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1 PM-PR Soldado de 2ª Classe 1. Brasil Colônia. 1.1. Sistema colonial: sociedade do açúcar e da mineração. 1.2. Paraná: movimentos de ocupação do território ...................................................................................... 1 1.3. A Família Real no Brasil (1808-1822). 2. Brasil Império. 2.1. Paraná: a dinâmica do tropeirismo. 2.2. Café: escravidão e trabalho livre. 2.3. A emancipação política do Paraná. 2.4. O ciclo da erva-mate. 2.5. A queda da monarquia .................................................................. 15 3. Brasil República. 3.1. Implantação do regime republicano e conflitos sociais. 3.2. A Guerra do Contestado. 3.3. Política oligárquica e coronelismo ........................................................... 31 3.4. A era Vargas: Estado, Trabalho e Cultura ................................................................... 49 3.5. O Golpe Civil-Militar de 1964. 3.6. Movimentos de resistência à ditadura. 3.7. A abertura política .................................................................................................................................... 56 3.8. A Nova República e as características do Estado Democrático de Direito estabelecidas pela Constituição de 1988. 3.8.1. Cidadania e movimentos sociais ........................................ 72 3.8.2. A questão da desigualdade e da inclusão social. 3.8.3. A Democracia e o papel das instituições de segurança pública ........................................................................................... 84 Olá Concurseiro, tudo bem? Sabemos que estudar para concurso público não é tarefa fácil, mas acreditamos na sua dedicação e por isso elaboramos nossa apostila com todo cuidado e nos exatos termos do edital, para que você não estude assuntos desnecessários e nem perca tempo buscando conteúdos faltantes. Somando sua dedicação aos nossos cuidados, esperamos que você tenha uma ótima experiência de estudo e que consiga a tão almejada aprovação. Pensando em auxiliar seus estudos e aprimorar nosso material, disponibilizamos o e-mail professores@maxieduca.com.br para que possa mandar suas dúvidas, sugestões ou questionamentos sobre o conteúdo da apostila. Todos e-mails que chegam até nós, passam por uma triagem e são direcionados aos tutores da matéria em questão. Para o maior aproveitamento do Sistema de Atendimento ao Concurseiro (SAC) liste os seguintes itens: 01. Apostila (concurso e cargo); 02. Disciplina (matéria); 03. Número da página onde se encontra a dúvida; e 04. Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhar em e-mails separados, pois facilita e agiliza o processo de envio para o tutor responsável, lembrando que teremos até três dias úteis para respondê-lo (a). Não esqueça de mandar um feedback e nos contar quando for aprovado! Bons estudos e conte sempre conosco! 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 1 BRASIL COLONIAL Da Organização da Colônia ao Governo Geral • A organização colonial mostrada aqui é aquela a partir de 1530, após o chamado período pré-colonial. É o período após o envio da expedição de Martin Afonso de Souza com a intenção de policiar, ocupar e explorar efetivamente o território brasileiro, aceito como início real da colonização. As Capitanias Hereditárias Fonte: http://www.estudopratico.com.br/ A implantação do regime de capitanias hereditárias no Brasil em 1534 está vinculada com a incapacidade econômica do Estado português em financiar diretamente a colonização. Lembrando que o comércio com as Índias, maior responsável pelo excedente da balança comercial portuguesa já não era tão lucrativo. Por essa razão, e considerando a necessidade de se colonizar o país, D. João III decidiu dividir o território em capitanias hereditárias para que elas se “auto colonizassem” com recursos particulares sem que a coroa tivesse que investir dinheiro. O regime de capitanias já havia sido aplicado com êxito nas ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé) e no próprio Brasil já existia a capitania de São João, correspondente ao atual arquipélago de Fernando de Noronha. O território brasileiro foi dividido em 14 capitanias e doadas a doze donatários. Os limites de cada território definido sempre por linhas paralelas iniciadas no litoral, estavam especificados na Carta de Doação. Este documento estipulava que a capitania seria hereditária, indivisível e inalienável, podendo ser readquirida somente pela Coroa. Nesse processo havia um segundo documento: o Foral, que regulamentava minuciosamente os direitos do rei. Na realidade, os donatários não recebiam a propriedade das capitanias, mas apenas sua 1. Brasil Colônia. 1.1. Sistema colonial: sociedade do açúcar e da mineração. 1.2. Paraná: movimentos de ocupação do território 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 2 posse. Ainda assim possuíam amplos poderes administrativos, militares e judiciais, respondendo unicamente ao soberano. Tratava-se portanto de um regime administrativo descentralizado. São Vicente e Pernambuco foram as únicas capitanias que prosperaram. O fracasso do projeto como um todo decorreu de vários fatores: falta de coordenação entre as capitanias, grande distância da metrópole, excessiva extensão territorial, ataques indígenas, desinteresse de vários donatários e, acima de tudo, insuficiência de recursos. Motivado por esses fracassos, a saída encontrada pelo rei foi uma mudança na forma de administrar a colônia, com a criação do Governo-Geral. As capitanias hereditárias não desapareceram de uma vez com a criação do Governo-Geral, elas foram gradualmente readquiridas pela Coroa até serem totalmente extintas, na segunda metade do século XVIII pelo Marquês de Pombal. * A relação de propriedades e nomes dos donatários e suas capitanias já não é alvo de questões (é mais pedida em vestibulares do que em concursos). De qualquer forma a lista segue abaixo. Sugiro que foquem sua atenção mais nas características e motivos do fracasso do que na relação capitania- donatário. Principais Capitanias Hereditárias e seus donatários: São Vicente (Martim Afonso de Sousa), Santana, Santo Amaro e Itamaracá (Pêro Lopes de Sousa), Paraíba do Sul (Pêro Gois da Silveira), Espírito Santo (Vasco Fernandes Coutinho), Porto Seguro (Pêro de Campos Tourinho), Ilhéus (Jorge Figueiredo Correia), Bahia (Francisco Pereira Coutinho), Pernambuco (Duarte Coelho), Ceará (António Cardoso de Barros), Baía da Traição até o Amazonas (João de Barros, Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade). Governo Geral A ideia de D. João III era centralizar a administração colonial subordinando as capitanias a um governador-geral que coordenasse e acelerasse o processo de colonização do Brasil. Com esse objetivo elaborou-se em 1548 o Regimento do Governador-Geral no Brasil, que regulamentava as funções do governador e de seus principais auxiliares — o ouvidor-mor (Justiça), o provedor-mor (Fazenda) e o capitão-mor (Defesa). O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, fundador de Salvador, primeira cidade e capital do Brasil. Com ele vieram os primeiros jesuítas. A administração do segundo governador-geral, Duarte da Costa, apresentou mais problemas que seu antecessor: - revoltas dos índios na Bahia - conflito entre o governador e o bispo - a invasão francesa do Rio de Janeiro (criação da França Antártica). Em compensação, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, mostrou-se tão eficiente que a metrópole o manteve no cargo até sua morte. Foi ele quem conseguiu expulsar os invasores franceses, com ajuda de seu sobrinho Estácio de Sá. Depois de Mem de Sá, por duas vezes a colônia foi dividida temporariamente em dois governos-gerais: a primeira teve como divisão a Repartição do Norte, com capital em Salvador, e a do Sul, com capitalno Rio de Janeiro. A segunda divisão foi durante a União Ibérica1, onde o Brasil foi transformado em duas colônias distintas: Estado do Brasil (cuja capital era Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e Estado do Maranhão (cuja capital era São Luís e, depois, Belém). A reunificação só seria concretizada pelo Marquês de Pombal, em 1774. Além das Capitanias e do Governo-Geral, as Câmaras Municipais nas vilas e nas cidades desempenhavam papel menor na administração do Brasil colonial. O controle das Câmaras Municipais era exercido pelos grandes proprietários locais, conhecidos como "homens-bons". Entre suas competências, destacavam-se a autoridade para decidir sobre preços de mercadorias e a fixação dos valores de alguns tributos. 1 *A União Ibérica foi o período em que o império português e espanhol estiveram sob a mesma administração. Quando D. Sebastião – Rei de Portugal - desapareceu durante conflitos contra os mouros na África sem deixar herdeiros diretos, o trono português foi ocupado provisoriamente por seu tio-avô. Após seu falecimento, Felipe II, rei da Espanha e tio de D. Sebastião assume o trono português. Esse período durou 60 anos (1580 – 1640). Ele influenciou definitivamente as relações entre Portugal e Espanha e alterou de forma marcante nosso território originalmente definido pelo Tratado de Tordesilhas. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 3 As eleições para as Câmaras Municipais eram realizadas entre os já citados homens-bons. Elegiam- se três vereadores, um procurador, um tesoureiro e um escrivão, sob a presidência de um juiz ordinário (juiz de paz). Sistema Colonial Sociedade No topo da pirâmide social do período estavam os senhores de engenho. Eles dominavam a economia e a política, exercendo poder sobre sua família e sobre outras pessoas que viviam em seus domínios sob sua proteção – os agregados. Era a chamada família patriarcal. Na camada intermediária estavam os homens livres, como religiosos, feitores, capatazes, militares, comerciantes, artesãos e funcionários públicos. Alguns possuíam terras e escravos, porém não exerciam grande influência individualmente, principalmente em relação à economia. Na base estava a maior parte da população, que era composta de africanos e índios escravizados (sendo os índios a primeira tentativa de escravidão). Os escravos não eram vistos como pessoas com direito a igualdade. Eram considerados propriedade dos senhores e faziam praticamente todo o trabalho na colônia. Os escravos nas zonas rurais não tinham nenhum direito na sociedade e começavam a trabalhar desde crianças. A sociedade colonial brasileira foi um reflexo da própria estrutura econômica, acompanhando suas tendências e mudanças. Suas características básicas entretanto, definiram-se logo no início da colonização segundo padrões e valores do colonizador português. Assim, a sociedade do Nordeste açucareiro do século XVI, essencialmente ruralizada, patriarcal, elitista, escravista e marcada pela imobilidade social, é a matriz sobre a qual se assentarão as modificações dos séculos seguintes2. No século XVIII, a sociedade brasileira conheceu transformações expressivas. O crescimento populacional, a intensificação da vida urbana e o desenvolvimento de outras atividades econômicas para atender a essa nova realidade, resultaram indubitavelmente da mineração. Embora ainda conservasse o seu caráter elitista, a sociedade do século XVIII era mais aberta, mais heterogênea e marcada por uma relativa mobilidade social, portanto mais avançada em relação à sociedade rural e escravista dos séculos XVI e XVII. Os folguedos (festas populares) das camadas mais pobres conviviam com os saraus e outros eventos sociais da camada dominante. Com relação a esta, o hábito de se locomover em cadeirinhas ou redes transportadas por escravos, evidencia o aparecimento do escravo urbano, com destaque para os chamados negros de ganho3. Escravos e homens livres na Colônia No Brasil colonial a mão de obra escrava foi utilizada amplamente. A escravidão está presente na formação do país, desde os índios aos negros que chegavam em navios, a utilização do trabalho escravo se deu pela intenção de maximizar lucros através da super exploração do trabalho e do trabalhador. Apesar da ampla utilização do trabalho escravo, este não foi o único. Uma parte da sociedade era livre, composta de trabalhadores livres, que no início eram apenas os portugueses condenados ao exílio na América como punição. Ser livre, mas pertencer ao último estamento social na colônia significava apenas não ser escravo. Mesmo sendo livres, os mais pobres eram marginalizados e tinham poucas chances de ascensão sendo privados de exigir melhores situações econômicas. No grupo de trabalhadores livres estavam os desgredados portugueses, escravos forros (libertos) e os pardos. O cultivo do açúcar e os engenhos motivaram essa variação de posição dos trabalhadores livres, em que os senhores de engenhos consideravam estar no topo da sociedade. A divisão da terra através das sesmarias4 beneficiava os mais abastados que se tornavam os grandes proprietários e arrendavam uma parte para colonos que não possuíam condições para ter sua própria terra, denominando assim os senhores de engenhos (produtores de açúcar) e os agricultores (produtores de cana). As relações entre senhores de engenho e agricultores, unidos pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado internacional, formaram o setor açucareiro. 2 https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/sociedade-colonial-brasileira 3 Escravos que repassavam todos os ganhos de seu trabalho aos seus donos. 4 Sesmarias nada mais eram do que pedaços de terra doados a beneficiários para que estes a cultivassem. Assim como no exemplo das capitanias, a posse real ainda era da Coroa e os beneficiários, deviam cumprir uma série de exigências para garantir sua posse. Diferentemente das capitanias, ela não podiam ser divididas em novos lotes. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 4 A Resistência à Escravidão Onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência escrava. No Brasil os escravizados criaram diversas maneiras de resistência ao sistema escravista durante os quase quatro séculos em que a escravidão existiu entre nós. A resistência poderia assumir diversos aspectos: fazer “corpo mole” na realização das tarefas, sabotagens, roubos, sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e formação de quilombos. Qualquer tipo de afronta à propriedade senhorial por parte do escravizado deve ser considerada como uma forma de resistência ao sistema escravista. As motivações que levavam um escravizado a fugir eram variadas e nem todas as fugas tinham por objetivo se livrar do domínio senhorial. De forma contrária, às vezes, o escravizado fugia à procura de um outro senhor que o comprasse; caso o seu senhor não aceitasse a negociação, ele poderia continuar fugindo e, portanto, dando prejuízos e maus exemplos, até que seu senhor resolvesse vendê-lo. Era comum a fuga por alguns dias, quando em geral o escravizado ficava nas imediações da moradia de seu senhor, às vezes para cumprir obrigações religiosas, outras para visitar parentes separados pela venda, outras ainda, para fazer algum “bico” e, com o dinheiro, completar o valor da alforria. Os Quilombos Os quilombos ou mocambos (conjunto de habitações miseráveis) existiram desde a época colonial até os últimos anos do sistema escravista e assim como as fugas, foram comuns em todos os lugares em que existiu escravidão. A formação de quilombos pressupõe um tipo específico de fuga, a fuga de rompimento, cujo objetivo maior era a liberdade. Essa não era uma alternativa fácil a ser seguida, pois significava viver sendo perseguido não apenas como um escravo fugido, mas como criminoso. O Brasil teve em sua história vários grandes quilombos e o mais conhecido foi Palmares.Palmares foi um quilombo formado no século XVII, na Serra da Barriga, região entre os estados de Alagoas e Pernambuco. Localizado numa área de difícil acesso, os aquilombados conseguiram formar um Estado com estrutura política, militar, econômica e sociocultural, que tinha por modelo a organização social de antigos reinos africanos. Calcula-se que Palmares chegou a possuir uma população de 30 mil pessoas. Depois da abolição definitiva da escravidão no Brasil, em 1888, as comunidades negras deram outro sentido ao termo “quilombo”, não sendo mais utilizado como forma de luta e resistência ao cativeiro, mas sim como morada e sobrevivência da família negra em pequenas comunidades onde seus valores culturais eram preservados. Tais comunidades receberam diferentes nomeações: remanescentes de quilombos, quilombos, mocambos, terra de preto, comunidades negras rurais, ou ainda comunidades de terreiro. Educação A história da educação no Brasil tem início com a vinda dos padres jesuítas no final da primeira metade do século XVI, inaugurando a primeira, mais longa e a mais importante fase da educação no país, observando que a sua relevância encontra-se nas consequências resultantes para a cultura e civilização brasileiras5. Os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Logo perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos depois da sua chegada, já eram compostos por cinco escolas de instrução elementar – cursos de Letras, Filosofia e Teologia -, localizadas em Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga, e três colégios, localizados no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. A educação era privilégio apenas das classes abastadas, pois as famílias tradicionais faziam questão de terem entre seus filhos um doutor (médico ou advogado) e um padre. A educação era usada como instrumento de legitimação da colonização, inculcando na população ideias de obediência total ao Estado português. Os jesuítas impunham um padrão educacional europeu, que desvalorizava completamente os aspectos culturais dos índios e dos negros. Em relação às mulheres, mesmo as das famílias mais abastadas raramente recebiam instrução escolar, e esta limitava-se às aulas de boas maneiras e de prendas domésticas. As crianças escravas por sua vez estavam excluídas do processo educacional, não tendo acesso às escolas. Religião A origem do processo de ocupação territorial do Brasil, serviu também para as intenções da igreja católica. 5 OLIVEIRA, M. B. AMANDA. Ação educacional jesuítica no Brasil colonial. Revista Brasileira de História da Religiões. http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST6/005%20-%20AMANDA%20MELISSA%20BARIANO%20DE%20OLIVEIRA.pdf 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 5 Os portugueses que vieram para o Brasil estavam inseridos no ideal similar ao das cruzadas, adotando o catolicismo como símbolo do poder da coroa. Diante desta ideia, todo o não católico era considerado um inimigo em potencial, a não aceitação da fé em cristo era vista como contestação do poder do rei e afronta direta a todo português, uma motivação que incentivou, dentre outros fatores, o extermínio dos indígenas, vistos como pagãos e infiéis. Havia também o outro lado da moeda, em que o gentil era visto como potencialmente um servo da coroa e de Deus, desde que tivesse a devida instrução. Essa ideia era defendida por muitos jesuítas, como o padre Manuel da Nóbrega, conhecido por defender o direito de liberdade dos nativos cristianizados. Dentro deste contexto, a construção de igrejas passou a delimitar a conquista territorial, garantindo a soberania do Estado. A Religiosidade Africana Vigiados de perto por seus senhores e fiscalizados pelos eclesiásticos católicos, na qualidade de escravos, considerados utensílios de trabalho semelhantes a uma ferramenta, os africanos foram obrigados a aceitar a fé em cristo como símbolo da submissão aos europeus e a coroa portuguesa6. Apesar disso, elementos das religiões africanas sobreviveram se ocultando em meio à simbologia cristã. Associações de caráter locais, as irmandades negras contribuíram para forjar a polissemia (múltiplos sentidos de uma palavra) e sincretismo7 religioso brasileiro. Impedidos de frequentar espaços que expressavam a religião católica dos brancos, as irmandades representavam uma das poucas formas de associação permitidas aos negros no contexto colonial. Surgiram como forma de conferir status e proteção aos seus membros, sendo responsáveis pela construção de capelas, organização de festas religiosas e pela compra de alforrias de seus irmãos, auxiliando a ação da igreja e demonstrando a eficácia da cristianização da população escravizada. Entretanto, ao se organizarem geralmente em torno da devoção a um santo específico que assumiu múltiplos significados, incorporando ritos e cultos que eram originais aos deuses africanos, permitiram o nascimento de religiões afro-brasileiras como o acotundá, o candomblé e o calundu. Os Judeus Perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício na Europa, os judeus sempre estiveram em situação de perigo iminente, sendo obrigados a converterem-se ao cristianismo em Portugal. Aos olhos do Estado, os convertidos passaram a ser considerados cristãos-novos, vigiados de perto pela Inquisição sofrendo preconceitos e perseguições esporádicas. O Brasil se transformou na terra prometida para os cristãos-novos portugueses, compelidos a migrarem para novas terras em além-mar. Foi uma saída viável à recusa da aceitação de sua fé no reino, tendo em vista o fato da Inquisição nunca ter se instalado por aqui, embora tenham sido instituídas visitações do Santo Ofício em 1591, 1605, 1618, 1627, 1763 e 1769. Alojados sobretudo na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba e no Maranhão; os cristãos-novos recém- chegados integraram-se rapidamente ocupando cargos nas Câmaras Municipais em atividades administrativas, burocráticas e comerciais, destacando-se também como senhores de engenho, algo impensável em Portugal. Sem a Inquisição em seus calcanhares, os cristãos-novos continuaram a exercer práticas judaicas no interior de seus lares, mantendo vivos os laços familiares e comunitários clandestinamente e ao mesmo tempo, adotando uma postura pública católica respondendo a uma necessidade de adesão, participação e identificação. Cultura As manifestações artístico-culturais foram até o século XVII, condicionadas às atividades desenvolvidas aos centros de educação, que eram os colégios jesuíticos. No trato social alicerçavam-se práticas, usos e costumes que seriam marcantes para a formação da sociedade brasileira. A partir do século XVIII esse cenário mudou. Com a emergência da mineração, inúmeras manifestações tornaram-se presentes, como a arte barroca (seja ela plástica ou literária), as manifestações árcades e parnasianas, principalmente ligadas a 6 MOREIRA, S. ANTONIA. Intolerância Religiosa em Acapare. UNILAB. http://repositorio.unilab.edu.br:8080/jspui/bitstream/123456789/373/1/Antonia%20da%20Silva%20Moreira.pdf 7 Fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 6 uma referência mais letrada e influenciada pelos matizes europeus (a produção cultural não era mais monopólio da igreja). Economia • A primeira atividade extrativista lucrativa da colônia foi em torno da exploração do pau-brasil. É considerado seu ápice ainda no período pré-colonial, anterior a 1530 com a chegada de Martin Afonso e o empenho dos primeiros engenhos. Tratamos aqui a partir do cultivo de cana e produção do açúcar. - A cana-de-açúcar Houveram muitos motivos para a escolha da cana como principal produto da colônia, sendoo principal a ocorrência do solo de massapê, propício para o cultivo da cana-de-açúcar. Além disso, era um produto muito bem cotado no comércio europeu. As primeiras mudas chegaram no início da ocupação efetiva do território brasileiro, trazidas por Martim Afonso de Souza e plantadas no primeiro engenho, construído em São Vicente. Os principais centros de produção açucareira do Brasil localizavam-se nos atuais estados de Pernambuco, Bahia e São Paulo. A ocupação do Brasil no Século XVI esteve profundamente ligada à indústria açucareira. A economia de plantation8 possui relação intensa com os interesses dos proprietários de terras que lucravam enormemente com as culturas de exportação. O latifúndio formou-se nesse período tendo consequências até os dias de hoje. A produção da cana- de-açúcar também contribuiu para a vinculação dependente do país em relação ao exterior, a monocultura de exportação e a escravidão com suas consequências. A colônia portuguesa de exploração prosperou graças ao sucesso comercial de sua produção. Em 1630 os holandeses invadiram o nordeste da colônia, na região de Pernambuco, que era a maior produtora de açúcar na época. Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos criaram as bases para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de produção de açúcar em grande escala, na região do Caribe. A concorrência imposta pelos holandeses, que haviam sido expulsos pelos portugueses, fez com que o Brasil perdesse o monopólio que exercia no mercado mundial do açúcar, levando a produção a entrar em declínio. - Outras atividades econômicas Na região Nordeste a atividade pastoril expandiu-se rapidamente, pois o capital necessário para a montagem de uma fazenda de gado era bastante reduzido. As terras eram fartas e o criador precisava somente requerer a doação de uma sesmaria ou simplesmente apossar-se da terra. As instalações das propriedades pastoris eram comuns, com poucas casas e alguns currais feitos com material encontrado nas localidades. O método de criação também era muito simples, feito de maneira extensiva (o gado vivia solto no campo), o que dispensava mão-de-obra numerosa ou especializada. Na região amazônica a geografia impedia a implantação de fazendas de cultivo ou a criação de animais. Ao penetrarem os rios e selvas da região os portugueses notaram que os índios utilizavam uma grande variedade de frutas, ervas, folhas e raízes para fins medicinais e alimentícios. Os produtos utilizados, em especial cacau, baunilha, canela, urucum, guaraná, cravo e resinas aromáticas foram chamados de drogas do sertão, e possuíam bom valor de comércio na Europa, podendo ser vendidas como substitutas ou complementos das especiarias. Além das plantas, outras variedades de drogas do sertão incluíam: gordura de peixe-boi, ovos de tartaruga, araras e papagaios, jacarés, lontras e felinos. - O ciclo do ouro Quando foi divulgada a notícia da descoberta de jazidas auríferas, muitas pessoas dirigiram-se para as regiões onde foi encontrado o ouro, em especial para o atual território do estado de Minas Gerais. Praticamente todas as pessoas que se deslocaram para a região o fizeram na intenção de dedicar-se exclusivamente na exploração do metal, deixando de lado até mesmo atividades essenciais para a sobrevivência, como a produção de alimentos. Isso gerou uma profunda escassez de mercadorias na região. Era comum entre os anos de 1700 e 1730 a ocorrência de crises de fome caso o acesso a outras regiões das quais os produtos básicos eram adquiridos fossem interrompidas. A situação começa a mudar com a expansão de novas atividades, e com a melhoria das vias de comunicação. 8 Possui como características: latifúndio, mão de obra escrava e interesses voltados à exportação. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 7 - Impostos e a administração da coroa Com as primeiras notícias de descobrimento das jazidas em Minas Gerais, a Coroa publicou o Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais-Deputados para as minas de ouro, no ano de 1702. Para executar o regimento, cobrar impostos e superintender o serviço de mineração, foram criadas as Intendências de Minas, uma para cada capitania em que houvesse a extração de ouro. Quando uma nova jazida era descoberta, era obrigatória a comunicação para a Intendência. O Guarda- mor, então, dirigia-se ao local, ordenando a demarcação do terreno a ser explorado. Este era dividido em lotes, que eram chamados de datas. As datas eram entregues através de sorteio. No dia da distribuição, comunicado com certa antecedência, deviam comparecer todos aqueles que estivessem interessados em receber um lote; não se admitiam procuradores ou representantes. O descobridor da jazida não só tinha o direito de escolher uma data, mas também de receber um prêmio em dinheiro. A Intendência separava em seguida uma data para si, vendendo-a depois em leilão público. As datas restantes eram sorteadas entre os presentes. Encerrado o sorteio, se sobrassem terras auríferas, fazia-se uma distribuição suplementar. Se o número de interessados era muito grande, o tamanho das datas era reduzido. Normalmente as datas eram lotes com no máximo 50 metros de largura. No início da atividade mineradora foi estabelecido um imposto para as pessoas que se dedicavam à extração: o quinto. Correspondia a 20% do ouro extraído, que deveria ser pago para a Coroa. Como era difícil determinar se uma barra ou saca de ouro havia sido ou não quintada, a sonegação era uma pratica fácil de ser realizada. Com o objetivo de regularizar a cobrança, foi criado um imposto adicional chamado finta9 que não funcionou como planejado e acabou sendo extinto. Para resolver o problema o governo criou as Casas de Fundição, das quais a mais famosa foi a de Minas Gerais, inaugurada em 1725. Nas casas de fundição o minerador entregava seu ouro, que era fundido e transformado em barras, das quais era descontado o quinto. Após as Casas de Fundição, também foi proibida a comercialização e exportação de ouro em pó. É possivelmente dessa época o surgimento dos “Santos do pau oco” (imagens de santos esculpidas por dentro e preenchidas com ouro em pó, para fugir da fiscalização e da cobrança). Em 1735 a Coroa começou a cobrar um novo imposto, a Capitação. Era um imposto per capita, pago em ouro pelas pessoas e estabelecimentos comerciais da área mineradora. Em 1750 a capitação foi extinta, restando apenas o quinto. Apesar disso, era exigida uma arrecadação mínima de 100 arrobas de ouro por ano. Caso não fosse atingida a arrecadação era decretada a derrama: cobrança da quantidade que faltava para completar as 100 arrobas de arrecadação. Conforme as jazidas foram se esgotando, a produção de ouro caiu assim como a arrecadação de impostos. As suspeitas de sonegação de impostos e a violência da Intendência aumentaram juntamente, gerando atritos e conflitos entre autoridades e mineradores, uma das causas da Inconfidência Mineira de 1789. Para a extração do ouro foram organizados dois tipos de empreendimentos: lavras e faiscações. As lavras eram unidades de produção relativamente grandes, podendo até possuir equipamento especializado e o trabalho de mais de 100 escravos, o que exigia o investimento de alto capital, sendo rentável apenas em jazidas de ouro de tamanho suficientemente grande. Nas faiscações, que eram pequenas unidades produtoras, trabalhavam somente algumas pessoas (por vezes eram até mesmo compostas de trabalhadores individuais). Era comum a prática do envio de escravos por homens livres para faiscação, sendo o ouro encontrado dividido entre ambos. Expansões Geográficas Entradas e bandeiras, conquista e colonização do nordeste, penetração na Amazônia, conquista do Sul, Tratados e limites. Bandeiras e BandeirantesAs bandeiras, tradicionalmente definidas como expedições particulares, em oposição às entradas, de caráter oficial, contribuíram decisivamente para a expansão territorial do Brasil Colônia. A pobreza de São Paulo, decorrente do fracasso da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade da existência de metais preciosos no interior e particularmente, a necessidade de mão-de-obra para o açúcar nordestino 9 30 arrobas de ouro cobradas anualmente. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 8 durante a União Ibérica, levaram os paulistas a organizar a caça ao índio, o bandeirismo de contrato e a busca mineral. • As entradas tinham uma origem diferente, porém com finalidade semelhante à dos bandeirantes. Enquanto o movimento das bandeiras tratava-se de uma expedição particular (normalmente financiada pelos próprios paulistas) com objetivo de obter lucros (encontrando metais preciosos, preando índios ou comercializando as ervas do sertão), as entradas eram expedições financiadas pela Coroa, normalmente composta por soldados portugueses e brasileiros. Embora o objetivo inicial fosse mapear o território brasileiro e facilitar a colonização, as entradas também envolviam-se em conflitos com os índios (principalmente aqueles que apresentavam resistência) e, como era de se esperar, também lucravam com isso. A Caça ao Índio Inicialmente a caça ao índio (preação) foi uma forma de suprir a carência de mão-de-obra para a prestação de serviços domésticos aos próprios paulistas. Porém logo transformou-se em atividade lucrativa, destinada a complementar as necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura (cultura do trigo) paulista. Na primeira metade do século XVII os vicentinos (bandeirantes da Vila de São Vicente) realizaram incursões principalmente contra as reduções jesuíticas espanholas, resultando na destruição de várias missões, como as do Guairá, Itatim e Tape, por Antônio Raposo Tavares. Nesse período, os holandeses, que haviam ocupado uma parte do Nordeste açucareiro, também conquistaram feitorias de escravos negros na África, aumentando a escassez de escravos africanos no Brasil. O Bandeirismo de Contrato A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo governador-geral ou por senhores de engenho do Nordeste com o objetivo de combater índios inimigos e destruir quilombos, corresponde a uma fase do bandeirismo na segunda metade do século XVII. O principal acontecimento desse ciclo de bandeiras foi a destruição de um conjunto de quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido genericamente como Palmares. A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância para a ampliação do território português na América. Num espaço muito curto os bandeirantes devassaram o interior da colônia explorando suas riquezas e arrebatando grandes áreas do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e Sudeste do Brasil. Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-las, foi até os limites com a Bolívia e Peru atingindo a foz do rio Amazonas, completando assim o famoso périplo brasileiro. Por outro lado, os bandeirantes agiram de forma violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção do sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia. Conquistas e Tratados Fato curioso na ação das bandeiras e entradas é que eles não tinham real noção do tamanho do nosso território. Era comum pensarem que se adentrassem o suficiente, logo chegariam às colônias espanholas. As necessidades econômicas (que já falamos acima) levaram os portugueses a adentrar muito mais do que o combinado no Tratado de Tordesilhas e posteriormente obrigou os governos a reconhecerem novos acordos. No século XVII um evento ajudou para que essa expansão ocorresse sem maiores problemas. Trata- se da União Ibérica. Para a expansão territorial brasileira isso foi ótimo. Primeiro por estreitar as relações entre colônias portuguesas e espanholas e depois por, quando dos portugueses adentrarem o território além do estabelecido não encontrarem nenhum problema, afinal os espanhóis entendiam que o seu povo estava povoando a sua terra. Os limites estabelecidos em Tordesilhas foram tão alterados e de forma tão definitiva (várias novas colônias já haviam sido estabelecidas) que um novo acordo sobre os limites territoriais entre Portugal e Espanha foi estabelecido: o Tratado de Madri (1750). Em resumo ele reconhecia que a maioria do território desbravado pertencia a Portugal, baseado no princípio da posse por uso. • No período colonial, que dura até o ano de 1815 quando o Brasil é elevado à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves, ainda teremos o início dos conflitos da Cisplatina (1811 – 1828) – disputa entre Portugal e Espanha em torno da fronteira do RS devido às pretensões espanholas de controlar o rio da Prata -. Porém esse conteúdo é mais comumente pedido dentro do período imperial, talvez pelo seu final ter sido após 1822. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 9 União Ibérica Em 1578, na luta contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei D. Sebastião de Portugal, desapareceu. Com isso teve início uma crise sucessória do trono português, já que o rei não deixou descendentes. O trono foi assumido por um curto período de tempo por seu tio-avô, o cardeal Dom Henrique, que morreu dois anos depois, sem deixar herdeiros. Logo após, Filipe II da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, demonstrou o interesse em assumir o trono português. Para alcançar o poder, além de se valer do fator parental, o monarca hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal direito. Assim foi estabelecida a União Ibérica, que marca a centralização de Portugal e Espanha sob um mesmo governo. A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que as finanças de seu país pudessem se recuperar após diversos gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em estabelecer o comércio de escravos com os portugueses que controlavam a atividade na costa africana. Além disso, o controle da maior parte das possessões do espaço colonial americano permitiria a ampliação dos lucros obtidos através da arrecadação tributária. Apesar das vantagens, o imperador espanhol manteve uma significativa parcela dos privilégios e posições ocupadas por comerciantes e burocratas portugueses. Mesmo preservando aspectos fundamentais da colonização lusitana, a União Ibérica também foi responsável por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações inimigas da Espanha passam a ver na invasão do espaço colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta maneira, no tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil. Entre todas essas tentativas, podemos destacar especialmente a invasão holandesa, que alcançou o monopólio da atividade açucareira em praticamente todo o litoral nordestino. No ano de 1640 a Restauração definiu a vitória portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente extinção da União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de Bragança, iniciada por dom João IV, passou a controlar Portugal. Invasões Invasões Francesas A França foi o primeiro reino europeu a contestar o Tratado de Tordesilhas que dividiu as terras descobertas na América entre Portugal e Espanha em 1494. Visitaram constantemente o litoral brasileiro desde o período da extração do pau-brasil mantendo relações amistosas com os povos indígenas locais. Deste acordo surgiu a Confederação dos Tamoios (aliança entre diversos povos indígenas do litoral: tupinambás, tupiniquins, goitacás, entre outros), que possuíam um objetivo em comum: derrotar os colonizadores portugueses. Em 1555 os franceses fundaram na baía de Guanabara a França Antártica, criando uma sociedade de influências protestantes. Através dos franceses,algumas partes do litoral brasileiro ganharam diversas feitorias e fortes. Por aproximadamente cinco anos ocorreram conflitos entre os portugueses e a Confederação dos Tamoios. Em 1567 os portugueses derrotaram a Confederação e expulsaram os franceses do litoral brasileiro, o que não desencorajou os ideais franceses. No século XVII (1612), fundaram a França Equinocial, correspondente à cidade de São Luís, capital do estado do Maranhão. Com a intenção de conter a expansão francesa, Portugal enviou uma expedição militar à região do Maranhão. Essa expedição atacou os franceses tanto por terra quanto por mar. Em 1615, foram derrotados e se retiraram do Maranhão, deslocando-se para a região das Guianas onde fundaram uma colônia, a chamada Guiana Francesa. Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de uma civilização francesa no Brasil colonial, os franceses passaram a saquear através de corsários (piratas), algumas cidades do litoral brasileiro no século XVIII. A principal delas foi a cidade do Rio de Janeiro, de onde escoava todo ouro extraído da colônia rumo a Portugal. Uma primeira tentativa de saque, em 1710, foi barrada pelos portugueses; entretanto, no ano de 1711, piratas franceses tomaram a cidade do Rio de Janeiro e receberam dos portugueses um alto resgate para libertá-la: 600 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois. Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas no Brasil. Invasões Inglesas As incursões inglesas no Brasil ficaram restritas a ataques de piratas e corsários. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 10 William Hawkins foi o primeiro corsário inglês a aportar na colônia. Entre 1530 e 1532, percorreu alguns pontos da costa e fez escambo de pau-brasil com os índios. Outro foi Thomas Cavendish, que atracou em Santos em 1591. Conhecido como “lobo-do-mar”, Cavendish estava a serviço da rainha inglesa Elizabeth I. O corso realizado pelos ingleses, entretanto, intensificou-se apenas na segunda metade do século XVI, quando os conflitos entre católicos e protestantes tornaram-se intensos na Inglaterra e os mercadores empolgaram-se com as possibilidades comerciais abertas pelas novas rotas marítimas. A primeira incursão pirata dos ingleses ao litoral brasileiro foi em 1587. Em 1595, o inglês James Lancaster conseguiu tomar o porto do Recife. Retirou grande volume de pau-brasil, que levou para a Inglaterra depois de realizar saques na capitania durante mais de um mês. Invasões Holandesas As invasões holandesas na primeira metade do século XVII estão relacionadas com a criação da União Ibérica. Antes do domínio dos Habsburgos10, as relações comerciais e financeiras entre Portugal e Holanda eram intensas. Pouco antes de Filipe II tornar-se rei de Portugal, os Países Baixos iniciaram uma guerra de independência tentando libertar-se do domínio espanhol. Iniciada em 1568, essa guerra de libertação culminou com a União de Utrecht11, sob a chefia de Guilherme de Orange. Em 1581, nasciam as Províncias Unidas dos Países Baixos, mas a guerra continuou. Assim que Filipe II assumiu o trono luso, proibiu o comércio açucareiro luso-flamengo. O embargo de navios holandeses em Lisboa provocou a criação de companhias privilegiadas de comércio. Entre 1609 e 1621, houve uma trégua que permitiu a normatização temporária do comércio entre Brasil-Portugal e Holanda. Em 1621, terminada a trégua, os holandeses fundaram a Companhia de Comércio das Índias Ocidentais cujo alvo era o Brasil. Começava então a Guerra do Açúcar. A primeira invasão foi na Bahia, realizada por três mil e trezentos soldados. Salvador foi ocupada sem muita resistência e o governador Diogo de Mendonça Furtado foi preso, tendo a cidade saqueada. A população fugiu para o interior onde a resistência foi organizada pelo bispo D. Marcos Teixeira e por Matias de Albuquerque. Os baianos também receberam a ajuda de uma esquadra luso-espanhola (“Jornada dos Vassalos”) e, em maio de 1625 os holandeses foram expulsos. A segunda invasão holandesa no Nordeste foi direcionada contra Pernambuco, uma capitania rica em açúcar e pouco protegida. Olinda e Recife foram ocupadas e saqueadas. A resistência foi comandada por Matias de Albuquerque a partir do Arraial do Bom Jesus, e durante alguns anos impediu que os invasores ampliassem sua área de dominação. Mas a traição de Domingos Calabar alterou a situação. Entre 1637 e 1644, o Brasil holandês foi governado pelo conde Mauricio de Nassau-Siegen, que expandiu o domínio holandês do Nordeste até o Maranhão e conquistou Angola (fornecedora de escravos). Porém, em 1638 fracassou ao tentar conquistar a Bahia. Quando Portugal restaurou sua independência e assinou a Trégua dos Dez Anos com a Holanda, Nassau continuou administrando o Brasil holandês de forma exemplar. Urbanizou Recife, fundou um zoológico, um observatório astronômico e uma biblioteca, construiu jardins e palácios e promoveu a vinda de artistas e cientistas para o Brasil. Além disso, adotou a tolerância religiosa e dinamizou a economia canavieira. Sua política garantiu o apoio da aristocracia local, mas entrou em choque com os objetivos da Companhia das Índias Ocidentais. O desgaste com a Companhia levou Nassau a deixar o Brasil em 1644. Enquanto isso, os próprios brasileiros organizaram a luta contra os flamengos com a Insurreição Pernambucana. Os líderes foram André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias (negro) e o índio Filipe Camarão. Em 1648 e 1649, as duas batalhas de Guararapes foram vencidas pelos nativos. Em 1652, o apoio oficial de Portugal e as lutas dos holandeses na Europa contra os ingleses em decorrência dos prejuízos causados pelos Atos de Navegação de Oliver Cromwell, levaram os holandeses a Capitulação da Campina do Taborda12. Os holandeses foram desenvolver a produção de açúcar nas Antilhas, contribuindo para a crise do complexo açucareiro nordestino. Mais tarde, Portugal e Holanda firmaram o Tratado de Paz de Haia (1661), graças a mediação inglesa. Segundo tal tratado a Holanda receberia uma indenização de 4 milhões de cruzados e a cessão pelos portugueses das ilhas Molucas e do Ceilão, recebendo ainda o direito de comercializar com maior liberdade nas possessões portuguesas, em razão da perda do Brasil holandês. 10 Poderosa família que dos séculos XVI ao XX governaram diversos reinos na Europa, entre eles Áustria, Nápoles, Sicília e Espanha. 11 A União de Utrecht foi um acordo assinado na cidade holandesa de Utrecht, em 23 de Janeiro de 1579, entre as províncias rebeldes dos Países Baixos - naquele tempo em conflito com a coroa espanhola durante a guerra dos 80 anos. 12 Acordo que estabelecia, entre tantas cláusulas que o governo holandês abdicava de suas terras no Brasil. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 11 As Rebeliões Nativistas A população colonial já enraizada na terra e, portanto, com fortes sentimentos nativistas, manifestou seu descontentamento frente às exigências metropolitanas. Em vista disto, surgiram os primeiros sinais de rebeldia, denominadas rebeliões nativistas. Revolta de Beckman (1684) Na segunda metade do século XVII, a situação da economia maranhense que nunca fora boa, tendia a piorar. A Coroa, pressionada pelos jesuítas proibiu a escravização de indígenas, os quais eram a base da mão-de-obra local utilizados na coleta de “drogas do sertão” e na agricultura de subsistência. Visando melhorar a situação da capitania, o governo português criou em 1682 a Companhia de Comércio do Maranhão, a qual recebia o monopólio do comércio maranhense e em troca deveria promover o desenvolvimento da agricultura local. A má administração da empresa gerou uma rebelião de colonos em 1684, sob a chefia dos irmãos Manoel e Thomas Beckman. O objetivo dos rebeldes era o fechamento da Companhia e a expulsão dos jesuítas. A revolta foi sufocada pela coroa, mas a Companhiaencerrou suas atividades. A Guerra dos Emboabas (1708-1709) Apesar da fome que assolou as Minas em 1696-1698 ter sido terrível, uma crise de desabastecimento ainda mais devastadora aconteceu na região em 1700. Três anos depois da descoberta das primeiras jazidas, cerca de 6 mil pessoas haviam chegado às minas. Na virada do século XVIII, esse número quintuplicara: 30 mil mineiros perambulavam pela área. Pouco depois surgiram os conflitos entre paulistas, que foram os descobridores das jazidas e primeiros povoadores e os Emboabas, forasteiros, normalmente portugueses, pernambucanos e baianos. Os dois grupos disputavam o direito de exploração das terras. Os paulistas argumentavam que deveriam ter o direito de exploração, por serem os descobridores. Já os emboabas defendiam que por serem cidadãos do Reino também possuíam o direito de exploração das riquezas. Entre 1707 e 1709, ocorreram lutas violentas entre os dois grupos, com derrotas sucessivas por parte dos paulistas. O governador Albuquerque Coelho e Carvalho promoveu a pacificação geral em 1709, quando foi criada a capitania de São Paulo e Minas de Ouro, pertencente à coroa. A Guerra dos Mascates (Pernambuco, 1710-1714) Luta entre os proprietários rurais de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife, originada pela expulsão dos holandeses no século XVII. Se a perda do monopólio brasileiro do fornecimento de açúcar à Europa foi trágica para os produtores pernambucanos, não foi tanto assim para a burguesia lusitana de Recife, que passou a financiar a produção olindense, com elevadas taxas e grandes hipotecas. A superioridade econômico-financeira de Recife não tinha correspondente político, visto que seus habitantes continuavam dependendo da Câmara Municipal de Olinda. Em 1710, Recife conseguiu sua emancipação político-administrativa transformando-se em município autônomo. Os olindenses, comandados por Bernardo Vieira de Melo invadiram Recife, provocando a reação dos Mascates, chefiados por João da Mota. A luta entre as duas cidades manteve-se até 1714, quando foi encerrada graças à mediação da Coroa. O esforço da aristocracia fora inútil: Recife manteve sua autonomia. Os Movimentos Emancipacionistas As revoltas emancipacionistas foram movimentos sociais ocorridos no Brasil Colonial, caracterizados pelo forte anseio de conquistar a independência do Brasil com relação a Portugal. Entre os principais motivos para esses movimentos estavam: - a alta cobrança de impostos; - limites estabelecidos pelo Pacto Colonial que obrigava o Brasil de comercializar somente com Portugal; - a falta de autonomia e representação na criação de leis e tributos, além da política dominada por Portugal; - os ideais iluministas e separatistas vindos da Europa e dos Estados Unidos. A Inconfidência Mineira (1789) Na segunda metade do século XVIII, a produção de ouro nas Minas Gerais vinha apresentando um grande declínio, o que aumentou os choques e conflitos entre a população local e as autoridades 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 12 portuguesas. Quanto menos ouro era extraído, maiores eram os boatos e ameaças do acontecimento da Derrama13, atitude que afetaria boa parte da elite local. Os grupos mais influenciados pelas ideias iluministas, que eram também os que mais teriam a perder com as medidas do governo português, resolveram tomar uma atitude dando início em 1789 ao movimento que seria chamado pela metrópole de Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira. Os inconfidentes tinham como objetivo a imediata separação da colônia, criando uma República moldada pelo pensamento liberal-iluminista e pela Constituição dos Estados Unidos, que havia conquistado sua independência em 1776. Após conquistada a liberdade em relação à metrópole, estabeleceriam São João del-Rei como capital, criariam a Universidade de Vila Rica e dariam estímulo à abertura de manufaturas têxteis e de uma siderurgia para o novo Estado. Em relação à escravidão as posições eram divergentes. A revolta foi suspensa quando participantes da conspiração denunciaram o movimento ao governador. O coronel Joaquim Silvério dos Reis foi apontado como principal delator. Endividado com a coroa assim como outros inconfidentes, o coronel resolveu separar-se do movimento e apresentar um depoimento formal para o governador da capitania, Visconde de Barbacena. O governador suspendeu a cobrança e mandou prender os inconfidentes. Após a confissão de Joaquim Silvério e a prisão dos suspeitos foi instituída a devassa, uma investigação levada a cabo pelas autoridades da época, constatando que envolveram-se no movimento da Capitania das Minas grandes fazendeiros, criadores de gado, contratadores, exploradores de minas, magistrados, militares, além de intelectuais luso-brasileiros. Dentre os inconfidentes, destacaram-se os padres Carlos Correia de Toledo, José de Oliveira Rolim e Manuel Rodrigues da Costa, além do cônego Luís Vieira da Silva; o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, comandante militar da capitania, os coronéis Domingos de Abreu Vieira, também comerciante, e Joaquim Silvério dos Reis, rico negociante; e os letrados Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único “conspirador” que não fazia parte da elite. Conhecido como alferes (primeiro posto militar) e dentista prático, foi talvez por sua origem o mais duramente castigado. A memória de Tiradentes passou a ser celebrada no Brasil com a Proclamação da República, quando foi considerado herói nacional pelo regime estabelecido em 15 de novembro de 1889. Sua representação mais conhecida é muito semelhante à imagem de Cristo, reforçando a construção da imagem de mártir. Assinada em 19 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, a sentença de morte de Tiradentes cumpriu-se dois dias depois: ele foi enforcado, decapitado e esquartejado. Os outros participantes foram condenados ao desterro na África. Conjuração Baiana (1798) A conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, assim como a Conjuração Mineira, foi influenciada pelos ideais iluministas, em especial a Revolução Francesa. Ocorrida na Bahia em 1798, buscava a emancipação e defendeu importantes mudanças sociais e políticas na sociedade. Entre as causas do movimento estava a insatisfação com Portugal pela transferência da capital para o Rio de Janeiro em 1763. Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a perda dos privilégios e a redução dos recursos destinados à cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e exigências à colônia vieram a piorar sensivelmente as condições de vida da população local. O preço dos alimentos também gerou revolta na população. Além de caros, muitos produtos tornavam-se rapidamente escassos pelas restrições impostas sobre o comércio e as importações. Os revoltosos defendiam a separação da região do restante da colônia, buscando independência de Portugal e instalando um governo baseado nos princípios da República. Também defendiam a liberdade de comércio (fim do pacto colonial estabelecido), o aumento dos soldos14 e a igualdade entre as pessoas, resultando na abolição da escravidão. O movimento ganhou o nome de Revolta dos Alfaiates pela grande adesão desses profissionais no movimento, entre eles Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do Nascimento. Outros setores também aderiram ao movimento, como o militar, representado pelo soldado Luís Gonzaga das Virgens. O movimento contou com a participação de pessoas pobres, letrados, padres, pequenos comerciantes, escravos e ex-escravos. A revolta foi impedida antes mesmo de começar. O ferreiro José da Veiga informou sobre os detalhes do movimento ao governador, que pôde mobilizar tropas do exército para conter os revoltosos. 13 No Brasil Colônia, a derrama era um dispositivo fiscal aplicado em Minas Gerais a fim de assegurar o tetode cem arrobas anuais na arrecadação do quinto. O quinto era a retenção de 20% do ouro em pó ou folhetas que eram direcionadas diretamente a Coroa Portuguesa 14 A palavra ¨soldo¨ (em latim ¨solidus¨), remuneração por serviços militares e ¨soldado¨, têm sua origem no nome desta moeda. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 13 Ocupação do Território Paranaense15 A história do Estado do Paraná remonta há cerca de 9000 anos. As provas materiais dessa história são encontradas em todo o território paranaense nos vários sítios arqueológicos já pesquisados como os sambaquis no litoral e as pinturas rupestres, nos Campos Gerais. Nesses locais encontramos vestígios materiais importantes que revelam como viviam os habitantes desta terra antes da vinda dos primeiros europeus para a América. Particularmente, no Paraná, a ocupação europeia aconteceu por duas vias: uma espanhola e a outra portuguesa. Desde o início do século XVI, exploradores europeus atravessaram de norte a sul e de leste a oeste, o território paranaense tendo sempre como ponto de partida foi o litoral atlântico. O primeiro europeu a percorrer toda a extensão deste território foi o bandeirante Aleixo Garcia. Em 1541 Dom Alvarez Nuñes Cabeza de Vaca, partindo da Ilha de Santa Catarina seguiu por terra em direção a oeste tomando posse simbólica deste território em nome da Espanha. Nesta fase a Coroa Espanhola cria cidades e algumas reduções para assegurar o seu território determinado pelo Tratado de Tordesilhas - acordo bilateral entre os reinos ibéricos de Portugal e Espanha. No ano de 1554 é criada a primeira povoação europeia em território paranaense, a vila de Ontiveros, às margens do rio Paraná, perto da foz do rio Ivaí. Dois anos depois, o povoamento se transfere para perto da foz do rio Piquiri, recebendo o nome de Cuidad Real del Guairá - hoje município de Terra Roxa, que juntamente com Vila Rica do Espírito Santo, nas margens do rio Ivaí, formou a província de Vera ou do Guairá. No início do século XVI os portugueses criaram duas capitanias sobre o litoral. A primeira, a Capitania de São Vicente, na região compreendida entre a Barra de Paranaguá e a de Bertioga. A segunda, a Capitania de Sant’Ana, desde a Barra de Paranaguá até onde fosse legítima pelo Tratado de Tordesilhas; mas, referências históricas, datadas de 1540, nos dão conta da existência de moradores na baía de Paranaguá vindos de Cananéia e São Vicente. Em meados de 1600 intensifica-se a presença dos vicentinos (moradores da capitânia de São Vicente) em todo o litoral e nos Campos de Curitiba, em 1648 o povoado de Paranaguá é elevado à categoria de Vila com a denominação de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá. Diogo de Unhate foi o primeiro português a requerer terras em solo paranaense; em 1614 obteve uma Sesmaria na região de Paranaguá, localizada entre os rios Ararapira e Superagüi. Na sequência, em 1617 Gabriel de Lara funda uma povoação na Ilha da Cotinga, que depois transferiu para a margem esquerda do rio Taquaré (hoje Itiberê). Questões 01. (TJ/SC - Analista Administrativo - TJ) Sobre o Período Colonial Brasileiro, assinale a alternativa INCORRETA: (A) De 1500 a 1530 a economia brasileira gravitou em torno do pau-brasil. Após 1530, declinando o comércio com as Índias, a coroa portuguesa decidiu-se pela colonização do Brasil. (B) A extração do pau-brasil foi declarada estanco, ou seja, passou a ser um monopólio real, cabendo ao rei conceder a permissão a alguém para explorar comercialmente a madeira. O primeiro arrendatário a ser beneficiado com o estanco foi Fernando de Noronha, em 1502. (C) A administração colonial foi efetuada inicialmente por meio do sistema de Capitanias Hereditárias. Com seu fracasso foram instituídos os Governos Gerais, não para acabar com as capitanias, mas para centralizar sua administração. (D) No sistema de Capitanias hereditárias a ocupação das terras era assegurada pela Carta de Doação e pelo Foral. A carta de doação determinava os direitos e deveres dos donatários e o Foral cedia aos donatários as terras, bem como o poder administrativo e jurídico das mesmas. (E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de São Vicente, fundada no litoral paulista em 1532. 02. (TJ/SC - Assistente Social - TJ) Sobre o Período Colonial brasileiro, assinale a única alternativa que está INCORRETA: (A) Portugal só deu início à colonização das terras conquistadas, que passaram a chamar-se Brasil, devido à pressão que sofria com o declínio de seu comércio com o oriente e com a sistemática ameaça estrangeira no território brasileiro. 15 http://www.cultura.pr.gov.br/pagina-1.html 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 14 (B) O sistema de Capitanias Hereditárias foi implantado por D. João III mas não teve o sucesso esperado. Entre os fatores que contribuíram para o fracasso das capitanias podemos citar: falta de terras férteis em algumas regiões, falta de interesse dos donatários, conflitos com os indígenas, falta de recursos financeiros para o empreendimento por parte de quem recebia a capitania. (C) Tomé de Souza foi o primeiro Governador-Geral do Brasil e a sede do governo geral foi estabelecida na Bahia. (D) A estrutura econômica brasileira do período colonial tinha como principais características a monocultura, o latifúndio, o trabalho escravo e a produção para o mercado externo. (E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de Santos, fundada em 1532. 03. (PC/SC - Investigador de Polícia - ACAFE) Sobre a economia do período colonial do Brasil, todas as alternativas estão corretas, exceto a: (A) O ciclo do ouro contribuiu para a formação de núcleos urbanos no interior do Brasil e para a transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro. (B) A propriedade agrícola no qual se baseava o sistema colonial tinha duas características básicas: a monocultura e o trabalho escravo. (C) O pau-brasil foi um dos primeiros produtos explorados no Brasil, sendo obtido pelos europeus numa relação de escambo com os nativos. (D) O ciclo da cana-de-açúcar foi fundamental para a criação de um mercado econômico interno, realizando a ligação comercial entre o litoral e o interior da colônia. 04. (Prefeitura de Padre Bernardo/GO - Contador) Entre 1708 e 1709 o estado de Minas Gerais foi palco de um conflito marcado pela disputa pelo Ouro. Tal guerra se baseou no conflito entre bandeirantes paulistas e forasteiros que buscavam a riqueza oriunda dos metais preciosos. Tal conflito ficou conhecido como: (A) Guerra das Emboabas. (B) Inconfidência Mineira. (C) Levante de Vila Rica. (D) Guerra Mata Maroto. 05. (PUC) “Nenhuma outra forma de exploração agrária no Brasil colonial resume tão bem as características básicas da grande lavoura como o engenho de açúcar.” Alice Canabrava, in Sérgio Buarque de Holanda (org.) História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Difel, 1963, tomo I, vol. 2.. A frase pode ser considerada correta, entre outros motivos, porque na produção açucareira: (A) prevalecia o regime de trabalho escravo e a grande propriedade monocultora. (B) havia emprego reduzido de mão de obra e prevalecia a agricultura de subsistência. (C) prevalecia a atenção ao mercado consumidor interno e à distribuição das mercadorias nas grandes cidades. (D) havia disposição modernizadora do aparato produtivo e prevalecia a mão de obra assalariada. (E) prevalecia a pequena propriedade familiar e a diversificação de culturas Gabarito 01.D / 02.E / 03.D / 04.A / 05.A Comentários 01. Resposta: D Na alternativa incorreta houve uma inversão, pois Carta de Doação era um documento que cedia aos Donatários a posse da terra, já o Foral era o documento que estabelecia direito e os deveres dos donatários. 02. Resposta: E Martim Afonso de Souza fundou, em 1532, o primeiro núcleo populacionaldo Brasil: A Capitania de São Vicente. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 15 03. Resposta: D A produção de cana-de-açúcar era feita em grandes latifúndios, toda a produção feita na colônia era voltada ao mercado externo, nessa época não havia produção destinada ao mercado interno, exceto os gêneros alimentícios de subsistência. 04. Resposta: A O enunciado da questão faz referência a Guerra dos Emboabas. Como havia sido um paulista a descobrir ao ouro, eles achavam que tinham direitos especiais sobre a terra. Quando um dos líderes dos emboabas enfrentou, junto com uma frente armada e conseguiu expulsar os paulistas da região de Sabará, o ato foi entendido por eles como uma declaração de guerra. 05. Resposta: A A produção do açúcar no Brasil foi a primeira grande atividade comercial estabelecida de forma efetiva para a geração de lucros para a coroa portuguesa. Era caracterizada pela mão-de-obra escrava (indígena, depois africana), a grande propriedade rural (Latifúndio) e a exportação para o mercado europeu. PERÍODO JOANINO E A INDEPENDÊNCIA Só passando para lembrar que quando tratamos sobre a chegada dos portugueses no Brasil a partir do período joanino ou após o período colonial, estamos falando das CORTES portuguesas, uma vez que a presença lusitana no nosso território é ininterrupta desde o descobrimento. Realizações Político-sociais das Cortes no Brasil As mudanças econômicas e políticas que vinham soprando suas ideias da América do Norte e da Europa para as colônias é fator chave para entendermos porque a família real portuguesa mudou-se com toda a sua Corte da “civilizada” Lisboa para a abandonada colônia brasileira. O absolutismo viu suas bases estremecerem na segunda metade do século XVIII principalmente pelo sucesso das Revoluções Estadunidense e Francesa com suas ideias democráticas. No mesmo sentido, sua política econômica - o mercantilismo - via o capitalismo industrial começar a tomar a dianteira frente ao capitalismo comercial, marca desses governos. Mas foi da França o empurrão fundamental para a mudança da Corte lusitana16. Quando da expansão napoleônica na Europa, apenas a Inglaterra conseguia fazer frente aos franceses. Em uma tentativa de enfraquecer seu maior adversário, a França decreta um bloqueio comercial à Inglaterra por todos os países que estavam sob sua influência, entre eles, Portugal, que não aceita manter o bloqueio, desencadeando a invasão francesa, consequência da fuga da Corte para o Brasil. Os motivos que o leva a não aceitar manter o bloqueio dizem respeito a uma série de acordos econômicos entre Portugal e Inglaterra (mal feitos), que tornou Portugal uma nação dependente. As premissas dos acordos mantinham os portugueses como uma economia basicamente agrária enquanto os ingleses desenvolviam sua indústria. O Tratado de Methuen exemplifica bem isso: Portugal forneceria vinho aos ingleses (campo) e a Inglaterra forneceria tecidos aos portugueses (indústria). Sem opção e por exigência da Inglaterra, Portugal recusa o bloqueio. Por sua vez, Napoleão foi um cão que latia e também mordia. Ao ver a recusa portuguesa nos seus planos, a França invade e divide Portugal com a Espanha (Tratado de Fontainebleau) além de declarar extinta a Dinastia dos Bragança. A Fuga para o Brasil Portugal contou com o apoio naval inglês para sua fuga. Cerca de 15 mil pessoas que compunham a Corte fizeram a viagem que durou cerca de dois meses com escolta e medidas de segurança como colocar membros da família real em diferentes navios, caso houvesse ataques. 16 Que se refere à Lusitânia, antiga região situada na península Ibérica. Atualmente, refere-se ao território português. 1.3. A Família Real no Brasil (1808-1822). 2. Brasil Império. 2.1. Paraná: a dinâmica do tropeirismo. 2.2. Café: escravidão e trabalho livre. 2.3. A emancipação política do Paraná. 2.4. O ciclo da erva-mate. 2.5. A queda da monarquia 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 16 Ao chegar, D. João tomou duas medidas que afetaram tanto França quanto Inglaterra, sendo: - a retaliação à Napoleão, invadindo e conquistando a Guiana Francesa; e - premiando a Inglaterra e visando o próprio conforto, ainda em 1808 assinou uma Carta Régia com a medida que ficou conhecida como “Abertura dos Portos às Nações Amigas”, beneficiando basicamente o país inglês. A medida mudava o status do Brasil, mas beneficiou muito os ingleses que agora não precisavam mais negociar com a metrópole suas relações comerciais em território nacional. Além das mudanças que afetavam política e economia externas, D. João também realizou mudanças internas. Temos que ter em mente que até então o Brasil é uma colônia. Isso significa que todo o aparato administrativo, judiciário e econômico são da metrópole. Com a vinda da Corte, todos os tipos de decisões nesse sentido que eram tomadas em Lisboa, teriam que ser tomadas no Rio de Janeiro e para isso seguiu- se uma série de mudanças: nomeou ministros de Estado, criou secretarias públicas, criou tribunais de justiça, o Banco do Brasil e o Arquivo Central. Mudanças na cidade também foram realizadas com a intenção de tornar a capital do Brasil uma cidade mais próxima do que a Corte estava acostumada na Europa: foram criados jornais de circulação diária, uma biblioteca real com mais de 60 mil exemplares vindos de Lisboa, Academias militar e da marinha, faculdades de medicina e de direito, observatórios, jardim botânico, teatros (...) Estruturalmente a cidade ganhou iluminação pública, ruas pavimentadas, chafarizes e pontes. Culturalmente a principal mudança se deu pela vinda da Missão Francesa para a criação da Imperial Academia e Escola de Belas-Artes, tendo como principal nome o artista Jean-Baptiste Debret. Apesar de os trabalhos realizados pela Missão Francesa não influenciarem o grosso da população brasileira e carioca, foram de grande importância para o conhecimento do Brasil na Europa. Como era no Rio de Janeiro que as coisas aconteciam, foi natural o crescimento populacional. Além do número crescente de brasileiros que migravam em busca de emprego na capital, o número de escravos também aumentou – para atender a maior demanda de serviços – assim como o de estrangeiros que faziam negócios e já pregavam a ideia de trabalhadores assalariados. Economicamente, apesar de D. João autorizar a instalação de manufaturas no país, os acordos desiguais feitos com a Inglaterra castravam as intenções empreendedoras dos brasileiros. Em 1810 foi assinado o Tratado de Comércio e Navegação em que os produtos ingleses entravam em nosso país com taxas menores até do que os produtos portugueses. O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena17 contou com os principais representantes dos países europeus e decidiu os caminhos que seriam tomados a partir de então. Em uma disputa de interesses entre Inglaterra e França, D. João acaba sendo influenciado pelas ideias francesas e decide continuar com a Corte no Brasil, além de declará-lo como Reino Unido de Portugal e Algarves. No Congresso de Viena ficou decidido que toda e qualquer mudança realizada durante a expansão napoleônica seria desfeita. Reis destituídos – como os casos de Portugal e Espanha – teriam seu governo restaurado. Essa era uma medida que beneficiaria novamente a Inglaterra. Se D. João voltasse a Portugal, dificilmente ele conseguiria fazer com que as mudanças realizadas no Brasil (econômicas) voltassem ao modelo antigo, aquele em que a metrópole tem controle sobre a colônia. A Inglaterra já havia estabelecido negócios e influência dentro do nosso país, e os próprios comerciantes e classe alta brasileiros não aceitariam o retorno à condição de colônia. Do outro lado do Atlântico tínhamos uma Lisboa financeiramente debilitada ao ponto de a Corte preferirpermanecer no Rio de Janeiro. A solução para manter a posição em Lisboa e o controle sobre o Brasil foi elevá-lo a categoria de Reino e não mais colônia. Revolução Pernambucana Todas as melhorias que foram descritas há pouco ficaram restritas apenas ao Rio de Janeiro. As outras províncias do Brasil ainda sofriam com a precariedade econômica e social. Esse cenário gerou descontentamento em várias regiões mas apenas algumas fizeram algo a respeito, como foi o caso de Pernambuco. 17 O Congresso de Viena foi uma conferência entre embaixadores das grandes potências europeias que aconteceu na capital austríaca, entre maio de 1814 e junho de 1815, cuja intenção era a de redesenhar o mapa político do continente europeu após a derrota da França napoleônica 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 17 Com ideais republicanos, separatistas e anti-lusitanos, a Revolução Pernambucana ia contra os pesados impostos, descaso administrativo e opressão militar. A Revolução apenas teve início após a delação do movimento. Quando os líderes conspiradores foram presos, a luta começou. A revolta chegou a contar com a participação da Paraíba e Rio Grande do Norte, porém a coroa conseguiu encerrá-la através da força militar. Alguns líderes foram executados e outros receberam o perdão real anos depois, como Frei Caneca. O Retorno de D. João para Portugal Lisboa e Rio de Janeiro literalmente inverteram os papeis nesse período. Se antes Lisboa era o centro do império português com suas instituições e riquezas colhidas pela forma de governo colonial, agora ela via o Rio de Janeiro assumir esse papel. Os comerciantes portugueses viram sua economia despencar quando das assinaturas de D. João nos novos acordos com os ingleses. O Brasil era o principal mercado lusitano. Não bastasse isso, o rei de Portugal não tinha planos de regressar e ainda deixou o governo do país a cargo de um inglês (general Beresford). Fórmula certa para insatisfação, foi o que ocorreu: Em 24 de agosto de 1820 eclodiu a Revolução do Porto, onde, vitoriosa, a nova Assembleia Constituinte (Cortes portuguesas) adotou nova Constituição, exigindo o retorno da Família Real para jurar a ela e a volta do Brasil à condição de colônia. Não foi o que aconteceu. D. João garantiu que sua família ainda governasse os dois territórios. Para agradar os portugueses, ele regressou à Portugal. Para agradar os brasileiros ele deixou seu filho, D. Pedro I como regente, assegurando que o Brasil não voltaria a ser colônia. O Dia do Fico e a Independência do Brasil Apesar dos planos de D. João, as Cortes portuguesas não encararam bem o fato de D. Pedro I ter ficado no Brasil como regente. A partir daí ele passa a ser pressionado a voltar para Portugal e prestar homenagens às Cortes. Por outro lado, a aristocracia brasileira sabia que a única forma de garantir que o país não regressasse à condição de colônia era apoiar o movimento emancipacionista em volta de D. Pedro I. Em janeiro de 1822 com grande apoio do movimento emancipacionista brasileiro D. Pedro I não cumpre às exigências das Cortes e afirma que permaneceria no Brasil (“Dia do Fico”). Esse dia foi seguido de negociações e mudanças na administração brasileira até finalmente em 7 de setembro do mesmo ano ser declarada a independência do Brasil. O Reconhecimento da Independência O simples fato de D. Pedro I declarar o Brasil independente não o tornava assim. Era necessário que externamente essa independência fosse reconhecida. Portugal, claro, não o fez. No início apenas alguns reinos africanos com o qual o Brasil tinha relações comerciais (negociação de escravos) e os Estados Unidos (dois anos depois) reconheceram nossa autonomia. A Inglaterra, embora continuasse fazendo negócios com o Brasil não reconheceu de imediato a nova condição, uma vez que não queria perder Portugal como parceiro/dependente dentro da Europa. Visando os próprios interesses foi ela quem intercedeu para que um acordo fosse realizado entre Brasil e Portugal. Em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Paz e Aliança, em que mediante o pagamento de dois milhões de libras esterlinas como indenização, e a continuidade do título de imperador do Brasil para D. João, Portugal reconhecia a emancipação do Brasil. O dinheiro foi conseguido junto à Inglaterra que reviu seus acordos comerciais com o Brasil e conseguiu o “compromisso” do fim da escravidão no país, além do pagamento da própria dívida. A partir daí outras nações da América e do mundo também reconheceram o Brasil como nação autônoma. O Primeiro Reinado (1822-1831) De cara, alguns fatores chamaram a atenção a respeito da independência do Brasil: - éramos o único país na América que após a emancipação da metrópole continuamos a viver em um regime monárquico; - a população não teve participação alguma no processo e até mesmo províncias mais distantes só ficaram sabendo da mudança meses depois; - a aceitação não foi total e pacífica como era de se esperar. 1643571 E-book gerado especialmente para ALDISLAN PEREIRA DA SILVA BARROS 18 Algumas regiões, principalmente aquelas com conservadores portugueses e acúmulo de tropas lusitanas não apenas recusaram-se a aceitar a autoridade de D. Pedro I como lutaram contra ela. As províncias da Bahia, Cisplatina, Maranhão, Piauí e Pará resistiram ao novo governo e apenas com o uso da força aceitaram a nova condição. Na prática, nossa política não teve mudanças, ainda vivíamos em uma monarquia centralizadora e mesmo os defensores de ideias republicanas só pensavam em sua projeção política e não em uma mudança de fato. A Primeira Constituição Brasileira D. Pedro I havia convocado uma Assembleia Constituinte antes mesmo de declarar o Brasil independente. E desde o primeiro momento houve desacordo. A Assembleia, liderada pelos irmãos Andrada, tinha a intenção de fazer uma Constituição similar à portuguesa, onde D. Pedro teria seus poderes limitados. Já o monarca, que era conhecido por ser autoritário e centralizador trabalhou para permanecer com todos os poderes em torno de si. Apesar da Constituição elaborada por influência dos Andrada ter a intenção de limitar os poderes de D. Pedro I, ela garantia os privilégios da aristocracia rural. Popularmente conhecida como Constituição da Mandioca18 ela garantia os privilégios à quem tivesse a posse da terra e defendia a manutenção da escravidão. Acontece que essa Constituição, onde o legislativo predominaria pelo executivo nem chegou a ser concluída. Em 12 de novembro de 1823 D. Pedro I ordenou o fechamento da Assembleia (episódio conhecido como “Noite da Agonia”), convocou um Conselho de Estado e encomendou a nova Constituição do país, onde seu poder estaria assegurado. A nova Constituição dividia o Estado em quatro poderes: executivo, legislativo, judiciário e moderador. O poder moderador era exclusivo de D. Pedro I e estava acima de todos os outros. Assim ele mantinha todas as características centralizadoras e absolutistas de uma monarquia e não via precedentes de verdadeira oposição. A Confederação do Equador A tendência autoritária de D. Pedro I e a nova Constituição desagradaram em vários aspectos muitas províncias brasileiras. O nordeste, já marginalizado nesse período e com histórico de revoltas contra a coroa, novamente se movimentou. Com início em Pernambuco e com apoio popular, outras províncias se juntaram ao movimento (Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba). Apesar de iniciada por lideranças populares, entre eles Cipriano Barata e Frei Caneca, as elites regionais também apoiaram o movimento. Do ponto de vista social foi o mais avançado do período com reformas sociais, mudança de direitos políticos e abolição da escravidão. Essas mesmas mudanças radicais levaram as elites regionais a abandonar o movimento, pois temiam perder seus próprios privilégios. Sem o apoio da aristocracia local e com forte repressão
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