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2 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DE PERNAMBUCO O Brasil pré-histórico apresenta-se com tradições rupestres de ampla dispersão através de suas grandes distâncias e ampla temporalidade. O registro arqueológico e, concretamente, o rupestre assim o indicam. As tradições rupestres do Brasil não evoluíram por caminhos independentes; os seus autores ou grupos étnicos aos quais pertencem, mantiveram contatos entre si, produzindo-se a natural evolução no tempo e no espaço que nos obriga a estabelecer as subdivisões pertinentes. Podemos afirmar que o registro rupestre é a primeira manifestação estética da pré-história brasileira, especialmente rica no Nordeste. Além do evidente interesse arqueológico e etnológico das pinturas e gravuras rupestres como definidoras de grupos étnicos, na ótica da história da Arte representa o começo da arte primitiva brasileira. A validade ou não do termo “arte”, aplicado aos registros rupestres pré- históricos, é tema sempre discutido, embora toda manifestação plástica forme parte do mundo das ideias estéticas e consequentemente da história da Arte. O pintor que retratou nas rochas os fatos mais relevantes da sua existência tinha, indubitavelmente, um conceito estético do seu mundo e da sua circunstância. A intenção prática da sua pintura podia ser diversificada, variando desde a magia ao desejo de historiar a vida do seu grupo, porém, de qualquer forma, o pintor certamente desejava que o desenho fosse “belo” segundo seus próprios padrões estéticos. Ao realizar sua obra, estava criando Arte. Se as pinturas de Altamira, na Espanha, ou as da Dordonha, na França, são consideradas, indiscutivelmente, patrimônio universal da arte pré-histórica sabe, entretanto que, pintadas nas profundidades das cavernas escuras, não foram feitas para agradar ninguém do mundo dos vivos, não há motivos aceitáveis para se duvidar ou negar a categoria artística das nossas expressivas e graciosas pinturas rupestres do Rio Grande do Norte ou do Piauí. 3 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES O tipo de suporte e a estrutura são elementos essenciais e determinantes para se compreender o sítio rupestre e a sua utilização. Os abrigos localizados no alto das serras, ao longo dos rios, como é o caso da região do Seridó, nos sugere serem lugares cerimoniais, longe das aldeias, que deveriam estar situadas mais perto da água. Já os sítios da Serra dos Cariris Velhos, entre a Paraíba e Pernambuco, situados em lugares de várzea, piemonte ou “brejos”, mesmo sendo também lugares de culto, nos dão a impressão de uma utilização habitacional, mesmo que temporária, ou talvez lugar de culto perto da aldeia do grupo. Foi precisamente nos sertões nordestinos do Brasil. onde a natureza é particularmente hostil à ocupação humana, onde se desenvolveu uma arte rupestre pré-histórica das mais ricas e expressivas do mundo, demonstrando a capacidade de adaptação de numerosos grupos humanos que povoaram a região desde épocas que remontam ao pleistoceno final. No estado atual do conhecimento, podemos afirmar que três correntes, com seus horizontes culturais, deixaram notáveis registros pintados e gravados nos abrigos e paredões rochosos do Nordeste brasileiro. A esses horizontes chamamos tradição Nordeste, tradição Agreste e tradição São Francisco de pinturas rupestres, somam-se as tradições de gravuras sob-rocha, conhecidas como Itaquatiaras. Foram também definidas outras tradições chamadas “Geométrica”, “Astronômica”, “Simbolista”, etc. que podem ser incluídas nas anteriores. As pesquisas arqueológicas nos sítios da Chapada do Araripe buscam compreender os processos de ocupação, de adaptação e de subsistência dos antigos grupos ceramistas. Recentemente, foram incorporadas a estas pesquisas, técnicas de recuperação de resíduos químicos e biológicos procedentes da mandioca (Manihot esculenta), com a finalidade de inferir sobre o cultivo e manejo de vegetais, em contextos doméstico e funerário, ao largo da Pré -História. Os vestígios vegetais recuperados das cerâmicas ou dos sedimentos arqueológicos refletem dados culturais sobre antigos grupos humanos na região, incluindo seus modos de vida e morte, dieta, cultivo e manejo de plantas, uso e função das vasilhas cerâmicas, além de fornecer dados paleoecológicos e paleoambientais. Os primeiros resultados paleológicos da cerâmica pré-histórica do Sítio Aldeia do Baião sugerem um ambiente paisagem composto por vegetação arbórea (tipo Anacardiácea) e herbácea (Amaranthaceae-Chenopodiaceae e Poaceae), sob influência flúvio-lacustre e ou solos bem drenados (Botryococcus). A presença de grãos de pólen de plantas cultivadas como o milho (cf. Zea mays?) e microfungos coprófilos (tipo Sporormiella, Gelasinospora e tipo Sordariaceae) sustentam a hipótese de assentamentos humanos de longa duração no local. O microfungo Gelasinospora também reflete o uso do fogo para as práticas agrícolas e caça. Para prosseguir com o processo de colonização, Portugal recorreu ao sistema de Capitanias hereditárias. Esse sistema já havia sido empregado com êxito em suas possessões nos Açores, Madeira e Cabo Verde. Ele se baseava na doação de um extenso lote de terra a uma pessoa ilustre e influente do reino, geralmente um nobre rico, que passava a ser o donatário e ficava encarregado de empreender a colonização da terra recebida, investindo nela seus próprios recursos. 4 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES OCUPAÇÕES CERAMISTAS PRÉ-HISTÓRICAS NO NORDESTE BRASILEIRO. O conhecimento sobre os grupos ceramistas pré-históricos no Nordeste foi significativamente alterado depois término do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas, o PRONAPA. O quadro estabelecido no período de 1965 a 1970 definiu uma separação bem distinta entre grupos do interior com as “Tradições Regionais” Aratu e Una, e no litoral os grupos da Tradição Tupiguarani. Posteriormente, na década de 1980 foram identificadas no sertão pernambucano as fases Croatá e Triunfo, localizadas em áreas de brejos de altitude e, na Chapada do Araripe, a fase Araripe, todas filiadas a Tradição Tupigurani. Segundo Albuquerque (1984) os grupos das fases Croata e Triunfo possuíam aldeias amplas, de tendências circulares, cerâmica decorada com pintura vermelha sobre engobo branco, decoração plástica e formas que seriam compatíveis com o consumo da mandioca. Os resultados de projetos na área de estudo demonstram que as populações humanas produziam cerâmicas com características tecnológicas filiadas aos grupos da Tradição Tupiguarani, originários de ambientes de florestas, despertando, já na década de 1980, questionamentos sobre o modelo de Floresta Tropical. Alguns historiadores trabalham com a hipótese de que a presença de populações pré-históricas de horticultores, naquela região, estaria vinculada a um processo de adaptação cultural às condições de semi-aridez ou a condições climáticas mais úmidas, compatíveis com a expansão dos domínios florestados. O cultivo da mandioca teria sido um dos principais fatores de adaptabilidade dos ceramistas Tupiguarani ao sertão nordestino. De modo geral, os grupos que ocuparam a Chapada do Araripe, antes e/ou depois da colonização europeia, produziam uma cerâmica com bolos de argila, areia e cacos triturados. Sendo modelada, acordelada ou com as duas técnicas associadas. 5 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES Apresenta decoração plástica escovada, ungulado, marcado com cestaria e ponteado. Em alguns objetos ocorre a associação da pintura e da decoração plástica. A pintura era realizada com grande variedade de cores: branco, vermelho, marrom, preto e cinza, com vários motivos de decoração (desenhos geométricos, faixas e linhas paralelas e cruzadas, pontos etc.). As vasilhas apresentam bordas diretas ou bordas reforçadas, bases arredondadas ou cônicas, formas ovoides e esféricas.Existiam pratos, tigelas e panelas com diâmetro da boca variando de 6 a 80 cm, além de vasilhas com boca oval, quadrangular ou retangular, com apliques de asa ou alça. Esses grupos produziam também fusos de tear, cachimbos e modelavam pequenos objetos zoomorfos, usados algumas vezes como apliques. A tecnologia lítica era também rica e diversificada com a obtenção de artefatos como raspadores, facas, mãos de pilão, batedores e moedores, machados, discos, tembetás e pingentes usados como adorno. As matérias-primas mais usadas foram o quartzo, quartzito, xisto, calcedônia, sílex e granito. A origem da agricultura no Nordeste brasileiro remonta 3000 anos, a partir de um número reduzido de populações de caçador coletores que possivelmente praticaram a agricultura de subsistência ao redor de suas moradias, o termo agricultura de subsistência está relacionado à cultura de grãos de cereais e legumes e tubérculos, plantados com a utilização de ferramentas de produção (ex. pau-de-cavar ou enxada), desmatamento e queima de madeira (ou coivara). Este método conduzia ao esgotamento do solo em curto prazo e a busca por outros recursos alimentares, como a caça e a coleta de frutos. Entorno de 3300 anos AC, a cerâmica produzida apresenta características formas simples, sendo alisada ou raspada. Cerca de 2000 anos AC registra-se, no sudeste do estado do Piauí, um aumento populacional com novos grupos ceramistas. Esses grupos produziam uma cerâmica com técnicas decorativas variadas com a presença do corrugado, ungulado, escovado, inciso e pintado. Existe uma diversidade de formas e tamanhos de vasilhas e grandes urnas funerárias. Em áreas interiores do Nordeste se documenta ainda a ocupação de grupos filiados a Tradição Tupi-guarani desde ca. 1100 anos AC até o contato europeu. O historiador Albuquerque e Lucena, relacionaram essas ocupações às mudanças climáticas ocorridas durante o período Holoceno, devido à expansão e retração de áreas florestadas, como os brejos de altitude. Estas áreas são consideradas importantes refúgios de populações humanas pré-históricas, dadas suas condições climáticas e ecológicas para a sobrevivência e sustentabilidade agrícola desses grupos. Ainda, conforme Albuquerque e Lucena, essas populações humanas estariam relacionadas principalmente com o cultivo de mandioca, que foi o principal vegetal consumido durante a Pré -história na América Tropical, incluindo suas variedades mais importantes: a mandioca-amarga (Manihot esculenta), a mandioca -brava (Manihot utilissima) e a mandioca-doce (M. aipi). A tecnologia envolvida no preparo, consumo e armazenamento desse tipo de alimento e seus subprodutos inclui uma gama de artefatos cerâmicos (vasilhames e assadores) e líticos (machados, lascas e raladores), assim como os manufaturados de 6 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES plantas (cestarias de palha de palmeiras, algodão e algumas gramíneas) (PEARSALL, 1992). Os dados arqueobotânicos registrados para a região Nordeste ainda são incipientes. No entanto, seus registros demonstram a influência antrópica nos processos de construção da paisagem. O registro simultâneo em torno de 4500 anos AC, no Sítio Alcobaça (Pernambuco) (4733 ± 29 e 4243 ± 26 anos AP) pelos vestígios de milho, frutos de palmeiras (babaçu, ouricuri, coquinho), umbu, frutos de babaçu de cajá e seriguela e no Sítio funerário Toca do Gongo onde foram recuperados artefatos líticos e cerâmicos, restos de fogões, sementes de avelã, feijão, abóboras e fibras de caroá, associados a esqueletos de nove enterramentos reforçam essas hipóteses. Neste sítio também foram registradas espigas de milho. Os indícios de ocupação pré-histórica por grupos ceramistas no sítio Evaristo I (Ceará) está representada pela presença de artefatos cerâmicos e líticos em contextos funerários e domésticos. Os grãos de pólen de plantas cultivadas (mandioca, batatadoce, abóboras e algodão) e frutíferas (caju e palmeiras), além de fungos patógenos de plantas cultivadas refletem o modo de vida e subsistência desses grupos. Os macros e microvestígios botânicos preservados em sítios arqueológicos também reforçam a presença da cultura material das populações humanas pré- históricas. As plantas utilizadas por estes grupos são muitas vezes elementos derivados da modificação humana (i.e., cultivo, domesticação). Assim, tendo em consideração o cultivo e preparação de alimentos, propõe uma divisão na tradição cerâmica Tupi-guarani, com a subtradição Tupinambá ou Pintada na região Leste e Nordeste e subtradição Guarani ou Corrugada na região Sul. A primeira possuiria vasilhas como pratos e tigelas de base plana, com perímetro de boca oval ou quadrangulóide, sendo ideais para o beneficiamento da mandioca; a segunda, ou seja, subtradição Guarani, vasilhas como jarras e tigelas carenadas com base redonda ou cônica, próprias para o preparo de grãos como o milho. Etnograficamente os “Tupi-Guarani cultivam principalmente mandioca, milho, batata doce, cará, feijões, abóboras, amendoim e pimenta, além do fumo, algodão, cabaça, cuias, corantes (urucu, jenipapo) e, no caso dos Guarani, o mate. Os Tupi baseavam sua alimentação principalmente nas variedades tóxicas da mandioca (mandioca amarga, brava ou venenosa) consumido-as como farinha, beiju e bebidas fermentadas alcoólicas os relatos etnohistóricos acrescidos de dados arqueobotâmicos são a base para as aproximações a respeito das interações humanas e as plantas. As informações sobre o início da ocupação dos grupos ceramistas da tradição Tupi guarani na região do semiárido pernambucano ainda são poucas, sendo aventada a hipótese que esteve provavelmente condicionado ao clima que influenciou a formação de uma nova onda migratória, sobretudo no Estado de Pernambuco. Os grupos ceramistas desta tradição sempre estiveram relacionados ao cultivo da mandioca (Manihot esculenta) que representou grande influência socioeconômica e de organização do espaço. Segundo os dados etnográficos, o plantio da mandioca necessitava de solos amplos e férteis. 7 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES As informações etnohistóricas e arqueológicas indicam uma grande densidade populacional nesta região, no entanto, ainda se conhece pouco sobre suas formas de subsistência, com escassas evidências arqueobotânicas nos sítios. A tecnologia empregada na produção de alimentos, registrada no Sítio Aldeia do Baião inclui tanto a utilização de material lítico quanto artefatos cerâmicos. CAPITANIA DE PERNAMBUCO: GUERRA DOS BÁRBAROS O fim da União Ibérica em 1640 e a expulsão dos holandeses em 1654 colocou o Nordeste brasileiro em evidência para o reino português que passou a investir na conquista e ocupação da região. Portugal visava ganhar maior autonomia, expandir a atividade pecuária e evitar novos invasores estrangeiros na Colônia e impor a distribuição de terras. O Brasil do século XVII (1 de janeiro de 1601 – 31 de dezembro de 1700), era bem distinto do atual, a colônia americana do Império Português era formada, até metade do século, pelo Estado do Grão Pará e Maranhão, área composta quase em sua totalidade por litorais. De acordo com Silva (2009, p. 39), a área mais rica naquela época, era a zona do açúcar, que se estendia pelo litoral desde o Recôncavo baiano até a Paraíba, alcançando as áridas costas do Rio Grande do Norte, onde haviam cidades e vilas prósperas. Dessas vilas partiram homens que, empurrados pela Coroa portuguesa e pela elite canavieira, fizeram guerra aos povos indígenas nos interiores daquelas capitanias, terminando por conquistar o sertão e ajudar na formação de uma nova sociedade colonial. (SILVA, 2009, p. 39). O conflito envolvendo os colonizadores e os povos nativos conhecidos como Tapuias no território que corresponde atualmente aos sertões nordestinos, da Bahia até o Maranhão culminou na “Guerra dos Bárbaros” (1650e 1720). A Guerra dos Bárbaros mais se aproximou de uma série heterogênea de conflitos entre índios e luso-brasileiros do que 8 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES de um movimento unificado de resistência. Resultado de diversas situações criadas ao longo da segunda metade do século XVII, com o avanço da fronteira da pecuária e a necessidade de conquistar e “limpar” as terras para a criação de gado, esta série de conflitos envolveu vários grupos e sociedades indígenas contra moradores, soldados, missionários e agentes da coroa portuguesa. (PUNTONI, 1999, p. 196). Os Tapuias eram os grupos indígenas que habitavam o interior e tinham diversidade linguística e cultural, diferentemente dos Índios Tupi, que eram os índios “conhecidos” que falavam a mesma língua e habitavam o litoral. Na verdade, o que moveu essa disputa por terras foi o crescimento da sociedade canavieira que buscava novas áreas de exploração. A exploração colonial no sertão partiu, sobretudo, dos senhores de Salvador e Olinda, dois dos maiores núcleos urbanos da América portuguesa. Os pecuaristas que chegaram nessas terras para se estabelecerem ao longo dos rios do sertão começaram a expulsar os índios que habitavam a região. Como eles ofereciam resistência, começaram a chamá-los de tapuias que significa bárbaros. Todos os conflitos que se estabeleceram durante a metade do século XVII e início do século XVIII, envolvendo os colonizadores e os índios Tapuias, culminaram na expressão “Guerra dos bárbaros” usada tanto pela Coroa de Portugal como pela sociedade açucareira. Dessa forma, os índios além de serem considerados selvagens, foram generalizados como se todos pertencessem a um mesmo grupo. Os conquistadores atuavam sempre da mesma forma em todas as investidas, eles usavam suas tropas para desalojar os indígenas. A Coroa portuguesa se limitava a conceder os títulos e patentes militares e a conquista das novas terras cabia aos novos proprietários. As primeiras lutas armadas de caráter genocida aconteceram no Recôncavo Baiano e o conflito ficou conhecido como “A guerra do Recôncavo” (1651-1679). Às margens do Rio Açú no sertão do Rio Grande do Norte se estendendo por Pernambuco, Piauí e Paraíba, os conflitos foram mais violentos, os que envolveram os índios Tarairiús resultou na conhecida “Guerra do Açú” (1687-1704). O Governador da Paraíba, na época, era o pernambucano João Fernandes Vieira, antigo líder na Guerra que expulsou os holandeses, que comandou a capitania entre 1655 e 1657. Nesse caso, haviam várias “nações” indígenas envolvidas e os da Etnia Tarairiú, comandados pelo seu “rei” Canindé, eram aliados antigos dos holandeses e dominavam técnicas de guerra e quase conseguiram expulsar os colonos da capitania do Rio Grande do Norte. Foi então que o Governador geral Francisco Barreto de Meneses escreveu ao capitão-mor de São Vicente para acertar um contrato com os mercenários paulistas, pois acreditava que a experiência dos bandeirantes poderia lograr a “pacificação” da região. Em 1708, o governador de Pernambuco, Manoel de Sousa Tavares, teve mais uma prova de como era terrível guerrear contra eles. Em carta ao Conselho ultramarino – Órgão do governo responsável pelas colônias portuguesas -, relatou que os tapuias, não satisfeitos em destruir fazendas e matar seus moradores, invadir igrejas e derrubar as imagens sacras, eram capazes de atos cruéis e desumanos, como fizeram com o 9 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES padre Amaro Barbosa, de quem arrancaram o coração! (ARAÚJO, 2009, p. 65). O conceito de “Guerra Justa” surgiu a partir da visão dos portugueses a respeito da reação dos índios, segundo eles, capazes de cometer verdadeiros atos de selvageria. A partir do momento em que foi decretada a Guerra Justa, os colonos passaram a ter o direito de usar luta armada contra os índios que se recusassem a aceitar a fé católica ou quebrassem os pactos de paz oferecidos por eles. Essa imagem reforçou os argumentos do conquistador de impetrar uma “guerra justa” para extirpar os “maus” costumes nativos, satisfazendo tanto as necessidades de utilização de mão de obra pelos colonos quanto à garantia aos missionários do sucesso na imposição da catequese. O resultado foi a criação de dispositivos legais que legitimavam uma guerra de extermínio. (PIRES, 2015, p. 3). Muitas dessas tribos eram canibais e para os colonizadores se justificava ainda mais o uso da força para garantir a segurança daqueles que trabalhavam “a serviço de Deus” em prol da civilização. Em muitos momentos os índios levaram a melhor e os portugueses começaram então a mudar o rumo da guerra buscando atrair tapuias como aliados para equilibrar o número de combatentes e aprimorar as táticas de guerra e os meios de sobrevivência na mata. Alguns deles lucravam colaborando com os colonizadores porque recebiam terras ao final dos conflitos. Em 1690, frei Manuel da Ressurreição, que ocupava interinamente o governo-geral do Brasil, decidiu adotar mudanças radicais na estratégia de guerra, para finalmente dar cabo dos tapuias nas capitanias do Norte. (ARAÚJO, 2009, p. 67). Matias Cardoso de Almeida, que recebeu a patente de mestre de campo e governador de guerra, passou a ser o único responsável pelas ações contra os tapuias. De acordo com Araújo (2009, p. 67), “a ordem era degolar, ou no mínimo escravizar, quantos tapuias fosse possível, destruindo suas aldeias”. Embora tenha tido uma longa duração, cerca de setenta anos, e tenha sido contemporânea à existência do quilombo dos Palmares, a Guerra dos Bárbaros pouco aparece na historiografia, sendo praticamente desconhecida. A omissão dessa guerra nos livros didáticos e os raros livros de estudiosos especialistas sobre o episódio revelam o desprezo dado ao tema da resistência indígena e do violento processo de conquista lusitano no sertão nordestino. (PIRES, 2015, p. 2). A luta travada nesse longo período pela conquista de terras no processo de ocupação do sertão através, principalmente, da expansão da atividade pecuária, entre colonos portugueses e índios brasileiros, acabou se transformando em um verdadeiro massacre que culminou no extermínio de diversas “nações” indígenas e a transformação de alguns tapuias em caboclos que migraram pouco a pouco para a Região Norte do Brasil. 10 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES LAVOURA AÇUCAREIRA E MÃO DE OBRA ESCRAVA EM PERNAMBUCO Duarte Coelho tratou de instalar em Pernambuco os primeiros engenhos de açúcar da colônia, incentivando também o plantio do algodão. Tudo estava por fazer e o donatário organizou o tombamento de terras, a distribuição de justiça, o registro civil, a defesa contra os índios Caetés e Tabajaras. Ao falecer, em Lisboa, em 1554, legou aos filhos uma capitania florescente. O seu cunhado, Jerônimo de Albuquerque, em correspondência com a Coroa, pedia autorização para importar escravos africanos. Coube a Pernambuco o nada honrável título de primeiro porto brasileiro de desembarque de escravos africanos comercializados. Em 1546 já existiam 76 escravos na colônia. Em Olinda, sede administrativa da capitania, se instalaram as autoridades civis e eclesiásticas, o Colégio dos Jesuítas, os principais conventos e o pequeno cais do Varadouro. Em fins do século XVI, cerca de 700 famílias ali residiam, sem contar os que viviam nos engenhos, que abrigavam de 20 a 30 moradores livres. O pequeno porto de Olinda era pouco significativo, sem profundidade para receber as grandes embarcações que cruzavam o Oceano Atlântico. Por sua vez, Recife, povoado chamado pelo primeiro donatário de "Arrecife dos navios", segundo a Carta de Foral passada a 12 de março de 1537, veio a ser o porto principal da capitania. Em pouco tempo, a Capitania de Pernambuco se tornou a principal produtora de açúcar da colônia portuguesa. Consequentemente, era também a mais próspera e influentedas capitanias hereditárias. O fato é que o início da produção de açúcar coincidiu com a chegada dos escravos africanos ao Brasil. Em 1590, eles já eram 36 mil escravos e depois passaram a ser usados, também, na lavoura do café, sendo submetidos às mais duras condições de trabalho. Surge em Pernambuco o protótipo da sociedade açucareira dos grandes latifundiários da cana- de-açúcar, que perdurará de forma majoritária nos dois séculos seguintes. O cultivo da cana-de- açúcar adaptou-se facilmente ao clima pernambucano e ao solo massapê. A maior proximidade geográfica de Portugal, barateando o custo do transporte, a abundância do pau-brasil, o cultivo do algodão e os grandes investimentos feitos pelo donatário na fundação de vilas e na pacificação dos índios são outros fatores que ajudam a explicar o progresso da capitania. Tal prosperidade, entretanto, transformou a capitania em um ponto cobiçado por piratas europeus. Já em 1595, o corsário inglês James Lancaster tomou de assalto o porto de Recife e passou a saquear as riquezas transportadas do interior. Partiu um mês depois, levando as pilhagens em quinze embarcações. 11 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES Era o engenho uma espécie de povoação rural, a exemplo da usina de açúcar dos dias atuais, que congregava não somente escravos mas artesãos dos mais diversos misteres, lavradores de canas vizinhos, moradores livres, agregados da casa- grande, padres e familiares do senhor de engenho, que vieram a tornar-se, no dizer de Stuart Schwartz, "espelhos e metáfora da sociedade brasileira". Assinala Antonil (1711) servirem ao senhor-de-engenho, "além dos escravos de enxada e foice que tem nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e mulatas, negros e negras de casa ou ocupados em outras partes, barqueiros, canoeiros, calafates, carapinhas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores. Tem mais cada senhor destes necessariamente um mestre- de-açúcar, um banqueiro e um contra-banqueiro, um purgador, um caixeiro no engenho e outro na cidade, feitores nos partidos e roças, um feitor mor de engenho, para espiritual um sacerdote seu capelão, e cada qual destes oficiais tem soldada". Em Pernambuco, em carta escrita em 1539, dirigida ao rei D. João III, o donatário Duarte Coelho Pereira solicita autorização para a importação direta da costa da Guiné de 24 negros, a cada ano, quantidade que seria aumentada por D. Catarina, em 1559, para 120, mediante o pagamento de uma taxa reduzida, nada impedindo que outros negros aqui chegassem por outros caminhos. No testemunho dos jesuítas Antônio Pires (carta de 4 de junho de 1552) e José Anchieta (1548), era comum a existência de escravos negros e índios em Pernambuco; a escravidão dos índios durou até o século XVII, quando foi extinta pela Bula do Papa Urbano VIII, de 22 de abril de 1639. Era tanta a importância do trabalho escravo que o padre Antônio Vieira, em carta dirigida ao Marquês de Niza, datada de 12 de agosto de 1648, chega a afirmar: Sem negros não há Pernambuco! GUERRA DOS MASCATES 12 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES A Guerra dos Mascates ocorreu no ano de 1710 em Pernambuco e, aparentemente, foi um conflito entre senhores de engenho de Olinda e comerciantes do Recife. Estes últimos, denominados "mascates", eram, em sua maioria, portugueses. Antes da ocupação holandesa, Recife era um povoado sem maior expressão. O principal núcleo urbano era Olinda, ao qual Recife encontrava-se subordinado. Porém, depois da expulsão dos holandeses Recife tornou-se um centro comercial, graças ao seu porto excelente, e recebeu um grande afluxo de comerciantes portugueses. Olinda era uma cidade tradicionalmente dominada pelos senhores de engenho. O desenvolvimento de Recife, cidade controlada pelos comerciantes, testemunhava o crescimento do comércio, cuja importância a atividade produtiva agroindustrial açucareira, à qual se dedicavam os senhores de engenho olindenses. O orgulho desses senhores havia colocado em crise a produção açucareira do nordeste. Mas ainda eram poderosos, visto que, controlavam a Câmara Municipal de Olinda. À medida que Recife cresceu em importância, os mercadores começaram a reivindicar a sua autonomia político-administrativa, procurando libertar-se de Olinda e da autoridade de sua Câmara Municipal. A reivindicação dos recifenses foi principalmente atendida em 1703, com a conquista do direito de representação na Câmara de Olinda. Entretanto, o forte controle exercido pelos senhores sobre a Câmara tornou esse direito, na prática, letra morta. A grande vitória dos recifenses ocorreu com a criação de sua Câmara Municipal em 1709, que libertava, definitivamente, os comerciantes da autoridade política olindense. Inconformados, os senhores de engenho de Olinda, utilizando vários pretextos, como a demarcação dos limites entre os dois municípios, por exemplo, resolveram fazer uso da força para sabotar as pretensões dos recifenses. Depois de muita luta, que contou com a intervenção das autoridades coloniais, 13 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES finalmente em 1711 a nomeação de um novo governante que teve como principal missão estabelecer um ponto final ao conflito. O escolhido para essa tarefa foi Félix José de Mendonça, que apoiou os mascates portugueses e estipulou a prisão de todos os latifundiários olindenses envolvidos com a guerra. Além disso, visando evitar futuros conflitos, o novo governador de Pernambuco decidiu transferir semestralmente a administração para cada uma das cidades. Dessa maneira, não haveria razões para que uma cidade fosse politicamente favorecida por Félix José, desta forma, Recife foi equiparada a Olinda e assim terminou a Guerra dos Mascates. Em 1714, o rei D. João V, resolveu anistiar todos os envolvidos nessa disputa, manteve as prerrogativas político- administrativas de Recife e promoveu a cidade ao posto de capital do Pernambuco. INSSUREIÇÃO PERNAMBUCANA A denominada Insurreição Pernambucana ocorreu no contexto da ocupação holandesa de parte da região Nordeste do Brasil, incluindo a região de Pernambuco. Os holandeses estabeleceram-se nessa região a partir de 1630, no período que em que o Brasil estava sob o jugo do trono espanhol, que estava unido a Portugal desde 1580 no processo conhecido como União Ibérica. As invasões holandesas, que ocorreram em colônias portuguesas na África também, como Angola, foram motivadas pelas divergências com a Espanha que iam desde problemas relacionados com o comércio marítimo até questões religiosas. A situação dos engenhos de açúcar de Pernambuco, que eram controlados pela Companhia das Índias Ocidentais (empresa holandesa), a partir da década de 1640, começou a apresentar sinais de declínio. Os produtores locais passaram a ficar insatisfeitos com a administração holandesa, que lhes cobrava os dividendos dos lucros a qualquer custo. Alguns senhores de engenho, pressionados pelos holandeses, refugiaram-se na Bahia; outros procuravam eximir-se da dívida de outras formas. Essa situação chegou a um ponto de saturação no ano de 1645, quando houve a primeira campanha de insurreição, sobretudo porque foi nesse ano que o governador Maurício de Nassau partiu de Pernambuco para a sua terra natal. Os primeiros a comandarem a insurreição de 1645 foram os senhores de engenho do 14 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES interior de Pernambuco. Depois, logo passaram a ser apoiados pelos senhores de engenho que retornaram da Bahia com o objetivo de reaver as suas terras. Em poucos meses, as tropas conseguiram chegar até Recife. Posteriormente, os holandeses foram expulsos também de Alagoas e Sergipe. Os principais comandantes das tropas insurgentes foram João Fernandes Vieira, Antônio Felipe Camarão e Henrique Dias, além de vários comandantes que enfrentaram em menor número e com poucos recursos as tropas holandesas.As batalhas decisivas desenrolaram-se no lugar chamado Montes Guararapes e ficaram conhecidas como Batalhas de Guararapes, ocorridas entre o fim de 1648 e o início de 1649. REVOLUÇÃO DE 1817 A Revolução Pernambucana de 1817 foi um movimento separatista – o último que ocorreu no período colonial – de caráter republicano que aconteceu na Capitania de Pernambuco. Esse movimento foi liderado pelas elites locais, porém contou com grande adesão popular assim que foi deflagrado. Essa revolta teve como causa direta as mudanças ocasionadas nessa região por causa da transferência da Corte portuguesa para o Brasil em 1808. Causas da Revolução Pernambucana A Revolução Pernambucana de 1817, assim como a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana, foi um movimento de caráter separatista e republicano que ocorreu no Brasil colonial. A grande diferença desse movimento para os outros dois citados foi que a Revolução Pernambucana conseguiu superar a fase conspiratória e chegou a tomar o poder local por mais de dois meses. Esse movimento foi motivado pela insatisfação popular com as péssimas condições de vida que existiam nessa época e, principalmente, pela insatisfação das https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/inconfidencia-mineira.htm https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/conjuracao-baiana.htm 15 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES elites locais, cujos interesses conflitavam com os da Coroa portuguesa. Essa tensão foi ampliada com a divulgação dos ideais iluministas nessa região. A Revolução Pernambucana estava diretamente relacionada com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil em 1808. Com esse evento, a vida dos colonos em Pernambuco alterou-se de muitas formas. Primeiramente, houve o aumento de impostos em Pernambuco para manter os luxos da Corte e para financiar as campanhas militares promovidas no sul (Cisplatina). Essa política da Corte manifestou-se nos impostos criados sobre a produção de algodão local. Além disso, cobrava-se da população do Recife uma taxa sobre a iluminação pública da cidade do Rio de Janeiro. Esse aumento na carga de impostos gerou grande descontentamento, principalmente porque a economia local estava em crise decorrente da redução na produção do açúcar e do algodão – principais produtos da economia local. Além disso, D. João VI nomeou vários portugueses, que haviam mudado para o Brasil junto com ele em 1808, para cargos administrativos importantes de Pernambuco e também para funções no exército. Isso também desagradou às elites locais, que se viram prejudicadas com essas ações em favor dos portugueses. A existência de grande desigualdade social também foi algo importante, pois a insatisfação causada ajudou a mobilizar as camadas populares. Por fim, a difusão dos ideais iluministas, que deu base ideológica ao movimento, foi propiciada por uma loja maçônica, o Areópago de Itambé, e pelo Seminário de Olinda. O movimento contou com as elites locais, compostas por grandes comerciantes e alguns grandes proprietários, e teve adesão também de militares, juízes, pequenos comerciantes, artesãos e muitos padres. A grande adesão de padres ao movimento, inclusive, fez com que essa rebelião também ficasse conhecida como Revolução dos Padres. Além disso, a região de Pernambuco tinha um grande histórico de rebeliões, como a Insurreição Pernambucana e a Guerra dos Mascates. No começo do século XIX, a insatisfação local motivou ainda outro movimento contra a Coroa, conhecido como Conspiração dos Suassunas, porém, após ser denunciado, foi desmontado em 1801. Início da Revolução Pernambucana A Revolução Pernambucana teve início, de fato, em 6 de março de 1817, quando o brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa de Castro foi assassinado ao realizar ordem do governador local de prender supostos envolvidos em uma conspiração. Esse assassinato foi cometido pelo capitão José de Barros Lima, que reagiu à voz de prisão realizada pelo brigadeiro. Em seguida, essa rebelião espalhou-se por toda a cidade de Recife, o que forçou o governador local a abrigar-se no Forte do Brum. Logo depois, esse mesmo governador, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, fugiu para a capital Rio de Janeiro. Os rebeldes, vitoriosos, implantaram um Governo Provisório que decretava diversas mudanças em Pernambuco. A Revolução Pernambucana contou com os seguintes nomes como lideranças: Domingos José Martins, José de Barros Lima, Cruz Cabugá, Padre João https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/a-importancia-do-iluminismo-frances-.htm https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/insurreicao-pernambucana.htm 16 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES Ribeiro, entre outros. Assim que o Governo Provisório foi formulado, algumas medidas foram tomadas, como: • Proclamação da República na Capitania de Pernambuco; • Estabelecida a liberdade de imprensa e a liberdade de credo; • Os impostos criados por D. João VI foram abolidos; • Instituição do princípio dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário); • Aumento no soldo dos soldados; • Manutenção do trabalho escravo. Apesar de ser um movimento de caráter liberal, as medidas tomadas pelo Governo Provisório visavam beneficiar muito mais as elites locais do que necessariamente promover a criação de uma sociedade justa e igualitária. A manutenção do trabalho escravo foi uma evidência disso, já que havia nesse movimento a participação de grandes proprietários que eram contrários à abolição. A Revolução Pernambucana espalhou-se pelas capitanias vizinhas e alcançou a Paraíba, o Rio Grande do Norte e o Ceará. As lideranças do movimento enviaram emissários para diferentes capitanias à procura de obter apoio, como também para países vizinhos. Cruz Cabugá, por exemplo, foi enviado para os Estados Unidos com 800 mil dólares para comprar armas, contratar soldados e obter o apoio do governo americano ao movimento pernambucano. Repressão da Coroa A Revolução Pernambucana foi intensamente reprimida pela Coroa portuguesa. Assim que as notícias da rebelião chegaram ao Rio de Janeiro, o rei D. João VI mobilizou uma frota que foi levada do Rio de Janeiro para bloquear o porto de Recife. Além disso, mais de quatro mil soldados foram enviados da Bahia e marcharam para Pernambuco. O movimento enfraqueceu-se por causas de divergências internas entre as lideranças, o que permitiu que as tropas reais retomassem o controle sobre a Paraíba, Rio Grande do Norte e do Ceará. Em Pernambuco, a revolta resistiu até o dia 20 de maio de 1817, quando os líderes renderam-se ao general Luís do Rego Barreto após a cidade de Recife ser invadida. Por ordem de D. João VI, os líderes do movimento tiveram punições exemplares. Ao todo, nove pessoas foram enforcadas e outras quatro foram arcabuzadas – o correspondente da época para fuzilamento. Um dos envolvidos, Padre João Ribeiro, enforcou-se pouco antes de ser capturado, e Cruz Cabugá, recebendo as notícias do fracasso do movimento, não retornou ao Brasil e permaneceu nos Estados Unidos. O grande líder da revolta pernambucana, Domingo José Martins, foi arcabuzado, e outras lideranças sofreram martírio severo. O capitão José de Barros Lima, por exemplo, foi enforcado e teve as mãos e cabeça decepadas e colocadas em exposição, e seu corpo foi arrastado pelas ruas de Recife. O mesmo aconteceu com os corpos do Padre João Ribeiro e de Vigário Tenório. Outros envolvidos permaneceram presos durante anos. 17 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR A Confederação do Equador foi um movimento revolucionário que ocorreu no Nordeste do Brasil em 1824, durante o período imperial. Foi uma reação à Constituição outorgada por dom Pedro I no mesmo ano. Essa Constituição mantinha o Brasil preso a um governo centralizador, sob o comando dos portugueses. Iniciado em Pernambuco, o movimento se espalhourapidamente para outras províncias da região, como a Paraíba, o Ceará e o Rio Grande do Norte. Ficou conhecido por esse nome, Confederação do Equador, devido à proximidade da região do conflito com a linha do equador. Sua bandeira trazia um ramo de algodão e um talo de cana-de-açúcar e carregava o lema “Religião, Independência, União e Liberdade”. Do final do século XVII até o início do século XIX (um período também conhecido como “era das revoluções”) ocorreram na Europa profundas mudanças políticas, econômicas e culturais. Essas mudanças foram sentidas em outras partes do mundo, inclusive no Brasil. A Confederação do Equador foi um reflexo dessas mudanças. Luta contra o autoritarismo No início do século XIX, a província de Pernambuco estava dividida entre os que apoiavam o domínio dos portugueses no Brasil e os que desejavam vê-los fora do poder. No sul da província, cultivava-se principalmente a cana-de-açúcar; no Norte, a economia era mais diversificada, baseando-se sobretudo no cultivo do algodão além da cana-de-açúcar. Os donos dos engenhos de açúcar apoiavam os portugueses, pois sentiam que as ideias liberais (dentre elas o abolicionismo) ameaçavam suas propriedades. Já a aristocracia ligada ao algodão desejava ver-se livre da influência portuguesa, pois queria autonomia para realizar comércio, a partir da abertura dos portos. Foi nesse cenário dividido que os ideais republicanos se difundiram e diversas revoltas surgiram na região. Dois movimentos marcantes influenciaram as províncias rebeldes da Confederação do Equador: a Revolução Pernambucana de 1817 e o Movimento Constitucionalista de 1821, que levou à declaração da Independência do Brasil, em 1822. https://escola.britannica.com.br/artigo/revolu%C3%A7%C3%A3o/626545 https://escola.britannica.com.br/artigo/regi%C3%A3o-Nordeste/483410 https://escola.britannica.com.br/artigo/Brasil/480842 https://escola.britannica.com.br/artigo/constitui%C3%A7%C3%A3o/481046 https://escola.britannica.com.br/artigo/dom-Pedro-I/483445 https://escola.britannica.com.br/artigo/Pernambuco/483453 https://escola.britannica.com.br/artigo/Para%C3%ADba/483436 https://escola.britannica.com.br/artigo/Cear%C3%A1/483167 https://escola.britannica.com.br/artigo/Rio-Grande-do-Norte/483516 https://escola.britannica.com.br/artigo/equador/481238 https://escola.britannica.com.br/artigo/Europa/481251 https://escola.britannica.com.br/artigo/economia/481196 https://escola.britannica.com.br/artigo/engenho-de-a%C3%A7%C3%BAcar/483229 https://escola.britannica.com.br/artigo/abolicionismo/480508 https://escola.britannica.com.br/artigo/algod%C3%A3o/481063 https://escola.britannica.com.br/artigo/com%C3%A9rcio/482700 https://escola.britannica.com.br/artigo/porto/481456 https://escola.britannica.com.br/artigo/rep%C3%BAblica/482353 https://escola.britannica.com.br/artigo/Independ%C3%AAncia-do-Brasil/483300 https://escola.britannica.com.br/artigo/Independ%C3%AAncia-do-Brasil/483300 18 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES Na época, todas as províncias eram subordinadas ao Rio de Janeiro, que era a sede do império. As províncias desejavam mais autonomia em relação ao governo do imperador dom Pedro I. Porém, ainda em 1822, o imperador havia lançado medidas ainda mais centralizadoras. Além disso, mesmo com a independência, os portugueses continuavam a ter muito poder nas decisões das províncias nordestinas. Em Pernambuco, formou-se um governo provisório fiel ao imperador, a Junta dos Matutos, que em 1824 foi deposta. Dom Pedro I nomeou Francisco Pais Barreto para assumir o governo da província, mas Manuel Carvalho Pais de Andrade já havia sido eleito localmente pelos representantes do comércio, da agricultura e do clero. Esse foi o ponto inicial do conflito entre a província de Pernambuco e o governo imperial. Ascensão e queda dos confederados Os pernambucanos recusaram-se a aceitar Pais Barreto como governador e, em resposta, dom Pedro I mandou forças navais, que bloquearam o porto de Recife. Pais de Andrade lançou um manifesto, incentivando a população a unir-se ao movimento revolucionário. O bloqueio naval foi suspenso e a rebelião logo ganhou o apoio de províncias vizinhas (Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba), que viviam situação semelhante à de Pernambuco. Surgiu assim a Confederação do Equador, com Pais de Andrade na chefia de um governo independente na região. A repressão do governo central foi severa. Pouco tempo depois, o movimento foi derrotado. A província de Pernambuco acabou perdendo parte de seu território (a antiga comarca do rio São Francisco) para a província da Bahia. Vários líderes da rebelião, como frei Caneca, foram enforcados ou fuzilados, enquanto outros, como Cipriano Barata, acabaram presos. Assim terminava um movimento importante da história do Brasil. REVOLUÇÃO PRAIEIRA A Revolução Praieira, ocorrida na província de Pernambuco de 1848 a 1850, foi um movimento separatista, misturado com disputas partidárias pelo poder e com a revolta popular contra as más condições de vida. O Brasil vivia o início do Segundo https://escola.britannica.com.br/artigo/Brasil-Imp%C3%A9rio/483127 https://escola.britannica.com.br/artigo/Recife/483499 https://escola.britannica.com.br/artigo/Pernambuco/483453 19 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES Reinado (o governo de dom Pedro II), depois do fim do período da Regência, e a Revolução Praieira recebeu influência das revoluções liberais que ocorreram em vários países da Europa em 1848. (O famoso Manifesto comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, foi redigido nesse ano.) Foi um período que ficou conhecido no Ocidente como “Primavera dos Povos”. Insatisfação em Pernambuco A monarquia brasileira era duramente contestada pelas novas ideias liberais da época. Era muito grande a insatisfação com o governo imperial, pois todas as decisões tomadas no período regencial (de 1831 a 1840) tinham que ser submetidas ao imperador. Os brasileiros reivindicavam maior força frente aos comerciantes portugueses (que ainda dominavam a economia local) e a população pobre lutava por melhores condições de vida. As lutas internas entre os partidos e os grupos políticos da época que disputavam o poder culminaram numa série de revoltas provinciais, e a última delas foi a Revolução Praieira, cujo nome homenageava o Partido da Praia, fundado pelos revolucionários. Pernambuco era a província mais importante do Nordeste, graças aos engenhos de açúcar, todos propriedade de famílias poderosas e influentes na política brasileira. A família Cavalcanti, por exemplo, era dona de um terço dos engenhos. Uma frase da época simboliza bem a situação: “Quem não é Cavalcanti é cavalgado”. O restante da população mostrava-se insatisfeito com essa concentração fundiária e com o poder político na mão de tão poucos. O comércio local era dominado por portugueses, o que também causava revolta entre os comerciantes brasileiros. Dada essa situação de desgaste, o Partido da Praia foi criado para opor-se ao Partido Liberal e ao Partido Conservador, ambos dominados por duas famílias poderosas que viviam fazendo acordos políticos entre si. Devido a esses acordos, muitas vezes era difícil distinguir o Liberal do Conservador, como muitas vezes aconteceu na política brasileira. Reivindicações O Partido da Praia pregava a revolta porque o presidente da província, do Partido Conservador, distribuía os melhores cargos administrativos aos membros de seu partido e a uma pequena cúpula do Partido Liberal, deixando os demais de fora. Os contratos para realizar obras públicas também eram manipulados. A Inglaterra, grande potência mundial da época, pressionava o Brasil a extinguir o tráfico de escravos, pois desejava expandir seus mercados e o escravagismo era um entrave ao avanço capitalista e industrial. O efeito dessa constante pressão inglesa gerou o aumento do preço do escravo e a sua escassez, dificultando avida de muitos que dependiam dessa mão de obra. Porém as poderosas famílias dos partidos Liberal e Conservador não foram atingidas, pois compravam os negros por contrabando e a preços melhores. Já os proprietários rurais de menor posse pagavam preços exorbitantes. Tal situação também foi denunciada pelos rebeldes da Revolução Praieira, que mesmo sendo liberais, não defendiam a abolição. Havia dois jornais: o Diário de Pernambuco (dos conservadores, também chamados de “gabirus”, uma espécie de rato, por serem acusados de ladrões pelos praieiros) e o Diário Novo (dos rebeldes praieiros). Todas as denúncias eram https://escola.britannica.com.br/artigo/dom-Pedro-II/483446 https://escola.britannica.com.br/artigo/Reg%C3%AAncia/488715 https://escola.britannica.com.br/artigo/escravid%C3%A3o/482519 20 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES divulgadas na imprensa, mas quando as divergências tornaram-se mais violentas a guerra começou. O conflito Em 1844, o Partido da Praia cresceu mais, até chegar ao poder. Uma vez no governo local, seus líderes agiram como os antigos conservadores: demitiram todos os funcionários e nomearam seus aliados, gerando um verdadeiro caos administrativo. Como os gastos na administração pública eram muito altos, o presidente da província de Pernambuco aumentou os impostos para arrecadar mais verbas, gerando a alta no preço dos alimentos. A situação gerou insatisfação nas camadas populares, que depredaram os estabelecimentos comerciais, que pertenciam a portugueses. A luta entre gabirus e praieiros acirrou-se em 1847, quando os praieiros venceram as eleições para o Senado. No ano seguinte, o governo foi assumido por um presidente (como se chamava o cargo de governador na época) de ideias moderadas. Com isso, os praieiros foram afastados da administração, causando a revolta. As demissões dos praieiros os levaram a atacar Recife, dando início à luta armada. A rebelião se iniciou em Olinda, em 7 de novembro de 1848; nesse dia, os líderes praieiros lançaram o “Manifesto ao Mundo”. Cerca de 1.500 combatentes praieiros lutaram contra as tropas do governo imperial, que interveio e pôs fim ao conflito. Mais de quinhentos revolucionários foram mortos, trezentos acabaram presos (vários foram anistiados posteriormente) e outros fugiram para o exterior. Assim terminou a última das grandes revoltas regionais brasileiras do tempo do Império. PERNAMBUCO REPUBLICANO República Velha é o período da história do nosso país que se estendeu de 1889 a 1930. Os marcos que estipulam o início e o fim desse período são a Proclamação da República e a Revolução de 1930. Esse período é mais conhecido entre os historiadores como Primeira República, por se tratar do primeiro período da República no Brasil. • A República Velha é chamada pelos historiadores de Primeira República. https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-da-proclamacao-da-republica.htm https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-da-proclamacao-da-republica.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiab/revolucao-30.htm 21 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES • Esse período foi iniciado com a Proclamação da República, que fez com que Deodoro da Fonseca assumisse a presidência. • O período de 1889 a 1894 é também conhecido como República da Espada. • A República Velha contou, ao todo, com treze presidentes e com outros dois que não puderam assumir a presidência. • O mandonismo, clientelismo e coronelismo são características importantes desse período. • A política dos governadores e a política do café com leite foram práticas importantes do arranjo político das oligarquias. • O Brasil experimentou um avanço industrial embrionário nesse período, que resultou no nascimento do movimento operário no país. • A desigualdade social e a política corrupta desse período motivaram revoltas em diversas partes do país. • A Revolução de 1930 foi o acontecimento que precipitou o fim desse período e inaugurou a Era Vargas. A República Velha iniciou-se em 1889, quando aconteceu a Proclamação da República, no dia 15 de novembro. Esse acontecimento iniciou-se pela manhã do dia citado quando os militares liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca derrubaram o Visconde de Ouro Preto do Gabinete Ministerial. Na sequência do dia, José do Patrocínio, vereador no Rio de Janeiro, proclamou a República. Após a Proclamação da República, Deodoro da Fonseca foi escolhido como presidente provisório. Em 1891, o marechal foi eleito presidente do Brasil para um mandato de quatro anos, mas renunciou ao cargo e foi sucedido pelo seu vice, o marechal Floriano Peixoto, que permaneceu no cargo até o ano de 1894. Esse período de 1889 a 1894, em que o país foi governado por dois presidentes militares, é conhecido como República da Espada. • A grande marca da República Velha e pela qual todos a conhece é o domínio que as oligarquias exerciam no país. As oligarquias eram pequenos grupos (a maioria deles era associada com a agricultura e pecuária) que detinham grande poderio econômico e político. O controle das oligarquias no Brasil dava- se por meio de práticas conhecidas como mandonismo, coronelismo e clientelismo. Definição de cada um desses conceitos: • Mandonismo: é o nome que se dá para o controle exercido por determinadas pessoas, sobre outras, por possuírem uma grande posse de terra. No caso da República Velha, os grandes proprietários exerciam influência sobre a população local. • Coronelismo: prática em que o coronel (grande proprietário de terra) exercia seu domínio sobre as populações locais, de forma a conquistar os votos que eram necessários para atender os interesses da oligarquia estabelecida e do Governo Federal. A conquista do voto da população local acontecia, por exemplo, por meio da distribuição de cargos públicos que estavam sob controle do coronel ou também pela intimidação. https://brasilescola.uol.com.br/historiab/republica-espada-1889-1894.htm 22 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES • Clientelismo: é a troca de favores que é praticada entre dois atores politicamente desiguais. Essa prática não precisa da figura do coronel para acontecer, pois toda entidade politicamente superior que realiza um favor a outra política inferior, em troca de um benefício, está praticando o clientelismo. • Outro ponto importante sobre a Primeira República é o que diz respeito a duas práticas bastante conhecidas: a política do café com leite e a política dos governadores, dois mecanismos que davam sustentação ao domínio político das oligarquias. PERNAMBUCO E O INTERVENTOR AGAMENON MAGALHÃES Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães (Vila Bela, atual Serra Talhada, 5 de novembro de 1893 - Recife, 24 de agosto de 1952) foi promotor de direito, geógrafo, professor (de Geografia) e político brasileiro; deputado estadual (1918), federal (1924, 1928, 1932, 1945), governador de estado (1937, 1950) e ministro (Trabalho e Justiça). Fomou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Recife (1916), em Recife, sendo em seguida nomeado para a promotoria da comarca de São Lourenço da Mata. No ano seguinte, retornou a Recife, onde fixou residência. Em 1918, foi eleito deputado estadual com apoio da agremiação governista estadual (Partido Republicano Democrata) e, em 1924, tornou-se deputado federal, reeleito quatro anos depois. Contudo, em 1930, rompendo com os governos estadual e federal, aderiu à Aliança Liberal formada em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Após a revolução, apoiou o interventor Carlos de Lima Cavalcanti e ajudou a articular no estado o Partido Social Democrata (de sustentação ao Governo Provisório), pelo qual elegeu-se deputado constituinte em 1932. Em 1934, foi convidado pelo presidente Getúlio Vargas para a pasta do Trabalho, Indústria e Comércio. À frente do ministério, promoveu intervenções em sindicatos, nomeando diretores deconfiança do governo, e trabalhou na implementação de novas leis, como a que reservava dois terços dos postos de trabalho nas empresas comerciais e industriais para brasileiros e a que garantia uma indenização aos trabalhadores demitidos sem justa causa. Durante sua gestão foi criado também o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI). Em 23 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES janeiro de 1937, passou a acumular com o Ministério do Trabalho, interinamente, o Ministério da Justiça e Negócios Interiores, onde permaneceu até o mês de junho. Era, então, elemento dos mais prestigiados junto ao governo federal e por isso mesmo deu apoio decidido ao projeto continuísta de Vargas, concretizado com o golpe que em 10 de novembro instituiu o Estado Novo. Aliado fiel de Vargas, ele entrou em choque com o interventor Lima Cavalcanti, seu antigo aliado, que tendia a apoiar a candidatura oposicionista de Armando de Sales Oliveira para a sucessão presidencial de 1938, e a quem acusara de conivência com o levante comunista deflagrado em novembro de 1935 em Recife por membros da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Por este motivo, em novembro de 1937, após a decretação do Estado Novo, Agamenon Magalhães foi nomeado interventor federal em Pernambuco, substituindo seu antigo aliado e opositor. A interventoria de Agamenon Magalhães coincidiu ainda com os anos da presença militar norte-americana no Recife, em virtude das alianças em torno da Segunda Guerra. Este período foi marcado por transformações não apenas no cenário político, mas também no plano cultural. Ainda em 1941, os EUA iniciou a política de envio de observadores navais para vários portos brasileiros. O primeiro a chegar foi o capitão aposentado da US Navy W.A. Hodgman. Ele chegou ao Recife em 26 de fevereiro, sob as ordens do Escritório de Inteligência Naval. Recife era a terceira cidade do Brasil, com uma população estimada à época de 400 mil pessoas. Com a declaração de guerra contra as potências do Eixo, e a cessão de bases no litoral brasileiro combinada com as operações de defesa do atlântico sul, Recife passa a ser uma cidade estratégica para as pretensões americanas, e com o apoio de Agamenon Magalhães, Recife terá a Sede da Quarta Frota Naval e será a base das operações marítimas com raio de atuação do Canal do Panamá até o extremo sul das Américas, além de um campo de pouso construído pelos americanos e chamado de Ibura Field, que atualmente é o Aeroporto Internacional dos Guararapes. Ocorrem muitas mudanças no estado. Contudo as mudanças não foram meramente militares, houve um impacto profundo na sociedade pernambucana e, em especial em Recife. Primeira- mente o impacto foi econômico, já que no auge de suas atividades a Quarta Frota mantinha cerca de 4000 homens no Estado, todos recebendo integralmente seus soldos e gastando, principalmente com os atrativos da vida nos trópicos. Passou a circular no mercado local dólares americanos, e isso impulsionou consideravelmente a comércio local e as atividades de apoio. Outros aspectos interferiram na vida do recifense, que teve que passar por um racionamento de combustível e apresentou inflação de bens e serviços locais. Misto de populismo social com centralização política, o estilo de governo de Agamenon (por ele chamado de "ruralização") foi marcado pela busca da unidade social e política, apoiada na personalidade pública do interventor. O governo estadual procurou envolver-se em todos os setores da vida cotidiana, seguindo um ideário tradicionalista, autoritário e fortemente católi- co, que procurou apoiar-se tanto na censura oficial do DIP, quanto na utilização do jornal oficio- so, o Diário da Manhã. A obra administrativa de Magalhães pode ser dividida, primeiro, pela busca desenfreada do "con- senso máximo" na sociedade pernambucana, a partir de uma falsa imagem de paz e harmonia social no Estado. Objetivo perseguido através de uma feroz repressão aos “adversários, críticos, comunistas, prostitutas, afro- brasileiros, vadios e homossexuais”. O governo Agamenon também combateu o 24 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES cangaço e realizou obras contra a seca. Seu programa de erradicação dos mocambos (habitações insalubres) teve forte impacto entre as populações pobres e foi objeto de intensas e apaixonadas controvérsias entre sociólogos, antropólogos, engenheiros, sanitaristas e urbanistas. A campanha contra os mocambos assumiu um caráter ressocializador, na medida em que vincu- lava estreitamente habitação, saúde, integridade física e moral da família, trabalho e cidadania. Na verdade, ela escondia uma intenção civilizatória com a qual muitos não concordavam, como Gilberto Freyre, Mario Sette, Manuel Bandeira e outros. Outro aspecto dessa obra que merece atenção é a criação dos Centros Educativos Operários, cujo fim era “educar, regenerar, civilizar e integrar” os trabalhadores no seio da sociedade. A meta principal era fazer um trabalho de saneamento e profilaxia social, afastando os operários da doutrina marxista da luta de classes. Em janeiro de 1945, Agamenon Magalhães foi novamente chamado por Getúlio Vargas para a pasta da Justiça. Mas desta vez, Getúlio não preparava o fechamento das instituições (como em 1937), e sim a sua democratização. Como titular da pasta, Agamenon aprovou o novo Código Eleitoral (Lei Agamenon) e convocou as primeiras eleições livres do Brasil, com a autorização para o funcionamento dos partidos políticos e o pleito direto para a presidência da República. No entanto, a tentativa de aprovar uma lei antitruste (chamada de "lei malaia" por seu opositor Assis Chateaubriand, fazendo assim menção ao seu apelido pernambucano, "China gordo", dado por Manoel Bandeira) aumentou as pressões de setores empresariais e militares contra o governo Vargas. Em outubro de 1945, Getúlio Vargas acabou sendo deposto, e com ele Agamenon deixou o ministério. O sucessor de Vargas, José Linhares, anunciou o veto à "lei malaia" como uma de suas primeiras medidas. 25 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES PROCESSO POLÍTICO EM PERNAMBUCO DE 2001 A 2015 Eleições estaduais em Pernambuco em 1998 As eleições estaduais de Pernambuco em 1998 ocorreram no dia 4 de outubro como parte das eleições gerais em 26 estados e no Distrito Federal. Foram eleitos o governador Jarbas Vasconcelos, o vice-governador Mendonça Filho, o senador José Jorge, 25 deputados federais e 49 estaduais. A eleição foi decidida em primeiro turno, pois o candidato vencedor obteve mais da metade dos votos válidos. Na disputa pela presidência da República, Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, venceu Luís Inácio Lula da Silva, do PT, por expressiva vantagem de votos (1.637.394, contra 890.971), garantindo sua reeleição logo no primeiro turno. Na disputa estadual, o ex-prefeito do Recife, Jarbas Vasconcelos, do PMDB, superou o então governador e candidato à reeleição Miguel Arraes, do PSB, também com destacada votação (1.809.792, contra 744.280 pró-Arraes), vencendo o pleito também já no primeiro turno. Para a vaga no Senado Federal, José Jorge, do PFL, foi o candidato mais votado, recebendo 1.460.835 votos. Eleições estaduais em Pernambuco em 2002 As eleições estaduais de Pernambuco em 2002 aconteceram em 6 de outubro como parte das eleições em 26 estados e no Distrito Federal. Foram escolhidos o governador Jarbas Vasconcelos, o vice-governador Mendonça Filho, os senadores Marco Maciel e Sérgio Guerra, 25 deputados federais e 48 estaduais. Como o eleito obteve mais da metade dos votos válidos, a eleição foi decidida em primeiro turno. 26 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES Na disputa pela presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu José Serra (PSDB) por larga vantagem (1.657.476 votos, contra 1.015.496 do representante tucano), insuficiente,porém, para decidir o pleito já em primeiro turno. No segundo turno, mais uma vitória do candidato do PT, que obteve 2.198.673 votos, enquanto Serra angariou 1.654.132 sufrágios. Para o governo do estado, Jarbas Vasconcelos, do PMDB, garantiu sua reeleição ainda no primeiro turno ao bater o candidato do PT, Humberto Costa, por larga vantagem (2.064.184 votos, contra 1.165.531 do petista). Para as duas vagas do Senado Federal, Marco Maciel, do PFL, e Sérgio Guerra, do PSDB, foram eleitos. Eleições estaduais em Pernambuco em 2006 As eleições estaduais em Pernambuco em 2006 ocorreram no dia 1º de outubro, como parte das eleições gerais no Distrito Federal e em 26 estados brasileiros. Mendonça Filho (PFL) foi o 1º colocado no primeiro turno com 39,2% (1.578.001 votos), mas não conseguiu impedir o segundo turno e teve como rival o neto do ex-governador Miguel Arraes, Eduardo Campos (PSB) que obteve 33,81% (1.356.950 votos). Jarbas Vasconcelos foi eleito senador com 56,14% (2.031.261 votos), além de 25 deputados federais e 49 estaduais. No segundo turno, que aconteceu em 29 de outubro, Eduardo Campos conseguiu reverter o placar e obteve 2.623.297 votos (65,36%). Já Mendonça obteve 1.390.273 votos (34,64%), menos que no primeiro turno. Eleições estaduais em Pernambuco em 2010 As eleições estaduais em Pernambuco em 2010 foram realizadas em 3 de outubro, como parte das eleições gerais no Brasil. Nesta ocasião, foram realizadas eleições em todos os 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Os cidadãos aptos a votar elegeram o Presidente da República, o Governador e dois Senadores por estado, além de deputados estaduais e federais. Como nenhum dos candidatos à presidência e alguns à governador não obtiveram mais da metade dos votos válidos, um segundo turno foi realizado no dia 31 de outubro. Não houve segundo turno para governador em Pernambuco. Na eleição presidencial o segundo turno foi entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) com a vitória de Dilma. Segundo a Constituição Federal, o Presidente e os Governadores são eleitos diretamente para um mandato de quatro anos, com um limite de dois mandatos. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não pode ser reeleito, uma vez que se elegeu duas vezes, em 2002 e 2006. Já o Governador Eduardo Campos (PSB), eleito em 2006, candidatou-se à reeleição e venceu-a com 3.450.874 votos (82,84%). O segundo colocado foi o seu rival histórico, o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) que em 1998 venceu Miguel Arraes, avô de Eduardo, o impedindo de se reeleger. Jarbas obteve apenas 585.724 votos (14,06%). Já nas eleições seguintes, Eduardo e Jarbas tornaram-se importantes aliados. Dez candidatos disputaram duas vagas no Senado, dos quais se elegeram Armando Monteiro (PTB) e Humberto Costa (PT). Pelo estado do Pernambuco foram eleitos vinte e cinco (25) deputados federais e quarenta e nove (49) deputados estaduais. Eleições estaduais em Pernambuco em 2014 27 COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES As eleições estaduais de Pernambuco, em 2014, foram realizadas em 05 de outubro (1º turno) e 26 de outubro (2º turno), como parte das eleições gerais no Brasil. Os eleitores aptos a votar elegeram o Presidente da República, governador do Estado e um senador da República, além de deputados federais e estaduais. Os principais candidatos a governador foram o senador Armando Monteiro (PTB) e Paulo Câmara (PSB). O candidato Paulo Câmara, do PSB, venceu as eleições com 68,08% dos votos válidos, o que corresponde a 3.009.087 votos, e o candidato Armando Monteiro, do PTB, ficou na segunda posição com 31,07% dos votos válidos, o que corresponde a 1.373.237 votos. Já para o Senado, os principais candidatos foram Fernando Bezerra Coelho (PSB) e o ex-prefeito da Cidade do Recife, João Paulo (PT). Fernando Bezerra Coelho foi eleito senador com 64,34% dos votos válidos, o que corresponde a 2.655.912 votos. João Paulo ficou em segundo lugar com 34.80%, o que corresponde a 1.436.692 de votos. A campanha de 2014 foi marcada pela tragédia que matou o ex-governador e então candidato à presidência da República, Eduardo Campos (PSB). Sua morte influenciou diretamente o cenário político estadual e nacional.
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