pertencimento a um grupo, á uma raça” 
(Oliveira; Oliveira, 2012, p.6). 
A obra de Norbert Elias só tardiamente teve 
reconhecimento público. Sua reflexão mostra-se centrada 
numa crítica cada vez mais aprofundada da noção de 
indivíduo tal como tematizado pela filosofia clássica dos 
séculos XVII e XVIII e herdado pela sociologia, seja em 
forma de adesão ou de recusa peremptória. Elias dirige a 
atenção para o processo de individualização: esse processo 
mostra o indivíduo como um campo de forças determinado 
pelas relações sociais existentes. Portanto, ele nega a 
oposição conceitual clássica entre indivíduo e sociedade, e 
fala da “sociedade dos indivíduos”. A autoconsciência não 
deve constituir o princípio da análise; ao contrário é a 
interdependência dos indivíduos (como a que se pode 
descobrir, por exemplo, num jogo de xadrez ou na dança de 
Corte do século XVII) que deve predominar. A configuração 
social modela o próprio indivíduo captando-o através do jogo 
de afetos. 
Como sociólogo, Elias recorre com abundância e força à 
história para fundamentar sua tese filosófica. Critica o 
anistoricismo da sociologia contemporânea. Sua obra maior 
(1939) apresenta-se assim como uma reflexão sobre o 
“processo da civilização no Ocidente”. Entre a Idade Média e 
o século XIX, dois processos afetam as sociedades 
ocidentais: monopolização cada vez maior da violência pelo 
Estado, diferenciação cada vez maior dos papéis sociais. 
Correlativamente, o controle das pulsões individuais se 
modifica, passando da coerção exterior a um mecanismo 
estável de autocontrole ou “disciplina”. A noção filosófica de 
indivíduo, tal como Kant (objeto da sua tese em 1924) 
admite, parece-lhe fundada no esquecimento desse processo 
que fez coincidir o aparecimento da “vida privada” como 
correlato da constituição do Estado monárquico. A ideia de 
“autoconsciência” alimenta um engodo baseado nesse 
esquecimento. Esse processo mostra-se passível de regressão, 
como demonstra a experiência da Alemanha nazista, sobre a 
qual Elias não cessa de refletir. O Holocausto parece-lhe 
provar o terrível elo que associa a mais radical das violências 
estatais ao estrito autocontrole SOS afetos dos executantes da 
chamada solução final. 
 (HUISMAN, Denis. Dicionário dos Filósofos. 
São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 322) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Os seres humanos nascem em redes de relações de 
interdependência entre indivíduos, e as estruturas sociais que 
eles formam entre si possuem uma dinâmicaemergente que 
não pode ser reduzida a ações ou motivações individuais. Tal 
dinâmica emergente molda o crescimento, o desenvolvimento e 
a trajetória da vida dos indivíduos. 
• O principal critério para definir a direção do processo 
civilizador é a mudança na balança entre coerção externa e 
autocoerção, na qual a balança pende para a autocoerção, para 
a educação e a civilidade. Quando a sociedade é civilizada e 
educada (autocoerção), as punições são menos necessárias. 
Quando as pessoas são disciplinadas e educadas 
sistematicamente, quando se conscientizam de que 
determinados hábitos são indesejáveis, sujeitam-se às regras 
difundidas pela sociedade. 
• Elias dirige a atenção para o processo de individualização: 
esse processo mostra o indivíduo como um campo de forças 
determinado pelas relações sociais existentes. Portanto, ele 
nega a oposição conceitual clássica entre indivíduo e 
sociedade, e fala da “sociedade dos indivíduos”. A 
autoconsciência não deve constituir o princípio da análise; ao 
contrário é a interdependência dos indivíduos que deve 
predominar. 
 
JÜRGEN HABERMAS 
 
Jurgen Habermas nasceu no dia 18 de junho de 1929, 
em Gummersbach, na Alemanha. Esse filósofo e 
sociólogo formou-se na Universidade Georg August de 
Göttingen. Em 1954, doutorou-se em filosofia na 
Universidade de Bonn. O pensador é associado à segunda 
geração da escola de Frankfurt e está inserido na tradição 
da teoria crítica e do pragmatismo, sendo mais conhecido 
pela teoria da racionalidade comunicativa. Suas principais 
obras são: Entre a Filosofia e a Ciência – O Marxismo 
como crítica (1960); Reflexões Sobre o Conceito de 
Participação Pública (1961); Evolução Estrutural da 
Vida Pública (1962); Teoria e Práxis (1963); Lógica das 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
28 
Ciências Sociais (1967); Conhecimento e Interesse 
(1968); Técnica e Ciência como Ideologia (1968); 
Consciência Moral e Agir Comunicativo (1983) e Entre 
Faticidade e Validade (1994). 
 
 
Jurgen Habermas (1929) 
 
A obra de Habermas desenvolve-se na perspectiva da 
teoria crítica da sociedade iniciada pela escola de Frankfurt, 
pretendendo ser uma revisão e uma atualização do 
marxismo capaz de dar conta das características do 
capitalismo avançado da sociedade industrial 
contemporânea. Inspirando-se em Weber, Habermas toma 
como ponto central de sua análise a racionalidade dessa 
sociedade, caracterizando-a em termos e uma razão 
instrumental, que visa estabelecer os meios para se alcançar 
um fim determinado. Segundo essa análise, o 
desenvolvimento técnico, e a ciência voltada para a 
aplicação técnica, que resultam dessa razão instrumental, 
acarretam a perda da autonomia do próprio bem, submetido 
igualmente às regras de dominação técnica do mundo 
natural. Para Habermas, numa perspectiva crítica, é 
necessário, portanto recuperar a dimensão da interação 
humana, de uma racionalidade não instrumental, baseada no 
agir comunicativo entre sujeitos livres, de caráter 
emancipador em relação à dominação técnica. A ideologia 
corresponde, para Habermas, à distorção dessa 
possibilidade de ação comunicativa, produzindo relações 
assimétricas e impedindo que a interação se realize 
plenamente. A crítica, ao explicitar as condições da ação 
comunicativa, implícitas em todo uso significativo do 
discurso, permite o desmascaramento da ideologia e a 
retomada da razão emancipadora. Nesse sentido, a proposta 
de Habermas formula-se em termos de uma teoria da ação 
comunicativa, recorrendo inclusive à filosofia analítica da 
linguagem para tematizar essas condições do uso da 
linguagem livre de distorção como fundamento de uma 
nova racionalidade. Contra os críticos da modernidade, que 
se caracterizam pela racionalidade técnica, como Lyotard, 
Habermas, no entanto, defende o racionalismo do projeto 
iniciado pelo Iluminismo, considerando-o como projeto 
ainda a ser desenvolvido e ainda significativo para nossa 
época, desde que a razão seja entendida criticamente, no 
sentido de agir comunicativo. 
 (JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de 
Filosofia. 
Rio de Janeiro: Zahar, 2006. p. 126) 
 
 A teoria da ação comunicativa de Habermas pressupõe 
que os homens agem como sujeitos dotados de capacidade 
de ação e de racionalidade, como na concepção weberiana. 
“[...] Para Habermas, a ação comunicativa surge como uma 
intenção de, no mínimo dois sujeitos, capazes de falar e 
agir, que estabelecem relações interpessoais com o objetivo 
de alcançar uma compreensão sobre a situação em que 
ocorre a interação e sobre os respectivos planos de ação 
com vistas a coordenar suas ações pela via do 
entendimento. Neste processo, eles se remetem a pretensões 
de validade criticáveis quanto à sua veracidade, correção 
normativa e autenticidade, cada uma destas pretensões 
referindo-se respectivamente a um mundo objetivo dos 
fatos, a um mundo social das normas e a um mundo de 
experiências subjetivas (Pinto, 1995, p.80, grifos do autor). 
A teoria de Habermas procura entender a modernidade 
ocidental por meio da perspectiva da racionalidade cultural 
e dos efeitos do processo de racionalização sobre os atores 
sociais. Isso ocorre por meio da lógica estratégica (sistema 
que organiza mercado e Estado) e da lógica da 
racionalidade comunicativa (organização da solidariedade e 
da identidade). 
 (KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia para 
vestibular e Enem. Introdução e Conceitos Básicos. 
São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 90-91) 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Para Habermas, o desenvolvimento técnico, e a ciência 
voltada para a aplicação técnica, que resultam dessa razão 
instrumental, acarretam a perda da autonomia do próprio bem, 
submetido igualmente às regras de dominação técnica do 
mundo natural. 
• É necessário recuperar a dimensão da interação humana, de 
uma racionalidade não instrumental, baseada no agir 
comunicativo entre sujeitos livres, de caráter emancipador em 
relação à dominação técnica. A ideologia corresponde, para 
Habermas, à distorção dessa possibilidade de ação 
comunicativa, produzindo relações assimétricas e impedindo 
que a interação se realize plenamente. 
• A ação comunicativa surge como uma intenção de, no mínimo 
dois sujeitos, capazes de falar e agir, que estabelecem relações 
interpessoais com o objetivo de alcançar uma compreensão 
sobre a situação em que ocorre a interação e sobre os 
respectivos planos de ação com vistas a coordenar suas ações 
pela via do entendimento. 
 
MICHEL FOUCAULT 
 
Michel Foucault nasceu no dia 15 de outubro de 1926, 
na cidade de Poitiers, na França. O pensador nasceu em 
uma família tradicional de médicos, mas rompeu com a 
tradição, graduando-se em história, filosofia e psicologia. 
Como Foucault tentou por várias vezes o suicídio, 
aproximou-se da psicologia e psiquiatria, produzindo 
diversas obras sobre esse tema. Foucault morreu no dia 26 
de junho de 1984, aos 57 anos, de Aids. Suas principais 
obras são: O Nascimento da Clínica (1963), As Palavras e 
as Coisas (1966), Arqueologia do Saber (1968), História 
da Loucura (1972), Vigiar e Punir (1975), História da 
Sexualidade (1976) e Microfísica do Poder (1979). 
 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
29 
 
Michel Foucault (1926-1984) 
 
Em um primeiro momento, Foucault seguiu uma linha 
estruturalista, mas em obras como Vigiar e Punir e A História 
da Sexualidade, ele é concebido como pós-estruturalista. Para 
muitos autores, entre eles, Veiga-Neto (2003), a obra de 
Foucault pode ser dividida em três momentos: arqueológica 
(ser-saber); genealógica (ser-poder-ação de uns com os outros); 
ética (ser-consigo-ação de cada um consigo próprio). Nos 
estudos sobre o saber do referido pensador, o poder e o sujeito 
inovaram o campo reflexivo sobre essas questões. O conceito 
principal do autor é o poder, que não se encontra única e 
exclusivamentenas mãos do Estado, inserido na esfera estatal 
ou institucional, como defendia Karl Marx. Para Foucault, esse 
conceito está presente em todos os momentos da vida das 
pessoas e ninguém está a salvo dele. Além da repressão, o 
poder também produz efeitos de saber e verdade, para um 
determinado tempo e espaço (Ferreirinha; Raitz, 2010). 
Foucault discorre que as relações de poder postas, “[...] seja 
pelas instituições, escolas, prisões, quartéis, foram marcadas 
pela disciplina: ‘mas a disciplina traz consigo uma maneira 
específica de punir, que é apenas um modelo reduzido do 
tribunal’ (Foucault, 2008: 149). É pela disciplina que as 
relações de poder se tornam mais facilmente observáveis, pois 
é por meio da disciplina que se estabelecem as relações: 
opressor-oprimido, mandante-mandatário, persuasivo-
persuadido, e tantas quantas forem as relações que exprimam 
comando e comandados [...]” (Ferreirinha; Raitz, 2010, p.371). 
Nas palavras de Foucault (2201, p.302): “O poder, isto 
não existe. Eu quero dizer isto: a ideia que há, um lugar 
qualquer, ou emanando de um ponto qualquer, algo que é 
um poder, parece-me descansar sobre uma análise 
falsificada, e que, em todo caso, não se dar conta de um 
número considerável de fenômenos”. E continua: 
“Quando fala-se de poder, as pessoas pensam 
imediatamente em uma estrutura política, um governo, 
uma classe social dominante, o mestre frente ao escravo 
etc. Isto não é de nenhum modo aquilo que eu penso 
quando falo de relações de poder. Eu quero dizer que, nas 
relações humanas, quaisquer que sejam – que trate de 
comunicar verbalmente, como fazemo-lo agora, ou que 
trate-se de relações amorosas, institucionais ou 
econômicas –, o poder continua presente: que quero dizer 
a relação na qual um quer tentar dirigir a conduta do 
outro. Estas são, por conseguinte, relações que pode-se 
encontrar em diverso níveis, sob diferentes formas; estas 
relações de poder são relações móveis, ou seja elas podem 
alterar-se, elas não são dadas de uma vez para sempre” 
(Foucault, 2001, p.1538). 
Foucault também abordou a figura do panóptico “ver 
sem ser visto”, projeto arquitetônico inventado por Jeremy 
Bentham que garantia que todos os prisioneiros fossem 
vigiados por uma torre central em uma construção circular 
periférica. Os indivíduos a serem vigiados eram 
presidiários e loucos. No lugar em que estavam, não 
conseguiam saber se estavam sendo vigiados. A 
possibilidade da vigilância constante incita o sentimento 
de autorregulamentação, assegurando o funcionamento 
automático do poder. 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• O conceito principal de Foucault é o poder, que não se 
encontra única e exclusivamente nas mãos do Estado, inserido 
na esfera estatal ou institucional. Para Foucault, esse conceito 
está presente em todos os momentos da vida das pessoas e 
ninguém está a salvo dele. 
• Além da repressão, o poder também produz efeitos de saber e 
verdade, para um determinado tempo e espaço. 
• É pela disciplina que as relações de poder se tornam mais 
facilmente observáveis, pois é por meio da disciplina que se 
estabelecem todo tipo de relações que exprimam comando e 
comandados. 
• A possibilidade da vigilância constante incita o sentimento de 
autorregulamentação, assegurando o funcionamento automático 
do poder. 
 
PIERRE BOURDIEU 
 
O sociólogo francês é um dos mais importantes pensadores 
da contemporaneidade, em razão de ter exercido e continuar 
exercendo significativa influência no ramo da Sociologia: 
“[...] neto e filho de agricultores de uma província periférica, 
ele chegou ao ápice da pirâmide cultural francesa e tornou-se 
o mais citado cientista social do mundo [...]” (Wacquant, 
2002, p.96). Em seus estudos, destacou as relações sociais e 
as diversas formas de dominações existentes. 
Dentre suas principais obras traduzidas papa o português, 
destacam-se O Poder Simbólico (1992), Razões Práticas: 
sobre a teoria da ação (1996), A Dominação Masculina 
(1999), Meditações Pascalianas (2001), As Estruturas 
Sociais da Economia (2001), Esboço de Uma Teoria da 
Prática, Precedido de Três Estudos de Etnologia Cabila 
(2002). A Miséria do Mundo (2003), Ofício de Sociólogo: 
metodologia da pesquisa na sociologia (2004) e O senso 
Prático (2009). 
 
 
Pierre Bourdieu (1930-2002) 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
30 
Dentre os conceitos elaborados pelo autor, merece 
destaque a noção de habitus, que, conforme, Bourdieu 
(1996, p. 21-22), “[...] é esse princípio gerador e 
unificador que retraduz as características intrínsecas e 
relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco, 
isto é, em um conjunto de escolhas de pessoas, de bens, de 
práticas”. Ainda conforme o autor: “Os habitus são 
princípios geradores de práticas distintas e distintivas – o 
que o operário come, e sobretudo sua maneira de comer, o 
esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo, suas 
opiniões políticas e sua maneira de expressá-las diferem 
sistematicamente do consumo ou das atividades 
correspondentes do empresário industrial; mas são 
também esquemas classificatórios, princípios de 
classificação, princípios de visão e de divisão e gostos 
diferentes. Eles estabelecem as diferenças entre o que é 
bom e mau, entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o 
que é vulgar etc., mas elas não são as mesmas. Assim, por 
exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode 
parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para 
outro e vulgar para um terceiro” (Bourdieu, 1996, p.22). 
O habitus traduz-se no pensamento do indivíduo, nas 
estruturas cognitivas enraizadas no sujeito que orientam 
sua ação, pensamento este que é uma estrutura estruturada 
(objetiva, exterior ao sujeito) e uma estrutura estruturante 
(subjetiva, cognitiva). O pensamento do indivíduo é 
construído por meio da trajetória social capaz de 
condicionar as suas práticas. Existe um meio-termo entre 
estruturas objetivas e a própria capacidade do indivíduo 
em orientar suas ações. Assim “com a noção de habitus, 
Bourdieu quis evidenciar o lado ativo do ‘sujeito’, a sua 
‘capacidade criadora, ativa e inventiva’, sem perder de 
vista os condicionamentos sociais de sua ação [...] (Silva, 
2006, p.234). 
Nesse sentido, as ações e o pensamento do indivíduo 
dependem da posição do sujeito no espaço social e nos 
campos sociais. A forma como o habitus se constrói forma 
a coesão dos grupos e dos campos. Assim, a noção de 
campo torna-se extremamente relevante na análise de 
Bourdieu. Para o pensador, o conceito e campo “se 
particulariza, pois, como um espaço onde se manifestam 
relações de poder, o que implica afirmar que ele se 
estrutura a partir da distribuição desigual de um quantum 
social que determina a posição que um agente específico 
ocupa em seu seio” (Bourdieu, 1983, p.21). Bourdieu 
denomina esse quantum de capital social. 
Os campos são universos sociais como os campos 
político, jurídico, burocrático, artístico, escolástico, e 
assim por diante. Eles emergem na distinção da sociedade 
e possuem regras e funcionamento próprios. O campo é 
eminentemente um campo de poder, cujos valores e cujas 
formas de capital o sustentam. Por isso, sua dinâmica 
interna é regida por lutas nas quais os agentes mantêm ou 
alteram as relações de força e a distribuição de capital 
específico. Conforme Silva (2006, p.235), para Bourdieu, 
campo é: “Um espaço social construído de relações 
objetivas que envolvem agentes sociais específicos em 
cada um desses espaços, e que são essas relações que 
condicionam a transformação ou a conservação dos 
fenômenos culturais, artísticos ou literários. Quer dizer, 
entendendo que a transformação de um determinado 
fenômeno não ocorre autonomamente e tampouco como 
um reflexo de mudança que ocorrem em determinada 
estrutura social, mais uma vez Bourdieu pôde mostrar que 
o homem é um partícipedessas transformações, mas que 
tal participação é limitada pelo grau das relações objetivas 
que se estabelecem entre os diversos agentes de um 
determinado campo do espaço social multidimensional – 
campo da cultura, campo artístico, campo religioso, 
campo científico, campo político, campo de alta costura, 
campo da habitação, campo da educação etc.”. 
O habitus e o campo são os conceitos mais conhecidos 
de Pierre Bourdieu. O habitus é o elemento que gera 
comportamentos, visões de mundo e sistemas de 
classificação de uma determinada realidade que se 
incorpora nos indivíduos, ou seja, é gerado na sociedade e 
incorporado nos indivíduos. O conceito de habitus é 
complementado pelo conceito de campo, que se 
caracteriza por ser um espaço em que as relações entre 
indivíduos, grupos e estruturas sociais ocorrem. Esse 
espaço é essencialmente dinâmico e obedece a leis 
próprias, acendidas pelas disputas por poder dentro do 
campo (Thiry-Cherques, 2006). 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Bourdieu concebe o habitus princípio gerador e unificador que 
retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma 
posição em um estilo de vida unívoco, isto é, em um conjunto de 
escolhas de pessoas, de bens, de práticas. 
• O habitus traduz-se no pensamento do indivíduo, nas 
estruturas cognitivas enraizadas no sujeito que orientam sua 
ação, pensamento este que é uma estrutura estruturada 
(objetiva, exterior ao sujeito) e uma estrutura estruturante 
(subjetiva, cognitiva). O pensamento do indivíduo é construído 
por meio da trajetória social capaz de condicionar as suas 
práticas. 
• As ações e o pensamento do indivíduo dependem da posição 
do sujeito no espaço social e nos campos sociais. A forma como 
o habitus se constrói forma a coesão dos grupos e dos campos. 
• Campo é um espaço social construído de relações objetivas 
que envolvem agentes sociais específicos em cada um desses 
espaços, e que são essas relações que condicionam a 
transformação ou a conservação dos fenômenos culturais, 
artísticos ou literários. 
• O habitus é o elemento que gera comportamentos, visões de 
mundo e sistemas de classificação de uma determinada 
realidade que se incorpora nos indivíduos, ou seja, é gerado na 
sociedade e incorporado nos indivíduos. O conceito de habitus é 
complementado pelo conceito de campo, que se caracteriza por 
ser um espaço em que as relações entre indivíduos, grupos e 
estruturas sociais ocorrem. Esse espaço é essencialmente 
dinâmico e obedece a leis próprias, acendidas pelas disputas 
por poder dentro do campo. 
 
 
 
 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
31 
ANTHONY GIDDENS 
 
Anthony Giddens nasceu no dia 18 de janeiro de 1938, 
na cidade de Londres, na Inglaterra. É reconhecido pela 
teoria da estruturação e é considerado um dos pensadores 
ingleses mais importantes da contemporaneidade. Suas 
obras abarcam diversas temáticas como: história do 
pensamento social, a estrutura de classes, elites e poder, 
nações e nacionalismos, identidade pessoal e social, a 
família, sexualidade e globalização. Possui mais de vinte 
livros publicados ao longo de duas décadas e traduzidos 
em mais de vinte línguas. Suas principais obras são: 
Sociologia (1982); A Constituição da Sociedade (1984); 
As Consequências da Modernidade (1990) e Terceira Via 
(1998). 
 
ULTRAPASSAR O OBJETIVISMO E O 
 INDIVIDUALISMO 
 
Em A Constituição da Sociedade (1984), A. Giddens 
apresenta uma “teoria da estruturação” cujo objeto é 
superar a oposição entre uma sociologia determinista, em 
que as imposições e as estruturas são predominantes, e 
uma sociologia individualista, que leva em conta as 
margens de liberdade e a competências do ator. Para o 
autor, existe uma “dualidade estrutural” do social. A 
sociedade é uma criação permanente ligada ao trabalho 
dos atores sociais, mas a ação criadora do social está 
condicionada por estruturas já estabelecidas e tende 
também a se estabilizar numa ação rotineira. Podemos 
considerar o caso de uma empresa ou de uma família. 
Nascidas de um projeto, de um ato fundador, conhecem 
permanente evolução. Tendem, ao mesmo tempo, a 
estruturar-se em rotinas, em ações cotidianas regradas e 
ordenadas. A ação e a estruturação são as duas faces de 
uma mesma realidade social. Por outro lado, os atores são 
considerados reflexivos, isto é, “capazes de compreender 
o que fazem quando estão fazendo”. Além disso, a 
modernidade se caracteriza por uma produção jamais vista 
de informações e de conhecimentos que reforçam esta 
reflexividade. O conhecimento da sociedade cresce 
(principalmente por meio da sociologia) e se difunde, e 
esse conhecimento é usado pelos atores em suas decisões. 
Assim, a evolução da bolsa depende de fatores objetivos 
relativos ao valor dos bens, e também do conhecimento 
que os agentes da bolsa têm do mercado e do julgamento 
que fazem a respeito deste. 
 
UMA SOCIOLOGIA DA MODERNIDADE 
 
A modernidade é outro tema importante da sociologia 
clássica para o qual se voltou A. Giddens. Ele critica as 
análises unidimensionais dos pais fundadores da 
sociologia, para os quais a modernidade se deve a um 
fator único (o capitalismo em Karl Marx, a racionalização 
em Max Weber ou o industrialismo em Émile Durkheim). 
 
 
Anthony Giddens (1938) 
 
Para A. Giddens, a modernidade é multidimensional. 
Em As consequências da Modernidade (1990), ele 
distingue quatro lógicas características desse período que 
interferem entre si: o capitalismo, o industrialismo, a 
vigilância (tema emprestado de Michel Foucault) e o 
militarismo (monopolização da potência pelos Estados 
Unidos num contexto de industrialização de guerra). Para 
A. Giddens, a sociologia deve tentar compreender esses 
processos e as contradições que nascem de seu confronto. 
Ela é “...uma espécie de ‘autoconhecimento’ da 
modernidade (...) que deve perceber-lhe as potencialidades 
e os limites”. 
 
O CONSELHEIRO DO PRÍNCIPE 
 
Enfim. A. Giddens ficou célebre por ter passado da 
teoria à ação tornando-se conselheiro de Tony Blair, 
primeiro-ministro britânico. Em 1998, ambos escreveram, 
em parceria o livro A Terceira Via, no qual expõem sua 
filosofia política. Com o relativo declínio do trabalho 
assalariado, o crescimento da precariedade, as mutações 
da família, o aumento dos custos e riscos sociais, o 
Estado-Providência já não pode funcionar na mesma base. 
Então, é preciso reformá-lo. E esse o horizonte da 
“terceira via” entre liberalismo e dirigismo. É necessário 
introduzir uma parcela de risco e de responsabilidade na 
gestão do Estado-Providência para evitar os efeitos 
perversos do assistencialismo e da total 
“desresponsabilização”. A proteção do meio ambiente – 
um dos papéis do Estado-Providência – supõe certa gestão 
do risco e deve envolver a responsabilidade tanto dos 
poluidores como a dos cidadãos. A pluralidade das lógicas 
em ação no seio da sociedade moderna faz que ela se torne 
uma máquina sem piloto e sem direção única: pode-se 
tentar regulá-la, pilotá-la, quando não se pode dirigir 
realmente o seu curso. 
 (DORTIER, Jean-François. Dicionário de Ciências Humanas. 
São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 65) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Para o autor, existe uma “dualidade estrutural” do social. A 
sociedade é uma criação permanente ligada ao trabalho dos 
atores sociais, mas a ação criadora do social está condicionada 
por estruturas já estabelecidas e tende também a se estabilizar 
numa ação rotineira. 
• A ação e a estruturação são as duas faces de uma mesma 
realidade social. Por outro lado, os atores são considerados 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
32 
reflexivos, isto é, “capazes de compreender o que fazem 
quando estão fazendo”. Além disso, a modernidade se 
caracteriza por uma produção jamais vista de informações e de 
conhecimentos que reforçam esta reflexividade. O 
conhecimento da sociedade cresce(principalmente por meio da 
sociologia) e se difunde, e esse conhecimento é usado pelos 
atores em suas decisões. 
• Com o relativo declínio do trabalho assalariado, o crescimento 
da precariedade, as mutações da família, o aumento dos custos 
e riscos sociais, o Estado-Providência já não pode funcionar na 
mesma base. Então, é preciso reformá-lo. E esse o horizonte da 
“terceira via” entre liberalismo e dirigismo. 
 
MANUEL CASTELLS 
 
Manuel Castells nasceu no dia 9 de fevereiro de 1942, 
na cidade de Hellín, na Espanha. O pensador começou sua 
carreira em 1967, na Universidade de Paris, e é 
considerado um dos fundadores da nova sociologia 
urbana. Por desenvolver a teoria marxista para essa área 
da Sociologia, ficou conhecido internacionalmente. Há 
duas décadas, investiga os efeitos da informação sobre a 
economia, a cultura e a sociedade em geral, 
desenvolvendo a “Teoria da Sociedade em Rede”. Suas 
principais obras são: A Questão Urbana (1972), A Galáxia 
Internet (2001) e A Era da Informação (1996-1998). 
 
 
Manuel Castells (1942) 
 
Castells publicou a trilogia A Era da Informação: 
Economia, Sociedade e Cultura com os seguintes volumes: 
Volume I – Sociedade em Rede, Volume II – O Poder da 
Identidade e Volume III – Fim do Milênio, Tempo de 
Mudança. Nessa trilogia, Castells parte do pressuposto de 
que, em um primeiro momento, as redes de informação 
foram responsáveis pelo desenvolvimento econômico 
mundial e, em um segundo momento, ao se popularizarem 
no mundo, criaram uma sociedade em rede. As mudanças 
que ocorrem com o advento das tecnologias da informação 
foram analisadas pelo pensador sobre os aspectos 
econômico, social e cultural. Econômico, porque o 
capitalismo penetrou em diversos países e em suas culturas. 
Por ser informacional, é formado por grande produtividade 
e competitividade, e voltado para a globalização. Castells 
também identificou a mudança na organização do trabalho, 
com produtores informacionais e mão de obra substituível. 
Social, porque a globalização e as novas tecnologias 
influenciaram mudanças na sociedade, como o surgimento 
da cybercultura. Cultural, porque as mudanças econômicas 
e sociais provocam mudanças inevitáveis na cultura, vive-se 
a cultura de compressão tempo/espaço. Assim, Castells 
previu o avanço da ciência genética, a interação por meio 
das mídias e as mídias móveis, as redes sociais (Twitter, 
Facebook...) 
A nova sociedade resulta de processos independentes: a 
revolução informática (economia da informação, 
comunicação em rede), a reorganização do capitalismo 
(flexibilidade e inovação técnica), a crise do estatismo 
(declínio do Estado diante da globalização) e as 
transformações e mutações culturais (reivindicação 
libertária, feminismo, declínio do patriarcado). Esses 
processos se combinam para dar origem a uma nova forma 
social marcada por novos modos de produção, de 
comunicação e de relação social. Uma sociedade piramidal 
dá lugar a uma sociedade em rede, mais fluida, mais 
maleável, e também mais instável. Tal transformação foi 
acompanhada por mudanças nas identidades dos grupos 
humanos. 
Surgem duas formas de identidade coletiva: as 
“identidades de resistências” (resistência à globalização, 
fechamento cultural) e as “identidades de projetos” 
(voltadas para o futuro, para a criação, para a mestiçagem 
de culturas, para a inovação econômica). Enquanto as 
primeiras se apoiam em particularismos culturais, as 
segundas são portadoras de valores novos, suscetíveis de 
transformar profundamente a sociedade. 
 (DORTIER, Jean-François. Dicionário de Ciências Humanas. 
São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 65) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Castells parte do pressuposto de que, em um primeiro 
momento, as redes de informação foram responsáveis pelo 
desenvolvimento econômico mundial e, em um segundo 
momento, ao se popularizarem no mundo, criaram uma 
sociedade em rede. 
• A nova sociedade resulta de processos independentes: a 
revolução informática, a reorganização do capitalismo, a crise 
do estatismo e as transformações e mutações culturais. Esses 
processos se combinam para dar origem a uma nova forma 
social marcada por novos modos de produção, de comunicação 
e de relação social. 
• Uma sociedade piramidal dá lugar a uma sociedade em rede, 
mais fluida, mais maleável, e também mais instável. Tal 
transformação foi acompanhada por mudanças nas identidades 
dos grupos humanos. 
• Surgem duas formas de identidade coletiva: as “identidades de 
resistências” e as “identidades de projetos”. 
 
 
 
 
 
 
 UNIDADE 8 
 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
33 
GLOBALIZAÇÃO E 
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 
 
GLOBALIZAÇÃO 
 
O conceito de globalização passou a ser amplamente 
utilizado em debates em política, negócios e nos meios de 
comunicação nos últimos anos. Há 30 anos, o termo 
globalização era relativamente desconhecido, mas, hoje 
em dia, ele parece estar na ponta da língua de todos. A 
globalização refere-se ao fato de que estamos cada vez 
mais vivendo em um mesmo mundo, de modo que os 
indivíduos, grupos e nações se tornaram cada vez mais 
interdependentes. 
O processo de globalização costuma ser retratado 
unicamente como um fenômeno econômico. Considera-se 
muito o papel de corporações transnacionais cujas 
operações massivas hoje se espalham através de fronteiras 
nacionais, influenciando os processos de produção global 
e a distribuição internacional do trabalho. Outros apontam 
para a integração eletrônica dos mercados financeiros 
globais e o enorme volume dos fluxos de capital. Outros, 
ainda, concentram-se no alcance sem precedentes do 
comércio mundial, envolvendo uma variedade muito mais 
ampla de bens e serviços do que jamais ocorreu. 
Embora as forças econômicas sejam uma parte integral 
da globalização, seria errado sugerir que elas a produzem 
sozinhas. A união de fatores políticos, sociais, culturais e 
econômicos cria a globalização contemporânea. 
 
A ASCENSÃO DA TECNOLOGIA 
DAS COMUNICAÇÕES E DA INFORMAÇÃO 
 
A globalização intensificada tem sido motivada, acima 
de tudo, pelo desenvolvimento das tecnologias das 
comunicações e da informação, que aumentaram a 
velocidade e o alcance das interações entre as pessoas por 
todo o mundo. 
O impacto desses sistemas de comunicação tem sido 
estarrecedor. Em países com infraestruturas de 
comunicações mais desenvolvidas, os lares e escritórios 
hoje têm várias conexões com o mundo externo, incluindo 
telefones (tanto linhas fixas quanto celulares), televisão 
digital, por satélite e a cabo, correio eletrônico e internet. 
A internet emergiu como o instrumento de comunicação 
de crescimento mais rápido já desenvolvido – por volta de 
140 milhões de pessoas ao redor do mundo usavam a 
internet em 1998, e estima-se que mais de um bilhão de 
pessoas a usava em 2007. 
Estas formas de tecnologia facilitam a compressão do 
tempo e do espaço (Harvey, 1989): dois indivíduos 
localizados em lados opostos do planeta – em Tóquio e 
Londres, por exemplo, não apenas podem conversar em 
tempo real, como também enviar documentos e imagens 
um ao outro com a ajuda da tecnologia do satélite. O uso 
disseminado da internet e dos telefones celulares está 
aprofundando e acelerando processos de globalização; 
cada vez mais pessoas estão se interconectando por meio 
dessas tecnologias, e o estão fazendo em locais que antes 
eram isolados ou pouco servidos pelas comunicações 
tradicionais. Embora a infraestrutura de telecomunicações 
não esteja desenvolvida de forma regular ao redor do 
mundo, um número cada vez maior de países hoje pode 
acessar as redes de comunicações internacionais de um 
modo que antes era impossível; há mais ou menos uma 
década, o uso da internet tem crescido mais rapidamente 
nas regiões que antes ficavam para trás – África e Oriente 
Médio, por exemplo. 
 
FLUXOS INTERNACIONAIS 
 
Se como já vimos, a disseminaçãoda tecnologia da 
informação expandiu as possibilidades de contato entre 
pessoas a redor do planeta, ela também facilitou o fluxo de 
informações sobre as pessoas e acontecimentos ocorridos 
em locais distantes. Todos os dias, a mídia global traz 
notícias, imagens e informações para os lares das pessoas, 
conectando-as direta e continuamente com o mundo 
externo. Alguns dos acontecimentos mais interessantes 
das últimas décadas se desdobraram perante uma 
audiência verdadeiramente global por meio da mídia e 
resultaram em uma reorientação no pensamento das 
pessoas, do nível de Estado-Nação para o estágio global. 
Os indivíduos hoje estão mais cientes de sua interconexão 
com outras pessoas e são mais prováveis de se identificar 
com questões e processos globais do que no passado. 
Essa mudança para uma perspectiva global tem duas 
dimensões significativas. Primeiramente, como membros 
de uma comunidade global, as pessoas cada vez mais 
percebem que a responsabilidade social não termina nas 
fronteiras nacionais, mas se estende além delas. Os 
desastres e injustiças que as pessoas enfrentam no outro 
lado do planeta não são apenas infortúnios que devemos 
suportar, mas representam motivos legítimos para ação e 
intervenção. Existe uma visão crescente de que a 
comunidade internacional tem a obrigação de agir em 
situações de crise para proteger o bem-estar físico ou os 
direitos humanos de pessoas cujas vidas estejam 
ameaçadas. No caso de desastres naturais, essas 
intervenções tomam a forma de ajuda humanitária e 
assistência técnica. 
Nos últimos anos, também houve fortes apelos por 
intervenções em casos de guerras, conflitos étnicos e 
violações dos direitos humanos, embora essas 
mobilizações sejam mais problemáticas do que em 
desastres naturais. 
Em segundo lugar, uma perspectiva global significa que 
as pessoas estão cada vez mais buscando fontes além do 
Estado-Nação para formular seu próprio sentido de 
identidade. Esse fenômeno e produzido pelos processos de 
globalização e acelera ainda mais esses processos. As 
identidades culturais locais em várias partes do mundo 
estão passando por grandes renovações, em uma época em 
que o poder tradicional do Estado-Nação está 
atravessando uma transformação profunda. O Estado-
Nação, como fonte de identidade, está minguando em 
muitas áreas, na medida em que as mudanças políticas, 
nos níveis regional e global, diminuem as orientações das 
pessoas para os estados onde vivem. 
 
FATORES ECONÔMICOS 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
34 
 
A globalização também está sendo promovida pela atual 
integração da economia mundial. Ao contrário de eras 
anteriores, a economia global não tem mais uma base 
agrícola ou industrial. Em vez disso, ela é dominada cada 
vez mais por atividades que não têm peso e são 
intangíveis (Quah, 1999). Essa economia sem peso é 
aquela cujos produtos têm sua base na informação, como 
no caso do software de computador, da mídia e dos 
produtos do entretenimento e serviços baseados na 
internet. A emergência da sociedade do conhecimento foi 
relacionada ao desenvolvimento de uma ampla base de 
consumidores que são tecnologicamente alfabetizados e 
integram avidamente os novos avanços em computação, 
entretenimento e telecomunicações às suas vidas 
cotidianas. 
A própria operação da economia global reflete as 
mudanças que ocorreram na era da informação. Muitos 
aspectos da economia se dão hoje por meio de redes que 
cruzam as fronteiras nacionais, ao invés de parar nesse 
ponto (Castells, 1966). Para ser competitivo em condições 
globalizantes, as empresas e corporações se reestruturaram 
para serem mais flexíveis e menos hierárquicas em sua 
natureza. As práticas de produção e os padrões 
organizacionais se tornaram mais flexíveis, as parcerias 
com outras firmas se tornaram lugar comum, e a 
participação em redes de distribuição mundial se tornou 
essencial para fazer negócios em um mercado global em 
rápida mudança. 
(GIDDENS, Anthony. Introdução à Sociologia. 
Porto Alegre: Penso, 2012. pp. 102-106) 
 
A GLOBALIZAÇÃO E SEUS DILEMAS 
 
A internacionalização do capitalismo atinge hoje quase 
todo o planeta: seja pela expansão das empresas 
multinacionais; seja pelo processo de informatização, que 
coloca milhões de pessoas em contato por meio de redes 
de computadores; seja pela abertura das economias 
nacionais ao mercado internacional; seja pela ação do 
capital financeiro, que realiza investimentos no mercado 
de capitais de todos os países. Esse novo processo é 
chamado de globalização. 
A globalização é marcada pela universalização da 
produção, da circulação e da distribuição e consumo de 
bens e serviços. 
Para que o capital possa circular livremente, há 
necessidade de se eliminarem as barreiras comerciais entre 
os países. Assim, bens e serviços podem ser 
mundialmente distribuídos a um custo relativamente 
baixo. 
O processo de globalização, contudo, não ocorre apenas 
na economia, mas se verifica também nas áreas da 
informação, da cultura e da ciência. A produção industrial, 
antes restrita a uns poucos países, alcança hoje uma escala 
sem precedentes na História. Atualmente, empresas 
transnacionais com sede nos países mais ricos organizam 
a produção de tal forma a aproveitar as condições mais 
favoráveis para maximizar seus lucros. Assim, os tênis de 
uma marca de grife norte-americana são fabricados na 
China, onde os salários são muito baixos, com peças 
produzidas em outros países. 
Os avanços tecnológicos, principalmente em relação aos 
transportes e às comunicações, são resultado da ação de 
grandes empresas que financiam pesquisas. A 
informatização barateia o custo de produção nas fábricas. 
Isso é necessário porque o processo de globalização exige 
altos níveis de competitividade: é preciso produzir a 
preços cada vez mais baixos para competir no mercado 
globalizado. 
Entretanto, o objetivo das empresas de baixar seus 
custos de produção acaba gerando desequilíbrio nas 
sociedades. Entre os mais graves deles estão: 1) o 
aumento da distância entre os países ricos e os países 
pobres; 2) o crescimento do número de pobres nos países 
menos desenvolvidos; 3) o aumento das desigualdades 
sociais nos países ricos; 4) o crescente número de 
desempregados, que provoca, entre outros problemas, o 
aumento da exclusão social, da miséria e da violência nas 
grandes cidades. 
 
GLOBALIZAÇÃO E DIFUSÃO CULTURAL 
 
A difusão cultural se dá atualmente de modo muito mais 
rápido do que até algumas décadas atrás. Isso porque a 
rapidez das mensagens transmitidas pelos meios de 
comunicação eletrônicos tende a se tornar cada vez maior. 
Por outro lado, os meios de comunicação não se limitam a 
transmitir anúncios publicitários ou a difundir modismos. 
Na verdade, eles atuam num plano mais profundo, 
moldando as próprias expectativas culturais das novas 
gerações a partir da difusão de um determinado modelo 
cultural. 
Outro fator que influencia a aceitação de valores 
provenientes de culturas externas é a novidade. Em geral, 
todo bem novo tem facilidade de ser aceito, desde que 
responda às expectativas do mercado consumidor. Para 
que isto ocorra, os meios de comunicação atuam no 
sentido de preparar essas expectativas, difundindo a ideia 
de que determinados bens, valores e costumes são 
“modernos” e, portanto, superiores aos que até então 
vigoravam no interior da sociedade receptora. Tais 
novidades se referem quase sempre a aspectos não 
essenciais da cultura – um produto novo, um novo corte 
de cabelo, a maneira de se vestir, certos gêneros musicais, 
etc. 
Como, muitas vezes, a mudança social é consequência 
das invenções, quanto maior for o número de inventos 
novos, tanto mais rápida será a mudança. 
Característica marcante das sociedades contemporâneas, 
as rápidas mudanças ocorrem em parte devidoao grande 
número de invenções. A utilização de computadores em 
quase todos os ramos da atividade econômica tem 
provocado transformações não só na organização do 
trabalho, mas também nas relações sociais. Assim 
também, o telefone celular vem produzindo mudanças nas 
relações humanas e profissionais, já que quem tem um 
desses aparelhos pode se comunicar a qualquer momento 
com outras pessoas, independentemente do lugar em que 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
35 
esteja, o que facilita enormemente o contato social entre 
os indivíduos. 
(OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: 
Editora Ática, 2011. pp. 162-163; 246-247) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• A globalização intensificada tem sido motivada, acima de tudo, 
pelo desenvolvimento das tecnologias das comunicações e da 
informação, que aumentaram a velocidade e o alcance das 
interações entre as pessoas por todo o mundo, de modo que os 
indivíduos, grupos e nações se tornaram cada vez mais 
interdependentes. 
• Essa mudança para uma perspectiva global tem duas 
dimensões significativas. Primeiramente, como membros de 
uma comunidade global, as pessoas cada vez mais percebem 
que a responsabilidade social não termina nas fronteiras 
nacionais, mas se estende além delas. Em segundo lugar, uma 
perspectiva global significa que as pessoas estão cada vez mais 
buscando fontes além do Estado-Nação para formular seu 
próprio sentido de identidade. 
• A própria operação da economia global reflete as mudanças 
que ocorreram na era da informação. Muitos aspectos da 
economia se dão hoje por meio de redes que cruzam as 
fronteiras nacionais, ao invés de parar nesse ponto. Para ser 
competitivo em condições globalizantes, as empresas e 
corporações se reestruturaram para serem mais flexíveis e 
menos hierárquicas em sua natureza. 
• A globalização é marcada pela universalização da produção, 
da circulação e da distribuição e consumo de bens e serviços. O 
processo de globalização, contudo, não ocorre apenas na 
economia, mas se verifica também nas áreas da informação, da 
cultura e da ciência. 
• Os avanços tecnológicos, principalmente em relação aos 
transportes e às comunicações, são resultado da ação de 
grandes empresas que financiam pesquisas. Entretanto, o 
objetivo das empresas de baixar seus custos de produção 
acaba gerando desequilíbrio e várias conseqüências negativas 
nas sociedades tais como: 1) o aumento da distância entre os 
países ricos e os países pobres; 2) o crescimento do número de 
pobres nos países menos desenvolvidos; 3) o aumento das 
desigualdades sociais nos países ricos; 4) o crescente número 
de desempregados, que provoca, entre outros problemas, o 
aumento da exclusão social, da miséria e da violência nas 
grandes cidades. 
• Os meios de comunicação não se limitam a transmitir anúncios 
publicitários ou a difundir modismos. Na verdade, eles atuam 
num plano mais profundo, moldando as próprias expectativas 
culturais das novas gerações a partir da difusão de um 
determinado modelo cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Exercícios 
 
1. (ENEM 2009) A partir da metade do século XX, 
ocorreu um conjunto de transformações econômicas e 
sociais cuja dimensão é difícil de ser mensurada: a 
chamada explosão da informação. Embora essa expressão 
tenha surgido no contexto da informação científica e 
tecnológica, seu significado, hoje, em um contexto mais 
geral, atinge proporções gigantescas. Por estabelecerem 
novas formas de pensamento e mesmo de lógica, a 
informática e a Internet vêm gerando impactos sociais e 
culturais importantes. A disseminação do 
microcomputador e a expansão da Internet vêm 
acelerando o processo de globalização tanto no sentido do 
mercado quanto no sentido das trocas simbólicas possíveis 
entre sociedades e culturas diferentes, o que tem 
provocado e acelerado o fenômeno de hibridização 
amplamente caracterizado como próprio da pós-
modernidade. 
FERNANDES, M. F.; PARÁ, T. A. A contribuição das novas 
tecnologias da informação na geração de conhecimento. Disponível 
em HTTP://www.coep.ufrj.br. Acesso em 11 ago 2009 (adaptado) 
 
Considerando-se o novo contexto social e econômico 
aludido no texto apresentado, as novas tecnologias de 
informação e comunicação 
a) desempenham importante papel, porque sem elas não 
seria possível registrar os acontecimentos históricos. 
b) facilitam os processos educacionais para ensino de 
tecnologia, mas não exercem influência nas ciências 
humanas. 
c) limitam-se a dar suporte aos meios de comunicação, 
facilitando sobretudo os trabalhos jornalísticos. 
d) contribuem para o desenvolvimento social, pois 
permitem o registro e a disseminação do 
conhecimento de forma mais democrática e interativa. 
e) estão em estágio experimental, particularmente na 
educação, área em que ainda não demonstraram 
potencial produtivo. 
 
2. (ENEM 2009) Populações inteiras, nas cidades e na 
zona rural, dispõem da parafernália digital global como 
fonte de educação e de formação cultural. Essa 
simultaneidade de cultura e informação eletrônica com as 
formas tradicionais e orais é um desafio que necessita ser 
discutido. A exposição, via mídia eletrônica, com estilos e 
valores culturais de outras sociedades, pode inspirar 
apreço, mas também distorções e ressentimentos. Tanto 
quanto há necessidade de uma cultura tradicional de posse 
da educação letrada, também é necessário criar estratégias 
de alfabetização eletrônica, que passam a ser o grande 
canal de informação das culturas segmentadas no interior 
dos grandes centros urbanos e das zonas rurais. Um novo 
modelo de educação. 
BRIGAG O, C. E.; RODRIGUES, G. A globalização a olho nu: o 
mundo conectado. São Paulo: Moderna, 1998 (adaptado). 
 
Com base no texto e considerando os impactos culturais 
da difusão das tecnologias de informação no marco da 
globalização, depreende-se que 
a) a ampla difusão das tecnologias de informação nos 
centros urbanos e no meio rural suscita o contato 
entre diferentes culturas e, ao mesmo tempo, traz a 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
36 
necessidade de reformular as concepções tradicionais 
de educação 
b) a apropriação, por parte de um grupo social, de 
valores e ideias de outras culturas para benefício 
próprio é fonte de conflitos e ressentimentos. 
c) as mudanças sociais e culturais que acompanham o 
processo de globalização, ao mesmo tempo em que 
refletem a preponderância da cultura urbana, tornam 
obsoletas as formas de educação tradicionais próprias 
do meio rural. 
d) as populações nos grandes centros urbanos e no meio 
rural recorrem aos instrumentos e tecnologias de 
informação basicamente como meio de comunicação 
mútua, e não os veem como fontes de educação e 
cultura. 
e) a intensificação do fluxo de comunicação por meios 
eletrônicos, característica do processo de 
globalização, está dissociada do desenvolvimento 
social e cultural que ocorre no meio rural. 
 
3. (ENEM 2009) O "Portal Domínio Público", lançado em 
novembro de 2004, propõe o compartilhamento de 
conhecimentos de forma equânime e gratuita, colocando à 
disposição de todos os usuários da Internet, uma biblioteca 
virtual que deverá constituir referência para professores, 
alunos, pesquisadores e para a população em geral. 
Esse portal constitui um ambiente virtual que permite a 
coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento 
de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de 
promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e 
científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já 
em domínio público ou que tenham a sua divulgação 
devidamente autorizada. 
BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em: 
HTTP://www.dominiopublico.gov.br 
Acesso em: 29 jul. 2009 (adaptado) 
 
Considerando a função social das informações geradas nos 
sistemas de comunicação e informação, o ambiente virtual 
descrito no texto exemplifica: 
a)a dependência das escolas públicas quanto ao uso de 
sistemas de informação. 
b) a ampliação do grau de interação entre as pessoas, a 
partir de tecnologia convencional. 
c) a comercialização do acesso a diversas produções 
culturais nacionais e estrangeiras via tecnologia da 
informação e da comunicação. 
d) a produção de repertório cultural direcionado a 
acadêmicos e educadores. 
e) a democratização da informação, por meio da 
disponibilização de conteúdo cultural e científico à 
sociedade. 
 
4. (ENEM 2011) Um volume imenso de pesquisas tem 
sido produzido para tentar avaliar os efeitos dos 
programas de televisão. A maioria desses estudos diz 
respeito a crianças - o que é bastante compreensível pela 
quantidade de tempo que elas passam em frente ao 
aparelho e pelas possíveis implicações desse 
comportamento para a socialização. Dois dos tópicos mais 
pesquisados são o impacto da televisão no âmbito do 
crime e da violência e a natureza das notícias exibidas na 
televisão. 
GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. 
 
O texto indica que existe uma significava produção 
científica sobre os impactos socioculturais da televisão na 
vida do ser humano. E as crianças, em particular, são as 
mais vulneráveis a essas influências, porque: 
a) codificam informações transmitidas nos programas 
infantis por meio da observação. 
b) adquirem conhecimentos variados que incentivam o 
processo de interação social. 
c) interiorizam padrões de comportamento e papéis 
sociais com menor visão crítica. 
d) observam formas de convivência social baseadas na 
tolerância e no respeito. 
e) apreendem modelos de sociedade pautados na 
observância das leis. 
 
5. (ENEM 2013) 
 
 
Disponível em: http://tv-video-edc.blogspot.com. Acesso em: 30 maio 
2010. 
 
A charge revela uma crítica aos meios de comunicação, 
em especial à internet, porque: 
a) questiona a integração das pessoas nas redes virtuais 
de relacionamento. 
b) considera as relações sociais como menos importantes 
que as virtuais. 
c) enaltece a pretensão do homem de estar em todos os 
lugares ao mesmo tempo. 
d) descreve com precisão as sociedades humanas no 
mundo globalizado. 
e) concebe a rede de computadores como o espaço mais 
eficaz para a construção e relações sociais. 
 
6. (ENEM 2015) Na sociedade contemporânea, onde as 
relações sociais tendem a reger-se por imagens midiáticas, 
a imagem de um indivíduo, principalmente na indústria do 
espetáculo, pode agregar valor econômico na medida de 
seu incremento técnico: amplitude do espelhamento e da 
atenção pública. Aparecer é então mais do que ser; o 
sujeito é famoso porque é falado. Nesse âmbito, a lógica 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
37 
circulatória do mercado, ao mesmo tempo que acena 
democraticamente para as massas com supostos “ganhos 
distributivos” (a informação ilimitada, a quebra das 
supostas hierarquias culturais), afeta a velha cultura 
disseminada na esfera pública. A participação nas redes 
sociais, a obsessão dos selfies, tanto falar e ser falado 
quanto ser visto são índices do desejo de “espelhamento”. 
SODRÉ, M. Disponível em: http://alias.estadao.com.br. Acesso em: 9 
fev. 2015 (adaptado). 
 
A crítica contida no texto sobre a sociedade 
contemporânea enfatiza 
a) a dinâmica política democratizante. 
b) a produção instantânea de notícias. 
c) a prática identitária autorreferente. 
d) os processos difusores de informações. 
e) os mecanismos de convergência tecnológica. 
 
7. (ENEM 2015) Quanto ao “choque de civilizações” é 
bom lembrar a carta de uma menina americana de sete 
anos cujo pai era piloto na Guerra do Afeganistão: ela 
escreveu que — embora amasse muito seu pai — estava 
pronta a deixá-lo morrer, a sacrificá-lo por seu país. 
Quando o presidente Bush citou suas palavras, elas foram 
entendidas como manifestação “normal” de patriotismo 
americano; vamos conduzir uma experiência mental 
simples e imaginar uma menina árabe maometana 
pateticamente lendo para as câmeras as mesmas palavras a 
respeito do pai que lutava pelo Talibã — não é necessário 
pensar muito sobre qual teria sido a nossa reação. 
ZIZEK, S. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Bom Tempo, 
2003. 
 
A situação imaginária proposta pelo autor explicita o 
desafio cultural do(a) 
a) prática da diplomacia. 
b) exercício da alteridade. 
c) expansão da democracia. 
d) universalização do progresso. 
e) conquista da autodeterminação. 
 
8. (ENEM 2013) O edifício é circular. Os apartamentos 
dos prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode 
chamá-los, se quiser, de celas. O apartamento do inspetor 
ocupa o centro; você pode chamá-lo, se quiser de 
alojamento do inspetor. A moral reformada; a saúde 
preservada; a indústria revigorada; a instrução difundida; 
os encargos públicos aliviados; a economia assentada, 
como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei sobre 
os Pobres não cortado, mas desfeito – tudo por uma 
simples idéia de arquitetura! 
BENTHAM, J. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 
 
Essa é a proposta de um sistema conhecido como 
panóptico, um modelo que mostra o poder da disciplina 
nas sociedades contemporâneas, exercido 
preferencialmente por mecanismos: 
 
a) religiosos, que se constituem como um olho divino 
controlador que tudo vê. 
b) ideológicos, que estabelecem limites pela alienação, 
impedindo a visão da dominação sofrida. 
c) repressivos, que perpetuam as relações de dominação 
entre os homens por meio da tortura física. 
d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo por 
meio do olhar como instrumento de controle. 
e) consensuais, que pactuam acordos com base na 
compreensão dos benefícios gerais de se ter as 
próprias ações controladas. 
 
9. (ENEM 2012) Nossa cultura lipofóbica muito contribui 
para a distorção da imagem corporal, gerando gordos que 
se veem magros e magros que se veem gordos, numa 
quase unanimidade de que todos se sentem ou se veem 
“distorcidos”. 
Engordamos quando somos gulosos. É pecado da gula que 
controla a relação do homem com a balança. Todo obeso 
declarou, um dia, guerra à balança. Para emagrecer é 
preciso fazer as pazes com a dita cuja, visando adequar-se 
às necessidades para as quais ela aponta. 
FREIRE. D. S. Obesidade não pode ser pré-requisito. Disponível em: 
httpllgnt.globo.com. 
Acesso em: 3 abr. 2012 (adaptado) 
 
O texto apresenta um discurso de disciplinarização dos 
corpos, que tem como consequência 
a) a culpabilização individual, associando obesidade à 
fraqueza de caráter. 
b) a ampliação dos tratamentos médicos alternativos, 
reduzindo os gastos com remédios. 
c) a democratização do padrão de beleza, tornando-o 
acessível pelo esforço individual. 
d) o controle do consumo, impulsionando uma crise 
econômica na indústria de alimentos. 
e) o aumento da longevidade, resultando no crescimento 
populacional. 
 
10. (ENEM 2015) A crescente intelectualização e 
racionalização não indicam um conhecimento maior e geral 
das condições sob as quais vivemos. Significa a crença em 
que, se quiséssemos, poderíamos ter esse conhecimento a 
qualquer momento. Não há forças misteriosas incalculáveis; 
podemos dominar todas as coisas pelo cálculo. 
WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H.; MILLS, W. 
(Org.). Max Weber: ensaios 
de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado). 
 
Tal como apresentada no texto, a proposição de Max 
Weber a respeito do processo de desencantamento do 
mundo evidencia o(a) 
a) progresso civilizatório como decorrência da expansão 
do industrialismo. 
b) extinção do pensamento mítico como um 
desdobramento do capitalismo. 
c) afastamento de crenças tradicionais como uma 
característica da modernidade. 
d) emancipação como consequência do processo de 
racionalização da vida. 
e) Fim do monoteísmo como condição para a 
consolidação da ciência. 
11. (ENEM 2015) Só num sentido muito restrito, o 
indivíduo cria com seus própriosrecursos o modo de falar 
e de pensar que lhe são atribuídos. Fala o idioma de seu 
grupo; pensa à maneira de seu grupo. Encontra a sua 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
38 
disposição apenas determinadas palavras e significados. 
Estas não só determinam, em grau considerável, as vias de 
acesso mental ao mundo circundante, mas também 
mostram, ao mesmo tempo, sob que ângulo e em que 
contexto de atividade os objetos foram até agora 
perceptíveis ao grupo ou ao indivíduo. 
MANNHEIM, K. Ideologia e utopia. Porto Alegre: Globo, 1950 
(adaptado). 
 
Ilustrando uma proposição básica da sociologia do 
conhecimento, o argumento de Karl Mannheim defende 
que o(a) 
a) conhecimento sobre a realidade é condicionado 
socialmente. 
b) submissão ao grupo manipula o conhecimento do 
mundo. 
c) divergência é um privilégio de indivíduos 
excepcionais. 
d) educação formal determina o conhecimento do 
idioma. 
e) domínio das línguas universaliza o conhecimento. 
 
12. (ENEM 2015) Um carro esportivo é financiado pelo 
Japão, projetado na Itália e montado em Indiana, México e 
França, usando os mais avançados componentes 
eletrônicos, que foram inventados em Nova Jérsei e 
fabricados na Coreia. A campanha publicitária é 
desenvolvida na Inglaterra, filmada no Canadá, a edição e 
as cópias, feitas em Nova York para serem veiculadas no 
mundo todo. Teias globais disfarçam-se com o uniforme 
nacional que lhes for mais conveniente. 
REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo 
no século XXI. 
São Paulo: Educator, 1994 (adaptado). 
 
A viabilidade do processo de produção ilustrado pelo 
texto pressupõe o uso de 
a) linhas de montagem e formação de estoques. 
b) empresas burocráticas e mão de obra barata. 
c) controle estatal e infraestrutura consolidada. 
d) organização em rede e tecnologia de informação. 
e) gestão centralizada e protecionismo econômico. 
 
13. (ENEM 2015) Atualmente, as represálias econômicas 
contra as empresas de informática norte-americanas 
continuam. A Alemanha proibiu um aplicativo dos 
Estados Unidos de compartilhamento de carros; na China, 
o governo explicou que os equipamentos e serviços de 
informática norte-americanos representam uma ameaça, 
pedindo que as empresas estatais não recorram a eles. 
SCHILLER, D. Disponível em: www.diplomatique.org.br. Acesso em: 
11 nov. 2014 (adaptado). 
 
As ações tomadas pelos países contra a espionagem 
revelam preocupação com o(a) 
a) subsídio industrial. 
b) hegemonia cultural. 
c) protecionismo dos mercados. 
d) desemprego tecnológico. 
e) segurança dos dados. 
 
14. (ENEM 2011) As migrações transnacionais, 
intensificadas e generalizadas nas últimas décadas do 
século XX, expressam aspectos particularmente 
importantes da problemática racial, visto como dilema 
também mundial. Deslocam-se indivíduos, famílias e 
coletividades para lugares próximos e distantes, 
envolvendo mudanças mais ou menos drásticas nas 
condições de vida e trabalho, em padrões e valores 
socioculturais. Deslocam-se para sociedades semelhantes 
ou radicalmente distintas, algumas vezes compreendendo 
culturas ou mesmo civilizações totalmente diversas. 
IANNI, O. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 
1996. 
 
A mobilidade populacional da segunda metade do século 
XX teve um papel importante na formação social e 
econômica de diversos estados nacionais. Uma razão para 
os movimentos migratórios nas últimas décadas e uma 
política migratória atual dos países desenvolvidos são: 
a) a busca de oportunidades de trabalho e o aumento de 
barreiras contra a migração. 
b) a necessidade de qualificação profissional e a abertura 
das fronteiras para os imigrantes. 
c) o desenvolvimento de projetos de pesquisa e ao 
acautelamento dos bens dos imigrantes. 
d) a expansão da fronteira agrícola e a expulsão dos 
imigrantes qualificados. 
e) a fuga decorrente de conflitos políticos e o 
fortalecimento de políticas sociais. 
 
15. (ENEM 2012) Uma mesma empresa pode ter sua sede 
administrativa onde os impostos são menores, as unidades 
de produção onde os salários são os mais baixos, os 
capitais onde os juros são os mais altos e seus executivos 
vivendo onde a qualidade de vida é mais elevada. 
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha 
russa. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2001 (adaptado). 
 
No texto estão apresentadas estratégias empresariais no 
contexto da globalização. Uma consequência social 
derivada dessas estratégias tem sido 
a) o crescimento da carga tributária. 
b) o aumento da mobilidade ocupacional. 
c) a redução da competitividade entre as empresas. 
d) o direcionamento das vendas para os mercados 
regionais. 
e) a ampliação do poder de planejamento dos Estados 
nacionais. 
 
16. (ENEM 2013) 
Disneylandia 
 
Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong-
Kong 
E produzem com matéria-prima brasileira 
Para competir no mercado americano 
[...] 
Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na 
Nova Guiné 
Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África 
do Sul. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
39 
[...] 
Crianças iraquianas fugidas da guerra 
Não obtêm visto no consulado americano do Egito 
Para entrarem na Disneylandia 
ANTUNES, A. Disponível em: WWW.radio.uol.com.br Acesso em: fev 
2013 (fragmento) 
 
Na canção, ressalta-se a coexistência, no contexto 
internacional atual, das seguintes situações: 
a) acirramento do controle alfandegário e estímulo ao 
capital especulativo. 
b) intensificação do controle informacional e adoção de 
barreiras fitossanitárias. 
c) aumento da circulação mercantil e desregulamentação 
do sistema financeiro. 
d) expansão do protecionismo comercial e 
descaracterização de identidades nacionais. 
e) ampliação das trocas econômicas e seletividade dos 
fluxos populacionais. 
 
17. (ENEM 2014) O jovem espanhol Daniel se sente 
perdido. Seu diploma de desenhista industrial e seu alto 
conhecimento de inglês devem ajudá-lo a tomar um rumo. 
Mas a taxa de desemprego, que supera 52% entre os que 
têm menos de 25 anos, o desnorteia. Ele está convencido 
de que seu futuro profissional não está na Espanha, como 
o de, pelo menos, 120 mil conterrâneos que emigraram 
nos últimos dois anos. O irmão dele, que é engenheiro-
agrônomo, conseguiu emprego no Chile. Atualmente, 
Daniel participa de uma “oficina de procura de emprego” 
em países como Brasil, Alemanha e China. A oficina é 
oferecida por uma universidade espanhola. 
GUILAYN, P. Na Espanha, universidade ensina a emigrar. O Globo, 17 
fev. 2013 (adaptado) 
 
A situação ilustra uma crise econômica que implica 
a) valorização do trabalho fabril 
b) expansão dos recursos tecnológicos. 
c) diversificação dos mercados produtivos. 
d) exportação de mão de obra qualificada. 
e) intensificação dos intercâmbios estudantis. 
 
18. (ENEM 2015) O principal articulador do atual modelo 
econômico chinês argumenta que o mercado é só um 
instrumento econômico, que se emprega de forma 
indistinta tanto no capitalismo como no socialismo. Porém 
os próprios chineses já estão sentindo, na sua sociedade, o 
seu real significado: o mercado não é algo neutro, ou um 
instrumental técnico que possibilita à sociedade utilizá-lo 
para a construção e edificação do socialismo. Ele é, ao 
contrário do que diz o articulador, um instrumento do 
capitalismo e é inerente à sua estrutura como modo de 
produção. A sua utilização está levando a uma polarização 
da sociedade chinesa. 
OLIVEIRA, A. A Revolução Chinesa. Caros Amigos, 31 jan. 2011 
(adaptado). 
 
No texto, as reformas econômicas ocorridas na China são 
colocadas como antagônicas à construção de um país 
socialista. Nesse contexto, a característica fundamental do 
socialismo, à qual o modelo econômico chinês atual se 
contrapõe é a 
a) desestatização da economia. 
b) instauração de um partido único.c) manutenção da livre concorrência. 
d) formação de sindicatos trabalhistas. 
e) extinção gradual das classes sociais. 
 
19. (ENEM 2015) Até o fim de 2007, quase 2 milhões de 
pessoas perderam suas casas e outros 4 milhões corriam o 
risco de ser despejadas. Os valores das casas despencaram 
em quase todos os EUA e muitas famílias acabaram 
devendo mais por suas casas do que o próprio valor do 
imóvel. Isso desencadeou uma espiral de execuções 
hipotecárias que diminuiu ainda mais os valores das casas. 
Em Cleveland, foi como se um “Katrina financeiro” 
atingisse a cidade. Casas abandonadas, com tábuas em 
janelas e portas, dominaram a paisagem nos bairros 
pobres, principalmente negros. Na Califórnia, também se 
enfileiraram casas abandonadas. 
HARVEY, D. O enigma do capital. São Paulo: Boitempo, 2011. 
 
Inicialmente restrita, a crise descrita no texto atingiu 
proporções globais, devido ao(à) 
a) superprodução de bens de consumo. 
b) colapso industrial de países asiáticos. 
c) interdependência do sistema econômico. 
d) isolamento político dos países desenvolvidos. 
e) austeridade fiscal dos países em desenvolvimento. 
 
 
GABARITO 
 
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 
D A E C A C B D A C 
 
11 12 13 14 15 16 17 18 19 
A D E A B E D E C 
 
 
 UNIDADE 9 
 
AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
 
O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO. 
 
O processo de institucionalização, de acordo com 
Berger e Luckmann (autores do livro: “A construção 
social da realidade”) começa com o estabelecimento de 
regularidades comportamentais. As pessoas vão, aos 
poucos, descobrindo a forma mais rápida, simples 
econômica de desempenhar as tarefas do cotidiano. 
Vamos imaginar o homem primitivo; no momento em que 
começou a ter consciência da realidade que o cercava, ele 
passou a estabelecer essas regularidades. Um grupo social 
que vivesse, fundamentalmente, da pesca, estabeleceria 
formas práticas que garantissem a maior eficiência 
possível na realização da tarefa. Pode-se dizer que um 
hábito se estabelece quando uma dessas formas repete-se 
muitas vezes. Um hábito estabelecido por razões 
concretas, com o passar do tempo e das gerações, 
transforma-se em tradição. E o que acontece? As bases 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
40 
concretas, estabelecidas com o decorrer do tempo, não são 
mais questionadas. A tradição se impõe porque é uma 
herança dos antepassados. Se eles determinaram que essa 
é a melhor forma, é porque tinham alguma razão. Quando 
se passam muitas gerações e a regra estabelecida perde 
essa referência de origem (o grupo de antepassados), 
dizemos, então, que essa regra social foi 
institucionalizada. 
A monogamia – o casamento somente entre duas 
pessoas – pode ser considerada uma dessas instituições. É 
sabido que as sociedades primitivas não a conheciam. Os 
casamentos eram poligâmicos. A monogamia surge, então, 
na Grécia antiga e no Oriente Médio com o 
estabelecimento da propriedade privada e a descoberta da 
paternidade biológica. Entre os povos primitivos, o papel 
de pai era atribuído ao irmão materno mais velho; as 
famílias eram matrilineares (baseadas na linhagem 
materna) e, provavelmente, imperava o matriarcado. No 
início do modo de produção escravagista da organização 
social antiga (como foi o caso da Grécia), o surgimento 
das cidades, da propriedade privada e a descoberta da 
paternidade biológica colocavam o homem da época 
diante de uma questão: a herança. As pessoas (no caso, os 
homens) que acumulavam riquezas durante sua vida não 
tinham para quem deixa-las. A família paterlinear e o 
casamento monogâmico foi a forma de organização 
encontrada que definia, claramente, uma maneira de 
perpetuar a propriedade através da herança. O filho passou 
a ser o herdeiro dos bens paternos. Para isso, estes homens 
proprietários passaram a estabelecer, como regra, que suas 
mulheres deveriam manter relações sexuais somente com 
eles próprios (em função da descoberta do funcionamento 
da paternidade biológica) e, assim teriam certeza de que o 
filho lhes pertencia. Hoje, qualquer pessoa de nossa 
sociedade ocidental, se questionada sobre a monogamia, 
dirá que o casamento se dá desta forma porque “é 
natural”. Curiosamente, ainda hoje temos culturas, como a 
muçulmana, que não adotam a monogamia como regra e, 
apesar dessa evidência contrária, alguém de nossa cultura 
continuará considerando a monogamia natural. A este 
fenômeno chamamos de instituição. 
 
INSTITUIÇÕES, ORGANIZAÇÕES E GRUPOS. 
 
A instituição é um valor ou regra social reproduzida no 
cotidiano com estatuto de verdade, que serve como guia 
básico de comportamento e de padrão ético para as 
pessoas, em geral. A instituição é o que mais se reproduz e 
o que menos se percebe nas relações sociais. Atravessa, de 
forma invisível, todo tipo de organização social e toda a 
relação de grupos sociais. Só recorremos claramente a 
estas regras quando, por qualquer motivo, são quebradas 
ou desobedecidas. 
Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base 
concreta da sociedade é a organização. As organizações, 
entendidas aqui de forma substantiva, representam o 
aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano 
da sociedade. A organização pode ser um complexo 
organizacional – um Ministério, como, por exemplo, o 
Ministério da Saúde; uma Igreja, como a Católica; uma 
grande empresa, como a Volkswagen do Brasil; ou pode 
estar reduzida a um pequeno estabelecimento, como uma 
creche de uma entidade filantrópica. As instituições 
sociais serão mantidas e reproduzidas nas organizações. 
Portanto, a organização é o pólo prático das instituições. 
O elemento que completa a dinâmica de construção 
social da realidade é o grupo. Se a instituição constitui o 
campo dos valores e das regras (portanto, um campo 
abstrato), e se a organização é a forma de materialização 
destas regras através da produção social, o grupo, por sua 
vez, realiza as regras e promove os valores. O grupo é o 
sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, 
reformula tais regras. É também o sujeito responsável pela 
produção dentro das organizações e pela singularidade – 
ora controlado, submetido de forma crítica a essas regras e 
valores, ora sujeito da transformação, da rebeldia, da 
produção do novo. 
(BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair e TEIXEIRA Maria de 
Lourdes Trassi. 
“Psicologias. Uma introdução ao estudo de psicologia” 
São Paulo: Editora Saraiva, 1999 (págs. 214 - 226). 
 
CARACTERÍSTICAS DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
 
Instituição é toda forma ou estrutura social estabelecida, 
constituída, sedimentada na sociedade e com caráter 
normativo – ou seja, ela define regras (normas) e exerce 
formas de controle social. São instituições sociais, por 
exemplo, o Estado, a escola, a família, a religião, o 
trabalho remunerado, a propriedade privada, etc. 
As instituições são formadas para atender a 
necessidades sociais. Servem também de instrumento de 
regulação e controle das relações sociais e as atividades 
dos membros da sociedade em que estão inseridas. Para 
isso, dispõem de um poder normativo e coercitivo aceito 
pela maioria da população dessa sociedade. 
Segundo Brigitte e Peter Berger, as principais 
características das instituições sociais são: 
 Exterioridade – as instituições sociais são 
experimentadas como algo dotado de realidade 
externa aos indivíduos; 
 Objetividade – todas (ou quase todas) as pessoas da 
sociedade admitem que elas existem e reconhecem 
que elas são instituições legítimas; 
 Coercitividade – as instituições têm o poder de 
exercer pressões sobre as pessoas, de modo a levá-las 
a agir segundo os padrões de comportamento 
considerados corretos pela sociedade; 
 Autoridade moral – as instituições não se mantêm na 
sociedade apenas pelo poder de coerção, mas também 
porque são reconhecidas prelas pessoas dessa 
sociedadecomo tendo o direito legítimo de exercer 
seu poder e obrigar os integrantes da sociedade (seja 
pela força, seja pelo convencimento) a agir segundo 
determinados padrões; 
 Historicidade – as instituições já existiam antes do 
nascimento do indivíduo e continuarão a existir 
depois da sua morte; elas têm sua própria história. 
 
AS INSTITUIÇÕES NORMATIZAM OS GRUPOS 
 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
41 
Apesar de dependerem um do outro, grupo social e 
instituição social são duas realidades distintas. 
Os grupos sociais são conjuntos de indivíduos com 
objetivos comuns, envolvido num processo de interação 
mais ou menos contínuo. Já as instituições sociais se 
baseiam em regras e procedimento que se aplicam a 
diversos grupos. 
Por exemplo: o pai, a mãe e os filhos formam um grupo 
primário. Já as regras e procedimento que regulamentam 
as relações familiares fazem parte da instituição familiar. 
Isso significa que as mesmas regras e normas de conduta 
de uma família valem para todas as famílias de uma 
determinada sociedade, já que elas assumem um caráter 
institucional. Em outras palavras: a instituição família é 
uma estrutura que existe há milhares de anos. 
Diversamente, cada família concreta tem um período 
relativamente curto de vida. Dura enquanto permanecerem 
vivos marido e mulher, pois os folhos, uma vez casados, 
formam suas próprias famílias. 
Outro exemplo. Os membros de uma empresa 
constituem um grupo social formado por acionistas, 
administradores, prestadores de serviço e empregados. As 
relações entre essas pessoas são reguladas por leis, regras 
e padrões que objetivam fazer a empresa funcionar e dar 
lucro aos proprietários. Essas normas caracterizam a 
instituição econômica, pois seus preceitos são igualmente 
aplicados em todas as empresas. 
 
AS INSTITUIÇÕES SÃO INTERDEPENDENTES 
 
A escravidão foi uma instituição vigente no Brasil entre 
1500 e 1888. Com a libertação dos escravos, as 
instituições econômicas do país sofreram profundas 
transformações: deixou de haver trabalho escravo e os 
trabalhadores passaram a receber salário. Como resultado, 
as instituições familiar, religiosa e educacional forma 
igualmente afetadas por essa mudança institucional e 
tiveram de reorganizar seu sistema de status, seus padrões 
de comportamento e suas normas jurídicas em relação aos 
ex-escravos. 
O exemplo mostra que uma instituição não existe 
isolada das outras. Há entre elas uma relação de 
interdependência, de tal forma que qualquer alteração em 
determinada instituição pode acarretar mudanças maiores 
ou menores nas outras. 
(OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 
São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 216-217) 
 
INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
 
É um conjunto de regras e procedimentos padronizados, 
reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade e que 
tem grande valor social. A instituição não existe isolada 
das outras. Todas elas possuem uma interdependência 
mútua, de tal forma que uma modificação numa 
determinada instituição pode acarretar mudanças maiores 
ou menores nas outras. 
As instituições sociais servem como um meio para a 
satisfação das necessidades da sociedade. Nenhuma 
instituição surge sem que tenha surgido antes uma 
necessidade. Mas, além desse papel, as instituições sociais 
cumprem também o de servir de instrumento de regulação 
e controle das atividades do homem. 
As principais instituições sociais são: família, religião, 
economia, política, educação e recreação. 
 
• Família: primeiro grupo social a que pertencemos. É um 
tipo de agrupamento social cuja estrutura varia no tempo e 
no espaço. Essa variação pode ser quanto ao número de 
casamentos, quanto à forma, relações de parentesco, 
relação sexual e dos componentes básicos da sociedade. 
• Educação: constitui uma instituição universal pelo fato de 
que em todas as sociedades é necessário garantir a 
estrutura educacional como processo de transmissão de 
conhecimentos e valores presentes na sociedade. 
• Recreação: em todas as sociedades, existem modos 
culturalmente estabelecidos para o alívio das tensões 
acumuladas nos indivíduos em decorrência das frustrações 
geradas pelas restrições da vida social. Todas as 
sociedades possuem instituições recreativas, como no 
Brasil, o carnaval e futebol. 
• Religião: todas as sociedades conhecem alguma forma de 
religião. A religião é um fato social universal. Não resta 
dúvida de que a religião é uma das instituições mais 
importantes para a organização social, pelo seu conteúdo 
moral. A religião inclui crença ao sobrenatural, ritos e 
cerimônias. É inegável a tendência moderna de dar mais 
ênfase aos valores sociais do que religiosos, prova disso é 
o surgimento de doutrinas mais modernas como a 
Teologia da Libertação. 
• Política: são instituições políticas fundamentais a 
autoridade, o governo, o Estado (com os três poderes), 
partidos políticos e as constituições. Classificamos 
também os sistemas políticos como o anarquismo, 
ditadura, democracia e a pseudodemocracia. 
• Economia: as atividades econômicas são 
institucionalizadas à medida que são explicadas por 
crenças, valores e reguladas por normas. Nas sociedades 
modernas a instituição econômica apresenta um grau de 
importância bem mais elevado que nas sociedades tribais, 
resultado do desenvolvimento tecnológico visando uma 
divisão mais diversificada do trabalho social. 
(http://estudossociologicos.blogspot.com.br/2009/08/instituicoes-
sociais.html) (ADAPTADO) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• A instituição é um valor ou regra social reproduzida no 
cotidiano com estatuto de verdade, que serve como guia básico 
de comportamento e de padrão ético para as pessoas, 
• Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta 
da sociedade é a organização. As organizações, entendidas 
aqui de forma substantiva, representam o aparato que reproduz 
o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. 
• Se a instituição constitui o campo abstrato dos valores e das 
regras, e se a organização é a forma de materialização destas 
regras através da produção social, o grupo, por sua vez, realiza 
as regras e promove os valores. O grupo é o sujeito que 
reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras. 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
42 
• Instituição é toda forma ou estrutura social estabelecida, 
constituída, sedimentada na sociedade e com caráter normativo 
– ou seja, ela define regras e exerce formas de controle social. 
• As instituições são formadas para atender a necessidades 
sociais. Servem também de instrumento de regulação e controle 
das relações sociais e as atividades dos membros da sociedade 
em que estão inseridas. Para isso, dispõem de um poder 
normativo e coercitivo aceito pela maioria da população dessa 
sociedade. 
• As principais características das instituições sociais são: 
exterioridade, objetividade, coercitividade, autoridade moral e 
historicidade. 
 
 
 UNIDADE 10 
 
A FAMÍLIA 
 
A INSTITUIÇÃO FAMILIAR NO BRASIL 
 
Para a maioria dos brasileiros a família, o estudo, o 
trabalho, a religião, o dinheiro e o lazer tem 
respectivamente nesta ordem, diferenciados níveis de 
importância, apesar da maioria enfatizar a grande 
importância da família e quererem ter filhos algum dia, 
não demonstram a mesma simpatia pelo casamento que as 
gerações anteriores datadas do início do século XIX até o 
fim do século XX. Afinal, esta instituição representava 
poder, segurança e respeitabilidade. 
O padrão da família brasileira da primeira metade do 
século XIX até a primeira metade do século XX era 
constituído por um pai, mãe e filhos. Os integrantes da 
família brasileira deste período eram comandados por um 
pai e esposo contido no choro e na demonstração de 
sentimentos, eram duros e jamais demonstravam 
fragilidade, nem receios. Antes o homem era formado 
para ser mais racional,e menos emocional o que 
dificultava o relacionamento afetivo. Este ensinamento 
sobre a firmeza masculina para dirigir o lar era ensinado 
de pai para filho, sempre reafirmando os ideais de filhas 
casando-se cedo para seguir os passos da mãe, uma 
mulher frágil, submissa, contida e respeitável. Os 
casamentos celebrados durante o século XIX eram uma 
opção da elite branca que tentava manter o prestígio e a 
estabilidade social limitando os casamentos a mitos 
quanto à cor, honra, riquezas e religião, mas este quadro 
não era tão rigoroso quando se tratavam da classe baixa da 
população. Muitas vezes os casamentos eram arranjados, 
mas a legalização da união para a formação de uma nova 
família dependia do consentimento paterno, cuja 
autoridade era legítima e incontestável, era de sua 
competência decidir e até determinar o futuro dos filhos 
sem lhes consultar as preferências, sendo que em alguns 
casos os noivos jamais haviam se visto, comunicado ou 
tocado. Os filhos que se rebelavam e não aceitavam a 
dominação paterna eram sempre castigados, deserdados e 
até expulsos de casa. 
Devido às poucas opções de escolha, restava à mulher o 
casamento onde a mesma representava a proteção na 
família e tinha a obrigação de ensinar a decência e educar 
os filhos. Ao marido era de competência zelar pela 
segurança e conforto material da família, sendo isto válido 
para todas as classes sociais. O amor, a estima, a 
dedicação e a gratidão era relevantes nos casamentos 
principalmente dos mais pobres, o que ocasionava muitas 
vezes em maus tratos contra a mulher e os filhos. A única 
preocupação do pai era em alimentar e quando estes eram 
de classes mais abastadas fornecer um bom estudo aos 
filhos homens, às mulheres apenas lhes eram ensinados as 
atividades domésticas, uma língua estrangeira e como uma 
dama deveria se comportar e vestir-se, sempre de maneira 
austera e honrosa. Todo o século XIX foi marcado pela 
repressão do pai ao resto da família que não desfrutava do 
direito de opinar em situação alguma sobre o próprio 
futuro ou expor sua opinião sobre seus gostos, desejos e 
anseios. 
Com a Revolução industrial e com a revolução 
feminista, o posicionamento das mulheres mudou 
radicalmente em menos de meio século, e mesmo que com 
passos incertos e vacilantes provocou uma reorganização 
da sociedade e levou aos homens a necessidade de 
repensar seu papel. A exemplo das mulheres estrangeiras, 
que com a segunda guerra mundial foram obrigadas a 
saírem de casa e trabalhar em fábricas, pois com os 
homens na guerra em frente de batalha, as mulheres 
tomaram conta da produção industrial de armamentos, 
munições, roupas e alimentos, influenciando assim a 
mulher brasileira que sofreu os impactos da guerra 
também aqui no Brasil. Essa mudança radical afetou o 
comportamento da mulher na família e o homem por sua 
vez foi presenteado com espaços afetivos mais amplos. A 
partir de meados do século XX foi permitido ao homem 
desfrutar de uma relação conjugal e de pai harmoniosa e 
permissiva. A vida econômica passou a ser compartilhada 
e o ambiente organizacional suavizou-se. O homem 
perdeu o domínio absoluto sobre a chefia da família e todo 
o autoritarismo decorrente disso. 
Várias foram as mudanças no quadro familiar que antes 
era nuclear, constituída de um pai, uma mãe e filhos. 
Assim, formada por novos casais, com enteados, com 
filhos de seus casamentos desfacelados, com os avós, os 
primos e tios surgiu a família denominada mosaico. Esta é 
uma família numerosa com muitos componentes. No 
Brasil do século XXI pelo egoísmo de cada ser que 
compõe as famílias, pensando cada dia mais em si próprio, 
em se promover profissionalmente do que em constituir 
uma família ou mantê-la, é cada vez maior o número de 
divórcios que a menos de três décadas não eram tão 
comuns, afinal o divorcio era desonroso para a mulher e 
era tradição que um casamento era para o resto da vida. 
Mas, as lições que as novas gerações estão aprendendo 
são outras. Mudaram-se os parâmetros, a cultura e a 
liberdade de expressão decorrente de todo o processo 
histórico... O que seria o cabeça da família, o homem 
moderno, aprendeu a ser gentil, compreender que as 
tarefas da casa pertencem a eles também, educar os filhos 
junto com as esposas, dividir e compartilhar os trabalhos 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
43 
domésticos, com justiça e solidariedade, unindo a família 
do século XXI, sendo bom para as crianças e para o 
próprio casal, o importante é o amor. Ambos ainda estão 
perdidos, pois são mudanças muito recentes. A família já 
percebeu que pode construir um mundo melhor, se abrir às 
novas mudanças exigidas pelo mundo moderno, sendo 
uma boa influenciadora da moral e das regras de 
conduta... que contribua para uma efetiva consolidação da 
dignidade individual e social de cada brasileiro. 
 (http://www.webartigos.com/artigos/a-familia-brasileira/44883/) 
 
FAMÍLIA: SOCIEDADE COLOCA CONCEITO DO 
FENÔMENO EM DISPUTA 
 
Qual é a definição correta de família? Existe um 
conceito correto? As definições antigas dão conta da 
diversidade que a sociedade contemporânea vivencia em 
suas relações? 
Para muitos essa é uma questão polêmica. No Brasil, o 
tema ganhou destaque após o site da Câmara dos 
Deputados colocar no ar uma enquete que questiona se 
você é a favor ou contra o conceito de família como 
núcleo formado “a partir da união entre homem e mulher”, 
prevista no projeto de Lei 6583/13, do deputado Anderson 
Ferreira (PR-PE), que cria o Estatuto da Família. 
O deputado argumenta que “a família vem sofrendo 
com as rápidas mudanças ocorridas em sociedade” e, no 
texto do projeto, apresenta diretrizes de políticas públicas 
voltadas para a entidade familiar e obriga o poder público 
a garantir as condições mínimas para a “sobrevivência” 
desse núcleo. A proposta dele define família como o 
núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, 
por meio de casamento, união estável ou comunidade 
formada pelos pais e seus descendentes. 
A família é um fenômeno social presente em todas as 
sociedades e um dos primeiros ambientes de socialização 
do indivíduo, atuando como mediadora principal dos 
padrões, modelos e influências culturais; se define em um 
conjunto de normas, práticas e valores que têm seu lugar, 
seu tempo e uma história. 
Muitos fatores contribuem para dar forma ao que 
reconhecemos como família: as normas e ações impostas 
pelo Estado (quando ele beneficia determinado tipo de 
família em questões legais, previdenciárias, acaba 
legitimando este tipo e desestimulando outros), as relações 
trabalhistas (quando as oportunidades no mundo do 
trabalho moldam as escolhas feitas pelos indivíduos na 
vida pessoal), o âmbito da sexualidade e afetos, as 
representações dos papéis sociais de mulheres e homens, 
da infância e das relações entre adultos e crianças, a 
delimitação do que é pessoal e privado por práticas 
cotidianas, e as leis. Tudo isso interfere na vida doméstica 
e molda os papéis de homens e mulheres dentro e fora de 
casa. 
No Brasil, o conceito de família teve diferentes 
abordagens. Na Constituição Federal de 1967, anterior ao 
regime democrático, o artigo 167 descrevia que “a família 
é constituída pelo casamento". Com a promulgação da 
Constituição Federal de 1988 o conceito de família foi 
ampliado e passou a ser entendido como “a comunidade 
formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. 
Pelo Novo Código Civil Brasileiro, instituído em 2003, 
a família deixou de ser aquela constituída unicamente 
através do casamento formal, ou seja, composta de 
marido, mulher e filhos. No Código de 1916, em vigência 
anteriormente, o casamento definia a família legitima e 
legitimava os filhos comuns. 
O novo código reconhece que a família abrange as 
unidades familiares formadas pelo casamento civil ou 
religioso, união estável ou comunidade formadapor 
qualquer dos pais ou descendentes, ou mãe solteira. O 
conceito de família passou a ser baseado mais no afeto do 
que apenas em relações de sangue, parentesco ou 
casamento. 
Já o IBGE, para realizar o Censo em 2010, definiu como 
família o grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco 
que vivem numa unidade doméstica. Essa unidade 
doméstica pode ser de três tipos: unipessoal (quando é 
composta por uma pessoa apenas), de duas pessoas ou 
mais com parentesco ou de duas pessoas ou mais sem 
parentesco entre elas. 
O levantamento fez um retrato da família brasileira: na 
maioria das unidades domésticas (87,2%) as famílias são 
formadas por duas ou mais pessoas com laços de 
parentesco. As pessoas que vivem sozinhas representam 
12,1% do total e as pessoas sem parentesco são 0,7%. Na 
comparação entre 2000 e 2010, houve um crescimento na 
proporção pessoas morando sozinhas (antes de 9,2%) e de 
famílias tendo a mulher como responsável (de 22,2% para 
37,3%), fato que ocorre, principalmente, pela 
emancipação e ingresso da mulher no mercado de 
trabalho. 
Especialistas e intelectuais afirmam que não há um 
conceito único de família e que ele permanece aberto, em 
construção, e deve acompanhar as mudanças de 
comportamento, religiosas, econômicas e socioculturais da 
sociedade. Alas mais conservadoras da sociedade e de 
diferentes religiões não compartilham dessa visão e 
mantém o entendimento de que o fator gerador da família 
é o casamento entre homem e mulher, os filhos gerados 
dessa união e seus demais parentes. 
Mas, com o passar do tempo, novas combinações e 
formas de interação entre os indivíduos passaram a 
constituir diferentes tipos de famílias contemporâneas: a 
nuclear tradicional (um casal de homem e mulher com um 
ou dois filhos, sendo a relação matrimonial ou não); 
matrimonial; informal (fruto da união estável); 
homoafetiva; adotiva; anaparental (sem a presença de um 
ascendente); monoparental (quando apenas um dos pais se 
responsabiliza pela criação dos filhos); mosaico ou 
pluriparental (o casal ou um dos dois têm filhos 
provenientes de um casamento ou relação anterior); 
extensa ou ampliada (tem parentes próximos com os quais 
o casal e/ou filhos convivem e mantém vínculo forte); 
poliafetiva (na qual três ou mais pessoas relacionam-se de 
maneira simultânea); paralela ou simultânea 
(concomitância de duas entidades familiares), 
eudemonista (aquela que busca a felicidade individual), 
entre outras. 
O principal desafio é reconhecer a legitimidade desses 
novos tipos de famílias, que precisam dessa oficialização 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
44 
para ter seus direito jurídicos, previdenciários, entre 
outros, garantidos. Quando o Estado e a sociedade não 
reconhecem essas famílias como legítimas (por diferentes 
motivos), devido ao conflito entre os valores antigos e o 
estabelecimento de novas relações, acabam estimulando 
alguns modos de vida e desestimulando outros. No 
entanto, isso acaba oferecendo proteção e vantagens para 
uns em detrimento de outros. 
“A ideia de que a família corresponde ao casamento, 
heterossexualidade e procriação determinou por muito 
tempo a fronteira da legitimidade das famílias”, comenta a 
autora Flávia Biroli no livro Família – Novos Conceitos, 
ao falar da noção moderna de família. 
Segundo ela, a ruptura, ainda que parcial dessa 
idealização do conceito de família é resultado da ação de 
movimentos sociais, feministas e LGBT, e de juristas e 
políticos que entenderam que os direitos individuais 
incluem o direito de casar-se e o serem beneficiados com 
as vantagens relacionadas ao casamento nas nossas 
sociedades. 
Além da diversidade de tipos de família na nossa 
sociedade, ainda precisamos compreender a realidade de 
outros países e culturas (principalmente as não 
ocidentais), onde muitas vezes um comportamento que é 
proibido em nosso território, é permitido. Entre esses 
comportamentos estão a exogamia (união de membros de 
grupos diferentes, como japonês com alemã, italiano com 
africana, etc), a endogamia (união entre parentes ou 
pessoas com a mesma ascendência), a bigamia, o incesto, 
a poligamia, entre outros. 
Se voltássemos a Idade Média, veríamos que não eram 
incomuns casos de reis e rainhas europeus que se casando 
com primos e irmãos para manter unidos seus reinos e 
fortunas. No caso da poligamia, um casamento que 
engloba dois ou mais parceiros, trata-se de uma prática 
que vem de culturas e religiões antigas, em muitos casos, 
iniciada pelo fato de existirem mais mulheres do que 
homens. 
Na África, por exemplo, a poligamia para os homens é 
permitida e reconhecida legalmente em muitos países, 
como Líbia, Marrocos, Quênia, entre outros. Na África do 
Sul a poligamia é um direito que está na Constituição. 
Qualquer homem sul-africano pode ser casado com até 
quatro mulheres. Todas recebem o sobrenome do marido e 
têm os mesmos direitos perante a lei. 
No caso da poligamia para mulheres (chamada 
poliandria), por muitos séculos ela foi praticada no isolado 
Vale Lahaul, no Himalaia, na Índia. Ali, era muito comum 
o casamento de irmãos com a mesma mulher, por 
exemplo. Essas famílias eram pequenas, como o trabalho 
não era distante não havia muito contato com outras 
aldeias. Hoje, com o desenvolvimento do local, o 
crescimento econômico e os avanços tecnológicos, o vale 
antes isolado ganhou estradas, telefones, e a população 
pode se deslocar, trabalhar longe e almejar outra vida. As 
famílias poliândricas começam a desaparecer. 
O mais importante nesta questão é que a diversidade da 
vida afetiva e familiar seja abordada de maneira que seu 
contexto e papel sejam compreendidos antes de serem 
julgados e que garanta a igualdade dos indivíduos – no 
acesso a recursos e ao reconhecimento social, e também 
na sua autonomia para tomar decisões sobre a própria 
vida. 
(http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/familia-
sociedade- 
coloca-conceito-do-fenomeno-em-disputa.htm) 
 
A NOVA FAMÍLIA BRASILEIRA 
 
Um novo recorte do Censo 2010 mostra um retrato 
detalhado da família brasileira. O estudo confirma 
características observadas nos últimos anos, reflexo da 
mudança estrutural dos grupos familiares, da maior 
participação da mulher no mercado de trabalho, das baixas 
taxas de fecundidade e do envelhecimento da população. 
E detalha aspectos ainda não mensurados no país, como a 
maior disposição dos brasileiros para dar início a um novo 
relacionamento conjugal depois de uma (ou mais) 
experiências de vida a dois - resultado também da 
mudança na legislação no mesmo ano do estudo, o que 
tornou o divórcio algo possível com uma simples 
passagem pelo cartório. 
A novidade que emerge do estudo vem da preocupação 
do IBGE de, pela primeira vez, analisar as famílias 
reconstituídas. Ou seja, "os núcleos constituídos depois da 
separação ou morte de um dos cônjuges". Esses grupos 
representam 16,3% do total de casais que vivem com 
filhos, sendo eles de apenas um dos companheiros ou de 
ambos. São mais de 4,4 milhões as famílias com essas 
características atualmente - o restante, quase 84%, é 
formado por casais com filhos do marido e da mulher 
vivendo juntos no momento da entrevista. 
A composição de casais com filhos ainda representa a 
maioria das famílias brasileiras, apesar da queda 
significativa nessa fatia da população: foi registrada 
redução de 63,6%, em 2000, para 54,9% em 2010. 
O Censo também mostra que, apesar de os solteiros 
ainda responderem por mais de metade da população, 
55,3%, entre as pessoas com 10 anos de idade ou mais, foi 
entre os divorciados o maior aumento observado de uma 
década para outra: o índice quase dobrou do levantamento 
feito em 2000 para o atual, passando de 1,7% para 3,1%. 
Se somados com o número de desquitados e separados 
judicialmente,esse grupo chega a quase 5% dos 
brasileiros. 
Felicidade - A mudança que se mostra acentuada na 
década entre 2000 e 2010 vem sendo construída ao longo 
da segunda metade do século XX, e está diretamente 
ligada ao conceito que se tem de felicidade. Fundadora do 
atendimento infantil no serviço de psicologia aplicada da 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a 
psicóloga Lulli Milman vê, no crescimento dos divórcios e 
na consequente elevação das famílias recompostas um 
sinal de que o matrimônio e a vida conjugal passaram a 
atender mais a objetivos pessoais que a formalidades. 
"Ser feliz é algo relativamente novo. Antes, vivia-se 
para viver, para honrar o rei, a família. A mudança radical 
sobre isso, na história, veio com a Revolução Francesa. 
Nos anos 50, o casamento eterno era o ideal de felicidade. 
Hoje, ser feliz está ligado a satisfazer a si próprio", diz 
Lulli. "A configuração dos relacionamentos faz com que 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
45 
se amplie o conceito de família. Em tese, as crianças 
passam a ter mais gente cuidando delas", afirma Lulli. 
Quando observados apenas os estados conjugais - sem a 
formalização civil das uniões - o aumento do número de 
divorciados é ainda maior. Do Censo anterior para este, 
houve um acréscimo de 20% no porcentual de pessoas 
envolvidas em dissoluções conjugais, passando de 11,9% 
para 14,6% em 2010. "Nos dias atuais, a união entre as 
pessoas ocorre de forma mais frequente a partir de 
escolhas afetivas", ressalta o estudo. Daí, a liberdade em 
deixar um relacionamento infeliz. 
"A legislação facilitou muito o divórcio. Talvez 
houvesse antes muito casamento mantido pelos filhos. 
Hoje em dia, com a efetiva participação paterna, ficou 
mais fácil para o casal se separar, porque o pai e a mãe 
continuam a ter o contato com o filho", diz o advogado 
Sérgio Arthur Calmon, especializado em direito de 
família. 
O que a legislação estabelecia como condição para 
dissolução dos casamentos era um misto de satisfação 
perante a sociedade e desvio das condutas aceitáveis para 
um casal - mais do que a vontade de um ou ambos de não 
mais conviver como casal. Para se separar, era preciso, até 
antes da mudança na legislação ocorrida em 2010, imputar 
alguma conduta desonrosa ao outro. Algo como ter um 
amante, negligenciar o lar ou os filhos. "Há uma mudança 
grande tanto judicialmente quanto nas relações. Em um 
mês é possível se divorciar. Se antes era complicado, 
agora é esse processo é tão rápido que torna mais 
descartáveis as uniões formais", afirma Calmon. 
O casamento formal - seja no civil ou no religioso - é 
uma decisão econômica. E o Censo mostra como o índice 
de relações formais cresce à medida que se eleva a renda 
do extrato estudado: 48,9% das pessoas que ganham até 
meio salário mínimo vivem em união conjugal 
consensual, enquanto 64,2% do grupo que ganha mais de 
cinco salários prefere se casar no civil e no religioso. 
Rio, capital das separações - O crescimento no índice 
de pessoas que já viveram em união conjugal e não viviam 
mais na época da pesquisa é generalizado em todas as 
regiões do país. De 2000 para 2010, o índice de pessoas 
que terminaram uma união conjugal subiu de 15,6% para 
17,5% - o maior porcentual do país, cuja média geral é de 
14,6%. Mas os maiores crescimentos porcentuais foram 
observados em Rondônia (33%) e no Mato Grosso (31%), 
onde ainda se mantêm uma tradição maior no que diz 
respeito ao casamento tradicional. "Uma das explicações 
possíveis desse crescimento, principalmente na Região 
Norte do país é a maior autonomia que as mulheres vêm 
conquistando, para colocar um fim em um relacionamento 
ruim, por exemplo", explica o pesquisador Leonardo 
Queiroz Athias. 
Entre os estados, o Rio de Janeiro é o que aparece como 
o campeão das separações. Cosme Corrêa e Carla Lage 
moram juntos em Niterói há três anos. Antes disso, cada 
um foi casado com outra pessoa e tiveram filhos. Hoje, 
engrossam as estatísticas do IBGE sobre famílias 
reconstituídas. Carla chegou com um filho de 10 anos. 
Cosme com uma menina de cinco. Os dois têm guarda 
compartilhada, com alternância de dias. Nas segundas e 
quartas, as duas crianças estão na casa deles. O fim de 
semana é intercalado. "Há o fim de semana de sucrilhos e 
iogurte, com as crianças, e outro de queijos e vinhos. 
Temos o nosso tempo e o tempo das crianças", diz Corrêa, 
que foi casado outras duas vezes. Hoje, as duas crianças, 
de relacionamentos passados de Carla e Correia, se tratam 
como irmãos. A família planeja uma viagem para a 
Disney no ano que vem. Os pais programam o casamento 
no papel. 
Recomeço - O psicólogo Fernando dos Santos Baltazar, 
de 39 anos, compõe esse novo conjunto de famílias.. Ele 
se casou aos 20 anos com a primeira mulher, com quem 
teve três filhos. Depois de quase dez anos de 
relacionamento "e algumas experiências traumáticas", 
veio a separação. Baltazar se manteve em São Paulo, ela 
se mudou com os filhos para Minas Gerais. Baltazar 
entrou na Justiça - e ainda briga - para ter o direito de 
visitá-los. 
Dois anos depois do primeiro casamento, veio o 
momento de recomeçar. Baltazar se casou de novo, com 
Luíza, que trazia na bagagem também uma união conjugal 
desfeita, além de dois filhos, hoje com 20 e 18 anos. 
"Sempre fiz questão de exercer meu papel de pai. Ajudei a 
cuidar dos meus três filhos. Com enteados, a relação 
precisa ser um pouco diferente. Situações que você 
poderia resolver com uma chamada de atenção mais forte 
têm de ser tratadas de forma diferente", recorda. 
Baltazar e a atual esposa engrossam o índice de pessoas 
divorciadas que estão novamente em uma união conjugal: 
eles são 6,1% do total dos brasileiros, o único grupo que 
registrou aumento (de 1,6 ponto porcentual) do Censo de 
2000 para 2010. "Isso reforça o aumento das uniões 
reconstituídas no país e da disposição das pessoas em 
iniciar novas relações", enfatiza o pesquisador do IBGE 
Leonardo Queiroz Athias. Nesse mesmo período, o tipo de 
união que mais cresceu foi a consensual - oficializada ou 
não em cartório -, de 28,6% para 34,8%. Na análise do 
IBGE, esta é a confirmação de uma mudança de valores 
culturais em todo o país, pois torna as uniões não 
formalizadas mais aceitas pela sociedade. 
(http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-nova-familia-brasileira-ibge/) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• O padrão da família brasileira da primeira metade do século 
XIX até a primeira metade do século XX era constituído por um 
pai, mãe e filhos. Com a Revolução industrial e com a revolução 
feminista, o posicionamento das mulheres mudou radicalmente 
e, mesmo que com passos incertos e vacilantes, provocou uma 
reorganização da sociedade e levou aos homens a necessidade 
de repensar seu papel. 
• Várias foram as mudanças no quadro familiar que antes era 
nuclear, constituída de um pai, uma mãe e filhos. Assim, 
formada por novos casais, com enteados, com filhos de seus 
casamentos desfacelados, com os avós, os primos e tios surgiu 
a família denominada mosaico. Esta é uma família numerosa 
com muitos componentes. 
• No Brasil do século XXI pelo egoísmo de cada ser que 
compõe as famílias, pensando cada dia mais em si próprio, em 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
46 
se promover profissionalmente do que em constituir uma família 
ou mantê-la, é cada vez maior o número de divórcios que a 
menos de três décadas não eram tão comuns 
• A partir do Novo Código Brasileiro de 2003 se reconhece que 
a família abrange as unidades familiares formadas pelo 
casamento civil ou religioso, união estável ou comunidade 
formada por qualquer dos pais ou descendentes, ou mãe 
solteira. O conceito de família passou a ser baseado mais no 
afeto do que apenas em relações de sangue, parentesco ou 
casamento. 
• Não há um conceito único de família e ele permanece aberto, 
em construção,e deve acompanhar as mudanças de 
comportamento, religiosas, econômicas e socioculturais da 
sociedade. Alas mais conservadoras da sociedade e de 
diferentes religiões não compartilham dessa visão e mantém o 
entendimento de que o fator gerador da família é o casamento 
entre homem e mulher, os filhos gerados dessa união e seus 
demais parentes. 
• Um novo recorte do Censo 2010 confirma características 
observadas nos últimos anos, reflexo da mudança estrutural dos 
grupos familiares, da maior participação da mulher no mercado 
de trabalho, das baixas taxas de fecundidade e do 
envelhecimento da população. Também detalha aspectos ainda 
não mensurados no país, como a maior disposição dos 
brasileiros para dar início a um novo relacionamento conjugal 
depois de uma (ou mais) experiências de vida a dois - resultado 
também da mudança na legislação no mesmo ano do estudo, o 
que tornou o divórcio algo possível com uma simples passagem 
pelo cartório. 
 
 
 UNIDADE 11 
 
A EDUCAÇÃO 
 
PATRIMÔNIO CULTURAL E EDUCAÇÃO 
 
O que integra uma pessoa à sociedade e ao grupo social 
em que vive é o patrimônio cultural que ela recebe. A 
transmissão desse patrimônio começa no momento em que 
ela nasce (e até mesmo antes, quando ela ainda se 
encontra no útero materno e recebe estímulos de diversas 
procedências do meio social). O veículo pelo qual essa 
transmissão é realizada no momento inicial da vida é a 
família. Depois, a pessoa passa pouco a pouco a interagir 
com círculos cada vez mais amplos da sociedade. Em 
todos esses momentos, ela assimila valores e regras por 
meio da educação. 
Assim, são objetivos da educação: a transmissão da 
cultura, a adaptação dos indivíduos à sociedade, o 
desenvolvimento de suas potencialidades e, como 
consequência, o desenvolvimento da personalidade e da 
própria sociedade. 
A educação permite que a criança, ao crescer, também 
possa interferir no meio social em que vive, ajudando a 
incorporar inovações e até a modificar padrões culturais 
estabelecidos – ou seja, contribuindo para transformar a 
sua própria realidade. 
A educação pode ser de dois tipos: formal ou informal. 
A educação informal ou difusa é a que ocorre na vida 
diária por intermédio dos contatos primários (com a 
família, por exemplo) e pela assimilação dos hábitos de 
cada grupo social, pela observação do comportamento dos 
mais velhos, pela convivência com os outros membros da 
sociedade. É realizada sem nenhum plano, sem local ou 
hora determinada. Todas as pessoas, todos os grupos, toda 
a sociedade participa dessa forma de educação. Nas 
comunidades mais isoladas, onde ainda não há escolas, a 
educação informal é a única forma de educação existente. 
Nessas comunidades, crianças e jovens aprendem ao 
participar ativamente da vida familiar e comunitária. 
Assim, adaptam-se pouco a pouco ao estilo de vida do 
grupo. Portanto, existe educação sem escola como no caso 
das sociedades indígenas. 
Florestan Fernandes (1920-1995), sociólogo brasileiro 
que estudou os povos Tupinambás observou as seguintes 
características na educação indígena desses povos: 
• os conhecimentos são acessíveis a todos os membros 
da comunidade 
• a transmissão da cultura faz-se cotidianamente, 
• como se tratam de povos iletrados (específico dos 
indígenas no Brasil), a comunicação dos saberes 
ocorre oralmente. A palavra oral possuía tanto 
prestígio quanto a linguagem escrita em nossa 
sociedade; 
• a educação não é privilégio das crianças e jovens uma 
vez que todos estão no papel de aprendizes e de 
mestres. 
Embora esteja sempre presente na vida do indivíduo, em 
sociedades complexas a educação informal não é 
suficiente. A divisão do trabalho e a diversidade de papéis 
sociais exigem de crianças e jovens a passagem pela 
escola, onde recebem educação sistemática ou formal. O 
objetivo básico dessa forma de educação é a transmissão 
de certos legados culturais, isto é, de conhecimentos, 
técnicas ou modos de vida, de forma a preparar as pessoas 
para os papéis que elas serão chamadas a desempenhar na 
sociedade ao longo da vida (ter uma profissão, ser pai ou 
mãe de família, estar preparado para exercer a cidadania, 
etc). 
 
A ESCOLA E A SOCIEDADE CAPITALISTA 
 
Na sociedade capitalista no período histórico conhecido 
por “modernidade” (século XVI até nossos dias), a cultura 
capitalista põe a ciência em destaque, mostrando que a 
vida moderna só pode ser entendida pela ótica dos 
métodos científicos e, com isso, a educação deixa de 
refletir apenas os valores religiosos como no tempo da 
sociedade feudal para ter a ciência como base. 
Será nesse contexto ideológico da nascente sociedade 
industrial que nasce uma nova instituição responsável por 
essa educação: a escola. Percebemos que uma das 
características da revolução ideológica capitalista foi 
transportar uma educação que durante o feudalismo 
ocorria na família e na Igreja para a instituição escola. 
Nasce assim a escola: uma instituição com normas 
específicas, agentes próprios (diretores, professores, 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
47 
alunos, orientadores pedagógicos, etc) e toda uma 
hierarquia. A escola se propõe o objetivo de preparar os 
indivíduos para a vida em sociedade ao mesmo tempo que 
desenvolve suas aptidões pessoais. 
Com isso, nasce também uma nova estrutura de ensino: 
muitas salas de aula, muitos alunos numa só sala, provas, 
notas, porcentagens de frequência, carteiras em fila, 
diplomas. Tudo com o objetivo de educar massa cada vez 
maior de indivíduos, tentando adaptá-los aos valores dessa 
nova sociedade capitalista do século XVIII. 
A escola que conhecemos hoje é produto dos séculos 
XVIII e XIX, período em que aparece a ideia da 
necessidade de educação pública e obrigatória para todas 
as pessoas. Já em 1619 encontramos na Alemanha, 
Escócia e Holanda uma educação que se dava através de 
escolas garantidas pelo Estado para crianças de 6 a 12 
anos. Será, porém, a partir da Revolução Francesa, em 
1789, que se expande por toda a Europa e América a 
necessidade de se instaurar o ensino público e científico 
para todos. 
Entretanto, a nova organização social do capitalismo 
teve um desenvolvimento contraditório, pois enquanto uns 
poucos se enriqueciam –proprietários dos meios de 
produção- a maioria empobrecia. A fábrica que 
redimensionava o avanço da ciência e o desenvolvimento 
de novas formas políticas pagava salários baixíssimos, 
forçava a migração rural para as cidades e ainda trazia 
desemprego. A técnica trazia novas curas para doenças 
outrora incuráveis, mas também o desenvolvimento da 
indústria bélica. 
Numa sociedade com o progresso contraditório, o 
capitalismo sempre passou por períodos de crises 
econômicas, desequilíbrios políticos e inúmeros conflitos. 
Essa nova sociedade que surgia trazia problemas para 
serem interpretados e, nesse sentido, são muitos os que 
passam a desenvolver estudos com a preocupação única 
de tentar entender essa nova ordem social. 
 
A ESCOLA COMO ESPAÇO DE SEGREGAÇÃO? 
 
Diversos sociólogos realizaram pesquisas interessados 
em estudar o papel da escola na sociedade capitalista. Um 
dos mais conhecidos pesquisadores foi o sociólogo francês 
Pierre Bourdieu (1930-2002) que fez parte de uma geração 
de pesquisadores interessada em estudar esse “papel da 
escola” na sociedade capitalista. A escola passa a ser vista 
por pesquisadores na área de sociologia como a instituição 
mais eficiente para segregar pessoas, ao dividir e 
marginalizar parte dos alunos com o objetivo de 
reproduzir a sociedade de classes. Na França, por 
exemplo, Bourdieu interessou-se em pesquisar a 
existência de “duas redes de escolarização”: uma 
destinada aos filhos da classe empresarial e outra 
destinada aos filhos da classe trabalhadora. 
A primeira classe social – por ser classe dominante – 
teria acesso às melhores escolas, seus filhos teriam tempo 
e recursos para estudar,enquanto os trabalhadores, sem 
recursos financeiros e por conta da jornada de trabalho, 
são obrigados a se contentar com as piores escolas e não 
atingem as notas necessárias para entrar nas melhores. 
Além disso, para valorizar sua educação, a classe 
empresarial conta com a disponibilidade e recursos para 
frequentar outras atividades que complementam a 
formação escolar; pode-se participar de cursos especiais 
de línguas estrangeiras, música, dança ou ainda 
treinamento e atividades esportivas. Por outro lado, a 
classe trabalhadora se vê limitada a frequentar cursos sem 
essa diversificação curricular, a frequentar cursos 
noturnos, sem a possibilidade de frequentar cursos de 
aperfeiçoamento. 
A classe empresarial se escolariza para se perpetuar na 
condição de classe dirigente, dominante. Cria-se um 
modelo dualista escolas primárias/profissionalizantes e 
escolas “superiores”. 
 
A LINGUAGEM QUE APARECE NA ESCOLA 
 
A linguagem é a forma ou jeito que transmitimos a 
outras pessoas os conhecimentos, valores e ideias. A 
linguagem é, portanto, a soma de recursos (capitais) que 
nos permitem divulgar informações. A linguagem não é 
única, pode dar-se de vários modos. Em relação à escola a 
linguagem se apresenta, por exemplo, no discurso do 
professor ou nos seus gestos, nos conteúdos dos livros 
adotados, nos programas de ensino, nas regras de 
convivência ou normas disciplinares. Tudo são meios para 
expressar ideias, sentimentos e modelos de 
comportamento: tudo isso se constitui na linguagem da 
escola. 
Aquilo que o professor diz ou fala, aquilo que aparece 
nos livros didáticos e nas regras da escola pode ser 
semelhantes, aquilo que um pai/mãe diz ao filho, 
semelhante aos livros que podem ser encontrados em sua 
casa e semelhante até as regras de convivência da família. 
Uma criança que carrega consigo determinados níveis 
de “capital cultural” poderá não assimilar determinados 
conhecimentos que a escola lhe transmite, pois tais 
linguagens podem não ter ligação com seu cotidiano, seu 
dia a dia. A escola não cria, mas poderá reproduzir 
desigualdades. É o que se verifica no fato de tantas 
crianças abandonarem a escola ou nas reprovações 
consecutivas. 
Mas a escola também cumpre uma função 
disciplinadora. A respeito da função disciplinadora da 
escola recorremos aos estudos do filósofo francês Michel 
Foucault (1926-1984). Este pensador realizou diversos 
estudos comparativos entre algumas instituições como 
prisões, conventos, quartéis e escolas, buscando desvelar 
suas semelhanças no que se refere aos aspectos de 
organização e controle. Para Foucault, mais importante do 
que um poder centralizador e visível, são os “pequenos” 
poderes que abarcam todo o espaço social e dos quais não 
conseguimos escapar, porque estão dispersos. É o espaço 
físico, o mobiliário, as regras, os olhares vigilantes, as 
ameaças e as punições agindo sempre no sentido de 
controlar nossos corpos e nossas consciências, de nos 
fazermos “úteis”, “dóceis”, treinados para a obediência. 
A escola é um espaço para “aprender”. Mas “aprender” o que? 
Aprender a nos tornarmos civilizados? A nos tornarmos 
dóceis e obedientes? A repetir o livro e as palavras do 
professor? Ou para ter a autonomia intelectual para tomar 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
48 
decisões e que possa contribuir na formação de uma 
sociedade mais justa, fraterna e igualitária? 
(https://projetoaletheia.wordpress.com/sociologia/ney-
jansen/instituicoes-sociais/) 
 
SOCIEDADE, ESCOLA E FAMÍLIA 
 
Uma das tarefas da educação nas sociedades tem sido a 
de mostrar que os interesses individuais só se podem 
realizar plenamente através dos interesses sociais. Em 
outras palavras a educação ao socializar o indivíduo, 
mostra a este que sozinho, não poderá desenvolver o ser 
humano e sim só desenvolverá potencialidade em contato 
com outras pessoas, com o meio social. A coexistência no 
grupo por sua vez, só é possível se o indivíduo aceitar 
certas regras comuns a todos. 
A contribuição da comunidade na escola pode gerar 
confusão, seja por submetê-la a pressões de grupos em 
defesa de interesses específicos, ou seja, por torná-la palco 
de disputas de caráter partidário, clientelista ou 
ideológico. Uma das habilidades importantes para uma 
gestão democrática é de administrar conflitos e 
relacionarem-se com reverência as desigualdades, a 
maioria de ideias e conceitos pedagógicos, direito de 
decidir e a tolerância, em cada escola a gestão 
democrática declara com certeza a colaboração ativa do 
controle social da educação e ensino. 
Algumas vezes as escolas esquecem que os pais e os 
alunos são sujeitos do processo educativo e que 
certamente, tem muitas sugestões para a melhoria dos 
processos vivenciados na escola. Incluir a sociedade e 
escola é tarefa complicada, pois atrai sensibilidade e 
valores diferenciados. Compete às equipes gestoras 
analisar e colocar em práticas estratégicas as pessoas a se 
envolver e participar na vida do educando/filho na escola. 
Família e escola têm uma importância em comum: 
preparam para a sociedade seus futuros cidadãos. Esse 
fato tece laços profundos entre as duas instituições, 
favorecendo a troca de informações e ajuda mútua. A 
escola que reconhece isso abre suas portas para a 
comunidade, consegue dar um salto qualitativo em relação 
às outras. Em certos casos esse salto não se traduz apenas 
em melhoria das ações pedagógicas, mas às vezes também 
na própria garantia de sua exigência física. "A educação 
não é um elemento para a mudança social, e sim pelo 
contrário, é um elemento fundamental para a conservação 
e funcionamento do sistema social" (DURKHEIM, 
1973:52). 
De modo nenhum adianta o colégio labutar com uma 
sugestão de ensino se a família, em sua casa, fizer o 
oposto. Os pais devem informar-se mais da vida escolar 
dos filhos, contribuindo com o desenvolvimento e 
crescimento dos educandos. Compete às escolas designar 
ambientes e preceitos para conter os pais nos 
procedimentos educacionais. Família e escola, trabalhando 
unidos, podem ter efeitos melhores, garantindo resultados 
surpreendentes na educação. 
 (http://br.monografias.com/trabalhos3/sociedade-escola-
familia/sociedade-escola-familia.shtml) (ADAPTADO) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• São objetivos da educação: a transmissão da cultura, a 
adaptação dos indivíduos à sociedade, o desenvolvimento de 
suas potencialidades e, como consequência, o desenvolvimento 
da personalidade e da própria sociedade. A educação permite 
que a criança, ao crescer, também possa interferir no meio 
social em que vive, ajudando a incorporar inovações e até a 
modificar padrões culturais estabelecidos – ou seja, contribuindo 
para transformar a sua própria realidade. 
• A educação informal ou difusa é a que ocorre na vida diária 
por intermédio dos contatos primários (com a família, por 
exemplo) e pela assimilação dos hábitos de cada grupo social, 
pela observação do comportamento dos mais velhos, pela 
convivência com os outros membros da sociedade. 
• A divisão do trabalho e a diversidade de papéis sociais exigem 
de crianças e jovens a passagem pela escola, onde recebem 
educação sistemática ou formal. O objetivo básico dessa forma 
de educação é a transmissão de certos legados culturais, isto é, 
de conhecimentos, técnicas ou modos de vida, de forma a 
preparar as pessoas para os papéis que elas serão chamadas a 
desempenhar na sociedade ao longo da vida (ter uma profissão, 
ser pai ou mãe de família, estar preparado para exercer a 
cidadania, etc). 
• Pierre Bourdieu entre vários outros pesquisadores perceben a 
escola como a instituição mais eficiente para segregar pessoas, 
ao dividir e marginalizar parte dos alunos com o objetivo de 
reproduzir a sociedade de classes. A classe dominante teria 
acesso às melhores escolas, seus filhos teriam tempo e 
recursos paraestudar, enquanto os trabalhadores, sem 
recursos financeiros e por conta da jornada de trabalho, são 
obrigados a se contentar com as piores escolas e não atingem 
as notas necessárias para entrar nas melhores. 
• Segundo Foucault, a escola também cumpre uma função 
disciplinadora. Mais importante do que um poder centralizador e 
visível, são os “pequenos” poderes que abarcam todo o espaço 
social e dos quais não conseguimos escapar, porque estão 
dispersos. É o espaço físico, o mobiliário, as regras, os olhares 
vigilantes, as ameaças e as punições agindo sempre no sentido 
de controlar nossos corpos e nossas consciências, de nos 
fazermos “úteis”, “dóceis”, treinados para a obediência. 
• Família e escola têm uma importância em comum: preparam 
para a sociedade seus futuros cidadãos. Esse fato tece laços 
profundos entre as duas instituições, favorecendo a troca de 
informações e ajuda mútua. De modo nenhum adianta o colégio 
labutar com uma sugestão de ensino se a família, em sua casa, 
fizer o oposto. Família e escola, trabalhando unidos, podem ter 
efeitos melhores, garantindo resultados surpreendentes na 
educação. 
 
 
 UNIDADE 21 
 
A RELIGIÃO 
 
O QUE É RELIGIÃO? 
 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
49 
A religião é um elemento central da experiência humana 
e existe em todas as sociedades conhecidas. Já foram 
encontradas inúmeras evidências de que havia rituais e 
símbolos religiosos nas comunidades antigas, dos quais 
temos conhecimento apenas por meio de vestígios 
arqueológicos, ou seja, objetos ou pedaços de objetos que 
indicam uma utilização voltada ao sagrado. 
A religião influencia de diversas maneiras a forma pela 
qual vemos o mundo e reagimos ao meio que nos rodeia. 
Por isso, o antropólogo norte-americano Clifford Geertz 
(1926-2006) afirma, na obra Interpretação das culturas, 
que a religião é sociologicamente interessante não porque 
descreve a ordem social, mas porque a modela. Ou seja, 
ela não apenas é fruto de determinada sociedade, como 
também interfere no modo de pensar, agir e sentir de seus 
indivíduos. 
A palavra religião vem do latim (religio) e remete ao 
verbo religare, que significa ação de ligar. O pesquisador 
Junito Brandão, em seu livro Mitologia grega, define 
religião como o conjunto de atitudes e atos por meio do 
qual o ser humano se liga ao divino ou manifesta sua 
dependência em relação a seres invisíveis tidos como 
sobrenaturais. Entretanto, é preciso ter muito cuidado ao 
identificar a religião apenas com a crença no sobrenatural, 
pois existem diversas religiões orientais em que não há 
deuses, mas a valorização de ideais éticos que relacionam 
a unidade natural do Universo ao crente. Também é 
preciso cuidado para não identificar a religião com o 
monoteísmo, pois há muitas religiões que cultuam 
diversas divindades. 
Por constituir um fenômeno socialmente condicionado, 
a religião pode ser considerada historicamente transitória. 
Isso significa que, embora ela esteja presente desde as 
sociedades antigas, em cada contexto histórico, em cada 
localidade e em cada agrupamento humano, ela se 
apresenta de maneira diferente. Por exemplo, um 
indivíduo nascido na Europa da Idade Média (dominada 
pelo Cristianismo) tem crenças religiosas diferentes de 
outro nascido em um sistema de castas da Índia, ou 
mesmo em uma sociedade indígena antes da colonização 
portuguesa. 
Nesse sentido, o estudo da religião representa um 
desafio importante para a imaginação sociológica: ao 
analisar as práticas, temos de interpretar crenças e rituais 
diferentes em diversas culturas; ao estudar o papel social 
da religião, temos de ser sensíveis aos ideais que inspiram 
as convicções dos seguidores e reconhecer a diversidade 
de crenças religiosas variadas. 
Apesar das diferenças, o ponto comum entre todas as 
religiões é que elas implicam um conjunto de símbolos e 
rituais que são realizados coletivamente. Aliás, há quem 
considere o aspecto da coletividade o principal aspecto 
que distingue, no âmbito da Sociologia, a magia da 
religião. O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938- ), 
por exemplo, em sua obra Sociologia, define magia como 
a tentativa individual de influenciar os acontecimentos por 
meio de uso de poções, cânticos ou práticas rituais, e 
religião como um conjunto de crenças e praticas rituais às 
quais os membros de uma comunidade aderem, e que 
envolve símbolos ligados à reverência e à admiração. 
Já o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) 
considera o aspecto coletivo das cerimônias religiosas um 
fator que não só diferencia a religião da magia, mas 
também mantém acesa a chama da fé religiosa. Segundo 
ele afirma no livro As formas elementares da vida 
religiosa: o sistema totêmico na Austrália, as crenças 
permanecem apenas se partilhadas. É assim que elas 
nascem e são adquiridas por meio da convivência em 
sociedade. Para Durkheim, aqueles que verdadeiramente 
têm fé saem do isolamento e se aproximam dos outros 
para convencê-los. É essa força de suas convicções que 
mantém a fé, pois sozinha, ela enfraqueceria. 
(DIMENSTEIN, Gilberto; RODRIGUES, Marta e GIANSANTI, Álvaro. 
Dez Lições de Sociologia para um Brasil cidadão. 
São Paulo: FTD, 2012. pp. 76-78) 
 
A INSTITUIÇÃO RELIGIOSA 
 
Todas as sociedades conheceram ou conhecem alguma 
forma de religião. A crença em algum tipo de divindade e 
o sentimento religioso são fenômenos sociais universais, 
comuns a todas as épocas e lugares do planeta desde os 
tempos mais remotos. 
Cada povo tem nas crenças religiosas um fator de 
estabilidade, de aceitação da hierarquia social e de 
obediência às normas que a sociedade considera 
necessárias para a manutenção do equilíbrio social. Por 
isso, a religião desempenhou quase sempre uma função 
social estabilizadora. 
Exceção a essa regra são os movimentos religiosos 
reformadores, muitos dos quais contribuíram para a 
formação de novas correntes religiosas. Esse foi o caso da 
Reforma Protestante, iniciada entre 1517 e 1520 por 
Martinho Lutero no Sacro Império Romano-Germânico 
(atual Alemanha). Depois de romper com a Igreja 
Católica, Lutero fundou o protestantismo, lançando a 
Europa em um período de rupturas e sangrentos conflitos 
entre cristãos, as chamadas guerras religiosas. 
 
A CRENÇA NO SOBRENATURAL 
 
A religião envolve a crença em poderes sobrenaturais e 
misteriosos. Essa crença está associada a sentimentos de 
respeito, temor e veneração e se expressa em atitudes 
públicas destinadas a lidar com esses poderes. 
Geralmente, todas as religiões têm seu lugar de culto: 
igrejas, templos, mesquitas, sinagogas, etc. 
Para a antropóloga Ruth Benedict, a religião é uma 
instituição sem paralelo: enquanto a origem de todas as 
outras instituições pode ser encontrada nas necessidades 
físicas do homem, a religião não corresponde a nenhuma 
necessidade material específica. 
A forma pela qual se expressa o sentimento religioso 
varia muito, seja de pessoa para pessoa, seja de grupo para 
grupo, seja de época para época. Cada sociedade acentua 
aspectos diferentes em suas manifestações religiosas. 
Algumas atribuem importância maior à crença no 
sobrenatural; outras, aos ritos e cerimônias; outras, ainda, 
à contemplação. 
 
A RELIGIÃO EM UM MUNDO MATERIALISTA 
 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
50 
As religiões ocidentais sofreram profundas 
modificações com o desenvolvimento da economia 
industrial, quando o progresso da ciência e das artes fez 
com que o ser humano passasse a ter uma nova visão de si 
mesmo e do universo. Nessas circunstâncias, boa parte das 
religiões vem procurando conciliar suas doutrinas com o 
avanço do conhecimento científico. 
Ao lado disso, desenvolveu-se também, entre religiosos 
de algumas religiões, uma particular preocupação com as 
desigualdades sociais, acentuadas com a Revolução 
Industrial e a formação da sociedade capitalistamoderna. 
Assim, em 1891, na encíclica Rerum novarum, o papa 
Leão XIII expôs o que seria chamado de “doutrina social 
da Igreja católica”. Nesse documento, embora rejeitasse o 
socialismo, o chefe do catolicismo afirmava a necessidade 
de o Estado garantir melhores salários e condições de uma 
vida digna para os trabalhadores. 
Na América Latina, essa preocupação com os problemas 
sociais deu origem à Teologia da Libertação (1979), 
doutrina seguida por alguns sacerdotes e bispos da Igreja 
católica que defende o engajamento da instituição 
religiosa na luta contra as desigualdades e por justiça 
social. Hoje, alguns movimentos religiosos defendem uma 
participação maior das religiões na solução de problemas 
sociais e vêm procurando ressaltar mais as questões éticas 
do que os dogmas religiosos. 
Em contrapartida, os grupos religiosos mais 
conservadores caminham em direção oposta, defendendo 
o apego à tradição e dando ênfase às atividades 
missionárias e à salvação da alma. 
Seja como for, a instituição religiosa – budista, católica, 
evangélica, islâmica, ortodoxa, hebraica, umbandista, etc. 
– continua sendo uma das principais instituições a 
influenciar o comportamento humano em todas as 
sociedades do mundo contemporâneo. Entretanto, alguns 
estudiosos acreditam que cada vez mais vai-se exigir dela 
um novo estilo de liderança para lidar com pessoas mais 
instruídas, menos acostumadas a obedecer sem fazer 
perguntas e que desfrutam de maior liberdade para 
escolher seu destino. 
Assim, muitos dogmas religiosos deverão ser revistos, 
entre eles a indissolubilidade do casamento e a proibição 
do aborto, que afetam várias correntes religiosas. As 
religiões e seitas, de modo geral, deverão participar mais 
ativamente dos grandes problemas sociais, econômicos e 
culturais da sociedade, não só para dar amparo moral aos 
crentes, mas também para ajudá-los a resolver esses 
problemas. 
(OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 
São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 223-224) 
 
 
 
EXPERIMENTAÇÃO E FILIAÇÃO RELIGIOSA 
 
Estamos diante de fenômenos que têm sido analisados 
pelos estudiosos da religião. Um deles é a chamada 
desinstitucionalização religiosa. Cada vez mais pessoas 
deixam de encontrar nas grandes religiões tradicionais 
narrativas plausíveis que respondam a suas necessidades 
de sentido, e passam a ter uma experiência do sagrado sem 
a mediação de instituições religiosas. Assim, essas 
instituições perdem gradativamente a capacidade de atrair 
e vincular adeptos. 
Mas esse processo não é percebido por meio das opções 
usualmente apresentadas nos instrumentos de coleta de 
dados de pesquisas demográficas. Além disso, essas 
abordagens quantitativas exigem definições precisas e um 
determinado momento da trajetória do indivíduo, não 
permitindo observar situações presentes na experiência 
social dos jovens, como o trânsito religioso – a 
peregrinação entre diferentes alternativas religiosas 
existentes em busca daquela que preencha as necessidades 
espirituais, as adesões provisórias, a prática simultânea de 
mais de uma religião, a produção de sínteses pessoais, 
sincréticas, a partir de elementos disponíveis em 
diferentes sistemas de crenças. E há também aqueles que 
mesmo optando por uma determinada religião, 
estabelecem negociações próprias com o conjunto de 
concepções e práticas requeridas dos adeptos, ou seja, não 
adotam o sistema completo de olhos fechados. 
Para analisar o tema da religião na juventude, um 
caminho metodológico proveitoso é abordagem das 
práticas e das crenças, e não tanto a consideração da 
declaração de adesão formal a determinados corpos de 
doutrinas. 
 
IDENTIDADE RELIGIOSA 
 
A busca de repostas para suas dúvidas e angústias 
existenciais, a abertura ao novo, a extrema curiosidade, a 
liberdade frente a exigências incompreensíveis, a crítica 
aguçada quando percebem nos líderes religiosos atitudes 
consideradas inadequadas, tudo isso pode explicar uma 
adesão mais fluida, os vínculos tênues que uma parcela da 
juventude mantém com as instituições religiosas. É 
freqüente encontrarmos jovens que em um curto período 
passaram por diversas experiências religiosas e que se 
definem como “buscadores” do sagrado. Neste sentido 
têm a atenção despertada para religiões de matriz oriental, 
que aumentaram sua presença no País nas últimas 
décadas, ou para espiritualidades exóticas e esotéricas, 
muitas vezes associadas à dimensão terapêutica e do 
autoconhecimento. 
Isso não deve ser confundido com uma atitude de 
descompromisso dos jovens em relação à religião. Cada 
vez mais se pode observar a adesão de jovens a sistemas 
ou movimentos religiosos que exigem uma rígida 
observância de regras comportamentais; alguns inclusive 
escolhem viver radicalmente os princípios da fé em 
comunidades constituídas em torno de uma identidade 
religiosa, como no Santo Daime, no Hare Krishna, na 
Toca de Assis. 
Simultaneamente, é possível perceber uma tendência a 
inscrever no corpo sinais de uma identidade religiosa, seja 
pela adoção pública de vestes especiais ou de camisetas 
contendo mensagens religiosas, ou ainda acessórios 
simbólicos (cordões, anéis, broches), ou mesmo tatuagens. 
Não se trata de uma religião vivida no âmbito privado, 
mas deseja-se sim, que tenha visibilidade pública. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
51 
Uma outra faceta desse anúncio identitário está 
relacionada a uma tendência observada nas grandes 
religiões universais, de adoção de atitudes 
fundamentalistas, de formação de grupos que procuram 
reforçar as tradições e identidades. Tanto o catolicismo, 
como as denominações protestantes, o judaísmo, o 
islamismo, entre outras, possuem em seu interior grupos 
reacionários que contam com a participação de jovens. 
Esses processos são vivenciados por pessoas de todas as 
idades, não apenas pelos jovens. Entretanto, estamos 
tratando de uma fase da vida em que se intensifica uma 
experimentação que pode dar origem a escolhas 
existenciais importantes: a vivência da sexualidade, a 
busca de parceiros, a orientação sexual, a continuidade ou 
não dos estudos, a inserção profissional, os círculos de 
amizade, as adesões ideológicas, políticas, a adoção de 
determinados valores. A religião também é um campo de 
experimentação e de escolha para os jovens, mesmo que 
em todas estas áreas da vida as decisões não sejam 
definitivas e irreversíveis. 
Assim durante a juventude podem acontecer processos 
como a desvinculação da tradição religiosa em que o 
jovem foi socializado, rompendo com a religião dos pais, 
a conversão a um outro sistema religioso, ou mesmo a 
readesão à religião de origem, não mais por herança 
familiar, mas por decisão própria, passando pelo crivo do 
indivíduo. Isso mostra mudanças no processo de 
transmissão da religião de uma geração a outra. Cada vez 
mais encontramos indivíduos com identidades religiosas 
numa mesma família. E também cresce o número de 
relatos de jovens socializados em lares agnósticos que tem 
buscado uma vivência religiosa. Aqui é importante 
assinalar a influência do círculo de amigos, onde os jovens 
encontram mediadores na aproximação dessas novas 
alternativas religiosas. 
 
PERTENCIMENTO RELIGIOSO E VIDA SOCIAL 
 
Já me referi anteriormente a pessoas que assinalam 
como as religiões oferecem mais um espaço de 
sociabilidade para os jovens, além da família, da escola, 
da vizinhança, dos locais de trabalho. Igrejas, templos, 
salões, terreiros, centros espíritas, sinagogas, mesquitas 
são lugares de culto, de contato com o sagrado, de estudo 
sobre a cosmologia de uma determinada religião. Mas 
também oferecem oportunidade para conhecer outras 
pessoas, fazer amigos, descobrir parceiros para 
relacionamentos afetivos. Algumas vezes essas 
motivações são tão ou mais importantes para que jovens 
se aproximem de uma experiência religiosa. 
A propósitoda religião muitos jovens têm acesso a 
oportunidades de lazer: fazem passeios, acampamentos, 
viagens, assistem (e também participam) a espetáculos 
religiosos de música, dança, teatro. Outra dimensão dessa 
experiência juvenil é a possibilidade de circular pela 
cidade para participar de rituais, espetáculos, estudos, 
visitar outros grupos. E isso em uma época marcada pela 
violência e por preocupações com segurança, que 
restringem o deslocamento nas metrópoles. 
Outro elemento a destacar é que uma parcela 
significativa de jovens possui tempo disponível para 
dedicar a atividades religiosas, seja pelas dificuldades de 
ingressar no mercado de trabalho, em tempos de 
desemprego estrutural, seja porque ainda não possuem 
filhos e as responsabilidades associadas a esta situação. 
A participação em um grupo religioso muitas vezes 
permite o ingresso em redes de solidariedade que dão 
suporte emocional e material em situações de dificuldade. 
Por tudo isso, a religião pode ser um meio de os jovens 
ampliarem sua rede de sociabilidade e seu universo de 
conhecimento. No entanto, pode acontecer o inverso, 
quando os jovens ingressam em grupos religiosos que 
tendem a fechar-se em si mesmos ocupando todo o tempo 
livre dos adeptos e reduzindo as oportunidades de outros 
convívios sociais. 
É preciso reconhecer que os espaços constituídos em 
torno de uma identidade religiosa também são lugares de 
assimetria, de disputa, de lutas de poder e prestígio. E a 
percepção dessa dinâmica, típica de qualquer organização 
social, algumas vezes conduz a uma decepção do jovem e 
ao seu afastamento do grupo religioso. 
A vivência religiosa tem outras repercussões para os 
jovens. Nas escolas e universidades alguns jovens 
chamam a atenção por sua facilidade para falar em 
público, sustentar argumentações nos debates. 
Características comuns em jovens que tiveram uma 
socialização em grupos políticos, em mobilizações sociais. 
A novidade é perceber que muitas vezes essas capacidades 
foram adquiridas numa trajetória religiosa. 
A experiência religiosa tem outros impactos na vida 
social dos jovens, na adoção de determinados valores e 
práticas como, por exemplo, a valorização da caridade, da 
política, da ecologia. 
Por outro lado, um fenômeno que tem sido observado 
nas escolas de ensino fundamental e médio é o aumento 
do número de jovens que adotam uma concepção 
criacionista, tendo a narrativa bíblica como critério de 
verdade para explicar a criação do Universo e da 
humanidade. Cosmovisão que entra em choque com as 
explicações científicas e têm causado conflitos e 
embaraços para educadores que respeitam a escolha 
religiosa de seus alunos e precisam fazer seu trabalho 
apresentando outras perspectivas. 
Em geral as instituições religiosas acionam estratégias 
para atrair os jovens, pois dependem da renovação de seus 
quadros para continuar existindo. Entre essas estratégias 
está a atualização de suas mensagens, com a utilização de 
uma linguagem contemporânea, a flexibilização de 
exigências no campo do comportamento, a promoção de 
grandes concentrações, shows, música, a incorporação de 
estilos musicais associados às culturas juvenis, como o 
Rock e o Hip Hop, por exemplo. Há inclusive toda uma 
produção cultural gospel voltada para a juventude ou 
mesmo produzida pelos próprios jovens. Muitas vezes eles 
assumem o proselitismo religioso voltado para seus pares. 
Não obstante essa modernização, os especialistas têm 
apontado que nem sempre a renovação da forma se 
estende a concepções religiosas. Desse modo, algumas 
tradições religiosas continuam afirmando ideias 
produzidas em outros contextos histórico-culturais e 
exigindo dos jovens condutas compatíveis com esses 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
52 
ensinamentos. Um caso exemplar encontra-se nos 
discursos sobre moral sexual e práticas reprodutivas 
proferidos pelo líder mundial do catolicismo durante sua 
recente visita ao Brasil. 
Aqui cabe assinalar que na vida cotidiana pode existir 
um hiato entre as doutrinas oficiais e as práticas efetivas 
dos fiéis, e isso é comum no campo da sexualidade. 
Este conjunto de indicações mostra que os jovens têm 
recriado continuamente suas formas de relacionamento 
com a religião, e têm feito uma experiência profunda do 
sagrado, dentro ou fora de instituições religiosas. 
Experiência que permite a construção de identidades 
coletivas e tem repercussões significativas em sua vida. 
(Revista Sociologia. “Nova Trindade: Busca, Fé e Questionamento”. 
Ano 1. Nº 2. 
São Paulo: Editora Escala, 2007. pp. 67-73) 
 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• A religião influencia de diversas maneiras a forma pela qual 
vemos o mundo e reagimos ao meio que nos rodeia. Clifford 
Geertz afirma que a religião é sociologicamente interessante 
não porque descreve a ordem social, mas porque a modela. Ou 
seja, ela não apenas é fruto de determinada sociedade, como 
também interfere no modo de pensar, agir e sentir de seus 
indivíduos. 
• Um desafio importante para a imaginação sociológica: ao 
analisar as práticas, temos de interpretar crenças e rituais 
diferentes em diversas culturas; ao estudar o papel social da 
religião, temos de ser sensíveis aos ideais que inspiram as 
convicções dos seguidores e reconhecer a diversidade de 
crenças religiosas variadas. 
• Apesar das diferenças, o ponto comum entre todas as religiões 
é que elas implicam um conjunto de símbolos e rituais que são 
realizados coletivamente. Segundo Durkheim, as crenças 
permanecem apenas se partilhadas. É assim que elas nascem e 
são adquiridas por meio da convivência em sociedade. Aqueles 
que verdadeiramente têm fé saem do isolamento e se 
aproximam dos outros para convencê-los. É essa força de suas 
convicções que mantém a fé, pois sozinha, ela enfraqueceria. 
• Cada povo tem nas crenças religiosas um fator de 
estabilidade, de aceitação da hierarquia social e de obediência 
às normas que a sociedade considera necessárias para a 
manutenção do equilíbrio social. Por isso, a religião 
desempenhou quase sempre uma função social estabilizadora. 
• Em geral as instituições religiosas acionam estratégias para 
atrair os jovens, pois dependem da renovação de seus quadros 
para continuar existindo. Entre essas estratégias está a 
atualização de suas mensagens, com a utilização de uma 
linguagem contemporânea, a flexibilização de exigências no 
campo do comportamento, a promoção de grandes 
concentrações, shows, música, a incorporação de estilos 
musicais associados às culturas juvenis. 
• A experiência religiosa tem outros impactos na vida social dos 
jovens, na adoção de determinados valores e práticas como, por 
exemplo, a valorização da caridade, da política, da ecologia. 
 
 
 UNIDADE 23 
 
O ESTADO 
 
Quando uma pessoa tem seu Imposto de Renda retido 
na fonte – ou quando compra determinado produto 
(alimento, roupas, calçados) –, está sendo tributada, isto é, 
está pagando impostos ao Estado. No primeiro caso, o 
imposto é direto, porque incide diretamente sobre o salário 
da pessoa. No segundo caso, é indireto, porque quem o 
recolhe é o comerciante, por meio do ICMS (Imposto 
sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de 
Serviços), ou o fabricante, por meio do IPI (Imposto sobre 
Produtos Industrializados). 
Os tributos representam o recolhimento de recursos 
financeiros provenientes de pessoas físicas (indivíduos) e 
pessoas jurídicas (empresas) pelo Estado. Esses recursos 
servem para que o Estado mantenha sua máquina 
administrativa (funcionários, forças armadas, polícia, 
juízes, deputados, senadores, etc.), faça investimentos de 
infraestrutura (saneamento básico, estradas, hidrelétricas) 
e preste os serviços sociais básicos à população (escolas e 
hospitais públicos, previdência social, etc.). 
O recolhimento de tributos só é possível porque os 
integrantes da sociedade reconhecem queo Estado tem 
esse direito e porque o Estado detém um forte poder de 
coerção. Esse poder permite ao governo (que é uma das 
instâncias do Estado) recorrer a várias formas de pressão 
(multas, processos judiciais, prisão, etc.) para fazer valer 
seu direito de cobrar impostos. 
 
O MONOPÓLIO DA FORÇA LEGÍTIMA 
 
Segundo o sociólogo Max Weber, o Estado é a 
instituição social que dispõe do monopólio do emprego 
legítimo da força sobre um determinado território. A 
expressão “legítimo” pressupõe que o Estado tem o direito 
de recorrer à força sempre que isso seja necessário, e que 
esse direito é reconhecido pela sociedade sobre a qual esse 
Estado exerce seu poder. É diferente, por exemplo, da 
violência utilizada por malfeitores, considerada ilegítima. 
Nas democracias modernas, a lei confere ao Estado o 
direito de recorrer a várias formas de pressão, inclusive à 
violência, para que suas decisões sejam obedecidas. Esse 
direito é geralmente executado por oficiais de justiça e 
policiais em cumprimento de ordens judiciais 
determinadas pelos detentores do poder Judiciário, um dos 
poderes do Estado. 
 
 
 
 
O PODER DO ESTADO 
 
Segundo ainda Max Weber, o termo poder, em sentido 
amplo, designa “a probabilidade de impor a própria 
vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda 
resistência”. Poder significa, assim, a probabilidade de 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
53 
alguém se fazer obedecer por outra pessoa. Ter poder é 
conseguir impor a própria vontade de outros indivíduos. 
Nas democracias representativas, o poder do Estado tem 
por base uma Constituição livremente elaborada e 
aprovada por uma assembleia de pessoas eleitas com essa 
finalidade, a Assembleia Constituinte. O Estado assim 
organizado é chamado de Estado de direito, pois nele 
ninguém está acima da lei. Segundo a tradição instaurada 
pela independência dos Estados Unidos (1776), o poder 
nesse tipo de Estado não está centralizado nas mãos de um 
único governante, nem mesmo de um só conjunto de 
instituições. Na verdade, ele se distribui entre três 
conjuntos, que integram a instituição maior do Estado. 
São eles, os poderes Executivo (governo, administração 
pública, forças armadas, prefeituras), Legislativo 
(Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras 
de Vereadores) e Judiciário (órgãos da Justiça). 
Em virtude de seu monopólio da força legítima, o estado 
detém o poder supremo na sociedade. Ele reserva para si o 
direito de impor e de obrigar aqueles que discordam de 
suas decisões a cumprirem a lei. Qualquer outro uso da 
força ou coerção – por bandos criminosos, soldados 
amotinados, grupos rebeldes – é ilegítimo e coibido pelo 
Estado. 
Quando o estado não consegue eliminar tais focos de 
violência e desrespeito à lei, perde sua característica 
principal, a de fazer cumprir a lei, e, a longo prazo, corre o 
risco de deixar de existir. Isso ocorre, sobretudo quando 
ele não consegue debelar uma revolução ou uma 
insurreição, ou quando não pode impedir que certas áreas 
do seu território fiquem a mercê de bandidos, como 
acontece hoje em algumas favelas de Rio de Janeiro. 
No primeiro caso, um grupo de revolucionários assume 
o poder e funda um novo tipo de Estado, como ocorreu na 
França, entre 1789 e 1793, e na Rússia, em 1917. No 
segundo caso, forma-se um “poder paralelo” ao do Estado 
que pode ser mais ou menos forte segundo as 
circunstancias. 
 
ALGUNS COMPONENTES DO ESTADO 
 
O Estado é essencialmente um agente de controle 
social. Difere de outras instituições – como a família e a 
instituição religiosa, que também exercem controle – na 
medida em que tem poder para regular as relações entre 
todos os membros da sociedade. 
Os três componentes mais importantes do Estado são: 
• Território – constitui sua base física, sobre a qual ele 
exerce sua jurisdição; 
• População – é composta dos habitantes do território, que 
forma a base física e geográfica do Estado. 
• Instituições políticas – entre estas sobressaem os 
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; o núcleo 
do poder do Estado, contudo, está nas mãos do 
governo – grupo de pessoas colocadas à frente dos 
órgãos administrativos e que exercem 
temporariamente o poder público em nome da 
sociedade. 
 
ESTADO E NAÇÃO 
 
Embora sejam às vezes utilizados como sinônimos, 
existem grandes diferenças entre os conceitos de Estado e 
de nação. A nação é um conjunto de pessoas ligadas entre 
si por laços permanentes de idioma, tradições, costumes e 
valores; é anterior ao Estado, podendo existir sem ele. Já 
um Estado pode compreender várias nações, como é o 
caso do Reino Unido (ou Grã-Bretanha, formada pela 
Escócia, Irlanda do Norte, País de Gales e Inglaterra). 
Por outro lado, como vimos, podem existir nações sem 
Estado, como acontecia com os judeus antes da criação do 
Estado de Israel e ainda ocorre hoje com os palestinos, os 
curdos e os ciganos. 
 
ESTADO E GOVERNO 
 
Para alguns autores, como Alain Birou em seu 
Dicionário das Ciências Sociais, “o Estado é a 
organização política da comunidade histórica que constitui 
a nação”. O Estado é, portanto, uma nação com um 
conjunto de instituições políticas, entre as quais um 
governo. Ou ainda: “é a nação politicamente organizada”. 
Governo e Estado, por sua vez, não são a mesma coisa. 
O Estado é uma instituição social permanente, ou de longa 
duração – o estado monárquico constitucional na 
Inglaterra, por exemplo, subsiste desde 1688, quando 
ocorreu a Revolução Gloriosa, que estabeleceu a Carta de 
Direitos, pela qual é o Parlamento, e não o rei (ou a 
rainha), que exerce o poder. O governo, em contrapartida, 
é apenas um componente transitório do Estado. Assim, 
pode-se dizer que “o governo muda, mas o Estado 
continua”. 
Como o Estado é uma entidade abstrata, que não tem 
“querer” nem “agir” próprios, o governo (grupo de 
pessoas) age em seu nome. Por exemplo: a Presidência da 
República é um órgão fundamental do Estado brasileiro 
desde 1889. O presidente da República, eleito para um 
mandato de quatro anos, age em nome do Estado, e não 
em nome de um partido ou de grupos políticos. 
Nas democracias, como vimos, a base de organização 
do Estado é sua Constituição – conjunto de leis que 
ordena o Estado, estabelece as normas referentes aos 
poderes públicos e afirma direitos e deveres dos cidadãos 
–, à qual se submetem igualmente governantes e 
governados. 
É a Constituição que atribui legitimidade aos governos 
das sociedades democráticas. O não cumprimento da 
Carta constitucional torna os governantes ilegítimos e 
passíveis de serem destituídos. Isso ocorreu no Brasil em 
1992, quando o presidente Fernando Collor de Mello foi 
obrigado a renunciar para não sofrer uma ação de 
impeachment (impedimento, ou afastamento do cargo), 
em razão das evidências de que havia cometido atos de 
corrupção, violando assim os princípios constitucionais. 
Uma das exigências da democracia é que haja 
independência e harmonia entre os poderes Executivo, 
Legislativo e Judiciário. Cada um deles deve fiscalizar o 
outro, de modo a garantir que as leis e regras que regulam 
a vida dos cidadãos sejam efetivamente aplicadas. Por 
exemplo, se uma pessoa for presa indevidamente pela 
polícia, pode recorrer ao poder Judiciário para obter sua 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
54 
liberdade por meio de um habeas corpus (expressão latina 
que significa “tenha o seu corpo”). O habeas corpus 
estabelece que nenhuma pessoa pode ser presa sem causa 
formada, ou sem flagrante delito. 
Em contrapartida, se as leis de um país não são mais 
adequadas ao seu funcionamento, cabe ao poder 
Legislativo criar novas leis ou modificar as existentes. 
 
FORMAS DE GOVERNO 
 
Resumindo, os três poderes do Estado são: 
• Executivo – incumbido de executar as leis; 
• Legislativo – encarregado de elaborar as leis; 
• Judiciário– responsável pela distribuição de justiça e 
pela interpretação da Constituição. 
 
O governo, por sua vez, pode adotar as seguintes 
formas: 
• Monarquia – o governo é exercido por uma só pessoa 
(o rei ou a rainha), que herda o poder e o mantém até 
a morte; 
• República – o poder é exercido por representantes do 
povo eleitos periodicamente pelos cidadãos. 
 
Atualmente, em certos países da Europa, como Grã-
Bretanha, Espanha, Suécia e Noruega, a forma de governo 
é monárquica, mas os reis têm apenas um papel simbólico 
e protocolar, cabendo ao Parlamento, cujos representantes 
são democraticamente eleitos, o exercício efetivo do 
poder. São as chamadas monarquias constitucionais. 
Por sua vez, nas repúblicas modernas há dois tipos de 
regime: o parlamentarista e o presidencialista. Nos países 
em que foi instituído o regime presidencialista, a escolha 
do presidente é feita direitamente pelos eleitores. Esse 
modelo de democracia funciona em países como o Brasil, 
a Argentina, os Estados Unidos, o Chile e o México. Já 
nos regimes parlamentaristas os eleitores elegem seus 
representantes no Parlamento e cabe unicamente a estes a 
escolha dos membros do poder Executivo. O regime 
parlamentarista é aplicado especialmente na Europa, tanto 
em repúblicas como Portugal e Itália quanto em 
monarquias como a Grã-Bretanha e a Suécia. 
(OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 
São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 224-230) 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Nas democracias representativas, o poder do Estado tem por 
base uma Constituição livremente elaborada e aprovada por 
uma assembleia de pessoas eleitas com essa finalidade, a 
Assembleia Constituinte. O Estado assim organizado é 
chamado de Estado de direito, pois nele ninguém está acima da 
lei. 
• Nas democracias, a base de organização do Estado é sua 
Constituição – conjunto de leis que ordena o Estado, estabelece 
as normas referentes aos poderes públicos e afirma direitos e 
deveres dos cidadãos –, à qual se submetem igualmente 
governantes e governados. 
• O Estado é essencialmente um agente de controle social. 
Difere de outras instituições – como a família e a instituição 
religiosa, que também exercem controle – na medida em que 
tem poder para regular as relações entre todos os membros da 
sociedade. 
• Os três componentes mais importantes do Estado são: 
território, população e Instituições políticas. 
• Governo e Estado não são a mesma coisa. O Estado é uma 
instituição social permanente, ou de longa duração. O governo, 
em contrapartida, é apenas um componente transitório do 
Estado. 
• Os três poderes do Estado são: executivo, legislativo e 
judiciário. 
• Nas repúblicas modernas há dois tipos de regime: o 
parlamentarista e o presidencialista. Nos países em que foi 
instituído o regime presidencialista, a escolha do presidente é 
feita direitamente pelos eleitores. Já nos regimes 
parlamentaristas os eleitores elegem seus representantes no 
Parlamento e cabe unicamente a estes a escolha dos membros 
do poder Executivo. 
 
 UNIDADE 14 
 
ESTRATIFICAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL 
 
CAMADAS SOCIAIS 
 
A expressão estratificação deriva de estrato, que quer 
dizer “camada”. Por estratificação social entendemos a 
distribuição de pessoas e grupos em camadas 
hierarquicamente superpostas dentro de uma sociedade. 
Essa distribuição se dá pela posição social dos indivíduos, 
das atividades que eles exercem e dos papéis que 
desempenham na estrutura social. 
Assim, podemos dizer que, em certas sociedades as 
pessoas a elas pertencentes estão distribuídas entre as 
camadas alta (classe A), média (classe B) ou inferior 
(classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, 
riqueza e prestígio. 
Na sociedade capitalista contemporânea, as posições 
sociais são determinadas basicamente pela situação dos 
indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas. 
Dessa forma, os grandes empresários, donos de terras, 
banqueiros e grandes comerciantes estão no topo da 
sociedade, por disporem de uma grande quantidade de 
capital ou de meios de produção. Eles compõem o grupo 
popularmente conhecido como “os ricos”, ou “a classe 
rica”. Em contrapartida, os trabalhadores estão na base 
inferior da sociedade por disporem unicamente de sua 
força de trabalho, e não de capital ou meios de produção. 
Entretanto, dentro dessa mesma sociedade os indivíduos 
podem desempenhar outros papéis e alcançar novas 
posições sociais, relacionadas com a religião que 
praticam, o partido político em que militam, as funções 
sociais que desempenham, a profissão que exercem e 
outras atividades. 
Esses diferentes papéis estão interligados. Entretanto, 
para efeitos didáticos, vamos começar por separá-los e 
classificá-los. 
 
TIPOS DE ESTRATIFICAÇÃO 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
55 
 
Estratificação econômica. Definida pela posse de bens 
materiais, cuja distribuição pouco equitativa faz com que 
haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediária. 
Estratificação política. Estabelecida pela posição de 
mando na sociedade (grupos que têm poder e grupos que 
não têm). Geralmente o poder econômico é convertido em 
poder político. 
Estratificação profissional. Baseada nos diferentes graus 
de importância atribuídos a cada profissional pela 
sociedade. 
Como já sabemos, os aspectos econômico, político, 
social e cultural de uma sociedade estão interligados, bem 
como os vários tipos de estratificação. No entanto, ao 
longo da história, o aspecto econômico tem sido mais 
determinante do que os outros no processo de 
estratificação social e na caracterização da sociedade. 
 
A ESTRATIFICAÇÃO ECONÔMICA 
 
Para tornar mais clara a estratificação econômica numa 
sociedade, vamos recorrer a dois critérios de referência. 
1. Reunimos as pessoas em grupos conforme seu nível de 
renda. 
2. Dividimos os grupos em camadas hierarquizadas, isto é, 
uma superior, uma intermediária e uma inferior. 
Obtemos assim o quadro geral de uma estratificação 
econômica baseada em faixas de renda. 
• Grupo ou camada A – pessoas de renda alta. 
• Grupo ou camada B – pessoas de renda média. 
• Grupo ou camada C – pessoas de renda baixa. 
 
Na figura a seguir, temos uma pirâmide social dividida 
em estratos, segundo o critério de “nível de renda”. Na 
camada de baixo, a mais ampla, estão representados os 
indivíduos de baixa renda, o grupo ou camada C. No topo, 
no estrato mais estreito, estão representadas as pessoas de 
maior renda, que pertencem ao grupo A. Na camada 
intermediária estão incluídas as de renda média, que 
pertencem ao grupo B. 
 
 
A pirâmide da ilustração mostra graficamente a 
estratificação social de uma sociedade, ou seja, como ela 
está dividida em estratos ou camadas sociais. 
Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos ou 
camadas podem ser organizados em: 
• Castas (como ocorre na Índia) 
• Estamentos ou estados (Europa durante o feudalismo) 
• Classes sociais (sociedades capitalistas) 
Cada uma destas formas de estratificação tem 
características próprias. 
 (OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 
São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 170-171) 
 
FAIXAS SALARIAIS X CLASSE SOCIAL - QUAL A 
SUA CLASSE SOCIAL? 
 
Há vários critérios para definir classes sociais, sem uma 
predileção específica na literatura. Saiba mais sobre dois 
dos critérios mais utilizados: o critério brasil e o critério 
por faixas de salários-mínimo. 
Atualmente, muitas e muitas pesquisas sobre consumo 
costumam relatar hábitos segundo as classes sociais. 
Entretanto, a metodologia de cálculo e caracterização de 
cada uma das classes é bastante difusa e há, atualmente, 
pelo menos duas visões relevantes: 
(1) ABEP - Associação Brasileiras de Empresas de Pesquisa, 
mais conhecida como Critério Brasil. 
(2) IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 
utilizado no censo populacional. 
 
Critério Brasil - ABEP e o Critério de ClassificaçãoEconômica Brasil (CCEB) usado a partir de 2008 
 
A visão da ABEP é a utilizada pela maioria dos 
institutos de pesquisa. 
Segundo a ABEP, o Critério de Classificação 
Econômica Brasil (CCEB) é um instrumento de 
segmentação econômica que utiliza o levantamento de 
características domiciliares (presença e quantidade de 
alguns itens domiciliares de conforto e grau escolaridade 
do chefe de família) para diferenciar a população. O 
critério atribui pontos em função de cada característica 
domiciliar e realiza a soma destes pontos. É feita então 
uma correspondência entre faixas de pontuação do critério 
e estratos de classificação econômica definidos por A1, 
A2, B1, B2, C1, C2, D, E. 
 
CORTES DO CRITÉRIO BRASIL 
 
Classe Pontos 
A1 42-46 
A2 35-41 
B1 29-34 
B2 23-28 
C1 18-22 
C2 14-17 
D 8-13 
E 0-7 
 
ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – 2011 
– www.abep.org – abep@abep.org 
Dados com base no Levantamento Sócio Econômico 2009 - 
IBOPE 
 
Critério do IBGE para definição de classes sociais 
 
A visão do IBGE, baseada no número de salários 
mínimos, é mais simples e divide em apenas cinco faixas 
de renda ou classes sociais, conforme a tabela abaixo 
válida para o ano de 2014 (salário mínimo em R$ 725). 
Grupo A 
Grupo B 
Grupo C 
http://www.abep.org/
http://www.ibge.gov.br/
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
56 
Esta tabela foi obtida a partir de vários artigos sobre 
classes sociais nas pesquisas do IBGE divulgados na 
imprensa e é parecida com a visão da FGV. 
 
Classe 
Salários Mínimos 
(SM) 
Renda Familiar (R$) 
A Acima 20 SM R$14.500 ou mais 
B 10 a 20 SM De R$7.250,00 a R$14.499,99 
C 4 a 10 SM De R$2.900,00 a R$7.249,99 
D 2 a 4 SM De R$1.450,00 a R$2.899,99 
E Até 2 SM Até R$1.449,99 
 
 
Pirâmide de Renda no Brasil 
(Segundo semestre de 2013) 
 
 
 
http://blog.thiagorodrigo.com.br/index.php/faixas-salariais-classe-social-
abep-ibge?blog=5 
 
71 MIL BRASILEIROS CONCENTRAM 22% DE 
TODA RIQUEZA; VEJA DADOS DA RECEITA 
 
Esta elite representa 0,3% dos declarantes do imposto 
de renda em 2013. Nº refere-se a pessoas com renda 
mensal superior a 160 salários mínimos. 
Que o Brasil é um país desigual estamos cansados de 
ouvir. Dados das declarações de imposto de renda 
divulgados neste mês pela Receita Federal ajudam a 
conhecer melhor a distribuição de renda e riqueza no país 
e mostram que menos de 1% dos contribuintes 
concentram cerca de 30% de toda a riqueza declarada em 
bens e ativos financeiros. 
De 2012 para 2013, o número de brasileiros com renda 
mensal superior a 160 salários mínimos (maior faixa da 
pirâmide social pelos critérios da Receita) caiu de 73.743 
para 71.440. 
Esta pequena elite - que corresponde a 0,3% dos 
declarantes de IR - concentrou, em 2013, 14% da renda 
total e 21,7% da riqueza, totalizando rendimentos de R$ 
298 bilhões e patrimônio de R$ 1,2 trilhão. Isso equivale a 
uma renda média individual anual de R$ 4,17 milhões e 
uma riqueza média de R$ 17 milhões por pessoa. 
Se adicionarmos a este grupo aqueles com renda mensal 
acima de 80 salários mínimos, chega-se a 208.158 
brasileiros (0,8% dos contribuintes), que respondem 
sozinhos por 30% da riqueza total declarada à Receita. 
 
Declarações de IR por faixa de renda - ano calendário 2013 
Faixa de rendimento 
Nº de 
declarantes 
Riqueza em bens 
e direitos (em R$ 
bilhões) 
Até 1/2 salário mínimo 1.268.688 91,710 (1,6%) 
1/2 a 1 salário mínimo 518.341 28,848 (0,5%) 
1 a 2 salários mínimos 1.075.827 63,828 (1,1%) 
2 a 3 salários mínimos 2.692.915 162,665 (2,8%) 
3 a 5 salários mínimos 7.882.026 489,764 (8,4%) 
5 a 10 salários mínimos 7.300.376 757,644 (13%) 
10 a 20 salários mínimos 3.522.174 863,635 (14,8%) 
20 a 40 salários mínimos 1.507.344 946.215 (16,2%) 
40 a 80 salários mínimos 518.567 703,606 (12,1%) 
80 a 160 salários mínimos 136.718 453,223 (12,1%) 
> 160 salários mínimos 71.440 
1.264,340 
(21,7%) 
Total 
26.494.41
6 
5.825,478 
(100%) 
(http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/08/71-mil-brasileiros-
concentram-22-de-toda-riqueza-veja-dados-da-receita.html) 
 
MOBILIDADE SOCIAL 
 
Alguns indivíduos, numa sociedade capitalista aberta, 
podem chegar a ocupar diferentes posições sociais (ou 
estratos) durante sua existência. Assim, pessoas que 
integram o estrato de baixa renda (camada C) podem 
eventualmente ascender ao estrato de renda média 
(camada B) ou, mais raramente, ao de renda alta (camada 
A). 
Em contrapartida, pessoas da camada A podem ter sua 
renda diminuída, passando a integrar as camadas B ou C. 
Do ponto de vista sociológico, os dois fenômenos são 
caracterizados como manifestações de mobilidades social. 
Mobilidade social é a mudança de posição social, ou 
seja, de status, de uma pessoa (ou grupo de pessoas) num 
determinado sistema de estratificação social. 
 
 
TIPOS DE MOBILIDADE SOCIAL 
 
Quando as mudanças de posição social ocorrem no 
sentido ascendente ou descendente na hierarquia social, 
dizemos que a mobilidade social é vertical. Quando a 
mudança de uma posição social a outra se opera dentro da 
mesma camada social, diz-se que houve mobilidade social 
horizontal. 
A mobilidade social vertical pode ser: 
• Ascendente ou de ascensão social – quando a pessoa 
melhora sua posição no sistema de estratificação social, 
passando a integrar um grupo economicamente superior a 
seu grupo anterior; 
• Descendente ou de queda social – quando a pessoa piora de 
posição no sistema de estratificação, passando a integrar um 
grupo economicamente inferior. 
O filho de um operário que, por meio do estudo, passa a 
fazer parte da classe média é um exemplo de ascensão 
social, ou de mobilidade social ascendente. Em 
contrapartida, a falência e o conseqüente empobrecimento 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
57 
de um comerciante é um exemplo de queda social, ou 
mobilidade descendente. 
Assim, tanto a subida quando a descida na hierarquia 
social são manifestações de mobilidade social vertical. 
Uma pessoa se muda do interior para a capital. No 
interior, ela defendia idéias políticas conservadoras; agora, 
na capital, sob novas influencias, passa a defender as 
ideias de um partido progressista. Seu nível de renda, 
porém, não se alterou substancialmente. A situação mostra 
uma pessoa que experimentou alguma mudança de 
posição social, mas que, apesar disso, permaneceu no 
mesmo estrato social. 
Assim, a mudança de uma posição social dentro da 
mesma camada social caracteriza-se como mobilidade 
social horizontal. 
O fenômeno da mobilidade social varia de uma 
sociedade para outra. Em algumas sociedades ela ocorre 
mais facilmente; em outras, praticamente inexiste no 
sentido vertical ascendente. É mais fácil ascender 
socialmente nos Estados Unidos, por exemplo, do que no 
interior da Índia, ainda dominado pela estratificação social 
em castas. 
A mobilidade social ascendente é mais freqüente numa 
sociedade democrática aberta, que estimula e enaltece a 
escalada rumo ao topo de indivíduos de origem humilde – 
como nos Estados Unidos –, do que numa sociedade de 
tradição aristocrática, com ao Inglaterra. Neste caso, 
temos duas sociedades democráticas, uma com tradições 
de sociedade estamental (a Inglaterra), a outra sem essa 
tradição (os Estados Unidos, país que não conheceu o 
feudalismo, pois foi formado entre a Idade Moderna e a 
idade Contemporânea). 
Entretanto, vale esclarecer que, mesmo na sociedade 
capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical não 
ocorre de maneira igual para todos os indivíduos. A 
ascensão social depende muito da origem de classe de 
cada indivíduo, ou mesmo de sua origem étnica. No 
Brasil, as pessoas brancas pertencentes às camadas sociais 
mais elevadas têm mais oportunidades e condições de se 
manter nesse nível, ascender ainda mais e se sair melhor 
do que as originárias das classes inferiores,sobretudo se 
são negras. 
Isso pode ser facilmente verificado no caso dos jovens 
que pretendem fazer algum curso superior. Aqueles que, 
desde o início de sua vida escolar, freqüentaram boas 
escolas e, além disso, estudaram em cursinhos 
preparatórios de boa qualidade, têm mais possibilidades 
de aprovação nos vestibulares das universidades públicas 
e privadas do que os jovens provenientes de classes de 
baixa renda. 
(OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 
São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 179-183) 
 
ESTUDO TRAÇA DIAGNÓSTICO DA MOBILIDADE 
SOCIAL NO PAÍS E SUA INTERFACE COM A 
EDUCAÇÃO 
 
O Brasil tem uma das sociedades mais desiguais do 
mundo. Desde os anos 1960, o país lidera o ranking de 
pior distribuição de renda entre todos os países da 
América Latina. Mas os indicadores de renda são apenas 
uma das faces da desigualdade social. Pesquisa 
coordenada pelo professor Carlos Antonio Costa Ribeiro, 
do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio 
de Janeiro (Iuperj) e da Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro (Uerj), ressalta que a pobreza e a riqueza também 
são uma consequência da desigualdade de oportunidades, 
que variam de acordo com critérios como classe social, 
gênero e cor, e traça um perfil da mobilidade social da 
população brasileira. 
Com o apoio da Faperj por meio do edital Jovem 
Cientista do Nosso Estado, o professor está concluindo a 
análise estatística de dados que revelam aspectos do 
processo de estruturação das desigualdades no país, 
coletados – a pedido do Iuperj – pelo Ibope-Inteligência. 
O levantamento foi feito em 8.048 domicílios em todo o 
país, de todas as classes sociais, entre setembro e outubro 
de 2008. “O objetivo do trabalho é analisar a dinâmica da 
desigualdade no Brasil, que está relacionada à mobilidade 
social, ou seja, à capacidade de ascensão social do 
indivíduo, considerando a sua trajetória desde a família de 
origem até a formação de um novo núcleo familiar com o 
casamento”, diz Costa Ribeiro. 
De acordo com o sociólogo, existem dois tipos de 
desigualdade. “Existe a chamada desigualdade de 
condições, que diz respeito aos diferentes níveis de renda, 
e a chamada desigualdade de oportunidades, que se refere 
às chances que uma pessoa tem de mudar de posição na 
sociedade ao longo das gerações familiares e ao longo do 
seu ciclo de vida”, explica. “Alguns têm mais chance de 
sobreviver na infância, de entrar e terminar a escola, de ter 
boa ocupação no mercado de trabalho. Esse processo de 
reprodução ou de superação das desigualdades é o tema do 
estudo.” 
Para o pesquisador, a desigualdade de condições pode 
até ser um mecanismo saudável da sociedade, já que parte 
das desigualdades salariais é associada às diferenças de 
remuneração entre as carreiras profissionais. No entanto, a 
desigualdade de oportunidades sempre é injusta, pois 
contribui para reproduzir a pobreza. “Dizer que o filho de 
um médico deve ter mais chances de se tornar médico do 
que o filho de um faxineiro é antidemocrático por si só. 
Todos deveriam ter oportunidades iguais de escolher a 
carreira que quisessem, se tivessem as mesmas 
oportunidades de saúde e educação”, pondera. 
 
HERANÇAS DA DESIGUALDADE 
 
Apesar dos altos níveis de desigualdade econômica e de 
pobreza no Brasil – os 10% mais ricos desfrutam de um 
nível de renda cerca de 25 vezes maior do que o nível de 
renda dos 40% mais pobres –, as chances de mobilidade 
social estão melhorando. “Na década de 1970, o filho de 
um profissional liberal urbano tinha mil vezes mais 
chances do que o filho de um trabalhador manual de se 
tornar um profissional liberal. Já a partir da década de 
1990, essa probabilidade foi declinando e passou para 
250”, diz Ribeiro, justificando a ligeira redução da 
desigualdade de oportunidades devido a fatores como a 
melhoria de acesso ao sistema educacional. 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
58 
Segundo a pesquisa, os pais da classe média alta têm 
muito mais recursos para propiciar melhores 
oportunidades a seus filhos, o que faz com que eles 
continuem no topo da pirâmide social. Porém, mudanças 
na estrutura da sociedade brasileira permitiram o 
crescimento dessa elite nos últimos anos, devido à 
ascensão social de pessoas originárias de classes sociais 
inferiores. “Nos anos 1970, cerca de 5% da população 
brasileira pertencia à classe média alta. Hoje, já são 14%. 
Essa mudança na estrutura de classes da sociedade é 
chamada de mobilidade estrutural, que é um fenômeno 
típico de sociedades que se industrializaram muito 
rápido”, explica Costa Ribeiro. Ele ressalta, entretanto, 
que a maioria das pessoas que tem origem familiar nas 
classes sociais baixas permanece nelas durante a fase 
adulta. 
O estudo comprovou também que o acesso à boa 
educação formal, um fator que influencia diretamente nas 
oportunidades que o jovem terá na vida adulta, está em 
grande medida associado à origem econômica da família. 
“Os jovens que estudaram na escola privada ou pública 
federal, por ser de famílias ricas ou até de famílias um 
pouco menos favorecidas, mas que decidiram investir tudo 
na educação dos filhos, têm muito mais chances de 
ingressar na universidade pública do que aqueles que 
estudaram em uma escola pública não federal, seja ela da 
rede estadual ou municipal”, destaca o professor, 
lembrando que a educação é um trampolim para a 
ascensão social, mas está associada à posição da família. 
Outro aspecto apresentado pelo levantamento relaciona 
a entrada do jovem no mercado de trabalho às classes 
sociais da família de origem. “Os jovens de famílias de 
classe média costumam demorar mais para entrar no 
mercado de trabalho, porque gastam mais tempo se 
qualificando, ou combinam menos trabalho com estudo”, 
diz o professor. “Além da renda familiar, as redes de 
sociabilidade, que incluem as relações familiares e de 
amizade no trabalho, por exemplo, podem ter algum 
impacto na conquista de melhores empregos e na melhoria 
das condições de vida”, completa. 
A análise de dados confirmou que ainda existem 
diferenças de acesso à educação e de progressão no 
sistema escolar entre homens e mulheres. “O 
levantamento mostrou uma inversão na desigualdade 
educacional de gênero. As meninas hoje têm mais chance 
de progredir na escola do que os meninos porque, em 
geral, estudam mais. Mas, na fase adulta, apesar de 
trabalharem o mesmo número de horas do que os homens 
e ainda se dedicarem à família, à casa e ao marido, 
recebem uma renda inferior”, informa. 
Para o professor, a desigualdade racial no país está 
diminuindo, embora ainda haja mais chances para os 
brancos de completar os anos de transição dentro do 
sistema educacional. “Brancos e não brancos (pretos e 
pardos) que têm origem nas classes sociais mais baixas 
têm chances iguais, porém ruins, de ter mobilidade social. 
Já nas posições mais altas da hierarquia social, os brancos 
têm mais chance de permanecer lá ou de subir um pouco 
mais”, destaca. “Pretos e pardos, em geral, ganham 
menos”, conclui. 
http://www.revistapontocom.org.br/materias/estudo-traca-diagnostico-
da-mobilidade-social-no-pais-e-sua-interface-com-a-educacao 
 
A VOLTA DA MOBILIDADE SOCIAL 
 
A mobilidade social representou um dos principais 
charmes do desenvolvimento capitalista no Brasil. Desde 
a década de 1930, observa-se que a maior expansão 
econômica acabou sendo acompanhada por importante 
movimento de ascensão social. Mas isso não significou, 
porém, um processo homogêneo para toda a população. 
Ainda que desigual, a mobilidade social inter e 
intrageracional permitiu que, em geral, a maior parte da 
população registrasse melhoras relativas no padrão de 
vida. 
Uma boa imagem da ascensão social desigual do 
passado pode ser a da subida de pessoas em um 
determinado edifício, com uma parcela pequena tendoacesso pelo elevador e a maior parte subindo 
gradualmente pela escada. Assim, os filhos dos ricos 
ficavam mais ricos que seus pais, bem como os filhos dos 
pobres se tornavam menos pobres que seus pais. 
Tudo isso, contudo, sofreu forte impacto a partir da 
crise da dívida externa (1981-1983), quando o país 
abandonou o projeto de industrialização nacional. O 
resultado foi o ingresso numa nova fase de baixo 
dinamismo econômico que terminou impondo, por 
consequência, o descenso na antiga trajetória de 
mobilidade social. 
A década de 1990 estabeleceu, de forma intensa, a 
maior dificuldade da progressão social, tornando 
complexa a reprodução dos filhos em melhores condições 
do que seus pais. Nesse sentido, a expressão de um país 
com a estrutura social congelada ganhou maior dimensão. 
Essa trajetória de relativa imobilidade apresentou 
significativa inflexão a partir de 2005, quando a ascensão 
social voltou a fazer parte da vida de milhões de 
brasileiros. Com isso, a estrutura social brasileira 
recuperou novamente o movimento de passagem de 
segmentos sociais de baixa renda para estratos de 
rendimentos intermediários e superiores. 
Entre 2005 e 2008, por exemplo, o segmento de baixa 
renda, que representava quase 33,7% da população 
nacional, passou para apenas 26% dos brasileiros. No 
estrato de rendimento intermediário, registra-se a 
passagem de 34,9% para 37,4% da população, enquanto o 
segmento de renda superior saltou de 31,5% para 36,6% 
no mesmo período de tempo. 
Destaca-se também que o desempenho recente da 
mobilidade social ainda se manifesta de forma desigual. 
Mais de dois terços dos que ascenderam socialmente são 
majoritariamente não brancos, residentes na região 
Nordeste e em pequenas cidades, com emprego 
assalariado, não necessariamente formal, e de baixa 
escolaridade. Também tem importância o acesso aos 
mecanismos de garantia de renda, que têm permitido 
melhorar a condição de vida das faixas etárias precoces e 
mais avançadas. 
Para quase um terço da população com maior avanço 
social, contudo, as características pessoais se 
apresentaram diferenciadamente. De maneira geral, os 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
59 
segmentos populacionais mais beneficiados são brancos, 
moradores da região Sudeste, sobretudo em regiões 
metropolitanas, com emprego assalariado formal, maior 
escolaridade e pertencentes à faixa etária de 25 a 44 anos 
de idade. 
Ademais da distinta caracterização pessoal dos 
segmentos populacionais incluídos pelo movimento de 
ascensão social, observa-se a importância de quesitos 
habitacionais presentes entre os indivíduos mais 
dinâmicos. 
Nota-se, por exemplo, que entre os diferentes segmentos 
populacionais com acesso ao saneamento e à habitação 
própria estão os mais dinâmicos. 
Outro aspecto que acompanha o movimento recente de 
ascensão social tem sido a ampliação do consumo de 
massa. No caso de bens de consumo duráveis com maior 
valor unitário, como no caso da geladeira, fogão, televisão 
e telefone, observa-se o sentido da homogeneização do 
padrão de consumo, salvo ainda pela diferenciação na 
posse de automóvel, máquina de lavar e telefone celular. 
Este último, por sinal, registrou mais forte difusão entre a 
população. 
A volta da ascensão social no Brasil aponta para uma 
sociedade de consumo de massa, ainda que constrangida 
pela desigualdade na mobilidade. De todo modo, o Brasil 
deixa para trás os sinais de uma estrutura social piramidal 
para assumir cada vez mais a figura de uma pera. A 
formação de novas elites, como aquelas de raça não 
brancas, indica a força do protagonismo de sociedade 
plural em movimento. 
(http://ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&
id=521) 
 
A DESIGUALDADE DE RENDA E A MOBILIDADE 
SOCIAL NO BRASIL 
 
Textos anteriores publicados na Carta Maior ilustraram 
uma visão diferenciada, não convencional, sobre a relação 
entre desigualdade e mobilidade incluindo o papel da 
educação como veículo de ascensão social. 
A relação mostra que a desigualdade resulta da ação 
conjunta das estruturas salariais e de rendimentos 
estabelecidas no mercado bem como da colocação e 
mobilidade dos indivíduos nessas estruturas. Ao que se 
conclui que tanto a desigualdade quanto a mobilidade 
depende menos da formação educacional e do voluntarismo 
dos empregados e candidatos a empregos do que as 
estratégias dos agentes de mercado em fixarem suas 
estruturas ocupacionais e as respectivas remunerações. De 
fato, o mercado dá com uma mão e retira com a outra. 
Texto acadêmico explicitando essa relação encontra-se 
em avaliação para publicação em conhecido periódico do 
país da área econômica. Alguns resultados, no entanto, 
serão adiantados sobre uma análise preliminar da situação 
brasileira - preliminar porque pesquisa em andamento no 
Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP)/Unicamp 
vai usar dados mais detalhados fornecidos pelo IBGE. Os 
dados disponíveis, agregados, até agora utilizados vieram 
dos Censos de 60, 70 e 80 e das PNADS (Pesquisas 
Nacionais por Amostras de Domicílios) de 2001 e 2011. 
Foram avaliadas as distribuições de renda dos indivíduos 
nos dois períodos acima considerados. Embora os 
levantamentos dos censos e das pnads tenham coberturas 
um pouco diferentes, eles podem ser comparados nos casos 
em que se tomam os grandes números, no caso a população 
apta ao trabalho, incluídos os sem rendimentos. A 
metodologia não convencional utilizada apresentou 
resultados convergentes com as usuais: os índices de 
desigualdade calculados sobem de 60 a 80 e descem de 
2001 a 2011. 
Quanto aos componentes da desigualdade os resultados 
mostram que nos dois períodos é maior o peso das 
estruturas ocupacionais. As diferenças de rendas contam 
menos na evolução da desigualdade no Brasil do que a 
colocação dos indivíduos nas estruturas ocupacionais e de 
negócios no mercado e posterior mobilidade de uma faixa 
de renda a outra (quando comparados os resultados de um 
levantamento a outro). Embora sejam notórias e 
descomunais as diferenças de salários e rendimentos entre 
os grupos mais e menos abastados, na realidade a 
desigualdade é mais marcada pelas oportunidades desiguais 
abertas pelo mercado aos trabalhadores e empreendedores. 
As escalas salariais e as estruturas ocupacionais se 
modificam de um levantamento decenal a outro, assim 
como as características da força de trabalho que entra no 
mercado e daqueles que permanecem – parte se aposenta e 
outros tantos falecem. 
Acontece que as estruturas ocupacionais, no caso dos 
trabalhadores, e as estruturas de negócios, no caso dos 
empreendedores, por mais que variem entre os períodos 
mantém um perfil marcadamente piramidal. Poucas 
ocupações e áreas de negócios perto e no topo da pirâmide 
de renda e milhares em torno da base. Assim, ao entrarem 
no mercado trabalhadores e empreendedores chegam 
pesadamente por baixo e têm inúmeros obstáculos definidos 
e oficializados pelo mercado para subirem nas estruturas 
respectivas. O peso maior da estrutura piramidal aliado ao 
peso da escala salarial e de rendimentos acabam por dar o 
contorno final ao perfil da desigualdade no país. 
Mesmo no período recente, 2001 a 2011, quando a 
distribuição da renda melhora, a composição da 
desigualdade se mantém: reduziram-se mais as diferenças 
de salários e rendimentos e menos as colocações dos 
indivíduos no mercado. O primeiro filtro, portanto, para 
começar a trabalhar não é a formação educacional dos 
indivíduos, mas as oportunidades de trabalho que lhes são 
abertas! Em seguida vem o filtro das rendas. Os dois filtros 
destilam a cara final da desigualdade. 
Não adianta, portanto, sustentar que o aumento do nível 
educacional da população vai alterar o perfil da 
desigualdade. É uma prescrição inútil. A cara da 
desigualdade no Brasil está espelhada na estrutura piramidal 
das ocupações edos negócios; se a educação atinge mais 
indivíduos neste pano de fundo, nada muda. Pode até piorar 
porque haverá mais educados em ocupações e negócios 
menos valorizados já que as estruturas respectivas são 
fortemente seletivas. E estarão sobrecarregadas. A 
universalização da educação vale sim para melhorar o nível 
de conhecimentos de todos, mas não vale para reduzir a 
desigualdade. 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
60 
É claro que as situações particulares de alguns indivíduos 
melhoram com a maior qualificação educacional que 
adquirem por conta de vagas específicas abertas de forma 
localizada no mercado. Bem como os estudos sociológicos 
de mobilidade intergeracional apontam resultados 
convergentes entre mais elevados níveis salarial e 
educacional - esses estudos se valem de amostras da 
população. Mas na metodologia não convencional utilizada 
na pesquisa do NEPP é verificada a situação de renda de 
toda a população não de grupos selecionados dela; 
comparam-se as situações de renda de todos os grupos em 
conjunto (por entrada no mercado de trabalho, nível 
educacional, idade, sexo, etc). É um retrato da distribuição 
de renda de um período em comparação com o retrato de 
outro período. 
Dados da renda média real horária dos trabalhadores por 
anos de estudo para o Brasil mostram que elas se reduzem 
diferencialmente e relativamente à renda dos analfabetos 
quanto mais tempo estiveram na escola (fonte: Núcleo de 
Pesquisas e Estudos do Trabalho/UERJ). Resultados 
contrários àqueles que argumentam e defendem ampliar o 
acesso à educação para todos para melhorar seus níveis de 
renda. A mesma tendência ocorre entre as ocupações: as 
caracterizadas como menos qualificadas perdem menos 
renda real que as mais qualificadas. São manifestações que 
indicam estar o próprio mercado reduzindo os diferenciais 
de renda entre os menos e os mais educados e qualificados. 
Essas manifestações se somam aos resultados do 
Programa Bolsa Família que tirou da miséria milhares de 
famílias de trabalhadores trazendo-os para a escala de renda 
do mercado. Resumo da estória: caiu a desigualdade de 
renda na última década, mas ficou solidificada a rígida 
estrutura ocupacional e de negócios em forma de pirâmide. 
Uma escada com muitos degraus em baixo e poucos em 
cima. Muitos os chamados e poucos os escolhidos. 
(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/A-desigualdade-de-
renda-e-a-mobilidade-social-no-Brasil/7/29885) 
 
O FUTURO DO TRABALHO 
 
O trabalho remunerado, atividade essencial ao 
engajamento econômico e social do ser humano na 
sociedade, está em crise. O capitalismo global 
contemporâneo trocou lealdade por produtividade 
imediata e acabou com a época dos relógios de ouro como 
prêmio por logo tempo de dedicação. Ninguém mais tem 
emprego de longo prazo garantido na sua atual empresa. 
As próprias capacidades individuais, adquiridas por estudo 
ou experiência, sucateiam a cada oito a dez anos. O 
emprego será cada vez mais voltado para tarefas ou 
projetos de duração definida. 
É uma mudança radical em relação ao fim dos anos 
1960, quando os indivíduos eram enraizados em sólidas 
realidades institucionais nas suas corporações, que, por 
sua vez, navegavam em mercados relativamente firmes. 
Na época dourada do capitalismo do pós-guerra, quando 
matérias-primas entravam por uma ponta e automóveis 
saíam prontos por outra, vigorava uma certa “ética social” 
que domava a luta de classes e garantia - mais na Europa, 
mas também nos Estados Unidos - benefícios como 
educação, saúde e pensões por aposentadoria, 
considerados então direitos universais. 
A partir dos anos 1980, com a globalização dos 
mercados, as corporações e seus investidores ficaram mais 
preocupados com os lucros a curto prazo e os empregos 
começaram a cruzar rapidamente as fronteiras. E, com os 
avanços da tecnologia de informação, tornou-se mais 
barato investir em máquinas do que pagar a pessoas para 
trabalharem. 
Richard Sennett, da London School of Economics, 
entrevistou naquela época operários da classe média que 
se encontravam no epicentro das indústrias de alta 
tecnologia, dos serviços financeiros e dos meios de 
comunicação. Grande número deles considerava que sua 
vida estava agora em risco permanente. A tendência era 
aceitar essas mudanças estruturais com resignação, como 
se tivessem caráter inevitável, no que acertaram em cheio. 
O novo capital é impaciente, avalia resultados mais 
pelos preços das ações que pelos dividendos. A esses 
investidores o que interessa é a capacidade das empresas 
de serem flexíveis como um MP3, com a seqüência de 
produção podendo ser alterada à vontade e terceirizando 
tudo sempre que possível. Sennett vê a tendência para o 
futuro dos empregos como contratos de três ou seis meses, 
freqüentemente renovados. A conseqüência já se faz 
sentir. O trabalho temporário é o setor de mais rápido 
crescimento da força de trabalho nos Estados Unidos e na 
Grã-Bretanha. E já representa 25% da mão-de-obra 
empregada nos Estados Unidos. 
Numa organização flexível como os investidores 
gostam, o poder ocupa uma posição quase virtual; 
estabelece as tarefas, avalia os resultados e promove a 
expansão ou o encolhimento da empresa. O objetivo é 
obter os melhores resultados com a maior rapidez 
possível. Das várias equipes encarregadas das tarefas, 
estabelecem-se prêmios apenas para a de melhor 
desempenho. Sennett lembra que é um jogo de tudo ou 
nada que mantém alto nível de ansiedade e baixa lealdade 
institucional. A desigualdade no interior das empresas 
aumenta; as remunerações são muito altas para os 
executivos bem-sucedidos e muito baixas para os 
trabalhadores. 
O melhor exemplo é o Wal-Mart, a maior empresa em 
faturamento do mundo, que utiliza alta tecnologia e paga 
próximo da linha de pobreza ao grosso de seus 
funcionários. Compare-se com os empregos estáveis e 
com boa remuneração que a grande indústria norte-
americana do pós-guerra (Ford, GM, GE e outras) gerava, o 
que possibilitou a estruturação da sólida classe média do 
país. 
Hoje tudo mudou. O dia de trabalho se prolonga pelos 
períodos de descanso, a pressão torna-se mais depressiva 
que estimulante. Em suas pesquisas de 
campo, Sennett constatou que nessa situação, em que a 
lealdade à instituição não pode ser construída, se gera 
maior propensão ao alcoolismo, ao divórcio e aos 
problemas de saúde. No nível mais baixo dos empregos 
flexíveis imperam os chamados Mc-empregos - fritar 
hambúrgueres ou atender em lojas - ou os postos de 
atendentes de telemarketing. Essas ocupações podem 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
61 
parecer um fator positivo de acesso para jovens sem 
habilitação. Mas logo se transformam num beco sem 
saída. Na verdade, muitos empregos braçais na área de 
serviços deixaram de ser atraentes para os jovens e essas 
tarefas são executadas por absoluta falta de alternativa. 
Nos países desenvolvidos, em geral são entregues a 
imigrantes, que dão maior valor ao dinheiro momentâneo 
do que à estabilidade e à qualidade do trabalho. 
Sennett constatou que a maior aspiração dos 
trabalhadores temporários é que alguém os queira em 
caráter permanente. A gratificação postergada em nome 
de objetivos pessoais de longo prazo sempre foi a mola 
propulsora da “ética protestante do capitalismo” 
de Weber e o segredo de sua “jaula de ferro”. O novo 
paradigma zomba da gratificação postergada. A erosão da 
ética protestante não se dá, ao contrário do que pensa 
Huntington, pela contaminação de raças latino-americanas 
“inferiores”, mas pela própria lógica do sistema que 
destrói lealdades. A geração anterior pensava em termos 
de ganhos estratégicos de longo prazo, ao passo que para a 
atual só sobram pequenas realizações imediatas. As 
pessoas pertencentes às classes média e alta ainda podem 
dar-se ao luxo decorrer esses riscos e viver essas tensões 
à espera de uma boa oportunidade. Mas os jovens de 
classe baixa são muito mais dependentes das relações 
estáveis por terem uma rede de proteção frágil e poucos 
contatos e conexões importantes. 
Como se vê, o pujante e vencedor capitalismo global 
tem seu calcanhar-de-aquiles na má qualidade e na pouca 
quantidade dos empregos que gera. 
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/10183-o-futuro-
do-trabalho-artigo-de-gilberto-dupas 
 
O QUE SÃO AÇÕES AFIRMATIVAS? 
 
Ações afirmativas são políticas focais que alocam 
recursos em benefício de pessoas pertencentes a grupos 
discriminados e vitimados pela exclusão sócio-econômica 
no passado ou no presente. Trata-se de medidas que têm 
como objetivo combater discriminações étnicas, raciais, 
religiosas, de gênero ou de casta, aumentando a 
participação de minorias no processo político, no acesso à 
educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de 
proteção social e/ou no reconhecimento cultural. 
Entre as medidas que podemos classificar como ações 
afirmativas podemos mencionar: incremento da 
contratação e promoção de membros de grupos 
discriminados no emprego e na educação por via de 
metas, cotas, bônus ou fundos de estímulo; bolsas de 
estudo; empréstimos e preferência em contratos públicos; 
determinação de metas ou cotas mínimas de participação 
na mídia, na política e outros âmbitos; reparações 
financeiras; distribuição de terras e habitação; medidas de 
proteção a estilos de vida ameaçados; e políticas de 
valorização identitária. 
Sob essa rubrica podemos, portanto, incluir medidas que 
englobam tanto a promoção da igualdade material e de 
direitos básicos de cidadania como também formas de 
valorização étnica e cultural. Esses procedimentos podem 
ser de iniciativa e âmbito de aplicação público ou privado, 
e adotados de forma voluntária e descentralizada ou por 
determinação legal. 
A ação afirmativa se diferencia das políticas puramente 
anti-discriminatórias por atuar preventivamente em favor 
de indivíduos que potencialmente são discriminados, o 
que pode ser entendido tanto como uma prevenção à 
discriminação quanto como uma reparação de seus efeitos. 
Políticas puramente anti-discriminatórias, por outro lado, 
atuam apenas por meio de repressão aos discriminadores 
ou de conscientização dos indivíduos que podem vir a 
praticar atos discriminatórios. 
No debate público e acadêmico, a ação afirmativa com 
freqüência assume um significado mais restrito, sendo 
entendida como uma política cujo objetivo é assegurar o 
acesso a posições sociais importantes a membros de 
grupos que, na ausência dessa medida, permaneceriam 
excluídos. Nesse sentido, seu principal objetivo seria 
combater desigualdades e dessegregar as elites, tornando 
sua composição mais representativa do perfil demográfico 
da sociedade. 
(http://gemaa.iesp.uerj.br/index.php?option=com_k2&view=item&layou
t=item&id=1&Itemid=217) 
 
MOVIMENTOS SOCIAIS 
 
Os movimentos sociais podem ser definidos como um 
ato embativo dos agentes das classes sociais ou como 
fruto de práticas sociais incoerentes com a ordem social, 
as quais são capazes de alterar a estrutura do sistema do 
poder estatal, seja por meio de intervenções 
revolucionárias ou pacíficas. Há de notar que, via de 
regra, esse tipo de movimento surge da iniciativa pública, 
tendo sua motivação e origem nas discrepâncias 
acarretadas pelos processos de mais valia no trabalho e/ou 
pelas inúmeras injustiças sociais existentes na sociedade. 
Por outro lado, devemos destacar que os movimentos 
sociais possuem uma relação conflituosa com o Estado, 
uma vez que aqueles movimentos desejam alterar a 
própria composição do mesmo, com vistas a alcançar 
alguma melhoria social e alterar o "status quo" que 
favorece as elites estabelecidas. 
Não obstante, aqueles movimentos sociais são o modo 
como os cidadãos encontram para protestar ou reivindicar 
direitos que lhes são garantidos por Lei. Portanto, são 
reproduções da sociedade organizada, que lança mão de 
instrumentos interventivos, distintos de acordo com cada 
contexto histórico especifico e que se compõe a partir da 
demarcação de adversários em torno de uma identidade ou 
identificação, salientando ainda importância de um projeto 
para um contínuo processo de construção identitária que 
resultará somente a partir de múltiplas articulações. 
Portanto, este tipo de fenômeno surge quando um 
determinado grupo nota, enquanto coletividade, que fazem 
parte de um agrupamento comum, levando-os 
a defenderem politicamente as causas que acham 
pertinentes e essenciais. 
Note que é preciso uma forte relação afetiva para com a 
causa social em questão, posto que, frente a uma 
determinada situação, uma mesma reivindicação pode 
afastar outros grupos sociais que não se identificam com 
aquela causa. Portanto, a ação coletiva de um grupo 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
62 
organizado tem como finalidade conseguir transformações 
sociais a partir da luta política, a qual está inserida numa 
determinada sociedade e num contexto específico. 
Outro ponto a ser destacado é o fato de que as marchas, 
paradas ou ocupações, podem ser percebidas enquanto 
formas de comunicação simbólica, a qual utiliza metáforas 
para quebrarem provisoriamente a rotina e reconstruírem a 
ordem social com suas identidades e papéis sociais. 
Em termos de classificação podemos dividir os 
movimentos sociais enquanto movimentos 
reivindicatórios, os quais focam sua ação em exigências 
em questões imediatas, e utilizam-se da pressão pública 
para pressionar instituições que possam modificar os 
dispositivos legais que possam lhes favorecer. Já 
nos movimentos políticos, busca-se influenciar a 
população na participação política direta enquanto 
garantia para transformações estruturais na sociedade; por 
fim, destacamos os movimentos de classe, os quais 
buscam subverter a ordem social e, consequentemente, 
alterar as relações entre os distintos atores na conjuntura 
nacional. 
 
COMPOSIÇÃO DE UM MOVIMENTO SOCIAL 
 
Para que haja um movimento social efetivo, é preciso a 
conjugação de alguns fatores, o primeiro deles é o projeto, 
o qual abarca toda proposta e objetivos do movimento em 
questão. Um outro fator crucial é a ideologia que embasa 
este movimento, uma vez que ela é a responsável por 
articular a união entre os grupos sociais em prol do 
movimento. Por fim, os movimentos sociais, ao se 
instituírem (e se institucionalizarem), estabelecem uma 
disposição hierárquica, a qual pode ser descentralizada ou 
não, numa estrutura deliberada para possuir lideres e 
outros integrantes. 
 
MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL 
 
No Brasil, os movimentos sociais ganharam destaque a 
partir da década de 1960, posto que uma parcela muito 
grande da sociedade fora contra o regime militar aqui 
instaurado. Não obstante, merecem destaque no Brasil o 
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento 
dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os movimentos em 
defesa dos índios, negros e das mulheres. Note ainda que 
fazem parte dos movimentos sociais no Brasil os 
movimentos populares, sindicais e a organizações não 
governamentais (ONGs). 
(http://www.todamateria.com.br/movimentos-sociais/) 
FIQUE LIGADO NO ENEM! 
• Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais 
são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos no 
desempenho de suas atividades produtivas. Entretanto, dentro 
dessa mesma sociedade os indivíduos podem desempenhar 
outros papéis e alcançar novas posições sociais, relacionadas 
com a religião que praticam, o partido político em que militam, 
as funções sociais que desempenham, a profissão que exercem 
e outras atividades. 
• Entretanto, vale esclarecer que, mesmo na sociedade 
capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical nãoocorre 
de maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social 
depende muito da origem de classe de cada indivíduo, ou 
mesmo de sua origem étnica. 
• De acordo com o sociólogo Carlos Antonio Costa Ribeiro, 
existem dois tipos de desigualdade. “Existe a chamada 
desigualdade de condições, que diz respeito aos diferentes 
níveis de renda, e a chamada desigualdade de oportunidades, 
que se refere às chances que uma pessoa tem de mudar de 
posição na sociedade ao longo das gerações familiares e ao 
longo do seu ciclo de vida”. 
• A cara da desigualdade no Brasil está espelhada na estrutura 
piramidal das ocupações e dos negócios; se a educação atinge 
mais indivíduos neste pano de fundo, nada muda. Pode até 
piorar porque haverá mais educados em ocupações e negócios 
menos valorizados já que as estruturas respectivas são 
fortemente seletivas. E estarão sobrecarregadas. A 
universalização da educação vale sim para melhorar o nível de 
conhecimentos de todos, mas não vale para reduzir a 
desigualdade. 
• Numa organização flexível como os investidores gostam, o 
poder ocupa uma posição quase virtual; estabelece as tarefas, 
avalia os resultados e promove a expansão ou o encolhimento 
da empresa. O objetivo é obter os melhores resultados com a 
maior rapidez possível. 
• A desigualdade no interior das empresas aumenta; as 
remunerações são muito altas para os executivos bem-
sucedidos e muito baixas para os trabalhadores. Ninguém mais 
tem emprego de longo prazo garantido na sua atual empresa. O 
emprego será cada vez mais voltado para tarefas ou projetos de 
duração definida. 
• Ações afirmativas são políticas focais que alocam recursos em 
benefício de pessoas pertencentes a grupos discriminados e 
vitimados pela exclusão sócio-econômica no passado ou no 
presente. Trata-se de medidas que têm como objetivo combater 
discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero ou de 
casta, aumentando a participação de minorias no processo 
político, no acesso à educação, saúde, emprego, bens 
materiais, redes de proteção social e/ou no reconhecimento 
cultural. 
• Em termos de classificação podemos dividir os movimentos 
sociais enquanto movimentos reivindicatórios, os quais focam 
sua ação em exigências em questões imediatas, e utilizam-se 
da pressão pública para pressionar instituições que possam 
modificar os dispositivos legais que possam lhes favorecer. Já 
nos movimentos políticos, busca-se influenciar a população na 
participação política direta enquanto garantia para 
transformações estruturais na sociedade; por fim, destacamos 
os movimentos de classe, os quais buscam subverter a ordem 
social e, consequentemente, alterar as relações entre os 
distintos atores na conjuntura nacional. 
 
 
 
Exercícios 
 
1. (ENEM 2012) Na regulação de matérias culturalmente 
delicadas, como, por exemplo, a linguagem oficial, os 
currículos da educação pública, o status das Igrejas e das 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
63 
comunidades religiosas, as normas do direito penal (por 
exemplo, quanto ao aborto), mas também em assuntos 
menos chamativos, como, por exemplo, a posição da 
família e dos consórcios semelhantes ao matrimônio, a 
aceitação de normas de segurança ou a delimitação das 
esferas pública e privada – em tudo isso reflete-se amiúde 
apenas o autoentendimento ético-político de uma cultura 
majoritária, dominante por motivos históricos. Por causa 
de tais regras, implicitamente repressivas, mesmo dentro 
de uma comunidade republicana que garanta formalmente 
a igualdade de direitos para todos, pode eclodir um 
conflito cultural movido pelas minorias desprezadas 
contra a cultura da maioria. 
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São 
Paulo: Loyola, 2002. 
 
A reivindicação dos direitos culturais das minorias, como 
exposto por Habermas, encontra amparo nas democracias 
contemporâneas, na medida em que: 
a) a secessão, pela qual a minoria discriminada obteria a 
igualdade de direitos na condição da sua concentração 
espacial, num tipo de independência nacional. 
b) a reunificação da sociedade que se encontra 
fragmentada em grupos de diferentes comunidades 
étnicas, confissões religiosas e formas de vida, em 
torno da coesão de uma cultura política nacional. 
c) a coexistência das diferenças, considerando a 
possibilidade de os discursos de auto entendimento se 
submeterem ao debate público, cientes de que estarão 
vinculados à coerção do melhor argumento. 
d) a autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à vida 
adulta, tenham condições de se libertar das tradições 
de suas origens em nome da harmonia da política 
nacional. 
e) o desaparecimento de quaisquer limitações, tais como 
linguagem política ou distintas convenções de 
comportamento, para compor a arena política a ser 
compartilhada 
 
2. (ENEM 2014) Uma norma só deve pretender validez 
quando todos os que possam ser concernidos por ela 
cheguem (ou possam chegar), enquanto participantes de um 
discurso prático, a um acordo quanto à validade dessa norma. 
HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de 
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. 
 
Segundo Habermas, a validez de uma norma deve ser 
estabelecida pelo(a) 
a) liberdade humana, que consagra a vontade. 
b) razão comunicativa, que requer um consenso. 
c) conhecimento filosófico, que expressa a verdade. 
d) técnica científica, que aumenta o poder do homem. 
e) poder político, que se concentra no sistema partidário. 
 
 
3. (ENEM 2012) 
 
TEXTO I 
O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a 
manifestação da agressividade através da violência. Isso 
se desdobra de maneira evidente na criminalidade, que 
está presente em todos os redutos — seja nas áreas 
abandonadas pelo poder público, seja na política ou no 
futebol. O brasileiro não é mais violento do que outros 
povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhecimento 
da cidadania e a ausência do Estado em vários territórios 
do país se impõem como um caldo de cultura no qual a 
agressividade e a violência fincam suas raízes. 
Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime sem rosto. IstoÉ. 
Edição 2099; 3 fev. 2010. 
 
TEXTO II 
Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as 
pulsões e emoções do indivíduo, sem um controle muito 
específico de seu comportamento. Nenhum controle desse 
tipo é possível sem que as pessoas anteponham limitações 
umas às outras, e todas as limitações são convertidas, na 
pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo. 
ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. 
 
Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal 
como descrito no Texto II, o argumento do Texto I acerca 
da violência e agressividade na sociedade brasileira 
expressa a: 
a) incompatibilidade entre os modos democráticos de 
convívio social e a presença de aparatos de controle 
policial. 
b) manutenção de práticas repressivas herdadas dos 
períodos ditatoriais sob a forma de leis e atos 
administrativos. 
c) inabilidade das forças militares em conter a violência 
decorrente das ondas migratórias nas grandes cidades 
brasileiras. 
d) dificuldade histórica da sociedade brasileira em 
institucionalizar formas de controle social 
compatíveis com valores democráticos. 
e) incapacidade das instituições político-legislativas em 
formular mecanismos de controle social específicos à 
realidade social brasileira. 
 
4. (ENEM 2009) Para Caio Prado Jr., a formação 
brasileira se completaria no momento em que fosse 
superada a nossa herança de inorganicidade social - o 
oposto da interligação com objetivos internos - trazida da 
colônia. Este momento alto estaria, ou esteve, no futuro. 
Se passarmos a Sérgio Buarque de Holanda, 
encontraremos algo análogo. O país será moderno e estará 
formado quando superar a sua herança portuguesa, rural e 
autoritária, quando então teríamos um país democrático. 
Também aqui o ponto de chegada está mais adiante, nadependência das decisões do presente. 
Celso Furtado, por seu turno, dirá que a nação não se 
completa enquanto as alavancas do comando, 
principalmente do econômico, não passarem para dentro 
do país. Como para os outros dois, a conclusão do 
processo encontra-se no futuro, que agora parece remoto. 
SCHWARZ, R. Os sete fôlegos de um livro. Sequências brasileiras. 
São Paulo: Cia. das Letras,1999 (adaptado) 
Acerca das expectativas quanto à formação do Brasil, a 
sentença que sintetiza os pontos de vista apresentados no 
texto é: 
a) Brasil, um país que vai pra frente. 
b) Brasil, a eterna esperança. 
c) Brasil, glória no passado, grandeza no presente. 
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
64 
d) Brasil, terra bela, pátria grande. 
e) Brasil, gigante pela própria natureza. 
 
5. (ENEM 2012) Leia. 
 
Minha vida é andar 
Por esse país 
Pra ver se um dia 
Descanso feliz 
Guardando as recordações 
Das terras onde passei 
Andando pelos sertões 
E dos amigos que lá deixei 
 GONZAGA, L.; CORDOVIL, H. A vida de viajante, 1953. 
Disponível em: www.recife.pe.gov.br 
Acesso em: 20 fev. 2012 (fragmento). 
 
A letra dessa canção reflete elementos identitários que 
representam a: 
a) valorização das características naturais do Sertão 
nordestino. 
b) denúncia da precariedade social provocada pela seca. 
c) experiência de deslocamento vivenciada pelo 
migrante. 
d) profunda desigualdade social entre as regiões 
brasileiras. 
e) discriminação dos nordestinos nos grandes centros 
urbanos. 
 
6. (ENEM 2012) As mulheres quebradeiras de coco-babaçu 
dos Estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins, na sua 
grande maioria, vivem numa situação de exclusão e 
subalternidade. O termo quebradeira de coco assume o 
caráter de identidade coletiva na medida em que as mulheres 
que sobrevivem dessa atividade e reconhecem sua posição e 
condição desvalorizada pela lógica da dominação, se 
organizam em movimentos de resistência e de luta pela 
conquista da terra, pela libertação dos babaçuais, pela 
autonomia do processo produtivo. Passam a atribuir 
significados ao seu trabalho e as suas experiências, tendo 
como principal referência sua condição preexistente de 
acesso e uso dos recursos naturais. 
ROCHA, M. R. T. A luta das mulheres quebradeiras de coco-babaçu, 
pela libertação do coco preso e pela posse da terra. In: Anais do VII 
Congresso Latino-Americano de Sociologia Rural, Quito, 2006 
(adaptado). 
 
A organização do movimento das quebradeiras de coco de 
babaçu é resultante da: 
a) constante violência nos babaçuais na confluência de 
terras maranhenses, piauienses, paraenses e 
tocantinenses, região com elevado índice de 
homicídios. 
b) falta de identidade coletiva das trabalhadoras, migrantes 
das cidades e com pouco vínculo histórico com as áreas 
rurais do interior do Tocantins, Pará, Maranhão e 
Piauí. 
c) escassez de água nas regiões de veredas, ambientes 
naturais dos babaçus, causada pela construção de açudes 
particulares, impedindo o amplo acesso público aos 
recursos hídricos. 
d) progressiva devastação das matas dos cocais, em função 
do avanço da sojicultura nos chapadões do Meio-Norte 
brasileiro. 
e) dificuldade imposta pelos fazendeiros e posseiros no 
acesso aos babaçuais localizados no interior de suas 
propriedades. 
 
7. (ENEM 2011) Na década de 1990, os movimentos 
sociais camponeses e as ONGs tiveram destaque, ao lado 
de outros sujeitos coletivos. Na sociedade brasileira, a 
ação dos movimentos sociais vem construindo lentamente 
um conjunto de práticas democráticas no interior das 
escolas, das comunidades, dos grupos organizados e na 
interface da sociedade civil com o Estado. O diálogo, o 
confronto e o conflito têm sido os motores no processo de 
construção democrática. 
SOUZA, M. A. Movimentos sociais no Brasil contemporâneo: 
participação e possibilidades das práticas democráticas. Disponível 
em: http://www.ces.uc.pt. 
Acesso em: 30 abr. 2010 (adaptado). 
 
Segundo o texto, os movimentos sociais contribuem para 
o processo de construção democrática, porque: 
a) pressionam o Estado para o atendimento das 
demandas da sociedade. 
b) determinam o papel do Estado nas transformações 
socioeconômicas. 
c) aumentam o clima de tensão social na sociedade civil. 
d) privilegiam determinadas parcelas da sociedade em 
detrimento das demais. 
e) propiciam a adoção de valores éticos pelos órgãos do 
Estado. 
 
8. (ENEM 2013) 
TEXTO I 
Ela acorda tarde depois de ter ido ao teatro e à dança; ela 
lê romances, além de desperdiçar o tempo a olhar para a 
rua da sua janela ou da sua varanda; passa horas no 
toucador a arrumar o seu complicado penteado; um 
número igual de horas praticando piano e mais outras na 
sua aula de francês ou de dança. 
Comentário do Padre Lopes da Gama acerca dos costumes femininos 
(1839) 
apud SILVA, T. Z. Mulheres, cultura e literatura brasileira. 
Ipotasi – Revista de estudos Literários. Juiz de Fora, v. 2 n. 2, 1998. 
 
TEXTO II 
As janelas e portas gradeadas com treliças gradeadas com 
treliças não eram cadeias confessas, positivas; mas eram, 
pelo aspecto e pelo seu destino, grandes gaiolas, onde os 
pais e maridos zelavam, sonegadas à sociedade, as filhas e 
as esposas. 
MACEDO, J. M. Memórias da Rua do Ouvidor (1878). 
Disponível em: www.domíniopublico.gov.br. Acesso em: 20 maio 2013 
(adaptado) 
 
A representação social do feminino comum aos dois 
textos é o(a): 
a) acesso aos produtos de beleza, decorrência da 
abertura dos portos. 
b) ampliação do espaço de entretenimento, voltado às 
distintas classes sociais. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
65 
c) submissão de gênero, apoiada pela concepção 
patriarcal de família. 
d) proteção da honra, mediada pela disputa masculina 
em relação às damas da corte. 
e) valorização do casamento cristão, respaldado pelos 
interesses vinculados à herança. 
 
9. (ENEM 2015) Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. 
Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a 
forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; 
é o conjunto da civilização que elabora esse produto 
intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o 
feminino. 
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. 
 
Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir 
contribuiu para estruturar um movimento social que teve 
como marca o(a) 
a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência 
sexual. 
b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla 
jornada de trabalho. 
c) oposição de grupos religiosos para impedir os 
casamentos homoafetivos. 
d) organização de protestos públicos para garantir a 
igualdade de gênero. 
e) estabelecimento de políticas governamentais para 
promover ações afirmativas. 
 
10. (ENEM 2013) Tenho 44 anos e presenciei uma 
transformação impressionante na condição de homens e 
mulheres gays nos Estados Unidos. Quando nasci, 
relações sexuais eram ilegais em todos os Estados Unidos, 
menos Illinois. Gays e lésbicas não podiam trabalhar no 
governo federal. Não havia nenhum político abertamente 
gay. Alguns homossexuais não assumidos ocupavam 
posições de poder, mas a tendência era eles tornarem as 
coisas ainda piores para seus semelhantes. 
ROSS, A. Na máquina do tempo. Época, Ed. 766, 28 jan. 2013. 
 
A dimensão política da transformação sugerida no texto 
teve como condição necessária a: 
a) reformulação de concepções religiosas. 
b) manutenção de ideologias conservadoras. 
c) implantação de cotas nas listas partidárias. 
d) alteração da composição étnica da população. 
e) ampliação da noção de cidadania. 
 
 
 
11. (ENEM 2010/2) A primeira instituição de ensino 
brasileira que inclui disciplinas voltadas ao público LGBT 
(lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) abriu inscrições 
na semana passada. A grade curricular é inspirada em 
similares dos Estados Unidos da Américae da Europa. Ela 
atenderá jovens com aulas de expressão artística, dança e 
criação de fanzines. É aberta a todo o público estudantil e 
tem como principal objetivo impedir a evasão escolar de 
grupos socialmente discriminados. 
Época, 11 jan. 2010 (adaptado) 
 
O texto trata de uma política de ação afirmativa voltada ao 
público LGBT. Com a criação de uma instituição de 
ensino para atender esse público, pretende-se: 
a) contribuir para a invisibilidade do preconceito ao 
grupo LGBT. 
b) promover o respeito à diversidade sexual no sistema 
de ensino. 
c) copiar os modelos educacionais dos EUA e da 
Europa. 
d) permitir o acesso desse segmento ao ensino técnico. 
e) criar uma estratégia de proteção e isolamento desse 
grupo. 
 
12. (ENEM 2015) 
 
Voz do sangue 
 
Palpitam-me 
os sons do batuque 
e os ritmos melancólicos do blue. 
 
Ó negro esfarrapado 
do Harlem 
ó dançarino de Chicago 
ó negro servidor do South. 
 
Ó negro da África 
negros de todo o mundo. 
 
Eu junto 
Ao vosso magnífico canto 
a minha pobre voz 
os meus humildes ritmos. 
 
Eu vos acompanho 
pelas emaranhadas áfricas 
do nosso Rumo. 
 
Eu vos sinto 
negros de todo o mundo 
eu vivo a nossa história 
meus irmãos. 
Disponível em: www.agostinhoneto.org. Acesso em: 30 jun. 2015. 
 
Nesse poema, o líder angolano Agostinho Neto, na década 
de 1940, evoca o pan-africanismo com o objetivo de 
a) incitar a luta por políticas de ações afirmativas na 
América e na África. 
b) reconhecer as desigualdades sociais entre os negros 
de Angola e dos Estados Unidos. 
c) conclamar as populações negras de diferentes países a 
apoiar as lutas por igualdade e independência. 
d) descrever o quadro de pobreza após os processos de 
independência no continente africano. 
e) solicitar o engajamento dos negros estadunidenses na 
luta armada pela independência em Angola. 
 
13. (ENEM 2011) A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, 
inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino 
fundamental e médio, oficiais e particulares, a 
obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-
 Ciências Humanas e suas Tecnologias 
 
 
 
66 
Brasileira e determina que o conteúdo programático 
incluirá: O estudo da História da África e dos africanos, a 
luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o 
negro na formação da sociedade nacional, resgatando a 
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e 
política, pertinentes à História do Brasil, além de instituir 
no calendário escolar o dia 20 de novembro como data 
comemorativa do "Dia da Consciência Negra". 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 jul. 2010 
(adaptado). 
 
A referida lei representa um avanço não só para a 
educação nacional, mas também para a sociedade 
brasileira, porque: 
a) legitima o ensino das ciências humanas nas escolas. 
b) divulga conhecimentos para a população afro-
brasileira. 
c) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua 
cultura. 
d) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à 
educação. 
 
14. (ENEM 2014) Parecer CNE/CP nº 3/2004, que instituiu 
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das 
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e 
Cultura Afro-Brasileira e Africana. 
Procura-se oferecer uma resposta, entre outras, na área da 
educação, à demanda da população afrodescendente, no 
sentido de políticas de ações afirmativas. Propõe a 
divulgação e a produção de conhecimentos, a formação de 
atitudes, posturas que eduquem cidadãos orgulhosos de seu 
pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, 
povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – 
para interagirem na construção de uma nação democrática, 
em que todos igualmente tenham seus direitos garantidos. 
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Disponível em: 
www.semesp.org.br. 
Acesso em: 21 nov. 2013 (adaptado) 
 
A orientação adotada por esse parecer fundamenta uma 
política pública e associa o princípio da inclusão social a 
a) práticas de valorização identitária. 
b) medidas de compensação econômica. 
c) dispositivos de liberdade de expressão. 
d) estratégias de qualificação profissional. 
e) instrumentos de modernização jurídica. 
 
15. (ENEM 2015) Em sociedade de origens tão 
nitidamente personalistas como a nossa, é compreensível 
que os simples vínculos de pessoa a pessoa, independentes 
e até exclusivos de qualquer tendência para a cooperação 
autêntica entre os indivíduos, tenham sido quase sempre 
os mais decisivos. As agregações e relações pessoais, 
embora por vezes precárias, e, de outro lado, as lutas entre 
facções, entre famílias, entre regionalismos, faziam dela 
um todo incoerente e amorfo. O peculiar da vida brasileira 
parece ter sido, por essa época, uma acentuação 
singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do 
passional e uma estagnação ou antes uma atrofia 
correspondente das qualidades ordenadoras 
disciplinadoras, racionalizadoras. 
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995. 
 
Um traço formador da vida pública brasileira expressa-se, 
segundo a análise do historiador, na 
a) rigidez das normas jurídicas. 
b) prevalência dos interesses privados. 
c) solidez da organização institucional. 
d) legitimidade das ações burocráticas. 
e) estabilidade das estruturas políticas. 
 
16. (ENEM 2015) Não nos resta a menor dúvida de que a 
principal contribuição dos diferentes tipos de movimentos 
sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no plano da 
reconstrução do processo de democratização do país. E 
não se trata apenas da reconstrução do regime político, da 
retomada da democracia e do fim do Regime Militar. 
Trata-se da reconstrução ou construção de novos rumos 
para a cultura do país, do preenchimento de vazios na 
condução da luta pela redemocratização, constituindo-se 
como agentes interlocutores que dialogam diretamente 
com a população e com o Estado. 
GOHN, M. G. M. Os sem-terras, ONGs e cidadania. São Paulo: 
Cortez, 2003 (adaptado). 
 
No processo da redemocratização brasileira, os novos 
movimentos sociais contribuíram para 
a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políticos 
então criados. 
b) difundir a democracia representativa como objetivo 
fundamental da luta política. 
c) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades de 
trabalhadores com os sindicatos. 
d) tornar a democracia um valor social que ultrapassa os 
momentos eleitorais. 
e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores 
sociais frente ao Estado. 
 
17. (ENEM 2014) 
 
 
PAIVA, M. Disponível em: www.redes.unb.br. Acesso em: 25 maio 
2014. 
 
A discussão levantada na charge, publicada logo após a 
promulgação da Constituição de 1988, faz referência ao 
seguinte conjunto de direitos: 
a) Civis, como direito à vida, à liberdade de expressão e 
à propriedade. 
b) Sociais, como direito à educação, ao trabalho e à 
proteção à maternidade e á infância. 
 
Sociologia 
 
ENEM 
 
67 
c) Difusos, como direito à paz, ao desenvolvimento 
sustentável e ao meio ambiente saudável. 
d) Coletivos, como direito à organização sindical, à 
participação partidária e à expressão religiosa. 
e) Políticos, como o direito de votar e ser votado, à 
soberania popular e à participação democrática. 
 
18. (ENEM 2014) 
 
Mas plantar pra dividir 
Não faço mais isso, não 
Eu sou um pobre caboclo, 
Ganho a vida na enxada. 
O que eu colho é dividido 
Com quem não planta nada. 
Se assim continuar 
Vou deixar o me sertão, 
Mesmo os olhos cheios d’água 
E com dor no coração. 
Vou pro Rio carregar massas 
Pros pedreiros em construção. 
Deus até está ajudando: 
Está chovendo no sertão! 
Mas plantar pra dividir, 
Não faço mais isso, não. 
Vale, J.; AQUINO, J. B. Sina de caboclo. São Paulo: Polygram, 1994 
(fragmento). 
 
 
No trecho da canção, composta na década de 1960, 
retrata-se a insatisfação do trabalhadorrural com 
a) a distribuição desigual da produção. 
b) os financiamentos feitos ao produtor rural. 
c) a ausência de escolas técnicas no campo. 
d) os empecilhos advindos das secas prolongadas. 
e) a precariedade de insumos no trabalho do campo. 
 
GABARITO 
 
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 
C B D B C E A C D E 
 
11 12 13 14 15 16 17 18 
B C E A B D B A

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