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A condição da ciência psicológica como fundamento da Educação Apresentação Você diariamente pode observar que, em diferentes meios, a presença da Psicologia é comum, seja por meio de amigos, familiares ou colegas de trabalho que tenham algum acompanhamento psicológico, ou em alguma reportagem na TV em que encontramos especialistas da área tecendo alguma análise ou comentário de alguma notícia, por exemplo. A Psicologia já está presente na vida de muitas pessoas, seja em consultórios, em empresas ou mesmo nas escolas, mas isso não aconteceu de uma hora para outra, é fruto de um longo processo histórico no qual a Psicologia foi se constituindo como um campo científico. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai identificar o conceito de Psicologia e as diferentes áreas de atuação dessa ciência, conhecer as discussões quanto à cientificidade da Psicologia e reconhecer quais áreas da ciência psicológica fundamentam estudos e práticas da Educação. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar a Psicologia e as suas diferentes áreas.• Discutir sobre o Estatuto Científico da Psicologia.• Identificar as relações entre as áreas da ciência psicológica e sua fundamentação com os estudos e a prática da Educação. • Desafio O cotidiano das escolas se apresenta povoado de fatos e contradições que permeiam o ensinar e o aprender, interferindo na forma como os profissionais executam seu trabalho. Quase sempre escutamos que os psicólogos vêm se deparando com muitos impedimentos para desenvolver ações nas escolas, principalmente quando se trata da rede pública de ensino, em razão de sua amplitude e complexidade. Diante da demanda de resolução imediata de questões, qualquer proposição de pensar o que se passa nas salas de aula, nos conselhos de classe, nas reuniões com professores e familiares e nas atividades rotineiras implicadas com a formação pode gerar um olhar de descrédito, o que vem fomentando nos psicólogos a percepção da escola como uma instituição fechada a mudanças. Como acessar a dimensão de complexidade da escola, a qual não se constitui somente em um edifício, mas, sim, em um território existencial em que a diversidade de vínculos e de ações faz diferença, facultando múltiplas possibilidades? Como analisar as contradições presentes em uma escola que se propõe a ensinar ao mesmo tempo em que, objetivamente, nem sempre tem condições para cumprir tal tarefa? Tendo em vista as reflexões e questionamentos do fragmento acima: 1. Aponte a seguir três contribuições que as ciências psicológicas podem ofertar aos espaços escolares. 2. Em seguida, aponte uma crítica a respeito de como esse aporte teórico está sendo utilizado na Educação. Infográfico A origem da palavra psicologia deriva da palavra grega psique, que significa “mente/alma”. Do modo mais simples, compreende a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais. Dentre as diversas subáreas de atuação da Psicologia, destacamos, nesta Unidade de Aprendizagem, aquelas que se relacionam com a Educação. Conheça essas áreas no Infográfico a seguir. Conteúdo do livro Nomes de destaque como Vygotsky, Wallon e Piaget desenvolveram estudos sobre conceitos que envolvem a aprendizagem, o desenvolvimento infantil, a memória, a percepção e a motivação. Dentre as diversas áreas que as ciências psicológicas atuam, a Psicologia da Educação é a que busca viabilizar aportes teóricos para a aprendizagem a fim de torná-la mais eficaz. No capítulo A Condição da Ciência Psicológica como Fundamento da Educação, da obra Psicologia da educação, base teórica para esta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer as relações entre as ciências psicológicas e a Educação, além de refletir como essa disciplina tem sido considerada no cenário escolar contemporâneo. Boa leitura. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Caroline Costa Nunes Lima A condição da ciência psicológica como fundamento da educação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Conceituar a psicologia e as suas diferentes áreas. � Discutir sobre o estatuto científico da psicologia. � Identificar as relações entre as áreas da ciência psicológica e sua fun- damentação com os estudos e a pratica da educação. Introdução Você diariamente observa que em diferentes meios de comunicação a presença da psicologia é comum, seja por um amigo, familiar ou colega de trabalho que tenham algum acompanhamento psicológico, ou em alguma reportagem na TV, em que encontramos especialistas da área realizando alguma análise ou embasando alguma notícia com aspectos científicos da área, por exemplo. Neste capítulo, você identificará o conceito de psicologia e as dife- rentes áreas de atuação da ciência psicológica, conhecerá as discussões quanto à cientificidade da psicologia e reconhecerá quais áreas da ciência psicológica que fundamentam seus estudos e práticas da educação. A Psicologia e suas áreas de atuação A palavra psicologia deriva da palavra grega psique, que significa “mente/alma” e, de modo mais simples, compreende a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais. Antes de prosseguir, reflita por um momento: quantos aspectos envolvem questões comportamentais e processos e funcionamentos de nossa mente? Se você pensou que dentro desses estudos existem observações quanto à consciência, inconsciência, pensamento, aprendizagem, personali- dade, emoções, já teve noção da complexidade que envolvem as investigações relacionadas à psicologia. E imagine que dentro dessas questões também há bases fisiológicas e biológicas responsáveis pela integração de todos esses elementos. Segundo Feldman (2015, p. 52), Os psicólogos tentam descrever, prever e explicar o comportamento e os processos mentais humanos, além de ajudar a mudar e melhorar a vida das pessoas e do mundo em que elas vivem. Eles empregam métodos científicos para encontrar respostas que são mais válidas e legítimas do que as que re- sultam da intuição e especulação, que muitas vezes são imprecisas. Agora que demos início universo que envolve a ciência da psicologia, vamos apresentar as diferentes áreas de atuação que essa ciência engloba. Certamente existem algumas você já deve ter bastante familiaridade, mas outras são de maior conhecimento de quem tem uma formação específica acadêmica relacionada à essa ciência. Vejamos o Quadro 1 a seguir com as subáreas de atuação da psicologia. Subáreas Descrição Genética comportamental A genética comportamental estuda a herança de traços relacionados ao comportamento. Neurociência comportamental A neurociência comportamental examina as bases biológicas do comportamento. Psicologia clínica A psicologia clínica trata do estudo, do diagnóstico e do tratamento de transtornos psicológicos. Neuropsicologia clínica A neuropsicologia clínica une as áreas da biopsicologia e da psicologia clínica, focando a relação entre fatores biológicos e transtornos psicológicos. Psicologia cognitiva A psicologia cognitiva centra-se no estudo dos processos mentais superiores. O aconselhamento psicológico aborda principalmente problemas educacionais, sociais e de adaptação profissional. Psicólogo do aconselhamento O aconselhamento psicológico aborda principalmente problemas educacionais, sociais e de adaptação profissional. Quadro 1. Subáreas da Psicologia. (Continua) A condição da ciência psicológica como fundamento da educação2 Subáreas Descrição Psicologia transcultural A psicologia transcultural investiga as semelhanças e diferenças no funcionamento psicológico nas várias culturas e nos grupos étnicos Psicologia do desenvolvimento A psicologia do desenvolvimento examina como as pessoas crescem e mudam a partir do momento da concepção até a morte. Psicologia educacional A psicologia educacional ocupa-se do ensino e dos processos aprendizagem, tais como a relação entre motivação e desempenhona escola. Psicologia ambiental A psicologia ambiental considera a relação entre as pessoas e o ambiente físico. Psicologia evolucionista A psicologia evolucionista considera como o comportamento é influenciado pela herança genética de nossos antepassados. Psicologia experimental A psicologia experimental estuda os processos de sentir, perceber, aprender e pensar sobre o mundo. Psicologia forense A psicologia forense aborda questões legais, tais como determinar a precisão das memórias de testemunhas. Psicologia da saúde A psicologia da saúde explora a relação entre fatores psicológicos e enfermidades físicas, ou doenças. Psicologia industrial/ organizacional A psicologia industrial/organizacional preocupa-se com a psicologia do local de trabalho. Psicologia da personalidade A psicologia da personalidade analisa a consistência no comportamento das pessoas ao longo do tempo e as características que diferenciam uma pessoa da outra. Avaliação de programas A avaliação de programas centra-se na avaliação de programas de grande escala para determinar se eles são eficazes na concretização de seus objetivos. Psicologia das mulheres A psicologia das mulheres aborda questões como a discriminação contra mulheres e as causas da violência contra mulheres. Quadro 1. Subáreas da Psicologia. (Continuação) (Continua) 3A condição da ciência psicológica como fundamento da educação Como é possível visualizar no Quadro 1 anterior, existe um vasto campo de atuação dos profissionais da área da psicologia, assim como é possí- vel identificar que essa ciência apoia, contribui e dialoga com diferentes profissões. Discussões sobre a cientificidade da psicologia Os primeiros indícios do nascimento da psicologia surgiram na antiga Grécia e já demonstravam interesse quanto ao funcionamento da mente. No entanto, a consideração de status como área científica teve início somente depois que Wilhelm Wundt desenvolveu em XIX na Alemanha um laboratório de expe- rimentos voltados para os fenômenos de natureza psíquica. Esse pesquisador concebia que a psicologia era o estudo da experiência do consciente, teoria que se denominou Estruturalismo. Para se familiarizar com o pensamento psicológico de Wilhelm Wundt, acesse o link ou o código a seguir (ARAUJO, 2009). https://goo.gl/LwuHbF (Continuação) Feldman (2015). Subáreas Descrição Psicologia escolar A psicologia escolar é dedicada ao aconselhamento de crianças que têm problemas acadêmicos ou emocionais nas escolas primárias e secundárias. Psicologia social A psicologia social é o estudo de como os pensamentos, os sentimentos e as ações das pessoas são afetadas pelos outros. Psicologia do esporte A psicologia do esporte aplica a psicologia à atividade e ao exercício esportivo. Quadro 1. Subáreas da Psicologia. A condição da ciência psicológica como fundamento da educação4 Com o passar do tempo a teoria de Wundt foi sendo questionada por outros psicólogos. Assim foi concebida uma nova teoria chamada Funcio- nalismo proposta pelo psicólogo americano William James. Os adeptos dessa tendência focaram seus estudos nas funções da atividade mental e na função do comportamento relacionado à adaptação ao ambiente. Outro movimento denominado Behaviorismo tinha como objeto de estudo os estímulos, suas respostas e relações com a aprendizagem. Além das já citadas, outra abordagem da psicologia denominada Gestalt tinha como ênfase a organização da percepção, pensamento e resolução de problemas, em uma experiência humana global. E, por hora, apresentamos a teoria psicanalítica que tinha como objeto de estudo a personalidade normal e anormal com foco de observação na primeira infância e aspectos relativos ao inconsciente. Figura 1. A complexidade do funcionamento da mente. Fonte: Doggygraph / Shutterstock.com Ao longo dos anos, a questão envolvendo a cientificidade da psicologia foi tema de discussões, pois diversos estudiosos se dividiam na defesa de teorias e, até o momento, nenhuma delas se sobrepôs à outra, mantendo-se paralelamente no decorrer do tempo. Segundo Damásio (2009, p. 199), desde que se constituiu como projeto científico, a psicologia procurou trilhar o caminho da ciência. As psicologias científicas do século XX afastaram-se definitivamente de psicologias racionalistas e de psicologias empíricas de cunho filosófico. Mas o desenvolvimento de psicologias científicas no século 5A condição da ciência psicológica como fundamento da educação passado não foi capaz de conferir unidade à psicologia. Ao contrário, o que se viu no século XX foi uma notável proliferação de psicologias científicas. Com isto posto, podemos afirmar que existe uma diversidade de teorias conflitantes e coexistentes dentro da Psicologia, em que até mesmo as no- menclaturas sofrem alterações de acordo com as concepções existentes. É a ciência que fornece as diretrizes capazes de avaliar evidências por meio da razão na busca da investigação de seus princípios. Psicólogos se funda- mentam em métodos e procedimentos científicos por meio de observações e experimentações. Como outras ciências, a psicologia também não é concebida como completa, pois a inúmeros fenômenos ainda não foram explicados e compreendidos. Outros elementos que devem ser abordados em se tratando da cientificidade é esclarecer o significado de alguns termos bem recorrentes nas correntes filosóficas, como realidade, verdade, conhecimento e hipótese. Segundo Castañon (2007, p. 10): realidade é o que existe independentemente de nossas mentes. Verdade, num sentido ideal, é o conjunto das declarações acerca do real que correspondem linguisticamente a este. Conhecimento é o conjunto das crenças acerca do real que acreditamos serem verdadeiras por serem justificadas por um método demonstrativo ou de teste. Finalmente, hipótese é uma crença acerca do real que não foi submetida a um processo de justificação. Outro fato importante a ser refletido diz respeito ao senso comum que as pessoas costumam chamar de conceitos psicológicos na busca de explicar questões comportamentais de si próprias e de outras pessoas. Por essas opiniões há uma sustentação do controle sobre a vida, sobre como é o melhor modo de cuidar dos filhos, como construir amizades e controlar momentos de raiva. Esse tipo de psicologia originada de observações casuais tem bases frágeis, pois o senso comum não tem fundamentação científica necessária para lidar com questões tão complexas quanto a mente humana. As relações entre a psicologia e a educação Você já se perguntou quais relações existem entre a psicologia e a educação? Para compreendermos de que modo uma área dialoga com a outra, é impor- tante identificarmos as trajetórias percorridas, algumas teorias construídas, as principais tendências e, com isto, apresentar como a psicologia pode contribuir para o campo educacional. A condição da ciência psicológica como fundamento da educação6 Podemos iniciar esse percurso pelo final do século XIX, quando a psico- logia e a educação sofreram grandes influências filosóficas. Nas primeiras décadas do século XX, as teorias psicológicas eram comumente aplicadas nos espaços escolares. Os contextos existentes nos espaços educativos envolvem as relações interpessoais entre professores, alunos, gestores e responsáveis, e contam também com organizações de currículo, etapas e estratégias de ensino, com o apoio das ciências psicológicas. Alguns destaques como Vygotsky, Wallon e Piaget desenvolveram estudos sobre conceitos relacionados diretamente a aprendizagem, desenvolvimento infantil, memória, percepção, motivação, entre outros. E dentre as diversas áreas que as ciências psicológicas atuam, a psicologia da educação se constrói com objetivo de viabilizar aportes teóricos voltados para aprendizagem a fim de que a torne mais eficaz. Ao refletirmos que dentro do ato de aprender estão contidos, por exemplo, processos que envolvem conhecimentos, habilidades, aptidões, atitudes,motivações, podemos compreender o quanto são necessários referenciais que apoiem educadores e educandos. Ainda sobre as relações entre essas áreas, Freitas (1994, p. 37) destaca: [...] a relação entre a psicologia e a educação só pode ser aprendida dialeti- camente e não de forma unilateral. As determinações de uma sobre a outra significa que os condicionantes de cada área entram em relação entre si e iniciam um processo de influência uns sobre os outros, contribuindo cada qual com sua especificidade e modificando-se como consequência dessa relação. Agora que já abordamos as relações entre psicologia e educação, passaremos à questão de como essas áreas se relacionam nos dias de hoje e quais questões merecem ser analisadas. A formação acadêmica do psicólogo faz com que esse profissional firme um compromisso global com a vida humana envolvendo saúde e educação. Já o professor irá se ocupar com duas vertentes em seu fazer pedagógico: uma, com paradigmas que envolvem racionalidade e técnica, e outra, com paradigmas que apontam para um fazer crítico e reflexivo. Se atua de acordo com a primeira perspectiva, desenvolverá competências por meio dos conhecimentos partilhados por cientistas como um suporte em sua prática, reproduzindo esses métodos de modo técnico. Embora saibamos que ainda existem educadores que se apoiam somente nessas técnicas, não devemos mais conceber que a formação do educador se limite a técnicas que, sozinhas, não são capazes de lidar com a complexidade que envolve questões educativas. Trata-se de uma rede de relações que va- riam de acordo com variadas circunstâncias, além das constantes situações 7A condição da ciência psicológica como fundamento da educação particulares problemáticas que exigem muito mais que a técnica referida. A psicologia, com sua pluralidade, deve estar acessível ao professor, oferecendo subsídios por meio de um conjunto de saberes que os apoiem nas situações frequentemente enfrentadas. Como afirma Larocca (2000), Na verdade, a atuação do professor, na sala de aula e na escola, é ecologica- mente complexa (Gómez, 1995), coisa que quer dizer vivacidade e mudança, isto é, interação simultânea de múltiplos fatores e condições. Em Educação, a imbricação das variáveis intervenientes é de tal modo intensa que não existem “problemas a serem resolvidos”, mas “situações problemáticas” que, via de regra, apresentam-se como casos únicos, singulares e raramente enquadráveis. Há que se ter em vista que a cada projeto educacional instrumentos e métodos são definidos considerando concepções éticas e filosóficas. A cada fato ocorrido em sala, novas decisões são tomadas e recebidas de acordo com a subjetividade dos atores envolvidos no processo num constante desafio fruto dessas interações dentro desses contextos sociais. Para enfrentar essas dinâmicas diárias os educadores não devem tentar simplificar essas relações e sim desenvolver habilidades por meio de processos formativos críticos e reflexivos. Além das tentativas de simplificar concepções na aplicação de métodos que não dão conta de solucionar problemas complexos, há também uma crítica quanto ao uso de certas teorias de psicologia para apoiar algumas políticas educacionais escolhidas por equipes de Secretarias Municipais e Estaduais de Educação. Comumente professores e equipes gestoras são capacitados de modo exaustivo sendo direcionados para o uso das teorias escolhidas não havendo diálogo entre as partes. Como resultado esses modismos teóricos vão sofrendo alterações nas mudanças periódicas dos governos, não se sustentam porque na prática não são capazes de lidar com a dinâmica enfrentada nas esferas educacionais gerando desgaste e resistência por parte dos educadores que a todo momento veem novas imposições como essas. Uma proposta bem fundamentada deve ser capaz de superar essas práticas e planejar uma formação de professores que construam um pensamento crítico, reflexivo e consciente de que educar é criar condições par ao exercício da A condição da ciência psicológica como fundamento da educação8 cidadania de modo autônomo e democrático. Segundo Freire (1980, p. 26) e Larocca, (2000), [...] mais que possibilitar acesso às várias correntes teóricas, o projeto de pluralidade na Psicologia Educacional precisa amparar-se em três aspectos essenciais: a compreensão epistemológica, a práxis e a consciência históri- ca (Freire, 1980, p.26). Ou seja, a pluralidade, por si só, não remete à formação crítico-reflexiva. Para que possa servi-la será preciso propiciar clareza acerca dos objetos de estudo dos diferentes teóricos, dos princípios epistemológicos que os regem, dos pressupostos filosóficos que os sustentam e da história de cada elaboração (Larocca, 1999). Sem isso, o pluralismo vira ecletismo e favorecerá a manutenção de consciências ingênuas. As relações entre a psicologia e educação devem ser construídas por meio de temáticas problematizadoras voltadas para uma prática que se apoie em aportes teóricos metodológicos da psicologia. Esses aportes devem ter como foco a inserção em espaços escolares dentro de seus contextos sociais para que, a partir dessas interações, surjam novas propostas para intervir nesses cenários. A escola deve compreender que o homem é pluridimensional e que, acima de ofertar conteúdos para serem assimilados, é necessário enxergar que esses sujeitos são compostos por relações afetivas, culturais, sexuais, bioló- gicas e sociais e esses elementos devem ser trabalhados de modo integrado com propostas curriculares e pedagógicas das instituições. Freire (1980, p.82) dentro desse contexto, afirma: Na defesa de uma educação crítica e problematizadora ressalta as possibili- dades de limitação e desafio representados pelo “aqui e agora” dos homens no mundo. É, por isso, que o real não pode ser perdido de vista pelo formador em Psicologia. É este real que permitirá que sejam feitas (re) leituras das teorias psicológicas e, como consequência, reestruturação e superação do conhecimento atual. Concluindo essas questões tratadas, é possível afirmar que, apesar de toda relevância da psicologia na esfera educacional, o que vemos é uma frequente diminuição dessa disciplina nas licenciaturas e cursos de formações de edu- 9A condição da ciência psicológica como fundamento da educação cadores. Além disso, esse espaço mínimo acaba por ser preenchido por uma organização curricular que privilegia a teoria em detrimento de sua articulação com a prática, se afastando de um fazer pedagógico que deve ser criticamente analisado e debatido nos espaços desses cursos. Dessa forma, espera-se que o futuro profissional tome essa proposição como algo que desperte a motivação necessária para se aprofundar nas ciên- cias psicológicas tão intrinsecamente ligadas à educação e envolver-se nessa aprendizagem, que enriquecerá sua prática profissional. ARAUJO, S. F. Uma visão panorâmica da psicologia científica de Wilhelm Wundt. Scientiae Studia, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 209-220, jun. 2009. Disponível em: <http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662009000200003&lng= en&nrm=iso>. Acesso em: 01 nov. 2017. CASTAÑON, G. Introdução a epistemologia. Joinville: IFSC, 2007. Disponí- vel em: <http://joinville.ifsc.edu.br/~joyce.shimura/M%C3%93DULO%20VIII/ Introdu%C3%A7%C3%A3o_a_Epistemologia-Gustavo-Casta%C3%B1on_2007_SP_ EPU.pdf> Acesso em: 26 out. 2017. DAMÁSIO, J. A. Epistemologia pluralizada e história da psicologia. Scientiae Studia, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 195-208, jun. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662009000200002> Acesso em: 26 out. 2017. FELDMAN, R. S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 1980. FREITAS, M.T.A. Vigotsky e Bakhtin: psicologia e educação, um intertexto. São Paulo: Ática,1994. GÓMEZ, A. P. O pensamento prático do professor: a formação do professor como profissional reflexivo. In: NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e a sua formação. 2. ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995. p. 93-114. LAROCCA, P. O saber psicológico e a docência: reflexões sobre o ensino de psico- logia na educação. Psicologia: ciência e profissão, Brasília, DF, v. 20, n. 2, p. 60-65, jun. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi d=S1414-98932000000200009>. Acesso em: 27 out 2017. A condição da ciência psicológica como fundamento da educação10 Dica do professor A Dica do Professor apresenta alguns conceitos formulados com base no Estruturalismo, explicando o funcionamento da mente e suas relações com as ideias, consciente e inconsciente. As teorias e objetos de estudo do filósofo Johann Friedrich tiveram relação direta com a Psicologia da Educação, sendo um referencial importante como elemento introdutório nesta Unidade de Aprendizagem. Assista. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/dafedff5217f333aad90a2340cd6a754 Exercícios 1) A Psicologia, ciência que estuda o comportamento e os processos mentais, teve seus primeiros registros na Grécia Antiga, mas passou a ser considerada como ciência quando um laboratório de experimentos voltados para fenômenos psíquicos foi criado por: A) Gustav Fechner. B) Wilhelm Wundt. C) Eduard Titchener. D) William James. E) Sigmund Freud. 2) Além do estudo de comportamento e estados da mente, a Psicologia tem fundamentos com bases na Fisiologia e na Biologia. Tendo em vista essas considerações, de que modo os psicólogos buscam analisar, descrever e prever comportamentos mentais dos seres humanos? A) Analisam o comportamento de seus pacientes por meio de especulações de ações previsíveis e técnica. B) Empregam pesquisas e testes psicológicos que resultam em respostas para diagnósticos de possíveis anormalidades. C) Realizam questionários e interpretam os resultados por meio de estatísticas e contextos situacionais. D) Constroem um trabalho em conjunto, no qual, por meio de conversas, chegam, junto com os pacientes, em algumas conclusões sobre os problemas apresentados. E) Valem-se de métodos científicos com o objetivo de encontrar respostas válidas e coerentes, independentemente da abordagem adotada. 3) Dentro das ciências psicológicas, existem diversas subáreas em que os profissionais formados podem se especializar e atuar. Uma delas, por exemplo, é a Psicologia Educacional, que: A) atua em questões relacionadas ao processo de aprendizagem, além de acompanhar as relações entre a motivação e o desempenho escolar. B) investiga e analisa o crescimento, o desenvolvimento e a transformação dos indivíduos desde a sua concepção. C) atua no aconselhamento psicológico que envolve problemas educacionais, sociais e de adaptações aos ambientes. D) dedica-se ao aconselhamento de crianças que têm problemas acadêmicos ou emocionais na escola. E) atua no estudo de como os sentimentos e as atitudes das pessoas são afetadas pelos outros. 4) Desde o século XIX, após Wundt elaborar uma teoria construída por meio de investigações científicas em seu laboratório criado na Alemanha, novas concepções surgiram, passando a coexistirem com outras já formuladas. Qual dessas teorias enfatizava os modos de organização do pensamento e percepções, com foco na resolução de problemas? A) Estruturalismo. B) Behaviorismo. C) Fundamentalismo. D) Psicanálise. E) Gestalt. 5) As relações entre a Psicologia e a Educação ocorrem desde o século XIX e, dependendo do modo como se articulam, podem trazer inúmeros benefícios para esses campos de atuação. O que os educadores devem fazer para aproveitar eficazmente o que as ciências psicológicas podem oferecer? A) Optar por uma teoria que mais se adéque ao seu ponto de vista, aplicando seus conceitos em sua prática pedagógica. B) Apoiar-se em correntes teóricas considerando os princípios epistemológicos, filosóficos e de consciência histórica. C) Estar em constante formação, seguindo as orientações das Secretarias de Educação ao qual estão vinculados. D) Utilizar os referencias teóricos advindos das ciências psicológicas para aplicar a racionalidade e a técnica em seu fazer pedagógico. E) Acompanhar as tendências para utilizar a teoria que tenha se sobreposto às outras por se relacionar com as especificidades contextuais do momento. Na prática A psicologia é uma área de conhecimento bastante ampla, pois tem diferentes áreas de atuação. Uma das áreas na qual ela atua é a educação. Ao longo da história da psicologia da educação, diferentes estudiosos se dedicaram à compreensão dos processos de aprendizagem humana, trazendo contribuições importantes para que os aspectos necessários para a construção de novos saberes fossem incorporados às práticas educativas. Neste vídeo, você vai compreender melhor a relação entre a psicologia e a educação. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/ed41fde2afc4b514b702ce2ae000dfa9 Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Desafios da Psicologia enquanto ciência: O livre-arbítrio e a ciência Veja na entrevista com o psicólogo Gustavo Castañon: O que é filosofia da ciência? Quais os desafios da Psicologia como ciência? O ser humano é dotado de livre-arbítrio? Como entender esses conceito diante da ciência atual? Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Psicologia é ciência? Por quê? Assista neste breve vídeo os motivos pelos quais a Psicologia é considerada uma área científica. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Psicologia da Educação As tentativas de fundamentar cientificamente a educação e o ensino sempre tiveram como ponto de apoio a psicologia. A finalidade principal do livro é oferecer uma visão de conjunto dessa Psicologia e das suas contribuições ao estudo dos fenômenos educativos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL EM TEMPOS DE PANDEMIA. https://www.youtube.com/embed/Z6MsuI1rruY https://www.youtube.com/embed/hSJbPh7-3f8 Este artigo traz as discussões sobre a Psicologia Escolar e Educacional em plena Pandemia vivida no Brasil e no mundo. Uma reflexão importante sobre o papel desse campo do conhecimento. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. ORIGEM DA PSICOLOGIA - GRANDES TEMAS DA PSICOLOGIA 03 Atualmente, a psicologia é definida como a ciência do comportamento e dos processos mentais, uma definição que reflete as origens e a história dessa ciência. Mas, como a psicologia surgiu? Quando ela surgiu? Quem fundou a psicologia como ciência? Vale a pena considerarmos essas questões históricas por várias razões. Nesse vídeo, que traz a história dessa ciência, é possível compreender como tornou-se um campo científico. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.scielo.br/j/pee/a/hx3xFK7HJVTwhBRss4pMs6m/?lang=pt https://www.youtube.com/watch?v=FQXbnn7gLGQ
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