Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fundamentos Históricos e Introdução ao Estudo do Direito UNIDADE 1 - Antiguidade e Direito Não-Europeu Introdução O presente texto trata das noções sobre o Direito Hebraico, Hindu, Chinês e Japonês. Todos esses sistemas jurídicos possuem características únicas e se desenvolveram conjuntamente a suas sociedades. No entanto, é possível ressaltar importantes semelhanças entre eles. Primeiro ressalta-se que todos foram fortemente marcados por expressões teológicas. Conforme veremos, isso significa dizer que a religião, embora diferentes, possuía papel elementar dentro do ordenamento jurídico. Além disso, em todos os sistemas jurídicos citados havia uma forte aproximação entre a moral e a política. A presença da religião, aproximava a moral do cotidiano das pessoas, havia um rigor maior entre o certo e errado, justo e injusto, fundamentado nos dogmas religiosos que definiam as normas sociais, políticas e jurídicas. Essas duas características possibilitaram a criação de sistemas jurídicos dogmáticos, os quais estabelecem preceitos normativos que são seguidos da mesma maneira que os dogmas religiosos. Vamos estudar sobre o direito hebraico, hindu, chinês e o japonês? O Direito Hebraico, Hindu, Chinês e o Japonês são expressões do Direito na Antiguidade Oriental. Nos quatro casos, houve um esforço para a organização de um sistema jurídico robusto que fosse capaz de lidar com as dinâmicas de suas sociedades. Embora distintos, todos esses sistemas jurídicos apresentam algumas peculiaridades, como o centralismo da religião nas disposições políticas e jurídicas. Em razão disso, há uma proximidade da ética e moral religiosa com os outros ramos sociais. No entanto, cada sistema possui sua particularidade, as quais veremos a seguir. O Direito Hebraico é definido como: "o conjunto de regras e preceitos religiosos que se alicerça no dogma monoteísta arvorado pelos antigos israelitas, povo de origem semita que outrora habitou a terra bíblica de Canaã" (PALMA, 2022, p.154). Trata-se, portanto, de um Direito tido pelos hebreus como de inspiração divina, situado no campo dos Direitos sagrados. A principal fonte do Direito Hebraico é o Antigo Testamento (Tanak), composto pelo Pentateuco (Torah), pelos livros dos profetas (Neebin) e pelos demais escritos (Ketubin). No Direito Hindu, a religião hinduísta possuía valor fundamental, sendo formas dissociáveis o direito e a religião. Ademais, na Índia reinava um sistema de castas sociais, o qual também era refletido no Direito, de modo que havia um conjunto de regras específicas a serem seguidas, conforme a condição social. Esse conjunto de regras que regulava a virtude é chamado de dharma. O dharma é encontrado nos vedas e nos livros que sistematizaram regras jurídicas e costumes, sendo que o mais importante era o Código de Manu. Por outro lado, o Direito Chinês é constituído, a partir de dois conceitos principais: “li” (礼) e “fa” (法). O “li” é um conceito abstrato, oriundo da filosofia confuciana, e pode ser traduzido tanto por “ritual” quanto por “costumes”, “moral” ou “regras de bom comportamento”. Nessa perspectiva, haveria maior valor na educação que na punição, de modo que o “li” seria condutor para a boa convivência. Já o “fa” expressa “pena”, “regra” ou “modelo punitivo”. A disputa entre as concepções do “li” e do “fa” representa a disputa entre um modelo de justiça mais valorativo e um mais legalista. Enquanto o “li” era uma decorrência da tradição, o “fa” era fruto da imposição estatal. A disputa entre essas visões terminou com a prevalência do “li”, dada a forte influência das ideias de Confúcio sobre a sociedade chinesa. https://www.conib.org.br/glossario/tora/ O Direito Japonês, por sua vez, foi fortemente influenciado pelo confucionismo e pelo Direito Chinês. No entanto, duas obras antigas da literatura japonesa, o Koiji (680 a.C.) e o Nihonshoki (720 a.C.), que tratam da história da nação, apesar de recheadas de elementos lendários e mitológicos, contém informações que revelam a presença de um sistema jurídico próprio do Japão. Desses livros, percebeu-se a presença de um código de ética para altos funcionários do Império que contém normas de caráter penal e também de uma moderna legislação administrativa. As peculiaridades do direito hebraico, hindu, chinês e o japonês O Direito da Antiguidade oriental apresenta como característica fundamental a presença da teologia em suas elaborações. No Direito Hindu, ressalta-se a presença do hinduísmo e dos seus dogmas, como que praticamente indissociáveis. No Direito Hebraico, os mandamentos dos Torá inspiravam os códigos juristas e eram seguidos, por terem força de lei. No Direito Chinês e Japonês também se percebe a forte presença do confucionismo que teve papel mais relevante no extremo oriente. Dessa forma, os códigos criados eram expressões dos dogmas religiosos da época. Nesse sentido afirma Palma (2019, p.132, grifo nosso) Os indianos, como outros tantos povos, valeram-se de lendas, da tradição e cosmogonia para explicar as origens de suas leis. Assim, o personagem Manu não é propriamente um legislador, a quem devamos aferir alguma historicidade, mas uma espécie de ser mitológico. O direito, desse modo, assume ares sagrados, sendo os brâmanes, a casta composta por sacerdotes, os intermediários diretos dessa revelação. Também no Direito Hebraico percebe-se tamanha aproximação da religião e do direito, quando o que seria a codificação mais importante são os “Dez Mandamentos”, traduzidas enquanto leis para a sociedade e alcançaram a aceitação geral das comunidades judaica e cristã. Nesse sentido, demonstra Palma (2019, p.150): "assim, os textos sagrados ora fazem referência direta a Deus, como o autor da Lei Maior, ora a Moisés, como espécie de guia que comunica ao povo o caminho a seguir”. Sob todos os ângulos possíveis, Direito e sagrado se fundem como um todo. Por outro lado, o Direito Chinês, apesar de fortemente influenciado pelo confucionismo, adotava uma concepção do direito sem caráter divino. Isso não significa dizer que não havia influências teológicas em seu sistema jurídico, mas que não acontecia como no caso do Direito Hindu ou Hebraico em que a religião e o direito eram indissociáives. É o que explica Palma (2019, p. 209) A explicação pode ser encontrada nas palavras de Losano: “Na China, o direito tinha uma posição subsidiária em relação à ética confuciana, que via nas leis um sinal de corrupção moral, porque elas obrigavam o homem a comportamentos que este deveria ter por convicção interna. Por volta do século III a.C. a Escola confuciana se contrapôs a dos legistas, assim chamados por considerarem que nas leis claras e nas punições severas estava o fundamento de uma ordenada continuidade do império. Depois da alternância no predomínio de uma escola e de outra, o direito chinês inspirou-se numa posição conciliatória, destinada a perdurar até a introdução do direito ocidental no século XIX” Nesse sentido, o Direito Japonês, também influenciado por Confúcio, não possuía um direito vinculado ao divino diretamente. Porém, era perceptível em seus códigos a presença do “tom conciliatório”, marca do confucionismo. Somente na Era Meiji, com a modernização do país e as aproximações com o Ocidente, o Japão passou a um processo de codificação do Direito, pautado no sistema romano-germânico. Vamos conhecer o direito hebraico, hindu, chinês e o japonês na prática Conforme vimos até aqui, os sistemas jurídicos estudados da Antiguidade oriental apresentam entre si uma grande característica que é uma forte influência no campo teológico. No entanto, resta saber como tal influência e tais ordenamentos disciplinavam as matérias jurídicas. Em outras palavras, como era o Direito Civil Hindu? Chinês? E o Direito Penal Japonês? Passemos agora, portanto, a analisar esses aspectos de cada sistemajurídico. O Direito Hebreu desenvolveu diversas leis de cunho civilista, tendo em vista a importância dos contratos e negócios jurídicos entre particulares na época. Havia inclusive a previsão de garantia real como o penhor. Ademais, também havia previsão de que certos bens seriam impenhoráveis, desde que vinculados à sobrevivência individual, especialmente os utilizados na agricultura. Não tomarás em penhor ambas as mós, nem mesmo a mó de cima, pois se penhoraria assim a vida (Dt 24:6). Se emprestares alguma coisa a teu próximo não invadirás a casa para te garantires com algum penhor. Ficarás do lado de fora, e o homem, a quem emprestaste, te trará fora o penhor (Dt 24:10-11). Por outro lado, o Código Manu, pelo Direito Hindu, previa um senso de administração de justiça, com a presença da “A Corte de Justiça”, uma instância superior, onde cabia ao rei julgar. Agora, no que se refere ao Direito Penal Hebreu ressalta-se a individualidade da pena: O maior desenvolvimento do Direito Penal israelita, no entanto, repousava no princípio da individualidade da pena, o que sem dúvida significava uma vantagem para a época na qual o presente conjunto de leis encontrava-se inserido: “Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos, nem os filhos pela culpa dos pais. Cada qual morrerá pelo seu pecado (Dt 24:16)." (PALMA, 2019, p.169) No âmbito penal, o Direito Hindu, bem como o Direito Chinês, destaca-se a presença de penas cruéis e degradantes. No Chinês, por exemplo, eram previstas penas tais como a empalação, as marcas a ferro em brasa, os açoites e até mesmo a castração. Enquanto no Hindu, vejamos a seguir dois exemplos: Que o rei lhe faça derramar óleo fervendo na boca e na orelha se ele tiver a imprudência de dar conselhos aos Brâmanes relativamente ao seu dever (art. 269)173. |Se ele levantou a mão ou um bastão sobre o superior, deve ter a mão cortada; se em um movimento de cólera lhe deu um pontapé, que seu pé seja cortado (art. 277)174. Quanto ao Direito Japonês, também havia a presença de penas severas, a peculiaridade, é que havia uma divisão entre os delitos leves e graves, para a aplicação de sua respectiva pena: Interessante notar no estudo em questão que Shotoku previa em sua legislação “penas reeducativas para os delitos leves”, apesar de que àqueles que cometem os chamados “delitos graves” estavam reservadas punições extremamente rigorosas, a fim de que tal severidade contribuísse para “educar os demais”"(PALMA, 2019, p.215) Introdução O presente texto trata sobre a Grécia e sua importância para a filosofia política, ressaltando o importante papel de suas cidades mais famosas, Esparta e Atenas. A Grécia Clássica é considerada a base da cultura ocidental moderna e o berço da civilização ocidental. A cultura grega conseguiu explorar e progredir em muitos campos da ciência, matemática, filosofia, política e conhecimento em geral, deixando um precioso legado. Registra-se como exemplo a Filosofia Grega, com destaque à Sócrates, Platão e Aristóteles que revolucionaram a maneira de pensar, por meio da superação dos mitos e o surgimento das explicações aos fatos, a partir de elaborações racionais. Nesse mesmo sentido, também na Grécia surgiram as primeiras codificações que dissociavam a religião e o direito e compartilhava entre as pessoas noções de cidadania, de igualdade, de democracia, valores que persistiram ao longo dos séculos. Vamos estudar sobre a Grécia antiga? A civilização grega se desenvolveu na região oriental do mar mediterrâneo, ocupando o extremo da península dos Balcãs. Nessa região, floresceram algumas importantes cidades-estados, como as civilizações cretense e micênica, que desde 2.000 a.C. tiveram uma destacada organização política, social e cultural. Um elemento imprescindível no estudo da Grécia Antiga é o surgimento das pólis. As pólis surgiram por volta do século VIII a.C. e eram as cidades-estados na Grécia. Nas pólis os cidadãos discutiam questões administrativas e políticas, nos espaços denominados Ágoras, que nada mais eram que praças públicas abertas à participação de todos os cidadãos. É exatamente nesse ambiente, nas Ágoras, que ocorre o aparecimento da filosofia grega, onde havia debates políticos, filosóficos, decisões sobre guerras, etc. Ressalta-se, entretanto, que os espaços de discussão, sobretudo da filosofia, eram ocupados apenas por homens, tendo em vista que na Grécia Antiga, os cidadãos eram exclusivamente os homens livres, não compondo tal setor os escravos, os estrangeiros, as mulheres e as crianças. No mais, a filosofia grega obteve papel fundamental, pois tratou de interrogar e refletir sobre as questões da natureza e humanas, buscando sentido a suas provocações. Filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles foram a base para a estruturação do conhecimento e do pensamento ocidental. Ademais, cada pólis era independente e possuía suas particularidades. Apesar disso, todas compartilhavam o mesmo idioma, as mesmas crenças e os mesmos preceitos culturais. Em cada pólis, o poder era exercido pelo rei que era considerado como de origem divina. No ponto mais alto das pólis ficavam as Acrópoles, locais onde se erguiam templos e palácios. As pólis mais importantes foram Esparta e Atenas, cada uma com modelos administrativos diferentes e que influenciaram a política das demais cidades. Esparta era uma comunidade grega tradicional. Estava localizada em Lacônia, região ao sul de Peloponeso, habitada no século XII a.C. pelos aqueus e dórios, que ali criaram um Estado militar, mas oligárquico e conservador, para poder conservar seu território e dominar outros povos. Em sua organização social, apenas os soldados-cidadãos, conhecidos como hoplitas, possuíam direitos políticos, somente os latifundiários poderiam ser hoplitas e os escravos pertenciam à pólis. O outro modelo mais comum de pólis era o de Atenas. Fundada em homenagem à Palas Atena, deusa da sabedoria e da justiça, foi uma cidade de um povo pacífico, dedicada, sobretudo, a atividades comerciais de seus produtos agrícolas, em forma de matéria prima ou manufaturada. A sua localização litorânea facilitava as trocas e a manutenção das relações comerciais. Em Atenas havia maior mobilidade social, o que causava maiores problemas de estabilidade política. Sob o governo de Clístenes, todo cidadão ateniense tinha direitos políticos, podendo ser eleito ou se eleger. Eram considerados cidadãos os homens maiores de 21 anos, nascidos livres e que tivessem terminado o treinamento militar. As peculiaridades da Grécia antiga, sua filosofia e os entraves entre Atenas e Esparta A Grécia Antiga foi uma civilização fundamental para o desenvolvimento do Ocidente. Nela, surge o que seria a primeira grande expressão da filosofia ocidental, por meio de filósofos como Sócrates e Aristóteles. Aliás, tal filosofia somente surgiu em razão da organização social grega, que proporcionava as discussões públicas em praças, chamadas Ágora, onde era possível debater e refletir sobre o mundo. Nesse viés, é inegável os avanços da cultura grega para o ocidente. Para os pensadores gregos, a fonte do direito é o nomos, que se traduz geralmente por lei. É o nomos o meio de limitar o poder das autoridades, já que a liberdade política consiste em não ter que obedecer senão à lei. Como consequência, os gregos fizeram poucas leis no sentido moderno do termo, visto que nomos significa tanto lei como costume. É na filosofia que está a principal contribuição dos gregos para a cultura ocidental, principalmente com Sócrates, Platão e Aristóteles. (MACIEL, 2019, p.135) Os primeiros filósofos, chamados de pré-socráticos, questionavam acerca da formação do meio natural, estabelecendo preocupações científicas. Tales de Mileto, Heráclito, Parmênides e os sofistas foram filósofos pré-socráticos. Ainda conectadoscom as ideias dos mitos que buscavam explicações dos cosmos, os filósofos pré-socráticos propunham também explicações sobre a natureza que os rodeava. Já em um segundo momento da filosofia grega, a preocupação passa a ser mais com a natureza humana. Nesse contexto, surge a filosofia platônica e a figura de Sócrates. O que se conhece sobre Sócrates é por meio dos escritos de seu discípulo Platão. O Ateniense foi o responsável por sistematizar a ontologia e estudou sobre a origem do homem, da alma e do conhecimento. Estabeleceu o conceito do ser humano como ser racional, possuidor de uma alma, em busca da virtude, que seria o conjunto de atributos que leva o homem à excelência, em oposição ao vício. Estudava a metafísica, fundamentando a existência do mundo entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Apenas por meio da razão era possível acessar as verdades do mundo. A importância da filosofia grega era crucial para os debates na Ágora, onde os cidadãos governavam por meio de uma democracia direta. Ressalta-se o caráter democrático, tendo em vista que apenas os homens livres que podiam participar desses debates, excluindo as mulheres, crianças, escravos e estrangeiros. No entanto, ainda assim, é perceptível a importância da racionalidade e do discurso político para os gregos. Nesse sentido: Os atenienses acreditavam que um homem que não se interessasse pela política deveria ser considerado não um cidadão pacato, mas um cidadão inútil. Com tempo disponível, os cidadãos se voltavam por inteiro à coisa pública, discutindo os temas relevantes na Ágora, uma espécie de praça em que se juntavam para o exercício do poder político. Deliberando com ardor acerca das questões de Estado, as assembleias tinham o mesmo papel do parlamento nos tempos modernos, com a diferença de caracterizarem-se como uma democracia direta. Observe-se que não há participação popular na tomada de decisões. (MACIEL, 2019, p.137) E Esparta? Diferentemente de Atenas, Esparta era uma aristocracia, governada por dois reis que estavam submetidos à “Assembleia do Povo, chamada em Esparta de Apella, ou do Conselho de Anciãos, a Gerúsia, composta por vinte e oito gerontes com idade igual ou superior a sessenta anos e por dois reis” (PALMA, 2019, p. 256). Grécia antiga: a organização de Atenas e Esparta na prática Conforme vimos até aqui, a Grécia Antiga traçou grandes influências para as futuras gerações ocidentais, sobretudo, em relação a sua organização política social e ao surgimento de uma filosofia ocidental. Passemos agora a estudar sobre como era a organização das cidades Atenas e Esparta na prática. Atenas foi uma das cidades mais importantes da Antiguidade. A civilização ocidental tem sua origem na Grécia Antiga, especificamente na pólis ateniense. Podemos apontar alguns motivos que levaram ao surgimento da democracia em Atenas. Tratava-se de uma cidade de comerciantes, aberta a trocas sociais e culturais, o que favorecia a existência de um ambiente propício para o florescimento de novas ideias. Por ser uma cidade de comerciantes, mais pacífica, a estrutura social ateniense exigia um ambiente de estabilidade para que os negócios se desenvolvessem de forma satisfatória. Nesse sentido, a cidade valorizava a cultura, as letras e as artes, atraindo filósofos e pensadores de todas as pólis gregas, de forma que a erudição da elite acabava sendo transmitida e replicada pelo modo de vida de toda a população. Os valores da democracia ateniense estavam baseados na participação dos cidadãos, com isonomia, igualdade do direito de fala e do direito de decidir. O mérito conferia acesso aos postos mais distintos e a pobreza não impedia que um cidadão fosse ouvido e prestasse serviços à pólis. A democracia ateniense não surgiu do nada. Foi fruto de lutas e conquistas dos atenienses, que se revoltaram contra a oligarquia e o governo familiar, que privilegiava apenas uma pequena parte da sociedade e explorava os agricultores. Com Drácon, houve o estabelecimento de leis rígidas que transferiram o poder político dessa oligarquia ao Estado. Com Sólon e Clístenes, o povo se tornou protagonista e responsável pelas decisões que regeriam a vida em comunidade. Democracia é uma palavra de origem grega que significa exatamente o exercício do poder pelo povo. Por outro lado, Esparta era uma cidade militar, governada por reis e pela aristocracia. Diferente de Atenas, onde foi o berço da filosofia e da democracia grega, Esparta priorizava o combate e seu poderio militar. Para tanto, necessitava de uma pólis pautada em hierarquias e disciplina. Os espartanos eram mestres no cultivo das tradições cívicas e amavam a pátria com fervor. Dedicavam-se até a morte ao combate e tinham repugnância aos covardes e desertores. Eram xenófobos por excelência, pois se julgavam “iguais entre si”, mas “superiores a qualquer outro povo da Hélade”. Usavam cabelos compridos e bem forjados apetrechos de guerra. Uma longa capa vermelha tocava-lhes o calcanhar. O escudo e o elmo que protegiam, além da cabeça, os maxilares, provocava pavor nos adversários.(PALMA, 2019, p.272) As diferenças entre as duas cidades eram tão marcantes que inclusive foram objeto da Guerra do Peloponeso pela disputa da hegemonia da Grécia. A hostilidade entre as duas importantes cidades gregas foi o palco desse combate, mas os atritos entre as cidades de Atenas e Corinto, que era aliada de Esparta, foram o gatilho para o começo de tudo. Introdução O presente texto pretende abordar os temas relacionados ao Direito Romano, bem como a evolução história de Roma e seus momentos expressivos. Nesse sentido, a expressão “Direito Romano” designa o ordenamento jurídico que regeu os cidadãos de Roma e os povos dominados pelo Império. Esse conjunto de normas possui origem na própria formação de Roma, em 753 a.C. e se estendeu pelo menos até o século VI d.C. No decorrer da história, o Direito Romano foi adquirindo características diferentes, alterando-se e evoluindo com o tempo, da mesma forma como a sociedade se alterava. Nesse sentido, é possível a história do direito romano em três períodos: pré-clássico ou arcaico, clássico e pós-clássico. Vamos estudar sobre o direito romano? A expressão “Direito Romano” designa o ordenamento jurídico que regeu os cidadãos de Roma e os povos dominados pelo Império. Esse conjunto de normas possui origem na própria formação de Roma, em 753 a.C. e se estendeu pelo menos até o século VI d.C., quando o Imperador Justiniano consolidou as leis no chamado Corpus Iuris Civilis. Portanto, estudar o Direito Romano é estudar um ordenamento jurídico desenvolvido ao longo de mais de 1.300 anos. É importante ter em mente, portanto, que o Direito Romano não teve sempre as mesmas características, alterando-se com o tempo, da mesma forma como a sociedade se alterava. Nesse sentido, a história do direito romano é uma história de 22 séculos, com início no século VII a.C. e fim no século V d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente, remanescendo até o século XV apenas Império Bizantino. (MACIEL, 2019) A definição do Direito Romano melhor compreendida a partir da compreensão de suas noções fundamentais e suas fontes. As fontes do Direito Romano, assim como ele, sofreram inúmeras mudanças, logo não permaneceram as mesmas ao longo da História. Como já sabemos, a história de Roma pode ser dividida em três grandes períodos: Realeza, República e Império. O Império é dividido em Alto e Baixo Império. Os mais de treze séculos de evolução do Direito Romano podem ser divididos em período pré-clássico, clássico e pós-clássico. Na República Romana teve a magistratura como um de seus elementos básicos, além do Senado e do povo, que se representava por meio de comícios. Os magistrados eram representantes do Estado, com direitos, obrigações e poder executivo, subordinadosà autoridade do Senado. O Senado gozava de amplos poderes, entre os quais se encontrava o direito de aprovar leis, apresentadas pelos Comícios, a administração das contas públicas e o manejo da política externa. O Senado poderia, inclusive, suspender os Cônsules. O período arcaico do direito romano vai da fundação de Roma até aproximadamente o ano 300 a.C. É um período de evolução da escrita, de forma que poucos textos escritos chegaram até nós. O direito nesse período era primitivo, baseado em uma estrutura econômica rural e familiar. Do período pré-clássico, o mais famoso texto jurídico é A Lei das Doze Tábuas. Já no período clássico, começaram a surgir algumas sistematizações do direito nacional romano. Múcio, Cévola e Sabino buscaram organizar o ordenamento jurídico já existente. No período do imperador Adriano, o jurista Juliano sistematizou leis existentes criando o Digesto de Juliano. Há, assim, a superação do costume como fonte principal do direito, por outras fontes como o edito do Pretor e os pareceres dos jurisconsultos. Por fim, no período pós-clássico foi produzido o Código Teodosiano de 438 d.C., uma das mais famosas compilações de constituições imperiais, servindo de inspiração para Justiniano. Também é desse período o Edito de Constantino, importantíssimo para a evolução do cristianismo, que influenciou bastante a evolução do direito romano. As peculiaridades da história do direito romano Roma, uma das mais importantes civilizações para o Ocidente, pode ter seu estudo dividido em três grandes momentos: Realeza, República e Império. Cada qual representa um momento político específico de Roma, bem como seus institutos jurídicos e o funcionamento de suas respectivas instituições. A Realeza trata do primeiro momento histórico de Roma, marcada por uma população que compartilha o latim, como idioma comum, habitavam aldeias. Prevalecia a presença de grandes famílias patriarcais. Os chefes dessas famílias reuniam-se ainda numa espécie arcaica do que seria o senado romano. Na Realeza os sete reis foram: Rômulo; Numa Pompílio; Túlio Hostílio; Tarquínio Prisco, o Antigo; Sérvio Túlio; e Tarquínio, o Soberbo. A sociedade no período estava dividida em três classes sociais, os patrícios, os plebeus e os escravos. A República inaugura um novo momento e uma nova organização social, marcada pelas figuras do Senado e do Magistrado. O Senado fiscalizava, controlava a justiça, as finanças públicas, as questões religiosas e dirigia a política externa, incluindo a militar, extremamente central, em um contexto de expansão territorial. O magistrado romano, por sua vez, não se referia ao que hoje conhecemos como um juiz. Na verdade, era uma espécie de órgão da cidade e um titular do poder. Nesse sentido, o magistrado detinha cargos importantes e cargos públicos, como o pretor e o cônsul, exercendo, desse modo, imortante papel na vida política e jurídica da cidade romana. (MACIEL, 2019) Também no período da República que foram desenvolvidas um dos mais importantes registros legislativos do período romano, a Lei da Doze Tábuas. Também se ressalta que na República existiam figurar políticas muito relevantes para a instauração e consolidação de uma prática jurídica coerente, como o pretor, magistrado que se encarregava da distribuição da justiça; juízes, designados por estes; o jurisconsulto, eminente conhecedor das leis, e, finalmente, o advogado (PALMA, 2019). A etapa do Império Romano se dividiu em duas grandes fases. A primeira, denominada Principado, ocorreu entre 27 a.C. até 280 d.C. A segunda, chamada de Dominato, durou até a queda de Roma pelos bárbaros em 565 d.C. O Império manteve a estrutura política da República, concentrando, contudo, o poder político e religioso nas mãos do Imperador. O Império, em seu auge, estendia-se desde o oceano Atlântico até o rio Eufrates, na Mesopotâmia. O período do Principado ou Alto Império teve como governadores célebres Otaviano, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Sob o governo de Tibério, os romanos teriam crucificado a Jesus Cristo na Palestina. O despotismo de Nero provocou uma rebelião do exército e o fim do Império. Vespasiano, responsável por depor o Imperador que pôs fogo em Roma, foi proclamado imperador pelo Senado, sendo sucedido por Tito e Domiciano, que governaram entre 70 e 96 d.C O direito romano na prática Agora, passemos a estudar brevemente sobre os principais documentos do Direito Romano, desenvolvidos ao longo da sua história, em cada um de seus momentos. O Corpo de Direito Civil é a compilação dos livros jurídicos romanos, feita em Constantinopla, pelo imperador bizantino Justiniano, no século VI d.C. O Corpus Iuris Civilis é a expressão máxima do Direito Romano escrito. Nesse período, o Direito Romano já era essencialmente escrito e foi o mais desenvolvido da Antiguidade. A compilação foi feita para evitar problemas de aplicação e estudo das leis, já que as normas foram produzidas de forma progressiva e ao longo das décadas. A compilação abrangia a essência de todo o direito dos Romanos. É composto por quatro partes: Institutas, Digesto, Código e Novelas. Institutas ou Institutiones era um manual para estudantes de Direito. O Digesto ou Digesta ou Pandectas, é uma compilação de uma das principais fontes da época áurea do Direito Romano, a jurisprudência clássica. O Códex ou Código era uma compilação das Constituições Imperiais, exemplos de outras fontes do Direito Romano. As Novelas ou Novellae é a compilação das constituições produzidas durante o governo de Justiniano. Ademais, ressalta-se a presença de distinção ao acesso aos códigos romanos nos períodos da Realeza. Apenas os cidadãos romanos gozavam do direito dos romanos, do ius civile. Os estrangeiros, os peregrini, estavam submetidos apenas ao ius gentium, o direito comum a todos os homens. Nesse contexto, também se destaca a figura dos plebiscitos, os quais se referiam, inicialmente, a previsões normativas dirigidas aos plebeus. Como se sabe, as leis não eram as mesmas para todos, tendo em vista que cada parcela da sociedade recebia uma determinação legislativa distinta. O plebiscito, portanto, referia-se aos atos legislativos destinados exclusivamente aos plebeus. No entanto, os plebeus se revoltaram contra essa distinção legal e obtiveram como resultado a Lex Hortênsia, de 287 a.C que determinava que as normas aprovadas em plebiscitos fossem assimiladas às leges e passassem a obrigar todos os cidadãos. (MACIEL, 2019) Outro importante ato normativo que merece destaque são as Leis das XII Tábuas. Antes, os magistrados julgavam conforme suas próprias tradições e costumes, que não eram ao menos escritos e somente conhecidos por eles. Diante disso, os plebeus apresentaram suas reivindicações contra o arbítrio de das decisões dos magistrados e pela redução a termo dos costumes e fontes usadas nos julgamentos. Com efeito, ocorreu uma aplicação direta do que, hoje chamamos do princípio da legalidade. A Lei das XII Tábuas buscou abarcar uma diversidade de temas para regular a prática jurídica nas cidades romanas, dentre eles a solidariedade familiar é abolida, mas a autoridade do chefe é mantida; a igualdade jurídica é reconhecida teoricamente; são proibidas as guerras privadas; é instituído um processo penal; a terra, mesmo a das gentes, tornou-se alienável; é reconhecido o direito de testar; vários direitos de vizinhança, como cortar o galho das árvores se a sombra invadisse a propriedade vizinha, colher os frutos das árvores vizinhas que chegassem ao seu quintal etc. (MACIEL, 2019). Introdução O presente texto aborda sobre os temas do Direito Romano Clássico e Pós-Clássico. A Época Clássica é compreendida do século II a.C até o final do século III a.C. e retrata um Direito essencialmente laico, individualista, sem vinculação entre o direito privado eo direito público, priorizando, sobretudo, a autonomia privada dos cidadãos, junto com a liberdade contratual. Por outro lado, o período do Direito Romano Pós-Clássico, que tem início com Diocleciano e desenvolve-se até o império de Justianiano I, também chamado de baixo império, representou um período de decadência política e intelectual e grandes crises econômicas, bem como uma maior presença do cristianismo que afetam diretamente as formas do sistema jurídico antecedentes. Vamos estudar sobre o direito romano clássico e pós-clássico? O Direito Romano sofreu inúmeras transformações ao longo dos séculos. Aqui, estudaremos dois grandes momentos do Direito Romano: o Clássico e o Pós-Clássico, com suas peculiaridades e características principais. O Direito Romano Clássico é mercado pela presença da autonomia privada, dando maior liberdade aos cidadãos de realizarem seus contratos e negócios entre si. O direito privado romano agora possui caráter essencialmente laico e individualista, com distanciamento entre o direito privado e o direito público. Se de um lado, do ponto de vista político, diminuía sem cessar a liberdade dos cidadãos, do outro lado, no direito privado ela só aumentava, cada vez com mais autonomia para contratar. (MACIEL, 2019, p.186) Outra característica marcante do período Clássico é a crescente codificação dos códigos romanos, tendo em vista que os costumes perderam espaço e foram substituídos pela legislação, pelos editos do Pretor e pelos escritos dos Jurisconsultos. Ademais, ressalta-se a presença do processo formular que significou uma simplificação dos processos, promovendo resoluções mais céleres e simplificadas das controvérsias jurídicas. O Direito Romano no período Pós-Clássico ou também Baixo Império (ou Dominato) compreende o período entre 284, marcado pela morte de Diocleciano, e 565, que datou o falecimento de Justiniano. Diferentemente do apogeu que havia se alcançado com o Principado (sobretudo em termos econômicos), o Baixo Império se caracterizou pela decadência política e intelectual, bem como pela regressão econômica (MACIEL; AGUIAR, 2019). Há também uma grande influência do cristianismo, o que vai afetar o Direito. Durante o Dominato, as constituições imperiais se estabelecem enquanto fonte atuante de criação organizada do direito (ALVES, 2016). Os costumes, por sua vez, seguem como preenchedores de lacunas de tais constituições. O período foi marcado por editos de Constantino e de Teodósio, imperadores que tornaram o Cristianismo religião tolerada e que, posteriormente, passou a ser cultuada oficialmente pelo estado romano. Nesse sentido, a religião cristã trouxe uma nova concepção para o direito – até então indubitavelmente pagão (ALVES, 2016) - e as relações entre o indivíduo e o Estado. No âmbito familiar, deu interpretação distinta às leis antigas, proibindo-se a venda e morte de filhos. O pátrio poder começa a sofrer modificações a partir do aparecimento da figura do Estado (com a fundação da pólis) perdendo seus poderes discricionários. Nesse sentido ainda, a prole passou a ser tratada enquanto objetivo primordial da instituição família. Em termos de operacionalidade do direito e de instituições, destacam-se, no período Pós-Clássico, a valorização dos juristas, a centralização dos poderes de julgamento em único órgão, a conservação das obras dos jurisconsultos romanos do período Clássico. Justiniano, condutor do Império Bizantino, observando que o trabalho da jurisprudência do período em que governava se tornara precarizado, buscou valorizar os antepassados, recuperando os escritos jurídicos do período Clássico do Direito Romano (MACIEL; AGUIAR, 2019). Nesse trilhar, foi constituído o Corpus Iuris Civilis, principal compilação do Direito Romano. As peculiaridades da Grécia antiga, sua filosofia e os entraves entre Atenas e Esparta O Direito Romano Clássico e Pós-Clássico apresenta características marcantes que os fazem representar momentos diversos e muito importantes na evolução do Direito Romano. Para tanto, também é importante compreender os períodos políticos que permeiam esses momentos. Se, no período da Realeza, os costumes eram fontes do direito por excelência, durante o Império e no período Clássico, sua força se perde. Alguns juristas Clássicos como Gaio e Papiniano sequer incluem os costumes na relação das fontes do direito (ALVES, 2016), por os considerarem meros fatos. Entretanto, na produção jurídica em geral da época clássica, verificava-se que, para a existência do costume, era necessário que sua prática fosse observada por longo tempo (sem, contudo, se estabelecer um limite mínimo). Nesse sentido, o costume praeter legem (que preenche lacuna da lei) era obrigatório (ALVES, 2016). Por outro lado, de extrema relevância foram as constituições imperiais (constitutiones), a partir do poder que o imperador absorveu das magistraturas republicanas. Essas constituições se dividiam em quatro tipos: i) editos (edicta), que eram normas gerais aplicáveis a todo o império, em geral; ii) mandatos (mandata), instruções que o Princeps Senatus (presidente do Senado) transmitia aos funcionários imperiais, especialmente aos governadores e funcionários das províncias; iii) rescritos (rescripta), respostas sobre questões jurídicas dadas pelo imperador a particulares, especialmente a funcionários ou magistrados; iv) decretos (decreta), sentenças dadas pelo imperador (em primeira instância ou grau recursal), que se tornavam precedentes. A jurisprudência dividia-se entre as escolas dos Proculeianos (inovadores) e Sabinianos (conservadores), embora os critérios de distinção entre ambas não sejam muito bem definidos pelos romanistas (ALVES, 2016). Destacaram-se enquanto juristas do período Clássico Sálvio Juliano, Papiniano, Paulo, Gaio e Ulpiano. Esses e os demais juristas Clássicos escreveram monografias, livros destinados ao ensino, livros de consultas e respostas sobre casos concretos, enciclopédias (digesta). É também nesse período Clássico do direito romano que se observa também uma divisão dicotômica entre ius civile (direito próprio dos cidadãos de Roma) e ius gentium (comuns a Roma e demais povos). Por outro lado, o período Pós-Clássico foi decadência política e intelectual, crises econômicas, fortes influências do cristianismo e pelo protagonismo de Justiniano na codificação de todo o Direito Romano. Justiniano foi responsável pela codificação do Corpus Iuris Civilis, estruturado em quatro seções: i) o Codex ou Código de Justiniano, que se tratava do conjunto de constituições imperiais vigentes desde a época de Adriano, visando substituir o Código Teodosiano, de 438 (que era dividido em dezesseis livros, e continha o texto integral de todas as constituições imperiais romanas até então); ii) o Digesto (Digesta ou Pandectas), composto por cerca de cinquenta livros, que seria a doutrina desenvolvida por jurisconsultos, destacando-se Ulpiano, Gaio, Papiniano, Paulo e Modestino; iii) Instituições (Institutiones), composto de quatro livros, que dedicava-se à forma de ensinar o direito, em um caráter mais didático; iv) as Novelas (Novellae ou leis novas), novas constituições imperiais editadas a partir de 534. Sem dúvidas, o Corpus Iuris Civilis se consolidou como fundamental para o renascimento do Direito Romano, sobretudo em países como França, Alemanha, Espanha e Portugal (PALMA, 2019), possibilitando os estudos sobre as instituições jurídicas clássicas. Direito romano clássico e pós-clássico: exemplos No Direito Romano Clássico, podemos citar uma série de fontes jurídicas, como o costume, a legislação, as Constituições Imperiais, a jurisprudência e o processo formular. O costume, na realidade, entrou em desuso nesse período, em razão da forte codificação realizada pelos textos romanos, sendosubstituído pela legislação, edito do pretor e os escritos dos jurisconsultos. A legislação se dava por meio das constituições imperiais, dividida em quatro grupos: (i) os editos, que eram disposições aplicáveis a todo Império, com algumas exceções; (ii) os decretos: julgamentos feitos pelo Imperador ou por seu conselho que geravam precedentes para as instâncias inferiores; (iii) os reescritos: respostas dadas pelo Imperador ou seu conselho a um funcionário, magistrado ou particular; (iv) as instruções: dada pelo Imperador aos governadores da província, em matérias administrativas e fiscais. Com a decadência das assembleias, o Senado passou a ser o titular do poder de legislar. A propositura de uma lei, no entanto, mantinha-se privativa do Imperador. Desde 13 d.C. o Imperador podia legislar diretamente por edito. Paulatinamente o Imperador passou a ser o único legislador, sendo que nem todas as constituições imperiais tinham a mesma autoridade. (MACIEL, 2019, p.186, grifo nosso) Em relação à jurisprudência, refere-se ao que atualmente chamamos de doutrina: Era composta pelas obras dos jurisconsultos, homens muito experientes na prática do direito, quer enquanto davam consultas jurídicas, quer enquanto redigiam atos e orientavam as partes nos processos. Eram eles que resolviam as lacunas existentes no direito romano.(MACIEL, 2019, p.187) Por fim, merece destaque o processo formular, que simplificou a resolução das controvérsias jurídicas e significou uma maior simplicidade e menor formalismo. Como acontecia? As partes compareciam diante de um pretor (magistrado), o qual, em conformidade ao conflito apresentado, ditava uma "fórmula", que se refere aos termos jurídicos do conflito, sendo o conteúdo dessa fórmula a controvérsia apresentada e as possíveis deduções dessa controvérsia. Logo, pela primeira vez, há uma grande aproximação do que hoje é o dispositivo de uma sentença. Vejamos um exemplo da aplicação das fórmulas. Condenação: “O juiz condenará Numério Negídio a pagar a Aulo Agério dez mil sestércios; se não provar, absolverá Numério Negídio” Quanto ao Direito Romano Clássico, merece destaque o Corpus Juris Civilis, realizado no governo de Justiniano. A compilação pretendia unificar os códigos e criar um sistema unificado de poder e é dividida em quatro partes: Institutas (manual escolar), Digesto (compilação dos iura), Códex (compilação das leges) e Novelas (reunião das constituições promulgadas por Justiniano). Com efeito, o código é imenso e trata de diversas matérias, contudo, destacamos o papel da mulher dentro do casamento, conforme era previsto pelo código: A mulher, inserida dentro da família romana, também exercia seu papel na comunidade, mas estava juridicamente vinculada ao marido, que possuía o poder marital, chamado de manus. Sendo o poder doméstico romano, dentro de sua história, independentemente de qual fosse ele, pleno, este acontecia com o poder marital. O manus permitia o castigo e a repulsa à mulher, indo até o direito de vida e de morte. Esse direito foi bastante limitado pelo Censor durante a República, que em nome dos bons costumes não permitia ao pater familias a prática de certos abusos. Como consequência desse poder, da mesma forma que os filhos, a mulher não tinha capacidade patrimonial. O que ganhava era revertido para o pater familias. (MACIEL, 2019, p. 200, grifo nosso) Vamos estudar a evolução histórica e os fundamentos teóricos gerais do direito Como foi o surgimento do Direito nas diversas sociedades? O estudo do surgimento das instituições jurídicas e dos fenômenos jurídicos em diferentes culturas e dimensões sociais são de extrema importância para a contextualização do desenvolvimento do Direito atual. É um movimento no qual as diferentes formas do passado refletem e constroem o presente e o futuro jurídico, ao qual pertencemos. Nesse viés, estudaremos as mudanças históricas das diversas sociedades e seus códigos principais normativos e legais. 1. O Direito ágrafos ou das sociedades antigas: não há codificações ou meios de escrita, constituído por normas de costumes, marcadas pelo seu teor sagrado e religioso 2. O Direito oriental subdividido em Direito dos cuneiformes e Fenício, do Egito Antigo, dos hititas, dos persas, da Índia Antiga e dos hebreus, conforme diagrama a seguir. Imagem: Direito oriental. Fonte: Saraiva Educação #PraCegoVer: Diagrama de cinco blocos, nos quais se lê: Os Direito cuneiformes e Direito Fenício: escritos, penas de banimento e incesto, direito comercial. Código de Ur-Nammu, Código de Hamurábi O Direito no Egito Antigo: Leis, decretos e regulamentações. Faraó como última instância decisória. Penas severas como estrangulamento, fogueira, embalsamento em vida. O Direito hitita: Penas pecuniárias prevalecem sobre as penas corporais. Um dos primeiros tratados de paz assinados entre “Hatusilis” III e “Ramsés” II, em aproximadamente 1258 a.C O Direito persa: Desenvolvimento do direito da família e sucessões .Penas severas. Textos legais: “Matikan- E-Hazar-Datastan”. O Direito da Índia Antiga: O Código de Manu, castas dominantes e privilegiadas Esboço de uma administração de justiça O Direito hebraico : Regras e preceitos religiosos Desenvolvimento de leis civilistas, voltadas aos negócios jurídicos. Utilização do penhor. 3. Direito no extremo oriente: chinês, japonês, tibetiano e mongol, marcados pela filosofia mais articulada e escritos que abarcavam importantes discussões sobre os fenômenos jurídicos e suas regras sociais. Título 2: Vamos estudar a relação entre o Direito e a sociedade grega Subtítulo 1: Como foi o Direito na antiguidade grega? A Grécia representa um dos países mais importantes em relação ao estudo da filosofia e outros saberes. Dessa forma, também é imprescindível na evolução histórica do Direito e seus preceitos, atentar-se para as formas que se conformaram na Grécia Antiga. Nesse sentido, de acordo com Palma (2022, n. p.): O edifício onde foi erigida a cultura ocidental assenta seus alicerces sob inúmeras influências. Seus fundamentos mais remotos encontram nas movimentadas ruelas de Atenas seu berço primeiro. Sabe-se que o legado filosófico desenvolvido na Hélade redimensionou por completo a forma de o homem buscar, perquirir o conhecimento e conceber as coisas. Entre os pensadores mais célebres, tais como Sócrates, Platão e Aristóteles, o campo de discussão era extremamente vasto. Suas lições proporcionaram discussões sobre assuntos diversos, que envolviam desde a Política até o Direito. O Direito na antiguidade grega era preponderantemente consuetudinário, ritualístico, fundado no culto aos antepassados e desenvolvido no seio da própria família. Ademais, também foram os gregos que trouxeram a ideia do Direito Natural, a partir da existência de uma lei imutável e acima de todas as leis que regeriam a todos. Por fim, foram também os gregos que surgiram com a ideia do constitucionalismo, em razão das inúmeras participações política dos que eram considerados cidadãos. Estudo de caso A referência fundamental para os gregos desenvolverem a filosofia foi a natureza “physis”. Esta era vista como portadora de ordem (cosmos) que implicava a realização de fins imanentes (teleologia). A ordem da natureza fora transplantada para a cidade (ordem social), para a ação humana (ordem individual), e para o direito (ordenamento jurídico), formando o campo de reflexão filosófica denominada de razão prática. Imagem: Fluxograma. Fonte: Saraiva educação #PraCegoVer: Gráfico que ilustra a ética, a política e o direito como componentes da Razão prática. A natureza, para os gregos, se apresenta de forma ordenada, portando um modo de ser que lhe é própria. A natureza é o que é independente da vontade humana. Os fenômenos naturais obedecem ao princípio de causalidade. O direito, em específico, incorporoua noção de teleologia (teoria dos fins), digamos, de empréstimo da natureza. Porém, o direito não trata daquilo que é (ser), mas daquilo que pode vir a ser (dever ser). Infere-se que “o fogo arde da mesma maneira na Pérsia e na Grécia, mas o direito é sempre variável” (VILLEY, 2019, p. 56). Logo, o direito atua e decide sobre situações móveis e contingentes, abordando fenômenos sociais produzidos, não pela causalidade natural, mas pela liberdade. É possível observar a teleologia não apenas na confecção da norma, como também na sua aplicação. Como lidar, então, com a teoria dos fins no direito? Vamos a um caso concreto. O artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – Decreto-Lei n. 4657, de 4 de setembro de 1942, diz o seguinte: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às expectativas do bem-comum”. Imagem: Fluxograma. Fonte: Saraiva educação. #PraCegoVer: Gráfico que ilustra a ética, a política e o direito como componentes da Razão prática. Ao aplicar a lei, o juiz deve levar em consideração dois pressupostos teleológicos imanentes à própria norma: os fins sociais e o bem comum. A norma, no entanto, deixou explícito o que se entende por “fins sociais” ou “bem comum”? Coloque-se na posição do juiz. Com base no enunciado normativo, você conseguiria facilmente identificar os fins sociais e o bem comum? Faça a seguinte experiência. Coloque por escrito a definição de “fins socais”, explicitando-os, e, igualmente, a acepção de “bem comum”. Será que sua concepção de “fins sociais” e de “bem comum” encontraria aceitação social objetiva? Ou será que as definições construídas, por você, estariam respaldadas em suas percepções individuais? Neste caso, sua opinião deveria prevalecer em relação ao que os outros pensam a respeito? É admissível desconsiderar os “fins sociais” e o “bem comum” na aplicação da justiça? Mas, afinal, o que é, do ponto de vista objetivo, “fins sociais” e “bem comum”? Reflita Olá, estudante! A aplicação do Direito demanda um esforço dos magistrados, frente aos fins sociais e o bem comum. Portanto, lembre-se: por mais que exista um direito positivado, a sua interpretação e aplicação é essencial para suprir as lacunas. Resumo visual UNIDADE 2 - Formação do Direito Moderno Introdução “Idade Média” é o termo utilizado para denominar o período compreendido entre o século V e o século XV na história da Europa. Esse momento histórico se inicia com o fim do Império Romano Ocidental, e terá seu efetivo fim na Modernidade, com a ascensão da burguesia, a implementação do empreendimento mercantilista e a cultura da renascença. Marcada pelo feudalismo, pela ação das Cruzadas e pela devastadora Peste Negra, a Idade Média apresentou uma série de percepções jurídicas diferentes ao longo dos seus dez séculos de duração, sendo influenciada pelo direito germânico, celta, canônico, romano e feudal, cada qual em maior ou menor grau. No presente texto, estudaremos sobre o Direito Feudal, Canônico e o Renascimen Vamos estudar sobre o direito feudal e canônico? O Direito Feudal e o Direito Canônico foram expressões jurídicas presentes na Idade Média, que traduziam as organizações sociais daquela época, bem como suas prioridades político-jurídicas. Destaca-se, de antemão, a forte presença da Igreja Católica que permeou o período medieval e foi evidente no Direito Canônico. A tradição jurídica propriamente feudal era baseada nos costumes e sabe-se que cada feudo tinha suas regras para possibilitar a convivência social. Os costumes que determinavam as relações sociais, contudo, eram direcionados pelos nobres, já que o poder se encontrava em suas mãos, e as tradições eram determinadas pelas origens desses nobres, podendo a influência ser germânica, celta ou latina. Assim, o Direito Feudal apresentava regras orais e escritas e algumas importantes compilações sobre essa tradição jurídica expressadas em documentos como “Usos e Costumes de Barcelona, a Carta de Pisa”, que remete ao ano de 1142, e o “Libri Feudorum de Milão”, de 1095 a 1130. Entre os mais importantes instrumentos jurídicos da época estavam os “contratos de homenagem”: um pacto que se estabelecia entre os senhores feudais e os vassalos. A solenidade desse “contrato” exigia que o vassalo assumisse o compromisso de, inclusive, lutar até a morte para defender o senhor e seus familiares, caso fosse necessário Desse modo, o Direito Feudal era constituído por uma pluralidade de concepções jurídicas, onde não havia uma hierarquia previamente definida, prevalecendo o direito eclesiástico (Direito baseado em concepções humanas e em “leis divinas”, em um contexto de descentralização e precariedade). Pluralidade jurídica que seria fundamental, posteriormente, para a formação dos Estados Modernos. O Direito Canônico diz respeito à tradição jurídica que respeita (como leis) o conjunto de cânones (isto é, regras adotadas pela Igreja) para governar e organizar socialmente a comunidade cristã e seus membros. Essa forma de Direito se confundiu com o Estado por diversas vezes durante a Idade Média. Seus cânones tinham força de lei mesmo para aqueles que não eram cristãos. Contudo, a Igreja jamais negou a existência de dois ordenamentos distintos: um Direito secular e um Direito cristão. O Direito Canônico apresentava como características, além de seu caráter religioso, seu caráter ecumênico, escrito e erudito, apresentando domínio por uma série de questões de Direito Privado, que se confundiam com os sacramentos da Igreja Católica, tal como a celebração do matrimônio. Os dois concílios que geraram os primeiros documentos que fomentariam a produção legislativa canônica são o Concílio de Niceia, que remete ao ano 325, e o Concílio de Constantinopla, de 381 d.C. A centralidade da Igreja Católica somente será contestada com o movimento da cultura renascentista, entre os séculos XIV e XVI, provocando uma forte mudança no pensamento medievo, por meio de um movimento cultural, artístico, científico, político e filosófico, que tinha como base o antropocentrismo. As peculiaridades do direito feudal, do direito canônico e o surgimento do renascentismo A intitulação do feudalismo tem sua origem na palavra “feudo”, derivada do latim e que se associa à ideia de propriedade. Essa palavra sintetiza de forma bastante eficiente os interesses que perpassam as relações sociais da época, já que uma das principais características desse momento histórico foi sua inflexível hierarquia social. Alguns autores identificam dois períodos feudais: o primeiro deles dura até meados do século XII, e diz respeito ao momento em que a sociedade feudal se organizava no âmbito rural e de forma estável, sendo o comércio atividade incipiente, a moeda ainda não era popularmente utilizada. O segundo período, por sua vez, correspondeu ao momento em que o comércio renasceu na sociedade feudal, havendo a difusão do uso da moeda e o crescimento da importância do comerciante em detrimento do produtor, o que transformou a organização social e econômica (MACIEL; AGUIAR, 2019). No segundo período feudal, portanto, a burguesia urbana ganha espaço e revoluciona a economia europeia. Contudo, de um ponto de vista social, o modo de produção econômica acaba acentuando a diferenciação dos grupos e classes, que se tornam cada vez mais fechados. De acordo com (PALMA, 2022), o regime feudal é constituído fundamentalmente na relação estabelecida entre um senhor feudal, da classe dos nobres, e de outro lado, um servo, que ocupa um lugar numa classe social inferior. Diante disso, o servo recebia de seu suserano o beneficium, ou seja, a posse do feudo para realizar suas atividades de subsistências, como o cultivo do solo de onde retirará a produção necessária para cumprir todas aquelas obrigaçõesinerentes à sua condição. O Direito Canônico, por sua vez, se pautava principalmente por seu caráter religioso, que diferenciava a lex aeterna e a lex humana. A lex humana se conserva em uma esfera própria, secular, diferentemente da lex divina, que era aeterna, sendo a Igreja Católica a entidade designada por Deus para acessar, interpretar e, consequentemente, preservar as leis (e a vontade) divina. Nesse sentido, a lei eterna é a fonte de inspiração da lei humana, da mesma forma que a natureza divina inspira a natureza humana, desse modo, percebe-se uma aproximação entre a natureza humana e a natureza divina, logo, a lei humana também é divina. (BITTAR, 2018) Ante essa noção, poderíamos entender que toda lei humana seria, também, divina. Contudo, é a imperfeição da criação que torna possível distinções entre as leis. Portanto, o Direito Canônico efetivaria a vontade divina, que somente nele restaria respeitada. Nesse sentido, Bittar (2018, p. 362) sintetiza o pensamento canônico: “a melhor forma de justiça é a ordem que se dá em Deus”. Lembrando que tal pensamento, centralizado na vontade divina e nos dogmas católicos, somente seria questionado e teria seu fim com o Renascimento, que surgiu na Itália no século XIV e se estendeu até o século XVII por toda a Europa. No renascimento, o ser humano seria colocado no centro da criação e não mais abaixo da divindade, de tal forma que seu valor e o do divino poderiam ser aproximados. Esse pensamento refletia o humanismo que foi a principal corrente filosófica da época, junto com o racionalismo, individualismo, classicismo e antropocentrismo. Direito romano clássico e pós-clássico: exemplos No Direito Feudal, percebeu-se a presença dos chamados contratos de homenagem, marcados por uma forte solenidade e respeito mútuo, tanto que raríssimas eram as vezes que tais contratos eram desfeitos. Os contratos de homenagem representavam um acordo entre o senhor feudal e seu futuro vassalo. Tal acordo somente era consolidado numa cerimônia chamada “homenagem”. Nesta cerimônia, ocorria uma espécie de juramento firmado, com a presença de diversas testemunhas e era sempre finalizado com a benção de um sacerdote amigo de um dos nobres suseranos. Ademais, registra-se que o vassalo, então, se colocava de joelhos na frente do seu suserano e lhe jurava a fidelidade até a morte, tal fidelidade referia-se a diversas questões, como de guerrear na defesa de seu senho e familiares, bem como de prover aquilo que for necessário para a subsistência de seu senhor. (PALMA 2022) Ressalta-se que em tal cerimonia estavam sempre presentes elementos solenetes que caracterizavam tal evento como uma espécie de ritual, na qual reinava um profundo sentimento de religiosidade. Em relação ao Direito Canônico, citamos o Decreto de Graciniano que representou um grande esforço, tal qual Justiniano para os Romanos, em compilar os textos, marcados por uma produção jurídica-normativa da tradição cristã. O monge Graciano fez um dos grandes feitos para o Direito Canônico em seu esforço de compilar os textos escritos até o momento sobre as relações jurídicas da Igreja, fontes de direito, nomeações e poderes do clero secular e regular, normas processuais nas causas eclesiásticas, crimes e sanções de natureza religiosa, disciplina jurídica dos sacramentos, incluindo aqui os casamentos, que era de competência do clero. O resultado de sua empreitada foi a reunião de quatro mil textos. Cita-se também o famoso Decreto de Graciano, o qual recebeu, ao lado dos cânones de uma série de concílios e de sínodos locais da Igreja, muitos outros textos de origem pontifícia, como os de Gregório Magno. Ademais, a importância do decreto ocorre, em virtude da presença de centenas de passagens extraídas dos escritos pastorais de importantes padres, como o caso do conhecido Santo Agostinho. Além disso, o decreto também abarcava os textos de direito secular, principalmente de direito romano. (PALMA, 2022) Merece também destaque no Direito Feudal as formas consuetudinárias do Direto Germânico. Os germânicos organizavam-se em clãs e eram conhecidos como “bárbaros” e, com o passar do tempo, passaram a transcrever seus costumes, em parte, herança do Império Romano, em leis escritas. O resultado disso foram as Leges Barbarorum, que conforme afirma Palma (2022, p. 396): “um conjunto de leis e costumes germânicos reduzidos à forma escrita durante a Idade Média. As principais são a Lex Burgundionum e a Lex Romana Burgundionum, atribuídas ao rei Gundbald (500-516) e a seu filho Sigsmund (516-524)” Introdução O presente texto aborda o momento após o fim da Idade Média, em que o Direito sofrerá enormes mudanças, em razão das transformações operadas pelo absolutismo e suas teorias, bem como pelas fortes influências do iluminismo, decorrência direta do movimento cultural renascentista. Assim surge o Direito Moderno, que emerge das revoluções burguesas e das suas influências internacionais com a quebra do domínio religioso na política. Assim, com o surgimento do humanismo, desvincula-se o direito e a política dos mitos e predestinações da fé, passando-se a se defender que o homem é o verdadeiro condutor do seu próprio destino, dono de sua própria vontade e único dotado de razão para decidir o seu próprio futuro. O fim da idade média e surgimento do absolutismo Durante a Idade Média e seu contexto de poder descentralizado, o poder “divino” ficou representado muito mais fortemente pela instituição da Igreja Católica do que, de fato, por algum rei ou príncipe. Afinal, por mais que a própria Igreja admitisse que “todo poder emana de Deus”, era certo que o único Deus verdadeiro era representado secularmente, em primeiro lugar, pelo Papa e pelo Catolicismo. Assim foi que o poder real foi diminuído durante a Idade Média em razão do poder indireto da Igreja Católica, que influía – e muito – nas questões temporais e, até mesmo, monopolizava certos assuntos, tal como o matrimônio, por exemplo. Além disso, a descentralização do poder real durante o medievo também se deveu fortemente em razão “[...] dos senhores feudais, pelos usos e costumes regionais, pelos privilégios das cidades e corporações de artífices” (CICCO, 2017, p. 258). Assim sendo, no fim da Idade Média, ocorrem inúmeros episódios que levam à morte de nobres – para além da Peste, também, guerras como a dos Cem Anos, Duas Rosas, entre outras – e, frente ao catastrófico cenário de miséria que tinha lugar na Europa, a contestação do poder da Igreja torna-se ainda mais intensa. Nesse período ocorre, também, uma junção de interesses da realeza e da burguesia que conduziram a unificação dos Estados Modernos europeus. À burguesia interessava a unificação dos Estados em razão da crescente intenção capitalista que se formava com os empreendimentos Mercantilistas, e que fazia surgir a necessidade de criação de uma “moeda nacional” para facilitar o comércio. Além disso, o fim dos impostos feudais e uma reformulação das leis também eram fatores de interesse para os burgueses. Aos reis e à nobreza, era a invenção da pólvora que deixava o medo de destruição dos castelos medievais e, consequentemente, a perda do poder de governo, que levava à necessidade de formação do Estado Moderno, com uma nova forma de organização social. Foi frente a essa conveniente união de interesses, onde a Igreja Católica já não contribuía, que surgiram os primeiros Estados Modernos sob o regime mais característico do Renascimento: o absolutismo. A partir de então, constitui-se o Estado Moderno, entendido como um Estado-Nação unificado, e o rei passa a ser sua autoridade máxima, soberana e absoluta. A soberania do Estado Moderno passa a ser interpretada através da supremacia do poder do Estado, que nessa primeira fase absolutista, era representado pela figura do Rei Soberano.Com essa nova forma de organização política, surgiu-se a necessidade de teorias políticas que explicassem e legitimassem as formas de governo postas. Dessa forma, tornaram centrais as teorias dos contratos sociais que buscavam entender as condições que levaram as pessoas, inicialmente inseridas em um contexto primitivo do estado de natureza a passaram ao estado civil, por meio do firmamento de um pacto de dimensões coletivas. Dentre esses contratualistas destacamos Montesquieu que irá propor pela primeira vez a tripartição dos poderes. A origem do estado moderno absoluta e os contratos sociais Com o fim da Idade Média, surge uma nova organização política, marcada pela territorialidade e grupos independentes que iriam ser os Estados Modernos. A organização e composição dos Estados Modernos se dá por três principais elementos: o território e o povo, como elementos materiais; o governo, o poder, a autoridade ou o soberano, como elementos formais. Ainda para alguns autores, há a presença de um quarto elemento, chamado de finalidade. Os autores adeptos a essa corrente argumentam que a existência do Estado precede uma finalidade específica, a qual justifique sua existência (STRECK, 2019). O uso da nomenclatura “Estado” ocorreu com o filósofo Maquiavel, em seu livro “O Príncipe”, no qual apresentou uma das mais relevantes teorias contratualista para a história, nessa obra ele afirma que: “Todos os Estados, os domínios todos que existiram e existem sobre os homens, foram e são repúblicas ou principados”. Com efeito, o Estado Moderno representou uma descontinuidade histórica, tendo em vista que se deu através de uma grande concentração de poder nas mãos do soberano, que era expresso, sobretudo, mediante leis, aplicáveis a todo seu território. Ademais, contava também com um aparato coercitivo a fim de fazer cumprir tais leis, de modo que se impunha a todos a vontade do soberano, o rei. É nesse viés que os teóricos contratualistas buscam desenvolver teorias sobre a origem do estado moderno, cuidando de fundamentar o poder político como decorrência de um acordo social de vontades, que se incumbiu de promover a superação do estado de natureza, ou pré-político, e a instituição da sociedade política, ou civil. Assim, o estado civil funcionaria como uma ferramenta da racionalidade humana, para combater as típicas debilidades do estado primitivo, ora considerado hipótese lógica, ora fato histórico real (STRECK; BOLZAN DE MORAIS, 2019, p. 29). Cita-se entre os contratualistas Maquiavel, John Locke, Thomas Hobbes, Rousseau e Montesquieu. Os dois últimos foram fortemente inspirados pelas ideias do iluminismo francês, pela liberdade, fraternidade e igualdade e apresentavam teorias críticas à monarquia déspota. Rousseau, por exemplo, foi o primeiro a defender o voto, de modo que a vontade geral tivesse relevância na política. Somente com Montesquieu e sua obra “De L’Esprit des Lois” (1748) que surgiu a percepção da tripartição de poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) de funções como “poderes” independentes entre si. A teoria do filósofo foi essencial para a construção do constitucionalismo atual, conferindo precedentes importantes para a organização do Estado e suas funções independentes e harmônicas. Nesse sentido, é possível vislumbrar a tripartição dos poderes, enquanto princípio organizativo e fundamental do Estado Moderno, que se tornou, ao longo dos anos, um dos pilares do constitucionalismo. Assim, foi obtida a maior proteção para o exercício dos direitos individuais, através da garantia da liberdade política, um passo fundamental para o desenvolvimento das teorias constitucionalistas que surgiriam depois. Os contratos sociais: exemplos Os contratualistas propunham teorias que explicassem a passagem do estado da natureza ao estado civilizatório moderno. Tais explicações poderiam referir-se ao um Estado Absolutista, como no caso de Maquiavel, ou a uma outra forma de estado ausente do despotismo monárquico, como em Rousseau e Montesquieu. Tem-se como exemplo, a teoria do contrato social de John Locke proposta para o Estado Inglês, a qual defendia a monarquia constitucional e representativa, que entrou em vigor após 1688 na Inglaterra. Para Locke, o Estado funcionava como garantidor da liberdade e da propriedade privada. Nesse sentido, para Locke haveria um convênio firmado no intuito de resguardar a emersão e generalização do conflito. Através dele, os indivíduos seriam capazes de oferecer seu consentimento para a instauração do estado civil e, posteriormente, para a formação do governo quando, então, se assume o princípio da maioria (STRECK, 2019) Um outro exemplo é o contrato social de Thomas Hobbes, também na Inglaterra, defendia a tese de que o Estado seria uma espécie de leviatã, que teria a função de evitar os conflitos e buscar a harmonia da sociedade. Nesse sentido, o Estado deveria representar um poder absoluto. Nesse sentido, até 1679 foi instaurado na Inglaterra uma monarquia absolutista forte. O pensamento contratualista buscou-se enveredar sobre a busca do surgimento dos Estados e as justificações em torno do seu poder político, através de um pacto social, que teria colocado fim ao estado de natureza, no qual não havia uma devida organização política. Assim, teria surgido o estado civil, como uma representação da racionalidade humana, que, para alguns, representa também o surgimento do homem civilizado. Logo, as teorias contratualistas consolidam-se como instrumentos de legitimação dos Estados, já existentes e a base sistemática de construção do sistema jurídico (STRECK, 2019). Montesquieu em sua obra “O espírito das leis” reconhece a possibilidade de três formas de governo: monarquia, república e despotismo, de modo que a monarquia se sustenta na honra, enquanto a república estaria assentada na virtude e por fim, o governo despótico no medo. Ainda, o autor acreditava que a monarquia seria a forma ideal. A grande contribuição de Montesquieu definitivamente ocorre a partir da propositura da tripartição dos poderes. Para ele, em cada Estado coexistem três poderes: o poder legislativo, o poder executivo (poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes, segundo sua terminologia) e o poder judiciário (poder executivo das coisas que dependem do direito civil). Cada um dos poderes recebe determinadas atribuições, o poder legislativo é o responsável pela confecção das leis, já o poder executivo, ocupa-se o governante da paz e da guerra, envia e recebe embaixadores, estabelece a segurança e previne as invasões, por fim, o poder judiciário dá ao governante faculdade de punir os crimes ou julgar os dissídios da ordem civil (BONAVIDES, 2000). Montesquieu, ao lado de Rousseau e Voltaire, foi um dos grandes pensadores do iluminismo, tendo em vista que criticava o poder absoluto e a monarquia despótica, tendo como um dos pilares de sua teoria a busca pela liberdade política. Para o filósofo, a ideia básica de liberdade consistia na permissão de fazer tudo quanto permitem as leis. Introdução O Direito Moderno emerge das revoluções burguesas e das suas influências internacionais com a quebra do domínio religioso na política. Nesse momento, há uma importante mudança no pensamento humano que traduz a racionalidade e o distanciamento com a Igreja, sobretudo o cristianismo das esferas políticas, jurídicas dentro da organização dos Estados. Assim, com o surgimento do humanismo, desvincula-se o direito e a política dos mitos e predestinações da fé, passando-se a se defender que o homem é o verdadeiro condutor do seu próprio destino, dono de sua própria vontade e único dotado de razão para decidir o seu próprio futuro. Vamos estudar sobre a o common law e o civil law? O debate sobre as fontes do Direito e a influência de circunstâncias sociais e históricasremonta à tradição romanística (nações latino-germânicas) e à tradição anglo-americana (common law). Na tradição romanística, há uma relevância do processo legislativo, com atribuição de valor secundário às demais fontes. Na tradição anglo-americana, por outro lado, o Direito é consolidado por meio de precedentes judiciais que se baseiam na relevância dos usos e dos costumes pela jurisdição, em oposição à abstração pretensamente geral e genérica, típica dos processos legislativos. Embora não se possa conceber o Direito Romano como circunscrito em uma abstração racional típica do movimento codificador na modernidade, trata-se de um corpo jurídico que rompe com o Direito como objeto composto tão somente pelos usos e costumes. Por essa razão, marca o início do Direito Natural que servirá de substrato teórico à construção do Direito Positivo enquanto síntese universalizável da razão humana. Eduardo Bittar (2019) ressalta, também, que, no Direito Romano, os costumes, aos poucos, foram cedendo lugar à jurisdição ou ao direito jurisprudencial. Foi mediante a atividade dos juízes e dos pretores que os romanos construíram o jus civile, privativo dos romanos, e o jus gentium, de caráter mais amplo. Dessa forma, o direito próprio dos romanos (jus civile) foi se convertendo no Direito comum a romanos e estrangeiros: o Direito das gentes (jus gentium). Posteriormente, dada a influência da filosofia grega e estoica, a ideia de jus gentium se alargou em uma noção de valor universal que compõe o jus naturale, o Direito Natural. Mesmo na tradição anglo-americana, nenhum costume obriga enquanto não consagrado pelos tribunais. Nesse sentido, Soares (2019) expressa que, seja em países onde há o primado da lei (civil law) ou em países onde há o primado do precedente judicial (common law), normas editadas pelo Estado têm prevalência sobre as demais normas jurídicas consideradas no ordenamento. Nesse sentido, É preciso lembrar também que a Common Law apresenta alguns traços de distinção fundamental em comparação imediata com a Civil Law (o Sistema Romano-Germânico de Direito). Um dos mais evidentes, diga-se, desde pronto, consiste no reconhecimento da fonte do direito a alcançar maior primazia neste sistema: enquanto na Common Law ocorre a consagração do precedente judiciário, gerado pelo costume, em sua congênere supracitada prepondera, de modo quase absoluto, a lei. Por isso mesmo se diz que o Direito https://www.infoescola.com/direito/fontes-do-direito/ inglês é uma espécie de “judge made law” (“direito construído por juízes”). Isso não quer de modo algum dizer que “não existam leis escritas” no país. (PALMA, 2019, p. 480) Em linhas gerais, as diferenças entre os sistemas podem ser assim sintetizadas: As peculiaridades do direito feudal, do direito canônico e o surgimento do renascentismo O common law é um direito essencialmente jurisprudencial em longo desenvolvimento nos séculos, sobretudo, na Inglaterra. Inclusive, ressalta-se que o Direito Inglês não sofreu as influências das codificações, nem renovado pela crescente retomado ao Direito Romano. Pelo contrário, manteve uma continuidade histórica dentro da sequência de julgados que compõe o common law. Uma interessante característica do common law é o papel preponderante dos juízes, tendo em vista que são eles que elaboram as jurisprudências que serão posteriormente seguidas e usadas como fonte principais de Direito. É, pois, a característica fundamental do commom law ser um direito jurisprudência, de modo que a lei exerce um papel muito menos relevante, sendo resguardada ao momento de formação com os documentos constitucionais, entre outros. No entanto, no decorrer do desenvolvimento e da aplicação do commom law raramente é utilizada, sendo protagonizado pelas jurisprudências e juízes. Alguns elementos importantes do common law é o writ, equity, jury e precedente judiciário. O writ é uma forma de qualquer cidadão peticionar frente às autoridades. Com a proibição dos writs surgiram os equity também com a proposta de se recorrer diretamente ao rei, nesse processo, era decidido conforme a equidade. O jury, por sua vez, refere-se a presença de um júri no julgamento de diversos casos, inclusive da seara cível. Por fim, o precedente judiciário diz respeito aos casos julgados anteriormente que são frequentemente utilizados nas argumentações de defesa ou de denúncia. Quanto ao civil law trata do direito ocidental, regulado pela linguagem predominante escrita, intensa codificação e extremo formalismo. Miguel Reale (2002) esclarece que cada sistema é fruto de uma tradição social, cultural e histórica particular e, portanto, não se pode comparar civil law e common law qualitativamente fora do contexto em que cada sistema opera. Em primeiro lugar, é importante destacar que são dois sistemas jurídicos distinto e extremamente relevantes no mundo Ocidental, e que surgem, através de experencias culturais diferentes. Ademais, é pouco interessante as discussões acerca das hierarquias dos dois sistemas, tendo em vista que inexiste um sistema perfeito de Direito, já que o próprio Direito ideal é uma falácia. O Direito, na realidade, representa uma experiência história de seu povo. Essa experiência notadamente é diversa entre as inúmeras nações existentes, dessa forma, para alguns a aplicação dos usos e costumes torna-se mais relevante, por ser uma aspiração imediata de seu povo, enquanto para outros existe um maior incentivo às legislações e formalismos legalistas, em razão de convicções políticas e filosóficas compartilhadas. No entanto, o mais importante é que na atualidade ambos os sistemas dialogam entre si, de modo que os precedentes judiciais vêm ganhando relevância dentro dos sistemas civilistas e as normas legais ganham cada vez mais importância nos sistemas de common law. Common law e civil law pelo mundo O common law, como estudado, surgiu na Inglaterra por uma série de fatores, dentre eles a ausência das fortes influências do Direito Romano, que impões em grande parte do mundo o sistema germânico romano, bem como uma cultura de precedentes jurídicos já bem estabelecida. No entanto, o common law não se restringiu aos territórios ingleses, pelo contrário, conseguiu se espalhar para outros países, ganhando força e relevância assim como o civil law. A expansão do common law para outras partes do mundo ocorreu, sobretudo, em razão do programa de expansão colonial do Império Britânico que se intensifica, preponderantemente, no decorrer dos séculos XVIII e XIX. É por essa razão que países como os Estados Unidos da América, o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia, a Irlanda e Gales, além de outros mais, estão filiados à grande família de Direito da Common Law, tendo em vista que foram, em determinando momento, colônias da Inglaterra. Tanto o common law e o civil law produziram uma vasta tradição jurídica, atualmente vigente em vários países. Historicamente, o civil law corresponde a uma matriz latino-germânica do Direito, ao passo que o common law deriva da tradição anglo-americana. Atualmente, embora haja mútua influência entre os sistemas, pode-se identificar países em que um deles prevalece sobre o outro. Conforme exposto, o sistema civil law funda-se, precipuamente, na lei como fonte de Direito. O sistema de common law, por sua vez, prioriza as decisões judiciais. Os demais sistemas representados, conforme evidenciado no mapa, são minoritários e têm aplicação pontual e, por isso, não são o foco desse estudo. Apenas a título de curiosidade, cabe ressaltar que o customary law (direito consuetudinário) funda-se no costume como fonte de Direito. O muslim law (ou xaria, direito islâmico), por sua vez, busca nas Escrituras Sagradas do Islamismo a fonte do Direito. Por fim, os países representados como mixed systems são aqueles em que se verifica um ou mais
Compartilhar