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Mídia digital: Para auxiliar no entendimento do conteúdo teórico, vá até a sala virtual e assista ao vídeo “Aula 4”. 1 Arranjo físico nas organizações O arranjo físico de uma operação diz respeito ao posicionamento físico de suas pessoas e instalações. Geralmente, o arranjo físico é aquilo que a maioria de nós observa primeiro ao entrar em uma unidade produtiva, porque ele determina a aparência da operação. Arranjo físico significa decidir onde colocar todas as instalações, mesas, máquinas, equipamento e pessoas da operação. Também trata da aparência física de uma operação em sentido mais amplo. Controla a segurança, atratividade, flexibilidade e eficiência de uma operação. Também determina o modo pelo qual os recursos transformados – materiais, informação e clientes – fluem pela operação. O objetivo primordial das decisões sobre arranjo físico é, acima de tudo, apoiar a estratégia competitiva da operação, significando isso que deve haver um alinhamento entre as características do arranjo físico escolhido e as prioridades competitivas da organização. Uma coisa, entretanto, é fato: a decisão de arranjo físico é capaz de afetar os níveis de eficiência e eficácia das operações. Pode-se dizer que, dentro dos limites estabelecidos pela estratégia competitiva da operação, um bom projeto de arranjo físico pode visar tanto eliminar atividades que não agreguem valor como enfatizar atividades que agreguem: minimizar os custos de manuseio e movimentação interna de materiais; utilizar o espaço físico disponível de forma eficiente; apoiar o uso eficiente da mão de obra, evitando que esta se movimente desnecessariamente; facilitar comunicação entre as pessoas envolvidas na operação, quando adequado; reduzir tempos de ciclo dentro da operação, garantindo fluxos mais linearizados, sempre possível e coerente com a estratégia; facilitar a entrada, a saída e a movimentação dos fluxos de pessoas e de materiais; incorporar medidas de qualidade (por exemplo, respeitando distâncias entre setores que façam produtos que possam ser contaminados um pelo outro) e atender a exigências legais de segurança no trabalho (por exemplo, mantendo isolados setores que possam necessitar de proteção especial do trabalhador); facilitar manutenção dos recursos, garantindo fácil acesso; facilitar acesso visual às operações, quando adequado; encorajar determinados fluxos (por exemplo, os arranjos físicos de alguns supermercados podem induzir fluxos de clientes de forma a aumentar a exposição dos produtos a eles); auxiliar na criação de determinadas percepções nos clientes (os arranjos físicos de alguns restaurantes favorecem que o cliente “participe” ou acompanhe o preparo de seus pratos). Objetivos Conhecer os diferentes tipos de arranjo físico que existem. Compreender as principais características que diferenciam a organização dos recursos transformadores e como fluem os recursos a serem transformados. Semana 4 – Arranjo físico https://www.youtube.com/watch?v=zmwHjyiEtz8 Um projeto bem elaborado de arranjo físico será capaz de refletir e alavancar desempenhos competitivos desejáveis. Há, por exemplo, tipos de arranjo físico que favorecem a flexibilidade das operações, os fluxos múltiplos, a customização; já há outros que favorecem a eficiência dos fluxos e do uso dos recursos. Como muitas das decisões em operações, em determinadas situações pode haver trade-offs (conflitos) entre a obtenção de flexibilidade e eficiência, por exemplo, utilizando um projeto só de arranjo físico. Daí resulta a necessidade de subordinar a decisão de arranjo físico à estratégia competitiva da operação. Os arranjos físicos mais práticos são derivados apenas de quatro tipos básicos. São eles: • Arranjo físico de posição fixa (posicional). • Arranjo físico funcional. • Arranjo físico celular. • Arranjo físico em linha (ou “por produto”). Esses tipos de arranjo físico estão mais ou menos relacionados aos tipos de processos descritos na unidade anterior, conforme mostra a Figura 17. Figura 17 – A decisão do arranjo físico Fonte: Slack et al. (2018) 1.1. Arranjo físico de posição fixa ou posicional No arranjo físico posicional ou de “posição fixa” os recursos transformados não se movem entre os recursos de transformação. Em vez de materiais, informações ou clientes fluírem por uma operação, quem sofre o processamento fica no lugar, enquanto equipamento, maquinário, instalações e pessoas movem-se na medida do necessário. Isso pode ocorrer porque o produto ou o receptor do serviço é muito grande para ser movido de forma conveniente, pode ser muito delicado para ser movimentado ou, talvez, pode recusar- se a ser movido, como, por exemplo: • Construção de uma rodovia – o produto é muito grande para ser movido. • Cirurgia de coração – os pacientes estão em estado muito delicado para serem movidos. A Figura 18 mostra os médicos ao redor do paciente durante uma cirurgia. • Restaurante à la carte – os clientes opõem-se a ir até onde a comida é preparada. • Construção naval – o produto é muito grande para ser movido. Figura 18 – Paciente sendo operado. Exemplo de arranho físico posicional. Fonte: UOL (2023) Trata-se, em geral, de um tipo de arranjo físico cuja eficiência é baixa (daí ser crescentemente comum que as operações que necessitam operar com arranjos posicionais terceirizem grande parte das etapas do processo de agregação de valor a empresas especializadas, que podem, então, utilizar seus recursos em uma maior quantidade de operações). Permite, entretanto, grau máximo de customização: as produções que se utilizam de arranjos posicionais geralmente dedicam-se a produtos únicos ou em muito pequenas quantidades. Figura 19 – Produção de catamarã. Exemplo de arranho físico posicional. Fonte: Batevento (2023) 1.2. Arranjo físico funcional A lógica desse tipo de arranjo é a de agrupar recursos com função ou processo similar. Por exemplo: - em uma serralheria com arranjo funcional, os tornos ficam todos agrupados na “tornearia”, as furadeiras ficam agrupadas no “setor de furação” e assim por diante; - em uma loja de departamentos com arranjo por processo, a organização de seus departamentos é feita em “roupas femininas”, “roupas masculinas”, “sapatos” etc.; Figura 20 – Foto interna da loja Renner. Arranjo físico funcional Fonte: Brazilian Journal (2018) - em um supermercado com arranjo por processo, os produtos são também, em geral, agrupados de acordo com sua função: “material de limpeza”, “congelados”, “alimentos” etc.; - em um hospital com arranjo funcional, os setores são organizados pela especialidade ou função: “setor de radiologia”, “setor de ortopedia”, “setor de análises clínicas” etc. A Figura 21 mostra os arranjos físicos funcionais para acomodar (a) fluxos de materiais e (b) fluxos de clientes. Figura 21 - Ilustração de arranjos físicos funcionais e os correspondentes fluxos X e Y de pessoas (a) e de materiais (b). Fonte: Corrêa e Corrêa (2019) O arranjo físico funcional é, em geral, usado quando os fluxos que passam pelos setores são muito variados e ocorrem intermitentemente. Observe que, embora na Figura 21 apenas dois fluxos possíveis estejam representados, fica claro que as possibilidades de esse tipo de arranjo físico lidar com diferentes roteiros para os fluxos são enormes. Isso é o que faz esse tipo de arranjo físico ser considerado bastante flexível. Por outro lado, também é fácil imaginar que esse tipo de arranjo, quando os fluxos começam a ficar intensos, faz com que os fluxos se cruzem, acarretando piora na eficiência e aumento no tempo de atravessamento dos fluxos. Esse é um trade-off presente nesse tipo de arranjo: privilegia a flexibilidade dos fluxos (permite, por exemplo, que independentemente da preferência ou necessidade do cliente de percorrer diferentestrajetos, mais longos ou mais curtos, todos possam ser acomodados) à custa da eficiência: observe as distâncias percorridas como tendem a ser longas, com movimentações, a rigor, desnecessárias, entre diferentes máquinas na ferramentaria (Figura 21, letra a) e entre diferentes gôndolas no supermercado (Figura 21, letra b). No arranjo físico funcional, os recursos ou processos semelhantes estão localizados juntos porque é conveniente agrupá-los ou porque a utilização dos recursos de transformação é melhorada. Isso significa que, quando produtos, informações ou clientes fluem pela operação, eles percorrem um roteiro de atividade a atividade, de acordo com suas necessidades. Diferentes produtos ou clientes terão diferentes necessidades e, portanto, percorrerão diferentes rotas. Geralmente, isso faz com que o padrão de fluxo na operação seja bastante complexo. Arranjo físico celular O arranjo físico celular tenta aumentar as eficiências do geralmente ineficiente arranjo físico funcional, tentando, entretanto, não perder muito de sua desejável flexibilidade. Baseado num conceito às vezes chamado de tecnologia de grupo, recursos não similares são agrupados de forma que com suficiência consigam processar um grupo de itens que requeiram similares etapas de processamento. Um arranjo físico celular é desenvolvido em etapas: • identificar famílias de itens produzidos que tenham, agregadamente, volume suficiente e similar conjunto de recursos para serem processados – deve-se estar preparado para que “sobrem” determinados itens de grande variedade que não conseguem ser colocados em nenhuma célula –, estes continuarão, em geral, a ser processados num setor com arranjo funcional; • identificar e agrupar recursos (máquinas, pessoas) de forma que consigam, com suficiência, processar as famílias de itens identificadas, definindo células; • para cada célula, arranjar os recursos, usando os princípios gerais do arranjo por produto, estabelecendo uma pequena operação dentro da operação, de forma que a movimentação e os fluxos daquelas famílias identificadas em 1 sejam mais ordeiros, simples e ágeis; • localizar máquinas grandes ou que não possam ser divididas para fazerem parte de células específicas para próximo das células. Os resultados são: • não se perde flexibilidade, pois o mesmo conjunto original de itens continua sendo processado; • ganham-se velocidade e eficiência de fluxo, pois os recursos da particular célula estão próximos numa “pequena operação”; • as distâncias percorridas pelos fluxos dentro das células são muito menores; • simplificam-se os fluxos no restante da operação, que fica “aliviada” das famílias de itens que conseguem ser processadas pelas células estabelecidas; • os tempos de preparação dos equipamentos nas células tendem a ser menores, já que processam itens de forma e dimensões similares; • melhora-se a qualidade, já que o grupo de funcionários a cargo de gerenciar e operar os recursos das células tende a desenvolver mais a sensação de “propriedade” e responsabilidade por uma família inteira de itens e não apenas por uma etapa produtiva; • melhor controle de produção, pois cada célula é focalizada num relativamente pequeno grupo de itens. Vamos supor que na ferramentaria da Figura 22 foi identificada uma família de itens, Y, que é composta de vários itens que têm formato, porte e processo produtivo similar. Todos necessitam sofrer processamento nos setores de furação, fresagem, retífica e tratamento térmico. Os volumes foram checados e constatou-se que a utilização desses equipamentos seria aceitável se processassem só os itens da família Y. Foram então agrupados equipamentos necessários a processar a família de itens Y e foi estabelecida a Célula Y, com os equipamentos arranjados de forma a favorecer o fluxo, não só para favorecer tanto a comunicação entre os membros da célula, como também para eventualmente permitir que um funcionário possa operar mais que uma máquina, aumentando eficiências. A Figura 22 mostra como ficou o fluxo com a célula, que é bem reduzido para o produto Y. Figura 22 – Arranjo físico celular Fonte: Corrêa e Corrêa (2019) O mesmo conceito aplica-se quando se trata de processar informações, num escritório, em que um processo, por exemplo de aprovação de crédito num banco, originalmente dividido entre várias etapas de responsabilidade de funcionários dedicados em departamentos separados (cadastro, análise financeira de balanços, verificação cartorial, análise do projeto, aprovação), passa a ser organizado em células que contêm funcionários trabalhando juntos, organizados com base nas etapas necessárias à aprovação de crédito, a cargo de todas as etapas da aprovação, encurtando tremendamente os tempos de atendimento, por exemplo: célula pequenos negócios, célula pessoa física, célula grandes contas. A mesma lógica também poderia ser aplicada para nosso exemplo numa loja de departamentos como mostra a Figura 23. Originalmente funcional (roupa masculina, roupa feminina, calçados etc.), uma loja de departamentos pode optar, por exemplo, por estabelecer uma célula de material esportivo, visando melhor e mais rapidamente atender a pessoas que estejam interessadas em artigos de esporte. A célula, então, contará com roupa masculina esportiva, roupa feminina esportiva, calçados esportivos etc. Os fluxos do grupo de clientes interessados em esporte serão muito mais rápidos e ordeiros. Figura 23 – Loja de departamentos mostrando uma “célula de loja-dentro-da-loja” no arranjo físico do restante da loja Fonte: Slack et al. (2018) Outro exemplo de elaboração de células é mostrado nas Figuras 24, 25 e 26. Figura 24 – Layout do centro de trabalho original Fonte: Jacobs e Chase (2009) Figura 25 – Matriz de trajeto baseada no fluxo das peças Fonte: Jacobs e Chase (2009) Figura 26 – Realocação de máquinas para formar células, de acordo com os requisitos de processamento da família de peças Fonte: Jacobs e Chase (2009) Arranjo físico em linha ou por produto Arranjo físico em linha ou por produto consiste em localizar os recursos de transformação inteiramente segundo uma conveniência melhor dos recursos transformados. Cada produto, elemento de informação ou cliente segue um roteiro predefinido no qual a sequência de atividades requerida coincide com a sequência na qual os processos foram arranjados fisicamente. Os recursos transformados seguem um “fluxo” ao longo da “linha” de processos, de acordo com as necessidades de seu “produto”. Chama-se “por produto” porque a lógica usada para arranjar a posição relativa dos recursos é a sequência de etapas do processo de agregação de valor. Evidentemente, só valerá a pena arranjar os recursos segundo a sequência de etapas de um processo se ela for percorrida por um grande volume de fluxo. O fluxo é claro, previsível e, assim, relativamente fácil de controlar. Normalmente, são os requisitos padronizados do produto ou serviço que fazem com que a produção escolha arranjos físicos em linha. Este tipo de arranjo físico por produto é mais adequado a operações que processam grandes volumes de fluxo que percorrem uma sequência muito similar: empresas que produzem um ou poucos produtos em altos volumes, ou que atendam a grandes volumes de clientes que passam por uma sequência comum de etapas no processo de atendimento. É comum que operações que produzam altos volumes de um ou poucos produtos estejam na verdade produzindo matérias-primas, muitas vezes produtos sem diferenciação de marca (aço, alumínio, papel, vidro plano, entre outros). Produtos sem diferenciação são às vezes chamados commodities, e pela não diferenciação de especificação ou marca encontram no preço seu principal fator de concorrência, o que faz com que os níveis de custos internos operacionais tenham deser baixos para que os níveis desejados de margens aconteçam. Isto porque este é o arranjo cujo fluxo ocorre com eficiência máxima. Numa linha de montagem, por exemplo, as unidades montadas passam, de uma em uma, de uma etapa do processo a outra (as etapas, em geral, encontram-se lado a lado), num ritmo preestabelecido, de forma que sempre haja alguém agregando valor ao produto. Isso não ocorre, por exemplo, no arranjo físico funcional, em que, além do tempo de não agregação de valor gasto no transporte do produto entre etapas, é frequente que um bom tempo seja gasto pelos produtos que aguardam processamento em filas. O que está sendo descrito aqui é que nos arranjos físicos por produto ou em linha há certo nível de conexão entre as diferentes etapas de um processo agregador de valor. Essa conexão é alta em linhas de montagem, mas chega a seu máximo em operações que trabalham com processo em fluxo contínuo. Pense numa planta petroquímica: o fluxo, mais do que conexo, entre etapas, flui por tubulações que o levam continuamente de etapa a etapa partindo da matéria-prima original e chegando ao produto. A eficiência desse tipo de fluxo é máxima; entretanto, qualquer alteração de roteiro produtivo é impossível ou muito difícil de ser feita. Chegamos ao trade-off envolvido nesse tipo de arranjo físico: ele certamente privilegia a eficiência, sendo consequentemente menos flexível. Alguns exemplos de arranjo físico por linha de produto: • Linha de montagem de automóveis – quase todas as variantes do mesmo modelo requerem a mesma sequência de processos. • Vacinação em massa – todos os clientes requerem a mesma sequência de atividades administrativas, médicas e de aconselhamento. • Restaurante self-service – geralmente, a sequência de serviços requeridos pelo cliente (entrada, prato principal, bebidas, sobremesa) é comum para todos os clientes, mas o arranjo físico auxilia também a manter controle sobre o fluxo de clientes. Em arranjos físicos por produto (ou em linha), as tarefas envolvidas em produzir determinado item, em geral, padronizado e em larga escala, devem ser alocadas para as estações de trabalho de forma a atingir um fluxo produtivo o mais suave possível. A alocação de quais tarefas devem ser executadas por qual estação de trabalho é conhecida como balanceamento de linha e terá impacto na configuração das estações de trabalho, no seu espaço e na posição relativa, ou seja, no seu arranjo físico. A configuração das estações de trabalho deve ser tal que os tempos ociosos sejam minimizados ao longo da linha de produção. Atividade: Para concluir a primeira semana de estudos, vá até a sala virtual e responda ao “Questionário 04”. Lembrando que a conclusão desta atividade no período proposto corresponde à frequência da disciplina.