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1 PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL, NO ADULTO E IDOSO 1 Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3 O PSICODIAGNÓSTICO ................................................................................... 6 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E PSICODIAGNÓSTICO ................................... 7 O PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL ..................................... 10 O IDOSO……………………………………………………………………..……… 14 O PSICODIAGNÓSTICO EXIGE A APLICAÇÃO DE TESTES PSICOLÓGICOS? ……………………………………………………………………..……….... 16 O PSICODIAGNÓSTICO NECESSITA DE UMA TEORIA PSICOLÓGICA QUE O FUNDAMENTE……………………………………………………..…….. 20 O PSICODIAGNÓSTICO É UMA INTERVENÇÃO………………………..….. 22 REFERÊNCIAS…………………………….…………………………..……….... 24 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO A avaliação psicológica refere-se a métodos científicos que tem por objetivo a coleta de dados necessários para testar hipóteses clínicas, produzir diagnósticos com a finalidade de avaliar a personalidade humana, o pensamento, a aprendizagem e comportamento individual ou em grupo. A avaliação psicológica pode incluir entrevistas, observação, análise e consultas com outros profissionais envolvidos principalmente no cuidado com a criança, abrangendo muitas áreas de habilidades, como o nível intelectual geral, linguagem, memória e aprendizagem, resolução de problemas, planejamento e organização, habilidades motoras finas, habilidades espaciais visuais e competência escolar (leitura, matemática, ortografia e escrita). Inclui também, um exame do comportamento e emoções (MENDES et al. 2013). De acordo com Araújo (2007) a avaliação psicológica é o processo no qual ocorre uma avaliação com o uso de técnicas e teorias, sendo por isso mais ampla em relação ao psicodiagnóstico que é o resultado da avaliação psicológica, tendo como propósito clínico a identificação de distúrbio ou algum problema de conduta. O psicodiagnóstico é uma das possibilidades de Avaliação Psicológica, etimologicamente psicodiagnóstico é o conhecimento de sintomas psíquicos, vem de diagnostikos que significa habilidade em discriminar, em discernir, e de gnosis que significa ação de conhecer; conhecimento, ciência, sabedoria (CUNHA, 2007). Já Arezo (1995) define psicodiagnóstico como um estudo profundo da personalidade, de acordo com o ponto de vista clínico do profissional de psicologia. O psicodiagnóstico é um processo científico que possui limitações tais como o tempo de aplicação do teste, que pode não ser suficiente para que o profissional entenda o caso, e sua associação com os pressupostos teóricos; dificultando assim a classificação, identificação e os possíveis cursos e propostas de solução para o caso quando for necessário (BARBIERI 2010). Portanto, psicodiagnóstico é um procedimento científico, com duração limitada, que tem a finalidade de alcançar compreensão mais aprofundada da dinâmica do paciente e do grupo familiar. O modelo teórico de psicodiagnóstico 4 infantil começa com uma entrevista com os pais para realizar a anamnese, seguida por uma brincadeira dentro do tempo da criança, e a aplicação de testes psicológicos e feedback. O psicodiagnóstico infantil tem sido realizado através de um processo de estudo onde a coleta de informações não é realizada apenas com a criança, mas também com os pais ou responsáveis, portanto neste processo, são efetuadas várias entrevistas com a criança e seus pais, para a coleta direta de dados relativos à problemática apresentada, prefigurando por isso em um estudo do caso da criança e não unicamente da criança, isso acontece porque a demanda da criança depende mais de outras pessoas do que a demanda do adulto. Além disso, é também aplicada uma série de testes psicológicos na criança, com vistas confirmar hipóteses e informações colhidas diretamente através dos depoimentos apresentados nas entrevistas. Os testes podem ser usados para detectar e analisar características e problemas de personalidade do examinando, bem como suas condições intelectuais (ARCARO, HERZBERG, TRINCA, 1999). A avaliação psicodiagnóstico da criança e do adolescente mantém algumas semelhanças com a de adultos, especialmente no que diz respeito à necessidade de estudo científico do comportamento. No entanto, a avaliação com as crianças é um grande desafio para o psicólogo e requer conhecimentos e técnicas especiais. A criança é um ser em desenvolvimento, estando por isso constantemente em mudança e, embora este desenvolvimento possa ser considerado normal por toda vida, é na fase infantil e na adolescente quando as mudanças biológicas e comportamentais ganham uma maior importância por estar na construção da pessoa adulta. Algumas das peculiaridades da avaliação em crianças envolvem: (1) O prognóstico evolutivo da doença varia de acordo com as diferentes idades em que são iniciados, determinando, por sua vez, a severidade e cronicidade dos sintomas possíveis. (2) Para enfatizar a importância das variáveis ambientais, leva se em consideração que a criança é submetida a um maior controle pelo ambiente físico e social que o adulto, sendo, portanto, mais suscetíveis a esses fatores. Mesmo quando o distúrbio tem um componente orgânico identificado, variáveis ambientais devem ser consideradas. (3) A avaliação em crianças e adolescentes também deve ser feito 5 com “perspectiva de futuro”, ou seja, a criança não só deve ser vista em seu ambiente e circunstâncias, mas projetada para os desafios ou mudanças de vida que ela vai enfrentar (ARAÚJO, 2007). Segundo Arzeno (1995) um aspecto importante para o psicodiagnóstico é a hora lúdica em que o brincar predomina, isto é, em atendimento com crianças, o brincar é extremamente importante e necessário no processo. Quando a criança brinca, ela projeta seus desejos e fantasias inconscientes e evidencia aspectos da dinâmica familiar em que está inserida. No entanto, os adultos são diferentes das crianças, e não aceita o brincar no setting terapêutico, o processo de alguma forma é semelhante em ambos os casos, porque tanto o adulto quanto a criança projetam e nos revelam o contexto que vive e o seu sofrimento psíquico. Uma característica da avaliação psicodiagnóstico é o fato da criança ser diferente do adulto, a criança utiliza outros meios de comunicação que apontem aspectos importantes de sua subjetividade. O adulto só tem o meio da fala ou associações livres (técnica bem utilizada na Psicanálise), enquanto a criança, que normalmente se apresenta resistente, desconfiada e tímida, ao brincar, se sente livre para “dizer o não dito”, que tem muitoa revelar sobre o sintoma apresentado pela mesma. Através do brincar é possível observar como se dão as relações dos pacientes com seus irmãos, colegas, pais e outros familiares, bem como os aspectos do desenvolvimento físico do paciente. Porém, vale ressaltar que algumas situações podem evidenciar fantasias inconscientes infantis, pois nem sempre o que eles nos trazem realmente aconteceu, o que nos leva a buscar comprovações das situações trazidas pelos pacientes (ARCARO, HERZBERG, TRINCA, 1999). Convém destacar que o papel do psicólogo na hora de jogo diagnóstica é o de um observador não participante, sendo assim é importante que este tenha o cuidado ao mobilizar a angústia da criança, pois falar sobre o sofrimento é doloroso para o paciente, podendo inclusive, interferir no vínculo estabelecido com o mesmo (SOUZA, HEREK, GIROLDO, 2014). 6 O PSICODIAGNÓSTICO O psicodiagnóstico pode ser compreendido como uma forma específica de avaliação psicológica, conduzida com propósitos clínicos e visando identificar forças e fraquezas no funcionamento psíquico, tendo como expectativa a descrição e compreensão, o mais profunda e completamente possível da personalidade do paciente ou do grupo familiar (Cunha, 2002; OCampo, 2003). Essa investigação se configura como um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicodiagnósticos, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados, a partir dos quais são propostas soluções (Cunha e cols., 2002; Anchieri & Cruz, 2003). Esse processo é bi-pessoal (psicólogo examinando), cujo propósito é investigar alguns aspectos em particular, de acordo com a sintomatologia e informações da indicação ou queixa, ou ainda favorecer a identificação de recursos potenciais e possibilidades do examinando. É importante que o profissional, ao conduzir o processo psicodiagnóstico, busque considerar o sujeito em exame como um ser mutável e dinâmico, situado num mundo maior que o da consulta psicológica, sendo multideterminado e atuando ativamente sobre sua realidade (Cunha e cols., 2002). Nessa perspectiva, os contextos sociocultural e familiar devem ocupar um lugar importante no estudo da personalidade de um indivíduo, já que é de onde ele provém (Arzeno, 1995). O psicodiagnóstico possibilita uma avaliação global da personalidade do paciente, determinação da natureza, intensidade e relevância dos distúrbios, fornecimento de subsídios a demais profissionais, definição do tipo de intervenção terapêutica, prognóstico da evolução terapêutica e pesquisa psicológica (Cunha e cols., 2002). 7 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E PSICODIAGNÓSTICO Segundo Cunha (2000), o processo de avaliação psicológica pode ter um ou vários objetivos, podendo ser definidos como de classificação simples, descrição, classificação nosológica, diagnóstico diferencial, avaliação compreensiva, entendimento dinâmico, prevenção, prognóstico e perícia forense. Na classificação simples, os resultados são fornecidos quantitativamente, como em uma avaliação de nível cognitivo, por exemplo. Na descrição, realizam-se interpretações dos dados quantitativos que foram fornecidos pela classificação simples. Já na classificação nosológica, são verificadas hipóteses iniciais de diagnóstico. No diagnóstico diferencial, são feitas diferenciações de várias alternativas diagnósticas, verificando o nível de funcionamento e a natureza da patologia. Na avaliação compreensiva, determina-se o tipo de personalidade do sujeito e seus níveis de funcionamento. São examinadas, por exemplo, as funções mentais. O entendimento dinâmico é a definição de focos terapêuticos, havendo uma integração com dados de base teórica. Na prevenção, são avaliados os riscos e as capacidades e incapacidades do examinando. O prognóstico determina o curso provável do caso. Por fim, na perícia forense, avaliam-se questões de insanidade, incapacidades ou patologias. De acordo com Bariani, Sisto e Santos (2000), os instrumentos psicológicos não são recentes na história da psicologia. A história dos testes psicológicos coincide com a do início da prática psicológica. Nesta época, a identidade do psicólogo referia-se exclusivamente a utilização de testes. Todavia, Cruz e Alchieri (2003) afirmam que a partir do século passado os testes passaram por intensas críticas públicas, foram divulgadas, inclusive na imprensa, dúvidas sobre a legitimidade e a validade dos testes. Desta forma, verificou-se um declínio de interesse e estudo sobre a avaliação psicológica a partir do final da década de 60. Pode-se dizer que nos anos 80, o interesse foi retomado com a criação de laboratórios de estudo sobre instrumentos psicológicos (Belo & Gouveia, 2006). Os testes psicológicos podem ser considerados como amostras do comportamento humano que são medidos de forma padronizada e objetiva. 8 Sendo assim, hipóteses prévias podem ser confirmadas ou não com base em passos e o estabelecimento de objetivos (Anastasi & Urbina, 2000). A resolução nº 002/2003 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) define os testes psicológicos como: Art. 1º Os testes psicológicos são instrumentos de avaliação ou mensuração de características psicológicas, constituindo-se um método ou uma técnica de uso privativo do psicólogo, em decorrência do que dispõe o § 1º do Art. 13 da Lei nº 4.119/62. O psicodiagnóstico é um processo que visa identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, também enfatizando se existe ou não a presença de psicopatologia (Cunha, 2000). Pode ser realizado em qualquer idade, porém é mais frequente a solicitação de avaliação em crianças, principalmente, encaminhadas através das escolas. Cada faixa etária tem aspectos individuais que devem ser verificados e entendidos. Com isso, tem ocorrido um grande número de solicitações de avaliação na terceira idade, provavelmente pelo aumento da longevidade e qualidade de vida dos idosos (Romaro & Capitão, 2003). Existe um tipo de avaliação psicológica bastante complexa que se chama avaliação neuropsicológica. O objetivo mais frequente deste tipo de avaliação é o de avaliar a cognição, principalmente a memória. A avaliação neuropsicológica é mais frequente em idosos, quando se solicita a avaliação para verificar possíveis declínios cognitivos. Todavia, nestes casos deve-se verificar se a dificuldade não é produto de um declínio normal em decorrência da idade, ou trata-se de uma deterioração mais complicada e irreversível (Cunha, 2000). Na avaliação neuropsicológica, Giurgea (1995) alerta para a importância de se avaliar dois aspectos: o rendimento geral do idoso e a presença de dificuldades; além da necessidade de investigar questões não cognitivas, como a motivação, para compreender se aspectos emocionais podem estar influenciado em suas capacidades. Entende-se que a maioria dos idosos enfrenta dificuldades emocionais e físicas nesta idade. Todavia, cada indivíduo passa pelas situações de conflito de formas diferentes, então se deve tomar cuidado para avaliar não somente os 9 fatores estressantes, mas também como o idoso enfrenta essas situações. Com o passar do tempo, não só modificam-se os interesses, como também as habilidades dos idosos, então se deve prestar atenção em quais técnicas utilizar, pois algumas testagens podem ser extremamente exaustivas. Segundo Cunha (2000), em situações que podem estar presentes sintomas demenciais, deve-se levantar a história do paciente junto com alguns familiares, mas sem excluí-lo destas entrevistas. Deve-se, portanto, entender como estão às habilidades do indivíduo de realizar atividades cotidianas como tomar banho, escovar os dentes e administrar os remédios. Figura1: Avaliação psicodiagnóstica. 10 O PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL Oliveira et al., (2012) aborda o psicodiagnóstico como um estudo profundo da personalidade do indivíduo. Não é apenas uma coleta de dados que através da organização do entendimento clínico irá orientar o processo psicoterápico. É uma prática delimitada, que tem a função de obter a descrição e compreensão de modo global da personalidade do paciente ou também do grupo familiar. Sendo assim, é possível percorrer sobre os aspectos do passado, diagnóstico e prognóstico dessa personalidade (OCAMPO & ARZENO, 1975 apud OLIVEIRA et al., 2012). Cunha (2000) destaca que o psicodiagnóstico deve surgir diante o levantamento de hipóteses que podem ser confirmadas ou refutadas no decorrer do processo. Dessa forma, segundo Tavares (2000), um dos meios de investigação utilizado é a entrevista que tem o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais ou sistêmicos que visa elaborar sugestões, encaminhamentos ou indicar alguma intervenção em benefício do paciente. Trinca (1984) aborda que não é apenas o processo de entrevista relevante para o processo, mas a mesma, com a observação clínica e a aplicação de testes psicológicos que servem como auxiliares das entrevistas. Os testes escolhidos devem atender às demandas especificas das hipóteses iniciais, assim, cada caso tem uma necessidade diferente (MARCELO & CARRASCO, 2005). Deve- se considerar aspectos específicos como idade, sexo, escolaridade e o que quer se avaliar (OLIVEIRA et al., 2012). No psicodiagnóstico infantil o brincar é a técnica de avaliação utilizada. Roza (1999) apud Oliveira et al., (2012) destaca que a brincadeira é uma forma do comportamento específico da própria infância, assim são projetadas no ato, a forma de expressar seus sentimentos, pensamentos e conflitos. Para avaliar a criança é necessário conhecer sua relação com sua família para relacionar ao seu desenvolvimento biopsicossocial. Tsu (1984) decorre sobre a questão de quem é o cliente do psicólogo no processo de psicodiagnóstico infantil, a criança, família ou quem encaminhou. Segundo a autora, deve considerar que as condições e características das crianças na sociedade, a ajuda psicológica é procurada em função da criança, mas que o 11 problema deve ser visto além da individualidade, relacionado ao todo grupo familiar e com outras pessoas ou grupos envolvidos. “O sintoma da criança é emergente de um sistema intrapsíquico que está, por sua vez, inserido no esquema familiar também doente” (ARZENO, 1995, p. 167). A primeira relação que o bebê estabelece é o vínculo com sua mãe, essa relação começa na gestação e acompanhará depois do nascimento e no desenvolvimento da criança. É importante que tenha uma qualidade nesse vínculo, à medida que seja possível a troca afetiva entre mãe e filho (BORSA, 2007). “[...] A mãe necessita estar apta para estabelecer este vínculo, o que só será possível a partir de uma boa vivência de suas experiências relacionadas à gestação e ao puerpério” (BORSA & DIAS, 2004 apud BORSA, 2007). As experiências referem-se as mudanças físicas e emocionais ocorridas durante a gestação ou após. Por ser um evento complexo, marcado por mudanças na vida da grávida, envolvem sentimentos intensos que podem explorar conteúdos inconscientes da mãe (BORSA, 2007). Dessa forma, as emoções da mãe apresentam sua história, esse passado pode exercer sua influência em relação a criança (KLEIN et al.,1973). [...] Durante os primeiros meses, a vida do bebê se passa na mais íntima união com a mãe. A relação emocional espontânea da mãe com seu filho é de importância incalculável, e todo planejamento consciente é relegado a um segundo plano (KLEIN et al.,1973 p.14). Papalia & Feldman (2013) atribuem seres humanos como seres sociais, pois desde do começo o homem se desenvolve dentro do contexto social e históricos. Andrade et al., (2005) relatam que a família desempenha o papel de mediadora entre a criança e a sociedade, assim, como os formadores dos principais vínculos, apresentando cuidados e estímulos necessários ao crescimento e desenvolvimento da criança. Klein et al., (1973) destacam que as fantasias que estão presentes na mente da criança e o ambiente familiar que irá influenciar o desenvolvimento que pode determinar se a disposição para com o mundo será amistosa ou hostil. No lar, existe uma estrutura que o bebê nasce e se orienta. É necessário que a criança confie nas figuras dos pais, pois é o principal suporte dela através do seu mundo. 12 Entende-se, então, a relevância do meio que é caracterizado inicialmente pela família, a criança necessita desse meio para se desenvolver emocionalmente, se o ambiente for inadequado para o desenvolvimento, podem desenvolver diversas patologias (SEI et al., 2008). Figura 2: Avaliação infantil. Na análise com crianças, Winnicott (1971) ressalta a importância de se valorizar o que acontece nos espaços intermediários entre paciente e terapeuta, pois é no inesperado, no encoberto e no transicional que se instaura a situação analítica e as possibilidades de um novo começo. O que se observa é que as dificuldades não se relacionam apenas à exploração e a interpretação dos aspectos lúdicos, mas também ao contexto e às várias psiques que precisam ser valorizadas no processo. Ressaltam-se nesse sentido, os pais, a família, o paciente, bem como o terapeuta. 13 O IDOSO Segundo Cancela (2007) a senescência é o processo natural do envelhecimento, o qual compromete progressivamente os aspectos físicos, cognitivos e emocionais; conglomerando um conjunto de fatores genéticos programados, ou seja, ocorre uma degradação funcional generalizada e progressiva, como consequência de perdas quanto a respostas de diferentes estímulos às circunstâncias estressoras, ampliando o número de risco de doenças associadas à velhice (CANCELA, 2007). Uma vez que o crescimento dessa parcela da população é constituído em muitos casos pelo o aumento da prevalência das demências como afirma (AZAMBUJA, 2007). A avaliação psicológica é um processo técnico-científico de coleta de dados que busca avaliar fenômenos psicológicos, com o objetivo de subsidiar o trabalho do psicólogo (URBINA, 2004). No contexto dos sintomas que podem acometer os idosos, verifica-se (SCHLINDWEIN-ZANINI, 2009) que por meio de métodos, técnicas e procedimentos científicos, como também por utilização de testes padronizados, identifica-se a presença ou a ausência de sintomas demenciais. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005) considera idoso o indivíduo com sessenta anos ou mais. O envelhecimento não é um processo unificado e não ocorre de maneira simultânea e nem precisa estar associado a uma doença específica. Comparada com os demais grupos etários, a população idosa foi a que mais cresceu e está levando a um envelhecimento populacional. O aumento dos idosos do sexo feminino tem sido mais crescente do que do sexo masculino, este fator é comprovado internacionalmente e é maior nos países desenvolvidos. Uma das razões para isto acontecer deve-se ao alto índice de mortalidade masculina e os novos papéis desempenhados pela mulher na velhice, que a torna mais ativa e menos sedentária (Camarano, 2003). De acordo com Leite, Carvalho, Barreto e Falcão (2006) na população idosa a depressão encontra-se como o problema de saúde mais frequente e, com isso, aumenta a possibilidade de incapacitação do indivíduo. A depressão na velhice é um transtorno extremamente heterogêneo, as pesquisas atuais 14 enfrentam o desafio de determinar em que medida as depressões na velhice diferenciam-se das que ocorrem em etapas anteriores (Eizirik, 2001). Segundo Forlenza e Almeida (1997), a incidência de admissões psiquiátricas por queixa de transtornos de ansiedadena velhice diminui drasticamente em comparação a outras faixas etárias, dando lugar a problemas como depressão e psicossomáticos. Fernandes (2008) aponta que, apesar dos esforços para manter uma velhice saudável e ativa, a maioria dos idosos experimenta alguma fragilidade nesta fase. A doença no idoso causa intensos sentimentos de fragilidade, dependência e insegurança. Com isso, acaba ocasionando repercussões psíquicas inevitáveis, alterações na autoimagem e aumentam o nível de dependência. Freire (2000) afirma: Sabe-se hoje que a velhice não implica necessariamente doença e afastamento, que o idoso tem potencial para mudança e muitas reservas inexploradas. Assim, os idosos podem sentir-se felizes e realizados e, quanto mais atuantes e integrados em seu meio social, menos ônus trarão para a família e para os serviços de saúde (p. 22). Na velhice ocorre uma deterioração geneticamente programada, visto que existe um envelhecimento celular e a capacidade das células de se dividir e se regenerar diminui. No cérebro do idoso, ocorrem mudanças em diversos âmbitos neurobiológicos e neurofisiológicos, além de alterações neuroquímicas e estruturais (Lent, 2004). No que se refere ao déficit cognitivo e a demência em idosos, estudos mostram que a prevalência geral de demência é a mesma para homens e mulheres, embora o Alzheimer seja mais predominante em mulheres, isto pode ser explicado porque a longevidade destas é maior (Eizirik, 2001). De acordo com os dados apresentados pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV-TR (APA, 2002), uma demência caracteriza-se por múltiplos déficits cognitivos, que incluem comprometimento da memória, devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral, aos efeitos persistentes de uma substância ou a múltiplas etiologias. Além disso, a demência demonstra-se também através de algum prejuízo social e profissional no indivíduo. 15 O PSICODIAGNÓSTICO EXIGE A APLICAÇÃO DE TESTES PSICOLÓGICOS? Ao consultar a literatura, identificamos convergências conceituais. Arzeno (1995, p. 5) diz, por exemplo, que “. . . fazer um diagnóstico psicológico não significa necessariamente o mesmo que fazer um psicodiagnóstico. Este termo implica automaticamente a administração de testes e estes nem sempre são necessários ou convenientes”. Portanto, parece claro o entendimento da autora de que toda avaliação psicológica que não utilize testes não deva ser nomeada de “psicodiagnóstico”. Cunha (2000, p. 23, grifo nosso), em concordância, preconiza que “psicodiagnóstico” é um termo que designa um tipo de avaliação psicológica com propósitos clínicos, em que “. . . há a utilização de testes e de outras estratégias, para avaliar um sujeito de forma sistemática, científica, orientada para a resolução de problemas”. A autora segue afirmando que: Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemáticas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se for o caso. (Cunha, 2000, p. 26, grifo nosso). Observamos que, em todas as definições de Cunha (2000), o uso da expressão “e” sugere a obrigatoriedade do uso de testes para que o processo de avaliação psicológica clínica seja chamado de “psicodiagnóstico”. Aparentemente, Castro, Campezatto e Saraiva (2009) também entendem dessa forma, diferenciando “período de avaliação” de “psicodiagnóstico”. Para as autoras, durante o “período de avaliação” que precede a psicoterapia, o psicólogo poderá realizar um “psicodiagnóstico” ou fazer o encaminhamento para outro psicólogo que o realize, quando ocorrer a aplicação de testes psicológicos: “. . . a aplicação de testes pode ser realizada pelo próprio psicoterapeuta, se esse dominar as técnicas necessárias e se sentir confortável 16 para tal, ou por um colega especializado em psicodiagnóstico” (Castro et al., 2009, p. 100). Em Ocampo e Arzeno (1979/2009), também encontramos a ideia de que o processo psicodiagnóstico inclui, obrigatoriamente, uma etapa de aplicação de testes e técnicas projetivas. Para explicar seu posicionamento, as autoras diferenciam a prática avaliativa que chamam de “psicodiagnóstico” da prática avaliativa de psicanalistas em suas primeiras consultas, referindo que, nestas últimas, se tem a possibilidade do uso de entrevistas livres ou totalmente abertas, algo não viável no psicodiagnóstico devido à limitação do tempo. Neste debate sobre a terminologia adotada para a atividade avaliativa clínica, observamos que, excluindo-se a necessidade de aplicação de testes, as descrições do processo psicodiagnóstico contidas nos manuais citados relatam exatamente o que é feito pelos profissionais que dizem não realizar psicodiagnóstico. Dito de outra forma, o que diferencia a avaliação clínica feita por psicólogos que nomeiam sua prática de “psicodiagnóstico” da daqueles que não a chamam assim é, apenas, o uso de testes psicológicos (Krug, 2014). Parece-nos infrutífera essa distinção terminológica, uma vez que, para nós, o que define um psicodiagnóstico relaciona-se mais ao caráter investigativo e ao diagnóstico do que à necessidade do uso de determinado tipo de instrumento de coleta de dados. Diferentemente dos trabalhos citados, encontramos outros autores que defendem a ideia de que o uso de testes pode não ser necessário em um psicodiagnóstico. Conforme Trinca (1983), por exemplo, o uso ou não de testes depende do psicólogo e de seu pensamento clínico em relação a cada paciente. Tomemos como referência para essa reflexão as definições feitas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) para alguns termos comumente utilizados na área. A definição de “avaliação psicológica” do CFP (2013, p. 11), por exemplo, engloba qualquer atividade, com ou sem o uso de testes: A avaliação psicológica é compreendida como um amplo processo de investigação, no qual se conhece o avaliado e sua demanda, com o intuito de programar a tomada de decisão mais apropriada do psicólogo. Mais especialmente, a avaliação psicológica refere- -se à coleta e interpretação de dados, obtidos por meio de um 17 conjunto de procedimentos confiáveis, entendidos como aqueles reconhecidos pela ciência psicológica. Quanto à diferença entre “avaliação psicológica” e “testagem psicológica”, a Cartilha (CFP, 2013, p. 13) diz: A avaliação psicológica é um processo amplo que envolve a integração de informações provenientes de diversas fontes, dentre elas, testes, entrevistas, observações e análise de documentos, enquanto a testagem psicológica pode ser considerada um processo diferente, cuja principal fonte de informação são os testes psicológicos de diferentes tipos. Na Cartilha sobre Avaliação Psicológica, editada em 2007 pelo CFP (2007), não há referência ao termo “psicodiagnóstico”. Já na Cartilha de 2013 (CFP, 2013, p. 34), há apenas uma menção ao termo, descrito como uma modalidade de avaliação psicológica, sem a especificação da necessidade ou não do uso de testes: “. . . no âmbito da intervenção profissional, os processos de investigação psicológica são denominados de avaliação psicológica, descritos em termos de suas modalidades – psicodiagnóstico, exame psicológico, psicotécnico ou perícia” (CFP, 2013, p. 34, grifo nosso). Portanto, a partir da reflexão sobre o uso do termo “psicodiagnóstico”, podemos fazer os seguintes questionamentos: as chamadas “entrevistas preliminares”, “entrevistas de avaliação” ou “entrevistas iniciais”, conduzidas por psicólogos de diferentes abordagens teóricas antes de indicar ao paciente uma análise, uma psicoterapia ou qualquermodalidade de tratamento psicológico ou de outra área, não poderiam ser consideradas uma prática de avaliação psicológica? A avaliação clínica inicial feita pelo psicólogo com o objetivo de conhecer aspectos psíquicos do paciente à luz da teoria psicanalítica ou de qualquer outra teoria não se configura como uma prática de avaliação psicológica? Ou o mais apropriado seria chamar essa prática psicológica orientada pela teoria psicanalítica de “avaliação psicanalítica” e a prática de profissionais orientados pelo comportamentalismo de “avaliação comportamental”? Somente quando um psicanalista, um gestaltista ou um comportamentalista aplica testes psicológicos durante o período de entrevistas preliminares diagnósticas é que poderíamos chamar essa prática avaliativa de 18 “psicodiagnóstico”? E, ainda, não poderemos chamar de “psicodiagnóstico” os processos de avaliação psicológica clínica com pacientes para os quais não dispomos de testes psicológicos aprovados pelo CFP? Por fim, sabendo que o profissional, durante uma avaliação clínica, tem o dever e a liberdade de optar pelas estratégias mais indicadas para realizar o procedimento, caso deseje realizar um psicodiagnóstico, terá ele de, obrigatoriamente, aplicar testes psicológicos? Essa confusão conceitual é descrita pela literatura (Wainstein, 2011; Wainstein & Bandeira, 2013). Nesses estudos, investigou-se o que profissionais da saúde e da educação entendem e esperam de um processo psicodiagnóstico para crianças e adolescentes, assim como de que forma encaminham seus pacientes para esse tipo de avaliação. Os resultados indicaram que o conceito de “psicodiagnóstico” é associado ao uso de algum instrumento psicológico, mais especificamente testes que avaliam as capacidades cognitivas, e sugeriram que os profissionais que encaminham seus pacientes não sabem ao certo a nomenclatura que deve ser utilizada, usando “psicodiagnóstico”, “avaliação diagnóstica”, “psicoavaliação”, “testagem”, conforme o tipo de interesse (aspectos cognitivos, aspectos sociais e outros). Essa pesquisa apontou que todas as nomenclaturas usadas representam a avaliação psicológica clínica, mas o termo que aparenta ser o melhor para esses casos é “psicodiagnóstico”, que tem uma definição clara de todo o processo. Para as autoras, não é o uso ou não de testes, ou de determinados tipos de testes, que configura a realização de um psicodiagnóstico, uma vez que, em alguns casos, o psicólogo abrirá mão do uso de testes, especialmente quando não houver testes validados no mercado. Lembram que, para a avaliação de crianças pré-escolares (0 a 6 anos), a observação do desenvolvimento infantil, baseada em critérios, tem sido muito usada entre os profissionais que costumam trabalhar com essa faixa etária. Por fim, concluem dizendo que parece não haver um consenso a respeito da nomenclatura utilizada para designar o encaminhamento de um indivíduo para avaliação psicológica. 19 O PSICODIAGNÓSTICO NECESSITA DE UMA TEORIA PSICOLÓGICA QUE O FUNDAMENTE Felizmente, nas últimas décadas, a área da avaliação psicológica no Brasil tem investido muito no desenvolvimento de instrumentos mais confiáveis, construídos a partir da nossa realidade cultural. É perceptível o aumento da oferta e da qualidade dos testes em nosso país, o que proporcionou maior qualificação dos serviços prestados à população. Sem dúvida, o estudo desses instrumentais qualificou os testes, mas não o processo psicodiagnóstico. Observamos, na atualidade, uma supervalorização dos instrumentos psicométricos e projetivos em detrimento da escuta e da tarefa de síntese compreensiva que deve ser realizada pelo psicólogo a partir de todas as informações coletadas durante a avaliação. Em alguns casos, a teoria psicológica tem cada vez menos influência no 18 HUTZ, BANDEIRA, TRENTINI & KRUG (ORGS.) processo, seja por não orientar o próprio processo avaliativo, seja por não estar contemplada na construção dos instrumentos que são utilizados de forma indiscriminada. Veem-se verdadeiros frankensteins técnicos e teóricos quando psicólogos adotam em seus processos avaliativos técnicas que se estruturam em diferentes teorias (muitas vezes com concepções teóricas e epistemológicas conflitantes). Assim, como avaliar a personalidade de um paciente utilizando, ao mesmo tempo, instrumentos que se alicerçam na psicanálise, na psicologia positiva, na gestalt e na neuropsicologia? O resultado é uma total dependência do profissional ao resultado do teste, fazendo com que ele construa a conclusão de sua avaliação desconsiderando os aspectos específicos de cada disciplina teórica e montando seu diagnóstico de forma ateórica. Entendemos que não é possível descuidar da formação teórica do profissional que deve escolher, administrar, interpretar e integrar os resultados desses instrumentos em um procedimento clínico como o psicodiagnóstico, sob pena de ficarmos reféns dos testes para a realização de qualquer avaliação. Compreendemos que o aperfeiçoamento dos testes, tornando-os mais válidos e fidedignos para o que se propõem examinar, deve ser acompanhado por uma formação teórica que também possibilite um “psicólogo válido” (Bandeira, 2015), 20 capaz de compreender os resultados de um teste ou de uma entrevista com base em uma teoria psicológica que fundamente o trabalho de qualquer psicólogo. Por esse motivo, defendemos que o ensino da avaliação psicológica não pode se abster do aprofundado estudo das teorias psicológicas que fundamentam a técnica de coleta e análise de informações adotada em processos avaliativos. Não compactuamos com uma proposta de avaliação ateórica e não interventiva por entendermos que qualquer leitura e intervenção sobre o comportamento humano, seja com instrumentos objetivos, como testes psicométricos, seja com técnicas menos diretivas, como testes projetivos e entrevistas clínicas, está embasada em paradigmas teóricos e produz modificação no objeto analisado. Assim, não existe a possibilidade de o psicólogo trabalhar sem uma teoria de base, uma vez que os fenômenos são observados e analisados à luz de pressupostos teóricos, em um processo interativo. Figura 3: Nuvem de palavras. 21 O PSICODIAGNÓSTICO É UMA INTERVENÇÃO O afastamento, percebido na atualidade, entre a área da avaliação psicológica e as teorias psicológicas pode ser compreendido, também, pelas reflexões de Barbieri (2008, p. 583). Para ela, . . . o predomínio do pensamento positivista nas Ciências Sociais e Humanas trouxe consigo, ao longo da história, uma dissociação entre pesquisa acadêmica e prática profissional. Essa situação ocasionou um empobrecimento na produção de conhecimentos oriundos do trato direto com as pessoas ou a ele destinados, promovendo um distanciamento daquilo que deveria se constituir na meta principal do nosso trabalho como psicólogos. É perigoso considerar as práticas avaliativas apenas em sua dimensão investigativa, excluindo os aspectos interventivos e terapêuticos que lhes são inerentes. Para Barbieri (2008), a separação entre as atividades de investigação e de intervenção é resultado do olhar positivista, que busca atingir um ideal de objetividade para a pesquisa científica. A autora entende que um psicodiagnóstico isento de intervenções pode trazer ao paciente muitos malefícios. As entrevistas iniciais empregadas sem intervenção, além de não atingirem seus objetivos de formular o diagnóstico e iniciar o tratamento, desperdiçam a chance de o paciente estabelecer contato com outra pessoa, o que pode resultar em uma experiência terapêutica negativa. Assim, entende-se que usar o termo “psicodiagnóstico” apenas para as situações em que os testes psicológicos são utilizados com a intenção de tornar mais objetiva a avaliação parece estar em consonância com a visãopositivista. Pode-se pensar que a rejeição, por parte de alguns profissionais que realizam avaliações clínicas, ao uso tradicional do termo “psicodiagnóstico” para a descrição das práticas avaliativas é uma forma de manter-se distante da perspectiva positivista de investigação do objeto totalmente separada do observador. Além disso, essa noção está em desacordo com as muitas propostas contemporâneas que debatem a complexidade humana e a intersubjetividade. Portanto, ao considerarmos as características da pesquisa qualitativa e quantitativa pós - moderna associadas à prática avaliativa, pode-se pensar que 22 o uso do termo “psicodiagnóstico” deva incluir a preocupação clínica não apenas com a objetividade diagnóstica, mas também com o processo avaliativo. Por meio de relatos, produzidos em entrevistas e/ou com o uso de outras técnicas, o sujeito conta sua história, suas experiências, as revive no relacionamento com o psicólogo, fazendo com que, como afirma Barbieri (2010), possa modificar-se com o auxílio das devoluções. O psicodiagnóstico abrange qualquer tipo de avaliação psicológica de caráter clínico que se apoie em uma teoria psicológica de base e que adote uma ou mais técnicas (observação, entrevista, testes projetivos, testes psicométricos, etc.) reconhecidas pela ciência psicológica. Não sugerimos a adoção do termo para situações avaliativas em contextos jurídicos ou organizacionais, uma vez que, nessas situações, estão presentes outras variáveis geralmente não encontradas no contexto clínico, como a simulação e a dissimulação conscientes. Também não compreendemos que o psicodiagnóstico se limite, em todos os casos, a uma avaliação de sinais e sintomas, tendo com resultado apenas um diagnóstico nosológico, o que se aproximaria muito de uma avaliação psiquiátrica. Tampouco entendemos que uma simples aplicação de um teste, por mais complexo que ele possa ser, deva ser entendida como psicodiagnóstico. Reservamos o termo para descrever um procedimento complexo, interventivo, baseado na coleta de múltiplas informações, que possibilite a elaboração de uma hipótese diagnóstica alicerçada em uma compreensão teórica. Figura 4: Avaliação psicodiagnóstica. 23 REFERÊNCIAS PSICODIAGNÓSTICO. HUTZ, BANDEIRA, TRENTINI & KRUG (ORGS.). Avaliação Psicológica & Psicodiagnóstico. Disponível em: https://cdn.awsli.com.br/362/362352/arquivos/amostra%20- %20AVALIACAO%20PSICOLOGICA%20&%20PSICODIAGNOSTICO.pdf. Acesso em: 13 dez. 2020. OLIVEIRA, Patricia Silva. A REALIZAÇÃO DE UM PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL. 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