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O uso do álcool e a polifarmácia no idoso

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Pró-Reitoria Acadêmica 
Escola de Saúde e Medicina 
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia 
 
O USO DO ÁLCOOL E A POLIFARMÁCIA NO IDOSO 
Autora: Danielle Alves de Melo
Orientadora: Profa. Dra. Marileusa Dosolina Chiarello
Brasília - DF 
2016 
 
 
 
 
 
 
DANIELLE ALVES DE MELO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O USO DO ÁLCOOL E A POLIFARMÁCIA NO IDOSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da 
Universidade Católica de Brasília, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
Mestre em Gerontologia. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Marileusa Dosolina 
Chiarello 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
M528u Melo, Danielle Alves de. 
O uso do álcool e a polifarmácia no idoso. / Danielle Alves de Melo – 
2016. 
89 f.; il.: 30 cm 
 
Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2016. 
 Orientação: Profa. Dra. Marileusa Dosolina Chiarello. 
 
1. Gerontologia. 2. Idosos. 3. Polifarmácia. 4. Alcoolismo. 5. Álcool. 6. 
Interação Medicamentosa. I. Chiarello, Marileusa Dosolina, orient. II. 
Título. 
 
 
 CDU 613.98 
 
 
 
 
Dissertação de autoria de DANIELLE ALVES DE MELO, intitulada “O USO DO 
ÁLCOOL E A POLIFARMÁCIA NO IDOSO”, apresentada como requisito parcial para 
obtenção do grau de Mestre em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, em 
_____/____/____, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: 
 
 
 
_________________________________________ 
 
Prof. Titulação Nome 
Orientador 
Curso/ Programa - UCB 
 
 
 
_________________________________________ 
 
Prof. Titulação Nome 
Curso/ Programa - UCB 
 
 
 
_________________________________________ 
Prof. Titulação Nome 
Curso/ Programa - UCB 
 
 
 
 
 
Brasília 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho a toda a minha família, 
alunos e amigos que por vários dias e horas 
esperaram por mim. Em especial ao meu 
esposo e minhas filhas que mesmo sem 
entender as longas jornadas no computador, 
me deixaram estudar e escrever com “quase” 
total tranquilidade. 
 
 
 AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus, por ter criado em mim, a vontade de realizar um sonho e de ser melhor a 
cada dia. 
A minha mãe, que cuidou das minhas filhas enquanto me ausentava para estar nas aulas, 
palestras, pesquisas, reuniões e a escrita. Ao meu pai e irmãos que se desdobraram para 
manter a rotina das minhas filhas enquanto estudava. “Mais esperança nos meus passos do 
que tristeza nos meus ombros (Cora Coralina)” 
As minhas filhas que sem elas a busca pelo melhor não teria sentido, obrigada minhas 
“Tchucas”. 
Ao meu esposo, pela paciência e esforço, em economizar cada centavo de real para pagar 
aqueles quase infindáveis boletos que venciam impreterivelmente todo dia 10 e pelo exemplo 
de disciplina e inteligência. Obrigada amor da minha vida! “Eu prefiro na chuva caminhar, 
que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em 
conformidade viver..." (Martin Luther King). 
Aos meus irmãos e amigos que compreenderam todas as vezes que não pude estar com eles 
aos domingos e não me deixaram desistir. “A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar. 
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada, o anzol, a chumbada, a isca” (Cora 
Coralina). 
A minha cunhada Renata, pelo exemplo de perseverança e resiliência e pelas valiosas dicas 
para a escrita. 
Ao meu querido, amado e eterno sobrinho Otávio (in memorian), pelo exemplo de como se 
luta pela vida e de como se vive para ser amado eternamente. “Não sei se a vida é curta ou 
longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das 
pessoas (Cora Coralina)”. 
Ao profº Drº Álvaro Galdos pela paciência em me ajudar aplicar os questionários e pelo 
companheirismo durante as horas de aflição frente as incertezas. Valeu grande amigo! 
“Desistir... eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem 
mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas (Cora Coralina)”. 
Aos meus alunos e chefes que souberam entender todas as vezes que disse: “Desculpe-me. 
Não consegui. Pode ser amanhã?”. 
A Drª Gislaine pelo apoio e palavras dóceis de acolhimento. “Feliz aquele que transfere o que 
sabe (Cora Coralina)” 
A Minha orientadora Drª Marileuza, pela paciência, dedicação, e impecável orientação dentro 
do pouco tempo que lhe coube. Em especial, por todo conhecimento adquirido durante os 
nossos encontros, por ser um exemplo de profissional e pela dedicação em todas as fases desta 
dissertação e pelas boas risadas que me proporcionou. 
A Drª Margô que me incentivou, chamando no cantinho e falando: ”Não desiste não. Defende 
logo”. “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e 
semeando, no fim terás o que colher” (Cora Coralina). 
 
 
As minhas alunas Sarah, Sabrina, Mônica e Marina, pela ajuda na aplicação dos questionários 
e pelos dias divertidos que tivemos enquanto andávamos horas a fio no sol escaldante de 
Brasília, para alcançarmos todos os idosos da amostra. Foram dias de muita emoção e 
diversão. Obrigada! “Quando não souberes para onde ir, olha para trás e sabe pelo menos de 
onde vens” (Provérbio Africano). 
Aos idosos que gentilmente nos receberam. Cada copo de água, lanchinho, café, sorvete e até 
piadas valeram a pena. “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e 
faz doces. Recomeça” (Cora Coralina). 
Agradeço a todos que diretamente ou indiretamente contribuíram para esse momento. 
 
“E aprendi que se depende sempre 
De tanta, muita, diferente gente 
Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. 
É tão bonito quando a gente entende 
Que a gente é tanta gente 
Onde quer que a gente vá. 
É tão bonito quando a gente sente 
Que nunca está sozinho 
Por mais que pense estar...” 
 
(Caminhos do coração – Gonzaguinha) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todo ser humano precisa saber que a maior 
felicidade que se pode sentir na vida é aquela 
que a gente saboreia quando consegue, 
verdadeiramente, fazer a felicidade de alguém. 
Mokiti Okada. 
 
 
 
 
RESUMO 
 
MELO, Danielle. O uso do álcool e a Polifarmácia no idoso. 2016. 89 f. Dissertação 
(Mestrado em Gerontologia) - Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2016. 
 
O envelhecimento da população mundial traz grandes desafios para os sistemas de saúde. 
Frente à mudança do perfil do envelhecimento, com a população idosa aumentando 
continuamente, é necessário estratégias que garantam o envelhecimento saudável. Uma das 
estratégias visando o envelhecimento com qualidade é o uso de variados medicamentos, 
conhecida como polifarmácia. Entretanto, os medicamentos, além de interagirem entre si, 
podem ter interação com outros fatores, como a ingestão de bebidas alcoólicas. O objetivo do 
trabalho foi avaliar o uso concomitante de poli farmácia e bebidas alcoólicas por idosos do 
bairro Granja do Torto, Distrito Federal por meio de aplicação de questionário MEEN e outro 
estruturado. Conclui-se que dos 202 idosos entrevistados, 130 (64%) fazem uso de 
polifarmácia. Entretanto entre estes apenas 16 pessoas (8%) fazem uso concomitante de 
bebidas alcoólicas. O baixo percentual que pode estar relacionado com a assistência que esses 
idosos recebem no postode saúde local, com atendimento de uma equipe multidisciplinar. O 
acompanhamento constante deste público e o esclarecimento acerca da condição de saúde e 
dos riscos do consumo de álcool e variados medicamentos possibilita diminuição de riscos 
para a saúde e auxilia a manter hábitos de vida saudáveis. 
 
Palavras–chaves: Idosos. Polifarmácia. Alcoolismo. Álcool. Interação Medicamentosa. 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The aging of the world population is a challenge for health systems. Faced with the aging 
profile change, with the elderly population steadily increasing, it is necessary strategies to 
ensure healthy aging. One of the strategies for the aging quality is the use of various drugs, 
known as polypharmacy. However, the drugs, besides interact with each other, may interact 
with other factors such as consuming alcohol. The objective was to evaluate the concomitant 
use of poly pharmacy and alcohol by elderly of the Granja do Torto-D.F neighborhood, 
through a questionnaire of MEEN and another one structured. It is concluded that from the 
202 elderly respondents, 130 (64%) use polypharmacy. However among those, only 16 
people (8%) make concomitant use of alcohol. The low percentage may be related to the 
assistance that the elderly receive in the local health center, with the attendance of a 
multidisciplinary team. The constant monitoring of the public and the increase awareness 
of health condition and the risks of consuming alcohol and various drugs, enables the 
reduction of risks to the health and helps to maintain healthy habits. 
 
Keywords: Elderly. Poly pharmacy. Alcoholism. Alcohol. Drug Interaction. 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 – Dados descritivos da amostra ……………………………………………... 42 
Tabela 2. Comparação da frequência de doenças crônicas não transmissíveis entre idosos 
que fazem ou não uso de álcool ......................................................................................... 43 
Tabela 3. Distribuição e comparação do uso de medicamentos, segundo o grupo 
farmacológico, dos que ingerem bebida alcoólica e dos que não ingerem ........................ 44 
Tabela 4. Perfil do gênero identificado em trabalhos com idosos ..................................... 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1. Localização da amostra onde residem os idosos desta pesquisa .............................. 36 
Figura 2. Mapeamento do bairro da Granja do torto – DF. ..................................................... 39 
Figura 3. Distribuição de gênero na amostra estudada. ........................................................... 41 
Figura 4. Auto percepção de saúde referida pelos idosos ....................................................... 42 
Figura 5. Distribuição da polifarmácia nos indivíduos estudados ........................................... 44 
Figura 6. Distribuições da polifarmácia entre os idosos que não fazem e que fazem uso do 
álcool...................................................................................................................... 45 
Figura 7. Medicamentos mais utilizados pela população estudada ......................................... 45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
CID - Classificação Internacional de Doenças 
CRAS - Centros de Referência da Assistência Social 
DCNT - Doenças crônico não transmissíveis 
DIP - Doenças infecciosas e parasitárias 
DM - Diabetes mellitus 
GABA - Ácido γ-aminobutírico 
GABA A - Ácido γ-aminobutírico do tipo A 
HAS - Hipertensão arterial sistêmica 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
MEEM - Mini Exame do Estado Mental 
NIAAA - National Insitute on Alcohol Abuse and Alcoholism 
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 
SNC - Sistema Nervoso Central 
SUS - Sistema Único de Saúde 
UCB - Universidade Católica de Brasília 
USF – Unidade de Saúde da Família 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13 
2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 17 
3 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 18 
3.1 ENVELHECIMENTO: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E LEGAIS ............ 18 
3.2 O USO DO ÁLCOOL NO IDOSO ....................................................................... 21 
3.3 A POLIFAMÁCIA NO IDOSO ........................................................................... 23 
3.4 MEDICAMENTOS VERSUS ÁLCOOL .............................................................. 25 
4. OBJETIVOS ............................................................................................................. 28 
4.1 GERAL ................................................................................................................. 28 
4.2 ESPECÍFICOS ...................................................................................................... 28 
4.3 HIPÓTESE ............................................................................................................ 28 
5. ARTIGO 1 – publicado ............................................................................................ 29 
6. ARTIGO 2 – em preparação ................................................................................... 30 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 31 
MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................... 35 
RESULTADOS .......................................................................................................... 41 
DISCUSSÃO .............................................................................................................. 46 
7 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 53 
REFERENCIAS DO ARTIGO ...................................................................................... 54 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 58 
APENDICE A ................................................................................................................ 78 
APENDICE B ................................................................................................................. 80 
APENDICE C ................................................................................................................. 81 
APENDICE D ................................................................................................................ 82 
ANEXO A ...................................................................................................................... 87 
 
 
13 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A qualidade do envelhecimento da população é atualmente um grande desafio para os 
governantes, pois estima-se que em 2025 haverá no mundo aproximadamente 1,2 bilhões de 
pessoas com mais de 60 anos e, em 2050, esse número chegará a dois bilhões de idosos 
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004). A parcela de 80 anos ou mais, cresce, 
relativamente, em ritmo maior que a fração da população idosa total. Caso essa dinâmica de 
crescimento da população idosa se mantenha, a partir de 2030 o número de idosos no Brasil 
ultrapassará a parcela da população entre 15 e 29 anos (SANTOS et al., 2015). 
O aumento da expectativa de vida da população brasileira demonstra claramente como 
essa população vem envelhecendo, pois em 1950 a expectativa de vida era de 37,7 anos, 
subindo para 66,2 anos em 1995 (CANÇADO, 1996). Segundo o Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida do brasileiro é de 73,2 anos, com a 
possibilidade de alcançar 77 anos entre 2020 e 2025(IBGE, 2011). Atualmente, dez por cento 
da população brasileira é idosa, o que representa 20 milhões de idosos (PEREIRA, 2015). 
Esse aumento do número de idosos se deve a vários fatores, entre eles o 
aperfeiçoamento das tecnologias e o acesso a elas por boa parte da população, o que direta ou 
indiretamente influencia na qualidade de vida de todos (ZANON, 2012). Além dos avanços 
tecnológicos podemos citar a urbanização das cidades, o aporte nutricional aumentado, o 
declínio da fecundidade em meados da década de 1960 e as condições ambientais e de higiene 
como contribuintes diretos no crescimento da população de idosos no Brasil (OPAS, 2005). 
O cenário deste aumento do número de idosos no País é muito bem recebido e traz 
expectativas de uma vida melhor e longínqua, mas, por outro lado, apresenta aos serviços 
públicos e particulares um novo perfil de morbimortalidade (REIS et al., 2015). Este novo 
perfil abraça doenças crônicas não transmissíveis (DCNT’s), bem como as doenças próprias 
do envelhecimento, que passaram a apresentar maior demanda em todas as esferas dos 
serviços públicos e privados de saúde, esporte e lazer (VERAS, 2009). 
O envelhecimento da população trouxe o benefício de uma maior longevidade, porém 
aumentou as DCNT`s. As DCNT`s são explicadas como morbidades de longa evolução 
clínica, estão habitualmente associadas às fragilidades da evolução no envelhecimento 
humano, acometendo principalmente os idosos. O Ministério da Saúde aponta que entre as 
DCNT’s mais evidentes estão as doenças que acometem o sistema circulatório como a 
14 
 
hipertensão arterial e a insuficiência cardíaca, o sistema endócrino, com a diabetes mellitus , 
seguidas pelas doenças do sistema respiratório e o câncer (LEITE et al., 2015). 
Fatores sócio econômicos e ambientais podem influenciar diretamente no agravamento 
ou retardo das DCNT`s, como tabagismos, uso do álcool, falta de exercícios físicos, 
alimentação desapropriada, baixa escolaridade e disparidade no acesso as informações e 
serviços de saúde; sendo assim esse cenário configura um problema de saúde pública de 
ampla magnitude correspondendo a 70% das causas das mortes nos idosos (BRASIL, 2011). 
Com uma maior expressão no cenário populacional, os idosos vêm sendo tema de 
várias pesquisas, como a procura por respostas a longevidade, fatores que influenciam o 
envelhecimento, tecnologias que promovem diagnósticos e tratamentos mais eficazes e menos 
invasivos e o desafio dos múltiplos problemas em saúde que identificam as questões que 
afetam e influenciam essa faixa (ROSSET et al., 2011). Dentre elas destaca-se o uso do álcool 
que, quando associado à poli farmácia, definida pelo uso de mais de dois medicamentos, 
normalmente adotada pelo idoso, apresenta interações perigosas e muitas vezes 
negligenciadas (ANDRADE et al., 2009). 
Em uma pesquisa de Rigo et al. (2005) relatam que o uso de álcool entre os idosos é 
corriqueiro, apesar deste hábito não ser adequadamente avaliado e considerado, o que aponta 
a necessidade de maior observação do uso abusivo do álcool nesta faixa etária. As políticas 
públicas visam apenas os adultos jovens, esquecendo que o álcool acarreta efeitos de 
percepção e consciência também nos idosos que, muitas vezes associado a medicamentos com 
o mesmo mecanismo de ação, podem levar a graves consequências e dificultar diagnósticos e 
tratamentos (GIGLIOTTI et al., 2004). 
Em 2010 um estudo realizado no interior de São Paulo, feito com idosos atendidos no 
Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas, com o objetivo de identificar o perfil dos 
idosos usuários de substâncias psicoativas, mostrou que a droga de maior uso era o álcool 
com 83,8%. Dos usuários 90,6 % eram homens e 9,4 % mulheres, o que gera um quadro de 
atenção social, uma vez que idosos fazem uso destas drogas associadas a medicamentos de 
uso contínuo, como os benzodiazepínicos, costumeiramente utilizados nesta faixa etária, 
mesmo se tratando de medicamentos potencialmente perigosos, segundo o critério de Beers 
(PILOON, 2010). 
A predominância masculina no uso do álcool também observado por Lima (2009), em 
um estudo desenvolvido na cidade de São Paulo, que relacionou o uso do álcool com quedas 
entre os idosos. O estudo apontou que a abstinência entre as mulheres (68,4%) foi superior 
quando comparado ao percentual entre os homens (23,6%). 
15 
 
Não há um critério específico que defina a dependência do álcool pelos idosos, por 
isso os mesmos são diagnosticados seguindo a Classificação Internacional de Doenças, 
(CID10) ou quando os critérios do Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais 
(DSM) são atendidos, isto gera uma ineficiência do tratamento, comprometendo a qualidade 
de vida e terapêutica medicamentosa (RIGO et al., 2005). 
A despeito das intercorrências narradas sobre o uso do álcool em idosos, as 
consequências deste problema permanecem desconhecidas (MARTINS, 2015). Os estudos de 
Políticas públicas, no Brasil, têm como foco as pessoas mais jovens, o que acaba gerando 
pouca expressão acerca do cenário da parcela idosa da população, reduzindo o poder 
estatístico das análises relacionadas a eles (PRAIS et al., 2008). 
Em um estudo transversal, Laranjeiras et al. (2007) observaram uma prevalência de 
10% do uso nocivo do álcool no Brasil por idosos. Ao envelhecer o indivíduo passa por 
alterações fisiológicas naturais, senescência, que o tornam mais susceptíveis ao álcool, uma 
vez que o metabolismo do mesmo fica modificado, podendo levar a quadros de intoxicação 
etílica e ou medicamentosa, pois na maioria dos casos há o uso crônico de drogas terapêuticas 
(MERLIN et al., 2013). 
Essas alterações se tornam significativas quando associadas ao uso de medicamentos, 
uma vez que se deve levar em consideração a diminuição da massa magra e água, já que a 
redução do volume hídrico leva a uma diminuição da distribuição de drogas hidrossolúveis 
como, por exemplo, o álcool etílico (RAMOS et al., 2001). 
Evidências atuais apontam que o uso disseminado do álcool acaba impactando de 
forma significativa nas questões de saúde pública e não seria diferente para os idosos, que não 
estão envolvidos nas ações que combatem o uso excessivo da bebida alcoólica, mas são uma 
parcela da população que faz uso abusivo do mesmo, com o agravante da interação com os 
medicamentos de uso contínuo (BABOR et al., 2003). 
O que pode ajudar na identificação e posterior diagnóstico do alcoolismo no idoso é 
observar a forma como os mesmos se apresentam nos serviços de saúde, com que frequência e 
com qual queixa, pois conforme a pesquisa de Zimberg (1983), é possível classificar os idosos 
que apresentam uso da bebida alcoólica em duas esferas baseadas no momento em que 
iniciam o uso: início precocemente, ente 20 e 30 anos e por volta dos 40 e 50 anos. 
Sabe-se que as alterações fisiológicas do organismo em processo de envelhecimento 
associadas a mudanças como aposentadoria, perda de amigos, solidão, viuvez, isolamento 
social, tornam os idosos mais vulneráveis a hábitos não saudáveis e muitas vezes prejudiciais 
à saúde, como o consumo de álcool (SINADINOVIC et al., 2014). 
16 
 
Dentro deste contexto o presente trabalho torna se de suma relevância, pois apresenta 
um assunto pouco explorado. De acordo com as evidencias aqui mostradas, o número de 
idosos está crescendo e juntamente com esse cenário, as necessidades especificas desta faixa 
etária. Apresentar essa negligenciada associação Medicamento versus Álcool, pode mudar de 
forma positiva a evolução dos mecanismos do envelhecimento. 
 
 
17 
 
2 JUSTIFICATIVA 
 
Devido aos grandes acomedimentos biológicos e sociais dos idosos, a dificuldade na 
delimitação do uso do álcool e a polifarmácia no idoso, sustenta a necessidade de trabalhos 
como estes serem realizados, Apresentando a importância de apontar e detectar o uso do álcool 
bem como a polifarmácia praticadana população de idosos. Uma vez que muitos atendimentos 
de saúde advém de práticas incorretas relacionadas as associações perigosas de medicamentos e 
álcool, gerando graves riscos a saúde do idoso bem como comprometer a qualidade de vida do 
mesmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
3 REFERENCIAL TEÓRICO 
3.1 ENVELHECIMENTO: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E LEGAIS 
 
Na atualidade o envelhecimento populacional é um episódio mundial, já que a relação 
entre o crescimento da população e o desenvolvimento de estruturas sociais, físicas e 
legislatórias que respaldam essa evolução é o grande desafio dos países, em especial o Brasil, 
que passa por uma diferenciação no seu crescimento demográfico, espantoso (VERAS, 2009). 
A perspectiva de idosos brasileiros em 2025 deverá ser de 15% da população, que colocará o 
país em sexto lugar no ranking mundial (IBGE, 2010). A taxa média geométrica de 
crescimento anual da população idosa, acima de 60 anos, no geral, no Brasil, é de 3,3% e 
entre os idosos mais velhos essa taxa é cerca de 5%, sendo uma das mais crescentes do mundo 
(IBGE, 2010). 
O progresso do envelhecimento é demarcado por várias alterações fisiológicas no 
organismo humano (MARIANO et al., 2014). Variações essas que transpassam em todos os 
sistemas do organismo, apresentando-se ora mais intenso ora mais brando dependendo do 
estado emocional, nutricional e do idoso (LEITE et al., 2012). Diminuição das defesas 
imunológicas, alterações bioquímicas, minoração do sistema cognitivo, alterações de marcha 
e maior vulnerabilidade a agentes estressores são alguns exemplos deste processo 
(ANDRADE et al., 2012). 
Os conceitos de senilidade e senescência muitas vezes são adotados como sinônimos, 
por se tratarem de mudanças no sistema humano, é preciso entender a diferença entre eles 
para caracterizarmos essa fase, do envelhecer, na vida humana, tão marcada por mitos e 
medos e encarada por poucos (CIOSAK et al., 2011). A senescência representa o ínterim de 
alterações danosas caracterizadas pela passagem do tempo, que torna o indivíduo mais 
propenso a incapacidades funcionais e doenças crônicas de forma gradual, não encarado como 
uma forma doentia (OLIVEIRA et al., 2013). A senilidade se refere a fase do envelhecimento 
que o declínio físico e mental é mais evidenciado, e é nesta fase que se identifica a diferença 
entre as pessoas, pois muitas aos 75 anos não apresentam sinais de senilidade enquanto outras 
aos 65 anos já se apresentam senis. (BALCOMBE et al., 2001). 
No envelhecimento normal ou biológico, dentre as várias funções cognitivas, algumas 
sofrem alterações e diminuição de sua capacidade funcional naturalmente, como a atenção e 
memória mesmo em idosos saudáveis (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). Não 
obstante, estudos apontam que no envelhecimento com saúde existe a probabilidade do 
19 
 
cérebro promover uma compensação destes declínios cognitivos, quando corpo e mente são 
preservados e estimulados adequadamente (DUNLOSKY et al., 1998). 
Assim, o conceito clássico de Saúde difundido pela OMS é inadequado para os idosos, 
pois a presença de doença não significa mais, a falta da saúde, e sim, a completa satisfação 
alcançada com a presença de doenças ou não, pois o que está em jogo é a sua autonomia e não 
a sua relação com a doença (RAMOS, 2003). 
A melhoria na qualidade de vida e o aumento da expectativa de vida auxiliaram para a 
multiplicação do número de idosos no Brasil (SANTOS et al., 2008). A preocupação com os 
hábitos de vida saudáveis incrementados por alguma atividade física e prazeres pessoais 
tiveram um papel coadjuvante neste movimento incontestável na atualidade, corroborado 
pelos avanços tecnológicos, nutricionais, farmacológicos, fisioterapêuticos e outros 
(GUIMARÃES, 2012). Os indivíduos que estão chegando a 60 anos receberam uma 
contribuição do avanço tecnológico no diagnóstico e tratamento das doenças crônicas e da 
diminuição da taxa de mortalidade infantil (LEBRÃO, 2009). Pouco importa se o idoso está 
acometido por várias doenças crônicas e sim se a terapêutica é bem sucedida, gerindo a sua 
vida, feliz, com autonomia e integrado socialmente (RAMOS et al., 2001). 
Sob a ótima da normatização, o envelhecimento está amplamente escudado, dentre 
essas normas a destaca-se a Lei Orgânica da saúde nº 8080/1990: 
Dentre seus princípios, destacam-se a preservação da autonomia, da integridade 
física e moral da pessoa; a integralidade da assistência; e a fixação de prioridades 
com base na epidemiologia, regulamentando o direito à saúde, na forma de um 
sistema nacional hierarquizado e de proteção social. Inclui, ainda que não o 
mencione explicitamente, o cuidado e a promoção da saúde aos indivíduos da 
terceira idade. 
 
Estatuto do Idoso – Instituído pela Lei 10741 de 1998: 
No seu Artigo 24, por exemplo, reforça a estruturação do direito e da atenção à 
saúde dos idosos, por intermédio do SUS, garantindo-lhes o acesso universal e 
igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a 
prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde. 
 
 
Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSI) – Instituída em 1999: 
Em decorrência de medidas político-institucionais comemorativas do Ano 
Internacional do Idoso em 1998, fundamenta a ação do setor saúde na atenção 
integral à população idosa, em conformidade com a Lei Orgânica do SUS. Tem 
como propósitos basilares a promoção do envelhecimento saudável; a manutenção e 
a melhoria, ao máximo, da capacidade funcional dos idosos; a prevenção de 
20 
 
doenças; a recuperação da saúde dos que adoecem; e a reabilitação daqueles que 
venham a ter a sua capacidade funcional restringida, de modo a garantir-lhes 
permanência no meio em que vivem, exercendo de forma independente suas funções 
na sociedade. 
 
O surgimento de múltiplas doenças já é algo esperado quando se fala no envelhecer do 
corpo, não esquecendo que a mente envelhece e com esse processo surgem transtornos que 
muitas vezes são as causas da doença no corpo (PAPALÉO et al., 2006). As estimativas do 
Ministério da Saúde, quanto a prevalência dos transtornos mentais na população em geral, são 
de 6% de transtornos mentais graves em resposta ao uso do álcool e outras drogas e que 12% 
necessitam de algum atendimento psiquiátrico (GORETTI et al., 2004). Ramos e 
colaboradores (1993), no município de São Paulo, detectaram uma prevalência de 27% de 
transtornos mentais em idosos. 
Chegar à velhice, antigamente, era algo para poucos privilegiados e mesmo assim, 
rodeados de agruras e sofrimentos que a velhice traria (CAMPOS et al., 2015). Atualmente 
este fato está acessível a grande parte da população, mesmo em países subdesenvolvidos ou 
em transição, como no Brasil (LIMA et al., 2003). O símbolo do indivíduo avelhantado 
prevalece agregado ao ser decadente, necessitado e dependente, gerando implicações na 
estruturação da identidade senil e suas ações em sociedade (LÍGIA, 2013). Para Papaleo, 
(2007) o envelhecimento está mais relacionado com os fatores socioeconômicos e legais do 
que puramente a marcadores biológicos. 
Sabem-se também, que o processo de envelhecer não é só marcado pelas 
vulnerabilidades e modificações morfológicas, funcionais e bioquímicas e sim, também, pelas 
oscilações emocionais de ordens distintas como a perdas de entes queridos, falência 
econômica, acidentes que apresentam uma nova conformação social dos idosos, que se 
percebem viúvos e com a solidão à sua porta (CARAMANO, 2004). O estigma pode ser 
conceituado como uma conotação depreciativa, enquanto processo social, que afeta 
diretamente a saúde física e mental dos indivíduos ou grupos afetados (DOVIDIO et al., 
2003). O processo do envelhecer sofre do estigma natural que permeia desde o inaceitável até 
a auto exclusão pelo ser idoso. Dentro deste processo de envelhecimento é possível citar a 
redução da autoestima, perda do status,interações sociais diminuídas, incapacidade de pedir 
ajuda e o aumento na vulnerabilidade do aparecimento de doenças (LINK et al., 2006). 
Pesquisas têm encontrado associações de várias condições de saúde dos idosos com os 
fatores ambientais, demográficos e sócio econômicos, indicando que existe uma relação direta 
21 
 
destes fatores com a qualidade do envelhecimento e da saúde, para explicar o aumento da 
população idosa no Brasil (HUISMAN et al., 2003). 
Um dado importante da morbimortalidade da população idosa é o fato de que as 
mortes por doenças infecciosas e parasitárias DIP teve um declínio, provavelmente por 
melhorias do saneamento básico e infraestrutura, enquanto as mortes por DNCT’s, com 
percurso longo de latência ou com manifestações clínicas letárgicas, aumentou 
consideravelmente, o que implica na diversidade de fatores que levaram e este aumento, entre 
eles o uso abusivo do álcool e tabagismo associados as DNCT’s (BAYER et al.,1984). No 
Brasil, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD, realizada 
em 2009, 77,4% dos idosos brasileiros declararam ter pelo menos uma doença crônica (IBGE, 
2010). 
 
3.2 O USO DO ÁLCOOL NO IDOSO 
 
As fragilidades físicas e emocionais apresentadas nos longilíneos os deixam mais 
susceptíveis à busca de drogas lícitas e ilícitas para o alívio da forte pressão interna e externa 
que sofrem ao envelhecer, somados ao estigma do velho e da morte (LI-JUNG et al., 2012). É 
neste cenário que o uso do álcool por idosos se apresenta e toma espaço cada vez maior na 
vida cotidiana dos mesmos (FERNANDES et al., 2010). A motivação para o uso do álcool 
abrange os objetivos do indivíduo que leva em consideração, mesmo que de forma irreflexiva 
e automática, os benefícios atingidos com o uso do álcool ser superado com aqueles do não 
uso da substância (COX et al., 1988). 
O processo de envelhecimento tem características únicas, pois é marcado por 
diferenças individuais que marcam como cada um vai envelhecer, como por exemplo, a 
população acima de 80 anos está aumentando, ou seja, a composição do próprio grupo está 
sendo alterada, o número de mulheres idosas é maior que de homens (CAMARANO, 
2002).Um artigo publicado por Garrido e Menezes (2002), indicou de modo geral os idosos 
entrevistados tinham pelo menos uma doença crônica com uso de medicamentos regulares e 
um a cada três idosos expressavam sinais e sintomas de alteração psiquiátrica. 
O uso do álcool está imerso em diversos contextos culturais, como crença, 
expectativas e motivações apesar de ser uma droga psicotrópica com sérios efeitos no Sistema 
Nervoso Central SNC, que se manifestam de forma bastante individual (AGRAWAL et al., 
2008). As possíveis explicações para o uso indiscriminado do álcool permeiam os níveis 
22 
 
sociais, principalmente nos jovens, onde ocorre as confraternizações e celebrações 
promovendo as relações interpessoais. Nos idosos essas suposições se flexionam 
apresentando justificativas maduras que só apareceriam nesta faixa etária em forma de 
modelo de fuga dos problemas, como por exemplo: solidão, rejeição, conflitos internos, 
facilitação social, destaque sexual, alívio da pobreza ou efeitos psicotrópicos (MAGID, 2007). 
Para a Organização Mundial de Saúde, os dependentes do álcool somam 14% no total 
da população e de 22% em pacientes com alguns transtornos psíquicos. No Brasil, o número 
de investigações epidemiológicas de saúde mental é pequeno, mas os poucos estudos indicam 
que a prevalência de depressão varia de 5,1% a 15,7%, dos transtornos de ansiedade de 3,7 a 
12,7% e a do alcoolismo de 5,1 a 6,0% na população em geral (KANO et al., 2014). 
Para dados em idosos esses apontamentos são ainda mais escassos, pois não atingem 
toda a população idosa, encontrando apenas dados estatísticos isolados em regiões e estados, o 
que dificulta a identificação do problema bem como elaboração políticas de tratamento e 
diagnóstico (MELLO et al., 2007). 
As diversas atualizações no conceito definem o alcoolismo como “uma doença crônica 
primária que tem seu desenvolvimento e suas manifestações influenciados por fatores 
genéticos, psicossociais e ambientais e frequentemente progressivos e fatais” (BRITES et al., 
2014). A OMS traz o alcoolista como o bebedor excessivo cuja essa relação com a bebida traz 
consequências perigosas para a sua saúde mental e física bem como o seu elo com os outros 
(EDWARDS, 2005). 
O National Insitute on Alcohol Abuse and Alcoholism –NIAAA, aplica o termo “uso 
moderado” para referir ao consumo do álcool que não traz prejuízos individuais e sociais. O 
uso moderado é definido por 14 unidades de bebida semanal, sendo unidade definida como 
14g de etanol puro, para homens e 07 unidades para mulheres, quando se refere a pessoas 
acima de 65 anos essa unidade é diminuída para 03 unidades. 
Aproximando estes números para consumo diário, não sendo uma verdade absoluta; 
devido as variantes pessoas, seria de 02 unidades para homens e 01 unidade para mulheres 
(GUNZERATH et al., 2004). A OMS aconselha para as mulheres não mais que duas unidades 
diárias e para os homens não mais que três unidades diárias (ANDRADE et al., 2009). 
Observar esse cenário de amadurecimento da população pode revelar problemas de 
saúde pública que estão sendo negligenciados. A falta de estudo apontando as principais 
necessidades dos idosos em busca da qualidade do envelhecimento, apresenta uma lacuna que 
precisa ser preenchida (BOING et al., 2012). 
23 
 
Atualmente, vários conceitos são adotados a fim de definir os diferentes padrões de 
consumo de álcool, um deles é o de uso nocivo (harmful use), que se “trata de um padrão de 
consumo de qualquer substância psicoativa que causa dano para a saúde, esse podendo ser 
tanto físico quanto mental. Comumente, mas não invariavelmente, o uso nocivo tem 
consequências sociais adversas; no entanto, apenas consequências sociais não são suficientes 
para justificar o diagnóstico de uso nocivo” (BRASIL, 2010). 
Todavia, há diferenças em sua conceituação por cada um dos manuais classificatórios: 
enquanto a definição da CID-10 utiliza-se do termo “uso nocivo” referindo-se geralmente 
apenas aos efeitos físicos e não às consequências sociais, a definição da DMS-IV para a 
mesma problemática usa o termo abuso referindo-se a um padrão “desajustado de uso” devido 
à não interrupção do mesmo apesar do reconhecimento de problemas sociais, ocupacionais, 
psicológicos ou físicos, persistentes ou recorrentes, causados ou exacerbados pelo uso 
recorrente em situações nas quais ele é fisicamente arriscado” (BRASIL, 2010). 
 
3.3 A POLIFAMÁCIA NO IDOSO 
 
Esse cenário de mudança demográfica evidenciando o crescimento da população idosa 
traz desafios ainda maiores para a saúde pública e governantes, como o aumento da rede de 
assistência básica de saúde para aumentar o acesso ao tratamento das DCNT’s dentro de uma 
visão multidisciplinar capaz de fomentar essa cadeia (GUARIENTO et al., 2011). A terapia 
medicamentosa faz parte das múltiplas opções terapêuticas no idoso, que diante dos avanços 
tecnológicos mostrou-se ainda mais capaz de aumentar a sobrevida nas doenças crônicas e 
qualidade de vida, o que por outro lado precisa ser acompanhado, pois aumenta o risco de 
interações e reações adversas em um organismo já fragilizado pelo próprio processo de 
senescência (FLEITH et al., 2008). 
A dinâmica da prescrição medicamentosa apresenta outro lado que não pode ser 
esquecido, ainda mais se tratando da velhice, pois os problemas decorrentes da interação 
medicamentosa com outras drogas aumentam na medida em que a poli farmácia é prescrita, 
apresentando danos reais a saúde e impactos na rede de saúde pública, aumentando os 
atendimentos e internações em decorrência das associações medicamentosas, ora benéfica, 
quando prescrita (GOMES et al., 2007). A OMS, avalia que mais de 50% dos medicamentos 
prescritosou dispensados de maneira inapropriada, são usados de forma incorreta pelos 
pacientes (WHO, 2002). 
24 
 
Os avanços tecnológicos e as mudanças no comportamento humano no século XX 
trouxeram uma visão imediatista favorecendo a medicalização da vida, uma vez que nas 
consultas médica é quase que obrigatório a prescrição medicamentosa, sendo a capacidade de 
diagnóstico do médico associada, muitas vezes, ao número de medicamentos receitados por 
ele (SILVA et al., 2010). Logo, o medicamento deixa de ser um instrumento terapêutico e 
passa a receber uma formatação complexa que envolve conceitos técnicos, éticos e simbólicos 
na sua fonte primária, à prescrição (MELO et al., 2005). 
Um estudo realizado por Medeiros (2011), em uma população de mulheres com 60 na 
Universidade Católica de Brasília (UCB), mostrou que 87,7% das idosas fazem uso de 
medicamentos, sendo que 43,9% fazem uso da polimedicação e 23,1% fazem uso de 
medicamentos impróprios segunda o critério de Beers. 
De acordo com Roth (2005), existem mais de uma maneira de classificar a 
polifarmácia, uma forma de visão qualitativa e outra com uma visão quantitativa. A 
abordagem qualitativa visualiza a polifarmácia como um ou mais medicamentos prescritos. A 
abordagem quantitativa visualiza apenas os números sem julgar a necessidade clínica, 
apontando como polifarmácia o uso de dois até cinco ou mais fármacos simultaneamente. 
A polifarmácia associada a inadequada terapêutica medicamentosa, além de 
aumentarem a demanda dos serviços de saúde aumenta também os riscos de reações adversas 
e interações medicamentosas indesejadas, o que favorece a internação hospitalar ou 
contribuem para ampliar o tempo de duração, elevando os custos da saúde (PINTO et al., 
2015). A gravidade dos problemas advindos da polifarmácia possui algumas variantes 
individuais que perpassam entre as condições clínicas dos pacientes o número e as 
características farmacológicas dos mesmos (LIMA et al., 2015). 
Existe uma correlação entre o risco de reações adversas e o número de fármacos 
administrado em idosos, do qual 6% para aquele que toma até dois medicamentos, 
aumentando para 50% quando se usa concomitante mais de 5 medicamentos (FIQUEREIDO 
et al., 2015). 
A polimedicação pode ser entendida como a prescrição de mais de 05 medicamentos 
simultaneamente (CARVALHO et al., 2012). Na última década houve um aumento 
expressivo da polifarmácia geriátrica, onde de 45% da população com 65 anos ou mais fazem 
uso concomitante de 05 medicamentos e 12% usam mais de 10 agentes farmacológicos 
diferentes (KAUFMAN et al., 2002).O uso de psicotrópicos também aparece em altos índices 
nos mais idosos, o que pode ser percebido em um estudo conduzido por Noia (2012),em um 
município de São Paulo, mostrou que 12, 2% fazem usos de substancias controladas, 
25 
 
explicada, em parte, pelo benefício desta classe terapêutica nos transtornos afetivos tão 
comuns nesta fase da vida. Já em idosos institucionalizados esse número aumenta 
consideravelmente, variando entre 59,7% e 74,6% em países europeus, números 
preocupantes, principalmente devido a associação destes com os de uso contínuo para as 
DCNT’s (MANN et al., 2009). 
 
3.4 MEDICAMENTOS VERSUS ÁLCOOL 
 
A funcionalidade do sistema nervoso depende do sincronismo das comunicações 
existentes entre os neurônios, que é permeada pela ação dos neurotransmissores com um 
papel fundamental na eficácia desta comunicação, onde qualquer desordem na sua libertação, 
ligação aos receptores ou recaptação compromete, de forma mais ou menos grave, o estado 
físico e mental do indivíduo (BORODINSKY et al., 2014). 
Frente a variedade de neurotransmissores, estes podem ser classificados em três 
categorias: (1) monoaminas como a acetilcolina, a serotonina e a histamina; (2) catecolaminas 
como a dopamina, a adrenalina e a noradrenalina; e (3) aminoácidos como o glutamato, o 
ácido γ-aminobutírico (GABA) e a glicina (BARRET et al., 2010). 
O GABA está presente em cerca de um terço das sinapses neuronais, sendo assim o 
principal neurotransmissor inibitório, induzindo a inibição do SNC a nível pré-sináptico 
(PRULL, 2003). O álcool, em baixas concentrações sanguíneas, provoca desinibição e 
euforia, atuando como um depressor do SNC com doses mais altas, tendo efeitos sedativos, 
hipnóticos e anestésicos (WILLARD et al., 2013). 
O consumo crônico de álcool provoca, no entanto, alterações funcionais nas sinapses 
químicas (Pandey et al., 1996). Estas alterações deve-se a um desequilíbrio entre os 
neurotransmissores excitatórios e inibitórios, por meio dos diferentes sistemas dos 
neurotransmissores e dos neuropeptídeos (VENGELIENE et al., 2008). No SNC, o álcool 
interage com os receptores inibitórios GABA do tipo A (GABAA), potenciando o seu efeito e 
antagoniza os receptores excitatórios (CHANDLER et al., 1998). 
O GABA é o principal neurotransmissor com ação inibitória do SNC e a sua ativação 
causa uma diminuição da excitabilidade dos neurônios, deixando as respostas neurológicas 
lentas (ADDOLORATO et al., 2012). O álcool aumenta o fluxo de ions Cl por meio dos 
canais de receptores GABAA, aumentando a inibição neuronal. Como consequência deste 
26 
 
mecanismo a comunicação entre os neurônios fica comprometida, apresentando os sinais 
clássicos de embriaguez (BUCK et al., 1991). 
Recentemente, o Brasil foi classificado como o quinto país das Américas que tem o 
álcool como indutor da causa de mortes, estando o seu consumo ligado a 63% de ocorrências 
de cirrose hepática em homens e 60% em mulheres e quando se analisa em relação aos 
transtornos ligados à dependência de álcool, estima-se que cerca de 5,6% dos brasileiros estão 
inseridos nesse quadro (GAWRYSZEWSKI et al., 2014). 
Com o aumento do acesso a tratamentos para as diversas doenças que acometem a 
população em especial os idosos o medicamento é o que representa maior porcentagem neste 
cenário (MEDEIROS et al., 2007). De fatos são os principais beneficiados com o uso dos 
medicamentos, mas que por outro lado sofrem as principais consequências do seu uso, 
principalmente sob a ótica dos conceitos das Interações Medicamentosas, Polifarmácia e 
reações adversas (TEIXEIRA et al., 2001). Corroborando a afirmativa, um estudo realizado 
com idosos acima de 70 anos nos Estados Unidos, mostra que a prevalência do uso de 
medicamentos é bem próxima a 100%nos idosos (CRENTSIL et al., 2010). 
A interação medicamentosa pode ser beneficamente programada ou acidentalmente 
provocada, uma vez que traz benefícios ou malefícios para o usuário, comprometendo a 
duração da ação farmacológica ou ainda aumentando a toxicidade do medicamento bem como 
as suas reações adversas (GUASTALDI, 2006). A associação de fármacos tem sido foco que 
estudos, uma vez que o cenário do envelhecimento populacional e o aumento das DNCT’s 
geram um aumento do consumo de medicamentos, havendo como consequência a poli 
farmácia e a iatrogênia (PINHEIRO et al., 2013). 
Ao contrário de outras drogas psicotrópicas, o álcool tem seus efeitos 
independentemente de se ligar a algum receptor específico, acredita-se que o mesmo transpõe 
a membrana citoplasmática, por meio de uma alteração primária no seu arranjo químico 
tornando-se assim, mais fluído, o que gera as manifestações clínicas e emocionais tão 
descritas na literatura (RABBANI, 2006). 
No entanto, tem sido bastante estudada a interação do álcool com os diversos sistemas 
de neurotransmissão das ações fisiológicas do organismo humano, tais como a acetilcolina, 
canais de cálcio e monoaminas (KENNEDY et al., 2003). 
Não obstante o simbolismo cultural que o consumo de álcool adquiriu o álcool não é 
um produto qualquer, se trata de uma droga lícita capaz de causar danos ao organismo 
humano, principalmente em idosos, de forma crônica e aguda dependendo do padrão de 
consumo individual (FERREIRA et al., 2012). A perigosa associação Álcool X Medicamento,27 
 
traz consequências graves para o usuário, principalmente em idosos, uma vez que os mesmos 
estão com as funções renais e hepáticas comprometidas pelo avançar da idade, o que facilita 
os efeitos tóxicos e deletérios desta associação (GALASSI et al., 2008). 
Na presença do álcool o medicamento pode adotar outro comportamento 
farmacocinético do que aquele programado, uma vez que o álcool pode atuar como um co-
solvente aumento os fluidos gastrointestinais, o que afeta diretamente a absorção dos 
fármacos poucos solventes, até mesmo influenciam a dissolução de fármacos com liberação 
modificada, antecipando a sua descarga de medicamento no organismo, gerando doses 
potencialmente perigosas em ambos os casos (FADDA et al., 2008). 
A capacidade das propriedades moleculares dos fármacos em sofrer alterações de má 
absorção em resultado da baixa solubilidade ou insuficiente permeabilidade tem sido descrita 
desde a década de 1990 (BERGSTRÖM, 2014). 
Um estudo realizado por Fagerberg et al. (2012), sugeriu que a velocidade de 
dissolução e a solubilidade no intestino delgado dos fármacos podem ser significativamente 
alteradas quando administradas concomitantemente com o álcool, pois 59% das drogas 
analisadas apresentaram uma solubilidade 3 vezes maior que a prevista. 
Os estudos mostram que essa perigosa associação é determinante na janela terapêutica 
do medicamento, colocando em risco o usuário, que acredita estar usando apenas uma dose 
“pequena” de álcool e que isso não trará maiores consequências no seu tratamento 
farmacológico (PERSSON et al., 2013). 
28 
 
4. OBJETIVOS 
 
4.1 GERAL 
 
Avaliar a incidência do uso álcool em idosos no Brasil e do uso concomitante de 
polifarmácia e álcool em idosos residentes em um bairro do Distrito Federal. 
 
4.2 ESPECÍFICOS 
 
• Avaliar na base de dados DATASUS a incidência o uso do álcool em idosos 
nas cinco regiões do Brasil. 
• Identificar a prevalência da polifarmácia na amostra estudada. 
• Identificar a prevalência do uso de álcool na amostra estudada. 
 
 
4.3 HIPÓTESE 
 
Os idosos fazem uso concomitante de vários medicamentos e álcool. 
 
 
 
29 
 
5. ARTIGO 1 – publicado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
6. ARTIGO 2 – em preparação 
 
O USO DO ÁLCOOL E A POLIFARMÁCIA NO IDOSO 
Danielle Alves de Melo 1 
Marileusa Dosolina Chiarello 2 
¹ Mestranda do Programa de Pós-graduação em 
Gerontologia da Universidade Católica de Brasília. 
² Doutora do Programa de Pós-graduação em 
Gerontologia da Universidade Católica de Brasília. 
RESUMO 
O envelhecimento da população mundial traz grandes desafios para os sistemas de saúde. 
Frente à mudança do perfil do envelhecimento, com a população idosa aumentando 
continuamente, é necessário estratégias que garantam o envelhecimento saudável. Uma das 
estratégias visando o envelhecimento com qualidade é o uso de variados medicamentos, 
conhecida como polifarmácia. Entretanto, os medicamentos, além de interagirem entre si, 
podem ter interação com outros fatores, como a ingestão de bebidas alcoólicas. O objetivo do 
trabalho foi avaliar o uso concomitante de poli farmácia e bebidas alcoólicas por idosos do 
bairro Granja do Torto, Distrito Federal por meio de aplicação de questionário MEEN e outro 
estruturado. Conclui-se que dos 202 idosos entrevistados, 130 (64%) fazem uso de 
polifarmácia. Entretanto entre estes apenas 16 pessoas (8%) fazem uso concomitante de 
bebidas alcoólicas. O baixo percentual que pode estar relacionado com a assistência que esses 
idosos recebem no posto de saúde local, com atendimento de uma equipe multidisciplinar. O 
acompanhamento constante deste público e o esclarecimento acerca da condição de saúde e 
dos riscos do consumo de álcool e variados medicamentos possibilita diminuição de riscos 
para a saúde e auxilia a manter hábitos de vida saudáveis. 
 
Palavras –chaves: Idosos, Poli farmácia, Alcoolismo, álcool e Interação Medicamentosa 
 
ABSTRACT 
The aging of the world population is a challenge for health systems. Faced with the aging 
profile change, with the elderly population steadily increasing, it is necessary strategies to 
ensure healthy aging. One of the strategies for the aging quality is the use of various drugs, 
31 
 
known as polypharmacy. However, the drugs, besides interact with each other, may interact 
with other factors such as consuming alcohol. The objective was to evaluate the concomitant 
use of poly pharmacy and alcohol by elderly of the Granja do Torto-D.F neighborhood, 
through a questionnaire of MEEN and another one structured. It is concluded that from the 
202 elderly respondents, 130 (64%) use polypharmacy. However among those, only 16 
people (8%) make concomitant use of alcohol. The low percentage may be related to the 
assistance that the elderly receive in the local health center, with the attendance of a 
multidisciplinary team. The constant monitoring of the public and the increase awareness 
of health condition and the risks of consuming alcohol and various drugs, enables the 
reduction of risks to the health and helps to maintain healthy habits. 
 
Keywords: Elderly, Polypharmacy, Alcoholism, Alcohol and Drug Interaction 
 
INTRODUÇÃO 
 
A qualidade do envelhecimento da população é atualmente um grande desafio para os 
governantes, pois estima-se que em 2025 haverá no mundo aproximadamente 1, 2 bilhões de 
pessoas com mais de 60 anos e, em 2050, esse número chegará a dois bilhões de idosos 
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004). A parcela de 80 anos ou mais, cresce, 
relativamente, em ritmo maior que a fração da população idosa total, caso essa dinâmica de 
crescimento da população idosa se mantenha, a partir de 2030 o número de idosos no Brasil 
ultrapassará a parcela da população entre 15 e 29 anos (SANTOS, 2016). 
O aumento da expectativa de vida da população brasileira demonstra claramente como 
essa população vem envelhecendo, pois em 1950 a expectativa de vida era de 37,7 anos, 
subindo para 66, 2 anos em 1995 (CANÇADO, 1996). Segundo o IBGE, a expectativa de 
vida do brasileiro é de 73, 2 anos, com a possibilidade de alcançar 77 anos entre 2020 e 2025 
(IBGE, 2011). Atualmente dez por cento da população brasileira é idosa, o que representa 20 
milhões de idosos. (PEREIRA et al., 2015) 
É função das políticas de saúde contribuir para que mais pessoas alcancem a idade 
avançada com o melhor estado de saúde possível, tornando o processo de envelhecimento 
ativo e saudável, colaborando com o sonho das pessoas; chegar na terceira idade com 
dignidade e qualidade de vida (NETO et al., 2011). Se considerarmos a saúde de forma ampla, 
32 
 
torna-se necessária alguma mudança no contexto atual em relação à produção de um ambiente 
cultural e social mais adequado para a população idosa promovendo mais interação com os 
serviços de qualidade (SENA et al., 2011). 
Esse aumento do número de idosos se deve a vários fatores, entre eles o 
aperfeiçoamento das tecnologias e o acesso a elas por boa parte da população, o que direta ou 
indiretamente influencia na qualidade de vida de todos (ZANON, 2012). Além dos avanços 
tecnológicos podemos citar a urbanização das cidades, o aporte nutricional aumentado, o 
declínio da fecundidade em meados da década de 1960 e as condições ambientais e de higiene 
como contribuintes diretos no crescimento da população de idosos no Brasil (OPAS, 2005). 
A promulgação da Política Nacional do Idoso no Brasil, em 1994, definiu o idoso 
como uma pessoa com 60 anos ou mais de idade, garantindo-lhe vários direitos sociais como 
o acesso a Seguridade Social e ao Sistema Único de Saúde – SUS, benefícios foram 
ampliados com a Lei 10.741, de 1/10/2003, criando o estatuto do idoso, que recebem 
atualmente vários reforços judiciais, como por exemplo, a criação do provimento número 7, 
de 08 de setembro de 2010, garantindo às pessoas acima de 60 anos de idade tramitaçãopreferencial nos processos judiciais (AFFELDT et al., 2015). . 
Para Araújo et al (2015), a população da terceira idade aumenta sua expectativa de 
vida e com isso aumenta também a expectativa de aproveitar a vida de forma mais produtiva. 
A defluência deste processo é a participação desta faixa etária nos serviços de saúde, moda, 
cosméticos, artes, jogos e educação. Esse engajamento se deve, também, a característica da 
renda do idoso, que se apresenta permanente e estável, quando comparada as outras faixas 
etárias da população, proporcionando acessos a serviços e bens antes sonhados e nunca 
alcançados. (GUIMARÃES, 2012). 
Por outro lado, essa participação insere os idosos na classe que mais consome 
medicamentos e sofre internações hospitalares em decorrência de doenças ou uso inadequado 
dos medicamentos e outras drogas (ALVES et al., 2012). 
O cenário deste aumento do número de idosos no País é muito bem recebido e traz 
expectativas de uma vida melhor e longínqua, mas, por outro lado, apresenta aos serviços 
públicos e particulares um novo perfil de morbimortalidade (REIS, 2015). Este novo perfil 
abraça as DCNT’s, bem como as doenças próprias do envelhecimento, que passaram a 
apresentar maior demanda em todas as esferas dos serviços públicos e privados de saúde, 
esporte e lazer (VERAS, 2009). 
A hipertensão arterial tornou um problema de saúde pública não só no Brasil, mas 
também no mundo todo, apresentando insuficientes taxas de controle e alta prevalência, 
33 
 
principalmente na população idosa. A literatura apresenta que aproximadamente 20% da 
população adulta é acometida pela hipertensão e que 58% estão com idade superior a 65 anos, 
configurando o maior público com a mais comum das DNCT’s (QUEIROZ et al., 2014). 
Com uma maior expressão no cenário populacional, os idosos vêm sendo tema de 
várias pesquisas, como a procura por respostas a longevidade, fatores que influenciam o 
envelhecimento, tecnologias que promovem diagnósticos e tratamentos mais eficazes e menos 
invasivos. Os desafios dos múltiplos problemas em saúde afetam e influenciam essa faixa 
etária (ROSSETI, 2011). Dentre eles destaca-se o uso do álcool que, quando associado à poli 
farmácia, normalmente adotada pelo idoso, apresenta interações perigosas e muitas vezes 
negligenciadas (ANDRADE et al, 2009). 
Em uma pesquisa Rigo et al. (2005) relatam que o uso de álcool entre os idosos é 
corriqueiro, apesar deste hábito não ser adequadamente avaliado e considerado, o que aponta 
a necessidade de maior observação do uso abusivo do álcool nesta faixa etária. As políticas 
públicas visam apenas os adultos jovens, esquecendo que o álcool acarreta efeitos de 
percepção e consciência também nos idosos que, muitas vezes associado a medicamentos com 
o mesmo mecanismo de ação, podem levar a graves consequências e dificultar diagnósticos e 
tratamentos (GLIOTT et al., 2004). 
Em 2010 um estudo para avaliar o perfil dos idosos, no interior de São Paulo, 
atendidos no Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas, mostrou que a droga de 
maior uso era o álcool com 83,8%. Dentre os usuários, 90,6 % eram homens e 9,4 % 
mulheres, o que gera um quadro de atenção social, uma vez que fazem uso destas drogas 
associadas a medicamentos de uso contínuo, como os benzodiazepínicos, costumeiramente 
utilizados nos idosos, mesmo se tratando de medicamentos potencialmente perigosos segundo 
o critério de Beers (PILOON et al., 2010). 
A predominância masculina no uso do álcool foi observada por Lima (2009), em um 
estudo desenvolvido na cidade de São Paulo, que relacionou o uso do álcool com quedas entre 
os idosos, apontando que a abstinência entre as mulheres (68,4%) foi superior quando 
comparado ao percentual entre os homens (23,6%). 
Não há um critério específico que defina a dependência do álcool pelos idosos, por 
isso os mesmos são diagnosticados seguindo a Classificação Internacional de Doenças, CID 
10 ou quando os critérios do Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais –DSM 
são atendidos, isto gera uma ineficiência do tratamento, comprometendo a qualidade de vida e 
terapêutica medicamentosa (RIGO et al., 2005). 
34 
 
A despeito das intercorrências narradas sobre o uso do álcool em idosos, as 
consequências deste problema permanecem desconhecidas (MARTINS, 2015). No Brasil, tem 
como foco as pessoas mais jovens, o que acaba gerando pouca expressão acerca do cenário da 
parcela idosa da população, reduzindo o poder estatístico das análises relacionadas a eles 
(PRAIS et al., 2008). 
Em um estudo transversal, Laranjeiras et al. (2007) observaram uma prevalência de 
10% do uso nocivo do álcool no Brasil por idosos. Ao envelhecer o indivíduo passa por 
alterações fisiológicas naturais, senescência, que o tornam mais susceptíveis ao álcool, uma 
vez que o metabolismo do mesmo fica modificado, podendo levar a quadros de intoxicação 
etílica e ou medicamentosa, pois na maioria dos casos há o uso crônico de drogas terapêuticas 
(MERLIN et al., 2003). 
Essas alterações se tornam significativas quando associadas ao uso de medicamentos, 
uma vez que se deve levar em consideração a diminuição da massa magra e água, já que a 
redução do volume hídrico leva a uma diminuição da distribuição de drogas hidrossolúveis 
como, por exemplo, o álcool etílico (RAMOS et al., 2001). 
Evidencias atuais apontam que o uso disseminado do álcool acaba impactando de 
forma significativa nas questões de saúde pública e não seria diferente para os idosos, que não 
estão envolvidos nas ações que combatem o uso excessivo da bebida alcoólica, mas são uma 
parcela da população que faz uso abusivo do mesmo, com o agravante da interação com os 
medicamentos de uso contínuo (BABOR et al., 2003). 
O que pode ajudar na identificação e posterior diagnóstico do alcoolismo no idoso são 
observar a forma como os mesmos se apresentam nos serviços de saúde, com que frequência e 
com qual queixa, pois conforme a pesquisa de Zimberg (1983), é possível classificar os idosos 
que apresentam uso da bebida alcoólica em duas esferas baseadas no momento em que 
iniciam o uso: início precocemente, ente 20 e 30 anos e por volta dos 40 e 50 anos. 
Para Hirata et al. (1997) o grupo com início tardio apresenta maior sensibilidade a 
quedas, agravações médicas e confusões mentais, o que pode levar a diagnósticos errôneos 
pela semelhança com outros sinais e sintomas de doenças. 
Devido aos grandes acometimentos biológicos e sociais dos idosos, a dificuldade em 
delimitação do uso do álcool se torna um grande problema a ser enfrentado pelos profissionais 
que atendem os mesmos. Os profissionais de saúde não são capazes ou encontram 
dificuldades em assinalar e detectar o uso do álcool bem como seus reflexos quando 
interagindo com os medicamentos, pois não sabem se tratasse de uma nova doença, uma falha 
na terapêutica, sinergismo ou antagonismo medicamentoso. 
35 
 
Este trabalho se justifica pela necessidade de apresentar a perigosa relação do uso do 
álcool em idosos bem como a polifarmácia utilizada. 
 
MATERIAIS E MÉTODOS 
 
Tipo de Estudo 
Trata-se de um estudo quantitativo transversal descritivo. Este tipo de estudo, traduz 
por tudo aquilo que pode ser quantificável, ou seja, ele irá traduzir em números as opiniões e 
informações para então obter a análise dos dados utilizando ferramentas estatísticas e, 
posteriormente, chegar a uma conclusão (SOUSA, 2007). Será adotado o conceito de 
Polifarmácia quantitativa, onde segundo Davidson (1994), a polifarmácia pode ser definida 
numericamente, na qual se caracteriza pela presença de mais de dois fármacos. 
Local 
O estudo foi realizado no bairro da Granja do Torto, que faz parte da Região 
Administrativa I denominado Brasília no Distrito Federal (Figura 1). Possui uma área de 341, 
5062 há. Encontra-se localizado na chamada Saída Norte do Plano Piloto de Brasília, junto ao 
balãodo Torto / EPIA (Estrada Parque de Indústria e Abastecimento) / BR020. Sua poligonal 
limita-se a norte e a oeste com o Parque Nacional de Brasília - PNB, a leste com o Ribeirão 
do Torto e ao sul com a DF-003 e a área destinada à implantação do Pólo Capital Digital 
(IBRAN, 2010). 
O Setor Habitacional Torto é composto pela residência oficial da Presidência da 
República, que gerou a ocupação desta área, pelo Parque de Exposições Agropecuárias de 
Brasília, pela Granja do Torto, e por ocupações esparsas de uso predominantemente 
residencial, com características urbanas bastante distintas entre si e que foram ocupando 
trechos da área em demandas pontuais. Dentre elas, podemos citar: 
 
• “Vila dos Operários”, “Vila dos Técnicos” e “Vila do Funcionários da Granja" ocupações 
mais antigas e de pequeno porte, que têm sua origem no assentamento de funcionários da 
Fundação Zoobotânica (gestora da área à época) e invasores; 
• “Vila Weslian Roriz”, núcleo urbano gerado a partir de invasões e hoje consolidado, 
localizado próximo à entrada do Parque de Exposições; objeto de processo de regularização nº 
250.017.148/2002. 
36 
 
 
Fonte: adaptado de Google Maps 
Figura 1. Localização da amostra onde residem os idosos desta pesquisa 
 
Amostra 
Participaram da amostra 202 idosos com média de idade de 70,03 ± 7,02 (60-96) anos, 
na sua maioria mulheres (53,6%), casados (63,4%). Como critério de seleção utilizou-se 
idosos com 60 anos ou acima, residentes do bairro escolhido, sem separação de gênero e que 
concordem em participar da pesquisa. Por falta de dados oficiais, na CODEPLAN, 
PNAD/IBGE 2013/2014 e publicações afins; indicando o número de idosos e definindo o 
37 
 
perfil sócio demográfico do bairro estudado, realizou se uma busca ativa no bairro, 
procurando em cada residência a presença dos idosos. Após a identificação da presença do 
idoso no domicílio o endereço foi registrado criando se assim um banco de dados, com a 
intenção de otimizar a aplicação dos instrumentos específicos posteriores. 
 
Critérios de Inclusão 
Morar no bairro da Granja do Torto-DF, ter idade igual ou superior a 60 anos, aceitar 
participar da pesquisa e estar em condições cognitivas de responder os questionários. 
 
Critérios de Exclusão 
Não residir no bairro da Granja do Torto – DF, ter idade inferior a 60 anos, idosos com 
diagnóstico de demência informado pelo cuidador e ou familiar ou apontado pelo MEEM – 
Mini Exame do Estado Mental. De acordo com Lakes (2003). O MEEM, elaborado por 
Folstein (1975), é um dos testes mais empregados e mais estudados em todo o mundo que 
permite a avaliação da função cognitivae rastreamento de quadros demenciais, bem como 
qualquer outra condição que o impossibilite de assinar o TCLE e responder as questões. 
 
Riscos e Benefícios 
O idoso não sofreu riscos a sua integridade física, contudo, incômodos de ordem 
psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual relacionados ao uso abusivo do 
álcool, pode vir a acontecer durante a aplicação do questionário, o que foi remediado com a 
sugestão aos idosos para suspender a pesquisa com a opção de retornar em outro momento ou 
não querer mais participar. 
Essa pesquisa ofereceu como principal benefício, a ampliação e compreensão da 
relação idosa com o consumo de álcool, beneficiando o atendimento e o rastreamento de 
problemas relacionados ao uso do álcool e a polifarmácia. 
 
Instrumentos 
a) Um questionário sociodemográfico, no qual constaram perguntas sobre 
idade, sexo, estado civil, habitação, escolaridade, renda familiar e individual e 
auto percepção referida de saúde foi aplicado. (Apêndice A). 
38 
 
b) Para avaliar a função cognitiva foi aplicado o MEEN para garantir a 
ausência de demências nas pessoas entrevistadas. (Anexo A) 
c) Um questionário estruturado com perguntas sobre diagnóstico de 
doenças uso de medicamentos e álcool foi aplicado. 
 
Procedimentos 
Para a identificação dos domicílios com a presença de idosos o bairro foi mapeado 
pela pesquisadora e por alunos voluntários do curso de Farmácia de uma Instituição privada 
de Ensino Superior, abordando cada residência, e em caso positivo para idoso domiciliando, o 
endereço foi registrado para posteriormente seguir com os questionários, obedecendo aos 
critérios de inclusão. 
A primeira residência foi visitada a partir da primeira esquina do bairro, excluindo 
todo imóvel que não fosse residencial. Quando não havia idoso na residência, o entrevistador 
deslocava-se para o próximo domicílio até identificar um idoso, reiniciando a busca 
sistemática. Prosseguiu-se assim até mapear todo o bairro. 
A intenção da busca ativa com a aplicação do questionário sócio demográfico, estar 
separado da aplicação dos outros dois questionários (MEEN e o Estruturado), se deve ao 
tempo necessário de aplicação dos mesmos. Logo, para não cansar o sujeito da pesquisa 
gerando um viés, a pesquisa ficou dividida em duas etapas: 
A) Primeira Etapa: Identificação das residências com idosos e aplicação do 
questionário sócio demográfico: 
As ruas foram nomeadas e numeradas com letras e números definidos pelo 
pesquisador para facilitar a busca direta nas casas e, no retorno posterior, para a 
continuidade na aplicação dos outros instrumentos. 
 
 
 
39 
 
 
Fonte: Google Maps Adaptado 
Figura 2. Mapeamento do bairro da Granja do Torto – DF. 
 
B) Segunda Etapa: Aplicação dos questionários específicos propostos, onde, a 
pesquisadora fez uma visita em cada casa mapeada com a presença de idoso para a 
aplicação do questionário MEEN e em seguida o de investigação do álcool e da 
polifarmácia, com aproximadamente uma hora em visita. 
 
O idoso foi convidado a participar da pesquisa, na qual foram esclarecidos os 
benefícios e riscos da mesma, em caso do aceite em participar o TCLE foi assinado para então 
responder ao objeto da pesquisa. 
Durante a segunda etapa da coleta de dados, foi realizada a avaliação cognitiva do 
idoso mediante aplicação do (MEEM). A avaliação cognitiva dos idosos foi realizada como 
critério para que se pudesse prosseguir com o segundo questionário para que a coleta de dados 
ocorresse sem que houvesse comprometimento das informações a serem concedidas. 
40 
 
No presente estudo, foi considerado como ponto de corte: Normal: acima de 27 
pontos; Demência: menor ou igual a 24 pontos; em caso de menos de 4 anos de escolaridade, 
o ponto de corte passa para 17, em vez de 24 (BRUCKI et al., 2003). 
Na segunda etapa após a avaliação do MEEN, foi realizada entrevista com 202 idosos 
por meio de roteiro estruturado em dois blocos. No bloco 1, foram coletados dados que, 
incluíam as seguintes variáveis: agravos pregressos como a hipertensão arterial sistêmica 
HAS, diabetes mellitus DM, quedas e outras doenças, e o uso do álcool. Por fim, no bloco 2 
foram coletados dados referentes aos medicamentos utilizados. 
 
Análises dos Dados 
Inicialmente foram rodadas as análises descritivas da amostra por meio de média, 
desvio-padrão e frequências. Para comparação dos grupos de idosos que bebem e não bebem 
utilizou-se o teste t para amostra independente para os dados paramétricos e o Qui-Quadrado 
para os dados não paramétricos (NORMANDO, 2012). 
 O software SPSS-IBM 22.00 for Windows foi utilizado para as análises e o nível de 
significância estipulado foi de p ≤ 0,05. 
 
Aspectos Éticos 
O projeto foi submetido ao Comitê de ética via Plataforma Brasil, com número CAAE: 
50067315.5.0000.0029 (Anexo B). Os idosos foram convidados a participarem da pesquisa 
mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A 
participação na pesquisa foi voluntária e as pessoas foram informadas sobre as justificativas e 
objetivos da mesma. 
 
41 
 
RESULTADOS 
Inicialmente subdividiu-se a amostra em idosos que fazem uso do álcool e idosos que 
não fazem uso do álcool (Figura 3). 
 
Figura 3. Distribuiçãode gênero na amostra estudada. 
 
Os dados descritivos sócios demográficos da amostra estudada revelam que dos 202 
idosos residentes no bairro estudado 114 (56%) são mulheres, a maioria é casada (63,66%) e 
possui entre 8 e 11 anos de escolaridade (41,08%) (Tabela 1). 
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Homens Mulheres Total
19%
12% 15%
81%
88%
85%
Faz uso Não faz uso
42 
 
Tabela 1 – Dados descritivos da amostra 
 Bebem Não bebem p 
Sexo 
Masculino 54, 8% (17) 41,5% (71) 
0,17 
Feminino 45, 2% (14) 58,5% (100) 
Estado Civil 
Solteiro 19,4% (6) 3,5% (6) 
0,005 
Casado 61,3% (19) 63,7% (109) 
Viúvo 16,1% (5) 24,6% (42) 
Divorciado 3,1% (1) 8, 2% (14) 
Escolaridade* 
A 22,6% (7) 38,0% (65) 
0, 28 
B 19,45 (6) 22, 2% (38) 
C 58,1% (18) 38,0% (65) 
D 0,0% (0) 1,8% (3) 
* A: Abaixo de quatro anos de estudo. B: Entre quatro e sete anos de estudos. C: Entre oito e onze anos de 
estudo. D: Igual ou superior a doze anos de estudos. 
 
A auto percepção de saúde mostra que os idosos estão satisfeitos com a sua saúde 
mesmo aqueles consumidores de bebida alcoólica. (Figura 4). 
 
*p=0,32 NR: Não respondeu 
Figura 4. Auto percepção de saúde referida pelos idosos 
 
Não se encontrou diferenças entre os idosos que usam bebida alcoólica com os que não 
usam, em relação a percepção de saúde. 
A doença mais prevalente encontrada na amostra foi a hipertensão, seguida de diabetes 
melitus (Tabela 2). 
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
Muito boa Boa Razoável Ruim NR
12,9%
51,6%
22,6%
6,5% 6,5%
22,2%
42,1%
26,9%
7,6%
1,2%
Fazem uso do álcool Não fazem uso do álcool
43 
 
Em comparação com o que fazem ou não uso do álcool, a doença crônica não 
transmissível de maior frequência é a hipertensão arterial. 
 
Tabela 2. Comparação da frequência de doenças crônicas não transmissíveis entre idosos que 
fazem ou não uso de álcool 
Doença Crônico Não 
Transmissível 
Fazem uso do 
álcool 
Não fazem uso do 
álcool 
p 
Hipertensão 64,5% (20) 73,7% (126) 
Diabetes Mellitus 19,4% (6) 18,7% (32) 0,53 
Ósteo Muscular 3, 2% (1) 27,5% (47) 0,004* 
Doença Coronariana 6,5% (2) 15, 2% (26) 0,19 
Outras** 29,0% (9) 51,5% (88) 0,03* 
*Significativo a p ≤ a 0,05. 
**Outras: câncer, asma e bronquite, depressão. 
 
Entre os que fazem ou não uso do álcool, a doença crônica não transmissível de maior 
frequência é a hipertensão arterial. 
Não se observou diferença significativa com relação a variável depressão em idosos 
que fazem uso do álcool (12,5%) e aqueles que não fazem uso do álcool (23,4%). 
Com relação ao número de quedas observou-se que idosos que bebem são mais 
caidores (25,8%) do que aqueles que não bebem (17,5%), com uma diferença significativa de 
0,03. Cabe ressaltar que quando se compara “Como foi sua queda?” os grupos não 
apresentaram diferença entre si (p=0,42), ou seja, os dois grupos caem mais por 
escorregamento (50%) e tontura (20,6%). 
Ao se investigar somente os idosos que dizem ingerir bebida alcoólica observa-se que 
90,8% destes afirmam que o álcool não dificulta as lembranças de partes do dia ou da noite, 
que 54,8% dizem beber para relaxar, 19,4% porque faz bem para saúde e 6,5% bebem por 
diversão. Com relação ao horário que preferem beber, observou-se que 28,9% preferem beber 
na parte da manhã, 29,0% no período vespertino e 42,1% a noite. 
Desta amostra, que fazem uso do álcool, 31 indivíduos, nenhum deles se diz 
dependente do álcool e somente um afirma ter se sentido mal após ter tomado medicamento e 
álcool. 
A investigação do grupo farmacológico mostra os antihipertensivos como o principal 
grupo utilizado pelos idosos da amostra (Tabela 3). 
44 
 
Tabela 3. Distribuição e comparação do uso de medicamentos, segundo o grupo 
farmacológico, dos que ingerem bebida alcoólica e dos que não ingerem. 
Medicamentos Bebem % Não bebem % 
Analgésico/Antinflamatório 0 0,0 6 2,3 
Antianemicos 0 0,0 1 0,4 
Antidepressivos 1 1,9 8 3,1 
Antihipertensivo 23 44, 2 84 32,1 
Antineoplástico 0 0,0 1 0,4 
Antiplaquetário 4 7,7 14 5,3 
Antipsicótico 0 0,0 4 1,5 
Antitussígeno 0 0,0 1 0,4 
Broncodilatadores 0 0,0 10 3,8 
Diuréticos 7 13,5 15 5,7 
Fitoterápicos 7 13,5 27 10,3 
Gastroprotetores 2 3,8 18 6,9 
Antihipertensivo ocular 2 3,8 3 1,1 
Hipoglicemiantes 1 1,9 19 7,3 
Hipocolesteremiantes 1 1,9 20 7,6 
Hormônios tireoidianos 1 1,9 10 3,8 
Medicamento para Labirintite 0 0,0 1 0,4 
Medicamento para Profilaxia 
de acidente vascular cerebral 
1 1,9 0 0,0 
Redutores de uratos 1 1,9 0 0,0 
Reguladores de cálcio ósseo 1 1,9 12 4,6 
Reguladores intestinais 0 0,0 1 0,4 
TOTAL* 52 100% 262 100% 
Não há diferença significativa nos tipos de medicamentos ingeridos entre os dois grupos investigados (p>0,05) 
*Em função da polifarmácia, os totais são maiores que “n”. 
Dos 202 idosos entrevistados, 130 (64%) são polimedicados, sendo que mais de 40% 
consomem entre dois e três medicamentos diariamente (Figura 5). 
 
Figura 5. Distribuição da polifarmácia nos indivíduos estudados 
0
10
20
30
40
50
ZERO 1 2 3 4 5 6 7
32
40
20
47
36
11
15
1
N
ú
m
e
ro
 d
e
 i
d
o
so
s
Número de medicamentos ingeridos diariamente
45 
 
O uso da polifarmácia é mais presente entre os idosos que não fazem uso do álcool 
(67%). Entre os que fazem uso do álcool, 48% não usam mais que um medicamento (Figura 
6). 
 
 
 
 
 
Figura 6. Distribuições da polifarmácia entre os idosos que não fazem e que fazem uso do 
álcool 
 
Entretanto, comparando-se o número médio de medicamentos ingeridos pelo grupo 
que utiliza bebida alcoólica (2,58±1,47) com o grupo que não ingere bebida alcoólica 
(3,12±1,57), observou-se não haver diferença significativa entre os grupos. 
Entre os medicamentos mais utilizados pelos idosos, encontram-se aqueles para 
hipertensão, hipercolesterolemia e diabetes, principalmente Losartana, Sinvastatina, Atenolol 
e Metformina (Figura 7). 
 
Figura 7. Medicamentos mais utilizados pela população estudada 
33%
67%
Não fazem uso de álcool
Zero ou um medicamento Dois ou mais medicamentos
48%
52%
Fazem uso de álcool
Zero ou um medicamento Dois ou mais medicamentos
0 10 20 30 40 50 60
FUROSEMIDA
VALSARTANA/ANLODIPINO
INSULINA
OMEPRAZOL
INDAPAMIDA
LEVOTIROXICINA
ANLODIPINO
VITAMINA D
OMEGA 3
AAS (100 mg)
HIDROCLOROTIAZIDA
METFORMINA
ATENOLOL
SINVASTATINA
LOSARTANA
Número de usuários
M
e
d
ic
a
m
e
n
to
s
46 
 
DISCUSSÃO 
 
O objetivo deste trabalho foi avaliar o uso do álcool e a polifarmácia nos idosos 
residentes em um bairro do Distrito Federal. Essa análise torna-se importante porque de 
acordo com Senger et al. (2011), são comuns os problemas relacionados ao uso do álcool em 
idosos, tratando se de uma epidemia silenciosa e invisível. O presente estudo torna se de 
grande relevância quando o assunto é o idoso, pois as políticas de saúde contra o uso do 
álcool estão direcionadas para a população jovem, deixando uma lacuna emergente para o 
diagnóstico e tratamento dos mais velhos. Outro ponto, importante, o efeito do álcool sobre o 
organismo senil, pois as alterações normais do envelhecimento prejudicam a biotranformação 
de nutrientes e fármacos. Quando se faz uma associação da polifarmácia com o álcool, o 
organismo do idoso fica ainda mais susceptível aos problemas de saúde. 
Estudos realizados em amostras clínicas evidenciaram um aumento importante no uso 
do álcool na população idosa, mostrando que 6% a 11% dos pacientes idosos admitidos nos 
hospitais gerais, aqueles que oferecem a maioria das especialidades médicas bem como 
grandes procedimentos em saúde, apresentam sintomas de uso do álcool, inclusive estimaram 
que as admissões por infarto se equiparam as admissões por alcoolismo (PINSKY, 2008). 
 
� Perfil Sócio Demográfico do Bairro da Granja do Torto 
A presente pesquisa aponta, que a maioria dos idosos residentes no bairro da Granja do Torto, 
(56,43 %), é de mulheres, conforme já identificado por estudos recentes (Tabela

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