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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 
 
 
BRUNO PEREIRA MALHEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTRATÉGIA DE GOVERNO DIGITAL: desafios para a 
universalização dos serviços públicos digitais na 
Administração Pública Federal brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2020 
 
BRUNO PEREIRA MALHEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Graduação 
Interdisciplinar apresentado como 
requisito para obtenção do título de 
Bacharel no Curso de Direito da 
Universidade Presbiteriana 
Mackenzie. 
 
 
 
 
 
 
 
ORIENTADOR(A): Dra. Maria Edelvacy Pinto Marinho 
 
 
 
 
São Paulo 
2020 
 
BRUNO PEREIRA MALHEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTRATÉGIA DE GOVERNO DIGITAL: desafios para a 
universalização dos serviços públicos digitais na 
Administração Pública Federal brasileira. 
 
 
 
 
Trabalho de Graduação 
Interdisciplinar apresentado como 
requisito para obtenção do título de 
Bacharel no Curso de Direito da 
Universidade Presbiteriana 
Mackenzie. 
 
 
 
Aprovad(o)a em: 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 
Examinador(a): Dra. Maria Edelvacy Pinto Marinho 
 
 
 
Examinador(a): 
 
 
 
Examinador(a): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus e a minha família. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A Deus, por tudo que Ele me proporcionou, e a minha família, em especial, meus 
queridos pais, Nélio e Kinha, minha irmã Laine e minha namorada Ediane, que sempre me 
apoiaram e me ajudaram para eu seguir nesta trajetória. 
À minha orientadora, Professora Maria Edelvacy Pinto Marinho, que além de 
transmitir seu conhecimento, foi uma grande incentivadora do desenvolvimento deste 
trabalho, sempre disponível, cordial e compreensiva. 
Aos amigos que fiz durante o curso e que sempre estiveram disponíveis para 
conversar, compartilhar dúvidas e também, não menos importante, para aproveitar bons 
momentos da vida, cito alguns, com a ressalva de esquecer alguns, a minha querida 
professora Carolina Theodoro Mota Mourão, que sempre me inspirou e incentivou, amigos 
de faculdade Paulo Pereira, Pedro Paulo Genga, Felipe Natil, Ivan Sampaio, Daniel 
Azevedo, José Paulo Pavan, Frederico Chang e Pedro Paulo Pavan. 
Por fim, agradeço a todos que de alguma maneira contribuiram para essa conquista. 
Sou eternamente grato!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A necessidade é a mãe da 
inovação. (Platão) 
RESUMO 
 
 
A digitazação dos serviços públicos ofertados aos cidadãos é hoje uma realidade comum e 
parte integrante das estratégias de modernização adotadas pelo Brasil, principalmente a 
partir de 2016, quando foram publicados importantes decretos referentes à Política de 
Governança Digital. Nesse sentido, o objetivo central deste trabalho foi de (i) analisar se a 
Estratégia de Governo Digital, instituída pelo Decreto nº 10.332/2020, previu iniciativas de 
inclusão digital ou medidas para a universalização dos serviços públicos digitais, (ii) 
identificar se os serviços públicos digitais estão substituindo totalmente os serviços públicos 
presenciais; e (iii) comprender em que medida essa digitalização do governo promove a 
desigualdade no acesso aos serviços públicos. Para se chegar aos resultados, o presente 
trabalho se valeu de uma abordagem qualitativa e quantitativa, em que houve uma 
minuciosa revisão bibliográfica sobre o tema, utilizando-se de vários indicadores nacionais 
e internacionais, além de adotar o método de raciocínio hipotético-dedutivo. Mediante a 
pesquisa, concluiu-se que a Estratégia de Governo Digital não previu medidas efetivas de 
inclusão digital e, desse modo, deixou de observar o princípio da universalização dos 
serviços públicos e, por consequência, pode agravar a desigualdade social existente no País. 
Por último, não foi possível afirmar se está havendo a total substituição de serviços públicos 
presenciais em digitais. 
 
PALAVRAS CHAVES: Estratégia de Governo Digital, Inclusão Digital, 
Universalização dos serviços públicos digitais. 
ABSTRACT 
The digitization of public services offered to citizens is now a common reality and an 
integral part of the modernization strategies adopted by Brazil, mainly from 2016, when 
important decrees regarding the Digital Governance Policy were published. In this sense, 
the central objective of this work was to (i) analyze whether the Digital Government 
Strategy, instituted by Decree nº 10.332 / 2020, foresaw digital inclusion initiatives or 
measures for the universalization of digital public services, (ii) identify whether digital 
public services are totally replacing face-to-face public services; and (iii) understanding to 
what extent this digitalization of the government promotes inequality in access to public 
services. To arrive at the results, the present work used a qualitative and quantitative 
approach, in which there was a thorough bibliographic review on the theme, using several 
national and international indicators, in addition to adopting the hypothetical-deductive 
reasoning method. Through the research, it was concluded that the Digital Government 
Strategy did not foresee effective measures for digital inclusion and, thus, failed to observe 
the principle of universal public services and, consequently, may aggravate the existing 
social inequality in the country. Finally, it was not possible to state whether there is a total 
substitution of public services in person in digital. 
KEY WORD: Digital Government Strategy, Digital inclusion, Universalization of 
digital public services.
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Índice Internacional de Economia e Sociedade Digital (I-DESI). 
Tabela 2 – Critério Conectividade. 
Tabela 3 – Critério “Uso de Serviços de Internet por Cidadão”. 
Tabela 4 - Critério "Serviços Públicos Digitais". 
Tabela 5 - Índice de Desenvolvimento de Governo Eletrônico (EGDI). 
Tabela 6 - Índice de Governo Digital da OCDE (DGI). 
Tabela 7 – Domicílios com computador. 
Tabela 8 – Indivíduos que já utilizaram um computador. 
Tabela 9 – Domicílios com acesso à internet. 
Tabela 10 – Domicílios com acesso à internet, por tipo de conexão. 
Tabela 11 – Domicílios sem acesso à internet, por principal motivo para a falta de internet. 
Tabela 12 – Indivíduos que já acessaram a internet. 
Tabela 13 - Usuários de internet, por dispositivo utilizado de forma exclusiva ou simultânea. 
Tabela 14 – Indivíduos que utilizaram governo eletrônico nos últimos 12 meses. 
Tabela 15 – Usuários de internet que não usaram governo eletrônico nos últimos 12 meses, 
por motivos para não utilização. 
Tabela 16 – Estratégia Brasileira para a Transformação Digital (E-Digital). 
Tabela 17 - Custo de certificado digital e-CPF para smartphone e computador pela 
CERTISIGN, pelo prazo de 12 meses. 
Tabela 18 - Custo de certificado digital e-CPF para computador pela Serasa Experian, pelo 
prazo de 12 meses. 
Tabela 19 – Serviços relacionados ao CPF oferecidos online pela Receita Federal. 
SUMÁRIO 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................11 
2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA COMPREENSÃO DO GOVERNO 
DIGITAL....................................................................................................................... ....14 
2.1 Conceito de Políticas Públicas...................................................................................14 
2.1.1 Fontes das Políticas Públicas.....................................................................................15 
2.1.2 Caracterícas das Políticas Públicas............................................................................15 
2.1.3 Conceito Jurídico dePolíticas Públicas.....................................................................15 
2.2 Metodologia de analise das Políticas Públicas para a transformação digital do 
governo brasileiro: uma analise ex ante. ..........................................................................17 
2.3 Serviços Públicos.........................................................................................................19 
2.3.1 Conceito de Serviços Públicos...................................................................................19 
2.3.2 Príncípios dos Serviço Públicos.................................................................................21 
2.3.3 Conceito de Serviços Públicos Digitais.....................................................................22 
3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA ERA DIGITAL................................................24 
3.1 Do Governo Eletrônico (e-Gov) para o Governo digital: conceitos e definições...24 
3.2 Evolução do e-Gov na Administração Pública Brasileira.......................................27 
3.3 Governo Digital brasileiro no cenário internacional...............................................28 
3.3.1 Índice Internacionl de Economia e Sociedade Digital (I-DESI)................................29 
3.3.2 Índice de Desenvolvimento de Governo Eletrônico (EGDI).....................................32 
3.3.3 Índice de Governo Digital da OCDE 
(DGI)..................................................................................................................................34 
4. REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA QUE NÃO ACOMPANHA A 
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DO GOVERNO........................................................39 
4.1 TIC Domicílios – 2019................................................................................................ 39 
4.1.1 Domicílios que possuem computador........................................................................40 
4.1.2 Indivíduos que já utilizaram um computador.............................................................41 
4.1.3 Domicílios com acesso à internet.............................................................................. 41 
4.1.4 Domicílios com acesso à internet, por tipo de conexão............................................ 43 
4.1.5 Domicílios sem acesso à internet, por principal motivo para a falta de internet.......44 
4.1.6 Indivíduos que já acessaram a internet......................................................................44 
4.1.7 Usuários de internet, por dispositivo utilizado de forma exclusiva ou simultânea...45 
4.1.8 Indivíduos que utilizaram governo eletrônico nos últimos 12 meses.......................46 
4.1.9 Usuários de internet que não usaram governo eletrônico nos últimos 12 meses, por 
motivos para não utilização................................................................................................47 
5. ANÁLISE EX ANTE DA ESTRATÉGIA DE GOVERNO DIGITAL (EGD).......49 
5.1 Falta de compromisso da Estratégia de Governo Digital com a inclusão 
digital.................................................................................................................................57 
5.2 Dificuldade na autenticação de identidade do usuário de serviço público............60 
5.3 Heterogeneidade dos usuários...................................................................................60 
5.4 Substituição total de serviços públicos presenciais por serviços públicos 
digitais................................................................................................................................64 
6. CONCLUSÃO...............................................................................................................66 
7. REFERÊNCIAS............................................................................................................68 
 
 
 
 
11 
 
1. INTRODUÇÃO 
Todo cidadão, em algum momento de sua vida, interagirá com o governo, seja para 
receber, prestar ou oferecer serviços. Tradicionalmente, quando um cidadão precisa da 
prestação de algum serviço público, ele se dirige até um órgão público para ser atendido e ter 
suas necessidades satisfazidas. Comumente chamado de “atendimento no balcão”, o cidadão 
que procura o serviço, na maioria dos casos, não precisa ter requisito específico como 
escolaridade, idade ou condições financeiras para ser atendido diante de um servidor público: 
basta se dirigir ao balcão de determinado orgão público e solicitar verbalmente o serviço. No 
máximo, deverá saber a localização do órgão público desejado e, em seguida, realizar o 
deslocamento para tal órgão. 
Contudo, com a digitalização massiva dos serviços públicos, questiona-se o alcance 
desses serviços públicos digitais àqueles que são vulneráveis em todos os sentidos da palavra. 
Importante ressaltar, desde já, que não há qualquer contrariedade em implementar 
novas tecnologias para a modernização e digitalização do Estado. Pelo contrário, é de suma 
importância a utilização de novas tecnologias pelo Poder Público para se colher todos os 
benefícios que essas tecnologias podem proporcionar, tanto para a Administração Pública como 
para a sociedade. O que se debate aqui, portanto, é se esse avanço almejado e em execução pelo 
Governo Federal está alcançando aqueles que mais dependem do serviço público: os mais 
pobres. 
Para piorar esse cenário, adveio a pandemia do novo coronavírus. Nesse momento, foi 
fundamental o emprego e uso de tecnologias para evitar as aglomerações de pessoas e, com 
isso, conter o avanço do contágio e desafogar o sistema de saúde, medidas estas adotadas em 
todo o mundo. 
No Brasil, no que se refere à produção legislativa, a primeira medida foi o 
reconhecimento da calamidade pública causada pelo COVID-19, mediante a publicação do 
Decreto Legislativo nº 6, em 18 de março de 2020. Ademais, outras legislações foram editadas 
durante a pandemia. Aulas presenciais em escolas e faculdades foram substituídas por aulas 
remotas (Lei nº 14.040/2020); servidores públicos foram colocados para o regime permanente 
de home office (Decreto nº 59.755/2020 do Município de São Paulo); consulta médica 
presencial foi substituída pela telemedicina (Lei nº 13.989/2020), entre tantas outras medidas. 
Percebe-se, portanto, a expansão dos serviços públicos digitais nesse período. 
12 
 
No entanto, além da crise de saúde pública causada pelo COVID-19 e da grave crise 
financeira, outra ficou ainda mais evidente: escancarou os níveis de desigualdade digital 
existente no Brasil e no mundo. Para aqueles que dependiam de serviços públicos essenciais, 
como educação, saúde, e até a fruição do benefício do Auxílio Emergencial, foram tolhidos dos 
seus direitos, pois não tinham acesso à internet ou, quando tinham, o acesso era precário. 
Em se tratando de serviços públicos, o acesso deve ser universal, ou seja, estar 
disponível para todos os cidadãos independentemente da renda, nível de escolaridade, 
localização geográfica ou condições de acesso à recursos tecnológicos. 
Diante desse cenário, logo após da publicação do decreto reconhecendo a calamidade 
pública, o Governo Federal publicou, em 28 de abril de 2020, o Decreto nº 10.332, onde 
instituiu a Estratégia de Governo Digital (EGD) para o período de 2020 a 2022, no âmbito dos 
órgãos e das entidades da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, em 
que estabelece objetivos, princípios e metas a serem atingidos para a transformação digital tanto 
do governo como nos serviços públicos. 
A partir do exposto, pretende-se identificar se nessa Estratégia de Governo Digital há 
alguma iniciativa, objetivo ou meta a ser atingida no sentindo de universalizar o acesso aos 
serviços públicos digitais, ou seja, medidas de inclusão digital, providências estas 
imprescidíveis, notadamente nesse momento em que a sociedade brasileira mais precisa da 
intervenção do Estado, especialmenteentre os mais pobres. 
Para tanto, o presente trabalho se fundamentou em pesquisa qualitativa e quantitativa, 
revisitando as principais fontes bibliografias sobre o tema, na qual se orientou a (i) verificar se 
existem instrumentos ou mecanismos de inclusão digital ou de universalização dos serviços 
públicos digitais; (ii) identificar se os serviços públicos digitais estão substituindo totalmente 
os serviços públicos presenciais; e (iii) analisar em que medida essa digitalização do governo 
promove a desigualdade no acesso aos serviços públicos. 
Este trabalho está organizado em 4 capítulos, além da introdução e da conclusão. No 
primeiro capítulo, abordou os conceitos necessários para a adequada análise da política de 
transformação digital do governo. Para tanto, trouxe conceito de política pública, a metodologia 
adotada para a análise da Estratégia de Governo Digital, além do conceito de serviço público e 
seus prinícipios norteadores. No capítulo seguinte, trouxe o contexto e evolução da 
administração pública brasileira na era digital, com definições de governo eletrônico e governo 
digital e sua transição, bem como demonstrando o status quo do Brasil em relação ao seu nível 
13 
 
de governo digital no cenário internacional, usando indicadores da Comissão Europeia, da 
Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização para a Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Por sua vez, o capítulo 4 demonstra a realidade 
brasileira em relação à sua conectividade com a internet e os meios e dispositivos utilizados 
para esse acesso, com indicadores do TIC Domilícios 2019, produzido pelo Centro Regional de 
Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC). Já no capítulo 5, é 
realizada a análise ex ante da Estratégia de Governo Digital, cujo escopo é identificar as 
iniciativas de inclusão digital e de universalização dos serviços públicos digitais, além de 
apontar os desafios na implementação de tais serviços, bem como verificar o agravamento da 
desigualdade de acesso aos serviços públicos por meio digital. Por fim, em conclusão, sintetiza 
os resultados encontrados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA COMPREENSÃO DO GOVERNO 
DIGITAL 
Nesse capítulo, será apresentado o conceito de políticas públicas, bem como seus 
elementos constitutivos. Ademais, menciona-se a definição de serviços públicos, além dos 
princípios que regem tais serviços. Por fim, cita-se a metodologia utilizada para analisar a 
política pública do Governo Federal intitulada “Estratégia de Governo Digital – 2020/2022”. 
 
2.1 Conceito de Políticas Públicas: 
 
Como o presente trabalho pretende avaliar se as políticas públicos de transformação 
digital do governo dispõe de mecanismos de promoção da universalização de acesso dos 
serviços públicos digitais, especialmente para os mais vulneráveis, é necessário comprender o 
que se entende por “políticas públicas”, bem como identificar seus elementos essenciais. 
Importante mencionar que as políticas públicas constituem tema cada vez mais 
debatido no âmbito jurídico. Entender o que fazem os governantes, por que o fazem e as 
consequências da sua atuação atraiu a curiosidade de pesquisa pelos operadores do direito. Para 
entender esse fenômeno, é preciso partir do estudo sobre este conceito, que não é restrito à área 
jurídica, mas com ela está intimamente relacionado1. 
Desse modo, o Estado assume a tarefa de proporcionar prestações necessárias e 
serviços públicos adequados para o pleno desenvolvimento da sociedade, de modo que, a ação 
dos governantes deve ser racional e planejada, o que ocorre por meio da elaboração e 
implementação de políticas públicas. 
Como tipo ideal, a política pública deve visar à realização de objetivos definidos, 
expressando a seleção de prioridades, a reserva de meios necessários à sua consecução e o 
intervalo de tempo em que se espera o atingimento dos resultados. 
A política pública, de acordo com essa concepção, está voltada à realização de direitos 
por meio de arranjos institucionais que se expressam em programas de ação governamental 
complexos. Trata-se de uma série de estratégias para fomentar o uso racional dos meios e 
recursos postos à disposição do Poder Público para desempenhar as tarefas próprias do Estado 
 
1 SMANIO, Gianpaolo Poggio; BERTOLIN, Patrícia Tuma Martins (Orgs.). O Direito e as políticas públicas no 
Brasil. São Paulo: Grupo GEN, 2013. 9788522484072. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522484072/. p. 37. Acesso em: 18/10/2020. 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522484072/
15 
 
Social e Democrático de Direito. 
Para buscar um conceito de política pública, utilizaremos a definição trazida pela 
ilustre Professora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Maria Paula Dallari 
Bucci, conforme será demonstrado a seguir. 
2.1.1 Fontes das Políticas Públicas: 
Antes de trazer o conceito de políticas públicas, atenta-se, inicialmente, mencionar as 
fontes das políticas. 
Pode-se dizer que as políticas públicas têm distintos suportes legais. Podem ser 
expressas em disposições constitucionais, ou em leis, ou ainda em normas infralegais, como 
decretos e portarias e até mesmo em instrumentos jurídicos de outra natureza, como contratos 
de concessão de serviço público, por exemplo. Contudo, para tornar-se realidade, demanda uma 
série de outras medidas, como a criação de órgãos, a celebração de convênios, a contratação de 
pessoal, a decisão sobre a alocação de recursos entre tantos outros. 
Ressalta-se que nem tudo o que a lei ou decreto chama de política é política pública. 
Tem legislações que falam que é uma política pública, mas não é, ao mesmo tempo que tem 
legislações que não mencionam que é uma política pública, mas concretamente é uma política 
pública. Evidencia, desse modo, a dificuldade de enquandrar uma legislação como política 
pública ou não. 
2.1.2 Caracterícas das Políticas Públicas: 
 
As políticas públicas não são, portanto, categoria definida e instituída pelo direito, mas 
arranjos complexos, típicos da atividade político-administrativa, que a ciência do direito deve 
estar apta a descrever, compreender e analisar, de modo a integrar à atividade política os valores 
e métodos próprios do universo jurídico. 
Ademais, a lei, como categoria jurídica, caracteriza-se pela generalidade e abstração. 
Embora tenha uma dimensão teleológica, isto é, vise atingir um fim, isso não lhe confere, 
necessariamente, finalidade específica e concreta. 
Dessa maneira, as políticas, diferentemente das leis, não são gerais e abstratas, mas, 
ao contrário, são forjadas para a realização de objetivos determinados. 
 
2.1.3 Conceito Jurídico de Políticas Públicas: 
16 
 
Feita essas considerações, apresenta-se a definição de política pública trazida pela 
Maria Paula Dallari Bucci2. Para ela, política pública é um: 
[..] programa de ação governamental que resulta de um processo ou 
conjunto de processos juridicamente regulados – processo eleitoral, 
processo de planejamento, processo de governo, processo 
orçamentário, processo legislativo, processo administrativo, processo 
judicial – visando coordenar os meios à disposição do Estado e as 
atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente 
relevantes e politicamente determinado. 
Dissecando-se o conceito apresentado acima, extraem-se os elementos de estruturação 
a seguir analisados. São eles: ação-coordenação, processo e programa. 
Programa: 
Na literatura específica, segundo a autora, o programa remete ao conteúdo 
propriamente dito de uma política pública. A definição prévia desse conteúdo se faz necessária 
não apenas quando se delineiam as alternativas, mas também quando se tomaa decisão que 
redunda na implementação da política. Do mesmo modo, a fase de avaliação requer os 
contornos precisos dos resultados propostos na fase inicial. 
A utilidade do elemento programa é individualizar unidades de ação administrativa, 
relacionadas aos resultados que se pretende alcançar. O programa corresponde ao delineamento 
geral da política. 
No núcleo do programa administrativo constam os objetivos concretos da política, nas 
suas camadas internas, os elementos operacionais (instrumentos) e os elementos de avaliação, 
e finalmente, nas camadas externas, os elementos instrumentais e procedimentais, bem como 
os arranjos políticos-administrativos, os meios financeiros e outros recursos. 
Os programas bem construídos devem apontar também os resultados pretendidos, 
indicando, ainda, quando possível, o intervalo de tempo em que isso deve ocorrer. Tais 
parâmetros serão úteis na avaliação dos resultados da política pública, após a sua 
implementação. 
Ação-coordenação: 
 
2 BUCCI, Maria Paula Dallari (org.). Políticas Públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 
2006, p. 39. 
17 
 
A nota característica da política pública é tratar-se de programa de ação. Nesse sentido, 
ao situar-se entre as categorias da validade e da eficácia jurídica, na classificação kelseniana, 
ressalta na política pública a dimensão da eficácia social, a chamada efetividade. O ideal de 
uma política pública, vista pelo direito, não se esgota na validade, isto é, na conformidade do 
seu texto como o regramento jurídico que lhe dá base, nem na eficácia jurídica, que se traduz 
no cumprimento das normas do programa. O ideal de uma política pública é resultar no 
atingimento dos objetivos sociais (mensuráveis) a que se propôs; obter resultados determinados, 
em certo espaço de tempo. 
Processo: 
O termo processo conota sequência de atos tendentes a um fim, procedimento, 
agregado do elemento contraditório. Este último, no contexto da formulação de políticas 
públicas, associa à abordagem jurídica inequívoca dimensão participativa. 
Outro aspecto do elemento processual no conceito de política pública é a consideração 
sistemática do fator temporal. Tanto no que diz respeito ao período para a obtenção dos 
resultados visados pelo programa, como no que concerne aos períodos propícios ou não para a 
inclusão de questões na agenda pública, para a formulação de certas alternativas, para a adoção 
de certas decisões, e assim por diante. 
Com o conceito de políticas públicos posto, passa-se a discutir o conceito de serviços 
públicos, conforme será apresentado a seguir. 
2.2 Metodologia para analise das Políticas públicas para a transformação digital do 
governo brasileiro: uma analise ex ante: 
Para a análise das políticas públicas de governo digital, será utilizado como referência 
o documento “Avaliação de Políticas Públicas: guia prático de análise ex ante3”, guia 
elaborado pela Casa Civil da Presidência da República, pelo então Ministério da Transparência 
e Controladoria-Geral da União (CGU), pelo então Ministério da Fazenda, pelo então 
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, pelo Instituto de Pesquisa Econômica 
Avançada (IPEA), com a colaboração do Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados 
para o Brasil e África Lusófona da Fundação Getulio Vargas (CLEAR/FGV) e do Centre for 
 
3 BRASÍLIA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Casa Civil da Presidência da República (ed.). Avaliação 
de Políticas Públicas: guia prático de análise ex ante. Guia Prático de Análise Ex Ante. 2018. Disponível em: 
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=32688. Acesso em: 29 set. 
2020. p. 42. 
 
18 
 
Public Impact (CPI). 
O guia prático oferece uma introdução acessível ao tema da avaliação ex ante de 
políticas públicas. Ele apresenta orientações práticas das principais etapas para o desenho, a 
implementação e a análise de impactos de ações do Governo Federal. 
A escolha desse guia prático se deve pelo fato de que muitas metas e objetivos 
previstos na Estratégia de Governo Digital para a transformação digital do governo ainda estão 
em execução. Dessa forma, não foi possível avaliar todos os resultados, pois determinadas 
políticas estão em plena implemantação com metas a serem cumpridas em datas futuras. 
Portanto, tornou-se inviável e inadequado uma análise ex post das políticas. 
Assim sendo, uma análise ex ante é realizada antes da efetiva implementação da ação 
governamental, partindo-se da identificação e caracterização de um problema que demandaria 
intervenção do Estado. Em função disso, observa-se se há um objetivo claro de atuação do 
Estado e se propõe um desenho que efetivamente possa ser alcançado. Nesse sentido, é de suma 
importancia que as políticas públicas experimente essa análise ex ante para que os recursos 
públicos e o bem-estar da sociedade sejam otimizados. O benefício dessa análise é, dentre 
outros, evitar a detecção posterior de erros de formulação e de desenho, que com maior 
racionalidade no processo inicial de implantação da política, poderiam ter sidos previstos e 
eliminados. 
Ressalta-se, que a análise da Estratégia de Governo Digital será realizada no capítulo 
6 deste trabalho. 
Para a analíse ex ante proposto pelo presente trabalho, foram elencados as seguintes 
etapas prevista no guia supracitado, quais sejam: 
I) Diagnóstico do problema: 
a) Qual problema ou necessidade a prosposta visa solucionar: 
b) Quais as razões para que o Governo Federal intervenha no problema; 
c) Apresentar levantamento de políticas anteriormente adotadas para combater o mesmo 
problema; 
II) Caracterização da política: objetivos, ações, público-alvo e resultados esperados; 
a) Qual o objetivo da proposta; 
b) Quais sãos os resultados e os impactos esperados para a sociedade; 
19 
 
c) Quais são as ações a serem implantadas e quais são as metas de entrega; 
III) Desenho, estratégia de implementação e focalização: 
a) Quais são os agentes públicos e privados envolvidos e como atuaraão na política: 
b) Apresentar possíveis articulações com outras políticas em curso no Brasil: 
c) Qual o público-alvo que se quer atingir: 
IV) Estratégias de monitoramento, de avaliação e de controle; 
a) Como será realizado o monitoramento e quais serão os indicadores desse monitoramento 
ao longo da execução da política; 
b) Como se dará a transparência e publicação das informações e dos dados da política; 
V) Impacto orçamentário e financeiro; 
a) Apresentar análise dos custos da proposta para os entes públicos e os particulares afetados; 
 
2.3 SERVIÇOS PÚBLICOS: 
 
Neste tópico, será apresentada o conceito de serviços públicos, além de tentar trazer 
um conceito de serviços públicos digitais, conceito este pouco explorado na doutrina. Na 
sequência, apresenta-se os princípios que regem os serviços públicos. 
 
2.3.1 Conceito de Serviços Públicos: 
 
Deve-se atentar, preliminarmente, para a circunstância de que a Constituição Federal 
não conceitua serviço público, tampouco as leis infraconstitucionais. Desse modo, restou a 
doutrina a tarefa de definir o que se entende por serviço público. 
No entanto, não existe um conceito doutrinário consensual de “serviço público”. O que 
existe são correntes teóricas que tentam identificar e conceituar essa atividade prestada pelo 
Estado. 
De forma geral, os principais administrativistas elencam três critérios para sua 
definição: são os critérios subjetivo, formal e material. Alguns desses administrativistas adotam 
um critério isoladamente ou a combinação de critérios, na qual conduz em uma gama variada 
20 
 
de definições. Veja-se: 
a) Critério objetivo: busca identificar o serviço público por meio da avaliação do 
conteúdo material da atividade. Atividades essenciais paraa coletividade seriam 
serviços públicos. 
Crítica: há atividades que são, na verdade, mera comodidade. Dessa forma, existe 
serviços públicos que não são atividades essenciais. 
b) Critério subjetivo: busca identificar o serviço público por meio da pessoa do seu 
prestador (o sujeito), ou seja, analisa quem presta o serviço e, só assim, identificar se se 
trata de serviço público ou não. Nesse critério, seria serviço público aquele prestado 
pelo estado. 
Crítica: pessoa jurídica de direito privado também presta o serviço público. 
c) Critério formal: procura identificar o serviço público pelo seu regime jurídico 
(conjunto de normas que a ele se aplica). O serviço público seria aquele regido pelo 
direito público. 
Crítica: o serviço público também é regido por normas de direito privado. 
Como foi demostrado acima, esses critérios não são suficientes para descrever o 
fenômeno de serviço público. Cumpre apontar a existência de definições amplas e definições 
restritas de serviço público, assim consideradas conforme o tipo de atividades que nelas se 
incluam. 
No conceito em sentido amplo, serviço público é toda a atividade realizada pelo Estado 
ou por seus delegados, que tem por objetivo atender ao interesse público, ou seja, alcançar os 
fins do Estado em conformidade com a legislação. Contudo, o conceito amplo tem sido cada 
vez menos utilizados pelos administrativistas em geral. 
Já em sentido restrito, é o conceito efetivamente adotado pelos autores atuais para 
conceituar serviço público. As mais importantes são as duas abaixo referidas. 
Um conceito restrito de serviço público perfilhado pela doutrinadora Maria Sylvia Di 
Pietro é o que abrange todas as prestações de utilidades ou comodidades materiais efetuadas 
diretamente à população, pela administração pública ou pelos delegatários de serviços públicos, 
e também as atividades internas ou atividades-meio da administração, voltadas apenas 
indiretamente aos interesses ou necessidades dos administrados. 
21 
 
Por fim, a mais restrita, proposta por Celso Antônio Bandeira de Mello, considera 
serviço público unicamente a prestação direta à população, pela administração pública ou pelos 
delegatários de serviços públicos, de utilidades ou comodidades materiais voltadas à satisfação 
de suas necessidades ou meros interesses. 
Dessa forma, serviço público é conceituado como toda a atividade realizada pelo 
Estado, ou por seus delegados, que tem por objetivo, a realização de atividades essenciais ou 
comodidades para a coletividade em geral, sendo regulada por um regime jurídico total ou 
parcialmente de direito público. 
Além do conceito de serviço público, é importante mencionar os princípios que regem 
tais serviços prestados pelo Estado e por seus delegados. 
 
2.3.2 Príncípios dos Serviço Públicos: 
 
Sendo voltados aos membros da coletividade, os serviços públicos a cargo do Estado 
ou de seus delegados devem obedecer a certos padrões compatíveis com o prestador, os 
destinatários e o regime a que se sujeitam. Há aspectos particulares a cada tipo de serviço, mas, 
de outro lado, avultam outros vetores, de caráter genérico, que devem estar presentes na 
prestação de todas as modalidades. Esses aspectos genéricos constituem os princípios regedores 
dos serviços públicos. Vejamos tais princípios, na forma como apontados pelos doutrinadores4. 
i) Princípio da Generalidade/Universalidade: 
O princípio da generalidade apresenta-se com dupla faceta. Significa, de um lado, que 
os serviços públicos devem ser prestados com a maior amplitude possível, vale dizer, deve 
beneficiar o maior número possível de indivíduos. Além disso, é imperioso avaliar, da mesma 
forma, a extensão territorial dentro da qual o serviço é executado, e isso porque quanto maior 
for a extensão, maior será decerto o número de pessoas beneficiadas pela atuação estatal. 
Mas é preciso dar relevo também ao outro sentido, que é o de serem eles prestados sem 
discriminação entre os beneficiários, quando tenham estes as mesmas condições técnicas e 
jurídicas para a fruição. Cuida-se de aplicação do princípio da isonomia ou, mais 
especificamente, da impessoalidade (art. 37, CF). Alguns autores denominam esse modelo de 
 
4 Carvalho Filho, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 34. ed. – São Paulo: Atlas, 2020. p. 164. 
22 
 
princípio da igualdade dos usuários, realçando, portanto, a necessidade de não haver 
preferências arbitrárias. 
 
ii) Princípio da Eficiência: 
Deve o Estado prestar seus serviços com a maior eficiência possível. A eficiência 
reclama que o Poder Público se atualize com os novos processos tecnológicos, de modo que a 
execução seja mais proveitosa com menor dispêndio. 
Fator importante para a Administração reside na necessidade de, periodicamente, ser 
feita avaliação sobre o proveito do serviço prestado. Desse modo, poderá ser ampliada a 
prestação de certos serviços e reduzida em outros casos, procedendo-se à adequação entre o 
serviço e a demanda social. Se inexiste adequação, não há eficiência. 
 
iii) Princípio da Continuidade: 
Esse princípio indica que os serviços públicos não devem sofrer interrupção, ou seja, 
sua prestação deve ser contínua para evitar que a paralisação provoque, como às vezes ocorre, 
colapso nas múltiplas atividades particulares. A continuidade deve estimular o Estado ao 
aperfeiçoamento e à extensão do serviço, recorrendo, quando necessário, às modernas 
tecnologias, adequadas à adaptação da atividade às novas exigências sociais. 
Além desses princípios, outros são mencionados na Lei nº 8.987/95 (que disciplina a 
concessão e a permissão de serviços públicos), cujo artigo 6º, § 1º, considera como serviço 
adequado “o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, 
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”. 
 
2.3.3 Conceito de Serviços Públicos Digitais: 
 
Se já havia grande divergência entre os administrativistas em relação ao conceito de 
serviço público, tal cenário piora no que tange aos serviços públicos digitais. Na verdade, a 
totalidade dos livros doutrinários pesquisados não abordaram sobre o conceito de serviços 
públicos digitais. Isso demonstra que é fundamental a academia acompanhar os avanços desse 
instituto. 
Todavia, em pesquisas em periódicos e artigos, foi possível identificar rascunhos de 
23 
 
alguns conceitos. Assim sendo, serviços públicos digitais5 pode ser entendido pela prestação de 
serviços por meio de portais governamentais; o uso de internet, mas também de outros meios 
de telecomunicação, tais como o telefone celular, o telefone fixo, o fax e a televisão digital 
(serviço público de radiodifusão sonora e de sons e imagens); ou por call center (centrais de 
atendimento telefônico). 
No que se refere à universalidade (ou generalidade), tem-se que a prestação de serviços 
públicos por meio das TICs impõe que a Administração Pública os oferte a todos os cidadãos, 
garantindo a maior extensão possível de disponibilização aos interessados. Isto é, não é porque 
o serviço é prestado por meio digital que não se deva garantir a universisalidade do serviço. 
É possível encontrar, também, difinições na legislação nacional. Por exemplo, cite-se 
o Decreto nº 8.936/16, que instituiu a Plataforma de Cidadania Digital e dispõs sobre a oferta 
dos serviços públicos digitais. Em seu art. 2º, inciso II, define serviço público digital como 
“serviço público cuja prestação ocorra por meio eletrônico, sem a necessidade de atendimento 
presencial”. 
Por seu turno, o revogado Decreto nº 8.638/2016, que instituiu a Política de 
Governança Digital, também em seu art. 2º, inciso I, considera serviço público digital como um 
“autosserviço”, “disponibilizado em meio digital que pode ser utilizado pelo próprio cidadão, 
sem auxílio do órgão ou da entidade ofertantedo serviço”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; SAIKALI, Lucas Bossoni; SOUSA, Thanderson Pereira de. Governo 
Digital na Implementação de Serviços Públicos para a Concretização de Direitos Sociais no Brasil. Seqüência, 
Florianópolis, p. 210-242, 26 abr. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/seq/n84/2177-7055-seq-84-
209.pdf. Acesso em: 29 set. 2020. p. 223. 
 
24 
 
 
3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA ERA DIGITAL 
 
Neste capítulo, apresentará a evolução do conceito de governo eletrônico para o 
governo digital. Nesse sentido, menciona-se a evolução do governo digital brasileiro desde sua 
implementação até os dias atuais. Por fim, a partir de indicadores internacionais, será 
apresentado o atual estágio de governo digital do Brasil. 
 
3.1 Do Governo Eletrônico (e-Gov) para o Governo digital - conceitos e definições: 
 
Na fase da tecnologia mecanizada ou industrial, que pendurou até meados do século 
XX, os governos mundiais eram caracterizados como “governos analógicos”, em que consistia 
no uso de equipamentos mecânicos e hidráulicos na prestação de serviços públicos6. 
No entanto, os computadores começaram a ser usados em governos de alguns países 
em meados dos anos 60 e 70, e se espalharam por todo tipo de organização durante os anos 80 
e 90. Por sua vez, a internet surgiu em 1969, mas somente em 1991 foi reconfigurada para servir 
de meio de comunicação para a população7. 
A criação do termo “governo eletrônico” (e-government ou e-gov) é relativamente 
recente. Esse termo surgiu na segunda metade dos anos 1990, no contexto da popularização da 
internet, paralelamente à expansão do termo “comércio eletrônico” (e-commerce). Contudo, 
esse termo popularizou-se mundialmente a partir de 1999, durante a realização do 1º Fórum 
Global sobre a reinvenção do Governo, realizado em Washington, nos Estados Unidos8. 
Nesse momento histórico, a utilização do processamento de dados e da tecnologia da 
informação nas organizações governamentais voltou-se para o controle e a automação de 
procedimentos, visando atender demandas da própria administração pública, sem vinculação 
direta com os resultados e serviços percebidos pelos cidadãos e pelas empresas. Isto é, o uso de 
 
6 HAYNE, Luiz Augusto; WYSE, Angela Terezinha de Souza. Análise da evolução da tecnologia: uma 
contribuição para o ensino da ciência e tecnologia. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, Ponta 
Grossa, p. 37-64, dez. 2018. Disponível em: http://editor.planejamento.gov.br/seminariodigital/seminario/digital-
gov-review-brazil-portugues.pdf. Acesso em: 26 out. 2020. p. 29. 
7 Rejane Maria da Costa Figueiredo (org.). GOVERNO DIGITAL BRASILEIRO: relatório técnico. Brasília, 2019. 
Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/34787. Acesso em: 15 ago. 2020. p. 12 
8 MANTOVANE, Solange Aparecida. A política de governo eletrônico no Brasil: uma análise dos governos fhc e 
lula. 2012. 92 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências Políticas, Programa de Pós-Graduação em Ciência 
Política, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2012. Disponível em: 
https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/1010/4887.pdf?sequence=1. Acesso em: 17 ago. 2020. p. 14. 
25 
 
tecnologias pelo Poder Público não tinha como foco o cidadão. 
Como ocorre com todo fenômeno recente que se deseja estudar, as definições de 
governo eletrônico na literatura especializada são variadas. Alguns autores consideram os 
termos “governo eletrônico” e “governo digital” como sinônimos. Contudo, é possível apontar 
algumas diferenças entre os dois termos, como será demonstrada a seguir. 
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)9, 
governo eletrônico consiste no uso de novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), 
particularmente da internet, para o alcance de um governo melhor. Esta definição foca a atenção 
no porquê de os países estarem implementando o e-Gov e não nas ferramentas de tecnologia 
em si. Esse fenômeno se deve pela necessidade de aumentar o desempenho governamental. 
De forma semelhante, o documento “E-government Toolkit for Developing 
Countries”, elaborado pela Unesco10, conceitua governo eletrônico como o uso das 
tecnologias da informação e comunicação para promover um governo mais eficiente e efetivo. 
Por seu turno, o Gartner Group11 define governo eletrônico como a transformação das 
relações internas e externas do setor público por meio de operações via rede, tecnologia da 
informação e comunicações. Nesse sentido, e-Gov pode ser classificado segundo a sua 
maturidade em quatro fases. As fases iniciais são denominadas “Informacional”, que 
corresponde ao mais elementar nível de e-Gov, quando o governo utiliza TIC para disseminar 
suas informações de interesse do cidadão. A característica marcante é a existência de 
numerosos sítios eletrônicos com conteúdo estático. Já nas fases finais são denominadas de 
“Transformação”, que corresponde ao nível mais elevado de e-Gov, onde todos os serviços 
para o cidadão estão disponíveis online por meio de um único “balcão virtual” funcionando 
ininterruptamente. 
Essa fase mais avançada do e-Gov é chamada de governo digital, conceito mais 
moderno e adotado atualmente. Porém, a mudança do termo não pode ser considerada apenas 
 
9 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relatório de Auditoria Natureza Operacional. Avaliação dos Serviços 
Prestados Aos Cidadãos de Forma Eletrônica. Identificação de Oportunidades de Melhoria. Acórdão nº 1469/2017 
- Plenário. Relator: Benjamin Zymler. Brasília, DF, 12 de julho de 2017. p. 89. 
10 ORNAGER, Susanne (org.). Instrumentos sobre e-governo para paises em via de desenvolvimento. 2005. 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO. Disponível em: 
http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/publications-and-communication-
materials/publications/full-list/e-government-toolkit-for-developing-
countries/#:~:text=The%20objective%2C%20through%20this%20Toolkit,the%20road%20to%20e%2Dgovernm
ent.. Acesso em: 07 ago. 2020. p. 8. 
11 Gartner Group é um instituto de pesquisa e consultoria na área tecnologia da informação. Disponível em: 
https://www.gartner.com/en/documents/308454/what-is-e-government-gartner-s-definitions. Acessado em 
05/10/2020. p.1. 
https://www.gartner.com/en/documents/308454/what-is-e-government-gartner-s-definitions
26 
 
uma roupagem nova para conceitos antigos, embora compartilhe de princípios comuns. 
Enquanto os programas iniciais de governo eletrônico tinham o foco em digitalizar serviços e 
processos existentes, um governo digital promove uma transformação radical no sentido de 
desenvolver novos modelos de serviço explorando totalmente as potencialidades da tecnologia. 
Tendo em vista a evolução do conceito de governo eletrônico para o governo digital, 
a Accenture12, empresa global de consultoria de gestão, tecnologia da informação, define 
governo digital como o uso eficiente de canais eletrônicos de comunicação para aprimorar a 
satisfação dos cidadãos na entrega de serviços, melhorar a competitividade econômica, 
construir novas formas de engajamento e confiança, bem como melhorar a produtividade dos 
serviços públicos. 
Para a OCDE13, governo digital se refere ao uso de tecnologias digitais, como parte 
integrante das estratégias de modernização dos governos, para criar valor público. Ele se 
baseia em um ecossistema governamental digital composto por atores governamentais, 
organizações não governamentais, empresas, associações de cidadãos e indivíduos que 
apoiam a produção e o acesso a dados, serviços e conteúdo por meio de interações com o 
governo. 
Isto é, o conceito de governo eletrônico, que se refereà ideia de informatizar os 
serviços prestados pelo governo para a sociedade, foi expandido para o de governança digital, 
segundo o qual o cidadão torna-se partícipe da construção de políticas públicas, que já nascem 
em plataformas digitais. 
Dessa forma, o Governo Digital contempla a ampliação da interatividade e a 
participação política nos processos do Estado, bem como a facilitação de navegação e acesso a 
portais e serviços públicos digitais do governo em prol da integração, da transparência e do 
atendimento às demandas da sociedade. O Governo Digital, portanto, alinha-se aos objetivos 
da comunicação de governo com o fortalecimento da democracia, prestação de contas à 
sociedade, comunicação aos cidadãos e a disponibilização de serviços públicos digitais. 
Merece destaque as lições trazidas pelo saudoso professor da Universidade Federal de 
Santa Catarina (UFSC), José Sérgio da Silva Cristóvam, que em seu artigo “Governo Digital 
 
12 Disponível em: https://www.accenture.com/_acnmedia/pdf-90/accenture-govtech-pov.pdf. Acesso em: 
05/10/2020. 
13 ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO – OCDE (Paris). 
Recommendation of the Council on Digital Government Strategies. 2014. Disponível em: 
https://www.oecd.org/gov/digital-government/Recommendation-digital-government-strategies.pdf. Acesso em: 
15 set. 2020. p. 9. 
https://www.accenture.com/_acnmedia/pdf-90/accenture-govtech-pov.pdf
27 
 
na Implementação de Serviços Públicos para a Concretização de Direitos Sociais no Brasil14” 
define Governo digital como: 
 
uma estratégia pela qual a Administração Pública utiliza novas 
tecnologias para oferecer à Sociedade melhores condições nos 
serviços públicos, de forma disruptiva, indo além da garantia de 
acesso à informação e uso incremental das tecnologias, de forma a 
ampliar a qualidade dos serviços prestados, seu acesso e, sem dúvida, 
garantir maior oportunidade de participação social. 
 
Portanto, o Governo Digital vai além da oferta de informações e serviços online, 
podendo ser utilizado como um poderoso instrumento para transformar estruturas, processos 
e cultura do governo, tornando-o mais eficiente com fornecimento de serviços públicos 
digitais orientado para o cidadão, além de se tornar mais transparente com a disponibilização 
de dados abertos. 
 
3.2 Evolução do e-Gov na Administração Pública Brasileira: 
 
No caso brasileiro, as ações de introdução do governo eletrônico na Administração 
Pública Federal começaram a ser estruturadas no início da década de 2000, a partir da 
publicação do “Decreto de 3 de Abril de 2000”, na qual foi instituído o Programa de Governo 
Eletrônico do Estado15 e o Grupo de Trabalho Interministerial, cuja finalidade era de 
“examinar e propor política, diretrizes e normas relacionadas às novas formas eletrônicas de 
interação. 
Todavia, já em1996 houve o emprego de novas tecnologias na Administração Pública 
Federal, quando da implantação do projeto piloto da “ReceitaNet” pela Receita Federal, cujo 
 
14 CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva; SAIKALI, Lucas Bossoni; SOUSA, Thanderson Pereira de. Governo 
Digital na Implementação de Serviços Públicos para a Concretização de Direitos Sociais no Brasil. Seqüência, 
Florianópolis, p. 210-242, 26 abr. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/seq/n84/2177-7055-seq-84-
209.pdf. Acesso em: 29 set. 2020. p. 46. 
15 BRASÍLIA. Secretaria de Governo Digital da Secretaria Especial de Desburocratização Gestão e Governo 
Digital. Ministério da Economia (org.). Do Eletrônico ao Digital. 2020. Disponível em: 
https://www.gov.br/governodigital/pt-br/estrategia-de-governanca-digital/do-eletronico-ao-
digital#:~:text=O%20Programa%20de%20Governo%20Eletr%C3%B4nico%20brasileiro%20desde%20sua%20
cria%C3%A7%C3%A3o%2C%20buscou,fortalecer%20a%20participa%C3%A7%C3%A3o%20cidad%C3%A3
%20por. Acesso em: 17 set. 2020. p. 1. 
28 
 
escopo era facilitar que o contribuinte a declaração do imposto de renda. 
Esse programa foi reconhecido por representantes da área fiscal de organismos 
internacionais como inovador, considerado como exemplo a ser seguido como excelência em 
boas práticas de governo eletrônico. 
Tal reconhecimento fez jus ao direito de uso do eGOVERNMENT Label da 
Comunidade Econômica Européia (CEE), como um dos melhores exemplos de soluções de 
Governo Eletrônico no âmbito mundial, durante demonstração em novembro de 2001, na feira 
de aplicativos na European Conference on eGovernment Applications: from policy to practice, 
realizada em Bruxelas16 
Ainda em 2000, ocorreu pela primeira vez na história, tanto no Brasil como no mundo, 
uma eleição com votação eletrônica, o que demostrou o pionerismo do país no emprego de TIC 
em seguimentos estratégico para a nação. 
Desde então, várias ações foram sendo desenvolvidas para o processo de 
transformação digital, no intuito de simplificar e ampliar a oferta dos serviços públicos digitais. 
É interessante destacar que, no início, as normatizações e regramentos sobre o tema 
empregava a terminologia “governo eletrônico”. Contudo, hodiernamente, o Governo Federal 
abandonou essa nomenclatura e adotou o conceito mais moderno do fenômeno: “governo 
digital”. Neste contexto, Governo Digital foi definido pelo então Ministério do Planejamento, 
Desenvolvimento e Gestão17 (atual Ministério da Economia) como: 
 
“a utilização pelo setor público de recursos de tecnologia da 
informação e comunicação com o objetivo de melhorar a 
disponibilização de informação e a prestação de serviços públicos, 
incentivar a participação da sociedade no processo de tomada de 
decisão e aprimorar os níveis de responsabilidade, transparência e 
efetividade do governo”18. 
 
 
16 BRASÍLIA. Receita Federal do Brasil. Ministério da Economia (org.). E-Government Label – CEE. 2015. 
Disponível em: http://receita.economia.gov.br/sobre/institucional/memoria/receita-federal-premiada-1/ano-
2001/e-government-label-2013-cee. Acesso em: 29 set. 2020. p. 1. 
17 Ministério extinto pela Lei 13.844/2019, mais especificamente no seu art. 55, §2º. 
18 Estratégia de Governança Digital (EGD) 2016 – 2019. Disponível em: https://www.gov.br/governodigital/pt-
br/estrategia-de-governanca-digital/revisaodaestrategiadegovernancadigital20162019.pdf. Acesso em 
05/10/2020. 
29 
 
3.3 Governo Digital brasileiro no cenário internacional: 
 
Neste tópico, será demonstrado o nível de governo digital que o Brasil apresenta em 
relação à outros países. Para tanto, existem diversas entidades internacionais que realizam 
estudos sobre a transformação digital de governos. Dentre eles, citam-se o Índice Internacional 
de Economia e Sociedade Digital (I-DESI) da Comissão Europeia, o Índice de 
Desenvolvimento de Governo Eletrônico (EGDI) elaborado pela ONU e o Índice de Governo 
Digital da OCDE (DGI) desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico (OCDE). A escolha desses índices para o presente trabalho se deu pelo fato de o 
Brasil aparecer nesses indicadores, bem como pela credibilidade dessas organizações 
internacionais. 
 
3.3.1 Índice Internacionl de Economia e Sociedade Digital (I-DESI): 
 
O Índice Internacional de Economia e Sociedade Digital (I-DESI)19 consiste em um 
estudo da Comissão Europeia focado na Transformação Digital de Governos, na qual 
compara o desempenho médio dos países membros da União Europeia com 17 países não 
membros, na medida que ranqueia os governos de acordo com 5 critérios. São eles: 
1. Conectividade: consiste na implantação de infraestrutura de banda larga e sua 
qualidade; 
2. Capital humano (competências digitais): são as habilidades necessárias para 
aproveitar as possibilidades oferecidas por uma sociedade digital, como 
disponibilidade de profissionais na área de TI; 
3. Utilização da Internetpelos cidadãos: variedade de atividades realizadas pelos 
cidadãos online; 
4. Integração de tecnologia de negócios: digitalização de negócios e desenvolvimento 
do canal de vendas online; e 
5. Serviços públicos digitais: a digitalização dos serviços públicos, com foco no 
governo digital. 
 
19 EUROPEAN COMMISSION (Bélgica) (org.). International Digital Economy and Society Index 2018. Bruxelas, 
2018. Disponível em: https://ec.europa.eu/digital-single-market/en/news/how-digital-europe-compared-other-
major-world-economies. Acesso em: 02 ago. 2020. p. 12. 
30 
 
A última edição do I-DESI foi publicada em 201820, onde a análise compreendeu o 
período de 2013 a 2016. O Brasil aparece nesse ranking, entretanto, os resultados não foram 
nada animadores: na média geral, o Brasil ficou em último lugar, atrás de países como Turquia, 
México e Chile. 
 Tabela 1 - Índice Internacional de Economia e 
Sociedade Digital (I-DESI): 
 
Posição Países Pontuação 
1º Coreia do Sul 75,2 
2º Noruega 73 
3º Islândia 72,7 
4º Suíça 70,8 
5º Japão 68,5 
6º Austrália 67,8 
7º Canadá 67 
8º Estados Unidos 66,7 
9º Nova Zelândia 65,8 
10º Média-União Europeia 58,9 
11º Israel 55,6 
12º Sérvia 49,6 
13º Rússia 47,5 
14º China 45,3 
15º Chile 44,9 
16º México 43,1 
17º Turquia 41,5 
18º Brasil 39,7 
Fonte: International Digital Economy and Society Index 
2018. 
 
Analisando-se cada critério isoladamente e elencando somente os critérios pertinentes 
para o presente trabalho, quais sejam, “conectividade”, “uso de serviços de internet por 
cidadão” e “serviços públicos digitais, extrai-se os seguintes dados: 
No critério “conectividade” (que mede a implantação de infraestrutura de banda larga 
e sua qualidade) o Brasil somente ficou à frente da Rússia, mas atrás do México e do Chile, o 
que demonstra a deficiência do Brasil no quesito de infraestrutura de cabeamento de rede de 
internet, bem como sua qualidade e velocidade de conexão. 
 
20 O I-DESI de 2020 será publicado no final deste ano. 
31 
 
Tabela 2 – Critério Conectividade: 
Posição Países Pontuação 
1º Coreia do Sul 79,8 
2º Suíça 78,9 
3º Noruega 75,8 
4º Japão 72,5 
5º Islândia 72,4 
6º Estados Unidos 71,3 
7º Média-União Europeia 62,9 
8º Canadá 59,6 
9º Austrália 56,8 
10º Nova Zelândia 55,4 
11º Israel 54,3 
12º Sérvia 52,3 
13º Chile 47,8 
14º China 45,9 
15º México 45,5 
16º Turquia 43,3 
17º Brasil 39,5 
18º Rússia 38,9 
Fonte: International Digital Economy and Society Index 
2018. 
 
 
Por seu turno, o critério “uso de serviços de internet por cidadão” (utilizado para 
verificar como os cidadãos se comportam na internet, quantos dispositivos possuem e quantas 
transações realizam online), o Brasil aparece em antepenúltimo, a frente somente do Chile e 
do México. 
Tabela 3 – Critério “Uso de Serviços de Internet 
por Cidadão”: 
 
Posição Países Pontuação 
1º Noruega 85,2 
2º Suíça 77,5 
3º Islândia 75,9 
4º Coreia do Sul 74,5 
5º Japão 73,9 
6º Estados Unidos 71 
7º Canadá 66,2 
8º Média-União Europeia 59,7 
9º Israel 58,5 
32 
 
10º Nova Zelândia 58,2 
11º Austrália 57,8 
12º Sérvia 49,6 
13º Rússia 48,7 
14º China 45,3 
15º Turquia 35,9 
16º Brasil 33,8 
17º Chile 32,9 
18º México 30 
Fonte: International Digital Economy and Society Index 
2018. 
 
 
Todavia, chama-se atenção o fato do Brasil se sair melhor no critério “serviços 
públicos digitais”, tendo uma média nesse quesito bem próxima da União Europeia, estando 
à frente de países como Rússia, China, Suíça e Islândia. 
 
Tabela 4 - Critério "Serviços Públicos 
Digitais": 
 
Posição Países Pontuação 
1º Austrália 88,9 
2º Coreia do Sul 83 
3º Nova Zelândia 81,6 
4º Canadá 81,5 
5º Estados Unidos 79 
6º Japão 75 
7º Noruega 72,5 
8º México 67,2 
9º Israel 65,4 
10º Média-União Europeia 63,1 
11º Brasil 62,4 
12º Chile 61,4 
13º Sérvia 60,7 
14º China 58,6 
15º Rússia 56,8 
16º Islândia 53,7 
17º Suíça 48,3 
18º Turquia 43,2 
Fonte: International Digital Economy and Society Index 
2018. 
 
Conclui-se, com esses dados, que o Governo Federal está se tornando mais digital, 
33 
 
porém, a qualidade da internet fornecida no Brasil, bem como a disponibilidade de 
dispositivos aos cidadãos para acessarem os serviços públicos digitais se mostraram 
deficientes. 
 
3.3.2 Índice de Desenvolvimento de Governo Eletrônico (EGDI): 
 
Trata-se de índice21 calculado pela Organização da Nações Unidas (ONU), onde mede 
o desenvolvimento do governo eletrônico no âmbito nacional a partir de uma média 
ponderada de avaliações normalizadas das três dimensões mais importantes do governo 
eletrônico: 
I. Abrangência e qualidade de serviços conforme o índice de serviços online (OSI): O 
componente OSI é um indicador que mede o uso de tecnologia da informação e 
comunicação (TIC) pelos Governos para a prestação de serviços públicos em nível 
nacional. A pesquisa avalia as características técnicas dos sites nacionais, bem como as 
políticas e estratégias de governo eletrônico aplicadas em geral e por setores especiais 
na prestação de serviços. Uma pontuação alta é uma indicação das melhores práticas 
atuais, e não da perfeição. Da mesma forma, uma pontuação mais baixa, ou uma 
pontuação que não mudou desde a última edição da Pesquisa não significa que não houve 
progresso no desenvolvimento do governo eletrônico. 
II. Condição de desenvolvimento da infraestrutura de telecomunicações avaliado a 
partir do índice de infraestrutura de telecomunicações (TII): A União Internacional 
de Telecomunicações é a principal fonte de dados. É uma agência da ONU especializada 
em tecnologias de informação e comunicação. O Índice de Infraestrutura de 
Telecomunicações é uma média aritmética composta de quatro indicadores, a saber: 
a) número estimado de usuários da Internet por 100 habitantes; 
b) número de assinantes móveis por 100 habitantes; 
c) assinatura ativa de banda larga móvel; e 
d) número de assinaturas de banda larga fixa por 100 habitantes; 
 
21 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU (Nova Iorque). E-Government Survey 2020: digital 
government in the decade of action for sustainable development. Digital Government in the Decade of Action for 
Sustainable Development. 2020. Disponível em: 
https://publicadministration.un.org/egovkb/Portals/egovkb/Documents/un/2020-Survey/2020%20UN%20E-
Government%20Survey%20(Full%20Report).pdf. Acesso em: 23 out. 2020. p. 19. 
34 
 
III. Índice de Capital Humano (HCI): os dados para os componentes de HCI foram 
extraídos de fontes da UNESCO. O Índice de Capital Humano (HCI) consiste em 
quatro componentes: 
a) taxa de alfabetização de adultos; 
b) a taxa bruta de escolarização combinada de ensino fundamental, médio e 
superior; 
c) anos esperados de escolaridade; e 
d) anos médios de escolaridade. 
 
Segundo a avaliação das Nações Unidas, o Brasil registrou, em 2020, a 54ª posição 
no ranking de 193 países avaliados e 6° lugar no continente americano, registrando índice de 
desenvolvimento de governo eletrônico ‘muito alto’, conforme Tabela X abaixo. A 
Dinamarca, Coreia do Sul e a Estônia ocupam o primeiro, segundo e terceiro lugar, 
respectivamente. 
 
Tabela 5 - Índice de Desenvolvimento de Governo Eletrônico (EGDI): 
 
País 
Classificação 
nas Américas 
Classificação 
Mundial 
Nível de 
EGDI 
OSI HCI TII EGDI 
Estados Unidos 1º 9º Muito Alto 0.9471 0.7911 0.9182 0.9297 
Uruguai 2º 26º Muito Alto 0.8412 0.7660 0.8574 0.8500 
Canada 3º 28º Muito Alto 0.8412 0.7371 0.7818 0.8420 
Argentina 4º 32º Muito Alto 0.8471 0.6974 0.7265 0.8279 
Chile 5º 34º Muito Alto 0.8529 0.5930 0.7606 0.8259 
Brasil 6º 54º Muito Alto 0.8706 0.6558 0.6522 0.7677 
Costa Rica 7º 56º Muito Alto 0.6824 0.6152 0.7475 0.7576 
México 8º 61º Alto 0.8235 0.63370.5910 0.7291 
Barbados 9º 62º Alto 0.5765 0.6192 0.7523 0.7279 
Colômbia 10º 67º Alto 0.7647 0.6719 0.6122 0.7164 
Fonte: E-Government Survey 2020 – ONU. 
Percebe-se que o OSI do Brasil é muito bem avaliada, ficando o país apenas em 
segundo lugar nas Américas, atrás, nesse quesito, somente dos Estados Unidos. No entanto, nos 
outros indicadores TII e HCI, o Brasil não repete o resultado positivo. 
No índice HCI, o Brasil fica atrás da Colômbia e da Argentina. Em TII, o Brasil fica 
atrás da Costa Rica e de Barbados. Interessante mencionar que o Brasil fica a frente do Chile 
35 
 
no quesito HCI. 
 
3.3.3 Índice de Governo Digital da OCDE (DGI): 
 
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma 
organização internacional que atua na criação e divulgação de políticas e conhecimento em 
diversas áreas, com o intuito de indicar melhores práticas para políticas públicas e 
uniformização regulatória no âmbito doméstico, estabelecer padrões internacionais baseados 
em evidências e encontrar soluções para desafios de alcance social, econômico e ambiental. 
Composta atualmente por 37 países membros, a Organização é considerada uma das mais 
relevantes no presente cenário global. 
Ela elabora o Índice de Governo Digital da OCDE (DGI), que foi criado para medir o 
nível de maturidade das estratégias de governo digital em países membros e parceiros da 
OCDE com base em evidências coletadas por meio da Pesquisa sobre Governo Digital 1.0. 
Além disso, consiste em um instrumento para encorajar os governos a intensificar os esforços 
para usar tecnologias digitais e dados estrategicamente para serviços públicos dirigidos ao 
cidadão. Dessa forma, o DGI pode apoiar a concepção, implementação e monitoramento de 
políticas e práticas governamentais digitais. Esse índice é medido por seis dimensões, quais 
sejam: 
I) Digital por design: quando governa e aproveita as tecnologias digitais para repensar 
e redesenhar processos públicos, simplificar procedimentos e criar novos canais de 
comunicação e engajamento com as partes interessadas públicas; 
II) Governo como plataforma: quando implanta uma ampla gama de plataformas, 
padrões e serviços para ajudar as equipes a se concentrarem nas necessidades do 
usuário na concepção e prestação de serviços públicos; 
III) Setor público baseado em dados: quando valoriza os dados como um ativo 
estratégico e estabelece os mecanismos de governança, acesso, compartilhamento e 
reutilização para uma melhor tomada de decisão e entrega de serviços; 
IV) Aberto por padrão: quando cria dados governamentais e processos de formulação 
de políticas (incluindo algoritmos) disponíveis ao público, dentro dos limites da 
legislação existente e em equilíbrio com o interesse nacional e público; 
V) Orientado pelo usuário: permite que os cidadãos e as empresas definam e 
comuniquem suas próprias necessidades em termos de conteúdo e acesso aos 
36 
 
serviços, informando e moldando as decisões dos governos sobre políticas e serviços 
públicos de acordo com suas necessidades, além de adotar mecanismos para a 
diminuição da exclusão digital de pessoas vulneráveis socialmente. 
VI) Proatividade: é proativo quando antecipa as necessidades das pessoas e responde 
para eles rapidamente, evitando a necessidade de dados complicados e processos de 
entrega de serviços. 
Em 14 de outubro de 2020, foi publicado o DGI 2019. Na classificação geral, o Brasil 
ocupou a 16º posição no nível de maturidade de governo digital. Dessa forma, o País ficou 
acima da média dos países da OCDE e superou nações como Alemanha, Estônia, Países Baixos, 
Áustria e Irlanda. Isso demonstra que, no cenário internacional, o Brasil vem ganhando destaque 
no que se refere à governo digital. Infere-se, portanto, que o Governo Federal, de fato, está 
passando por uma transformação digital. 
Tabela 6 - Índice de Governo Digital da OCDE 
(DGI): 
 
Membros da OCDE Pontuação Rank 
Coreia do Sul 0.742 1º 
Reino Unido 0.736 2 º 
Colômbia 0.729 3 º 
Dinamarca 0.652 4 º 
Japão 0.645 5 º 
Canadá 0.629 6 º 
Espanha 0.621 7 º 
Israel 0.604 8 º 
Portugal 0.580 10 º 
França 0.573 11 º 
Nova Zelândia 0.564 12 º 
Noruega 0.550 13 º 
Luxemburgo 0.538 14 º 
Itália 0.534 15 º 
Eslovênia 0.513 17 º 
OCDE 0.501 
Estônia 0.478 18 º 
Letônia 0.474 19 º 
Áustria 0.452 20 º 
Países Baixos 0.450 21 º 
República Tcheca 0.434 22 º 
Irlanda 0.411 23 º 
Chile 0.411 24 º 
37 
 
Bélgica 0.406 25 º 
Alemanha 0.398 26 º 
Lituânia 0.397 27 º 
Finlândia 0.356 28 º 
Grécia 0.347 29 º 
Islândia 0.282 32 º 
Suécia 0.257 33 º 
Não-Membros OCDE 
Uruguai 0.602 9 º 
Brasil 0.519 16 º 
Panamá 0.343 30 º 
Argentina 0.342 31 º 
Fonte: Digital Government Index 2019 – OCDE. 
Em relação às dimensões acima anteriormente, o que interessa ao presente trabalho é 
a dimensão “Orientado pelo usuário”, pois é nessa dimensão que é tratada a inclusão digital e a 
disponibilidade dos serviços públicos digitais à população vulnerável. A Dinamarca, Colômbia 
e Reino Unido lideram em termos de adoção de uma abordagem orientada ao usuário para o 
governo digital, seguidos pela Coréia, Japão e Canadá. O Brasil ocupou a 13º posição no 
ranking. 
Essa dimensão é composta por vários tópicos específicos. Dentre esses tópicos, os 
pertinentes são: (i) usar tecnologias digitais como mecanismos inclusivos para promover a 
participação de grupos populacionais em geral e os vulneráveis nos processos de formulação 
de políticas e prestação de serviços; e (ii) garantir que os serviços públicos digitais sejam 
acessíveis a todos. 
A fim de capturar os níveis de inclusão e acessibilidade dos governos digitais, esse 
último tópico mediu a existência de avaliações e planos de ação para reduzir a exclusão digital 
e programas ou planos para aumentar os níveis de habilidade digital de grupos em geral, 
especialmente entre os mais vulneráveis. 
Os resultados mostraram que uma grande proporção de países considera a 
acessibilidade de serviços digitais para todos (85%) e a participação nos processos de design 
(73%) como uma parte importante de sua Estratégia Nacional de Governo Digital (ENGD). No 
entanto, o DGI deixa claro que, na prática, a utilização de tecnologias digitais para promover a 
inclusão e participação de grupos populacionais vulneráveis são poucos utilizados nos países 
pesquisados22. O DGI salienta que é crucial aumentar o envolvimento efetivo desses grupos 
 
22OECD PUBLIC GOVERNANCE POLICY PAPERS (Paris) (org.). Digital Government Index 2019. 2020. 
38 
 
para garantir políticas e serviços abrangentes, bem como resultados equitativos que atendam às 
necessidades de um grupo de cidadãos tão amplo quanto possível. 
Como se pode observar, essa dimensão “Orientado pelo usuário”, além dos tópicos 
que tratam sobre inclusão digital e acessibilidade dos serviços públicos digitais, possuem outros 
tópicos23, como (i) diretrizes e indicadores utilizados para medir a satisfação dos usuários com 
os serviços digitais dos governos; (ii) Avalia se os governos têm alguma política específica em 
vigor para testar e avaliar projetos e iniciativas digitais com o envolvimento de usuários finais; 
(iii) Verifica a adaptação de serviços públicos de acordo com análises de dados sobre 
necessidades, preferências e padrões de uso dos cidadãos, entre outros tópicos. 
Assim sendo, o DGI não apresenta a nota de cada tópico específico da dimensão 
“Orientado pelo usuário”, mas somente a nota geral da dimensão em si. Dessa forma, ficou 
prejudicada a avalição do desempenho do Brasil nos tópicos que se referem à inclusão digital e 
a acessibilidade dos serviços públicos digitais. 
 Contudo, conforme já foi dito anteriormente, os países, no geral, não empregam 
tecnologias para diminuir a exclusão digital da população mais vulnerável ou ampliar o acesso 
aos serviços públicos digitais paraaqueles que possuem baixa renda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Disponível em: https://www.oecd-ilibrary.org/governance/digital-government-index_4de9f5bb-
en;jsessionid=yCSzP8cpeJf-lOf5DkYwFR5w.ip-10-240-5-97. Acesso em: 23 out. 2020.p. 48. 
23 OECD PUBLIC GOVERNANCE POLICY PAPERS (Paris) (org.). Digital Government Index 2019. Disponível 
em: https://www.oecd-ilibrary.org/governance/digital-government-index_4de9f5bb-en;jsessionid=yCSzP8cpeJf-
lOf5DkYwFR5w.ip-10-240-5-97. Acesso em: 23 out. 2020.p. 21. 
39 
 
4. REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA QUE NÃO ACOMPANHA A 
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DO GOVERNO: 
Para que exista um Governo digital, é imprescindível que a sociedade acompanhe esse 
desenvolvimento e se torne também digital. Caso contrário, todo investimento empregado na 
digitalização do governo não fará sentido se a população não dispuser de meios para acessá-lo 
e desfrutar todos os benefícios trazidos pela transformação digital do Estado. 
Infelizmente, como será apresentado mais adiante, ainda tem um longo e árduo 
caminho a ser percorrido para a efetiva transformação digital da sociedade brasileira. Para 
demonstrar esse cenário, foi adotado os estudos e indicadores do TIC domicílios. 
 
4.1 TIC Domicílios – 2019: 
 
No Brasil, existem vários estudos e indicadores que revelam a realidade brasileira no 
que tange o desenvolvimento da sociedade digital. 
Nesta empreitada, cita-se o Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI), na qual foi 
criado pelo Decreto nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, que tem como atribuição estabelecer 
diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil e diretrizes 
para a execução do registro de Nomes de Domínio, alocação de Endereço IP (Internet Protocol) 
e administração pertinente ao Domínio de Primeiro Nível ".br". Além disso, promove estudos 
e recomenda procedimentos para a segurança da Internet e propõe programas de pesquisa e 
desenvolvimento que permitam a manutenção do nível de qualidade técnica e inovação no uso 
da Internet. 
Com intuito de implementar as decisões e os projetos do CGI, foi criado o Núcleo de 
Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC), que é o responsável por coordenar e integrar 
as iniciativas e serviços da Internet no Brasil. Para monitorar a adoção das tecnologias de 
informação e comunicação (TIC) na sociedade brasileira, foi criado, em 2005 um 
departamento específico no NIC, denominado Centro Regional de Estudos para o 
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC) 24. 
Assim, o CETIC realizada anualmente, desde 2005, a pesquisa “TIC Domicílios”, na 
qual tem o escopo de mapear o acesso às TIC nos domicílios urbanos e rurais no Brasil e as 
 
24 Disponível em: https://cetic.br/pt/sobre/. Acesso: 02/10/2020. 
https://cetic.br/pt/sobre/
40 
 
suas formas de uso por indivíduos de 10 anos de idade ou mais. Os indicadores gerados pela 
pesquisa oferecem um cenário do acesso e do uso de TIC no Brasil, abordando diversos 
indicadores, tais como: acesso às TIC; uso do computador; uso da internet; habilidades na 
internet; uso do celular; governo eletrônico; comércio eletrônico e atividades culturais na 
internet. 
A pesquisa TIC Domicílios utiliza informações do Censo Demográfico e da Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) ou da Pesquisa Nacional por Amostra de 
Domicílios Contínua (PNADC), realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE). Isso demonstra o nível de credibilidade e confiança dos estudos e indicadores 
publicados pela NIC – CETIC. 
Desse modo, para entender a realidade brasileira sobre a disponibilidade de 
equipamentos e internet nos lares brasileiros, segue adiante os estudos e indicadores do TIC 
Domicílios do ano de 2019. 
4.1.1 Domicílios que possuem computador: 
 
Tabela 7 – Domicílios com computador: 
 SIM NÃO 
Área 
Urbana 43% 57% 
Rural 18% 82% 
Região 
Sudeste 46% 54% 
Sul 44% 56% 
Centro-Oeste 36% 64% 
Nordeste 30% 70% 
Norte 29% 71% 
Renda 
Familiar 
Até 1 SM 19% 81% 
Mais de 1 SM até 2 SM 33% 67% 
Mais de 2 SM até 3 SM 47% 53% 
Mais de 3 SM até 5 SM 65% 35% 
Mais de 5 SM até 10 SM 77% 23% 
Mais de 10 SM 88% 12% 
Não tem renda 25% 75% 
Classe 
Social 
A 95% 5% 
B 85% 15% 
C 44% 56% 
DE 14% 86% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o 
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 
Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e 
comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2019. 
41 
 
Nesse indicador, é avaliado se os domicílios possuem ou não computadores. Para essa 
pesquisa, foi considerado como computador o desktop (computador de mesa), o notebook e 
o tablet. Analisando os dados da tabela acima, é possível verificar que quase 60% dos lares 
não possuem computadores. Isso se agrava na medida que a renda diminui. A porcentagem 
piora, superando 80%, quando se trata de área rural, aqueles que auferem renda de até 1 
salário mínimo ou aqueles integrantes da classe social “D” e “E”. Em relação as regiões do 
Brasil, o Norte apresenta o pior desempenho, onde 70% das casas não possuem 
computadores. 
 
4.1.2 Indivíduos que já utilizaram um computador: 
 
Tabela 8 – Indivíduos que já utilizaram um 
computador: 
 
Classe social SIM NÃO 
A 93% 7% 
B 88% 12% 
C 62% 37% 
DE 33% 66% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para 
o Desenvolvimento da Sociedade da Informação 
(Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de 
informação e comunicação nos domicílios brasileiros - 
TIC Domicílios 2019. 
 
Na tabela anterior, mostrou os lares que possuem computadores (desktop, notebook 
ou tablet). Nesta tabela, no entanto, mostra o índice de indivíduos que informaram ter usado 
algum tipo de computador (desktop, notebook ou tablet) pelo menos uma vez na vida, de 
qualquer lugar. Mesmo assim, 66% das pessoas da Classe “D” e “E” nunca utilizaram 
nenhum tipo de computador em nenhum momento da vida. Em contraste a isso, 93% das 
pessoas da Classe “A” já utilizaram computadores em algum momento da vida. 
 
4.1.3 Domicílios com acesso à internet: 
 
Tabela 9 – Domicílios com acesso à internet: 
42 
 
 SIM NÃO 
Área 
Urbana 75% 25% 
Rural 51% 48% 
Região 
Sudeste 75% 25% 
Sul 73% 27% 
Centro-Oeste 70% 30% 
Nordeste 65% 35% 
Norte 72% 28% 
Renda 
Familiar 
Até 1 SM 55% 45% 
Mais de 1 SM até 2 SM 69% 31% 
Mais de 2 SM até 3 SM 83% 17% 
Mais de 3 SM até 5 SM 91% 9% 
Mais de 5 SM até 10 SM 92% 8% 
Mais de 10 SM 97% 3% 
Não tem renda 51% 49% 
Classe 
Social 
A 99% 1% 
B 95% 5% 
C 80% 19% 
DE 50% 50% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o 
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), Pesquisa sobre o 
uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios 
brasileiros - TIC Domicílios 2019. 
 
No que tange ao acesso à internet, os indicadores são melhores do que à tabela que 
versa sobre a disponibilidade de computadores nos domicílios. Esse fenômeno se deve, 
notadamente, pelo uso da internet por intermédio do uso de smartphones. No entanto, evidencia-
se que 25% dos domicílios na área urbana ainda não possuem acesso à internet. 
Enquanto na Classe “A” 99% dos domicílios possuem acesso à internet, na Classe “D” 
e “E” somente 50% dos lares possuem internet. Com índice parecido, 51% dos lares na zona 
rural possuem internet. Em relação às regiões do Brasil, o Sudeste tem o melhor desempenho 
(75%) e o Nordeste tem o pior desempenho (65%). 
Em relação à esse tema, em 2010, foi instituído, pelo Decreto nº 7.175/2010, o 
programa Brasil Conectado - Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) cujo foco central era 
a promoção da inclusão digital, redução das desigualdades regional e social, promover a 
capacitação da população para o uso das tecnologias e aumentar a autonomia tecnológicae 
competitividade brasileira. 
43 
 
No entanto, esse Decreto foi revogado pelo Decreto nº 9.612/18, onde instituiu a 
Política Pública de Telecomunicações. São objetivos gerais dessa política promover o acesso 
às telecomunicações em condições econômicas que viabilizem o uso e a fruição dos serviços, 
notadamente para a expansão do acesso à internet em banda larga fixa e móvel, com qualidade 
e velocidade adequadas. Além disso, objetiva ampliar o acesso à internet de banda larga em 
áreas onde a oferta seja inadequada, tais como áreas urbanas desatendidas, ruais ou remotas, 
conforme previsão do seu art. 2º. 
No que se refere à inclusão digital, o art. 5º do Decreto estabelece como objetivo o 
fomento e implantação de infraestrutura, serviços, sistemas e aplicações baseados em TIC, 
necessários para o acesso às redes de telecomunicações pela população, especialmente em 
localidades remotas ou em localidades com prestação inadequada ou inexistente desses 
serviços, bem como aqueles em situação de vulnerabilidade social. 
Como se pode perceber pelos indicadores do TIC Domicílios, o Decreto supracitado 
ainda padece de efetividade, seja por ser um instrumento normativo recente, seja pela falta de 
desempenho dos órgãos responsáveis pela implementação dessa política. 
 
4.1.4 Domicílios com acesso à internet, por tipo de conexão: 
 
Tabela 10 – Domicílios com acesso à internet, por 
tipo de conexão: 
 
Banda larga fixa 61% 
Conexão móvel via 
modem ou chip de 
3G ou 4G 
27% 
Conexão discada 1% 
Não sabe 11% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o 
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 
Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e 
comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 
2019. 
Já em relação ao tipo de conexão de internet, a grande maioria dos lares possuem 
conexão com a internet por meio da banda larga fixa, em seguida pela conexão móvel de internet 
3G ou 4G. Desse modo, é possível concluir que 39% dos lares brasileiros não possuem internet 
de banda larga fixa que, em regra, é o melhor serviço disponível no mercado. 
44 
 
4.1.5 Domicílios sem acesso à internet, por principal motivo para a falta de internet: 
 
Tabela 11 – Domicílios sem acesso à internet, por 
principal motivo para a falta de internet: 
 
Porque os moradores acham muito 
caro 
26% 
Porque os moradores não sabem 
usar internet 
20% 
Por falta de interesse dos 
moradores 
18% 
Por falta de disponibilidade de 
Internet na região do domicílio 
4% 
Outros motivos 32% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o 
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 
Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e 
comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 
2019. 
 
Quando se analisa o motivo pela qual os lares brasileiros não possuem internet, o 
principal motivo encontrado é pelo alto custo de manutenção da internet, em seguida, pela 
falta de conhecimento no manuseio da internet, pela falta de interesse no uso e, por fim, pela 
falta de disponibilidade de internet na região do domicílio. Assim, mais uma vez, o quesito 
econômico foi o impeditivo para o acesso à internet. 
4.1.6 Indivíduos que já acessaram a internet: 
Tabela 12 – Indivíduos que já acessaram a 
internet: 
 
Classe social SIM NÃO 
A 95% 5% 
B 95% 5% 
C 83% 17% 
DE 66% 34% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para 
o Desenvolvimento da Sociedade da Informação 
(Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de 
informação e comunicação nos domicílios brasileiros - 
TIC Domicílios 2019. 
 
Nesse indicador, é analisado os indivíduos que informaram ter acessado a internet 
45 
 
pelo menos uma vez na vida, de qualquer lugar. Ou seja, aqui não foi analisado se o indivíduo 
possuía internet para o uso, mas sim se em algum momento durante a vida utilizaram a 
internet, independentemente do lugar acessado. Nessa tabela, os índices são mais animadores, 
onde quase 70% dos indivíduos da Classe “D” e “E” já acessaram a internet em algum 
momento de suas vidas. 
 
4.1.7 Usuários de internet, por dispositivo utilizado de forma exclusiva ou simultânea: 
 
Tabela – 13 Usuários de internet, por dispositivo utilizado de forma exclusiva ou 
simultânea: 
 
 
Apenas 
computador 
Apenas 
telefone 
celular 
Ambos 
Área 
Urbana 1% 56% 43% 
Rural 1% 79% 20% 
Região 
Sudeste 1% 53% 46% 
Sul 1% 54% 45% 
Centro-Oeste 0% 59% 41% 
Nordeste 1% 66% 33% 
Norte 0% 66% 33% 
Renda 
Familiar 
Até 1 SM 1% 79% 20% 
Mais de 1 SM até 2 SM 1% 67% 32% 
Mais de 2 SM até 3 SM 1% 60% 40% 
Mais de 3 SM até 5 SM 1% 45% 54% 
Mais de 5 SM até 10 
SM 
1% 27% 
72% 
Mais de 10 SM 0% 14% 86% 
Não tem renda 2% 73% 25% 
Classe 
Social 
A 1% 11% 87% 
B 1% 26% 73% 
C 1% 61% 38% 
DE 1% 85% 14% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da 
Informação (Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação 
nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2019. 
 
Além de saber se as pessoas possuem acesso à internet ou não, é necessário apurar em 
quais dispositivos os usuários mais utilizam para acessar a internet. Nesse sentido, a tabela 
acima mostra em quais dispositivos os usuários de internet utiliza de forma exclusiva ou 
46 
 
simultânea com outros dispositivos. 
É importante destacar que a tabela acima é de suma importância para entender o 
motivo pela qual o Brasil, ano após ano, vem aumentando os internautas na rede. Isso se deve, 
especialmente, pelo uso do smartphones. Ou seja, os smartphone democratizou o acesso das 
pessoas de baixa renda à internet. No entanto, o aumento de pessoas no acesso à internet não 
quer dizer que esse acesso é com internet de qualidade, conforme demonstrado anteriormente, 
na tabela (Domicílios com acesso à internet, por tipo de conexão), onde evidenciou que quase 
40% dos lares brasileiros não possuem internet de banda larga fixa. 
Portanto, as pessoas estão acessando mais a internet, porém, muita das vezes a internet 
utilizada é de baixa qualidade. 
 
4.1.8 Indivíduos que utilizaram governo eletrônico nos últimos 12 meses: 
 
Tabela 14 – Indivíduos que utilizaram governo eletrônico nos 
últimos 12 meses: 
 
 SIM NÃO 
Área 
Urbana 70% 30% 
Rural 49% 51% 
Região 
Sudeste 72% 28% 
Sul 70% 30% 
Centro-Oeste 69% 31% 
Nordeste 62% 38% 
Norte 63% 37% 
Renda 
Familiar 
Até 1 SM 51% 49% 
Mais de 1 SM até 2 SM 62% 38% 
Mais de 2 SM até 3 SM 73% 27% 
Mais de 3 SM até 5 SM 79% 21% 
Mais de 5 SM até 10 
SM 
87% 13% 
Mais de 10 SM 86% 14% 
Não tem renda 51% 49% 
Classe 
Social 
A 88% 12% 
B 85% 15% 
C 69% 31% 
DE 48% 52% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da 
Sociedade da Informação (Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de 
47 
 
informação e comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2019. 
 
Interessante notar que a maioria das pessoas que utilizaram o governo eletrônico nos 
últimos 12 meses foram pessoas com maior poder aquisitivo da sociedade. Ou seja, os 
resultados apontam que a utilização do governo digital é desigual entre as classes sociais e a 
favor dos mais ricos. 
 
4.1.9 Usuários de internet que não usaram governo eletrônico nos últimos 12 meses, 
por motivos para não utilização: 
 
Tabela 15 – Usuários de internet que não usaram governo eletrônico 
nos últimos 12 meses, por motivos para não utilização: 
 
 
Porque 
preferiu fazer 
o contato 
pessoalmente 
Porque usar a 
internet para 
contato com o 
governo é 
complicado 
Área 
Urbana 74% 55% 
Rural 65% 55% 
Região 
Sudeste 75% 53% 
Sul 79% 51% 
Centro-Oeste 64% 47% 
Nordeste 68% 58% 
Norte 70% 70% 
Renda 
Familiar 
Até 1 SM 78% 65% 
Mais de 1 SM até 2 SM 72% 55% 
Mais de 2 SM até 3 SM 70% 58% 
Mais de 3 SM até 5 SM 74% 51% 
Mais de 5 SM até 10 
SM 
70% 51% 
Mais de10 SM 79% 40% 
Não tem renda 74% 57% 
Classe 
Social 
A 80% 42% 
B 70% 48% 
C 75% 53% 
DE 70% 60% 
Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da 
Sociedade da Informação (Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de 
informação e comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2019. 
 
48 
 
Percebe-se uma cultura ainda reinante na sociedade brasileira de indivíduos que ainda 
preferem ir presencialmente aos órgãos públicos para terem acesso aos serviços públicos. E esse 
comportamento independe de renda ou classe social. Por exemplo, 78% daqueles que recebem 
até 1 salário mínimo não utilizaram o governo eletrônico porque preferiram fazer o contato 
pessoalmente, porcentagem quase idêntica em relação àqueles que recebem mais de 10 salários 
mínimos. 
Outro fator do não uso do governo eletrônico foi que usar a internet para contato com 
o governo é complicado. Praticamente, em quase todos indicadores, 50% dos indivíduos acham 
complicado usar a internet para acessar o governo eletrônico. 
Pelo exposto, esses dados e situações revelam a urgência do debate acerca da 
democratização do acesso à internet no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
5. ANÁLISE EX ANTE DA ESTRATÉGIA DE GOVERNO DIGITAL: 
Feito o diagnóstico do nível de governo digital brasileiro, bem como a realidade 
brasileira no que tange a sua conectividade, passa-se a análise da Estratégia de Governo Digital. 
A Estratégia de Governo Digital (EGD), publicada recentemente por intermédio do 
Decreto nº 10.332 de 28 de abril de 2020, define desafios, oportunidades, objetivos, iniciativas, 
indicadores e metas para implementar a transformação digital de governo, prevista no eixo de 
transformação digital na E-Digital, norteando os investimentos do governo federal. 
Como dito no inicio deste trabalho, a análise do Decreto que instituiu a Estratégia de 
Governo Digital (EGD), foi realizada por intermédio da metodologia do quadro de referência 
proposto pelo documento “Avaliação de Políticas Públicas: guia prático de análise ex ante”, 
elaboradao pelo Governo Federal com colaboração de outras instituições pública e privada. O 
objetivo dessa análise é verificar se o Decreto em questão prevê alguma iniciativa ou 
mecanismo de promoção de inclusão digital ou de universalização dos serviços públicos 
digitais. Segue abaixo os resultados da análise realizada: 
I) Diagnóstico do problema: 
a) Qual problema ou necessidade a prosposta visa solucionar: 
O Governo atualmente não é eficiente na prestação de serviços públicos de qualidade 
para os cidadãos. Há alto custo no atendimento presencial, gasto com papel, procedimentos 
físicos burocráticos desnecessários, demora na prestação de serviços públicos ou no 
atendimento, deslocamento dos cidadãos aos orgãos públicos, tempo de espera em filas. Ainda 
cita-se a falta de capacitação dos servidores para lidar com novas tecnologias, bem como pela 
exclusão digital por parte da sociedade. Por fim, a falta de infraestrutura no fornecimento de 
internet para regiões mais remotas do Brasil. 
b) Quais as razões para que o Governo Federal intervenha no problema: 
Estratégia de Governo Digital (EGD) tem como propósito orientar e integrar as 
iniciativas de transformação digital dos órgãos e entidades do Poder Executivo Federal, por 
meio da expansão do acesso às informações governamentais, da melhoria dos serviços públicos 
digitais e da ampliação da participação social 
Portanto, é com a utilização, pelo setor público, de recursos de tecnologia da 
informação e comunicação (TIC) que predente-se melhorar a disponibilização de informação e 
a prestação de serviços públicos, incentivar a participação da sociedade no processo de tomada 
50 
 
de decisão e aprimorar os níveis de responsabilidade, transparência e efetividade do governo. 
Um governo integrado, portanto, resulta em uma experiência consistente de 
atendimento para o cidadão e integra dados e serviços da União, dos Estados, do Distrito Federal 
e Municípios, reduzindo custos, ampliando a oferta de serviços digitais e retira do cidadão o 
ônus do deslocamento e apresentação de documentos. 
c) Apresentar levantamento de políticas anteriormente adotadas para combater o 
mesmo problema: 
Ultimamente, o Governo Federal intensificou as iniciativas legislativas de políticas 
públicas para implementar e ampliar o Governo Digital. A título ilustrativo dessa normatização, 
cita-se: o Decreto nº 7.175/2010, que criou o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) – que 
foi revogado pelo Decreto nº 9.612/2018, que dispõe sobre a políticas pública de 
telecomunicações; a Lei nº 12.965/14, que instituiu o Marco Civil da Internet; o Decreto nº 
8.936/16, que instituiu a Plataforma de Cidadania Digital e dispôs sobre a oferta de serviços 
públicos digitais; a Lei nº 13.460/17, que disciplinou sobre a participação, proteção e defesa 
dos direitos dos usuários dos serviços públicos; o Decreto nº 9.094/17, que regulamentou a lei 
supracitada; o Decreto nº 9.319/18, que instituiu o Sistema Nacional para a Transformação 
Digital, na qual estabeleceu a estrutura de governança para a implantação da Estratégia 
Brasileira para a Transformação Digital; o Decreto nº 9.756/19, que instituiu como portal único 
de prestação de serviços públicos digitais e informacionais o “gov.br” e estipulou regras sobre 
a unificação dos canais digitais do Governo Federal; o Decreto nº 10.046/19, que dispôs sobre 
a governança no compartilhamento de dados no âmbito da Administração Pública Federal e 
instituiu o Cadastro Base do Cidadão e o Comitê Central de Governança de Dados; o Decreto 
nº 10.534/2020, que instituiu a Política Nacional de Inovação e, por fim, o Decreto nº 
10.332/2020, que instituiu a Estratégia de Governo Digital para o período de 2020 a 2022. 
Apesar de avanços nas políticas públicas de Governo Digital, um marco importante 
foi estabelecido em 2016, com o advento do Decreto nº 8.638, que instituiu a Política de 
Governança Digital, com o propósito de orientar as iniciativas entre os órgãos do Poder 
Executivo Federal sobre a transformação digital do governo, na qual abrangeu o período de 
2016 a 2019. Essa Política estabeleceu nove princípios para governança digital e dez 
objetivos estratégicos associadas a 51 iniciativas e 23 indicadores e organizados em três 
eixos: acesso à informação, prestação de serviços e participação social25. No seu artigo 1º 
 
 
51 
 
dispunha como finalidade: 
I - gerar benefícios para a sociedade mediante o uso da informação e 
dos recursos de tecnologia da informação e comunicação na prestação 
de serviços públicos; 
II - estimular a participação da sociedade na formulação, na 
implementação, no monitoramento e na avaliação das políticas 
públicas e dos serviços públicos disponibilizados em meio digital; e 
III - assegurar a obtenção de informações pela sociedade, observadas 
as restrições legalmente previstas. 
No entanto, esse Decreto que instituiu a Política de Governança Digital foi revogado 
pelo Decreto que estipulou a Estratégia de Governo Digital (EGD) 2020-2022. 
Em seguida, sobreveio o Decreto nº 8.936 de 19 de dezembro de 2016, instituiu a 
Plataforma de Cidadania Digital, que é composto pelo portal único “gov.br”, além de dispor 
sobre a oferta dos serviços públicos digitais, no âmbito dos órgãos e das entidades da 
administração pública federal direta, autárquica e fundacional 
Posteriormente, adveio o Decreto nº 9.319/18, que instituiu no Brasil o Sistema 
Nacional para a Transformação Digital (SinDigital), na qual estabeleceu a estrutura de 
governança para a implantação da Estratégia Brasileira para a Transformação Digital (E-
Digital), atribuindo à Casa Civil da Presidência da República a competência de coordenar o 
SinDigital. 
Em relação a composição, o SindDigital é constituídopor dois órgãos, quais sejam: (i) 
o Comitê Interministerial para a Transformação Digital (CITDigital): que compete, dentre 
outras funções, elaborar anualmente seu plano de trabalho e estabelecer as ações prioritárias 
para a Estratégia Brasileira para a Transformação Digital (E-Digital), além de acompanhar e 
avaliar, periodicamente, os resultados dessas ações; e o (ii) Conselho Consultivo: composto por 
especialistas e representantes da comunidade científica de notório saber, da sociedade civil e 
do setor produtivo. 
A E-Digital é fundamentada nos eixos temáticos constantes no seu Anexo do Decreto 
supracitado, visando à harmonização das iniciativas do Poder Executivo federal ligadas ao 
ambiente digital, com o objetivo de aproveitar o potencial das tecnologias digitais para 
promover o desenvolvimento econômico e social sustentável e inclusivo, com inovação, 
aumento de competitividade, de produtividade e dos níveis de emprego e renda no País. 
52 
 
A E-Digital é um documento central da política pública para a transformação digital 
da economia e organiza sua abordagem em dois grandes eixos: eixos habilitadores e eixos de 
transformações digital, sendo que cada eixo contém objetivos estratégicos e iniciativas, 
conforme demostrado na tabela abaixo: 
Tabela 16 – Estratégia Brasileira para a Transformação Digital 
(E-Digital): 
 
 
 
Fonte: autor. 
 
No eixo habilitadores, o objetivo estratégico “Infraestrutura e acesso às TIC's” 
objetiva promover a ampliação do acesso da população à internet e às tecnologias digitais, 
com qualidade de serviço e economicidade. Em um país de enormes dimensões territoriais 
como o Brasil, a necessidade de expansão da Internet impõe contínuos desafios de ampliação 
da infraestrutura de telecomunicações. 
Em dois estudos do Banco Mundial26 sobre ampliação de infraestrutura de 
telecomunicações e Internet nos países em desenvolvimento, foram identificadas as principais 
dificuldades para a universalização do acesso. Segundo os estudos, persistem nesses países as 
áreas deficientes em cobertura de infraestrutura (“hiato de acesso”), com alto custo de 
atendimento e população de baixa renda, ainda que a ampliação do mercado dissemine o acesso 
em regiões economicamente mais viáveis (reduzindo, assim, o “hiato de mercado”). 
Para tentar superar esse cenário, foram estipulados as seguintes inciativas: (i) levar 
redes de transporte de dados de alta capacidade a todos os Municípios brasileiros; (ii) expandir 
as redes de acesso em banda larga móvel e fixa, em áreas urbanas e rurais; e (iii) disseminar as 
 
26 Gilberto Kassab (org.). Estratégia Brasileira para a transformação digital: e-digital. Brasília, 2018. 108 p. 
Disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/centrais-de-conteudo/comunicados-mcti/estrategia-digital-
brasileira/estrategiadigital.pdf. Acesso em: 17 set. 2020. p.1. 
 
Eixos temáticos Objetivos estratégicos 
Eixo habilitadores 
Infraestrutura e acesso às TIC's 
Pesquisa, desenvolvimento e inovação 
Confiança no ambiente digital 
Educação e capacitação profissional 
Dimensão internacional 
Eixos de 
transformação 
digital 
Transformação digital da economia 
Cidadania e transformação digital do 
Governo 
53 
 
iniciativas de inclusão digital. 
Por sua vez, a “Educação e capacitação profissional” objetiva promover a formação da 
sociedade para o mundo digital, com novos conhecimentos e tecnologias avançadas, e prepará-
la para o trabalho do futuro. 
No êxito de transformação digital, por seu turno, dê-se ênfase ao objetivo “Cidadania 
e transformação digital do Governo”, que visa tornar o Governo federal mais acessível à 
população e mais eficiente em prover serviços ao cidadão, em consonância com a Estratégia de 
Governo Digital. 
II) Caracterização da política: objetivos, ações, público-alvo e resultados esperados: 
a) Qual o objetivo da proposta: 
Segundo informações disponíveis no portal gov.br27, que dispõe sobre o governo digital 
brasileiro, menciona que a EGD tem a responsabilidade e o objetivo de: 
 
“[...] atender a todos os brasileiros, em todos os lugares e em diversos 
contextos socioeconômicos e culturais, formulamos e apresentamos 
aqui a Estratégia de Governo Digital para o período de 2020 a 2022. Ela 
norteará as ações de todos os órgãos federais, com o objetivo de 
transformar o governo pelo Digital, oferecendo serviços de melhor 
qualidade, mais simples, acessíveis e a um custo menor para o cidadão. 
O cenário que dispomos para implantar a Estratégia é desigual. Mais do 
que isso, é continental. Por esse motivo, buscamos referências em 
governos ao redor do mundo. Esses projetos foram analisados e 
customizados para a realidade brasileira de mais de 210 milhões de 
habitantes, 70% deles, no mínimo, com acesso frequente à Internet”. 
 
Destarte, a EGD pretende convergir esforços, infraestruturas, plataformas, sistemas e 
serviços dos órgãos federais com as iniciativas de governo digital e sensibilizar os gestores 
públicos sobre a importância da governança digital para o Estado brasileiro. 
b) Quais sãos os resultados e os impactos esperados para a sociedade: 
O principal objetivo previsto no Anexo do Decreto é transformar todas as etapas e os 
serviços públicos digitalizáveis, até 2022, conforme o “Objetivo 1”. 
c) Quais são as ações a serem implantadas e as metas de entrega: 
A Estratégia possui 18 objetivos e 58 iniciativas, distribuídas em seis grandes 
 
27 BRASIL. GOVERNO FEDERAL. (org.). Conheça as diretrizes da Estratégia de Governo Digital - 2020 a 2022. 
2020. Disponível em: https://www.gov.br/governodigital/pt-br/EGD2020/. Acesso em: 10 out. 2020. 
54 
 
princípios: governo centrado no cidadão; governo integrado, governo inteligente; governo 
confiável; governo eficiente; e governo transparente e aberto. 
No entanto, somente o “Objetivo 12” tratou, de alguma maneira, sobre inclusão digital 
ou sobre a promoção da universalização dos serviços públicos digitais. São eles: 
“Objetivo 12 - Identidade Digital ao Cidadão 
Iniciativa 12.2. Disponibilizar identidade digital ao cidadão, com 
expectativa de emissão de quarenta milhões, até 2022. 
Iniciativa 12.3. Criar as condições para a expansão e para a redução dos 
custos dos certificados digitais para que custem, no máximo R$ 50,00 
(cinquenta reais) por usuário anualmente, até 2022. 
Iniciativa 12.4. Disponibilizar novos mecanismos de assinatura digital 
ao cidadão, até 2022”. 
Desse modo, a Estratégia de Governo Digital carece de iniciativas ou mecanismo de 
inclusão digital. 
III) Desenho, estratégia de implementação e focalização: 
a) Quais são os agentes públicos ou privados envolvidos e como atuarão na política: 
Conforme o art. 5º do Decreto da Estratégia, compete à Secretaria Especial de 
Modernização do Estado da Secretaria-Geral da Presidência da República a coordenação e 
monitoramento da execução da Estratégia de Governo Digital; Coordenar a avaliação da 
Estratégia de Governo Digital; e, por fim, monitorar a execução dos Planos de Transformação 
Digital dos órgãos e das entidades. 
Por sua vez, o art. 6º estabelece que compete à Secretaria de Governo Digital da 
Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da 
Economia, aprovar os Planos de Transformação Digital dos órgãos e das entidades; coordenar 
as iniciativas de transformação digital dos órgãos e das entidades; entre outras medidas. 
b) Apresentar possíveis articulações com outras políticas em curso no Brasil: 
A EGD aduz, de forma expressa, em seu art. 4º, que a Estratégia de Governo Digital 
observará as disposições da Estratégia Brasileira para a Transformação Digital (E-Digital), 
instituída pelo Decreto nº 9.319, de 21 de março de 2018. 
c) Qual o público-alvo que se quer atingir: 
55 
 
Tanto o Governo Federal como a sociedade em geral.IV) Estratégias de monitoramento, de avaliação e de controle: 
a) Como será realizado o monitoramento e quais serão os indicadores desse 
monitoramento ao longo da execução da política: 
Há a disponibilização do “Painel de Monitoramento de Serviços Federais28”, na qual 
informa a porcentagens de serviços digitalizados, qual o tempo médio de espera pelo serviço, a 
avalição de 238 serviços prestados, como são avaliados os serviços, a quantidade de serviços 
disponíveis, o número de serviços parcialmente digitais, totalmente digiais ou não digitais. 
Ademais, é disponibilizado um ranking entre os órgãos do Governo Federal onde 
informa o nível de digitalização, quando tempo leva, a avalição da informação, a avaliação do 
serviço e a quantidade de avaliações do serviço. Ou seja, é um mecanismo de comparação de 
desempenho entres os órgãos da Administração Pública Federal. 
b) Como se dará a transparência e monitoramente e dos dados da política: 
O detalhamento do estágio de implementação da Estratégia de Governo Digital será 
disponibilizado no endereço eletrônico www.gov.br/governodigital. 
Além disso, há o Painel de Raio-x29, que consiste em uma ferramenta gerencial, em 
desenvolvimento pela Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do 
Ministério da Economia, que tem o objetivo de fomentar o acompanhamento da gestão públcia, 
do seu aprimoramento por meio do uso de dados e informações, apresenta um resumo dos 
esforços do governo federal no âmbito da estratégia de transformação digital, como o objetivo 
de simplificar o monitoramento, a avaliação e, sobretudo, o acesso dos cidadãos aos serviços 
públicos. 
Segundo a medição da economia para o governo, em termos de gastos com 
infraestrutura e pessoal, prevista no processo de transformação digital e da aplicação do modelo 
de custos desenvolvido pela Secretaria de Governo Digital, houve uma economia anual, até o 
presente momento, de R$ 589,1 milhores de reais. 
Já em relação à economia auferida pela sociedade com a transfromação digital do 
 
28 BRASIL. GOVERNO FEDERAL. (org.). Painel de monitoramento de serviços federais. 2020. Disponível em: 
http://painelservicos.servicos.gov.br/?_ga=2.32669177.678568399.1601856625-742201220.1597877732. Acesso 
em: 26 out. 2020. 
29 BRASIL. GOVERNO FEDERAL. (org.). Painel de Raio-X. 2020. Disponível em: 
https://raiox.economia.gov.br/?=. Acesso em: 29 out. 2020. 
http://www.gov.br/governodigital
56 
 
governo, isto é, o gastos com tempo e deslocamento evitados pelos cidadãos ao acessarem os 
serviços públicos digitais, a economia anual, até o momento, foi de R$ 1,1 bilhões de reais. 
V) Impacto orçamentário e financeiro: 
a) Apresentar análise dos custos da proposta para os entes públicos afetados: 
Os recursos financeiros vinculados ao programa são um dado da maior relevância para 
dar efetividade à política. Do ponto de vista da alocação orçamentária, o emprego de recursos 
pode se dar na forma de investimento, custeio ou pessoal. Na presente Estratégia, não há 
estimativa de impacto orçamentário-financeiro, tampouco a demonstração da origem dos 
recursos para implmentar a EDG. 
Contudo, há menção sobre a forma de remuneração de servidores envolvidos na EGD. 
É o caso dos membros do Comitê de Governança Digital, prevista na Estratégia, na qual serão 
designados ao cargo em comissão de nível equivalente ou superior ao nível 5 do Grupo-Direção 
e Assessoramento Superiores. Haverá, também, a figura do “participante” neste Comitê, na qual 
será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada. 
Por fim, no anexo, em seu objetivo 18, há a previsão de capacitar, n mínimo, dez mil 
profissionais das equipes do Governo Federal em áreas do conhecimento essenciais para a 
transformação digital. 
Cabe destacar que no Anexo, no “objetivo 17,” da Estratégia, há a previsão de 
reinvestimento da economia auferida com a transformação digital do governo, na qual será 
aplicada em políticas públicas essenciais. Veja-se: 
“Objetivo 17 - O digital como fonte de recursos (financeiros) para 
políticas públicas essenciais 
Iniciativa 17.1. Aprimorar a metodologia de medição da economia de 
recursos com a transformação digital, até 2020. 
Iniciativa 17.2. Disponibilizar painel com o total de economia de 
recursos auferida com a transformação digital, até 2020. 
Iniciativa 17.3. Estabelecer processo de reinvestimento da economia 
auferida com a transformação digital, em políticas públicas essenciais, 
até 2021”. 
Contudo, não foram encontrados dados referentes ao reinvestimentos realizados com 
57 
 
a economia ocasionada pela digitalização dos serviços públicos. 
Ademais, o Decreto da EGD foi editado com base no art. 84, VI, “a” da Constituição 
Federal. Veja-se: 
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 
VI – dispor, mediante decreto, sobre: 
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não 
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos 
públicos; 
Isto é, a base legal utilizada para editar a Estratégia de Governo Digital não contempla 
o aumento de despesas. Apesar de do EGD prescrever metas e resultados a serem alcançados, 
o Decreto não dispôs sobre os meios de realização dos objetivos fixados. Como foi visto 
anteriormente, sem recursos financeiros é impossível implementar e efetivar políticas públicas. 
 
5.1 Falta de compromisso da Estratégia de Governo Digital com a inclusão digital: 
Em relação à legislação pátria, temos a Lei 12.965/2014, comumente conhecida como 
Marco Civil da Internet, que vai ao encontro com as recomendações de organismos 
internacionais, como ONU, OCDE e Banco Mundial, no sentido de que as políticas públicas de 
governo digital, além de procurar aumentar a oferta de serviços (a disponibilização de 
informações e serviços públicos em meio eletrônico), devem se preocupar também com a 
demanda (a inclusão digital da sociedade). 
Desta forma, a estratégia de provimento de novo serviço público em meio digital terá 
maior eficácia se, além de se preocupar com o desenvolvimento, a implantação e a sustentação 
da solução de TI que suportará o serviço, se atentar também: i) às condições físicas, financeiras 
e educacionais do seu público-alvo; ii) aos seus meios disponíveis para acesso à internet 
(computadores de mesa ou dispositivos móveis, velocidade de acesso, etc.), iii) à campanha de 
divulgação do serviço desenhada de forma a melhor alcançar este público; e iv) a serviço de 
orientação a usuários adaptado para as suas características de idade, nível educacional, 
habilidade no uso de tecnologias de informação e comunicação, etc. 
Segundo o Comitê Gestor do Programa de Inclusão Digital (CGPID), em documento 
intitulado “Brasil Conectado: Programa Nacional de Banda Larga30”, publicado em 30/11/2010, 
 
30Secretaria-Executiva do Comitê Gestor do Programa de Inclusão. Brasil Conectado: Programa Nacional de 
58 
 
estabeleceu que a inclusão digital consiste em “garantir que os cidadãos e instituições 
disponham de meios e capacitação para acessar, utilizar, produzir e distribuir informações e 
conhecimento, por meio das TIC, de forma que possam participar de maneira efetiva e crítica 
da sociedade da informação. 
O Marco Civil da Internet trata de diversos aspectos de inclusão digital no seu Capítulo 
IV - Da Atuação do Poder Público. Pela grande importância desse capítulo para o presente 
trabalho, merece a transcrição dos seus artigos. Veja-se: 
DA ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO 
Art. 24. Constituem diretrizes para a atuação da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios no desenvolvimento da internet no Brasil: 
[...] 
II - promoção da racionalização da gestão, expansão e uso da internet, com 
participação do Comitê Gestor da internet no Brasil; 
[...] 
VII - otimizaçãoda infraestrutura das redes e estímulo à implantação de centros de 
armazenamento, gerenciamento e disseminação de dados no País, promovendo a 
qualidade técnica, a inovação e a difusão das aplicações de internet, sem prejuízo à 
abertura, à neutralidade e à natureza participativa; 
VIII - desenvolvimento de ações e programas de capacitação para uso da internet; 
[...] 
X - prestação de serviços públicos de atendimento ao cidadão de forma integrada, 
eficiente, simplificada e por múltiplos canais de acesso, inclusive remotos. 
Art. 25. As aplicações de internet de entes do poder público devem buscar: 
[...] 
II - acessibilidade a todos os interessados, independentemente de suas capacidades 
físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais, mentais, culturais e sociais, 
resguardados os aspectos de sigilo e restrições administrativas e legais; 
[...] 
Art. 26. O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestação da educação, 
em todos os níveis de ensino, inclui a capacitação, integrada a outras práticas 
educacionais, para o uso seguro, consciente e responsável da internet como ferramenta 
para o exercício da cidadania, a promoção da cultura e o desenvolvimento tecnológico. 
Art. 27. As iniciativas públicas de fomento à cultura digital e de promoção da internet 
como ferramenta social devem: 
I - promover a inclusão digital; 
II - buscar reduzir as desigualdades, sobretudo entre as diferentes regiões do País, no 
acesso às tecnologias da informação e comunicação e no seu uso; 
[...] 
Art. 28. O Estado deve, periodicamente, formular e fomentar estudos, bem como fixar 
 
Banda Larga. Sistema de Informacion de Tendencias Educativas En America Lativa, Brasília, p. 06-69, nov. 2010. 
Disponível em: https://www.siteal.iiep.unesco.org/sites/default/files/sit_accion_files/br_4029.pdf. Acesso em: 02 
out. 2020. p. 12. 
59 
 
metas, estratégias, planos e cronogramas, referentes ao uso e desenvolvimento da 
internet no País. 
 
Desse modo, foram identificadas fragilidades na Estratégia de Governo Digital, em 
aspectos essenciais sobre a inclusão digital, relacionados à infraestrutura, política de acesso, 
conteúdo adequado para inclusão e capacitação do cidadão para utilização das TIC. 
Também foram identificadas falhas no processo de gestão, com destaque para as 
deficiências na articulação dos diversos atores envolvidos nas ações governamentais, o que 
pode ser visto como um dos maiores desafios a ser enfrentado para a efetiva inclusão digital da 
população. 
Além de questões como disponibilidade de acesso à internet com preços acessíveis, 
conhecimentos e habilidades para uso de tecnologias de informação e comunicação, 
comunicação governamental, não foi identificado iniciativas em relação à acessibilidade de 
pessoas portadoras de deficiência, que também se insere no contexto de inclusão digital. 
O Tribunal de Contas da União (TCU) já reconheceu o princípio da “indissociabilidade 
entre inclusão digital e governo eletrônico”, em que consiste que é inconcebível pensar em 
governo digital sem a implementação de inclusão digital. Dessa maneira, a Estratégia de 
Governo Federal não contemplou esse princípio31. 
De fato, ao se analisar a questão de governo digital, percebe-se que a sua consecução 
depende de inclusção digital, do aprimoramento e da interligação de vários aspectos da 
realidade do país e da atuação governamental, como infraestrutura tecnológica, amplitude da 
oferta de informações e serviços públicos em meio eletrônico com qualidade e acessibilidade, 
comunicação institucional, entre outros. 
Neste contexto, importa ressaltar a preocupação em relação à falta de previsão de 
medidas de inclusão e, consequentemente, de universalização dos serviços públicos digitais 
levar ao agravamento do chamado “fosso digital” ou da “exclusão digital”, situação na qual se 
reduz a parcela da sociedade que efetivamente usufrui das oportunidades e dos benefícios 
gerados pelos avanços da transformação digital do governo. 
Avanços em governo digital devem caminhar de mãos dadas com esforços para 
 
31BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relatório de Auditoria Natureza Operacional. Avaliação dos Serviços 
Prestados Aos Cidadãos de Forma Eletrônica. Identificação de Oportunidades de Melhoria. Acórdão nº 1469/2017. 
Relator: BENJAMIN ZYMLER. Brasília, DF, 12 de julho de 2017. p. 52. 
60 
 
deminuir a desigualdade digital. Muitas pessoas não possuem acesso à internet ou a dispositivos 
móveis. A inclusão digital dos mais pobres e mais vulneráveis é sinônimo de garantir que eles 
se beneficiem do progresso em tecnologia da informação e comunicação e, para isso, requer 
uma articulação integrada entre as políticas públicas sobre o tema. Dessa forma, articular as 
políticas públicas relacionadas à inclusão digital com a EGD é de suma importância para 
promover a universalização do acesso aos serviços públicos digitais.E isso, infelizmente não 
foi vislumbrada na EGD. 
Outra evidência de que os órgãos atuam de forma desvinculada dos objetivos da EGD 
é não haver orçamento previsto para as suas ações. 
Como foi demonstrado, a existência de várias políticas pode afetar negativamente a 
disponibilidade de uma visão clara e integrada de governo capaz de guiar as ações a serem 
executadas por entidades públicas, privadas e da sociedade civil. A multiplicação de estratégias 
pode vir a ofuscar a governança institucional e limitar a alocação eficiente de recursos para 
apoiar a implementação de políticas públicas eficazes32. 
Além disso, as políticas públicas que tratam de inclusão digital, não dialogam com as 
políticas previstas na EGD, sendo fragmentadas e desarticuladas. 
 
5.2 Dificuldade na autenticação de identidade do usuário de serviço público: 
O uso de mecanismos de autenticação da identidade do usuário pode facilitar o uso dos 
serviços públicos digitais, em atendimento ao inciso IV do art. 25 do Marco Civil da Internet, 
proporcionando conveniência e usabilidade ao cidadão-consumidor ao permitir o uso dos 
serviços em diferentes contextos tecnológicos, por meio do compartilhamento de informações 
que propicie contexto único e individual para interação com o governo. 
É possível inferir que os mecanismos para acesso a serviços ou ambientes digitais 
passa pela binômio custo x segurança, uma vez que maiores níves de segurança tendem a ter 
preços mais elevados. 
Contudo, as formas de autenticação da identidade dos usuários de serviços públicos 
digitais não são acessíveis para os economicamente vulneráveis da sociedade: 
 
32 ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (Brasil) (org.). Revisão 
do Governo Digital do Brasil: rumo à transformação digital do setor público. 2018. Disponível em: 
http://editor.planejamento.gov.br/seminariodigital/seminario/digital-gov-review-brazil-portugues.pdf. Acesso 
em: 26 out. 2020. p. 7. 
61 
 
Tabela 17 - Custo de certificado digital e-CPF para smartphone e computador pela 
CERTISIGN, pelo prazo de 12 meses: 
 
 
Fonte: Disponível em: https://loja.certisign.com.br/Certificados/certificado-digital. Acesso em: 20/10/2020. 
 
Tabela 18 - Custo de certificado digital e-CPF para computador pela Serasa Experian, pelo 
prazo de 12 meses: 
 
 
Fonte: Disponível em: https://serasa.certificadodigital.com.br/. Acesso em: 20/10/2020. 
 
https://loja.certisign.com.br/Certificados/certificado-digital
https://serasa.certificadodigital.com.br/
62 
 
A única iniciativa prevista na Estratégia de Governo Digital de inclusão digital foi 
estipulada no “Objetivo 12”, onde tratou sobre a identidade digital ao Cidadão, prevendo 
reduzir o custos dos certificados digitais para o valor de R$ 50,00. Veja-se: 
“Objetivo 12 - Identidade Digital ao Cidadão 
Iniciativa 12.2. Disponibilizar identidade digitalao cidadão, com 
expectativa de emissão de quarenta milhões, até 2022. 
Iniciativa 12.3. Criar as condições para a expansão e para a redução dos 
custos dos certificados digitais para que custem, no máximo R$ 50,00 
(cinquenta reais) por usuário anualmente, até 2022. 
Iniciativa 12.4. Disponibilizar novos mecanismos de assinatura digital 
ao cidadão, até 2022”. 
Infelizmente, até o presente momento, como demonstrado acima, essa iniciativa não 
foi cumprida. 
Em relação às experiências internacionais de autenticação da identidade do cidadão, 
cita-se abaixo alguns exemplos. 
O Reino Unido utiliza a ferramenta GOV.UK Verify para permitir que seus cidadãos 
tenham acesso mais seguro, mais simples e mais rápido aos serviços públicos digitais. Quando 
o cidadão utiliza esta plataforma para acessar os serviços públicos, ele tem a opção de escolher 
uma dentre várias companhias certificadas pelo governo para autenticar a sua identidade. Cada 
companhia tem formas diferentes de verificar a identidade do usuário, porém nenhuma delas 
exige a presença física do cidadão durante o processo de cadastramento33 
Outro caso significativo de autenticação da identidade do cidadão é encontrado na 
Estônia. A infraestrutura do programa de governo digital deste país (e-Estonia) fundamenta-se 
em dois elementos-chave: X-Road e e-Identity (e-ID). 
O e-ID, introduzido em 2002, é um cartão inteligente (smartcard) que identifica os 
cidadãos estonianos. Ele possibilita o desenvolvimento de serviços eletrônicos seguros e pode 
ser utilizado em qualquer sistema, público ou privado, que requer identificação eletrônica. O e-
ID funciona como, entre outras coisas, documento de identidade para viagens dentro da União 
 
33 ENGLAND. GOV.UK. (org.). GOV.UK Verify overview. 2020. Disponível em: 
https://www.gov.uk/government/publications/introducing-govuk-verify/introducing-govuk-verify. Acesso em: 26 
out. 2020. 
63 
 
Europeia, instrumento de autenticação do usuário de serviços bancários via internet e 
mecanismo para aposição de assinatura eletrônica. Atualmente, 98% da população da Estônia 
possui o e-ID34 
No Brasil, é de suma importancia criar iniciativa para prover mecanismo único, 
integrado, simplificado, economicamente acessível e seguro para a autenticação da identidade 
dos usuários, objetivando o seu uso para o acesso aos serviços públicos digitais. 
Tabela 19 – Serviços relacionados ao CPF oferecidos online pela Receita Federal: 
 
Fonte: Disponível em: http://servicos.receita.fazenda.gov.br/servicos/servicos-ecac/default.aspx. Acessado em 
20/10/2020. 
 
Nesse exemplo, observa-se da tabela acima que quase a totalidade dos serviços 
relacionados ao CPF oferecidos online pela Receita Federal, para serem realizados, é necessário 
possuir certificado digital. Quando teve a eclosão da pandemia do novo coronavírus, e em 
sequência, a disponibilização do auxílio emergencial por parte do Governo Federal, muitas 
agências da Receita Federal ficaram lotadas35 ou com filas enormes por conta de pessoas que 
 
34 ESTONIA. ESTONIAN GOVERNMENT. E-identity. Disponível em: https://e-estonia.com/solutions/e-
identity/. Acesso em: 27 out. 2020. p.1. 
35 G1 (Rio de Janeiro) (ed.). Contribuintes voltam a passar a madrugada em filas para regularizar CPF e receber 
http://servicos.receita.fazenda.gov.br/servicos/servicos-ecac/default.aspx
64 
 
possuiam algum tipo de irregularidade no CPF. Talvez essa situação tivesse sido evitada se 
houvesse uma democratização ao acessos aos certificados digitais com preços mais acessíveis. 
 
5.3 Heterogeneidade dos usuários: 
 
 
Neste cenário, é primordial garantir que todas as pessoas tenham acesso à Internet. A 
universalização do acesso é a inclusão dos indivíduos na sociedade informacional. 
A universalização ao acesso à internet tem que levar em consideração que a população 
brasileira não é homogênea, isto é, tem que levar em consideração a classe econômica 
(dependência de pacote de dados), a faixa etária (usabilidade), a escolaridade (dificuldade de 
entendimento), a velocidade de conexão (download e upload) e as regiões (Norte, Nordeste, 
Centro-Oeste, Sudeste e Sul) e áreas (ubarnas e rurais). 
Algumas medidas podem ser tomadas para dar efetividade à universalização, como, 
por exemplo, garantir que o acesso de serviços públicos digitais não consuma dados móveis, 
para aqueles que não possuem recursos financeiros; para os analfabetos, a utilização de 
aplicativos sejam realizados por comando de voz e entrada no dispositivo pela impressão 
digital; oferta de pontos públicos de acesso à internet para uso livre e gratuito pela população, 
entre outros. 
5.4 Substituição total de serviços públicos presenciais por serviços públicos digitais: 
 
Durante a pesquisa para a realização do presente trabalho, não foi encontrado 
informações no sentido de haver a total substituição de serviços presenciais por digitais. 
No entanto, no Decreto nº 8.936/ 2016, que instituiu a Plataforma de Cidadania Digital, 
além de dispor sobre a oferta dos serviços públicos digitais, menciona que é facultativo aos 
cidadãos solicitar serviços públicos em a necessidade de atendimento presencial, conforme a 
previsão do inciso I, do art. 1º. Veja-se: 
Art. 1º Fica instituída a Plataforma de Cidadania Digital, no âmbito dos 
órgãos e das entidades da administração pública federal direta, 
 
auxílio emergencial. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/2020/04/16/contribuintes-voltam-a-passar-a-madrugada-em-filas-para-regularizar-cpf-e-receber-
auxilio-emergencial.ghtml. Acesso em: 15 out. 2020. p. 1. 
65 
 
autárquica e fundacional, com a finalidade de: 
I - facultar aos cidadãos, às pessoas jurídicas e a outros entes públicos 
a solicitação e o acompanhamento dos serviços públicos sem a 
necessidade de atendimento presencial; 
Chama-se a atenção, em seu art. 5º, o fato de que “a disponibilidade de canal de 
atendimento digital para a prestação dos serviços públicos não substitui outros meios de 
atendimento necessários à natureza e ao público-alvo dos serviços, conforme avaliação do 
gestor do serviço”. Extrai-se, portanto, que não poderá haver a prestação de serviços públicos 
digitais em substituição completa dos serviços presenciais, desde que a natureza do atendimento 
seja necessário a forma presencial, conforme avaliação do gestor do serviço. 
Foi possível identificar, dentre os serviços que foram digitalizados, uma substituição 
total do serviço público presencial pelo digital. É o caso da Carteira de Trabalho Digital. 
A Carteira de Trabalho Digital foi regulamentada pela Portaria nº 1.065, de 23 de 
setembro de 2019, da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da 
Economia, onde disciplinou a emissão da Carteira de Trabalho e Previdência Social em meio 
eletrônico . 
Essa portaria prevê, em seu art. 3º, que a Carteira de Trabalho Digital está previamente 
emitida a todos os inscritos no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), sendo necessária sua 
habilitação. Para realizar a habilitação da Carteira, é necessário a criação de uma conta de acesso 
por meio do portal único do Governo Federal, o “gov.br” ou por meio do aplicativo específico, 
disponibilizado gratuitamente para os dispositivos móveis, conforme aduz o art. 4º. 
Em relação à Carteira de Trabalho em meio físico, a Portaria aduz que poderá ser 
utilizada em caráter excepcional, na hipótese do empregador ainda não for obrigado a utilizar o 
eSocial. 
A crítica que se faz é que a Portaria não traz alternativas para aqueles que não dispõe 
de recursos ou instrumentos para acessar e habilitar a Carteira De Trabalho Digital por 
intermédio de computador ou de smartphone. 
 
 
 
66 
 
6. CONCLUSÃO: 
O avanço das tecnologias de informaçãoe comunicação tem possibilitado aos seus 
usuários, cada vez mais, conveniência no uso de serviços de forma remota e eletrônica. Este 
fato criou uma oportunidade que vem sendo aproveitada pelos governos ao redor do globo para 
a prestação de melhores serviços aos seus cidadãos, ao mesmo tempo em que otimizam a 
administração pública e reduzem seu custo na prestação de serviços públicos oferecidos 
diretamente à sociedade. 
A sensibilização dos governos acerca do uso destas tecnologias culminou na 
formalização de programas estatais de governo eletrônico (e-Gov), que evoluíram, nos últimos 
anos, para o novo paradigma de governo digital. O governo digital aproveita os alicerces 
lançados pelo e-Gov e o aprimora com a declaração explícita de ideais, como o foco na 
sociedade, a incorporação de novos conceitos e princípios e a adoção de novos modelos de 
interação com a sociedade, como dispositivos móveis, sempre visando à melhoria 
governamental. 
Acompanhando a tendência mundial, o programa de governo eletrônico brasileiro, 
criado em 2000, sofreu mudanças nos últimos anos até, notadamente quando o Poder Executivo 
Federal adotaou formalmente, a partir do Decreto 8.638/2016, a Política de Governança Digital, 
rompendo com antigos conceito e paradigmas. 
Dessa forma, evidenciou-se que a implantação de governo digital no país requer 
atuação sinérgica de vários atores para a implementação de interoperabilidade entre serviços 
públicos digitais ofertados por diferentes órgãos e entidades e a integração de políticas de 
governo digital com as de inclusão digital. 
Como foi demonstrado, as políticas públicas definem as prioridades a serem adotadas 
por meio de programas específicos, onde indica os destinatárias de uma determinada política, 
os meios para se alcançarem os objetivos defenidos, os recursos para o seu financiamento, os 
prazos estipulados. 
Tendo isso em mente, mostrou-se oportuno avaliar se a EGD promove a inclusão 
digital e a universalização dos serviços públicos digitais. Contudo, o alcance das metas e dos 
objetivos definidos na EGD não demonstram o comprometimento com a inclusão digital. 
Com esta medida, espera-se que os órgãos envolvidos almejem execução harmônica e 
balanceada das políticas públicas de governo/inclusão digital de forma a distribuir com maior 
equidade os benefícios e as oportunidades delas resultantes, mitigando riscos de sobreposição 
67 
 
de esforços em iniciativas não articuladas com objetos similares, evitando prejuízo ao benefício 
final esperado à sociedade devido a falhas na coordenação de iniciativas interdependentes, 
equilibrando iniciativas voltadas ao lado da oferta e da demanda e, por fim, reduzindo a 
desigualdade digital no país. 
Como é sabido, deve-se evitar que o movimento de atualização da Administração 
Pública brasileira e a reformulação dos modos de disponibilização de serviços caiam no vão da 
simbologia, a perpetuar continuamente a marginalização de grupos vulneráveis (situados da 
linha da pobreza para baixo), em matéria de inclusão e cidadania digitais, num círculo vicioso 
em que os mesmos (sempre eles) são novamente alijados de direitos sociais e serviços públicos. 
Necessita-se garantir, portanto, a acessibilidade e erradicar o “analfabetismo digital”. 
A implementação do Governo digital por meio das TICs pressupõe que cada cidadão tenha 
acesso a um conjunto básico de ferramentas computacionais e de telecomunicação, associados 
a conhecimentos de utilização, que lhe permitam receber, elaborar e transmitir informação e 
usufruir de serviços eletrônicos. 
A lógica dos e-Serviços Públicos, no esteio do Governo digital, deve obedecer aos 
princípios da (i) eficiência, almejando a máxima satisfação do cidadão usuário; (ii) 
universalidade, maximizando a abrangência da disponibilidade de tais serviços; e (iii) 
atualidade, garantindo que os avanços tecnológicos, na comunicação e informação, sejam 
instrumentais para as ações públicas de corporificação dos direitos sociais. 
De fato, o Governo Federal brasileiro está se digitalizando e alcançando destaque 
internacional. No entanto, devemos nos atentar que a política pública de Governança Digital 
não deve promover a desigualdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
68 
 
7. REFERÊNCIAS: 
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	UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
	RESUMO
	ABSTRACT
	LISTA DE TABELAS
	SUMÁRIO
	5. ANÁLISE EX ANTE DA ESTRATÉGIA DE GOVERNO DIGITAL (EGD).......49
	6. CONCLUSÃO...............................................................................................................66
	7. REFERÊNCIAS............................................................................................................68
	1. INTRODUÇÃO
	2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA COMPREENSÃO DO GOVERNO DIGITAL
	2.1 Conceito de Políticas Públicas:
	2.1.2 Caracterícas das Políticas Públicas:
	2.3 SERVIÇOS PÚBLICOS:
	3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA ERA DIGITAL
	4. REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA QUE NÃO ACOMPANHA A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DO GOVERNO:
	5. ANÁLISE EX ANTE DA ESTRATÉGIA DE GOVERNO DIGITAL:
	6. CONCLUSÃO:
	7. REFERÊNCIAS:

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