Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O Pós-guerra e a guerra fria 153 A consolidAção dA GuerrA FriA Os Estados Unidos e a União Soviética termi- naram a Segunda Guerra Mundial como aliados. Sua atuação conjunta contra o Eixo foi decisiva para livrar a Europa da presença nazista. Rapidamente, entre- tanto, as relações entre ambos se deterioraram de tal forma que, após 1947, os especialistas começam a falar em Guerra Fria, ou seja, um confronto indireto entre as superpotências. O motivo mais claro do rompimento era ideoló- gico. Capitalismo e socialismo, incompatíveis em sua forma de entender diversas esferas da vida humana, do papel do Estado aos direitos prioritários dos cida- dãos, levaram ao desacordo entre os Estados Unidos e a União Soviética no que se refere às finalidades da ordem política e aos métodos de atuação dentro dela. Sem constituir um período homogêneo, em razão do agravamento das tensões seguido da distensão entre os polos rivais, a Guerra Fria durou quase meio século, até o esfacelamento da União Soviética, em 1991. Em março de 1947, com o objetivo de combater o comunismo e a influência soviética, o presidente nor- te-americano Harry Truman proferiu um discurso no Congresso no qual afirmou que os Estados Unidos se posicionariam a favor das nações livres que desejassem resistir às tentativas de dominação. No mesmo ano, o secretário de Estado George Marshall lançou o Plano Marshall, programa de investimentos e de recupera- ção econômica para os países europeus em crise após a guerra. Esse oferecimento estendeu-se aos países do Leste Europeu, que haviam sido libertados do nazismo pelo Exército Vermelho. Em todos eles, as respectivas agremiações comunistas haviam tomado o poder. Durante o governo de Truman, foi criada a Central Intelligence Agency, a CIA (1947), bastante p as duas alemanhas com stálin e o Tio sam, charge de 1949, representando a disputa da alemanha entre as duas su- perpotências da época, os estados unidos e a união soviética. ∏ a guerra fria foi também um enfrentamento ideológico. ao lado, aeronave dos aliados leva suprimentos para a população de Berlim que estava sob bloqueio russo em julho de1948. R ep ro d u çã o /A rq u iv o d a ed it o ra /O xy g èn e, 2 3 d ez . 1 94 9. atuante nos anos da Guerra Fria, combatendo o comunismo e o que considerava uma ameaça aos interesses dos Estados Unidos, e atuando também fora das fronteiras estadunidenses. Entendendo o Plano Marshall como uma ten- tativa de diminuir sua esfera de influência, a União Sovié tica criou o Kominform, organismo encarregado de coordenar a ação dos partidos comunistas euro- peus. Era sua tarefa, também, afastar da supremacia norte-americana os países que estavam sob sua in- fluência, gerando o bloco da “cortina de ferro” (expres- são usada por Churchill). Complementando a reação soviética, em 1949 foi criado o Comecon, uma réplica do Plano Marshall para os países socialistas, voltado para sua integração econômico-financeira. Diante do revigoramento da Alemanha Ociden- tal, graças aos investimentos do Plano Marshall e à unificação administrativa de seu território (antes di- vidido entre os aliados capitalistas), a União Soviéti- ca impôs, em 1948, um bloqueio terrestre à cidade de Berlim, situada na parte soviética. O Ocidente capi- talista respondeu com o abastecimento à Berlim ca- pitalista por via aérea, acirrando os ânimos e criando grande tensão internacional. No ano seguinte eram instituídas as duas Alemanhas, a Ocidental – Repú- blica Federal da Alemanha – e a Oriental – República Democrática Alemã. Po p p er fo to /G et ty Im ag es HGB_v3_PNLD2015_152a173_U2_C9.indd 153 22/04/2013 17:19 154 DO Pós-guerra aO séculO XXi Em agosto de 1961, foi construído o Muro de Berlim, que separou concretamente os dois lados da cidade e se tornou símbolo da divisão alemã e da Guerra Fria. Sua derrubada, em 1989, em meio ao co- lapso do socialismo real, isto é, a ordem socialista que vigorava então no Leste Europeu concretamente, por sua vez, constituiria o marco do final desse período. Em seguida, se daria a reunificação da Alemanha. A lógica bipolar seria a marca da Guerra Fria. Paí ses (Alemanha, Coreia, Vietnã), sindicatos, agre- miações, tratados internacionais, enfim, instituições em que houvesse uma disputa de poder relevante, dividiam-se em grupos antagônicos, um pró-ameri- cano, outro pró-soviético. Outros fatos significativos somaram-se a essa crescente tensão internacional. Um deles foi a cria- p O Muro de Berlim, construído em 1961, foi um dos principais símbolos da guerra fria. À esquerda, em foto de 1961, trecho do muro diante do Portão de Brandemburgo. sua derrubada, em 1989 (à direita), serviu de marco final para a ordem bipolarizada que caracterizou as relações internacionais do período, confirmada em definitivo, em 1991, com o fim da urss. A ss o ci at ed P re ss /G lo w Im ag es Pa tr ic k P ie l/G am m a- S ig la ção, em abril de 1949, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança político-militar dos países ocidentais, opondo toda a Europa Ociden- tal à União Soviética. O surgimento de uma comuni- dade de interesses econômicos integrados na Europa Ocidental cimentou a aliança capitalista com o bloco norte-americano na oposição aos soviéticos. Do lado soviético, configurando o alinhamento ao bloco co- munista, foi criado em 1955 o Pacto de Varsóvia. A bipolarização mundial atingia sua plenitude. Em meio a essa situação tensa, ocorreram, em 1949, a Revolução Chinesa e a explosão da primeira bomba atômica soviética. No ano seguinte, iniciou-se a Guerra da Coreia, um dos ápices da Guerra Fria e até então a mais séria ameaça à paz mundial depois da Segunda Guerra Mundial. revolução chinesA O século XX na China iniciou-se com a tentativa de derrubada de valores de dominação e exploração do povo chinês, submetido, desde o século XIX, a vá- rias potências imperialistas, especialmente a partir da Guerra do Ópio (1841). Essa situação encontrou apoio nos mandarins, funcionários do Estado impe- rial, e nos senhores de terra. Baseando-se na filosofia de Confúcio, que pregava o respeito à autoridade e à hierarquia e o culto ao passado, os chineses manti- nham as tradicionais estruturas de privilégios, o que favorecia a dominação. Em 1911, em meio à ebulição sociopolítica, foi proclamada a República chinesa, que, entretanto, quase nada pôde fazer diante das potências imperia- listas que ocupavam o país. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o domínio das potências imperialistas Guerra do Ópio: conflito entre a china e a inglaterra, ocorrido em 1841, quando os britânicos disseminaram entre os chine- ses o vício do ópio (um entorpecente) para se beneficiar com a exportação desse produto. a china foi derrotada no conflito e teve que abrir cinco de seus portos ao livre comércio e en- tregar a ilha de Hong Kong à inglaterra. HGB_v3_PNLD2015_152a173_U2_C9.indd 154 22/04/2013 17:19 O Pós-guerra e a guerra fria 155 na China era encabeçado pelo Ja- pão, enquanto o governo republi- cano, liderado por Sun Yat-sen, do Partido Nacionalista (Kuomin- tang), sofria sucessivas pressões regionais pela autonomia, provo- cadas por chefes militares locais, além do contínuo domínio inter- nacional. Em 1919, 3 mil estudantes universitários marcharam pelas ruas de Pequim, protestando con- tra a aceitação, por parte do go- verno, das humilhantes exigências feitas pelo Japão sobre a China e referendadas pelo Tratado de Ver- salhes. Os estudantes foram logo apoiados por outros setores, que promoveram greves e manifesta- ções em todo o país. Uma delas ocorreu em 1920, em Xangai, in- fluenciada pela revolução socialis- ta russa, enquanto era fundado o Partido Comunis- ta Chinês (PCC), que contava com a participação de Mao Tse-tung. No início da década de 1920, o governo do Kuo- mintang conviveu com o Partido ComunistaChinês, que crescia vertiginosamente, e, também, sem gran- des atritos, com a União Soviética. O objetivo imedia- to do governo era a unificação nacional, a luta con- tra a autonomia dos senhores locais e a dominação das potências imperialistas. Para isso, contava com o apoio dos comunistas. Em 1925, porém, Chiang Kai-shek assumiu o comando das tropas do Kuomintang e iniciou uma po- lítica agressiva contra o Partido Comunista, rompen- do a frente única. Após derrotas nas cidades de Xan- gai e Pequim, o Partido Comunista, sob a liderança de Mao Tse-tung e Chu Teh, retirou-se para o interior do país a fim de organizar suas bases de apoio. Em 1931, foi proclamada a República Soviética da China, em Kiangsi, no leste do país. Aproveitando-se da fragilidade chinesa, o Japão invadiu a Manchúria, em 1931, e estabeleceu um Es- tado-satélite – o Manchukuo – no norte do país. O Kuomintang passou a sofrer dupla pressão: do impe- rialismo japonês e da ameaça comunista no interior do país. Em 1934, os nacionalistas organizaram uma grande campanha militar para esmagar os comunis- tas. Fugindo das tropas do Kuomintang, os 100 mil p No início do século XX, a milenar china continuou sofrendo a interferência das grandes potências capitalistas. sun Yat-sen, fundador do Kuomintang, tentava, sem sucesso, a transformação da china. retratado acima com comitiva e familia- res, sun Yat-sen (no centro) é considerado o “pai da china moderna” e defensor da doutrina dos “três princípios do povo”: nacionalismo, democracia e reformismo social. p charge de 1931 sobre a postura da liga das Nações (na figura, League of Nations) e dos estados unidos perante o conflito sino-japonês. B e tt m a n n /C o r b is /L a ti n s to c k homens do Exército Popular de Libertação, liderados por Mao, percorreram 10 mil quilômetros a pé – a Longa Marcha (1934-1935) –, restando ao fim de um ano apenas 9 mil homens. Transformado no líder dos comunistas, Mao Tse-tung foi escolhido para secretá- rio-geral do PCC. Diante do avanço japonês, Mao Tse-tung pro- pôs a organização de uma nova frente única – Kuo- mintang e PCC –, o que levou a um acordo, concluído em 1937. Até o final da Segunda Guerra Mundial, essa frente única deu ao PCC o controle de parte do exérci- to chinês, além de uma crescente popularidade ao de- nunciar a corrupção das tropas de Chiang Kai-shek. C o r b is /L a ti n s to c k HGB_v3_PNLD2015_152a173_U2_C9.indd 155 4/15/13 10:10 AM 156 DO Pós-guerra aO séculO XXi Após a capitulação do Japão na Segunda Guer- ra Mundial, Chiang Kai-shek decretou, em 1946, uma mobilização nacional, para eliminar definitivamente o “perigo vermelho”. Contando com o apoio norte- -americano, que lhe fornecia recursos militares e fi- nanceiros, Chiang Kai-shek passou a ser visto pelos chineses como um “cúmplice do estrangeiro”. Enquanto isso, a União Soviética, envolvida com seus próprios problemas de pós-guerra, adota- va com a China uma política ambígua e hesitante, deixando sem apoio os guerrilheiros do Exército Po- pular de Libertação, que, mesmo assim, continua- ram avançando e atacando o Kuomintang. O exército do PCC foi ganhando terreno, até que, em janeiro de 1949, entrou vitorioso em Pe- quim. Em 10 de outubro, foi proclamada a Repúbli- ca Popular da China. Chiang Kai-shek e seus segui- dores refugiaram-se na Ilha de Formosa (Taiwan), onde instalaram o governo da China Nacionalista, que recebeu forte apoio norte-americano durante a Guerra da Coreia e durante toda a Guerra Fria. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos isolaram a China, negando-lhe reconhecimento diplomático e inter- câmbio econômico (situação que se manteve até a década de 1970). 120º L 0 590 km 1180 p O Japão, mesmo recriminado pela frágil liga das Nações por sua agressão à china, continuou a ampliar suas conquistas militares e consolidar domínios, avançando da Manchúria para o sul do país. O governo imperial japo- nês chegou a declarar oficialmente seu interesse por todo o território chinês. O confronto entre os dois estados (Japão e china) durou de 1931 até 1945, quando terminou a segunda guerra Mundial. A da pt ad o de : B A R R A CL O U G H B , G . ( Ed .). T he T im es c on ci se a tla s of w or ld h is to ry . Lo nd on : T im es B oo ks , 1 98 6. p . 1 22 -1 23 . O imperialismo na China e a Longa Marcha A ll m a p s /A rq u iv o d a e d it o ra A GuerrA dA coreiA (1950-1953) Após a derrota do Eixo, a Coreia, dominada pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial, foi dividi- da entre norte-americanos e soviéticos. Mas, antes do término do conflito, já se havia determinado o para- lelo 38º Norte como limite geográfico para atuação militar de soviéticos e norte-americanos, com o obje- tivo de acelerar a rendição japonesa em duas frentes e desocupar o território coreano. Terminada a guerra, no entanto, esse limite transformou-se em divisão real, surgindo dois Esta- dos coreanos sob ocupação de cada uma das duas potências: a República da Coreia, ao sul, sob domínio norte-americano, e a República Popular Democrática da Coreia do Norte, sob ocupação soviética. Com isso, a região tornou-se área de sucessi- vos conflitos armados, sobretudo pelas divergências político-ideológicas entre os dois Estados e a tensão gerada pela Guerra Fria. A vitória dos comunistas de Mao Tse-tung na China, no final de 1949, serviu de motivação aos coreanos do norte para invadir o sul, em 1950, e conseguir sua capitulação, visando à unifi- cação territorial da Coreia. Na ONU, os Estados Unidos e seus aliados con- sideraram a Coreia do Norte agressora e intervieram, sob o comando do general MacArthur, para conter seu avanço. Os governos da China e da União Soviéti- ca deram apoio aos norte-coreanos, deixando eviden- te a bipolarização na região. Diante do risco de uma guerra indesejada, as potências envolvidas forçaram iniciativas para obtenção de um acordo de paz. A morte de Stálin, em março de 1953, abriu espa- ço para mudanças na política externa soviética. HGB_v3_PNLD2015_152a173_U2_C9.indd 156 4/15/13 10:10 AM O Pós-guerra e a guerra fria 157 A eleição do novo presidente norte-americano, o republicano Dwight Eisenhower, também ajudou a acelerar as negociações para um armistício. Finalmen- te, em 27 de julho de 1953, foi assinado um acordo de paz em Pan Munjon, restabelecendo as fronteiras so- bre o paralelo 38º Norte e aproximando a União Sovié- tica e os Estados Unidos. Encerrava-se a fase crítica. Para a Coreia, entretanto, a manutenção da divi- são em Norte e Sul preservou o clima de confrontação e atritos fronteiriços ao longo das décadas seguintes. O regime adotado pela Coreia do Norte manteve- -se sob o forte controle do Partido Comunista, o único autorizado a funcionar no país, tendo à frente Kim Il- -sung. Este permaneceu no poder até a sua morte, em 1994, sendo substituído pelo filho Kim Jong-il, deno- minado, em 1998, “presidente eterno” do país. Sua morte, em 2011, foi seguida da ascensão ao poder de seu filho, o jovem Kim Jong-un, dando ao governo do país um aspecto quase dinástico. Após a guerra contra a Coreia do Sul, a Coreia do Norte contou com importante ajuda soviética e chi- nesa, mantendo-se ligada apenas aos países do bloco socialista. Entretanto, em virtude de sua discordância com o reformismo soviético empreendido pelo gover- no Gorbatchev (1985-1991), as ligações econômicas entre esses países foram enfraquecendo e diminuíram ∏ após a vitória da revolução socialista chinesa, Mao Tse-tung (foto superior, de 1967) fundou a república Popular da china, enquanto seu rival, chiang Kai-shek (foto infe- rior, da década de 1950), fundava a china Nacionalista, em formosa. B e tt m a n n /C o rb is /L a ti n s to ck H u lt o n -A rc h iv e /G e tt y I m a g e s 0 575 km1150 UNIÃO SOVIÉTICA MONGÓLIA Manchúria Pequim COREIA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA Tianjin JAPÃO Kashi Tibete NEPAL Nanquim Cantão Taipé CHINA NACIONALISTA (Taiwan ou Formosa) Hong Kong (RU) Macau (Port.) Xangai Trópico de Câncer 110º L Adaptado de: BARRACLOUGH, Geoffrey. Atlas da história do mundo. São Paulo: Folha de S.Paulo/Times Books, 1995. p. 259. As duas Chinas CHINA 38° N Mar do Leste (Mar do Japão) Mar Amarelo RÚSSIA COREIA DO NORTE COREIA DO SUL 128° L 125 km 0 250 M a p a s : A ll m a p s /A rq u iv o d a e d it o ra A Coreia no final da guerra ainda mais com o colapso do socialismo no Leste Eu- ropeu no final dos anos 1980 e início dos 1990. Com o final da Guerra Fria, a Coreia do Norte passou a praticar uma política que oscilou entre apro- ximação com o mundo capitalista – incluindo os Es- tados Unidos e a Coreia do Sul – e distanciamento e Adaptado de: BARRACLOUGH, Geoffrey. Atlas da história do mundo. São Paulo: Folha de S.Paulo/ Times Books, 1995. p. 274. HGB_v3_PNLD2015_152a173_U2_C9.indd 157 4/15/13 10:10 AM 158 DO Pós-guerra aO séculO XXi p Depois de sua economia voltar a crescer no início do século XXi e do pagamento da dívida acumulada na crise dos anos 1990, a coreia do sul teve como grande ameaça a atuação bélica norte-coreana. a possibilidade de confrontação militar na região e de uso de armas nucleares mostrou-se como uma séria ameaça à paz mundial e ao contínuo desenvolvimento da economia sul-coreana. Mesmo assim, a coreia do sul chegou a ocupar a posição de segundo maior produtor de navios do mundo. À es- querda, foto de 2011, de estaleiro em ulsan, cidade onde se concentra o principal parque industrial do país. À direita, foto de fevereiro de 2003, na qual podem ser vistos os chefes das delegações norte-coreana, Pak chang-ryon, à direita, e sul-coreana, Yoon Jin-shik, à esquerda, chegando ao quarto encontro econômico entre as coreias, no qual conversaram sobre abertura econômica e suspensão do programa nuclear, sem sucesso, já que o governo da coreia do Norte optou por retomar os testes de mísseis e de explosões nucleares a partir de 2009. P o o l P h o to /G e tt y I m a g e s S e o n g J o o n C h o /B lo o m b e rg /G e tt y I m a g e s conflitos. Em 2006 o país rea- lizou testes nucleares, com a explosão de uma bomba atô- mica subterrânea. Em seguida, perante as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU, retomou a busca de acordos de não agressão e de desarmamento, como contra- partida à liberação de depó- sitos bancários do país con- gelados nos Estados Unidos e obtenção de empréstimos e fornecimento de petróleo. Em 2007, chegou a firmar acordo no Grupo dos Seis (as duas Coreias, mais a China, Estados Unidos, Federação Russa e Ja- pão), comprometendo-se a de- sativar todas as suas instalações nucleares. Em 2009, contudo, expulsou do país técnicos da AIEA (agência atômica da ONU) e abandonou o fórum de negocia- ções do Grupo dos Seis, além de realizar testes de lançamento de mísseis de curto alcance e, em segui- da, outra explosão atômica subterrânea, retomando seu programa nuclear. Com essa política, repetiu um terceiro teste nuclear em fevereiro de 2013, com uma explosão atômica ainda mais forte que as anteriores, Tigres Asiáticos: denomina- ção atribuída a um conjunto de países da Ásia que na dé- cada de 1980 apresentaram um desenvolvimento elevado e repentino, com uma econo- mia voltada para a exporta- ção. fazem parte do grupo: Hong Kong, coreia do sul, cingapura e Taiwan. recebendo imediata condena- ção internacional, seguida de mais sanções, especialmente norte-americanas e europeias, elevando ainda mais a tensão regional. A Coreia do Sul, por sua vez, recebeu investimentos e tecnologia estrangeira, as- cendendo à posição de Tigre Asiático, embora, de início, fosse um país essencialmente agrário e não muito distante da situação econômica de seu parceiro do norte. Em junho de 2000, o presidente sul-corea- no Kim Dae-jung visi- tou Pyongyang, capital da Coreia do Norte, num inédito encontro de cúpula com o “grande líder” Kim Jong-il, para firmar promessas de ampliação do diálogo e de ajuda entre as duas Coreias. Novas inves- tidas para uma maior aproximação com a Coreia do Norte continuaram a partir de então, inviabilizadas pela política nuclear e pela retórica agressiva do go- verno do Norte. p cartaz de propaganda comunista represen- tando o líder Kim il-sung. R e p ro d u ç ã o /A rq u iv o d a e d it o ra HGB_v3_PNLD2015_152a173_U2_C9.indd 158 4/15/13 10:10 AM O Pós-guerra e a guerra fria 159 estAdos unidos e união soviéticA durAnte A GuerrA FriA O armamentismo e a tensão crescente entre os blocos capitalista e socialista, que caracterizavam a Guerra Fria, sofreram uma reversão parcial em 1953, com a morte do líder soviético, Josef Stálin, a política do presidente norte-americano Dwight Eisenhower e o acordo de paz de Pan Munjon, na Coreia. Instaurou- -se então um período de aproximação entre a União Soviética e os Estados Unidos, conhecido como Coe- xistência Pacífica. Esse período iniciou-se com uma série de reu- niões de cúpula entre os dirigentes das duas superpo- tências para acordos sobre a limitação de armamen- tos. Até os anos 1960, procurou-se diminuir os atritos da Guerra Fria, o monolitismo dos blocos e o alinha- mento férreo à União Soviética ou aos Estados Unidos, possibilitando uma multipolarização internacional. Em protesto contra a condição de simples satéli- tes dos Estados Unidos, países europeus como França e Inglaterra, recuperados economicamente, desenvol- veram políticas regionais independentes. Em 1955, a Conferência de Bandung, na Indo- nésia, reuniu 23 países asiáticos e seis africanos com o objetivo de criar o que seria um novo bloco político de âmbito global. Os países independentes, mas eco- nomicamente subdesenvolvidos, que foram chamados de Terceiro Mundo, posicionaram-se pelo não alinha- mento automático a uma das duas superpotências. Como meta prioritária, assumiram o desenvolvimento econômico para superar dificuldades sem se envolver na bipolarização Estados Unidos-União Soviética. No bloco socialista, o sucessor de Stálin, Nikita Kruschev, iniciou um processo de “desestalinização”, alterando profundamente a política interna e exter- na soviética. Além disso, a partir de 1959 o distancia- mento entre a China e a União Soviética dividiu os partidos comunistas mundiais, originando divergên- cias que ativaram a multipolarização e puseram fim à coesão soviética. Embora servisse como canal de entendimento no mundo organizado em dois blocos, a Coexistência Pacífica não pôs fim aos conflitos entre capitalismo e socialismo, e a aproximação entre norte-americanos e soviéticos e até mesmo a paz mundial foram ameaça- das por novos focos de tensão: a Guerra do Vietnã, a descolonização africana, a Revolução Cubana, a inva- são da Hungria pelos soviéticos e o rompimento entre a União Soviética e a China. Os norte-americanos de 1945 a 1969 Com a morte de Franklin Delano Roosevelt, em 1945, o vice-presidente, Harry Truman, assumiu a presidência dos Estados Unidos. Seu governo carac- terizou-se pelo início da Guerra Fria e suas mais in- tensas manifestações. Difundiu-se no país a ideia de que qualquer oposição ao governo era sinal de antia- mericanismo ou comunismo, produto de sabotagem e traição nacional. À frente dessa histeria política, es- tava o senador Joseph MacCarthy. p a “desestalinização” comandada por Nikita Kruschev (à di- reita, de paletó claro) reprovava o autoritarismo, a repres- são e o culto à personalidade da era stalinista. Na foto, o dirigente soviético em visita a uma fazenda agropecuária em iowa, nos estados unidos, em 1959. p Joseph Maccarthy iniciou uma terrível “caça às bruxas”, forjando processose delações e disseminando o pânico co- munista pela sociedade norte-americana. Na foto de 1954, o senador Maccarthy localiza as “células comunistas” em todo os estados unidos. Jerry Cooke/Corbis/Latinstock G e tt y I m a g e s /< w w w .g e tt y im a g e s .c o m > HGB_v3_PNLD2015_152a173_U2_C9.indd 159 4/15/13 10:10 AM 160 DO Pós-guerra aO séculO XXi O macarthismo atingiu seu auge com o “caso Rosen- berg”, que consistiu na prisão e julgamento do casal judeu Ethel e Julius Rosenberg, acusado de passar segredos da bomba atômica aos sovié- ticos. Depois de um tumul- tuado processo, e apesar dos pedidos de clemência vin- dos de muitos países, foram ambos executados, em 1953. A febre macarthista atingiu todo o país, só refluindo no segundo mandato do pre- sidente Eisenhower. Eleito em 1952 pelo Partido Republicano, Dwight Eisenhower foi reeleito em 1956, governando os Esta- dos Unidos até 1960. Na política externa, oscilou entre o enfrentamento da Guerra Fria e a prática da coe- xistência pacífica. Comandou uma política agressiva contra os soviéticos, estabelecendo pactos militares com países alinhados contra o comunismo; ao mes- mo tempo, favoreceu a retomada das relações com a União Soviética, originando os primeiros acordos do pós-guerra. Eisenhower destinava imensas verbas para a construção de mísseis e exploração espacial, a fim de ultrapassar os soviéticos, que haviam lançado o primeiro satélite artificial do mundo, o Sputnik. En- quanto isso, recebia Kruschev em 1959, nos Estados Unidos, para conversações confidenciais e amigáveis. Integrante do Partido Democrata, John Fitzgerald Kennedy venceu o republica- no Richard Nixon nas elei- ções de 1960, governando até 1963, quando foi assassinado. Em pleno período da Guerra Fria, Kennedy também man- teve com os soviéticos conver- sações e diversos confrontos, originando crises agudas, algu- mas de alarmante ameaça à paz mundial. Ao assumir a presidência, Kennedy teve de en- frentar a questão da vitória de Fidel Castro em Cuba, em 1959. Hostil aos norte-americanos, a Revolução Cubana anulou a tradicional hegemonia norte-ame- ricana naquela ilha, grande produtora de açúcar e charutos e apreciado local turístico. Em 1961, desejando reaver a supremacia perdida, o governo Kennedy colocou em prática um plano de invasão à ilha para derrubar o governo revolucionário cubano. O plano, a invasão da Baía dos Porcos, fora elaborado pela CIA (Agência Central de Inteligência, órgão do governo norte-americano dedicado a espio- nagem e ações clandestinas) durante a administração Eisenhower e terminou em fracasso. Kennedy teve de assumir pessoalmente a responsabilidade da ação, desgastando-se politicamente. p embora Kennedy tenha se reunido com Kruschev em junho de 1961 (foto à esquerda), em Viena, mantendo o clima diplomático de coexistência internacional, em agosto do mesmo ano agravou-se a tensão, quando foi erguido o Muro de Berlim, dividindo a cidade ao meio e fechando um tradicional caminho de fuga dos alemães orientais para o Ocidente. Na capa da revista alemã de 23 de julho de 1961, a tensão já era sentida: “com o chanceler [adenauer] todos os alemães olham com preocupação para sua capital”. p Kennedy em confronto com Kruschev. caricatura de levine, 1962. B e tt m a n n /C o rb is /L a ti n s to ck a k g -i m a g e s /I p re s s R e p ro d u ç ã o /C o le ç ã o p a rt ic u la r HGB_v3_PNLD2015_152a173_U2_C9.indd 160 4/15/13 10:11 AM
Compartilhar