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Livro Texto Unidade II - 2

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Unidade II
218
Unidade II
5 TOXICOLOGIA OCUPACIONAL E DE MEDICAMENTOS
Este tópico será dividido em duas partes. Na primeira, abordaremos a toxicologia ocupacional, ou 
seja, você terá a oportunidade de compreender melhor como pode ocorrer a exposição e a intoxicação 
no ambiente de trabalho e também como é possível prevenir a intoxicação do trabalhador. Na segunda, 
abordaremos a toxicologia de medicamentos. Como foi possível você compreender, o medicamento 
é um agente exógeno e, por conseguinte, depende da forma pela qual o organismo se expõe a ele, 
pode haver o rompimento da homeostase e, consequentemente, o aparecimento de sinais e sintomas 
de intoxicação. Neste tópico ainda teremos a satisfação de trabalhar juntos a maneira de se realizar 
o diagnóstico da intoxicação por alguns medicamentos, bem como apresentar e compreender a 
importância dos antídotos no tratamento da intoxicação.
5.1 Toxicologia ocupacional
Iremos agora expor algumas informações, para que possamos compreender o raciocínio toxicológico 
na esfera ocupacional.
5.1.1 Introdução
Desde os primórdios, houve exposição dos trabalhadores a substâncias químicas, material biológico 
ou agentes físicos, mas nem sempre foi dada a devida atenção à saúde do trabalhador. Antes da 
Revolução Industrial, a exposição das pessoas a substâncias potencialmente tóxicas estava associada à 
própria subsistência. Em vários momentos da história, as atividades profissionais foram realizadas por 
escravos, ou seja, pessoas que eram dominadas por outros povos e submetidas a atividades insalubres, 
fato que perdurou até o final do século XIX.
Para que você tenha dimensão do que representou a exposição ocupacional a agentes 
potencialmente tóxicos, no séc. IV a.C., Hipócrates identificou a intoxicação pelo chumbo na 
produção mineradora (SANTOS et al., 2004). Plínio, o Velho (23–79 d.C.), observou que, na tentativa de 
reduzir a exposição ao chumbo, trabalhadores utilizavam bexigas do trato urinário de animais como 
máscaras (KATO; GARCIA; WÜNSCH FILHO, 2007), e na Europa, a partir do século XII, as universidades 
já realizavam experimentos associados à higiene ocupacional, na tentativa de compreender melhor 
como aconteciam as intoxicações no ambiente de trabalho e preveni-las (SANTOS et al., 2004).
Georgius Agricola (1494–1555) estudou entusiasticamente doenças ocupacionais de mineradores. 
Ele descreveu com bastante detalhe para a época os danos que aconteciam com os mineradores em 
diferentes situações e concluiu que, durante a extração de minério, quando as minas estavam mais secas 
que úmidas, havia liberação de poeira que, associada à baixa umidade do ar, penetrava na traqueia, e 
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
219
quando corrosivas, “devorava” os pulmões. Nas minas das montanhas dos Cárpatos, havia mulheres 
que se casaram com sete maridos, todos com morte prematura pela exposição à poeira tóxica, nas 
mineradoras (HOOVER, 1950).
Bernardino Ramazzini (1633–1714) foi um médico italiano que dedicou praticamente toda sua vida 
profissional à medicina ocupacional. Escreveu o livro sobre doenças ocupacionais e higiene industrial, 
De morbis artificum diatriba (Doenças dos trabalhadores) (FRANCO; FRANCO, 2001). Em 1767, George 
Baker (1722–1809) observou que as epidemias de cólicas saturninas ocorridas durante o século XVII 
estavam associadas aos efeitos gastrintestinais causados pela exposição ao chumbo presente na sidra, o 
vinho feito de maçã (RIVA, 2012).
Se por um lado a Revolução Industrial trouxe aspectos positivos como as transformações 
econômicas, políticas e sociais, além do aprimoramento científico e tecnológico, por outro lado, 
homens, mulheres e crianças trabalhavam, moravam e viviam em condições precárias, nessa época. 
Os salários eram baixos, a jornada chegava a 18 horas por dia e havia, inclusive, castigos físicos. O 
trabalhador não tinha direito algum! Como havia muitas faltas ao trabalho com consequente baixa de 
produção, começou a haver a intervenção governamental. As leis associadas à saúde do trabalhador e 
à medicina do trabalho começam a surgir nesse período, ou seja, no início do séc. XIX.
Mas você poderia perguntar: e o Brasil, como se posicionava do ponto de vista de legislação ocupacional 
nesse momento histórico? O trabalhador era destituído de valor. O trabalho índio foi substituído pelo 
escravo negro, e apenas no início do séc. XX o país conseguiu alguma projeção industrial, sobretudo 
após as duas grandes guerras.
Esse breve histórico lhe foi trazido à luz para que você tenha uma dimensão temporal de quando a 
saúde do trabalhador começou minimamente a ser respeitada, no Brasil. Foi apenas durante o Estado 
Novo, em 1943, que houve a Consolidação das Leis do Trabalho, e com ela a Medicina do Trabalho 
e a Engenharia de Segurança passaram a ser fundamentais na prevenção das doenças ocupacionais 
(MACHADO, 2016).
 Saiba mais
Você encontrará mais informações sobre o estudo das doenças dos 
trabalhadores em As doenças dos trabalhadores, que é uma tradução para 
o português do De morbis artificum diatriba.
RAMAZZINI, B. As doenças dos trabalhadores. 4. ed. São Paulo: Ministério 
do Trabalho; Fundacentro, 2016.
O termo intoxicação exógena está associado ao rompimento da homeostasia, o que é caracterizado 
pelo aparecimento de sinais e sintomas causados no referencial biológico que se expõe a um ou mais 
diferentes toxicantes. Esse desequilíbrio é representado pelas manifestações clínicas ou laboratoriais.
Unidade II
220
Sob a perspectiva epidemiológica, de todos os 695.825 casos de intoxicação exógena relatados no 
Brasil entre os anos de 2007 a 2016 (veja a figura a seguir), 43.736 foram de origem ocupacional, ou seja, 
6,7% dos casos de intoxicação ocorreram no ambiente de trabalho.
Centro-Oeste
Nordeste
Norte
Sudeste
Sul
Brasil
2007
0
40
80
120
20
60
100
140
2009 2011
Ano
Co
efi
ci
en
te
 d
e 
in
ci
dê
nc
ia
 (p
or
 m
il 
ha
bi
ta
nt
es
)
2013 20152008 2010 2012 2014 2016
Figura 115 – Coeficiente de incidência (por mil habitantes) dos casos notificados 
de intoxicação exógena relacionada ao trabalho no Brasil, por região, de 2007 a 2016
Excetuando-se a região Sul, em todas as demais regiões houve aumento do número de casos de 
intoxicação ocupacional, no Brasil, a partir de 2013. Na região Sul, esses números aumentaram a partir 
de 2015 (BRASIL, 2018a).
O trabalhador pode se expor no ambiente de trabalho a substâncias químicas como inseticidas, 
metais pesados, agentes metemoglobinizantes, gases e vapores tóxicos e outras substâncias ou produtos 
potencialmente tóxicos.
O gênero masculino (veja a tabela a seguir) apresenta prevalência superior ao feminino, em termos 
de intoxicação ocupacional, no Brasil.
Tabela 5 – Distribuição da frequência dos casos notificados de 
intoxicação exógena relacionada ao trabalho, segundo dados 
sociodemográficos: Brasil (2007–2016)
Características N %
Sexo 43.712
Masculino 28.214 64,5
Feminino 15.498 35,5
Raça/cor da pele 42.539
Branca 19.809 46,6
Preta 2.553 6,0
Parda 13.257 31,2
Ignorada 6.449 15,2
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
221
Características N %
Outras 471 1,1
Escolaridade 38.007
Analfabeto 525 1,4
Ensino fundamental completo 3.102 8,2
Ensino fundamental incompleto 11.994 31,6
Ensino médio completo 6.668 17,5
Ensino médio incompleto 3.213 8,5
Ensino superior completo 1.011 2,7
Ensino superior incompleto 634 1,7
Ignorado 10.860 28,6
Fonte: Brasil (2018a).
 Lembrete
Substâncias de caráter lipofílico atravessam membranas biológicas a favor 
do gradiente de concentração, sem gasto de energia, por difusão lipídica.
Deve-se levar em consideração a crescente participação das mulheres no ambiente de trabalho, com 
destaque para as lactantes e gestantes. O lactente que é amamentado do leite de uma mãe que se expõe 
ocupacionalmente a substâncias químicas de caráter lipofílico pode também estar sendo exposto ao xenobiótico, 
pelo leite materno. A exposição vertical pode levar à teratogenicidade,dependendo do período gestacional em 
que o feto tiver sido exposto, da quantidade de toxicante ao qual foi exposto e do tempo de exposição.
Quando se avalia a faixa etária e a escolaridade dos trabalhadores, deve-se considerar que é proibido 
o trabalho infantil, no Brasil. Ainda assim, a figura a seguir nos traz um gráfico em que é possível 
identificar a presença de menores no mercado de trabalho, com risco de intoxicação, nos dias atuais, 
risco esse aumentado quando o nível de escolaridade do trabalhador é baixo, uma vez que a atividade 
profissional e as medidas de segurança nem sempre são claras, pela dificuldade de leitura ou compreensão 
das informações dos que pouco estudaram.
Feminino Masculino
15 1010 155 200 255
> a 80
71 a 80
61 a 70
51 a 60
41 a 50
31 a 40
21 a 30
11 a 20
5 a 13
n = 42.559
Fa
ix
a 
et
ár
ia
%
Figura 116 – Distribuição da frequência dos casos notificados de intoxicação exógena 
relacionada ao trabalho, segundo faixa etária e sexo, no Brasil, 2007 a 2016
Vamos agora unir os pontos da toxicologia? Faremos algumas perguntas.
Unidade II
222
Qual é mesmo o conceito de toxicologia?
Você se lembrou que é a ciência que estuda os efeitos nocivos causados por uma substância química 
no organismo humano.
E o que significa ocupacional?
Está associado ao ambiente de trabalho, também chamado de laboral. Assim, a toxicologia ocupacional 
é a área da toxicologia que estuda os efeitos nocivos causados pelas substâncias químicas produzidas ou 
utilizadas no ambiente de trabalho.
Você se recorda dos objetivos do estudo da toxicologia?
A toxicologia tem como objetivos o diagnóstico, o tratamento e a prevenção da intoxicação.
 Observação
Nesse contexto, dentro dos três objetivos da toxicologia, o mais 
importante no âmbito ocupacional é a prevenção da intoxicação.
As instituições ou empresas devem garantir que a exposição do trabalhador aos xenobióticos 
seja dentro de limites permitidos e que não leve ao aparecimento de danos aos trabalhadores. 
Entretanto, uma pequena parte dos trabalhores pode apresentar lesão com algumas substâncias 
químicas, mesmo quando elas estejam abaixo do limite máximo permitido de exposição. Um menor 
percentual de trabalhadores pode, inclusive, apresentar agravamento de uma doença preexistente 
por conta da exposição ocupacional. É por isso que a toxicologia leva em consideração a sensibilidade 
individual. Assim, a maioria dos trabalhadores deve estar protegida, do ponto de vista de intoxicação, 
no ambiente de trabalho.
Exemplo de aplicação
Ocorre-nos mais um questionamento: como é possível prevenir a intoxicação no ambiente de 
trabalho? Reflita.
Para que se previna a intoxicação do trabalhador, são estabelecidas medidas seguras de exposição 
no ambiente de trabalho, e, para deixar caracterizado que elas existam, realizam-se a monitorização 
ambiental, a monitorização biológica e a vigilância da saúde.
Vamos compreender melhor esses conceitos?
O termo monitorização está associado a monitorar, ou seja, medir e comparar o resultado com 
uma referência apropriada. Permita-nos fazer uma analogia: para que se saiba se está havendo 
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
223
aproveitamento, submete-se o aluno a avaliações. Caso as notas obtidas pelo aluno sejam iguais ou 
superiores ao limite estabelecido pela instituição de ensino, o aluno é aprovado.
Ficou mais claro para você o conceito de monitorização? No ambiente de trabalho também se realizam 
monitorizações. Monitoram-se as substâncias presentes no ambiente de trabalho e no organismo, para 
estimar o risco de intoxicação durante toda sua vida laboral.
A partir de agora, detalharemos como e por que ocorrem essas monitorizações.
5.1.2 Monitorização ambiental
Imaginemos o seguinte cenário: um jovem trabalha na refinaria de petróleo. O benzeno, como 
sabemos, é um dos hidrocarbonetos presente em uma das frações de destilação do petróleo e pode 
causar danos pela exposição aguda ou crônica no trabalhador, dependendo das condições de exposição. 
Assim, como que você imagina que seria possível prevenir a intoxicação desse jovem trabalhador da 
refinaria de petróleo?
A primeira situação que tem que ser pensada é identificar e quantificar substâncias químicas 
presentes no ar que o trabalhador respira, no ambiente de trabalho, e às quais esse trabalhador possa 
se expor diariamente, por toda a vida laboral (de trabalho), sem risco de intoxicação. Esse processo é 
denominado monitorização ambiental.
 Observação
Não confunda monitorização ambiental referente ao meio ambiente 
com aquela realizada no ambiente de trabalho! Ambas possuem o mesmo 
nome, mas ocorrem em ambientes diferentes.
Assim, a monitorização ambiental é a medida ou quantificação de uma substância química no 
ambiente de trabalho, ou seja, no ar que o trabalhador respira, para saber se está dentro dos limites 
permitidos pela legislação. Isso significa monitorar: medir a quantidade de um xenobiótico presente no 
ar e comparar os resultados obtidos com uma referência adequada (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
É possível o trabalhador se expor ao benzeno e, ainda assim, não apresentar efeitos tóxicos? Sim, é 
possível! Para isso, faz-se necessário que os limites de exposição ocupacional (LEO) sejam respeitados.
O mnemônico LEO é muito utilizado na toxicologia. Ele se refere à máxima quantidade de um 
xenobiótico presente no ar presente no ambiente de trabalho a que a maioria dos trabalhadores pode se 
expor diariamente, por toda sua vida laboral, sem risco de intoxicação.
Unidade II
224
Você poderia se perguntar após esse preâmbulo: de onde vêm essas informações, ou seja, se cada 
substância química apresenta um LEO diferente, como poderíamos saber qual é o LEO de cada uma das 
milhares de substâncias químicas utilizadas ou produzidas no ambiente de trabalho?
Esse é um dos maiores desafios associados à toxicologia ocupacional. Essas informações advêm de 
estudos toxicológicos realizados em animais e extrapolados para humanos. Esses ensaios toxicológicos 
demandam vários anos para serem realizados e consomem milhões de dólares para cada uma das 
substâncias químicas.
Não é qualquer um que realiza esses experimentos! Há a necessidade de uma grande quantidade 
de experts para realizá-los. Após esse grande investimento financeiro, conduzido por profissionais com 
bastante experiência na sua execução, conclui-se qual é o LEO para cada uma das substâncias químicas 
presentes no ambiente de trabalho. Caso o trabalhador apresente alguma lesão por conta da exposição 
ocupacional, a empresa empregadora responde por isso, legalmente.
Renomadas agências internacionais estabelecem os limites de exposição ocupacional. Como 
os limites de exposição ocupacional advém dessas agências, muitas vezes utilizamos o mnemônico 
internacional de quem publicou os resultados. Assim, o LEO pode ser escrito como threshold limit value, 
em inglês; consequentemete, seu mnemônico é TLV. Dessa forma, LEO apresenta o mesmo significado 
que TLV: o primeiro é o mnemônio na língua portuguesa e o segundo, na inglesa.
Em instantes veremos quais são as agências internacionais que normalmente realizam esses 
ensaios toxicológicos.
 Saiba mais
Sugerimos, entusiasticamente, que você leia a obra a seguir:
BUSCHINELLI, J. T. Manual de orientação sobre controle médico ocupacional 
da exposição a substâncias químicas. São Paulo: Fundacentro, 2014.
Como a obtenção desses limites de exposição ocupacional demandam anos para serem realizados, 
massa crítica e milhões de dólares (para cada substância química!), essas agências ou instituições 
permitem que o Brasil compile essas informações, ou seja, as utilize com autorização.
Exemplo de aplicação
Há poucas décadas, quando um parente, amigo ou vizinho se aposentava, não ficávamos muito 
felizes. Reflita sobre isso.
Para muitos desses, dependendo de onde trabalhava, a aposentadoria significava que não viveria 
muito tempo, diferentemente do que acontece atualmente, pois a expectativa de vidado brasileiro 
aumentou significativamente nas últimas décadas.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
225
Mas por que há essa diferença entre os que se aposentavam no Brasil há algumas poucas décadas 
e a realidade atual?
Vamos contextualizar para que você compreenda melhor a linha do tempo da aplicação da legislação 
trabalhista brasileira e dos princípios toxicológicos no dia a dia das pessoas.
Dependendo das condições de exposição, o asbesto ou amianto pode causar danos ao trabalhador, 
como o mesotelioma, câncer característico da exposição a essas fibras. Centenas de trabalhadores foram 
intoxicados pelo asbesto em uma fábrica de telhas que utilizava o amianto como matéria-prima na 
cidade de Osasco (WÜNSCH FILHO; NEVES; MONCAU, 2001).
 Saiba mais
Sugerimos que você leia mais sobre os danos causados pelo asbesto no 
organismo humano em:
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Amianto. Brasília, 2018. Disponível em: 
https://www.inca.gov.br/exposicao-no-trabalho-e-no-ambiente/amianto. 
Acesso em: 16 nov. 2020.
Consegue entender melhor por que é necessário haver uma legislação trabalhista vigente que aplique 
os conceitos toxicológicos? Para evitar perda de produtividade, absenteísmo (ausência no trabalho) e, 
principalmente, agravos à saúde e mortes prematuras do trabalhador.
Vamos, agora, entender algumas instituições que realizam ensaios toxicológicos com o cerne 
ocupacional.
A American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) é um comitê 
norte-americano de toxicologistas ocupacionais que recomenda que deva haver limites de exposição 
ocupacional denominados de threshold limit values. A norte-americana Occupational Safety and 
Health Administration (OSHA), ou Administração de Segurança e Saúde do Trabalho (em tradução livre), 
adota outra terminologia para o limite de exposição ocupacional: o limite de exposição permitido, ou 
permissible exposure level (PEL). Isso quer dizer que a ACGIH e a OSHA possuem os mesmos propósitos, 
mas com independência entre elas. Dessa forma, realizam ensaios toxicológicos e os disponibilizam 
para que outros países compilem seus dados, ou seja, utilizem essas informações, mediante autorização 
dessas instituições. Há outras instituições que também realizam os mesmos ensaios toxicológicos (OGA; 
CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
O TLV ou o PEL utilizados por países que compilam os dados norte-americanos devem atentar à 
jornada, ou seja, à carga horária semanal, e utilizar fatores de correção em relação aos números que nos 
são disponibilizados. No Brasil, o LEO também é chamado de limite de tolerância (LT).
Unidade II
226
O Brasil compila dados da ACGIH, com algumas adaptações, como o fator de correção exposto 
anteriormente. Para efeito de legislação, o Ministério do Trabalho publicou a Norma Regulamentadora 
n. 15 (NR-15), de 1978.
 Observação
Como o anexo 11 da NR-15/1978 preconiza os limites de exposição para 
até 48 horas semanais, faz-se necessário aplicar um fator de correção a 
78% de seus valores.
Como é virtualmente impossível estabelecer o LEO para todas as substâncias potencialmente tóxicas 
utilizadas ou presentes em processos industriais, a OMS sugere que sejam priorizadados os estudos 
dessas substâncias.
Observe que, caso haja uma maior exposição ao asbesto em um dia de trabalho, o funcionário da 
empresa não morrerá imediatamente por conta disso, ou seja, o problema associado ao asbesto não 
se relaciona à exposição aguda, mas, sim, à crônica. Dentro desse contexto, dividem-se os limites de 
exposição ocupacional (TLV) segundo o risco de intoxicação.
5.1.2.1 ACGIH-TLV-TWA
Embora possa parecer uma “sopa de letras”, nos permita explicar essas abreviações. ACGIH, 
como exposto anteriormente, é a conferência norte-americana que estabelece limites de exposição 
ocupacional. O termo TLV tem o mesmo significado que LEO, ou seja, limite de exposição ocupacional, 
e o mnemônico TWA advém do inglês time weighted avarage, ou seja, média ponderada pelo tempo.
O que significa, então, a ACGIH-TLV-TWA?
É um parâmetro de monitoramento ocupacional associado à exposição crônica. Significa que ao 
longo da jornada pode haver um ou mais picos de exposição da substância química, mas, ainda assim, 
não há risco de intoxicação para o trabalhador, uma vez que a média de exposição ao longo do dia não 
terá sido ultrapassada. Esse parâmetro de monitorização ambiental está associado à média de exposição 
ao longo da jornada, sem se preocupar se houve uma ou mais sobrexposições à substância química ao 
longo do dia, desde que, obviamente, o limite denominado de TWA não seja ultrapassado no final do 
dia de trabalho.
 Observação
Quando se escreve jornada, deve-se subentender trabalho ao longo 
de um dia.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
227
Exemplo de aplicação
Por que o trabalhador pode se expor a uma significativa quantidade da substância química ao longo 
da jornada e ainda assim não há risco de intoxicação?
Não há risco de intoxicação porque a substância não ultrapassou o TLV-TWA e porque ela não 
apresenta importância na toxicidade aguda, mas, sim, na crônica. Conclui-se, assim, que, quando 
o toxicante é monitorado pelo TWA (veja a tabela a seguir), significa que pode haver uma ou mais 
exposições relativamente elevadas ao longo da jornada, mas, caso a média ponderada da exposição não 
ultrapasse o TWA, não há risco de intoxicação, ao menos para a maioria dos trabalhadores.
Tabela 6 – Limites de exposição ocupacional (TWA) 
por diferentes instituições
 LEO
Substância
Número (CAS)
LT – MTE –
Brasil(*)
EUA – TLV –
ACGIH(**)
EUA – PEL –
OSHA(***)
EU – OELV 
(****)
UK – 
WEL(*****)
Benzeno - 71-43-2 1 ppm (******) 0,5 ppm 1 ppm 1 ppm(a) 1 ppm
Chumbo inorgânico -
7439-92-1
0,1 mg/m3 0,05 mg/m3 0,05 mg/m3 0,15 mg/m3 (a) 0,10 mg/m
3 
Clorofórmio - 67-66-3 20 ppm 10 ppm 50 ppm 2 ppm (b) 2 ppm
n-hexano - 110-54-3 - 50 ppm 500 ppm 20 ppm (b) 20 ppm
Tolueno - 108-88-3 78 ppm 20 ppm 100 ppm 50 ppm(b) 50 ppm
(*) Limites de tolerância – Ministério do Trabalho e Emprego, Brasil
(**) Threshold limit values – ACGIH, Estados Unidos (sem valor legal)
(***) Permissible exposure limit – OSHA, Estados Unidos (com valor legal)
(****) Occupational exposure limits value – SCOEL, União Europeia
(*****) Workplace exposure limits – HSE, Reino Unido.
(******) 1 ppm não é o LT, mas o valor de referência tecnológico (VRT) para o setor de petróleo, sendo de 2,5 ppm o 
VRT para o setor siderúrgico
(a) LEO binding ou obrigatório
(b) LEO indicative ou indicativo
Adaptada de: Costa et al. (2011).
5.1.2.2 ACGIH-TLV-STEL
Há outro parâmetro que é utilizado na monitorização ambiental, no ambiente de trabalho: o 
ACGIH-TLV-STEL. O acrônimo STEL advém do inglês short time exposure limit, ou seja, limite de exposição 
a curto prazo ou de curta duração (tradução livre). Esse parâmetro de monitoração ambiental é utilizado 
para substâncias químicas que possam manifestar narcose, irritação ou dano tecidual irreversível ao 
trabalhador (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
Imagine o seguinte cenário: uma pessoa trabalha em uma refinaria de petróleo e, de repente, ouve 
uma sirene de alerta sobre vazamento de substâncias químicas potencialmente tóxicas com risco de 
intoxicação aguda. Esse trabalhador tem poucos minutos para evacuar a área para que não seja exposto 
à substância.
Unidade II
228
Imagine se, ao procurar a rota de fuga, esse trabalhador apresente um quadro de torpor, ou seja, 
redução da sensibilidade e do movimento, e não consegue reciocinar rapidamente! Como o trabalhador 
vai conseguir identificar a rota de fuga e evacuar a área com rapidez se ele não consegue raciocinar e 
agir de forma célere?
Você consegue entender a importância e complexidade de uma monitorização ambiental? Se o 
funcionário ouve a sirene, mas é hiporeativo e não consegue sair rapidamente do local, pode haver uma 
grande intensidade de exposição em curto prazo inclusive a outras substâncias e, consequentemente, 
importante dano ao trabalhador.
Também é o caso dodano tecidual irreversível: pode ser que a exposição a essa substância, 
dependendo das condições de exposição, possa levar a irritação ou lesão tecidual irreversível. Para 
substâncias químicas utilizadas ou produzidas no ambiente de trabalho que possam causar esses tipos 
de lesão, o monitoramento ocorre pelo ACGIH-TLV-STEL.
Um substância química pode, portanto, ser monitorada pelo ACGIH-TLV-TWA e pelo ACGIH-TLV-STEL 
ao mesmo tempo, ou seja, caso o trabalhador se exponha ocupacionalmente a substâncias químicas que 
possam trazer danos ao trabalhador em uma exposição crônica e também a substâncias que possam 
levar à narcose, irritação ou lesão tecidual irreversível, há as duas monitorizações.
5.1.2.3 ACGIH-TLV-C (ceiling)
Há outra situação envolvendo a monitorização ocupacional: há substânicas químicas que 
apresentam importância na toxicidade aguda, ou seja, dependendo da quantidade da substância a 
que o trabalhador se exponha, mesmo que por pouco tempo, pode ser fatal. Para essas substâncias, há 
um outro parâmetro de monitorização ambiental no ambiente de trabalho: é o ACGIH-TLV-C (ceiling) 
(OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
O ACGIH-TLV-C é o parâmetro que indica a concentração de um xenobiótico presente no ambiente 
de trabalho que em momento algum pode ser ultrapassado durante a jornada. Em caso de acidente como 
vazamento de substâncias químicas no local de trabalho com importância na toxicidade aguda, dispara-se 
a sirene e o trabalhador tem que se retirar imediatamente do local.
Você consegue visualizar que, em caso de narcose, além de aumentar o risco de acidente no trabalho, 
o deslocamento desse funcionário em situação de evacuação do local pode ficar comprometido? É por 
isso que as empresas precisam trabalhar com a monitorização ambiental, para proteger seus funcionários 
da exposição excessiva de substâncias químicas com diferentes perfis de toxicidade (VEGA, 2010).
5.1.2.4 Nível de ação
Os controles periódicos e médicos são iniciados a partir do nível de ação (NA), obtido quando se 
divide o limite de exposição ocupacional por 2, onde:
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
229
NA = Nível de ação
TLV = LEO = Limite de exposição ocupacional
NA = LEO
 2
Ao medir a concentração da substância no ar que o trabalhador respira, desde que representativo da 
zona respiratória do trabalhador (veja a figura a seguir), caso o resultado seja inferior ao nível de ação 
dessa substância, interpreta-se que não esteja havendo uma significativa exposição do trabalhador.
Figura 117 – Dinâmica de amostragem pessoal no ambiente de trabalho
Segundo a Norma Regulamentadora n. 9 do Ministério do Trabalho, de 1978 (NR-9/1978 – MT), 
valores acima do NA indicam que, para que se minimizem os riscos de intoxicação ocupacional, devem 
ser tomadas ações preventivas referentes ao Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (PPRA) 
(BRASIL, 1978).
Sabemos que a monitorização ambiental monitora a exposição do funcionário no ambiente de 
trabalho. Mas vamos refletir sobre os seguintes cenários: todos os trabalhadores apresentam o mesmo 
metabolismo? Todos os funcionários se movimentam exatamente da mesma forma, ao longo da jornada, 
ou seja, todos os trabalhadores ficam sentados ou caminham no local de trabalho exatamente pelo 
mesmo tempo?
Exemplo de aplicação
Continue seguindo o raciocínio e reflita sobre a pergunta: se para a mesma quantidade de substância 
química presente no ar, no ambiente de trabalho, há um trabalhador que se movimenta bastante e outro 
que fica mais sentado realizando outra atividade, sendo que se expõem à mesma atmosfera de trabalho, 
ambos apresentam o mesmo perfil de exposição?
Unidade II
230
Quando a pessoa se movimenta, ocorre alteração da frequência cardíaca, a ventilação pulmonar 
aumenta e, consequentemente, ocorre aumento no volume de ar que a pessoa inala. Se há aumento no 
volume de ar, significa que há mais exposição à substância química presente na atmosfera de trabalho 
em comparação com um funcionário que fica mais tempo sentado.
5.1.3 Monitorização biológica
Como saber se, ainda que a quantidade da substância química presente no ar esteja dentro dos 
limites preconizados pela legislação, o trabalhador apresenta maior exposição com consequente 
elevação do risco de intoxicação? É dentro desse contexto que se utiliza da monitorização biológica.
Você já sabe que monitorar significa medir algo e comparar esse resultado com uma referência 
apropriada. No caso da monitorização biológica, mede-se a substância química presente no organismo 
do trabalhador. É uma forma de garantir que, efetivamente, o trabalhador está sendo monitorado e que, 
após anos de trabalho, não haverá lesão a esse organismo por conta da exposição ocupacional.
Assim, caso o organismo se exponha ao benzeno, tolueno ou xileno, são essas as substâncias 
químicas que devem ser identificadas e quantificadas no organismo, sendo depois comparadas com 
uma referência, para saber se o trabalhador apresenta risco de intoxicação?
Como vimos anteriormente, muitas substâncias às quais o organismo se expõe são rapidamente 
biotransformadas e, consequentemente, caso as procuremos no organismo, não mais as encontraremos. 
Dessa forma, um artifício utilizado para saber se o organismo se expôs ao xenobiótico é determinar a 
substância química inalterada, produtos de biotransformação ou alterações bioquímicas precoces, em 
diferentes matrizes biológicas.
É por esse motivo que você dedicou grande parte de seu tempo estudando os mecanismos 
de biotransformação de um toxicante, nos princípios da toxicologia: para que você tenha condição de 
compreender melhor como se aplicam aqueles conceitos teóricos aprendidos anteriormente, na prática.
Observe que até agora não lhe foi exposto o conceito de monitorização biológica. Primeiro, trouxemos 
conceitos fundamentais desse tópico e os contextualizamos. Agora vamos lhe trazer à luz esse conceito.
Monitorização biológica (MB) é a medida de uma substância química inalterada, produto de 
biotransformação ou alteração bioquímica precoce, presente no sangue, urina, suor, saliva, ar exalado 
ou outra matriz biológica, capaz de estimar o risco de intoxicação quando se comparam seus resultados 
com uma referência apropriada (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
Agora fica muito mais fácil a compreensão desse conceito: você sabe o que é uma substância 
química inalterada, um produto de biotransformação, e em poucos instantes iremos apresentar o que 
é uma alteração bioquímica precoce. Você sabe que eles podem estar presentes em diferentes matrizes 
biológicas (sangue, urina, suor, entre outros) e que, quando são quantificados no organismo, podem ser 
comparados com uma referência apropriada. Mas faltam ainda dois importantes conceitos: bioindicador 
e referência apropriada.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
231
Indicador biológico de exposição
Bioindicador, indicador biológico de exposição (IBE) ou, em inglês, biological exposure limit (BEI) 
é toda substância química inalterada, produto de biotransformação ou alteração bioquímica precoce, 
encontrada em diferentes matrizes biológicas como sangue, urina, suor, saliva, ar exalado ou outras 
matrizes, que seja capaz de avaliar a exposição e o risco de intoxicação, quando se comparam seus 
resultados com uma referência apropriada.
 Observação
Observe que o conceito de monitorização biológica e bioindicador são 
bastante próximos, mas não são iguais.
Referência apropriada
Você se recorda de que o Brasil compila dados da monitorização ambiental da ACGIH? Saiba que nosso 
país faz o mesmo para a monitorização biológica. A legislação brasileira que versa sobre a monitorização 
biológica é a Norma Regulamentadora n. 7 do Ministério do Trabalho, de 1978 (NR-7/MT), que determina 
que, para promover e preservar a saúde dos trabalhadores, toda empresa ou instituição, ao admitir 
funcionários, deve implementar e elaborar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional 
(PCMSO). A NR-7/1978 nos traz conceitosrelevantes como valor de referência (VR), índice biológico 
máximo permitido (IBMP) e imediatly dangerous to life and health (IDLH) (BRASIL, 2018b).
O VR é o maior índice de um bioindicador para um organismo não exposto ocupacionalmente. 
Por exemplo: se você não se expõe ao benzeno no seu ambiente de trabalho, ou seja, se, entre outras 
ocupações, você não trabalha como frentista ou em refinaria de petróleo, existe um valor máximo 
do biondindicador presente no seu organismo que estima a exposição ao benzeno, como o ácido 
s-fenilmercaptúrico (S-PMA) ou o ácido trans-transmucônico (TTMA), que é o VR (OGA; CAMARGO; 
BATISTUZZO, 2014). Caso você trabalhe em uma refinaria de petróleo ou é frentista em um posto de 
combustível, você será monitorado pelo IBMP, que é a máxima quantidade de um bioindicador presente 
no organismo do trabalhador em que se acredita que a maioria dos trabalhadores não apresente risco 
de intoxicação (BUSCHINELLI, 2014).
5.1.3.1 Tipos de bioindicadores
Há três diferentes tipos de bioindicadores: de exposição ou dose interna, de efeito e de suscetibilidade.
5.1.3.1.1 Bioindicador de exposição ou de dose interna
Quando o trabalhador se expõe a uma substância química, a identificação dessa substância no 
organismo reflete a extensão da absorção da substância, ou seja, a substância química agora está 
no “interior” do organismo do trabalhador, por isso se utiliza o termo dose interna (AMORIM, 2003).
Unidade II
232
Ao ser absorvida, nem toda a porção da substância que agora está no organismo do trabalhador 
atingirá o órgão-alvo. É possível observar na figura a seguir que o afunilamento dessa “pirâmide 
invertida” significa que, para toda a substância a que o organismo se expõe, apenas uma menor parte 
tende a atingir o órgão-alvo.
Mediação da dose interna
↓
Quantidade absorvida
↓
Quantidade alcança tecido
↓
Quantidade alcança célula
↓
Quantidade alcança macromolécula
↓
Quantidade alcança sítio crítico
↓
Dose biologicamente 
efetiva
 
Lig
aç
ão
 c
om
 e
fe
ito
s
Relação com
 exposição
Exposição externa
Figura 118 – Representação da intensidade de absorção de uma 
substância e quantidade do xenobiótico que atinge órgãos-alvo
Alguma vez você já entrou em algum local e sentiu aquele cheiro forte de tinta? Alguns, inclusive, 
podem apresentar intensa cefaleia ao acessar um local cujas paredes tenham sido pintadas recentemente. 
Esse cheiro forte existe pelas várias substâncias presentes na tinta de parede, inclusive o tolueno.
Para saber, por exemplo, se um trabalhador de uma fábrica de tintas de parede apresenta risco 
de intoxicação pela exposição ao tolueno, substância com meia vida biológica curta, determina-se a 
presença do ácido hipúrico urinário.
Qual é o melhor momento para se coletar a urina do trabalhador para verificar o nível de exposição 
ao tolueno? Pela manhã?
Nesse caso, a coleta da urina coletada deve ser realizada no final da jornada. Existe uma correlação 
direta entre a exposição ao tolueno e seu produto de biotransformação, desde que a coleta da amostra 
biológica ocorra no final da jornada.
Caso a coleta da urina seja realizada no período da manhã, por exemplo, que é o que a maior parte 
das pessoas imagina, não haverá a correlação entre a exposição da substância e o bioindicador de dose 
interna, que é o ácido hipúrico. Assim, o momento da coleta é importante para que não haja erros 
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
233
pré-analíticos. É por isso que faz-se necessário conhecer a toxicocinética de cada uma das substâncias 
químicas a que o trabalhador se expõe.
A amostragem deve ser realizada no último dia da jornada semanal para a exposição ao n-hexano, 
tricloretileno ou outras substâncias químicas de meia vida prolongada, que seja de alguns dias, por 
exemplo. Essa coleta apresentará uma adequada correlação entre a exposição e a absorção associadas 
aos últimos dias de trabalho.
Você poderia questionar: e se a substância química à qual o trabalhador se expõe tiver uma 
meia-vida biológica muito elevada, isso afeta o momento da coleta da amostra biológica?
Desde que tenha havido um tempo de exposição representativo, o momento da coleta da 
amostra biológica não é limitante. É o caso do cádmio e chumbo (BRASIL, 2018b). Para que haja a 
monitorização biológica do cádmio na urina, o trabalhador deve ter sido exposto ao metal por ao 
menos seis meses (BUSCHINELLI, 2014).
5.1.3.1.2 Bioindicador de efeito
O bioindicador de efeito está relacionado aos efeitos precoces que ocorrem no organismo do 
trabalhador após a exposição ao xenobiótico, e a estratégia é avaliar esses efeitos no organismo, 
na avaliação de risco do trabalhador (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
Se está havendo efeito, também não está havendo dano ao organismo do trabalhador?
Não necessariamente. Há as alterações bioquímicas precoces.
Vamos compreender melhor esses conceitos. O termo alteração bioquímica precoce está 
associado a toda alteração bioquímica que ocorre no organismo causado por uma substância química, 
mas que seja reversível e, ao mesmo tempo, possa auxiliar na prevenção da intoxicação. Vamos dar 
alguns exemplos clássicos de alteração bioquímica precoce para que você compreenda melhor e 
possamos complementar esse conceito.
Comecemos pelo monóxido de carbono. Essa substância é produto da queima incompleta da 
matéria orgânica. Assim, quando há casos de incêndio ou queima de combustíveis fósseis ou do 
cigarro, o organismo se expõe ao monóxido de carbono.
Gostaríamos que você continuasse interagindo e que se submetesse a seguinte reflexão: você acha 
que tem monóxido de carbono no seu sangue, neste momento?
A resposta é sim!
Mais uma reflexão: você está intoxicado pela quantidade de monóxido de carbono presente em 
seu sangue?
A resposta é não!
Unidade II
234
 Lembrete
Toda substância química é potencialmente tóxica ao organismo humano 
e de animais, dependendo das condições de exposição.
Pequenos teores de carboxihemoglobinemia (HbCO no sangue) não causam danos ao organismo 
humano. Quando o organismo se expõe ao monóxido de carbono, essa substância ocupa o sítio de 
ligação da hemoglobina que deveria se ligar ao oxigênio. Assim, há uma alteração bioquímica, uma vez 
que, bioquimicamente, a hemoglobina deveria estar ligada ao oxigênio, e não ao monóxido de carbono.
Ao mesmo tempo, quando os teores de carboxihemoglobina (HbCO) aumentam, ainda que não haja 
intoxicação, sinaliza que está havendo o aumento da exposição do organismo a esse gás, ou seja, inicialmente, 
não há dano no organismo, mas indica que, caso a exposição aumente, pode haver intoxicação.
Para você ter dimensão, apenas após 10% de carboxihemoglobinemia é que o organismo 
apresenta o primeiro sintoma de intoxicação, que é uma ligeira cefaleia. Valores inferiores a 10% de 
carboxihemoglobinemia são assintomáticos. Entretanto, valores de 3,5% de HbCO, ainda que não 
causem intoxicação, indicam que o trabalhador está exposto ao gás, acima do limite máximo permitido, 
no ambiente de trabalho.
A HbCO é uma substância química inalterada ou produto de biotransformação?
Nenhuma delas é a resposta. É uma alteração bioquímica precoce. Sabe por quê? Porque não é 
uma substância química inalterada como chumbo no sangue ou cocaína no cabelo e nem produto de 
biotransformação como o TTMA, que é um dos bioindicadores de exposição ao benzeno. Entretanto, o 
CO está interagindo com a hemoglobina, impedindo a ligação do oxigênio.
Além disso, é capaz de prever a intoxicação (mede-se o teor de HbCO e compara-se com uma referência) 
e é reversível, ou seja, se o trabalhador apresenta níveis de HbCO de 12% e uma ligeira cefaleia, ao afastar 
o trabalhador da exposição, os níveis de HbCO tendem a baixar e a cefaleia tende a desaparecer.
Ficou mais clara a diferença entre substância química inalterada, produto de biotransformação e 
alteração bioquímica precoce?
Em função da importância das alterações bioquímicas precoces, são necessários mais alguns 
exemplos clássicos.Metemoglobina
Vamos compreender melhor o que é a metemoglobina (MeHb) e quais são os principais sistemas 
redutores em humanos.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
235
Continuamente, o organismo humano é submetido ao estresse com consequente oxidação 
direta ou indireta da oxihemoglobina (HbO2) à MeHb, por oxidação do ferro ferroso (Fe
2+) dos anéis 
pirrólicos do grupamento heme da hemoglobina, a ferro férrico (Fe3+), gerando a MeHb. A oxidação 
do ferro ferroso dos anéis pirrólicos da hemoglobina impede que o oxigênio se ligue aos eritrócitos e, 
consequentemente, se reduza o aporte de oxigênio aos tecidos distantes ou remotos.
Para se contrapor à oxidação da hemoglobina, ou seja, para reduzir a metemoglobina a 
oxihemoglobina, o organismo humano possui sistemas redutores, que irão reduzir o Fe3+ da MeHb a 
Fe2+, restaurando a capacidade de ligação e transporte de oxigênio pela hemácia.
Mas como ocorre essa reação de óxido-redução na hemoglobina? 
• Principais sistemas redutores:
— Diaforase I: a diaforase I, também chamada de sistema NADH-citocromob5-redutase, é um 
sistema enzimático constituído pelo citocromo b5, citocromo b5-redutase e o citocromo P-450. 
Esse potente sistema enzimático capta elétrons derivados da glicólise NADH dependente. 
Esse sistema é bem desenvolvido em adultos, mas uma criança de até seis meses de vida não 
consegue sintetizar esse sistema redutor em sua plenitude. Sendo assim, as crianças são mais 
suscetíveis à intoxicação por agentes metemoglobinizantes.
— Diaforase II: a diaforase II, também denominada de sistema MeHbredutase NADPH-dependente 
ou DAPH-flavina redutase, é um sistema carreador de elétrons derivado da glicólise 
NADPH-dependente. O azul de metileno é uma substância exógena capaz de captar o elétron 
derivado da glicólise NADPH-dependente e, como tem notável afinidade com a MeHb, 
transporta elétron a esse pigmento e a reduz à HbO2.
Restaura-se, assim, a capacidade da hemoglobina de se ligar e transportar oxigênio a tecidos remotos.
Agora que nos apropriamos dessas importantes informações, temos condição de compreender que os 
agentes metemoglobinizantes são capazes de alterar o estado de oxidação da hemoglogina e impedir 
a transferência de oxigênio aos tecidos remotos. Assim, a MeHb é mais um exemplo de alteração bioquímica 
precoce e, consequentemente, um bioindicador de efeito (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2014).
Ácido Δ-aminolevulínico
Quando o organismo se expõe ao chumbo, há algumas formas de monitorar esse trabalhador. Uma 
delas é determinar a presença do ácido Δ-aminolevulínico na urina (Δ-ALA U). O chumbo pode interferir 
na síntese da heme na medula óssea por ser inibidor enzimático (inibe a enzima Δ-ALA desidratase). 
Quando isso ocorre, há acúmulo do Δ-ALA no organismo, que é excretado pela urina, uma vez que o 
Δ-ALA não se transforma em porfobilinogênio.
Assim, o Δ-ALA não é uma substância química inalterada, nem produto de biotransformação, mas 
uma alteração bioquímica precoce, uma vez que está havendo uma inibição de enzima que atuaria 
Unidade II
236
sobre o Δ-ALA; este se acumula, é excretado na urina e é utilizado para prever a intoxicação. À medida 
que se identifica e quantifica o Δ-ALA na urina, compara-se esse resultado com a literatura adequada e 
estima-se o risco de intoxicação.
Ainda que eventualmente possa ter havido alguma alteração no organismo por conta da exposição 
ao chumbo, como a anemia microcítica hipocrômica, quando se retira o trabalhador do ambiente de 
trabalho e, consequentemente, deixa de haver a exposição ao chumbo, o quadro de anemia tende a 
desaparecer. Assim, o Δ-ALA U é um bioindicador de efeito.
Metalotioneína
Outro clássico exemplo de alteração bioquímica precoce é a presença da metalotioneína na urina. 
Quando o organismo se expõe a metais, como o cádmio, para se proteger, o organismo produz maior 
quantidade de uma enzima de baixo peso molecular denominada de metalotioneína. Essa proteína se 
liga a metais, como o cádmio, forma um complexo hidrossolúvel e excreta o metal, impedindo que haja 
a manifestação de danos renais, uma vez que o cádmio é nefrotóxico.
Assim, quando se identifica que há a presença de metalotioneína na urina, significa que o organismo 
está se expondo a metais. É mais um exemplo de alteração bioquímica precoce e, consequentemente, 
de bioindicador de efeito.
Acetilcolinesterase (AChE)
Por fim, a acetilcolinesterase. Quando o organismo se expõe a substâncias químicas inibidoras da 
acetilcolinesterase, como os praguicidas organofosforados, essa enzima é inibida e, consequentemente, 
não consegue hidrolisar a acetilcolina, induzindo ao excesso de estímulo colinérgico no organismo.
Atente-se que a inibição da acetilcolinesterase não é uma substância química inalterada, nem um 
produto de biotransformação, mas, sim, uma alteração bioquímica precoce, uma vez que está havendo 
uma alteração bioquímica (inibição enzimática), que é precoce porque é possível identificar a intoxicação 
antes de danos irreversíveis e também é capaz de prever a intoxicação, já que se pode comparar os 
resultados com uma referência apropriada e estimar o risco de intoxicação.
Nesse momento, utilizamos os conceitos aprendidos anteriormente, associados à alteração 
bioquímica precoce. Um bioindicador de efeito é aquele em que ocorre uma alteração bioquímica no 
organismo do trabalhador. Essa alteração deve ser precoce e reversível, ou seja, quando se identifica 
que há uma alteração bioquímica precoce, significa que foi possível prever a intoxicação antes de que 
houvesse um dano irreversível ao trabalhador.
O trabalhador deve ser submetido a uma avaliação médica pelo médico do trabalho, com possível 
afastamento de sua atividade profissional, e realizar tratamento médico caso seja constatada a correlação 
entre efeitos tóxicos e os níveis dos indicadores biológicos de exposição de dose interna ou de efeito, ou 
seja, caso haja significado clínico.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
237
Você sabia que fatores ambientais ou até mesmo o alimento pode interferir nos resultados analíticos 
envolvendo a toxicologia ocupacional?
Sim, isso pode acontecer! Observe a seguir.
O teor de benzeno e de seus bioindicadores no organismo do trabalhador podem estar associados à 
exposição dessa substância, que também pode estar naturalmente presente na atmosfera pela liberação 
em um incêndio florestal de ocorrência natural ou antropogênica.
Durante a prática do tabagismo, há a liberação de substâncias químicas, e o fumante ativo ou 
passivo se expõe ao benzeno liberado pela fumaça do cigarro. Dessa forma, os hábitos do trabalhador, 
bem como a região em que vive, podem influenciar direta e significativamente nos resultados analíticos 
e clínicos, pela exposição de substâncias químicas presentes no ambiente de trabalho.
Caso uma pessoa more próximo a uma rodovia, por exemplo, inalará monóxido de carbono ao longo 
de toda a noite de sono. No dia seguinte, os teores de carboxihemoglobinemia estarão associados à 
exposição ambiental (referente ao meio ambiente), quando a pessoa dormiu inalando elevados teores de 
monóxido de carbono presente no ar atmosférico, e a ocupacional (trabalha se expondo a essa mesma 
substância química).
Para você ter dimensão de como é complexa a monitorização biológica ocupacional, alimentos 
como amora, ameixa, morango e até groselha podem interferir no resultado dessa monitorização. 
Vamos evoluir no raciocínio para que você tenha elementos bioquímicos para compreender por que 
isso acontece.
Quando o organismo se expõe ao tolueno, essa substância é biotransformada em ácido benzoico. 
Quando o ácido benzoico sofre reação de síntese com a glicina, forma-se o ácido hipúrico. Esse é um 
dos motivos pelos quais o ácido hipúrico é o bioindicador de exposição ao tolueno. Entretanto, o ácido 
benzoico está presente naturalmente nos alimentos expostos anteriormente, de forma que o morango, 
por exemplo, possui ácido benzoico. Isso significa que o ácido benzoicopresente no morango, amora, 
ameixa ou também na forma de benzoato de sódio como conservante de alimentos é conjugado com 
a glicina, formando o ácido hipúrico (veja a figura a seguir) pela mesma via metabólica que o ácido 
benzoico proveniente do tolueno.
Ingestão de alimentos
Biotransformação
Tolueno Ácido benzoico Ácido hipúricoGlicina
O+
NH2
CH3 O
O
O OH
OH
HO
NH
Figura 119 – Via metabólica da formação do ácido hipúrico, a partir do tolueno
Unidade II
238
Assim, como saber se o ácido hipúrico presente na urina do trabalhador da fábrica de tintas é 
proveniente do tolueno ou do morango que o trabalhador comeu no dia anterior?
É muito difícil chegar a essa conclusão!
Ficou mais clara a complexidade quando se estuda a determinação da exposição de um organismo 
a uma substância química?
 Observação
Você deve conhecer e memorizar a relação entre bioindicador com seu 
precursor e sua respectiva via metabólica.
Vamos a mais uma contextualização?
O bioindicador de exposição ao xileno é o ácido metil-hipúrico. Entretanto, diferentemente do 
tolueno, outras substâncias químicas não interferem na via metabólica desse xenobiótico, de forma a 
aumentar a quantidade de bioindicador pela exposição que não seja laboral. Observe a via metabólica 
a seguir, associada ao xileno:
Biotransformação
GlicinaÁcido metilbenzoicoMetaxileno Ácido metilhipúrico
O
O
O
O
+
NH2
CH3
H3CH3C H3C
HO
OH NH OH
Figura 120 – Esquema da formação do ácido metil-hipúrico a partir do meta-xileno
Quando o trabalhador se expõe ao xileno, não há uma segunda substância química presente na água 
ou alimento que se ingira ou que esteja no ar que o trabalhador respira que poderá interferir na análise da 
substância. Dessa forma, não há a necessidade de haver VR para o xileno e há apenas o IBMP (AMORIM, 2003).
5.1.3.1.3 Bioindicador de suscetibilidade
Vimos anteriormente que a monitorização do trabalhador tem como objetivo prevenir a intoxicação da 
maioria dos trabalhadores. Mas por que mesmo a maioria dos trabalhadores, e não todos os trabalhadores?
Por causa da suscetibilidade de cada um deles. Para as mesmas condições de exposição, organismos 
diferentes respondem diferentemente. E por que respondem diferentemente? A condição genética é 
uma das possibilidades: cada qual tem a sua.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
239
 Observação
A condição genética é apenas uma condição que pode fazer com que 
diferentes pessoas respondam de forma distinta à mesma exposição.
Assim, os biomarcadores de suscetibilidade podem indicar que aquele organismo poderá expressar 
uma resposta diferente dos demais, pela sua condição genética.
 Observação
Esses bioindicadores podem refletir, além dos fatores genéticos, também 
uma condição adquirida.
O trabalhador que apresente, por exemplo, alteração na GST pode ter maior risco de intoxicação 
pela exposição aos compostos alifáticos halogenados e ao óxido de etileno, uma vez que pode haver 
prejuízo da biotransformação de seus intermediários epóxidos. Os que apresentam alteração na 
paroxonase podem ter aumentada a toxicidade dos organofosforados pela redução da atividade da 
acetilcolinesterase, e a deficiência da glicose 6-P-desidrogenase reduz (G6PD) a resistência para o 
estresse oxidativo de compostos nitroaromáticos.
5.1.4 Programa de controle médico de saúde ocupacional (PCMSO)
O médico do trabalho deve ficar atento aos valores da monitorização biológica e realizar a vigilância 
da saúde. Os critérios empreendidos para a interpretação dos resultados dos exames médicos e 
laboratoriais e o procedimento adotado perante os resultados dos exames devem estar expressos com 
clareza no PCMSO.
Para deixar os conceitos aqui apresentados mais claros, serão apresentados exemplos de como 
elaborar um PCMSO combinando com a vigilância à saúde e a monitorização biológica de exposição 
(BUSCHINELLI, 2014).
A Norma Regulamentadora n. 9 do Ministério do Trabalho, de 1978, está associada ao Programa de 
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que determina que, para que se preserve a integridade e saúde 
dos trabalhadores, instituições e empregadores realizem o PPRA.
Por meio do reconhecimento e controle dos riscos ambientais, bem como de sua antecipação, 
deve-se prevenir o aparecimento de doenças e preservar não apenas a saúde, mas também a integridade de 
seus funcionários por meio do PPRA, que deve estar vinculado com o PCMSO, previsto na NR-7.
O modelo de análise utilizado para a medição e coleta de amostras deve levar em consideração 
quanto tempo será utilizado para a realização da medição, verificar se o escopo da análise é avaliar o 
Unidade II
240
perfil de exposição após a atividades realizadas pelos funcionários ou apenas avaliar a característica da 
exposição durante a jornada e, também, levar em consideração qual é o volume de ar que o equipamento 
analítico é capaz de coletar (BRASIL, 2018b).
5.1.5 Vantagens e desvantangens da monitorização biológica
A monitorização biológica apresenta vantagens e desvantagens em relação à ambiental e é 
complementar a esta.
Uma característica fundamental da monitorização biológica é que, quando se identifica e quantifica 
bioindicadores, a estimativa do risco de intoxicação é mais adequada, uma vez que há uma relação mais 
direta entre a relação dose/efeito, ou seja, entre a quantidade do xenobiótico presente no organismo e 
seus efeitos nocivos causados à saúde do trabalhador.
Outra situação envolvida é que a monitorização ambiental avalia exclusivamente a exposição pelo 
trato respiratório. Entretanto, pode haver exposição ocupacional por outras vias, como pelo trato 
gastrintestinal e pela via dérmica. Há situações em que o funcionário se expõe a um xenobiótico pelo 
hábito de levar circunstancialmente a mão à boca em alguns momentos da jornada.
É o típico caso de exposição pelo chumbo, que na monitorização ambiental pode apresentar baixos 
teores, mas quando se realiza a monitorização biológica, identifica-se sua extensa exposição. Até a 
diferença de higiene pessoal entre os funcionários da empresa pode levar a resultados significativamente 
distintos entre a monitorização ambiental e a biológica.
5.2 Toxicologia de medicamentos
5.2.1 Intoxicações por medicamentos
Discutiremos neste tópico as intoxicações induzidas pelo uso de medicamentos, suas causas, 
grupos farmacológicos e manejo clínico, bem como os variados tratamentos empregados nas 
intoxicações medicamentosas.
Algumas das informações iniciais você já conhece, especificamente aquelas relacionadas a alguns 
termos e alguns conceitos introdutórios, mas ainda assim faremos uma breve e direta revisão sobre 
algumas ocorrências.
Aspectos gerais das intoxicações medicamentosas
Segundo o legado deixado por Paracelsus (1493–1541), toda substância pode ser classificada 
como um veneno, o que irá diferenciar essa classificação é a dose. Além desse clássico e importante 
conceito deixado por aquele que é considerado o pai da farmacologia e da toxicologia, acrescemos 
que as condições de exposição também demonstram papel importante nesse contexto, além da 
dose administrada.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
241
 Saiba mais
Para conhecer um pouco mais sobre as ideias de Paracelsus (ou 
Paracelso), você pode consultar o artigo a seguir. Ainda hoje, suas ideias 
são consideradas válidas, tendo sido muito importantes para a evolução da 
toxicologia.
CORREA, A. D.; SIQUEIRA-BATISTA, R.; QUINTAS, L. E. Similia Similibus 
Curentur: notação histórica da medicina homeopática. Revista da Associação 
Médica Brasileira, São Paulo, v. 43, n. 4, p. 347-351, 1997. Disponivel em: 
http://www.scielo.br/pdf/ramb/v43n4/2026.pdf. Acesso em: 1º mar. 2020.
Face a essa constatação, você concluiu que a capacidade que uma substância apresenta em causar 
toxicidade é definida pelo perigo que cada toxicante apresenta de forma inata. Esse perigo é definido 
como toxicidade intrínseca e pode ser aferido por valores da DL50, que representa a dose necessária 
para matar metadede uma população. Além desse perigo, que é algo inerente ao agente tóxico, a 
toxicidade relativa também estabelece uma importância preponderante na avaliação dos compostos. 
Essa toxicidade é determinada pelo agente tóxico especificamente (tipo), pela dose que foi utilizada, 
pela susceptibilidade individual e pelas condições de exposição (tempo e frequência, principalmente).
Para recordarmos o que estudamos, você deve estar lembrado de que a intoxicação é representada 
por um conjunto de sinais e sintomas observáveis a partir da interação de um agente tóxico com um 
sistema orgânico através de efeitos nocivos que ocorrem em decorrência de um desequilíbrio orgânico 
e são manifestados através de sinais e sintomas.
Esse processo depende da interação do agente tóxico ou toxicante com a parte biológica através 
de uma interação dele com um alvo biológico que execute mecanismos de reparo ainda que estes 
não sejam suficientes para sanar as alterações na homeostasia. Normalmente esses processos, quando 
exacerbados, originam doenças ou até mesmo situações fatais irreversíveis, demonstradas através de 
sinais e sintomas dependentes de dose e tempo de exposição. Dividimos a intoxicação em quatro fases 
distintas, a saber:
• Fase de exposição: está ligada ao contato do agente tóxico com a parte orgânica, representando 
a sua disponibilidade química e condições de introdução no modelo biológico. Essa exposição 
pode ocorrer por diferentes vias, sendo as mais comuns a oral (intoxicações por medicamentos, 
venenos agrícolas etc.), a por via dérmica (contato com praguicidas na lavoura) e a pulmonar, 
através do ar inspirado (névoas de praguicidas agrícolas).
• Fase toxicocinética: consiste no movimento do AT (agente tóxico) no organismo, compreendendo 
processos de absorção, distribuição, armazenamento e eliminação (biotransformação e excreção). 
Todos esses processos envolvem reações entre o agente tóxico e o organismo, tornando o AT 
disponível biologicamente.
Unidade II
242
• Fase toxicodinâmica: corresponde aos efeitos propriamente ditos do AT pela interação com os 
alvos biológicos. Isso porque na maioria das vezes não se trata de uma ação localizada do agente, 
mas, sim, disseminada.
 Observação
Na fase toxicodinâmica, os efeitos ocorrentes não dependem somente 
do agente tóxico em si, mas também dos seus produtos de biotransformação 
(metabolismo), que algumas vezes são mais tóxicos do que os próprios 
agentes tóxicos. Exemplo: quando o paracetamol é utilizado em doses 
acima das terapêuticas, ele passa por um processo de biotransformação 
hepática e se transforma no metabólito N-acetil-p-benzoquinoneimina, 
que é a substância hepatotóxica.
• Fase clínica: nesta fase tem-se as manifestações clínicas dos efeitos pela exposição a um agente 
tóxico. É a aparição de sinais e sintomas que caracterizam o efeito tóxico propriamente dito e 
evidenciam a presença do fenômeno da intoxicação.
Na toxicologia de medicamentos estudam-se as reações adversas provocadas por doses 
terapêuticas dos medicamentos, bem como as intoxicações resultantes de doses excessivas, seja por 
uso inadequado ou acidental ou ainda intencional. Entre os variados tipos de efeitos provocados pela 
interação entre o medicamento e o organismo, temos:
• Efeito secundário: pode surgir em alguns pacientes pelo uso de medicamentos, ainda que em 
doses terapêuticas. Exemplo: diarreias induzidas por uso de antimicrobianos pela destruição de 
flora normal intestinal.
• Efeito colateral: são efeitos previsíveis, pois estão ligados ao próprio mecanismo de ação da 
substância. Exemplo: sono em pacientes que utilizam alguns anti-histamínicos.
• Idiossincrasia: são efeitos que dependem da forma como cada indivíduo responde quando mantém 
contato com uma substância. Essas diferentes formas de efeitos demonstráveis normalmente 
são relacionadas a situações genéticas e/ou enzimáticas particularmente individualizadas e que 
independem da dose administrada. Exemplo: deficiência da aldeído desidrogenase, enzima 
que metaboliza o álcool, em orientais, predispondo esses indivíduos a uma maior embriaguez 
quando se expõem a essa substância.
• Alergia: as alergias podem ser caracterizadas como reações idiossincrásicas, pois não 
dependem da dose, mas, sim, de uma resposta individualizada. Elas passam a ser estudadas 
pela imunotoxicologia. Exemplos: crises alérgicas que muitos pacientes demonstram quando se 
expõem a antimicrobianos como penicilinas e sulfas.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
243
• Tolerância: é a condição em que se necessita de doses maiores para se obterem os mesmos efeitos 
iniciais do medicamento. Normalmente o aumento das doses não se faz suficiente para a resolução 
da situação, exigindo-se uma substituição. Essa tolerância pode ocorrer por dessensibilização de 
receptores ou ainda por indução enzimática. Exemplos: pacientes que utilizam morfina, um analgésico 
opioide, e que no mesmo período do dia exigem doses maiores para o efeito analgésico.
 Observação
Veja que o processo de tolerância poderá ocorrer em tratamentos 
medicamentosos de rotina, e não só ela está ligada ao contexto toxicológico.
• Dependência: é ocorrente quando o medicamento já assume uma postura de uso contínuo 
pelos benefícios que produz e pelas sensações prazerosas que possa causar. Exemplo: a agitação 
provocada pelo uso de anfetaminas (anorexígenos), que são estimulantes do SNC (sistema nervoso 
central) e ativam o SNA (sistema nervoso autônomo) simpático.
• Interações: resultam da utilização simultânea de dois ou mais medicamentos, podendo haver 
redução dos efeitos ou, ainda, uma potenciação deles, levando a um quadro variável de intoxicação 
ou ineficácia de um dos medicamentos empregados.
Agora que fizemos uma revisão de conceitos previamente estudados e sedimentados, falaremos 
sobre intoxicações com medicamentos. Faremos uma introdução e depois conversaremos sobre alguns 
medicamentos que estão relacionados a situações de intoxicações.
5.2.1.1 Introdução
Você sabe muito bem que os efeitos dos medicamentos já são conhecidos desde os tempos 
remotos, quando nossos antepassados já buscavam a cura de muitas doenças através do uso de 
substâncias naturais.
 Observação
Os cães, quando se sentem com desconforto gástrico, ingerem grama 
para sanar esse problema. Ela atua como irritante do estômago, fazendo-o 
vomitar a comida “indesejada” ou o “veneno” ingerido.
Segundo a Anvisa (2020b), medicamento é definido como um produto farmacêutico, tecnicamente 
obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. É uma 
forma farmacêutica terminada que contém o fármaco, geralmente em associação com adjuvantes 
farmacotécnicos, ou seja, com substâncias que irão se somar aos efeitos do fármaco ali presente.
Ainda que esses medicamentos sejam utilizáveis pretendendo efeitos benéficos, quando mal 
empregados e indevidamente utilizados, causam efeitos que podem até chegar à fatalidade. A frequência 
de exposição a uma substância medicamentosa está relacionada à sua disponibilidade no mercado, à 
Unidade II
244
marca comercial e ao acesso ao produto, às atitudes do médico que os prescreveu, ao farmacêutico que 
o dispensa, assim como a quem regulamenta a sua produção, distribuição e utilização.
Segundo Oga, Camargo e Batistuzzo (2003), o padrão de consumo de medicamentos no Brasil é 
caracterizado pela elevação do uso como substâncias empregadas somente para curar sintomas ou 
ainda por automedicação, além, é claro, do trabalho brilhante feito pelo marketing das indústrias 
farmacêuticas, que induz ao uso de muitas substâncias, mesmo aquelas prescritas por um médico. Tal 
situação contribui acentuadamente com reações adversas causadas por medicamentos.
No Brasil, embora tenhamos normas para o uso racional de medicamentos, não há um sistema de 
registro das ocorrências tóxicas pela exposição a medicamentos devidamente implantado, operante e 
atualizado. Existem trabalhos que são feitos deforma isolada e regionalizada que permitem conclusões 
que seguem essas regiões e não permitem uma leitura global e dinâmica das ocorrências de intoxicação 
no país de forma confiável e oficial.
O Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológica (Sinitox/MS/Fiocruz) divulga estatísticas 
anuais referentes a casos de intoxicação registrados pelos Centros de Assistência e Informação 
Toxicológica (Ceatox), a partir de informações fornecidas espontaneamente, sem padronização de 
conceitos, formas de registro, agentes tóxicos e outros critérios. Quanto às reações adversas, há algumas 
experiências locais de farmacovigilância (CASTRO, 2000).
Os registros dos Centros de Assistência Toxicológica são sentinelas, captadores de problemas sociais, 
alguns passíveis de atuação da vigilância sanitária. Se o medicamento está sendo utilizado, além de sua 
finalidade terapêutica, de forma abusiva ou indevida, a sociedade e o sistema de saúde devem enxergar 
esses casos e encontrar formas adequadas para enfrentá-los (GANDOLFI; ANDRADE, 2006).
Como já vimos, o Sinitox, criado em 1980 pelo Ministério da Saúde, com sede na Fundação Oswaldo 
Cruz (Fiocruz), tem como principal atividade coordenar o processo de coleta, compilação, análise e 
divulgação dos casos de intoxicação humana registrados no país pela Rede Nacional de Centros de 
Controle de Intoxicações, comumente denominada Rede Sinitox (BORTOLETTO; BOCHNER, 1999).
Esses mesmos autores, em um trabalho realizado sobre o impacto dos medicamentos nas intoxicações 
humanas no Brasil, concluíram que o medicamento é o principal agente tóxico que causa intoxicação 
em seres humanos no Brasil, ocupando o primeiro lugar nas estatísticas do Sinitox desde 1994. Os 
benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos e anti-inflamatórios são as classes de medicamentos que 
mais causam intoxicações em nosso país (44% foram classificadas como tentativas de suicídio e 40% 
como acidentes, sendo que as crianças menores de cinco anos (33%) e adultos de 20 a 29 anos (19%) 
constituíram as faixas etárias mais acometidas pelas intoxicações por medicamentos.
Veja na tabela a seguir os principais agentes tóxicos em um levantamento mais atualizado, o que 
nos mostra a mesma conclusão sobre os medicamentos, ou seja, eles representam o maior número de 
casos de intoxicações agora envolvendo não somente o homem, mas também animais e solicitações 
de informações que os centros recebem sobre eles.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
245
Tabela 7 – Casos totais de intoxicações humanas, de animais e 
de solicitações de informação de 10 dos principais agentes tóxicos
Agente causador Número total de intoxicações Percentual (%)
Medicamentos 21402 26,79
Animais peçonhentos/escorpiões 11943 14,95
Outros animais peçonhentos/venenosos 6439 8,06
Animais não peçonhentos 5402 6,76
Animais peçonhentos/aranhas 6220 7,79
Domissanitários 4761 5,96
Animais peçonhentos/serpentes 3290 4,12
Produtos químicos industriais 2992 3,39
Drogas de abuso 2777 3,48
Agrotóxicos/Uso agrícola 2706 3,39
Adaptada de: Sinitox (s.d.a).
Conforme informado no site Milenar (USO..., 2018), para o mesmo período, um levantamento 
conduzido pela Unicamp no Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) concluiu que 
o uso de medicamentos responde pela maioria dos casos de intoxicação (33,62% das ocorrências), 
mais que o dobro, por exemplo, dos atendimentos por picadas de animais peçonhentos e consumo de 
produtos químicos (veja a figura a seguir).
Outros
23,86%
Medicamentos 
33,62%
Produtos 
domissanitários
14,08%
Produtos químicos 
residenciais ou 
industriais
6,13%
Animais não 
peçonhentos/ 
não venenosos
6,09%
Figura 121 – Causas principais de intoxicações
5.2.1.2 Grupos farmacológicos envolvidos nas intoxicações medicamentosas
Embora as variadas pesquisas executadas acerca do uso de medicamentos utilizados e as classes 
farmacológicas envolvidas nos processos tóxicos tenham sido divulgadas, não há uma pesquisa 
que seja incisiva e atualizada, e ainda que sejam efetuadas, elas acabam por refletir dados que são 
regionais, o que pode não traduzir a real ocorrência de forma generalizada.
Unidade II
246
Em tempo, alguns medicamentos e classes se destacam na incidência de intoxicações com 
medicamento, como os neuropsicofármacos (clonazepam, carbamazepina, amitriptilina), os analgésicos 
e Aines (ácido acetilsalicÌlico, diclofenaco, dipirona, paracetamol), os antialérgicos e antigripais, os 
broncodilatadores (salbutamol, fenoterol) e os cardiovasculares (captopril, propranolol).
Ainda que as pesquisas e trabalhos sobre intoxicação por medicamentos sejam regionalizadas 
e até específicas em detrimento a isso, os psicofármacos como os benzodiazepínicos (diazepam, 
clonazepam, bromazepam), que são substâncias largamente usadas em todo o mundo e no Brasil, 
assumem uma posição bem considerável nos casos de intoxicação induzidos por medicamentos, 
compreendendo em quase todos os estudos metade das ocorrências. Além dessa, outra metade é 
dirigida ao tratamento de problemas diversos músculo-esqueléticos (anti-inflamatórios e analgésicos). 
Essas substâncias, ainda que prescritas pelo médico, quando de uma forma não racional, passam a 
oferecer uma presença da substância em ambiente doméstico maior, consequentemente aumentando 
a incidência de intoxicação por eles.
Estudaremos nos tópicos a seguir alguns dos medicamentos envolvidos em ocorrências de 
intoxicações. Você poderá notar que as classes desses fármacos são muito distintas; por isso, tentamos 
agrupá-las por sistema, tentando, assim, facilitar a sua compreensão, o que auxiliará muito no processo 
de aprendizagem.
5.2.1.2.1 Psicofármacos
Veremos neste tópico os medicamentos que atuam sobre o SNC, ou seja, os fármacos que atuam 
sobre a “psique”.
Antidepressivos ISRS (inibidores seletivos de recaptação de serotonina)
Esses medicamentos são bem empregados no tratamento da depressão, de outros transtornos 
psiquiátricos, tais como síndrome do pânico, fobias e transtorno obsessivo-compulsivo, e de 
transtornos alimentares, incluindo anorexia, bulimia e obesidade. Veja que as aplicações clínicas 
desses medicamentos apresentam uma abrangência vasta de situações, inclusive para outras não 
diretamente relacionadas a doenças psiquiátricas.
 Observação
Saiba que muitos fármacos que atuam sobre o SNC podem ser 
empregados para torcicolos e crises de enxaqueca.
Estes antidepressivos inibem a recaptação de serotonina (um neurotransmissor que melhora o humor) 
no SNC, sistema nervoso periférico e plaquetas, estimulando os receptores serotoninérgicos. Quando 
comparados aos antidepressivos tricíclicos, são menos efetivos em bloquear a recaptação de noradrenalina e 
antagonizar receptores muscarínicos, histaminérgicos e adrenérgicos. Podem causar depressão do SNC 
e síndrome serotoninérgica quando usados em conjunto ou com outras substâncias que aumentam o 
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
247
nível de serotonina, como outros antidepressivos (inibidores da monoaminoxidase – iMAO, tricíclicos, 
antidepressivos duais e atípicos), anfetaminas, sibutramina, ecstasy, cocaína, crack, LSD e opioides.
Geralmente essas substâncias apresentam alto índice terapêutico. Doses acima de 10 vezes a dose 
terapêutica são mais toleradas se comparadas aos antidepressivos tricíclicos. Porém a associação com 
outros medicamentos ou drogas de abuso é frequente e aumenta a probabilidade de intoxicação grave.
 Lembrete
Você já estudou e deve se recordar de que substâncias que possuem 
alto índice terapêutico são relativamente mais seguras que aquelas que 
possuem um índice baixo.
Acentuemos essa recordação. Isso ocorre porque a distância entre a dose terapêutica e a tóxica é 
longa, o que não quer dizer que essas substâncias não possam ofertar um risco.
N
N
N
H
NH HN CI
CICF3
F3C
NH2
(d) (e)
(c)(b)(a)
N
O
OO
F
F
O
O
O
O
Figura 122 – Estrutura química dos principais ISRS: (a) fluoxetina, 
(b) paroxetina, (c) sertralina, (d) fluvoxamina,(e) citalopram
Nível terapêutico 
de sinalização
ATC ou ISRS
Legenda: ATC = antidepressivos tricíclicos
Figura 123 – Mecanismo de ação dos ISRS: a) antes do tratamento; 
b) com tratamento agudo dos fármacos; c) com tratamento crônico com os fármacos
Unidade II
248
 Observação
Veja que esse mecanismo descrito na figura anterior é o ocorrente em 
situações toxicológicas. Observe que ocorre um aumento considerável nos 
níveis de serotonina na fenda sináptica.
A seguir algumas informações farmacocinéticas acerca dessa categoria de fármacos.
São substâncias bem absorvidas e possuem alta biodisponibilidade, e o pico de concentração 
plasmática ocorre em média em horas. Possuem um alto Vd (volume de distribuição), e a ligação 
a proteína plasmática pode variar de 56 a 99% e meia vida biológica média de 24 horas (exceto a 
fluoxetina, que possui uma T½ vida biológica que pode variar de quatro a seis dias). A biotransformação 
é hepática e dois dos fármacos (fluoxetina e paroxetina) são inibidores da enzima CYP2D6, implicando 
alterações nos efeitos de muitos outros fármacos.
 Observação
Você já conhece a importância do complexo citocromo P450 na 
biotransformação de fármacos e as implicações que uma indução ou 
inibição enzimáticas desse sistema podem oferecer a outros fármacos.
Sobre as manifestações clínicas, as intoxicações podem ser leves a moderadas, casos em que os 
pacientes apresentam ataxia (falta de coordenação em movimentos) e letargia (profunda e prolongada 
inconsciência), ou graves, em que os pacientes podem apresentar bradicardia, hipotensão, depressão 
do SNC e coma. Há também o risco de síndrome serotoninérgica, quando a quantidade ingerida é alta 
ou ocorre ingestão em associação com outras substâncias que aumentam o nível de serotonina, como 
outros antidepressivos (iMAO) e drogas de abuso.
Esta síndrome serotoninérgica caracteriza-se por uma tríade:
• alterações do estado mental (agitação, ansiedade e confusão mental);
• instabilidade autonômica (taquicardia, hipertensão, sudorese, hipertermia e midríase);
• hiperatividade neuromuscular, rigidez e tremores.
O que poderia então se fazer para tratamento de intoxicações por essa categoria? Para adoção de 
medidas de tratamento das intoxicações, a maioria dos casos de ingestão de ISRS não desenvolvem 
sintomas graves, necessitando apenas de medidas de suporte básico de vida, como desobstrução de vias 
aéreas, administração de oxigênio, monitorização de sinais vitais, colheita de amostras biológicas para 
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
249
posterior envio ao contexto laboratorial ou ainda descontaminação através de lavagem gástrica com 
uso de carvão ativado (1 g/kg por VO – via oral).
 Observação
Ainda não estudamos de forma detalhada os antídotos, mas o carvão 
ativado representa um importante agente adsorvente que pode reduzir a 
absorção de várias substâncias.
Veja que, para essa categoria de agente, não há antídoto específico e não se recomendam medidas 
para eliminação.
Antidepressivos tricíclicos
Esses fármacos são utilizados no tratamento da depressão maior, insônia e síndromes 
dolorosas crônicas.
Os antidepressivos tricíclicos inibem a recaptação de neurotransmissores, principalmente 
noradrenalina (NA), serotonina (5-HT) e, em menor proporção, dopamina (DA). As aminas terciárias são 
inibidores mais potentes da recaptação de serotonina (clomipramina), enquanto as secundárias atuam 
principalmente sobre a recaptação de noradrenalina (desipramina, nortriptilina).
Veja e compare que esses fármacos apresentam um mecanismo muito parecido com os anteriores 
discutidos aqui, porém, com um efeito maior sobre outros neurotransmissores como a NA (em maior 
grau) e a DA (em menor grau).
São estruturalmente similares às fenotiazinas e têm ações em diversos receptores no organismo, 
gerando antagonismo colinérgico, bloqueio alfa adrenérgico, inibição da recaptação da noradrenalina, 
serotonina e dopamina, bloqueio de canais de sódio e potássio, e depressão respiratória e do sistema 
nervoso central (SNC).
 Saiba mais
Leia mais sobre o assunto na página a seguir:
RODRIGUES, S. A. Clorpromazina, C17H19N2SCl. PUBLISBQ – Química 
Nova Interativa, [s.d.]. Disponível em: http://qnint.sbq.org.br/novo/index.
php?hash=molecula.264. Acesso em: 28 nov. 2020.
Unidade II
250
SS
NN
HH
Figura 124 – Estrutura molecular da fenotiazina
CH
CH2
CH2
N
R1 R2
Fármaco R1 R2
Amitriptilina - CH3 - CH3
Nortriptilina - CH3 - H
Figura 125 – Estrutura química dos antidepressivos tricíclicos amitriptilina e nortriptilina
Note a semelhança entre os ATC e as fenotiazinas.
Na intoxicação, os efeitos mais importantes são no SNC (sedação e coma por atividade anticolinérgica 
e convulsões por provável inibição da recaptação de catecolaminas cerebrais) e cardiovasculares 
(taquicardia e hipertensão por ação anticolinérgica e inibição da recaptação de catecolaminas, 
hipotensão pelo bloqueio alfa-adrenérgico, depressão miocárdica e distúrbios da condução cardíaca por 
bloqueio dos canais de sódio).
Da mesma forma que fizemos na categoria anterior, seguem algumas informações rápidas sobre a 
farmacocinética desses compostos.
São absorvidos, e o início dos efeitos ocorre após uma hora da exposição, com pico de concentração 
plasmática entre duas e oito horas. Possuem um Vd de 7 a 78 l/kg e se ligam em proteínas plasmáticas 
> 90% com T½ biológica variando entre sete e 58 horas. A biotransformação é hepática e a eliminação 
ocorre pela via renal (70%) e pela via fecal (30%).
Na intoxicação aguda leve podem ocorrer sonolência, sedação, taquicardia, alucinações, midríase e 
outros efeitos anticolinérgicos, e em casos de intoxicação grave, convulsões, coma, aumento do intervalo 
QRS no eletrocardiograma (ECG), arritmias ventriculares, insuficiência respiratória e hipotensão. Podem 
ocorrer arritmias graves levando à parada cardíaca e óbito, mesmo em pacientes jovens.
TOXICOLOGIA E ANÁLISES TOXICOLÓGICAS
251
Para um tratamento na intoxicação, realizam-se medidas de suporte (já citadas anteriormente) 
acrescidas de verificação e correção de distúrbios hidreletrolíticos relacionados a Na+, K+ e Ca+2 devido 
ao aumento do risco de arritmias, em que o paciente dever ser mantido em observação por 72 horas ou 
enquanto ainda apresentar alterações no ECG. Não há antídoto para tratamento.
Benzodiazepínicos
São medicamentos utilizados em transtornos ansiosos, como anticonvulsivantes, na síndrome de 
abstinência alcoólica, nos estados hiperadrenérgicos, conforme ocorre nas intoxicações por drogas 
de abuso, como relaxantes musculares e como agentes sedativos em procedimentos.
Todos os benzodiazepínicos em uso clínico são capazes de promover a ligação de um importante 
neurotransmissor inibitório, o ácido γ-aminobutírico (GABA), aos receptores de GABA do subtipo GABAA, 
que existem como canais de cloreto formados por múltiplas subunidades e controlados por ligando, 
intensificando, desse modo, as correntes iônicas induzidas pelo GABA através desses canais (BRUNTON; 
CHABNER; KNOLLMANN, 2012).
Vamos falar um pouco sobre a farmacocinética? Os benzodiazepínicos são rapidamente absorvidos 
após a administração por via oral. Pela via parenteral, a distribuição no organismo se efetua de forma 
semelhante à observada com fármacos muito lipossolúveis. A penetração no tecido cerebral é muito 
rápida. A administração intramuscular não é sugerida para a maioria dos benzodiazepínicos, excetuando 
os hidrossolúveis, uma vez que a absorção por essa via é muito irregular. A biotransformação ocorre pelo 
CYP, o que implica às vezes interações medicamentosas significativas, e a eliminação é renal.
C
C
CN
R1
R2
R3
R4
R2'
R7 N
B
1
5 4
a
3A
C
Figura 126 – Estrutura geral dos benzodiazepínicos
Nas intoxicações leves e moderadas observam-se sonolência, sedação e fala arrastada.
Você sabia que essas substâncias são amplamente utilizadas como indutoras de anestesia em 
cirurgias? Pois bem, elas são muito empregadas para esse fim, e até

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