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Tendencias_e_Desafios_Na_Producao_De_Car

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Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.6, n.2, p. 338-01, 338-23, 2021. 
DOI: 10.21575/25254782rmetg2021vol6n21473 
 
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TENDÊNCIAS E DESAFIOS NA PRODUÇÃO DE “CARNE 
LIMPA”: UMA REVISÃO UTILIZANDO A METHODI ORDINATIO 
TRENDS AND CHALLENGES OF “CLEAN MEAT” PRODUCTION: A 
REVIEW USING METHODI ORDINATIO 
 
Mayara Scheffer1 
 
Alessandra C. Novak Sydney2 
 
Sabrina Ávila Rodrigues3 
 
 
Resumo: Os sistemas de produção e consumo de carne são alvos de estudos, críticas e 
questionamentos há mais de uma década. A tendência crescente de consumo de carne 
acompanhada do aumento da população mundial sugere a busca por alternativas para os 
sistemas produtivos convencionais de alimentos para que, no futuro, segurança e qualidade 
nutricional sejam garantidos a população. Neste contexto, as carnes cultivadas em laboratório, 
também chamadas de “carne in vitro” ou “carne limpa”, fazem parte de um novo campo de estudo 
que pretende atrair consumidores mais críticos com relação aos danos ambientais da produção 
convencional. Esta revisão sistemática de literatura foi elaborada utilizando a Methodi Ordinatio 
para obtenção dos artigos de maior relevância sobre o tema considerando fatores como o 
número de citações, ano de publicação e fator de impacto. Os dados foram extraídos das bases 
de dados Science Direct, Scopus e Web of Science e a seguinte combinação de palavras-chave 
e operadores booleanos foi utilizada (“in vitro meat” OR “cultivated meat” OR “cultured meat”) 
AND (“sustainability” OR “food security”). As 20 publicações resultantes foram gerenciadas 
utilizando o Mendeley e uma análise de tendência baseada na recorrência de palavras-chave foi 
feita utilizando o VOSviewer. Os resultados forneceram um panorama sobre os principais drivers 
de consumo de carne, um breve histórico sobre as carnes in vitro e suas principais técnicas de 
produção. Mesmo com o avanço da tecnologia, a indústria da “carne limpa” ainda enfrenta alguns 
entraves com relação ao uso de matérias-primas livres componentes animais para o cultivo, o 
custo e a palatabilidade do produto final, a produção em larga escala, além da comprovação da 
sustentabilidade ambiental do processo. A carne in vitro é, portanto, uma área de fronteira da 
biotecnologia, o que propicia um campo amplo para o desenvolvimento de pesquisas e de novas 
técnicas para se tornar um produto palpável. 
 
Palavras-chave: Carnes in vitro. Sustentabilidade. Segurança alimentar. Agricultura celular. 
Inovação. 
 
Abstract: Meat production systems and consumption are targets for studies, criticism and 
questions for more than a decade. The increasing trend in meat consumption accompanied by 
 
1 Mestranda em Biotecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR – Câmpus 
Ponta Grossa), mayscheffer25@gmail.com 
2 Doutora em Processos Biotecnológicos, Universidade Federal do Paraná (UFPR), 
alessandrac@utfpr.edu.br 
3 Doutora em Ciência e Tecnologia Agroindustrial, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), 
sabrinaavila@professores.utfpr.edu.br 
https://orcid.org/0000-0002-4034-0021
https://orcid.org/0000-0001-5383-6651
https://orcid.org/0000-0003-2616-169X
 
 
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.6, n.2, p. 338-01, 338-23, 2021. 
DOI: 10.21575/25254782rmetg2021vol6n21473 
 
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the increase of world’s population suggest the search for alternatives to conventional food 
production systems so that, in the future, nutritional security and quality are guaranteed to the 
population. In this context, meat cultivated in laboratories, also called “in vitro meat” or “clean 
meat”, are part of a new field of study that aims to attract most critical consumers regarding to 
environmental damage of conventional production. This systematic literature review was 
elaborated using Methodi Ordinatio in order to obtain the highest relevant research papers on this 
subject considering factors such as number of citations, year of publication and impact factor. The 
data was extracted from Science Direct, Scopus and Web of Science databases and the following 
keywords and Boolean operators’ combination were used (“in vitro meat” OR “cultivated meat” 
OR “cultured meat”) AND (“sustainability” OR “food security”). The resulting 20 publications were 
managed using Mendeley and a trend analysis was performed based on the keywords’ 
reoccurrence using VOSviewer. The results provided an overview about the main meat 
consumption drivers, a little record about in vitro meat and its main production techniques. Even 
with the technological advances, “clean meat” industry still faces some drawbacks regarding to 
the animal component-free cell culture media, the costs and palatability of the ending product, the 
large-scale production, besides the process environmental sustainability proof of concept. 
Therefore, in vitro meat is a frontier area in biotechnology, what can provide a broad field to 
research development and new techniques to turn the product into something tangible. 
 
Keywords: In vitro meat. Sustainability. Food security. Cellular agriculture. Innovation. 
 
 
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.6, n.2, p. 338-01, 338-23, 2021. 
DOI: 10.21575/25254782rmetg2021vol6n21473 
 
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1 INTRODUÇÃO 
 
O tema alimentação e os hábitos de consumo de alimentos certamente 
atingem toda a população mundial. Todos precisam se alimentar independente 
de idade, gênero, raça, classe social ou localização geográfica, mas a forma, 
quantidade, frequência e variedade como este processo acontece é influenciado 
por diversos fatores os quais podem ser técnicos, econômicos, sociais, 
nutricionais, culturais ou sensoriais. A produção e consumo dos alimentos 
impacta a sociedade de diversas maneiras e por isto, ao longo do tempo, é 
comum surgirem controvérsias acerca de determinados alimentos e com a carne 
não poderia ser diferente. O consumo elevado de carne pode acarretar doenças 
ou trazer impactos irreversíveis ao meio ambiente? Quais as tendências de 
substituição das proteínas animais por proteínas alternativas na alimentação? 
Estamos perto de uma solução técnica e comercialmente viável para uma carne 
“mais limpa”? Pensando nestas perguntas procuramos conhecer mais este tema 
contextualizando o cenário atual e apontando perspectivas futuras. 
O cenário atual, no qual grande parte da população mundial encontra-se 
em quarentena devido a pandemia do novo corona vírus tem causado, além de 
impactos severos à saúde humana, impactos econômicos significativos nas 
cadeias produtivas e de serviços, sendo a produção de alimentos uma das 
principais afetadas (GALANAKIS, 2020). Somado a isto, a preocupação com o 
acesso, a segurança e a qualidade nutricional dos alimentos tem aumentado, 
tendo em vista o fato da população mundial estimada para o ano de 2050 ser de 
cerca de 10 bilhões de habitantes, ou seja, 25% maior que a população atual 
(BAHADUR KC et al., 2018). 
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a 
Agricultura) estima um aumento de 76% no consumo de carne até a metade do 
século (ALEXANDRATOS, NIKOS ; BRUINSMA, 2012). Segundo pesquisas, a 
demanda tem crescido nos últimos anos impulsionada por uma nova “percepção 
de bem-estar social” e de um maior poder aquisitivo da população, 
principalmente nos países em desenvolvimento, e por consequência a utilização 
de recursos para a sua produção também aumenta (ODEGARD; VAN DER 
VOET, 2014; VAN VUUREN et al., 2018). 
 
 
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.6, n.2, p. 338-01, 338-23, 2021. 
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Há evidências da correlação entre consumo de carnes e a renda média 
da população. Em países de renda alta, o consumo se encontra em um platô nos 
últimos anos e em alguns deles apresenta tendência de queda, evidenciado pela 
busca e pela disponibilidade de fontes alternativas de proteínas, enquantonos 
países de renda média esse consumo tem aumentado drasticamente (CHARLES 
J. GODFRAY et al., 2018). Em países onde há uma densidade populacional mais 
elevada, se observa ainda, a busca por fontes não convencionais de proteína 
animal, em condições geralmente inseguras (GALANAKIS, 2020). No Brasil, 
segundo as “Projeções do Agronegócio” publicadas pelo Ministério da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o consumo de carnes bovina, 
suína e de frango sofrerão um aumento de 10,4, 24,2 e 27,6%, respectivamente, 
até o ano de 2030 (MAPA, 2020). 
Apesar da carne ser uma boa fonte de energia e possuir em sua 
composição diversos nutrientes necessários para uma dieta equilibrada, como 
proteínas, ferro, zinco e vitamina B12, o elevado consumo principalmente de 
carne vermelha ou processada, pode estar associado ao surgimento de várias 
doenças, como diabetes, problemas cardiovasculares e até alguns tipos de 
câncer sobretudo se estiver associado ao tabagismo ou consumo de álcool, por 
exemplo (CHARLES J. GODFRAY et al., 2018). As dúvidas acerca de 
informações nem sempre verdadeiras disseminadas sobre o uso de antibióticos 
e hormônios de crescimento nos animais também é outro ponto que causa certa 
preocupação entre as pessoas que buscam uma dieta livre de proteínas animais 
(VAN DER WEELE et al., 2019). 
Além da segurança alimentar, as questões envolvendo o meio ambiente 
e a conservação da biodiversidade também são pertinentes, sendo a pecuária 
apontada como uma das atividades com maior emissão de gases do efeito estufa 
e responsável pelo uso extensivo de recursos finitos, como solos e água 
(MACHOVINA; FEELEY; RIPPLE, 2015). O bem-estar animal é outro fator que 
causa forte apelo, principalmente pelo surgimento de campanhas de 
conscientização contra crueldade animal ao redor no mundo (KADIM et al., 
2015). 
 
 
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As questões apontadas podem ser classificadas como os principais 
“drivers” envolvendo a produção e consumo de carne na atualidade e encontram-
se resumidos na Figura 1. 
 
Figura 1 – Principais drivers envolvendo a produção e consumo de carne 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Autoria própria (2020) 
 
Diante de um cenário de possível escassez de recursos naturais e tendo 
em vista que a produção de alimentos pode se tornar insuficiente para abastecer 
a população no futuro do modo como produzimos, é indispensável se pensar em 
novas estratégias para garantir que toda a população tenha acesso a alimentos 
de qualidade. Em 2015, a ONU (Organização das Nações Unidas) preconizou 
os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, dos quais pelo menos 3 deles 
estão associados com a busca de novas alternativas, seguras, eficientes e 
sustentáveis de se produzir alimentos (BAHADUR KC et al., 2018). 
Neste contexto, há uma série de substitutos a proteína animal ganhando 
o mercado nos últimos anos, como produtos a base de soja (tofu e proteína 
texturizada de soja), de glúten de trigo (“Seitan”) ou de micoproteínas (“Quorn”). 
Estes alimentos se baseiam em dietas inteiramente constituídas por plantas, as 
quais nem sempre satisfazem ao paladar ou atendem às expectativas dos 
consumidores em busca da redução do consumo de carne (HOCQUETTE, 
2016). As carnes cultivadas em laboratório (também chamadas de “carne limpa”) 
surgem como uma alternativa para quem não deseja eliminar totalmente o 
consumo de carne da sua alimentação mas procura por hábitos de consumo 
mais conscientes e sustentáveis (TUCKER, 2014). 
Segurança 
alimentar 
Bem-estar 
animal 
Preocupação 
ambiental 
Saúde pública 
e doenças 
Principais drivers 
envolvendo a 
produção e 
consumo de carne 
 
 
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.6, n.2, p. 338-01, 338-23, 2021. 
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Esta revisão sistemática de literatura tem como objetivo sintetizar as 
informações de pesquisa mais relevantes envolvendo a produção de “carne 
limpa” ao analisar os seus avanços e desafios nos últimos anos. 
 
 
2 METODOLOGIA 
 
A Methodi Ordinatio se trata de uma metodologia multicritério de avaliação 
de artigos, utilizada para selecionar os trabalhos mais relevantes sobre um 
determinado tema através da equação InOrdinatio, relacionando fatores como 
número de citações, fator de impacto e ano de publicação, e a partir disto pode-
se criar um ranking com os artigos de maior impacto para construção de uma 
revisão sistemática de literatura (PAGANI; KOVALESKI; RESENDE, 2015). 
A pesquisa foi conduzida em três bases de dados distintas, Science 
Direct, Scopus e Web Of Science, as quais foram escolhidas por retornarem com 
um número adequado de artigos a partir de pesquisa prévia e por serem 
utilizadas amplamente para busca de artigos científicos na biotecnologia. Foram 
utilizadas as seguintes combinações de palavras-chaves e operadores 
booleanos: (“in vitro meat” OR ”cultivated meat” OR “cultured meat”) AND 
(“sustainability” OR “food security”), sem delimitação de tempo e buscando 
apenas por artigos científicos de periódicos. Ao final da pesquisa obteve-se 123 
resultados na Science Direct, 293 na Scopus e 39 na Web of Science. Após uma 
etapa de filtragem realizada em um gerenciador gratuito de referências 
(Mendeley) foram excluídos as duplicatas e os trabalhos que não possuíam 
afinidade com o tema baseado no título, resumo e palavras-chave, restando 102 
artigos. 
A seguir, foi aplicada a equação InOrdinatio em uma planilha 
considerando o fator de impacto (Journal Citation Reports – JCR) de cada 
revista; o ano de publicação e o número de citações dos artigos, obtidos pelo 
Google Scholar em 25 de julho de 2020; e o fator “α”, definido como 5 para 
balancear a equação com relação ao ano de publicação dos artigos, já que se 
fazia necessário avaliar os avanços obtidos com o passar dos anos (PAGANI; 
KOVALESKI; RESENDE, 2015). 
 
 
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O software VOSviewer foi utilizado para construção de um mapa visual 
buscando analisar a recorrência das palavras-chave encontradas na pesquisa 
nas bases de dados e as relações entre estas para conhecer as principais 
tendências de pesquisa de carnes cultivadas (VAN ECK; WALTMAN, 2020). 
 
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
De um total de 102 artigos selecionados pela metodologia, 53 deles foram 
desconsiderados da análise por possuírem número de citações inferior a 10. Dos 
49 artigos restantes, os valores de índice InOrd variaram entre 38 e 289. 
Considerou-se para o presente trabalho, os artigos com valores de InOrd iguais 
ou maiores de 65 para obtenção do portfólio mais relevante acerca do tema 
resultando nos 20 artigos mostrados no Quadro 1. 
Os cinco primeiros artigos com maior índice InOrd fornecem um panorama 
geral sobre os principais temas envolvendo as carnes in vitro, trazendo noções 
a respeito das técnicas de produção e processamento, os impactos gerados no 
meio ambiente, saúde humana e bem estar animal pela produção de carne 
convencional, mostram as perspectivas das cadeias produtivas de alimentos 
para os próximos anos, quais os principais alimentos substitutos à carne 
existentes no mercado e apontam possíveis direcionamentos para assegurar 
alimentos suficientes a população no futuro (GODFRAY et al., 2018; 
MACHOVINA; FEELEY; RIPPLE, 2015; POST, 2012; VAN VUUREN et al., 
2018). Além disso, os autores Smetana et al. (2015) trazem dados comparativos 
de Análise de Ciclo de Vida dos principais substitutos a carne existentes no 
mercado e incluem as carnes cultivadas em laboratório em seu estudo, 
fornecendo informações relevantes no que diz respeito, principalmente, a 
quantidade de energia dispendidapor este tipo de tecnologia. 
Dentre os demais artigos, pelo menos 7 deles fornecem discussões 
técnicas importantes, como por exemplo, qual o melhor tipo de célula a ser 
cultivado e a melhor fonte, abordam as diferentes técnicas de produção e quais 
fatores influenciam na escolha do melhor meio de cultivo e scaffolds, investigam 
quais biorreatores seriam os mais adequados para o processamento e os 
 
 
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desafios a serem ultrapassados neste sentido. As questões sociais, éticas, 
políticas e regulamentárias, a aceitação do mercado perante um produto 
considerado artificial e quais seriam as melhores estratégias para garantir que a 
população altere seus hábitos de consumo ou reduza o consumo de carne 
convencional também são abordados por alguns autores. 
 
Quadro 1 – Ranking de artigos com maior impacto obtido através da metodologia Methodi 
Ordinatio 
Título Referência Abordagem do artigo InOrdi
natio 
(α = 5) 
Cultured meat from stem 
cells: Challenges and 
prospects 
(POST, 
2012) 
Alternativas à carne convencional e 
técnicas de produção de carne in vitro 
289 
Meat consumption, 
health, and the 
environment 
(CHARLES 
J. 
GODFRAY 
et al., 2018) 
Impactos gerados no meio ambiente e 
na saúde humana, principais fatores 
que influenciam o consumo de carne e 
perspectivas de mudanças nas dietas 
246 
Biodiversity conservation: 
The key is reducing meat 
consumption 
(MACHOVIN
A; FEELEY; 
RIPPLE, 
2015) 
Impactos ambientais e na saúde 
humana gerados pelo aumento das 
atividades de pecuária e aponta 
possíveis soluções para o futuro 
240 
Alternative pathways to 
the 1.5 °c target reduce 
the need for negative 
emission technologies 
(VAN 
VUUREN et 
al., 2018) 
Investigação de possíveis alternativas 
para redução da temperatura global, 
incluindo mudanças na dieta da 
população 
203 
Meat alternatives: life 
cycle assessment of most 
known meat substitutes 
(SMETANA 
et al., 2015) 
Análises de Ciclo de Vida dos 
principais substitutos das carnes 
convencionais e comparação entre 
elas 
158 
Anticipatory Life Cycle 
Analysis of In Vitro 
Biomass Cultivation for 
Cultured Meat Production 
in the United States 
(MATTICK et 
al., 2015) 
Análise de Ciclo de Vida estimada das 
carnes cultivadas em laboratório nos 
Estados Unidos comparada às carnes 
convencionais 
137 
Bringing cultured meat to 
market: Technical, socio-
political, and regulatory 
challenges in cellular 
agriculture 
(STEPHENS 
et al., 2018) 
Definição de termos e exposição dos 
potenciais benefícios das carnes 
cultivadas, principais desafios técnicos 
e aspectos sociais, políticos e 
regulatórios para sua comercialização 
133 
The future of food — 
Scenarios and the effect 
(ODEGARD; 
VAN DER 
VOET, 2014) 
Análise de possíveis cenários 
referentes ao estilo de vida e hábitos 
de consumo da população e 
estimativa dos efeitos a longo prazo. 
119 
 
 
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on natural resource use in 
agriculture in 2050 
Sugere oportunidades para os 
sistemas de produção de alimentos 
Cultured beef: Medical 
technology to produce 
food 
(POST, 
2014) 
Descrição da produção do primeiro 
hambúrguer por agricultura celular e 
perspectivas futuras 
117 
Is in vitro meat the 
solution for the future? 
(HOCQUETT
E, 2016) 
Discussão sobre a aceitação das 
carnes cultivadas em laboratório pelo 
mercado, os limites técnicos, questões 
éticas e sociais e perspectivas futuras 
113 
Meat analogues: Health 
promising sustainable 
meat substitutes 
(KUMAR et 
al., 2017) 
Análise dos principais ingredientes 
utilizados para produção de carnes 
alternativas baseadas em plantas 
110 
In vitro meat production: 
Challenges and benefits 
over conventional meat 
production 
(BHAT; 
KUMAR; 
FAYAZ, 
2015) 
Histórico das carnes in vitro, fatores 
benéficos ao meio ambiente e a saúde 
e os principais desafios técnicos 
109 
What is artificial meat and 
what does it mean for the 
future of the meat 
industry? 
(BONNY et 
al., 2015) 
Diferenciação entre carnes cultivadas 
e modificadas e outros substitutos. 
Discussão sobre os aspectos de 
sustentabilidade, saúde e segurança, 
aceitação do mercado e bem-estar 
animal 
96 
Cultured meat from 
muscle stem cells: A 
review of challenges and 
prospects 
(KADIM et 
al., 2015) 
Descrição das técnicas de produção e 
dos principais fatores envolvidos: tipos 
de células, cultura de tecidos, valor 
nutricional e bioprocessamento 
90 
The significance of 
sensory appeal for 
reduced meat 
consumption 
(TUCKER, 
2014) 
Avaliação da percepção dos 
consumidores referente às diferentes 
proteínas alternativas disponíveis no 
mercado 
88 
When too much isn't 
enough: Does current 
food production meet 
global nutritional needs? 
(BAHADUR 
KC et al., 
2018) 
Evidencia a discrepância entre as 
necessidades nutricionais da 
população e a cadeia produtiva de 
alimentos e aponta possíveis soluções 
para o futuro 
85 
The food systems in the 
era of the coronavirus 
(CoVID-19) pandemic 
crisis 
(GALANAKI
S, 2020) 
Análise atual sobre os sistemas de 
alimentação, aborda aspectos 
relacionados à segurança alimentar e 
a importância da sustentabilidade para 
as cadeias produtivas do futuro 
74 
Opportunities for applying 
biomedical production 
and manufacturing 
methods to the 
development of the clean 
meat industry 
(SPECHT et 
al., 2018) 
Aborda as principais oportunidades de 
desenvolvimento da indústria da 
“carne limpa” e aponta possíveis 
direcionamentos para tornar o produto 
viável 
71 
 
 
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Meat alternatives: an 
integrative comparison 
(VAN DER 
WEELE et 
al., 2019) 
Estudo comparativo entre as principais 
alternativas existentes à carne 
convencional 
69 
Structuring processes for 
meat analogues 
(DEKKERS; 
BOOM; VAN 
DER GOOT, 
2018) 
Aborda diferentes tipos de 
processamento para a indústria das 
carnes alternativas 
66 
Fonte: Autoria própria (2020) 
 
A análise de tendência foi realizada pela construção de um mapa de co-
ocorrência com contagem completa (Figura 2) onde foi estabelecido um número 
mínimo de 3 ocorrências de cada palavra-chave, resultando em 18 palavras-
chave recorrentes de um total de 265. Observa-se uma maior recorrência do 
termo “cultured meat”, o qual tem sido utilizado amplamente para caracterizar os 
estudos de carnes produzidas a partir de células, estando relacionado a outros 
três termos: “in vitro meat”, “artificial meat” e “clean meat”. Por se tratar de um 
campo de pesquisa relativamente novo, ainda não há um consenso com relação 
a nomenclatura, portanto é comum encontrarmos diferentes nomenclaturas para 
o mesmo tema. 
O termo “clean meat” é relacionado ao termo “cultured meat” através de 
“meat alternatives”. Também se verifica a presença de termos como “cell culture” 
e “cellular agriculture”, algumas das principais tecnologias empregadas em 
pesquisas de carnes em laboratório, já empregadas em terapia celular, por 
exemplo. Em vermelho temos as palavras “environment”, “animal welfare”, 
“consumer” e “sustainability”, mostrando a importância do consumidor e alguns 
dos motivos pelos quais dietas alternativas ou substitutos a proteínas animais 
são procurados. Por último, é importante citar o termo “innovation”, evidenciando 
a originalidade e a busca por desenvolvimento deste campo para que as “carnes 
limpas” sejam trazidas às cadeias produtivas de alimentos. 
 
 
 
 
 
 
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11Figura 2 – Mapa de redes obtido através do software VOSviewer contendo as principais 
palavras-chaves relacionadas à produção in vitro de carne e suas recorrências 
 
Fonte: Autoria própria (2020) 
 
 
3.1 Produção de “carne limpa” 
 
Em seu artigo de revisão, considerado o mais relevante sobre o tema, 
Post (2012) é pioneiro ao tratar das principais técnicas de produção e na 
descrição dos desafios e perspectivas futuras sobre as carnes in vitro. As 
tecnologias descritas por ele envolvem os processos de isolamento e 
identificação das células-tronco, o cultivo das células in vitro e o uso de técnicas 
da engenharia de tecidos, utilizadas até os dias atuais. 
O tipo de célula mais promissor para a produção de carnes in vitro são as 
células miosatélites (ou miócitos), principais células-tronco musculares, 
responsáveis por regenerar o músculo após um trauma (POST, 2012). As 
células-tronco embrionárias animais e as células-tronco pluripotentes induzidas 
(iPS), as quais podem se diferenciar em praticamente qualquer tecido, também 
podem ser utilizadas sendo ainda necessário otimizar a sua capacidade de 
proliferação e desenvolver métodos que guiem satisfatoriamente estas células a 
 
 
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produzirem as células miosatélites para que sejam aplicadas (KADIM et al., 
2015). 
 
Figura 3 – Esquema da sequência de etapas genéricas para a produção de carne in vitro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado de (KADIM et al., 2015) 
Amostra de músculo retirada de um 
animal 
Separação das células-tronco dos 
demais componentes do músculo 
Células miosatélites (miócitos) são 
induzidas a crescer e proliferar 
 
Formação contínua de miotubos a 
partir da união de miócitos 
Diferenciação dos miotubos para 
formação de fibras musculares 
Assegurar o crescimento contínuo do 
sistema e operação comercialmente 
viável 
Processar o produto resultante em 
um produto que mimetiza a carne 
Uso de “scaffolds” ou suportes 
facilitam a formação dos miotubos 
Introdução de outros componentes 
encontrados “in vivo” como os 
adipócitos 
 
 
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Independente da origem das células, a engenharia de tecidos busca 
mimetizar as condições de formação do tecido muscular animal através de 
células especializadas (neste caso, os miócitos) as quais, em condições 
naturais, se diferenciam e proliferam formando os miotubos que darão origem às 
fibras musculares (Figura 3) (STEPHENS et al., 2018). Porém, para satisfazer a 
réplica das carnes convencionais em sua totalidade, é necessário que a carne in 
vitro seja composta por diferentes tipos de células, não só células musculares, 
já que a carne é formada por uma série de componentes como ossos, tecidos 
conjuntivos, gordura, proteínas, vasos sanguíneos e nervos, além dos nutrientes, 
como vitaminas e minerais (HOCQUETTE, 2016). 
Ao cultivar adipócitos (células de gordura) junto aos miócitos, por 
exemplo, é possível melhorar as características de textura e sabor de uma carne 
cultivada aumentando a sua porcentagem de gordura. É possível também 
cultivar as células-tronco dos fibroblastos que irão organizar as fibras colágenas 
entre as fibras musculares, conferindo propriedades de tensão no tecido 
muscular formado (KADIM et al., 2015). 
Além disso, é fundamental que seja fornecido um “scaffold”, ou seja, uma 
estrutura que suporte as células permitindo que a diferenciação do tecido 
muscular ocorra em seus poros. Desta forma, o produto final adquire uma 
heterogeneidade espacial tridimensional parecida com a estrutura natural da 
carne. Atualmente, na engenharia de tecidos, é possível obter somente uma 
camada fina de tecido quando se cultivam células em laboratório (SPECHT et 
al., 2018). 
 
3.2 Aspectos e desafios técnicos 
 
Embora uma grande quantidade de estudos tenha sido conduzida nos 
últimos dez anos e sejam observados avanços com relação ao tema nos anos 
recentes, ainda há uma série de entraves em relação aos aspectos técnicos da 
produção. Os principais fatores ainda em discussão são as fontes de células, o 
uso de materiais sintéticos ou derivados de animais para o meio de cultura e 
 
 
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para o “scaffold” e qual a melhor técnica de produção e de aplicação destes, e o 
bioprocessamento. 
 
3.2.1 Fonte das células 
 
Ainda não se chegou a um consenso sobre qual é o tipo de célula mais 
adequado para ser utilizado na produção de carne in vitro, tendo em vista os 
obstáculos encontrados nas técnicas conhecidas (KADIM et al., 2015). Ao isolar 
uma célula primária a partir do músculo de um organismo vivo, embora seja a 
forma mais simplificada de se obter células musculares, não se pode atestar a 
homogeneidade e estimar a quantidade de células coletadas, o que pode induzir 
uma alta variabilidade ao tecido originado a partir destas. Além disso, há um alto 
risco de contaminação durante as etapas de isolamento e a necessidade da 
coleta de células primárias a partir de tecido vivo aumentaria a variabilidade do 
processo (STEPHENS et al., 2018). 
Autores como Specht et al. (2018) apontam que para que seja vantajoso 
do ponto de vista industrial, o cultivo de tecidos deve ser feito através do cultivo 
de linhagens de células de maneira contínua. As técnicas de produção podem 
ser via indução (química ou através de engenharia genética) ou por seleção de 
mutações espontâneas das células que expressem imortalidade. O processo 
deve se assemelhar ao existente em cervejarias, por exemplo, no qual as 
culturas podem ser empregadas continuamente por várias gerações e depois 
serem reiniciadas com estoques congelados. Mas ainda há de se ter cautela 
principalmente porque nem sempre essas células expressarão as características 
esperadas de acordo com a célula primária (STEPHENS et al., 2018). 
 
3.2.2 Meio de cultura 
 
Para que um meio de cultura seja eficiente, é necessário que ele seja 
acessível e possua uma série de componentes em sua formulação, como 
nutrientes (carboidratos, aminoácidos, vitaminas, etc), hormônios (insulina, 
hormônios de crescimento, etc) e fatores de crescimento, para garantir o 
 
 
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crescimento, a proliferação e a diferenciação das células musculares (KADIM et 
al., 2015). Nos últimos anos, diferentes derivados de animais como soro fetal de 
bezerro, soro de cavalo ou extrato de embrião de frango são comumente 
empregados em algumas etapas do cultivo de células-tronco (BONNY et al., 
2015). 
Neste sentido, meios sintéticos têm sido produzidos a partir de plantas, 
fungos ou microalgas, pois as carnes in vitro só poderão ser consumidas caso o 
meio de cultivo for comprovadamente seguro e constituído por componentes 
estéreis e conhecidos. Ainda não se pode assegurar que estes meios possuam 
a mesma eficiência que meios constituídos por soros animais, portanto, 
progressos terão que ser obtidos neste aspecto (HOCQUETTE, 2016). 
O alto custo de obtenção dos componentes e a elevada quantidade 
requerida para produção industrial de “carne limpa” permanecem sendo grandes 
questões a serem ultrapassadas. Os autores Specht et al. (2018) sugerem 
modificações genéticas como forma de aumentar a estabilidade de fatores de 
crescimento já existentes ou ainda a criação de bibliotecas de pequenas 
moléculas que mimetizam a atividade destes, descartando a necessidade de 
produzi-losa partir de tecnologia recombinante, o que encareceria o processo. 
 
3.2.3 “Scaffolds” livres de componentes animais 
 
A estrutura tridimensional das carnes in vitro, semelhante à carne 
convencional, pode ser fornecida através do uso de um scaffold (ou suporte). 
Estes suportes permitem o crescimento e a organização de múltiplas células e a 
perfusão do meio de cultura através deles para produção de um tecido mais 
especializado (SPECHT et al., 2018). Os scaffolds atuam fornecendo pontos de 
ancoragem para que as células se alinhem e criem tensão entre elas através da 
síntese de proteínas contráteis, gerando mais tensão no tecido obtido 
(HOCQUETTE, 2016). 
Para ser aplicado na produção de carnes in vitro, no entanto, é desejável 
que o material do scaffold seja comestível, dissolvido ou degradado antes do 
consumo, ou ser facilmente removido após o processo de produção (MATTICK 
 
 
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et al., 2015). No geral, as células miogênicas se desenvolvem melhor em 
suportes feitos de colágeno, justamente porque esses materiais se assemelham 
mais com o ambiente fisiológico das células. Porém, até então, o produto obtido 
utilizando o colágeno como suporte possui apenas uma fina camada de miócitos, 
com espessura em torno de 100-200 µm (KADIM et al., 2015). 
Os hidrogéis sintéticos são uma das alternativas mais promissoras ao uso 
de fontes derivadas de animais, uma vez que tem baixo custo e podem ser 
ajustados de forma a atender as especificidades da produção de “carne limpa” 
(SPECHT et al., 2018). Além destes, pesquisadores já provaram a possibilidade 
de se cultivar células musculares em suspensão formada por microesferas a 
base de amido, atendendo a importantes requisitos: ser um ingrediente de baixo 
custo e amplamente encontrado na natureza, além de ser facilmente digerido 
(MATTICK et al., 2015). Outra tecnologia promissora, é a criação de redes 
canalizadas através de impressão 3D que produz estruturas semelhantes aos 
vasos sanguíneos existentes no tecido muscular natural, com a possibilidade de 
passar por perfusão capazes de sustentar culturas por até seis semanas 
(STEPHENS et al., 2018). 
 
3.2.4 Bioprocessamento 
 
Para a produção da carne in vitro em larga escala as fibras musculares 
obtidas a partir de uma única célula-tronco devem ser cultivadas em um 
biorreator, o qual deve possuir elevado volume e condições operacionais 
complexas para proporcionar estímulos adequados resultando no correto 
desenvolvimento das fibras, além de prevenir os riscos de contaminação 
(DEKKERS; BOOM; VAN DER GOOT, 2018). 
Embora biorreatores na ordem de 2000 litros sejam comumente utilizados 
na indústria, estima-se que para produção de 1 kg de “carne limpa” seja 
requerido um volume de aproximadamente 5000 litros (STEPHENS et al., 2018). 
Alguns autores afirmam que, apesar de necessitar de um grande volume, a 
produção da carne in vitro não requereria um espaço tão amplo quando 
comparado, por exemplo, à quantidade de terra demandada pelas atividades 
 
 
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agropecuárias, além das instalações poderem ser construídas verticalmente 
(BHAT; KUMAR; FAYAZ, 2015). Em contrapartida, estima-se que com relação 
ao consumo de energia, o processamento das carnes in vitro requer quantidades 
maiores de energia se comparada a produção de carnes convencionais, o que 
representa um desafio para o desenvolvimento das instalações (MATTICK et al., 
2015). 
Com relação a complexidade, os biorreatores para produção de carne in 
vitro devem possuir sistemas de perfusão sofisticados que facilitem o fluxo de 
nutrientes através dos poros dos scaffolds, demandar pouca manutenção, 
oferecer um alto rendimento, serem altamente automatizados e com controle em 
tempo real das variáveis do processo, possuir sistema de filtração e reciclos e 
operar em sistema fechado (SPECHT et al., 2018), 
A Figura 4 mostra uma possível configuração para um sistema de 
produção da “carne limpa”. No primeiro estágio, as células são inoculadas no 
reator A onde ocorre a proliferação celular (aumento de densidade e de massa 
das células). Já no segundo estágio (reator B), as células são colocadas sob um 
scaffold permitindo a diferenciação celular nos tipos finais de células (SPECHT 
et al., 2018). 
 
Figura 4 – Fluxograma esquemático de um projeto de reatores proposto para a 
produção de “carne limpa” 
 
Fonte: (SPECHT et al., 2018) 
 
 
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3.3 A “carne limpa” é realmente a saída? 
 
A produção de produtos cárneos tende a aumentar impulsionada pela 
tendência crescente de consumo esperada para os próximos anos, com isto, os 
recursos disponíveis para atender a essa demanda podem sofrer impactos. 
Como consequência, as regulamentações ambientais se tornarão mais rígidas 
fazendo com que o preço da carne aumente (BONNY et al., 2015). Ainda que o 
custo seja um fator marcante na busca por novas alternativas de consumo, 
pesquisas apontam que, no caso da carne, ao enfatizar os benefícios de uma 
dieta mais equilibrada através da disseminação de informações, os 
consumidores podem se tornar mais conscientes (TUCKER, 2014). 
Contudo, ao se comparar os impactos ambientais gerados pela produção 
de carnes convencionais, carnes in vitro e suas alternativas através de Análises 
de Ciclo de Vida, os autores Smetana et al. (2015) concluíram que as carnes 
cultivadas em laboratório geram maiores impactos relacionados ao uso de 
recursos naturais, como água e solo. Também há preocupação com relação às 
grandes quantidades de energia requeridas para a produção da carne limpa, 
principalmente por conta das etapas de bioprocessamento e limpeza dos 
biorreatores, conforme mencionado anteriormente. 
No artigo de Mattick et al. (2015) os autores expõe a necessidade de uma 
maior quantidade de energia para produção de carnes in vitro em comparação a 
produção de carne de vaca, carne de porco e frango, por exemplo. Já com 
relação às emissões de gases do efeito estufa, a produção de carnes in vitro só 
fica abaixo das emissões geradas pela produção de carne de vaca, mas com 
relação ao uso de terras, o uso e o potencial de eutrofização para produção de 
carnes in vitro é o menor dentre as alternativas citadas. 
Proteínas a base de plantas ou de insetos são apontadas como melhores 
alternativas, já que, além dos fatores citados acima, podem ser produzidas mais 
facilmente pelas indústrias e possuem barreiras mais brandas para 
comercialização (BONNY et al., 2015). É importante se considerar também a 
 
 
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aceitação do público, pois há a percepção das carnes in vitro como algo 
“antinatural” por parte dos consumidores, fazendo com que outras alternativas 
venham a frente na escolha do melhor substituto às carnes convencionais 
(BHAT; KUMAR; FAYAZ, 2015). 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Ao propor um ranking dos artigos de maior impacto para o 
desenvolvimento da presente revisão a metodologia Methodi Ordinatio se mostra 
uma ferramenta muito significante pois tornou possível a construção de um artigo 
de revisão com uma visão abrangente acerca das carnes cultivadas em 
laboratório e seus desdobramentos. É possível constatar que os pesquisadores 
possuem visões por vezes contraditórias no que diz respeito a viabilidade do 
cultivo de células musculares para a produção de carne in vitro e não se tem um 
consenso sobre qual é o caminho mais adequadoa se percorrer daqui para 
frente. 
Nossa sociedade enfrenta atualmente inúmeros desafios no que diz 
respeito a necessidade de buscar por métodos mais sustentáveis de produção e 
de consumo enquanto devemos continuar alimentando a crescente população 
de maneira saudável e segura. Isto permite o surgimento de campos variados de 
estudo buscando alcançar objetivos similares. Neste contexto, as carnes in vitro 
em conjunto com as demais alternativas à carne convencional devem ser vistas 
como aliadas na construção de uma nova percepção de qualidade de vida. 
As carnes in vitro se mostram de fato uma verdadeira revolução de 
pensamento e uma grande promessa para o futuro. Por se tratar de um campo 
de estudo relativamente novo e possuir numerosos entraves para seu completo 
desenvolvimento, tanto nas áreas técnicas quanto sociais e éticas, possibilita 
que muitas pesquisas sejam desenvolvidas a partir do que já é conhecido e 
praticado nestas diferentes áreas. 
Do ponto de vista técnico o presente estudo aponta para a necessidade 
de ampliar as pesquisas com a finalidade de otimização dos processos 
existentes e desenvolvimento de novos processos mais baratos, eficientes, com 
 
 
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menor volume de trabalho, menor tempo de produção e, principalmente, com 
uso de água e energia reduzidos ou reaproveitados além de redução na 
quantidade de resíduos oriundos do processo. O que sugere uma aproximação 
benéfica entre a academia e as indústrias com o intuito de acelerar o 
desenvolvimento destas tecnologias. 
O objetivo, portanto, não se trata de tornar as carnes cultivadas a única 
saída para resolução dos grandes problemas enfrentados pela sociedade atual, 
mas sim, torna-la um produto de fácil acesso à população, atendendo ao paladar 
ou à necessidade da substituição de produtos de origem animal por questões 
pessoais ou religiosas e, mais amplamente, contemplar com o produto obtido as 
questões relacionadas ao uso de recursos finitos, impacto ambiental e a 
produção de alimentos de qualidade em escala ampliada. 
 
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------------------------------------------------------------- 
Enviado em: 25 nov. 2020 
Aceito em: 18 jan. 2021 
 
Editores responsáveis: Bianca Neves Machado / Mateus das Neves Gomes

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