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A geografia do câncer de mama no Norte de Minas Gerais

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0 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA 
 
 
 
 
 
MÔNICA OLIVEIRA ALVES 
 
 
 
 
 
A GEOGRAFIA DO CÂNCER DE MAMA NO NORTE DE 
MINAS GERAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MONTES CLAROS, 2016 
 
 
1 
 
MÔNICA OLIVEIRA ALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A GEOGRAFIA DO CÂNCER DE MAMA NO NORTE DE MINAS GERAIS 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Geografia da Universidade Estadual de Montes 
Claros, como requisito parcial à obtenção do título de 
Mestre em Geografia. 
 
Área de Concentração: Dinâmica e Análise Espacial 
 
Linha de Pesquisa: Território, Cultura e Meio Ambiente 
 
 Orientador: Profª. Drª. Sandra Célia Muniz Magalhães 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MONTES CLAROS, 2016 
 
 
2 
 
 
 
A474g 
 
Alves, Mônica Oliveira. 
 A geografia do câncer de mama no Norte de Minas Gerais [manuscrito] / Mônica 
Oliveira Alves. – Montes Claros, 2016. 
 165 f. : il. 
 Bibliografia: f. 142-150. 
 Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros -Unimontes, 
Programa de Pós-Graduação em Geografia/PPGEO, 2016. 
 
 Orientadora: Profa. Dra. Sandra Célia Muniz Magalhães. 
 
 1. Câncer de mama – Norte de Minas Gerais (MG). 2. Políticas públicas de saúde. 
3. Acesso à saúde. I. Magalhães, Sandra Célia Muniz. II. Universidade Estadual de 
Montes Claros. III. Título. 
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge 
 
3 
 
MÔNICA OLIVEIRA ALVES 
 
 
 
A GEOGRAFIA DO CÂNCER DE MAMA NO NORTE DE MINAS GERAIS 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Geografia da Universidade Estadual de Montes 
Claros, como requisito parcial à obtenção do título de 
Mestre em Geografia. 
 
. Área de Concentração: Dinâmica e Análise Espacial 
 
 Linha de Pesquisa: Território, Cultura e Meio Ambiente 
 
 
 
 
 
Aprovado em ___/____/____ 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
__________________________________________________________ 
Profª. Drª. Sandra Célia Muniz Magalhães – Orientadora – UNIMONTES 
 
__________________________________________________________ 
Prof. Dr. Samuel do Carmo Lima – IG/UFU 
 
__________________________________________________________ 
Profª. Drª. Anete Marília Pereira - UNIMONTES 
 
 
MONTES CLAROS, 2016 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todas as pessoas que 
estão lutando contra o câncer, em especial às 
mulheres com câncer de mama que 
participaram desta pesquisa, não me 
esquecendo daqueles que já perderam suas 
vidas em decorrência da doença, entre os quais 
está o meu pai. 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
De forma especial, agradeço: 
A Deus, por ter me permitido chegar até aqui, e por Seu amor incondicional, pois mesmo sem 
eu merecer, cuida de mim e não me abandona nunca. 
Aos meus familiares: meus filhos Iago e Mateus, minha mãe Joselita, meus irmãos Mágna, 
Márcia e Max. Obrigada pelo apoio, companheirismo, amizade, compreensão e orações. 
A minha orientadora, Professora Doutora Sandra Célia Muniz Magalhães, pela confiança 
depositada em mim, mesmo diante das minhas limitações, pelo carinho, disponibilidade, 
amizade e ensinamentos. 
Aos Professores Doutores Samuel do Carmo Lima e Anete Marília Pereira, por aceitarem 
contribuir com este trabalho como membros da banca de defesa. 
A Professora Doutora Maria Araci Magalhães, pelas importantes contribuições e sugestões 
que fizeram como membros da banca de qualificação. 
A Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais – FAPEMIG, pelo apoio 
financeiro. 
A todos os professores do curso Mestrado em Geografia da Unimontes, em especial a Sandra 
Célia Muniz Magalhães, Marcos Esdras Leite, Rômulo Soares Barbosa, Anete Marília Pereira 
e Iara Soares de França. Aprendi muito com todos vocês. 
A todos os colegas do mestrado, em especial, a “Dane”, pela amizade, carinho, 
companheirismo e parceria durante toda esta caminhada. 
Agradeço de forma especial a Drª Bertha Andrade Coelho, pela amizade, disponibilidade e 
pelas relevantes contribuições dadas a este trabalho. 
A Thiago Simões, coordenador do PROMAMA a Fundação de Saúde Dílson de Quadros 
Godinho, obrigada pelo carinho, apoio e paciência. 
A Drª Príscila Bernadina Miranda Soares, pela parceria e contribuições no desenvolvimento 
desta pesquisa. 
 
6 
 
Agradeço a toda equipe da Fundação de Saúde Dílson de Quadros Godinho, em especial à 
Fátima do RHC, obrigada pela colaboração e paciência. 
Agradeço a toda equipe da Santa Casa de Montes Claros que esteve envolvida de alguma 
forma nesta pesquisa. 
A toda equipe do Laboratório de Geografia Médica e Promoção da Saúde – LABGEOMEPS, 
agradeço o carinho de todos vocês. 
A André Medeiros, obrigada pelo apoio na confecção dos mapas utilizados neste trabalho. 
Seu auxílio foi de fundamental importância. 
A toda equipe de trabalho do IBGE – Agência de Montes Claros, especialmente a Paulo 
Cícero e a Cláudia Nassau, agradeço pelas contribuições e pela amizade. 
Enfim, expresso os meus sinceros agradecimentos a todos àqueles que contribuíram, direta ou 
indiretamente, para a concretização deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A cura está ligada ao tempo e, às vezes, também 
às circunstâncias”. 
(HIPÓCRATES) 
 
 
8 
 
RESUMO 
 
As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) se apresentam como a principal causa de 
morbimortalidade no mundo. No Brasil, tais doenças são consideradas como o problema de 
saúde pública de maior magnitude representando a principal causa de óbitos no país, além de 
provocar sequelas e incapacidades físicas e mentais irreversíveis nos indivíduos adoecidos. 
Dentre as doenças que compõem as DCNTs destacam-se os cânceres, principalmente o câncer 
de mama, que é o segundo tipo mais frequente em mulheres no mundo, respondendo por 
inúmeros casos novos a cada ano. No Brasil, a doença é a principal causa de morte em 
mulheres por câncer, provavelmente porque o diagnóstico ainda é realizado tardiamente. Fato 
que se agrava quando se trata de regiões onde os baixos indicadores sociais e as iniquidades 
em saúde se constituem como barreiras no acesso dos usuários aos serviços desse setor, como 
ocorre no Norte de Minas Gerais. Nesse contexto, esta pesquisa objetivou analisar a dinâmica 
do câncer de mama na Região Ampliada de Saúde Norte de Minas Gerais, verificando as 
condições de acesso da população afetada pela doença aos serviços de saúde. Os 
procedimentos metodológicos utilizados consistiram em pesquisa bibliográfica e documental, 
mapeamentos, registros iconográficos, visitas técnicas nas unidades de assistência oncológica 
da região para coleta de dados, observação in loco, aplicação de questionários à mulheres em 
tratamento para o câncer de mama e entrevistas com profissionais de saúde que atuam no 
setor oncológico. Os resultados obtidos mostram que a maior ocorrência da doença se deu nos 
municípios com grandes contingentes populacionais, como Montes Claros, que apresentou a 
maior ocorrência da doença entre os anos de 2004 a 2014, seguidos dos municípios de 
Pirapora, Januária, Bocaiúva e Janaúba. Quanto à incidência, os municípios que apresentaram 
as maiores taxas foram Guaraciama, Montes Claros, Pai Pedro, Capitão Enéas, Joaquim 
Felício e Pirapora. Foi possível observar a existência de um aumento linear nos registros dos 
casos novos de câncer de mama na RAS Norte/MG para o período analisado e que a faixa 
etária predominante envolve mulheres com idades entre 40 a 69 anos. Os resultados não 
evidenciaram nenhum fator de risco para o desenvolvimento da doença, confirmando ser este 
um tipo decâncer de origem multifatorial. Em relação ao acesso aos serviços de saúde, 
percebe-se que os baixos indicadores sociais e as grandes distâncias percorridas pelos doentes 
em busca de tratamento, aliados à falta de informação, tem contribuído para agravar o quadro 
da doença na região. Apesar da existência de políticas públicas de saúde para o controle, 
prevenção e diagnóstico precoce da doença no Brasil, estas não são totalmente eficazes, 
havendo a necessidade de ampliação das ações e programas de prevenção e rastreamento 
precoce e de divulgação das informações sobre a importância destas práticas. O câncer de 
mama é uma doença “silenciosa” que, na maioria das vezes, só é descoberta em estádios 
avançados, dificultando sua cura. Isto explica porque este ainda é o tipo de câncer que mais 
mata mulheres no mundo. 
Palavras-chave: Câncer de mama. Políticas públicas de saúde. Acesso à saúde. Norte de 
Minas Gerais. 
 
 
 
 
9 
 
ABSTRACT 
 
Chronic Noncommunicable Diseases (NCDs) are the main cause of morbidity and mortality 
in the world. In Brazil, these diseases are considered a public health problem of greater 
magnitude, representing the main cause of deaths in the country, besides causing sequelae and 
irreversible physical and mental disabilities in diseased individuals. Among the NCDs, 
cancers stand out, especially breast cancer, which is the second most common in women in 
the world, accounting for numerous new cases each year. In Brazil, this disease is the main 
cause of cancer death in women, probably because the diagnosis is still performed late. This 
fact is aggravated when related to regions where low social indicators and health inequities 
are barriers in user access to the services of this sector, as it occurs in the north of Minas 
Gerais. In this context, this research aimed to analyze the dynamics of breast cancer in the 
Extended Health Region - North of Minas Gerais (EHR), checking the population’s access 
conditions affected by the disease to health services. The methodological procedures 
consisted of documentary and literature research, mapping, iconographic records, technical 
visits in cancer assistance units in the region for data collection, on-site observation, 
questionnaires for women undergoing treatment for breast cancer and interviews with health 
professionals of the oncological sector. The results show that the highest prevalence of the 
disease occurred in cities with large populations, such as Montes Claros, that presented the 
highest ocurrence of the disease within the years 2004-2014, followed by the municipalities of 
Pirapora, Januária, Bocaiúva and Janaúba. Regarding the incidence, the municipalities with 
the highest rates were Guaraciama, Montes Claros, Pai Pedro, Capitão Enéas, Joaquim Felício 
and Pirapora. It was observed that there is a linear increase in registrations of new cases of 
breast cancer in EHR North/MG for the period investigated and that the predominant age 
group involves women from age 40 to 69. The results showed no risk factor for the 
development of the disease, confirming that this is a multifactorial origin type of cancer. With 
regard to access to health services, it is clear that low social indicators and the great distances 
traveled by patients seeking treatment, combined with the lack of information, has helped to 
aggravate the disease framework in the region. Concerning access to health services, it is clear 
that low social indicators and the great distances traveled by patients seeking treatment, 
combined with the lack of information, has contributed to aggravate the disease framework in 
the region. Despite the existence of public health policies for the control, prevention and early 
diagnosis of the disease in Brazil, these are not completely effective, being necessary 
expansion of actions, prevention programs and early screening and divulgation of information 
about the importance of these practices. Breast cancer is a "silent" disease that most often is 
discovered only in advanced stages, making it difficult to cure. This explains why this is still 
the type of cancer that kills more women worldwide. 
 
Keywords: Breast cancer. Public health policies. Access to health care. North of Minas 
Gerais. 
 
 
 
 
10 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura – 01: Estimativas das taxas brutas de incidência por 100 mil habitantes e do 
número de casos novos de câncer, Brasil, ano 2016, segundo sexo e 
localização primária............................................................................... 
 
 
23 
Figura – 02: Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes no 
Brasil estimados para 2016 por sexo, exceto pele não melanoma......... 
 
24 
Figura – 03: Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes na 
Região Sudeste, estimados para 2016 por sexo, exceto pele não 
melanoma............................................................................................... 
 
 
24 
Figura – 04 Taxas brutas de incidência estimadas para 2016 por sexo, para Minas 
Gerais e capital....................................................................................... 
 
25 
Figura – 05 Fachada da UBS do município de Guaraciama..................................... 31 
Figura – 06 Divisão temática e metodológica predominante em cada vertente da 
Geografia da Saúde................................................................................ 
 
48 
Figura – 07 Taxa bruta de incidência do câncer de mama feminino no Brasil, por 
100 mil mulheres, por unidades da federação, estimada para o ano de 
2016........................................................................................................ 
 
 
61 
Figura – 08 Mapa de localização da RAS Norte de Minas....................................... 92 
Figura – 09 Divisão microrregional da RAS Norte de Minas................................... 94 
Figura – 10 Dimensões do acesso e seus indicadores............................................... 100 
Figura – 11 Ocorrência de casos novos de câncer de mama na RAS Norte/MG – 
2004 a 2014............................................................................................ 
 
102 
Figura – 12 Taxa de incidência do câncer de mama, por 1000 mulheres, na RAS 
Norte/MG – 2004 a 2014....................................................................... 
 
103 
Figura – 13 População feminina, 35 a 69 anos, em 2010.......................................... 105 
Figura – 14 Taxa de envelhecimento dos municípios da RAS Norte/MG – 2010.... 110 
Figura – 15 Rede rodoviária da RAS Norte de Minas............................................... 116 
Figura – 16 Ônibus dos Consórcios Intermunicipais de Saúde................................. 118 
Figura – 17 Municípios da RAS Norte/MG – IDHM Renda, 2010.......................... 121 
Figura – 18 Espacialização dos CACONs/ UNACONs em Minas Gerais................ 127 
Figura – 19 Fachada das unidades de atendimento oncológico em Montes 
Claros/MG.............................................................................................. 
 
128 
Figura – 20 Municípios da RAS Norte/MG – IDHM Educação, 2010..................... 130 
Figura – 21 5ª edição do Mutirão de Prevenção ao Câncer Montes Claros/MG - 
2015........................................................................................................ 
 
133 
 
 
 
 
 
 
11 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 01 Principais políticas sociais no âmbito da saúde, instituídas a partir de 
1970............................................................................................................ 
 
76 
Quadro 02 Recomendações para a detecção precoce do câncer de mama no 
Brasil........................................................................................................... 
 
82 
Quadro 03 Fases da abordagem do câncer de mama.................................................... 12512 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 01 Regiões de Saúde da RAS Norte de Minas e seus municípios 
componentes................................................................................................ 
 
93 
Tabela 02 Ocorrência de câncer de mama por faixa etária – 2004 a 2014.................. 106 
Tabela 03 Fatores de risco para o câncer de mama...................................................... 108 
Tabela 04 Faixas de análise do IDHM.......................................................................... 120 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 01 Estimativa dos casos de câncer de mama, todas as idades, por 
continente, em 2012................................................................................. 
 
21 
Gráfico 02 Evolução dos registros de câncer de mama na RAS Norte/MG – 2004 a 
2014.......................................................................................................... 
 
107 
Gráfico 03 Fatores de risco para o câncer de mama................................................... 108 
Gráfico 04 Tipo de transporte utilizado para acesso à saúde...................................... 117 
Gráfico 05 Renda per capita da família das usuárias participantes da 
pesquisa.................................................................................................... 
 
122 
Gráfico 06 Nível de escolaridade das usuárias participantes da pesquisa.................. 131 
Gráfico 07 Principal forma de acesso à informação das usuárias participantes da 
pesquisa.................................................................................................... 
 
132 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
A. C. Antes de Cristo 
AE Avaliação Econômica 
ALC América Latina e Caribe 
ATS Avaliação de Tecnologias em Saúde 
C50 Neoplasia Maligna da Mama 
CACON Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia 
CF Constituição da República Federativa do Brasil 
CCM Campanha Nacional de Combate ao Câncer 
CEP Comitê de Ética em Pesquisa 
CID-10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados à Saúde, 10ª revisão 
CNCC Campanha Nacional de Combate ao Câncer 
CNDM Conselho Nacional de Direitos da Mulher 
CNS Conferência Nacional de Saúde 
DATASUS Departamento de Informática do SUS/MS 
DECIT Departamento de Ciência e Tecnologia 
DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis 
DNDCD Divisão Nacional de Doenças Crônicas e Degenerativas 
HBCC Síndrome de Câncer de Mama e Colorretal Hereditários 
HBOC Síndrome de Câncer de Mama e Ovário Hereditários 
IARC International Agency for Research on Cancer 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IDHM Índices de Desenvolvimento Humano Municipal 
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social 
INCA Instituto Nacional do Câncer 
MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social 
NOAS Norma Operacional da Assistência à Saúde 
OMS Organização Mundial da Saúde 
ONU Organização das Nações Unidas 
PAISM Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher 
PDR Plano Diretor de Regionalização 
PIASS Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento 
PNAO Política Nacional de Atenção Oncológica 
PNPCC Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer 
PPA Plano de Pronta Ação 
PRO-ONCO Programa de Oncologia do Instituto Nacional de Câncer 
PT Portaria 
RHC Registro Hospitalar de Câncer 
RAS Região Ampliada de Saúde 
 
 
15 
 
SAS Secretaria de Atenção à Saúde 
SES/MG Secretaria de Estado da saúde de Minas Gerais 
SIG Sistema de Informação Geográfica 
SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 
SIH Sistema de Informações Hospitalares 
SINPAS Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social 
SISMAMA Sistema de Informação do Controle do Câncer de Mama 
SNS Sistema Nacional de Saúde 
SUDS Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde 
SUS Sistema Único de Saúde 
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
UBS Unidade Básica de Saúde 
UFU Universidade Federal de Uberlândia 
UNACON Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia 
UNESPE Universidade Estadual de São Paulo em Presidente Prudente 
UGI União Geográfica Internacional 
 
 
 
 
 
 
16 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 16 
 Câncer: uma doença milenar........................................................................... 17 
 A dinâmica do câncer de mama no Brasil e no mundo................................... 20 
 Justificativa...................................................................................................... 26 
 Objetivos.......................................................................................................... 27 
 Objetivo geral.................................................................................................. 27 
 Objetivos específicos....................................................................................... 27 
 Procedimentos metodológicos......................................................................... 27 
 Estrutura.......................................................................................................... 33 
 
1. GEOGRAFIA E SAÚDE: Abordagens teórico-metodológicas........................... 
 
35 
1.1 Origem e evolução da Geografia da Saúde..................................................... 35 
1.2 Geografia Médica ou Geografia da Saúde?..................................................... 45 
1.3 A dimensão espacial dos estudos geográficos da saúde.................................. 51 
1.4 As contribuições da Geografia para o estudo do câncer................................. 60 
 
2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL: o caso do câncer de 
mama............................................................................................................................ 
 
 
66 
2.1 A saúde e sua promoção.................................................................................. 66 
2.2 Políticas públicas de saúde.............................................................................. 71 
2.3 Políticas públicas de saúde no Brasil.............................................................. 75 
2.4 Contexto histórico das políticas públicas de saúde para o controle do câncer 
de mama no Brasil........................................................................................... 
 
79 
2.5 A regionalização da saúde no Norte de Minas Gerais..................................... 88 
 
3. A GEOGRAFIA DO CÂNCER DE MAMA NO NORTE DE MINAS 
GERAIS: Do direito ao acesso à saúde...................................................................... 
 
 
 96 
3.1 Acesso à saúde: um conceito multidimensional.............................................. 96 
3.2 Espacialização dos registros de câncer de mama na RAS Norte de Minas 
Gerais.............................................................................................................. 
 
101 
3.3 As barreiras enfrentadas pelas mulheres com câncer de mama na tentativa 
de acesso aos serviços de saúde na RAS Norte de Minas Gerais................... 
 
114 
3.3.1 Barreiras geográficas....................................................................................... 114 
3.3.2 Barreiras financeiras........................................................................................ 119 
3.3.3 Barreiras organizacionais................................................................................ 124 
3.3.4 Barreiras de informação.................................................................................. 129 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 
 
137 
 
 
REFERÊNCIAS...........................................................................................................142 
 
 
ANEXOS....................................................................................................................... 
 
151 
 
 
APÊNDICES................................................................................................................ 
 
154 
 
 
 
17 
 
INTRODUÇÃO 
 
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são as principais causas de morbimortalidade 
no mundo. Segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes por 
DCNT representarão 73% dos óbitos no ano de 2020 em todo o planeta. Nas últimas décadas, 
os óbitos causados por tais doenças corresponderam a 72% do total das causas de mortes em 
países da América Latina e Caribe (ALC) (PAHO, 2003; PAHO, 2007; OMS, 2011). 
Consideradas como o problema de saúde pública de maior magnitude no Brasil, essas doenças 
são responsáveis por 70% das causas de óbitos no país (BRASIL, 2011) e, mesmo que ainda 
se apresente índices preocupantes de “[...] doenças infecciosas, desnutrição, causas externas e 
condições maternas e perinatais, as doenças crônicas representam em torno de 66% da carga 
de doenças” (GOULART, 2011, p. 13). 
Além das mortes, as DCNT podem provocar sequelas e incapacidades físicas e mentais 
irreversíveis nos indivíduos adoecidos, motivo pelo qual representam grandes impactos 
econômicos, não somente sobre o sistema público de saúde, mas também na economia do 
grupo familiar, na produtividade e oferta de trabalho, e educação dos indivíduos (GOULART, 
2011). Para o ano de 2020, estima-se que as DCNT serão a primeira causa de incapacidade 
em todo o mundo, tornando-se o problema mais dispendioso para os sistemas de saúde, caso 
não sejam gerenciadas adequadamente (SILVA; ROSA, 2013). 
Deve-se enfatizar que grande parte dessas enfermidades pode ser evitada, mas estão se 
tornando um dos mais difíceis desafios enfrentados pelos sistemas de saúde em todo o mundo. 
A OMS propõe algumas medidas de controle e prevenção para as DCNT mais frequentes, 
considerando que estas apresentam fatores de risco semelhantes, caso do diabetes, doença 
cardiovascular e câncer, com foco na redução da hipertensão arterial, tabagismo, uso de 
álcool, inatividade física, dieta inadequada, obesidade e hipercolesterolemia (SILVA et al., 
2013; PAHO, 2007 ). 
Fazem parte do grupo das DCNT as doenças cardiovasculares, diabetes, doenças mentais, 
doenças respiratórias crônicas e câncer ou neoplasia maligna (GOULART, 2011). No entanto, 
na ALC as mais recorrentes são: as doenças cardiovasculares, das quais o acidente vascular 
cerebral e doença isquêmica do coração são as mais frequentes em termos de mortalidade, e 
hipertensão em termos de prevalência; o diabetes, que pode aumentar drasticamente a 
18 
 
mortalidade prematura e incapacidade; e câncer, sendo o câncer cervical e, particularmente, o 
câncer de mama entre as mulheres; e o câncer de estômago, pulmão, cólon e da próstata entre 
os homens (PAHO, 2003). 
Câncer: uma doença milenar 
O câncer não é uma única doença e sim várias. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) 
considera a doença como um conjunto de mais de 100 doenças que se caracterizam pelo 
crescimento desordenado de células. Goulart (2011, p. 10) define câncer como uma 
“Multiplicação anormal de células em determinados órgãos do corpo, afetando as células 
normais e produzindo novos focos invasivos à distância, as metástases”. Este autor também 
afirma que existe mais de uma centena de variações da doença, ocasionados por fatores de 
risco igualmente multivariados. Existem ainda outros pontos unificadores desse grupo de 
doenças, além dos biológicos, como fatores políticos, culturais e ambientais. Trata-se de, 
assim, de 
[...] uma doença antiga — outrora uma doença clandestina, sobre a qual se falava 
aos sussurros — que se metamorfoseou numa entidade letal, amplamente 
predominante e que muda de forma, imbuída de tal potência metafórica e política 
que costuma ser descrita como a peste definidora da nossa geração (MUKHERJEE, 
2012, p. 7). 
Sabe-se que o câncer é uma patologia milenar. Acredita-se que as primeiras mensurações 
sobre a doença datam de vários séculos a.C. Esses registros foram encontrados em um papiro 
escrito por Imhotep1, um médico egípcio que viveu em torno de 2625 a.C. Nesses escritos, 
Imhotep apresenta 48 casos, sendo que para o caso 45, ele descreve: “[...] massas salientes no 
peito, frias, sem aumento de temperatura, sem granulações, salientes ao toque, sem líquido em 
seu interior, que se espalham, são tumores salientes no peito que correspondem à existência 
de inchaços grandes, espalhados, frios e duros”. Talvez sejam essas as primeiras descrições 
que caracterizam o câncer de mama. Outro fato interessante nesses escritos, é que para todos 
os outros 47 casos, Imhotep indica algum tipo de tratamento ou cuidados paleativos. No caso 
45, na parte destinada à indicação de alguma terapia, ele simplesmente escreve “Não existe” 
(MUKHERJEE, 2012). 
 
1 Imhotep, um egípcio do Antigo Império que não pertencia à família real. Vivia na corte do rei e se interessou 
por neurocirurgia, arriscou-se na arquitetura e fez incursões em astrologia e astronomia. Mesmo os gregos, ao 
depararem com seu intelecto impetuoso e veemente quando marchavam pelo Egito séculos depois, classificaram-
no como um feiticeiro antigo e fundiram-no com seu próprio deus médico, Asclépio ((MUKHERJEE, 2012, p. 
42). 
19 
 
Passados quase dois mil anos, inferências sobre um possível caso de câncer aparecem na obra 
Historia escrita pelo historiador grego Heródoto por volta de 440 a.C. O caso relatado refere-
se à Atossa, a rainha persa, filha do rei Ciro e esposa do rei Dario, que provavelmente tinha 
câncer de mama. Dada a sua condição social, a rainha poderia ter sido tratada pelo mais competente 
corpo médico da Grécia naquele tempo. Contudo, talvez por vergonha, Atossa se submetia a 
quarentenas e ocultava a mama doente enfaixando-a. Um dia, talvez já cansada pelos maltratos da 
doença, num momento de fúria, receita para si mesma a mais primitiva forma de mastectomia, 
quando ordenou a um escravo que extirpasse sua mama com uma faca (MUKHERJEE, 2012). 
São muitos os relatos sobre o câncer feitos por egípcios, persas, indianos, entre outros, na 
antiguidade. Contudo, foram os estudos realizados pela escola hipocrática, por volta do século 
IV a.C. que melhor o definiu. Nessa época, a doença foi caracterizada como um tumor duro 
que reaparecia depois de extirpado, ou se espalhava por outras partes do corpo levando à 
morte. Os hipocráticos pensavam o câncer como um processo de desequilíbrio dos fluidos 
presentes no organismo (TEIXEIRA; FONSECA, 2007). 
Também foi na época de Hipócrates que o câncer recebeu pela primeira vez uma 
nomenclatura específica. A doença foi denominada pelo médico grego como karkinos, palavra 
grega que significa caranguejo, e do latim câncer, de onde se deriva o termo carcinoma, isso 
porque, para Hipócrates, o tumor se assemelhava a um caranguejo enterrado na areia com as 
patas abertas em círculos. Outro termo de origem grega, ligado ao câncer, é onkos, que 
significa uma massa, um fardo, um peso a ser carregado pelo corpo, de onde se deriva o termo 
oncologia (MUKHERJEE, 2012). 
Hipócrates propôs o corpo humano como uma composição de quatro fluidos chamados 
humores corporais, sendo o sangue de cor vermelha, a bile negra, a bile amarela e a fleuma de 
cor branca. Assim, para que um indivíduo esteja saudável, todos esses fluidos devem estar em 
equilíbrio. Contudo, o excesso de pelo menos um desses fluidos caracteriza um indivíduo 
doente. Baseado nesse pensamento, o médico grego Claudius Galeno, em 168 d.C., propôs 
que o câncer, assim como a depressão, era causado pelo desequilíbrio da bile negra, 
relacionando a ocorrência das duas doenças com uma causa universal. 
O tratamento para o câncer nesseperíodo era feito, ora por administração de medicamentos 
naturais como as sangrias, ora por intervenções cirúrgicas muito dolorosas pela falta de 
anestésicos e antibióticos. Há relatos da descrição de mastectomias onde as mulheres 
20 
 
gritavam tanto que o cirurgião chegava ao ponto de desmaiar, comprometendo o 
procedimento cirúrgico (MUKHERJEE, 2012; TEIXEIRA; FONSECA, 2007). 
Não foram muitos os estudos que se seguiram após a era cristã em relação ao câncer. E todos 
que apareciam estavam baseados nas ideias de Hipócrates e de seus seguidores. A partir do 
século XVIII, com o desenvolvimento da anatomia patológica e dos conhecimentos sobre as 
células, o câncer passou a ser visto como uma doença de caráter local, fato que coincidiu com 
o início do desenvolvimento tecnológico, que viria a revolucionar as ciências, contribuindo 
para os estudos sobre a doença, tanto no que se refere ao tratamento, como no diagnóstico e 
na prevenção. A descoberta de novos medicamentos, o raio X, a quimioterapia, a radioterapia, 
desenvolvimento de equipamentos que permitem a detecção precoce da doença, são exemplos 
das inovações que surgiram com a revolução tecnológica (TEIXEIRA; FONSECA, 2007). 
Contudo, a cura e a causa dos mais diversos tipos de câncer que se apresentam hoje, ainda são 
vistos como desafios para os estudiosos do tema. Afirma-se que determinados tipos da doença 
têm um prognóstico relativamente bom, com reais possibilidades de cura, desde que sejam 
detectados e tratados precocemente, como é o caso do câncer de mama. 
Um dos primeiros estudos sobre câncer no Brasil foi produzido pelo médico Azevedo Sodré e 
apresentado no II Congresso Médico Latino-Americano, em Buenos Aires, sendo publicado 
em 1904. Nesse trabalho, Sodré afirmava que havia no Brasil uma baixa incidência da 
doença, principalmente na região Norte, e denunciava a dificuldade para se obter dados 
relativos à mesma no país. As afirmações de Sodré foram refutadas na Segunda Conferência 
Internacional do Câncer, ocorrida em Paris em 1910, através de um novo estudo sobre a 
ocorrência do câncer no Brasil, elaborado pelo médico paulista Olympio Portugal. Este 
apresentou novos dados comprovando que a incidência da doença no país era alta, 
principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. 
A partir daí, os estudos sobre câncer ganharam visibilidade no cenário nacional, sendo 
incorporados pela saúde pública a partir da década de 1920. O câncer passou então a ser 
entendido como um mal prevenível, cujo combate deveria estar pautado no diagnóstico 
precoce e no tratamento, feitos por médicos estudiosos da doença e das formas adequadas 
para combatê-la (TEIXEIRA; FONSECA, 2007; CESTARI; ZAGO, 2005; ANDRADE; 
LANA, 2010). No Brasil, o câncer sempre foi visto de diferentes formas, 
 
21 
 
De tumor maligno e incurável à neoplasia, de tragédia individual à problema de 
saúde pública, sua história foi marcada pelo incessante esforço da medicina em 
controlá-lo pela via da prevenção, aliada ao uso das mais modernas tecnologias 
médicas de tratamento. No entanto, as dificuldades técnicas para a cura de muitas de 
suas formas, o alto custo das tecnologias empregadas com esse objetivo e seu caráter 
individual mostram-se como limitadores da ação terapêutica, fazendo com que a 
doença se vincule cada vez mais ao campo da prevenção e da saúde pública 
(TEIXEIRA; FONSECA, 2007, p. 09). 
O câncer passou, então, a compor o calendário dos estudos e eventos médicos do país como o 
Primeiro Congresso Brasileiro de Câncer, realizado em 1935 no Rio de Janeiro, despertando o 
interesse não só da medicina, mas dos diversos setores da sociedade. Nas últimas décadas, a 
doença tem chamado a atenção de sanitaristas, gestores públicos, epidemiologistas, geógrafos 
da saúde, entre outros, dado o caráter epidêmico com que vem se apresentando. 
A dinâmica do câncer de mama no Brasil e no mundo 
O câncer ou neoplasia maligna, embora seja uma patologia conhecida há séculos, tem 
ocupado posição de destaque nos estudos referentes à saúde por todo o mundo, uma vez que 
se tornou um problema de saúde pública, devido ao caráter epidêmico com que tem se 
apresentado. Estudos apontam que no ano de 2030, a carga global de câncer será de 21,4 
milhões de casos novos e 13,2 milhões de mortes pela doença, decorrentes do crescimento e 
do envelhecimento populacional (INCA, 2014). 
A OMS, através do documento World cancer report 2014 da International Agency for 
Research on Cancer (IARC), mostra que em 2012, a carga mundial de câncer subiu para cerca 
de 14 milhões de novos casos por ano, e deverá subir para 22 milhões por ano nas próximas 
duas décadas. Para o mesmo período, as mortes por câncer deverão aumentr de 8,2 milhões 
por ano para 13 milhões por ano. Globalmente, em 2012, os tipos de câncer mais 
diagnosticados foram os de pulmão (1,8 milhões de casos, 13,0% do total), mama (1,7 
milhões, 11,9%) e intestino grosso (1,4 milhões, 9,7%). As causas mais comuns de morte por 
câncer foram cânceres do pulmão (1,6 milhões, 19,4% do total), fígado (0,8 milhões, 9,1%), e 
estômago (0,7 milhões, 8,8%). 
Para a região da ALC, o projeto Globocan/IARC2 estimou a ocorrência de 1,1 milhões de 
casos novos de câncer somente para o ano de 2012. O tipo mais incidente estimado entre 
 
2 O GLOBOCAN é um projeto realizado pela International Agency for Research on Cancer (IARC), e tem como 
objetivo fornecer estimativas contemporâneas da incidência, mortalidade e prevalência dos principais tipos 
de câncer, a nível nacional, para 184 países do mundo. As estimativas GLOBOCAN são apresentados para 2012 
(IARC/OMS, 2012). 
 
mulheres foi o de mama (152 mil
estimados para os homens, o câncer de próstata foi o mais frequente (28,6%), seguido pelos 
cânceres de pulmão (9,8%), intestino (8,0%), estômago (6,8%) e bexiga (3,3%). 
população feminina, dos 560 mil casos novo
mama (27%), colo do útero (12,2%), intestino (7,9%), pulmão (5,7,%) e estômago (4,3%)
(IARC/OMS, 2012; INCA, 2015)
Pode-se observar que ainda persistem, em nível global, os tipos de câncer relacionados com
condições socioeconômicas menos favoráveis, como o do colo do útero e o do estômago. 
Nota-se que o câncer do colo do útero, o segundo mais incidente e a segunda causa de morte 
por câncer em mulheres, continua contribuindo de forma importante para a carga da
nessa população. No entanto, é notável que 
ocorrem em países em desenvolvimento se assemelha ao perfil 
os cânceres de próstata, mama e intestino
O câncer de mama é o segundo tipo mais frequente no mundo
casos novos a cada ano. O
mama para todas as idades, em 2012, em todos os continentes.
Gráfico 01: Estimativa dos casos de c
 Fonte: GLOBOCAN/IARC, 2012.
22 
mama (152 mil casos novos). Dos cerca de 530 mil casos novos de câncer 
estimados para os homens, o câncer de próstata foi o mais frequente (28,6%), seguido pelos 
cânceres de pulmão (9,8%), intestino (8,0%), estômago (6,8%) e bexiga (3,3%). 
os 560 mil casos novos casos estimados, os mais frequentes foram
mama (27%), colo do útero (12,2%), intestino (7,9%), pulmão (5,7,%) e estômago (4,3%)
INCA, 2015). 
se observar que ainda persistem, em nível global, os tipos de câncer relacionados com
ondições socioeconômicas menos favoráveis, como o do colo do útero e o do estômago. 
se que o câncer do colo do útero, o segundo mais incidente e a segunda causa de morte 
por câncer em mulheres, continua contribuindo de forma importante para a carga da
nessa população. No entanto, é notável que o perfil de determinados tipos de câncer 
em países em desenvolvimento se assemelha ao perfil de países desenvolvidos, 
cânceres de próstata, mama e intestino (INCA, 2015). 
ma é o segundo tipo mais frequente no mundo, respondendo por 22% dos 
O gráfico 01 apresenta a estimativa para ocorrência do câncer de 
mama para todas as idades, em 2012,em todos os continentes. 
01: Estimativa dos casos de câncer de mama, todas as idades, por continente, em 
2012. 
Fonte: GLOBOCAN/IARC, 2012. 
os cerca de 530 mil casos novos de câncer 
estimados para os homens, o câncer de próstata foi o mais frequente (28,6%), seguido pelos 
cânceres de pulmão (9,8%), intestino (8,0%), estômago (6,8%) e bexiga (3,3%). Na 
casos estimados, os mais frequentes foram 
mama (27%), colo do útero (12,2%), intestino (7,9%), pulmão (5,7,%) e estômago (4,3%) 
se observar que ainda persistem, em nível global, os tipos de câncer relacionados com as 
ondições socioeconômicas menos favoráveis, como o do colo do útero e o do estômago. 
se que o câncer do colo do útero, o segundo mais incidente e a segunda causa de morte 
por câncer em mulheres, continua contribuindo de forma importante para a carga da doença 
determinados tipos de câncer que 
países desenvolvidos, como 
respondendo por 22% dos 
01 apresenta a estimativa para ocorrência do câncer de 
âncer de mama, todas as idades, por continente, em 
 
23 
 
Percebe-se, pelo gráfico 01, que a estimativa de maior ocorrência do câncer de mama em 
2012 refere-se ao continente asiático, seguido pela Europa e América do Norte. A América 
Latina e Caribe ocuparam a quarta posição com 152.000 casos estimados. De acordo com 
Mendonça et al. (2004, p. 1232) este é o “[...] tipo de neoplasia maligna mais comum entre as 
mulheres em todo o mundo e sua ocorrência varia amplamente entre regiões”. Sobre a 
incidência da doença no mundo, as mesmas autoras afirmam que: 
As populações que apresentam maior risco encontram-se na Europa Ocidental e nos 
Estados Unidos, enquanto que populações asiáticas têm taxas cinco vezes menores. 
No entanto, nas últimas décadas, no Japão, vem sendo observado aumento na 
incidência bem como em outras regiões caracterizadas de baixa incidência, como 
China e Índia. Ao mesmo tempo em que a incidência tende, com algumas exceções, 
a aumentar, a mortalidade, em países desenvolvidos (Estados Unidos, Canadá, Reino 
Unido, Holanda, Dinamarca e Noruega), vem declinando em cortes sucessivos de 
idade (MENDONÇA et al., 2004, p. 1232). 
Nos Estados Unidos, a Sociedade Americana do Câncer - American Cancer Society (2015) - 
estima que 1 em 8 (12%) mulheres americanas vão desenvolver câncer de mama invasivo 
durante sua vida. Estima-se ainda que, no ano de 2015, cerca de 231.840 novos casos de 
câncer de mama invasivo seriam diagnosticados em mulheres e cerca de 40.290 morreriam 
pela doença no país. 
A Sociedade Canadense do Câncer – Canadian Cancer Society (2015) – estimou que 25.000 
mulheres seriam diagnosticadas com câncer de mama (26% de todos os novos casos de câncer 
em mulheres) em 2015 no Canadá. Cerca de 5.000 mulheres morreriam pela doença (14% de 
todas as mortes por câncer em mulheres) no mesmo ano. Em média, a cada dia 67 mulheres 
canadenses serão diagnosticadas e 14 vão morrer de câncer de mama no país. 
Dados disponíveis no site Pesquisa do Câncer do Reino Unido - Cancer Research UK (2014) 
– mostram que o câncer de mama é a segunda causa de morte por câncer em mulheres no 
Reino Unido, sendo responsável por 15% dos óbitos em 2012. Isto significa que 11.643 
mulheres morreram pela doença no referido ano. Em toda a Europa, foram cerca de 131.000 
mortes por câncer de mama em 2012. 
No Brasil, o câncer de mama representa a primeira causa de óbito por câncer na população 
feminina. Em 2013, ocorreram 14.388 mortes pela doença no país, sendo 181 homens e 
14.207 mulheres (INCA, 2014). As taxas de mortalidade pela doença continuam elevadas, isto 
provavelmente porque o diagnóstico ainda seja realizado, na maioria dos casos, em estádios 
24 
 
avançados. Este tipo de câncer continua sendo o mais incidente, entre a população feminina, 
excetuando se o câncer de pele não melanoma (Fig. 01). 
Figura 01: Estimativas das taxas brutas de incidência por 100 mil habitantes e do número de 
casos novos de câncer, Brasil, ano 2016, segundo sexo e localização primária* 
 
 Fonte: INCA, 2015. 
Nota-se, através da figura 01, que o câncer de mama apresenta uma taxa bruta de incidência 
discrepante em relação aos outros tipos de neoplasias em mulheres, sendo 56,20 casos por 
cem mil mulheres estimados para o ano de 2016 no Brasil. Dos 600 mil casos novos de câncer 
estimados para o biênio 2016/2017 no país, 57.960 mil serão casos novos de câncer de mama 
feminino, o que representa 28,1% dos casos de câncer em mulheres (INCA, 2015), como pode 
ser observado na figura 02. 
25 
 
Figura 02: Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes no Brasil 
estimados para 2016 por sexo, exceto pele não melanoma* 
 
 Fonte: INCA, 2015. 
A figura 02 mostra a distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes em 
homens e mulheres para o ano de 2016, no Brasil, onde é possível observar a maior incidência 
do câncer de mama na população feminina. Schneider e D’Orsi (2009, p. 1285) enfatizam que 
“[...] o câncer de mama é considerado um grave problema de saúde pública mundial, não só 
pelo número crescente de casos diagnosticados a cada ano, mas também pelo investimento 
financeiro que é solicitado para equacionar as questões de diagnóstico e tratamento”. 
Em relação às regiões brasileiras, o câncer de mama também é o mais incidente entre as 
mulheres, ocupando o primeiro lugar em todas as regiões brasileiras, exceto na região Norte, 
onde o tipo mais incidente da doença, na população feminina, é o câncer de colo do útero 
(PORTO et al., 2013). Para o biênio 2016/2017, as estimativas corroboram esta informação, 
como pode ser verificado na figura 03. 
Figura 03: Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes na Região 
Sudeste, estimados para 2016 por sexo, exceto pele não melanoma* 
 
 Fonte: INCA, 2015. 
Segundo os dados dispostos na figura 03, são esperados 29.760 casos novos de câncer de 
mama, sendo este o mais incidente entre as mulheres para o período estimado, seguido pelo 
26 
 
câncer de cólon e reto (9910 casos novos), e, em terceiro lugar estaria o câncer do colo do 
útero (4940 casos novos) na Região Sudeste. Já na Região Norte do país, o câncer de mama 
ocupa o segundo lugar nas estimativas de casos novos, precedido pelo câncer do colo do 
útero. Para o Estado de Minas Gerais, as estimativas mostram que a situação do câncer de 
mama segue os mesmo padrões do Brasil e do mundo, onde ocupa a primeira colocação como 
o tipo mais incidente e que causa mais mortalidade entre a população feminina, fato que pode 
ser observado na figura 04. 
Figura 04: Taxas brutas de incidência estimadas para 2016 por sexo, para Minas Gerais e 
capital* 
 
 Fonte: INCA, 2015. 
Para o Estado de Minas Gerais, estão estimados cerca de 60.750 casos novos de câncer, sendo 
28.390 casos novos em homens e 32.360 casos novos em mulheres. Considerando todas as 
neoplasias malignas, as taxas brutas de incidência seriam de 273,62 casos novos por 100 mil 
homens e 302,05 casos novos por 100 mil mulheres. Quanto ao câncer de mama, para o 
biênio 2016/2017, estão estimados cerca de 5.160 casos novos de câncer de mama em 
mulheres por localização primária no Estado, com uma taxa bruta de incidência de 48,19 
casos por cem mil mulheres (Fig. 04). Destes, 1.030 se referem somente à capital mineira, 
com uma taxa bruta de incidência de 75,59 casos por cem mil mulheres (INCA, 2015). 
Diante desses dados, percebe-se a importância epidemiológica do câncer e a sua magnitude 
como problema de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento. A OMS 
27 
 
afirma que os países em desenvolvimento são afetados, desproporcionalmente, pelo aumento 
do número de casos de câncer, em consequência do crescimento e envelhecimento da 
população. Segundo o documento, mais de 60% do total de casos no mundo ocorrem na 
África, Ásia e América Central e do Sul, e estas regiões são responsáveis por cercade 70% 
das mortes por câncer do mundo, situação que é agravada pela falta de detecção precoce e 
acesso ao tratamento (OMS, 2014). 
Tal fato ratifica a relevância de estudos que possam contribuir para o desenvolvimento de 
políticas públicas mais pontuais e eficazes no controle da doença, em diversas escalas, 
principalmente em regiões pouco desenvolvidas social e economicamente, como é o caso do 
Norte de Minas Gerais. Conhecer a situação do câncer em uma dada região pode permitir que 
as várias esferas de governo desenvolvam estratégias de controle e prevenção mais pontuais 
para o enfrentamento do problema. Evidencia-se aqui a importância dos estudos geográficos 
espaciais e regionais no âmbito da saúde. 
Justificativa 
O Estado de Minas Gerais possui uma extensão territorial de 586.528,293 km2, dividido em 
853 municípios, com uma população total de 19.597.330 em 2010 (IBGE, 2014). As regiões 
mineiras apresentam características divergentes entre si, tanto no que se refere à distribuição 
populacional quanto nos aspectos socioeconômicos. A região Norte, por exemplo, apresenta 
uma grande extensão territorial, com um contingente populacional relativamente pequeno, o 
que caracteriza um quadro de pequena densidade demográfica e de grandes distâncias entre 
seus municípios (MINAS GERAIS, 2011). 
O Norte de Minas está entre as regiões que apresentam os mais baixos indicadores sociais no 
país, com municípios como Bonito de Minas, Montezuma e Ninheira que, no ano de 2010, 
apresentaram os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM da 
região e do Estado (MINAS GERAIS, 2013). É possível observar que a região em estudo 
segue a tendência mundial de prevalência do câncer de mama na população feminina, sendo a 
principal causa de morte em mulheres por câncer. Pode-se verificar, ainda, que o número de 
casos da doença cresce consideravelmente a cada ano na região. 
Deve-se enfatizar que no Norte de Minas há apenas dois hospitais habilitados para 
tratamentos de alta complexidade do câncer, a Fundação de Saúde Dílson de Quadros 
Godinho e a Irmandade Nossa Senhora das Mercês, ambos situados na cidade de Montes 
28 
 
Claros. Sendo assim, acredita-se que o agravamento do câncer de mama na região está 
relacionado com o diagnóstico tardio e com as dificuldades encontradas pela população 
afetada pela doença ao recorrer aos serviços de saúde. 
Dentro desse cenário, algumas indagações norteiam a proposta desta pesquisa, tais como: Os 
registros dos dados acerca da ocorrência do câncer de mama correspondem a real situação da 
morbimortalidade causada pela doença na região? Quais são os municípios de maior 
incidência do câncer de mama no Norte de Minas? Quais são os fatores ambientais, 
socioeconômicos ou culturais aos quais a população afetada pela doença na região esteve 
exposta? O acesso da população doente aos serviços de saúde é satisfatório? As políticas 
públicas para prevenção e controle da doença no Norte de Minas são eficientes? 
Este trabalho se faz socialmente relevante na medida em que poderá contribuir com os órgãos 
públicos de saúde no conhecimento dos municípios norte-mineiros de maior 
ocorrência/incidência do câncer de mama, bem como das principais dificuldades encontradas 
pelos doentes ao recorrerem aos serviços de saúde na região. Dessa forma, poderão ser 
elaboradas políticas públicas mais pontuais e eficazes de prevenção, controle e tratamento da 
doença, garantindo melhor acesso da população aos serviços de saúde. 
Objetivos 
• Objetivo Geral 
Analisar a dinâmica do câncer de mama na Região Ampliada de Saúde Norte de Minas Gerais 
– RAS Norte/MG. 
• Objetivos específicos 
 Discutir as políticas públicas de saúde para o controle do câncer de mama no 
Brasil; 
 Verificar as condições de acesso da população afetada pelo câncer de mama aos 
serviços de saúde na região em estudo; 
 Relacionar as barreiras de acesso aos serviços de saúde com o agravamento do 
câncer de mama na RAS Norte/MG. 
Procedimentos Metodológicos 
29 
 
O ato de pesquisar permite a descoberta de novas informações em qualquer campo do 
conhecimento, sendo a pesquisa um procedimento reflexivo, sistemático e crítico. Lakatos; 
Marcone (2003, p. 155) afirmam que “A pesquisa, portanto, é um procedimento formal, com 
método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no 
caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. Dessa forma, a 
pesquisa pode ser classificada quanto aos objetivos e quanto aos procedimentos técnicos 
(GIL, 2008). 
Em relação aos objetivos, a pesquisa é considerada como exploratória, tendo como objetivo 
proporcionar ou explicitar maior familiaridade ao tema estudado, envolvendo levantamento 
bibliográfico, entrevista com pessoas com experiência acerca do problema pesquisado, 
assumindo geralmente as forma de estudo de caso (GIL, 2008). Quanto aos procedimentos 
técnicos, a pesquisa pode ser descritiva ou explicativa. A primeira descreve as características 
de determinados fenômenos, enquanto que a pesquisa explicativa busca identificar os fatores 
que geram ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos (GIL, 2008). 
Já a pesquisa explicativa visa identificar, analisar, interpretar os fatos e suas causas. Este tipo 
de pesquisa envolve mais investimento em síntese, teorização e reflexão acerca do objeto 
estudado, na tentativa de explicar o porquê dos acontecimentos (LAKATOS; MARCONE, 
2003). Nesse sentido, o presente trabalho se apresenta como um estudo exploratório, de 
natureza explicativa e análise quanti-qualitativa, realizado a partir de informações sobre a 
ocorrência/incidência de câncer de mama no Norte de Minas Gerais, entre os anos de 2004 a 
2014. 
O recorte espacial elegido para a realização da pesquisa é a Região Ampliada de Saúde Norte 
de Minas Gerais (RAS Norte/MG), instituída de acordo com a regionalização proposta pela 
Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais – SES/MG, a partir do Plano Diretor de 
Regionalização (PDR). Essa região é composta por 86 municípios, sendo três a menos que a 
região Norte de Minas instituída pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 
em 1990. No caso, não fazem parte da RAS Norte/MG os municípios de Riachinho e Chapada 
Gaúcha, que pertencem à Região Noroeste de Minas; e Divisa Alegre e Águas Vermelhas 
pertencentes à Região Jequitinhonha. Foi incluído o município de Joaquim Felício na Região 
de Saúde de Montes Claros (MINAS GERAIS, 2011). 
30 
 
Para o embasamento teórico do estudo, foi realizada a pesquisa bibliográfica através de livros, 
periódicos, relatórios técnicos, revistas especializadas, entre outros, acerca da temática 
estudada. Segundo Gil (2008), a pesquisa bibliográfica tem como base o material já 
elaborado, como livros e artigos científicos e “Sua finalidade é colocar o pesquisador em 
contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, 
inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, 
quer publicadas, quer gravadas” (LAKATOS; MARCONE 2003, p. 183). Também se 
realizou a pesquisa documental, a partir da análise de leis, normas, portarias, entre outros, que 
regem o sistema de saúde pública do Brasil. 
Para espacialização da ocorrência da doença na RAS Norte de Minas, foi realizada a coleta de 
dados entre os meses de junho a dezembro de 2015, diretamente no Registro Hospitalar de 
Câncer (RHC) dos dois hospitais especializados para o tratamento da doença na região (Fundação 
de Saúde Dílson de Quadros Godinho e a Irmandade Nossa Senhora das Mercês de Montes 
Claros). Os dados coletados referem-se a todos os casos novos de câncer de mama em 
mulheres, notificados pelos serviços especializados de atendimento ao usuário com câncer das 
referidas unidades de saúde, registrados no período de 2004 a 2014, atendidos pelo Sistema 
Único de Saúde.Além dos casos novos, foram levantadas outras variáveis como município de 
origem, idade, sexo, data do diagnóstico, estadiamento3 e início do tratamento. Os registros no 
RHC são feitos através dos prontuários dos usuários acometidos pela doença que procuram 
por tratamento nessas unidades hospitalares. O câncer de mama é classificado como C50, de 
acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à 
Saúde CID-10. 
Os dados levantados foram submetidos ao cálculo para se estimar a taxa de incidência da 
doença por município da região, de acordo com a seguinte fórmula: 
���� �� ��	��ê�	�� = �º �� 	���� 
�� ����	í
�� � 1000��� 
�
. �� ���	� 
�� ����	í
�� 
O cálculo da incidência foi realizado por município, a partir do número total de casos novos 
registrados, no intervalo de tempo considerado, multiplicado por 1000, dividido pela média da 
 
3 O termo estadiamento é utilizado internacionalmente para avaliar o grau de disseminação do câncer. A 
necessidade de classificar o câncer em estádios advém da constatação de que as taxas de sobrevida são diferentes 
dependendo da situação em que a doença é diagnosticada. O estádio de um tumor reflete a extensão da doença, a 
taxa de crescimento, o tipo de tumor e sua relação com o hospedeiro (INCA, 2015). 
 
31 
 
população considerada de risco, para o período em análise. O Ministério da Saúde recomenda 
o rastreamento do câncer de mama para mulheres de 40 a 69 anos de idade, e mulheres de 35 
anos de idade ou mais, com risco elevado para câncer de mama (BRASIL, 2009). Dessa 
forma, foram consideradas como população de risco neste trabalho, as mulheres com idade 
compreendida na faixa etária de 35 a 69 anos. Os dados da população de risco, estratificados 
por faixa etária, sexo e por município, referentes aos anos de 2004 a 2012, foram coletados na 
plataforma TabNet do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Para os anos de 
2013 e 2014, aplicou-se o cálculo estatístico da taxa geométrica de crescimento populacional4, 
tendo como base a população selecionada por faixa etária para o período analisado, a partir da 
fórmula: 
r = �� ����� � � − 1� x 100 
Onde, em termos técnicos, para se obter a taxa de crescimento (r), subtrai-se 1 da raiz enésima 
do quociente entre a população final (Pt) e a população no começo do período considerado 
(P0), multiplicando-se o resultado por 100, sendo "n" igual ao número de anos no período. 
(RISPA, 2008). 
De posse dos dados acerca da doença, foi realizado o processamento digital das imagens 
utilizadas na pesquisa. A partir do Sistema de Informação Geográfica (SIG) os dados foram 
cruzados, gerando novas informações referentes à dinâmica do câncer de mama na região em 
estudo. Foi utilizado o software ArcGiz 10.2 e a base cartográfica do estado de Minas Gerais 
disponibilizadas pelo IBGE. Assim, foram editados os mapas utilizados no trabalho, como 
resultado do processamento das informações. 
Após a espacialização dos casos novos do câncer de mama e conhecimento dos municípios de 
maior ocorrência e incidência, foi realizado trabalho de campo para observação in loco e 
análise da infraestrutura das unidades de atendimento ao portador de câncer, das condições de 
acesso da população aos serviços de saúde na região, das condições socioeconômicas, 
 
4 A taxa geométrica de crescimento populacional é o percentual de incremento médio anual da população 
residente em determinado espaço geográfico para o período considerado. Seu valor refere-se a media anual 
obtida para um período de anos compreendido geralmente entre dois Censos Demográficos. A taxa e 
influenciada pela dinâmica da natalidade, da mortalidade e das migrações e indica o ritmo do crescimento 
populacional. Pode ser utilizada para realizar estimativas e projeções populacionais para períodos curtos, 
Subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas publicas especificas, entre outros (RISPA, 
2008). 
32 
 
culturais e comportamental às quais essa população está exposta. Os locais escolhidos para 
realização do campo foram os ambulatórios oncológicos das duas unidades de saúde que 
oferecem a assistência oncológica em Montes Claros. Vale lembrar que estas unidades 
assistem a toda a região, possibilitando o contato com mulheres com câncer de mama de 
diversos municípios. 
Ressalta-se que a escolha dos locais citados para a pesquisa de campo foi definida a partir das 
dificuldades verificadas no âmbito dos municípios de maior incidência, para acesso às 
mulheres acometidas pelo câncer de mama, como ocorreu na visita à Unidade Básica de 
Saúde (UBS) (Fig. 05) do município de Guaraciama no mês de maio do ano de 2016. 
Figura 05: Fachada da UBS do município de Guaraciama. 
 
 Autor: Alves, 2016. 
Durante a visita à UBS de Guaraciama (Fig. 05), foi possível perceber as dificuldades de 
acesso às mulheres portadoras de câncer de mama no município. De acordo com a 
coordenadora da equipe do Programa Saúde da Família do município, em concordância com 
as agentes de saúde, das poucas mulheres com a doença que ainda estão vivas e que moram 
no município, por questões psicológicas e debilidades físicas, apenas uma poderia se 
interessar a participar da pesquisa. Outras informações em relação à ocorrência de câncer no 
município puderam ser verificadas e, embora não façam parte dos objetivos deste trabalho, 
julga-se importante mencioná-las, como a alta ocorrência do câncer do colo do útero no 
município e o registro errado das mortes por câncer de mama, que são registrados como 
33 
 
óbitos por causas indeterminadas, fato que acaba por mascarar a real situação da doença na 
região. 
Para análise das condições de acesso aos serviços de saúde e conhecimento dos principais 
fatores de risco para a doença que a população doente esteve exposta, e também das 
condições socioeconômicas, foram aplicados questionários semiestruturados (Apêndice A) 
aos portadores da doença que estavam em tratamento em Montes Claros entre os meses de 
abril e maio do ano de 2016. Foram analisadas variáveis do estudo, como: ano do diagnóstico, 
idade, escolaridade, renda, condições socioeconômicas, forma de acesso aos serviços de 
saúde, além de outros condicionantes identificados no decorrer da pesquisa. Para 
caracterização dos aspectos socioeconômicos dos municípios, foram utilizadas as 
componentes Renda e Educação que compõem o IDHM, referentes ao ano de 2010, extraídos 
do banco de dados do IBGE. 
O grupo de mulheres participantes desta parte da pesquisa foi constituído através da técnica 
de amostragem por acessibilidade ou conveniência. Este é um método muito comum nos 
estudos exploratórios e qualitativos, onde não se requer elevado nível de precisão, sendo 
classificada como uma técnica de amostragem não-probabilística, que: 
[...] tem como característica principal não fazer uso de formas aleatórias de seleção, 
torna-se impossível a aplicação de formas estatísticas para cálculo. É usada quando 
não se conhecem o tamanho do universo e os indivíduos são selecionados através de 
critérios subjetivos do pesquisador (MAROTTI et al., 2008, p. 188). 
A técnica de amostragem por conveniência consiste em selecionar uma amostra da população 
que seja acessível, onde os indivíduos são selecionados por estarem disponíveis, não porque 
eles foram selecionados por meio de um critério estatístico. Gil (1999, p. 94) afirma que a 
referida técnica “Constitui o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Por isso 
mesmo é destituída de qualquer rigor estatístico. O pesquisador seleciona os elementos a que 
tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo”. A 
conveniência desse método representa uma maior facilidade operacional e baixo custo de 
amostragem (MAROTTI et al., 2008).A escolha desta técnica de amostragem se deu diante das dificuldades encontradas, após 
várias tentativas, para se estabelecer a quantidade total de mulheres que estavam em 
tratamento para o câncer de mama, nas unidades de referência, no momento da pesquisa. De 
acordo com os funcionários que fazem os agendamentos, nos ambulatórios oncológicos, são 
34 
 
consultadas mulheres com diagnóstico confirmado para a doença e mulheres ainda em fase de 
investigação, além de outros casos como acompanhamento de tumores benignos. De acordo 
com esses funcionários, esta seria uma atividade muito difícil de realizar e que demandaria 
muito tempo, pois, para se extrair do sistema o número exato de mulheres com diagnóstico 
positivo e em tratamento seria necessário avaliar todos os prontuários de todas as pessoas que 
passaram pelos ambulatórios no período pretendido, lembrando que estes prontuários se 
encontram espalhados entre os setores de quimioterapia, radioterapia, fisioterapia, cirurgia, 
oncologia clínica e outros, dependendo da necessidade de tratamento de cada usuário. 
Nesse sentindo, somente responderam aos questionários, as mulheres que estavam presentes 
nos ambulatórios de oncologia clínica, nos dias e horários de consulta médica feitas no âmbito 
do SUS5 , que estavam aparentemente em boas condições físicas e psicológicas e que 
aceitaram participar da pesquisa. Deve-se ressaltar que, além das debilidades físicas e 
psicológicas causadas pela própria doença, o tratamento para o câncer de mama causa 
diversas reações no organismo das mulheres adoecidas, sendo indispensável mais cautela do 
pesquisador no momento de abordagem da mulher alvo da pesquisa. Foram entrevistados 
ainda profissionais de saúde como médicos, enfermeiros (Apêndice B) e administradores do 
sistema de saúde que atuam no setor oncológico da região. Os dados obtidos nos trabalhos de 
campo foram tabulados e convertidos em gráficos e tabelas para discussão dos resultados. 
Todos esses produtos foram utilizados na construção da dissertação. 
Em cumprimento à Resolução nº. 196/96, do Ministério da Saúde, que versa sobre Pesquisa 
Envolvendo Seres Humanos no Brasil, esta pesquisa está devidamente autorizada pelo Comitê 
de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, sob o número 1.074.475 
(Anexo A), e o estudo só teve início após sua aprovação. Todos os participantes foram 
esclarecidos sobre os objetivos e metodologias adotadas e assinaram o Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice C). 
Estrutura 
Este trabalho está estruturado em três capítulos, precedido pela introdução. No primeiro 
capítulo intitulado Geografia e Saúde: abordagens teórico-metodológicas é feito uma 
 
5 Na unidade hospitalar Santa Casa de Montes Claros, a pesquisa de campo foi autorizada a se realizar nas 
quintas feiras, no período vespertino, por ser um dos dias de atendimento ambulatorial no âmbito do SUS. Da 
mesma forma, na Fundação de Saúde Dílson de Quadros Godinho, as visitas ocorreram nas quartas feiras, 
também no período da tarde. 
 
35 
 
reflexão acerca da evolução histórico-epistemológica da Geografia da Saúde, desde a Grécia 
Antiga até a atualidade, com base nos principais estudiosos que contribuíram para o 
desenvolvimento dessa vertente. Faz-se uma abordagem acerca da dimensão espacial, 
trazendo o espaço como principal categoria de análise nos estudos do processo saúde-doença. 
Também são mencionadas as contribuições da ciência geográfica para o estudo do câncer. 
No segundo capítulo sob o título Políticas Públicas de Saúde no Brasil: o caso do câncer de 
mama discute-se a construção das políticas públicas sociais e de saúde no Brasil a partir da 
década de 1970. É traçado um breve histórico acerca da elaboração das políticas púbicas de 
saúde para o controle, o tratamento e a prevenção do câncer de mama no país, como os 
programas para rastreamento e detecção precoce da doença. Discute-se a importância da 
promoção da saúde para a prevenção da doença e para a melhoria da qualidade de vida e 
saúde da população, principalmente a feminina, no Norte de Minas. Apresenta-se, ainda, a 
regionalização da saúde na região a partir das propostas do Plano Diretor de Regionalização 
da Saúde do Estado de Minas Gerais. 
Por fim, no terceiro capítulo, cujo título é A Geografia Do Câncer De Mama No Norte De 
Minas Gerais: Do direito ao acesso a saúde, são espacializados os casos do câncer de mama 
registrados na região no período observado, destacando os municípios de maior ocorrência e 
de maior incidência da doença, relacionando tais resultados aos indicadores socioeconômicos 
e demográficos que caracterizam a região Norte de Minas. Também são apresentados os 
resultados do trabalho de campo que foi realizado nos ambulatórios das unidades de saúde 
credenciadas para a assistência oncológica em Montes Claros, relatando as barreiras no acesso 
da população afetada pelo câncer de mama aos serviços de saúde na região. 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
1. GEOGRAFIA E SAÚDE: Abordagens Teórico-Metodológicas 
 
Este capítulo traz um breve histórico-epistemológico da evolução da Geografia da Saúde, 
desde a Grécia Antiga até a atualidade, com base nos principais estudiosos que contribuíram 
para o desenvolvimento dessa vertente. Aborda as contribuições da ciência geográfica para a 
análise do processo saúde-doença, com enfoque para o estudo dos cânceres ou neoplasias 
malignas. Enfatiza o espaço como principal categoria de análise para os estudos em Geografia 
da Saúde. 
1.1 Origem e evolução da Geografia da Saúde 
É sabido que grande parte dos males que afligem as populações, desde os tempos primitivos, 
estão relacionados à saúde. Os mesmos vão aumentando à medida que a sociedade se 
moderniza e coloca o meio em que vive em desequilíbrio. Existe uma multiplicidade de 
relações e combinações entre o que é animado e inanimado, refletindo a natureza em sua 
totalidade em cada rincão do planeta. Essa ideia de integração de totalidades, do holismo, 
pode ser observada na obra Cosmos, onde Humboldt estabelece os pressupostos teóricos da 
relação entre natureza e saúde (GUIMARÃES et al., 2014). 
A interferência do ser humano na natureza em busca de recursos que atendam as suas 
necessidades vem acarretando uma série de alterações no espaço, no decorrer dos tempos, que 
se reflete direta ou indiretamente na saúde dos indivíduos ou de grupos sociais. Guimarães et 
al. (2014, p. 22) afirmam que: 
No começo, sobreviver seguramente consistiu em impor-se às forças naturais, tanto 
aos elementos – rios, montanhas, desertos e meteoros – como aos agentes biológicos 
– predadores, parasitas e competidores. Hoje, sobreviver implica controlar varáveis 
muito mais sutis e complexas, próprias de uma sociedade tecnológica, que maneja 
(mas nem sempre domina) instrumentos perigosos para a existência integral do 
planeta. 
De acordo com Magalhães (2013), a Geografia, junto com outras ciências, tem a capacidade 
de encontrar soluções para minimizar os impactos negativos causados pela relação do homem 
com seu meio. A autora afirma que “Cabe à Geografia como ciência, estudar e entender de 
que modo essas aceleradas e constantes alterações refletirão em espaços propiciadores de 
doenças, em nível local e até mesmo mundial, dependendo do grau e intensidade dos danos” 
(MAGALHÃES, 2013, p. 49). E é nesse contexto que a Geografia da Saúde vem, cada vez 
37 
 
mais, conquistando espaço nos estudos relacionados à compreensão do processo saúde-
doença na relação das sociedades com o meio em que estão inseridas. 
A Geografia da Saúde é um campo da ciência geográfica que integra elementos da Geografia 
Física e da Geografia Humana para a compreensão de fenômenos atuais e multiescalares 
referentes à saúde (SANTANA, 2014). Para a autora, essa especialidade “[...] ocupa uma 
posição nodal; é um espaçoonde convergem ou se cruzam fenómenos naturais, 
socioeconômicos, culturais e comportamentais, de importância capital na explicação dos 
padrões de saúde e doença.” (SANTANA, 2014, p. 13). Segundo Barcellos (2008, p. 10), a 
Geografia da Saúde “É um campo do conhecimento no qual devem participar os diversos 
técnicos e profissionais interessados em estudar os processos de saúde, doença e cuidado no 
espaço geográfico, para nele poder intervir”. 
Peiter (2005) afirma que, entre os principais objetivos da Geografia da Saúde, destacam-se o 
desenvolvimento de um arcabouço teórico-metodológico para as análises espaciais do 
processo saúde-doença, a produção de informações que contribuam com as investigações 
epidemiológicas, com a administração de saúde e com a maior racionalidade das ações que 
visem o melhoramento das condições do bem-estar da população. Santana (2014, p. 13-14) 
sintetiza o objetivo geral da Geografia da Saúde como sendo proporcionar “[...] 
conhecimentos que sirvam para compreender as relações que se estabelecem entre as 
condicionantes da saúde, os resultados efetivos das políticas e da organização dos serviços na 
saúde das populações e as suas consequências no desenvolvimento do território”. 
Os estudos envolvendo Geografia e saúde também se reportam à Grécia antiga, assim como 
os fundamentos históricos da própria Geografia. Assim, a especialidade “[...] guarda uma 
constância e um sincronismo com a ciência mãe que a acolhe, a Geografia” (MAZETTO, 
2008, p. 17). Para o autor, a ciência e a especialidade apresentam muitas similaridades, pois 
ambas foram estruturadas e codificadas ao mesmo tempo, no final do século XVIII e início do 
XIX (MAZETTO, 2008). 
A Geografia da Saúde (ou Geografia Médica, termo pelo qual foi primeiramente difundida) 
também nasceu concomitante com a própria história da medicina, tendo o pensamento médico 
da antiga Grécia influenciado por séculos o pensamento ocidental no que se refere ao 
processo saúde/doença. As primeiras obras referentes ao tema são reportadas aos gregos 
Hipócrates, que escreveu seu tratado provavelmente por volta do ano 480 a.C., denominado 
38 
 
Dos ares, das águas e dos lugares, no qual o autor analisa a influência de fatores ambientais 
no surgimento de doenças; e Heródoto, com seus escritos sobre a medicina nas civilizações 
egípcias, que datam do ano 500 a.C. (LACAZ, 1972; PESSÔA, 1978; PEITER, 2005). 
A obra de Hipócrates trazia consigo uma compreensão higeica6 da relação saúde e ambiente, 
na qual relacionava as causas da saúde e da doença aos fatores geográficos. De acordo com 
Andrade (2000), este fato evidencia o caráter determinista da obra, pois o cerne da análise 
hipocrática residia na relação homem-meio. Segundo Guimarães et al. (2014, p. 53): 
Hipócrates considerava a saúde como resultado da relação das populações com o 
lugar onde viviam. Considerava os aspectos do meio físico, biológico e climático, e 
também o estilo de vida. Para ele, entender o ambiente era fundamental, mas este 
não era somente o físico e o climático, era o das relações humanas, do trabalho, da 
cultura e do cotidiano. Assim, igualmente era o estudo das estações do ano e os 
efeitos sobre os lugares; assim como o modo em que os habitantes viviam, quais 
eram suas atividades, se gostavam de beber e comer em excesso, ou gostavam de 
exercício e de trabalho. 
Com as Grandes Navegações nos séculos XVI e XVII, surge a necessidade de se conhecer as 
moléstias que acometiam as novas terras, fato que impulsionou os estudos da Geografia da 
Saúde, favorecendo trabalhos que abordavam a geografia das doenças relacionando-as com as 
condições de vida (ANDRADE, 2000; MAGALHÃES, 2013). Os governos dos países 
colonizadores buscavam ampliar o conhecimento acerca das moléstias que ocorriam em suas 
colônias para a proteção de seus interesses, pois: 
Um país interessa-se, em primeiro lugar, por suas próprias doenças, ao tornar-se, 
porém, imperialista e colonizador, estendendo seu poder e de fato suas fronteiras, 
tem necessariamente de voltar suas atenções às regiões que domina e explora, 
principalmente para defender seus colonos e em última análise a si mesmo 
(PESSÔA, 1978, p. 15). 
Os estudos geográficos no campo da saúde, durante sua trajetória, receberam várias 
nomenclaturas, como a Geomedicina, termo ligado à Geografia Política de Ratzel, criado pelo 
higienista alemão Heins Zeiss, para definir uma nova ciência dita mais dinâmica que a 
Geografia Médica (PESSÔA, 1978). Contudo, esse mesmo autor afirma que “A Geomedicina 
não é um campo novo; toda ela pode ser compreendida na Geografia Médica” e, dessa forma, 
“[...] a palavra Geomedicina, em qualquer sentido que seja encarada, pode desaparecer da 
 
6 Na mitologia grega, este termo se refere à Hygeia, uma das filhas de Asclépio, o deus da arte e da cura. A deusa 
Hygeia possuía a sabedoria da restauração do equilíbrio das ações humanas nos ambientes coletivos, de onde 
advém o termo higienismo. (GUIMARÃES et al., 2014) 
 
39 
 
terminologia, dando-se aos velhos termos Geografia Médica, nova extensão e significação” 
(PESSOA, 1978, p. 8). 
Séculos mais tarde, nos Estados Unidos da América, a Geografia da Saúde vai se desenvolver 
para atender ao advento das guerras extracontinentais e ao domínio real ou econômico de 
outros países, americanos ou não (PESSÔA, 1978). Percebe-se que, como aconteceu com a 
própria ciência geográfica em seu período clássico, onde esteve a serviço das classes 
dominantes, ou seja, da burguesia, dos Estados e dos Império (SANTOS, 1986), também os 
estudos da Geografia da Saúde estiveram a serviço do poder estabelecido. Dessa forma, tanto 
a ciência como a especialidade eram instrumentos estratégicos usados para atender as 
pretensões políticas desses grupos detentores do poder, sendo tratada mais como uma 
ideologia do que uma filosofia. 
Os estudos de Hipócrates prevaleceram por muitos séculos e “[...] até o século XVII nada de 
importante apareceu sobre a Geografia Médica que não fosse explícito no livro “Ares, Águas 
e Lugares” (PESSÔA, 1978, p. 14). Suas ideias foram difundidas e chegaram até o mundo 
moderno através dos árabes, que traduziram seus manuscritos e os transmitiram à filosofia 
escolástica nos séculos XVIII e XIX, na Europa Mediterrânea. Foi nesse período que surgiu a 
Teoria dos Miasmas7, segundo a qual: 
[...] as doenças se estabeleciam em uma relação hipocrática da saúde com o meio 
ambiente, sobretudo quando se atribuía este contato às condições de vida e de 
trabalho das populações. Neste caso, a compreensão era bastante holística, e o 
ambiente não aparecia como um simples elemento que influenciava a saúde 
(GUIMARÃES et al., 2014, p. 54). 
Considerando o contexto histórico da Europa no século XVIII, deve-se salientar que as 
cidades eram muito sujas e poluídas por causa das fábricas, não havia esgotamento sanitário 
nem água potável e as moradias eram insalubres. Os cadáveres ficavam espalhados pelas ruas, 
onde havia muita miséria, mendicância e alcoolismo. As pessoas não tinham o hábito de 
realizar a limpeza corporal, devido ao frio intenso e alto preço do sabão. Os que podiam pagar 
utilizavam perfumes no lugar dos banhos para tentarem minimizar os efeitos dos miasmas 
(GUIMARÃES et al., 2014). 
Foi nesse contexto que surgiram as bases do pensamento da doutrina do Higienismo, pois 
eliminar os odores era melhor que tentar escondê-los. A partir daí, surgiram muitas medidas 
 
7
 Os miasmas eram substâncias originadas nos pântanos provenientes de coisas estragadas e podres que se 
espalhavam nos lugares pelo ar e pelas águas, tornando os ambientes insalubres (GUIMARÃES et al., 2014). 
40 
 
de proteção sanitária como a criação de cemitérios fora das cidades para o enterro dos mortos, 
coleta de lixo e drenagem de pântanos. Os estudos hipocráticos

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