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Impacto Femuroacetabular (Parte 2)

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AULA 7 - IMPACTO FEMUROACETABULAR (PARTE 2)
Professor Leandro Fukusawa
1. Quadro Clínico
 A descrição do quadro clínico do paciente com Síndrome do Impacto Femoroacetabular (SIFA)
inclui a presença de dor em formato de "C" na região do quadril, conhecida como "Sinal do C".
Essa dor é percebida na área inguinal e na parte lateral do quadril afetado, sendo caracterizada
por seu início gradual. Os sintomas são agravados ao permanecer sentado por longos períodos,
ao entrar e sair de um veículo, ao colocar meias e sapatos e durante movimentos de rotação
com o membro inferior afetado em apoio durante atividades esportivas. Outros sintomas
associados à SIFA incluem episódios de travamento, rigidez e restrição da amplitude de
movimento (ADM), especialmente na flexão e rotação interna do quadril.
 Além da dor em formato de "C" na região do quadril, que engloba a área inguinal e a lateral do
quadril, muitos pacientes podem relatar desconforto em outras áreas do corpo, como no joelho,
na lateral da coxa, na região lombar e nas partes posterior e anterior da coxa, bem como nos
glúteos.
 O "Sinal do C" abrange toda a musculatura da região inguinal e lateral do quadril. Entretanto, é
importante notar que o impacto femuroacetabular geralmente ocorre mais na região anterior. As
incertezas que enfrentamos estão relacionadas à origem dessa dor, ou seja, se ela provém de
tecidos intra ou extra articulares, e qual é a sua fonte específica.
Figura 1: “Sinal do C”.
 É fundamental exercer cautela ao relacionar diretamente o impacto femoroacetabular (IFA) com
a dor, uma vez que muitas pessoas podem apresentar essa condição anatômica sem experi-
mentar desconforto. Portanto, é importante evitar afirmar categoricamente ao paciente que sua
dor é exclusivamente causada pelo IFA. Além disso, devemos ser cuidadosos ao sugerir que
atividades cotidianas, como colocar meias e sapatos, entrar e sair de um carro ou permanecer
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sentado por longos períodos, sejam a única causa do IFA. Informações incorretas podem cau-
sar ansiedade no paciente, levando-o a evitar esses movimentos e posturas permanentemente.
Figura 2: Regiões comumente dolorosas em pacientes com SIFA.
 Os pacientes com SIFA podem manifestar uma diminuição na força muscular do quadril, exceto
nos músculos responsáveis pela rotação interna e extensão do quadril. No entanto, é
importante observar que a literatura existente sobre esse tópico ainda não fornece conclusões
definitivas.
 A ADM da articulação do quadril em pacientes com SIFA não parece diferir significativamente
daquela observada em pacientes sem quaisquer alterações no quadril. No entanto, é
importante ressaltar que indivíduos com SIFA podem apresentar um déficit no equilí-brio
durante a realização de exercícios em um único apoio. Contudo, é relevante mencionar que os
estudos que sustentam essa afirmação têm uma qualidade metodológica considerada baixa.
 Pacientes diagnosticados com IFA podem apresentar variações na biomecânica do quadril
durante a caminhada e agachamento. Isso pode incluir um ângulo de extensão máxima do
quadril reduzido, uma menor amplitude na rotação interna máxima do quadril e um torque
menor na rotação externa do quadril. No entanto, é importante destacar que essas diferenças
tendem a ser de magnitude pequena a moderada.
2. Testes Especiais
 Existem poucos testes especiais de alta qualidade disponíveis no exame clínico do quadril que
possam orientar a tomada de decisão clínica no diagnóstico da SIFA. Além disso, há uma
escassez de informações sobre a precisão diagnóstica e validade desses testes.
 Atualmente, apenas os testes de FADIR e Flex-IR têm respaldo e são recomendados para a
triagem de pacientes com SIFA.
 O paciente deve estar em decúbito dorsal, com o quadril afetado fletido a 90 graus.
 O examinador deve segurar o joelho e o tornozelo do paciente e realizar uma adução e uma
rotação interna do quadril, aproximando o joelho do lado oposto do corpo.
 O teste é considerado positivo se houver dor na região inguinal ou se houver uma sensação de
bloqueio ou estalido no quadril.
 O teste de FADIR é um teste simples e rápido, mas tem algumas limitações. Ele tem uma alta
sensibilidade, o que significa que ele pode identificar bem os casos de SIFA, mas tem uma
baixa especificidade, o que significa que ele pode dar falsos positivos em outras condições que
também causam dor no quadril.
Figura 3: Teste de FADIR.
3. Prevalência de IFA em Assintomáticos
 O estudo “Prevalence of Femoroacetabular Impingement Imaging Findings in Asymptomatic
Volunteers: A Systematic Review” publicado na revista "Arthroscopy" em junho de 2015
determinou a prevalência de achados radiográficos sugestivos de IFA (IFA) em indivíduos
assintomáticos, ou seja, pessoas que não apresentavam sintomas relacionados ao quadril.
 Metodologia: Foi realizada uma revisão sistemática seguindo as diretrizes do PRISMA.
Foram incluídos estudos que relataram achados radiográficos, tomográficos ou de
ressonância magnética (RM) sugestivos de IFA em voluntários assintomáticos.
 Resultados:
 Inicialmente, foram identificados 237 estudos. Após a aplicação de critérios de inclusão
e exclusão, 26 estudos foram incluídos na análise.
 Esses estudos envolveram um total de 2.114 quadris assintomáticos, com uma média
de idade de 25,3 anos.
 Aproximadamente 33% dos quadris analisados pertenciam a atletas, incluindo joga-
dores de futebol americano universitário, recrutas do exército e jogadores de hóquei.
 A média do ângulo alfa (medido na RM e radiografia) nos quadris assintomáticos foi de
54,1 graus.
 A prevalência geral de uma deformidade de tipo cam em quadris assintomáticos foi de
37%, variando de 7% a 100% entre os estudos.
 Quando comparada à população em geral, a população atlética apresentou uma
prevalência quase três vezes maior de deformidade de tipo cam (54,8% vs. 23,1%).
 A prevalência de quadris assintomáticos com lesões de tipo pincer foi de 67%, variando
de 61% a 76% entre os estudos. A população atlética teve uma prevalência de 49,5%.
 Lesões labrais foram encontradas em 68,1% dos quadris assintomáticos na RM, sendo
que 65,4% dos quadris com lesões labrais pertenciam a atletas.
 Conclusões:
 O estudo conclui que características morfológicas relacionadas ao IFA e lesões labrais
são comuns em pacientes assintomáticos, e a presença delas pode ser ainda maior em
atletas.
 A tomada de decisão clínica deve analisar cuidadosamente a associação entre a
história do paciente, o exame físico e a imagem radiográfica para determinar se essas
características morfológicas são clinicamente relevantes.
 Em resumo, muitas pessoas assintomáticas apresentam alterações no quadril que podem ser
características do IFA, e essas alterações não necessariamente causam sintomas. Portanto, é
importante considerar o contexto clínico ao interpretar esses achados em exames de imagem.
Gráfico 1: Comparação da prevalência das características morfológicas do IFA e das lesões labrais entre a população
atlética e a população em geral.
4. Correlação entre Osteoartrite (OA) de Quadril e IFA
 Muitos pacientes originalmente diagnosticados com OA idiopática podem apresentar
características radiográficas consistentes com IFA.
 Relação entre OA e IFA do tipo cam: há uma forte associação entre OA de quadril e IFA do
tipo CAM.
 Relação entre OA e IFA do tipo pincer: não se sabe se há relação entre OA de quadril com a
deformidade do tipo pincer.
Em resumo, a relação entre deformidades do tipo pincer e OA do quadril não é tão clara quanto no
caso do IFA do tipo cam. Alguns estudos encontraram uma associação entre deformidades do tipo
pincer e OA, enquanto outros não encontraram correlação significativa. Mais pesquisas são
necessárias para entender melhor essa relação.
5. Tratamento Não-Cirúrgico
 Abordagem Conservadora vs. Cirúrgica:
 Atualmente, não há evidências de alta qualidade que indiquem claramentequal tratamento
é o mais adequado, devido à escassez de estudos comparativos que avaliem a eficácia.
 Educação do paciente:
 Informar o paciente sobre movimentos a serem evitados.
 Sugestões para adaptações na vida diária, como escolha de cadeiras.
 Modificações nas atividades físicas para minimizar o desconforto.
 Liberação gradual para retomar atividades físicas.
 Exercícios:
 Enfatizar o fortalecimento da musculatura glútea (médio e máximo) e dos rotadores
externos.
 Fortalecimento geral dos membros inferiores.
 Cautela ao trabalhar os flexores e adutores do quadril, pois podem ser fontes de dor.
 Incluir exercícios funcionais e de controle motor.
 Utilizar bom senso na progressão de carga, respeitando a dor e as limitações individuais de
cada paciente.
 Técnicas Auxiliares:
 Mobilização articular quando apropriada.
 Liberação muscular para reduzir a tensão.
 Evitar manipulações agressivas.

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