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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM SAMIRA CANDALAFT DEGUIRMENDJIAN LEAN HEALTHCARE: APLICAÇÃO DO DIAGRAMA DE ESPAGUETE EM UMA UNIDADE DE EMERGÊNCIA. SÃO CARLOS 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM SAMIRA CANDALAFT DEGUIRMENDJIAN LEAN HEALTHCARE: APLICAÇÃO DO DIAGRAMA DE ESPAGUETE EM UMA UNIDADE DE EMERGÊNCIA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Orientação: Profa. Dra. Silvia Helena Zem- Mascarenhas SÃO CARLOS 2016 Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária UFSCar Processamento Técnico com os dados fornecidos pelo(a) autor(a) D321l Deguirmendjian, Samira Candalaft Lean healthcare : aplicação do diagrama de espaguete em uma unidade de emergência / Samira Candalaft Deguirmendjian. -- São Carlos : UFSCar, 2016. 141 p. Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2016. 1. Gerenciamento em enfermagem. 2. Lean healthcare. 3. Diagrama de espaguete. I. Título. DEDICATÓRIA Ao meu marido Allan e aos meus filhos Allan Jr. e Lucca, por dividirem comigo a intensidade da convivência diária, compartilhando o amor, união familiar e crescimento espiritual. Obrigada pela compreensão e apoio em mais uma etapa da minha vida! AGRADECIMENTOS Agradecer uma longa jornada, de dois anos de maturação e produção de uma dissertação de mestrado não é tarefa das mais simples. São muitas as pessoas que contribuíram nesse caminho e meu agradecimento a todas elas não poderia ser expressado em poucas linhas. Mas a tentativa será de agradecer grande parte dessas pessoas (e instituições) que se fizeram essenciais para esta dissertação que aqui apresento. À minha querida orientadora Silvia Helena Zem-Mascarenhas, orientadora do meu mestrado e da vida. Muito obrigada por me apresentar a vida acadêmica, pelo carinho, paciência, comprometimento e auxílio nesta caminhada. Amadureci e aprendi muito ao seu lado. À minha família, amor incondicional, minha base da vida, pelo carinho de sempre. Em especial aos meus pais, Nicolau e Regina, que são meu exemplo de vida, de caráter e amor ao próximo. Obrigada por sempre me incentivarem ir além. Sem vocês eu não chegaria até aqui. Às professoras Janaína Mascarenhas Hornos da Costa e Andrea Bernardes, membros da Banca do exame de Qualificação e Defesa, pela leitura cuidadosa e crítica que renovou o ânimo da pesquisa. Obrigada por me ajudarem imensamente na produção deste estudo, pelo carinho e gentileza com que sempre me dedicaram. À minha amiga Fernanda, minha companheira de mestrado, obrigada pela amizade, parceria, trocas, sugestões, enfim, pelo acompanhamento durante estes dois anos. Seus conselhos e incentivos foram essenciais. À minha amiga Valéria, como sempre digo: minha inspiração para o mestrado. Foi por sua causa que me apaixonei pelo lean e fui mordida pelo “bichinho do lean”. Obrigada pelos conselhos e ensinamentos. Aos colegas do LABTEG, obrigada pelo aprendizado diário, compartilhamento de informações e conhecimentos, em especial a minha companheira de mestrado Helô, pela parceria nos estudos e dedicação de sempre. Ao grande amigo “primo” Beto, pelo auxílio e gentileza. Obrigada pela ajuda e apoio sempre que precisei. As minhas amigas Irina, Paula, Jane, Renata, Tati, Débora, Karen e Cris! Obrigada pela amizade verdadeira. Obrigada por estarem sempre ao meu lado me incentivando. Amo vocês! As minhas amigas Gláucia e Ana Cláudia, pelo incentivo, conselhos e amizade verdadeira. A minha amiga Paula, obrigada por me ensinar a ser enfermeira! Obrigada pelo companheirismo, carinho e apoio sempre. Aos docentes e funcionários da UFSCar, pelo auxílio e colaboração durante toda a minha jornada. A toda equipe do Hospital, que muito contribuíram e foram essenciais para a realização desta pesquisa, em especial ao Prof. Dr. José Rubens, pelo apoio, carinho e confiança em meu trabalho. À CAPES, pelo financiamento e por me proporcionar dedicação exclusiva ao estudo. Enfim, a todos que contribuíram para a realização desta pesquisa. “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. (Albert Einstein) RESUMO DEGUIRMENDJIAN, S. C. Lean healthcare: aplicação do diagrama de espaguete em uma unidade de emergência. (Dissertação). São Carlos: Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de São Carlos; 2016. 141p. A cada dia percebem-se constantes desperdícios e atividades que não agregam valor algum nos hospitais. Aspectos relacionados à comunicação, movimentação desnecessária de profissionais, pacientes, materiais e informações, protocolos inúteis, apesar de bem escritos, são cada vez mais observados nos serviços de saúde. Visando melhorias relacionadas ao fluxo de movimentação e a eliminação contínua de desperdícios e atividades que não acrescentam valor no ambiente hospitalar, esta pesquisa teve como objetivo a avaliação da aplicação da ferramenta diagrama de espaguete em uma unidade de emergência de um hospital de pequeno porte do interior do estado de São Paulo. Foi utilizada a metodologia lean healthcare e a ferramenta diagrama de espaguete. Identificou-se a situação atual e as oportunidades de melhorias, relacionando-se a proposição de boas práticas de diagrama de espaguete em ambiente hospitalar. Foram apontados os principais desperdícios de movimentação encontrados e percebeu-se que a aplicação da ferramenta pôde ser realizada com êxito. Comprovou-se a importância do método para a redução dos desperdícios relacionados ao fluxo de movimentação em ambiente hospitalar. Espera-se que o fluxo de tarefas torne-se eficiente, buscando sempre menor tempo para realização das atividades, utilizando menos esforços, com menor custo e diminuindo o tempo de espera do paciente na unidade por meio da reorganização dos fluxos de movimentação do ambiente de trabalho. Palavras Chave: gerenciamento em enfermagem; lean healthcare; diagrama de espaguete. ABSTRACT DEGUIRMENDJIAN, S. C. Lean healthcare: implementation of spaghetti diagram in a sector of emergency (Master’s in Nursing) – São Carlos: Nursing Department, Federal University of São Carlos; 2016. 141p. Every day we are faced with constant waste and activities that do not add any value in hospitals. Aspects related to communication, unnecessary movement of professionals, patients, materials and information, useless protocols although well written are increasingly observed in health services. For improvements related to handling flow and continuous elimination of waste and activities that do not add value in the hospital, this study aimed to assess the implementation of spaghetti diagram tool in an emergency room of a small hospital in the state of São Paulo. The healthcare lean methodology and spaghetti diagram tool was used. It was identified the current situation and opportunities for improvement, relating to proposition good spaghetti diagram practices in hospitals. The main movement of wastes were mentioned and it was noted that the application of the tool was successful. The importance of the method for reducing the waste stream related to movement flow in a hospital environmenthas been proved. It is expected that the flow of tasks become efficient, always seeking less time to perform activities using less effort, less cost and reducing the waiting time of the patients in the unit by reorganizing the movement flow in the workplace. Keywords: management in nursing; lean healthcare; spaghetti diagram. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - O Sistema Toyota de Produção segundo a visão de Gary Convis......................................................28 Figura 2 – A inovação da saúde está no aumento do valor. .............................................................................32 Figura 3 – O ciclo PDCA. ..................................................................................................................................38 Figura 4 – Símbolo do Kaizen. .........................................................................................................................39 Figura 5 – DE atual (BEFORE) e o novo fluxo implementado (AFTER). .............................................................43 Figura 6 – DE de clínica uro-oncológica. ..........................................................................................................44 Figura 7 – Representação gráfica da planta física da unidade de emergência (área amarela e área vermelha). São Carlos, 2016. ....................................................................................................................................56 Figura 8 – Representação gráfica da planta física da unidade de emergência (sala de medicação e área dos consultórios). São Carlos, 2016. ..............................................................................................................57 Figura 9 – Representação gráfica da planta física da unidade de emergência (banheiro pacientes e lavatório). São Carlos, 2016. ....................................................................................................................................58 Figura 10 - Layout da planta da unidade de emergência do hospital. São Carlos, 2016. ..................................60 Figura 11 - Layout da planta da unidade de emergência do hospital (para diagrama de espaguete). ..............61 Figura 12 – DE do fluxo de movimentação dos enfermeiros (gerenciamento da unidade). São Carlos, 2016. ..65 Figura 13 – DE do fluxo de movimentação dos enfermeiros (recepcionar chegada de ambulância com paciente grave). São Carlos, 2016. ..........................................................................................................67 Figura 14 – DE do fluxo de movimentação dos enfermeiros (recepcionar chegada de ambulância com paciente na área amarela). São Carlos, 2016. .........................................................................................69 Figura 15 - DE representando o fluxo de movimentação total dos enfermeiros. São Carlos, 2016. .................70 Figura 16 – DE do fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (administração de medicação ou coleta de exames laboratoriais). São Carlos, 2016. .................................................................................72 Figura 17 - DE do fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (triagem). São Carlos, 2016. .............73 Figura 18 - DE do fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (administração de medicação na área amarela). São Carlos, 2016. ....................................................................................................................75 Figura 19 - DE do fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (recepcionar chegada de ambulância na área amarela). São Carlos, 2016. ........................................................................................................76 Figura 20 - DE do fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (recepcionar chegada de ambulância na chamada 5). São Carlos, 2016. ...........................................................................................................78 Figura 21 – DE do fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (reposição e guarda de materiais e medicamentos da unidade). São Carlos, 2016. .......................................................................................79 Figura 22 – DE do fluxo de movimentação total dos técnicos de enfermagem. São Carlos, 2016. ...................81 Figura 23 – DE do fluxo de movimentação dos médicos (chamar pacientes na recepção). São Carlos, 2016. ..83 Figura 24 - DE do fluxo de movimentação dos médicos (apanhar fichas de atendimento no “Chamados” e colocar no “Medicação”). São Carlos, 2016.............................................................................................84 Figura 25 – DE do fluxo de movimentação dos médicos (atendimento aos pacientes na área amarela). São Carlos, 2016. ...........................................................................................................................................85 Figura 26 - DE do fluxo de movimentação dos médicos (atendimento aos pacientes na área vermelha). São Carlos, 2016. ...........................................................................................................................................86 Figura 27– DE do fluxo de movimentação dos médicos (atendimento aos pacientes na sala de sutura). São Carlos, 2016. ...........................................................................................................................................87 Figura 28 – DE do fluxo de movimentação total dos médicos. São Carlos, 2016. .............................................89 Figura 29 – DE do fluxo de movimentação das recepcionistas (encaminhamento de fichas de atendimento à triagem). São Carlos, 2016. .....................................................................................................................91 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442855 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442856 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442858 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442859 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442859 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442862 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442863 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442864 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442866 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442866 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442867 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442868 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442868 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442869 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442871 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442871 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442872 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442872 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442873 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442873 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442874 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442875 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442876 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442876 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442877 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442877file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442878 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442878 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442879 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442879 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442880 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442881 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442881 Figura 30– DE do fluxo de movimentação das recepcionistas (auxiliar acompanhantes de pacientes). São Carlos, 2016. ...........................................................................................................................................92 Figura 31 – DE do fluxo de movimentação das recepcionistas (encaminhamento à enfermagem da ficha de atendimento do paciente que chega de ambulância com acompanhante). São Carlos, 2016. ................93 Figura 32 – DE do fluxo de movimentação das recepcionistas (encaminhamento à enfermagem da ficha de atendimento do paciente que chega de ambulância sem acompanhante). São Carlos, 2016. .................94 Figura 33– DE do fluxo de movimentação total das recepcionistas. São Carlos, 2016. ....................................96 Figura 34 – DE do fluxo de movimentação dos pacientes (consulta e alta). São Carlos, 2016. .........................98 Figura 35 – DE do fluxo de movimentação dos pacientes (consulta e RX). São Carlos, 2016. ...........................99 Figura 36 – DE do fluxo de movimentação dos pacientes (consulta com RX e medicação). São Carlos, 2016.100 Figura 37 – DE do fluxo de movimentação dos pacientes (consulta e exames laboratoriais). São Carlos, 2016. ............................................................................................................................................................. 102 Figura 38 – DE do fluxo de movimentação dos pacientes (chegada de ambulância área amarela). São Carlos, 2016. .................................................................................................................................................... 103 Figura 39– DE do fluxo de movimentação dos pacientes (chegada de ambulância área vermelha). São Carlos, 2016. .................................................................................................................................................... 104 Figura 40– DE do fluxo de movimentação total dos pacientes. São Carlos, 2016. .......................................... 105 Figura 41– DE do fluxo de movimentação das fichas de atendimento. São Carlos, 2016. .............................. 106 Figura 42 – DE da movimentações de todos os usuários com todos os fluxos existentes na unidade. São Carlos, 2016. ......................................................................................................................................... 108 Figura 43 – DE representando o fluxo de movimentação total dos enfermeiros com os kaizens. São Carlos, 2016. .................................................................................................................................................... 109 Figura 44– DE do fluxo de movimentação total dos técnicos de enfermagem com os kaizens. São Carlos, 2016. ............................................................................................................................................................. 111 Figura 45 - DE do fluxo de movimentação total dos médicos com os kaizens. São Carlos, 2016. ................... 112 Figura 46 - DE do fluxo de movimentação total das recepcionistas com os kaizens. São Carlos, 2016. .......... 114 Figura 47– DE do fluxo de movimentação total dos pacientes com os kaizens. São Carlos, 2016. ................. 115 Figura 48 – DE do fluxo de movimentação das fichas de atendimento com os kaizens. São Carlos, 2016. ..... 117 Figura 49 - DE do fluxo de movimentação total dos usuários com os kaizens. São Carlos, 2016. ................... 118 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442882 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442882 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442883 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442883 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442884 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442884 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442886 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442888 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442890 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442890 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442893 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442895 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442895 file:///C:/Users/Samira/Desktop/Dissertacao%20Samira%20FINAL.docx%23_Toc448442898 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos enfermeiros (gerenciamento da unidade). ................................................................................................................................................66 Tabela 2 - Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos enfermeiros (recepcionar chegada de ambulância com paciente grave). ...........................................................................................................67 Tabela 3 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos enfermeiros (recepcionar chegada de ambulância na área amarela). ................................................................................................................69 Tabela 4 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (administração de medicação ou coleta de exames laboratoriais). .........................................................72 Tabela 5 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (triagem). .74 Tabela 6 - Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos Técnicos de Enfermagem (administração de medicação na área amarela). ....................................................................................75 Tabela 7 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (recepcionar chegada de ambulância na área amarela). .....................................77 Tabela 8 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (recepcionar chegada de ambulância na chamada 5) ..................................................................................................78 Tabela 9 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos técnicos de enfermagem (reposição e guarda de materiais e medicamentos da unidade). ................................................................................79 Tabela 10 – Análise do Diagrama de Espaguete que representa o fluxo de movimentação dos médicos (chamar pacientes na recepção). ............................................................................................................83 Tabela 11 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos médicos (apanhar fichas de atendimento no “Chamados” e colocar no “Medicação”). .......................................84 Tabela 12 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos médicos (atendimento aos pacientes na área amarela). ...................................................................................................................................85Tabela 13 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos médicos (atendimento aos pacientes na área vermelha). .................................................................................................................................86 Tabela 14 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos médicos (atendimento aos pacientes na sala de sutura). ..................................................................................................................................87 Tabela 15 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação das recepcionistas (encaminhamento de fichas de atendimento à triagem). ..........................................................................................................91 Tabela 16 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação das recepcionistas (auxiliar acompanhantes de pacientes). ...............................................................................................................92 Tabela 17 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação das recepcionistas (encaminhamento à enfermagem da ficha de atendimento do paciente que chega de ambulância com acompanhante). .....94 Tabela 18 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação das recepcionistas (encaminhamento à enfermagem da ficha de atendimento do paciente que chega de ambulância sem acompanhante). .....95 Tabela 19 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos pacientes (consulta e alta). ............98 Tabela 20 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos pacientes (consulta e RX). .......................................................................................................................................................99 Tabela 21 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos pacientes (consulta com RX e medicação). .......................................................................................................................................... 101 Tabela 22 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos pacientes (consulta e exames laboratoriais). ....................................................................................................................................... 102 Tabela 23– Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos pacientes (chegada de ambulância área amarela). ...................................................................................................................................... 103 Tabela 24 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação dos pacientes (chegada de ambulância área vermelha). .................................................................................................................................... 104 Tabela 25 – Análise do DE que representa o fluxo de movimentação das fichas de atendimento. ................ 107 Tabela 26 - Especificação dos kaizens. .......................................................................................................... 119 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS UFSCar Universidade Federal de São Carlos STP Sistema Toyota de Produção PDCA Plan-Do-Check-Action SUS Sistema Único de Saúde TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido RX Raio X SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência LIB Lean Institute Brasil LGN Lean Global Network DE Diagrama de Espaguete SUMÁRIO APRESENTAÇÃO................................................................................................... 17 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 20 1.1. Justificativa...................................................................................................... 23 1.2. Objetivos ......................................................................................................... 23 1.2.1. Objetivo geral ............................................................................................ 23 1.2.2. Objetivos específicos ................................................................................ 23 2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 25 2.1. O modelo toyota de produção e o sistema toyota de produção ...................... 25 2.2. A metodologia lean ......................................................................................... 29 3. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ..................................................... 34 3.1. Lean healthcare .............................................................................................. 34 3.2. O ciclo PDCA .................................................................................................. 37 3.3. Kaizen ............................................................................................................. 38 3.4. Diagrama de espaguete (DE) ......................................................................... 39 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................. 47 4.1. Tipo de estudo ................................................................................................ 47 4.2. Local do estudo ............................................................................................... 48 4.3. Participantes ................................................................................................... 48 4.4. Forma de coleta e análise dos dados ............................................................. 49 4.4.1. Primeira etapa: mapeamento, identificação e análise da situação atual ... 50 4.4.2. Segunda etapa: identificação dos kaizens ................................................ 52 4.5. Aspectos éticos ............................................................................................... 52 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 55 5.1. Primeira etapa: mapeamento, identificação e análise da situação atual ......... 55 5.1.1. Desenho da planta baixa da unidade de emergência ............................... 55 5.1.2. Observação do fluxo de movimentação .................................................... 62 5.1.3. Desenho do diagrama de espaguete e análise da situação atual............ 63 5.2. Segunda etapa: identificação dos Kaizens. ................................................... 108 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 121 PRODUÇÃO CIENTÍFICA .......................................................................................124 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 126 ANEXOS ................................................................................................................. 133 APÊNDICES ............................................................................................................ 139 16 APRESENTAÇÃO 17 APRESENTAÇÃO Quando escolhi a enfermagem como minha profissão, queria cuidar de pessoas. Queria ajudar as pessoas, visando o bem estar do ser humano, levando em consideração a promoção da saúde. Durante a universidade, não conheci a pesquisa. Apenas conheci o hospital universitário, os pacientes, o equipo, a seringa, as medicações e tudo que um enfermeiro assistencial precisa saber. Logo que acabei a graduação, realizei estágio na Universidade de Salamanca, Espanha; local em que conheci a enfermagem em um outro mundo, outro contexto. Experiência fantástica que levo comigopra onde vou. Logo que voltei, fui contratada para trabalhar em um hospital na cidade de São Carlos - SP, meu primeiro emprego. Inicialmente minha atividade profissional foi como enfermeira atuante em atendimento de urgência e emergência, área em que me especializei. Depois, no mesmo hospital, fui para a área de controle de infecção hospitalar e gerenciamento de qualidade e risco, onde fiquei por quase dez anos. Foi devido a esta área de atuação que obtive bastante conhecimento e que possibilitou meu envolvimento com a prática da gestão do cuidado e o início e vontade de buscar e pesquisar novas práticas, novos modelos; o início do encanto pela pesquisa. Experiências foram vivenciadas na saúde e doença, em todas as fases da vida, desde a concepção, nascimento até a senilidade; e eu sempre atenta e focada na gestão, com o foco no paciente. A inquietação frente a temas que abordavam melhorias nos processos cada vez mais me fascinava e me fazia buscar novos conhecimentos. Fui apresentada a Profa. Dra. Silvia Helena Zem-Mascarenhas e o encanto pela pesquisa só aumentou. Foi quando conheci a metodologia lean healthcare, muito eficaz e pouco abordada, que contempla a melhoria dos processos. Ao decidir fazer o mestrado, estava em busca de crescimento profissional, conhecimento e aprofundamento na pesquisa. O lean é viciante, a busca incessante pela melhoria, pela perfeição, não é uma jornada fácil, aliás, não é um destino, é uma jornada que envolve mudança comportamental das pessoas também, e não é uma jornada solitária, mas sim compartilhada com outras pessoas. 18 Meu esforço é poder contribuir com conhecimentos específicos relacionados a metodologia lean healthcare, mas precisamente com a ferramenta diagrama de espaguete, com a melhoria do gerenciamento em enfermagem, e da instituição pesquisada, além de despertar novos interesses de pesquisadores para aprofundarem os conhecimentos nesta metodologia tão útil e eficaz nos serviços de saúde, principalmente na exploração de novas aplicações do lean healthcare. O estudo foi dividido em seis capítulos. O Capítulo 1 apresenta o trabalho de maneira geral, descrevendo sua motivação, justificativa e objetivos. No Capítulo 2, encontram-se os conceitos importantes para a pesquisa e descreve a revisão da literatura para a utilização da metodologia lean. O Capítulo 3 descreve o referencial metodológico utilizado e sua trajetória, incluindo a utilização da ferramenta do lean healthcare utilizada no estudo, o diagrama de espaguete. Após, destacam-se no Capítulo 4 as etapas para o desenvolvimento da pesquisa. No Capítulo 5 estão contidas as informações relativas aos resultados obtidos e no Capítulo 6 as considerações finais do estudo. Ao final, estão contidas todas as referências utilizadas e informações complementares, como anexos e apêndices. 19 INTRODUÇÃO 20 1. INTRODUÇÃO O primeiro capítulo possui como objetivo a apresentação do tema escolhido, justificativa, hipótese, problema e objetivos propostos neste trabalho. Também traz os aspectos relevantes atuais da literatura relacionados ao contexto das instituições hospitalares no Brasil, bem como os conceitos da metodologia lean. Em um dado momento, percebemos que não dá para fazer administração adequada de alguma coisa sem ter a noção do que se está fazendo. São muitos os acertos e erros e no final, você acaba não percebendo se o que fez produziu resultados positivos ou não. A Toyota chamou a atenção do mundo todo na década de 1980, quando algo de especial havia na qualidade e eficiência da produção da empresa japonesa. Os veículos duravam mais tempo do que os automóveis americanos e a manutenção era muito menor (WOMACK; JONES; ROSS, 1991). O modo como a empresa fabricava os veículos é que impressionava. Carros eram mais velozes e confiáveis a um custo competitivo. É a terceira maior empresa fabricante de automóveis no mundo, atrás da General Motors e da Ford; entretanto, é de longe a mais lucrativa do que qualquer outra indústria do setor. Grande parte de seu sucesso provém de sua qualidade. Mas qual o grande segredo para o sucesso da Toyota? Sua excelência operacional, baseada nos métodos de melhoria da qualidade e ferramentas, que ajudaram a provocar a revolução da “produção enxuta”, juntamente com uma filosofia empresarial que envolve a compreensão das pessoas e motivação humana, baseado na habilidade de cultivar lideranças, equipes e criação de estratégias para a construção de relacionamentos com fornecedores e manter uma organização em que todos aprendem (LIKER, 2005). A Toyota possui quatorze princípios de gestão (Modelo Toyota), que serão citados nos próximos capítulos deste trabalho. Nessa perspectiva, pode-se citar o pensamento lean (ou produção enxuta), que até o final da década de 1990, foi aplicado principalmente na área de manufatura. Baseado nos métodos da Toyota, o sistema revolucionou a indústria automotiva, levando a melhores resultados com menos esforço, dinheiro, tempo e espaço em 21 comparação com o sistema operacional tradicional (SELAU et al., 2009). De acordo com o Lean Institute Brasil1, lean é uma filosofia de gestão inspirada nas práticas do Sistema Toyota de Produção (STP), sistema de administração da produção da empresa Toyota para alcançar metas de melhor qualidade, com menor custo, por meio do engajamento das pessoas em relação às metas. Possui como essência a contínua eliminação de desperdícios e a sistemática resolução de problemas. Tapping e Shuker (2010, p. 50), definem desperdício como “qualquer coisa que adicione custo ou tempo sem acrescentar valor. É algo que está sendo feito e que não tem valor para os clientes, mesmo que possa estar incluído no custo total”. Para Araújo (2009), lean é uma prática de gestão que induz à melhoria de processos e resultados dentro dos serviços. Sua ação é voltada à eliminação contínua de desperdícios ou atividades que não acrescentam valor numa linha de produção ou em qualquer outro processo, por meio do uso de ferramentas. Desta forma, os conceitos de produção enxuta podem ser aplicados em qualquer tipo de organização (WOMACK, 2005), para melhorar qualquer processo empresarial. Exemplos que demonstram essa tendência podem ser observados na construção civil, indústrias farmacêuticas, indústrias alimentícias, seguradoras, inclusive nos hospitais (SOUZA, 2008). A metodologia foi expandida para a área da saúde, denominando-se lean healthcare. O lado técnico do lean pode ser descrito por meio de uma série de ferramentas e técnicas lean, aplicadas e implementadas nos serviços para a redução dos desperdícios (GRABAN, 2013) e há valorização dos momentos paciente versus profissional de saúde, diminuindo a burocracia, gastos e etapas desnecessárias e um aumento do controle de riscos, de processos mais fáceis e ágeis e do tempo gasto com o paciente (BEM-TOVIM et al., 2007). Encontram-se muitos problemas na assistência à saúde. Observa-se que o setor de saúde no Brasil está marcado por custos cada vez mais crescentes na assistência juntamente com uma piora na qualidade dos serviços prestados, desperdícios de diversas causas e restrições cada vez mais frequentes no acesso aos serviços pela população (ARAÚJO, 2005). Um hospital público no Brasil poderia ser três vezes mais eficiente (BANCO MUNDIAL DO BRASIL, 2013). 1 O Lean Institute Brasil (LIB) é uma entidade sem fins lucrativos criada com o propósito de disseminar a filosofia lean no país de forma pública e prática, foi fundado em 1997, período em que pouco se sabia sobre essa teoria no Brasil. Está ligado a mais 16 institutos espalhados pelo mundo com o mesmo propósito, e juntos desde 2007 formam o Lean GlobalNetwork (LGN). Fonte: http://www.lean.org.br. 22 De acordo com Graban (2013), hospitais sofrem com escassez de pessoal, atendimento de baixa qualidade e fluxo de movimentação muitas vezes incorreto. Existem processos ineficientes e há um número maior de pressões externas e desafios, motivos pelos quais os sistemas e processos de trabalho devem ser aperfeiçoados. Assim, técnicas que envolvem mudanças de processos internos e melhoria das organizações nas unidades de trabalho estão cada vez mais sendo utilizadas no âmbito da saúde. Atualmente, para a segurança da garantia de um serviço com qualidade, é necessário reduzir desperdícios e processos ineficientes, adotando uma metodologia que oriente a busca da qualidade vinculada à melhoria de processos e diminuição dos desperdícios nos serviços de saúde (GRABAN, 2013). Várias ferramentas do lean podem ser utilizadas visando a melhoria dos processos na área da saúde, entre elas as ferramentas diagrama de espaguete, mapa de fluxo de valor, 5S, tempo takt, recursos de segurança, kanban, heijunka, trabalho padronizado, A3, etc. (TAPPING; SHUKER, 2010). Para a identificação das ferramentas lean mais utilizadas na área da saúde, foi realizada uma revisão integrativa da literatura2 que teve como objetivo a identificação da utilização da metodologia lean na saúde em âmbito mundial, pautando-se nos locais (países), setores de saúde e ferramentas lean utilizadas. Foram obtidos os seguintes resultados: prevalência de estudos nos Estados Unidos e Canadá, o mapa de fluxo de valor foi a ferramenta lean mais utilizada e a unidade de urgência e emergência seguida do setor laboratorial foram os setores que obtiveram uma maior aplicabilidade da metodologia lean. A busca foi realizada nos últimos cinco anos e a amostra foi constituída por trinta e cinco estudos. Observou-se uma lacuna, pois houve pouca utilização da ferramenta lean diagrama de espaguete, que é excelente no quesito quantificação dos desperdícios de movimentação e ainda sua utilização maior está relacionada à área manufatureira. Desta forma, Gastineau (2009) destaca que os diagramas de espaguete (layout desenhado), são considerados maneira eficaz para a visualização de fluxo de materiais, pessoas ou informações em um processo. Esta ferramenta demonstra os desperdícios de movimentação que devem ser eliminados, para que o processo fique mais enxuto. 2 Revisão realizada durante o desenvolvimento da dissertação e submetida em periódico da área. 23 Neste contexto, essa pesquisa tem como questão norteadora: como adequar a ferramenta lean diagrama de espaguete para redução de movimentação para a gestão hospitalar? 1.1. JUSTIFICATIVA Na realidade hospitalar, verifica-se uma imensidade de filas, usuários insatisfeitos e processos desarticulados. Percebe-se na área da saúde a necessidade de melhorar a qualidade e eficiência dos serviços e controlar custos. A falta de organização nas unidades e nos processos pode refletir no cuidado com o paciente, que muitas vezes não é realizado da forma mais adequada (ARAÚJO, 2009). Nesse sentido, algumas metodologias podem ser utilizadas visando melhorias. O lean healthcare é uma metodologia que busca a melhora da qualidade dos cuidados prestados na assistência aos pacientes, fazendo com que ocorra à redução de erros e tempos de espera nas unidades de saúde. Oferece importante benefício para as organizações hospitalares, reduzindo custos, riscos e permitindo o crescimento da instituição, beneficiando desde os gestores, funcionários e pacientes. O fazer mais com menos refere-se à importância de obter melhorias por meio da eliminação dos desperdícios (TOUSSAINT; BERRY, 2013). Com a ferramenta lean diagrama de espaguete, o fluxo (materiais e pessoal) na unidade poderá ser melhor visualizado e os desperdícios de movimentação apontados. 1.2. OBJETIVOS 1.2.1. Objetivo Geral Propor melhorias de fluxos de movimentação em uma unidade de emergência de um hospital de pequeno porte a partir da aplicação da ferramenta lean diagrama de espaguete. 1.2.2. Objetivos Específicos Aplicar a ferramenta lean diagrama de espaguete em ambiente hospitalar; Identificar oportunidades de melhoria. 24 REVISÃO DA LITERATURA 25 2. REVISÃO DA LITERATURA Considerando-se o problema chave deste estudo e os objetivos apresentados anteriormente, neste capítulo faz-se uma apresentação dos conceitos e princípios do Modelo Toyota de Produção, do Sistema Toyota de Produção (STP) e da metodologia lean, por meio de uma revisão da literatura. 2.1. O MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO E O SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO Como foi dito no capítulo anterior, a metodologia lean foi baseada no Sistema Toyota de Produção, da empresa Toyota, que revolucionou a indústria automotiva com princípio central de contribuição por meio da prática de criação de produtos e serviços de alta qualidade (LIKER, 2005). A companhia desenvolveu o STP (sistema de produção da Toyota) em 1945 e além de melhorar a qualidade, acelerava sua produtividade e reduzia os custos (GRABAN, 2013). O Modelo Toyota de produção e o STP definem seu estilo de administração e o que é único dela. O STP é a base para grande parte do movimento de “produção enxuta”. Mas o que é ser uma empresa com produção enxuta? É necessário um modo de pensar que faça o produto fluir por meio de processos sem interrupção de agregação de valor, um sistema puxado que se inicie a partir da demanda de clientes, reabastecendo somente o que a próxima operação ou processo for utilizar em pequenos e curtos espaços, e uma cultura em que todos estejam juntos lutando para a melhoria (WOMACK; JONES; ROSS, 1991). De acordo com Liker (2005, p. 55-58), segue abaixo os quatorze princípios que constituem o modelo Toyota. Estes princípios também são o alicerce do STP. Os princípios estão organizados em quatro categorias: Categoria 1: Filosofia de longo prazo: Princípio 1: Basear as decisões administrativas em uma filosofia de longo prazo (trabalhar e alinhar toda a empresa rumo a um objetivo comum e trabalhar sempre para alcançar o próximo nível). Categoria 2: O processo certo produzirá os resultados certos: Princípio 2: Criar um fluxo de processo contínuo para trazer os problemas à tona (tornar os problemas visíveis; recriar processos de trabalho; tornar o fluxo aparente em toda a cultura organizacional). 26 Princípio 3: Usar sistemas puxados para evitar a superprodução (oferecer aos clientes no processo de produção o que eles desejam, quando o desejam e na quantidade que necessitam; minimizar o estoque em processo e o armazenamento). Princípio 4: Nivelar a carga de trabalho (eliminar a sobrecarga das pessoas, do equipamento e da instabilidade no programa de produção). Princípio 5: Construir uma cultura de parar e resolver os problemas, obtendo a qualidade logo na primeira tentativa (utilizar todos os métodos disponíveis para assegurar a qualidade, introduzir nos equipamentos a capacidade de detectar problemas e se autodesligar). Princípio 6: Tarefas padronizadas são a base para a melhoria contínua e a capacitação dos funcionários (captar a aprendizagem acumulada sobre um processo, padronizando as práticas atuais. Permitir a expressão criativa de cada indivíduo para obter melhora no padrão e incorporar ao novo padrão para que quando uma pessoa se afastar você possa transmitir a aprendizagem a outro). Princípio 7: Usar controle visual para que nenhum problema fique oculto (utilizar indicadores visuais para auxiliar as pessoas a perceberem se estão diante de uma situação padrão ou um problema. Não utilizar algo que tire a atenção do trabalhador, como por exemplo, uma tela de computador, se istofor o motivo da desatenção. Criar sistemas visuais simples no local onde é realizado o trabalho com o objetivo de sustentar o fluxo). Princípio 8: Utilizar somente tecnologia confiável e testada que atenda aos funcionários e processos (a tecnologia deverá auxiliar pessoas e não substituí-las, pois frequentemente é melhor trabalhar manualmente em um processo antes de utilizar a tecnologia para executá-lo. Realizar testes reais antes de adotar novas tecnologias em processos administrativos, sistemas de produções ou produtos). Categoria 3: Agregar valor para a organização, desenvolvendo as pessoas: Princípio 9: Desenvolver líderes que compreendam completamente o trabalho, que vivam a filosofia da empresa e ensinem os outros (os líderes devem ser desenvolvidos dentro da empresa, e não buscá-los fora. Ele deve entender do trabalho diário, de modo que possa se o melhor professor da filosofia da sua empresa). Princípio 10: Desenvolver pessoas e equipes excepcionais que sigam a filosofia da empresa (fazer com que os valores e crenças da empresa sejam compartilhados e vivenciados por anos por meio da criação de uma cultura forte e estável. Utilizar equipes interfuncionais da empresa para melhorar a produtividade, aumentar fluxo e resolver problemas técnicos complexos. A capacitação ocorre quando pessoas utilizam ferramentas da própria empresa para melhorá-la). Princípio 11: Respeitar sua rede de parceiros e de fornecedores, desafiando-os e ajudando-os a melhorar (respeita-los, como uma 27 extensão de sua empresa. Desafiar seus parceiros externos a crescer e a se desenvolver mostra que você os valoriza) Categoria 4: A solução contínua da raiz dos problemas estimula a aprendizagem organizacional: Princípio 12: Ver por si mesmo para compreender completamente a situação (pensar e falar com base nos dados que você mesmo verificou pessoalmente. Mesmo os diretores e administradores de alto nível devem ver as coisas por si mesmos para compreenderem melhor as situações, em vez de aplicarem a teoria com base no que outros dizem ou até mesmo os dados de um computador). Princípio 13: Tomar decisões lentamente por consenso, considerando completamente todas as opções; implementá-las com rapidez (não tomar uma única direção e seguir adiante sem antes considerar completamente as alternativas. Quando tiver feito uma opção, movimente-se rapidamente, mas com cautela). Princípio 14: Tornar-se uma organização de aprendizagem por meio da reflexão incansável e da melhoria contínua (criar processos que quase não exijam estoque, pois tornará aparente o tempo e os recursos desperdiçados. Assim que a perda ficar evidente, faça com que os funcionários utilizem um processo de melhoria contínua para eliminá-la. Desenvolver soluções para evitar que os erros sejam repetidos. Aprender a padronizar as melhores práticas) (LIKER, 2005, p. 55-58). Nessa perspectiva, Gary Convis foi nomeado no ano de 1999 o primeiro presidente americano da Toyota e construiu graficamente (figura 1) um triângulo para apresentar o que ele havia aprendido sobre o STP depois de vivenciá-lo durante anos. Na figura, somente uma ponta inclui as ferramentas técnicas associadas com a produção enxuta, automação, nivelamento de produção, etc. De acordo com Liker (2005), essas são apenas ferramentas técnicas e só podem ser eficazes com a administração e filosofia corretas (o modo básico de pensar). No centro do STP estão as pessoas. Na Toyota, o administrador e o executivo devem ver as coisas por si próprios e compreender realmente o que está acontecendo durante o dia a dia no trabalho. Os administradores não apenas gerenciam a tecnologia, mas sim também promovem a cultura. 28 Figura 1 - O Sistema Toyota de Produção segundo a visão de Gary Convis. Fonte: adaptado de Liker (2005, p. 179). Baseado nisto, o termo lean (ou enxuto) é atribuído a John Krafcik, pesquisador do International Motor Vehicle Program, no Massachusetts Institute of Technology (WOMACK; JONES; ROSS, 1991). A equipe, liderada por James P. Womack, Daniel T. Jones e Daniel Roos, estudou a indústria automotiva mundial no fim da década de 80, buscando as práticas que levaram a Toyota ao sucesso. O termo lean foi concebido para descrever um sistema (da Toyota) que produzia resultados com a metade de tudo (espaço físico, esforço das pessoas, estoques, investimentos) e bem menos que metade dos incidentes e defeitos apresentados por outras empresas. A palavra entrou na linguagem como uma definição do método (GRABAN, 2013). Trata-se de uma cultura, que exige o envolvimento dos funcionários; muito mais do que um conjunto de técnicas (LIKER, 2005). 29 2.2. A METODOLOGIA LEAN A procura pela perfeição dos processos e a busca por resultados satisfatórios torna a empresa mais competitiva. A metodologia lean baseia-se na melhoria contínua de processos e eliminação de desperdícios ou atividades que não acrescentam valor (ARAÚJO, 2009). A palavra processo, de acordo com o dicionário Larousse da língua portuguesa (2004), significa “sucessão de operações com vistas a um resultado definido; sistema, método”. Já a definição de valor é muito ampla, mas pode ser sumarizada em algo que o consumidor estaria disposto a pagar. Desta forma, toda a cadeia da produção deve estar focada em atender as necessidades e preferências do cliente. As redes de comunicação dentro da empresa devem ser flexíveis para as preferências e observações dos clientes serem reconhecidas e de forma resiliente, adaptadas perante novas demandas. O contrário do valor seria o desperdício (MIN, et al. 2014). Assim, a perda (ou desperdício), na terminologia lean, refere-se a toda atividade que não agrega valor ao produto e que o consumidor não está disposto a pagar. Vale lembrar que cada consumidor pode definir de maneiras diferentes o valor (GRABAN, 2013). Pinto (2009, p. 135) define lean como “um sistema integrado de princípios, técnicas operacionais e ferramentas que levam à incessante busca pela perfeição na criação de um valor para o cliente”. Para Toussaint e Berry (2013) a definição de lean compreende: (...) uma transformação cultural que muda a forma de uma organização trabalhar; ninguém fica à margem da busca pela descoberta de como melhorar o trabalho diário. Isso exige novos hábitos e habilidades e, muitas vezes, uma nova atitude por toda a organização, da gestão sênior aos prestadores de serviço da linha de frente. O lean é uma jornada, não um destino. Ao contrário de programas específicos, o lean não tem um final. Criar uma cultura lean é criar um apetite insaciável pela melhoria; não há como voltar (TOUSSAINT; BERRY, 2013, p. 74). Nesse contexto, baseando-se nas atividades que não agregam valor, acredita-se na busca de eliminação dos desperdícios. Os desperdícios podem ser classificados, de acordo com Graban (2013) em: Superprodução: produzir muito cedo ou muito, causando excessos. Fazer mais do que o cliente solicita. Falhas: tempo gasto fazendo algo incorretamente; erros nos processos de qualidade. 30 Estoque: estoques e inventários desnecessários; armazenamentos excessivos, resultando em custos altos. Processamento inapropriado: executar atividades com sistemas ou ferramentas inapropriadas, quando poderiam ser utilizado algo mais simples e eficiente. Transporte excessivo: movimento desnecessário do produto (amostras, pacientes ou materiais), resultando em aumento no custo, tempo e esforço. Movimentação excessiva: movimentação desnecessária dos funcionários. Esperas: tempos longos de inatividades de pessoas, informações ou bens. Potencial humano: desperdício e perda de funcionários que não se sentem motivados, ouvidos, que não percebem apoio em suas carreiras de trabalho. Segundo o Lean Institute Brasil1 e os autores Tapping e Shuker (2010), Joint Comission Resources(2013) e Graban (2013), o lean possui cinco princípios que fazem parte da essência de sua gestão. São eles: valor, fluxo de valor, fluxo contínuo, produção puxada e perfeição ou melhoria contínua. De acordo com esses autores os princípios lean serão explicados a seguir: Princípio 1: Valor O valor deve ser definido pelo consumidor final. Sob o ponto de vista do cliente, a empresa deve definir o que realmente considera-se valor. A distinção da definição de valor pelo cliente e criação de valor pela empresa é categórica para o sucesso do pensamento lean. Determinar o que o cliente está disposto a pagar. Princípio 2: Fluxo de valor É o conjunto de todas as ações indispensáveis para a produção de algo, desde a criação até a finalização. “Manter o processo fluindo”. A empresa não deve observar suas atividades pontualmente, mas sim toda a sequência de atividades que agregam e que não agregam valor no processo de produção. Desta forma detectam-se os desperdícios no processo. Vale ressaltar que existem atividades que não agregam valor, mas que são inevitáveis no processo de produção, entre os quais podemos destacar o serviço de manutenção, por exemplo. Contudo, os clientes jamais estarão propensos a pagar pelo desperdício. Ao iniciar uma jornada lean é importante analisar a situação atual antes de se debruçar a programar mudanças para melhorias no serviço. 31 Princípio 3: Fluxo contínuo Evita gerar estoques. Produzir lotes unitários, com cada item sendo imediatamente passado ao processo seguinte, não gerando paradas e desperdícios. Princípio 4: Produção puxada Evita superprodução e estoques. Produzir somente o que for necessário, quando solicitado. O puxar “acomoda” as mudanças conforme a demanda dos clientes. Princípio 5: Perfeição ou melhoria contínua A busca pela perfeição é o último passo da jornada lean e nunca tem fim. Sempre passível de atividades de melhoria. Busca aperfeiçoar sempre, mediante avaliação ininterrupta e interminável. Pensando nisso, pode-se dizer que a busca pela perfeição é fazer com que os colaboradores de uma empresa sejam capazes de avaliar e encontrar problemas, gerando assim uma cultura de “auditoria” e notificação para solucioná-los. Assim, cada vez mais melhorias serão implementadas. Quanto mais problemas encontrados, maiores são as oportunidades de melhorias (MIN, et al. 2014). Uma das ferramentas para buscar a perfeição é o famoso ciclo de resolução de problemas, o Plan-Do-Check-Action (PDCA) e ainda o evento de melhoria contínua (evento Kaizen), que serão descritos adiante. Conforme o IQG3 (Health Services Acreditation), “a inovação da saúde está no aumento do valor”. De acordo com a figura 2, a empresa acredita que é necessário retirar as fronteiras entre os processos para garantir que o fluxo esteja alinhado para a criação de valor ao cliente. 3 O IQG é uma empresa do mercado de certificação e implementação de programas de gestão de qualidade do segmento saúde com uma estrutura construída ao longo de mais de 15 anos que possui como missão a disseminação dos conceitos da Gestão da Qualidade no Brasil e na América Latina. www.iqg.com.br. 32 Figura 2 – A inovação da saúde está no aumento do valor. Fonte: adaptado de IQG (www.iqg.com.br). Portanto, percebe-se que a metodologia lean entende o fluxo de valor dos processos e baseia-se na melhoria contínua dos processos, reduzindo desperdícios e custos, tornando as pessoas capacitadas com a utilização de ferramentas e métodos. Ainda, percebe-se que na área de engenharia de produção o lean funciona muito bem. Foi onde tudo começou. Mas vale ressaltar que os conceitos de produção enxuta foram expandidos e podem ser empregados em qualquer setor produtivo, por empresas de todos os segmentos, incluindo serviços que produzem saúde, os hospitais (TOUSSAINT; BERRY, 2013). “Hospitais, como outras organizações, necessitam preocupar-se com satisfação dos clientes, fluxo de caixa, qualidade dos serviços prestados, métodos e filosofias empregados” (GRABAN, 2013). Nos últimos anos, devido à pressão para redução de custos, a procura por serviços com qualidade e a melhoria dos processos, o setor da saúde também começou a aplicar os princípios lean, dando origem ao lean healthcare (PINTO, 2009). 33 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 34 3. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO O lean healthcare é um referencial teórico-metodológico, pois essa perspectiva trouxe não só o arcabouço teórico, mas contribuiu com estratégias e instrumentos específicos para o desenvolvimento dessa pesquisa. Esse capítulo tem o propósito de aprofundar os conceitos e o que já foi apresentado sobre o lean, porém com foco específico para a área da saúde. Também, serão definidos e contextualizados o ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Action) e as ferramentas lean kaizen e diagrama de espaguete. 3.1. LEAN HEALTHCARE Como foi dito, a metodologia lean expandiu-se e começou-se a observar sua aplicação na gestão à saúde. Alguns hospitais começaram a iniciar experimentos com o método na década de 1990, com ajuda dos fabricantes de automóveis do estado do Michigan (GRABAN, 2013). De acordo com Araújo (2009), o lean healthcare rege-se pelos mesmos princípios do lean, mas possui suas adaptações à realidade do setor da saúde. São eles: O paciente deve estar sempre em primeiro lugar; Definir valor em termos do paciente; Aprender a observar os oito tipos de desperdícios; Obter melhorias por meio da eliminação dos desperdícios. Para Toussaint e Berry (2013), o lean healthcare possui as mesmas aplicações do lean, de acordo com seis princípios: Princípio 1: Lean é atitude de melhoria contínua. Princípio base no ciclo PDCA (planejar, fazer, verificar e agir/ padronizar); aplicado no trabalho diário. Princípio 2: Lean é criar valor. A área da saúde é para os pacientes e seus recursos devem beneficiá-los; O objetivo da metodologia lean na saúde é gerar valor para os pacientes. 35 Princípio 3: Lean é unidade de propósito. As organizações da área da saúde são sistemas complexos. Quando corretamente executado, o lean esclarece prioridades e guia pessoas focando na melhoria; o trabalho lean é “focado”. Princípio 4: Lean é respeito pelas pessoas que fazem o trabalho. A liderança vira de “cabeça para baixo” com colaboradores da linha de frente realizando inovações e gerentes confiando e apoiando-os. O respeito pelos colaboradores da linha de frente permeia na organização. Gerentes e supervisores visitam regularmente o local de trabalho e “atacam” processos, e não pessoas. Princípio 5: Lean é visual. Visualizações de informações são montadas nas paredes de áreas reservadas aos colaboradores, apresentando dados de desempenho diário, medidas de satisfação dos pacientes, custo e qualidade. Ainda, o local é dedicado para que qualquer colaborador comunique um problema ou necessidade que necessita de atenção ou alguma ideia de melhoria. Princípio 6: Lean é padronização com flexibilidade. A essência do lean baseia-se na transformação de processos de trabalho não padronizados em processos padrão que melhoram o desempenho e, então, continuam a melhorar o trabalho padrão através do PDCA. Percebe-se diariamente nos hospitais que ainda existem muitos erros de comunicação, dificuldade dos funcionários na utilização de equipamentos necessários, procedimentos e processos desarticulados, acidentes biológicos não notificados, horas extras inúteis, deslocamentos desnecessários de funcionários, pacientes, materiais e medicamentos, espaço reduzido para armazenamento de vestuários, medicamentos e materiaise funcionários insatisfeitos. Há muitos gastos com atividades que não agregam valor ao serviço. A eliminação dos desperdícios possibilita a redução de custos, a melhora da qualidade dos serviços e o aumento da satisfação dos funcionários, o que é satisfatório para todas as partes interessadas em obter melhorias (PINTO, 2009). O lean healthcare preconiza a valorização dos momentos paciente e profissional de saúde, pois com os processos mais fáceis e ágeis e as sequências mais simplificadas 36 sobra-se mais tempo para dedicação ao foco principal na saúde, que é o paciente (BEM- TOVIM, et al. 2007). Estudos mostram a eficiência comprovada da utilização do lean healthcare nos hospitais em diversas partes do mundo e no Brasil. Como por exemplo, de acordo com o Lean Institute Brasil1, no ThedaCare 4 (Sistema de Saúde Integrado), no estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, ocorreu uma diminuição de 25% do custo das internações e a satisfação dos clientes obteve a nota máxima. De acordo com a Clínica Christie, em Champaign, Illinois, no departamento de otorrinolaringologia, em menos de um ano houve redução de 28% do tempo de espera para consultas e um aumento de 10% da capacidade departamental, aumento do trabalho em equipe e comunicação interna e aumento da satisfação dos clientes. Eram realizadas reuniões diárias com o objetivo principal de identificar problemas e discutir soluções em potencial. Houve também redução de 60% no tempo de espera pelos resultados de exames clínicos laboratoriais em 2004, com tempos de espera ainda mais baixos (queda de 33%) de 2008 a 2010, em Alegent Health, Nebraska. Redução de 54% no tempo do ciclo de esterilização de instrumental, acompanhada de melhoria na produtividade de 16% em Kingston General Hospital em Ontario (GRABAN, 2013). De acordo com o Lean Institute Brasil1 (2015), desde 2008, 15 hospitais brasileiros utilizam a metodologia lean (denominados hospitais “top performance”) e existem mais ou menos outras 15 iniciativas. Com esse enfoque, há uma série de ferramentas e técnicas lean que podem ser aplicadas e implementadas nos serviços para a redução dos desperdícios de diversas causas (GRABAN, 2013). Ferramentas possuem benefícios limitados se não estiverem integradas a um sistema de gestão coerente, que promova e sustente a dinâmica de melhoria contínua; a maneira como se gerencia é determinante (Lean Institute Brasil1, 2015). 4 ThedaCare é uma rede filantrópica de assistência, instalada no estado de Wisconsin (EUA). Constituída por cinco hospitais, vinte postos de assistência primária e serviços de atendimento a domicílio, ficou conhecida por meio da atuação pioneira do atual CEO John Toussaint. Dez anos atrás, o ex-diretor médico, e já à época presidente executivo da instituição, empreendeu uma jornada para implantar uma estratégia sistematizada para melhorar o desempenho clínico da instituição, o que exigiu um árduo trabalho de convencimento do corpo clínico a adotar protocolos e aceitar mudanças. 37 Tapping e Shuker (2010) e diversos autores afirmam que as principais práticas e ferramentas indispensáveis para o desenvolvimento da produção lean são: diagrama de espaguete, 5S, fluxo contínuo, kanban, A3, poka-yoke, mapeamento de fluxo de valor, gerenciamento visual, padronização, just-in-time, kaizen, heijunka, tempo takt, recursos de segurança e balanceamento de linha. É no ensino e na aplicação de ferramentas lean que muitas instituições de saúde já percebem melhorias organizacionais resultando em melhores índices de satisfação dos clientes. Elas auxiliam na implementação e manutenção do lean, trabalhando de maneira enxuta (Hagg et al., 2007). Vale ressaltar que as ferramentas, se aplicadas isoladamente, podem trazer resultados limitados se não forem acompanhadas pela transformação lean no DNA da instituição de saúde como um todo. As ferramentas de qualidade também auxiliam bastante na resolução de problemas e implementação do lean. Como já dito anteriormente, um dos princípios do lean é a perfeição ou melhoria contínua, ou seja, os colaboradores de uma empresa adquirem a consciência de uma “auditoria eterna”, buscando por “problemas” para que surjam sempre oportunidades de melhorias. Vale ressaltar que uma das ferramentas de qualidade utilizadas para a busca pela perfeição é o ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Action) que será descrito a seguir. 3.2. O CICLO PDCA O PDCA, que significa em português planejar, fazer, verificar e agir é uma ferramenta de qualidade, utilizada para buscar a perfeição. É o famoso ciclo de resolução de problemas, de melhoria contínua proposto por Deming, que considerava cada nova melhoria o ponto de partida para um novo aperfeiçoamento (MIN, et al. 2014). Os problemas são vistos como oportunidades de melhorias nos processos, portanto, cada vez que um problema for identificado o sistema de produção passa para um patamar superior. No primeiro passo, planeja-se uma meta a ser alcançada e um plano de ação para poder atingi-la, em que a ação é realizada de acordo com a verificação e efetividade do atendimento da meta. Em caso afirmativo, a ação é padronizada e em caso negativo (não atendimento da meta) volta-se ao passo inicial e um novo método deve ser planejado (MARTINS; LAUGENI, 2005). Explica-se, na figura 3, o ciclo PDCA, para que seu funcionamento e utilização possam ser melhores entendidos. 38 3.3. KAIZEN Ferramenta lean utilizada para descrever pequenas melhorias diárias desempenhadas por todas as pessoas. Evento de melhoria contínua. A palavra “kaizen” vem dos caracteres “kai” que significa desmontar e “zen”, prosperar (MIN, et al. 2014). “É um projeto de melhoria focada e estruturada, utilizando uma equipe multifuncional dedicada a melhorar uma área de trabalho segmentado, com objetivos específicos, num prazo acelerado” (GLOVER et al., 2010). A filosofia kaizen baseia-se na eliminação de desperdícios utilizando soluções baratas e bom senso, que se apoiem na motivação e criatividade dos funcionários para melhorar a prática em seus processos de trabalho, com foco na busca pela melhoria contínua (SHARMA; MOODY, 2003). Figura 3 – O ciclo PDCA. Fonte: adaptado de MIN, et al. (2014, p. 62). 39 Possui o objetivo de identificar problemas existentes e sugerir rápidas e pequenas mudanças (TAPPING; SHUKER, 2010). As mudanças geralmente acontecem em três fases: período de preparação, reuniões (descrição do processo, identificando os desperdícios e atrasos com o objetivo de visualizar os erros por meio de avaliações diárias) e acompanhamento de aproximadamente de três a quatro semanas para a implementação de melhorias. O resultado do kaizen deve ser disponibilizado para acesso visual da equipe toda, incluindo cada etapa do processo (MIN, et al. 2014). Estas atividades obtêm êxito quando ocorre o envolvimento total dos funcionários, envolvendo treinamento e dedicação, com baixo custo e trabalho em equipe (DICKSON, et al. 2009). E também, evidências recentes sugerem que a ferramenta está se tornando cada vez mais popular com o propósito de melhora inicial e aumento de desempenho nos processos. No entanto, o sucesso inicial de um evento kaizen não garante a sustentabilidade dos resultados. Na verdade, os eventos kaizen não devem ser realizados se não obtiverem a intenção e o propósito de amparar atividades necessárias para sustentar os resultados kaizen (GLOVER et al., 2010). A figura 4 demonstra o símbolo (ícone) utilizado para demonstrar a utilização da ferramenta kaizen como necessidade de melhoria em um layout, mapa ou diagrama. A cor padronizada para o preenchimento do símbolo é a amarela (TAPPING; SHUKER, 2010). 3.4. DIAGRAMA DE ESPAGUETE (DE) O diagrama de espaguete é uma ferramenta lean que ajudaa estabelecer o layout ideal a partir das observações das distâncias percorridas na realização de uma KAIZEN Figura 4 – Símbolo do Kaizen. Fonte: adaptado de TAPPING; SHUKER (2010). 40 definida atividade ou processo (FREITAS, 2013). A ferramenta baseia-se em um diagrama utilizado para visualização, ao longo de um fluxo, da movimentação de materiais, informações e pessoas (funcionários e pacientes). O nome espaguete vem da semelhança da rota desenhada (layout) a um prato de macarrão do tipo espaguete. Ele busca a visualização de circulação e transporte, ao longo de um fluxo durante os processos. Mostra se o percurso traçado realmente foi necessário para a confecção de determinado produto ou para a realização de tal processo em uma unidade (LEXICO LEAN, 2003). Tapping e ShuKer (2010) afirmam que o DE consiste em traçar o caminho percorrido pelo material e/ou paciente em um layout específico, permitindo evidenciar e quantificar os desperdícios de movimentação e transporte. Desta forma, o diagrama apresenta um mapeamento dos deslocamentos e esforços desnecessários. Tanco et al. (2013) enfatiza que quando os caminhos de transporte são “plotados”, torna-se mais fácil a detecção de oportunidades de redução de movimentos desnecessários. O tempo economizado nos caminhos percorridos durante o processo de trabalho pode ser usado de forma mais eficaz, auxiliando a reduzir desde o tempo de espera do paciente na recepção, atrasos nas consultas e aumentando a produtividade dos funcionários e assim, melhorando a qualidade de atendimento ao paciente (UDDIN, 2013). Diagramas de espaguete também podem auxiliar a identificar equipamentos e materiais que necessitariam ser movidos de um local para outro, com base na observação do modo como os funcionários realmente realizam seu trabalho. A caminhada inútil não é o único desperdício que pode ser identificado por meio da observação, e sim pode-se encontrar diversos outros problemas relacionados ao trabalho repetido ou soluções alternativas relacionadas ao fluxo, que normalmente ficam ocultas dos olhos dos supervisores das unidades. Assim sendo, enfatiza-se a importância da presença dos administradores no local de trabalho, como um alicerce do lean healthcare (GRABAN, 2013). Para a construção de um DE, o primeiro passo consiste no levantamento do layout atual das instalações da unidade, ou seja, o esboço da planta da empresa, identificando corredores, portas, pilares, estações de trabalho e estoques de materiais e medicamentos. Esta distribuição impacta diretamente o desempenho da unidade (SILVA; RENTES, 2012). Nesse aspecto, se o levantamento do layout for realizado de forma incorreta, podem ocorrer algumas dificuldades: padrões de fluxos mais longos ou 41 mais curtos, estoque desnecessário de materiais e medicamentos, filas de pacientes formando-se ao longo da operação, tempo de processamento longo e calculado de forma errada, prejudicando fluxos e gerando alto custo. Já um bom levantamento e planejamento do layout podem visar tanto à eliminação de atividades que não agregam valor como enfatizar atividades que agregam, como por exemplo: utilizar de forma hábil o espaço físico disponível, facilitar a comunicação entre as pessoas envolvidas, facilitar acesso visual às operações, facilitar a entrada, saída e movimentação do fluxo de pessoas e materiais, facilitar a manutenção dos recursos, garantindo acesso fácil, respeitar as distâncias entre setores que produzem produtos ou serviços que possam ser contaminados uns pelos outros, atendendo exigências legais de segurança do trabalho, vigilância sanitária e epidemiológica (MUTHER, 1976). O próximo passo consiste no traçado do diagrama de espaguete, utilizando a planta baixa da unidade, realizada a partir do desenho do layout, com o posicionamento dos principais mobiliários, materiais e equipamentos. Deve-se traçar o caminho percorrido pelas pessoas e materiais. Será realizada a análise crítica da situação atual, que consiste no levantamento dos desperdícios existentes. A partir desta fase, oportunidades de melhorias deverão ser identificadas no diagrama de espaguete (kaizens) (SILVA; RENTES, 2012). Nessa perspectiva, segue abaixo o passo-a-passo de como construir um diagrama de espaguete (FREITAS, 2013): PASSO 1: Desenhar o layout da área/ unidade (esboço da planta); PASSO 2: Desenhar os principais mobiliários, materiais e equipamentos, identificando estações de trabalho e estoque de materiais e medicamentos; PASSO 3: Identificar a planta baixa do local e adaptar o desenho, iniciando a construção do diagrama; PASSO 4: Observar a movimentação de pessoas, materiais/medicamentos e/ou informações; PASSO 5: Desenhar linhas no diagrama para representar os fluxos das pessoas, materiais/medicamentos e/ou informações (caminho percorrido); PASSO 6: Definir os fluxos: pessoas (profissionais, pacientes), materiais/medicamentos e/ou informações, diferenciando com cores distintas. A participação da equipe que trabalha na unidade é de extrema importância, pois são eles que vivenciam diariamente o processo de trabalho; 42 PASSO 7: Analisar o diagrama a partir do levantamento dos desperdícios de movimentação e transporte relacionados aos processos realizados. Se necessário, contabilizar o tempo gasto com as atividades, metragem, etc.; PASSO 8: Anotar todas as paradas e interrupções durante o processo; PASSO 9: Identificar oportunidades de melhorias. Diagramas de espaguete ilustram de maneira clara os desperdícios envolvidos no transporte e movimentação que devem ser eliminados para que a operação seja mais enxuta (GASTINEAU, 2009). Além disso, é uma ferramenta utilizada para entender os processos com o objetivo de identificar e analisar a fonte dos problemas encontrados (MAZZOCATO et al., 2010). Também torna-se possível apontar onde ocorre perda de tempo em alguma atividade ou processo e ainda auxilia a decidir sobre os próximos passos a serem tomados para melhorar a eficiência dos fluxos (FREITAS, 2013). Verificou-se na literatura a utilização desta ferramenta em diversos setores industriais e na área da saúde. No estudo de Tanco et al. (2013), o diagrama foi utilizado em Londres num estudo de caso, na linha de frente da produção de chocolate em indústria alimentícia com a finalidade de acompanhar o fluxo dos trabalhadores para detectar movimentação desnecessária. No entanto, Hagg et al. (2007) realizou estudo abordando a importância das adaptações da metodologia lean na área da saúde e enfatiza a aplicação do diagrama de espaguete nas organizações de saúde, na maioria das vezes com a finalidade de melhoria nos processos envolvendo os hospitais. McLeod, Barber e Franklin (2015) utilizaram o diagrama para visualização de fluxos na área da saúde, envolvendo a segurança do paciente. O objetivo foi a identificação dos fatores que dificultam e facilitam a administração de medicamentos em pacientes internados em um hospital em Londres. Martins (2015) aplicou a ferramenta num laboratório de microbiologia em Portugal; abaixo, na figura 5 observa-se a ilustração do diagrama de espaguete atual (“before”) e o novo fluxo implementado (“after”). Pode-se observar que no diagrama atual o fluxo apresenta-se cruzado e há uma grande quantidade de movimentos. No diagrama futuro, percebe-se o fluxo realizado de maneira otimizada. Houve redução no cansaço dos funcionários e aumento de 30% na produtividade do laboratório. 43 Figura 5 – DE atual (BEFORE) e o novo fluxo implementado (AFTER). Fonte: MARTINS (2015). No Canadá, Skeldon et al. (2014) realizou estudo em uma clínica uro-oncológica com o objetivo de melhorar a eficiência e assistência ao paciente ambulatorial. Foi utilizada a metodologia lean e a ferramenta DE com a finalidade de otimizar o fluxo de movimentação dos profissionais,
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