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CULTURA E SOCIEDADE PROF. DR. SAULO HENRIQUE JUSTINIANO SILVA PROFA. MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO REITORIA: Dr. Roberto Cezar de Oliveira PRÓ-REITORIA: Profa. Ma. Gisele Colombari Gomes DIREÇÃO DE GESTÃO EAD: Prof. Me. Ricardo Dantas Lopes EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS: Diagramação Revisão textual Produção audiovisual Gestão WWW.UNINGA.BR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4 1. O HOMEM COMO SER SOCIAL ...............................................................................................................................5 1.1 O SER HUMANO E SUAS MÚLTIPLAS DIMENSÕES ............................................................................................5 1.2 OS PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE ....................................................................................................................8 1.3 A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL DO HOMEM POR MEIO DO TRABALHO .............................................................9 1.4 AS RELAÇÕES HUMANAS NA CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE.......................................................................... 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 13 O SER HUMANO COMO SER SOCIAL PROF. DR. SAULO HENRIQUE JUSTINIANO SILVA PROFA. MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CULTURA E SOCIEDADE 4WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Prezado(a) acadêmico(a), é com prazer que apresentamos a você este livro, que servirá de base e suporte para o desenvolvimento dos conteúdos da disciplina. Vamos apresentar uma série de conteúdos que fornecerá uma abordagem holística e ampla sobre o ser humano e suas relações, e como ele estabelece e se relaciona com questões sociais e culturais. Vale dizer que este material trata-se de uma introdução a assuntos que, dependendo de seus interesses, poderão fomentar pesquisas e debates futuros sobre as diversas temáticas relacionadas aos conteúdos aqui apresentados. Na Unidade 1, abordaremos o tema “O ser humano como ser social” a fim de esclarecer o processo histórico de formação das sociedades. Serão discutidas as várias dimensões que compõem o ser humano (material, afetiva, racional, social etc.), tendo em vista que se trata de um ser que se relaciona e que se constrói na interação com os outros e, finalmente, a dimensão social da realidade. A necessidade de compreender o papel da linguagem para o desenvolvimento social e consciência humana se justifica pois nos pautamos em um referencial sócio-histórico de compreensão da realidade. De modo que, sem a possibilidade da criação coletiva e compartilhada de significados, não haveria o que se entende por social. 5WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. O HOMEM COMO SER SOCIAL A pergunta “quem é o ser humano” suscita em nós muitas indagações e imprecisão. Desde os primórdios de nossa existência, o “quem é o ser humano?” tem sido alvo de muitas pessoas comuns, pesquisadores, filósofos, antropólogos, sociólogos e poetas. A palavra “homem”, segundo o Dicionário Aurélio, tem sua origem no latim homine, que significa “qualquer indivíduo pertencente à espécie animal que apresenta o maior grau de complexidade na escala evolutiva” (HOLLANDA, 1986, p. 903). Outra definição trazida pelo mesmo dicionário é “o ser humano com sua dualidade de corpo e de espírito, e as virtudes e fraquezas decorrentes desse estado” (AURÉLIO, 1986, p. 903). No âmbito da Filosofia, o ser humano é percebido como um ser social, moral e racional. É um ser vivo que tem valores morais, segue regras e normas de conduta. Possui habilidades artísticas, políticas e religiosas (CHAUI, 2012). Para alguns autores da Sociologia, ele é fruto de seu trabalho, produto de sua cultura e de sua vida em sociedade (ARANHA; MARTINS, 1993). Já a ciência, especialmente a biológica, descreve o ser humano dentro de uma abordagem filogenética, na qual ele é descendente do Homo sapiens, que pertence à classe dos mamíferos e ao filo dos Chordatas. Resumidamente, ele é bípede e o mais desenvolvido dos animais. Não iremos nos aprofundar em detalhes aqui, porque não temos tal pretensão. Entretanto, as descrições de homem vão além das preconizadas pelos dicionários e pela ciência biológica. E, portanto, procurar um entendimento e uma resposta para essa pergunta é percorrer um caminho repleto de distintas ideias, conceitos, descrições de ser humano, as quais muitas vezes se aproximam e outras vezes se distanciam. Assim, podemos perceber o quanto definir o ser humano é altamente difícil e complexo (SOUZA, 1995). Essa complexidade também envolve a sociedade de forma geral. Áreas como a constituição de nossa identidade, o trabalho, a família e a afetividade humana demonstram o quanto o ser humano tem o potencial de transformar seu meio e, ao mesmo tempo, modificar a si mesmo. Esse processo de transformação é contínuo e dialético, dando movimento à constituição histórica da humanidade. 1.1 O Ser Humano e suas Múltiplas Dimensões De acordo com Souza (1995), o ser humano tem características próprias que o distinguem dos demais seres vivos que habitam a terra. A primeira delas é o ser humano entendido como um ser material, isto é, um ser vivo, complexo e organizado, dotado de habilidades, instintos e impulsos. É uma matéria viva, corporificada, que sofre influências do meio físico e cultural no qual está inserido. Assim como é passível de modificações do ambiente externo, o ser humano é capaz de agir sobre a natureza a fim de preservar a sobrevivência de sua espécie. Ele age com consciência, intencionalidade e planejamento uma vez que é definido geneticamente com tais capacidades. Assim, o ato de transformar a natureza é consciente e feito com o objetivo de torná-la adaptável a si. Dessa forma, o que difere o ser humano dos demais entes vivos é possuir “(...) vida própria, consciente, autodeterminada e autodeterminante” (SOUZA, 1995, p. 24). Outro aspecto singular que compõe o ser humano é a razão. Pelo fato de ser racional e com um poder de conhecimento ilimitado, o ser humano se destaca dos demais entes vivos. Essa racionalidade permite que o ser humano seja capaz de julgar, emitir pensamentos críticos, refletir e modificar a natureza ao seu redor. 6WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Mas essa habilidade vai além de uma percepção crítico-reflexiva dos acontecimentos e dos seres vivos uma vez que o ser humano tem desenvolvido uma capacidade autorreflexiva de busca pelo seu mundo interior, isto é, procura ininterruptamente pelo autoconhecimento. Ele consegue compreender e conhecer a si mesmo e, consequentemente, amadurecer e aperfeiçoar o seu existir no mundo. Passa a questionar o “(...) sentido de sua existência, por que e para que vive. Ele se indaga acerca dos valores morais, sociais, políticos, e culturais que cultiva” (SOUZA, 1995, p. 24). O fato de ele ser racional e pensante possibilita se projetar no futuro, criando realidades e transcendendo os limites que lhe são impostos. Além disso, a inteligência e o pensamento tornam possível que o ser humano resgate o seu passado para que consiga planejar e criar um futuro mais promissor. Desse modo, a razão é como se fosse uma mola propulsora, que impulsiona o homem a agir. Essa habilidade o torna um ser criativo, inovador e apto a reproduzir o que já existe (SOUZA, 1995). Uma terceira característica é a possibilidade de o ser humano ter um psiquismo, ou seja, ser provido de um psíquico que lhe dará aspectos singulares e diferentes dos demais seres vivos. É possuidor de uma identidade,sendo reconhecido pelos demais, sem ser confundido. Ter uma identidade significa poder ser diferenciado e distinguido dos outros seres, garantindo- lhe individualidade. Dessa forma, é constituído de uma identidade, que é formada por uma personalidade, advinda de suas necessidades, seja de afeto, de compreensão, de autoestima, entre outros (SOUZA, 1995; CHAUÍ, 2012). Com isso, o ser humano desenvolve a capacidade de ter e de demonstrar sentimentos, necessidades e aspirações, sendo essas atribuições de exclusividade da espécie humana. Ele consegue ter aspirações, necessidades e desejos. Almejar por coisas que vão além do presente faz que ele amplie seus horizontes na procura pela autorrealização, pela perfeição, isto é, pela plenitude. Outra característica importante é o fato de que ele é um ser social e político. “Além dos impulsos vitais que levam os homens a se juntar ou a se opor uns aos outros, eles são estimulados a compartilhar sua existência com os demais, movidos pela necessidade de buscar o bem comum” (SOUZA, 1995, p. 26). Nesse sentido, o ser humano, para garantir uma convivência harmoniosa entre diferentes indivíduos, passa a estabelecer regras e normas de conduta, ou seja, leis que regulam a vida em comunidade. A necessidade de se socializar é algo inerente à humanidade uma vez que não só garante a perpetuação da espécie como também de sua história. O que garante ao ser humano sociabilizar- se? O conviver socialmente propicia o compartilhamento de vivências e experiências ocorridas, sejam no passado sejam no presente. Isso se torna possível a partir do uso da linguagem como um veículo de comunicação e interação entre os indivíduos. Assim, o uso da linguagem permite que as experiências sejam lembradas e eternizem- se ao longo do tempo, assim como também corrobora para a projeção de realizações no futuro (SOUZA, 1995). Afinal, então, qual é a importância da linguagem para o desenvolvimento da humanidade? O uso da linguagem oral ou escrita entre os homens surgiu dessa necessidade de conviver socialmente. E, por isso, a linguagem é tida como um fenômeno eminentemente social, pois, por meio dela, “(...) é possível a transmissão da cultura, a conservação do passado, o registro do presente e a construção do futuro. A comunicação pessoal e social é intermediada pelo uso que os homens fazem da linguagem, nas suas mais variadas formas” (SOUZA, 1995, p. 26). Com o convívio social, o uso da linguagem, o ser humano apresenta outra necessidade, a da ação. Ele é considerado um ser da práxis, isto é, aquele que está envolvido em ações conscientes, de forma livre e racional. Consegue, por meio do seu trabalho, transformar o mundo e a si mesmo, o que o difere definitivamente dos demais animais. Seu trabalho e suas relações com 7WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA outras pessoas e a natureza constroem sua história e sua existência. A todo instante é criado e recriado, em um movimento de transformar e de ser transformado por meio de sua ação no mundo (SOUZA, 1995). Uma quinta característica pontuada por Souza (1995) é o fato de o ser humano ser livre. A liberdade nas escolhas e nas suas ações demonstra que o ser humano é capaz de controlar seus instintos, ao contrário dos outros animais. De acordo com Aranha e Martins (1993), instinto é toda ação regida por mecanismos, por leis biológicas, que são invariáveis e idênticas em todas as espécies. O ser humano se torna também um ser moral já que sabe escolher entre certo e errado, bom e ruim, verdadeiro e falso etc. (SOUZA, 1995). Esse controle dos instintos é possível uma vez que o homem: (...) é capaz de raciocinar, de julgar, de discernir e de compreender, o que o habilita a fazer escolhas e a optar livremente. À medida que suas opções são livres, o homem torna-se responsável por elas. Por ser livre e responsável, pode conviver em sociedade e participar do bem comum (SOUZA, 1995, p. 27). Ao fazer suas escolhas com base em uma moral, o ser humano torna-se um ser ético e estético, pois sua existência é envolvida por inúmeros questionamentos (SOUZA, 1995). Por exemplo: “devo roubar?”, “Posso levar vantagem em cima dos outros, seja no meu trabalho, nos estudos, em casa ou em alguma compra/venda de produto?”, “Será que posso praticar a eutanásia?”, “Será que posso furar a fila?”, “Teria algum malefício em não usar o cinto de segurança?”, “Haveria algum mal em jogar lixo nas ruas?”, “Será que posso desrespeitar o sinal vermelho?”. O ser humano vive nesse interjogo entre a realidade tal como é e a realidade normativa (o que deve ser). A realidade normativa já denuncia que é uma realidade a qual segue normas e regras preestabelecidas de como as coisas devem ser. E, ao viver nesse jogo, o ser humano é compreendido como alguém dotado de moral e de ética. De moral, porque é impelido a buscar aquilo que é honesto, bom, saudável, justo etc., ao passo que a injustiça, o mal, a falta de caráter, a desonestidade, entre outros, devem ser combatidos e afastados. De ética, porque é ela que conduzirá a consciência humana nas suas ações e nas condutas individual e social (SOUZA, 1995). Consideramos importante revisitar esse tema abordado anteriormente de forma breve por considerá-lo um ponto chave da “humanização do ser humano”, ou seja, consideramos aqui que, sem a socialização, o ser humano não se constituiria como tal, seria mais um animal. Somente por meio de sua interação social é que esse ser pode pensar, dar nome aos objetos, memorizá-los e finalmente abstraí-los, ou seja, simbolizá-los mentalmente. Quais são os “seres humanos” que nos dias atuais vivem “fora de nossa polis?”; “Quais foram deixados de lado?”, “Quantos foram esquecidos e privados de inúmeras relações sociais?”´. Segundo dados do IPEA (2011), no Brasil vivem 20 milhões de idosos; desses 83 mil estão em casas asilares por todo o país. Essas pessoas perderam muitos dos vínculos sociais e familiares existentes em sua juventude, por exemplo, entes queridos, carreira profissional, vizinhança etc. Fatores que dificultam a reinserção dessas pessoas no convívio com a comunidade. 8WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.2 Os Primórdios da Humanidade Imaginemos agora os primórdios da humanidade. Considerando as teorias evolucionistas, pensamos de pronto nos “homens das cavernas”, sujeitos sujos, cobertos com peles de animais e que não compartilham dos mesmos modos de sobrevivência que nós nos dias atuais; porém, para a satisfação de suas necessidades primárias de sobrevivência, esses seres humanos criaram instrumentos que possibilitaram um menor gasto de energia. Segundo Vicentino (1997), os registros mais antigos dos fósseis de hominídeos indicam que: O Australopithecus surgiu na África há aproximadamente 4 milhões de anos. As características que o diferenciavam de outros primatas eram: Maior cérebro, dentição parecida com a do homem atual além de andar bípede e postura ereta. O Australopithecus também fazia uso de instrumentos rudimentares (VICENTINO, 1997, p. 11). Após anos de evolução e utilização de diferentes ferramentas, o ser humano se tornou cada vez mais habilidoso e passou a utilizar as próprias mãos como instrumento de trabalho, até culminar no desenvolvimento atual: Essa habilidade (fazer uso de instrumentos e das mãos para o trabalho) aliada ao aumento do volume cerebral e, portanto, da capacidade de raciocínio, permitiu- lhe produzir objetos que funcionavam como prolongamento dos braços e das mãos. Assim, a evolução física contribuiu para que houvesse mudanças de comportamento e estas levaram a alterações anatômicas, num lento processo evolutivo que culminou no Homo sapiens, espécie a que pertencemos (VICENTINO, 1997, p. 11). O período mais longo do desenvolvimento humano na História foi o período que os historiadores denominam de Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, que seestendeu até 10.000 anos a.C. Nesse período, nossos ancestrais criaram diferentes instrumentos que possibilitaram seu desenvolvimento social. Por exemplo, pedras lascadas como forma de romper a carne das caças, ou como armas, ou ainda líquidos como tintas, couro animal como proteção contra frio etc. Dessa forma, foi por meio do trabalho, ou seja, pela transformação de objetos da natureza em objetos com uma utilidade, que o ser humano transformou não somente suas condições materiais, mas também as psicológicas ou intelectuais. 9WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 1 - O domínio do fogo. Fonte: Wikipédia (2016). Ainda segundo Vicentino (1997), nesse mesmo período histórico ocorreram muitos avanços tecnológicos, tais como: a invenção do arco e flecha, a maior eficiência de utilização do fogo e a coleta de alimento. Isso contribuiu para uma organização social cada vez mais complexa até chegarmos à formação das aldeias. 1.3 A Transformação Social do Homem por meio do Trabalho A partir da análise desses e de outros recortes históricos, os autores Engels e Marx desenvolveram a sua teoria que considera que o processo de humanização só é possível por meio da transformação da natureza pelo homem. Para eles, a mão não é apenas o órgão do trabalho, mas é também produto dele. Ela não é independente, faz parte de um conjunto complexo de órgãos; logo, esse corpo também se desenvolveu, com o gradual aperfeiçoamento dos órgãos, beneficiando-se em dois aspectos. Em primeiro lugar, sabe-se que a modificação na mão também modificou outras partes do corpo, por haver ligações não muito conhecidas entre os órgãos. A partir do trabalho, os homens descobriram objetos que poderiam utilizar e lhes serem úteis. Com o decorrer do tempo, os homens tiveram a necessidade de se comunicar e, então, a laringe se desenvolveu lentamente, dando origem à pronúncia de sons articulados. Portanto, foi mediante o trabalho (e com ele a palavra articulada) que o cérebro do hominídeo foi se desenvolvendo, aperfeiçoando-se e ganhando volume. À medida que se desenvolve o cérebro, desenvolvem-se também os órgãos dos sentidos. O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento (ENGELS; MARX, 1990, p. 273). O desenvolvimento humano não cessa e vai variar conforme os diferentes povos e épocas, pode até retroceder temporariamente, mas avança com passos largos, orientando-se por um novo elemento que surge com o aparecimento do homem acabado: a sociedade. Para Engels e Marx (1990), o que há de comum entre os hominídeos e a sociedade é o trabalho. 10WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Outro aspecto que contribuiu para a transformação do hominídeo em homem foi a alimentação, a qual, cada vez mais variada, forneceu ao organismo substâncias importantes para o seu desenvolvimento. Para ter acesso a alguns alimentos, foi preciso desenvolver, por meio do trabalho, alguns utensílios. Eram instrumentos de caça e pesca utilizados como armas e, a partir desse momento, a alimentação passou de vegetal à mista. Assim, “(...) a alimentação cárnea ofereceu ao organismo, em forma quase acaba, os ingredientes mais essenciais para o seu metabolismo” (ENGELS; MARX, 1990, p. 274). A alimentação mista contribuiu de forma significativa para dar força física e independência ao homem em formação, além de fornecer ao cérebro substâncias necessárias ao seu desenvolvimento, tornando-o cada vez mais rápido. A utilização da carne na alimentação propiciou dois novos avanços que ajudaram a emancipar o homem, o fogo que ajuda na digestão dos alimentos e em muitas outras situações, além da domesticação dos animais, que multiplicou a reserva de carnes e também foi possível extrair o leite dos animais e seus laticínios. O homem que aprendeu a comer tudo que era possível passou, por iniciativa própria, a habitar todos os cantos da Terra. Ao habitar climas diversos, os homens foram forçados a criar novas vestes, ampliando o trabalho e diferenciando-se mais dos animais. Surge o idealismo, pois os homens passam a explicar seus atos pelos seus pensamentos, esquecendo-se do papel desempenhado pelo trabalho em todo esse processo de civilização e ignorando o fato de que uma ação influencia outras e também é influenciada; sendo assim, há uma interação universal que dá movimento à vida. Segundo Engels e Marx (1990), ao transportar plantas de um continente a outro e domesticar os animais, os homens passam a dominar a vida vegetal e animal, modificando a fauna e a flora. Assim, o homem imprimiu na natureza a sua vontade. A diferença essencial entre o homem e os animais se constituiu a partir do trabalho à medida que os homens dominaram a natureza e forçaram-na a servir-lhes, por conhecer cada vez mais as leis da natureza. Além disso, cada modificação imediata traz uma consequência social, que implementa e normatiza a dominação, seja da natureza seja dos indivíduos. Todos os modos de produção existentes até hoje procuravam apenas o efeito útil do trabalho em sua forma mais direta e imediata. Depois que esgotou o excedente de terras livres, todas as formas de produção se constituíram de maneira a gerar uma divisão de classes: de um lado, os dominantes que utilizavam a “cabeça”; e de outro, os oprimidos que utilizavam as mãos, daí origina-se o capitalismo. Com o atual modo de produção, e no que se refere tanto às consequências naturais como às consequências sociais dos atos realizados pelos homens, o que interessa prioritariamente são apenas os primeiros resultados, os mais palpáveis (ENGELS; MARX, 1990, p. 280). Diante disso, é possível perceber que o modo como nossa sociedade se configura hoje é resultado de todo um processo histórico e econômico. Por último, não podemos deixar de considerar que as relações humanas que sustentam nosso modo de vida, e tudo mais que nos cerca, estão implicadas em emoções, afetividade e bem querer pessoal, afinal, é o que nos faz continuar “perto” ou ligados um ao outro. Sobre a afetividade e as emoções trataremos no próximo tópico. 11WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.4 As Relações Humanas na Construção da Sociedade Para Aristóteles (366 a.C.), o ser humano está sempre em um estado de carência e imperfeição, necessita de coisas e dos outros, buscando na comunidade a sua completude. A partir disso, esse pensador sugere que somos naturalmente políticos, ou seja, precisamos da pólis (cidade/comunidade) para alcançarmos a totalidade. Para ele, aquele que vive fora da comunidade organizada ou é um degradado ou é um ser divino. Ao propor essa linha de raciocínio, Aristóteles pretendia apresentar o ser humano como um ser racional, relacional e político, isto é, que não poderia viver fora da pólis (cidade) ou das relações sociais que ela proporcionava. Segundo ele, devido às inúmeras necessidades do ser humano, seria hostil uma vida à parte das relações sociais, tanto que, para suportar isso, o humano deveria ter um caráter divino, sobrenatural ou talvez fosse um degenerado que não “pudesse” mais gozar das atenções da pólis. Dessa forma, a pólis/comunidade nos emprestaria suas relações para nos tornar, de fato, humanos, dando-nos a possibilidade de “ser” alguém, criando, assim, vários papéis que nos constituem enquanto seres humanos, tais como: sou mulher; (papel social de gênero); casada (estado civil); psicóloga (papel social profissional); filha de João e Maria (papel social de filiação); e assim por diante. Ou seja, nossa própria identidade é constituída socialmente a partir das relações que estabelecemos com outros seres humanos. Assista a Gattaca, experiência genética (1997), deAndrew Niccol. Num futuro no qual os seres humanos são escolhidos geneticamente em laboratórios, as pessoas concebidas biologicamente são consideradas inválidas. Vincent Freeman (Ethan Hawke), o primogênito, nasceu do amor de seus pais sem preparos genéticos. Tem, desde pequeno, o desejo de ser um astronauta, mas tem em seu código genético predisposições a doenças que não lhe permitem nada melhor em vida que o emprego de faxineiro. Consegue, porém, um lugar de destaque em uma corporação, escondendo sua identidade genética verdadeira. Tudo segue perfeitamente, com muito esforço, até que um assassinato em seu emprego põe sua máscara em risco, podendo expor seu passado. Gattaca se passa num suposto tempo futuro não tão distante, mostra uma sociedade em que o Estado tem controle sobre a visão social da qualidade genética e em que tal manipulação genética criou novas espécies de castas, preconceitos e divisões sociais, aparentemente, legitimadas pela ciência. Aos pais que desejam ter filhos, é dada a oportunidade de escolher e manipular a interação entre seus gametas, para gerarem filhos com a melhor combinação de qualidade genética possível. Esse procedimento acaba criando uma distinção de quem está mais apto para fazer o que na sociedade e, como resultado final, gera uma tarja a ser carregada pelo resto de suas vidas: Válido, no geral frutos dessa combinação genética planejada; ou Não-válido, humanos menos perfeitos, com mais propensões a doenças e deficiências, mesmo que mínimas. Aos Válidos são disponibilizados os melhores empregos e as grandes competições, enquanto para os Não-válidos é limitada a liberdade de escolha, por meios socioeconômicos, a exemplo, pelo seu currículo genético não se consegue um emprego melhor que 12WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA faxineiro. A história do filme envolve dois irmãos, “Vincent Anton” e “Anton”, respectivamente, concebidos de maneira natural e manipulada geneticamente. Ambos carregam o nome do pai mas, ao saber do resultado genético do primogênito, o pai inclui um primeiro nome diferente no filho não tão perfeito, resguardando seu nome para um segundo filho, supostamente o mais bem sucedido. O primeiro, Não-válido, mesmo tendo predisposição a várias doenças e uma previsão de sua morte para seus 30 anos, busca realizar seu sonho contra tudo e todos. Deseja viajar para as estrelas e com todo seu esforço e um pouco de corrupção do sistema, tenta superar os limites impostos ao seu destino, sendo obrigado a esconder de todos quem ele realmente é. Uma curiosidade pertinente é o significado do acrônimo Gattaca: trata- se da ordenação de uma série de bases nitrogenadas que compõem o DNA, no caso, a Guanina, Adenina, Timina, Timina, Adenina, Citosina, Adenina (WIKIPÉDIA, 2020, disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Gattaca#Elenco). O envolvente filme de Andrew Niccol levanta questionamentos éticos e morais sobre a existência humana. Revela uma história futurística, repleta da ação do homem na sociedade e em si mesmo. Ajuda-nos a pensar sobre os possíveis encaminhamentos da humanidade, que muitas vezes estão permeados por divisões sociais e preconceitos. 13WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, se pretendeu demonstrar um vislumbre das características sociais implicadas em nossa existência e vida cotidiana, impressas em nós, formando-nos seres sociais. É a partir do outro e através da linguagem, conhecimento histórico compartilhado e vivência em comunidade que vamos criando essa aculturação. Graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro, os homens foram aprendendo a executar atividades cada vez mais complexas e, assim, a sociedade foi se desenvolvendo e novas criações surgiram, como agricultura, fiação, tecelagem, metais, olaria, navegação, comércio, artes, ciência, nações, Estados, direito, política e, finalmente, religião. Todas essas criações foram atribuídas ao cérebro, ao pensamento humano, e não como obras do trabalho, que surgiram a partir de necessidades do contexto. Com isso, o rápido progresso civilizatório foi vinculado, exclusivamente, à cabeça. Percebe-se, então, que o ser humano tem a necessidade de compartilhar sua existência, o que o faz dependente de outrem. Por que necessitar de outrem? O conviver com outros tem algumas finalidades, como preservação, proteção, segurança, satisfação, conservação da espécie, entre outros. E, por esse motivo, devido a essa necessidade, ele se torna um ser considerado social. 1414WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 15 1. O NASCIMENTO DAS CIDADES ........................................................................................................................... 16 2. DA POLÍTICA À FILOSOFIA ..................................................................................................................................... 17 3. CULTURA ..................................................................................................................................................................20 3.1 EXPERIÊNCIAS RELIGIOSAS E CULTURA .......................................................................................................... 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................26 O DESENVOLVIMENTO DAS SOCIEDADES E CULTURAS: POLÍTICA E ASPECTOS RELIGIOSOS PROF. DR. SAULO HENRIQUE JUSTINIANO SILVA PROFA. MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CULTURA E SOCIEDADE 15WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO “O que é Política?”, “O que significa cultura?”, “Como esses dois temas estão relacionados à Religião?” Essas e outras questões fazem parte da vida do ser humano, tornando-o um ser ainda mais complexo e peculiar. Esses são os principais aspectos da vida em sociedade do ser humano, são os caminhos que criamos para as perguntas que permitem constante reflexão: sobre o sentido de nossa própria vida e igualmente de nossos pares. A ideia geral desta unidade é retratar e discutir a formação das instituições sociais a partir da história do desenvolvimento humano, bem como o nascimento dos espaços sociais, tais como clãs, tribos, cidades e, consequentemente, política. Buscaremos esclarecer de que forma a política, a cultura e a religião se interligam criando diferentes possibilidades de interpretação dos fenômenos naturais e sociais. A partir da ideia de Espaço e Sociedade, buscaremos compreender como se formaram as principais instituições que fazem parte de nossa vida cotidiana. Deter-nos-emos no primeiro momento a descrever e refletir sobre o processo de sedentarização humana, que possibilitou o nascimento da instituição família. Primeiramente dos clãs, da tribo e, finalmente, das cidades. Além disso, não há como desconsiderarmos a influência grega e sua participação no surgimento das leis, da política e, consequentemente, da Filosofia. No aspecto cultural, trabalharemos a ideia de que o trabalho é a transformação da natureza pelo homem, isso significa que, ao modificar sua realidade material, o ser humano transforma também a si mesmo, suas relações, sua intersubjetividade e, em última instância, transforma sua realidade material. Finalmente, discutiremos de que modo a crença em seres sobre-humanos contribuiu para questionamentos filosóficos acerca da finitude humana. Dessa forma, a crença em deuses “infinitos” possibilitou a discussão dos homens sobre passado, presente e futuro, contribuindo para uma visão reflexiva ao pensarmos sobre nosso aspectoespiritual. Diante de todas essas informações, esperamos que você se anime em nos acompanhar neste percurso desafiador, mas recompensador. Bom estudo! 16WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. O NASCIMENTO DAS CIDADES As sociedades se estabelecem em espaços de convivência comum, desde os primórdios da humanidade. Não existe precisão acerca do surgimento do homem, no entanto, damos o nome de período Paleolítico ao período da Pré-história que vai do surgimento do homem à domesticação do fogo. O nomadismo (característica de populações que não estabelecem lugares fixos para a sobrevivência) marca os primeiros ancestrais humanos, que se desenvolveram a partir da caça de pequenos animais e da coleta de frutos. Esses não desfrutavam de um espaço único, mas transitavam por diversos. O espaço nômade se limitava pela necessidade de sobrevivência. O homem nômade do Paleolítico se desenvolveu e deu origem a outra característica de relação com seu espaço, cerca de 10 mil anos atrás. Agora, além de caçadores e coletores, o homem também passou a cultivar alimentos para sua sobrevivência, revolucionando seu meio, dando origem à agricultura, marca fundamental do sedentarismo (característica de populações que estabelecem lugares fixos de sobrevivência). O período Neolítico, como ficou conhecido o período em que o homem se sedentarizou e desenvolveu a agricultura, marcou uma nova forma de relação com o Espaço: se outrora perambulavam em busca de alimentos, agora se estabelecem em localidades fixas, obrigando- os a desenvolverem qualidades inimagináveis aos seus ancestrais do Paleolítico, como o armazenamento de alimentos e a domesticação de animais. O homem do Neolítico convive em um núcleo familiar conciso que o ajuda no cultivo da terra e estabelece relações para a sobrevivência com outros grupos familiares de antepassados comuns. A união de famílias com grupos de antepassados comuns origina os clãs, que, em união com outros, originam as tribos. As tribos são comunidades mais complexas do que as famílias e clãs. Agora o homem se vê obrigado a conviver com outros que não se identificavam com seus ancestrais, populações diferenciadas entre si que se defendem para manter a sobrevivência. É nesse momento que surge o patriarca (líder político) a fim de controlar as populações, evitando eventuais conflitos. O patriarca, escolhido entre os mais sábios e guerreiros das famílias que compunham a tribo, tinha como função estabelecer regras e punições para manter o bom convívio entre os habitantes, supervisionar o cultivo da terra e defender a tribo de eventuais ataques de grupos inimigos. O patriarca era o símbolo de união dos clãs, o único que poderia estabelecer contato com as divindades. O cultivo e a colheita eram atividades comunais, todos usufruíam das benesses de uma boa safra, não existia a ideia do benefício particular. A terra era um bem comum a todos, o trabalho nas lavouras e a consequência disso também. A economia era estritamente voltada para a subsistência da população local que evitava a produção de excedentes. Também domesticaram bovinos, caprinos e suínos, além do cão, já domesticado no período Paleolítico, que garantiu segurança contra outros animais que porventura buscavam nos humanos presas fáceis. A aldeia passou de um simples aglomerado de pessoas para lugarejos cercados de muro de proteção, seus habitantes desenvolveram técnicas de irrigação, conhecendo cada vez melhor os regimes de chuvas e estiagem. Desenvolveram técnicas agrícolas que possibilitaram aumento de produção e, consequentemente, aumento populacional. Se outrora a agricultura não produzia excedentes, a evolução das técnicas, inevitavelmente, produziu um considerável número de excedentes e possibilitou suas trocas com aldeias que dispunham de outras culturas agrícolas. Surgia, assim, o comércio baseado na troca não monetária. 17WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Do intercâmbio comercial entre as diversas aldeias surgiram as primeiras cidades. A criação das cidades é geralmente atribuída aos sumérios, povo do sul da Mesopotâmia. Outros núcleos urbanos também surgiram em todo o crescente fértil, na Índia e na China. Uma das mais antigas foi Jericó, na Palestina – um núcleo habitado há 11 mil anos, nas proximidades do Rio Jordão. No ano 8000 a. C., Jericó era uma grande aldeia cercada de muralhas de pedra. Por volta de 3000 a. C., era um centro de funções nitidamente urbanas, rodeada de muros. Por essa época, o Oriente estava pontilhado de cidades cercadas por aldeias agrícolas. Uruk, no atual Iraque, era a maior cidade da Suméria – um núcleo com uma área aproximadamente de 400 hectares e com cerca de 40 mil habitantes (BRAICK; MOTA, 2012, p. 41). A complexidade da vida urbana desenvolveu segmentações no mundo do trabalho: enquanto alguns se dedicavam à produção de alimentos, outros se especializavam na produção artesanal e comercial. Com o nascimento das cidades, tivemos também transformações nas estruturas de poder. O poder que outrora se concentrava na figura dos patriarcas não era suficiente para conseguir dar conta dos diversos interesses dos novos segmentos sociais. Nesse momento, temos o nascimento da ideia de Estado. A maioria dos estudiosos admite que o surgimento do Estado está relacionado às necessidades geradas pela diversificação das atividades econômicas. A coordenação de obras de interesse coletivo, como diques e canais de irrigação, e a regulamentação do comércio exigiam a presença de pessoas encarregadas dessas funções, como poderes para impor suas decisões, muitas vezes por meio da força. Os primeiros governantes do Crescente Fértil foram reis-sacerdotes, numa evidência de que o poder político nasceu ligado à religião. Depois, os reis- sacerdotes foram substituídos por chefes políticos que não exerciam funções religiosas (BRAICK; MOTA, 2012, p. 42-44). O espaço de convivência humana nos centros urbanos possibilitou o surgimento de uma elite ligada à nobreza e privilegiada em detrimento dos outros habitantes, os quais passam a obter monopólio de terras, que outrora eram comunais. Nesse contexto nasceu a propriedade privada. 2. DA POLÍTICA À FILOSOFIA Ao se organizar nos primeiros centros urbanos, a humanidade precisou criar para si formas de convívio que possibilitassem o desenvolvimento mútuo. Se antes os seres humanos formavam agrupamentos definidos pela unidade da tribo, a população urbana se caracterizou pela diversidade. O exemplo mais complexo de utilização do espaço urbano e discussão sobre a realidade vivenciada foi o caso grego. A formação histórica da Grécia se iniciou por volta do ano 2000 a.C., quando povos de origem indo-europeia se estabelecem no Sul da península balcânica. Os principais povos a se estabelecerem no território que posteriormente ficou conhecido como Grécia foram os aqueus, eólios, jônios e dórios. A convivência entre esses povos não foi pacífica e levou certo tempo para que se adequassem ao seu espaço na região. Os primeiros núcleos populacionais na Grécia Antiga foram os genos, pequenas comunidades ligadas por laços de parentesco, lideradas pelo pater famílias, também conhecido como patriarcas, geralmente o membro mais velho da família. 18WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Os genos não se diferenciavam das antigas comunidades do Neolítico, para os quais a terra era um bem coletivo, e a principal atividade era a criação de animais e a agricultura. Seguindo o fluxo comum, como apresentado anteriormente, a união dos genos deu origem às frátrias, unificadas para a obtenção de proteção e produção alimentícia. A união das frátrias originou as tribos, e elas, as cidades. Cada cidade grega tinha suas próprias leis, organizações políticas e costumes, consolidando-se como um estado independente, dentrode um território comum, com outras cidades que falavam a mesma língua e dispunham de um mesmo panteão de deuses. Essas particularidades nos territórios gregos dão origem às cidades-estados, ou pólis, como ficaram conhecidas. Tínhamos a pólis de Atenas, de Esparta, de Tebas, de Corinto, de Argos e tantas outras. A pólis era uma estrutura de poder, que ia além dos limites urbanos, também abrangia o meio rural, que estava ligado a uma pequena aristocracia que mantinha o direito da propriedade privada. Em pouquíssimo tempo, as póleis (plural de pólis) se tornaram grandes centros populacionais e a Grécia não tinha condições espaciais para suprir a demanda que só tendia a aumentar. Nesse momento, os gregos buscaram novos territórios ao longo do Mar Mediterrâneo para a consolidação de colônias e entrepostos comerciais. O historiador Pierre Cabanes, em sua Introdução à História da Antiguidade, afirma que: A cidade agrupa tantos habitantes quantos a terra possa nutrir, por isso ela é um mundo pleno, mas também um mundo fechado em seu território, isolado radicalmente dos vizinhos por fronteiras bem definidas. É este isolamento da comunidade cívica que permite o desenvolvimento de uma cidade autônoma. Ele reúne ao mesmo tempo as funções de mercado, de centro religioso, de centro de defesa militar e da administração indispensável a uma coletividade (CABANES, 2004, p. 135 apud FIAMONCINI, 2012, p. 26). Sobre as instituições e a configuração espacial que englobava a pólis, escreveu Leonardo Benevolo: A origem é uma colina, onde se refugiam os habitantes do campo para se defender de seus inimigos; mais tarde, o povoado se estende por uma planície vizinha, e geralmente é fortificado por um cinturão de muros. Distingue-se então a cidade alta (a acrópole, onde ficam os templos dos deuses, e onde os habitantes da cidade ainda podem se refugiar para uma última defesa), e a cidade baixa (a asti, onde se desenvolvem os comércios e as relações civis); mas ambas são partes de um único organismo, pois a comunidade citadina funciona como um todo único, qualquer que seja seu regime político (BENEVOLO, 2009, p. 76 apud FIAMONCINI, 2012, p. 26). A vida na pólis foi o fator decisivo no desenvolvimento da civilização ocidental. Os gregos foram os primeiros a questionarem a existência dos mitos e, consequentemente, toda a estrutura de poder apoiada na origem deles. O fato de os gregos saírem em busca de territórios para o comércio e o estabelecimento de moradias os fez perceber que as regiões nas quais a tradição mítica alegava existir deuses eram habitadas por homens. Segundo Chaui (2012, p. 33), “(...) as viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo”. O surgimento da vida urbana também contribuiu para o predomínio de uma pujante atividade comercial e, consequentemente, para o nascimento de uma elite que baseava seu poder no dinheiro recebido a partir das relações mercantis, diferentemente da elite aristocrática, que assegurava seu poder na mitologia. 19WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Essa nova elite que se consolida como uma das facetas do poder necessita de um corpo de leis e regras preestabelecidas que assegurem seus direitos. Nesse aspecto nasce a política grega, com ideias bem estabelecidas, que proporcionaram o nascimento da Filosofia. Figura 1 - A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio. Fonte: Wikipédia (2008). O conceito de democracia ficou conhecido com a experiência de autogoverno dos cidadãos atenienses durante o período de Péricles, no século V a.C., embora já fosse usado antes. A palavra democracia é formada por dois vocábulos gregos que, juntos, implicam uma concepção singular de relações entre governados e governantes: “demos” significa povo ou muitos, enquanto “kracia” quer dizer governo ou autoridade; assim, em contraposição à prática política adotada até então, ou seja, o governo de um sobre todos (monarquia) ou de poucos sobre muitos (oligarquia), o conceito de democracia passou a conotar, como tanto Aristóteles como Platão observaram, a ideia de uma forma de governo exercido por muitos; mas é um equívoco considerar isso uma democracia direta, pois, mesmo sendo um governo para muitos e exercido por muitos, não o era por todos, pois estavam excluídos da cidadania mulheres, escravos e trabalhadores braçais. Na Atenas da época, as decisões importantes que afetavam a vida da cidade e dos seus habitantes, como as relativas à economia, aos impostos e à defesa contra os ataques externos (aí incluída a guerra), eram tomadas pela assembleia de cidadãos. No gozo de sua soberania, os cidadãos podiam votar as decisões de interesse coletivo, ser indicados para cargos públicos (por meio de sorteio), fazer parte de júris e, ao mesmo tempo, destituir ou colocar no ostracismo os governantes cuja ação era considerada prejudicial ao bem comum e aos interesses da maioria. (Disponível em: http://nupps.usp.br/downloads/ relatorio/Anexo_02_Democracia-verbete.pdf). 20WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. CULTURA O ideal de cultura surgiu na Antiguidade, a partir do espaço de convivência humana. O termo nasce do verbo latino colere, traduzido por cultivo e cuidado. No princípio, o significado tinha relação com o cuidado do homem com a natureza (agricultura), com os deuses (culto) e com a educação (puericultura). A princípio, o ideal de cultura surge com a transformação da natureza empreendida pelo homem (agricultura). O homem se apropria de seu meio e interfere na lógica natural da terra, criando para si meios de subsistência ao domesticar produtos outrora oferecidos pela natureza. Essa ação de interferência na natureza só se consolida pelo trabalho. O cultivo da terra modificou as relações pré-históricas dos seres humanos com a terra. Para sobreviver, o homem necessitou de cuidado com a terra e, para aumentar a produção, instituiu a família, que divide entre si o trabalho e especializa-se para manter a sobrevivência do grupo, até o momento em que o próprio núcleo familiar não dá conta de produzir para suprir toda a demanda. Assim, surgem as aldeias, que necessitam de transformação da natureza para a fabricação de armas, que servirá de proteção contra perigos oferecidos por outros animais e possíveis invasores. A cultura, enquanto corpo de regras, é o momento histórico em que os “(...) humanos estabelecem para si mesmos regras e normas de conduta que asseguram a existência e conservação da comunidade” (CHAUI, 2012, p. 170). A necessidade de manter o grupo unido, sob um mesmo sistema de regras, fez que o homem desenvolvesse leis humanas que, diferentemente das leis naturais de ordem fisiológica, buscaram normatizar costumes e organizar a vida em sociedade. Podemos dizer que as leis tornaram os homens mais humanos no sentido de que, a partir delas, os homens deixam de viver por questões de origem natural e passam a atribuir sentidos não palpáveis para a existência, a que chamamos de ordem simbólica. Já ouvimos algumas vezes que o homem é um animal racional.m Essa expressão, apesar de sua amplitude, que a tornou um ditado popular, não é errada, pois o que nos difere de outros animais é nossa capacidade ímpar de racionalidade, o que nos permite criar valores e dar sentidos a elementos que não possuem materialidade e respostas em si, mas que distinguimos a partir da ordem simbólica. A ordem simbólica nos permitiu, enquanto humanidade, atribuir valores com base na subjetividade, tais como bem e mal, certo e errado, justo ou injusto, bonito e feio etc., e isso permitiu a criação de instituições, distinguindo-nos dos animais que agem por instinto. Gilles Deleuze (2002) faz a seguinte distinção entre instinto e instituição: O que se chama um instinto, o que se chama uma instituição, designam essencialmente procedimentos de satisfação. Sobre Instinto: Ora reagindo por natureza a estímulosexternos, o organismo extrai do mundo exterior os elementos de uma satisfação de suas tendências e de suas necessidades; esses elementos formam, para os diferentes animais, mundos específicos. Sobre Instituição: Ora instituindo um mundo original entre suas tendências e o mundo exterior, o sujeito elabora meios de satisfação artificiais, que liberam o organismo da natureza submetendo-o a outra coisa, e que transformam a tendência propriamente dita introduzindo-a num meio novo (...) O instinto e a instituição são duas formas organizadas de uma satisfação possível (DELEUZE, 2002, p. 24, grifos nossos). As instituições são exemplos claros de ordens simbólicas, constituídas pelos seres humanos na sua ânsia de satisfação. 21WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Outra definição para instituição foi proposta pelo psicólogo Abílio Costa-Rosa (2000): Podemos considerar a instituição como formação material constituída por um conjunto de saberes e práticas, articulados por um discurso de tipo ideológico. Nesse aspecto as instituições se formam, segundo René Lourau (1995, p. 267), por um grupamento de interesses convergentes (COSTA-ROSA, 2000, p. 145). A formação de instituições pressupõe discursos preestabelecidos e incorporados pelos instituídos (membros das instituições), mas, ao mesmo tempo em que todos obedecem e respeitam o discurso ideológico, todo agrupamento é pluralista e heterogêneo, pois reúne diversos indivíduos. A instituição se consolida como organismo vivo, pois naturalmente no interior da instituição está o gene da mudança: o instituinte (LOURAU, 1995). As instituições naturalmente se modificam ao longo da história, como exemplo podemos usar o caso da Igreja Católica, representando a mais antiga instituição religiosa do Ocidente. Acreditar que a Igreja é a mesma de sua fundação em 313 é, de certa forma, leviano, pois ela se modificou, reinventou-se e atualizou-se graças aos instituintes que, no momento em que foram instituídos, ousaram discordar ou, no mínimo, fazer uma releitura das ordenanças preestabelecidas. A proposta de reforma religiosa no século XVI foi uma ação instituinte, afinal, Martinho Lutero era um monge da ordem dos agostinianos. Lutero lutava contra práticas que faziam parte da lógica institucional do catolicismo romano daquele momento histórico. Ao discordar e pregar as 95 teses na porta da Igreja de Wittemburg, em 1517, o monge discordava das ordens instituídas. O fim de Lutero foi a excomunhão, mas suas ideias causaram grande revolução no meio cristão católico do século XVI, que, baseados nas propostas de Lutero, reformaram algumas práticas em 1545, no Concílio de Trento. Lutero e suas ideias foram agentes instituintes que transformaram o cristianismo de seu tempo. 3.1 Experiências Religiosas e Cultura A experiência humana subjetiva mais marcante da história da humanidade é o contato que o homem faz com seres transcendentes, vamos compreender essa relação e como ela se estabeleceu. A crença no transcendente é inerente à condição humana, que, ao longo da história, criou para si um arcabouço de possibilidades que tendem a entender acontecimentos do mundo real como parte de uma ordem espiritual. Tão presente na história, que sociedades se estabeleceram a partir das relações humanas com o sagrado. O ser humano, diferentemente de outros seres da natureza, desenvolveu a consciência, e isso o possibilitou se distinguir de outros seres vivos e estabelecer possibilidades para sua existência. A cultura possibilitou o conhecimento acerca da natureza e, consequentemente, desenvolveu o trabalho, que é a apropriação e a transformação da natureza. Apesar do domínio da natureza, os primeiros homens perceberam que existiam fatores que não estavam ao seu alcance, como as transformações temporais, chuvas, ventos, estiagem, neve etc. A busca por explicação para a realidade vivenciada culminou na crença em seres sobrenaturais, que controlavam o que era incontrolável para os seres humanos. A consciência humana também foi responsável pela descoberta da finitude, “(...) um filósofo disse que somente os seres humanos sabem que são mortais e um outro escreveu: ‘o animal acaba, mas o homem morre’” (CHAUI, 2012, p. 172). 22WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O desenvolvimento do trabalho possibilitou ao homem o conhecimento do tempo. O processo de plantio e colheita desenvolveu questões pouco difundidas antes da revolução agrícola, o homem passou a legislar sobre questões que estavam além de seu tempo. Ao plantar, o homem passou a se relacionar com o futuro. A consciência desenvolveu no ser humano o senso de pertencimento a um grupo e a um clã familiar; a isso damos o nome de identidade. A identidade se estabelece a partir da memória de um grupo que se estabeleceu ao longo do tempo. Se reunirmos numa única experiência o sentimento do tempo e o da identidade pessoal, notaremos que os humanos são conscientes de que há seres e coisas que desaparecem no tempo e outros que surgem no tempo, e que eles permanecem durante um certo tempo porque são capazes de ligar passado presente e futuro, isto é, são capazes de perceber que existem e que possuem identidade. Mas também são conscientes de que podem desaparecer um dia. Ou seja, sabem que morrem (CHAUÍ, 2012, p. 173). A consciência acerca do tempo e, consequentemente, da finitude desenvolveu no homem a crença em uma vida após a morte. Os seres humanos passaram a conceber a possibilidade de outras vidas após a morte. O seio de Abraão, no caso judaico, ou o paraíso cristão deram possibilidade de uma vida eterna, que transcende a lógica terrestre, marcada pela angústia, saudade, doenças e trabalho: “Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4). Nada mais humano do que a crença na vida eterna. Durante muito tempo, a base para explicar a religião era que o homem buscava possibilidades para explicar o que vem depois da vida. Essa afirmação tem sua veracidade, no entanto, a religião também explica a vida humana para além das questões do fim. A religião explica o homem e a humanidade. A base principal para compreender a religião é entender como se constitui a crença no sagrado. O sagrado é a experiência pessoal ou coletiva com o sobrenatural. O sobrenatural é a essência por trás dos movimentos do mundo real. É habitado por seres superiores, seja Deus, antepassados ou mesmo a natureza. É o sobrenatural que fortalece o fiel enfermo e levanta os caídos. O contato com o sobrenatural é o elemento fundamental para o nascimento das religiões, pois provoca ruptura entre o natural e o sobrenatural (CHAUI, 2012). A religião surge da crença em ser ou seres sobrenaturais que agem efetivamente no mundo natural. A palavra religião vem do latim religare, que significa ligar novamente, nesse sentido, podemos compreender que a religião é o esforço humano para religar o homem (profano) aos seres sobre-humanos (deuses). Nas várias culturas, essa ligação é simbolizada no momento de fundação de uma aldeia, vila ou cidade: o guia religioso traça figuras no chão (círculo, quadrado, triângulo) e repete o mesmo gesto no ar (na direção do céu, ou do mar, ou da floresta, ou do deserto). Esses dois gestos delimitam um espaço novo, sagrado (no ar) e consagrado (no solo). Nesse no espaço erguem-se o santuário (em latim, templum) e à sua volta os edifícios da nova comunidade (CHAUI, 2012, p. 174). 23WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O espaço sagrado é a ligação do céu com a Terra, dos seres celestiais com os mortais e, em alguns casos, com a morada dos deuses. O homem não pode ter contato com os lugares sagrados, a menos que se purifique de sua humanidade,que é incompatível com o sobrenatural. Todas as religiões se comunicam com o sagrado por meio das cerimônias que são a ligação inicial e fundadora, como no catolicismo, em que se repete a cerimônia da eucaristia, lembrando que Jesus deu seu corpo e seu sangue para purificar aqueles que nEle creem. O rito é uma cerimônia em que gestos, palavras, objetos, pessoas e emoções determinados adquirem o poder misterioso de presentificar o laço entre humanos e divindade. Para agradecer dons e benefícios, suplicar novos dons e benefícios, lembrar a bondade dos deuses ou exorcizar a cólera, as cerimonias ritualísticas são de grande variedade. No entanto, uma vez fixada a simbologia de um ritual, sua eficácia dependerá da repetição minunciosa e perfeita do rito, tal como foi praticado na primeira vez, porque nela os próprios deuses orientam gestos e palavras dos humanos (CHAUI, 2012, p. 176). Para que a religião consiga atingir seus objetivos, o ser humano desenvolveu a fé. A fé é um exercício mental de “(...) confiança, adesão plena ao que lhe é manifestado como ação da divindade” (CHAUI, 2012, p. 175). É por meio do exercício da fé que o homem obtém suas respostas diante do sobrenatural, como apresentado na passagem bíblica do livro de Hebreus, de autoria desconhecida. Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. Porque por ela os antigos alcançaram testemunho. Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente. Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala. Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam. Pela fé Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu e, para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé. Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia. Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa. Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus. Pela fé também a mesma Sara recebeu a virtude de conceber, e deu à luz já fora da idade; porquanto teve por fiel aquele que lho tinha prometido. Por isso também de um, e esse já amortecido, descenderam tantos, em multidão, como as estrelas do céu, e como a areia inumerável que está na praia do mar (Hebreus 11:1-12). A fé é o combustível propulsor da crença no divino; sem ela tal possibilidade seria inócua, pois religião não se explica: se vive. Por isso, qualquer tentativa de desqualificar o sagrado é uma grande perda de tempo, pois nada tão natural quanto a crença humana em algo/alguém que possa mudar sua história. 24WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 2 - A experiência religiosa. Fonte: Wikipédia (2021). DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Rompendo com a tradição da época, que considerava os fenômenos religiosos como um tecido de superstições, das quais os homens se libertam desenvolvendo seus conhecimentos, Durkheim mostra que o fato religioso, ao contrário, é uma das bases essenciais da sociedade. Publicada em 1912, pertence ao conjunto dos grandes textos fundadores da antropologia religiosa. Nesta obra, Durkheim se revela um analista rigoroso das formas de religiosidade que se manifestam através dos rituais e sistemas de crenças arcaicas, mas sobretudo um filósofo inspirado cujas afirmações demonstram uma grande acuidade intelectual e mantém uma impressionante atualidade. (Disponível em: http://www.skoob.com.br/livro/10961-as_formas_ elementares_da_vida_religiosa). 25WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A BÍBLIA NAS AULAS DE CIÊNCIAS É histórico o debate, em algumas escolas norte-americanas, entre a teoria “criacionista”, defendida pela Igreja, e a “evolucionista”, defendida pela ciência, sobre a origem da vida. A escola municipal de Country Cobb, na Geórgia, onde se encontra a segunda maior rede de ensino do Estado, exigiu que seus professores apresentassem uma “educação balanceada” sobre a origem da vida, dando igual ênfase às interpretações científica e bíblica. Apesar de a decisão ter sido aprovada por uma comissão de pais de alunos, a medida tem sido alvo de fortes críticas entre a maioria dos educadores, já que a direção da escola havia rejeitado os livros escolares de ciência, ao afirmar que a evolução “é uma teoria, não um fato comprovado”, e que ela deveria ser “abordada de forma aberta e cuidadosamente estudada” pelos alunos. Na mesma semana, o pai de um dos alunos e o representante da União Americana de Liberdades Civis entraram com um processo na justiça solicitando que a decisão da escola fosse revogada. Os membros do Conselho Municipal de Educação da cidade declararam que não estavam restringindo o ensino da teoria evolucionista ou encorajando o ensino da teoria religiosa. A política adotada pela escola, segundo os conselheiros, faz parte da filosofia do município de transmitir um amplo e objetivo debate sobre “questões controversas da ciência, incluindo a origem das espécies”. Muitos pais acreditam que a medida abre caminho para a introdução do ensino religioso nas escolas públicas e que o aprendizado de certas questões científicas pode ficar comprometido. Para outros, entretanto, a ideia é positiva e possibilita aos alunos ter visões distintas sobre as mais diferentes questões que dividem religião e ciência. O debate no município durou semanas. Cerca de 2 mil pais de alunos chegaram a firmar um abaixo-assinado pedindo que a escola deixasse de adotar livros de ciências. Para advogados do conselho, a nova política da escola não é inconstitucional porque não promove nenhuma ideia religiosa. Mas Paula Jackson, mãe de um dos alunos, resume a decisão com uma simples palavra: “doutrinação”. (Disponível em: O Estado de S. Paulo (24/08/2002) apud OLIVEIRA, P. S. Filosofia e Sociologia. São Paulo: Ática, 2010, p. 162). 26WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, tivemos a possibilidade de refletir sobre a ideia de espaço de convivência e como nasceram, a partir da sociabilidade humana, as principais instituições que regem a vida em sociedade, tais como Política, Cultura e Religião. Buscamos refletir como se deu a transição de uma perspectiva nômade de vivência para a consolidação do sedentarismo e como tal transformação contribuiu para mudanças significativas na construção da realidade, estabelecendo comunidades fechadas e lideranças tribais. Desse processo de sedentarização, tivemos o nascimento dos genos, pequenas comunidades ligadas por laços de parentesco, depois das frátrias, união de alguns genos, e, por fim, da união das frátrias, as cidades. Trabalhamos o nascimento das cidades e o espaço de convivência política grega que nos inspira e determina as relações nesse campo até os dias atuais. Entendemos também como as relações políticas na Grécia Antiga possibilitaram o nascimento da Filosofia, área do conhecimento que nos permite a reflexão para questões vivenciadas no dia a dia. Compreendemos que o nascimento da cultura tem íntima relação com o processo de sedentarização humana, pois, a partir do momento emque o homem desenvolveu a agricultura, sua relação com a comunidade se transformou completamente, e isso possibilitou o desenvolvimento da sociedade até alcançar a realidade dos dias atuais. Percebemos que a cultura também foi responsável pelo nascimento da religião, pois a crença em seres sobre-humanos foi fator determinante para a compreensão do tempo e da finitude humana. Além disso, o processo de atribuição de poder às divindades desencadeou várias formas de interpretação da vida humana e, consequentemente, influenciou, não só de maneira física, mas subjetiva a formação das sociedades. Consideramos, ao longo desta unidade, que o exercício religioso é uma questão natural ao homem, desse modo, acreditar na existência de seres superiores é tão humano quanto o trabalho. Qualquer forma de desqualificação ou não crença se caracteriza como um exercício filosófico e mental de nosso tempo, não desenvolvido no início da humanidade. Esperamos que esta unidade tenha contribuído para sua formação como acadêmico(a) crítico(a), que possa ter um olhar reflexivo sobre as circunstâncias, não só históricas, como culturais que permeiam nosso cotidiano. 2727WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................28 1. A SOCIEDADE CAPITALISTA ..................................................................................................................................29 2. OS PRESSUPOSTOS PSICOSSOCIAIS DA EXCLUSÃO ........................................................................................ 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................33 A SOCIEDADE CAPITALISTA E AS RELAÇÕES DE PODER PROF. DR. SAULO HENRIQUE JUSTINIANO SILVA PROFA. MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CULTURA E SOCIEDADE 28WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A Unidade 3 propõe a análise das relações de poder e sociedade. Baseada nas premissas metodológicas do materialismo histórico-dialético, discute sobre como o poder se manifesta em uma sociedade capitalista. Percorrendo questões como alienação, política e relações sociais de produção, a unidade fomenta a reflexão acerca das noções preconcebidas de poder e nos convida a pensar a sociedade por outro viés. Pontua temas problemáticos, vivenciados e mantidos em nossa sociedade, tais como a exclusão. Dessa forma, o nosso objetivo é oferecer um material coerente e harmonioso, que lhe permita aprofundar seus conhecimentos e construir novos significados sobre os temas trabalhados. 29WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. A SOCIEDADE CAPITALISTA A política, como a cultura, as artes ou, em uma expressão mais generalizante, as relações humanas de nosso tempo estão constantemente sob influência das relações que os homens estabelecem na produção de sua vida material. O capitalismo, que tem no fundamento de sua lógica produtiva a propriedade privada e a alienação, organiza a sociedade a partir de seus pressupostos, permitindo que a classe que esteja na posição dominante do acesso às riquezas presentes na sociedade possa transformar as suas necessidades, os seus interesses e suas visões de mundo naquelas que sejam as com maior penetração perante os outros indivíduos, fazendo que muitas vezes sujeitos pertencentes às classes subalternas utilizem de um discurso que incorpora presunções ideológicas que oprimem a eles próprios. Assim sendo, é importante para pensar a política no capitalismo, seja nos primeiros momentos de consolidação da burguesia como classe dominante em detrimento da nobreza, elevada politicamente pelos processos que conhecemos como “revoluções burguesas”, seja nos dias atuais, um momento que quase ninguém discordaria em dizer que experimentamos um estágio absolutamente distinto daquele conhecido e estudado por Marx – desde os modelos de acumulação, as organizações institucionais estatais até a estratégia discursiva ideológica – que não esqueçamos que ela é reflexo, e não determinante das relações estabelecidas na reprodução da vida material. Quando fala de trabalho, Marx fala sobre as relações que o homem estabelece com a natureza para garantir a sua sobrevivência – compreendida aqui em um caráter que pode ser mais amplo do que a simples subsistência. É justamente na produção da vida material que se encontra o eixo fundamental analítico marxista para explicar por que concepções como “comunidade” ou “sociedade política” não têm caráter autônomo e apresentam-se, como ideologia, de uma maneira que afasta o homem de sua “condição humana”. Antes de grandezas propriamente reais, essas concepções são expressões socialmente construídas de maneira relacional por homens em conflitos que, “(...) desenvolvendo sua produção material e suas relações materiais, transformam, com a realidade que lhes é própria, seu pensamento e também os produtos de seu pensamento” (MARX, 2010, p. 20). O filósofo alemão afirma que a divisão do trabalho ocupa espaço fundante e central na construção ideológica, porque sua existência determina de que maneira o homem se organizará para viver em sociedade. Essa divisão implica fundamentalmente a contradição entre indivíduo e a coletividade, que, por sua vez, encontra no Estado “(...) uma forma independente, separada dos interesses reais do indivíduo e do conjunto e a fazer ao mesmo tempo as vezes de comunidade ilusória” (MARX, 2010, p. 29), refletindo os interesses das classes já condicionadas pela divisão do trabalho. Segue-se que todas as lutas no âmbito do Estado, a luta entre a democracia, a aristocracia e a monarquia, a luta pelo direito do voto, etc., nada mais são do que formas ilusórias sob as quais são travadas as lutas efetivas entre as diferentes classes (MARX, 2010, p. 29). 30WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A concepção moderna de dialética remete a Heráclito de Efeso (que viveu em aproximadamente 540-480 a.C.). Nos fragmentos deixados por Heráclito, pode-se ler que tudo existe em constante mudança, que o conflito é o pai e rei de todas as coisas. Lê-se também que vida ou morte, sono ou vigília, juventude ou velhice, são realidades que se transformam uma nas outras. O fragmento nº 91, em especial, tornou-se famoso: nele lê-se que um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio. Por quê? Porque da segunda vez não será o mesmo homem e nem estará se banhando no mesmo rio (ambos terão mudado) (KONDER, 2006). De acordo com o censo do IBGE de 2010, (...) os 10% mais ricos têm renda média mensal trinta e nove vezes maior que a dos 10% mais pobres. A diferença apontada pelo estudo serve de alerta para o risco do aumento das desigualdades, crescimento da violência e a necessidade da implementação de políticas públicas que, na prática, sejam resolutivas frente a problemas indicados pelo Censo (FIOCRUZ, 2011). Leia A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr., pela editora Geração Editorial. O livro nos traz, de maneira chocante e até decepcionante, a dura realidade dos bastidores da política e do empresariado brasileiro, em conluio para roubar dinheiro público. Faz uma denúncia vigorosa do que foi a chamada Era das Privatizações, instaurada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e por seu então Ministro do Planejamento, José Serra. Nomes imprevistos, até agora blindados pela aura da honestidade, surgirão manchados pela imprevista descoberta de seus malfeitos. Amaury Ribeiro Jr. faz um trabalho investigativo que começa de maneira assustadora, quando leva um tiro ao fazer reportagem sobre o narcotráfico e assassinato de adolescentes, na periferia de Brasília.Depois do trauma sofrido, refugia-se em Minas e começa a investigar uma rede de espionagem estimulada pelo ex-governador paulista José Serra, para desacreditar seu rival no PSDB, o ex- governador mineiro Aécio Neves. Ao puxar o fio da meada, mergulha num novelo de proporções espantosas. 31WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. OS PRESSUPOSTOS PSICOSSOCIAIS DA EXCLUSÃO Os pressupostos psicossociais da exclusão apresentados por Guareschi (2002) são competitividade e culpabilização. Segundo o autor, os dogmas do liberalismo fortalecem a necessidade de competição para que se possa trazer progresso. O homem de negócios James Goldsmith (Lê Monde Diplomatique, 1995, p. 20) afirma, sem pejo ou receio: assim como na natureza existem os predadores, que eliminam os “supérfluos”, assim também no mundo econômico devem existir predadores que, através da competição, vão eliminar os “parasitas” da sociedade (os pobres e os desempregados, os excluídos). O social é tratado como se fosse algo natural e passa do natural ao cultural com uma desenvoltura de fazer inveja. O “Evangelho da Competitividade” substitui o “amai-vos uns aos outros” pela lei absoluta da competitividade e pelo novo deus, o mercado. Já a culpabilização atribui o sucesso e o fracasso exclusivamente às pessoas particulares, esquecendo-se completamente de causalidades históricas e sociais. Há uma “individualização” do social e um endeusamento do individual. Por último, a exclusão dos saberes caracteriza a exclusão dos saberes produzidos historicamente por populações que foram em outros momentos violentadas, marginalizadas e que sofreram tentativas de expropriação de suas terras e acesso à produção de sua própria sobrevivência. Portanto, a exclusão dos saberes dessas culturas e populações configura um modo de exclusão social histórico perpetuado até os dias atuais. O livro traz um trabalho interessante sobre as relações entre Estado e poder público. Embora não seja uma prática exclusiva desse ou daquele determinado partido, o seu estudo serve para entendermos como funciona, na prática, o que estamos teoricamente aqui apontando. Veja House of Cards (2013). Frank Underwood é um astuto congressista norte-americano que é traído pelo presidente que ele ajudou a eleger. Com a ajuda da esposa, de uma jornalista ambiciosa e de um outro político com problemas com alcoolismo, Underwood inicia um plano para minar adversários políticos e conquistar, em alguns anos, a presidência dos Estados Unidos. A partir dessa peça de ficção premiadíssima, produzida pelo Netflix e estrelada por Kevin Spacey, podemos pensar as relações políticas em suas minúcias e como o poder, mesmo em suas instâncias mais altas, sempre está atrelado a homens de negócios de diferentes ramos. 32WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 1 - Exclusão social. Fonte: Wikipédia (2014). 33WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos, nesta unidade, que, se quisermos pensar a dimensão do poder na sociedade capitalista, precisamos partir de alguns pressupostos. O primeiro, anterior a qualquer coisa, é que as relações de poder que os homens estabelecem em sociedade são fluidas e alteram-se de acordo com o tempo e o espaço, sendo uma expressão do próprio convívio de homens e mulheres. No entanto, cabe ainda explicar por que o poder no capitalismo é uma questão de classe. Uma vez que estabelecemos o caráter intrinsecamente social das relações de poder, precisamos compreender como emana o poder no capitalismo. Para tanto, é fundamental que entendamos o método do materialismo histórico-dialético, que é, ao nosso ver, a maneira mais completa já proposta para o estudo das relações dos homens em sociedade. Por fim, acreditamos que esse é um percurso interessante para todos aqueles indivíduos que buscam compreender a política do nosso tempo, sobretudo aqueles que querem atuar com vias de transformação mais profundas. Entender as dimensões ideológicas e profundas que perpassam as relações sociais e se manifestam de maneira política é, por fim, entender que a política em uma sociedade capitalista é, essencialmente, uma questão de classe. 3434WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 04 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................35 1. DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL ...................................................................................................................36 2. CULTURA E RACISMO NO BRASIL ........................................................................................................................36 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................40 CULTURA E RACISMO NO BRASIL PROF. DR. SAULO HENRIQUE JUSTINIANO SILVA PROFA. MA. CARLA FERNANDA BARBOSA MONTEIRO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CULTURA E SOCIEDADE 35WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Chegamos à última unidade de nosso material, até aqui vimos aspectos importantes para a compreensão desta vasta temática que intitulamos Cultura e Sociedade, versamos sobre o ser humano como ser social, tratamos do nascimento das cidades, política e religião, entramos nas especificidades das relações de poder no sistema capitalista e, agora, nos dedicaremos à questão da cultura e do racismo no Brasil. “Abençoado por Deus e bonito por natureza”, como diz a canção País Tropical, de Jorge Ben Jor, o Brasil apresenta traços indeléveis em sua história, marcada por trezentos anos de escravidão africana e pela destruição da cultura de povos originários. Esta unidade versará sobre a diversidade cultural no Brasil e o racismo que insiste, mesmo que tentemos mascarar, em ser uma característica marcante em nossa sociedade, legada pelo passado escravista. 36WWW.UNINGA.BR C UL TU RA E S OC IE DA DE | U NI DA DE 4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL Amplo em seus significados, o conceito de cultura é um dos principais pilares para se compreender as nuances que constroem a sociedade contemporânea. De origem latina, a palavra deriva de colere, que, em seu sentido original, poderia ser traduzida como cuidar, ou mesmo cultivar; por isso, é comum a utilização da expressão ao longo da história, seja ligada à ideia de agricultura, cuidado com a terra e produção de alimentos, na religião, quando se refere a cultuar a Deus, ou a deuses, e mesmo em questões como a fisiologia humana, quando tratamos do cuidado com o corpo. De maneira geral, sociologicamente falando, a cultura pode ser traduzida como o conjunto de práticas, valores, normas e saberes coletivos que fundamentam as relações sociais dos povos ao longo da existência da humanidade. Quando falamos sobre cultura no Brasil, devemos levar em consideração as diversas culturas que formam a sociedade brasileira. De fato, existem saberes e práticas coletivas oriundas de determinadas regiões deste País de dimensões continentais, que formam o grande arcabouço a que chamamos de cultura brasileira. Quando tratamos de cultura brasileira, não podemos deixar de lado as grandes matrizes culturais que formaram nossa nação, em especial a indígena e a africana. Apesar de ser verdade o fato de que as culturas europeias e asiáticas se fazem presentes em grande medida em nosso País, é necessário compreender que as culturas indígena e africana, apesar de representarem a grande parte da população em nosso País, ainda hoje sofrem grande desrespeito e preconceito. Falar sobre esses povos é, de fato, falar das raízes da construção cultural e social brasileira. 2. CULTURA E RACISMO NO
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