Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E INFORMAÇÕES EM SAÚDE PÚBLICA W B A 01 30 _v 2. 0 2 Alexandra Bulgarelli do Nascimento Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E INFORMAÇÕES EM SAÚDE PÚBLICA 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Fabiane Gorni Borsato Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) _________________________________________________________________________________________ Nascimento, Alexandra Bulgarelli do N244p Planejamento, programação e informações em Saúde Pública/ Alexandra Bulgarelli do Nascimento, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 45 p. ISBN 978-65-87806-82-2 1. Planejamento estratégico 2. Saúde pública 3. Informações em saúde I. Título. CDD 610 ____________________________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 6/2786 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO O conceito de território e diagnóstico local __________________________ 05 Planejamento estratégico, tático e operacional e programação local em saúde ______________________________________________________ 18 Sistemas de Informação em Saúde Pública _________________________ 34 Sistemas de avaliação de serviços de saúde pública_________________ 47 PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E INFORMAÇÕES EM SAÚDE PÚBLICA 5 O conceito de território e diagnóstico local Autoria: Alexandra Bulgarelli do Nascimento Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato Objetivos • Compreender o território como meio para identificação e resposta às necessidades em saúde e ao enfrentamento de vulnerabilidades. • Discorrer sobre a identificação das necessidades em saúde e das vulnerabilidades. • Apresentar o diagnóstico local em saúde como método para resposta às necessidades em saúde e ao enfretamento de vulnerabilidades. 6 1. Introdução As necessidades em saúde são inúmeras, complexas e decorrentes de aspectos inerentes ao contexto em que as pessoas estão inseridas, sejam eles de natureza social, cultural, econômica, entre outros. Ao se compreender como essas pessoas vivem no território em que coexistem, as ações de planejamento ganham potência para responder a suas necessidades em saúde. Nesta aula, o objetivo é nos aproximarmos de conteúdos que permitam apreender o quão importante é a compreensão acerca do território e do diagnóstico local, como mecanismos que, quando bem empregados, contribuem para responder efetivamente às necessidades de saúde, em especial de grupos sociais vulneráveis. 1.1 Território Uma primeira ideia que usualmente está relacionada ao conceito de território é aquela que se refere ao limite geográfico. Por exemplo, vamos pensar em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) que realizou uma ação de bloqueio por meio de vacinação em massa para proteger contra uma doença imunoprevenível em dois quarteirões de um determinado bairro que apresentou um grande quantitativo de novos casos da doença. Nesse caso, em um primeiro momento, podemos associar a ideia de território à de limite geográfico, ou seja, em relação a um espaço físico (ruas, quarteirões, bairros, municípios, regiões etc.), que demandou uma ação pontual de um ou mais serviços de saúde. No entanto, vamos supor que, no dia da realização da ação de vacinação em massa das pessoas residentes nos dois quarteirões desse bairro, 30% delas estivessem trabalhando fora de casa. Nesse caso, a ação de bloqueio seria efetiva? Esse questionamento decorre da necessidade de que, para viabilizar a ação de bloqueio com maior assertividade, faz- 7 se necessário que o serviço de saúde envolvido na ação, aqui a UBS, conheça a dinâmica de trabalho das pessoas que residem no local. Portanto, não é suficiente delimitar o território geográfico para ter sucesso na ação em saúde proposta; é necessário também que o sistema e os serviços de saúde compreendam outras características inerentes à forma de viver das pessoas desse território. Você consegue pensar quais seriam essas outras características? Vários estudiosos da área, fortemente influenciados por Milton Santos, importante geógrafo e crítico brasileiro, concebem o território como um elemento dinâmico e vivo, cujas transformações influenciam a forma como as pessoas vivem, trabalham, adoecem e morrem (SANTOS, 2004). Essa ideia com maior adensamento de compreensão é fundamental para subsidiar as práticas de planejamento em saúde. Caso a ideia de território esteja ancorada simplesmente como um espaço geográfico com fronteiras pré-estabelecidas, desconsiderando o contexto de vida das pessoas que nele vivem, as ações em saúde planejadas, possivelmente, pouco agregarão para melhorar a condição de saúde, qualidade de vida e bem-estar das pessoas (NASCIMENTO, 2017; ROCHA, 2012). Diante disso, nas práticas de planejamento em saúde pública, que envolvem desde a proposição de políticas e programas até a implementação de ações em nível local, faz-se obrigatório que os profissionais envolvidos nessas atividades compreendam quem são as pessoas contidas nos diferentes territórios. Para isso, são necessárias a aproximação e a imersão no território, buscando mapear: • Pessoas: as classes sociais a que elas pertencem e, consequentemente, nível de escolaridade, acesso aos serviços de saúde, cultura, lazer, trabalho e renda, moradia etc. • Estrutura societária e seus equipamentos sociais: a disponibilidade quantitativa e qualitativa de escolas; creches; serviços de saúde; 8 delegacias; postos policiais comunitários; feiras livres; comércios e serviços locais; centros de convivência; praças, parques e áreas de lazer; teatros; cinemas; centros comunitários; organizações não governamentais; igrejas; conselhos tutelar, de segurança e de saúde; entre outros. • Fluxos: em linhas gerais, referem-se ao acesso que as pessoas têm a essa estrutura e a esses equipamentos sociais presentes no território ou que demandam serem disponibilizados nele em decorrência da sua ausência. Essas ideias foram consagradas por Santos (2004) quando as denominou de fixos ao se referir à estrutura societária, aos seus equipamentos sociais e, além disso, aos fluxos, quando relacionados ao acesso e à mobilização das pessoas para acessar ou requerer os fixos. Para clarificar, vamos pensar em uma comunidade periférica que possui uma grande quantidade de adolescentes, inclusive com elevadas taxas de infecções sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência. Esse território dispõe de uma UBS, duas escolas de ensino fundamental e uma de ensino médio, ambas com capacidadeesgotada, sem áreas de lazer, parques, praças ou direcionadas para o convívio. Então, a UBS, em parceria com as escolas presentes no território, identificou que 50% desses adolescentes evadiram a escola e pertencem a famílias com rendimento de 1/2 salário mínimo per capita, que ocupam posições de trabalho de alta fragilidade para a manutenção da renda. O conselho gestor dessa UBS levou essa situação para a reunião mensal para debate junto com a comunidade, que foi sensibilizada sobre a necessidade de mobilização para buscar meios de reinserção desses jovens nas escolas, nos serviços de saúde e no mercado de trabalho, visando potencializar melhores condições de saúde e de vida para eles e seus descendentes. 9 Dessa forma, após discussões, chegaram à conclusão da necessidade de se articularem, com o objetivo de pressionarem o planejamento público local pela maior oferta de vagas e qualidade do ensino nas escolas, bem como de impactarem as famílias dos adolescentes por meio de articulação com uma organização não governamental presente no território que se colocou à disposição para auxiliar. Esse exemplo prático busca ilustrar que, para responder às necessidades em saúde das pessoas, é imprescindível compreender o que o território, entendido a partir das pessoas, dos equipamentos sociais e dos fluxos disponíveis, tem para oferecer para o encaminhamento dos problemas que são identificados. Portanto, ao considerar as atividades inerentes às práticas de planejamento local em saúde, o primeiro passo a ser dado se refere exatamente ao mapeamento ampliado do território, compreendido não apenas pela delimitação geográfica, mas como um espaço vivo, dinâmico e composto por pessoas que nele vivem. 1.2 Necessidades em Saúde e Vulnerabilidades A identificação das necessidades em saúde no âmbito local é um desafio para os profissionais atuantes nas atividades de planejamento, uma vez que, para propor ações que as atendam, faz-se pertinente compreendê- las de forma ampliada. Para exemplificar, vamos retomar a situação abordada no tópico anterior, em que foi ilustrada a ação de bloqueio de um agente etiológico, com vacinação em massa da população residente em dois quarteirões de um bairro. Nesse breve relato, a necessidade era de saúde pública, ou seja, diante do aumento expressivo do número de casos de uma determinada doença, rapidamente o planejamento de uma ação de prevenção foi delineado e executado, mas sem considerar, em um primeiro momento, as necessidades individuais, dos grupos familiares e/ou da coletividade que foi alvo da ação. Assim, 30% das pessoas residentes nesse território 10 não foram vacinadas, pois estavam em seus locais de trabalho e, portanto, ausentes no momento da ação de bloqueio. Diante disso, a necessidade de contenção da doença possivelmente não será atendida, tampouco a necessidade de imunização de cada indivíduo. Nesse sentido, a compreensão ampliada das necessidades em saúde das pessoas que serão alvo da ação de bloqueio é fundamental. As famílias demandarão ser revisitadas quando todos os membros estiverem em casa, mas ainda haverá aquelas que precisarão de maior esclarecimento sobre a ação, pois estarão resistentes para o recebimento da vacina. Além disso, haverá outras que estarão com o calendário vacinal atualizado e que, ao verem as equipes de saúde, lembrarão que necessitam de informação sobre a retirada de seus medicamentos na UBS, entre outras demandas. Esse caso ilustra que as necessidades em saúde da população são infinitas e têm um caráter concomitantemente individual e coletivo (BASINELLO, 2014). Elas são heterogêneas, o que significa que podem se diferenciar, em especial quando se considera o grupo social no qual os indivíduos e as famílias estão inseridos. Isso significa que, a depender da forma e das oportunidades que as pessoas têm para viver, os modos de adoecimento e morte se diferenciarão (BREILH, 2013). Existem determinados agravos à saúde que são mais prevalentes em determinados grupos sociais, como no caso da tuberculose, que acomete, em sua maioria, pessoas pertencentes a grupos de classes sociais desfavorecidas. Essas pessoas têm menor acesso a moradias com condições que oportunizem ventilação e uso de materiais menos úmidos e que possibilitem higienização adequada e frequente, com menos pessoas residindo no seu interior etc. Além disso, elas têm menor oportunidade à escolarização de qualidade, o que dificulta a compreensão acerca da necessidade da manutenção do tratamento contínuo e prolongado em detrimento do desaparecimento dos sintomas respiratórios. 11 Esse conjunto de elementos relacionados à forma de viver dessas pessoas ocupantes de posição social caracterizada pelo cerceamento do acesso aos equipamentos sociais condicionam a existência de vulnerabilidade social, que, por sua vez, determina a forma como as pessoas adoecerão e morrerão (BREILH, 2013). Assim, para planejar ações em saúde, é imprescindível reconhecer a existência de heterogêneas necessidades em saúde e as vulnerabilidades sociais dos indivíduos que precisam ser enfrentadas pelos diferentes setores societários, como saúde, educação, cultura, habitação, segurança, assistência social, previdência social, entre outras. As práticas de planejamento local em saúde devem avançar no contexto da gestão, devendo considerar não apenas a resposta à doença e/ou ao agravo, mas também as vulnerabilidades às quais as pessoas estão expostas. Nesse sentido, a identificação das necessidades em saúde, em conjunto com a observação da vulnerabilidade social, exige dos profissionais de saúde a compreensão do arcabouço conceitual que sustenta as práticas de planejamento local. Nesse processo, alguns elementos e características são pertinentes para o direcionamento das ações (BREILH, 2013): • Família: sua organização; número de filhos e agregados; presença de doenças, agravos e de comportamentos que impactam a condição de saúde e qualidade de vida; membros com algum tipo de deficiência, em privação de liberdade ou egresso do sistema prisional etc. • Trabalho e renda: inserção formal ou informal no mercado de trabalho; posição e ocupação no trabalho; horário; deslocamento; meio de transporte; presença ou não de insalubridade e de risco de doenças ocupacionais; necessidade ou não de complementação da renda etc. 12 • Escolaridade: refere-se ao nível, mas também aos anos de estudo e aos ganhos que ela trouxe para o desenvolvimento pessoal e profissional. • Moradia: local; materiais utilizados na sua construção; regularização ou não dela; presença de risco de desabamento e enchente; favorecimento ou não para ventilação; segurança e higienização; número de residentes por cômodo disponível etc. • Acesso aos serviços básicos: se possui água encanada; coleta de lixo e de recicláveis; saneamento básico etc. Por exemplo, duas pessoas têm o diagnóstico de Diabetes Mellitus (DM) e ambas retiram os medicamentos para controle da doença na farmácia da UBS. No entanto, a UBS não recebeu um novo lote para o abastecimento da farmácia, gerando falta de medicamentos para a população local. Diante dessa situação, uma das pessoas com DM, que possui trabalho e renda suficiente, adquiriu os medicamentos para o controle da doença em uma farmácia próxima a sua residência. No entanto, a outra pessoa, inserida em um contexto de trabalho fragilizado e com renda insuficiente, precisou aguardar restabelecer o estoque da farmácia da UBS para retomar o tratamento. Nesse exemplo, fica evidente como as características do contexto de vida referentes ao trabalho e à renda influenciam a continuidade ou não do tratamento da doença. Portanto, ao mesmo tempo que se identifica a necessidade de acesso de uma pessoa com DM aos medicamentos para o controle da doença, faz-se necessário compreender o contexto em que ela vive e como ela se relaciona nesse meio. Assim, fica claro que, a depender das características do contextode vida do paciente, o enfrentamento da doença e seu controle se darão de maneiras distintas. Portanto, são necessárias ações de planejamento local que transcendam o atendimento linear das necessidades relativas às patologias, direcionando-se também para os contextos de vida das 13 pessoas e, consequentemente, oportunizando agregar melhor condição de saúde, qualidade de vida e bem-estar ao indivíduo e às famílias. No exemplo apresentado, as ações de planejamento devem assegurar a manutenção do acesso aos medicamentos de uso dessas pessoas, agregando a compreensão de que sua falta impactará consideravelmente na qualidade de vida e no enfrentamento de suas condições de saúde. 1.3 Diagnóstico Local A resposta às necessidades em saúde requer dos profissionais atuantes em ações de planejamento local o desenvolvimento de competências que lhes permitam identificar necessidades e vulnerabilidades das pessoas adstritas a um território. O diagnóstico local consiste em um método analítico da realidade, ou seja, exige do profissional uma aproximação ao cotidiano do território e ao contexto de vida das pessoas que nele se encontram (BREILH, 2013). Para o conhecimento dessa realidade, faz-se necessário, inicialmente, compreender o perfil de adoecimento da população, com o levantamento das causas de adoecimento e dos óbitos que a acometem no território. Além disso, de maneira mais avançada, cabe ao gestor e ao profissional de saúde compreender também as características da população, identificando a existência de grupos sociais específicos vulneráveis, analisando aspectos inerentes ao território e visando compreender potencialidades e fragilidades que impactarão nas respostas às necessidades em saúde das pessoas. A proposta, portanto, é pautar as práticas de diagnóstico local na Epidemiologia Crítica, ou seja, analisando os padrões de adoecimento e morte em uma dada população, em um dado território e espaço temporal, como propõe a Epidemiologia Clássica, mas avançando ao propor a aplicação de um olhar crítico sobre os dados levantados e 14 considerar as formas de viver e coexistir das pessoas (BREILH, 2013). Vamos aprender na prática? Vamos supor que um profissional atuante em uma Secretaria Municipal de Saúde foi acionado para realizar um diagnóstico local de saúde de uma determinada região da cidade. Uma possibilidade de condução dessa atividade é identificar as causas de morte e adoecimento das pessoas que residem nessa região e propor ações que tentem minimizar essas causas. Essa forma de intervir, centrada na Epidemiologia Clássica, faz muito sentido quando aplicada em situações que envolvem a ocorrência de surtos por doenças infectocontagiosas, que requerem rápida contenção da transmissão da doença, por exemplo. Entretanto, em situações endêmicas e epidêmicas, tanto de doenças transmissíveis (ex. dengue, tuberculose, sarampo) como de não transmissíveis (ex. diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica), a compreensão aprofundada da realidade é fundamental para aumentar as chances de sucesso das ações propostas. Esses casos, por sua vez, requerem o uso da Epidemiologia Crítica. Esse uso na atividade de diagnóstico local agrega valor, pois, ao envolver a compreensão da realidade, exige a participação da população na sua concepção e execução, trazendo mais um elemento relevante nessa atividade, que se relaciona ao controle social (BREILH, 2013). Diante do apresentado até o momento, é fundamental compreendermos que o diagnóstico local é um método cuja finalidade é responder às necessidades em saúde e ao enfrentamento de vulnerabilidades por meio da análise crítica da realidade e da participação social, combinação esta que permite maior assertividade às ações que serão propostas e implementadas (SOUSA et al., 2017). Nesse sentido, o diagnóstico local, compreendido como método, é composto por etapas que consistem em (SOUSA et al., 2017): 15 • Reconhecer as potencialidades e fragilidades do território. • Identificar as necessidades em saúde. • Reconhecer a existência de grupos sociais específicos com maior vulnerabilidade. • Elencar as ações para resposta às necessidades em saúde identificadas e ao enfrentamento de vulnerabilidades. • Priorizar as ações propostas para a resposta às necessidades e vulnerabilidades. • Organizar as ações selecionadas para resposta às necessidades e ao enfrentamento de vulnerabilidades. Na etapa de reconhecimento das potencialidades e fragilidades do território, espera-se o mapeamento da dinâmica local, considerando os equipamentos sociais presentes e as famílias que nele coexistem, a fim de que, a partir da realidade, seja possível compreender elementos que favoreçam e desfavoreçam a resposta às necessidades e ao enfrentamento de vulnerabilidades. Por exemplo, foi identificado em um território a presença de famílias chefiadas por mulheres e um grande número de crianças, para as quais as mães têm enfrentado dificuldades para encontrar vagas nas creches existentes. Essa situação tem exposto as crianças a acidentes domésticos por ficarem longos períodos sozinhas em casa, além de agravos à saúde derivados da dificuldade dessas mães de proverem os cuidados pertinentes a seus filhos. Nessa situação, a ausência de vagas nas creches do território é um elemento de fragilidade que está impactando negativamente os cuidados com as crianças, o que requer ser alvo do diagnóstico local, uma vez que permite identificar as necessidades em saúde e segurança dessas crianças e suas vulnerabilidades no contexto em que vivem. Ou seja, a reduzida oferta de vagas nas creches faz com que 16 as necessidades em saúde dessas crianças e de suas famílias sejam identificadas, pois, ao ficarem longos períodos sozinhas, acabam sendo vítimas de acidentes domésticos, além de estarem mais predispostas a disfunções nutricionais por não terem um adulto que lhes prepare a refeição e supervisione a alimentação, por exemplo. A análise crítica da realidade permite elencar as ações para resposta às necessidades em saúde identificadas e ao enfrentamento de vulnerabilidades, por meio da proposta da ampliação das vagas nas creches presentes no território e da compreensão das posições e ocupações de trabalho dessas mães chefes de família, visando desenvolver ações para a qualificação profissional, a geração de postos de trabalho no próprio território, entre outras. Nesse sentido, um novo elemento emerge quando nos aprofundamos nas atividades de diagnóstico local: o discernimento de que a resposta às necessidades em saúde ocorre de forma intersetorial (ROCHA, 2012). O fortalecimento da intersetorialidade é essencial para garantir que as ações propostas, quando implementadas, sejam efetivas ao agregarem valor à condição de saúde das pessoas. No entanto, diante das ações inicialmente propostas para responder às necessidades identificadas, é preciso priorizá-las, considerando a disponibilidade de recursos (financeiros, humanos, materiais etc.) para a implementação das ações planejadas. Além disso, a urgência da implantação de cada uma dessas ações deve ser ponderada e validada com a comunidade, por meio de mecanismos de controle social participativos. Dessa forma, será possível organizar as ações selecionadas para a resposta às necessidades e ao enfrentamento de vulnerabilidades, provisionando os recursos necessários e estabelecendo parcerias com outros setores societários, como educação, segurança, habitação e assistência social, e mobilizando a comunidade, entre outras providências pertinentes para contribuir para a efetivação das ações eleitas para a implantação. A atividade de diagnóstico local exige 17 articulação com a realidade, por meio do mapeamento ampliado do território e das pessoas que nele vivem, bem como com os demais setores societários, com o fortalecimento da intersetorialidade. 2. Considerações Finais A resposta às necessidades em saúde da população é um desafiopara as atividades de planejamento local, pois exige compreensão ampliada do território e um olhar crítico sobre a realidade, compreendendo os contextos de vida dos indivíduos e das famílias, em especial de grupos sociais vulneráveis. O diagnóstico local se mostra potente para identificar necessidades e vulnerabilidades, bem como para propor, priorizar e organizar as ações, muitas de natureza intersetorial e com forte participação social, o que possibilita maior assertividade e efetividade das ações locais a serem implementadas, agregando valor às condições de saúde, qualidade de vida e bem-estar. Referências Bibliográficas BASINELLO, G. Saúde Coletiva. São Paulo: Pearson Educational do Brasil, 2014. BREILH, J. La determinación social de la salud como herramienta de transformación hacia una nueva salud pública (salud colectiva). Rev. Fac. Nac. Salud Pública, Medellín, v. 31, n. 1, p. 13-27, 2013. Disponível em: http://www.scielo.org.co/pdf/ rfnsp/v31s1/v31s1a02.pdf. Acesso em: 10 jul. 2020. NASCIMENTO, A. B. Sistemas, Políticas e Economia da Saúde. São Paulo: Senac, 2017. ROCHA, J. S. Y. Manual de Saúde Pública e de Saúde Coletiva no Brasil. São Paulo: Atheneu, 2012. SANTOS, M. Por uma geografia nova: da crítica geografia a uma geografia crítica. São Paulo: Edusp, 2004. SOUSA, I. V. et al. Diagnóstico participativo para identificação de problemas de saúde em comunidade em situação de vulnerabilidade social. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 12, p. 3945-3954, 2017. Disponível em: https://doi. org/10.1590/1413-812320172212.25012017. Acesso em: 10 jul. 2020. http://www.scielo.org.co/pdf/rfnsp/v31s1/v31s1a02.pdf http://www.scielo.org.co/pdf/rfnsp/v31s1/v31s1a02.pdf https://doi.org/10.1590/1413-812320172212.25012017 https://doi.org/10.1590/1413-812320172212.25012017 18 Planejamento estratégico, tático e operacional e programação local em saúde Autoria: Alexandra Bulgarelli do Nascimento Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato Objetivos • Conceituar o planejamento estratégico, tático e operacional. • Apresentar as ferramentas utilizadas para o planejamento em saúde. • Discorrer sobre os mecanismos de planejamento e programação local em saúde. 19 1. Introdução As atividades de planejamento estão contidas no processo administrativo dos serviços de saúde e são compostas pelas etapas de planejamento, direção, organização e controle, sobre as quais a gestão pública em saúde deve se apropriar. Essa atividade visa melhorar o atendimento às necessidades em saúde da população e deve ocorrer a partir das ações de planejamento estratégico, tático e operacional. Nesse contexto, os profissionais atuantes em atividades de planejamento utilizam ferramentas como a Matriz SWOT e o Planejamento Estratégico Situacional, ambas com a premissa de análise da realidade e com forte envolvimento da participação social. Nesta aula, vamos compreender a aplicação prática dos conceitos de planejamento estratégico, tático e operacional, além de duas ferramentas para subsidiar a elaboração do planejamento e da programação local em saúde, representadas pelo Plano Municipal de Saúde e pelos Relatórios Anuais de Gestão em Saúde. 1.1 Planejamento estratégico, tático e operacional O ato de planejar tem como objetivo antever que algo aconteça, permitindo a organização diante do que se prevê e contribuindo para que se obtenha maior sucesso nos desfechos que se apresentarão (BUSATO, 2017). Por exemplo, o gestor de um hospital público, administrado por uma Organização Social de Saúde (OSS), identificou a necessidade de manutenção do encanamento da área de lavanderia. Para proceder com a manutenção, ele precisará realizar o planejamento dessa atividade, verificando a disponibilidade de recursos e programando o momento em que será realizada, a fim de que cause o menor impacto operacional e seja feita de forma ágil. O objetivo, nesse exemplo, é agir o quanto antes diante da situação apresentada, 20 buscando restabelecer a execução dos serviços realizados na área da lavanderia do hospital. Esse exemplo ilustra uma situação de um serviço público de saúde. Mas, no caso da gestão de uma Secretaria Municipal ou Estadual de Saúde, como são executadas as ações de planejamento? Para auxiliar a compreensão, abordaremos outro exemplo: vamos supor que o assessor do secretário de saúde de um município esteja atuando no processo de planejamento para a compra de determinado medicamento amplamente utilizado pela população e dispensado por meio das farmácias das Unidades Básicas de Saúde (UBS). Diante dessa situação, como saber a quantidade a ser comprada? Além disso, qual será a frequência de compras e/ou entregas dos medicamentos, de forma que não falte nas farmácias das UBS? Qual a relação entre qualidade e custo que deverá ser estabelecida e de que maneira esse valor será pago? Nessa nova situação, vemos que o ato de planejar também se faz necessário, mas agora não está relacionado a um serviço específico de saúde, e sim a uma necessidade em saúde da população de um determinado município. Portanto, o planejamento em saúde está presente tanto em âmbito privado como público, bem como na dimensão dos serviços e dos sistemas de saúde. O planejamento é considerado uma etapa do “Processo Administrativo” de um serviço ou sistema de saúde, sendo composto também pelas etapas de organização, direção e controle. Todas essas ações devem ser executadas considerando as contínuas mudanças na realidade, no que se refere ao contexto político, econômico, social, tecnológico e cultural (BAPTISTA, 2017). Na etapa de planejamento, devem ser estabelecidos os objetivos da organização, seja pública ou privada, bem como os recursos e os meios 21 para o alcance desses objetivos. Já a etapa de organização se refere às atividades relacionadas à execução daquilo que foi planejado, o que exige a articulação dos recursos disponíveis (humanos, materiais, financeiros, intelectual etc.) e a necessidade de divisão e de processos de trabalho claros e coerentes, que se mostrem coesos e alinhados ao planejamento proposto. Por sua vez, a etapa de direção busca orientar as atividades a serem desenvolvidas pelas equipes de trabalho e se relaciona aos aspectos de liderança, motivação e comunicação. Por fim, a etapa de controle tem o objetivo de acompanhar as atividades desenvolvidas, a fim de que elas sejam executadas de forma assertiva e otimizada, visando mitigar o retrabalho e o desperdício de recursos. O processo administrativo demanda avaliação. Nesse sentido, as organizações têm se utilizado de sistemas e programas de avaliação da qualidade, bem como de indicadores de monitoramento. Por exemplo: como saber se as visitas domiciliárias sistemáticas, planejadas e implementadas agregam valor à condição de saúde das pessoas e contribui para a otimização da rede de atenção local à saúde? Nessa situação, a atividade previamente planejada, ou seja, as visitas domiciliárias requerem avaliação, visando analisar o quanto elas contribuíram ou não para a vida das pessoas e para o sistema de saúde. Uma possibilidade seria monitorar o número de internações hospitalares desse grupo de pacientes que recebem as visitas em comparação aos que não recebem e possuem perfil epidemiológico e social similares. Ou, ainda, aplicar um questionário a esses pacientes, no sentido de captar a percepção deles sobre os resultados que as visitas domiciliárias têm trazido para suas vidas. Portanto, o ato de planejar se configura como uma etapa do processo administrativo que tem como objetivo responder às necessidades em saúde da população, das coletividades, dos grupos sociais, das famílias e dos indivíduos. 22 As atividades de planejamento nasceram na área da Administração e eram inicialmente direcionadas à organização das ações, à distribuição das tarefas entre os trabalhadores e à determinação dos métodos a serem utilizados para atingir o que foi proposto previamente. A partirdo desenvolvimento dessa área, percebeu-se que as ações de planejamento estavam presentes nos diferentes níveis hierárquicos das organizações e que todos os profissionais se envolviam com elas. Então, a área da Saúde se apropriou dessa trajetória de amadurecimento das ações de planejamento e, inclusive, replicou a ideia de que essas ações, para serem vivenciadas no cotidiano das pessoas, precisam ocorrer em três níveis: estratégico, tático e operacional (BAPTISTA, 2017). O planejamento estratégico se relaciona à tomada de decisão central das organizações e, em linhas gerais, a quatro questionamentos que precisam ser feitos e respondidos para embasar suas práticas: 1. Quem somos? 2. O que fazemos? 3. Para quem fazemos? 4. O que pretendemos? Ao se pensar nesses quatro questionamentos no âmbito de uma Secretaria Municipal de Saúde, as suas respectivas respostas devem se comprometer com o atendimento às heterogêneas necessidades em saúde da população, considerando o território e a existência de vulnerabilidades sociais. Já o planejamento em nível tático envolve a gerência intermediária, como áreas específicas da Secretaria de Saúde e dos serviços que compõem a rede de atenção à saúde. Por sua vez, o planejamento em nível operacional se refere às equipes que atuam diretamente no cuidado com o usuário. 23 Portanto, o planejamento em nível estratégico, tático e operacional ocorre de forma interrelacionada e depende daquilo que foi planejado. Porém, é importante considerar que os níveis tático e operacional são permeados transversalmente pela tomada de decisão em nível estratégico, o que determinará as ações e a alocação de recursos necessários para a resposta às necessidades em saúde da população. 1.2 Ferramentas de Planejamento em Saúde Para subsidiar as práticas de planejamento em saúde, o uso de ferramentas é muito importante, pois elas potencializam o sucesso do processo de planejamento, bem como das ações a serem desenvolvidas (BUSATO, 2017). Essas ferramentas de planejamento tiveram a sua origem na área da Administração e rapidamente foram adotadas pelo setor da saúde, inicialmente na iniciativa privada. Entretanto, a profissionalização da gestão pública em saúde tem aproximado essas ferramentas do cotidiano das práticas de gestão nos diferentes cenários, seja de serviços ou do sistema de saúde. A gestão estratégica se apoia na análise de ambientes interno e externo, o que exige dos profissionais flexibilidade, adaptabilidade e atenção às necessidades dos usuários e às características do contexto (BAPTISTA, 2017). Em 2020, o mundo vivenciou uma pandemia ocasionada pelo vírus COVID-19, que exigiu dos sistemas de saúde de diferentes países rápida adaptação por meio da ampliação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), compra de equipamentos e medicamentos, contratação de profissionais e reorientação da organização dos serviços e do sistema de saúde. Estas, entre outras ações, visavam atender às necessidades do novo contexto, caracterizado pela rápida transmissibilidade do vírus e do complexo agravo que ele causou à saúde de milhares de pessoas, demandando dos gestores e de suas equipes comportamento flexível e resiliente. 24 Esse exemplo vivenciado no Brasil e em outros países do mundo demonstra a relevância da gestão estratégica e, consequentemente, das ações de planejamento que necessitam ser pensadas a partir da análise do ambiente interno, seja ele relativo ao âmbito do país, do estado, do município, da região, do território, ou mesmo do serviço de saúde. A análise do ambiente externo também se faz importante ao considerar a influência que a pandemia trouxe para o contexto socioeconômico das famílias e da sustentabilidade fiscal dos países, que, ao disporem de menor arrecadação de tributos paralelamente à urgência de investimento no setor de saúde, utilizaram os instrumentos de planejamento para alocarem adequadamente os recursos. Quando um município brasileiro começou a identificar o número exponencial de novos casos de COVID-19 em um espaço de tempo reduzido, o gestor local em saúde possivelmente realizou duas análises de ambiente: • Análise interna: taxa de transmissibilidade; número de leitos hospitalares de unidade de internação e de terapia intensiva disponível ou com potencial de disponibilidade; formatação da Rede de Atenção à Saúde; capacidade dos níveis de atenção para lidar com esse agravo e com a coexistência de outros, em especial doenças crônicas; e possibilidade de ações de contingenciamento. Essas ações de contingenciamento podem ser, por exemplo, por meio da orientação da população e da reorganização dos serviços da atenção primária e de urgência e emergência para atender, ao mesmo tempo, aos demais agravos à saúde da população, os quais coexistiram com a pandemia e estavam voltados ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes com doenças crônicas não transmissíveis e suas complicações, bem como os traumas em decorrência de diferentes causas. • Análise externa: forma como os outros municípios estavam respondendo ao mesmo problema; recomendações das autoridades sanitárias, como Organização Mundial da Saúde 25 (OMS), Ministério da Saúde e vigilância epidemiológica estadual; evidências científicas publicadas e/ou divulgadas por cientistas de renome, com a intenção de verificar a aplicação dessas ações na realidade do município. Além disso, faz-se importante conhecer a disponibilidade de recursos para o investimento local e as possibilidades de articulação política com outros municípios e com o Estado. Portanto, as ações de gestão estratégica exigem um movimento de análise contínua de ambiente interno (território ou do serviço de saúde) e externo, ao considerar a influência política, econômica, social, tecnológica e cultural sobre as ações que serão propostas e executadas (BAPTISTA, 2017). No sentido da análise proposta anteriormente, são aplicadas várias ferramentas de planejamento estratégico, tendo destaque na gestão pública em saúde a Matriz SWOT e o Planejamento Estratégico Situacional (PES) (BAPTISTA, 2017). 1.2.1. Matriz SWOT A Matriz SWOT vem das palavras em inglês Strenghts, Weaknesses, Oportunities e Threats, que no português significam, respectivamente, Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças. Ela parte da análise de ambientes interno e externo, visando verificar a capacidade de resposta da organização (BAPTISTA, 2017). Sugere-se uma organização gráfica da matriz SWOT em um diagrama representado por meio de um quadrante, que busca identificar os pontos positivos e negativos dos ambientes interno e externo. O ambiente interno é analisado a partir de fatores relacionados às forças e às fraquezas, referentes ao serviço ou sistema de saúde. Já o ambiente externo é analisado a partir de fatores relacionados às oportunidades e às ameaças. 26 Figura 1 – Diagrama da Matriz SWOT ou acrônimo FOFA (em português) Fonte: adaptada de Baptista (2017, p. 45). Por exemplo, vamos supor que a gestão local em saúde de um município tem enfrentado um elevado número de casos de gestação na adolescência. Para realizar o planejamento estratégico da necessidade de reduzir esse número, o primeiro passo é identificar as forças e as fraquezas do município para responder a essa necessidade. Assim: • Entre as forças: a disponibilidade de equipes de saúde qualificadas e a forte articulação intersetorial com as escolas e os centros de assistência social presentes no território. • Entre as fraquezas: a reduzida disponibilidade de recursos financeiros para implementar ações específicas para esse público pode se mostrar presente durante o processo de análise de ambiente interno. 27 • Entre os fatores externos: as ameaças podem se caracterizar pelos laços familiares fragilizados e/ou interrompidos e a necessidade de essas jovens reverem o seu papel social a partir da maternidade. • Entre as oportunidades: podem ser relacionadas à possibilidadede se agregar valor à condição de vida dessas jovens e de suas famílias a partir da adoção de práticas de empoderamento feminino, que envolvem investimento em escolarização, acesso ao mercado de trabalho e à renda, entre outras. Para aplicar a Análise SWOT, faz-se necessário, inicialmente, identificar os pontos fortes e fracos em ocasiões que envolvem gestores, trabalhadores e a comunidade, que de forma participativa devem colaborar com essa etapa. Em seguida, devem ser estabelecidas as prioridades a partir dos pontos fortes e fracos identificados, pois somente dessa forma se conseguirá direcionar as ações a serem executadas. Por fim, é necessário construir e validar a Matriz SWOT como produto da sua análise. Ela deve ser organizada a partir das prioridades propostas e do envolvimento e da participação social, com o objetivo de identificar nos quadrantes aquilo que deve ser fortalecido, monitorado, melhorado e eliminado por meio de ações organizadas e, consequentemente, planejadas. 1.2.2. Planejamento Estratégico Situacional O Planejamento Estratégico Situacional (PES) teve a sua origem na segunda metade do século XX, com Carlos Matus, economista que estabeleceu quatro momentos da atividade de planejamento, partindo sempre da análise de uma situação (BAPTISTA, 2017). Esses quatro momentos são denominados de: explicativo, normativo, estratégico e tático-operacional. 28 No momento explicativo, busca-se a explicação de um problema que demanda resolução a partir da análise da realidade. Para tanto, uma postura crítico-reflexiva dos profissionais envolvidos nessa atividade é fundamental, pois o objetivo é identificar as causas dos problemas, chamadas também de nós explicativos. Por exemplo, o gestor municipal de saúde tem enfrentado, nos últimos anos, dificuldade na fixação de médicos nas UBS, o que tem impactado no atendimento à população, em especial, aos grupos com maior vulnerabilidade, ocasionando insatisfação dos usuários e dos trabalhadores de saúde, que se sentem sobrecarregados. Diante desse problema, no momento explicativo, a premissa é buscar as causas da dificuldade de fixação desses profissionais médicos, questionando se há relação com baixa remuneração, deslocamento, escassez desses profissionais na região, condições de trabalho precárias, alto índice de violência no entorno das UBS, entre outras. A partir da análise dos nós explicativos, buscam-se ações planejadas para resolver a causa do problema identificado, favorecendo a fixação dos profissionais no território. No momento normativo, os nós explicativos já estão claros e são consenso entre os que constituem o grupo de planejamento estratégico. Nesse momento, inicia-se o delineamento das ações necessárias para a mudança. Tomando o exemplo anterior e considerando a existência de um único nó explicativo, como o elevado índice de violência no entorno da UBS, busca-se elencar as ações para a redução das situações de violência, como envolver o Conselho de Segurança Pública nesse debate e desenvolver ações com a UBS no sentido de aumentar a segurança dos profissionais. No momento estratégico, a análise pormenorizada da viabilidade das ações planejadas no momento normativo é realizada considerando aspectos políticos e a disponibilidade de recursos financeiros, humanos e de materiais. A partir do mesmo exemplo e entendendo que 29 ações bem delineadas devem ser propostas, a análise dos recursos necessários deve ser considerada, bem como outros aspectos, como os de natureza política e de governabilidade tanto dos serviços como do sistema de saúde local. Por fim, no momento tático-operacional, são utilizadas ações de implementação e de monitoramento da execução das ações planejadas, no sentido de verificar se foram ou não implementadas e em que medida isso ocorreu, além de analisar o resultado sobre a causa do problema. No exemplo abordado, uma possibilidade seria implementar as ações para o aumento da segurança e da redução da violência no entorno da UBS, em conjunto com o monitoramento dessas ações por meio de indicadores relacionados ao número de ocorrências relacionadas à segurança pública, bem como de abordagem de pessoas que vivem no território, a fim de verificar se houve ou não a redução do número de casos de violência contra a população. Assim, como pudemos ver, o PES tem como objetivo atuar sobre a causa-raiz dos problemas, o que exige dos profissionais atuantes na área de planejamento local competências que valorizem a construção coletiva para a compreensão da realidade (SOUZA et al., 2017), além de comunicação assertiva e focada em resultados. Diante do apresentado, fica evidente que as práticas de planejamento local em saúde devem estar pautadas em metodologias de sistematização, com o uso de ferramentas específicas, e têm como objetivo auxiliar na melhor condução do processo de planejamento, o que requer profissionais qualificados para a atuação nesse contexto. 1.3 Mecanismos de Planejamento e Programação Local em Saúde O planejamento local em saúde é decorrente do princípio organizativo da descentralização, que se caracteriza pelo posicionamento do 30 município como gestor em saúde, o que exige dele a adoção de mecanismos de planejamento e programação local em saúde (NASCIMENTO, 2017). Já em nível federal, ocorre formulação de diretrizes, estabelecimento de normativas, de políticas e programas; enquanto em nível estadual ocorre a articulação das ações e das Redes de Atenção à Saúde. Por fim, nos municípios, acontece a identificação das necessidades locais em saúde e a organização das ações para responder a elas. Por exemplo, em nível federal, foi promulgada a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2017), que, dentre outras ações, estabelece a Estratégia Saúde da Família (ESF) como mecanismo relevante para a reorientação do modelo assistencial brasileiro. Assim, em nível estadual, para que a ESF se materialize na realidade dos municípios, é realizada a reorganização da Rede de Atenção à Saúde, considerando aspectos de regionalização e de hierarquização dos níveis de atenção, de modo a contribuir para a melhor atuação da ESF. Logo, em nível municipal, tem- se a responsabilidade pela formação das equipes, pela organização do processo de trabalho e pelo monitoramento dos resultados. Para que a plena articulação entre os entes federativos (federal, estadual e municipal) seja visualizada em nível local, os municípios dispõem de dois mecanismos de planejamento: o Plano Municipal de Saúde e os Relatórios Anuais de Gestão em Saúde (BRASIL, 2009). O Plano Municipal de Saúde tem vigência quadrienal e, para a sua elaboração, faz-se necessária a análise da realidade local, buscando-se identificar as necessidades em saúde da população de forma ampliada e considerando, inclusive, a existência de grupos sociais vulneráveis (BRASIL, 2009; NASCIMENTO; EGRY, 2017). É preconizado que esse processo ocorra de forma a potencializar a participação social, a fim de que a construção do Plano Municipal de Saúde aconteça de forma colaborativa e próxima da população. Para tanto, as ferramentas de 31 planejamento estratégico, como a Matriz SWOT e o PES, podem e devem ser utilizadas ao longo do processo de elaboração. Assim, em linhas gerais, o Plano Municipal de Saúde descreve o perfil sócio demográfico, epidemiológico e de desenvolvimento social do município, bem como as características do território. Além disso, apresenta a proposição das ações planejadas a serem executadas durante os quatro anos subsequentes, considerando a disponibilidade e a alocação dos recursos pertinentes (BRASIL, 2009). Após a finalização do Plano Municipal de Saúde no âmbito da Secretaria de Saúde e construído coletivamente com forte participação social (SOUZA et al., 2017), ocorre a sua apresentação ao Conselho Municipal de Saúde, visando a sua apreciação e aprovação (BRASIL, 2009). Então, esse plano aprovado no Conselho Municipal de Saúdeé apreciado e votado pela sua execução ou não na Câmara de Vereadores, quando é avaliada a pertinência das ações propostas, bem como o cumprimento da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a qual estabelece o teto máximo de gastos, em nível local (BRASIL, 2009). A partir desse processo de construção e de validação em duas instâncias, uma técnica (Conselho Municipal de Saúde) e outra administrativa (Câmara de Vereadores), o Plano Municipal de Saúde está vigente e é disponibilizado publicamente no Sistema de Apoio à Construção do Relatório de Gestão (SARG-SUS). Como desdobramento em nível local, a Secretaria de Saúde também elabora o Relatório Anual de Gestão em Saúde, que visa apresentar os recursos alocados no município a partir do planejado no Plano Municipal de Saúde, bem como os valores monetários dispendidos. Esse processo de prestação de contas é chamado de Programação Local em Saúde e tem o objetivo de garantir a transparência no uso dos recursos do setor, considerando o planejado no Plano Municipal de Saúde e o executado, o que é evidenciado por meio do Relatório Anual de Gestão em Saúde e disponibilizado publicamente no SARG-SUS. 32 2. Considerações Finais O planejamento é uma etapa do processo administrativo e tem a finalidade de prever as ações propostas e executadas, com o compromisso de responder às necessidades em saúde da população e ao enfrentamento de vulnerabilidades. O uso de ferramentas que agreguem maior profissionalização às práticas de planejamento no setor público de saúde é fundamental, estando, entre elas, a Matriz SWOT e o Planejamento Estratégico Situacional, que têm potencialidade para captar e compreender a realidade, permitindo maior assertividade na proposição de ações que respondam às necessidades que emergem do território. No âmbito local, a elaboração do Plano Municipal de Saúdes se caracteriza como mecanismo utilizado para formalizar a identificação das necessidades e o planejamento, com a construção em conjunto com a comunidade, cujo acompanhamento se dá por meio dos Relatórios Anuais de Gestão em Saúde, os quais oferecem transparência a todo o processo de planejamento e de programação local em saúde. Referências Bibliográficas BAPTISTA, P. C. P. Governança Corporativa e Gestão Estratégica. São Paulo: Senac, 2017. BRASIL. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Reflexões aos novos gestores municipais de saúde. Brasília: Conasems, 2009. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/reflexoes_novos_gestores_municipais. pdf. Acesso em: 15 set. 2020. BRASIL. Portaria n. 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, [2017]. Disponível em: https:// bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html. Acesso em: 15 set. 2020. BUSATO, I. M. S. Planejamento Estratégico em Saúde. Curitiba: Intersaberes, 2017. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/reflexoes_novos_gestores_municipais.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/reflexoes_novos_gestores_municipais.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html 33 NASCIMENTO, A. B. Sistemas, Políticas e Economia da Saúde. São Paulo: Senac, 2017. NASCIMENTO, A. B.; EGRY, E. Y. Os planos municipais de saúde e as potencialidades de reconhecimento das necessidades em saúde: estudo de quatro municípios brasileiros. Saúde & Sociedade, São Paulo, v. 26, n. 4, p. 861-871, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902017170046. Acesso em: 15 set. 2020. SOUZA, I. V. et al. Diagnóstico participativo para identificação de problemas de saúde em comunidade em situação de vulnerabilidade social. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 12, p. 3945-3954, 2017. Disponível em: https://doi. org/10.1590/1413-812320172212.25012017. Acesso em: 15 set. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902017170046 https://doi.org/10.1590/1413-812320172212.25012017 https://doi.org/10.1590/1413-812320172212.25012017 34 Sistemas de Informação em Saúde Pública Autoria: Alexandra Bulgarelli do Nascimento Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato Objetivos • Conceituar dados e informações no contexto do planejamento em saúde. • Apresentar os sistemas de informação em saúde pública. • Discorrer sobre a aplicabilidade dos sistemas de informação em saúde pública na resposta às necessidades em saúde da população. 35 1. Introdução Para subsidiar as atividades de planejamento, faz-se necessário o uso de informações, as quais têm nos dados a sua matéria-prima. Assim, quanto melhor a qualidade da informação disponível, maior será a assertividade do processo de tomada de decisão no que se refere à proposição e à priorização das ações planejadas. Para tanto, o Sistema Único de Saúde (SUS) conta com o DATASUS, um departamento vinculado ao Ministério da Saúde que organiza e operacionaliza os sistemas de informações em saúde no território nacional. Entre os sistemas de informação geridos pelo DATASUS, podemos citar o SINASC, SIM, SINAN, SIH-SUS e e-SUS AB, todos eles fundamentais para embasar as ações de planejamento e programação local em saúde. Nesta aula, o objetivo é reconhecer a importância da gestão da informação e do conhecimento para as práticas de planejamento em saúde. Isso será possível por meio da aproximação com os diferentes sistemas de informação brasileiros disponíveis e da articulação da informação como subsídio para o atendimento às heterogêneas necessidades em saúde da população, em especial de grupos sociais vulneráveis. 1.1 Dados, Informação e Conhecimento Para que as ações de planejamento em saúde se deem de forma assertiva, faz-se necessário que os profissionais envolvidos nessas atividades disponham de informações (BAPTISTA, 2017). Vamos supor que o farmacêutico de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) precise planejar a quantidade de determinado medicamento para comprar no município. Para que essa atividade seja realizada, é imprescindível que ele tenha a informação da quantidade atual do medicamento na farmácia da UPA, pois, sem ela, a atividade de planejamento da quantidade a ser adquirida não será possível. 36 Mas, quando se pensa em informação, a que ela exatamente se refere? A informação é o produto do processamento de dados. Portanto, não é possível dispor de informações sem a presença dos dados que se caracterizam como a matéria-prima para a geração de informação (BELMIRO, 2015). Por exemplo, um município precisa organizar a campanha de vacinação contra a Poliomielite em crianças com até cinco anos completos. Para tanto, deve dispor de dados referentes à população nessa faixa etária coberta por essa vacina, os quais permitirão identificar a informação sobre a quantidade total de crianças com indicação para receberem a vacina. Para a extração dos dados em relação à quantidade de crianças, por exemplo, os governos federal, estadual e municipal dispõem de sistemas de informação de natureza intersetorial e neles os dados são registrados e processados, oportunizando que a informação seja extraída. Portanto, as atividades de planejamento possuem uma relação estreita com a utilização desses sistemas de informação, uma vez que dependem da disponibilidade de dados e informações para subsidiar as suas práticas, que, no exemplo, referem-se à quantidade de doses da vacina contra a Poliomielite que será distribuída nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) para a administração nas crianças do território. O desencadeamento desse processo de trabalho, que envolve atividades relacionadas ao manejo de dados e informações e ao planejamento, demanda a utilização de tecnologia informacional, a qual consiste na agregação de hardwares, softwares e redes de comunicação. Os hardwares se referem aos equipamentos, como os computadores e os seus processadores, que possibilitam o registro e o processamento dos dadospor meio de softwares, os quais, por sua vez consistem em programas computacionais com finalidades pré-estabelecidas. Já as redes de comunicação permitem a integração das informações extraídas e do trânsito delas em diferentes cenários e com diferentes fins. 37 Os primeiros computadores remontam à década de 1940, quando a utilização era restrita às áreas militar e científica. A ideia de automação dos processos de trabalho ocorreu na década de 1960, enquanto a inserção de redes locais para o trânsito das informações ocorreu na década de 1970. Mais tardiamente, entre 1990 e 2010, surgiu a internet e a comunicação em nuvem. (KOLBE-JÚNIOR, 2017). Essa trajetória demonstra o quanto as tecnologias informacionais evoluíram em um espaço temporal curto e nos faz refletir o quanto elas influenciaram a organização do trabalho, inclusive na área da Saúde. Isso porque, sem esse aparato tecnológico, o mapeamento do território, o acompanhamento do perfil epidemiológico e a implantação das atividades de vigilância em saúde ficariam prejudicados. Diante disso, estudiosos desse tema entendem que vivemos até o final dos anos 2000 a “Era da Informação”, caracterizada pelo forte investimento em estruturas para o registro e o processamento de dados, bem como para o compartilhamento de informações (BELMIRO, 2015; KOLBE-JÚNIOR, 2017). Após esse período, já se discute que estamos vivenciando a “Era do Conhecimento”, na qual não é suficiente apenas dispor de informações, mas também faz-se necessário utilizá-las de forma a subsidiar a construção do conhecimento a fim de influenciar significativamente a vida das pessoas e oportunizar o desenvolvimento social (BELMIRO, 2015; KOLBE-JÚNIOR, 2017; VIEIRA, 2016), A inovação tecnológica que sustenta a ideia da “Era do Conhecimento” reside no desenvolvimento e no amplo uso dos recursos de inteligência artificial, telessaúde, tecnologias vestíveis, entre outros, os quais ampliam o acesso democrático à saúde e fortalecem o empoderamento das pessoas sobre o seu próprio bem-estar, qualidade de vida e autonomia em relação ao autocuidado. Por exemplo, quando se pensa em telessaúde e tecnologias vestíveis temos à disposição as teleconsultas com profissionais especializados da área da Saúde, bem como os equipamentos que permitem monitorar remotamente os sinais 38 vitais de pacientes assistidos em ambiente domiciliar. Os dados gerados por essas interfaces produzem informações que são disponibilizadas para profissionais locados a quilômetros de distância para que sirvam como subsídio à tomada de decisão clínica, o que envolve também a alocação adequada de recursos em saúde diante das necessidades identificadas. Da mesma forma, a inteligência artificial é um recurso informacional presente no cotidiano dos sistemas e serviços de saúde. Em uma Central de Regulação de Leitos do setor público de saúde, essa tecnologia aponta os hospitais que possuem disponibilidade para recepcionar um paciente e considera alguns parâmetros, como a existência de leito de internação e/ou de terapia intensiva e de determinadas especialidades médicas (neurologia, cardiologia, obstetrícia etc.) e a complexidade clínica do paciente (alta ou média complexidade). Isso significa que se desenvolve um processo colaborativo entre o profissional, que avalia tecnicamente as necessidades em saúde do paciente, e o sistema informacional, que, ao receber esses dados, processa-os e os disponibiliza como informação que gera conhecimento e, em última análise, oportuniza a tomada de decisão inteligente, que se traduz em melhor cuidado ao paciente e alocação sustentável dos recursos em saúde. Quadro 1 – Características dos dados, informação e conhecimento, segundo a estrutura, a organização e os resultados Características Dados Informação Conhecimento Estrutura Fácil estruturação com o auxílio de banco de dados. Requer estruturação por meio de processamento e investimento em recursos analíticos. Difícil estruturação, pois requer o uso de outras tecnologias informacionais, como inteligência artificial. 39 Organização Fácil organização com o auxílio de softwares específicos. Exige consenso em relação ao significado das informações extraídas. Exige comportamento analítico dos profissionais envolvidos. Resultado Possibilita a quantificação automática com o auxílio de softwares. Exige necessariamente a intervenção humana para a sua análise. Difícil transferência, o que requer desenvolvimento de metodologias para a disseminação do conhecimento. Fonte: adaptado de Belmiro (2015, p. 11). No entanto, ao se considerar a tríade “dados, informação e conhecimento” como necessária para embasar as práticas de planejamento em saúde, é fundamental considerar a qualidade informacional gerada (BAPTISTA, 2017). Essa qualidade da informação está diretamente relacionada à qualidade dos dados registrados, que devem estar presentes e completos nos sistemas de informação. Por exemplo, se um município deseja dimensionar a quantidade de determinado antibiótico para assistir as pessoas atendidas nos serviços de pronto atendimento, é preciso que os dados relacionados às prescrições médicas do antibiótico estejam inseridos em um sistema de informação. Nesse caso, se a prescrição é realizada manualmente em formulário físico e ela está ilegível ou incompleta, ocorrerá uma fragilidade no momento da inserção desse dado no sistema de informação, ocasionando a perda desse registro e impactando a informação que será gerada. Da mesma forma, se uma Unidade Básica de Saúde (UBS) não realiza o registro da notificação de eventos pós- 40 vacinais de um determinado imunobiológico, não será possível embasar com assertividade as ações de vigilância no território. Um primeiro elemento que garante a qualidade da informação está diretamente relacionado à existência e à qualidade dos registros dos dados disponíveis nos sistemas de informação, mas outros dois elementos são fundamentais. Um deles se refere à adoção de técnicas que possibilitem a extração coerente de informações, ou seja, aquelas que de fato influenciarão no cotidiano das pessoas e na resposta às necessidades em saúde das pessoas compreendidas em territórios específicos. Para tanto, a capacitação profissional para atuar nessa atividade é essencial, bem como a disponibilidade de sistemas de informação que permitam o manejo desejado dos dados. O outro elemento ao qual se deve atentar para assegurar a qualidade da informação se refere ao uso de plataformas de gestão do conhecimento. Elas exigem forte articulação com instrumentos de Big Data, Business Intelligence, Inteligência Artificial, entre outros, além de profissionais altamente qualificados para a extração do conhecimento necessário para embasar a tomada de decisão. Por exemplo, no processo de elaboração do Plano Municipal de Saúde, há um momento de descrição do perfil epidemiológico, buscando identificar em diferentes territórios que compõem o município o padrão de morbimortalidade, conjugando-o à forma de viver das pessoas, com o objetivo de planejar ações mais direcionadas às heterogêneas necessidades em saúde da população e de grupos sociais específicos. Essa atividade exige o manejo de sistemas de informações com grandes quantidades de dados populacionais (Big Data), que podem ser analisados em conjunto com diferentes variáveis, como o perfil de morbimortalidade e renda familiar (Business Intelligence), inclusive com o uso de Inteligência Artificial, que pode atuar melhorando a assertividade das ações propostas e sugerindo a priorização delas, conforme 41 parâmetros pré-estabelecidos e inseridos no sistema de gestão do conhecimento. Portanto, para a execução de atividades de planejamento em saúde, o uso de informações é fundamental para embasar a tomada de decisão, o que requer dados de qualidade e sistemas de informação integrados aos aspectos da gestão do conhecimento,exigindo, em última análise, profissionais qualificados para atuarem nesse contexto. 1.2 Sistemas de Informação em Saúde Pública O SUS dispõe do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), que foi criado em 1991 por meio do Decreto n. 100 (BRASIL, 1991). Nesse decreto, foi colocado como objetivo do DATASUS sustentar as ações de planejamento, operação e controle, e, para tanto, enumerou as suas competências: I. fomentar, regulamentar e avaliar as ações de informatização do SUS, direcionadas para a manutenção e desenvolvimento do sistema de informações em saúde e dos sistemas internos de gestão do Ministério; II. desenvolver, pesquisar e incorporar tecnologias de informática que possibilitem a implementação de sistemas e a disseminação de informações necessárias às ações de saúde; III. definir padrões, diretrizes, normas e procedimentos para transferência de informações e contratação de bens e serviços de informática no âmbito dos órgãos e entidades do Ministério; IV. definir padrões para a captação e transferência de informações em saúde, visando à integração operacional das bases de dados e dos sistemas desenvolvidos e implantados no âmbito do SUS; V. manter o acervo das bases de dados necessárias ao sistema de informações em saúde e aos sistemas internos de gestão institucional; 42 VI. assegurar aos gestores do SUS e órgãos congêneres o acesso aos serviços de informática e bases de dados, mantidos pelo Ministério; VII. definir programas de cooperação técnica com entidades de pesquisa e ensino para prospecção e transferência de tecnologia e metodologias de informação e informática em saúde; VIII. apoiar Estados, Municípios e o Distrito Federal, na informatização das atividades do SUS; e IX. coordenar a implementação do sistema nacional de informação em saúde, nos termos da legislação vigente. (BRASIL, [s.d.]) O processo de criação do DATASUS ocorreu por meio da transição das informações de saúde, até então sob tutela da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (DATAPREV), o que inclusive acarretou o aproveitamento desse pessoal para estruturá-lo e operacionalizá- lo (BRASIL, 2009). No entanto, apesar dos esforços do DATAPREV para organizar as informações em saúde em âmbito nacional, foi somente com o DATASUS que o acesso à informação e aos seus instrumentos ocorreu de forma democratizada. O DATASUS organiza os sistemas de informação adotados pelo SUS, como o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC); o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN); o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH-SUS); e o e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB), que estão descritos a seguir. Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) Consolida as informações sobre nascidos vivos, cuja fonte de dados é o registro civil, o qual foi estimulado a partir da década de 1980, por meio, inclusive, da isenção de taxas cartorárias para proceder com a inserção dos dados pessoais. Essa medida reduziu a subnotificação de 43 nascidos vivos no Brasil, que remonta ao início do século XX e que estava atrelada, em linhas gerais, aos registros realizados em hospitais cujo cenário assistencial não era o principal, uma vez que a grande maioria das parturientes realizava seu trabalho em domicílio. Portanto, o SINASC tem a sua origem a partir do momento em que o registro em cartório dos nascidos vivos se torna uma obrigatoriedade, com a emissão da Declaração de Nascido Vivo (DN), que oportunizou a disponibilidade de informação com maior grau de fidedignidade para subsidiar as atividades de planejamento em saúde e de outros setores societários. Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) Tem como fonte a Declaração de Óbito (DO), da qual são extraídos os dados do falecido, a data e as causas, primária e secundária, do óbito. Esses dados permitem delinear o perfil de morbimortalidade da população, considerando o território de origem, a presença de outras variáveis interferentes, entre outros aspectos que podem contribuir para as ações de planejamento local em saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) É um sistema de informação que recepciona e organiza os dados provenientes da investigação de casos de doenças e agravos de notificação compulsória (BRASIL, 2017). Seu objetivo consiste em acompanhar a evolução de novos casos em território brasileiro, potencializando as ações de vigilância em saúde e, consequentemente, de planejamento como resposta às necessidades em saúde mapeadas. A atividade de notificação compulsória se refere ao registro obrigatório pelos serviços de saúde de situações que envolvam a ocorrência de doenças e agravos presentes na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública (BRASIL, 2020). Essa lista consiste em uma diretriz do Ministério da Saúde, mas em nada impede que estados e municípios incluam agravos e doenças específicos da localidade, passíveis de notificação, reiterando que 44 as práticas de planejamento em saúde devem ser descentralizadas e têm o território como elemento direcionador das ações a serem implementadas (BRASIL, 2009). Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH-SUS) Destina-se a registrar e controlar os pagamentos referentes às internações hospitalares, que têm o Sistema de Gerenciamento de Materiais, Medicamentos, Órteses e Próteses (SIGTAP) do SUS como balizador da remuneração de serviços de média e alta complexidade. O SIGTAP também é conhecido, popularmente, como “Tabela SUS” e organiza os códigos e as descrições dos procedimentos pagos pelo SUS aos prestadores públicos e privados de natureza complementar, bem como os valores monetários, a complexidade do procedimento, entre outros. e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) Tem como precursor o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), implantado em 1998 como desdobramento da reorganização do modelo assistencial no SUS, por meio do forte investimento na Estratégia Saúde da Família (ESF), que exigiu o investimento em um sistema de informação que armazenasse e processasse as informações do território. A proposta do e-SUS AB é avançar no sentido de integrar a trajetória de cuidados das pessoas em um único registro do Cartão Nacional de Saúde (CNS), também conhecido como Cartão SUS, a fim de haver a articulação e a integração dos cuidados e do uso de recursos em saúde nos diferentes equipamentos de saúde utilizados pelos usuários (BRASIL, 2013). Diante do apresentado, fica evidente o grande investimento em sistemas de informação realizado e organizado pelo DATASUS, com o objetivo de permitir o acesso aos dados produzidos nos diferentes cenários de cuidados em saúde. Esses sistemas têm o objetivo de subsidiar as 45 práticas de gestão nos três níveis de governança: federal, estadual e municipal, entre as quais estão aquelas direcionadas ao planejamento e à programação local em saúde. Isso significa que não é possível realizar as atividades de planejamento em saúde sem a disponibilização de dados e informações de qualidade, o que requer sistemas de informação robustos e profissionais qualificados para o seu manejo. Além disso, é fundamental reconhecer quanto conhecimento é gerado a partir das atividades de manejo de informações em saúde, uma vez que, com a gestão desse conhecimento agregado, contribui-se para a melhoria da assistência ao usuário, compreendido individualmente, no seu núcleo familiar, no seu grupo social e na coletividade. 2. Considerações Finais As práticas de planejamento em saúde requerem a disponibilidade de informação de qualidade, a fim de subsidiar a compreensão da realidade local e, consequentemente, a proposição de ações que respondam às necessidades em saúde da população. Para tanto, o investimento em sistemas de informação consistentes e na qualificação profissional para o manejo e processamento de dados é essencial para se disporde informação de qualidade, permitindo, inclusive, a geração de conhecimento e a assertividade na tomada de decisão em relação à proposição e à priorização das ações. Nesse sentido, o DATASUS, como departamento vinculado ao Ministério da Saúde, busca organizar e integrar os sistemas de informação que suportam as práticas de gestão do SUS, o que demonstra a sua relevância em relação ao trânsito de informações populacionais. 46 Referências Bibliográficas BAPTISTA, P. C. P. Governança Corporativa e Gestão Estratégica. São Paulo: Senac, 2017. BELMIRO, J. N. (org.). Tecnologia da informação gerencial. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. BRASIL. A experiência brasileira em sistemas de informação em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/experiencia_brasileira_sistemas_saude_volume2.pdf. Acesso em: 15 set. 2020. BRASIL. DATASUS: Departamento de Informática do SUS. [s.d.]. Disponível em: https://datasus.saude.gov.br/sobre-o-datasus/. Acesso em: 15 set. 2020. BRASIL. Decreto n. 100, de 16 de abril de 1991. Institui a Fundação Nacional de Saúde e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, [1991]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0100.htm. Acesso em: 15 set. 2020. BRASIL. Portaria de Consolidação n. 4, de 28 de setembro de 2017. Consolidação das normas sobre os sistemas e os subsistemas do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, [2017]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ saudelegis/gm/2017/prc0004_03_10_2017.html. Acesso em: 15 set. 2020. BRASIL. Portaria n. 1.061, de 18 de maio de 2020. Revoga a Portaria nº 264, de 17 de fevereiro de 2020, e altera a Portaria de Consolidação nº 4/GM/MS [...]. Brasília: Ministério da Saúde, [2020]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ saudelegis/gm/2020/prt1061_29_05_2020.html. Acesso em: 15 set. 2020. BRASIL. Portaria n. 1.412, de 10 de julho de 2013. Institui o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB). Brasília: Ministério da Saúde, [2013]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/ prt1412_10_07_2013.html. Acesso em: 15 set. 2020. KOLBE-JÚNIOR, A. Sistemas de segurança da informação na era do conhecimento. Curitiba: Intersaberes, 2017. VIEIRA, R. M. Gestão do conhecimento: introdução e áreas afins. Rio de Janeiro: Interciências, 2016. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/experiencia_brasileira_sistemas_saude_volume2.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/experiencia_brasileira_sistemas_saude_volume2.pdf https://datasus.saude.gov.br/sobre-o-datasus/ https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0100.htm http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0004_03_10_2017.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0004_03_10_2017.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2020/prt1061_29_05_2020.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2020/prt1061_29_05_2020.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1412_10_07_2013.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1412_10_07_2013.html 47 Sistemas de avaliação de serviços de saúde pública Autoria: Alexandra Bulgarelli do Nascimento Leitura crítica: Fabiane Gorni Borsato Objetivos • Conhecer os sistemas de avaliação de serviços de saúde. • Apresentar o Programa Nacional de Avaliação dos Serviços de Saúde (PNASS) e o Sistema de Avaliação da Atenção Primária à Saúde. • Discorrer sobre a articulação entre as atividades de planejamento e a programação local em saúde e os sistemas de avaliação de serviços de saúde. 48 1. Introdução O processo de avaliação é uma etapa fundamental durante as atividades de planejamento, uma vez que ele permite identificar a necessidade de redirecionamento ou não daquilo que foi previamente idealizado. O Sistema Único de Saúde (SUS) estabelece vários sistemas de avaliação da prestação de serviços à população, entre eles há dois que são amplos e estão direcionados a serviços de atenção à saúde primária e especializada. Nesta aula, conheceremos a composição desses dois sistemas de avaliação aliados às atividades de planejamento em saúde, visando problematizar o quanto eles têm de potência para captar os aspectos que demandam redirecionamento das ações planejadas. 1.1 Avaliação de Serviços de Saúde O SUS é operacionalizado em três níveis de governança, sendo eles federal, estadual e municipal, cada qual correspondendo a um ente federativo. Essa organização, de caráter descentralizado, possui o objetivo de organizar e implementar ações de promoção, prevenção, recuperação, reabilitação e cuidados paliativos a partir da identificação das necessidades em saúde da população e dos territórios (NASCIMENTO, 2017). O Decreto n. 7.508/2011 (BRASIL, 2011) estabeleceu, entre seus vários aspectos, as atribuições de cada um dos três entes federativos, entre as quais estão inclusas as atividades de planejamento, controle e avaliação dos serviços de saúde, com o objetivo de oferecer uma prestação de serviços que contribua para a melhoria da condição de saúde, para a qualidade de vida e para o bem-estar da população (BRASIL, 2013). Diante dessa premissa, o Brasil dispõe de alguns sistemas de avaliação de serviços de saúde, a depender da natureza da prestação de serviços 49 e do nível de atenção à saúde. Entre esses sistemas de avaliação, dois deles são os principais: o Programa Nacional de Avaliação dos Serviços de Saúde (PNASS) e o Sistema de Avaliação da Atenção Primária à Saúde. A Portaria n. 28/2015 (BRASIL, 2015c) foi publicada a partir da proposta de reformulação do PNASS, que derivou da Política Nacional de Regulação, Portaria n. 1.559 de 2008 (BRASIL, 2008). De suas responsabilidades, foi determinado que cabe à Regulação da Atenção à Saúde monitorar o desempenho dos serviços, a gestão e a satisfação dos usuários (BRASIL, 2008; 2015b; 2015c). Assim, o eixo de avaliação foi colocado como elemento essencial no processo de planejamento, uma vez que permite monitorar e identificar fragilidades processuais, ocasionando a reorientação das ações planejadas ou em vias de implantação (BRASIL, 2015b; 2015c). O Sistema de Avaliação da Atenção Primária à Saúde foi recentemente implantado, visando substituir o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), que esteve vigente de 2011 a 2019. Para a reorientação das ações de gestão e de atenção à saúde, pensando nos sistemas de avaliação, é importante a integração delas com os sistemas de informação que permitam a articulação das informações de forma a indicarem o melhor direcionamento a ser tomado diante das heterogêneas necessidades em saúde existentes nos diversos territórios que compõem o País (BRASIL, 2015a). 1.2 Programa Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde (PNASS) O PNASS tem o objetivo de avaliar o desempenho de serviços de atenção especializada que envolvam ambulatórios e hospitais em relação às dimensões de estrutura, ao processo, ao resultado, à produção do cuidado, à gestão de risco e à satisfação dos usuários (BRASIL, 2015b; 2015c). Seu processo avaliativo ocorre com o auxílio do Sistema de 50 Informação do Programa Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde (SIPNASS), que integra as informações de avaliação dos serviços de saúde especializados a partir dos três instrumentos que compõem o PNASS: roteiro de verificação, questionário aos usuários e indicadores. Roteiro de Itens de Verificação Consiste em um instrumento aplicado pelos gestores dos serviços de saúde. É composto por cinco blocos e seus respectivos critérios avaliativos e cada um possui seis itens de verificação com desfecho binário, ou seja, opção de resposta “sim” ou “não”. Figura 1 – Instrumento “Roteiro de Itens de Verificação” do PNASS Fonte: adaptada de Brasil (2015b, p. 11). 51 A aplicação da totalidade ou não desse instrumento depende da natureza da prestação
Compartilhar