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2 © Copyright - Todos os Direitos Reservados De forma alguma é legal reproduzir, duplicar ou transmitir qualquer parte deste documento em meio eletrônico ou em formato impresso. A gravação desta publicação é estritamen- te proibida e qualquer armazenamento deste documento não é permitido, a menos que haja permissão por escrito do editor. Todos os direitos reservados. As informações fornecidas neste documento são declaradas verdadeiras e consistentes, sem que qualquer responsabilida- de, em termos de desatenção ou de outra forma, por qualquer uso ou abuso de quaisquer políticas, processos ou instruções contidas aqui é de responsabilidade exclusiva e total do leitor destinatário. Sob nenhuma circunstância qualquer responsa- bilidade legal ou culpa será exercida contra o editor por qual- quer reparação, dano ou perda monetária devido as informa- ções aqui contidas, direta ou indiretamente. Os respectivos autores possuem todos os direitos autorais não detidos pelo editor. 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Ao ler este documento, o leitor concorda que, em nenhuma circunstância, somos responsáveis por quaisquer perdas, di- retas ou indiretas, decorrentes do uso das informações con- tidas neste documento, incluindo, mas não limitado a erros, omissões ou imprecisões. Diagramação: LivroEbook Diagramação e Design 3 SUMÁRIO MÓDULO 1: SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E PARTICIPANTES DO MERCADO ....................................................................................................13 1.1.1 - SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL...................................................................................................... 14 1.1.2 - CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL – CMN ............................................................................ 15 1.1.3 - BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN ........................................................................................ 17 1.1.4 - COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM ...................................................................... 19 1.1.5 - SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS – SUSEP ..............................................20 1.1.6 - SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR – PREVIC ...................................................................................................................................................................................21 1.1.7 - ANBIMA ....................................................................................................................................................................23 1.1.8 - CÓDIGO ANBIMA DE CERTIFICAÇÃO .............................................................................................25 1.1.9 - BOLSA DE VALORES E MERCADO DE BALCÃO .....................................................................29 1.2.1 - BANCOS .................................................................................................................................................................31 1.3.1 - DTVM/CTVM ........................................................................................................................................................34 1.4.1 - TIPOS DE INVESTIDORES .........................................................................................................................36 1.5.1 - CLEARING HOUSE .........................................................................................................................................38 1.5.2 - SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO (SPB) ...................................................................39 MÓDULO 2:COMPLIANCE LEGAL, ÉTICA E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR ................................................................................................42 2.1.1 - RISCO LEGAL E RISCO DE IMAGEM ..................................................................................................43 2.2.1 - CONTROLES INTERNOS ............................................................................................................................44 2.3.1 - O QUE É LAVAGEM DE DINHEIRO ...................................................................................................47 4 2.3.2 - ÓRGÃOS DE PLDFT......................................................................................................................................50 2.3.3 - OBRIGAÇÕES DAS EMPRESAS ...........................................................................................................51 2.3.4 - CONHEÇA SEU CLIENTE..........................................................................................................................74 2.3.5 - FASES DA LAVAGEM DE DINHEIRO E PENALIDADES ...................................................78 2.4.1 – MANIPULAÇÃO DE MERCADO E MANIPULAÇÃO DE PREÇOS...............................80 2.4.2 – USO INDEVIDO DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA E OUTRAS PRÁTICAS NÃO EQUITATIVAS........................................................................................................................................................83 2.4.3 – EXERCÍCIO IRREGULAR DE CARGO, PROFISSÃO, ATIVIDADE OU FUNÇÃO REGULADA .........................................................................................................................................................................85 2.4.4 – OMISSÃO IMPRÓPRIA ..............................................................................................................................86 2.5.1 - DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DE INVESTIMENTOS ........................................................87 2.6.1 - ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR – API ...........................................................................87 2.6.2 - FATORES DETERMINANTES PARA ADEQUAÇÃO DOS PRODUTOS DE INVESTIMENTO ...............................................................................................................................................................91 2.6.3 - FINANÇAS PESSOAIS ................................................................................................................................95 2.7.1 - A DECISÃO DO INVESTIDOR NA PERSPECTIVA DAS FINANÇAS COMPORTAMENTAIS ...............................................................................................................................................96 2.7.2 - HEURÍSTICA DA DISPONIBILIDADE E REPRESENTATIVIDADE ...............................97 2.7.3 - HEURÍSTICA DA ANCORAGEM E AVERSÃO A PERDA .....................................................99 2.7.4 – EFEITOS DE ESTRUTURAÇÃO ............................................................................................................. 101 2.8.1 - CONCEITOS DE ASG ..................................................................................................................................... 102 2.8.2 – REGULAÇÃO E AUTORREGULAÇÃO ASG ................................................................................. 106 2.8.3 – GESTÃO E DIVULGAÇÃO DO PRSAC ............................................................................................. 110 MÓDULO 3: NOÇÕES DE ECONOMIA E FINANÇAS ...............................113 3.1.1 - PRODUTO INTERNO BRUTO – PIB ....................................................................................................114 3.1.2 - SISTEMAS DE META DE INFLAÇÃO E IPCA ................................................................................ 115 3.1.3 - ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DO MERCADO – IGPM ........................................................... 117 5 3.1.4 - PTAX ......................................................................................................................................................................... 117 3.1.5 - TAXA REFERENCIAL – TR ......................................................................................................................... 118 3.1.6 – CDI E TAXA DI .................................................................................................................................................... 120 3.1.7 - COPOM E TAXA SELIC ................................................................................................................................ 121 3.1.8 - DEPÓSITO COMPULSÓRIO ................................................................................................................... 124 3.1.9 – OPEN MARKET E REDESCONTO ....................................................................................................... 127 3.1.10 - POLÍTICA CAMBIAL .................................................................................................................................... 129 3.1.11 – BAÇANÇA DE PAGAMENTOS E RESERVAS INTERNACIONAIS ............................... 132 3.1.12 - POLÍTICA FISCAL ............................................................................................................................................ 134 3.1.13 – RESUMO DAS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS .................................................................... 135 3.2.1 – TAXA DE JUROS REAL X TAXA DE JUROS NOMINAL......................................................... 136 3.2.2 - SISTEMAS DE CAPITALIZAÇÃO .......................................................................................................... 139 3.2.3 - EQUIVALÊNCIA DE TAXAS ...................................................................................................................... 142 3.2.4 - FLUXO DE PAGAMENTOS....................................................................................................................... 145 3.2.5 - CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL – CMPC ......................................................... 149 3.2.6 – PRAZO MÉDIO PONDERADO E RETORNO MÉDIO PONDERADO .................... 151 MÓDULO 4: INSTRUMENTOS DE RENDA FIXA, RENDA VARIÁVEL E DERIVATIVOS ..............................................................................................156 4.0.1 - INSTRUMENTOS DE RENDA FIXA X RENDA VARIÁVEL .................................................. 157 4.1.1 - AÇÕES - CONCEITO ...................................................................................................................................... 159 4.1.2 - OFERTA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA ................................................................................................ 160 4.1.3 - TIPOS DE AÇÕES ............................................................................................................................................ 163 4.1.4 - RECIBOS DE DEPÓSITOS DE AÇÕES - BDR’S E ADR’S ................................................... 164 4.1.5 – CARACTERÍSTICAS DE NEGOCIAÇÃO ........................................................................................... 166 4.1.6 – DIREITOS E REMUNERAÇÃO DOS ACIONISTAS ................................................................. 170 6 4.1.7 - EVENTOS SOCIETÁRIOS ............................................................................................................................ 172 4.1.8 - CONCEITOS GERAIS DE PRÁTICAS DE BOA GOVERNANÇA CORPORATIVA................................................................................................................................................................. 174 4.1.9. DISTINÇÕES ENTRE ANÁLISE TÉCNICA (OU GRAFISTA) E ANÁLISE FUNDAMENTALISTA ................................................................................................................................................... 176 4.1.10 - PRECIFICAÇÃO - ASPECTOS RELEVANTES ............................................................................ 178 4.1.11 - TRIBUTAÇÃO ...................................................................................................................................................... 180 4.1.12 - INDICADORES DE RENDA VARIÁVEL .......................................................................................... 182 4.1.13 - RISCOS NO MERCADO DE AÇÕES ................................................................................................. 184 4.1.14 - CLUBE DE INVESTIMENTOS EM AÇÕES.................................................................................... 186 4.2.1 - O QUE É RENDA FIXA ................................................................................................................................. 187 4.2.2 – REGRA DE TRIBUTAÇÃO EM RENDA FIXA ............................................................................... 189 4.2.3 - TÍTULOS PÚBLICOS FEDERAIS .......................................................................................................... 191 4.2.4 - TESOURO DIRETO ........................................................................................................................................ 196 4.2.5 – TESOURO RENDA + E TESOURO EDUCA + ............................................................................. 197 4.2.6 - RISCOS INERENTES AO PRODUTO ................................................................................................ 198 4.2.7 – FGC E FGCOOP ..............................................................................................................................................200 4.2.8 - CERTIFICADO DE DEPÓSITO BANCÁRIO (CDB) .................................................................202 4.2.9 - LETRA FINANCEIRA (LF) ..........................................................................................................................203 4.2.10 - DEPÓSITO A PRAZO COM GARANTIA ESPECIAL (DPGE) ..........................................205 4.2.11 - LETRA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO (LCI) .....................................................................................206 4.2.12 - CÉDULA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO E CERTIFICADO DE RECEBÍVEL IMOBILIÁRIO .....................................................................................................................................................................208 4.2.13 - LETRA DE CRÉDITO DO AGRONEGÓCIO (LCA) ..................................................................210 4.2.14 - CÉDULA DO PRODUTOR RURAL (CPR) ...................................................................................211 4.2.15 - CERTIFICADO DE DIREITOS CREDITÓRIOS DO AGRONEGÓCIO E CERTIFICADO DE RECEBÍVEL DO AGRONEGÓCIO .........................................................................213 7 4.2.16 - DEBÊNTURES .................................................................................................................................................215 4.2.17 - CARACTERÍSTICAS DE NEGOCIAÇÃO .........................................................................................219 4.2.18 - NOTAS PROMISSÓRIAS (NP) ..............................................................................................................221 4.2.19 - OPERAÇÃO COMPROMISSADA ......................................................................................................222 4.2.20 - CADERNETA DE POUPANÇA ...........................................................................................................223 4.3.1 - INTRODUÇÃO A DERIVATIVOS ............................................................................................................2244.3.2 - MERCADO A TERMO ..................................................................................................................................226 4.3.3 - MERCADO DE SWAP .................................................................................................................................228 4.3.4 - INTRODUÇÃO AO MERCADO DE OPÇÕES .............................................................................232 4.3.5 – CARACTERÍSTICAS DAS OPÇÕES ....................................................................................................233 4.3.6 – TICKER DE UMA OPÇÃO ........................................................................................................................237 4.3.7 – ESTRATÉGIAS COM OPÇÕES ..............................................................................................................238 4.3.8 - INTERPRETAÇÃO DOS GRÁFICOS ..................................................................................................239 4.3.9 - FATORES QUE INFLUENCIAM O PREÇO DE UMA OPÇÃO + TRIBUTAÇÃO ...243 4.3.10 - MERCADO FUTURO ..................................................................................................................................244 4.3.11 – FUNCIONAMENTO DO MERCADO FUTURO .........................................................................245 4.3.12 – RISCOS E TRIBUTAÇÃO DO MERCADO FUTURO .............................................................246 4.3.13 – RESUMO DERIVATIVOS ..........................................................................................................................247 4.4.1 – CERTIFICADO DE OPERAÇÕES ESTRUTURADAS (COE) ..............................................248 4.5.1 - NEGOCIAÇÃO, LIQUIDAÇÃO E CUSTÓDIA .................................................................................252 4.6.1 - O QUE É UMA OFERTA PÚBLICA ......................................................................................................253 4.6.2 – COORDENADOR LIDER ..........................................................................................................................256 4.6.3 – DEMAIS INSTITUIÇÕES INTERMEDIÁRIAS ...............................................................................258 4.6.4 – ASPECTOS LEGAIS E NORMATIVOS DA OFERTA – PARTE 1.......................................263 4.6.5 – ASPECTOS LEGAIS E NORMATIVOS DA OFERTA – PARTE 2 ......................................264 4.6.6 – PUBLICIDADE E RESPONSABILIDADE SOBRE AS INFORMAÇÕES ...................268 8 4.7.1 - CÓDIGO ANBIMA DE OFERTA PÚBLICA .....................................................................................269 MÓDULO 5: FUNDOS DE INVESTIMENTOS .............................................277 5.1.1 – CONCEITO DE FUNDOS DE INVESTIMENTOS ........................................................................278 5.1.2 – COTAS ......................................................................................................................................................................281 5.1.3 – PRESTADORES DE SERVIÇOS ............................................................................................................285 5.1.4 – ASSEMBLEIA DE COTISTAS ....................................................................................................................289 5.1.5 – INVESTIMENTO POR CONTA E ORDEM .....................................................................................291 5.1.6 – DINÂMICA DE APLICAÇÃO E RESGATE ........................................................................................292 5.1.7 – DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÃO ......................................................................................................295 5.1.8 - FECHAMENTO DE COTAS PARA RESGATES E APLICAÇÕES ......................................296 5.1.9 – BARREIRAS AOS RESGATES ..................................................................................................................297 5.1.10 – POLÍTICA DE INVESTIMENTO X OBJETIVO..............................................................................298 5.1.11 – DIREITOS E OBRIGAÇÕES ......................................................................................................................299 5.1.12 – RESPONSABILIDADE LIMITADA E ILIMITADA DOS COTISTAS .................................300 5.1.13 – EXPOSIÇÃO A RISCO DE CAPITAL ...................................................................................................301 5.1.14 – REMUNERAÇÃO ............................................................................................................................................302 5.1.15 – TIPIFICAÇÃO .....................................................................................................................................................305 5.1.16 – CLASSIFICAÇÃO ANBIMA PARA AS CLASSES ........................................................................309 5.1.17 – OUTROS FUNDOS .......................................................................................................................................319 5.1.18 - FUNDO DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO - FII .....................................................................320 5.1.19 - EXCHANGE TRADED FUND - ETF ....................................................................................................323 5.1.20 - FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITÓRIOS - FIDC ........................324 5.1.21 - FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPAÇÕES - FIP ..................................................326 5.2.1 - TRIBUTAÇÃO EM FUNDOS DE INVESTIMENTOS -IOF ......................................................327 5.2.2 - TRIBUTAÇÃO EM FUNDOS DE INVESTIMENTOS - IR .......................................................328 9 5.2.3 – TRIBUTAÇÃO EM FUNDOS DE INVESTIMENTOS - COME COTAS ..........................330 5.2.4 – TRIBUTAÇÃO NOS DEMAIS FUNDOS DE INVESTIMENTOS .......................................331 5.2.5 – COMPENSAÇÃO DE PERDAS ..............................................................................................................333 5.3.1 – CÓDIGO DE ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DE RECURSOS DE TERCEIROS ....333 5.4.1 – REGRAS E PROCEDIMENTOS DE ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DE RECURSOS DE TERCEIROS ..................................................................................................................................335 5.4.2 – ESCALA DE RISCO ........................................................................................................................................336 5.4.3 – PRESTADORES DE SERVIÇOS ESSENCIAIS ...........................................................................336 MÓDULO 6: PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ABERTA ..........................339 6.1.1 - PANORAMA DA PREVIDÊNCIA ............................................................................................................340 6.2.1 – CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS .............................................................................................342 6.2.2 - CUSTOS DA PREVIDÊNCIA ....................................................................................................................344 6.2.3 - BENEFÍCIOS DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ............................................................345 6.2.4 - DECLARAÇÃO ANUAL DE AJUSTE DE IR .................................................................................347 6.2.5 - TRIBUTAÇÃO COMPENSÁVEL (PROGRESSIVA) ....................................................................349 6.2.6 - TRIBUTAÇÃO DEFINITIVA (REGRESSIVA) ...................................................................................350 6.2.7 - PORTABILIDADE ............................................................................................................................................350 6.2.8 - RISCOS DA PREVIDÊNCIA .....................................................................................................................3516.3.1 - VGBL x PGBL ......................................................................................................................................................352 6.4.1 - PLANEJAMENTO PGBL .............................................................................................................................353 MÓDULO 7: MENSURAÇÃO E GESTÃO DE PERFORMANCE E RISCOS .....................................................................................................356 7.1.1 - INTRODUÇÃO À ESTATÍSTICA .................................................................................................................357 7.1.2 - MEDIDAS DE POSIÇÃO CENTRAL .....................................................................................................357 7.1.3 - MEDIDAS DE DISPERSÃO ........................................................................................................................361 10 7.1.4 - MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO ENTRE DUAS VARIÁVEIS ......................................................362 7.1.5 - DISTRIBUIÇÃO NORMAL ...........................................................................................................................365 7.1.6 - RISCO DE ATIVOS X RISCO DE UM PORTFÓLIO ....................................................................367 7.1.7 - RISCO SISTEMÁTICO E NÃO SISTEMÁTICO (DIVERSIFICÁVEL) .................................370 7.1.8 - MEDIDAS DE PERFORMANCE E RISCO .......................................................................................374 7.2.1 - RISCOS DE TAXAS DE JUROS E DURATION ..............................................................................376 7.2.2 - RISCO DE CRÉDITO E RATING ...........................................................................................................378 7.2.3 - RISCO DE CONTRAPARTE E RISCO DE LIQUIDAÇÃO ......................................................381 7.2.4 - GESTÃO DE RISCO DE CARTEIRAS ..................................................................................................382 7.2.5 – TRACKING ERROR E ERRO QUADRÁTICO MÉDIO ............................................................385 11 CERTIFICAÇÃO CPA 20 A Certificação Profissional Anbima série 20 (CPA 20), é destinada a distri- buição de produtos de investimentos para clientes dos segmentos varejo alta renda, private, corporate e investidores institucionais. O profissional que tem a certificação CPA 20 pode exercer as atividades abrangidas pela CPA 10. A prova é composta por 60 questões com duração máxima de 2h30. Sendo necessário acertar no mínimo 70%, ou seja, 42 questões. O programa detalhado da certificação é composto por sete módulos: Módulo 1 – Sistema Financeiro Nacional e Participantes do Mercado: o objetivo deste módulo é te apresentar de forma básica como se estru- tura o Sistema Financeiro, quem faz parte dele e quais são as principais funções desempenhadas. A exigência desse conteúdo na prova é de 3 a 6 questões. Módulo 2 - Compliance Legal, Ética e Análise do Perfil do Investidor: aqui é abordado mais especificamente de Compliance e de algumas regras que você precisa conhecer sobre o perfil do investidor para se dar bem no mercado. Vamos estudar as obrigações das empresas, regras, pena- lidades e análises de perfis. Esse módulo representa de 9 a 15 questões da prova. Módulo 3 – Noções de Economia e Finanças: no terceiro módulo será estudado os princípios básicos da economia, ao final dele será compre- endido como funciona a economia e os termos utilizados. Sobre esse assunto terá de 3 a 6 questões na prova. Módulo 4 – Instrumentos de Renda Fixa, Renda Variável, e Derivativos: nesse capítulo você irá conhecer os instrumentos de Renda Fixa, Renda Variável e os Derivativos que são comercializados no segmento de varejo e de alta renda. A exigência na prova é de 10 a 15 questões. Módulo 5 – Fundos de Investimentos: nesse módulo vamos falar sobre os fundos de investimentos. Eles são veículos de investimento que possi- 12 bilitam acesso a diversos mercados e contam com um serviço de gestão profissional de recursos. É um dos módulos mais exigidos na prova, são de 10 a 15 questões. Módulo 6 – Previdência Complementar Aberta: o objetivo aqui é compreender os conceitos básicos sobre Previdência Complementar Aberta, entendendo o funcionamento da Previdência Social no Brasil, quais os benefícios em contribuir para complementação da aposen- tadoria oficial e o processo de avaliação dos planos em função das necessidades e objetivos dos clientes. De a 3 a 6 questões da sua prova será sobre esse módulo. Módulo 7 – Mensuração e Gestão de Performance e Riscos: nesse módulo será abordado os conceitos de performance e riscos, que são muito importantes para um investimento, concorda? De 6 a 12 questões sobre esse assunto virá na prova. Agora que você viu como que a prova é composta, vamos para o conteúdo? P r o f e s s o r Tiago Feitosa MÓDULO 1: SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E PARTICIPANTES DO MERCADO 14 1.1.1 - SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Você já pensou em como milhões de pessoas e empresas conseguem, todos os dias, transacionar recursos entre si com total segurança? Pois é, isso só é possível graças à estrutura que existe no Sistema Financeiro Nacional. O SFN é um conjunto de regras, instituições e órgãos reguladores que trazem segurança, transparência e agilidade para as transações financei- ras Brasil afora. Devido à sua estrutura, o SFN tem algumas funções. Delas, vale destacar duas: 1. Prestação de serviços de gerenciamento de recursos: sabe quando você abre o APP do banco, faz o pagamento de uma conta de luz e no outro dia o dinheiro vai parar na conta distribuidora de luz de sua cidade? Parece mágica, mas não é, estamos falando do SFN. 2. Intermediação financeira: nesse caso estamos falando de você enquanto investidor (aqui nesse módulo vamos chamar o investidor de agente superavitário, guarde esse nome, ok?). Você pode investir o dinheiro em um banco e ele, por sua vez, pode emprestar seu dinheiro ao tomador de crédito (o tomador de crédito será chamado, nesse módulo de agente deficitário). Tem uma história que vai te ajudar a entender o quanto o SFN é importante para a nossa economia. Olha só: Imagine que na cidade de Guaxupé-MG tenha um jovem empreendedor com uma ideia incrível de negócio. Se der certo, ele pode acabar com a fome do mundo. O problema é que esse jovem não tem recursos financeiros para iniciar seu projeto. Agora vamos viajar para a cidade de Dourados-MS, e nos deparar com um senhor recém aposentado que possui alguns milhões de reais em sua poupança financeira. Já pensou em como seria bom se a gente pudesse promover um encon- tro entre eles? Assim, quem sabe, o senhor que tem dinheiro sobrando (agente superavitário) possa emprestar ao jovem empreendedor (agente 15 deficitário) e eles, juntos, acabariam com a fome do mundo. A questão é que conseguir esse encontro pode não ser tão simples. O melhor jeito para que eles se encontrem é: o agente superavitário deposita esse recurso em um banco, recebe um rendimento sobre esse valor e o banco, por sua vez, empresta ao jovem que pagará juros por isso. Graças ao SFN nós pudemos, nesse exemplo, acabar com a fome no mundo. Acabar com a fome no mundo infelizmente não é tão simples assim, mas o SFN existe justamente para deixar as transferências entre os agentes do sistema simples, segura e ágil. O ponto que quero destacar aqui é que no exemplo do jovem empre- endedor e do senhor aposentado é que todos saíram ganhando. Um conseguiu viabilizar seu projeto e outro recebeu rendimentos por isso. O banco que intermediou essa operação ganhou na diferença de taxas (chamamos essa diferença de taxa de spread, vou falar sobre isso mais para a frente) e, sobretudo, a sociedade civil também ganhou com um projeto que acaba com a fome. Agora que você já entendeu que o SFN permite o gerenciamento de recursose a intermediação financeira, vamos entender como, de fato, essas coisas acontecem em nosso sistema e sua estrutura. Para que possamos ter uma segurança no sistema, há uma hierarquia de órgãos e associações que regulam, fiscalizam e autorregulam o sis- tema. Vamos falar sobre cada um deles agora. 1.1.2 - CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL – CMN Criado pela Lei 4.595/1964, o CMN compõe a estrutura básica do Ministério da Fazenda, mas é o órgão deliberativo máximo do SFN, em outras palavras, é a autoridade máxima do SFN, o chefe. Ele está subordinado apenas ao presidente da República. O conselho é composto pelo Ministro da Fazenda (que preside o con- selho), o Ministro do Planejamento e Orçamento e pelo Presidente do Banco Central. 16 Já que eu disse que ele é o chefe do sistema, tenho que destacar suas deliberações. O CMN vai: • Orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras, quer públicas, quer privadas; tendo em vista propiciar, nas diferentes regi- ões do País, condições favoráveis ao desenvolvimento harmônico da economia nacional; • Propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e de movimentação de recursos; • Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; • Coordenar as políticas orçamentária, fiscal e da dívida pública, interna e externa; • Fixar as diretrizes e normas da política cambial, inclusive quanto a compra e venda de ouro e quaisquer operações em Direitos Especiais de Saque e em moeda estrangeira; • Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as suas formas, inclusive aceites, avais e presta- ções de quaisquer garantias por parte das instituições financeiras. Antes de irmos ao próximo tópico, você notou que algumas palavras acima estão destacadas em negrito? Não foi um erro de edição não, fiz isso para que você lembre das palavras chave que estão associa- das ao CMN. Ou seja, na sua prova, quando a ANBIMA citar uma das palavras que estão em negrito lembre-se do chefão, está bem? O CMN conduz o SFN com sua atividade regulatória por meio da elabo- ração de atos normativos, que chamamos de resoluções. Elas são delibe- radas pelo CMN e publicadas no site do Banco Central do Brasil. Por falar no Banco Central do Brasil, vamos falar sobre ele agora. Para nós, ele será simplesmente chamado de BACEN, beleza? 17 1.1.3 - BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN O Banco Central (BC) é o guardião dos valores do Brasil. O BC é uma autarquia de natureza especial, criado pela Lei nº 4.595/1964 e com auto- nomia estabelecida pela Lei Complementar nº 179/2021. OBJETIVOS DO BACEN Assegurar a estabilidade de preços, zelar pela estabilidade e pela efici- ência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego. ATRIBUIÇÕES DO BACEN O BACEN tem, entre suas atribuições, fiscalizar as instituições financei- ras, mas não só isso. Vamos destacar aqui as atribuições do chefe dos bancos: • Executar os serviços do meio-circulante, gerir o SPB e o SPI; • Executar as políticas monetárias a fim de cumprir a meta de infla- ção estabelecida pelo CMN; • Exercer o controle do crédito sob todas as suas formas; • Efetuar o controle dos capitais estrangeiros, nos termos da lei; • Ser depositário das reservas oficiais de ouro e moeda estrangeira; • Exercer a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as penali- dades prevista; • Conceder autorização para o funcionamento das instituições financeiras. Notou as palavras que estão em negrito? Essas são as palavras cha- ve que você pode associar ao BACEN. Se comparar com o CMN vai notar que enquanto o CMN disciplina o mercado, o BACEN executa normas que o mercado funcione como fora determinado pelo CMN. https://www.bcb.gov.br/cedulasemoedas/caminhododinheiro 18 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL A estrutura organizacional do BACEN é comandada por uma diretoria colegiada, composta por nove membros: o presidente e oito diretores, cada um responsável por uma diretoria específica e com mandatos independentes entre si. Todos os membros da diretoria colegiada são nomeados pelo presi- dente da República, entre brasileiros de ilibada reputação e notória capacidade em assuntos econômico-financeiros, após aprovação pelo Senado Federal. Um ponto sobre o mandato do Presidente do Banco Central do Brasil. O seu cargo terá duração de 4 (quatro) anos, com início no dia 1º de janeiro do terceiro ano de mandato do Presidente da República, sendo permi- tida apenas uma recondução. DEMISSÃO DO PRESIDENTE E DIRETORES O presidente e os diretores podem ser demitidos de seus cargos: • A pedido; • No caso de acometimento de enfermidade que incapacite o titular para o exercício do cargo; • Quando sofrerem condenação, mediante decisão transitada em jul- gado ou proferida por órgão colegiado, pela prática de ato de impro- bidade administrativa ou de crime cuja pena acarrete, ainda que temporariamente, a proibição de acesso a cargos públicos; • Quando apresentarem comprovado e recorrente desempenho insu- ficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil. A fiscalização e supervisão do mercado pelo BC é feita por meio de três categorias diferentes de documentos normativos: 1. Circulares: atos normativos pelos quais o BACEN, por delegação, cria normas para o SFN ou, também por delegação, regulamenta as normas contidas em resoluções do CMN; 19 2. Cartas circulares: instrumentos para esclarecer dúvidas ou divergên- cias quanto à interpretação e à aplicação de disposições normativas; 3. Comunicados: documentos administrativos de âmbito externo, que têm por finalidade divulgar deliberação ou informação relacionada à área de atuação do BACEN. Agora que já falamos sobre o BACEN vamos avançar um pouco mais em nossos conhecimentos sobre os órgãos reguladores. Agora, falando da Comissão de Valores Mobiliários. 1.1.4 - COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM Criada pela Lei 6.385/1976, é uma autarquia federal que, embora seja vinculada ao Ministério da Fazenda, não está subordinada hierarquica- mente a ele. Ou seja, embora esteja ligada ao CMN, a maior parte das atividades da CVM não decorre da execução das determinações dele, mas sim de atribuições legais próprias. Em outras palavras, a CVM tem autonomia para criar normas para o mer- cado de capitais. Elas são chamadas de “Instruções Normativas CVM”. Em resumo: a CVM é o órgão do governo responsável pela regulação e fiscalização do mercado de capitais no Brasil. A administração da autarquia fica a cargo de um presidente e quatro diretores, nomeados pelo presidente da República, depois de serem aprovados pelo Senado Federal. Por determinação legal, os nomeados devem ser pessoas de ilibada reputação e reconhecida competência em matéria de mercado de capitais. O mandato desses dirigentes é de cinco anos, sendo vedada a recondução. Entre as principais atribuições e competências da CVM estão: • Fiscalizar efetiva e tempestivamente o cumprimento das normas relativas às atividades e serviços no âmbito do mercado de valores mobiliários; • Investigar e punir tempestivamente os descumprimentos à regula- ção do mercado de valores mobiliários; 20 • Zelar pelo funcionamento eficiente e regular do mercado de capitais e seu desenvolvimento; • Proteger os investidores do mercado de capitais; • Estimular a formação de poupança e seu investimento em valores mobiliários; • Assegurar e fiscalizar o funcionamento eficiente das bolsas de valo- res, do mercado de balcão e das bolsas de mercadorias e futuros; • Assegurar o acesso do público às informações tempestivas e de qualidade. Em resumo, tudo o que seja para o bom funcionamento do Mercado de Capitais do Brasil estará sob o guarda-chuva da CVM. Associe a CVM a proteger os investidores e ser responsável por termos um mercado de capitais seguro. 1.1.5 - SUPERINTENDÊNCIADE SEGUROS PRIVADOS – SUSEP A Susep é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda com objetivo de controlar e fiscalizar os mercados de seguro, previdên- cia complementar aberta, capitalização e resseguro. Antes de seguirmos com a Susep, vamos parar um minuto aqui para apre- sentar mais um órgão: o Conselho Nacional de Seguros Privados — CNSP. Ele é a maior autoridade no mercado de seguros privados e a Susep está vinculada a ele. Foi uma apresentação bem rápida porque o CNSP não é tema da prova, e a gente precisa focar no que realmente importa, certo? Agora voltemos à Susep... A Susep é administrada por um conselho diretor, composto pelo supe- rintendente e por quatro diretores. Nomeados pelo presidente da República. Dentre as principais atribuições e competências dela, destacam-se: 21 • Fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e operação das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência complementar aberta e resseguradoras; • Proteger a captação de poupança popular realizada por meio de ope- rações de seguro, previdência complementar aberta, de capitalização e resseguro; • Zelar pela defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervisionados; • Promover o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos ope- racionais a eles vinculados, com vistas à maior eficiência do Sistema Nacional de Seguros Privados e do Sistema Nacional de Capitalização; • Promover a estabilidade dos mercados sob sua jurisdição, zelando pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado; • Disciplinar e acompanhar os investimentos daquelas entidades, em especial os efetuados em bens garantidores de provisões técnicas; • Investigar e punir descumprimentos à regulação de mercados de seguro e previdência complementar aberta; • Cumprir e fazer cumprir as deliberações do CNSP. Assim como a CVM, podemos destacar o papel da Susep em proteger os investidores. O que muda aqui é que a Susep vai supervisionar os mer- cados de seguros privados, previdência e capitalização, garantindo que, quando seu cliente investe em uma previdência privada, ele esteja inves- tindo em um produto regulamentado, sacou? 1.1.6 - SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR – PREVIC Nós falamos sobre a Susep no tópico anterior e, se você entendeu as fun- ções dela, vai ficar fácil entender o que faz a PREVIC. 22 Uma das funções da Susep é fiscalizar as Entidades abertas de previdên- cia complementar. E se ela faz isso, quem fiscaliza as entidades fecha- das? Acertou se respondeu PREVIC. Vamos fazer uma pausa para uma introdução sobre as entidades de pre- vidência complementar. No ano de 2017 e 2018 uma das principais pautas do Governo Federal era propor ao Congresso uma reforma da previdência social. Isso trouxe o INSS para as discussões nas mesas de bar e nas redes sociais. No módulo 6, nós vamos falar com detalhes sobre o INSS, mas o fato é que ele possui um teto de recebimento para o trabalhador. Por mais que você, enquanto está trabalhando, tenha uma renda alta, se depender do INSS terá somente o teto estabelecido pelo sistema ao se aposentar. Para complementar a renda da aposentadoria, o trabalhador pode fazer, entre outras coisas, uma previdência complementar. Ela pode ser aberta, como o VGBL e o PGBL — que qualquer investidor pode acessar —, ou fechada. A previdência fechada, como o nome sugere, é um plano restrito a um grupo de trabalhadores, normalmente colaboradores de uma mesma empresa. Agora que entendemos a necessidade de um plano de previdência com- plementar e a diferença entre uma previdência complementar aberta e uma fechada, podemos resumir da seguinte forma: A PREVIC está para a previdência complementar fechada assim como a Susep está para a previdência complementar aberta. São atribuições da PREVIC: • Harmonizar as atividades das entidades fechadas de previdência complementar com as normas e as políticas estabelecidas para o segmento; 23 • Decretar intervenção e liquidação extrajudicial das entidades fecha- das de previdência complementar e nomear interventor ou liqui- dante, nos termos da lei; • Nomear administrador especial de plano de benefícios específico, podendo atribuir-lhe poderes de intervenção e liquidação extrajudi- cial, na forma da lei; • Promover a mediação e a conciliação entre entidades fechadas de pre- vidência complementar e entre seus participantes, assistidos, patroci- nadores ou instituidores, bem como dirimir os litígios que lhe forem submetidos na forma da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996; • Enviar relatório anual de suas atividades ao Ministério da Fazenda e, por seu intermédio, ao Presidente da República e ao Congresso Nacional; e adotar as providências necessárias ao cumprimento de seus objetivos. Além disso, cabe à PREVIC autorizar: • A constituição e o funcionamento das entidades fechadas de previ- dência complementar e a aplicação dos respectivos estatutos e dos regulamentos de planos de benefícios; • As operações de fusão, cisão, incorporação ou qualquer outra forma de reorganização societária, relativas às entidades fechadas de previ- dência complementar; • A celebração de convênios e termos de adesão por patrocinadores e instituidores e as retiradas de patrocinadores e instituidores; • As transferências de patrocínio, grupos de participantes e assistidos, planos de benefícios e reservas entre entidades fechadas de previ- dência complementar. 1.1.7 - ANBIMA Você está aqui justamente por conta da ANBIMA, certo? Então, é justo que eu faça uma apresentação que faça jus à importância dela para o mer- cado de capitais brasileiro, para os investidores e para você, profissional. 24 A ANBIMA é uma associação privada e foi criada em 2009, mas sua his- tória começou antes. Isso porque ela é fruto da fusão de duas outras associações: a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), criada em 1967, e a Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), criada em 1971. A ANBIMA tem a função de autorregular o mercado de capitais. Em outras palavras, ela cria, por meio de seus códigos de regulação e melho- res práticas, procedimentos para que seus participantes (os associados) possam exercer suas funções no mercado com mais ética e transpa- rência. Assim é possível oferecer aos investidores melhores subsídios na tomada de decisão. Vamos abordar agora, as frentes de trabalho da Anbima: • Informar: prover dados para o mercado financeiro e de capitais; • Representar: representar seus associados junto aos órgãos reguladores; • Autorregular: procedimentos a serem adotados por seus associados que representam as melhores práticas do mercado; • Educar: prover educação financeira ao mercado e coordenar o pro- cesso de certificação. A Anbima cria alguns códigos de autorregulação, que são documentos com as regras que seus associados precisam seguir. São vários códigos, mas para a sua prova vamos estudar o Código de Certificação, Código de Distribuição e Código de Administração e Gestão de Recursos de Terceiros. Os código da ANBIMA preveem regras e procedimentos que comple- mentam a regulação em vigor. A ANBIMA, através do seus códigos, con- tribui para o aumento da ÉTICA de mercado, TRANSPARÊNCIA entre os participantes, EQUIDADE no tratamento dos investidores e QUALIDADE das informações. Agora vamos falar sobre o código de certificação. 25 1.1.8 - CÓDIGO ANBIMA DE CERTIFICAÇÃO Este código traz definições sobre a obrigatoriedade da certificação ade- quada aos profissionais que desempenham as atividades de comercia- lização e distribuição de produtos de investimento e aos profissionais que desempenham a atividade de gestão profissional de recursos de terceiros. São essas as certificações: • CPA 10: distribuição de produtos de investimentos no segmento do varejo; • CPA 20: distribuição de produtos de investimentos no segmento de varejo alta renda; • CEA: distribuiçãode produtos de investimentos como consultor de investimentos; • CFG: pré-requisito para obter as certificações CGA ou CGE; • CGA: gestão de fundos de investimentos; • CGE: gestão de fundos de investimentos estruturados. As certificações CPA-10, CPA-20 e CEA possuem relação entre suas ativi- dades e dominância entre si. Ou seja, a CPA-20 tem dominância na CPA- 10 e a CEA tem dominância na CPA-20 e na CPA-10. O que isso significa? Estou afirmando que com a CPA-20 você pode exer- cer funções da CPA-20 e da CPA-10 e, com a CEA você pode exercer as funções de CPA-10, CPA-20 e CEA. Vale destacar que a CGA não possui nenhuma relação com as demais. Ou seja, quem obtém esta certificação está habilitado para ser gestor de carteira, mas não pode exercer funções permitidas pelas demais certificações. O profissional que é aprovado no exame de certificação e possui vínculo com uma instituição participante da ANBIMA é considerado um profis- sional certificado. Se não há vínculo com uma instituição, ele é conside- rado um profissional aprovado. 26 A diferença entre o profissional certificado e o aprovado é o prazo de vencimento de sua certificação. O certificado tem prazo de validade de 5 anos, o aprovado tem validade de 3 anos. Vamos abordar os pontos mais importantes, certo? PRINCÍPIOS GERAIS DE CONDUTA As Instituições Participantes devem assegurar que seus profissionais, no exercício de suas atividades, possuam reputação ilibada e não tenham: • Sido inabilitados para o exercício de cargo em instituições financei- ras e demais entidades autorizadas a funcionar pelo BACEN, CVM, Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) ou Susep; • Sua autorização para o exercício da atividade suspensa, cassada ou cancelada; • Sofrida punição definitiva, nos últimos cinco anos, em decorrência de sua atuação como administrador ou membro de conselho fiscal de entidade sujeita a controle e fiscalização dos órgãos reguladores mencionados. As Instituições Participantes devem assegurar que seus profissionais: I. Possuam reputação ilibada; II. Exerçam suas atividades com boa fé, transparência, diligência e le- aldade; III. Cumpram todas as suas obrigações, devendo empregar, no exercí- cio de suas atividades, o cuidado que toda pessoa prudente e dili- gente costuma dispensar à administração de seus próprios negó- cios, respondendo por quaisquer infrações ou irregularidades que venham a ser cometidas; IV. Norteiem a prestação de suas atividades pelos princípios da liber- dade de iniciativa e da livre concorrência, evitando a adoção de prá- 27 ticas caracterizadoras de concorrência desleal e/ou de condições não equitativas, respeitando os princípios de livre negociação; V. Evitem quaisquer práticas que infrinjam ou estejam em conflito com as regras e princípios contidos no Código de Certificação e na Regulação em vigor; VI. Adotem condutas compatíveis com os princípios de idoneidade moral e profissional; VII. Vedem a intermediação de investimentos ilegais e não participem de qualquer negócio que envolva fraude ou corrupção, manipula- ção ou distorção de preços, declarações falsas ou lesão aos direitos de investidores; VIII. Sejam diligentes e não contribuam para a veiculação ou circulação de notícias ou de informações inverídicas ou imprecisas sobre o mercado financeiro e de capitais; IX. Zelem para que não sejam dadas informações imprecisas a respei- to das atividades que é capaz de prestar, bem como com relação a suas qualificações, seus títulos acadêmicos e experiência profissio- nal; e X. Cumpram com o disposto no Código de Certificação e nos Códigos ANBIMA das Atividades Elegíveis as quais exerçam, como o Código de Recursos de Terceiros e o Código de Distribuição. Não precisa decorar, certo? É importante que você tenha uma visão geral, dessa forma, vai conseguir responder as questões na prova. Agora vamos estudar sobre as obrigações dos participantes, você pode estar se perguntando: “Mas quem são os participantes?”. Os participantes são as empresas que fazem parte da Anbima, como o banco e a corretora. 28 OBRIGAÇÕES DOS PARTICIPANTES Implementar e manter, em documento escrito, regras, procedimentos e controles internos que contenham, no mínimo: • Procedimentos para identificação dos Profissionais Certificados na admissão e no desligamento, bem como para atualização das infor- mações desses profissionais, de modo a manter atualizado o Banco de Dados da ANBIMA; • Critérios adotados pelas instituições participantes para determinar as atividades elegíveis para cada uma das certificações; • Critérios de identificação de elegibilidade de profissionais transferidos; • Procedimento adotado para atualização de certificação de profissio- nais que atuam em atividades elegíveis quando de seu vencimento; • Procedimento para afastamento imediato dos profissionais que desempenhem atividades elegíveis sem a devida certificação, ou com a certificação vencida, bem como documentação formal que eviden- cie esse afastamento, observadas as exceções expressas no Código de Certificação; • Assegurar que os profissionais vinculados à instituição participante conheçam e assinem, de forma manual ou eletrônica, o código de ética por elas adotado até o último dia do mês subsequente à sua contratação. PENALIDADES “Mas Tiago, e se a instituição não respeitar o Código?” Aí ela sofrerá algu- mas penalidades, sendo elas: I. Advertência pública; II. Multa; III. Proibição temporária do uso do Selo Anbima; IV. Desligamento do quadro associativo da ANBIMA. 29 Vimos então as questões mais importantes, para acessar o Código com- pleto, Clique aqui. Vale ressaltar que a associação Anbima é voluntária, ou seja, a instituição não é obrigada a ser associada a Anbima, entretanto quando se é asso- ciado é obrigatório seguir os Códigos. E também é possível não ser associado e ser aderente aos códigos. 1.1.9 - BOLSA DE VALORES E MERCADO DE BALCÃO BOLSA DE VALORES A bolsa de valores tem um papel importante de intermediação pois for- nece um ambiente eletrônico para negociação de títulos e valores mobi- liários. É por meio dela que investidores podem comprar e vender ativos no mercado. A negociação em ambiente de bolsa busca a melhor formação de preços, considerando um nível elevado de transparência anterior e posterior à nego- ciação, uma vez que a bolsa divulga em tempo real as ofertas de compra e venda inseridas em seus sistemas, assim como as operações realizadas. No Brasil, a B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) é a bolsa multiativos e multimer- cado que atua como central depositária de ativos, câmara de compen- sação e liquidação e contraparte central garantidora. Como administra- dora de mercados organizados de bolsa e balcão no Brasil, a B3 oferece estrutura integrada de negociação e pós-negociação para todas as prin- cipais classes de ativos. As negociações na bolsa de valores só podem ser feitas por meio de insti- tuições habilitadas. Caso contrário, o investidor simplesmente não pode acessar o ambiente de negociação. Na B3 negocia-se: • Ações. • Derivativos (contratos que derivam de um outros ativos como ações, commodities, moedas e taxas); https://www.anbima.com.br/data/files/75/93/4A/A5/9F580810C15C26086B2BA2A8/1. Codigo_Certificacao_02.03.22.pdf 30 • Cotas de fundos de investimentos; • Commodities. Características das negociações na Bolsa de Valores: • Contratos Padronizados; • Transparência na formação de preços; • B3 assume o risco de contraparte; • Registrados na clearing da B3; • Regulado e fiscalizado pela CVM. Mas o que significa risco de contraparte? Vou explicar. Quando você está vendendo uma ação na bolsa de valores, tem o risco de você entregar a ação, mas não receber o dinheiro, certo? E também, a pessoa que está comprando corre o risco de pagar, mas não receber a ação. Porém a B3 assume esse risco, ou seja, garante que quem está vendendo receberá o dinheiro e quem está comprando receberá a ação.MERCADO DE BALCÃO O Mercado de Balcão é o ambiente que permite a realização de opera- ções que não estão registradas na Bolsa de Valores, sendo eles: • Captação Bancária; • Captação por instituições não financeiras; • Derivativos de Balcão. Características das negociações no Mercado de Balcão: • Não Padronizados; • Formação de preços não transparente; • Investidor assume o risco de contraparte; 31 • Registrado no clearing da B3; • Regulado e fiscalizado pela CVM. 1.2.1 - BANCOS Antes de falarmos e detalharmos um pouco mais sobre os principais ban- cos, você precisa entender que com “Bancos” entendemos Instituição Financeira. Instituição financeira é uma organização cuja finalidade é otimizar a alocação de capitais financeiros próprios e/ou de terceiros, obedecendo uma correlação de risco, custo e prazo que atenda aos objetivos dos seus patrocinadores incluindo pessoas físicas ou jurídicas que tenham inte- resses em sua operação como acionistas, clientes, colaboradores, coope- rados, fornecedores, agências reguladoras do mercado onde a organiza- ção opere. BANCO COMERCIAL Você, com certeza, ao andar pelas ruas de sua cidade, já tropeçou em uma agência do Banco do Brasil, certo? Acredite em mim, a agência bancária é apenas um pequeno pedaço das operações dos bancos. Uma agência bancária oferece, entre outros serviços, o de conta corrente, e é sobre isso que vamos falar agora. Conta corrente é também chamado de “depósito à vista” e tem esse nome sofisticado por uma razão muito simples: sempre que você depo- sita dinheiro em sua conta corrente esse recurso tem de estar à sua dis- posição a qualquer momento, inclusive no mesmo dia da operação. Ao contrário do depósito à vista, nós temos o depósito a prazo que, como o próprio nome sugere, tem um prazo para ser devolvido ao depositante somado, invariavelmente, a rendimentos. Com essa breve introdução sobre depósitos à vista e depósito a prazo vamos detalhar as funções dos bancos comerciais. Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públi- cas, constituídas sob a forma de sociedade anônima. Por meio deles, o 32 agente do sistema tem a possibilidade de captação (empréstimo) e ren- tabilidade de recursos (investimentos). Além disso, os bancos comerciais são prestadores de serviços que tor- nam a transferência de recursos viável entre os agentes do sistema. É por causa deles que você pode transferir dinheiro para alguém da sua família, por exemplo. Algumas funções que destacamos sobre os bancos comerciais são: • Captação de recursos através do depósito à vista (conta corrente); • Captação de recursos através de depósitos a prazo (CDB, Letra Financeira); • Aplicação de recursos através de desconto de títulos; • Abertura de crédito simples em conta corrente (cheque especial); • Operações de crédito rural, câmbio e comércio internacional; • Prestação de serviços: cobrança bancária, arrecadação de tarifas e tri- butos públicos. BANCO DE INVESTIMENTOS Como o nome já diz, estes bancos são focados em investimentos. Eles são responsáveis por fomentar os investimentos a médio e longo prazo para pessoa física e jurídica. Em outras palavras, têm como objetivo principal conceder crédito a médio e longo prazo. Em sua denominação social deve constar, obriga- toriamente, a expressão “Banco de Investimento”. Algumas funções que destacamos sobre os bancos de investimen- tos são: • Captação de recursos através de depósito a prazo; • Administração de fundos de investimentos; 33 • Abertura de capital e subscrição de novas ações de uma empresa (IPO e underwriting); • Conceder empréstimo para fins de capital de giro; • Financiamento de capital de giro e capital fixo; • Subscrição ou aquisição de títulos e valores mobiliários; • Distribuição de valores mobiliários. OUTRAS MODALIDADES DE BANCOS Falamos, até agora, sobre bancos comerciais e bancos de investimen- tos. Acontece que esses bancos não preenchem todo espaço de serviços financeiros existentes no Brasil e, por isso, temos mais algumas modali- dades (também chamadas de carteira) de bancos. Vamos a eles: Desenvolvimento: esse banco é o único que, por lei, deve ser um banco público e tem a função de fornecer linhas de crédito com o objetivo de desenvolver a economia. Sociedade de Crédito Imobiliário: como o nome sugere, essa é a ins- tituição responsável por conceder empréstimos para financiamento imobiliário. Arrendamento Mercantil: a palavra mercantil vem de “mercadoria”. Esse banco vai arrendar uma mercadoria (máquinas, equipamentos) para pessoas físicas e empresas. Em outras palavras, faz o chamado leasing. Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimentos: se você é pal- meirense conhece bem a Crefisa, né? Se você não é palmeirense e não entendeu a “piada interna” a Crefisa é uma financeira dedicada a fazer empréstimo direto ao consumidor. É isso que uma sociedade de crédito, financiamento e investimento faz. BANCOS MÚLTIPLOS Agora que você já viu que um banco possui diversas modalidades de operação eu te pergunto: como será a contabilidade desses bancos na hora de divulgar o balanço da empresa com o resultado? 34 Ainda bem que, em 1988, por meio da resolução do CMN 1.524, foi auto- rizada a criação dos bancos múltiplos. Basicamente, este é um único banco que vai operar, como o nome sugere, múltiplas carteiras. Uma delas deve, contudo, obrigatoriamente ser comercial ou de investimento. Os bancos múltiplos que dispõem de carteira comercial, por sua vez, podem captar depósitos à vista. De todo modo, qualquer banco múltiplo deve conter em sua denominação, obrigatoriamente, a expressão “Banco”. Cada uma das carteiras dos bancos múltiplos vai ter um CNPJ diferente, mas podem publicar o balanço em um único CNPJ, o do Banco Múltiplo. 1.3.1 - DTVM/CTVM SOCIEDADES CORRETORAS DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS - SCTVM Você vai ouvir muito sobre “corretoras” durante o curso e também na sua carreira no mercado financeiro, mas antes de entrarmos nos detalhes das corretoras vale lembrar que “corretora” é somente o nome popular das Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários. Claro que é mais fácil chamar só de corretora, né? Elas são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade por ações ou por quotas de responsabilidade limitada. Uma corretora tem como principal função promover a intermediação de títulos e valores mobiliários. Boa parte dessas negociações são feitas via B3. Ou seja, para o investidor ter acesso aos produtos negociados na bolsa de valores é necessário que ele faça isso por intermédio de uma corretora. Uma coisa importante: embora uma corretora esteja ligada a negocia- ção de ativos na bolsa de valores, suas funções vão muito além disso. Vamos destacar algumas aqui: • Operar em bolsas de valores, mercadorias e futuros por conta própria ou de terceiros; • Subscrever emissões de títulos e valores mobiliários no mercado; 35 • Comprar e vender títulos e valores mobiliários por conta própria e de terceiros; • Encarregar-se da administração de carteiras e da custódia de títulos e valores mobiliários; • Exercer funções de agente fiduciário; • Emitir certificados de depósito de ações e cédulas pignoratícias de debêntures; • Instituir, organizar e administrar fundos e clubes de investimento; • Praticar operações de conta margem; • Realizar operações compromissadas; • Intermediar operações de câmbio; • Praticar operações de compra e venda de metais preciosos no mer- cado físico, por conta própria e de terceiros; • Praticar operações no mercado de câmbio de taxas flutuantes; • Auxiliar os investidores com a disponibilização para clientes de infor- mações provenientes de seus departamentos técnicos ou de análises de empresas, títulos e fundos de investimento. Cabe observar também que a atuação das corretoras está sujeita à fisca- lização da bolsa de valores, da CVM e do BACEN. Dica de ouro: É importantedestacar que a competência da CVM em relação às CTVMs e DTVMs está limitada ao que prevê a Lei 6.385/76, ou seja, às operações com valores mobiliários. No conceito de valores mobiliários sujeitos ao regime da referida lei incluem-se, por exemplo, ações, debêntures, e contratos derivativos, mas, por exemplo, não são incluídos os títulos públicos, sendo que toda a ati- vidade relativa a esses ativos está sujeita à regulamentação e fisca- lização do Banco Central do Brasil. 36 SOCIEDADES DISTRIBUIDORAS DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS – SDTVM Eu diria que uma sociedade distribuidora de títulos e valores mobiliários, conhecida como DTVM, é uma irmã da corretora. Talvez tenham sido separadas na maternidade, mas não deixam de ser irmãs. Digo isso pois, em sua origem, a DTVM diferenciava-se apenas por não poder negociar no ambiente da bolsa de valores. Em 2009 uma decisão conjunta do BACEN e CVM tirou essa vedação e, a partir daí, as DTVMs podem fazer exatamente a mesma coisa que uma CTVM. Ou seja, hoje, não existe nenhuma diferença entre uma DTVM e uma CTVM. 1.4.1 - TIPOS DE INVESTIDORES Com o objetivo de proteger a poupança popular, a CVM criou as classes de investidores para que, de acordo com a capacidade de assumir riscos, estes possam ter acesso a produtos de investimentos aderentes a esse perfil de risco. Existem basicamente quatro tipos de investidores: o comum, o qualifi- cado, o profissional e o não residente. Investidor comum é todo investi- dor PF ou PJ que acessa o mercado de capitais. Para esse não há uma explicação mais detalhada. Quando você ganhou R$ 50,00 de sua avó e colocou na caderneta de poupança você já era um investidor comum. Para os demais tipos, a gente precisa apontar algumas particularidades que veremos a seguir. INVESTIDOR PROFISSIONAL O Investidor Profissional é considerado um tipo de investidor com conhe- cimentos avançados de mercado e, por se enquadrar nesse perfil, terá acesso a produtos financeiros diferenciados. Os Investidores Profissionais são: • Pessoas naturais ou jurídicas que possuam investimentos financeiros em valor superior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) e que, adicionalmente, atestem por escrito sua condição de investidor pro- 37 fissional mediante termo próprio, de acordo com o Anexo A, da ins- trução 30 da CVM; • Instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil; • Companhias seguradoras e sociedades de capitalização; • Entidades abertas e fechadas de previdência complementar; • Fundos de investimento; • Clubes de investimento, desde que tenham a carteira gerida por administrador de carteira de valores mobiliários autorizado pela CVM; • Assessores de investimento, administradores de carteira, analistas e consultores de valores mobiliários autorizados pela CVM, em relação a seus recursos próprios; • Investidores não residentes. INVESTIDOR QUALIFICADO Para ser um investidor qualificado os critérios são semelhantes aos do Investidor Profissional. O que difere é o valor necessário para que PF e PJ possam ser Investidores Qualificados. Para este tipo, o valor mínimo é de R$ 1.000.000,00. Além disso, é preciso que eles atestem por escrito sua condição mediante assinatura do anexo B da instrução CVM 30. Os Investidores Qualificados são: • Investidores Profissionais; • Pessoas naturais ou jurídicas que possuam investimentos financeiros em valor superior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e que, adi- cionalmente, atestem por escrito sua condição de investidor qualifi- cado, assinando o anexo B da Resolução CVM 30; • Clubes de investimento, desde que tenham a carteira gerida por um ou mais cotistas que sejam Investidores Qualificados; 38 • As pessoas naturais que tenham sido aprovadas em exames de qua- lificação técnica ou possuam certificações aprovadas pela CVM como requisitos para o registro de assessores de investimento, administra- dores de carteira, analistas e consultores de valores mobiliários, em relação a seus recursos próprios. Uma dica importante: todo Investidor Profissional é, por definição, também qualificado. No entanto, nem todo Qualificado é Profissional. INVESTIDOR NÃO-RESIDENTE É a pessoa física ou jurídica, fundos e outras entidades de investimentos individuais ou coletivas, com residência, sede ou domicílio no exterior, que investem os seus recursos no país. Simplesmente algum investidor de fora do país que investe no Brasil. Previamente ao início de suas operações, o investidor não-residente deve: • Constituir um ou mais representantes no país; • Obter registro na Comissão de Valores Mobiliários; e • Constituir um ou mais custodiantes autorizados pela Comissão de Valores Mobiliários. 1.5.1 - CLEARING HOUSE Os sistemas de liquidação e custódia são chamados de clearing. Guarde bem esse nome pois vamos usar muito durante todo seu curso. Traduzindo ao pé da letra, a clearing seria “lugar onde tudo funciona do jeito certo, sem medo de ninguém pegar seu dinheiro e sumir, porque lá as pessoas tomam conta de tudo”. Ou algo mais ou menos assim. As clearing house são responsáveis por trazer segurança ao sistema finan- ceiro, sacou? Imagine que todos os dias milhões de transações circulam no mercado. Como faríamos o controle disso? Como teríamos a certeza de que uma ação comprada por um investidor foi mesmo registrada em nome desse investidor após a compra? Os títulos que são negociados hoje no sis- 39 tema financeiro são somente escriturais, ou seja, não existem os títulos físicos, somente informação lógica nos sistemas. Temos 2 sistemas independentes responsáveis por custodiar e liquidar as transações: I. SELIC: Sistema Especial de Liquidação e custódia, depositário cen- tral dos títulos da dívida pública federal interna de emissão do Te- souro Nacional e, como tal, é responsável por processar a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia desses títulos; II. Clearing da B3: Realiza o registro, a compensação, a liquidação e o gerenciamento de risco de operações com ações, renda fixa de emissão privada, derivativos e ainda títulos públicos negociados no tesouro direto. 1.5.2 - SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO (SPB) O SPB é o conjunto de entidades, sistemas e mecanismos relacionados com o processamento e a liquidação de operações de transferência de fundos, de operações com moeda estrangeira ou com ativos financeiros e valores mobiliários. Desde 2002, quando houve uma grande reforma no SPB decorrente da edição da Lei 10.214/2001, essa lei ficou conhecida como “Lei do SPB”, e estabeleceu o fundamento legal e regulatório das câmaras de compen- sação e liquidação. Isso proporcionou a interligação dos sistemas dos participantes do mercado, que também participaram ativamente dessa reformulação. Assim, pessoas físicas, empresas, governos e instituições financeiras passaram a poder realizar transferências de dinheiro para pagamentos, cobertura de saldos, aplicações e outras finalidades com muito mais segurança e rapidez. Hoje o SPB é integrado por serviços de: • Compensação de cheques; 40 • Compensação e liquidação de ordens eletrônicas de débito e de crédito; • Transferência de fundos e de outros ativos financeiros; • Compensação e liquidação de operações com títulos e valores mobiliários; • Compensação e liquidação de operações realizadas em bolsas de mercadorias e de futuros e outras entidades. Além disso, o SPB se caracteriza atualmente pela base legal sólida e abrangente, pelo uso obrigatório de contrapartes centrais para a liqui- dação de obrigações, pela certeza da liquidação dada pela contraparte central com base em mecanismos de gerenciamento de riscos e salva- guardas, bem como pela irrevogabilidade e finalidade das liquidações. TRÂNSITO FINANCEIRO Pense na transação do dinheiro, ou seja, como ele vai de um lugar para outro. E para isso, nós temos 2 sistemas: LBTR (Liquidação Bruta em Tempo Real): Liquidação realizadaem tempo real com o respectivo débito na conta da instituição pagadora. LDL (Liquidação Diferida Líquida): Liquidação realizada em D+1 (ou prazo superior) com o débito (e crédito) na conta do pagador por dife- rença de saldo. No Sistema LBTR as transações são feitas em tempo real, ou seja, quando você tem conta no Santander e manda uma TED para seu primo que tem conta do Itaú, ele passa pela LBTR. A diferença dela para a LDL é que, nos anos passados, as Instituições Financeiras precisavam enviar o saldo líquido dessas transferências. Então, vamos imaginar que os clientes do Santander mandaram 1 milhão de reais para o Itaú e os clientes do Itaú mandaram 500 mil reais para o Santander. Ao invés de fazerem essa transferência bruta, eles apuraram o saldo líquido, ou seja, no nosso exemplo apenas o Santander encaminharia 41 500 mil para o Itaú, pois os clientes dele mandaram 500 mil a mais do que os clientes do Itaú. E isso dava um problema operacional, tendo que haver a participação da Tesouraria dos Bancos juntamente com o Banco Central. Para facilitar, todas as transações começaram a passar pelo LBTR. Reforçando que o LBTR e o LDL fazem parte do SPB. Por qual motivo reforçamos isso? Pois além do SPB, nós temos o SPI. O SPI não é assunto para sua prova, mas queremos que você saiba do que se trata, afinal, queremos que você manje dos paranauês. O SPI (Sistema de Pagamento Instantâneo) seria um Primo do SPB, só que sendo o primo rico da família. Ele é a infraestrutura centralizada e única para liquidação de pagamentos instantâneos entre instituições distintas no Brasil. O SPI é um sistema que faz liquidação bruta em tempo real (LBTR), ou seja, que processa e líquida transação por transa- ção. Uma vez liquidadas, as transações são irrevogáveis. O SPI seria uma evolução do SPB, pois faz as transações de maneira ime- diata. O PIX, por exemplo, não passa pelo SPB, mas sim pelo SPI. Aqui fechamos o módulo 1! Mas vale lembrar, claro, que ainda tem muito curso pela frente, beleza? O próximo passo é falar sobre Compliance legal, ética e análise do perfil do investidor. A exigência deste próximo tema, inclusive, é um pouco maior na sua prova. Continue seus estudos e a gente se encontra lá. COMPLIANCE LEGAL, ÉTICA E ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR MÓDULO 2: 43 2.1.1 - RISCO LEGAL E RISCO DE IMAGEM RISCO LEGAL O risco legal pode ser definido como a possibilidade de perdas decor- rentes de multas, penalidades ou indenizações resultantes de ações de órgãos de supervisão e controle, bem como perdas decorrentes de deci- são desfavorável em processos judiciais ou administrativos. Isso inclui os riscos provenientes de documentação insuficiente, falta de poderes dos representantes da contraparte para assumir o compromisso ou o desconhecimento de algum aspecto jurídico relevante, o que gera a incapacidade de se implementar uma cobrança por falta de amparo legal. Por exemplo: a instituição faz um empréstimo de recursos a clientes que possuem garantias amplas. Porém, eles não possuem a documentação da operação calcada em instrumentos legais corretos, ela está incom- pleta, há falta de assinaturas ou as pessoas que assinaram não são os reais representantes, no caso de o tomador ser uma empresa. Podemos resumir o tema de risco legal pelo princípio da legalidade. Ou seja, a área de controles internos vai estabelecer procedimentos opera- cionais e jurídicos para que todas as operações realizadas entre a institui- ção e seus clientes estejam, juridicamente, bem respaldadas. Alguns fatores que podem comprometer legalmente a instituição junto ao mercado: • Risco de legislação: o não cumprimento de alguma lei; • Risco tributário: que ocorre quando há o não recolhimento de tribu- tos devido a uma má interpretação da legislação; • Risco trabalhista: quando um funcionário entra na justiça contra a empresa devido ao não cumprimento de uma meta trabalhista. RISCO DE IMAGEM Ainda sobre os fatores internos e externos que podem afetar adversa- mente a realização dos objetivos da instituição, também temos de des- tacar o risco de imagem. Este está associado à reputação da instituição financeira junto ao mercado. 44 O risco de imagem pode danificar o negócio de uma instituição de mui- tas formas, como gerar queda no valor da ação, perda do apoio da clien- tela e desaparecimento de oportunidades de negócios. Os maiores bancos do país investem, ano após ano, milhões de reais em publicidade nos meios de comunicação em massa para levar ao mer- cado a imagem de segurança, solidez e crescimento. Esse tipo de publi- cidade ajuda a fortalecer a imagem da instituição junto ao mercado. Alguns dizem que “são feitos para você”, outros dirão que têm “presença”, e ainda há aquele que pergunta “o que posso fazer por você hoje?”. Invariavelmente, esses bancos querem fortalecer sua imagem e reputa- ção junto ao mercado por uma razão muito simples: você seria capaz de investir seu dinheiro em uma instituição em que não confia? Bem, a julgar pelo investimento feito pelas instituições financeiras, pode- mos concluir que um problema de reputação no mercado traria grandes prejuízos à instituição. Alguns fatores que podem prejudicar a imagem da instituição junto ao mercado: • Fornecimento de crédito sem embasamento; • Vantagens devido a relacionamentos políticos; • Indícios de lavagem de dinheiro; • Fama de atender mal os clientes; • Falta de respeito ao meio ambiente; • Falta de marcação a mercado dos fundos que administra; • Situação financeira instável. 2.2.1 - CONTROLES INTERNOS Até agora estávamos falando sobre os riscos aos quais as instituições esta- rão sujeitas em caso de descumprimento de normas legais, e para pegar 45 o embalo em um tema carregado de procedimentos, vamos entender a importância de uma área de controles internos. Se voltarmos ao módulo I, onde falamos sobre o Sistema Financeiro Nacional, lembraremos que uma instituição financeira pode prestar ser- viço de intermediação de recursos, bem como a gestão de recursos de terceiros. Em outras palavras, uma instituição, ao fazer a intermediação, procura ter o máximo de spread possível. Essa mesma instituição, ao fazer ges- tão de recursos de terceiros, procura trazer a maior rentabilidade possí- vel para os investidores. Para evitar esse potencial conflito de interesse é obrigatória a implementação da área de controles internos. Antes de prosseguirmos, deixe-me explicar o conceito de spread bancá- rio que citei no parágrafo anterior. Isso vai facilitar sua compreensão. Spread bancário, em termos simplificados, é a diferença entre a taxa de juros cobrada aos tomadores de crédito e aquela paga aos depositan- tes pelos bancos. É a diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para captar um recurso e o quanto esse banco cobra para emprestar o mesmo dinheiro. O cliente que deposita dinheiro no banco está de fato fazendo um empréstimo à instituição. Portanto, o banco remunera os depósitos de clientes a uma certa taxa de juros (chamada taxa de juros de captação ou simplesmente taxa de captação). Analogamente, quando o banco empresta dinheiro a alguém, cobra uma taxa pelo empréstimo - um valor que será certamente superior à taxa de captação. Deixando ainda mais simples: quando você investe seu dinheiro no CDB do banco ganhando 0,70% ao mês e o banco empresta esse dinheiro no cheque especial a outro cliente com uma taxa de 12% ao mês, temos aqui um dos maiores spreads do mercado (para não dizer do mundo). Agora que você entendeu o spread, vamos deixar claro como teríamos um conflito de interesses: na intermediação financeira, o banco vai bus- car sempre o maior spread possível e, para isso, se faz necessário, ao cap- tar recursos dos investidores, pagar a menor taxa de juros possível. 46 Na prestação de serviços de gestão de recursos de terceiros, a institui- ção financeira precisa trazer a maior rentabilidade possível. Para alcan-çar essa rentabilidade, é necessário aplicar o recurso do seu cliente com a maior taxa possível. Resumindo o conflito de interesse: de um lado, o banco tem a necessidade de captar recursos com a menor taxa possí- vel; do outro lado, o banco tem a necessidade de aplicar o dinheiro dos investidores com maior taxa possível. A segregação das funções da instituição é uma forma de evitar o conflito de interesse. A responsabilidade de implantação é da área de controles internos. Essa área também é responsável por criar procedimentos que garantam a segurança de informação dos clientes. Os controles internos, cujas disposições devem estar acessíveis a todos os funcionários da instituição, de forma a assegurar que sejam conheci- das a respectiva função no processo e as responsabilidades atribuídas aos diversos níveis da organização, devem prever: • Segregação das atividades atribuídas aos integrantes da instituição de forma que seja evitado o conflito de interesses; • Meios de identificar e avaliar fatores internos e externos que possam afetar adversamente a realização dos objetivos da instituição; • Acompanhamento sistemático das atividades desenvolvidas, de forma que se possa avaliar se os objetivos da instituição estão sendo alcançados, se os limites estabelecidos e as leis e regulamentos apli- cáveis estão sendo cumpridos, bem como assegurar que quaisquer desvios possam ser prontamente corrigidos; • Contínua avaliação dos diversos riscos associados às atividades da instituição; • Existência de testes periódicos de segurança para os sistemas de informações, em especial para os mantidos em meio eletrônico; • A existência de canais de comunicação que assegurem aos funcio- nários, segundo o correspondente nível de atuação, o acesso a confi- 47 áveis, tempestivas e compreensíveis informações consideradas rele- vantes para suas tarefas e responsabilidades. A implementação é obrigatória e de responsabilidade da diretoria da instituição financeira. Os controles internos devem ser periodicamente revisados e atualizados, de forma a que sejam incorporadas medidas relacionadas a riscos novos ou anteriormente não abordados. 2.3.1 - O QUE É LAVAGEM DE DINHEIRO Lavagem de dinheiro (ou branqueamento de capitais) é uma expressão que se refere às práticas econômico-financeiras que têm por finalidade dissimular ou esconder a origem ilícita de determinados ativos financei- ros ou bens patrimoniais. Isso é feito de forma que tais ativos aparentam uma origem lícita ou que, pelo menos, torne mais difíceis a demonstração ou prova de sua origem ilícita. Em termos simples, a lavagem de dinheiro corresponde à prática de inserir, na economia formal, recursos decorrentes de atividades ilícitas por meio da ocultação ou dissimulação de sua verdadeira origem. Em sua forma mais recorrente a lavagem de dinheiro envolve três eta- pas independentes, que muitas vezes ocorrem de forma sequencial ou simultânea: colocação, ocultação e integração, sobre as quais falaremos mais adiante. PREVENÇÃO À LAVAGEM DE DINHEIRO Antes de começarmos a falar do processo propriamente dito (que é muito importante para sua prova e sua carreira), quero deixar uma sugestão de um filme para seu momento de lazer: “Polícia Federal, a lei é para todos”. Esse é um filme que, para alguns, tem viés político. Mas o ponto é que o filme mostra os bastidores da Operação Lava Jato, e não há nada mais atual e real no combate ao crime de lavagem de dinheiro do que ela. 48 Voltando aos estudos, vamos entender a importância da prevenção à lava- gem de dinheiro. A origem do combate à lavagem de dinheiro se deu em 1988 com a convenção de Viena, e nasceu para que as nações pudessem unir esforços contra o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas. Desde então as legislações evoluíram bastante. Com o avanço tecnoló- gico, principalmente, se faz ainda mais necessário que tenhamos meca- nismos eficientes na prevenção e no combate a esse tipo de crime. EMPRESAS SUJEITAS À LEI DE PREVENÇÃO À LAVAGEM DE DINHEIRO • As bolsas de valores, as bolsas de mercadorias ou futuros e os siste- mas de negociação do mercado de balcão organizado; • As seguradoras, as corretoras de seguros e as entidades de previdên- cia complementar ou de capitalização; • As administradoras de cartões de credenciamento ou cartões de cré- dito, bem como as administradoras de consórcios para aquisição de bens ou serviços; • As administradoras ou empresas que se utilizem de cartão ou qual- quer outro meio eletrônico, magnético ou equivalente, que permita a transferência de fundos; • As empresas de arrendamento mercantil (leasing), as empresas de fomento comercial (factoring) e as Empresas Simples de Crédito (ESC); • As sociedades que efetuem distribuição de dinheiro ou quaisquer bens móveis, imóveis, mercadorias, serviços, ou, ainda, concedam des- contos na sua aquisição, mediante sorteio ou método assemelhado; • As filiais ou representações de entes estrangeiros que exerçam no Brasil qualquer das atividades listadas neste artigo, ainda que de forma eventual; • As demais entidades cujo funcionamento dependa de autorização de órgão regulador dos mercados financeiro, de câmbio, de capitais e de seguros; 49 • As pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, que operem no Brasil como agentes, dirigentes, procuradoras, comissionárias ou por qualquer forma representem interesses de ente estrangeiro que exerça qualquer das atividades referidas neste artigo; • As pessoas físicas ou jurídicas que exerçam atividades de promoção imobiliária ou compra e venda de imóveis; • As pessoas físicas ou jurídicas que comercializem joias, pedras e metais preciosos, objetos de arte e antiguidades; • As pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de luxo ou de alto valor, intermedeiem a sua comercialização ou exerçam ativida- des que envolvam grande volume de recursos em espécie; • As juntas comerciais e os registros públicos; • Pessoas físicas ou jurídicas que atuem na promoção, intermediação, comercialização, agenciamento ou negociação de direitos de trans- ferência de atletas, artistas ou feiras, exposições ou eventos similares; • As empresas de transporte e guarda de valores; • As pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventual- mente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, acon- selhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações: • de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos; • de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investi- mento ou de valores mobiliários; • de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natu- reza, fundações, fundos fiduciários ou estruturas análogas; • financeiras, societárias ou imobiliárias; • de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a atividades desportivas ou artísticas profissionais; 50 • As pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de alto valor de origem rural ou animal ou intermedeiem a sua comercialização; • As dependências no exterior das entidades mencionadas neste artigo, por meio de sua matriz no Brasil, relativamente a residentes no País. 2.3.2 - ÓRGÃOS DE PLDFT Agora vamos estudar quais são os órgãos que atuam na Prevenção à Lavagem de Dinheiro e Financiamento do Terrorismo. GRUPO DE AÇÃO FINANCEIRA CONTRA A LAVAGEM DE DINHEIRO E O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO - GAFI/FATF É uma organização intergovernamental cujo propósito é desenvolver e promover políticas nacionais e internacionais de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Para a sua prova, nós vamos dar um enfoque maior ao COAF, mas caso você queira se aprofundar sobre o GAFI, pode acessar essa página. CONSELHO DE CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS – COAF O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) é a Unidade de Inteligência Financeira (UIF) do Brasil, a autoridade central do sistemade prevenção e combate à lavagem de dinheiro, ao financiamento do terrorismo e à proliferação de armas de destruição em massa (PLD/FTP), especialmente no recebimento, análise e disseminação de informações de inteligência financeira. Criado pela Lei nº 9.613/98 (Lei de Lavagem de Dinheiro) e reestruturado pela Lei nº 13.974/20, o COAF é o órgão máximo no combate à lavagem de dinheiro. Atualmente ele está vinculado ao Banco Central do Brasil e tem como finalidade disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas pre- vistas na Lei, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades. Porém, para que as atividades do COAF sejam bem-sucedidas, é impor- tante que todas as instituições visadas — no que diz respeito à lavagem https://www.gov.br/coaf/pt-br/assuntos/o-sistema-de-prevencao-a-lavagem-de-dinheiro/sistema-internacional-de-prevencao-e-combate-a-lavagem-de-dinheiro/o-coaf-a-unidade-de-inteligencia-financeira-brasileira http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13974.htm 51 de dinheiro proveniente do crime — mantenham registradas todas as informações de relevância sobre seus clientes e suas operações. Além dos bancos, devem combater a lavagem de dinheiro as empresas e instituições que trabalham com a comercialização de joias, metais pre- ciosos e obras de arte. Esses são casos clássicos de produtos usados para praticar o crime. Além do COAF, outras autoridades como o BACEN, a CVM, a Polícia Federal, a Receita Federal, a Controladoria-Geral da União e o Ministério Público cumprem importante papel no combate à lavagem de dinheiro. São competências do COAF: • Receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas; • Comunicar às autoridades competentes para a instauração dos pro- cedimentos cabíveis nas situações em que o Conselho concluir pela existência, ou fundados indícios, de crimes de “lavagem”, ocultação de bens, direitos e valores, ou de qualquer outro ilícito; • Coordenar e propor mecanismos de cooperação e de troca de infor- mações que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocul- tação ou dissimulação de bens, direitos e valores; • Disciplinar e aplicar penas administrativas; • Regular os setores econômicos para os quais não haja órgão regula- dor ou fiscalizador próprio; • Nesses casos, cabe ao Coaf definir as pessoas abrangidas e os meios e critérios para envio de comunicações, bem como a expedição das instruções para a identificação de clientes e manutenção de registros de transações, além da aplicação de sanções previstas em lei. 2.3.3 - OBRIGAÇÕES DAS EMPRESAS Como o nosso foco é a Certificação ANBIMA, nós precisamos passar pelas obrigações que as Instituições Financeiras precisam respeitar para 52 uma boa condução da prevenção à lavagem de dinheiro. Então, agora, nós vamos passar por pontos que envolvem a Avaliação Interna de Risco, Relatório de Efetividade, Registro de Operações, Conheça seu Parceiro etc. AVALIAÇÃO INTERNA DE RISCO As instituições financeiras devem realizar avaliação interna com o obje- tivo de identificar e mensurar o risco de utilização de seus produtos e serviços na prática da lavagem de dinheiro e do financiamento do terro- rismo. Essa avaliação deve ser feita sobre: I. Dos clientes; II. Da instituição, incluindo o modelo de negócio e a área geográfica de atuação; III. Das operações, transações, produtos e serviços, abrangendo todos os canais de distribuição e a utilização de novas tecnologias; IV. Das atividades exercidas pelos funcionários, parceiros e prestadores de serviços terceirizados. Devem ser definidas categorias de risco que possibilitem a adoção de controles de gerenciamento e de mitigação reforçados para as situações de maior risco e a adoção de controles simplificados nas situações de menor risco. Ou seja, às operações que envolvem um menor risco de lavagem de dinheiro tendem a ter processos de controle com “menos empenho”. Juntamente, devem ser utilizadas como subsídio à avaliação interna de risco, quando disponíveis, avaliações realizadas por entidades públicas do País relativas ao risco de lavagem de dinheiro e de financiamento do terrorismo. RELATÓRIO DE EFETIVIDADE O relatório de efetividade deve conter informações que descrevam: I. Metodologia adotada na avaliação de efetividade; II. Os testes aplicados; 53 III. A qualificação dos avaliadores; IV. As deficiências identificadas. REGISTRO DAS OPERAÇÕES Além de termos o cadastro do cliente devidamente atualizado, é impor- tante destacar que as operações devem ser devidamente identificadas e registradas para consulta posterior por parte do regulador. Mas para os efeitos de registros: • Operações em espécie acima de R$ 2.000,00: coletar o CPF do porta- dor. Aqui é apenas um registro interno, não é necessário reportar ao COAF caso você não julgue a operação como suspeita; • Operações em espécie acima de R$ 50.000,00: coletar o CPF do por- tador, origem/destino dos recursos e comunicar ao COAF. Ponto importante aqui, para um saque de 50 mil em espécie é necessário que haja o provisionamento, ou seja, o cliente “reservar” essa retirada de 50 mil com até 3 dias úteis de antecedência; • Operações suspeitas de qualquer valor devem ser comunicadas ao COAF. Vamos falar sobre o prazo desses registros mais adiante. CONHEÇA SEU PARCEIRO/FUNCIONÁRIO As instituições financeiras devem classificar as atividades exercidas por seus funcionários, parceiros e prestadores de serviços terceirizados nas categorias de risco definidas na avaliação interna de risco. Os procedimentos de conheça seu parceiro devem ser formalizados em documento específico aprovado pela diretoria da instituição. Este docu- mento deve ser mantido atualizado. No ato da contratação com terceiros não sujeitos a autorização para funcionar do Banco Central do Brasil, participantes de arranjo de paga- mento do qual a instituição também participe, devem: 54 I. Obter informações sobre o terceiro que permitam compreender a natureza de sua atividade e a sua reputação; II. Verificar se o terceiro foi objeto de investigação ou de ação de au- toridade supervisora relacionada com lavagem de dinheiro ou com financiamento do terrorismo; III. Certificar que o terceiro tem licença do instituidor do arranjo para operar, quando for o caso; IV. Conhecer os controles adotados pelo terceiro relativos à prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo; V. Dar ciência do contrato ao diretor responsável pelo PLDFT. As instituições financeiras, na celebração de contratos com instituições financeiras sediadas no exterior, devem: • Obter informações sobre o contratado que permitam compreender a natureza de sua atividade e a sua reputação; • Verificar se o contratado foi objeto de investigação ou de ação de autoridade supervisora relacionada com lavagem de dinheiro ou com financiamento do terrorismo; • Certificar que o contratado tem presença física no país onde está constituído ou licenciado; • Conhecer os controles adotados pelo contratado relativos à preven- ção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo; • Obter a aprovação do detentor de cargo ou função de nível hierár- quico superior ao do responsável pela contratação; e • Dar ciência do contrato de parceria ao diretor responsável pelo pro- cesso de PLDFT. INTERFACE COM REGULADORES As instituições financeiras devem indicar formalmente ao Banco Central do Brasil o diretor responsável pelo cumprimento das obrigações previs- 55 tas na regulação de PLDFT. O diretor mencionado pode desempenhar outras funções na instituição, desde que não haja conflito de interesses. PENALIDADES “Mas e se as empresas que devem respeitar essas obrigações não a fize- rem?” Então, poderão enfrentar essas penalidades: I. Multa pecuniária variável não superior: A.ao dobro do valor da operação; B. ao dobro do lucro real obtido ou que presumivelmente seria obtido pela realização da operação; ou C. ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais); II. Inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício do cargo de administrador das pessoas jurídicas obrigadas; III. Cassação ou suspensão da autorização para o exercício de ativida- de, operação ou funcionamento. PRAZO PARA ATUALIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS 1. Avaliação Interna de Risco: a cada dois anos, bem como quando ocorrerem alterações significativas nos perfis de risco; 2. Relatório de efetividade: elaborado anualmente, com data-base de 31 de dezembro, encaminhado, para ciência, até 31 de março do ano seguinte ao da data-base. 2.1 O plano de ação e o respectivo relatório de ação de acompa- nhamento em relação a deficiência do relatório de efetividade: encaminhados para ciência e avaliação, até 30 de junho do ano seguinte ao da data-base; 3. Início do relacionamento sem cumprimento do conheça seu cliente: máximo de 30 dias. 56 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE OPERAÇÕES SUSPEITAS As instituições financeiras devem implementar procedimentos de aná- lise das operações e situações selecionadas por meio dos procedimen- tos de monitoramento e seleção operações suspeitas, com o objetivo de caracterizá-las ou não como suspeitas de lavagem de dinheiro e de financiamento do terrorismo. O período para a execução dos procedimentos de análise das opera- ções e situações selecionadas não pode exceder o prazo de quarenta e cinco dias, contados a partir da data da seleção da operação ou situ- ação. A análise de operações suspeitas deve ser formalizada em dossiê, independentemente da comunicação ao COAF. Os procedimentos de análise de operações suspeitas podem ser realiza- dos de forma centralizada em instituição do conglomerado prudencial e do sistema cooperativo de crédito. As instituições que optarem por reali- zar os procedimentos de análise na forma centralizada devem formalizar a opção em reunião do conselho de administração ou, se inexistente, da diretoria da instituição. Para isso, é vedado: 1. A contratação de terceiros para a realização da análise de operações suspeitas, salvo a contratação de serviços auxiliares para a análise; 2. Realizar a análise a partir do exterior. A seguir temos exemplos de situações de operações suspeitas, retiradas da circular nº 4001, de 29 de janeiro de 2020. Não precisa decorar, certo? Importante a leitura para ter uma visão geral. I. situações relacionadas com operações em espécie em moeda na- cional com a utilização de contas de depósitos ou de contas de pa- gamento: a) depósitos, aportes, saques, pedidos de provisionamento para sa- que ou qualquer outro instrumento de transferência de recursos em espécie, que apresentem atipicidade em relação à atividade 57 econômica do cliente ou incompatibilidade com a sua capacidade financeira; b) movimentações em espécie realizadas por clientes cujas atividades possuam como característica a utilização de outros instrumentos de transferência de recursos, tais como cheques, cartões de débito ou crédito; c) aumentos substanciais no volume de depósitos ou aportes em es- pécie de qualquer pessoa natural ou jurídica, sem causa aparente, nos casos em que tais depósitos ou aportes forem posteriormente transferidos, dentro de curto período de tempo, a destino não rela- cionado com o cliente; d) fragmentação de depósitos ou outro instrumento de transferência de recurso em espécie, inclusive boleto de pagamento, de forma a dissimular o valor total da movimentação; e) fragmentação de saques em espécie, a fim de burlar limites regu- latórios de reportes; f) depósitos ou aportes de grandes valores em espécie, de forma par- celada, principalmente nos mesmos caixas ou terminais de auto- atendimento próximos, destinados a uma única conta ou a várias contas em municípios ou agências distintas; g) depósitos ou aportes em espécie em contas de clientes que exer- çam atividade comercial relacionada com negociação de bens de luxo ou de alto valor, tais como obras de arte, imóveis, barcos, joias, automóveis ou aeronaves; h) saques em espécie de conta que receba diversos depósitos por transferência eletrônica de várias origens em curto período de tempo; i) depósitos ou aportes em espécie com cédulas úmidas, malchei- rosas, mofadas, ou com aspecto de que foram armazenadas em local impróprio ou ainda que apresentem marcas, símbolos ou se- 58 los desconhecidos, empacotadas em maços desorganizados e não uniformes; j) depósitos, aportes ou troca de grandes quantidades de cédulas de pequeno valor, por pessoa natural ou jurídica, cuja atividade ou negócio não tenha como característica recebimentos de grandes quantias de recursos em espécie; k) saques no período de cinco dias úteis em valores inferiores aos li- mites estabelecidos, de forma a dissimular o valor total da opera- ção e evitar comunicações de operações em espécie; l) dois ou mais saques em espécie no caixa no mesmo dia, com indí- cios de tentativa de burla para evitar a identificação do sacador; m) dois ou mais depósitos em terminais de autoatendimento em es- pécie, no período de cinco dias úteis, com indícios de tentativa de burla para evitar a identificação do depositante; n) depósitos em espécie relevantes em contas de servidores públicos e de qualquer tipo de Pessoas Expostas Politicamente (PEP), bem como seu representante, familiar ou estreito colaborador; II. situações relacionadas com operações em espécie e cartões pré- -pagos em moeda estrangeira e cheques de viagem: a) movimentações de moeda estrangeira em espécie ou de cheques de viagem denominados em moeda estrangeira, que apresentem atipicidade em relação à atividade econômica do cliente ou in- compatibilidade com a sua capacidade financeira; b) negociações de moeda estrangeira em espécie ou de cheques de viagem denominados em moeda estrangeira, que não apresen- tem compatibilidade com a natureza declarada da operação; c) negociações de moeda estrangeira em espécie ou de cheques de viagem denominados em moeda estrangeira, realizadas por dife- rentes pessoas naturais, não relacionadas entre si, que informem 59 o mesmo endereço residencial, telefone de contato ou possuam o mesmo representante legal; d) negociações envolvendo taxas de câmbio com variação significati- va em relação às praticadas pelo mercado; e) negociações de moeda estrangeira em espécie envolvendo cédu- las úmidas, malcheirosas, mofadas, ou com aspecto de terem sido armazenadas em local impróprio, ou ainda que apresentem mar- cas, símbolos ou selos desconhecidos, empacotadas em maços desorganizados e não uniformes; f) negociações de moeda estrangeira em espécie ou troca de gran- des quantidades de cédulas de pequeno valor, realizadas por pes- soa natural ou jurídica, cuja atividade ou negócio não tenha como característica o recebimento desse tipo de recurso; g) utilização, carga ou recarga de cartão pré-pago em valor não com- patível com a capacidade financeira, atividade ou perfil do cliente; h) utilização de diversas fontes de recursos para carga e recarga de cartões pré-pagos; i) carga e recarga de cartões pré-pagos seguidas imediatamente por saques em caixas eletrônicos; III. situações relacionadas com a identificação e qualificação de clientes: a) resistência ao fornecimento de informações necessárias para o iní- cio de relacionamento ou para a atualização cadastral; b) oferecimento de informação falsa; c) prestação de informação de difícil ou onerosa verificação; d) abertura, movimentação de contas ou realização de operações por detentor de procuração ou de qualquer outro tipo de mandato; 60 e) ocorrência de irregularidades relacionadas aos procedimentos de identificação e registro das operações exigidos pela regulamenta- ção vigente;f) cadastramento de várias contas em uma mesma data, ou em curto período, com depósitos de valores idênticos ou aproximados, ou com outros elementos em comum, tais como origem dos recursos, titula- res, procuradores, sócios, endereço, número de telefone, etc.; g) operações em que não seja possível identificar o beneficiário final, observados os procedimentos definidos na regulamentação vi- gente; h) representação de diferentes pessoas jurídicas ou organizações pe- los mesmos procuradores ou representantes legais, sem justificati- va razoável para tal ocorrência; i) informação de mesmo endereço residencial ou comercial por pes- soas naturais, sem demonstração da existência de relação familiar ou comercial; j) incompatibilidade da atividade econômica ou faturamento infor- mados com o padrão apresentado por clientes com o mesmo perfil; k) registro de mesmo endereço de e-mail ou de Internet Protocol (IP) por diferentes pessoas jurídicas ou organizações, sem justificativa razoável para tal ocorrência; l) registro de mesmo endereço de e-mail ou Internet Protocol (IP) por pessoas naturais, sem justificativa razoável para tal ocorrência; m) informações e documentos apresentados pelo cliente conflitantes com as informações públicas disponíveis; n) sócios de empresas sem aparente capacidade financeira para o porte da atividade empresarial declarada; 61 IV. situações relacionadas com a movimentação de contas de depó- sito e de contas de pagamento em moeda nacional, que digam respeito a: a) movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a ati- vidade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade fi- nanceira do cliente; b) transferências de valores arredondados na unidade de milhar ou que estejam um pouco abaixo do limite para notificação de opera- ções; c) movimentação de recursos de alto valor, de forma contumaz, em benefício de terceiros; d) manutenção de numerosas contas destinadas ao acolhimento de depósitos em nome de um mesmo cliente, cujos valores, somados, resultem em quantia significativa; e) movimentação de quantia significativa por meio de conta até então pouco movimentada ou de conta que acolha depósito inusitado; f) ausência repentina de movimentação financeira em conta que an- teriormente apresentava grande movimentação; g) utilização de cofres de aluguel de forma atípica em relação ao per- fil do cliente; h) dispensa da faculdade de utilização de prerrogativas como recebi- mento de crédito, de juros remuneratórios para grandes saldos ou, ainda, de outros serviços bancários especiais que, em circunstân- cias normais, sejam valiosas para qualquer cliente; i) mudança repentina e injustificada na forma de movimentação de recursos ou nos tipos de transação utilizados; j) solicitação de não observância ou atuação no sentido de induzir funcionários da instituição a não seguirem os procedimentos re- gulamentares ou formais para a realização de uma operação; 62 k) recebimento de recursos com imediata compra de instrumentos para a realização de pagamentos ou de transferências a terceiros, sem justificativa; l) operações que, por sua habitualidade, valor e forma, configurem artifício para burla da identificação da origem, do destino, dos res- ponsáveis ou dos destinatários finais; m) existência de contas que apresentem créditos e débitos com a uti- lização de instrumentos de transferência de recursos não caracte- rísticos para a ocupação ou o ramo de atividade desenvolvida pelo cliente; n) recebimento de depósitos provenientes de diversas origens, sem fundamentação econômico-financeira, especialmente provenien- tes de regiões distantes do local de atuação da pessoa jurídica ou distantes do domicílio da pessoa natural; o) pagamentos habituais a fornecedores ou beneficiários que não apresentem ligação com a atividade ou ramo de negócio da pes- soa jurídica; p) pagamentos ou transferências por pessoa jurídica para fornecedor distante de seu local de atuação, sem fundamentação econômico- -financeira; q) depósitos de cheques endossados totalizando valores significativos; r) existência de conta de depósitos à vista ou de conta de pagamento de organizações sem fins lucrativos cujos saldos ou movimentações financeiras não apresentem fundamentação econômica ou legal ou nas quais pareça não haver vinculação entre a atividade declarada da organização e as outras partes envolvidas nas transações; s) movimentação habitual de recursos financeiros de ou para qual- quer tipo de PEP, bem como seu representante, familiar ou estrei- to colaborador, não justificada por eventos econômicos; 63 t) existência de contas em nome de menores ou incapazes, cujos re- presentantes realizem grande número de operações e/ou opera- ções de valores relevantes; u) transações significativas e incomuns por meio de contas de depó- sitos ou de contas de pagamento de investidores não residentes constituídos sob a forma de trust; v) recebimentos de valores relevantes no mesmo terminal de paga- mento (Point of Sale - POS), que apresentem indícios de atipicida- de ou de incompatibilidade com a capacidade financeira do esta- belecimento comercial credenciado; w) recebimentos de valores relevantes no mesmo terminal de paga- mento (Point of sale - POS), que apresentem indícios de atipicida- de ou de incompatibilidade com o perfil do estabelecimento co- mercial credenciado; x) desvios frequentes em padrões adotados por cada administradora de cartões de credenciamento ou de cartões de crédito, verificados no monitoramento das compras de seus titulares; y) transações em horário considerado incompatível com a atividade do estabelecimento comercial credenciado; z) transações em terminal (Point of sale - POS) realizadas em locali- zação geográfica distante do local de atuação do estabelecimento comercial credenciado; aa) operações atípicas em contas de clientes que exerçam atividade comercial relacionada com negociação de bens de luxo ou de alto valor, tais como obras de arte, imóveis, barcos, joias, automóveis ou aeronaves; ab) utilização de instrumento financeiro de forma a ocultar patrimô- nio e/ou evitar a realização de bloqueios judiciais, inclusive cheque administrativo; 64 ac) movimentação de valores incompatíveis com o faturamento men- sal das pessoas jurídicas; ad) recebimento de créditos com o imediato débito dos valores; ae) movimentações de valores com empresas sem atividade regula- mentada pelos órgãos competentes; V. situações relacionadas com operações de investimento no País: a) operações ou conjunto de operações de compra ou de venda de ativos financeiros a preços incompatíveis com os praticados no mercado ou quando realizadas por pessoa natural ou jurídica cuja atividade declarada e perfil não se coadunem ao tipo de negocia- ção realizada; b) operações atípicas que resultem em elevados ganhos para os agentes intermediários, em desproporção com a natureza dos ser- viços efetivamente prestados; c) investimentos significativos em produtos de baixa rentabilidade e liquidez; d) investimentos significativos não proporcionais à capacidade finan- ceira do cliente, ou cuja origem não seja claramente conhecida; e) resgates de investimentos no curtíssimo prazo, independente- mente do resultado auferido; VI. situações relacionadas com operações de crédito no País: a) operações de crédito no País liquidadas com recursos aparente- mente incompatíveis com a situação financeira do cliente; b) solicitação de concessão de crédito no País incompatível com a ati- vidade econômica ou com a capacidade financeira do cliente; c) operação de crédito no País seguida de remessa de recursos ao exterior, sem fundamento econômico ou legal, e sem relaciona- mento com a operação de crédito; 65 d) operações de crédito no País, simultâneas ou consecutivas, liqui- dadas antecipadamenteou em prazo muito curto; e) liquidação de operações de crédito ou assunção de dívida no País por terceiros, sem justificativa aparente; f) concessão de garantias de operações de crédito no País por tercei- ros não relacionados ao tomador; g) operação de crédito no País com oferecimento de garantia no exterior por cliente sem tradição de realização de operações no exterior; h) aquisição de bens ou serviços incompatíveis com o objeto da pes- soa jurídica, especialmente quando os recursos forem originados de crédito no País; VII. situações relacionadas com a movimentação de recursos oriundos de contratos com o setor público: a) movimentações atípicas de recursos por agentes públicos; b) movimentações atípicas de recursos por pessoa natural ou jurídi- ca relacionadas a patrocínio, propaganda, marketing, consultorias, assessorias e capacitação; c) movimentações atípicas de recursos por organizações sem fins lu- crativos; d) movimentações atípicas de recursos por pessoa natural ou jurídica relacionadas a licitações; VIII. situações relacionadas a consórcios: a) existência de consorciados detentores de elevado número de co- tas, incompatível com sua capacidade financeira ou com o objeto da pessoa jurídica; b) aumento expressivo do número de cotas pertencentes a um mes- mo consorciado; 66 c) oferecimento de lances incompatíveis com a capacidade financei- ra do consorciado; d) oferecimento de lances muito próximos ao valor do bem; e) pagamento antecipado de quantidade expressiva de prestações vincendas, não condizente com a capacidade financeira do con- sorciado; f) aquisição de cotas previamente contempladas, seguida de quita- ção das prestações vincendas; g) utilização de documentos falsificados na adesão ou tentativa de adesão a grupo de consórcio; h) pagamentos realizados em localidades diferentes ao do endereço do cadastro; i) informe de conta de depósito à vista ou de poupança para paga- mento de crédito em espécie, em agência/localidade diferente da inicialmente fornecida ou remessa de eventual Ordem de Paga- mento (OP) para conta de depósito à vista ou de poupança diver- gente da inicialmente fornecida; IX. situações relacionadas a pessoas ou entidades suspeitas de envolvi- mento com financiamento ao terrorismo e a proliferação de armas de destruição em massa: a) movimentações financeiras envolvendo pessoas ou entidades re- lacionadas a atividades terroristas listadas pelo Conselho de Segu- rança das Nações Unidas (CSNU); b) operações ou prestação de serviços, de qualquer valor, a pessoas ou entidades que reconhecidamente tenham cometido ou inten- tado cometer atos terroristas, ou deles participado ou facilitado o seu cometimento; c) existência de recursos pertencentes ou controlados, direta ou in- diretamente, por pessoas ou entidades que reconhecidamente 67 tenham cometido ou intentado cometer atos terroristas, ou deles participado ou facilitado o seu cometimento; d) movimentações com indícios de financiamento ao terrorismo; e) movimentações financeiras envolvendo pessoas ou entidades re- lacionadas à proliferação de armas de destruição em massa lista- das pelo CSNU; f) operações ou prestação de serviços, de qualquer valor, a pessoas ou entidades que reconhecidamente tenham cometido ou inten- tado cometer crimes de proliferação de armas de destruição em massa, ou deles participado ou facilitado o seu cometimento; g) existência de recursos pertencentes ou controlados, direta ou indi- retamente, por pessoas ou entidades que reconhecidamente te- nham cometido ou intentado cometer crimes de proliferação de armas de destruição em massa, ou deles participado ou facilitado o seu cometimento; h) movimentações com indícios de financiamento da proliferação de armas de destruição em massa; X. situações relacionadas com atividades internacionais: a) operação com pessoas naturais ou jurídicas, inclusive sociedades e instituições financeiras, situadas em países que não apliquem ou apliquem insuficientemente as recomendações do Grupo de Ação contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (Gafi), ou que tenham sede em países ou dependências com tri- butação favorecida ou regimes fiscais privilegiados, ou em locais onde seja observada a prática contumaz dos crimes previstos na Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, não claramente caracterizadas em sua legalidade e fundamentação econômica; b) operações complexas e com custos mais elevados que visem a di- ficultar o rastreamento dos recursos ou a identificação da natureza da operação; 68 c) pagamentos de importação e recebimentos de exportação, ante- cipados ou não, por empresa sem tradição ou cuja capacidade fi- nanceira seja incompatível com o montante negociado; d) pagamentos a terceiros não relacionados a operações de importa- ção ou de exportação; e) transferências unilaterais que, pela habitualidade, valor ou forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade; f) transferências internacionais, inclusive a título de disponibilidade no exterior, nas quais não se justifique a origem dos fundos envol- vidos ou que se mostrem incompatíveis com a capacidade finan- ceira ou com o perfil do cliente; g) exportações ou importações aparentemente fictícias ou com indí- cios de superfaturamento ou subfaturamento, ou ainda em situa- ções que não seja possível obter informações sobre o desembara- ço aduaneiro das mercadorias; h) existência de informações na carta de crédito com discrepâncias em relação a outros documentos da operação de comércio inter- nacional; i) pagamentos ao exterior após créditos em reais efetuados nas con- tas de depósitos dos titulares das operações de câmbio por pesso- as naturais ou jurídicas que não demonstrem a existência de vín- culo comercial ou econômico; j) movimentações decorrentes de programa de repatriação de re- cursos que apresentem inconsistências relacionadas à identifica- ção do titular ou do beneficiário final, bem como ausência de infor- mações confiáveis sobre a origem e a fundamentação econômica ou legal; k) pagamentos de frete ou de outros serviços que apresentem indí- cios de atipicidade ou de incompatibilidade com a atividade ou capacidade econômico-financeira do cliente; 69 l) transferências internacionais por uma ou mais pessoas naturais ou jurídicas com indícios de fragmentação, como forma de ocultar a real origem ou destino dos recursos; m) transações em uma mesma data, ou em curto período, de valores idênticos ou aproximados, ou com outros elementos em comum, tais como origem ou destino dos recursos, titulares, procuradores, endereço, número de telefone, que configurem artifício de burla do limite máximo de operação; n) transferência via facilitadora de pagamentos ou com a utilização do cartão de crédito de uso internacional, que, pela habitualidade, valor ou forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade; o) transferências relacionadas a investimentos não convencionais que, pela habitualidade, valor ou forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade; p) pagamento de frete internacional sem amparo em documentação que evidencie vínculo com operação comercial; XI. situações relacionadas com operações de crédito contratadas no exterior: a) contratação de operações de crédito no exterior com cláusulas que estabeleçam condições incompatíveis com as praticadas no mer- cado, como juros destoantes da prática ou prazo muito longo; b) contratação, no exterior, de várias operações de crédito consecu- tivas, sem que a instituição tome conhecimento da quitação das anteriores; c) contratação, no exterior, de operações de crédito que não sejam quitadas por intermédio de operações na mesma instituição; d) contratação, no exterior, de operações de crédito, quitadas sem ex- plicação aparente para a origem dos recursos; 70 e) contratação de empréstimos ou financiamentosno exterior, ofe- recendo garantias em valores ou formas incompatíveis com a ati- vidade ou capacidade financeira do cliente ou em valores muito superiores ao valor das operações contratadas ou cuja origem não seja claramente conhecida; f) contratação de operações de crédito no exterior, cujo credor seja de difícil identificação e sem que exista relação ou fundamentação para a operação entre as partes; XII. situações relacionadas com operações de investimento externo: a) recebimento de investimento externo direto, cujos recursos retor- nem imediatamente a título de disponibilidade no exterior; b) recebimento de investimento externo direto, com realização quase imediata de remessas de recursos para o exterior a título de lucros e dividendos; c) remessas de lucros e dividendos ao exterior em valores incompatí- veis com o valor investido; d) remessas ao exterior a título de investimento em montantes in- compatíveis com a capacidade financeira do cliente; e) remessas de recursos de um mesmo investidor situado no exterior para várias empresas no País; f) remessas de recursos de vários investidores situados no exterior para uma mesma empresa no País; g) recebimento de aporte de capital desproporcional ao porte ou à natureza empresarial do cliente, ou em valores incompatíveis com a capacidade financeira dos sócios; h) retorno de investimento feito no exterior sem comprovação da re- messa que lhe tenha dado origem; 71 XIII. situações relacionadas com funcionários, parceiros e prestadores de serviços terceirizados: a) alteração inusitada nos padrões de vida e de comportamento do empregado, do parceiro ou de prestador de serviços terceirizados, sem causa aparente; b) modificação inusitada do resultado operacional da pessoa jurídica do parceiro, incluído correspondente no País, sem causa aparente; c) qualquer negócio realizado de modo diverso ao procedimento formal da instituição por funcionário, parceiro, incluído correspon- dente no País, ou prestador de serviços terceirizados; d) fornecimento de auxílio ou informações, remunerados ou não, a cliente em prejuízo do programa de prevenção à lavagem de di- nheiro e ao financiamento do terrorismo da instituição, ou de au- xílio para estruturar ou fracionar operações, burlar limites regula- mentares ou operacionais; XIV. situações relacionadas a campanhas eleitorais: a) recebimento de doações, em contas (eleitorais ou não) de candi- datos, contas de estreito colaborador dessas pessoas ou em contas de partidos políticos, de valores que desrespeitem as vedações ou extrapolem os limites definidos na legislação em vigor; b) uso incompatível com as exigências regulatórias do fundo de caixa do partido eleitoral; c) recebimento de doações, em contas de candidatos, de valores que desrespeitem as vedações ou extrapolem os limites definidos na legislação em vigor, inclusive mediante uso de terceiros e/ou de contas de terceiros; d) transferências, a partir das contas de candidatos, para pessoas na- turais ou jurídicas cuja atividade não guarde aparente relação com contas de campanha; 72 XV. situações relacionadas a BNDU e outros ativos não financeiros: a) negociação de BNDU ou outro ativo não financeiro para pessoas naturais ou jurídicas sem capacidade financeira; b) negociação de BNDU ou outro ativo não financeiro mediante pa- gamento em espécie; c) negociação de BNDU ou outro ativo não financeiro por preço sig- nificativamente superior ao de avaliação; d) negociação de outro ativo não financeiro em benefício de ter- ceiros; XVI. situações relacionadas com a movimentação de contas correntes em moeda estrangeira (CCME): a) movimentação de recursos incompatível com a atividade econô- mica e a capacidade financeira do cliente; b) recebimentos ou pagamentos de/para terceiros cujas movimen- tações financeiras não apresentem fundamentação econômica ou legal ou nas quais pareça não haver vinculação entre a ativida- de declarada do titular da CCME e as outras partes envolvidas nas transações; c) movimentação de recursos, em especial nas contas tituladas por agentes autorizados a operar no mercado de câmbio, que deno- tem inobservância a limites por operação cambial ou qualquer ou- tra situação em que não se justifiquem ou apresentem atipicidade, pela habitualidade, valor, forma ou ausência de aderência às nor- mas cambiais; d) transações atípicas em CCME de movimentação restrita. Exem- plos: contas de agências de turismo e contas de administradoras de cartão de crédito; 73 XVII. situações relacionadas com operações realizadas em municípios localizados em regiões de risco: a) operação atípica em municípios localizados em regiões de fronteira; b) operação atípica em municípios localizados em regiões de extra- ção mineral; c) operação atípica em municípios localizados em outras regiões de risco. MANUTENÇÃO DOS REGISTROS Os contratos e procedimentos que as instituições financeiras adotam devem ser registrados e mantidos em arquivo à disposição do regulador. O período de manutenção varia de acordo com o tipo de contrato, como veremos a seguir: Documentos atuais: • Procedimento relativo à política de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo; • O documento relativo à avaliação interna de risco; • O Relatório de efetividade; • Contratos realizados com terceiros não sujeitos a autorização para funcionar no Banco Central do Brasil. Devem ser mantidos por, no mínimo, 5 anos: I. Avaliação interna de risco anteriores; II. Manual relativo aos procedimentos relacionado a conhecer seu cliente, seus prestadores de serviços e seus funcionários; III. Relatório de efetividade anteriores; IV. Documento com plano de ação que envolve as deficiências identi- ficadas no plano de efetividade; 74 V. Os procedimentos que são adotados para fins de controles internos. Devem ser mantidos por, no mínimo, 10 anos: I. As informações coletadas nos procedimentos destinados a conhe- cer os clientes e os registros das transações realizadas pelo cliente. O prazo é contado a partir do primeiro dia do ano seguinte ao tér- mino do relacionamento com o cliente; II. As informações coletadas nos procedimentos destinados a conhe- cer os funcionários, parceiros e prestadores de serviços terceiriza- dos. O prazo é contado a partir da data de encerramento da relação contratual; III. As operações foram classificadas como suspeitas de LDFT pela ins- tituição (dossiê). 2.3.4 - CONHEÇA SEU CLIENTE Os procedimentos do KYC (Know Your Customer) são essenciais para avaliar e monitorar o risco do cliente frente à instituição, assim como um requisito legal a ser cumprido, em respeito às normas éticas operacio- nais, administrativas e legais de prevenção à lavagem de dinheiro nacio- nais e internacionais. Os procedimentos de qualificação dos clientes devem incluir a coleta de informações que permitam avaliar a capacidade financeira do cliente, incluindo a renda, no caso de pessoa natural, ou o faturamento, no caso de pessoa jurídica. Além de verificar se o cliente é uma Pessoa Exposta Politicamente (PEP), vou te explicar o que é isso adiante. O KYC possibilita uma análise minuciosa e aprofundada destas questões através de formas diversificadas de identificar e analisar os seus clientes, saber com quem eles negociam, compreender e verificar quais são as origens de suas fontes financeiras e mensurar a exposição das negocia- ções frente a terceiros. As Instituições devem, no processo de “Conheça seu Cliente”, buscar conhecer seus investidores no início do relacionamento e durante o pro- 75 cesso cadastral, identificando a necessidade de visitas em suas residên- cias, seus locais de trabalho e suas instalações comerciais. É preciso implementar e manter, em documento escrito, regras e proce- dimentos que descrevam o processo de “Conheça seu Cliente” adotado pela instituição. Este documento deveconter regras que sejam efetivas e consistentes com a natureza, porte, complexidade, estrutura, perfil de risco dos pro- dutos de investimento distribuídos e modelo de negócio da instituição. Ele deve conter, no mínimo: • Procedimento adotado para aceitação de investidores, incluindo pro- cedimento para análise e validação dos dados, bem como a forma de aprovação dos clientes; • Indicação dos casos em que são realizadas visitas aos investidores em sua residência, local de trabalho ou instalações comerciais; • Indicação do sistema e ferramentas utilizadas para realizar o controle das informações, dados e movimentações dos investidores; • Procedimento de atualização cadastral, nos termos da Regulação em vigor; • Procedimento adotado para identificar a pessoa natural caracterizada como beneficiário final, nos termos da Regulação em vigor; • Procedimento adotado para veto de relacionamentos em razão dos riscos envolvidos. O procedimento de conheça seu cliente deve ser compatível com: I. O perfil de risco do cliente, contemplando medidas reforçadas para clientes classificados em categorias de maior risco, de acordo com a avaliação interna de risco; II. A política de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo; 76 III. A avaliação interna de risco; IV. A necessidade de verificação e de validação das informações forne- cidas pelo cliente deve ser avaliada pelas instituições de acordo com o perfil de risco do cliente e com a natureza da relação de negócio. Os procedimentos de qualificação do cliente pessoa jurídica, devem incluir a análise da cadeia de participação societária até a identificação da pessoa natural caracterizada como seu beneficiário final. O valor mínimo de referência de participação societária de que trata o parágrafo acima deve ser estabelecido com base no risco e não pode ser superior a 25% (vinte e cinco por cento), considerada, em qualquer caso, a participação direta e indireta. As Instituições Financeiras devem manter as informações cadastrais de seus investidores atualizadas, de modo a permitir que haja identificação, a qualquer tempo, de cada um dos beneficiários finais. Isso também vale para o registro atualizado de todas as aplicações e res- gates realizados em nome dos investidores, quando aplicável. PESSOAS EXPOSTAS POLITICAMENTE Pessoas Politicamente Expostas, também conhecidas como PEPs, são indivíduos que passam por um monitoramento especial das suas movi- mentações financeiras e fiscais, com objetivo de prevenir a corrupção e crimes como lavagem de dinheiro. São considerados PEPs: I. Os detentores de mandatos eletivos dos Poderes Executivo e Legis- lativo da União; II. Os ocupantes de cargo, no Poder Executivo da União, de: a) Ministro de Estado ou equiparado; b) Natureza Especial ou equivalente; c) Presidente, Vice-Presidente e Diretor, ou equivalentes, de entida- des da administração pública indireta; e 77 d) Direção e Assessoramento Superior - DAS de nível 6 ou equivalente; III. Os membros do Conselho Nacional de Justiça, do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores, dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais do Trabalho, dos Tribunais Regionais Eleito- rais, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho e do Conselho da Justiça Federal; IV. Os membros do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procu- rador-Geral da República, o Vice-Procurador-Geral da República, o Procurador-Geral do Trabalho, o Procurador-Geral da Justiça Militar, os Subprocuradores-Gerais da República e os Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal; V. Os membros do Tribunal de Contas da União, o Procurador-Geral e os Subprocuradores-Gerais do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União; VI. Os Presidentes e Tesoureiros nacionais, ou equivalentes, de partidos políticos; VII. Os Governadores e Secretários de Estado e do Distrito Federal, os Deputados Estaduais e Distritais, os Presidentes, ou equivalentes, de entidades da administração pública indireta estadual e distrital e os Presidentes de Tribunais de Justiça, Militares, de Contas ou equi- valentes de Estado e do Distrito Federal; VIII. Os Prefeitos, os Vereadores, os Secretários Municipais, os Presiden- tes, ou equivalentes, de entidades da administração pública indire- ta municipal e os Presidentes de Tribunais de Contas de Municípios ou equivalentes. A condição de PEP é estendida por 5 anos após o término do manda- tado. O COAF atualiza a relação de PEPs mensalmente até o dia 25 de cada mês. Veja a relação completa de PEPs, clicando aqui. https://portaldatransparencia.gov.br/download-de-dados/pep 78 2.3.5 - FASES DA LAVAGEM DE DINHEIRO E PENALIDADES Colocação: a primeira etapa do processo é a inserção do dinheiro no sis- tema econômico. A colocação é efetuada por meio de depósitos e com- pras de instrumentos negociáveis ou de bens. Para dificultar a identificação da procedência do dinheiro, os crimino- sos aplicam técnicas sofisticadas, como o fracionamento dos valores em quantias menores e a utilização de estabelecimentos comerciais que usualmente trabalham com dinheiro em espécie. Ocultação: a segunda etapa do processo consiste em dificultar o rastre- amento contábil dos recursos ilícitos. O objetivo é quebrar a cadeia de evidências que conecta o dinheiro à sua origem. Os criminosos buscam movimentá-lo de forma eletrônica, transferindo os ativos para contas anônimas, preferencialmente em países ampara- dos por fortes leis de sigilo bancário. Integração: na última etapa, os ativos são incorporados formalmente ao sistema econômico. As organizações criminosas buscam investir em empreendimentos que facilitem suas atividades – podendo tais socie- dades prestarem serviços entre si. Uma vez formada a cadeia, torna-se cada vez mais fácil legitimar o dinheiro. Na legislação brasileira, o conceito de lavagem está expresso na Lei 9.613/98 que, em seu artigo 1°, conceitua o crime como “ocultar ou dis- simular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indireta- mente, de infração penal”. Contudo, é importante notar que o referido artigo, em seus parágrafos 1° e 2°, impõe as mesmas penas para quem: • Os converte em ativos lícitos; • Os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere; • Importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros; 79 • Utiliza — na atividade econômica ou financeira — bens, direitos ou valores provenientes de infração penal; • Participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de cri- mes previstos nesta Lei. Resumindo: todos que de alguma forma contribuem para qualquer uma das etapas tradicionais do processo de lavagem de dinheiro fi- cam sujeitos às punições aplicáveis aos crimes dessa natureza. RESPONSABILIDADES E CORRESPONSABILIDADES Aos responsáveis por práticas de crime de lavagem de dinheiro será imputado: • Reclusão de três a dez anos e multa; • A mesma pena de quem ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direi- tos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Obs: As mesmas penas são aplicáveis também aos agentes que pos- sibilitaram a ocorrência da lavagem de dinheiro em seu ciclo amplo, que, como visto, engloba integração, ocultação e colocação. REDUÇÃO DE PENA Lembra quando o empresário Marcelo Odebrecht resolveu contribuir com as investigações da Operação Lava Jato delatando outros empre- sários e políticos? Ele não o fez, necessariamente, por ter se arrependido dos crimes que cometeu. A principal razão é porque essa delação con- fere a ele uma redução de pena. O criminoso terá uma redução de 1 a 2/3 da pena, ou até mesmo será convertido o regime prisional, se ele colaborarcom as investigações e entregar provas de sua colaboração. 80 A pena poderá ser aumentada em 1 a 2/3 se o crime for cometido recor- rentemente, por organização criminosa ou por meio de utilização de ati- vos virtuais. CONDUÇÃO DO JULGAMENTO O Juiz poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valo- res do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes previs- tos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes e o patrimônio apre- endido poderá ser repassado aos Estados ou à União. A lei 13.810/2019 ainda prevê um bloqueio temporário de bens por soli- citação do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), mas não diz como será feito esse bloqueio. Portanto, a Resolução 44/2020 do Banco Central prevê as regras para indisponibilidade de bens por solicitação do CSNU: A instituição financeira que acata solicitação da CSNU deve informar imediatamente ao: • Banco Central; • COAF; • Ministério da Justiça e segurança pública. Agora vamos falar de alguns crimes relacionados ao mercado de capi- tais. Vamos lá? 2.4.1 – MANIPULAÇÃO DE MERCADO E MANIPULAÇÃO DE PREÇOS A manipulação do mercado consiste em realizar operações simuladas ou executar outras manobras fraudulentas destinadas a elevar, manter ou baixar a cotação, o preço ou o volume negociado de um valor mobi- liário, com o fim de obter vantagem indevida ou lucro, para si ou para outrem, ou causar danos a terceiros. Enquanto a manipulação de preços consiste na utilização de qualquer processo ou artifício destinado, direta ou indiretamente, a elevar, man- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/l13810.htm https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/exibenormativo?tipo=Resolu%C3%A7%C3%A3o BCB&numero=44 81 ter ou baixar a cotação de um valor mobiliário, induzindo terceiros à sua compra e venda. O que difere as duas é que na manipulação de mercado utiliza-se outras manobras além do preço, como por exemplo o volume negociado. Vamos estudar a seguir os tipos de crimes que se enquadram, para faci- litar a compreensão: SPOOFING Inclusão de ordens falsas de compra ou venda de ativos na bolsa de valo- res com o objetivo de manipular o preço. A negociação de ações no Home Broker, é feita através de leilão, ou seja, falamos qual a empresa que desejamos comprar, quantas ações e o preço que estamos dispostos a pagar. Assim quem coloca o melhor preço efetivamente compra. Vamos imaginar a seguinte situação: A ação de uma determinada empresa está sendo negociada por quem está comprando a R$ 10 e quem está vendendo a R$ 10,50, o negócio só vai ser executado quando os preços de compra e venda se encontrarem. Uma pessoa (no caso, o infrator), coloca uma ordem de compra, de um volume grande de ações dessa mesma empresa por R$ 12, assim, vai induzir os vendedores a aumentarem o preço que estão dispostos a vender a ação (concorda que é melhor vender por R$ 12 do que por R$ 10,50?). Quando o mercado estiver negociando a R$ 12 o infrator retira essa ordem falsa de compra e coloca a ordem de venda (o que ele realmente quer é vender por R$ 12). Percebe que o infrator em momento algum queria efetivamente com- prar as ações? Ele fez isso para manipular o mercado, nesse exemplo o preço vai subir. Podendo se beneficiar vendendo as ações . 82 LAYERING Inclusão de múltiplas ordens de compra ou venda de ativos na bolsa de valores com objetivo de manipular o preço. Muito parecido com o Spoofing, mas ela é feita em “camadas”, por isso o nome layering. A diferença entre eles é que enquanto no spoofing é colocado uma ordem de grande volume com o intuito de manipular o preço, no layering é colocado múltiplas ordens para simular múltiplos investidores. No exemplo acima, ao praticar o Layering o infrator colocaria ordens de R$ 10,30, R$ 10,50, R$ 10,60, R$ 10,70 ... MANIPULAÇÃO DE BENCHMARK Manipulação de índices de referências com o intuito de obter vantagem. Esse é mais difícil de ocorrer, porque os nossos benchmarks, aqueles que nós utilizamos, eles são medidos pelo próprio Banco Central, Anbima, IBGE, então são benchmarks oficiais. Como posso fazer uma manipulação de benchmark? Fazendo uma manipulação de operações no mercado futuro de taxa de juros por exemplo. Benchmark é um índice de referência que vamos estudar com mais detalhes. PENALIDADE O infrator está sujeito a reclusão de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa de até 3 (três) vezes o montante da vantagem ilícita obtida em decorrência do crime. Nos casos de reincidência, a multa pode ser de até o triplo dos valores. Em seguida vamos falar do uso indevido de informação privilegiada, que também é considerado crime contra o mercado financeiro. 83 2.4.2 – USO INDEVIDO DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA E OUTRAS PRÁTICAS NÃO EQUITATIVAS USO INDEVIDO DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA Uso indevido de informação privilegiada consiste em utilizar informa- ção relevante de que tenha conhecimento, ainda não divulgada ao mercado, que seja capaz de propiciar, para si ou para outrem, vanta- gem indevida, mediante negociação, em nome próprio ou de terceiros, de valores mobiliários. A informação privilegiada está presente na vida de muitas pessoas que trabalham no mercado financeiro e em grandes empresas, como por exemplo, os membros do conselho de administração de determinada companhia negociada na bolsa de valores. Não tem problema nenhum ter informação privilegiada, o problema é usar essa informação a seu favor ou para outrem. Vamos a um exemplo? Um membro do conselho de administração da Empresa X, está sabendo que vai ocorrer a fusão de sua empresa com outra do mesmo segmento, o que vai ocasionar uma elevação dos preços da Empresa X na bolsa de valores. Então, sabendo disso, ele compra ações e após a informação ser divulgada, ou seja, tornada pública, e os preços subirem, vende, se bene- ficiando da situação. Quando a informação privilegiada é usada, temos o Insider trader. Os tipos de crimes são: INSIDER TRADING PRIMÁRIO Utilização de informação privilegiada, ainda não divulgada ao mercado, para benefício próprio ou de terceiros, praticado por alguém que saiba dessa informação em decorrência da sua função. No exemplo acima o membro do conselho de administração é o infrator de Insider trading primário. 84 INSIDER TRADING SECUNDÁRIO Utilização de informação privilegiada, ainda não divulgada ao mercado, para benefício próprio ou de terceiros, praticado por alguém que rece- beu essa informação de um agente primário. Vamos imaginar que o membro do conselho de administração conta para seu amigo sobre a informação que se tem e este é beneficiado, o amigo, portanto é o infrator de Insider trading secundário. REPASSE DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA Repasse de informação que ainda não foi divulgada ao mercado e que se tenha conhecimento. PRÁTICAS NÃO EQUITATIVAS A prática não equitativa é aquela de que resulte, direta ou indiretamente, efetiva ou potencialmente, um tratamento para qualquer das partes, em negociações com valores mobiliários, que a coloque em uma indevida posição de desequilíbrio ou desigualdade em face dos demais partici- pantes da operação. O front running é um crime relacionado a práticas não equitativas que vamos estudar a seguir. FRONT RUNNING Em tradução livre, front running significa “correr na frente”. Basicamente é quando uma pessoa, em benefício próprio (ou da instituição no qual trabalha) realiza uma ordem de investimento antes da ordem de um outro cliente que, sabendo, irá ter uma alteração relativamente alta (ou de baixa) de preço. Vamos a um exemplo que fique mais claro. Imagine que eu, Tiago, trabalhe na “Corretora T2” e você é uma (ou um) cliente minha (meu). Você me faz uma ligação dizendo que vai com- prar uma quantidade muito grande de ABEV3. Eu sei que, olhando o book de oferta, o seu volume financeiro vai influenciar positivamente o preço. Eu, usando em benefício próprioa sua compra, executo uma ordem de compra pra mim, antes de enviar a sua. O que acontecerá na prática? Eu comprei, digamos, ABEV3 a R$10,00 e, após enviar a sua ordem de com- 85 pra, a cotação foi para R$12,00. Eu, nada besta, dou a ordem de venda das ações após baterem os R$12,00. Essa é uma prática de front running. Fácil, né? Mas é importante dizer que isso não é ético e, inclusive, é crime. PENALIDADES O infrator está sujeito a reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de até 3 (três) vezes o montante da vantagem ilícita obtida em decorrência do crime. Incorre na mesma pena quem repassa informação sigilosa relativa a fato relevante a que tenha tido acesso em razão de cargo ou posição que ocupe em emissor de valores mobiliários ou em razão de relação comer- cial, profissional ou de confiança com o emissor. A pena é aumentada em ⅓ (um terço) se o agente comete o crime valendo-se de informação relevante de que tenha conhecimento e da qual deva manter sigilo. As multas deverão ser aplicadas em razão do dano provocado ou da van- tagem ilícita auferida pelo agente. Nos casos de reincidência, a multa pode ser de até o triplo dos valores. 2.4.3 – EXERCÍCIO IRREGULAR DE CARGO, PROFISSÃO, ATIVIDADE OU FUNÇÃO REGULADA Agora vamos estudar quais são as penalidades quando temos o exercí- cio irregular de cargo, profissão, atividade ou função regulada. Você que está estudando para a CPA 20, não terá algum tipo de implicação em relação a isso, mas você precisa entender essa irregularidade. Caracteriza-se por exercer, ainda que a título gratuito, no mercado de valores mobiliários, a atividade de administrador de carteira, de assessor de investimento, de auditor independente, de analista de valores mobiliá- rios, de agente fiduciário ou qualquer outro cargo, profissão, atividade ou função, sem estar, para esse fim, autorizado ou registrado na autoridade administrativa competente, quando exigido por lei ou regulamento. O infrator está sujeito a detenção de 6 (seis) a 2 (dois) anos e multa. 86 PENALIDADES ADMINISTRATIVAS A Comissão de Valores Mobiliários poderá impor aos infratores cujo cumprimento lhe caiba fiscalizar as seguintes penalidades, isoladas ou cumulativamente: • advertência; • multa; • inabilitação temporária, até o máximo de 20 (vinte) anos, para o exer- cício de cargo de administrador ou de conselheiro fiscal de compa- nhia aberta, de entidade do sistema de distribuição ou de outras entidades que dependam de autorização ou registro na Comissão de Valores Mobiliários; • suspensão da autorização ou registro para o exercício das atividades; • inabilitação temporária, até o máximo de 20 (vinte) anos, para o exer- cício das atividades; • proibição temporária, até o máximo de vinte anos, de praticar deter- minadas atividades ou operações, para os integrantes do sistema de distribuição ou de outras entidades que dependam de autorização ou registro na Comissão de Valores Mobiliários; • proibição temporária, até o máximo de dez anos, de atuar, direta ou indiretamente, em uma ou mais modalidades de operação no mer- cado de valores mobiliários. Ou seja, a Comissão de Valores Mobiliários como órgão regulador pode impor as pessoas que são reguladas penalidades administrativas. Ou seja, qualquer pessoa que seja regulada pela CVM, como por exemplo eu, que sou credenciado na CVM, que cometer alguns dos crimes contra o mercado de capitais que falamos acima está sujeito a essas penalidades. 2.4.4 – OMISSÃO IMPRÓPRIA É quando a omissão de algo gera uma consequência em que o omitente tinha dever de evitar. 87 A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a. tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b. de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c. com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Por exemplo, se um profissional que trabalha na área de PLDFT, omite informações suspeitas ao COAF com a intenção de possibilitar o crime de lavagem de dinheiro, este profissional estará sujeito as penalidades de tal crime. Então a penalidade da omissão imprópria é a mesma penalidade que incorre ao criminoso que cometeu o crime que a omissão permitiu 2.5.1 - DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DE INVESTIMENTOS Neste tópico, segundo o edital da sua prova, o tema a ser abordado seria referente ao Código de Regulação e Melhores Práticas para a Distribuição de Produtos de Investimentos. No entanto, pensando numa melhor forma de facilitar o seu processo de aprendizado sobre este assunto (que diga-se de passagem, é bem can- sativo), quando estivermos abordando os produtos de investimentos, irei encaixá-lo no conteúdo de uma forma mais simplificada, beleza? Assim a gente explica aos poucos. Além disso, não faz sentido falarmos de distribuição de produtos sendo que você ainda não os estudou. Faz sentido pra você, meu nobre gafanhoto? Agora que acertamos isso, vamos continuar! 2.6.1 - ANÁLISE DO PERFIL DO INVESTIDOR – API Esse é um tema que tem um peso considerável em sua prova da ANBIMA e isso tem uma razão bem óbvia. Enquanto profissional certificado você tem, entre outras atribuições, a missão de recomendar produtos de 88 investimentos a seus clientes, certo? Essa recomendação deve ser pau- tada na real necessidade do investidor. Para dar mais respaldo à sua recomendação é que a CVM, por meio da instrução normativa nº 30, vai regular esse instrumento de análise de perfil do investidor. Esses profissionais, devem avaliar e classificar seus clientes em catego- rias de risco previamente estabelecidas por eles mesmos. Embora o per- fil do investidor possa ser bem detalhado, o mercado trabalha conceitu- almente com 3 tipos: • Perfil 1 - Conservador: investidor que declara possuir baixa tolerân- cia a risco e que prioriza investimentos em Produtos de Investimento com liquidez; • Perfil 2 - Moderado: investidor que declara média tolerância a risco e busca a preservação de seu capital no longo prazo, com disposição a destinar uma parte de seus recursos a investimentos de maior risco; • Perfil 3 - Agressivo: investidor que declara tolerância a risco e aceita potenciais perdas em busca de maiores retornos. Então o suitability, que é a adequação, consiste em verificar se: 1. O produto, serviço ou a operação é adequado aos objetivos de inves- timento do cliente: • O período pelo qual o cliente deseja manter o investimento (hori- zonte de investimento); • As preferências declaradas do cliente quanto à assunção de riscos; • As finalidades do investimento. 2. A situação financeira do cliente é compatível com o produto, serviço ou operação: • O valor de suas receitas regulares declaradas (não seria prudente oferecer um produto estruturado para o investidor que deseja aportar R$ 50,00 por mês, concorda?); 89 • O valor e os ativos que compõem o patrimônio do cliente (imagina que o perfil do seu cliente é agressivo, que ele seja multimilionário, mas que o seu patrimônio é composto somente por imóveis, con- corda que se ele tiver uma despesa extra ele não terá o dinheiro disponível? Nesse caso apesar do perfil ser agressivo a recomen- dação deveria ser um investimento conservador que permite o saque a qualquer momento); • A necessidade futura de recursos declarada. 3. O cliente tem conhecimento necessário para compreender os riscos relacionados ao produto, serviço ou operação: • Os tipos de produtos, serviços e operações com os quais já têm familiaridade; • A natureza, o volume e a frequência das operações já realizadas pelo cliente no mercado de valores mobiliários, bem como o perí- odo em que tais operações foram realizadas; • A formação acadêmica e a experiência profissional, caso se trate de pessoa física. Para além desses pontos, os responsáveis pelas verificações de suitability devem considerar os custos associados a produtos, serviços ou opera-ções – tanto diretos como indiretos –, e evitar recomendar aqueles que impliquem custos excessivos e inadequados ao perfil do cliente. Entendendo que os investidores e os próprios produtos de investimen- tos devem ser mapeados com um perfil, temos de ressaltar que a CVM veda expressamente a recomendação de produtos de investimento aos clientes: • Quando o perfil não for adequado ao produto ou serviço; • Na hipótese de não terem sido obtidas as informações que permi- tam a identificação do perfil; • Caso as informações relativas ao perfil não estejam atualizadas. 90 Alguns pontos importantes sobre a API: • A atualização do perfil do investidor e da classificação dos produtos de investimentos devem ser feitas no prazo máximo de 24 meses; • Embora seja vedada a recomendação de produtos de investimen- tos para investidores sem perfil atualizado, a aplicação de recur- sos, por ordem do investidor (sem a recomendação), pode ser realizada. Ao realizar operações desenquadradas, é necessário alertar o cliente, com indicação clara das causas de divergência, acerca da: • ausência de perfil definido; • desatualização do perfil (falta de atualização nos últimos 24 meses); ou • inadequação da operação requerida ao respectivo perfil. Obter declaração expressa do cliente de que ele está ciente da ausência, desatualização ou inadequação de seu perfil. Aqui vou fazer uma observação importante, imagina a seguinte situação: Um cliente chega na sua agência e diz que tem R$ 100.000,00 e deseja investir em algum produto da instituição, perguntando qual o produto que você recomenda. Primeiramente você irá obter todas as informa- ções com o cliente e traçar o perfil de investidor, correto? Mas imagina que o cliente não quer passar as informações, então você não pode fazer nenhuma recomendação para ele, certo? Agora imagina outra situação. Um cliente chega na sua agência e diz que tem R$ 100.000,00 e deseja colocar em um determinado fundo que ele conhece, que sua institui- ção tem. O que você faz? Aloca o dinheiro no fundo que o cliente pediu e obtém uma declaração expressa do cliente de que ele está ciente da ausência do seu perfil. 91 Ou seja, existe uma diferença entre você, como profissional recomendar o produto ou você realizar a operação por ordem do cliente. Você não pode recomendar sem saber o perfil do cliente, mas você deve realizar a operação quando o cliente solicita. Com essa previsão, a CVM entende que está protegendo ao menos a confiança no sistema financeiro, pois o cliente fica expressamente ciente de que está agindo fora das recomendações emitidas por integrantes do sistema de distribuição e pelos consultores de valores mobiliários. Isso é feito sem privá-lo de acessar determinadas operações, evitando o que poderia ser visto como limitação arbitrária e injusta. Essa foi, portanto, a saída encontrada pelo regulador para tutelar o bem jurídico que a regulação busca proteger sem afetar, excessivamente, a liberdade econômica dos clientes do sistema financeiro. É importante notar que o dever de verificação da adequação dos produ- tos, serviços e operações ao perfil do cliente é dispensável caso o cliente: • Seja investidor qualificado; • Seja investidor profissional; • Seja pessoa jurídica de direito público. • Tenha sua carteira de valores mobiliários administrada discriciona- riamente por administrador autorizado pela CVM. Essas dispensas fazem sentido na medida em que se referem a agentes econômicos de grande conhecimento ou capacidade de análise, enten- didos como plenamente capazes de verificar os produtos e serviços que são adequados ou não a si. 2.6.2 - FATORES DETERMINANTES PARA ADEQUAÇÃO DOS PRODUTOS DE INVESTIMENTO Como você será um futuro profissional CPA20, a primeira coisa que vai acontecer quando chegar naquele famoso churrasco de família é: “então, você que passou nessa tal de CPA20, me fala qual é o melhor investi- 92 mento?” Essa pergunta, muito provavelmente você ouvirá para o resto da vida. Por isso, para te ajudar a evitar a fadiga e você poder comer seus espe- tinhos em paz, já te digo que a resposta para ela é: não existe o melhor investimento. O que existe é o produto mais adequado às necessidades do investi- dor em um determinado momento. E aí a gente parte da premissa que temos que analisar algumas variáveis para recomendar um investi- mento. A primeira delas é a rentabilidade. Rentabilidade é um conceito da Economia que indica o grau de sucesso de determinado investimento econômico, calculado a partir do percen- tual de remuneração do capital investido na atividade. Vale ressaltar que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura. Esse tipo de informação sempre deverá ser muito clara no pro- cesso de recomendação. Apesar de a rentabilidade passada ser uma importante referência da performance do ativo, é importante a gente se atentar à rentabilidade esperada, ou seja, o quanto você ou o seu cliente espera receber lá no futuro. Outra coisa que precisamos analisar com calma é o risco. A gente vai estudar mais para frente, com detalhes, cada um dos riscos aos quais o investidor estará exposto. São três: risco de crédito, de mercado e liquidez. Porém, para continuar minhas próximas explicações, vou mostrar aqui brevemente o que é cada um, beleza? Risco de crédito: o risco de crédito está associado à possibilidade de perdas do capital investido em função de um calote. Este tipo de risco está presente em títulos de dívidas. Ou seja, ao emprestar o seu dinheiro, o investidor estará sujeito a não recebê-lo. Risco de mercado: O risco de mercado está relacionado a mudanças rotineiras de preço que um determinado ativo tem, em função de vari- áveis como a lei de oferta e procura (demanda). Resumindo, o quanto o preço de um ativo pode ser alterado pelo mercado. 93 O exemplo mais clássico que podemos usar aqui é o preço das ações. Quando um investidor compra uma ação por R$ 20, ele espera que o mercado, ao longo do tempo, precifique essa ação por qualquer coisa acima de R$ 20 para que tenha lucro. Risco de liquidez: O risco de liquidez é o risco associado à possibilidade de perdas de capital em caso de eventual liquidação imediata do ativo. Imagine que você comprou um ativo por R$ 20. Amanhã, você precisa desesperadamente vendê-lo, mas você só consegue se for por R$ 15, em função da baixa procura. Sim, isso pode acontecer — é o chamado risco de liquidez. Trata-se da dificuldade de vender um determinado ativo pelo preço justo e no momento desejado. A realização da operação, se ela for possível, implica em uma alteração substancial nos preços do mercado. Geralmente acontece quando um ativo possui muitos vendedores e poucos compradores. O investimento em imóveis é um exemplo de uma aplicação com alto risco de liquidez. Este último está relacionado diretamente à terceira variável que pre- cisa ser levada em conta em um processo de recomendação: a liquidez. Entende-se por liquidez a capacidade que se tem de converter um ativo em dinheiro. Quanto mais fácil for esta conversão, mais “líquido” este investimento será. Em caso de resgate imediato do ativo, o investidor estará sujeito a perdas menores. O contrário também é verdadeiro, quanto menor for a liquidez, maior será o risco de liquidez do ativo. A caderneta de poupança é o exemplo mais comum de modalidade com alta liquidez. Ao aplicar neste tipo de investimento, o investidor pode res- gatar o seu dinheiro a qualquer momento. Investir em imóveis, por outro lado, é um exemplo de uma aplicação com alto risco de liquidez. Restrições do investidor: Idade, Horizonte de Investimento, Conhecimento do Produto e Tolerância ao Risco Dentro da proposta de uma conduta ética que visa zelar pela relação de longo prazo com os clientes, o sistema financeiro e seus profissionais devem, independentemente de qualquer imposição regulatória, cali- 94 brar as recomendações que fazem aos clientes a necessidades,anseios e limitações deles. Nesse sentido, importa analisarmos mais quatro variáveis comuns a qualquer cliente: idade, horizonte de investimento, conhecimento do produto e tolerância ao risco. Idade: para uma recomendação assertiva de um produto de investi- mento, levamos em consideração a idade do investidor. Um jovem que está em fase de acumulação de capital e tem renda ativa, teria mais disposição a assumir alguns riscos que um senhor de 80 anos, aposentado, por exemplo. Horizonte de investimento: a palavra “horizonte” em nosso mercado pode ser traduzida por “tempo”. Por isso, o horizonte de investimento seria o tempo que o investidor pode esperar para o recurso ser necessário. Se ele está investindo recursos para pagar uma viagem que acontecerá em 3 meses, não se pode alocá-los em produtos com vencimento mais longo e sem possibilidade de resgate. Ao passo que um investidor jovem que investe para sua aposentadoria, que está programada para aconte- cer em 30 anos, estará mais disposto a assumir um produto de investi- mento com vencimento maior. Conhecimento do produto: não se pode esperar que o cliente tenha um conhecimento prévio do produto que está adquirindo. No entanto, espera-se que você, enquanto profissional do mercado financeiro cer- tificado pela ANBIMA, informe ao cliente todas as condições dele. Em razão disso, é inadequado sugerir produtos de maior complexidade para clientes com conhecimentos e experiência de investimentos limitados. Tolerância ao risco: eu tenho pavor de altura e, por isso, pular de para- quedas é uma experiência que eu não recomendo. No entanto, essa adrenalina pode fazer muito bem a algumas pessoas. No mercado financeiro a lógica é a mesma. Alguns investidores têm um apetite maior para produtos mais arrojados, mas também há os investi- dores que são conservadores, e não estão dispostos a assumir riscos com investimentos. 95 2.6.3 - FINANÇAS PESSOAIS O investidor precisa equilibrar suas receitas para começar a investir, certo? Para isso, a gente vai orientar seu cliente com base nas finanças pessoais. A ideia é fazer sobrar dinheiro no final do mês para começar a investir. O ponto é que nosso papel, enquanto profissionais certificados ANBIMA, vai além da recomendação de investimento: anda lado a lado com a pro- pagação da educação financeira na sociedade. Quanto melhor for o nível de educação financeira, mais agentes supera- vitários teremos. Ou seja, você tem o papel de, por meio de ensinamen- tos, ajudar os agentes deficitários a se tornarem superavitários. O conceito de finanças pessoais abrange todas as atividades que envol- vem dinheiro e decisões financeiras de uma pessoa ou família. Ele pode se referir à disciplina que estuda os conceitos da organização financeira pessoal e também à indústria que se dedica a oferecer soluções para o controle das finanças. Existem, no mínimo, 2 ferramentas que devem ser utilizadas para controle das finanças pessoais. São: orçamento familiar e balanço patrimonial. ORÇAMENTO FAMILIAR Basicamente vai separar a vida financeira em duas partes: receitas e despesas. Nas receitas consta: • a renda com o trabalho assalariado; • os rendimentos obtidos com aplicações financeiras; • as distribuições de lucro de empresas das quais o indivíduo seja sócio; • quaisquer outras rendas recebidas. Na seção das despesas deve incluir todos os gastos pessoais ou familia- res com itens como: • aluguel; 96 • mensalidades de escola; • transporte; • prestação de financiamento de veículo ou de imóvel; • plano de saúde; • alimentação; • quaisquer outras saídas de caixa relevantes. Se as despesas superarem as receitas, o agente econômico é deficitário; se as receitas forem maiores que as despesas, ele é superavitário, ou seja, tem poder de poupança. BALANÇO PATRIMONIAL O balanço patrimonial é um retrato do patrimônio do indivíduo/famí- lia. Nesse balanço devem constar os ativos (direitos, propriedades e apli- cações financeiras) do indivíduo (ou da família), bem como os passivos (dívidas). Se o saldo dos ativos for maior que o saldo dos passivos, essa pessoa pos- sui um patrimônio líquido positivo. Caso o indivíduo possua mais passivos que ativos, isso representa um patrimônio líquido negativo. Ainda sobre a elaboração do balanço patrimonial, é importante mensurar o índice de endividamento pessoal. Como? dividindo os passivos pelos ativos. 2.7.1 - A DECISÃO DO INVESTIDOR NA PERSPECTIVA DAS FINANÇAS COMPORTAMENTAIS Falamos sobre as finanças pessoais no tópico anterior, e elas (também chamadas de finanças tradicionais) partem do pressuposto que ao mapear sua situação financeira, uma pessoa sempre vai tomar decisões racionais e matematicamente justificáveis. O ponto aqui é que nossa vida não é matemática. Quem nunca entrou em uma loja, comprou algo que não precisava naquele momento, usou uma única vez e depois esqueceu de sua aquisição? Em outras palavras, quem nunca fez uma compra por impulso que atire a primeira placa de liquidação. 97 As Finanças Comportamentais não negam que a maioria das decisões econômicas são tomadas de forma racional e deliberada. Mas conside- ram que, se não forem levadas em conta também as decisões emocio- nais e automáticas, os modelos econômicos serão falhos para explicar o funcionamento dos mercados. Elas afirmam que as decisões dos investidores possuem um viés (tam- bém chamado de heurística). Ele é invariavelmente influenciado pelo histórico emocional do investidor. Falaremos a seguir das heurísticas que são amplamente estudadas no campo das Finanças Comportamentais. 2.7.2 - HEURÍSTICA DA DISPONIBILIDADE E REPRESENTATIVIDADE Heurísticas são processos cognitivos empregados em decisões não racionais, sendo definidas como estratégias que ignoram parte da infor- mação com o objetivo de tornar a escolha mais fácil e rápida. HEURÍSTICA DA DISPONIBILIDADE A heurística da disponibilidade é um processo cerebral, em que a mente humana define a probabilidade de um evento acontecer a partir da facili- dade com que se lembra de um evento similar ter acontecido no passado. Significa que as pessoas, de forma geral, julgam a frequência ou a pro- babilidade de um evento pela facilidade com que exemplos ocorrem em suas mentes (Tversky e Kahneman, 1974). Por exemplo, um indivíduo pode calcular a probabilidade de um jovem ter problemas cardíacos recordando quantos casos desse tipo já ocorre- ram com seus conhecidos. A disponibilidade acompanha os seres humanos na vida cotidiana e de maneira geral é um método de eficácia relativa na tomada de decisões sobre frequência (Matlin, 2004). Podemos testar de um jeito bem simples o quanto a heurística da dis- ponibilidade influencia suas escolhas. Eu gostaria de fazer um teste com você: na sua opinião, qual cidade é mais violenta? São João do Jaguaribe, no estado do Ceará, ou o Rio de Janeiro? 98 A maioria das pessoas, influenciadas pelas notícias veiculadas pela mídia, pode deduzir que o Rio de Janeiro é muito mais violento que a cidade de São João do Jaguaribe. Mas o fato é que São João do Jaguaribe, segundo uma pesquisa realizada pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, é a cidade mais violenta do Brasil e, acredite, o Rio de Janeiro não consta nem entre as 30 cidades mais violentas do nosso país. Onde quero chegar é que cotidianamente nós tomamos decisões com base nas informações que estão disponíveis (por isso ‘disponibilidade’), e muitas vezes ignoramos fatos ou estudos que mostram o contrário. HEURÍSTICA DA REPRESENTATIVIDADE A heurística da representatividade afirma que as pessoas avaliam a pro- babilidade de um evento “B” pelo nível em que um evento “A” se asse- melha a “B”. Um exemplo dado por Tversky e Kahneman (1974) ajuda na compreensão desta heurística: Considerando que um indivíduo é muito tímido e retraído, está sempre pronto a ajudar, porém possui pouco interesse nas pessoas e no mundo a sua volta; é tranquilo e organizado; temnecessidade de ordem e estru- tura e uma paixão por detalhes. Além disso, podemos supor que este indivíduo é engajado em uma profissão específica. Dessa forma, com base nas características do indivíduo, as pessoas ten- dem a imaginar a possível profissão dele utilizando o estereótipo de diversas profissões (como por exemplo, físico, matemático, bibliotecário, vendedor, médico ou fazendeiro). Contudo, utilizar esta abordagem de julgamentos de probabilidade pode conduzir a sérios erros, pois a simi- laridade (ou representatividade) não é influenciada por diversos fatores que deveriam afetar um julgamento de probabilidade. Em outras palavras, representatividade é a tendência a utilizar estereóti- pos para realizar julgamentos. Um exemplo desta heurística no campo das finanças é crer que o desempenho brilhante de uma organização no passado é “representativo” de um desempenho geral que a empresa continuará a obter no futuro (Boussaidi, 2013). 99 2.7.3 - HEURÍSTICA DA ANCORAGEM E AVERSÃO A PERDA HEURÍSTICA DA ANCORAGEM A terceira heurística é a da ancoragem. Pode-se dizer que a ancoragem é um desdobramento da heurística da representatividade. Nela, os indivíduos focalizam a atenção sobre uma informação recentemente recebida e a usam como referência para fazer uma estimativa ou tomar uma decisão. A âncora é um valor relevante que está disponível ao tomador de decisão. As pessoas fazem estimativas a partir de um valor inicial, que é ajustado para produzir a resposta final. A âncora pode ser inserida na formulação do problema em questão, ou pode ser resultado de uma análise parcial (Tversky e Kahneman, 1974). Ainda a respeito da ancoragem, Tversky e Kahneman (1974, p.1128) pedi- ram aos participantes de seu estudo que girassem uma roleta para sor- tear um número qualquer entre zero e cem. Após o sorteio, os autores realizaram algumas perguntas sobre certas quantidades (como por exemplo, quantos países africanos eram membros da ONU). Como resultado, os pesquisadores perceberam que aquele número ale- atório previamente sorteado teve forte influência nas respostas dos par- ticipantes. Grupos de pessoas que receberam números próximos a 10 no sorteio estimaram que cerca de 25 países africanos eram membros da ONU, enquanto esta estimativa subiu para 45 quando o número retirado na roleta foi próximo a 65. Outros exemplos da heurística da ancoragem: • Sempre que as ações de MGLU3 batem o valor de R$ 30,00 é um bom momento de comprar; • Sempre que as ações de BIDI4 batem o valor de R$ 20,00 é um bom momento para vender; • A recomendação de compra de uma determinada ação foi dada pela casa de análise porque a ação, do concorrente da empresa analisada, está valendo R$ 40,00 no mercado. 100 AVERSÃO À PERDA O assunto pode soar subjetivo no começo. Mas pensa comigo: não somos todos humanos, sujeitos às mudanças de humor e comporta- mento dependendo da situação? A teoria da loss aversion (aversão à perda, em inglês) foi proposta pelos economistas Kahneman e Tversky em 1979. Ela dizia basicamente que as pessoas com esse comportamento reagem de maneira diferente em situações de ganho ou de perdas no mercado de ações quando estão investindo. Isso leva a um viés comportamental sem qualquer tipo aparente de motivo ou coerência, prejudicando o trabalho de vários profissionais. Eu recebi uma pergunta de uma aluna há algum tempo, e usarei este exemplo para deixar ainda mais fácil de entender. Ela disse: “Tiago, eu tenho ações da Petrobrás. Em 2008 houve uma queda no valor das ações e nunca mais o valor foi igual ao que era. Eu estou esperando valo- rizar desde então. Se eu vender as ações, eu vou pagar 15% sendo que eu perdi 90% do valor?” A pergunta dessa aluna foi relacionada a outro tema: o de compensação de perdas. Mas olha que coisa interessante: ela disse uma coisa que é muito frequente em quem tem aversão a perda: “Eu estou esperando valorizar”. Entenda, todo investidor é movido por questões muito mais emocionais do que racionais, e a aversão à perda mantém o investidor preso a uma decisão que tenha trazido prejuízo. Ela está relacionada não necessaria- mente ao medo de perder, mas principalmente ao medo de ter de assu- mir que errou. A verdade é que ninguém gosta de ter de assumir que tomou uma deci- são errada. Nós, seres humanos, de um modo geral, acreditamos que assumir um erro pode significar que somos frágeis. Muitas pessoas acre- ditam (inclusive nós mesmos) que “só os fracos erram”. Acredite, todos nós temos um pouco dessa aversão. Alguns mais, outros menos, mas ninguém está livre disso. Alguns exemplos de aversão a perda: 101 • O investidor mantém uma posição perdedora na sua carteira com a esperança de recuperar; • O investidor que se desfaz de sua posição ganhadora com medo de perder no futuro. 2.7.4 – EFEITOS DE ESTRUTURAÇÃO O Efeito de Estruturação (framing effect, em Inglês) é o viés que des- creve de que modo a tomada de decisão pode ser afetada pela maneira como o problema é formulado ou pela forma como as opções são apre- sentadas (enquadradas). Vou te dá um exemplo, imagina que digo para você: “Venha estudar com a T2 porque aqui temos 92% de taxa de aprovação na CPA 20”. Agora imagina que digo: “Venha estudar com a T2 porque aqui 8% dos nossos alunos não passam na prova da CPA 20”. Percebe que estou dando a mesma informação? Porém o primeiro caso aparenta ser bem melhor, certo? Agora vamos analisar um experimento acadêmico que foi realizado pelo psicólogo Daniel Kahneman. Temos a seguinte situação: Uma cidade enfrentou uma epidemia que atingiu 600 pessoas. O comitê de saúde da cidade propõe algumas abordagens no tratamento desta doença, qual você escolheria? Abordagem A: 200 pessoas seriam salvas; Abordagem B: chance de 1/3 de salvar todas as pessoas e 2/3 todos morrerem. Qual abordagem você acha mais adequada? De acordo com esse estudo, 72% das pessoas escolheram a abordagem A, porque nesse caso teria a certeza que 200 pessoas seriam salvas, enquanto na abordagem B, tem a possibilidade de morrer todos. Agora vamos analisar mais duas abordagens: Abordagem C: 400 pessoas morrerão; 102 Abordagem D: chance de 1/3 de salvar todas as pessoas e 2/3 todos morrerem. Na sua opinião qual a melhor abordagem nesse caso? De acordo com esse estudo 79% das pessoas escolheram a abordagem D. Olha que curioso, estamos falando da mesma coisa, vou explicar. Concorda comigo que de acordo com a abordagem A, 200 pessoas seriam salvas, e como o total de pessoas são 600, significa dizer que 400 pessoas morrerão? Logo a abordagem A e a abordagem C significam a mesma situação? Ou seja, a maior parte das pessoas tendem a serem influenciadas de acordo com a maneira com que as situações são apresentadas. Vamos trazer isso para o mundo dos investimentos? Imagina que você está conversando com seu cliente e diz que um deter- minado investimento tem 90% chance de render 2% nesse mês. E se você disser que esse investimento tem 10% de chance de perder todo o dinheiro? Percebe que é a mesma informação? Quando a informação for apresentada com uma perspectiva positiva, a maioria das pessoas tendem a escolher essa em detrimento da mesma informação, mas apresentada com uma perspectiva negativa. 2.8.1 - CONCEITOS DE ASG Investimento ASG, (também chamado de ESG, environmental, social and governance), é aquele que incorpora alguma questão, seja ambien- tal, social ou de governança, em sua análise de investimento e leva em consideração a sustentabilidade de longo prazo. Frequentemente, são identificados outros nomes que remetem a esse mesmo tipo de investimento: investimento responsável, investimento sustentável, investimento de impacto social, investimento ético, títulos verdes (conhecidos lá fora como green bonds), investimentos na área de infraestrutura, entre outros. Mas o assunto de ASG vai muito além de simplesmente saber se a empresa na qual estamos analisando faz um post “verde” no insta-103 gram. Primeiro, vamos ver alguns dados para que fique mais tranquilo nosso assunto. Segundo uma matéria da BBC de novembro de 2021, mais da metade das emissões de CO2 ocorreram nos últimos 30 anos. E isso vai ao encontro com o desenvolvimento de toda a população mun- dial. Segundo uma outra matéria da própria BBC, de 2019, utilizando como fonte o Banco Mundial, em uma geração, mais de 1,1 bilhão de pessoas saíram da pobreza no Mundo. Então, do que queremos falar quando citamos o ASG? É fazer com que a sociedade se desenvolva, economicamente falando, sem que haja depreciação do meio ambiente e dos seres que nele habitam. Antes de prosseguirmos falando de cada sigla, caso você goste do assunto e queira saber mais sobre, você pode pesquisar sobre os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU. Atualmente são 17, que envolvem: • Erradicação da pobreza; • Redução das desigualdades; • Energia limpa e acessível; • Entre outros aspectos. AMBIENTAL A letra “A” da sigla ASG remete a palavra “Ambiental”. E esse ambiente refere-se onde estamos inseridos, ou seja, a Terra. Essa vertente do ASG passa pelos assuntos: • Tecnologia Limpa; • Poluição; • Eficiência Energética; • Emissão de CO2; 104 • Uso de Recursos Naturais. Deixando o assunto mais claro, você sabe que todas as empresas pro- duzem alguma coisa, correto? Ela não necessariamente vai se adaptar a todos esses conceitos citados acima, mas os que ela se encaixar ela pre- cisará mostrar ao Mercado o que faz estando envolvida com ele. Vamos a um exemplo: Imagine que nós temos uma padaria e plantamos o nosso próprio trigo para fazermos os pães. Na nossa cadeia produtiva, pode ser que utilize- mos alguns materiais que causem emissão de CO2, como por exemplo o escapamento do nosso trator. O que nós, enquanto empresa, fazemos com relação a isso? É isso que os conceitos ASG visam no mercado. Estamos compen- sando essa emissão? Estamos desenvolvendo alguma estratégia menos prejudicial? Como nós, enquanto empresa, agente da economia, estamos olhando para a utilização dos recursos naturais como o solo, a água e as árvores? Estamos despejando os recursos inutilizados em um rio próximo? Em resumo: como estamos cuidando do meio ambiente? Um ponto bem interessante sobre isso é sobre como as empresas se adaptam e fazem uso da matriz energética. Em resumo, às matrizes energéticas são uma representação de todos os recursos energéticos (ou seja, geram energia) disponíveis para os processos produtivos. A Matriz Energética do Mundo, em 2019, era composta principalmente por fontes não renováveis (IEA, 2021): • 31,1 % Petróleo e derivativos; • 27% Carvão mineral; • 23% Gás natural; • 9,3% Biomassa; • 5% Nuclear; 105 • 2,6 % Hidráulica; • 2% Outros As fontes não renováveis são as que dependem do tempo geológico ou da formação do sistema solar para se tornarem disponíveis. O carvão mineral de hoje, por exemplo, é fruto de pântanos “mortos” há milhões de anos. Então, como desenvolvemos a sociedade, sem prejudicar o meio ambiente, dependendo de uma matriz energética escassa para vonta- des dos seres humanos que são, a princípio, insaciáveis? SOCIAL O “S” de ASG representa o Social, ou seja, as considerações sociais da nossa empresa. Esse social representa os stakeholders da instituição (colaboradores, investidores, comunidade, acionistas etc.) Isso passa pelos aspectos: • Políticas e relações de trabalho; • Políticas de inclusão e diversidade; • Treinamento da força de trabalho; • Direitos humanos; • Privacidade e Segurança dos dados. O Brasil é um país muito miscigenado. Por aqui passaram asiáticos, euro- peus, africanos, indígenas etc. Então, nós enquanto brasileiro sabemos que temos diferentes culturas enraizadas. A parte social vai olhar com carinho para esse aspecto. Como lidamos com a diversidade e incluímos pessoas com pensamen- tos, religiões, culturas diferentes? Como desenvolvemos essas pessoas para termos uma economia e empresa mais produtiva? Sempre olhando para os direitos de cada indivíduo e preservando sua privacidade. 106 GOVERNANÇA Como os outros modelos, o “G” de ASG vem de Governança, que tem como objetivo considerar os direitos dos acionistas, a remuneração do alto escalão da empresa, se estão enquadrados corretamente nas nor- mas contábeis etc. Isso passa por pontos que envolvem: • Independência do Conselho; • Diversidade da composição do Conselho; • Remuneração do Conselho de Administração; • Ética; e • Transparência. Você investiria em uma empresa que repassa todo o seu lucro para os membros do Conselho de Administração, apenas? Uma empresa no qual está constantemente envolvida em esquema de corrupção ou que com frequência está envolvida em fraudes contábeis? Imagino (e espero) que a resposta seja não. 2.8.2 – REGULAÇÃO E AUTORREGULAÇÃO ASG O Conselho Monetário Nacional e o Banco Central criaram resoluções para nortear a gestão de risco ambiental, social e de governança dos seus regulados. Para monitorar a exposição ao risco ASG, as instituições financeiras passam a ser obrigadas e implementar o PRSAC (Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática). O PRSAC vai relatar o quanto a instituição financeira está impactando no âmbito social, ambiental e climático. O CMN, através da resolução nº 4.943 define os seguintes riscos e apre- senta exemplos de forma bem objetiva. A seguir temos as definições dos riscos e os exemplos apresentados na resolução. 107 RISCO SOCIAL Possibilidade de ocorrência de perdas para a instituição ocasionadas por eventos associados à violação de direitos e garantias fundamentais ou a atos lesivos a interesse comum. São exemplos de eventos de risco social a ocorrência ou, conforme o caso, os indícios da ocorrência de: I. ato de assédio, de discriminação ou de preconceito com base em atributos pessoais, tais como etnia, raça, cor, condição socioeconô- mica, situação familiar, nacionalidade, idade, sexo, orientação sexu- al, identidade de gênero, religião, crença, deficiência, condição ge- nética ou de saúde e posicionamento ideológico ou político; II. prática relacionada ao trabalho em condições análogas à escravi- dão; III. exploração irregular, ilegal ou criminosa do trabalho infantil; IV. prática relacionada ao tráfico de pessoas, à exploração sexual ou ao proveito criminoso da prostituição; V. não observância da legislação previdenciária ou trabalhista, incluin- do a legislação referente à saúde e segurança do trabalho; VI. ato irregular, ilegal ou criminoso que impacte negativamente povos ou comunidades tradicionais, entre eles indígenas e quilombolas, incluindo a invasão ou a exploração irregular, ilegal ou criminosa de suas terras; VII. ato lesivo ao patrimônio público, ao patrimônio histórico, ao patri- mônio cultural ou à ordem urbanística; VIII. prática irregular, ilegal ou criminosa associada a alimentos ou a pro- dutos potencialmente danosos à sociedade, sujeitos a legislação ou regulamentação específica, entre eles agrotóxicos, substâncias ca- pazes de causar dependência, materiais nucleares ou radioativos, armas de fogo e munições; 108 IX. exploração irregular, ilegal ou criminosa dos recursos naturais, re- lativamente à violação de direito ou de garantia fundamental ou a ato lesivo a interesse comum, entre eles recursos hídricos, florestais, energéticos e minerais, incluindo, quando aplicável, a implantação e o desmonte das respectivas instalações; X. tratamento irregular, ilegal ou criminoso de dados pessoais; XI. desastre ambiental resultante de intervenção humana, relativa- mente à violação de direito ou de garantia fundamental ou a ato lesivo a interesse comum, incluindo rompimento de barragem, aci- dente nuclear ou derramamento de produtos químicos ou resíduos nas águas; XII. alteração em legislação, em regulamentação ou na atuação de ins- tâncias governamentais, associada a direito ou garantia fundamen- tal ou a interesse comum, que impactenegativamente a institui- ção; e XIII. ato ou atividade que, apesar de regular, legal e não criminoso, im- pacte negativamente a reputação da instituição, por ser considera- do lesivo a interesse comum. RISCO AMBIENTAL Possibilidade de ocorrência de perdas para a instituição ocasionadas por eventos associados à degradação do meio ambiente, incluindo o uso excessivo de recursos naturais. São exemplos de eventos de risco ambiental a ocorrência ou, conforme o caso, os indícios da ocorrência de: I. conduta ou atividade irregular, ilegal ou criminosa contra a fauna ou a flora, incluindo desmatamento, provocação de incêndio em mata ou floresta, degradação de biomas ou da biodiversidade e prática associada a tráfico, crueldade, abuso ou maus-tratos contra animais; II. poluição irregular, ilegal ou criminosa do ar, das águas ou do solo; 109 III. exploração irregular, ilegal ou criminosa dos recursos naturais, re- lativamente à degradação do meio ambiente, entre eles recursos hídricos, florestais, energéticos e minerais, incluindo, quando aplicá- vel, a implantação e o desmonte das respectivas instalações; IV. descumprimento de condicionantes do licenciamento ambiental; V. desastre ambiental resultante de intervenção humana, relativa- mente à degradação do meio ambiente, incluindo rompimento de barragem, acidente nuclear ou derramamento de produtos quími- cos ou resíduos no solo ou nas águas; VI. alteração em legislação, em regulamentação ou na atuação de ins- tâncias governamentais, em decorrência de degradação do meio ambiente, que impacte negativamente a instituição; e VII. ato ou atividade que, apesar de regular, legal e não criminoso, im- pacte negativamente a reputação da instituição, em decorrência de degradação do meio ambiente. RISCO CLIMÁTICO DE TRANSIÇÃO Possibilidade de ocorrência de perdas para a instituição ocasionadas por eventos associados ao processo de transição para uma economia de baixo carbono, em que a emissão de gases do efeito estufa é reduzida ou compensada e os mecanismos naturais de captura desses gases são preservados. São exemplos de eventos de risco climático no âmbito do risco climático de transição: I. alteração em legislação, em regulamentação ou em atuação de ins- tâncias governamentais, associada à transição para uma economia de baixo carbono, que impacte negativamente a instituição; II. inovação tecnológica associada à transição para uma economia de baixo carbono que impacte negativamente a instituição; 110 III. alteração na oferta ou na demanda de produtos e serviços, associa- da à transição para uma economia de baixo carbono, que impacte negativamente a instituição; e IV. percepção desfavorável dos clientes, do mercado financeiro ou da sociedade em geral que impacte negativamente a reputação da instituição relativamente ao seu grau de contribuição na transição para uma economia de baixo carbono. RISCO CLIMÁTICO FÍSICO Possibilidade de ocorrência de perdas para a instituição ocasionadas por eventos associados a intempéries frequentes e severas ou a alterações ambientais de longo prazo, que possam ser relacionadas a mudanças em padrões climáticos. São exemplos de eventos de risco climático no âmbito do risco climático físico: I. condição climática extrema, incluindo seca, inundação, enchente, tempestade, ciclone, geada e incêndio florestal; e II. alteração ambiental permanente, incluindo aumento do nível do mar, escassez de recursos naturais, desertificação e mudança em padrão pluvial ou de temperatura. 2.8.3 – GESTÃO E DIVULGAÇÃO DO PRSAC Já vimos o que é o PRSAC, agora vamos estudar como esse procedi- mento é gerido e divulgado, certo? O PRSAC deve ser atualizado, no mínimo, a cada 3 anos e ser divulgado para acesso ao público e ainda, ficar à disposição do Banco Central. O PRSAC, que vimos no tópico anterior, é um conjunto de regras que a instituição financeira precisa criar para que seus colaboradores sigam. Esse procedimento precisa ser atualizado no mínimo a cada 3 anos, ou seja, a instituição pode e deve fazer antes quando tiver alguma mudança significativa. 111 A gestão do PRSAC deve ser realizado por um diretor nomeado para essa finalidade. Atribuições do Diretor – PRSAC: I. Prestação de subsídio e participação no processo de tomada de de- cisões relacionadas ao estabelecimento e à revisão da PRSAC, auxi- liando o conselho de administração; II. Implementação de ações com vistas à efetividade da PRSAC; III. Monitoramento e avaliação das ações implementadas; IV. Aperfeiçoamento das ações implementadas, quando identificadas eventuais deficiências; e V. Divulgação adequada e fidedigna das informações (GRSAC). Agora vou explicar o que é esse GRSAC, relatório com a gestão do risco social, ambiental e climático. As instituições financeiras, ficam obrigadas a divulgar aos órgãos regula- dores, no mínimo uma vez por ano (com data base em 31/12), um relató- rio com a gestão do risco social, ambiental e climático (GRSAC). A instrução Normativa BCB nº 153, estabelece as tabelas padronizadas para a divulgação desse relatório. Este relatório deve conter, obrigatoriamente, informações qualitativas sobre o gerenciamento de risco e ser divulgado, no máximo, 90 dias após o encerramento do ano. Admite-se a prorrogação da divulgação do GRSAC, de acordo com os prazos abaixo: • Para o PRSAC de 2022, prazo máximo de 180 dias; • Para o GRSAC de 2023, prazo máximo de 120 dias. Informações que devem conter no GRSAC: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-bcb-n-153-de-15-de-setembro-de-2021-345130233 112 • Governança do gerenciamento dos riscos, incluindo as atribuições e as responsabilidades das instâncias da instituição envolvidas com o gerenciamento do risco social, do risco ambiental e do risco climático, como o conselho de administração, quando existente, e a diretoria da instituição • Impactos reais e potenciais, quando considerados relevantes, dos riscos nas estratégias adotadas pela instituição nos negócios e no gerenciamento de risco e de capital nos horizontes de curto, médio e longo prazos, considerando diferentes cenários, segundo critérios documentados; • Processos de gerenciamento dos riscos. O GRSAC deve ser mantido a disposição pública e dos reguladores por, no mínimo, 5 anos. Com isso, fechamos o módulo 2. No próximo, vamos sair um pouco das especificações da ANBIMA e da CVM e entraremos em dois temas bem abrangentes, que também estarão em sua prova: economia e finanças! NOÇÕES DE ECONOMIA E FINANÇAS MÓDULO 3: 114 3.1.1 - PRODUTO INTERNO BRUTO – PIB Se quisermos medir a sua riqueza, podemos usar o seu salário anual e somá-lo ao seu patrimônio, certo? A soma de tudo que você produz durante um ano pode ser traduzida em sua capacidade de gerar riqueza. Para medirmos a evolução da riqueza de um país (estado ou cidade) usamos como medida o PIB — Produto Interno Bruto. O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais, em termos monetários e a valor de mercado, produzidos em uma determinada região durante certo período. Dizemos que esses bens e serviços são “finais”, para eliminar os valores dos bens intermediários utilizados no seu processo de produção. Além disso, normalmente, para fins de comparação internacional, o período considerado é de um ano. O PIB é separado em: • PIB nominal: valor bruto; • PIB real: considera a inflação do período; • PIB per capita: é a produção do país dividido pelos habitantes, por aqui que sabemos se um país é rico ou não. O PIB é obtido pela Fórmula do PIB sob a ótica do Consumo: PIB = C + I + G + NX Onde: • C = Consumo das famílias; • I = Investimentos das empresas; • G = Gastos do Governo; • NX = Exportações Líquidas (Exportações – Importações) 115 Para efeitos de comparação, se durante um determinado ano o país teve de PIB U$ 1.000,00 e, no outro ano, o mesmo país teve um PIB de U$ 1.100,00, seria correto dizer que esse país teve um crescimento de10%? Não, não seria correto afirmar esse crescimento, pois temos um fator que deve ser levado em consideração na hora de entender a produção de riqueza: a inflação. Falaremos a seguir sobre os indicadores dela. Para acessar a página do site do IBGE que fala sobre PIB, clique aqui. 3.1.2 - SISTEMAS DE META DE INFLAÇÃO E IPCA Como eu não sei exatamente sua idade, não posso introduzir o tema inflação pedindo para você comparar seu salário de 10 anos atrás com o salário atual. Para alguns alunos, pensar em 10 anos atrás é o mesmo que lembrar de assistir TV Globinho ao chegar da escola. Então, para que tenhamos um exemplo bem prático, gostaria de compar- tilhar um dado histórico com você: sabia que em 1994 o salário mínimo no Brasil era de R$ 64,79? De cara, você deve estar pensando no que uma família fazia com R$ 64,79 por mês, certo? Acredite, muita coisa. Com esse valor por mês era possível ir ao mercado e comprar suprimentos para toda a família, pagar as contas de consumo (água e luz) e, talvez, ainda sobraria para comprar um sorvete para cada um dos filhos. Hoje, com R$ 64,79, você não consegue comprar nem uma cesta básica. De um ponto de vista bem simples, podemos dizer que o preço dos pro- dutos vem subindo ao longo do tempo. Assim podemos definir a inflação: o quanto o preço dos produtos sobe com o passar dos anos. A real é que popularmente dizemos que a inflação é o aumento genera- lizado de preços, mas economicamente seria correto dizer que, na ver- dade, é a desvalorização do dinheiro. https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php 116 Em outras palavras, o fato de não conseguirmos comprar muita coisa com R$ 64,79 é porque o dinheiro hoje vale muito menos do que valia em 1994. Agora que você já entendeu que inflação é a desvalorização da moeda local - ou, popularmente dizendo: o aumento generalizado de preços –, é hora de falar sobre como podemos medir com eficiência essas distorções. O IPCA — Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo é o índice oficial de inflação do Brasil, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e serve de parâmetro ao CMN para definir a meta de inflação. Ele é calculado pelo consumo das famílias que ganham de 1 a 40 salários mínimos, de qualquer fonte de renda e residentes nas regiões metropo- litanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia e Campo Grande. O IBGE pesquisa mês a mês o preço dos itens acima para chegar a uma média ponderada de aumento. Quanto maior for a variação do IPCA em um período, menor será o poder de compra do brasileiro. O Conselho Monetário Nacional entende que ter um IPCA em alta e sob controle é importante para a economia. Se muitas pessoas estão consumindo uma cesta de produtos, o preço dessa cesta pode aumentar. Mas isso é sinal de que essas pessoas estão com renda. Sobre o Sistema de Metas de Inflação, anualmente, o CMN estabelece uma meta de inflação ao Banco Central. É como se o CMN dissesse ao BACEN: “Eu, CMN, entendo que para o crescimento do nosso PIB preci- samos ter uma inflação anual de 4,5% com intervalo de 1,5%”. Em outras palavras, a inflação terá 3,0% como piso da meta, 4,5% como centro da meta e teto da meta de 6,0%. O BACEN vai executar políticas monetárias (veremos mais adiante) para cumprir o que foi estabelecido. 117 3.1.3 - ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DO MERCADO – IGPM Semelhante ao IPCA, mas calculado por uma instituição privada (a FGV), o IGP-M foi criado para abranger outros setores da economia, não só o do consumidor, mas também o de atacado e da construção civil e tem a seguinte composição: • 60% do Índice de Preços por Atacado (IPA); • 30% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC); • 10% do Índice Nacional de Custo de Construção (INCC). Por sua composição, esse indicador engloba diferentes etapas do pro- cesso produtivo, sendo bastante utilizado como indexador de contratos (por exemplo, de aluguel de imóveis) e muito influenciado pelo aumento nos preços dos produtos no atacado. Apesar de ser um indicador muito importante, o IGP-M não é conside- rado o indicador oficial de inflação do Brasil, mas é amplamente aceito pelo mercado como um indicador fidedigno. Historicamente, o IGP-M tem uma variação próxima à do IPCA. É impor- tante que haja um indicador de mercado para que o controle de varia- ção de preços não seja monopólio do Estado. Um Estado que detém o monopólio dos indicadores econômicos não gera confiança aos investi- dores estrangeiros, pois esses dados seriam facilmente manipulados. 3.1.4 - PTAX Se você já viajou ou pensa em viajar para o exterior, deve imaginar que o câmbio envolve moedas estrangeiras. E isso está absolutamente correto. Taxa de Câmbio é o preço de uma unidade monetária de uma moeda em unidades monetárias de outra. É comum, no mercado, utilizarmos a nomenclatura XYZ/ABC para indi- car o par de moedas observado, onde ABC é conhecida como “moeda de base” e XYZ é a “moeda de contagem”. 118 No Brasil, a taxa de câmbio mais observada é a BRL/USD, ou seja, a taxa de câmbio entre o dólar norte-americano e o real brasileiro. Essa taxa indica a quantidade de reais necessária para comprar um dólar. Assim, por exemplo, se BRL/USD = 3,00, isso significa que são necessárias três unidades de real (a moeda de contagem) para se obter uma unidade de dólar (a moeda de base). Cada dólar vale três reais, neste exemplo. A taxa de câmbio spot é a taxa para compra e venda imediata de dólares. Também conhecida no Brasil como “dólar pronto”. É a taxa pela qual os participantes do mercado de câmbio estão dispostos a comprar e vender a moeda estrangeira em determinado momento da sessão de negociação. A taxa PTAX, por sua vez, é uma média das cotações do dólar no mer- cado, calculada pelo Banco Central do Brasil por meio de metodologia própria. Embora a PTAX seja considerada a taxa de câmbio oficial do Brasil, ela não pode ser considerada como o preço da moeda em uma casa de câm- bio. Quando você compra dólar em uma casa de câmbio está incluso o Spread (diferença entre o valor da compra e o da venda) da corretora e outros custos. A PTAX é utilizada para a liquidação de contratos no mercado financeiro. 3.1.5 - TAXA REFERENCIAL – TR No início dos anos 90, a Taxa Referencial foi criada pelo Plano Collor II (que depois viraria o Plano Real) para combater a inflação no país. Ela deveria ajudar a controlar os juros, servindo como referência para que as taxas do mês seguinte não refletissem a do mês anterior. Hoje, quase duas décadas depois, a TR é usada principalmente como TR mensal. Ela é empregada para remunerar a Caderneta de poupança, o FGTS, Financiamentos Imobiliários e Títulos de Capitalização. A TR deriva da TBF (Taxa Básica Financeira) que, por sua vez, será com- posta das taxas de juros das Letras do Tesouro Nacional (LTN) praticadas nas operações definitivas no âmbito do mercado secundário, e registra- das no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic). 119 A TBF de um mês será uma média ponderada entre as taxas médias das LTNs com vencimentos imediatamente anterior e imediatamente pos- terior ao prazo de um mês, seguida da aplicação, ao valor resultante, de um fator multiplicativo fixado em 0,93 (noventa e três centésimos). Com base na TBF, o Banco Central aplica um fator redutor e chega na TR, conforme a seguir: Onde: • TBF = Taxa básica financeira; • R = Fator dedutível. Atenção: é correto afirmar que a TR deriva das LTNs, assim como é correto afirmar que a TR deriva da TBF, uma vez que a TBF deriva dos LTN’s também. Nós já vimos nesse módulo que o crescimento de nossa economia é medido pelo PIB e que a inflação é medida pelo IPCA, tendo também o IGP-M, que é medido pelo mercado. Agora, vamos falar das Políticas Monetárias. Vamos entender como podemos juntartudo isso para ter- mos um bom desenvolvimento econômico no país. Desenvolvimento econômico pode ser traduzido pelo crescimento do PIB. Um país cujo PIB está em crescimento invariavelmente é um país onde temos alta geração de emprego e renda e uma boa manutenção do poder de compra da sociedade. Para isso, o CMN vai estabelecer as diretrizes das políticas monetárias que, por sua vez, serão executadas pelo BACEN. As políticas monetá- rias estão diretamente relacionadas ao controle de liquidez de mer- cado, ou, em outras palavras, à quantidade de dinheiro disponível na economia. 120 3.1.6 – CDI E TAXA DI Os CDI’s — Certificados de Depósito Interbancário (ou também Certificados de Depósito Interfinanceiro) são os títulos de emissão das instituições financeiras que lastreiam as operações do mercado interbancário. Suas características são idênticas às de um CDB (título privado de renda fixa para a captação de recursos de investidores pessoas físicas ou jurí- dicas, por parte dos bancos), mas sua negociação é restrita ao mercado interbancário. Sua função é, portanto, transferir recursos de uma instituição financeira para outra. Ou seja, para que o sistema seja mais fluido, o banco que tem dinheiro sobrando empresta para o que não tem. A média ponderada das operações de CDI registrada na Clearing da B3 representa o custo do dinheiro no mercado interbancário e, por isso, representa também a taxa de juros do mercado, conhecida como DI, cujo nome completo é Taxa DI – Cetip Over. Ele é o principal indexador do mercado de renda fixa. A maior parte dos títulos de renda fixa pós-fi- xados negociados no mercado está indexado ao DI. Exemplo: Um CDB que rende 100% do DI vai render de acordo com a variação dessa taxa. Se o DI fechar o ano com 10%, esse CDB vai pagar 10%. Se o DI fechar o ano com 5%, esse CDB vai pagar 5%. Desde o dia 01/10/2018 a metodologia para apuração da Taxa DI se baseia na observação ou não de duas condições: 1. O número de operações elegíveis para o cálculo da Taxa DI for igual ou superior a 100 (cem); 2. O somatório dos volumes das operações elegíveis para o cálculo da Taxa DI for igual ou superior a R$ 30 (trinta) bilhões; Se no dia de apuração da Taxa DI, ao menos uma das duas condições relacionadas nos itens 1 e 2 acima não for observada, a Taxa DI será igual à Taxa Selic Over divulgada no dia. 121 Curiosidade: Como você pôde ver nesse tópico, o CDI não é a taxa, mas o instrumento para chegarmos na taxa DI. No entanto, o merca- do usualmente o chama de “taxa CDI”. 3.1.7 - COPOM E TAXA SELIC O Comitê de políticas monetárias, COPOM, foi criado em 1996. Em junho de 1999, o Brasil começou a adotar as “Metas de Inflação”, definidas pelo CMN, utilizando o índice IPCA. A partir daí, o COPOM virou o responsável por executar a política mone- tária denominada como Taxa Selic. Alguns pontos importantes sobre o funcionamento do COPOM: • É composto atualmente pela diretoria colegiada do BACEN (8 Direto- res + 1 Presidente); • É quem define a taxa de juros “Selic Meta”; • Reunião em dois dias (terças e quartas), sendo o primeiro dia reser- vado para apresentação de dados e discussões e o segundo para votação e definição da taxa de juros; • Calendário de reuniões (a cada 45 dias) divulgado até o mês de junho do ano anterior, podendo ocorrer extraordinariamente, desde que convocada pelo Presidente do Banco Central; • Na quarta-feira anterior à reunião é iniciado o período de silêncio; • Divulgação da ATA de reunião na terça-feira posterior à segunda reu- nião. Com a divulgação da ATA encerra-se o período de silêncio. Caso a inflação (medida pelo IPCA) ultrapasse a meta estipulada pelo CMN (somado ao intervalo de tolerância), o Presidente do Banco Central deve explicar os motivos do não cumprimento da meta por meio de uma Carta Aberta ao Ministro da Fazenda. Para que fique claro, o COPOM é um braço do Banco Central do Brasil. 122 Em 2022 o Banco Central não conseguiu cumprir a Meta estipulada para o IPCA. Com isso, o BC precisou fazer a divulgação da Carta Aberta. Nós fizemos um Estudo de caso sobre isso. Para acessar, clique aqui. Para entender melhor o papel do COPOM vamos entender a taxa de juros. A taxa de juros, economicamente falando, é a representação do custo do dinheiro no tempo. Basicamente, como já vimos no começo desse módulo, o dinheiro vai, aos poucos, perdendo seu valor. Por isso, todo agente do mercado, ao nego- ciar um pagamento futuro, fará isso com uma taxa de juros específica. Imagine que você tem R$1.000.000,00 e quer investir seu dinheiro para recebê-lo mais à frente com um rendimento. Você tem 2 opções: 1. Abrir/comprar uma empresa que vai te dar 15% de lucro ao ano. 2. Investir seu dinheiro no mercado financeiro e ter um rendimento de 20% ao ano. Se o rendimento no mercado financeiro é de 20%, por que você iria abrir uma empresa para ganhar 15% em um ano? Em outras palavras, quanto maior for a taxa de juros de mercado, menor será o incentivo para investimento em produção. Por isso o BACEN lança mão da taxa Selic que vai: 1. Ser utilizada como política monetária, pelo COPOM; 2. Balizar as demais taxas de mercado. SELIC META O COPOM, como vimos anteriormente, vai definir em sua reunião a taxa Selic META. Ela é utilizada como política monetária para controle da liquidez de mercado. Ela é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação. Ela influencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras. https://www.youtube.com/watch?v=y7dfuGC77BM 123 Em outras palavras, é utilizada para controlar a quantidade de dinheiro disponível em nossa economia e, com isso, controlar a inflação. A Taxa Selic é uma medida de Política Monetária, porém, há outros instrumentos. Política Monetária é um conjunto de medidas que visa controlar a quan- tidade de dinheiro em circulação. A definição da Taxa Selic é uma dessas medidas, mas tem algumas outras que são: redesconto, open market, depósito compulsório, entre outros. Veremos adiante. Vamos exemplificar pra deixar mais fácil. Imagine um cenário em que: • A inflação está completamente descontrolada. • O CMN definiu como meta de inflação 4,5% a.a. e, ao chegar no mês de junho, já estamos com inflação em 10% a.a. Qual é o desafio para o COPOM ao executar uma política monetária que derrube esse índice? Nesse caso, é altamente recomendado que o COPOM aumente a taxa Selic. A lógica é a seguinte: quanto maior for a taxa Selic, maior será a rentabilidade obtida para quem investir seu dinheiro nos títulos públicos federais. Os bancos são os maiores investidores do Governo. Com uma taxa alta eles tenderão a investir seu dinheiro no Governo ao invés de conceder crédito ou até mesmo aumentar muito a taxa de juros dos empréstimos nas agências. Dessa forma, com o crédito mais caro, menos pessoas tendem a tomar dinheiro emprestado dos bancos para investir em produção. Com menos dinheiro em circulação (porque os bancos, ao invés de injetar na econo- mia com crédito, investiram no governo), há menos consumo. Com menos pessoas dispostas a consumir, os comerciantes tendem a baixar seus preços, tendendo assim a uma redução da inflação. Esse exemplo superficial da economia nos faz entender que: 124 • Quanto maior for a taxa Selic, menor tenderá a ser o consumo e, con- sequentemente, menor será a inflação; • Quanto menor for a taxa Selic, maior tenderá a ser o consumo e, con- sequentemente, maior será a inflação. SELIC OVER A taxa utilizada pelo mercado financeiro como taxa principal de juros é a Selic OVER. Essa é a taxa média das operações de financiamento de um dia (opera- ções compromissadas), lastreadas em títulos públicos federais, realiza- das no Selic, ponderadas pelo volume das operações. É divulgada todos os dias, aproximadamenteàs 9 horas da manhã, sem- pre no dia seguinte ao dia de referência, apresentada na forma de per- centual ao ano. Resumindo: a Selic Meta não pode ser confundida com a taxa de juros de mercado (Selic Over), e pode ser representada pela taxa máxima que o governo estaria disposto a pagar. Curiosidade: historicamente, a Selic over tem ficado 0,10% abaixo da Selic Meta. Para consultar a Selic do dia, clique aqui. 3.1.8 - DEPÓSITO COMPULSÓRIO Os bancos possuem uma prerrogativa no mínimo interessante: “criar dinheiro do nada”. Lembra que no módulo 1 nós falamos que o banco tem papel de ser um intermediador financeiro? Dei até um exemplo de um investidor que, ao colocar dinheiro no banco, pôde financiar um empreendedor que queria salvar o mundo. Pois é, o que eu não contei ali é que, quando o banco emprestou dinheiro ao empreendedor, ele não tirou o dinheiro da conta do investidor. Ou https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/selicdadosdiarios 125 seja, quando o banco creditou a conta do empreendedor com o emprés- timo, o saldo do investimento do investidor permaneceu na conta. Em outras palavras, o banco criou o valor na conta do empreendedor do nada. Legal, né? Vamos a mais um exemplo. Imagine que você depositou hoje R$10.000,00 em um CDB do seu banco. Eu também sou cliente e tomo emprestado esses R$10.000,00 para pagar em 24 meses. O que aconteceu aqui? Os seus R$ 10.000,00 de cara se transformaram em R$ 20.000,00 (os seus R$ 10.000 permanecem em sua conta e agora eu tenho R$ 10.000). Agora imagine que eu pegue esses R$ 10.000,00 para pagar o boleto da entrada de um carro que estou comprando. Quando esses R$ 10.000 chegarem na conta da loja de veículos, temos que os seus R$ 10.000,00 se transformaram em R$ 30.000 (os seus R$ 10.000 permanecem em sua conta, eu tenho uma dívida de R$ 10.000 e a loja de carros tem R$ 10.000 na conta). Agora pense que com esses 10 mil na conta da loja de carro o banco pode emprestar 10 mil a uma outra pessoa e, assim, criar mais 10 mil sobre os seus 10 mil iniciais. Percebe que esse ciclo de criação de dinheiro não tem fim? Pois é, não teria se não fosse o depósito compulsório. O depósito com- pulsório representa um percentual que os bancos têm de recolher junto ao Banco Central a cada novo depósito realizado. Se tivermos um compulsório de 40% no exemplo anterior, teríamos que, quando você depositou R$ 10.000,00, o banco precisou recolher junto ao BACEN 40% desse valor. Ou seja, R$ 4.000,00 fica com o BACEN. Assim, o banco poderia emprestar a mim somente R$ 6.000,00. Agora, quando eu pagasse o boleto de R$ 6.000,00 o banco teria de recolher 40% desse valor, ou seja, R$ 2.400,00 e, assim, sobraria somente R$ 3.600,00 para que pudesse emprestar a um outro cliente. Com este ciclo, essa criação de dinheiro teria um fim, certo? O depósito compulsório é uma ferramenta do BACEN para controlar a oferta de dinheiro. Quanto maior for o percentual de compulsório, menor 126 será a quantidade de dinheiro disponível nos bancos e, assim, é gerada uma taxa de juros maior. Cuidado para não confundir o compulsório com um imposto ou um pagamento feito pelos bancos ao Banco Central. O Compulsório é um instrumento que traz segurança ao mercado financeiro, pois o BACEN mantém em sua conta parte do dinheiro em circulação dos bancos. Se por um acaso houver muito mais saques do que depósito nos bancos, será feito o resgate do compulsório junto ao Banco Central. Em resumo, a grana do compulsório não é do Banco Central, tampouco dos bancos que recolheram. O dinheiro alocado ali é de propriedade dos clientes dos bancos. Se o BACEN precisar estimular a economia aumen- tando a liquidez do mercado, ele vai diminuir essa alíquota. Se, por outro lado, o BACEN precisar diminuir a liquidez de mercado, ele irá aumentar o percentual do compulsório. Atualmente, os compulsórios são constituídos em espécie e mantidos em contas específicas no Banco Central, sob a titularidade contábil das instituições financeiras. Todo o fluxo de informações necessário para cal- cular o compulsório, assim como o fluxo financeiro para a constituição e eventual liberação dos recolhimentos, são feitos por intermédio de men- sagens eletrônicas. O controle operacional é efetuado por sistema informatizado gerido pelo Banco Central. Além do depósito compulsório recolhido ao BACEN, as instituições financeiras precisam fazer um direcionamento de recursos. Um exemplo: suponha que o compulsório da caderneta de poupança é de 30%. Então, para cada R$1.000,00 depositados nessa modalidade de investimento, R$300,00 serão recolhidos via compulsório. E se 65% dos depósitos em poupança devem ser direcionados para financiamento imobiliário, para cada R$ 1000,00 depositados na pou- pança, R$ 650,00 devem, portanto, ser direcionados para financiamen- tos imobiliários. Se o banco não direcionar esse valor para essa modalidade de crédito, não poderá emprestar em outra modalidade, e terá de recolher esse valor de compulsório. 127 Se você fez a conta atentamente, notou que para cada R$ 1.000,00 depositados na caderneta de poupança, R$ 950,00 tem de ser alocados segundo as regras do compulsório e do direcionamento, sobrando ape- nas R$ 50,00 para o banco emprestar livremente. 3.1.9 – OPEN MARKET E REDESCONTO OPEN MARKET Imagine uma situação em que a inflação está acima da meta estabe- lecida pelo CMN e o mercado está altamente líquido (o que, em outras palavras, quer dizer que o mercado financeiro tem muito dinheiro dispo- nível para emprestar e, por isso, os juros estão demasiadamente baixos). Uma medida que o BACEN teria de tomar aqui seria ‘enxugar a liquidez de mercado’, tirando o excesso de dinheiro dos bancos. Para isso, ele pode vender títulos públicos que tem em sua carteira aos bancos a uma taxa mais atraente, de forma que os bancos, ao compra- rem esses títulos, terão menos dinheiro disponível para emprestar a seus clientes. Isso resulta em menos liquidez no mercado. O contrário também é verdadeiro: se imaginarmos uma situação em que temos recessão, inflação muito baixa ou taxas de juros ao consu- midor muito altas, o BACEN pode, caso seja conveniente para econo- mia, aumentar a liquidez de mercado. Ou seja, colocar mais dinheiro nos bancos para que eles, por sua vez, possam emprestar às pessoas naturais e empresas com taxas mais atrativas, estimulando a economia. Para isso, o BACEN pode comprar títulos públicos que estão em poder dos bancos com taxas mais atrativas. Quando o BACEN compra esses títulos, ele coloca mais dinheiro nos cofres dos bancos e isso, por conse- quência, aumenta a liquidez de mercado, podendo diminuir a taxa de juros ao consumidor. REDESCONTO Como vimos no tópico de CDI, os bancos costumam tomar dinheiro emprestado um do outro. Acontece que, às vezes, eles não recorrem ao mercado financeiro e sim à autoridade monetária. Ou seja, ao Banco Central. 128 O Banco Central pode emprestar recursos a instituições financeiras para as mais diversas necessidades. Essa é a chamada linha de crédito de última instância, pois normalmente o BACEN empresta com taxas mais “salgadas” que o mercado. Esse recurso de ampliação das taxas é utilizado para não incentivar os bancos a tomarem dinheiro do BACEN. As operações de Redesconto do Banco Central podem ser: • Intradias, destinadas a atender necessidades de liquidez de institui- ção financeira ao longo do dia. São liquidadas no mesmo dia; • De um dia útil, destinados a satisfazer necessidades de liquidez decor- rentes de descasamento de curtíssimo prazo no fluxo de caixa de ins- tituição financeira; • De até quinze dias úteis, podendo ser recontratadas desde que o prazo total não ultrapasse quarenta e cinco dias úteis. São destinadas a satisfazer necessidades de liquidez provocadas pelo descasamento de curto prazo no fluxo de caixa de instituição financeira, e que não caracterizem desequilíbrio estrutural; • De até noventa diascorridos, podendo ser recontratadas desde que o prazo total não ultrapasse cento e oitenta dias corridos, destinados a viabilizar o ajuste patrimonial de instituição financeira com desequi- líbrio estrutural. O Banco Central usa a taxa de redesconto como parte de sua polí- tica monetária da seguinte forma: quando quer estimular a economia aumentando a base monetária e a disponibilidade de crédito, diminui a taxa de redesconto para que os bancos comerciais se sintam mais enco- rajados a realizar esses empréstimos de curto prazo. De forma contrária, quando quer desacelerar a economia, aumenta a taxa de redesconto para que os bancos comerciais tenham que reservar uma parte maior de seus recursos para o cumprimento de necessidades de curto prazo. 129 Resumindo o tópico de políticas monetárias: sempre que a autorida- de monetária precisa expandir a economia, ela vai aumentar a liqui- dez de mercado. Quando a necessidade for restringir a economia, ela vai diminuir a liquidez de mercado. Na tabela abaixo você poderá entender um pouco melhor essas questões: Instrumento Ação do BC Resultado Ação do BC Resultado Selic Aumenta Restringe Diminui Expande Open Market Vende Restringe Compra Expande Compulsório Aumenta Restringe Diminui Expande Redesconto Aumenta Restringe Diminui Expande 3.1.10 - POLÍTICA CAMBIAL A política cambial é conduzida pelo Banco Central com o objetivo de controlar a relação de preço da nossa moeda com moedas estrangeiras. Isso é importante por muitos fatores. Entre eles, está o controle da infla- ção e da dívida pública federal no mercado externo. Vamos imaginar dois cenários possíveis. Cenário 1: BRL 1,00/USD 1,00. Logo, temos 1 dólar para cada real, também chamado de paridade entre moedas. Popularmente dizendo, o “dólar está barato”. Com essa cotação cambial, muito provavelmente você vai comprar pro- dutos importados com mais facilidade e viajar com mais frequência para ver o Mickey em Orlando. O ponto aqui é que, devido à forte valorização do Real, a indústria nacional perde força, já que nossa tecnologia não é das melhores, e assim vamos importar muito (caso fossem o mesmo preço, você acha que o brasileiro compraria mais computador da Apple ou da Positivo?). Esse volume acentuado de importação enfraquece a indústria nacional, gera desemprego e diminui a arrecadação do governo. Em resumo: o Real demasiadamente forte é ruim para nossa economia por gerar desemprego e diminuição na arrecadação. 130 Cenário 2: BRL 5,00/USD 1,00. Em outras palavras, temos 1 dólar para cada R$ 5,00. Aqui podemos dizer, popularmente, que o “dólar está caro”. E qual o impacto disso? Imagine um produtor rural que tem em sua produção a pecuária. Esse produtor vende ao mercado externo a arroba do boi por U$50,00. Esse é o preço do mercado externo e, ao converter esses dóla- res para real, seria o mesmo que vender por R$ 250,00. Dessa forma, esse produtor só aceitaria vender no mercado interno, isto é, para nós brasileiros, se o preço fosse R$ 250,00. Assim, podemos notar que quanto maior for a desvalorização do real mais caro será ter carne na mesa das famílias brasileiras. Mesmo que você seja vegano, a desvalorização demasiada do real vai deixar mais caros a soja e outros produtos que são frutos do agronegócio. Outro ponto que devemos considerar nessa baixa da moeda são as dívi- das. As maiores empresas do país e o governo federal possuem mui- tas dívidas que são precificadas em dólar. Então se uma empresa, ou o governo, tem uma dívida de 1 milhão de dólares, seria o mesmo que ter uma dívida de 5 milhões de reais. Quanto maior for a dívida de uma empresa, maior será o repasse para os produtos que ela comercializa. Quanto maior a dívida do governo, menor será o investimento em áreas essenciais como saúde, segurança e educação, e maior será a carga tributária. Em resumo: o Real demasiadamente desvalorizado provoca alta da infla- ção e necessidade de aumento de impostos. Se você leu com atenção, notou que o Banco Central do Brasil tem um grande desafio nas mãos: não deixar o Real valorizado demais, tampouco deixar nossa moeda desvalorizar demasiadamente. E como o preço da nossa moeda frente ao dólar é definido? Através da lei de oferta e demanda. Basicamente, se houver muitos agentes do mercado demandando por dólar, o preço dessa moeda aumenta, tornando-a mais forte e, conse- quentemente, o Real mais fraco. 131 Por outro lado, se os agentes de mercado estiverem demandando mais valores em reais, o preço da nossa moeda sobe e, consequentemente, o dólar cai. Esse movimento de oferta e demanda de moedas é chamado de política cambial flutuante. Em outras palavras, seria o mesmo que dizer que o preço do câmbio flutua de acordo com as demandas do mercado. Acontece que, como já vimos aqui, se tivermos uma variação demasiada do câmbio, podemos ter um descontrole da inflação caso o Real se des- valorize muito, ou uma crise de desemprego se ele se valorizar demais. É aqui que o Banco Central entra. O BACEN monitora as negociações de compra e venda de moedas para evitar um descontrole e, se o mercado estiver demandando muito mais dólar do que seria capaz de ofertar, isso pode desvalorizar muito o Real perante esta moeda. Para evitar essa desvalorização o BACEN entra no mercado vendendo dólares que estão em suas reservas internacionais. Esse movimento por parte da autarquia evita que o Real se desvalorize e tenhamos uma infla- ção descontrolada. Por outro lado, se os agentes estão ofertando mais dólar do que o mer- cado é capaz de demandar, isso pode provocar uma valorização dema- siada do Real e, para evitar isso, o BACEN entra no mercado comprando os dólares e colocando em suas reservas internacionais. Esse movimento evita que o Real se valorize demais e tenhamos uma crise de desemprego. REGIMES CAMBIAIS • Fixo: o preço do câmbio é fixo em relação à moeda local. Nesse regime a autoridade monetária tem papel ativo comprando e ven- dendo dólar do mercado para fixar o preço; 132 • Bandas cambiais: a autoridade monetária estabelece um intervalo aceito para o preço do câmbio e, para atender esse intervalo, atua ati- vamente no mercado; • Flutuante: o preço do câmbio é determinado pela oferta e demanda; • Flutuante suja: o preço do câmbio é determinado pela oferta e demanda com intervenções pontuais por parte do Banco Central. No Brasil o regime cambial é flutuante suja, o BACEN pode manipular os preços através de compra e venda de moedas no mercado. Flutuante porque o preço é determinado pelo mercado através da lei de oferta e demanda, e suja porque o BACEN pode manipular esse preço. Cupom cambial: remuneração, em dólares, dos reais investidos no Brasil. Ele é dado através da variação da taxa de juros local, ou seja, através do CDI, menos a variação do câmbio no período. 3.1.11 – BAÇANÇA DE PAGAMENTOS E RESERVAS INTERNACIONAIS BALANÇA DE PAGAMENTOS Sei que isso é pouco relevante, mas confesso que quando eu era criança e ouvia o termo balança de pagamentos, imaginava uma balança (de peso) com dinheiro em cima. Deixando minhas imaginações infantis de lado, vamos entender como realmente funciona a balança de pagamentos. Nosso país possui relação comercial com o resto do mundo e estamos o tempo inteiro enviando dinheiro para outros países, seja via importação, turismo ou financiando intercâmbio. Estamos também recebendo diariamente muitos recursos vindos de outros países, seja por exportação, por turistas que vêm conhecer nos- sas belezas, ou investidores que trazem recursos para nosso mercado de capitais. Para a economia de um país é sempre melhor que entre mais dinheiro do que saia. Isso é o que chamamos de balança de pagamentos superavitária. 133 A balança de pagamentos contabiliza a relação financeira de um país com o resto do mundo. Mas como nossa relação não se aplica a apenas uma área da economia, a ela tem algumas contas — as chamadascon- tas externas, que são separadas da seguinte forma: Balança Comercial: registra o comércio de produtos na forma de expor- tações e importações. Quando as exportações são maiores que as impor- tações, temos um superávit na Balança Comercial. Um déficit ocorre quando as importações são maiores que as exportações. Balança de serviços: trata-se de uma ferramenta contábil de nível nacional, utilizada para mensurar o volume de capital que um país movi- menta com a exportação e importação de serviços. Transferências unilaterais: são donativos e subsídios, ou seja, paga- mentos e recebimentos que não têm contrapartida de compra e venda de bens ou serviços. Conta corrente = balança comercial + balança de serviços + transfe- rências unilaterais. Conta financeira (mercado de capitais): aqui são contabilizadas todas as transações de serviços exclusivamente financeiros. Isto é, tem a inclu- são dos pagamentos efetuados e recebidos do exterior, bem como remunerações oriundas dos fatores de produção (investimentos, lucros, juros e dividendos). Balança de pagamentos = conta corrente + conta financeira RESERVAS INTERNACIONAIS As reservas internacionais são os depósitos em moeda estrangeira dos bancos centrais e autoridades monetárias. São ativos dos bancos centrais que são mantidos em diferentes reser- vas, como o dólar americano, o euro ou o iene. São utilizados no cumpri- mento dos seus compromissos financeiros, como a emissão de moeda, e também para garantir as diversas reservas bancárias mantidas em um banco central por governos ou instituições financeiras. 134 Basicamente, as reservas internacionais do nosso país representam o saldo que o BACEN possui alocado em uma moeda estrangeira. A maior parte delas (e das dos demais países emergentes) está alocada em títu- los públicos do tesouro norte americano, outra parte relevante das reser- vas está alocada em euro. Um país com altos índices de reservas internacionais é considerado um país com maior condição de responder a crises econômicas. Para países emergentes, como o Brasil, é fundamental ter reservas volumosas para atrair investidores estrangeiros. Duas coisas legais! Você pode acessar o saldo das reservas internacionais do Brasil aqui e ver um Estudo de Caso que fizemos falando da interven- ção do BC no Mercado de Câmbio (explicando o motivo de termos uma taxa de câmbio flutuante suja) para acessar, clique aqui. Ah, e como falamos em investidores estrangeiros, é bom saber que a entrada de capital estrangeiro em nosso país fortalece nossa balança de pagamentos. É sobre isso que vamos falar agora. 3.1.12 - POLÍTICA FISCAL A política fiscal reflete o conjunto de medidas pelas quais o Governo arrecada receitas e realiza despesas de modo a cumprir três funções: estabilização macroeconômica, redistribuição da renda e a alocação de recursos. A função estabilizadora consiste na promoção do crescimento econô- mico sustentado, com baixo desemprego e estabilidade de preços. Esta função redistributiva visa assegurar a distribuição equitativa da renda. Por fim, a função alocativa consiste no fornecimento eficiente de bens e serviços públicos, compensando as falhas de mercado. Os resultados da política fiscal podem ser avaliados sob diferentes ângu- los, que podem focar na mensuração da qualidade do gasto público e identificar os impactos da política fiscal no bem-estar dos cidadãos. Para tanto, podem ser utilizados diversos indicadores para análise fiscal, em particular os de fluxos (resultados primário e nominal) e estoques (dívidas líquida e bruta). A saber, estes indicadores se relacionam entre si, pois os https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/reservasinternacionais https://www.youtube.com/watch?v=7eR72pK_Hn8&t=49s 135 estoques são formados por meio dos fluxos. Assim, por exemplo, o resul- tado nominal apurado em certo período afeta o estoque de dívida bruta. Resultado fiscal primário é a diferença entre as receitas primárias e as despesas primárias durante um determinado período. O resultado fis- cal nominal, por sua vez, é o resultado primário acrescido do pagamento líquido de juros. Assim, fala-se que o Governo obtém superávit fiscal quando as receitas excedem as despesas em dado período; por outro lado, há déficit quando as receitas são menores do que as despesas. O Tesouro Nacional é responsável por gerir essas receitas e despesas. As receitas do governo advêm, majoritariamente, de impostos que são arre- cadados pela Receita Federal. Se lembrarmos que começamos esse módulo falando do PIB, vamos nos recordar também de que na equação do PIB temos a letra G, que repre- senta os gastos do Governo. Se não houvesse corrupção, eles teriam uma grande força no crescimento do PIB. Além das receitas primárias, o Estado, através da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), pode buscar receitas através da emissão de dívida. Em outras palavras, dada a necessidade de maiores recursos por parte do Governo, a STN capta recursos emprestado dos investidores através da emissão de título de renda fixa, os chamados títulos públicos federais. Dessa forma, o governo tem uma fonte adicional de receita (crédito) que, por sua vez, gera uma despesa adicional, a despesa financeira. Quando o Governo resolve, por meio da política fiscal, gastar com a transpo- sição do rio São Francisco, ele gera emprego e renda e, consequentemente, aumento de arrecadação com impostos, pois a economia local receberá trabalhadores, que irão consumir nos comércios e assim por diante. 3.1.13 – RESUMO DAS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS As políticas fiscal e monetária impactam diretamente na economia, podendo incentivar o crescimento econômico (política expansionista) ou promover uma desaceleração econômica (política restritiva). 136 POLÍTICAS EXPANSIONISTAS • Redução da taxa selic; • Redução do compulsório; • Redução do redesconto; • Compra de título público no open market; • Redução de impostos. POLÍTICAS RESTRITIVAS • Aumento da taxa selic; • Aumento do compulsório; • Aumento do redesconto; • Venda de título público no open market; • Aumento de impostos. Vimos tudo que tínhamos de ver sobre Economia, agora vamos mergu- lhar nas finanças. 3.2.1 – TAXA DE JUROS REAL X TAXA DE JUROS NOMINAL Imagine que você tem em suas mãos hoje a quantia exata para com- prar um computador. Porém, ao invés de fazer essa compra, você resolve fazer um investimento que te paga 20% a.a., para que daqui 1 ano você compre o tão sonhado computador. Um excelente negócio, não? Agora imagine que esse computador sofra um reajuste de 30% em um ano. Pois é, nesse exemplo, por mais que você tenha ganho 20% em um ano, você perdeu poder de compra, pois o preço do computador subiu 30%. Caso queira comprá-lo, terá que desembolsar um pouco mais de grana. 137 Esse exemplo representa o ganho nominal e o ganho real de uma apli- cação. Ganho nominal é quanto um investidor recebe ao fazer uma apli- cação, e ganho real é quanto o investidor realmente ganha com essa aplicação. Confuso? Ganho nominal é quanto o investidor recebe em um investimento. Já o ganho real é quando descontamos do valor recebido a taxa de inflação no período. Vamos analisar isso na prática: Suponha que um investimento rendeu 15% em um ano e que a inflação medida pelo IPCA tenha sido de 5% neste mesmo período. Nesse caso, para sabermos o ganho real, basta descontarmos o IPCA (5%) do rendi- mento nominal (15%). Basta fazer: Certo? Errado! O cálculo não é tão simples assim. Para achar a taxa real de um investi- mento, é necessário abusar um pouco mais do conceito de matemática financeira através da seguinte fórmula: Dessa forma, chegamos à conclusão de que, embora a taxa nominal do investimento tenha sido de 15% ao ano, a taxa real simulada no exemplo acima é de 9,52%. Isso significa que esse investidor teve um aumento do poder de compra de 9,52% e não 10%, como parecia inicialmente. 138 Importante reforçar que, paraa prova da CPA-20, não é necessário cálculos. Resumindo: • Taxa nominal: o retorno que o investidor recebe por seus investimen- tos durante um período; • Taxa real: é o aumento do poder de compra que um investimento traz a seu detentor; é a taxa nominal quando descontada a inflação. Dica de ouro: a taxa real de um investimento não pode ser confun- dida pela simples subtração da taxa nominal pela inflação. As taxas devem ser descontadas, conforme a fórmula acima. Apesar de não podermos subtrair, a taxa real será SEMPRE um pouco inferior ao re- sultado da subtração da taxa nominal pelo IPCA. É interessante notar alguns pontos adicionais sobre a taxa de juros real e sua relação com a taxa de juros nominal: • se a taxa de inflação (IPCA) for maior do que a taxa de juros nomi- nal durante o período de um investimento, a taxa de juros real ficará abaixo de zero. Ou seja, o rendimento real em um investimento pode ser negativo, o que significa que o poder de compra do investidor pode, realmente, reduzir entre o momento da aplicação dos recursos e o recebimento do montante principal acrescido dos juros. • se a taxa de inflação (IPCA) for negativa, isto é, se houver deflação, a taxa de juros real será superior à taxa de juros nominal. Isso signi- fica que o poder de compra do investidor pode crescer em um ritmo maior do que aquele indicado pela taxa de juros nominal oferecida em determinada aplicação financeira. Em tese, a política monetária deveria ajustar as taxas de juros nominais de uma economia conforme fosse percebido maior ou menor risco de inflação, o que deveria manter a taxa de juros real relativamente estável ao longo do tempo. 139 Entretanto, esse fenômeno não é necessariamente verificado na prática, e a taxa de juros real pode apresentar flutuações significativas ao longo dos anos. 3.2.2 - SISTEMAS DE CAPITALIZAÇÃO O que vamos saber a partir de agora é que existem algumas formas de calcular os juros. Matematicamente, esse cálculo é chamado de capitalização. Entre outros regimes de capitalização temos de destacar os de capitali- zação simples e composta. Antes de entrarmos no tema, tenho um recado importante: apesar de abusarmos das fórmulas matemáticas nos próximos tópicos, você não precisa fazer conta em sua prova da CPA-20. É necessário apenas conhe- cer e distinguir as fórmulas. Podemos começar? CAPITALIZAÇÃO SIMPLES Às vezes, pode parecer que chamar algo de “simples” é exagero. Mas a Capitalização Simples é realmente... Simples. E o que a torna tão fácil de entender é o fato de que nela os juros não são incorporados ao capital para efeito de novos juros periódicos. Se tivermos uma taxa de juros de 2% ao mês e quisermos encontrar qual é a taxa proporcional a 1 ano, basta multiplicarmos a taxa pelo prazo desejado, que nesse caso é 12, ficando assim: 2 x 12 = 24% No regime de capitalização simples, podemos calcular o montante de uma aplicação com a mesma simplicidade que o nome desse regime nos concede: VF = VP x (1+ taxa x prazo) Onde: • VF = Valor Futuro ou montante; • VP = Valor Presente ou capital inicial. 140 Vamos colocar isso na prática? Quanto teríamos em um regime de capi- talização simples se aplicarmos R$ 1.000,00 a uma taxa de 1% a.m, por um período de 12 meses? Dessa forma, temos: • VP = R$ 1.000,00 • Taxa = 1% • Prazo = 12 • VF = ? VF = VP (1+ taxa x prazo) ⇒ VF = 1000(1+0,01x12) ⇒ 1000 x 1,12 ⇒ VF = 1.120,00 Fique ligado: sempre que vamos fazer cálculos com números que são expressos em percentual (%), é preciso convertê-los para o for- mato decimal. Para fazer isso, basta dividir o número por 100. Que, no caso de 1%, ficaria 1/100 = 0,01. Agora que aprendemos fazer o cálculo de juros simples, vem a pergunta: Quanto teríamos ao aplicar R$ 1.000,00 a uma taxa de 24% ao ano, no período de 6 meses? Agora você tem uma taxa expressa ao ano e precisa saber o resultado do semestre. Veja a fórmula: 141 Em resumo, no regime de capitalização simples basta multiplicar a taxa pelo prazo e o valor presente para chegarmos ao valor futuro. O mais importante é colocar taxa e prazo na mesma unidade de tem- po. Se temos uma taxa ao ano e uma operação ao mês, temos de converter a taxa em mês. No regime de capitalização simples não existe a capitalização dos juros, e assim os juros de um período não geram juros nos períodos seguintes. Principalmente em economias com elevadas taxas de inflação, como historicamente é o caso do Brasil, tal regime de capitalização não é utili- zado com frequência. Em seu lugar, o regime de capitalização composta tende a ser preferido. Nesse regime, o montante inicial cresce de maneira geométrica ao longo do tempo, e o valor principal acrescido de juros em um dado período serve como base de cálculo para os juros do período subsequente. CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA Aqui temos que abusar um pouco mais de nossas habilidades matemáticas. No regime de Capitalização Composta, os juros são incorporados ao capital para efeito de capitalização. É o famoso “juro sobre juros”. A fórmula matemática para encontrar um montante no regime de capi- talização composta é, na verdade, muito simples: Para deixar tudo mais fácil de se comparar, vamos analisar com os mes- mos dados que utilizamos no exemplo de capitalização simples. Quanto teríamos em um regime de capitalização composta, se aplicar- mos R$ 1.000,00 a uma taxa de 1% a.m. por um período de 12 meses? 142 Feito isso, agora vamos também entender o segundo exemplo, em que tínhamos um capital inicial de R$ 1.000,00 com uma taxa de 24% a.a. e período de capitalização composta: Dicas de ouro: no regime de capitalização composta, o prazo estará em uma potência matemática, ao passo que no regime de capitali- zação simples o prazo está multiplicando a taxa. 3.2.3 - EQUIVALÊNCIA DE TAXAS Cada regime de capitalização que mencionamos acima possui suas peculiaridades matemáticas para cálculo, certo? Vamos usar essas pecu- liaridades para entender e calcular taxas equivalentes e proporcionais. Não se assuste com os cálculos, porque a matemática é bem tranquila. Não sei se você notou, mas no regime de capitalização simples a taxa cresce e diminui na mesma proporção do tempo. Isto é, se tenho a taxa ao mês e quero encontrar a taxa expressa ao ano, basta multiplicar pela quantidade de meses que desejo, no caso, 12. Justamente por termos as taxas crescendo de forma proporcional é que vamos chamá-las de taxas proporcionais nesse regime. 143 Já no regime de capitalização composta, as taxas não se movem de maneira proporcional. 1% ao mês não é proporcional a 12,68% ao ano, por isso chamamos de taxa equivalente. Em outras palavras, para o regime de capitalização composta teremos sempre taxas equivalentes, pois apesar de não serem proporcionais, se equivalem no tempo. Imagine que tenhamos uma taxa expressa ao mês de 1%. Quanto será essa taxa expressa ao ano? No regime de capitalização simples, nós chamamos essa taxa de propor- cional, e a calculamos da seguinte forma: Questão resolvida! Eu disse que era tranquilo. Agora vamos encontrar qual taxa é equiva- lente a 1% a.m. no período de 1 ano no regime de capitalização composta. Perceba que, enquanto no regime de capitalização simples nós encon- tramos a taxa proporcional de 1% ao mês no período de 12 meses, isto é, 1 144 ano igual a 12% ao ano, no regime de capitalização composta o resultado é 12,68% a.a. Agora vem uma pergunta: qual dos dois regimes de capitalização é o melhor? Para encontrar a resposta é necessário saber se vamos capitalizar ou descapitalizar a taxa. Veja, se temos a taxa expressa ao mês e queremos descobrir num perí- odo maior, por exemplo ao ano, estamos capitalizando a taxa. Se temos uma taxa expressa ao ano, e queremos saber a respeito de um período menor, por exemplo, 1 mês, estamos descapitalizando. Faz sen- tido para você? Vamos colocar na prática: 1. Capitalização: • composta — 1% ao mês é equivalente a12,68% ao ano (vide conta anterior). • simples — 1% ao mês é proporcional a 12% ao ano (vide conta anterior). 2. Descapitalização: • composta — 12% ao ano é equivalente a 0,94% ao mês. • simples — 12% ao ano é proporcional a 1% ao mês. Resumindo: quando estamos capitalizando, usar o regime de capi- talização composta é melhor. Quando estamos descapitalizando, usar o regime de capitalização simples é melhor. Agora que você já sabe usar e abusar da matemática, vamos aprender sobre fluxo de pagamentos. 145 3.2.4 - FLUXO DE PAGAMENTOS Se eu te pedir R$1.000,00 emprestados para pagar em 12 parcelas de R$100,00, você me emprestaria? Eu não sei sua resposta, mas esse empréstimo seria mais ou menos assim: Traduzindo o gráfico acima temos: • Em vermelho, uma saída no momento 0 (zero) de R$ 1.000,00. Afinal, você está me emprestando agora, ou seja, o dinheiro está saindo de sua conta; • Em azul, doze entradas de R$ 100,00 em momentos futuros diferen- tes. Afinal, como eu não sou caloteiro, estou te pagando. Assim, a cada mês, tem uma entrada de R$ 100,00 em sua conta. Ficou tranquilo entender o fluxo de pagamentos usando como exemplo esse empréstimo? Um fluxo nada mais é do que essa movimentação de modo contínuo. No Mercado Financeiro usamos bastante esse fluxo para análise dos investimentos em renda fixa que veremos mais adiante, como também, para análises de Fluxo de Caixa Descontado, uma das maneiras de valuation. Vamos destrinchar um pouco mais como funciona esse Fluxo de Pagamentos. 146 VALOR PRESENTE (VP) Lembrando do nosso gráfico, valor presente é o valor que você, ao menos em tese, me emprestou. Em outras palavras, é o valor do fluxo de paga- mento na data atual, ou seja, o valor hoje. VALOR FUTURO (VF) Usando ainda nosso fluxo de pagamento como exemplo, o valor futuro é a soma do recebimento das parcelas mensais. Em outras palavras é o quanto seus R$ 1.000,00 valerão no futuro. Lembra quando falamos de inflação? Os R$100,00 na data atual valem menos do que valiam em 2000 e os R$100,00 hoje valem mais do que valerão daqui há 10 anos. TAXA DE DESCONTO Trata-se da diferença entre o valor futuro e o valor presente. Ou seja, do cálculo aplicado sobre um valor futuro para determinar sua equivalência no presente. Em resumo é uma taxa que aplicamos para saber quanto um valor no futuro valerá na data de hoje. Quando estudarmos os títulos chamados LTN - Letra do Tesouro Nacional (também conhecido como Tesouro Pré-fixado) ficará mais fácil de entendermos. FLUXO DE CAIXA Trata-se do fluxo financeiro no caixa da organização ou nas nossas finan- ças pessoais, isto é, o montante recolhido e gasto durante um período de tempo definido. Algumas vezes ligado a um projeto específico. Ele pode ser representado graficamente, onde as saídas são negativas e as entradas positivas. No exemplo da imagem anterior, há um fluxo de caixa. No primeiro momento você me emprestou os mil reais e, ao longo do tempo, houve entradas na sua conta bancária, pois eu efetuei os pagamentos. CUPOM E ZERO CUPOM Se tem uma coisa que nosso fluxo de pagamento não é, é “zero cupom”. Para você entender o que é “zero cupom” seria interessante entender antes o que é cupom, não é mesmo? 147 Cupom é o pagamento periódico de rendimentos sobre um investi- mento. Vamos desenhar nosso empréstimo com cupom? Dados do nosso empréstimo de R$1.000,00 • Soma de todas as parcelas (12 x 100) = R$1.200,00 • Rendimento total R$200,00 Agora nosso empréstimo será da seguinte forma: R$1000,00 com cupom semestral: Notou uma diferença crucial desse fluxo para o fluxo inicial? Nesse novo fluxo você desembolsou R$1.000,00 e recebeu, após 6 meses, somente o rendimento. No vencimento você recebeu o principal somado ao ren- dimento. Basicamente, o cupom pode ser traduzido por “rendimento pago periodicamente”. Agora que você entendeu o cupom, vamos entender o zero cupom. Como o nome sugere (e você pode deduzir), zero cupom é um inves- timento que não paga rendimentos periódicos, mas paga tudo, como diria o Chaves, num montão no fim do período. Nesse empréstimo, se fosse zero cupom, seria assim: 148 Notou que um título zero cupom não paga nada durante o período de investimento, mas você recebe todo o rendimento junto do vencimento do título? Pois é, isso é zero cupom. AMORTIZAÇÕES Basicamente é a redução de uma dívida por meio de pagamentos par- ciais. Na amortização, cada prestação é uma parte do valor total, incluindo os juros e o saldo devedor restante. VENCIMENTO Aqui não tem muito mistério. O vencimento nada mais é do que a data em que um determinado ativo ou fluxo de pagamentos acaba. TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) Já que no começo desse tópico você me emprestou R$ 1.000,00 para receber 12 parcelas de R$ 100,00 eu lhe pergunto: qual a taxa de retorno desse investimento? Precisamos saber, em percentuais, quanto você está ganhando com esse empréstimo. Será que seu cunhado não tomaria um empréstimo com taxas melhores? Para encontrar a TIR do nosso fluxo de caixa inicial, teríamos de trazer nosso fluxo de pagamento a valor presente. É como se eu antecipasse as parcelas para encontrar o valor presente. 149 CUSTO DE OPORTUNIDADE O custo de oportunidade é um conceito teórico que mensura o custo daquilo que se deixa de fazer quando é preciso fazer uma escolha de qualquer tipo. Basicamente, o custo de oportunidade é o quanto você ganha com investimento ou, melhor dizendo, quanto você deixa de ganhar quando assume um investimento. TAXA LIVRE DE RISCO A Taxa Livre de Risco representa o nível mínimo de rentabilidade de um investimento. Esse indicador é representado pela taxa de juros de um país. No Brasil, consideramos como Taxa Livre de Risco a Taxa Selic. Se a Taxa Selic está em 15% ao ano, não faz sentido correr risco de renda variável, com ações, para ganhar 12% ao ano (valores apenas para didá- tica, ok? renda variável, como diz o próprio nome, é variável). 3.2.5 - CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL – CMPC O custo médio ponderado do capital - CMPC (Weighted Average Cost of Capital ou WACC em inglês) é uma taxa que mede a remu- neração requerida sobre o capital investido em uma determinada empresa ou entidade com fins lucrativos. Essa taxa mede também o custo de oportunidade dos investidores ou credores do negócio. No Mercado, todas as empresas possuem sua estrutura de capital. Essa estrutura é composta por Capital Próprio e Capital de Terceiros. O Capital Próprio é aquilo que a empresa conseguiu levantar através da sua venda de ações em Tesouraria, um IPO (Oferta Pública Inicial), um Follow-on etc. Já o Capital de Terceiros é composto por empréstimos, emissão de debêntures, e outras opções. Entendendo essa diferença, podemos partir para o próximo ponto, que é a fórmula do WACC: 150 Onde: • = Peso do Capital Próprio • = Peso do Capital de Terceiros • = Custo do Capital Próprio • = Custo do Capital de Terceiros • = Imposto de Renda (Ou até mesmo Benefício Fiscal) Como assim “Benefício Fiscal”? Quando uma empresa utiliza recursos de terceiros, ela paga juros, o que irá entrar no Regime de Competência da empresa como despesa financeira. Isso significa que irá diminuir o resultado da empresa, então ela tende a pagar menos imposto de renda fazendo uso de um capital produtivo que irá gerar mais retorno no futuro. Outro raciocínio que você deve estar pensando “oras, mas se o Capital Próprio é da empresa, por qual motivo ele tem um custo?” e, mesmo que não tenha pensado, é um bom pensamento. Mas, o Capital Próprio da empresa, é o Capital também dos Acionistas, e nessa altura do cam- peonato você já sabe que não existe almoço grátis. Para os acionistas manterem o seu dinheiro na empresa, como já vimos anteriormente, esse dinheiro não está em nenhum outro ativo, então temos um custo de oportunidade (TMA, lembra?) aqui que deve justifi- car a permanência do acionista nesta empresa, então, a empresa precisa entregaresse “retorno esperado” para o acionista. Agora, vamos para um exemplo prático: Seu cunhado lhe convida para ser sócio da hamburgueria e, para isso, necessita de R$ 100.000,00 para financiar o projeto. Você dispõe ape- nas de R$ 40.000,00 e resolve ser sócio da hamburgueria. O restante do valor será tomado no banco com a taxa de 12% ao ano. Assumindo que a empresa pagaria um IRPJ de 25%, qual seria o CMPC? Vamos trazer a fórmula novamente: 151 Para acharmos o W, que é o Peso, precisamos separar o total de capital da empresa e quantos % representa capital próprio e capital de tercei- ros. No exemplo, a hamburgueria precisa de R$100.000,00 e você, sócio, emprestou R$40.000,00, então, o Peso do Capital Próprio é de 40%. Se o Total do Capital é 100%, então 100 - 40 significa que o Capital de Terceiros será de 60%! Vamos supor que, como o enunciado não nos trouxe, você como sócio da Hamburgueria exige 16% de retorno ao ano. Então, a nossa conta ficará assim: WACC = (40 x 16) + (60 x 12) x (1 - 0,25) WACC = 640 + 720 x 0,75 WACC = 1.180 Aqui vale ressaltar que sempre devemos trabalhar com todos os núme- ros inteiros ou todos os números em decimal. Trabalhamos com todos os números inteiros, apenas a alíquota de IR ficou em decimal pois o 1 seria como 100. Como todo o cálculo foi feito com números inteiros, precisamos dividir o 1.180 por 100. O que nos dará um resultado de 11,80% de Custo Médio Ponderado de Capital. Lembro novamente que na prova CPA20, você não precisará fazer cálculos. 3.2.6 – PRAZO MÉDIO PONDERADO E RETORNO MÉDIO PONDERADO PRAZO MÉDIO PONDERADO Deixe-me dar um spoiler sobre os títulos de renda fixa que serão estuda- dos nos próximos módulos. Definição de título de renda fixa: os títulos de renda fixa representam a dívida do emissor. Eles têm um vencimento e uma taxa conhecida no momento da negociação. O fato de eu ter deixado a palavra “vencimento” destacada no parágrafo anterior é porque vamos abordar com mais carinho esse ponto agora. 152 Se sabemos que os títulos de renda fixa têm um vencimento, sabemos que existe um prazo para o investidor receber seu dinheiro de volta. Agora pense em um investidor (ou um fundo de investimento) que tem em sua carteira diversos títulos com valores e vencimentos diferentes. Como saberíamos qual o prazo médio de recebimento dessa carteira? Para ajudar sua imaginação, estou colocando a tabela abaixo: Título Valor Presente Vencimento em dias úteis CDB* R$ 10.000,00 720 dias LCI* R$ 5.000,00 580 dias LCA* R$ 12.000,00 360 dias LFT* R$ 8.000,00 180 dias NTN-B* R$ 20.000,00 720 dias Debêntures* R$ 2.000.000,00 1800 dias Total R$ 2.055.000,00 *As características desses títulos serão abordadas nos próximos mó- dulos. Para este tópico quero que se atente apenas ao valor dos títu- los e seus respectivos vencimentos. Se fôssemos calcular o prazo médio de recebimento desses títulos con- siderando somente os vencimentos, teríamos uma distorção, pois temos um título de R$2.000.000,00 que vence em 1800 dias e os demais títulos têm um vencimento mais curto. Se fizermos uma proporção, chegaremos ao fato de que 97,32% (a pro- porção das Debêntures de R$ 2.000.000,00 para o saldo total) da carteira desse investidor vence em 1800 dias e 2,68% da carteira tem um venci- mento mais curto. Então vamos aprender a calcular esse prazo médio ponderado. No Brasil, uma Resolução do Conselho Monetário Nacional define a fórmula “ofi- cial” para cálculo do prazo médio ponderado como: 153 Onde: • PMP é o prazo médio ponderado; • “du” é o número de dias úteis a decorrer até cada fluxo; • “i” é a taxa interna de retorno (em base anual com 252 dias úteis); • VP é o valor presente do título. Assustou? Calma que a minha missão é deixar as coisas mais simples para você. A primeira coisa que você precisa lembrar é que você não vai precisar fazer contas na sua prova da CPA-20. Vou encontrar o prazo médio com você aqui apenas para você entender o conceito, com algumas dicas importantes sobre esse tema para sua prova. Voltemos então à nossa carteira fictícia: Título Valor Presente (a) Vencimento em dias úteis (b) Produto de (a x b) CDB* R$ 10.000,00 720 dias 7.200.000 LCI* R$ 5.000,00 580 dias 2.900.000 LCA* R$ 12.000,00 360 dias 4.320.000 LFT* R$ 8.000,00 180 dias 1.440.000 NTN-B* R$ 20.000,00 720 dias 14.400.000 Debêntures* R$ 2.000.000,00 1800 dias 3.600.000.000 Total R$ 2.055.000,00 3.630.260.000 Para começar, o primeiro cálculo a fazer aqui é somar o total da carteira (coluna a) e depois multiplicar o valor de cada título com o respectivo vencimento (coluna a x b). Feito isso, basta dividir a coluna da soma das multiplicações pelo valor total da carteira, assim: 154 Assim, concluímos que o prazo médio da carteira que montamos é de 1766,55 dias. Em outras palavras, vimos aqui que na média o prazo de recebimento dessa carteira é de 1766 dias. O que você precisa levar para prova? • Prazo médio ponderado considera o prazo e o valor dos títulos; • Títulos de valores maiores têm peso maior e, portanto, puxam o rece- bimento para perto de si. RETORNO MÉDIO PONDERADO Se você compreendeu o conceito de PMP (prazo médio ponderado), vai ser mais tranquilo entender o retorno médio ponderado. Ele é basica- mente uma forma de mensurar o retorno (rendimento) de uma carteira de investimento com base no valor de cada título. Vamos entender melhor isso. Imagine que você tenha investido R$100.000,00 em um CDB do seu banco e esse produto lhe rendeu 10% em um ano. Ótimo, como você tem apenas um título, fica fácil saber o retorno de sua carteira. Se desdobrarmos sua carteira em 2 títulos, a coisa começa a ficar um pouco mais complexa. Agora vamos alocar seus recursos em dois títulos: um CDB que lhe rendeu 10% em um ano e em uma ação que desvalorizou 10% ao ano. Pergunto: qual a rentabilidade de sua carteira? Se você, por dedução, respondeu 0, seu raciocínio tem até lógica, mas a resposta está errada. O fato é que não conseguimos saber o retorno da carteira se não souber- mos o quanto está alocado em cada ativo. Vamos colocar essa carteira em uma tabela, conforme a seguir, para ilustramos: Ativo Valor Rendimento (%) Rendimento (R$) CDB R$ 90.000,00 10% R$ 9.000,00 Ação R$ 10.000,00 -10% -R$ 1.000,00 Total R$ 100.000,00 ? R$ 8.000,00 Notou que nessa carteira fictícia temos a maior parte dos recursos alo- cada em um CDB e a menor parte na ação? Por conta dessa alocação, a carteira valorizou 8% mesmo tendo um ativo que desvalorizou 10%. 155 Em resumo, o retorno médio ponderado considera o valor de cada ativo para trazer o resultado da carteira. Para calcular o retorno médio ponderado de uma carteira, temos de lan- çar mão da matemática: Onde: • w = peso de cada ativo; • r = rentabilidade de cada ativo. Como sabemos, 0,08 é a representação em percentual de 8%. Assim, chegamos ao mesmo resultado de nossa tabela. Você precisa apenas ter em mente o conceito e saber que o peso de cada ativo influencia no resultado final da carteira. Aqui a gente termina o módulo 3! Para o módulo 4, preparamos um conteúdo completo sobre os instru- mentos de investimentos, com detalhes sobre alguns pontos que mere- cem sua atenção na hora de analisar cada opção, beleza? Te espero na próxima! INSTRUMENTOS DE RENDA FIXA, RENDA VARIÁVEL E DERIVATIVOS MÓDULO 4: 157 4.0.1 - INSTRUMENTOS DE RENDA FIXA X RENDA VARIÁVEL Esse é um dos módulos mais densos em sua prova, mas fique tranquilo (a)! Nós vamos evoluindo o conteúdo aos poucos e, se você tiver um pleno entendimento dos primeiros tópicos, vai chegar ao final do módulo com o conteúdo na ponta da língua. Para começarmos o papo vamos entender o conceito de Renda Fixa e Renda Variável. RENDA FIXA Uma pergunta bem simples, mas que sempre está presente entre os alunos, é essa: o que, de fato, é Renda Fixa? Se eu te pedir uma grana emprestada talvez você possa me emprestar. Uma certeza que eu tenho é que, casosua resposta seja sim para minha solicitação você me fará, no mínimo, 2 perguntas. O ideal, no entanto, é que você me faça 3 perguntas. Os questionamentos em potencial são: 1. “Quando você vai me pagar?” 2. “Quanto de juros você vai me pagar quando me devolver o dinheiro?” 3. “Você tem alguma garantia para me oferecer?” Pronto, você acabou de aprender tudo sobre Renda Fixa. Essa é a defini- ção de um instrumento de Renda Fixa. Ele é um título que tem: 1. Vencimento; 2. Uma taxa de juros conhecida no momento da contratação; 3. E pode, ou não, oferecer uma garantia adicional. Se você entendeu o conceito simples que acabo de colocar, vamos dei- xar as coisas um pouco mais técnicas. 158 Quando o agente superavitário investe seu dinheiro em um título de Renda Fixa está, na prática, emprestando o dinheiro ao agente deficitá- rio (o emissor do título). Esse título, por sua vez, será constado nos passi- vos do emissor. Em outras palavras, representa a dívida do emissor. Se esse é o conceito de um título de Renda Fixa, o que seria então um título de “renda variável”? RENDA VARIÁVEL Vamos desenhar minha solicitação de empréstimo de um jeito diferente: ao invés de eu solicitar um empréstimo faço um convite para você ser meu sócio (a) num estúdio de tatuagem que estou a fim de abrir. Que tal? Nesse caso as perguntas que você me fará serão outras: 1. “Quanto eu tenho de investir?” 2. “Quanto da empresa eu terei?” Nesse caso eu não estou fazendo um empréstimo, e sim admitindo um sócio em meu projeto. Você, como sócio, não sabe a taxa de juros que terá de retorno, tampouco conhece o tempo no qual esse dinheiro voltará a você (por isso o nome renda variável). Sua remuneração virá dos resultados que nosso estúdio trouxer. Você terá parte do lucro. Em outras palavras, a renda variável é um instrumento que não tem relação com dívida, mas com propriedade. Uma ação do Banco do Brasil é uma propriedade que foi transferida ao investidor. Quando uma empresa quer crescer, naturalmente será necessário inves- timento. Esse investimento será chamado de “capital próprio” (ações) ou capital de terceiros (dívida, ou melhor dizendo, Renda Fixa). Quando o investidor compra uma ação ele está incorporando dinheiro ao caixa da empresa, por isso, é chamado de capital próprio. 159 Apesar de eu ter citado o mercado de ações como renda variável, cabe destacar que não é o único e vamos abordar cada um dos títulos em cada um dos mercados ao longo deste módulo. Outra coisa que precisamos ter muito claro ainda introduzindo o assunto do módulo é que o governo vai tributar todo tipo de renda existente no mercado, e no caso dos investimentos no mercado financeiro não seria diferente. Ou seja, tudo que o agente superavitário ganha investindo seu dinheiro será tributado. Posteriormente iremos entrar em mais detalhes sobre este assunto. 4.1.1 - AÇÕES - CONCEITO O primeiro tipo de renda variável que estudaremos é também o mais famoso: as ações negociadas na Bolsa de Valores. A ação representa a menor “fração” do capital social de uma empresa, ou seja, a unidade do capital nas sociedades anônimas. Quem adquire essas “frações” é chamado de acionista, e vai ter uma certa participação na empresa — correspondente a quantas dessas “frações” ele detiver. Ao investir em ação o investidor se torna sócio da empresa investida. Como sócio, o investidor tem direitos e deveres que cabe aos demais sócios. Basicamente, podemos pensar na padaria que tem aí pertinho de sua casa. Imagine se você pudesse ser sócio (a) desse empreendimento e receber os lucros gerados pela venda de pães todos os meses. Seria bom, né? Pois é exatamente isso que acontece com as ações. Você se torna sócio (a) do empreendimento, e com isso pode receber lucros em sua conta e até votar para decidir sobre quando e quanto pagar para cada acionista. É como se você também fosse dono da empresa. O ponto é que, por ser dono, se a empresa der prejuízo isso pode ser repassado para você. Ou seja, não pense que ao comprar uma ação você só tem benefícios, pois a verdade não é bem essa. Os acionistas são, lite- ralmente, os donos das empresas. Apesar de ser dono, o acionista não tem participação na direção da companhia. Para representar o interesse 160 dos acionistas junto ao corpo diretivo, temos o conselho de administra- ção. Esse sim, eleito por voto dos acionistas. Vou trazer para você uma introdução dos tipos de ações, mas mais adiante vamos retornar a esse assunto com mais detalhes, certo? Na bolsa de valores existem dois tipos de ações negociadas. As ações ON (ordinária) e PN (preferenciais). As ações ordinárias conferem direito a voto na assembleia de acionistas, as preferências não conferem direito a voto, mas dão preferência na distribuição dos lucros da empresa (dividendos). 4.1.2 - OFERTA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA Agora que entendemos o que é uma ação, vem a pergunta: como é que uma ação chega ao mercado financeiro? Ou melhor dizendo, se a pada- ria do seu bairro quiser vender ações, o que ela deve fazer? A resposta é: para vender ações no mercado financeiro, qualquer empresa precisa contratar uma instituição financeira que vai estruturar a Oferta Pública de Ações. Neste tópico nós vamos entender como funciona uma Oferta Pública de Ações e alguns conceitos bem importantes. Quando estamos falando de “Oferta Pública”, basicamente, estamos nos referindo a uma oferta que literalmente é “Pública”, isto é, qualquer pes- soa pode ter acesso e participar. Em outras palavras, é o evento que marca a primeira venda de ações de uma empresa e, posteriormente, o início de negociação dessas ações em bolsa de valores. Essa oferta é conhecida no mercado como IPO, que é a sigla em inglês para Initial Public Offering. A oferta de ações é feita no mercado primário através da estrutura de uma instituição financeira (corretoras, distribuidoras, bancos de investi- mentos ou banco múltiplo com carteira de investimentos), ou melhor dizendo, um Agente Underwriter. O Agente Underwriter é uma instituição financeira que coordena o pro- cesso de subscrição. É importante ressaltar que toda empresa que pre- tende abrir seu capital e vender ações precisa, necessariamente, contra- tar uma instituição financeira para fazer este processo. 161 Dentro dele, é importante dizer que a instituição financeira não faz tudo sozinha, ou seja, ela precisará de uma outra instituição para ser distribui- dora, outra que será custodiante e assim sucessivamente. Além disso, é importante entender que existem quatro detalhes neste processo que são muito importantes para a sua prova. São eles: Bookbuilding: Procedimento de coleta de intenções de investimento para precificação do valor mobiliário Coleta de intenção: Coleta de intenção de investimento pode ser feita a partir do registro da oferta na CVM e publicação do prospecto preliminar. Risco de rateio: Havendo uma demanda maior do a oferta, será feito rateio proporcional aos investidores Cronograma de oferta: é quando a instituição financeira registra a oferta por meio de um documento chamado prospecto. Neste pros- pecto estão todas as informações da empresa, isto é, quanto ela está faturando, quanto está tendo de lucro, etc. Em resumo, no cronograma de oferta tem desde todo o processo que envolve a compra das ações, até o que a empresa pretende fazer com esse dinheiro que ela vai captar. Período da reserva: este é o período em que todo mundo que gostaria de participar do IPO e comprar ações da empresa coloca a quantidade de ações que deseja comprar e o valor disposto a pagar. É importante destacar que este período de reserva não tem desem- bolso, ou seja, o investidor assume o compromisso de comprar sem pagar antecipadamente. No entanto, ele precisa dizer se ele quer uma ordem limitada ou a mercado. Tipo de ordens: • Limitada – aqui o investidor poderá limitar o quanto quer pagar den- tro do intervalo disponibilizado pela empresa.Por exemplo: Imagine que a T2 Educação irá ofertar suas ações entre os preços de R$ 13,50 e R$ 15,50. No período de reserva o investidor estipula 162 quantas ações deseja comprar e até qual preço dessa faixa deseja pagar. Um exemplo seriam 200 ações até o preço de R$ 14,90. Se este valor for superado, este investidor que deu a ordem limitada a R$ 14,90, não par- ticipará mais da oferta. • A mercado – na ordem a mercado o investidor está disposto a pagar qualquer preço, ou seja, ele quer 200 ações e pagará o que estiver sendo cotado a mercado. Um ponto importante é que, depois de decorrido todo este processo, se eventualmente acontecer de existir uma demanda (procura) maior do que a oferta, ou seja, se os investidores estiverem dispostos a comprar uma quantidade maior do que aquela que a instituição ofertante está trazendo ao mercado, haverá o rateio dessas ações para os investidores, de maneira proporcional. Por exemplo: imagine que no período de reserva houve uma demanda de 1.000.000 de ações. No entanto, no dia da oferta a instituição finan- ceira estava disposta a vender apenas 500.000 ações. Neste caso, existe uma demanda de 1.000.000 para uma oferta de 500.000. Sendo assim haverá um rateio e cada investidor receberá a metade daquilo que ele havia solicitado anteriormente. Se os investi- dores quiserem “sair” dessas ações futuramente, terão de vendê-las no mercado secundário. OFERTA SECUNDÁRIA Quando uma empresa faz sua primeira oferta pública de ações, essa operação recebe o nome de IPO (Initial Public Offering) como vimos há pouco. Mas se ela já tem o capital aberto e já realizou o IPO, as novas ofertas são denominadas: Oferta Secundária. BLOCK TRADE Esse é outro conceito importante do Mercado. Não se aplica muito a nós, meros mortais pessoa física, mas sim aos grandes Fundos de Investimentos que movimentam milhões de reais nas suas transações. 163 Imagine que um fundo grande vai se desfazer da sua posição em uma ação com baixa liquidez. Se ele der uma ordem de venda, o preço dessa ação vai despencar no Mercado, pois é muita venda para pouca compra. Por isso, para administrar isso e não acarretar grandes prejuízos, o fundo vai fazer a transação em blocos para não gerar euforia no mercado. OPA: Oferta de retirada de ações na bolsa de valores. 4.1.3 - TIPOS DE AÇÕES Como uma empresa que tem suas ações na bolsa de valores tem milhões de sócios, é importante saber que existem 2 tipos de ações e que cada uma lhe confere direitos diferentes. Vamos falar sobre eles agora. Ações ordinárias: essas ações são chamadas de ON e conferem ao seu detentor o direito a voto nas assembleias dos acionistas da empresa. Cada ação equivale a um voto. Em outras palavras, o investidor que com- pra ações ON pode, de fato, “mandar” na empresa. Uma empresa pode emitir até 100% de ações ordinárias e no mínimo 50%. Ações preferenciais: essas ações são chamadas de PN e não conferem ao seu detentor direito a voto na assembleia de acionistas, mas dão pre- ferência no recebimento dos lucros gerados. Um ponto importante é que se a empresa ficar 3 anos consecutivos sem distribuir lucros essa ação passa a ter direito a voto na assembleia. No máximo 50% das ações de uma empresa podem ser dessa categoria. Vantagens mínimas das Ações PN: prioridade na distribuição de divi- dendo, fixo ou mínimo; prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele. Vantagens eletivas das Ações PN: • direito de participar do dividendo a ser distribuído, correspondente a pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido do exercício; • direito ao recebimento de dividendo, por ação preferencial, pelo menos 10% (dez por cento) maior do que o atribuído a cada ação ordinária; 164 • direito de serem incluídas na oferta pública de alienação de controle (Tag Along). Mas o que significa Tag Along? É um direito dos acionistas de vender suas ações em função da troca de controle da companhia. É uma forma de proteger os interesses dos acionistas minoritários. Mas fique tranquilo que mais adiante vou explicar com mais detalhes, certo? A seguir vou explicar as units, não é conteúdo da prova da CPA 20, mas não faz sentido você estudar o mercado de ações e não saber o que são as units. Units: não representam necessariamente uma classe de ações, mas sim um “pacote”. Algumas empresas podem criar, por exemplo, um “combo de ações”, com 3 ações ON e 1 PN. Falei que o acionista ordinário é o cara que pode, de fato, mandar na empresa, certo? Então quer dizer que para eu ter o controle da empresa basta comprar ações ordinárias que já posso mandar nos paranauê tudo? Não, não é simples assim. O controlador da companhia precisa manter 50% + 1 das ações ordinárias da empresa. Estou falando isso para você não confundir com 50% +1 de todas as ações. Deixa eu explicar isso com um exemplo: O Banco do Brasil é uma empresa que tem ações na bolsa, mas é controlado pelo Governo Federal. Vamos imaginar, de forma hipotética, que o Banco do Brasil tem 1.000 ações. Destas, 500 são PN e 500 são ON. Para que o Governo Federal possa sempre ser o controlador ele precisa ter 251 ações ON. Assim ele garante que terá o maior poder de voto, já que a ação ON confere um voto por ação. 4.1.4 - RECIBOS DE DEPÓSITOS DE AÇÕES - BDR’S E ADR’S Os recibos de depósitos DR (depositary receipt) são títulos negociados em um país que têm como lastro ações de uma empresa que está́ ins- talada fora desse país. 165 Calma, que vou te explicar. Imagine que a empresa Apple Inc. queira vender ações aqui na B3. É possível? Sim, claro. Ou ela emite ações aqui na nossa Bolsa, ou ela emite DR. Atualmente, ela negocia os DR, e não as ações propriamente ditas. A Apple, que tem suas ações negociadas na Nasdaq, vai custodiar ações em um banco de investimento norte americano, que por sua vez, vai emitir um recibo lastreado nessa ação e negociar na bolsa de valores do Brasil. O mesmo acontece se a Petrobrás quiser vender ações na bolsa de valo- res de Nova York. Para isso, a nossa estatal vai custodiar algumas ações em um banco de investimento brasileiro que, por sua vez, levará recibos lastreados nessas ações à NYSE (New York Stock Exchange, a bolsa de valores de Nova York). Claro que, para diferenciar os papéis de acordo com as praças de nego- ciação, temos mais códigos nos DR: • ADRs - American Depositary Receipt: são valores mobiliários emiti- dos nos Estados Unidos, que possuem como lastro ativos, geralmente ações, emitidos no exterior. A Petrobrás, ao negociar recibos nos EUA, vai negociar ADR; • BDRs - Brazilian Depositary Receipt: são valores mobiliários emitidos no Brasil, que possuem como lastro ativos, geralmente ações, emiti- dos no exterior. A Apple, ao negociar títulos aqui no Brasil, vai nego- ciar BDR; • GDR - Global Depositary Receipt: São títulos emitidos em vários mer- cados diferentes do país onde a empresa tem sede. Como dica, lembra que a primeira letra do recibo indica o mercado onde aquele papel está sendo negociado. Importante destacar que os DR são instrumentos de negociação regu- lados pela autoridade local e, por isso, precisam atender uma série de requisitos. Então, aqui no Brasil a CVM definirá os requisitos, assim como nos Estados Unidos isso ficará sob alçada da SEC. 166 4.1.5 – CARACTERÍSTICAS DE NEGOCIAÇÃO Liquidação financeira e física: D+2. A compra de uma ação é um pro- cesso de troca, ou seja, o comprador precisa passar o dinheiro para o ven- dedor e o vendedor precisa passar a ação para o comprador. A liquidação física é quando a ação passa para o CPF do comprador, já a liquidação financeira se refere ao dinheiro, quando o dinheiro entra na conta de quem vendeu. Agora, vamos entender como funcionam as formas de negociação. Basicamente são duas: uma é o Lote Padrão, a outra é o Lote Fracionário. Lote padrão: múltiplo de 100 ações. Mercado fracionário: negociação de quantidade menor do que 100. O Lote Padrão, como o nomesugere, trata-se de um lote “padronizado” em múltiplos de 100 ações. Por exemplo: se um investidor pretende comprar ações da Petrobras (PETR3 ou PETR4), ele poderá comprar 100, 200, 300, 500, 800 e assim sucessivamente, isto é, sempre múltiplos de 100. No Lote Fracionário você compra uma “fração” do lote padrão. Neste caso, por exemplo, o investidor pode comprar 1 (uma) ação, 7 ações, 99, 103, etc. É importante ressaltar que, embora não seja uma regra, as ações no mercado fracionário são um pouquinho mais caras do que as negocia- das em lotes padrão. Isto porque elas possuem menor liquidez, ou seja, os investidores em sua grande maioria negociam lotes padrão. Se você quiser negociar um Lote Padrão, basta você digitar PETR3 ou PETR4, por exemplo, no seu Home Broker. Para negociar o Lote Fracionário a dinâmica é um pouco diferente, isto é, você precisa colocar um “F” no final. Ficaria assim: PETR3F ou PETR4F. Como você pode dedu- zir, essa letrinha “F” no final quer dizer que a negociação é “Fracionária”. Uma dúvida comum é: “Posso comprar no lote padrão e vender no mer- cado fracionário?” Sim, o inverso também é possível. Liquidez: volume de negócios realizado com a ação. 167 Vamos entender agora as diferenças entre as formas de operações no mercado de ações. Quando o investidor compra ações, seja no mercado primário ou no secundário, ele utiliza uma destas formas para alcançar seus objetivos: Day Trade: compra e venda do mesmo ativo pela mesma corretora no mesmo dia. Lembre-se de que é uma operação de curtíssimo prazo e possui carac- terísticas de especulação. Imagine este caso: quero lhe vender uma ação por R$ 10,00 e você quer comprá-la no Day Trade. Sendo acordado, você faz a ordem de compra por R$ 10,00 e, a partir desse momento, você já tem os direitos sobre a ação mesmo não a tendo em sua carteira ou pago por ela. Mais tarde, no mesmo dia, você vende essa mesma ação a outra pessoa por R$ 12,00. O que vai acontecer aqui? Você vai receber R$ 2,00 pela operação. Então, depois dos 2 dias úteis sobre a liquidação financeira da ação, você vai receber a diferença de R$ 2,00. E se a diferença tivesse ficado nega- tiva? Você comprou por R$ 10,00 e, pelas oscilações do mercado, e con- seguiu vender por R$ 8,00. Nesse caso, a diferença será debitada de sua conta. Usamos como exem- plo apenas uma ação, mas essa operação pode ser feita para qualquer quantidade. Swing Trade: modalidade de compra de ações para vender no curto prazo. Isso significa que o investidor compra hoje e líquida em uma data futura. É importante ressaltar que é muito comum você encontrar em outras lite- raturas essa operação sendo descrita como: Operação Normal, Position Trade ou Buy and Hold. Quando falamos que é “Position”, isso significa que o investidor pretende se “posicionar” em determinada operação por muito tempo. 168 Position Trade (Buy and Hold): compra de ações com a perspectiva de manter a ação por muito tempo. “TICKER” DA AÇÃO Para a sua prova, você não precisa se preocupar com o “ticker” da ação, mas é bom saber. Então, faremos uma pausa rápida para explicar. O ticker da ação nada mais é do que o código que o investidor precisa digitar no Home Broker para comprar determinada ação. No exemplo mencionado anteriormente, os códigos utilizados foram os da Petrobrás, que são: PETR3 ou PETR4. Como é possível notar, ao final da sigla tem um número. Esse número representa a classe da ação (este assunto será abordado nos próximos tópicos). O número “4” quer dizer que se trata de uma ação preferencial e o número “3”, uma ação ordinária. Entendeu o que é o “ticker”? DESPESAS INCORRIDAS NA NEGOCIAÇÃO Como tudo na vida tem bônus e ônus, aqui não é diferente. Falamos sobre os direitos e riscos, agora vamos falar sobre as despesas que o investidor tem ao aplicar nesse mercado. Corretagem: é uma taxa paga pelos investidores ao seu agente de custó- dia (corretora) por toda ordem de compra e venda executada. Atualmente muitas empresas têm zerado essa taxa para atrair investidores. Custódia: Essa é uma espécie de taxa de manutenção de conta, cobrada pela B3. No entanto, a B3 cobra da corretora. As corretoras podem ou não repassar esse custo para o investidor. Sempre que alguma ação é mantida em custódia na corretora, o investi- dor está sujeito a essa taxa. Atualmente, muitas corretoras, por iniciativa própria, oferecem isenção dessa taxa aos seus clientes; Emolumentos: os emolumentos são cobrados pelas bolsas, por pregão, em que tenham ocorrido negócios por ordem do investidor. Essa taxa cobrada pela B3 ocorre tanto na compra quanto na venda dos ativos. 169 Imposto de renda: o Imposto de renda no mercado de ações tem como regra alíquotas únicas de 15% e 20%. No entanto, devido à riqueza de detalhes que envolve a tributação nesse tipo de operação, vamos abor- dar esse assunto mais adiante. Algumas outras informações que são válidas para seu aprendizado, ire- mos trazer as definições de mais alguns termos que são comuns no dia a dia do Mercado Financeiro: Venda Descoberta: Venda descoberta é quando você realiza a venda de um ativo, mas não tem ele na sua carteira. Existe dois tipos de venda a descoberto: • 1° Day trade: aqui vendemos o ativo e depois compramos no mesmo dia. Então, suponhamos que vendemos Itaú à 30 reais e depois com- pramos à 25. Ou seja, tivemos 5 reais de lucro na operação. • 2° Para médio e longo prazo é necessário alugar a ação. Como vere- mos a seguir. Aluguel de ações: Você, caso seja titular de uma ação, pode alugar para outras pessoas fazerem o uso dela. Você continuará tendo os direitos sobre ela (receberá os dividendos, JCP, bonificações etc), mas outra pes- soa fará uso especulativo. Você, ao emprestar a ação, será remunerado com juros sobre esse empréstimo, claro. Ordem a mercado: O investidor não determina o preço de sua ordem, e aceita o valor de mercado pela ordem. Ordem limitada: O investidor define o valor que está disposto a negociar. Ordem casada: Se está casado é porque está junto, né? Brincadeiras à parte, uma ordem só será executada se a outra ordem for. Exemplo: será lançada uma ordem de compra de ITUB3 caso a ordem de venda de BBDC3 ocorrer, ponto. Enquanto a de BBDC3 não ser executada, a de ITUB3 não será. Ordem start: Compra programada para ser enviada para a bolsa somente quando a cotação da ação a ser comprada atingir valor igual ou superior ao preço de disparo. 170 Ordem Stop: Se você já tem um breve conhecimento sobre mercado, pode cair na tentação de associar isso ao “Stop Loss”. Mas vale frisar que são coisas distintas. A ordem stop é uma espécie de “função SE” do excel. SE o preço do ativo subir até 10 reais, será lançada uma Ordem Stop de compra à 10,50. O contrário é verdadeiro no caso da Ordem Stop de venda. 4.1.6 – DIREITOS E REMUNERAÇÃO DOS ACIONISTAS Agora iremos abordar quais os direitos que os acionistas têm: • Voto (a ação ordinária = a 1 voto); • Participação nos lucros (dividendos, divisão do lucro líquido entre os acionistas); • Participação no acervo em caso de liquidação (em caso de falência, o acionista tem o direito de parte da “massa falida”); • Fiscalizar (aqui o acionista tem o direito de fiscalizar os negócios sociais da companhia); • Preferência de subscrição (em casos de novas ofertas ao mercado, a empresa precisa ofertar as ações antes para o investidor); • Retirada (em caso de venda da companhia para outro bloco contro- lador, o acionista tem o direito de sair dessa companhia por meio do Tag Along). • Recebimento de bonificação em caso de aumento de capital; • Recebimento Remuneração do capital não distribuído (Juros sobre o Capital próprio). GANHOS E PROVENTOS Quando o investidor compra ações no mercado ele está, como já disse- mos, se tornando sócio do empreendimento no qual resolveu aportar seu capital. Por isso, ele terá alguns direitos. 171 Na linha desses direitos, vamos listar o que chamamos de eventos socie-tários. Alguns representam literalmente o lucro, mas não dependem do acionista, e sim da empresa, ok? São eles: Dividendos: distribuição de parte do lucro aos seus acionistas, pagos exclusivamente em dinheiro. Basicamente existem dois tipos de divi- dendos: o Dividendo Obrigatório e o Dividendo Fixo. • Dividendo Obrigatório: esse, como havia falado anteriormente, é basi- camente a distribuição do lucro líquido da companhia em dinheiro. Todas as empresas que têm ações na bolsa de valores pagam divi- dendos obrigatórios. O percentual do lucro líquido que será distribu- ído como dividendos obrigatórios é aquele que consta no estatuto da companhia. • Se o estatuto da companhia for omisso sobre o tema, o percentual mínimo será de 50% do lucro líquido. Se a assembleia de acionistas quiser incluir no estatuto, em caso de omissão, o percentual mínimo a ser incluído será de 25%. • Dividendo Fixo: esse tipo de dividendo, apesar de ser “fixo”, é opcio- nal. Confuso, não? Deixa eu te explicar melhor isso. Uma empresa pode, em seu estatuto, dispor para uma determinada classe de ações um valor fixo. Esse valor pode ser, por exemplo, de R$ 0,50 para os acionistas preferenciais. É importante destacar que todas essas informações estarão dispostas no estatuto da companhia. Além disso, nem toda empresa terá essa modalidade de dividendo, no entanto, ela é livre para colocar isso no documento. Juros sobre o Capital Próprio: quando a empresa retém parte do lucro para reinvestimento, deverá pagar juros aos acionistas por esse valor. Esses proventos são pagos em dinheiro, como os dividendos. Aqui, diferentemente dos dividendos, existe a incidência de imposto de renda com uma alíquota de 15% retido na fonte. 172 Bonificações: correspondem à distribuição de novas ações para os atu- ais acionistas, em função do aumento do capital. Excepcionalmente pode ocorrer a distribuição de bonificação em dinheiro. No caso da subscrição, por se tratar de um “direito”, o acionista não é obrigado a exercer, ou seja, ele pode negociá-lo no mercado. A partir do momento da venda, esse direito passa a ser considerado como um bônus de subscrição. Sendo assim, é importante não confundir esse “bônus” com o “direito”. O pagamento de proventos tem impacto no preço das ações e, na prática, o valor pago pela empresa é descontado do valor da ação no mercado. O mercado adotou como padrão a “data com”, que refere-se a data de referência para pagamento de proventos e “data ex” que refere-se a data que não há mais o direito de recebimento de proventos. Vamos entender isso com um exemplo bem simples. Imagine que hoje a uma empresa (a Petrobras, por exemplo) tenha decidido em assem- bleia de acionistas, que vai pagar dividendos no dia 01/11/2045. Nesse caso, a assembleia decide que a data COM será dia 20/10/2045 e a data EX será no dia 21/10/2045. Assim, todo investidor que tiver ação no dia 20/10/2045 (independente da data que comprou) terá direito a receber os dividendos no dia 01/11/2045. Quem comprar a partir do dia 21/10 (data ex) não terá direito a receber esse dividendo. Se um investidor tinha ação no dia 20/10, mas vende no dia 21/01, ele recebe os dividendos mesmo assim. 4.1.7 - EVENTOS SOCIETÁRIOS Além dos proventos, existem eventos societários que impactam direta- mente a posição acionária do investidor. São eles: Subscrição: quando a empresa faz uma oferta secundária no mercado, oferece ao acionista o direito de aquisição de ações por aumento de capital, com preço e prazos determinados. Garante a possibilidade de o acionista manter a mesma participação no capital total. 173 Por se tratar de um “direito”, o acionista não é obrigado a exercer, ou seja, ele pode negociá-lo no mercado. A partir do momento da venda, esse direito passa a ser considerado como um bônus de subscrição. Sendo assim, é importante não confun- dir esse “bônus” com o “direito”. Grupamento (Inplit): reduzir a quantidade de ações aumentando o valor de cada ação. Uma empresa que tem ações negociadas a valores pequenos (nor- malmente inferior a R$ 1,00) pode realizar, com aprovação da CVM, um agrupamento. Neste movimento, a empresa agrupa várias ações em uma única. O objetivo é diminuir o risco de mercado, pois, uma empresa que, suas ações, custa centavos, qualquer mudança no preço, representa muito percentualmente. Por exemplo se a ação da empresa X está sendo nego- ciada a R$ 0,50 e depois passa a ser negociada a R$ 0,45, teve uma queda de 10%. Uma maneira fácil de entender o grupamento é como se você tivesse cem moedas de R$ 0,01 e trocasse por uma moeda de R$ 1,00. Observa que a quantidade financeira é a mesma, mas agora possui apenas uma moeda. Desdobramento (Split): aumenta a quantidade de ações reduzindo o valor da ação. Uma empresa que tem ações negociadas a valores muito altos pode rea- lizar, com aprovação da CVM, um desdobramento. Neste movimento, a empresa desdobra uma ação em várias. O objetivo é diminuir o risco de liquidez. Tag Along: Direito do acionista ordinário de vender suas ações em fun- ção da troca de controle da companhia por, no mínimo, 80% do valor pago pelo novo controlador. Uma ferramenta de segurança garantida aos acionistas minoritários de uma companhia, permitindo que tais acionistas deixem a sociedade caso 174 o controle da empresa passe para um novo investidor, que até então não tinha participação no negócio. Algumas empresas, em seu estatuto, oferecem tag along em percentual maior que 80% a todos os acionistas. Nós temos um estudo de caso falando sobre um case real, explicando o Tag Along. Para acessar, clique aqui. Quando as empresas oferecem aos acionistas a possibilidade de recom- prar as ações, essa recompra é feita por meio de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição de Ação). 4.1.8 - CONCEITOS GERAIS DE PRÁTICAS DE BOA GOVERNANÇA CORPORATIVA As empresas com ações listadas na bolsa de valores são, por definição, grandes empresas e com boas políticas de gestão. No entanto, a B3 criou o segmento de governança corporativa que aumenta o padrão de exi- gência da gestão da companhia para trazer ainda mais segurança aos investidores. A B3 acredita que o constante aperfeiçoamento das boas práticas de governança corporativa resulta em uma gestão mais transparente, atende ao propósito de nivelar o conhecimento e mais proteção aos investidores. Esse processo colabora para maximizar a criação de valor na empresa e propicia, às partes relacionadas, elementos para a tomada de decisões estratégicas. Empresas que estão listadas nos segmentos de governança da bolsa alcançam um patamar a mais na qualidade de sua relação com os inves- tidores. A governança corporativa pode ser resumida como o conjunto de mecanismos de incentivo e controle que visa assegurar as tomadas de decisão alinhadas com os objetivos de longo prazo das organizações. Entre os mecanismos de governança, destacam-se a existência de: • Conselho de administração ativo e que atue com independência; • Maioria obrigatória de conselheiros independentes, todos com exce- lente reputação no mercado, experiência e firme compromisso de dedicação ao conselho; https://www.youtube.com/watch?v=2lKr_xc_Y78&list=PLpDoIofcp9Y4AQ9cr9z8Y0LmqHomnKnIY 175 • Comitê de auditoria composto exclusivamente por membros independentes. Dentro do segmento de governança corporativa, existem os segmentos de listagem, (Bovespa Mais, Bovespa Mais Nível 2, Novo Mercado, Nível 2 e Nível 1) e na explicação abaixo não irei citar os segmentos Bovespa Mais e Bovespa Mais nível 2, pois não são temas cobrados em sua prova, ok? NÍVEL 1: PRINCIPAIS EXIGÊNCIAS • Percentual mínimo de ações em free float (livre circulação): regra geral 20% e regra alternativa 15%; • Conselho de administração com no mínimo de 3 membros (con- forme legislação); • Tag Along de 80% para ações ON (conforme legislação); • Calendário público de eventos corporativos. NÍVEL 2: PRINCIPAIS EXIGÊNCIAS • Todas as exigênciasdo nível 1; • Conselho de administração com no mínimo de 5 membros, dos quais pelo menos 20% devem ser independentes com mandato unificado de até 2 anos; • Demonstrações financeiras traduzidas para o inglês; • Tag along de 100%. NOVO MERCADO: PRINCIPAIS EXIGÊNCIAS • Todas as exigências do nível 2; • 100% das ações devem ser ordinárias; • Conselho de administração com mínimo de 3 membros (conforme legislação), dos quais, pelo menos, 2 ou 20% (o que for maior) devem ser independentes, com mandato unificado de até 2 anos. 176 Observação quanto ao Free Float no Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado: a regra geral é 20%, como abordado acima, agora vamos observar os casos que se encaixa na regra alternativa de 15%: I. Caso o ADTV, volume de negociação diária seja igual ou superior a R$ 20 milhões, considerando os negócios realizados nos últimos 12 meses; ou II. Na hipótese de ingresso no nível de governança corporativa, conco- mitantemente ao IPO quando a oferta • for superior a R$ 2 bilhões; ou • enquadrar-se entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões, desde que respeita- das as contrapartidas previstas no Regulamento. Em relação ao item II, a companhia poderá manter o free float em 15% do capital social por 18 meses, sendo que, ao final deste período, o ADTV deve atingir o patamar de R$ 20 milhões, o qual deve ser consistente por 6 meses consecutivos. Para acessar o site da B3 com a relação completa de critérios, clique aqui. 4.1.9. DISTINÇÕES ENTRE ANÁLISE TÉCNICA (OU GRAFISTA) E ANÁLISE FUNDAMENTALISTA Se você, assim como eu, é uma pessoa ávida por conhecimentos de mer- cado, deve estar se perguntando “como escolher uma ação já que temos muitas variáveis que envolvem uma empresa?”. Bem, para responder essa pergunta, temos de lançar mão das “escolas de análises”. Basicamente, vamos falar de metodologias de precificação de ações para encontrar um papel com preço ideal, seja para fazer day trade, swing trade ou Buy and Hold. ANÁLISE FUNDAMENTALISTA A análise fundamentalista tem como objetivo, diagnosticar qual o valor justo de uma empresa, para entender se o preço da ação está no valor justo utiliza dados para fundamentar a análise: http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/solucoes-para-emissores/segmentos-de-listagem/bovespa-mais-nivel-2/ 177 • Demonstração financeira; • Posicionamento estratégico; • Cenário macroeconômico. Quando o valor justo da empresa for maior que o negociado no mer- cado, existe uma oportunidade de investimentos. Porque os preços ten- dem a se igualar com o tempo, devido a demanda. Para entender o que é análise fundamentalista, podemos simplificar que ela serve para responder a perguntas, tais como: • A receita da empresa está crescendo? • A empresa está sendo lucrativa? • A empresa está em uma posição de mercado forte o suficiente para vencer os seus concorrentes no futuro? • Ela é capaz de pagar suas dívidas? Naturalmente, estas são algumas das muitas questões envolvidas, e existem literalmente centenas de outras que você poderá ter sobre uma empresa. Tudo realmente se resume a uma pergunta: as ações da empresa são um bom investimento? Pense na análise fundamenta- lista como uma caixa de ferramentas para ajudá-lo a responder a esta pergunta. A análise fundamentalista nos ajuda a encontrar o preço “ideal” de uma ação, e existem alguns indicadores utilizados para isso. ANÁLISE TÉCNICA (GRÁFICA) Outro modo de escolher uma ação é conhecido como Análise Gráfica. Ela estabelece projeções para os preços das ações, baseando-se na observa- ção do comportamento passado. Aliado a isso, a análise técnica de ações sabe que o mercado de ações é formado por seres humanos, e que os seres humanos têm por natureza seguir alguns padrões de comportamento e se comportar de acordo 178 com tendências. A demanda e oferta, a evolução passada dos volumes negociados e os preços das ações. Depois de entender o conceito de Análise Técnica, os próximos conceitos importantes são Suporte e Resistência. Mas antes, muitas vezes ouvimos os analistas técnicos falarem sobre a batalha entre touros e ursos, ou a luta entre compradores e vendedores. Ela acontece devido à dificuldade dos preços se moverem para cima ou para baixo. O touro, que é um símbolo do mercado, faz o movimento para cima quando ataca com os chifres para superar a (resistência) que é o nível de preço em que uma ação raramente consegue ficar acima de um deter- minado patamar de preço. O urso, outro símbolo do mercado, faz o movimento com os braços, gol- peando para baixo, buscando romper o (suporte) que é o nível de preço em que raramente a ação fica abaixo. O Touro e o Urso, lutam para superar os patamares de preços de uma ação. Em resumo, a análise técnica estuda as movimentações nos preços pas- sados e, a partir daí, explica a sua evolução futura. É uma análise para investidores que querem operar no curto prazo. 4.1.10 - PRECIFICAÇÃO - ASPECTOS RELEVANTES Alguns fatores influenciam no preço de uma ação, entre eles, a oferta e a demanda. Ou seja, se muitos investidores querem comprar ações da T2 Educação, o preço da ação dessa companhia tende a subir no mercado, ao passo que se muitos investidores querem vender, o preço tende a cair. Como falamos no tópico anterior, a análise fundamentalista nos ajuda a saber se o preço da ação é, no momento da análise, um preço justo ou não e, para isso, usamos os indicadores: • Fluxo de Caixa Operacional (FCO): mostra a entrada e saída de recur- sos que estão relacionados aos produtos e serviços de uma empresa. No nosso exemplo da T2, seria a entrada e saída de dinheiro referente às vendas dos cursos. 179 • Fluxo de Caixa de Investimento (FCI): este fluxo trata-se do dinheiro que a companhia emprega com investimentos, para mantê-la em funcionamento (aquisição de imóveis, automóveis ou qualquer outro ativo que tenha o objetivo de manter o negócio em operação). • Fluxo de Caixa de Financiamento (FCF): aqui são apresentadas as entradas e saídas relacionadas aos empréstimos e financiamentos de curto prazo, bem como o pagamento de proventos aos acionistas. • Fluxo de Caixa Total (FCT): este daqui, como o próprio nome sugere, é o agrupamento dos três fluxos de caixas explicados anteriormente, ou seja, trata-se de todas as entradas e saídas da companhia, envol- vendo as operações, os investimentos e os financiamentos. • EBITDA (Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amorti- zation): ou como é conhecido popularmente aqui no Brasil, é o “Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (LAJIDA)”. Basi- camente, esse indicador nos aponta a capacidade de geração de caixa que a empresa tem. Dessa forma, é possível avaliar o lucro referente apenas ao negócio, descontando qualquer ganho financeiro. • LPA (Lucro por ação): representa, como o nome sugere, o quanto que uma ação traz de lucro ao investidor ao ano via dividendos. Aqui pegamos o lucro líquido da companhia e dividimos pela quantidade de ações da empresa. • P/L (índice de preço líquido): Esse indicador aponta quanto tempo demora para o investidor recuperar seu investimento. Se o investidor compra uma ação por R$ 20,00 e recebe, no ano, R$ 2,00 de dividen- dos, temos que o LPA dessa ação é de 10 (20/2). Quanto menor for o P/L, mais rápido o investidor encontra o payback¹ do seu investimento. • EV (Enterprise Value)/EBITDA: trata-se do valor de mercado divi- dido pelo EBITDA. Objetivo desse indicador é mostrar a relação entre o valor de uma empresa e a geração de caixa a partir da sua atividade principal. 180 • Custo Médio Ponderado de Capital: custo de capital ponderado pelo capital próprio e de terceiros. Falamos disso no fim do módulo passado, lembra? • Valor Patrimonial: valor da empresa com base em seu patrimônio; • Valor de Mercado: valor da empresa com base no valor das ações. Em resumo é a fórmula Preço da Ação x Quantidade de Ações da empresa. 4.1.11 - TRIBUTAÇÃO Antes de falarmosem tributação, vamos entender como o investidor ganha dinheiro no mercado de ações. há basicamente três formas: Dividendos: como já mencionado anteriormente, o dividendo é parte do lucro líquido distribuído entre os acionistas. Aqui NÃO há incidência de Imposto de Renda. Juros sobre o Capital Próprio: nessa modalidade de lucro há a incidên- cia de 15% de IR retido na fonte, ou seja, quando a empresa paga o acio- nista o valor do IR já é descontado. Ganho de Capital: o ganho de capital é basicamente ganhar dinheiro comprando algo barato e vendendo mais caro. Aqui as alíquotas podem variar entre 15% (operação Buy and Hold/Swing Trade) e 20% (operação Day Trade). Toda operação no mercado de ações está livre de IOF. Em uma operação Buy and Hold/Swing Trade: • A alíquota de IR para essa modalidade de investimento é de 15% sobre o lucro; • O recolhimento de IR é sempre feito pelo próprio investidor via DARF (Documento de Arrecadação da Receita Federal); • O valor mínimo para emitir a DARF é de R$ 10,00, mas isso não signi- fica que se o valor a ser pago for menor, está isento. O investidor deve anotar até atingir um valor igual ou maior a R$ 10,00; 181 • O imposto é apurado dentro do mês em que houve a negociação e deve ser recolhido até o último dia útil do mês subsequente às operações; • O lucro do investidor é aferido com base no valor das vendas, dedu- zindo as despesas por negociação; • A corretora que intermediou a operação recolhe um percentual na fonte de 0,005% sobre o valor total da alienação (venda), a título de antecipação de IR. Esse percentual é conhecido no mercado como “dedo duro”, pois, tem a função de informar à Receita Federal sobre a movimentação do contribuinte; • Investidor PF que aliena (vende), dentro de um mesmo mês, até o valor de R$ 20.000,00, estará sempre isento de IR; • Fica dispensado o recolhimento do “dedo duro” se o valor for igual ou inferior a R$ 1,00 (0,005% de R$ 20.000,00 é R$1,00). Vamos entender um exemplo dessa dinâmica: Em janeiro deste ano, o investidor compra R$ 100.000,00 em ações. Passados três meses, em abril, esse investidor aliena (vende) as ações por um total de R$ 120.000,00. Assim sendo, temos um lucro de R$ 20.000,00 a ser tributado, certo? Nesse caso será retido na fonte pela corretora 0,005% sobre o valor total da venda, ou seja, (120.000 x 0,005) = R$ 6,00. O investidor, por sua vez, precisa recolher 15% sobre o lucro via DARF, sendo 15% sobre 20.000, um total de R$ 3.000,00. Por terem sido retidos na fonte R$ 6,00 o investidor desconta na DARF recolhendo apenas R$ 2.994,00. Em uma operação Day Trade: • A alíquota de IR para essa modalidade de operação é 20%; • O recolhimento de IR é sempre feito pelo próprio investidor via DARF; • O imposto é apurado dentro do mês em que houve a negociação e deve ser recolhido até o último dia útil do mês subsequente; 182 • A corretora que intermediou a operação recolhe um percentual na fonte de 1% sobre o valor do lucro, a título de antecipação de IR. O famoso dedo duro. • Não tem o benefício fiscal de isenção até R$ 20.000,00 para PF. COMPENSAÇÃO DE PERDAS Já que o Imposto de Renda é cobrado sobre o ganho nominal, imagine uma situação em que o investidor, ao invés de ganhar dinheiro com seu investimento, registre uma perda. Nesse caso, o investidor pode com- pensar perdas em investimento futuro. Ou seja, se ele perdeu dinheiro em janeiro e ganhou em maio, poderá compensar. Vamos a um exemplo: No mês de janeiro, o investidor vendeu ações com um prejuízo total de R$ 5.000,00. No mês de março o mesmo investidor vendeu ações com lucro de R$ 8.000,00. Assim, o prejuízo anterior será compensado e será recolhido IR somente sobre R$ 3.000,00 (8.000 – 5.000). Essa compensação pode ser feita a qualquer tempo no futuro. No entanto, se o investidor não fizer a compensação no mesmo ano do pre- juízo, terá de levar esse valor à sua declaração anual de ajuste de IR para que possa compensar em anos futuros. A única observação é que a compensação pode ser feita somente para investimentos da mesma modalidade. Se o investidor teve prejuízo com Day Trade, poderá compensar somente com Day Trade; se perdeu com Swing Trade ou Buy and Hold, poderá compensar somente com Swing Trade ou Buy and Hold. 4.1.12 - INDICADORES DE RENDA VARIÁVEL No módulo de economia vimos alguns dos principais indicadores (DI, Ptax, Selic e IPCA). Neste tópico iremos tratar dos indicadores da Renda Variável. IBOVESPA: Índice Bovespa é o mais importante indicador do desem- penho médio das cotações das ações negociadas na B3 - Brasil, Bolsa, 183 Balcão. É formado pelas ações com maior volume negociado nos últi- mos meses. Critério de seleção do índice: 1. Estar entre os ativos que representem 85% em ordem decrescente de Índice de Negociabilidade 2. 95% de presença em pregão; 0,1% do volume financeiro no mercado a vista (lote-padrão); 3. não ser penny stock. O rebalanceamento é quadrimestral. IBRX 100: O objetivo do IBRX 100 é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos 100 ativos de maior negociabilidade e represen- tatividade do mercado de ações brasileiro. Critério de seleção: 1. Estar entre os 100 primeiros ativos em ordem decrescente de Índice de Negociabilidade 2. 95% de presença em pregão 3. não ser penny stock. O rebalanceamento é quadrimestral. IBRX 50: O objetivo do IBrX 50 é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos 50 ativos de maior negociabilidade e representativi- dade do mercado de ações brasileiro. Critério de seleção: 1. Estar entre os 50 primeiros ativos em ordem decrescente de Índice de Negociabilidade 2. 95% de presença em pregão 3. não ser penny stock. 184 O rebalanceamento é quadrimestral. ISE: Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) busca criar um ambiente de investimento compatível com as demandas de desenvolvi- mento sustentável da sociedade contemporânea e estimular a respon- sabilidade ética das corporações. Para acessar a lista das ações que fazem parte do índice Bovespa, clique aqui. 4.1.13 - RISCOS NO MERCADO DE AÇÕES Neste tópico vamos falar sobre os riscos inerentes à negociação no mer- cado de ações. RISCO DE MERCADO O primeiro risco que vamos abordar é o risco de mercado. O Risco de Mercado está associado à oscilação / flutuação de preço do ativo no mercado. O exemplo mais clássico que podemos usar aqui é o preço das ações. Quando um investidor compra uma ação por R$ 20,00 ele espera que o mercado, ao longo do tempo, precifique essa ação por qualquer coisa acima de R$ 20,00 para que tenha lucro. Quanto maior for a oscilação de preço dessa ação, maior será seu risco de mercado. RISCO DE LIQUIDEZ O segundo risco neste mercado é o risco de Liquidez. O risco de liquidez é o risco associado ao baixo volume de negociação do ativo. Ainda com base no exemplo do parágrafo anterior, imagine que você comprou uma ação por R$ 20,00. Amanhã, você precisa desesperada- mente vendê-la, mas você só consegue se for por R$ 15, em função da baixa procura. Sim, isso pode acontecer. Isso é risco de liquidez. Trata-se da dificuldade de vender um determi- nado ativo pelo preço justo e no momento desejado. https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-amplos/indice-ibovespa-ibovespa-composicao-da-carteira.htm https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-amplos/indice-ibovespa-ibovespa-composicao-da-carteira.htm 185 A realização da operação, se ela for possível, implica em uma alteração substancial nos preços do mercado. Geralmente acontece quando um ativo possui muitos vendedores e poucos compradores. O investimento em imóveis é um dos exemplos mais comuns de uma aplicação com alto risco de liquidez. Quando estamos falando de Risco de Liquidez, tem dois termos muito importantes que merecem sua atenção para a sua prova: ações Blue Chips e Small Caps. As ações Blue Chips têm um maior volume de negociação na bolsa, e como consequênciadisso, a liquidez desses ativos é muito alta, ou seja, são negociadas facilmente. Portanto, tem um baixo risco de liquidez. Por outro lado, as ações Small Caps são de baixa liquidez em função do seu número menor de negociação, logo, o risco de liquidez nesses ativos é maior. RISCO OPERACIONAL Um outro risco existente neste mercado é o risco operacional. Ele está relacionado às possíveis falhas internas em função de pessoas, processos ou eventos externos, capazes de gerar prejuízos à companhia. “E o risco de crédito?” Não! Ações NÃO possuem risco de crédito. O Risco de Crédito está associado aos títulos de dívida, ou seja, quando emprestamos o nosso dinheiro e devemos recebê-lo novamente com juros e correção, por exemplo. Se você aplicar em um CDB, estará emprestando o seu dinheiro para o banco. Sendo assim, você deve recebê-lo num prazo futuro com juros, por isso há o risco de crédito. Ou seja, existe o risco de o banco não pagar. As ações, por outro lado, não são títulos de dívida. Quando compra- mos uma ação não estamos emprestando dinheiro para o emissor, mas sim comprando um pedaço da empresa, ou seja, ela não precisa me pagar nada. 186 Como a empresa não tem uma dívida comigo, não há o risco de crédito, entendeu? 4.1.14 - CLUBE DE INVESTIMENTOS EM AÇÕES Tudo que vimos até agora sobre as ações está relacionado basicamente à compra e venda desses ativos pelo próprio investidor, certo? Acontece que existe a possibilidade de o investidor ter acesso a esses ati- vos por meio de um Clube de Investimentos em Ações, além dos Fundos, é claro, que serão tratados posteriormente. O Clube de Investimento é uma reunião de pessoas com o objetivo de aplicar seu dinheiro em ações. Trata-se, portanto, de um investimento coletivo com no mínimo 3 e no máximo 50 participantes, para aplicação mínima de 67% em títulos e valores mobiliários com características de participação. Isso inclui: • ações; • bônus de subscrição; • debêntures conversíveis em ações de emissão de companhias abertas; • recibos de subscrição; • cotas de fundos de índices de ações negociados em mercado organi- zado (ETF’s de ações); • certificados de depósitos de ações. O papel idealizado para os Clubes de Investimento é o de porta de entrada do investidor que ainda não está familiarizado com o mercado de capi- tais, daí a ideia de sua política de investimento ser bastante simples. Espera-se que, mediante sua participação no clube, o investidor adquira conhecimentos e habilidades sobre a estrutura e o funcionamento do mercado, que o permitirão posteriormente acessar com segurança pro- dutos mais sofisticados. 187 Os clubes de investimento são regulados na Instrução CVM 11 e no Regulamento de Clubes da B3, onde se encontram registrados. Além das normas de mercado, cada clube conta também com um estatuto social. Vamos entender algumas regras sobre esta modalidade de aplicação: • Política de investimento: ele tem de ter necessariamente uma polí- tica de investimento que será descrita no estatuto, contendo as regras; • Número de cotistas: reforçando o que foi descrito anteriormente (e é questão de prova inclusive), um clube deve ter no MÍNIMO 3 e no MÁXIMO 50 cotistas; • Limites de cotas: nenhum cotista do clube pode ter mais do que 40% das cotas; • Administração: um clube de investimento precisa contar com um serviço de administração que pode ser feito por: sociedade corretora, sociedade distribuidora, banco de investimento ou banco múltiplo com carteira de investimento. Esse serviço é responsável pelo con- junto de atividades e de serviços relacionados direta e indiretamente ao seu funcionamento e manutenção. • Gestão: a gestão basicamente é a determinação de quem vai com- prar e vender os ativos que compõem o clube. Ela pode ser feita pela própria administradora, por um gestor profissional ou até mesmo por um dos cotistas. Essas informações estarão descritas no estatuto do clube de investimento. • Resgate: o resgate em clube de investimentos é feito em no máximo D+5 depois do processo de descotização. • IR no resgate: 15% 4.2.1 - O QUE É RENDA FIXA Renda Fixa representa a dívida do emissor, é um título que possui ven- cimento, possui uma taxa previamente acordada e a tributação segue a tabela regressiva. 188 Quando o agente superavitário investe seu dinheiro em um título de Renda Fixa está, na prática, emprestando o dinheiro ao agente deficitá- rio (o emissor do título). Esse título, por sua vez, será constado nos passi- vos do emissor. Conceitos importantes da Renda Fixa: • Data de emissão: data que o título foi emitido; • Data de vencimento: data que o título é resgatado e tirado de circulação; • Valor de emissão: valor que o título foi emitido; • Valor Nominal Atualizado (VNA): valor de emissão do título atuali- zado pelo seu indexador; • PU (preço Unitário): preço do título no dia da cotação ou negociação; • Resgate: resgate do título junto ao emissor; • Duration: prazo médio de duração do título. Será influenciado pela data de vencimento e eventuais antecipações de fluxo de caixa; • Juros: rendimento apurado durante um período de pagamento; • Cupom: rendimento pago pelo título de Renda Fixa. Agora vamos abordar os riscos que estão presentes na renda fixa: • Risco de Mercado: risco de oscilação de preços dos ativos durante a maturação; • Risco de Liquidez: risco de não conseguir converter o ativo em dinheiro antes do vencimento; • Risco de Crédito: risco do emissor não conseguir honrar o paga- mento do título no resgate, inadimplência do título; Ao longo dos assuntos de renda fixa, vamos especificando cada um des- ses conceitos e você verá que vai ficar mais tranquilo! 189 4.2.2 – REGRA DE TRIBUTAÇÃO EM RENDA FIXA Neste tópico iremos abordar sobre como acontece a tributação nos ati- vos de Renda Fixa. Como o Governo vai cobrar os investidores quando eles tiverem as suas rentabilidades? Apesar de ser um tema muito importante, e que costuma assustar logo de cara, ele é extremamente simples de entender. De acordo com a explicação do conceito de Renda Fixa, aprendemos que todo ativo de Renda Fixa tem um prazo, certo? Acontece que, pensando em uma forma de incentivo, o governo resol- veu privilegiar quem fica mais tempo. Quanto mais tempo o investidor fica com um produto, menor será a alíquota devida do imposto. Os ativos de Renda Fixa estarão sujeitos à incidência de dois impostos: o Imposto de Renda e o Imposto Sobre Operações Financeiras, o famoso IOF. É sobre este segundo que iremos falar agora. IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS - IOF O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) aparece várias vezes na sua vida: quando compra algo parcelado, usa moeda estrangeira no car- tão de crédito e também no cheque especial. Mas você sabe como ele pode ser “cobrado” em sua prova da CPA-20, ou melhor dizendo, no mercado financeiro em geral? Os rendimentos obtidos em títulos de Renda Fixa, justamente por terem um prazo definido no momento do investimento, serão tributados com IR (imposto de renda) e IOF regressivo. No caso do IOF terá uma tabela que isenta o investidor a partir do 30º dia. Isto é, investimentos realizados com prazo de resgate inferior ou igual 30 dias serão tributados de acordo com Tabela Regressiva de IOF abaixo: 190 Dias Alíquota Dias Alíquota Dias Alíquota 1 96% 11 63% 21 30% 2 93% 12 60% 22 26% 3 90% 13 56% 23 23% 4 86% 14 53% 24 20% 5 83% 15 50% 25 16% 6 80% 16 46% 26 13% 7 76% 17 43% 27 10% 8 73% 18 40% 28 6% 9 70% 19 36% 29 3% 10 66% 20 33% 30 0% Dica de ouro: investimentos em renda variável não sofrem a tributa- ção do IOF sob nenhuma hipótese! A cobrança do IOF é feita sobre todo o valor do resgate e é limitado a 100% do rendimento. IMPOSTO DE RENDA - IR Além do IOF, os investimentos serão tributados com Imposto de Renda (IR). A cobrança desse tributo será feita no mercado de Renda Fixa tam- bém conforme uma tabela regressiva, que você vê aqui embaixo: Período de aplicaçãoAlíquota de IR Até 180 dias 22,50% De 180 a 360 dias 20% De 361 a 720 dias 17,50% Acima de 720 dias 15% A partir de agora, essa tabela deve ser sua nova companheira. A cada olhada no celular para conferir suas redes sociais, você deve olhar duas vezes para essa tabela até ter esse conceito bem enraizado, combinado? O imposto de renda é cobrado sobre o rendimento. Não sei se você notou, mas tanto no IOF quanto no IR os investimentos com prazos maiores pagam menos imposto. A razão disso é muito sim- ples: o governo quer incentivar os investimentos de longo prazo. 191 Imagine que um investidor tenha investido R$ 1.000,00 em um instru- mento de Renda Fixa e, ao solicitar o resgate, tenha aferido, 7 meses depois, ganho de R$ 200,00. No período de 7 meses o investidor está sujeito a alíquota de 20%. Nesse caso, pagará R$ 40,00 de IR tendo apenas R$ 160,00 de lucro líquido. Outro ponto importante é que, caso haja cobrança de IOF, essa cobrança será realizada primeiro, para que o saldo líquido dos rendimentos possa ser tributado de IR. Tudo que vimos até aqui sobre tributação aplica-se apenas para o mer- cado de Renda Fixa. No caso de renda variável, a coisa é um pouco mais simples. O mercado de renda variável será sempre isento de IOF e terá uma tributação fixa que, na maioria dos casos, será de 15%. Cada produto de Renda Fixa ou renda variável terá regras específicas sobre a tributação. Mas, em linhas gerais, obedecerá ao que descreve- mos aqui. Quando estivermos abordando cada investimento, eu detalharei a forma de cobrança e as especificações do produto. 4.2.3 - TÍTULOS PÚBLICOS FEDERAIS Agora veremos os títulos de Renda Fixa emitidos pelo Governo Federal. Sim, o nosso governo gasta mais do que arrecada com impostos e, por isso, tem de recorrer ao mercado financeiro para financiar as atividades do governo. Títulos públicos são títulos de renda fixa emitidos pela Secretaria do Tesouro Nacional. Os recursos captados via títulos públicos representam a dívida do governo e são utilizados para financiar investimentos do governo. Por se tratar do Governo Federal, os títulos públicos são considerados de baixíssimo risco de crédito. Afinal, é praticamente impossível o Governo Federal declarar falência e sumir da face da Terra, né? Brincadeiras à parte, esse título é considerado seguro pois, na pior das hipóteses, o governo pode emitir papel moeda para pagar seus títulos. 192 Existem basicamente 3 tipos de títulos: 1. Pós-fixados: indexados à variação da taxa Selic over; 2. Pré-fixados: taxa previamente acordada no momento da contratação; 3. Híbridos: títulos que têm um componente da taxa pós-fixado e outro componente pré-fixado. Esses títulos podem ter pagamento de cupom semestral, nesse caso, o rendimento do título é antecipado ao investidor semestralmente. Já nos títulos que não possuem o pagamento de cupom, o rendimento é sem- pre pago no resgate do título. Os títulos são representados por letras e notas, sendo que as letras, por padrão, não pagam cupom de juros, enquanto as notas têm, também por padrão, que pagar cupom ao investidor (com exceção da NTN - B Principal). São eles: • Letra Financeira do Tesouro (LFT): pós fixado e sem cupom; • Letra do Tesouro Nacional (LTN): pré fixado e sem cupom; • Nota do Tesouro Nacional série B Principal (NTN - B Principal): híbrido e sem cupom (IPCA + taxa); • Nota do Tesouro Nacional série B (NTN - B): híbrido com cupom (IPCA + taxa); • Nota do Tesouro Nacional série F (NTN - F): pré-fixado com cupom. Depois dessa sopa de letrinhas, você deve estar desesperado. Mas calma, que vou te ensinar uns macetes. Nas letras financeiras, observa a letra T, no caso da LFT, como a letra T se encontra no final, significa que só conheço a taxa no final, portanto é pós fixado. Na LTN, o T vem antes, ou seja, conheço a taxa antes, portanto é pré fixado. 193 Para as NTN – B, lembra do B de Brasil, e o índice oficial de inflação do Brasil é o IPCA, logo, as NTN – B possuem como indexador o IPCA. Agora, vamos detalhar cada um deles para que você entenda melhor. LTN - LETRA DO TESOURO NACIONAL A LTN é um título pré-fixado e, por isso, o investidor conhece a taxa que remunera o título no momento da compra. Ele é sempre negociado com deságio sobre seu valor de face. Pausa para explicar o que é deságio: a palavra deságio pode ser facil- mente comparada com a palavra desconto. Então, seria correto dizer que o investidor compra esse título com “desconto” sobre o valor de face? Sim! A LTN, quando emitida, tem em seu valor de face sempre R$ 1.000,00. Ou seja, no vencimento o investidor vai receber R$ 1.000,00 por esse título e, por isso, vai pagar menos do que esse valor. Exemplo: O título vence daqui a 3 anos, e ao comprar hoje, o investidor paga por ele R$ 650,00. Assim, se quisermos saber qual a taxa pactuada no período, basta dividir o valor futuro (1.000) pelo valor presente (650), assim: Nesse caso, ao investir R$ 650,00 o investidor tem de retorno 53,85% ao período de 3 anos. Quanto maior for a taxa de juros pactuada no momento da compra, menor será o preço de compra. Portanto, é correto afirmar que o preço do título (PU) é inversamente proporcional à taxa de juros. A taxa de juros contratada no momento do investimento só é garantida se resgatar o título no vencimento. 194 LFT - LETRA FINANCEIRA DO TESOURO A LFT é um título pós-fixado e tem como indexador a taxa Selic over. Ou seja, quando o investidor compra esse título, ele vai ganhar como remu- neração a variação da taxa Selic ao longo do tempo. A negociação desse título é com base no valor de mercado, e seu preço é atualizado de acordo com a valorização do título ao longo do tempo. Em resumo, a LFT é um título pós-fixado, indexado à Selic e que pode apresentar uma rentabilidade diferente da taxa Selic do período em fun- ção do ágio ou deságio. NTN-B - NOTA DO TESOURO NACIONAL SÉRIE B Agora vamos ao título híbrido. A NTN-B é um título que tem um com- ponente pós-fixado + uma taxa pré-fixada. O componente pré-fixado é o IPCA, assim, a NTN-B paga a variação do IPCA + uma taxa pré. Assim como a LTF, a NTN-B foi emitida em julho de 2000 com o valor de R$ 1.000,00 e é corrigida diariamente pela variação do IPCA. A NTN-B pode ser um título zero cupom ou um título com cupom. Lembra dos cupons? Alguns títulos de Renda Fixa podem pagar juros periódicos, e esses juros são chamados de cupom. Para facilitar sua com- preensão, análise o fluxo de caixa de um título com cupom: 195 Como você pôde notar na imagem acima, o cupom é o pagamento peri- ódico do rendimento do título. Um título zero cupom terá seu fluxo de caixa desenhado conforme imagem abaixo: Agora que entendemos o que é cupom, vamos entender as característi- cas da NTN-B. • NTN-B principal: este é um título zero cupom, ou seja, o rendimento é pago junto do principal no resgate; • NTN-B: este título paga cupom semestral para o investidor. 196 NTN-F - NOTA DO TESOURO NACIONAL SÉRIE F A NTN-F é um título pré-fixado com cupom semestral. Este título, assim como a LTN, tem em seu valor de face R$ 1.000,00 e é negociado em fun- ção do pagamento semestral de juros. O fluxo de caixa deste título será como o da NTN-B, pois o cupom é pago semestralmente. Assim, podemos concluir que a diferença entre esses títulos é somente o indexador. Os títulos públicos federais têm as seguintes características em comum: • Não possuem cobertura do FGC; • Serão negociados no Open Market e no mercado de balcão; • Serão tributados de acordo com a tabela regressiva de IR. 4.2.4 - TESOURO DIRETO O Tesouro Direto é um Programa do Tesouro Nacional desenvolvido em parceria com a B3 para venda de títulos públicos federais para pessoas físicas, de forma 100% online. Lançado em 2002, o Programa surgiu com o objetivo de democratizar o acesso aos títulos públicos, permitindo aplicações a partir de R$ 30,00. Para facilitar o acesso ao investidor comum, o Tesouro Nacional deunomes, digamos, mais familiares aos seus títulos. Assim, a gente não se confunde com sua sopa de letrinhas. Eles ficaram da seguinte forma: • LFT ⇒ Tesouro Selic; • LTN ⇒ Tesouro Prefixado; • NTN-B principal ⇒ Tesouro IPCA+; • NTN-B ⇒ Tesouro IPCA+ com juros semestrais; • NTN-F ⇒ Tesouro prefixado com juros semestrais. Esses são os nomes dos títulos na plataforma do Tesouro Direto, você, profissional do mercado financeiro precisa saber esses nomes e tam- bém a “sopa de letrinhas”, beleza? 197 Características do Tesouro direto: • Necessário um agente de custódia para intermediar a operação; • Compra mínima de 0,01 (1%) do título, sendo o valor mínimo R$ 30,00; • Investimento máximo de R$ 1.000.000,00 por mês; • Liquidação em D0 (se até as 13h) ou D+1 (se após as 13h); • Liquidez diária; • Taxa de custódia da B3 de 0,20% ao ano, com isenção de até R$ 10.000,00 para LFT; • Taxa de custódia da IF (a maioria das instituições não cobram); • IR e IOF retido pelo agente de custódia; • Registro do título na clearing da B3. 4.2.5 – TESOURO RENDA + E TESOURO EDUCA + Vamos abordar agora outros dois títulos disponíveis na plataforma do Tesouro Direto que foram criados com objetivos específicos de aposen- taria e de financiamento educacional. TESOURO RENDA + Título criado com o objetivo de criar uma renda complementar na apo- sentadoria. O investidor vai investindo seu dinheiro durante um perí- odo e pode converter em renda em data específica, recebendo parcelas mensais durante 20 anos (20 anos antes do vencimento do título). Características: • É NTN-B1, portanto, garante rendimento real; • Carência de 60 dias para resgate. Apesar de ser um título com o obje- tivo de complementar uma renda no futuro, o investidor pode res- gatar, mas possui esse prazo de carência. O período de carência se 198 aplica aos valores específicos de cada investimento, ou seja, os saldos de compras que já completaram 60 dias não são impactados pela carência de novos investimentos. • Fluxo de recebimento acumulado nos últimos 240 meses do título; • Taxa de custódia da B3 é zerada se o investidor ficar até a conversão e receber até 6 salários mínimos; • Investimento a partir de 30 reais por mês. TESOURO EDUCA + Título criado com objetivo de criar renda para financiar a educação supe- rior. O investidor vai investindo seu dinheiro durante um período e pode converter em renda em data específica, recebendo parcelas mensais durante 5 anos (5 anos antes do vencimento do título). Características: • É NTN-B1, portanto, garante rendimento real; • Carência de 60 dias para resgate; • Fluxo de recebimento acumulado nos últimos 60 meses do título; • Taxa de custódia da B3 é zerada se o investidor ficar até a conversão e receber até 4 salários mínimos; • Investimento a partir de 30 reais por mês. 4.2.6 - RISCOS INERENTES AO PRODUTO No tópico anterior falamos das características de cada um dos títulos públicos. A partir de agora, vamos entender quais riscos o investidor estará exposto ao investir neste tipo de ativo. Isso pode parecer um resumo do que abordamos no módulo 4. RISCO DE CRÉDITO O primeiro risco que abordaremos aqui é o risco de crédito. Uma defi- nição simples para este risco é a possibilidade de que a contraparte da 199 operação não honre com suas obrigações. Em outras palavras, isso é o que chamamos de “calote”. De todos os títulos que você pode encontrar no mercado financeiro, os Títulos Públicos Federais são os ativos com o menor risco de crédito. Isso porque o risco de o governo não pagar as suas dívidas é pratica- mente zero, pois ele tem a prerrogativa de “imprimir” mais dinheiro. Se isso acontecer gera um desequilíbrio na economia, pois uma impressão desenfreada de dinheiro sem o equivalente de produção tende a provo- car inflação. RISCO DE LIQUIDEZ O segundo risco neste mercado é o risco de liquidez. O risco de liquidez é o risco associado à possibilidade de perdas de capital em eventual liqui- dação imediata do ativo. No entanto, assim como o risco de crédito, o risco de liquidez aqui tam- bém é muito baixo. Isso acontece em função do mercado institucional, ou seja, a negociação desses ativos entre os dealers é muito grande, o que de certa forma influencia na liquidez. No mercado de pessoa física, ou seja, Tesouro Direto, o risco também é muito baixo, ou quase zero. Isso porque o Tesouro Nacional recompra esses ativos diariamente. Em resumo, sempre que você quiser resgatar o seu dinheiro, o tesouro vai lá e garante essa recompra. RISCO DE MERCADO Outro risco muito importante e que não podemos nos esquecer é o risco de mercado. Os títulos pós-fixados, mais especificamente a LFT (Tesouro Selic) têm um risco de mercado muito baixo. Isso acontece porque este tipo de ativo acompanha a variação da taxa de juros. Ou seja, se a taxa de juros sobe, ele vai render mais, se a taxa de juros cai, o que na prática vai acontecer é que ele vai render menos, mas nunca um valor inferior ao investido. 200 Quando a gente está falando dos títulos pré-fixados, aqui precisamos tomar cuidado. Esse tipo de ativo garante a taxa contratada apenas se o investidor ficar com os títulos até o vencimento. Se ele quiser resgatar antes, ele receberá o valor de mercado do título e pode ser que este valor tenha alteração. Como foi explicado anteriormente, esses ativos têm uma relação inver- samente proporcional à taxa de juros. Se ela sobe, o P.U do ativo cai, fazendo com que ele seja desvalorizado. Portanto o risco de mercado é presente em todos os títulos, porém, será mais acentuado em títulos pré-fixados ou híbridos. RISCO DE REINVESTIMENTO O risco do reinvestimento é, como o próprio nome sugere, o risco de não conseguir reinvestir o dinheiro, em condições iguais ou melhores que as atuais, na eventualidade de um evento de liquidação financeira de um título de renda fixa (resgate, vencimento, venda ou pagamento de juros). No caso das aplicações de renda fixa, este risco está presente apenas nos ativos com cupons/ juros semestrais (NTN-B e NTN-F). 4.2.7 – FGC E FGCOOP Sempre que escolhemos um investimento, estamos nos expondo a alguns riscos. Um dos mais comuns é o risco de crédito que, conforme explicado anteriormente, está presente em todas as aplicações de Renda Fixa. Sabendo disso, vamos entender sobre o mecanismo de proteção aos investidores, o FGC e o FGCOOP. O FGC (Fundo Garantidor de Crédito) constitui-se em uma associação civil sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado do Brasil, que administra um mecanismo de proteção aos correntistas, poupadores e investidores, permitindo recuperar, até um limite máximo determinado, os depósitos ou créditos mantidos em instituição finan- ceira, em caso de sua falência ou liquidação. O FGC visa proteger os investidores contra o risco de crédito existente nas instituições financeiras. Basicamente, os bancos se reuniram para 201 criar um “seguro” contra o calote e também trazer uma vantagem com- petitiva para as instituições de menor porte. O Fundo oferece aos investidores uma cobertura de até R$ 250.000,00 por CPF em cada instituição. Isto é, se o investidor tem até R$ 250.000,00 em um banco, ele conta com cobertura integral em caso de solvência daquela instituição. Essa cobertura é limitada a R$ 1.000.000,00 por um período de 4 anos. Se um investidor investiu dinheiro em um banco e esse banco entrou em falência, ele poderá sacar seus recursos, pois estes são garantidos pelo FGC. Há a limitação, é claro, do valor de R$ 250.000,00 por CPF/CNPJ. Para entender melhor: vamos assumir que o Sr. Investonildo da Silva tenha R$ 1.000.000,00 aplicados em quatro bancos diferentes: Banco A: R$ 250.000,00 Banco B: R$ 250.000,00 Banco C: R$ 250.000,00 Banco D: R$ 250.000,00 Se o banco “A” entrar em recuperação judicial na data de hoje, o inves- tidor terá cobertura integral do valor aplicado lá (R$ 250.000,00). Após ter acionado o FGC, o Sr. Investonildotem, durante os próximos 4 anos, cobertura de R$ 250.000,00 por instituição. Porém, agora, limitado somente a R$ 750.000,00 (pois ele já usou R$ 250.000,00). Sua garantia voltará a ser de R$ 1.000.000,00 somente 4 anos após o recebimento. Em caso de contas conjuntas, o cálculo da cobertura de R$ 250.000,00 é feito com base no objeto da garantia. Vamos para um exemplo para melhor entender? Imagina que o Sr. Investonildo da Silva tenha R$ 500.000,00 em uma conta conjunta com sua esposa. Se o banco entrar em recuperação judi- cial, cada um irá receber R$ 125.000,00 (R$ 250.000,00 dividido por dois). “Quais investimentos possuem a garantia do FGC?” 202 Via de regra, possuem garantia do FGC os investimentos feitos em ins- tituições financeiras em conta corrente, CDB, LCI, LCA e caderneta de poupança. O FGCoop (Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito) nasceu em 2014 para contribuir com a solidez e confiança do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), tornando-se parte de uma ampla rede de proteção ao Sistema Financeiro Nacional. Ou seja, é um fundo garanti- dor de crédito, só que ao invés de ser de bancos e financeiras é do sis- tema de cooperativismo. O FGCoop foi criado para proteger pessoas que confiam suas econo- mias às cooperativas de crédito e aos bancos cooperativos associados ao Fundo, nas condições do seu Regulamento. A cobertura do FGCoop também é de até R$ 250.000,00 por CPF / CNPJ em cada instituição porém, não há a limitação de até um milhão de reais. 4.2.8 - CERTIFICADO DE DEPÓSITO BANCÁRIO (CDB) O CDB é um título representativo de depósito a prazo, emitido por ban- cos comerciais, bancos de investimento e bancos múltiplos e ainda, desde 2020, por sociedades de crédito, financiamento e investimentos. • Prazo: não há regras sobre o prazo de emissão. Em outras palavras, uma instituição financeira pode emitir um CDB para vencer em qual- quer tempo, ou seja, pode ser em D+1 (no próximo dia útil) ou em 5 anos, por exemplo. • Valor de emissão: não há regras quanto ao valor de emissão, ou seja, a regulação não possui uma limitação para isso. Uma instituição pode emitir um CDB com valor mínimo de aplicação de R$ 1,00 ou de R$ 1.000.000,00. Isto é, a instituição é livre para negociar qualquer valor com o investidor. • Rentabilidade: a remuneração pode ser pré, pós fixada ou híbrida. • O CDB pré fixado estabelece, a priori, taxa nominal de remunera- ção pelo período do investimento; 203 • O CDB pós fixado é corrigido pelo índice de correção desses depósitos, podendo ser a variação do CDI, da Selic, da TR da TBF, IGP-M e etc; • O CDB híbrido combina as duas modalidades. Por exemplo, pode ter uma taxa prefixada mais um acréscimo atrelado à variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, a inflação oficial do país). • Liquidez: • Pode ser negociado no mercado secundário. Embora não seja comum, é uma prática possível; • A recompra antecipada do título é facultativa ao emissor. Em outras palavras, o banco pode ou não oferecer liquidez diária do título. • Risco: • É um título privado e apresenta risco de crédito. Esse risco pode ser diminuído em função do FGC já citado aqui; • Além do risco de crédito, o título vai apresentar risco de liquidez e de mercado; • O risco de liquidez é diminuído quando o banco oferece liquidez diária ao título; • O risco de mercado, por sua vez, é diminuído quando o título acompanha a variação das taxas de juros, ou seja, quando o título for pós-fixado. • Tributação: a tributação do título obedece a tabela regressiva de IR e IOF e tem retenção exclusiva e definitiva na fonte. • Registro: é registrado, custodiado e liquidado na clearing da B3. 4.2.9 - LETRA FINANCEIRA (LF) As Letras Financeiras são títulos de renda fixa emitidos por bancos comerciais, bancos de investimentos e bancos múltiplos, as sociedades 204 de crédito, financiamento e investimento e desenvolvimento. Algumas características da LF: • Prazo: Prazo mínimo de vencimento é de 24 meses e não admite liquidez antes desse prazo. • Valor de emissão: o valor mínimo para emissão é de R$ 50.000,00 SEM cláusula de subordinação. Se o título TIVER cláusula de subor- dinação, terá como valor mínimo R$ 300.000,00. Essa cláusula coloca o credor do banco (no nosso caso, o investidor em LF) em condição subordinada aos demais credores para recebimento em caso de falência do banco. Em outras palavras, o risco é maior. • Rentabilidade: taxa de juros prefixada, combinada ou não com taxa flutuante ou índice de preço, vedada a emissão com cláusula de varia- ção cambial. • Liquidez: não tem recompra antes dos 24 meses, mas pode ser nego- ciada no mercado secundário. • Resgate Antecipado: Não é permitido o resgate antes do prazo. • Riscos: é um título de dívida e, portanto, tem risco de crédito, de mer- cado e de liquidez. • Tributação: a tributação obedece a tabela regressiva de IR e IOF. No entanto, como não há liquidez antes de 24 meses, podemos concluir que o IOF não será cobrado. • Registro: é registrado, custodiado e liquidado na clearing da B3. Apesar de ser emitido por um banco, esse título NÃO conta com a cober- tura do FGC. Por ser um título com vencimento mais longo, admite-se pagamento de cupons periódicos. Em outras palavras, o investidor pode receber o ren- dimento do título em sua conta periodicamente enquanto o principal continua aplicado. 205 4.2.10 - DEPÓSITO A PRAZO COM GARANTIA ESPECIAL (DPGE) O DPGE é um título de renda fixa emitido por bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de desenvolvimento, bancos de investimento, socie- dades de crédito, financiamento e investimento. • Prazo: o prazo de vencimento deve ser, no mínimo, de 6 meses e máximo de 36 meses. Vedado resgate parcial ou total antes de 6 meses. • Valor de emissão: não há regras quanto ao valor de emissão, ou seja, a regulação não possui uma limitação para isso. No entanto, como é um título com garantia especial de 40 milhões, não é de se esperar que as instituições façam emissões com valores muito pequenos. • Rentabilidade: a remuneração pode ser pré, pós fixada ou híbrida. • Liquidez: pode ser negociado no mercado secundário. Embora não seja comum, é uma prática possível. • Riscos: é um título de renda fixa e, portanto, tem risco de crédito, de mercado e de liquidez. Possui garantia do FGC de até R$ 40.000.000,00 (quarenta milhões de reais) por CPF/CNPJ por instituição. • Tributação: Conforme tabela regressiva de IR e IOF, com retenção na fonte. • Registro: é registrado, custodiado e liquidado na clearing da B3. A emissão desse título está condicionada à autorização do FGC e con- sequente alienação fiduciária de uma carteira de recebíveis ao fundo. Explico: Imagine que o Banco Romero tenha em sua carteira de financiamento de veículos R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais). Ou seja, esse banco tem um total de 100 milhões para receber de seus clientes que estão pagando mensalmente. O Banco Romero, com autorização do FGC, aliena essa carteira ao Fundo. Na prática significa que se o Banco Romero quebrar e não tiver dinheiro 206 para honrar com os DPGEs, o FGC cobre isso junto aos investidores, mas a carteira de financiamento de veículos passa a ser do FGC. Ou seja, à medida que os clientes do banco estão pagando a parcela de seus veículos, quem recebe agora é o FGC e não mais o fundo. 4.2.11 - LETRA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO (LCI) Agora a gente vai começar a entender sobre os produtos de Renda Fixa que possuem lastro e, portanto, têm uma garantia maior para o investidor. Pausa para explicar o que é lastro: “lastro”, em Economia, é a garan- tia implícita de um ativo”. Traduzindo de um jeito bem simples, lastro é quando temos um ativo real dando garantia a uma operação. Esse ativo pode ser um imóvel, por exemplo. Agora que entendemos o lastro, vamos estudar a LCI — Letra de crédito imobiliário. Como o próprio nome sugere, é um título que gera crédito para o mercado de imóveis noBrasil. Deixa explicar essa dinâmica para você. Imagine que você vá até seu banco e solicite crédito para comprar um apartamento no valor de R$ 300.000,00. Você já se perguntou de onde sai essa grana que financia seu imóvel? Bem, se você já se perguntou isso antes de conhecer a LCI, tenho o pra- zer de anunciar que seu QI é diferenciado. Nenhuma pessoa normal faria esse tipo de pergunta. Parabéns! O fato é que um banco, ao emprestar dinheiro para você nessa linha de crédito, não pode tirar dinheiro do saldo de um CDB, por exemplo. A razão para isso é bem simples. Um CDB, via de regra, tem prazo mais curto se comparado aos longuíssimos prazos concedidos no crédito imobiliário. Então, o banco tem uma “gaveta especial” de onde retira dinheiro para emprestar a você e aos demais clientes que queiram realizar o sonho da casa própria (ou das casas próprias). Essa gaveta é chamada de LCI. 207 Cada emissão de uma LCI será lastreada em um (ou vários) créditos imobiliários. Explicando de um jeito bem simples: Eu vou ao banco e invisto R$ 300.000,00 em uma LCI. O banco pega esses R$ 300.000,00 e empresta para você comprar seu imóvel. Acontece que seu crédito imobiliário tem a garantia do seu apê, certo? Isso significa que, caso você não consiga pagar, o banco pode executar a garantia tomando o imóvel para restituir o crédito. Em outras palavras, a chance do banco tomar calote nesse tipo de cré- dito é muito baixa e, por consequência, o risco de crédito desse produto é também muito baixo. Por falar em risco de crédito, esse produto conta também com a cober- tura do FGC. Isso significa que é correto dizer que uma LCI tem garantia real + a cobertura do FGC. As Letras de Crédito Imobiliário (LCI) são títulos de renda fixa emitidos por bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos, além de sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e emprés- timo e companhias hipotecárias. A LCI, como sabemos, é um título de Renda Fixa. Portanto, será tributado conforme a nossa tabela regressiva de IR, certo? Quase certo. Uma peculiaridade muito importante para esse tipo de título é que o investidor PF está isento de IR. Ou seja, todo o rendimento obtido através deste produto não terá cobrança de IR. Isso torna o produto muito atra- tivo para os investidores PF. Quanto mais dinheiro estiver alocado nesse tipo de produto, mais crédito haverá para a construção civil, mais emprego teremos em toda cadeia produtiva, mais imóveis teremos à venda; e quanto maior a oferta de imóveis, menor tenderá a ser seu valor. Sacou a importância da isenção de IR para esse produto? Agora que já sabemos que a LCI é um título lastreado no crédito imobili- ário, que tem garantia real, cobertura do FGC e isenção de IR para pessoa física, vamos para mais algumas características: 208 • Prazo mínimo de 90 dias se não for atualizada por índice de preços, 12 meses se for atualizada anualmente por índice de preços (IPCA ou IGP-M) e 36 meses se for atualizada mensalmente por índice de pre- ços (IPCA ou IGP-M). • Prazo máximo do título não pode exceder o da carteira de crédito que dá lastro à operação. • Valor da emissão: não há regra para valor da emissão. • Liquidez: pode ser negociado no mercado secundário. • Resgate Antecipado: Facultativo, respeitando o prazo mínimo. • Risco: Mercado, Liquidez e crédito. Conta com cobertura do FGC + garantia Real. • Tributação: Isento de IR para PF. PJ paga conforme tabela regressiva (como não há resgate antes de 90 dias, o IOF, mesmo para PJ, não será cobrado). • Registro: Clearing da B3. 4.2.12 - CÉDULA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO E CERTIFICADO DE RECEBÍVEL IMOBILIÁRIO Mais títulos lastreado no crédito imobiliário? Sim, temos aqui mais títu- los que fomentam a indústria da construção civil. A Cédula de Crédito Imobiliário - CCI é um instrumento originado pela existência de direitos de crédito imobiliário com pagamento parcelado. A cédula é emitida pelo credor, com o objetivo de facilitar e simplificar a cessão do crédito e podem contar ou não com garantia. Um banco, uma sociedade de crédito imobiliário ou uma incorporadora, emprestam dinheiro para as pessoas comprarem seus imóveis, certo? O prazo desse tipo de crédito normalmente é longo, podendo chegar até 35 anos. Faz sentido para você que 35 anos é um baita tempo quando se trata de receber uma dívida? Existe uma solução para isso, e ela se chama CCI. 209 O banco (ou o emissor do crédito imobiliário) “empacota” recebível e vende no mercado financeiro. O banco recebe à vista esse crédito imo- biliário, com desconto, claro, e quem comprou a CCI recebe a prazo dos mutuários do crédito imobiliário. Sabe quando um comerciante vende seus produtos a prazo e vai ao banco solicitar a antecipação desses recebíveis? Então, é exatamente isso que o banco faz ao emitir uma CCI no mercado: ele antecipa os recebíveis. Os Certificados de Recebível Imobiliário – CRI, são títulos de crédito de emissão exclusiva das securitizadoras imobiliárias. Constituem promes- sas de pagamentos em dinheiro e são lastreados em créditos imobiliários. Pausa para entender o que é uma securitizadora. O termo “securiti- zadora” vem do inglês securities que, traduzido, significa título. Assim, podemos concluir que uma securitizadora é uma empresa que emite títulos no mercado. Um banco emite títulos no mercado para os investidores, certo? A secu- ritizadora é quem antecipa a carteira de crédito dos bancos, pagando à vista para o banco e recebendo a prazo dos tomadores. Em linhas gerais, imaginemos que a securitizadora tenha com- prado uma carteira de crédito imobiliário de um banco no valor de R$ 500.000.000,00. Essa compra é, para o banco, uma antecipação de um fluxo de caixa futuro e, para a securitizadora, um pagamento à vista. A pergunta que fica é: de onde a securitizadora vai tirar essa grana toda para pagar o banco? Se você respondeu “do mercado financeiro”, você acertou. A securitizadora emite um título chamado CRI. Um CRI é um título de valor mobiliário, portanto tem de ser objeto de oferta pública com autorização da CVM para ser ofertado ao mercado. Enquanto o CCI é emitido por um banco o CRI é emitido por uma securitizadora. Algumas características chave sobre esses produtos: • Valor de emissão: não há regras quanto ao valor de emissão. 210 • Rentabilidade: como qualquer título de renda fixa, a remuneração pode ser pré, pós fixada ou híbrida. • Liquidez: pode ser negociado no mercado secundário. • Risco: tem risco de crédito, de mercado e de liquidez. Não possui cobertura do FGC. • Tributação: Há isenção de IR para investidor PF. PJ paga conforme a tabela regressiva. • Registro: registrado na clearing da B3. 4.2.13 - LETRA DE CRÉDITO DO AGRONEGÓCIO (LCA) A LCA, Letra do Crédito do Agronegócio, faz “dupla sertaneja” com a LCI. Elas têm até nome parecido, né? Maiara e Maraisa que se cuidem, aqui é sofrência. Brincadeiras à parte, um jeito bem simples de entender a LCA é ler tudo que escrevi sobre LCI e trocar a palavra imobiliário por agronegócio. Basicamente, os investimentos realizados em LCA são direcionados para crédito do agronegócio. Sempre que um produtor rural precisa de crédito para financiar sua safra de café (ou qualquer outro produto), pode recorrer a uma linha de cré- dito em um banco comercial, de investimento, múltiplo ou sociedades de crédito. Esse crédito terá uma garantia, que pode ser uma proprie- dade rural ou até mesmo o penhor da safra. Se você entendeu bem a LCI, fica fácil entender a LCA. Abaixo eu listo as principais características: • Prazo mínimo: 90 dias se não for atualizada por índice de preços, de 12 meses se for atualizada anualmente por índice de preços (IPCA ou IGP-M) • Prazo máximo do título não pode exceder o da carteira de crédito que dá lastro à operação. • Valor da emissão: não há regra para valor da emissão. 211 • Liquidez: pode ser negociado no mercado secundário. • Resgate Antecipado:facultativo, respeitando o prazo mínimo. • Risco: Mercado, Liquidez e crédito. Conta com cobertura do FGC (se emitido pelas cooperativas de crédito FGCOOP) + garantia Real. • Tributação: Isento de IR e IOF para PF. PJ paga conforme tabela regressiva (como não há resgate antes de 90 dias, o IOF, mesmo para PJ, não será cobrado). • Registro: Clearing da B3. 4.2.14 - CÉDULA DO PRODUTOR RURAL (CPR) A CPR é um título emitido por produtor rural ou cooperativa de produto- res para financiar sua produção. Eu adoro uma analogia, então aqui vai mais uma: Se você está lendo essa apostila, você se matriculou em nosso curso (honestamente, assim eu espero, viu?) Agora, imagine que eu, enquanto professor, tenha idealizado esse projeto e sabia que, do dia que tive a ideia até o curso estar pronto para ser vendido para você, demoraria 6 meses. Se imaginarmos que, quando o curso ficasse pronto, eu pudesse matri- cular 50 alunos e que cada aluno investiria 500 reais no curso. Logo eu teria um faturamento de 25.000,00 depois de 6 meses. Tô rico, né? Não, não estou rico. O ponto é: para o projeto acontecer, eu tenho custo. Site, câmera, edição de vídeos, e por aí vai. Como eu não tenho dinheiro para bancar esse projeto, eu emito uma “CPC” (cédula do produtor de cursos) e vendo para um investidor que queira financiar esse projeto. Assim, o investidor me paga hoje R$ 20.000,00 para que eu consiga produzir esse curso lindo para você, e quando eu estiver vendendo os cursos, ele recebe os R$ 25.000,00. Assim, todo mundo fica feliz: • Eu por ter conseguido montar o projeto; 212 • O investidor que ganhou dinheiro ao comprar minha “CPC”; • Você por ter encontrado esse curso parrudo e passou no exame de certificação. Bem, é claro que você sabe que não existe CPC, mas é exatamente isso que acontece com uma CPR. Um produtor rural antecipa a venda de sua produção junto ao mercado. Acontece que o mercado financeiro é bem exigente. E se, por alguma razão, esse produtor não conseguir vender sua safra? Quem garante que o investidor vai receber seu dinheiro? É aí que entra o sistema financeiro. O produtor (ou cooperativa de produtores) que quer emitir uma CPR vai contratar um banco ou uma seguradora para prestar serviço de aval. Então, o banco vai assumir o risco da operação. É como se o banco, ao prestar esse serviço de seguro (aval), dissesse aos investidores: “Investidores que pensam em comprar a CPR desse produ- tor, podem comprar sem medo que se o produtor tiver algum problema com sua safra, eu pago o valor da CPR”. Características: • Emissor: Produtor Rural ou cooperativa de produtores. • Avalizador: Banco comercial ou de investimento, Cooperativa de cré- dito e seguradoras. • Valor de emissão: não há regra para o valor de emissão. • Liquidez: pode ser negociado no mercado secundário. • Tributação: isenção fiscal de IR e IOF para Pessoa Física. Investidor Pessoa Jurídica é isento de IOF, mas é tributado de acordo com a tabela regressiva de IR. • Risco: mercado, liquidez e crédito. Apesar de não ter a garantia do FGC, o risco de crédito é baixo, pois o ativo pode contar com aval de um banco ou seguradora. 213 • Registro: registrado na clearing da B3. É possível a liquidação física do título. Em outras palavras, o inves- tidor pode comprar uma CPR para um produtor de soja, por exemplo, e no vencimento do título não recebe dinheiro, mas recebe a soja pro- duzida. Esse tipo de contrato é muito comum entre os produtores e as exportadoras. Ou seja, a empresa que vai exportar, financia a produção para ser ven- dida no mercado externo. Esse tipo de negociação pode ser dispensado do registro na clearing. 4.2.15 - CERTIFICADO DE DIREITOS CREDITÓRIOS DO AGRONEGÓCIO E CERTIFICADO DE RECEBÍVEL DO AGRONEGÓCIO O Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio - CDCA é um título de crédito nominativo, de livre negociação e representativo de promessa de pagamento em dinheiro, vinculado a direitos creditórios originários de negócios realizados entre produtores rurais (ou suas cooperativas) e terceiros, inclusive financiamentos ou empréstimos. De um jeito bem simples de entender, o CDCA é a negociação dos rece- bíveis no agronegócio. Lembra da CPR? Então, um potencial comprador de CPR são as cooperativas de produtores rurais. Ao comprar as CPRs, faz sentido para você que as cooperativas passam a ter direito de receber dos produtores? Pois é aí que entra o CDCA. As coo- perativas podem vender esses recebíveis no mercado financeiro através de um certificado de direitos creditórios do agronegócio. O CDCA é emitido exclusivamente por cooperativas de produtores rurais e outras pessoas jurídicas que exerçam atividades de comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos e insumos agropecuá- rios ou de máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária. Em resumo, é através desse título que cooperativas de produtores rurais tomam recursos do mercado para financiar produtores e a operação é desenhada com o seguinte fluxo: 214 Uma cooperativa, em posse de CPRs obtidas através de negócios com produtores de milho, por exemplo, deseja emitir um CDCA para obter um empréstimo. Para isso, a cooperativa contata um banco e negocia uma operação de emissão e desconto de CDCA, apresentando a sua carteira de CPRs para registro e a montagem do lote. O banco recebe o CDCA da cooperativa e entrega os recursos a ela, sob a forma de uma operação de desconto. No vencimento, os produtores de milho quitam suas dívidas referentes às CPRs junto à cooperativa, que por sua vez líquida o valor acordado do desconto. O banco, que é o participante de registro, efetua a baixa do CDCA no sis- tema de registro, e a operação é liquidada. Caso a cooperativa não efetu- asse o pagamento do CDCA no vencimento, o banco executaria a CDCA e as CPRs seriam transferidas para o banco, por força do penhor. O Certificado de Recebíveis do Agronegócio - CRA é uma modalidade de investimento em títulos de renda fixa vendidos exclusivamente por uma companhia securitizadora de créditos do agronegócio. Essa modalidade de investimento possui lastro no agronegócio. Enquanto o CDCA é emitido por um banco o CRA é emitido por uma securitizadora. Algumas características chave sobre esses produtos: • Valor de emissão: não há regra para o valor de emissão. • Resgate: apenas no vencimento. • Liquidez: pode ser negociado no mercado secundário. • Risco: crédito, mercado e liquidez. Não tem a garantia do FGC. • Tributação: isenção fiscal de IR e IOF para Pessoa Física quando da aquisição deste título. Investidor Pessoa Jurídica é tributado de acordo com a tabela regressiva. • Registro: registrado na clearing da B3. 215 4.2.16 - DEBÊNTURES No tópico anterior, falamos sobre um dos principais títulos emitidos pelas instituições financeiras. Agora vamos entender como as empresas não financeiras podem captar recursos no mercado através da emissão de títulos de Renda Fixa. As debêntures são títulos de Renda Fixa emitidos por companhia aberta não financeira com o objetivo de captar recursos de longo prazo. Como a debênture é um valor mobiliário, necessariamente tem que ter uma oferta pública. Assim, para que uma debênture chegue no mer- cado ela precisa ser um objetivo de oferta pública com registro na CVM. Essa oferta é coordenada por banco de investimento ou banco múltiplo com carteira de investimento. Aplicação em debêntures não estão cobertas pelo FGC, mas apresenta outros tipos de garantias, que aliás veremos a seguir com detalhes. Valor de emissão: quando o assunto é valor de emissão, a instituição financeira pode fazer o que ela bem entender. Ou seja, não existe um valor específico para esta modalidade de ativo. Uma instituição pode decidir emitir 100.000 debêntures com valor inicial de R$ 1.000,00 ao passo que outra instituição pode emitir 200.000 debêntures com valor inicial de R$ 10.000,00. Prazo: Assim como o valor de emissão, aqui tambémnão existe regra. No entanto, cabe ressaltar que uma debênture tem de ser necessariamente um instrumento de oferta pública. Como este processo demora bastante para ser estruturado, não faz sentido fazer uma emissão de curto prazo, sendo que a instituição tem o objetivo de captar dinheiro para projetos de longo prazo. Resumindo: apesar de não existir regra, as debêntures são títulos de longo prazo, ou seja, 3, 10 ou até mesmo 20 anos. Rentabilidade: Assim como qualquer outro título de Renda Fixa, as debêntures podem ser pré-fixadas, pós-fixadas ou híbridas, isto é, com um componente pré-fixado e um pós-fixado simultaneamente. Liquidez: Geralmente a liquidez desse tipo de ativo ocorre apenas no vencimento ou após um prazo de carência. Por exemplo: a empresa 216 pode emitir uma debênture com vencimento em 10 anos e carência de 5. Neste caso, o investidor só conseguirá fazer o resgate após 5 anos. Além disso, outro aspecto importante é que as debêntures admi- tem pagamentos de cupons, isto é, o investidor pode ser remunerado periodicamente. Ainda utilizando o exemplo anterior, o investidor poderia ter aplicado em uma debênture que vence em 10 anos, e durante esse período receber juros periódicos a cada seis meses — os famosos cupons semestrais. Risco: Assim como qualquer outro ativo de Renda Fixa, os três riscos predominantes nas debêntures são o risco de crédito (calote), risco de mercado e o principal deles: o risco de liquidez, afinal de contas esses ativos são de longo prazo. É importante destacar que, para mitigar o risco de crédito desse tipo de ativo, o investidor terá à disposição umas das 4 garantias que veremos adiante. Tributação: A tributação em debêntures obedece a tabela regressiva de IR. Registro: Aqui também é muito simples, ou seja, o registro é na Clearing da B3. GARANTIAS DAS DEBÊNTURES Como vimos acima a debênture é emitida por uma instituição não financeira, portanto, banco não emite debênture, logo, uma debênture não conta com a cobertura do FGC. Se não tem FGC, qual seria a garan- tia do investidor ao emprestar dinheiro para a empresa que emitiu a debênture? Notou que eu escrevi “emprestar dinheiro para a empresa”? Pois é, fiz isso para lembrar a você que sempre que o investidor aloca seus recursos em um título de Renda Fixa ele está, na prática, emprestando dinheiro ao emissor. Bem, retomando a questão da garantia, como a Debênture é um título que não conta com a garantia do FGC, é necessário que exista outra garantia, certo? 217 Por isso uma Debênture terá uma entre as quatro garantias abaixo: • Garantia real: aqui a empresa que emite a dívida (debênture) aliena um bem à operação. Um bem real da empresa fica “preso” de forma que não pode ser negociado, vendido ou transferido até que as debêntures sejam quitadas. Se a empresa não tiver caixa para pagar as debêntures o bem pode ser vendido para quitação dos títulos; • Garantia flutuante: aqui também temos um bem real dando garan- tia à operação. No entanto, essa garantia pode ser substituída. Ou seja, a empresa é livre para negociar essa garantia em outra operação, desde que substitua o bem; • Garantia quirografária ou sem preferência: já ouviu falar da expres- são “la garantía soy yo”? Pois é, na garantia quirografária não existe um bem real dando garantia ao título, e a única garantia que o inves- tidor tem está associada à capacidade da empresa para pagar. Se a empresa falir, os investidores concorrem em igualdade de condições com os demais credores quirografários (sem preferência); • Garantia subordinada: como o próprio nome sugere, essa garantia está subordinada às demais. O que diferencia essa garantia da quiro- grafária é o fato de que o detentor das debêntures não concorre em igualdade de condições com os demais credores da empresa, e está subordinado a estes. Em outras palavras, se a empresa falir, o inves- tidor que tem essa debênture será o último da fila para receber (se é que vai receber). Um esquema para você lembrar das garantias é: “ReFluQuiSu”. Vai aju- dar também a saber a ordem das garantias, da mais forte para a mais fraca. Como assim? Ao investir em uma debênture com garantia real o risco é menor que a garantia subordinada, concorda? Portanto a remuneração de uma debênture que possui a garantia subordinada deve ser maior. Além de possuir algumas dessas garantias mencionadas acima, que são obrigatórias, a debênture pode apresentar garantia fidejussória como opcional. 218 A garantia fidejussória é quando o sócio da empresa pode responder com seu patrimônio. Vamos a um exemplo? A Magazine Luiza, tem como seus principais sócios a família Trajano, então, ao emitir uma debênture, pode oferecer a garantia fidejussória, significa que se tudo der errado, o patrimônio pessoal do sócio é usado para pagar os investidores. Nos tópicos anteriores vimos como funcionam as debêntures, certo? Agora, vamos entender mais um conceito muito importante para a sua prova, que são os tipos de debêntures. Basicamente são três: DEBÊNTURES SIMPLES As debêntures simples são basicamente tudo o que vimos até agora. Ou seja, um título de dívida com risco de crédito, risco de mercado e risco de liquidez, servindo apenas ao propósito de financiamento da empresa emissora. DEBÊNTURES CONVERSÍVEIS EM AÇÕES Como o próprio nome sugere, esta modalidade de debênture pode ser convertida em ações da própria companhia ao final do prazo estabelecido. Em outras palavras, o investidor mantém o título até o vencimento e ao invés de receber o dinheiro, ele recebe as ações. Esta modalidade é inte- ressante para os investidores que acreditam num possível futuro pro- missor da companhia. Esse tipo de debênture é pouco usada. DEBÊNTURES PERMUTÁVEIS Muito raro encontrar esse tipo de debênture, ela é parecida com a debênture conversíveis em ações, só que o investidor que mantém o título até o vencimento recebe ações de outra empresa e não da empresa emissora. Vamos a um exemplo? Suponha que a Petrobras emitiu debênture permutável e que a Petrobras também é sócia da BR Distribuidora, no vencimento o investidor receberá ações da BR Distribuidora, claro, essa informação deve está na escritura. 219 DEBÊNTURES INCENTIVADAS No final de 2010, o Governo brasileiro editou uma série de medidas para estimular a construção de um mercado privado de financiamento de longo prazo. Basicamente, essas medidas queriam “incentivar” os investidores a financiarem o crescimento da infraestrutura no país. Como? Vou explicar. Quando uma empresa capta recursos via debênture para construir uma estrada que vai ligar a região do Mato Grosso ao porto de Santos, por exemplo, ela melhora a vida de muitas pessoas que se beneficiam dessa obra. Produtores rurais, empresas de transporte, motoristas, aduaneiros, moradores das regiões onde tem a estrada e por aí vai. Essa é a impor- tância de termos mais e mais obras de infraestrutura. Para incentivar os investidores a financiarem essas obras, o governo resolveu isentar de imposto os investidores pessoa física que alocassem recursos na Debênture incentivada. Dentre as características das debêntures incentivadas, encontram-se: • Captação de recursos para financiar projetos de infraestrutura; • Isenção de IR para PF; • IR para PJ de 15%; • Prazo mínimo de 48 meses; • Prazo mínimo para resgate de 24 meses. 4.2.17 - CARACTERÍSTICAS DE NEGOCIAÇÃO Ao negociar debêntures, o investidor toma ciência das condições da emissão na escritura. Lá estão especificados: • direitos dos investidores; • deveres dos emitentes; 220 • condições da emissão; • pagamentos dos juros, prêmio e principal. AGENTE FIDUCIÁRIO O Agente Fiduciário é o melhor amigo do investidor debenturista. A fun- ção dele é proteger o interesse dos debenturistas exercendo uma fisca- lização permanente e atenta, verificando se as condições estabelecidas na escritura da debênture estão sendo cumpridas. Entende-se por relação fiduciária a confiançae a lealdade estabelecidas entre a instituição participante (administradora, gestora, custodiante, etc.) e os cotistas. A emissão pública de debêntures exige a nomeação de um agente fidu- ciário. Pessoa jurídica que, nos termos da regulação e do estabelecido pelos documentos da emissão, representa a comunhão dos investidores perante a emissora. O Agente Fiduciário não tem a função de avalista ou garantidor da emissão. O Agente Fiduciário poderá usar de qualquer ação para proteger direitos ou defender interesses dos debenturistas. No caso de inadimplência da emitente, o agente deve: • Executar garantias reais, receber o produto da cobrança e aplicá-lo no pagamento, integral ou proporcional, dos debenturistas; • Requerer falência da emitente, se não existirem garantias reais; • Representar os debenturistas em processos de falência, concordata, intervenção ou liquidação extrajudicial da emitente, salvo deliberação em contrário da assembleia dos debenturistas; • Tomar qualquer providência necessária para que os debenturistas realizem os seus créditos. A debênture é passível de repactuação, significa dizer que quando che- gar no tempo determinado de repactuação, a empresa pode renegociar as condições da debênture, como por exemplo, se a taxa de juros subiu, pode ser que remunere mais os investidores ou o contrário. 221 4.2.18 - NOTAS PROMISSÓRIAS (NP) Se você entendeu bem o que é uma Debênture, vai ficar fácil enten- der uma NP. Uma Nota Promissória é um título de renda fixa emi- tido por empresas não financeiras, porém com finalidade exclusiva de capital de giro, ou seja, a curto prazo. São comumente chamadas de Commercial Papers. Ao passo que uma Debênture pode financiar projetos de longo prazo, uma NP vai sempre financiar necessidades de curto prazo da empresa e por essa razão uma NP tem regras bem objetivas quanto a seu prazo máximo de emissão. Algumas características: • Valor de emissão: assim como nas Debêntures, quando o assunto é valor de emissão, a instituição financeira pode fazer o que ela bem entender. Ou seja, não existe um valor específico para esta modali- dade de ativo. • Prazo: o prazo de vencimento da nota promissória deve ser de no máximo 360 dias a contar da data de sua emissão, havendo, obriga- toriamente, apenas uma data de vencimento por série. Se não for objeto de oferta pública, o prazo máximo será de 90 dias. • Liquidez: a empresa pode (não necessariamente vai) oferecer liqui- dez antes do vencimento. Ou seja, a recompra antecipada é faculta- tiva ao emissor. • Risco: não tem FGC e nem garantia real, ou seja, tem um risco de cré- dito mais elevado, além do risco de mercado e liquidez. • Tributação: tabela regressiva de IR para PF e PJ. Vale ressaltar que, como o prazo de vencimento máximo da NF são 360 dias, a menor alíquota possível é de 20%. • Registro: registrada na clearing da B3. 222 4.2.19 - OPERAÇÃO COMPROMISSADA Essa é mais uma modalidade de investimento oferecida por bancos onde, nesse caso, o investidor compra um título de propriedade do banco. Não confunda propriedade com emissão, ok? Explicando isso melhor: quando você compra um CDB de um banco, está comprando um título que foi emitido pelo banco e representa uma dívida do próprio banco. Acontece que o banco, como um player do mercado financeiro, também compra títulos, como uma debênture. Na compromissada, o investidor está comprando essa debênture que fora comprada anteriormente pelo banco. Agora, com uma linguagem um pouco mais técnica, uma compromis- sada é uma operação que possui lastro em ativos de propriedade do banco, e o banco assume o compromisso de recomprar esses ativos do investidor. Apesar de ser um título lastreado em outro ativo, o risco desse investi- mento é da instituição financeira que emite a compromissada. Vamos para um exemplo? A empresa Alpargatas e o Banco Itaú, fazem parte do mesmo conglo- merado, a holding Itausa, é como se essas empresas fossem sócias. A empresa Alpargatas emite debêntures no mercado, mas, para não fazer uma oferta pública, ela oferece para o Banco Itaú e o mesmo com- pra essas debêntures. O Banco Itaú então, pode vender um termo de compromisso lastreado nessa debênture. Características: • Valor de emissão: não tem regra. A instituição é livre para pactuar qualquer valor. • Prazo: assim como o valor de emissão, aqui também não há regras. • Liquidez: resgate antecipado garantido ao investidor. 223 • Riscos: Risco de Crédito, Risco de Mercado e Risco de Liquidez. • Tributação: conforme a tabela regressiva de IR, tanto para PF quanto para PJ. • Registro: Clearing da B3. • Cobertura do FGC: há cobertura somente se o lastro for debênture de empresa ligada (fazem parte do mesmo conglomerado) e emitida depois do dia 08/03/2012. 4.2.20 - CADERNETA DE POUPANÇA A poupança é, de longe, o investimento mais popular e mais antigo (criado em 1861) do Brasil, mas está longe de ser o mais rentável ao inves- tidor. Aposto que pelo menos uma vez na vida você já abriu uma pou- pança (ou muito provavelmente tem uma até hoje). Ela possui rentabilidade mensal, isto é, paga juros ao investidor somente 1 vez por mês. Esse pagamento é feito no aniversário da poupança, que se dá sempre no dia de sua aplicação. Se o investidor colocou o dinheiro na poupança no dia 10 de fevereiro, receberá sua rentabilidade no dia 10 de março e nos meses subsequen- tes. Uma observação a essa regra: poupanças com depósito inicial nos dias 29, 30 e 31 farão aniversário no dia 01 do mês subsequente ao pró- ximo mês da aplicação. A poupança possui liquidez diária, porém com perda de rentabilidade em caso de saque efetuado antes do aniversário. Já sobre rentabilidade, a poupança tem duas regras para pagar o investidor e essa regra está condicionada à taxa Selic: Taxa Selic Remuneração Poupança Se Selic > 8,5% 0,5% a.m. + TR Se Selic ≤ 8,5% 70% da Selic + TR Mais algumas regras sobre a rentabilidade da Poupança: 224 • Aplicações feitas antes do dia 03 de maio de 2012 não obedecem a tabela acima, mas recebem 0,5% ao mês + TR independente de qual seja a Selic; • Aniversário: mensalmente para PF e PJ sem fins lucrativos e trimestral para as demais PJ (excluem-se as datas 29, 30 e 31); • Aplicações em cadernetas de poupança realizadas por meio de depó- sito em cheque têm como data de aniversário o dia do DEPÓSITO e não o dia da compensação; • Possui garantia do FGC; • Não tem IOF; • Pessoa Física e Pessoa Jurídica imunes estão isentas de IR; • Pessoa Jurídica não imune paga IR conforme tabela regressiva. A poupança não é considerada um instrumento de Renda Fixa, mas um depósito à vista com remuneração; 4.3.1 - INTRODUÇÃO A DERIVATIVOS Os instrumentos de investimentos estudados até aqui são chamados de ativos financeiros. A partir de agora vamos estudar instrumentos de investimentos que derivam de um ativo, por isso o nome “Derivativo”. Esses instrumentos possibilitam que o investidor tenha acesso a um ativo, via de regra, com outro ativo ou até mesmo por uma fração do preço do ativo objeto. O objetivo de um derivativo é a transferência de risco. Quando um investidor procura se proteger de algum risco específico, ele contrata um derivativo que o manterá posicionado com a proteção. Ficou complicado? Calma, vou explicar melhor cada um desses instru- mentos! Antes, deixe-me explicar quais são os tipos de derivativos, e seus agentes. Tipos de derivativos: • Derivativos agropecuários: têm como ativo objeto commodities agrícolas, como café́ , boi, milho, soja e outros; 225 • Derivativos financeiros: têm seu valor de mercado referenciado em alguma taxa ou índice financeiro, como taxa de juro, taxa de inflação, taxa de câmbio, índice de ações e outros; • Derivativos de energia e climáticos: têm como objeto de negocia- ção energia elétrica, gás natural, créditos de carbono e outros. Tipos de transações no mercado de Derivativos: • Mercado a Termo; • Mercado de Swap;• Mercado de Opções; • Mercado Futuro. Participantes (players): • Hedger: opera nesse mercado buscando proteção contra oscilações de preços dos ativos; • Especulador: assume o risco da operação com o objetivo de auferir ganhos com a oscilação dos preços; • Arbitrador: obtém vantagens financeiras em função de distorções nos preços do ativo nos diferentes mercados. Agora que já temos uma introdução sobre os contratos, tipos de deriva- tivos e os players desse mercado, deixa eu trazer um exemplo tangível para ajudar na sua compreensão. Imagine que você seja um produtor de milho e vai começar uma plan- tação hoje. A colheita do milho se dá entre 90 e 100 dias. Entre seus cus- tos você tem sementes, insumos, arrendamento da terra, funcionários, colheita, armazenagem e transporte para a trading que vai exportar seu milho. Esse custo total é de R$ 40,00 por saca de milho, assim, para que você tenha lucro, é necessário que venda o milho por R$ 50,00 a saca. Acontece que, assim como você, existem milhares de outros produtores mundo afora com o mesmo objetivo. Se por qualquer razão tivermos 226 uma supersafra de milho, o preço da saca pode cair, você ter de vender por R$ 30,00 a saca e amargar um prejuízo de R$ 10,00 por saca. O que você, que “manja dos paranauê” do mercado, pode fazer? Nesse caso, você pode vender um contrato futuro de milho na B3. Assim, você trava o preço de R$ 50,00 hoje e, aconteça o que acontecer no mercado, você vai ter resultado financeiro de R$ 50,00 por saca. O que temos aqui? Um contrato de derivativo agrícola onde você fez um hedge (proteção) de sua posição de milho. Agora troque a produção de milho por uma dívida em dólar. Nesse caso, como você precisa pagar algo em dólar no futuro, você deve comprar um contrato futuro de dólar. Ou podemos trocar a dívida em dólar por ações da Petrobrás, que estão com tendência de queda de preço. Nesse caso, você pode comprar uma opção de venda das ações para garantir seu lucro. O que eu quero deixar com esses exemplos é que, de um modo geral, os derivativos são usados para se proteger contra a queda ou alta de preços dos ativos. Agora estamos prontos para, de fato, entender cada um dos contratos. 4.3.2 - MERCADO A TERMO Trata-se de uma promessa de compra/venda em que as partes contra- tantes especificam o objeto do contrato e o seu volume, estipulam o preço, e estabelecem a data de entrega, que coincide com o pagamento. Exemplo: contratação de compra/venda de ações da T2 para ser entre- gue em 90 dias pelo valor de R$ 20,00. Imagine que eu venda para você um lote de ações da T2 para entregar em 90 dias, pelo preço de R$ 20,00. Nesse caso, daqui 90 dias, indepen- dente do preço que a ação está cotada no mercado, eu vendo por R$ 20,00 e você compra por R$ 20,00. Vamos citar aqui algumas características importantes do mercado a termo: 227 • Negociação: negociado no mercado de balcão e bolsa de valores. • Prazo: não existe regra para prazo e preço do contrato, embora não seja comum operações com prazo superior a 999 dias. No caso do termo de ações, por exemplo, a B3 admite vencimento mínimo de 16 dias e máximo de 999. • Liquidez: não tem mercado secundário, para sair o investidor precisa negociar uma posição inversa da original com outra contraparte. • Não padronizado: não é padronizado para todos os clientes, ou seja, as partes que definem as regras do que está sendo negociado, bem como as suas respectivas quantidades. Pode ser negociado mediante um contrato particular, não necessitando de uma bolsa de futuros. • Comprador: pagamento do preço previamente acordado. • Vendedor: compromisso de entregar o bem negociado na data pre- vista e com o preço previamente acordado. • Liquidação: a liquidação desses contratos pode ser física ou por dife- rença financeira. Os contratos que são liquidados por diferença finan- ceira são chamados no mercado de NDF (Non Deliverable Forward). • Liquidação antecipada: em caso de liquidação financeira, depende da vontade do comprador. Em caso de liquidação física, é preciso consentimento do vendedor. • Riscos: risco de mercado, contraparte e liquidez. • Compensação de perdas: pode ser feita no mercado à vista de ações, no mercado de Opções e no Mercado Futuro. • Registro: registrado na Clearing da B3. Tipos de Operação: • Operação de caixa ou fixação do preço de compra: vender a vista e comprar a termo; • Operação de financiamento: comprar à vista e vender a termo. 228 CARACTERÍSTICAS DA NEGOCIAÇÃO Vamos começar falando de algumas características que são próprias do Mercado a Termo. Margem de Garantia: para operações realizadas em bolsa de valores pode ser solicitado margem de garantia do comprador e do vendedor. Isso visa assegurar que ambas as partes do contrato poderão arcar com o compromisso. Risco de contraparte: para operações realizadas em bolsa, a B3 assume o risco de contraparte. As operações de mercado de balcão não con- tam com essa mitigação de risco. No caso das operações em bolsa, a B3 assume que, caso a contraparte não haja com o compromisso, ela honrará. Tributação: Tributação conforme Renda Variável com possibilidade de tributação conforme renda fixa em situações onde prazo e rentabilidade são previamente conhecidos. Isso se encaixa para as vendas cobertas a termo. Imagine que nós compramos Petrobras a R$30,00 e vendemos ela a termo por R$32,00 daqui há 90 dias. Já sabemos que, em um prazo de 90 dias, ganhamos R$2,00 por ação. Nesse caso, chamamos de “opera- ção sintética de renda fixa” e a tributação será conforme a tabela regres- siva de renda fixa. TIPOS DE CONTRATO Temos duas modalidades dos contratos, podendo ser um Termo Tradicional ou um Termo Flexível. Termo Tradicional: também chamado de termo comum, não permite a troca do ativo subjacente. Termo Flexível: como o próprio nome sugere, existe a possibilidade de troca do ativo subjacente. 4.3.3 - MERCADO DE SWAP Podemos traduzir ‘swap’ como troca. E isso ajuda muito a entender o conceito. 229 O Mercado de SWAP consiste em operações que envolvem, olha só, a troca de indexadores. O Hedger (que busca a proteção) possui um ativo financeiro e gostaria de proteger esse ativo de eventuais mudanças no preço que iriam contra seu objetivo. Essa troca de indexadores pode ser feita por indexadores de taxa juros, moedas ou índice de preços. Exemplo: Imagine que seu cliente tenha um CDB pré emitido pelo seu banco, mas esse cliente, por manter relações comerciais em dólar, pre- cisa se proteger da variação cambial. Como alternativa, esse cliente con- trata um SWAP trocando assim a remuneração pré-fixada pela variação do dólar. Perceba nesse exemplo que o seu cliente possui um ativo (CDB-pré) com rentabilidade pré-fixada, mas passa a receber como rentabilidade a variação cambial. Nesse caso, seu banco vai usar como valor base da operação o valor total do CDB, deixando o seu cliente passivo na taxa pré-fixada e ativo na varia- ção cambial. Em outras palavras, o investidor deixa de receber (passivo) a taxa pré-fixada e passa a receber (ativo) a variação cambial do período. O swap é um contrato de derivativos que precisa ser registrado na clea- ring da B3 e sempre terá como contraparte uma instituição financeira. Ou seja, não dá pra negociar um swap com outro investidor. CARACTERÍSTICAS DO SWAP Ponta Ativa: Indexador que o investidor passa a receber ao contratar um SWAP, também chamada de ponta comprada; Ponta Passiva: Indexador que o investidor deixa de receber ao contratar um SWAP, também chamado de ponta vendida; Valor base: é o valor do contrato de swap que pode ser o valor de um ativo ou um valor acordado entre as partes; Negociação: Mercado de balcão; 230 Ajuste positivo: é o valor que o investidor recebe em conta se sua ponta ativa render mais do que a ponta passiva; Ajuste negativo: é o valor que o investidor paga para a contraparte se sua ponta passiva render mais do que a ponta ativa; Compensação deperdas: caso o investidor tenha prejuízo, este não poderá ser compensado no futuro; Swap de fluxo de caixa: modalidade de swap que os ajustes são feitos periodicamente; Swap com pagamento final: também chamado no mercado de swap bullet, essa modalidade faz o acerto dos ajustes somente no vencimento do swap; Risco de Crédito: risco de que uma das contrapartes não honre com os pagamentos nas datas acordadas. Os bancos estabelecem limites pré- -definidos por contraparte de acordo com as características do contrato e da própria contraparte. Algumas vezes, são solicitadas margens anteci- padas ou eventuais (ex: se durante a vida do contrato a “exposição” ultra- passar um limite previamente estabelecido); Risco de Mercado: ao longo da vida do “contrato”, os preços dos ativos e/ ou passivos subjacentes flutuam de forma que os “payoffs” de cada uma das partes envolvidas é incerto (para um swap dólar x real, por exemplo, basicamente os riscos de mercado são: dólar, taxa prefixada e cupom cambial); Tributação: o IR no mercado de swap é retido na fonte pela contraparte e será pago de acordo com a tabela regressiva de IR tendo como base de cálculo o valor do ajuste positivo (se houver). Veremos com mais deta- lhes adiante. Agora que já vimos as características desse tipo de contrato, vamos ver um exemplo prático de como pode (e deve) ser utilizado um swap. Exemplo: Imagine que a T2 Educação tenha R$ 1.000.000,00 aplicados num CDB que rende 100% do DI. Primeiro que isso seria uma boa ideia, partindo do 231 princípio que tenho parte nessa empresa. Mas agora pense que a taxa de juros esteja com forte tendência de queda e, por isso, o rendimento desse CDB vai acompanhar essa queda. Para proteger essa posição, a diretora financeira aqui da escola vai até o banco e faz um swap de DI x Pré a uma taxa de 7% a.a., pelo período de 360 dias. Agora vamos prever, na tabela abaixo, 2 cenários possíveis para a taxa de juros. Cenário de baixa Cenário de alta 5% 10% Valor Base R$ 1.000.000,00 R$ 1.000.000,00 Rendimento ponta ativa 7% R$ 70.000,00 R$ 70.000,00 Rendimento ponta passiva (DI) R$ 50.000,00 R$ 100.000,00 Ajuste das pontas R$ 20.000,00 -R$ 30.000,00 Saldo total da operação R$ 1.070.000,00 R$ 1.070.000,00 Talvez você tenha notado que, independente dos cenários, o resultado final da operação foi o mesmo. Se a taxa de juros de mercado cai para 5%, o ajuste positivo do swap leva o resultado final para os 7% contratados no swap. Se a taxa de juros de mercado sobe para 10%, o ajuste negativo leva o rendimento para os 7% contratados. Em resumo: independente de quanto feche a taxa de juros de mercado, a escola vai receber os 7% contratados. Uma observação a esse exemplo é que aqui temos o resultado bruto. Agora vamos evoluir essa aplicação colocando o IR no cálculo. TRIBUTAÇÃO NO MERCADO DE SWAP O Swap é tributado conforme a tabela regressiva de renda fixa e o seu fato gerador é o ajuste positivo (se houver) recebido pelo investidor. O recolhimento é feito pela fonte pagadora do ajuste positivo e nessa modalidade NÃO há compensação de perdas. 232 Vamos ver a tabela anterior com a aplicação do Imposto de Renda: Cenário de baixa Cenário de alta 5% 10% Valor Base R$ 1.000.000,00 R$ 1.000.000,00 Rendimento ponta ativa 7% R$ 70.000,00 R$ 70.000,00 Rendimento ponta passiva (DI) R$ 50.000,00 R$ 100.000,00 Ajuste das pontas R$ 20.000,00 -R$ 30.000,00 Saldo total da operação Bruto R$ 1.070.000,00 R$ 1.070.000,00 IR sobre o ajuste R$ 4.000,00 Saldo líquido da operação R$ 1.066.000,00 Na tabela acima eu trouxe o IR de 20% cobrado sobre o ajuste positivo. Isso porque no exemplo o prazo do Swap era de 360 dias. Se você repa- rou bem, na coluna com cenário de alta eu não coloquei nada. E a razão é simples. O Swap, nesse caso, não será tributado, mas o rendimento da ponta passiva sim. E como eu não sei exatamente a quanto tempo temos o CDB, não tem como saber qual o IR devido. Ponto importante: o ativo subjacente terá seu IR conforme o prazo do ativo e o swap terá seu IR conforme o prazo do swap, que não ne- cessariamente será igual. 4.3.4 - INTRODUÇÃO AO MERCADO DE OPÇÕES Opções é um contrato que dá a seu detentor ou comprador o direito, mas não o dever, de comprar, se for uma opção de compra, ou vender, se for uma opção de venda, determinado ativo objeto, pelo preço de exercício. O lançador da opção (ou vendedor) tem a obrigação de vender, no caso de uma opção de compra, ou de comprar, no caso de opção de venda, o ativo objeto do contrato pelo preço de exercício solicitado pelo titular da opção. Vamos fazer uma analogia para facilitar a compreensão: Quando alguém compra um carro, normalmente a primeira preocupa- ção é contratar um seguro, certo? Então se paga um prêmio, para ter cobertura do seguro. 233 Mas o que consiste essa cobertura? A seguradora será obrigada a com- prar o carro caso o carro for roubado ou sofrer perda total (o proprie- tário do veículo transfere a titularidade para a seguradora e ela paga o assegurado). Então, quando alguém contrata um seguro, essa pessoa está pagando para ter o direito de vender o veículo para a seguradora. Concorda comigo que ao pagar a seguradora e não precisar usar (ou seja, não aconte- ceu nada com seu carro), o dinheiro pago ficará com a seguradora? O dinheiro não volta para você. Em outras palavras você tem a opção de venda do veículo. Resumido: O cliente: • Paga o prêmio; • Tem o direito de vender o bem para a seguradora em caso de sinistro pelo valor da apólice; • Caso não haja sinistro, o valor pago pelo prêmio fica com a seguradora. A seguradora: • Recebe o prêmio; • Tem a obrigação de comprar o bem do cliente em caso de sinistro pelo valor da apólice; • Caso não haja sinistro, o valor pago pelo prêmio fica com a seguradora. Esse é um exemplo de opção de venda (put). 4.3.5 – CARACTERÍSTICAS DAS OPÇÕES Vamos entender, alguns termos do mercado de opções: • Ativo objeto: ativo que dá origem à negociação de opção; • Call: opção de compra; • Put: opção de venda; 234 • Lançador: player que vende a opção no mercado financeiro; • Titular de opção: player que compra a opção no mercado e, portanto, tem o direito de exercer a operação; • Prêmio: preço de negociação, por ação objeto, de uma opção de compra ou venda pago pelo comprador de uma opção; • Exercício de opções: operação pela qual o titular de uma operação exerce seu direito de comprar ou vender o lote de ações objeto, ao preço de exercício; • Opção americana: opção que pode ser liquidada durante a vigência do contrato, a qualquer momento; • Opção Europeia: opção que pode ser liquidada apenas na data de vencimento do contrato de opções; • Strike: preço de exercício da opção; • In the Money: situação onde exercer uma opção representa lucro para seu titular; • Out the Money: situação onde exercer uma opção representa preju- ízo do seu titular; • At the Money: situação onde exercer uma opção não representa lucro nem prejuízo. Agora que vimos todos os termos desse mercado, vamos “montar” uma operação com opções para facilitar seu aprendizado. Imagine que seu cliente tenha em sua carteira ações da T2 Educação que foram compradas por R$ 20,00. Ele gostaria de “travar” o preço de sua ação a R$ 21,00 para que ele não perca em caso de desvalorização do papel. O que esse cliente precisa fazer? Comprar uma call? Comprar uma put? Pagar ou receber o prêmio? Esse cliente quer ter a opção de vender sua ação da T2 a R$ 21,00 daqui a 3 meses. Se ele quer vender, então ele deve comprar uma put (opção de venda) que lhe conferirá o direito de vender essa ação a R$ 21,00. 235 Por essa opção, ele pagará um prêmio, que é considerado a perda máxima nesse mercado. Vamos assumir que o prêmio pagopor essa opção seja de um R$ 1,00. Assim, teremos, no quadro abaixo o resultado da operação, conforme os cenários: Strike (a) Prêmio (b) Preço de mer-cado c Exerce (d) Resultado (e) 1 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 0 Sim R$ 20,00 2 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 1,00 Sim R$ 19,00 3 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 15,00 Sim R$ 5,00 4 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 20,00 Sim R$ 0,00 5 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 21,00 Sim/Não -R$ 1,00 6 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 22,00 Não -R$ 1,00 7 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 25,00 Não -R$ 1,00 8 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 30,00 Não -R$ 1,00 Antes de explicar o cenário, vamos entender cada uma das colunas: • Coluna a: indica o preço de exercício da opção de venda; • Coluna b: indica o valor que foi pago de prêmio pelo titular da opção; • Coluna c: indica o preço que o ativo objeto está sendo cotado no mer- cado à vista no dia do vencimento da opção; • Coluna d: indica se o titular vai exercer ou não a opção com base no valor de negociação; • Coluna e: indica o resultado financeiro que o titular terá a depender do preço de mercado. Agora vamos entender esse quadro. O investidor que comprou essa opção pagou R$ 1,00 para ter o direito (opção) de vender a ação da T2 por R$ 21,00, independente do preço de mercado. Na primeira linha, as ações da empresa desvalorizam e chegam ao mer- cado com preço de 0. Pergunto: você venderia por R$ 21,00 algo que não 236 vale nada? Creio que sim, certo? Assim você teria de lucro R$ 20,00 (o valor da venda menos o valor pago com o prêmio). Na segunda linha, as ações da empresa desvalorizam e chegaram ao mercado com preço de R$ 1,00. Pergunto, você venderia por R$ 21,00 algo que vale R$ 1,00? Creio que sim, certo? Assim você teria de lucro R$ 19,00. Se seguirmos essa análise, linha após linha, vamos notar que sempre que o preço do ativo objeto no mercado estiver cotado a um preço abaixo do strike, será vantajoso para o titular exercer a opção. Quando o preço esti- ver acima do preço de exercício, não será vantajoso exercer a opção e o investidor terá um prejuízo de R$ 1,00 (o valor pago pelo prêmio). Se faz necessário observarmos algo importante na linha 5: nesse ponto, o ativo estava custando R$ 21,00 no mercado. Se o investidor exercer ou não exercer, terá prejuízo de R$ 1,00. Em resumo, o investidor que compra uma opção de venda está apos- tando na queda do preço do ativo. Agora imaginemos que você, de olho na valorização eminente das ações da T2, queira comprar opções para ter um lucro com a compra. Nesse caso, você compraria uma Call (opção de compra). Assim, teremos o qua- dro abaixo com os seguintes cenários: Strike (a) Prêmio (b) Preço de mercado c Exerce (d) Resultado (e) 1 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 0 Não -R$ 1,00 2 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 1,00 Não -R$ 1,00 3 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 15,00 Não -R$ 1,00 4 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 20,00 Não -R$ 1,00 5 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 21,00 Sim/Não -R$ 1,00 6 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 22,00 Sim R$ 0,00 7 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 25,00 Sim R$ 3,00 8 R$ 21,00 R$ 1,00 R$ 30,00 Sim R$ 8,00 237 Se você comparar as duas tabelas, vai notar que, quando o preço da ação cai no mercado, não vale comprar por R$ 21,00 algo que vale mais do que isso. Vamos analisar a linha 3: você compraria por R$ 21,00 algo que vale, no mercado, R$ 15,00? Provavelmente não, né? Assim você ficaria com o prejuízo de R$ 1,00, que é o valor que você pagou de prêmio. Agora se analisarmos a linha 8, temos o seguinte: você compraria por R$ 21,00 algo que vale R$ 30,00 no mercado? Provavelmente sim. Nesse caso, seu lucro seria de R$ 8,00. Alguns pontos importantes sobre o mercado de opções: • O titular de uma opção tem, como perda máxima da operação, o prê- mio que ele pagou pela opção; • O lançador de uma opção tem, como lucro máximo da operação, o prêmio que ele recebeu pela opção; • O titular pagou o prêmio e, por isso, tem o direito de exercer a opção; • O lançador recebeu o prêmio e, por isso, tem obrigação de comprar ou vender, se for exercido. 4.3.6 – TICKER DE UMA OPÇÃO O ticker de uma opção é composto pelo ativo objeto, seguido do tipo de opção e vencimento, e ainda um valor base. Exemplo: Uma opção de compra de Petrobras com vencimento em agosto cujo strike é de 40 reais terá o seguinte ticker na bolsa de valores: • PETR (indica o ativo objeto); • H (indica que é uma opção de compra com vencimento em agosto); • 40 (indica o strike); • Ticker: PETRH40. A tabela a seguir aponta os vencimentos das opções na bolsa de valores: 238 Call Put Janeiro A M Fevereiro B N Março C O Abril D P Maio E Q Junho F R Julho G S Agosto H T Setembro I U Outubro J V Novembro K W Dezembro L X No exemplo anterior se fosse uma opção de compra (call) com venci- mento em outubro o ticker seria: PETRJ40. Você não precisa decorar essa tabela para a sua prova, combinado? 4.3.7 – ESTRATÉGIAS COM OPÇÕES As opções, como qualquer outro derivativo, podem ser utilizadas para as mais variadas necessidades de hedge ou especulação. O investidor pode se proteger contra a queda ou contra a alta do preço de um ativo, pode se proteger da altas ou baixas volatilidades de mercado. Além disso, claro, especulação pode ser feita com o objetivo de ganhar dinheiro com os cenários acima. MERCADO EM ALTA • Apostar na alta de um ativo • Se proteger contra a alta de um ativo MERCADO EM BAIXA • Apostar na queda de um ativo • Se proteger contra a queda de um ativo 239 4.3.8 - INTERPRETAÇÃO DOS GRÁFICOS Com o conhecimento adquirido com os conteúdos apresentados acima, agora vamos aprender a interpretar os gráficos do mercado de opções, diferenciando-os quando se tratar de uma Put (opção de venda) ou uma Call (opção de compra), como também, qual representa os investidores titulares ou investidores lançadores. Esse tipo de pergunta é comum nas provas da CPA20, então é impor- tante você saber diferenciar e identificar os gráficos pelas suas curvas. Gráfico de compra de uma Call (Titular de uma Call): Características: • Viés de alta: o investidor comprador de opção de compra (Call) aposta na alta do preço do ativo objeto; • Ganho máximo: ilimitado (quanto maior o preço do ativo objeto no vencimento, maior será o lucro); • Perda máxima: limitado ao valor do prêmio pago na compra da opção. 240 Gráfico de venda de uma Call (Lançador de uma Call): Características: • Viés de baixa: o vendedor de uma opção de compra (Call) aposta na queda do preço do ativo objeto; • Ganho máximo: valor recebido como prêmio pela venda da opção; • Perda máxima: ilimitada. Quanto maior for o preço do ativo objeto no mercado, maior será seu prejuízo. Gráfico de compra de uma Put (Titular de uma Put): 241 Características: • Viés de baixa: o titular de uma opção de venda (Put) aposta na queda do preço do ativo objeto; • Ganho máximo: ilimitado, quanto menor for o preço do ativo objeto maior será seu lucro; • Perda máxima: limitada ao valor do prêmio pago na compra da opção. Gráfico de venda de uma Put (Lançador de uma Put): Características: • Viés de alta: o vendedor de uma PUT aposta na alta do preço do ativo objeto no mercado; • Ganho máximo: limitado ao valor do prêmio recebido pela opção; • Perda máxima: ilimitada. Quanto menor for o preço do ativo objeto no mercado maior será seu prejuízo. Dica de ouro: O Titular tem o direito de vender ou comprar - poden- do esse executar ou não seu contrato de opção. O Lançador tem a obrigação de comprar ou vender se o titular executar o contrato de opção. 242 Vamos analisar agora, como os gráficos costumam vir nas provas e como você vai identificar cada um: Observe os dois gráficos acima, percebe que nos dois o prejuízo é limi- tado? Aí eu te pergunto: qual o participante do mercado de opções que tem seu prejuízo limitado? Está certo se respondeu o titular. Bom, então até aqui sabemos que os dois gráficos representam o titular, e se eu te falar que o primeiro é um titular de call e o segundo um titular de put? Calma que vou te explicar. Call é uma opção de compra e quando compramos alguma ação espe- ramosque o seu preço suba, concorda? Olhando para o primeiro gráfico observamos que quanto maior é o preço do ativo, maior é o lucro, como sabemos que quem aposta na alta é o comprador, concluímos que o primeiro gráfico representa um titular de uma call. Já no segundo gráfico quanto menor o preço do ativo maior é o lucro. Concorda que quando vendo um ativo, quero que o preço caia? Portanto representa um titular de uma put. Vamos analisar mais esses dois gráficos a seguir: 243 Percebe-se que nos dois gráficos acima o ganho é limitado? Portanto representam um lançador. No primeiro gráfico, se o preço do ativo sobe, ele tem prejuízo, portanto é um lançador de call. Já no segundo quando o preço do ativo cai, tem prejuízo, logo é um lançador de put. 4.3.9 - FATORES QUE INFLUENCIAM O PREÇO DE UMA OPÇÃO + TRIBUTAÇÃO Vamos entender quais são os fatores que vão determinar o preço do prê- mio de uma opção. Os fatores são: o preço do ativo objeto, preço de exer- cício, taxa de juros, prazo da opção volatilidade implícita do ativo objeto. Vamos entender melhor como funciona: Preço do ativo: é considerado o preço de hoje, o preço do ativo no dia em que é feito a opção - conhecido como Spot Price (preço à vista). Quanto maior for o Spot Price, maior será o prêmio; Taxa de juros: quanto maior for a taxa de juros doméstica, maior será o preço do prêmio; Prazo da opção: no mercado, quanto maior for o prazo da opção, maior será o prêmio exigido; Volatilidade: é a variação de preço do ativo objeto daquela opção. Quanto maior a variação de preços, maior será o preço do prêmio; Strike (preço de strike): quanto maior for o strike, menor será o prêmio. TRIBUTAÇÃO NO MERCADO DE OPÇÕES A tributação do mercado de Opções é bem parecida com o do mercado de ações, mas tem alguns pontos diferentes. • IOF: não tem IOF; • Imposto de renda: conforme renda variável - 20% de IR em opera- ções Day Trade, 15% de IR em operações normais (Swing Trade ou Buy and Hold). Recolhimento via DARF. Fato gerador 1: lucro obtido com o exercício de uma opção. Nesse caso a base de cálculo é a diferença positiva entre o custo de aquisição e 244 venda do ativo objeto. Neste cálculo o valor pago/recebido de prêmio é considerado. Exemplo: prêmio da opção R$ 1,00. Compra uma call em que pagou um prêmio de R$ 1,00 para ter direito a um strike de R$ 10,00. No vencimento, o preço à vista da ação é de R$ 20,00. O lucro é de R$ 9,00 (20,00-10,00-1,00). Compra uma put, pagando um prêmio de R$ 1,00 para ter direito a um strike de R$ 10,00. No vencimento da opção, o preço à vista da ação é de R$ 3,00. O lucro é de R$ 6,00 (10,00-3,00-1,00). Fato Gerador 2: lucro obtido com a negociação do prêmio. Nesse caso a base de cálculo é a diferença positiva entre o valor de compra e venda da opção. Exemplo: prêmio da opção R$ 1,00. Vende uma call em que recebeu o prêmio de R$ 1,00. Se o titular não exercer a opção, ele tem lucro. Caso contrário, tem prejuízo. Vende uma put em que recebeu o prêmio de R$ 1,00. Se o titular não exercer a opção, ele tem lucro. Caso contrário, tem prejuízo. Negociando prêmio. Exemplo: você compra uma opção (seja call ou put) pagando R$ 1,00 e vende essa opção (seja call ou put) por um prêmio de R$ 1,50. Dessa forma você obteve um lucro de R$ 0,50 pela operação. Caso haja prejuízo, os players podem compensar em operações futu- ras nos mercados de derivativos (com exceção do swap) e no mercado à vista. Importante que essa compensação precisa respeitar a modali- dade: day trade compensa perda em day trade e swing trade compensa perda com operações swing trade. 4.3.10 - MERCADO FUTURO Por último, e não menos importante, temos o mercado futuro. Esse tipo de negociação é um misto dos demais contratos. Se você entendeu bem como funcionam os demais derivativos, fica fácil entender como funciona o mercado futuro. A premissa é a mesma. 245 Negociar no presente a venda ou compra de um ativo que será entregue no futuro pelo preço combinado hoje. Algumas características do Mercado Futuro: • Contratos padronizados: nesse tipo de operação a negociação é padro- nizada para todos os clientes, ou seja, taxa, prazo e preço são iguais para todos os clientes. O contrato é listado na bolsa de valores (B3); • Margem de Garantia: O investidor que entra nesse mercado precisa alocar, como garantia, um valor junto a B3, que servirá como garantia da operação. Quando o contrato é liquidado a B3 devolve a margem de garantia; • Risco de contraparte: a B3, ao recolher a margem de garantia dos investidores, assume para si o risco de contraparte da operação; • Ajuste diário: a cotação dos ativos subjacentes e dos contratos são atualizadas diariamente e pode haver um ajuste negativo ou positivo na conta das contrapartes; • Liquidação antecipada: não existe a possibilidade de liquidação antecipada deste contrato, no entanto, o investidor pode inverter sua operação anulando sua exposição ao contrato. Portanto, é correto dizer que a liquidação é apenas no vencimento. 4.3.11 – FUNCIONAMENTO DO MERCADO FUTURO A premissa aqui é a que expliquei no começo do tema derivativos. Imagine que você seja um produtor de milho e vai começar uma plan- tação hoje. A colheita do milho se dá entre 90 e 100 dias. Entre seus cus- tos você tem sementes, insumos, arrendamento da terra, funcionários, colheita, armazenagem e transporte para a trading que vai exportar seu milho. Esse custo total é de R$ 40,00 por saca de milho, assim, para que você tenha lucro é necessário que venda o milho por R$ 50,00 a saca. Nesse caso, você pode vender um contrato futuro de milho na B3. Assim, você trava o preço de R$ 50,00 hoje e, aconteça o que acontecer no mer- cado, você vai ter resultado financeiro de R$ 50,00 por saca. Se ao final 246 do contrato, o milho estiver cotado a R$ 70,00, você terá pago, via ajuste diário, R$ 20,00. Assim você garante que vende por R$ 50,00. Nesse caso você vai vender por R$ 70,00, mas como pagou R$ 20,00 no ajuste, bateu R$ 50,00. Se ao final do contrato o milho estiver cotado a R$ 30,00, você terá rece- bido, via ajuste diário, R$ 20,00. Assim, garante o preço de R$ 50,00. Nesse caso você vende por R$ 30,00, mas como recebeu R$ 20,00 no ajuste, bateu R$ 50,00. Ainda nesse mercado temos a presença de mais um player: o arbitrador. Esse tipo de investidor é aquele que busca ganhar dinheiro com a distor- ção de preços entre os contratos (da mesma ou de outra praça). Por exemplo, um investidor nota que o contrato de milho está sendo negociado na CBOT (bolsa de Chicago) a U$ 10,00. Esse mesmo inves- tidor percebe que o preço desse contrato aqui na B3 está cotado a R$ 50,00. Esse investidor, então, compra contratos na CBOT e vende na B3, buscando auferir lucro com a diferença dos ajustes diários. Esse player tem uma importância fundamental nesse mercado. Explico: Faz sentido que milho é uma commodity e que, por isso, seu preço é o mesmo aqui ou em qualquer lugar do mundo? Se existe essa dife- rença muito grande de preços, significa que o mercado está com preço distorcido. Quando esse player cria uma pressão compradora dos contratos em Chicago, o preço de lá tende a subir, ao passo que quando entra vendido aqui na B3, os preços deste contrato tendem a cair. Assim, chegamos, em determinado momento, ao equilíbrio de preço entre as praças. 4.3.12 – RISCOS E TRIBUTAÇÃO DO MERCADO FUTURO Os riscos você já está manjando só de falarmos o primeiro nome, né? São presentes no Mercado Futuro os seguintes riscos: • Risco de mercado: oscilações de preço dos contratos; • Risco de liquidez: embora seja baixo, existe o risco de não encontrar liquidez nos contratos; 247 • Risco de contraparte: esse risco é assumido 100% pela B3. Tributação: • IOF: Não tem; • Imposto de renda: • 20% de IR em operações Day Trade; • 15% de IR em operações normais (Swing Trade ou Buy and Hold); • retenção de IRRF (come cotas) pela corretora. • Fato gerador: é a diferença positiva dos