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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE Juliana Vaz Segurança do paciente no enfoque da prevenção de infecções: contribuições para o ensino de enfermagem em metodologias ativas. MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE SOROCABA 2016 Juliana Vaz Segurança do paciente no enfoque da prevenção de infecções: contribuições para o ensino de enfermagem em metodologias ativas. MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE Trabalho final apresentado à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência para obtenção do título de MESTRE PROFISSIONAL em Educação nas Profissões da Saúde sob a orientação da Profª Drª Raquel Aparecida de Oliveira. SOROCABA 2016 Elaborado pela Biblioteca Prof. Dr. Luiz Ferraz de Sampaio Júnior. Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde – PUC-SP Vaz, Juliana V393 Segurança do paciente no enfoque da prevenção de infecções: contribuições para o ensino de enfermagem em metodologias ativas / Juliana Vaz. -- Sorocaba, SP : [s.n.], 2016. Orientadora: Raquel Aparecida de Oliveira. Trabalho Final (Mestrado Profissional) -- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. 1. Infecção Hospitalar/prevenção & controle. 2. Segurança do Paciente. 3. Educação em Enfermagem/métodos. 4. Avaliação Educacional. I. Oliveira, Raquel Aparecida. II. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. III. Título. Banca Examinadora __________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ “Dedico este trabalho a Deus, que me ajudou a ter paciência e determinação. Me ajudou a perseverar e a acreditar que tudo iria dar certo. Agradeço a Deus por ter colocado pessoas maravilhosas em meu caminho e que me ajudaram a seguir esse caminho e a chegar ao resultado final de realizar mais esse sonho”. AGRADECIMENTOS Agradeço à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo que me acolheu, primeiro como aluna, segundo como professora da graduação de enfermagem e posterior como aluna do Mestrado. Agradeço a Fundação São Paulo (FUNDASP) pela bolsa de estudo, que proporcionou a realização desse sonho. À minha mãe que desde o início foi a inspiração para toda a carreira de estudo e profissão. Aos meus filhos Fernando e Yasmin, pelo carinho e em especial a Yasmin, que tão pequena compreendeu todas as vezes que não pude estar presente e dar atenção nos momentos que ela tanto queria. Ao meu esposo, Jefferson, que no decorrer do meu estudo passou a entender a importância do mestrado para mim. As professoras da PUC Hebe, Janie e Carmen, companheiras de trabalho, queridas amigas, parceiras: tenho muito carinho por vocês. Aos professores que participaram da banca de Qualificação, Profa. Isabel e Prof. Fernando, pelas sugestões que contribuíram para a qualidade do meu trabalho e por aceitarem participar da minha banca de defesa. Aos professores do Mestrado Profissional da PUC-SP, pela dedicação e valiosos ensinamentos. Aos colegas de turma pelos momentos inesquecíveis que passamos juntos. À Heloisa pela paciência, dedicação e, por sempre estar à disposição para ajudar com muito carinho. Aos alunos e professores que aceitaram participar da pesquisa e dedicaram tempo para responder ao questionário. À Raissa, pela tradução do inglês, que o fez com agilidade e dedicação. À Adriana Botelho, amiga, que auxiliou com a tabulação dos dados e organização das planilhas. Às amigas de trabalho Camila e Laís, pela paciência e ajuda nos momentos que precisei. Á todos os amigos, familiares, alunos e colegas de trabalho, que não foram citados nominalmente, mas que foram importantes nessa etapa da minha vida. AGRADECIMENTOS ESPECIAL Agradeço em especial a três pessoas que fizeram parte dessa trajetória, à orientadora Raquel Aparecida de Oliveira, pelas orientações, dedicação e paciência nos momentos difíceis. Á minha amiga Josiani, pelo carinho, amizade, paciência; por ouvir quando precisei. Por sempre mandar “Um reforço” e, por ajudar com a formatação do meu trabalho. E, agradeço ao meu amigo Jorge, pela paciência, pelo carinho, por estar sempre ao meu lado; pelas palavras de incentivo e força que não me deixaram desistir; obrigada por tudo... Somos amigos para sempre. “Sábio é aquele que a tudo compreende e nada ignora. Deus não impôs aos ignorantes a obrigação de aprender, sem antes ter tomado dos que sabem o juramento de ensinar”. Provérbio chinês. RESUMO Juliana V. Segurança do paciente no enfoque da prevenção de infecções: contribuições para o ensino de enfermagem em metodologias ativas. Introdução: O Enfermeiro é o responsável em atuar na prevenção e controle de infecção em serviços de saúde. Objetivos: Avaliar no curso de graduação de enfermagem com metodologias ativas, a abordagem do tema infecções em Serviços de Saúde; identificar sob a perspectiva do docente e discente a abordagem de infecção em serviços de saúde e verificar as modalidades de ensino aprendizagem que contemplam essa temática. Material e Método: Estudo exploratório-descritivo, documental e quantiqualitativo realizado no Curso de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A pesquisa documental foi no Banco de Problemas Tutoriais e Material de Apoio do ambiente virtual. Participaram 12 (66,6%) docentes e 60 discentes (57,6%) que responderam um questionário, contendo uma escala de Likert e perguntas abertas. Resultados: O estudo documental mostrou que o conteúdo é abordado de forma gradativa, atende as especificidades do eixo de cada ano. Os instrumentos mostraram-se confiáveis, valor de Alfa de Cronbach de 0,90 dos professores e 0,91 dos alunos. Na caracterização, os docentes 100% eram do sexo feminino. Os discentes eram 95% do sexo feminino e 5% do sexo masculino. 24 (40%) são alunos trabalhadores e oito (13,3%) realizam estágio remunerado. Na dimensão Estrutura os docentes sentem- se preparados para abordar o tema e não disponibilizam material no ambiente virtual. No Processo concordaram que as atividades práticas permitem o aprendizado e não houve consenso quanto a abordagem do tema como objetivo de aprendizagem nos problemas. Em Resultado referiram que o aluno realiza procedimentos aplicando os conceitos. Os alunos alegaram que na Estrutura os materiais utilizados nas atividades práticas são suficientes para o aprendizado e que os locais de estágio oferecem oportunidade de aprendizado. No Processo concordaram que o tempo dispendido sobre o assunto é suficiente e que participaram de atividade sobre a temática. Na dimensão Resultado reconhecem que aplicam os conceitos na prática e que as atividades de ensino desenvolvidas no curso acarretam melhoria na qualidade da assistência. Na comparação das três dimensões (análise instrumento dos alunos), a que obteve maior escore de favorabilidade foi a de Processo (64%) e a pior o Estrutura (36%). Docentes e alunos confluíram suas opiniões quanto a importância da abordagem do tema e sugeremque seja mais explorado nos objetivos de aprendizagem e maior aprofundamento respectivamente. Discussão: Os achados permitiram verificar a potencialidade das metodologias ativas para o ensino de prevenção de infecções nos serviços de saúde e mostrar os pontos que merecem maior ênfase. Palavras chaves: Infecção Hospitalar/Prevenção & Controle; Segurança do Paciente; Educação em Enfermagem/Métodos; Avaliação Educacional. ABSTRACT Juliana V. Patient safety in infection prevention approach: contributions to nursing education in active methodologies . Introduction: The nurse is the responsible one for acting in the prevention and control of infections in Health Services. Objectives: To assess in the undergraduate nursing course with active methodologies, the approach of the subject infections in Health Services; identify through the perspective of professors and students the approach of infections in Health Services and verify the teaching and learning methods that include this subject. Materials and Methods: A descriptive and exploratory, documentary and quanti-qualitative study held at the Undergraduate Nursing Course at the Pontifical Catholic University of São Paulo. The documentary research covered the Bank of Tutorials Problems and Material Support of the virtual environment. Participated in 12 (66.6%) teachers and 60 students (57.6%) who answered a questionnaire containing a Likert Scale and open questions. Results: The documentary study showed that the content is approached gradually, and meets the specificities of the axis of each year of graduation. The instruments are reliable, Cronbach's alpha value of 0.90 for professors and 0.91 for students. In characterizing the sample, teachers were 100% female. Students were 95% female and 5% male. 24 (40%) of the students are workers and eight (13.3%) perform paid internship. In the Structure dimension professors feel prepared to address the issue and do not provide material in the virtual environment. In Process they agreed that the practical activities allow the learning and there was no consensus for the approach of the subject as a learning objective in the study of problems. In Results they indicated that the student performs procedures applying the concepts. Students claimed that the structure of the materials used in practical activities are sufficient for learning and internship sites offer learning opportunities. In Process they agreed that the time spent on the subject is sufficient and had participated in activities addressing the subject. In the Result dimension they recognize that are applying the concepts in practice and claim that teaching activities developed in the course lead to the improvement of care quality. In comparing the three dimensions (analysis students instrument), the one that obtained the highest favorability score was Process (64%) and the worst, Structure (36%). Professors and students converged their views on the importance of the theme approach and suggest it to be further explored in the learning objectives and further deepening of the subject, respectively. Discussion: The findings allowed to verify the potential of active methods for teaching prevention of infections in Health Services and show the points that deserve more emphasis. Key words: Cross Infection / Prevention & Control; Patient safety; Education, Nursing / Methods; Educational Measurement. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANVISA: Agencia Nacional de Vigilância Sanitária CCIH: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar CCIHS: Controle de Infecção Hospitalar CEP: Conselho de Ensino e Pesquisa CNCIRAS: Comissão Nacional de Prevenção e Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde CHS: Conjunto Hospitalar de Sorocaba CVC: Cateter Venoso Central DCN: Diretrizes Curriculares Nacionais DNCIH: Divisão Nacional de Controle de Infecção Hospitalar DCNs: Diretrizes Curriculares Nacionais EPI: Equipamento de Proteção Individual FCMS: Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. FUNSASP: Fundação São Paulo IPCS: Infecção Primária de Corrente Sanguínea INESP: Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa IRAS: Infecção Relacionada a Assistência à Saúde HSL Hospital Santa Lucinda MBA: Master in Business Administration OMS: Organização Mundial de Saúde OPAS: Organização Pan-Americana da Saúde PCI: Programa de Controle de Infecções PCIH: Programa de Controle de Infecção Hospitalar PUC/SP: Pontifícia Universidade Católica – São Paulo PNCIH: Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar PPE: Projeto Pedagógico de Enfermagem PNSP: Programa Nacional de Segurança do Paciente RDC: Resolução da Diretorias Colegiadas RN: Recém Nascido SCIH: Serviço de Controle de Infecção Hospitalar SPCIH: Serviço de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar SNE: Sonda Nasoenteral UTI: Unidade de Terapia Intensiva UTI N: Unidade de Terapia Intensiva Neonatal TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 1.1 Justificativa ...................................................................................................... 14 1.2 Infecções em serviços de saúde e a segurança do paciente.....................................................................................................................15 1.3 As infecções em serviços de saúde e o enfermeiro...................................... 20 1.4. As infecções em serviços de saúde e a formação do enfermeiro................24 2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 27 2.1 Objetivos especificos ....................................................................................... 27 3 Trajetória metodológica........................................................................................28 3.1Tipo de estudo ....................................................................................................28 3.2 Local do estudo ................................................................................................ 28 3.3 Participantes ..................................................................................................... 29 3.3.1 Critérios de inclusão ..................................................................................... 29 3.3.2 Critérios de exclusão ..................................................................................... 29 3.4 Procedimento de coleta de dados e instrumentos ......................................... 29 3.4.1 Pesquisa documental .................................................................................... 29 3.4.2 Pesquisa quantiqualitativa – elaboração e aplicação do questionário de pesquisa .................................................................................................................. 30 3.4.3 Instrumento de coleta de cados ................................................................... 30 3.4.4 Análise conteúdo do instrumento ................................................................ 32 3.4.5 Organização e análise de dados .................................................................. 33 4 ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................................ 34 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 35 5.1 Análise documental ......................................................................................... 35 5.2 Análise do instrumento de coleta alunos professores .................................37 5.2.1 Confiabilidade ................................................................................................. 37 5.3 Correlação entre os domínios ..........................................................................39 5.3.1 Confiabilidade dos domínios Estrutura, Processo e Resultdo...................39 6. ARTIGO 1- ENSINO SOBRE INFECÇÕES NOS SERVIÇOS DE SAÚDE: PERCEPÇÕES DOS DOCENTES DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ............ 41 6.1 Introdução ......................................................................................................... 41 7 MÉTODO ................................................................................................................ 44 8 RESULTADOS ...................................................................................................... 46 9 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 54 9.1 Fidedignidade do instrumento ......................................................................... 54 9.2 Análise das distribuições dos resultados pelas dimenssões estrutura, processo e resultado .............................................................................................. 54 10 CONCLUSÕES ....................................................................................................60 11 ARTIGO 2- SEGURANÇA DO PACIENTE – PERCEPÇÃO DOS ALUNOS SOBRE A ABORDAGEM DO TEMA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE NA GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM .......................................................................... 61 11.1 Introdução ........................................................................................................ 61 12 Método..................................................................................................................64 2.1 Desenho e local do estudo................................................................................64 13 RESULTADOS .................................................................................................... 66 13.1 Perfil dos estudantes ......................................................................................66 13.2 Confiabilidade dos instrumentos ..................................................................66 13.3 Análise Qualitativa ..........................................................................................72 14 DISCUSSÃO........................................................................................................77 14.1 Perfil dos estudantes......................................................................................77 14.2 Fidedignidade do instrumento........................................................................77 14.3 Correlação entre os domínios........................................................................77 14.4 Confiabilidade dos domínios Estrutura, Processo Resultado....................78 15 Análise das distribuições dos resultados pelas dimensões Estrutura, Processo e Resultado.............................................................................................79 15.1 Dimensão Estrutura.........................................................................................79 15.2 Dimensão Processo.........................................................................................79 15.3 Dimensão Resultado........................................................................................82 16 ANÁLISE QUALITATIVA......................................................................................83 17 CONCLUSÕES.....................................................................................................89 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................92 19 REFERENCIAS.....................................................................................................96 20 APENDICES........................................................................................................104 21 ANEXOS.............................................................................................................121 14 1 INTRODUÇÃO 1.1 Justificativa No ano de 2001, concluí a graduação em enfermagem pela PUC/SP e, antes de tornar-me especialista em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar, trabalhei como enfermeira assistencial. Nesse período, a falta de pias para realizar higiene das mãos, ausência da limpeza de equipamentos e mobiliários, bem como a ausência da técnica correta de procedimentos, já faziam parte dos questionamentos diários, por acreditar que o paciente deveria receber assistência segura e não adquirir complicações ao permanecer hospitalizado por um período estendido. No ano de 2006, iniciei minhas atribuições como Enfermeira no Serviço de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar (SPCIH) em uma instituição da cidade de Sorocaba/SP. No início, o processo foi difícil, pois as exigências nessa função iam além daqueles conhecimentos adquiridos na graduação. Para suprir as necessidades da minha profissão naquele momento realizei especialização em Master in Business Administration (MBA) em Serviços de Saúde e Controle de Infecção Hospitalar no INESP – Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa – SP. A organização do curso, o currículo e as estratégias de ensino-aprendizagem, o conhecimento dos professores, a troca de experiências com profissionais da área, bem como a dinâmica de trazer situações do cotidiano da área da saúde foram de grande importância para direcionar as questões de prevenção no meu processo de trabalho. No mesmo período de atuação como Enfermeira de Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), trabalhei em três instituições, duas na cidade de Sorocaba/SP e a outra na cidade de Itu/SP, constatei a necessidade de sensibilizar os enfermeiros sobre a importância de prevenir as infecções através de treinamentos. A minha percepção apontava que o assunto abordado era desconhecido ou tratado como uma consequência normal da atenção à saúde, seguido por uma desvalorização do profissional quanto ao tema de prevenção de infecção hospitalar ou serviços de saúde. O estudo de Silva e Souza1, com livre participação de enfermeiras candidatas a um curso de especialização em controle de infecção, apontou descaso dos profissionais de saúde; profissionais pouco comprometidos com a saúde e que ignoram ou até desconheciam o controle ou normas estabelecidas pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e ainda a pouca abordagem do tema na graduação dos enfermeiros. 15 Desta forma passei a refletir sobre o papel da formação do enfermeiro nos aspectos da segurança do paciente com enfoque na prevenção das infecções em serviços de saúde. No decorrer da atuação no SCIH, questionei informalmente aos enfermeiros quanto à abordagem da infecção hospitalar durante a graduação e as respostas direcionaram que foi pouco abordado e ainda constatei a desvalorização do assunto. A partir dessa observação da realidade, duas questões emergiram: Por que o tema não era abordado de forma adequada na graduação? Por que os profissionais estavam desvalorizando o tema? Assim, diante dessas observações, entendendo que a formação do enfermeiro pode contribuir para uma atuação mais efetiva nas questões de controle e prevenção de infecções, na dimensão assistencial e educativa tanto do paciente, família e equipe multiprofissional, passei então a questionar: como tem sido abordado o tema no atual currículo do Curso de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúda da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FCMS-PUC/SP)? Em 2013 já não mais atuava na área hospitalar, e tive a oportunidade de iniciar minha prática docente atuando nos 5º e 6º períodos do Curso deEnfermagem da FCMS-PUC/SP. Ao ingressar no Mestrado Profissional da mesma instituição, encontrei a possibilidade de buscar respostas para tais questões. 1.2 Infecção em serviços de saúde e a segurança do paciente As infecções relacionadas a assistência à saúde (IRAS) por muito tempo ficaram exclusivamente sob os olhos da vigilância hospitalar e fizeram parte das estatísticas e das CCIH. Atualmente, é considerado um tema sob a ótica da Segurança do Paciente, sendo contemplada mundialmente na meta internacional de segurança número 5 “Reduzir os riscos de infecções associadas aos cuidados em saúde”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que entre 5 a 10% dos pacientes que utilizam serviços de saúde adquirem uma ou mais infecções. Com o objetivo de auxiliar na redução das infecções estratégias foram elaboradas para incentivar o envolvimento das instituições nas prevenções. A primeira meta compartilhada foi a Aliança Mundial pela Segurança do Paciente intitulada “Uma 16 assistência Limpa é uma Assistência mais Segura” que envolve ações de incentivo à higiene das mãos.2 Segurança pode ser definida como ausência de exposição ao perigo e proteção contra ocorrência ou risco de lesão ou perda, e para a OMS, segurança do paciente consiste na ausência de dano potencial ou desnecessário para o paciente associado aos cuidados em saúde ou ainda evitar lesões e danos nos pacientes decorrentes do cuidado que tem como objetivo ajudá-los. 3,4,5 Para a OMS, “[...] segurança do paciente corresponde reduzir ao mínimo aceitável os riscos e danos desnecessários associados ao cuidado de saúde [...]”.2 Neste sentido, as instituições buscam certificações de qualidade com o objetivo de seguir as recomendações necessárias para proporcionar assistência aos pacientes com segurança. Atualmente, os pacientes e familiares com acesso às informações, seja na mídia televisiva ou através de sites de busca e redes sociais, propicia questionamentos sobre a assistência que está sendo prestada e a preocupação com as condições de segurança nos hospitais, clínicas e unidades básica de saúde, e também proporciona incentivo às instituições a aderir à vigilância de práticas seguras. Para ter acesso a qualquer informação, é necessário acessar sites de buscas ou rede de comunicações. Qualidade e melhorias podem ser divulgadas por toda rede de comunicação, mas os erros e falhas também são expostos com facilidade, sendo de grande valia para as instituições de saúde procurar investir na prevenção de erros e danos aos pacientes. Essa abordagem é incentivada mundialmente.2,4 O erro humano e a segurança do paciente são tema de estudo nos Estados Unidos, onde são relatados casos de mortes decorrentes de erros durante a assistência à saúde, sendo maior que as relacionadas aos acidentes de automóvel, câncer de mama e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, e também relata que, na área da saúde, o erro humano pode ocorrer por diversas razões, sendo casos isolados ou múltiplos fatores associados, que pode envolver a instituição, recursos humanos, financeiros e estruturais.6,7,8 A segurança do paciente sendo trabalhada na formação acadêmica dos profissionais de saúde reforça o desenvolvimento do trabalho sem erros, trabalhando e favorecendo a cultura de que não é aceitável trabalhar a assistência sem responsabilidade, sem cuidados, esforços e conhecimento sobre os procedimentos a serem realizados.4,8 17 No Brasil, as primeiras CCIH surgiram na década de 1960.9 Com as ações destas CCIH, e o movimento contínuo de profissionais envolvidos na área, evoluiu- se gradativamente para a concepção das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) como um problema de saúde pública, e, em 1988 foi instituído o Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar, por meio da Portaria nº. 232/98, no âmbito do Ministério da Saúde. Em decorrência deste Programa, foi criada a Divisão Nacional de Controle de Infecção Hospitalar (DNCIH) - Portaria no. 666/90 .9,10 Em 1983 e 1992, foram publicadas respectivamente as Portarias nº. 196 e nº. 930, com o objetivo de normalizar as ações de prevenção e controle de IRAS no Brasil e atualmente as legislações e normativas que determinam as diretrizes gerais para a prevenção e controle de IRAS são a Lei nº. 9.431 de 1997, a Portaria nº. 2.616 de 1998 e a RDC nº 48 de 2000.11,12 Em 1999, foi oficialmente constituída a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e o Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar (PNCIH) foi transferido do Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº. 1.241, de 13 de outubro de 1999, que repassou as atividades de controle de infecções hospitalares para a então Gerência de Controle de Riscos à Saúde, da Diretoria de Serviços e Correlatos. A seguir a ANVISA assumiu as atribuições e interfaces com órgãos de vigilância sanitária Estaduais e Municipais. A ANVISA atua na prevenção e controle de infecções nos serviços de saúde e trabalha a segurança do paciente, um assunto que nos últimos tempos é apontado como foco em instituições e projetos de melhorias de órgãos competentes.2,9 O Ministério da Saúde instituiu a portaria nº 529, de 1º de abril de 2013, referente ao Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), com o objetivo de promover uma atenção segura, livre de incidentes que possam gerar danos à saúde. A implantação de uma assistência segura envolve profissionais vinculados ao ensino, assistência e pesquisa, e estudantes de graduação e pós-graduação que devem realizar ações que priorizem o melhor cuidado aos pacientes. Sendo assim, em 2014 foi criado o Programa Nacional de Segurança do Paciente, que trabalha inicialmente com a cultura dos trabalhadores, incluindo profissionais envolvidos no cuidado, e gestores, onde assume responsabilidade pela sua própria segurança, segurança de seus colegas, pacientes e familiares. O programa prioriza a segurança 18 acima de metas financeiras e operacionais; encoraja e recompensa a identificação, a notificação e a resolução dos problemas relacionados à segurança; a partir da ocorrência de incidentes, promove o aprendizado organizacional, e proporcionam recursos, estrutura e responsabilização para a manutenção efetiva da segurança. 4,13 Em todos os níveis de atenção à saúde é necessário ampliar o olhar para além da própria atuação profissional e para os múltiplos fatores que colocam em risco a segurança do paciente no processo de cuidado, requerendo um esforço intenso e direcionado para que os processos de atenção à saúde, desde o planejamento, normas, procedimentos, rotinas, mapas estratégicos, checklist, entre outros, sejam realmente elaborados, mas principalmente implementados e seguidos rigorosamente.14 As infecções relacionadas à saúde, por muito tempo, foram o foco da epidemiologia hospitalar e integravam as estatísticas das CCIH. Atualmente, não é abordada somente nesses contextos, mas faz parte da segurança do paciente, visualizada como um evento adverso na assistência à saúde, sendo as infecções de sítio cirúrgico, pneumonia associada à ventilação mecânica, infecções associadas à catéteres e infecções do trato urinário associadas ao uso de catéteres estão dentre os principais tipos de eventos relacionados a infecções. As situações nas quais ocorrem erros ou falhas são denominados incidentes, e podem ou não provocar danos aos pacientes. Este erro está sendo chamado de Evento Adverso, “que é o incidente que atingiu o paciente e resultou num dano ou lesão, podendo representar um prejuízo temporário ou permanente e até mesmo a morte entre os usuários dos serviços de saúde”. Prevenir infecções em serviços de saúde, é das ações de segurança do paciente na prevenção dos eventos adversos, pois os mesmos ocasionam transtornos aos pacientes e elevam os custos para a instituição.2,15 Um exemplo paraprevenir infecções relacionada à assistência de saúde é a higiene das mãos. Em 1846, Ignaz Semmelweis, médico húngaro, reportou a redução no número de mortes maternas por infecção puerperal após a implantação da prática de higienização das mãos em um hospital em Viena e, desde então, esse procedimento tem sido recomendado como medida primária no controle da disseminação de agentes infecciosos. A prática sustentada de higiene das mãos pelos profissionais de saúde no momento certo e da maneira correta auxilia a redução da disseminação da infecção no ambiente de saúde e suas consequências. 19 A higiene das mãos, mesmo sendo uma medida simples para a prevenção, tem-se obtido, surpreendentemente, baixo índice de adesão da equipe multiprofissional.16,17 Como a adesão nas medidas de prevenção são consideradas baixas, a ANVISA buscou conhecer a incidência das IRAS nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos hospitais brasileiros para trabalhar a redução dos eventos adversos decorrentes do cuidado em saúde no Brasil. No ano de 2010, 690 hospitais do Brasil, notificaram dados para compor o primeiro indicador nacional obrigatório: densidade de incidência de infecção primária de corrente sanguínea (IPCS) associada a um catéter venoso central (CVC). Destes esforços, resultou-se a notificação de 18.370 IPCS, sendo 59,3% ocorrências em UTI adulto, 8,3% em UTI pediátrica e 32,4% em UTI neonatal. A monitorização deste indicador é de maior importância, pois promove respaldo nas estimativas da OMS, que apontam que um em cada quatro pacientes internados em unidades de cuidados intensivos vão adquirir infecção.6,2 A higiene das mãos é abordada de forma mundial para prevenir infecções relacionada a assistências de saúde, mas outros tópicos fazem parte desta campanha, como os procedimentos clínicos seguros, segurança do sangue e de hemoderivados, administração segura de injetáveis e de imunobiológicos, e segurança da água.2 Em 2011, a RDC/ANVISA nº 63 determinou que os estabelecimentos de saúde elaborassem estratégias e ações voltadas para a segurança do paciente, incluindo a prevenção de IRAS. Seguindo essas ações foi instituída a Comissão Nacional de Prevenção e Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde, com a finalidade de assessorar a Diretoria Colegiada da ANVISA na elaboração de diretrizes, normas e medidas para prevenção e controle de IRAS. Em abril de 2013 foi publicada a Portaria MS/GM nº 529 que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) o qual contempla as IRAS.13 Posteriormente, em julho do mesmo ano, foi publicada a RDC /Anvisa nº 36 que institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde dentre as quais aquelas voltadas para a prevenção e controle das IRAS.2,9,18,19 20 1.3 As infecções em serviços de saúde e o enfermeiro Ao escolhermos ser enfermeiros, sabemos que, de uma forma ou de outra, essa profissão se refere às dimensões do cuidar e gerenciar, atuando em diferentes cenários e níveis da área da saúde como na promoção, prevenção, cura e reabilitação. Desta forma, são necessários o aperfeiçoamento e a capacitação para intervir e favorecer assistência segura e de qualidade. O enfermeiro obtém competência técnico-cientifica e é responsável por administrar e liderar equipe de enfermagem que irá prestar assistência direta aos pacientes. É um profissional ímpar na assistência, por isso a importância do mesmo ter conhecimentos sobre a prevenção de infecções de serviços de saúde para multiplicar os conhecimentos para sua equipe e demais profissionais envolvidos na assistência.20 Em 1855, Florence Nightingale, com base em dados de mortalidade das tropas britânicas, propôs mudanças na higiene dos hospitais que resultaram em redução no número de óbitos dos pacientes internados; sendo diversas outras atividades que exerceu ao longo de sua vida, Florence Nightingale também esteve envolvida com a criação das primeiras medidas de melhorias dos hospitais.21 No Brasil, as infecções hospitalares começaram a ter maior relevância a partir da década de 70, quando surgiram as primeiras comissões de infecções em hospitais, sendo o Hospital das Clínicas e o Hospital Ipanema os primeiros a iniciarem as CCIHs. Nesse mesmo período, o Ministério da Saúde passou a ter envolvimento e elaborou medidas para prevenir infecções hospitalares, como a Portaria nº 196, que recomendava a criação de CCIHs nos hospitais, e na década de 90, a criação do Programa de Controle de Infecção Hospitalar.22 Na década de 90 foi instituída a Portaria N° 2.616, de 12 de maio de 1998, onde descreve “Infecção Hospitalar é aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada a internação ou procedimentos”. Consta nessa portaria que o enfermeiro deve fazer parte da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar como membro consultor e executor.19 A lei Nº 7.498/86, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências e no Art. 11°, inciso II – Parágrafo 5º e 6º, descreve que o enfermeiro tem a função junto com a equipe de saúde de realizar prevenção e controle sistemáticos de infecção hospitalar e de doenças 21 transmissíveis, e ainda realizar a prevenção e controle de danos sistemáticos que possam ser causados à clientela durante a assistência de enfermagem.23 As infecções podem ser divididas em duas partes relacionadas, a primeira relacionada à questão das alterações das condições orgânicas do paciente e imunológica que podem vir a deixa-lo mais suscetível, e a segunda relacionada ao ambiente, às ações dos profissionais de saúde, os procedimentos invasivos e a deficiência ou ausência de boas práticas. 13,22 Para realizar a prevenção de infecções em serviços de saúde é necessário ter ação macro política, que seriam as ações governamentais, e as micropolíticas, que são as ações institucionais, que envolvem a participação de toda equipe, não somente dos membros das comissões, mas de todos os profissionais que realizam a assistência aos pacientes. A prevenção de infecções deve ser discutida, abordada e implantada nas instituições de saúde e acadêmicas, pois o enfermeiro é um profissional educador constante em suas atribuições diárias.6,24 Este realiza as orientações da equipe de enfermagem, familiares e tem a propriedade de trabalhar em parcerias com equipes multidisciplinares e auxiliar nas orientações de toda equipe.2,22,24 Em todas as categorias profissionais existem protocolos instituídos, regras de convivência, código de ética e a direção que o trabalho deve ser realizado para se chegar ao objetivo final. Na área da saúde não difere a forma global das demais instituições em relação às regras, protocolos e código de ética. Mas o foco do trabalho não é uma peça de qualquer computador, carro, alimentos ou materiais para construção. Na área da saúde, o foco do trabalho, o ponto a ser tratado, é o cuidar de uma pessoa, um ser humano, que pode ser um recém-nascido ou uma pessoa idosa ao final de sua jornada. Dessa forma o trabalho merece a fiel trajetória e o cumprimento de regras para prevenir danos que muitas vezes podem ser irreversíveis. Nesse aspecto, a infecção pode ser considerada um dano aos pacientes e que muitas vezes ocasiona grandes transtornos, problemas sociais, custos elevados às instituições e aos pacientes e ainda com o agravante, que pode levar à morte. As infecções podem ser divididas em três categorias de acordo com a Portaria N° 2.616, de 12 de maio de 1998: 22 1) Infecção Comunitária: quando o paciente é hospitalizado com alguma infecção que adquiriu na residência ou comunidade, como por exemplo, pneumonia, diarreia, conjuntivite e outras doenças infecto contagiosas como varicela, tuberculose, meningites. Para prevenir essaforma de infecção é de grande importância as orientações relacionadas a educação da população por meio de campanhas realizadas pelo governo e ações nas unidades básicas de saúde e agentes da saúde. 2 ) Infecção Importada: aquela que o paciente chega a instituição transferido de outra já com uma ou mais infecções. Nesse caso a instituição anterior deve ser comunicada, para realizar ações que visem prevenir infecções futuras e seguir regras e rotinas para notificações das infecções. 3) Infecção Hospitalar: é aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares.19 Algumas infecções em serviços de saúde são evitáveis e outras não. As infecções que podem ser prevenidas são as que se pode interferir na cadeia de transmissão dos microrganismos. A interrupção dessa cadeia de transmissão é realizada através da higiene das mãos, que mais uma vez é citada e pode ser uma medida eficaz, o processamento dos artigos e limpeza de superfícies, a utilização dos equipamentos de proteção individual, no caso do risco laboral, e a observação das medidas de antissepsia.25,26 As infecções são iatrogênicas, decorrentes da assistência dos serviços de saúde, e nas últimas décadas passaram a ter uma atenção maior, embora existam relatos que, desde a antiguidade, ocorre disseminação de doenças epidêmicas e sobre a inevitabilidade das infecções cirúrgicas. Louis Pasteur descobriu os elementos da ciência da bacteriologia, e Joseph Lister introduziu os princípios básicos de antissepsia, e décadas se passaram até que se desenvolvessem mecanismos eficazes para realmente intervir nas infecções. Mudanças ocorreram desde o período da antiguidade, a tecnologia na assistência à saúde que estamos vivenciando trouxe modificações e soluções para vários problemas, assim como possibilitou a sobrevivência de muitos pacientes, mas outros desafios acabaram surgindo com todos os procedimentos invasivos que passaram a ser realizados e continuaram acarretando as indesejáveis complicações, sendo que as infecções continuam sendo uma das complicações indesejáveis da assistência à saúde.2,27 Os agentes etiológicos responsáveis pelas infecções em serviços de saúde podem ter origens duas fontes: a endógena e a exógena. As endógenas são 23 responsáveis por cerca de 70% das infecções aos pacientes, são provenientes da própria flora microbiana do indivíduo, que estando com a imunidade prejudicada pode vir a ser suscetível à infecção. Mas, mesmo sendo microrganismos provenientes da flora do paciente, não significa que não existam prevenções. Manter decúbito elevado 45º, evitar o jejum prolongado, realizar higiene oral, inserção de catéteres com técnica asséptica e material estéril são ações que favorecem a prevenção das infecções.2,27 As infecções exógenas resultam da transmissão de microrganismos de outras fontes que não do paciente. Essas infecções seriam decorrentes de falhas técnicas na execução de diversos procedimentos ou rotinas assistenciais, sendo ainda enfatizada a não valorização da importância de seguir a realização dos procedimentos com a técnica correta. A frequência das infecções em serviços de saúde pode variar com as características do paciente, pois a gravidade da doença de base pode ser um fator determinante às infecções. Outros fatores favorecem o aumento do risco do paciente adquirir infecções, tais como: a característica da instituição, os serviços oferecidos, o tipo de clientela atendida, ou seja, a gravidade e complexidade dos pacientes, sendo importante o sistema de vigilância epidemiológica e o Programa de Controle de Infecções (PCI) adotados pela instituição de saúde.2,27 No que diz respeito aos aspectos preventivos, a Portaria MS 2.616/98 instituiu o Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH), um conjunto de ações para prevenir as infecções, e nesta Portaria, consta a CCIH e o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), e fazem parte da comissão os profissionais farmacêuticos, enfermeiros, médicos, representantes do laboratório e do setor administrativo. O SCIH é o executor das atividades, são os profissionais que farão as orientações, os treinamentos, que deverão implantar e revisar os protocolos e fazer cumpri-los juntamente com todos os demais profissionais da Instituição.19 O SCIH é responsável por realizar a busca ativa de casos de infecções e de gerar relatórios e encaminhá-los para órgãos competentes como Vigilância Epidemiológica e Sanitária. O processo deve ter parceria com todos os profissionais da instituição para o processo ser contínuo e seguir um caminho de qualidade e melhor assistência aos pacientes.28 24 O profissional responsável do SCIH, órgão executor das ações, é o enfermeiro, e este deve ter a competência e responsabilidade para seguir as boas práticas e direcionar os demais colegas enfermeiros, equipe de enfermagem, médicos e equipe multidisciplinar a atuar na prevenção de infecções e de risco, visando o bem estar e a recuperação dos pacientes.19,29 O SCIH é um trabalho a ser realizado diariamente pelo enfermeiro com a equipe em qualquer momento da assistência aos pacientes. Dentro de uma instituição que presta assistência, a forma de prevenir infecções deverá ser realizada desde a higiene das mãos que é uma conduta simples e de baixo custo, comprovada cientificamente como uma das formas mais eficazes para prevenir infecções cruzadas, a adesão às boas práticas, que envolve a higiene de pisos, paredes, mobiliários, equipamentos, limpeza, desinfecção e esterilização de artigos e materiais que serão utilizados na assistência aos pacientes.2,30,331 1.4 As Infecções em Serviços de Saúde e a Formação do Enfermeiro A prevenção de infecções nos serviços de saúde é realizada através do processo de ensino entre os alunos, professores, profissionais, pacientes e familiares. Segurança do paciente e prevenir infecção são duas ações que caminham em conjunto e para serem realizadas é necessário ter conhecimento, entender a importância e os problemas que podem acarretar quando a assistência não é segura.2,32 Segundo Urbanetto14 no âmbito do ensino e da assistência, a educação deve ter o enfoque nas competências para a segurança e contribuir para o cuidado mais seguro do paciente devendo o tema ser abordado em todo o currículo e enfocar especificidades de riscos e medidas preventivas de dano nos variados cenários de assistência à saúde. Deve ser desenvolvido por meio de ações de ensino- aprendizagem em que o aluno e o educador trabalhem práticas significativas, que repercutam em uma atuação segura ao longo da formação e que se sustentem também na atuação profissional. Nesse trabalho, os educadores precisam manter estratégias de educação permanente, e os projetos pedagógicos dos cursos de graduação/pós-graduação e técnicos precisam de alinhamentos claros, para que este aspecto não seja minimizado dentre outros tão importantes no ensino em 25 saúde. A melhor assistência aos pacientes requer o conhecimento prévio, o estudo e o aprimoramento. A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional de conhecimentos por meio de competências e habilidades gerais, sendo uma delas a atenção à saúde. Os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto nível individual quanto coletivo. A Lei N° 7.498/86 e o Decreto N° 94.406/87 privativamente, incumbe ao enfermeiro a direção do serviço de enfermagem (em instituições de saúde e de ensino, públicas, privadas e a prestação de serviço); as atividades de gestão como planejamento da assistência de enfermagem, consultoria, auditoria, entre outras; a consulta de enfermagem; a prescrição daassistência de enfermagem; os cuidados diretos a pacientes com risco de morte; a prescrição de medicamentos (estabelecidos em programas de saúde e em rotina); e todos os cuidados de maior complexidade técnica.23,33,34 Desta forma, o enfermeiro é a “chave” para proporcionar a prevenção e incentivar a equipe de saúde a realizar as ações que auxiliem na prevenção das infecções onde exige responsabilidade ética, técnica e social de todos os profissionais que prestam assistência, assim garantido a assistência segura e de qualidade. O Curso de Enfermagem da FCMS-PUC/SP iniciou em 1950, um ano após a regulamentação do ensino de enfermagem no Brasil. Inicialmente, era uma escola, e recebeu o nome de Escola de Enfermagem Coração de Maria, sendo atualmente denominado Curso de Enfermagem da FCMS-PUC/SP, campus situado na cidade de Sorocaba.35 O Curso de Enfermagem passou por mudanças em seu currículo para se adequar às necessidades do mercado e melhoria do aprendizado dos alunos. Inicialmente, o primeiro currículo do curso foi baseado na Lei 775/49 de 6 de agosto de 1949, que no Art.20 orientava: “Em cada Centro Universitário ou sede de Faculdade de Medicina deverá haver escola de enfermagem, com os dois cursos que trata o art. 1º”. Por este motivo foi criado o Curso de Graduação em Enfermagem junto à Faculdade de Medicina. 35 No ano de 2001, foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação (DCNs) em enfermagem, e novamente o curso passou por 26 mudanças sendo instituídas quatro bases educacionais: A concepção pedagógica por competências e habilidades, a avaliação dos resultados, a razão comunicativa na leitura do real e o exercício do pluralismo e da interdisciplinaridade.35 Desde o ano de 2007 o ensino no Curso de Enfermagem da FCMS- PUC/SP é realizado através da aprendizagem baseada em problemas e problematização, constando no Projeto Pedagógico do Curso de Enfermagem (2012) a carga horária do curso de com 4.118 horas distribuídas em módulos (Anexo 2). Segundo o Projeto Pedagógico do Curso de Enfermagem da FCMS- PUC/SP (2012): O enfermeiro egresso tem a formação generalista e humanista com capacidade crítica e reflexiva, sendo fundamentada no rigor científico e norteada por princípios éticos e legais. Ainda o aluno formando deve ser atuante, competente para conhecer, intervir e interpretar, ter senso de responsabilidade social, compromisso com a qualidade e integralidade da assistência, promoção da saúde, comprometidos com a dimensão humana e com as relações cotidianas no trabalho.35 Diante do novo projeto pedagógico do Curso de Enfermagem da FCMS- PUC/SP e do desafio de formar profissionais preparados, este estudo tem a finalidade de contribuir para subsidiar implementações curriculares e enriquecer o conhecimento dos graduandos sobre infecções relacionada à assistência, de forma a promover assistência com melhor qualidade e segurança nos serviços de saúde. 27 2 OBJETIVOS Avaliar no Curso de Graduação de Enfermagem a abordagem do tema Infecções em Serviços de Saúde. 2.1 Objetivos específicos Identificar, sob a perspectiva do docente e discente, a percepção da abordagem de infecção em serviços de saúde no atual currículo de enfermagem; Verificar as modalidades de ensino aprendizagem que contemplam o tema infecção em serviços de saúde; Oferecer subsídios para o currículo de enfermagem de acordo com o disposto no projeto pedagógico do curso de Enfermagem da FCMS-PUC/SP. 28 3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 3.1 Tipo de estudo Estudo do tipo exploratório-descritivo, documental e de abordagem qualiquantitava. As pesquisas exploratórias são aquelas que têm por objetivo explicar e proporcionar maior entendimento sobre um determinado problema. Nesse tipo de pesquisa o pesquisador procura um maior conhecimento sobre o tema em estudo pretendendo descrever as características do tema estudado.36,37 A pesquisa descritiva expõe as características de determinada população, fenômeno ou de uma experiência; há um levantamento de dados e o porquê destes dados. As abordagens qualitativa e quantitativa levam como base de seu delineamento as questões ou problemas específicos. Adota tanto em um quanto em outro a utilização de questionários e entrevistas.36,37 3.2 Local do estudo O local do estudo foi a Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP Campus Sorocaba, sendo o foco de estudo o Curso de Enfermagem. Atualmente há 24 profissionais Enfermeiros que atuam como docentes para alunos do primeiro ao quarto ano do curso de Enfermagem, e três consultores. No ano de 2014, estavam matriculados no curso de Enfermagem 106 alunos sendo: 1º ano - 31 alunos; 2º ano - 23 alunos; 3º ano - 25 alunos e 4º ano - 27 alunos. No ano de 2015, estavam matriculados 109 alunos, sendo 33 alunos no 1º ano, 28 alunos no 2º ano, 24 alunos no 3º ano e 24 alunos no 4º de Enfermagem. Os alunos do Curso de Enfermagem passam por diversos cenários de aprendizagem que facilitam as atividades teóricas e práticas, sendo que estas estão presentes desde o início do curso permeando a formação do enfermeiro, de forma integrada e interdisciplinar. Realizam estágio curricular eletivo ao final do curso, em média 45 dias em instituições conveniadas com a PUC/SP. Os locais para aprendizagem prática inclui a rede municipal de saúde constituída pelas Unidades Básicas de Saúde, Ambulatório Geral e de Especialidades; o Conjunto Hospitalar de http://pt.wikipedia.org/wiki/Conjunto_Hospitalar_de_Sorocaba 29 Sorocaba (CHS) localizado ao redor do campus, constituído de 02 hospitais (Hospital Regional e Hospital Leonor Mendes de Barros) e Ambulatórios de Especialidades com total de 400 leitos, ambos do Estado e o Hospital Santa Lucinda da PUC-SP (HSL) com 132 leitos localizado dentro do Campus. 3.3 Participantes Foram convidados a participar todos os professores consultores e enfermeiros (coordenadores, professores nas atividades de tutoria e professores da prática profissional) que atuam no Curso de Enfermagem e todos os alunos matriculados no Curso de Graduação em Enfermagem no ano de 2015. 3.3.1 Critérios de inclusão Alunos matriculados em um dos módulos do primeiro ao quarto ano do Curso de Graduação em Enfermagem e que aceitaram a participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Apêndice (5); Professores que atuam no Curso de Graduação de Enfermagem e expressaram o aceite em participar da pesquisa ao assinarem o TCLE. Apêndice (5). 3.3.2 Critérios de exclusão Alunos não matriculados no curso, que negaram se a participar da pesquisa, e os que estavam como intercambistas no período da pesquisa; Professores afastados no período da coleta que manifestarem negativa em participar da pesquisa. 3.4 Procedimento de coleta de dados e instrumentos. 3.4.1 Pesquisa documental Com o objetivo de identificar o tema infecções em serviços de saúde no conteúdo ministrado na graduação do curso de enfermagem, foi realizada análise da http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado http://pt.wikipedia.org/wiki/Hospital_Santa_Lucinda http://pt.wikipedia.org/wiki/Hospital_Santa_Lucinda http://pt.wikipedia.org/wiki/PUC-SP 30 pesquisa documental utilizadas por alunos e professores dos quatros anos do curso de graduação de enfermagem no ano letivo de 2014. Como fonte de pesquisa foi utilizado o ambiente virtual da FCMS denominado Moodle. O Moodle é um ambiente virtual de aprendizagem que amplia as possibilidades de ensino e aprendizagem. Essa plataforma oferece apoio às disciplinas presenciais e à distância. A busca foi realizada nas postagens dos professores no ambiente denominadomaterial de apoio. No material de apoio são depositados textos pelos professores responsáveis pelos módulos e consultores referentes ao conteúdo de cada problema, atividades de integração, prática profissional e estágio supervisionado (Atenção Básica e Hospital). Outra fonte utilizada foi o Banco de Problemas, disponibilizado pelos professores. Os problemas são utilizados nas tutorias e descrevem situações que oportunizam os alunos a desenvolverem objetivos de aprendizagem e trazem referências bibliográficas descritas como oportunidades de aprendizagem. Foram considerados os problemas do Salto Triplo que são utilizados como parte da avaliação do aluno em cada módulo. A prova de progressão se constituiu de outra fonte de pesquisa. Os documentos foram submetidos a leituras sucessivas para identificação das possíveis palavras, termos ou temas que identificassem a abordagem, possibilidade de discussões ou incentivo à pesquisa sobre infecções em serviços de saúde. Os temas encontrados foram agrupados por ano (1º, 2º, 3º e 4º) e apresentados em tabelas para análise do conteúdo e identificação do assunto. 3.4.2 Pesquisa quantiqualitativa – elaboração e aplicação do questionário de pesquisa. Para coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado, autoaplicável para docentes e alunos. O contato foi realizado de forma direta sem prejudicar as atividades acadêmicas. 3.4.3 Instrumento de coleta de dados Para a coleta de dados foram elaborados dois instrumentos pela pesquisadora, um para professores e outro para os alunos, ambos com duas partes. A primeira com questões sobre o perfil dos participantes e a segunda com questões 31 de múltipla escolha com cinco alternativas e três questões abertas, para o participante expor o parecer e opinião sobre o tema da pesquisa. O referencial teórico adotado foi o Modelo Donabediano, que aborda a tríade de estrutura-processo-resultados. Estrutura: implica nas caraterísticas relativamente estáveis das instituições, tais como: área física, recursos humanos, materiais e financeiros e o modelo organizacional. Processo: refere-se ao conjunto de atividades desenvolvidas na produção de bens e serviços, e no setor saúde, nas relações estabelecidas entre os profissionais e os usuários, desde a busca pela assistência, incluindo o diagnóstico e o tratamento. Nos resultados: ocorre a obtenção das características desejáveis dos produtos ou serviços, retratando os efeitos da assistência à saúde do usuário, bem como as mudanças relacionadas com o conhecimento e comportamento das pessoas.38,39 O Modelo Donabediano (estrutura, processo e resultado) é utilizado para medir a relação profissional-meio. Sendo a pesquisa realizada em uma instituição acadêmica, foi necessário adequar as proposições para o cenário acadêmico para poder identificar os pontos fortes e as fragilidades no que diz respeito ao tema da pesquisa no período de formação do enfermeiro (a).38,39 Os questionários foram elaborados de acordo com a escala de Likert, a qual apresenta variações, sendo uma de concordância e a outra de discordância. A Escala Likert é um instrumento científico de observação e mensuração de fenômenos sociais, e foi idealizado para coletar informações de afirmação, com a finalidade de medir a intensidade das atitudes e opiniões na forma mais objetiva possível e medir opiniões e atitudes que são geralmente conhecidos como questionários de opiniões e atitudes – QOA. O objetivo da forma das questões é mediar julgamentos, opiniões e atitudes, permitindo que os sujeitos possam responder com graus variados de satisfação. É um instrumento destinado a atribuir um escore numérico às respostas, para colocá-las em uma sequência em relação às proposições que estão sendo medidas. Consiste em afirmações declaratórias que expressam um ponto de vista sobre um assunto. As respostas são graduadas para cada afirmação da seguinte forma: (1) Discordo totalmente, (2) Discordo, (3) Indiferente, (4) Concordo, (5) Concordo totalmente.40,41 As respostas sugeridas na escala são de caráter quantitativo, sendo construída com proposições que medem as posições do mais desfavorável ao mais 32 favorável. As proposições do instrumento tiveram a finalidade de determinar as percepções acerca da abordagem do tema sobre infecção em serviços de saúde durante a formação do Enfermeiro. A primeira parte do instrumento para os docentes consta com 10 questões de caracterização, e na segunda parte constam 43 proposições, divididas entre Processo (27 proposições), Estrutura (11 proposições) e Resultados (05 proposições), sendo as proposições elaboradas de formas positivas e negativas. Ao final das preposições foram elaboradas três questões abertas com o objetivo do entrevistado fornecer opiniões e sugestões. (Apêndice 6). O instrumento dos alunos foi elaborado com 06 questões de caracterização do entrevistado, 47 preposições, divididas em 24 proposições de processo, 13 proposições de estrutura e 10 proposições de resultados e 03 questões abertas com o objetivo do entrevistado fornecer opiniões e sugestões (Apêndice 7) 3.4.4 Análise de conteúdo do instrumento. Para a validação de conteúdo do instrumento, o mesmo passou por cinco etapas: Primeiro: os objetivos do estudo e o questionário pré-elaborado foram encaminhados para três juízes, com o objetivo dos mesmos avaliarem a clareza do instrumento, compreensão e fornecerem sugestões. Os juízes fizeram apontamentos convergentes em relação às proposições, sendo que um apontou a inclusão de um item na caracterização dos alunos, que foi atendido. Segundo: Antes de iniciar a coleta de dados, o instrumento foi avaliado pelo estatístico. Terceiro: Foi realizado teste piloto com alunos e docentes oriundos do curso de enfermagem de outra instituição. O pré-teste identificou que o instrumento estava adequado para coleta de dados. Quarto: Na apreciação pela banca de Qualificação, o instrumento de coleta de dados não recebeu questionamentos. Cinco: Após coleta de dados o instrumento foi encaminhado ao estatístico, sendo a análise realizada no instrumento dos professores e alunos. As proposições do instrumento dos alunos foram submetidas a validação através do coeficiente alfa de Cronbach. 33 3.4.5 Organização e análise de dados Os dados coletados na análise documental foram catalogados e os coletados através dos questionários, foram analisados estatisticamente e apresentados através de quadros e tabelas. As questões abertas (qualitativas) foram categorizadas e analisadas de acordo com a análise de conteúdo. De acordo com Santos apud Bardin, A análise do conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto, as comunicações.42 34 4 ASPECTOS ÉTICOS Para a realização desta pesquisa, o projeto foi encaminhado para apreciação e ciência da Coordenação do Curso de Enfermagem, antes do encaminhamento para o Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP) da FCMS/PUC-SP. (Apêndice 1). Para a análise documental foi solicitada aprovação do Diretor da Faculdade (Apêndice 2), mediante apresentação do Termo Confidencialidade (Apêndice 3). O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da FCMS-PUC/SP de Sorocaba - São Paulo (Apêndice 4) e aprovado no dia 09/02/2015; Número do Parecer: 950.605 (Anexo 01). Para tanto, todas as exigências da Resolução 466/2012, que versa sobre os aspectos éticos em pesquisas com seres humanos do Conselho Nacional em Saúde, foram atendidas, com a apresentação do modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecidoe outros documentos solicitados pelo CEP (Apêndice 5). Cada participante ficou com uma cópia do citado termo, após sua assinatura. 35 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1 Análise documental Tabela 1 – Presença do tema: “Infecções em Serviços de Saúde” ou assuntos relacionados nas atividades de ensino aprendizagem do 1º ao 4º ano do Curso de Enfermagem da FCMS/SP, Sorocaba 2014. 1º Ano Temas abordados que podem gerar discussão para prevenir infecção Temas como infecto contagiosa Problemas (corpo do problemas e objetivo de aprendizagem) 0 0 Salto Triplo 0 0 Material de apoio (Moodle) 1 0 Prova de Progressão 0 2 Referências dos problemas do material do banco de dados 0 0 2º Ano Temas abordados que podem gerar discussão para prevenir infecção Temas como infecto contagiosa Problemas (corpo do problemas e objetivo de aprendizagem) 4 14 Salto Triplo 1 0 Material de apoio (Moodle) 2 0 Prova de Progressão 0 2 Referências dos problemas do material do banco de dados 16 0 3º Ano Temas abordados que podem gerar discussão para prevenir infecção Temas como infecto contagiosa Problemas (corpo do problemas e objetivo de aprendizagem) 14 6 Salto Triplo 4 0 Material de apoio (Moodle) 0 0 Prova de Progressão 0 2 Referências dos problemas do material do banco de dados 9 0 4º Ano Temas abordados que podem gerar discussão para prevenir infecção Temas como infecto contagiosa Problemas (corpo do problemas e objetivo de aprendizagem) Não se aplica Não se aplica Salto Triplo Não se aplica Não se aplica Material de apoio (Moodle) 0 0 Prova de Progressão 0 2 Referências dos problemas do material do banco de dados 0 0 36 O levantamento de dados mostrou que o conteúdo sobre infecções em serviços de saúde é abordado de forma gradativa e de maneira a atender as especificidades do eixo de cada ano. No primeiro ano, os alunos desenvolvem seu aprendizado a partir da problematização de contextos reais da comunidade com enfoque na família e comunidade. No segundo ano, os alunos a partir da Aprendizagem Baseada em Problemas, passam a desenvolver aprendizagens na Atenção Básica, considerando os aspectos da promoção, prevenção e intervenção na saúde. Nesse contexto o tema aparece em maior evidência, contemplado em todos os itens pesquisados, caracterizando-se nas medidas de biossegurança, doenças infectocontagiosas, vacinas, curativos, tratamento de feridas. No terceiro ano, a metodologia de ensino é a mesma do segundo ano. Porém, o eixo norteador de aprendizagem são as situações do ser humano hospitalizado. Identificou-se que o tema foi encontrado em todos os itens pesquisados, com exceção no material de apoio, onde os materiais não são inseridos no banco de dados Moodle, mas são entregues de forma impressa aos alunos. O conteúdo acadêmico abordado no terceiro ano engloba a problemática da infecção em serviços de saúde, mas não de uma forma clara e direcionada; as atividades norteiam o tema, pois o aluno é inserido no contexto assistencial, aprendendo sobre procedimentos que exigem técnica correta e aprofundamento para não ocorrer a “quebra da técnica”, assim prevenindo infecções e favorecendo uma assistência segura. No quarto ano os alunos são direcionados para o estágio curricular supervisionado nos serviços de Atenção Básica e hospitalares e estágio eletivo. Neste ano, o tema foi identificado somente na Prova de Progressão, mesmo considerando que os itens Problemas e Salto triplo não se aplicam. O tema sobre infecções em serviços de saúde não foi considerado como objetivo de aprendizagem nos objetivos pré-determinados dos problemas que os alunos devem alcançar. Em relação ao material de apoio, consideramos que há uma limitação para análise documental, pois nem todos os professores disponibilizam material na plataforma ou utilizam parcialmente a plataforma do Moodle, assim disponibilizando cópia impressa do material de estudo. 37 5.2 Análise do instrumento de coleta alunos e professores. 5.2.1 Confiabilidade: Como estimador de confiabilidade o Alfa de Cronbach é caracterizado como o principal para confiabilidade e muitos pesquisadores que elaboram instrumentos de pesquisas fazem uso da ferramenta. O alfa sofre mudanças de acordo com a população que a escala é aplicada.43 O instrumento utilizado para a coleta de dados foi devidamente elaborado para que se reproduza de forma confiável a realidade e a opinião dos participantes. Foram entregues o total de 120 questionários no período entre agosto e setembro de 2015, sendo 104 para os alunos do primeiro ao quarto ano de enfermagem; desses foram respondidos 60 questionários. Para os professores foram aplicados 16 questionários; do total, 13 foi o número de devoluções. O instrumento dos alunos foi elaborado com 06 questões de caracterização do entrevistado, 47 preposições, divididas em 24 proposições de processo, 13 proposições de estrutura e 10 proposições de resultados. Para a análise qualitativa foi apresentado aos participantes 03 questões abertas. A Validação do instrumento foi realizada de forma geral com as 47 proposições e seguido da validação das proposições de Estrutura, Processo e Resultados (Tabela 3). As proposições do instrumento dos alunos foram submetidas a validação através do coeficiente Alfa de Cronbach com média de 179 e o coeficiente de confiabilidade de 0,91 das respostas decorrentes do questionário, sendo assim de caráter confiável, pois a confiabilidade do Alfa de Cronbach é de 0 a 1. O instrumento dos professores foi elaborado com 10 questões de caracterização do entrevistado, 43 proposições, divididas em 27 proposições de Processo, 11 proposições de Estrutura e 05 de proposições de Resultados. As proposições dos professores receberam a média 180 e o coeficiente de confiabilidade de 0,90 sendo assim, também de caráter confiável. O enfoque da pesquisa nesse momento foi a pesquisa com os alunos, por isso, a análise do instrumento dos alunos foi realizada de forma mais criteriosa. Outra abordagem de prioridade no momento são as proposições de Processo que 38 foram elencadas em maior numeração, pois a prioridade do estudo nesse momento era avaliar o processo de ensino referente ao tema da pesquisa. O instrumento do professor foi submetido somente ao Alfa de Cronbach. Tabela 2- Apresentação das proposições divididas entre os domínios Processo, Estrutura e Resultado. A tabela a seguir apresenta a confiabilidade dos domínios, sendo o domínio Processo com 24 proposições, média 208 e coeficiente de confiabilidade de 0,86. Para as proposições de Estrutura foram um total de 13 com média de 210 e coeficiente de confiabilidade de 0,80. O domínio Resultado, foram 10 proposições, com média de 288 e o coeficiente de confiabilidade de 0,82. Tabela 3 - Coeficiente de confiabilidade do instrumento de pesquisa, seguido da tríade Estrutura, Processo e Resultado. 39 5.3 Correlação entre os domínios A correlação entre os domínios estrutura, processo e resultado foram realizadas com o objetivo de verificar a articulação entre as respostas das proposições e a confiabilidade da análise dos dados. Tabela 4 - Valores de confiabilidade entre os domínios. 5.3.1 Confiabilidade dos domínios Estrutura, Processo e Resultado. Estrutura Resultado Processo 0,64% 0,65% 0,36% 40 Após realizar a análise da tríade Estrutura, Processo e Resultado, o domínio Estrutura apresentou a menor média em relação ao domínio Processo e Resultado,apontando a fragilidade e a necessidade de adequação no que diz respeito à Estrutura para o aprendizado dos alunos referente ao ensino infecções em serviços de saúde. Nesse estudo, o domínio Processo teve o maior número de proposições, mas não de forma ocasional, sendo pontual para saber como o tema da pesquisa é abordado na graduação de enfermagem através do processo e desenvolvimento do ensino do tema infecções em serviços de saúde. 41 6 ARTIGO 1 - ENSINO SOBRE INFECÇÕES NOS SERVIÇOS DE SAÚDE: PERCEPÇÕES DOS DOCENTES DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM. 6.1 INTRODUÇÃO A prevenção de infecções nos serviços de saúde é realizada através do processo de ensino entre os alunos, professores, profissionais, pacientes e familiares. Prevenir infecções promove a assistência com segurança ao paciente, sendo primordial proporcionar assistência com ausência de dano ao paciente. A segurança do paciente é um tema atual e mundial; no Brasil, em abril de 2013, o MS instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente por uma atenção segura, livre de incidentes, que possam gerar danos à saúde da pessoa de forma que o cuidado seja seguro. Dentre os objetivos do PNSP está produzir, sistematizar e difundir conhecimentos sobre segurança do paciente, e enfatizar a inclusão do tema “segurança do paciente” no ensino técnico e de graduação e na pós-graduação na área da Saúde. A cultura de segurança do paciente é elemento que perpassa todos esses eixos assistenciais. No Brasil, as ações de promoção e prevenção de infecção em serviços de saúde vem sendo enfatizadas desde 2007, após a assinatura da Declaração de Compromisso na Luta contra as Infecções Relacionada à Assistência à Saúde - IRAS, pelo Ministro da Saúde. Como uma ação inicial para prevenir infecções, a OMS definiu a data de 5 de maio como o Dia Mundial de Higiene das Mãos. Nessa campanha, os países membros e os serviços de saúde foram convidados a criar incentivos para a higiene das mãos ser realizada a todo momento pelos profissionais de saúde. O incentivo à higiene das mãos colocou para as instituições de saúde os cinco momentos de higiene das mãos e, com o incentivo, diversas redes assistenciais passaram a utilizar como base de treinamento os cinco momentos de higiene das mãos para favorecer a prevenção de infecções na assistência aos pacientes.2,32,44,45 Os profissionais, as equipes, as instituições devem ter responsabilidade e trabalhar a proteção dos pacientes para prevenir danos não intencionais. Prevenir dano ao paciente de modo em geral, prevenir infecções e promover assistência segura deve ser instituído no contexto cultural dos profissionais. A forma de inserir 42 na cultura dos profissionais é sem dúvida através da formação acadêmica e utilizando da educação permanente, pois nesses dois momentos os profissionais de saúde poderão aprender, entender e posteriormente praticar a segurança do paciente de forma rotineira e contínua. Abordar o tema “infecções de saúde” na graduação proporcionará ao futuro enfermeiro entender e valorizar a prevenção de infecções e ainda atuar nesse requisito da segurança do paciente. A contínua educação promove aprimoramento e evidencia que, nesse processo, onde os profissionais que recebem constantes orientações e entendem a importância do conteúdo, auxilia na promoção de uma assistência de qualidade e bem estruturada, proporcionando um resultado de grande valia, ou seja, a prevenção de infecções, assistência de qualidade e acima de tudo segura. Para atender as mudanças do mercado, os processos de melhorias da assistência, os selos institucionais e pacientes do século 21, as instituições acadêmicas de formação profissional na área da saúde estão precisando modificar o seu método e conteúdo acadêmico para atender o mercado em que o profissional será inserido. Com todo um processo de mudança, aprimoramento da tecnologia e facilidade de informações, está sendo necessária uma grande reforma, levando em conta o ensino do aluno, mas ainda a necessidade de aprimoramento dos professores para proporcionar ao aluno o conteúdo e informações dos dias e necessidades atuais.4,45,46 Segundo Urbanetto 14 no âmbito do ensino e da assistência, a educação deve ter o enfoque nas competências para a segurança e contribuir para o cuidado mais seguro do paciente, devendo o tema ser abordado em todo o currículo, e enfocar especificidades de riscos e medidas preventivas de dano nos variados cenários de assistência à saúde. Deve ser desenvolvido por meio de ações de ensino- aprendizagem em que o aluno e o professor trabalhem práticas que possam atuar em um aprendizado, que tenha como base a segurança do paciente, e ao longo da formação sustentem também na atuação profissional. Nesse trabalho, os educadores precisam manter estratégias de educação permanente, e os projetos pedagógicos dos cursos de graduação/pós-graduação e técnicos precisam de alinhamentos claros, para que este aspecto não seja minimizado dentre outros tão importantes no ensino em saúde. A melhor assistência aos pacientes requer o conhecimento prévio, o estudo e aprimoramento. A formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional de conhecimentos por meio de competências e habilidades no contexto da atenção à 43 saúde. Os profissionais de saúde, no seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto nível individual quanto coletivo. Os conhecimentos sobre segurança do paciente, e o enfoque na infecção são essenciais para a prática do enfermeiro; este deve estar garantido nos currículos de enfermagem, pois o desenvolvimento dessa prática desde o período acadêmico proporcionará ao futuro enfermeiro conhecimentos básicos e essenciais para desempenhar a assistência com segurança, garantindo a qualidade da assistência.33 As Diretrizes Curriculares dos Cursos de Enfermagem garantem que a prevenção faz parte das atribuições e competências do futuro enfermeiro, e a Portaria MS n° 2616 de 12/05/1998 enfatiza que o enfermeiro é membro efetivo para realizar as ações de prevenção. Com isso, pode-se entender que a profissão de enfermeiro é a “chave” para proporcionar a prevenção e incentivar a equipe de saúde a realizar ações que venham proporcionar assistência de qualidade. Na graduação de enfermagem, o professor é o norteador e o profissional que irá proporcionar ao aluno o direcionamento para o ensino/aprendizagem.19,33 No ensino, o tema da segurança do paciente deve perpassar todo o currículo nos diferentes cenários de aprendizagem por meio de práticas problematizadoras que garantam uma atuação profissional segura e de qualidade. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo identificar sob a perspectiva do docente a abordagem da infecção hospitalar em serviços de saúde na graduação do curso de enfermagem de uma universidade privada do interior paulista. O desenvolvimento desse estudo permite compartilhar experiências e recomendações destinadas a garantir a uma melhor formação para a segurança do paciente. 44 7 MÉTODO Estudo do tipo exploratório-descritivo e de abordagem qualiquantitava realizado no Curso de Enfermagem de uma Universidade privada, do interior de São Paulo. O Curso caracteriza-se pelo ensino em metodologias ativas e inserção dos alunos nas atividades práticas desde o início da formação. Participaram como população do estudo docentes que estavam em exercício no ano de 2015 nos quatro anos do curso. Foram adotados critérios de exclusão aos docentes que estivessem na ocasião da coleta de dados em período de férias, licenças e/ou afastamentos da docência. Foram distribuídos 18 questionários e se obtiveram 12 (66,6%) retornos. A