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CLÍNICA MÉDICA ! DOENÇAS ENDÓCRINAS E METABÓLICAS44 A síndrome de Turner é a causa mais comum de falência gonadal primária no sexo feminino, caracterizada por dis- função ovariana, graus variáveis de desenvolvimento pu- beral, baixa estatura e estigmas somáticos típicos. O defei- to genético é encontrado no cromossomo X, com perda parcial ou completa do cromossomo. A incidência dessa entidade é de 1:2.500 meninas40. Cerca de 50% das meni- nas com síndrome de Turner apresentam cariótipo 45, X, enquanto as demais são mosaicos, com linhagens conten- do alterações estruturais do cromossomo X40. O diagnós- tico de síndrome de Turner requer a presença de estigmas físicos característicos acompanhados de ausência comple- ta ou parcial do segundo cromossomo sexual40. Os estig- mas somáticos da síndrome de Turner são variados. A face pode apresentar micrognatia, epicanto, ptose e orelhas proeminentes. O pescoço é curto, alado e ocorre a im- plantação baixa dos cabelos. O tórax tem aspecto de escu- do. As anormalidades esqueléticas são diversas, tais como cúbito valgo, encurtamento do quarto metacarpo e meta- tarso, desvio medial da tíbia, osteoporose, palato arquea- do, deformidade de Madelung e alteração da drenagem do ouvido médio, resultando em otites de repetição e prejuí- zo da audição. No sistema cardiovascular, coarctação da aorta e hipertensão arterial podem ser identificadas. Na pele, nevus, quelóides e linfedema40. Nos rins, anomalias de rotação, rim em ferradura, duplicação ou hidronefrose. Finalmente, o aumento da incidência das doenças auto- imunes (incluindo tireoidite, artrite reumatóide e diabetes mellitus) e dos distúrbios neuropsiquiátricos pode ser identificado40. Por causa da falência ovariana primária, os valores de gonadotrofinas, com predomínio do FSH, são elevados desde os primeiros anos de vida. As gonadotrofi- nas são normais durante o período de quiescência do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal e atingem valores bastante elevados em torno de 11-12 anos de idade. Os ovários são disgenéticos e constituídos por tecido conjuntivo (estro- ma ovariano). As características sexuais da puberdade aparecem em graus variados em 20 a 30% das meninas. A menarca espontânea pode ocorrer em 15% das meninas com síndrome de Turner, com menstruações regulares em menos de 5% e gravidez em menos de 0,5%. Síndrome de Klinefelter A síndrome de Klinefelter é a causa mais comum de insuficiência gonadal primária no sexo masculino, sen- do caracterizada por uma anormalidade cromossômica numérica, com um número extra variável de cromosso- mo X. Apresenta uma freqüência de 1,5:1.000 homens41. O genótipo é tipicamente 46, XXY, mas o mosaicismo genético pode ocorrer. O diagnóstico é geralmente reali- zado na adolescência ou na idade adulta. Tipicamente, os pacientes apresentam hipogonadismo com valores elevados de gonadotrofinas. Na maioria dos casos, al- gum grau de desenvolvimento puberal ocorre, mas os testículos se tornam pequenos e fibróticos, a genitália externa não se desenvolve adequadamente e a presença de azoospermia é característica. A ginecomastia também é um sinal característico, e os pacientes são freqüente- mente mais altos desde a infância. Além disso, podem apresentar redução do desenvolvimento intelectual e al- terações de comportamento; quanto maior for o núme- ro de cromossomos X, maior será o grau de retardo mental e anormalidades do desenvolvimento genital41. Diagnóstico clínico e laboratorial A etiologia do atraso puberal deve ser investigada com base na história clínica e no exame físico. Os dados referentes a crescimento linear, ganho de peso, atividade física e história familiar devem ser questionados. A ca- pacidade olfatória e a presença de sintomas neurológicos também são relevantes. No exame físico, devem-se ob- servar altura, peso, envergadura, estatura sentada, pre- sença de estigmas físicos, estádios do desenvolvimento segundo os critérios de Tanner e presença de anormali- dades visuais. Na avaliação inicial, devem-se incluir he- mograma completo, exames bioquímicos, TSH, LH, FSH, testosterona ou estradiol, DHEAS, prolactina, IGF- 1 e idade óssea. A TC e a ressonância magnética do SNC são exames de imagem úteis nos pacientes com HH. O cariótipo deve ser solicitado no hipogonadismo hiper- gonadotrófico. Um fluxograma de investigação etiológi- ca da puberdade atrasada é apresentado na Algoritmo 2. Tratamento hormonal O tratamento hormonal dos pacientes portadores de hipogonadismo consiste na reposição dos esteróides sexuais. Nos meninos, a reposição deve ser iniciada na idade cronológica de 12-13 anos e antes dos 14 anos de idade óssea, por causa do pico de maturação óssea. Os ésteres de testosterona (enantato ou cipionato) são pre- ferencialmente utilizados, por via intramuscular, na dose inicial de 50 mg/mês, durante 6 a 12 meses. Após esse período, a dose deve ser aumentada gradualmente até 200-250 mg a cada 15-21 dias, dependendo da con- centração de testosterona medida no dia anterior a uma nova aplicação. Considerações finais A puberdade precoce é o aparecimento dos caracte- res sexuais secundários antes dos 8 anos no sexo femini- no e antes dos 9 anos no sexo masculino. A puberdade precoce, de acordo com a etiologia, é classificada em de- pendente ou independente de gonadotrofinas. A história clínica e a investigação hormonal são importantes para o diagnóstico diferencial entre essas duas formas, permi- tindo a instituição do tratamento apropriado. O trata- mento de escolha da puberdade precoce dependente de gonadotrofinas são os análogos de GnRH de ação pro- longada. A forma independente de gonadotrofinas deve ser tratada com drogas que atuam na síntese ou ação dos esteróides sexuais. Puberdade atrasada é a ausência dos caracteres sexuais secundários após 13 anos nas meninas Martins - Clínica Médica (Volume 5)
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